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EXTINÇÃO
RESUMO:Tudo que existe, em síntese, pode ser observado na ótica do clico de vida humano,
como um vínculo jurídico que nasce (através do instrumento peculiar a cada tipo de relação
jurídica), se desenvolve ou desenrola-se e, por fim, morre, ou em nosso caso, extingue-se. Desta
forma, sabe-se que para a extinção de uma obrigação existem variáveis formas, podendo ser ela
direta ou indireta. Assim, estudaremos as formas especiais (ou indiretas) de extinção das
obrigações.
INTRÓITO
Assim como em tudo na vida, nas relações obrigacionais, e ainda mais, nas relações civis
propriamente ditas, existe um ciclo vivencial das coisas que a todo momento se renova. Ciclo
este que se inicia com o nascimento de uma relação jurídica, se desenrola com sua vida, ou
melhor, seu desenvolvimento e termina ou se encerra com seu falecimento, sua morte.
Dessa forma, é necessário (além de ter sido essa a proposta do estudo) que se delimite o campo
de pesquisa deste trabalho. Por isso, teremos que nos conter ao estudo da morte, ou mais
propriamente declarado, da extinção das obrigações e suas várias formas conceituais e estruturais
nas quais a extinção em si se apresenta.
Antes de abordarmos, impreterivelmente, as formas de extinção indireta das obrigações, é
preciso versar sobre alguns conceitos de obrigação, por mais ínfimos que sejam, para poder
introduzir-nos no assunto ora proposto para este trabalho. Assim, apresentaremos no capítulo um
alguns apontamentos referentes as obrigações em si mesmas.
No capítulo dois discorreremos sobre algumas das formas de extinções das obrigações,
ressaltando as diferenças das extinções diretas e indiretas para que possamos nos situar não só
com o título do presente trabalho mas como também para situarmo-nos com o contexto do
próprio trabalho científico.
E no capítulo três vamo-nos tentar compreender os tipos de extinção indireta das obrigações,
seus conceitos e naturezas jurídicas, seus fundamentos, suas espécies e as conseqüências de sua
aplicação, talvez abordando ainda mais alguns temas dentro de cada tipo mas nos contendo ao
estritamente necessário para a apresentação e entendimento deste trabalho.
Torna-se importante ressaltar que, diferente do direito real à coisa, em que o objeto da relação é a
própria coisa, o objeto da relação obrigacional não se presume na coisa objeto da prestação, mas
sim na própria prestação, ou seja, o objeto da relação resume-se na ação ou omissão do devedor
quando da pretensão do credor, assim, mesmo na obrigação de dar, o direito do credor não é
sobre a coisa, mas sim sobre sua entrega.(1)
Obrigação é o vínculo jurídico existente entre duas partes, credor e devedor, no qual este deverá
àquele uma prestação positiva ou negativa de coisa sujeita a apreciação econômica. Assim,
obrigação pode ser analisado como o dever do devedor em dar, fazer ou não fazer ao credor coisa
que possa ser quantificado pecuniariamente, monetariamente.
Logo, "o direito das obrigações trata dos direitos pessoais, ou seja, do vínculo jurídico entre
sujeito ativo (credor) e passivo (devedor), em razão do qual o primeiro pode exigir do segundo
uma prestação"(2).
1.2 ESTRUTURA DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL
Para que não se confunda os institutos da responsabilidade ou mesmo do estado de sujeição com
o instituto da obrigação é preciso que este apresente uma forma que lhe seja própria, ou seja, é
preciso que apresente certas características que lhe sejam únicas, como a figura dos sujeitos
(ativo e passivo), objeto (imediato e mediato) e vínculo jurídico, obrigatoriamente.
Dessa forma, teremos na relação obrigacional – resumidamente mas bem exposto por Carvalho
Neto – a seguinte estrutura:
As formas diretas de extinção de uma obrigação (pagamento e suas vertentes) nada mais são do
que as formas de satisfazer o interesse do credor de forma voluntária, assim, o devedor ou
devedores (sujeito passivo) da obrigação, de acordo com sua vontade, quita a dívida inerente da
obrigação entre as partes, tendo assim, o credor, sua pretensão satisfeita.
Diferentemente das formas diretas de extinção da obrigação, a forma indireta não reúne nenhuma
das "duas notas positivas (típicas) que caracterizam o cumprimento: a realização voluntária da
prestação e a satisfação do interesse do credor"(4), apenas têm em comum seu efeito que é a
extinção da obrigação.
Dessa forma, trata-se, a extinção indireta da obrigação, de uma forma de extinção em que
nenhuma das partes da relação obrigacional saiam totalmente satisfeitas mas que também não
saiam em relativo prejuízo, ou seja, o meio termo (teoricamente) entre a perfeita satisfação do
crédito do sujeito ativo (ou o adimplemento do débito do sujeito passivo) e o total
inadimplemento das obrigações debitórias do sujeito passivo da relação obrigacional.
Portanto, vale lembrar e fazer uma ressalva ao conceito dado por Carvalho Neto a esta espécie de
extinção da obrigação: "a consignação é o depósito judicial [ou extrajudicial] feito em
pagamento de uma dívida. Trata-se de meio indireto de pagamento, pois não se efetua em mãos
do credor, mas em Juízo"(7).
Deveras, para que se tenha pagamento é imprescindível que o credor ou quem o represente
colabore, pois apenas essas pessoas podem dar ao solvens a quitação, visto que ele tem o direito
de exonerar-se do vínculo obrigacional para livrar-se de suas conseqüências. Assim, se o credor,
injustificadamente, se recusar a receber e dar quitação, ou se o devedor tiver dúvidas a respeito
da pessoa a quem deve pagar, ou se não encontrar o destinatário do pagamento, a norma jurídica
vem amparar o seu interesse no sentido de desobrigar-se do cumprimento da prestação devida,
no tempo e forma convencionados, evitando a eternização da obrigação ou a subordinação de
seus efeitos à vontade exclusiva do credor, prescrevendo, para isso, um meio técnico: a
consignação em pagamento.(8)
A consignação em pagamento, por ser uma forma de extinção das obrigações, e perfazer-se ainda
num instituto de estudo do direito processual constitui uma relação de direito substantivo, e, para
tanto, também encontra suas diretrizes determinadas no Código Civil.
O Código Civil, em seu artigo 336, dispõe: "para que a consignação tenha força de pagamento,
será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem
os quais não é válido o pagamento"(10).
3.1.2.1 Pessoas
3.1.2.2 Objeto
Desse modo, para o adimplemento realizado em juízo que, no entanto, encontrava-se em mora,
deverá o devedor, adimplir com o valor total da obrigação mais os juros de mora devidos até a
época do depósito.
3.1.2.3 Tempo
É importante que a consignação seja realizada na época avençada, aprazada, ou, estando em
atraso, que venha acompanhada dos encargos/juros decorrentes da mora. E, também, pode ser
rejeitada a consignação se o retardamento tornou a prestação inútil para o credor, pois aí
configura-se o inadimplemento absoluto.
3.1.2.4 Lugar
"Finalmente, impõe-se que a consignação ocorra no lugar em que o pagamento devia ser
efetuado (art. 337)"(13). O lugar da prestação da obrigação será, em regra, o do domicílio do
devedor, no entanto, o lugar do pagamento, em regra, o do credor.
O foro da consignação, neste caso, não é regulado pela lei. É possível que o seja contratualmente,
quando então competente será o foro de eleição do contrato.
Se não houver disposição contratual a respeito, parece-nos que, por aplicação do princípio favor
debitoris, competente será o lugar da prestação.(14)
3.1.3 Efeitos
Porém, se, de forma contrária, a ação for julgada improcedente, acarretará ao devedor o dever,
além do pagamento da coisa que pretende o credor, o pagamento dos juros decorrentes da mora,
mesmo durante o período em que havia sido acionada a tutela jurisdicional, e ainda o pagamento
das custas processuais e os honorários advocatícios da outra parte.
"O termo sub-rogação significa, mormente em nossa ciência, substituição. A sub-rogação não
extingue propriamente a obrigação"(15), apenas transfere um direito a uma prestação que era do
credor originário para aquele que, sub-rogadamente, adimpliu a obrigação.
Em muitos pontos o pagamento com sub-rogação se parece com a cessão de crédito, por
transferir a outrem um direito de crédito do credor imposta a um devedor por vontade das partes
ou por força de lei. Contudo, existe uma diferença básica entre estes institutos que lhes garantem
características próprias e únicas, esta diferença resume-se no pagamento, mas não o pagamento
meramente considerado em si, e sim o valor pelo qual se lhe transfere, ao terceiro, o direito de
crédito.
Assim, na cessão de crédito, a transferência do direito real ao crédito, a terceiro, pode ser por
valor diminuto ou mesmo por valor que seja maior que sua verdadeira atribuição, ou seja, é
permitido a cessão de crédito por valor distinto do real. No pagamento com sub-rogação, no
entanto, a substituição do credor primitivo da relação obrigacional se dá pelo pagamento literal
do débito do devedor, ou seja, o pagamento por terceiro do valor real da prestação lhe garante o
direito ao crédito desta relação obrigacional.
Então, o que se tem é que a sub-rogação é instituto autônomo, que existe em si e por si,
inexistindo, assim, relação com este ou aquele instituo. Neste intento, muito bem explica Venosa,
quando diz:
Na verdade, a sub-rogação é instituto autônomo. Não pode ser tratada simplesmente como um
meio de extinção de obrigações. Se quem cumpre a obrigação é um terceiro, como vimos, a
obrigação subsiste na pessoa do terceiro. Uma razão de eqüidade apóia a existência da sub-
rogação. Em vez de se extinguir o crédito, este se transfere ao terceiro por vontade das partes ou
por força de lei. A própria relação jurídica sobrevive com a mudança do sujeito ativo. Tratando-
se de uma forma de facilitar o adimplemento, é incentivada pela lei.(17)
3.2.2 Espécies de sub-rogação
A sub-rogação legal trata-se tão somente da forma expressa de substituição do credor por figura
de terceiro a relação obrigacional sem que haja um convencionamento entre as partes da
obrigação (ativo ou passivo) e o terceiro, ou seja, a lei amparou o direito ao crédito àquele que
adimpliu a obrigação do devedor sem a necessidade da permissão prévia deste ou mesmo sem a
necessidade de que este seja comunicado.
A sub-rogação legal é a imposta por lei, que contempla vários casos em que terceiros solvem
dívida alheia, conferindo-lhes a titularidade dos direitos do credor ao incorporar, em seu
patrimônio, o crédito por eles resgatados. Opera, portanto, de pleno direito nas hipóteses
taxativamente previstas no Código Civil [...].(18)
3.2.3 Efeitos
"Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias
do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores".(20)
A imputação, em si, não extingue a obrigação do devedor para com o credor, mas sim, e apenas,
atribui ao devedor, ao credor ou a lei o direito de escolha de que obrigação que lhe será imputada
o pagamento, qual débito que se extinguirá. "Trata-se da aplicação de um pagamento a
determinada dívida (ou mais de uma), entre outras que se têm com o mesmo credor"(21).
Neste ínterim, deve-se observar também que para poder haver a necessidade, ou mesmo a
obrigatoriedade, da imputação, deverá, os débitos, partilharem da mesma natureza, e também
deverão ainda tratar de obrigações líquidas e vencidas. A preferência para a escolha da obrigação
que se quer adimplir é do devedor, porém, não havendo sua manifestação oportuna passa, o
direito a escolha, para o credor, e mantendo-se, ambos, silentes a lei oportunamente fixará qual
das obrigações que se adimpliu.
3.3.1 Requisitos
Ambos são requisitos primordiais, no entanto, há ainda outros requisitos que também são
obrigatórios na imputação mas que são menos perceptíveis:
os débitos devem ser da mesma natureza, fazendo com que deva existir compatibilidade no
objeto ou na forma com que se vai adimplir, posto que uma obrigação na qual sua extinção se
fará através da entrega de cereais não é compatível, ou não é da mesma natureza de uma
obrigação que deva extinguir-se pelo pagamento em pecúnia;
também devem ser, as dívidas, líquidas, assim, deve-se, a obrigação, ser certa, quanto à sua
existência, e determinada quando do seu objeto, ou seja, o objeto da prestação já deve estar
previamente determinado e a existência da obrigação pré-estabelecida;
a prestação ofertada, ou melhor dizendo, o pagamento ofertado para a quitação dos débitos deve
ser suficiente para a promoção do adimplemento de pelo menos uma das dívidas, sendo que ao
credor não deve ser obrigado aceitar pagamento parcial do débito;
por fim, deve ser, a dívida, vencida, já que, como anteriormente, não deve ser obrigado, o credor,
a aceitar pagamento antes do prazo de seu vencimento, mesmo que esta seja a vontade do
devedor. Então não poderá se imputar um pagamento a uma dívida que nem ao menos tem o aval
do credor para seu adimplemento.
3.3.2 Espécies
Assim como dito anteriormente, a imputação, em regra, é direito do devedor, porém, se este não
a realizar oportunamente, caberá ao credor sua realização, e se ambos não a efetuarem, caberá a
imputação a lei.
Não havendo avençamento em contrário, por se tratar de campo do direito dispositivo, a escolha
da imputação, em regra, é do devedor. Porém, deverá, o devedor, realizá-la oportunamente,
declarando qual débito quer solver.
No entanto, cabe uma ressalva ao que bem expôs Venosa: "Tal direito, porém, sofre mitigação;
não é absoluto. Se houver capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros
vencidos"(22), ou seja, se alguma das obrigações tiver a ela vinculado juros e/ou capital, caberá
o pagamento à solvência dos juros existentes, desde que não convencionado em contrário.
Se o devedor der em prestação o pagamento a uma ou mais dívidas e não expressar para qual ou
quais dos débitos está efetuando o pagamento, caberá ao credor o direito da imputação do
pagamento ao débito que lhe convier. Se o devedor aceitar que seja imputado o pagamento como
declarado pelo credor, aquele não poderá mais poderá reclamar da imputação realizada pelo
credor.
[...] Se o devedor, a quem se quer proteger, abre mão da prerrogativa de escolha e, ao efetuar o
pagamento, não declara em qual das dívidas o quer imputar, o direito de fazê-lo se transfere ao
credor.
Tal direito é pelo credor exercido na quitação, onde declara o crédito em que imputou o
pagamento ora quitado. Se o devedor aceitar tal documento, presume-se que concordou com a
imputação feita pelo credor, a qual, desde então, só se invalidará provando-se dolo ou violência.
(23)
[...] Pode ocorrer, entretanto, que nem o devedor escolhe a dívida em que quer imputar o
pagamento efetuado, nem o credor se valha, no ato da quitação, da prerrogativa de indicar onde o
imputará. Nesta hipótese, a lei supre a vontade faltante das partes, ordenando que a imputação se
fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar.(24)
Quando existe entrega de uma coisa, em substituição, há alienação, daí por que sua analogia com
a compra e venda [...]. O vigente Código atualiza a compreensão da definição de dação em
pagamento, conforme nossa observação. Assim, quando se substitui, com aquisciência do credor,
o objeto da prestação, ocorre a dação.(25)
Assim, "há a necessidade de (a) uma obrigação previamente criada, (b) um acordo posterior, em
que o credor concorda em aceitar coisa diversa e, por fim, (c) a entrega de coisa diversa com a
finalidade de extinguir a obrigação"(26), para que ocorra a datio in solutum. Também é
necessário, para ser valido o seu consentimento, que o credor goze de plena capacidade, já que
de sua incapacidade pode vir a acarretar-lhe prejuízo. Na dação, não é necessário a equiparação
de valores para a substituição do objeto, não há nem ao menos a necessidade de se expressar um
valor para o novo objeto da prestação.
3.5 NOVAÇÃO
A novação, por tratar da substituição consensual de obrigação pré-existente por uma nova
obrigação, assume natureza contratual, ou seja, tal acordo emana da vontade mútua das partes
com a finalidade de extinção daquela dívida primitiva.
3.5.2 Requisitos
Outro requisito para o exercício da novação, como elencado logo acima, é a constituição de nova
dívida, para que, assim, possa se extinguir a obrigação primitiva, sendo que a novação só se
manifesta se houver diversidade substancial entre o débito anterior e o novo.
O terceiro requisito diz respeito ao animus novandi. É primordial que o credor tenha a intenção
de novar, pois importa renúncia ao crédito e aos direitos acessórios que o acompanham. Quando
não manifesta expressamente, ou quando na dúvida do real objetivo de novar, entende-se que não
houve novação, pois esta não se presume.
Por fim, o quarto requisito é o que a tornará, a nova obrigação, diferente da anterior. Tal
inovação pode recair sobre o objeto da prestação ou sobre os sujeitos da relação obrigacional.
Sem esses pressupostos não se terá novação.
3.5.3 Espécies
Dá-se a novação objetiva, por exemplo, quando o devedor (sujeito passivo) da relação
obrigacional, não havendo condições deste saldar a dívida em dinheiro como havia pactuado
primitivamente na obrigação, propõe ao credor (sujeito ativo) que aceite a substituição da dívida
por prestação de serviços formalizado num novo vínculo jurídico e obrigacional.
3.5.3.2 Novação Subjetiva ou Pessoal
A novação subjetiva (ou novação pessoal) ocorre quando se realiza a substituição de um dos
sujeitos da relação obrigacional. Podendo ocorrer:
por substituição do(s) devedor(es) (novação passiva): pode se realizar com o consentimento do
devedor originário, chamada de delegação; ou realizada sem o consentimento do devedor
originário, chamada de expromissão;
por substituição do(s) credor(es) (novação ativa): decorre de um acordo de vontades, pelo qual
muda a pessoa do credor. Mediante nova obrigação, o credor originário deixa a relação de
obrigação e, outro, estranho a relação, lhe toma o lugar;
por substituição de ambos os sujeitos (novação mista): decorre da mudança, ao mesmo tempo, do
objeto da prestação e de um dos sujeitos da relação jurídica obrigacional.
3.5.4 Efeitos
O principal efeito da novação é a extinção da primitiva obrigação, que se faz substituir por outra,
constituída, exatamente, para provocar a requerida extinção. Verifica-se também que a novação
tem um duplo sentido: ora tem força extintiva, solvendo a antiga obrigação; ora como criadora,
por fazer surgir, daí, uma nova relação obrigacional. Exerce, então, concomitantemente, uma
dupla função: a) libe-ratória; b) obrigatória.
3.6 COMPENSAÇÃO
"Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem".(28)
Deste modo, pensa-se em compensação a forma pela qual extingue-se, ou compensa, uma dívida
em face de outra quando se opera pelo mesmo credor e devedor, ou seja, "a compensação
aparece como um meio de extinção das obrigações e opera pelo encontro de dois créditos
recíprocos entre as mesmas partes"(29).
Por ser, este instituto, uma forma de extinção especial das obrigações reciprocamente
consideradas entre as mesmas partes é que se tem configurado, quanto sua natureza jurídica,
pagamento indireto das obrigações, nestes termos, pode-se considerar o que textualiza Diniz:
Portanto, claro está que, quanto à sua natureza jurídica, poder-se-á dizer que se trata de
pagamento indireto, ou seja, de uma variação de pagamento ou de um modo especial de extinção
da obrigação: a) por exigir que os credores sejam concomitantemente devedores um do outro; b)
por extinguir as dívidas recíprocas antes de serem pagas, e c) por permitir fracionamento de um
dos débitos, representando exceção ao princípio geral de que o credor não pode ser obrigado a
receber por partes.(30)
3.6.2 Pressupostos
Para a compensação for passível de realização é imprescindível que acolha alguns requisitos
essenciais, como: (a) reciprocidade de créditos e/ou débitos; (b) certeza, liquidez e exigibilidade
das dívidas; e (c) fungibilidade dos débitos entre si.
Certo quanto à sua existência, ou seja, não depende de nenhuma condição ou cláusula (como
cláusula resolutiva) que torne insegura a sua eficácia. Líquido quanto ao seu objeto, ou seja,
concretizado quanto à prestação cuja determinação dependa de cálculo. Exigível quanto ao seu
cumprimento, ou seja, não depende de termo, que ainda se não tenha vencido, nem da vontade
espontânea de cumprir por parte do devedor, como sucede nas obrigações naturais.(32)
3.6.2.3 Fungibilidade
Somente a fungibilidade em si, não resolve a obrigação pela compensação, devendo estas serem
fungíveis entre si, por isso, uma dívida em que seu objeto de prestação sejam dez sacas de
bananas (obrigação fungível) não pode se compensar por outra em que seu objeto sejam dez
sacas de laranja (também obrigação fungível), mesmo ambas sendo fungíveis não perfazem
fungibilidade entre si, por se tratar de objetos de espécies diferentes.
3.6.3 Espécies
parcial ou total– total quando as dívidas forem de valores equivalentes e parcial quando da
subtração entre ambas remanescer ainda resquício obrigacional para uma das partes;
legal e voluntária– legal quando prescrito em lei e que obedeça aos requisitos prévios para sua
efetivação e voluntária por estar condicionado e/ou convencionado entre as partes da relação
recíproca de obrigações;
convencional– operacionaliza-se pela convenção entre as partes, mesmo que falte requisitos para
a ocorrência de compensação legal;
unilateral– pode, a compensação, ser produto de apenas uma das partes, desde que esta seja a que
se prejudicaria quando da efetivação da compensação;
judicial– aquela declarado de ofício pelo juiz, mesmo esta não reunindo todos os requisitos de
exigibilidade. Assim, poderia, o juiz, oferecer-lhe os requisitos necessários e declarar sua
exigibilidade.
3.6.4 Efeitos
3.7 TRANSAÇÃO
Na transação, cada parte abre mão de parcela de seus direitos para impedir ou pôr fim a uma
demanda. Transigir é condescender, fazer concessões de parte a parte. Não existe transação se
uma das partes abre mão de todos os seus direitos; o negócio jurídico será outro, podendo ser
confissão ou reconhecimento do pedido ou até mesmo remissão. É essencial que as partes
cheguem a um acordo com mútuas concessões.(34)
A maioria das legislações e mesmo das doutrinas existentes tratam a transação como um
contrato, assim também é o entendimento do legislador quando tratou da transação juntamente
com o instituto do contrato no ordenamento jurídico atual.
Destarte, não há como fugir do caráter contratual do presente instituto já que trata-se de contrato
bilateral de caráter oneroso que emana da vontade dos litigantes, ou das partes do conflito, que
tem por finalidade a resolução de sua relação conflituosa.
Nestes termos, faça-se uma ressalva ao entendimento de Venosa quando trata da transação:
[...] É também um contrato consensual porque se completa pela simples vontade das partes, não
dependendo da tradição de coisas. É oneroso pelo simples fato de ambas as partes abrirem mão
de suas pretensões.(35)
3.7.2 Requisitos
3.7.3 Modalidades
A transação pode realizar-se durante a lide ou durante o conflito de interesses, se, para tanto, que
haja a necessidade da lide. Assim, a transação pode ser, como bem explica Venosa, judicial ou
extrajudicial.
[Na transação judicial] as partes podem compor-se perante o juiz, na audiência, por exemplo, que
é o momento mais oportuno. A transação constará do termo. Pode a transação vir por petição
com assinatura conjunta das partes, por seus patronos com poderes especiais. Se houver
necessidade de escritura pública, assim se fará. Não é necessário que o escrito particular ou
público venham aos autos, já que a lei só fala em homologação do termo dos autos.
[...]
3.7.4 Efeitos
Por se tratar, a transação, de contrato, deverá, então, ela ser vista sob os efeitos do direito
contratual. Assim, seus efeitos serão apenas entre as partes envolvidas na transação e no conflito.
a) não se pode unir a posse do que na transação foi reconhecido possuidor, com a posse que
vinha exercendo quem com ele se compôs, não servindo portanto, o título para usucapião
ordinário; b) enquanto não prejudicarem direito de terceiro, os efeitos da transação retroagem,
pois esta apenas declara o que já existia e não constitui direito novo; c) as partes não são
obrigadas a garantir os direitos que reconhecem, posto que os não transferem.(37)
3.8 COMPROMISSO
O compromisso é, ainda, tratado como forma de extinção de obrigações, mesmo havendo "um
claro e inafastável conteúdo contratual"(38), pois, emana da vontade das partes a resolução
futura, em termo, da obrigação pelas vias arbitrais, ou seja, constará do contrato cláusula que
comprometerá as partes a resolução de eventuais lides pelo juízo arbitral.
Em qualquer contrato de direito privado, portanto no âmbito de direito disponível das partes,
podem estas estipular que quaisquer pendências emanadas do negócio jurídico sejam dirimidas
por juízo arbitral. Por essa cláusula ou pacto compromissório (termo que deriva de
compromissum do Direito Romano, conhecido na língua inglesa como submission agreement),
as partes comprometem-se a submeter-se a um futuro julgamento arbitral.(39)
Compromisso é acordo bilateral (ou contrato bilateral) no qual as partes determinam ficar
submetidas, suas controvérsias e conflitos, à decisão de árbitros, ficando comprometidos a acatá-
las e, ainda, excluindo a possibilidade da demanda da jurisdição da justiça comum.
3.8.2 Pressupostos
Por ater-se a um contrato, ou melhor, por tratar-se de natureza contratual, é imprescindível, para
sua validade, que o compromisso seja revestido de pressupostos que façam-lhe garantir sua
validade, podendo ser, estes pressupostos (ou requisitos), subjetivos ou objetivos.
Seus pressupostos subjetivos são: (a) capacidade de se comprometer, que se deve presumir, além
da capacidade para os atos da vida civil, a possibilidade dos contratantes de dispor de seus
direitos e de ser parte em juízo, já que envolverá a submissão do conflito aos árbitros; e (b)
capacidade para ser árbitro, sendo que só pode ser árbitro quem for detentor da confiança de
ambas as partes, exceto os incapazes, os analfabetos e os legalmente impedidos ou os suspeitos
de parcialidade.
quanto ao conteúdo do compromisso, deverá a cláusula compromissória conter (de acordo com a
Lei n. 9.307/96): (i) nomes, sobrenomes, domicílio, profissão e estado civil dos sujeitos do
compromisso e do próprio árbitro, assim como também de seus substitutos; (ii) as características
e valores do objeto do litígio; e (iii) local onde será proferida a sentença arbitral.
3.8.3 Espécies
Poderá, o compromisso, assim como na transação, ser tratado em juízo (judicial) ou de forma
extrajudicial, assim temos: (a) judicial, refere-se ao conflito já ajuizado, celebrando-se por termo
nos autos, perante o juízo ou tribunal por onde correr a demanda; e (b) extrajudicial, quando
ainda não houver demanda ajuizada, celebrando-se o compromisso por escritura pública ou
particular, assinada pelas partes e duas testemunhas.
3.8.4 Efeitos
Os efeitos do compromisso serão: (a) somente entre as partes (compromitentes); e (b) também
entre as partes e o árbitro. Assim teremos:
efeitos quanto as partes: (a) exclusão da possibilidade de intervenção do juízo comum para a
solução do litígio; (b) submissão dos compromitentes à sentença arbitral, tendo apenas o direito
de recorrer ao tribunal no caso de nulidade do laudo.
Entre as partes e o árbitro: (a) investidura do árbitro após sua aceitação; (b) substituição do
árbitro no caso de falta, recusa ou impedimento; (c) indicação de um terceiro para efetuar o
desempate, caso aconteça; (d) pagamento, ao árbitro, de honorários ajustados pelo exercício de
sua função; (e) responsabilidade por perdas e danos do árbitro que não auferiu sentença arbitral a
seu tempo, acarretando a extinção do compromisso, ou que, depois de ter aceitado o encargo, a
ele renunciar injustificadamente; e (f) aplicação da fixada pelo Código de Processo Civil, art.
133, sobre os deveres e responsabilidades dos juízes, aos árbitros que o merecerem.
3.9 CONFUSÃO
Destarte, a relação obrigacional não deveria se extinguir – já que esta não foi adimplida nem se
resolveu –, mas sim neutralizar-se, já que a obrigação apenas deixou de ser exigível na prática,
tendo em vista que o credor nunca há de reclamar débito de sua própria pessoa.
A confusão pode ser total ou parcial, conforme o valor da obrigação que lhe diga respeito, ao
credor, sendo ela total se lhe for de inteira a responsabilidade e parcial se em apenas parte dela
figurar como devedor.
Assim, são requisitos da confusão: (a) a exigência de que uma única pessoa reuna as qualidades
de credor e devedor; (b) essa reunião de qualidades deve ser considerada em uma mesma relação
jurídica, a uma mesma obrigação; (c) é necessário que não haja a separação de patrimônios,
como no caso do diretor de empresa, como pessoa física que é credor da pessoa jurídica não
haverá a confusão pois trata-se de diferentes patrimônios.
Declarada a confusão, extingue-se o direito a prestação do valor ao qual lhe foi computado o
débito, portanto, persistindo o direito ao crédito na confusão parcial. E, também, não se extingue
mera e exclusivamente a relação principal, mas também as acessórias que a ela estavam
vinculadas.
3.10 REMISSÃO
Remissãoé o perdão dado ao devedor da dívida que provinha do vínculo obrigacional para com o
credor. Assim podemos dizer da remissão em outras palavras que, "a remissão das dívidas é a
liberação graciosa do devedor pelo credor, que voluntariamente abre mão de seus direitos
creditórios, com o escopo de extinguir a obrigação, mediante o consentimento expresso ou tácito
do devedor"(41).
"[...] Nada impede que a remissão tome a forma bilateral de um contrato, mas não é de sua
essência. Essencial é a aquiescência do devedor, ainda que presumida ou tácita".(42)
3.10.2 Espécies
A remissão pode se dar: (a) total ou parcial – total se o perdão dado for concernente a toda a
obrigação ou parcial se credor perdoar apenas parte do débito, que subsistirá em parte e em parte
será remitido; (b) expressa ou tácita – expressa se for firmado por ato escrito, ou seja, se estiver
contido num instrumento público ou particular que manifeste, formalmente, a vontade do credor
de remitir o devedor ou tácita se decorrer do que a lei prescrever, nos quais se presume a vontade
do credor de remitir, por ser resultado de atos que indicam a sua vontade em perdoar o débito.
3.10.3 Efeitos
a remissão dada a um dos co-devedores extinguirá a dívida na parte a ele vinculada, porém, ainda
se resistirá a dívida para os demais devedores lhes cabendo abatimento, no valor do débito, do
valor remitido àquele devedor exonerado;
a liberação do devedor realizada por um dos credores solidários extinguirá totalmente o débito;
a indivisibilidade do débito impedirá, mesmo que um dos credores remita a dívida, a extinção do
vínculo obrigacional para com os demais credores, no entanto, estes só terão o direito a exigência
do pagamento com o desconto da parte do credor remitente;
CONCLUSÃO
Por isso, este trabalho tentou demonstrar alguns dos institutos diversos do pagamento direto pois
este já é próprio e também finalidade da própria obrigação, desde que o Estado assumiu todo um
aparelhamento jurisdicional, e alguns desses outros institutos ainda encontram divergência
doutrinárias quanto a suas naturezas, efeitos, requisitos e mais tantos outros temas próprios deles.
REFERÊNCIAS
ANGHER, Anne Joyce (org.). Vade Mecum Acadêmico de Direito. 2. ed. São Paulo: Rideel,
2005.
CARVALHO NETO, Inacio de. Extinção indireta das obrigações. 3. ed. Curitiba: Juruá, 2005.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria geral das obrigações. 13. ed. São
Paulo: Saraiva, 1999.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte geral das obrigações. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria geral das obrigações e teoria geral dos
contratos. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2006.
NOTAS:
1- CARVALHO NETO, Inacio de. Extinção indireta das obrigações. 3. ed. Curitiba: Juruá, 2005.
p. 21-24.
2- DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria geral das obrigações. 13. ed.
São Paulo: Saraiva, 1999. p. 240.
5- RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte geral das obrigações. 30. ed. São Paulo: Saraiva,
2002. p. 165.
6- Ibid. p. 165-166.
9- Ibid. p. 241-242.
10- ANGHER, Anne Joyce (org.). Vade Mecum Acadêmico de Direito. 2. ed. São Paulo: Rideel,
2005. p. 200.
15- VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria geral das obrigações e teoria geral dos
contratos. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 246.