Professional Documents
Culture Documents
T
Tanto tempo se
Luiz Otavio Meneghite e Maria José Baia Meneghite
netos, rugas sulcaram Gazeta de Leopoldina e Leopoldina, eles
passou desde que
eles aqui
chegaram
trazendo na pequena
bagagem grandes
esperanças, doses
suas faces, sentiram o
olhar embaçar-se pela
saudade, e aqui
permaneceram. Quando
ela doía, enxugavam as
lágrimas uns dos outros
“
A vida dura, o sofrimento,
nada os desviou de seus
propósitos. Foram os
pilares de sustentação
depois nas páginas do
jornal Leopoldinense.
Uma gama de
informações sobre os
imigrantes que aportaram
em Leopoldina, jamais
entraram numa espécie
de máquina do tempo e
a cada relato publicado
a história foi se
compondo. As
descrições de todo o
desta região carente de
homeopáticas de alegria, mas continuavam sua braços fortes e mãos que vista em outros processo desde a saída
saudades da terra e uma missão de tirar da terra o além de semear os campos documentos da mesma da Itália, a viagem em
força imperiosa que fez de sustento e dar o melhor de souberam plantar o amor natureza. O cuidado com navios superlotados, a
cada imigrante um si pelo chão que os que até hoje norteia seus a pesquisa e o carinho chegada ao Brasil, a
batalhador, um acolheu. Abençoadas descendentes. Inúmeras com os textos enviados em quarentena nas
desbravador. A vida dura, mãos!Benditas lágrimas! são as famílias capítulos à redação pelos hospedarias do Rio e
o sofrimento, nada os Cem anos se passaram e imigrantes que para nossa dois vem chamando ao Juiz de Fora e,
desviou de seus propósitos. para homenageá-los nada felicidade escolheram esta longo dos anos, a atenção finalmente, a chegada
Foram os pilares de melhor que um sincero região como seu segundo dos leitores, notadamente ao lote de terras na
sustentação desta região agradecimento e nossa lar. O tempo inexorável os descendentes de Colônia Agrícola da
carente de braços fortes e eterna gratidão por terem passou depressa e muitos italianos. Luja e Nilza Constança. Daí em
mãos que além de semear sido eles os responsáveis tiveram condições de trataram do assunto como diante, a formação de
os campos souberam pela introdução de seus voltar à pátria. Outros, se garimpassem pedras uma comunidade onde
plantar o amor que até hábitos e costumes, de sua porém, curvaram-se ao preciosas num riacho: os entrelaçamentos
hoje norteia seus alegria e coragem. Nossa peso dos anos, criaram com extrema atenção, familiares aconteceram
descendentes. Inúmeras filhos, netos, rugas
eterna homenagem a esse olhos atentos que e foram objetos de
sulcaram suas faces,
são as famílias povo desbravador, povo enxergavam brilho em pesquisa e estudo pelos
sentiram o olhar embaçar-
imigrantes que para lindo, com uma cultura cada descoberta, nossos dois
se pela saudade, e aqui
nossa felicidade diversificada e de grande valorizadas por cada historiadores. Tudo isso
permaneceram. Quando
escolheram esta região valor histórico. Esses ela doía, enxugavam as palavra, por cada data, está relatado neste
como seu segundo lar. O valores foram lágrimas uns dos outros cada foto, cada registro, tablóide, que mais do
tempo inexorável passou amplamente ressaltados mas continuavam sua cada entrevista com os que um jornal,é um
depressa e muitos tiveram nas publicações feitas por missão de tirar da terra o descendentes. Minuciosos documento histórico
condições de voltar à Luja Machado e Nilza sustento e dar o melhor de em seus estudos sobre a para ser lido e
pátria. Outros, porém, Cantoni, nos últimos 10 si pelo chão que os imigração italiana para a guardado para as
curvaram-se ao peso dos anos, a partir de 23 de acolheu. Abençoadas região da Mata Mineira, futuras gerações de
anos, criaram filhos, outubro de 1999, ainda na mãos!Benditas lágrimas! particularmente para oriundis.
A Igrejinha da Onça
A escolha da “Capela da Onça” ou, Igreja de Santo Antonio de Pádua, como símbolo de nossos estudos sobre o Centenário da Colônia Agrícola da
Constança deve-se ao fato de ser esta a imagem a que sempre se referem os entrevistados, quando abordados sobre a vida dos mais antigos. Para a maioria
deles, além da religiosidade propriamente dita, a Capela representava muito mais porque era em torno dela que se realizavam quase todas as festividades
de que participavam.
Quase todos os entrevistados se referem, com um misto de saudade e orgulho, às animadas festas anuais dedicadas ao padroeiro. Reuniam um grande
número de participantes oriundos das propriedades da redondeza, além de pessoas que vinham da sede e de outras regiões do município.
Para a construção da Capela da Onça, foi importante a participação e o trabalho de muitos habitantes da Colônia Agrícola da Constança e imediações.
A escritura pública lavrada pelo 2º Ofício de Notas de Leopoldina, datada de 21.08.1912, é um bom exemplo a confirmar estas colocações.
Esse documento trata da venda realizada por Jesus Salvador Lomba (Colono do lote nº 4) e sua mulher Maria Magdalena Lomba, de uma quarta ou, cento
e vinte e um ares de terreno, que fora adquirido do Tenente Francisco Pimenta de Oliveira e sua mulher, confrontando com as terras da Colônia e as que
pertenciam a Lino Gonçalves e sua mulher Maria das Dores Netto. Pela escritura ficamos sabendo que os compradores foram Luciano Borella, Otavio de
Angelis, Luigi Giuseppe Farinazzo, Ferdinando Zaninello, Agostino Meneghetti e Fausto Lorenzetto, além da esclarecedora informação de que pagaram
quatrocentos mil réis pelo imóvel para nele ser edificada uma Capela consagrada a Santo Antonio de Pádua. Parece evidente que estas pessoas foram
apenas os líderes de um grupo que se dispôs a investir na aquisição do terreno e na construção da igrejinha de Santo Antonio de Pádua.
E-mail: gln@leopoldinense.com.br O Jornal não mantém vínculo de qualquer espécie com seus
Telefone: (32) 3441-7125 colaboradores, sendo da responsabilidade de cada um deles o
Diretor-editor: Luiz Otávio Meneghite conteúdo de seus textos.
GRUPO LEOPOLDINENSE DE NOTÍCIAS LTDA Diretora Social: Maria José Baia Meneghite
CNPJ.: 05.763.041/0001-53 - INSCRIÇÃO MUNICIPAL 15057 Assinaturas e Publicidades: João Gabriel Baia Meneghite Programação Visual: Giovanni N. R.
Arte: Luciano Baia Meneghite Celular: 8841-3015
EDIÇÃO ESPECIAL DE 100 ANOS DA COLÔNIA CONSTANÇA Projeto Publicitário: Sérgio Barbosa França e João Gabriel Baia
Pesquisa: Nilza Cantoni e José Luiz Machado Rodrigues Meneghite Impressão: Editora Jornal de Muriaé Ltda
Supervisão: Luiz Otávio Meneghite e Maria José BaiaMeneghite CNPJ.: 00.104.415/0001-05
Rua Rafael Ienaco, 100 - Bairro Pirineus Av. Comendador Freitas, 125A - Centro
Cep.: 36.700-000 - Leopoldina/MG Tiragem: 2.000 exemplares Muriaé - MG - Cep.: 36.880-000
100 anos da Colônia Agrícola Constança 3
N quando quatro
“Núcleos Coloni-
ais Agrícolas”, re-
são; dificuldades dentro do
próprio espaço geográfico,
possuidor de montanhas ou
processo emigratório.
Teria sido o crescimento
demográfico um outro ele-
com a abolição dos escra-
vos... Tudo tornou-se solu-
ção para os problemas eco-
volução Francesa, envolve
muitos aspectos: os liames
feudais entram em decom-
adaptou à cultura local.
Honradez e abnegação des-
medida ao trabalho são ca-
ceptores dos “Imigrantes colinas, com grandes varia- mento também provocador nômicos e financeiros que posição, a posse da terra é racterísticas que os defi-
Italianos”, completam cem ções climáticas; áreas insu- da saída transoceânica? os afligiam. revolucionada e, o que tal- nem! Miscigenou-se e é ele-
anos de criação, deixamos ficientes para se cultivar; Nesse prisma aceita-se o O interesse dos italianos vez seja mais significativo, mento de evidência no cená-
registrado todo o nosso carência de tecnologia na pensamento de E. Sereni pelo Brasil na última déca- desenvolve-se a ruptura da rio deste País!
mais profundo sentimento agricultura; drenagens difí- quando descarta a possibi- da do século XIX foi acentu- solidariedade entre os cam- Sua vinda para esta Pá-
de gratidão e afeto. ceis, etc. Todos esses moti- lidade da Itália ter ado também em decorrência poneses de uma comunida- tria é motivo de pesquisas
“Colônias Agrícolas” que se vos os obrigaram a procu- superpopulação ou ser inca- do retrocesso econômico em de e de uma família, tornan- infindas...
entremeiam numa história rar soluções, migrando no paz de proporcionar traba- que os Estados Unidos e Ar- do-se o elemento humano A propósito, a partir de
semelhante, movida pelas próprio país e continente ou lho a todos: “não é a terra gentina se encontravam, livre para se dirigir onde junho/2009, Nilza Cantoni
mesmas causas que as fi- vindo para a América. “Fa- que falta, não são as condi- nossos maiores concorrentes mais facilmente pudesse e José Luiz Machado têm
zeram nascer. É zer a América” foi o sonho ções naturais que empur- na recepção de imigrantes. encontrar soluções para oferecido, aos leitores virtu-
“Constança”, é “Santa Ma- de milhares de camponeses ram (...) milhões de traba- Maria Tereza Schorer seus problemas de sobrevi- ais, o excelente “vinho” da -
ria”, é “Barão de Ayuroca”, italianos. lhadores agrícolas. A causa Petrone, em seus estudos vência. (...) “A emigração é “Contagem Regressiva” -
é “Inconfidentes”. Paralelas a essas dificul- está na forma capitalista sobre “Imigração”, eviden- problema de liberdade”. Boletim sobre o Centenário
Histórias que se mes- dades, acrescenta-se a che- da economia, nas condições cia também a questão da Cem anos são decorridos da Colônia Agrícola da
clam... que se harmoni- gada do capitalismo no e nas relações sociais. A ex- Constança” .
zam... que se tornam focos meio rural, provocando a ploração capitalista sobre “Degustamos” preciosa be-
de análises... Historiadores concentração da terra nas o camponês é aviltante”. bida arquivada nos tonéis do
e pesquisadores apaixona- mãos de grandes proprietá- Pela complexidade da ques- tempo! E, saiba prezado lei-
dos que estudam, solicitam rios o que fez acarretar au- tão achamos que todos estes ...Cem anos são decorridos da tor, acrescentou vida à histó-
e trocam informações! Uma mento de impostos sobre a fatores são evidentes como fundação dos “Núcleos Coloniais ria da saga italiana na Colô-
parceria indivisível! mesma; contração de em- motivação para emigrar. Agrícolas” em Leopoldina e nia “Santa Maria”! Um ou-
“Constança” e “Santa Ma- préstimos e o conseqüente “A força de atração dos tro “Renascimento”! Deram-
ria” vivenciam esta saga! endividamento. italianos para a América Astolfo Dutra! O italiano se nos a conhecer, entre tantas
Mas, por que o italiano Como se não bastasse, consistia na promessa de instalou e se adaptou à cultura informações, a origem dos
emigrou? sofria a concorrência dos oportunidades de sucessos local. Honradez e abnegação “Franzoni”. Afinal, tínhamos
A vinda do imigrante italia- grandes proprietários com nas áreas novas”, que é ca- pouquíssimas notas sobre o
no para a América é fato am- seus produtos agrícolas, já racterizada, entre outros fa- desmedida ao trabalho são “patriarca” “Francesco”...
plo e complexo. Duas forças que não se podia fazer fren- tores, pela existência de es- características que os definem! Estas são pinceladas so-
antagônicas polarizam sua te ao preço imposto por eles. paços vazios no Novo Mun- Miscigenou-se e é elemento de bre a tela da Imigração Ita-
saída: “expulsão e atração”. Voltar-se para a indús- do. E mais: fronteiras aber- liana cujos assentos se fize-
Fatores diversos caracte- tria não seria solução pois tas; notícias de avanço da evidência no cenário deste País!... ram em terras brasileiras e,
rizam “a força de expulsão” esta se instalava de forma lavoura cafeeira no sudeste entre elas, Leopoldina,
dos italianos de sua terra: lenta e com poucas perspec- e sul brasileiro; clima seme- Astolfo Dutra...
100 anos da Colônia Agrícola Constança 5
A “Centenário da
C o l ô n i a
Constança” vem
dar um destaque
que Leopoldina?
No final dos anos 1.800, a
Itália vivia graves proble-
mas econômicos e sociais,
italiano, bem como atraí-
dos pela sedutora propa-
ganda feita pelo governo
brasileiro que acenava com
parceladamente com o fruto
do trabalho familiar, sendo
que recebiam, ainda, semen-
tes e utensílios agrícolas.
Não eram aventureiros...
Assim, é preciso torná-los
conhecidos das novas gerações
que deles hão de se orgulhar
filho, meu neto! Você não me
conhecu logo porque eu esti-
ve escondido cem, duzentos,
trezentos anos.”
ainda maior ao excelente gerando, inclusive, o desem- a possibilidade de um futu- Assim, surgiram em nos- e neles hão de se reconhecer! À comunidade de
trabalho de pesquisa reali- prego e a fome. ro certo e com a doação de sa região as centenárias Co- 100 anos da Colônia Leopoldina, à Nilza e ao
zado, em conjunto, pelos A cobrança de elevados im- terras, além da passagem lônias Constança, em Constança! José Luiz, que se mobilizam
leopoldinenses Nilza postos sobre a produção agrí- paga, milhares de pessoas Leopoldina, “Santa Maria”, Nosso respeito aos imi- para a comemoração desta
Cantoni e José Luiz Macha- cola levou os pequenos agri- romperam laços familiares, em Astolfo Dutra, ambas grantes e aos seus descen- tão importante data, vol-
do, cujo objetivo não é ape- cultores ao endividamento abandonaram sua pátria e criadas em 1910, e a “Ma- dentes, a quem homenage- tando os seus olhos no pas-
nas tirar do esquecimento, com a consequente perda de partiram nos navios jor Vieira”, em Cataguases, amos através das emocio- sado, mas mirando seu pro-
mas reviver e reacender o suas terras. superlotados para uma criada em 1911. nadas palavras de Pedro missor futuro, parabéns!
DEBULHANDO O PASSADO
Lucimary Sangalli Vargas lho” e sem serventia, que só de trazer à tona toda a histó- crise e vieram “fazer a Améri- centenário de fundação da que o conhecimento da nossa
Leopoldinense, descendente dos ocupa espaço nas “pratelei- ria de um povo, de um lugar. ca”, alimentados por sonhos Colônia Agrícola da história: recebemos a respon-
Borella, Sangalli, Lorenzetto e ras da vida”. Felizes nós, leopoldinenses, e desejos de uma vida melhor, Constança, tendo a certeza sabilidade da preservação e
Sangirolami
É tarefa hercúlea, que ra- que contamos com estes ra- de construírem aqui o que já que sua história de vida não continuação deste tão impor-
ebulhar o passa- ros são os que se propõem a ros guerreiros, que tanto de si não encontravam por lá. ficará esquecida, nos braços da tante trabalho.
Memória e História
oda pesquisa é planejada a partir de um tema que desperta o interesse. ais e construídas pelo poder, que permitem facilmente a identificação das escolhas
F em nossos estudos,
os Livros Paroquiais
foram indicados por
Gilberto Freyre, no
por um recorte sobre observa-
ções realizadas ao longo do le-
vantamento de dados nos livros
paroquiais de Leopoldina, rela-
bre as massas e não sobre
as elites, precisa verificar a
incidência destas e de outras
práticas para diminuir o ris-
conclusões superficiais que
não condizem com a realida-
de e que, infelizmente, estão
presentes em antigas obras
prefácio da primeira edição de tivos ao período de 1861 a 1930, co de contaminação de uma de referência para a nossa
Casa Grande & Senzala, em especialmente da Igreja Matriz pesquisa. Uma interpreta- história.
1930, como necessários para da sede municipal. Segundo Ma-
estudos sobre a família. Acre-
ditamos que se o período de ob-
ria Beatriz Nizza da Silva, em
Sistema de Casamento no Bra-
ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
servação for anterior a 1931, sil Colonial, página 85, “contrair O levantamento dos dados ma, a data inicial reúne o mo-
poucas fontes serão tão infor- esponsais significava, no Brasil foi realizado nos livros de ma- mento em que as informações
mativas quanto aquelas que se colonial, [...] seguir um rito, um trimônios da Paróquia de São estão mais bem dispostas nos
encontram nos arquivos eclesi- cerimonial, com data marcada Sebastião da Leopoldina do livros de assentos e o início
ásticos. Isto porque, embora o como um casamento, assistido período de 1861 a 1930. O es- efetivo de casamentos entre
registro civil tenha sido implan- também por testemunhas”. Nós tado de conservação é diferen- eles.
tado ainda ao tempo do Impé- fomos buscar tais indícios e a te entre as várias unidades do Quanto à data final, foi de-
rio, seus custos mostravam-se forma como apareciam no final acervo e nem todos são livros finida com base na constatação
superiores aos praticados pela do século XIX, coletando infor- originais. Entre outros riscos, de que após 1930 os casamen-
igreja. Esta situação só se modi- mações nos livros paroquiais de o encapamento com material tos já envolviam a segunda
ficou com o Decreto nº 19.710, matrimônios. Deste trabalho plástico, inadequado à conser- geração de descendentes e o
de 18.02.1931, que liberou de ressaltou um aspecto que diz vação, poderá antecipar o fim objetivo era registrar a
multa os registros em atraso. respeito à representa-tividade da vida útil do material. mesclagem na população de
Sendo assim, qualquer estudo dos imigrantes na composição Realizamos uma análise Leopoldina entre os naturais
sobre antigas famílias ficaria in- da sociedade leopoldinense, no comparativa e excluímos os de outros países e seus filhos.
completo se não considerasse os período de transição que vai do dados que apresentam diver- A destacar, ainda, a dificul-
assentos paroquiais. fim do Império à consolidação gências significativas, especi- dade de identificação dos na-
Entretanto, nosso projeto não da República. almente no que tange ao des- turais de Portugal e Espanha,
se destinava a analisar a famí- Quantos teriam sido estes vio padrão para a quantidade cuja origem nem sempre apa-
lia, quer seja pelo conceito am- imigrantes? Esta foi a ques- de eventos anuais. Decidimos, rece nos registros transcritos
plo que interessa aos sociólogos, tão que nos propusemos, ao final, pelo recorte tempo- pelo Padre Aristides. Conside-
através das noções de parentes- com o objetivo de ampliar o ral que vai de maio de 1890 a rando que esta ausência pode
co e compadrio, nem tampouco conhecimento sobre o perí- Altar da Capela de Santo Antônio de Pádua, igreja da Colônia dezembro de 1930. ter acontecido também com
pelo sentido restrito que se vol- odo em que foi fundada a ríodo colonial, não é difícil ob- dões de batismo, atestado de Lembramos que o grande imigrantes árabes, cujos no-
ta para a família nuclear, for- Colônia Agrícola da servar que as diferenças per- residência e certidão de óbi- fluxo de imigração para mes foram mais intensamen-
mada pelos progenitores e seus Constança. maneciam, um pouco suavi- to do primeiro cônjuge quan- Leopoldina ocorreu entre 1888 te aportuguesados, é necessá-
zadas, no final do Império. E do o contraente fosse viúvo. e 1898, sendo que os casamen- rio um certo cuidado no senti-
FATOS NORTEADORES talvez acrescidas de um ou- O processo de casamento, tos entre os estrangeiros che- do de considerar estas conclu-
Para além da coleta mecâ- cia nos quais a Igreja tro problema relatado por portanto, envolvia o dispên- gados em 1888 começaram sões tão somente como a vi-
nica de dados, os livros paro- desaconselhava festivida- Nizza da Silva em relação à dio de somas consideráveis partir de 1890, já que poucos são da população de
quiais permitem perceber des. Ainda assim, apenas nas permissão de casamentos nos casos em que os eram os jovens solteiros, com Leopoldina com base nos re-
que “os sistemas de áreas mais afastadas dos entre mancípios. Trata-se, nubentes tivessem nascido idade para contrair matrimô- gistros paroquiais de casa-
nupcialidade não eram idên- centros populosos o número neste caso, das provisões em outro local. nio, que passaram ao Brasil mentos da Paróquia de São
ticos”, como ressalta Mary de casamentos entre pesso- exigidas pela igreja para a Este complicador para os com suas famílias. Desta for- Sebastião de Leopoldina.
del Priore em História do as livres era reduzido dras- realização do matrimônio. casamentos de escravos fa-
Amor no Brasil, página 63. ticamente no Advento, na Lembra a autora que as zia-se presente para os imi- CONCLUSÃO
Abordando o período coloni- Semana Santa e na Quares- Constituições Primeiras do grantes. Para estes, o proces- Além de confirmarmos a pre- nhóis, sírios, açorianos, france-
al, a autora informa que ha- ma. Já para os escravos, ha- Arcebispado da Bahia, que so poderia estender-se por sença de várias nacionalidades ses, canarinos e egípcios).
via diferenças entre os casa- via uma outra imposição: regiam no Brasil as normas longo tempo diante da neces- vivendo em Leopoldina, o re- Sendo assim, nossa hipóte-
mentos de livres e de escra- durante o período de semea- exaradas pelo Concílio sidade do imigrante provar sultado deste trabalhou indicou se sobre o peso dos imigrantes
vos, sendo que aqueles podi- dura ou de colheita eles não Tridentino, não esclarecem ser batizado e solteiro. A al- que, entre 1890 e 1930, 10% da na formação da sociedade
am escolher livremente o mo- recebiam permissão de seus quais documentos eram ternativa era a apresentação população local era composta leopoldinense que adentrou o
mento da união, embora ob- senhores para realizarem os enfeixados no conceito de pro- de fianças e cauções que não por estrangeiros, sendo 9% ita- século XX encontrou, neste
servando o “tempo proibido”, rituais religiosos. visões, sendo possível supor estavam ao alcance da popu- lianos e 1% das demais nacio- estudo, a sustentação que bus-
ou seja, períodos de penitên- Embora se refiram ao pe- que fossem exigidas certi- lação mais pobre. Um pes- nalidades (portugueses, espa- cávamos.
8 100 anos da Colônia Agrícola Constança
gia do Saber, a forma tradicional de história se dispu- todo o capital disponível destinava-se exclusivamente a co, quer pela dificuldade de locomoção. Comprava-se e
nha a memorizar os monumentos do passado, transfor- plantar ou manter os cafezais. Isto porque, segundo docu- consumia-se o que o “coronel permitia”.
mando-os em documentos. Agora, a história transfor- mentos de arrecadação estadual, das 889 propriedades ru- A grande mudança veio, então, com a chegada do imi-
ma os documentos em monumentos que sustentam a rais de Leopoldina, com renda anual superior a 500$000 na grante. Embora não tenhamos uma fonte segura de dados
memória da sociedade. primeira década do século XX, apenas 435 eram dedicadas para o período, baseando-nos na contagem populacional de
Escolhemos uma via que se contrapõe à história tra- à cafeicultura. 1872 temos que 40% dos habitantes de Leopoldina naque-
dicional, a qual se concentrava em acontecimentos di- Insurgimos-nos contra a idéia de que nossa região produzia le ano pertencia à classe dos escravos. Dezoito anos depois
tos importantes, relegando ao esquecimento o que clas- apenas café, o que nos obrigaria a crer numa “hipotética” o município abrigava pelo menos 8,5% de moradores de
sificava como desnecessário perpetuar. Entendemos por brusca mudança para a produção leiteira. E o fazemos por- origem estrangeira (imigrantes). E já no início do século
inviável tal posição, na medida em que os historiado- que depoimentos dos descendentes nos mostram que havia seguinte este número crescia de forma significativa.
res do passado determinaram o que seria importante a outros tipos de produção nas fazendas onde trabalharam os Fácil se torna concluir que o impacto desta nova força de
partir de uma visão particular de mundo que não é imigrantes e que exatamente essa diversidade de funções foi trabalho modificou profundamente a economia do muni-
mais aceitável. Nossa escolha fundamenta-se, entre a grande responsável pela inserção desses estrangeiros na cípio. No início, através do sistema de colonato implan-
outras, nas palavras de Fernand Braudel em Escritos sociedade local. Foi o grande número de atividades ligadas à tado nas fazendas que ainda fazia com que a circulação
sobre a História, quando declara que não existe “indi- agricultura, à pecuária e às demais práticas humanas que de mercadorias continuasse sob o poder dos mesmos
víduo encerrado em si mesmo”. Para ele, todas as aven- facilitou a inserção dos profissionais imigrantes e modificou comerciantes do período escravista. Mas não tardou
turas individuais se fundem na realidade social. Opta- totalmente o “retrato da região”. muito e vieram as primeiras mudanças de postura, for-
mos pela reação contra “a história arbitrariamente çadas pela demanda do imigrante que chegara com ou-
reduzida ao papel dos heróis quinta-essenciados” como As mudanças tros valores e outra socialização.
disse este pensador, porque realmente acreditamos que Quer nos parecer que, para entendermos o que ocorreu com a A partir de então, verificamos que não era mais somen-
a história modula o destino dos homens. economia e com a sociedade da nossa região no início do século te o feitor que se dirigia ao ponto de venda em busca dos
Na medida em que pudermos dar voz aos que foram XX, precisamos analisar a grande mudança ocorrida no modo suprimentos. Agora com trabalhadores remunerados, os
desconsiderados pela história tradicional, estaremos de produção das nossas fazendas. fazendeiros não podiam mais determinar a aquisição de
contribuindo para um novo lugar de memória, onde os Para nós, o problema deve ser analisado pela ótica marxista certos produtos de fornecedores previamente acordados.
leopoldinenses poderão obter outros componentes de sua de organização sócio-econômica, por onde se vê que o desenvol- O imigrante passou a decidir onde e quando comprar.
identidade. Não basta mencionar os silêncios da histó- vimento decorre da forma como as forças produtivas são em- Em sua ânsia de fare l’America, impunha todo tipo de
ria tradicional, declarou Jacques Le Goff; é preciso ques- pregadas nas relações de produção. Isto é, para compreender- sacrifício para sua família, tendo por catecismo a neces-
tionar os documentos, interrogar-se sobre as lacunas e mos os fatos sociais e políticos dependemos da análise do sidade de poupar sempre, todos os dias, em todos os
preencher os espaços em branco da história. modo de produção de riquezas daquela sociedade. Ou, confor- momentos da vida. Se o preço cobrado ou as condições do
Nossos estudos sobre a presença de estrangeiros em me ensina Marc Bloch em Apologia da História, “nunca se negócio lhe pareciam inadequadas, era o imigrante que
Leopoldina envolveram informações sobre diversos mu- explica plenamente um fenômeno histórico fora do estudo de decretava o fim do consumo daquele produto, o que obri-
nicípios vizinhos, com vistas a conhecer o ambiente em seu momento”. Fugir da ignorância do passado, acrescenta gava o comerciante e rever seus conceitos.
que os fatos ocorreram. Para este aspecto, estabelece- Bloch, é romper com um limite que nos impede de comprender Outra mudança que trouxe grande contribuição foi a
mos como ponto de partida a década de 1870, por repre- o presente e, por consequência, a ação do homem no presente. do sistema de contratação. Em entrevistas com descen-
sentar o início das modificações estruturais importan- Sabemos que a escravidão desenvolveu-se em solo brasilei- dentes dos primeiros imigrantes, descobrimos que a renda
tes no processo de urbanização da região, desencadeadas ro em função da estrutura econômica e social do regime contratada com o fazendeiro independia de eventos da
com a abertura da Estrada de Ferro Leopoldina. colonialista. A atividade agrícola tinha por objetivo suprir a natureza. Assim, uma quebra de safra não afetava o
O impulso desenvolvimentista promovido pela estra- necessidade de alimentos da população local e a formação de ganho da família colona. Por outro lado, os trabalhado-
da de ferro pode ser analisado a partir das primeiras estoques a serem comercializados na metrópole e que, no caso res realizavam um sem número de tarefas extras, sem-
estações ferroviárias, instaladas em comunidades ur- específico de Leopoldina, era feito através do entreposto co- pre remuneradas à parte. Soubemos de casos em que o
banas que logo depois passaram a contar com os servi- mercial localizado na Corte. chefe da família imigrante alugava sua própria força de
ços de água encanada, esgoto e energia elétrica. A mentalidade escravocrata do período imperial desvalori- trabalho para atividades extraordinárias como a derru-
Concluímos que, ao lado da estrada de ferro, o café teve zava o trabalho manual, herança sócio-cultural de épocas bada da mata, o fabrico de móveis ou a construção de
grande importância no desenvolvimento da região. En- imemoriais. Por conta disso, a elite dominante não atuava casas. Enquanto isso, a esposa e os filhos cuidavam da
tretanto, permitimo-nos discordar da afirmação mais diretamente. Os donos das terras apenas supervisionavam manutenção das tantas “ruas de café” pelas quais assu-
ou menos geral de que, nesse período, foi unicamente a seus feitores, eximindo-se e a seus filhos e parentes de qual- mira compromisso com o proprietário da fazenda.
exploração de cafezais que sustentou o progresso desta quer atividade que pudesse denegrir sua posição social. Além disto, ao ser contratado o colono passava a ter
parte da mata mineira. Neste panorama, o mercado consumidor era bastante fe- direito a um pedaço de terra onde podia plantar os víve-
Esta afirmativa é uma simplificação perigosa, uma chado. Os bens de consumo necessários à manutenção das res de que necessitasse. Soubemos do exemplo de uma
vez que o café não foi a única riqueza do lugar. Até por- propriedades, bem como de seus habitantes, eram adquiri- família italiana que conseguiu tão grande produção de
que, segundo a memória documental, nem todas as pro- dos de fontes restritas. Uns poucos comerciantes, de confor- milho em seu “quintal” que, no ano seguinte, vendeu
priedades dedicavam-se exclusivamente aos cafezais midade com os fazendeiros, concentravam o poder de nego- fubá para a própria cozinha da fazenda.
quando os imigrantes aqui chegaram. Sabemos que ciar bens de natureza variada, adquirindo-os diretamente Para nós, foram estas atitudes, estas novas formas de
muitas fazendas contavam com extensos plantéis de gado do produtor rural – um fazendeiro de grande lastro ou encarar o trabalho e esta ferrenha vontade de vencer do
bovino, por exemplo. entrepostos do Rio de Janeiro. Com esta prática, ao consu- imigrante que fizeram modificar substancialmente a eco-
Nosso questionamento se refere a algumas interpre- midor não era dado o direito de buscar outros fornecedores, nomia do município. Mudanças com reflexos evidentes,
tações apressadas, dando conta de que todos os braços e quer pela imposição velada dos detentores do poder políti- principalmente, no modo de produção e nas relações de
trabalho e consumo que resultaram, nos anos seguintes, em temente as práticas de estados vizinhos: o sul do estado casas próximas.
profunda alteração na vida sócio-econômica de Leopoldina e, voltado às práticas das lavouras paulistas e a Zona da Mata, Ao compararmos informações de diversas fontes, ob-
acreditamos, de todas as cidades que receberam grande vinculada economicamente ao Rio de Janeiro. servamos a junção de vários fatores que promoveram,
número de trabalhadores livres naqueles últimos anos do Esclareça-se que o sistema gerou também a figura do “co- no caso de Leopoldina, o crescimento de áreas como o
século XIX. missário”, pessoa encarregada de realizar os negócios de bairro Ventania ou Quinta Residência, que surgiu às
Olhar para o passado nos ajuda a compreender suas con- interesse dos fazendeiros que não podiam ou não queriam margens do antigo leito da Rio-Bahia, desenvolveu-se
seqüências que, em última análise, configuram o contexto se deslocar até a Corte. Em Leopoldina, observamos que com a instalação da Residência do DER-MG e transfor-
em que nós vivemos na atualidade. No caso de Leopoldina, estes comissários eram, quase sempre, agregados das fa- mou-se num bairro bastante populoso.
analisar sua gente nos permite conhecer aspectos talvez mílias de maior poder econômico, tanto quanto o eram os Mas antes mesmo da abertura da antiga rodovia, ali
insuspeitos da nossa história. Ao reunir informações sobre a proprietários das “vendas”. já estavam residindo diversas famílias de imigrantes.
presença dos imigrantes, aos poucos fomos compreendendo Estes pontos de comércio, que durante muitos anos man- Para melhor explicar nossa hipótese de ocupação da-
que havia um divisor de águas na história econômica do tiveram a denominação de “venda de secos e molhados”, quela área da cidade, precisamos voltar um pouco no
município e que este marco passava pelos colonos. Donde estão na origem de grande parte do comércio de cidades tempo.
levantamos uma hipótese: o pólo irradiador de convivência, como Leopoldina, bem como neles se localizam as primei- Duas antigas fazendas existiam nas proximidades
gerando interações entre estrangeiros e nacionais, teria sido ras mudanças de atividade econômica do período imediata- do que hoje é o bairro Ventania: Palmeiras e Santo
o caminho mais tarde conhecido como Estrada de Tebas. mente posterior à libertação dos escravos. Antônio do Onça. Nesta última a Câmara Municipal
Para o funcionamento dos antigos estabelecimentos co- de Leopoldina tinha instalado um núcleo colonial na
O comércio merciais, eram necessários alguns funcionários tais como
o “moleque de recados”, o “entregador de compras”, o bal-
última década do século XIX.
Na então Colônia Santo Antônio trabalharam diver-
No final do século XIX, alguns italianos já não traba- conista ou caixeiro e uma pessoa que se ocupasse do rece- sos imigrantes que, posteriormente, foram engajados
lhavam em propriedades particulares, mas numa colô- bimento e pagamentos na ausência do proprietário. E se nos serviços de formação da Colônia Agrícola da
nia organizada pela Câmara Municipal de Leopoldina. num primeiro momento todo o ciclo era exercido pela espo- Constança. Ao que parece, muitos não conseguiram o
Para este núcleo colonial, denominado Santo Antônio, sa e filhos daquele personagem que teve permissão do financiamento do estado para adquirirem lotes na Co-
dirigimos nossos esforços no sentido de compreender fazendeiro para estabelecer-se com uma casa comercial, lônia fundada em 1910. Em consequência, alguns fo-
como se deu a mudança de atividade dos imigrantes. Se na última década dos anos oitocentos já vamos encontrar ram viver como agregados nos lotes, enquanto outros
no início eram colonos lavradores, logo passaram a atu- os filhos dos imigrantes ocupando alguns destes postos. migraram para a periferia do núcleo urbano e se fixa-
ar como pequenos artesãos e comerciantes de verduras, Por esta razão, interessa-nos estudar o percurso que ti- ram principalmente no atual bairro Ventania.
legumes e frutas. A conseqüência desta modificação no rou o imigrante da lavoura e o trouxe para o núcleo urbano, Esclareça-se, para finalizar, que a ocupação inicial des-
sistema de produção parece ter se refletido na cidade, bem como resgatar os elementos facilitadores para sua te bairro deu-se no percurso que serviu de base para a
abrindo novos mercados de trabalho e oportunidades fixação na cidade. Para este trabalho contribuíram, em Estrada com destino a Tebas que, pelas fontes consulta-
para o estabelecimento de uma relação de emprego e grande parte, as entrevistas concedidas por descendentes das, vinha sendo desenhada desde 1881, embora Mário
renda que influenciou diretamente a economia local. dos imigrantes. E aqui cabe uma digressão. de Freitas afirme que em 1926 veio para Leopoldina
Quando buscamos literatura sobre os últimos decê- com o objetivo de trabalhar nas obras da estrada que,
nios do século XIX, observamos que a atividade econô-
mica baseava-se num sistema bastante simples de
O crescimento da cidade partindo da atual Rua Joaquim Guedes Machado, liga-
ria a cidade de Leopoldina ao distrito de Tebas.
trocas. As fazendas produziam insumos que eram Não são poucas as obras publicadas sobre o desenvolvi-
comercializados nos grandes centros e ali eram adqui- mento urbano dos grandes centros brasileiros. Para não
ridos os demais produtos necessários à vida nos núcle- tornar cansativa nossa exposição, delas retiramos apenas Um dos casos relata que, nos
os mais afastados. O funcionamento do ciclo comercial um elemento diretamente ligado ao nosso tema: o cresci-
completava-se com um pequeno entreposto existente mento das periferias, promovido pela migração interna
primeiros anos do século XX,
em todo arraial e em vias de ligação entre as fazendas conhecida como êxodo rural. Por diversas razões, inclusive seus avós transformaram a
e o núcleo povoado: eram as “vendas”, destinadas a econômicas, a família que deixa a área rural vai residir
negociar gêneros da terra com os moradores locais. Os em áreas no entorno do núcleo do povoado. Dali passa a cozinha de uma casa em uma
proprietários destes pontos comerciais geralmente atender às necessidades dos moradores locais, exercendo
eram vinculados aos grandes fazendeiros que lhes per- atividades tão variadas quanto a construção de pequenos
padaria, no início da Rua
mitiam adquirir pequena parte da produção local para artefatos em madeira, o plantio e venda de frutas e verdu- Manoel Lobato. Ali, enquanto
oferecer aos moradores que necessitassem daqueles ras, atividades da construção civil etc. Assim o confirmam
produtos, além de formar seus estoques também com os descendentes que temos entrevistado. Muitos deles in- os adultos cuidavam da massa e
bens adquiridos nos grandes centros. formam que, quando seus pais ou avós deixaram as fazen-
Assim é que, em autores que estudaram o século XIX, das, estabeleceram-se na periferia da cidade de Leopoldina
do forno, os menores ficavam
é comum encontrarmos referências às viagens de com- e toda a família passou a exercer alguma atividade remu- encarregados do balcão, além
pras que levavam os fazendeiros mais abastados até a nerada. Um dos casos relata que, nos primeiros anos do
Corte – o Rio de Janeiro, onde vendiam a produção agrí- século XX, seus avós transformaram a cozinha de uma da horta e de levar as verduras
cola e adquiriam produtos para consumo de suas famí- casa em uma padaria, no início da Rua Manoel Lobato.
lias e para serem comercializados nos “armazéns” das Ali, enquanto os adultos cuidavam da massa e do forno, os
e legumes para vender nas
pequenas cidades. Norma Góes Monteiro declarou que, menores ficavam encarregados do balcão, além da horta e portas das casas próximas.
no estado de Minas, duas regiões absorveram mais for- de levar as verduras e legumes para vender nas portas das
como a segunda maior
colônia do estado em
número de habitantes.
Ao serem emancipadas,
Grupo de imigrantes com as colônias agrícolas
destino a Minas Gerais, sofriam pequena
década de 1890 mudança administrativa,
especialmente no que se
refere ao fornecimento de
equipamentos e
sementes. Mas de acordo
com a mensagem do
presidente Fernando de
Mello Vianna em 14 de
julho de 1926, “apesar de
emancipadas e com vida
autônoma, permaneciam
subordinadas às leis
gerais do Estado e do
país”.
As despesas de
manutenção da
estrutura foram
mantidas até a extinção
de cada colônia, não
tendo havido um prazo
previamente
determinado para que
fossem dispensados os
AIS
funcionários
A colônias
agrícolas em
Minas Gerais foi
através dos trilhos da
Estrada de Ferro da
Leopoldina.
Por outro lado é
Recuperamos um
trecho da mensagem do
Presidente Bias Fortes,
em 1895, dando conta de
subsistência, tendo sido
este um fator a
direcionar o projeto de
Em 1911, um ano após
sua fundação, a
Constança ocupava a 7ª
mensagens presidenciais
foram mencionadas
despesas de manutenção
determinada pela implantação das posição em número de das casas-sede, limpeza
necessidade de se importante reafirmar que que a situação da colônias agrícolas em habitantes, superando 4 de córregos, reparo de
oferecer atrativos que desde a década de 1880 lavoura mineira era Minas Gerais. Entre núcleos mais antigos. pontes e outros serviços
fixassem os imigrantes havia uma intensa preocupante, 1893 e 1900, foram Em 1912 já era a 2ª, nas estradas internas
no estado. O caminho movimentação política no especialmente porque a instalados sete núcleos tendo à frente a Rodrigo dos núcleos, por longo
encontrado pelos nossos sentido de facilitar a alta do preço do café coloniais, sendo 5 nos Silva, de Barbacena. No tempo após a
dirigentes foi, então, criar entrada de estrangeiros, estava atraindo a grande arredores de Belo ano seguinte a Santa emancipação.
e incentivar a criação de de modo a atender a falta maioria dos Horizonte, um em Pouso Maria, de Astolfo Dutra, Acreditamos que tais
núcleos agrícolas em de braços para a lavoura. proprietários que não se Alegre e outro em alcançou a segunda serviços fossem
terras devolutas e no Assim, quando da criação ocupavam mais do Lambari. posição, ficando a realizados pelos
entorno das estradas que da Colônia, Leopoldina plantio de cereais. Sendo Em 1907, já com novas Constança em 3º lugar próprios colonos,
se abriam, inclusive a contava com um bom assim, o preço dos orientações do executivo no número de habitantes representando uma
ferrovia. número de imigrantes gêneros alimentícios era estadual, surgiu mais e na produtividade. Nos renda adicional para
Como parte dessa espalhados por diversas muito alto e a solução um núcleo em Belo anos seguintes a Rodrigo além do cultivo da terra.
política ocorreu a criação fazendas, algumas em seria incentivar culturas Horizonte e um em Silva manteve-se como a Analisando as falas
da Colônia Agrícola da decadência, o que levou o intensivas que não Itajubá. Em 1908 a de maior número de anuais do dirigente
Constança, que tinha por povoamento inicial da demandavam a União implantou uma habitantes mas sua estadual até 1930, é
objetivo o Constança a ser necessidade de muitos colônia em Sete Lagoas. produção foi caindo, possível supor que a
desenvolvimento da constituído trabalhadores nem Em 1910 foi a vez de cedendo a posição para a extinção só ocorria após
agricultura do município, principalmente por muitos recursos Leopoldina, Astolfo Constança e a Santa todos os lotes terem
aproveitando o braço imigrantes chegados antes financeiros. Dutra, Mar de Espanha e Maria alternadamente. sido quitados e emitidos
imigrante e as da sua criação, ocorrida Havia uma Ouro Fino. Nos anos A partir de 1915 a todos os títulos
facilidades para o em 12.04.1910, pelo preocupação dos subsequentes, outras Constança manteve-se definitivos de posse.
100 anos da Colônia Agrícola Constança 15
lguns dos imigran- Agricultura deste ano apre- dos a Minas Gerais. Pelo
A
AS HOSPEDARIAS
tes que se instala- senta um histórico das duas que foi possível apurar, esta
ram em principais hospedarias que agência fiscal esteve locali-
Leopoldina não vi- funcionaram por conta da zada no próprio porto do Rio,
eram diretamente do país União no período do maior não sendo necessário hos-
de origem. Um bom núme- fluxo de imigrantes ao país. pedar os imigrantes na Ilha
ro esteve em outros núcleos A propriedade da Ilha das das Flores.
de colonização, da mesma Flores fora adquirida em Ainda assim, e conside-
forma que colonos 1882 e no ano seguinte pro- rando a possibilidade de va-
leopoldinenses foram tentar cedeu-se à instalação de alo- riações nos procedimentos,
a vida noutras localidades, jamentos compostos de dor- lembramos que um
num deslocamento que ter- mitórios coletivos, salas normativo federal, o Decre-
minou por provocar a forma- para enfermaria e consultó- to nº 696, de 23 de agosto de
ção de grupos de um mes- rio médico, escritórios, quar- 1890, declarou “de utilida-
mo sobrenome em terras tos para os empregados e de pública a desapropriação
distantes. Mas a regra ge- sala de arrecadação. Segun- da Fazenda do Pinheiro, na
ral era passarem por uma do o relatório do Ministro Estação da Estrada de Fer-
hospedaria e de lá saírem da Agricultura de 1883, a ro Central do Brasil”, que
contratados por fazendeiros Hospedaria da Ilha das Flo- passou a servir ao Ministé-
ou, estimulados por alguma res começou a receber imi- rio da Agricultura, Comér-
razão especial, partirem grantes no dia 01 de maio cio e Obras Públicas como
para um endereço certo. daquele ano, num total de Ancoradouro e Prédio Principal da hospedaria de imigrantes a
De acordo com documentos 7.402 indivíduos, sendo que Hospedaria da Ilha das Flores na partir de 28 de março de
década de 1890
relativos à Divisão de Terras 987 foram encaminhados 1891. A Hospedaria do Pi-
e Colonização, em 1888 es- para Minas Gerais. Em nheiro ali funcionou até ju-
tava sendo construída a Hos- 1884 foram realizadas lho de 1897, sendo extinta
pedaria Provincial em Juiz obras de melhoramento, Em 1890, com a Hospeda- epidemia que se alastrou obras específicas para o ser- pelo decreto nº 2598, de 31
de Fora, posteriormente de- com destaque para o depó- ria de Juiz de Fora pela congênere mineira, viço de acolhimento dos imi- de agosto de 1897.
nominada Hospedaria Hor- sito de bagagens, servido desativada, a hospedaria causando recusa dos fazen- grantes na Ilha das Flores Em 1897, ao desativar a
ta Barbosa. Segundo Nor- por uma linha de trilhos e fluminense passara por no- deiros em contratar colonos que no ano seguinte foi ocu- Hospedaria do Pinheiro, o
ma de Góes Monteiro no li- ponte com guindaste. Nos vas obras, como a constru- que poderiam infectar-se na pada pelas forças militares, Ministério da Agricultura
vro Imigração e Colonização anos de 1885 e 1886 foram ção de dois novos alojamen- instituição de Juiz de Fora. por conta da Revolta da Ar- emitiu o aviso número 115,
em Minas 1889-1930, esta feitas algumas obras, espe- tos e um novo refeitório. No No final de 1894, o enca- mada. Ressalte-se que, se- datado de 29 de outubro,
Hospedaria foi inagurada cialmente de reparo em ins- ano seguinte ocorreram pro- minhamento dos imigran- gundo o Decreto nr. 644, de determinando que a partir
em maio de 1889 e pratica- talações deterioradas pelo blemas no porto de Santos, tes contratados pela pro- 09 de setembro de 1893, o de então as instalações se-
mente abandonada seis uso. Em 1888, com o crescen- tendo o movimento sido dis- víncia de Minas Gerais te- governo mineiro havia fir- riam transferidas para o Mi-
meses depois, com a mudan- te movimento imigratório, tribuído entre Rio e Vitória. ria voltado a funcionar mado convênio com o do Es- nistério da Guerra, razão
ça no sistema de governo. houve necessidade de au- Em 1893 os imigrantes como no período anterior, ou pírito Santo para que os pela qual os moradores, ar-
Antes da existência da mentar os alojamentos, tor- destinados a Minas Gerais, seja, do porto eram encami- imigrantes que chegassem rendatários, e meeiros que
Horta Barbosa, os imigran- nando-os capazes de compor- que chegaram entre agosto nhados para a estação fer- naquele período, com via- ali se estabeleceram a par-
tes eram acolhidos no Rio tar até 2.000 pessoas. Ao e novembro, foram encami- roviária, sendo embarcados gem subvencionada por Mi- tir de janeiro de 1895 se-
de Janeiro, num sistema mesmo tempo, a União in- nhados diretamente para a no trem que os levariam nas Gerais, fossem recebi- riam indenizados ao pre-
que não obedeceu a um úni- dicava a necessidade das Hospedaria Horta Barbosa. para Juiz de Fora. Prova- das na Hospedaria da capi- ço de “2 reaes por metro
co modelo. De modo geral, províncias cuidarem da ma- Em dezembro daquele ano, velmente esta regulariza- tal daquele estado. quadrado de terras” que
muitos descendentes se re- nutenção de suas hospeda- informa o Ministro da Agri- ção foi um reflexo do Decre- Em junho de 1894 a Hos- ocupavam.
ferem à Ilha das Flores rias, de modo a que os imi- cultura, uma epidemia de- to nº 752, de 03 de agosto pedaria da Ilha das Flores No Relatório apresen-
como local em que obriga- grantes fossem encaminha- senvolveu-se no Vale do de 1894, que reestruturou voltou a servir à Inspeto- tado pelo Ministro Anto-
toriamente ficaram seus dos por linha férrea tão logo Paraíba, determinando a a Hospedaria Horta Barbo- ria de Terras, órgão que até nio Francisco de Paula
antepassados. Pelo que pu- liberados da Agência Nacio- suspensão do tráfego na sa. Entretanto, o ministro dezembro de 1896 foi en- Souza em 1893, ao Vice
demos apurar, nem todos nal dos Portos, ou seja, do Estrada de Ferro Central e Antonio Olinto dos Santos carregado do acolhimento Presidente da República,
passaram por ali. Serviço de Imigração. por este motivo, a pedido do Pires declarou que no ano dos imigrantes, sendo en- informa-se que a Hospe-
Em 1898, o serviço de imi- Uma análise comparati- governo de Minas, os imi- de 1895 a Hospedaria do tão extinto e seus serviços daria do Pinheiro foi
gração e colonização estava va entre os livros de matrí- grantes que se destinavam Pinheiro recebeu imigran- transferidos para a Dire- inaugurada no dia 01 de
a cargo das províncias, fi- cula na Hospedaria da Ilha à Horta Barbosa foram re- tes provenientes da hospe- toria Geral da Indústria. março de 1891, localiza-
cando por conta da União das Flores e os registros na colhidos na Ilha das Flores daria de Juiz de Fora, em Entretanto, segundo deter- da à margem da Estra-
apenas o recebimento e hos- Hospedaria de Juiz de Fora entre 11 e 25 de dezembro função de epidemia que ali minou o Decreto nº 612, de da de Ferro Central do
pedagem dos espontâneos, demonstra que entre junho de 1893. Logo depois, 630 se desenvolveu. 06 de março de 1893, foi Brasil, na antiga fazen-
que eram em número rela- de 1888 e maio de 1889 os deles foram encaminhados Segundo o Relatório do criado no Rio de Janeiro da do Pinheiro, com o ob-
tivamente pequeno. O Re- nossos imigrantes não pas- para a Hospedaria do Pi- Ministro da Agricultura, em um ponto de desembarque jetivo de receber os imi-
latório do Ministério da saram pela Ilha das Flores. nheiro por conta de uma 1893 já não ocorreram dos passageiros destina- grantes doentes que não
A Construtura
Cherem parabeniza
a todas as famílias
descendentes dos
italianos que muito
fizeram para o
desenvolvimento
desta nobre terra de
Leopoldina.
16 100 anos da Colônia Agrícola Constança
deveriam ficar junto com os Formação das Estradas de imigrantes. do viagem com destino à
demais na Hospedaria da Ferro no Rio de Janeiro, li- Por esta épo- Estação de Vista Alegre e a
Ilha das Flores. Entretanto, gando o Rio de Janeiro a ca funcionava bagagem não tinha seguido
os números apresentados no Minas e a São Paulo. a Colônia junto porque “o vapor chegou
relatório ministerial para o Além dos núcleos acima Santo Antô- às 3 horas” e não foi possí-
ano de 1892 demonstram mencionados, imigrantes que nio, instalada vel contratar “a catraia para
que para ali não eram trans- se dirigiam para a zona da pela Câmara fazer seguir para o trapiche
feridos apenas os doentes. mata mineira eram encami- Municipal na da Gamboa, onde será des-
Por oportuno, informa- nhados para a hospedaria de Fazenda da pachada amanhã”.
mos que esta Hospedaria Ubá ou para a Jacareacanga, Onça, de sua O número de imigrantes
do Pinheiro foi fundada em em Leopoldina. Não localiza- propriedade. que chegou a Leopoldina a
terras da antiga fazenda mos documentos referentes à Reunindo di- partir de 1900, vindo dire-
São José do Pinheiro, hospedaria leopoldinense. versas infor- tamente da Europa, é bem
construída em 1851 por Apenas sabemos que Bias mações e pequeno. No resumo feito
José Gonçalves de Moraes, Fortes, em mensagem de ju- comparando- por Norma de Góes
futuro Barão de Piraí. Após lho de 1896, declarou que se- as com depo- Monteiro com a entrada de
seu falecimento, foi ria inútil todo o esforço pelo imentos de imigrantes na Hospedaria
transferida para o genro desenvolvimento da corrente descendentes Horta Barbosa, consta que
José Joaquim de Souza Bre- imigratória se o recebimento de imigran- Ilha das Flores: Vista da Hospeda ria da Ilha das Flores na década de 1890 em 1904 ali se encontravam
ves que não deixou descen- dos imigrantes não fosse fei- tes, observa- apenas retirantes vindos do
dentes. Depois de ter sido to com todo o cuidado. Para se que pode ter existido um cada de 1940, nos quais os gração, sendo que o 2º tinha Rio Grande do Norte, da
ocupada pelo Serviço de Imi- tanto, determinou a execução prédio, à margem do ramal imigrantes declararam ter sede em Leopoldina. Paraíba e de Pernambuco.
gração (1891-1897) e pelo de obras na hospedaria de que ligava a estação de Vis- passado por tal instituição. Para cada distrito foi no- Segundo mensagem do pre-
Ministério da Guerra (1897- Juiz de Fora e a construção ta Alegre à do centro da ci- Além disso, no início do fun- meado um Fiscal, funcioná- sidente Francisco Antonio
1898), foi transformada de outras nas zonas agríco- dade de Leopoldina, desti- cionamento da Hospedaria rio público que se encarre- de Sales, em virtude da pa-
numa Escola Zootécnica que las de Minas Gerais. Infor- nado a acolher inicialmen- Horta Barbosa, em 1888, gava dos trâmites necessá- ralisação do serviço de imi-
deu origem à Escola de Agro- mou, então, que estava em te os trabalhadores da fer- Relatório da Presidência da rios ao encaminhamento gração a partir de 1897, os
nomia e Veterinária de Pi- construção uma hospedaria rovia. Descendente de um Província informa que para dos colonos ao destino. Já o funcionários da Hospedaria
nheiro e desde 1985 é o Co- na nova capital – Belo Hori- imigrante alemão informou ali foram transferidos os Decreto nº 806, de 22 de ja- Horta Barbosa foram dis-
légio Agrícola Nilo Peçanha, zonte, e tinham sido iniciados que seus antepassados tra- imigrantes que se encontra- neiro de 1895, reduziu os pensados através de decre-
da Universidade Federal os trabalhos para instalação balhavam na construção da vam na Hospedaria de Ubá. distritos fiscais para qua- tos assinados a 10 de outu-
Fluminense. Em 1995 o ter- de duas outras: uma em Estrada de Ferro Pedro II e Seriam necessários outros tro, mantendo o de bro de 1902 e 23 de janeiro
ritório onde se encontra foi Leopoldina, na Estação de se transferiram para estudos para que pudésse- Leopoldina. O Fiscal do de 1903. Como não locali-
alçado a município com o Vista Alegre, e outra na Es- Leopoldina, trabalhando mos mapear com mais cla- Distrito noticiava o movi- zamos livros daquela insti-
nome de Pinheiral, estado do trada Sapucahy, em nas obras daquele ramal. reza o percurso de nossos mento na Hospedaria Hor- tuição após 1901, tentamos
Rio de Janeiro. Soledade, hoje município de Acrescentou que a família imigrantes entre o porto e ta Barbosa, como demons- localizar os nossos imigran-
A Hospedaria do Pinheiro Pouso Alegre. residiu, inicialmente, nas Leopoldina. Para o ano de tra notícia do jornal O Me- tes tardios nos livros dispo-
pode estar na origem de in- Em 1898 foi feito um proximidades da Estação 1888, temos indicações um diador, edições de março e níveis no Arquivo Nacional,
formações de nossos entre- aporte financeiro pela pre- de Vista Alegre, até que a tanto precisas que, entretan- agosto de 1896. no Rio, mas não tivemos
vistados, dando conta de que sidência do Estado para Câmara de Leopoldina pro- to, não devem ser generali- Conforme já foi dito, a Hos- sucesso. Apenas confirma-
antepassados compraram conclusão do processo de moveu a ocupação de lotes zadas para todo o período. pedaria Horta Barbosa es- mos a informação de Nor-
lotes ao lado da hospedaria, extinção da Jacareacanga, na Fazenda da Onça. Em novembro de 1888 a teve em pleno funcionamen- ma de Góes Monteiro para
na margem do rio Paraíba nome dado à Hospedaria de Outra indicação para a Câmara Municipal de to entre o segundo semestre a existência de funcionário
do Sul. Como foi dito, para a Imigrantes em Leopoldina. Hospedaria Jacareacanga Leopoldina enviou emissá- de 1888 e junho de 1889, público do estado de Minas
ocupação pelo Ministério da No ano seguinte foram ex- vem de entrevista com des- rio à Hospedaria Horta quando teve as atividades que atuava, na hospedaria
Guerra foi necessário inde- tintas as hospedarias de cendente de imigrante itali- Barbosa, em Juiz de Fora, suspensas por conta das da Ilha das Flores, selecio-
nizar os agricultores insta- Soledade e de Leopoldina. ano que trabalhou na Fazen- para contratar colonos. Se- más condições denunciadas nando candidatos às colôni-
lados no terreno desde 1895. Desta forma, suspeitaría- da Paraíso. Neste caso, a in- gundo descendentes de al- à presidência da província. as mineiras.
É possível, portanto, que al- mos que a Jacareacanga ti- formação é de que ficaram guns italianos, seus ante- Segundo os livros preserva- Reiteramos que nossos
guns imigrantes tenham vesse funcionado por um numa hospedaria perto da passados foram instalados dos, somente em 1892 voltou estudos demonstraram a
deixado a hospedaria e se período muito curto. Estação de Vista Alegre, até provisoriamente na Fazen- a funcionar normalmente. falta de regularidade no
fixado nas suas imediações, É possível, entretanto, chegar a bagagem e então se- da da Onça, para aguardar Esta situação se compro- trajeto seguido pelos imi-
conforme consta no históri- que a hospedaria de rem transferidos para a fa- que os fazendeiros fossem va por carta de Costa Mano grantes radicados em
co da Prefeitura Municipal Leopoldina existisse desde zenda de destino. Esta decla- até lá convidar quem os & Cia, do Rio de Janeiro, Leopoldina. Além de mui-
de Pinheiral. a época da construção da ração encontra respaldo em quisesse servir. Como fize- datada de 28 de agosto de tos terem ido para outras
Um outro aspecto a con- Estrada de Ferro, na déca- correspondência pertencente ram, por exemplo, emissá- 1889 e enviada para a Fa- localidades mineiras ao
siderar é o fato da estação da de 1870. Através da Lei à coleção de documentos da rios da Fazenda Paraíso. zenda Paraíso, informando chegarem ao Brasil, os
do Pinheiro, inaugurada em nº 32, de 18 de julho de Fazenda Paraíso. A propósito, segundo o que o emissário Frederico pontos de acolhimento
1871 no município de Bar- 1892, foi permitido às Câ- A existência da hospeda- Decreto nº 626, de 31 de Dausckivardt contratara di- funcionaram irregular-
ra do Piraí, ser importante maras Municipais que cui- ria em Ubá foi indicada em maio de 1893, o então Pre- versos colonos no Porto do mente durante o período,
tronco, como declara Helio dassem de introdução de alguns processos de regis- sidente do Estado de Minas Rio. Pelo que se depreende, gerando situações
Suêvo Rodriguez no livro A trabalhadores, inclusive tro de estrangeiros, na dé- criou cinco distritos de imi- os imigrantes haviam segui- diversificadas.
100 anos da Colônia Agrícola Constança 17
Floresta.
S meiras concessões
de sesmarias a ci-
tarem o Feijão Cru
um tio paterno de José
Augusto, José Maria
Monteiro de Barros, reque-
ceram antes de 1875. Trata-
se das fazendas Feijão Cru e
Onça. Da primeira, sabemos
foram requeridas em 1817. reu uma sesmaria na re- que foi dividida entre os her-
Nos dias 13 e 14 de outubro gião em 1818, tendo a carta deiros após o falecimento da
daquele ano, os irmãos concessória sido assinada a matriarca Rita Esméria de
Fernando Afonso e Jerônimo 2 de maio daquele ano. As- Jesus a 20 de janeiro de 1865,
Pinheiro Corrêa de Lacerda sim como ocorreu com sendo mencionada como divi-
receberam duas sesmarias Fernando Afonso e sa de uma situação da Fazen-
de meia légua, que eles nun- Jerônimo Corrêa Pinheiro da da Onça, em venda reali-
ca ocuparam. Ambas, segun- de Lacerda, também este zada em 1886. Por este docu-
do se sabe, foram loteadas e beneficiário não ocupou a mento ficamos sabendo que
vendidas por seus sobrinhos propriedade e em 20 de ou- uma das partes da Fazenda
Romão e Francisco Pinheiro tubro de 1834 transferiu-a da Onça pertencia a Antonio
Corrêa de Lacerda. para seu irmão, Antonio Rodrigues Campos, que a
Quanto ao tamanho des- José Monteiro de Barros, Fazenda Paraíso, onde trabalharam muitos imigrantes que viveram em Leopoldina vendeu a José Soares de Mes-
sas sesmarias, o Professor pai do citado José Augusto. oportuno, que Maria além da sesmaria vendida duas sesmarias com exten- quita. Apesar do sobrenome,
Luiz Paulo Costa Por esta época, Antonio Antonia foi a segunda es- a Antonio José provavel- são aproximada de 450 o comprador não seria da fa-
Fernandes nos ensina que José adquiriu de Bernardo posa de Bernardo José e mente foram realizadas alqueires mineiros, formou mília de Jerônimo José de
meia légua de terras equi- José Gonçalves Montes, a que nada sabemos sobre os outras vendas, já que foi as fazendas Constança, Sau- Mesquita, sendo citado no
vale a 1.089 hectares ou sesmaria que este recebera filhos do primeiro casamen- dividida apenas uma pro- dade e Paraíso. Formal de Partilha como um
10,89 km². Considerando por dote de sua esposa, to dele que podem estar, priedade de cerca de 225 Em 1859, José Augusto seu empregado. A propósito,
que o atual território de Maria Antonia de Jesus. O também, entre os primeiros alqueires. Ainda no campo Monteiro de Barros vendeu parece que esta situação da
Leopoldina tem 942 km² de primeiro proprietário fora habitantes de Leopoldina. das hipóteses, é possível a Fazenda Constança a Fazenda da Onça foi vendida
extensão e que na metade Antonio Francisco Teixeira Pelo testamento de Anto- que a Fazenda da Onça te- José Teixeira Lopes Guima- por José Soares de Mesquita
do século XIX era significa- Coelho que, junto com sua nio Francisco, a filha Ma- nha sido formada também rães. Posteriormente a pro- antes do falecimento de seu
tivamente maior, cremos mãe de criação, Hipólita ria Antonia recebeu as duas em terras que pertenceram priedade passou às mãos patrão, o Conde de Mesqui-
ser lícito supor que o núme- Jacinta Teixeira de Melo, sesmarias do então Ba- ta. De todo modo, o histórico
ro de sesmarias concedidas requereu duas sesmarias e vendeu rão de Mes- da Fazenda Paraíso demons-
na região foi bem maior do no então denominado Ser- uma de- quita que pro- tra que a Fazenda da Onça
que o mencionado nas tão do Paraíba, no caminho las a An- vavelmente a também já estava bastante
obras até aqui publicadas. para Cantagalo, concessões t o n i o revendeu, dividida e os herdeiros das
Entretanto, como a identi- datadas de 27 e 28.03.1818. J o s é Importante destacar que a Fazenda Constança, no final dos uma vez que duas antigas propriedades, a
ficação daquelas primeiras Antonio Francisco era sol- Monteiro oitocentos, encontrava-se na mesma situação de duas outras na partilha de Feijão Cru e a Onça, vende-
propriedades demandaria teiro quando teve uma filha de Bar- propriedades vizinhas, cujos formadores faleceram antes seus bens em ram suas partes na herança
estudos bem mais com Maria Umbelina de r o s . de 1875. Trata-se das fazendas Feijão Cru e Onça. Da 1888, somen- a partir de 1875.
aprofundados, optamos por Santa Brígida, também be- Bernardo primeira, sabemos que foi dividida entre os herdeiros após te a Fazenda É possível que a antiga
analisar a documentação neficiada com sesmaria na José, por Paraíso foi colônia ocupada por imi-
o falecimento da matriarca Rita Esméria de Jesus a 20 de
possível sobre algumas mesma localidade. sua vez, transferida grantes em Leopoldina,
realizou
janeiro de 1865, sendo mencionada como divisa de uma para seu filho,
partes de nosso território, Antonio Francisco sempre denominada Santo Anto-
a partir de indicações pre- viveu em Prados (MG), na compras situação da Fazenda da Onça, em venda realizada em 1886. futuro Barão nio, tenha sido implanta-
sentes no Registro de Ter- sua Fazenda da Ponta do e trocas Por este documento ficamos sabendo que uma das partes de Bonfim. da em território
ras realizado em conformi- Morro. Recebeu o título de de terras da Fazenda da Onça pertencia a Antonio Rodrigues Campos, Segundo a desmembrado destas
dade com o que dispôs a Lei Barão da Ponta do Morro e c o m que a vendeu a José Soares de Mesquita. edição número duas fazendas. Posterior-
nº. 601 de 18 de setembro provavelmente nunca este- Feliciano 40 do jornal O mente, quando a Colônia
de 1850, conhecida como ve nas terras aqui do Fei- Rodrigues Mediador, de Municipal Santo Antonio
Lei de Terras, para chegar- jão Cru. Em 18.09.1822 sua Moreira e Manoel Gonçal- aos genitores da esposa de 16.08.1896, nesta época a deu lugar à Colônia Agrí-
mos à área que nos interes- filha casou-se com ves Valins, ampliando sua Bernardo José. Fazenda Constança era um cola da Constança, criada
sava buscar a origem. Bernardo José em Prados, propriedade até a divisa Não nos foi possível desco- condomínio com diversos pro- pelo governo do Estado em
Desse modo descobrimos onde ambos nasceram, re- com Manoel José Monteiro brir qual sesmaria foi vendi- prietários, entre eles Gustavo 1910, as partes voltaram
que em 1856 a Fazenda cebendo então o dote e de Castro - Fazenda União. da a Antonio José Monteiro Augusto de Almeida Gama, a ser reunidas para ampli-
Constança era propriedade transferindo-se para o Fei- Segundo análise do inven- de Barros. Descobrimos ape- provavelmente um dos her- ar o núcleo que foi loteado
de José Augusto Monteiro jão Cru. Esclareça-se, por tário de Bernardo José, nas que o comprador, em deiros da vizinha Fazenda e vendido aos colonos.
18 100 anos da Colônia Agrícola Constança
Professora e alunos da Escola existente na Boa Sorte em 1923 (Acervo de José do Carmo Machado Rodrigues)
O uma instituição
produz reflexos na
sociedade onde se
to não cria a mudança, ape-
nas a evidencia.
Acreditamos que o estu-
res que determinaram a
promulgação do Decreto
número 2801, no dia 12 de
preço adequado. A visão pa-
norâmica do local onde foi
instalado o núcleo causava
vista algumas informações
adicionais. Como todo obje-
to cultural, o Almanaque
tes do município atingia 35
mil pessoas. Sendo assim,
acreditamos que o autor te-
insere, antes e depois de do destes organismos que abril de 1910, que a criou. boa impressão nos mora- merece nossa análise cuida- nha tido a intenção de in-
sua criação. Em Reflexões passam a fazer parte de A organização de colônias dores, conforme expresso dosa. Precisamos ter em formar que a cidade conta-
sobre a História, Jacques uma comunidade, além do agrícolas em Minas Gerais em um texto sem autoria mente que foi produzido em va com 20 mil habitantes.
Le Goff declara que para conhecimento específico so- foi determinada pela neces- incluído no Almanaque de outra época e reflete outras O ufanismo do autor fica
compreender as mudanças bre a instituição, permite sidade de oferecer atrativos Leopoldina, de 1886, pági- práticas sociais. O autor evidente logo em seguida,
é preciso analisar os acon- nos aproximarmos das prá- que fixassem os imigrantes na 81: despede-se do ano de 1886 ao comparar uma serra de
tecimentos anteriores que ticas sociais em seu entor- em seu território. Em 1895, Até 1887 carissimos lei- prometendo um livro para Leopoldina ao morro do
lhe deram causa. Em rela- no. Ou, conforme declarou o Presidente da Província tores, emquanto não raia o o início do século seguinte, Corcovado, no Rio de Ja-
ção às modificações ocorri- John Beattie em Introdução estava preocupado com a seculo XX em cuja aurora deixando entrever que con- neiro. Embora a estátua
das em Leopoldina, perce- à Antropologia Social, uma dificuldade em manter os prometto-vos escrever não siderava o artigo escrito do Cristo Redentor tenha
bemos que não foi a criação instituição provoca altera- imigrantes trabalhando na um artigo, mas um livro como uma produção de me- sido escolhida em 2007
da Colônia Agrícola da ções nas outras já existen- agricultura. Nos anos bastante para uma cidade nor importância. Na conti- como uma das sete mara-
Constança que as produziu, tes e seu funcionamento subsequentes, muitas ten- de 200,000 almas, cuja ser- nuidade da frase ele infor- vilhas do mundo atual,
mas que a sociedade encon- depende das crenças e valo- tativas foram sendo realiza- ra offerece já perspectivas ma que a cidade tem não era ao monumento que
trava-se num estágio tal res das pessoas que a fa- das. No caso de Leopoldina, encantadoras, e na elevada 200,000 almas, provavel- o autor se referia porque
que demandava mudanças zem funcionar. Portanto, a colônia aqui fundada teve casa do finado capitão José mente por um erro tipográ- este só passou a existir em
estruturais, resultando no estudar a história da Colô- seu povoamento inicial cons- Teixeira Lopes um panora- fico. Segundo a contagem 1931. Nosso cronista falou da
surgimento daquele núcleo. nia Agrícola da Constança tituído por imigrantes che- ma superior ao do Corvado, populacional de 1872, a paisagem vista do topo da
Portanto, tivemos oportuni- implica buscar conhecimen- gados bem antes. dominando verdadeiro oce- Paróquia de Leopoldina serra e concordamos que é
dade de verificar o que o to sobre o que estava acon- A localização certamente ano de selva virgem. atendia cerca de 8 mil al- mesmo bela. Quando
autor francês ensinou ao tecendo naquela sociedade ocorreu em função da dis- Interessante analisar mas e no Recenseamento de estamos nos aproximando de
uando pensamos
Pelos caminhos da Colônia
mente estão com difícil então habitavam a Colônia,
Q no mapa e na loca-
lização dos lotes da
Colônia Agrícola
acesso hoje. Muitos deles,
na verdade, quando foram
demarcados eram servidos
foi um dos que trabalharam
na construção da Igreja.
Mas importa lembrar,
da Constança, via de regra por estrada de trânsito nor- também, que o trânsito da
os consideramos em função mal ou até intenso. produção da Colônia
das principais estradas Um outro fato que hoje pa- trazida para a cidade era
hoje existentes: BR 116, BR rece estranho, mas que pode realizado por antiga via
267 e a estrada municipal ser explicado com facilidade, que teve alguns de seus
do bairro da Boa Sorte. é o número de excolonos da trechos aproveitados no
Esquecemos que a Colônia, fazenda Paraíso que adqui- traçado da BR 116, a Rio-
criada no início de 1910, é riram lotes na Colônia Agrí- Bahia, construída no final
bem anterior à Rio-Bahia, cola da Constança. É que, na dos anos de 1930.
aberta pelo Presidente Getú- aquisição de partes de fazen- Neste percurso, numa re-
lio Vargas no final da déca- das para formar o território modelação da rodovia em
da de 30 e anterior, também, da Colônia, ficou determina- meados do século XX, al-
à estrada Leopoldina-Juiz do que ela abrigaria, tam- guns trechos permaneceram
de Fora, sobre a qual o enge- bém, colonos daquelas pro- com menor utilização. Den-
nheiro e escritor Mário de priedades. E se considerar- tre eles está a ligação entre
Freitas, no livro Leopoldina mos o caminho hoje a Igreja de Santo Antônio e
do Meu Tempo, confessa ter inexistente, que descia da Caminho dos Imigrantes o ponto em que a estrada
estudado o traçado para ven- Paraíso nas imediações da Fonte: estudo de José Luiz da Boa Sorte encontra-se
cer a serra de Argirita em vi- “Água Espalhada”, a distân- Machado e Nilza Cantoni com a BR 116 e que hoje
agem à cavalo, realizada por cia entre a Colônia e a citada consideramos uma via im-
volta de 1926. fazenda não era grande, ain- quim Antônio de Almeida cerca de 8 alqueires vendi- ocorreu o ensaio das corri- portante. Não só por ser
Esta confusão no tempo é da mais para os padrões da- Gama (fazenda Floresta), dos a João Soares de Mes- das de cavalo que se efetu- usada por pedestres, ciclis-
que nos leva à frequente di- quela época. Antônio José Monteiro de quita eram a estrada de arão no próximo dia 25 de tas e cavaleiros que, proce-
ficuldade de entender, por Além dos lotes, pelos ca- Barros (fazenda Paraíso), Leopoldina para o Rio Par- junho”, promovidas por dentes da Boa Sorte diri-
exemplo, porque a Colônia, minhos da Constança pode- Manoel Rodrigues da Silva do (hoje Argirita) e as pro- José Jeronymo de Mesqui- gem-se à Igreja de Santo
que herdou o nome da fazen- mos encontrar também a (fazenda Pury), José Augusto priedades de Pedro Macha- ta, Otávio Otoni e o Capi- Antonio do Onça, ao ponto
da Constança, teve sua sede igrejinha de Santo Antonio, Monteiro de Barros (fazen- do Neto, Joviniano Augusto tão Santa Maria. final do ônibus urbano em
instalada na fazenda Boa na Onça, construída em da Constança), Manoel Joa- da Fonseca e Manoel Fran- O bairro compreende as posto próximo ou, buscam
Sorte. Isto pode ser explica- 1915, localizada no percur- quim Thebas, Carlos de Assis cisco Vieira. Pelo documen- terras que ficam nas mar- a rodovia no ponto fronteiro
do pelo fato de que se che- so natural do imigrante, vi- Pereira, João Ribeiro, Manoel to analisado, ficamos sa- gens da rodovia BR-116, a àquela Igreja, onde os ris-
gava com mais facilidade à esse ele da Boa Sorte ou da Antônio de Almeida (fazenda bendo que a Fazenda da partir do posto fiscal da cos do trânsito são signifi-
Boa Sorte do que à Constança em direção à ci- Feijão Cru), Antônio José Pin- Onça fazia divisa com as Polícia Rodoviária Federal cativamente menores. Mas
Constança, antes da aber- dade ou, simplesmente para to de Almeida e Felisberto da fazendas Pury e Caxoeira, até as terras da antiga fa- porque historicamente foi
tura da Rio-Bahia, estrada orar ao seu Santo Protetor. Silva Gonçalves. sendo esta última uma pe- zenda Pury, logo após a en- sempre o Caminho dos Imi-
que sanou o problema de Em nosso trabalho sobre Já em 1886, a Fazenda da quena propriedade trada para o bairro da Boa grantes que habitaram a
transposição do vale dos os logradouros públicos de Onça estava dividida entre desmembrada da Paraíso. Sorte. Do lado direito da BR Colônia Agrícola da
Puris, que os tebanos mais Leopoldina, registramos vários proprietários. Um Já sobre o Bairro da Onça, 116, no sentido de quem sai Constança.
antigos chamavam de “Bu- que o bairro da Onça her- deles era Antonio Rodrigues uma edição do jornal de Leopoldina em direção Por tudo isto, em 2008
raco do Cubu”, e do alagado dou o nome da antiga fazen- Campos que, no dia 25 de Leopoldinense, de maior de ao distrito de Tebas, faz di- sugerimos à Câmara de
da antiga “Água Espalha- da ali existente. Esta fazen- maio daquele ano, vendeu 1882, informa que o empre- visa com o bairro rural Boa Vereadores que transfor-
da”, no local onde está hoje da pertencia, em 1856, a 38 hectares e 72 ares a João sário Francisco Gonçalves Sorte, onde estava localiza- masse em Lei uma justa
o “Restaurante Seta”. Além Manoel Lopes da Rocha e Soares Mesquita, emprega- da Rocha Andrade ficou res- da a sede da Colônia Agrí- homenagem aos imigran-
do que, pela estrada da Boa José Lopes da Rocha, ir- do de Jerônimo José de ponsável pelo preparo de cola da Constança. tes, num projeto preferen-
Sorte se chegava, com as mãos que foram casados Mesquita, então proprietá- raias para a corrida de ca- No pátio fronteiro à Igreji- cialmente assinado por to-
condições possíveis na épo- com filhas do formador da rio da Fazenda Paraíso. A valos que seria ali realiza- nha da Onça existiu uma dos os Vereadores, conce-
ca, às terras da Constança. propriedade, o pioneiro situação vendida por Cam- da. A notícia do jornal O escola singular rural muni- dendo o nome de CAMI-
A visão do traçado da Co- Bernardino José Machado. pos tinha sido comprada de Leopoldinense ressalta, in- cipal à qual a Lei Municipal NHO DOS IMIGRANTES a
lônia, a partir da realidade Nessa época os seus vizi- Manoel Antonio de clusive, que seriam planta- nº 936, de 17.10.1973, deu o esta via ainda sem denomi-
das novas rodovias, é tam- nhos eram, pela ordem ci- Almeida, um dos das palmeiras nas margens nome de “Carlos de nação e solicitando ao Pre-
bém um dos complicadores tada nos registros, Maria do povoadores de Leopoldina e dessas raias. É do mesmo Almeida” em homenagem a feito Municipal as provi-
para entender a localização Carmo Monteiro de Barros que formou a Fazenda do periódico a informação de este ruralista que, em con- dências necessárias à
de alguns lotes que atual- (fazenda Desengano), Joa- Feijão Cru. As divisas dos que “no arrabalde da Onça junto com os imigrantes que revitalização do local.
100 anos da Colônia Agrícola Constança 21
P principalmente os
italianos, ter terra
era sinônimo de
classificada como de
simples parceria, nem
como um colonato na forma
as descrições feitas pelos
descendentes.
Destacamos, a propósito,
De todo modo, aquelas
pequenas propriedades se
transformaram num
la. Trata-se do Ascetismo
da Poupança que,
entretanto, é tido por
adversas. No que toca a
Leopoldina, temos um caso
de óbito considerado como
liberdade e, para isto, não conhecida. Em Leopoldina informação de um modelo que prosperou pelo muitos como um fator resultado de trabalho no
poupavam esforços. prevaleceu a forma mista descendente sobre compra município, funcionando negativo já que, ao brejo, cultivando arroz.
Levavam uma vida difícil e de contratação em que de uma “situação” em pela formidável retornarem ao país de Entretanto, analisando a
modesta, trabalhavam fazendeiros e imigrantes antiga propriedade que capacidade de trabalho do origem, os imigrantes trajetória do falecido,
muito, controlavam suas encontraram formas de não conseguimos imigrante e pela grande estavam em boas descobrimos que no final
economias e até abriam estabelecerem parcerias identificar. Segundo nosso prole da maioria deles. E, condições econômicas e de todas as tardes ele se
mão de pequenas coisas em favoráveis às duas partes, entrevistado, após a morte principalmente, uma extremamente debilitados dirigia para a “venda”, um
prol de juntar dinheiro para principalmente porque os do patriarca os herdeiros situação que era fisicamente. estabelecimento comercial
a realização do sonho maior subsídios concedidos pelo decidiram “lotear” a considerada pelos De fato, não são poucas próximo do local de
que era o adquirir um governo cobriam as fazenda e diversos patriarcas como muito as referências dos residência. Ali o imigrante
pedaço de terra. E, via de despesas com a vinda do compradores foram melhor do que a que entrevistados à dureza passava muitas horas
regra, quando já haviam imigrante. imigrantes ainda com deixaram na Itália. imposta pelos imigrantes bebendo, indo para casa já
adquirido o primeiro lote o Adquiriram pequenas pouquíssimo domínio da Os estudos de Leone a si e à família, tendo em com noite fechada. Quase
sonho se expandia no glebas de terra, de algum língua portuguesa. Para Carpi, publicados no livro vista amealhar uma sempre chegava com o
sentido de conquistar lote na Colônia Agrícola da eles, fazenda era o local Delle Colonie e delle poupança que permitisse vestuário bastante úmido
outros, preferencialmente Constança ou em outro onde se instalava a casa de Emigracioni em 1874, adquirir um pedaço de pelo sereno. E, bêbado, não
nas proximidades, para lugar por onde foram moradia do proprietário, mencionam uma carta do terra. Mas se no início cuidava de trocar a
acolher os descendentes e surgindo as pequenas tendo nas proximidades os cônsul italiano do Rio, em poderiam pensar em voltar vestimenta e aquecer-se
demais agregados. propriedades, passando a equipamentos comuns 1872, relatando que a para a terra natal e se adequadamente.
Certo é que, num espaço fazer parte da própria naquela época, como a tendência do emigrante estabelecerem em Tampouco permitia que a
de tempo relativamente dinâmica da economia do tulha, o curral, o barracão, italiano era ficar no Brasil melhores condições, a mulher interferisse. Nos
curto, transformaram-se de município. Muitas dessas os terreiros para secagem por um período entre 3 e 6 partir da poupança feita primeiros tempos, quando
simples colonos em propriedades eram do café e as casas de anos, acumulando uma aqui no Brasil, a boa ela insistia em fazê-lo
lavradores independentes e retalhos de terras colonos. Ou seja, não era a poupança que permitisse adaptação à nova pátria trocar de roupa e tomar um
passaram a formar uma esgotadas vendidos pelos propriedade rural em si, voltar à terra natal e lá pode ter sido determinante chá quente, o imigrante
nova classe de pequenos e fazendeiros que viam mas a sede. Para os adquirir seu próprio para a fixação em costumava agredi-la verbal
médios proprietários. Não nessa prática uma forma colonos italianos, seria o pedaço de terra. Dos casos definitivo de muitos que e fisicamente.
demorou muito para quem de o imigrante ver equivalente à fattoria que, que estudamos parece que, aqui chegaram na época da Passados alguns anos,
chegou como empregado da realizado o seu sonho de se segundo os dicionaristas chegando aqui com a ideia Grande Imigração. No este imigrante começou a
fazenda se tornar meeiro e tornar sitiante e, ao Devoto e Oli, é o complexo de retornar no período grupo que pesquisamos, apresentar características
depois proprietário. mesmo tempo, a fazenda administrativo de um indicado pelo cônsul não encontramos dados de tuberculose mas não
Foi com muito trabalho e garantia uma reserva de núcleo agrícola, mencionado por Carpi, que indiquem decréscimo buscou tratar-se. Pelo
uma dedicação ímpar que mão de obra nas suas compreendendo a outros fatores convenceram da condição física em contrário, mudou-se para o
muitas famílias galgaram proximidades. Geralmente residência do fattore, vale os imigrantes de que seria função dos sacrifícios a que sítio do sogro onde foi
os degraus mais elevados eram propriedades de dizer, administrador ou melhor adotar o Brasil se submeteram. plantar arroz. Ao fim de
da escala social, a partir de terras exauridas, casas proprietário. Sendo assim, como pátria de seus Em literatura são 10 anos de casado, foi a
atuarem como eficientes precárias de pau a pique o imigrante que adquiriu o descendentes. encontradas referências a óbito. Na memória
lavradores. ou meia água, capoeiras terreno onde se localizava Sobre esta decisão, há óbitos causados pela familiar, ficou a
Foram colonos num por desbravar e pouca ou a sede passou a ser uma expressão utilizada mesma situação, ou seja, informação de que a causa
sistema onde a relação de nenhuma assistência denominado pelos outros em estudos norte determinados pelo excesso foi o trabalho no brejo.
22 100 anos da Colônia Agrícola Constança
ATIVIDADES
LABORATIVAS
Colônia tinha como padrão médio de tamanho
A tas outras culturas, nho ou Agostino quando nas- um grande embornal. Depois nas raias destinadas ao jogo
O LAZER
os italianos costu- cidos na Itália. de tomar banho e vestir-se de malha, nas várzeas onde
mavam homenage- O mês de agosto tinha em casa de algum parente ou se demarcavam campos para
ar seus antepassados atra- grande simbologia para os amigo, punham-se a cami- a prática do jogo de futebol, e
vés do nome que escolhiam agricultores pagãos, que de- nhar, descalças, até o local da nas mesas de carteados
para os filhos. Em muitas fa- dicavam os primeiros dias do festa. Nas proximidades, la- montadas na “venda” ou na
mílias, o primeiro descen- mês à colheita e nos dias se- vavam os pés e calçavam casa de amigos. Alguns apre-
dente do sexo masculino re- guintes comemoravam o re- seus sapatos que, na maio- ciavam as caçadas ao tatu e
cebia o nome do avô paterno, sultado obtido, numa espé- grantes que se instalaram al dedicada ao padroeiro ria das vezes, causavam- à paca, geralmente realiza-
o segundo homenageava o cie de despedida dos dias na Colônia Agrícola da Santo Antonio, que reunia lhes supliciantes das nas noites de lua cheia,
avô materno e os seguintes ensolarados que brevemen- Constança. Era em torno um grande número de parti- calosidades. assim como a apreensão de
recebiam o nome de um tio te dariam lugar ao período dela que se realizavam qua- cipantes oriundos das propri- Divertidos, também, embo- passarinhos como o canário
ou amigo. De modo geral, os outonal. Acreditamos que, se todas as festividades. edades da redondeza e, em ra bastante raros, eram os da terra, o coleiro, o
padrinhos de batismo eram com datas vinculadas à ati- A regra na Colônia era o número bastante significati- bailes e reuniões em que se pintassilgo, o melro e o curió,
parentes próximos, o que vidade agrícola, e especial- trabalho. O cantar do galo já vo, pessoas que vinham da comemoravam os casamen- apreciados pela beleza da
eventualmente acarreta ge- mente por ser o mês em que encontrava a maioria dos sede do município. Com suas tos. Um descendente infor- plumagem e pelo canto.
neralizações inadequadas, os trabalhadores descansa- habitantes no batente diá- barraquinhas a servir os mou que a festa do casamen- De um tempo posterior à
como julgar que o nome da vam por alguns dias, natu- rio. Ali, em praticamente to- mais variados quitutes e os to de sua tia foi promovida emancipação oficial da Colô-
criança seria sempre home- ral que festejassem as féri- dos os lotes, colonos e agre- disputados leilões de pren- pelos padrinhos da noiva, ar- nia, há notícias relativas ao
nagem ao padrinho ou ma- as também no nome dos fi- gados se dedicavam com afin- das oferecidas pela comuni- ranjando-se um grande “sa- time de futebol denominado
drinha. lhos, pensando diretamente co às tarefas em casa, no ter- dade e apregoadas pelo se- lão de arrasta-pé” no terrei- Boa Sorte Futebol Clube,
Um de nossos informantes em quem instituiu o descan- reiro ou nas lavouras, sem se nhor Carlos (Carrito) ro da casa dos pais da noiva. que chegou a disputar cam-
apresentou um relato inte- so: o Imperador Augusto. preocuparem com diversão. Almeida, a “Festa da Onça”, Após a cerimônia religiosa, peonatos amadores na cida-
ressante. Segundo ele, as cri- Mas quando passaram ao Nos poucos momentos dedi- como ficou conhecida, atraía os convidados foram cami- de. Durante muitos anos, a
anças nascidas no oitavo mês Brasil, os italianos tiveram cados ao lazer, as alternati- gente de todas as idades. nhando até a casa, muitos partir do meado dos anos de
do ano civil homenageavam que se adaptar a outro calen- vas não eram muitas. A confirmar a importância deles com os sapatos nas 1900 e até o início do século
um antepassado que tivesse dário. No século XIX as festi- As mulheres se divertiam desta festa, famílias resi- mãos. A noiva, toda anima- XXI, o Boa Sorte Futebol
Augusto em seu próprio vidades já não eram pagãs, principalmente nas festas dentes na estrada da da, ia na frente da verdadei- Clube foi estruturado e
nome ou acrescentavam este estando incorporadas ao ca- religiosas e nas visitas aos Lajinha programavam ra procissão de parentes e mantido por João Bonin
nome ao primeiro nome de lendário católico com algu- parentes, vizinhos e longamente o passeio. As amigos. (Bonini), proprietário das
um avô. Descobrimos, por mas adaptações. Tendo for- conterrâneos. Os colonos par- moças se preparavam com A outra atividade de lazer terras onde ficava a sede da
exemplo, que um neto de te influência religiosa, natu- ticipavam ativamente das afinco, costurando novos ves- das mulheres era a visita aos fazenda Boa Sorte, tendo a
Felice Meneghetti, nascido ral que os colonos elegessem festas promovidas na igreji- tidos ou reformando algum parentes e conterrâneos, ge- casa servido de sede admi-
no dia 7 de agosto, foi bati- um templo como local de fes- nha, construída em 1915 pe- mais antigo, sempre com a ralmente nos finais de sema- nistrativa do Clube. Seus
zado como Felice Augusto. tas. Além da religiosidade los colonos e demais habi- intenção de apresentar-se na. Já os homens, embora herdeiros, muitos dos quais
Outros casos sugerem o mes- propriamente dita, a Cape- tantes das terras da antiga condignamente. No dia da freqüentemente realizassem ex-jogadores do time, ainda
mo procedimento, seja entre la de Santo Antonio muito re- fazenda da Onça. Principal- festa, vinham em carro de boi as mesmas visitas e muitas preservam os troféus e obje-
os nascidos no Brasil e que presentou na vida dos imi- mente a animada festa anu- da fazenda até a cidade, car- vezes desacompanhados, tos do Boa Sorte F.C.
24 100 anos da Colônia Agrícola Constança
m 1876, dois pes- uma tela. Estes retângulos co que por ventura ainda
E quisadores italia-
nos publicaram o
resultado de um
extenso levantamento so-
A MORADIA são então preenchidos com
barro preparado para tal fi-
nalidade, também chamado
de estuque.
exista numa casa simples,
cravada nas terras de qual-
quer dos lotes da Colônia.
É a ideia de resgate e pre-
bre as condições políticas e
administrativas no sul da
Itália. Este livro nos permi-
te conhecer um pouco da si-
DOS COLONOS Por ser uma construção ba-
rata e que utilizava material
disponível nas proximidades
da obra, foi muito difundida
servação da história da Co-
lônia Agrícola da Constança
que nos faz trazer este
tema à baila. Obviamente
tuação dos italianos que re- na região. Geralmente o piso sem ver nisto demérito al-
solveram deixar a terra na- era de terra batida e não ha- gum e sem considerar que
tal em busca de melhores via divisão interna. qualquer dos imigrantes
condições de vida. Leopoldo As casas que foram aceitaria o tratamento de
Franchetti e Sidneu construídas na Colônia Agrí- “coitadinho” por esta colo-
Sonnino declararam que a cola da Constança eram um cação. Pelo contrário, nós o
questão da habitação da pouco melhores. Obedeciam fazemos porque reconhece-
classe pobre, que vivia do a um modelo trazido da Co- mos nessa gente o valor de
trabalho braçal, era uma lônia Vargem Grande, que quem criou e, criou muito.
das mais graves da época. ficava nas proximidades de Plantou fábricas de taman-
Os autores nos fazem re- Belo Horizonte e ofereciam cos, tijolos e telhas, a par-
fletir sobre os sonhos que um pouco mais de conforto. tir do material disponível,
possam ter nascido entre Possuíam paredes de tijolos para gerar renda e não ficar
aqueles que, não podendo com revestimento e caiação, deitado à espera de um
oferecer um mínimo de con- inclusive nas divisórias in- “bolsa-qualquer- coisa” ou,
forto aos seus familiares, ternas. A cobertura era de da esmola que vicia. E o fa-
optaram por um país cha- telha tipo canal. O piso da zemos porque reconhece-
mado Brasil, tão distante e sala e dos quartos era de mos que trouxeram o lado
do qual provavelmente pou- tábua e o da cozinha, em ge- empreendedor que os fez
co sabiam. Acreditamos que ral, de terra batida ou tijolo. vencer todas as dificulda-
todos quantos se dedicam A água chegava ao terreiro des, incluindo a língua. No
ao estudo da imigração ita- através de regos e bicas de peito ou em meio à baga-
liana para o Brasil já tive- bambus ou então era colhi- gem, trouxeram ainda uma
Casa de colonos - Colônia Constança-APM
ram oportunidade de consi- da em fonte natural das pro- insuperável disposição
derar que nossas Colônias Mas a casa que eles mora- “mulherzada”, gente tudo casa com 40 palmos sobre ximidades. Os banheiros, em para lutar destemidamen-
Agrícolas ofereciam muito vam não existe mais. Minha bacana. A gente ficava 20, coberta de telhas, com geral, eram separados da te contra tudo e contra to-
mais conforto para aqueles tia contava que a casa da olhando, né? Olha, passou 12 palmos de pé direito e 7 casa, o que gerou a vulgar de- dos, para construir um lu-
italianos que, em sua pá- Colônia era muito pequena, a Baronesa! A Baronesa já de ponto, com duas portas nominação de “casinha”. A gar para chamar de seu.
tria, eram submetidos e com chão de barro. Criança vai prá fazenda. Naquele de 4 1/2 palmos de largura iluminação era à base de Não importando se sobra-
submetiam suas famílias a não podia engatinhar por- casarão, onde tinha lugar sobre 10 1/2 palmos de al- querosene, em lamparinas e va apenas um catre rústico
um modo de vida deplorá- que ficava gripada. Chão frio prá tudo. Na nossa casa.... tura, e duas janellas de 2 lampiões. Embora a maio- para o repouso diário ou um
vel aos olhos dos próprios e úmido.” (neto de colono) tudo muito pequeno.... Lá na palmos de largura sobre 4 ria esteja bastante altera- pouco mais do que isto, que
italianos que os estuda- Colônia também.... Não ti- 1/2 de altura. A mesma fon- da e algumas bem deterio- se misturava às roupas
ram. Nas palavras de nos- “Antes de ir prá Colônia nha lugar nem prá guardar te informa que as casas de- radas, ainda existem uns trazidas da distante Itália.
sos entrevistados, percebe- eles moravam num casarão os trem de cozinha.”(filha de veria ser barreadas, ficando poucos exemplares dessas Para o italiano que esco-
mos que aqui encontraram bem grande, uma fazenda agregado da Colônia) os revestimentos de cal adi- casas em antigos lotes da lheu a nossa Leopoldina
uma habitação conveniente velha. Mas lá não tinha ados para ocasião futura. Colônia. para seu habitat, não pode-
como queriam Franchetti e uma casa prá cada família. Estes três depoimentos de Na maioria destas casas, O interior das antigas re- mos deixar de informar que
Sonnino. Vejam algumas Era todo mundo numa casa descendentes de imigrantes as paredes eram sidências é outro aspecto na época da chegada o mo-
declarações: só. Então quando foi prá mostram como foi a vida construídas com a técnica que precisa ser melhor es- biliário era escasso e rudi-
Colônia, minha avó gostou dessa gente ao chegar a conhecida como pau a pique, tudado. Algumas pessoas mentar. Pouco mais que um
“Eu conheci a fazenda de ter uma cozinha só prá Leopoldina. A maioria dos taipa ou estuque. É um tipo tendem a se referir aos mu- baú e alguns sacos com per-
onde eles moravam antes. ela.”(neta de colono) habitantes da Colônia já de construção em que são seus como sendo um local tences de uso pessoal, além
Era uma construção antiga. estava na região quando fo- utilizados esteios e vigas de onde se expõem peças de de algumas poucas ferra-
Tinha 9 dormitórios, uma “Eles pegavam a ram demarcados e entre- madeira tosca dispostas ouro e mobiliários rebusca- mentas trazidas da Itália.
cozinha grande com um fo- madame, com duas carrua- gues os primeiros lotes. Se- verticalmente. Nestas peças dos. Entretanto estes espa- Na nova pátria, construí-
gão grande. Tinha um lugar gens, botava as mulheres gundo a Ata da reunião do são cravados, em furos pró- ços, por definição, objetivam ram o catre que se juntava
adequado para lavar as pa- direitinho e pegavam o ca- Club da Lavoura, de prios, fasquias (lascas de guardar e preservar o pas- ao baú para equipar o quar-
nelas de ferro, era um tipo minho. Eles passavam per- 28.12.1887, ficou estabele- madeira) ou bambus finos sado que não deveria ser se- to de dormir. As roupas usu-
de tanque com água quente to da nossa casa. E a gente cido que o fazendeiro ficava no sentido horizontal, for- pultado e que pode ser lem- ais eram penduradas na
que vinha do grande fogão. ficava olhando, né? Aquela obrigado a fornecer uma mando retângulos como brado até num móvel rústi- parede do quarto, enquanto
para determinar de que víncias do norte da Itália, en- Localização ........................ 1872 .................. 1890
região é a influência pre- contramos uma certa facili- Sede .................................... 435 .................... 431
dominante. Acrescente- dade até para fazermos pes- Piacatuba ........................... 146 .................... 7
se a isto os problemas quisas via Internet. Neste Tebas .................................. sem dados ......... 103
advindos dos desloca- caso a nossa preocupação foi Conceição da Boa Vista .... sem dados ......... 276
mentos, ainda na Itália, não nos deixarmos levar pela Rio Pardo (Argirita) .......... 280 .................... 73
de famílias provenientes conclusão inadequada de que ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
de uma região e que aqui a maioria dos imigrantes re- Homens Mulheres Total
chegaram após obterem sidentes em Leopoldina veio 380 ...................................... 402 .................... 782
o passaporte em outra. daquela região. Destino dos imigrantes italianos no período 1876 a 1945 Estrangeiros em Leopoldina Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e
Fonte: 2º Seminário de Imigração Italiana em Minas Gerais Estatística, Censos de 1872 e 1890
26 100 anos da Colônia Agrícola Constança