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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
BRASÍLIA
2008
ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
FUNDAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
INSTITUTO VIDA UNA
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
BRASÍLIA
2008
BANCA EXAMINADORA
______________________________
Dr.ª Marisa Pacini Costa
Escola Superior de Ciências da Saúde
ESCS/SES/DF
______________________________
Mt.ª Alessandra Costa Barbosa
Instituto Vida Una
ii
AGRADECIMENTOS
iii
RESUMO
iv
ABSTRACT
The stress is leaving of being a natural beneficial and defense process of the
organism to become one of the biggest spreaders of illnesses of the modern age.
Currently, scientists esteem that it is the responsible one for about 50% of all the
medical consultations and lacks to the work, producing excessive expenses for the
companies and the public sector of health. The stress does not have preconceptions
and the physiological reactions that it provokes are the same in every creature,
depending, only, of the perception of the factors stressors, that dumb of a person to
another one, in accordance with its form to understand the world. Currently, many are
the recommendations for the prevention and treatment of stress, being one of them,
the music therapy, which can have appeared as modality of treatment from the
comment of the capacity that music has to calm and to relax who of it usufructs. The
music therapy opens of communication channels that allow the individual to express,
to know about himself and to work internal contents that will reestablishment of its
health. Some scientific studies come proving that the music therapy is capable to
reduce and to control stress. Of this form, from the neurophysiologic analysis of the
action of the stress and the music on the man, with the objective to find the areas and
the techniques of the music therapy that more good if apply to the treatment and
prevention of the stress, this work concludes that all the techniques and all the
practical ones of the music therapy can be beneficial to the treatment of the stressed
persons.
v
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
vi
LISTA DE FIGURAS
vii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1
METODOLOGIA.......................................................................................................... 4
REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................................... 5
1 ESTRESSE............................................................................................................... 5
1.1 CONCEITOS.......................................................................................................... 5
1.2 FATORES DESENCADEANTES DO ESTRESSE................................................ 11
1.3 NEUROFISIOLOGIA DO ESTRESSE................................................................... 14
1.4 SINAIS E SINTOMAS DO ESTRESSE................................................................. 21
1.5 CONSEQÜÊNCIAS DO ESTRESSE..................................................................... 22
1.6 PROFILAXIA E TRATAMENTO............................................................................. 23
2 MUSICOTERAPIA.................................................................................................... 27
2.1 BREVE HISTÓRICO.............................................................................................. 27
2.2 MÚSICA: CONCEITOS E DEFINIÇÕES............................................................... 30
2.3 MUSICOTERAPIA: CONCEITOS E DEFINIÇÕES............................................... 32
2.4 BENEFÍCIOS E APLICAÇÕES DA MUSICOTERAPIA......................................... 35
3 MUSICOTERAPIA E ESTRESSE............................................................................ 39
3.1 NEUROFISIOLOGIA DA MÚSICA E SUA ATUAÇÃO DIANTE DO ESTRESSE.. 40
3.2 AS PRINCIPAIS TÉCNICAS MUSICOTERÁPICAS E SUA UTILIZAÇÃO NO
ESTRESSE........................................................................................................... 43
3.2.1 Improvisação....................................................................................................... 44
3.2.2 Re-criação........................................................................................................... 45
3.2.3 Composição........................................................................................................ 45
3.2.4 Audição............................................................................................................... 46
3.3 AS PRÁTICAS MUSICOTERÁPICAS E SUA APLICAÇÃO NO ESTRESSE........ 50
3.3.1 Didática............................................................................................................... 50
3.3.2 Recreativa........................................................................................................... 51
3.3.3 Médica................................................................................................................ 52
3.3.4 Psicoterapêutica.................................................................................................. 53
3.3.5 Ecológica............................................................................................................. 54
3.3.6 Cura.....................................................................................................................56
CONCLUSÃO.............................................................................................................. 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 62
viii
1
INTRODUÇÃO
fornecer subsídios que o ajudem a lidar melhor com as pressões impostas pela
sociedade.
A música é uma arte universal e não existe uma única civilização na qual não
se encontrem manifestações musicais. O poder que a música tem de produzir
mudanças comportamentais e emocionais tem despertado o interesse dos cientistas
em tentar descobrir a sua forma de atuação sobre a saúde do homem. Dessa forma,
cresce a pesquisa da intrincada relação entre a música e a medicina, principalmente
por parte da fisiologia, neurologia e psiquiatria que buscam explicar as reações e os
efeitos da música sobre o nosso organismo e nossa mente.
Segundo BARALE (2006), a música age sobre o ser humano a nível físico,
mental, espiritual e intelectual, lhe proporcionando bem estar e melhorias para a sua
qualidade de vida. Além disso, a música, por ser uma forma de comunicação não-
verbal, possibilita a abertura de novos canais de comunicação que melhoram sua
expressão e autoconsciência, permitindo que a pessoa lide melhor com seus
conflitos emocionais e consiga expor as suas preocupações inconscientes.
Neste contexto, a musicoterapia aparece como uma promissora ferramenta no
combate ao estresse, porque os dois, tanto a música quanto o estresse, são
percebidos pelas mesmas estruturas cerebrais, levando a crer que as reações
fisiológicas do estresse possam ser interrompidas com a aplicação da musicoterapia.
Este tema é de grande relevância para a sociedade porque o estresse está
presente na vida de todos nós: seja em menor ou maior grau; impulsionando-nos a
estudar, trabalhar e lutar por uma vida melhor, ou provocando conseqüências
devastadoras na saúde física, mental e financeira das pessoas, das empresas e do
setor público. A procura por meios alternativos, que possam auxiliar na prevenção ou
redução dos níveis de estresse, deve ser estimulada porque, segundo alguns
estudiosos, estima-se que cerca de 50% das doenças e consultas médicas da
atualidade sejam em conseqüência do estresse. Somam-se a isso, as elevadas
taxas de absenteísmo, as quedas de produtividade e os milhões de dólares
destinados anualmente para as despesas médicas: todos em decorrência do
estresse. Portanto, sendo a musicoterapia uma disciplina em expansão dentro da
área médica e que vem se mostrando uma ferramenta eficaz e de baixo custo para
uma série de agravos a saúde, acredita-se que o estudo dos mecanismos biológicos
de atuação da música frente ao estresse, bem como das áreas e técnicas
3
METODOLOGIA
REFERENCIAL TEÓRICO
1 ESTRESSE
1.1 CONCEITOS
mais importante do nosso organismo; que ele faz parte do nosso sistema de defesa
e é necessário no provimento de energia para enfrentarmos situações novas e/ou de
perigo (KHALFA, 2005; OLIVEIRA, 2008; WHO, 2008b).
Em 1936, Hans Selye descreveu pela primeira vez a Síndrome Geral da
Adaptação (SGA), baseando-se nos trabalhos anteriores do fisiologista Walter
Cannon, criador do conceito de homeostase, e em seus próprios estudos, em que
observou que diferentes organismos apresentavam um mesmo padrão de resposta
fisiológica a estímulos sensoriais ou psicológicos (BALLONE, 2008b; KRUMM, 2007;
OLIVEIRA, 2008).
A Síndrome de Adaptação ao Estresse (SGA) é um conjunto de reações
desencadeadas pelo organismo quando nosso cérebro se depara com um evento e
o interpreta como sendo ameaçador. Ela é caracterizada por três estágios: a fase de
alarme, a fase da resistência e a fase de esgotamento (BALLONE, 2008e).
A reação inicial do indivíduo ao agente agressor constitui a fase de alerta e é
aquela conhecida também como resposta de fuga ou de luta. Esse padrão de
resposta é sempre o mesmo para todos os indivíduos, independente da reação
comportamental que a pessoa apresente como, por exemplo, lutar ou fugir. Ela é
decorrente da ativação do sistema nervoso simpático, que promove a liberação
plasmática de uma grande quantidade de epinefrina (ou adrenalina), que, por sua
vez, gera aumento da freqüência cardíaca e respiratória, da pressão arterial,
dilatação das pupilas, aumento da glicemia e diminuição dos processos digestivos.
Todos esses mecanismos são necessários, por exemplo, para aquele momento em
que nos deparamos com um leão e precisamos correr ou lutar (ou rezar!). Ou para
aqueles momentos fatídicos em que o despertador falha e de repente percebemos
que estamos atrasados para aquela reunião importante! Sendo o estressor de curta
duração, essa fase termina algumas horas após a eliminação da epinefrina do corpo
e a restauração do equilíbrio interno. Nestas circunstâncias, é possível que não haja
a instalação de efeitos negativos duradouros (BALLONE, 2008e; KRUMM, 2007).
Se o agente estressor perdura ou é de grande intensidade, o organismo vai
tentar manter a homeostase entrando na segunda fase do estresse, a de resistência
ou adaptação. Neste momento o corpo começa a se acostumar aos estímulos
geradores do estresse. Os sintomas da fase de alarme já não são mais sentidos e o
indivíduo passa a apresentar um cansaço generalizado, sem causa aparente, com
9
com estas situações. É essa sensibilidade afetiva que explica porque algumas
pessoas avaliam e reagem de forma particular a determinados eventos, permitindo
que estes repercutam em maior ou menor grau sobre seus organismos.
A reação fisiológica ao estresse é igual para todos os seres vivos superiores.
Porém, aspectos sociais e diferentes comportamentos nas etapas do
desenvolvimento psíquico e biológico, bem como características pessoais de
flexibilidade e abertura a mudanças, fatores genéticos, dieta e freqüência de
atividade física, por exemplo, são algumas das características que possibilitam
determinadas pessoas de desencadearem uma ativação fisiológica maior ou de
reagir de forma mais saudável que outras, quando expostas aos mesmos agentes
estressores (BALLONE, 2008b; KRUMM, 2007).
A reação a determinadas situações tende a variar entre os indivíduos e isso
se deve em grande parte à personalidade das pessoas. Pesquisadores ainda na
década de 70 descobriram que pessoas com personalidade do tipo A, ou seja, que
apresentam como características intrínsecas a agressividade, hostilidade,
ansiedade, tendência exagerada à competição e facilidade de somatização, estavam
entre os indivíduos com maior probabilidade de se encontrarem estressados, que
aqueles de personalidade tipo B, mais calmos, tranqüilos e ponderados (KRUMM,
2007).
A resposta aos fatores estressores dependerá tanto das diferenças individuais
de cada pessoa, como também da sua classe social, nível cultural e padrões
adaptativos de comportamento. Se entendermos que o estresse é uma adaptação
orgânica e psíquica às modificações do meio, mesmo eventos positivos como festas,
férias ou promoções geram estresse. É a maneira como cada pessoa sente, percebe
e reage a um agente estressor que caracteriza o estresse como sendo positivo ou
negativo (BERNIK, 2008; LIMA; SANTOS; SPARRENBERGER, 2003; KRUMM,
2007; OLIVEIRA, 2008).
A reação dos animais superiores aos agentes estressores tem a finalidade de
sobrevivência. Por isso, até certo ponto, o estresse é positivo e nos impulsiona a
buscar uma solução diante dos desafios da vida; a melhorar o funcionamento das
organizações por meio da mobilização dos trabalhadores; a estimular a criatividade
para a resolução de problemas; a estudar e lutar por melhores salários; a ajudar os
atletas a superarem seus desafios, dentre outros tantos exemplos de como o
11
obriga a agir de forma robotizada e contrária aos seus sentimentos. Dessa forma, a
pessoa começa a se isolar do convívio social, tornando-se triste, mal humorada e
com grandes chances de desenvolver a depressão.
Obviamente, os perigos que estressavam nossos ancestrais não são os
mesmos que nos estressam hoje. Os agentes estressores modernos não são tão
concretos como um rinoceronte, mas eles são reais para nós, apesar de abstratos.
Hoje, são a competitividade e competência profissionais, a segurança social, a
sobrevivência econômica e as perspectivas futuras, que nos atormentam e
ameaçam continuamente o nosso ser e a nossa sobrevivência, nos tornando cada
vez mais ansiosos e doentes.
Aliás, como cita BALLONE (2008b), a ansiedade, mola propulsora do
estresse, é uma reação fisiológica ao perigo que é indispensável à vida, e que nos
serve de alerta para a necessidade de mudanças. Porém, na sociedade
contemporânea, ela vem se tornando uma vigorosa fonte propagadora de distúrbios
fisiológicos e mentais no momento em que passou a ser item indispensável à nossa
sobrevivência, tamanha são as tensões e preocupações a que somos submetidos
diariamente. Atualmente, grande parte de nós vive preocupada e ansiosa com o
amanhã: com os trabalhos para finalizar, com os prazos para cumprir e com as
metas a alcançar. Vivemos com medo e inseguros, e isso gera muita ansiedade, e
consequentemente, mais estresse.
Não podemos deixar de mencionar que o estilo de vida também está
fortemente relacionado à gênese do estresse. A adoção de hábitos de vida
inadequados como uma alimentação desequilibrada, o sedentarismo, o fumo, as
poucas horas de sono, o consumo de álcool e drogas, a falta de tempo para o lazer
e para o convívio familiar, além de uma preocupação excessiva com aparência e
uma visão pessimista diante da vida, são atitudes que desempenham um papel
decisivo na instalação do estresse. Pessoas que possuem uma sobrecarga de
trabalho, por exemplo, mas que conseguem ter disciplina suficiente para manterem
bons hábitos de vida como a prática de uma atividade física regular, uma
alimentação saudável, não fumar e conseguem ter um bom convívio familiar,
reservando momentos para o lazer, possuem poucas chances de virem a sofrerem
conseqüências drásticas em virtude do estresse. Assim, essa pessoa que possui
hábitos de vida mais saudáveis vai sentir o estresse de uma forma mais amena que
14
2 MUSICOTERAPIA
1
KHAN, H. I. The message of Hazrat Inayat Khan. v. 2, ed. 2. Londres: 1973
29
Por meio das experiências proporcionadas pela música e das relações que se
desenrolam a partir delas, o cliente entra em um processo de mudança que se
generaliza para todas as outras áreas de sua vida, lhe proporcionando
autoconhecimento e trazendo benefícios para o seu bem estar físico, mental e
espiritual. Essas experiências musicais, que conferem um caráter experimental à
terapia e são as responsáveis por desencadear os processos terapêuticos de
mudança, são proporcionadas por métodos e técnicas que serão aplicados pelo
musicoterapeuta durante as sessões, de acordo com os objetivos iniciais do cliente
(BRUSCIA; 2000).
Segundo BRUSCIA (2000), há quatro tipos de experiências musicais -- melhor
detalhadas no item 3.2: a improvisação (onde o cliente cria a sua música cantando
ou tocando um instrumento), a re-criação (onde o cliente canta ou toca alguma
música já existente), a composição (onde o cliente compõe e escreve uma música
com a ajuda do musicoterapeuta) e a audição (onde o cliente escuta uma música
gravada ou tocada naquele momento pelo terapeuta). Cada uma dessas
experiências evoca diferentes tipos de emoções e provoca um processo interpessoal
34
influenciando a construir uma nova relação com o mundo e com os outros, servindo
de linguagem e possibilitando ao cliente se comunicar com o terapeuta através de
sua produção musical. Essa comunicação irá permitir que, através de sua
experimentação e organização musical, o paciente entre em contato com seus
sentimentos, pensamentos, lembranças e emoções, promovendo assim o processo
terapêutico. A musicoterapia, com o auxílio da música, vai criar uma ponte entre o
nosso consciente e subconsciente e abrir nossos canais de comunicação, permitindo
que os nossos conteúdos internos se tornem acessíveis e o indivíduo consiga
expressar experiências e sentimentos normalmente difíceis de serem explicados por
meio das palavras (ECHEVARRIA et al.,1997; RUUD, 1990).
mais variadas clientelas que vai desde fetos, ainda na barriga de suas mães, até
idosos.
A idéia de se aplicar a musicoterapia no tratamento do estresse
possivelmente surgiu da observação da capacidade que a música tem de acalmar e
relaxar de quem dela usufrui. Apesar de não conhecermos exatamente por quais
mecanismos ela atua, a musicoterapia vem sendo amplamente empregada na
prevenção e tratamento de pessoas cronicamente estressadas, amparada por vários
estudos que comprovam que ela pode trazer uma série de benefícios a esses
indivíduos.
39
3 MUSICOTERAPIA E ESTRESSE
sujeitas à história de vida da pessoa ou de qualquer outro julgamento que ela possa
fazer dessas músicas, contrariando, de certa forma, o que alega LEWIS em sua
pesquisa mencionada no item anterior. Assim, durante os estados emocionais de
medo e alegria suscitados pelo andamento rápido e pela forte dinâmica musical,
nosso sistema nervoso reage acelerando os batimentos cardíacos e aumentando a
transpiração, independente de nossa vontade. Dessa forma, deduz-se que a música
não apenas evoca, mas como também provoca emoções, postulando a existência de
uma provável via cerebral específica para o processamento das emoções musicais.
De forma bastante resumida, o som penetra o nosso cérebro através de
ondas sonoras captadas pelos ouvidos externos. Sob a forma de ondas de pressão,
o som chega até nossos ouvidos internos, onde é prontamente transformado em
ondas fluidas, que, logo em seguida, é transmutado em impulsos elétricos. Esses
sinais elétricos percorrem o nervo auditivo e finalmente alcançam o córtex auditivo,
onde serão processados e, ao que tudo indica, enviados a várias outras regiões do
cérebro como, por exemplo, o sistema límbico, responsável por captar as nossas
sensações e transformá-las em emoções (WEINBERGER, 2007).
É provável que o poder da música em evocar emoções resida em sua
capacidade de estimular essas muitas áreas cerebrais e acessar, ao mesmo tempo,
todas as nossas percepções, integrando as sensações gustativas, olfativas, visuais e
proprioceptivas em um conjunto de sensações que atuarão em conjunto, fornecendo
mais subsídios e informações para o nosso cérebro aumentando, assim, o poder da
música em evocar emoções. Isso explica porque quando escutamos uma
determinada música, conseguimos lembrar do perfume que estávamos usando
quando assistíamos ao filme, do qual aquela música fazia parte da trilha sonora
(CAMPOS; CORREIA; MUSZKAT, 2000).
O sistema límbico desempenha o papel de coordenar nossas funções
vegetativas e autonômicas e controlar as nossas emoções. Talvez por isso a maioria
das emoções surja acompanhada por manifestações viscerais como o choro, por
exemplo, e por alterações da pressão arterial, da freqüência cardíaca ou do ritmo
respiratório. Fazendo parte ainda do sistema límbico, temos o complexo
amigdalóide: a porta de entrada das emoções no cérebro, que monitora e recebe as
várias informações sensoriais percebidas pelo corpo, as quais são responsáveis por
ativar o sistema límbico (DE PAULA, 2008b).
42
FONTE: KHALFA, S. Melodia para os ânimos. Revista Mente&Cérebro, São Paulo, n. 149, p. 72,
jun. 2005.
3.2.1 Improvisação
3.2.2 Re-criação
3.2.3 Composição
3.2.4 Audição
e/ou que forneçam subsídios para uma análise psicológica de suas reações, com o
objetivo de trabalhar os seus conteúdos internos. Neste último caso, a técnica da
escuta pode ser utilizada para evocar lembranças e experiências do passado,
pertinentes para o cliente naquele exato momento e que de alguma forma irão
contribuir para o seu tratamento. A escuta musicoterápica pode atuar também como
um promotor para as discussões de relevância terapêutica quando faz emergir
emoções e sentimentos no cliente, importantes para o seu crescimento.
Esta técnica é utilizada também quando os objetivos da terapia compõem-se
em desenvolver a atenção, a audição, a percepção e a receptividade; em auxiliar no
aprendizado e memorização de crianças e jovens; quando os objetivos estão
relacionados à dramatização ou são recreativos e de integração social; dentre
muitos outros.
A maioria das pesquisas científicas observacionais realizadas com a
musicoterapia e as respostas fisiológicas que ela provoca, são realizadas fora do
país e são baseadas na técnica da escuta musical e em suas diferentes variações.
Em relação ao estresse, a maioria dos artigos científicos analisados que continham
as palavras "music therapy" e "stress" em seu título, tratavam-se da observação das
reações fisiológicas frente à escuta de músicas classificadas como relaxantes e
calmantes.
As pesquisadoras DANHAUER e KEMPER (2008), por exemplo, observaram,
a partir da revisão de múltiplas pesquisas, que determinadas canções de ninar e
músicas clássicas, quando tocadas para bebês prematuros em unidades de terapia
intensiva, diminuíam o comportamento estressante dos bebês, os níveis de cortisol
salivar e a freqüência respiratória, melhorando o sono, o ganho de peso e
favorecendo a alta hospitalar.
As autoras descrevem em seu artigo, um estudo que mostrou que a escuta da
música clássica promove a diminuição do estresse e gera maior resistência a ele por
meio da melhora do controle autonômico da freqüência cardíaca, enquanto que o
barulho ou o rock atua de forma contrária. Outro estudo observou que mesmo os
adolescentes, que gostavam de ouvir rock, apresentavam respostas psicológicas e
emocionais negativas durante a sua escuta, resultado que foi ao encontro do que
concluiu PELLETIER (2008) em sua meta-análise, em que observou o efeito da
música na redução do estresse. Ao contrário do que as recentes pesquisas vêm
48
3.3.1 Didática
3.3.2 Recreativa
3.3.3 Médica
3.3.4 Psicoterapêutica
3.3.5 Ecológica
3.3.6 Cura
Deste modo, é certo que alguns pacientes terão mais confiança e irão preferir
determinadas áreas em detrimento de outras, o que não significa absolutamente
nada, uma vez que, desta mesma forma, haverá diferentes clientes que irão preferir
as modalidades realizadas em grupos, enquanto outros se sentirão mais a vontade
trabalhando individualmente.
Por isso, nós, musicoterapeutas e profissionais da saúde, conscientes das
individualidades, necessidades, anseios e receios dos pacientes que nos procuram,
devemos trabalhar a flexibilidade e estar abertos para o novo e para as mudanças:
qualidades que nos servirão não só para atender ao nosso cliente de maneira mais
adequada e eficiente, mas que também nos ajudarão a levar uma vida de forma
mais equilibrada e tranqüila.
58
CONCLUSÃO
muito poderosa sobre o ser humano e contra uma série de enfermidades como a
depressão, a ansiedade e o estresse, por exemplo.
O corpo humano, juntamente com seus mecanismos fisiológicos e
neurológicos, está longe de ser totalmente desvendado. O cérebro é magnífico e
misterioso para a ciência, da mesma forma que a musica é, pois ainda há muito que
se estudar e pesquisar para explicar os mecanismos biológicos de ação da música
sobre o homem, e esse assunto provavelmente nunca se esgotará. Espera-se que
as recentes pesquisas na área da neurociência tragam mais resultados a respeito
das potencialidades e efeitos da música sobre o homem, por que até então, não
entendemos totalmente por quais mecanismos neurofisiológicos ela atua. O que
conseguimos observar por meio dos vários estudos realizados até então é que a
elucidação dos mecanismos cerebrais utilizados pela música para evocar emoções,
proporcionar prazer e reduzir o estresse, por exemplo, está cada vez mais próxima.
Quanto à musicoterapia, os estudos científicos prospectivos, randomizados,
controlados, duplo-cegos existentes ainda são poucos e pegam carona nas
pesquisas realizadas com a música. A única certeza que temos é que os clientes e
pacientes mostram-se prazerosos com as sessões e que a musicoterapia tem
apresentado bons resultados na maior parte dos casos a que se propõe a tratar,
aumentando cada vez mais a atuação do musicoterapeuta na área clínica.
A dificuldade em se realizar pesquisas exploratórias a respeito do efeito da
musicoterapia sobre o ser humano reside no fato de que uma mesma música,
quando tocada duas vezes seguidas, é capaz de provocar reações fisiológicas e
emocionais diferentes em uma mesma pessoa, dependendo apenas da forma como
ela foi reproduzida. Além disso, na musicoterapia, o homem se envolve com a
música através do corpo-mente-espírito, influenciando drasticamente os resultados
das pesquisas. Essas características da música, para os estudos científicos, não são
interessantes por que geram um elevado número de variáveis que precisariam ser
controladas. Mas por outro lado, na musicoterapia, quando se consegue controlar as
variáveis, os resultados nem sempre são satisfatórios ou os esperados, o que
dificulta e desestimula a realização de estudos experimentais na área.
A principal variável para a musicoterapia é o homem que, influenciado pelas
experiências pelas quais já passou, pela forma de pensar, estilo de vida, cultura e
genética, possui um jeito muito particular de ser que o tornam um exemplar único na
60
face da Terra. Essa forma especial de entender o mundo e de enfrentar o novo, nos
confere diferentes habilidades tanto para perceber e sentir a música quanto para
lidar com as adversidades da modernidade.
Essas informações, aliadas aos resultados das pesquisas analisadas, nos
levam a concluir que o trabalho musicoterápico com a finalidade de reduzir o
estresse terá melhores resultados quando realizado de forma individualizada, focado
nas sonoridades do cliente. Mas devemos levar em consideração que os trabalhos
realizados em grupos também são muito importantes na redução dos níveis de
estresse, por que, da mesma forma que um cliente se sente bem trabalhando de
forma particular, há muitos outros que preferem ou só podem trabalhar em grupos.
Cabe ao profissional encontrar meios para restabelecer a saúde dos clientes a partir
do que lhes é solicitado e disponibilizado.
Como pudemos observar na análise das técnicas e das áreas da prática
musicoterápica é que não há uma delas que seja melhor ou a mais indicada para o
estresse do que a outra. O musicoterapeuta, durante a avaliação inicial de seu
cliente, deverá ter a sensibilidade e o conteúdo técnico suficiente para escolher o
método e as técnicas mais adequadas para serem trabalhados naquele exato
momento, com base nos objetivos que ele pretende alcançar. É possível trabalhar
com a prevenção e a redução do estresse em todas as áreas da musicoterapia. É
provável que a escolha da área seja realizada pelo cliente, que procura uma clínica,
hospital ou consultório que se especializa em uma determinada área, ficando a
cargo do terapeuta, escolher as técnicas e métodos a serem utilizados durante as
sessões, de acordo com os objetivos clínicos e as necessidades do cliente.
Com base na observação das diferentes necessidades do cliente e nos
resultados dos artigos analisados, conclui-se que devemos estar atentos para o fato
de que nem sempre somente as técnicas e métodos da musicoterapia serão
suficientes para restaurar a saúde do nosso paciente. Vimos, por exemplo, que a
utilização da escuta musicoterápica na redução do estresse é benéfica, mas que em
conjunto com outras técnicas de relaxamento, ela pode proporcionar melhores
resultados. Portanto, estar aberto a novas idéias, técnicas e métodos que estejam
fora da musicoterapia é de suma importância para o enriquecimento do trabalho
desse profissional.
61
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