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Politrecos: o jornal dos alunos, pelos alunos e para os alunos!

gremiopolitecnico@fiocruz.br ano 4 - n° 11 - abril de 2010. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio

esportes Cultura
E mais uma vez o futebol Globo Rural, o programa do
latifúndio

Educação Brasil
Se você tivesse um filho “Educador, a mais nobre de
com síndrome de down... todas as missões!”

“...Pois paz sem voz


não é paz, é medo...”

Mundo entrevista
Sacerdócio: dedicação “A arte tem que ter
total à Igreja liberdade”, MC Leonardo

biografia Saúde
Venâncio: Patrono da Reforma de saúde nos EUA:
maior politécnica de saúde avanço em passos de
do mundo tartaruga
2 Informes
Concurso de Redação Camélia da Liberdade! Politrecos on-line:
Pessoal, entra no ar este mês a versão on-line do
Atenção ao início do Concurso de Redação Camélia Politrecos. Nesta versão on-line, estarão disponíveis as
da Liberdade! O tema não poderia ser mais fascinante: edições do Politrecos de 2010 e serão postadas outras
“João Cândido, o marinheiro da Liberdade - 100 anos da matérias além das que estão no jornal, mas é um
Revolta da Chibata”. Quem não se lembra da eterna letra espaço que dependerá da frequente participação de
e música dos compositores João Bosco e Aldir Blanc, todos os leitores. O endereço é o seguinte: http://www.
denominada o “Mestre Sala dos Mares”? politrecosonline.blogspot.com
É direcionado aos alunos do Ensino Médio nas Entrem, comentem, participem e ajudem a construir
redes públicas e privadas e núcleos pré-vestibulares mais essa ferramenta democrática de comunicação.
comunitários no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, nos
âmbitos municipal, estadual e federal. Atenção
Link de inscrição: http://www.portalceap.org Fiquem atentos! Nas próximas semanas haverão
assembléias promovidas pelo grêmio para discutir
assuntos de interesse coletivo.
Editorial:
Rapaziada, e para quem duvidou, chegamos a nossa terceira edição do Politrecos e este mês com mais uma
novidade: além do Politrecos impresso, está no ar, a partir de hoje, o Politrecos on-line. Acessem e participem!
Esta edição traz uma matéria especial na coluna de Política, uma denúncia do que a grande mídia não divulga
sobre as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e conta, inclusive, com o relato do rapper Fiell, morador do Morro
Santa Marta, comunidade uppzada. O MC Leonardo, presidente e fundador da APAFunk, é o entrevistado deste
mês, ele nos conta desde o surgimento do funk até os dias de hoje.
Cumprindo com a nossa promessa de colocar um tema específico nas frases de rodapé de cada edição, neste
exemplar, as frases serão de músicas.
E se seu filho tivesse síndrome de down? O que você faria? Confira na coluna Educação os obstáculos impostos
por esta doença na hora de uma criança ingressar na escola.
O mês de abril ficará marcado na história do Rio devido a chuva que devastou a cidade, por isso, fizemos um
‘Plantão Politrecos’ e adaptamos a coluna
Aconteceu na Poli para discutirmos esse
assunto, confira na página 9!
No exercício de sua função, o Grêmio
Politécnico usa este espaço para manifestar
sua solidariedade aos cidadãos paulistanos
que cumprem a mais nobre de todas as
missões, segundo Antônio Gomes Lacerda.
Descubram quais são os motivos da greve dos
professores de SP.
E mais: o escândalo dos casos de pedofilia
envolvendo integrantes da Igreja Católica;
a biografia do patrono da maior politécnica
de saúde do mundo; entenda a reforma do
sistema de saúde estadunidense; a denúncia
da realidade carioca estruturada numa crônica;
um balanço da passeata do dia 24/03.
Esperamos críticas, sugestões e a
participação de vocês, leitores. Obrigado e
boa leitura! ;D

“Batuque é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio, sambar é chorar de alegria é sorrir de nostalgia,
dentro da melodia.” (Elizeth Cardoso)
educação 3
Se você tivesse um filho com sindrome de down...
S e você tivesse um filho com síndrome de down,
colocaria-o em uma escola especial ou em uma
escola normal? Essa é uma das maiores aflições que
ela, e isso fará se sentir mais inferior ainda, o que não
será bom. Por isso deve haver um acompanhamento
psicopedagógico para as crianças que seguem esse
envolvem os pais de crianças com síndrome de down, caminho.
pois consiste no potencial cognitivo da criança, visto Alguns pais optam por colocar seu filho com
que sofrem de uma deficiência intelectual. É um síndrome de down em uma escola especial, pensando
momento marcante para esses pais, pois muitos não que esse é o melhor caminho para que ele não seja
sabem o que fazer. discriminado, já que ali todos serão iguais. Mas,
A entrada da criança com síndrome de down na assim, ele não conhecerá bem as outras crianças. E
educação infantil regular é positiva se a inclusão for a vida não acaba ali. E quando ele sair da escola? O
bem feita e, desta forma, sua socialização começa a contato direto com as outras pessoas será positivo?
ser muito bem realizada. É necessário entender que Isso muitas vezes é um problema, e essas questões só
a criança não deve apenas adaptar-se aos outros, o se resolvem no decorrer da vida.
essencial é que todas as outras aprendam também Devemos levar em consideração que a educação
a conviver com aquela criança diferente. E isso é um brasileira não é perfeita, nem todas as escolas estão
ponto positivo na formação de todos como cidadãos, preparadas para isso, além do mais nem todas as
pois aprendem que a diferença é normal. Porém crianças têm contatos com outras crianças com
existem também pontos negativos nessa escolha, Síndrome de Down, mas nem por isso devemos
pois a criança nem sempre consegue acompanhar discriminá-las, então pense bem antes de fazer isto.
sua turma e assim, muitas vezes, repete de série, e
ficado para trás acabam se sentindo inferior. Nesta Karine Veiga
nova turma irá encontrar crianças mais novas que

humor
Pérolas Politécnicas Perguntas que você sempre se fez
Por que o Chico Xavier usa óculos escuros? Porque
Uma integrante do grêmio avisa aos seus
os espíritos têm muita luz.
companheiros:
- Agora as reuniões serão semanais, toda terça e
quinta.
Seu Noé, guarde, por favor, um espacinho para duas
bestinhas na sua arca.
Uma aluna pensa alto pelo corredor:
Ass: Duduzinho Paes e Serginho Cabral
- Vou comprar uma mochila térmica para não molhar
meu material.
Micareta na casa paroquial: Padre Folia. Somente
Duas alunas de 2° Lab e uma de 2° Visa, esperando
para menores de 14 anos.
para atravessar a rua, com um ônibus na frente, em
Bonsucesso.
A de Visa vai atravessar e diz:
O que é um negro sendo perseguido por 300
- Não estou ouvindo barulho de carro, pode
brancos? O circuito internacional de golfe!
atravessar.
Umas das alunas de Lab começa a rir e revela às
outras:
Eduardo Paes cumpriu com a sua promessa, deu
- É que eu ia falar: ‘Nossa, que olfato aguçado!’
água e esgoto para o Rio todo.

Ainda me lembro aos três anos de idade, o meu primeiro contato com as grades. O meu primeiro dia na escola.
(Legião Urbana)
4 Mundo
Sacerdócio: dedicação total à Igreja
Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro
são lobos devoradores (Mateus, capítulo 7, versículo 15).

J á alerta a Bíblia cristã, no trecho acima citado,


para o fato de no meio de nós existirem aqueles
que dizem estar a serviço de Cristo, que no entanto, são
se manter solteiro. Isso se deve pela doutrina católica
do sacerdócio ser uma doação casta e integral de si
mesmo na Igreja. Esta, como Esposa de Cristo, quer ser
apenas aproveitadores de uma imagem religiosa para amada pelo sacerdote do modo total e exclusivo com
cometerem iniqüidades. E como se sabe, a Bíblia foi que Jesus Cristo Cabeça e Esposo a amou. Isso significa
escrita não é de agora. que o sacerdote age na pessoa de Cristo, sendo um
Nos dias de hoje, não é rara as vezes que abrimos Reino instaurado por Jesus em seu corpo humano. É um
o jornal e nos deparamos com o seguinte anúncio: templo vivo de Deus. Esta é a condição para ser padre:
“Vaticano admite caso de pedofilia de bispo...” Fato dedicar-se totalmente à Igreja. Tudo isso segundo
lamentável. E é importante o jornal O Testemunho de Fé,
destacar que foi citado o Vaticano edição semanal de 28 de março a
não no sentido de querer mostrar 03 de abril.
que é a igreja católica que comete O que acontece é que a
abusos sexuais, mas também atividade sexual é um desejo
pastores de outras igrejas inerente ao ser humano.
frequentemente são presos por Qualquer pessoa tem prazer com
cometerem pedofilia. Não se isso. E pastores, padres, líderes
pretende aqui, fazer guerrinha religiosos em geral, são humanos
pra saber qual religião peca mais e como tal possuem o desejo de se
nesse sentido. Fato é que todos relacionar sexualmente. Quanto
aqueles, sendo religiosos ou não, aos padres, especialmente devido
que cometem pedofilia, estão ao celibato, a abstinência sexual
errados. E muito errados. pode se acumular em desejo de
Porém, destaca-se no meio tal maneira e chegar ao ponto
destes pecadores aqueles que de um absurdo ser cometido,
têm alguma ligação com a igreja, tendo como vítima uma criança
qualquer que seja, por esta ser indefesa, que não terá forças para
uma Instituição que preza a vida, a pureza de espírito, reagir a um adulto. Pelo descumprimento do voto de
a procura da vida santa. Sobretudo a igreja católica, Celibato é que a atenção recai de forma mais intensa
que cumpre à risca o sexto mandamento: Não pecar sobre o catolicismo quando se refere à pedofilia. Não se
contra a castidade. O que seria isso? Por que as críticas quer aqui, dar uma justificativa para amenizar os abusos
são maiores sobre a Igreja Católica? Para entender, sexuais cometidos por religiosos, muito pelo contrário.
precisamos de alguns esclarecimentos. Apenas busca-se entender o que se passa em nossa
Pecar contra a castidade seria ter relações sexuais sociedade.
antes do Sacramento do Matrimônio, o popular Portanto, aqueles que pensam em seguir uma vida
casamento. Por que não? Porque segundo a tradição eclesiástica deve ter o pleno conhecimento de seu
católica, o ato sexual teria a função apenas de procriação, significado e implicações e ter certeza de que essa é sua
vide a passagem bíblica crescei-vos e multiplicai-vos. O escolha. Caso contrário, pode vir a ser um criminoso a
prazer, seria conseqüência, e não o sentimento principal soltas, manchando o nome de Instituições Religiosas
do sexo. E os padres, que nem casar podem? que muitas vezes têm de responder por ações de uma
Para se tornar padre, a pessoa deve fazer o voto minoria sacerdotal.
de Celibato, que consiste no estado de um indivíduo Eduardo Félix

“Estranho, teu Cristo, Rio, que olha tão longe, além. Tem os braços sempre abertos, mas sem proteger
ninguém.” (Cazuza)
Saúde 5

Reforma de saúde nos EUA: avanços em passos de tartaruga!

N o dia 21 do mês de março foi aprovada, na


Câmara dos Representantes, com diferença de
apenas sete votos, a proposta de reforma do sistema
rompe com as relações vigentes. No entanto, de maneira
bastante razoável. A proposta prevê a obrigatoriedade
do seguro saúde e a adoção de uma regulação mais
de saúde estadunidense, considerada por muitos como rígida para as seguradoras. Além da criação de uma
a principal política doméstica do presidente Barack bolsa de seguros para quem não tem um plano pago
Obama. pelo empregador e de subsídios para a população
A nova lei pretende beneficiar cerca de 40 milhões carente. A maioria das mudanças deve ser financiada
de pessoas, os quais atualmente não têm cobertura de com o dinheiro proveniente da redução de desperdício
saúde. É quase o triplo da população do estado do Rio de um dos programas do governo, o Medicare.
de Janeiro sem nenhuma forma de assistência à saúde. Percebam que não se fala em universalidade dos
Nem macas no corredor alguns filhos do tio Sam têm serviços, garantia de assistência à saúde pelo Estado,
acesso. foco na Atenção Básica e etc. É uma reforma singela,
Obviamente, esta reforma provocará impactos do ponto de vista social. Inclusive, não há um avanço
na vida dos estadunidenses e, também, na economia proporcional à polêmica provocada pela sua votação.
do país. Mais do que em qualquer outra nação, o EUA Republicanos, partido de oposição, e até mesmo alguns
compreende a saúde como Democratas (partido do presidente
mercadoria que, segundo os Obama) viram com maus olhos as
preceitos neoliberais não deve propostas da reforma. Segundo
ser controlada pelo Estado. eles, o projeto aumentaria o
Justamente por isso, a maior tamanho do Estado, ao dar ao
potência bélica do mundo não têm governo muito controle sobre
um sistema público de cobertura o sistema de saúde. Isso levou
universal na área de saúde. Existem, alguns congressistas a cometerem
sim, alguns programas financiados o absurdo de considerarem a
pelo governo para populações proposta “socialista”.
específicas, como veteranos das Se dependesse da oposição
Forças Armadas. Porém, a maioria (mais) conservadora (do que o
dos estadunidenses ou não tem governo), as reformas sociais nos
acesso ou quando tem é por meio dos patrões ou por EUA andariam a passos de lesma. Por enquanto, ainda
conta própria. ¹ se tem a chance de caminhar mais rapidamente: na
Um pouco diferente da nossa realidade. Embora, velocidade de uma tartaruga.
os planos de saúde no Brasil também sejam bastante
“influentes”, a população, ainda que de forma precária,² Ramón Chaves
tem acesso aos serviços de saúde.
O atual sistema de saúde estadunidense é bastante
criticado por ser caro e ineficaz. Sem contar no domínio
inabalável das seguradoras, capazes de rejeitar novos
clientes por considerá-los “doentes demais”. A reforma

1 - Para o aprofundamento das questões relativas ao sistema de saúde estadunidense, veja o filme $O$ Saúde, do
diretor Michel Moore.

2 - Não cabe aqui debater as contradições e problemáticas do SUS.

Minha vida é tão confusa quanto a América Central. Por isso não me acuse de ser irracional. (Biquíni Cavadão)
6 polí
UPPs: “... Pois paz sem v
Rio de Janeiro, 8 de Dezembro de 2008. de violência, na medida em que subiu as encomendas das
A cidade está quente. Seus cidadãos, que nessa época armas de guerra, aumentaram rotineiramente –, porém o
“capinatalinas”, mais do que nunca trocam o seu código dos Governador Sérgio Cabral e seu braço direito, o Secretario
direitos humanos pelo código do consumidor, superlotam de Segurança Pública José Mariano Beltrame aliados ao
os espaços imaginários; dipironas da dor que enfraquece e seu “afilhado”, o Prefeito Eduardo Paes e – mas é claro! –
destrói o humano, na sociedade superconsumista: shopping o simpático apresentador melodromático, “Policiólogo”
- centers. O sol brilha na zona sul carioca, o cristo abre os defensor feroz da Pm, Wagner Montes, parecem
abraços e nas suas costas, num dos redutos à margem, no desconhecer o livro urbano e as leis da Favela. E a mais nova
centro dramático e diabólico carioca – O morro do Santa das suas criações, as UPP’S, é mais um dos desdobramentos
Marta – a poderosa e raivosa tropa de ‘’papais-noéis’’ de da política de extermínio e de domestificação das classes
preto, robotizados, com a horripilante “faca na caveira” no pobres e faveladas do Rio. Uma lista: Choque-de-ordem,
peito e o dócil blindado “caveirão”, recarregam os fuzis, câmeras nos becos, aviãozinho Israelense, muros (que
apertam as botas. É hora de subir o Santa Marta, cantar sempre existiram)
com todo o gás o hino da marcha fúnebre: “Homens de para demarcar o
preto qual é sua missão? Entrar na favela e deixar corpos espaço e as pessoas
no chão..Homens de preto o que é que você faz? Eu faço “perigosas”. E
coisas que assustam satanás.” 8 de Dezembro de 2008, neste contexto
coube ao Santa Marta, comunidade localizada no bairro de as unidades de
Botafogo, a ser a primeira a experimentar o gosto amargo polícia pacificadora
da paz – que é imposta. A Paz gerada pelo medo e mantida assumem também
pelo terror. importante papel
Não se assustem! As Unidades de Polícia político, pois pela sua
Pacificadora existem, no sentido estrito do termo, apenas bonita e mentirosa
e, tão somente, na tela da cativante televisão e nos jornais mensagem que
de grande circulação ou, como prefere chamar a camarada passa, será o
Ramón: “caderno de anotação da Burguesia”. Fora destes carro-chefe da
veículos a realidade é cruel e sem maquiagem. Segundo a campanha eleitoral
ONU (Preste atenção, A ONU!?!?!), a Polícia carioca desde de reeleição do Sr.
de 2003 é a número 1 (um) do ranking macabro da violência. Cabral. Segundo o
Neste mesmo ano, como na época publicou o “Estadão”, próprio Beltrame
segundo os dados da própria polícia, 1.915 pessoas a meta é chegar
morreram em decorrência da ação policial, desbancando, a 59 comunidade
desde então, polícias historicamente violentas como a “uppzadas” até o fim do ano, para, inclusive, com a
da África do Sul e a Estadunidense, segunda e terceira continuação do projeto “deixar a cidade pronta para as
colocada, com 631 e 370 óbitos oriundos de ações policiais, Olimpíadas 2016” No português bem claro: Sufocar as
respectivamente. comunidades de baixa-renda para que elas não façam
Isto é para Ilustrar que está em marcha, sobretudo nenhum “barulho” durante o mega-evento mundial,
no município do Rio de Janeiro, a teoria fuzilocêntrica, curando com vacina de Bala de fuzil, o “instinto marginal e
baseada no massivo investimento em material bélico – maldito” dos moradores das comunidades populares.
desde helicóptero blindado à pistola de choque-elétrico Nada mais romântico que a pacificação. Escutamos por
– para combater a violência, grave problema histórico e aí: “Ufa! Enfim o tráfico saiu da favela. A Polícia, guardiã
social fluminense. da vida, tomou posse”. Mudaram-se os homens que os
Gentileza, o profeta, nas ruas escrevia: “Violência carregavam e os apontavam, mas continuam-se os fuzis,
gera violência”, alertando para o modo ineficiente de se apontados para as mesmas cabeças. Muito mais que
combater o crime organizado de apostando em armas, armas, os fuzis são símbolos do que de fato é a vida numa
armas e armas – o que o tempo comprovou, pois os índices Favela, onde viver e morrer é só uma questão de disparo. E

“Não se combate crime organizado mandando blindado pra beco e


tica 7
oz, não é paz é medo...”
a bala não é perdida pois ela tem sempre endereço certo. O Como já de rotina semanal o bar do Zé Baixinho é tipo
Sangue jorrado no asfalto quente é o mesmo – as mesmas uma saída para os jovens e adultos se divertirem. Toda
hemácias o mesmo plasma – dos que durante 400 anos sexta feira acontece um evento chamado de “swing”, que
coloriram de vermelho a história da escravidão. As drogas na verdade é musica do gênero pagode.
não acabaram, elas ainda existem no Santa Marta, na 90% do publico são moradores da comunidade do Santa
Ladeira dos Tabajaras, Cantagalo, Cidade De Deus e Batan, Marta, por isso nós conhecemos todos, já que também
Chapéu-Mangueira e na Babilônia e existirá na Providência, somos moradores (Fiell, Zé Baixinho e Márcia).
Formiga e no Boréu- Futuras UPP’S- Pois o tráfico é um Nessa ultima edição, que já faz mais de um ano, às 3
mercado de empresários muito maiores que os menores horas, chegaram uns sete PMs de forma arrogante. Três
de fuzil russo na mão. policiais adentraram o estabelecimento de fuzis em punho.
Há torturas, humilhações, perseguições no interior das “O bar estava cheio de jovens moradores do Santa Marta”.
UPP’S. “A Pomba branca (paz) tem dois tiros no peito” Ao perceber os PMS, fui saber o que estava acontecendo.
Facção Central. Há gente
que chora e agoniza em dor, PM “x”: Seguinte, vocês têm que desligar o som, pois
seja pelo filho que não existe os vizinhos estão ligando e reclamando de barulho.
mais ou pelo porco fardado Fiell: Olha só, podemos baixar o som e continuarmos
que humilhou e estrangulou nos divertindo sem problema nenhum.
a dignidade da sua filha, PM “y”: Desliga a porra do som, você acha que
enquanto no Fórum Urbano queríamos estar aqui nessa porra, estávamos dormindo,
Mundial da ONU, o Rio é quando fomos chamados. - diz para Márcia, universitária,
aplaudido pela implantação esposa do Fiell.
das UPP’S. Umas dessas Márcia: Olha! Vocês estão aqui para servi e proteger,
pessoas que “suporta” então, por favor, exijo mais respeito comigo, porque
esta insuportável dor é um você está xingando.
morador do Santa Marta. PM: Fiell, ou você desliga o som agora, ou vou ter
Destemido, não se ajoelha. que lhe algemar e lhe conduzir a delegacia.
Ama sua comunidade e
por ela luta, mesmo que Então achei melhor desligar já que naquele momento
seus inimigos sejam muito todos os setes PMs estavam na minha frente me
maiores. Fiell, é Mc, um hostilizando.
militante político-cultural. A policia pacificadora em nenhum momento foi flexível,
Desde o histórico oito de e a toda hora xigando e ameaçando.
Dezembro não se cansa, pois na luta pelo povo ninguém se Realmente está muito difícil viver no morro Santa Marta
cansa. São suas palavras que fecham este convite à reflexão hoje, os moradores vivem sitiados, vigiados e ameaçados.
mais cuidadosa que este textos se propôs a ser, sobre as Só quem sabe o que estamos passando é quem mora dentro
UPP’S. A Bolha um dia na Fiocruz estourou, mas quem do morro e isso não é veiculado, mas seguimos em frente,
vive minuto a minuto à margem da bolha de fato, sabe o lutando por um lugar melhor onde sejamos respeitados
que é sobreviver nesta sociedade. Talvez um fragmento da pela PM, por sermos seres humanos e não lixo.
memória do Fiell, ajude a explicar sua posição e a minha Como eu conheço os meus direitos e como um dos
sobre desigualdade brasileira. Ele aprendeu, muito cedo, responsáveis do estabelecimento, peguei os nomes dos
que desigualdade no Brasil, tem cor. Seus sentimentos têm PMs que estavam naquela ação e, como sempre, um dos
história. Diz aí, Fiell: PMs estava sem sua identificação.
Ass. Rapper Fiell !
- 27/02/2010, Rio de Janeiro, horário: 3h;
- Local: Bar do Zé baixinho, Rua Cabo José, Morro Santa Raphael Calazans
Marta - RJ.

viela, isso só vai gerar mais ira naqueles que moram dentro da favela” (MC Leonardo)
8 brasil
“Educador, a mais nobre de todas as missões!”
(Antonio Gomes Lacerda)

A umento salarial, melhoria nas condições de


trabalho, gratificações, uma política educacional
efetiva e segurança no trabalho: estas foram algumas das
manifestantes e listar as lideranças para uma posterior
perseguição. Assim, torna-se evidente que a plataforma
de governo vigente no país é um conjunto de idéias
reivindicações feitas pelos professores da rede estadual orientadas a legitimar os interesses de uma classe social:
de ensino de a burguesia.
São Paulo que Além disso, um evento em especial vem ganhando
motivaram a destaque: a criminalização e a perseguição feita pelo
greve iniciada no governador José Serra (PSDB) confirma que o tucano é
dia 8 de março. o principal repressor dos protestos. Fato curioso, pois,
A greve, um em ano de eleição para presidência, o governo de Serra
direito previsto está marcado pela ausência de diálogo com o povo, pelo
por lei, é uma uso da violência física por parte dos PMs e pelo caráter
ferramenta fascista de seu mandato; esta ofensiva pode representar
que evidencia a um ‘tiro no pé’.
importância do O movimento estudantil, que enfrenta há tempos
trabalhador num processo de produção, além de expor a ofensiva da grande mídia e um intenso processo de
a dependência da classe dominante em relação ao criminalização, manifesta apoio à luta dos professores
proletariado, por isso, a greve nem sempre é vista com da rede estadual de educação de São Paulo. Afinal, as
“bons olhos” pelos governos conservadores reivindicações são justas e necessárias. Se os educadores,
Em São Paulo, os grevistas que lutam pela garantia que (trans)formam o indivíduo enquanto cidadão e
de seus direitos sofrem com as ações coercitivas da que cumprem o papel mais nobre da nossa sociedade
Polícia Militar. Fica confirmada, mais uma vez, a agressão são desrespeitados e desvalorizados, não podemos ter
sofrida pela Carta Magna do Estado. Há relatos que a expectativas positivas quanto às lutas que ainda virão.
PM infiltrou soldados numa passeata para monitorar os Jorge Luis

Cultura
Globo Rural: o programa do latifúndio

G lobo Rural realmente não parece ser uma boa Em especial, o “abril vermelho” é divulgado com
fonte para uma discussão acerca da cultura, a presunção de um tempo de terror, onde este grupo
mas o é, visto que cultura é o conjunto de de “terroristas” pretende roubar a
crenças, hábitos e manifestações típicos propriedade de grandes grupos do
de uma sociedade em determinado agronegócio de forma injusta e ilegal,
período de tempo. E como todas mas mesmo sendo tendenciosa o texto
as sociedades humanas, a nossa é cita que estas terras são consideradas
voltada aos interesses de uma classe improdutivas.
dominante. Longe de mim querer dar uma
As últimas matérias do Globo conotação de inutilidade ao Globo Rural,
Rural são, em maioria, voltadas ao a qual seria ingenuidade da minha parte,
grande produtor, ao agronegócio, com pois ele cumpre a sua função, mas esta
notícias como: o desembolso do Banco utilidade serviria a quem? Cabe a você,
do Brasil para a safra 2009/2010, novas áreas para o meu caro leitor, refletir e responder esta pergunta.
desenvolvimento do “agrobusiness”, problemas no
escoamento e no cultivo da soja e o “abril vermelho” do Heitor Leon
MST.

O canto do trabalhador. Esse canto que devia ser um canto de alegria soa apenas com um soluçar de dor.
(Paulo Cesar Pinheiro)
aCONTECEU (fora) da pOLI 9
Rio: a chuva é natural, mas as mortes não!

N a edição de fevereiro do Politrecos, a coluna


mundo tinha como título “Haiti: o terremoto
é natural, mas a miséria não!”, muitos de nós lemos,
deslizamentos de encostas são uma das possíveis
conseqüências disso, mas que isso justifica a morte de
mais de 230 pessoas, dentre essas grande parte por
ficamos chocados, e até chegamos a pensar: “nossa, que soterramento? Como podemos tentar compreender
povo sofrido, quanto descaso”. A questão que me leva a um governo que permite a habitação de um lugar que
relembrar esse assunto é: “E o nosso país tão emergente já foi um lixão? A única coisa que nos fica claro é que o
em que se diferenciou do país mais vulnerável do tratamento dado àquela população, o de resíduos, de
continente americano na hora da catástrofe?” dejetos humanos.
Vamos analisar todo um quadro de descaso que se Nunca se usou tanto as palavras remoção e
pintou e diariamente se pinta em nossa cidade sede dos contenção quanto nessa semana, mas por que não usar
Jogos Olímpicos ou, simplesmente, no nosso “purgatório outras como construção e regularização? Enquanto isso,
da beleza e do caos”. No último dia 05/04, o Rio de Janeiro continuamos na nossa “terra dos choques de ordem”
passou por uma chuva de volume recorde e dimensões que em quase nada se diferenciou do país que há um
inesperadas, muito se viu nos jornais posteriores tempinho atrás nos chocou com suas cenas de dor e
explicações meteorológicas recheadas de saber técnico desespero, continuamos abraçados a nossa “estranha
e lamentações tardias de autoridades. Vimos às claras mania de ter fé na vida”. Precisamos tirar toda essa
o que muitas vezes preferimos esquecer, trabalhadores lama de nossa dignidade, toda essa sujeira que nossos
contribuintes residiam em encostas e por conta da chuva gestores tem feito devem também passar por um
muitos viram sua propriedade, seu suor, ser encoberto choque de ordem, comecemos também nossa reação.
pela lama, pelo lixo, frutos do esquecimento.
Sabemos que choveu intensamente e que os Clarice Ferreira

Esportes
E mais uma vez o futebol

C omo normalmente ocorre na maioria dos jornais


e revistas, o futebol tem uma participação das
reportagens e informativos significativamente maior
esporte ganha um viés nacionalista, principalmente no
período ditatorial do Estado Novo. Com isso, ganha uma
nova função, ou melhor, uma função que já poderia ter
que a dos demais esportes, o que não é diferente no em menor escala e que é estimulada: a de manipulação
Politrecos e nem será nesse texto. Só que ele se dedicará ideológica, pois era um meio fácil de atingir as massas, o
a ver a causa dessa centralidade futebolística, ou ao que continuou para depois do governo Vargas, como por
menos uma hipótese para essa causa. exemplo, na época da ditadura militar, com a campanha
Considerando o futebol uma manifestação de brasileira na copa de 70.
caráter social e que esse tipo de manifestação advém Logo, essa ênfase que se encontra contida no futebol
de um processo de construção histórica, deve-se voltar tem suas bases em questões sociais que perpassam pela
ao começo desse esporte, no caso limitando-se ao própria história do Brasil, muitas vezes com funções
Brasil. Assim, o futebol foi introduzido no país ao final políticas e ideológicas. Só que não se pode tirar desse
do século XIX, sendo inicialmente um esporte de elite. esporte a identidade com a população que cria e o seu
Mas já no começo do século XX, já se pode notar uma caráter de cultura popular e brasileira, que foi construído
popularização dele, levando consigo a formação de também nesse processo e que conta com grandes
clubes, o aumento cada vez maior de praticantes, de nomes, como Armando Nogueira, Nelson Rodriguez e
seus admiradores, os torcedores e a uma crescente João Saldanha.
mobilização da imprensa em geral, que não só veio da Gabriel Martins
popularização como também a aumentou.
Agora, na década de 30 e 40, com Getúlio Vargas, esse

Negro não humilhe nem se humilhe à ninguém. Todas as raças já foram escravas também. (Candeia)
10 Literatura em foco
“... Livre do açoite na senzala, preso na miséria da favela...”
A página é branca, mas meu lápis de cor é negro. fim. No infinito, lá longe, a sua dor se converge na minha
Negro que é drama, sente o drama, negro, favelado, e na dos milhões dos seus filhos. Nos ônibus, metrôs e
vagabundo. Preto Carioca, negro brasileiro. trens, nas ruas nas ambulantes e mirabolantes vendas.
Sem rimas e letras estilizadas. A vida que não existe, Vender a força, ser escravo do trabalho. Sem canavial e
pois o que existe é apenas a luta da sobrevivência, sem mina de ouro, agora com muita, e sem falta de absurdo,
vivência. Vida que não cabe no compasso do Caetano se esgotar no canteiro da obra do edifício de luxo e, no
Veloso e do Gilberto Gil. A voz desafinada, retocada pela fim, ser mais um óbito, na fila da emergência do hospital
batida eletrônica que energiza e estremece o corpo, é o Público, atestar para todos, com ônibus incendiados em
grito da liberdade, do excluído. A Poesia sem gramática, meu nome nos atos a canção: “O Sangue do morro, é o
pois rima desgraça. Sem figuras de linguagens, pois são combustível do jato..”
palavras de fuga, da sanguinária realidade do mundo da Se houver volta, é para a mira do 762. Apagado, a
crocodilagem. esperança se sair do anonimato é sendo protagonista
Preto e negro. Duas palavras, um mar de pontos no do “Povo” corpo lamentados por todos, triste estatística
deserto que agoniza. Dói e arde nas mãos, ver que as do nosso povo. Mas nesta noite de lua vermelha e som
correntes de ontem a noite, de manhã amanheceram de bruxa, é aconchegante o chão duro da minha sela,
reconfiguradas na carteira de trabalho sem assinatura, uma das muitas que existem aqui na prisão da miséria, a
e nas lágrimas dos filhos sem leite e sem escola, vendo senzala do meu avô... Dos meus filhos a favela.
seu pai com tinta vermelha no corpo, ser carregado A Página é branca, mas o meu lápis de cor é negro.
no carrinho-de-mão, pela tropa, quando estava no Negro é drama, sente o drama, negro, favelado,
campinho jogando bola. vagabundo. Preto Carioca, Negro Brasileiro.
O açoite arde e explode na costa do meu avô,
suas lembranças tão vivas e presentes o tornam ainda Raphael Calazans
acorrentado a um mundo de arrepios e atrocidade sem

Biografia
Patrono da maior politécnica de saúde do mundo

J oaquim Venâncio nasceu em 1895, seus pais


trabalhavam na Chácara Bela Vista, em Rio
Novo, Minas Gerais, foi criado nesta chácara que era
Lutz, durante muito tempo, até a sua morte em 1955,
aos seus 60 anos.
Joaquim Venâncio era muito respeitado por
propriedade da família de Carlos Chagas. todos no Instituto, e se tornou um exemplo para
Veio para o Rio de Janeiro em 1916 e morava em todos os trabalhadores, além de passar e ensinar
uma habitação da fazenda de Manguinhos, vizinhas dos seus conhecimentos a outros futuros técnicos, sendo
prédios do Instituto Oswaldo Cruz. Começou a trabalhar considerado o primeiro técnico, e mostrando a todos
no instituto como faxineiro dos laboratórios, além de que sempre há como chegar em qualquer lugar, com
zelador do terreno do Instituto, e era muito observado perseverança e esforço. Sua casa, hoje é a chamada casa
por Adolpho Lutz, como sendo alguém inteligente, amarela, um insetário e laboratório de vírus. No dia 19
competente, apesar do fato de ser analfabeto. Com toda de Agosto de 1985, foi homenageado por ser o patrono
essa observação ele passou a trabalhar como auxiliar de de uma escola de saúde na Fundação Oswaldo Cruz, a
Adolpho Lutz. Joaquim Venâncio era autodidata, e se Escola Politécnica Joaquim Venâncio. Joaquim Venâncio
tornou especialista em Zoologia, sua afinidade era tanta ainda hoje é um grande exemplo de profissional
que ele podia reconhecer muitas espécies de sapos técnico.
e rãs apenas pelos sons que faziam. Após a morte de
Adolpho Lutz, depois de trabalhar ao seu lado por 35 Mariana Reis e Julia Barbalho
anos, Joaquim Venâncio trabalhou com sua filha, Bertha

“O racismo é burrice, mas o mais burro não é o racista, é o que pensa que o racismo não existe” (Gabriel, O
Pensador)
mOVIMENTO ESTUDANTIL 11
A passeata não foi televisionada!

“P olicial militar do Batalhão de Choque é visto


ostensivamente armado com um lançador de
granadas durante passeata de estudantes pela Av. Rio
tão hostilizados pelo Estado, isto não justifica, porém,
o abandono das causas afinal, essa repressão não é de
agora.
Branco, no centro do Rio, na tarde desta quarta-feira, Além disso, o que chamou atenção dos estudantes,
dia 24 de março. Na ocasião questionei um sargento após a passeata, foi a não divulgação do protesto.
e um tenente sobre o motivo da presença de PMs Os jovens manifestantes, cientes da manipulação da
fortementes armados, inclusive com fuzis militares, mídia e prevenidos contra tal, já esperavam que no dia
numa manifestação pacífica de estudantes da rede seguinte, como de costume, fosse veiculada pela grande
pública. A resposta que obtive foi algo como “temos mídia a notícia de que “manifestação estudantil provoca
de estar preparados porque eles (os estudantes) estão caos no trânsito e complica e vida dos motoristas”, mas
falando em quebrar catracas (alusão ao passe livre a mídia burguesa mudou sua estratégia.
nos ônibus)”. Essa disposição para o confronto, onde Desta vez, no lugar de fazer referência ao
até palavras de ordem podem engarrafamento, os oligopólios
deflagrar a repressão policial, midiáticos ofuscaram o fato,
reforça meu conceito de que, nas privando, assim, a população
ruas do Rio de Janeiro não temos de tomar conhecimento das
polícia, temos INFANTARIA.” reivindicações dos estudantes.
Estas são as palavras do chargista Uma nova ofensiva da grande
Carlos Latuff que esteve na mídia que é muito lógica por sinal.
passeata e relatou o aparato Ora, se um protesto tem como um
repressor do Estado. de seus objetivos atrair a atenção
Diante de todo poder bélico da população para determinadas
disposto pela PM, alguns reivindicações, nada mais
estudantes mais ingênuos prejudicial do que simplesmente
se perguntam: Que mal nós não transmitir isto para a massa.
podemos fazer? Aparentemente, O movimento estudantil se
nenhum. Porém, os estudantes depara com mais uma ferramenta
são detentores de uma arma disposta pela grande mídia que,
que pode ser muito hostil para o além de possuir subsídios para
Estado: o poder de mobilização criminalizar os movimentos
para promover mudanças. sociais, manipulando a
A iniciação política ocorre na vida de um indivíduo, informação, também tem a opção de simplesmente não
na maioria das vezes, na sua juventude, por isso o veiculá-la.
movimento estudantil é uma potência dentre os
movimentos sociais. Então, o Estado utiliza alguns meios Para melhor discutir este assunto, neste mês, o
intimidadores para oprimirem a ação destes jovens que, Grêmio Politécnico promoverá, no auditório, um debate
possivelmente, conspirarão contra a manutenção do sobre algumas questões do movimento estudantil
Estado burguês. e utilizará a passeata como ferramenta para auxiliar
O que se vê constantemente nessa luta são cenas na discussão e enriquecer o debate. Serão postos em
como estas (foto), policiais fortemente armados para análise os pontos positivos e negativos da passeata, a
“conter possíveis confusões”, mas, na verdade, a sua real participação da politécnica nesse processo de luta, além
função é intimidar o avanço do espírito revolucionário destas questões da “não divulgação” e da intervenção
que sempre contagiou a juventude. policial.
Então, uma possível resposta para a pergunta é que
nós, jovens, detemos sim uma arma e por isso somos Jorge Luis

“Eu vou à luta com essa juventude que não foge da raia a troco de nada, eu vou no bloco dessa mocidade, que
não tá na saudade e constrói a manhã desejada.” (Gonzaguinha)
12 entrevista
“A arte tem que ter liberdade!”
N esta edição do Politrecos contamos com a
presença de um “artista”, tendo em vista o real
sentido da palavra, visto
que ele fosse bem alimentado, educado. É como se você
tivesse abandonado um filho e encontrasse ele 20 anos
depois e cobrasse dele responsabilidade. Dizem que o
que ele não simplesmente funk não tem responsabilidade social, mas que ritmo
faz a arte, mas a defende. tem? Pra mim os que mais têm são o forró e o hip hop,
MC de muito sucesso na mas eles também já perderam isso.
década de 90 nos Bailes É preciso informar, as pessoas não vêem o funk com
Cariocas, ele é compositor bons olhos. Dizem que o funk é pobre, sim, o funk é feito
de músicas que continuam por pobre por isso ele é pobre, mas pobre em que?
presentes e atuais na nossa O Circo de Solei ganha muito quando vem pro Brasil,
realidade, além disso, ele é a entrada mais barata custa R$ 150,00, o baile funk que
o presidente e fundador da custa R$ 6,00 querem proibir. Aí dizem, “mas lá no baile
APAFunk – Associação dos funk não tem gente com o fuzil por alto?”, tem, claro que
Profissionais e Amigos do tem, mas o morador quando sai de casa pra comprar o
Funk. Caros leitores divirtam-se e aproveitem o máximo pão esbarra num fuzil, a questão é: por que que o fuzil só
que puderem dessa riqueza cultural, dessa efervescência incomoda na hora que o morador vai se divertir?”
artística chamada MC Leonardo. Como a APAFunk percebe o Movimento Estudantil?
Como surgiu a APAFunk? O Movimento Funk quer e precisa de espaço de
A APAFunk surgiu da necessidade de mais um setor diálogo com os estudantes, assim como os demais
se unir, a gente não podia mais reclamar sozinho. A movimentos socias. A APAFunk está aberta aos colégios.
gente buscava reconhecimento do Estado, mas depois Fico feliz quando vejo numa reunião, uma “porrada” de
eu percebi que precisava da mobilização das pessoas que meninos discutindo sobre o funk e o direito a cultura.
fazem o funk. O favelado é de esquerda naturalmente, Talvez se eu estivesse prosseguido nos estudos, eu
nós tínhamos que lutar pelo funk! Muita gente me seria como eles. Acho muito legal quando vejo aqueles
achava chato por isso, dizia que não ia dar em nada. garotos nas passeatas, fazendo barulho.
No entanto, eu conheci algumas pessoas importantes O que me entristece é ver na favela os “muleques”
como a Adriana Facina, ela faz pesquisas sobre o funk com um fuzil na mão. Você olha aqueles “muleques” e
e foi fundamental pra associação, ela me entrevistou pensa: “Mas meu Deus do céu... se eles estivessem pelo
em 2008, e me apresentou pra algumas pessoas da menos reagindo”, a APAFunk se identifica com os jovens
revista “Caros Amigos”. Aí eu passei pelas faculdades do Movimento Estudantil porque eles tem reação, e isso
(UFRJ, UERJ, UFF) e consegui unir os universitários, eles nem sempre é bem visto, mas jovem é mal visto até na
abraçaram nossa causa. Através das rodas, cantávamos Igreja. Eu tenho os estudantes como referência.
nossas idéias nas ruas, quem quis escutar escutou, Como a APAFunk pretende reverte essa situação?
levamos 700 pessoas pra ALERJ sem a ajuda de partido, Não querendo calar ninguém, a gente não quer dizer
ônibus ou lanchinho, as pessoas acreditavam na lei que que é bonito ou feio. A arte tem que ter liberdade! A
a gente defendia. A lei foi aceita, mas são só papéis, APAFunk é informação, mobilização e luta, é preciso
se a gente não conseguir liberar os bailes funk nas informar, mostrar que existe outro tipo de assunto,
comunidades vai ser só 50% da nossa vitória. outros caminhos. A APAFunk pretende ter um programa
Em sua opinião, por que o funk encontra-se hoje tão de rádio, fazer concurso de rap, mostrar que o funk e o
ligado à marginalidade e a promiscuidade? funkeiro merecem respeito. A gente pretende falar e
O funk sempre foi ligado a marginalidade e a lutar contra o caveirão, falar do esgoto a céu aberto, mas
promiscuidade, ele sempre foi discriminado, o funk falar através da arte, que é o que a gente sabe fazer, e o
sofre preconceito racial, ele tem uma cor, e esta cor, não que a gente sabe fazer é Funk. Para mostrar o caminho
é a da classe dominante. O funk foi marginalizado, foi é preciso dar o exemplo, a melhor maneira de divulgar é
colocado à margem, mas não é marginal. É como se você fazer acontecer!
criasse um filho e não o desse nada, e ainda sim, quisesse Clarice Ferreira
“Em outdoor a burguesia nos revela, que o pobre da favela tem instinto marginal” (Monobloco)

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