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“A ciência nada mais é que o senso comum refinado e disciplinado” Gunnar Myrdal
Ele fala sobre o mito que o cientista se tornou, mito porque “induz comportamentos e
inibe questionamentos e pensamento” em analogia ao momento que os Deuses se
manifestavam através dos Reis, sacerdotes, poetas e que nada tinha a população que
questionar, era um mito, um dogma a ser seguido. Assim são os cientistas, eles mandam
e nós obedecemos, porque o pressuposto é de que eles têm o saber, a palavra divina,
têm o pensar. Perceber que a ciência apresenta um tom conotativo de mito, ela, que
sempre buscou ser a negação dessa forma de construir conhecimento, é bastante
interessante. O autor fala em acabar com um mito, o mito de achar que o cientista sabe
das coisas, como se uma pessoa que sabe pregar pregos obrigatoriamente também saiba
a melhor disposição para pendurar quadros ou como ficariam melhores na parede.
O autor aborda a questão do especialista, como o pianista que é músico e nem por isso
sabe tocar violão, fazendo analogia com o cientista, ele é um especialista, mas o autor
extrapola, diz que o cientista é um pianista especializado em Trinados (em uma técnica
só), não saberia tocar uma música. Achei bem interessante, limitou ainda mais o papel
do cientista e do seu fazer no mundo.
Interessante saber que o que foi considerado ciência outrora é motivo de riso hoje, bem
como, o que hoje é considerado ciência, pode ter o mesmo fim no futuro. Rubem Alves
exemplifica com Francis Bacon que afirmou que “nos céus, há duas estrelas favoráveis,
duas desfavoráveis, dois luminares e Mercúrio, indeciso e indiferente”, fez essa
afirmação em analogia ao microcosmo do corpo humano que possui duas narinas, dois
olhos, dois ouvidos e uma boca. Isso parece muito mais crença do senso comum do que
qualquer outra coisa, no entanto, foi considerado ciência em uma época. Outra coisa, a
sociedade insiste em acreditar em magia, feitiçaria, em dar a possibilidade que o desejo
e as emoções alteram os fatos, ora, a ciência não acredita nisso, no entanto, a sociedade
continua a insistir e acreditar. Segundo Rubem Alves Freud disse que a crença é
fundamental por detrás do comportamento neurótico.
Finaliza então Rubem Alves afirmando que “o senso comum e a ciência são expressões
da mesma necessidade básica, a de compreender o mundo, sobreviver melhor.“ Se o
senso comum é inferior isso é bastante questionável, por milhares de anos o ser humano
sobreviveu sem ciência e de 4 séculos para cá, desde que surgiu, a ciência tem
apresentado sérias ameaças à nossa sobrevivência.
EM BUSCA DA ORDEM
“O místico crê num Deus desconhecido. O pensador e o cientista crêem numa ordem
desconhecida. É difícil dizer qual deles sobrepuja o outro em sua devoção não-
racional.” L. L. Whyte
Segundo o autor senso comum e ciência, ambos estão em busca da ordem. A busca pela
ordem é natural, buscamos para nos sentirmos estáveis, predizermos o futuro, e isso
não faz da ciência algo único, também buscamos a nossa própria ordem (subjetiva),
assim como o senso comum (de forma mais geral) e outras formas de buscar. A ordem
que criamos para nós mesmos no mundo, com todas sua lógica pessoal, cadências de
pensamento, emoções, em nenhum momento segue o ceticismo da ciência, se fosse
assim, não bateríamos 3 vezes na madeira ao falarmos algo pessimista, ou outros mil
padrões de comportamento muito mais voltados pra profecias e valores, que qualquer
outra coisa.
Aqui Rubem Alves faz uma reflexão sobre um período textual de John Dewey: “Temos
de reconhecer que a consciência ordinária do homem comum (...) é uma criatura de
desejos (aqui me lembra Freud) e não de estudo intelectual, investigação e
especulação.” “O homem vive num mundo de sonhos antes que de fatos, e um mundo
de sonhos organizado em torno de desejos cujo sucesso ou frustração constitui sua
própria essência.”
Segundo Alves: “o mundo de cada um é sempre lógico do seu ponto de vista.” (...) “é a
ciência e não o senso comum que parece ser o mais absurdo”. “As marés acontecem
porque a água é puxada pelo sol pela Lua.” Antes a verdade era uma, e a experiência
cotidiana a confirmava, a terra era o centro do universo, nenhum fato cotidiano
mostrava o contrário, mas “a Verdade científica é sempre um paradoxo (a água é
constituída de 2 gases altamente inflamáveis), se julgada pela experiência cotidiana, que
apenas capta a aparência efêmera das coisas.” (Marx)
Assim, Alves descreve o cientista como sendo um caçador do invisível. Vendo as razões
do porque ele fala isso e contrapõe com a imagem conhecida do cientista como
perscrutador de fatos e do mundo objetivo, o cientista crê em algo que o cotidiano não
oferece uma ordem desconhecida, vai à busca disso.
Parafraseando Alfred Schuts: “Assim, podemos dizer corretamente que nossa atitude
natural para com o mundo é governada por um motivo pragmático.” Fala em relação ao
senso comum ser marcado por um motivo prático, para sobreviver temos a necessidade
de uma série de atos.