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Utilização dos “browsers” e das bibliotecas digitais

UAb – MPEL/2010-2011 *** Educação e Sociedade em Rede

na pesquisa científica dos estudantes

RESUMO
O objectivo do presente texto é reflectir sobre o impacto da utilização da Internet e das
bibliotecas digitais nas pesquisas académicas dos estudantes. Será que os alunos
sentem que os motores de busca na Web para publicações científicas oferecem
conteúdos com a mesma qualidade e relevância que a selecção de conteúdos
alojados nas bibliotecas digitais? Ou os estudantes precisam ainda de ser instruídos
para o desenvolvimento de competências de pesquisa? Neste texto, será explicado
como a acção colectiva (cibercultura - Pierre Lévy) pode ser uma solução para a
qualidade desses saberes, na sua produção e disseminação na Rede. Será explicado,
também, que a aprendizagem como formação em rede permite que “a informação se
torne conhecimento através de conexões” (Teoria do Conectivismo - George
Siemens).

ABSTRACT
The aim of this paper is to reflect on the impact of the Internet and digital use in the
students’ academic research. Do the students feel that the Web search engines for
scientific publications provide content with the same quality and relevance as the
selection of content housed in digital libraries? Or students still need to be
instructed to develop research skills? This text will explain how collective action
(cyberculture - Pierre Lévy) can be a solution to the quality of this knowledge in
their production and dissemination on the Net. Will be explained, too, that learning
as training network allows "information becomes knowledge through connections"
(Theory of Connectivism - George Siemens).

Palavras-chave: conhecimento, artigos científicos, open access, acesso livre,


cibercultura, conectivismo, sociedade em rede, Internet

Docente: Doutor António Teixeira

Aluno: Marco Freitas

Blogue: http://letragorda.blogspot.com/
INTRODUÇÃO

Actualmente, grande parte dos artigos científicos, teses e relatórios (informação

primária) estão acessíveis em formato digital, quer na modalidade de acesso livre (open

acess), quer mediante uma subscrição. No primeiro caso, temos as revistas científicas open

acess, as bases de dados e portais disponíveis na Web e os repositórios institucionais ou

temáticos. No segundo caso, há as bases de dados de informação científica ou revistas

científicas de editores comerciais. Os repositórios institucionais armazenam e tornam

acessível a literatura científica nos seus mais diversos tipos de documentos: working papers,

relatórios técnicos, comunicações a conferências, apontamentos de aulas e outros materiais

didácticos, relatórios de projectos de investigação, etc. Os documentos podem ser arquivados

em vários formatos de texto, imagem, áudio, vídeo, e podem existir várias instâncias do

mesmo conteúdo (o texto da comunicação a uma conferência e a apresentação em Powerpoint

utilizada na apresentação oral).

Nos vários níveis de ensino, os estudantes precisam de ter, enquanto pesquisadores

desses conteúdos, competências para aceder à informação na Rede (alfabetização digital).

Qual será o impacto da utilização da Internet e das bibliotecas digitais no quotidiano

académico dos estudantes, em particular nas suas actividades de pesquisa? Os estudantes

recorrem aos motores de busca na Web, como o Google Scholar [http://scholar.google.pt/],

para obter conteúdos e materiais científicos, a partir dos quais elaboram e desenvolvem os

seus trabalhos escolares. Mas será que os resultados dessa pesquisa oferecem recursos

educativos com a mesma qualidade e relevância que a selecção de conteúdos alojados nas

bibliotecas digitais, como a Biblioteca do Conhecimento Online [http://www.b-on.pt/]?

Talvez os estudantes precisem de ser, antes de mais, instruídos para o desenvolvimento de

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competências de pesquisa que os habilitem para verificar a veracidade dos conteúdos e

materiais obtidos, observar as possíveis incoerências ou contradições que estas possam

apresentar. A par com a sua experiência pessoal, serão assim capazes de adoptar e seguir

critérios que proporcionem resultados de qualidade.

A Internet, enquanto espaço de comunicação entre os membros da comunidade

global, estimula a formação de uma inteligência colectiva, relativamente a determinada

temática. As tecnologias de informação e comunicação (TIC), em especial a Internet, podem,

por isso, ampliar as possibilidades de desenvolvimento dessa inteligência colectiva - a partilha

de funções cognitivas, como a memória, a percepção e o aprendizado; a troca e partilha de

ideias (cooperar) e a liberdade de confrontar pensamentos opostos (competir) estão na base da

produção do conhecimento (É do equilíbrio entre a cooperação e a competição que nasce a

IC. Pierre Lévy, 1999) - e apoiar a construção partilhada de saberes, tais como fóruns, blogues

e wikis. Na Internet, vivenciamos a confluência de saberes a uma dimensão e velocidade

espantosas.

Embora a Internet interesse aos estudantes como sendo, ela própria, um recurso

educativo, diferente de outros meios de comunicação, como a televisão, o conhecimento com

valor aí disponibilizado não é imediatamente encontrado. Nesse sentido, a acção colectiva

(cibercultura) pode ser uma das soluções para proporcionar recursos com qualidade. Pierre

Lévy (1999) defende que a cibercultura, enquanto “espaço do saber” e rede formada por

indivíduos que compõem a inteligência colectiva (disponibilizar toda a forma de

conhecimento para cada um e para todos simultaneamente) fomenta qualidade e valor à

informação disponível online. Mas como é que os estudantes participam ou se relacionam

com essa cibercultura?

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Outro aspecto importante a identificar na utilização da Internet como recurso para

pesquisar materiais e conteúdos educativos é o impacto, junto dos estudantes, do excesso de

informação “conectada” disponível online. George Simens (12-12-2004) afirma que a

aprendizagem como formação em rede (não apenas a rede de pares e sim uma rede de

estudantes capaz de filtrar e avaliar a excessiva informação e partilhar com outros as “falhas”

no conhecimento) permite que “a informação se torne conhecimento através de conexões”

(Teoria do Conectivismo). Mas teremos aqui um método eficaz para conciliar a aprendizagem

individual (estudante) com a aprendizagem organizacional? E as novas competências dos

estudantes derivam da formação de conexões: saber onde se encontra o conhecimento de que

se precisa e retirar, deste modo, a informação útil?

OS ESTUDANTES E OS RECURSOS EDUCATIVOS ONLINE

Verifica-se, hoje, que a Internet abandonou a sua função primordial de fonte de

recursos, para se tornar também numa tecnologia disponível para a comunicação universal: a

Web 2.0 (wikis, blogues, redes sociais, comunidades virtuais, etc.). O utilizador passa de

mero espectador para ser participante e colaborador na criação e partilha de recursos,

permitindo interacções na validação e optimização dos mesmos. A possibilidade de

acedermos e trocarmos informação de uma forma rápida e global tem provocado mudanças

significativas na forma como vivemos e como trabalhamos (conhecimento conectivo).

Há uma nova competência para evitar que a informação cresça exponencialmente:

atribuir um valor àquilo que aprendemos. Como esta avaliação está, com o advento da

Internet, a processar-se cada vez mais rápido e o indivíduo já não está só, mobilizando

informação que não está presente no seu conhecimento pessoal (por isso, precisa de ser

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organizada), exigem-se capacidades de síntese e reconhecimento de conexões relacionadas

com o conhecimento existente na Rede. A fim de ajudar a construir um sentido dessa

competência emergente da era digital, Siemens propõe o conceito Conectivismo, que significa

(…) the integration of principles explored by chaos, network, and


complexity and self-organization theories. Learning is a process that occurs
within nebulous environments of shifting core elements – not entirely under
the control of the individual. Learning (defined as actionable knowledge)
can reside outside of ourselves (within an organization or a database), is
focused on connecting specialized information sets, and the connections
that enable us to learn more are more important than our current state of
knowing. (Siemens, 12-12-2004)

Graças à realização de projectos interactivos e colaborativos no ciberespaço, as

razões para desconfiar das fontes online estão a reduzir-se, tendo em conta o desenvolvimento

cooperativo de material educativo que foi sendo disseminado na Internet. Por exemplo, o

movimento Open Educational Resources1 (OER) – cujo aparecimento remonta ao ano de

2001 com a iniciativa de o MIT´s OpenSourseWare (OCW) permitir o acesso aos materiais e

módulos de cerca de 1700 dos seus cursos – incentiva a produção de recursos educativos em

formato digital, a serem disponibilizados aberta e livremente na Internet.

Quando os estudantes têm acesso às TIC, em particular a Internet, estão a influir a

sua utilização na Educação, cabendo às escolas mostrar-lhes o uso adequado dessas

tecnologias e apoiar o desenvolvimento de estratégias de buscas. Como afirma Siemens,

To remain relevant, education needs to align with the needs of learners


and the changing climate of work. Courses are not effective when the field
of knowledge they represent is changing rapidly. We need to respond to

1
Em 2002, a UNESCO define do seguinte modo este conceito: Open educational resources (OER)
are learning materials that are freely available for use, remixing and redistribution” e “technology-enabled,
open provision of educational resources for consultation, use and adaptation by a community of users for non-
commercial purposes.

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these changes in a way that meets learner's needs and that reflects the
reality of knowledge required in the work force. (Siemens, 17-10-2003)

POR QUE ESTÃO OS ESTUDANTES A FAVOR DO ACESSO LIVRE

AO CONHECIMENTO?

Devido aos elevados custos, os estudantes (com novas necessidades) começam a

pedir o livre acesso ao conhecimento e, por isso, já iniciaram um movimento que defende “o

direito à pesquisa livre e aberta”, como é o caso do Student Statement on The Right to

Research [http://righttoresearch.org/]: (…) Learning and inquiry are impeded when scholars

lack access to fellow researchers’ work, and when students lack access to the work of

scholars before them.

A sociedade contemporânea vive em rede (Castells, 2007), mas como podem os

estudantes participar nesta nova “cultura em rede”? Ora, adoptando a tendência de juntarem-

se em comunidades cada vez mais extensas (a geografia deixou de ser uma fronteira), porque,

…para a cibercultura, a conexão é sempre preferível ao isolamento. A


conexão é um bem em si. (…) Junto ao crescimento das taxas de transmissão,
a tendência à interconexão provoca uma mutação na física da comunicação:
passamos das noções de canal e de rede para uma sensação de espaço
envolvente. (…) (Lévy, 1999)

Editar e publicar online tornou-se uma nova arte, suportada por vários nós de uma

extensa rede que explora a velocidade enorme com que as novas tecnologias fazem circular a

informação e produzir o conhecimento online. O suporte digital traz o hipertexto – espaço

para leituras possíveis: Se definirmos um hipertexto como um espaço de percurso para

leituras possíveis, um texto aparece como uma leitura particular de um hipertexto. – e o


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navegador (os estudantes) segue os instrumentos de leitura e desloca-se fisicamente no

hipertexto (informação multimodal disposta numa rede rápida e intuitiva) (Lévy, 1999).

Grande parte dos trabalhos elaborados por estudantes (redacções, reflexões,

relatórios, ensaios, etc.) são baseados em artigos científicos, porque lhes é exigido rigor e

qualidade (referências e citações como autoridade para a sua fundamentação). Assim, a

conectividade entre autor-texto-leitor é uma condição para a construção do novo

conhecimento. Além de ser um produto, a produção de conhecimento passa por um processo

de aprendizagem contínua. Claro que a escola (a aprendizagem formal) tem um papel

fundamental para a aquisição e a criação de conhecimento, mas o conhecimento tem agora

muitas e variadas formas: aprendizagem informal, experimentação, diálogo, pensamento e

reflexão (Siemens, 2006).

Os jovens que cresceram com a Internet esperam que a informação disponível neste

ambiente – que encontram durante uma pesquisa ou que lhes foi sugerida por colegas ou,

ainda, que está referenciada nas bibliografias – seja não só livre mas também gratuita. Os

orçamentos reduzidos das bibliotecas das escolas e universidades já não contemplam as

últimas edições das publicações científicas, quer em papel quer em formato electrónico. Entre

1983 e 2003, o preço das assinaturas de periódicos escolares aumentou cerca de 260% [Fonte:

http://www.arl.org/sparc/bm~pix/journal-price-graph~s600x600.jpg]. A subscrição do

Journal of the American Medical Association, por exemplo, já custa milhares de dólares cada

ano (Branswell, 2006). O acesso ao conhecimento por subscrição está, portanto, remetido ao

passado, devido às barreiras e custos que levanta. Actualmente, são muitas as instituições que

defendem e fomentam o princípio que os resultados das investigações científicas, depois da

sua publicação, devem ser de “acesso livre”: Universidade do Minho (2009) – 4.ª Conferência

sobre o Acesso Livre ao Conhecimento [http://confoa09.sdum.uminho.pt/], Universidade do

Porto – Política de Acesso Livre (Regulamento) [http://sigarra.up.pt/up/web_gessi_docs


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.download _file?p_name=F87706059/Regulamentos_Open_Access.pdf], Universidade de

Harvard [http://cyber.law.harvard.edu/node/3462], Massachusetts Institut of Technology

[http://ocw.mit.edu/index.htm], Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal

[http://www.rcaap.pt/], Public Library of Science [http://www.plos.org/].

Pelo contrário, o acesso limitado ao conhecimento de qualidade pode incentivar a

procura de recursos educativos menos rigorosos e relevantes. O “acesso livre” tem, então, de

revestir-se do papel de garantia que os estudantes encontram a melhor e a mais diversa

educação possível. Os conteúdos disseminados na Rede – com a ajuda das ferramentas da

cibercultura em que os indivíduos deixam de estar dependentes de lugares específicos e de

horários de trabalho fixos (Lévy, 1999) – não são um entrave ao avanço da descoberta da

ciência e incitam a uma descoberta mais rápida. A Rede existe, também, enquanto realidade e,

por isso, faz parte dos movimentos estudantis, serve de recurso importante para o

desenvolvimento de actividades escolares. Apesar de se tratar de uma “realidade virtual”, o

ciberespaço não deixa de estar ligado ao mundo: No sentido filosófico, o virtual é obviamente

uma dimensão muito importante da realidade. (…) A rigor, em filosofia, o real não se opõe

ao virtual mas sim ao actual: virtualidade e actualidade são apenas dois modos diferentes da

realidade. (Lévy, 1999) A nova perspectiva do conceito “virtual” relaciona-se directamente

com a digitalização da informação que pode ser aproximada da virtualização. (…) No centro

das redes digitais, a informação encontra-se ‘fisicamente situada’ em algum lugar, em

determinado suporte, mas ela está também ‘virtualmente presente em cada ponto da rede

onde seja pedida’. (op. cit).

A multiplicidade de fontes científicas que a Internet oferece representa uma

dificuldade para os estudantes quando têm de avaliar e seleccionar as informações. A

qualidade das suas pesquisas é, por isso, uma questão a ter em conta. Será de referir que, no

ensino convencional, nem todos os estudantes, sobretudo dos níveis de ensino básico, tiveram
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a oportunidade de receber instrução para recorrer às bibliotecas quando realizam as suas

actividades escolares. Assim, são incapazes de, por exemplo, distinguir os textos científicos

dos textos de divulgação científica. Critérios específicos que permitem seleccionar as fontes

de informação têm de ser apre(e)ndidos e não são partilhados por todos os leitores. A fim de

tornarem-se pesquisadores competentes dos recursos disponibilizados online – o objectivo

não é somente publicitar mais e melhores fontes –, os estudantes necessitam de possuir

conhecimentos que os habilitem para as avaliar – depois, seleccionar e partilhar: o navegador

não irá apenas escolher quais os links preexistentes que usa, mas criará novos links com

sentido para si e que não foi pensado pelo criador do documento (Lévy, 1999) –, competência

que a Internet não ensina espontaneamente aos seus utilizadores. Como sabemos, qualquer

instituição espera que os seus alunos façam, no âmbito de actividades escolares, pesquisas de

qualidade e com relevância para os seus estudos e objectivos de aprendizagem.

Portanto, houve necessidade de serem criadas novas teorias para compreender a

Educação do séc. XXI, como foi o caso do Conectivismo, teoria proposta por Siemens em

2004. Este investigador preocupou-se com o impacto da tecnologia na aprendizagem e tenta

compreender as necessidades dos estudantes em resposta às novas realidades introduzidas

pelo desenvolvimento tecnológico, económico e sócio-cultural (Siemens, 12-12-2004).

E os artigos científicos publicados livremente em periódicos ou alojados em

repositórios online abertos, têm um lugar privilegiado nessa nova aprendizagem, sendo

citados mais vezes do que aqueles publicados exclusivamente por periódicos que exigem a

subscrição aos mesmos. Basta copiar com toda a confiança o endereço URL que servirá de

link ao documento (essa referência nunca mudará), para a página das referências

bibliográficas do trabalho do estudante. Há estudos que mostram que a taxa de leitura e

citação de trabalhos de acesso livre são superiores em 300% (Fonte: The Open Citation

Project [http://opcit.eprints.org/oacitation-biblio.html]).
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ACESSO LIVRE AO CONHECIMENTO PARA FINS ESCOLARES

O artigo científico, investigação aprofundada e contribuição inovadora numa área de

conhecimento, continua a ser o principal meio formal de comunicação científica, porque

garante a qualidade da informação através do julgamento de pares. Quando a sua

disseminação ao público, sobretudo através da Internet, é feita sem que o artigo tenha sido

julgado previamente pelos pares ou publicado num periódico científico, isso tem suscitado

reacções contrárias. A informação distribuída nestas condições arrisca-se, segundo as vozes

críticas, à fraude científica. Sem a avaliação prévia própria do artigo científico, servindo como

filtro à integridade do conhecimento, a comunicação distribuída pelas novas tecnologias da

comunicação (TIC) provoca grande desconfiança à comunidade científica.

A verdade é que a Internet proporciona, ainda, um vasto repositório de informações,

permitindo o acesso do grande público a dados que antes eram difíceis de encontrar e aspectos

da pesquisa científica antes desconhecidos (por exemplo, preprints de artigos, relatórios,

imagens de satélite, comunicações a conferências e congressos, teses e dissertações, relatórios

técnicos, working papers, textos não académicos, como notícias ou ficção, etc.). Por outro

lado, tornar o trabalho científico publicamente acessível é o principal interesse do

investigador. O tipo de documentos a que se refere, em primeiro lugar, o acesso livre é a

versão final (após peer-review) de artigos de revistas (postprints), mas também versões não

revistas (preprints) que os autores divulgam.

O conceito “acesso livre” consiste, essencialmente, em disponibilizar a qualquer

utilizador, de forma livre na Internet, a literatura académica ou científica. O utilizador pode

ler, descarregar, copiar, distribuir, imprimir, pesquisar ou referenciar o texto integral desses

documentos. Os vários debates desenvolvidos à volta do “acesso livre” têm ampliado este

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conceito. Por entre as definições que foram sendo apresentadas, a da Iniciativa Open Access

de Budapeste (2002) [http://www.soros.org/openaccess/read.shtml] é a mais utilizada

(Goodman, 2004). Outras definições incluem a Declaração de Berlim

[http://oa.mpg.de/openaccess-berlin/berlindeclaration.html] sobre o Acesso Livre ao

Conhecimento nas Ciências e Humanidades (2003), a Declaração de Bethesda em Open

Access Publishing [http://www.earlham.edu/~peters/fos/bethesda.htm] (2003), Washington

DC e os Princípios de Livre Acesso à Ciência.

Anderson (2004) tem razão em afirmar que a informação livre tem custos envolvidos

na produção de informações académicas. No entanto, com o advento de novas tecnologias e

programas de software, os custos são reduzidos para compilar e distribuir esse conhecimento.

Esta circunstância tem sido uma vantagem para todos os intervenientes, porque os artigos em

acesso livre na Internet estão a ter uma distribuição maior do que os restantes. Num estudo

realizado por Lawrence em 2001, foram analisados 119.924 artigos de informática e outras

áreas afins e as conclusões revelam que o número médio de citações para artigos não

disponíveis online era de 2.74, enquanto a média de citações de artigos disponíveis online era

de 7.03, um aumento de 336%.

Apesar de os estudantes verem com bons olhos o acesso livre ao conhecimento

científico, o sistema tradicional de comunicação científica não abraçou, incondicionalmente, a

mudança despoletada pelo advento da Internet. A principal preocupação assumida por esta

“hierarquia” é a credibilidade das pessoas a quem foi conferida autoridade para decidir sobre

a qualidade dos artigos científicos, adiando assim o status de plena legitimidade que as

comunidades científicas poderão vir a conceder-lhes (Suzana Mueller, 2006).

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CONCLUSÃO

Devemos, sem dúvida, reconhecer que são muitos os benefícios do acesso livre ao

conhecimento para os utilizadores de informação, em especial, os estudantes. Como sabemos,

os actuais estudantes dominam, sem grande dificuldade, as tecnologias e serviços da Internet,

percebendo imediatamente o potencial que esse ambiente digital tem no acesso à

comunicação científica. Aliás, as comunidades estudantis são uma grande audiência dos

artigos científicos disponibilizados aberta e livremente na Web – isto é, sem a barreira dos

custos de uma subscrição de acesso –, contribuindo desse modo para o aumento da

visibilidade dos recursos educativos digitais (Rodrigues, 2004). Muitos destes recursos de

“acesso livre” estão indexados ao motor de busca Google, através do Google Scholar, e a

outras ferramentas similares, tornando mais simples aos pesquisadores encontrar, localizar e,

muito importante, aceder ao texto integral. Todos beneficiam se o acesso ao conhecimento for

facilitado. Se o acervo de artigos científicos disponíveis livremente online for extenso, a

probabilidade de encontrar recursos de qualidade (avaliados por pares) é maior, permitindo

que os trabalhos desenvolvidos pelos estudantes apresentem também maior qualidade.

Mas é importante entender que, embora os artigos científicos estejam disponíveis

livremente, os seus utilizadores devem sempre respeitar os direitos de autor quando

participam na sua disseminação. Nos últimos anos, muitos recursos educativos regem-se por

uma licença Creative Commons [http://www.creativecommons.pt/], cujas condições de

utilização e partilha facilitam essa disseminação. Aliás, os estudantes vêm aqui uma

oportunidade de não só serem utilizadores dos recursos, como também, se necessário,

colaboradores ou mesmo criadores, baseando-se nos mesmos recursos ou adaptando-os. Sem

dúvida que se trata de um contributo precioso para o aumento ou inovação do conhecimento.


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