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Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Curso: Psicologia

Disciplina: Processos Psicológicos Básicos: Aprendizagem

Investigação Experimental: As conseqüências daquilo que

dizemos podem alterar o modo que falamos?

Egnaldo Alves Barreto

Débora Castro

Santo Antonio de Jesus – Bahia

Novembro – 2009
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Centro de Ciências da Saúde

Curso: Psicologia

Disciplina: Processos Psicológicos Básicos I: Aprendizagem

Professora: Maria Goretti da F. Cavalcante Pontes

Investigação Experimental: As conseqüências daquilo que

dizemos podem alterar o modo que falamos?

Egnaldo Alves Barreto

Débora Castro

Santo Antonio de Jesus – Bahia

Novembro – 2009
Resumo

O presente trabalho é uma investigação para tentar responder à questão: As


conseqüências daquilo que dizemos podem alterar como falamos? Dessa forma foi
selecionado aleatoriamente um aluno de graduação de qualquer área para
participar do experimento (com exceção a psicologia), o participante deveria
responder a 80 cartões contendo verbos formulando uma frase que tivesse no inicio
um pronome do caso reto. O experimento estava dividido em duas fases, a primeira
uma linha de base que possuía 20 tentativas e que nenhuma delas, independente
da resposta seria reforçada, e uma segunda fase, que tinha 60 tentativas para a
aquisição do comportamento verbal, na qual o participante receberia um reforço
social como, por exemplo, um muito bom, assim mesmo, etc. cada vez que
formulasse uma frase que tivesse no inicio o pronome selecionado (nós).
Observamos que após a linha de base a freqüência de respostas para os pronomes
mudaram e que o pronome que estava sendo contingenciado com reforços sociais
passou a ser mais freqüente. Podemos constatar que o comportamento verbal do
participante mudou em função das contingências de reforço social empregadas.

Palavras chaves: Comportamento verbal; Reforço social; Esquemas de reforço


Sumário

Resumo_____________________________________________________ i

Sumario_____________________________________________________ ii

Introdução___________________________________________________ 05

Método _____________________________________________________ 08

Resultados__________________________________________________ 12

Discussão___________________________________________________ 18

Referências Bibliográficas______________________________________ 20

Anexos_____________________________________________________ 21
Introdução

A linguagem desempenha um papel fundamental para toda a humanidade, ela é

essencial para a expressão do comportamento verbal. Através dela podemos

demonstrar diversos comportamentos, dentro dessa lógica, a Psicologia, e em

especial a Analise Experimental do Comportamento compreendendo o quanto o

homem necessita da linguagem para sustentar sua cultura, e a partir da publicação

de Verbal Behavior (Skinner, 1957) estabelece um quadro teórico e metodológico

inovador para o estudo do comportamento verbal, buscando identificar os aspectos

do ambiente físico e cultural determinam as relações funcionais entre o ambiente e

o comportamento (Matos e Tomanari, 2002). A partir de então, foram

desencadeadas uma série de pesquisas relativas ao comportamento verbal, uma

parte delas tendo como objetivo demonstrar que este era susceptível de alterações

em função de conseqüências. Nessas pesquisas era usada a conseqüência

diferencial, que consistia em alguma forma de interação social sinalizadora de

aprovação, tais como, um sorriso, um hum-hum ou um aceno com a cabeça (Matos

e Tomanari, 2002).

Os resultados demonstravam que ocorria um aumento de freqüência com que as

expressões se repetiam, este aumento representava que os reforços empregados

pelo pesquisador eram eficazes no objetivo de mudar a forma como o entrevistado

falava. Partindo desse pressuposto a aprendizagem pode ser definida como a

aquisição de novas informações que provoca uma mudança no comportamento,

relativamente permanente, que podem ser imediatas ou ocorrer muito tempo depois

da prática, do treinamento ou da observação (CATANIA, 1998). O comportamento

pode ser definido como uma resposta do organismo ao ambiente ao qual ele está

inserido, sendo que cada resposta tem uma probabilidade de ocorrer novamente no

futuro de acordo com a contingência a qual lhe foi apresentada durante a sua
aquisição, sendo que, à medida que o organismo aprende, ele pode passar a

responder de maneiras novas (CATANIA, 1998).

A modelagem é um procedimento na qual se objetiva a geração de novas

respostas. Ela é baseada no reforço diferencial, ou seja, algumas respostas são

reforçadas, outras não. O resultado final é um novo comportamento. O reforço é

realizado nas respostas que fazem parte de uma determinada classe de

comportamento objetivada pelo experimentador. À medida que o responder se

altera, aproximando da resposta a ser modelada, mudam-se, também, os critérios

para o reforço diferencial. O que torna a modelagem efetiva é a variabilidade do

comportamento. A resposta a ser reforçada difere-se na forma, força, magnitude e

direção. Destas respostas algumas estarão mais próximas da resposta a ser

modelada do que outras (CATANIA, 1999).

A literatura mostra diferentes esquemas de apresentação de reforço (KELLER,

1973; CATANIA, 1998). Ele pode ser apresentado em esquemas de reforçamento

contínuo (CRF) e/ou em esquemas de reforçamento intermitente (KELLER, 1973).

No CRF cada resposta emitida pelo organismo é reforçada, ao passo que, no

segundo esquema, o reforço é apresentado após certa quantidade de resposta ou

tempo e observa-se maior resistência à extinção. O esquema de reforçamento

intermitente pode ser realizado de diferentes formas: intervalo fixo (IF), razão fixa

(RF), intervalo variável (IV) ou razão variável (RV). No primeiro (IF) um tempo fixo

deve ocorrer entre os reforçamentos, no segundo (RF) depende de se apresentar

um mesmo número de resposta, no terceiro (IV) o reforçamento ocorre em intervalo

de tempo variável e no último (RV) o reforçamento ocorre depois de um número

variável de resposta. A freqüência de resposta pode ser alta ou baixa, dependendo

do tipo de esquema utilizado, sendo que o esquema de razão variável produz

freqüências mais altas do que os de intervalo variável (KELLER, 1973, CATANIA,

1998). Nesse sentido, é necessário que o processo de modelagem do


comportamento seja arranjado gradativamente e em passos cada vez mais se

aproxima do comportamento final, num processo de aproximações sucessivas.

A operação básica para estabelecer tal discriminação entre duas situações consiste

em reforçar determinado operante na presença ou depois de um estímulo

discriminativo, entretanto na presença do estímulo não discriminativo não há a

liberação do reforço mediante a apresentação da resposta operante. Tal

procedimento permite ensinar o organismo a perceber “sinais” em seu ambiente a

fim de discriminar quando sua resposta será ou não reforçada. As respostas variam

inicialmente antes de qualquer procedimento de modelagem e provavelmente no

inicio da mesma. Reforçamento seletivo da resposta. Algumas respostas são

reforçadas e outras não. O reforço ocorre segundo um critério. Isso faz com que o

sujeito passe cada vez mais a responder nas condições em que obtêm reforço e

deixa de responder quando não há conseqüências reforçadas. Reforçando

pequenos progressos reduz as chances de insucesso e aumenta as probabilidades

de se alcançar o objetivo em tempo hábil.

No decorrer de nossa investigação, procuraremos verificar os efeitos de aplicar

conseqüências sociais diferenciais sobre a freqüência de emissão de uma classe

de operantes verbais, o uso de pronomes. Nossa variável independente, aquela

que vamos manipular, será a aprovação social, aplicada contingentemente a nossa

variável dependente, o uso, na formulação de frases, de um de seis pronomes do

caso reto, no nosso caso o pronome escolhido foi o “nós”. Estaremos medindo a

freqüência com que o sujeito usa cada um dos seis pronomes, especialmente

aquele sobre o qual a operação de reforçamento estiver atuando.


Método

Participante

Um estudante de universitário de qualquer curso de graduação (exceto Psicologia),

sem escolha de sexo ou idade, sem contato prévio com o experimento, foi

recrutado para o experimento através de contato pessoal. No inicio do experimento

o participante assina um termo de consentimento livre e esclarecido.

Situação experimental e equipamentos

Antes de chamar o participante para dar inicio aos trabalhos, o experimentador

deve conferir se a sala esta arrumada com duas cadeiras, mesa, folhas de

instrução, cartões com os verbos ordenados, cartão com os pronomes, lápis e

borracha. O experimento foi realizado em uma sala do Centro de Ciências da

Saúde da UFRB, com aproximadamente 50 m², agendada com antecedência, com

bom isolamento para que não haja interferências durante a aplicação, o participante

ficava sentado de frente para um experimentador que conduzia o experimento,

falando as instruções, aplicando as conseqüências diferenciais e fazendo as

correções quando necessário, enquanto outro experimentador posicionava-se ao

lado do participante (aproximadamente 2 m de distância) fazendo as anotações em

uma ficha de registro.

Serão utilizados:

1 – 1 Cartão em folha tamanho A4 para apresentação dos pronomes, com os seis

pronomes do caso reto, impressos em fonte e tamanho que facilitem sua

visualização a mais ou menos 80 cm de distancia.

2 – 80 cartões numerados com verbos no infinitivo da primeira e segunda

conjugação, verbos concretos ou abstratos (relação de verbos em anexo). Os

verbos foram arbitrariamente escolhidos entre os usados na vida cotidiana, para


que sejam de fácil compreensão do participante. Procurou-se não selecionar verbos

que pudessem induzir o participante a usar um pronome em relação a outros, e

foram eliminados os verbos irregulares ou defectivos. Também foram eliminados os

verbos que evocam situações aversivas ou constrangedoras por questões éticas.

3 – Folhas de registro (folhas de registro em anexo). A folha de registro tem

números correspondentes aos 80 verbos e espaço para registro da freqüência do

uso dos pronomes. O experimentador deverá preencher o cabeçalho, manter a

folha de registro fora da visão do participante, marcar no espaço correspondente o

pronome usado pelo participante em cada uma das 80 tentativas e anotar as

perguntas feitas no final pelo experimentador.

Treino dos experimentadores

Foram realizada 3 seções em que os experimentadores aplicavam o experimento

em outros experimentadores com a supervisão do monitor da disciplina ou da

própria professora. Após a aplicação do experimento eram sanadas as dúvidas que

por acaso aparecessem, além de ser enfatizada a postura que os experimentadores

deveriam ter frente ao participante.

Procedimento

Serão necessárias duas condições para o participante:

I – Condição de linha de base: durante esta fase não serão aplicadas as

conseqüências diferenciais ao uso de qualquer pronome.

II – Condição de reforçamento: imediatamente após a linha de base será iniciada a

fase de reforçamento. Escolheremos um pronome (previamente escolhido o nós) e

o participante será reforçado toda vez que formular uma frase com o pronome

escolhido.

Etapas do experimento de pronomes – comportamento verbal como um operante.


Instruções para o grupo A – Pronome reforçado “nós”

O experimentador deverá ler as instruções para o sujeito: O propósito deste

experimento é verificar como as pessoas constroem frases e ele não envolve

avaliação de inteligência ou de personalidade. Vou ler para você cartões contendo,

cada um, um verbo no infinitivo. Diga em voz alta uma frase que comece com um

pronome deste cartão (mostrar o cartão com os pronomes e deixar diante dele até o

fim do experimento) e que utilize o verbo em questão. Você pode usar o verbo em

qualquer tempo. Não importa que a frase seja longa ou curta, verdadeira ou falsa,

simples ou complexa. A princípio, você pode achar a tarefa difícil, mas logo

parecerá mais fácil, portanto, não desanime. Você entendeu?

Se o participante pedir mais esclarecimentos o experimentador deverá ler

novamente as instruções. Não deve ser dito nada, além disto.

Quando o sujeito fizer perguntas, ou construir frases sem pronome, ou frases sem o

verbo apresentado, o experimentador deve interrompê-lo e dizer: Lembre-se de que

você deve construir uma frase que comece com um dos pronomes deste cartão

(apontar o cartão pronomes) e que utilize o verbo em questão. Você pode usar o

verbo em qualquer tempo. Não importa que a frase seja longa ou curta, verdadeira

ou falsa, simples ou complexa.

O experimentador não fala nada do 1º ao 20º verbo após a construção das frases e

não emite nenhum sinal sonoro, facial ou de qualquer natureza para o participante.

A partir da leitura do 21º verbo, o experimentador deverá reforçar positivamente

com elogios, certo, hum-hum, muito bem, isto aí, acenar positivamente, etc.

(reforçadores sociais), toda vez que o participante iniciar a frase com o pronome

“nós”.

Registro
Se o participante não empregar qualquer pronome, se não empregar o pronome no

inicio da frase, ou não utilizar o verbo apresentado, o experimentador deve riscar,

na folha de registro, o espaço (a linha) correspondente aquela tentativa.

Se o participante errar e se corrigir, deve ser anotada a segunda resposta.

Se ele disser uma frase com um pronome e em seguida outra com outro pronome,

também se registra somente a segunda tentativa, marque com um X ao lado da

tentativa em que isso ocorrer pra ser lembrado posteriormente.

Ao final do experimento, deve-se fazer ao participante as perguntas abaixo e anotar

suas respostas no verso da folha de respostas.

1 – O que você achou do experimento?

2 – Como você construiu suas frases? Você se baseou em algum critério?

3 – O que levou você a escolher este ou aquele pronome?


Resultados

Após a aplicação do experimento, verificou-se que após a aplicação das

conseqüências diferenciais, seu comportamento foi reforçado positivamente.

Aumentando consideravelmente a freqüência com que o pronome escolhido (nós)

era utilizado na construção das frases.

Figura 1

Folha de Registro – Comportamento verbal como um operante

Nesta folha de registro é possível observar que o pronome “vós” não foi utilizado

uma única vez durante todo o experimento. O que provavelmente possa ser

justificado pelo pouco uso desse pronome na região do Recôncavo da Bahia.


Figura 2

Podemos observar também que na figura 2 o número de utilização do pronome “tu”

foi de apenas uma vez durante a linha de base e que esse pronome voltou a ser

utilizado apenas mais uma vez durante a fase de aquisição do comportamento

através conseqüências diferenciais.

Figura 3
Na figura 3 observamos que a utilização do pronome “eles” manteve uma

freqüência praticamente estável no seu aparecimento, sendo o pronome com

menor variação de freqüência.

Figura 4

No figura 4, o gráfico de freqüência acumulada da linha de base podemos observar

que o pronome “eu” é o pronome com maior freqüência de respostas, ficando a um

ponto acima do segundo pronome em número de freqüência o “ele”. Observamos

que o pronome que vamos reforçar na fase de aquisição do comportamento verbal

o “nós” teve freqüência igual ao pronome “ele”.


Figura 5

A figura 5 mostra o histograma de freqüência acumulada de respostas na linha de

base para os pronomes do caso reto.


Figura 6

Na figura 6 temos o gráfico que demonstra a utilização do pronome “nós” nas duas

fases, na fase de linha de base, e posteriormente seu visível crescimento devido ao

reforçamento utilizado.
Figura 7

Na figura 7 o gráfico demonstra a utilização dos pronomes na fase de reforçamento

após a linha de base, onde fica evidente o crescimento das respostas do pronome

“nós” enquanto os outros pronomes tiveram um decréscimo em relação ao numero

de respostas da linha de base.


Discussão

O experimento se mostrou eficiente na manipulação da variável dependente, o uso

de pronomes, na formulação de frases consequenciadas por reforços sociais.

Verifica-se que a linha de base teve uma boa distribuição de freqüência de

respostas para os pronomes eu, ele, nós, eles. Na comparação entre os números

da linha de base e a fase de aquisição do comportamento verbal podemos notar

que enquanto a freqüência de resposta dos pronomes eu, ele e lês diminuía a

freqüência de resposta para o pronome “nós” teve significativo aumento (figura 7),

provando o que se propõe o experimento.

Como já era esperado os pronomes “tu” e “vós” tiveram pouca freqüência, porque

tem utilização pouco pequena em nossa vida cotidiana. A probabilidade de que se

construam frases usando esses pronomes é muito baixa e seria até mesmo

possível que os participantes não emitissem uma única resposta com eles (o que se

verificou nas figuras 1, 2, 6 e 7), de maneira que o experimentador não pudesse

manipular sua variável experimental.

Os pronomes mais utilizados na linha de base (eu, ele, eles), foram os pronomes

que tiveram os maiores decréscimos quanto a freqüência de respostas na fase de

aquisição do comportamento verbal. Nota-se que na linha de base o pronome eu foi

o mais usado, expressando uma tendência natural do modo de falar dos habitantes

do Recôncavo da Bahia. Estas freqüências, no entanto mudaram, assim que a fase

de reforçamento teve início.

Quanto ao significado do experimento para a participante foi relato que: “No

começo achei meio sem sentido, mas no final achei que ficou interessante” (DBR).

A participante relatou que formulou as frases e utilizou os pronomes da seguinte

forma: “Achei que cada palavra representava uma coisa. As palavras que achei que

estavam no plural, ele usava o pronome nós. O verbo que era mais pessimista eu
usava o eu” (DBR). E quando foi perguntado ao participante por que ele usou este

ou aquele pronome ele respondeu que: “De acordo com o verbo eu enquadrava os

pronomes, se era algo que poderia fazer em grupo eu fazia (usava o nós) quando

era algo que poderia fazer só ou era algo pessimista eu usava o eu” (DBR).
Referencias Bibliográficas

Abreu-Rodrigues e Ribeiro. Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed,

(2005).

Banaco, R. A. Sobre Comportamentos e cognição: aspectos teóricos,

metodológicos e de formação em analise do comportamento e terapia cognitiva. 1ª

Ed. Santo André, SP: ESETEC Editores Associados, (2001).

Baum, W. M. Compreender o Behaviorismo: Ciência, comportamento e cultura.

Porto Alegre: Artmed, (1994).

Catania, A. C. Aprendizagem: Comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre:

Artmed, (1998).

Keller, F. S. Aprendizagem: Teoria do reforço. São Paulo: EPU (1973)

Matos, Maria Amélia; Tomanari, Gerson Yukio. Análise do comportamento no

laboratório didático. São Paulo: Manole, (2002)

Moreira, M. B. e Medeiros, C. A. – Princípios Básicos de Analise do

Comportamento. Porto Alegre: Artmed, (2007).

VIEIRA, S. Introdução à bioestatística. Rio de Janeiro: Editora Campus, (1981).

Whaley Malott. Princípios elementares do comportamento. São Paulo, Epu (1980).


Anexos

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