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SURPRESA: VOCÊ NÃO EXISTE!

Você já imaginou se a nossa vida, família e tudo que nos cerca e que
conhecemos fosse, na verdade, ilusões criadas em nosso cérebro por um
programa simulado de computador? Tem gente que pensa que isso é
perfeitamente possível! Nick Bostrom, um filósofo da universidade inglesa de
Oxford, não só acredita na possibilidade, como até arrisca o palpite de que
temos 20% de chance de sermos parte de um programa simulado. Doido?
Talvez nem tanto!

Se nós continuarmos avançando tecnologicamente, o que seremos


capazes de fazer no futuro? Dr. Bostrom chama o homem do futuro de ‘pós-
humano’. Para ele, o pós-humano seria capaz de tecnologicamente criar um
mundo virtual, onde tudo seria percebido como se fosse real, algo como no filme
Matrix, só que na simulação, não seria possível desconectar-se do programa,
como Neo faz no filme. Se, de acordo com Dr. Bostrom, fazemos parte de um
programa assim, não é possível para nós discernirmos o real do não real. Então,
como provar se somos parte de um programa simulado?

Para Dr. Bostrom, os pós-humanos seriam os designers de programas de


simulação onde o objetivo poderia ser estudar a evolução do homem ou
apenas… diversão! É também possível que a raça humana nunca atinja tal nível
tecnológico ou que os pós-humanos não tenham interesse em simulação e
prefiram outras formas mais avançadas de estudar o passado, diz Dr. Bostrom.

Matrix e Dr. Bostrom não foram os únicos a questionar a realidade do


mundo ao nosso redor. Para o filósofo francês, René Descartes, a única coisa
certa era a sua própria existência pois ele podia pensar, refletir, questionar. Daí
sua famosa frase, “penso, logo existo”. Descartes argumenta que, muitas vezes,
os nossos sonhos parecem reais. Temos sentimentos, sentimos dores, etc, mas
não temos consciência de que é apenas um sonho. Só distinguimos o sonho do
real ao acordarmos. Mas, e se nunca acordarmos? E se a nossa vida for um
eterno sonho?

Algumas pessoas podem argumentar que se trata de dois mundos


distintos: o virtual e o real, e que sabemos muito bem distinguí-los. Será? Quem
se lembra do tamagotchi, o bichinho de estimação virtual japonês que há uns 10
anos atrás, fascinou o mundo inteiro? Embora fosse um brinquedo, ele era visto
como ‘real’ pelas pessoas. Os bichinhos nasciam, cresciam e morriam.
Tínhamos que dar banho, cuidar e brincar com ele. A interação era tão grande
que as pessoas ficavam tristes quando ele morria ou se sentiam culpadas
quando se esqueciam de alimentá-lo.

Agora temos programas muito sofisticados onde a interação é muito mais


real. Em The Sims nos deparamos com um ambiente interativo que simula a
vida real onde tudo pode acontecer como festas e namoros. Já no programa
Second Life, os avatares (nossa versão virtual no programa) criam e interagem
uns com os outros no ambiente virtual pela internet criando um verdadeiro
mundo à parte, literalmente uma segunda vida. O real e o virtual estão aos
poucos perdendo sua força antagônica; o virtual se tornando mais real e o real,
mais virtual.

Como sabemos se, como argumenta Dr. Bostrom, estamos em um


programa simulado de computador? A verdade é que não é possível comprovar
se fazemos (ou não fazemos) parte de um mundo virtual. Mas a idéia bem que é
fascinante! Embora nem tão fascinante seja a idéia de que este ‘jogo’ possa ter
um fim!

Denise Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada no Teachers College

Columbia University (Nova York) e professora de português como língua

estrangeira.
Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):

Osborne, D. (2007, October 11). Surpresa: você não existe. Clarim, Ano 12,
n. 589, p. A2.

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