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Assimetria entre ricos (Norte) e pobres (sul) na era da globalização Domingos Bihale
Índice
1. Introdução ......................................................................................................................... 3
3. Assimetria entre ricos (Norte) e pobres (sul) na era da globalização (1970 –à actualidade) 7
Considerações finais............................................................................................................... 15
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 16
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Assimetria entre ricos (Norte) e pobres (sul) na era da globalização Domingos Bihale
1. Introdução
Por outro, as tradições, os hábitos, os usos e costumes vão mudando dia após dia à
medida que o processo ou fenómeno avança. É empiricamente difícil imaginar-se num mundo
de hoje sem telefone celular nos centros urbanos. As telenovelas substituem contos tradicionais
e influenciam sobremaneira a educação das crianças, no caso do mundo em desenvolvimento.
De acordo com Kassotche (1999:35) a Internet (maior símbolo da globalização), tornou-se
biblioteca, loja, correio, jornal, revista, banco, televisão, rádio, telefone. A cultura vai se tor-
nando global com semelhanças no estilo de vida dos centros urbanos; a sociedade global pare-
ce estar a desenvolver os mesmos gostos, hábitos de consumo e partilha cada vez mais os
mesmos riscos: HIV/SIDA, poluição, aquecimento global, diminuição da camada de ozono,
entre outros riscos. Em fim, a globalização no campo cultural se confunde o estilo de vida ame-
ricano (The American Style of Life): comida, roupa, música hip – hop, filmes e outros bens de
consumo made in USA.
Muitos autores são unânimes em afirmar que a globalização é acompanhada pelo cres-
cente fosso, em diversos aspectos, entre ricos e pobres (Knnedy, 1993; UNDP, 1997; Agnew,
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Assimetria entre ricos (Norte) e pobres (sul) na era da globalização Domingos Bihale
2001; Scott & Storper, 2003; Nye, Jr., 2004:192; entre outros). De acordo com Guimarães
(2008) os 10 % mais ricos do planeta aumentaram sua participação na renda total em 51,6% a
53,4 %, aumentando a brecha entre estes e os extractos mais pobres; a renda per capita em
todas as regiões em desenvolvimento, com excepção do Sudeste da Ásia, tem diminuído em
relação aos países de alta renda da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Eco-
nómico (OCDE). Os níveis de renda per capita na África Subsahariana diminuíram de 3,3%
para 1,9%, no Oriente Médio e no norte da África de 9,7% para 6,7%, e na América Latina e
no Caribe de 18% para 12,8%. A diminuição observada nessas taxas foi o resultado não apenas
de um descenso em termos absolutos como, também, de que a renda per capita das regiões
mais ricas cresceu mais rapidamente que a dos mais pobres, aumentando assim a brecha de
desigualdade entre países.
Assim levanta-se a seguinte questão: por que razão a globalização produz assimetrias
no mundo, se esse processo permite a aproximação da sociedade em diversos aspectos da vida,
a nível global? Revela-se importante compreender a assimetria entre o norte e o sul e identifi-
car as suas causas, para se encontrar o caminho de sua redução ou eliminação.
O presente ensaio tem como objectivo geral compreender a assimetria entre ricos (nor-
te) e pobres (sul) na era da globalização. Especificamente procura-se identificar a (s) causa (s)
da assimetria e encontrar as possíveis soluções, partindo dos seguintes pressupostos:
A assimetria entre ricos (norte) e pobres (sul) aprofundou-se na era globalização;
O aprofundamento da assimetria entre ricos e pobres é resultante da (re)distribuição
desigual dos recursos;
A redução da assimetria entre ricos e pobres na era da globalização requer a (re) -
distribuição equitativa dos recursos.
O ensaio foi elaborado com base em livros e artigos científicos que abordam a questão
da globalização e as transformações a ela atinentes. Primeiro, faz-se uma breve discussão do
conceito de globalização. Segundo, aborda-se a questão da assimetria entre ricos (Norte) e
pobres (sul) na era da globalização, onde se argumenta que a assimetria entre ricos (norte) e
pobres (sul) aprofundou-se na era globalização. Terceiro, levanta-se um debate teórico em tor-
no da fonte das desigualdades entre os países ricos e pobres, defendendo-se que o aprofunda-
mento da assimetria entre ricos e pobres é resultante da (re) distribuição desigual dos recursos
e; quarto e último, faz-se uma discussão final, tendo como argumento central, o seguinte: a
redução da assimetria entre ricos e pobres na era da globalização requer a (re) -distribuição
equitativa dos recursos.
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Assimetria entre ricos (Norte) e pobres (sul) na era da globalização Domingos Bihale
Desde a sua “emergência [tanto que um vocábulo] nos anos oitenta para designar o
reforço das interdependências” (Guillochon & Guedes, 1998: 3), o termo globalização tem sido
objecto de debate em quase todas áreas do saber. Não obstante e apesar de estar a ser bastante
debatido, a globalização continua um enigma, permanecendo rígido entre duas pontas de carac-
terização. Uns caracterizam-na como processo, olhando para as transformações que ocorrem no
dia a dia no planeta; outros, mostrando a sua impressão com tais transformações preferem
caracterizá-la como fenómeno.
Na mesma perspectiva se baseiam Boff e Arruda (2002:25 - 29). Para Boff e Arruda a
globalização pode definir-se como um processo histórico de integração e interdependência
social, económica, política e religiosa.
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David Held and Anthony McGrew, et al (1999:101-103), defendem que por globaliza-
ção refere-se à multiplicidade de ligações e interconexões entre os Estados e as sociedades que
caracterizam o presente sistema mundial. Estes autores descrevem o processo pelo qual os
acontecimentos, as decisões e actividades levadas a cabo numa parte do mundo acarretam con-
sequências significativas para os indivíduos e comunidades em zonas distintas do globo. Para
estes autores, a globalização compreende dois fenómenos distintos: alcance (extensão) e inten-
sidade (profundidade). Por um lado, definem um conjunto de processos que abrangem a maio-
ria do globo e que actuam mundialmente; o conceito tem, por isso, uma conotação espacial.
Por outro lado, está também implícita uma intensificação dos níveis de interacção, interconju-
gação ou interdependência entre os Estados e sociedades que constituem a comunidade mun-
dial.
Um processo ou fenómeno complexo que atravessa diversas áreas da vida social., tais
como sistemas produtivos e financeiros, revolução tecnológica, revolução de práticas de
informação e de comunicação, erosão do Estado-Nação e da redescoberta da sociedade civil.
Ainda pode-se apontar o aumento exponencial das desigualdades sociais, as grandes movimen-
tações transfronteiriças de pessoas como emigrantes, turistas ou refugiados, o protagonismo
das empresas e das instituições financeiras multilaterais e as práticas culturais e identitárias e
as novas formas de busca do saber ou do conhecimento (2002:11).
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Se, por um lado, vivemos hoje num mundo mais pequeno, onde é mais fácil e rápido
viajar, comunicar e aceder ao conhecimento, por outro lado, não temos todos o mesmo acesso a
essas benesses e incorremos numa dualidade crescente e perigosa entre Norte/Sul, Cen-
tro/Periferia, Incluídos/Excluídos, numa lógica de dominação económica, social, política e cul-
tural por parte dos mais fortes e mais desenvolvidos. O desenvolvimento mais assimétrico
entre países é uma das características mais visíveis da globalização. “A riqueza, o rendimento,
os recursos e o consumo concentram-se nas sociedades desenvolvidas, enquanto grande parte
do mundo em vias de desenvolvimento debate-se com a pobreza, a fome, as doenças e a dívida
externa” (Giddens, 2004).
Hipótese 1. A assimetria entre ricos (norte) e pobres (sul) aprofundou-se na era globa-
lização.
Se em 1960 os vinte países mais ricos do mundo tinha trinta vezes mais de renda do que
os vinte países mais pobres, por volta de 1995 o fosso tinha aumentado setenta e quatro vezes.
O coeficiente de Gini entre o quinto mais rico e o quinto mais pobre era de 30 para 1 em 1960,
60 para 1 em 1990, de 70 para 1 em 1997. As 200 pessoas mais ricas do planeta aumentaram
para o dobro a sua riqueza entre 1994 e 1998. Os valores dos três mais ricos bilionários do
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mundo excedem a soma do PIB de todos países menos desenvolvidos onde vivem 600 milhões
de pessoas. O fosso entre ricos e pobres continuará a aumentar durante a primeira metade do
século XXI, conduzindo à uma instabilidade social tanto no centro como na periferia (Ken-
nedy, 1993; Agnew, 2001; Santos, 2002; Murshed, 2003; PNUD, 2005).
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Em adição, enquanto menos de 0,5% das crianças nascidas na Suécia morre antes de
completar um ano de vida, quase 15% de todas as crianças nascidas em Moçambique não
alcançam esse marco. Em El Salvador, a taxa de mortalidade infantil é de 2% entre as crianças
nascidas de mães que receberam instrução, mas sobe para 10% daquelas cujas mães não têm
nenhuma escolaridade. Em Eritreia, a cobertura de imunização abrange quase 100% das crian-
ças que pertencem aos 20% mais ricos da população e somente 50% das crianças que perten-
cem aos 20% mais pobres; (Banco Mundial 2006).
A má nutrição afecta na actualidade 852 milhões de pessoas no mundo, das quais 815
vivem em países em desenvolvimento, 28 milhões nos chamados “países em transição” (a
maior parte, países da ex-União Soviética e Europa Oriental), e 9 milhões no mundo industria-
lizado. A má nutrição é uma das principais causas de mortalidade infantil e responde por quase
a metade das 10,4 milhões de mortes infantis a cada ano nos países pobres. No extremo oposto
1
CHARMES, Jacques. Informal sector, poverty, and gender: A review of empirical evidence. Background
paper commissioned for the World Development Report, 2000/2001. Washington, D.C.: World Bank. 1998.
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Qual é a fonte de tamanhas desigualdades entre países ricos e pobres, se vivemos hoje
num mundo mais pequeno, onde é mais fácil e rápido viajar, comunicar e aceder ao conheci-
mento? Esta é questão que norteia o debate em torno das assimetrias entre países do norte e do
sul na era da globalização.
A teoria Ricardiana de vantagens comparativas defende que cada país possui diferentes
dotações em factores de produção. Por exemplo, o clima, a força de trabalho qualificada e
recursos naturais variam entre países. Por isso, alguns países estarão bem colocados na produ-
ção de certos bens que outros. Esta teoria prevê que todos os países ganham no comércio inter-
nacional se se especializarem e comercializarem bens em que possuírem vantagem comparati-
va. De acordo com esta teoria, os países em desenvolvimento se especializam em bens primá-
rios (matérias – primas) e os desenvolvidos em produtos manufacturados. À luz desta teoria, a
assimetria no desenvolvimento entre países encontra explicação no facto de os países do sul
tender especializar-se em produtos de terra/mão-de-obra intensivas, que na era da globalização
se tornam vulneráveis à deterioração e volatilização de preços. Por outro lado, as barreiras ao
comércio (Tarifas da União Europeia), capacidade negocial desigual, custos elevados de trans-
porte e a incapacidade/falta de vontade para se especializarem reduziram os potenciais ganhos
desse grupo de países no comércio global.
2
Os 20% mais ricos dos países de rendas mais elevadas representam os 86% do gasto privado total de consumo,
enquanto que os 20% mais pobres consomem apenas 1.3%. Ilustram também as desigualdades no consumo o facto
que os 20% mais ricos possuam 74% de todas as linhas telefónicas e consumam 45% da carne e do pescado
disponível, 58% da energia e 87% do papel, enquanto os 20% mais pobres possuem somente 1,5% das linhas
telefónicas, consumam 5% da carne e do pescado, 4% da nergia total e menos de 1% de papel (United Nations
Development Programme, 1998, apud Guimarães, 2008).
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Por último vem a teoria de dependência. A teoria de dependência usa a teoria política e
económica para explicar como o processo do comércio internacional e desenvolvimento inter-
no torna os países do sul economicamente dependentes dos países do norte. Refere-se às rela-
ções que se estabelecem entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Segundo esta teo-
ria, o subdesenvolvimento é resultado de relações desiguais de poder entre os países capitalis-
tas ricos e os países pobres. Os países desenvolvidos poderosos dominam os países pobres
dependentes através do sistema capitalista. Os países capitalistas têm vantagens tecnológicas e
industriais de que servem para “ditar as regras do jogo” (por exemplo os condicionalismos do
Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional) que salvaguardam os seus próprios inte-
resses. Para os teóricos de dependência, a eliminação das desigualdades entre os países ricos e
pobres passa pela redistribuição de activos (por exemplo, eliminação da dívida externa).
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De acordo com o Banco Mundial (op. cit.), a redução das desigualdades globais depen-
derá principalmente das políticas internas aplicadas em países pobres com impacto sobre o
crescimento e desenvolvimento (redistribuição equitativa de riqueza, poder e status, bem como
desenvolvimento institucional), mas a acção global pode mudar as condições externas e afectar
o impacto das políticas internas. Nesses sentido, as acções domésticas e globais são comple-
mentares. Para além disso, o nivelamento da economia global e dos campos de acção políticos
requer normas mais justas para o funcionamento dos mercados globais, participação mais efec-
tiva dos países pobres nos processos de definição de normas globais e mais acções destinadas a
ajudar a criar e manter as dotações de países pobres e pessoas de baixa renda.
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A asserção do Banco Mundial é secundada pelo PNUD (2005:7), segundo o qual a aju-
da ao desenvolvimento está no coração da nova parceria para o desenvolvimento porque forne-
ce aos governos os recursos para fazer os múltiplos investimentos na saúde, educação e infra-
estruturas económicas necessários para romper os ciclos de privação e apoiar a recuperação
económica – e os recursos precisam de ser adequados à escala do hiato de financiamento.
Porém, para que tal surta efeitos desejados, os países em desenvolvimento têm a responsabili-
dade de criar um ambiente em que a ajuda possa produzir resultados óptimos e os países ricos
têm a obrigação de agir segundo os seus compromissos através de: prestação de ajuda em
quantidade suficiente para apoiar a descolagem do desenvolvimento humano; prestação de aju-
da numa base previsível, de baixos custos de transacção e valorizada e; a ajuda deve ser eficaz
que exige “apropriação nacional”. Em fim, ajuda tem que prover financiamento plurianual e
previsível através de programas governamentais, deve ter condicionalidade reduzida e eficiente
e tem que se acabar com a ajuda ligada.
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Considerações finais
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BIBLIOGRAFIA
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