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Politrecos de Abril
Politrecos de Abril
esportes Cultura
E mais uma vez o futebol Globo Rural, o programa do
latifúndio
Educação Brasil
Se você tivesse um filho “Educador, a mais nobre de
com síndrome de down... todas as missões!”
Mundo entrevista
Sacerdócio: dedicação “A arte tem que ter
total à Igreja liberdade”, MC Leonardo
biografia Saúde
Venâncio: Patrono da Reforma de saúde nos EUA:
maior politécnica de saúde avanço em passos de
do mundo tartaruga
2 Informes
Concurso de Redação Camélia da Liberdade! Politrecos on-line:
Pessoal, entra no ar este mês a versão on-line do
Atenção ao início do Concurso de Redação Camélia Politrecos. Nesta versão on-line, estarão disponíveis as
da Liberdade! O tema não poderia ser mais fascinante: edições do Politrecos de 2010 e serão postadas outras
“João Cândido, o marinheiro da Liberdade - 100 anos da matérias além das que estão no jornal, mas é um
Revolta da Chibata”. Quem não se lembra da eterna letra espaço que dependerá da frequente participação de
e música dos compositores João Bosco e Aldir Blanc, todos os leitores. O endereço é o seguinte: http://www.
denominada o “Mestre Sala dos Mares”? politrecosonline.blogspot.com
É direcionado aos alunos do Ensino Médio nas Entrem, comentem, participem e ajudem a construir
redes públicas e privadas e núcleos pré-vestibulares mais essa ferramenta democrática de comunicação.
comunitários no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, nos
âmbitos municipal, estadual e federal. Atenção
Link de inscrição: http://www.portalceap.org Fiquem atentos! Nas próximas semanas haverão
assembléias promovidas pelo grêmio para discutir
assuntos de interesse coletivo.
Editorial:
Rapaziada, e para quem duvidou, chegamos a nossa terceira edição do Politrecos e este mês com mais uma
novidade: além do Politrecos impresso, está no ar, a partir de hoje, o Politrecos on-line. Acessem e participem!
Esta edição traz uma matéria especial na coluna de Política, uma denúncia do que a grande mídia não divulga
sobre as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e conta, inclusive, com o relato do rapper Fiell, morador do Morro
Santa Marta, comunidade uppzada. O MC Leonardo, presidente e fundador da APAFunk, é o entrevistado deste
mês, ele nos conta desde o surgimento do funk até os dias de hoje.
Cumprindo com a nossa promessa de colocar um tema específico nas frases de rodapé de cada edição, neste
exemplar, as frases serão de músicas.
E se seu filho tivesse síndrome de down? O que você faria? Confira na coluna Educação os obstáculos impostos
por esta doença na hora de uma criança ingressar na escola.
O mês de abril ficará marcado na história do Rio devido a chuva que devastou a cidade, por isso, fizemos um
‘Plantão Politrecos’ e adaptamos a coluna
Aconteceu na Poli para discutirmos esse
assunto, confira na página 9!
No exercício de sua função, o Grêmio
Politécnico usa este espaço para manifestar
sua solidariedade aos cidadãos paulistanos
que cumprem a mais nobre de todas as
missões, segundo Antônio Gomes Lacerda.
Descubram quais são os motivos da greve dos
professores de SP.
E mais: o escândalo dos casos de pedofilia
envolvendo integrantes da Igreja Católica;
a biografia do patrono da maior politécnica
de saúde do mundo; entenda a reforma do
sistema de saúde estadunidense; a denúncia
da realidade carioca estruturada numa crônica;
um balanço da passeata do dia 24/03.
Esperamos críticas, sugestões e a
participação de vocês, leitores. Obrigado e
boa leitura! ;D
“Batuque é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio, sambar é chorar de alegria é sorrir de nostalgia,
dentro da melodia.” (Elizeth Cardoso)
educação 3
Se você tivesse um filho com sindrome de down...
S e você tivesse um filho com síndrome de down,
colocaria-o em uma escola especial ou em uma
escola normal? Essa é uma das maiores aflições que
ela, e isso fará se sentir mais inferior ainda, o que não
será bom. Por isso deve haver um acompanhamento
psicopedagógico para as crianças que seguem esse
envolvem os pais de crianças com síndrome de down, caminho.
pois consiste no potencial cognitivo da criança, visto Alguns pais optam por colocar seu filho com
que sofrem de uma deficiência intelectual. É um síndrome de down em uma escola especial, pensando
momento marcante para esses pais, pois muitos não que esse é o melhor caminho para que ele não seja
sabem o que fazer. discriminado, já que ali todos serão iguais. Mas,
A entrada da criança com síndrome de down na assim, ele não conhecerá bem as outras crianças. E
educação infantil regular é positiva se a inclusão for a vida não acaba ali. E quando ele sair da escola? O
bem feita e, desta forma, sua socialização começa a contato direto com as outras pessoas será positivo?
ser muito bem realizada. É necessário entender que Isso muitas vezes é um problema, e essas questões só
a criança não deve apenas adaptar-se aos outros, o se resolvem no decorrer da vida.
essencial é que todas as outras aprendam também Devemos levar em consideração que a educação
a conviver com aquela criança diferente. E isso é um brasileira não é perfeita, nem todas as escolas estão
ponto positivo na formação de todos como cidadãos, preparadas para isso, além do mais nem todas as
pois aprendem que a diferença é normal. Porém crianças têm contatos com outras crianças com
existem também pontos negativos nessa escolha, Síndrome de Down, mas nem por isso devemos
pois a criança nem sempre consegue acompanhar discriminá-las, então pense bem antes de fazer isto.
sua turma e assim, muitas vezes, repete de série, e
ficado para trás acabam se sentindo inferior. Nesta Karine Veiga
nova turma irá encontrar crianças mais novas que
humor
Pérolas Politécnicas Perguntas que você sempre se fez
Por que o Chico Xavier usa óculos escuros? Porque
Uma integrante do grêmio avisa aos seus
os espíritos têm muita luz.
companheiros:
- Agora as reuniões serão semanais, toda terça e
quinta.
Seu Noé, guarde, por favor, um espacinho para duas
bestinhas na sua arca.
Uma aluna pensa alto pelo corredor:
Ass: Duduzinho Paes e Serginho Cabral
- Vou comprar uma mochila térmica para não molhar
meu material.
Micareta na casa paroquial: Padre Folia. Somente
Duas alunas de 2° Lab e uma de 2° Visa, esperando
para menores de 14 anos.
para atravessar a rua, com um ônibus na frente, em
Bonsucesso.
A de Visa vai atravessar e diz:
O que é um negro sendo perseguido por 300
- Não estou ouvindo barulho de carro, pode
brancos? O circuito internacional de golfe!
atravessar.
Umas das alunas de Lab começa a rir e revela às
outras:
Eduardo Paes cumpriu com a sua promessa, deu
- É que eu ia falar: ‘Nossa, que olfato aguçado!’
água e esgoto para o Rio todo.
Ainda me lembro aos três anos de idade, o meu primeiro contato com as grades. O meu primeiro dia na escola.
(Legião Urbana)
4 Mundo
Sacerdócio: dedicação total à Igreja
Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro
são lobos devoradores (Mateus, capítulo 7, versículo 15).
“Estranho, teu Cristo, Rio, que olha tão longe, além. Tem os braços sempre abertos, mas sem proteger
ninguém.” (Cazuza)
Saúde 5
1 - Para o aprofundamento das questões relativas ao sistema de saúde estadunidense, veja o filme $O$ Saúde, do
diretor Michel Moore.
Minha vida é tão confusa quanto a América Central. Por isso não me acuse de ser irracional. (Biquíni Cavadão)
6 polí
UPPs: “... Pois paz sem v
Rio de Janeiro, 8 de Dezembro de 2008. de violência, na medida em que subiu as encomendas das
A cidade está quente. Seus cidadãos, que nessa época armas de guerra, aumentaram rotineiramente –, porém o
“capinatalinas”, mais do que nunca trocam o seu código dos Governador Sérgio Cabral e seu braço direito, o Secretario
direitos humanos pelo código do consumidor, superlotam de Segurança Pública José Mariano Beltrame aliados ao
os espaços imaginários; dipironas da dor que enfraquece e seu “afilhado”, o Prefeito Eduardo Paes e – mas é claro! –
destrói o humano, na sociedade superconsumista: shopping o simpático apresentador melodromático, “Policiólogo”
- centers. O sol brilha na zona sul carioca, o cristo abre os defensor feroz da Pm, Wagner Montes, parecem
abraços e nas suas costas, num dos redutos à margem, no desconhecer o livro urbano e as leis da Favela. E a mais nova
centro dramático e diabólico carioca – O morro do Santa das suas criações, as UPP’S, é mais um dos desdobramentos
Marta – a poderosa e raivosa tropa de ‘’papais-noéis’’ de da política de extermínio e de domestificação das classes
preto, robotizados, com a horripilante “faca na caveira” no pobres e faveladas do Rio. Uma lista: Choque-de-ordem,
peito e o dócil blindado “caveirão”, recarregam os fuzis, câmeras nos becos, aviãozinho Israelense, muros (que
apertam as botas. É hora de subir o Santa Marta, cantar sempre existiram)
com todo o gás o hino da marcha fúnebre: “Homens de para demarcar o
preto qual é sua missão? Entrar na favela e deixar corpos espaço e as pessoas
no chão..Homens de preto o que é que você faz? Eu faço “perigosas”. E
coisas que assustam satanás.” 8 de Dezembro de 2008, neste contexto
coube ao Santa Marta, comunidade localizada no bairro de as unidades de
Botafogo, a ser a primeira a experimentar o gosto amargo polícia pacificadora
da paz – que é imposta. A Paz gerada pelo medo e mantida assumem também
pelo terror. importante papel
Não se assustem! As Unidades de Polícia político, pois pela sua
Pacificadora existem, no sentido estrito do termo, apenas bonita e mentirosa
e, tão somente, na tela da cativante televisão e nos jornais mensagem que
de grande circulação ou, como prefere chamar a camarada passa, será o
Ramón: “caderno de anotação da Burguesia”. Fora destes carro-chefe da
veículos a realidade é cruel e sem maquiagem. Segundo a campanha eleitoral
ONU (Preste atenção, A ONU!?!?!), a Polícia carioca desde de reeleição do Sr.
de 2003 é a número 1 (um) do ranking macabro da violência. Cabral. Segundo o
Neste mesmo ano, como na época publicou o “Estadão”, próprio Beltrame
segundo os dados da própria polícia, 1.915 pessoas a meta é chegar
morreram em decorrência da ação policial, desbancando, a 59 comunidade
desde então, polícias historicamente violentas como a “uppzadas” até o fim do ano, para, inclusive, com a
da África do Sul e a Estadunidense, segunda e terceira continuação do projeto “deixar a cidade pronta para as
colocada, com 631 e 370 óbitos oriundos de ações policiais, Olimpíadas 2016” No português bem claro: Sufocar as
respectivamente. comunidades de baixa-renda para que elas não façam
Isto é para Ilustrar que está em marcha, sobretudo nenhum “barulho” durante o mega-evento mundial,
no município do Rio de Janeiro, a teoria fuzilocêntrica, curando com vacina de Bala de fuzil, o “instinto marginal e
baseada no massivo investimento em material bélico – maldito” dos moradores das comunidades populares.
desde helicóptero blindado à pistola de choque-elétrico Nada mais romântico que a pacificação. Escutamos por
– para combater a violência, grave problema histórico e aí: “Ufa! Enfim o tráfico saiu da favela. A Polícia, guardiã
social fluminense. da vida, tomou posse”. Mudaram-se os homens que os
Gentileza, o profeta, nas ruas escrevia: “Violência carregavam e os apontavam, mas continuam-se os fuzis,
gera violência”, alertando para o modo ineficiente de se apontados para as mesmas cabeças. Muito mais que
combater o crime organizado de apostando em armas, armas, os fuzis são símbolos do que de fato é a vida numa
armas e armas – o que o tempo comprovou, pois os índices Favela, onde viver e morrer é só uma questão de disparo. E
viela, isso só vai gerar mais ira naqueles que moram dentro da favela” (MC Leonardo)
8 brasil
“Educador, a mais nobre de todas as missões!”
(Antonio Gomes Lacerda)
Cultura
Globo Rural: o programa do latifúndio
G lobo Rural realmente não parece ser uma boa Em especial, o “abril vermelho” é divulgado com
fonte para uma discussão acerca da cultura, a presunção de um tempo de terror, onde este grupo
mas o é, visto que cultura é o conjunto de de “terroristas” pretende roubar a
crenças, hábitos e manifestações típicos propriedade de grandes grupos do
de uma sociedade em determinado agronegócio de forma injusta e ilegal,
período de tempo. E como todas mas mesmo sendo tendenciosa o texto
as sociedades humanas, a nossa é cita que estas terras são consideradas
voltada aos interesses de uma classe improdutivas.
dominante. Longe de mim querer dar uma
As últimas matérias do Globo conotação de inutilidade ao Globo Rural,
Rural são, em maioria, voltadas ao a qual seria ingenuidade da minha parte,
grande produtor, ao agronegócio, com pois ele cumpre a sua função, mas esta
notícias como: o desembolso do Banco utilidade serviria a quem? Cabe a você,
do Brasil para a safra 2009/2010, novas áreas para o meu caro leitor, refletir e responder esta pergunta.
desenvolvimento do “agrobusiness”, problemas no
escoamento e no cultivo da soja e o “abril vermelho” do Heitor Leon
MST.
O canto do trabalhador. Esse canto que devia ser um canto de alegria soa apenas com um soluçar de dor.
(Paulo Cesar Pinheiro)
aCONTECEU (fora) da pOLI 9
Rio: a chuva é natural, mas as mortes não!
Esportes
E mais uma vez o futebol
Negro não humilhe nem se humilhe à ninguém. Todas as raças já foram escravas também. (Candeia)
10 Literatura em foco
“... Livre do açoite na senzala, preso na miséria da favela...”
A página é branca, mas meu lápis de cor é negro. fim. No infinito, lá longe, a sua dor se converge na minha
Negro que é drama, sente o drama, negro, favelado, e na dos milhões dos seus filhos. Nos ônibus, metrôs e
vagabundo. Preto Carioca, negro brasileiro. trens, nas ruas nas ambulantes e mirabolantes vendas.
Sem rimas e letras estilizadas. A vida que não existe, Vender a força, ser escravo do trabalho. Sem canavial e
pois o que existe é apenas a luta da sobrevivência, sem mina de ouro, agora com muita, e sem falta de absurdo,
vivência. Vida que não cabe no compasso do Caetano se esgotar no canteiro da obra do edifício de luxo e, no
Veloso e do Gilberto Gil. A voz desafinada, retocada pela fim, ser mais um óbito, na fila da emergência do hospital
batida eletrônica que energiza e estremece o corpo, é o Público, atestar para todos, com ônibus incendiados em
grito da liberdade, do excluído. A Poesia sem gramática, meu nome nos atos a canção: “O Sangue do morro, é o
pois rima desgraça. Sem figuras de linguagens, pois são combustível do jato..”
palavras de fuga, da sanguinária realidade do mundo da Se houver volta, é para a mira do 762. Apagado, a
crocodilagem. esperança se sair do anonimato é sendo protagonista
Preto e negro. Duas palavras, um mar de pontos no do “Povo” corpo lamentados por todos, triste estatística
deserto que agoniza. Dói e arde nas mãos, ver que as do nosso povo. Mas nesta noite de lua vermelha e som
correntes de ontem a noite, de manhã amanheceram de bruxa, é aconchegante o chão duro da minha sela,
reconfiguradas na carteira de trabalho sem assinatura, uma das muitas que existem aqui na prisão da miséria, a
e nas lágrimas dos filhos sem leite e sem escola, vendo senzala do meu avô... Dos meus filhos a favela.
seu pai com tinta vermelha no corpo, ser carregado A Página é branca, mas o meu lápis de cor é negro.
no carrinho-de-mão, pela tropa, quando estava no Negro é drama, sente o drama, negro, favelado,
campinho jogando bola. vagabundo. Preto Carioca, Negro Brasileiro.
O açoite arde e explode na costa do meu avô,
suas lembranças tão vivas e presentes o tornam ainda Raphael Calazans
acorrentado a um mundo de arrepios e atrocidade sem
Biografia
Patrono da maior politécnica de saúde do mundo
“O racismo é burrice, mas o mais burro não é o racista, é o que pensa que o racismo não existe” (Gabriel, O
Pensador)
mOVIMENTO ESTUDANTIL 11
A passeata não foi televisionada!
“Eu vou à luta com essa juventude que não foge da raia a troco de nada, eu vou no bloco dessa mocidade, que
não tá na saudade e constrói a manhã desejada.” (Gonzaguinha)
12 entrevista
“A arte tem que ter liberdade!”
N esta edição do Politrecos contamos com a
presença de um “artista”, tendo em vista o real
sentido da palavra, visto
que ele fosse bem alimentado, educado. É como se você
tivesse abandonado um filho e encontrasse ele 20 anos
depois e cobrasse dele responsabilidade. Dizem que o
que ele não simplesmente funk não tem responsabilidade social, mas que ritmo
faz a arte, mas a defende. tem? Pra mim os que mais têm são o forró e o hip hop,
MC de muito sucesso na mas eles também já perderam isso.
década de 90 nos Bailes É preciso informar, as pessoas não vêem o funk com
Cariocas, ele é compositor bons olhos. Dizem que o funk é pobre, sim, o funk é feito
de músicas que continuam por pobre por isso ele é pobre, mas pobre em que?
presentes e atuais na nossa O Circo de Solei ganha muito quando vem pro Brasil,
realidade, além disso, ele é a entrada mais barata custa R$ 150,00, o baile funk que
o presidente e fundador da custa R$ 6,00 querem proibir. Aí dizem, “mas lá no baile
APAFunk – Associação dos funk não tem gente com o fuzil por alto?”, tem, claro que
Profissionais e Amigos do tem, mas o morador quando sai de casa pra comprar o
Funk. Caros leitores divirtam-se e aproveitem o máximo pão esbarra num fuzil, a questão é: por que que o fuzil só
que puderem dessa riqueza cultural, dessa efervescência incomoda na hora que o morador vai se divertir?”
artística chamada MC Leonardo. Como a APAFunk percebe o Movimento Estudantil?
Como surgiu a APAFunk? O Movimento Funk quer e precisa de espaço de
A APAFunk surgiu da necessidade de mais um setor diálogo com os estudantes, assim como os demais
se unir, a gente não podia mais reclamar sozinho. A movimentos socias. A APAFunk está aberta aos colégios.
gente buscava reconhecimento do Estado, mas depois Fico feliz quando vejo numa reunião, uma “porrada” de
eu percebi que precisava da mobilização das pessoas que meninos discutindo sobre o funk e o direito a cultura.
fazem o funk. O favelado é de esquerda naturalmente, Talvez se eu estivesse prosseguido nos estudos, eu
nós tínhamos que lutar pelo funk! Muita gente me seria como eles. Acho muito legal quando vejo aqueles
achava chato por isso, dizia que não ia dar em nada. garotos nas passeatas, fazendo barulho.
No entanto, eu conheci algumas pessoas importantes O que me entristece é ver na favela os “muleques”
como a Adriana Facina, ela faz pesquisas sobre o funk com um fuzil na mão. Você olha aqueles “muleques” e
e foi fundamental pra associação, ela me entrevistou pensa: “Mas meu Deus do céu... se eles estivessem pelo
em 2008, e me apresentou pra algumas pessoas da menos reagindo”, a APAFunk se identifica com os jovens
revista “Caros Amigos”. Aí eu passei pelas faculdades do Movimento Estudantil porque eles tem reação, e isso
(UFRJ, UERJ, UFF) e consegui unir os universitários, eles nem sempre é bem visto, mas jovem é mal visto até na
abraçaram nossa causa. Através das rodas, cantávamos Igreja. Eu tenho os estudantes como referência.
nossas idéias nas ruas, quem quis escutar escutou, Como a APAFunk pretende reverte essa situação?
levamos 700 pessoas pra ALERJ sem a ajuda de partido, Não querendo calar ninguém, a gente não quer dizer
ônibus ou lanchinho, as pessoas acreditavam na lei que que é bonito ou feio. A arte tem que ter liberdade! A
a gente defendia. A lei foi aceita, mas são só papéis, APAFunk é informação, mobilização e luta, é preciso
se a gente não conseguir liberar os bailes funk nas informar, mostrar que existe outro tipo de assunto,
comunidades vai ser só 50% da nossa vitória. outros caminhos. A APAFunk pretende ter um programa
Em sua opinião, por que o funk encontra-se hoje tão de rádio, fazer concurso de rap, mostrar que o funk e o
ligado à marginalidade e a promiscuidade? funkeiro merecem respeito. A gente pretende falar e
O funk sempre foi ligado a marginalidade e a lutar contra o caveirão, falar do esgoto a céu aberto, mas
promiscuidade, ele sempre foi discriminado, o funk falar através da arte, que é o que a gente sabe fazer, e o
sofre preconceito racial, ele tem uma cor, e esta cor, não que a gente sabe fazer é Funk. Para mostrar o caminho
é a da classe dominante. O funk foi marginalizado, foi é preciso dar o exemplo, a melhor maneira de divulgar é
colocado à margem, mas não é marginal. É como se você fazer acontecer!
criasse um filho e não o desse nada, e ainda sim, quisesse Clarice Ferreira
“Em outdoor a burguesia nos revela, que o pobre da favela tem instinto marginal” (Monobloco)