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By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Edson Bueno de Camargo

O Mapa
Do Abismo
e

Outros Poemas.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

2003 Edson Bueno de Camargo


email: camargoeb@ig.com.br
Endereço: Rua José Cezário Mendes, 104
Vila Noemia – Mauá – SP
CEP – 09370-600

1ª Edição.

Tiragem:

t
Edições
Tigre Azul
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Impressões sobre o Mapa do Abismo e Outros Poemas


de Edson Bueno de Camargo

A primeira impressão , após a primeira leitura deste O Mapa do Abismo e


Outros Poemas do Edson Bueno de Camargo – a quem chamarei aqui de “EBC” foi
“Ufa!” Terminei, afinal!

Muito denso, escrita multifacetada, revela toda inquietação nebulosa,


baudelaireiana – traço marcante do poeta EBC, quem conheci jovem estudante no
final dos anos 70; já sombrio, inquieto, questionador. Espírito crítico aguçado, cada
detalhe observado detona nele uma impressão sensual; ‘Fui ao campo/ e apanhei
uma flor branca/ que nascia por entre a grama/ como é o nome desta flor?/ é um nome
de mulher/ tem perfume que me lembra o de jasmim.” in Algo com Som, de repente,
no último verso, o ritmo quebrado pelo cheiro feminino exalado pela flor, sugere a
sensualidade lembrada pela visão de uma flor nascida à toa, uma visão refrescante,
tanto lúbrica, pueril até, os poemas se sucedem, neste Mapa do Abismo... que bem
poderia ser apenas Abismos, já que cada poema dele é convite ao delírio, ao vôo no
escuro.

Os escritos se sucedem como cenas de um filme, rápidas, já que o Autor em


seu “Posfácio” do folheto “Não verás o Mar Como eu vi”, revela que dois livros escritos
na juventude não foram publicados. Daí, quem sabe, uma explicação de que poesia
guardada em gavetas e no “look” atual em disquetes, quando liberados de suas
respectivas prisões, se acotovelam numa obra poética como esta, na maturidade.
Porém, o grande mérito do Autor é a coragem. A leitura de seus escritos, uma
viagem. Como interpretar tal viagem? Como queira o leitor. A mim, causou-me
surpresa belas imagens do cotidiano como em Vigia o gato “... há algo egípcio/ de
orgulho antigo,/ perdido nas eras do tempo/ e nas pontas dos cobertores” , em
Distração “... no momento em que o dragão é vencido/ uma goteira irrompe o teto/ ao
lado da distraída leitora/, em Café Filosófico “ Será feliz o vendedor de mandioca,/
fruto do ventre da terra?” - nos remete ao lado telúrico e essencial do ser
terráqueo, vivente no planeta Terra, o homem em especial, vive sobre a terra e
se dispõe (vende, negocia) dela para sobreviver. A dúvida sugerida pelo “Será?”
revela um crítica ferina quanto à atividade vender mandioca produzido no âmago do
solo onde ele vive, como se fosse condenável vender, negociar o alimento (mandioca).
Excessos do poeta. Como tal, tudo bem: até vale sacralizar a mandioca.

Resta então, o convite: caro (a) leitor (a) leia, desarmado, leve, livre de
preconceito, este novo ( e velho) livro de poesias de Edson Bueno de Camargo. Este
abismo de olhar o mundo caótico em que vivemos. Olhar de um jovem que,
macambúzio, percorreu a pé, de trem, de ônibus, de carro, solitário ou de mãos dadas
com as duas mulheres de sua vida – a esposa Cecília e a filha Sarah, seus caminhos
tortuosos. Poemas que revelam o espanto, o encanto, o desencanto frente às
atrocidades do homem que sobrevive amontoado nos morros de Mauá a Singapura;
fica Faltando, agora, seu olhar sobre o do Autor, EBC. E Boa Viagem!

Diretamente do Litoral Norte,


Caraguatatuba (SP), setembro de 2.003.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Katsuko Shishido Pastore

Poema do Aviso Final


Torquato Neto

“É preciso que haja alguma coisa


alimentando o meu povo;
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança.
É preciso que alguma coisa atraia
a vida
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
e abrirá caminhos.
É preciso que haja algum respeito,
ao menos um esboço
ou a dignidade humana se afirmará
a machadadas.”
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

antes fosse palavra solta


como óbolo que se dá ao vento
mas, os sonhos estão enterrados no ar
e o mapa foi há muito perdido

dedicar
aos amigos
à filha
ao neto
para minha amada
naquilo que somos imortais
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

O Mapa Do Abismo.

“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se;


para não tornar-se também um monstro.
Quando se olha muito tempo para um abismo,
o abismo olha para você.”

Friedrich W. Nietzche - “Além do Bem e do Mal.“


By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Fragmentos.

carrego fragmentos de poemas nos bolsos


um poema inconclusivo, como sementes estéreis

há números de telefone misturados,


estratos bancários, propagandas de rua,
papeis de bala,
coisas que vou colocando nos bolsos e esquecendo

só não esqueço este poema


que não vem, mas que também não vai embora
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Espectros.

se tivesse poder de vida e morte


mandaria matar meus poemas no nascedouro
para que não pudessem mais estes, me atormentarem
como espectros de criaturas não nascidas

palavras que me rondam a cabeça dia e noite


me perseguindo no escuro como fantasmas
se dissolvendo como expostos a luz da manhã
quando apresentados à caneta e ao papel
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Uma casa.

uma casa para mim seria o suficiente


me basta o espaço de quatro paredes
onde pudesse ser eu mesmo o tempo todo
e a verdade fosse a única religião

um lugar onde não me sentisse um estrangeiro


um alienígena
um alienado
um exilado do próprio chão

um refúgio onde estivesse a salvaguarda


sem salvo condutos
passaportes
documentos pessoais
habeas corpus

uma embaixada pessoal


a salvo

sob a proteção da ONU


das leis internacionais
da Convenção de Genebra
da Declaração Universal dos Direitos do Homem

onde um homem e uma mulher


pudessem ser amantes sem pudores
sem dores
sem culpas
sem desculpas
sem cobranças de nenhuma espécie
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Olhar pela Janela.

conversas de corredor
sussurros no salão
semi-escuridão espectral

conspirações são urdidas na calada da noite


traições
revanches
vendetas

a paz espreita lá fora


na forma de um galho de arvore
e de um passarinho
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Algo com Som.

fui ao campo
e apanhei uma flor branca
que nascia por entre a grama

como é mesmo o nome desta flor?


é um nome de mulher
tem perfume que me lembra o de jasmim
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Sob a Sombra.

minguante no horizonte
sob a sombra da arvore
misterioso passante
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Tramar.

pois tudo que eu pensara


era delicadamente atado
com fios de pura seda
fabricados por uma aranha negra

ao cair da noite
banhado pela luz da lua
as gotas do sereno
formavam pequenos cristais na teia
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Útero da terra.

útero da terra
umidade
grossas raízes

húmus
pequenas criaturas
verve do chão
âmago
velha paixão
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Aquário Vazio.

procuro por peixes


no aquário vazio

no canto da sala
só tem solidão

as pedras no fundo
estão lá sem razão
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Evanescentes.

escuto um zumbido permanente em meus ouvidos


serão palavras vindas de um mundo distante
fadas invisíveis com suas asas e vestes cor de rosa pastel
vespas inflamadas, pirilampos feéricos
mundos transparentes

sinto uma apreensão


sensação de eminência
visões de sonho e pesadelo

existem as portas que não devem ser abertas (quem proibiu?)


mas serão pela curiosidade desperta
não há aprendizado sem dor.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Pax Panis.

me sinto perseguido
por visões do paraíso
um branco luminoso sem fim
um terror imóvel e gélido que me consome

uma paz que me incomoda


triste e desolada

será deveras o inferno


o fim de todo o movimento
o mirar no espelho sem reflexo algum?

a passagem do tempo sem percepção


nunca dormir
nem acordar
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Urge.

urge que ouçamos o chamado (eco)


bramam anjos de fogo no céu
a lua vermelha se esconde sob negro véu

cavalgada de guerra, corcéis,


brandem o ferro e o bronze, reluzente metal
espelho do horror
rompem escudos e carne
fogo e negro fumo

negará sua face disforme


com os dentes a mostra a reluzir?

ouça
o cortejo de anjos marchando
o Deus guerreiro e general
a buzina, a trombeta, os tambores marciais
com forte ruído a produzir
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Aluagem.

a lua esta a pino


não respeita os horários
impostos pelo sol
cravados em nossa mente
regulados pelo relógio

nasce no meio da tarde


em pleno sol da primavera
obscurecida pelo dia
que não é o seu reinado

esta a pino ao anoitecer

se põe no meio da noite


para repentinamente na madrugada
ameaçar nascer de novo

como que
querendo competir com o sol
que começa finalmente a nascer
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Alma de Cristal.

no alto da colina
as rochas que cantam

no campo
entoam cânticos
de antiga religião

alma de cristal
no centro da terra
no tempo das eras
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Cidades Antigas.

igrejinhas barrocas ( alvas de doer os olhos )


com santos dourados e azuis

pequenas cidades em forma de jogo da velha


antigos segredos guardados

maçons
grades sagradas
onfalos
torres vigiadas
montanhas encantadas

cemitérios, fantasmas
tesouros escondidos

passeios no campo
boa comida,
parentela
conversas na varanda
cachaça de alambique ( crisóis, alquimistas )
licores, bolos e café com leite

soverte e algodão doce na praça


namoro sem graça
beijos roubados
e muitas lembranças
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Venho Vento.

venho vento trazer a boa nova


aquela soada na trombeta dos anjos

tenho uma fome antiga


que carrego de outras eras
daquelas de devorar os livros da estante
palavra por palavra
letra por letra
razão e emoção

conheço os caminhos do tempo


como a palma da mão
como a luminescência estranha de certas tardes

dos sois amarelos


dos dentes ao sol
das amarras e nós de atamento
da relva molhada pela chuva
do amor
este que perdura
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Café Filosófico.

caminham pela rua


empurrando suas carriolas carregadas
pai e filho
céu azul e limpo ( quase sem nuvens )
calcada de cimento
asfalto negro e áspero

carregam o fardo do trabalho


e a esperança de dinheiro ( alimentação? desejos? )

sentem eles a falta da Cultura?


dos livros que permeiam a minha vida
as angustias aflitivas

tenho lido Nietzche, Walter Benjamim e Adorno


divagado a respeito do universo
do nascimento e morte das estrelas
da ligação que tem todas as coisas
mas não sou feliz

será feliz o vendedor de mandioca,


fruto do ventre da terra?
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Vestígios.

no quarto
semi-escuro
um resto de perfume no ar

sentar o cansaço sobre o leito


cair de costas
mergulhando em lembranças

como fotos preto e brancas amarelecidas


algumas esmaecidas
como um lento esquecimento

o ocaso toma conta da mente


fragmentando os acontecimentos
embaralhando – os
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Em Silêncio.

comerei em silêncio e sozinho


o pão amargo da saudade
com o sal e a água das minhas lágrimas

do outro lado da mesa


me espreita
uma cadeira vazia
um lugar vago
um prato servido sem convivas
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Atravessar a Sala.

atravessar os passos, a sala


o ranger, o velho assoalho
cansado e o pó dos tempos
sem centelha de luz
sem nenhuma certeza
com alguma tristeza
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Possível Fim.

a cama é o frio do inverno


tosse

o vento nas cortinas amareladas


as velhas dores no profundo da noite

remédios no criado mudo


( Dorflex, Profenide, Voltaren, mais o que? )

na gaveta um revolver semi - esquecido,


será que as balas ainda funcionam?
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O dia da Lua.

todos os meses
nos seus dias
como um ritual
marca no calendário
a palavra mulher em assírio
no dia correspondente

o símbolo cuneiforme
grafado em tinta azul
de caneta esferográfica
cria uma dicotomia
de uma escrita tão antiga
em um modo tão contemporâneo

remete o pensamento
aos cultos de fertilidade
da “kubaba” sagrada
a mãe de todas as mães

o dom de ser mulher


desde o principio dos tempos
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Cotidiano.

todos os dias
toda manhã
o cheiro de café sendo feito
invade a rua

e na calcada a caminho do trabalho


pelo aroma
o passante imagina o paladar
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Do Incerto.

não será mais que aquela manhã


o pão e o leite sobre a mesa
mais um dia sem nenhuma certeza

quanto tempo se passou


desde a última vez que olhou no relógio
quantos dias, quantas noites
que passam sem que se aperceba

do incerto
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Outro Dia.

abrir as portas,
escancarar as janelas,
para iluminar a sala,
arejar a casa

ferver a água
fazer um chá
ler o jornal da manhã
com suas notícias velhas e dobradas
de um mundo distante e perdido
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Para que o dia amanheça.

fazer o café
para que o dia amanheça
para que você não me esqueça
é preciso ter fé
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

As Primeiras Sementes.

as primeiras sementes do ano novo


crescerão na palma de minha mão
brotarão como bandeiras do povo
as palavras no meio da escuridão
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Arrabaldes.

viver é uma grande mentira


neste estranho arrabalde
com suas casas dependuradas no nada

suas noites incandescentes


castelos dos olhos que vêem
luas cheias enormes
lagartos a rastejar
no claro e na escuridão

onde está minha infância?


infame ignorância
de mentir para viver

viver é uma grande mentira


neste singular arremate
de cidade, rios com esgoto e negrume,

onde está minha ignorância?


ignóbil inocência
de na mentira viver.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Toda Manhã.

toda manhã
acordar e ainda sonolenta
lavar o rosto

sentar na mesa
fitar os olhos vazios da mãe
e rezar

reza baixinho
não quer ficar igual a mãe
não que um homem mandando em sua dor

toda manhã
torce para não acordar
quer morrer no sono dos justos
não quer mais escutar os gemidos e choros
não quer o medo como canção de ninar
não quer a nova manhã

mas o sol implacável nasce


trazendo um novo dia
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Bem - Amados.

Oñemboapyka pota jeayú porangue i rembi rerouy’ a rã i.


Esta - se a dar assento a um ser para alegria dos Bem-amados.

Tradição oral Guarani.

1–

no princípio da terra
todos os homens eram como um só
e não havia dor

o pecado não existia


e todos andavam nus no paraíso

a filha e o filho da terra


frutificavam
assim como as plantas e os animais
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2–

quanto tempo perdido


das memórias da terra
que o medo nos empurrou à gloria
a agonia e a dor dos filhos dos homens

os Bem Amados alijados da terra de seus pais


o regato de água doce poluído
a mata queimada
o solo violentado pelo arado
e pelas patas do boi

a razão perdida
a insanidade daqueles que afixam preços a seus corpos
a cruz, o aço, a pólvora e o chumbo
a doença
a descrença
a ganância

vão se os anos idos


na espera
de uma bandeira verdadeira de esperança
para que as profecias se cumpram
a do índio, mais pura
a do branco, agora sem hipocrisia
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Leito de Flores Brancas.

Sobre uma foto de uma menina palestina morta estampada na primeira pagina
do Jornal Folha de São Paulo em 08/04/2002.

parece que esta dormindo


uma criança
em seu leito de flores brancas e vermelhas
uma bandeira por cobertores

em algum lugar
uma mãe se desespera
num choro, num grunhido insano espera

quem pagará por seus crimes de guerra?


ter nascido na hora e lugar errado
palestina, menina, em terra de Israel
pobre no “terceiro mundo”, imundo

ter brincado impune entre os escombros


esgotos correndo a céu livre e capsulas usadas
áreas deflagradas

poderia ter sido nos morros cariocas.


no Jardim Angela em São Paulo,
em um subúrbio de Vitória

ali inerte
espera que lhe cubra a terra
lhe agasalhe em seu ventre
sem ódio e sem medo
finalmente a sua terra natal
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Dormentes Molhados.

curva ferroviária
pedras molhadas de garoa,
neblina branca, serra úmida
mata atlântica primitiva

cravada na rocha, como uma cidade fantasma


ponte ligando vilas,
a plataforma espera
um relógio marca a nova era
no limiar do século (XIX)
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

No Passado.

ata
minh’ alma no passado
ave
vento
água corrente
ferro, ferrugem
neblina e frio

Paranapiacaba não tem formas esta tarde


os trilhos me levam para o vazio
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Sol Impressionista.

“Há neste inverno (outono??),


um sol impressionista,
mas que jamais nasce,
apenas se põe, me deixando na escuridão.”

Sarah Helena

vermelho poente
sol impressionista
passam pela minha vista
outonos esquecidos

quantos dias passados


em ocasos sonolentos
noites mal dormidas

meus quarenta anos mal vividos


minhas reminiscências
muxoxos de velhos
amigos esquecidos

mas o céu é tão belo


que não dá para ser triste
nesta tarde a caminho de casa
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Da Lua e Da Maré.

redes, anzóis
barcos encalhados na areia
velas velhas encharcadas de chuva
uma barra de areia branca invadindo o mar

luta da lua e da maré


água salgada corroendo horizontes
lágrimas dos deuses esquecidos

uma sonolência encantada


sortilégios de sereias
cardumes invisíveis
cantos de naufrágios nas pedras

rochas escondidas, faróis


galeões fantasmas
a navegar nas espumas do ar
nuvens ondas a arrebentar
outro mar
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Céu Lilás.

naquela tarde
o céu estava lilás
e as nuvens cor de rosa

o horizonte negro
se estendia e abraçava a terra

ao longe, em meio as brumas


imaginavam-se cais intermináveis
velhos navios enferrujados
chaminés fumacentas

o gosto amargo de sal marinho


cachimbos mau – cheirosos
pragas de marinheiro
a maresia nauseante
e a velha saudade de lugares nunca vistos
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Em Pleno Ar.

galeões e caravelas fantasmas em pleno ar


cordames e velas podres
madeira antiga a ranger
aos ventos e o peso dos canhões
borrascas e esqueletos
espumas e vagas
em pleno ar

acordar suado e assustado


quando ao longe, se afastando
o terrível gargalhar
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Ódio Antigo.

amarrei junto ao peito


com corda de palha de buriti
para que nunca se rompesse
um ódio antigo e escondido

este me tem envenenando


como todo ódio que se preze
o meu sangue um pouco por dia

mas se diz na velha terra


“ódio velho não cansa”
este tenho carregado
como se fosse um filho amado

um dia quem sabe este me mate


ou eu ao dito dê cabo
um dia destes quem sabe
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Dinossauro.

hoje amanheci
com um desejo doido de me matar
de acabar de uma vez por todas
com a minha consciência

(tentei em uma ocasião,


afoga-la em álcool,
mas a danada boiou)

por que me sinto


como um dinossauro
desgarrado de seu bando
que insiste em não se extinguir

como um velho navio enferrujado


estou permanentemente ancorado
em valores
que não tem mais sentido algum
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Se estou condenado.

se estou condenado definitivamente ao inferno


que minha entrada seja em grande estilo
com uma grande turba em urros e gritos
anunciando a minha chegada

que por uma corte de meus detratores e inimigos


seja eu precedido
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Herança.

eu desisto,
definitivamente e irreversivelmente,
neste dia;

não sei qual pecado que cometi,


mas o castigo agora me parece maior que o delito,
seja qual tenha cometido,
( confesso minha ignorância e falta de lembrança)

desisto,
de meus valores,
de minhas crenças,
de minha herança cultural,
de minha ascendência genética,
de meu direito a vida,
do amor,
do ódio,
da indiferença
de minha alma eterna (se ainda a possuir),

renuncio,
a Deus,
a todos os deuses de deusas,
ao diabo,
a bondade,
a generosidade,
a honra,

a mesquinhez,
a avareza,
a minha santa ira,
ao medo,
a dor,

que a todos se proclame


que a partir deste dia não mais existo
embora ainda vos incomode com minha presença
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Mapa do Abismo.

Nas pontes sobre os abismos

observo pássaros que lastimam


que emitem gritos lancinantes
cavalgo ligeiro, com medo

é necessário que toda a coragem que trago escondida


apareça a tona

que estranhos mistérios


que novos segredos
me esperam

sussurros de dor do fundo do abismo


me clamam para saltar

resisto,
me cobro de luto pelos que se foram
e firmo a fé
para que minha armadura
não se torne minha mortalha.

Diante do lúgubre castelo

paredes de úmido limbo


diante dos olhos

será que são fantasmas perseguidos?

Que sonhos desvairados, os que são perseguidos?


A cruz de dourado brilhante
resplandece no frio aço sobre o peito
criando a nova certeza, da justiça da causa

dançam de outrem figuras


de fumaça na névoa ligeira
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

carregada pelo vento

este que assovia nos ouvidos como assombração


por fim diante do inimigo.

Afinal por que a dúvida me assalta

não são justos os propósitos


não é digna a razão
não é correto o motivo de inspiração?

Desembainhar a espada
e lutar na certeza
que a vitória,
é sempre a dos justos.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

O Abismo Te Observa.

aqui jaz, esperando


a espreita de seu próprio destino

sentado a beira do abismo,


penhasco, onde batem as ondas
brancas com o impacto

passa a vida
diante dos olhos
como um velho cinema mudo
mas, como num pesadelo
esquece de tudo imediatamente,

ali,
no aguardo do que já não sabe

a pedra
a areia
a grama
a chuva
o grande rio negro ao longe
a barra
o sal resplandecente
acompanham

absorto no esquecimento,
espreita
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Outros Poemas.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

“já me matei faz muito tempo


me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço


melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando


é a única coisa que me acalma”

Paulo Leminsk
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Reduzir.

Re(pro)du[(lu)zir]
cr(ia)er
cria[(cul)tura]
cria(ção)
!
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Olhos I.

São os olhos que me observam,


brilhando no canto da sala, o
estranho me espreita, não sei se
como presa ou fera,
escuto batendo no peito, o meu
coração que batia, com um
compasso quebrado, dentro do meu
ouvido. Lá parado, sem se mover
um centímetro, não piscavam,
faiscavam na penumbra.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Olhos II.

Estava num canto da casa, me


lembro do brilho de seus olhos no
escuro, toda a casa me parecia
estranha, como que se as mesmas
coisas de sempre não fossem elas,
as mesmas, não reconhecia nem
mesmo, a cama em que havia
dormido até aquele momento, foi
quando a criatura que se escondia,
se desvendou por completo.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Não Ver.

...as paredes se debruçam sobre


mim, não sei se estou sonhando, se
estou morto ou acordado! Há
grossas lágrimas correndo sobre
meu rosto, meu olhos embaçados...

...por quanto tempo aqui sentado,


com os olhos fechados, sinto-o
respirar sobre o meu rosto, um
hálito de pântano estagnado, temo
abrir os olhos e ver, temo abrir os
olhos e não ver...
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

A busca.

acredite, havia algo muito estranho,


escondido sob aquele assoalho de ripas de
carvalho, algo que cheirava a podre e
azedo, mas ao mesmo tempo exalava um
forte perfume, um tanto quanto adocicado,
um tanto quanto frutado, alfazema, anis
estrela, flores silvestres murchas, cravos
adormecidos, jasmins amanhecidos...
estava colado na poltrona, e sei que “aquilo”
andava sob meus pés, remexendo no
porão, numa busca que temia que
terminasse a qualquer instante...
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Um Velho Gato Malhado.

em uma sala conversam sete velhinhas


tomando bolo e chá
sete tricôs começados
bule, xícaras pires e bolo, na mesa arranjados

dormindo no canto da sala


sobre uma velha almofada
um velho gato malhado, gordo e preguiçoso

e o velho gato sonhado


sete sonhos um dentro do outro
um sonho para casa vida perdida
(agora, só lhe restam mais duas)

em cada sonho um dentro do outro


sete velhinhas conversam
com seus tricôs começados
e no centro da sala arranjados
bule, xícaras, pires e bolo

e dormindo no canto da sala


sobre uma velha almofada
um velho gato malhado, gordo e preguiçoso
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Vigia O Gato.

vigia o gato,
com seus olhos verdes
faiscando no escuro,
a porta

como o guarda
de uma pirâmide,
o quarto de dormir

há algo de deus egípcio


de orgulho antigo,
perdido nas eras do tempo
e nas pontas dos cobertores
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Paraísos.

no paraíso dos pombos


existem milhares de pipoqueiros distraídos
num jardim infindável
com tardes mornas
velhinhos e velhinhas em bancos de praça
jogando amendoim

não há crianças
com sua curiosidade discreta
sempre tentando agarrar tudo que se move
não há gatos de garras afiadas
(estes estão no paraíso dos gatos)

mas há arvores frondosas e com grandes galhos


velhas casas em ruínas
com sótãos espaçosos e abertos
onde nunca há corujas escondidas

e sempre é primavera
sempre tardezinha
sempre silencioso
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Distração.

a moça lê poemas atras do balcão


sonhando um príncipe encantado
em um cavalo alado

lá fora a rua é indiferente


os carros passam em procissão
vão e vem,
mas ninguém
sabe para onde

começa uma forte chuva


mas a moça não se apercebe

no momento em que o dragão é vencido


uma goteira irrompe no teto
ao lado da distraída leitora
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Mulheres Redondas.

mulheres redondas
em seus grandes vestidos floridos
passeiam pelas tardes ensolaradas
(um sol redondo como a lua, alaranjado )
com suas sombrinhas chinesas

pisam sobre pavimentos de pedras


granito cortado
com regular presteza

são pedra antigas e carcomidas


lisas pelo uso contínuo
buriladas por ferraduras, rodas de carroça
e areia do tempo
destas que ficam escorregadias
nos dias de garoa
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

O Rio.

I-

o maciço de serra nasce em tempos imemoriais,


um cristal antigo, que se perde no tempo da criação do próprio planeta Terra,
gerado antes de qualquer vida, dos minúsculos protozoários, do mármore, do
diamante,

os ventres vulcânicos, que vomitaram o granito e o basalto,


se dissolveram nas eras, desapareceram sem deixar vestígios

o manto de lava endurecido


aos poucos foi modelado pelas águas teimosas de um pequeno rio,
que se forma com o princípio da chuva,

rompe a dureza do chão feito de um quartzo ancestral,


laje de pedra primeva, de antes das areias e do solo,
burilada pela água e areia, lentamente
determinou seu traçado, sinuoso e sem linhas retas,

como um servo amado da terra,


se vergou a cada obstáculo, contornando sem ferir, sem se ferir,
e quando os neolíticos primordiais habitantes do chão beberam de seu presente,
afirmaram sua Graça, o rio de muitas voltas, “tamandetay”.

II-

recusa o mar, e no mar nunca deságua,


é certo, que haverá sempre uma pequena porção de suas águas no Rio da Prata,
entrando no sal dos mares platinos,
mas ali, em meio ao mar de água doce, não será jamais Tamanduateí.

III-

buscou o interior do continente, dando de encontro com o Rio Tietê,


By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

nascer e morrer no planalto, vislumbrando da serra, o mar que te espera, não terá foz
nem delta
não desbravará sertões, não conduzirá monções, não correrá no solo macio da
planície,
terá sempre a tranqüilidade dos remansos e águas grandes, várzeas inundadas, poços
e vazantes

mas o vassalo do grande rio, seus tributários tem também:


Corumbê, Capitão João, Itrapoá, Cassaguera, Oratório, ...
alguns que arremedam o mestre, fugindo para outras paragens,
mas cedo ou tarde, desembocam em suas margens,

seguidos de muitos outros menores, sem nome e sem memória, seguem o mesmo
destino,
olhos d’água, bicas nas barranqueiras (onde mulheres lavavam a roupa e crianças
matavam a sede).

IV-

no passado pré-histórico, uma floresta tropical se instala, nos contrafortes da serraria,


monumentais e seculares jequitibás, aroeiras, ipês, pau cedro, pau brasil,
perobeiras, ...
uma infinidade incontável de madeiras de lei, folhagem miúda, plantas desconhecidas,

que queimaram lentamente, anos a fio, nas primitivas fogueiras, nos primeiros fogões
de lenha, nas coivaras,
depois no ventre das locomotivas, nas caldeiras industriais,
nos fornos das olarias (a capital precisava de tijolos) e cerâmicas industriais

gabiroba, araçá, capote, caraguatá, ananás. abil, cambuci, jatobá, ingá,


frutas do mato, primitivas goiabeiras e abacateiros, ...
que alimentaram primatas, aves, lagartos e pequenos mamíferos,
testemunhas e vítimas do desmatamento insano.

V-

serviu de regaço a expedições de caça a tamoios e guaianazes,


que não conheciam o homem branco europeu,

parada obrigatória de tropas sem fim,


indo de Mogi das Cruzes para a Vila de Piratininga ( que um dia será São Paulo)
caminho de idas e vindas, pela estrada “ del rey “ (hoje ainda, lhe resta um pedaço)

mas ao senhor, o rei de Portugal,


pouco ou nenhum interesse tinham estas terras, de selvagens hostis e pagãos,
que, capturados, no trabalho morriam de cansaço
não tinha ouro no cascalho do rio e riachos e cana não dava neste chão
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

quando haviam as matas, foi caminho de negros fugidos das lavouras de café do
interior
que procuravam os quilombos de Peruíbe e Iguape
escondeu em suas ramagens a vergonha da escravidão

beberam destas águas, caldeiras ardentes,


das máquinas a vapor, locomotivas da ferrovia que cortou a serra em dois,
dormentes assentados um a um, cravo e marreta, trilhos do aço estrangeiro,
que trouxe de outros países, gentes.

VI-

tudo correria tranqüilo até os dias de hoje, não fosse a irrequieta presença dos
homens,
colonos portugueses, uns se foram outros ficaram, vieram imigrantes italianos,
de todas as nações do velho continente, asiáticos, japoneses do outro lado do mundo,
migrantes nordestinos e mineiros, de todos os estados, todos sem exceção em busca
de trabalho,
de enriquecimento, de sonhos, simples e laboriosos, gente de bem,

tombou-se também as matas secundárias, verde teimoso em florescer,


que tenta em vão recuperar a floresta do passado,

rasgam-se os morros inclementemente com tortuosas ruas,


loteamentos clandestinos, terra barata para os trabalhadores,

se assoreia o leito do rio com areia e aluvião, lixo e entulho de construção,


turvam-se as águas, com esgoto e lixo industrial, fezes, urina e alcatrão,
colocam-se os afluentes em tubos, bloqueando os lençóis e veios da terra,
morrem as bicas e minas (os meninos sem diversão),
crescem industrias, e chaminés como arvores mortas, enegrecem o céu com fumaça,
encapam o chão com asfalto e cimento, e quando seu leito entupido, não suportou
mais a carga,
sob a chuva inclemente,
chamaram-no enchente.

VII-

agora, se observar suas águas fétidas,


se vê ainda, a beleza do rio correndo, as pedras, o movimento gracioso da
correnteza,

quando serão limpas suas águas, como um Tâmisa?


qual governante louco e delirante, pescará em suas águas novamente límpidas,
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

lambaris açus de rabo vermelho,


ao lado do seu povo, feliz, contente e agradecido?

Apêndice.

Folhetos Poéticos.

Os anos de 2001 e 2002 foram anos importantes no que se diz respeito


a minha poesia, um período de tempo muito produtivo, quando finalmente
transformei poemas guardados e dispersos, em um livro de fato (Poemas Do
século Passado –1982-2002), mas, da produção do livro para a sua publicação,
principalmente de forma independente, demanda tempo, energia e requer uma
grande dose de paciência. Neste ínterim algo deveria ser feito, com varias
atividades culturais e de literatura acontecendo na cidade (Mauá-SP) e no
Grande ABC, apesar de ter “saído da gaveta” com a publicação do livro, havia
uma ansiedade de mostrar alguma coisa impressa em papel, foi daí que surgiu
a idéia de se criar os folhetos poéticos, na forma de um folder publicitário, para
distribuição, de mão em mão, deixar nos saguões de teatros, bibliotecas e mais
onde fôsse possível.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Estes folhetos ( “Reminiscências” e “Não Verás O Mar Como Eu Vi”)


estão sendo reproduzidos neste livro em seu conteúdo original, em forma de
um apêndice, uma vez que os poemas neles publicados são inéditos na forma
de livro.

O autor.

R
E
M
I
N
I
S
C
Ê
N
C
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

I
A
S.

A Teia.

a aranha tece a teia


frágil ao meu toque

diferença fatal
da vítima que se envolve.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Observações.

tudo tem seu tempo


a aranha morre em sua teia
o vento frio morde as telhas
o herói late no quintal.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Medo no Espelho.

brilha a lágrima
como um cristal partido

fio a fio
fino de seda
e nos ata as almas

por que não mais


que apenas o medo
o terror que envolve o espelho

nos cerca agora.


By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Dançarinos de Arame.

dançam na areia
dançarinos de arame

frágil estrutura
de aço e barbante
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Girassóis.

crescem os girassóis
balançam a brisa de verão.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Escadas.

meus olhos tremem


mas minha boca não diz palavras

penso em escadas (quais?)

úmida boca
molha o medo
nas sombras.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Varais.

não esqueça
de olhar para o céu
por entre as roupas dos varais

por que não há


nada mais branco
do que algodão ao sol

por que seus olhos


me disseram muito mais
que todos os livros que já li.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Por do Sol.

vermelho
uma massa vermelha escura
se desloca do céu violáceo

poeira em grãos satélites


migram, no lugar da velha lua

na rua cinzenta e cálida


se esquecem os sons da mesma

a tarde me aquece
apesar de fria

os olhos cheios de sonhos


no mesmo inverno.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Palavras vazias.

palavras vazias escrevi


sobre fumaça ao vento
e nada sobrou
a não ser o vento soprando

que estranho sentimento


ver palavras fugirem ao ar
como aves novas
que se põem a voar

esqueci as palavras do vento


e o que significavam
ficou somente a estranheza
de ver palavras voarem
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Posfácio do folheto “Reminiscências”.


Edson Bueno de Camargo, nasceu no ano de 1962, na Cidade de Santo
André – SP, vive desde o seu nascimento na cidade de Mauá – SP. Sobrevive
ao aspecto mais suburbano da realidade paralela do Grande ABC, uma mistura
de disciplina operária, socialismo, fascismo, um pouco de anarquismo,
fanatismo religioso, miscigenação, analfabetismo, sincretismo e ódios raciais
mal disfarçados, onde imigrantes europeus e migrantes de absolutamente
todos os estados do Brasil, convivem num “caldeirão do diabo”, subproduto do
“milagre Brasileiro”. Desta subcultura nasce uma Poesia com todas as
influências e ao mesmo tempo que não deve nada a ninguém. Participou em
sua juventude do Colégio Brasileiro de Poetas de Mauá -SP, publicou o
panfleto poético Cortinas, e no momento tem dois livros escritos e não
publicados, Poemas do Século Passado e O Zen e a Arte de Plantar
Papoulas...
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Não
Verás
O
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Mar
Como
Eu
Vi!

Mar Amarelo.

frotas, velhas naves


desvairados ventos
alumbram pelos trigais,

como um mar amarelo


onde navegam, moinhos e gigantes,
dançarinas lanças
sarissas de antigas guerras

antenas de oriundas eras


novas línguas, exasperadas,

caminham como zumbis perdidos nesta nova terra


By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Sonâmbulos.

ando pela casa,


atravessando velhos fantasmas,
que andam,
como fossem sonâmbulos,
mortos, que não sabem da própria morte
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

O tempo não..

deitar o cansaço
levantar com o sol
levar a faina do dia a dia
até descobrir que o tempo
não mais existe...
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Do Tempo.

é necessário
romper as amarras (do tempo)
para que possamos,
libertar nossas almas
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Das Igrejas.

processos místicos
parabólicas flutuantes

computadores diletantes
novilingüismos absurdos

absortos pelo ruído


dos alto falantes das igrejas
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Da Velha Pátria.

por onde andam


os arautos da velha pátria
rugas antigas
velhas realidades

do que falam
os olhos fundos e brilhantes
de verem de há muito tempo,
as novas eras
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Tiamat.

se tornarei,
a fonte de toda a destruição

me chamarei pelo nome


mais estranho,

o som,
que nunca poderei ouvir
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Da Espera.

há uma espada
sobre minha cabeça
há um fio
por se romper

não há mais medo


que nos entristeça
não mais dor
do que esperar

ouço o barulho dos ratos


que andam
dentro das paredes,

estes,
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

também estão a esperar

Da Nau.

há ratos no porão
que roem as cordas
e restos

a deriva da nau
depende
das velas e dos ventos

que assobiam nos sótãos


e rangem as portas
do fundo das almas desesperadas
onde é sempre profundo o oceano

onde não há portos nos sonhos


só borrascas e pesadelos salgados
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Do vento.

seus cabelos
pelo vento espalhados

seus seios
pela blusa
fielmente retratados

não sei o quê?


não sei por quê?
corro do vento
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Passado Guardado.

não consigo folhear


álbuns de retratos
sem encontrar um rosto
que já se foi

como é difícil
encarar a ausência
porque o passado
é doloroso e próximo

mas mesmo assim


inexoravelmente passado
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

De Granito.

da pedra
se tirará
o que não é o essencial
revelando a alma do granito
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Posfácio do folheto “Não Verás O Mar Como Eu Vi.”

Edson Bueno de Camargo, nasceu no ano de 1962, na Cidade de Santo


André – SP, vive desde o seu nascimento na cidade de Mauá – SP. Sobrevive
ao aspecto mais suburbano da realidade paralela do Grande ABC, uma mistura
de disciplina operária, socialismo, fascismo, um pouco de anarquismo,
fanatismo religioso, miscigenação, analfabetismo, sincretismo e ódios raciais
mal disfarçados, onde imigrantes europeus e migrantes de absolutamente
todos os estados do Brasil, convivem num “caldeirão do diabo”, subproduto do
“milagre Brasileiro”. Desta subcultura nasce uma Poesia com todas as
influências e ao mesmo tempo que não deve nada a ninguém. Participou em
sua juventude do Colégio Brasileiro de Poetas de Mauá -SP, em 1981 publicou
o panfleto poético Cortinas, e no momento tem dois livros escritos e não
publicados, Poemas do Século Passado-1982-2000 e O Zen e a Arte de
Plantar Papoulas..., recentemente (2002) publicou o folheto “Reminiscências”.
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

O autor.

Edson Bueno de Camargo, nasceu em Santo André


- SP, em 24 de julho de 1962, mora a partir de seu segundo
dia de nascimento em Mauá – SP.
Publicou: “Poemas do Século Passado-1982-2000”
edição de autor; “Cortinas”, com poesias suas e de Cecília
A. Bedeschi; participou das antologias poéticas “As
Cidades Cantam o Tamanduateí que Passa.” da Prefeitura
do Município de Mauá e “Poesia Só Poesia” Editora Novas
Letras. Junto com os amigos escritores da Oficina Aberta
da Palavra, grupo de Mauá-SP, edita o fanzine aperiódico
"Taba de Corumbé".
Foi membro do Colégio Brasileiro de Poetas, um grupo de poetas mauaenses,
num curto período, entre o final dos anos setenta e início dos anos oitenta Participa
do grupo poético/literário Taba de Corumbê, do qual por aclamação foi intitulado
Cacique e das aulas embrionárias da Escola Livre de Literatura de Santo André-SP,
como aprendiz de mundo.
Livros inéditos – “O Zen e a Arte de cultivar papoulas em noites de lua cheia
em jardins a beira mar.” – hai-kais; “ (índex animi) O Espelho da Alma ou Poemas do
By Edson Bueno de Camargo Mapa do Abismo de Outros Poemas

Novo Século” – poesia; “Muitos Morreram por Esparta” – poesia; “De Lembranças &
Fórmulas Mágicas” _ poesia.

Edson Bueno de Camargo


Rua José Cezário Mendes, 104 Vila Noêmia – Mauá – SP –
Brasil
CEP – 09370-600
correio eletrônico: camargoeb@ig.com.br

www.secrel.com.br/jpoesia/ebcamargo.html
www.paralerepensar.com.br/link_edsoncamargo.htm
http://www.pd-literatura.com.br/especiais/mar.html#ebcamargo
http://www.eldigoras.com/eom03/indic/buenodecamargoedson.htm

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