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27/11/07
“O que esse filósofo, que não pratica esportes, tem a dizer?”, brincou o bem-
humorado Manuel Sérgio, professor licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de
Lisboa, referência em educação em Portugal, que reforçou a importância de se fomentar o
estudo da Motricidade Humana e, principalmente, de humanizar os cursos de Educação
Física. “Esporte não é apenas correr e pular. É preciso passar do físico ao humano. O
esporte é, sobretudo, a expressão corporal do desenvolvimento social de um povo”. Autor
de 37 livros, ex-deputado, ex-presidente do Belenenses, clube da primeira divisão de
Portugal, Manuel Sérgio falou de sua antiga amizade com o português José Mourinho, ex-
treinador do Chelsea da Inglaterra e uma das personalidades mais importantes do esporte
europeu. “Há 26 anos, quando o Mourinho era meu aluno, ele quis saber de mim o que
era preciso para ser um grande técnico de futebol. Eu disse apenas uma frase, que,
segundo ele próprio, mudou sua forma de enxergar o esporte: ‘Estude Ciências
Humanas’”.
“O esporte é uma das mais ricas manifestações da vida que eu conheço. Contém
todas as virtudes e todos os pecados da cultura humana, dos mais sublimes aos mais
subalternos”. Wanderley também defendeu a tese de que o esporte espetáculo visto por
estudiosos como uma espécie de vilão da educação esportiva, pode ser um instrumento
estimulador importante. “O esporte espetáculo não é culpado pela péssima política
educacional do país. Ele é, sim, um aliado, um fator motivador. Não são todos os atletas
que chegam ao topo, mas é preciso usar esse topo para atrair novos atletas”, afirmou.
Para aqueles que não acham possível aliar o esporte de alta competição com a
arte, uma velha discussão que permeia o futebol brasileiro, Jorge Dorfman, doutor em
Psicologia Social pela USP, abriu sua palestra exibindo um vídeo de Mané Garrincha e de
Fred Astaire, para ele, exemplos máximos de que o “esporte e arte nasceram juntos e que
são promotores da alegria e da busca da auto-estima”. Para Jorge, o esporte pode ser
nocivo ou maravilhoso. “Para ser maravilhoso, um promotor de alegria e de busca da
auto-estima é necessário que o educador conheça a fundo as técnicas humanizadoras e
não apenas as aprisionadoras”.
O case apresentado pelo professor Caio Martins Costa, graduado em Educação Física
pela USP, coordenador em formação continuada do Instituto Esporte & Educação,
também apontou, assim como no caso dos dois palestrantes, para a necessidade urgente
de se mudar a mentalidade tecnicista do ensino de Educação Física no Brasil e relacionar
teoria com prática a partir de uma concepção sócio-construtivista. Destacou que,
sobretudo, é necessário formar o aluno a partir de uma leitura crítica do mundo do
contexto educacional global das condições locais. “Os professores foram instruídos na
perspectiva do ensino e muito pouco do aprendizado. Para ensinar além do esporte, é
importante formar o professor para atuar a partir das respostas dos alunos, atuando como
agente transversal na comunidade”, reforçou Caio.
“Nós, do Instituto Ayrton Senna, temos também a nossa máxima: “Avaliar não é
fiscalizar”. Cléo apresentou números do PEE, o Programa Educação pelo Esporte,
desenvolvido pelo Instituto a partir de 1996, em parceria com universidades. No
programa, professores universitários da área de Educação Física trabalham apoiados por
uma equipe de sub-coordenadores de outras áreas. “No PEE, o índice de aprovação
escolar é de 92%, contra 74% da média nacional. E, o mais importante: nenhuma criança
ou adolescente abandonou a escola em que o programa foi estabelecido. A média
nacional de abandono é de 5,4%”.