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JEAN-CHRISTOPHE MERLE
LUIZ MOREIRA
Direito e
Legitimidade
Escritos em homenagem
ao Prof. Dr. Joaquim Carlos Salgado,
por ocasião de seu Decanato como
Professor Titular de Teoria Geral e Filosofia
do Direito da Faculdade de Direito da UFMG
EDITORA
DIREITO E LEGITIMIDADE
Organizadores
Jean-Christophe Merle e Luiz Moreira
CATHERINE AUDARD • BRIAN BARRY • ANDRÉ BERTEN • ADELA CORTINA
REGENALDO DA COSTA • TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR.
ALEXANDRE TRAVESSONI GOMES • PETER HÄBERLE • JÜRGEN HABERMAS
OTFRIED HÖFFE • AXEL HONNETH • MATTHIAS KAUFMANN
WOLFGANG KERSTING • JEAN-FRANÇOIS KERVÉGAN • PETER KOLLER
ROSEMIRO PEREIRA LEAL • HENRIQUE CLÁUDIO DE LIMA VAZ
JEAN-CHRISTOPHE MERLE • LUIZ MOREIRA • EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA
PHILIP PETTIT • ULRICH K. PREUß • HENRY S. RICHARDSON
LUIZ PAULO ROUANET • JOAQUIM CARLOS SALGADO
ANTÔNIO ÁLVARES DA SILVA • QUENTIN SKINNER • CLÁUDIA TOLEDO
ANTÔNIO CARLOS WOLKMER
Tradução
Claudio Molz
Tito Lívio Cruz Romão
Capa
Camila Mesquita
Editor
Antonio Daniel Abreu
PARTE I
SOBERANIA, DIREITOS HUMANOS E LEGITIMIDADE
PARTE II
PLURALISMO CULTURAL, LEGITIMIDADE E PROCEDIMENTO
WOLFGANG KERSTING
Professor Titular de Filosofia da Universidade
de Kiel, Alemanha.
1. O problema democrático
( )
* Tradução do original em alemão: Claudio Molz; Revisão técnica da tradução:
Luiz Moreira e Cláudia Toledo.
Artigo gentilmente cedido pelo autor para o presente livro do original em
alemão Demokratie und politische Erziehung.
108 DIREITO E LEGITIMIDADE
(1)
ORTEGA Y GASSET, José, Der Aufstand der Massen [O levante das mas-
sas] (1930), Hamburg, 1956, p. 55.
WOLFGANG KERSTING 111
QUENTIN SKINNER
Professor Titular de História Moderna da
Universidade de Cambridge, Grã-Bretanha.
(*)
Tradução do original em inglês: Tito Lívio Cruz Romão; Revisão técnica da
tradução: Cláudia Toledo e Luiz Moreira.
Artigo gentilmente cedido pelo autor para o presente livro com o título origi-
nal Free states and individual liberty.
(1)
HOBBES, Thomas. Leviathan, or The Matter, Forme & Power of a Commom-
weath Ecclesiasticall and Civil, ed. Richard Tuck, revised student edn.,
Cambridge [tradução brasileira Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um
Estado Eclesiástico e Civil. Tradução de Alex Marins. São Paulo: Editora
Martin Claret, 2002] 1996, p. 149.
QUENTIN SKINNER 213
(2)
FILMER, Sir Robert. Patriarcha and Other Writings [Patriarca e outros escri-
tos], ed. Johann P. Sommerville, Cambridge, 1991, p. 275.
(3)
As duas formas mais conhecidas de retomada desta temática talvez tenham
sido empreendidas por Benjamin Constant e, na nossa era, por Isaiah Berlin.
Cf. CONSTANT, Benjamin. The Liberty of the Ancients Compared with that
of the Moderns in Political Writings [A liberdade dos antigos comparada com
a dos modernos nos escritos políticos], ed. Biancamaria Fontana, Cambridge,
1988, p. 309-328, especialmente p. 309, 316-317, e BERLIN, Isaiah. Two
Concepts of Liberty: An Inaugural Lecture delivered before the University of
Oxford on 31 October 1958 [Dois conceitos de liberdade: uma aula inaugural
feita na Universidade de Oxford em 31 de outubro de 1958], Oxford, 1958,
especialmente p. 39-47.
(4)
Vide, por exemplo, SCOTT, Jonathan. “The Rapture of Motion: James
Harrington’s Republicanism” [O arrebatamento da proposta: o republicanismo
de James Harrington]. Political Discourse in Early Modern Britain [Discurso
político na nascente Grã-Bretanha moderna], ed. Nicholas Phillipson and
Quentin Skinner, Cambridge, 1993, nota à p. 152.
(5)
SALLUST. Bellum. Catilinae in Sallust, tradução e edição J. C. Rolfe, London,
1931, p. 1-128, especialmente, 6.7, p. 12.
QUENTIN SKINNER 215
(11)
SALLUST. Bellum Catilinae in Sallust, 11.4, p. 18-20.
(12)
HARRINGTON, James. The Commonwealth of Oceana and A System of
Politics, p. 44.
(13)
MACHIAVELLI, Nicollò. Il principi e Discorsi sopra la prima deca di Tito
Lívio, 1.16, p. 174.
(14)
MACHIAVELLI, Nicollò. Il principi e Discorsi sopra la prima deca di Tito
Lívio, 11.2, p. 284.
216 DIREITO E LEGITIMIDADE
deve-se a que suas leis são “formuladas por todo indivíduo” a fim de
“proteger a liberdade de todo indivíduo, o que, dessa maneira, vem a
consistir na liberdade do Estado”.15 Milton termina seu Readie and Easie
Way com uma retumbante reafirmação do mesmo sentimento. Além de
nossa liberdade de religião, “a outra parte de nossa liberdade consiste
nos direitos de cidadão e progressos de cada indivíduo”, e é indubitável
que “a fruição destes nunca [é] mais segura, e o acesso a eles, nunca
mais aberto, do que num Estado”.16
Nesse sentido, estes autores estão comprometidos com uma conclu-
são primordial: somente é possível usufruir integralmente da liberdade
individual, caso se viva como cidadão de um Estado livre. Seja como
for, como nos vem lembrar Hobbes, isto está longe de ser uma inferência
óbvia e, ao que tudo indica, parece menos consistente que um ilusionis-
mo verbal. Agora necessitamos, portanto, considerar que evidência os
autores neo-romanos apresentam para apoiar sua conclusão e como se
defendem da sempre repetida acusação feita por Hobbes.
Para acompanharmos sua argumentação, é necessário, de início,
voltarmos à analogia que fazem entre corpos políticos e corpos natu-
rais. Segundo os autores, o significado de possuir ou de perder sua liber-
dade deverá ser o mesmo tanto para um cidadão quanto para uma comu-
nidade livre de Estados ou um Estado livre. Conseqüentemente, argu-
mentam que, para indivíduos como para Estados, sempre haverá dois
caminhos distintos, através dos quais a liberdade poderá ser perdida ou
minada. Em primeiro lugar, o indivíduo será privado de sua liberdade,
caso o poder do Estado (ou de seus concidadãos) seja usado para forçá-
lo ou coagi-lo a praticar (ou deixar de praticar) alguma ação que não
seja nem imposta nem proibida por lei. Recorrendo ao exemplo mais
óbvio: caso o poder político esteja nas mãos de um governante tirânico,
e caso o tirano em questão empregue seu poder para ameaçar ou inter-
ferir na vida dos indivíduos, a liberdade ou as propriedades destes, bem
como sua liberdade enquanto cidadãos, estarão minados até este ponto.
Por esse motivo, a recusa de John Hampden em pagar o imposto ship
money* no ano de 1635 sempre ocupou um grande espaço nas explica-
ções oferecidas por estes autores sobre a eclosão da guerra civil ingle-
(15)
HARRINGTON, James. The Commonwealth of Oceana and A System of
Politics, p. 20.
(16)
MILTON, John. “The Readie and Easie Way to Establish a Free
Commonwealth” Complete Prose Works of John Milton [Trabalhos comple-
tos de John Milton], vol. VII, ed. Robert W. Ayers, revised edn., New Haven,
Conn, 1980, p. 458.
(*)
Nota do tradutor: o “ship money” era um imposto pago apenas pelas cidades
portuárias para a defesa da marinha real, que Carlos I (1625/1642) estendeu
às demais regiões do país.
IGUALDADE COMPLEXA E IGUALDADE
DE RENDA NO BRASIL
1. Igualdade complexa
(1)
WALZER, Michael. Spheres of justice [Esferas da justiça]. New York: Basic
Books, 1983, p. 19.
386 DIREITO E LEGITIMIDADE
(2)
WALZER, Michael. On toleration. New Haven/London: Yale University Press,
1997, p. 5 [edição brasileira: WALZER, Michael. Da tolerância. Trad. Almiro
Pisetta. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 8].
(3)
MILLER, David; WALZER, Michael (eds.). Pluralism, justice, and equality
[Pluralismo, justiça e igualdade], Oxford: Oxford University Press, 1995, p.
216.
(4)
Sobre os dados sobre a desigualdade no Brasil, ver BARROS, Ricardo P. de;
HENRIQUES, Ricardo; MENDONÇA, Rosane. “Desigualdade e pobreza no
Brasil: retrato de uma estabilidade inaceitável”. Revista Brasileira de Ciên-
cias Sociais, vol. 15, n. 42, p. 123-142.
(5)
MILLER, David; WALZER, Michael (eds.). Pluralism, justice, and equality
[Pluralismo, justiça e igualdade], p. 214.