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A AFETIVIDADE NO AMBITO ESCOLAR NUMA ABORDAGEM WALLONIANA

Nanci Terezinha da Silva*


Suane Aparecida Cortez Schiavelli*
Carmem Rodrigues da Costa**

Trabalho apresentado na 7ª semana pedagógica 2010 – Entre a educação e a inclusão e I


Encontro de Psicologia e Educação: Implicações no processo de ensino aprendizagem
(realizado pelo departamento de Educação da Fafipar, Paranaguá). ISSN 2177-546X

RESUMO: Abordar uma questão bastante discutida por parte dos educadores,
especialistas da educação e teóricos é algo muito complexo, daí a importância de
esclarecer os conceitos enfatizados por Henry Wallon em sua teoria, o objetivo é
conceituar a afetividade e compreender que a dimensão afetiva está muito alem do
que se possa imaginar, cuja importância reflete no âmbito escolar no que diz
respeito ao processo ensino aprendizagem, considerando que a escola vive um
momento crítico, e um dos maiores problemas enfrentados por parte dos
professores e toda a equipe pedagógica é o comportamento dos alunos em sala de
aula, ou seja, a indisciplina. Tal situação já persiste, e vem se agravando, há quase
duas décadas, assim tornou-se um dos motivos de abandono da profissão para
alguns, e para os que permanecem tornou-se um grande desafio, os docentes
devem estar atentos ao fato de que o elo afetivo professor/aluno é um dos fatores
mais determinantes para o desinteresse escolar, vale ressaltar que a conduta do
professor enquanto gestor da sala de aula é um fator determinante no vinculo de
relação recíproca professor/aluno condizente com a prática efetiva cuja motivação e
auto-estima advêm da afetividade.

Palavra-chave: afetividade; escola; Wallon

INTRODUÇÃO

A afetividade tem um papel fundamental no processo de desenvolvimento da


personalidade da criança, manifestada antes no comportamento
__________________________________________________

* Acadêmicas do 4º ano diurno do Curso de Pedagogia da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências


e Letras de Paranaguá – FAFIPAR ** Profª. Ms. Orientadora da FAFIPAR

e posteriormente na expressão, por isso faz-se necessário compreender que


afetividade e emoção são distintas, a afetividade é um conceito amplo, emoções,
sentimentos e desejos são manifestações da vida afetiva, cujo papel é fundamental
no desenvolvimento humano, as emoções são as formas corporais de expressar o
estado afetivo que pode ser penoso ou agradável, do ponto de vista que o
desenvolvimento é um processo continuo, pois o homem não é um ser pronto e
acabado, refere-se ao desenvolvimento mental e ao crescimento orgânico, cabendo
conhecer as características comuns de cada faixa etária, reconhecendo as
individualidades .
Há que se considerar que as relações em família exercem influencia sobre o
desenvolvimento dos filhos, uma vez a inteligência não se desenvolve sem
afetividade, a afetividade abordada por Wallon não se resume a ternura e
permissividade, mas sim a considerar e compreender que o aluno é um ser social
que está inserido num ambiente e de repente o que se passa nesse ambiente para
que ele haja de determinada maneira, e que a postura do educador influencia nesse
comportamento, é necessário também compreender como funciona o cérebro, pois
trata-se do desenvolvimento, afetivo, psicomotor, cognitivo, a afetividade nasce da
fragilidade, da necessidade de proteção.

CONCEITO DE AFETIVIDADE

Afetividade vem do latim affectivus, que significa influenciar, afetar atingindo


sentimentos, interesses, impulsos, tendências, valores, que influenciam a motivação
o fator energético da sala de aula, despertando o interesse pela aprendizagem
estabelecida na relação afetiva, a motivação contagia os que estão próximos, uma
vez que é um processo psicológico e energético, interno e profundo.
Segundo o dicionário Aurélio (1994), a afetividade é o conjunto de fenômenos
psíquicos que manifestam sentimentos e paixões, acompanhados sempre da
impressão de dor, insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza.
Afetividade é preocupar-se com os alunos, reconhecendo-os como indivíduos
independentes com experiências de vida diferente, e com preferências e desejos
individualizados, cabe aos professores aproximar-se do aluno, saber ouvi-lo,
valorizá-lo e acreditar nele, dando o direito de expressar e expor sentimentos.
Para Wallon “a afetividade tem um papel imprescindível no processo de
desenvolvimento da personalidade da criança, que se manifesta primeiramente no
comportamento e posteriormente na expressão”. Sabe-se que a afetividade possui
um conceito amplo abrangendo componentes orgânicos, corporais, motor e plástico
(a emoção) e componentes cognitivos evidenciados por meio dos sentimentos e da
paixão, ao distinguir emoção, sentimento, paixão e afetividade Wallon afirma que o
ultimo aspecto é amplo, pois engloba os anteriores, sendo o centro de sua obra cuja
base está no materialismo dialético.

AFETIVIDADE EM SALA DE AULA

Na relação entre a mãe e a criança como as primeiras palavras, os primeiros


gestos se dão também às primeiras aprendizagens, é nesta relação que a criança
constrói seu estilo de aprendizagem, que vão se modificando, se transformando
através de sua relação com outras e diversas circunstâncias.

Em cada fase da afetividade, desenvolvem-se certas capacidades que


revelam maturidade. As aprendizagens ocorrem respectivamente no ambiente
familiar, depois no social e na escola, existe uma grande dificuldade para algumas
crianças no primeiro dia escolar, e muitas vezes não há compreensão por parte dos
educadores fazendo com que as crianças, os alunos não aprendam a matéria
prejudicando-as num futuro próximo.

Na escola as manifestações de afetividade exercem um papel fundamental no


processo de desenvolvimento do aluno, seja ela criança ou adolescente. Existe uma
relação entre a inteligência e a afetividade, razão e emoção no desenvolvimento do
aluno que estão intimamente ligadas ao desempenho escolar, sendo o
desenvolvimento contínuo e a afetividade indispensável nesse processo, cabe não
só aos pais, mas também aos professores, e a equipe pedagógica, trabalhar a
afetividade procurando desenvolver sentimentos nobres que permitem ao indivíduo
atuar como cidadão na sociedade. A relação mantida em sala de aula com os alunos
também deve ser cultivada com sentimentos positivos, durante o ensino da matéria,
o professor deve procurar evitar opressão, trabalhar de forma prazerosa e criar um
clima de igualdade de expressão e oportunidades entre todos, evitando, assim, um
tratamento desigual entre os alunos.

CONCEITO DE EMOÇÃO

Segundo o dicionário Aurélio emoção é um Estado emotivo intenso e breve


abalo moral ou afetivo; perturbação, geralmente passageira, provocada por algum
fato que afeta o nosso espírito.

Para Wallon, a emoção é a exteriorização da afetividade, um fato fisiológico


nos seus componentes humorais e motores e, ao mesmo tempo, um comportamento
social na sua função de adaptação do ser humano ao seu meio:

...As emoções, são a exteriorização da afetividade(....) Nelas


que assentam os exercícios gregários, que são uma forma
primitiva de comunhão e de comunidade. As relações que
elas tornam possíveis afinam os seus meios de expressão, e
fazem deles instrumentos de sociabilidade cada vez mais
especializados. (Wallon, 1995, p. 143)

A emoção, já se manifesta antes mesmo da linguagem, é o meio utilizado


pelos bebês para estabelecer uma relação com o mundo. Aos poucos, os
movimentos de expressão, primeiramente fisiológica, evoluem até se tornarem
comportamentos afetivos mais complexos, nos quais a emoção, vai cedendo terreno
aos sentimentos e depois às atividades intelectuais.

As emoções são instantâneas e diretas e podem expressar–se como


verdadeiras descargas de energia. Quando isto ocorre, elas têm o poder de se
sobrepor ao raciocínio e ao conhecimento. A emoção é uma forma de exteriorização
da afetividade que evolui como as demais manifestações, sob o impacto das
condições sociais.

Emoção em sala de aula

Durante o processo de ensino e aprendizagem, o professor e o aluno podem


passar por momentos emocionais sendo que as três emoções que exercem ações
na sala de aula são: o medo demonstrado através de situações novas como por
exemplo responder alguma pergunta, apresentar algum trabalho, a alegria, que traz
nervosismo, agitação, e também entusiasmo para a realização das atividades, e por
último a cólera, a revolta, que tem o poder de expor o professor diante da classe
trazendo desgastes físicos e emocionais.

Na maioria das vezes os professores não sabem lidar com as situações


emotivas dentro da sala de aula, pois elas podem ser imprevisíveis. Portanto a
postura do professor em sala deve ser emocionalmente equilibrada, pois a
inteligência costuma ceder a emoção, e o desafio é manter o equilíbrio entre a razão
e a emoção, para que o estado emocional não implique em exercer determinada
atividade cognitiva.

A criança precisa ser reconhecida, ser elogiada, isso nutre a afetividade da


criança, pois demonstra o interesse do professor, fazendo com que ela se sinta
importante, contribuindo para a construção de sua personalidade, caracterizando–a
como ser humano, como sujeito do conhecimento e do afeto, possibilitando-lhe um
maior crescimento.

Pontos negativos da Afetividade em sala de aula: como melhorar esse quadro?

Nas escolas em geral, alunos experimentam diversos afetos: o prazer de


conseguir realizar algo pela primeira vez, tristeza ao saber da nota baixa, e raiva
após discutir com o professor ou com o colega. Podem ou não gostar do professor,
sentir-se felizes quando seus colegas de sala os aceitam e culpados quando não
estudam o suficiente. Em psicologia os afetos são classificados em positivos e
negativos.

A afetividade positiva (AP) se refere ao tipo de emoções positivas tanto de


alta energia (entusiasmo, excitação, prazer e alegria) como de baixa energia (calma
e tranqüilidade). A afetividade negativa (AN) se refere às emoções negativas como a
ansiedade, raiva, culpa e tristeza, e é possível que um aluno apresente alta energia
em ambos os casos (AP E AN) ao mesmo tempo.
Isso mostra que a afetividade faz parte do processo ensino-aprendizagem,
não podendo desconsiderá-la, e pode-se melhorar o ponto negativo da afetividade
em sala de aula, trabalhando a dimensão afetiva da ação pedagógica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As dificuldades de aprendizagem das crianças podem originar-se do modo


como são tratadas em casa e na escola. Dessa forma, o ato educativo deve estar a
serviço do desenvolvimento do bem-estar do educando, e a educação deve tomar
para si esse problema, auxiliando-o desde a sua infância, não somente, a interagir
com o meio, mas principalmente conhecê-lo no sentido amplo deste termo.

A escola deve considerar que os anos que nela passamos são momentos de
construção de conhecimentos para a vida. A quantidade de informações que a
sociedade contemporânea nos fornece, são oriundos dos mais diferentes lugares e a
escola não tem conseguido acompanhar essa evolução, aumentando de forma
singular à distância entre o saber e o ser.

Vislumbrando uma escola atenta às possibilidades e necessidades infantis,


acreditamos numa educação voltada para a pessoa completa, com uma prática que
contemple os aspectos afetivos, cognitivos e motor e que promova o seu
desenvolvimento em todos esses níveis.

Educação e afeto poderiam caminhar juntos. A tarefa de todo educador


deveria ser a de formar seres humanos felizes e equilibrados.

Wallon destaca a importância de uma disciplina diferente da que a criança


recebe em casa, ainda na escola maternal, além da relação pessoal entre ela e seu
educador. Para isso, é de fundamental importância que o professor esteja
consciente de sua responsabilidade, tomando decisões de acordo com os valores
morais e as relações sociais de sua época, considerando ainda as condições de vida
familiar e social de seus alunos.

As escolas deveriam entender mais de seres humanos e de amor do que de


conteúdo e técnicas educativas. Elas têm contribuído em demasia para a construção
de neuróticos por não entenderem de amor, de sonhos, de fantasias, de símbolos e
de dores.

Se alguém não se investiu de amor, não poderá dá-lo a outro.

REFERÊNCIAS

MAHONEY Abigail Alvarenga. A constituição da pessoa na proposta de Henri


Wallon. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

GALVÃO IZABEL. Henri Wallon Uma concepção dialética do desenvolvimento


infantil -Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. - (Educação e Conhecimento)

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