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II Simpósio de Ciências Criminais UNICENP Curitiba, 26 de abril de 2007

O CIDADÃO-DE-BEM E
O CRIMINOSO-NATO:
breve história do maniqueísmo
penal

Túlio Vianna

1. A invenção da maldade

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II Simpósio de Ciências Criminais UNICENP Curitiba, 26 de abril de 2007

Lúcifer: o grande vilão

Lúcifer, retratado por Gustave Doré, para a obra


“Paraíso Perdido” de John Milton.

Matar é um mal?
“O código moral da tribo tugue, na Índia, considerava
como uma virtude o assassinato por
estrangulamento de homens não tugues (só os
homens, não as mulheres). Um sioux não ganhava
seu penacho de adulto antes de ter matado outro
homem; um daiaque não desposava uma mulher
antes de obter uma cabeça; um naga não obtinha
sua tatuagem até possuir um escalpo. Na
Alemanha pós-depressão, vários oficiais da SS
eram promovidos por suas habilidades genocidas.”

THOMSON, Oliver. A assustadora história da maldade. p.22.

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Há uma maldade natural?


“A tortura foi praticada em nome do próprio Deus
durante a Inquisição Católica e foi usada para
extrair confissões ou provas por regimes
políticos durante toda a história. A pederastia
com meninos de 12 anos era aceitável na
Grécia antiga e o casamento forçado de
meninas muito novas com homens velhos foi
comum em várias sociedades
sociedades. O estupro de
escravas, serviçais, inquilinas e esposas tem
sido praticado durante milênios, com absoluta
impassividade da sociedade e das autoridades.”
VIANNA, Túlio. Transparência pública; opacidade privada, p.5-6.

Não ác
ão há crimes
es, mas
as
condutas criminalizadas
pelo poder.

Todo crime é uma invenção


i ã
social.

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2. O cidadão-de-bem(s)

Revolução Industrial

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Vadios: criminosos!
“Para garantir a mão-de-obra, criminalizava-se o pobre que
não se convertesse em trabalhador. (...) Com a revolução
industrial, o esquema jurídico ganhou feições mais
nítidas: criou-se o delito de vadiagem. Referindo-se à
reforma dos dispositivos como Poor Law, em 1834,
Disraeli dizia que na Inglaterra ser pobre passava a ser
crime. Aqueles que, por uma razão ou outra, se
recusavam ou não conseguiam vender sua força de
trabalho passaram a ser tratados pela justiça mais ou
trabalho,
menos como nos julgamentos descritos por Jack London
em seu conto autobiográfico:a cada 15 segundos, uma
sentença de 30 dias de prisão para cada vagabundo.”

BATISTA, Nilo. Punidos e mal pagos. p.35-36.

Grevistas: criminosos!
“Para impedir a cessação de trabalho, criminalizava-se o
trabalhador q que se recusasse ao trabalho tal como ele
‘era’: criou-se o delito de greve. O Código Penal
francês de 1810 contemplava o novo crime, em seu
artigo 415. O Vagrancy Act inglês de 1824 tornava
possível processar criminalmente trabalhadores que
recusavam a diminuição de seus salários. Não por
acaso, um dos vagabundos condenados do conto de
Jack London, alegando perante o juiz que houvera
deixado sua ocupação com a esperança de obter uma
vida mais feliz, foi punido com mais 30 dias por
‘abandono de emprego’.”

BATISTA, Nilo. Punidos e mal pagos. p.35-36.

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3. O criminoso-nato

“O delinqüente tem uma estatura mais alta, uma envergadura maior, um


tórax mais amplo, uma cabeleira mais escura e um peso superior ao
normal e ao dos alienados; que ele apresenta, sobretudo entre os ladrões
– reincidentes e menores – uma série de submicrocefalias maiores do que
normalmente, mas menores que entre os alienados; que o índice do
crânio, comparado em geral ao índice étnico, é nele mais exagerado; que
o delinqüente oferece assimetrias cranianas e faciais freqüentes,
sobretudo entre violadores e ladrões, mas mais raras entre loucos, pois
têm, os delinqüentes, sobre esses últimos, superioridade em face de
lesões traumáticas na cabeça e nos olhos oblíquos; têm, menos
freqüentemente, o ateroma das artérias temporais, a situação anormal
das orelhas, a raridade da barba, o nistagmo, a assimetria facial e
craniana, a midríase e, ainda mais raramente, a calvíce precoce. Em
proporções iguais: o prognatismo, a desigualdade das pupilas, o nariz
torto, a fronte fugidia. Mais freqüentemente que os loucos e que os
homens sãos, têm os delinqüentes: uma face mais longa, um grande
desenvolvimento das apófises zigomáticas e dos maxilares, o olhar
sombrio, a cabeleira espessa e negra – sobretudo os ladrões de estrada.
Os corcundas, muito raros entre os homicidas, são mais freqüentes entre
os violadores, falsários e incendiários. Esses últimos, e mais ainda os
ladrões, têm todos uma altura, um peso e uma força muscular inferiores a
dos bandidos e dos homicidas. Os cabelos louros são abundantes entre os
violadores; os negros, entre ladrões, homicidas e incendiários.”
LOMBROSO, César. O homem delinqüente, p.288.

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O homem delinqüente

“Em 1876 a polícia começa a empregar a fotografia;


no final da década, a Chefatura já possui 60 mil
fotos. É verdade que estas, tomadas de todos os
ângulos e guardadas em desordem, têm
pouquíssima valia; de qualquer maneira, não
permitem que se descubra a verdadeira identidade
de um falsário. Tudo muda a partir de 1882, com o
emprego da identificação antropométrica
estabelecida por Alphonse Bertillon. No momento
em que a aprovação da lei de 27 de maio de 1885
sobre a reincidência tornará mais imperiosa a
necessidade de identificação criminal, ele prova
que cinco ou seis medidas ósseas efetuadas com
rigor e conforme um procedimento fixo são o
bastante para marcar um indivíduo.”
CORBIN, Alain. O segredo do indivíduo, p.432.

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A bertillonagem:
mensuração da maldade

A evolução:
séculos XIX e XXI

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Genética e biometria:
mensuração da maldade II

4 Como diferenciar
4.
o bem do mal
em uma lição

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Bem X Mal

www.tuliovianna.org

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