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CURIOSIDADES

A família é sagrada para os ciganos. Os filhos normalmente


representam uma forte fonte de subsistência. As mulheres
através da prática de esmolar e da leitura de mãos. Os homens,
atingida uma certa idade, são freqüentemente iniciados em
outras atividades como acompanhar o pai às feiras para ajudá-
lo na venda de produtos artesanais.

Além do núcleo familiar, a família extensa, que compreende os parentes com os quais
sempre são mantidas relações de convivência no mesmo grupo, comunhão de interesses
e de negócios, possuem freqüentes contatos, mesmo se as famílias vivem em lugares
diferentes.

Um exemplo de classificação da sociedade cigana (tirado em parte do livro Mutation


Tsigane, de J.P.Liégeois)::

grupo > subgrupo> nátsija (nacionalidade) > vítsa (descendência, leva o nome do
chefe da estirpe) > família > indivíduo

ROM
Kalderásha
Serbijája (Sérvios)
Minéshti
Demítro
x, y, ...........
Márcovitch
Ianov
Jinov
x, y, ...........
outros
x, y, ...........
Papinéshti
Jonéshti
Frunkaléshti
outros
Moldovája (Moldávios)
Demóni
Jonikóni
Poróni
outros
Grekúrja (Gregos)
Bedóni
Kiriléshti
Shandoróni
outros
Vúngrika (Húngaros)
Jonéshti
outros
Hokrakané ou Horahanê (Turcos)
Taierovitchi
Marcovitchi
outros
Lovára
Machwáya
Ivanovitchi
Boyásha (Ciganos de Circo)
outros

SINTI (ou MANUSH)


Gáchkane (Alemães) etc.
Estrekárja (Austríacos) etc.
Valshtiké (Franceses)
Piemontákeri (Piemonteses)
Lombardos
Marquigianos
outros

KALÉ (ou GITANOS ou CIGANOS)


Catalães etc.
Andaluzes
Portugueses

Nota:

Enquanto que entre os Rom a classificação em "subgrupos" acontece com base em


identificação de tipo ergonímico (denominação que traz origem na profissão
tradicionalmente exercida), entre os Sintos e os Kalé os subgrupos são geralmente
designados segundo um conceito de natureza toponímica (referindo-se a lugares de
assentamento histórico).

Diferentemente dos Rom, estes não conhecem outras classificações de "nátsija" e de


"vítsa". Pode-se porém afirmar que o subgrupo entre os Sintos e os Kalé na realidade
corresponda à "nátsja" dos Rom.

Com base nisso, o esquema de classificação social desses dois grupos pode ser
configurado do seguinte modo:

grupo > subgrupo (= nátsija)> família > indivíduo

Além da família extensa, há entre os rom um conjunto de várias famílias( não


necessariamente unidas entre si por laços de parentesco) mas todas pertencentes ao
mesmo grupo e ao mesmo subgrupo.

O nômade é por sua própria natureza individualista e mal suporta a presença de um


chefe: se tal figura não existe entre Sintos e Rom, deve-se reconhecer o respeito
existente com os mais velhos, aos quais sempre recorrem. Entre os Rom a máxima
autoridade judiciária é constituída pelo krisnítori, isto é, por aquele que preside a kris.

A kris é um verdadeiro tribunal cigano, constituído pelos membros mais velhos do


grupo e se reúne em casos especiais, quando se deve resolver problemas delicados como
controvérsias matrimoniais ou ações cometidas com danos para membros do mesmo
grupo. Na kris podem participar também as mulheres, que são admitidas para falar, e a
decisão unilateral cabe aos membros anciães designados, presididos pelo krisnítori, que
após haver escutado as partes litigantes, decidem, depois de uma consulta, a punição
que o que estiver errado deverá sofrer.

Recentemente, a controvérsia se resolve ,em geral, com o pagamento de uma soma


proporcional ao tamanho da culpa, que pode chegar a vários milhares de dólares; no
passado, se a culpa era particularmente grave, a punição podia consistir no afastamento
do grupo ou, às vezes, em penas corporais.

Diáspora Cigana
Há cerca de mil anos, um grupo de famílias saiu da Índia em direção ao Oeste. A essa
decisão – tomada em local incerto e por motivos ignorados – devemos a sobrevivência
da língua romani, a alegria inigualável das orquestras ciganas presentes através dos
séculos, tanto nos palácios como nas praças, as rapsódias húngaras de Franz Lizt, o
flamenco espanhol, os versos do Romancero Gitano, de Frederico Garcia Lorca, a
crença nos milagres de Santa Sara, a peregrinação a Saintes-Marie-de-la Mer, na
França, o aparecimento dos violinistas de restaurante indicando o momento do beijo nos
filmes de Hollywood da década de 50, o conhecimento de nosso destino pela leitura das
linhas das mãos.

Devemos também à diáspora dos ciganos a criação de inúmeras heroínas literárias,


desde ciganas legítimas – como Esmeralda amada por Quasímodo, o corcunda de Notre
Dame, a Gitanilla de Miguel de Cervantes Saavedra e a Carmem de Georges Bizet – até
Capitu, que apesar de brasileira tinha olhos não apenas de ressaca, mas "de cigana
oblíqua de dissimulada".

Devemos aos ciganos, enfim, a interminável


intriga romântica dos 155 capítulos da novela
"Explode Coração", exibida pela Rede Globo, e
o remorso por termos deixado que fossem
exterminados em massa durante o genocídio
nazista.

Nós, os "gadje" - como eles nos chamam -,


tivemos pelos ciganos, nos seus mil anos de
diáspora, uma atitude pendular entre o fascínio
e a desconfiança. Admiramos seu estilo de vida sem âncoras nem raízes, domando
ursos, negociando cavalos, trabalhando o cobre, fazendo música.

Por outro lado, os acusamos de todos os males infamantes, da feitiçaria ao canibalismo,


de rogar pragas a roubar crianças. Na verdade, as crianças roubadas foram as suas. Um
exemplo entre muitos: o trem que chegou a Buchenwald em 10 de outubro de 1944
trazia 800 crianças ciganas. Foram todas assassinadas nas câmaras de gás do crematório
cinco.

Durante muito tempo, não acreditávamos que os ciganos tivessem sequer uma língua.
Os sons que pronunciavam aos ouvidos ocidentais como algaravia, simples código para
melhor enganar os "gadje". Também não sabíamos por que eram chamados ciganos ou
gitanos.

A palavra cigana teria sua origem nos "atzigani", seita herética do Oriente médio,
praticante da quiromancia, enquanto gitano, corruptela de egiptano (gitane, em francês,
gypcie, em inglês) seria uma lembrança da passagem dos ciganos pelo Egito de nossos,
não o Egito de nossos Atlas modernos, mas o chamado "pequeno Egito", ocupando o
lugar da Grécia. A explicação mais usual é que seriam sobreviventes da Atlântida.

Foi preciso esperar o século XIX para que surgisse a luz. Estudos sobre as origens da
língua cigana – o romani – tornaram-se verdadeira ciência graças aos trabalhos do
alemão Pott, do grego Paspati, do austríaco Micklosicyh, do italiano Ascoli.
Comprovaram eles que o romani pertence à família indo-européia.

Pelo vocabulário e pela gramática está ligado ao sânscrito (como o português ao latim).
Fazendo parte do grupo de línguas neo-indianas, é estritamente aparentando a línguas
vivas, tais como o hindi, o goujrathi, o marata e o cachemiri.

Identificando as palavras que foram incorporando-se ao idioma original e seguindo as


indicações dos antropólogos, dos historiadores, das tradições orais e até dos grupos
sangüíneos foi possível estabelecer com certeza a origem dos ciganos no norte da Índia.

Vieram eles do Estado atual de Délhi ou de seus arredores, muito possivelmente do


Rajastão. De lá seguiram até a Pérsia, onde seu caminho se separou em tridente, uma
ponta descendo para o Egito, a segunda morrendo na Armênia, a terceira avançando
pela Turquia e pela Grécia, de onde os ciganos espalharam-se por toda a Europa e,
atravessando o mar, pelo continente americano. No Brasil, os primeiros grupos
chegaram no século XVII, ao Maranhão.

Por onde passavam, os ciganos deixavam sua marca na música e na dança. Puristas
afirmam que não existem músicas e danças essencialmente ciganas, mas apenas
influências, o que gera controvérsias nas classificações. Mas esse é um assunto para
especialistas.

O certo é que o cigano não apenas assimilava a música dos países nos quais vivia, mas a
mantinha viva, era capaz de enriquecê-la e recicla-la a sua maneira, transportando-a
além das fronteiras.

Sua música encantava igualmente o povo e a aristocracia, um dos motivos pelos quais
os primeiros grupos que surgiram na Europa, por volta do século XIV, foram bem
recebidos.

Cedo, no entanto, surgiu o preconceito com suas conseqüências. Primeiro, a exclusão


dos ritos sociais: a Igreja não enterrava ciganos em campos consagrados nem batizava
seus filhos. Depois, o arsenal completo da perseguição: ferro em brasa, forca,
decapitação, suplício da roda, deportação em massa.

No tempo do nazismo, os ciganos sofreram a mesma sorte dos judeus e dos


homossexuais, assassinados lado a lado nos campos de concentração de Ravensbrück,
Dachau, Buchenwald, Auschwitz e Birkenau. Não se sabe bem por qual razão, os
nazistas permitiram que conservassem seus instrumentos musicais. A música serviu-
lhes de último consolo.

Um sobrevivente não cigano relembra uma passagem do ano de 1939 em Buchenwald:


"De repente, o som de um violino cigano surgiu de uma das barracas, ao longe, como
que vindo de uma época e de uma atmosfera mais feliz... Árias da estepe húngara,
melodias de Viena e de Budapeste, canções de minha terra".

Música Cigana
Foi na Europa central e oriental que a música cigana (vocal e instrumental) teve – e
continua a ter – seu público mais fiel e apaixonado. Os elementos musicais turco-árabes,
recolhidos pelos músicos ciganos nas cores dos paxás e dos beis, floresceram na
Hungria com a incorporação dos instrumentos, da técnica, da orquestração e da
harmonização europeus.

Desde o século XVII, os senhores magiares mantinham orquestras ciganas.

Dois nomes ficaram na história: o do cimbalista Simon Banyak, protegido da imperatriz


Maria Teresa, e Janos Bihari, autor de "Kronunhs", música para o coração da imperatriz
Maria Luisa da Hungria, em 1808.

Assim como na Hungria e na Transilvânia, os ciganos eram numerosos na Moldávia, na


Valáquia e nos países que viviam a formar a Iugoslávia. Grupos de cantores ciganos
foram introduzidos na Rússia pelo conde Aléxis da Moldávia, sob o reinado de
Catarina, a Grande, e fizeram enorme sucesso nos anos que se seguiram à guerra de
1812 contra Napoleão.

A música cigana espanhola, conhecida desde os tempos de Cervantes, ganhou


popularidade universal com o canto jondo.

Vários compositores europeus foram intensamente influenciados pelos ciganos. Além


de Liszt, o mais conhecido, também Haydn, Schubert, Beethoven e Brahms.

Dança Cigana

Danças ciganas sempre foram atração especial nas cortes européias, a começar pela
francesa. Desde o tempo de Henrique IV apresentavam-se dançarinos ciganos no castelo
de Fontainebleau e na residência da marquesa de Sévigné. Moliére, em O Casamento
Forçado, introduz no palco um grupo de ciganos e ciganos dançando ao som de
pandeiros. Numa das apresentações, o próprio Luís XIV dançou vestido de cigano.
Na Turquia, a dança era uma das profissões ciganas mais características. O cortejo das
tropas de Constantinopla que desfilou para sultão Mourad IV, no século XVII, tinha,
após a seção dos músicos, uma seção de dançarinos, entre os quais numerosos ciganos.

Em Portugal, a Farsa das Ciganas, de Gil Vicente, apresentada em 1521, mostrava


quatro mulheres ciganas que cantavam e dançavam.

Foi na Espanha, entretanto e, sobretudo nas terras do sul, no antigo reinado de Granada,
que a dança cigana floresceu em seu terreno mais fértil. De seu encontro com a arte
árabe nasceria o inigualável flamenco da Andaluzia.

A Língua dos Ciganos

A língua cigana (o romanez) é uma língua da família indo-européia. Pelo vocabulário e


pela gramática, está ligada ao sânscrito. Fazendo parte do grupo de línguas neo-
indianas, é estreitamente aparentada a línguas vivas tais como o hindi, o goujrathi, o
marathe, o cachemiri. No entanto, eles assimilariam muitos vocábulos das línguas dos
países por onde passaram.

Religião dos Ciganos

Os ciganos, ao deixarem a Índia, não carregaram suas divindades. Eles possuíam na sua
língua apenas uma palavra para designar Deus (Del, Devel). Eles se adaptaram
facilmente às religiões dos países onde permaneceram. No mundo bizantino, tornaram-
se cristãos. Já no início do século XIV, em Creta, praticavam o rito grego.

Nos países conquistados pelos turcos, muitos ciganos permaneceram cristãos enquanto
que outros renderam-se ao Islã. Desde suas primeiras migrações em direção ao Oeste
eles diziam ser cristãos e se conduziam como peregrinos.

A peregrinação mais citada em nossos dias, quando nos referimos aos ciganos, é a de
Saintes-Maries-de-la-Mer, na região da Camargue (sul da França). Antigamente era
chamada de Notres-Dames-de-la-Mer. Mas não foi provado que, sob o Antigo Regime,
os ciganos tenham tomado parte na grande peregrinação cristã de 24 e 25 de maio, tão
popular desde a descoberta no tempo do rei René, das relíquias de Santa Maria Jacobé e
de Santa Maria Salomé, que surgiram milagrosamente em uma praia vizinha. Nem que
já venerassem a serva das santas Marias, Santa Sara a Egípcia, que eles anexarão mais
tarde como sua compatriota e padroeira.

A origem do culto de Santa Sara permanece um mistério e foi provavelmente na


primeira metade do século XIX que os Boêmios criaram o hábito da grande
peregrinação anual a Camargue.

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