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Desde criança tive o meu pai como referência de vida. Ele era o meu herói, o
meu professor e o meu amigo de brincadeiras.
Apesar da tenra idade, eu apercebia-me de que a vida não era fácil; tanto o
meu pai trabalhava e se esforçava para não faltar o básico em casa.
Muito do que eu sou, devo aos meus pais, mas o modelo sempre foi o meu
pai, que sempre foi um bom contador de histórias. Muitas vezes descobria
contos clássicos e reinventava o final, para parecer sempre que era uma
história nova.
Que saudade dos tempos em que eu sabia que o meu pai ia chegar do
trabalho e eu, na minha ânsia, perguntava à minha mãe quando é que ele
chegaria.
Das brincadeiras, às lições de vida, o meu pai sempre foi muito receptivo às
minhas perguntas e, quando não sabia responder, dizia: “vou descobrir e
depois eu explico-te”. Poderia demorar semanas, já que naquela época, não
tínhamos a tecnologia tão imediatista que temos hoje. Era preciso ir à biblioteca
pública e ter sorte para encontrar algo sobre o referido assunto.
Por vezes, eu até já me tinha esquecido da pergunta, mas o meu pai lá estava
para me relembrar.
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pai sorria e dizia-me: “Só nas bandeiras.”. E eu ria-me também, pois via o meu
pai feliz ao sorrir.
O meu pai trabalhava à noite, o que era muito desgastante, mas era através
deste emprego que se fazia o sustento do nosso lar. Apesar de ser uma casa
simples, vivíamos com o necessário. Mas tínhamos um lar e éramos muito
felizes com o que tínhamos.
Certo dia, eu vi o meu pai fazer montes com notas e perguntei-lhe qual era o
jogo que ele estava a fazer. Ele respondeu-me: “Filho, cada monte de notas
representa uma despesa. Ou seja: a renda da casa, a água, a electricidade,
compras e um extra para qualquer emergência que possa aparecer.” É
interessante que, à quase 40 anos atrás, o meu pai já aplicava o sistema do
tipo envelopes de despesas, tão utilizado hoje em dia.
Por volta dos meus 4/5 anos, fiquei encantado com as bandas desenhadas da
Walt Disney que o meu pai me comprava para me estimular a ler. Eu achava os
desenhos tão magníficos e os personagens tão encantadores que, sempre que
podia, pedia ao meu pai ou à minha mãe para me lerem uma história. Às
vezes, eu lia-lhes também uma história à minha maneira. Outras vezes,
memorizava uma página inteira, balão a balão, e contava-lhes.
Com o passar dos anos, o meu apetite pela leitura foi aumentando e, em
contra-partida, as minhas responsabilidades também. Não que isso fosse um
problema, pois eu já ajudava em algumas tarefas de casa.
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céus abriram-se. A maioria gostava de ler Walt Disney. Eu estava na fase dos
super-heróis.
Mas a escola foi, e é ainda para mim, um lar onde podemos aprender,
conviver e brincar. Pena é que a maioria desperdiça essa oportunidade.
O meu pai, para evitar problemas, começou a ter mais atenção com as
minhas companhias e com o vocabulário que utilizava. Felizmente, toda a má
tendência foi suprimida.
O tempo foi passando e, com isso, comecei a olhar para os meus pais e via
que eles já não possuíam respostas para as minhas dúvidas e para as
mudanças do meu comportamento, principalmente, na adolescência, uma fase
de acnes e de alterações de comportamento.
Aproveitei o hábito que já tinha adquirido há muito tempo para transpor esta
fase, ou seja, ler.
Às vezes, a minha mãe nem sabia que eu estava em casa, devido ao facto de
estar quieto no sofá, a ler.
Certo dia, o meu pai chamou-me para irmos dar uma volta. Eu estava
acostumado a conversar com ele e achei normal. Com muita naturalidade, o
meu pai disse-me como me estimava como filho e deu-me alguns conselhos
para eu reflectir sobre a sua importância na minha vida:
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1. Respeitar os outros para ser respeitado;
Claro que o meu pai, dentro das suas capacidades, sempre foi muito sábio,
devido ao que passou na vida, desde a tenra idade. Ele sempre me disse: “É
com as dificuldades que nós avançamos.”
Por isso, ele viu com bons olhos, quando eu lhe disse que iria à tropa. O meu
pai, que já tinha estado na guerra do ultramar, sempre disse: “a tropa nos torna
mais homens.”.
Foi um ano em que passei por muito. Sempre que podia, estava com os meus
pais, pois a facilidade e os miminhos tinham acabado.
Foi duro, mas valeu a pena. E para orgulho do meu pai, eu também tive, como
ele, o diploma de honra e mérito.
Depois de sair da tropa, fui trabalhar, para ajudar nas despesas familiares e
ganhar alguma independência.
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Mas eu disse: “ os senhores cuidaram de mim quando eu era fraco e indefeso,
agora é a minha vez de cuidar de vocês.”.
Não foi fácil, nem para mim, nem para a auto-estima do meu pai.
Felizmente, os meus pais ainda estão vivos e ainda tomo conta deles. E digo-
lhes sempre: “se sou o homem que sou hoje, devo-lhes quase tudo.”.
Fim