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Revista de
Publicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal
ARTIGOS
Sobre olimpíadas, pré-sal
e cisnes negros: desafios e
oportunidades para mudança
das instituições orçamentárias
Paulo Carlos Du Pin Calmon
Carlos Leonardo Klein
Fundo soberano
Arthur Oscar Guimarães
Aspectos da evolução
econômica da China e a
integração com os Países
O pré-sal no
de Língua Portuguesa no
âmbito do Fórum de Macau ponto de vista
econômico
Elder Linton Alves de Araujo
ENTREVISTA
Flávio Versiani fala sobre a
economia brasileira, os impactos Graças às reservas descobertas no pré-sal, o Brasil é
ISSN 1677-0668
14 2 editorial
Opção por crescer menos 3 entrevista
Raul Wagner dos Reis Velloso
Flávio Versiani
23
Fundo soberano
Arthur Oscar Guimarães 28 capa
O pré-sal no ponto
33 de vista econômico
Agenda pré-sal: roteiro de
41
Aspectos da evolução econômica
da China e a integração com os
Países de Língua Portuguesa no
âmbito do Fórum de Macau
Elder Linton Alves de Araujo
48
Análise econômica da crise
financeira no Brasil: o caso da
indústria automobilística
Marcel Stanlei Monteiro
Ronaldo Augusto da Silva Fernandes
A assinatura da Revista de Conjuntura pode ser efetuada
contactando o Corecon/DF. O valor da assinatura é de
R$ 80,00 anual, o que equivale a quatro edições da revista.
Conjuntura
Revista de
experiente
num mundo em
transformação
Flávio Versiani, o mais antigo professor de economia Associação de Centros de Pós-Graduação em Economia
da Universidade de Brasília (UnB) conta, em entrevista - ANPEC, que tem tido papel central no intercâmbio en-
para a Revista de Conjuntura do Corecon-DF, sobre a tre pesquisadores da área. Foi uma fase movimentada,
sua trajetória e experiência profissional. O economista em que se procurava de certa forma compensar, com
fala também sobre o cenário econômico do País, os im- o desenvolvimento da análise da economia brasileira e
pactos na industrialização brasileira e sobre o Brasil ser do pensamento crítico na academia, o fechamento que
uma potência mundial a médio prazo em razão do seu o regime militar impunha à sociedade.
potencial de produção de alimentos e bioenergia. Com um interregno de dois anos na direção do
IPEA, em Brasília - uma experiência interessante e ins-
Conjuntura – Nos conte um pouco da sua trajetória trutiva -, e um período equivalente em universidades
como professor da UnB? Sua produção acadêmica? E no exterior, permaneci deste então ligado ao Departa-
outras experiências profissionais? mento de Economia da UnB, em tempo integral. Nessas
Flávio Versiani – Nos anos setenta, um grupo de três décadas, é claro, muitas coisas mudaram e evoluí-
jovens economistas, com doutorado recém obtido no ram, na Universidade (outras involuíram). Destaco uma
exterior, transferiu-se para Brasília e “ocupou” o Depar- evolução positiva: o interesse crescente demonstrado
tamento de Economia da UnB. Fiz parte desse grupo, por nossos estudantes de graduação em participar de
junto com Edmar Bacha, Charles Mueller, Francisco Lo- atividades de pesquisa e de ensino. Em minha área de
pes, Ricardo Lima e outros mais. Houve, nesse período, pesquisa, por exemplo, História Econômica, tem havido
expansão significativa do ensino e da pesquisa em Eco- uma grande procura de estudantes em participar dos
nomia, no País, e o Departamento esteve na vanguarda projetos que coordeno, não só como bolsistas do Pro-
desse processo. Nosso mestrado foi dos primeiros a se- grama de Iniciação à Pesquisa, patrocinado pelo CNPq,
rem criados; formou-se aqui o primeiro programa “PET” mas também como voluntários, sem qualquer remune-
de Economia do Brasil, no curso de graduação; e o De- ração, senão a que decorre do gosto da pesquisa e da
partamento participou ativamente da criação, então, da descoberta. Outro exemplo gratificante é a disposição
‘‘
Cláudio Reis/ UnB Agência
A retomada do crescimento na economia
brasileira e mundial, que muitos prevêem para o
próximo ano, deverá refletir-se favoravelmente
em nossa indústria; mas dificilmente se atingirá
um nível alto e sustentado de expansão da
produção industrial sem que prossiga o processo
de transformação estrutural dessa atividade.
Flávio Versiani
mostrada por alunos/as em participar do curso de In- além de analisar e relatar esses documentos para o
trodução à Economia, oferecido pelo Departamento, Conselho. Foi, ao cabo, uma experiência compensadora,
como monitores, assumindo, com entusiasmo e dedi- já que foi possível, ao longo desse período, aperfeiçoar
cação, várias tarefas auxiliares – e dessa forma contri- um sistema eficaz de acompanhamento, tanto das re-
buindo para aumentar, de forma muito significativa, a ceitas e gastos da Universidade, como das realizações
eficiência do ensino da disciplina. E contribuindo tam- resultantes desses gastos, em termos das atividades-
bém, evidentemente, para o aperfeiçoamento de sua fim da instituição. Uma importante ferramenta de pla-
formação profissional. nejamento e gestão.
Penso, aliás, que a Universidade não responde de
forma suficiente a esse interesse e disposição mostra- Conjuntura – A conjuntura atual é de crise. Na sua
dos pelos alunos. Os estudantes frequentemente são avaliação quais são os principais impactos na industria-
vistos como simples objeto passivo do processo de lização brasileira atual?
aprendizagem, quando poderiam, com muita vanta- Flávio Versiani – A indústria brasileira, depois
gem para si próprios e para a Universidade, ser mobili- de ter sido o carro-chefe da economia por um longo
zados para uma participação mais ativa nas atividades período, perdeu impulso nas últimas três décadas: o
de ensino e pesquisa. Seria muito desejável que a ad- crescimento anual da indústria de transformação, que
ministração das áreas acadêmicas desenvolvesse me- havia atingido a média impressionante de quase 9% ao
canismos para facilitar essa participação. ano, entre 1947 e 1980, caiu verticalmente, descendo
No que toca à administração universitária, tive uma abaixo de 1,5%, de 1980 a 2007. Não há consenso quan-
experiência desafiadora: fui, durante quase 15 anos, to à importância relativa dos fatores que contribuíram
membro do Conselho Diretor da Fundação Universida- para provocar essa guinada, mas entre eles ressalta a
de de Brasília. O maior desafio desse colegiado, no perí- baixa eficiência produtiva de setores que surgiram e se
4 odo, foi o desenvolvimento de instrumentos de gestão desenvolveram ao abrigo da concorrência internacio-
financeira e planejamento apropriados a uma univer- nal, devido a políticas governamentais protecionistas –
Conjuntura
sidade, como a UnB, que cobre a maior parte de seus como é o caso de grande parte de nossa indústria. Com
gastos de manutenção e custeio com recursos pró- o processo de abertura da economia, a partir do final
prios, originários da venda de serviços à sociedade e de dos anos oitenta, esses setores não puderam competir
seu patrimônio imobiliário. Como único economista no com a produção estrangeira, e perderam mercado.
Conselho, coube-me, ao longo desse período, colaborar É verdade que, em contrapartida, outros ramos da
na implantação de uma sistemática de relatórios tri- indústria nacional já atingiram bons níveis de compe-
mestrais, orçamentário-financeiros e de planejamento, titividade externa, de que é testemunho o crescimento
Revista de
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apreciável das exportações de produtos manufatura- – para importar máquinas e equipamentos, visando a
dos, nos últimos anos. Mas a crise atingiu pesadamente modernização de suas fábricas, e o conseqüente au-
esses setores mais competitivos, dada a queda brusca mento de produtividade e de competitividade. Esse é
de demanda internacional (como foi o caso de auto- o melhor caminho: em lugar de seguir reclamando do
móveis e aviões), o que contribuiu para a violenta redu- baixo preço do dólar, e demandar uma improvável ação
ção da atividade industrial observada em 2008: entre o do governo para reverter tal tendência, como fazem
primeiro trimestre de 2009 e o trimestre corresponden- alguns, é bem preferível valer-se do aspecto positivo
te do ano anterior, a produção da indústria de transfor- dessa conjuntura para dar um salto à frente, um salto
mação experimentou uma baixa real de quase 13%. de produtividade. Na realidade, não há alternativa: é 5
A retomada do crescimento na economia brasileira e modernizar-se e tornar-se competitivo, ou perecer.
mundial, que muitos prevêem para o próximo ano, deve-
rá refletir-se favoravelmente em nossa indústria; mas difi- Conjuntura – Quais os efeitos da escravidão con-
cilmente se atingirá um nível alto e sustentado de expan- temporânea (por dívida) no Brasil na atual conjuntura
são da produção industrial sem que prossiga o processo econômica? A negação dos direitos trabalhistas e so-
de transformação estrutural dessa atividade. Ou seja, ciais interfere na competitividade dos mercados?
sem que siga aumentando o peso relativo de empresas Flávio Versiani – A escravidão deixou muitas mar-
e setores que possam competir num mundo globalizado. cas em nossa sociedade, e de certa maneira sobrevive
Uma das chaves dessa competitividade, como vários es- em manifestações contemporâneas – e não apenas sob
tudos comprovam, é a capacidade de absorção de novas a forma de trabalhadores forçados a permanecer em
tecnologias de produção, visando maior produtividade, e propriedades rurais, presos por supostas dívidas com o
de desenvolvimento de novas linhas de produção. Numa patrão, como às vezes a imprensa noticia. Em certos ca-
palavra, uma busca constante de inovações. sos, relações de trabalho envolvendo trabalhadores de
Um cenário favorável pode desenhar-se, na situa- baixa qualificação, e não organizados (como é o caso
ção atual, caso os industriais brasileiros aproveitem a de empregadas domésticas), mostram aspectos que se
tendência ora observada à valorização do real – que, aproximam da escravidão: não é raro, por exemplo, que,
por um lado, tem efeito negativo, reduzindo os preços em regiões do País onde há muito desemprego, jovens
da produção estrangeira que concorre com a nacional empregadas domésticas recebam salário muito abaixo
do mínimo, ou mesmo não recebam salário algum de atentar, também, para o fato de que exigências traba-
seus patrões. lhistas são, muitas vezes, uma forma disfarçada de pro-
O autoritarismo excessivo no trato de empregados tecionismo; nesse caso, são inaceitáveis.
– a atitude de “senhor de engenho”, comum em certos
meios - é também, pode-se supor, um resquício do tipo Conjuntura – Alguns economistas internacionais
de relação prevalecente entre senhores e escravos. São projetam o Brasil como uma potência mundial a mé-
traços culturais negativos, que cumpre extirpar de nos- dio prazo em razão do seu potencial de produção de
sa sociedade. Quanto à relação entre observância de alimentos e bioenergia (além de petróleo com o pré-
direitos trabalhistas e competitividade, é verdade que sal), o senhor concorda com esse cenário?
consumidores mais conscientizados, especialmente Flávio Versiani – Sem dúvida, o Brasil foi bem agra-
na Europa e na América do Norte, costumam resistir à ciado na “loteria” de distribuição de recursos naturais
compra de artigos cuja produção possa ter envolvido, entre países, no que se refere a terras agricultáveis, o
de alguma forma, mau tratamento de trabalhadores, que faz do País um fornecedor importante de produtos
reduzindo a competitividade de tais artigos. Isso deu alimentares e de álcool, no mercado internacional. E há
origem à idéia de uma certificação de origem, atestan- perspectivas de expansão da produção, pois ainda há
do que as relações de trabalho são corretas naquela terras a serem incorporadas, e têm-se obtido ganhos
produção, analogamente à certificação ambiental. O expressivos de produtividade, inclusive pela atuação
que pode, certamente, ter uma influência positiva, in- da EMBRAPA. Mas há obstáculos do lado da demanda,
duzindo práticas trabalhistas mais justas. Mas é preciso dados principalmente pelo protecionismo, muito arrai-
gado em vários países que são grandes consumidores
– e não apenas países mais desenvolvidos: a resistência
da Índia, preocupada em resguardar sua agricultura de
pequena escala da concorrência de produtores mais
eficientes, foi um dos principais entraves a um acordo,
nas últimas negociações da Rodada de Doha. Cabe à
diplomacia um papel crucial, nesse aspecto. No caso do
álcool, um crescimento expressivo do consumo, a pon-
to de transformar o produto em commodity de peso no
comércio internacional, dependerá também da garan-
tia de um suprimento regular para os consumidores, o
que provavelmente demandaria maior difusão geográ-
fica de sua produção. O pré-sal é ainda uma promessa,
enquanto não se equacionam os problemas técnicos, e
principalmente financeiros, de sua extração. Mas uma
promessa plena de perspectivas favoráveis: pode ser
um novo bilhete premiado, em nossa história econô-
Possivelmente, o ano de 2009 será lembrado como No fundo, o que está sendo realmente questionado
um dos mais auspiciosos do século. Repleto de boas são as bases institucionais pelas quais se operam as polí-
novas, o calendário deste ano confirmou a presença de ticas públicas no País. No âmago dessa questão, desafia-
vastas reservas de petróleo na camada do pré-sal da se a capacidade de governança das finanças públicas.
costa brasileira, apontou a retomada do nível da ativida- O problema é que, embora não seja novo esse de-
de econômica e, mais recentemente, registrou a escolha bate continua a avançar de forma muito fragmentada,
do Rio de Janeiro como a sede da olimpíada de 2016. e em arenas quase desconexas. De um lado, prevalece a
Na mesma proporção da importância desses fatos, perspectiva que privilegia análises sobre o impacto das
surge uma desconfiança a respeito dos seus reais des- contas públicas na política macroeconômica. Em para-
dobramentos. Mais especificamente, há dúvidas pro- lelo, discutem-se as condicionantes da produtividade
fundas sobre a capacidade do governo em capitalizar do gasto público e os efeitos distributivos das finanças
adequadamente esses ativos. Há incertezas quanto ao governamentais. Por fim, há ainda uma terceira verten-
retorno dos investimentos necessários à exploração te importante – e que tem crescido muito nos últimos
das novas riquezas, e quanto à trajetória futura das anos – fundada na demanda por maior transparência
contas públicas, já estremecidas pela política fiscal an- e participação sistemática da sociedade nas escolhas
ticíclica. Analogamente, há quem duvide da oportuni- orçamentárias.
dade e da conveniência de realizar um evento de porte A conseqüência mais clara desse fracionamento
global, como é o caso dos Jogos Olímpicos. equivocado da questão é o retardamento de sua com-
Tal cepticismo, todavia, não se baseia apenas em preensão. É embaraçoso perceber como dificuldades de
agouro. De fato, boa parte dessas preocupações se jus- consciêncitização dos problemas nacionais impedem
tifica em algumas das páginas recentes da história do o aproveitamento de oportunidades de transformação
País, manchadas por diversos escândalos envolvendo institucional, tão necessárias e raras em nações em de-
incompetência, desperdícios e desvios na destinação senvolvimento. Diante disso, o principal propósito des-
dos recursos públicos. te texto é resgatar certas conexões inalienáveis a esse
debate. Em primeiro lugar, argumenta-se que essas três tendência natural é a realização de ajustes meramente
perspectivas precisam ser integradas para que se com- pontuais, mantendo-se estáveis as bases institucionais
preenda melhor seu objeto de análise. Por exemplo, não existentes. A continuidade dessa estratégia de ajuste se
parece razoável estabelecer uma trajetória sustentável constitui em grave erro. É necessário e urgente, apesar de
para a dívida pública sem que se considerem os aspectos todos os obstáculos, repensar e transformar as institui-
relacionados ao impacto do gasto público ou à gover- ções que moldam a infraestrutura orçamentária do País.
nança democrática. Na verdade, o eixo estruturador do
debate sobre gasto público deveria ser a adequação das Avaliando as instituições orçamentárias
instituições orçamentárias existentes e não as dimensões
específicas da gestão das finanças públicas. Ao longo da história, cidades, feudos, impérios e de-
Um segundo ponto, talvez mais importante, diz res- mocracias estabeleceram instituições para lidarem com
peito à inadequação das instituições orçamentárias bra- questões relacionadas às finanças públicas. Essas institui-
sileiras e sobre as dificuldades de modificá-las. Como ções têm um papel importante na história desses esta-
‘‘
conseqüência, diante da necessidade de mudanças, a dos. Como bem afirmou Joseph Schumpeter, O espírito de
um povo, seu nível cultural, sua estrutura social, o resultado
das suas políticas – tudo isso e muito mais está refletido em
sua história fiscal, desnudada de todas as frases. Aquele que
consegue ouvir sua mensagem é também capaz de discer-
O conjunto de instituições nir, com maior clareza, os trovões da história.1
que regem as decisões O conjunto de instituições que regem as decisões
sobre finanças públicas sobre finanças públicas contituem as “regras do jogo
orçamentário”. Ela orienta a interação estratégica en-
contituem as ‘regras do jogo
tre inúmeros atores, dentro e fora do governo, da qual
orçamentário’. Ela orienta a resulta um determinado nível e perfil das receitas e
interação estratégica entre despesas do governo. Nesse sentido, ela condiciona as
inúmeros atores, dentro e fora relações econômicas, sociais e políticas entre atores en-
volvidos nas políticas públicas.
do governo, da qual resulta As regras do jogo orçamentário podem ter tanto um
um determinado nível e caráter formal, como leis, decretos e outras normas ex-
perfil das receitas e despesas pressamente estabelecidas, como podem ser também
de natureza informal, estabelecendo crenças, valores e
do governo. Nesse sentido,
8
ela condiciona as relações
econômicas, sociais e políticas
entre atores envolvidos nas
políticas públicas.
‘‘ prinícipios para interpretar e implementar as regras for-
mais.2 Essa densa rede de normas formais e informais
estabelece a infraestrutura institucional subjacente ao
processo decisório que determina a alocação de recur-
sos públicos no País. Vale destacar que ela envolve e
influencia cada uma das fases do ciclo de alocação de
recursos: a formulação, a implementação, a avaliação e o
controle do orçamento.
Conjuntura
1
SCHUMPETER, J.A. 1918. The crisis of the tax state. In: SWEDBERG R.A. (Ed.) Joseph A. Schumpeter: the economics and sociology of capitalism.
Princeton, NJ: Princeton University Press. 1991.
2
NORTH, D.C at alli. Violence and social orders: a conceptual framework for interpreting recorded human history. Cambridge: Cambridge
University Press, 2009.
Revista de
‘‘
3
MUSGRAVE, R.A. Teoria das finanças públicas. São Paulo: Editora Atlas, 1973.
‘‘
A inadequação da infraestrutura institucional
existente
Formular, gerir e avaliar políticas públicas tem se tor- que seja consistente.
nado tarefa muito mais complexa. Nesse novo contexto, Já o marco regulatório hoje existente, é impreci-
cabe indagar: como as regras do jogo orçamentário se so, instável e, muitas vezes, predatório. Há uma su-
adéquam a essa nova situação? Seriam elas apropriadas perdosagem de controle em determinadas áreas,
ao enfrentamento dos desafios decorrentes das boas submetendo programas e projetos a um sistema de
notícias surgidas ao longo desses últimos meses? múltiplas chibatas, onde diferentes reguladores atuam
Revista de
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simultaneamente sobre as mesmas dimensões opera- idéias, quase sempre incompatíveis entre si e dificultam
cionais do programa. Por outor lado, há pouca ênfase a formação de consenso sobre o tema.
na avaliação da performace ou na análise de resultados b) As dificuldades na percepção dos benefícios das
e impactos. Esse modelo regulatório gera custos tran- mudanças. Os efeitos de alterações nas instituições or-
sacionais altíssimos e obstaculariza a inovação e o em- çamentárias podem gerar ganhos de produtividade no
preendedorismo nas políticas públicas. setor público, maior transparência, marcos regulatórios
Finalmente, quanto à governança democrática, é claros e redução de incerteza na relação entre atores
notória a escassez de mecanismos que permitam o dentro e fora do governo. Esses efeitos têm o potencial
controle social, bem como é inegável a carência de are- de gerar ganhadores e perdedores e, se são difíceis de 11
nas decisórias estruturadas para permitir a efetiva par- serem mensurados, podem resultar na falta de apoio
ticipação popular. ou mesmo em resistências às mudanças.
É importante ressaltar que ao apontar espaços de c) Os altos custos transacionais das mudanças nas re-
aperfeiçoamento não significa negar a importância gras do jogo orçamentário. A área orçamentária é mar-
dos avanços ocorridos no passado. Muito pelo contrá- cada por regras de “alta densidade” e grande interrelação
rio. Desde a Lei nº 4.320 foram feitos avanços impor- técnica com outras normas e princípios. Há também altos
tantes, os quais devem ser valorizados e reconhecidos. custos de instalação e sérios problemas de ação coletiva,
A crítica aqui formulada se origina da percepção de visto que essas mudanças afetam diferentes entidades
que as regras do jogo orçamentário hoje existente não dentro e fora do setor público.
atendem adequadamente aos cinco critérios acima
mencionados. Esse parece ser hoje o consenso entre Em função de tais dificuldades e diante dos novos
‘‘
especialistas, analistas e gestores. desafios que surgem, a tendência é a manutenção da
As dificuldades de mudança
‘‘
sobre os princípios de causalidade e inferência feita por
Hume, Mill e Popper. Há semelhanças entre a análise de
Taleb e de Keynes, e Skidelsky percebeu isso com clare-
za. Em função disso, Skidelsky desafia os economistas
Os investimentos a “construir modelos que sejam robustos o suficiente
para resistir ataques dos cisnes negros”.
requeridos serão grandes, A olimpíada e as descobertas no pré-sal são exce-
complexos e envolverão lentes notícias para o País. Mas embora os nossos mo-
políticas públicas a serem delos de gestão macroeconômica e de investimentos,
assim como o conjunto de instituições orçamentárias
formuladas e implementadas
hoje existentes não tenham espaço para previsão des-
transversalmente e com ses riscos, eles são reais e importantes.
foco multidimensional. Há Os investimentos requeridos serão grandes, com-
problemas de ação coletiva plexos e envolverão políticas públicas a serem formu-
ladas e implementadas transversalmente e com foco
importantes a serem superados
12
que demandarão grande
esforço para gerar cooperação,
coordenação e comunicação
entre os atores envolvidos.
‘‘ multidimensional. Há problemas de ação coletiva im-
portantes a serem superados que demandarão grande
esforço para gerar cooperação, coordenação e comu-
nicação entre os atores envolvidos. Há riscos externos
também, em função de mudanças no cenário econômi-
co e político internacional.
O desafio agora é estabelecer modelos de análise
Conjuntura
4
O vídeo da apresentação de Robert Skidelsky está disponível no site http://www.guardian.co.uk/commentisfree/video/2009/feb/26/robert-
skidelsky-capitalism-crisis em 01/10/2009
5
TALEB, N.N. A lógica do cisne negro: o impacto do altamente improvável. Rio de janeiro: Editora Best Seller, 2009.
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outras coisas, capazes de resistir aos inevitáveis ata- e municipal, e estabelecimento de “regimes simplifica-
ques dos cisnes negros. dos” de execução e prestação de contas.
Assim como os investimentos preconizados na olim- • Integração dos instrumentos de acompanhamento e
píada e no pré-sal poderão gerar benefícios duradou- gestão de informação, classificações, sistemas e procedi-
ros para a infraestrutura física do País, metamorfoses mentos técnicos. A divisão entre planejamento, orçamen-
na infraestrutura institucional e, mais especificamente, to, contabilidade e controle é um obstáculo importante
nas instituições orçamentárias,tendem a ser o mais im- para a programação orçamentária. A heterogeneidade
portante dos legados a ser deixado para as gerações das práticas entre entes federativos precisa ser reduzida.
futuras. Portanto, a medida do sucesso da olimpíada de • Mudança no modelo regulatório das finanças públi- 13
2016 talvez não seja o número de medalhas conquista- cas com melhor coordenação entre as agências envolvi-
das pela delegação brasileira, e nem mesmo a quanti- das e consolidação das ações fiscalizatórias. A presença
dade de turistas visitando nosso País, mas sim as trans- de multiprincipais e múltiplas chibatas da forma como
formações duradouras e necessárias às instituições que se apresenta no País viola grande parte das lições sobre
regem o jogo orçamentário. Essa pode ser a “janela de incentivos e efetividade da regulação.
oportunidade” para que essas mudanças, tão difíceis de • Estabelecimento de uma agência independente
ocorrer, possam ser finalmente implementadas. para fixação de normas orçamentárias e de certificação
Embora o objetivo desse artigo seja tão somente re- de pessoas e de sistemas no setor público, especialmen-
fletir sobre a necessidade e a urgência de mudanças nas te no âmbito dos investimentos públicos. Nesse sentido,
instituições orçamentárias, e se creia que essas sugestões há muito a ser aprendido com os sistemas de certifica-
devam ser construídas a partir de um processo de reflexão ção já existentes na área de investimentos privados.
coletiva, cabe apontar, mesmo correndo o risco da super- • Apoiar iniciativas para o estabelecimento do mer-
ficialidade, algumas medidas e caminhos como sugestão: cado de títulos públicos estaduais e municipais para
• Promover, de forma integrada, o debate sobre as- financiamento de investimentos de infraestrutura, com
pectos macroeconômicos e microeconômicos do setor normas que privilegiem a transparência e a aprovação
público. da emissão de títulos a partir de plebiscitos.
• Incentivar a simplificação de normas e procedimen- • Estabelecer normas de conduta precisas para todas
tos orçamentários. as entidades prestadoras de serviço aos governos, esta-
• Implementar instrumentos que permitam a contrata- belecendo isonomia com as entidades públicas no que
ção de resultados e a flexibilização do controle dos gastos. se refere à transparência, prestação de contas e com-
• Incentivar o desenvolvimento de instrumentos que promisso com o interesse público.
favoreçam a aferição de desempenho e não o controle • Fortalecer a transparência das contas públicas, de-
administrativo ou de insumos. Há iniciativas já em an- terminando a divulgação imediata e detalhada pela
damento no setor público brasileiro nessa direção que Internet de todos os gastos acima de R$ 25 mil reais.
precisam ser sustentadas e disseminadas. • Dar ampla transparência, inclusive disponibilizando
• Incentivar a implementação de sistemas avaliativos pela Internet, de todos os convênios, contratos e outros
que gerem informações úteis e que possam subsidiar o arranjos que impliquem em venda de patrimônio ou
processo decisório referente às políticas públicas, espe- transferência de recursos entre entidades federativas e
cialmente o processo orçamentário. em pagamentos para o setor privado.
• Estabelecer um novo quadro de referência para
a programação de médio prazo, melhor integrado ao
Carlos Leonardo Klein
orçamento e que dê credibilidade e transparência aos
acordos intertemporais, especialmente na área de in-
Paulo Carlos Du Pin Calmon
vestimentos estratégicos. Economista pela Universidade de Brasília,
• Reconhecimento da heterogeneidade das organi- mestre em Economia - Vanderbilt University e
doutor em Políticas Públicas - University of Texas at Austin.
zações no setor público, inclusive no âmbito estadual
ARTIGO Opção por crescer menos
Raul Wagner dos Reis Velloso
Desde a promulgação da Constituição de 1988 o consumo. Juntando a esses os gastos com assistência
Brasil vem pondo em prática um modelo fiscal que visa médica e saúde pública, além das demais despesas cor-
à expansão e sustentação da demanda agregada oriun- rentes, onde os gastos têm crescido um pouco menos,
da de certos segmentos, com base em gastos diretos chega-se à parcela majoritária de 95% do orçamento
de pessoal e transferências do orçamento da União. público ou 16,3% do PIB (2008). Com exceção de anos
Trata-se dos segmentos contemplados exatamente pe- de crise aguda, e conforme atesta o gráfico 1, essa par-
los itens de maior peso no gasto: previdência, pessoal cela vem crescendo sistematicamente acima do PIB há
e assistência social, e correspondendo basicamente vários anos, cabendo notar que há bem pouco tempo,
a funcionários públicos, aposentados e pensionistas, em dezembro de 2003, ela representava bem menos –
além de beneficiários de programas de transferências 14,8% do PIB, ou seja, cerca de 1,5 ponto percentual do
de renda, onde os gastos se destinam basicamente a PIB (ou R$ 43 bilhões) a menos do que atualmente.
Gráfico 1
Tx.Cresc.% Real da Desp.Não Fin.Corrente da União e do PIB (ult.12 meses), dez03 a ago09
14
Conjuntura
Revista de
‘‘
‘‘
final, o total dos gastos cresceu 10,8%, taxa essa que, de ção, que, em várias seqüências de subidas, alcançaram
níveis historicamente muito elevados até um pouco
antes da crise de 2008.
A liquidez mundial passou a se expandir considera-
velmente, aumentando fortemente os movimentos de
A liquidez mundial capitais, sob várias modalidades, particularmente para o
Brasil. Em conseqüência, as taxas de risco passaram a cair,
passou a se expandir o mesmo sucedendo com as taxas de câmbio e as taxas
consideravelmente, de juros, expandindo-se o crédito interno e os prazos de
aumentando fortemente financiamento. Subiram aceleradamente as reservas in-
ternacionais, e a dívida externa pública não apenas ze-
os movimentos
rou, como hoje se transformou em crédito líquido.
de capitais, sob Ao lado disso, as importações de bens de capital e
várias modalidades, os investimentos privados subiram bastante. Os inves-
particularmente para o timentos públicos também subiram porque, mesmo
se mantendo a política de geração de altos superávits
Brasil. Em conseqüência, as fiscais, a arrecadação de tributos passou, sob a influên-
taxas de risco passaram a cia do boom mundial, a crescer até acima do próprio
cair, o mesmo sucedendo crescimento da economia (veja gráfico 2). Ao final, a
fase 2002-2008 acabou testemunhando uma expressi-
com as taxas de câmbio
16 e as taxas de juros,
expandindo-se o crédito ‘‘ va redução da razão dívida/PIB, graças, ainda, a maiores
taxas de crescimento da economia, quebrando-se o cír-
culo vicioso sem mudar a política de gastos. Do pico
Conjuntura
Gráfico 2
Tx.Cresc.% Real da Rec. Liq. da União, do Ind.de Prod. Indl. e do PIB (ult.12 meses), dez03 a ago09
18
Conjuntura
1
Confronte-se, a propósito, a queda de 15,8% do índice de produção industrial do IBGE, em dezembro de 2008, contra idêntico mesmo do ano
precedente, com a segunda maior queda na série contemplando o período de 1992 a 2009, de 11,9%, em agosto de 1992.
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Gráfico 3
Tx.Cresc.% Real da Rec. Liq. da União e da Desp. Não Financ. Corrente da União (ult.12
meses), dez03 a ago09
19
significativa logo no início da crise, eventuais pressões taxa de crescimento da receita líquida real da União
inflacionárias se dissiparam rapidamente dentro do passou, após a crise, a se situar entre aquelas duas.
quadro recessivo que se formou. Em conseqüência, e Na reação à crise, além de o BC ativar a política mo-
também sob o impacto das desonerações fiscais apro- netária, seja pela redução da taxa Selic (que caiu de
vadas pelo governo para o setor automobilístico e ou- 13,75 para 12,75% na reunião de 21.01.09, e continuou
tros, houve forte queda também da arrecadação de caindo até atingir 8,75% na reunião de 22.07.09), seja
impostos (ver gráfico 2). pela liberação de depósitos compulsórios, entre outras
Como se vê, para os últimos doze meses termina- medidas de alívio monetário, o governo resolveu deter-
dos em julho último e a partir do final do ano passado, minar aos bancos oficiais que expandissem suas opera-
a taxa de crescimento da receita líquida real da União ções de crédito, para tentar compensar o encolhimento
(com base no deflator implícito do PIB), que, desde de- que vinha ocorrendo no âmbito das instituições finan-
zembro de 2003, crescia sistematicamente tanto acima ceiras privadas. Além disso, decidiu também atuar no
do índice de produção industrial como do PIB, passa, lado fiscal, aumentando especialmente os gastos cor-
então, a cair. Até julho último, essa queda fica abaixo rentes. Isso pode ser discutido com a ajuda do gráfico3.
da queda do índice de produção industrial (-2,8 con- Como se vê, em agosto último os gastos correntes
tra -8,0% deste), mas é bem mais forte do que a queda subiam 6,3%, para os últimos doze meses terminados
da taxa de crescimento do PIB real (taxa essa que ficou nesse mês, enquanto a receita caía 3,1%, no mesmo
em 0,5% nos últimos doze meses terminados em julho). tipo de comparação.
Registra-se que, em agosto, a taxa de crescimento da A maior subida dos gastos correntes da União pode
arrecadação cai mais um pouco (de -2,8 para -3,1%), na também ser ilustrada pelo exame das taxas de cresci-
esteira da nova queda da taxa relativa ao PIB real (es- mento nominal de itens de peso nessa categoria, e tam-
timada de 0,5 para 0,0%). Em síntese, depois de vários bém pela comparação dessas taxas com a evolução da
anos se situando tanto acima da taxa de crescimento receita e dos investimentos. Para valores acumulados
da produção industrial como da taxa relativa ao PIB, a nos doze meses precedentes, verificam-se as seguintes
taxas entre novembro de 2008 e agosto de 2009: recei- área de serviços até se expandiu, diante do desempe-
ta líquida (-0,4%); despesa de pessoal (14,4%); benefí- nho favorável desse setor, e, assim, não houve a queda
cios do INSS (6,6%); benefícios assistenciais LOAS/RMV da massa salarial que se temia. Nesses termos, a reces-
(9,0%); investimentos (1,6%). são acabou durando apenas dois trimestres, conforme
Em conseqüência, e conforme dados divulgados acaba de divulgar o IBGE. Segundo esse órgão, e com
recentemente pelo BC, o superávit primário da União base em dados dessazonalizados, depois de cair, em
vem caindo de forma expressiva de novembro de 2008 termos reais, 3,4% no último trimestre de 2008, em re-
para cá, de 2,9% para 0,7% do PIB, em agosto último, lação ao trimestre precedente, e cair 1,0% no primeiro
uma queda inédita para os últimos anos. E a razão dí- trimestre de 2009, nesse mesmo tipo de comparação, o
vida/PIB global acabou subindo de 37,7% para 44% do PIB trimestral brasileiro subiu 1,9% no segundo trimes-
PIB, nesse mesmo interregno. tre deste ano. Assim, se o PIB crescer, a partir do terceiro
Outra informação importante é que, graças aos es- trimestre de 2009, 1,1% ao trimestre até o final de 2010
tímulos fiscais e monetários, e ao fato de o setor indus- (que implica taxa anualizada de 4,5%), projeção essa de
trial, que emprega apenas 25% do contingente empre- difícil contestação entre especialistas no assunto, a taxa
gado pelo setor de serviços, ter sido o mais afetado pela de crescimento média anual do PIB será de -0,3% este
crise, a economia como um todo reagiu rápida e em ano e 4,7% no ano de 2010.2
‘‘
intensidade surpreendente. Com efeito, o emprego na Em resumo, depois de longo período em que o
atual governo parecia ter como objetivo uma drástica
redução da inserção do setor público no financiamento
da economia brasileira (a julgar pela intenção, aparente
nos procedimentos anteriores, de continuar reduzindo
Graças aos estímulos fiscais progressivamente a razão dívida/PIB sem nenhuma
e monetários, e ao fato de o meta explícita à frente), embora não parecesse decidi-
setor industrial, que emprega do a mudar o modelo de crescimento dos gastos cor-
rentes (o que limitava as possibilidades de crescimento
apenas 25% do contingente do País), duas decisões parecem ter sido tomadas dian-
empregado pelo setor de te da crise internacional.
serviços, ter sido o mais A primeira foi a de fazer com que os gastos públicos
correntes crescessem até mais do que estava anterior-
afetado pela crise, a economia
mente programado, para tentar reativar a economia da
como um todo reagiu rápida e forma mais rápida possível, deixando de lado qualquer
em intensidade surpreendente. preocupação com pressão inflacionária futura. Nesse
Com efeito, o emprego na área sentido, fez-se uma reafirmação do modelo de expan-
são dos gastos correntes. Já a segunda foi a de aban-
de serviços até se expandiu,
20
diante do desempenho
favorável desse setor, e, assim,
não houve a queda da massa
‘‘ donar momentaneamente qualquer preocupação com
insolvência pública, argumentando, em várias ocasiões,
que, mesmo a relação dívida/PIB voltando a se mostrar
crescente por algum tempo, terminaria havendo rever-
são da nova trajetória ascendente dessa razão mais à
Conjuntura
salarial que se temia. frente, quando a arrecadação voltasse aos níveis an-
teriores à crise e sua progressão, a partir daí, voltasse
à normalidade. Afinal de contas, o mundo todo não
2
Confrontem-se essas taxas com a mediana das expectativas de mercado coletadas em 25/09/09 pelo BC: 0% e 4,5%, respectivamente.
Revista de
‘‘
3
Registre-se que a taxa de crescimento média do PIB brasileiro que, nos anos setenta, era mais do dobro da média mundial, passou a se situar
em apenas metade daquela nos anos oitenta, e, apesar de vir subindo gradativamente desde os anos noventa relativamente à média global, não
chegou a superá-la nem na fase de bonança de 2002 a 2008.
‘‘
feito sentir com maior força em todos os anos recentes,
em relação a tudo o mais.
Faz parte também do discurso oficial a busca de
O Brasil vem tentando, desde taxas de crescimento do PIB (e, portanto, do emprego)
1988, implementar um modelo cada vez maiores, embora, na prática, as variáveis investi-
de sustentação e expansão mento e crescimento do PIB venham sendo determina-
das endogenamente. Em conseqüência disso tudo, ficou
dos gastos (basicamente claro que, mesmo sob condições externas altamente
de consumo) de certos favoráveis, como em 2002-2008, e diante dos gargalos
segmentos, ao mesmo tempo setoriais existentes e da própria capacidade de produ-
em que procura manter a ção que se erigiu com taxas de investimento baixas e
declinantes desde os anos setenta, é impossível conciliar
inflação dentro de um certo taxas de crescimento acima da média mundial com uma
“intervalo de metas”. Nesse forte expansão dos gastos públicos correntes, como se
último contexto, tem havido vem tentando no Brasil. Em relativamente pouco tempo,
os gastos agregados passam a superar a produção do-
uma batalha tenaz contra
o problema da insolvência
pública (ou da tendência
ascendente da razão dívida
pública/PIB).
‘‘ méstica numa intensidade excessiva, levando a pressões
inflacionárias indevidas e a déficits externos de peso, só
restando ao Banco Central subir as taxas de juros.
Diante da crise do mercado imobiliário americano,
que diferiu das anteriores pelo forte impacto recessivo
que trouxe consigo, o governo basicamente dobrou a
aposta na implementação do modelo de expansão dos
gastos correntes rígidos, em vez de esperar uma maior
flexibilização da política monetária ou de fazer apenas
de compromisso com metas de superávit primário e, aumentos temporários de despesas. Além disso, está
portanto, com a evolução descendente da razão dívi- fazendo vista grossa à retomada do problema de insol-
da pública/PIB. Em adição, conforme também afirmou vência pública, que resulta da queda da arrecadação.
o ministro do Planejamento à imprensa, a meta fixada Nesse sentido, ao colocar “o carro adiante dos bois”, o
anteriormente para o superávit de 2010 (3,3% do PIB) País está optando por crescer mais a curtíssimo prazo,
não será atingida a qualquer custo, mas apenas se as mas certamente menos a médio e longo.
condições econômicas permitirem (ou seja, se a econo-
mia – e, portanto, a arrecadação de impostos – se recu- Raul Wagner dos Reis Velloso
perarem rapidamente). Economista formado pela Faculdade de Ciências Econômicas
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Master of Arts e PhD
Em resumo, o Brasil vem tentando, desde 1988, em economia pela Yale University –EUA. Mestre pela Escola
implementar um modelo de sustentação e expansão de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio
Vargas, RJ. Ex-secretário para assuntos econômicos do
dos gastos (basicamente de consumo) de certos seg-
22 mentos, ao mesmo tempo em que procura manter a
Ministério do Planejamento.
Em 2008, um interessante debate foi travado por descoberta do pré-sal, mesmo não sendo este o escopo
diversos economistas e especialistas que se dividiram deste artigo.
em relação à validade e importância da constituição ou Entre os mais importantes fundos soberanos exis-
não de um fundo soberano pelo Brasil. Parte deste de- tentes figuram os de Dubai, Noruega, Qatar, Cingapura
bate encerrou-se com a promulgação da lei Nº 11.887, e China, este último criado em 2007 com aporte de 200
de 24 de dezembro de 2008, que Cria o Fundo Soberano bilhões de dólares. Essa modalidade de investimen-
do Brasil - FSB, dispõe sobre sua estrutura, fontes de recur- to estatal está crescendo de forma assustadora e vem
sos e aplicações. sendo utilizada, na maioria das vezes, para adquirir
Como pressuposto básico para o que se pretende participações em empresas estrangeiras, com obje-
aqui explicitar, leva-se em consideração o teor do Art. tivos financeiros e estratégicos. Os países mais indus-
1º da referida lei, que define o FSB como um fundo trializados (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França,
especial de natureza contábil e financeira, vinculado ao Grã-Bretanha, Itália e Japão), reunidos no G7, pediram
Ministério da Fazenda, com as finalidades de promover o estabelecimento de um código de boas práticas para
investimentos em ativos no Brasil e no exterior, formar estes fundos, a fim de fortalecer principalmente sua
poupança pública, mitigar os efeitos dos ciclos econômi- “transparência e previsibilidade”. Para o Fundo Mone-
cos e fomentar projetos de interesse estratégico do País tário Internacional, o aumento em tamanho e em nú-
localizados no exterior. mero desses fundos merece atenção reforçada, diante
A conceituação prévia do que é fundo soberano é das conseqüências potenciais que poderão ter sobre
básico neste debate. Considerando que um fundo é os mercados financeiros e os investimentos.
um conjunto de recursos com a finalidade de desenvolver Como já mencionado, no final de 2007 o debate
ou consolidar, através de financiamento ou negociação, sobre a constituição de um “fundo soberano” brasileiro
uma atividade pública específica (Fonte: Banco Central se fazia presente na mídia (BNDES vai dispor de fundo
e Tesouro Nacional), os fundos soberanos são aqueles soberano de US$ 10 bi, diz Mantega - 22/11/2007). Na-
em que se administram as imensas reservas de divisas quele momento a falta de consenso quanto ao papel
dos países exportadores de bens manufaturados, parti- destinado a um fundo desta natureza já se explicitava
cularmente daqueles que tiveram suas receitas multi- no seio do governo e mesmo entre outros especialis-
plicadas de maneira formidável nos últimos anos. É ine- tas. Para alguns membros do governo o acúmulo de
gável, então, que o debate vincula-se umbilicalmente à reservas internacionais com tendência crescente seria
1
Fundo soberano ou Fundo de Riqueza Soberana (em inglês, Sovereign Wealth Funds - SWF) é um instrumento financeiro adotado por alguns
países que utilizam parte de suas reservas internacionais. (Fonte: Wikipedia).
‘‘
fundo soberano de investimentos. É uma entidade que
visa fazer investimentos, mas investimentos de conteúdo
estratégico, não apenas de liquidez.” (grifamos)
Em maio de 2008, Em maio de 2008, ganhava relevo a criação de um
ganhava relevo a criação fundo de poupança fiscal, denominação então utilizada
pelo ministro da Fazenda para o fundo soberano brasi-
de um fundo de poupança leiro, cujos recursos, aplicados em dólar, seriam usados
fiscal, denominação então para financiar, a taxas subsidiadas, empresas brasileiras
utilizada pelo ministro com atuação no exterior. A proposta do ministro Guido
Mantega estava praticamente formatada e aprovada,
da Fazenda para o fundo
faltando fechar uma questão importante: quem iria ad-
soberano brasileiro, cujos ministrar esse fundo, se a Fazenda ou o Banco Central.
recursos, aplicados em A mídia noticiava que o BC permanecia não muito en-
dólar, seriam usados tusiasmado com a proposta, particularmente porque
temia influências indevidas na formação da taxa de
para financiar, a taxas
subsidiadas, empresas
brasileiras com atuação
no exterior.
‘‘ câmbio. Por isso, no caso de criação do fundo, defendia
que a administração ficasse com a diretoria da autori-
dade monetária.
A decisão então tomada seria a de criação de um fun-
do soberano de US$ 10 bilhões para atender à demanda
de financiamento do BNDES para 2008. Tratava-se, por-
tanto, de um fundo que seria alimentado pela “aquisição
de dólares que estão sobrando no mercado”. Afirmou-se,
de pronto, que não seriam usadas as reservas interna-
usado (essa era a expectativa de então) na criação de cionais. O BNDES tinha a intenção de captar pelo menos
um fundo soberano, que serviria para o governo inves- R$ 25 bilhões, metade dos recursos já disponíveis. A esse
tir recursos na eventualidade de uma crise financeira respeito afirmou o ministro Mantega: “Não precisamos
de grandes proporções. usar as reservas existentes. Essas reservas serão manti-
Entretanto, a falta de consenso alcançava até mesmo das e continuarão aumentando. Vamos criar um fundo
o objetivo do fundo. O presidente do Banco Central, Hen- de reservas. O BNDES poderá se beneficiar das aplicações
rique Meirelles, refutava a idéia de que o fundo poderia que esse fundo de reserva fará, porque ele vai comprar títu-
fazer um uso alternativo das reservas do país. Afirmava, los, fazer operações financeiras. E o BNDES é um forte can-
então: “Em primeiro lugar, é importante mencionar que os didato a apresentar os seus títulos externos para que sejam
conceitos são diferentes entre as reservas internacionais do comprados desse fundo”. (grifamos)
Brasil que, por lei são gerenciadas pelo Banco Central, fa- Nesse caso, o ministro da Fazenda parece ter acerta-
zem parte dos ativos do banco e que visam oferecer uma do em sua previsão, segundo se pode verificar na ten-
proteção financeira ao país.” E mais: “Um outro conceito
24 que começou a ser desenvolvido por outros países é o de
dência de formação de nossas reservas internacionais
nos últimos anos. Os dados falam por si:
Conjuntura
‘‘
tos dos fundos soberanos e como protagonista de In- fundo soberano”. Para ele o que se pretende fazer “fere o
vestimento Estrangeiro Direto por meio de seu próprio
fundo soberano, sem nos esquecermos dos problemas
internos de nossa economia, mas de outro, era impor-
tante não desconsiderar a capacidade de intervenção
do governo brasileiro na economia, o que ficou evi- A conjuntura em que o fundo
denciado na crise internacional cujos principais efeitos
chegaram ao Brasil por volta de setembro de 2008, an-
soberano estava sendo
tes da criação do FSB. discutido (final de 2008),
Assim, cumpre considerar que a conjuntura em com uma possível elevação
que o fundo soberano estava sendo discutido (final de
da taxa de superávit fiscal,
2008), com uma possível elevação da taxa de superávit
fiscal, de 3,8% para 4,5 ou mesmo 5,0%, somava-se aos
de 3,8% para 4,5 ou mesmo
receios do resultado de mais uma reunião do Banco 5,0%, somava-se aos receios
Central (COPOM), que aconteceria na primeira semana do resultado de mais uma
de junho. A taxa básica, a Selic, estava em 11,75% e hoje
é de 8,75%, ainda exageradamente alta, mas não impe-
reunião do Banco Central
ditiva à criação do fundo. (COPOM), que aconteceria na
Segundo parte da mídia, a intenção do presidente primeira semana de junho.
Lula seria a de elevar o aperto fiscal para combater o A taxa básica, a Selic, estava
risco de inflação, tentar amenizar a alta dos juros e fi-
nanciar investimentos brasileiros no exterior. Os recur-
sos que excederem os 3,8% do PIB seriam usados para
financiar o fundo soberano (instrumento sob controle
da Fazenda para comprar dólares e financiar projetos de
investimento privado e público do Brasil no exterior). Esse
em 11,75% e hoje é de 8,75%,
ainda exageradamente alta,
mas não impeditiva à
criação do fundo.
‘‘
formato poderia ser bem visto ao menos por parte do
mercado, pois não aqueceria ainda mais a economia
Maiores fundos soberanos do mundo
FFMA – Australian
Austrália $61.3[5] 2004 Diversos $2,900
Government Future Fund
KNF – Kazakhstan
Cazaquistão $17.8 2000 Petróleo $1170
National Fund
26 República da China
NSF – National
$15 2000 Diversos $652
Stabilisation Fund
Conjuntura
OSF – Petróleo
Irã $12.9 1999 Petróleo $174
Stabilisation Fund
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fundo_Soberano
Revista de
julho / setembro / 2009
conceito de fundo soberano escolher áreas de incentivo experimentando níveis de inflação ainda mais baixos,
e de estímulo”, lembrando que, em geral, o critério das particularmente para os segmentos de menor renda,
aplicações dos fundos já existentes é a rentabilidade de tendo obtido de mais uma agência o chamado invest-
longo prazo. O governo estaria prometendo adotar um ment grade e passando à situação de credor do Fundo
instrumento típico de países que têm superávits fiscais Monetário Internacional, permitindo inferir que as críti-
elevados para financiar despesas que denunciam exa- cas à decisão governamental relativa ao FSB parecem
tamente a falta de poupança fiscal do próprio governo. cada vez mais distantes.
“É uma contradição.” Portanto, qualquer posicionamento definitivo so-
Algumas das ponderações feitas por Paulo Noguei- bre o erro ou acerto a respeito da criação do FSB, pare- 27
ra Batista ao jornal O Globo (1/12/2007), em seu artigo ce hoje precipitado, mas a título de conclusão ficamos
“Pajelança financeira?”, que naquela data já afirmara com a afirmação do próprio Paulo Nogueira Batista:
sobre o fundo soberano: “Por que então o barulho na imprensa e a indignação da
“Os fundos soberanos surgem quando um país come- turma da bufunfa? Arrisco uma hipótese: a criação de um
ça a acumular reservas internacionais excedentes, isto é, fundo soberano com parte das reservas, ou com reservas
superiores aos níveis considerados necessários para fi- adicionais a serem adquiridas no mercado pelo Tesouro,
nanciar eventuais emergências de balanço de pagamen- resultaria em uma certa redistribuição de poder dentro do
tos ou para administrar com segurança a taxa de câmbio. governo. Perderia o Banco Central, ganhariam o Tesouro
Nessa situação, existe a oportunidade de criar um fundo e o BNDES.”
à parte, onde os ativos externos pertencentes ao governo
possam ser aplicados com mais rentabilidade. As reser-
vas tradicionais, administradas normalmente pelo
Banco Central, são sempre aplicadas de forma muito
Arthur Oscar Guimarães
conservadora, em papéis líquidos e sem risco (títulos
governamentais de países desenvolvidos, por exemplo). Doutor em Sociologia, na Área de C&T e Sociedade, pelo Departa-
mento de Sociologia da UnB. Pesquisador Associado do Centro
Elas têm que estar prontamente disponíveis para cobrir de Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB). Mestrado em
desequilíbrios de balanço de pagamentos e intervir no Engenharia de Produção, na Área de Política de C&T pela COPPE/
UFRJ. Graduado em Ciências Econômicas pela UnB. Atualmente
mercado de câmbio. Em contrapartida, a sua rentabili- é Consultor Legislativo concursado da Câmara Legislativa do DF
(CLDF), cedido ao Senado Federal (SF) desde 1999, onde ocupa a
dade é muito modesta. Já os fundos soberanos têm mais
função de Assessor Técnico.
liberdade para aplicar. Podem fazer investimentos de pra-
zo mais longo, comprar títulos privados, ações e até as-
sumir o controle de empresas em outros países. No caso
brasileiro, por exemplo, cogita-se financiar as ativi-
dades do BNDES no exterior, mediante a aquisição
de papéis do banco. Em suma, são investimentos de
maior risco e menos liquidez, mas com rentabilidade
mais atraente. Administrados de forma profissional, es-
ses fundos podem gerar rendimentos consideravelmente
superiores às reservas tradicionais.” (grifamos)
Intitular o Brasil como um dos grandes produtores de petróleo graças às reservas desco-
bertas no pré-sal não deixa de ser considerada, principalmente por parte dos governistas,
mais uma ascensão do País. Mas a grande preocupação de especialistas na área econômica
é com relação aos efeitos do pré-sal na economia brasileira. O que inclui diversos aspectos,
tais como o modelo empresarial de exploração a ser adotado, a doença holandesa; a redução
do câmbio com a excessiva oferta de dólar; a conseqüente desestruturação do setor expor-
tador; o crescimento das importação; a partilha dos royalties e a maneira como os recursos
provenientes do petróleo podem afetar as questões sociais do País.
Localizado numa faixa situada entre os estados do industrial e tecnológico brasileiro, agregando valor às
Espírito Santo e Santa Catarina, os depósitos de petró- outras cadeias produtivas já existentes. Portanto, se as
leo ocupam uma área de 160 bilhões de m², em pro- ações de regulamentação e coordenação dos proces-
fundidades de até sete mil metros. As reservas dessa sos forem devidamente observadas, o Brasil terá mo-
província estão estimadas entre 40 e 80 bilhões de bar- tivos para comemorar, futuramente”, diz a economista.
ris. Se forem confirmadas, o Brasil vai fazer parte do se- O pré-sal pode ser considerado mais uma riqueza
leto grupo dos maiores produtores mundiais do setor. ao patrimônio da Nação, uma vez conhecida a proba-
28 A economista e conselheira do Conselho Regional do bilidade de sucesso da exploração. Entretanto, existem
Espírito Santo, Martha Ferreira, acredita que se forem incertezas geológicas, tecnológica e, principalmente,
Conjuntura
implementadas políticas bem feitas, esse petróleo vai de custos, é o que pensa Felipe Ohana, economista e
trazer uma excelente oportunidade para a inserção da consultor sócio da OF Consultoria Econômica. Para
economia brasileira, em termos internacionais. Em seu ele, o novo estoque de riqueza – na forma de óleo e
ponto de vista, o Brasil possui uma estrutura industrial gás – deve assumir a forma de equipamentos e servi-
bastante diversificada e não gravita apenas em torno ços públicos. “Uma simples troca, mas que gera efeitos
do setor de petróleo e gás. “A exploração desse setor reais sobre a produtividade dos fatores de produção.
abrirá novas oportunidades para o desenvolvimento Ao conjunto dos efeitos decorrentes da troca de óleo
Revista de
julho / setembro / 2009
por equipamento e serviço públicos denominamos a sociedade brasileira (equipamentos, serviços públi-
rendimentos. Os rendimentos (capitalizados e trazidos cos, pesquisas etc)”, afirma Ohana.
a valor presente) são a medida do impacto econômi-
co do pré-sal - aumento da competitividade do parque Os efeitos negativos na economia
produtivo nacional. Desnecessário dizer, esses rendi-
mentos dependem da gestão desse estoque de rique- Os prejuízos para a economia brasileira vêm por
za. Portanto, temos aí um significativo elemento para meio da valorização real do câmbio, por uma política fis-
agravar a incerteza do pré-sal”. cal excessivamente expansionista ou pela formação de
Preocupados em analisar os impactos ou não na expectativas negativas ao investimento (ameaçado pela 29
economia brasileira, os especialistas acreditam tratar-se importação competitiva), a economia pode entrar num
de um efeito permanente de riqueza e as consequên- ritmo de sucesso mercantilista, com reduzida perspecti-
cias dependerão da forma como esse impacto vier a ser va de desenvolvimento sustentado no tempo. Mas, con-
administrado. Felipe Ohana ressalva as possibilidades siderando o conhecimento acumulado, a sofisticação do
de complicações a partir de efeitos cambiais e da polí- setor produtivo no País e o permanente debate que esse
tica fiscal, se o Estado julgar que pode “financiar”, com a tema enseja, não se deve esperar desvios permanentes
totalidade dos recursos do óleo, a expansão da deman- de rota, na administração do recursos do pré-sal.
da agregada. “Uma boa administração implica adquirir Felipe Ohana estranha o formato ideológico do de-
ativos, mundo a fora, e internalizar parte dos rendimen- bate sobre o modelo de negócio para explorar o pré-
tos, a exemplo do que fazem os países com superávit sal. E acrescenta que essa escolha deve depender – des-
crônico na balança de pagamentos. A partir daí, tem-se de a perspectiva do proprietário do óleo – dos riscos
um financiamento consistente (não implica exigibilida- envolvidos na extração.“Na Arábia Saudita, a chance de
des) e permanente das benfeitorias para a economia e sucesso de qualquer perfuração é quase de 100%, com
principal elemento de determinação. Se o pré-sal trou- O governo começou a discutir um novo marco regu-
Conjuntura
xer a justificativa para o governo federal diminuir qual- latório, ou seja, um outro modelo de exploração, que será
quer eventual subsídio ao etanol, entendo que essa é aplicado nessa área, e enviou quatro Projetos de Lei ao
uma consequência positiva. Seguindo essa suposição, o Congresso Nacional. O primeiro discute o regime de ex-
núcleo de negócios do etanol terá que investir em pro- ploração, que passa do modelo de concessão para o de
dutividade (tornar-se mais eficiente), o que viria a ser partilha da produção. No modelo de concessão, as em-
uma outra consequência positiva do pré-sal”. presas disputam em leilão público a compra do direito
Revista de
julho / setembro / 2009
de explorar as áreas oferecidas pela Agência Nacional que, parte das receitas desses investimentos, retornará à
do Petróleo. A Petrobras concorre em pé de igualdade, União, para serem aplicados em programas de comba-
com outras empresas do setor, e não há garantia de par- te à pobreza, em inovação científica e tecnológica e em
ticipação mínima para ela. É o modelo usado pelos EUA, educação; e o quarto trata da capitalização da Petrobras.
Canadá, Inglaterra e Noruega. No contrato de partilha, Para Martha Ferreira a oposição e a iniciativa priva-
o Estado e as empresas dividem entre si a produção do da acreditam que haverá: desconfiança no mercado, se
petróleo, permitindo à União capturar a maior parte da houver mudança no modelo de exploração e se ele for
riqueza gerada. O governo poderá contratar a Petrobras imposto aos blocos já licitados; aparelhamento político
para produzir no pré-sal e em áreas estratégicas ou con- partidário, se implantada uma nova estatal; desvio de 31
tratar empresas privadas, por meio de licitação, mas as- recursos e corrupção, facilitados pela criação do fundo
segurando à estatal uma fatia mínima de 30% em cada social; e que a capitalização da Petrobras não vem num
bloco. Além disso, a Petrobras será a operadora de todos bom momento, em decorrência da crise financeira mun-
os novos campos. Esse é o modelo usado pela China, Irã, dial. “Desde a abertura do setor petroleiro para o capital
Angola e Venezuela. externo, em 1997, o Brasil tem gozado de boa reputação,
O segundo projeto cria uma nova estatal, para geren- como mercado estável e transparente, e os críticos da
ciar as atividades no pré-sal; o terceiro destina os recur- nova proposta apenas temem que a concentração estatal
sos obtidos com a renda do petróleo a um fundo social, venha a reverter esse histórico. Todo brasileiro tem a obri-
que realizará investimentos no Brasil e no exterior, sendo gação de participar desse debate”, conclui a economista.
Tabela 1
Parcela de 5% – lei nº 7.990/89 e decreto nº 01/91
70% Estados produtores
Lavra
20% Municípios produtores
em terra
10% Municípios com instalações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural
30% Estados confrontantes com poços
Tabela 2
Parcela acima de 5% – lei nº 9.478/97 e decreto nº 2.705/98
52,5% Estados produtores
Lavra 25% Ministério da Ciência e Tecnologia
em terra 15% Municípios Produtores
7,5% Municípios afetados por operações nas instalações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural
25% Ministério da Ciência e Tecnologia
22,5% Estados confrontantes com campos
Lavra na
22,5% Municípios confrontantes com campos
plataforma
15% Comando da Marinha
continental
7,5% Fundo Especial (estados e municípios)
7,5% Municípios afetados por operações nas instalações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural
Fonte: Agencia Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis - ANP
Estimativa de Produção no Pré-sal concedido (Mil barris por dia)
PETROBRAS PETROBRAS
• Insuficiência de capital para • Elevada capacidade tecnológica;
realizar investimentos; • Maior capacidade de captação
• Dificuldade de captação externa; de recursos;
• Elevados custos de capital. • Robusta carteira de investimento.
32
Conjuntura
Revista de
ARTIGO
34 desenvolvimento por consumo de massa. A estratégia famílias e sustenta o crescimento. No final do primeiro
semestre de 2008 já se observava que, há cerca de um
do modelo, de forma explícita e integral, orienta e con-
forma os dois Planos Plurianuais brasileiros elaborados ano, os investimentos vinham crescendo 2,5 vezes mais
Conjuntura
desde então (PPAs 2004-2007 e 2008-2011), e os resul- rápido que o PIB, e a taxa de investimento alcançava cer-
tados obtidos têm sido muito satisfatórios. ca de 18% dessa referência (TORRES, 2008).
Vencido o primeiro momento, de controle da infla- Todos esses fatos são evidências que o processo
ção, de reequilíbrio das contas públicas, de equaciona- de crescimento com redistribuição de renda ocorre no
mentos para a superação da vulnerabilidade externa Brasil e o círculo virtuoso, inicialmente referido, do mo-
da economia brasileira, consolidaram-se as condições delo de consumo de massa, instalou-se na economia
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julho / setembro / 2009
brasileira. A crise econômico-financeira internacional, e terceira gerações. A partir daí o amplo espectro de
que aqui chegou no segundo semestre de 2008, afe- setores industriais que utilizam insumos petroquími-
tou perversamente essa dinâmica, mas tudo indica que cos, tais como fertilizantes, plásticos e outros, também
seus efeitos são exclusivamente conjunturais. De fato, a agregam valor ao produto. Desta forma, a diretriz bási-
pronta e efetiva ação do Banco Central e do Ministério ca a ser adotada é o suprimento do mercado interno,
da Fazenda restaurando o crédito, incentivando o con- exportando apenas produtos de maior valor agrega-
sumo de bens duráveis mediante renúncia fiscal, man- do. A comercialização externa de petróleo bruto seria
tendo os gastos públicos nos programas sociais e, es- tolerada apenas em quantidades marginais e/ou em
pecialmente, sustentando os investimentos (PAC), e até situações ou condições excepcionais, em que o inte- 35
os ampliando (Habitação), dentre outras, apresentaram resse nacional, especialmente de caráter geopolítico, as
notável eficácia contracíclica, atenuando a magnitude justificasse.
e reduzindo a duração da crise em nossa economia. Em segundo lugar, é indispensável maximizar as en-
A continuidade dessa dinâmica do consumo de comendas dos bens e serviços às empresas brasileiras,
massa está consagrada no Plano Plurianual até 2011, aqui instaladas. Desde a construção naval, passando pe-
e a economia brasileira apresenta condições objetivas las indústrias fabricantes de equipamentos para apoio e
para que isso, de fato, se efetive. E as oportunidades realização de pesquisas, extração, armazenamento, bem
abertas pela descoberta do pré-sal, e o seu aprovei- como para o refino e todos os segmentos down stream,
tamento de forma adequada pode assegurar, a longo e até segmentos mais sofisticados como a robótica, de-
prazo, a evolução positiva e sustentada dessa dinâmica, verão ser majoritariamente adquiridos no parque na-
‘‘
em dimensões compatíveis com as necessárias à cons- cional. Deverá haver estímulo e apoio tecnológico, fiscal
trução de uma grande Nação.
‘‘
denominado Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, produtos em patamar elevado de competitividade.
Como dissemos, temos as condições necessárias;
precisamos, no entanto, realizar uma grande articulação
de atores, com interesses e inserções diversas, em torno
da questão para a concretização desse objetivo; são eles,
no setor de prestação de sem pretender esgotar a lista: Petrobras, BNDES, Univer-
serviços deverão ser priorizadas sidades e Centros de Pesquisas de todo o País, empresas
nacionais e suas organizações, FINEP, MCT, MDIC.
as encomendas no Brasil
Um quarto aspecto muito importante consiste na
abrangendo todos os ramos da absoluta necessidade de que o aproveitamento do pré-
engenharia, nas atividades de sal ocorra sem agressões ao meio ambiente. A realiza-
desenvolvimento, projeto básico ção deste objetivo apresenta uma extensa intersecção
com o tema do desenvolvimento tecnológico endóge-
e detalhamento de processos,
no. Trata-se de buscar soluções tecnológicas, em todas
equipamentos e instalações, as situações, que sejam “limpas”, isto é, isentas de efeitos
passando por logística e danosos ao meio ambiente, ou, quando existentes, que
transporte e alcançando sejam devidamente mitigados. O leito do mar, e todo
o bioma marinho da plataforma continental brasileira,
segmentos específicos, tais
36 como desenvolvimento de
apresentam uma enorme biodiversidade. Em especial,
as algas marinhas são consideradas muito importantes
sistemas de informática (soft
‘‘ na geração do oxigênio da atmosfera. Esse nosso patri-
Conjuntura
adequadamente reguladas. Na sua constituição se- estão as reservas do pré-sal, é necessário que o Exército,
ria definida a forma e o ritmo da capitalização e da a Marinha e a Aeronáutica tenham recursos para assegu-
respectiva utilização. Nessa etapa caberá também rar, hoje e para as futuras gerações de brasileiros, a nossa
definir sua destinação e neste caso, propõe-se a sua plena e inconteste soberania sobre essas áreas.
aplicação em três vertentes assim denominadas: (i) A questão da sustentabilidade ambiental seria
Investimentos sociais; (ii) Benefícios para gerações destinada a terceira parcela da macro alocação dos
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recursos provenientes do(s) Fundo(s) Soberano(s). da África e da Ásia, especialmente Angola, África do Sul,
Como exemplos de programas e empreendimentos Índia e China. Também com os países desenvolvidos,
nesse campo podem ser relacionados, sem pretender no âmbito do G-20 e com organismos multilaterais,
esgotar tais possibilidades: da Organização das Nações Unidas. No campo interno
• investimentos, e aplicações de custeio, para detec- são necessárias, amplas e extensas negociações com o
tar, monitorar e reduzir drasticamente o desmatamen- Congresso Nacional e articulações com o Poder Judi-
to na Amazônia; ciário e os entes federativos (Estados e Municípios), os
• investimentos no âmbito do Sistema Nacional de meios de comunicação, os empresários e suas organi-
Ciência e Tecnologia em parceria com os setores produ- zações, os sindicatos de trabalhadores, as organizações 39
tivos, para o desenvolvimento de tecnologias “limpas”, e os movimentos da sociedade civil.
citando como exemplo: (i) o aproveitamento da biodiver-
sidade existente no bioma amazônico e do centenário A situação atual
conhecimento e cultura dos povos da floresta, no campo
da “medicina popular” da região, visando à utilização de Os quatro Projetos de Lei recentemente encami-
produtos fitoterápicos, bem como o desenvolvimento de nhados ao Congresso Nacional constituem propostas
novos princípios ativos para a indústria químico-farma- do Executivo que, certamente, poderão ser aperfeiço-
cêutica; (ii) captura de carbono na atmosfera (CCS), junto adas pelo Legislativo. Em síntese, consideramos positi-
aos grandes consumidores de energia oriunda de com- vos os seguintes pontos:
bustíveis fósseis; (iii) pesquisa e desenvolvimento, junto • o novo marco regulatório consagra o modelo de
‘‘
com a indústria automobilística brasileira e suas associa- partilha como aquele que será adotado. É uma sábia
ções, do carro elétrico brasileiro;
• investimentos para desenvolvimento tecnológico
e inovação – e também na produção, distribuição e uti-
lização do álcool combustível e do biodiesel. Desenvol-
vimento de uma nova alcoolquímica, como alternativa Para concretizar essa sgenda
à produção de insumos e produtos derivados dos com- pré-sal há a necessidade de o
bustíveis fósseis.
Além dos ganhos diretos para a economia brasileira
Poder Executivo desenvolver
decorrentes desses aportes provenientes do(s) Fundo(s) um amplo espectro de
Soberano(s), sua mera existência constituirá instrumento articulações políticas e
valioso na viabilização de ações e políticas contracíclicas.
institucionais. No plano
Ademais, o fortalecimento de toda a cadeia produtiva do
petróleo, como se tratou anteriormente, e a continuida- externo é preciso articular
de dos investimentos que hoje vêm sendo realizados em com os países da América
setores da infraestrutura, principalmente energia elétrica do Sul, especialmente no
e transportes; em saneamento básico; em habitação; e
outros, constituirão um conjunto de circunstâncias e si-
âmbito do MERCOSUL e
tuações favoráveis que certamente sustentarão o desen- da UNASUL (Conselho de
volvimento brasileiro nas próximas décadas.
Para concretizar essa sgenda pré-sal há a necessida-
de de o Poder Executivo desenvolver um amplo espec-
tro de articulações políticas e institucionais. No plano
externo é preciso articular com os países da América do
Sul, especialmente no âmbito do MERCOSUL e da UNA-
Defesa Sul Americano), com
países da África e da Ásia,
especialmente Angola, África
do Sul, Índia e China.
‘‘
SUL (Conselho de Defesa Sul Americano), com países
decisão dadas as características das reservas do pré-sal • o aumento do capital social da Petrobras a ser promo-
e o uso que dela pretendemos fazer; vido pela União, embora meritório e necessário, é operação
• a criação da Petro-Sal, que assumirá em nome da complexa que ainda não está claramente encaminhada.
União a parcela que lhe couber na partilha do petróleo
extraído e, como agente do Estado, exercerá na explo- Finalmente, como dificuldades que, desde já, são es-
ração do pré-sal, um importante monitoramento de as- peradas na definição dos meios e modos de explorar as
pectos relevantes para assegurar a plena realização dos reservas do pré-sal, podem ser relacionadas:
objetivos nacionais; • a tramitação dos Projetos de Lei do Executivo no
• o papel da Petrobras, será bastante relevante, a sa- Congresso Nacional;
ber (i) será a operadora de todos os blocos explorados, • os poderosos interesses nacionais, e internacio-
devendo ter uma participação acionária expressiva em nais, contrariados pelo que se delineia na equação que
todos eles, para bem desempenhar essa missão; (ii) po- está sendo estruturada;
derá ela própria participar dos leilões, só ou em parce- • a posição da maioria dos grupos que detém o con-
ria com outros investidores; (iii) poderá ser contratada trole da grande mídia no Brasil;
diretamente pela União, para explorar os blocos que • o longo prazo e a complexidade de equacionamen-
apresentem grande reserva estimada. to de alguns aspectos indispensáveis ao sucesso do
• o BNDES está capacitado e preparado para ser o aproveitamento do pré-sal com apropriação pelo País
agente financeiro principal no financiamento do projeto. e o seu povo, dos resultados desse empreendimento.
Suas equipes técnicas, seus recursos financeiros, sua forte
experiência aportam segurança na execução dessa função. Para concluir, apenas mais uma reflexão. Face à im-
portância do projeto pré-sal e às oportunidades que ele
Estão ainda imprecisos e obscuros os equaciona- oferece, bem como frente aos riscos existentes, de uma
mentos propostos em relação a outras questões, tais inadequada exploração, há um desafio para todos nós:
como: devemos nos mobilizar – os trabalhadores e os empre-
• a própria taxa que caberá à União na partilha; em sários; os jovens e os mais velhos; o campo e as cidades;
cada situação será estabelecida uma referência míni- os profissionais liberais; os formadores de opinião; enfim
ma, sendo vencedor o licitante que oferecer a maior a sociedade civil organizada, ou não – para que seja ade-
taxa, obviamente acima do mínimo estabelecido. Pelo quadamente equacionada a exploração das reservas do
exemplo internacional, em situações semelhantes ao pré-sal, em benefício do Brasil e de sua população.
pré-sal (magnitude das reservas e inexistência ou bai-
xo risco geológico), essa taxa mínima deveria situar-se Referências Bibliográficas:
próximo de oitenta por cento;
• a utilização do petróleo destinado à União – há Plano Plurianual 2004-2007. Relatório de Avaliação. Ca-
indicações que a Petrobras será a encarregada da sua derno 1, Secretaria de Planejamento e Investimentos
comercialização, mas nada se anuncia no que concerne Estratégicos. Brasília: MP, 2008.
à agregação de valor ao petróleo produzido, como am-
‘‘
ciais, Hong Kong (desde 1997) e Macau (desde 1999). (15,1%), Japão (8,4%), Coréia do Sul (4,6%) e Alemanha
(4,0%). Dados ainda não definitivos apontam exporta-
ções de US$ 1,5 trilhão para 2008. Os efeitos da crise
financeira internacional têm provocado redução do vo-
lume de exportações chinesas em 2009. Ainda assim, a
As importações chinesas China, atualmente, já é o 2º exportador mundial e o 3°
importador mundial.
foram da ordem de US$ 960 Quanto às importações chinesas, foram da ordem
bilhões, em 2007. Os principais de US$ 960 bilhões, em 2007. Os principais produtos
produtos foram: máquinas e foram: máquinas e equipamentos, óleo e minerais com-
equipamentos, óleo e minerais bustíveis, plásticos, equipamentos óticos e médicos,
químicos orgânicos, ferro e aço; e os principais fornece-
combustíveis, plásticos, dores: Japão (14,0%), Coréia do Sul (10,9%), Estados Uni-
equipamentos óticos e médicos, dos (7,3%), Alemanha (4,7%), Malásia (3,0%) e Austrália
químicos orgânicos, ferro e (2,7%). Dados de 2008 apontam importações totais de
US$ 1,15 trilhão. A redução do ritmo de atividade em
aço. Dados de 2008 apontam
42 importações totais de US$ 1,15
2009 tem resultado em menor nível de importação.
44
Conjuntura
‘‘
Portos Livres. A maior parte dos investimentos tem sido cio dos países membros. Na ocasião, foi formalizada a
direcionada para províncias do Leste (85%); em segui-
da para as províncias Centrais (8%) e para as do Oeste
(7%). Destaca-se ainda o aumento do IDE da China em
outros países. A China está presente com investimen-
tos em 173 países, com ênfase nos setores: indústria, co-
mércio (atacado e varejo), construção civil, mineração. Em termos de iniciativas de
Em 2008, o investimento da China em outros países
chegou a US$ 52,2 bilhões. A China também atua na
investimentos, os chineses
terceirização de mão-de-obra e financiamento de pro- destacam dois grandes ciclos:
jetos e investimento. o primeiro, que teve início
em 1992, com a visita de
Integração da China com os Países de Língua
Portuguesa no âmbito do Fórum de Macau Xiao Ping ao Sul da China; e o
segundo, que foi iniciado em
O Fórum para a Cooperação Econômica e Comercial 2002, após entrada da China
entre a China e os Países de Língua Portuguesa - Fórum
de Macau – existe desde 2003 e abrange Angola, Brasil,
na OMC em 2001. Quanto
Cabo Verde, China, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal os investimentos diretos
e Timor Leste. Tem como principal objetivo ampliar os estrangeiros (IDE), vinham
fluxos de Investimentos, notadamente em infraestrutu-
aumentando nos últimos
ra, construção civil e terceirizações, e promover maior
corrente de comércio (ampliar exportação e impor-
tação) entre os países membros. Desde 1999 existe a
RAEM – Região Administrativa Especial de Macau. An-
teriormente, por 50 anos, Macau foi administrada por
Portugal. Atualmente, a RAEM faz parte da China, mas
anos, mas verificou-se queda
em 2008 devido aos efeitos
da crise internacional.
‘‘
tem relativa autonomia ao governo central, exceto em
‘‘
quando haverá avaliação dos resultados até então al-
cançados e definição de novas metas de cooperação.
Para operacionalização do Fórum, foi criada a secreta-
Em 2009, completam-se ria executiva em Macau, a cargo do IPIM – Instituto de
Promoção do Comércio e do Investimento de Macau,
35 anos de relações que organiza grupos de trabalho e reuniões temáticas.
diplomáticas entre Brasil e Cabe destacar também que têm sido organizados en-
China e que tem potencial contros anuais dos empresários da China e dos Países
de Língua Portuguesa para viabilização dos negócios
de ampliação no futuro,
a partir dos acordos institucionais; Angola (2005), Por-
dados os resultados do tugal (2006), Moçambique (2007), Cabo Verde (2008); e
maior intercâmbio com os o mais recente, no Brasil, no Rio de Janeiro (ago/2009).
Países de Língua Portuguesa Por meio do Fórum de Macau também são promovi-
dos diversos seminários, debates e cursos de formação,
no âmbito do Fórum de tais como o “Colóquio para Autoridades da Área de Ad-
Macau e de outras iniciativas
de integração da China
com os países da
América Latina.
‘‘ ministração Econômica dos Países de Língua Portuguesa
– Fórum de Macau”, em maio de 2009. Há ainda a Feira
Internacional de Macau, cuja 14ª edição foi de 22 a 25
de outubro de 2009. Há diversos incentivos do governo
chinês (tributários, creditícios etc) para investimentos e
comércios dos Países de Língua Portuguesa via Macau
(RAEM). Utiliza-se a RAEM como plataforma de integra-
ção com a China Continental (via Guangdong – Zhuhai),
sob o guarda-chuva do Acordo CEPA. Isso tem tornado
criação do Fórum e houve definição de estratégias de Macau como porta de entrada na Região do Grande Del-
atuação, especialmente para promoção do comércio e ta do Rio das Pérolas (GDRP), considerada a mais extensa
investimentos entre os países. A 2a Conferência Inter- aliança econômica regional da China, além de permitir
nacional foi realizada em 2006, onde se buscou o apro- acesso a outras áreas da China Continental. A tabela 1
fundamento da cooperação e elaboração de plano de ilustra a ampliação da corrente de comércio após a im-
ação. A próxima Conferência deverá ocorrer em 2010, plantação do Fórum de Macau.
Tabela 1:
Corrente de Comércio entre China e Países de Língua Portuguesa - US$ Milhões FOB
Corrente de Comércio Var.% ante ano anterior
Características
financeiro é o local onde
o dinheiro é gerido,
intermediado, oferecido
e procurado.
‘‘
Segundo Andrezzo (1999), o mercado financeiro é
composto pelo conjunto de instituições e instrumen-
tos financeiros destinados a possibilitar a transferência Assim, a autora diz que o mercado financeiro nada
de recursos dos ofertadores para os tomadores e, as- mais é do que um grande fundo, do qual, se pode sacar
sim, criar condições de liquidez no mercado. Podemos ou depositar recursos. É nele que se determina uma das
dizer ainda, que o mercado financeiro é o local onde o variáveis cruciais da economia – a taxa de juros – que
dinheiro é gerido, intermediado, oferecido e procurado. representa os termos em que se podem realizar transfe-
O mercado financeiro encontra-se, sob um ponto de vis- rências intertemporais de recursos.
ta financeiro, dividido em duas categorias, levando em
conta, principalmente, os prazos das operações: Mercado financeiro brasileiro
Mercado de crédito: composto pelo conjunto de
instituições e instrumentos financeiros destinados a Segundo Gremaud, Júnior e Vasconcellos (2005), no
possibilitar operações de prazo curto, médio ou alea- final de 1993, começou a ser implementado o plano
tório. Um exemplo de operações cujo prazo é aleatório mais engenhoso de combate à inflação já utilizado no
são os depósitos à vista, pois há possibilidade de resga- País. Após uma série de tentativas fracassadas de planos
te a qualquer momento, sem exigências. heterodoxos na Nova República, o Plano Real conseguiu,
Mercado de capitais: composto por um conjunto de forma duradoura, reduzir a inflação. Porém, de forma
de instituições e instrumentos financeiros destinados a geral, a nova moeda trouxe uma série de diferenças em
possibilitar operações de médio ou longo prazo ou de relação à condução da política macroeconômica. Para
prazo indefinido, como no caso das ações, por exemplo. garantir a estabilização da economia, centrou-se na
Destina-se principalmente, ao financiamento de capital valorização cambial, que acabou provocando profun-
fixo, capital de giro e especiais, como habitação. da deterioração das contas públicas. A manutenção da
‘‘
Crise econômica internacional
era quais seriam os impactos da estabilização sobre o crise financeira internacional ao final de 2008. Os efeitos
sistema financeiro e como este se adequaria. Segundo no Brasil são atenuados pelas medidas governamentais
os autores, a resposta dos bancos à perda da receita in- adotadas para aumento da liquidez, que contrabalan-
flacionária foi a expansão das operações de crédito logo çam as restrições e ampliam o crédito diretamente por
após a implementação do plano e a elevação nas tarifas meio dos bancos públicos e também por incentivos
cobradas sobre serviços bancários. aos bancos privados e aos tomadores finais. A maior
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preocupação passa a ser a extensão dos impactos da cri- O autor explica que o lado esquerdo de cada equa-
se financeira sobre o setor real da economia, que foram ção representa a quantidade demandada. O lado direi-
muito abruptos no último trimestre de 2008. A recessão to, a função que relaciona os preços e a renda com essa
nas principais economias e a desaceleração do mercado quantidade.
interno têm como conseqüências a redução do ritmo es- Considerando a forma da demanda por um bem, ela
perado para crescimento do crédito no Brasil e geram a varia à medida que a renda do consumidor e os preços
necessidade de medidas adicionais para sustentação da variam, assim, o autor diz que sua intenção é comparar a
dinâmica do sistema financeiro, especialmente no mer- escolha ótima para um dado nível de renda.
cado de crédito, que depende da reativação da atividade 51
econômica e manutenção do emprego e da renda. Bens normais e inferiores
‘‘
lizada com freqüência uma estrutura baseada nos dois autor: ∆x1/ ∆m >0.
princípios que seguem:
O principio de otimização: onde as pessoas tentam
escolher o melhor padrão de consumo ao seu alcance.
O princípio de equilíbrio: onde os preços ajustam-
se até que o total que as pessoas demandam seja igual Varian (2006) diz que
ao total ofertado. é razoável pensar que,
A respeito destes princípios, o autor comenta que
normalmente, a demanda
considerando o primeiro, se as pessoas são livres para
escolher, é razoável supor que elas tentam escolher as por cada bem aumente
coisas que desejam em vez das que não querem. Quan- quando a renda aumentar.
to ao segundo, o autor explica que sua noção é um pou- Os economistas chamam
co mais problemática. O autor explana ainda, que vale a
pena observar que a definição utilizada para equilíbrio
esses bens de bens normais.
pode ser diferente em modelos diferentes, mas no caso Se o bem um é um bem
do mercado simples, o conceito de equilíbrio de oferta e normal, então, a sua demanda
demanda será adequada à nossa necessidade.
aumentará quando a renda
Demanda aumentar e diminuirá quando
Segundo Varian (2006), para entender o comporta- Para Varian (2006), o equilíbrio de mercado é repre-
mento da oferta, é preciso pensar sobre a natureza do sentado pela oferta, pela demanda e pelo preço. O autor
mercado em que estamos examinando. O autor cita explica que ao se traçarem as curvas de oferta e deman-
como exemplo, o mercado de aluguel de apartamentos, da no mesmo gráfico, utilizaremos p* para representar
se referindo a este como mercado competitivo. Dentro o preço. Sendo, o ponto onde a quantidade demanda-
deste contexto, o autor explica que na hipótese de que da se iguala a quantidade ofertada, o preço de equilí-
se cobrem pelos apartamentos um alto preço, pa, e um brio. Em outras palavras, o autor diz que no equilíbrio
baixo, pb, as pessoas que estão alugando seus aparta- de mercado, se os preços estiverem acima de p* haverá
mentos por um preço alto, poderiam procurar um pro- mais oferta em relação a demanda; se estiver abaixo, ha-
prietário que cobrasse menos e oferecer-se para pagar verá demanda demais em relação a oferta; e ao preço
um aluguel entre pa e pb.Tal transação favoreceria tanto p* os comportamentos serão compatíveis, haverá equi-
o proprietário quanto o locatário. Segundo o autor, até líbrio entre demanda e oferta.
aqui, a oferta simplesmente mede o quanto o consumi-
dor está disposto a ofertar de um bem a cada possível Modelo econômico – descrição das varáveis
preço do mercado. Com efeito, isso é a própria definição utilizadas
da curva de oferta: para cada preço p, determinamos
que quantidade do bem será ofertada, S(p). Uma das variáveis – produção física industrial
‘‘
(variável dependente da equação econométrica) uti-
lizada para a estimação do modelo da crise financeira
no Brasil consiste da nova série de índices mensais da
produção industrial, elaborados com base na Pesquisa
Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF) reformu-
Uma das variáveis –
lada. A fonte dos dados para as variáveis independentes.
produção física industrial
(variável dependente da Taxa de câmbio efetiva real:
equação econométrica) Medida da competitividade das exportações bra-
sileiras calculada pela média ponderada do índice de
utilizada para a estimação paridade do poder de compra dos 16 maiores parceiros
do modelo da crise comerciais do Brasil.
financeira no Brasil consiste
Taxa de juros over/selic:
da nova série de índices
Dados mais recentes atualizados pela Sinopse da
mensais da produção Andima. Obs.: A taxa Overnight / Selic é a média dos ju-
industrial, elaborados com ros que o governo paga aos bancos que lhe empresta-
variáveis independentes.
Modelo explicativo
Y = f (TxJ , C r, TxCB)
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Hipóteses: b2= representa o coeficiente de elasticidade do cré-
dito da economia com relação ao produto.
R2 0.71
‘‘
Cabe ressaltar que no caso de um vetor de cointe-
gração, indica-se um significado de relação de longo
O presente artigo prazo compartilhada pelas variáveis, como se interpreta
estudou os aspectos no caso de apenas um vetor de cointegração. A cointe-
gração implica uma relação de longo prazo, ou equilí-
gerais da crise financeira
brio, entre duas (ou mais) variáveis. No curto prazo pode,
internacional, destacando no entanto, haver um equilíbrio entre elas.
seus pontos relevantes, Os resultados reportados na tabela nº IV diz respeito,
sua origem e seus as elasticidades de curto prazo que foram obtidas com
base na estimação do modelo vetor de correção de erro
reflexos na economia (VECM), o qual inclui os vetores de cointegração estima-
mundial. Contextualizou dos no anexo. A elasticidade da taxa de câmbio de curto
o mercado brasileiro
e a evolução de suas
operações junto ao
sistema bancário.
‘‘ prazo foi estimada em 0,01, o que é bastante baixa, mas
estatisticamente não nula, de acordo com a hipótese
esperada. A elasticidade de crédito de curto prazo, por
outro lado, foi de 1.48, também é estatisticamente não
nula, ou seja, diferente de zero. O sinal obtido é o espe-
rado pela teoria. A elasticidade da taxa de juros foi -0,45,
também, estatisticamente significativa em nível de sig-
nificância de 1%, como em todas as variáveis. O sinal
esperado esta de acordo com a hipótese do modelo.
Diz-se que duas variáveis são co-integradas se existir
entre elas uma relação estável no longo prazo, mesmo
Tabela IV - Modelo Vetor de Correção de Erro (VECM)
que ambas sejam individualmente não-estacionárias.
Nesse caso, a regressão de uma dessas variáveis contra D.lnprodução Coef. t
a outra não é espúria. Ambas as estatísticas do teste de
Dlnproduçãot-1 -0.29 -6.41
Johansen (traço e máximo autovalor) não rejeitam a hi-
pótese do número de vetores ser menor ou igual a 1, Dtxcâmbiot-1 0.01 -5.48
mas rejeitam a hipótese do número de vetores ser me-
Dlncréditot-1 1.48 2.98
nor ou igual a 1. Este fato implica a presença de uma
tendência linear no modelo, quando descrito com as Dtxjurost-1 -0.45 -6.45
variáveis em nível. vetor cointegração 1 -0.14 -5.21
0 117.67 39.89
Conjuntura
Referências bibliográficas
O Corecon/DF defende os
interesses da categoria e
trabalha pela valorização
dos economistas.
Participe!
A conquista é de todos.