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FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET

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Escrevinhação n. 829
ENTRE DEDOS E ANÉIS
Redigida em 13 de maio de 2010, dia de Nossa Senhora de Fátima.

Por Dartagnan da Silva Zanela

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Não importa com que materiais são feitas as grades que

encarceram a nossa mente. Podem elas ser de ouro, de prata, de âmbar

ou mesmo de uma simplória liga de ferro. Pouco importa. Elas sempre

serão grades. Essas grandes podem ser os nossos mais elevados

princípios, as nossas mais pífias convicções ideológicas, os mais tolos

erros advindos de nosso orgulho, ou simplesmente a nossa coleção

interminável de pecados rasteiros. Pouco importa. Todos esses apegos e

desleixos que temos conosco são grades que nos afastam, nos isolam,

de nós mesmos.

Não são poucas as ocasiões em que nos flagramos, em

nossos momentos de isolamento, perguntando sobre a razão de

estarmos vivendo a vida da maneira como vivemos. Ou seja: por que

vivemos fingindo ser algo que não somos e que, no fundo, não

desejamos ser, mas que, faz-se conveniente que finjamos, caminhando

gradativamente do auto-engano hipnótico para a neurose.

Tais observações em um primeiro momento parecem ser

banais, como tudo o mais em nossa vida. Todavia, perguntaria ao amigo

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leitor se após o assalto que sofremos com essas indagações procuramos

refletir devidamente sobre o problema que elas nos propõem.

Refletimos? Como estamos mais do que habituados a mentir para nós

mesmos, podemos então dar um passo adiante. Por uma acaso nós

permitimos que essas indagações e reflexões realmente acabem por

colaborar em uma significativa transformação de nossa maneira de

viver? Bem, é justamente aí que a porca torce o rabo.

É chique meu bem ficarmos conversando sobre temas

sublimes, principalmente se não entendemos nadica de nada do que

estamos falando. O que importa é que saibamos repetir um clichê aqui,

outro cacoete acolá, que o identifique com o estereótipo de pessoa

instruída, bem informada, e tcha tcha tcha! Temos uma típica pessoa

portadora de um canudo, ao mesmo tempo em que é desprovida de

conhecimento, procurando com os mais variados ardis disfarçar a sua

insignificância intelectual e pessoal.

Por essa razão que somos muitas das vezes apegados em

demasia as nossas ditas opiniões. Deus nos livre e guarde que alguém

diga algo contrário ao que pensamos ser a verdade. Indignamo-nos

profundamente com isso por uma razão muito simples: sinceramente

nós nunca procuramos a verdade, apenas nos apegamos a uma

palavrinha aqui e outra ali, palavras estas que despertaram em nós

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uma forte empatia, mas que, em si, não sabemos realmente o que

querem dizer e nunca nos preocupamos realmente com isso. Para a

maioria das pessoas e para nós em muitíssimas ocasiões, a verdade era

e é apenas uma questão incômoda que de ve ser varrida para debaixo do

tapete do desdém. Por esse motivo, simples e canalha, que a maioria de

nossas opiniões não vale nem sequer uma flatulência, porque elas, no

fundo são isso mesmo, em uma versão verbal.

Vem-me a mente uma situação que em certa feita acabei

testemunhando. Lá vai: um ilustre diplomado falava com sua áurea

autoridade sobre a vida ascética e sobre a santidade citando o velho F.

Nietzsche e et caterva. Como estava ali, ouvindo tudo aquilo, pedi

simplesmente que ele me desse um exemplo de um asceta. Não soube

me responder, obviamente. Ele, como muitos outros, sabia direitinho

algumas frases do “filósofo” alemão citado (como muitos o fazem) e foi

repetindo-as com todo aquele ar de autoridade e arrogância, entretanto,

ele não era capaz de identificar um caso real do fenômeno que ele

comentava com tamanha autoridade postiça.

Esse é um dos belos anéis de ouro que enfeitam as mãos

de muitas pessoas. Superstições modernas que com suas pompas de

conhecimento (pseudo)científico fazem-se de peneira para obstruir a

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visão do brilho radiante do Sol da verdade para que o liquinho de nossa

vaidade faça sentirmo-nos grandes.

Por essa e outras tantas que Tomas de Kempis em seu

fantástico livreto A IMITAÇÃO DE CRISTO, nos diz que: “O que

principalmente e mais nos impede é o não estarmos ainda livres das

nossas paixões e concupiscências, nem nos esforçamos por trilhar o

caminho perfeito dos santos. Basta pequeno contratempo para

desalentarmos completamente e voltarmos a procurar consolações

humanas”. Trocando por miúdos, amamos muito mais nossas opiniões

e pensamentos do que a sabedoria que tudo alumia e por estarmos tão

apegados a estes chulos anéis que vivemos com a nossa alma imersa na

escuridão de ignorância fingida criada por nós mesmos.

Pax et bonum
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Blog: http://zanela.blogspot.com

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