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História da beleza – século XVI

A construção da beleza: século XVI

(Maria Stuart)

"Que necessidade de se preocupar com as pernas já que não é a coisa que precisa mostrar?" (diálogo entre
mãe e filha no fim do século XVI)

A anatomia era moralizada e hierarquizada pelos tratados de beleza deste século. Ela
punha em evidência "os membros honrados" e "fora do olhar" os membros depreciados:
"A natureza induz as mulheres e os homens a desvendar as partes altas e a esconder as
partes baixas, porque as altas, como sede da beleza, devem ser vistas, o que não ocorre
com as outras, que são apenas o fundamento e a sustentação das superiores" (Firenzoule,
Discurso sobre a beleza das damas).
Os vestidos acrescentam às suas formas sobrepostas um intenso
alargamento. Eles quase ficam horizontais abaixo da cintura, sustentados por "anquinhas" e
suas lâminas de ferro ou de madeira, transformando a saia em pedestal do busto,
destacando a importância do "alto".
(Bronzino)

O busto, o rosto e as mãos seriam os únicos lugares chamando para a estética física,
descobrindo-se "principalmente numa parte, a saber, a parte superior que olha para a luz
do Sol".

Flurance Rivault organiza uma aparência física mais do que nunca hierarquizada: partes
baixas tornadas "pilotis", partes médias tornadas "escritórios e cozinhas", partes altas feitas
para o olhar e a ostentação entregues à beleza. Na literatura, a alusão a essas partes
ocorre várias vezes:

"Seios esbranquiçados como alabastro/Teus olhos como dois sóis/Teus belos cabelos"
(Ronsard).

A mão e o braço também participam desse prestígio do "alto"...


(Catarina de Médicis)

A mão deve ser longa, branca, leve. Henrique VIII se demora encarregando vários
emissários de avaliar a beleza da duquesa de Nápoles que ele deseja desposar:

"Eles verão sua mão nua e observarão exatamente como ela é feita, se ela é espessa ou
delgada, grossa ou magra, comprida ou curta. Eles observarão seus dedos, se são
compridos ou curtos, grandes ou pequenos, grossos ou estreitos nas pontas".

A beleza passa a ter sexo ou a feminização da beleza:

A força foi dada ao homem, a beleza à mulher. Para um, o "trabalho da cidade e do
campo", para a outra, "o agasalho da casa". O homem não saberia cuidar de sua tez para
melhor enfrentar "trabalhos e intempéries". A mulher deveria vigiar sua tez, para alegrar e
deleitar o homem fatigado e enfastiado. O homem deve ser dominador, terrível e belo. Ele
precisa impressionar mais do que seduzir:

"Os homens têm o corpo robusto feito de força, o queixo e grande parte das bochechas
providos de pêlos, a pele rude e espessa porque os costumes e condições do homem se
acompanham de gravidade, severidade, audácida e maturidade" (J. Liébault).

Nas palavras de Vigarelo:

"A beleza valoriza o gênero feminino a ponto de aparecer nela como a perfeição. Isso
aprofunda a nova ascedência do sensível e do gosto. E confirma uma mudança de cultura:
o reforço do estatuto da mulher na modernidade, mesmo se não puder superar a obscura
e repetitiva certeza de uma inferioridade" (Vigarelo, 2006, p. 23) e mais adiante: "É a
primeira forma moderna de um reconhecimento social" (p. 24).
(Jeanne d´Aragon)

Jeanne D´Aragon, de quem Francisco I quis adquirir o retrato, era julgada tão bela que se
tornou objeto de várias "apoteoses poéticas". Em 1551, a academia veneziana de Dubbiosi
redigiu um decreto para lhe dedicar um templo, honraria dedicada ao seu esplendor e
virtude. Jacomo Ruscelli, em 1552, considerou-a um exemplo arquetípico, ao qual todas as
outras belezas deveriam ser comparadas.

(trechos retirados do livro A história da beleza, de Georges Vigarello*).

*VIGARELLO, G. História da beleza. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

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