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Walmir de Albuquerque Barbosa

Pérsida da Silva Ribeiro Miki


Roseani Pereira Parente

Metodologia da Pesquisa:
Educação Matemática

5.º
Período

Manaus 2008
FICHA TÉCNICA

Governador
Eduardo Braga
Vice–Governador
Omar Aziz
Reitora
Marilene Corrêa da Silva Freitas
Vice–Reitor
Carlos Eduardo S. Gonçalves
Pró–Reitor de Planejamento
Osail de Souza Medeiros
Pró–Reitor de Administração
Fares Franc Abinader Rodrigues
Pró–Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários
Rogélio Casado Marinho
Pró–Reitora de Ensino de Graduação
Edinea Mascarenhas Dias
Pró–Reitor de Pós–Graduação e Pesquisa
José Luiz de Souza Pio
Coordenador Geral do Curso de Matemática (Sistema Presencial Mediado)
Carlos Alberto Farias Jennings
Coordenador Pedagógico
Luciano Balbino dos Santos

NUPROM
Núcleo de Produção de Material
Coordenador Geral
João Batista Gomes
Editoração Eletrônica
Helcio Ferreira Junior
Revisão Técnico–gramatical
João Batista Gomes

Barbosa, Walmir de Albuquerque..

B238m Metodologia da pesquisa : educação matemática / Walmir de


Albuquerque Barbosa, Pérsida da Silva Ribeiro Miki, Roseani
Pereira Parente. - Manaus/AM: UEA, 2008. - (Licenciatura em
Matemática. 5. Período)

91 p.: il. ; 29 cm.

Inclui bibliografia e anexo.

1. Matemática - Metodologia. I. Miki, Pérsida da Silva Ribeiro.


II. Parente, Roseani Pereira. III. Série. IV. Título.

CDU (1997): 001.8:51


SUMÁRIO

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07

UNIDADE I – O Ensino da Matemática e a Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09

UNIDADE II – A Ciência e sua Episteme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

UNIDADE III – O modo de produzir conhecimento em Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

UNIDADE IV – Fazendo o Projeto de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

UNIDADE V – O Memorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

UNIDADE VI – O Relatório Diagnóstico da Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

ANEXO – Leituras Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
PERFIL DOS AUTORES

Walmir de Albuquerque Barbosa


Doutor em Ciência da Comunicação

Pérsida da Silva Ribeiro Miki


Mestra em Ciências do Meio Ambiente e Sustentabilidade no Amazonas

Roseani Pereira Parente


Estatística e Mestra em Engenharia de Produção
APRESENTAÇÃO

Quando nos reunimos, pela primeira vez, com o corpo docente do Curso de Formação de Professores para
o Ensino da Matemática, ficamos apreensivos quanto à possibilidade de construir uma proposta de curso de
Metodologia da Pesquisa que estivesse em consonância com a proposta inovadora requerida pela Coor-
denação. Essa apreensão decorria do fato de ter a disciplina um conteúdo universal, e o aprendizado dos
alunos vincular-se a uma tarefa de realização do Trabalho de Final de Curso, o TCC. Não era só isso que a
Coordenação queria! Queria que a disciplina, enquanto parte do desenho do curso, fosse inovadora nos as-
pectos que pudessem caber em uma nova mensagem: colaborar no processo de reflexão e ação dos alunos
na construção de uma nova maneira de encarar o Ensino da Matemática.
Apesar dos anos de trabalho da equipe com os conteúdos – que, em parte, se encontram neste livro –, e da
sua experiência com as práticas de pesquisa, que apresentam resultados finais no formato de monografias,
dissertações e teses, estávamos diante de um desafio: pensar uma direção nova para o nosso curso.
O ponto de partida, nesse caso, foi acompanhar as discussões pedagógicas da Coordenação com os pro-
fessores, para apreender o sentido de unidade de propósitos. Em seguida, construir juntos o conceito de
pesquisa indissociável do Ensino da Matemática, mas pensando no Professor-Pesquisador. Esse parece ter
sido o primeiro consenso.
Em que consiste esse conceito? O professor-pesquisador do Ensino da Matemática não estará preocupado
apenas com a transmissão de conteúdos e com os processos didáticos dessa transmissão. Precisa com-
preender todo o processo no qual se insere a tarefa de educar, de ensinar, de acompanhar e avaliar o per-
curso do aluno como aprendente, como sujeito social e como portador e criador de cultura. A pesquisa de-
verá ser a ferramenta de trabalho para compreender o processo em sua complexidade. A indissociabilidade
entre a pesquisa, os conteúdos e as demais práticas dos alunos configuram um contexto de inter e multidis-
ciplinaridade em alguns momentos. De interdisciplinaridade, quando colocamos a metodologia da pesquisa
e o conhecimento dos métodos rigorosos de investigação científica a serviço do processo de descoberta e
produção de conhecimento em Matemática. Multidisciplinar, quando extrapolamos esse espaço de inter-
secção dessas duas áreas de conhecimento para abarcar o conhecimento sobre os processos cognitivos,
que envolvem o aprender em todas as suas nuanças e chega ao terreno da prática de vida dos sujeitos, im-
pregnando o modo de construção social da realidade.
Muitos dos conteúdos são universais e, por isso, estão neste e em todos os manuais de Metodologia da
Pesquisa que se possa tocar. No entanto esses mesmos conteúdos devem-se colocar a serviço de outra
episteme, aquela que preside o fazer científico do Professor-Pesquisador no ensino da matemática.
O que aparece de novo neste manual – e que o distingue dos outros – é a construção coletiva das Linhas de
Pesquisa. As linhas de pesquisa vão reunir, em cada uma, as temáticas específicas que nos interessam, en-
quanto proposta de curso, mas que contemplam, também, as necessidades de conhecer dos alunos do
curso, que podem estar bem perto da realidade social e do espaço de labor. As contribuições dos profes-
sores do curso de Formação de Professores para o Ensino de matemática da UEA foram inestimáveis para
traçá-las, pelo que agradecemos penhoradamente.
A metodologia da Pesquisa será ministrada em nosso curso em duas disciplinas. Na primeira, vamos tratar
da relação entre o Ensino da Matemática e a Pesquisa; a definição das linhas de pesquisa e uma descrição
sumária do que elas representam no contexto geral do fazer pedagógico do professor. Retomaremos e apro-
fundaremos a nossa compreensão epistemológica da investigação científica e trabalharemos os métodos de
abordagem e procedimentos. Em seqüência, vamos detalhar o processo de elaboração do Projeto de Pes-
quisa, visto que os alunos terão que apresentar, até o fim desta disciplina, um projeto de pesquisa para sub-
sidiar a monografia que terão de elaborar para integrar o TCC. Vamos ajudá-los a construir um projeto sim-
plificado com o objetivo de produzir um diagnóstico da escola onde trabalham ou prestarão estágio supervi-
sionado. Veremos, ainda, como se faz um Memorial.
O Memorial, o Diagnóstico e a Monografia juntos formarão o Trabalho de Final de Curso e, assim, comple-
tarão a formação acadêmica dos estudantes nas indissociáveis funções do ensino superior: ensino, pes-
quisa e extensão.
Na disciplina Metodologia II, vamos tratar dos aspectos formais da elaboração da monografia e dos elemen-
tos pré-textuais e pós-textuais do TCC, completando os conteúdos necessários ao bom desempenho dos
alunos, dentro das normas da ABNT e daquelas fixadas pela UEA.
Agradecemos à Coordenação do Curso pelo convite para participar de mais essa empreitada da UEA, aos
colegas professores que nos ajudaram a traçar os caminhos desse novo curso e à Equipe Técnica que
transformará esses originais no livro-manual da disciplina, dedicado a todos os nossos alunos.

A EQUIPE
UNIDADE I
O Ensino da Matemática e a Pesquisa
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

As Licenciaturas em Matemática começaram, ensino da matemática. O país tem ficado nos


no Brasil, na década de 30 do século passado, últimos lugares nos exames de avaliação inter-
sob a inspiração do “Escolanovismo”, que foi nacional, realizados com alunos do ensino bá-
um movimento de renovação do Ensino no Bra- sico. O ensino das ciências, em geral, vem
sil, tendo como um dos líderes principais o edu- sendo comprometido pela falta de talentos na
cador Anísio Teixeira. Infelizmente, o ideário de área e de pessoas que entendam o necessário
transformações didáticas no ensino não se con- para avançar em áreas críticas e necessárias
segue de todo materializar-se nas práticas de no campo da física, da química, da biologia e
Ensino da Matemática, por razões que come- de outras ciências que têm, em sua base, forte
çam a ser explicadas, bem mais tarde, pela in- exigência de conhecimentos matemáticos. É
vestigação científica. Os níveis de renovação vergonhoso o nosso desenvolvimento tecno-
nas práticas de ensino desejados pelos revolu- lógico: sendo reprovados inúmeras vezes em
cionários dos anos 30 (séc. XX) continuam a Cálculo I, II e III, nossos engenheiros ou pas-
ser buscados como parte das soluções para sam mais tempo nos bancos escolares para
graves problemas na educação das nossas cri- avançar, um vez que tal matéria é pré-requisito
anças e dos nossos jovens. de várias outras, ou saem “capengas”, com o
Uma das constatações aceitas sobre o proble- conhecimento mínimo, o que os torna inaptos
ma é que a evolução do ensino da matemática para avançar na pós-graduação. Poucos con-
é lento, enquanto avança muito mais o Estudo seguem uma atuação regular em suas profis-
da Matemática como disciplina, como Ciência sões que exijam o emprego mais aprofundado
Matemática, haja vista a proeminência de mui- do uso da matemática.
tos dos nosso professores e pesquisadores Para suprir essa deficiência de conhecimentos
que se reúnem em torno da Academia de Ciên- em matemática, muitos cursos de tecnologia e
cias e do Instituto de Matemática Pura e Apli- de pós-graduação exigem dos selecionados
cada, instituições respeitáveis mundialmente, que realizem cursos de nivelamento em mate-
que têm incentivado os talentos privilegiados mática, para adquirir as ferramentas avança-
na área de saber. O mesmo não tem aconte- das de estudo. Um contingente significativo de
cido em relação ao Ensino da Matemática. Es- jovens muda a direção de sua formação profis-
se fenômeno parece ter influído na situação sional para outras áreas quando toma conhe-
educacional brasileira, que apresenta, quando cimento dessas exigências que lhe serão
se comparam indicadores, um dos mais po- feitas. O Brasil, em decorrência disso, continua
bres índices de aprendizado da matemática, o escravo das “caixas-pretas tecnológicas”, tem
que, por conseqüência, redunda em pobreza dificuldades para avançar nas áreas de investi-
teórica e de aplicabilidade nas demais ciências gação científica e tecnológica, imprescindíveis
que dela dependem. para o seu desenvolvimento econômico e so-
Não precisa muito esforço para identificar o cial, sem contar com o total descalabro das
mais baixo coeficiente de aprendizado no en- nossas “Estatísticas Oficiais”, responsáveis pe-
sino fundamental e médio entre as disciplinas los réditos malvados que terminam por enter-
constantes da grade curricular das escolas. rar dinheiro público em lugares errados, enco-
Chama também a atenção o número de can- brir a malversação de recursos e compactuar
didatos aos exames vestibulares dos cursos de com a corrupção. O País não consegue contar
matemática, nas universidades, e muito mais o direito nem a sua população. Somente agora
baixo número de alunos concludentes nos re- conseguimos ter, com mais brevidade e preci-
feridos cursos, o que gera um déficit de profes- são, os resultados dos censos oficiais. Ressal-
sores para essa disciplina no ensino básico, ve-se, a título de justiça, o fato de não se poder
obrigando à improvisação, com a contratação debitar aos servidores públicos do IBGE tais
de profissionais vindos de áreas afins e até descalabros, mas à falta de estatísticos, à falta
mesmo leigos. de interesse pela profissão, à falta de vontade
Ultimamente, no Brasil, vem ganhando corpo política dos dirigentes para contratar, à falta de
uma nova força de renovação nos estudos do cultura matemática do povo para se ater aos

11
UEA – Licenciatura em Matemática

números, para conferir crédito e débito, para Estamos, portanto, diante da questão mais im-
avaliar coeficientes, indicadores, porcentuais portante de nosso curso: o entendimento de
de impostos embutidos em tudo que compra, que os professores em formação do Curso de
em tudo que come e em tudo que veste. Como Licenciatura em Matemática têm um compro-
falar em transparência na administração públi- misso formal com o conhecimento dos conteú-
ca se não conseguirmos entender as contas dos da Ciência Matemática, com as práticas de
dos governos? Como não cair na mão dos ban- ensino e com a formação dos alunos para en-
queiros estabelecidos, dos financistas agiotas tender o mundo com as suas ciências, suas
e “bandidos informatizados”, com seus “chupa- técnicas, suas práticas e seus sistemas de
cabras” nos caixas de banco ou nas lojas virtu- poder. Tudo isso está contido naquele ato sin-
ais da Internet, nas contabilidades milionárias gelo da sala de aula, quando a criança desco-
de financeiras pouco confiáveis, que vendem bre o poder e a magia dos números. Essa ma-
miríades nos horários nobres da TV ou nas es- gia tem de virar interesse, esse interesse tem
quinas das ruas, prometendo juros irrisórios? de virar perseverança, essa perseverança tem
Como livrar-se dos comerciantes inescrupulo- de virar competência e essa competência tem
sos que fazem a “cretina” pergunta, na beira de virar capacidade analítica do mundo, tem
do balcão: “com nota ou sem nota?”. E nós, de virar ação transformadora, depois que ela –
pensando que estamos fazendo um bom ne- a criança – conseguir operar a soma de todos
gócio, nem sempre entendemos que estamos os conhecimentos e de todas as percepções.
diante de um crime, de um achaque, de uma E isso vira, também, cidadania, qualidade de
violência contra a cidadania, que estamos ali- vida, sabedoria!
mentando a sonegação, que estamos tirando Nada adianta se não tratarmos primeiro de
da boca de nossos filhos o dinheiro que deve- uma mudança radical nas concepções dos
ria ir para a saúde, para a educação, para o que transitam, decidem e operam no campo
pagamento de melhores salários, para que os da educação e do ensino da matemática. Aqui
mais pobres não precisassem das “esmolas introduzimos uma nova noção diferenciadora
governamentais” batizadas com o nome de entre Ensino da Matemática e Educação Mate-
“bolsa disso ou daquilo”, forma compensatória mática. Por que é crucial para nós essa distin-
que “vicia o cidadão”, como nos diz o ção? Vamos entender o ensino da matemática
saudoso Luiz Gonzaga, em célebre canção. como o conjunto de conteúdos, procedimen-
Como exercer a fiscalização cidadã sem tos e práticas para transmitir os conhecimentos
conhecimento de causa? matemáticos prescritos para as séries do en-
É, por sua vez, errado atribuir somente à falta sino formal. A Educação Matemática, doravan-
dos conhecimentos de matemática todos os ví- te denominada de EM, diferencia-se por pro-
cios, todos os descalabros. O que se quer afir- priedades adicionais, contidas na mudança de
mar é que pessoas que dominam os conheci- ensino para a educação. Educar é muito mais
mentos mínimos da matemática, ao lado de que ensinar. Educar implica compatibilizar con-
outros conhecimentos, podem compreender teúdos ministrados com as capacidades cogni-
melhor a realidade, podem entender melhor tivas do educando, implica confrontar esses
outros constructos do conhecimento geral. Por conhecimentos com outros para integrá-los,
que? Por causa da questão epistemológica: associá-los e dissociá-los, em conformidade
a matemática e a lógica, como ciências for- com os processos de cognição e a compreen-
mais, estão na base de todas as ciências, de são de mundo do aprendente, no ato de apre-
todos os conhecimentos possíveis e ima- ender, aceitos e incorporados à ação e à re-
gináveis em nosso mundo sensível. Nada se flexão. Enquanto o ensino instrui, adestra e ca-
constrói sem essa base e, se assim for feito, o pacita, a educação compreende tudo isso mais
que acima for construído desabará ou ficará a operação complexa do emprego racional e
torto, ficará defeituoso, precisará de correção, crítico do que é apreendido nas práticas do
de ajuste. fazer humano. Não se trata, apenas, de uma

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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

mudança de métodos, mas, também, de atitu- cador matemático. Agora, de nada adianta ser
de dos educadores, de comportamento profis- um professor de matemática com cabeça e
sional, de preparação dos professores, de pla- postura de bacharel em matemática.
nejamento institucional e, sobretudo, da ado-
A Educação Matemática, pela sua importância
ção de novas formas de relação no processo
e especificidade, vem-se consolidando como
educativo em geral.
uma área de conhecimento situada na Grande
O matemático é diferente do educador mate- Área de Ciências Humanas e Sociais, e segue
mático, embora um não exclua o outro e pos- uma mesma orientação epistemológica que se
sam coexistir no mesmo profissional, mas é aplica, também, ao Ensino da Física e da Bio-
preciso distinguir a ação de um e a de outro.
logia. À medida que ganha autonomia acadê-
Tanto o profissional do magistério quanto o sis-
mica e toma os processos educativos aplica-
tema educacional têm de levar em conta essas
dos à educação matemática, define um objeto
diferenças de atuação. Não é por outra razão
de estudo e produz novos conhecimentos, que
que os educadores matemáticos devem ser li-
fortalecem tanto a Educação quanto a Mate-
cenciados em educação matemática (corres-
mática enquanto Ciência Formal.
pondente à licenciatura em matemática).
Atualmente, é possível fazer uma licenciatura
Entre nós, no Brasil, infelizmente, guarda-se
uma idéia errônea, fruto de ignorância e pre- (ou mesmo um bacharelado) e completar a for-
conceito, de que o licenciado é inferior ao mação com um Mestrado e/ou Doutorado em
bacharel. No mundo todo – e aqui também –, Educação Matemática. No mundo todo, as gran-
pela lei, pelo tempo de duração do curso, pelo des Universidades mantêm cursos de Pós-
currículo e pelas exigências de prática acadê- Graduação nessa área. No Brasil, a CAPES –
mica, a licenciatura é um grau superior ao Fundação Capacitação de Pessoal Docente de
bacharelado. O licenciado pode, portanto, exer- Nível Superior tem essa área como prioritária.
cer todas as funções inerentes ao bacharel e, Funcionando e credenciados pela CAPES, te-
só ele, pode exercer o magistério: ser um edu- mos, hoje, os seguintes programas:

MESTRADOS | DOUTORADOS RECONHECIDOS

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UEA – Licenciatura em Matemática

Cursos:
M - Mestrado Acadêmico, D - Doutorado, F - Mestrado Profissional

Como se pode observar no quadro acima, são 1.1 TENDÊNCIAS, LINHAS DE PESQUISA
20 (vinte) os programas de Pós-Graduação em E SUAS TEMÁTICAS EM EDUCAÇÃO
Ensino ou Educação Matemática. Na Universi- MATEMÁTICA
dade do Estado do Amazonas (UEA) – Escola Quando falamos em tendências, queremos re-
Normal Superior –, é oferecido, regularmente, ferir-nos aos rumos que vêm tomando as pre-
um curso de Mestrado Profissional em Ensino ferências dos estudiosos. Linhas de Pesquisa
de Ciência. Já aprovado pelo Conselho Univer- são mais específicas e correspondem a agru-
pamentos de temas especiais correlatos para
sitário, será ministrado um Curso de Especia-
efeito de investigação científica. Novas temáti-
lização em “Educação Matemática”. Estão em
cas são fruto de exigências emergenciais, mui-
curso as negociações entre as instituições uni- tas vezes resultantes do surgimento de cam-
versitárias para a formação de uma Rede Uni- pos novos de aplicação da matemática ou do
versitária de Ensino de Ciências e Matemática, seu ensino.
com a Ajuda da CAPES, para formar Mestres e Apoiados em J. Kilpatrick, os autores Dario
Doutores na Amazônia. Fiorentini e Sergio Lorenzato (2006) apontam
as tendências temáticas mais em voga no
mundo da investigação da EM:

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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

• Processo ensino-aprendizagem em mate- • Metodologia da Pesquisa em EM.


mática. • Provas e demonstrações.
• Mudanças curriculares. • Processos cognitivos.
• Utilização de Tecnologia de Informação e • Construtivismo.
Comunicação (TICs) no ensino e na apren- • Fatores sociais e afetivos e estudantes com
dizagem da matemática. dificuldades.
• Prática docente, crenças, concepções e sa- • Professores escolares como pesquisadores.
beres práticos. • Teoria e Epistemologia em EM.
• Conhecimentos e formação/desenvolvimen- • Crenças, concepções e representações so-
to profissional do professor. ciais de alunos.
• Prática de avaliação. • Abordagens investigativas para a matemática.
• Contexto sociocultural e político do ensino- Ao observarmos atentamente a relação acima,
aprendizagem da matemática. verificamos que os programas de pesquisa pa-
Fiorentini e Lorenzato (2006), valendo-se de recem não adotar uma concepção usual de
uma pesquisa realizada pela Universidade de Linha de Pesquisa. Verificamos, com algu-
Bielefeld (Alemanha) para identificar e quan- mas exceções, que podem ser,
tificar as linhas de pesquisa em EM no mundo perfeitamente, encaradas como temas con-
todo, chegou ao seguinte resultado: densáveis para formação de verdadeiras
• Resolução de Problemas. linhas de pesquisa. Servem, no entanto,
• Informática, computadores e ensino-apren- como uma indicação importante por tratar-se
dizagem da matemática. de algo que se refere a uma visão mais am-
• Geometria, visualização e representação es- pla, mundial, da pesquisa em EM.
pacial e pensamento geométrico. Na Universidade do Estado do Amazonas, após
• Álgebra e pensamento algébrico. estudos reunindo professores de Educação
• Desenvolvimento curricular. Matemática, metodólogos e a Coordenação do
• Avaliação e atribuição de notas. Curso de Formação de Professores de Mate-
• Proporcionalidade e pensamento propor- mática, chegamos ao estabelecimento de cin-
cional. co Linhas de Pesquisa, que, de certo modo, po-
• Aritmética e pensamento aritmético. dem abrigar muitas das temáticas acima
• Tecnologia educacional. referidas como linha ou não, e incluir outras, de
• Formação e treinamento de professores. acordo com os interesses institucionais e dos
• Estatística/probabilidade e pensamento es- alunos do curso. As nossas Linhas de Pesqui-
tatístico/probabilístico. sa, portanto, são:
• Ensino de cálculo e pensamento diferencial.
1. Metodologias e Técnicas de Ensino da Ma-
• Atitudes, concepções e crenças de profes-
temática.
sores.
• Atitudes ante a matemática. 2. O ensino da Matemática e a relação com
• Diferenças individuais. outras Ciências.
• História e filosofia da matemática e da EM. 3. Matemática e cotidiano.
• Educação infantil ou educação matemática. 4. O lúdico e o ensino da Matemática.
• Linguagem no ensino da matemática e da
lógica matemática no ensino. 5. Formação Continuada de Professores.
• Raciocínio analógico, cálculo mental, estima- Isso significa dizer que todos os trabalhos de
tivas. pesquisa, incluídos aqueles de fim de Curso,
• Modelação (ou modelagem) matemática. terão de se relacionar com uma das linhas de
• Função, gráficos e pensamento funcional. pesquisa acima mencionadas. Compete aos
• Ensino interdisciplinar e/ou com aplicações. professores e alunos, diante dos temas sugeri-
• Etnomatemática. dos, enquadrá-los nas linhas mencionadas. Pa-
• Instrução conceptual versus processual. ra cada linha, sugerimos um desenho meto-

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UEA – Licenciatura em Matemática

dológico próprio. Isso significa dizer: um modo A segunda “tempestade de idéias” pode ser
próprio de resolução dos problemas de pes- representada pelo esforço para contextualizar
quisa levantados. O objeto de estudo, o lugar o tema, buscando todas as conexões dele com
da pesquisa, os métodos de abordagem e de a realidade do mundo em que vivemos, desde
procedimentos podem variar de uma linha de o epicentro, até os limites máximos de sua
pesquisa para outra. No curso da pesquisa, repercussão. Isso é necessário para que se pos-
dependendo das dificuldades ou das necessi- sa compreender a complexidade de cada tema
dades da investigação, técnicas outras de co- e separar o principal do acessório, o que é
leta de dados podem ser utilizadas pelo pes- mais importante investigar e ter isso como
quisador para obter os resultados desejados. norte a orientar as escolhas do pesquisador. É
hora da decisão! Uma vez tomada, reescreve-
1.2 AS “TEMPESTADES DE IDÉIAS” E A se o documento com o problema, as suas im-
ESCOLHA DO TEMA A PESQUISAR plicações ou contextualizações e as questões
norteadoras da investigação. O ponto seguinte
O que deve pesar na hora da escolha do tema
é enquadrá-lo na linha pertinente de pesquisa.
e da linha de pesquisa? O Educador Matemáti-
co, antes de tudo, deve fazer uma reflexão pro- Voltaremos a esse tema quando falarmos da
funda sobre a sua vivência enquanto profes- realização do projeto de pesquisa. Essa prele-
sor: as dificuldades enfrentadas no processo ção serve, apenas, para antecipar uma preocu-
de ensino; como as resolveu ou não fracassou pação que nos perseguirá o curso inteiro e terá
na sua resolução; o que observou em sua es- que chegar a um termo no momento em que,
cola, o que identificou como sendo significa- também, se aproximar a data de entrega do
tivo, mas não mereceu a atenção necessária Projeto de Pesquisa para a realização da Mo-
para ser objeto de uma investigação científica; nografia, parte do Trabalho de Conclusão de
os problemas que perduram e que devem ser Curso (TCC).
enfrentados, sejam eles de quaisquer nature-
É sempre bom ter uma idéia do que é relevante
za. Feita essa reflexão, é chegado o momento
e do que é acessório nos nossos procedimen-
de comparar as suas habilidades atuais com
tos de investigação. Uma cultura geral é ne-
as do momento em que essas coisas aconte-
cessária para quem quer ser um pesquisador:
ceram, medindo as suas possibilidades de en-
de cabeça vazia, pouco pode sair. A leitura de
frentamento. Em seguida, isolar um dos pro-
jornais, revistas do cotidiano, revistas especia-
blemas identificados, com os quais tenha afini-
dade, capacidade potencial para adotá-lo co- lizadas em educação, livros didáticos; obser-
mo tema de pesquisa, redigir um primeiro “pro- vação aguçada da realidade, conversas com
tocolo” (um pequeno documento escrito), des- os colegas, discussões acadêmicas; documen-
crevendo o problema de uma forma livre, na tos da escola (atas de reuniões de seus cole-
forma como ele aparece nas suas observações giados em que são espelhadas as questões
iniciais, com riqueza de detalhes ou de dúvidas candentes da escola); as novas descobertas
e, nesse caso, formulam-se várias perguntas. na área, as novidades de procedimentos ou
métodos de ensino; resultados de avaliação;
Depois de um intervalo, respeitado o ritmo de
cadernos dos alunos; trabalhos escolares fei-
cada um, passada essa primeira “tempestade
tos para uma disciplina do curso dentro do
de idéias”, leia com atenção o que verbalizou
por escrito e procure limpar as impressões gros- qual você começou a levantar uma problemá-
seiras, as imprecisões de pensamento, os pre- tica, mas não foi adiante; os erros e os acertos
conceitos, as fantasias, as megalomanias – dos alunos em sala de aula, os comportamen-
uma vez que tendemos a desejar “abarcar o tos do alunado nos corredores da escola; as
mundo com as pernas” e resolver, de uma vez formas de relacionamento professor-aluno, que
só, os seus problemas. Faça o primeiro teste podem ser observadas à luz do dia; as conver-
lógico: o tema é coerente com a área da edu- sas com os pais; as palavras de especialistas
cação? É interessante o suficiente para mere- que proferiram palestras na escola e tocaram
cer o meu esforço acadêmico? É viável a sua em problemas ainda não-resolvidos, pelo menos
investigação? Esforçando-me, terei capacidade em sua escola; os problemas de gestão; os
intelectual para investigá-lo adequadamente? problemas de maior complexidade e que se

16
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

situam em níveis de interação com outras rea- 1.3 AS LINHAS DE PESQUISA


lidades que extrapolam os limites da escola e 1.3.1 METODOLOGIAS E TÉCNICAS DO
chegam ao sistema educacional, às formas de ENSINO EM MATEMÁTICA
organização econômica, política e social.
A DEMONSTRAÇÃO NO ENSINO DA
Tudo isso pode ser objeto de investigação,
GEOMETRIA
pode vir a ser tema de pesquisa, parte de uma
linha de pesquisa. A importância da Geometria no quarto ciclo (7.a
As “tempestades de idéias” são mais ou menos e 8.a séries) e da construção de situações-pro-
intensas à medida que nos preocupamos e blema que favoreçam o raciocínio dedutivo e a
nos preparamos para enfrentar os problemas e introdução da prática da demonstração está
a realidade que nos incomodam. Elas não acon- enfatizada nos Parâmetros Curriculares Nacio-
tecem sem que as provoquemos, sem uma in- nais (1998):
tencionalidade, sem um desejo de chegar a um
ponto determinado. É preciso saber, também, “... os problemas de Geometria vão fazer com
a hora de parar, de decidir, de se fixar em um que o aluno tenha seus primeiros contatos com
tema. A indecisão prolonga a ansiedade e po- a necessidade e as exigências estabelecidas
de ser angustiante. Os indecisos podem ficar por um raciocínio dedutivo. Isso não significa
no meio do caminho, e isso não é bom para os fazer um estudo absolutamente formal e ax-
que precisam concluir um curso, precisam avan- iomático da Geometria.
çar no processo de aprendizagem. O outro ex- Embora os conteúdos geométricos propiciem
tremo é o da irresponsabilidade, que se expres- um campo fértil para a exploração dos raciocí-
sa nos comportamentos desleixados: “qual- nios dedutivos, o desenvolvimento dessa ca-
quer tema me serve”, “depois eu vou pensar”, pacidade não deve restringir-se apenas a esses
“a Internet está aí mesmo para fornecer so- conteúdos. A busca da construção de argumen-
corro”, “estou bolando uma jogada infalível”, tos plausíveis pelos alunos vem sendo desen-
“tenho grana para pagar quem faça”, “tenho volvida desde os ciclos anteriores em todos os
muito tempo pela frente”, “estou procurando
blocos de conteúdos.” (p. 86)
um tema inédito”, “não encontro nada interes-
sante”, “pensei num tema, mas não encontrei
É dada ênfase pelos PCNs à figura geométrica
nada escrito sobre ele”.
no sentido de que os estudos de espaço e for-
Uma das melhores formas de o aluno aprovei- ma sejam explorados a partir de objetos do mun-
tar um curso de Metodologia da Pesquisa é o do físico, de obras de arte, pinturas, desenhos,
fato de ele estar premido pela necessidade de esculturas e artesanato, de modo que permita
decidir os caminhos de seu trabalho de pes- ao aluno estabelecer conexões entre a Mate-
quisa. Se ele conseguir decidir-se por um te- mática e outras áreas do conhecimento. (p. 51)
ma, depois dessas tempestades de idéias men-
cionadas acima, cada tópico da disciplina, ca- São salientadas as principais funções do de-
da aula servirá para ele avançar no seu tra- senho, quais sejam: visualizar, fazer, ver, resu-
balho: definir a metodologia, com a forma de mir, ajudar a provar e conjecturar.
abordagem, de procedimento e de técnicas de
Dados da pesquisa feita pelo Sistema Nacio-
coleta de dados; terá oportunidade de aprofun-
nal de Avaliação Básica – SAEB de 2003, com
dar conhecimento nas técnicas escolhidas e
relação ao ensino da matemática no Brasil, in-
preparar o esboço dos instrumentos de coleta
dicam que apenas 3,3% dos estudantes da 8.a
de dados; das formas como trabalhar e apre-
sentar os dados; como preparar o texto da série do ensino fundamental estão no estágio
monografia, do relatório de pesquisa, como “Adequado” da construção de competências e
fazer citações, como referenciar as obras con- desenvolvimento de habilidades na resolução
sultadas, além de aprender como fará um bom de problemas. Na região Norte, esse percen-
levantamento bibliográfico para a construção tual é de 0,67%.
do referencial teórico de seu trabalho. Segundo Almouloud (2000), várias pesquisas

17
UEA – Licenciatura em Matemática

apontam fatores geradores de obstáculos para o tais fenômenos está colocado no quadro
ensino-aprendizado da geometria. O resumo de abaixo:

18
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

Almouloud (2000) propõe a utilização da De- curso metodológico inserido na linha metodo-
monstração como uma técnica para o ensino lógica da matemática experimental.
da Geometria, de modo a permitir aos alunos Para melhor esclarecer a idéia da modelagem,
uma melhor compreensão dos conceitos ge-
resumimos, no quadro abaixo, alguns dos con-
ométricos. O autor faz uso da definição dada
ceitos elaborados por autores que trabalham a
por Balacheff (1987–1988), segundo o qual a
educação matemática:
demonstração determina uma atividade do ra-
ciocínio que tem por objetivo explicar validan-
do, isto é, levando à convicção, a partir de uma
seqüência de enunciados organizados, numa
regra de dedução que interfere nas capacida-
des cognitivas, metodológicas e lingüísticas.
Para o autor, os problemas que favorecem o
fraco desempenho de alguns alunos no que diz
respeito aos conceitos e às habilidades geomé-
tricas são devidos à prática e às escolhas didá-
ticas dos professores quando ensinam a geo-
metria. Especificamente, os alunos de quinta a
oitava séries não parecem usufruir de um ensi-
no que lhes proporcione condições para:
 Compreender a mudança do estatuto da fi-
gura, os estatutos da definição e dos teore-
mas geométricos, das hipóteses (dados do
problema) e a conclusão (ou a tese).
 Saber utilizar as mudanças de registros de
representações.
 Apropriar-se o raciocínio lógico-dedutivo.
É parecer do autor que é preciso dar atenção à
necessidade de formação adequada do pro-
fessor para trabalhar com demonstração em
geometria, de modo a permitir aos alunos a
apropriação dos conceitos e das habilidades
geométricos no ensino fundamental.

MODELAGEM NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA


Para D’Ambrosio apud Kfouri (2006), O proble-
ma maior do ensino de ciências e matemática
é o fato de elas serem apresentadas de forma
Desinteressante, Obsoleta e Inútil, e isso “DOI”
para o aluno.
Para Kfouri (2006), o ensino da Matemática, uti-
A modelagem inverte a seqüência normalmen-
lizando situações problemas pré-concebidas,
te utilizada no ensino tradicional da matemáti-
recheados de fórmulas e expressões algébri-
ca, qual seja definição/exemplos/exercícios/apli-
cas prontas, contribuem para a execução de au-
cações, começando por aplicações/problemas.
las de Matemática desestimulantes, sem atra-
Tal ordem possibilita implementar, em sala de
tivos, carentes de desafios, tanto para profes- aula, um ambiente de aprendizado contextua-
sores quanto para os alunos. lizado e, assim, desenvolver, de forma mais
A modelagem matemática surge como um re- significativa, os conceitos matemáticos.

19
UEA – Licenciatura em Matemática

Dessa forma, podemos, a partir da interação alunos formulam e resolvem problemas. Eles
do sujeito com o objeto que ele deseja conhe- também são responsáveis pela coleta de infor-
cer, construir o formal para depois utilizar em mações e pela simplificação das situações-
situações variadas e mais ampliadas. problema.
Para Machado e Espírito Santo (2004), o pro- O quadro abaixo esquematiza a participação
cesso de desenvolvimento de uma atividade de do professor e do aluno em cada um dos ca-
modelagem matemática compreende etapas sos acima citados.
fundamentais. São elas:
• Deve-se escolher um tema central para ser Bassanezi (2002) lista um conjunto de pontos
desenvolvido pelos alunos e recolher dados para destacar a relevância da modelagem ma-
gerais e quantitativos que possam ajudar a temática quando utilizada como instrumento
levantar hipóteses com o objetivo de elabo- de pesquisa. Para o autor, a modelagem:
rar problemas conforme interesse dos gru- • Pode estimular novas idéias e técnicas ex-
pos de alunos. perimentais.
• Devem-se selecionar as variáveis essenci- • Pode dar informações em diferentes aspec-
ais envolvidas nos problemas e formular as tos dos inicialmente previstos.
hipóteses, etapas necessárias à sistemati- • Pode ser um método para se fazerem inter-
zação dos conceitos que serão usados na
polações, extrapolações e previsões.
resolução dos modelos e na interpretação
• Pode sugerir prioridades de aplicações de
da solução (analítica e, se possível, grafica-
mente). recursos e pesquisas e eventuais tomadas
de decisão.
• Dependendo do objetivo, fazer a validação
dos modelos, confrontando os resultados • Pode preencher lacunas onde exista falta
obtidos com os dados coletados. de dados experimentais.

Barbosa (2001) classifica os casos de mode- • Pode servir como recurso para melhor en-
lagem, a partir de estudos nacionais e interna- tendimento da realidade.
cionais, de três diferentes formas: • Pode servir de linguagem universal para com-
Caso 1 – O professor apresenta a descrição de preensão e entrosamento entre pesquisado-
uma situação-problema, com as informações res em diversas áreas do conhecimento.
necessárias à resolução para o problema for- Alguns obstáculos têm sido evidenciados no uso
mulado, cabendo aos alunos o processo de da modelagem matemática como estratégia de
resolução. ensino-aprendizagem (Bassanezi, 2002):
Caso 2 – O professor traz para a sala um pro- Obstáculos instrucionais:
blema de outra área da realidade, cabendo aos  Dificuldade de cumprir programas pré-esta-
alunos a coleta das informações necessárias à belecidos nos planos de ensino, dos con-
sua resolução. teúdos tradicionalmente abordados em ca-
Caso 3 – A partir de temas não-matemáticos, os da série, numa seqüência a priori.

20
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

 O tempo de que o professor deve dispor • Ser utilizado como fonte de informação pa-
para desenvolver esses conteúdos, determi- ra alimentar o processo de ensino e apren-
nados por uma sociedade competitiva, que dizagem.
visa à preparação para o ingresso à univer-
• Ser utilizado como auxiliar no processo de
sidade, em geral não permite o ensino por
construção de conhecimento.
meio do processo de modelagem como mé-
todo de ensino. • Ser utilizado como meio para desenvolver
Obstáculos para estudantes: autonomia pelo uso de softwares que possi-
bilitem pensar, refletir e criar soluções.
 Muitas questões são observadas simultane-
amente, o que pode provocar maior com- • Ser utilizado como ferramenta para realizar
plexidade na interpretação e na assimilação determinadas atividades, como planilhas ele-
dos temas abordados. trônicas, processadores de texto, banco de
dados, etc.
 Falta de experiência por parte dos alunos e
do professor para formular questões frente a Entretanto o bom uso dessa ferramenta depen-
uma situação. de tanto da tecnologia utilizada quanto dos
Obstáculos para professores: softwares (programas) empregados. Faz-se ne-
cessário que o professor defina os objetivos e
 Uma maior disponibilidade principalmente
domine bem as atividades a que se propõe.
pela necessidade de buscar conhecimen-
tos não apenas matemáticos, de modo a ga- A adequação de um software depende da for-
rantir a transdisciplinaridade necessária para ma como esse vai inserir-se nas práticas de en-
abordar o tema. sino, das dificuldades dos alunos identificadas
 Falta de tempo para estudo sobre temas fo- pelo professor. Depende ambém de uma aná-
ra da matemática e para preparação das au- lise das situações realizadas com alunos para
las que envolvem o tema em estudo. os quais o software é destinado. Para tanto, é
importante que o professor tenha parâmetros
A INFORMÁTICA NO ENSINO de qualidade definidos, para poder identificar a
FUNDAMENTAL DA MATEMÁTICA adequação de um software às suas necessi-
Segundo dados do Sistema Nacional de Ava- dades e aos seus objetivos.
liação Básica – SAEB de 2003, entre 1999 e Alguns programas e suas características princi-
2003, o percentual de alunos de 1.a a 4.a série pais:
que freqüenta escolas com acesso à Internet
subiu de 6,4% para 16,7%. a) Cabri Geometre II e Sketchpd – ferramen-
tas para geometria:
A utilização de computadores nas aulas de ma-
temática, nas séries do ensino fundamental, São ferramentas, especialmente, para cons-
pode ter várias finalidades, tais como: fonte de truções em Geometria. Dispõem de ‘régua
informação; auxílio no processo de construção e compasso eletrônicos’, sendo a interface
de conhecimento; um meio para desenvolver de menus de construção em linguagem
autonomia pelo uso de softwares que possi- clássica da Geometria. Os desenhos de ob-
bilitem pensar, refletir e criar soluções. jetos geométricos são feitos a partir das
Para Magina apud Gladcheff, Zuffi e Silva (2001), propriedades que os definem. Por meio de
o computador, utilizado de forma adequada, deslocamentos aplicados aos elementos
pode contribuir para a criação de um cenário que compõem o desenho, este se transfor-
que ofereça possibilidades para o aluno fazer a ma, mantendo as relações geométricas que
ligação entre os conceitos matemáticos e o mun- caracterizam a situação. Assim, para um
do prático. dado conceito ou teorema, temos associa-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) da uma coleção de ‘desenhos em movi-
já colocam várias finalidades do uso do com- mento’, e as características invariantes que
putador nas aulas de matemática. O computa- aí aparecem correspondem às proprieda-
dor pode: des em questão.

21
UEA – Licenciatura em Matemática

O aluno age sobre os objetos matemáticos a) Quanto aos objetivos:


num contexto abstrato, mas tem como su-  Especificar os objetivos que pretende alcan-
porte a representação na tela do computa- çar em relação à Matemática, utilizando o
dor. A multiplicidade de desenhos enrique- produto como ferramenta de auxílio (após
ce a concretização mental, não existindo sua avaliação, deve refletir se os objetivos
mais as situações prototípicas responsáveis poderão ser alcançados e se se encaixam
pelo entendimento inadequado. Apresen- nas propostas pedagógicas da escola).
tam interface dinâmica e interativa (‘dese-  Verificar se o software possui um dos itens:
nhos em movimento’, que podem ser au- Projeto ou Manual Pedagógico/Plano de
tomatizados por meio do recurso de ‘bo- Ensino/Proposta Educacional.
tões’), múltiplas representações (trabalha
 Se o software explora o conhecimento ma-
com geométrica sintética e um pouco de
temático dentro da realidade do aluno, a fim
analítica), capturação de procedimentos
de que ele compreenda a Matemática como
(tem comando que permite ter acesso à
parte de sua vida cotidiana.
história da construção e comandos para a
criação de macros). No Cabri Geometry, é  Se o software valoriza a troca de experiên-
o próprio desenho que é reconstruído cias entre os alunos e o trabalho coopera-
tivo.
passo a passo; no Sketchpad, além disso,
tem-se janela adicional onde a construção  Verificar se o software valoriza diferentes
é explicitada também por meio de formas e compreensão na resolução de
linguagem matemática). situações-problema por parte do aluno.

O Cabri Geometre II é fabricado pela Univer-  Se o software expõe situações em que a cri-
sidade de Grenoble (França), disponível no ança valoriza e usa a linguagem Matemá-
endereço . tica para expressar-se com clareza e pre-
cisão.
b) Régua e Compasso – ensino da geometria
 Se o software valoriza o progresso pessoal
Desenvolvido pelo professor René Groth- do aluno e do grupo.
mann, da Universidade Católica de Berlim.
b) Quanto à usabilidade:
O software é composto por várias ferramen-
 Verificar se o tipo de interface é adequada à
tas e funções que abordam conceitos e
faixa etária a que o software se destina.
demonstrações geométricas. Permite cons-
truir figuras geométricas que podem ser al-  Verificar se as representações das funções
teradas movendo-se um dos pontos bási- são de fácil reconhecimento e utilização.
cos, sendo que as propriedades originais  Verificar se as orientações dadas pelo soft-
de tais figuras são mantidas. Assim, diver- ware sobre sua utilização são claras e fáceis
sos tópicos relacionados à Geometria Plana de serem entendidas.
Euclidiana e à Geometria Analítica podem  Verificar se a quantidade de informação em
ser explorados. O Régua e Compasso é de cada tela é apropriada à faixa etária a que
fácil manuseio, possibilitando a construção se destina o software, se é homogênea, de
de figuras geométricas das mais simples às fácil leitura e não possui erros.
mais complexas, composto por uma inter-  Verificar se o software possui saídas claras
face bem apresentável e didática. Além das de emergência, para que o aluno possa dei-
vantagens relacionadas ao fator conteúdo, xar um estado não desejado, quando esco-
esse software instiga e incentiva a criativi- lheu erroneamente uma função, sem que o
dade e a descoberta. fluxo do diálogo e a sua continuidade sejam
De modo geral, Gladcheff, Zuffi e Silva (2001) prejudicados.
apontam os seguintes aspectos pedagógicos  Verificar se a animação, o som, as cores e
a serem considerados pelo professor/educa- as outras mídias são utilizadas com equi-
dor em softwares educacionais de Matemática líbrio, evitando poluição “sonora” e/ou “vi-
do Ensino Fundamental: sual”.

22
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

 Verificar se a interface possui “sistema de b) Software:


ajuda”, permitindo que o aluno recorra a ele  Os requisitos necessários de hardware e
em qualquer tela em que se encontre. software devem ser compatíveis com os
c) Quanto aos conceitos: requisitos do computador a ser utilizado e
 Verificar se os conceitos matemáticos que com os softwares nele instalados.
pretende trabalhar com seus alunos estão  Deve ser de fácil instalação e desinstalação.
disponíveis no software. E, caso trate de  As funções disponíveis devem ser sufici-
conceitos que o professor não pretende tra- entes para realizar as tarefas às quais o
balhar no momento, o produto deve permi- produto se propõe quando são ativadas,
tir que esse conteúdo seja desconsiderado devendo executar exatamente o que é
pelo professor naquele momento. esperado.
 Refletir sobre a possibilidade de os concei-  Caso o professor julgue necessário, o soft-
tos matemáticos trabalhados pelo software ware deve possuir recursos para acesso se-
serem relacionados com outros conceitos letivo, como senhas, e não deve apresentar
da Matemática e/ou de outras disciplinas. falhas.
 Refletir sobre a possibilidade de o software  O produtor deve fornecer suporte técnico e
vir a ser utilizado dentro de uma abordagem manutenção do produto
com temas transversais.
 Verificar se a forma de abordagem é com- 1.3.2 O ENSINO DA MATEMÁTICA E AS
patível com as concepções do professor. RELAÇÕES COM OUTRAS CIÊNCIAS

d) Praticidade: Levando-se em conta que a Matemática e a


Lógica são consideradas, no quadro da di-
 Caso julgue necessário, o professor deve
visão das ciências, Ciências Formais, e as de-
verificar se o produto possui uma versão
mais ciências como Ciências Factuais
para ser utilizado em rede e se seu preço é
(Ciências da Natureza: Física, Química e
compatível com o orçamento da escola.
Biologia; Ciências Humanas e Sociais:
 Verificar se o produtor recolhe sugestões História, Sociologia, Antropologia, Psicologia,
e/ou reclamações tanto por parte do profes- Economia Política) não restam dúvidas quan-
sor quanto do aluno. to à estreita ligação da Matemática e da
Com relação aos aspectos técnicos, os autores Lógica com as demais ciências. Se
recomendam avaliar: verificarmos a base teórica e Epistemológica
de cada uma das ciências nominadas, vere-
a) Documentação de Usuário/Manual do
mos nelas a matemática transversal ou osten-
Usuário (impresso ou on-line):
sivamente marcando presença na compreen-
 Deve possuir instruções corretas e de fácil são dos problemas levantados por cada uma.
compreensão para instalação e desinsta-
Na Física, na Química e na Biologia, ninguém
lação do produto.
duvida dessa necessidade de base matemá-
 Todas as funções e/ou atividades que o tica. Mas, da mesma forma, não podemos con-
software executa devem estar descritas na ceber a Economia Política sem o cálculo. Marx
documentação, de maneira simples e com- inicia o capítulo primeiro de O Capital, sua obra
preensível. insuperável, em que estuda, analisa e constrói
 A documentação não deve conter erros gra- uma teoria sobre o capital e produz a crítica
maticais. necessária, partindo do cálculo da mais-valia,
um de seus conceitos fundamentais.
 Os termos utilizados devem estar no mes-
mo idioma que os usados na interface do Ao imaginar a sociologia enquanto ciência, não
produto, e as mensagens devem ser expli- descartamos o valor da estatística como auxi-
cadas. liar no processo de levantamento de dados,

23
UEA – Licenciatura em Matemática

sem os quais qualquer análise de certa classe 1.3.3 MATEMÁTICA E COTIDIANO


de fatos sociais seria de difícil compreensão. A matemática, tradicionalmente, sempre foi
Esse mesmo raciocínio se aplica às demais encarada como uma área do conhecimento
Ciências Humanas e Sociais e às Sociais Apli- restrita a poucos, cujo saber era privilégio de
cadas, como a Educação, a Administração e pessoas com a inteligência acima da média,
outras. representando um campo de pura abstração e
Na educação, a matemática se inter-relaciona com pouca utilidade para a vida cotidiana.
com a psicologia nos processos de compreen- Não há como negar que existem pesquisas no
são de construção do conhecimento e nas in- campo da matemática em que é alto o grau de
complexidade dessa ciência, inclusive quando
terações entre professor e alunos. Ainda no
associada a outros campos interdisciplinares
processo ensino-aprendizagem, a matemática
de conhecimento, a exemplo dos números pri-
se coloca como uma disciplina contextualizada
mos e dos códigos criptografados, o uso do
do currículo escolar. Essa é uma tendência ino-
cálculo para prevê as viagens espaciais, ou
vadora pela dinâmica social que ela representa
ainda a utilização da matemática na robótica,
e contribui nos processos interativos entre os
na lógica de programas avançados e na nan-
sujeitos da escola, assim como nas áreas de otecnologia. No entanto tal complexidade é
conhecimento correlatas. característica de qualquer área do conheci-
No ensino da matemática contextualizada, o mento no que diz respeito ao seu aprofunda-
professor-pesquisador deve atentar para uma mento e à sua verticalização.
investigação sobre os fundamentos da inter- O uso da matemática historicamente pela hu-
disciplinaridade. Isso porque, na relação pro- manidade é incontestável, até porque se veri-
fessor-aluno, a matemática deve ser trabal- fica a íntima relação entre o progresso cientí-
hada tendo em vista o diálogo entre os con- fico e tecnológico com essa ciência, mais uma
hecimentos produzidos e as demais áreas do razão para essa linha de pesquisa reportar-se
conhecimento que subsidiam e são acolhidas para a educação matemática e o cotidiano
por essa ciência. escolar, trazendo outras reflexões para a inves-
tigação científica na formação de educadores
Há pesquisas que buscam esse saber interdis-
matemáticos.
ciplinar, a exemplo das questões de leitura e
matemática, espaços geográficos e matemá- O estudo sobre o cotidiano está intrinseca-
tica, artes e matemática, entre outras. A comu- mente relacionado aos estudos culturais, à pes-
nicação dos saberes nos campos interdiscipli- quisa participante, pesquisa-ação e pesquisa
etnográfica, o que expõem uma multiplicidade
nares complementa-se com os campos cultu-
de paradigmas epistemológicos conforme o
rais dos atores escolares. O professor não mais
objeto de investigação e os desdobramentos
ensina o conteúdo abstrato e sem significação
da pesquisa, comportando uma variedade de
para o aluno, mas interage os conteúdos com
métodos. Nilda Alves (2003) apresenta quatro
a vida social do educando, contextualizando-
tendências contextualizadoras das investiga-
os com outras áreas do conhecimento, com
ções sobre o cotidiano: 1) Cotidiano como
respeito à bagagem cultural do educando.
“caixa-preta”; 2) Cotidiano e Currículo; 3)
Nesse prisma, as investigações podem con- Cotidiano e Cultura; 4) Cotidiano e Descrição
templar tanto estudos do currículo escolar do da Realidade.
conhecimento matemático e as suas relações 1. Cotidiano como “caixa-preta” – Originada
com outras áreas do conhecimento científico e nos EUA, com os fundamentos na mecâni-
acadêmico, assim como a extensa aplicação ca, na tecnologia, na lógica, na teoria dos
da matemática no cotidiano junto às demais sistemas e no ensino de ciências, constitui
ciências, inclusive às referentes às novas tec- o paradigma hegemônico mundial das pes-
nologias. quisas sobre o cotidiano, que consistiria na
descoberta das informações ocultas acerca

24
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

de uma realidade, revelando os seus aspec- preta”, essa tendência defende o estudo da
tos negativos por seus praticantes, corre- realidade como ela se apresenta, e não ape-
lata à “caixa-preta” de um avião que con- nas as suas falhas. Assim, o pesquisador de-
tém as informações do porquê de sua veria despir-se de julgamentos a priori so-
queda. O que interessa investigar, mais do bre a realidade e apresentar as alternativas
que as informações da realidade, é o imag- que são criadas pelos praticantes do cotidi-
inário dos praticantes do cotidiano acerca ano na sobrevivência, em suas realidades.
do conteúdo da “caixa-preta”. As As pesquisas atuais sobre o cotidiano enten-
mudanças no sistema passariam pela
dem que há cotidianos múltiplos compreendi-
“caixa-preta” em processos de planos de
dos numa rede de subjetividades, dentro da
entrada, feedback e saída.
qual está presente a escola. Defendem os es-
2. Cotidiano e Currículo – Esta tendência tudos a partir dos acontecimentos e criticam o
tem o seu referencial teórico-metodológico modelo da ciência moderna, que além de im-
em Gramsci e nos filósofos da Escola de por ao conhecimento científico um status supe-
Frankfurt (com Habermas sendo seu princi- rior e de superação ao conhecimento cotidiano
pal pensador). Estuda-se o cotidiano esco- (equiparando este último ao “senso comum”),
lar para compreender a escola e as suas seus métodos de pesquisa não comportam os
relações com a sociedade, por meio da estudos sobre os acontecimentos culturais nos
Pesquisa Participante e da sua íntima re- cotidianos.
lação com os movimentos sociais. As
O acontecimento, foco principal das pesquisas
pesquisas norte-americanas de Robert
sobre os cotidianos, não é fato social, tampou-
Stake propõem a idéia de multiplicidade e
co pode ser isolado:
complexidade nos processos do cotidiano
escolar, por meio do cruzamento de fontes,
Acontecimento – é preciso entendê-lo não
pela observação do cotidiano escolar e
como uma decisão, um tratado, um reinado ou
pela impossibilidade de generalização das
uma batalha, mas como uma relação de forças
conclusões da pesquisa.
que se inverte, um poder confiscado, um vo-
3. Cotidiano e Cultura – Originada na Ingla- cabulário retomado e voltado contra seus usuá-
terra pelos estudos de Stenhouse (1991), rios, uma dominação que se debilita, se disten-
que cria a concepção de professor-pesqui- de, se envenena a si mesma, e outra que entra,
sador como sujeito de pesquisa na escola, mascarada. As forças em jogo na história não
defende a incorporação dos múltiplos su- obedecem nem a um destino, nem a uma me-
jeitos do cotidiano escolar, diante das dife- cânica, mas efetivamente ao acaso da luta.
renças culturais existentes na sociedade. Elas não se manifestam como as formas su-
“Para Stenhouse, os professores, à medida cessivas de uma intenção primordial; tampou-
que vão questionando suas diversas práti- co assumem o aspecto de um resultado. Apa-
cas, identificadas, conhecidas e analisadas recem sempre no aleatório singular do aconte-
por meio de processos de pesquisa, são os cimento. (FOUCAULT apud ALVES, 2003, p. 65).
que podem efetivar intervenções no cotidi-
ano das escolas, desenvolvendo alternati- A preocupação epistemológica do pesquisador
vas às propostas oficiais.” (ALVES, 2003, encontra-se nos processos de mudanças da re-
64). Assim, o professor-pesquisador é su- alidade cotidiana a que ele pertence e para os
jeito participante da pesquisa, contribuindo quais contribui em diálogos com os praticantes
para a modificação do espaço escolar em do cotidiano. Essas mudanças são, historica-
que ele trabalha. mente, produzidas pelo homem concomitantes
4. Cotidiano e Descrição da Realidade – Cria- aos processos de reprodução do saber.
da no México por Justa Ezpeleta e Elsie
Rockwell (1986), numa crítica à concepção Ou seja, ao mesmo tempo que reproduzimos o
hegemônica do cotidiano como “caixa- que aprendemos com as outras gerações e

25
UEA – Licenciatura em Matemática

com as linhas sociais determinantes do poder diálogo com os praticantes do cotidiano, pois
hegemônico, vamos criando, todo dia, novas “[...] somente com suas narrativas das memó-
formas de ser e fazer que, “mascaradas”, vão rias coletivas e individuais, em suas contradi-
se integrando aos nossos contextos e ao nos- ções e divergências, podem-se praticar os mo-
so corpo, antes de serem apropriadas e pos- dos necessários para se conhecerem as for-
tas para consumo, ou se acumulem e mudem mas de viver do homem e da mulher contem-
a sociedade em todas as suas relações. É, porâneos[...]” (ALVES, 2003, p.73).
pois, assim que aprendemos a encontrar solu- As pesquisas sobre educação matemática e o
ções para os problemas criados por soluções cotidiano escolar devem conceber a matemá-
encontradas anteriormente. No entanto, é pre- tica como uma prática social contextualizada e
ciso ter, de modo permanente, a atenção des- culturalmente construída, numa concepção de
perta, porque as tentativas de “aprisionar” este ensino-aprendizagem entre professor-pesqui-
processo são violentas e moralistas, sempre. sador e estudantes que trocam saberes e co-
Mas o tempo todo, também, aparecem manei- nhecimentos, utilizando-os como ferramentas
ras de burlar o que querem “estabelecido”, de sobrevivência cotidiana, superando a con-
“instituído” para sempre, surpreendendo até cepção pedagógica tradicional de ensino e
mesmo quem as empreende no que trazem de aprendizado. Nessa perspectiva antagônica,
singular, e mesmo nos modos como se gene- estabelece-se uma relação dialógica horizontal
ralizam. (ALVES, 2003, p. 66). e interdisciplinar entre professor e alunos, que
tem o “[...] seu ponto de partida no universo vi-
A escola pertencente à rede de subjetividades vencial comum entre os alunos e os profes-
do cotidiano é um espaço-tempo de pesquisa sores, que investiga ativamente o meio natural
em que o saber acumulado é reproduzido, e as ou social real, ou que faz uso do conhecimento
mudanças imprevisíveis, e muitas vezes imper- prático de especialistas e outros profissionais
ceptíveis, são criadas por seus praticantes a [...]” (MENEZES, 1998, p. 52).
partir de soluções antigas. As concepções educacionais que motivam o
estudo do cotidiano e a matemática implicam
Essa visão de Escola como espaço social em estudos sobre a etnomatemática, as práticas
que ocorrem movimentos de aproximação e docentes, as representações e o imaginário dos
de afastamento, onde se criam e recriam co- praticantes do cotidiano, os movimentos de re-
nhecimentos, valores, significados, vai exigir o sistência e dominação das relações sociais, os
rompimento com uma visão de cotidiano es- estudos interdisciplinares e transdisciplinares,
tática, repetitiva, disforme, para considerá-la, a apropriação do conhecimento e das tecnolo-
como diria GIROUX (1986), um terreno cultural gias e suas implicações na realidade vivida,
caracterizado por vários graus de acomoda- podendo, assim, ser exemplificados:
ção, contestação e resistência, uma pluralida- • Prática de resolução de problemas de 20
de de linguagens e objetivos conflitantes. Nes- professores da Rede Pública Municipal de
se sentido, o estudo da prática escolar não se Manaus.
pode restringir a um mero retrato do que se pas- • Práticas pedagógicas e desempenho esco-
sa no seu cotidiano; deve, sim, envolver um lar satisfatório dos adolescentes em situa-
processo de reconstrução dessa prática, des- ção de risco.
velando suas múltiplas dimensões, refazendo • Representações do professor de matemá-
seu movimento, apontando suas contradições, tica sobre a sua prática em sala de aula.
recuperando a força viva que nela está pre- • Movimentos de resistência e dominação dos
sente. (ANDRÉ, 1991, p.71-72) estudantes nas aulas de matemática.
• Estratégias de aprendizagem dos estudan-
Cabe ao pesquisador compreender a diversi- tes do ensino médio numa escola pública
dade e a complexidade do cotidiano; dialogar estadual de Parintins.
com as teorias opostas produzidas pela ciên- • O estudo da geometria no currículo escolar
cia moderna, buscando superá-las; e manter o indígena.

26
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

• Etnomatemática: uma proposta pedagógi- taque no campo da investigação científica.


ca no cotidiano escolar. Descobertas recentes, na área da neurociência,
• Interação ego e conflito sociocognitivo em sobre o funcionamento do cérebro e o desen-
situação de aprendizagem. (SISTO; DO- volvimento das inteligências, vêm contribuindo
BRÁNSZKY; MONTEIRO, 2002). para a concepção científica acerca do lúdico,
nos processos de racionalização e emoção.
1.3.4 O LÚDICO E O ENSINO DA Para uns, pode ser a busca pela felicidade e
MATEMÁTICA plenitude humanas; para outros, representa a
O lúdico representa um referencial de pesquisa recuperação dos estados da mente e da con-
que, ultimamente, vem ocupando espaços nos dição humana.
processos educacionais que buscam refletir Ser lúdico, portanto, significa usar mais o hemis-
sobre os caminhos de construção do conheci- fério direito do cérebro e, com isso, dar uma
mento. Palavra derivada do latim ludus, ou nova dimensão à existência humana, baseado
seja, brincar, conceitualmente corresponde às em novos valores e novas crenças que se fun-
atividades que incluem os jogos, os brinque- damentam em pressupostos que valorizam a
dos e as brincadeiras. criatividade, o cultivo da sensibilidade, a busca
da afetividade, o autoconhecimento, a arte do
No ensino da matemática, o lúdico tanto pode
relacionamento, a cooperação, a imaginação e
constituir-se numa ferramenta didática quanto
a nutrição da alma. É, por isso, que as de-
pode revelar premissas do processo ensino-
scobertas científicas sobre a dinâmica cerebral
aprendizagem em que o conhecer depende in-
foram importantes para o estudo da ludicidade
tensamente do apreciar, do sentir-se bem, do
como ciência. (SANTOS et al, 2001, p. 13).
gostar de aprender, do divertir-se. É a brin-
cadeira levada a sério: do simples romantismo
Os estudos, por exemplo, de Roger Sperry
ao caráter científico. Na perspectiva científica,
(funções diferenciadas dos hemisférios do cé-
a afetividade torna-se essencial para a com- rebro), Ned Hermann (dinâmica cerebral pelo
preensão dos processos de aprendizagem e mapeamento de cérebro em quatro quadran-
na relação educador-educando. tes) e Howard Garder (inteligências múltiplas)
mostraram ao mundo uma parte complexa en-
Nesta abordagem do processo educativo a tre 1% e 10% das relações neurais, dentre as
afetividade ganha destaque, pois acreditamos quais envolve a racionalização e a emoção que
que a interação afetiva ajuda mais a compre- colaboraram para a ludicidade.
ender e modificar as pessoas do que um ra-
ciocínio brilhante, repassado mecanicamente. Analisando os trabalhos de Hermann, pode-se
Esta idéia ganha adeptos ao enfocar as ativi- perceber que, quando o homem potencializa
dades lúdicas no processo do desenvolvimen- mais o hemisfério esquerdo do cérebro no tra-
to humano. (SANTOS; CRUZ, 2004, p. 12). balho, ele demonstra ser mais financista, tem
mais facilidade para trabalhos técnicos, para
A preocupação epistemológica dessa linha de administrar, gerenciar, organizar e implemen-
pesquisa quebra com um conceito de matemá- tar. No processo criativo ele demonstra ser crí-
tica respaldado pela simples repetição e pela tico, investigador e disciplinado e quando está
memorização, com base teórica comportamen- aprendendo algo usa a lógica, racionaliza, or-
tal, em que não há o espaço para o aprendiza- ganiza dados, estrutura as partes do todo,
do com prazer. As pesquisas sobre o lúdico e o avalia, julga e pratica. Estas características de-
ensino da matemática rompem as crenças de terminam o predomínio da razão.
que a matemática é “um bicho-de-sete-cabe- Ao contrário, quando o homem potencializa o
ças”, e que o professor comanda esse monstro hemisfério direito no trabalho, ele inova.
indecifrável, que está disposto a engolir os Integra, tem facilidade para estabelecer con-
educandos. Assim, brincar deixa de ser um me- ceitos, interessa-se por novas tecnologias,
ro passatempo e assume o seu lugar de des- compartilha e expressa-se. No processo cria-

27
UEA – Licenciatura em Matemática

tivo ele brinca, experimenta, intui, vê o todo, in- de um aprofundamento na área da psicologia e
terage com as pessoas, aciona o cinestésico, – porque não acrescentar – da epistemologia e
o espiritual, o sensual e o tátil. Quando está da psicopedagogia. As investigações nessas
aprendendo ele explora, vivencia, descobre, áreas permitirão compreender os processos
qualifica, elabora conceitos, aciona o emo- abstrativos de construção do conhecimento,
cional, sente, internaliza e compartilha. Estas assim como as dificuldades na aprendizagem
características determinam o predomínio da da matemática e suas formas de superação
emoção e contribuem para a ludicidade. (SAN- através do lúdico. Nesse caso, a ludicidade e o
TOS et al, 2001, p. 12-13). ensino da matemática caminham pela didática,
seja como formulação geral ou ainda especí-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, Ensino fica para a área do conhecimento matemático.
Médio, Parte III, implicitamente apresentam as
Quanto a esse aspecto, cabem algumas reco-
contribuições da neurociência para o ensino
mendações para que não se solidifiquem ações
das Ciências da Natureza, Matemática e suas
intervencionistas em vez de pesquisa científica.
Tecnologias, numa concepção interdisciplinar
O rigor metodológico da investigação deve ser
com base no desenvolvimento das competên-
priorizado; caso contrário, o professor-pesqui-
cias e habilidades. Cabe o destaque à Mate-
sador pensará que realiza pesquisa com a ludi-
mática como ciência motivadora e de suporte
cidade e o ensino da matemática, enquanto que
às demais, cujo objetivo maior está na criação
suas ações são resultados de projetos de en-
e não na repetição. Por mais que, nos PCN´s,
sino-aprendizagem e não de pesquisa científica.
o termo lúdico não esteja evidente, verifica-se a
ludicidade nos procedimentos de ensino-apren- A ciência não pode ser revestida de precon-
dizagem, assim como nos objetivos para o de- ceitos, por mais que eles repousem no senso co-
senvolvimento do raciocínio no mundo real, mum. Um deles, ao tratar do lúdico e o ensino da
tendo como premissa a criatividade. matemática, encontra-se na concepção da infân-
cia como referência para o brincar, retirando a
À medida que vamos nos integrando ao que
brincadeira do espaço pedagógico do adoles-
se denomina uma sociedade da informação
cente, do adulto e da terceira idade. Ora, a
crescentemente globalizada, é importante que
ludicidade e a sua correspondência com os sis-
a Educação se volte para o desenvolvimento
temas de emoção humana não se interrompem
das capacidades de comunicação, de resolver na infância; temos a necessidade do lúdico em
problemas, de tomar decisões, de fazer infe- todos os espaços pedagógicos (não apenas na
rências, de criar, de aperfeiçoar conhecimen- escola), independentemente de idade ou de
tos e valores, de trabalhar cooperativamen- qualquer outra condição que queira cercear o
te.[...] Contudo, a Matemática no Ensino Mé- brincar da condição do pensamento humano.
dio não possui apenas o caráter formativo ou Assim, as pesquisas que envolvem o lúdico e o
instrumental, mas também deve ser vista co- ensino da matemática são frutíferas na escola,
mo ciência, com suas características estrutu- tanto no ensino fundamental como no ensino
rais específicas. É importante que o aluno per- médio.
ceba que as definições, demonstrações e en- Ainda no ensino superior, a ludicidade e a ma-
cadeamentos conceituais e lógicos têm a fun- temática devem compor uma área de investi-
ção de construir novos conceitos e estruturas gação interdisciplinar que envolve os cursos
a partir de outros e que servem para validar in- de licenciatura e a formação de professores,
tuições e dar sentido às técnicas aplicadas. seja na formação teórica, pedagógica e lúdica.
(MENEZES et al, 1998, p. 40-41). Esta última “[...] deve possibilitar ao futuro edu-
cador conhecer-se como pessoa, saber de su-
Outra contribuição para os estudos acerca do as possibilidades e limitações, desbloquear su-
lúdico e do ensino da matemática, além da as resistências, ter uma visão clara sobre a im-
neurociência, vem da psicologia. Quem se portância do jogo e do brinquedo para a vida
aventurar por essa linha de pesquisa necessita da criança, do jovem e do adulto.” (SANTOS;

28
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

CRUZ, 2004, p. 14). (MACEDO, 2006, p. 81-82).


A qualidade exposta por esses métodos não
A defesa do lúdico na formação dos professo-
aceita a interpretação da realidade pela ótica
res de matemática representa um avanço na
experimentalista e behaviorista que reduz a ex-
concepção do ser educador para o ensino fun-
plicação da realidade pelo paradigma norma-
damental e médio, evocando o homo ludens
tivo positivista. Se para a fenomenologia a rea-
(HUIZINGA, 1980), com liberdade de imagina-
lidade traduz-se pela sua compreensão, inter-
ção, espontaneidade, iniciativa, confiança, com
pretação e comunicação do fenômeno situa-
mais capacidade de ensinar e aprender no co-
cional em que a verdade é provisória e relativa,
tidiano escolar, enfrentando desafios e modifi-
na hermenêutica encontrar-se-ão caminhos de
cando regras. (MALUF, 2003).
aproximação com a realidade nos quadros teó-
As pesquisas que envolvam a ludicidade e o ricos explicativos.
ensino da matemática na escola necessitarão,
prioritariamente, de uma contextualização his- A reflexão hermenêutica torna-se, assim, ne-
tórica acerca do lúdico enquanto representa- cessária, para transformar a ciência, de um ob-
ção do lazer e como elemento científico, além jeto estranho, distante e incomensurável com
de uma elaboração teórica acerca da constru- nossa vida, num objeto familiar e próximo,
ção do conhecimento, dos seus processos que, falando a língua de todos os dias, é capaz
abstrativos, e sua aplicabilidade na realidade de nos comunicar suas valências e limites,
social. Esse esforço requer uma pesquisa teó- seus objetivos e o que realiza aquém e além
rica, com os seus momentos centrais, o que deles, um objeto que, por falar, será conce-
permitirá que o professor-pesquisador se apro- bido mais adequadamente numa relação eu/tu
funde acerca do seu tema de investigação, por do que numa relação eu/coisa e que, nessa
meio da elaboração dos quadros de referên- medida, se transformará num parceiro de
cia, da compreensão dos clássicos, do compreensão e de transformação de realida-
domínio da produção vigente e do exercício des. (MACEDO, 2006, p.40).
de reflexão e crítica teórica. (DEMO, 2004).
Outra característica metodológica dessa linha No interacionismo simbólico, as pessoas são
de investigação é o tratamento com as pesqui- sujeitas de suas ações e significados. A reali-
sas de cunho qualitativo. Nessas, para se traba- dade pode ser uma, com os mesmos estímu-
lhar o lúdico e o ensino da matemática, podemos los, no entanto para cada pessoa ela assume
destacar a abordagem fenomenológico-her- uma significação própria, e o processo de inte-
menêutica, o interacionismo simbólico e a etno- ração entre as pessoas ocorre em suas trocas
grafia semiológica associados à fenomenologia. simbólicas, num jogo carregado de sentido,
dando vazão à identidade do indivíduo en-
A construção heurística da etnopesquisa se ins- quanto produto e produtor da interação gené-
trumentaliza com a etnografia semiológica co- tica com os sujeitos sociais.
mo recurso metodológico básico [...]. No caso
da etnopesquisa crítica, valoriza-se intensa- Um símbolo é um estímulo que tem um signifi-
mente a perspectiva sociofenomenológica, que cado aprendido e um valor para as pessoas, que
orienta ser impossível entender o comporta- reagem em função desses significados e val-
mento humano sem tentar estudar o quadro ores, e não em função de estimulações físicas
referencial, ou seja, a bacia semântica e o uni- que afetam seus órgãos sensoriais. A linguagem
verso simbólico dentro dos quais os sujeitos faz parte desses sistemas simbólicos, assim
interpretam seus pensamentos, sentimentos e como os gestos. (LAPASSADE, 2005, p.20).
ações. A singularidade e a construção dos
sentidos – principais dimensões da atitude clí- As perspectivas metodológicas mencionadas
nica – são as duas pedras de toque a serem podem orientar inúmeras pesquisas que pos-
trabalhadas incessantemente pela atitude etno- suem o lúdico e o ensino da matemática como
gráfica e semiológica dos etnopesquisadores. eixos norteadores. Podemos sugerir algumas

29
UEA – Licenciatura em Matemática

investigações, tendo como ponto de partida a Essa linha de pesquisa tem por objetivo reunir
relação professor-aluno, o jogo, a brincadeira e estudos que tratem, de forma ampla e sobre di-
o brinquedo: versos aspectos, dos temas relativos à for-
• A formação do educador matemático e as mação do professor, tanto quando planejada
suas relações com a ludicidade em sala de pela instituição quanto pela iniciativa pessoal
aula. do docente, entendendo esta como necessária
à educação permanente para o exercício das
• Atividades lúdico-educativas e o aprendiza-
práticas do educador. As temáticas, portanto,
do matemático pela psicomotricidade.
devem situar a condição do “professor apren-
• Jogos tradicionais e matemática: aprendi- dente” e as implicações disso no seu cotidiano
zado, memória e presença no contexto es- e no amadurecimento como educador. Um dos
colar. aforismos-chave da obra dos autores acima
• Jogos e informática no aprendizado mate- citados é: “todo fazer é um conhecer, e todo
mático. conhecer é um fazer”.

• Espaços para aprender e brincar: constru- A idéia de aprendente é desenvolvida por Hu-
indo o pensamento matemático. go Assmann, dentre outros autores, em sua
obra Reencantar a Educação, publicada pela
• Ludicidade e Matemática: ciências comple-
Editora Vozes. Não se concebe mais a for-
mentares.
mação acadêmica como ponto de chegada.
• O brinquedo como ferramenta de apren- Pelo contrário, é um ponto de começo para a
dizado na matemática. reflexão aprofundada do fazer docente. Traba-
Quanto aos procedimentos, podemos indicar a lha-se com o conceito de “professor reflexivo”
história de vida, o estudo de caso, a análise de que, na definição de Isabel Alarcão, “é aquele
conteúdo (método clínico, histórico), o jogo so- que pensa no que faz, que é comprometido
cializante e a sociometria como exemplos de com a profissão e se sente autônomo, capaz
caminhos metodológicos coerentes com a fe- de tomar decisões e ter opiniões. Ele é, sobre-
nomenologia-hermenêutica e com o interacio- tudo, uma pessoa que atende aos contextos
nismo simbólico que podem utilizar as mais di- em que trabalha, os interpreta e adapta a
versas técnicas, como a observação, a entre- própria atuação a eles. Os contextos educa-
vista, a pesquisa documental, as técnicas pro- cionais são extremamente complexos e não há
jetivas (a exemplo do desenho comentado) e um igual a outro. Eu posso ser obrigado a, nu-
as anotações no diário de campo. ma mesma escola e até numa mesma turma,
utilizar práticas diferentes de acordo com o
grupo. Portanto, se eu não tiver capacidade de
1.3.5 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR analisar, vou me tornar um tecnocrata” (NOVA
A primeira questão a ser levantada, para início ESCOLA, 2002).
de conversa, seria a seguinte: o que tem a ver São vários os autores que trabalham a forma-
essa questão com o Ensino da Matemática? ção do professor, desde os clássicos com John
De pronto, podemos responder: tudo. Se hou- Dewey, Jean Piaget, D.A. Schön, A. P. Gomez,
ver a insistência do interlocutor exigindo os P. Perrenoud, Isabel Alarcão, Maria Teresa
fundamentos, responderíamos com Maturana Estrela, Emília Ferreiro (estrangeiros); Anísio
e Varela: “o que podemos tentar – que o leitor Teixeira, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima,
deve tomar como uma tarefa pessoal – é per- Ivani Fazenda, Demerval Saviani, Jamil Cury,
ceber tudo o que implica essa coincidência entre os nacionais e disseminadores desses
contínua de nosso ser, nosso fazer e nosso estudos entre nós. A discussão sobre a for-
conhecer, deixando de lado nossa atitude co- mação do professor está presente em todos os
tidiana de pôr sobre nossa experiência um selo congressos e fóruns da área de educação e
de inquestionabilidade, como se ela refletisse nas searas de governo, com políticas públicas
um mundo absoluto” (2001, p. 31). de sucesso ou não.

30
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa

O Brasil tem política pública de formação de Vislumbrando outros questionamentos, pode-


professores desde os anos trinta do século mos pensar nas relações entre a formação do
passado, com as iniciativas de Anísio Teixeira professor e o baixo aprendizado da matemá-
criando as Escolas Normais de Preparação de tica, tanto no ensino fundamental quanto no
Professores, tanto na capital da República médio. Conhecemos muito pouco ou quase
quanto nos Estados. Em Manaus, Amazonas, o nada sobre isso em nosso Estado. Só sabemos
marco é a Escola Normal, depois Instituto de é que os resultados dos exames feitos com as
Educação do Amazonas, formando normalis- crianças apresentam indicadores indecentes.
tas, Curso Pedagógico (correspondente ao As explicações para os resultados são, via de
grau médio). Em Itacoatiara, início dos anos 50 regra, defensivas, ingênuas ou perniciosas pa-
do século XX, o Colégio dirigido pela Irman- ra o ensino. Sobretudo, quando escoradas em
dade de Santa Dorotéia recebe autorização pressupostos ideológicos escusos que atri-
para formar professoras normalistas, nível cor- buem esses resultados a falsas variáveis ou,
respondente ao antigo Ginásio, que poderiam ainda, a falácias, que não resistem a uma ele-
atuar como Professoras Rurais, uma experiên- mentar análise reflexiva. E o pior, escoram-se
cia que durou até a reforma do ensino nos em vasta literatura que trata da educação bra-
anos 60. Conhecemos muito pouco sobre essa sileira como se esta e os seus próprios autores
história. A falta de trabalhos nessa área gera pertencessem a outro mundo ou fossem esses
uma ignorância de todo o esforço feito pelo autores, na vida real, pelo menos, “Dom Quixo-
Estado e a falsa impressão de que tudo é novo, tes” da Educação. Escrevem como se nunca
que estamos inventando a roda. Qual foi o sal- tivessem atuado como professores nas salas
do para a Educação das Licenciaturas de Cur- de aula, como dirigentes (muitos deles) nos
ta Duração, ministradas em vários Municípios órgão formuladores de políticas públicas para
do Estado do Amazonas nos anos 70? Onde a educação. É de perguntar, muitas vezes a al-
andam e o que fizeram esses professores em guns autores desse naipe, o que fazem de sig-
suas escolas? Os diversos cursos de recicla- nificativo além de produzir e vender livros?
gem, ministrados como treinamento para mi- Uma das razões para investigar os processos
lhares de professores pela SEDUC-AM? Que de formação dos professores é encontrada nos
resultados produziram? Qual o resultado dos fundamentos da ciência, como veremos mais
cursos de Licenciatura Plena, inclusive de Ma- adiante: destruir dogmas, combater falsas ide-
temática, ministrados pela Universidade do ologias e falácias no campo da educação. A crí-
Amazonas (hoje, UFAM) em vários municípios? tica sem dados da realidade é um mero exer-
Que inovações apareceram no ensino em de- cício da vaidade, do proselitismo político-ideo-
corrência desses cursos e dos outros ministra- lógico ou da irresponsabilidade intelectual.
dos tanto pela UFAM quanto pela Universidade
Para escapar a essas armadilhas é que o pro-
do Estado do Amazonas (UEA)?
fessor-pesquisador deve escolher bem o seu
Passando da história para a economia e a tema, delimitá-lo com propriedade após uma
gestão do ensino: quanto foi gasto em tudo investigação exploratória, escolher um bom re-
isso? O que deu certo e o que não deu? Como ferencial teórico e métodos de procedimentos
o Estado e os Municípios planejam a formação para levantar os dados. Coisas que serão ob-
de seus professores? Fazem um diagnóstico jeto deste manual em capítulo específico para
antes de planejar? Qual foi o custo dos progra- este fim.
mas financiados pelo FUNDEF, e o que ficou Para não incorrer no mesmo erro e não come-
de saldo para cada município? Que níveis de ter a indignidade da infâmia e da difamação
ensino e áreas de saber foram privilegiadas? generalizada, é preciso saber diferençar os
Os professores formados e beneficiados per- bons dos maus autores. Os maus autores não
manecem no sistema? Por quê? Que cursos apresentam dados sobre o problema que le-
foram realizados para capacitar professores vantam (não estamos falando da ausência so-
para o ensino da Matemática? mente de dados quantitativos, mas dos qualita-

31
UEA – Licenciatura em Matemática

tivos também); eles costumam ignorar todos 5. O programa de formação de educadores é


os programas de formação de professores an- condição para o processo de reorientação
tes de analisá-los; atribuem as motivações de curricular da escola.
todo treinamento em serviço à exploração do
6. O programa de formação de educadores
professor; entendem os treinamentos como
terá como eixos básicos: a fisionomia da es-
coisas mecânicas, incluídas na lógica capita-
cola que se quer, enquanto horizonte da
lista para a mera reprodução da ideologia das
nova proposta pedagógica; a necessidade
classes dominantes por meio da escola (es-
quecem o grau de autonomia e de discernimen- de suprir elementos de formação básica aos
to dos professores, tratando-os como se fos- educadores nas diferentes áreas do conhe-
sem “tábulas rasas” e vasos generosos para cimento humano; a apropriação, pelos edu-
receber, sem crítica, qualquer doutrinação); cadores, dos avanços científicos do conhe-
imaginam que todos os cursos foram dados cimento humano que possam contribuir pa-
para atender aos desígnios do “pensamento ra a qualidade da escola que se quer.
único”, pregado pelos organismos de financia- Refletindo sobre os princípios estabelecidos e
mento internacionais; não pregam a reflexão, a citados acima, podemos tratar da autofor-
crítica e a ação como elementos da lógica mação do professor, recriando suas práticas
construtiva da transformação social a partir da como objeto de investigação científica, visto
realidade concreta do professor, mas da visão
que ela acontece, sempre que exista um em-
“messiânica” de transformação do professor
penho pessoal em busca conhecimento, para
num convertido política e ideologicamente a
superação de dificuldades. Quantos dos nos-
um determinado credo; apresentam visões
sos professores do “beiradão” nas escolas
edulcoradas do novo mundo de práticas que
multisseriadas, nas aldeias dos povos indíge-
podem ser exercidas pelo professor se a ele
nas, nos povoados diminutos à beira de lagos
fossem dadas todas as condições materiais e
intelectuais para agir, ignorando, com isso, a e rios tiveram que inventar e reinventar as suas
sua capacidade criativa (e, como nem sempre práticas. Que práticas foram essas? Que resul-
isso é possível, faça o professor da mera crítica tados surtiram? Qual o reconhecimento da pe-
o seu apanágio para justificar a inação, como dagogia para tais práticas? Essa realidade po-
se o professor pudesse, enquanto servidor pú- de vir à tona por meio da investigação cientí-
blico, reduzir a sua prática a uma única ban- fica. Muitas delas estão relatadas nos Memo-
deira “sindical”). riais feitos por alunos nos seus trabalhos de fim
Tânia Carmem Araújo de Carvalho (2000) re- de curso, na própria UEA.
produz os princípios estabelecidos por Paulo Essa autopreparação do professor está rela-
FREIRE, quando Secretário de Educação do cionada à sua capacidade de reconhecer a
Município de São Paulo, no período 1989 a dinâmica do conhecimento e buscar inteirar-se
1991, para a formação de educadores da Se- das inovações em sua área de saber.
cretaria Municipal de Educação:
1. O educador é o sujeito de sua prática, cum-
prindo a ele criá-la e recriá-la.
2. A formação do educador deve instrumental-
izá-lo para que ele crie e recrie a sua prática
por meio da reflexão sobre o seu cotidiano.
3. A formação do educador deve ser cons-
tante e sistematizada, porque a prática se
faz e se refaz.
4. A prática pedagógica requer a compreen-
são da própria gênese do conhecimento,
ou seja, de como se dá o processo de co-
nhecer.

32
UNIDADE II
A Ciência e sua Episteme
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – A Ciência e sua Episteme

O desenvolvimento da ciência é a maior aven- políticas públicas ou fortalecer ramos da pro-


tura do espírito humano nos últimos cinco sé- dução industrial (veja indústria bélica). Além
culos. No afã de mostrar a trajetória do mundo, disso, assistimos à perda quase total da au-
desvendar os enigmas e situar o percurso feito tonomia dos cientistas sobre os resultados de
pelos homens como parte da natureza, a filo- seu trabalho e a aplicação dele, uma vez que a
sofia e a lógica, ao lado da história (ciência das produção científica, em larga escala de com-
mais antigas) foram engendrando as formas de plexidade, não pode mais existir como ativi-
conhecer e, à medida que um determinado dade intelectual diletante. Só acontece dentro
corpo de conhecimento ganhava consistência, das instituições criadas para esse fim, que
fazia surgir novo ramo de saber com o estatuto reúnem inteligências (a massa crítica), os re-
de ciência, processo que até hoje pode ser cursos financeiros, o instrumental técnico e as
constatado. Primeiramente, a Física; depois, a formas burocráticas de controle, gerando, as-
Biologia e a Química, inegavelmente, termi- sim, formas de poder sobre o conhecimento
naram influenciando os modelos das ciências produzido.
surgidas posteriormente, inclusive o das cha-
madas Ciências Sociais ou Ciências Humanas
2.1 A EPISTEMOLOGIA
ou, ainda, Ciências do Homem.
Quando estamos falando dessas coisas anteri-
Sendo ao mesmo tempo uma aventura lumi-
ormente citadas, para que você saiba, já esta-
nosa do saber, “essa ciência elucidativa, en-
mos fazendo EPISTEMOLOGIA, palavra de
riquecedora, conquistadora e triunfante apre-
origem grega, que significa “o estudo da ciên-
senta-nos, cada vez mais, problemas graves
cia”, uma ciência para estudar a ciência, ou,
que se referem ao conhecimento que produz,
como querem outros, uma Filosofia da Ciência
à ação que determina, à sociedade que trans-
ou, ainda, uma Teoria do Conhecimento. É ver-
forma. Essa ciência libertadora traz, ao mesmo
tempo, possibilidades terríveis de subjugação. dade que, desde muito tempo, o conheci-
Esse conhecimento vivo é o mesmo que pro- mento científico é tão importante e cada vez
duziu a ameaça do aniquilamento da huma- mais vasto que requer uma disciplina própria
nidade. Para conceber e compreender esse para estudá-lo em seu conjunto, ou separada-
problema, há que acabar com a tola alternativa mente, dentro de cada ciência, naqueles ele-
da ciência ‘boa’, que só traz benefícios, ou da mentos que dizem respeito às concepções,
ciência ‘má’, que só traz prejuízos. Pelo con- aos critérios metodológicos, à validação do
trário, há que, desde a partida, dispor de pen- conhecimento, à difusão e, mais recente-
samento capaz de conceber e de compreen- mente, às questões éticas dos usos dos acha-
der a ambivalência, isto é, a complexidade in- dos científicos.
trínseca que se encontra no cerne da ciência” Como disciplina que estuda as ciências, a epis-
(MORIN, 1996, p.16). temologia preocupa-se com o estudo crítico e
A especialização tem sido a responsável pela reflexivo dos princípios, dos pressupostos e da
fragmentação do saber. Ao lado disso, outros estrutura das ciências. Isto é, interessam a ela
fatores são apontados por Edgar Morin como os métodos e as técnicas de investigação; as
dilemas da ciência nos nossos tempos, a hipóteses que geraram grandes teorias, os re-
saber: divórcio entre as ciências da natureza e sultados que validam essas teorias; e as con-
as ciências do homem ou sociais; especializa- seqüências geradas por tais resultados no
ção exagerada das ciências, gerando outras quadro teórico particular da própria ciência; no
ciências (ciências aplicadas reivindicando para quadro geral, que envolve as ciências corre-
si estatutos de autonomia frente às demais, por latas e remotas; e nas relações desse conheci-
exemplo); a apropriação de bancos de dados mento novo com a sociedade.
produzidos para servir à ciência pelo Estado e/ Devido ao seu vasto campo de abrangência, a
ou por grandes conglomerados econômicos e epistemologia divide-se em: Geral, Genética e
usados acriticamente para justificar algumas Normativa.

35
UEA – Licenciatura em Matemática

Epistemologia Geral – Busca analisar os A nossa disciplina começa exatamente por al-
critérios gerais que dão validade ao conheci- gumas questões epistemológicas que exempli-
mento científico, como o rigor do método, os ficam a razão de ser do discurso precedente
critérios de validação dos conhecimentos obti- sobre epistemologia, quais sejam: as ciências
dos e que são válidos para todas as ciências. sociais como ciência e a pesquisa em ciências
Epistemologia Genética – Está preocupada sociais. Ainda há quem duvide que as relações
com a origem e a história dos conhecimentos e sociais dos homens entre si e o mundo socio-
as suas relações com as estruturas mentais cultural por elas construído não podem ser ob-
que implicam a formulação de hipóteses, leis e jeto de estudo de uma ciência particular? Se
teorias científicas. existe uma ciência social ou ciências sociais,
Epistemologia Normativa – Cuida da apli- no plural, existem outras ciências que não são
cação dos critérios da lógica para pôr à prova sociais? Se existem, falam de coisas que não
os fundamentos das ciências e os seus níveis têm relação com a sociedade resultante das
de coerência internos, aquilo que distingue o relações entre os humanos e destes com a na-
conhecimento rigoroso e sistematizado da ci- tureza?
ência daquilo que não pode fazer parte do Quando falamos de epistemologia geral,
corpo da ciência por ser puro dogma ou mera dissemos que ela cuida dos aspectos que
doutrina.
dizem respeito a todas as ciências: das
Posto isso, podemos afirmar que a epistemo- questões do método, da METODOLOGIA DAS
logia tem um papel importante ao discutir a CIÊNCIAS, da forma de descobrir e validar o
ciência em geral e as ciências em particular: conhecimento novo. Quando falamos da
quando discute os achados das ciências e sub- epistemologia genética, referimo-nos à
mete-os à prova do rigor científico; quando faz origem (uma espécie de DNA da Ciência), ao
a crítica a esses achados e estabelece o de- nascimento de cada uma das ciências em par-
bate entre os produtores de conhecimento; ticular, ao seu estatuto de autonomia.
quando faz a critica sobre si mesma, sobre
suas normas rigorosas, sobre suas próprias in- A epistemologia tem no modo de produzir o
tolerâncias; quando ainda, como nos aponta conhecimento científico o seu objeto de estu-
Morin, dirige o debate ou acolhe o debate sobre do. As outras formas de conhecimento inte-
as questões valorativas que circulam no seio da ressam-lhe tangencialmente, embora sejam
sociedade sobre o papel, os achados das ciên- também conhecimento geral especializado ou
cias, seu emprego na vida cotidiana e no futuro não, com dimensão histórica e universal em al-
da humanidade; e quando lança ou acolhe um guns casos. Esses tipos de conhecimento inte-
olhar ético sobre a conduta da ciência. gram os terrenos da especulação filosófica,
As aplicações relativas à clonagem, por exem- das religiões, das ideologias, do senso comum
plo, antes de se tornarem questão política, éti- e da intuição humana.
ca ou religiosa, devem ser objeto de estudo da Diferentemente desse conhecimento, o conhe-
epistemologia. Tem muito a ver com o papel cimento científico já é especializado por sua
que a Biologia, enquanto ciência, está assu- natureza e, por isso, tirando a Lógica e a Ma-
mindo nesse momento histórico e como ela temática, que se colocam no campo das idéias,
vem-se impondo sobre as demais ciências, so- daí serem chamadas de ciências formais, as
bre os outros modos de saber que não são demais ciências dependem dos fatos, dos fe-
científicos, mas são normativos. É inegável que
nômenos para sobre eles se debruçar, ocor-
os avanços da Biologia têm um impacto vigo-
rendo aí a primeira divisão; por isso, são
roso sobre o entendimento que temos sobre a
chamadas de ciências factuais. Segundo Mario
vida, não somente sobre a vida humana, mas
Bunge (Apud MARCONI; LAKATOS, 2000, p.
sobre todos os tipos de vida e a forma como os
30-42), nessas ciências o conhecimento é:
seres humanos culturalmente aprenderam a li-
dar com essa problemática. Os debates sobre 1. Racional.
essas questões extrapolam até o campo da 2. Objetivo.
própria ciência, como se pode ver. 3. Factual.

36
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – A Ciência e sua Episteme

4. Transcendente aos fatos. instituição?


5. Analítico. Antes de chegarmos a uma aporia que, tradu-
6. Claro e Preciso. zindo para o senso comum, seria “um beco
7. Comunicável. sem saída”, podemos nos apegar a mais uma
8. Verificável. das máximas de Edgar Morin em sua obra O
9. Dependente de investigação metódica. problema epistemológico da complexidade,
10. Sistemático. talvez um bom conselho para pôr fim às ciu-
11. Acumulativo. meiras descabidas: “penso que a aventura do
12. Falível.
pensamento é profundamente dialógica, isto é,
13. Geral.
animada de movimentos que são ao mesmo
14. Explicativo.
tempo antagônicos e complementares” (MORIN,
15. Preditivo.
1996, p.130).
16. Aberto.
17. Útil. Recusando-nos a pensar assim, estaremos tam-
bém abdicando da nossa condição de vigilân-
É próprio do conhecimento científico buscar a
cia e abrindo guarda para a arrogância dos
totalidade explicativa sobre os fatos que têm
que se acham no direito de impor métodos e
como objeto de estudo, mesmo que nem sem-
metodologias, doutrinas e teorias; por serem
pre alcance. Por não poder responder a tudo
arrogantes, não pensam que com isso inter-
com uma só teoria, termina fragmentando-se.
ferem nas opções alheias. Normalmente, os ar-
Isso acontece à medida que o conhecimento
rogantes ou não fazem idéia dos desdobra-
particular acumula-se sobre um conjunto de
mentos econômicos, políticos, sociais e éticos
fatos, formando uma área de saber. Para poder
do conhecimento científico (nesse caso, são
saber mais, busca a sua autonomia e erige-se
pouco inteligentes) ou agem mesmo de má-fé.
em uma ciência particular. Não é por outra ra-
zão que vimos a divisão entre as ciências for- Não há, portanto, como imaginar que coisas
mais (Lógica e Matemática) e as ciências factu- tão complexas como aprendizagem, comuni-
ais. As ciências factuais são divididas em natu- cação humana, educação e a escola como ins-
rais (Física, Química, Biologia e outras) e tituição, dentre outros, possam ser proprieda-
sociais (Antropologia Cultural, Direito, de exclusiva de uma ciência, de um método,
Economia, Política, Psicologia Social, So- de um enfoque ou abordagem exclusiva. Quan-
ciologia). Com a evolução, outras subdivisões to mais complexo o fenômeno, mais imbri-
vêm-se operando dentro de cada ciência em cações ele possui. Hoje não se constitui mais
particular, o que torna difícil uma classificação uma heresia, sobretudo nas ciências sociais,
geral. Nesse quadro das ciências, as ciências buscarem-se em correntes de pensamento di-
fáticas, que compõem o subconjunto das ciên- ferentes, às vezes de aparência antagônicas,
cias sociais, são as mais recentes, datam do elementos, conceitos, proposições, técnicas
século XIX; por isso, não é raro, nos debates de abordagem e coleta que reforcem o que se
travados entre metodólogos ou epistemólo- pretende elucidar, desde que haja nesse pro-
gos, o aparecimento de dúvidas quanto à cien- pósito plena convicção do que se está fazendo
tificidade de alguns postulados firmados por e que se explique, por meio dos modos pró-
essas ciências. prios da ciência, o sentido e o objetivo desse
Por não possuírem delimitação precisa, alguns procedimento.
fenômenos ou fatos são reivindicados por ciên-
cias diferentes. Alguns, de típica natureza inter- 2.2 A PESQUISA COMO PRÁTICA CIENTÍFICA
disciplinar, não cabem totalmente no corpo de Segundo o dicionário Aurélio, pesquisar sig-
uma única ciência. Um exemplo bem claro nifica buscar com diligência; inquirir; perquirir;
relaciona-se com o fenômeno da aprendiza- informar-se a respeito de; indagar; esquadri-
gem. Qual ou quais das ciências sociais dela nhar; devassar.
deve ocupar-se? O mesmo se aplica à comuni- Essa definição de significado e sinonímia apon-
cação humana, à educação e à escola como

37
UEA – Licenciatura em Matemática

ta-nos para uma direção: a do senso comum, aperfeiçoamento do método científico de bus-
pois o que fazemos, desde há muito até antes car a compreensão dos fatos da natureza bem
do surgimento das ciências, é indagar, perqui- como das relações humanas na vida socie-
rir e buscar, por todas as formas e meios, as tária. Como atividade intelectual imaginada,
explicações para coisas que nos inquietam. pensada e articulada, o método pertence ao
Nesse sentido, essa prática é imanente à con- mundo das idéias e fundamenta-se na lógica
dição humana, isto é, inseparável do homem para validar os seus critérios de coerência in-
enquanto ser e transcende quaisquer outras terna na explicação das coisas, permitindo
vontades que possamos ter, tornando-se, as- que se avance de uma explicação à outra, am-
sim, uma prática que nos coloca em contato pliando o nível de explicação dos fatos ou
com o mundo a conhecer e nos impele à bus- fenômenos complexos. Isto é, enquanto a
ca de novas sensações, ponto inicial de todo história resgata, de forma explicativa, o pas-
conhecimento. Daí, desse ponto, é que nasce a sado, as demais ciências fáticas buscam ex-
idéia de empirismo, tido como meio de conhe- plicar pela pesquisa sistemática o presente e,
cimento através da experiência do mundo sen- através do método inerente às ciências em
sível, voltado para a prática da vida, para o geral ou considerando as nuances
domínio das coisas práticas que garantem a particulares de cada ciência, permitem predi-
reprodução da existência, mesmo em condi- zer e procurar provas do que estava oculto ou
ções adversas. desconhecido ou, ainda, do não- vivido.
As práticas do cotidiano e o senso comum es- Quando a Biologia alcançou um domínio de
tão, dessa forma, encharcados de empirismo, conhecimento significativo sobre a vida huma-
o que não deixa de ser uma forma inicial de co- na (a origem, a evolução, a diversificação, a
nhecer, de pesquisar e transformar essa exper- simbiose, as formas de reprodução e manu-
iência em conhecimento e melhorar as condi- tenção), ela passou a ter mais elementos para
ções de vida. E por isso tem o seu lugar como avançar sobre questões cada vez mais com-
frisamos mais acima. plexas que se referem à nossa trajetória no
Há, no entanto, uma diferença fundamental en- mundo, quer seja no presente, quer seja no fu-
tre a pesquisa como prática imanente e fun- turo (onde as mutações nos esperam). Através
dada no empirismo e a pesquisa científica. da pesquisa, essa ciência avança esquadri-
Esta última não pode existir sem vinculação es- nhando a vida, agora querendo conhecer mais
treita com o mundo das idéias. E a idéia é a sobre o “código genético das espécies”, ins-
representação mental das coisas concretas ou crito no DNA. Desvendar o código genético tor-
abstratas; envolve as operações do intelecto. nou-se uma “idéia dominante” em nosso mun-
Na acepção filosófica, a idéia constitui-se de do contemporâneo, mobilizando recursos huma-
elementos em que aparecem condensados os nos e materiais de monta, além de fomentar o
poderes de reflexão e auto-reflexão do pensa- debate em vários outros campos da ciência.
mento (consultar verbete idéia in Dicionário da Não é por outra razão que se afirma que a
Língua Portuguesa para identificar as várias pesquisa científica não escapa, também, das
acepções do termo). A idéia que forma o cha- idéias dominantes, que a impelem em determi-
mado “mundo das idéias”, por sua vez, está ar- nada direção e não em outra. Idéias domi-
ticulada, para a ciência, com o mundo da ra- nantes rompem com o obscurantismo, rom-
zão, com o mundo das práticas pensadas e ar- pem com os dogmas, mas se não forem cons-
ticuladas pelas generalizações, resultado de tantemente avaliadas, validadas ou não, por
experiências e investigações logicamente es- mais pesquisa, podem ser tomadas como ver-
truturadas e validadas como explicações das dades absolutas; revestidas de tanto poder,
coisas do mundo sensível e desvelado, ou, tendem a se transformar em dogma, gerando
como queriam os iluministas, o mundo desen- novos obscurantismos.
cantado. Pesquisa-se para romper com os dogmas, pa-
A prática da pesquisa implica a construção e o ra superar a força das doutrinas, para conhe-

38
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – A Ciência e sua Episteme

cer e superar as ideologias quando estas se cessidades alimentares da vasta população


colocam em desacordo com a práxis da vida mundial, e isso não é pouco! Mas pode, tam-
social. Pesquisa-se para obter mais explicação bém, ter esse conhecimento voltado para a
sobre os fatos, os acontecimentos e os fenô- ampliação das pesquisas que levam ao desen-
menos. Pesquisa-se para chegar o mais pró- volvimento de armas de guerra biológica; que
ximo possível da essência das coisas. E quan- levam à clonagem humana com repercussões
to mais pesquisamos, mais aprofundamos e éticas, religiosas, políticas, etc.
radicalizamos a nossa compreensão. Pela pes- As ciências sociais também vêm tendo os seus
quisa, chegamos à raiz das coisas e dos fenô- paradigmas contestados: a “mão invisível” da
menos, arrancamos a explicação de seus ele- economia (uma doutrina criada por Adam
mentos, dos seus fundamentos, decompomos Smith), que tudo guia até a soberania dos mer-
ou desmontamos para conhecê-los, mas os re- cados, desenvolveu-se ao extremo e influen-
construímos com conhecimento de causa, isto ciou a Ciência Econômica; o materialismo dia-
é, articulando esse conhecimento com outros lético, como norteador da crítica social, no
que guardam com ele relações intrínsecas. E o confronto com a realidade vivida, virou dou-
fenômeno conhecido não é mais o mesmo fe- trina, encharcou-se de ideologia e influenciou
nômeno. É dessa forma que construímos teo- as ciências sociais como um todo; pregou-se o
rias explicativas de maior alcance. A vigência fim da história e decretou-se a pós-moderni-
dessas explicações ou leis científicas como re- dade com a derrocada de todas as experiên-
sultado de pesquisa dura o tempo que for cias do “socialismo real” para ressaltar o tri-
necessária à sua superação. Enquanto con- unfo de outra doutrina oriunda do pensamento
junto articulado de idéias, as explicações cien- liberal, o desconstrucionismo. Mas sabe-se
tíficas ou teorias sempre tendem a uma expli- que nada disso é verdadeiro e definitivo, pois
cação de totalidade; quando alcançam esse sobra o espírito crítico e a vontade humana
objetivo, servem de paradigma para outros para continuar a sua aventura sobre o desco-
postulados. nhecido e a solidez dos métodos para encon-
Diz-se que a Física Newtoniana foi superada trá-lo. A reflexão sobre esses postulados ou
em muitos de seus fundamentos pelas idéias doutrinas que se tornaram dominantes nas
articuladas pelas pesquisas de Einstein. A re- ciências fará despontar novas diretrizes,
volução einsteiniana funda a Física Moderna novos paradigmas.
no século XX, que reviu – e continua revendo – O modelo de racionalidade, construído nos
os seus princípios, testando novos resultados primórdios das ciências da natureza (séc.XVI),
e fazendo novas aplicações que repercutem foi abalado pela Lei da Relatividade de Eins-
amplamente no campo de todas as ciências, tein. Esse abalo também atingiu a segurança
inclusive nas Ciências Sociais. A isso chama- de muitas idéias dominantes em todas as ciên-
mos de substituição de paradigmas. Tomemos cias e fez surgir, já na segunda metade do
a idéia de paradigma como sendo uma idéia século XX, os sinais de um novo paradigma
forte, que influi, que domina, que repercute menos rígido que o anterior.
e rearticula o campo geral das idéias, am-
Segundo Boaventura de Souza Santos (2002),
pliando as possibilidades de explicação dos
nesse novo paradigma: desaparece a dicoto-
fenômenos não-conhecidos, ou que muda a
mia entre as ciências da natureza e as ciências
explicação sobre vários outros fenômenos. sociais visto que todo conhecimento científico-
Como já vimos antes, a biologia molecular tor- natural é científico-social; todo conhecimento
nou-se o novo paradigma para a ciência bio- local é total; todo conhecimento é autoconhe-
lógica, impulsionando a pesquisa na busca do cimento; todo conhecimento científico visa
desvendamento do código genético das espé- constituir-se em senso comum; e a subjetivi-
cies vivas, propondo, com isso, novos proces- dade que foi banida da metodologia científica
sos de cura das doenças, aumento da produ- para separar o sujeito do objeto, isto é, separar
ção agrícola e redução dos custos na produ- as interferências da subjetividade sobre o ob-
ção de alimentos, permitindo, assim, suprir ne- jeto de pesquisa, volta a ser considerada; e

39
UEA – Licenciatura em Matemática

todo conhecimento aspira tornar-se “sabedoria 25). Nesse sentido, possui como característica
de vida” para ser, verdadeiramente, universal. básica a quantificação dos dados.
2.3 OS TIPOS DE PESQUISA Pesquisa Prática – É aquela em que se faz
Uma investigação necessita de parâmetros nor- teste prático. Essa linha de pesquisa, muitas
teadores que orientem a conduta do pesquisa- vezes, é desenvolvida por pessoas que ja-
mais pararam para teorizar, pois tudo o que
dor na organização da sua pesquisa, pois a
sabem é de ordem prática. Demo afirma
pesquisa não é algo genérico e igual. Depen-
ainda que: “freqüentemente dizemos que na
dendo do objeto a ser investigado e como se
prática a teoria é outra. Isto não quer so-
dará essa investigação, pode-se verificar a exis-
mente dizer que pode sempre haver
tência de diferentes pesquisas, expostas em di-
discordância entre os dois níveis, mas princi-
versas classificações teóricas e metodológi-
palmente que um não se faz sem o outro.
cas: trata-se dos TIPOS DE PESQUISA.
Nada melhor para a teoria do que uma boa
Demo (1987) distingue quatro tipos de pes- prática e vice-versa (DEMO, 1987, p. 26)”.
quisa: teórica, metodológica, empírica e prática.
O espírito investigador do homem obriga-o a
Pesquisa Teórica – “É aquela que monta e perquirir a realidade sob os mais variados as-
desvenda quadros teóricos de referência” (p. pectos e dimensões, levando-o, por conse-
23). O cientista, nesse tipo de pesquisa, assu- guinte, a buscar novos modelos de classifica-
me uma postura criadora e crítica a partir dos ção para a pesquisa. Por isso, outros autores
diálogos entre os teóricos pesquisados e a ca- apresentam tipologias diferentes da apresen-
pacidade questionadora na relação estabe- tada por Demo. Num apanhado geral,
lecida entre teoria e prática. “Boa bagagem apresentamos abaixo uma outra TIPOLOGIA
teórica significa, assim, não somente o domí- DE PESQUISA, com opções que estão
nio das teorias mais importantes em sua área intimamente ligadas aos objetivos dos
de pesquisa, mas principal e essencialmente cientistas, pois se fizerem opção por uma pes-
capacidade teórica prática, ou seja, personali- quisa pura ou básica estarão buscando satisfa-
dade teórica formada, no sentido de dialogar zer uma necessidade intelectual pelo conheci-
com os outros teóricos atuais ou clássicos, não mento. Se a opção for uma pesquisa aplicada,
como mero aprendiz ou discípulo, mas como com o objetivo de contribuir socialmente, essa
alguém que também constrói teoria, tem suas trará soluções para problemas concretos e
posições teóricas formadas, enfrenta polêmi- imediatos.
cas próprias, marca a história da disciplina com Nos dois casos, é possível optar por tipos de
contribuições originais (DEMO, 1987, p. 24)”. pesquisa, numa tipologia diferenciada que po-
Pesquisa Metodológica – É aquela que se de assim ser mencionada:
preocupa com os instrumentos de captação e Pesquisa Bibliográfica – Constitui-se num
manipulação da realidade. Enveredar por esse meio de formação por excelência. Nas áreas
caminho, para muitos, pode ser especulação, das Ciências Humanas, pode-se caracterizar
devaneio, mas também pode ser indispensável pela originalidade. Como resumo de assunto
para encontrar a opção teórica e prática diante (fundamentação teórica), é normalmente o
da ciência, uma vez que a pesquisa metodo- primeiro passo de qualquer pesquisa científica.
lógica é aquela que se preocupa com os ins- A pesquisa bibliográfica procura explicar um
trumentos de captação e manipulação da reali- problema a partir de referências teóricas publi-
dade. cadas em documentos. Pode ser realizada in-
Pesquisa Empírica – “É aquela voltada sobre- dependentemente ou como parte da pesquisa
tudo para a face experimental e observável dos descritiva ou experimental.
fenômenos. É aquela que manipula dados, fa- Em ambos os casos, busca conhecer e ana-
tos concretos. Procura traduzir os resultados lisar as contribuições culturais ou científicas
em dimensões mensuráveis.” (DEMO, 1987, p. do passado existentes sobre um determinado

40
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – A Ciência e sua Episteme

assunto, tema ou problema. “[...] A pesquisa simples levantamento de dados ou de relató-


bibliográfica é meio de formação por excelên- rios a serem arquivados. Com a pesquisa-ação,
cia. Como trabalho científico original, consti- os pesquisadores pretendem desempenhar
tui a pesquisa propriamente dita na área de um papel ativo na própria realidade dos fatos
Ciências Humanas. Como resumo de qual- observados. Consiste em resolver ou, pelo me-
quer assunto, constitui geralmente o primeiro nos, em esclarecer os problemas da situação
passo de qualquer pesquisa científica observada e investigada.
(CERVO, 1996, p. 55)”. Pesquisa Participante – Pesquisadores e pes-
Pesquisa Descritiva – É caracterizada pela quisados seriam sujeitos ativos da produção
não-manipulação do pesquisador diante dos do conhecimento. A pesquisa participante é
fatos ou fenômenos pesquisados. uma tentativa de colocar o observador e o ob-
“A pesquisa descritiva observa, registra, analisa servado do mesmo lado, tornando-se o obser-
e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) vador um membro do grupo, de modo a viven-
sem manipulá-los. Estuda fatos e fenômenos do ciar o que eles vivenciam e trabalhar dentro do
mundo físico e, especialmente, do mundo hu- sistema de referência deles. O pesquisador
mano, sem a interferência do pesquisador. Bus- enfrenta grandes dificuldades para manter a
ca conhecer as diversas situações e relações objetividade, pelo fato de exercer influência no
que ocorrem na vida social, política, econômica grupo, ser influenciado por antipatias ou sim-
e demais aspectos do comportamento humano, patias pessoais, e pelo choque do quadro de
tanto do indivíduo tomado isoladamente como referência entre observador e observado. O
de grupos e comunidades mais complexas. A objetivo inicial seria ganhar a confiança do
pesquisa descritiva se desenvolve, principal- grupo, fazer os indivíduos compreender a im-
mente, nas Ciências Humanas e Sociais, abor- portância da investigação, sem ocultar o seu ob-
dando aqueles dados e problemas que mere- jetivo ou a sua missão, mas, em certas
cem ser estudados e cujo registro não consta circunstâncias, há mais vantagens no anoni-
de documentos”. (CERVO, 1996, p. 56). mato.

Esse tipo de pesquisa pode assumir formas Pesquisa Etnográfica na Educação – En-
diferenciadas, entre as quais se destacam: es- quanto antropólogos e sociólogos se preocu-
tudos exploratórios, estudos descritivos, pes- pam em descrever as culturas dos diversos
quisa de opinião, pesquisa de motivação, es- grupos e sociedades, a pesquisa etnográfica,
tudo de caso e pesquisa documental. no cotidiano escolar, volta-se para as experiên-
cias e as vivências dos indivíduos. O que mais
Ainda podemos verificar a existência de pes-
caracteriza essa pesquisa é, primeiramente, um
quisas nada fáceis, em que o investigador es-
contato direto e prolongado do pesquisador
treita as suas relações com os sujeitos envolvi-
com a situação e as pessoas ou os grupos se-
dos nesse processo de conhecimento. Além
lecionados. Observa-se, assim, que a pesquisa
de serem extremamente importantes para a
necessariamente percorre etapas que simplifi-
educação, fornecem resultados de cunho cien-
cadas podem ser destacadas em:
tífico e prático para a realidade social. Esses
TIPOS DE PESQUISA são: a pesquisa-ação, 1 Fase Exploratória – Tempo dedicado a in-
pesquisa participante e pesquisa etnográfica terrogar-se preliminarmente, ou seja, é o
na educação. momento de familiarizar-se com o proble-
Pesquisa-Ação – Para Thiollent (2000), é um ma, buscando uma aproximação com a re-
tipo de pesquisa social, com base empírica, alidade a ser investigada.
que é concebida e realizada em estreita asso- 2 Trabalho de Campo – Consiste na ida do
ciação com a realidade ou com a resolução de pesquisador a campo e, conseqüentemen-
um problema coletivo, em que os participantes te, no recorte empírico da construção teó-
e os pesquisadores representativos da situa- rica elaborada no momento (entrevistas, ob-
ção ou do problema estão envolvidos de modo servações, levantamento de material docu-
cooperativo ou participativo. Não se trata de mental, etc);

41
3 Tratamento do Material – Ordenação, clas-
sificação e análise dos dados coletados no
trabalho de campo e na produção do re-
latório, mantendo o rigor científico.
UNIDADE III
O modo de produzir conhecimento em Educação
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação

Falamos, normalmente, em Sistema Educacio- ção sem pensar em complexidade, mesmo


nal, Estrutura Educacional, Administração, Su- quando estamos falando da “Escola Situada”,
pervisão e Orientação Educacionais, Ciências como unidade mínima de análise: a sua esco-
da Educação, Técnicas Educacionais, etc., sem linha, a escola grande, a escola multisseriada,
levar em conta, muitas vezes, as implicações a escola pública e a escola privada. Complexo,
que cada termo acarreta. Ao pé da letra, essas é, também, o que vamos chamar de Referen-
palavras estão ligadas ao nosso dia-a-dia. Fa- ciais Teóricos para a Educação. Não podemos
lamos de Sistema, Estrutura, Administração, perder a dimensão do todo, mas não podemos
Orientação ou Técnicas vendo, sobretudo, ins- cair na tentação de desconhecer a especiali-
tituições, pessoas e cargos, prédios e re- dade. Daí falarmos em Ciências da Educação e
lações de poder; esquecemos o suporte cien- entendermos que é necessário sempre fazer
tífico que se coloca por trás de cada uma de- um Recorte Teórico para aproximar o nosso
las. Não se pode pensar em “sistema” sem “objeto de análise” das teorias. Com isso, esta-
que nos remetamos a um paradigma em edu- mos reunindo teorias específicas para aborda-
cação que está ligado à Teoria Sistêmica, na
gens específicas relacionadas com temas edu-
Sociologia. Como pensar em Estrutura sem
cacionais, com a escola ou com o sistema.
levar em conta o Funcional-Estruturalismo ou
mesmo o Estruturalismo, movimento teórico- Feito esse recorte teórico, ainda outro tem de
científico que se apóia na idéia de estrutura e, ser feito devido à diversidade teórica, aos di-
em ambos, como abordagens completamente versos enfoques, às diversas teorias que po-
diferenciadas uma da outra? dem ser aplicadas ao que queremos investigar.
Por isso é que a esse segundo Recorte Teórico
O que fazer diante disso? A primeira providên-
chamamos de MARCO TEÓRICO, a estaca en-
cia é reconhecer o lugar da teoria em tudo que
fiada em uma teoria ou conjuntos de teorias
se refere à Educação, saber fazer as distinções
aplicadas à educação, que se aproximam mui-
devidas, reconhecer que não existe prática des-
colada de teoria e que somente a reflexão e a to mais de nossa maneira de ver e analisar os
produção de conhecimento novo podem ilumi- fatos relacionados com a Educação e, por con-
nar nossa práxis. seguinte, com a Escola e o nosso tema.
O pesquisador não pode esquecer nunca que a
3.1 A ESCOLA COMO OBJETO DE ESTUDO Escola é a unidade discreta do sistema; que é,
A Escola é o palco das nossas relações. É a ba- também, ao mesmo tempo: “realidade objetiva”,
se do que se pode chamar de sistema, estru- aquilo que é, por si mesma, objeto dinâmico; e
tura ou função. É, portanto, a unidade mínima “mundo sensível”, onde ocorrem as relações
de análise do processo educativo. Para com- entre sujeitos em busca do conhecimento formal
preendê-la, precisamos do concurso de várias e patrimônio da humanidade. Por isso, se pen-
ciências e de todo o corpo de teorias que elas sarmos com Antonio Gramsci (1979), veremos,
produziram relacionado ou passível de apli- na Escola, o espaço de encontro do mundo
cação à investigação e ao desvendamento da social: se a escola é excludente (escola profis-
Escola e das suas relações com o todo, ou me- sionalizante para pobre e escola acadêmica
lhor, com o seu ambiente. A Educação é deve- para remediados e ricos), nada mais existe se-
dora da Filosofia (a mãe de todas as ciências) não a reprodução das desigualdades sociais,
e das Artes, da História, da Lógica, da Matemá- contra as quais os intelectuais (e nesse caso
tica, da Estatística, da Psicologia, da Sociolo- os professores) têm de lutar. O professor-pes-
gia, da Antropologia, da Política, da Economia, quisador-intelectual (tudo isso que o professor
da Administração, da Lingüística, da Semio- e professora devem ser ao mesmo tempo sem
logia, da Ergonomia, da Fonoaudiologia, para se colocar acima dos demais), como organi-
falar, apenas, daquelas ciências que estão bem zador da cultura, ajuda a preparar as gerações
mais perto do cotidiano da Escola. para viver o mundo.
Dessa forma, não podemos pensar em Educa- O campo de atuação do educador, como vi-

45
UEA – Licenciatura em Matemática

mos, é a Escola, que pode ser vista como: 3.2 OS ENFOQUES E A PESQUISA EM
mundo sensível, isto é, onde as coisas aconte- EDUCAÇÃO NO BRASIL
cem em decorrência das “relações sujeito x su- A partir da década de setenta, no Brasil, per-
jeito” (aqueles que colaboram para a apren- cebe-se uma acentuada ênfase na pesquisa
dizagem e os educandos); e, também, como
em Educação, até então observada com uma
“mundo objetivo”, isto é, onde as relações são
certa timidez ou até mesmo com um certo ceti-
fruto de mediação pautada em normas de con-
cismo. Com isso, não queremos dizer que es-
vivência, em regras e valores consagrados pe-
tivéssemos fora do debate científico, acadêmi-
la sociedade e pela cultura. Isso nos leva a ver
co e político na área de Educação. Os traba-
a Escola de duas maneiras distintas: na sua
lhos de Fernando de Azevedo, Lourenço Filho
dinâmica, enquanto feixe de relações entre su-
e Anísio Teixeira, lideranças que encabeçam o
jeitos; e como objeto de estudo, numa relação
Manifesto dos pioneiros da educação nova, de-
sujeito (o pesquisador) e objeto a ser pesqui-
fendendo o ensino laico, público e gratuito nos
sado (a Escola). Não se trata de aplicar aqui o
anos 30, colocam o país na agenda de discus-
conceito de senso comum, ou meramente ide-
são das questões educacionais.
ológico de “objeto”, mas o entendimento cien-
tífico de uma realidade que é exterior ao pes- São várias as iniciativas que propiciaram a in-
quisador e que por ele deve ser analisada sob trodução da pesquisa em educação ou mesmo
o critério metodológico da Ciência. o teste de seus resultados. Podemos citar: as
Essa relação sujeito x objeto não elimina as re- experiências pedagógicas introduzidas como
lações sujeito x sujeito, visto que estas são, em novidade no ensino; a criação de cursos de
última análise, o objeto de estudo do pesqui- nível superior para preparar professores; a pes-
sador no que se refere à Escola. Para ser mais quisa como suporte à ação pedagógica, bem
claro: o objeto é o artifício metodológico, e a como a adoção dos mais variados enfoques
subjetividade o objeto da investigação, uma teóricos disponíveis. Recentemente, os cursos
vez que não é possível separar o sujeito obje- de pós-graduação vêm ampliando ainda mais
tivo de sua subjetividade. O conjunto das rela- os espaços, o que torna o debate mais salutar.
ções subjetivas, analisado objetivamente pela Os enfoques mais presentes, portanto de maior
Ciência, permite a compreensão de totalidade, relevo, nas pesquisas em educação podem ser
mesmo em relação a uma unidade mínima de assim apresentados: o positivista, representa-
análise como é a Escola. A sistematização da do, predominantemente, pelo estrutural-funcio-
descoberta (dados objetivos + dados subje- nalismo; o da fenomenologia, também percebi-
tivos) leva-nos ao “desvelamento”, ou seja, à do como estrutural-hermenêutico; e o da di-
revelação explicativa dos fenômenos, naquilo alética na concepção estabelecida pela cor-
que eles podem ser explicados. E isso é teo-
rente de pensamento do materialismo histórico.
ria! Só assim poderemos compreender coisas
tão complexas quanto: relações de aprendiza- Todos esses enfoques e outros transitam no
gem; problemas e sucessos de aprendiza- campo da pesquisa científica com diferencia-
gem; convivência harmônica ou desarmônica ções, muitas vezes quase imperceptíveis, pois
entre categorias que integram o mundo da muitos trabalhos nem sempre são explícitos
Escola; participação e evasão escolar; em suas metodologias ou, às vezes, utilizam
qualificação e desqualificação do corpo recursos metodológicos que aproveitam mais
docente; gratificação, satisfação e crescimento de um enfoque. É importante notar que esses
pessoal; sentimento de exclusão; relações de- enfoques não se sucedem no tempo, eles con-
mocráticas e autocráticas de poder; senti- tinuam servindo de referencial teórico para as
mento de “pertencência” de pais, alunos, pro- pesquisas que vêm sendo produzidas, e o seu
fessores, pessoal de apoio e colaboradores na uso ou adoção depende muito do problema de
condução dos destinos da Escola. pesquisa levantado pelo pesquisador ou das
demandas em educação.

46
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação

3.3 A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE 1. O referencial estrutural-funcionalista tem suas


INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA limitações, principalmente na compreensão
O espaço de pesquisa mais promissor do pro- das relações intra-escolares pertinente às
fessor em formação, com certeza, é a sala de desigualdades sociais e à produção do fra-
aula, pois é precisamente nela que se manifes- casso escolar.
ta a diversidade de situações da relação pro- 2. A importância do estudo sobre os sujeitos
fessor-aluno. O professor, ao refletir sobre a sua da escola, das interações na sala de aula,
práxis cotidiana, de forma contextualizada, de-
inclusive quanto à formação dos profes-
monstra a sua inquietude, devendo buscar sub-
sores.
sídios para a sua formação profissional, por
meio da pesquisa. A produção científica sobre 3. O espaço dinâmico e dialético da sala de
as práticas pedagógicas envolvendo a sala de aula com as suas contradições e os seus
aula vem sendo reiterada na comunidade aca- conflitos pertinentes às relações de desi-
dêmica, substanciando a importância para esse gualdade social.
espaço de pesquisa em diversos campos do 4. A busca de apoio teórico na Antropologia
conhecimento. Trata-se de problematizar as si-
para as pesquisas sobre a sala de aula, de-
tuações reais para se buscarem bases teóricas
vido à complexidade em que se constitui o
e explicativas dos fenômenos da práxis peda-
seu cotidiano.
gógica. Conforme Oliveira (1993, p. 37):
5. A importância da sala de aula como objeto
As justificativas dessa importância e dessa ne-
de estudo da Didática.
cessidade focalizam uma série de fatores entre
os quais se destacam os referentes a aspectos Diante desses pressupostos, desde a década
teórico-metodológicos, nos âmbitos da pesquisa de 80, no Brasil, as pesquisas sobre a sala de
educacional e da formação de professores, e os aula têm sido baseadas, principalmente, nas
referentes à efetivação de inovações pedagó- matrizes conceitual-metodológicas, represen-
gicas e à possibilidade de utilização da escola e tadas pelos seguintes enfoques:
da sala de aula como um espaço de luta, numa
a) enfoque fenomenológico-hermenêutico;
perspectiva revolucionária de democratização
b) enfoque crítico-dialético;
da educação para as classes populares.
c) enfoque antropológico.
Outra característica pertinente à pesquisa da
sala de aula é a sua pluridisciplinaridade. O es- a) Enfoque fenomenológico-hermenêutico
paço de sala de aula não é simples, significan- Nesse enfoque, o objetivo maior consiste no
do que esse pode ser analisado por um enor- estudo dos atores que convivem na sala de
me campo disciplinar, seja pela Psicologia, aula, nas suas relações sociais, ou seja, com-
Didática, Sociologia, Antropologia, Matemática preende a realidade pedagógica na intera-
e até mesmo pela Lingüística. Todos contri- ção professor-alunos.
buem para as compreensões referentes ao co-
tidiano escolar e aos processos educacionais Oliveira (1993, p. 44) apresenta os aspectos
desse cotidiano. Tal perspectiva revela a com- pertinentes ao enfoque fenomenológico-her-
plexidade do espaço da sala de aula. A sala de menêutico:
aula também incorpora a dinâmica do cotidi- No processo do conhecimento, o enfoque
ano escolar. Isso significa que, além da intera- fenomenológico-hermenêutico acentua a in-
tividade existente entre professor e aluno, as tencionalidade e a experiência do sujeito,
situações que ocorrem nesse espaço são influ- que constrói símbolos e significados para
enciadas pela realidade escolar e social. comunicar e interpretar os eventos do dia-a-
1. Principais metodologias aplicadas ao dia. Por esse enfoque, busca-se, na pes-
estudo em sala de aula quisa, o desvelamento de pressupostos im-
Os estudos sobre a sala de aula, conforme plícitos a uma dada realidade, procurando-
Oliveira (1993), reportam-se aos seguintes se ultrapassar a aparência fenomênica do
pressupostos: real na captação de sua essência.

47
UEA – Licenciatura em Matemática

Pesquisar algo é desvendar o seu sentido; dendo as interações entre os sujeitos em


conhecer é compreender um fenômeno. Is- processos de ação-reflexão-ação. “Entre os
so significa que, nesse enfoque, se busca estudos sobre a sala de aula analisados,
descobrir as intenções, os interesses, en- dentro desse enfoque, situa-se a pesquisa
fim, os desejos dos atores envolvidos na de Mello (1982) [...] que alerta para as re-
realidade escolar. Trata-se da subjetividade lações entre a escolarização e as
desses atores. Nessa perspectiva, perten- condições de vida futura dos alunos das
cendo ao enfoque fenomenológico-herme- camadas populares [...] A pesquisa em
nêutico, muitas pesquisas adotam também pauta investigou as representações e ex-
o enfoque do interacionismo simbólico pectativas dos professores em relação a
para desvelar as interações entre os atores alunos de níveis socioeconômicos difer-
escolares. Tais pesquisas vêm contribuindo entes questionando os resultados dos es-
sensivelmente para a formação do profes- tudos que colocam nelas a explicação do
sor, já que investigam, por exemplo, as re- fracasso escolar, seja, as expectativas in-
gras informais da relação professor-aluno, duzidas experimentalmente, [...] sejam elas
que compreendem as negociações e inter- baseadas em fatores não induzidos – raça,
pretações desses atores. classe social, características físicas.”
O interacionismo simbólico tem suas bases (OLIVEIRA, 1993, p. 48).
teóricas na Universidade de Chicago, sen-
do elaborado desde a década de 30. Tal en- A pesquisa de Mello foi realizada por
foque é bem utilizado tanto na Psicologia meio de observações do dia-a-dia es-
Social quanto na Sociologia. Preocupa-se, colar, entrevistas e questionários em
essencialmente, em descobrir como funcio- quatro escolas públicas estaduais de
na a vida social. ensino fundamental em São Paulo,
O interacionismo simbólico utiliza-se princi- abrangendo 500 professores que lecio-
palmente da observação do pesquisador navam para a 1.a, 2.a e 5.a séries, em
em relação aos atores sociais da escola que os índices de repetência escolar
para descrever e analisar a interação pro- são os mais elevados.
fessor-aluno, considerando os aspectos físi-
cos, temporais, institucionais e educativos Essa pesquisa demonstrou que a com-
em que a interação ocorre, ou seja, na es- petência do professor é primordial para a
cola. Nesse tipo de pesquisa, o pesquisa- democratização do saber junto às classes
dor não pode interferir na realidade pes- populares, permitindo a possibilidade de
quisada; ele observa o cotidiano da sala de melhoria em suas condições de vida.
aula, descreve e analisa os dados coleta- c) Enfoque antropológico
dos por meio da observação.
O enfoque antropológico preocupa-se em
b) Enfoque crítico-dialético analisar o cotidiano da sala de aula em sua
No enfoque crítico-dialético, verifica-se a preo- totalidade. Contrapõe-se ao enfoque feno-
cupação de descobrir os conflitos de inte- menológico-hermenêutico e ao interacionis-
resse que existem no cotidiano escolar e mo simbólico por considerá-los limitados e
principalmente na sala de aula. Esta é com- reducionistas na análise crítica da realidade
preendida como um espaço de desigual- escolar, seja pela fragmentação das
dades sociais, contradições, confrontos e categorias que são preestabelecidas e arbi-
conflitos, intimamente relacionada com a trárias (podendo inclusive estar superadas),
realidade social. ou ainda pelos sistemas de interação cuja
Segundo esse enfoque, é importante co- maioria é a histórica.
nhecer a realidade em sua concretude, con- Esse enfoque expõe a fragilidade metodo-
textualizando-a historicamente, compreen- lógica do interacionismo simbólico e defen-

48
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação

de, metodologicamente, o uso da obser- desprovido de teoria. A segunda vertente de-


vação participante, observação assiste- fende uma etnografia contextualizada teorica-
mática e de outros instrumentos, como en- mente, desde o planejamento da pesquisa
trevistas, questionários e anotações de até a sua efetivação e interpretação da reali-
campo. Conforme Oliveira (1993, p. 50): dade estudada.
A pesquisa desenvolve-se tomando-se como As pesquisas realizadas em sala de aula apre-
dado-base a totalidade da situação observada, sentam também duas tendências: a nova etno-
que, progressivamente, vai sendo analisada na- grafia e a microetnografia.
queles aspectos que se forem salientando co-
“A nova etnografia, segundo Rockwell (1986),
mo mais relevantes. A preocupação básica não
salienta aspectos da ‘cultura escolar’, tais co-
é com a produção de dados normativos sobre
mo a classificação dos alunos pelos profes-
a situação geral da interação na sala de aula,
sores ou das situações escolares pelos profes-
mas sim, com a descrição e a compreensão
sores ou das situações escolares pelos alunos,
dos múltiplos significados presentes na dinâ-
lidando com a definição de cultura como [...]
mica de uma dada situação de sala de aula
competência cognoscitiva, ou seja, [...] aquilo
analisada.
que uma pessoa tem de saber ou crer para
Pertencendo ao enfoque antropológico, a etno- poder participar de determinado grupo social
grafia é bastante utilizada em pesquisas sobre
[...] Já a microetnografia enfatiza a análise de-
o cotidiano em sala de aula. No Brasil, o termo
talhada da interação que se dá nos eventos es-
etnografia tem sido utilizado de forma impre-
colares, lidando com as questões da interação
cisa, abrangendo quaisquer técnicas metodo-
verbal e não verbal, e os conceitos de currículo
lógicas inovadoras, o que é um equívoco, pois
oculto e do conflito cultural nas explicações do
a etnografia é um termo da Antropologia, cuja
processo de socialização e dos mecanismos
preocupação é conhecer as realidades sociais
de produção do fracasso escolar.” (OLIVEIRA,
e culturais peculiares em determinado espaço
1993, p. 50-51).
e tempo. A sala de aula é uma realidade pecu-
liar, única na escola, que, por meio da etno- A realidade escolar pesquisada por intermédio
grafia, pode ser pesquisada num determinado da etnografia envolve todos os sujeitos da es-
contexto temporal e espacial. cola e/ou da sala de aula; é uma metodologia
que busca uma radicalização do cotidiano es-
Teoricamente, a etnografia apresenta-se em
colar, investiga as formas de dominação e de
duas vertentes. A primeira fundamentada na
resistência na prática pedagógica.
antropologia funcionalista do início do século
XX, que compreende a etnografia como uma Tal realidade pesquisada é captada, contextua-
metodologia de coleta de dados descritivos, lizada historicamente e analisada por meio dos
cujo trabalho redacional-descritivo era instrumentos metodológicos da Antropologia.

49
UEA – Licenciatura em Matemática

Quadro Explicativo da Pesquisa Etnográfica Contextualizada em Educação.


Fonte: ANDRÉ, Marli E.D.A. de.Questões do cotidiano na escola de 1.o Grau. Série Idéias, n. 11. São Paulo: FDE, 1991.

Um exemplo de pesquisa usando a etnografia situação também diz respeito à maturidade do


seria a questão da motivação em sala de aula. pesquisador, pois as construções teórico-cien-
Será que a falta de motivação dos alunos em tíficas têm suas limitações e devem ser com-
relação a um determinado professor da 7.a sé- preendidas por quem as estuda.
rie seria uma forma de resistência dos alunos Nesse sentido, tanto uma postura quanto a ou-
ao autoritarismo do professor? Ou ainda, por
tra implicam um reducionismo da pesquisa em
que meus alunos estão desmotivados? Seria
sala de aula. O importante é encontrar uma
um comportamento de resistência a quê?
mediação entre os problemas da realidade e o
Para uma melhor visualização da pesquisa referencial teórico do pesquisador. O estudo
etnográfica contextualizada, segue um quadro da sala de aula, em muitos momentos, neces-
explicativo sobre ela. sitará de um ir e vir do pesquisador, tanto do
Um gravíssimo problema que ocorre com os ponto de vista empírico quanto do teórico. Isso
pesquisadores que possuem a sala de aula co- implica uma aproximação e um afastamento,
mo objeto de análise, não importando a meto- muitas vezes, irregular tanto da realidade quan-
dologia da pesquisa, está em dicotomizar a to do estudo teórico sobre a realidade que com-
práxis de pesquisa. Uns procuram nas teorias preende a sala de aula.
as categorias que se enquadrem na realidade
ou expliquem essa realidade, resolvendo os 2. As Técnicas de Pesquisas recorrentes em
problemas da sala de aula Outros se afastam Educação
da teoria e descrevem a realidade buscando Nossa intenção não é, de forma alguma, des-
somente as situações empíricas. crever e comentar as técnicas de pesquisa
Essa atitude do pesquisador talvez seja refle- mais usuais em Ciências Humanas e Sociais,
tida no momento em que muitas teorias não se mas apenas relembrar aspectos importantes
comunicam com a realidade pesquisada. Essa de algumas das técnicas mais recorrentes de

50
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação

pesquisa, a saber: o questionário, a entre- ( ) Menos de 1 salário mínimo.


vista, a observação. Trataremos aspectos rel- ( ) 1 a 3 salários mínimos.
evantes relacionados com a Estatística Des-
( ) 4 a 6 salários mínimos.
critiva e, no fim, faremos uma breve síntese
sobre a Pesquisa Qualitativa e as suas técni- ( ) 7 a 11 salários mínimos.
cas fundamentais. ( ) Mais de 11 salários mínimos.
1. O questionário Questões mistas
Instrumento ou programa de coleta de da- Ex.: Quem financia seus estudos?
dos. Você confecciona, mas o preenchimen- ( ) Pai ou mãe.
to deve ser realizado pelo informante. Para
( ) Outro parente.
facilitar o trabalho, siga as seguintes orien-
tações: ( ) Outra pessoa.

a) utilize linguagem simples e direta para que ( ) O próprio aluno.


o respondente compreenda, com clareza, o Outro:_____________.
que está sendo perguntado; 2. A entrevista
b) evite o uso de gírias; Antes de entrevistar alguém, tenha o cui-
c) se você entregar o questionário para o infor- dado de traçar um plano e evitar que infor-
mante devolver num outro momento, tenha mações importantes deixem de ser colhidas
o cuidado de fazer um pré-teste, num uni- no ato da entrevista.
verso reduzido, para que você possa corri- A entrevista exploratória é relativamente
gir eventuais erros de formulação, tais co- estruturada, isto é, pode sofrer alterações; a
mo: pergunta com dupla interpretação, per- de coleta de informações é altamente es-
gunta incompleta ou longa demais; truturada.

d) Os itens que devem estar contidos num Orientações:


questionário: a) Procure selecionar pessoas que real-
• Carta Explicação – Esclarece a proposta da mente tenham o conhecimento neces-
pesquisa, as instruções de preenchimento e sário para satisfazer as suas necessida-
de devolução, o incentivo para o preenchi- des de informação.
mento e o agradecimento. b) Prepare com antecedência as pergun-
tas a serem feitas ao entrevistado e a or-
• Itens de Identificação do Respondente –
dem em que elas devem acontecer.
Para que as respostas possam ter maior
significação, é interessante não identificar c) Tal como no questionário, procure re-
diretamente o respondente com perguntas alizar uma entrevista com alguém que
do tipo NOME, ENDEREÇO, TELEFONE, poderá fazer uma crítica de sua postura
etc., a não ser que haja extrema necessi- antes de encontrar-se com o entrevis-
tado de sua escolha.
dade.
d) Diante do entrevistado, estabeleça uma
• Itens sobre as questões a serem pesqui-
relação amistosa e não trave um debate
sadas – Formulário de itens sim-não,
de idéias.
certo-errado e verdadeiro-falso.
e) Não demonstre insegurança ou admi-
Ex.: Estuda? ( ) Sim ( ) Não
ração excessiva diante do entrevistado
Respostas livres, abertas ou curtas. para que isso não venha a prejudicar a
Ex.: Escola onde estuda: relação entre entrevistador e entrevis-
tado.
_______________________________________
f) Deixe que as questões surjam natural-
Formulário de múltipla escolha mente, evitando que a entrevista se tor-
Ex.: Renda Familiar: ne um “questionário oral”.

51
UEA – Licenciatura em Matemática

g) Entrevistas muito longas podem-se tor- instituição; são autênticos e deles não se
nar cansativas para o entrevistado; por- pode fazer uso sem autorização daqueles
tanto seja breve. que detêm a sua guarda. O pesquisador de-
h) Procure encorajar o entrevistado para ve ter todo o cuidado para não danificá-los
as respostas, evitando que ele se sinta e extrair deles todas as informações de
falando sozinho. forma fidedigna. São, ainda, documentos pri-
mários retrospectivos aqueles originais au-
i) Vá anotando as informações do entre-
tênticos feitos pelo autor, mas que se refe-
vistado, sem deixar que ele fique espe-
rem a coisas passadas: diários, autobiogra-
rando sua próxima indagação, enquan-
fias, relatório de visitas e de inspeção, de via-
to você escreve.
gem, etc. Quando o documento primário não
j) Caso use um gravador, não deixe de pe- é público, o seu uso só pode ser feito com
dir sua permissão para tal. Lembramos expressa autorização do autor, ou por es-
que o uso do gravador pode inibir o en- crito ou, pelo menos, frente a testemunhas.
trevistado.
Documentos secundários escritos são to-
l) Caso não tenha muita certeza de que as dos aqueles que foram transcritos de docu-
suas anotações de algumas respostas mentos primários por terceiros, cópias re-
do entrevistado estão corretas, volte a prográficas ou de qualquer natureza e, por
conversar com ele para evitar dúvidas. isso, não têm o mesmo valor daqueles clas-
m) Se a entrevista não for gravada, e o en- sificados como primários. Documentos não-
trevistado solicitar rever as suas ano- escritos (fotografias, mapas, filmes, fitas
tações, não negue esse direito, lembre- magnéticas, CDs e artefatos diversos) tam-
se de que ele poderá proibi-lo de fazer bém podem ser classificados como docu-
uso de suas idéias ou respostas. mentos primários ou secundários, confor-
me a sua natureza e, quando primários, so-
n) Não se esqueça de agradecer ao entre-
bretudo podem ser de grande valia para o
vistado a contribuição que estará dando
pesquisador.
ao seu trabalho, seja quem for, do mais
importante ao mais humilde. Para retratar a Educação em seu município,
recorra ao Arquivo Municipal, se houver. Re-
o) Imediatamente após a entrevista, faça um
corra aos arquivos da Prefeitura, da Câmara
breve relato, no qual você registre as rea-
Municipal e, sobretudo, da própria Escola.
ções do entrevistado que mais chama-
Recorra a pessoas que tenham fotografias
ram a atenção; isso pode ser muito im-
de festas, formaturas, reuniões. Recorra ao
portante para apuração de dados.
livro de atas e aos históricos escolares dos
3. A pesquisa documental alunos, aos planos de aula, aos estatutos e
Quando a fonte de informações de uma regimentos de escola e às escrituras e às
pesquisa centra-se fundamentalmente em plantas que tratem da construção original e
documentos escritos (ou não), dizemos que das reformas da escola, se houver.
ela é uma Pesquisa Documental. Advirta-se
4. A observação
que trabalhar com documentos não é tão
fácil como se possa pensar. Documentos Técnica de coleta de material em que o pes-
podem ser caracterizados como PRIMÁ- quisador, antes de iniciar o processo, deve
RIOS e SECUNDÁRIOS. Os primários escri- ter bem claro que tipo de situações merece-
tos, quando contemporâneos, constituem- rão registros. Deve estar preparado para o
se de: documentos públicos parlamentares, registro de fenômenos que surjam durante
administrativos e jurídicos, censos estatísti- a observação, que não eram esperados no
cos, atas de fundações de associações, grê- seu planejamento.
mios, firmas, fundações, encontráveis nos Para realizar registros iconográficos (foto-
arquivos públicos gerais ou no da própria grafias, filmes, vídeos, etc.), caso o objeto

52
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação

de sua observação sejam indivíduos ou gru- h) Observação em laboratório – É feita


pos de pessoas, prepare-os para tal ação. com plano de controle e registro de to-
Eles não devem ser pegados de surpresa. das as observações, com indução e
teste de resultados. É pouco usual em
Constitui crime fazer uso de métodos escu-
Ciências Humanas e Sociais.
sos de observação e registro para obtenção
de dados sobre pessoas, grupos ou institui- 5. A estatística descritiva (noções)
ções. Muito cuidado quando se tratar de População e amostra
menores de idade (crianças e adolescen- O objetivo de toda a investigação científica
tes). Mesmo que autorizadas por respon- é propor generalizações. Todavia, como nor-
sáveis, é exigida, ainda, autorização do juiz malmente não é possível analisar a popula-
da infância e da juventude (ou da autorida- ção por inteiro, lança-se mão dos proce-
de correspondente) para que o pesquisa- dimentos de amostragem, cujas técnicas de-
dor possa realizar o seu trabalho de obser- vem ter condições de representar adequa-
vação e usar as informações colhidas, em damente a população de onde se originou.
casos especiais. Somente a partir de uma amostra represen-
tativa de uma população é que se podem
Quando descrever dados relativos a situa-
generalizar resultados.
ções observadas que envolvam a intimida-
População ou universo – É qualquer con-
de ou a honra pessoal, deve-se ter o cuida-
junto de informações que tenham entre si
do de preservação das fontes.
uma CARACTERÍSTICA COMUM. Exemplo:
Marconi e Lakatos (2002, p. 88-92) fazem a o conjunto de TODAS as estaturas de uma
seguinte classificação e definição de termos determinada comunidade constitui uma po-
sobre a Observação como técnica de pes- pulação de estaturas; o conjunto de TO-
quisa: DOS os pesos constitui uma população de
pesos; o conjunto de TODAS as cores de
a) Observação assistemática – Não es-
olhos constitui uma população de cores
truturada, espontânea, informal, livre,
de olhos. Enquanto que a “amostra, basi-
ocasional.
camente constitui uma redução da popu-
b) Observação sistemática – Estruturada, lação a dimensões menores, sem perda
planejada, controlada. das características essenciais.” (COSTA,
c) Observação não-participante – O pes- 1998, p. 25-26) Uma amostra, para ser
BOA, tem de ser representativa, ou seja,
quisador entra em contato com a co-
deve conter EM PROPORÇÃO tudo o que a
munidade ou grupo, mas não se inte-
população possui QUALITATIVA e QUANTI-
gra a eles.
TATIVAMENTE. E tem de ser IMPARCIAL,
d) Observação participante – Consiste na isto é, todos os elementos da população
participação integral, real e efetiva do devem ter IGUAL OPORTUNIDADE de fazer
pesquisador como um igual, confundin- parte da amostra.
do-se com o grupo ou a comunidade Tipos de amostra – São duas as formas
objeto da observação. correntes de se classificarem os tipos de
e) Observação individual – Aquela reali- amostra: probabilísticas ou aleatórias e
zada por um único pesquisador. amostras não-probabilísticas.

f) Observação em equipe – Proporciona Amostras probabilísticas ou aleatórias –


No tipo de amostra probabilística ou alea-
a observação das ocorrências por vá-
tória, cumprimos o princípio da equiproba-
rios ângulos.
bilidade. Isso significa que, na composição
g) Observação na vida real – Observa- de uma amostra deste tipo, todos os indiví-
ções feitas no ambiente real, regis- duos da população têm a mesma probabili-
trando-se os dados tal como vão ocor- dade de serem selecionados (para compor
rendo. a amostra).

53
UEA – Licenciatura em Matemática

A amostragem probalística pode-se apre- No que se refere à amostra não-probabilís-


sentar de várias formas, dentre elas: aleató- tica, apresentamos as formas mais utiliza-
ria simples; aleatória sistemática; estratifica- das no âmbito da pesquisa: amostra aci-
da proporcional. dental, amostra por cotas, amostra intencio-
No que diz respeito à amostragem proba- nal e amostra voluntária.
bilística, trataremos exclusivamente sobre a No âmbito da amostra não-probalística, evi-
aleatória simples, já que ela é a mais utili- denciaremos apenas dois tipos: amostra in-
zada no âmbito das Ciências Humanas. tencional e amostra voluntária.
Amostra aleatória simples – É o mais co- Amostra intencional – Caracteriza-se pelo
nhecido modelo de amostragem, bem co- emprego de critérios previamente definidos
mo aquele que atinge o maior rigor cientí- e por um esforço deliberado para se obte-
fico. rem amostras representativas mediante a in-
Sua principal característica é a garantia de clusão de áreas típicas ou grupos suposta-
que cada indivíduo da população tem a mente capazes de fornecer as informações
mesma oportunidade de ser selecionado necessárias à investigação.
para compor a amostra. Trata-se, portanto, Na amostragem intencional, como se refere
de um sorteio por meio do qual podemos a própria nomenclatura, o pesquisador está
escolher os sujeitos várias vezes – processo interessado no comportamento de determi-
com reposição – ou apenas uma vez – pro- nados sujeitos da população, sujeitos que,
cesso sem reposição. possivelmente pela situação que desfrutam
na comunidade investigada, sejam capazes
de fornecer os dados que o investigador
Exemplo – Vamos supor que preten-
procura.
dêssemos analisar o peso corporal em
escolares de 7 a 14 anos, matriculados Exemplo – Vamos imaginar que um pesqui-
nas escolas municipais de Manaus. sador queira delinear o perfil de opiniões
Nesse caso, para delinear uma amos- sobre a extinção da obrigatoriedade das
tragem aleatória simples, necessitaría- aulas de educação física nos currículos es-
mos obter uma lista completa de to- colares. Optando pela técnica de amostra-
dos os estudantes de 7 a 14 anos ma- gem do tipo intencional, o pesquisador po-
triculados na rede municipal de ensino deria selecionar diretores das faculdades
de Manaus e, dessa lista, completa- de educação física, diretores de escolas de
mente ao azar (por sorteio ou com o ensino fundamental e ensino médio, diri-
uso da tabela de números aleatórios), gentes de associações de profissionais da
a partir de uma quantidade numerica- educação física, coordenadores de comis-
mente representativa da população (a são de pais e mestres, centro estudantis,
definição do tamanho da amostra será etc. Como se pode observar, nessa técnica
tratado à frente), comporíamos a nos- de amostragem o pesquisador não se diri-
sa amostra. ge à população em geral, mas opta por
selecionar aqueles que, segundo seu en-
Amostras não-probabilísticas - A principal tendimento, exercem as funções de líderes
característica da amostragem não-proba- de opinião na comunidade, no pressuposto
bilística é que ao não utilizar o critério da de que tais sujeitos sejam capazes de influ-
equiprobabilidade torna impossível a apli- enciar o conjunto de seus cidadãos.
cação de técnicas estatísticas para determi- Amostra voluntária – Esse tipo de técnica
nar inferências. No entanto, embora tais lim- é utilizado nas pesquisas em que a experi-
itações sejam relevantes, a adoção de téc- mentação possa ser potencialmente incô-
nicas de amostragens não-probabilísticas moda, dolorosa ou, em casos-limite, até
são necessárias e, muita vezes, inevitáveis. mesmo perigosa. Normalmente, nesses ca-

54
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação

sos, o investigador relata publicamente su- • O tamanho da população a ser amos-


as intenções, seus objetivos e estimula a trada.
participação voluntária em seu estudo. • Os parâmetros a ser estimados (objeti-
Tamanho da amostra – Como refere Ker- vos).
linger (1975, p. 90), em regra geral, o con-
• A análise do questionário ou do roteiro
selho útil aos alunos iniciantes em investi-
da entrevista e a escolha de qual ou quais
gação no que confere ao tamanho da amos-
as variáveis mais importantes, conside-
tra é: “empregar amostras maiores possí-
rando-se os objetivos da pesquisa.
veis.” Embora Kerlinger demonstre, estatis-
ticamente, a correção de sua afirmação, ob- • A definição da Unidade Amostral (os
viamente essa não é a resposta mais ade- alunos de 1.a a 4.a, os alunos com idade
quada. igual ou menor que 5 anos, os alunos
evadidos no ano X, ...).
O tamanho de uma amostra deve ser di-
mensionado em função da dispersão exis- • A definição da forma de seleção dos ele-
tente nos dados amostrais da variável que mentos da população.
se está estudando. Para isso, pode ser • A verificação do(s) tipo(s) da(s) variá-
necessária a coleta de uma amostra-piloto. vel(eis).
Em termos de uma amostra, tamanho não é 6. O tratamento e a apresentação de dados
documento. Muito mais importante é a re- qualitativos
presentatividade da amostra considerando-
Para início de conversa, a Pesquisa Qualita-
se o tamanho da população.
tiva não pode ser entendida como superior
Se a amostra não for representativa, po- ou inferior a outras metodologias de investi-
der-se-á realizar um estudo estatístico acer-
gação científica. Não vale, também, a idéia
ca dos valores amostrais, mas será impos-
errônea de que seja uma simplificação gros-
sível estender as conclusões desse estudo
seira do empirismo. Sob essa rubrica, abri-
para os valores populacionais.
gam-se experiências metodológicas das
Uma prática bastante arraigada indica que, mais variadas que se foram aperfeiçoando
para ser representativa, uma amostra deve e se adaptando às várias situações. É pos-
ter 10% da população. Ora, uma amostra sível situar a etnometodologia, a história de
de 10% da população não é “automatica- vida, a pesquisa-ação (esta usando varia-
mente” representativa só porque possui es- das técnicas de pesquisa ou método de
se tamanho. procedimento), o método clínico, a herme-
Se o perfil dessa amostra for totalmente di- nêutica, a análise de conteúdo, a análise
ferente do perfil populacional, naquilo que semiológica (esta última muito usada nos
é importante para o comportamento da estudos culturais, nas artes e, até, na medi-
variável aleatória em estudo, ela poderá cina). São experiências bem-sucedidas pa-
englobar até mais do que 10% da popu- ra buscar o desvelamento dos fenômenos,
lação, mas simplesmente não será repre- desde que bem aplicadas aos tipos de
sentativa. temas e problemáticas a que se prestam.
Como o cálculo do tamanho de amostra re- Bogdan e Biklen (1994) apontam as carac-
quer conceitos mais avançados que não se- terísticas principais da investigação qualita-
rão aqui abordados, considerando-se o ob- tiva:
jetivo introdutório da disciplina, no que diz
a) A fonte direta dos dados é o ambiente
respeito às técnicas estatísticas, recomen-
natural, constituindo o investigador o ins-
damos a procura de um profissional da área
trumento principal – o investigador as-
para a obtenção de tal informação.
sume um papel preponderante no pro-
Para tal cálculo, é necessário considerar: cesso de elucidação das questões levan-
• A definição dos objetivos da pesquisa. tadas pela pesquisa, pois está sempre

55
UEA – Licenciatura em Matemática

muito preocupado com o contexto e com A pesquisa qualitativa está em voga nas hu-
o acontecer, dentro da dinâmica que os manidades, sobretudo na área de educação,
próprios fenômenos contêm. pois se presta para análise dos problemas
b) A investigação qualitativa é descritiva – educacionais em nível micro (a sala de aula, as
os seus dados são transcrições de de- relações professor-aluno-professor, as relações
poimentos, histórias, relatos, fotografias, de poder em pequenas instituições, as ques-
vídeos, documentos pessoais, registros tões de aprendizagem, as questões familiares
oficiais; nada é trivial, tudo interessa: um relacionadas com a escola, as questões de gê-
gesto, um olhar, um documento, os da- nero na educação, etc). Os problemas decor-
dos – tudo possui um significado. rentes do uso da pesquisa qualitativa residem
no fato de ser a apuração dos dados muito de-
c) Os investigadores interessam-se mais pe-
morada, os procedimentos não são estandar-
lo processo do que simplesmente pelos
dizados, os resultados não se prestam à gene-
resultados ou produtos – nesse particu-
ralização e não podem ser submetidos a pro-
lar, os questionamentos são fundamen-
vas rigorosas ou repetidos. A Pesquisa Qualita-
tais para entender o processo, o curso
tiva não deve ser usada para estudos com
do acontecer dos fatos, os seus desdo-
grande população.
bramentos, as suas conexões com as
múltiplas realidades e, por isso, esse tipo
3.4 AS ABORDAGENS DE PESQUISA E OS
de pesquisa tem sido particularmente útil
NÍVEIS DE COERÊNCIA INTERNA
à educação, por ser esta um fenômeno
dinâmico, complexo e que comporta uma É pertinente um novo contato com as aborda-
ação processual de constante interven- gens de pesquisa no momento em que há a
ção. “As técnicas quantitativas conse- operacionalização mais efetiva da prática da
guiram demonstrar, recorrendo a pré e pesquisa, assim como há um esforço de sis-
pós-testes, que as mudanças aconte- tematização dos dados coletados por meio de
cem. As estratégias qualificativas paten- um relatório. Com certeza, há algumas inda-
tearam o modo como as expectativas se gações acerca desse processo, que não é tão
traduzem nas atividades, procedimentos fácil e que percorre caminhos muitas vezes tor-
e interações diários.” (BOGDAN; BIKLEN, tuosos, por assim afirmar, complexos.
1994, p. 49). Por mais que haja um certo planejamento para
d) Os pesquisadores qualitativos tendem a uma direção mais racional da pesquisa, é co-
analisar os seus dados de forma indutiva mum vermos pesquisadores perderem-se na
– não trabalham com hipóteses; as abs- sua operacionalização mais efetiva, seja pela
trações surgem da interpretação dos da- falta de clareza em relação ao objeto a ser in-
dos investigados; eles não estão preocu- vestigado, seja pela insipiência de informações
pados com a generalização, pois os fa- acerca do complexo significado da pesquisa.
tos, a classe de fatos ou conjunto de As teorias que trabalham a metodologia da
fenômenos entrelaçados comportam expli- pesquisa fornecem embasamento reflexivo so-
cações exclusivas. bre as conceituações e certas operacionaliza-
e) O significado é de importância vital na ções e experiências da pesquisa; no entanto
abordagem qualitativa – o interesse maior não servem como modelos prontos ou recei-
é saber o modo como diferentes pessoas tuários, o que muitos alunos-pesquisadores de-
dão sentido às suas vidas. “O processo sejam encontrar: uma única linha condutora da
de condução da investigação qualitativa pesquisa, com os passos desenhados de es-
reflete uma espécie de diálogo entre os paços milimetrados, sem erros, sem recuos,
investigadores e os respectivos sujeitos, sem retrocessos, enfim, sem retornos à refle-
dado estes não serem abordados por xão da ação do investigador.
aqueles de uma forma neutra.” (BOG- Essa perspectiva imersa na mente dos
DAN; BIKLEN, 1994, p. 51) alunos-pesquisadores talvez seja o que mais

56
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação

os disperse no planejamento e na opera- tores, podem-se estruturar quadros explicati-


cionalização da pesquisa, o que fornece uma vos das abordagens de pesquisa, os quais po-
teia de preocupações entre as reflexões e os dem servir como instrumento mediador para a
caminhos a serem percorridos no processo práxis da pesquisa científica, saber:
de sistematização. 1. Nível Técnico – Em que estão compreendi-
Ao refletir sobre as abordagens de pesquisa, dos os processos de coleta e de registros e
por mais que didaticamente esclarecidas, elas toda a parte inerente ao tratamento dos da-
fornecem não um enquadramento, mas a pos- dos.
sibilidade mediadora da práxis da pesquisa, o 2. Nível Teórico – Em que se encontram a
que também pressupõe a práxis da realidade análise dos teóricos e os documentos a
educacional. serem pesquisados.
Gamboa (2000, p.73) confirma o que já foi dito 3. Nível Epistemológico – Em que se abor-
anteriormente, referente aos passos e às técni- dam os critérios de cientificidade, tendo em
cas da pesquisa como reflexão necessária do vista as concepções de ciência.
aluno-pesquisador: “o esquema paradigmático,
Esses níveis se inter-relacionam com os pres-
levando em conta essas colocações, apesar
supostos gnoseológicos e ontológicos:
das restrições próprias de todo instrumento,
serve como mediação para articular os diver- 1. Ontológicos – Referem-se à conceituação,
sos elementos implícitos nos textos das investi- ou seja, à visão de homem, de sociedade,
gações e para confirmar a necessidade de lo- de educação, de mundo a que pertence
calizar as técnicas no interior dos métodos, todo o desenvolvimento da pesquisa e a
com esses, por sua vez, inseridos nos modelos sua sistematização.
científicos [...] Além da reconstrução da lógica 2. Gnoseológicos – “Correspondem às ma-
de cada modelo ou tendência, requer-se tam- neiras de tratar o real, o abstrato e o con-
bém compreender o processo de construção creto no processo de pesquisa científica; o
dos próprios modelos; para isso, é preciso le- que implica diversos modos de abstrair,
var em conta os fatores históricos que determi- conceitualizar, classificar e formalizar, isto é,
nam a produção científica”. várias formas de relacionar o sujeito e o ob-
Essas reflexões necessitam de uma referência jeto da pesquisa que se refiram aos critérios
inicial aos fundamentos das abordagens de sobre a ‘construção do objeto’ no processo
pesquisa. Retornar a esses fundamentos pro- de conhecimento.” (GAMBOA, 2000, p. 71)
porciona a solução das dúvidas e das proble- Ao apresentar os quadros explicativos mais
matizações que ocorrem no desenvolvimento detalhadamente, espera-se que eles sirvam
da pesquisa. de apoio técnico-científico no prosseguimen-
Gamboa (2000, p. 69) denomina a racionaliza- to da pesquisa educacional, no processo
ção das abordagens da pesquisa como esque- de reflexão à prática da pesquisa e à mono-
ma paradigmático, em que o paradigma é con- grafia a ser elaborada pelo professor-pes-
ceituado “como uma lógica reconstituída, de quisador.
maneira a ver, decifrar e analisar a realidade”.
Tanto Gamboa (2000) como Fazenda (1997) or-
ganizam as abordagens de pesquisa em níveis
e pressupostos. Há três principais níveis que se
articulam pelos pressupostos gnoseológicos e
ontológicos. Fazenda (1997) articula esses
níveis e pressupostos por intermédio das três
principais abordagens de pesquisa:
Empírico-analíticas; Fenomenológica-hermenêu-
tica; e Crítico-Dialética. Com base nesses au-

57
UNIDADE IV
Fazendo o Projeto de Pesquisa
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Fazendo o Projeto de Pesquisa

Nada ou muito pouco pode ser feito sem pla- pesquisador profissional formula projeto de pes-
nejamento. Em pesquisa, essa máxima é indis- quisa, executa-o e apresenta resultados em
pensável, sobretudo se a consideramos com fi- forma de Relatório de Pesquisa, que receberá
nalidade acadêmico-científica. o tratamento determinado pela instituição que
Essa atividade envolve considerável capacida- o patrocina, ou ainda cairá no circuito da di-
de de domínio das teorias da área, capacidade fusão científica dos resultados, para discussão
de percepção dos fenômenos, argúcia para in- dos pares, na forma de artigos científicos ou de
vestigar os fatos por meio de técnicas apropria- comunicações em Congressos.
das, capacidade de abstração, bom senso e O pesquisador acadêmico tem uma outra tra-
senso de organização para saber lidar com os jetória, visto que o propósito de sua pesquisa
achados e, assim, obter os resultados espera- relaciona-se com o aprendizado de pesqui-
dos ou, até mesmo, resultados inusitados. sador, com a argüição de competência por es-
O desenho mental de uma pesquisa, isto é, a pecialistas no assunto ou área de estudo, com
imagem ou a configuração mental de uma in- a publicidade dos achados e com a obtenção
vestigação científica antecede a materialização de título acadêmico sob prova cabal de com-
efetiva que se dá por meio do Projeto de Pes- petência.
quisa. Significa dizer que, em nosso cérebro, Portanto pesquisar com objetivos acadêmico-
em decorrência de nossas experiências e do científicos implica incluir no planejamento as
aprendizado acumulado, somos capazes de etapas adicionais no processo de pesquisa,
idealizar um conjunto de procedimentos que que são:
torna possível vislumbrar um esboço do que a) submeter-se a uma área de estudo ou de
desejamos fazer para encontrar o que alme- concentração e a uma linha de pesquisa;
jamos. Nem todos conseguem formulações
b) submeter-se a uma relação institucional, me-
lógicas precisas, mas todos são capazes de
diada por um orientador;
idealizar, pensar logicamente, ordenar a se-
qüência dos fatos pensados e refletir sobre a c) apresentar e aprovar projeto de pesquisa
sua exeqüibilidade. como requisito de qualificação para ir a
campo, investigar e levantar dados;
Pesquisar é conhecer, em profundidade, um as-
sunto, é identificar as relações daquilo que se d) demonstrar conhecimento teórico sobre a
torna objeto de investigação com o contexto área de estudo;
em que acontece e as implicações do aconte- e) demonstrar conhecimento das regras bási-
cer. Pesquisar é sujeitar-se ao rigor do método cas do discurso da ciência para formular e
para obter o conhecimento preciso. As técni- expressar com clareza o pensamento;
cas de pesquisa são instrumentos que auxiliam
f) produzir resultados de pesquisa compatí-
o caminhar em busca da prova, do resultado,
veis com o grau ou título acadêmico dese-
da descrição objetiva dos fenômenos, dos fa-
jado (Monografia, Dissertação ou Tese);
tos, dos acontecimentos. Os resultados obti-
dos são achados que confirmam, refutam ou g) submeter-se a exame público perante ban-
ratificam os conhecimentos já obtidos sobre os ca examinadora para defender o trabalho
fenômenos, sobre os fatos, sobre os aconteci- acadêmico-científico produzido;
mentos. h) sujeitar-se a incorporar as modificações exi-
Por isso, reforçam teorias, destroem teorias ou gidas pela banca examinadora, quando as-
transformam-se em novas teorias. Quando es- sim permitir a instituição onde defende o
ses achados repercutem sobre diversos cam- trabalho;
pos do saber, tornam-se paradigmáticos. i) apresentar, em tempo hábil, a versão final
Depois do desenho mental, da consciência do do trabalho, dentro das normas institucio-
rigor que reveste a pesquisa científica, é hora nais.
de materializar o planejamento da pesquisa. O Por isso, um Projeto de Pesquisa visando à

61
UEA – Licenciatura em Matemática

obtenção do Título de Graduado, Mestre ou lógicos do discurso acadêmico: enunci-


Doutor deve cingir-se de alguns cuidados já ação do problema, sua contextualização
em seu nascedouro. Só para antecipar um e formulação das questões a investigar
pouquinho, as fases e exigências expostas (também chamadas questões norteadoras
acima, quase todas, vão-se constituir, no fim ou simplesmente questionamentos). Se
do projeto de pesquisa proposto, no crono- você já limitou o tema, o problema circuns-
grama de execução que se estende da feitura crito ao que já foi delimitado deve, também,
do projeto de pesquisa até o depósito da ver- apresentar: viabilidade de resolução por
são final, para requerer a concessão do título. meio da pesquisa; ter relevância, isto é,
contribuir, se solucionado, para conheci-
O que deve conter, então, um Projeto de Pes-
mentos novos; conter elementos de cu-
quisa Acadêmico-científico?
riosidade ou novidade, pois você não de-
a) Tema e delimitação – Devem estar, obriga- ve propor-se a inventar a roda; ter um
toriamente, relacionados com a área de es- recorte por meio da delimitação que per-
tudos do curso, levando em conta, ainda, a mita a exeqüibilidade, isto é, que o pes-
área de concentração e a linha de pesquisa quisador tenha condições de ir até o fim da
a que se filiará. Respeitadas essas exigên- pesquisa, pois de nada adianta levantar um
cias, o tema nasce de uma inquietação, de “problemão” e depois não ter condições de
uma curiosidade, de uma relação com os ir até o fim da pesquisa; conter elementos
objetos de estudo que compreendem a de interesse, sejam eles de caráter geral ou
área de atuação do pesquisador e que ne- específico.
cessita de um olhar mais aprofundado. Du-
Pense em pelo menos um parágrafo para
as questões devem ser aplicadas ao tema
cada item, a fim de que possa comportar a
escolhido: qual a relevância para a ciência e
descrição completa do problema; evite
quais as possibilidades que o investigador
aquelas enunciações que nada revelam
terá para abordar, cientificamente, o tema
quando contidas em duas linhas escritas.
escolhido?
A enunciação é objetiva e direta. A contex-
Desse modo, ao responder a tais questões,
tualização deve ser um breve apanhado
o pesquisador firma o compromisso com a
que situe o problema dentro da área de in-
temática e faz a delimitação necessária, isto
vestigação para evidenciar que, apesar dos
é, aponta os limites de sua investigação.
trabalhos anteriores ou dos esforços de ou-
Não se deve confundir tema com título. Eles tros pesquisadores, o problema que você
podem até coincidir, mas não necessaria- levantou ainda não teve a solução que se
mente. É possível uma tese ou dissertação considere a mais adequada. Pode até citar
até receber um título mais sucinto, e o tema alguns trabalhos, mas evite ser extenso, pois
ser mais extenso, contendo a delimitação. terá oportunidade de voltar ao assunto quan-
b) Problema de Pesquisa (ou simplesmente do da Revisão de Literatura, que explicare-
Problema) – O problema é um problema, mos mais adiante. Lembre sempre que o
mas um problema de pesquisa, como todo projeto de pesquisa comporta certa dose
problema, precisa ser resolvido; por ser um de tautologia, pois sempre estamos vol-
problema de pesquisa, deve ser resolvido tando, em cada item do projeto, a situações
com pesquisa. Todo problema tem um nível anteriores para explicar ou explicitar as par-
de complexidade que precisa ser levado ticularidades. As questões a investigar cer-
em consideração e explicitado. Apesar de cam o problema de forma exaustiva, mas
alguns autores recomendarem o seu enun- lembre-se de que cada questão levantada
ciado na forma de questão ou questões, em torna-se um compromisso de busca de res-
Ciências Humanas isso não parece razoável posta adequada para ela.
ou suficiente. A recomendação mais plau- c) Definição de termos – Refere-se à tentativa
sível é a de que se devam seguir os ditames de definir os termos, isto é, as palavras que

62
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Fazendo o Projeto de Pesquisa

estão imediatamente ligadas ao tema e ao gia, deve acercar-se dos conselhos de um


problema levantados. Por que devemos de- estatístico para construir corretamente a sua
finir os nossos termos logo no início do pro- hipótese, pois, se envolver mensurações,
jeto? Assim fazendo, os examinadores, os necessariamente, as variáveis nela já deve-
interessados ou leigos saberão, imediata- rão estar contidas. Em trabalhos que não
mente, o significado dos termos emprega- tomarão os métodos e as técnicas ligadas à
dos, pois eles podem ter sentido corri- estatística, a hipótese é dispensável. É co-
queiro, usual, mas podem também conter mum, até para evitar que julgadores que
um outro significado a que chamamos, em não tenham essa compreensão cobrem a
pesquisa, de conceito operacional, isto é, ausência deste item no projeto, que se for-
eles operam de forma específica quando mule o que se convencionou chamar de
empregados em nosso trabalho; eles se tor- Hipótese de Trabalho: uma proposição
nam um conceito por agregar significados que antecipa o resultado de solução do
que ajudam a explicar a problemática pro- problema, na forma esperada pelo pesqui-
posta. Em cada área de conhecimento, as sador, sem, contudo, comprometer-se com
palavras, quando erigidas à condição de a quantificação e a mensuração de dados
conceitos operacionais, tomam significa- de realidade.
dos diferentes. Não exagere, defina o estri-
f) Objetivos (geral e específicos) – Existe
tamente necessário.
apenas um Objetivo Geral. Os Objetivos
d) Justificativa – Nem todos os metodólogos Específicos serão tantos quantos o pes-
incluem esse item como obrigatório no pro- quisador achar necessários. Como desdo-
jeto, uma vez que, desde a formulação do bramento do Objetivo Geral, recomenda-se
problema, já se vem evidenciando a im- que os Objetivos Específicos sejam dispos-
portância da investigação. No entanto não é tos na ordem lógica do processo de investi-
demais reforçar os aspectos de relevância gação e cronologicamente ordenados. O
do trabalho do cientista. Deve- se aproveitar que significa isso? Não se analisam os da-
este espaço para que o pesquisador afirme, dos antes de levantá-los, não se levantam
categoricamente, que está preparado para dados antes de ter uma compreensão das
levar adiante o seu trabalho e que tem, por- teorias que subsidiarão a análise dos dados
tanto, afinidades com o tema de investi- levantados. Sugere-se, ainda, que cada ob-
gação proposto; deve, em poucas linhas, jetivo específico esteja ligado a um dos ca-
chamar a atenção para a relevância teórica pítulos contidos no plano da dissertação ou
de sua investigação, pois a cada pesquisa estudo. O Objetivo Geral é a alma do traba-
estamos sempre mostrando, antes de co- lho e deve estar coerentemente de acordo
meçá-la, o estado da arte em nossa área de com o tema, o problema, a hipótese (se
estudo; deve, ainda, ressaltar a relevância houver) e influenciará até na escolha do
prática dos resultados advindos do trabalho método de abordagem, do método de pro-
em questão. cedimento e das técnicas de coleta de da-
e) Hipótese – É uma proposição provisória dos. Se eu estou propondo fazer um estudo
que deve antecipar os resultados a serem comparativo entre teorias, já estou predi-
perseguidos com a investigação; tem a fina- zendo que usarei a pesquisa bibliográfica, o
lidade de guiar a busca objetiva, ordenada método de abordagem dedutivo e o méto-
e logicamente construída dos dados, ne- do de procedimento comparativo. Os obje-
cessários à comprovação do que se anun- tivos são formulados iniciando com verbos
cia antecipadamente. A hipótese só é obri- no infinitivo. Dentre os mais usados temos:
gatória quando a pesquisa se respaldar em estudar, analisar, compreender, questionar,
métodos de investigação que se apóiem comparar, introduzir, elucidar, explicar, con-
em técnicas estatísticas. Nesse caso, o inves- trastar, discutir, apresentar, etc. Assim como
tigador, se não dominar bem essa metodolo- os questionamentos e a hipótese, os obje-

63
UEA – Licenciatura em Matemática

tivos também implicam compromissos do rece do contato do pesquisador com objeto


pesquisador firmados no projeto, portanto de estudo e expressado em sua problemati-
só formule os objetivos que você almeja e zação. O Marco Teórico é a teoria ou o con-
tem condições de alcançar com a realiza- junto de teorias, com coerência e consis-
ção do trabalho de pesquisa. tência, dentre as várias expostas ou citadas
pelo pesquisador, que o acompanhará ao
g) Fundamentação Teórica – Também cha-
longo do trabalho, marcando a filiação teó-
mada de Base Teórica, Referencial Teórico
rica do autor e creditando os resultados al-
ou Marco Teórico ou, ainda, Revisão de Li-
cançados como reforço ao Marco Teórico
teratura. A falta de unanimidade entre os
adotado. É claro que, quando falamos de
Manuais tem gerado grande confusão, até
Fundamentação Teórica, estamos falando
porque usar os termos como equivalentes
de um item que, no Projeto de Pesquisa,
pode levar a equívocos graves. Nas Ciên-
aparece ainda embrionário (de forma con-
cias Exatas e nas Ciências Biológicas, era
densada), mas que já aponta elementos
muito comum o uso do termo Revisão de
que retratam o que falamos acima como
Literatura. E isso bastava. Ultimamente, mes-
Revisão de Literatura, Referencial Teórico e
mo nessas áreas, nos trabalhos acadêmi-
Marco Teórico, todos em um item só, re-
cos, vem-se exigindo um maior esforço pa-
sumidamente, e que serão ampliados quan-
ra trabalhar um pouco mais a questão teó-
do da Redação da Monografia, da Disserta-
rica. A Revisão de Literatura consiste em
ção ou da Tese.
enumerar, com um brevíssimo resumo, os
trabalhos na mesma área do estudo pro- h) Metodologia – Deve tratar do método de
abordagem do assunto a ser estudado, isto
posto ou que tenham tratado da mesma
é, o tema será abordado usando-se o mé-
problemática chegando a outros resultados.
todo indutivo, o método dedutivo, o mé-
Não resta dúvida de que isso é importante,
todo hipotético-dedutivo ou, ainda, o mé-
mas não é tudo, demonstra, apenas, que o
todo dialético. Deve tratar do método de
pesquisador está ciente do que vem sendo
procedimento, aquele que comporta a
pesquisado sobre a questão que problema-
visão teórica juntamente com as técnicas
tizou. Quando falamos de Referencial Teó-
de procedimento para colher, interpretar e
rico, estamos ampliando um pouco mais o
analisar os dados (positivista, neo-positivis-
papel da teoria nos trabalhos acadêmicos.
ta, fenomenológico-hermenêutico, antropo-
Queremos, com isso, exigir dos pesquisa-
lógico e crítico-dialético). Deve, ainda, in-
dores, na Academia, que tenham um do-
dicar o tipo de estudo a ser feito. O grande
mínio mais amplo da diversidade teórica,
problema para os pesquisadores iniciantes,
dos paradigmas e dos embates entre as di- sobretudo nas Ciências Humanas, decorre
versas correntes do pensamento científico, de idiossincrasias, “pré-conceitos”, influên-
cada uma, por sua vez, vendo o mundo e cias ideológicas interferindo sobre o pro-
os fatos sociais, objeto da investigação em cesso de pesquisa, existência de alguns
Ciências Humanas e Sociais, incluído aí o manuais explicitamente tendenciosos, apres-
próprio problema em estudo, por prisma sados em fazer julgamento de valor sobre
diferenciado. Tem que demonstrar, ao cons- métodos ou maneiras de ver os fatos sociais.
truir o Referencial Teórico, que conhece os Em Humanidades, tanto a indução quanto a
Clássicos, os Comentaristas, os Inovado- dedução são processos indispensáveis pa-
res e aqueles que estão produzindo, no ra ver e interpretar os fatos e andam juntos
calor da hora, os novos conhecimentos, tes- no processo de descoberta, pois estamos
tando ou refutando as teorias. O Marco sempre inferindo ou deduzindo sobre algo
Teórico é mais específico, ele emerge des- ou de algo. Ser dialético ou não depende
sa discussão entre os pensadores que têm do objeto de estudo, do problema levanta-
a contribuir para ajudar a compreender, in- do e da maneira como o pesquisador per-
terpretar e descrever a realidade que apa- cebe a dinâmica social ou os processos

64
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Fazendo o Projeto de Pesquisa

que, reiteradamente, atuam sobre as ações i) Plano do Estudo – Tratando-se de Projeto


humanas e sociais. Não é necessário fazer de Pesquisa, que posteriormente apresen-
profissão de fé sobre a escolha da abor- tará os resultados na forma de uma Mono-
dagem, até porque cabe à ciência destruir grafia, Dissertação ou Tese, é conveniente
os dogmas. O tema, o problema e os obje- que o pesquisador apresente, já no Projeto
tivos da pesquisa é que influenciam a es- de Pesquisa, de forma resumida, o que
colha do método de abordagem e de pro- imagina que conterá cada um dos capítulos
cedimento e as técnicas que vamos utilizar. do trabalho.
Os Estudos Monográficos, isto é, aqueles
j) Cronograma – De suma importância para a
que permitem o estudo em profundidade de
apreciação do projeto. Nele fica espelhada
um tema como saúde, família, classe social,
a capacidade de organização, de disposi-
meio ambiente, uma categoria de trabalha-
ção para o trabalho de investigação, a ra-
dores, educação, direito, relações de pa-
cionalidade de tempo, firmando um com-
rentesco, etc., podem muito bem se valer
promisso com o cumprimento das etapas
do uso de técnicas as mais variadas pos-
estipuladas. Em projetos destinados à con-
síveis para a obtenção de dados, tanto
clusão de um curso, seja ele qual for, de-
quantitativos quanto qualitativos. Da mesma
vem ser contempladas todas as etapas, que
forma, os Estudos de Caso, tipos de estu-
se estendem desde a entrega do Projeto de
do que, embora se atenham a uma temática
Pesquisa, a sua aprovação pela Comissão
específica, se circunscrevem a uma situa-
Avaliadora até a Defesa e o depósito da ver-
ção, a um caso específico, localizado e de-
são final para requerer o título. No caso do
limitado. Tanto é que os resultados obtidos
Curso de Mestrado e Doutorado, não po-
com o estudo de um caso não podem ser
dem deixar de ser contemplados os se-
usados para confirmar outros, mesmo que
guintes itens no cronograma: entrega da
se encontrem na mesma categoria ou situa-
versão final do projeto; aprovação do pro-
ção, pois os sujeitos, o momento, a situa-
jeto; levantamento de fontes de pesquisa;
ção e o contexto de inter-relações jamais
leitura do material bibliográfico e de outros
poderão ser os mesmos. As Técnicas de
documentos; produção de instrumentos de
Pesquisa mais usuais em Ciências Huma-
coleta de dados, teste e aplicação; trata-
nas e Sociais são: documentação indireta,
mento dos dados; análise dos dados coleta-
pesquisa bibliográfica, documentação di-
dos e revisão dos procedimentos para
reta (pesquisa de campo e raramente a de
ajustes finais; produção da dissertação ou
laboratório), observação direta intensiva
tese e entrega da versão preliminar; pro-
(observação e entrevista), observação direta
dução dos originais e revisão; depósito com
extensiva (questionário, formulário, medida
pedido de defesa; defesa da dissertação ou
de opinião e atitudes), análise de conteúdo
tese e análise e eventual incorporação de
(hermenêutica e semiologia) história de
recomendações da banca examinadora; pro-
vida, análise comparativa, dentre outras.
dução e revisão da versão final da disser-
Para o Projeto de Pesquisa, é necessário
tação ou tese; depósito com pedido de ex-
descrever a técnica a ser usada, justificar o
pedição do título de Mestre ou Doutor.
seu uso em função do problema a resolver
e mostrar como pretende selecionar, orga- Para elaboração de Monografias, observar
nizar, expor, analisar e interpretar os dados as etapas exigidas pelo Curso específico.
colhidos. Se for trabalhar com dados quan- l) Referências – Nesta parte do Projeto de
titativos obtidos por emprego de técnicas Pesquisa, devem ser relacionadas, em or-
estatísticas, explicar muito bem quais são e dem alfabética, somente os autores e as res-
como serão tratadas as variáveis do estudo, pectivas obras citadas no corpo do texto. A
como será o tipo da amostra, qual a mar- última revisão da norma NBR 6023, da
gem de erro e o tipo de exposição dos da- ABNT, ocorrida em setembro de 2002,
dos (se em tabelas, gráficos ou em ambos). consagra apenas o verbete REFERÊNCIAS,

65
UEA – Licenciatura em Matemática

diferente, portanto, das anteriores que men- Dissertação ou Tese. Evite outras normas,
cionavam Referências Bibliográficas. Isso mesmo que algum manual fale em “uso facul-
porque a atualização contemplou citação tativo” das normas da ABNT. Estamos no
de outros suportes de informação que não Brasil, numa Universidade Brasileira e somos
são livros (biblio) como CD´s, DVD´s, do- signatários de tratados que firmaram posição
cumentos eletrônicos em geral, etc. Siga ri- sobre a oficialidade do uso dessas normas. O
gorosamente as normas adotadas pela sua uso de outras normas só deve ser levado em
Unidade de Ensino. consideração quando se vai apresentar ou
m) Obras a consultar – Neste item, devem ser publicar trabalho em instituição estrangeira.
arroladas todas as obras (livros documen- Não se esqueça de fazer uma rigorosa revisão
tos e outros), que serão consultadas para a ortográfica de seu Projeto, antes da versão fi-
elaboração da Dissertação. nal. Se possível, busque o auxílio de pessoas
Um bom Projeto de Pesquisa é meio caminho capacitadas para tal.
andado para a produção da Monografia, Dis-
sertação de Mestrado ou Tese Doutoral. Ele re-
presenta o nível de amadurecimento acadêmi-
co do candidato ao título. Seja rigoroso na
análise da coerência interna dos itens de seu
Projeto de Pesquisa. Não economize palavras
e nem seja prolixo. Seja objetivo, mas não es-
queça a sua alma, pois o trabalho será sempre
seu, sua cara, sua identidade intelectual.
O Orientador é peça importante para apoiá-lo
nessa caminhada, mas não se torne um de-
pendente exagerado, busque a sua autonomia
e ouse avançar nas etapas da execução da
pesquisa e da elaboração do trabalho depois
do projeto aprovado. O Orientador deve ana-
lisar, fazer observações, recomendações e até
sugerir mudanças substanciais no seu projeto
e deverá ser comunicado sobre os impasses e
as alterações necessárias no curso da exe-
cução das etapas do Projeto. Lembre-se de
que o Orientador caminhará junto com você e
será o co-responsável pela sua Dissertação ou
Tese perante a Banca Examinadora.
Por tudo isso, o seu relacionamento com ele
deverá ser cordial, respeitoso, e deverá render
proveito para ambos.
Siga os modelos institucionais para a elabo-
ração dos Elementos Pré-Textuais recomenda-
dos pela instituição à qual será entregue o tra-
balho para apreciação que, por sua vez, não
deve contrariar as normas para produção de
trabalhos científicos.
Não cabem “agradecimentos”, “epígrafe” e “re-
sumo” no Projeto de Pesquisa. Esses são ele-
mentos que só irão aparecer na Monografia,

66
UNIDADE V
O Memorial
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Memorial

Há instituições que exigem a feitura de um me- a mesma ordem. Se vier como um apêndice da
morial, junto ou em separado ao que deno- Monografia, os elementos pré-textuais iniciam-
minam Trabalho de Conclusão de Curso se no resumo, seguindo as mesmas normas
(TCC). Aqui, mostramos um corpo de reco- gerais para resumos de trabalhos acadêmicos.
mendações que foram adaptadas para alunos A parte textual começa com uma breve Intro-
da área de Educação, válidas, também, para dução, em que você explicará a natureza do
todos (de qualquer área), e que foram adota- trabalho e dirá que esta será a sua história aca-
das pelo Curso Normal Superior da Univer- dêmico-profissional e as suas impressões pes-
sidade do Estado do Amazonas, onde o Tra- soais sobre o caminho percorrido, além de situar
balho de Fim de Curso é composto de 3 (três) o meio onde você nasceu e viveu a sua vida.
trabalhos: Memorial, Diagnóstico de uma es- O tópico seguinte deve tratar de sua formação
cola onde o professor em formação fez o seu educacional completa e suas primeiras per-
estágio e a Monografia. cepções sobre o valor da educação, da escola
O Memorial é um documento importante na e de suas aspirações profissionais.
vida acadêmico-profissional porque mostra a Em seguida, você mostrará, em detalhes, co-
trajetória do sujeito da aprendizagem relacio- mo ocorreu a sua formação como professor. O
nada com fatos e aspirações pessoais, com curso de magistério, os cursos de educação
seus projetos de vida. É um documento pes- continuada que fez e o que eles significaram
soal, escrito na primeira pessoa do singular, na para você. No mesmo capítulo, você deve tra-
forma discursiva e reflexiva. Por isso, difere do tar da sua graduação: as disciplinas que cur-
Curriculum Vitae, visto este ser uma relação sou, destacando os momentos especiais do
cronológica ou por ordem de importância dos curso, as matérias que mais lhe causaram sur-
dados pessoais, dos graus de escolaridade, presa, as que permitiram melhorar sua prática
dos títulos e cargos exercidos e dispostos em didático-pedagógica.
itens, sem reflexão e sem comentário. Segun- Outro capítulo é dedicado à sua atividade em
do Severino (2000, p. 175):”o memorial é muito sala de aula: deve ser o mais substancial. Que
mais relevante quando se trata de se ter uma experiências você buscou implementar, que re-
percepção mais qualitativa do significado sultados alcançou, que dificuldades teve? Qual
dessa vida, não só por terceiros, responsáveis a percepção que você tem sobre os seus alu-
por alguma avaliação e escolha, mas sobre- nos ao longo do tempo de magistério? Fale sem
tudo pelo próprio autor. Com efeito, o memorial cerimônia dos seus sucessos e fracassos com
tem uma finalidade intrínseca que é a de inse- os alunos e com os pais desses alunos na luta
rir o projeto de trabalho que o motivou no pro- pelo aprendizado e pela educação.
jeto pessoal mais amplo do estudioso [...] O Abra um capítulo para relatar possíveis expe-
Memorial constitui, pois, uma autobiografia, riências administrativas de direção (se tiver
configurando-se como uma narrativa simulta- vivido essas experiências). Senão, fale sobre
neamente histórica e reflexiva. Deve então ser os processos administrativos aos quais se
composto sob a forma de um relato histórico, submeteu enquanto docente: eram demo-
analítico e crítico, que dê conta dos fatos e cráticos, autoritários ou nem tanto? E como
acontecimentos que constituíram a trajetória você vislumbra ser a forma correta de dirigir
acadêmico-profissional de seu autor, de tal mo- uma escola.
do que o leitor possa ter uma informação com-
Dedique um capítulo inteiro para relatar a sua
pleta e precisa do itinerário percorrido”.
aventura na Pesquisa. Não é necessário repe-
tir o que estará na Monografia. Mas fale sobre
1 COMO CONSTRUIR O MEMORIAL as coisas que não entram na monografia e es-
No capítulo anterior, vimos como produzir os tão relacionadas com a pesquisa: o seu medo,
elementos pré-textuais do TCC. Se for um tra- a sua satisfação, os seus enganos, o seu cara
balho separado do volume da monografia, de- a cara com a verdade dos fatos no ato de ver
ve ter os seus elementos pré-textuais seguindo com os olhos de pesquisador.

69
UEA – Licenciatura em Matemática

Feche o memorial com suas considerações


gerais a seu respeito, a sua vida como profes-
sor ou professora e as suas aspirações para o
futuro.

2 RECOMENDAÇÕES
1. Antes de iniciar o Memorial, faça uma re-
lação de todos os eventos de sua vida, os
considerados mais importantes, em ordem
cronológica e, se possível, já na ordem dos
capítulos a serem escritos no memorial.
Isso facilitará a redação.
2. Use a primeira pessoa do singular ou o im-
pessoal. Evite os períodos longos. Use a or-
dem direta, não use muitos adjetivos e não
incorra no uso de palavras rebuscadas. Bus-
que clareza, objetividade e simplicidade de
estilo.
3. Evite o auto-elogio, a empáfia e os comen-
tários maldosos contra pessoas com quem
conviveu ou trabalhou; evite os comentários
“melosos”, que revelam um sacrifício que
parece ter sido somente seu. O memorial
não é lugar para lamúrias. Selecione, objeti-
vamente, as coisas mais significativas de
sua vida, de sua convivência, de sua for-
mação, para comentar e refletir sobre elas.
4. Não tenha pena de “gastar seu verbo” se
ele for significativo e empolgar o leitor. Mas
não jogue conversa fora somente para en-
grossar o seu memorial.
5. Se achar muito importante, pode anexar fo-
tos, sobretudo se elas ilustrarem atividades
que você desenvolveu, o que melhora a
compreensão do que foi escrito ou registra
a memória de um passado vivido. Lembre-
se de que o Memorial é uma História de
Vida contada por você mesmo(a).

70
UNIDADE VI
O Relatório Diagnóstico da Escola
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Relatório Diagnóstico da Escola

O primeiro trabalho de campo foi o levanta- 3. O meio físico da escola – Começa pelo
mento de dados para produzir o Relatório do meio ambiente onde está localizada, o seu
Diagnóstico da Escola em que cada um dos aspecto físico (dimensões, número de salas
professores em formação trabalhava. Aqueles de aula, tamanho e capacidade das salas,
que não estavam em atividade de ensino foram, tipo de construção, qualidade da constru-
conforme suas escolhas e possibilidades, en- ção, problemas existentes no prédio que
gajados em grupos ou escolas de sua cidade. implicam prejuízo para as atividades didáti-
Esse trabalho gerou um rico material que foi cas e tudo o mais que você tenha levan-
utilizado pelos alunos para produção de um tando sobre esse aspecto, inclusive planta
Diagnóstico, na forma de Relatório, expondo predial, se houver).
toda observação realizada, o levantamento do-
cumental, dados de entrevista, fotos, relatos de 4. O meio econômico, social e cultural – Aqui,
experiências promissoras de professores do deverão ser descritos aqueles aspectos ob-
Ensino Fundamental, Especial, Infantil e até servados sobre as condições socioeconô-
com Alfabetização de Adultos. micas dos alunos, pais e professores; as re-
lações sociais da escola com a comunida-
As equipes, por Escola, discutiram os resultados
de de pais; as relações da direção com fun-
alcançados e, por Município, foi feita a apre-
sentação pública dos trabalhos, com a presen- cionários; aspectos culturais relevantes so-
ça de autoridades locais, pais e demais edu- bre a composição étnica, a situação de alu-
cadores. A exposição foi também um momento nos filhos de migrantes, as diferenças cul-
de congraçamento, um encontro entre pares, turais significativas.
que revelou a pujança do programa PROFOR- 5. O ambiente humano – Aqui se trata do co-
MAR e a sua capacidade de mobilizar pessoas, tidiano da escola; como ocorre a convivên-
profissionais-alunos e produzir um retrato de cia dentro da escola de um modo geral,
impacto da situação educacional do Estado.
com seus problemas, suas dificuldades, ale-
Para os alunos, foi uma experiência enriquece-
grias, conquistas e sua qualidade de vida
dora: puderam ver o trabalho de cada um, for-
no trabalho.
mar um mosaico de situação e, no todo, um re-
trato da conjuntura. 6. Ambiente de aprendizagem – Os métodos
É o resultado desse esforço que virá para com- e as técnicas empregados pela escola para
por, também, o Trabalho de Conclusão de cur- alfabetizar, para ensinar Matemática, para en-
so, o TCC. Como? Na seqüência, logo após o sinar outros conteúdos próprios do Ensino
término do Memorial, a página seguinte é a Fo- Fundamental.
lha de Rosto do Relatório; seguem-se as de- 7. Indicadores da minha escola – Os indica-
mais partes pré-textuais do relatório, conforme dores da escola referentes ao número de
figuras que você deve consultar no Capítulo II,
alunos aprovados, alfabetizados, promovi-
dedicado aos elementos pré-textuais.
dos, evadidos, com problemas especiais;
Como você vai organizar os dados? Em primei- os pontos fortes, os pontos fracos; demais
ro lugar, lembre-se de que você já dispõe des- observações sobre os resultados alcança-
ses dados, pois deve ter guardado o relatório dos pela escola.
individual produzido, deve ter fotos do evento,
deve ter feito anotações com os comentários 8. Considerações finais – apreciação do
das pessoas que visitaram os painéis nos quais autor do relatório sobre os problemas de-
estavam expostos seus dados. Pois bem, esta tectados.
é a hora de reunir tudo de uma forma coerente, O seu Projeto de Pesquisa, depois de ser de-
seguindo o seguinte roteiro: senvolvido em suas diversas etapas, vai, ago-
1. Os elementos pré-textuais de praxe. ra, tomar a forma de uma produção científica
2. Introdução – A introdução deve servir para como Monografia: o estudo exaustivo de um
mostrar os objetivos do trabalho e descre- tema, o assunto ou caso, bem delimitado e cal-
ver a metodologia para obtenção dos da- cado em dados colhidos por intermédio de téc-
dos, além de mencionar as dificuldades en- nicas apropriadas e fundamentadas no rigor
contradas para sua realização. do método científico.

73
ANEXO
Leituras complementares
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Anexo: Leituras complementares

para a garantia do direito autoral, mesmo sen-


do o Brasil um dos signatários da convenção
O ROUBO INTELECTUAL COMO
internacional que regula a questão. Para ilus-
PRAGA DO NOSSO TEMPO
trar o caso entre nós, podemos citar a cobiça
decorrente da divulgação do valor potencial de
Por Walmir de Albuquerque Barbosa
nossa biodiversidade gerando inúmeros casos
Não faz muito tempo que se discutia o direito em que pessoas, passando-se por turistas ou
dos povos sobre o seu patrimônio cultural para pesquisadores instalados em instituições de
preservação da identidade. Essa era, também, respeito, fazem o contrabando de bens
uma das conquistas políticas em resposta ao genéticos (ver o caso dos primatas, ainda em
cambaleante colonialismo opressor nos anos apreciação judicial, envolvendo um renomado
setenta. Saqueados pelas constantes guerras, cientista ligado ao INPA, objeto de divulgação
pela venda, por um pouco mais de nada, de nacional); os milhares de discos piratas
sambaquis, de totens, de riquezas naturais, os esmigalhados em praça pública com o objetivo
pobres pareciam reivindicar o seu lugar na his- de coibir a prática criminosa da cópia ilegal; a
tória. Muitas coisas pertencentes aos vencidos apropriação indébita de rituais de povo indí-
constituem, hoje, patrimônio de outros povos e gena para incluí-los em espetáculo profano,
estão em seus museus e em suas praças públi- que leva a marca de folclore; o caso de um
cas. Outras deram origem a produtos paten- intérprete idolatrado da MPB que foi conde-
teados por empresas que descobriram as pro- nado por plágio em uma das músicas de seu
priedades intrínsecas de suas substâncias cons- repertório; o plágio de monografias,
tituintes e hoje embolsam milhões de dólares dissertações e teses doutorais defendidas em
em royalts dos consumidores. famosas universidades brasileiras, colocando
em alerta a comunidade científica nacional; as
Convenções, tratados, regulamentos e leis ter-
cópias indecentes e, às vezes, descaradas de
minaram prevalecendo nos países membros
trabalhos escolares recortando ou copiando
das Nações Unidas para regular essas rela-
textos de sites da Internet; a reprografia ilegal
ções e evitar o saque internacional de uns so-
de textos para uso didático como prática cor-
bre os outros povos, sobretudo dos que têm
riqueira nas universidades e nas escolas de to-
mais poder sobre os menos favorecidos. Mes-
dos os graus.
mo assim, essa pirataria parece não ter fim.
Poucos podem enfrentar o problema, custa caro Os problemas, ao nosso ver, vêm-se tornando
e os investimentos são de longo prazo. Para uma questão. O que significa isso? Quando um
piorar, não basta ter dinheiro, precisa deter o problema se torna uma questão, significa que
conhecimento científico e tecnológico para re- ele não está mais isolado e que suas ramifi-
alizar, antes dos outros, a proeza de valorizar cações comprometem a estrutura que o sus-
os seus bens naturais e culturais. Em vigor, há tenta e o reproduz. Por isso, torna-se complexo,
muitos anos, a Conveção de Direitos de Pro- e tudo que se faça e se diga, nem sempre con-
priedade Intelectual e de Patentes, foi sendo tribui para a sua solução.
paulatinamente assumida por países membros Quanto à pirataria de nossos bens genéticos,
da ONU e, mesmo assim, ainda existem países sabemos que o Brasil, apesar de ser uma das
que não a reconhecem. dez maiores economias do mundo, ainda não
No calor da hora, estamos a discutir, no Brasil, desenvolveu a sua capacidade de fazer pes-
três coisas relacionadas com esse tema: a quisa e a auto-suficiência tecnológica para rea-
biopirataria (feita, sobretudo, sobre os produ- lizar a empreitada que os grandes laboratórios,
tos da floresta); a cópia e a venda de discos pi- os grandes institutos de pesquisa mundiais e
ratas, que estão levando a pique a indústria os grandes consórcios de pesquisa envolven-
fonográfica nacional; e a apropriação de idéia do grupos financeiros, grupos tecnológicos e
por meio de plágio, de colagem e de outros ex- científicos, já vêm fazendo. Para atingir o seleto
pedientes, que tornam o país uma área crítica grupo que hoje seqüencia o DNA, o famoso

77
UEA – Licenciatura em Matemática

grupo Genoma, o Brasil teve que buscar com- impedir que várias pessoas morram por não
petência fora do país e associar-se a esses poderem pagar o preço exigido por um labo-
grupos para não perder o bonde da história. ratório que patenteou um bem da natureza –
Quando se fala da pirataria, temos um pro- portanto bem universal – para si? Como negar
blema que parece marginal, mas não o é. O a um povo o conhecimento só porque não
computador criou as facilidades incomensu- pode comprar livro, e seu único acesso ao
ráveis para a produção e a gravação caseira e saber é por meio de cópias de livros ou de
até mesmo de qualidade, em suporte de CD. fragmentos de textos importantes para seu
Controlar a produção e o uso dessa tecnologia aprendizado? Como impedir aqueles que têm
seria brecar o desenvolvimento de outras coi- o domínio tecnológico e científico de desen-
sas positivas que, com a mesma tecnologia, volver um remédio que cura o câncer só por-
podem ser feitas. Ao mesmo tempo, no país, que o país detentor da matéria-prima impede a
cresceu a atividade informal na economia, o sua exploração por questões estratégicas? Co-
que possibilita uma frouxidão nos mecanismos mo aprender a produzir e a inovar sem repetir,
de controle de produção e comercialização de sem compilar ou imitar os passos dos mais
bens nos mercados livres das grandes cida- experientes?
des, conhecidos, eufemisticamente, por came- Essa questão pode começar a ser deslindada
lódromos. Como brecar a ação de apropriação com um processo educativo para desenvolver
de peças musicais pelas novas emissoras im- uma consciência de honestidade intelectual,
provisadas de rádio, via internet? A extinta uma consciência cívica e uma consciência uni-
União Soviética controlou, até onde pôde, o versal sobre o valor, a disponibilidade e o
uso das máquinas reprográficas para impedir usufruto do saber com patrimônio da huma-
que se fizessem cópias de material ofensivo à nidade. Por aí vemos que essa é uma proposta
hegemonia do partido comunista e do governo de longo prazo. A forma coercitiva parece-nos
soviético, nem com isso conseguiu o seu in- exagerada, quando não impositiva, sem atenu-
tento: o muro de Berlim caiu em 89. As má- antes. O caso da lei de direito autoral de obra
quinas reprográficas, com qualidade ou não, musical é tão complicado e absurdo que, se
estão em todas as esquinas do Brasil como cumprido à risca, não nos permite fruir publica-
meio de vida de muitas pessoas que jamais mente nenhuma obra musical sem o respec-
sabem o que estão copiando ou sobre o crime tivo pagamento de direito de autor, recolhido
que estão cometendo. Além do mais, somos por uma instituição comandada por terceiros,
um país de poucas bibliotecas, e as que temos cuja transparência tem sido objeto de cons-
nem sempre estão aparelhadas para servir às tantes críticas, sem falar da ganância de con-
necessidades da população. Não temos o há- glomerados fonográficos nacionais que facili-
bito de investir em livros e em leitura. Desen- tam a corrupção encobrindo as trocas de auto-
volvemos a cultura da pressa, do fragmento de ria dos pobres fazedores de música, desde os
texto e ainda temos a veleidade de propalar velhos tempos; a lei que regula o direito autoral
que conhecemos o pensamento de seus au- na reprodução de textos é draconiana, fala em
tores. Essa conduta acadêmica chinfrim vem prisão em flagrante, em crime inafiançável, para
sendo passada de mestres para alunos que se quem for surpreendido a copiar um texto sem
tornam mestres, e assim por diante. pagar o correspondente à taxa de reprodução,
Essas coisas disseminam a insegurança para se até dez páginas, e autorização do detentor
os produtores de saber, de arte, de entreteni- do direito autoral para o que ultrapassar a isso.
mento, enfim, de cultura e, por isso, podemos Significa dizer que você poderá ser detido por
falar em uma questão que deverá ser resolvida flagrante delito ao reproduzir um texto no seu
com uma tomada coletiva de consciência, para fax , no seu scaner, na “xérox” ao lado de sua
saber até onde podemos ir, uma vez que existe casa ou de sua faculdade, se esta não estiver
um outro lado da moeda que deve também ser devidamente autorizada pela associação en-
avaliado, como, por exemplo: até onde é justo carregada de recolher os direitos autorais.

78
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Anexo: Leituras complementares

Por outro lado, escolas, professores e alunos, lhos resultantes de busca em Home Pages
se não podem fomentar a ilegalidade, não po- abertas para divulgação autoral de professores
dem também interromper o processo de apren- ou pseudoescritores em busca de fama ou até
dizagem quando textos e livros são escassos. mesmo de certos autores que desejam parti-
Da mesma forma como o Brasil corajosamente lhar a sua obra com outros. Para infelicidade
enfrentou os laboratórios internacionais que nossa, já é possível ver anúncios em jornais
cobravam custo exorbitante para os remédios oferecendo serviços para realização de traba-
de cura da AIDS, quebrando-lhes as patentes e lhos escolares. Como diz o bordão do Boris
impondo uma negociação mais equilibrada, o Casoy, “isto é uma vergonha”. A revista Saber,
mesmo pode ser feito para evitar os absurdos p. 11, cita os tipos de “rapinagem intelectual”
com relação à reprografia, mas conter, tam- mais comuns: plágio literal, cópia de obra
bém, o exagero e a banalidade da cópia, que alheia sem alteração; “tradução” de versão
nem sempre é a solução mais adequada para portuguesa, quando se toma uma obra ou
o processo de aprendizagem. texto escrito em português de Portugal e faz
Resta, no entanto, o ato de consciência para uma “versão” para o português do Brasil; plá-
não plagiar. Esse só pode ser resolvido pela gio de lógica e idéias, quando a estrutura de
sólida formação moral, pois plagiar revela falta raciocínio é aproveitada e contada com outras
de caráter, e caráter não se vende, não se com- palavras, sem citar o autor ou o citando mar-
pra: adquire-se por formação. O ladrão de ginalmente; plágio de carona, quando o tra-
idéias forma-se nas escolas com a complacên- balho coletivo termina divulgado ou publicado
cia dos professores e dos pais, que às vezes como se fosse apenas de um autor; plágio em
aplaudem a boa nota do filho sabendo que ele conversas informais, quando colegas conver-
fez uma cópia fraudulenta de um trabalho via sam sobre projetos de futuros trabalhos, e um
Internet; sabendo que ele “colou” da prova do deles se apropria da idéia do outro ou dos ou-
colega; que ele copiou de um texto, sem citar a tros para produzir antes dele ou deles.
fonte, que o próprio pai trouxe e deu-lhe para
esse fim. O crime completa-se quando o pro-
fessor descuidado, despreparado intelectual ou
tecnicamente, ou também criminoso, ao fazer
a correção, não percebe que o texto está
acima da capacidade cognitiva do aluno e não
toma nenhuma providência. Assim, o crimi-
noso sai da escola com boas notas e pode vir
até a ser professor.
Segundo matéria veiculada pela revista Saber:
revista do livro universitário, Ano I, n. 8, ju-
lho/agosto, 2002, intitulada “Estelionato Inte-
lectual”, uma pesquisa da Rutgers University
entre seus 4500 alunos, mais da metade re-
velou já ter copiado trabalhos na Internet e
entregue como seus. Nos EUA, segundo a
mesma revista e matéria, há mais de 600 sites
vendendo trabalhos. E para se identificar um
trabalho plagiado já existem até empresas es-
pecializadas em identificação por computador
da autenticidade da obra.
No Brasil, a “picaretagem” pela Internet já vem
sendo feita com um certo sucesso. O que mais
cresce mesmo é a cópia descarada de traba-

79
UEA – Licenciatura em Matemática

dificuldade em concluir por quais era neces-


sária começar, pois já sabia que era pelas mais
simples e mais fáceis de conhecer; e, conside-
DISCURSO DO MÉTODO rando que entre todos aqueles que até agora
procuraram a verdade nas ciências, só os ma-
E, como a multiplicidade de leis freqüentemen- temáticos puderam encontrar algumas demon-
te fornece desculpas aos vícios, de modo que strações, isto é, algumas razões certas e evi-
um Estado é muito mais bem regrado quando, dentes, não duvidei de que deveria começar
tendo pouquíssimas leis, elas são rigorosamen- pelas mesmas coisas que eles examinaram;
te observadas; assim, em vez desse grande embora delas não esperasse nenhuma outra
número de preceitos de que a lógica é com- utilidade a não ser a de acostumarem meu es-
posta, acreditei que me bastariam os quatro pírito a alimentar-se de verdades e a não se
seguintes, contanto que tomasse a firme e cons- contentar com falsas razões. Mas com isso não
tante resolução de não deixar uma única vez tive a intenção de procurar aprender todas es-
de observá-los. sas ciências particulares chamadas comu-
O primeiro era de nunca aceitar coisa alguma mente matemáticas; e, vendo que embora seus
como verdadeira sem que a conhecesse evi- objetos sejam diferentes todas coincidem em
dentemente como tal; ou seja, evitar cuida- só considerarem as diversas relações e pro-
dosamente a precipitação e a prevenção, e porções que neles se encontram, pensei que
não incluir em meus juízos nada além daquilo era melhor examinar somente essas propor-
que se apresentasse tão clara e distintamente ções em geral, supondo-as apenas nas maté-
a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma rias que servissem para tomar-me seu conhe-
ocasião de pô-lo em dúvida. cimento mais fácil; mesmo assim, sem as limi-
O segundo, dividir cada uma das dificuldades tar de modo algum a essas matérias, a fim de
que examinasse em tantas parcelas quantas poder melhor aplicá-las depois a todas as ou-
fosse possível e necessária para melhor re- tras as quais conviessem. Depois, tento aten-
solvê-las. tado que, para conhecê-las, eu precisaria às
vezes considerar cada uma em particular, e
O terceiro, conduzir por ordem meus pensa-
outras vezes somente decorá-las, ou com-
mentos, começando pelos objetos mais sim-
preender várias ao mesmo tempo, pensei
ples e mais fáceis de conhecer, para subir
que, para melhor considerá-las em particular,
pouco a pouco, como por degraus, até o co-
teria de supô-las como linhas, porque não en-
nhecimento dos mais compostos; e supondo
contrava nada mais simples nem que
certa ordem mesmo entre aqueles que não se
pudesse representar mais distintamente a
precedem naturalmente uns aos outros.
minha imaginação e aos meus sentidos; mas,
E, o último, fazer em tudo enumerações tão para reter e compreender várias ao mesmo
completas, e revisões tão gerais, que eu tives- tempo, eu precisava explicá-las par alguns
se certeza de nada omitir. sinais, os mais curtos possíveis, e que, deste
Essas longas cadeias de razões, tão simples e modo, aproveitaria o melhor da análise ge-
fáceis, de que os geômetras costumam servir- ométrica e da álgebra e corrigiria todos os de-
se para chegar às suas mais difíceis demons- feitos de uma pela outra.
trações, levaram-me a imaginar que todas as De fato, ouso dizer que a exata observação
coisas que podem cair sob o conhecimento desses poucos preceitos que escolhera deu-
dos homens encadeiam-se da mesma manei- me tamanha facilidade para destrinçar todas as
ra, e que, com a única condição de nos abster- questões abrangidas par essas duas ciências
mos de aceitar por verdadeira alguma que não que, nos dois ou três meses que empreguei
o seja, e de observarmos sempre a ordem em examiná-las, tendo começado pelas mais
necessária para deduzi-las umas das outras, simples e mais gerais, e sendo cada verdade
não pode haver nenhuma tão afastada que não que encontrava uma regra que me servia de-
acabemos por chegar a ela e nem tão escon- pois para encontrar outras, não só consegui re-
dida que não a descubramos. E não tive muita solver muitas que outrora julgara muito difíceis,

80
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Anexo: Leituras complementares

mas também pareceu-me, mais ao final, que Paulo: Matins Fontes, 1996.
podia determinar, mesmo naquelas que igno-
O CAPITAL – PREFÁCIO DA 2.a EDIÇÃO
rava, por que meios e até onde era possível re-
solvê-las. Nisso talvez eu não vos pareça muito
vão se considerardes que, havendo apenas Ao retratar, fielmente, o que chama de meu ver-
uma verdade de cada coisa, quem quer que a dadeiro método, pintando o emprego que a ele
encontre sabe dela tudo o que se pode saber; dei, com cores benévolas, que faz o autor
e que, par exemplo, uma criança instruída em senão caracterizar o método dialético?
aritmética, tendo feito uma adição de acordo É mister, sem dúvida, distinguir, formalmente, o
com suas regras, pode estar segura de ter en-
método de exposição do método de pesquisa.
contrado, sobre a soma que examinava, tudo o
A investigação tem de apoderar-se da matéria,
que o espírito humano poderia encontrar. Pois,
em seus pormenores, de analisar suas dife-
enfim, o método que ensina a seguir a ver-
rentes formas de desenvolvimento, e de per-
dadeira ordem e a enumerar exatamente todas
quirir a conexão íntima que há entre elas. Só
as circunstâncias do que se procura contém
depois de concluído esse trabalho, é que se
tudo o que dá certeza às regras de aritmética.
pode descrever, adequadamente, o movimen-
Mas o que mais me contentava nesse método to real. Se isto se consegue, ficará espelhada,
era que por meio dele tinha a certeza de usar
no plano ideal, a vida da realidade pesquisada,
em tudo minha razão, se não perfeitamente,
o que pode dar a impressão de uma con-
pelo menos da melhor forma em meu poder;
strução a priori.
ademais, sentia, ao praticá-lo, que meu espírito
acostumava-se pouco a pouco a conceber Meu método dialético, por seu fundamento,
mais nítida e distintamente seus objetos; e difere do método hegeliano, sendo a ele in-
que, não o tendo sujeitado a nenhuma matéria teiramente oposto. Para Hegel, o processo do
particular, prometia-me aplicá-lo tão utilmente pensamento, – que ele transforma em sujeito
às dificuldades das outras ciências como o fi- autônomo sob o nome de idéia, – é o criador
zera às da álgebra. Não que, por isso, ousasse do real, e o real é apenas sua manifestação ex-
logo empreender o exame de todas as que se terna. Para mim, ao contrário, o ideal não é
apresentassem, mesmo porque isto seria con- mais do que o material transposto para a
trário à ordem que ele prescreve. Mas, tendo cabeça do ser humano e por ela interpretado.
percebido que todos os seus princípios deviam
Critiquei a dialética hegeliana, no que ela tem
ser extraídos da filosofia, na qual eu ainda não
de mistificação, há quase 30 anos, quando es-
encontrava nenhum princípio seguro, pensei
tava em plena moda. Ao tempo em que elabo-
que era preciso, antes de mais nada, empen-
har-me em nela estabelecê-los; e que, sendo rava o primeiro volume de “O Capital”, era cos-
isso a coisa mais importante do mundo, e em tume dos epígonos impertinentes, arrogantes
que a precipitação e a prevenção eram o que e medíocres, que pontificavam, nos meios cul-
mais se tinha a temer, eu não devia realizar tos alemães, comprazerem-se em tratar Hegel,
essa empreitada antes de ter atingido uma tal e qual o bravo Moses Mendelssohn, con-
idade bem mais madura que os vinte e três temporâneo de Lessing, tratara Spinoza, isto é,
anos que eu tinha então; e antes de ter em- como um “cão morto”. Confessei-me, então,
pregado muito tempo preparando-me para abertamente discípulo daquele grande pensa-
isso, tanto desenraizando de meu espírito to- dor, e, no capítulo sobre teoria do valor, joguei,
das as más opiniões que recebera até então, várias vezes, com seus modos de expressão
quanto acumulando muitas experiências que peculiares. A mistificação por que passa a di-
seriam mais tarde a matéria de meus racio- alética nas mãos de Hegel não o impediu de
cínios, e exercitando-me sempre no método ser o primeiro a apresentar suas formas gerais
que me prescrevera a fim de nele firmar-me de movimento, de maneira ampla e con-
cada vez mais. sciente. Em Hegel, a dialética está de cabeça
para baixo. É necessário pô-la de cabeça para
René Descarte, 1637. cima, a fim de descobrir a substância racional
DESCARTE, R. Discurso do método. São dentro do invólucro místico.

81
UEA – Licenciatura em Matemática

A dialética mistificada tornou-se moda na


Alemanha, porque parecia sublimar a situação
DISCURSO SOBRE O ESPÍRITO
existente. Mas, na sua forma racional, causa
POSITIVO – APRESENTAÇÃO
escândalo e horror à burguesia e aos porta-
vozes de sua doutrina, porque sua concepção
do existente, afirmando-o, encerra, ao mesmo I. O verdadeiro espírito filosófico
tempo, o reconhecimento da negação e da Necessidade de integrar os conhecimentos as-
necessária destruição dele; porque apreende, tronômicos do novo sistema de filosofia geral
de acordo com seu caráter transitório, as for- caracterizado pela preponderância do ponto
mas em que se configura o devir; porque, en- de vista histórico e social. Daí o recurso à
fim, por nada se deixa impor, e é, na sua essên- "grande lei" sabre a evolução intelectual da
cia, crítica e revolucionária. Humanidade (chamada lei dos três estados).
Para o burguês prático, as contradições ine- A) Estado teológico (provisório e preparatório).
rentes à sociedade capitalista patenteiam-se, Característica: predileção pelas questões in-
de maneira mais contundente, nos vaivens do solúveis; a busca das causas essenciais,
ciclo periódico, experimentados pela indústria tanto primeiras, quanto finais, numa palavra,
moderna e que atingem seu ponto culminante os conhecimentos absolutos; tendência
com a crise geral. Esta, de novo, se aproxima, para assimilar todos os fenômenos àqueles
embora ainda se encontre nos primeiros está- que nos mesmos produzimos.
gios; mas, quando tiver o mundo por palco e
Fases:
produzir efeitos mais intensos, fará entrar a dia-
lética mesmo na cabeça daqueles que o bam- O fetichismo: atribuir a todos os corpos ex-
búrrio transformou em eminentes figuras do teriores uma vida análoga a nossa.
novo sacro império prussiano-alemão. Adoração dos astros.
Londres, 24 de janeiro de 1873 O politeísmo: preponderância especulativa
da imaginação. A vida e transportada para
seres fictícios, fonte direta de todos os fenô-
Karl Marx
menos humanos.
MARX , K. O capital: crítica da economia
O monoteísmo: declínio do estado teológico.
política. 8. ed. São Paulo: Difel, l. 1, v. I, 1982.
A razão limita a imaginação. Desenvolvimento
da idéia de uma sujeição necessária de todos
os fenômenos naturais a leis invariáveis.
B) Estados metafísicos (transitório):
Caractensticas: tendência, como o teolo-
gismo, para explicar a natureza íntima dos
seres, mas substituindo os agentes sobre-
naturais por entidades ou abstrações per-
sonificadas. Recurso à noção de natureza.
Regime contraditório, "moléstia crônica nat-
uralmente inerente a nossa evolução men-
tal, individual ou coletiva, entre a infância e
a virilidade".
C) Estado positivo (normal).
Caractensticas: substituir em toda parte a
inacessível determinação das causas pela
simples busca das leis, isto é, das relações
constantes existentes entre os fenômenos
observados. Este estudo dos fenômenos

82
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Anexo: Leituras complementares

deve permanecer sempre relativo a nossa


organização e à nossa situação. Todas as
AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO
nossas concepções devem ser consider-
PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO
adas do mesmo modo fenômenos hu-
manos, individuais e sobretudo sociais.
O TRATAMENTO científico dos fatos sociais é
O espírito positivo considerado relativamente: tão pouco habitual que algumas das pro-
1. Aos objetos exteriores de nossas especu- posições contidas neste livro correm o risco de
lações. surpreender o leitor. Todavia, se existe uma
ciência das sociedades, e de esperar que ela
2. À sua destinação interior (a satisfação de nos-
não se limite a ser paráfrase de preconceitos
sas necessidades contemplativas ou ativas).
tradicionais, e, sim, que mostre as coisas de
3. A nossa tendência para reduzir as diversas maneira diferente da encarada pelo vulgo; pois
ordens de fenômenos a uma única lei co- o objetivo de toda ciência é descobrir, e toda
mum. A noção de unidade "subjetiva". descoberta desconcerta mais ou menos as
4. Ao significado social, como princípio de co- opiniões formadas. É preciso que o sociólogo
municação intelectual, base de qualquer as- tome resolutamente o partido de não se intimi-
sociação humana verdadeira. dar com os resultados alcançados pelas
pesquisas, quando metodicamente conduzi-
5. A vida ativa, isto é, a todas as ações do
das, a menos que, em sociologia, se conceda
homem, quer sobre o mundo exterior, quer
ao senso comum uma autoridade de que há
sobre os outros homens (relações entre a
muito tempo não goza nas outras ciências e
ciência e as artes aplicadas, a moral e a
que aliás não vemos de onde lhe poderia provir.
política, a vida industrial).
Se e próprio de um sofista buscar o paradoxo,
6. A incompatibilidade das concepções positi- fugir dele quando imposto pelos fatos indica
vas com todas as opiniões teológicas. um espírito sem coragem e sem fé na ciência.
7. A suas diversas acepções e aos seus carac- Infelizmente, esta regra, fácil de admitir em
teres gerais: o termo positivo designa: principio e teoria, e difícil de ser seguida com
a) o real em oposição ao quimérico; perseverança. Ainda estamos por demais
acostumados a decidir todas as questões de
b) o útil ......... ao desnecessário;
acordo com o senso comum para que pos-
c) a certeza ......... a indecisão; samos mantê-lo facilmente à distância nas dis-
d) o preciso ......... ao vago; cussões sociológicas. Quando nos julgamos
livres, ei-lo que impõe seus julgamentos sem
e) a aptidão para organizar ......... ao nega-
que percebamos. Somente uma prática longa
tivo, a aptidão para destruir;
e especial pode evitar tais desfalecimentos.
f) o relativo ......... ao absoluto, (este último Por isso pedimos ao leitor que não perca de
caráter está implícito no precedente, pois vista estas observações. As maneiras de pen-
o absoluto á negativo). sar mais habituais são antes contrárias do que
8. À sua relação com o “bom senso universal”. favoráveis ao estudo científico dos fenômenos
A conexão do espírito positivo e do born sociais e, por conseguinte, é preciso descon-
senso universal encarada de um ponto de fiar sempre das primeiras impressões, – eis o
vista dogmático e histórico. preceito que sempre se deve ter em mente. O
leitor que se abandona sem resistência ás
Auguste Comte, 1844 primeiras impressões, corre o risco de formar
uma opinião sem nos compreender. Por exem-
COMTE, A. Discurso sobre o espírito posi-
plo, o fato de encararmos o crime como fenô-
tivo. São Paulo: Martins Fonte, 1990.
meno normal em sociologia, pode servir de
pretexto para que nos acusem de querer des-
culpá-lo. Esta objeção, no entanto, é pueril.

83
UEA – Licenciatura em Matemática

Pois se é normal que em toda sociedade haja não podem ser derivados diretamente dos
crimes, não é menos normal que sejam sem- fenômenos orgânicos não constitui efetiva-
pre punidos. A instituição de um sistema re- mente a essência do espiritualismo? Ora, nosso
pressivo constitui fato não menos universal método não é, em parte, senão uma aplicação
nem menos indispensável à saúde coletiva do destes princípios aos fatos sociais. Separamos
que a existência da criminalidade. Para que o reino psicológico do reino social, do mesmo
não existissem crimes, seria preciso um nivela- modo que os espiritualistas separam o reino
mento das consciências individuais que, por psicológico do biológico; como eles, recusa-
razões que são explicadas mais adiante, nem é mos explicar o mais complexo pelo mais sim-
possível nem desejável; mas para que a re- ples. Na verdade, porém, nem uma nem outra
pressão não existisse, seria necessária uma apelação nos convêm exatamente; a única que
ausência de homogeneidade moral que é inc- aceitamos é a de racionalistas. Estender à con-
onciliável com a existência de uma sociedade. duta humana o racionalismo cientifico e, real-
Todavia, partindo da constatação de que o mente, nosso principal objetivo, fazendo ver
crime é detestado e detestável, o senso co- que, se a analisarmos no passado, chegare-
mum logo conclui erradamente que ele deveria mos a reduzi-la a relações de causa e efeito;
desaparecer por completo. Com o simplismo em seguida, uma operação não menos racional
que lhe é peculiar, não compreende – como se a poderá transformar em regras de ação para o
nisso houvesse contradição –, que algo de re- futuro. Aquilo que foi chamado de nosso posi-
pugnante pode também ter alguma utilidade. tivismo, não é senão conseqüência deste
Acaso não existem no organismo funções re- racionalismo. Só nos sentimos tentados a ultra-
pugnantes cujo funcionamento regular é ne- passar os fatos, seja quando os explicamos,
cessária á saúde individual? E não detestamos seja quando dirigimos seu curso, na medida
também o sofrimento, muito embora alguém em que os julgamos irracionais. Se são inteira-
que nunca tenha sofrido seja um monstro? O mente inteligíveis, então bastam eles próprios à
caráter normal de uma coisa e os sentimentos ciência e à prática: a ciência, pois não há mais
de repulsa que inspira podem até ser motivo para, fora deles, buscar sua razão de
solidário. A dor só é fato normal sob a con- ser; a prática, pois seu valor utilitário constitui
dição de não ser querida; e o crime, para ser uma destas razões de ser. Parece-nos, pais,
normal, deve necessariamente ser odiado. que principalmente nesta época de renascente
Nosso método nada tem, pois, de revolu- misticismo tal empreendi- mento pode e deve
cionário. Num certo sentido é até essencial- ser acolhido sem inquietação e até com simpa-
mente conservador, pois considera os fatos tia por todos os que, mesmo não concordando
sociais como coisas cuja natureza não é conosco nalguns pontos, partilham nossa fé no
passível de modificação fácil, por mais dúctil e futuro da razão.
maleável que seja. Muito mais perigosa é a
doutrina que não encara esses fatos senão
Émile Durkheim, 1895.
como produto de combinações mentais, que
um simples artifício dialético pode, instanta- DURKHEIM, E. As regras do método soci-
neamente, transformar por completo! ológico. 8. ed. São Paulo: Editora Nacional,
1977.
Dado o hábito existente de representar a vida
social como o desenvolvimento 1ógico de con-
ceitos ideais, não é impossível, outrossim, que
sejamos acoimados de materialistas, nem que
se acuse de grosseiro um método que torna a
evolução coletiva dependente de combinações
objetivas, definidas no espaço. Poderíamos
com maior justiça reivindicar a qualificação con-
trária. A idéia de que os fenômenos psíquicos

84
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Anexo: Leituras complementares

do delírio ou das ilusões, convidando-nos a ex-


aminar se o que vemos não é “falso”, pois tal
O VISÍVEL E O INVISÍVEL – REFLEXÃO
argumento se vale dessa mesma fé no mundo
E INTERROGAÇÃO
que ele parece abalar: nem saberíamos nós o
que é o falso, se algumas vezes não o tivésse-
Assim é, e nada se pode fazer em contrário. Ao
mos distinguido do verdadeiro. Postula, assim,
mesmo tempo é verdade que o mundo é o que
o mundo em geral, o verdadeiro em si, invo-
vemos e que, contudo, precisamos aprender a
cando-o secretamente para desclassificar nos-
vê-lo. No sentido de que, em primeiro lugar, é
sas percepções, que, misturadas com nossos
mister nos igualarmos, pelo saber, a essa
sonhos, a despeito de todas as diferenças ob-
visão, tomar posse dela, dizer o que é nós e o
serváveis, são por ele lançadas em nossa “vida
que é ver, fazer, pois, como se nada soubésse-
interior”, em virtude desta única razão: a de
mos, como se a esse respeito tivéssemos que
terem eles sido, naquele instante, tão convin-
aprender tudo. Mas a filosofia não é um léxico,
centes quanto elas, esquecendo que a própria
não se interessa pelas "significações das
"falsidade" dos sonhos não pode ser estendida
palavras", não procura substituto verbal para o
às percepções, pois aquela só aparece relati-
mundo que vemos, não o transforma a em
vamente a estas, e que, para podermos falar
coisa dita, não se instala na ordem do dito ou
de falsidade, é preciso termos experiências da
do escrito, como o lógico no enunciado, o poe-
verdade. Válido contra a ingenuidade, contra a
ta na palavra ou o músico na música. São as
idéia de uma percepção que fosse surpreen-
próprias coisas, do fundo de seu silêncio, que
der as coisas além de qualquer experiência,
deseja conduzir à expressão. Se o filósofo inter-
qual luz que as tirasse da noite onde preexis-
roga e assim finge ignorar o mundo e a visão do
tiam, o argumento não é [esclarecedor?], es-
mundo, que nele operam e se realizam continua-
tando ele próprio impregnado da mesma in-
mente, é precisamente para fazê-los falar, por-
genuidade, na medida em que só iguala a per-
que acredita nisso e espera deles toda a ciência
cepção e o sonho colocando-os face a um Ser
futura. Aqui a interrogação não é um começo de
que somente seria em si. Se, ao contrário,
negação, um talvez (peut-être) posto em lugar
como mostra o argumento no que tem de
do ser (être). Para a filosofia, é a única maneira
válido, devemos rejeitar inteiramente esse fan-
de concordar com nossa visão de fato, de cor-
tasma, então as diferenças intrínsecas, descriti-
responder ao que nela, nos leva a pensar, aos
vas, do sonho e do percebido, adquirem valor
paradoxos de que e feita; a única maneira de
ontológico, e damos uma boa resposta ao pi-
ajustar-se a esses enigmas figurados, a coisa e o
rronismo mostrando que há diferença de estru-
mundo, cujo ser e verdade maciços fervilham de
tura e, por assim dizer, de grânulo entre a per-
pormenores incompossíveis.
cepção ou visão verdadeira, dando lugar a
Pois se é certo que vejo minha mesa, que uma série aberta de explorações concor-
minha visão termina nela, que ela fixa e detém dantes, e o sonho, que não é observável e,
meu olhar com sua densidade insuperável, quando examinado, é quase só lacunas.
como também é certo que eu, sentado diante Efetivamente, isso não liquida o problema de
de minha mesa, ao pensar na ponte da nosso acesso ao mundo: nada mais faz, ao
Concórdia, não estou mais em meus pensa- contrário, do que iniciá-lo, pois resta saber
mentos, mas na ponte da Concórdia; e que, fi- como podemos ter a ilusão de ver o que não
nalmente, no horizonte de todas essas visões vemos, como os farrapos do sonho podem, di-
ou quase-visões está o próprio mundo que ante do sonhador, ter o mesmo valor do tecido
habito, o mundo natural e o mundo histórico, cerrado do mundo verdadeiro, como a incons-
com todos os vestígios humanos de que é feito ciência de não ter observado pode, no homem
- é certo também que esta certeza combatida, fascinado, substituir a consciência de ter ob-
desde que atento para ela, porquanto se trata servado. Se se diz que o vazio do imaginário
de uma visão minha. Não estamos pensando sempre permanece o que é, jamais equivale ao
propriamente no secular argumento do sonho, pleno do percebido, e jamais dá lugar à mes-

85
UEA – Licenciatura em Matemática

ma certeza, que esse vazio não vale por si, que Agora que tenho na percepção a própria coisa
o homem adormecido perdeu todo ponto de e não uma representação, acrescentarei so-
referência, todo modelo, todo cânone do claro mente que a coisa está no ponto extremo de
e do articulado, que uma única parcela do meu olhar e, em geral, de minha exploração:
mundo percebido nele introduzida desmancha sem nada supor do que a ciência do corpo
num átimo o encantamento, ainda resta que, se alheio me possa ensinar, devo constatar que a
podemos perder nossos pontos de referência mesa diante de mim mantém uma relação sin-
sem o sabermos, nunca estamos seguros de gular com meus olhos e meu corpo: só a vejo
tê-los quando acreditamos possuí-los; se se ela estiver no raio de ação deles; acima
podemos, ainda que o ignoremos, retirar-nos dela, está a massa sombria de minha fronte,
do mundo da percepção, nada nos prova que em baixo, o contorno mais indeciso de minhas
nele estivemos alguma vez, nem que o ob- faces, ambos visíveis no limite, e capazes de
servável o seja inteiramente, nem ainda que escondê-la, como se minha própria visão do
seja feito de tecido diferente do sonho; uma vez mundo se fizesse de certo ponto do mundo.
que a diferença entre eles não é absoluta, Ainda mais: meus movimentos e os de meus
podemos colocá-los juntos com “nossas expe- olhos fazem vibrar o mundo como se pode,
riências”, e é acima da própria percepção que com o dedo, fazer mexer um dólmen, sem
precisamos, procurar a garantia e o sentido de abalar-lhe a solidez fundamental. A cada batida
sua função ontológica. Percorreremos esse de meus cílios, uma cortina se baixa e se le-
caminho, que é o da filosofia reflexiva, quando vanta, sem que eu pense, no momento, em im-
ele se nos abrir. Mas começa muito além dos putar esse eclipse às próprias coisas; a cada
argumentos pirronianos, que, por si próprios, movimento de meus olhos varrendo o espaço di-
nos desviariam de toda elucidação, pois se re- ante de mim, as coisas sofrem breve torção, que
ferem vagamente à idéia de um Ser inteira- também atribuo a mim mesmo; e quando ando
mente em si e, por contraste, juntam confusa- pela rua, os olhos fixos no horizonte das casas,
mente o percebido e o imaginário como “esta- todo o meu ambiente mais próximo, a cada ruído
dos de consciência”. No fundo, o pirronismo do salto do sapato sobre o asfalto, estremece
partilha das ilusões do homem ingênuo. È a in- para depois voltar a acalmar-se em seu lugar.
genuidade que se dilacera a si mesma dentro Exprimiria muito mal o que se passa dizendo
da noite. Entre o Ser em si e a "vida interior", que “um componente subjetivo” ou uma “con-
nem mesmo entrevê o problema do mundo. tribuição corporal” passa a recobrir as próprias
Nós, ao contrário, é em direção a esse pro- coisas; não se trata de outra camada ou de um
blema que caminhamos. O que nos interessa véu que viria colocar-se entre mim e elas.
não são as razões que se podem ter para tomar
como “incerta” a existência do mundo – como M. Merleau-ponty, 1964
se já soubéssemos o que é existir e como se MERLEAU-PONTY, M. O visível e o invisível.
toda a questão fosse aplicar corretamente esse São Paulo: Editora Perspectiva, 1971.
conceito. O que nos importa é precisamente
saber o sentido de ser do mundo; a esse pro-
pósito nada devemos pressupor, nem a idéia in-
gênua do ser em si, nem a idéia correlata de um
ser de representação, de um ser para a cons-
ciência, de um ser para o homem: todas essas
são noções que devemos repensar a respeito
de nossa experiência do mundo, ao mesmo
tempo que pensamos o ser do mundo. Cabe-
nos reformular os argumentos céticos fora de
todo preconceito ontológico, justamente para
sabermos o que é o ser-mundo, o ser-coisa, o
ser imaginário e o ser consciente.

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REFERÊNCIAS
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