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68 Entrevista

Mark Simpson,
Pai dos termos Metrossexual e Sporno
Um Gay Anti-Cristo, um Oscar Wilde Skinhead, um Voltaire Divertido, são apenas alguns nomes que os media
de referência de todo o mundo costumam usar quando falam do escritor e jornalista britânico Mark Simpson.
A nós, Mark Simpson diz apenas querer ser recordado como o homem que introduziu ao Mundo o Metrossexual
e também o novo conceito Sporno, apontado pelo New York Times como a grande ideia do ano.

CK: Na realidade, trata-se do derrubar duma ima-


gem que permaneceu praticamente intocável até
à década de 60. O que foi determinante para o co-
lapso dessa imagem?
MS: O declínio do industrialismo produtivo e a
ascensão do consumismo. O declínio da heteros-
sexualidade reprodutiva e a ascensão do sexo re-
creativo: a invenção da pílula mostrou que o pénis
já não era uma arma perigosa ... o sexo heteros-
sexual transformou-se, tal como o sexo homos-
sexual, num instrumento para o próprio prazer,
sem a tutela de nenhum Papa ou Santa Madre.
Transformou-se numa actividade recreativa en-
tre iguais. Um desporto! Aliado a estes desenvol-
vimentos, está talvez o mais simbólico e mais po-
deroso de todos: a ascensão de uma cultura em
que a imagem se tornou mais importante do que
a substância, um mundo em que os media engo-
lem tudo! Nos anos 60, 70 e especialmente os 80,
Hollywood, a publicidade, as revistas cor-de-ro-
sa, a TV e a música pop tornaram-se totalmente
dominantes – a masculinidade teve de tornar-se
um artifício, um produto que pudesse ser repro-
duzido e vendido por via dos media. O metrosse-
xual é o culminar disso. O corpo masculino era a
última fronteira do consumo. E transformou-se
num objecto de consumo. Totalmente!
Mark Simpson

Chick: Popularizou à escala planetária o termo CK: No passado usava-se a definição “Dândi”,
metrossexual, abrindo caminho para que “mar- qual é a diferença?
keteers”, editores de revistas, marcas de cosmé- MS: Penso que não encontrariamos um dân-
tica e moda que viram no rótulo a oportunidade di num ginásio. Os dândis não tiveram real-
de anunciar o “nascimento dum novo tipo de ho- mente corpos esculturais. Alguns metros-
mem”. Fale-nos um pouco do fenómeno e como sexuais têm apenas corpos. Geralmente, os
tem influenciado a moda? metrossexuais são mainstream, democráti-
Mark Simpson: A própria palavra tornou-se ina- cos, fenómenos do consumo. São por defini-
creditavelmente popular. Talvez mais ainda do ção “vulgares”. Os dândis ao contrario eram
que o próprio fenómeno em si. Tornou-se uma geralmente elitistas e antidemocráticos,
moda, uma mania. “Metrosexmania”. Mas agora aristocráticos ou aristo-presunçosos; dis-
que ele subsiste, é possível ver que o metrosexual tinguiam-se pelos gostos e uma distinção
está vivo e ainda mais irresistível e omnipresen- for a do comum.
te do que há uma década atrás. De facto, ele vive Por um lado, os metrossexuais são celebrida-
agora entre nós com absoluta normalidade! des vaidosas, mas, por outro, as celebridades
são igualmente vaidosas, actualmente. Todos

David Beckham para Emporio Armani Underwear


querem ser desejados!

CK: Para além de Beckham, quem melhor perso-


nifica o metrossexual?
MS: É uma questão complicada, porque existem
muitos metrossexuais actualmente. De facto, a
maioria dos novos homens são para o público
geral metrossexuais, por definição. Isso aconte-
ce porque muitos ostentam o mesmo estilo. Mas
eu escolheria provavelmente Cristiano Ronaldo,
porque ele empenha-se na sua metrossexuali-
dade apelativa e arrojada, tanto que há um abuso
da sua imagem por parte dos tabloids britânicos.
Recentemente o tablóide britânico mais vendido
atacou-o por bronzear-se demasiado em cal-
ções estilo sunga brasileira. Chamaram-no me-
trossexual – como também chamaram-no gay de
forma abusiva. Da mesma forma que Beckham
era chamado! Ele é também extremamente bo-
nito, muito mais que David Beckham. De qual-
quer maneira, quem é que, na casa dos trinta, se
continua a vestir como um adolescente?
Penso que a beleza de Ronaldo é bastante ener-
vante para muito homens, particularmente para
os mais velhos – especialmente quando se
fala de uma pessoa que joga tão bem futebol.
Pelo contrário em Beckham há um pouco a ideia
duma sensualidade artificial. O que é natural- O que posso dizer é que a maioria dos metrossexu-
mente imperdoável! ais preferem as mulheres. Claramente! Mas se es-
tas quiserem um homem bonito que cuide da sua
CK: São os hetero metrossexuais uns laten- aparência - e seja excitante na cama - então têm
tes homossexuais? Como as mulheres podem também de aceitar que ele seja igualmente apre-
identificá-los? ciado pelos outros “géneros”. Para além do mais,
MS: Os homens metrossexuais pisam as fronteiras algumas mulheres modernas parecem gostar da
entre o hetero e o homo – pelo que infelizmente não ideia de ver o seu companheiro envolvido com ou-
posso fornecer grandes pistas para as mulheres. tro homem atraente.

Ideário de Mark Simpson oficialmente gay, hetero ou bissexual, mas isto


vem em segundo plano pois a sua verdadeira
Sobre os casamentos gay: “É uma questão de preferência sexual é ele próprio.
igualdade: é ultrajante e injusto que os heteros-
sexuais carreguem sozinhos o ónus de manter Sobre o Sporno: “Por que são as euro-estre-
advogados especialistas em divórcios nos seus las de futebol Beckham e Freddie Ljungberg
carros desportivos italianos.” nomes muito conhecidos nos Estados Unidos,
um país que tem geralmente menos interesse
Sobre o Metrossexual: O típico metrosexual é no futebol do que no socialismo? Porque estas
um homem jovem e com dinheiro para gastar, estrelas Sporno, jovens atléticos, enchem-se
vivendo dentro ou próximo de uma metrópole - de vaidade ao aparecer nos grandes cartazes
porque é esse o lugar onde tem acesso a com- da Times Square e nos anúncios da Vanity Fair.
pras, clubes, ginásios e cabeleireiros. Pode ser Eles são o manjar que todos querem!

Inverno 08 - Chick Intimate Cult


70 entrevista
Cristiano Ronaldo para Pepe Jeans 2005

CK: Mais tarde fala no termo retrossexual, de que ciado, fazendo-o até mais atraente. Fazendo
se trata? Quem são eles? com que um jogador de futebol mostre-nos as
MS: No início, usei o termo em 2003 para des- suas partes mais íntimas num out-door duma
crever simplesmente os homens que não eram paragem de autocarro, chamando a nossa
metrossexuais. Mas, desde então, o mundo atenção para um mundo em que a metrosse-
tornou-se tão “metro” que o termo retrossexual xualidade é cada vez mais vulgar.
veio a significar apenas um outro metrossexual.
Sim, naturalmente, continuam a existir alguns CK: Também aqui podemos falar de Cristiano
retrossexuais, mas actualmente eles não apa- Ronaldo?
recem na televisão – o que significa que, no es- MS: Sim. É igualmente metrossexual [como
quema moderno das coisas, não existem. disse]. Fico surpreendido por Ronaldo não ter
ainda protagonizado uma grande campanha,
CK: Disse também que “muitos jogadores de fu- por exemplo para a Calvin Klein, mas estou
tebol querem ser objectos sexuais, algo que é certo que será para breve. Se calhar, por ser
posterior à estética metrossexual”! O que é afinal muito novo, a sexualidade do Ronaldo é um
o Sporno? bocadinho flamejante de mais para o mundo
MS: Sporno é quando a publicidade e o des- da moda, mesmo para a moda sporno.
porto se encontram para produzir uma grande
quantidade de dinheiro. Anúncios de Fredrik CK: E José Mourinho?
Ljungberg na Calvin Klein, anúncios de David MS: É um estilo de George Clooney, uma me-
Beckham na Armani, calendários com joga- trossexualidade mais madura. Não é realmen-
dores nus da equipa de rugby Diuex du Stade. te o meu estilo.
Essencialmente, é uma espécie de metrosse-
xualidade hardcore, na qual o aspecto de ob- CK: Mark, desde que lançou o termo metros-
jecto-sexual da metrossexualidade é eviden- sexual, muitos outros escritores insurgiram-se
Fredrik Ljungberg para Calvin Klein Impetus Hot

com novos neologismos como überssexual, CK: Tem uns certos ciúmes dos metrossexuais?
ecossexual (…) Porquê essa necessidade de ca- MS: Muitos mesmo. Tenho ciúmes de toda a
talogar o homem moderno, quando na realida- atenção que recebem, da sua pele, das suas
de nem se fala em “tipos” de mulher? colecções de sapatos, do seu guarda-roupa e
MS: É uma pergunta muito interessante! Mas, dos seus amigos celebridades. Só não tenho
honestamente, actualmente não estou tão in- ciúmes das suas contas do cartão de crédito.
teressado em encontrar “tipos” de homens.
O metrossexual era realmente um termo so- CK: Sente-se um guru da moda?
ciológico, mais do que de marketing. Usei-o MS: Absolutamente que não. Sou mais um les-
para descrever uma mudança profunda na bossexual do que um metrossexual.
masculinidade que poucos até então tinham
observado. A maioria dos outros neologismos CK: Finalmente, sugerimos que invente um termo
que apareceram, são apenas tentativas falha- para a mulher moderna. Atreve-se?
das do mercado de desviar atenção do metros- MS: Um termo para as mulheres? Bem, dizem
sexual – geralmente proclamando a morte do sempre que os escritores devem escrever so-
metrossexual e substituindo-o por um novo
bre o que sabem…. Mas, certamente, pensarei
“tipo” de homem que é, à primeira vista, tão
nisso. Não é justo que até agora as mulheres
agradável quanto o metrossexual.
tenham escapado à minha atenção. ¬
CK: E você, Mark Simpson, como se define? Se quiser saber mais sobre Mark Simpson, visite o seu site oficial
MS: Um homossexual careca. em www.marksimpson.com

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