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A imigração como sobrevivência, o

editorial distanciamento da terra querida...a saudade

T
Tanto tempo se
Luiz Otavio Meneghite e Maria José Baia Meneghite
netos, rugas sulcaram Gazeta de Leopoldina e Leopoldina, eles
passou desde que
eles aqui
chegaram
trazendo na pequena
bagagem grandes
esperanças, doses
suas faces, sentiram o
olhar embaçar-se pela
saudade, e aqui
permaneceram. Quando
ela doía, enxugavam as
lágrimas uns dos outros

A vida dura, o sofrimento,
nada os desviou de seus
propósitos. Foram os
pilares de sustentação
depois nas páginas do
jornal Leopoldinense.
Uma gama de
informações sobre os
imigrantes que aportaram
em Leopoldina, jamais
entraram numa espécie
de máquina do tempo e
a cada relato publicado
a história foi se
compondo. As
descrições de todo o
desta região carente de
homeopáticas de alegria, mas continuavam sua braços fortes e mãos que vista em outros processo desde a saída
saudades da terra e uma missão de tirar da terra o além de semear os campos documentos da mesma da Itália, a viagem em
força imperiosa que fez de sustento e dar o melhor de souberam plantar o amor natureza. O cuidado com navios superlotados, a
cada imigrante um si pelo chão que os que até hoje norteia seus a pesquisa e o carinho chegada ao Brasil, a
batalhador, um acolheu. Abençoadas descendentes. Inúmeras com os textos enviados em quarentena nas
desbravador. A vida dura, mãos!Benditas lágrimas! são as famílias capítulos à redação pelos hospedarias do Rio e
o sofrimento, nada os Cem anos se passaram e imigrantes que para nossa dois vem chamando ao Juiz de Fora e,
desviou de seus propósitos. para homenageá-los nada felicidade escolheram esta longo dos anos, a atenção finalmente, a chegada
Foram os pilares de melhor que um sincero região como seu segundo dos leitores, notadamente ao lote de terras na
sustentação desta região agradecimento e nossa lar. O tempo inexorável os descendentes de Colônia Agrícola da
carente de braços fortes e eterna gratidão por terem passou depressa e muitos italianos. Luja e Nilza Constança. Daí em
mãos que além de semear sido eles os responsáveis tiveram condições de trataram do assunto como diante, a formação de
os campos souberam pela introdução de seus voltar à pátria. Outros, se garimpassem pedras uma comunidade onde
plantar o amor que até hábitos e costumes, de sua porém, curvaram-se ao preciosas num riacho: os entrelaçamentos
hoje norteia seus alegria e coragem. Nossa peso dos anos, criaram com extrema atenção, familiares aconteceram
descendentes. Inúmeras filhos, netos, rugas
eterna homenagem a esse olhos atentos que e foram objetos de
sulcaram suas faces,
são as famílias povo desbravador, povo enxergavam brilho em pesquisa e estudo pelos
sentiram o olhar embaçar-
imigrantes que para lindo, com uma cultura cada descoberta, nossos dois
se pela saudade, e aqui
nossa felicidade diversificada e de grande valorizadas por cada historiadores. Tudo isso
permaneceram. Quando
escolheram esta região valor histórico. Esses ela doía, enxugavam as palavra, por cada data, está relatado neste
como seu segundo lar. O valores foram lágrimas uns dos outros cada foto, cada registro, tablóide, que mais do
tempo inexorável passou amplamente ressaltados mas continuavam sua cada entrevista com os que um jornal,é um
depressa e muitos tiveram nas publicações feitas por missão de tirar da terra o descendentes. Minuciosos documento histórico
condições de voltar à Luja Machado e Nilza sustento e dar o melhor de em seus estudos sobre a para ser lido e
pátria. Outros, porém, Cantoni, nos últimos 10 si pelo chão que os imigração italiana para a guardado para as
curvaram-se ao peso dos anos, a partir de 23 de acolheu. Abençoadas região da Mata Mineira, futuras gerações de
anos, criaram filhos, outubro de 1999, ainda na mãos!Benditas lágrimas! particularmente para oriundis. 

A Igrejinha da Onça
 A escolha da “Capela da Onça” ou, Igreja de Santo Antonio de Pádua, como símbolo de nossos estudos sobre o Centenário da Colônia Agrícola da
Constança deve-se ao fato de ser esta a imagem a que sempre se referem os entrevistados, quando abordados sobre a vida dos mais antigos. Para a maioria
deles, além da religiosidade propriamente dita, a Capela representava muito mais porque era em torno dela que se realizavam quase todas as festividades
de que participavam.
Quase todos os entrevistados se referem, com um misto de saudade e orgulho, às animadas festas anuais dedicadas ao padroeiro. Reuniam um grande
número de participantes oriundos das propriedades da redondeza, além de pessoas que vinham da sede e de outras regiões do município.
Para a construção da Capela da Onça, foi importante a participação e o trabalho de muitos habitantes da Colônia Agrícola da Constança e imediações.
A escritura pública lavrada pelo 2º Ofício de Notas de Leopoldina, datada de 21.08.1912, é um bom exemplo a confirmar estas colocações.
Esse documento trata da venda realizada por Jesus Salvador Lomba (Colono do lote nº 4) e sua mulher Maria Magdalena Lomba, de uma quarta ou, cento
e vinte e um ares de terreno, que fora adquirido do Tenente Francisco Pimenta de Oliveira e sua mulher, confrontando com as terras da Colônia e as que
pertenciam a Lino Gonçalves e sua mulher Maria das Dores Netto. Pela escritura ficamos sabendo que os compradores foram Luciano Borella, Otavio de
Angelis, Luigi Giuseppe Farinazzo, Ferdinando Zaninello, Agostino Meneghetti e Fausto Lorenzetto, além da esclarecedora informação de que pagaram
quatrocentos mil réis pelo imóvel para nele ser edificada uma Capela consagrada a Santo Antonio de Pádua. Parece evidente que estas pessoas foram
apenas os líderes de um grupo que se dispôs a investir na aquisição do terreno e na construção da igrejinha de Santo Antonio de Pádua.

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EDIÇÃO ESPECIAL DE 100 ANOS DA COLÔNIA CONSTANÇA Projeto Publicitário: Sérgio Barbosa França e João Gabriel Baia
Pesquisa: Nilza Cantoni e José Luiz Machado Rodrigues Meneghite Impressão: Editora Jornal de Muriaé Ltda
Supervisão: Luiz Otávio Meneghite e Maria José BaiaMeneghite CNPJ.: 00.104.415/0001-05
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100 anos da Colônia Agrícola Constança 3

RESGATANDO A HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO


Júlio César Vanni italiano da Toscana, era de Cumani, Maragna, Luiz Machado Rodrigues tem prestígio sócio-cultural empenho de seus habi-
Jornalista e historiador de Pequeri natural a minha curiosida- Carminatti, Gesualdi, que, com paixão e responsa- e político no cenário de Mi- tantes, ganhou projeção
de pelos sobrenomes das Lamarca, Nichini, Matola, bilidade, levantaram os nas Gerais. cultural e turística ao
elho provérbio pessoas e a origem dos Schettini, Lagrota, pródromos da Colônia de Vejamos o exemplo de ponto de ser considerada

V toscano nos alerta:


“quem não tem
história para con-
topônimos de lugares por
menores que fossem. Recor-
do-me de uma festa na Igre-
jinha da Onça e da referên-
Tomasco, Magri, Garani,
Barbuto,
Martinelli,
Celidonio,
Eutrópio,
Parisi, Perillo, Carone,
Constanza, um capítulo glo-
rioso do passado de
Leopoldina que estaria irre-
mediavelmente perdido se
Pequeri, pequena cidade de
apenas 4 mil habitantes, a
menos de hora e meia de
Leopoldina, por estrada as-
a mais culta das peque-
nas cidades de Minas. E
já se prepara para um
novo Carnevale em setem-
tar, é melhor que não tives-
se nascido”. Outro, colhido cia do velho Matola de que Lorandi, Campagna, eles não tivessem se empe- faltada, e que no passado bro próximo, quando es-
por aqui mesmo, creio de aquele modesto templo ti- Bellotti, Bosco, Balbi, De nhado tanto nesse mister. foi um sólido núcleo da imi- pera receber mais de
autoria do grande nha uma origem muito sig- Luca, Biagio, Riani, Vitoi, Cem anos são passados gração italiana, tendo rece- 5.000 visitantes.
fluminense Oliveira Viana, nificativa. Era o que resta- Meneghite, Menicucci, da criação da colônia que bido cerca de 630 famílias, Leopoldina tem estru-
é mais categórico: “Povo que va de uma velha colônia de Canabrava, Trezza, Trecce, deu a Leopoldina um lugar numa época em que era um tura e padrões sócio-cul-
não tem bandeira e nem imigrantes que existiu no Favero, Damasceno, Flora, de destaque na história da dinâmico distrito de Mar de turais de alto nível para
tradição, não é povo, mas lugar. Perguntei-lhe pedin- Maciello, etc, entre os itali- imigração em Minas Ge- Espanha. Ali já foram come- festejar o centenário da
um aglomerado de gente que do para que me respondes- anos: Heizer, Rubach, Auer, rais, sem que a maioria dos morados os 120 anos e, no Colônia Constanza que
não sabe porque existe”. se baixinho no ouvido - esta- Gribel, Korn, Rauch, Grau, leopoldinenses se dessem ano passado, o 130º aniver- lhe deu habitantes e mui-
No meu tempo de estu- va o pais em guerra contra o Olney, Kaiser, Himmel, etc, conta disso. Mas aí estão sário da chegada dos pri- tos descendentes da me-
dante em Leopoldina eixo - se havia chegado mui- entre os de origem os historiadores fazendo o meiros imigrantes italia- lhor qualidade e que mui-
(1941-1945), quando esta tos italianos para aquela germânica; Alibert, Gibrat, seu papel. Alertaram as au- nos. O mapa da Itália, es- to contribuíram para o
cidade tinha menos de 15 colônia. Sorrindo, respon- Capdeville, Richier, Sodrè, toridades, procuraram culpido em mármore de seu progresso e prestígio
mil habitantes, aprendi a deu-me, que não sabia o exa- de origem francesa; e conscientizar a população a Carrara, é o monumento político. É importante
amá-la e a me interessar to, mas que alem de italia- Haddad, Reche, Buhid, resgatar este importante que simboliza a gratidão da que as autoridades muni-
pela sua história, por conta nos, a colônia havia recebi- Salomão, Balaban, entre os capítulo da história que, cidade e dos descendentes cipais, a imprensa, as
das lições de civismo que do, também, muitos sírio- de origem sirio-libanesa. mais do que muitos outros, de italianos aos seus ante- emissoras de rádio, os
levavam os jovens à cidada- libaneses, alemães, espa- Os anos passaram. Já re- merece ter o seu centenário passados. políticos, os clubes, as as-
nia consciente, a interessar- nhóis e portugueses. alizado na vida e próximo comemorado em alto nível, A cidade, graças ao em- sociações de serviços, as
se pela cultura geral e à pre- Dias depois, comecei a da aposentadoria, foi quan- como autêntica manifesta- penho de um prefeito de escolas, colégios, faculda-
servar os valores morais. procurar nos livros de cha- do comecei a me dedicar, ção de uma Leopoldina que sólida base cultural e ao des, o bispado, enfim,
No fim, todos que termina- mada de aulas, os sobreno- mais a fundo, às pesquisas toda a sociedade se con-
vam suas etapas de estu- mes de estudantes com e, no decorrer dos últimos gregue num esforço cole-
dos, partiam amando esta cognomes estrangeiros. O 30 anos, tornar-me histori- tivo para que não fique
cidade e sentido saudades saudoso professor Alziro de ador de fato, embora limi- ... Recordo-me de uma festa na nos anais da cidade, o re-
de um período em que eram Azevedo Carvalho, diante tado à Zona da Mata e, em gistro negativo de um
felizes e não sabiam. do meu interesse, facilitou- conseqüência da proximi-
Igrejinha da Onça e da referência do evento que alto toca à
Ainda jovem, por influên- me a pesquisa e, então, fi- dade, também, ao estado velho Matola de que aquele modesto sensibilidade dos brasi-
cia paterna e das lições de quei conhecendo muitos so- do Rio de Janeiro, por onde templo tinha uma origem muito leiros descendentes de
civismo, eu gostava de co- brenomes de colegas e con- entraram os imigrantes que italianos, alemães, portu-
nhecer a história dos luga- temporâneos, não só de ori- se fixaram nestes sertões do
significativa. Era o que restava de gueses, sírios, etc, que
res e a origem de famílias gem italiana, também, de sudeste mineiro. uma velha colônia de imigrantes que ajudaram na construção
cujos cognomes não se iden- outras origens. Hoje, no es- O destino me levou a co- existiu no lugar.... dos alicerces, não só de
tificavam como sendo de plendor dos meus 83 anos nhecer os valorosos histori- Leopoldina, mas de Mi-
origem portuguesa. Filho de de idade, ainda me lembro adores Nilza Cantoni e José nas e do Brasil.
4 100 anos da Colônia Agrícola Constança

AO IMIGRANTE ITALIANO – GRATIDÃO E AFETO


Rosalina Pinto Moreira fuga da miséria que asso- tivas de crescimento imedi- lhante ao europeu; mudan- liberdade como força de da fundação dos “Núcleos
Professora e Historiadora de Astolfo Dutra lava algumas regiões rurais ato. A solução para comba- ça da forma de governo bra- atração: “a liberdade de Coloniais Agrícolas” em
do norte da Itália; recusa e ter tal situação de miséria sileiro, de monarquia para migrar e mudar de residên- Leopoldina e Astolfo Dutra!
este ano de 2010, revolta em viver sob opres- foi oficializar e incentivar o república, desencadeada cia, uma conquista da Re- O italiano se instalou e se

N quando quatro
“Núcleos Coloni-
ais Agrícolas”, re-
são; dificuldades dentro do
próprio espaço geográfico,
possuidor de montanhas ou
processo emigratório.
Teria sido o crescimento
demográfico um outro ele-
com a abolição dos escra-
vos... Tudo tornou-se solu-
ção para os problemas eco-
volução Francesa, envolve
muitos aspectos: os liames
feudais entram em decom-
adaptou à cultura local.
Honradez e abnegação des-
medida ao trabalho são ca-
ceptores dos “Imigrantes colinas, com grandes varia- mento também provocador nômicos e financeiros que posição, a posse da terra é racterísticas que os defi-
Italianos”, completam cem ções climáticas; áreas insu- da saída transoceânica? os afligiam. revolucionada e, o que tal- nem! Miscigenou-se e é ele-
anos de criação, deixamos ficientes para se cultivar; Nesse prisma aceita-se o O interesse dos italianos vez seja mais significativo, mento de evidência no cená-
registrado todo o nosso carência de tecnologia na pensamento de E. Sereni pelo Brasil na última déca- desenvolve-se a ruptura da rio deste País!
mais profundo sentimento agricultura; drenagens difí- quando descarta a possibi- da do século XIX foi acentu- solidariedade entre os cam- Sua vinda para esta Pá-
de gratidão e afeto. ceis, etc. Todos esses moti- lidade da Itália ter ado também em decorrência poneses de uma comunida- tria é motivo de pesquisas
“Colônias Agrícolas” que se vos os obrigaram a procu- superpopulação ou ser inca- do retrocesso econômico em de e de uma família, tornan- infindas...
entremeiam numa história rar soluções, migrando no paz de proporcionar traba- que os Estados Unidos e Ar- do-se o elemento humano A propósito, a partir de
semelhante, movida pelas próprio país e continente ou lho a todos: “não é a terra gentina se encontravam, livre para se dirigir onde junho/2009, Nilza Cantoni
mesmas causas que as fi- vindo para a América. “Fa- que falta, não são as condi- nossos maiores concorrentes mais facilmente pudesse e José Luiz Machado têm
zeram nascer. É zer a América” foi o sonho ções naturais que empur- na recepção de imigrantes. encontrar soluções para oferecido, aos leitores virtu-
“Constança”, é “Santa Ma- de milhares de camponeses ram (...) milhões de traba- Maria Tereza Schorer seus problemas de sobrevi- ais, o excelente “vinho” da -
ria”, é “Barão de Ayuroca”, italianos. lhadores agrícolas. A causa Petrone, em seus estudos vência. (...) “A emigração é “Contagem Regressiva” -
é “Inconfidentes”. Paralelas a essas dificul- está na forma capitalista sobre “Imigração”, eviden- problema de liberdade”. Boletim sobre o Centenário
Histórias que se mes- dades, acrescenta-se a che- da economia, nas condições cia também a questão da Cem anos são decorridos da Colônia Agrícola da
clam... que se harmoni- gada do capitalismo no e nas relações sociais. A ex- Constança” .
zam... que se tornam focos meio rural, provocando a ploração capitalista sobre “Degustamos” preciosa be-
de análises... Historiadores concentração da terra nas o camponês é aviltante”. bida arquivada nos tonéis do
e pesquisadores apaixona- mãos de grandes proprietá- Pela complexidade da ques- tempo! E, saiba prezado lei-
dos que estudam, solicitam rios o que fez acarretar au- tão achamos que todos estes ...Cem anos são decorridos da tor, acrescentou vida à histó-
e trocam informações! Uma mento de impostos sobre a fatores são evidentes como fundação dos “Núcleos Coloniais ria da saga italiana na Colô-
parceria indivisível! mesma; contração de em- motivação para emigrar. Agrícolas” em Leopoldina e nia “Santa Maria”! Um ou-
“Constança” e “Santa Ma- préstimos e o conseqüente “A força de atração dos tro “Renascimento”! Deram-
ria” vivenciam esta saga! endividamento. italianos para a América Astolfo Dutra! O italiano se nos a conhecer, entre tantas
Mas, por que o italiano Como se não bastasse, consistia na promessa de instalou e se adaptou à cultura informações, a origem dos
emigrou? sofria a concorrência dos oportunidades de sucessos local. Honradez e abnegação “Franzoni”. Afinal, tínhamos
A vinda do imigrante italia- grandes proprietários com nas áreas novas”, que é ca- pouquíssimas notas sobre o
no para a América é fato am- seus produtos agrícolas, já racterizada, entre outros fa- desmedida ao trabalho são “patriarca” “Francesco”...
plo e complexo. Duas forças que não se podia fazer fren- tores, pela existência de es- características que os definem! Estas são pinceladas so-
antagônicas polarizam sua te ao preço imposto por eles. paços vazios no Novo Mun- Miscigenou-se e é elemento de bre a tela da Imigração Ita-
saída: “expulsão e atração”. Voltar-se para a indús- do. E mais: fronteiras aber- liana cujos assentos se fize-
Fatores diversos caracte- tria não seria solução pois tas; notícias de avanço da evidência no cenário deste País!... ram em terras brasileiras e,
rizam “a força de expulsão” esta se instalava de forma lavoura cafeeira no sudeste entre elas, Leopoldina,
dos italianos de sua terra: lenta e com poucas perspec- e sul brasileiro; clima seme- Astolfo Dutra...
100 anos da Colônia Agrícola Constança 5

CENTENÁRIO DA COLÔNIA CONSTANÇA


Joana Capella importante capítulo da his- Por outro lado, Minas nova vida no Brasil. Com o coração aberto, os Nava, em sua majestosa
Pesquisadora da Colônia Major Vieira tória local, que é a imigra- Gerais buscava na imigra- Do porto do Rio de Janei- imigrantes adotaram mui- obra “Baú de Ossos”.
ção em Leopoldina. ção a saída para substi- ro, onde desembarcavam, tos dos hábitos culturais da “Gosto de saber na minha
“Per questo fummo Ao descobrir e revelar a tuir a mão-de-obra escra- vinham para a Hospedaria nova pátria e nos legaram hora de bom ou de mau, na
creati: Per ricordare ed história de vida, o dia-a-dia, va na agricultura, então a dos Imigrantes, em Juiz de um pouco da cultura do ve- de digno ou indigno, nobre ou
as lutas e conquistas de sua principal atividade Fora, de onde seguiam para lho mundo. ignóbil, bravo ou covarde,
essere ricordati...” tantas famílias, a maioria econômica. as fazendas de café, contra- Hoje, é reconhecida a con- veraz ou mentiroso, audaz
[Por isso fomos italianas, que aqui chega- Leopoldina, particular- tados pelos fazendeiros. tribuição do imigrante que ou fugitivo, circunspecto ou
criados: para recordar ram em busca do sonho de mente, bem como toda a Outros se fixaram nos nú- aqui fincou raízes, tão im- leviano, saudável ou doente
“fazer a América”, consta- Zona da Mata eram impor- cleos coloniais, criados pelo portante na formação do quem sou. Quem é que está
e ser recordados...] tamos que este sonho se re- tantes centros produtores governo do Estado de Minas, nosso povo, bem como no na minha mão, na minha
(Poema de Natale: alizou através de um tra- de café, o principal produto em fazendas adquiridas aos desenvolvimento econômi- cara, no meu coração, no meu
Vinicius de Morais) balho sempre árduo, sobre- de exportação do estado. fazendeiros arruinados e di- co, social e cultural de Mi- gesto, na minha palavra:
tudo na agricultura. Então, estimulados a dei- vididas em lotes que o imi- nas Gerais, mais especifi- quem é que me envulta e gri-
comemoração do - Por que italianos? - Por xarem o país pelo governo grante pagava camente da nossa região. ta – estou aqui de novo, meu

A “Centenário da
C o l ô n i a
Constança” vem
dar um destaque
que Leopoldina?
No final dos anos 1.800, a
Itália vivia graves proble-
mas econômicos e sociais,
italiano, bem como atraí-
dos pela sedutora propa-
ganda feita pelo governo
brasileiro que acenava com
parceladamente com o fruto
do trabalho familiar, sendo
que recebiam, ainda, semen-
tes e utensílios agrícolas.
Não eram aventureiros...
Assim, é preciso torná-los
conhecidos das novas gerações
que deles hão de se orgulhar
filho, meu neto! Você não me
conhecu logo porque eu esti-
ve escondido cem, duzentos,
trezentos anos.”
ainda maior ao excelente gerando, inclusive, o desem- a possibilidade de um futu- Assim, surgiram em nos- e neles hão de se reconhecer! À comunidade de
trabalho de pesquisa reali- prego e a fome. ro certo e com a doação de sa região as centenárias Co- 100 anos da Colônia Leopoldina, à Nilza e ao
zado, em conjunto, pelos A cobrança de elevados im- terras, além da passagem lônias Constança, em Constança! José Luiz, que se mobilizam
leopoldinenses Nilza postos sobre a produção agrí- paga, milhares de pessoas Leopoldina, “Santa Maria”, Nosso respeito aos imi- para a comemoração desta
Cantoni e José Luiz Macha- cola levou os pequenos agri- romperam laços familiares, em Astolfo Dutra, ambas grantes e aos seus descen- tão importante data, vol-
do, cujo objetivo não é ape- cultores ao endividamento abandonaram sua pátria e criadas em 1910, e a “Ma- dentes, a quem homenage- tando os seus olhos no pas-
nas tirar do esquecimento, com a consequente perda de partiram nos navios jor Vieira”, em Cataguases, amos através das emocio- sado, mas mirando seu pro-
mas reviver e reacender o suas terras. superlotados para uma criada em 1911. nadas palavras de Pedro missor futuro, parabéns!

DEBULHANDO O PASSADO
Lucimary Sangalli Vargas lho” e sem serventia, que só de trazer à tona toda a histó- crise e vieram “fazer a Améri- centenário de fundação da que o conhecimento da nossa
Leopoldinense, descendente dos ocupa espaço nas “pratelei- ria de um povo, de um lugar. ca”, alimentados por sonhos Colônia Agrícola da história: recebemos a respon-
Borella, Sangalli, Lorenzetto e ras da vida”. Felizes nós, leopoldinenses, e desejos de uma vida melhor, Constança, tendo a certeza sabilidade da preservação e
Sangirolami
É tarefa hercúlea, que ra- que contamos com estes ra- de construírem aqui o que já que sua história de vida não continuação deste tão impor-
ebulhar o passa- ros são os que se propõem a ros guerreiros, que tanto de si não encontravam por lá. ficará esquecida, nos braços da tante trabalho.

D do, fazer desper-


tar os fatos até
então adormeci-
enfrentá-la, a tomá-la como
projeto de toda uma vida,
numa espécie de devoção
deram e dão para manter
viva a história de nossa ama-
da terra, de nossas raízes, do
Será que nós teríamos a
mesma coragem dos nossos
ancestrais?
eternidade.
Muitas foram as tentati-
vas, no decorrer destes anos,
Parabéns aos
leopoldinenses, de nascimen-
to ou de coração, que soma-
dos, não é tarefa simples. misturada ao ideal único de que realmente somos. Deixaram tudo para trás, de colocar em prática o pro- ram esforços a este nobre ide-
Intervir contra a ação do resgatar o passado de todo Somos os frutos do plantio enfrentando uma longa via- jeto de resgate da história al e “arregaçaram as mangas”
tempo nas fontes documen- um povo, uma história, um dos nossos antepassados, que gem a bordo de um vapor abar- de Leopoldina, principal- juntamente com nossos raros
tais que, na maioria das princípio de tudo. abraçaram, amaram este rotado de gente e na bagagem mente de implantá-lo junto guerreiros, que nunca esmo-
vezes, estão condenadas à Por quê e para quê isso rincão onde hoje vivemos e alguns poucos pertences. No à rede municipal de Ensino. receram perante as inúmeras
destruição total por ação de tudo? Vaidade pessoal? Inte- podemos desfrutar do que foi colo, filhos, na maioria das Enfim, a concretização do vicissitudes que encontraram
fungos, traças, intempéries resse político? Propósitos fi- construído por eles, à custa vezes, e no peito a incerteza e principal objetivo do “Proje- nesta longa caminhada.
ou, ainda, pelo próprio ho- nanceiros? Afirmo-lhes, caros do suor de seus rostos, de suas a esperança mescladas, fren- to Conhecendo suas Raízes” À Nilza Cantoni e ao José
mem, não é nada fácil. leitores, com absoluta propri- mãos calejadas pelos cabos te ao que iriam encontrar. começa a ganhar forma, com Luiz Machado, raros e bravos
É muito frequente o des- edade, que não é nada disso. de enxada que empunharam, Como a maioria dos o apoio da municipalidade e guerreiros, o nosso mais pro-
carte irresponsável de ver- Feliz a região, a cidade, que pelas muitas lágrimas que leopoldinenses, o sangue des- de tantos outros “filhos da fundo respeito e admiração
dadeiras preciosidades por conta com a bravura desses rolaram em seus rostos devi- ta brava gente corre em mi- terra” que também abraça- pelo trabalho ímpar que há
parte daqueles que ainda as verdadeiros guerreiros que, do à saudade do que deixa- nhas veias e é motivo de orgu- ram esta ideia. tanto realizam, com afinco,
consideram “arquivo morto” silenciosamente, por anos a ram para trás. Sim, deixa- lho poder homenageá-los jun- Ao abraçarmos esta idéia, esmero e tanto amor à nossa
ou um monte de “papel ve- fio, enfrentam esta batalha ram para trás um país em tamente às comemorações do recebemos muito mais do amada terra: Leopoldina.

O texto de Nilza e Zé Luiz resgata uma história que ainda não


tinha sido contada, estava dispersa nos muitos arquivos deste
“Mundão de Meu Deus”. Agora conhecemos a saga dos
imigrantes italianos para orgulho de seus descendentes e de
todos nós que formamos a comunidade leopoldinense.

Serginho França, Filomena Gorrado, Vivian Gorrado


6 COLÔNIA CONSTANÇA memória e história

Memória e História
oda pesquisa é planejada a partir de um tema que desperta o interesse. ais e construídas pelo poder, que permitem facilmente a identificação das escolhas

T No nosso caso, trata-se da memória coletiva a respeito das profundas


alterações que permearam a entrada da sociedade leopoldinense no sécu-
lo XX. Como memória coletiva entendemos, conforme ensinou Pierre Nora
no artigo Entre memória e história: a problemática dos lugares, tudo aqui-
de quem as produziu.
No nosso caso não se trata exatamente de desmontar uma história oficial, mas de
resgatar a memória de uma fatia da sociedade leopoldinense que ainda não foi
registrada. Nós trabalhamos com o “silêncio” da história oficial, ou seja, com a falta
lo que ficou do passado e que nortea o modo de vida contemporâneo. de referências sobre a imigração em Leopoldina.
A memória coletiva dá oportunidade ao sujeito de desenvolver o processo de for- Nossa responsabilidade, portanto, é levantar o véu de um passado próximo em
mação da identidade. Para melhor compreender onde se forma esta memória, par- busca de conhecê-lo. Neste movimento, vamos montando um “lugar de memória” que
timos da conceituação de Pierre Nora para os “lugares da memória”. Podem ser queremos colocar à disposição de todos. A memória na qual cresce a história que, por
lugares materiais, funcionais ou simbólicos. sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro.
Como lugares materiais teríamos, por exemplo, os monumentos nos quais a me- Todos devemos lutar pela democratização da memória social, através da pesqui-
mória social se alimenta através dos sentidos. É aquele momento em que, diante de sa da memória do homem comum. Lembrando ainda Le Goff, o conhecimento não
uma estátua, por exemplo, nós nos lembramos do personagem ou da cena ali retra- oficial, não institucionalizado, não se cristaliza como tradição. No entanto, é a
tada. Lugares funcionais de memória são as celebrações, como um desfile cívico ou tradição que representa a consciência coletiva de grupos inteiros em oposição ao
uma festa de casamento. Ambos nos fazem refletir sobre o motivo que gerou a conhecimento privatizado e monopolizado por interesses constituídos.
cerimônia. Já os lugares simbólicos são, por exemplo, aquelas situações em que A memória é um instrumento de poder na medida em que passam a fazer parte da
reclamamos uma providência ou uma decisão, com base na memória que guarda- tradição de uma sociedade apenas os eventos selecionados pelo produtor dos docu-
mos do que são nossos direitos e obrigações. mentos e monumentos. O que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no
Os lugares da memória respondem à necessidade de reconstituição do sujeito, passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvi-
sendo formados através de ligação do passado com o presente, num misto de memó- mento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do
ria e história. O passado é o outro tempo, do qual aparentemente estamos desliga- passado e do tempo que passa, os historiadores.
dos. Entretanto, é nele que vamos encontrar os elementos constitutivos de nossa Para ficar num exemplo muito próximo a nós, como forças do desenvolvimento
identidade. Usando as palavras de Nora, os “restos” do passado que podemos temporal poderíamos incluir aquelas que escolheram os nomes dos logradouros
alcançar fazem parte da nossa identidade. públicos de uma cidade ou as que decidiram quais seriam as celebrações oficiais
Não há memória sem história e o ser humano tem necessidade de identificar uma num município. Tais forças foram construtoras de um dos lugares de memória
origem, um nascimento, algo que lhe permita situar-se na sociedade. Entretanto, a citados no início deste texto. Pelo lado dos historiadores, citaríamos o “silêncio” que
história tradicional não favorecia o movimento do sujeito para encontrar-se, uma produziram sobre a Colônia Agrícola da Constança. Esta ausência é também um
vez que se dedicava especialmente aos grandes personagens do passado. Pierre lugar: o de falta de memória.
Nora esclarece que não há memória espontânea, sendo necessário criar arquivos, Mas nenhum ser humano é capaz de atender a todas as necessidades. Vivemos
festejar aniversários e organizar celebrações, para que todos possamos ter um numa sociedade composta de múltiplos sujeitos, cada um com habilidades especí-
“lugar de memória”, ou seja, um lugar onde nos encontraremos com o passado. Mas ficas. No nosso caso, somos aprendizes de uma especialidade que tem uma caracte-
a construção destes lugares depende de escolhas. rística definida por Lucien Febvre como a habilidade de fabricar mel a partir de
Houve um tempo na trajetória da sociedade leopoldinense em que se fabricaram tudo o que o homem faz, exprime e demonstra.
heróis para o culto popular. Estes heróis foram escolhidos por quem detinha o poder Mas é preciso ficar atento, como sugere Marc Bloch em Apologia da História, para
de elegê-los e, consequentemente, muitos personagens e fatos de nossa história a ilusão de imaginar que existe um tipo especial de fonte para cada problema de
foram silenciados. Muitos são os teóricos que abordam estes “silêncios da história” pesquisa. Aliás, as fontes não surgem por efeitos miraculosos e sua existência ou
como causadores de uma certa perda de identidade nas populações. Um dele, Jacquer ausência depende de causas humanas. Nós buscamos referências numa grande
Le Goff, declara no livro História e Memória que a arte de escrever história, ou seja, variedade de fontes para construir nosso estudo que passa a constituir um lugar da
a historiografia, nasceu de uma nova visão sobre o passado que demanda revisões memória da Imigração em Leopoldina e da Colônia Agrícola da Constança.
para recuperar perdas e falhas na memória. Para este autor, existem pelo menos Voltando a Le Goff, documentos são também monumentos, na medida em que
duas histórias: a da memória coletiva e a dos historiadores. A primeira relaciona-se funcionam como um inconsciente cultural. O monumento é uma roupagem, um
com o vivido e está povoada de mitos, necessitando da segunda na medida em que suporte onde a memória coletiva se sustenta, ou, um lugar de memória como
os historiadores busquem corrigir esta “história tradicional falseada”, esclarecen- definiu Pierre Nora. Mas nem todos os monumentos estão disponíveis nas praças
do a memória e retificando os desvios. públicas ou são apresentados em eventos oficiais, conforme temos visto em
Ciro Flamarion Cardoso, no artigo Um historiador Leopoldina em relação à história da Colônia Constança. Ao apresentar ao
fala de teoria e metodologia, recorda que os his- público uma parte dos nossos estudos, nossa intenção é estimular o
toriadores frequentemente se dedicam conhecimento e criar um monumento à memória de um
a desmistificar as memórias co- grupo de moradores que mudou a fisionomia da
letivas dominantes, ofici- nossa cidade. 
100 anos da Colônia Agrícola Constança 7

A IMIGRAÇÃO EM LEOPOLDINA VISTA ATRAVÉS


DOS ASSENTOS PAROQUIAIS DE MATRIMÔNIO
ontes privilegiadas filhos. Na verdade nós iniciamos quisador que se debruce so- ção parcial pode resultar em

F em nossos estudos,
os Livros Paroquiais
foram indicados por
Gilberto Freyre, no
por um recorte sobre observa-
ções realizadas ao longo do le-
vantamento de dados nos livros
paroquiais de Leopoldina, rela-
bre as massas e não sobre
as elites, precisa verificar a
incidência destas e de outras
práticas para diminuir o ris-
conclusões superficiais que
não condizem com a realida-
de e que, infelizmente, estão
presentes em antigas obras
prefácio da primeira edição de tivos ao período de 1861 a 1930, co de contaminação de uma de referência para a nossa
Casa Grande & Senzala, em especialmente da Igreja Matriz pesquisa. Uma interpreta- história.
1930, como necessários para da sede municipal. Segundo Ma-
estudos sobre a família. Acre-
ditamos que se o período de ob-
ria Beatriz Nizza da Silva, em
Sistema de Casamento no Bra-
ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
servação for anterior a 1931, sil Colonial, página 85, “contrair O levantamento dos dados ma, a data inicial reúne o mo-
poucas fontes serão tão infor- esponsais significava, no Brasil foi realizado nos livros de ma- mento em que as informações
mativas quanto aquelas que se colonial, [...] seguir um rito, um trimônios da Paróquia de São estão mais bem dispostas nos
encontram nos arquivos eclesi- cerimonial, com data marcada Sebastião da Leopoldina do livros de assentos e o início
ásticos. Isto porque, embora o como um casamento, assistido período de 1861 a 1930. O es- efetivo de casamentos entre
registro civil tenha sido implan- também por testemunhas”. Nós tado de conservação é diferen- eles.
tado ainda ao tempo do Impé- fomos buscar tais indícios e a te entre as várias unidades do Quanto à data final, foi de-
rio, seus custos mostravam-se forma como apareciam no final acervo e nem todos são livros finida com base na constatação
superiores aos praticados pela do século XIX, coletando infor- originais. Entre outros riscos, de que após 1930 os casamen-
igreja. Esta situação só se modi- mações nos livros paroquiais de o encapamento com material tos já envolviam a segunda
ficou com o Decreto nº 19.710, matrimônios. Deste trabalho plástico, inadequado à conser- geração de descendentes e o
de 18.02.1931, que liberou de ressaltou um aspecto que diz vação, poderá antecipar o fim objetivo era registrar a
multa os registros em atraso. respeito à representa-tividade da vida útil do material. mesclagem na população de
Sendo assim, qualquer estudo dos imigrantes na composição Realizamos uma análise Leopoldina entre os naturais
sobre antigas famílias ficaria in- da sociedade leopoldinense, no comparativa e excluímos os de outros países e seus filhos.
completo se não considerasse os período de transição que vai do dados que apresentam diver- A destacar, ainda, a dificul-
assentos paroquiais. fim do Império à consolidação gências significativas, especi- dade de identificação dos na-
Entretanto, nosso projeto não da República. almente no que tange ao des- turais de Portugal e Espanha,
se destinava a analisar a famí- Quantos teriam sido estes vio padrão para a quantidade cuja origem nem sempre apa-
lia, quer seja pelo conceito am- imigrantes? Esta foi a ques- de eventos anuais. Decidimos, rece nos registros transcritos
plo que interessa aos sociólogos, tão que nos propusemos, ao final, pelo recorte tempo- pelo Padre Aristides. Conside-
através das noções de parentes- com o objetivo de ampliar o ral que vai de maio de 1890 a rando que esta ausência pode
co e compadrio, nem tampouco conhecimento sobre o perí- Altar da Capela de Santo Antônio de Pádua, igreja da Colônia dezembro de 1930. ter acontecido também com
pelo sentido restrito que se vol- odo em que foi fundada a ríodo colonial, não é difícil ob- dões de batismo, atestado de Lembramos que o grande imigrantes árabes, cujos no-
ta para a família nuclear, for- Colônia Agrícola da servar que as diferenças per- residência e certidão de óbi- fluxo de imigração para mes foram mais intensamen-
mada pelos progenitores e seus Constança. maneciam, um pouco suavi- to do primeiro cônjuge quan- Leopoldina ocorreu entre 1888 te aportuguesados, é necessá-
zadas, no final do Império. E do o contraente fosse viúvo. e 1898, sendo que os casamen- rio um certo cuidado no senti-
FATOS NORTEADORES talvez acrescidas de um ou- O processo de casamento, tos entre os estrangeiros che- do de considerar estas conclu-
Para além da coleta mecâ- cia nos quais a Igreja tro problema relatado por portanto, envolvia o dispên- gados em 1888 começaram sões tão somente como a vi-
nica de dados, os livros paro- desaconselhava festivida- Nizza da Silva em relação à dio de somas consideráveis partir de 1890, já que poucos são da população de
quiais permitem perceber des. Ainda assim, apenas nas permissão de casamentos nos casos em que os eram os jovens solteiros, com Leopoldina com base nos re-
que “os sistemas de áreas mais afastadas dos entre mancípios. Trata-se, nubentes tivessem nascido idade para contrair matrimô- gistros paroquiais de casa-
nupcialidade não eram idên- centros populosos o número neste caso, das provisões em outro local. nio, que passaram ao Brasil mentos da Paróquia de São
ticos”, como ressalta Mary de casamentos entre pesso- exigidas pela igreja para a Este complicador para os com suas famílias. Desta for- Sebastião de Leopoldina.
del Priore em História do as livres era reduzido dras- realização do matrimônio. casamentos de escravos fa-
Amor no Brasil, página 63. ticamente no Advento, na Lembra a autora que as zia-se presente para os imi- CONCLUSÃO
Abordando o período coloni- Semana Santa e na Quares- Constituições Primeiras do grantes. Para estes, o proces- Além de confirmarmos a pre- nhóis, sírios, açorianos, france-
al, a autora informa que ha- ma. Já para os escravos, ha- Arcebispado da Bahia, que so poderia estender-se por sença de várias nacionalidades ses, canarinos e egípcios).
via diferenças entre os casa- via uma outra imposição: regiam no Brasil as normas longo tempo diante da neces- vivendo em Leopoldina, o re- Sendo assim, nossa hipóte-
mentos de livres e de escra- durante o período de semea- exaradas pelo Concílio sidade do imigrante provar sultado deste trabalhou indicou se sobre o peso dos imigrantes
vos, sendo que aqueles podi- dura ou de colheita eles não Tridentino, não esclarecem ser batizado e solteiro. A al- que, entre 1890 e 1930, 10% da na formação da sociedade
am escolher livremente o mo- recebiam permissão de seus quais documentos eram ternativa era a apresentação população local era composta leopoldinense que adentrou o
mento da união, embora ob- senhores para realizarem os enfeixados no conceito de pro- de fianças e cauções que não por estrangeiros, sendo 9% ita- século XX encontrou, neste
servando o “tempo proibido”, rituais religiosos. visões, sendo possível supor estavam ao alcance da popu- lianos e 1% das demais nacio- estudo, a sustentação que bus-
ou seja, períodos de penitên- Embora se refiram ao pe- que fossem exigidas certi- lação mais pobre. Um pes- nalidades (portugueses, espa- cávamos. 
8 100 anos da Colônia Agrícola Constança

LOTE 01 LOTE 07 LOTE 15


João Batista de Almeida Paula instalou-se na Co- Vittorio Carraro imigrou em outubro 1888 da Itália. Ins- Modesto Pumpemayer instalou-se na Colônia
lônia Agrícola da Constança a 01 jul 1909. Casado com talou-se 25 nov 1911 na Colônia Agrícola da Constança. Agrícola da Constança em 11 jan 1911.
Messias de Rezende Guimarães. Pais de: Maria Casou-se com Elisabetta Carraro. Foram pais de: Elizia
Aparecida Guimarães de Paula e Corina. (1899); Angelina (1900); Maximiano (1903); E m i l i a LOTE 16
(1906); Maria (1908); Amélia (1912) e Rosa (1914).
Auriel de Rezende Montes nasceu em 02 nov 1874 em
LOTE 02
PRIMEIRO OCUPANTE
LOTE 08 Piacatuba, Leopoldina, MG. Em 15 jul 1910 instalou-se na
Colônia Agrícola da Constança. Casado com Ambrosina
Manoel José dos Passos instalou-se na Colônia Agríco- Paschoal Domenico Fofano nasceu em Mogliano Francisca Coelho dos Santos foi pai de: Tereza (1901);
la da Constança a 15 ago 1910 Veneto, Treviso. Instalou-se aos 14 jun 1910 na Colônia Sebastião (1903); Arina (1906) e Graziela (1908)
SEGUNDO OCUPANTE Agrícola da Constança. Era casado com Oliva
Manoel Gomes Pardal nasceu em Portugal. Instalou-se Meneghetti. Pais de: Maria Carolina (1899); Ama- LOTE 17
no dia 25 nov 1911 na Colônia Agrícola da Constança. Ca- lia Luiza (1900); Arminda (1901); Rosalina (1903);
Francisco Antonio Reiff Júnior instalou-se na
sou-se com Maria Ilidia de Rezende. Pais de: Maria Francisco (1906); Ernestina (1909); Luiza (1911); José
Colônia Agrícola da Constança em 15 jul 1910.
Eliza; Avelino (1899); Roza (1902); Izabel (1906); Bernardo (1914); Idalina (1917); Violanda Lucia
(1920) e João Amaro (1922).
Mariana (1908); Francisco (1910); Almerinda (1910) e LOTE 18
Ignacia Pardal (1919).
LOTE 09 Jeronimo José da Silva instalou-se em 15 jul 1910 na
Colônia Agrícola da Constança. Foi pai de Maria (1914).
LOTE 03 Felice Augusto Meneghetti nasceu em 07 ago 1873
em Campolongo Maggiore, Venezia. Imigrou em outubro
Francisco Carneiro de Macedo nasceu em Portugal. 1888. Em 14 jun 1910 instalou-se na Colônia Agrícola da LOTE 19
Imigrou em 1888. Instalou-se no dia 05 jul 1910 na Colônia Constança. Casou-se com Ida de Angelis com quem teve João Pacheco de Carvalho nasceu em Providência. Instalou-
Agrícola da Constança. Casado com Albina Rodrigues os filhos: Antonio (1902); Pierina (1904); Paschoa se em 15 jul 1910 na Colônia Agrícola da Constança. Casado
da Costa, pais de: Maria de Jesus Macedo (1881); (1907); Rafael (1912); Maria (1915) e José com Emilia Vasconcelos Pereira teve os filhos: Joaquim
Piedade dos Anjos; Felicio da Costa Macedo e Meneghetti (1917). (1910); Pedro (1913); Paulo (1915) e Maria Aparecida (1920).
Hermelinda Macedo (1897).
LOTE 10 LOTE 20
LOTE 04 Augusto Santos instalou-se aos 14 de jun de 1910 na Luigi Marcatto nasceu em Pianiga, Venezia, Veneto,
Jesus Salvador Lomba nasceu em San Ciro, Espanha. Colônia Agrícola da Constança. Italia. Imigrou em 1896. Instalou-se em 28 dez 1910 na
Instalou-se na Colônia Agrícola da Constança no dia 20 Colônia Agrícola da Constança. Casado com Anna
jul 1910. Casou-se com Maria Madalena Lorenzetto LOTE 11 Maria Ceoldo foi pai de: Antonio (1914).
em 28 nov 1903 em Leopoldina, onde ela nasceu. Pietro Balbini nasceu na Itália. Instalou-se na Colônia
Agrícola da Constança em 28 dez 1910. LOTE 21
LOTE 05 PRIMEIRO OCUPANTE
PRIMEIRO OCUPANTE LOTE 12 Angelo Bucciol instalou-se em 28 dez 1910 na Colônia
Demetrio de Lorenzi nasceu na Itália. Instalou-se no Francesco Colle nasceu em Cesarolo, S.Michelle al Agrícola da Constança, abandonando-a em 30 jun 1911.
dia 26 fev 1911 na Colônia Agrícola da Constança, de onde Tagliamento, Venezia, Veneto, Itália. Instalou-se na Colô- SEGUNDO OCUPANTE
saiu aos 30 mai 1911. nia Agrícola da Constança em 28 dez 1910. Casado com Francesco Abolis instalou-se em 26 out 1911 na
SEGUNDO OCUPANTE Pierina Galasso teve os seguintes filhos: Santina Colônia Agrícola da Constança. Casado com Maria,
Carlo Meccariello nasceu na Itália. Imigrou em agosto (1899); Marcelina (1901); Regina (1904); Angelo falecida em Leopoldina em 6 abr 1912 logo após perder
de 1896. Instalou-se no dia 26 ago 1911 na Colônia Agríco- (1907); Antonio José (1915); Francisco João (1918) e o filho nascido em março daquele ano.
la da Constança. Era casado com Maria Antonia Cecilia Colle (1910).
Ciovonelli, também italiana. Pais de: Maria Beatriz; LOTE 22
Mariana (1880); Andrea (1882); Vittoria; LOTE 13 PRIMEIRO OCUPANTE
Pasqualina; Nicolao (1896); Fioravanti (1898) e
Deolindo Meccariello (1900). Giuseppe Pittano nasceu na Itália. Instalou-se na João Simão Raipp.instalou-se em 20 out 1910 na Colô-
Colônia Agrícola da Constança em 28 dez 1910. Casado nia Agrícola da Constança. Casado com Francisca Ma-
LOTE 06 com Antonia Bergamasso foi pai de Rosa (1912). ria de Aguiar teve os filhos: Maria da Luz (1911) e
Tomé Raipp (1912).
Felice Antonio Campagna nasceu na Itália. Instalou-se LOTE 14 OUTRO OCUPANTE
aos 21 de jun de 1911 na Colônia Agrícola da Constança. Antonio Augusto Rodrigues nasceu em 30.08.1881 em
Casado com a italiana Carmina Marzilio. Pais de: Giovanni Sampieri nasceu na Itália. Imigrou em 1895. Leopoldina, MG. Instalou-se na Colônia Agrícola da Constança
Giuseppe; Nicola (1893); Roque (1897); Lucia (1899); Instalou-se na Colônia Agrícola da Constança em 28 dez em 04 jun 1924. Casado com Maria Antonia de Oliveira
Margarida (1902); Maria (1904); João (1906); 1910. Casado com Clotilde, teve os seguintes filhos: teve os seguintes filhos: Sebastião (1907); Mariana (1909);
Fortunata (1908); Maria (1908); Thomaz (1910) e Ge- Margherita (1887); Luigi (1889); Teresa (1892) e João (1911), Lucia (1913); Balbina (1916); Bárbara
raldo Campagna (1911). Pietro (1894). (1916); Geraldo (1921) e Madalena (1918).
100 anos da Colônia Agrícola Constança 9
quem teve o filho Victorino Boller nascido em 25 mar
LOTE 23 1912 em Leopoldina. LOTE 37
Fortunato Bonini nasceu em 13 jul 1855 na Itália. Imi- Manoel da Cruz Cartacho instalou-se em 30 jan 1910 na
grou em 1885. Em 25 nov 1911 instalou-se na Colônia Agrí- LOTE 30 Colônia Agrícola da Constança. Casado com Maria
cola da Constança. Casado com Maria Darglia foi pai PRIMEIRO OCUPANTE Cândida de Jesus teve os filhos: Antonio (1883); Júlia
de: Paschoa (1886); Jacinto; João (1890); Maria Henrique Mihe instalou-se em 05 out 1910 na Colônia (1885); Manoel (1890) e Rosa Maria de Jesus.
(1892); Regina (1893); Maria (1894); Antonio (1895); Agrícola da Constança.
Josefina (1897); Felomena (1900) e Ana Bonini (1903). SEGUNDO OCUPANTE LOTE 38
Giovanni Lupatini nasceu em 1856 em Castrezzato,
LOTE 24 Brescia, Lombardia, Itália. Imigrou em 1895. Em 10 ago 1911
Angelo Secanelli instalou-se em 30 mar 1911 na
Colônia Agrícola da Constança.
Eugenio Travain instalou-se em 11 jan 1911 na Colônia instalou-se na Colônia Agrícola da Constança. Casado com
Agrícola da Constança. Maria Zanetti teve os filhos: Santina (1885); Giulia
Francesca (1887); Ema Metilde (1890); Giuseppe LOTE 39
LOTE 25 Pietro (1897); Vincenzo Pietro (1900) e João (1902). Giovanni Lupatini já mencionado no lote 30 da
Luigi Meneghetti nasceu em Campolongo Maggiore, Colônia Agrícola da Constança.
Venezia, Veneto, Itália. Imigrou em 1888. Em 14 jun LOTE 31
1910 instalou-se na Colônia Agrícola da Constança. PRIMEIRO OCUPANTE LOTE 40
Casado com Maria Verona teve os filhos: Felice Herman Krause instalou-se em 27 jan 1910 na Colônia José Manoel da Costa instalou-se em 25 nov 1910
(1872); Oliva (1877); Domenico (1880); Giuseppe; Agrícola da Constança, abandonando-a em 30 jun 1910. na Colônia Agrícola da Constança.
Agostino e Maria Maddalena Meneghetti (1888). SEGUNDO OCUPANTE
Luigi Boller instalou-se em 26 fev 1911 na Colônia
LOTE 26 Agrícola da Constança. LOTE 41
Giovanni Battista Gottardo nasceu em 26 out 1872 Augusto Mesquita instalou-se em 04 dez 1909 na
em Vigonza, Padova, Veneto, Itália. Imigrou em 1888.
LOTE 32 Colônia Agrícola da Constança.
Em 14 jun 1910 instalou-se na Colônia Agrícola da PRIMEIRO OCUPANTE
Constança. Casado com Costantina Meneghetti teve Bruno Troche instalou-se em 27 jan 1910 na Colônia LOTE 42
os filhos José; Fortunato (1906); Maria Zulmira Agrícola da Constança, abandonando-a em 06 jun 1910.
SEGUNDO OCUPANTE Pasquale Ferrari instalou-se em 26 fev 1911 na Colô-
(1907); Pasquina (1911); João Batista (1913) e
Giuseppe Boller instalou-se em 26 fev 1911 na Colônia nia Agrícola da Constança. Foi pai de Concettina
Arcangela Micaela (1916).
Agrícola da Constança. Casado com Mellonia Boller Ferrari nascida em 1896, quando ainda morava em
LOTE 27 com quem teve os filhos Ema (1909) e Ida Boller (1911). Providência, Leopoldina.

Carlo Batista Fofano nasceu em Mogliano Veneto,


Treviso, Veneto, Itália. Em 14 jun 1910 instalou-se na
LOTE 33 LOTE 44
Colônia Agrícola da Constança. Casado com Amabile Fritz Zessin instalou-se em 10 dez 1909 na Colônia PRIMEIRO OCUPANTE
Stefani teve os filhos: Antonio Carlos (1904); Agrícola da Constança. Franz Schaden instalou-se em 27 jan 1910 na Colônia
Alberto Carlos (1906); José (1909); Maria (1913); Agrícola da Constança, abandonando-a em 30 mar 1910.
Alfredo (1916); Eugenio (1918) e Virginia Fofano. LOTE 34
Eugenio Stefani nasceu em 24 ago 1887 em Rovigo, SEGUNDO OCUPANTE
LOTE 28 Veneto, Itália. Imigrou em 1888. Em 15 jun 1910 instalou- Rudolf Rottemberg instalou-se em 19 out 1910 na
PRIMEIRO OCUPANTE se na Colônia Agrícola da Constança. Casado com Carolina Colônia Agrícola da Constança. E em 1914, em
Leopoldo Abolis instalou-se em 11 jan 1911 na Colô- Catterina Bolzoni com quem teve os filhos: Antonio Leopoldina, casou-se com Wilhelmine.
nia Agrícola da Constança. Casado com Camila (1910); Ernestina (1914); Vicente (1926); Antonina
Locatelli teve os filhos: Akires; Antonia; Domingos; (1929); Olivia (1930) e Alzira Stefani (1932). LOTE 45
José; Orlando; Rosa; Sebastião; Enrico; Narciso
Pedro; Baptista Narciso e Arlindo Abolis nascido LOTE 35 PRIMEIRO OCUPANTE
August Schill instalou-se em 28 nov 1909 na Colônia
após a família se transferir para Mimoso do Sul, ES. Giuseppe Casadio nasceu em 31 mai 1885 em Massa Agrícola da Constança, abandonando-a em 20 jun 1911.
OUTRO OCUPANTE Lombarda, Ravenna, Emilia Romagna, Itália. Imigrou em
Antonio Montagna nasceu em Rovigo, Veneto, Itália. 1897. Em 15 jun 1910 instalou-se na Colônia Agrícola da SEGUNDO OCUPANTE
Instalou-se na Colônia Agrícola da Constança antes de Constança. Casado com Carlota Maria da Conceição Gustav Fischer instalou-se em 26 ago 1911 na Colônia
1920. Era casado com Josefina da Silva com quem teve os seguintes filhos: Sebastião (1909); Maria da Agrícola da Constança. Casado com Claire Burghart
teve os filhos: Luiz (1909); João Batista (1911); Glória (1913); Antonio (1917); Gabriel (1927); com quem teve os filhos: Luiza; Maria e Alfredo Fischer.
Virginia (1913); Valentim (1918) e Rosa (1920). Arminda (1929) e João Casadio.

LOTE 29 LOTE 36 LOTE 46


Giovanni Boller instalou-se na Colônia Agrícola da Francisco Dias Ferreira instalou-se em 15 jun 1910 Franz Ketterer instalou-se em 28 nov 1909 na Colônia
Constança em 26 fev 1911. Casado com Maria, com na Colônia Agrícola da Constança. Agrícola da Constança.
10 100 anos da Colônia Agrícola Constança

Karl Thier instalou-se em 08 dez 1909 na Colônia Agrícola da


LOTE 47 Constança, abandonando-a em 20 jun 1911. LOTE 60
Julio Teixeira Figueiredo nasceu em Portugal. Instalou- SEGUNDO OCUPANTE PRIMEIRO OCUPANTE
se em 16 jun 1910 na Colônia Agrícola da Constança. Felicio Beatrici nasceu em Trento, Trento, Trentino-Alto Adige, Sante Sellani nasceu em 05 mar 1864 em Parrano,
Itália. Instalou-se em 26 fev 1911 na ColôniaAgrícola da Constança. Perugia, Umbria, Itália. Imigrou em 1898. Em 11 jun 1910
LOTE 48 instalou-se na Colônia Agrícola da Constança. Casado com
PRIMEIRO OCUPANTE
LOTE 54 Ana Bisciaio, teve os filhos: Ottorino (1893); Enrico
Franz Negedlo instalou-se em 08 dez 1909 na Colônia Hermann Richter instalou-se em 15 jan 1910 na Colônia (1895); Cecilia (1898); Oliva; Santina (1903) e Alfredo
Agrícola da Constança, abandonando-a em 15 ago 1910. Agrícola da Constança. Sellani. Transferiu-se para o município de Muriaé.
SEGUNDO OCUPANTE SEGUNDO OCUPANTE
João Jorge Klaiber instalou-se em 19 out 1910 na LOTE 55 Giuseppe Sangalli imigrou em 1894. Foi contratado pela
Colônia Agrícola da Constança. Giovanni Ottavio Anzolin nasceu em 23 mar 1878 em Câmara Municipal de Leopoldina para trabalhar na
Portogruaro, Venezia, Veneto, Itália. Instalou-se em 11 jan Colônia Santo Antônio. Com a saída de Sante Sellani,
LOTE 49 1911 na Colônia Agrícola da Constança. Casado com Rosa instalou-se no lote 60 da Colônia Agrícola da Constança.
Pasianot com quem teve os filhos: Genoveva; Geraldo; Ota- Casado com Rosa Vigarò, teve os filhos: Angelo Giulio;
Wilhelm Zessin instalou-se em 28 nov 1909 na Colônia
vio (1902); Maria (1904); Antonia (1906); Costantino Arturo e Gioconda Sangalli nascida em 10 nov 1889
Agrícola da Constança.
João (1914) e Eleonor Veronica Anzolin (1917). em Brughério, Milano, Lombardia, Itália.
LOTE 50
PRIMEIRO OCUPANTE
LOTE 56 LOTE 61
August Krauger instalou-se em 28 nov 1909 na Colônia Candido Giuliani nasceu na Itália. Imigrou em 1894. Em Braz Brando instalou-se em 31 out 1911 na Colônia
Agrícola da Constança, abandonando-a em 20 jun 1910. 20 jul 1910 instalou-se na Colônia Agrícola da Constança. Agrícola da Constança. Provavelmente trata-se do marido
SEGUNDO OCUPANTE Casado com Maria Casella teve os filhos: Luigi; de Vittoria Meccariello, filha de Carlo Meccariello,
Pietro Beatrici nasceu em Trento, Trento, Trentino- Domenico; Angela; Amabile; Luigia e José (1896). segundo ocupante do lote 5, da mesma Colônia.
Alto Adige, Itália. Instalou-se em 26 fev 1911 na Colônia
LOTE 57
Agrícola da Constança. Casado com Erminia Matteoti
com quem teve os filhos: Pedro Vitorio (1907) e Basilio Anzolin nasceu em 03 jun 1881 em Portogruaro,
LOTE 62
Augusto Pietro Beatrici. Venezia, Veneto, Itália. Em 11 jan 1911 instalou-se na Colônia Pedro Pacheco de Carvalho Filho nasceu em
Agrícola da Constança. Com a primeira esposa, Antonia Portugal. Instalou-se no dia 18 dez 1911 na Colônia
LOTE 51 Ramanzi, teve os filhos: Maria (1912); Antonio (1913); Agrícola da Constança. Casou-se com Manoela
José Luiz (1915) e Maria Luiza (1916). Casou-se a Rodrigues de Moraes com quem teve os filhos:
Ernest Lang instalou-se em 27 jan 1910 na Colônia
segunda vez com Luiza Gallito com quem teve os filhos: Honorina (1902); Enedina (1909); Dolores; Dinah;
Agrícola da Constança.
Carmita Isabel; Donatila Julieta; Germano Lucas; Castelar; Odete; Vicentina; Emerenciana (1915) e
Carolina Regina; Maria Santina e Faustino Sebastiana (1917).
LOTE 52 Secondiano Anzolin.
Mathias Hensel nasceu em Magdeburg, Sachsen-
Anhalt, Germany. Instalou-se em 28 nov 1909 na Colônia LOTE 58 e 59 LOTE 63 e 64
Agrícola da Constança. Casado com Ida Blücher com Manoel Gomes Pardal, já citado no lote 2 da Colônia
Giovanni Carminatti nasceu em Ghisalba, Bergamo,
quem teve os filhos: Elza; Otto; Franz; Willi; Frida Agrícola da Constança.
Lombardia, Itália. Imigrou em 1896. Em jun 1910 instalou-
e Ana Elisabeth Hensel. se na Colônia Agrícola da Constança. Casado com Angela
Pagano com quem teve os filhos: Maria Dalia (1888);
LOTE 66
LOTE 53 Guglielmo; Arturo; Gregorio; Pietro Silvio; Assunta; Antônio Augusto Rodrigues, já citado no lote 22 da
PRIMEIRO OCUPANTE Belmira e Conceição Carminatti. Colônia Agrícola da Constança.
100 anos da Colônia Agrícola Constança 11

EVOLUÇÃO DO NOSSO TRABALHO


diariamente, alguma coisa sobre a Colônia Agrícola da
O Início Os Colaboradores Constança.
requentemente usamos o termo pesquisa quan- Após cinco anos de pesquisas, fizemos um balanço do Este número levantou algumas curiosidades. A pri-

F do abordamos uma de suas fases: a coleta de


dados. Uma atitude muito comum entre nós,
leigos ou amadores. Sabemos, porém, que esta é
que até então fora encontrado e tivemos grande satisfação
em comprovar o crescente número de colaboradores e inte-
ressados. Pessoas da Colônia, da cidade e de lugares dis-
meira delas é que, dentre os textos mais visitados,
destacou-se o que abordou a localização da Colônia,
recebendo média de 54 visitas/dia, num claro indício
apenas uma etapa do processo que habitualmente ante- tantes, muitos comentando a descoberta de parentes atra- de que esse contingente deveria ser majoritariamente
cede à análise que, por sua vez, permite a composição do vés dos nossos textos ou falando da felicidade de poder formado por leitores que se interessam pelo assunto
texto da pesquisa em si. reatar laços de família que foram perdidos quando seus mas são estranhos à Colônia. Dois outros aspectos
A propósito, ao declarar que a história tem “a sorte ou parentes foram buscar novos meios de vida em outros lu- interessantes são observados na estatística: aproxi-
a infelicidade de poder ser feita convenientemente pelos gares, por lá permanecendo e criando suas proles. Alguns, madamente 50% dos leitores internautas leram ou
amadores”, Jacques Le Goff ressalta, no livro História e contando a alegria de pais e avós ao lerem sobre os hábi- pesquisaram mais de uma das colunas; um pouco
Memória, que os não profissionais são necessários para tos e costumes de seus antepassados, da emoção deles ao menos de 10% dos visitantes se dispôs a comentar o
ampliar a possibilidade de vulgarização da história, ocu- reviverem a história das viagens realizadas por seus pa- que foi lido ou solicitou mais informações através de
pando um espaço nem sempre assumido pelos historia- rentes até chegarem à Colônia Agrícola da Constança. mensagens aos autores.
dores profissionais. O autor denomina por Assim surgiu a ideia de conclamar os moradores a pro- Estes números e percentuais são positivos do nosso
semiprofissionais aos que se dedicam por prazer à pes- moverem um evento comemorativo do centenário da Colô- ponto de vista. Acreditamos que demonstram, clara-
quisa histórica e que contribuem pela disseminação deste nia, em 2010. A cidade de Leopoldina deve muito à imigra- mente, que há interessados em conhecer a saga dos
conhecimento que é um ramo fundamental do saber. ção. A transição ocorrida entre o final do século XIX e o imigrantes, motivo suficiente para continuar com o tra-
Para nos adequarmos à classificação sugerida por este início do século XX, desencadeada pela mudança entre o balho. Mas um outro motivo de semelhante importân-
mestre francês, procuramos nos aproximar dele e de ou- modo de produção baseado na mão de obra escrava e o cia reforça esse entendimento. É o fato de tratar-se de
tros teóricos através de leituras intensivas, com vistas a trabalhador dito livre, refletiu-se evidentemente no modo um resgate histórico bastante específico, se considera-
produzir um bom trabalho de resgate da memória da de vida de todos os cidadãos. Em Leopoldina, a entrada de do a sua abrangência, e que mesmo assim desperta em
imigração em Leopoldina. Aprendemos que uma pesqui- um novo elemento de composição da sociedade acrescen- vários leitores o desejo de saber um pouco mais sobre
sa nem sempre obedece rigorosamente às etapas plane- tou novos matizes à cultura local. Confirmando o que ensi- uma Colônia que era desconhecida até mesmo por ou-
jadas porque diversos fatores podem sugerir a retoma- nam os antropólogos, uma cultura sofre profundas e ime- tros estudiosos da imigração para Minas Gerais.
da de um passo anterior e mesmo uma readequação do diatas modificações por assimilação de hábitos e costumes
cronograma estabelecido.
Este é mais ou menos o retrato do que foi nosso traba-
trazidos pelos imigrantes. De modo geral estas alterações
não são percebidas no momento em que ocorrem. Só mais
O silêncio da História
lho. Decidimos que utilizaríamos base de dados coletados
antes do início do projeto e o resultado de nossos estudos
tarde, ao olhar para o passado, podemos percebê-las com
alguma clareza. É isto que temos observado: novas formas
e o barulho do Progresso
seria paulatinamente publicado num jornal de Leopoldina de geração de riqueza nasceram das mãos dos colonos que, Walter Benjamin sugeriu que o historiador deveria
e em página na rede mundial de computadores. trabalhando pelo desenvolvimento da nossa cidade enri- interromper a história que se conta, com conhecimento
Desde o início sabíamos que não contemplaríamos a queceram a nossa cultura, o nosso modo de viver. de causa, para nela inscrever os “silêncios” encontra-
totalidade dos lotes, uma vez que seria difícil encontrar Em momento de reflexão, nós nos perguntamos: o que pre- dos. Por silêncios entenda-se o que tenha sido
fontes que mencionassem a todos eles. Apostamos, en- tendíamos com a “mania” de escrever sobre a imigração e desconsiderado pela história tradicional/oficial. Não nos
tão, na colaboração de nossos leitores que nos permitiri- especialmente sobre a Colônia Agrícola da Constança? Existi- sentimos à altura do título de historiadores. Somos
am descobrir novas pistas e realizar um trabalho mais ria algo que justificasse o gasto do tempo e do espaço ocupado apenas dois apaixonados pela nossa Leopoldina, que
abrangente. Foi justamente o que aconteceu. no jornal para publicação de extratos de nossos estudos? pesquisamos sua história e temos a ousadia de escre-
Para conhecer a história daquela boa gente que veio da Como o periódico ainda não dispunha de meios para co- ver sobre os “silêncios” que descobrimos.
Europa para “fazer a América” nas terras leopoldinenses, leta de dados que fornecessem subsídios para esta análi- A propósito, segundo Michel Foucault em Arqueolo
encontramos as dificuldades comuns a qualquer pesqui- se, principalmente sobre a
sa da espécie. No início, houve uma certa dificuldade aceitação e o interesse dos
para abordar os moradores de Leopoldina que demons- leitores, recorremos então
travam naturais desconfianças quanto aos nossos pro- às estatísticas do site. A propósito, segundo Michel Foucault em Arqueologia do
pósitos. Com o passar do tempo os entrevistados, na Por tais números verifica- Saber, a forma tradicional de história se dispunha a
maioria descendentes dos imigrantes, começaram a com- mos que os textos na memorizar os monumentos do passado, transformando-os em
preender as razões do nosso interesse pelo assunto. Atra- internet receberam, em
vés de coluna publicada em um jornal de Leopoldina na média, 125 visitas diárias documentos. Agora, a história transforma os documentos em
época dos 90 anos da Colônia Agrícola da Constança, as no ano de 2008. Ou seja, monumentos que sustentam a memória da sociedade.
pessoas foram conhecendo a história da imigração e pas- mais de uma centena de
saram a compreendê-la melhor e a sentirem o quanto é pessoas mundo afora leu,
apaixonante escrever sobre o tema.
12 100 anos da Colônia Agrícola Constança

gia do Saber, a forma tradicional de história se dispu- todo o capital disponível destinava-se exclusivamente a co, quer pela dificuldade de locomoção. Comprava-se e
nha a memorizar os monumentos do passado, transfor- plantar ou manter os cafezais. Isto porque, segundo docu- consumia-se o que o “coronel permitia”.
mando-os em documentos. Agora, a história transfor- mentos de arrecadação estadual, das 889 propriedades ru- A grande mudança veio, então, com a chegada do imi-
ma os documentos em monumentos que sustentam a rais de Leopoldina, com renda anual superior a 500$000 na grante. Embora não tenhamos uma fonte segura de dados
memória da sociedade. primeira década do século XX, apenas 435 eram dedicadas para o período, baseando-nos na contagem populacional de
Escolhemos uma via que se contrapõe à história tra- à cafeicultura. 1872 temos que 40% dos habitantes de Leopoldina naque-
dicional, a qual se concentrava em acontecimentos di- Insurgimos-nos contra a idéia de que nossa região produzia le ano pertencia à classe dos escravos. Dezoito anos depois
tos importantes, relegando ao esquecimento o que clas- apenas café, o que nos obrigaria a crer numa “hipotética” o município abrigava pelo menos 8,5% de moradores de
sificava como desnecessário perpetuar. Entendemos por brusca mudança para a produção leiteira. E o fazemos por- origem estrangeira (imigrantes). E já no início do século
inviável tal posição, na medida em que os historiado- que depoimentos dos descendentes nos mostram que havia seguinte este número crescia de forma significativa.
res do passado determinaram o que seria importante a outros tipos de produção nas fazendas onde trabalharam os Fácil se torna concluir que o impacto desta nova força de
partir de uma visão particular de mundo que não é imigrantes e que exatamente essa diversidade de funções foi trabalho modificou profundamente a economia do muni-
mais aceitável. Nossa escolha fundamenta-se, entre a grande responsável pela inserção desses estrangeiros na cípio. No início, através do sistema de colonato implan-
outras, nas palavras de Fernand Braudel em Escritos sociedade local. Foi o grande número de atividades ligadas à tado nas fazendas que ainda fazia com que a circulação
sobre a História, quando declara que não existe “indi- agricultura, à pecuária e às demais práticas humanas que de mercadorias continuasse sob o poder dos mesmos
víduo encerrado em si mesmo”. Para ele, todas as aven- facilitou a inserção dos profissionais imigrantes e modificou comerciantes do período escravista. Mas não tardou
turas individuais se fundem na realidade social. Opta- totalmente o “retrato da região”. muito e vieram as primeiras mudanças de postura, for-
mos pela reação contra “a história arbitrariamente çadas pela demanda do imigrante que chegara com ou-
reduzida ao papel dos heróis quinta-essenciados” como As mudanças tros valores e outra socialização.
disse este pensador, porque realmente acreditamos que Quer nos parecer que, para entendermos o que ocorreu com a A partir de então, verificamos que não era mais somen-
a história modula o destino dos homens. economia e com a sociedade da nossa região no início do século te o feitor que se dirigia ao ponto de venda em busca dos
Na medida em que pudermos dar voz aos que foram XX, precisamos analisar a grande mudança ocorrida no modo suprimentos. Agora com trabalhadores remunerados, os
desconsiderados pela história tradicional, estaremos de produção das nossas fazendas. fazendeiros não podiam mais determinar a aquisição de
contribuindo para um novo lugar de memória, onde os Para nós, o problema deve ser analisado pela ótica marxista certos produtos de fornecedores previamente acordados.
leopoldinenses poderão obter outros componentes de sua de organização sócio-econômica, por onde se vê que o desenvol- O imigrante passou a decidir onde e quando comprar.
identidade. Não basta mencionar os silêncios da histó- vimento decorre da forma como as forças produtivas são em- Em sua ânsia de fare l’America, impunha todo tipo de
ria tradicional, declarou Jacques Le Goff; é preciso ques- pregadas nas relações de produção. Isto é, para compreender- sacrifício para sua família, tendo por catecismo a neces-
tionar os documentos, interrogar-se sobre as lacunas e mos os fatos sociais e políticos dependemos da análise do sidade de poupar sempre, todos os dias, em todos os
preencher os espaços em branco da história. modo de produção de riquezas daquela sociedade. Ou, confor- momentos da vida. Se o preço cobrado ou as condições do
Nossos estudos sobre a presença de estrangeiros em me ensina Marc Bloch em Apologia da História, “nunca se negócio lhe pareciam inadequadas, era o imigrante que
Leopoldina envolveram informações sobre diversos mu- explica plenamente um fenômeno histórico fora do estudo de decretava o fim do consumo daquele produto, o que obri-
nicípios vizinhos, com vistas a conhecer o ambiente em seu momento”. Fugir da ignorância do passado, acrescenta gava o comerciante e rever seus conceitos.
que os fatos ocorreram. Para este aspecto, estabelece- Bloch, é romper com um limite que nos impede de comprender Outra mudança que trouxe grande contribuição foi a
mos como ponto de partida a década de 1870, por repre- o presente e, por consequência, a ação do homem no presente. do sistema de contratação. Em entrevistas com descen-
sentar o início das modificações estruturais importan- Sabemos que a escravidão desenvolveu-se em solo brasilei- dentes dos primeiros imigrantes, descobrimos que a renda
tes no processo de urbanização da região, desencadeadas ro em função da estrutura econômica e social do regime contratada com o fazendeiro independia de eventos da
com a abertura da Estrada de Ferro Leopoldina. colonialista. A atividade agrícola tinha por objetivo suprir a natureza. Assim, uma quebra de safra não afetava o
O impulso desenvolvimentista promovido pela estra- necessidade de alimentos da população local e a formação de ganho da família colona. Por outro lado, os trabalhado-
da de ferro pode ser analisado a partir das primeiras estoques a serem comercializados na metrópole e que, no caso res realizavam um sem número de tarefas extras, sem-
estações ferroviárias, instaladas em comunidades ur- específico de Leopoldina, era feito através do entreposto co- pre remuneradas à parte. Soubemos de casos em que o
banas que logo depois passaram a contar com os servi- mercial localizado na Corte. chefe da família imigrante alugava sua própria força de
ços de água encanada, esgoto e energia elétrica. A mentalidade escravocrata do período imperial desvalori- trabalho para atividades extraordinárias como a derru-
Concluímos que, ao lado da estrada de ferro, o café teve zava o trabalho manual, herança sócio-cultural de épocas bada da mata, o fabrico de móveis ou a construção de
grande importância no desenvolvimento da região. En- imemoriais. Por conta disso, a elite dominante não atuava casas. Enquanto isso, a esposa e os filhos cuidavam da
tretanto, permitimo-nos discordar da afirmação mais diretamente. Os donos das terras apenas supervisionavam manutenção das tantas “ruas de café” pelas quais assu-
ou menos geral de que, nesse período, foi unicamente a seus feitores, eximindo-se e a seus filhos e parentes de qual- mira compromisso com o proprietário da fazenda.
exploração de cafezais que sustentou o progresso desta quer atividade que pudesse denegrir sua posição social. Além disto, ao ser contratado o colono passava a ter
parte da mata mineira. Neste panorama, o mercado consumidor era bastante fe- direito a um pedaço de terra onde podia plantar os víve-
Esta afirmativa é uma simplificação perigosa, uma chado. Os bens de consumo necessários à manutenção das res de que necessitasse. Soubemos do exemplo de uma
vez que o café não foi a única riqueza do lugar. Até por- propriedades, bem como de seus habitantes, eram adquiri- família italiana que conseguiu tão grande produção de
que, segundo a memória documental, nem todas as pro- dos de fontes restritas. Uns poucos comerciantes, de confor- milho em seu “quintal” que, no ano seguinte, vendeu
priedades dedicavam-se exclusivamente aos cafezais midade com os fazendeiros, concentravam o poder de nego- fubá para a própria cozinha da fazenda.
quando os imigrantes aqui chegaram. Sabemos que ciar bens de natureza variada, adquirindo-os diretamente Para nós, foram estas atitudes, estas novas formas de
muitas fazendas contavam com extensos plantéis de gado do produtor rural – um fazendeiro de grande lastro ou encarar o trabalho e esta ferrenha vontade de vencer do
bovino, por exemplo. entrepostos do Rio de Janeiro. Com esta prática, ao consu- imigrante que fizeram modificar substancialmente a eco-
Nosso questionamento se refere a algumas interpre- midor não era dado o direito de buscar outros fornecedores, nomia do município. Mudanças com reflexos evidentes,
tações apressadas, dando conta de que todos os braços e quer pela imposição velada dos detentores do poder políti- principalmente, no modo de produção e nas relações de

Leopoldina, terra de passado, presente e futuro! Nossa homenagem ao Centenário da


Colônia Agrícola da Constança e pelos 130 anos da Imigração italiana em Leopoldina.

Júlio Cesar Martins, Radialista e Historiador


100 anos da Colônia Agrícola Constança 13

trabalho e consumo que resultaram, nos anos seguintes, em temente as práticas de estados vizinhos: o sul do estado casas próximas.
profunda alteração na vida sócio-econômica de Leopoldina e, voltado às práticas das lavouras paulistas e a Zona da Mata, Ao compararmos informações de diversas fontes, ob-
acreditamos, de todas as cidades que receberam grande vinculada economicamente ao Rio de Janeiro. servamos a junção de vários fatores que promoveram,
número de trabalhadores livres naqueles últimos anos do Esclareça-se que o sistema gerou também a figura do “co- no caso de Leopoldina, o crescimento de áreas como o
século XIX. missário”, pessoa encarregada de realizar os negócios de bairro Ventania ou Quinta Residência, que surgiu às
Olhar para o passado nos ajuda a compreender suas con- interesse dos fazendeiros que não podiam ou não queriam margens do antigo leito da Rio-Bahia, desenvolveu-se
seqüências que, em última análise, configuram o contexto se deslocar até a Corte. Em Leopoldina, observamos que com a instalação da Residência do DER-MG e transfor-
em que nós vivemos na atualidade. No caso de Leopoldina, estes comissários eram, quase sempre, agregados das fa- mou-se num bairro bastante populoso.
analisar sua gente nos permite conhecer aspectos talvez mílias de maior poder econômico, tanto quanto o eram os Mas antes mesmo da abertura da antiga rodovia, ali
insuspeitos da nossa história. Ao reunir informações sobre a proprietários das “vendas”. já estavam residindo diversas famílias de imigrantes.
presença dos imigrantes, aos poucos fomos compreendendo Estes pontos de comércio, que durante muitos anos man- Para melhor explicar nossa hipótese de ocupação da-
que havia um divisor de águas na história econômica do tiveram a denominação de “venda de secos e molhados”, quela área da cidade, precisamos voltar um pouco no
município e que este marco passava pelos colonos. Donde estão na origem de grande parte do comércio de cidades tempo.
levantamos uma hipótese: o pólo irradiador de convivência, como Leopoldina, bem como neles se localizam as primei- Duas antigas fazendas existiam nas proximidades
gerando interações entre estrangeiros e nacionais, teria sido ras mudanças de atividade econômica do período imediata- do que hoje é o bairro Ventania: Palmeiras e Santo
o caminho mais tarde conhecido como Estrada de Tebas. mente posterior à libertação dos escravos. Antônio do Onça. Nesta última a Câmara Municipal
Para o funcionamento dos antigos estabelecimentos co- de Leopoldina tinha instalado um núcleo colonial na
O comércio merciais, eram necessários alguns funcionários tais como
o “moleque de recados”, o “entregador de compras”, o bal-
última década do século XIX.
Na então Colônia Santo Antônio trabalharam diver-
No final do século XIX, alguns italianos já não traba- conista ou caixeiro e uma pessoa que se ocupasse do rece- sos imigrantes que, posteriormente, foram engajados
lhavam em propriedades particulares, mas numa colô- bimento e pagamentos na ausência do proprietário. E se nos serviços de formação da Colônia Agrícola da
nia organizada pela Câmara Municipal de Leopoldina. num primeiro momento todo o ciclo era exercido pela espo- Constança. Ao que parece, muitos não conseguiram o
Para este núcleo colonial, denominado Santo Antônio, sa e filhos daquele personagem que teve permissão do financiamento do estado para adquirirem lotes na Co-
dirigimos nossos esforços no sentido de compreender fazendeiro para estabelecer-se com uma casa comercial, lônia fundada em 1910. Em consequência, alguns fo-
como se deu a mudança de atividade dos imigrantes. Se na última década dos anos oitocentos já vamos encontrar ram viver como agregados nos lotes, enquanto outros
no início eram colonos lavradores, logo passaram a atu- os filhos dos imigrantes ocupando alguns destes postos. migraram para a periferia do núcleo urbano e se fixa-
ar como pequenos artesãos e comerciantes de verduras, Por esta razão, interessa-nos estudar o percurso que ti- ram principalmente no atual bairro Ventania.
legumes e frutas. A conseqüência desta modificação no rou o imigrante da lavoura e o trouxe para o núcleo urbano, Esclareça-se, para finalizar, que a ocupação inicial des-
sistema de produção parece ter se refletido na cidade, bem como resgatar os elementos facilitadores para sua te bairro deu-se no percurso que serviu de base para a
abrindo novos mercados de trabalho e oportunidades fixação na cidade. Para este trabalho contribuíram, em Estrada com destino a Tebas que, pelas fontes consulta-
para o estabelecimento de uma relação de emprego e grande parte, as entrevistas concedidas por descendentes das, vinha sendo desenhada desde 1881, embora Mário
renda que influenciou diretamente a economia local. dos imigrantes. E aqui cabe uma digressão. de Freitas afirme que em 1926 veio para Leopoldina
Quando buscamos literatura sobre os últimos decê- com o objetivo de trabalhar nas obras da estrada que,
nios do século XIX, observamos que a atividade econô-
mica baseava-se num sistema bastante simples de
O crescimento da cidade partindo da atual Rua Joaquim Guedes Machado, liga-
ria a cidade de Leopoldina ao distrito de Tebas. 
trocas. As fazendas produziam insumos que eram Não são poucas as obras publicadas sobre o desenvolvi-
comercializados nos grandes centros e ali eram adqui- mento urbano dos grandes centros brasileiros. Para não
ridos os demais produtos necessários à vida nos núcle- tornar cansativa nossa exposição, delas retiramos apenas Um dos casos relata que, nos
os mais afastados. O funcionamento do ciclo comercial um elemento diretamente ligado ao nosso tema: o cresci-
completava-se com um pequeno entreposto existente mento das periferias, promovido pela migração interna
primeiros anos do século XX,
em todo arraial e em vias de ligação entre as fazendas conhecida como êxodo rural. Por diversas razões, inclusive seus avós transformaram a
e o núcleo povoado: eram as “vendas”, destinadas a econômicas, a família que deixa a área rural vai residir
negociar gêneros da terra com os moradores locais. Os em áreas no entorno do núcleo do povoado. Dali passa a cozinha de uma casa em uma
proprietários destes pontos comerciais geralmente atender às necessidades dos moradores locais, exercendo
eram vinculados aos grandes fazendeiros que lhes per- atividades tão variadas quanto a construção de pequenos
padaria, no início da Rua
mitiam adquirir pequena parte da produção local para artefatos em madeira, o plantio e venda de frutas e verdu- Manoel Lobato. Ali, enquanto
oferecer aos moradores que necessitassem daqueles ras, atividades da construção civil etc. Assim o confirmam
produtos, além de formar seus estoques também com os descendentes que temos entrevistado. Muitos deles in- os adultos cuidavam da massa e
bens adquiridos nos grandes centros. formam que, quando seus pais ou avós deixaram as fazen-
Assim é que, em autores que estudaram o século XIX, das, estabeleceram-se na periferia da cidade de Leopoldina
do forno, os menores ficavam
é comum encontrarmos referências às viagens de com- e toda a família passou a exercer alguma atividade remu- encarregados do balcão, além
pras que levavam os fazendeiros mais abastados até a nerada. Um dos casos relata que, nos primeiros anos do
Corte – o Rio de Janeiro, onde vendiam a produção agrí- século XX, seus avós transformaram a cozinha de uma da horta e de levar as verduras
cola e adquiriam produtos para consumo de suas famí- casa em uma padaria, no início da Rua Manoel Lobato.
lias e para serem comercializados nos “armazéns” das Ali, enquanto os adultos cuidavam da massa e do forno, os
e legumes para vender nas
pequenas cidades. Norma Góes Monteiro declarou que, menores ficavam encarregados do balcão, além da horta e portas das casas próximas.
no estado de Minas, duas regiões absorveram mais for- de levar as verduras e legumes para vender nas portas das
como a segunda maior
colônia do estado em
número de habitantes.
Ao serem emancipadas,
Grupo de imigrantes com as colônias agrícolas
destino a Minas Gerais, sofriam pequena
década de 1890 mudança administrativa,
especialmente no que se
refere ao fornecimento de
equipamentos e
sementes. Mas de acordo
com a mensagem do
presidente Fernando de
Mello Vianna em 14 de
julho de 1926, “apesar de
emancipadas e com vida
autônoma, permaneciam
subordinadas às leis
gerais do Estado e do
país”.
As despesas de
manutenção da
estrutura foram
mantidas até a extinção
de cada colônia, não
tendo havido um prazo
previamente
determinado para que
fossem dispensados os

AIS
funcionários

AS COLÔNIAS EM MINAS GER administrativos e


vendido o lote reservado
pelo estado para
moradia do
administrador e
dirigentes em ampliar a colônias foram funcionamento do serviço
organização de escoamento da produção Decreto Estadual nº 2801. produção de gêneros de instaladas em Minas. burocrático. Em diversas

A colônias
agrícolas em
Minas Gerais foi
através dos trilhos da
Estrada de Ferro da
Leopoldina.
Por outro lado é
Recuperamos um
trecho da mensagem do
Presidente Bias Fortes,
em 1895, dando conta de
subsistência, tendo sido
este um fator a
direcionar o projeto de
Em 1911, um ano após
sua fundação, a
Constança ocupava a 7ª
mensagens presidenciais
foram mencionadas
despesas de manutenção
determinada pela implantação das posição em número de das casas-sede, limpeza
necessidade de se importante reafirmar que que a situação da colônias agrícolas em habitantes, superando 4 de córregos, reparo de
oferecer atrativos que desde a década de 1880 lavoura mineira era Minas Gerais. Entre núcleos mais antigos. pontes e outros serviços
fixassem os imigrantes havia uma intensa preocupante, 1893 e 1900, foram Em 1912 já era a 2ª, nas estradas internas
no estado. O caminho movimentação política no especialmente porque a instalados sete núcleos tendo à frente a Rodrigo dos núcleos, por longo
encontrado pelos nossos sentido de facilitar a alta do preço do café coloniais, sendo 5 nos Silva, de Barbacena. No tempo após a
dirigentes foi, então, criar entrada de estrangeiros, estava atraindo a grande arredores de Belo ano seguinte a Santa emancipação.
e incentivar a criação de de modo a atender a falta maioria dos Horizonte, um em Pouso Maria, de Astolfo Dutra, Acreditamos que tais
núcleos agrícolas em de braços para a lavoura. proprietários que não se Alegre e outro em alcançou a segunda serviços fossem
terras devolutas e no Assim, quando da criação ocupavam mais do Lambari. posição, ficando a realizados pelos
entorno das estradas que da Colônia, Leopoldina plantio de cereais. Sendo Em 1907, já com novas Constança em 3º lugar próprios colonos,
se abriam, inclusive a contava com um bom assim, o preço dos orientações do executivo no número de habitantes representando uma
ferrovia. número de imigrantes gêneros alimentícios era estadual, surgiu mais e na produtividade. Nos renda adicional para
Como parte dessa espalhados por diversas muito alto e a solução um núcleo em Belo anos seguintes a Rodrigo além do cultivo da terra.
política ocorreu a criação fazendas, algumas em seria incentivar culturas Horizonte e um em Silva manteve-se como a Analisando as falas
da Colônia Agrícola da decadência, o que levou o intensivas que não Itajubá. Em 1908 a de maior número de anuais do dirigente
Constança, que tinha por povoamento inicial da demandavam a União implantou uma habitantes mas sua estadual até 1930, é
objetivo o Constança a ser necessidade de muitos colônia em Sete Lagoas. produção foi caindo, possível supor que a
desenvolvimento da constituído trabalhadores nem Em 1910 foi a vez de cedendo a posição para a extinção só ocorria após
agricultura do município, principalmente por muitos recursos Leopoldina, Astolfo Constança e a Santa todos os lotes terem
aproveitando o braço imigrantes chegados antes financeiros. Dutra, Mar de Espanha e Maria alternadamente. sido quitados e emitidos
imigrante e as da sua criação, ocorrida Havia uma Ouro Fino. Nos anos A partir de 1915 a todos os títulos
facilidades para o em 12.04.1910, pelo preocupação dos subsequentes, outras Constança manteve-se definitivos de posse. 
100 anos da Colônia Agrícola Constança 15
lguns dos imigran- Agricultura deste ano apre- dos a Minas Gerais. Pelo

A
AS HOSPEDARIAS
tes que se instala- senta um histórico das duas que foi possível apurar, esta
ram em principais hospedarias que agência fiscal esteve locali-
Leopoldina não vi- funcionaram por conta da zada no próprio porto do Rio,
eram diretamente do país União no período do maior não sendo necessário hos-
de origem. Um bom núme- fluxo de imigrantes ao país. pedar os imigrantes na Ilha
ro esteve em outros núcleos A propriedade da Ilha das das Flores.
de colonização, da mesma Flores fora adquirida em Ainda assim, e conside-
forma que colonos 1882 e no ano seguinte pro- rando a possibilidade de va-
leopoldinenses foram tentar cedeu-se à instalação de alo- riações nos procedimentos,
a vida noutras localidades, jamentos compostos de dor- lembramos que um
num deslocamento que ter- mitórios coletivos, salas normativo federal, o Decre-
minou por provocar a forma- para enfermaria e consultó- to nº 696, de 23 de agosto de
ção de grupos de um mes- rio médico, escritórios, quar- 1890, declarou “de utilida-
mo sobrenome em terras tos para os empregados e de pública a desapropriação
distantes. Mas a regra ge- sala de arrecadação. Segun- da Fazenda do Pinheiro, na
ral era passarem por uma do o relatório do Ministro Estação da Estrada de Fer-
hospedaria e de lá saírem da Agricultura de 1883, a ro Central do Brasil”, que
contratados por fazendeiros Hospedaria da Ilha das Flo- passou a servir ao Ministé-
ou, estimulados por alguma res começou a receber imi- rio da Agricultura, Comér-
razão especial, partirem grantes no dia 01 de maio cio e Obras Públicas como
para um endereço certo. daquele ano, num total de Ancoradouro e Prédio Principal da hospedaria de imigrantes a
De acordo com documentos 7.402 indivíduos, sendo que Hospedaria da Ilha das Flores na partir de 28 de março de
década de 1890
relativos à Divisão de Terras 987 foram encaminhados 1891. A Hospedaria do Pi-
e Colonização, em 1888 es- para Minas Gerais. Em nheiro ali funcionou até ju-
tava sendo construída a Hos- 1884 foram realizadas lho de 1897, sendo extinta
pedaria Provincial em Juiz obras de melhoramento, Em 1890, com a Hospeda- epidemia que se alastrou obras específicas para o ser- pelo decreto nº 2598, de 31
de Fora, posteriormente de- com destaque para o depó- ria de Juiz de Fora pela congênere mineira, viço de acolhimento dos imi- de agosto de 1897.
nominada Hospedaria Hor- sito de bagagens, servido desativada, a hospedaria causando recusa dos fazen- grantes na Ilha das Flores Em 1897, ao desativar a
ta Barbosa. Segundo Nor- por uma linha de trilhos e fluminense passara por no- deiros em contratar colonos que no ano seguinte foi ocu- Hospedaria do Pinheiro, o
ma de Góes Monteiro no li- ponte com guindaste. Nos vas obras, como a constru- que poderiam infectar-se na pada pelas forças militares, Ministério da Agricultura
vro Imigração e Colonização anos de 1885 e 1886 foram ção de dois novos alojamen- instituição de Juiz de Fora. por conta da Revolta da Ar- emitiu o aviso número 115,
em Minas 1889-1930, esta feitas algumas obras, espe- tos e um novo refeitório. No No final de 1894, o enca- mada. Ressalte-se que, se- datado de 29 de outubro,
Hospedaria foi inagurada cialmente de reparo em ins- ano seguinte ocorreram pro- minhamento dos imigran- gundo o Decreto nr. 644, de determinando que a partir
em maio de 1889 e pratica- talações deterioradas pelo blemas no porto de Santos, tes contratados pela pro- 09 de setembro de 1893, o de então as instalações se-
mente abandonada seis uso. Em 1888, com o crescen- tendo o movimento sido dis- víncia de Minas Gerais te- governo mineiro havia fir- riam transferidas para o Mi-
meses depois, com a mudan- te movimento imigratório, tribuído entre Rio e Vitória. ria voltado a funcionar mado convênio com o do Es- nistério da Guerra, razão
ça no sistema de governo. houve necessidade de au- Em 1893 os imigrantes como no período anterior, ou pírito Santo para que os pela qual os moradores, ar-
Antes da existência da mentar os alojamentos, tor- destinados a Minas Gerais, seja, do porto eram encami- imigrantes que chegassem rendatários, e meeiros que
Horta Barbosa, os imigran- nando-os capazes de compor- que chegaram entre agosto nhados para a estação fer- naquele período, com via- ali se estabeleceram a par-
tes eram acolhidos no Rio tar até 2.000 pessoas. Ao e novembro, foram encami- roviária, sendo embarcados gem subvencionada por Mi- tir de janeiro de 1895 se-
de Janeiro, num sistema mesmo tempo, a União in- nhados diretamente para a no trem que os levariam nas Gerais, fossem recebi- riam indenizados ao pre-
que não obedeceu a um úni- dicava a necessidade das Hospedaria Horta Barbosa. para Juiz de Fora. Prova- das na Hospedaria da capi- ço de “2 reaes por metro
co modelo. De modo geral, províncias cuidarem da ma- Em dezembro daquele ano, velmente esta regulariza- tal daquele estado. quadrado de terras” que
muitos descendentes se re- nutenção de suas hospeda- informa o Ministro da Agri- ção foi um reflexo do Decre- Em junho de 1894 a Hos- ocupavam.
ferem à Ilha das Flores rias, de modo a que os imi- cultura, uma epidemia de- to nº 752, de 03 de agosto pedaria da Ilha das Flores No Relatório apresen-
como local em que obriga- grantes fossem encaminha- senvolveu-se no Vale do de 1894, que reestruturou voltou a servir à Inspeto- tado pelo Ministro Anto-
toriamente ficaram seus dos por linha férrea tão logo Paraíba, determinando a a Hospedaria Horta Barbo- ria de Terras, órgão que até nio Francisco de Paula
antepassados. Pelo que pu- liberados da Agência Nacio- suspensão do tráfego na sa. Entretanto, o ministro dezembro de 1896 foi en- Souza em 1893, ao Vice
demos apurar, nem todos nal dos Portos, ou seja, do Estrada de Ferro Central e Antonio Olinto dos Santos carregado do acolhimento Presidente da República,
passaram por ali. Serviço de Imigração. por este motivo, a pedido do Pires declarou que no ano dos imigrantes, sendo en- informa-se que a Hospe-
Em 1898, o serviço de imi- Uma análise comparati- governo de Minas, os imi- de 1895 a Hospedaria do tão extinto e seus serviços daria do Pinheiro foi
gração e colonização estava va entre os livros de matrí- grantes que se destinavam Pinheiro recebeu imigran- transferidos para a Dire- inaugurada no dia 01 de
a cargo das províncias, fi- cula na Hospedaria da Ilha à Horta Barbosa foram re- tes provenientes da hospe- toria Geral da Indústria. março de 1891, localiza-
cando por conta da União das Flores e os registros na colhidos na Ilha das Flores daria de Juiz de Fora, em Entretanto, segundo deter- da à margem da Estra-
apenas o recebimento e hos- Hospedaria de Juiz de Fora entre 11 e 25 de dezembro função de epidemia que ali minou o Decreto nº 612, de da de Ferro Central do
pedagem dos espontâneos, demonstra que entre junho de 1893. Logo depois, 630 se desenvolveu. 06 de março de 1893, foi Brasil, na antiga fazen-
que eram em número rela- de 1888 e maio de 1889 os deles foram encaminhados Segundo o Relatório do criado no Rio de Janeiro da do Pinheiro, com o ob-
tivamente pequeno. O Re- nossos imigrantes não pas- para a Hospedaria do Pi- Ministro da Agricultura, em um ponto de desembarque jetivo de receber os imi-
latório do Ministério da saram pela Ilha das Flores. nheiro por conta de uma 1893 já não ocorreram dos passageiros destina- grantes doentes que não

A Construtura
Cherem parabeniza
a todas as famílias
descendentes dos
italianos que muito
fizeram para o
desenvolvimento
desta nobre terra de
Leopoldina.
16 100 anos da Colônia Agrícola Constança
deveriam ficar junto com os Formação das Estradas de imigrantes. do viagem com destino à
demais na Hospedaria da Ferro no Rio de Janeiro, li- Por esta épo- Estação de Vista Alegre e a
Ilha das Flores. Entretanto, gando o Rio de Janeiro a ca funcionava bagagem não tinha seguido
os números apresentados no Minas e a São Paulo. a Colônia junto porque “o vapor chegou
relatório ministerial para o Além dos núcleos acima Santo Antô- às 3 horas” e não foi possí-
ano de 1892 demonstram mencionados, imigrantes que nio, instalada vel contratar “a catraia para
que para ali não eram trans- se dirigiam para a zona da pela Câmara fazer seguir para o trapiche
feridos apenas os doentes. mata mineira eram encami- Municipal na da Gamboa, onde será des-
Por oportuno, informa- nhados para a hospedaria de Fazenda da pachada amanhã”.
mos que esta Hospedaria Ubá ou para a Jacareacanga, Onça, de sua O número de imigrantes
do Pinheiro foi fundada em em Leopoldina. Não localiza- propriedade. que chegou a Leopoldina a
terras da antiga fazenda mos documentos referentes à Reunindo di- partir de 1900, vindo dire-
São José do Pinheiro, hospedaria leopoldinense. versas infor- tamente da Europa, é bem
construída em 1851 por Apenas sabemos que Bias mações e pequeno. No resumo feito
José Gonçalves de Moraes, Fortes, em mensagem de ju- comparando- por Norma de Góes
futuro Barão de Piraí. Após lho de 1896, declarou que se- as com depo- Monteiro com a entrada de
seu falecimento, foi ria inútil todo o esforço pelo imentos de imigrantes na Hospedaria
transferida para o genro desenvolvimento da corrente descendentes Horta Barbosa, consta que
José Joaquim de Souza Bre- imigratória se o recebimento de imigran- Ilha das Flores: Vista da Hospeda ria da Ilha das Flores na década de 1890 em 1904 ali se encontravam
ves que não deixou descen- dos imigrantes não fosse fei- tes, observa- apenas retirantes vindos do
dentes. Depois de ter sido to com todo o cuidado. Para se que pode ter existido um cada de 1940, nos quais os gração, sendo que o 2º tinha Rio Grande do Norte, da
ocupada pelo Serviço de Imi- tanto, determinou a execução prédio, à margem do ramal imigrantes declararam ter sede em Leopoldina. Paraíba e de Pernambuco.
gração (1891-1897) e pelo de obras na hospedaria de que ligava a estação de Vis- passado por tal instituição. Para cada distrito foi no- Segundo mensagem do pre-
Ministério da Guerra (1897- Juiz de Fora e a construção ta Alegre à do centro da ci- Além disso, no início do fun- meado um Fiscal, funcioná- sidente Francisco Antonio
1898), foi transformada de outras nas zonas agríco- dade de Leopoldina, desti- cionamento da Hospedaria rio público que se encarre- de Sales, em virtude da pa-
numa Escola Zootécnica que las de Minas Gerais. Infor- nado a acolher inicialmen- Horta Barbosa, em 1888, gava dos trâmites necessá- ralisação do serviço de imi-
deu origem à Escola de Agro- mou, então, que estava em te os trabalhadores da fer- Relatório da Presidência da rios ao encaminhamento gração a partir de 1897, os
nomia e Veterinária de Pi- construção uma hospedaria rovia. Descendente de um Província informa que para dos colonos ao destino. Já o funcionários da Hospedaria
nheiro e desde 1985 é o Co- na nova capital – Belo Hori- imigrante alemão informou ali foram transferidos os Decreto nº 806, de 22 de ja- Horta Barbosa foram dis-
légio Agrícola Nilo Peçanha, zonte, e tinham sido iniciados que seus antepassados tra- imigrantes que se encontra- neiro de 1895, reduziu os pensados através de decre-
da Universidade Federal os trabalhos para instalação balhavam na construção da vam na Hospedaria de Ubá. distritos fiscais para qua- tos assinados a 10 de outu-
Fluminense. Em 1995 o ter- de duas outras: uma em Estrada de Ferro Pedro II e Seriam necessários outros tro, mantendo o de bro de 1902 e 23 de janeiro
ritório onde se encontra foi Leopoldina, na Estação de se transferiram para estudos para que pudésse- Leopoldina. O Fiscal do de 1903. Como não locali-
alçado a município com o Vista Alegre, e outra na Es- Leopoldina, trabalhando mos mapear com mais cla- Distrito noticiava o movi- zamos livros daquela insti-
nome de Pinheiral, estado do trada Sapucahy, em nas obras daquele ramal. reza o percurso de nossos mento na Hospedaria Hor- tuição após 1901, tentamos
Rio de Janeiro. Soledade, hoje município de Acrescentou que a família imigrantes entre o porto e ta Barbosa, como demons- localizar os nossos imigran-
A Hospedaria do Pinheiro Pouso Alegre. residiu, inicialmente, nas Leopoldina. Para o ano de tra notícia do jornal O Me- tes tardios nos livros dispo-
pode estar na origem de in- Em 1898 foi feito um proximidades da Estação 1888, temos indicações um diador, edições de março e níveis no Arquivo Nacional,
formações de nossos entre- aporte financeiro pela pre- de Vista Alegre, até que a tanto precisas que, entretan- agosto de 1896. no Rio, mas não tivemos
vistados, dando conta de que sidência do Estado para Câmara de Leopoldina pro- to, não devem ser generali- Conforme já foi dito, a Hos- sucesso. Apenas confirma-
antepassados compraram conclusão do processo de moveu a ocupação de lotes zadas para todo o período. pedaria Horta Barbosa es- mos a informação de Nor-
lotes ao lado da hospedaria, extinção da Jacareacanga, na Fazenda da Onça. Em novembro de 1888 a teve em pleno funcionamen- ma de Góes Monteiro para
na margem do rio Paraíba nome dado à Hospedaria de Outra indicação para a Câmara Municipal de to entre o segundo semestre a existência de funcionário
do Sul. Como foi dito, para a Imigrantes em Leopoldina. Hospedaria Jacareacanga Leopoldina enviou emissá- de 1888 e junho de 1889, público do estado de Minas
ocupação pelo Ministério da No ano seguinte foram ex- vem de entrevista com des- rio à Hospedaria Horta quando teve as atividades que atuava, na hospedaria
Guerra foi necessário inde- tintas as hospedarias de cendente de imigrante itali- Barbosa, em Juiz de Fora, suspensas por conta das da Ilha das Flores, selecio-
nizar os agricultores insta- Soledade e de Leopoldina. ano que trabalhou na Fazen- para contratar colonos. Se- más condições denunciadas nando candidatos às colôni-
lados no terreno desde 1895. Desta forma, suspeitaría- da Paraíso. Neste caso, a in- gundo descendentes de al- à presidência da província. as mineiras.
É possível, portanto, que al- mos que a Jacareacanga ti- formação é de que ficaram guns italianos, seus ante- Segundo os livros preserva- Reiteramos que nossos
guns imigrantes tenham vesse funcionado por um numa hospedaria perto da passados foram instalados dos, somente em 1892 voltou estudos demonstraram a
deixado a hospedaria e se período muito curto. Estação de Vista Alegre, até provisoriamente na Fazen- a funcionar normalmente. falta de regularidade no
fixado nas suas imediações, É possível, entretanto, chegar a bagagem e então se- da da Onça, para aguardar Esta situação se compro- trajeto seguido pelos imi-
conforme consta no históri- que a hospedaria de rem transferidos para a fa- que os fazendeiros fossem va por carta de Costa Mano grantes radicados em
co da Prefeitura Municipal Leopoldina existisse desde zenda de destino. Esta decla- até lá convidar quem os & Cia, do Rio de Janeiro, Leopoldina. Além de mui-
de Pinheiral. a época da construção da ração encontra respaldo em quisesse servir. Como fize- datada de 28 de agosto de tos terem ido para outras
Um outro aspecto a con- Estrada de Ferro, na déca- correspondência pertencente ram, por exemplo, emissá- 1889 e enviada para a Fa- localidades mineiras ao
siderar é o fato da estação da de 1870. Através da Lei à coleção de documentos da rios da Fazenda Paraíso. zenda Paraíso, informando chegarem ao Brasil, os
do Pinheiro, inaugurada em nº 32, de 18 de julho de Fazenda Paraíso. A propósito, segundo o que o emissário Frederico pontos de acolhimento
1871 no município de Bar- 1892, foi permitido às Câ- A existência da hospeda- Decreto nº 626, de 31 de Dausckivardt contratara di- funcionaram irregular-
ra do Piraí, ser importante maras Municipais que cui- ria em Ubá foi indicada em maio de 1893, o então Pre- versos colonos no Porto do mente durante o período,
tronco, como declara Helio dassem de introdução de alguns processos de regis- sidente do Estado de Minas Rio. Pelo que se depreende, gerando situações
Suêvo Rodriguez no livro A trabalhadores, inclusive tro de estrangeiros, na dé- criou cinco distritos de imi- os imigrantes haviam segui- diversificadas. 
100 anos da Colônia Agrícola Constança 17
Floresta.

A origem da Fazenda Constança


Importante destacar que a
Fazenda Constança, no final
dos oitocentos, encontrava-se
na mesma situação de duas
outras propriedades vizi-
abemos que as pri- de Barros. Verificamos que nhas, cujos formadores fale-

S meiras concessões
de sesmarias a ci-
tarem o Feijão Cru
um tio paterno de José
Augusto, José Maria
Monteiro de Barros, reque-
ceram antes de 1875. Trata-
se das fazendas Feijão Cru e
Onça. Da primeira, sabemos
foram requeridas em 1817. reu uma sesmaria na re- que foi dividida entre os her-
Nos dias 13 e 14 de outubro gião em 1818, tendo a carta deiros após o falecimento da
daquele ano, os irmãos concessória sido assinada a matriarca Rita Esméria de
Fernando Afonso e Jerônimo 2 de maio daquele ano. As- Jesus a 20 de janeiro de 1865,
Pinheiro Corrêa de Lacerda sim como ocorreu com sendo mencionada como divi-
receberam duas sesmarias Fernando Afonso e sa de uma situação da Fazen-
de meia légua, que eles nun- Jerônimo Corrêa Pinheiro da da Onça, em venda reali-
ca ocuparam. Ambas, segun- de Lacerda, também este zada em 1886. Por este docu-
do se sabe, foram loteadas e beneficiário não ocupou a mento ficamos sabendo que
vendidas por seus sobrinhos propriedade e em 20 de ou- uma das partes da Fazenda
Romão e Francisco Pinheiro tubro de 1834 transferiu-a da Onça pertencia a Antonio
Corrêa de Lacerda. para seu irmão, Antonio Rodrigues Campos, que a
Quanto ao tamanho des- José Monteiro de Barros, Fazenda Paraíso, onde trabalharam muitos imigrantes que viveram em Leopoldina vendeu a José Soares de Mes-
sas sesmarias, o Professor pai do citado José Augusto. oportuno, que Maria além da sesmaria vendida duas sesmarias com exten- quita. Apesar do sobrenome,
Luiz Paulo Costa Por esta época, Antonio Antonia foi a segunda es- a Antonio José provavel- são aproximada de 450 o comprador não seria da fa-
Fernandes nos ensina que José adquiriu de Bernardo posa de Bernardo José e mente foram realizadas alqueires mineiros, formou mília de Jerônimo José de
meia légua de terras equi- José Gonçalves Montes, a que nada sabemos sobre os outras vendas, já que foi as fazendas Constança, Sau- Mesquita, sendo citado no
vale a 1.089 hectares ou sesmaria que este recebera filhos do primeiro casamen- dividida apenas uma pro- dade e Paraíso. Formal de Partilha como um
10,89 km². Considerando por dote de sua esposa, to dele que podem estar, priedade de cerca de 225 Em 1859, José Augusto seu empregado. A propósito,
que o atual território de Maria Antonia de Jesus. O também, entre os primeiros alqueires. Ainda no campo Monteiro de Barros vendeu parece que esta situação da
Leopoldina tem 942 km² de primeiro proprietário fora habitantes de Leopoldina. das hipóteses, é possível a Fazenda Constança a Fazenda da Onça foi vendida
extensão e que na metade Antonio Francisco Teixeira Pelo testamento de Anto- que a Fazenda da Onça te- José Teixeira Lopes Guima- por José Soares de Mesquita
do século XIX era significa- Coelho que, junto com sua nio Francisco, a filha Ma- nha sido formada também rães. Posteriormente a pro- antes do falecimento de seu
tivamente maior, cremos mãe de criação, Hipólita ria Antonia recebeu as duas em terras que pertenceram priedade passou às mãos patrão, o Conde de Mesqui-
ser lícito supor que o núme- Jacinta Teixeira de Melo, sesmarias do então Ba- ta. De todo modo, o histórico
ro de sesmarias concedidas requereu duas sesmarias e vendeu rão de Mes- da Fazenda Paraíso demons-
na região foi bem maior do no então denominado Ser- uma de- quita que pro- tra que a Fazenda da Onça
que o mencionado nas tão do Paraíba, no caminho las a An- vavelmente a também já estava bastante
obras até aqui publicadas. para Cantagalo, concessões t o n i o revendeu, dividida e os herdeiros das
Entretanto, como a identi- datadas de 27 e 28.03.1818. J o s é Importante destacar que a Fazenda Constança, no final dos uma vez que duas antigas propriedades, a
ficação daquelas primeiras Antonio Francisco era sol- Monteiro oitocentos, encontrava-se na mesma situação de duas outras na partilha de Feijão Cru e a Onça, vende-
propriedades demandaria teiro quando teve uma filha de Bar- propriedades vizinhas, cujos formadores faleceram antes seus bens em ram suas partes na herança
estudos bem mais com Maria Umbelina de r o s . de 1875. Trata-se das fazendas Feijão Cru e Onça. Da 1888, somen- a partir de 1875.
aprofundados, optamos por Santa Brígida, também be- Bernardo primeira, sabemos que foi dividida entre os herdeiros após te a Fazenda É possível que a antiga
analisar a documentação neficiada com sesmaria na José, por Paraíso foi colônia ocupada por imi-
o falecimento da matriarca Rita Esméria de Jesus a 20 de
possível sobre algumas mesma localidade. sua vez, transferida grantes em Leopoldina,
realizou
janeiro de 1865, sendo mencionada como divisa de uma para seu filho,
partes de nosso território, Antonio Francisco sempre denominada Santo Anto-
a partir de indicações pre- viveu em Prados (MG), na compras situação da Fazenda da Onça, em venda realizada em 1886. futuro Barão nio, tenha sido implanta-
sentes no Registro de Ter- sua Fazenda da Ponta do e trocas Por este documento ficamos sabendo que uma das partes de Bonfim. da em território
ras realizado em conformi- Morro. Recebeu o título de de terras da Fazenda da Onça pertencia a Antonio Rodrigues Campos, Segundo a desmembrado destas
dade com o que dispôs a Lei Barão da Ponta do Morro e c o m que a vendeu a José Soares de Mesquita. edição número duas fazendas. Posterior-
nº. 601 de 18 de setembro provavelmente nunca este- Feliciano 40 do jornal O mente, quando a Colônia
de 1850, conhecida como ve nas terras aqui do Fei- Rodrigues Mediador, de Municipal Santo Antonio
Lei de Terras, para chegar- jão Cru. Em 18.09.1822 sua Moreira e Manoel Gonçal- aos genitores da esposa de 16.08.1896, nesta época a deu lugar à Colônia Agrí-
mos à área que nos interes- filha casou-se com ves Valins, ampliando sua Bernardo José. Fazenda Constança era um cola da Constança, criada
sava buscar a origem. Bernardo José em Prados, propriedade até a divisa Não nos foi possível desco- condomínio com diversos pro- pelo governo do Estado em
Desse modo descobrimos onde ambos nasceram, re- com Manoel José Monteiro brir qual sesmaria foi vendi- prietários, entre eles Gustavo 1910, as partes voltaram
que em 1856 a Fazenda cebendo então o dote e de Castro - Fazenda União. da a Antonio José Monteiro Augusto de Almeida Gama, a ser reunidas para ampli-
Constança era propriedade transferindo-se para o Fei- Segundo análise do inven- de Barros. Descobrimos ape- provavelmente um dos her- ar o núcleo que foi loteado
de José Augusto Monteiro jão Cru. Esclareça-se, por tário de Bernardo José, nas que o comprador, em deiros da vizinha Fazenda e vendido aos colonos. 
18 100 anos da Colônia Agrícola Constança

Professora e alunos da Escola existente na Boa Sorte em 1923 (Acervo de José do Carmo Machado Rodrigues)

Criação, localização e funcionamento


surgimento de declarar que o acontecimen- para compreender os fato- ponibilidade de terras a esta declaração, tendo em 1890 o número de habitan-

O uma instituição
produz reflexos na
sociedade onde se
to não cria a mudança, ape-
nas a evidencia.
Acreditamos que o estu-
res que determinaram a
promulgação do Decreto
número 2801, no dia 12 de
preço adequado. A visão pa-
norâmica do local onde foi
instalado o núcleo causava
vista algumas informações
adicionais. Como todo obje-
to cultural, o Almanaque
tes do município atingia 35
mil pessoas. Sendo assim,
acreditamos que o autor te-
insere, antes e depois de do destes organismos que abril de 1910, que a criou. boa impressão nos mora- merece nossa análise cuida- nha tido a intenção de in-
sua criação. Em Reflexões passam a fazer parte de A organização de colônias dores, conforme expresso dosa. Precisamos ter em formar que a cidade conta-
sobre a História, Jacques uma comunidade, além do agrícolas em Minas Gerais em um texto sem autoria mente que foi produzido em va com 20 mil habitantes.
Le Goff declara que para conhecimento específico so- foi determinada pela neces- incluído no Almanaque de outra época e reflete outras O ufanismo do autor fica
compreender as mudanças bre a instituição, permite sidade de oferecer atrativos Leopoldina, de 1886, pági- práticas sociais. O autor evidente logo em seguida,
é preciso analisar os acon- nos aproximarmos das prá- que fixassem os imigrantes na 81: despede-se do ano de 1886 ao comparar uma serra de
tecimentos anteriores que ticas sociais em seu entor- em seu território. Em 1895, Até 1887 carissimos lei- prometendo um livro para Leopoldina ao morro do
lhe deram causa. Em rela- no. Ou, conforme declarou o Presidente da Província tores, emquanto não raia o o início do século seguinte, Corcovado, no Rio de Ja-
ção às modificações ocorri- John Beattie em Introdução estava preocupado com a seculo XX em cuja aurora deixando entrever que con- neiro. Embora a estátua
das em Leopoldina, perce- à Antropologia Social, uma dificuldade em manter os prometto-vos escrever não siderava o artigo escrito do Cristo Redentor tenha
bemos que não foi a criação instituição provoca altera- imigrantes trabalhando na um artigo, mas um livro como uma produção de me- sido escolhida em 2007
da Colônia Agrícola da ções nas outras já existen- agricultura. Nos anos bastante para uma cidade nor importância. Na conti- como uma das sete mara-
Constança que as produziu, tes e seu funcionamento subsequentes, muitas ten- de 200,000 almas, cuja ser- nuidade da frase ele infor- vilhas do mundo atual,
mas que a sociedade encon- depende das crenças e valo- tativas foram sendo realiza- ra offerece já perspectivas ma que a cidade tem não era ao monumento que
trava-se num estágio tal res das pessoas que a fa- das. No caso de Leopoldina, encantadoras, e na elevada 200,000 almas, provavel- o autor se referia porque
que demandava mudanças zem funcionar. Portanto, a colônia aqui fundada teve casa do finado capitão José mente por um erro tipográ- este só passou a existir em
estruturais, resultando no estudar a história da Colô- seu povoamento inicial cons- Teixeira Lopes um panora- fico. Segundo a contagem 1931. Nosso cronista falou da
surgimento daquele núcleo. nia Agrícola da Constança tituído por imigrantes che- ma superior ao do Corvado, populacional de 1872, a paisagem vista do topo da
Portanto, tivemos oportuni- implica buscar conhecimen- gados bem antes. dominando verdadeiro oce- Paróquia de Leopoldina serra e concordamos que é
dade de verificar o que o to sobre o que estava acon- A localização certamente ano de selva virgem. atendia cerca de 8 mil al- mesmo bela. Quando
autor francês ensinou ao tecendo naquela sociedade ocorreu em função da dis- Interessante analisar mas e no Recenseamento de estamos nos aproximando de

O Restaurante Linguiça no Pão


saúda os descendentes dos
italianos que vieram formar a
Colônia Agrícola da
Constânça, um povo valoroso
que contribuiu para o
crescimento e
engrandecimento de nossa
cidade.
100 anos da Colônia Agrícola Constança 19
Leopoldina pela BR 116, um
pouco antes do belvedere no
início da descida da Serra da
Vileta, sentimos uma forte e
inexplicável sensação ao vis-
lumbrar a paisagem. Prova-
velmente todo leopoldinense
passa pela mesma emoção,
especialmente se já não vive
mais na cidade.
Esta visão deslumbrante
tem seu melhor ponto de ob-
servação no limite da Colô-
nia Agrícola da Constança.
Entretanto, não conseguimos
descobrir onde se localizou a
sede da fazenda que deu
nome ao núcleo. Conforme já
informado, a propriedade foi
transferida em 1858 para
João Teixeira da Fonseca Entrada da primeir a escola que
Guimarães, filho de José funcion ou na Colônia Agrícol a da
Teixeira Lopes Guimarães, Constan ça, no prédio da Sede Parte do Território da Colônia
falecido a 2 de fevereiro de Agrícola da Constança,
Admini strativa
1884. Considerando que o Acervo Arquivo Público Mineiro proximidades da sede municipal
autor refere-se explicitamen-
te à “elevada casa do finado
José Teixeira Lopes”, é bem
provável que a sede estives- A medida dos lotes apre- tes ocupados por colonos, 1 maram que alguns desses mero deste lote aparece no bairro rural da Onça, no
se localizada bem próximo do sentava pequenas varia- vago e 1 destinado à admi- colonos desistiram simples- como tendo sido vendido a limite do atual perímetro
local onde, cerca de 40 anos ções, em função das condi- nistração do núcleo. mente porque tinham vindo Antonio Montagna. urbano de Leopoldina. Den-
depois, foi definido o leito da ções do terreno. Segundo o No que se refere à ocupa- para Leopoldina sem nada Sem a precisão de locali- tro desse quadrilátero, qua-
rodovia que conhecida como administrador, a distância ção dos lotes, descobrimos saberem sobre a cidade e, às zação por instrumentos so- se todas as terras pertence-
Rio-Bahia. da estação ferroviária fica- que nove famílias de imi- vezes, pensando que esta- fisticados, pode-se informar ram à Colônia.
Aproveitamos a oportuni- va entre 4 e 10 km, depen- grantes tinham desistido do vam se dirigindo para Colô- que as terras da Colônia se- Hoje esta área é geralmen-
dade para acrescentar uma dendo do ponto de partida. financiamento e abandona- nias do sul do Brasil. Há até riam as que contornam por te conhecida como bairro ru-
informação concernente ao Mudanças ocorridas no pri- do a Colônia nos dois primei- um caso de imigrante que veio todos os lados o chamado ral da Boa Sorte, na parte
objeto de nossos estudos. meiro ano de efetiva existên- ros anos de seu funciona- para o Brasil a convite de um “trevo de Juiz de Fora”. A mais próxima à sede do mu-
Na época da publicação do cia daquele núcleo agrícola mento. Outro colonos desis- parente que vivia na Colônia partir dali, do entroncamen- nicípio, local atualmente cor-
almanaque, a família era demonstram que a área tiram nos anos seguintes. Leopoldina, no Espírito San- to da rodovia Rio – Bahia tado por estrada municipal
referida apenas como passou a 18.797.500 metros Numa confrontação das in- to e, sem o saber, veio parar com a BR-267, pelas duas de boa conservação e com li-
Teixeira Lopes, sem a adição quadrados, divididos em 65 formações obtidas em vári- na Constança. margens desta última estra- nha regular de ônibus muni-
do Guimarães que se refere lotes e 2 logradouros públi- as fontes originais com os Os Relatórios da adminis- da e até as proximidades do cipal. Por bairro rural da
ao berço em Portugal. O cos. Logo depois o Estado relatos das entrevistas rea- tração da Colônia abordam distrito de Tebas. Os lotes Constança é hoje conhecida
genearca era imigrante como concluiu pela mudança da lizadas com descendentes as desistências mas não se da margem esquerda da a região que vai do entronca-
aqueles que o sucederam na destinação dos espaços pú- dos colonos, tomamos conhe- referem aos motivos, limitan- BR-267 teriam seus fundos mento das rodovias 116 e
ocupação daquele espaço. blicos e os incorporou à área cimento de razões que leva- do-se a informar o valor da ou divisas no alto da serra 267 – o trevo de Juiz de Fora,
O Relatório de 1909, assi- agricultável, na forma de ram alguns imigrantes ale- dívida deixada pelo colono. da Vileta. Pela margem di- até às proximidades do dis-
nado por Guilherme Prates três novos lotes. mães e austríacos a deixa- É importante observar que reita, no sentido Leopoldina trito de Tebas.
a 20 de março de 1910, in- Mais tarde, com o propósi- rem nossa cidade. os lotes variavam de tama- - Juiz de Fora, o loteamento Atualmente, nos dois bair-
forma que a Colônia ficaria to de aumento do número de Dentre estes motivos so- nho. O menor deles, o de nú- se aprofundava até próximo ros encontram-se lotes que
a 4 km da sede do municí- lotes, foi adquirida uma “si- bressaem a dificuldade de mero 41, foi financiado a das propriedades denomi- foram subdivididos e, em al-
pio, instalada em tuação” da fazenda Palmei- adaptação ao nosso clima e Augusto Mesquita e pos- nadas Bonfim e Taquaril, lo- guns deles, formaram-se pe-
17.437.500,00 metros qua- ras. Com redivisões e acrés- a falta de apoio religioso suía uma área de 210 mil calizadas bem próximo da quenas vilas de casas com
drados de terras adquiridas cimos, o núcleo agrícola pas- para os imigrantes de cren- metros quadrados. O maior, atual estrada para ares de comunidade urbana,
pelo Estado. Inicialmente foi sou a contar com 73 lotes. Ao ça protestante. Mas além de número 28, com 355 mil Cataguases. Deste ponto, e verdadeiros sub-bairros.
dividida em 60 lotes, com final do exercício de 1912, destes motivos, outros bem metros quadrados, tinha numa linha mais ou menos Noutros, boas casas de vera-
cerca de 25 hectares cada apenas 64 estavam ocupa- mais elementares podem sido financiado a Leopoldo paralela à BR-267, seguia neio demonstram a prospe-
um e um logradouro público dos, sendo que apenas um por ser apontados como causa- Abolis em 1911 mas possi- até encontrar novamente a ridade de alguns descenden-
que ocupava 1.317.500,00 título definitivo. Já em 1919, dores de muitos abandonos. velmente terá sido dividido, BR-116 nas proximidades tes ou adquirentes daqueles
metros quadrados. o núcleo contava com 75 lo- Nossos colaboradores infor- já que no mesmo ano o nú- da Igreja de Santo Antonio, imigrantes do passado. 

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descendentes de italianos que domaram o solo bruto e fizeram as
sementes florescerem em Leopoldina.
20 100 anos da Colônia Agrícola Constança

uando pensamos
Pelos caminhos da Colônia
mente estão com difícil então habitavam a Colônia,

Q no mapa e na loca-
lização dos lotes da
Colônia Agrícola
acesso hoje. Muitos deles,
na verdade, quando foram
demarcados eram servidos
foi um dos que trabalharam
na construção da Igreja.
Mas importa lembrar,
da Constança, via de regra por estrada de trânsito nor- também, que o trânsito da
os consideramos em função mal ou até intenso. produção da Colônia
das principais estradas Um outro fato que hoje pa- trazida para a cidade era
hoje existentes: BR 116, BR rece estranho, mas que pode realizado por antiga via
267 e a estrada municipal ser explicado com facilidade, que teve alguns de seus
do bairro da Boa Sorte. é o número de excolonos da trechos aproveitados no
Esquecemos que a Colônia, fazenda Paraíso que adqui- traçado da BR 116, a Rio-
criada no início de 1910, é riram lotes na Colônia Agrí- Bahia, construída no final
bem anterior à Rio-Bahia, cola da Constança. É que, na dos anos de 1930.
aberta pelo Presidente Getú- aquisição de partes de fazen- Neste percurso, numa re-
lio Vargas no final da déca- das para formar o território modelação da rodovia em
da de 30 e anterior, também, da Colônia, ficou determina- meados do século XX, al-
à estrada Leopoldina-Juiz do que ela abrigaria, tam- guns trechos permaneceram
de Fora, sobre a qual o enge- bém, colonos daquelas pro- com menor utilização. Den-
nheiro e escritor Mário de priedades. E se considerar- tre eles está a ligação entre
Freitas, no livro Leopoldina mos o caminho hoje a Igreja de Santo Antônio e
do Meu Tempo, confessa ter inexistente, que descia da Caminho dos Imigrantes o ponto em que a estrada
estudado o traçado para ven- Paraíso nas imediações da Fonte: estudo de José Luiz da Boa Sorte encontra-se
cer a serra de Argirita em vi- “Água Espalhada”, a distân- Machado e Nilza Cantoni com a BR 116 e que hoje
agem à cavalo, realizada por cia entre a Colônia e a citada consideramos uma via im-
volta de 1926. fazenda não era grande, ain- quim Antônio de Almeida cerca de 8 alqueires vendi- ocorreu o ensaio das corri- portante. Não só por ser
Esta confusão no tempo é da mais para os padrões da- Gama (fazenda Floresta), dos a João Soares de Mes- das de cavalo que se efetu- usada por pedestres, ciclis-
que nos leva à frequente di- quela época. Antônio José Monteiro de quita eram a estrada de arão no próximo dia 25 de tas e cavaleiros que, proce-
ficuldade de entender, por Além dos lotes, pelos ca- Barros (fazenda Paraíso), Leopoldina para o Rio Par- junho”, promovidas por dentes da Boa Sorte diri-
exemplo, porque a Colônia, minhos da Constança pode- Manoel Rodrigues da Silva do (hoje Argirita) e as pro- José Jeronymo de Mesqui- gem-se à Igreja de Santo
que herdou o nome da fazen- mos encontrar também a (fazenda Pury), José Augusto priedades de Pedro Macha- ta, Otávio Otoni e o Capi- Antonio do Onça, ao ponto
da Constança, teve sua sede igrejinha de Santo Antonio, Monteiro de Barros (fazen- do Neto, Joviniano Augusto tão Santa Maria. final do ônibus urbano em
instalada na fazenda Boa na Onça, construída em da Constança), Manoel Joa- da Fonseca e Manoel Fran- O bairro compreende as posto próximo ou, buscam
Sorte. Isto pode ser explica- 1915, localizada no percur- quim Thebas, Carlos de Assis cisco Vieira. Pelo documen- terras que ficam nas mar- a rodovia no ponto fronteiro
do pelo fato de que se che- so natural do imigrante, vi- Pereira, João Ribeiro, Manoel to analisado, ficamos sa- gens da rodovia BR-116, a àquela Igreja, onde os ris-
gava com mais facilidade à esse ele da Boa Sorte ou da Antônio de Almeida (fazenda bendo que a Fazenda da partir do posto fiscal da cos do trânsito são signifi-
Boa Sorte do que à Constança em direção à ci- Feijão Cru), Antônio José Pin- Onça fazia divisa com as Polícia Rodoviária Federal cativamente menores. Mas
Constança, antes da aber- dade ou, simplesmente para to de Almeida e Felisberto da fazendas Pury e Caxoeira, até as terras da antiga fa- porque historicamente foi
tura da Rio-Bahia, estrada orar ao seu Santo Protetor. Silva Gonçalves. sendo esta última uma pe- zenda Pury, logo após a en- sempre o Caminho dos Imi-
que sanou o problema de Em nosso trabalho sobre Já em 1886, a Fazenda da quena propriedade trada para o bairro da Boa grantes que habitaram a
transposição do vale dos os logradouros públicos de Onça estava dividida entre desmembrada da Paraíso. Sorte. Do lado direito da BR Colônia Agrícola da
Puris, que os tebanos mais Leopoldina, registramos vários proprietários. Um Já sobre o Bairro da Onça, 116, no sentido de quem sai Constança.
antigos chamavam de “Bu- que o bairro da Onça her- deles era Antonio Rodrigues uma edição do jornal de Leopoldina em direção Por tudo isto, em 2008
raco do Cubu”, e do alagado dou o nome da antiga fazen- Campos que, no dia 25 de Leopoldinense, de maior de ao distrito de Tebas, faz di- sugerimos à Câmara de
da antiga “Água Espalha- da ali existente. Esta fazen- maio daquele ano, vendeu 1882, informa que o empre- visa com o bairro rural Boa Vereadores que transfor-
da”, no local onde está hoje da pertencia, em 1856, a 38 hectares e 72 ares a João sário Francisco Gonçalves Sorte, onde estava localiza- masse em Lei uma justa
o “Restaurante Seta”. Além Manoel Lopes da Rocha e Soares Mesquita, emprega- da Rocha Andrade ficou res- da a sede da Colônia Agrí- homenagem aos imigran-
do que, pela estrada da Boa José Lopes da Rocha, ir- do de Jerônimo José de ponsável pelo preparo de cola da Constança. tes, num projeto preferen-
Sorte se chegava, com as mãos que foram casados Mesquita, então proprietá- raias para a corrida de ca- No pátio fronteiro à Igreji- cialmente assinado por to-
condições possíveis na épo- com filhas do formador da rio da Fazenda Paraíso. A valos que seria ali realiza- nha da Onça existiu uma dos os Vereadores, conce-
ca, às terras da Constança. propriedade, o pioneiro situação vendida por Cam- da. A notícia do jornal O escola singular rural muni- dendo o nome de CAMI-
A visão do traçado da Co- Bernardino José Machado. pos tinha sido comprada de Leopoldinense ressalta, in- cipal à qual a Lei Municipal NHO DOS IMIGRANTES a
lônia, a partir da realidade Nessa época os seus vizi- Manoel Antonio de clusive, que seriam planta- nº 936, de 17.10.1973, deu o esta via ainda sem denomi-
das novas rodovias, é tam- nhos eram, pela ordem ci- Almeida, um dos das palmeiras nas margens nome de “Carlos de nação e solicitando ao Pre-
bém um dos complicadores tada nos registros, Maria do povoadores de Leopoldina e dessas raias. É do mesmo Almeida” em homenagem a feito Municipal as provi-
para entender a localização Carmo Monteiro de Barros que formou a Fazenda do periódico a informação de este ruralista que, em con- dências necessárias à
de alguns lotes que atual- (fazenda Desengano), Joa- Feijão Cru. As divisas dos que “no arrabalde da Onça junto com os imigrantes que revitalização do local. 
100 anos da Colônia Agrícola Constança 21

O SONHO DE SER PROPRIETÁRIO


ara os imigrantes, trabalho não poderia ser governamental, conforme como fazendeiro. americanos para justificá- de trabalho em condições

P principalmente os
italianos, ter terra
era sinônimo de
classificada como de
simples parceria, nem
como um colonato na forma
as descrições feitas pelos
descendentes.
Destacamos, a propósito,
De todo modo, aquelas
pequenas propriedades se
transformaram num
la. Trata-se do Ascetismo
da Poupança que,
entretanto, é tido por
adversas. No que toca a
Leopoldina, temos um caso
de óbito considerado como
liberdade e, para isto, não conhecida. Em Leopoldina informação de um modelo que prosperou pelo muitos como um fator resultado de trabalho no
poupavam esforços. prevaleceu a forma mista descendente sobre compra município, funcionando negativo já que, ao brejo, cultivando arroz.
Levavam uma vida difícil e de contratação em que de uma “situação” em pela formidável retornarem ao país de Entretanto, analisando a
modesta, trabalhavam fazendeiros e imigrantes antiga propriedade que capacidade de trabalho do origem, os imigrantes trajetória do falecido,
muito, controlavam suas encontraram formas de não conseguimos imigrante e pela grande estavam em boas descobrimos que no final
economias e até abriam estabelecerem parcerias identificar. Segundo nosso prole da maioria deles. E, condições econômicas e de todas as tardes ele se
mão de pequenas coisas em favoráveis às duas partes, entrevistado, após a morte principalmente, uma extremamente debilitados dirigia para a “venda”, um
prol de juntar dinheiro para principalmente porque os do patriarca os herdeiros situação que era fisicamente. estabelecimento comercial
a realização do sonho maior subsídios concedidos pelo decidiram “lotear” a considerada pelos De fato, não são poucas próximo do local de
que era o adquirir um governo cobriam as fazenda e diversos patriarcas como muito as referências dos residência. Ali o imigrante
pedaço de terra. E, via de despesas com a vinda do compradores foram melhor do que a que entrevistados à dureza passava muitas horas
regra, quando já haviam imigrante. imigrantes ainda com deixaram na Itália. imposta pelos imigrantes bebendo, indo para casa já
adquirido o primeiro lote o Adquiriram pequenas pouquíssimo domínio da Os estudos de Leone a si e à família, tendo em com noite fechada. Quase
sonho se expandia no glebas de terra, de algum língua portuguesa. Para Carpi, publicados no livro vista amealhar uma sempre chegava com o
sentido de conquistar lote na Colônia Agrícola da eles, fazenda era o local Delle Colonie e delle poupança que permitisse vestuário bastante úmido
outros, preferencialmente Constança ou em outro onde se instalava a casa de Emigracioni em 1874, adquirir um pedaço de pelo sereno. E, bêbado, não
nas proximidades, para lugar por onde foram moradia do proprietário, mencionam uma carta do terra. Mas se no início cuidava de trocar a
acolher os descendentes e surgindo as pequenas tendo nas proximidades os cônsul italiano do Rio, em poderiam pensar em voltar vestimenta e aquecer-se
demais agregados. propriedades, passando a equipamentos comuns 1872, relatando que a para a terra natal e se adequadamente.
Certo é que, num espaço fazer parte da própria naquela época, como a tendência do emigrante estabelecerem em Tampouco permitia que a
de tempo relativamente dinâmica da economia do tulha, o curral, o barracão, italiano era ficar no Brasil melhores condições, a mulher interferisse. Nos
curto, transformaram-se de município. Muitas dessas os terreiros para secagem por um período entre 3 e 6 partir da poupança feita primeiros tempos, quando
simples colonos em propriedades eram do café e as casas de anos, acumulando uma aqui no Brasil, a boa ela insistia em fazê-lo
lavradores independentes e retalhos de terras colonos. Ou seja, não era a poupança que permitisse adaptação à nova pátria trocar de roupa e tomar um
passaram a formar uma esgotadas vendidos pelos propriedade rural em si, voltar à terra natal e lá pode ter sido determinante chá quente, o imigrante
nova classe de pequenos e fazendeiros que viam mas a sede. Para os adquirir seu próprio para a fixação em costumava agredi-la verbal
médios proprietários. Não nessa prática uma forma colonos italianos, seria o pedaço de terra. Dos casos definitivo de muitos que e fisicamente.
demorou muito para quem de o imigrante ver equivalente à fattoria que, que estudamos parece que, aqui chegaram na época da Passados alguns anos,
chegou como empregado da realizado o seu sonho de se segundo os dicionaristas chegando aqui com a ideia Grande Imigração. No este imigrante começou a
fazenda se tornar meeiro e tornar sitiante e, ao Devoto e Oli, é o complexo de retornar no período grupo que pesquisamos, apresentar características
depois proprietário. mesmo tempo, a fazenda administrativo de um indicado pelo cônsul não encontramos dados de tuberculose mas não
Foi com muito trabalho e garantia uma reserva de núcleo agrícola, mencionado por Carpi, que indiquem decréscimo buscou tratar-se. Pelo
uma dedicação ímpar que mão de obra nas suas compreendendo a outros fatores convenceram da condição física em contrário, mudou-se para o
muitas famílias galgaram proximidades. Geralmente residência do fattore, vale os imigrantes de que seria função dos sacrifícios a que sítio do sogro onde foi
os degraus mais elevados eram propriedades de dizer, administrador ou melhor adotar o Brasil se submeteram. plantar arroz. Ao fim de
da escala social, a partir de terras exauridas, casas proprietário. Sendo assim, como pátria de seus Em literatura são 10 anos de casado, foi a
atuarem como eficientes precárias de pau a pique o imigrante que adquiriu o descendentes. encontradas referências a óbito. Na memória
lavradores. ou meia água, capoeiras terreno onde se localizava Sobre esta decisão, há óbitos causados pela familiar, ficou a
Foram colonos num por desbravar e pouca ou a sede passou a ser uma expressão utilizada mesma situação, ou seja, informação de que a causa
sistema onde a relação de nenhuma assistência denominado pelos outros em estudos norte determinados pelo excesso foi o trabalho no brejo. 
22 100 anos da Colônia Agrícola Constança

ATIVIDADES
LABORATIVAS
Colônia tinha como padrão médio de tamanho

A dos seus lotes uma gleba de aproximadamente


cinco alqueires ou, 25 hectares de terra, que não
passava de uma pequena propriedade rural se
consideramos os padrões da época.
Poucas máquinas estavam ao alcance dos proprietári-
os destas terras, não só pelo fato de ser a mecanização
da lavoura quase que totalmente desconhecida na re-
gião como, principalmente, pela impossibilidade finan-
ceira de investir na aquisição de implementos agríco-
las. Para algumas atividades o estado colocava à dispo-
sição dos colonos umas poucas máquinas e equipamen-
tos além de lhes fornecer sementes. Com a emancipação
da Colônia Agrícola da Constança em 1921, os agricul-
tores que não tinham investido em adquirir implementos
tiveram maior dificuldade para manter o nível de pro-
dutividade.
Alguns colonos contavam com carro de bois, carroça,
arado e grade rústica puxada por animais. Poucos colo-
nos utilizavam plantadeiras de grãos e debulhadores
Plantio de Cana na Colônia Agrícola da Constança, 1910-1920 (Acervo Arquivo Público Mineiro)
de milho, acionados pela mão do homem. Os moinhos de
fubá e monjolos, geralmente movidos a água, não pas- em latoaria, fazendo tachas e demais utensílios de uso Buscando compreender como se deu a adaptação dos
savam de dois ou três em toda a Colônia. cotidiano. colonos aos implementos disponíveis na Constança, pro-
Assim, o mais comum nos lotes da Colônia Agrícola Mas se cabia aos homens todas essas tarefas, às mu- curamos informações sobre como estava o processo na
da Constança, no que se referia ao trato da terra para lheres competiam os muitos afazeres da casa e do ter- Itália, no período de nosso interesse. Encontramos refe-
o cultivo e manutenção das lavouras e hortas, era a reiro, além de cuidar dos filhos. As mulheres que vive- rência a uma revista quinzenal publicada em Milão, na
utilização de machados, foices, enxadas, “cacumbus” e ram na Colônia Agrícola da Constança bordavam pouco, última década do século XIX, que teria sido criada como
enxadões, manuseados indistintamente por toda a mão costuravam o necessário para atender a toda a família órgão de informação no meio industrial, sob o título
de obra disponível na família (pai, mãe, filhos e agre- e cozinhavam muito e, via de regra, bem. Além da cozi- L’industriale. No único número que tivemos oportunida-
gados). nha e do cuidado com a casa, elas eram ainda responsá- de de ver, há publicidade de máquinas e equipamentos
As entrevistas permitiram observar uma natural e veis pela horta, jardim, galinheiro, chiqueiro, limpeza aparentemente rudimentares, além de um comentário
perfeita divisão de tarefas, comum na maioria dos lo- do terreiro (em geral com enormes vassouras de ramos sobre uma nova técnica de aplicação de adubos. Seria
tes. Eram reservados aos homens principalmente os tra- ou de galhadas de bambu) e, em muitos casos, até pelo interessante encontrar outras fontes a respeito, já que a
balhos mais pesados e os mais distantes da casa, tais retiro do leite. Isto sem falar nos muitos casos de mu- adulteração de produtos agrícolas e adubos é citada, em
como a derrubada de árvores para o aproveitamento da lheres que dividiam, em igualdade de condições com os Notizie Intorno alle Condizione della Agricoltura,
madeira, o destocar as áreas a serem cultivadas e o seus maridos e filhos, todas as tarefas que surgiam na publicada em 1886, como uma das preocupações no
preparo dos brejos e alagados para o plantio do arroz. propriedade. Ministero di Agricoltura, Industria e Commercio naque-
Isto, sem prejuízo de outros trabalhos menos árduos, Os colonos adotaram, ainda nas fazendas em que tra- le momento.
que eram realizados em parceria com os demais famili- balharam antes de adquirirem um lote na colônia, o O diretor da mencionada revista era Carlo Gobbi e
ares. Aos homens também estavam reservados os tra- sistema de mutirão. Assim é que são freqüentes as refe- este nome chamou a atenção. Isto porque em Leopoldina
balhos de confecção de móveis e utensílios e até mesmo rências ao trabalho conjunto quando necessário conser- viveu Amalia Luigia Gobbi, nascida por volta de 1848
a construção de casas, suas e de vizinhos, além das de- tar, por exemplo, a casa de morada. em Mantova. Era casada com Agostino Cosini com quem
mais acomodações que iam se tornando necessárias com Sobre o processo de industrialização agrícola, lembre- passou ao Brasil em 1888. Uma das filhas do casal -
o desenvolvimento da propriedade. mos que o assunto é mencionado de forma contrastante Maria Augusta, casou-se com José Matola de Miranda e
Neste aspecto vale ressaltar o surgimento, dentre os em algumas fontes. De um lado o processo é visto como foi mãe de Ranulfo Matola, personagem de destaque em
colonos da Constança, de excelentes profissionais mar- ampliação do mercado de trabalho, absorvendo a mão Leopoldina, sendo homenageado em nome de rua no bair-
ceneiros, carpinteiros, “carapinas”, serradores (hábeis de obra ociosa dos jovens provenientes das lides agríco- ro São Luiz, nas proximidades da Colônia Agrícola da
no manejo do golpeão, ou “gurpião”), pedreiros e mes- las. Por outro lado, é considerado como estímulo à emi- Constança. E Maria Augusta era cunhada de Carlo
tres de obras que emprestaram os seus conhecimentos e gração por retrair o mercado, já que a mecanização di- Cosini, que até 1942 vivia na Colônia Agrícola da
técnicas para muitos outros vizinhos e parentes. Um minui a necessidade do emprego de muitos braços antes Constança e é referido por alguns entrevistados como
entrevistado informou que seu avô era um bom artesão necessários em algumas tarefas. especialista na aplicação de adubos. 
100 anos da Colônia Agrícola Constança 23
ssim como em mui- receberam o nome de Agosti- regando vestes e calçados em buscavam diversão também

A tas outras culturas, nho ou Agostino quando nas- um grande embornal. Depois nas raias destinadas ao jogo

O LAZER
os italianos costu- cidos na Itália. de tomar banho e vestir-se de malha, nas várzeas onde
mavam homenage- O mês de agosto tinha em casa de algum parente ou se demarcavam campos para
ar seus antepassados atra- grande simbologia para os amigo, punham-se a cami- a prática do jogo de futebol, e
vés do nome que escolhiam agricultores pagãos, que de- nhar, descalças, até o local da nas mesas de carteados
para os filhos. Em muitas fa- dicavam os primeiros dias do festa. Nas proximidades, la- montadas na “venda” ou na
mílias, o primeiro descen- mês à colheita e nos dias se- vavam os pés e calçavam casa de amigos. Alguns apre-
dente do sexo masculino re- guintes comemoravam o re- seus sapatos que, na maio- ciavam as caçadas ao tatu e
cebia o nome do avô paterno, sultado obtido, numa espé- grantes que se instalaram al dedicada ao padroeiro ria das vezes, causavam- à paca, geralmente realiza-
o segundo homenageava o cie de despedida dos dias na Colônia Agrícola da Santo Antonio, que reunia lhes supliciantes das nas noites de lua cheia,
avô materno e os seguintes ensolarados que brevemen- Constança. Era em torno um grande número de parti- calosidades. assim como a apreensão de
recebiam o nome de um tio te dariam lugar ao período dela que se realizavam qua- cipantes oriundos das propri- Divertidos, também, embo- passarinhos como o canário
ou amigo. De modo geral, os outonal. Acreditamos que, se todas as festividades. edades da redondeza e, em ra bastante raros, eram os da terra, o coleiro, o
padrinhos de batismo eram com datas vinculadas à ati- A regra na Colônia era o número bastante significati- bailes e reuniões em que se pintassilgo, o melro e o curió,
parentes próximos, o que vidade agrícola, e especial- trabalho. O cantar do galo já vo, pessoas que vinham da comemoravam os casamen- apreciados pela beleza da
eventualmente acarreta ge- mente por ser o mês em que encontrava a maioria dos sede do município. Com suas tos. Um descendente infor- plumagem e pelo canto.
neralizações inadequadas, os trabalhadores descansa- habitantes no batente diá- barraquinhas a servir os mou que a festa do casamen- De um tempo posterior à
como julgar que o nome da vam por alguns dias, natu- rio. Ali, em praticamente to- mais variados quitutes e os to de sua tia foi promovida emancipação oficial da Colô-
criança seria sempre home- ral que festejassem as féri- dos os lotes, colonos e agre- disputados leilões de pren- pelos padrinhos da noiva, ar- nia, há notícias relativas ao
nagem ao padrinho ou ma- as também no nome dos fi- gados se dedicavam com afin- das oferecidas pela comuni- ranjando-se um grande “sa- time de futebol denominado
drinha. lhos, pensando diretamente co às tarefas em casa, no ter- dade e apregoadas pelo se- lão de arrasta-pé” no terrei- Boa Sorte Futebol Clube,
Um de nossos informantes em quem instituiu o descan- reiro ou nas lavouras, sem se nhor Carlos (Carrito) ro da casa dos pais da noiva. que chegou a disputar cam-
apresentou um relato inte- so: o Imperador Augusto. preocuparem com diversão. Almeida, a “Festa da Onça”, Após a cerimônia religiosa, peonatos amadores na cida-
ressante. Segundo ele, as cri- Mas quando passaram ao Nos poucos momentos dedi- como ficou conhecida, atraía os convidados foram cami- de. Durante muitos anos, a
anças nascidas no oitavo mês Brasil, os italianos tiveram cados ao lazer, as alternati- gente de todas as idades. nhando até a casa, muitos partir do meado dos anos de
do ano civil homenageavam que se adaptar a outro calen- vas não eram muitas. A confirmar a importância deles com os sapatos nas 1900 e até o início do século
um antepassado que tivesse dário. No século XIX as festi- As mulheres se divertiam desta festa, famílias resi- mãos. A noiva, toda anima- XXI, o Boa Sorte Futebol
Augusto em seu próprio vidades já não eram pagãs, principalmente nas festas dentes na estrada da da, ia na frente da verdadei- Clube foi estruturado e
nome ou acrescentavam este estando incorporadas ao ca- religiosas e nas visitas aos Lajinha programavam ra procissão de parentes e mantido por João Bonin
nome ao primeiro nome de lendário católico com algu- parentes, vizinhos e longamente o passeio. As amigos. (Bonini), proprietário das
um avô. Descobrimos, por mas adaptações. Tendo for- conterrâneos. Os colonos par- moças se preparavam com A outra atividade de lazer terras onde ficava a sede da
exemplo, que um neto de te influência religiosa, natu- ticipavam ativamente das afinco, costurando novos ves- das mulheres era a visita aos fazenda Boa Sorte, tendo a
Felice Meneghetti, nascido ral que os colonos elegessem festas promovidas na igreji- tidos ou reformando algum parentes e conterrâneos, ge- casa servido de sede admi-
no dia 7 de agosto, foi bati- um templo como local de fes- nha, construída em 1915 pe- mais antigo, sempre com a ralmente nos finais de sema- nistrativa do Clube. Seus
zado como Felice Augusto. tas. Além da religiosidade los colonos e demais habi- intenção de apresentar-se na. Já os homens, embora herdeiros, muitos dos quais
Outros casos sugerem o mes- propriamente dita, a Cape- tantes das terras da antiga condignamente. No dia da freqüentemente realizassem ex-jogadores do time, ainda
mo procedimento, seja entre la de Santo Antonio muito re- fazenda da Onça. Principal- festa, vinham em carro de boi as mesmas visitas e muitas preservam os troféus e obje-
os nascidos no Brasil e que presentou na vida dos imi- mente a animada festa anu- da fazenda até a cidade, car- vezes desacompanhados, tos do Boa Sorte F.C. 
24 100 anos da Colônia Agrícola Constança
m 1876, dois pes- uma tela. Estes retângulos co que por ventura ainda

E quisadores italia-
nos publicaram o
resultado de um
extenso levantamento so-
A MORADIA são então preenchidos com
barro preparado para tal fi-
nalidade, também chamado
de estuque.
exista numa casa simples,
cravada nas terras de qual-
quer dos lotes da Colônia.
É a ideia de resgate e pre-
bre as condições políticas e
administrativas no sul da
Itália. Este livro nos permi-
te conhecer um pouco da si-
DOS COLONOS Por ser uma construção ba-
rata e que utilizava material
disponível nas proximidades
da obra, foi muito difundida
servação da história da Co-
lônia Agrícola da Constança
que nos faz trazer este
tema à baila. Obviamente
tuação dos italianos que re- na região. Geralmente o piso sem ver nisto demérito al-
solveram deixar a terra na- era de terra batida e não ha- gum e sem considerar que
tal em busca de melhores via divisão interna. qualquer dos imigrantes
condições de vida. Leopoldo As casas que foram aceitaria o tratamento de
Franchetti e Sidneu construídas na Colônia Agrí- “coitadinho” por esta colo-
Sonnino declararam que a cola da Constança eram um cação. Pelo contrário, nós o
questão da habitação da pouco melhores. Obedeciam fazemos porque reconhece-
classe pobre, que vivia do a um modelo trazido da Co- mos nessa gente o valor de
trabalho braçal, era uma lônia Vargem Grande, que quem criou e, criou muito.
das mais graves da época. ficava nas proximidades de Plantou fábricas de taman-
Os autores nos fazem re- Belo Horizonte e ofereciam cos, tijolos e telhas, a par-
fletir sobre os sonhos que um pouco mais de conforto. tir do material disponível,
possam ter nascido entre Possuíam paredes de tijolos para gerar renda e não ficar
aqueles que, não podendo com revestimento e caiação, deitado à espera de um
oferecer um mínimo de con- inclusive nas divisórias in- “bolsa-qualquer- coisa” ou,
forto aos seus familiares, ternas. A cobertura era de da esmola que vicia. E o fa-
optaram por um país cha- telha tipo canal. O piso da zemos porque reconhece-
mado Brasil, tão distante e sala e dos quartos era de mos que trouxeram o lado
do qual provavelmente pou- tábua e o da cozinha, em ge- empreendedor que os fez
co sabiam. Acreditamos que ral, de terra batida ou tijolo. vencer todas as dificulda-
todos quantos se dedicam A água chegava ao terreiro des, incluindo a língua. No
ao estudo da imigração ita- através de regos e bicas de peito ou em meio à baga-
liana para o Brasil já tive- bambus ou então era colhi- gem, trouxeram ainda uma
Casa de colonos - Colônia Constança-APM
ram oportunidade de consi- da em fonte natural das pro- insuperável disposição
derar que nossas Colônias Mas a casa que eles mora- “mulherzada”, gente tudo casa com 40 palmos sobre ximidades. Os banheiros, em para lutar destemidamen-
Agrícolas ofereciam muito vam não existe mais. Minha bacana. A gente ficava 20, coberta de telhas, com geral, eram separados da te contra tudo e contra to-
mais conforto para aqueles tia contava que a casa da olhando, né? Olha, passou 12 palmos de pé direito e 7 casa, o que gerou a vulgar de- dos, para construir um lu-
italianos que, em sua pá- Colônia era muito pequena, a Baronesa! A Baronesa já de ponto, com duas portas nominação de “casinha”. A gar para chamar de seu.
tria, eram submetidos e com chão de barro. Criança vai prá fazenda. Naquele de 4 1/2 palmos de largura iluminação era à base de Não importando se sobra-
submetiam suas famílias a não podia engatinhar por- casarão, onde tinha lugar sobre 10 1/2 palmos de al- querosene, em lamparinas e va apenas um catre rústico
um modo de vida deplorá- que ficava gripada. Chão frio prá tudo. Na nossa casa.... tura, e duas janellas de 2 lampiões. Embora a maio- para o repouso diário ou um
vel aos olhos dos próprios e úmido.” (neto de colono) tudo muito pequeno.... Lá na palmos de largura sobre 4 ria esteja bastante altera- pouco mais do que isto, que
italianos que os estuda- Colônia também.... Não ti- 1/2 de altura. A mesma fon- da e algumas bem deterio- se misturava às roupas
ram. Nas palavras de nos- “Antes de ir prá Colônia nha lugar nem prá guardar te informa que as casas de- radas, ainda existem uns trazidas da distante Itália.
sos entrevistados, percebe- eles moravam num casarão os trem de cozinha.”(filha de veria ser barreadas, ficando poucos exemplares dessas Para o italiano que esco-
mos que aqui encontraram bem grande, uma fazenda agregado da Colônia) os revestimentos de cal adi- casas em antigos lotes da lheu a nossa Leopoldina
uma habitação conveniente velha. Mas lá não tinha ados para ocasião futura. Colônia. para seu habitat, não pode-
como queriam Franchetti e uma casa prá cada família. Estes três depoimentos de Na maioria destas casas, O interior das antigas re- mos deixar de informar que
Sonnino. Vejam algumas Era todo mundo numa casa descendentes de imigrantes as paredes eram sidências é outro aspecto na época da chegada o mo-
declarações: só. Então quando foi prá mostram como foi a vida construídas com a técnica que precisa ser melhor es- biliário era escasso e rudi-
Colônia, minha avó gostou dessa gente ao chegar a conhecida como pau a pique, tudado. Algumas pessoas mentar. Pouco mais que um
“Eu conheci a fazenda de ter uma cozinha só prá Leopoldina. A maioria dos taipa ou estuque. É um tipo tendem a se referir aos mu- baú e alguns sacos com per-
onde eles moravam antes. ela.”(neta de colono) habitantes da Colônia já de construção em que são seus como sendo um local tences de uso pessoal, além
Era uma construção antiga. estava na região quando fo- utilizados esteios e vigas de onde se expõem peças de de algumas poucas ferra-
Tinha 9 dormitórios, uma “Eles pegavam a ram demarcados e entre- madeira tosca dispostas ouro e mobiliários rebusca- mentas trazidas da Itália.
cozinha grande com um fo- madame, com duas carrua- gues os primeiros lotes. Se- verticalmente. Nestas peças dos. Entretanto estes espa- Na nova pátria, construí-
gão grande. Tinha um lugar gens, botava as mulheres gundo a Ata da reunião do são cravados, em furos pró- ços, por definição, objetivam ram o catre que se juntava
adequado para lavar as pa- direitinho e pegavam o ca- Club da Lavoura, de prios, fasquias (lascas de guardar e preservar o pas- ao baú para equipar o quar-
nelas de ferro, era um tipo minho. Eles passavam per- 28.12.1887, ficou estabele- madeira) ou bambus finos sado que não deveria ser se- to de dormir. As roupas usu-
de tanque com água quente to da nossa casa. E a gente cido que o fazendeiro ficava no sentido horizontal, for- pultado e que pode ser lem- ais eram penduradas na
que vinha do grande fogão. ficava olhando, né? Aquela obrigado a fornecer uma mando retângulos como brado até num móvel rústi- parede do quarto, enquanto

Por muitos anos Leopoldina omitiu ou minimizou o papel do povo em sua


história.Sejam os índios que foram “desaparecidos”, os negros escravos ou
os imigrantes. Aqui também sempre se preferiu exaltar as grandes figuras, os
coronéis, os líderes políticos. As pesquisas de Nilza Cantoni e Zé Luiz
Machado rompem com essa visão preconceituosa e elitista que infelizmente
ainda vemos por aí e registram na nossa história nomes que não devem ser
apagados.
Luciano Baía Meneghite
100 anos da Colônia Agrícola Constança 25
as melhores eram guarda- travam material adequado, Ele fazia gaiolas de pas- a cabeceira tinha sido fei- de para os locais, o fato de pouco mais finas ou de las-
das no baú, pois não havia vez por outra embelezavam sarinho lindíssimas. Tudo ta por ela e que tinha ter pedaços de couro no lu- cas de algumas madeiras de
guarda roupas. Com o pas- o catre com uma cabeceira o que fazia era com um sis- florões entalhados na ma- gar das dobradiças. fibras mais longas, porque
sar do tempo e a melhoria contendo trabalhos de enta- tema de encaixe que dis- deira. Eu vi meu tio fazer Geralmente as tábuas dos era praticamente impossí-
das condições econômicas, lhes, para os quais conta- pensava pregos. Algumas algo do gênero. móveis eram serradas ma- vel serrar manualmente pe-
os quartos recebiam ca- vam com a habilidade das peças levavam um ‘amar- nualmente com os chama- ças mais delicadas.
mas e, às vezes, mesinhas mãos femininas, com conhe- rado’ em cipó bem fino. Ele Outro “móvel” era o cabi- dos golpeões ou, grandes Como se pode concluir
de cabeceira, toucadores e cimento e técnica muitas descascava o cipó e, assen- de de parede, igual a muitos serras, puxados por duas eram moradias de poucos
berços. vezes herdada e repassada tado na cerca do curral e que ainda encontramos nas pessoas de forma cadencia- móveis e limitado conforto.
O “catre” era composto de para gerações seguintes. munido de um canivete e lojas de móveis. Aquele da. Pela raridade dos pregos, Mas tudo realizado com fi-
um conjunto de tábuas ser- Quanto a este fato, lem- um pedaço de madeira, trançado de madeira, tipo as peças de madeira se jun- bra inigualável. Por um
radas ou lavradas quase bramos depoimento de moldava diversos objetos: sanfona, com pinos para tavam pelo sistema de en- povo determinado a vencer.
sempre por eles mesmos, uma descendente que nos faquinhas, garfos, carri- pendurar roupas e chapéus. caixes chamado de Por um povo que, acima de
sobre um quadrado de ré- contou sobre um tio dela, nhos e diversos outros brin- Importante também era o “malhete” e cavilhas de fi- tudo, soube vencer todos os
guas mais resistentes, com irmão de sua mãe, que quedos. Embora eu não me guardacomida. Tão rústico xação. Nas camas, o estra- obstáculos e hoje seus des-
quatro pés e sem cabeceira. aprendeu com a nona a lembre da cama onde a quanto os demais móveis, do que hoje se constrói de cendentes se destacam no
Mais tarde, quando encon- entalhar madeira: bisnona dormia, dizem que apresentava, como novida- ripas era feito de tábuas um cenário leopoldinense. 

REGIÕES DE ORIGEM DOS NOSSOS ITALIANOS


Leopoldina recebeu No período de maior inci-
imigrantes procedentes dência da imigração de ita- Imigrantes italianos no Brasil, por
de 14 regiões da Itália: lianos para Leopoldina, região de origem, entre 1876 e 1920
Lombardia, Friuli- acontecida entre 1888 e
Venezia Giulia, Veneto, 1896, percebemos que do Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia
Piemonte, Emilia Veneto era a maioria dos que e Estatística, Contagens Populacionais
Romagna, Toscana, chegaram em 1888. A partir
Região de Origem Quant. de Imigrantes
Umbria, Marche, de 1894 começaram a che-
Abruzzo .................................................. 93.020
Abruzzo, Campania, gar os lombardos. Os meri-
Basilicata .............................................. 52.888
Basilicata, Calabria, dionais, ou seja, procedentes
Calabria ................................................. 113.155
Sicilia e Sardegna. É di- da região sul da Itália, che-
Campania .............................................. 166.080
fícil afirmar, com segu- garam em diferentes épocas.
Emilia-Romagna ................................... 59.877
rança, de que localidade Cada qual com os seus prin-
Lazio ....................................................... 15.982
vieram mais imigrantes cípios e comportamentos
Liguria .................................................... 9.328
e de que região são as que foram transmitidos aos
Lombardia ............................................. 105.973
pessoas que mais contri- descendentes e agregados.
Marche ................................................... 25.074
buíram para a modifica- Uma outra dificuldade
Imigrantes desembarcando na Ilha das Flores (Acervo Arquivo Nacional, Rio) Piemonte ................................................ 40.336
ção de aspectos sociais e para fazer um estudo sobre o
Puglia ..................................................... 34.833
econômicos da cidade. conjunto desses imigrantes
Sardegna ................................................ 6.113
Sem dúvida este fato re- reside na maior ou menor fa-
Sicilia ..................................................... 44.390
presenta uma primeira cilidade na reunião de dados
Toscana .................................................. 81.056
dificuldade para se tra- sobre as suas famílias. Nem
Umbria ................................................... 11.818
çar um perfil do cidadão sempre é fácil conseguir
Veneto .................................................... 365.710
que veio para o nosso pesquisar em algumas regi-
Total ....................................................... 1.225.633
município e também ões de origem. No caso de pro- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

para determinar de que víncias do norte da Itália, en- Localização ........................ 1872 .................. 1890
região é a influência pre- contramos uma certa facili- Sede .................................... 435 .................... 431
dominante. Acrescente- dade até para fazermos pes- Piacatuba ........................... 146 .................... 7
se a isto os problemas quisas via Internet. Neste Tebas .................................. sem dados ......... 103
advindos dos desloca- caso a nossa preocupação foi Conceição da Boa Vista .... sem dados ......... 276
mentos, ainda na Itália, não nos deixarmos levar pela Rio Pardo (Argirita) .......... 280 .................... 73
de famílias provenientes conclusão inadequada de que ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

de uma região e que aqui a maioria dos imigrantes re- Homens Mulheres Total
chegaram após obterem sidentes em Leopoldina veio 380 ...................................... 402 .................... 782
o passaporte em outra. daquela região.  Destino dos imigrantes italianos no período 1876 a 1945 Estrangeiros em Leopoldina  Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e
Fonte: 2º Seminário de Imigração Italiana em Minas Gerais Estatística, Censos de 1872 e 1890
26 100 anos da Colônia Agrícola Constança

ALIMENTAÇÃO DOS COLONOS


uando se pensa em alimentação dos italianos, é viam substituído a massa de suas mesas ainda na Itá- am pela redondeza, onde o colono entregava o milho e

Q comum lembrar de mesa farta, suculentos pra-


tos de massas regados a molhos variados e
canecos com os melhores vinhos. A culinária ita-
lia, onde o trigo escasseava e atingia altas cotações.
Com isto o talharim, os rissoles e pães, ainda na Itália
já haviam perdido a concorrência para a polenta (salga-
recebia o fubá, descontado de um percentual do peso que
era deixado como pagamento pelo beneficiamento.
A palha do milho também era aproveitada. Uma par-
liana à disposição de todos! Mas os depoimentos colhi- da ou doce), os bolos, as broas, as cavacas (bolachas te era deixada de molho n’água pura por algum tempo e
dos de pessoas mais velhas, descendentes dos imigran- endurecidas), o cubu, o milho cozido ou assado e demais depois, colocada para cozinhar com banha de boi e soda
tes que se fixaram na Colônia Agrícola da Constança e derivados desse grão de cultivo e manejo mais fácil e de cáustica, em tacho apropriado, até formar uma pasta
nos demais roçados de Leopoldina, apontam para um mercado bem mais simples. homogênea. Esta pasta, despejada em superfície lisa,
quadro um pouco diverso. Decorre daí o hábito de substituir o pão e outros ali- depois de fria era cortada em barras, dando origem ao
Antes de passarem ao Brasil, os colonos tinham hábi- mentos por fubá cozido em água e sal. Seja no caldeirão sabão utilizado na limpeza em geral.
tos alimentares concernentes à possibilidade de produ- do almoço ou, depois de frio, cortado em pedaços para Rasgada em tiras, a mesma palha servia como enchi-
ção na região em que viviam. No que se refere ao Veneto, acompanhar o jantar, o café da manhã ou a merenda mento dos colchões para os catres (camas) da família e
Emilio Franzina relata, na página 140 do livro A Grande vespertina, o angu com melado de cana era também dos travesseiros, conhecidos pelos imigrantes por
Emigração, que a agricultura era ali praticada no siste- muito apreciado. “gancilão”, talvez por uma forma dialetal de “guanciale”,
ma de “cultura mista, centrada na tríade produtiva de Substituindo-se o sal por açúcar mascavo (açúcar pre- ou seja, almofada. Limpa e trabalhada pelo canivete ou
vinho, trigo e milho”. Segundo este autor, os proprietári- to), obtinha-se um angu doce que era despejado em por- faca, servia como suporte para o fumo de rolo ou desfia-
os das terras dividiam-nas em três campos, sendo um ções na chapa do fogão à lenha e consumido com diferen- do, na confecção dos cigarros. E se nenhuma dessas uti-
para milho e dois para trigo, entremeados por fileiras tes acompanhamentos, dependendo do tempo em que lizações a consumia, era então jogada para o gado que
de videiras. Desta forma, tinham assegurada a polenta permanecia assando. Ainda mole, num prato de ágata, dela se deliciava, principalmente na época da seca.
e a lenha para cozinhá-la. com leite; mais consistente, transformava-se em bola- O sabugo, outro subproduto do milho, além de atender
Já para Renzo Grosseli, conforme páginas 33 e 34 de chas muito apreciadas; e, mais endurecido, tomava a aos meninos na confecção de brinquedos como juntas-
seu livro Colônias imperiais na terra do café, o pão e a forma conhecida como “cavaca”, que substituía o pão. de-bois para os seus carrinhos, tinha como utilização
polenta eram indispensáveis na alimentação dos colo- Ao ser retirado da panela, o angu deixava uma grossa geral facilitar o acender do fogão à lenha, por ser de
nos trentinos e lombardos que se estabeleceram no Es- camada que se denominava raspa e que era consumida combustão fácil e estar quase sempre guardado ao abri-
pírito Santo. A batata, muito cultivada na região em com leite nas refeições intermediárias. Fatiada e um go da umidade.
que se estabeleceram aqui no Brasil, era utilizada pe- pouco mais tostada, esta raspa era consumida ao estilo Ao lado do milho, outros produtos faziam parte dos
los italianos para alimentar os porcos. Especialmente de petiscos. Se salpicada com açúcar, era saboreada como “roçados” dos colonos. Um deles, o tomate, era ingredi-
os trentinos, informa o autor, procuraram desenvolver biscoitos. ente que não podia faltar no preparo final da massa. E
cultura de cereais como milho e trigo, além de legumes e Mas não há como falar de alimentação de italianos sem para que pudesse ser utilizado o ano todo, o comum era
hortaliças. um comentário sobre as massas. Um entrevistado infor- guardá-lo desidratado. Colhido quando começava a ama-
Do que apuramos, pelo menos nas gerações mais anti- mou que sua mãe “preparava a massa de talharim, esti- durecer, era partido ao meio e colocado ao sol para secar.
gas o vinho e o macarrão não freqüentavam as mesas cava-a na mesa da cozinha e cortava as fitas com uma Posteriormente era guardado em potes. No momento de
diárias de nossos colonos. Mesas, aliás, na maioria das faca, cozinhando-as em água com sal e preparando o mo- sua utilização era imerso em água morna para re-
vezes montadas na própria cozinha e geralmente lho à parte. Quando a massa cozida era jogada no molho, o hidratação.
rodeadas de bancos de madeira. Tampouco havia ma- cheiro forte atraía a todos, principalmente as crianças”. Os entrevistados mencionaram, também, o café que es-
carrão nos caldeirões levados com o trabalhador para o Outro informante lembrou que a massa era colocada a tava sempre no canto do fogão ou levado para a roça em
local do trabalho. Vinhos e massas eram comuns ape- secar numa peneira forrada com um pano e mais tarde garrafas de vidro arrolhadas com sabugo de milho. Seu
nas quando o almoço era servido na mesa da sala em era enrolada como um rocambole e cortada em fatias preparo era todo doméstico. Colhido e seco, o grão era
dias de visitas, nos “jantarados” dos finais de semana e para serem cozidas em água quente temperada com gor- levado ao pilão para a retirada da casca. Depois de penei-
nas comemorações de algum acontecimento significati- dura de porco. rado para limpar as impurezas, era torrado em panelas
vo. E são compreensíveis as razões para esta prática. Na Colônia e nas pequenas propriedades da região, as de ferro. Posteriormente, os grãos torrados eram passa-
O clima quente de Leopoldina não se prestava ao plan- espigas de milho eram guardadas no paiol, um cômodo dos em peneiras de taquara que os transformava em pó.
tio do trigo e da uva. Faltavam os mais elementares geralmente coberto com sapé ou telha do tipo canal, com Chama a atenção nos depoimentos o fato de não ter sido
recursos para o seu cultivo e preparo nas terras monta- paredes e assoalho de bambu, pau roliço ou ripa de ma- mencionada a utilização de moinhos de café, geralmente
nhosas da nossa região. Por outro lado, adquirir os pro- deira lavrada, com frestas que facilitavam a ventilação e encontrados em boa parte das casas da zona rural.
dutos deles derivados nem sempre estava ao alcance evitava a proliferação de caruncho. De modo geral, o paiol As principais refeições - almoço e jantar, eram compos-
daqueles colonos. Não só pelo preço mas, também, pela era construído junto à casa do colono e, em alguns casos, tas do tradicional arroz com feijão, uma ou outra verdura
dificuldade de se deslocar da roça para a cidade e fazer debaixo dele ficava o chiqueiro onde se engordava o porco. da horta, batata doce, mandioca, ovos e alguma carne de
a compra e até de encontrar no armazém estes produ- Era no paiol que se retirava a palha da espiga e debu- porco, boi ou caça, geralmente conservada em grandes
tos. Assim, tornou-se muito mais fácil ao colono imi- lhava-se (retirar o caroço do sabugo) o milho. Os grãos latas ou panelas cheias de gordura (banha) de porco.
grante adaptar-se à realidade dos que por aqui viviam e eram soprados, selecionados em peneiras de taquara e Algumas conservas à base de frutas faziam parte da
aderir aos costumes vigentes. ensacados para serem levados para moagem. Alguns co- dispensa da casa. Mas uma das faltas mais sentidas
É bem verdade que existiu, ainda, um outro fator im- lonos utilizavam o pilão para socar e transformar o mi- pelos imigrantes, segundo depoimentos, era a azeitona
portante e que também precisa ser considerado. Alguns lho em canjiquinha. O mais comum, porém, era a utili- que por aqui não se plantava e que deveria fazer parte
depoimentos dão conta de que muitos imigrantes já ha- zação de moinhos de pedra movidos a água, que existi- dos molhos das massas ou ser consumida pura. 

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