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PARTE II Nos anos de 1911 e 1914, novas tentativas de instituir Caixas de Assistência, em benefício dos
projetos de lei foram feitas no sentido de separar a profissionais nela inscritos.
DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL Ordem do Instituto dos Advogados, sem resultado. A OAB foi referida expressamente na Consti-
Em 16 de abril de 1914, o presidente do Instituto, tuição Federal de 1946, pela primeira vez, determi-
BREVE HISTÓRICO DA OAB Alfredo Pinto Vieira, que muito trabalhou para a nando sua participação nos concursos públicos para
implantação da Ordem, pronunciou discurso em ingresso na Magistratura.
A OAB foi criada legalmente em 18 de novem- que afirmava preferir criar no Brasil uma instituição No dia 11 de agosto de 1956, o presidente da
bro de 1930, por força do art. 17 do Decreto n. distante dos modelos europeus, “toda nossa, sem República Juscelino Kubitschek de Oliveira assinou,
19.408 dessa data. Passaremos em seguida a indicar, privilégios hierárquicos, nem subordinações que no recinto da Ordem e perante o Conselho Federal, e
em breve cronologia, os momentos marcantes de afetem a nossa independência”. ao término do mandato do Presidente Miguel Sea-
seus antecedentes e as transformações por que pas- No dia 18 de novembro de 1930, finalmente, bra Fagundes, a mensagem ao Congresso Nacional
sou. Para um estudo mais aprofundado das origens deu–se a criação legal da Ordem dos Advogados do encaminhando sem qualquer alteração o projeto do
e vida da OAB, particularmente em suas primeiras Brasil, em virtude da inserção do art. 17 no Decreto novo Estatuto da OAB. A comissão que o redigiu foi
décadas, recomendamos a leitura das obras de n. 19.408 do Governo Provisório, que teve força de composta de Nehemias Gueiros, relator, Themisto-
Nehemias Gueiros (A advocacia e o seu Estatuto), lei, assim dispondo: “Art. 17. Fica criada a Ordem cles Marcondes Ferreira, Alberto Barreto de Melo,
João Gualberto de Oliveira (História dos órgãos de dos Advogados Brasileiros, órgão de disciplina e se- C. B. Aragão Bozano, J. M. Mac Dowell da Costa e C.
classe dos advoga-dos) e Alberto Venâncio Filho leção dos advogados, que se regerá pelos estatutos A. Dunshee de Abranches, e o anteprojeto foi apro-
(Notícia histórica da Ordem dos Advogados do Bra- que forem votados pelo Instituto da Ordem dos Ad- vado pelo Conselho Federal no dia 8 de maio desse
sil. vogados Brasileiros, com a colaboração dos Institu- ano. Acompanhou o projeto, no Congresso Nacio-
Na tradição francesa, a palavra Ordem, que foi tos da Ordem dos Estados e aprovados pelo Gover- nal, o Conselheiro Nehemias Gueiros. Na Câmara
adotada na denominação da entidade brasileira, vin- no”. Destinava–se a ser o órgão de disciplina e sele- dos Deputados, foi relatado pelo Deputado Milton
cula–se à organização medieval, como conjunto es- ção da classe dos advogados. O diploma legal não ti- Campos, e no Senado Federal, pelo Senador Aloysio
tatutário que ordena um modo de vida reconhecido nha essa finalidade, mas a de reorganização da Corte de Carvalho Filho.
pela Igreja, semelhante à ardo Clericorum ou às or- de Apelação do Distrito Federal. A inserção deveu– No período de 4 a 11 de agosto de 1958 reali-
dens de cavalaria. O advogado era o cavaleiro em se ao autor do anteprojeto, André de Faria Pereira, zou–se a 1ª Conferência Nacional da OAB, no Rio
leis, assimilável aos cavaleiros militares que iam ao com o apoio do Ministro da Justiça Osvaldo Aranha. de Janeiro.
combate para defender os pobres e humildes. A O instituto desdobrou–se em duas entidades: a Or- No dia 27 de abril de 1963 foi sancionada a Lei
Constituição revolucionária e liberal francesa de 3 dem dos Advogados do Brasil e o Instituto dos Ad- n. 4.215 (o segundo Estatuto) pelo Presidente João
de setembro de 1791, em seu preâmbulo, afirmou a vogados Brasileiros, este (e seus filiados) com finali- Goulart, com um único veto. A lei entrou em vigor
extinção de todas as corporações profissionais, de dade de promoção da cultura e ciência do direito en- no dia 10 de junho desse mesmo ano, passando a
artes e ofícios; porém, a tradição foi mais forte e per- tre os advogados. OAB, durante toda a década de sessenta, a promover
maneceu a denominação Ordem, distante de sua Em 14 de dezembro de 1931 foi aprovado o Re- sua implantação e a atuar institucionalmente, em
função originária. gulamento da Ordem dos Advogados do Brasil, ado- todo o País e de modo crescente, na defesa dos direi-
No dia 11 de agosto de 1827, após decretada tando–se este nome pelo Decreto n. 20.784, cuja re- tos humanos violados pelo novo regime militar. A
pela Assembleia Geral, foi sancionada pelo Impera- dação deve–se a Levi Fernandes Carneiro, primeiro lei sofreu várias alterações advindas das Leis n.
dor D. Pedro I a lei que criou os dois primeiros cur- presidente da entidade, com vigência diferida pelo 5.390/68, 5.681/71, 5.842/72, 5.960/73, 6.743/79,
sos jurídicos no Brasil, um em São Paulo e outro em Decreto n. 22.266, de 28 de dezembro de 1932, para 6.884/80, 6.994/82 e do Decreto–Lei n. 505/69.
Olinda, que poderiam conferir os graus de bacharel 31 de março de 1933. O modelo adotado foi o do Em 1972, os presidentes dos Conselhos Seccio-
e doutor. A lei mandou aplicar os Estatutos do Vis- Barreau de Paris, tanto para a organização da enti- nais formalizaram o compromisso de lutar pela pre-
conde de Cachoeira e a sua data se popularizou dade como para o paradigma liberal da profissão de servação dos direitos humanos maculados pelo regi-
como o dia brasileiro da justiça e das profissões jurí- advoga-do. me militar.
dicas em geral. O Regulamento da OAB foi consolidado pelo Em 1980 comemorou a OAB seu cinqüentená-
No dia 7 de agosto de 1843, fundou–se o Insti- Decreto n. 22.478, de 20 de fevereiro de 1933. No rio. No dia 27 de agosto de 1980, uma bomba conti-
tuto da Ordem dos Advogados Brasileiros, associa- dia 6 de março de 1933, às 14 horas, na sede do Ins- da em envelope endereçado ao presidente do Conse-
ção civil com a finalidade de congregar os profissio- tituto dos Advogados, o Conselho Federal da OAB lho Federal da OAB matou a diretora da secretaria,
nais da advocacia, com vistas à criação da Ordem foi instalado sob a presidência de Levi Carneiro, que D. Lyda Monteiro da Silva. Aprofundou–se o envo-
dos Advogados. O Estatuto da associação foi aprova- tinha sido escolhido presidente provisório em 18 de lvimento da entidade pela restauração do Estado de
do pelo Imperador D. Pedro II, nessa data, por Avi- janeiro de 1932. O Regulamento passou por várias Direito e pela anistia aos presos políticos, escolhen-
so firmado pelo Ministro de Estado da Justiça, Ho- reformas, consubstanciadas no Decreto n. 24.631, do–se a liberdade como tema da Conferência Nacio-
nório Hermeto Carneiro Leão, estabelecendo seu de 9 de julho de 1934; Lei n. 510, de 22 de setembro nal realizada nos dias 18 a 22 de maio, em Manaus.
art. 2º: “O fim do Instituto é organizar a Ordem dos de 1937; Decretos n. 24.185, de 30 de abril de 1940; Dando seqüência a sua luta constante, de mais de
Advogados, em proveito geral da ciência da juris- 2.407, de 15 de julho de 1940; 3.036, de 19 de feve- duas décadas em defesa dos direitos humanos e pela
prudência”. Há uma dúvida quanto à denominação; reiro de 1941; 4.803, de 6 de outubro de 1942; restauração da democracia no País, a OAB organi-
a portaria imperial refere–se a Instituto dos Advo- 5.410, de 15 de abril de 1943; 7.359, de 6 de março zou Congressos Pré–Constituintes, em 1985, para
gados Brasileiros, mas a ata de instalação diz que ela de 1945; 8.403, de 20 de dezembro de 1945; Leis n. elaborar propostas de uma nova Constituição.
foi expedida a favor do Instituto da Ordem dos Ad- 690, de 30 de abril de 1949, e 1.183, de 28 de agosto Em 1986, o Conselho Federal da OAB transfe-
vogados Brasileiros, tendo prevalecido esse nome de 1950. O Regulamento, com tais modificações, vi- riu–se definitivamente para Brasília, cum-prindo–
nos estatutos da entidade. No dia 7 de setembro des- geu até a entrada em vigor da Lei n. 4.215/63. se a promessa contida no Estatuto de 1963 (art.
se ano, elegeu–se a primeira diretoria, tendo como Em 25 de julho de 1934, o Conselho Federal da 157).
presidente Francisco Gê Acaiaba de Montezuma, OAB aprovou o Código de Ética Profissional, en-
que exerceu o cargo até 1851. trando em vigor em 15 de novembro do mesmo HISTÓRICO DO ATUAL ESTATUTO
Ainda no Império, no dia 20 de agosto de 1880, ano. O cadastro geral dos advogados apontou a exis-
foi apresentado ao Legislativo da Corte o Projeto de tência de 8.161 inscritos na OAB, em todo o País. A história do atual Estatuto começou em 14 de
Lei n. 95, criando a Ordem dos Advogados do Brasil. O Decreto–Lei n. 4.563, de 11 de agosto de junho de 1988, com a Portaria n. 41/88 do Presiden-
1942, autorizou a Ordem dos Advogados do Brasil a te Márcio Thomaz Bastos (SP), que designou nove
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conselheiros e advogados [Newton José de Sisti A Lei n. 11.179, de 22 de setembro de 2005, in- lece a afirmação corrente de que nem tudo o que é
(PR), Salvador Pompeu de Barros Filho (MT), Celso troduziu a primeira alteração ao Estatuto de 1994, público é estatal.
Medeiros (RJ), Milton Augusto de Brito Nobre modificando os critérios para eleição da Diretoria A defesa da classe dos advogados, dos direi-tos
(PA), Paulo Luiz Netto Lôbo (AL), Reginaldo Santos do Conselho Federal da OAB. humanos, da justiça social e do Estado Democrático
Furtado (PI), Sérgio Ferraz (RJ), Urbano Vitalino de de Direito, encartada nas finalidades da OAB previs-
MeIo Filho (PE), Sérgio Sérvulo da Cunha (SP)] NATUREZA JURÍDICA E INDEPENDÊNCIA tas no art. 44 do Estatuto, supõe o virtual conflito
para pensarem a reforma do anterior Estatuto, re- DA OAB com o Poder Público. Se este impede, dificulta ou
sultando em anteprojeto preliminar. Esse trabalho viola o exercício da advocacia, ou se malfere ou con-
foi retomado pelo Presidente Ophir Filgueiras Ca- O Estatuto estabelece que a OAB é serviço pú- traria os valores pelos quais deve ela pugnar, o con-
valcante (PA), mediante a Portaria n. 2/91, que desi- blico, sem vínculo funcional ou hierárquico com ór- fronto é inevitável e o conflito de interesses se insta-
gnou os ex–presidentes Hermann Assis Baeta (RJ) e gãos da Administração Pública. Sua independência la.
Márcio Thomaz Bastos e o conselheiro federal Paulo só encontra limite na subordinação à lei. Como será possível que uma “autarquia”, um
Luiz Netto Lôbo (AL), este como relator, para com- Ao Estado põem–se duas alternativas: ou se ente concebido como longa manus do Estado, possa
porem a comissão específica. Nessa ocasião, trami- ocupa diretamente\ da regulamentação e da tutela perseguir interesses a ele opostos, estranhos (defesa
tavam no Congresso N acional124 projetos de lei al- da profissão de advogado, como foi no passado, an- dos advogados) ou conflituosos?
terando o Estatuto anterior (Lei n. 4.215/63), o que tes da criação da OAB, ou confia aos próprios inte- O Estado Moderno não apenas se vale de enti-
demons-trava a superação de suas finalidades. ressados a disciplina e defesa da sua profissão, dele- dades dele desmembradas (Administração descen-
No dia 13 de maio de 1991, na primeira sessão gando–lhes os poderes necessários, como ocorreu a tralizada e indireta), sob sua tutela ou controle.
ordinária seguinte à posse do Presidente Marcello partir do Regulamento de 1931. Também reconhece competência para o exercício de
Lavenere Machado (AL), o Conselho Federal apro- Na vigência do Estatuto anterior (Lei n. funções públicas a entidades que não o integram,
vou regimento interno dos trabalhos de elaboração 4.215/63) reinou a controvérsia sobre o regime jurí- atribuindo–lhes poderes que seriam originalmente
de novo Estatuto, não mais de reforma do anterior, dico da OAB, especialmente porque a lei não era cla- seus, como ocorre com o poder incontrastado da
declarando–se em sessão permanente e elegendo ra, traduzindo em ambiguidade hermenêutica as OAB de selecionar, fiscalizar e punir advogados.
uma Comissão de Sistematização, composta dos dúvidas ou vacilações dos que o elaboraram. O art. 1 Não se trata de um novo corporativismo, nos mol-
Conselheiros Federais Paulo Luiz Netto Lôbo (AL) º considerava a OAB “órgão” indeterminado; o art. des medievais das guildas e corporações de ofício,
(presidente e relator), Júlio Cardella (SP), Eli Alves 139 dizia que ela constituía “serviço público”, não se mas delimitação de autotutela jurídica a entidades
Forte (GO), Jayme Paz da Silva (RS) e Elide Rigon lhe aplicando as disposições legais referentes às au- organizadas, para exercício de determinados servi-
(MS). A Comissão, após análise de aproxi-mada- tarquias. De maneira geral, a doutrina atribuía à ços públicos.
mente 700 propostas de emendas ao texto prelimi- OAB a qualidade de “autarquia especial” de contor- As finalidades da OAB são indissociáveis da ati-
nar por ela própria elaborado, submeteu a redação nos imprecisos. A maioria dos autores afirmava sua vidade de advocacia, que se caracteriza pela absoluta
final às sessões do Conselho Federal durante os me- independência em face do Poder Público; outros, independência, inclusive diante dos Poderes Públi-
ses de março e abril de 1992, que o aprovou com al- contudo, vinculavam–na à Administração Pública. cos constituídos. Se o advogado é necessário à admi-
terações em 17 de abril desse ano. O texto aprovado Quando o Poder Executivo intentou vincular a nistração da justiça, então não pode estar subordi-
foi submetido à revisão gramatical do filólogo Antô- OAB, na década de setenta, ao Ministério do Traba- nado a qualquer poder, inclusive o Judiciário. A
nio Houaiss. No dia 28 de maio de 1992, as lide- lho, e o Tribunal de Contas da União pretendeu con- OAB ou a advocacia dependente, vinculada ou su-
ranças dos advogados, de várias regiões do País, jun- trolar os recursos financeiros da entidade, houve a bordinada, resulta na negação de suas próprias fina-
tamente com o Conselho Federal da OAB, sob a Pre- manifestação quase uníssona dos publicistas ressal- lidades.
sidência de José Roberto Batochio (SP), acompa- tando as peculiaridades da OAB e sua independên- A Constituição prevê várias hipóteses de exercí-
nharam a entrega do Projeto de Lei n. 2.938/92, pelo cia. Idêntica orientação adotaram os tribunais supe- cio de serviços públicos por pessoas e entidades pri-
Deputado Ulisses Guimarães, que o subscreveu ao riores e a própria Consultoria–Geral da República vadas, como ocorre com o regime de concessão ou
lado de aproximadamente setenta deputados. Na (parecer do Consultor–Geral Rafael Mayer, PR– permissão públicas (art. 175) ou de serviços nota-
Câmara dos Deputados, foi relator o Deputado Nel- 3974/74–01l/C/75, aprovado pelo Presidente da Re- riais (art. 236). O Estado às vezes comete a pessoas
son Jobim (RS), durante os dois anos de tramitação, pública, DOU, 14 fev. 1978). Em 19 de novembro de jurídicas de direito privado, a ele vinculadas, ativi-
tendo acolhido 43 emendas ao texto, que foi aprova- 2003, o plenário do Tribunal de Contas da União dade típica de polícia administrativa, dispensando o
do na Comissão de Constituição e Justiça no dia 10 decidiu que a OAB não se submete ao regime das tipo autárquico. Portanto, não basta a execução de
de março de 1994, sob a presidência do Deputado autarquias públicas, mantendo, assim, sua imunida- serviços públicos para concretizar o tipo autarquia,
José Thomaz Nonô (AL). O Senado Federal manteve de à fiscalização do tribunal, uma vez que desde mesmo que especial ou sui generis.
o texto da Câmara, aprovando 12 emendas de reda- 1952 o Tribunal Federal de Recursos decidiu que a Se a OAB apenas exercesse serviço público esta-
ção propostas pelo relatar Senador Ivan Saraiva entidade não precisava prestar contas ao TCU. tal típico, poder–se–ia cogitar de jus singulare, por-
(GO), em maio de 1994. O Estatuto põe cobro à divergência ao prescre- que seria tutelada por norma posta contra tenorem
Em 4 de julho de 1994, o Presidente da Repú- ver explicitamente que a OAB não mantém qual- rationis, na peculiar formulação do Digesto. Ou seja,
blica Itamar Franco sancionou o projeto, sem qual- quer vínculo com a Administração Pública. A OAB se tivesse natureza ampla de autarquia, seria sui ge-
quer veto, convertendo–o na Lei n. 8.906, perante possui funções constitucionais próprias, relativa- neris ou independente, estando desligada ou desvin-
os membros do Conselho Federal, os Presidentes mente ao controle da constitucionalidade das leis, à culada da Administração Pública. Mas não é o caso,
dos Conselhos Seccionais e representações dos ad- defesa da Constituição, à participação na composi- porque as finalidades da OAB são muito mais am-
vogados de todo o País, no Palácio do Planalto. A lei ção dos tribunais, à participação nos concursos pú- plas e extra–estatais.
(o terceiro e atual Estatuto) foi publicada no dia 5 de blicos da magistratura. A evolução do direito conduz–nos a rejeitar o
julho, entrando em vigor nessa data. No dia 16 de Qual, no entanto, o sentido de serviço público elastério que se pretendeu atribuir ao conceito de
novembro foi publicado, no Diário da Justiça da que desempenha? autarquia, que já abrangeu, historicamente, até ati-
União, o Regulamento Geral do Estatuto da Advoca- Serviço público não significa necessariamente vidades econômicas. A Constituição brasileira de
cia e da OAB, aprovado pelo Conselho Federal, con- serviço estatal, este assim entendido como atividade 1988 cindiu as atividades administrativas estatais
tendo 158 artigos. E no dia 12 de março de 1995 típica exercida pela Administração Pública. Serviço descentralizadas, cometendo–as às autarquias e às
publicou–se o Código de Ética e Disciplina, aprova- público é gênero do qual o serviço estatal é espécie. fundações públicas (estas vêm sendo entendidas
do pelo Conselho Federal da OAB. A evolução dos conceitos e da experiência jurídica, como espécies do gênero autarquia, também regi
mercê da transformação do Estado Moderno, forta- das pelo direito público, a partir do leading case do
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STF – RE 101.126–RP35), das atividades econômi- damentalmente ao direito público, na realização de pel cívico imanente na sua condição profissional, fi-
cas estatais, concentradas nas empresas públicas e atividades administrativas e sancionadoras, e ao di- zeram com que o Congresso, sob a inspiração do
de economia mista, regidas pelo direito privado (art. reito privado, no desenvolvimento de suas finalida- Conselho Federal, pela elaboração de anteprojeto de
173). des institucionais e de defesa da profissão. reforma da regulamentação de 1931, alçasse a Or-
Deflui do sistema da Constituição que as pes- Considerada a natureza de serviço público não dem dos Advogados do Brasil (mediante a Lei n.
soas jurídicas de direito público são apenas os entes estatal, mas serviço público de âmbito federal, os 4.215/63) a nível que nenhuma congênere sua assu-
estatais de natureza política (União, Estados–mem- processos judiciais em que a OAB seja interessada miu nos países do nosso trato comum, e talvez em
bros, Municípios e Territórios) e os entes autárqui- sujeitam–se à competência da justiça federal (STF, qualquer país”.
cos (autarquias e fundações de direito público). Às HC 71.314–9–PI). A relação de dependência da profissão com o
demais entidades preferiu–se atribuir a personali- Poder Público e a ideologia conservadora adquirida
dade de direito privado, a exemplo dos partidos po- FINALIDADES DA OAB no convívio com os grupos dominantes da socieda-
líticos (art. 17, § 2º). de, requisitos sociais para o sucesso, distanciam o
A concepção de certos serviços públicos como A controvérsia reinante no seio da OAB, sobre advogado, enquanto tal, das preocupações político–
entidades dotadas de natureza jurídica mista (de di- suas finalidades e objetivos, confrontando aqueles institucionais. Os advogados liberais que criaram a
reito público e de direito privado) não é novidade no que postulavam a proeminência, ou quase exclusivi- OAB idealizaram uma entidade de organização es-
direito, especialmente com relação às corporações dade, dos interesses corporativos com os que pugna- tritamente profissional, de caráter corporativo e
profissionais, como a OAB. A doutrina jurídica vam pela prevalência da atuação político–institucio- apolítico. Todavia, as ditaduras do Estado Novo
francesa sublinha esse traço, conforme diz Prosper nal, perdeu o sentido com o atual Estatuto. (1937/1945) e do regime militar (1964/1985) leva-
Weil: “Alude–se a certos organismos de natureza ju- As duas finalidades são previstas explicita- ram os advogados a assumir coletivamente a defesa
rídica indeterminada, dos quais não se sabe bem se mente no art. 44, de modo harmônico, integrado, dos direitos humanos e os princípios do Estado De-
são pessoas públicas ou privadas. O exemplo mais sem supremacia de uma sobre outra. Assim, os dis- mocrático de Direito, ou seja, um papel político.
importante – mas não é o único – é o dos organis- cursos de campanha eleitoral ou as metas de traba- Sem as liberdades públicas não há liberdade para o
mos de direção da economia e das ordens profissio- lho dos dirigentes da OAB não podem propugnar exercício independente da advocacia. A Lei n.
nais, que o Conselho de Estado decidiu (Monpert, pela exclusividade ou supremacia de uma sobre a 4.215/63 já prenunciava essa dimensão, assumida
1942; Bouguen, 1943) não serem estabelecimentos outra, porque violariam a norma estatutária que não explicitamente pelo art. 44 da Lei n. 8.906/94.
públicos – sem com isso se pronunciar a favor de admite tal opção. A função da OAB não é indicar opções po-líti-
sua natureza privada –, mas estarem submetidos em A OAB engrandeceu–se, adquirindo confiabili- cas conjunturais, porque não é o Parlamento do
parte ao direito público e em parte ao direito priva- dade e prestígio populares, porque não se ateve ape- País, mas denunciar os desvirtuamentos dos parâ-
do”. nas aos interesses de economia interna, fugindo à metros do Estado Democrático de Direito, dos direi-
No mesmo sentido, Jean Rivero indica precisa- enganosa tentação da paz burocrática de seu micro- tos humanos, da justiça social, colaborando para a
mente as áreas de regência da grande dicotomia, es- cosmo. Ao mesmo tempo, desempenhou com de- melhoria das instituições, inclusive com propostas
clarecendo que o funcionamento interno das ordens senvoltura a tarefa de valorização da advocacia e do político–legislativas, tendo em mente sempre as li-
escapa ao direito administrativo, subordinando–se ingrato mister de polícia administrativa da profis- nhas estruturais da vida nacional.
ao direito privado: os seus agentes são assalariados são, evitando que o Estado fizesse o que ela própria As questões político–institucionais, além de fi-
de direito comum, os seus contratos são civis, os poderia fazer. gurarem como uma das duas finalidades gerais da
seus patrimônios são constituídos de bens privados, O que já era lugar–comum, na sua histórica OAB (art. 44), estão cometidas expressamente ao
o seu regime financeiro escapa à contabilidade pú- atuação cotidiana, na incessante busca do equilíbrio Conselho Federal (art. 54, I), ao Conselho Seccional
blica. Destacamos a seguinte passagem: “Com as or- entre os dois níveis de interesse (corporativo e insti- (art. 57) e às Subseções (art. 61, I).
dens encontramos pois o mesmo fenômeno de im- tucional), tornou–se norma legal clara no atual Es- A função política da OAB não inclui nem se
bricação do direito público no direito privado que tatuto. confunde com a política partidária, campo próprio
encontramos ao longo deste título; mas, como notou dos partidos políticos, ou com a política governa-
M. de Laubadere, contrariamente ao que se passa FINALIDADES POLÍTICO –INSTITUCIONAIS mental. As tendências partidárias de cada membro
com os estabelecimentos públicos comerciais, cuja da instituição não podem ultrapassar seus umbrais.
estrutura depende do direito público e cuja ativida- Durante as discussões do anteprojeto do Esta- O pluralismo político e o apartidarismo são impres-
de depende do direito privado, aqui o direito priva- tuto, o Conselho Federal decidiu por incluir de for- cindíveis para sua sobrevivência. A OAB não é de al-
do rege a estrutura da ordem, e o direito público o ma expressa os objetivos político institucionais en- guns, mas de todos os advogados. Sua força reside
exercício de sua missão”. tre as finalidades da OAB, e não apenas do Conselho na sabedoria em traduzir o pensamento médio da
Dario de Almeida Magalhães afirma ser a OAB Federal, como constava no art. 18, I, do anterior Es- classe.
entidade jurídica sui generis, que não se inclui nem tatuto. Foi decisivo o discurso firme e persuasivo do A atuação institucional da OAB apenas é cabí-
entre as autarquias administrativas nem entre as en- saudoso ex–presidente nacional da OAB, Miguel vel quando em jogo interesses que transcendem as
tidades exclusivamente privadas, por não gerir qual- Seabra Fagundes, que sempre evocou a trajetória da relações individuais. A defesa dos interesses de gru-
quer parcela do patrimônio público ou se manter entidade nessa direção de grandeza, civismo e gene- pos determinados de pessoas só se pode fazer pela
com dinheiros públicos. No mesmo sentido mani- rosidade. Seabra Fagundes influiu positivamente na OAB, excepcionalmente, quanto convenha à coleti-
festou–se Miguel Reale, para quem a OAB é entida- inclusão de dispositivo semelhante, no projeto da vidade como um todo.
de singular, na qual característicos públicos e priva- Lei n. 4.215/63, elaborado na época em que foi pre- Defesa da Constituição – A defesa da Constitui-
dos se coordenam e se complementam. sidente da OAB. ção inclui–se entre as finalidades político–institu-
Com efeito, as receitas da OAB, embora oriun- Lembra Seabra Fagundes, em artigo destinado cionais da OAB. Cumpre–a de dois modos:
das de contribuições obrigatórias, não são tributos ao tema, que a organização inicial da OAB, median- I – no campo político geral, pela vigilância, de-
porque não constituem receita pública, nem ingres- te o Regulamento de 1931/1933, tomou como mo- núncia e mobilização públicas, quando entender
sam no orçamento público, nem se sujeitam a con- delo o Barreau de Paris, destinando–se a ser o órgão ameaçados os princípios constitucionais, em virtude
tabilidade pública. O art. 149 da Constituição não se de seleção e disciplina da classe. “Mas, com o correr da ação ou omissão de pessoas, autoridades ou enti-
aplica à OAB. do tempo, as vicissitudes institucionais por que o dades públicas ou privadas;
Em suma, a OAB não é nem autarquia nem en- país foi passando (da reconstitucionalização em II – no campo jurisdicional, pelo ajuizamento
tidade genuinamente privada, mas serviço público 1934 ao Estado Novo), tantas vezes com ref1exo no de ação direta de inconstitucionalidade, cuja legiti-
independente, categoria sui generis, submetida fun- exercício da atividade do advogado e mesmo no pa- midade a Constituição lhe atribuiu (art. 103, VII).
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Defesa da ordem jurídica – Outra finalidade é a dável), cogitando–se agora dos de quarta geração. Com intuito de fomentar a cultura jurídica dos
defesa da ordem jurídica. Contudo, não é qualquer Novos espaços humanos surgem reclamando prote- advogados, o Conselho Federal da OAB instituiu o
ordem jurídica, mas apenas a do Estado Democráti- ção, quando os anteriores ainda não foram total- “Prêmio Evandro Lins e Silva”, mediante o Provi-
co de Direito. Os legisladores do anterior Estatuto mente satisfeitos. mento n. 100/2003, a ser concedido a advogado
não puderam antever que o Brasil, um ano após o Luta permanente pela justiça social – Em várias vencedor de concurso aberto a todos os inscritos nas
início de sua vigência, viveria mais uma fase de au- Conferências Nacionais, a OAB consolidou seu Seccionais, consistente na apresentação de trabalhos
toritarismo com quebra violenta da ordem constitu- compromisso com a promoção da justiça social, ele- jurídicos. O prêmio em dinheiro tem periodicidade
cional e instauração de um Estado autocrático (ain- vada a uma de suas finalidades explícitas. A justiça anual.
da que de direito). A atuação da Ordem foi de franca social difere das espécies aristotélicas da justiça co-
rejeição da ordem jurídica que passou a imperar, e mutativa e da justiça distributiva, porque é dotada FINALIDADES CORPORATIVAS
não de sua defesa, qualificando politicamente o que da função de suprimir ou reduzir as desigualdades SINDICATOS
estava implícito: o compromisso dos advogados é sociais ou regionais (pressupostas) e promover a so-
com o Estado Democrático de Direito, com repulsa ciedade justa e solidária. A Constituição de 1988 ele- Cabe à OAB promover com exclusividade a po-
dos demais. vou–a a objetivo fundamental da República (art. 3º) lícia administrativa da advocacia brasileira, aí com-
Defesa dos direitos humanos – O ministério da e a princípio reitor da atividade econômica (art. preendidos:
advocacia é universal em qualquer circunstância em 170). Cabe à OAB e aos advogados brasileiros con- I – a seleção dos que pretendem exercê–la, in-
que a liberdade humana e os direitos do homem es- tribuírem para essa grandiosa tarefa, na medida de clusive mediante Exame de Ordem e verificação dos
tejam em causa, concluiu o XXV Congresso da Uni- suas possibilidades. requisitos de inscrição;
ão Internacional dos Advogados reunido em Ma- Boa aplicação das leis e rápida administração II – o controle e fiscalização da atividade profis-
drid no ano de 1973. da justiça – Outra finalidade político–institucional é sional;
É na tensão dialética entre a lei formal e a con- a que toca mais proximamente ao exercício profis- III – o poder de punir as infrações disciplinares.
cretização dos direitos humanos, pressuposto da di- sional da advocacia: a luta pela boa aplicação das leis O poder de polícia administrativa da advocacia
gnidade do homem, que a advocacia se realiza como e pela rápida administração da justiça. A aplicabili- per se é exclusivo, indisponível e indelegável. Ne-
magistratura livre e de consciência. dade das leis dá–se por sua observância espontânea nhuma outra autoridade pode exercê–lo, inclusive a
A luta pelo respeito e efetivação dos direitos hu- pelos destinatários ou por aplicação mediante o Po- judiciária.
manos foi o ponto alto da atuação político–institu- der Judiciário. Cabe à Ordem promover ambas, com A exclusividade alcança também a defesa e a re-
cional da OAB em sua história. Tornou–se imperio- todos os meios disponíveis. presentação dos advogados. Contudo, tal exclusivi-
sa sua inclusão expressa entre as finalidades da enti- É portanto legítima a atuação da OAB na crítica dade não afasta a atuação concorrente dos sindica-
dade no art. 44 do Estatuto. Em 1980 e 1981, a OAB e na busca de soluções para a crise por que passa o tos de “advogados, porque violaria o princípio da li-
instituiu, em caráter permanente, as Comissões de Poder Judiciário e para as demandas crescentes por berdade de associação sindical, previsto na Consti-
Direitos Humanos no Conselho Federal e nos Con- acesso à justiça. Afinal, o advogado não é apenas in- tuição, art. 8º. Como harmonizar as duas competên-
selhos Seccionais, acatando conclusões aprovadas dispensável à administração da justiça, mas o me- cias?
na VIII Conferência Nacional da OAB de teses dos diador necessário entre o cidadão e o Estado–juiz. Compete à OAB a exclusiva representação geral
Conselheiros Victor Nunes Leal e Heráclito Fontou- Como diz Roberto Aguiar, a crise do acesso à dos advogados e a defesa das prerrogativas e direitos
ra Sobral Pinto. justiça só beneficia os poderosos, porque a lentidão da profissão, enquanto tais. Compete ao sindicato a
A defesa dos direitos humanos não se resume à do Judiciário e a eficácia policial estão a seu favor e a defesa e representação especificas dos advogados
intervenção em casos de violação consumada, mas habilidade bem paga dos advogados os garante. Para sindicalizados, no que disser respeito às questões
de promoção de todos os meios preventivos e de efe- os poderosos, crise seria agilizar os procedimentos e oriundas de relação de emprego a que se vinculem, e
tivação do exercício pelas pessoas e comunidades. A os fundamentos para garantir direitos aos despossu- somente essa hipótese. Por exemplo, no acordo ou
história dos direitos humanos confunde–se com a ídos. convenção coletiva para fixar salário mínimo profis-
do processo civilizatório e da emancipação do ho- Aperfeiçoamento da cultura e das instituições sional ou jornada de trabalho, é o sindicato, e não a
mem; foi e é traçada com sangue, suor e lágrimas, jurídicas – Finalmente, cumpre à OAB pugnar pelo OAB, a entidade que comparece com poderes legais
contra a intolerância, o abuso do poder, as desigual- aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídi- de representação dos advogados sindicalizados. Em
dades. Adverte Fabio Konder Comparato que na cas. A OAB é a instituição que mais diretamente so- contrapartida, se o advogado empregado tem vio-
Declaração Universal dos Direitos Humanos o prin- fre com a má formação profissional dos advogados, lentada sua inviolabilidade profissional, cabe à OAB
cípio da liberdade “compreende tanto a dimensão como reflexo da baixa qualidade da maioria dos cur- defendê–lo.
política como a individual. A primeira vem declara- sos jurídicos do País. A exigência do Exame de Or- Embora a OAB exerça essa função (não estatal)
da no art. 21, e a segunda, nos arts. 3º e s. Reconhe- dem constitui um poderoso instrumento para indu- de representação e defesa gerais dos advogados,
ce–se, com isso, que ambas essas dimensões da li- zir à elevação da qualidade. deve estimular que outras entidades surjam, congre-
berdade são complementares e interdependentes. A O dever da OAB não se resume à formação uni- gando advogados, para finalidades culturais e cientí-
liberdade política sem as liberdades individuais não versitária, porque a qualidade cultural do advogado ficas, assistenciais e sindicais, porque todas contri-
passa de engodo demagógico de Estados autoritá- é exigência que lhe acompanha por toda a vida. O buem para o fortalecimento da classe.
rios ou totalitários. E as liberdades individuais, sem aperfeiçoamento constante, mediante a promoção Como anotamos abaixo, ao comentarmos o ca-
efetiva participação política do povo no governo, de eventos e iniciativas de capacitação, é de rigor. pítulo dedicado ao advogado empregado, o crescen-
mal escondem a dominação oligárquica dos mais ri- Por outro lado, a colaboração da OAB estende– te fenômeno da advocacia assalariada impõe a defe-
cos”. se ao aperfeiçoamento das instituições nacionais, sa de direitos e interesses que apenas o sindicato da
Atualmente, os direitos humanos não se con- que articulam a organização do povo. Nesse caso, é categoria pode, constitucionalmente, desempenhar,
têm na dimensão apenas individual; alcançam tam- imenso e desafiador o espaço de colaboração, por- sem qualquer subordinação à OAB, a saber, nas re-
bém a dimensão coletiva ou comunitária onde se ex- que não se restringe às instituições diretamente liga- lações trabalhistas entre empregadores (inclusive
primem. Aos direitos humanos de primeira geração das à advocacia. advogados ou sociedades de advogados) e advoga-
(direitos e garantias individuais fundamentais), su- Essa regra associa–se à do art. 54, XV, do Esta- dos empregados.
cederam–se os de segunda geração, de caráter social tuto, que atribui competência ao Conselho Federal
(especialmente os direitos dos trabalhadores ), os de da OAB para colaborar com o aperfeiçoamento dos NATUREZA E TIPOS DE ÓRGÃOS DA OAB
terceira geração, de caráter transindividual (como o cursos jurídicos e para manifestar–se previamente A QUESTÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
direito dos consumidores e do meio ambiente sau- nos seus pedidos de autorização e reconhecimento.
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O Estatuto considera órgãos da OAB o Conselho Fe- graus de autonomia. O exemplo máximo de autono- Portanto, os órgãos da OAB são tipificados pela
deral, os Conselhos Seccionais, as Subseções e as mia é a pessoa jurídica. Mas não apenas ela é dotada função institucional, pelo sistema de vínculos e de
Caixas de Assistência. A novidade fica por conta da de capacidade; outros entes não personificados a distribuição de competências, independentemente
inclusão das Caixas de Assistência, cujos comentá- têm, como por exemplo o condomínio de edifício, a da personalidade jurídica, não se lhes aplicando o
rios teceremos mais adiante. herança jacente, a massa falida. modelo organicista de pessoa jurídica.
Com relação ao anterior Estatuto, excluiu–se a Dentro de suas competências específicas, o Dois tipos de órgãos integram e se vinculam aos
Assembleia Geral dos Advogados. Esse órgão formal Conselho Federal tem jurisdição em todo o País, os Conselhos Seccionais; um, com personalidade jurí-
nunca funcionou na prática, pela impossibilidade fí- Conselhos Seccionais e as Caixas sobre o território dica própria, a Caixa de Assistência dos Advoga-
sica de reunir em um mesmo espaço, com resulta- das respectivas unidades federativas, a Subseção (a dos; outros, sem personalidade jurídica própria, mas
dos viáveis, todos os advogados inscritos nas Sec- menor unidade estrutural da OAB) sobre a área ter- com competências básicas definidas na lei, a saber,
ções médias ou grandes, e até mesmo em muitas ritorial a ela delimitada pelo Conselho Seccional as Subseções, o Tribunal de Ética e Disciplina, a
Subseções. Imagine–se a inviabilidade fática de reu- (município, parte de município, vários municípios). Conferência Estadual e o Colégio de Presidentes (es-
nirem–se dezenas e até centenas de milhares de pro- No âmbito da competência específica, um órgão não tes dois últimos, com função consultiva). Os segun-
fissionais para discutirem ou aprovarem contas ou pode sofrer interferência do outro, salvo no caso de dos se enquadrariam muito mais na concepção clás-
deliberarem sobre matérias excepcionais! Preferiu– intervenção parcial ou total. O art. 44 do Estatuto sica de órgão da pessoa jurídica.
se a institucionalização das Conferências nacionais diz que essa peculiar organização é federativa, sendo Dentro de suas competências específicas, o
ou estaduais de advogados, cuja experiência resul- que as unidades federadas tiveram suas competên- Conselho Federal tem jurisdição em todo o País, os
tou animadora. Quanto às eleições, adotou–se o sis- cias privativas repartidas entre o Conselho Seccional Conselhos Seccionais e as Caixas sobre o território
tema eleitoral comum, com o direito de voto direto e as Caixas de Assistência. O Conselho Seccional, das respectivas unidades federativas, a Subseção (a
assegurado a todos os advogados inscritos, sem ne- por exemplo, não pode exercer a competência priva- menor unidade estrutural da OAB) sobre a área ter-
cessidade de instalação de assembleia. tiva da Caixa de prestar assistência. ritorial a ela delimitada pelo Conselho Seccional
A teoria organicista da pessoa jurídica, que for- Por todas essas razões, sublinhe–se que a refe- (município, parte de município, vários municípios).
te influência exerceu sobre o direito brasileiro, espe- rência existente nos arts. 44 e 45 às espécies de per- Na hipótese de conflito de competência, em
cialmente pela autoridade das obras de Pontes de sonalidade jurídica não deve conduzir à interpreta- matérias expressamente não previstas, dá–se a solu-
Miranda, concebe os órgãos (segundo o paradigma ção ilógica de ostentar a OAB dupla personalidade ção pelo princípio da supremacia do órgão hierar-
biológico) como partes integrantes do todo (a pes- jurídica, a saber, da Instituição em si e de seus con- quicamente superior sobre o inferior. Na situação
soa jurídica). Assim, seria inconcebível pessoa jurí- selhos distintamente. peculiar das Caixas, por serem dotadas de personali-
dica sem órgão ou órgão sem pessoa jurídica. Otto O Estatuto modificou a natureza da Instituição, dade jurídica própria, havendo conflito em matérias
von Gierke, o mais conhecido dos formuladores da prevista na Lei n. 4.215/63, porque não se refere que os membros do Conselho Seccional, em sua
teoria, no direito alemão, construiu o conceito de mais à diretoria da Ordem, e sim à diretoria do Con- maioria, sejam direta ou indiretamente interessa-
organismo abstraindo–o originariamente do ente selho. O Estatuto anterior disciplinava primeiro a dos, transfere–se ao Órgão Especial do Conselho Fe-
vivo, colocando “a existência do organismo total, do “Diretoria da Ordem” (Capítulo II do Título I), se- deral a competência para decidi–lo, conforme prevê
qual o homem constitui uma parte, por cima do or- guindo–se o Conselho Federal, em cujo capítulo ha- o Regulamento Geral.
ganismo individual”. via o preceito que ensejava a dúvida: “A Diretoria do
Decorre dessa teoria que a pessoa jurídica ma- Conselho Federal é a mesma da Ordem dos Advoga- PECULIARIDADES DA OAB:
nifesta–se mediante seus órgãos. Daí estes não re- dos do Brasil”. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA E PUBLICIDADE
presentarem, com significado de atuar no lugar e em Há, agora, uma única diretoria: a do Conselho DOS ATOS
nome de outra pessoa, mas de presentarem a pró- Federal ou a do Conselho Seccional. Quando o art.
pria pessoa. Metaforicamente, a mão que assina o 44 do Estatuto diz que a OAB é dotada de personali- Repetindo regra semelhante da Lei n.
ato não representa a pessoa, mas é a própria pessoa. dade jurídica própria, remete necessariamente à es- 4.215/63, o Estatuto atribui imunidade tributária
A diretoria que celebra contrato não representa a pecificação do art. 45. A OAB é a instituição (que total ao patrimônio e à receita da OAB.
pessoa, porque é esta que atua mediante o ato da- não se confunde com pessoa jurídica), cuja persona- Embora a entidade não integre a Adminis-tra-
quela. Contudo, até mesmo pelo fato do uso corren- lidade jurídica revela–se nos “órgãos” que a com- ção Pública, como acima salientamos, é serviço pú-
te, nunca se chegou a uma univocidade de seu con- põem, designados no art. 45. Vê–se, pois, que a refe- blico que exerce funções de polícia administrativa
teúdo. No direito administrativo, por exemplo, os rência no caput do art. 44 à personalidade jurídica por delegação legal. Para esse fim, a lei equipara a
autores sempre utilizaram o termo órgãos com va- da OAB é uma metonímia. Não existe uma pessoa OAB a autarquia (note–se: equiparar não é atribuir
riados significados, aí incluindo as pessoas jurídicas. jurídica OAB, ao lado de outras pessoas jurídicas, natureza), estendendo–lhe o benefício da imunida-
Como exemplo de ambigüidade, note–se que a mas uma instituição organizada em determinadas de, previsto no § 2º do art. 150 da Constituição.
Constituição considera órgãos do Poder Judiciário pessoas jurídicas, que são o Conselho Federal, os A hipótese é verdadeiramente de imunidade e
(que não é pessoa jurídica) os tribunais federais e es- Conselhos Seccionais e as Caixas de Assistência. não de isenção.
taduais, embora entre eles não haja vínculos de su- Segundo o modelo federativo (no caso, o para- A peculiar natureza mista da OAB (entidade
bordinação. digma dos Estados–membros), os Conselhos Sec- privada e pública) também se reflete na obrigação
Vê–se que não é nesse sentido estrito (de parte cionais atuam em área territorial delimitada, embo- de publicidade de seus atos, que se dá na imprensa
da pessoa jurídica) que o Estatuto define os órgãos ra dotados de personalidade jurídica própria. Não oficial ou, em falta desta, no Fórum. Ao contrário do
da OAB, mas segundo o modelo do federalismo, ou são independentes, mas autônomos, porque vincu- Estatuto anterior, nem todos os atos necessitam de
seja, um centro unificador, dividido em partes autô- lam–se ao centro (Conselho Federal). publicidade; apenas os conclusivos e terminativos
nomas dotadas de competências próprias e privati- Autonomia, ao contrário de independência, su- que possam repercutir em direitos e obrigações de
vas. Com exceção da Subseção, atribuiu aos demais põe necessariamente limites. É o autogoverno den- terceiros. Os de administração interna ou rotineiros
órgãos capacidade jurídica, ou seja, personalidade tro de um espaço delimitado. são dispensados de publicidade.
jurídica própria, delimitada pelo sistema de vínculos Dentro desse espaço há competências privati-
e competências que instituiu. vas que apenas podem ser exerci das pelo Conselho CONTRIBUIÇÕES OBRIGATÓRIAS
O que importa, hoje, é muito mais definir se se Federal, pelos Conselhos Seccionais e pelas Caixas
encontra diante de um plexo de capacidades (direito de Assistência, sem interferência das outras partes A OAB não participa de recursos orçamentá-
das pessoas) ou de competências (direito adminis- autônomas (no sentido do Estatuto, órgãos). rios públicos. É mantida pelos próprios inscritos,
trativo), e se tal plexo pode constituir um ente com
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mediante o pagamento de contribuições obrigató- justiça estadual, contrariando decisão da Primeira cargo de diretor ou de conselheiro de órgãos da
rias, multas e preços de serviços. Turma do tribunal que concluiu pela competência OAB aproveita para efeito de contagem de tempo de
Essas contribuições não têm natureza tributá- da Justiça Federal. Fundamentou–se o tribunal no serviço com finalidade de aposentadoria ou disponi-
ria, inclusive e sobretudo porque não se destinam a fato de que as contribuições obrigatórias na OAB bilidade, desde que não seja cumulativo.
compor a receita pública. não têm natureza tributária e não se destinam a
A Constituição de 1988 não revolucionou o tra- compor a receita pública, o que afasta a incidência PRESIDENTE DA OAB
tamento da matéria, pois não atribuiu a entidade da Lei n. 6.830/80. LEGITIMIDADE PARA AGIR
não governamental o poder de fixar e cobrar para si O Estatuto manteve a regra anterior de isenção
mesma tributos. O caráter de compulsoriedade das de pagamento obrigatório da contribuição sindical. O presidente da OAB é o líder dos advogados. O
anuidades, dos preços de serviços que são prestados Parece–nos inócua, uma vez que a associação sindi- presidente do Conselho Federal, também denomi-
aos advogados e das multas no caso de sanção disci- cal é livre (ar1. 8º da Constituição). Os advogados nado presidente nacional da OAB, é um órgão sin-
plinar não converte esses pagamentos em tributos. que livremente se sindicalizarem estarão submeti- gular, na medida em que o seu titular é apenas um
Por outro lado, não integram a receita do Estado. dos ao pagamento das contribuições corresponden- indivíduo. Na tradição francesa, a denominação bâ-
As contribuições anuais, os preços de serviços e tes aos respectivos sindicatos, além das contribui- tonnier (bastonário, em português), ainda larga-
as multas fixados ou cobrados pela OAB não têm, ções obrigatórias à OAB, que têm finalidade diversa. mente utilizada, apareceu pela primeira vez no sécu-
por conseqüência, a mesma natureza das contribui- A prescrição da pretensão de cobrança das con- lo XIV, em virtude de o chefe da Ordem dos Advo-
ções sociais previstas no art. 149 da Constituição. tribuições tanto dos advogados quanto das transfe- gados ser o prior da Confraria de São Nicolau (pa-
Estas estão incluídas entre os instrumentos da rências devidas ao Conselho Federal recai no prazo trono dos advogados), incumbindo–lhe portar o
União “de sua atuação nas respectivas áreas”, tendo geral (dez anos, de acordo com o art. 205 do Código bastão (bâton) da confraria nas procissões.
sido equiparadas a tributos. Civil), contado do início de sua exigibilidade. Assim Os presidentes da OAB (do Conselho Federal,
Supõe, necessariamente, que componham a re- decidiram as Câmaras Reunidas do Conselho Fede- dos Conselhos Seccionais e Subseções) têm legitimi-
ceita do Estado, no sentido amplo, mesmo quando ral no Processo n. CR 20/94 (DJU, 20 ou1. 1994). dade para agir em defesa dos princípios estabeleci-
haja interesse de categorias profissionais ou econô- Todavia, essa orientação foi modificada pelo Conse- dos no Estatuto, da advocacia em geral e dos advo-
micas (previdência, Sesc, Senai etc.). Não é o caso da lho Pleno (Proposição n. 0055/2003/COP), relativa- gados individualmente quando violados seus direi-
OAB. mente às contribuições obrigatórias dos inscritos, tos e prerrogativas profissionais por qualquer pes-
O Conselho Seccional é autônomo para fixar as pois entendeu de aplicar o prazo de cinco anos, pre- soa ou autoridade. Essa regra não abrange o presi-
anuidades e o modo de seu pagamento, cabendo ao visto no ar1. 206, § 5º, I, do Código Civil. O prazo dente da Caixa de Assistência.
Conselho Federal apenas modificá–las de ofício ou deve ser contado da data em que foi lavrada a certi- A legitimidade ad causam é tanto ativa quanto
mediante representação quando houver ilegalidade dão da dívida passada pelo Conselho Seccional. passiva. Na defesa dos interesses da advoca-cia pode
ou abusividade (art. 54, VIII, do Estatuto). Dado seu caráter obrigatório e indisponível, ingressar com qualquer tipo de ação, na qualidade
O valor e o modo de pagamento das contribui- não pode haver anistia de anuidades ou multas. de presidente da OAB.
ções anuais são fixados pelo Conselho Seccional do Como já decidiu o Conselho Federal, “embora la- No caso de mandado de segurança coletivo (art.
inscrito. É a principal receita da OAB, que se destina mentáveis as dificuldades financeiras atravessadas 5º, LXX, da Constituição), em virtude dessa peculiar
à sua manutenção mas também se reverte em bene- por advogado, por motivo de saúde, não pode a OAB legitimidade que lhe é outorgada por lei, não há ne-
fício do próprio inscrito, porque metade da receita conceder–lhe vantagem de natureza pessoal, não pre- cessidade de autorização expressa dos advogados
líquida deve ser transferida para a Caixa de Assis- vista em lei, sob pena, em face do princípio constitu- inscritos.
tência dos Advogados. cional da isonomia, de estendê–la a outros inscritos, o O presidente pode intervir, a qualquer título,
O Conselho Seccional pode revogar resolução que comprometeria o equilíbrio financeiro da insti- inclusive como assistente, em inquéritos policiais e
da gestão anterior que fixou anuidade, devida pelos tuição”. Mas foi admitida a remissão por decisão do administrativos ou em processo civil ou penal,
advogados, para o ano seguinte, ante a necessidade Conselho Seccional “aos inscritos com mais de se- quando o advogado seja indiciado, acusado ou ofen-
de viabilizar financeiramente a administração da tenta anos e vinte de exercício profissional em vigor dido.
entidade, inexistindo violação a direito adquirido. e que pode ser exercido a qualquer tempo” (Rec. n. A intervenção será sempre necessária quando a
As multas decorrem de sanções disciplinares 0125/2002/ PCA–MG). Também foi admitida a imputação atribuída a advogado tiver relação com
acessórias, em face de circunstâncias agravantes, e possibilidade de remissão para advogado com defi- sua atividade profissional.
são fixadas na decisão condenatória. ciência física, competindo ao Conselho Seccional ve- A legitimidade extrajudicial é expandida para
Os preços de serviços correspondem à remune- rificar o grau de deficiência e de insuficiência de atribuir ao presidente da OAB autoridade pública,
ração de serviços prestados pela OAB no interesse rendimentos (Proc. n.337/2001l0EP–PA). com poder de requisição de documentos a qualquer
pessoal de quem os utiliza, e são fixados previamen- órgão dos Poderes Legislativo, Judiciário e Executi-
te para cada tipo, a exemplo do fornecimento de cer- CARGOS DOS MEMBROS DE ÓRGÃOS DA vo, e a entidades da Administração indireta (autar-
tidões, cursos, reprografias, inscrições para Exame OAB quias, empresas públicas e de economia mista),
de Ordem. sempre que haja necessidade para defesa dos direi-
Ao contrário do que ocorre com a Administra- Os cargos de membros de órgãos da OAB são tos e prerrogativas da profissão. Na ADIn 1.127–8,
ção Pública, a OAB não segue o procedimento de de exercício gratuito e obrigatório. A regra antes es- o Supremo Tribunal Federal decidiu pela constitu-
formação da dívida ativa. Basta a certidão passada tabelecida para os conselheiros da OAB e dirigentes cionalidade do art. 50, mas conferiu interpretação
pela Diretoria para constituir título executivo extra- de Subseções expandiu–se para os membros da di- conforme a Constituição no sentido de compreen-
judicial. retoria das Caixas de Assistência. der a expressão “requisitar” como dependente de
A certidão não necessita da assinatura de todos A obrigatoriedade é relacionada ao exercício do motivação, compatibilização com as finalidades do
os diretores, mas apenas do Tesoureiro, salvo dispo- cargo e não à sua investidura, porque esta depende Estatuto e atendimento dos custos da requisição,
sição expressa no Regimento Interno do Conselho de eleição e liberdade de candidatura. ressalvados os documentos cobertos pelo sigilo.
Seccional. O exercício desse múnus desinteressado é con- A matéria também está regulada no Regula-
A cobrança é comum (título executivo extraju- siderado pela lei como serviço público relevante. mento Geral. Quando o fato imputado a advogado
dicial), seguindo o rito processual próprio e não o da Não é equiparado, contudo, ao de servidor público decorrer do exercício da profissão ou em razão desse
execução fiscal. Decidiu a Primeira Seção do STJ em sentido estrito, nem se vincula ao respectivo re- exercício, o presidente integra a defesa, como assis-
(EREsp 462.273, 2005) que as cobranças das anui- gime jurídico único. Se o advogado for também ser- tente, no processo ou no inquérito. Quando o ato
dades da OAB devem ser julgadas e processadas pela vidor público, o exercício efetivo e proficiente do configurar abuso de autoridade, inclusive de magis-
50

trado, configurando–se atentado à garantia legal de ção de textos normativos. O Órgão Especial é a últi-
exercício profissional, cabe ao presidente promover ma instância recursal e de consulta. As Câmaras I – O primeiro impõe o cumprimento efetivo
a representação contra o responsável, na forma da apreciam recursos de acordo com as matérias em das finalidades da OAB, tanto as institucionais
Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965. que foram distribuídas. A diretoria delibera sobre quanto as corporativas. Remetemos o leitor aos co-
certas matérias executivas e de administração que mentários a elas destinados acima.
COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DO CONSELHO ultrapassam a competência específica de cada dire- O dever de cumprimento impede que o Conse-
FEDERAL tor. lho exclua algumas em detrimento de outras.

A composição básica do Conselho Federal cor- VOTO E “QUORUM” Representação dos advogados
responde a três vezes o número de unidades federa-
tivas (Estados–membros, Distrito Federal e Territó- O voto é por delegação e não individual. Em II – O segundo explícita o poder genérico de re-
rios) e mais o presidente nacional. Após a Constitui- caso de divergência entre os membros da delegação presentação dos advogados brasileiros pelo Conse-
ção de 1988, o Conselho Federal passou a contar prevalece o voto da maioria; estando presentes ape- lho Federal, em juízo ou fora dele.
com 81 conselheiros, além do presidente. nas dois membros e havendo divergência, o voto é Essa representação é legal; independe de man-
A delegação de cada unidade federativa é inte- invalidado. dato ou autorização prévios dos representados.
grada por três conselheiros federais eleitos direta- O presidente exerce apenas o voto unipessoal Quando o Conselho Federal se manifesta, em maté-
mente em conjunto com o Conselho Seccional, de qualidade, porque não integra qualquer delega- rias corporativas ou institucionais, manifestam–se
cumprindo mandato de três anos. Ver os comentá- ção; é presidente nacional, desligando–se de sua ori- os advogados brasileiros, em seu conjunto. Da mes-
rios aos arts. 63 a 67. O Estatuto prevê a possibilida- gem federativa. Os demais diretores (vice–presiden- ma forma, em suas jurisdições, os Conselhos Seccio-
de de serem eleitos suplentes de conselheiros federa- te, secretário–geral, secretário–geral adjunto e te- nais e as Subseções.
is de cada delegação. Os suplentes têm direito ao soureiro) votam em conjunto com suas delegações. As manifestações e representações dos órgãos
exercício do mandato no caso de afastamento, tem- Além do voto de qualidade, o presidente é legi- superiores vinculam os inferiores, não podendo es-
porário ou definitivo, do titular, observada a prece- timado para um especial recurso: o de embargar a tes contraditarem aqueles.
dência definida pelo Conselho Federal, cuja compe- decisão, quando não for unânime, obrigando o Con- A representação é sempre no interesse da pro-
tência é privativa, nessa matéria, ou seja, não pode o selho a reapreciar a matéria, em outra sessão. fissão. O Estatuto refere–se à representação indivi-
Conselho Seccional exercê–la. O Conselho Federal, em todos os seus órgãos, dual. Também nesse caso é limitada à defesa do ad-
Também integram o Conselho Federal seus ex– delibera com a presença da maioria absoluta das de- vogado atingido no exercício de sua profissão, mes-
presidentes, com poder de voto equivalente ao de legações (metade mais uma), retomando–se o prin- mo em decorrência de atos pessoais. No caso de re-
cada delegação, exceto para os que foram empossa- cípio comum. Não se incluem no cômputo do quo- presentação individual, a ação do Conselho é suple-
dos após o início de vigência do Estatuto. Estes últi- rum mínimo os ex–presidentes, com ou sem direito tiva dos Conselhos Seccionais e apenas quando hou-
mos compõem o Conselho, mas sem direito a voto. a voto, nem os que têm apenas direito a voz. O quo- ver grave repercussão nacional em prejuízo da advo-
Todos assumem a qualidade de membros honorá- rum especial de dois terços das delegações apenas é cacia.
rios vitalícios, não apenas como homenagem da exigível pelo Estatuto no caso de intervenção nos Sobre a promoção de ações coletivas veja–se o
classe aos seus dirigentes máximos, mas porque a Conselhos Seccionais (art. 54, parágrafo único) e de comentário ao inciso XlV.
história da OAB demonstrou que é imprescindível edição ou reforma do Regulamento Geral, do Códi-
sua palavra de experiência para tomada de posição go de Ética e Disciplina e dos Provimentos (art. 78 Defesa das prerrogativas da profissão
da entidade, sobretudo em matéria institucional. O do Regulamento Geral).
voto, contudo, é assegurado apenas às delegações, III – Compete à OAB velar pela dignidade, in-
em face do princípio da igualdade federativa da COMPETÊNCIAS DO CONSELHO FE-DERAL dependência, prerrogativas e valorização da advoca-
OAB. As expressões “membro honorário vitalício”, cia. Velar é estar vigilante, mas, ao mesmo tempo, é
contidas na lei, indicam qualidade e não denomina- As competências do Conselho Federal são indi- agir em sua defesa. Sobre independência da advoca-
ção. Os ex–presidentes são conselheiros ou, se se cadas em uma enumeração aberta, porque não esgo- cia, remetemos os leitores aos comentários à ativi-
quiser assim denominá–los, conselheiros vitalícios. tam todas as hipóteses. Nem todas são privativas, dade de advocacia e à ética do advogado. Sobre prer-
O direito de voz foi também assegurado aos porque algumas os Conselhos Seccionais e até mes- rogativas, vejam–se os comentários aos direitos do
presidentes dos Conselhos Seccionais, quando se fi- mo as Subseções as executam, no âmbito de suas ju- advogado.
zerem presentes às sessões do Conselho Federal, risdições e guardadas as devidas adaptações. Os in- A referência à valorização merece um co-men-
mantido o voto da respectiva delegação. cisos I a III do art. 54 são comuns ao Conselho Fede- tário destacado, porque, antes de ser uma atitude de
Ao contrário do anterior, o Estatuto não regula- ral e aos Conselhos Seccionais e Subseções. Os inci- defesa, constitui um mandamento promocional.
menta a estrutura c funcionamento do Conselho, ou sos VI, VII, VIII e IX aplicam–se, no que couberem, Cabe à OAB promover a valorização da advocacia,
seja, sua divisão em Câmaras, Comissões, a compe- aos Conselhos Seccionais, com relação às suas Sub- perante a classe e perante a comunidade, em todos
tência desses órgãos internos, da diretoria em con- seções. O inciso XIV configura competência concor- os sentidos: ético, técnico, profissional, institucio-
junto e dos diretores individualmente. Essa matéria, rente dos Conselhos Seccionais. O inciso XVI tam- nal.
antes distribuída entre o Estatuto e o Regimento In- bém se aplica aos Conselhos Seccionais, quanto a O Conselho Federal da OAB decidiu por unani-
terno, passou para o Regulamento Geral editado seus respectivos bens imóveis. midade que não cabe defesa da dignidade da profis-
pelo Conselho Federal. Ressalta das competências do Conselho Federal são de advogado, quando sua imagem é denegrida e
O Regulamento Geral fixou a estrutura do Con- que sua função é de harmonização, de coordenação deformada em novelas de televisão, porque a obra
selho Federal mediante os seguintes órgãos: Conse- geral, de instância recursal final e, sobretudo, de fi- de ficção e o direito de crítica estão assegurados na
lho Pleno, Órgão Especial, Primeira, Segunda e Ter- xação de diretrizes e políticas gerais, vinculando to- Constituição. Em caso de ofensa individual, o atingi-
ceira Câmaras, Diretoria e presidente, definindo dos os demais órgãos da OAB. A tarefa executiva, do procederá de acordo com a legislação vigente.
suas competências específicas. De modo geral, cou- em grande medida, compete aos Conselhos Seccio-
be ao Conselho Pleno, integrado por todos os conse- nais e a suas Subseções e às Caixas de Assistência. Representação internacional
lhei-ros federais, deliberar sobre as matérias de ca- Passemos a comentar os tipos de competência
ráter institucional, o ajuizamento de ações coletivas, do Conselho Federal, mantendo a ordem do art. 54: IV – A representação dos advogados brasileiros
a fixação de diretrizes para a classe, a tomada de po- em eventos internacionais ou no exterior é exclusiva
sição em nome dos advogados brasileiros, a aprova- Cumprimento das finalidades da OAB do Conselho Federal. Não podem os Conselhos Sec-
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cionais ou outras entidades de advogados represen- VII – A intervenção completa dar–se–á nos ca- IX – O Conselho Federal é a instância recursal
tar o conjunto dos advogados brasileiros, salvo se fo- sos de extrema gravidade, quando ocorrerem claras máxima na OAB. Cabe–lhe julgar todos os recursos
rem credenciados pelo Conselho Federal. e flagrantes violações ao Estatuto e à legislação regu- interpostos contra decisões dos Conselhos Seccio-
A associação da OAB é apenas possível à orga- lamentar, ou quando as determinações do Conselho nais que não tenham sido unânimes ou, quando
nização internacional que congregue entidades na- Federal forem sistematicamente descumpridas ou unânimes, contrariarem o Estatuto e a legislação
cionais de advogados, podendo apenas participar de desafiadas, ou ainda quando a entidade local esteja complementar (ver os comentários ao art. 75).
eventos ou entidades internacionais que abranjam em situação de grave perigo para a instituição.
outras profissões jurídicas. A intervenção, por suas conseqüências traumá- Identidade do advogado
Diversas entidades internacionais congregam ticas ao sistema federativo e de autonomia dos Con-
advogados. Excluindo–se as que se voltam para de- selhos Seccionais, deve ser decidida mediante quo- X – Compete exclusivamente ao Conselho Fe-
terminadas especializações, podem ser referidas: a rum especial de dois terços das delegações, com fi- deral dispor sobre identidade do advogado e sobre
UIA – União Internacional dos Advogados (Union xação de prazo determinado, que pode ser prorroga- seus símbolos privativos no Regulamento Geral. A
lnternational des Avocats), com sede em Paris, fun- do. A decisão só poderá ser tomada após ouvido o respeito dessa matéria convidamos o leitor aos co-
dada em 1924, constituída de membros individuais Conselho Seccional, que poderá apresentar defesa e mentários formulados ao inciso XVIII do art. 7º e ao
e coletivos, sendo 159 colégios e ordens de advoga- provas que a afastem. Nesse sentido, decidiu o Con- art. 13. O Regulamento Geral cuidou da matéria nos
dos, inclusive a OAB; FIA/IABA – Federação Intera- selho Pleno do Conselho Federal da OAB, no Pro- arts. 32 a 36.
mericana de Advogados, com sede em Washington, cesso n. 4.322/98/COP, de cuja ementa são extraí-
composta de membros individuais e coletivos, in- dos os seguintes enunciados: “Natureza excepcional Relatório e contas
clusive a OAB. do remédio a ser utilizado, exclusivamente, quando
clara, além de qualquer dúvida, a infringência ao Es- XI e XII – O Conselho Federal também atua
Legislação regulamentar e complementar do Es-
Es - tatuto ou ao Regulamento Geral. Prevalência do como Conselho Fiscal da OAB, apreciando relatório
tatuto princípio da autonomia das Seccionais” . e aprovando as contas de sua diretoria e, ainda, ho-
Decidida a intervenção, o presidente nacional mologando as contas dos Conselhos Seccionais. Se
V – O Estatuto não esgota todas as matérias re- da OAB nomeará diretoria provisória, suspenden- as contas forem rejeitadas por razões formais, as ir-
lativas à OAB e aos advogados. O legisla-dor optou do–se o mandato dos dirigentes em exercício. regularidades poderão ser supri-das. Se a rejeição
por uma lei concisa, cuidando exclusiva-mente dos O procedimento da intervenção é fixado no Re- for de mérito, os responsáveis responderão nos âm-
temas contidos no que se considera reserva legal. gulamento Geral, no art. 81. Prevê–se uma fase ini- bitos disciplinar, penal e civil.
Tudo o mais que tenha natureza regulamentar, e cial de verificação e sindicância promovidas por re- O exercício financeiro dos órgãos da OAB en-
não envolva criação, modificação ou extinção de di- presentantes do Conselho Federal, designados pela cerra–se no dia 31 de dezembro de cada ano.
reitos e obrigações, foi remetido à complementação diretoria deste, os quais devem apresentar relatório o Regulamento Geral fixa a obrigatoriedade de
normativa do Regulamento Geral, do Código de Éti- ao Conselho Federal. Essa fase é antecedida da noti- aprovação do orçamento anual, que deve servir de
ca e Disciplina e dos Provimentos, todos editados ficação do Conselho Seccional para apresentar defe- regulação das receitas e das despesas.
pelo Conselho Federal, por força de delegação da lei. sa prévia que exclua o processo de intervenção. Se o Cabe à Terceira Câmara do Conselho Federal fi-
O Regulamento Geral é o diploma abrangente dos relatório concluir pela intervenção, então o Conse- xar os modelos e os critérios para os orçamentos,
procedimentos, estrutura organizacional e atribui- lho Seccional é novamente notificado para defesa, balanços e contas de sua diretoria e dos Conselhos
ções dos órgãos internos, e de todas as matérias que quanto ao móvel da intervenção (mérito). Os prazos Seccionais. Estes, por sua vez, fixa–os para as Subse-
sejam suscetíveis às mudanças do tempo e das ne- para a defesa são sempre de quinze dias (art. 69). Na ções e as Caixas de Assistência.
cessidades que se impuserem. Os Provimentos cui- sessão que apreciar a indicação da intervenção, asse-
dam de temas específicos que podem ser destacados gurando–se o direito de sustentação oral ao repre- Listas sêxtuplas
do Regulamento Geral. Sobre o Código de Ética e sentante do Conselho Seccional, se ela for decidida,
Disciplina remetemos o leitor aos comentários ao fixar–se–á prazo para intervenção, cabendo à dire- XIII – A elaboração de listas sêxtuplas para
capítulo da ética do advogado. Essas normas são co- toria designar diretoria provisória. Pode ocorrer a composição dos tribunais compete ao Conselho Fe-
gentes e obrigam a todos os órgãos e inscritos da intervenção sumária se houver impedimento local deral quando a corte tiver abrangência nacional ou
OAB. Sobre a legitimidade da OAB em editar o Re- ao trabalho da sindicância ou de evidente irrepara- interestadual, ou seja, o Superior Tribunal de Justi-
gulamento Geral, ver os comentários ao art. 78. bilidade e perigo pela demora da decisão, que deve ça, o Tribunal Superior do Trabalho e os tribunais
ser motivada. federais, quando estes tiverem competência territo-
Intervenção parcial rial que abranja mais de um estado. Para os tribu-
Cassação de atos nais estaduais, a competência é do Conselho Seccio-
VI – O Conselho Federal pode adotar as medi- nal respectivo.
das preventivas e corretivas que julgar necessárias VIII – Quando puder evitar a intervenção e nos Apenas podem concorrer advogados que este-
para assegurar o funcionamento dos Conselhos Sec- casos de menor gravidade, o Conselho Federal pro- jam em efetiva atividade de advocacia (art. 94 da
cionais. É um modo parcial e localizado de interven- moverá a cassação ou modificação do ato de qual- Constituição) há mais de dez anos ininterruptos e
ção, sem os rigores da intervenção completa, porque quer autoridade ou órgão da OAB que contrarie o imediatamente anteriores à data do requerimento.
não implica o afastamento de seus dirigentes. Estatuto e a legislação regulamentar. Nesse caso, não Há dificuldade em caracterizar tal atividade, mas
Se as medidas que adotar forem descumpridas, há necessidade de quorum especial para a decisão, não basta a regularidade da inscrição na OAB, por-
a intervenção será efetivada integralmente. Essas mas deverá ser ouvida previamente a autoridade em que não se confunde com atividade potencial. O ob-
providências podem ser mínimas e pouco traumáti- causa, para apresentar defesa. jetivo da Constituição é integrar os tribunais com a
cas, como na hipótese de envio de observa-dores ou A cassação pode ocorrer incidentalmente, efetiva experiência profissional do advogado. In-
auditores. Cabe aos Conselhos Seccionais prestar quando da apreciação de qualquer processo ou em cumbe ao candidato provar com documentos e cer-
toda a colaboração necessária para que possam processo autônomo, sempre após ouvida a autorida- tidões que exerceu atividades privativas de advoca-
cumprir suas missões. de responsável. cia nos últimos dez anos, assim consideradas no art.
1º do Estatuto (cinco atos privativos por ano, a sa-
Intervenção completa Recursos ber, cinco peças profissionais judiciais, subscritas
pelo candidato, ou pareceres por ele proferidos na
realização de consultoria jurídica, ou prova de exer-
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cício de atividades de assessoria ou de direção jurí- taduais incompatíveis com a Constituição Federal, tendência, no entanto, é de prevalecer a orientação
dicas. Para as duas últimas devem ser provadas a re- porque é seu dever a defesa da Constituição em geral no sentido de, constatada a mora legislativa,
lação de emprego com tais,finalidades, ou o contrato (art. 44, I, do Estatuto). Essa legitimidade é menos tutelar–se jurisdicionalmente o direito subjetivo
de prestação de serviços ou certidão de nomeação e um poder e muito mais um múnus público que lhe previsto na Constituição e dependente de regula-
exercício do cargo público equivalente). Não pode foi cometido pela Constituição como um de seus mentação, adotando–se os princípios existentes no
ser considerado efetiva atividade profissional o perí- guardiães. próprio sistema jurídico.
odo de desempenho de função que gere incompati- O Supremo Tribunal Federal tem decidido que
bilidade temporária, porque há licenciamento com- os demais Conselhos Federais profissionais não têm Cursos jurídicos. Autorização, reconhecimento
pulsório, com suspensão dos efeitos da inscrição legitimidade, sendo apenas privativa da O- e elevação da qualidade
(art. 12, lI, do Estatuto). Mas a ocorrência de impe- AB258.Por suposto, o único juízo de admissibilida-
dimento (art. 30, I, do Estatuto) não evita a partici- de que o Conselho Federal pode exercer é o da in- XV – Reconhecendo a legitimidade da OAB
pação na lista sêxtupla, conforme decidiu o Conse- compatibilidade ou não com os princípios e normas para manifestar–se sobre a formação do profissio-
lho Federal da OAB (Proc. 604/200l/PCA–AL), no constitucionais e jamais o da relevância com os inte- nal do direito, porque ela é quem mais sofre as con-
caso de Procurador de Estado. resses da advocacia. O Regulamento Geral disciplina seqüências do mau ensino, a lei atribuiu–lhe a com-
A comprovação dos requisitos deve ser feita a matéria no art. 82, que prevê o juízo prévio de ad- petência para opinar previamente nos pedidos de
com a inscrição. A satisfação deles na fase recursal missibilidade para aferição da relevância da defesa criação, reconhecimento ou credenci-amento dos
atenta contra o princípio da igualdade, porque não é dos princípios e normas constitucionais. Todavia, cursos jurídicos. Assim, antes da decisão da autori-
admitida para interessado que não se inscreveu por contrariando o irrestrito alcance da norma contida dade educacional competente (Conselho Nacional e
não comprová–los a tempo (Conselho Federal Ple- no art. 54, XIV, do Estatuto, o Conselho Federal Ple- Estadual de Educação, MEC e Secretarias Estaduais
no, Proc. n. 00031 2002/COP– TO). Ressalve–se, no, por maioria (Proposição n. 0032/2003/COP), de Educação), caberá ao Conselho Federal da OAB
evidentemente, o que a legislação processual consi- decidiu que não deveria ajuizar ação direta de in- emitir parecer prévio. A matéria atualmente está re-
dera prova nova, cabível em recurso. constitucionalidade quando outra entidade tenha le- gulada pelo Decreto n. 5.773, de 10 de maio de
O Estatuto veda a inclusão de conselheiros ou gitimidade para tanto; no caso, tratava–se de defesa 2006.
de membros de qualquer órgão da OAB (art. 54, de direitos e interesses de populações indígenas. A proliferação descriteriosa de cursos jurídicos,
XIII). São incompatíveis a função de julgar ou de es- Esta é restrição que a lei não faz. sem as mínimas condições de qualidade, tem contri-
colher com o interesse de julgado ou escolhido. A re- A ação civil pública é um avançado instrumen- buído para a preocupante queda do nível profissio-
gra tem fundamento ético, no sentido de se evitar o to processual introduzido no ordenamento jurídico nal dos advogados. Em face disso, o Conselho Fede-
conflito de interesses e o tráfico de influência. O brasileiro pela Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, ral da OAB criou a Comissão de Ensino Jurídico – e
Provi-mento n. 10212004 exclui a possibilidade de o para a defesa dos interesses difusos, coletivos e indi- estimulou idêntica iniciativa nos Conselhos Seccio-
membro de órgão da OAB concorrer se renunciar viduais homogêneos (por exemplo, meio ambiente, nais –, que passou a exercer as atribuições que fo-
antes à função, como permitia o Provimento n. consumidor, patrimônio turístico, histórico, artísti- ram cometidas em lei ao Conselho (art. 83 do Regu-
80/1996. O impedimento é definitivo desde o início co). Os autores legitimados são sempre entes ou en- lamento Geral), mediante estudos, promoção de
do mandato e durante o triênio, ainda que se tenha tidades, públicos ou privados, inclusive associação eventos, pesquisas e apresentação de propostas con-
encerrado antes por renúncia. A regra não se dirige civil existente há mais de um ano e que inclua entre cretas voltadas à elevação da qualidade do ensino ju-
apenas aos membros do Conselho que elabora a lis- suas finalidades a defesa desses interesses. O elenco rídico, ou melhor, da educação jurídica em geral,
ta, mas aos de qualquer outro órgão da OAB. Assim, de legitimados foi acrescido da OAB, que poderá in- que envolve a pesquisa e a extensão. Também pas-
para a lista de desembargador perderão os cargos, se gressar com a ação não apenas em prol dos interes- sou a emitir pareceres prévios nos pedidos de auto-
concorrerem, o conselheiro seccional, o conselheiro ses coletivos de seus inscritos, mas também para tu- rização de novos cursos jurídicos e de seus posterio-
federal, o diretor ou membro de Conselho de Subse- tela dos interesses difusos, que não se identificam res reconhecimentos.
ção ou o diretor de Caixa de Assistência. em classes ou grupos de pessoas vinculadas por uma Esse esforço, mobilizando os especialistas no
Atualmente, a matéria está regulada no Provi- relação jurídica básica. Sendo de caráter legal a legi- ensino do direito do País, resultou na edição da Por-
mento n. 102/2004, que estabelece os critérios e timidade coletiva da OAB, não há necessidade de taria–MEC n. 1.886/94, que fixou as diretrizes cur-
procedimentos para elaboração das listas, notada- comprovar pertinência temática com suas finalida- riculares e o conteúdo mínimo dos cursos jurídicos,
mente quanto à inscrição, impugnação dos candida- des, quando ingressar em juízo. vigorantes a partir de 1997, e que podem ser assim
tos, argüição dos candidatos, escolha e indicação. A referência ao mandado de segurança co-leti- sumariadas: carga horária mínima de 3.300 horas;
vo decorre da legitimação outorgada pela Constitui- realização em tempo mínimo de 5 anos letivos; pa-
Jus postulandi do Conselho Federal ção (art. 5º, LXX) às entidades de classe. Da norma drão de qualidade idêntico entre os cursos diurnos e
constitucional emerge como limitação a defesa dos noturnos, não podendo estes ultrapassar 4 horas di-
XIV – Uma das mais importantes inovações do interesses dos inscritos na OAB. Em face do que es- árias de atividades didáticas; interligação obrigató-
Estatuto sobre a competência da OAB, especialmen- tabelecem o art. 49 e o inciso II do art. 54 do Estatu- ria do ensino com a pesquisa e a extensão; atendi-
te do Conselho Federal, é a legitimidade para ajuiza- to, não há necessidade de autorização prévia dos mento às necessidades de formação fundamental,
mento de ações coletivas, além da ação direta de in- inscritos beneficiários. Lembre–se que a OAB tam- sócio–política, técnico–jurídica e prática do bacha-
constitucionalidade. São elas, essencialmente: ação bém é legitimada a impetrar mandado de segurança rel em direito; desenvolvimento de atividades com-
civil pública, mandado de segurança coletivo, man- individual, em seu próprio nome, para a defesa dos plementares, além das disciplinas em que se desdo-
dado de injunção e demais ações assemelhadas. Es- interesses coletivos e individuais dos advogados (in- brar cada curso, incluindo pesquisa, extensão, parti-
sas ações coletivas podem ser propostas não apenas ciso lI). cipação em eventos culturais e científicos, discipli-
pelo Conselho Federal, mas pelos Conselhos Seccio- O mandado de injunção é outro poderoso ins- nas não curriculares; acervo bibliográfico atualizado
nais (art. 57 do Estatuto) e Subseções quando conta- trumento de efetividade das garantias individuais e de no mínimo 10.000 volumes de obras jurídicas e
rem com Conselho próprio (art. 61, parágrafo único, coletivas, especialmente da cidadania, previsto no de periódicos de jurisprudência, doutrina e legisla-
do Estatuto). art. 52, LXXI, da Constituição, que a OAB pode uti- ção; flexibilidade do curso para ministrar matérias
A legitimidade para a ação direta de inconstitu- lizar. Infelizmente, a orientação majoritária do Su- relativas a novos direitos e adoção de interdiscipli-
cionalidade está prevista no art. 103, VII, da Consti- premo Tribunal Federal, frustrando as expectativas naridade; possibilidade, a partir do quarto ano, de
tuição Federal. Essa legitimidade não se restringe às da comunidade jurídica, inutilizou o alcance dessa oferta de áreas profissionalizantes; obrigatoriedade
matérias ligadas direta ou indiretamente aos advo- ação constitucional, na medida em que lhe atribuiu de monografia final do curso, defendida perante
gados, mas a todos os atos normativos federais e es- apenas eficácia declaratória da mora legislativa. A banca examinadora; estágio de prática jurídica obri-
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gatório, com no mínimo 300 horas, desenvolvendo A diretoria, em seu conjunto, é também ór-gão O quorum especial de dois terços (de presença à
exclusivamente atividades práticas. deliberativo e executivo, com atribuições fixadas no votação e não apenas de instalação; estando os dois
Para que um curso jurídico possa conferir di- Regulamento Geral. terços presentes, prevalece o voto da maioria) ape-
plomas a seus graduados, exige–se primeiro que es- nas é exigível, pelo Estatuto, no caso de intervenção
teja autorizado e, depois, que seja reconhecido, tan- COMPOSIÇÃO DO CONSELHO SEC-CIONAL nas Subseções (art. 60, § F, do Estatuto), para cria-
to com relação às universidades quanto em relação E DELIBERAÇÃO ção e intervenção na Caixa de Assistência, para
às demais instituições de educação superior. Os pro- aprovação ou alteração do Regimento Interno do
jetos devem demonstrar a necessidade social do cur- O Conselho Seccional não tem mais uma com- Conselho Seccional e para aplicação de pena de ex-
so, os estudos de viabilidade e a qualidade do projeto posição uniforme, para todas as unidades federati- clusão de inscrito (art. 108 do Regulamento Geral).
pedagógico. vas, como ocorria até o advento do novo Estatuto. A O presidente detém apenas o voto de qualidade.
lei não fixa mais o número mínimo ou máximo, de-
XVI – A alienação ou oneração de bens imóveis legando ao Regula-mento Geral tal mister, especial- COMPETÊNCIAS DO CONSELHO SECCIONAL
depende da aprovação da maioria absoluta (metade mente no que concerne aos critérios a serem utiliza-
mais uma) das delegações. É regra regula-mentar, dos, salvo o da proporcionalidade ao dos inscritos, o Para não repetir as competências já especifica-
mantida na lei por sua relevância. único que previu. das do Conselho Federal, o Estatuto estabelece uma
A realidade brasileira da distribuição de ad-vo- regra geral atribuindo–as ao Conselho Seccional, no
Participação em concursos públicos gados inscritos na OAB é extremamente heterogê- que couber e no âmbito de sua jurisdição, exceto
nea. Nos extremos há ou algumas centenas ou mais aquelas que são privativas daquele. Sobre a matéria
XVII – A Constituição prevê que o concurso de cem mil. Nas Seções maiores havia uma sobre- remetemos o leitor aos comentários ao art. 54, com
público para ingresso na magistratura e no Ministé- carga crescente dos seus membros, porque o limite indicação dos incisos aplicáveis ao Conselho Seccio-
rio Público deverá contar com a participação da máximo estabelecido há mais de trinta anos pela Lei nal (“Competências do Conselho. Federal”). São
OAB em todas as suas fases, o que inclui a formula- n. 4.215/63 não correspondia às necessidades. competências comuns, observada a supremacia do
ção dos programas e a organização do certame. Para O Regulamento Geral (art. 106) adotou os se- Conselho Federal.
outras carreiras jurídicas (exemplo, advocacia–geral guintes critérios: abaixo de 3.000 inscritos, até 24 Decidiu a Terceira Câmara do CF/OAB (Proc.
da União), as leis específicas têm estabelecido regra conselheiros; a partir de 3.000 inscritos, mais um n. 000412003/TCA–MS) que a apuração de fatos
idêntica. membro por grupo completo de 3.000 inscritos, até pertinentes a obras realizadas pelo Conselho Seccio-
O Conselho Nacional de Justiça, interpretando o total de 60 conselheiros. Cabe ao próprio Conselho nal é da competência deste, ainda que parte da verba
a Constituição, decidiu que a participação da OAB Seccional fixar o número de seus membros em reso- a ela destinada tenha participação do Conselho Fe-
“em todas as suas fases” abrange a fase preparatória lução sujeita a referendo do Conselho Federal, in- deral.
da elaboração das instruções e do edital do certame, corporando–o a seu Regimento Interno. O Conselho Seccional representa, inclusive ju-
sob pena de nulidade. São membros os conselheiros e diretores e-lei- dicialmente, a coletividade dos advogados nela ins-
A participação do Conselho Federal é para os tos. O voto no Conselho é unipessoal. São também critos. Nesse sentido, o TRF da Quarta Região (MAS
concursos que tiverem abrangência nacional ou in- membros os ex–presidentes do Conselho, apenas 2002.70.00.014508–6/PR) assegurou a legitimidade
terestadual. Para os demais, a competência é do com direito a voz, exceto para os que assumiram o da OAB–PR como representante de todos seus ins-
Conselho Seccional. cargo até o início de vigência do Estatuto, que per- critos em ação judicial que discutia a cobrança do
O Conselho Federal da OAB deliberou que a manecem com o direito de voto. imposto sobre serviços (ISS) pelo Município de Cu-
prova oral, quando exigida em concursos públicos O presidente do Instituto dos Advogados local ritiba.
para ingresso em carreiras jurídicas, deve ser efeti- (filiado ao Instituto dos Advogados Brasileiros) é Além das competências comuns, o Estatuto
vamente pública, inclusive com gravação das argüi- membro nato e permanente do Conselho, mas não confere ao Conselho Seccional competências priva-
ções e respostas com possibilidade de recurso. Estes tem direito a voto. ti-vas, que não podem ser exercidas pelo Conselho
são os requisitos cuja observância deve ser exigida Não há mais membros designados ou não elei- Federal diretamente. Passaremos a comentá–las, se-
pelo representante da OAB. tos diretamente pelos advogados, como admitia o guindo a ordem do Estatuto.
anterior Estatuto com relação aos indicados pelo
DIRETORIA DO CONSELHO FEDERAL Instituto dos Advogados, que ocupavam um quarto Regimento interno e resoluções
do total das vagas.
A diretoria do Conselho Federal é composta de O presidente nacional, os conselheiros federais, I – Cabe ao Conselho Seccional editar seu regi-
cinco membros, servindo de parâmetro para todos o presidente da Caixa de Assistência e os presidentes mento interno e resoluções gerais e específicas, se-
os órgãos da OAB: presidente (que é ao mesmo tem- de Subseções, quando presentes, têm também direi- gundo o modelo dos Provimentos. O regimento in-
po presidente nacional da OAB), vice–presidente, to a voz, mas não se consideram membros perma- terno não precisa ser submetido ao Conselho Fede-
secretário–geral, secretário–geral adjunto e tesou- nentes do Conselho. Com exceção do presidente do ral, porque este dispõe de instrumentos inibitórios e
reiro. Instituto, porque tem assento perma-nente, não há invalidantes, se ultrapassar a competência do Con-
Com exceção do presidente, os demais dire-to- obrigatoriedade de convocá–los às sessões, mas po- selho ou violar o Estatuto e legislação regulamentar,
res têm suas atribuições definidas no Regulamento dem comparecer sempre que deseja-rem, sendo– inclusive cassação e intervenção. Quanto maior o
Geral. O presidente exerce a representação nacional lhes assegurado o direito de assento e de voz em to- grau de autonomia, maior o da auto–responsabili-
e internacional, não apenas do Conselho Federal, das as matérias debatidas. dade.
mas da OAB, constituindo órgão mediante o qual se O Conselho Seccional delibera com a presença Como já decidiu o Conselho Federal, “de ofício
expressa publicamente. da maioria absoluta de seus membros eleitos (meta- ou a pedido, compete ao Conselho modificar ou
A Presidência é órgão dúplice, com atribui-ções de mais um dos conselheiros e dos diretores). A re- cancelar dispositivo de Regimento de Conselho Sec-
afetas ao Conselho e próprias, ou seja, executivas e gra do anterior Estatuto (um terço) foi suprimida, cional, que colida com o Estatuto, o Regulamento
de administração do Conselho. Ao contrário do an- retomando–se o princípio comum. Não se incluem Geral, o Código de Ética ou Provimento”.
terior, o Estatuto não especifica as atribuições dos no cômputo do quorum mínimo os ex–presidentes, Por tais razões não há liberdade total de conte-
membros da diretoria, nem do presidente, exceto com ou sem direito a voto, nem os que têm apenas údo, porque são observados os limites de sua com-
quanto aos poderes de representação (rectius pre- direito a voz. O quorum é de instalação da sessão e petência e as diretrizes legais. Na dúvida, o Regula-
sentação). Fê–lo o Regulamento Geral, com discipli- para cada votação, prevalecendo o voto da maioria mento Geral é sempre um parâmetro seguro. Deci-
na especificada nos arts. 98 a 104. presente. diu o Conselho Federal que o Regimento Interno da
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Seccional não pode delegar a outro órgão ato priva- TCA–AC, julgado em 2004) admitiu que a rejeição do em sessão), submetendo–o à decisão final do
tivo do Presidente daquela. das contas do Conselho Seccional pelo Conselho Fe- Conselho Seccional.
deral estaria sanada se este, posteriormente, tivesse Quando não houver Subseção o pedido será
Criação de Subseções e Caixa de Assistência convertido o débito em auxílio financeiro. instruído pela Secretaria do Conselho Seccional e
O Regulamento Geral (art. 60) obriga a a-pro- distribuído a relator ou comissão, que o submeterá à
II – Compete ao Conselho Seccional criar as vação de um orçamento anual, para cada órgão da sessão da Câmara competente ou do Pleno do Con-
Subseções que julgar necessárias, observados os cri- OAB, exceto no caso das Caixas e das Subseções, que selho, na forma de seu regimento interno. Não há
térios estabelecidos no Estatuto e no Regulamento dependem do orçamento do Conselho Seccional. necessidade de análise prévia de comissão de seleção
Geral, definindo suas áreas territoriais e os limites e prerrogativas, porque deixou de ser obrigatória,
de sua autonomia. A criação não depende mais do Tabela de honorários salvo se o regimento interno do Conselho a manti-
referendo do Conselho Federal. ver.
Da mesma forma, com a revogação do De-cre- V – Compete ao Conselho Seccional fixar tabela A instrução é relativa à comprovação e análise
to–Lei n. 4.583, de 11 de agosto de 1942, a criação de honorários a que se submetem todos os seus ins- dos requisitos de inscrição, para o que remetemos o
da Caixa de Assistência não depende mais de apro- critos. Não existe uma tabela única nacional, tendo leitor aos comentários aos arts. 8º (advogado) e 9º
vação do Conselho Federal, bastando que o seu Esta- cada Conselho Seccional ampla liberdade para orga- (estagiário).
tuto seja aprovado pelo Conselho Seccional, que nizá–la. A tabela estabelece os parâmetros mínimos,
também é o órgão próprio para registro, mas pode (e deve) indicar os limites máximos em Cadastro de inscritos
atribuindo–lhe personalidade jurídica. Os procedi- várias situações de maior risco de abusos. Deve ela
mentos, que também envolvem as alterações do ato ser amplamente divulgada e encaminhada ao Poder VIII – Cabe ao Conselho Seccional manter ca-
constitutivo, são estabelecidos pelo Regulamento Judiciário para conhecimento dos juízes, particular- dastro de seus inscritos, na forma e condições esta-
Geral. mente tendo em vista os hono-rários atribuídos aos belecidas em seu regimento interno, que definirá o
advogados que prestarem assistência jurídica, por diretor responsável. O cadastro envolve os assenta-
Recursos – III impossibilidade parcial ou total da Defensoria Pú- mentos necessários de identidade do inscrito, de al-
blica, conforme prevê o art. 22 do Estatuto. terações e registro de infrações disciplinares, o ar-
O Conselho Seccional é instância recursal em A cobrança de honorários aviltados, inferi-ores quivo dos documentos e processo de inscrição, e o
face das decisões de todos os órgãos da OAB a ele aos estabelecidos na tabela, ou superiores aos limites nome da sociedade de advogados de que faça parte o
vinculados: Tribunal de Ética, seu presi-dente, sua máximos, constitui infração disciplinar, punível inscrito.
diretoria, diretorias das Subseções e da Caixa de As- com sanção de censura (art. 36, III, do Estatuto). Diante da tecnologia da informática, todos os
sistência. Prevalece a tabela do Conselho Seccional do lo- assentamentos podem ser processados em compu-
Nenhum recurso pode ser encaminhado direta- cal onde os serviços do advogado sejam prestados, e tador e, se for o caso, microfilmados os processos
mente ao Conselho Federal sem decisão do Conse- não a do Conselho de sua inscrição originária, por- findos destinados à incineração. O cadastro nacional
lho Seccional. Mesmo quando a Subseção conte com que o primeiro é o competente para julgar as infra- dos inscritos é organizado pelo Conselho Federal,
Conselho, este não pode rever os atos de sua direto- ções disciplinares deles decorrentes. Esse princípio com os dados de assentamentos dos Conselhos Sec-
ria, como comentaremos adiante. Sobre a sistemáti- aplica–se assim aos de inscrição suplementar como cionais, permitindo fácil acesso para as informações.
ca dos recursos remetemos o leitor aos comentários aos que exercerem eventualmente a advocacia fora Obriga–se o presidente do Conselho Seccional a re-
ao art. 76. de seu domicílio profissional (até cinco causas). meter à secretaria do Conselho Federal o cadastro
atualizado de seus inscritos até o dia 31 de março de
Relatório e contas Exame de Ordem cada ano. O Cadastro Nacional dos Advogados está
regulado no Provimento n. 95/2000, cujas informa-
IV – O Conselho Seccional exerce as funções de VI – A realização do Exame de Ordem, obriga- ções (nome, número de inscrição, endereço e telefo-
Conselho Fiscal de amplo espectro: fiscaliza a aplica- tório para os que desejarem inscrever–se na OAB, é ne profissionais, endereço eletrônico, regularidade
ção da receita e aprova ou desaprova o balanço e as responsabilidade dos Conselhos Seccionais, que po- da inscrição) estão disponíveis a qualquer consulen-
contas de sua diretoria, das diretorias das Subseções dem delegá–la às Subseções, sob suas diretrizes e te, principalmente nas páginas da web do Conselho
e da Caixa. Assumiu as atribuições que antes eram controle. O Exame está regulamentado em Provi- Federal e do Conselho Seccional.
cometidas à Assembleia geral (sobre esta vejam–se mento específico do Conselho Federal, estabelecen- Todas as informações contidas no cadastro são
os comentários ao art. 45). Contra sua decisão, cabe do um padrão nacional. públicas, exceto as relativas às sanções de censura
recurso ao Conselho Federal. Cada Conselho Seccional mantém uma Comis- (art. 35, parágrafo único), cujo acesso só é admissí-
A fiscalização das contas é um procedimento de são de Estágio e Exame de Ordem, competindo–lhe vel aos órgãos da OAB. Não podem ser anotados
caráter permanente e deve ser atribuída a uma co- organizá–lo conforme prevê o Regulamento Geral. nem informados os processos disciplinares em an-
missão (permanente) de orçamento e contas, eleita A Comissão indica os integrantes das bancas exami- damento ou em grau de recurso, as sanções de ad-
pelo Conselho Seccional, dentre seus membros. Po- nadoras que são designadas pelo presidente do Con- vertência e as que foram canceladas em virtude de
dem ser utilizados os serviços de auditoria indepen- selho Seccional. reabilitação, que têm arquivo à parte e mantido sob
dente para auxiliar a comissão. Sobre o Exame de Ordem ver os comentários ao sigilo.
O exercício financeiro sempre coincide com o art. 8º.
ano calendário, encerrando–se no dia 31 de dezem- Contribuições obrigatórias
bro. Inscrição de advogados e estagiários
Apenas os relatórios, balanços e contas de sua IX – A competência para fixar e receber contri-
própria diretoria são submetidos diretamente à ho- VII – Cabe ao Conselho Seccional decidir os pe- buições obrigatórias, multas e preços de serviços é
mologação do Conselho Federal. As contas devem didos de inscrição de advogados e estagiários. O Es- do Conselho Seccional. As anuidades devidas pelos
observar o orçamento anual aprovado (ver inciso tatuto flexibilizou a sistemática anterior, prevendo advogados devem ser fixadas até a última sessão or-
XII, abaixo). Se as contas forem rejeitadas por ra- duas fases: a primeira, de instrução, e a segunda, de dinária do ano anterior, salvo em ano eleitoral,
zões formais, as irregularidades poderão ser supri- julgamento. O pedido de inscrição terá início na quando serão fixadas na primeira sessão após a pos-
das. Se a rejeição for de mérito, os responsáveis res- Subseção, onde seja domiciliado o interessado, des- se, podendo ser estabeleci das em cotas periódicas.
ponderão nos âmbitos disciplinar, penal e civil. O de que conte com Conselho (art. 61, parágrafo úni- Sobre a natureza e características dessas receitas, ver
Conselho Federal (3ª Câmara, Proc. n. 1.973/1997– co), que o instruirá e emitirá parecer prévio (aprova- os comentários ao art. 46. O Conselho Federal, as
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Subseções e a Caixa da Assistência não as recebem Para intervir nas Subseções e na Caixa de Assis-
diretamente, mas mediante transferência do Conse- Orçamento anual tência exige–se quorum especial de dois terços.
lho Seccional. Observado o paradigma de intervenção previs-
O percentual cabível ao Conselho Federal é de- XII – O Conselho Seccional deve aprovar o or- to no art. 54, VII, do Estatuto, o Regulamento Geral
finido no Regulamento Geral. As transferências çamento do ano seguinte, fixando receita e despesa, atribui ao Regimento Interno do Conselho Seccional
para as Subseções e a possível competência destas inclusive as transferências para o Conselho Federal, competência para regulá–la, supletivamente.
para recebê–las diretamente são definidas no orça- Subseções e Caixa de Assistência. Sempre que neces-
mento anual, no regimento interno do Conselho sário poderá modificá–lo. O quorum de deliberação DIRETORIA DO CONSELHO SECCIONAL
Seccional ou no ato de constituição de cada Subse- é o comum: maioria absoluta de seus membros elei-
ção. A parte da Caixa de Assistência já está determi- tos. A diretoria do Conselho Seccional é equivalente
nada no Estatuto (art. 62, § 5º), ou seja, a metade lí- à do Conselho Federal, a saber: presidente, vice–
quida das anuidades, consideradas as deduções pre- Tribunal de Ética e Disciplina presidente, secretário–geral, secretário–geral adjun-
vistas no art. 56 do Regulamento Geral. Os gastos to e tesoureiro. Houve mudança das denominações
com cursos jurídicos pelo Conselho Seccional não XIII – O Tribunal de Ética e Disciplina é uma anteriores de 1º secretário e 2º secretário. As atri-
podem ser superiores ao valor devido ao fundo cul- das mais importantes inovações do Estatuto. Com- buições de cada membro da diretoria, e da diretoria
tural (Ementa n. 009/2003/TCA). pete a cada Conselho Seccional criá–lo e definir sua como órgão conjunto deliberativo e executivo, são
O Conselho Federal da OAB admitiu que a Sec- composição (totalidade, origem e eleição dos mem- definidas no regimento interno do Conselho Seccio-
cional da OAB possa cobrar anuidade de seus advo- bros) e funcionamento. O tribunal, de natureza dis- nal, guardando simetria com as da diretoria do Con-
gados e estagiários inscritos proporcional ao perío- ciplinar, assume funções relevantes, de duplo espec- selho Federal, estas determinadas pelo Regulamento
do de inscrição (Consulta n. 001712003/0EP–PE). tro: a) como órgão julgador, decidindo todos os pro- Geral.
cessos disciplinares instruídos pelo Conselho ou pe- A representação ativa ou passiva, em juízo ou
Concursos públicos las Subseções; b) como órgão de consulta e de pro- fora dele, é indelegavelmente do presidente, que de-
moção da ética profissional. Os procedimentos que tém apenas o voto de qualidade nas sessões do Con-
X – O Conselho Seccional participa dos concur- deve observar estão previstos no Código de Ética e selho, além de poder interpor o específico recurso de
sos públicos para ingresso na Magistratura e no Mi- Disciplina. embargo à decisão não unânime, para que seja rea-
nistério Público (previstos na Constituição) e outras Mediante Provimento, o Conselho Federal preciada a matéria em sessão seguinte.
carreiras jurídicas (previstos nas leis específicas), de também atribuiu ao tribunal a competência para
caráter local, em todas as suas fases, o que inclui a conciliação, quando a representação contra advoga- NATUREZA E ESTRUTURA DA SUBSEÇÃO
formulação dos programas e sua organização. O re- do for requerida por outro advogado. Frustrando–
presentante da OAB não tem função meramente se a conciliação, o processo seguirá o rito previsto. O Estatuto manteve a denominação de Subse-
formal, pois é integrante da banca examinadora e Os membros podem ser recrutados dentro ou ção, talvez em homenagem ao uso tradicional. No
fiscal. Cabe–lhe a vigilância, a denúncia ao Conselho fora do próprio Conselho, sendo recomendável o entanto, não mais existe “Seção” e tão–somente
e, se autorizado por este, retirar–se dos trabalhos, concurso de advogados prestigiados pela classe, Conselho Seccional. O anteprojeto da OAB, de for-
em caso de violação das leis e quebra dos princípios mesmo que não integrantes de órgãos da OAB. Os ma mais coerente, tinha sugerido alterar o termo
de isonomia dos concorrentes, da moralidade admi- membros do tribunal exercem mandato, com prazo Subseção para Seção, assim entendida a parte autô-
nistrativa e da impessoalidade (art. 37 da Constitui- definido no regimento interno do Conselho, sendo noma do Conselho Seccional (aliás, a denominação
ção). irremovíveis, salvo nas mesmas hipóteses de perda do anteprojeto era “Estadual”), mas o Congresso
A designação do representante da OAB é de ex- de mandato dos conselheiros. De suas decisões cabe Nacional preferiu retomar a terminologia anterior.
clusiva competência do Conselho Seccional, não po- recurso ao Conselho Seccional. A Subseção foi o órgão da OAB que maior
dendo haver imposição de requisito ou condição por transformação sofreu com o novo Estatuto. O Esta-
parte do órgão público. O Conselho Pleno do Conse- Listas sêxtuplas tuto anterior apenas se referia a sua diretoria, sem
lho Federal da OAB decidiu que era flagrantemente estabelecer estrutura, atribuições e os meios de atua-
inconstitucional resolução de Tribunal de Justiça XIV – O Conselho Seccional elabora as listas ção. Seu disciplinamento básico está preceituado no
que determinou a indicação do representante da sêxtuplas para composição dos tribunais com juris- Regulamento Geral.
OAB mediante lista sêxtupla para que o tribunal fi- dição no território coincidente com o de sua compe- A Subseção é parte autônoma do Conselho sec-
zesse a escolha. tência, inclusive dos tribunais federais. Também cional, com jurisdição sobre determinado espaço
participa da composição da lista quando o tribunal territorial daquele. Não é dotada de personalidade
Trajes dos advogados tiver abrangência interestadual, incluindo o territó- jurídica própria ou de independência, mas atua com
rio de sua competência. Também compete aos Con- autonomia no âmbito de sua competência. É órgão
XI – É da competência do Conselho Seccional selhos Seccionais a indicação dos candidatos que in- do Conselho Seccional mas também é da OAB,
determinar os critérios que envolvem o conceito in- tegrarão as listas para os respectivos tribunais de como sua menor unidade. Autonomia, ao contrário
determinado de “estar conve-nientemente trajado”. justiça desportiva. de independência, pressupõe vínculo.
Nenhum magistrado, tribunal ou autoridade tem o A matéria está disciplinada no Provimento n. A criação da Subseção é ato exclusivo do Con-
poder de polícia para determinar que o advogado ou 102/2005 do Conselho Federal. Ver, também, os co- selho Seccional, que define sua área de jurisdição, o
a advogada deva trajar–se desta ou daquela manei- mentários ao art. 54, XIII. grau de competência (que pode variar de uma para
ra, como, por exemplo, exigência de temo e gravata outra) e a participação na receita e no orçamento,
para os advogados ou proibição de calça comprida Intervenção para manter–se. Não há mais necessidade de homo-
para as advogadas. Se os profissionais estão trajados logação do Conselho Federal. O critério básico esta-
segundo os costumes do lugar e das pessoas co- XV – O Conselho Seccional detém o poder de belecido pelo Estatuto é o da existência de um míni-
muns, sem extravagâncias, não podem ser obriga- intervir nas Subseções e na Caixa de Assistência, mo de quinze advogados com domicílio profissional
dos a outro padrão de vestuário. Há registros de vá- diante das mesmas hipóteses e condições da inter- (ver, a respeito, os comentários ao art. 10) na área
rios constrangimentos sofridos por advogados, em venção do Conselho Federal nos Conselhos Seccio- respectiva, salvo se o regimento interno do Conse-
virtude de idiossincrasias estéticas de magistrados e nais, para cujos comentários remetemos o leitor lho Seccional exigir maior número.
autoridades. Daí a oportunidade desse preceito le- (art. 54, VII). A competência é também privativa do Conse-
gal. lho Seccional no caso de desmembramento de Sub-
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seção, havendo desnecessidade de referendo do As competências da Subseção são de duas or- além de colaborar com a diretoria da Subseção na
Conselho Federal. dens: a) competências legais; b) competências dele- distribuição das tarefas da OAB local. Há Subseções
Definido o alcance de sua autonomia, no seu gadas. com um número de advogados jurisdicionados su-
ato constitutivo ou no regimento interno do Conse- As competências legais são estabelecidas no Es- perior a de determinados Conselhos Seccionais, não
lho Seccional, este não pode mais interferir no exer- tatuto, correspondentes às competências comuns sendo recomendável tratamento legal uniforme
cício regular e lícito. da competência específica da dos Conselhos Federal e Seccional da OAB, e no Re- para situações tão heterogêneas.
Subseção, salvo quando violados forem este Estatu- gulamento Geral (competências legais específicas).
to, a legislação regulamentar ou o regimento interno Compete às Subseções, no âmbito de seu território, ORIGEM E OBJETIVOS DA CAIXA DE ASSIS-
ASSIS-
dele. cumprir as finalidades da OAB (ver os comentários TÊNCIA DOS ADVOGADOS
O Estatuto abre a possibilidade para o livre es- ao art. 44), velar pela independência, dignidade e
tabelecimento da área territorial da Subseção, ou de prerrogativas da advocacia (ver os comentários ao As Caixas de Assistência dos Advogados tive-
sua modificação ulterior, pelo Conselho Seccional, art. 54, III) e representar a OAB perante os poderes ram origem legal com o Decreto–Lei n. 4.563, de 11
ou seja, abrangendo um município, parte de muni- constituídos locais. de agosto de 1942 que permitia que as Seções da
cípio ou mais de um município, incluindo a capital As competências delegadas são as estabelecidas OAB pudessem instituí–Ias por deliberação das res-
da unidade federativa onde esteja sediado o Conse- pelo Conselho Seccional, no ato constitutivo da Sub- pectivas Assembleias gerais, com aprovação do
lho. Esta última hipótese é interessante e deve ser seção, no regimento interno do Conselho Seccional Conselho Federal. Havia previsão para uma direto-
viabilizada, para descentralizar ao máximo as ativi- ou em resolução deste que as defina. A delegação de ria de três membros e três suplentes e mais um Con-
dades executivas do Conselho Seccional, sem risco competência é ato discricionário do Conselho Sec- selho Fiscal de três membros, todos eleitos pelo
de perda da importância simbólica de sua represen- cional e não de sua diretoria, que também poderá Conselho Seccional. Não havia clareza quanto à per-
tatividade. Afinal, como vimos acima, é imenso o estabelecer prazo e suprimi–lo, quando julgar con- sonalidade jurídica das Caixas. O Decreto–Lei n.
elenco de suas atribuições de coordenação, repre- veniente. A delegação poderá ser geral ou específica 4.563/42 conviveu com a Lei n. 4.215/63, que não o
sentação da classe, instância recursal, formulação de para determinadas Subseções. Uma hipótese razoá- revogou.
diretrizes gerais e de atuação institucional. vel é a de poder receber diretamente as contribui- O atual Estatuto revogou não apenas o De-cre-
Não pode haver conflito de atribuições entre ções obrigatórias dos advogados e aplicá–las na pró- to–Lei n. 4.563/42, mas toda a legislação comple-
Subseção e Conselho Seccional, porque para este pria Subseção. mentar, uma vez que cuidou inteiramente das Cai-
prevalece o princípio da supremacia do todo sobre a xas de Assistência, elevando–as à condição de ór-
parte. Qualquer eventual conflito entre as diretorias CONSELHO DA SUBSEÇÃO gãos da OAB (art. 45). As normas estatutárias pro-
de ambos os órgãos será dirimido pelo Conselho curam encerrar conflitos e controvérsias que sem-
Seccional, sem interferência do Conselho Federal, O Estatuto abre a possibilidade de as Subseções pre emergiram entre Conselho Seccional e Caixa,
salvo como instância recursal regular, ou então maiores contarem com Conselho para distribuição procurando redimensionar a natureza do vínculo
quando a maioria dos conselheiros for direta ou in- de suas atividades. O requisito mínimo é a existência entre ambas as entidades.
diretamente interessada na decisão. de pelo menos cem advogados com domicílio pro- A Caixa é concebida como órgão assistencial e
Os advogados residentes na área territorial de fissional na área de jurisdição da Subseção, salvo se de seguridade da OAB, vinculada ao respectivo Con-
jurisdição da Subseção a ela se vinculam. O vínculo é o regimento interno do Conselho Seccional exigir selho Seccional. O vínculo está assim constituído: a
de caráter administrativo e decorre da descentrali- número maior. Cabe ao Conselho Seccional definir eleição da diretoria da Caixa é feita em conjunto
zação das atividades da OAB. Contudo, o domicílio o número de seus membros e as competências dele- com o Conselho na mesma chapa; o Conselho é o
profissional corresponde a todo o território da uni- gadas que poderá desempenhar, além das compe- órgão que a cria; o Conselho tem poder de interven-
dade federativa, a saber, do Estado–membro, do tências legais previstas no Estatuto. ção e cassação; o Conselho destina metade líquida
Distrito Federal ou do Território Federal, como de- O Conselho da Subseção, quando existir e for das anuidades para a manutenção da Caixa; o Con-
terminam os arts. 10 do Estatuto e 117 do Regula- criado pelo Conselho Seccional, desempenha as fun- selho aprecia as contas da Caixa; o Conselho é a ins-
mento Geral. ções deste, onde couber, mas não constitui órgão hi- tância recursal contra as decisões da Caixa.
erarquicamente superior à diretoria. Atua paralela- A personalidade jurídica da Caixa dá–se com a
DIRETORIA DA SUBSEÇÃO mente a esta, em colaboração, segundo a distribui- aprovação e registro de seu estatuto pelo Conselho
ção de competências fixada em seu regimento inter- Seccional, que detém competência de registro, dis-
A Subseção é administrada por uma diretoria no, aprovado pelo Conselho Seccional. Portanto, a pensado o registro civil de pessoas jurídicas, como já
que tem as mesmas composições e atribuições da di- direto-ria da Subseção não perde nem reduz suas ocorria com as sociedades de advogados, durante a
retoria do Conselho Seccional, que por sua vez guar- competências com a criação do Conselho, porque vigência da Lei n.4.215/63.
da equivalência com a do Conselho Federal, ou seja, este tem acrescidas atribuições que a ela não eram Para criação de Caixa, o Estatuto prevê um re-
de cinco membros. O Estatuto, contudo, não se refe- cometidas. De qualquer forma, a diretoria do Con- quisito mínimo de mil e quinhentos inscritos no
re à equivalência das denominações, sendo razoável selho é a mesma da Subseção. Assim, não há total si- Conselho Seccional (art. 45, § 4º). O Estatuto não
que não reproduza os termos que causem confusão metria entre o Conselho Seccional e o Conselho da mais especifica a assistência e tipos de benefícios a
com os cargos da diretoria do Conselho Seccional. Subseção. serem prestados aos advogados pela Caixa, remeten-
São estes os cargos: presidente, vice–presidente, se- O Conselho da Subseção pode editar resoluções do a matéria ao estatuto aprovado ou modificado
cretário, secretário adjunto e tesoureiro. no âmbito de sua competência específica, e deve ins- pelo Conselho Seccional. Abre, no entanto, a possi-
Ao presidente compete a representação ativa ou taurar e instruir processos disciplinares para decisão bilidade de atuar amplamente no campo da seguri-
passiva, judicial e extrajudicial, da Subseção e dos do Tribunal de Ética (ver os comentários ao art. 58, dade complementar, em todas as suas dimensões:
advogados e estagiários jurisdicionados. O Estatuto XIII, e, abaixo, ao processo disciplinar) e receber e saúde, previdência e assistência social, não só com
outorga–lhe expressamente a legitimidade proces- instruir pedidos de inscrição de advogados e estagiá- seus recursos próprios mas com planos de saúde e
sual no art. 49 (ver, acima, os comentários a respei- rios, para decisão do Conselho Seccional (ver os co- previ-dência a que adiram os advogados, constituin-
to). mentários ao art. 58, VII). Os procedimentos a se- do fundo de pensão estável e seguro. Não poderá ser
rem seguidos, relativamente à instrução de proces- negado auxílio financeiro previsto pela Caixa (no
COMPETÊNCIAS DA SUBSEÇÃO sos, estão previstos no Regulamento Geral. caso, foi o auxílio–educação), .se o advogado estiver
O objetivo da criação do Conselho de Sub-seção em débito com a Ordem, hipótese que deve ser ana-
é a descentralização das atividades do Conselho Sec- lisada caso a caso.
cional, atuando aquele como braço auxiliar deste,
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A Terceira Câmara do CF/OAB decidiu que O Órgão Especial do Conselho Federal, respon- mentar, nomeando–se diretoria provisória. Essa de-
deve ser negado auxílio pecuniário a advogado que, dendo à consulta, esclareceu que o repasse feito à cisão depende de quorum especial de dois terços
suspenso do exercício profissional em débito com a Caixa é de 50% das anuidades, excluídas as dedu- (art. 108 do Regulamento Geral), assegurando–se à
anuidade, requerer à Caixa auxílio mensal para pa- ções do Conselho Federal, do fundo cultural e das diretoria acusada amplo direito de defesa.
gamento desta e manter–se na fruição dos demais despesas administrativas e de manutenção da Sec- As Caixas são integradas por um órgão coletivo
benefícios (Rec . n.0233/2002/TCA–MG). cional, isto é, 50% sobre 55% da receita líquida das de assessoramento do Conselho Federal da OAB
As Caixas de Assistência têm autogoverno? Ou anuidades (Consulta n. 218/98/0EP). (Coordenação Nacional das Caixas) relativa-mente
apenas, exercem os atos que os Conselhos Seccio- Todas as receitas da Caixa, de qualquer espécie, à política nacional de assistência e seguridade.
nais deliberam? O autogoverno é conseqüência da devem ser depositadas em agências bancárias ofi-
autonomia inevitável de quem é dotada de persona- ciais, considerando a finalidade da norma legal de SISTEMA E DATA DA ELEIÇÃO GERAL DOS
lidade jurídica própria. Se as Caixas a têm, por força resguardar os recursos públicos geridos pela entida- MEMBROS DE ÓRGÃOS DA OAB
de lei, então os vínculos com o Conselho Seccional de.
são estabelecidos com respeito às suas competências Entendeu o Conselho Pleno do Conselho Fede- O Estatuto unificou o sistema de eleição para os
específicas. Da mesma forma como se dá, no paradi- ral da OAB que, na forma da Resolução n. 1.914/92 cargos da OAB, que se processará na mesma data. A
gma federalista, entre a União e os Estados–mem- do Banco Central, podem ser constituídas coopera- eleição é direta para todos os cargos, salvo para o de
bros. Embora haja coordenação de atividades e tivas de crédito, voltadas a advogados, mas delas não presidente nacional da OAB, que é semidireta. São
competências, não há subordinação ou hierarquia, o podem participar a OAB ou as Caixas, ainda que seja estas suas características gerais:
que ocorreria se a Caixa fosse um órgão executivo lícito o estímulo à sua constituição. a) votação direta, de todos os advogados, de ca-
desvestido de autonomia e personalidade jurídica ráter obrigatório;
Os vínculos legais existentes e o sistema de controle PECULIARIDADES DA CAIXA b) votação em chapa completa (diretoria e de-
do Conselho Seccional sobre a Caixa não a tornam mais membros do Conselho Seccional, conselheiros
órgão subordinado àquele, ou parte não autônoma. Não há necessidade de Conselho Fiscal da Cai- federais, diretores da Caixa de Assistência, diretores
Na hipótese de conflito de competência, em xa, porque esta competência é do Conselho Seccio- da Subseção quando for este o caso);
matérias expressamente não previstas, dá–se a solu- nal (art. 58, IV, do Estatuto). Inclusive para julgar c) data única;
ção pelo princípio da supremacia do órgão hie- suas contas. d) cédula única, salvo quando for utilizada urna
rárquica-mente superior sobre o inferior. Na situa- A Caixa detém patrimônio próprio, porque é eletrônica;
ção peculiar das Caixas, por serem dotadas de perso- dotada de personalidade jurídica distinta, embora e) mandato uniforme de três anos.
nalidade jurídica própria, havendo conflito em ma- sob fiscalização e controle permanentes do Conse- Na segunda quinzena do mês de novembro do
térias em que os membros do Conselho Seccional, lho Seccional respectivo. Em caso de extinção da último ano do mandato, os Conselhos Seccionais
em sua maioria, sejam direta ou indiretamente inte- Caixa, seu patrimônio será destinado ao Conselho devem realizar as eleições, em dia previamente defi-
ressados, transfere–se ao Órgão Especial do Conse- Seccional a que se vincule. nido, segundo os critérios e procedimentos defini-
lho Federal a competência para decidi–lo, conforme A Caixa goza de imunidade tributária total em dos pelo Regulamento Geral.
prevê o art. 85 do Regulamento Geral. relação a seus bens, rendas e serviços, conforme pre- Não se observam mais as formalidades de aber-
visão expressa do § 52 do art. 45 do Estatuto. O ca- tura, continuidade e encerramento de Assembleia
DIRETORIA E MANUTENÇÃO DA CAIXA put do art. 45 inclui entre os órgãos da OAB a Caixa. geral, porque esta foi dispensada pelo Estatuto. A
A Corte Especial do STJ (CC 36.557, 2003) decidiu comissão eleitoral, composta de cinco advogados
A diretoria, segundo o paradigma da diretoria que as Caixas de Assistência, por serem órgãos vin- ausentes da disputa e escolhida pela diretoria, é in-
do Conselho Federal, é composta de cinco mem- culados diretamente à OAB, prestam serviços públi- dispensável, substituindo a mesa da Assembleia,
bros: presidente, vice–presidente, secretário, secre- cos, devendo por isso ter o mesmo tratamento jurí- competindo–lhe conduzir a eleição, designar mesas
tário–adjunto e tesoureiro, eleitos diretamente pelos dico, particularmente quanto à competência da Jus- receptoras, apurar os votos e proclamar o resultado.
advogados na mesma chapa do Conselho Seccional tiça Federal para julgar as ações em que sejam inte- Não serão mais admitidas cédulas eleitorais va-
que obtiver a maioria dos votos. As atribuições dos ressadas. Argumentou o tribunal que o fato de o art. riadas, porque maculam o sigilo do voto. A cédula é
membros da diretoria, e da diretoria como órgão de- 45 do Estatuto dizer que as Caixas são dotadas de única, constando apenas as indicações das chapas
liberativo, são definidas no estatuto da Caixa (o Es- personalidade jurídica própria não subtrai a sua concorrentes, para livre escolha do eleitor. No caso
tatuto refere–se equivocadamente a regimento in- condição de órgão da OAB, assim como os são os da Subseção, a cédula será complementada com as
terno no § 42 do art. 62, porque o § 12 prevê criação Conselhos Seccionais, que por igual incluem–se na chapas concorrentes à diretoria e ao seu Conselho,
mediante estatuto, não sendo razoável a convivência competência da Justiça Federal. Antes, o STF já ti- se houver.
de dois diplomas com a mesma finalidade). nha conferido imunidade tributária às Caixas, con- O comparecimento dos advogados inscritos no
A Caixa é mantida pelo Conselho Seccional, siderando–as órgãos da OAB, constituída da mesma Conselho Seccional à eleição é obrigatório, ficando
mediante transferência de metade líquida das anui- natureza desta (RE 272.176–6). sujeita à multa de 20% do valor da anuidade a au-
dades, segundo os critérios previstos nos arts. 56 e A Caixa está submetida à fiscalização dos Con- sência não justificada. O advogado licenciado, em
57 do Regulamento Geral. Essa transferência deve selhos de Farmácia e de Medicina, bem como dos virtude de incompatibilidade temporária, não pode
dar–se incontinenti à efetivação das receitas men- órgãos de saúde pública, no que pertine ao exercício votar e não pode ser multado em virtude de sua au-
sais. Não estão incluídas as multas e preços de servi- do poder de polícia desses órgãos, exclusivamente sência, desde que do conhecimento da OAB. Se não
ços. A Caixa pode obter receitas próprias, oriundas no que disser respeito às atividades de saúde e medi- comunicou a função incompatibilizante está sujeito
de leis específicas, de seus serviços ou da implemen- camentos por ela exercidas, e dos profissionais que à sanção disciplinar (art. 36, III, do Estatuto) e seu
tação de planos de seguridade complementar. empregue, nos limites da legislação aplicável. voto pode ser impugnado. Nessa direção, decidiu o
O orçamento da Caixa é aprovado por ela pró- Todos os atos conclusivos e relevantes da Caixa, Órgão Especial do Conselho Federal da OAB (Con-
pria, na forma de seu Estatuto, não podendo o Con- com efeitos em interesses de terceiros, devem ser sulta n. 0013/2003/0EP–TO) que o assessor de de-
selho Seccional alterá–lo. Compete ao Conselho fis- publicados na imprensa oficial, na íntegra ou em re- sembargador, por exercer função incompatível com
calizar todas as atividades da Caixa, inclusive a apli- sumo. a advocacia, não pode votar em eleição da OAB.
cação da receita, mas não pode interferir no planeja- O Conselho Seccional pode intervir na Caixa Em qualquer hipótese, a impugnação ao voto
mento orçamentário, salvo se houver violação da le- (arts. 58, XV, e 62, § 72, do Estatuto), em caso de de eleitor eventualmente não inscrito na OAB deve
gislação aplicável. descumprimento de suas finalidades pela diretoria ser feita no ato da votação, sendo defesa a posteriori,
ou quando esta violar o Estatuto e legislação regula- como decidiu o Órgão Especial (Proc. n. 0006/
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2002/0EP–SP); com efeito, a impugnação posterior cia, mesmo por vias diversas daquelas sugeridas” pe- (Rec. n. 0391/2004–TCA–DF) a substituição de in-
à votação deixá–la– ia à conveniência da chapa con- las referidas normas, “meramente exemplificativas”. tegrante da chapa ocupante de cargo incompatível
corrente, se o resultado lhe fosse desfavorável, o que O Estatuto exige comprovação de situação regu- com a advocacia em data posterior à do protocolo de
significaria agir contra o ato próprio (venire contra- lar junto à OAB, significando que: inscrição.
fac–tum proprium). Como decidiu a Terceira Câ- a) esteja em dia com o pagamento das contri- Durante a votação, não pode o eleitor substituir
mara (Rec. n. 0350/2004– TCA–MG), o resultado buições obrigatórias ou multas; ou suprimir integrantes da chapa, para que não haja
da eleição “deve ser preservado quando o ato moti- b) não esteja exercendo cargo incompatível, em risco de invalidação e quebra do sigilo.
vador do recurso não houver sido impugnado no caráter permanente ou temporário (ver os co-men- Ocorrendo a hipótese de empate entre as cha-
momento de sua realização”, em virtude de preclu- tários ao art. 27); pas concorrentes, novo pleito deverá ser realizado. o
são. c) não esteja em situação de descumprimento a Estatuto optou pelo início do mandato em 1º de ja-
O voto é secreto, invalidando–se a cédula que qualquer determinação da OAB. neiro do ano seguinte da eleição, exceto para o Con-
contiver qualquer rasura ou identificação. Outro requisito de elegibilidade é a ausência de selho Federal, que inicia em 1º de fevereiro seguin-
A Terceira Câmara do Conselho Federal da condenação disciplinar, salvo se houver sido reabili- te. Várias razões militaram em favor dessa mudança
OAB tem decidido que o Código Eleitoral constitui tado (ver comentários ao art. 41). Só pode ser consi- (antes as datas eram 1º de fevereiro e 1º de abril,
legislação supletiva do Estatuto nas eleições da OAB. derada a condenação definitiva transitada em julga- respectivamente), sendo a mais forte a de evitar ten-
O mesmo entendimento é o do Órgão Especial, de do. tativas lamentáveis de inviabilização ou esgotamen-
modo mais restrito, pois o Código Eleitoral apenas A condenação sujeita a recurso não impede a to das verbas orçamentárias por parte da diretoria
será aplicável quando inexistir totalmente norma da candidatura, porque não pode haver ainda registro do Conselho anterior contra a chapa vencedora que
entidade (Rec. n. 0004/2003/OEP–SP), devendo ser nos assentamentos do inscrito. A existência de sim- por ela não fora apoiada.
esgotadas todas as possibilidades de interpretação ples sanção disciplinar de advertência (ver comentá- A posse dos eleitos independe de qualquer ato
segundo as peculiaridades próprias. rios ao art. 36, parágrafo único) invalida a candida- da diretoria ou do Conselho anterior. Embora a pos-
Os procedimentos da eleição foram minuden- tura. se legal se dê em 1º de janeiro, feriado mundial, in-
temente disciplinados no Regulamento Geral, arts. O último requisito é o de não ocupar o concor- dependentemente de qualquer formalidade, nada
128 e seguintes, com a redação dada em 9 de dezem- rente cargo exonerável ad nutum. Na sistemática do impede que o novo Conselho programe festividades
bro de 2005. Destaque–se a proibição de propagan- Estatuto cargos dessa natureza não são necessaria- de posse para outra data que julgar conveniente.
da por meio de emissora de televisão ou rádio e por mente incompatíveis, salvo se corresponderem aos Ocorrendo dúvidas quanto à ordem dos su-
meio de outdoors em todo o país. A propaganda tipos do art. 28 (ver comentários acima). Para fins plentes eleitos, prevalece a regra geral da preferência
deve ser moderada, assim entendida a que não ul- de eleição, no entanto, invalidam a candidatura, seja da inscrição mais antiga.
trapasse um oitavo de página de jornal e um quarto ou não incompatível. Consideram–se tais os cargos O Estatuto prevê quatro hipóteses de perda do
de página de revista ou tabloide, tendo por fito redu- de provimento em comissão, de funções de confian- mandato antes de seu término, pondo cobro a algu-
zir os custos de campanha e evitar o abuso do poder ça ou administração na Administração Pública dire- mas divergências que emergiram na vigência da le-
político e econômico no âmbito da OAB. ta ou indireta (autarquias, fundações públicas, em- gislação anterior:
“As eleições vinculam–se ao disposto no Edital, presas de economia mista ou públicas). Decidiu o a) cancelamento da inscrição, de ofício ou por
cujos termos devem ser respeitados pelos candidatos e Conselho Federal da OAB (Rec. n. 004l/2004/TCA– comunicação de terceiro, por alguns dos motivos
suas respectivas chapas, a fim de assegurar um pro- MS) que a função de juiz leigo em juizado especial, preceituados no art. 11 do Estatuto (ver comentá-
cesso eleitoral justo e democrático” (Rec. n. por ser demissível ad nutum, torna o advogado ine- rios acima);
0003/2004– TCA –MT). legível. b) licenciamento voluntário ou legal (ver co-
O Regulamento Geral (art. 131) acrescentou as mentários ao art. 12);
REQUISITOS DE ELEGIBILIDADE exigências de estar o candidato inscrito na respecti- c) condenação disciplinar de qualquer tipo, em
va Seccional da OAB, com inscrição principal ou su- caráter definitivo;
Os candidatos integrantes da chapa, para qual- plementar, e de não estar em débito com a prestação d) falta injustificada a três reuniões sucessivas
quer cargo da OAB, necessitam comprovar que de contas ao Conselho Federal, no caso de dirigente de qualquer órgão deliberativo da OAB a que se vin-
exercem a profissão há mais de cinco anos, excluído de Conselho Seccional. cule (Pleno, Câmaras, Comissões permanentes ou
o período de estágio. Não basta a inscrição regular. especiais). Basta a falta sucessiva a um desses ór-
Apenas pode ser considerado o período ininterrup- CHAPA CONCORRENTE gãos, mesmo que comprove freqüência a outros, no
to, não podendo ser admitida a soma de períodos mesmo período.
descontínuos para o qüinqüênio274. A prova há de Não pode haver candidaturas isoladas ou pes- Além das hipóteses de perda, há extinção do
se fazer com documentos e certidões de efetivo exer- soais. Apenas serão admitidas candidaturas inte- mandato ou vacância de cargo diretivo nos casos de
cício profissional, no desempenho das atividades grantes de chapas completas que indiquem com cla- morte, incapacidade civil ou renúncia.
privativas de advocacia, previstos no art. 1º do Esta- reza quais os concorrentes aos cargos da diretoria e Nesse ponto é de ser salientada a peculiar natu-
tuto (ver comentários acima). A exigência do prazo do Conselho, de conselheiros federais e da diretoria reza do mandato de membro de órgão da OAB (art.
de cinco anos pode ser cumprida até o dia da posse da Caixa, além dos respectivos suplentes. No caso da 48 da Lei n. 8.906/94): é serviço público, de exercí-
legal e não até o dia das eleições, conforme decidiu a Subseção, a chapa específica indicará os concorren- cio gratuito e obrigatório. A gratuidade e, sobretudo,
Terceira Câmara do Conselho Federal da OAB, cujo tes aos cargos da diretoria e de seu conselho, quando a obrigatoriedade não estão aí colocadas como fa-
entendimento foi mantido pelo Órgão Especial, se- houver. culdade ou mera recomendação. Qualquer advoga-
guindo orientação adotada na jurisprudência dos O § 3º do art. 128 do Regulamento Geral esta- do é livre para ser eleito e empossado no cargo de
tribunais superiores (Proc. n. 351/2001/0EP–PR). belece importante regra de garantia de igualdade de membro de órgão da OAB.
Advoga-do que exerce atividade há mais de cinco competição entre as chapas, ao assegurar a cada A extinção, ocorrendo uma das hipóteses pre-
anos pode ser candidato, mesmo que sua inscrição uma o acesso à listagem atualizada com nome e en- vistas na lei, é automática, independendo de ato de-
suplementar na Seccional tenha tempo inferior dereço, inclusive eletrônico, dos advogados eleito- claratório do órgão da OAB. Cabe à Secretaria res-
àquele (Consulta n. 0014/2003/0EPPE). res. É possível a alteração da chapa, antes da eleição, pectiva, incumbida do registro das freqüências, co-
A exigência de efetivo exercício da advocacia, se algum integrante renunciar, falecer ou for consi- municar o fato ao presidente, para que este solicite
prevista nos arts. 5º e 131 do Regulamento Geral, derado inelegível, considerando–se votado o substi- ao Conselho Seccional competente a escolha do
deve receber tratamento restritivo, “mormente tuto (art. 131, § 6º, do Regulamento Geral). Nesse substituto (conselheiro federal, conselheiro seccio-
quando há prova da prática profissional da advoca- sentido, admitiu a Terceira Câmara do CF/OAB nal, diretor do Conselho, de Subseção ou da Caixa),
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caso não haja suplente eleito. Neste último caso, a o processo administrativo no âmbito da Adminis- da localidade do recorrente, no prazo assinalado,
posse será imediata. tração Pública Federal, aplicável supletivamente à torna tempestiva a interposição.
Se houver qualquer dessas hipóteses, antes da OAB, que apenas se exige no processo administrati-
posse, o mandato não se inicia, porém aplica–se vo a “observância das formalidades essenciais à ga- PODER DE PUNIR
analogicamente a mesma regra do parágrafo único rantia dos direitos dos administrados” e a “adoção de
do art. 66, ou seja, o Conselho Seccional empossado formas simples, suficientes para propiciar adequado O poder de punir advogado ou estagiário inscri-
elegerá o substituto. grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos tos na OAB por infração disciplinar relacionada
Entendeu a Terceira Câmara do Conselho Fe- administrados”; determina o art. 22 que “os atos do com a atividade profissional é exclusivo da OAB,
deral da OAB que, ocorrendo vaga em virtude de re- processo administrativo não dependem de forma de- não podendo fazê–lo qualquer outra autoridade
núncia (ou qualquer outra hipótese – acrescenta- terminada senão quando a lei expressamente exigir”. constituída, inclusive os magistrados. Sobre a advo-
mos), o candidato terá de obter maioria de votos do cacia pública, ver os comentários ao art. 3º, § 1º.
Conselho, não se considerando eleito se assim não PRAZOS E NOTIFICAÇÕES Com relação ao anterior Estatuto, houve uma
se der279. Esse entendimento aplica–se a qualquer mudança substancial quanto ao órgão da OAB com-
cargo diretivo dos órgãos da OAB, que deve ser pre- Os prazos, em qualquer processo administrati- petente para aplicar a sanção disciplinar. Pelo atual
enchido mediante eleição do Conselho Seccional ou vo na OAB, foram unificados em quinze dias. Estatuto, o Conselho Seccional competente é aquele
do Conselho Federal, nesse caso para a respectiva Assim, seja para manifestação de qualquer na- em cuja base territorial ocorreu a infração, e não
Diretoria (art. 98, § 3º , do Regulamento Geral). O tureza no processo, seja para recorrer, o prazo é úni- mais o da inscrição originária, cabendo o julgamen-
substituto legal apenas exerce o cargo, em caso de co, tanto para o membro de órgão da OAB como to e a aplicação da sanção disciplinar ao respectivo
falta ou impedimento do titular, ocasionalmente, para as partes, interessados ou terceiros. Tribunal de Ética e Disciplina (sobre o tribunal, re-
nunca em caso de vacância. O prazo único acarreta mais vantagens do que metemos o leitor aos comentários ao art. 58, XIII).
desvantagens, evitando a proliferação de prazos e Somente após o trânsito em julgado da de-cisão
PROCESSO NA OAB formas de contagem que tanto atormenta o trabalho o Conselho Seccional onde tramitou o processo re-
PROCESSO E NORMAS SUPLETIVAS profissional do advogado em nossas legislações pro- metê–lo–á ao Conselho onde o condenado tenha
cessuais. Todos os recursos, inclusive eventuais em- inscrição principal, para fins de registro em seus as-
O Estatuto concentrou em um título específico bargos declaratórios, defesas e razões finais, são in- sentamentos, se for o caso. Se a falta foi cometida
todas as matérias relativas a processo e procedimen- terpostos dentro do prazo único. perante o Conselho Federal, seja por advogado, seja
to administrativo na OAB. Porém, nem todas estão Os prazos são contados da seguinte forma: por membro de órgão da OAB, cabe a este a compe-
nele previstas, e sim as de caráter geral e principioló- a) se a notificação foi pessoal, mediante carta, tência originária para processar e punir, através de
gico, que provocam efeitos nos interesses de tercei- contam–se a partir do dia útil seguinte, inclusive, ao sua Câmara competente, aplicando a sanção que jul-
ros. Os procedimentos específicos foram remetidos da data em que foi anotado o recebimento, não ne- gar oportuna. A probabilidade de sua ocorrência é
para o Regulamento Geral ou para o Código de Ética cessariamente da juntada do aviso (AR) do Correio escassa, contudo. Esclareceu o Conselho Federal que
e Disciplina. ou de mensageiro da OAB281.A demora da secreta- a infração ocorrida na base territorial do Conselho
As normas supletivas ao Estatuto e à legislação ria da OAB para juntada não prorroga o termo ini- Seccional do Distrito Federal é neste processada,
regulamentar estão previstas em duas áreas deter- cial, quando a comunicação foi efetivada ao destina- sendo aquele incompetente.
minadas: para o processo (e procedimento discipli- tário. Se a notificação não foi feita diretamente à Os procedimentos do processo disciplinar fo-
nar) aplicam–se supletivamente as normas da legis- pessoa do destinatário, deve ser refeita. Após a se- ram objeto de disciplinamento minudente na se-
lação processual penal comum (princípios gerais); gunda tentativa, cabe a regra geral da notificação gunda parte do Código de Ética e Disciplina (arts. 49
para os demais processos (por exemplo, os relativos por edital; a 61).
à inscrição ou a impedimentos), aplicam–se supleti- b) se a notificação foi pela imprensa oficial, O Conselho Federal decidiu287 que no proces-
vamente, em primeiro lugar, as normas do procedi- contam–se a partir do primeiro dia útil seguinte, in- so administrativo disciplinar não se pode atribuir
mento administrativo comum (princípios de direito clusive, da publicação. Essa hipótese, salvo no caso efeito de nulidade à ausência de formalização do
administrativo e os procedimentos adotados na res- de edital, não deve ser utilizada para a primeira noti- acórdão, quando dos autos constam o voto do rela-
pectiva legislação) e, em segundo lugar, as normas ficação, e sim para as demais (inclusive para inter- tor e o registro da motivação que determinou a deci-
de processo civil. posição de recurso), sobretudo em se tratando de são, permitindo o exercício do contraditório e da
O direito disciplinar tem natureza de direito advogado que tem o hábito profissional (e até o de- ampla defesa.
administrativo e não de direito penal, não podendo ver) de ler a imprensa oficial com regularidade; Problema recorrente no processo disciplinar é a
ser aplicado a ele, inclusive quanto às infrações dis- c) durante o período de recesso dos Conselhos alegação de cerceamento do direito de defesa, o que
ciplinares, as regras supletivas da legislação penal, da OAB, os prazos são suspensos, reiniciando–se no leva à invalidação total ou parcial. O Conselho Fede-
nem mesmo seus princípios gerais. Essa importante primeiro dia útil que se seguir a seu término. ral da OAB entendeu que a caracteriza: a falta de de-
distinção foi bem notada pela doutrina especializa- O Conselho Federal tem decidido que ofício liberação sobre requerimento probatório tempesti-
da, inclusive por eminentes juspenalistas28o• Pela com AR, sem menção do endereço do destinatário e vamente formulado, tanto mais quanto, no prosse-
mesma razão, é possível a dupla sanção, penal e dis- recebido por terceiro, não pode constituir prova re- guimento, decide–se contrariamente ao requerente;
ciplinar, em virtude da mesma falta, não havendo gular de notificaçã0282. Também decidiu que, no a dispensa, pelo órgão julgador, das testemunhas, ao
prevalência da absolvição, no plano criminal, sobre processo disciplinar, ferem o direito de ampla defesa argumento de que seus depoimentos seriam desne-
o processo disciplinar. a decisão que não concede prazo razoável para loca- cessários à vista da prova já colhida289; a designa-
Prevalece no processo administrativo o princí- lizar testemunha arrolada pelo representado e a falta ção de data de julgamento, apesar da intimação ex-
pio do informalismo ou do formalismo moderado. de intimação para acompanhar os depoimentos co- pedida e não recebida290; a ausência das alegações
O processo administrativo é formal no sentido que lhidos durante a instruçã0283. Mas se o processo finais; a decisão que se baseia em fato e dispositivo
deve ser escrito e observar os princípios essenciais não versa sobre matéria disciplinar, a publicação no estatutário diversos dos contidos na decisão que ins-
do devido processo legal e da ampla defesa. Mas não Diário Oficial da pauta da sessão, com indicação cla- taurou o processo disciplinar e sobre os quais foi o
segue a forma e os ritos próprios do processo judi- ra da data em que será julgado, é suficiente para ga- recorrente notificado para se defender; mas não a
cial, significando dizer que, assegurado o direito de rantia da ampla defesa. caracteriza a falta de arrolamento das testemunhas
defesa, predomina a simplificação formal e a ausên- Há decisão do Conselho Federal entendendo no momento processual oportuno, ou quando o re-
cia de formas rígidas. Estabelece o art. 22, VIII e IX, que a postagem do recurso na agência dos Correios presentado recebe todas as intimações necessárias e
da Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999, que regula manifesta–se várias vezes no processo.
60

No processo ético–disciplinar, parte é qualquer INSTRUÇÃO E DEFESA cessada e julgada pelo Conselho Federal, que neste
pessoa, não necessariamente advogado; o represen- caso recebeu competência originária.
tante pode ser leigo, magistrado, promotor de justi- Cabe ao relator designado determinar a notifi- Ao representado revel dar–se–á defensor dati-
ça, autoridade pública. Todavia, a comunicação ofi- cação do profissional representado e a instrução do vo, que deve atuar com toda diligência profissional
cial por parte de autoridade não a converte em par- processo, baixando em diligência, requisitando e possível, sob pena de infringir o princípio de ampla
te, pois o presidente da OAB pode instaurar de ofí- produzindo provas, ouvindo testemunhas e as par- defesa, o que leva à inevitável anulação do processo.
cio o processo, a partir da comunicação recebida. O tes e tudo o mais que seja necessário para apuração Mas “não se vislumbra cerceamento de defesa,
processo administrativo não exige a representação, dos fatos. quando a parte, intimada por via postal em sua resi-
por advogado, da parte, que pode postular direta- Recebida a notificação, o profissional represen- dência, comparece e/ou se faz representar nos prin-
mente. O acatamento ao princípio constitucional do tado apresentará defesa prévia escrita e provas, cipais atos processuais, participando ativamente da
contraditório e da ampla defesa não pode ser levado acompanhando o processo em todas as suas fases, instrução do feito, elaborando peças escritas e recur-
ao extremo de converter o processo administrativo pessoalmente ou mediante advogado. O prazo é o sos, sempre a tempo e modo” (Proc. n.
em processo judicial, pois a legislação processual pe- mesmo de quinze dias, mas pode ser prorrogado 0003/2002/0EP–MS).
nal é supletiva. pelo relator, havendo motivo relevante.
Advirta–se, como decidiu a Segunda Câmara Se o representado não apresentar defesa prévia
do Conselho Federal da OAB, que “a instauração de ou não for encontrado, o relator solicitará ao presi- JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DE ÉTICA E
processo disciplinar exige, ao menos, princípio de pro- dente que designe defensor dativo. Todavia, “fora DISCIPLINA
va aliado a indícios suficientes de infração ética. Pre- das estreitas hipóteses do § 4º do artigo 73, do Estatu-
valece o princípio da inocência, até prova em contrá- to, não se procede à nomeação de defensor dativo. Se O Tribunal de Ética e Disciplina, como visto, é a
rio” (Rec. n. 036012002/SCA–SP). a parte, pessoalmente intimada para razões finais, primeira instância de julgamento do processo disci-
comparece sempre aos autos, antes e depois dessa inti- plinar, com recurso ao Conselho Seccional, salvo na
FASES DO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR mação, há de se entender que, se não produziu razões hipótese de arquiva-mento liminar pelo Presidente
finais, foi porque não o quis” (2ª Câmara, CF/OAB, do Conselho.
Em qualquer das fases do procedimento disci- Rec. n.0360/2004/SCA–SC). Recebendo o processo instruído, o presidente
plinar, prevalece o princípio da presunção de ino- Instruído o processo, após a produção das pro- do Tribunal designará um de seus membros para re-
cência do advogado representado, razão porque a lei vas, inclusive com o depoimento de no máximo cin- latá–lo, podendo acompanhar ou não o parecer do
determina que se respeite o sigilo. Enquanto não co testemunhas, abre–se ao representado a oportu- relator da instrução.
houver decisão definitiva transitada em julgado, ou nidade de oferecer razões finais após notificado pes- Para propiciar a sustentação oral, o representa-
arquivamento, o processo disciplinar não pode ser soalmente ou pela imprensa oficial. Encerra–se o do é intimado pela secretaria do Tribunal, com
objeto de divulgação ou publicidade. Só podem ter procedimento de instrução com o parecer prelimi- quinze dias de antecedência (art. 53 do Código de
acesso a ele as partes, os defensores, o relator e seus nar do relator, que deve conter a descrição clara dos Ética e Disciplina).
auxiliares. Assim, como decidiu o Órgão Especial fatos e o enquadramento legal. Cabe ao interessado Após a leitura do relatório e voto, o representa-
(Proc. n. 0007/2002/0EPSC), não pode ser divulga- incumbir–se do comparecimento de suas testemu- do ou seu advogado poderá promover defesa oral,
do o nome completo do representado na pauta de nhas. Compete ao responsável pela instrução a bus- no prazo de quinze minutos, podendo ser inquirido
julgamento, podendo ser indicado por suas iniciais. ca da verdade real dos fatos, ainda que as partes não pelos membros do Tribunal. Decidirá este, por
O Estatuto e o Código de Ética e Disciplina sim- a facilitem, não podendo prevalecer sentimentos maioria de seus membros. O relator, se entender in-
plificaram profundamente o procedimento discipli- corporativistas, que não contribuem para a dignida- suficiente a instrução, poderá deter–minar diligên-
nar, extinguindo as duas partes previstas na legisla- de da profissão e a realização do poder de punir que cias.
ção anterior (investigação e admissibilidade e ins- a lei cometeu à OAB. A sustentação oral, perante o TED ou Conselho,
tauração do processo disciplinar), e que contribuía O relator, após a defesa prévia, pode con-ven- não é condição de validade do julgamento; assim,
para o desnecessário retarda–mento da função dis- cer–se da insubsistência da representação, opinan- não constitui cerceamento de defesa o indeferimen-
ciplinar da OAB. do por seu arquivamento pelo presidente (da Subse- to do adia–mento da sessão do julgamento, para fa-
A instauração dá–se automaticamente com a ção ou do Conselho Seccional). Se o presidente não cilitar a produção da sustentação.
representação de qualquer pessoa ou autoridade, concordar com o arquiva–mento, o relator prosse- Esclarece o Manual de Procedimentos do Pro-
contra o inscrito, ou por determinação de ofício do guirá o procedimento de instrução até ao seu final. cesso Ético–Disciplinar, do Conselho Federal da
presidente do Conselho Seccional ou da Subseção, O Código de Ética e Disciplina também prevê a pos- OAB (2000), que todas as decisões adotadas em pro-
quando esta contar com Conselho (ver os comentá- sibilidade de arquivamento, indicado pelo relator ao cessos ético–disciplinares, da mesma forma que
rios ao art. 61, parágrafo único). Não há mais o pro- presidente do Conselho, antes da defesa prévia, ocorre com o processo comum, têm a sua legalidade
cedimento cometido à comissão de ética e discipli- quando a representação disciplinar estiver descons- subordinada à fundamentação. Os motivos de fato e
na, que foi extinta como órgão necessário do Conse- tituída dos pressupostos mínimos de admissibilida- de direito que sustentam devem ser expressamente
lho. Não se pode exigir requisitos formais determi- de, por exemplo, quando o suposto advogado não consignados. Não se pode admitir decisão sem acór-
nados para o recebimento da representação discipli- for inscrito na OAB. Como bem decidiu o Órgão Es- dão; ou acórdão sem o voto devidamente funda-
nar, máxime quando é feita por leigos, que apresen- pecial do Conselho Federal da OAB (Consulta n. mentado; ou omissão da juntada da ata da sessão de
tam suas queixas, confiantes na OAB, utilizando lin- 0003/2002/0EP–SC), a competência para arquiva- julgamento, ou de seu extrato.
guagem popular. Se for verbal, será reduzida a escri- mento do procedimento ético–disciplinar é exclusi- A decisão deve ser objeto de publicação na im-
to pela Secretaria. va e indelegável do Presidente do Conselho Seccio- prensa oficial, indicando apenas o número do pro-
Toda a instrução processual é presidida pelo re- nal (art. 73, § 2º, do Estatuto), em razão da relevân- cesso, o órgão processante ou julgador, as iniciais
lator designado pelo presidente da Subseção ou do cia da decisão. Com acerto, pois configura o juiz ad- dos nomes das partes, seus números de inscrição e
Conselho Seccional, concluindo– a com um parecer ministrativo natural. Mas não pode o Presidente de- os nomes,. por extenso, de seus eventuais procura-
prévio a ser submetido ao julgamento do Tribunal terminar o arquivamento se houver indícios fortes dores, com seus números de inscrição. Quando o
de Ética e Disciplina. de infração, determinando a dilação probatória an- processo estiver concluído, cessa a regra de sigilo,
Assim, o processo disciplinar desdobra–se em tes de decidir (Rec. n.0314/2002/SCA–SP). pois é obrigatória a publicidade da pena de suspen-
duas fases procedimentais sucessivas: uma de ins- A representação contra membros do Conselho são e exclusão.
trução e outra de julgamento. Federal e presidentes do Conselho Seccional é pro-
SUSPENSÃO PREVENTIVA
61

REPRESENTAÇÃO DISCIPLINAR OFENSIVA pena de exclusão, o Estatuto da OAB – Lei 8.906/94


Em caso excepcional de graves repercussões à À HONRA DO ADVOGADO – exige a manifestação favorável de 2/3 dos mem-
dignidade da advocacia, o Tribunal de Ética e Disci- bros do Conselho Seccional competente. Não exige
plina poderá tomar a iniciativa, de ofício ou por soli- A representação disciplinar, destituída de com- o Estatuto quorum idêntico para o julgamento do
citação do presidente do Conselho, de suspender provação e com evidente intuito de ofender a honra pedido de revisão, fundado em erro de julgamento
preventiva-mente o inscrito. Recomenda–se extre- do advogado, pode ensejar responsabilidade civil do ou condenação baseada em falsa prova” (Rec. n.
ma cautela, para que não se converta em instrumen- ofensor, por danos morais. O abuso do direito de re- 0146/2003/SCA –SP).
to persecutório. Não basta qualquer ofensa ou infra- presentar pode, no caso concreto, dar causa ao dano
ção, por mais grave que seja, ou a autoridade do moral, máxime quando houver arquivamento deter- RECURSOS
ofendido. A suspensão preventiva, por envolver minado pelo presidente do Conselho Seccional ou
imediatas repercussões no exercício profissional, pelo Tribunal de Ética e Disciplina, que faz presumir TIPOS DE RECURSOS
apenas é admissível em situações notórias e públi- a ausência de prova ou fundamento da suposta in-
cas, cujas repercussões ultrapassem as pessoas envo- fração. O Estatuto prevê um tipo geral e inominado de
lvidas e causem dano à dignidade coletiva da advo- Em caso julgado pelo Tribunal de Justiça do recurso contra decisão de qualquer órgão da OAB. O
cacia. É o caso, por exemplo, de notório e perma- Estado de São Paulo (AC 118.710–4/0), ex–cliente recurso é sempre voltado à reforma da decisão e di-
nente envolvimento de advogados com tráfico de ingressou com representação disciplinar contra ad- rigido ao órgão hierarquicamente superior.
drogas, com danosa repercussão veiculada na im- vogado, acusando–o “de não ter escrúpulo” e de “le- Não podem ser utilizados os tipos de recursos
prensa, caracterizador de infração disciplinar grave var vantagens em situações embaraçosas”, tendo previstos na legislação processual comum (penal ou
(passível de incidência do art. 34, XXV, XXVII e XX- sido arquivada pelo Tribunal de Ética e Disciplina civil), de modo supletivo, porque não há lacuna no
VIII). Nesse sentido, decidiu o Conselho Federal da da OAB–SP, por falta de comprovação dos fatos. De Estatuto. Ao contrário, a lei optou expressamente
OAB que “a suspensão preventiva, a que se refere o acordo com a decisão do Tribunal de Justiça, “houve por um único recurso, com exclusão de qualquer
art. 70, § 3º, do Estatuto, requer prova bastante, que, abuso e excesso” por parte da ex–cliente, que foi outro, por via de interpretação, seguindo a tendên-
além da prática de falta disciplinar grave, evidencie a condenada a pagar indenização por danos morais, cia universal para simplificação e máxima economia
repercussão prejudicial dessa à dignidade da advoca- ante os constrangimentos por que passou o advoga- processual. Contudo, o regulamento geral ou o regi-
cia. Não pode a suspensão preventiva basear–se em do perante seu órgão de classe e seus colegas, em vir- mento interno do Conselho Seccional podem insti-
simples suspeita, de que não resultem indícios conclu- tude da divulgação do episódio. tuir modalidade expressa de recurso, para situação
dentes” (Rec. n.0145/2003/SCA–RJ). específica, a exemplo dos embargos de declaração. O
Nessa hipótese, o procedimento é cautelar e su- REVISÃO DO PROCESSO ÉTICO–DISCIPLI-
ÉTICO–DISCIPLI- Conselho Federal admitiu os embargos infringentes,
maríssimo e totalmente dirigido pelo Tribunal, que NAR em virtude do princípio da fungibilidade, ainda que
ouvirá previamente o acusado, antes de decidir pela não previstos legalmente; no caso, o Presidente da
suspensão preventiva. O art. 54 do Código de Ética e O Manual de Procedimentos do Processo Éti- Seccional opôs embargos infringentes em face da
Disciplina faculta ao representado ou a seu defensor co–Disciplinar do Conselho Federal da OAB (2000) decisão não unânime proferida em revisão (Proc. n.
a apresentação de defesa, a produção de provas do- regulamentou adequadamente a matéria, ao estabe- 2.400/2001lSCA–RJ).
cumentais, testemunhais e outras, quanto ao cabi- lecer que tem natureza de ação de exclusiva iniciati- O Regulamento Geral introduziu os embargos
mento da suspensão preventiva, não apenas quanto va do advogado punido, não se sujeitando à discipli- de declaração, dirigidos ao relator da decisão recor-
ao aspecto formal mas quanto ao conteúdo da su- na dos recursos, aplicando–se subsidiariamente os rida, que lhes pode negar seguimento. Não cabe re-
posta infração. Cabe ao representado, para afastar a arts. 621 a 627 do Código de Processo Penal, com curso contra as decisões nesses embargos. Além do
suspensão preventiva, demonstrar que, mesmo ha- observância dos seguintes requisitos: recurso comum, o Estatuto prevê dois tipos espe-
vendo o fato, não houve repercussões públicas nega- ciais:
tivas ou danosas à dignidade coletiva da advocacia. “a) a revisão pressupõe o trânsito em julgado da
Se o acusado não comparecer, será substituído decisão condenatória; a) embargo da decisão não unânime do Conse-
por defensor dativo designado pelo presidente do b) a revisão poderá ser requerida em qual-quer lho Federal, Seccional e de Subseção, por seu presi-
Conselho, segundo a regra do § 4º, do art. 73 do Es- tempo, antes ou após a extinção da pena; dente (ver comentários ao art. 55, § 32), para que a
tatuto. O prazo da suspensão perdurará até ao julga- c). a revisão pode ser parcial, com efeito de des- matéria seja revista na sessão seguinte;
mento do processo disciplinar, mas não poderá ul- classificação da infração disciplinar ou redução da b) revisão do processo disciplinar (art. 73, § 52),
trapassar noventa dias. pena; após a decisão transitada em julgado, em virtude de
“Aplicada a suspensão preventiva, a que se refere d) a competência para o prosseguimento e julga- erro do julgamento ou de condenação baseada em fal-
o artigo 70 estatutário, o processo disciplinar tem de mento da revisão é do Conselho Federal da OAB, sa prova.
chegar a termo nos 90 (noventa) dias subsequentes, quando se tratar de decisão de mérito proferida em
independentemente do oferecimento de recurso – que recurso ou de decisão proferida em processos discipli- No caso da revisão, o pedido deve ser diri-gido
não tem efeito suspensivo – contra a decisão cautelar. nares originários; ou do Conselho Seccional respecti- ao próprio Conselho Seccional, porque envolve
Os prazos prescricionais continuam fluindo, no curso vo, quando se tratar de decisão condenatória transi- apreciação de matéria de fato. Não há procedimento
da vigência da suspensão preventiva ou da tramita- tada em julgado em primeira ‘instância’ administra- específico, mas como possui a natureza de recurso,
ção do pertinente recurso” (2ª Câmara do CF/OAB, tiva; para o qual não há prazo preclusivo, deve ser dirigi-
Rec. n. 0314/2003/SCA–MG). e) o art. 73, §52, da Lei n. 8.906/94 é taxativo, do ao Conselho Seccional, e não mais ao Tribunal de
A decisão pela suspensão preventiva cumpre– mas na expressão ‘erro de julgamento’, nele inserida Ética e Disciplina, porque este foi a instância julga-
se imediatamente, porque o eventual recurso não como um dos pressupostos da revisão, também se dora originária.
tem efeito suspensivo (art. 77 do Estatuto ). compreende a decisão contrária à lei, à Constituição, Ao relator compete, sempre, o juízo de admis-
Decidida a suspensão preventiva, o Tribunal re- ao Regulamento Geral da OAB, ao Código de Ética e sibilidade, nomeadamente quanto à tempestividade
meterá o processo ao Presidente do Conselho (ou da Disciplina e aos Provimentos, na extensão prevista e existência dos pressupostos legais. Faltando qual-
Subseção) para designar relator e promover a ins- nos arts. 54, VIII, e 75, caput, do Estatuto”. quer deles, profere despacho indicando ao presiden-
trução, retomando ao Tribunal para julgamento de- te o indeferimento liminar, devolvendo o processo
finitivo. Entendeu a Segunda Câmara do CF/OAB que ao órgão recorrido. Não há necessidade, nessas pre-
“é do Conselho Seccional a competência para conhe- liminares, de deliberação do órgão colegiado. Con-
cer e julgar o pedido revisional. Para a aplicação da tra a decisão do presidente, cabe recurso ao mencio-
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nado órgão julgador. Assim, decidiu a Segunda Câ- dos. No entanto, nem todas as decisões podem ser lho da Subseção, cabe recurso ao Conselho Seccio-
mara do Conselho Federal que “previsto o TED le- objeto de recurso. Por ter natureza extraordinária, o nal. Não cabe recurso à Comissão de Exame de Or-
galmente como órgão recursal, a submissão do recur- recurso para o Conselho Federal, como esclareceu a dem da Seccional (Proc. n. 306/2000/0EP–DF).
so direta-mente ao Conselho Seccional importa em Segunda Câmara (Proc. n. 2.392/200l/SCA–SP), Essas regras básicas de cabimento de recurso
supressão de uma instância recursal de julgamento, o não serve para mera revisão de matéria de fato. O são suplementadas por outras estabelecidas no Re-
que caracteriza cerceamento de defesa para o repre- Estatuto impõe requisitos de admissibilidade incon- gulamento Geral e nos regimentos internos dos
sentado/excipiente em razão de desobediência ao are- tornáveis, devendo o recurso ser contra: Conselhos Seccionais, que devem definir qual o ór-
jado princípio do due process of law” (Rec. n. gão recursal máximo em seu âmbito.
0080/2003/SCA–SP). a) decisão não unânime; ou O Conselho Federal da OAB já decidiu que,
Prevalece o princípio amplo da fungibilidade, b) decisão unânime que contrarie o Estatuto ou mesmo na hipótese de não cabimento de recurso,
pouco importando a denominação que se dê ao re- a legislação regulamentar da OAB. Nesse caso, cabe compete–lhe cassar de ofício o ato, desde que ense-
curso, em virtude do princípio do formalismo mo- ao recorrente especificar, com clareza, o dispositivo jado aos interessados o exercício do contraditório.
derado que preside o processo administrativo. Qual- legal que foi contrariado, e em que ponto. Nesse sen-
quer manifestação de inconformidade com a deci- tido, decidiu a Primeira Câmara do Conselho Fede- PRAZOS E EFEITOS DOS RECURSOS
são, protocolada dentro do prazo de quinze dias, ral da OAB (Proc. n. 0198/2002/PCA–PR) que so-
deve ser recebida como recurso. Contudo, como de- mente se conhece de recurso com fundamento em Os prazos dos recursos, de qualquer tipo, são
cidiu a Primeira Câmara do Conselho Federal, há de divergência entre decisões de Conselhos Seccionais uniformes: quinze dias, inclusive se o regimento in-
existir intenção de reforma do julgado ou claro in- quando as matérias de fato e de direito de ambos os terno do Conselho Seccional admitir recursos asse-
conformismo, para que possa ser aproveitada, e fun- julgamentos forem semelhantes. melhados aos que a legislação comum atribui prazo
damentação adequada. breve, como os embargos de declaração. Sobre a
O Conselho Federal decidiu que a sustentação Os requisitos de admissibilidade também se contagem dos prazos ver os comentários ao art. 69.
oral pelos profissionais de advocacia, quando da aplicam no âmbito do Conselho Federal, ou seja, aos Os recursos nos processos administrativos na
apreciação de recursos em órgãos da OAB, é intan- recursos contra decisões das Câmaras dirigidos ao OAB têm efeito devolutivo e suspensivo. O Estatuto
gí-vel, devendo ser anulada a decisão em que houve Órgão Especial (art. 85, I, do Regulamento Geral). abre três exceções apenas: a) quando tratarem de
cerceamento de seu exercício. Mas não acarreta nu- Nesse sentido, decidiu o Órgão Especial (Rec. n. eleições, b) de suspensão preventiva aplicada pelo
lidade a não–intimação do advogado para a sessão 0002/2003/ OEP–RJ) não conhecer de recurso con- Tribunal de Ética e Disciplina (ver comentários ao
de julgamento dos embargos de declaração, porque tra decisão das Câmaras do Conselho Federal quan- art. 70, acima) e c) de cancelamento da inscrição ob-
não comporta sustentação oral (Rec. n. do o julgamento for unânime e não houver contrari- tida com falsa prova (ver comentários ao art. 11, aci-
11212002/PCA–PR). Por outro lado, não se admite edade ao Estatuto, Regulamento Geral, Código de ma). São hipóteses que não admitem retardamento,
nova sustentação quando o julgamento do recurso Ética e Disciplina ou Provimentos. Questões de fato em virtude do periculum in mora. No caso das elei-
administrativo for adiado em virtude de pedido de não podem suplantar as questões de direito no jul- ções, geraria acefalia do órgão, porque a posse dos
vista do revisor, por ser ato uno (Rec. n. gamento de recursos no Conselho Federal. Decidiu eleitos estaria suspensa e os mandatos anteriores,
0143/2003/PCA– BA). o Órgão Especial ser incabível o recurso a ele subme- extintos. No caso da suspensão preventiva, a demo-
Questão: interessante é a da uniformização da tido, com fundamento em fatos ocorridos no Conse- ra agravaria o dano à dignidade da advocacia. No
jurisprudência, quando ocorrer, no mesmo órgão lho Seccional, faltando suporte no acórdão da Câ- caso do cancelamento da inscrição, seria prolongado
julgador da OAB, decisões contraditórias. Decidiu a mara recorrida. o prejuízo pelo exercício ilegal da profissão.
Primeira Câmara do CF/OAB que, “inexistindo, no O juízo de admissibilidade do recurso é in-dele-
Estatuto e no Regulamento Geral, regra específica de gavelmente do Conselho Federal. Mesmo que haja REGULAMENTO GERAL
uniformização, aplica–se o modelo dos arts. 476 a evidência de não cabimento do recurso, deve o Con-
479 do CPC, com as adaptações devidas. Compete a selho Seccional encaminhá–lo ao Conselho Federal, O Estatuto é uma lei compacta, que procurou
qualquer membro do órgão julgador do Conselho após constatar sua tempestividade. tratar apenas das matérias que se encartassem na
Federal, ou à parte, suscitar o pronunciamento pré- Quando o Conselho Seccional for competente denominada reserva legal (criação, modificação ou
vio a respeito da interpretação que deva prevalecer para apreciar recurso, e houver suspeição de seus extinção de direitos e obrigações). Todas as demais
entre as decisões divergentes já existentes. O recor- membros, a competência desloca–se ao Conselho foram remetidas ao seu Regulamento Geral, me-
rente pode requerer igual pronunciamento antes do Federal, mercê da aplicação analógica do art. 102, I, diante delegação de competência legal ao Conselho
julgamento do recurso” (Proc. n. 4.884/96/PC, jul- n, da Constituição. Assim decidiram as anteriores Federal da OAB, cumprindo–lhe editá–lo ou alterá–
gamento em 17–6–1996). Câmaras Reunidas, em caso que envolvia represen- lo, com idêntica força de obrigatoriedade a todos os
Conforme jurisprudência consolidada do STF tação em matéria eleitoral, havendo interesse pes- órgãos da instituição e a todos os inscritos.
(v. g. RHC 6877RJ, Rel. Min. Celso Mello, RTF, soal do presidente e de membros do Conselho Sec- A delegação legal não colide com o art. 84, IV,
142:576), a instância superior pode dar aos fatos de- cional (Proc. n. CR 16/93, DJU, 21 set. 1994). da Constituição, que tem finalidade diversa, porque
finição jurídica diversa daquela constante da ori- Podem recorrer todos os interessados (inclusive tem conteúdo delimitador do Poder Executivo, em
gem. Assim, é possível durante a instrução proces- o autor da representação disciplinar, mesmo não face dos demais Poderes da República.
sual, ou até mesmo na fase recursal, ocorrer novo sendo advogado 300) e o presidente do Conselho Com o desenvolvimento do Estado Moderno, e
enquadramento jurídico da conduta infracional do Seccional. Mas o presidente do Conselho Seccional a complexidade das relações sociojurídicas, o princí-
representado, aplicando–se pena diversa daquela perde a legitimidade para recorrer se tiver participa- pio do monopólio estatal da produção jurídica flexi-
inicialmente prevista, desde que os fatos sejam os do do julgamento no órgão originário, exercendo bilizou–se para admitir delegações, descentraliza-
mesmos. Nesse sentido, decisão da Segunda Câmara seu direito de voto, tornando unânime a decisão do ções e reconhecimento de ordenamentos comple-
do CF/OAB (Rec. n. 0089/2003/SCA–SP). Mas não órgão colegiado por ele presidido (Rec. n. mentares, estes delimitados a grupos e classes de
pode haver reformatio in pejus. 0016/2002/OEP–PE, julgado em 2003). pessoas. Neste sentido, aponta a Constituição de
Contra decisão do presidente do Conselho Sec- 1988.
CABIMENTO DOS RECURSOS cional, da diretoria do Conselho Seccional, dos ór- Apesar da denominação utilizada na Lei n.
gãos deliberativos em que se divida o Conselho (Câ- 8.906, o Regulamento Geral tem forma e natureza
Apenas cabe recurso ao Conselho Federal de maras, Turmas, Seções etc.), do Tribunal de Ética e de resolução e de regimento interno e foi editado
decisão proferida pelo Conselho Seccional, porque Disciplina, da diretoria da Caixa de Assistência dos dentro desses precisos limites. A regulamentação de
todos os demais órgãos da OAB são a este vincula- Advogados, do presidente, da diretoria e do Conse- matérias e campos específicos, quando prevista em
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lei, não é novidade no direito brasileiro. Exemplos Cabe à diretoria do Conselho Federal reunir pe- cedimentos de adaptação até a edição dos diplomas
de delegações regulamentares foram as Leis n. riodicamente o Colégio de Presidentes dos Conse- definitivos.
5.842/72 e 8.195/91. É da competência das entida- lhos Seccionais. O Colégio é órgão consultivo per- Quanto às primeiras eleições realizadas na vi-
des e órgãos de deliberação coletiva a edição de reso- manente do Conselho, não podendo, contudo, ma- gência do novo Estatuto, este determinou que se ob-
luções de alcance geral e abstrato, desde que não cri- nifestar– se em nome dos advogados brasileiros. servasse, para elas, o sistema eleitoral por ele intro-
em, modifiquem ou extingam direitos e obrigações. Suas manifestações são específicas, não vinculando duzido, exceto quanto aos mandatos, que teriam o
Todos os dispositivos do Estatuto que são remetidos o Conselho Federal, que poderá acatá–las ou tempo de encerramento reduzido para adaptação às
à regulamentação definem os direitos e obrigações rejeitá–las. O Colégio de presidentes está regula- datas de início dos próximos. O Conselho Federal
correspondentes. mentado em Provimento específico, com finalida- aprovou logo em seguida ao início de vigência da Lei
des de intercâmbio de experiências e de formulações n. 8.906/94, o regulamento eleitoral disciplinando
REGIME DOS SERVIDORES DA OAB de propostas e sugestões ao Conselho Federal. as primeiras eleições da OAB, sob as novas regras.
Cabe às diretorias dos Conselhos Seccionais O Estatuto, por emenda havida no Congresso
Considerando–se que a OAB não se vincula à reunirem periodicamente os Colégios de presiden- Nacional, manteve a regra constitucional de preser-
Administração Pública de qualquer espécie, sendo tes das Subseções, com idênticas finalidades, deven- vação dos direitos adquiridos dos antigos membros
serviço público independente (ver comentários ao do os Conselhos Seccionais regulamentá–los me- do Ministério Público, que optaram por continuar
art. 44), não se aplica a seus servidores o regime dos diante resoluções. exercendo cumulativa–mente a advocacia.
servidores públicos. O regime próprio é o trabalhis- Ainda quanto aos direitos adquiridos, o Estatu-
ta. Todavia, a Procuradoria–Geral da República PARTICIPAÇÃO DO INSTITUTO DOS ADVO-
ADVO - to manteve a dispensa do Exame de Ordem para os
ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI GADOS que realizassem o estágio profissional de advocacia
3.026) com intuito de ver declarada a inconstitucio- ou o de prática forense e de organização judiciária,
nalidade do § 1º do art. 79 e de ser conferida inter- A participação compulsória dos Institutos dos desde que o concluíssem regularmente até o dia 5 de
pretação conforme coma Constituição ao caput do Advogados na composição dos Conselhos Seccio- julho de 1996, com aprovação em exame final. Em-
art. 79, para o fim de ser exigido concurso público nais, equivalente a um quarto, foi extinta, porque to- bora a lei refira–se à inscrição, deve ser compreendi-
para contratação como empregado da OAB. Parte a dos os cargos são acessíveis apenas mediante eleição do em seu alcance o requerimento ingressado na
Procuradoria–Geral da República de premissa falsa, direta. Essa situação era geradora de conflitos, cau- OAB até aquela data, em virtude do princípio adota-
a saber, de ser a OAB autarquia especial que deveria sando prejuízo ao relacionamento entre as duas ins- do em nosso sistema jurídico de irretroatividade da
ser regida pelas normas da Administração Pública. tituições. lei nova sobre pedidos administrativos já protocoli-
Até o fechamento desta edição (início de 2006), três O Instituto é, historicamente, a entidade asso- zados, porque a demora da decisão não pode ser im-
ministros do STF tinham votado contra o pedido e ciativa dos advogados mais antiga, voltando–se, putada ao reque-rente.
um favorável. após a criação da OAB, essencialmente às atividades O estagiário, referido no art. 84, é o que se ins-
Como o art. 148 da Lei n. 4.215/63 mandava de fomento de cultura e ciência jurídicas. O Instituto creveu no respectivo quadro da OAB. Os estudantes
aplicar aos antigos servidores da OAB o regime esta- dos Advogados Brasileiros é a entidade nacional que de cursos de estágio não se qualificam assim, porque
tutário do servidor público, para essas situações ex- congrega os Institutos locais, a ele filiados. as instituições de ensino não inscrevem estagi-ários
cepcionais, persistentes em alguns Conselhos Sec- O Estatuto prevê a participação do Instituto dos mas matriculam estudantes. São situações distintas
cionais, o Estatuto facultou a opção para a conversão Advogados em duas circunstâncias: que geraram interessadas interpretações aos que
ao regime trabalhista, com algumas vantagens pre- a) o Presidente do Instituto local, desde que fi- não desejaram submeter–se ao Exame de Ordem.
miais. liado ao Instituto dos Advogados Brasileiros, tem A legislação então em vigor para o estágio pro-
O regime estatutário na OAB foi extinto com o assento no Conselho Seccional, como membro nato, fissional de advocacia (Lei n. 4.215/63, art. 50; Pro-
advento do art. 1º do Decreto–Lei n. 968, de 13 de e direito a voz; vimentos n. 33/67 e 38/72) e para o estágio de práti-
outubro de 1969, que revogou o art. 148, da Lei n. b) O Instituto dos Advogados Brasileiros e os ca forense e organização judiciária (Lei n. 5.842/72,
4.215/63. Institutos filiados têm iniciativa direta de proposi- Resolução n. 15/73 do CFE, Provimento n. 40/73,
ções ao Conselho Federal e Conselhos Seccionais. revogados pelo art. 87 do Estatuto) deter-minava
CONFERÊNCIAS DA OAB E COLÉGIO DE seu cumprimento nos dois últimos anos letivos (so-
PRESIDENTES SITUAÇÕES TRANSITÓRIAS bre a natureza e finalidades do estágio, no novo Es-
tatuto, ver os comentários ao art. 9º).
As Conferências Nacionais da OAB ingressa- O Estatuto manteve o amplo direito de voto aos Regendo as situações transitórias, particular-
ram no calendário oficial da Instituição, como o ex–presidentes do Conselho Federal e dos Conse- mente quanto à dispensa do Exame de Ordem, o
maior evento cultural de natureza jurídico–política lhos Seccionais, em virtude do princípio do direito Conselho Federal editou norma específica, mediante
do País, desde a primeira, convocada para o ano de adquirido. Somente podem ser considerados ex– a Resolução n. 2/94. O bacharel em direito que colou
1958, tendo por objetivo geral o estudo e debate de presidentes com direito a voto os que assumiram os grau até o ano de 1973 não está sujeito à comprova-
questões institucionais e corporativas de interesse cargos originariamente, isto é, os que foram eleitos ção de estágio profissional ou de aprovação em Exa-
da advocacia brasileira. para eles e se encontravam em seu exercício em 5 de me de Ordem, por força da Lei n. 5.960/73 e dos
As conferências eram realizadas bienalmente. julho de 1994. Provimentos n. 18 e 33 (Rec. n. 0162/2003/PCA–
Com o Estatuto, passaram a ser trienais, sempre no Os mandatos, a composição e as atribuições MS).
segundo ano do mandato, porque não poderá haver dos órgãos da OAB, existentes quando da data do O último artigo da lei revoga expressamente os
coincidência com o ano das eleições gerais na OAB. início de vigência do novo Estatuto, foram mantidos diplomas legais que regiam, antes dela, a advocacia e
As Conferências nacionais e estaduais to-ma- até 31 de janeiro de 1995, para os Conselhos Seccio- a OAB. Estão revogadas (derrogadas ou abrogadas)
ram–se obrigatórias, porque o Estatuto concebeu– nais, e 31 de março de 1995, para o Conselho Fede- todas as normas legais que com ela sejam incompa-
as como órgão da OAB, de caráter consultivo. Para ral. Dessa forma, permaneceram as comissões esta- tíveis.
os Conselhos Seccionais tomaram–se imprescindí- tutárias previstas na Lei n. 4.215/63, até essas datas,
veis, em virtude da extinção da assembleia geral, com suas atribuições e bem assim os procedimentos
como locus de manifestação coletiva dos advogados. existentes para os processos disciplinares e de ins- Fonte: (LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao
As conclusões das Conferências são vertidas em re- crição. O Estatuto atribuiu aos Conselhos compe- Estatuto da Advocacia e da OAB. 4ª. Edição. Saraiba,
comendações aos respectivos Conselhos, que pode- tência para regularem mediante resoluções os pro- 2007)
rão adotá–las ou rejeitá–las, mas não ignorá–las.

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