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A INDISCIPLINA NA PERCEPÇÃO DE ALUNOS E PROFESSORES

NO CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES EM PIRAQUARA.


Cleusa do Rocio Batista de Aguiar
Emérico Arnaldo de Quadros
earnaldo@onda.com.br

Trabalho apresentado na 7ª semana pedagógica 2010 – Entre a educação e a inclusão e I


Encontro de Psicologia e Educação: Implicações no processo de ensino aprendizagem
(realizado pelo departamento de Educação da Fafipar, Paranaguá. .ISSN 2177-546X

METODOLOGIA DA PESQUISA
Considerando a natureza da dificuldade a ser investigada, optamos pela
pesquisa caracterizada como estudo de caso, sendo esta de curta duração, pois o
período de coleta de dados foi durante duas aulas. Foi utilizado um questionário
com questões abertas e fechadas, onde as perguntas visam perceber como
acontecem as manifestações de violência, indisciplina e bullying, o que pensam
professores e alunos a respeito e como convivem com essas manifestações.

Escola Pesquisada
Este trabalho de pesquisa foi realizado no Colégio Estadual Dr. Gilberto
Alves do Nascimento, localizado no Bairro Recanto das Águas, Rua Mem de Sá
nº. 111, no Município de Piraquara Estado do Paraná. A Escola Estadual Dr.
Gilberto Alves do Nascimento – Ensino Fundamental foi criada em 22 de fevereiro
de 2000 para atender alunos de diferentes bairros do município, num espaço
adaptado pertencente à Secretaria de Estado da Educação no bairro São
Cristóvão. Permaneceu neste espaço até 20 de abril de 2005 quando foram
inauguradas as novas instalações, no bairro Recanto das Águas, permanecendo
com a mesma denominação. Uma das maiores conquista que a Escola obteve foi
o resgate do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais
do Ensino Fundamental, em Nível Médio, na Modalidade Normal, tendo três salas
no período matutino e cinco turmas no período noturno. A escola Gilbertinho
carinhosamente chamada por todos, passou com apenas cinco anos de
funcionamento para Colégio Estadual Dr. Gilberto Alves do Nascimento – Ensino
Fundamental/Normal – Educação Profissional. Hoje conta com aproximadamente
1.200 alunos matriculados e distribuídos em 35 turmas, nos turnos matutino,
vespertino e noturno.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS


A seguir tem-se a apresentação e analise dos dados coletados na
pesquisa que deu origem a este trabalho, bem como a interpretação dos
resultados. Esta pesquisa foi realizada com 10% dos professores e de alunos, das
turmas de 1º e 2º ano do Curso de Formação de Docentes do período matutino e
noturno.

RELACIONAMENTO, CONFLITOS, E PERCEPÇÃO DOS ATORES DE


BULLYING (AGRESSORES/ INTIMIDADORES/ VÍTIMAS E ESPECTADORES).
Ao analisarmos os dados, referentes aos momentos mais agradáveis
quando os alunos estão na escola, observamos que 5l% dos alunos gostam do
momento da aula; 31% dos alunos gostam do espaço reservado ao recreio, 10%
dos alunos gostam do horário de entrada das aulas e 8% dos alunos gostam da
saída.
Segundo Mota (2006), nas falas dos alunos até bem pouco tempo atrás, a
melhor coisa que havia na escola era à hora do recreio, pois na sala de aula não
era lugar para alegria e descontração, era coisa séria. Por isso não se concebiam
brincadeiras ou jogos na sala de aula, como se o estimulo da criatividade e do
lado afetivo dos jovens não fosse algo sério. Hoje os alunos gostam das aulas
onde alguma atividade diferente é realizada ou algum recurso diferenciado é
utilizado, como podemos constatar nas seguintes respostas: “as aula diferente que
a gente gosta são as “aulas com filmes, com jogos”, “aulas com música”, “aulas
descontraídas” onde fazemos várias atividades diferentes, é legal”.
Nestas respostas, podemos perceber que a inserção de recursos
pedagógicos que auxiliam na aprendizagem, como o computador, o jogo, o filme e
música. Em suma, a aula da qual o aluno gosta é a que foge do ensino tradicional,
caracterizado pela utilização exclusiva do quadro-negro, do livro, do caderno e
tendo o professor como protagonista, ou seja, falando o tempo todo, na tentativa
de “transmitir” o conteúdo aos alunos. Entendemos que a aula valorizada pelos
estudantes é diferente daquela que caracteriza a prática de muitos professores.
Observamos, portanto, nas respostas dos alunos o que acontece nas
relações na sala de aula que eles mais gostam e as características do professor
preferido. As aulas são diferentes, dinâmicas e descontraídas porque o professor
possui um perfil que favorece o desenvolvimento deste tipo de aula, e porque suas
ações pedagógicas privilegiam a participação dos alunos no processo de
aprender. Percebemos que o professor, neste tipo de aula, consegue instaurar um
ambiente agradável em que o aluno se sente bem.
Já com relação aos momentos mais desagradáveis quando estão na
escola, os alunos nomearam os seguintes momentos: 34% dos alunos disseram
que os momentos mais desagradáveis são: quando a aula esta chata, quando
professor não explica direito, quando o professor esta stressado, quando passa
muito conteúdo, quando o professor fala mal da turma. Tem professores que falam
muito baixo, e como a turma faz muito barulho, não conseguem entender. Estes
professores são os que não conseguem controlar a turma. Tem alguns
professores difícil de lidar, são muito ‘grosseiros ’ no trato com a gente. Se a gente
não entendeu e pedir nova explicação, eles olham com cara feia e nos respondem
mal, estão sempre mal-humorados. A maioria dos entrevistados não gosta de
atitudes relacionadas com indelicadeza no trato, mau-humor, impaciência, etc.
Percebe-se que eles reclamam também de professores que “não conseguem
controlar a turma”.
E 14% dos alunos disseram que o momento mais desagradável é no
horário de recreio quando acontecem às brigas, quando os alunos xingam uns aos
outros, quando os alunos fumam e não respeitam seus colegas, quando se
deparam com alunos que não gostam. 16% dos alunos disseram que não gostam
da entrada da escola: principalmente quando chega atrasado, falta professor, está
com sono, e tem de ficar cinco aulas sentadas. 12% alunos disseram que não
gostam do término das aulas porque têm que ir embora, outros vão trabalhar
direto da escola, não gostam quando tem brigas, provocações e acertos de conta
na saída. 16% dos alunos assinalaram outros motivos. 5% dos alunos disseram
não ter momento desagradável na escola e 3% dos alunos disseram que todos os
momentos que eles estão na escola são desagradáveis. As respostas dos alunos
foram bastante diversificadas, entretanto, indicaram dificuldades tanto por parte do
professor quanto deles. Os alunos reconhecem suas falhas e ações negativas em
sala de aula, mas não se preocupam em reverter este quadro.
Ao analisarmos as respostas dos alunos referentes ao questionário,
observamos que 92% dos alunos indicaram ter um bom relacionamento com os
colegas de classe. Já com relação aos alunos que apontaram ter mau
relacionamento, eles correspondem a 8%. A maioria dos professores admite a
presença da violência no contexto escolar, principalmente na sala de aula através
da manifestação de atitudes e comportamentos agressivos no relacionamento
diário entre professor-aluno, aluno-aluno, destas atitudes violentas destacam-se: a
falta de respeito, a falta de compreensão, a falta de atenção e de interesse a falta
de incentivo, falta de diálogo, “desconta” seus problemas nos outros alunos,
através dos apelidos e xingamentos etc.
Guareschi (2008) nos mostra que esse fenômeno que se costuma chamar
de bullying é bem mais abrangente do que se imagina e repercute em toda a
escola, não somente nas relações aluno-aluno. Ele se faz presente também nas
relações entre professor e aluno e está subjacente às práticas pedagógicas
empregadas no ensino e na aprendizagem. O bullying é muito mais sério que se
imagina. Essa minoria com mau relacionamento com colegas de classe e que
discorda dos demais é possível haver intervenção por parte da instituição de
ensino para que possa trabalhar a ressocialização desta minoria a fim de buscar
um clima favorável em sala, bem como a minimização destes dados.
Observou-se que 50% dos alunos relataram que já se conflitaram no
ambiente escolar e deram-se através de violência física, outros 12% se conflitaram
verbalmente e 38% dos alunos nunca se conflitaram na escola. Diante das
relações conflitantes, a literatura sugere que para se distinguir o fenômeno bullying
de violência escolar entre adolescentes e para identificar possíveis casos do
fenômeno no âmbito escolar e caracteriza-lo é necessário que aconteça algum
tipo de intimidação com reincidência, em no mínimo por três vezes consecutivas
em uma semana, além da falta de reação da vítima frente ao problema.
Assim, abordamos a questão de conflitos escolares, indagando a hipótese
de alunos terem ou não se conflitado no ambiente escolar, justamente porque se
houver a reação da vítima, tanto ela, quanto o agressor/intimidador e o próprio
fenômeno bullying se descaracterizam, passando assim a casos de violência
escolar. Portanto, ao analisarmos os dados da pesquisa, entendemos que seja
necessário esclarecer o que é bullying para que os alunos não o confundam com a
violência escolar, porque os dados nos revelaram que nesta escola existem muitos
casos de conflitos escolares. É provável que estes conflitos surjam como reflexos
do cotidiano dos alunos, em períodos contrário àqueles em que estão na escola,
conforme exemplifica Charlot (2002).
Com relação à intimidação de acordo com Oliveira (2007), as crianças
passam por situações na vida em que se sentem frágeis, e em decorrência disso
tornam-se temporariamente agressivas, por motivos como, por exemplo, o
nascimento de um irmão, a separação dos pais, ou ainda a perda de um parente
próximo. Porém como observado por estudiosos, esta agressividade momentânea
pode se tornar crônica, pela contribuição de diversos fatores, como, por exemplo,
porque foram mal acostumadas e por isso esperam que todas as suas vontades
ou ordens sejam atendidas, ou porque sentem prazer em experimentar a
sensação de poder, ou são anti-sociais, tendo dificuldades de relacionamento, ou
simplesmente porque são humilhadas em suas casas, já foram vítimas de algum
tipo de abuso ou vivem sob pressão.
Segundo Fante (2005), um considerável número resultante de sua
pesquisa demonstrou que os discentes envolvidos com o fenômeno bullying
refletiam no âmbito escolar os maus tratos recebidos em seus lares e estes agiam
negativamente contra suas vítimas como forma de terem prazer ao repetirem o
que vivia em sua vida pessoal. A autora descreve as necessidades pessoais de se
fazer notado, reconhecido e satisfeito, como forma, talvez de exercer autoridade
ou por ser a única maneira que lhe foi ensinada para lidar com as inseguranças
pessoais sentidas diante do pares, buscando com isso reconhecimento, auto-
afirmação e satisfação pessoal.
Isso vem ao encontro do que foi retratado por alunos que já sofreram
algum tipo de intimidação no espaço escolar por vários motivos. Autores
demonstraram em suas pesquisas que as vítimas de bullying não quebram a lei do
silêncio, porque estas temem denunciar seus agressores, por conformismo, medo
ou vergonha de se expor frente aos colegas e isso ocorre para não se tornarem
motivo de gozações ou piadas ainda maiores na escola.
Assim, podemos conceber que, tanto os agressores/intimidadores quanto
as vítimas do fenômeno bullying, possuem deficiência em sua formação
comprometendo suas relações e o convívio com os demais indivíduos. Da mesma
forma, Constantini (2004), abordou a mesma deficiência neste processo social,
pois para ele agressores/intimidadores e vítimas apresentam-se incapacitados ao
relacionamento com outros atores sociais, porque não aprenderam
individualmente ou coletivamente ou simplesmente por não se sentirem inseridos
em um contexto pedagógico que os ensinasse a viver harmoniosamente com o
coletivo em outros espaços, como por exemplo, o escolar.
Portanto, para o autor, o espaço escolar ideal para as vítimas é aquele
que propicia a elas, um ambiente que as proteja de humilhações e intimidações; e
que, posteriormente, estimule a capacidade de defesa frente ao fenômeno
Bullying. Desta forma, para o autor o espaço escolar ideal para as vítimas é
aquele que proporciona a elas um ambiente seguro e sugere que para os
agressores/intimidadores, o mesmo espaço tem que oferecer meios para que eles
aprendam regras de conduta com o coletivo e neutralize as suas ações
transgressivas.
Segundo os dados apresentados na pesquisa, 75% alunos demonstraram
saber ou presenciaram casos de intimidação no ambiente escolar, e 25% afirmam
desconhecer estes fatos, os dados podem ser exemplificados a partir do que
descrevem os alunos. Nos relatos obtidos dos alunos presenciamos casos de
intimidação onde os agressores/intimidadores estavam em turma e em outros
momentos sozinhos, devido a vários motivos.
Conforme descreve uma aluna, assistiu por várias vezes os
agressores/intimidadores atuando contra os colegas na escola eles andam sempre
em turma, porque é dessa maneira que eles se sentem superiores, valentões,
acham que podem mais que os outros, são pessoas folgadas que gostam de
aparecer para os demais colegas.
Outro relato foi verificado quando uma aluna declarou que já presenciou
intimidações de outros alunos, feitas a partir de apelidos dados a um colega e que
esses agressores andam em turma e são mais velhos que a vítima.
Esta situação foi abordada por Fante (2005), que descreve que um jovem
estudante é inserido em uma turma de colegas agressores/intimidadores na
escola, por motivos que podem ser estratégia de defesa, pressão ou para se sentir
popular. Muitas vezes, um aluno adere ao grupo de agressores ou se converte em
agressor por pressão ou como estratégia de defesa, para não se transformar em
uma nova vítima, para não ser banido do grupo, ou ainda, para garantir certa
popularidade. (FANTE, 2005).
Retomando o que a literatura demonstra, o termo Bullying é empregado,
para definir determinadas ações ocorridas em conjunto ou isoladas, que por
violência física, verbal ou emocional daqueles que são vítimas deste fenômeno,
comportamento bullying pode ser classificado como direto e indireto, sendo que
ambos os tipos são agressivos e prejudiciais à vítima. O bullying direto ocorre
quando as vítimas são atacadas diretamente, por práticas imediatas, através de
apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expressões e
gestos que geram mal estar aos afetados. Este tipo ocorre com mais freqüência
entre os meninos.
Já o bullying indireto ocorre quando as vítimas estão ausentes e os
autores criam situações de divisão, discórdia, indiferença, agindo através da
fofoca, manipulação de amigos, mentiras, isolamento de alguns, difamação e
discriminação, com o propósito de excluir a vítima de seu grupo social, sendo mais
praticado pelas meninas. Segundo Guareschi (2008), devemos ressaltar que tais
atitudes são tão importantes e carecem de tanto cuidado quanto as agressões
físicas, pois também podem causar danos psicológicos e graves conseqüências.
Desta forma, visualizamos durante esta pesquisa que em relação às formas de
atuação, do que a terminologia emprega ao fenômeno Bullying, esta pesquisa
revelou que a grande maioria dos alunos foram vítimas deste mal.
Assim no decorrer desta pesquisa, ao analisarmos os dados relatados
pelos alunos, referente à relação professor/aluno, observamos que 21% dos
alunos consideram a relação professor/aluno ótima, 51% dos alunos consideram a
relação professor/aluno boa, 24% consideram a relação professor/aluno regular e
4% consideram a relação professor/aluno ruim.
Analisar as relações professor-aluno e aluno-aluno e os motivos que
levam os estudantes a assumir diferentes atitudes em sala de aula no processo
ensino-aprendizagem vem sendo apontada em diversos estudos, tal como o
fazem Silva e Aranha (2005). Entretanto, trata-se de pesquisas que focam
especificamente a influência que o professor exerce sobre a aprendizagem de
seus alunos, ignorando o quanto os alunos interferem na postura pedagógica
adotada pelos professores. As pesquisas apontam quais características um
professor deve ter para promover uma melhor aprendizagem de seus alunos, mas
poucas revelam como a atuação do professor pode ser influenciada pela classe de
alunos.
Esta produção científica desigual pode ser justificada, de acordo com
Silva e Aranha (2005), pelo fato de que, durante muito tempo, acreditou-se que o
professor era o único responsável pelos resultados alcançados no processo
ensino-aprendizagem. Assim, apesar de não ser tão recente a constatação de que
o aluno exerce influência sobre o professor - ou seja, que a relação entre eles é
marcada pela bi-direcionalidade, Zuin (2003) destaca que as pesquisas continuam
voltando-se unicamente à influência do professor sobre o aluno, presas à
concepção de que o primeiro, infalível, não estaria vulnerável à postura adotada
por esse último.
As poucas investigações a respeito da influência exercida pelo aluno
sobre o professor, são escassas as que verificam como as interações
estabelecidas entre os alunos influenciam a construção do conhecimento dos
mesmos. Coll e Colomina (1996) acreditam que o desinteresse dos estudiosos por
este aspecto das relações interpessoais estabelecidas em sala de aula deva-se à
importância tradicionalmente atribuída à relação professor-aluno como fator
determinante da aprendizagem escolar.
Entretanto, os poucos pesquisadores que voltam o olhar para as relações
que os alunos estabelecem entre si afirmam o quanto elas se fazem influentes no
momento da aprendizagem. Esta falta de compreensão, por parte dos docentes e
discentes, do quanto às relações dos alunos entre si e as relações dos alunos com
os professores estão atreladas. Haja vista que, segundo Moraes (2003), o
professor é dotado de certa autoridade - mesmo que ele não seja autoritário acaba
sendo o maior responsável pelas relações que são estabelecidas em sala de aula,
Assim, conforme aponta Zuin (2003), quando um aluno é elogiado ou humilhado
por um professor, diante de todos os seus colegas, não será apenas a relação
professor-aluno que estará em pauta, mas, também, as relações dos demais
alunos da sala com este estudante em questão.
Segundo Rodrigues (2008) o fato de dar importância apenas aos aspectos
considerados negativos ou positivos do comportamento de um aluno pode fazer
com que não prestemos atenção na relação que estamos construindo com ele dia-
a-dia. Essa postura provavelmente fará com que evidenciamos uma prática muito
comum, que é a superficialidade com que a escola ou cada um de nós se
relaciona com os outros, com o saber e com, a própria vida.
Dessa maneira, aquilo que consideramos problema, na nossa relação
com os alunos, deve ser transformado em um momento de reflexão sobre nossa
prática, sobre as dúvidas que aqueles alunos-problema fazem nascer em nós a
respeito de nosso papel de professores-educadores. Cabe então, ao professor,
enquanto educador, participar da formação de seus alunos. Cabe a ele garantir
uma relação que evite que uns se calem, outros apenas obedeçam e outros
dominem. Cabe também a ele estabelecer condições para a colaboração, a
compreensão mútua e uma boa comunicação.
Foram feitas análise e interpretação das entrevistas realizadas junto aos
alunos da escola, para identificar quais as atitudes que eles acham que deveriam
ser tomadas pelos professores na prática para garantir o respeito em sala de aula.
65% dos alunos disseram que o professor deve dar exemplo, que se o professor
quer respeito, deve respeitar os alunos, não colocar os alunos em situações
vexatórias; deve ser imparcial no trato com os alunos, não ser grosseiro, promover
debates sobre as situações ligadas ao respeito mútuo, manter sua postura de
professor e fazer uso de sua autoridade.
Alem disso 29% dos alunos disseram que as normas e os limites devem
ser claros e tem que haver punição para os que transgridem essas normas, caso o
professor não consiga resolver em sala encaminhar os alunos indisciplinados para
equipe pedagógica e direção. 3% disseram que o professor tem que estar bem,
(não estar stressado, de mau humor) e 3% não responderam à questão. Além de
todas as sugestões um aluno disse que esta difícil de encontrar a resposta, pois
ninguém respeita ninguém.
Já com relação aos relatos dos professores para prevenir a indisciplina ou
a violência eles nomearam o seguinte: Que a base da relação professor/aluno
deve ser o diálogo, que as normas devem ser claras, definindo limites e punições
de acordo com as infrações, que deve ser trabalhado a questão do respeito mútuo
no convívio social, que as aulas deverão ser mais interativas condizentes com a
realidade dos alunos.
Concluindo é muito importante à relação que é estabelecida com os
alunos em sala de aula. Ela possibilitará o exercício do seu papel de mediador no
desenvolvimento e na aprendizagem de seus alunos, deve se fazer respeitar, e
elaborar junto com os alunos os combinados a serem cumpridos para o bom
funcionamento do projeto pedagógico. Relações de respeito mútuo e
reciprocidade devem prevalecer entre os professores e os alunos. A indisciplina
deve ser encarada como uma questão a ser enfrentada por todos: professor,
alunos e pais que se encontram envolvidos no processo da aprendizagem.
Com relação à participação dos pais na vida escolar dos alunos os
professores relataram que a maioria deles não acompanha a vida escolar de seus
filhos e não comparecem na escola quando chamados, e quando comparecem
alguns acham ruim, outros ficam bravos com seus filhos, outros ficam indignados
e encobertam os erros dos filhos, outros dizem que não podem com a vida dos
filhos.
Por serem incapazes de estabelecer normas e limites a seus filhos, muitos
pais passam a ignorar as suas transgressões, muitas vezes adotando posturas de
falsa compreensão ou simplesmente “fechando os olhos” para as suas más
atitudes. Alguns ainda adotam tais posturas como forma de compreensão de sua
ausência devido ao exercício profissional, não estabelecendo limites a qualquer
ato de seus filhos, como por exemplo, a determinação de horas para brincar,
assistir televisão, estudar, passear, falar ao telefone, comunicar-se por internet,
para não criar desavenças e tampouco brigas no seio familiar.
Este assunto foi abordado por Constantini (2004) afirmando que os pais
pouco ficam em casa e, por isso não acompanham a vida dos seus filhos como
gostariam e hoje há a tendência de deixar “para lá” muito dos comportamentos
transgressivos dos filhos: finge-se que não houve nada ou adota-se uma postura
de falsa compreensão ou de débil repreensão, que quase sempre nem mesmo é
escutada.
Com relação às situações que consideram importante comentar sobre os
relacionamentos existentes na escola. Os alunos nomearam alguns fatos que
consideram importante sobre a escola e que são passíveis de reflexão. Eles
relataram que falta entrosamento da Direção com os alunos. Quando reclamam
dos professores à direção não dá importância à reclamação. A Direção deve punir
os desordeiros que não respeitam os alunos, funcionários e a escola.
Já com relação à Equipe Pedagógica, alguns professores que atuam na
equipe pedagógica devem ser melhores preparados. Com relação aos
funcionários que eles não devem ser grosseiros com os alunos; Que os inspetores
devem mandar os alunos para sala de aula, mesmo que sejam os alunos adultos.
De acordo com o que observamos nos relatos uma nova visão
educacional deve romper com o paradigma tradicional de se pensar a função
escolar e o complexo das relações existentes no ambiente educativo. Quando
falamos em relações escolares, a maioria pensa na relação exclusiva entre
professor e alunos e esquece que a escola é um todo relacional. Não há
humanidade sem relações e a escola é composta essencialmente por pessoas
que atuam diretamente no contexto escolar, podendo ser assim esquematizadas:
Diretor, Vice Diretor, Coordenador, Professor, Alunos, Pais, Agentes de Apoio
escolar, Igrejas e demais Instituições.
Esta cadeia de relações poderia ser estendida se pensássemos que cada
representante mantém relações estreitas com outros indivíduos fora do contexto
escolar. O indivíduo é um ser social que vive numa sociedade plural. A escola não
pode rejeitar os vínculos existentes e necessários para que se possa cumprir sua
função social e educadora.
Para Moraes (2005), a história de vida pessoal dos indivíduos é marcada
pelos relacionamentos existentes entre o próprio ser, o seu passado, o seu
presente, o seu futuro, os seus semelhantes e a própria natureza. Há uma
inseparabilidade e uma dependência social em relação ao ambiente em geral.
Esta forma de compreender a natureza humana requer uma educação que
promova o respeito às diferenças, à diversidade entre os seres, às diferenças
culturais e aos diferentes processos de desenvolvimento humano.
O paradigma proposto por Moraes engloba uma pluralidade de
concepções pedagógicas, pensadas para a ótica da pluralidade dos educandos e
da complexidade do fazer pedagógico. Tal paradigma compreende o
conhecimento como construção, como interação entre o sujeito, o objeto de
conhecimento e o mundo sociocultural, ultrapassando e rompendo com uma visão
de homem e de mundo fragmentada, sendo, portanto, construtivista, interacionista,
sociocultural e transcendente.
Se o foco é o aluno como ser humano individual e coletivo, a
aprendizagem, a construção do conhecimento, a percepção de si mesmo e dos
outros, precisam ser repensados no interior da prática pedagógica. Uma nova
prática deve ser fruto da consciência crítica dos educadores, que passam a
reconhecer em suas ações um interesse político em transformar a realidade
presente como sujeito ético, responsável pela superação das injustiças.
A transformação da escola e das práticas pedagógicas implica também na
superação do currículo defasado pela imutabilidade dos métodos e na
readequação curricular requerida pela mudança contínua da realidade social,
econômica, política e pelos avanços científicos e tecnológicos que tendem a
popularizar a cultura externa à escola. Segundo Alarcão (2004), a escola precisa
compreender a necessidade de superar a defasagem de atitudes e conceitos
ultrapassados. Para ela, a transformação deve vir do seu próprio interior,
mobilizando as pessoas que constituem o núcleo educativo: professores, alunos e
funcionários, numa interação com a comunidade circundante.
A melhoria dos relacionamentos interpessoais, o controle e a redução do
bulismo e conseqüentemente a diminuição da violência escolar, serão os
resultados da mudança das práticas educativas e do envolvimento de todos os
seus integrantes. O diálogo e a comunicação entre os agentes educadores devem
canalizar as expressões de uma geração que busca um norte para suas ações e
requerem uma linguagem apropriada para o convencimento de uma nova forma
de pensar e agir no século atual. Delors (2001) enfatiza a importância do papel do
professor no século atual, ressaltando a importância do papel do professor
enquanto agente de mudança, favorecendo a compreensão mútua e a tolerância,
nunca foi tão patente como hoje em dia. Este papel é ainda mais decisivo neste
século. É por isso que são enormes as responsabilidades dos professores a quem
cabe formar o caráter e o espírito das novas gerações.
A ação dos professores, porém, nunca será um movimento isolado, mas
parte de uma ação colegiada, em comunhão com os membros internos e externos
da instituição educativa. Dentro do espaço interno da escola, a direção e a
coordenação assumem papel primordial na manutenção de um clima favorável
para a formação do cidadão com consciência coletiva.
Para isso precisa ter uma visão global e abrangente de seu trabalho. Seu
olhar precisa percorrer os espaços físicos, deter-se nas pessoas, nas relações que
se estabelecem, nas aspirações dos seus participantes, na realidade escolar, na
realidade local, na violência explicita e na violência velada (bulismo), na atuação
dos profissionais, na gestão do ensino e na manutenção de um clima favorável à
formação humana dos atores envolvidos. Segundo Delors (2001), as pesquisas e
observações mostram que a eficácia da escola está relacionada com o
comprometimento e competência dos órgãos diretivos.
REFERÊNCIAS:

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Cortez, 2004.

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma


teoria. Porto Alegre: Armed, 2000.
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DELORS, j. Educação, um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da
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FANTE, Cleo. Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a
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GUARESCHI. P. A. et al. BullyIng mais sério do que se imagina. Porto Alegre:
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MORAES, M. C. O paradigma educacional emergente. 11. Ed. Campinas:
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OLIVEIRA, JULIANA MUNARETTI DE. Indícios de Casos de Bullying no
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RODRIGUES, Neidson, Por uma nova escola: o transitório e o permanente na
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