You are on page 1of 62

A História dos NÚMEROS

Licenciatura em Informática
História da Ciência e das Técnicas

Docente:
Discentes:
Henrique Gomes Bernardo
João Martins
N.º 1290
Nuno Vaz
N.º 1306
Rui Figueiredo
N.º 1324
Ano Lectivo 2008 / 2009
Pag.1 / 1
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

"Hoje em dia, os nomes já não possuem significado.


O que importa são os números: o número da conta,
da identidade, do passaporte.
São eles que contam."

(José Saramago)

Licenciatura em Informática
História da Ciência e das Técnicas

Docente:
Dr. H. Bernardo
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Curriculum Vitae
INFORMAÇÃO PESSOAL
Nome MARTINS, João Paulo Gouveia
• Residência S. José - Lisboa
• Correio electrónico jpgmartins@gmail.com
EXPERIÊNCIA
PROFISSIONAL
• Datas DESTE SETEMBRO DE 2004
• Nome do empregador Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE
• Tipo de negócio ou sector Área de Gestão de Sistemas e Tecnologias de Informação
• Ocupação ou posição detida Técnico de Informática
• Principais actividades e Gestão Operacional da aplicação GIACH – Logistica e Farmácia Hospitalar.
responsabilidades Formação aos profissionais utilizadores da aplicação: Médicos, Enfermeiros,
Técnicos e Administrativos.
• Datas AGOSTO 2003 A SETEMBRO 2004
• Nome do empregador Subgrupo Hospitalar Capuchos/Desterro
• Tipo de negócio ou sector Serviço de Informática
• Ocupação ou posição detida Técnico de Informática Adjunto
• Datas SETEMBRO 1998 A AGOSTO 2003
• Nome do empregador Subgrupo Hospitalar Capuchos/Desterro
• Tipo de negócio ou sector Serviço de Informática
• Ocupação ou posição detida Assistente Administrativo
• Datas MARÇO 1994 A SETEMBRO 1998
• Nome do empregador Subgrupo Hospitalar Capuchos/Desterro
• Tipo de negócio ou sector Departamento Financeiro
Gestão Hoteleira Comunicações e Transportes
Gestão de Doentes - Estatística
• Ocupação ou posição detida Assistente Administrativo
• Datas JANEIRO 1989 A MAIO 1993
• Nome do empregador Subgrupo Hospitalar Capuchos/Desterro
• Tipo de negócio ou sector Serviço de Hematologia / Serviços Farmacêuticos
• Ocupação ou posição detida Auxiliar de Acção Médica
• Datas JUNHO A AGOSTO 1987 E JUNHO A AGOSTO 1988
• Nome do empregador Repartição de Finanças de Machico - Madeira
• Tipo de negócio ou sector Tesouraria da Fazenda Pública
• Ocupação ou posição detida Administrativo

OUTRAS ACTIVIDADES
• Datas FEVEREIRO 2002
• Identificação da actividade Membro eleito da Direcção Nacional da Associação Sindical do Pessoal
Administrativo da Saúde – ASPAS – triénio 2002/2004
• Datas DESDE NOVEMBRO 2001
• Identificação da actividade FORMADOR
Ministração formação em deveras áreas da informática para utilizadores da
instituição onde trabalha.
• Datas DESDE OUTUBRO 1994
• Identificação do curso Instrutor de Teoria e Prática de Condução de Automóveis Ligeiros
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Curriculum Vitae
INFORMAÇÃO PESSOAL
Nome Vaz, Nuno Ricardo Elias
• Residência Alverca do Ribatejo
• Correio electrónico nvaz77@gmail.com
EXPERIÊNCIA
PROFISSIONAL
• Datas Dezembro de 1998 até à presente data
• Nome do empregador Dia/Minipreço Portugal Supermercados – Soc. Unip. Lda.
• Tipo de negócio ou sector Distribuição e Comércio de Produtos Alimentares
• Ocupação ou posição detida Técnico de MicroInformática
• Principais actividades e - Administração de Sistemas em ambiente Windows Server 2003, Active
responsabilidades Directory,IBM Lotus Notes Domino e de Sistema centralizado de
Backup HP Data Protector.
- Administração Hardware Appliance (Astaro Security Gateway) e
configuração de VPN’s .
- Implementação de Servidores Anti-Virus(Norton) e WSUS (Windows
Software Update Services).
- Suporte básico a SAP.
- Configurações básicas de routers e redes.
- Suporte a nivel de Software e Hardware a utilizadores.
- Conhecimentos de Linux.
- Suporte à operação e infraestrutura nomeadamente parque informático e
periféricos, impressoras, redes, servidores, gestão de utilizadores, backups
• Datas Maio de 1998 a Novembro 1998
• Nome do empregador Dia/Minipreço Portugal Supermercados – Soc. Unip. Lda
• Tipo de negócio ou sector Distribuição e Comércio de Produtos Alimentares
• Ocupação ou posição detida Operador de Informática de 1ª
• Principais actividades e Processamento de Dados (Comunicações com as lojas, Introdução de
responsabilidades Dados) e suporte a utilizadores.
FORMAÇÃO ACADEMICA E
PROFISSIONAL
• Datas Outubro de 2006 até à presente data
• Designação da qualificação Frequência do Curso de Licenciatura em Informática
atribuída
• Principais - Linguagens de Programação - C / C++ / HTML / Javascript / ASP.NET /
disciplinas/competências VB.NET / C# / Java
profissionais - Redes e Comunicações (Modelo OSI,TCP/IP)
- Sistemas de Gestão de Bases de Dados (SQL Server 2005, Modelo
Relacional,UML)
• Nome e tipo da organização de ISTEC (Instituto Superior de Tecnologias Avançadas)
ensino ou formação
• Nível segundo a classificação Frequência Universitária (3º Ano)
nacional ou internacional
• Datas Setembro 2007
• Designação da qualificação MCITP (Microsoft Certified IT Professional) :Enterprise Support Technician
atribuída
• Principais disciplinas/ Windows Vista: Suporte e resolução de problemas em ambiente empresarial.
competências profissionais
• Nome e tipo da organização de Rumos - Informática Profissional
ensino ou formação
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Curriculum Vitae
INFORMAÇÃO PESSOAL
Nome FIGUEIREDO, Rui
• Residência Abrunheira - Sintra
• Correio electrónico rui.figueiredo@gmail.com
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
• Datas 2009-2009
• Nome do empregador ZON TvCabo. – OctalTV, Engenharia de Sistemas para TV Interactiva, S.A.
– Grupo Novabase
• Tipo de negócio ou sector Direcção Sistemas de Informação
• Ocupação ou posição detida MiddleWare & Portais Application Support
• Principais actividades e Gestão Operacional e Suporte de todos os portais zon tvcabo
responsabilidades
• Datas 2008-2009
• Nome do empregador ZON TvCabo. – OctalTV, Engenharia de Sistemas para TV Interactiva, S.A.
– Grupo Novabase
• Tipo de negócio ou sector Selfcare
• Ocupação ou posição detida Desenvolvimento Web e Suporte Portais Zon
• Principais actividades e Desenvolvimento em asp.net, php, manutenção correctiva
responsabilidades
• Datas 2006-2008
• Nome do empregador PT SI Sistemas de Informação S.A. – OctalTV, Engenharia de Sistemas para
TV Interactiva, S.A. – Grupo Novabase
• Tipo de negócio ou sector SIGMA
• Ocupação ou posição detida Desenvolvimento de Ferramentas apoio manutenção correctiva
• Principais actividades e SIGMA. BEA Weblogic Communications Platform, Oracle, shell script
responsabilidades OSS DEV / Product Support SIGMA
• Datas 2006-2006
• Nome do empregador PT SI Sistemas de Informação S.A. – OctalTV, Engenharia de Sistemas para
TV Interactiva, S.A. – Grupo Novabase
• Tipo de negócio ou sector PRODUX
• Ocupação ou posição detida Migração de dados
• Principais actividades e SIGMA. BEA Weblogic Communications Platform, Oracle, shell sc
responsabilidades
• Datas 2004-2006
• Nome do empregador TV CABO PT – OctalTV, Engenharia de Sistemas para TV Interactiva, S.A.
– Grupo Novabase
• Tipo de negócio ou sector DDI – Direcção de Desenvolvimento Infraestruturas TvCabo Portugal
• Ocupação ou posição detida Administração da rede tvcabo pt
• Principais actividades e CEON Provisioning Services. BEA Weblogic Communications Platform,
responsabilidades Oracle, Siebel CRM, Operador Sistema Sun
• Datas 2003-2004
• Nome do empregador TV CABO/NETCABO – OctalTV, Engenharia de Sistemas para TV
Interactiva, S.A. – Grupo Novabase
• Tipo de negócio ou sector Departamento Técnico Netcabo Profissional/residencial
• Ocupação ou posição detida Técnico Netcabo Profissional
• Principais actividades e Rede Netcabo Profissional Empresarial
responsabilidades
• Datas 2001-2006
• Nome do empregador Staples Office Centre - Loja de Sintra
• Tipo de negócio ou sector Informática e Material de Escritório
• Ocupação ou posição detida Op Principal da Área de Informática
• Principais actividades e Área de venda da loja de Sintra
responsabilidades
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Í ndice
1. A História e o Número ..............................................................................................................3
1.1. A Linguagem dos Números ...............................................................................................3
1.2. O conceito de Número .......................................................................................................4
1.3. Limitações vêm de longe ...................................................................................................5
1.4. O Numero sem contagem...................................................................................................5
1.5. A ideia de correspondência ............................................................................ 6
1.6. Do relativo ao absoluto ......................................................................................................6
2. Evolução dos Números
2.1. Era Primitiva ......................................................................................................................7
2.2. O número concreto
2.2.1. Como surgiu o número?.............................................................................................9
2.2.2. Contando objectos com outros objectos ....................................................................9
3. O número natural
3.1. Os egípcios criam os símbolos .........................................................................................10
4. Os números racionais ...............................................................................................................11
5. Os Números e as Civilizações
5.1. Os algarismos na civilização Suméria .............................................................................12
5.1.1. O sistema sexagesimal .............................................................................................12
5.1.2. A Evolução gráfica dos algarismos .........................................................................13
5.1.3. O princípio da numeração escrita suméria ..............................................................14
5.1.4. Como calculavam os sumérios ................................................................................15
5.1.5. Das pedras ao ábaco.................................................................................................16
5.2. Os algarismos da civilização Egípcia...............................................................................17
5.2.1. Os algarismos hieroglíficos .....................................................................................17
5.2.2. A origem dos algarismos egípcio.............................................................................18
5.2.3. Dos algarismos hieroglíficos aos algarismos hieráticos ..........................................18
5.2.4. Como os egípcios calculavam .................................................................................19
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.2.5. Os papiros da Matemática egípcia ...........................................................................20


5.2.6. Descobrindo a fracção .............................................................................................21
5.3. Os algarismos da civilização Helénico.............................................................................22
5.3.1. Sistemas de numeração usados pelos gregos ...........................................................22
5.3.2. Ciência e Mística Pitagórica ....................................................................................24
5.3.3. Números Figurados ..................................................................................................24
5.3.4. Sedução dos Números Inteiros ................................................................................25
5.3.5. Números Amigáveis ................................................................................................26
5.3.6. Números Perfeitos ...................................................................................................26
5.3.7. Os incomensuráveis ou Irracionais ..........................................................................26
5.3.8 O Número – Símbolo de um Paradoxo Cultural .......................................................27
5.4. Os algarismos da civilização Romana .............................................................................28
5.4.1. Os algarismos romanos ............................................................................................28
5.4.2. Contando com os romanos.......................................................................................29
5.4.3. O sistema de numeração romano .............................................................................30
5.4.4. Os milhares ..............................................................................................................31
5.4.5. O ábaco de fichas .....................................................................................................31
5.4.6. Ábaco de cera ..........................................................................................................32
5.4.7. Ábaco romano de "bolso" ........................................................................................33
5.5. Os algarismos da civilização Chinesa ..............................................................................34
5.5.1. Os algarismos chineses ............................................................................................34
5.5.2. Sistema posicional ...................................................................................................35
5.5.3. Como calculavam os chineses ................................................................................36
5.5.4. Ábaco de contas .......................................................................................................37
5.6. Os algarismos da civilização Indiana ..............................................................................38
5.6.1. Os algarismos indianos ............................................................................................38
5.6.2. Como contavam os indianos ....................................................................................39
5.6.2. A prancheta como ábaco de colunas ........................................................................39
5.6.4. Cálculos sem apagar os resultados intermédios .......................................................40
5.6.5. Afinal os nossos números ........................................................................................41
5.7. Os algarismos da civilização Árabe .................................................................................42
5.7.1.Os algarismos árabes ................................................................................................42
5.7.2. Como calculavam os árabes.....................................................................................43
5.7.3. Os árabes divulgam ao mundo os números hindus ..................................................44
6. Os nomes Portugueses de Al-Khuarizmi .................................................................................45
7. História do Sistema Binário .....................................................................................................47
7.1. Defensor do Sistema Binário............................................................................................48
7.2. Refinamento do Sistema Binário......................................................................................48
7.3. Lógica booleana ...............................................................................................................49
7.3.1. Como funciona a lógica que faz com que os computadores funcionem ..................49
7.3.2. Como as coisas começaram .....................................................................................49
7.4. O sistema binário..............................................................................................................49
7.4.1. Portas Lógicas..........................................................................................................50
7.5. Para conhecimento ...........................................................................................................51
9. Conclusão ................................................................................................................................52
10. Bibliografia ...........................................................................................................................54
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

I ntrodução
O número desempenha um papel relevante, não só na sociedade actual, bem como nas anteriores. O homem
do século XXI vive cercado pelos números: horários de trabalho, estatísticas de natalidade, tabelas de preços,
juros a receber, impostos, velocidade do automóvel, recordes dos jogos, etc.
Os computadores e as imagens nas televisões digitais funcionam através de números (1 e 0). Já nos nossos
antepassados, os números tiveram uma importância enorme na vida dos seres humanos, pois foram eles que
os ajudaram a criar as primeiras cidades e impérios, assim como serviram de fonte de inspiração de algumas
das mentes mais brilhantes da história.
Mas como surgiram os números?
Apenas à vinte mil anos atrás apareceram provas sólidas que o número 1 já existia e que alguém o usava para
contar. O seu aspecto era apenas um risco num osso de Ishango (mais especificamente, a fíbula de um
babuíno). O homem, por exemplo, para registar cada presa que trazia para a caverna, fazia um risco num
osso.
Mas os seres humanos começaram a evoluir e deixaram de viver em cavernas e começaram a construir os
seus próprios refúgios, as suas próprias casas e a produzir os seus próprios alimentos.
A antiga civilização dos Sumérios traria um contributo marcante na história dos números, o povo da Suméria
parou de riscar os ossos e passou a representar o número 1 como uma peça em forma de cone. Esta
transformação mudou o curso da história, a invenção dos cones permitiu aos Sumérios fazer algo que jamais
alguém fizera. Com os cones era possível subtrair, e deu-se o maior avanço até então… a invenção da
aritmética.
Talvez por viverem em grandes cidades e precisarem de organização (os grãos tinham de ser distribuídos e
para descobrir quanto cada pessoa devia receber, a aritmética era essencial), tenha sido essa a razão dessa
transformação. A aritmética não era a única coisa que os Sumérios precisavam nas cidades, sentiam também

Pag.1 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

a necessidade de manter registos dos seus cálculos, mas a escrita ainda não tinha sido inventada (os números,
ao que parece foram a primeira escrita do mundo). A forma por eles encontrada para manterem os seus
registos, foi a de colocar números específicos de cones em envelopes de argila e após fechá-los, pegavam
noutro cone para fazer marcas nos envelopes, tantas marcas quantos fossem os cones.
Foi então que alguma mente brilhante percebeu que o envelope não era necessário, na verdade nem os cones
eram. Bastava simplesmente fazer as marcas directamente numa tablete de argila e tinham os registos dos
números. A noção de escrita havia nascido.
Os Egípcios eram construtores entusiasmados e davam muito valor à beleza. Mas era impossível criar belos
edifícios sem medir com precisão, e não é possível medir com precisão, sem saber qual é a sua unidade de
medida. O número 1 começou a ser conhecido como cúbito, a medida para todas as coisas, a incontestável
régua.
Os Romanos inventaram um sistema de numeração que serviu para todo o ocidente durante quase 2 mil anos
- a Numeração Romana.
Por volta do início da era cristã surgiu a numeração de posição em que os símbolos valem conforme a
posição que ocupam na escrita de um número e um acessório fundamental: o zero (0) - Invenção dos Hindus.
Só por volta do séc. XV, com o aumento do comércio, é que ficou clara a necessidade de um sistema de
numeração mais prático e se começaram a impor os símbolos actuais - os algarismos árabes.
A partir daí tudo se passou rapidamente. Uns 200 anos mais tarde, Pascal inventava a primeira máquina de
calcular mecânica. Outros 100 anos mais tarde, sentiu-se a necessidade de criar os números decimais ou base
10.
O alemão Gottfiried Wilhelm Leibniz, um dos primeiros defensores do sistema binário, invocava uma
espécie de linguagem ou escrita universal, mas infinitamente diversa de todas as outras concebidas até agora,
isso porque os símbolos e até mesmo as palavras nela envolvidas se dirigiam à razão.
Este “revolucionário” sistema binário (ou base 2), é hoje amplamente utilizado pelo computadores modernos,
isto é, todas as informações armazenadas ou processadas no computador usam apenas DUAS grandezas,
representadas pelos algarismos 0 e 1. Essa decisão de projecto deve-se à maior facilidade de representação
interna no computador, que é obtida através de dois diferentes níveis de tensão. Havendo apenas dois
algarismos, portanto dígitos binários, o elemento mínimo de informação nos computadores foi apelidado de
bit (uma contracção do inglês binary digit).

“Todas as coisas têm um número e nada se pode compreender sem o número”


Filolau (nascido em 450 AC), matemático da Escola Pitagórica

“O homem da guerra deve aprender a arte dos números


ou ele não saberá como dispor as suas tropas.”
Platão (citado em Horng, 2000, p. 37)

Pag.2 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

1. A História e o Número

São muitas as civilizações da Antiguidade, como as dos babilónios, egípcios, gregos, chineses e hindus, que
criaram os seus próprios sistemas numéricos. Os maias, que viveram na América Central em tempos mais
recentes, também desenvolveram um modo interessante de registar números. É importante observar que estas
civilizações não vieram umas depois das outras. Pelo contrário, muitas coexistiram durante séculos e, embora
localizadas em regiões diferentes, mantiveram contacto umas com as outras.
Com a excepção dos maias, que habitavam a América, as civilizações da Europa, Oriente e Médio Oriente,
trocavam mercadorias e conhecimentos. O intercâmbio cultural, que também envolveu os conhecimentos
matemáticos daqueles povos, reflectiu-se nas formas de contar e de escrever os números.
A noção de número e as suas extraordinárias generalizações estão intimamente ligadas à história da
humanidade. E a própria vida está impregnada de matemática: grande parte das comparações que o homem
formula, assim como gestos e atitudes quotidianas, aludem conscientemente ou não a juízos aritméticos e
propriedades geométricas. Sem esquecer que a ciência, a indústria e o comércio nos colocam em permanente
contacto com o amplo mundo da matemática.

1.1. A Linguagem dos Números


Em todas as épocas da evolução humana, mesmo nas mais atrasadas, encontra-se no homem o sentido do
número. Esta faculdade permite-lhe reconhecer que algo muda numa pequena colecção (por exemplo, seus
filhos, ou suas ovelhas) quando, sem seu conhecimento directo, um objecto tenha sido retirado ou
acrescentado.
O sentido do número, na sua significação primitiva e no seu papel intuitivo, não se confunde com a
capacidade de contar, que exige um fenómeno mental mais complicado. Se contar é um atributo
exclusivamente humano, algumas espécies de animais parecem possuir um sentido rudimentar do número.

Pag.3 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Assim opinam, pelo menos, observadores competentes dos costumes dos animais. Muitos pássaros têm o
sentido do número. Se um ninho contém quatro ovos, pode-se tirar um sem que nada ocorra, mas o pássaro
provavelmente abandonará o ninho se faltarem dois ovos. De alguma forma inexplicável, ele pode distinguir
dois de três.
As espécies zoológicas com sentido do número são muito poucas (nem mesmo incluem os monos e outros
mamíferos). E a percepção de quantidade numérica nos animais é de tão limitado alcance que se pode
desprezá-la. Contudo, também no homem isso é verdade. Na prática, quando o homem civilizado precisa
distinguir um número ao qual não está habituado, usa conscientemente ou não - para ajudar seu sentido do
número - artifícios tais como a comparação, o agrupamento ou a acção de contar. Essa última, especialmente,
se tornou parte tão integrante da nossa estrutura mental que os testes sobre nossa percepção numérica directa
resultaram decepcionantes. Essas provas concluem que o sentido visual directo do número possuído pelo
homem civilizado, raras vezes, ultrapassa o número quatro, e que o sentido táctil é ainda, mais limitado.

1.2. O conceito de Número


“É razoável admitir que a espécie humana nas épocas mais primitivas tivesse algum entendimento numérico,
reconhecendo minimamente os actos de acrescentar e de retirar objectos de uma pequena colecção” (Eves,
1997).
“Posso conjecturar que o número é uma invenção humana, uma produção do seu pensamento; o homem,
partindo do estado animal, construiu ele mesmo, no seu cérebro, a sua linguagem (…) e os seus números”
(Keller, 2000, p. 28).
Foi contando objectos com outros objectos que a humanidade começou a construir o conceito de número.
Para o homem primitivo o número cinco, por exemplo, sempre estaria ligado a alguma coisa concreta: cinco
dedos, cinco peixes, cinco bastões, cinco animais, e assim por diante.
A ideia de contagem estava relacionada com os dedos da mão.
Assim, ao contar as ovelhas, o pastor separava as pedras em grupos de cinco.
Do mesmo modo os caçadores contavam os animais abatidos, traçando riscos na madeira
ou fazendo nós numa corda, também de cinco em cinco.
Para nós, hoje, o número cinco representa a propriedade comum de infinitas colecções de objectos:
representa a quantidade de elementos de um conjunto, não importando se trata de cinco bolas, cinco skates,
cinco discos ou cinco aparelhos de som.
É por isso que esse número, que surgiu quando o homem contava objectos usando outros objectos, é um
número concreto.
O conceito de número, sendo um conceito abstracto, não originará uma imagem instantânea, não podendo
também ser exibido, sendo apenas concebido na mente. Contudo, um outro progresso foi atingido com a
criação dos nomes dos números, processo que veio permitir a obtenção de uma designação oral, bem mais
precisa, das quantidades, facilitando-se desse modo a conquista do patamar de uma plena abstracção. (Ifrah,
1994)
O pensamento formula-se na linguagem, e isto faz que sem nomes não possa haver conceitos. O símbolo é
também um nome, só que não é oral, mas sim escrito e apresenta-se na mente na forma de uma imagem
visível. (Aleksandrov, 1982, p. 28)

Pag.4 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

A aplicação do número, como um pensamento abstracto (abstracto no sentido de que não tem de estar
relacionado com um objecto físico em particular), foi indubitavelmente um dos maiores progressos na
história do pensamento (Kline, 1982).

1.3. L imitações vêm de longe


Os estudos sobre os povos primitivos fornecem uma notável comprovação desses resultados. Os selvagens
que não alcançaram ainda o grau de evolução suficiente para contar com os dedos estão quase
completamente desprovidos de toda noção de número. Os habitantes da selva da África do Sul não possuem
outras palavras numéricas além de um, dois e muitos, e, ainda, essas palavras estão desvinculadas pelo que se
pode duvidar que os indígenas lhes atribuam um sentido bem claro.
Realmente não há razões para crer que nossos remotos antepassados estivessem mais bem equipados, já que
todas as linguagens europeias apresentam traços destas antigas limitações: a palavra inglesa thrice, do
mesmo modo que a palavra latina ter, possui dois sentidos: "três vezes" e "muito". Há evidente conexão
entre as palavras latinas tres (três) e trans (mais além). O mesmo acontece no francês: trois (três) e très
(muito).
Como nasceu o conceito de número? Da experiência? Ou, ao contrário, a experiência serviu simplesmente
para tornar explícito o que já existia em estado latente na mente do homem primitivo? Eis aqui um tema
apaixonante para discussão filosófica.
Julgando o desenvolvimento dos nossos ancestrais pelo estado mental das tribos selvagens actuais, é
impossível deixar de concluir que sua iniciação matemática foi extremamente modesta. Um sentido
rudimentar de número, de alcance não maior que o de certos pássaros, foi o núcleo do qual nasceu nossa
concepção de número. Reduzido à percepção directa do número, o homem não teria avançado mais que o
corvo assassinado pelo senhor feudal. Todavia, através de uma série de circunstâncias, o homem aprendeu a
completar sua percepção limitada de número com um artifício que estava destinado a exercer influência
extraordinária em sua vida futura. Esse artifício é a operação de contar, e é a ele que devemos o progresso
da humanidade.

1.4. O número sem contagem


Apesar disso, ainda que pareça estranho, é possível chegar a uma ideia clara e lógica de número sem recorrer
a contagem. Entrando numa sala de cinema, temos diante de nós dois conjuntos: o das poltronas da sala e o
dos espectadores. Sem contar, podemos assegurar se esses dois conjuntos têm ou não igual número de
elementos e, se não têm, qual é o de menor número. Com efeito, se cada assento está ocupado e ninguém está
de pé, sabemos sem contar que os dois conjuntos têm igual número. Se todas as cadeiras estão ocupadas e há
gente de pé na sala, sabemos sem contar que há mais pessoas que poltronas.
Esse conhecimento é possível graças a um procedimento que domina toda a matemática, e que recebeu o
nome de correspondência biunívoca. Esta consiste em atribuir a cada objecto de um conjunto um objecto de
outro, e, continuar assim até que um ou ambos os conjuntos se esgotem.
A técnica de contagem, em muitos povos primitivos, se reduz precisamente a tais associações de ideias. Eles
registam o número de suas ovelhas ou de seus soldados por meio de incisões feitas num pedaço de madeira
ou por meio de pedras empilhadas. Temos uma prova desse procedimento na origem da palavra "cálculo", da
palavra latina calculus, que significa pedra.

Pag.5 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

1.5. A ideia de correspondência


A correspondência biunívoca resume-se numa operação de "fazer corresponder". Pode-se dizer que a
contagem se realiza fazendo corresponder a cada objecto da colecção (conjunto), um número que pertence à
sucessão natural: 1,2,3...
Apontamos para um objecto e dizemos: um; apontamos para outro e dizemos: dois; e assim sucessivamente
até esgotar os objectos da colecção; se o último número pronunciado for oito, dizemos que a colecção tem
oito objectos e é um conjunto finito. Mas o homem de hoje, mesmo com conhecimento precário de
matemática, começaria a sucessão numérica não pelo um mas por zero, e escreveria 0,1,2,3,4...
A criação de um símbolo para representar o "nada" constitui um dos actos mais audaciosos da história do
pensamento. Essa criação é relativamente recente (talvez pelos primeiros séculos da era cristã) e foi devida
às exigências da numeração escrita. O zero não só permite escrever mais simplesmente os números, como
também efectuar as operações. Imagine-se fazer uma divisão ou multiplicação em números romanos! E, no
entanto, antes ainda dos romanos tinha florescido a civilização grega, onde viveram alguns dos maiores
matemáticos de todos os tempos; e a nossa numeração é muito posterior a todos eles.

1.6. D o relativo ao absoluto


Pareceria à primeira vista que o processo de correspondência biunívoca só pode fornecer um meio de
relacionar, por comparação, dois conjuntos distintos (como o das ovelhas do rebanho e o das pedras
empilhadas), sendo incapaz de criar o número no sentido absoluto da palavra. Contudo, a transição do
relativo ao absoluto não é difícil.
Criando conjuntos modelos, tomados do mundo que nos rodeia, e fazendo cada um deles caracterizar um
agrupamento possível, a avaliação de um dado conjunto fica reduzida à selecção, entre os conjuntos
modelos, daquele que possa ser posto em correspondência biunívoca com o conjunto dado.
Começou assim: as asas de um pássaro podiam simbolizar o número dois, as folhas de um trevo o número
três, as patas do cavalo o número quatro, os dedos da mão o número cinco. Evidências de que essa poderia
ser a origem dos números se encontram em vários idiomas primitivos.
É claro que uma vez criado e adoptado, o número se desliga do objecto que o representava originalmente, a
conexão entre os dois é esquecida e o número passa por sua vez a ser um modelo ou um símbolo.
À medida que o homem foi aprendendo a servir-se cada vez mais da linguagem, o som das palavras que
exprimiam os primeiros números foi substituindo as imagens para as quais foi criado. Assim os modelos
concretos iniciais tomaram a forma abstracta dos nomes dos números. É impossível saber a idade dessa
linguagem numérica falada, mas sem dúvida ela precedeu de vários milhões de anos a aparição da escrita.
Todos os vestígios da significação inicial das palavras que designam os números foram perdidos, com a
possível excepção de cinco (que em várias línguas queria dizer mão, ou mão estendida). A explicação para
isso é que, enquanto os nomes dos números se mantiveram invariáveis desde os dias de sua criação,
revelando notável estabilidade e semelhança em todos os grupos linguísticos, os nomes dos objectos
concretos que lhes deram nascimento sofreram uma metamorfose completa.

Pag.6 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

2. E volução dos Números

2.1. E ra Primitiva
A arqueologia tem desenvolvido um papel de extrema relevância para o estudo da evolução do pensamento
contábil. É através dela que podemos conhecer o passado em busca de afirmação para o presente que
possibilite uma projecção para o futuro.
A Mesopotâmia é ponto de paragem obrigatória para o estudo da arqueologia. Muitos arqueólogos como
Rich (1812), Paul Émile (1842), sendo considerado o “Primeiro a encetar as escavações” em busca da
perdida Babilónia, procuraram, durante muito tempo, encontrar sentido para o presente desvendando o
passado.
Foi Hornuzd Rassom, em 1854, que deu a maior contribuição para desvendar o mistério que o passado
escondia. A sua contribuição foi descobrir a biblioteca de Assubanipal. Segundo MELLA ( 1985:21),
expondo sobre Assubanipal:
“Numa certa altura da sua vida, o grande rei, movido por intentos culturais, deu ordem a seus enviados a
comprar todas as obras científicas, literárias, históricas, e documentos que pudessem encontrar, enquanto
na corte um STAFF de doutores recopiava ou traduzia as que não estivessem a venda.”
Segundo o autor, esse trabalho resultou numa colecção com mais de 30.000 tabuinhas que apresentava o
conjunto de todo conhecimento existente entre o povo da época. Outras tabuinhas foram sendo descobertas
noutras escavações, revelando cada vez mais um passado que durante muito tempo permaneceu escondido.
Para MELLA (1985:34): “O material de estudo enriqueceu enormemente quando as escavações trouxeram
à luz os arquivos do governo desta ou daquela cidade, estrelas, selos, contratos, cartas, na maior parte
concernente a atas oficiais, burocráticas, construções de templos ou obras públicas; mas alguns referiam-
se também a eventos políticos ou bélicos e constituindo assim uma documentação preciosa para tentar
reconstruir sua história.”

Pag.7 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

É impossível analisar todos esses empreendimentos sem conceber a necessidade de se acompanhar custos.
Ou seja, a presença da contabilidade acompanha a própria história da humanidade.
Entre os sumérios não era diferente, a contabilidade exercia um papel importante no que diz respeito ao
controle das finanças, bem como o descambo na economia. O controlo das finanças estava intimamente
relacionado ao centro da religião, o templo. O templo funcionava como banco, escola e mercado e
principalmente como o centro do Estado (nele eram realizadas as principais transacções económicas da
época).
Esta relação política x religião x economia é predominante durante a Era Primitiva.
A economia entre os sumérios era desenvolvida principalmente pelo vasto comércio realizado em toda
Mesopotâmia, Egipto e Índia.
O principal facto nessa Era foi constituído principalmente pela formação do elo familiar. A família começava
a desempenhar um papel relevante para a contabilidade, pois o controle sobre o património da mesma
tornava-se uma necessidade.
É evidente que o conhecimento sobre a contabilidade, nessa Era, não se encontrava totalmente desvendado.
Muitos estudos, ainda, serão realizados na tentativa de se traçar uma história do pensamento contábil.
Uma contribuição significativa nessa fase foi o surgimento dos números. O número é indispensável no
avanço progressivo da humanidade. O homem caçava, pescava, construía, plantava tudo em função da
própria sobrevivência.
Há cerca de 10.000 anos atrás o homem começara a criar animais e com essa nova actividade surgia a
necessidade da geração de informação. “Qual o meu património, ou seja, em quanto aumentou o meu
rebanho”. Como atender a necessidade do Proprietário se os homens não conheciam os números nem sabiam
contar. Deste momento em diante o homem começou a buscar resposta para essas questões.
De forma rudimentar à contabilidade já se encontrava presente nos primórdios da humanidade. Pode-se
associar o surgimento dos números atrelado ao surgimento da contabilidade.
Para os estudiosos da matemática, a noção dos números surgiu aproximadamente à 10.000 anos atrás,
afirmam:
“Alguns vestígios indicam que os pastores usando conjuntos de pedras para fazer o controlo do seu
rebanho. Ao soltar as ovelhas, o pastor separava uma pedra para cada animal que
passava e guardava o monte de pedra”.
“Quando os animais voltavam, o pastor retirava do monte uma pedra para cada
ovelha que passava. Se sobrassem pedras, ficaria a saber que havia perdido
ovelhas. Se faltassem pedras saberia que o rebanho havia aumentado."
Desta forma, mantinham tudo sob controlo. Observa-se, na narração acima que a noção dos números está
intimamente ligada à necessidade da informação. Existiam os dados, não o controle e, por este motivo, não
havia informação que possibilitasse ao proprietário ou ao pastor, tomar decisão.
Na medida em que o homem fazia a ligação, para cada ovelha uma pedra, ele estava, na realidade, a fazer o
que na matemática se chama correspondência um a um.
Esse pastor jamais poderia imaginar que milhares de anos mais tarde, haveria um ramo da Matemática
chamado Cálculo, que em latim quer dizer contas com pedras.
Para os matemáticos: "fazer a correspondência um a um é associar a cada objecto de uma colecção um
objecto de outra colecção".
Pag.8 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Na linguagem contábil temos, de um lado a colecção dos débitos e, de outro, a colecção dos créditos, ou seja,
cada débito corresponde a um crédito e vice-versa.
O homem tinha resolvido um problema, a questão dos números, mas apesar de obter a informação ele não
conseguia registá-la de forma mais duradoura. O novo desafio era registar, por mais tempo, e de forma
consistente a informação.
Com a busca por um registo mais duradouro o homem começava a estudar a possibilidade do
desenvolvimento de um elemento que servisse de base para o registo.
Era o começo da descoberta da escrita e a entrada para a Era Racional.

2.2. O número concreto

2.2.1. C omo surgiu o número?


Alguma vez parou para pensar nisso? Certamente já imaginou que um dia alguém teve uma ideia genial e de
repente inventou o número. Mas não foi bem assim.
A descoberta do número não aconteceu de repente, nem foi uma única pessoa a
responsável por essa façanha. O número surgiu da necessidade que as pessoas tinham
de contar objectos e coisas.
Nos primeiros tempos da humanidade, para contar eram usados os dedos, pedras, os
nós de uma corda, marcas num osso...
Com o passar do tempo, este sistema foi-se aperfeiçoando até dar origem ao número.

2.2.2. C ontando objectos com outros objectos


Há mais de 30.000 anos, o homem vivia em pequenos grupos, morando em grutas e cavernas para se
esconder dos animais selvagens e proteger-se da chuva e do frio.
Para registar os animais mortos numa caçada, limitavam-se a fazer marcas numa vara.
Nessa época o homem alimentava-se daquilo que a natureza oferecia: caça, frutos,
sementes, ovos. Quando descobriu o fogo, apreendeu a cozinhar os alimentos e a
proteger-se melhor contra o frio.
A escrita, ainda, não tinha sido criada, pelo que, para contar, o homem fazia riscos num
pedaço de madeira ou em ossos de animais.
Há mais ou menos 10.000 anos, o homem começou a modificar bastante o seu sistema
de vida. Em vez de apenas caçar e colher frutos e raízes, passou a cultivar algumas plantas e a criar animais.
Era o início da agricultura, graças à qual aumentava muito a variedade de alimentos de que podia dispor.
E para dedicar-se às actividades de plantar e criar animais, o homem não podia continuar a deslocar-se de um
lugar para outro como antes. Passou então a fixar-se num determinado lugar, geralmente às margens de rios e
cavernas e desenvolveu uma nova habilidade: a de construir sua própria moradia.
Começaram a surgir as primeiras comunidades organizadas, com chefe, divisão do trabalho entre as pessoas,
etc..

Pag.9 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

3. O Número Natural

3.1. O s egípcios criam os símbolos


Por volta do ano 4.000 a.C., algumas comunidades primitivas aprenderam a usar ferramentas e armas de
bronze. As Aldeias situadas às margens dos rios transformaram-se em cidades. A vida ia ficando cada vez
mais complexa. Novas actividades iam surgindo, graças sobretudo ao desenvolvimento do comércio.
Os agricultores passaram a produzir alimentos em quantidades superiores às suas
necessidades. Com isso, algumas pessoas puderam se dedicar a outras actividades,
tornando-se artesãos, comerciantes, sacerdotes, administradores.
Como consequência desse desenvolvimento surgiu a escrita. Era o fim da Pré-História
e o começo da História.
Os grandes progressos que marcaram o fim da Pré-História verificaram-se com muita intensidade e rapidez
no Egipto.
Para fazer os projectos de construção das pirâmides e dos templos, o número concreto não era nada prático.
Ele também não ajudava muito na resolução dos difíceis problemas criados pelo desenvolvimento da
indústria e do comércio.
Como efectuar cálculos rápidos e precisos com pedras, nos ou riscos em um osso? Foi
partindo dessa necessidade imediata que estudiosos do Antigo Egipto passaram a
representar a quantidade de objectos de uma colecção através de desenhos – os símbolos.
A criação dos símbolos foi um passo muito importante para o desenvolvimento da
Matemática.
Na Pré-História, o homem juntava 3 bastões com 5 bastões para obter 8 bastões. Hoje sabemos representar
esta operação por meio de símbolos.
3+5=8
Pag.10 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

4. O s números racionais
Com o sistema de numeração hindu ficou fácil escrever qualquer número, por maior que ele fosse.
0 13 35 98 1.024 3.645.872
Como estes números foram criados pela necessidade prática de contar as coisas da natureza, eles são
chamados de números naturais.
Os números naturais simplificaram muito o trabalho com os números fraccionários.
Não havia mais necessidade de escrever um número fraccionário por meio de uma adição de dois
fraccionários, como faziam os matemáticos egípcios.
O número fraccionário passou a ser escrito como uma razão de dois números naturais.
A palavra razão em matemática significa divisão. Portanto, os números inteiros e os números fraccionários
podem ser expressos como uma razão de dois números naturais. Por isso, são chamados de números
racionais.
A descoberta de números racionais foi um grande passo para o desenvolvimento da Matemática.

Pag.11 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5. O s Números e as Civilizações

5.1. O s algarismos na civilização Suméria


De origem desconhecida (vinda provavelmente da Anatólia e chegada à Mesopotâmia por volta de 3300
a.C), a civilização Suméria é a mais antiga civilização. No extremo sul da Mesopotâmia, entre os rios Tigre
e Eufrates (área onde posteriormente se desenvolveu a civilização Babilónica que hoje corresponde ao sul
do Iraque, entre Bagdad e o Golfo Pérsico), aí floresceram cidades-estados (Ur, Eridu, Lagash, Uma, Adab,
Kish, Sipar, Larak, Akshak, Nipur, Larsa e Bad-tibira)
A crescente rivalidade entre as cidades enfraqueceu esta civilização, tornando-a extremamente vulnerável a
invasores. Depois de 1900 a.C., após a conquista de todo o território mesopotâmio pelos amorritas, os
sumérios perderam a sua identidade como povo, mas a sua cultura foi assimilada pelos sucessores semitas.
De entre os feitos desta civilização destacam-se a invenção da escrita cuneiforme (a mais antiga forma
registada para representar sons da língua, em vez dos próprios objectos), os primeiros veículos sobre rodas e
os primeiros tornos de cerâmica.
A escrita cuneiforme surgiu na Mesopotâmia por volta de 3000 a.C., sendo utilizadas para seu registo tabulas
de argila e estiletes de bambu. Graças a esta escrita, decifrada no século XIX por linguistas e arqueólogos,
foi possível conhecer inúmeros aspectos da vida, religião e instituições desta civilização.

5.1.1. O sistema sexagesimal


Na civilização suméria utilizavam-se dois sistemas de contagem diferentes: um na base 5 e outro na base 12.
A base 5 resumia-se à utilização dos dedos das mãos como processo de contagem, servindo-se de uma mão
para contar e da outra como auxílio a contagens de maior dimensão, para "armazenar" a quantidade dos
"cincos" contados.
Pag.12 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

A base 12 assentava na utilização das três falanges que compõe cada um dos dedos, usando o polegar como
auxiliar de contagem (apoiava-se o polegar em cada uma das falanges, sendo assim possível a contagem até
12).
Na sequência de uma combinação entre os dois sistemas manuais de contagem, surge a base 60. Esta nova
técnica de contagem era praticada da seguinte maneira: na mão direita, contam-se as falanges, tal como na
base 12, "guardando" o número de contagens na mão esquerda, assim como na base 5.
Esta é uma das muitas hipóteses que existem acerca da origem do sistema sexagesimal (sistema este que
constituiu um dos maiores méritos da cultura suméria).
Mão esquerda Mão direita

Contagem dos dedos, Contagem das falanges


cada um valendo uma pelo polegar oposto,
dúzia. cada.

Sistema de contagem sexagesimal.

É importante frisar que ainda é notório, na nossa cultura, a utilização deste sistema, quer por exemplo na
expressão das medidas do tempo, em horas, minutos e segundos, ou a dos arcos e ângulos em graus, minutos
e segundos.

5.1.2. A Evolução gráfica dos algarismos


Os mais antigos algarismos conhecidos da história são representados através de marcas de baixo-relevo que
correspondem às diferentes classes de unidades consecutivas da numeração escrita suméria. Assim, a
unidade era representada por um entalhe fino, a dezena por uma impressão circular de pequeno diâmetro, a
sessentena por um entalhe grosso, o número 600 por uma combinação de dois algarismos precedentes, o
número 3600 por uma grande impressão circular e o número 36.000, por essa última munida de uma pequena
impressão circular.
Essa sequência era obtida da seguinte forma:
1
10
60=10×6
600=(10×6)×10
3600=(10×6×10)×6
36000=(10×6×10×6)×10

Cerca do século XXVII a. C., estes algarismos foram alterados, passando a estar dirigidos para a direita, em
vez de estarem dirigidos para baixo, conforme ilustra a figura:

Forma dos algarismos sumérios arcaicos após uma rotação de 90º

Pag.13 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Com a evolução da escrita cuneiforme,


estes algarismos voltaram ser a alterados,
passando a ter formas diferentes: a
unidade era representada por um pequeno
prego vertical, a dezena por uma viga, a
sessentena por um prego vertical de maior
dimensão, o número 600 por um prego
vertical do tipo precedente associada a
uma viga, o 3600 por um polígono
formado pela reunião de quatro pregos, o
número 36000 por um polígono do tipo precedente, munido de uma viga e por fim o número 216000
combinando o polígono de 3600 com o prego da sessentena.

5.1.3. O princípio da numeração escrita suméria


Com estes sistemas de representação de algarismos, os sumérios conseguiam obter qualquer número,
baseando-se no princípio aditivo e, repetindo as vezes necessárias em cada ordem de unidades um algarismo,
obtinha-se o número pretendido. É de notar a preocupação que existia em agrupar os algarismos idênticos
com o objectivo de facilitar a sua rápida visualização e compreensão.

36 000 reproduzido 3 vezes = 36 000 × 3 = 108 000


3 600 reproduzido 4 vezes = 3 600 × 4 = 14 400
600 reproduzido 3 vezes = 600 × 3 = 1 800
60 reproduzido 1 vez = 60 × 1 = 60
10 reproduzido 3 vezes = 10 × 3 = 30
1 reproduzido 6 vezes = 1 ×6 = 6
124296
Representação do número 164571, com recurso aos algarismos arcaicos.

Representação do número 800, com recurso aos algarismos cuneiformes.

De forma a simplificar e evitar as desmedidas repetições de sinais idênticos, os escribas de Sumer usaram
frequentemente o método subtractivo, escrevendo, por exemplo, os números 9, 18, 38, 57, 2360, 3110, da
seguinte forma:

Representação de números recorrendo ao método subtractivo.

Pag.14 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Também no sentido da simplificação da escrita, os múltiplos de 36000 passaram a ser representados da


seguinte forma (em vez de se usar a repetição continua dos símbolos):

Representação simplificada de alguns múltiplos de 36000.

5.1.4. C omo calculavam os sumérios

Bilhas, cones e esferas para calcular


Para fazer cálculos os sumérios utilizavam
objectos que, consoante a sua forma e tamanho,
representavam as diferentes ordens de unidade
do sistema sexagesimal:

O processo operatório no qual se baseavam para realizar a divisão consistia, no final de cada etapa, em trocar
os objectos pelos de ordem imediatamente inferior. Com efeito, consideremos o seguinte exemplo:
Dividir 324000 por 7
324000=9×36000
Como se pretende a divisão por 7, repartiremos 9 esferas perfuradas por grupos de 7 (note-se que as esferas
representam a maior unidade neste sistema):

O número de grupos de 7 esferas perfuradas que resulta desta primeira divisão é igual a 1, ou seja, o
quociente desta primeira divisão parcial é 1. No final desta primeira divisão restam 2 esferas perfuradas.
Para se poder prosseguir a operação é necessário converter 2×36000 em múltiplos de 3600 (unidade
imediatamente inferior a 36000). Deste modo 2×36000=2×10×3600=20×3600. Obtemos assim 20 esferas
simples, que repartimos novamente por grupos de 7:

O número de grupos de 7 esferas simples que resulta da segunda


divisão é igual a 2, ou seja, o quociente desta segunda divisão
parcial é 2 e restam 6 esferas simples.
Para prosseguir a operação vamos converter 6×3600 em
múltiplos de 600. Obtemos assim 36 grandes cones perfurados,
que repartimos novamente por grupos de 7:

Pag.15 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

O número de grupos de 7 grandes cones perfurados que resulta da terceira divisão é igual a 5 (quociente) e
sobra 1 grande cone perfurado (resto).
De seguida converteremos 1×600 em múltiplos de 60. Obtemos assim 10 grandes cones simples, que
repartimos novamente por grupos de 7:

O número de grupos de 7 grandes cones simples que resulta da quarta divisão é igual a 1 (quociente) e
sobram 3 grandes cones simples (resto).
Depois de converter 3×60 em múltiplos de 10 obtemos 18 bilhas, que repartimos novamente por grupos de 7:

O número de grupos de 7 bilhas que resulta da quinta divisão é igual a 2 (quociente) restando 4 bilhas. Para
terminar a operação resta-nos converter 4×10=40 por grupos de 7:

5 grupos

Sexto resto

O número de grupos de 7 pequenos cones que resulta da quinta divisão é igual a 50 (quociente) e restam 5
pequenos cones.
O quociente final obtém-se fazendo a adição dos quocientes obtidos nas várias divisões, com efeito:
1×36000+2×3600+5×600+1×60+2×10+5×1=46285 (quociente da divisão de 324000 por 7)

5.1.5. D as pedras ao ábaco

M C D U Posteriormente foi adoptado um outro processo que consistia em organizar por colunas as
contagens que se efectuavam, sendo a primeira (a da direita) associada às unidades, a
seguinte às dezenas e assim sucessivamente.
Consideremos o seguinte o exemplo: Representação do número 3672

Mais tarde, este método de cálculo deu origem ao ábaco de pedras.

Pag.16 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.2. O s algarismos da civilização Egípcia


Desde os primeiros momentos da sua história, os egípcios criaram uma sociedade baseada no aproveitamento
das águas do Nilo para a agricultura ("O Egipto é uma dádiva do Nilo.", Heródoto).
A antiga civilização egípcia começou por volta de 4000 a.C.. Mais tarde os primitivos clãs foram agrupados
em dois grandes reinos: um ao norte e o outro a sul. Por volta do ano 3300 a.C. o reino do sul venceu o do
norte e o Egipto transformou-se num estado único. A administração deste território fez surgir a criação de
um sistema de escrita - os hieroglíficos. Ao passarem a utilizar o papiro para fazer os seus registos, os
egípcios desenvolveram um sistema de escrita mais rápido - a escrita hierática, que foi utilizada até cerca de
800 a.C. Posteriormente a escrita evolui para um sistema cursivo (o demótico).
Até ao século XIX, as únicas fontes sobre o passado do Egipto eram os relatos dos autores clássicos.
Somente em 1821, com a decifração da escrita hieroglífica, por Champollion, se pôde proceder à leitura de
inscrições que iluminaram mais de três mil anos da história da humanidade.

5.2.1. O s algarismos hieroglíficos

Também os algarismos hieroglíficos (numeração


correspondente à escrita da antiga civilização
egípcia) acompanharam a evolução da escrita.
Inicialmente representavam a unidade e as seis
primeiras potências de 10.Estes algarismos eram
simbolizados pelos seguintes hieroglíficos
particulares:

Algarismos fundamentais da numeração hieroglífica


Egípcia e as suas principais variantes
Pag.17 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Para representar um número, os egípcios tinham apenas em consideração as unidades das potências de 10,
escrevendo-as, da esquerda para a direita, da maior ordem decimal até às unidades
simples. Assim, a representação do número 1 422 000 é a seguinte:

Depois do século XXVII a. C., estes algarismos passam a ser


organizados e escritos de forma mais simples e regular, sendo
reunidos em grupos menores e distribuídos por duas ou três
linhas.
Novo desenho e organização dos algarismos hieroglíficos.

5.2.2. A origem dos algarismos egípcios


Embora existam várias hipóteses sobre a origem dos algarismos hieroglíficos, a que parece recolher maior
consenso é a que se segue:
Uma barra vertical é o modo mais instintivo e rudimentar de representar a unidade, tendo por isso sido
escolhido o bastonete para representar o algarismo 1. A dezena era simbolizada pelo desenho de um cordão
que teria servido para juntar 10 bastonetes.
Para representar os algarismos 100 e 1000 usavam-se a espiral e a flor de lótus, respectivamente, e uma
justificação possível para tal escolha pode basear-se na analogia fonética entre as palavras orais porque eram
designados estes números e os símbolos que os representam.
Como os egípcios tinham adoptado um sistema de contagem manual apenas até 9999, foi então escolhido um
dedo levantado e ligeiramente inclinado para simbolizar o número seguinte, a dezena de milhar.
Devido à existência de uma imensa quantidade de girinos no Nilo e à sua grande capacidade de reprodução,
o girino foi escolhido para representar graficamente o algarismo 100000.
Para a representação de 1000000, número que, pela sua
grandeza, era merecedor de "respeito", foi escolhida a
representação de um homem com as mãos elevadas para o céu.
Outra possível explicação, esta mais plausível, sugere que a
representação escolhida, um homem admirando as estrelas e a
sua imensidão, remete para a ideia de eternidade.

5.2.3. D os algarismos hieroglíficos aos algarismos hieráticos


Para facilitar a escrita dos
algarismos hieroglíficos,
detalhada e essencialmente
decorativa, foi encontrado
um sistema mais simples e
rápido: os algarismos
hieráticos.

Representação dos algarismos hieroglíficos e hieráticos.


Pag.18 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Exemplo do quanto o sistema hierático veio facilitar a escrita dos números egípcios. É assim, por exemplo,
a representação do número 3 577:

5.2.4. C omo os egípcios calculavam


Com a ajuda deste sistema de numeração, os egípcios conseguiam efectuar todos os cálculos que envolviam
números inteiros. Para isso, empregavam uma técnica de cálculo muito especial: todas as operações
matemáticas eram efectuadas através de uma adição.

Adição
Para somar dois números, representavam-nos em separado e, posteriormente,
agrupavam os algarismos da mesma ordem de grandeza. De seguida, cada vez que
tivessem dez símbolos da mesma espécie, substituíam-nos pelo algarismo da
grandeza imediatamente superior, conforme ilustra o seguinte exemplo:

Multiplicação
Para multiplicar dois números, consideravam-se três casos:
Multiplicação por múltiplos de 10 [divisão por múltiplos de 10]:
Substituíam cada símbolo pelo símbolo correspondente ao algarismo da
ordem de grandeza seguinte [grandeza anterior], vejamos o caso da
multiplicação de 1464 por 10:
De forma a tornar a explicação mais perceptível, consideremos que se pretendiam multiplicar (ou dividir) a
por b, com a múltiplo de 2 e a > b. Notemos que todos os cálculos que seguidamente serão expostos eram
feitos com os algarismos hieroglíficos.

Multiplicação por potências de 2:


Os egípcios, formavam duas colunas e numa delas colocavam o número 1 seguido das suas sucessivas
multiplicações por 2, até ao número a. Na segunda coluna colocavam o número b e procediam de modo
análogo, efectuando o mesmo número de multiplicações necessárias para chegar ao a na 1 15
2 30
primeira coluna. O resultado do produto seria o último número obtido na segunda coluna. 4 60
8 120
Vejamos o seguinte exemplo, que ilustra a multiplicação de 15 por 256, cujo resultado será 16 240
32 480
3840. 64 960
128 1920
256 3840
Multiplicação por números que não são potências de 2 nem múltiplos de 10:

Como no caso anterior, formavam duas colunas e, numa delas, colocavam o número 1 seguido das sucessivas
multiplicações por 2, até à primeira potência inferior a a. Na segunda coluna colocavam o número b e
procediam de modo análogo, efectuando o mesmo número de multiplicações necessárias para chegar ao a na
primeira coluna. Posteriormente procuravam e assinalavam com um pequeno traço horizontal os números da
1 11 primeira coluna cuja soma era a. Somando os números correspondentes a esses na
2 22
4 44 / segunda coluna (que eram marcados com um traço oblíquo) obtinham o resultado
8 88 / pretendido.
16 176 /
32 352
64 704 / Exemplo: Multiplicação de 92 por 11
Pag.19 / 55
92×11= 44+88+176+704
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Divisão por números que não são potências de 2 nem múltiplos de 10:
O processo é idêntico, uma vez que vamos ter novamente duas colunas mas, desta vez, a primeira coluna a
ser preenchida é a segunda, onde colocavam o divisor e as sucessivas multiplicações por 2, até esse produto
ser o maior número inferior ao dividendo. Na primeira coluna colocavam o número 1 e as sucessivas
multiplicações por 2, tantas vezes quantas as utilizadas nas coluna 2. Posteriormente procuravam e
assinalavam com um pequeno traço horizontal os números da segunda coluna cuja soma era o dividendo.
Somando os números correspondentes a esses na primeira coluna (que eram marcados com um traço
oblíquo) obtinha-se o resultado pretendido. 1 17
2 34
4 68 /
8 136 /
16 272
32 544
Exemplo: Divisão de 4556 por 17 64 1088
128 2176
256 4352 /
4556÷17= 4+8+256

Os egípcios eram realmente muito habilidosos e criativos nos cálculos com números inteiros. Mas, em
muitos problemas práticos, eles sentiam necessidades de expressar um pedaço de alguma coisa através de um
número. E para isso os números inteiros não serviam.

5.2.5. O s papiros da Matemática egípcia


Quase tudo o que sabemos sobre a Matemática dos antigos egípcios se baseia em dois grandes papiros: o
Papiro Ahmes e o Papiro de Moscou.
O Papiro de Moscou é uma estreita tira de 5,5 m de comprimento por 8 cm de largura, com 25 problemas,
encontrando-se actualmente em Moscou, não se sabendo nada sobre o seu autor.
No inverno de 1858, um jovem antiquário escocês chamado A. Henry Rhind, de visita ao Egipto por motivos
de saúde, comprou em Luxor um grande papiro que teria sido descoberto nas ruínas de um antigo edifício de
Tebas, mais tarde o seu papiro foi adquirido pelo Museu Britânico de Londres.
O papiro de Rhind é também conhecido por papiro de Ahmes em homenagem ao escriba que o copiou no
33º ano do reinado de Apepa II (rei Hyksos da 15ª Dinastia) algures entre 1788 e 1580 a.C.
O escriba diz-nos que o material deriva de um original do Reino Médio, na 12º Dinastia, escrito entre 2000 e
1800 a.C., e é possível que algum do conhecimento tenha vindo do famoso arquitecto e físico Imhotepy que
supervisionou a construção da pirâmide do Faraó Zozer há cerca de 5000 anos.
O papiro Ahmes é um antigo manual de matemática. Contém 87 problemas,
todos resolvidos. A maioria envolvendo assuntos do dia-a-dia, como o preço do pão, a
armazenagem de grãos de trigo, a alimentação do gado.
Observando e estudando como eram efectuados os cálculos no Papiro Ahmes, não foi
difícil aos cientistas compreender o sistema de numeração egípcio. Além disso, a
decifração dos hieróglifos – inscrições sagradas das tumbas e monumentos do Egipto
– no século XVIII também foi muito útil. Papiro Ahmes

Na escrita dos números que usamos actualmente, a ordem dos algarismos é muito importante. Se tomarmos
um número, como por exemplo: 256 e trocarmos os algarismos de lugar, vamos obter outros números
completamente diferentes: 265 526 562 625 652

Pag.20 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Ao escrever os números, os egípcios não se preocupavam com a ordem dos símbolos.


Observe-se na figura, que apesar de a ordem dos símbolos não ser a mesma, os três
garotos do Antigo Egipto escrevem o mesmo número:
45

5.2.6. D escobrindo a fracção


Por volta do ano 3.000 a.C., um antigo faraó de nome Sesóstris...
“... repartiu o solo do Egipto às margens do rio Nilo entre seus habitantes. Se o rio levava qualquer parte do
lote de um homem, o faraó mandava funcionários examinarem e determinarem por medida a extensão
exacta da perda.”
Estas palavras foram escritas pelo historiador grego Heródoto, há cerca de 2.300 anos.
O rio Nilo atravessa uma vasta planície. Uma vez por ano, na época das cheias, as águas do Nilo sobem
muitos metros acima de seu leito normal, inundando uma vasta região ao longo de suas margens. Quando as
águas baixam, deixam descoberta uma estreita faixa de terras férteis, prontas para o cultivo.
Desde a Antiguidade, as águas do Nilo fertilizam os campos, beneficiando a agricultura do Egipto. Foi nas
terras férteis do vale deste rio que se desenvolveu a civilização egípcia.
Cada metro de terra era precioso e tinha de ser muito bem cuidado. Sesóstris repartiu estas preciosas terras
entre alguns agricultores privilegiados.
Todos os anos, durante o mês de Junho, o nível das águas do Nilo começava a
subir. Era o início da inundação, que durava até Setembro.
Ao avançar sobre as margens, o rio derrubava as cercas de pedra que cada
agricultor usava para marcar os limites do seu terreno. Usavam cordas para fazer
a medição.
Havia uma unidade de medida assinalada na própria corda. As pessoas encarregadas de medir esticavam a
corda e verificavam quantas vezes aquela unidade de medida estava contida nos lados do terreno. Daí, serem
conhecidas como estiradores de cordas.
No entanto, por mais adequada que fosse a unidade de medida escolhida, dificilmente cabia um número
inteiro de vezes nos lados do terreno. Foi por essa razão que os egípcios criaram um novo tipo de número: o
número fraccionário e para representar os números fraccionários, usavam fracções.
Os egípcios interpretavam a fracção somente como uma parte da unidade. Por isso, utilizavam apenas as
fracções unitárias, isto é, com numerador igual a 1.
Para escrever as fracções unitárias, colocavam um sinal oval alongado sobre o denominador. As outras
fracções eram expressas através de uma soma de fracções de numerador 1.
Os egípcios não colocavam o sinal de adição + (mais) entre as fracções, porque os símbolos das operações
ainda não tinham sido inventados. Os símbolos repetiam-se com muita frequência. Por isso, tanto os cálculos
com números inteiros quanto aqueles que envolviam números fraccionários eram muito complicados.
Apenas por volta do século III a.C. começou-se a formar um sistema de numeração bem mais prático e
eficiente do que os outros criados até então: o sistema de numeração romano.

Pag.21 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.3. O s algarismos da civilização Helénica


A Grécia ocupava a parte sul da península dos Balcãs, região montanhosa com baixa pluviosidade e solo
pouco fértil, com uma linha de costa escarpada. Apenas áreas isoladas, como a Lacónia e a Messénia no Sul,
a Beócia na Grécia Central, a norte do golfe de Corinto e a Tessália na parte setentrional do país, se
encontram planícies férteis próprias para a agricultura.
À medida que os gregos se estabeleciam iam desenvolvendo relações comerciais com os Egípcios e os
Babilónios.
A influência dos Egípcios e dos Babilónios sentiu-se essencialmente em Mileto, cidade da Ásia Menor e
local de nascimento de alguns dos primeiros filósofos e matemáticos gregos. Mileto era uma grande e
opulenta cidade de comércio no Mediterrâneo. Navios oriundos do continente grego, da Fenícia e do Egipto
chegavam aos seus portos. Rotas de caravanas estabeleciam a ligação com a Mesopotâmia.
Uma das grandes realizações dos gregos foi, na opinião de Burns (1977), o desenvolvimento da filosofia
num sentido mais vasto do que ela tivera até então. Antes do fim do século VI a.C. a filosofia grega adquirira
uma orientação metafísica, isto é, deixou de se ocupar com os problemas do mundo físico e transferiu a sua
atenção para questões enigmáticas como a natureza do ser, o sentido da verdade, a posição do divino no
esquema das coisas. Foi dada ênfase ao raciocínio abstracto, tendo-se estabelecido como objectivo estender o
domínio da razão sobre toda a natureza e o homem.
Em coerência com esta nova forma de pensar, os pitagóricos sustentaram que a essência das coisas não seria
uma substância material, mas sim um princípio abstracto, o número. Segundo a filosofia dos pitagóricos todo
o universo era caracterizado pelos números e as suas relações e, assim, o problema surgia de definir o que era
um número. (Mainzer, 1990a, p. 12)

5.3.1. S istemas de numeração usados pelos gregos


É certo que outras civilizações mais primitivas, e certamente os egípcios e os mesopotâmicos, aprenderam a
pensar sobre os números como divorciados do mundo físico. Contudo é questionável
Pag.22 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

(pelo menos nada o evidência) até que ponto eles estavam conscientes da sua natureza abstracta. Um facto
que reforça esta constatação está na circunstância, que do ponto de vista geométrico, todas as civilizações
anteriores aos gregos estiveram definitivamente vinculadas ao concreto.
Esta contribuição dos gregos foi essencial, pois abordaram a matemática de uma forma completamente nova,
tornando-a abstracta. E, assim sendo, o conceito de número foi conscientemente reconhecido.
Os pitagóricos terão reconhecido que a matemática lida com abstracções, embora este reconhecimento possa
não ter ocorrido numa fase inicial do seu trabalho (Kline, 1972). Os matemáticos gregos, em particular os
pitagóricos, desenvolveram toda uma filosofia do universo onde a noção de número (natural) tinha um papel
fundamental.
Eles estavam convencidos que tudo se poderia exprimir recorrendo-se aos números naturais.
Na procura das leis eternas do universo, os pitagóricos estudaram geometria, aritmética, astronomia e música
(o que mais tarde se chamaria o quadrivium) (…) Os números, isto é, os inteiros, chamados arithmoi, eram
divididos em classes: ímpares e pares, primos e compostos, perfeitos, amigos, triangulares, quadrados,
pentagonais, etc. (…) os pitagóricos investigavam as propriedades desses números, acrescentando-lhes uma
marca do seu misticismo e colocando-os no centro de uma filosofia cósmica que tentava reduzir todas as
relações fundamentais a relações numéricas («tudo é número»). (Struik, 1997, p. 78)
Para Pitágoras, o pai da matemática (~580-497 AC), os números eram a origem de todas as
coisas. A ele e seus seguidores é atribuída a descoberta da tabuada.
Para ele “O número é a causa e o princípio de tudo”1. Esta afirmação sugere a existência de
um princípio unificador do Universo, ideia que desempenhou um papel importante na filosofia grega. A
mesma frase simboliza também as contradições e ambiguidades do pensamento pitagórico: misticismo,
magia e mistério mas, por outro lado, exactidão e rigor. Pode ainda servir para caracterizar a cultura
Ocidental na sua relação com o número, ou melhor dizendo, na sua obsessiva quantificação das qualidades.
De facto, na ciência moderna, desde o Renascimento até a actualidade, é possível encontrar manifestações do
espírito Pitagórico, das mais conscientes às mais ingénuas.
A afirmação de Filolau2 (nascido em 450 AC), matemático da Escola Pitagórica, “todas as coisas têm um
número e nada se pode compreender sem o número”3 significa, para Bento Caraça, o “aparecimento da
ideia luminosa duma ordenação matemática do Cosmos”, ideia que é um dos fundamentos essenciais da
ciência moderna.
A Escola Pitagórica funcionava na realidade como uma seita. Os Pitagóricos, para além de outros símbolos
e rituais místicos, usavam o pentágono estrelado, como sinal de aliança entre eles. Os conhecimentos
matemáticos e as principais descobertas da Escola eram transmitidos oralmente aos seus membros que, sob
juramento, se comprometiam a não os divulgar. É curioso que, apesar da sua doutrina ser ensinada apenas
oralmente durante as primeiras décadas, a Escola sobreviveu várias centenas de anos. Prolongaram-se por
oito séculos (V AC a III DC), o desenvolvimento de especulações matemáticas, astronómicas e harmónicas,
mas também de natureza física ou médica, e ainda morais e religiosas que se associam ao Pitagorismo.

1
Segundo a Metafísica de Aristóteles, que é a principal fonte do pitagorismo antigo (Mattei, J-F., Pythagore et les Pythagoriciens)
2
Arquitas de Tarento (428 a.C. – 347 a.C.), filósofo e cientista grego, considerado o mais ilustre dos matemáticos pitagóricos.
Acredita-se ter sido discípulo de Filolau de Crotona e foi amigo de Platão. Fundou a mecânica e influenciou Euclides. Foi o primeiro a
usar o cubo em geometria e a restringir as matemáticas às disciplinas técnicas como a geometria, aritmética, astronomia e acústica. Arquitas
de Tarento
Para resolver o famoso problema da duplicação do cubo (dobrar o seu volume), valeu-se de um modelo tridimensional.
Embora inúmeras obras sobre mecânica e geometria lhe sejam atribuídas, restaram apenas fragmentos cuja preocupação central é a
Matemática e a Música.
Arquitas também actuou na política. Os tarentinos o elegeram estratego (governador) sete vezes consecutivas.
Morreu em um naufrágio na costa de Apúlia.
3
Citado po Bento de Jesus Caraça em Conceitos Fundamentais da Matemáica.
Pag.23 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Por volta do ano 500 AC, como resultado de perseguições políticas, os pitagóricos tiveram que fugir de
Crótona (Itália), onde a seita estava instalada e tinha atingido considerável prestígio cultural e político. Os
seus discípulos espalharam-se então por várias regiões da Grécia. Só nessa época, contemporânea de
Sócrates, aparecem os primeiros escritos pitagóricos, um dos quais é a obra de Filolau – Sobre a Natureza.
Talvez seja um abuso de linguagem chamar pitagorismo à tendência para valorizar excessivamente os
aspectos matemáticos do saber científico pois, evidentemente, a pretensão de querer traduzir o mundo por
números não tinha, para Pitágoras, o mesmo sentido que se dá hoje à matematização do conhecimento. No
entanto, o termo pitagorismo serve perfeitamente para caracterizar o exagero das posições de alguns
cientistas na actualidade. É tentador associá-las a Pitágoras, tanto mais que estamos aqui também em
presença de um paradoxo cultural. Ele traduz-se, em certas áreas científicas, pela coexistência entre a forte
presença da matemática e a tendência para um obscurantismo crescente.
Também os seguidores de Pitágoras não se limitaram a especular acerca da natureza e significado dos
números e a estabelecer as suas propriedades místicas; eles produziram resultados matemáticos importantes
perfeitamente integrados no conjunto da ciência grega. Pitágoras e os seus discípulos são mesmo
considerados os iniciadores duma área matemática, a Aritmética, hoje designada por Teoria de Números4.

5.3.2. C iência e Mística Pitagórica


A origem da mística dos números pode ser encontrada nas suas propriedades matemáticas. É, nesse sentido,
uma “mística científica”, usando uma expressão também ela paradoxal. Tal como os outros matemáticos
gregos, os Pitagóricos não se interessavam por fazer cálculos com finalidades de ordem prática. Essa tarefa,
considerada “menor” no conjunto da actividade matemática, era deixada para os calculadores profissionais
ou “logísticos”, como eram chamados. Destes, apenas conhecemos a existência e também o desprezo que por
eles testemunha Platão, na República, já que trabalhavam sobre fracções explícitas, ao passo que o
matemático, segundo Platão, deve apenas tratar das propriedades dos números inteiros “que não são
acessíveis senão à inteligência e não podem ser manejados de outro modo” (Dieudonné, J: 1990).
Os Pitagóricos ocupavam-se antes a descobrir as propriedades dos números, sem se preocupar com as suas
aplicações, tal como faz hoje um investigador em teoria dos números. Eles desenvolveram, em particular, o
princípio dos números figurados, onde os inteiros estão dispostos em forma de triângulos ou de outros
polígonos .Usando essa representação deduziram algumas propriedades interessantes.

5.3.3. N úmeros Figurados


Pitágoras concebeu os números triangulares constituídos pelos números naturais (inteiros positivos)
dispostos em triângulo:

Cada número triangular corresponde à soma dos primeiros números naturais: 1=1; 3=1+2; 6=1+2+3;
10=1+2+3+4; 15=1+2+3+4+5; etc.
1 3 6 10 15 21
É fácil verificar que 1=1x2/2 (primeiro número triangular); 3=2x3/2 (segundo número triangular); 6=3x4/2
(terceiro nº. triangular).
4
A obra aritmética dos pitagóricos é conhecida através do livro 7 dos Elementos de Euclides.
Pag.24 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Para encontrar o 7º número triangular basta calcular 7x8/2=28, e o enésimo número triangular é calculado
pela fórmula n(n+1)/2.
Os outros membros da Escola Pitagórica construíram os números poligonais (números quadrados e números
pentagonais) e usaram essas representações para deduzir propriedades dos números inteiros. Por exemplo, a
seguinte propriedade dos números ímpares: a soma dos primeiros n ímpares é um quadrado perfeito, pode ser
deduzida a partir da representação geométrica em números quadrados. A dedução desta e doutras
propriedades pode ser vista em diversos livros de história da matemática.
O estudo das propriedades dos números a partir de representações geométricas foi uma constante na
matemática grega. Também para operar com os números ou para resolver equações os gregos recorriam à
geometria. Ao conjunto de métodos de resolução por eles desenvolvidos dá-se o nome de álgebra
geométrica.
Só durante o período final da matemática grega, chamado período Alexandrino, os matemáticos começam a
elaborar métodos de cálculo independentes das construções geométricas. Herão (50 AC – 50 DC) resolve
problemas de raízes quadradas e cúbicas sem nenhuma referência à geometria. Nicómaco, um neo-
pitagórico, (50 – 110 DC) trabalha sobre teoria de números, afastando-se da representação geométrica e
finalmente com Diofanto (séc. III) a álgebra grega atinge o seu maior desenvolvimento. No conjunto das
matemáticas gregas a obra de Diofanto constitui algo de novo, tanto do ponto de vista do conteúdo como dos
métodos, em ruptura total com os métodos geométricos tradicionais. Ele resolve problemas que podemos
considerar algébricos e introduz as primeiras abreviaturas simbólicas. No entanto, é importante sublinhar que
Diofanto não estabelece métodos gerais de resolução nem faz qualquer tentativa para elaborar uma teoria das
equações. Essa será a grande tarefa dos matemáticos árabes nos séculos seguintes (sécs. VIII-XII).
Antes de referir outros exemplos de problemas estudados, tanto pelos pitagóricos como pelos actuais
investigadores em teoria de números, é importante acentuar que, para os primeiros, o estudo numerológico
era inseparável das especulações geométricas, harmónicas, físicas e cosmológicas. Estas, por sua vez serviam
e alimentavam preocupações morais, políticas e religiosas. Os números, “para Pitágoras representavam não
só a forma que governa a combinação das coisas, mas também a matéria mesma destas coisas. (13)” . Para
Teão, um neo-Pitagórico do séc. IV DC, “no número dois considera-se a matéria e tudo o que é sensível, a
geração e o movimento” (...) “o número seis é perfeito” (...) “é nupcial porque torna os filhos semelhantes
aos pais” (14).

5.3.4. S edução dos Números Inteiros


Os gregos só sabiam tratar com rigor os números inteiros positivos e os que se podem definir à sua custa, ou
seja, os fraccionários (ou racionais) representados pela razão de dois inteiros. (teoria das proporções). Mas só
as propriedades dos números inteiros, algumas delas descobertas pelos pitagóricos, constituem ainda hoje um
vasto campo de investigação. Por outro lado, as suas características são tão curiosas que continuam a
fomentar um certo misticismo em meios exteriores à matemática. Isso deve-se também a não ser necessário
ter grandes conhecimentos para compreender algumas das propriedades dos números inteiros.
Jamblico, um dos matemáticos pitagóricos, influenciado pelo neo-platonismo, atribui a Pitágoras a
descoberta dos números amigáveis (ver destacado). Números amigáveis são aqueles em que cada um é igual
à soma dos divisores próprios do outro, (divisores próprios de um número são todos os divisores inteiros
positivos, excepto ele mesmo. Por exemplo, os divisores de 6 são 1,2 e 3).

Pag.25 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.3.5. N úmeros Amigáveis


Pitágoras: 220=1+2+4+71+142
284=1+2+4+5+10+11+20+22+44+55+110
Pierre de Fermat em 1636 descobre 17296 e 18416
René Descartes em 1638 descobre mais um par
Euler (1747) descobre trinta pares de números amigáveis e, mais tarde, sessenta pares
Nicolo Paganini em 1866 descobre os amigáveis 1184 e 1210
Actualmente são conhecidos mais de seiscentos pares de números amigáveis
O par de números amigáveis conhecidos dos pitagóricos, 220 e 284, possuía uma aura mística que se
manteve numa crença supersticiosa: a daqueles que acreditam que a existência de dois talismãs onde figurem
estes números, sela uma amizade perfeita entre os seus possuidores.
Outro problema, atribuído aos pitagóricos por alguns autores, é o dos números perfeitos, números que são
iguais à soma dos seus divisores próprios. Embora estudados desde a Antiguidade até 1952 só se conheciam
doze números perfeitos, todos eles pares.

5.3.6. N úmeros Perfeitos


Os três primeiros números perfeitos: 6=3+2+1 - 28=l4+7+4+2+1 - 496=248+124+62+31+16+8+4+2+1
Se 2n-1 é um número primo, então 2n-1(2n-1) é um número perfeito (Livro IX dos Elementos de Euclides)
Euler demonstrou que todos os números perfeitos pares são desta forma.
A existência de números perfeitos ímpares é um dos problemas por resolver da teoria de números. Sabe-se
apenas que não existem perfeitos ímpares com menos de trinta e seis dígitos

5.3.7. O s incomensuráveis ou Irracionais


As grandezas geométricas que não correspondiam a qualquer número conhecido no tempo dos Gregos foram
chamadas incomensuráveis. Uma das mais célebres é a diagonal do quadrado de lado 1, que hoje
representamos por... (raiz quadrada de 2). Existem várias maneiras de demonstrar a impossibilidade de
exprimir essa medida usando um número inteiro ou fraccionário. A mais simples de todas baseia-se no
teorema de Pitágoras.
Um outro comprimento de representação geométrica simples e ao qual não corresponde nenhum número da
matemática grega é o perímetro da circunferência (com diâmetro igual a 1 ou a outro valor inteiro). O valor
desse perímetro é actualmente representado por pi.
Estas duas medidas, a da diagonal do quadrado de lado 1 e a do perímetro da circunferência de diâmetro 1
têm valores irracionais. A definição rigorosa de número irracional foi dada só no século XIX.
O pensador mais importante do primeiro ciclo pitagórico, Hipásio, foi também o responsável por um rude
golpe infligido à tese pitagórica de que “tudo é número”. Conta a lenda que Hipásio se teria afogado no mar,
como consequência da descoberta da incomensurabilidade. De facto, a descoberta de Hipásio, a de que
existem comprimentos aos quais não é possível qualquer número conhecido na altura, desencadeou uma crise
matemática que durou vinte e cinco séculos.

Pag.26 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Outros historiadores da matemática denominam “revolução” à descoberta dessa impossibilidade (Hoffman,


P: 2000). O termo “revolução”, aplicado a certos casos típicos e bem conhecidos da história das ciências, tem
um sentido diferente neste exemplo da matemática. Sem pretender entrar em polémicas a propósito das
palavras, é importante distinguir esta “revolução” de outras bem mais conhecidas, como a revolução
coperniciana ou darwiniana. Nesses casos, o lento acumular de dados e factos fez surgir, num dado
momento, uma teoria explicativa nova, oposta às anteriores, uma teoria “revolucionária”. O autor dessa
teoria teve que lutar para que ela fosse aceite, promover observações e experiências que a confirmassem e até
ser finalmente admitida pela comunidade científica, a nova teoria encontrou adeptos e opositores,
confirmações e refutações.
No caso dos incomensuráveis, a história processou-se de forma diferente. O desenvolvimento de certos
cálculos baseados no teorema de Pitágoras levou a resultados incongruentes com a noção de número dos
Gregos. Os matemáticos reconheceram unanimemente a existência dessas dificuldades. A única maneira de
resolver a questão, sabemos hoje, seria criar uma “nova” e “revolucionária” concepção de número. Mas esse
passo não podia ser dado repentinamente, e só no século XIX foi possível resolver o problema de forma
satisfatória, com o rigor exigido pela matemática. Não se pode dizer, no entanto, que esse momento foi
“revolucionário”. De facto, durante esses vinte e cinco séculos, entre a descoberta dos incomensuráveis e a
sua definição rigorosa, os matemáticos estavam conscientes de que havia uma realidade que lhes escapava.
Eles não tinham um instrumento adequado para exprimir rigorosamente a medida de certos comprimentos,
áreas ou volumes, sendo obrigados a usar valores aproximados para traduzir essas medidas.

5.3.8 O Número – Símbolo de um Paradoxo Cultural


O número, objecto essencial da ciência da exactidão e do rigor, fundamental para traduzir a
realidade, encerra, no entanto, grandes indefinições e ambiguidades. As mesmas propriedades
podem servir, simultaneamente, objectivos místicos e científicos, como foi ilustrado no caso dos números
inteiros. A natureza do número, que durante séculos parecia escapar à descrição matemática, tanto é fonte de
mistério permanente, como motivo de investigação científica. O número será sempre um símbolo desse
paradoxo cultural que reúne misticismo e ciência.

Pag.27 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.4. O s algarismos da civilização Romana


Grande parte da organização do mundo moderno deve-se ao império que Roma foi capaz de construir há
mais dois mil anos nas margens do mar Mediterrâneo. Os idiomas falados no sul da Europa, América Latina,
em algumas zonas de África e outras partes do mundo constituem uma das heranças directas desta
civilização.
Embora os romanos sejam autores de muitas construções impressionantes, mostraram pouco interesse pela
matemática pura. Os matemáticos romanos dedicaram-se a assuntos práticos, como comércio e ciências
militares, no entanto, foram autores de um sofisticado sistema de numeração.

5.4.1. O s algarismos romanos


Os algarismos romanos derivam essencialmente da prática do entalhe num osso ou num bastão de madeira.
Assim sendo, o algarismo um era simbolizado por um entalhe vertical, pois era o que mais se aproximava da
representação manual utilizada pelo homem. Esta explicação também é válida para os algarismos dois, três e
quatro.
A dificuldade de identificar directamente uma série de mais de quatro sinais idênticos não permitia que este
processo se repetisse continuamente. Sendo assim, para representar o algarismo 5 foi escolhido um entalhe
oblíquo, sugerido pela inclinação do polegar em relação aos outros dedos, essa representação sofreu
posteriormente alterações chegando até nós como V.

Várias representações do algarismo 5.

A representação através de entalhes verticais continuou a ser utilizada até ao algarismo nove. Para o
algarismo 10, que correspondia ao número de dedos das duas mãos, a representação escolhida foi o
cruzamento de dois entalhes oblíquos com diferentes direcções, sugerido pela posição dos dois polegares.

Várias representações do algarismo 10.


Pag.28 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Este processo repete-se continuamente até surgir a necessidade de se inventar um outro símbolo, o que
acontece quando se atinge o número 50. Assim sendo, para o representar decidiu-se acrescentar um traço à
representação do algarismo 5.

Várias representações do algarismo 50.

Para a centena sentiu-se novamente a necessidade de introduzir outra notação, que consistiu em acrescentar
um ou dois traços à representação do algarismo 10, ou então considerando o duplo de uma das
representações do algarismo 50.

Várias representações do algarismo 100.

Com efeito, o sistema de numeração que deu origem ao sistema romano hoje conhecido, tinha a seguinte
forma:

Ao longo do tempo, este sistema foi sujeito a diversas transformações gráficas até originar o sistema romano
que chegou até nós.

Evolução gráfica do sistema romano.

Inicialmente a numeração romana foi baseada no princípio da adição, como mostra o exemplo:
MMMDCCCCXXXXVIIII = 3 949
Numa fase posterior, de forma a simplificar a notação, foi introduzida uma notação seguindo o princípio
subtractivo. Assim sendo, a representação do número anterior passou a ser:
MMMCMXLIX
Para números maiores, os romanos adoptaram duas representações gráficas possíveis:

5.4.2. C ontando com os romanos


De todas as civilizações da Antiguidade, a dos romanos foi sem dúvida a mais importante.
Seu centro era a cidade de Roma. Desde sua fundação, em 753 a.C., até ser ocupada por povos estrangeiros
em 476 d.C., seus habitantes enfrentaram um número incalculável de guerras de todos os tipos. Inicialmente,
para se defenderem dos ataques de povos vizinhos e mais tarde nas campanhas de conquistas de novos
territórios.

Pag.29 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Foi assim que, pouco a pouco, os romanos foram conquistando a península Itálica e o restante da Europa,
além de uma parte da Ásia e o norte de África.

Apesar da maioria da população viver na miséria, em Roma havia luxo e muita riqueza, usufruídas por uma
minoria rica e poderosa (roupas luxuosas, comidas finas e festas grandiosas faziam parte do dia-a-dia da elite
romana).
Foi nesta Roma de miséria e luxo que se desenvolveu e aperfeiçoou o número concreto, que vinha sendo
usado desde a época das cavernas.
Como foi que os romanos conseguiram isso?

5.4.3. O sistema de numeração romano


Os romanos foram espertos. Eles não inventaram símbolos novos para representar os números; usaram as
próprias letras do alfabeto.
I V X L C D M
Eles combinaram estes símbolos para formar o seu sistema de numeração, que se baseava em sete números-
chave:
I tinha o valor 1.
V valia 5.
X representava 10 unidades.
L indicava 50 unidades.
C valia 100.
D valia 500.
M valia 1.000.
Quando apareciam vários números iguais juntos, os romanos somavam os seus valores.
II = 1 + 1 = 2
XX = 10 + 10 = 20
XXX = 10 + 10 + 10 = 30
Quando dois números diferentes vinham juntos, e o menor vinha antes do maior, subtraíam os seus valores.
IV = 4 porque 5 - 1 = 4
IX = 9 porque 10 – 1 = 9
XC = 90 porque 100 – 10 = 90
Mas se o número maior vinha antes do menor, eles somavam os seus valores.
VI = 6 porque 5 + 1 = 6
XXV = 25 porque 20 + 5 = 25
XXXVI = 36 porque 30 + 5 + 1 = 36
LX = 60 porque 50 + 10 = 60
Ao lermos o cartaz, retiramos a informação de que o exército de Roma fez,
numa certa época, MCDV prisioneiros de guerra. Para ler um número como
MCDV, os romanos faziam os seguintes cálculos:

Em primeiro lugar procuravam a letra de maior valor.


M = 1.000
Como antes de M não tinha nenhuma letra, procuravam a segunda letra de maior valor.
D = 500
Pag.30 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Depois tiravam de D o valor da letra que vem antes.


D – C = 500 – 100 = 400
Somavam 400 ao valor de M, porque CD está depois e M.
M + CD = 1.000 + 400 = 1.400
Sobrava apenas o V. Então:
MCDV = 1.400 + 5= 1.405

5.4.4. O s milhares
Como se verifica, o número 1.000 era representado pela letra M. Assim, MM correspondiam a 2.000 e
MMM a 3.000.
E os números maiores que 3.000?
Para escrever 4.000 ou números maiores que ele, os romanos usavam um traço horizontal sobre as letras que
representavam esses números.
Um traço multiplicava o número representado abaixo dele por 1.000. Dois traços sobre o M davam-lhe o
valor de 1 milhão.
O sistema de numeração romano foi adoptado por muitos povos, mas, ainda, era difícil efectuar cálculos com
este sistema.
Por isso, matemáticos de todo o mundo continuaram a procurar intensamente símbolos mais simples e mais
apropriados para representar os números.
E como resultado dessas pesquisas, aconteceu na Índia uma das mais notáveis invenções de toda a história
da Matemática: O sistema de numeração decimal.

5.4.5. O ábaco de fichas


A palavra ábaco (abacus em latim) deriva da palavra grega abax que significa travessa ou mesa. Do ábaco
fazem parte dispositivos que podiam servir para jogos ou para cálculo aritmético. Estas peças de contagem
foram chamadas de pséphoi pelos gregos (que significa pedra, número) ou calculus, pelos romanos.
Para representar um número neste ábaco, as fichas eram dispostas por colunas segundo as unidades,
dezenas, centenas, etc., que esse número tinha (quando se atingiam as dez fichas numa coluna estas
eram substituídas por uma ficha na coluna de grandeza imediatamente superior).
Posteriormente, com vista a simplificar a representação, acrescentou-se uma linha sobre as ordens
de grandeza onde cada ficha colocada valia metade da grandeza imediatamente superior. Na linha
inferior, cada ficha valia uma unidade da ordem
correspondente.
Para clarificar as explicações anteriores, considerem-
se as seguintes representações do número 4537.

Para adicionar representavam-se os dois números no mesmo ábaco procedendo depois à


organização das fichas como nos casos anteriores para proceder à sua leitura. As subtracções eram
realizadas de forma análoga.

Pag.31 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

A multiplicação consiste em fazer os diferentes produtos parciais, representando-os de forma


acumulada no ábaco. Depois de representados todos os produtos, procede-se à organização das
fichas obtendo-se o resultado que se pretendia.
Consideremos então a seguinte multiplicação: 630×42

Obtemos assim o seguinte resultado:

5.4.6. Á baco de cera


A representação no ábaco de cera é idêntica à do ábaco de fichas, no entanto, em vez destas,
utilizavam-se os números romanos. Com efeito, consideremos o seguinte exemplo: 630×42

O resultado obtido é:

5.4.7. Á baco romano de "bolso"


Este ábaco era constituído por uma série de ranhuras verticais que representavam uma determinada ordem de
grandeza: 8 em cima e 9 em baixo. Cada uma das filas de cima tinha uma única peça, enquanto que, nas filas
de baixo, existiam 4 peças. Para representar um número na fila de baixo, bastava deslocar as peças para cima
e, quando fossem necessárias 5 peças, deslocava-se a peça da fila de cima para baixo.
Consideremos o exemplo da representação do número 52 842:
Nota: as duas ranhuras à direita serviam para marcar as divisões do as (fracções
da unidade monetária usadas no comércio pelos romanos).

Pag.32 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.5. O s algarismos da civilização Chinesa


A civilização chinesa tem uma longa história. A sua principal característica foi, até o século XIX, a
imutabilidade de determinados elementos da sua cultura milenar como o cultivo de cereais, a escrita, a
importância da família ou o culto aos antepassados. Enquanto sociedade tradicional, os chineses pensavam
que a melhor forma de viver não consistia em modernizar-se mas em repetir arquétipos do passado.
A civilização chinesa desenvolveu-se ao longo das margens do rio Amarelo e do Azul, desde o 3º milénio
a.C. durante a dinastia Hsia iniciada pelo imperador Yu. Continuou com a dinastia Shang que, por volta de
1500 a.C., ocupou a região de Shangai. Desta dinastia provêm os primeiros numerais chineses inscritos
sobre carapaças de tartarugas e ossos de animais.
O grande império desintegra-se, por volta do 700 a.c.. Aproximadamente até 400 a.c., a China é um conjunto
de estados independentes em permanente guerra uns com os outros. É desta altura o primeiro texto sobre
matemática - o Chou Pei Suan Ching. Para além de uma breve explicação sobre o cálculo aritmético, este
texto contém um diálogo sobre as propriedades dos triângulos rectângulos, no qual o teorema de Pitágoras é
enunciado e dada uma sua demonstração geométrica.

5.5.1. O s algarismos chineses


O sistema de numeração chinês é baseado num sistema gráfico com muitas formas abstractas e combinações
de sinais arcaicos.
Um traço horizontal simbolizava a unidade, dois traços duas unidades e, analogamente, para três e quatro. A
incapacidade de identificar directamente uma série de mais de quatro sinais idênticos não permitia que este
processo se repetisse continuamente. Sendo assim, para representar o algarismo 5, utilizavam traços que
formavam um X fechado em cima e em baixo. O algarismo 6 era simbolizado por um V invertido ou ainda
por um desenho em forma de templo. Para o algarismo 7 era utilizada uma cruz, e duas semi-circunferências
de "costas" uma para a outra eram o símbolo utilizado para o algarismo 8. Para o 9 era usado um símbolo que
faz lembrar o anzol.

Pag.33 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Pensa-se que a escolha dos símbolos usados na representação dos algarismos chineses, ficou a dever-se à
semelhança fonética que existia entre o símbolo e a
palavra oral correspondente aos algarismos. Este
facto poderia explicar a escolha de um homem para
representar o 1 000.
Mas esta não é a única explicação: a escolha dos
símbolos pode também ter sido de ordem religiosa.

Neste sistema, as dezenas, centenas e milhares são representadas segundo o


princípio multiplicativo, ou seja, agrupando os sinais correspondentes aos
números necessários para obter o produto pretendido. Todos os outros
números podem ser obtidos através de uma composição dos princípios
multiplicativo e aditivo, tal como ilustra a figura seguinte:

Assim, o número 656 é representado da seguinte forma:

Mais tarde, este sistema sofreu algumas transformações, obtendo-se o seguinte


sistema:

Com base neste novo sistema, a


notação dos múltiplos consecutivos de
cada uma das quatro potências de dez
fica:

Pag.34 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Para representar números muito grandes, os chineses


tomavam a dezena de milhar como unidade de
contagem. Então, a representação de potências
consecutivas de 10 era:
Consideremos assim o número 487 390 629 = (4×104+8×103+7×102+3×10+9)×104+(6×102+2×10+9), cuja
representação é a seguinte:

5.5.2. S istema posicional


O sistema posicional utilizado pelos chineses é quase idêntico à numeração moderna. Consiste numa
representação dos números, na qual o valor de cada algarismo dependia do lugar onde este se encontrava na
leitura dos números. Neste utilizava-se um sistema de representação dos nove algarismos que resultava da
combinação de barras horizontais e verticais, tal como ilustra a
figura:

Para representar o número 12


Para evitar os equívocos que esta representação poderia suscitar (por exemplo a representação do 12 poderia
ser confundida com a do 3, ou com a do 21), a notação foi reformulada do
modo seguinte:

Mais tarde, para distinguir as ordens das unidades, decidiu-se representar as ordens de grandeza
intercaladamente, com barras verticais e horizontais. As unidades simples, as centenas, as dezenas de milhar,
etc, eram representadas através de barras verticais, as dezenas, os milhares, as centenas de
milhar, etc. eram representadas por barras horizontais. Para tal elucidar, considere-se a
representação do número 174:
No entanto, continuaram a surgir equívocos, principalmente nos casos em que o zero, desconhecido na altura,
intervinha na representação do número,
como por exemplo:

Este problema foi ultrapassado de várias maneiras:


Introduzindo, no lugar do zero, os símbolos das potências de dez utilizados na
numeração tradicional:

Recorrendo ao sistema de representação tradicional:

Introduzindo os algarismos em quadrados,


deixando vazio aquele que correspondia ao
zero:

Introduzindo um círculo para designar o


zero:

Pag.35 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.5.3. C omo calculavam os chineses


Tabuleiro de bastonetes
Para realizar operações, os chineses utilizavam pequenos bastonetes aos quais chamavam chóu (fichas de
cálculo) que organizavam numa mesa ladrilhada. Nesta, cada coluna correspondia a uma determinada ordem
decimal: a da esquerda correspondia às unidades, a seguinte às dezenas, a outra às centenas e assim
sucessivamente. Para se representar um número
colocavam-se, nas colunas e segundo uma linha
previamente escolhida, tantos palitos quantos os
correspondentes à ordem decimal. Como exemplo,
tomemos a representação de alguns números no
tabuleiro chinês:

As adições e subtracções implicavam a representação dos números no tabuleiro chinês e, posteriormente, a


reunião ou subtracção desses mesmos números, coluna a coluna.
Para a multiplicação, o método era igualmente simples: o multiplicador era representado no topo do tabuleiro
e o número a multiplicar mais a baixo. Os produtos parciais eram colocados nas linhas que ficavam entre os
dois números e eram somados à medida que iam aparecendo.

Na divisão, o divisor era colocado na linha de baixo, o dividendo na do meio e o quociente na de cima. Este
último obtinha-se retirando do dividendo os resultados dos produtos parciais.

Pag.36 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.5.4. Á baco de contas


O ábaco de contas chinês, o suan pan (prancheta de cálculo), era um rectângulo de
madeira dividido em duas partes e composto por vários arames sobre os quais estão
enfiadas sete contas móveis, cinco na parte de baixo e duas na de cima. Cada parte
continha várias hastes que correspondiam a uma determinada ordem decimal (da
direita para a esquerda: centésimas, décimas, unidades simples, dezenas, centenas,
etc). Cada uma das fichas da parte inferior valia uma unidade e cada uma das partes
superior valia cinco unidades quando deslocadas para baixo.
Este ábaco permitia efectuar qualquer operação de forma simples e rápida.
Para adicionar bastava ter em conta o princípio aditivo.
Consideremos a soma dos números 234, 432 e 567.

A subtracção é feita procedendo no sentido inverso.


Para a multiplicação, efectuam-se os produtos parciais que vão sendo somados. O resultado obtido é o
produto pretendido.
Tomemos a multiplicação de 7 por 24:

A divisão consistia em subtrair-se o divisor do dividendo o maior número de vezes possível, sendo o
resultado encontrado o quociente pretendido.

Pag.37 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.6. O s algarismos da civilização Indiana

O sub continente indiano foi berço de uma das mais antigas civilizações do mundo, cobrindo uma área
maior que a do Egipto e da Suméria.
São do 3º milénio a.C. os primeiros vestígios matemáticos da civilização que se desenvolveu no vale do rio
Indo. Na verdade, cerca de 2500 a.C., os harapas adoptaram um sistema decimal (pelo menos é o que as
investigações parecem indicar) de pesos e medidas.
Entre 1500 a.C. e o século VII da era cristã, dá-se uma invasão dos arianos (povo nómada da Ásia central).
Mais tarde foi formada a civilização védica que resultou da fusão dos arianos com os povos que viviam na
planície indo-gangética. Desta época foram encontrados os Vedas, conjunto de textos sagrados e os
primeiros textos científicos - os Vedangas e os Sulbasutras (estes últimos descreviam algumas regras
matemáticas, tais como a construção de um quadrado com área igual à de um rectângulo dado, que eram
utilizadas na construção precisa de altares para sacrifícios).
Por volta 500 a.C. a civilização védica começa a entrar em decadência devido ao desenvolvimento das
religiões budista e jainista, acompanhada pelo declínio da Matemática Védica. O florescimento da escola
jainista tem como resultado o estudo da teoria dos números, permutações e combinações e o
desenvolvimento de uma teoria do infinito. Porém, é no período clássico da civilização hindu, entre os
séculos V e XII que se deu o maior desenvolvimento do estudo das ciências, da filosofia, da medicina, da
literatura e, em particular, da matemática tendo aparecido matemáticos notáveis como Aryabata,
Bramagupta, Mahavira e Bhaskara.

5.6.1. O s algarismos indianos


A notação indiana arcaica consistia num agrupamento de traços verticais que representavam nove unidades.
Posteriormente deu-se uma evolução da representação destes algarismos, com vista a torná-la mais rápida.
Tal transformação deu origem aos algarismos dos brâhmî.
Pag.38 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

O sistema das nove unidades indianas sofreu, ao longo do tempo, alterações


idênticas à da escrita brâhmî.
Na Índia existiam diferentes sistemas de numeração que variavam de região para
região, no entanto todos estes sistemas derivavam da antiga notação brâhmî. Esta
notação foi evoluindo ao longo dos tempos e deu origem aos algarismos de
nâgarî.
A representação dos números indianos era baseada no sistema posicional, tal
como ilustra a figura

5.6.2. C omo contavam os indianos


O cálculo dos indianos assentava na utilização de um bastonete que desenhava os algarismos na terra ou
areia. Este método era designado por hisâb al ghubâr (cálculo com a poeira) ou hisâb 'alâ at turâb (cálculo
com a areia). Para além do cálculo no solo, os indianos também utilizavam as pranchetas de cálculo, às quais
chamavam takht al turâb (tabuleta de areia) ou takht al ghubâr (tabuleta de poeira).

5.6.3. A prancheta como ábaco de colunas


Para representar um número neste ábaco eram traçadas colunas que correspondiam às várias ordens de
unidades consecutivas. Cada coluna era preenchida com o algarismo correspondente à sua ordem de
grandeza. No caso de algum dos algarismos que constituísse o número fosse zero, deixava-se a respectiva
coluna em branco.
Assim o número 21 040 era representado do seguinte modo:

Para multiplicar, primeiramente dispunham-se os dois números na prancheta de modo a que o primeiro
algarismo (da direita) do número de baixo ficasse sempre sob o último algarismo (da esquerda).
Seguidamente procediam-se a tantas etapas quantas as ordens decimais que houvesse no multiplicando, cada
uma subdividindo-se em tantos produtos quantos o número de algarismos do multiplicador. Sucessivamente
apagavam-se os resultados dos cálculos intermédios.
Considere-se a multiplicação 421×53:

No final de cada etapa avançavam todos os algarismos do multiplicador, uma casa à direita. A verde estão
indicados os produtos efectuados e a negrito os respectivos resultados obtidos.

Pag.39 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.6.4. C álculos sem apagar os resultados intermédios


Ainda que inventado pelos indianos, este método foi muito
utilizado pelos árabes, os quais lhe chamaram a'mâl al hindi
(procedimento dos indianos).
Para multiplicar segundo este método, procede-se de modo
análogo ao anterior. No entanto, os cálculos intermédios são
guardados, riscando-se os que já não são necessários. Os que não
são riscados, dispostos da esquerda para a direita, constituem o
produto que se pretende.
Considere-se o exemplo seguinte, que ilustra a multiplicação de
432 por 175:

"A multiplicação do ciúme"


Este processo consiste em construir um quadro com tantas colunas quantas os algarismos do multiplicando e
tantas linhas quantas os algarismos do multiplicador. Na parte de cima do quadro, partindo da esquerda para
a direita, escrevem-se os algarismos do multiplicando, à direita do quadro, partindo de baixo para cima,
escrevem-se os algarismos do multiplicador. Divide-se cada casa do quadro em duas semi-casas, traçando
nelas a diagonal, a partir do canto superior esquerdo. Em cada casa escrever-se-á o produto relativo à linha e
colunas correspondentes, o algarismo das dezenas na semi-casa inferior e o das unidades na semi-casa
superior.
O produto pretendido obtém-se somando os algarismos das faixas oblíquas. A leitura
do resultado é feita da esquerda para a direita e de baixo para cima.
Considere-se o exemplo da multiplicação de 432 por 175:
O resultado é 75 600.
O procedimento de Nasîr ad dîn at Tûsî
Neste processo, dispõem-se os números como actualmente (os algarismos correspondentes à mesma ordem
de grandeza dispõem-se uns sobre os outros). De seguida multiplica-se o algarismo das unidades do
multiplicador pelos algarismos que se encontram nos extremos do multiplicando e posteriormente pelo do
meio. Procede-se analogamente para o algarismo das dezenas, centenas, etc. O resultado final é a soma dos
todos os produtos parciais.
Assim a multiplicação de 123 por 457 processa-se do
seguinte modo:

O procedimento de Brâskarâchârya
Este processo de multiplicação era designado
por sthânakhanda (separação das posições) e consiste num método análogo ao anterior. No entanto, os
algarismos do multiplicador são dispostos e
multiplicados separadamente, tal como se
ilustra na seguinte multiplicação

Pag.40 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

O procedimento de Brahmagupta
Este método de multiplicar, designado por gomûtrika (semelhante à trajectória da urina da vaca), consiste em
formar tantas linhas quantos os algarismos do multiplicador, nas quais se dispõem, de cima para baixo, os
algarismos do multiplicador. Em cada uma das linhas coloca-se o multiplicador com uma translação para a
direita de uma coluna. Multiplicando cada um dos algarismos do multiplicador pelos do multiplicando e
somando estes resultados obtemos o resultado da multiplicação.
Vejamos o seguinte exemplo: 457×123

5.6.5. A final os nossos números


No século VI foram fundados na Síria alguns centros de cultura grega. Consistiam numa
espécie de clube onde os sócios se reuniam para discutir exclusivamente a arte e a cultura
vindas da Grécia.
Ao participar de uma conferência num destes clubes, em 662, o bispo sírio Severus
Sebokt, profundamente irritado com o facto das pessoas elogiarem qualquer coisa vinda
dos gregos, explodiu dizendo:
“Existem outros povos que também sabem alguma coisa! Os hindus, por
exemplo, têm valiosos métodos de cálculos São métodos fantásticos! E
imaginem que os cálculos são feitos por apenas nove sinais!”.
A referência a nove, e não dez símbolos, significa que o passo mais importante dado pelos hindus para
formar o seu sistema de numeração – a invenção do zero - ainda não tinha chegado ao Ocidente.
A ideia dos hindus de introduzir uma notação para uma posição vazia – um ovo de ganso, redondo – ocorreu
na Índia, no fim do século VI. Mas foram necessários muitos séculos para que esse símbolo chegasse à
Europa.
Com a introdução do décimo sinal – o zero – o sistema de numeração tal qual como o conhecemos hoje
estava completo. Até chegar aos números que aprendemos a ler e escrever, os símbolos criados pelos hindus
mudaram bastante.
Hoje, estes símbolos são chamados de algarismos indo-arábicos.
Se foram os matemáticos hindus que inventaram o nosso sistema de numeração, o que os árabes têm a ver
com isso?
E por que os símbolos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 são chamados de algarismos?
A matemática e astronomia hindu chegaram aos árabes que a absorveram, refinaram e aumentaram antes de a
transmitirem à Europa.

Pag.41 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.7. O s algarismos da civilização Árabe

O Mundo Árabe é uma região rica em cultura e tradições, que participou activamente no desenvolvimento da
cultuira Europeia desde a Idade Média até o Século XV.
Povo nómada por excelência, os árabes foram constituindo uma civilização no decorrer de sua expansão,
graças à assimilação profícua de conhecimentos aportados por povos de regiões muito mais adiantadas
culturalmente, como a Síria, o Egipto (salientando-se a cidade de Alexandria, um dos maiores depósitos da
cultura antiga) e a Pérsia.
Da cultura grega, por exemplo, os árabes inteiraram-se da Matemática, da Filosofia, das Ciências,
ampliando-as fundamentalmente pela incorporação de novos conceitos no campo da Aritmética e da Álgebra
e pelo alargamento da investigação e da análise de resultados na Medicina e na Astronomia.

5.7.1. O s algarismos árabes


A representação destes algarismos foi sujeita a diversas interpretações fantasiosas que estavam associadas à
ideia do número representado:

Pag.42 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Numa fase inicial, o sistema numérico árabe consistiu numa mera


cópia do sistema indiano. Mais tarde este foi sujeito a modificações
gráficas conseguindo assim distanciar-se do sistema que lhe deu
origem.

5.7.2. C omo calculavam os árabes

O ábaco de Gerbert era idêntico ao ábaco dos romanos, no entanto, as várias fichas necessárias para
representar os números para os romanos, foram substituídas por fichas únicas nas quais estavam inscritos os
algarismos árabes.
Nos seus cálculos os árabes começavam por colocar o multiplicando na linha inferior e o multiplicador na
linha superior distribuindo os seus algarismos pelas colunas das respectivas unidades de grandeza.
Era então efectuada a multiplicação do algarismo das unidades do multiplicador por todos os algarismos do
multiplicando e os produtos parciais obtidos eram registados no ábaco. Posteriormente, o processo repetia-se
multiplicando o algarismo das dezenas do multiplicador pelos algarismos do multiplicando, e assim
sucessivamente. Ao somar todos os produtos parciais obtinham o resultado da multiplicação que se
pretendia.
Consideremos a multiplicação 798 × 54:

Pag.43 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

5.7.3. O s árabes divulgam ao mundo os números hindus

Simbad, o marujo, Aladim e sua lâmpada maravilhosa, Harum al-Raschid são nomes familiares para quem
conhece os contos de As mil e uma noites. Mas Simbad e Aladim são apenas personagens do livro, Harum
al-Raschid realmente existiu. Foi o califa de Bagdad, do ano 786 até 809.
Durante o seu reinado os povos árabes travaram uma séria de guerras de conquista. E como prémios de
guerra, livros de diversos centros científicos foram levados para Bagdad e traduzidos para a língua árabe.

Em 809, o califa de Bagdá passou a ser al-Mamum, filho de Harum al-Rahchid. Al-Mamum era muito
vaidoso, dizia com toda a convicção.
“Não há ninguém mais culto em todos os ramos do saber do que eu”.
Como era um apaixonado da ciência, o califa procurou tornar Bagdad o maior centro científico do mundo,
contratando os grandes sábios muçulmanos da época.
Entre eles estava o mais brilhante matemático árabe de todos os tempos: al-Khwarizmi.
Estudando os livros de Matemática vindos da Índia e traduzidos para a língua árabe, al-
Khwarizmi surpreendeu-se a princípio com aqueles estranhos símbolos
que incluíam um ovo de ganso!
Logo, al-Khwarizmi compreendeu o tesouro que os matemáticos hindus haviam descoberto. Com aquele
sistema de numeração, todos os cálculos seriam feitos de um modo mais rápido e seguro. Era impossível
imaginar a enorme importância que essa descoberta teria para o desenvolvimento da Matemática

Al-Khowarizmi decidiu contar ao mundo as boas novas e escreveu um livro chamado Sobre a arte hindu de
calcular, explicando com detalhes como funcionavam os dez símbolos hindus.
Com o livro de al-Khowarizmi, matemáticos do todo o mundo tomaram conhecimento do sistema de
numeração hindu.
Os símbolos – 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 – ficaram conhecidos como a notação de al-Khwarizmi, de onde se
originou o termo latino algorismus, daí a denominação de algarismo.
São estes números, criados pelos matemáticos da Índia e divulgados para outros povos pelo árabe al-
Khowarizmi, que constituem o nosso sistema de numeração decimal, conhecidos como algarismo indo-
arábicos.

Pag.44 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

6. O s nomes Portugueses de Al-Khwarizmi


Os algarismos ditos árabes constituem a contribuição mais conhecida dos islamitas para o progresso da
matemática europeia. Os novos símbolos e o sistema de numeração que lhes está associado e que ainda hoje
se utiliza são, na realidade, de origem hindu, mas foram os árabes que os trouxeram para o Ocidente e que
primeiramente aqui os usaram e dominaram.
O primeiro livro árabe que se conhece sobre o novo sistema de numeração é o Livro sobre a Adição e
Subtracção Segundo o Método dos Indianos. O seu autor foi Muhammad iben Muça al-Khwarizmi (c. 780–
850), matemático de origem persa que foi um dos primeiros membros da Casa da Sabedoria (Bait al-
Hikma), centro de investigação fundado em Bagdad pelo califa al-Mamun (gov. 813–833). No seu livro, al-
Kharizmi explica como se pode escrever qualquer número com o novo sistema e como se podem efectuar as
quatro operações aritméticas sobre essa representação.
Apareceram depois muitas outras obras com o desenvolvimento dos métodos de cálculo baseados no sistema
de posição decimal. Só no princípio do século XV, com Ghiiath al-Din Jamshid al-Kashi (m. 1429), se pode
dizer que o sistema decimal de posição ficou completo, incorporando as fracções decimais na representação
dos números e nos algoritmos. Multiplicar três e um quinto por dois e meio décimo passou a poder escrever-
se como a multiplicação de 3,2 por 2,05 e a efectuar-se com o algoritmo escrito que hoje conhecemos.
Apesar de os algarismos árabes terem sido usados ocasionalmente pelos europeus desde o século XIV, o
novo sistema de al-Kashi só em 1562 apareceu em Itália e só no princípio do século XVII começou a
generalizar-se na Europa, incluindo Portugal. Ainda, nesse século, no entanto, o sistema era visto com
alguma desconfiança, conforme o atesta uma declaração dos provedores da Fazenda de Lisboa em 1633:
“se não pode dar crédito ao caderno que veio das ditas despesas da Índia por virem em algarismo” 5

5
Vitorino Magalhães Godinho, Ensaios, Lisboa, Sá da Costa, 1978, vol. II, p. 55.
Pag.45 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Ao mesmo tempo que faziam progressos na Aritmética, os matemáticos muçulmanos dedicavam-se à


Álgebra, entendida como o estudo e solução de equações. De tal forma, foi importante a sua contribuição
que a própria palavra «álgebra» tem origem num termo árabe, «al-jabr», incluído no título de uma outra obra
de al-Khwarizmi, e que se pode traduzir como «restauração» ou «reconstrução». Tratava-se da adição a
ambos os lados de uma equação da mesma quantidade, técnica basilar da simplificação de equações.
Os trabalhos de al-Khwarizmi foram fonte de muitos termos matemáticos que se generalizaram no Ocidente
e o seu nome foi traduzido em latim como «Algorismi» ou «Algaritmi», aparecendo em textos ibéricos
medievais na forma «Alohorismi». Desses nomes resultou o termo «algoritmo», que designa um
procedimento sistemático para resolver um problema, habitualmente numérico (e.g., o algoritmo da divisão).
Em português o nome do matemático árabe originou também o termo «algarismo», usado para designar os
sinais gráficos numéricos (0,1,..., 9). Com esta acepção, o termo aparece já, por exemplo, na Peregrinação
de Fernão Mendes Pinto. Em castelhano usou-se «alguarismo», com o mesmo sentido, mas esse termo caiu
em desuso, originando «guarismo», que ainda hoje se usa.
O livro do matemático árabe é também responsável pela introdução no Ocidente de dois outros termos,
ambos derivados da palavra «çifr», adaptada do hindu «sunia», que significa «vazio». Através da latinização
«zephirum», este termo originou o nosso «zero», que aparece bastante tarde. De «çifr» gerou-se, ainda, o
termo «cifra», que em português significava também zero e que na nossa língua hoje designa quantidade,
cálculo ou sinal convencional.
Al-Khuarizmi foi um dos primeiros matemáticos árabes, mas não foi um dos mais criativos. A sua maior
fama e influência deve-se ao facto de ter sido um precursor e, portanto, uma figura de referência. Em
português o seu trabalho perpetua-se através de vários termos, tal como acontece noutros países. Mas na
nossa língua sobrevive singularmente com a palavra algarismo, que não tem uso semelhante noutras línguas
europeias.

Pag.46 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

7. H istória do Sistema Binário


Desde o início o homem sentia necessidade de contar, ou seja, tinha noção de quantidade e por isso sempre
criava constantemente métodos para auxiliarem seus cálculos. Esses métodos variaram, como já referido
anteriormente, desde utilizar pedras ou mesmo os dedos para fazer uma relação com os objectos a serem
contados até a invenção de máquinas para auxiliar e agilizar os cálculos.
Qualquer computador digital, independente do tamanho ou finalidade a que se destina, significa, em sua
essência, um sistema de tráfego de informações expresso em zeros (0) e uns (1).
O conceito infiltrou-se lentamente em disciplinas científica isoladas, da lógica e da filosofia, à matemática e
à engenharia, ajudando-a a anunciar a aurora da era do computador.
O sistema binário de computação já era conhecido na China uns 3000 a.C., de acordo com os manuscritos da
época. Quarenta e seis séculos depois, Leibniz redescobre o sistema binário
O génio alemão Gottfiried Wilhelm Leibniz,foi um dos primeiros defensores do sistema
binário, que chegou a ele de uma maneira indirecta. Em 1666, enquanto completava
seus estudos universitários, muito antes de inventar sua calculadora de rodas dentadas.
Além de propor que todo o pensamento racional se tornasse matemático, Leibniz
invocava uma espécie de linguagem ou escrita universal, mas infinitamente diversa de
todas as outras concebidas até agora, isso porque os símbolos e até mesmo as palavras
nela envolvidas se dirigiam à razão. Gottfried Wilhelm Leibniz

Leibniz continuou aperfeiçoando e formalizando as intermináveis combinações de uns e zeros, que


constituíram o modelo do sistema binário.

Pag.47 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Podemos analisar o quão importante teve a participação de G.W. Leibniz na história da informática,
auxiliando a Linguagem de Programação, dando o inicio ao sistema binário que até hoje temos.
A sua calculadora de rodas dentadas foi projectada para trabalhar com números decimais, mas Leibniz nunca
a converteu para números binários, talvez intimidado pelas longas cadeias de dígitos criadas por esse
sistema. Como apenas os dígitos zero e um são utilizados, o número 8, exemplo, torna-se 1000 quando
convertido em binário, e o equivalente binário do número decimal 1000 é a incómoda cadeia 1111101000.
Para Leibniz, o número um representava Deus; zero corresponderia ao vazio - o universo antes que existisse
qualquer outra coisa a não ser Deus. Tudo proveio do um e do zero, assim como o um e o zero podem
expressar todas as ideia matemáticas.
Em 1841, mais de um século após a morte de Leibniz, um matemático inglês autodidacta chamado George
Boole retomou vigorosamente a procura de uma linguagem universal.

7.1. D efensor do Sistema Binário


Leibniz foi um dos primeiros defensores do sistema
binário. Em 1666, enquanto completava seus estudos
universitários, e bem antes de inventar sua calculadora de
rodas dentadas, Leibniz, então com 20 anos, esboçou um
trabalho que, modestamente, descrevia como um ensaio
de estudante.
Denominado de Arte Combinatória (Sobre a Arte das
Combinações), esse pequeno trabalho delineava um
método geral para reduzir todo pensamento - de qualquer
tipo e sobre qualquer assunto - a enunciados de perfeita
exactidão. A lógica (ou, como ele a chamava, as leis do
pensar) seria então transposta do domínio verbal, que é
repleto de ambiguidades, ao domínio da matemática, que
pode definir com precisão as relações entre objectos ou
enunciados. Além de propor que todo pensamento
racional se tornasse matemático, Leibniz invocava "uma
espécie de linguagem ou escrita universal, mas
infinitamente diversa de todas as outras concebidas até
agora, isso porque os símbolos e até mesmo as palavras nela envolvidas estariam relacionadas com a
exactidão, e os erros, excepto os factuais, seriam meros erros de cálculo. Seria muito difícil formar ou
inventar essa linguagem, mas também seria muito fácil compreendê-la sem utilizar dicionários".

7.2. R efinamento do Sistema Binário


Seus contemporâneos, talvez perplexos, talvez se sentindo insultados por suas ideias, ignoraram esse ensaio,
e o próprio Leibniz, ao que parece, nunca voltou a retomar a ideia da nova linguagem. Uma década mais
tarde, porém, ele começou a explorar de uma nova maneira as potencialidades da matemática, concentrando-
se em aprimorar o sistema binário. Enquanto trabalhava, transcrevendo laboriosamente fileiras após fileiras
de números decimais transformados em binários, era estimulado por um manuscrito secular que lhe chamara
a atenção. Tratava-se de um comentário sobre o venerável livro chinês "I Ching, ou Livro das Mutações",
que procura representar o universo e todas as suas complexidades por meio de uma série de dualidades:

Pag.48 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

contrastando luz e trevas, macho e fêmea. Encorajado por essa aparente validação de suas próprias noções
matemáticas, Leibniz continuou aperfeiçoando e formalizando as intermináveis combinações de uns e zeros,
que constituíram o moderno sistema binário.
No entanto, não obstante toda a sua genialidade, Leibniz não conseguiu descobrir nenhuma utilidade
imediata para o produto dos seus esforços.

7.3. L ógica booleana

7.3.1. C omo funciona a lógica que faz com que os computadores funcionem.
Provavelmente todos nós já nos perguntámos como um computador, que trabalha apenas com números,
consegue realizar tantas tarefas que antes eram executadas somente por seres humanos. Dizer que o
computador trabalha apenas com números não é errado, mas também não é o mais correcto.
Nós, humanos, utilizamos o sistema decimal, que possui dez dígitos (0 ao 9). Por que escolhemos esse
sistema numérico? Simples, quantos dedos temos, somando ambas as mãos? Dez! Coincidência? Não,
conveniência! Cada um usa o sistema numérico que mais lhe convém!
Mas, você nunca viu um processador com dez dedos, viu?! Os computadores de uma forma geral e qualquer
outra máquina controlada por um processador, trabalham com sistema binário, composto apenas pelos
números um e zero. E foram estes dois números que deram origem à lógica booleana!

7.3.2. C omo as coisas começaram


George Boole nasceu na cidade de Lincoln, na Inglaterra, em 2 de Novembro de 1815.
Filho de um vendedor de sapato, Boole não tinha muitas opções devido sua formação
precária na pequena escola primária de Lincoln. George Boole

Como as chances de Boole ingressar em uma faculdade eram poucas ele decidiu tornar-se padre. Embora não
se tenha formado como religioso, os quatro anos de preparação eclesiástica abriram-lhe as portas, mas foi na
Matemática, ensinada por seu pai, que ele encontrou sua verdadeira vocação.
Por iniciativa própria, George Boole passou a estudar as operações matemáticas de forma diferente,
separando todos os símbolos das coisas sobre as quais eles operavam, com o intuito de criar um sistema
simples e totalmente simbólico. Surge assim a lógica matemática.
Boole, ainda, é considerado um homem genial por estudiosos da matemática, mas como a Lógica de Boole
(ou lógica booleana) utiliza um sistema numérico binário, na época de sua descoberta não foi utilizada. Com
o surgimento do computador, a utilização do sistema binário tornou-se indispensável e, obviamente, a lógica
de Boole passou a ter aplicação prática!

7.4. O sistema binário


Como citado anteriormente, o sistema de numeração binária é composto apenas por uns
e zeros.
Os computadores, na verdade, trabalham apenas com esse sistema de numeração. Se
pudéssemos abrir um processador e ver como ele trabalha, seriam zeros e uns para todos
os lados, uma verdadeira Matrix binária.

Pag.49 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Assim, tal como o bem e o mal, o claro e o escuro, o fácil e o difícil, o certo e o errado são opostos, com 0 e
1 não seria diferente.
Na lógica Booleana, o zero representa falso, enquanto o um representa verdadeiro. Para trabalhar com esses
valores e torná-los algo lógico, que possa ser aplicado, são necessárias as chamadas Portas Lógicas!

7.4.1. P ortas Lógicas


Antes de começar a explicar cada uma das portas lógicas, é preciso entender basicamente como elas
funcionam. Pensemos numa porta lógica como uma sala que possui entradas e saídas, em que os bits entram,
são processados de acordo com a função da “sala” em que se encontram, e saem em forma de resultado.
Outra característica das portas lógicas é que cada uma possui um desenho que a diferencia das demais; tendo
sido tais desenhos criados a fim de facilitar o entendimento de projectos.
NOT
A porta lógica NOT é também conhecida como inversor por, literalmente, inverter o bit de entrada. Se o bit
de entrada for um, por exemplo, o bit de saída será zero, e vice-versa.
AND
And, traduzindo para o português, significa E. Assim como no português o E é usado para
a junção de ideias, na lógica booleana é aplicado da mesma maneira.
Essa porta lógica possui dois bits de entrada e um de saída. Para que o bit de saída seja
verdadeiro (valor 1) ambos os bits de entrada devem ser verdadeiros.
OR
Or, significa OU e, assim como no português o “ou” tem a função de indicar escolha, na
lógica booleana é quase a mesma coisa. Da mesma maneira que a porta AND, a porta OR
possui dois bits de entrada e um de saída.
Para que o bit de saída tenha o valor um (verdadeiro), pelo menos um dos bits de entrada
precisa ser verdadeiro.
XOR
A porta lógica XOR (OR eXclusivo) retorna verdadeiro apenas quando os bits de
entrada forem diferentes, ou seja, um deles for verdadeiro (1) e o outro falso (0).
Se ambos os bits de entrada possuir o mesmo valor, o bit de saída será, sempre, falso.

A maneira mais fácil de criar fisicamente estas portas lógicas citadas no texto é através
de relés, dispositivos electromecânicos formados por ímanes e um conjunto de
contactos.
Os primeiros computadores utilizavam este dispositivo para a implementação das
portas lógicas, mas hoje em dia o processo é mais avançado.

Com a criação de várias portas AND, OR, NOT e XOR é possível criar circuitos somadores e diversos outros
tipos de circuitos que são utilizados não só em computadores, mas em diversos outros dispositivos
electrónicos, como relógios.

Pag.50 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

7.5. P ara conhecimento


Como é possível fazer operações matemáticas e outras actividades num computador?
Quando digitamos números numa calculadora, a do Windows, por exemplo, imediatamente eles são
convertidos de decimal (da forma como vemos) para binário (a única forma que o processador entende).
Assim, o processador realiza somas e subtracções binárias, que funcionam de forma muito semelhante às
mesmas operações com decimais. Como não existem as operações de multiplicação e divisão binária, o
processador trabalha com somas (para a multiplicação) e subtracções (para a divisão) sucessivas.
Por exemplo: para fazer a operação 2 x 5, o processador vai somar cinco vezes o número dois. Da mesma
forma, para realizar a operação 10 / 2, o processador subtrai o valor dois (do número dez) até que o resultado
seja zero.
Todo o funcionamento de um computador digital é baseado no cálculo binário. O sistema de numeração
binário (ou sistema de base 2) é formado por dois dígitos: o 0 e o 1.
Os dígitos binários 0 e 1 são habitualmente designados por bits. Um número binário constituído por 8 bits é
designado por byte, um número binário de 16 bits é uma word, e um de 32 bits, uma double word.
Para contar em decimal, usamos intuitivamente um algoritmo muito simples: supondo que temos um
contador por cada posição, todos inicializados a 0. Começamos a incrementá-los da direita para a esquerda.
Quando o contador em qualquer posição ultrapassar o valor 9 (valor do símbolo mais elevado no caso do
sistema decimal), o contador relativo a essa posição juntamente com todos os contadores à direita voltam a
zero e o contador que ocupa a posição imediatamente à esquerda, é incrementado 1 unidade.
Para contar em binário seguimos as mesmas regras, ou seja, obtemos a sequência: 0000, 0001, 0010, 0011,
0100, 0101, 0110, 0111, 1000, etc

Pag.51 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

9. C onclusão
Numa tradição que remonta a Pitágoras, os matemáticos especialistas em “teoria de números”, praticam-no
actualmente com toda a legitimidade nas universidades e nos centros de investigação. Essa teoria encontrou
inúmeras aplicações a partir da II Guerra, com o desenvolvimento dos computadores. Mas mesmo antes,
quando não havia quaisquer aplicações à vista, matemáticos famosos de todos os séculos “brincaram aos
números”, tal como faziam os pitagóricos, estabelecendo propriedades dos números inteiros, embora sem
lhes atribuir qualquer significado místico.
É também, de certa forma, um paradoxo cultural, o gosto de alguns matemáticos pela teoria de números. De
facto, durante um longo período histórico, desde o Renascimento até aos nossos dias, a grande motivação
para a matemática foi o estudo de fenómenos físicos e naturais, ou como às vezes se diz, o estudo do “real”.
Mas alguns dos matemáticos que trabalharam em problemas “reais” não deixaram, por isso, de estudar os
números e de se encantar com as suas propriedades. Fermat é um desses matemáticos, frequentemente citado
nestes últimos anos, precisamente por causa de um célebre teorema em “teoria de números”.
Leibniz, que também produziu trabalhos fundamentais no estudo matemático de fenómenos físicos, afirmou:
“não há homens mais inteligentes do que aqueles que são capazes de inventar jogos. É aí que o seu
espírito se manifesta mais livremente. Seria desejável que existisse um curso inteiro de jogos tratados
matematicamente”.
No nosso quotidiano usamos os números sem, no entanto, pensar sobre eles. De facto, mesmo não pensando
sobre eles, a vida, tal qual ela se nos apresenta hoje, seria impensável sem a primordial convivência com os
números.

Pag.52 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Todas aquelas simples operações que executamos quotidianamente, como um simples pressionar de um
botão num comando de TV, numa caixa Multibanco, num teclado ou “rato” de um computador, no GPS do
nosso automóvel, tornaram-se tão banais que nos abstraímos dos números que lhes estão associados,
especialmente o zero (0) e o um (1).
O facto é que o progresso da humanidade envolveu e sempre envolverá este mistério “os números”. De todas
as invenções que a humanidade produziu e continua a produzir, os números ocuparão sempre um lugar
primordial, mesmo que discretos, mesmo que despercebidos, sabemos que eles estão presentes.
Cremos poder afirmar que após a descoberta dos números, especialmente a representação do “nada” (o
número zero (0), pelos hindus), a humanidade sofreu uma evolução exponencial.
Se olharmos para o percurso da humanidade, a fracção que medeia a “explosão” dos números e os nossos
dias, não é mais do que uma ínfima parte da nossa história, no entanto, os resultados evolutivos alcançados
foram astronómicos.
Impreterível a pergunta que não quer calar: seria a humanidade capaz de conceber o modo de vida hoje, sem
a presença dos dilectos números?
Julgamos óbvia a resposta.

Pag.53 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

10. B ibliografia
Aleksandrov, A. D., Kolmogorov, A. N., Laurentiev, M. A. et al. (1982). La matemática: su contenido,
métodos y significado. Madrid: Alianza Editorial. (Tradução espanhola do original de 1956)
Austin, Daniel (2000). Les nombres en Égypte : approche historique. In Barbin, Évelyne & Le Goff, Jean-
Blanchon, F., Cluzon, S., Demoule, J.P., Glanesser, J.J., Koning, V., Miniou, J. P., et al. (1996). História do
Mundo. Primeiras Civilizações – da origens a 970 a.C. Lisboa: Selecções do Reader`s Digest. (tradução
inglesa do original de 1993)
Burns, E. McNall (1977). História da Civilização Ocidental. (I volume). Porto Alegre: Editora Globo.
(Tradução portuguesa do original de 1941).
Caraça, B. Jesus (1998). Conceitos Fundamentais da Matemática. Lisboa: Gradiva-Publicações L.da.
Dieudonné, J. (1990) A formação da Matemática contemporânea. Lisboa: Publicações Dom Quixote
Dubisch, Roy (1952). The Nature of Number. New York: The Ronald Press Company.
Estrada, M. Fernanda (2000a). A Matemática no Antigo Egipto. In Universidade Aberta (Ed.), História da
Matemática. Lisboa: Universidade Aberta.
Estrada, M. Fernanda (2000b). A Matemática na Mesopotâmia. In Universidade Aberta (Ed), História da
Matemática. Lisboa: Universidade Aberta.
Estrada, M. Fernanda (2000c). A Matemática na Civilização Islâmica. In Universidade Aberta (Ed.), História
da Matemática. Lisboa: Universidade Aberta.
Flegg, Graham (1974b). History of mathematics, unit 2: the real numbers. Manchester: the Open University
press.
Godinho, Vitorino Magalhães (1978) Ensaios, Lisboa, Sá da Costa
Hoffman, P. (2000) “O Homem que só gostava de números”, Ed. Gradiva.

Pag.54 / 55
A História dos NÚMEROS
HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DAS TÉCNICAS

Høyrup, Jens (1982). Investigations of an early Sumerian division problem, c. 2500 B.C. In Historia
Mathematica (Vol. IX). New York: Academic Press, Inc.
Ifrah, Georges (1997). História universal dos algarismos (tomo 1). Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira.
(Tradução portuguesa do original de 1994)
NCTM (2003). Principios y Estándares para la Educación Matemática. Sevilla: Sociedade Andaluza de
Educación Matemática Thales. (Tradução espanhola do original de 2000)
Piotrovski, B., Bongard-Levin, G., Dandamaev, M., Kochelenko, G., Lordkpanidze, O., Marinovitch, L. et al
(1989). Civilizações Antigas do Oriente e do Ocidente. Lisboa: Editorial Avante.
Radord, Luis & Guérette, Georges (2000). Second degree equations in the classroom: a Babylonian
approach. In Katz, Victor (Ed), Using history to teach mathematics: an international perspective.
Washington, DC: the Mathematical Association of America.
Reis, R. & Fonseca, M. (2000). Números e operações. Lisboa: Universidade Aberta.
Ritter, James (1991a). A cada um a sua verdade: as matemáticas no Egipto e na Mesopotâmia. In Serres,
Michel (Ed), Elementos para uma História das Ciências (I volume. Lisboa: Terramar – Editores,
Distribuidores e Livreiros, Lda. (Tradução portuguesa do original de 1989)
Ritter, James (1991b). Babilónia – 1800. In Serres, Michel (Ed), Elementos para uma História das Ciências
(I volume). Lisboa: Terramar – Editores, Distribuidores e Livreiros, Lda. (Tradução portuguesa do original
de 1989)
Robson, Eleanor (2000). Mesopotamian mathematics: some historical background. In Katz, Victor (Ed),
Using history to teach mathematics: an international perspective. Washington, DC: the Mathematical
Association of America.
Sá, Carlos (2000). A Matemática na Grécia Antiga. In Universidade Aberta (Ed.), História da Matemática.
Lisboa: Universidade Aberta Santillana, Giorgio (1961). The origins of scientific thought. Chicago: the
University of Chicago press, Ltd.
Silva, M. Céu (2000). A Matemática na Índia Medieval. In Universidade Aberta (Ed.), História da
Matemática. Lisboa: Universidade Aberta.
Struik, Dirk J. (1989) História concisa das matemáticas. Gradiva..
DVD-ROM Diciopédia X (2006). Porto: Porto Editora.
http://www-groups.dcs.st-and.ac.uk/~history/Babylonian_numerals
http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/fundam/numeros/numeros.htm

Pag.55 / 55

You might also like