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Metodologia da Pesquisa:
Educação Matemática
5.º
Período
Manaus 2008
FICHA TÉCNICA
Governador
Eduardo Braga
Vice–Governador
Omar Aziz
Reitora
Marilene Corrêa da Silva Freitas
Vice–Reitor
Carlos Eduardo S. Gonçalves
Pró–Reitor de Planejamento
Osail de Souza Medeiros
Pró–Reitor de Administração
Fares Franc Abinader Rodrigues
Pró–Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários
Rogélio Casado Marinho
Pró–Reitora de Ensino de Graduação
Edinea Mascarenhas Dias
Pró–Reitor de Pós–Graduação e Pesquisa
José Luiz de Souza Pio
Coordenador Geral do Curso de Matemática (Sistema Presencial Mediado)
Carlos Alberto Farias Jennings
Coordenador Pedagógico
Luciano Balbino dos Santos
NUPROM
Núcleo de Produção de Material
Coordenador Geral
João Batista Gomes
Editoração Eletrônica
Helcio Ferreira Junior
Revisão Técnico–gramatical
João Batista Gomes
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
UNIDADE V – O Memorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
PERFIL DOS AUTORES
Quando nos reunimos, pela primeira vez, com o corpo docente do Curso de Formação de Professores para
o Ensino da Matemática, ficamos apreensivos quanto à possibilidade de construir uma proposta de curso de
Metodologia da Pesquisa que estivesse em consonância com a proposta inovadora requerida pela Coor-
denação. Essa apreensão decorria do fato de ter a disciplina um conteúdo universal, e o aprendizado dos
alunos vincular-se a uma tarefa de realização do Trabalho de Final de Curso, o TCC. Não era só isso que a
Coordenação queria! Queria que a disciplina, enquanto parte do desenho do curso, fosse inovadora nos as-
pectos que pudessem caber em uma nova mensagem: colaborar no processo de reflexão e ação dos alunos
na construção de uma nova maneira de encarar o Ensino da Matemática.
Apesar dos anos de trabalho da equipe com os conteúdos – que, em parte, se encontram neste livro –, e da
sua experiência com as práticas de pesquisa, que apresentam resultados finais no formato de monografias,
dissertações e teses, estávamos diante de um desafio: pensar uma direção nova para o nosso curso.
O ponto de partida, nesse caso, foi acompanhar as discussões pedagógicas da Coordenação com os pro-
fessores, para apreender o sentido de unidade de propósitos. Em seguida, construir juntos o conceito de
pesquisa indissociável do Ensino da Matemática, mas pensando no Professor-Pesquisador. Esse parece ter
sido o primeiro consenso.
Em que consiste esse conceito? O professor-pesquisador do Ensino da Matemática não estará preocupado
apenas com a transmissão de conteúdos e com os processos didáticos dessa transmissão. Precisa com-
preender todo o processo no qual se insere a tarefa de educar, de ensinar, de acompanhar e avaliar o per-
curso do aluno como aprendente, como sujeito social e como portador e criador de cultura. A pesquisa de-
verá ser a ferramenta de trabalho para compreender o processo em sua complexidade. A indissociabilidade
entre a pesquisa, os conteúdos e as demais práticas dos alunos configuram um contexto de inter e multidis-
ciplinaridade em alguns momentos. De interdisciplinaridade, quando colocamos a metodologia da pesquisa
e o conhecimento dos métodos rigorosos de investigação científica a serviço do processo de descoberta e
produção de conhecimento em Matemática. Multidisciplinar, quando extrapolamos esse espaço de inter-
secção dessas duas áreas de conhecimento para abarcar o conhecimento sobre os processos cognitivos,
que envolvem o aprender em todas as suas nuanças e chega ao terreno da prática de vida dos sujeitos, im-
pregnando o modo de construção social da realidade.
Muitos dos conteúdos são universais e, por isso, estão neste e em todos os manuais de Metodologia da
Pesquisa que se possa tocar. No entanto esses mesmos conteúdos devem-se colocar a serviço de outra
episteme, aquela que preside o fazer científico do Professor-Pesquisador no ensino da matemática.
O que aparece de novo neste manual – e que o distingue dos outros – é a construção coletiva das Linhas de
Pesquisa. As linhas de pesquisa vão reunir, em cada uma, as temáticas específicas que nos interessam, en-
quanto proposta de curso, mas que contemplam, também, as necessidades de conhecer dos alunos do
curso, que podem estar bem perto da realidade social e do espaço de labor. As contribuições dos profes-
sores do curso de Formação de Professores para o Ensino de matemática da UEA foram inestimáveis para
traçá-las, pelo que agradecemos penhoradamente.
A metodologia da Pesquisa será ministrada em nosso curso em duas disciplinas. Na primeira, vamos tratar
da relação entre o Ensino da Matemática e a Pesquisa; a definição das linhas de pesquisa e uma descrição
sumária do que elas representam no contexto geral do fazer pedagógico do professor. Retomaremos e apro-
fundaremos a nossa compreensão epistemológica da investigação científica e trabalharemos os métodos de
abordagem e procedimentos. Em seqüência, vamos detalhar o processo de elaboração do Projeto de Pes-
quisa, visto que os alunos terão que apresentar, até o fim desta disciplina, um projeto de pesquisa para sub-
sidiar a monografia que terão de elaborar para integrar o TCC. Vamos ajudá-los a construir um projeto sim-
plificado com o objetivo de produzir um diagnóstico da escola onde trabalham ou prestarão estágio supervi-
sionado. Veremos, ainda, como se faz um Memorial.
O Memorial, o Diagnóstico e a Monografia juntos formarão o Trabalho de Final de Curso e, assim, comple-
tarão a formação acadêmica dos estudantes nas indissociáveis funções do ensino superior: ensino, pes-
quisa e extensão.
Na disciplina Metodologia II, vamos tratar dos aspectos formais da elaboração da monografia e dos elemen-
tos pré-textuais e pós-textuais do TCC, completando os conteúdos necessários ao bom desempenho dos
alunos, dentro das normas da ABNT e daquelas fixadas pela UEA.
Agradecemos à Coordenação do Curso pelo convite para participar de mais essa empreitada da UEA, aos
colegas professores que nos ajudaram a traçar os caminhos desse novo curso e à Equipe Técnica que
transformará esses originais no livro-manual da disciplina, dedicado a todos os nossos alunos.
A EQUIPE
UNIDADE I
O Ensino da Matemática e a Pesquisa
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
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UEA – Licenciatura em Matemática
números, para conferir crédito e débito, para Estamos, portanto, diante da questão mais im-
avaliar coeficientes, indicadores, porcentuais portante de nosso curso: o entendimento de
de impostos embutidos em tudo que compra, que os professores em formação do Curso de
em tudo que come e em tudo que veste. Como Licenciatura em Matemática têm um compro-
falar em transparência na administração públi- misso formal com o conhecimento dos conteú-
ca se não conseguirmos entender as contas dos da Ciência Matemática, com as práticas de
dos governos? Como não cair na mão dos ban- ensino e com a formação dos alunos para en-
queiros estabelecidos, dos financistas agiotas tender o mundo com as suas ciências, suas
e “bandidos informatizados”, com seus “chupa- técnicas, suas práticas e seus sistemas de
cabras” nos caixas de banco ou nas lojas virtu- poder. Tudo isso está contido naquele ato sin-
ais da Internet, nas contabilidades milionárias gelo da sala de aula, quando a criança desco-
de financeiras pouco confiáveis, que vendem bre o poder e a magia dos números. Essa ma-
miríades nos horários nobres da TV ou nas es- gia tem de virar interesse, esse interesse tem
quinas das ruas, prometendo juros irrisórios? de virar perseverança, essa perseverança tem
Como livrar-se dos comerciantes inescrupulo- de virar competência e essa competência tem
sos que fazem a “cretina” pergunta, na beira de virar capacidade analítica do mundo, tem
do balcão: “com nota ou sem nota?”. E nós, de virar ação transformadora, depois que ela –
pensando que estamos fazendo um bom ne- a criança – conseguir operar a soma de todos
gócio, nem sempre entendemos que estamos os conhecimentos e de todas as percepções.
diante de um crime, de um achaque, de uma E isso vira, também, cidadania, qualidade de
violência contra a cidadania, que estamos ali- vida, sabedoria!
mentando a sonegação, que estamos tirando Nada adianta se não tratarmos primeiro de
da boca de nossos filhos o dinheiro que deve- uma mudança radical nas concepções dos
ria ir para a saúde, para a educação, para o que transitam, decidem e operam no campo
pagamento de melhores salários, para que os da educação e do ensino da matemática. Aqui
mais pobres não precisassem das “esmolas introduzimos uma nova noção diferenciadora
governamentais” batizadas com o nome de entre Ensino da Matemática e Educação Mate-
“bolsa disso ou daquilo”, forma compensatória mática. Por que é crucial para nós essa distin-
que “vicia o cidadão”, como nos diz o ção? Vamos entender o ensino da matemática
saudoso Luiz Gonzaga, em célebre canção. como o conjunto de conteúdos, procedimen-
Como exercer a fiscalização cidadã sem tos e práticas para transmitir os conhecimentos
conhecimento de causa? matemáticos prescritos para as séries do en-
É, por sua vez, errado atribuir somente à falta sino formal. A Educação Matemática, doravan-
dos conhecimentos de matemática todos os ví- te denominada de EM, diferencia-se por pro-
cios, todos os descalabros. O que se quer afir- priedades adicionais, contidas na mudança de
mar é que pessoas que dominam os conheci- ensino para a educação. Educar é muito mais
mentos mínimos da matemática, ao lado de que ensinar. Educar implica compatibilizar con-
outros conhecimentos, podem compreender teúdos ministrados com as capacidades cogni-
melhor a realidade, podem entender melhor tivas do educando, implica confrontar esses
outros constructos do conhecimento geral. Por conhecimentos com outros para integrá-los,
que? Por causa da questão epistemológica: associá-los e dissociá-los, em conformidade
a matemática e a lógica, como ciências for- com os processos de cognição e a compreen-
mais, estão na base de todas as ciências, de são de mundo do aprendente, no ato de apre-
todos os conhecimentos possíveis e ima- ender, aceitos e incorporados à ação e à re-
gináveis em nosso mundo sensível. Nada se flexão. Enquanto o ensino instrui, adestra e ca-
constrói sem essa base e, se assim for feito, o pacita, a educação compreende tudo isso mais
que acima for construído desabará ou ficará a operação complexa do emprego racional e
torto, ficará defeituoso, precisará de correção, crítico do que é apreendido nas práticas do
de ajuste. fazer humano. Não se trata, apenas, de uma
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
mudança de métodos, mas, também, de atitu- cador matemático. Agora, de nada adianta ser
de dos educadores, de comportamento profis- um professor de matemática com cabeça e
sional, de preparação dos professores, de pla- postura de bacharel em matemática.
nejamento institucional e, sobretudo, da ado-
A Educação Matemática, pela sua importância
ção de novas formas de relação no processo
e especificidade, vem-se consolidando como
educativo em geral.
uma área de conhecimento situada na Grande
O matemático é diferente do educador mate- Área de Ciências Humanas e Sociais, e segue
mático, embora um não exclua o outro e pos- uma mesma orientação epistemológica que se
sam coexistir no mesmo profissional, mas é aplica, também, ao Ensino da Física e da Bio-
preciso distinguir a ação de um e a de outro.
logia. À medida que ganha autonomia acadê-
Tanto o profissional do magistério quanto o sis-
mica e toma os processos educativos aplica-
tema educacional têm de levar em conta essas
dos à educação matemática, define um objeto
diferenças de atuação. Não é por outra razão
de estudo e produz novos conhecimentos, que
que os educadores matemáticos devem ser li-
fortalecem tanto a Educação quanto a Mate-
cenciados em educação matemática (corres-
mática enquanto Ciência Formal.
pondente à licenciatura em matemática).
Atualmente, é possível fazer uma licenciatura
Entre nós, no Brasil, infelizmente, guarda-se
uma idéia errônea, fruto de ignorância e pre- (ou mesmo um bacharelado) e completar a for-
conceito, de que o licenciado é inferior ao mação com um Mestrado e/ou Doutorado em
bacharel. No mundo todo – e aqui também –, Educação Matemática. No mundo todo, as gran-
pela lei, pelo tempo de duração do curso, pelo des Universidades mantêm cursos de Pós-
currículo e pelas exigências de prática acadê- Graduação nessa área. No Brasil, a CAPES –
mica, a licenciatura é um grau superior ao Fundação Capacitação de Pessoal Docente de
bacharelado. O licenciado pode, portanto, exer- Nível Superior tem essa área como prioritária.
cer todas as funções inerentes ao bacharel e, Funcionando e credenciados pela CAPES, te-
só ele, pode exercer o magistério: ser um edu- mos, hoje, os seguintes programas:
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UEA – Licenciatura em Matemática
Cursos:
M - Mestrado Acadêmico, D - Doutorado, F - Mestrado Profissional
Como se pode observar no quadro acima, são 1.1 TENDÊNCIAS, LINHAS DE PESQUISA
20 (vinte) os programas de Pós-Graduação em E SUAS TEMÁTICAS EM EDUCAÇÃO
Ensino ou Educação Matemática. Na Universi- MATEMÁTICA
dade do Estado do Amazonas (UEA) – Escola Quando falamos em tendências, queremos re-
Normal Superior –, é oferecido, regularmente, ferir-nos aos rumos que vêm tomando as pre-
um curso de Mestrado Profissional em Ensino ferências dos estudiosos. Linhas de Pesquisa
de Ciência. Já aprovado pelo Conselho Univer- são mais específicas e correspondem a agru-
pamentos de temas especiais correlatos para
sitário, será ministrado um Curso de Especia-
efeito de investigação científica. Novas temáti-
lização em “Educação Matemática”. Estão em
cas são fruto de exigências emergenciais, mui-
curso as negociações entre as instituições uni- tas vezes resultantes do surgimento de cam-
versitárias para a formação de uma Rede Uni- pos novos de aplicação da matemática ou do
versitária de Ensino de Ciências e Matemática, seu ensino.
com a Ajuda da CAPES, para formar Mestres e Apoiados em J. Kilpatrick, os autores Dario
Doutores na Amazônia. Fiorentini e Sergio Lorenzato (2006) apontam
as tendências temáticas mais em voga no
mundo da investigação da EM:
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
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UEA – Licenciatura em Matemática
dológico próprio. Isso significa dizer: um modo A segunda “tempestade de idéias” pode ser
próprio de resolução dos problemas de pes- representada pelo esforço para contextualizar
quisa levantados. O objeto de estudo, o lugar o tema, buscando todas as conexões dele com
da pesquisa, os métodos de abordagem e de a realidade do mundo em que vivemos, desde
procedimentos podem variar de uma linha de o epicentro, até os limites máximos de sua
pesquisa para outra. No curso da pesquisa, repercussão. Isso é necessário para que se pos-
dependendo das dificuldades ou das necessi- sa compreender a complexidade de cada tema
dades da investigação, técnicas outras de co- e separar o principal do acessório, o que é
leta de dados podem ser utilizadas pelo pes- mais importante investigar e ter isso como
quisador para obter os resultados desejados. norte a orientar as escolhas do pesquisador. É
hora da decisão! Uma vez tomada, reescreve-
1.2 AS “TEMPESTADES DE IDÉIAS” E A se o documento com o problema, as suas im-
ESCOLHA DO TEMA A PESQUISAR plicações ou contextualizações e as questões
norteadoras da investigação. O ponto seguinte
O que deve pesar na hora da escolha do tema
é enquadrá-lo na linha pertinente de pesquisa.
e da linha de pesquisa? O Educador Matemáti-
co, antes de tudo, deve fazer uma reflexão pro- Voltaremos a esse tema quando falarmos da
funda sobre a sua vivência enquanto profes- realização do projeto de pesquisa. Essa prele-
sor: as dificuldades enfrentadas no processo ção serve, apenas, para antecipar uma preocu-
de ensino; como as resolveu ou não fracassou pação que nos perseguirá o curso inteiro e terá
na sua resolução; o que observou em sua es- que chegar a um termo no momento em que,
cola, o que identificou como sendo significa- também, se aproximar a data de entrega do
tivo, mas não mereceu a atenção necessária Projeto de Pesquisa para a realização da Mo-
para ser objeto de uma investigação científica; nografia, parte do Trabalho de Conclusão de
os problemas que perduram e que devem ser Curso (TCC).
enfrentados, sejam eles de quaisquer nature-
É sempre bom ter uma idéia do que é relevante
za. Feita essa reflexão, é chegado o momento
e do que é acessório nos nossos procedimen-
de comparar as suas habilidades atuais com
tos de investigação. Uma cultura geral é ne-
as do momento em que essas coisas aconte-
cessária para quem quer ser um pesquisador:
ceram, medindo as suas possibilidades de en-
de cabeça vazia, pouco pode sair. A leitura de
frentamento. Em seguida, isolar um dos pro-
jornais, revistas do cotidiano, revistas especia-
blemas identificados, com os quais tenha afini-
dade, capacidade potencial para adotá-lo co- lizadas em educação, livros didáticos; obser-
mo tema de pesquisa, redigir um primeiro “pro- vação aguçada da realidade, conversas com
tocolo” (um pequeno documento escrito), des- os colegas, discussões acadêmicas; documen-
crevendo o problema de uma forma livre, na tos da escola (atas de reuniões de seus cole-
forma como ele aparece nas suas observações giados em que são espelhadas as questões
iniciais, com riqueza de detalhes ou de dúvidas candentes da escola); as novas descobertas
e, nesse caso, formulam-se várias perguntas. na área, as novidades de procedimentos ou
métodos de ensino; resultados de avaliação;
Depois de um intervalo, respeitado o ritmo de
cadernos dos alunos; trabalhos escolares fei-
cada um, passada essa primeira “tempestade
tos para uma disciplina do curso dentro do
de idéias”, leia com atenção o que verbalizou
por escrito e procure limpar as impressões gros- qual você começou a levantar uma problemá-
seiras, as imprecisões de pensamento, os pre- tica, mas não foi adiante; os erros e os acertos
conceitos, as fantasias, as megalomanias – dos alunos em sala de aula, os comportamen-
uma vez que tendemos a desejar “abarcar o tos do alunado nos corredores da escola; as
mundo com as pernas” e resolver, de uma vez formas de relacionamento professor-aluno, que
só, os seus problemas. Faça o primeiro teste podem ser observadas à luz do dia; as conver-
lógico: o tema é coerente com a área da edu- sas com os pais; as palavras de especialistas
cação? É interessante o suficiente para mere- que proferiram palestras na escola e tocaram
cer o meu esforço acadêmico? É viável a sua em problemas ainda não-resolvidos, pelo menos
investigação? Esforçando-me, terei capacidade em sua escola; os problemas de gestão; os
intelectual para investigá-lo adequadamente? problemas de maior complexidade e que se
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
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UEA – Licenciatura em Matemática
apontam fatores geradores de obstáculos para o tais fenômenos está colocado no quadro
ensino-aprendizado da geometria. O resumo de abaixo:
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
Almouloud (2000) propõe a utilização da De- curso metodológico inserido na linha metodo-
monstração como uma técnica para o ensino lógica da matemática experimental.
da Geometria, de modo a permitir aos alunos Para melhor esclarecer a idéia da modelagem,
uma melhor compreensão dos conceitos ge-
resumimos, no quadro abaixo, alguns dos con-
ométricos. O autor faz uso da definição dada
ceitos elaborados por autores que trabalham a
por Balacheff (1987–1988), segundo o qual a
educação matemática:
demonstração determina uma atividade do ra-
ciocínio que tem por objetivo explicar validan-
do, isto é, levando à convicção, a partir de uma
seqüência de enunciados organizados, numa
regra de dedução que interfere nas capacida-
des cognitivas, metodológicas e lingüísticas.
Para o autor, os problemas que favorecem o
fraco desempenho de alguns alunos no que diz
respeito aos conceitos e às habilidades geomé-
tricas são devidos à prática e às escolhas didá-
ticas dos professores quando ensinam a geo-
metria. Especificamente, os alunos de quinta a
oitava séries não parecem usufruir de um ensi-
no que lhes proporcione condições para:
Compreender a mudança do estatuto da fi-
gura, os estatutos da definição e dos teore-
mas geométricos, das hipóteses (dados do
problema) e a conclusão (ou a tese).
Saber utilizar as mudanças de registros de
representações.
Apropriar-se o raciocínio lógico-dedutivo.
É parecer do autor que é preciso dar atenção à
necessidade de formação adequada do pro-
fessor para trabalhar com demonstração em
geometria, de modo a permitir aos alunos a
apropriação dos conceitos e das habilidades
geométricos no ensino fundamental.
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UEA – Licenciatura em Matemática
Dessa forma, podemos, a partir da interação alunos formulam e resolvem problemas. Eles
do sujeito com o objeto que ele deseja conhe- também são responsáveis pela coleta de infor-
cer, construir o formal para depois utilizar em mações e pela simplificação das situações-
situações variadas e mais ampliadas. problema.
Para Machado e Espírito Santo (2004), o pro- O quadro abaixo esquematiza a participação
cesso de desenvolvimento de uma atividade de do professor e do aluno em cada um dos ca-
modelagem matemática compreende etapas sos acima citados.
fundamentais. São elas:
• Deve-se escolher um tema central para ser Bassanezi (2002) lista um conjunto de pontos
desenvolvido pelos alunos e recolher dados para destacar a relevância da modelagem ma-
gerais e quantitativos que possam ajudar a temática quando utilizada como instrumento
levantar hipóteses com o objetivo de elabo- de pesquisa. Para o autor, a modelagem:
rar problemas conforme interesse dos gru- • Pode estimular novas idéias e técnicas ex-
pos de alunos. perimentais.
• Devem-se selecionar as variáveis essenci- • Pode dar informações em diferentes aspec-
ais envolvidas nos problemas e formular as tos dos inicialmente previstos.
hipóteses, etapas necessárias à sistemati- • Pode ser um método para se fazerem inter-
zação dos conceitos que serão usados na
polações, extrapolações e previsões.
resolução dos modelos e na interpretação
• Pode sugerir prioridades de aplicações de
da solução (analítica e, se possível, grafica-
mente). recursos e pesquisas e eventuais tomadas
de decisão.
• Dependendo do objetivo, fazer a validação
dos modelos, confrontando os resultados • Pode preencher lacunas onde exista falta
obtidos com os dados coletados. de dados experimentais.
Barbosa (2001) classifica os casos de mode- • Pode servir como recurso para melhor en-
lagem, a partir de estudos nacionais e interna- tendimento da realidade.
cionais, de três diferentes formas: • Pode servir de linguagem universal para com-
Caso 1 – O professor apresenta a descrição de preensão e entrosamento entre pesquisado-
uma situação-problema, com as informações res em diversas áreas do conhecimento.
necessárias à resolução para o problema for- Alguns obstáculos têm sido evidenciados no uso
mulado, cabendo aos alunos o processo de da modelagem matemática como estratégia de
resolução. ensino-aprendizagem (Bassanezi, 2002):
Caso 2 – O professor traz para a sala um pro- Obstáculos instrucionais:
blema de outra área da realidade, cabendo aos Dificuldade de cumprir programas pré-esta-
alunos a coleta das informações necessárias à belecidos nos planos de ensino, dos con-
sua resolução. teúdos tradicionalmente abordados em ca-
Caso 3 – A partir de temas não-matemáticos, os da série, numa seqüência a priori.
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
O tempo de que o professor deve dispor • Ser utilizado como fonte de informação pa-
para desenvolver esses conteúdos, determi- ra alimentar o processo de ensino e apren-
nados por uma sociedade competitiva, que dizagem.
visa à preparação para o ingresso à univer-
• Ser utilizado como auxiliar no processo de
sidade, em geral não permite o ensino por
construção de conhecimento.
meio do processo de modelagem como mé-
todo de ensino. • Ser utilizado como meio para desenvolver
Obstáculos para estudantes: autonomia pelo uso de softwares que possi-
bilitem pensar, refletir e criar soluções.
Muitas questões são observadas simultane-
amente, o que pode provocar maior com- • Ser utilizado como ferramenta para realizar
plexidade na interpretação e na assimilação determinadas atividades, como planilhas ele-
dos temas abordados. trônicas, processadores de texto, banco de
dados, etc.
Falta de experiência por parte dos alunos e
do professor para formular questões frente a Entretanto o bom uso dessa ferramenta depen-
uma situação. de tanto da tecnologia utilizada quanto dos
Obstáculos para professores: softwares (programas) empregados. Faz-se ne-
cessário que o professor defina os objetivos e
Uma maior disponibilidade principalmente
domine bem as atividades a que se propõe.
pela necessidade de buscar conhecimen-
tos não apenas matemáticos, de modo a ga- A adequação de um software depende da for-
rantir a transdisciplinaridade necessária para ma como esse vai inserir-se nas práticas de en-
abordar o tema. sino, das dificuldades dos alunos identificadas
Falta de tempo para estudo sobre temas fo- pelo professor. Depende ambém de uma aná-
ra da matemática e para preparação das au- lise das situações realizadas com alunos para
las que envolvem o tema em estudo. os quais o software é destinado. Para tanto, é
importante que o professor tenha parâmetros
A INFORMÁTICA NO ENSINO de qualidade definidos, para poder identificar a
FUNDAMENTAL DA MATEMÁTICA adequação de um software às suas necessi-
Segundo dados do Sistema Nacional de Ava- dades e aos seus objetivos.
liação Básica – SAEB de 2003, entre 1999 e Alguns programas e suas características princi-
2003, o percentual de alunos de 1.a a 4.a série pais:
que freqüenta escolas com acesso à Internet
subiu de 6,4% para 16,7%. a) Cabri Geometre II e Sketchpd – ferramen-
tas para geometria:
A utilização de computadores nas aulas de ma-
temática, nas séries do ensino fundamental, São ferramentas, especialmente, para cons-
pode ter várias finalidades, tais como: fonte de truções em Geometria. Dispõem de ‘régua
informação; auxílio no processo de construção e compasso eletrônicos’, sendo a interface
de conhecimento; um meio para desenvolver de menus de construção em linguagem
autonomia pelo uso de softwares que possi- clássica da Geometria. Os desenhos de ob-
bilitem pensar, refletir e criar soluções. jetos geométricos são feitos a partir das
Para Magina apud Gladcheff, Zuffi e Silva (2001), propriedades que os definem. Por meio de
o computador, utilizado de forma adequada, deslocamentos aplicados aos elementos
pode contribuir para a criação de um cenário que compõem o desenho, este se transfor-
que ofereça possibilidades para o aluno fazer a ma, mantendo as relações geométricas que
ligação entre os conceitos matemáticos e o mun- caracterizam a situação. Assim, para um
do prático. dado conceito ou teorema, temos associa-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) da uma coleção de ‘desenhos em movi-
já colocam várias finalidades do uso do com- mento’, e as características invariantes que
putador nas aulas de matemática. O computa- aí aparecem correspondem às proprieda-
dor pode: des em questão.
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UEA – Licenciatura em Matemática
O Cabri Geometre II é fabricado pela Univer- Se o software expõe situações em que a cri-
sidade de Grenoble (França), disponível no ança valoriza e usa a linguagem Matemá-
endereço . tica para expressar-se com clareza e pre-
cisão.
b) Régua e Compasso – ensino da geometria
Se o software valoriza o progresso pessoal
Desenvolvido pelo professor René Groth- do aluno e do grupo.
mann, da Universidade Católica de Berlim.
b) Quanto à usabilidade:
O software é composto por várias ferramen-
Verificar se o tipo de interface é adequada à
tas e funções que abordam conceitos e
faixa etária a que o software se destina.
demonstrações geométricas. Permite cons-
truir figuras geométricas que podem ser al- Verificar se as representações das funções
teradas movendo-se um dos pontos bási- são de fácil reconhecimento e utilização.
cos, sendo que as propriedades originais Verificar se as orientações dadas pelo soft-
de tais figuras são mantidas. Assim, diver- ware sobre sua utilização são claras e fáceis
sos tópicos relacionados à Geometria Plana de serem entendidas.
Euclidiana e à Geometria Analítica podem Verificar se a quantidade de informação em
ser explorados. O Régua e Compasso é de cada tela é apropriada à faixa etária a que
fácil manuseio, possibilitando a construção se destina o software, se é homogênea, de
de figuras geométricas das mais simples às fácil leitura e não possui erros.
mais complexas, composto por uma inter- Verificar se o software possui saídas claras
face bem apresentável e didática. Além das de emergência, para que o aluno possa dei-
vantagens relacionadas ao fator conteúdo, xar um estado não desejado, quando esco-
esse software instiga e incentiva a criativi- lheu erroneamente uma função, sem que o
dade e a descoberta. fluxo do diálogo e a sua continuidade sejam
De modo geral, Gladcheff, Zuffi e Silva (2001) prejudicados.
apontam os seguintes aspectos pedagógicos Verificar se a animação, o som, as cores e
a serem considerados pelo professor/educa- as outras mídias são utilizadas com equi-
dor em softwares educacionais de Matemática líbrio, evitando poluição “sonora” e/ou “vi-
do Ensino Fundamental: sual”.
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
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UEA – Licenciatura em Matemática
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
de uma realidade, revelando os seus aspec- preta”, essa tendência defende o estudo da
tos negativos por seus praticantes, corre- realidade como ela se apresenta, e não ape-
lata à “caixa-preta” de um avião que con- nas as suas falhas. Assim, o pesquisador de-
tém as informações do porquê de sua veria despir-se de julgamentos a priori so-
queda. O que interessa investigar, mais do bre a realidade e apresentar as alternativas
que as informações da realidade, é o imag- que são criadas pelos praticantes do cotidi-
inário dos praticantes do cotidiano acerca ano na sobrevivência, em suas realidades.
do conteúdo da “caixa-preta”. As As pesquisas atuais sobre o cotidiano enten-
mudanças no sistema passariam pela
dem que há cotidianos múltiplos compreendi-
“caixa-preta” em processos de planos de
dos numa rede de subjetividades, dentro da
entrada, feedback e saída.
qual está presente a escola. Defendem os es-
2. Cotidiano e Currículo – Esta tendência tudos a partir dos acontecimentos e criticam o
tem o seu referencial teórico-metodológico modelo da ciência moderna, que além de im-
em Gramsci e nos filósofos da Escola de por ao conhecimento científico um status supe-
Frankfurt (com Habermas sendo seu princi- rior e de superação ao conhecimento cotidiano
pal pensador). Estuda-se o cotidiano esco- (equiparando este último ao “senso comum”),
lar para compreender a escola e as suas seus métodos de pesquisa não comportam os
relações com a sociedade, por meio da estudos sobre os acontecimentos culturais nos
Pesquisa Participante e da sua íntima re- cotidianos.
lação com os movimentos sociais. As
O acontecimento, foco principal das pesquisas
pesquisas norte-americanas de Robert
sobre os cotidianos, não é fato social, tampou-
Stake propõem a idéia de multiplicidade e
co pode ser isolado:
complexidade nos processos do cotidiano
escolar, por meio do cruzamento de fontes,
Acontecimento – é preciso entendê-lo não
pela observação do cotidiano escolar e
como uma decisão, um tratado, um reinado ou
pela impossibilidade de generalização das
uma batalha, mas como uma relação de forças
conclusões da pesquisa.
que se inverte, um poder confiscado, um vo-
3. Cotidiano e Cultura – Originada na Ingla- cabulário retomado e voltado contra seus usuá-
terra pelos estudos de Stenhouse (1991), rios, uma dominação que se debilita, se disten-
que cria a concepção de professor-pesqui- de, se envenena a si mesma, e outra que entra,
sador como sujeito de pesquisa na escola, mascarada. As forças em jogo na história não
defende a incorporação dos múltiplos su- obedecem nem a um destino, nem a uma me-
jeitos do cotidiano escolar, diante das dife- cânica, mas efetivamente ao acaso da luta.
renças culturais existentes na sociedade. Elas não se manifestam como as formas su-
“Para Stenhouse, os professores, à medida cessivas de uma intenção primordial; tampou-
que vão questionando suas diversas práti- co assumem o aspecto de um resultado. Apa-
cas, identificadas, conhecidas e analisadas recem sempre no aleatório singular do aconte-
por meio de processos de pesquisa, são os cimento. (FOUCAULT apud ALVES, 2003, p. 65).
que podem efetivar intervenções no cotidi-
ano das escolas, desenvolvendo alternati- A preocupação epistemológica do pesquisador
vas às propostas oficiais.” (ALVES, 2003, encontra-se nos processos de mudanças da re-
64). Assim, o professor-pesquisador é su- alidade cotidiana a que ele pertence e para os
jeito participante da pesquisa, contribuindo quais contribui em diálogos com os praticantes
para a modificação do espaço escolar em do cotidiano. Essas mudanças são, historica-
que ele trabalha. mente, produzidas pelo homem concomitantes
4. Cotidiano e Descrição da Realidade – Cria- aos processos de reprodução do saber.
da no México por Justa Ezpeleta e Elsie
Rockwell (1986), numa crítica à concepção Ou seja, ao mesmo tempo que reproduzimos o
hegemônica do cotidiano como “caixa- que aprendemos com as outras gerações e
25
UEA – Licenciatura em Matemática
com as linhas sociais determinantes do poder diálogo com os praticantes do cotidiano, pois
hegemônico, vamos criando, todo dia, novas “[...] somente com suas narrativas das memó-
formas de ser e fazer que, “mascaradas”, vão rias coletivas e individuais, em suas contradi-
se integrando aos nossos contextos e ao nos- ções e divergências, podem-se praticar os mo-
so corpo, antes de serem apropriadas e pos- dos necessários para se conhecerem as for-
tas para consumo, ou se acumulem e mudem mas de viver do homem e da mulher contem-
a sociedade em todas as suas relações. É, porâneos[...]” (ALVES, 2003, p.73).
pois, assim que aprendemos a encontrar solu- As pesquisas sobre educação matemática e o
ções para os problemas criados por soluções cotidiano escolar devem conceber a matemá-
encontradas anteriormente. No entanto, é pre- tica como uma prática social contextualizada e
ciso ter, de modo permanente, a atenção des- culturalmente construída, numa concepção de
perta, porque as tentativas de “aprisionar” este ensino-aprendizagem entre professor-pesqui-
processo são violentas e moralistas, sempre. sador e estudantes que trocam saberes e co-
Mas o tempo todo, também, aparecem manei- nhecimentos, utilizando-os como ferramentas
ras de burlar o que querem “estabelecido”, de sobrevivência cotidiana, superando a con-
“instituído” para sempre, surpreendendo até cepção pedagógica tradicional de ensino e
mesmo quem as empreende no que trazem de aprendizado. Nessa perspectiva antagônica,
singular, e mesmo nos modos como se gene- estabelece-se uma relação dialógica horizontal
ralizam. (ALVES, 2003, p. 66). e interdisciplinar entre professor e alunos, que
tem o “[...] seu ponto de partida no universo vi-
A escola pertencente à rede de subjetividades vencial comum entre os alunos e os profes-
do cotidiano é um espaço-tempo de pesquisa sores, que investiga ativamente o meio natural
em que o saber acumulado é reproduzido, e as ou social real, ou que faz uso do conhecimento
mudanças imprevisíveis, e muitas vezes imper- prático de especialistas e outros profissionais
ceptíveis, são criadas por seus praticantes a [...]” (MENEZES, 1998, p. 52).
partir de soluções antigas. As concepções educacionais que motivam o
estudo do cotidiano e a matemática implicam
Essa visão de Escola como espaço social em estudos sobre a etnomatemática, as práticas
que ocorrem movimentos de aproximação e docentes, as representações e o imaginário dos
de afastamento, onde se criam e recriam co- praticantes do cotidiano, os movimentos de re-
nhecimentos, valores, significados, vai exigir o sistência e dominação das relações sociais, os
rompimento com uma visão de cotidiano es- estudos interdisciplinares e transdisciplinares,
tática, repetitiva, disforme, para considerá-la, a apropriação do conhecimento e das tecnolo-
como diria GIROUX (1986), um terreno cultural gias e suas implicações na realidade vivida,
caracterizado por vários graus de acomoda- podendo, assim, ser exemplificados:
ção, contestação e resistência, uma pluralida- • Prática de resolução de problemas de 20
de de linguagens e objetivos conflitantes. Nes- professores da Rede Pública Municipal de
se sentido, o estudo da prática escolar não se Manaus.
pode restringir a um mero retrato do que se pas- • Práticas pedagógicas e desempenho esco-
sa no seu cotidiano; deve, sim, envolver um lar satisfatório dos adolescentes em situa-
processo de reconstrução dessa prática, des- ção de risco.
velando suas múltiplas dimensões, refazendo • Representações do professor de matemá-
seu movimento, apontando suas contradições, tica sobre a sua prática em sala de aula.
recuperando a força viva que nela está pre- • Movimentos de resistência e dominação dos
sente. (ANDRÉ, 1991, p.71-72) estudantes nas aulas de matemática.
• Estratégias de aprendizagem dos estudan-
Cabe ao pesquisador compreender a diversi- tes do ensino médio numa escola pública
dade e a complexidade do cotidiano; dialogar estadual de Parintins.
com as teorias opostas produzidas pela ciên- • O estudo da geometria no currículo escolar
cia moderna, buscando superá-las; e manter o indígena.
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
27
UEA – Licenciatura em Matemática
tivo ele brinca, experimenta, intui, vê o todo, in- de um aprofundamento na área da psicologia e
terage com as pessoas, aciona o cinestésico, – porque não acrescentar – da epistemologia e
o espiritual, o sensual e o tátil. Quando está da psicopedagogia. As investigações nessas
aprendendo ele explora, vivencia, descobre, áreas permitirão compreender os processos
qualifica, elabora conceitos, aciona o emo- abstrativos de construção do conhecimento,
cional, sente, internaliza e compartilha. Estas assim como as dificuldades na aprendizagem
características determinam o predomínio da da matemática e suas formas de superação
emoção e contribuem para a ludicidade. (SAN- através do lúdico. Nesse caso, a ludicidade e o
TOS et al, 2001, p. 12-13). ensino da matemática caminham pela didática,
seja como formulação geral ou ainda especí-
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, Ensino fica para a área do conhecimento matemático.
Médio, Parte III, implicitamente apresentam as
Quanto a esse aspecto, cabem algumas reco-
contribuições da neurociência para o ensino
mendações para que não se solidifiquem ações
das Ciências da Natureza, Matemática e suas
intervencionistas em vez de pesquisa científica.
Tecnologias, numa concepção interdisciplinar
O rigor metodológico da investigação deve ser
com base no desenvolvimento das competên-
priorizado; caso contrário, o professor-pesqui-
cias e habilidades. Cabe o destaque à Mate-
sador pensará que realiza pesquisa com a ludi-
mática como ciência motivadora e de suporte
cidade e o ensino da matemática, enquanto que
às demais, cujo objetivo maior está na criação
suas ações são resultados de projetos de en-
e não na repetição. Por mais que, nos PCN´s,
sino-aprendizagem e não de pesquisa científica.
o termo lúdico não esteja evidente, verifica-se a
ludicidade nos procedimentos de ensino-apren- A ciência não pode ser revestida de precon-
dizagem, assim como nos objetivos para o de- ceitos, por mais que eles repousem no senso co-
senvolvimento do raciocínio no mundo real, mum. Um deles, ao tratar do lúdico e o ensino da
tendo como premissa a criatividade. matemática, encontra-se na concepção da infân-
cia como referência para o brincar, retirando a
À medida que vamos nos integrando ao que
brincadeira do espaço pedagógico do adoles-
se denomina uma sociedade da informação
cente, do adulto e da terceira idade. Ora, a
crescentemente globalizada, é importante que
ludicidade e a sua correspondência com os sis-
a Educação se volte para o desenvolvimento
temas de emoção humana não se interrompem
das capacidades de comunicação, de resolver na infância; temos a necessidade do lúdico em
problemas, de tomar decisões, de fazer infe- todos os espaços pedagógicos (não apenas na
rências, de criar, de aperfeiçoar conhecimen- escola), independentemente de idade ou de
tos e valores, de trabalhar cooperativamen- qualquer outra condição que queira cercear o
te.[...] Contudo, a Matemática no Ensino Mé- brincar da condição do pensamento humano.
dio não possui apenas o caráter formativo ou Assim, as pesquisas que envolvem o lúdico e o
instrumental, mas também deve ser vista co- ensino da matemática são frutíferas na escola,
mo ciência, com suas características estrutu- tanto no ensino fundamental como no ensino
rais específicas. É importante que o aluno per- médio.
ceba que as definições, demonstrações e en- Ainda no ensino superior, a ludicidade e a ma-
cadeamentos conceituais e lógicos têm a fun- temática devem compor uma área de investi-
ção de construir novos conceitos e estruturas gação interdisciplinar que envolve os cursos
a partir de outros e que servem para validar in- de licenciatura e a formação de professores,
tuições e dar sentido às técnicas aplicadas. seja na formação teórica, pedagógica e lúdica.
(MENEZES et al, 1998, p. 40-41). Esta última “[...] deve possibilitar ao futuro edu-
cador conhecer-se como pessoa, saber de su-
Outra contribuição para os estudos acerca do as possibilidades e limitações, desbloquear su-
lúdico e do ensino da matemática, além da as resistências, ter uma visão clara sobre a im-
neurociência, vem da psicologia. Quem se portância do jogo e do brinquedo para a vida
aventurar por essa linha de pesquisa necessita da criança, do jovem e do adulto.” (SANTOS;
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
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UEA – Licenciatura em Matemática
investigações, tendo como ponto de partida a Essa linha de pesquisa tem por objetivo reunir
relação professor-aluno, o jogo, a brincadeira e estudos que tratem, de forma ampla e sobre di-
o brinquedo: versos aspectos, dos temas relativos à for-
• A formação do educador matemático e as mação do professor, tanto quando planejada
suas relações com a ludicidade em sala de pela instituição quanto pela iniciativa pessoal
aula. do docente, entendendo esta como necessária
à educação permanente para o exercício das
• Atividades lúdico-educativas e o aprendiza-
práticas do educador. As temáticas, portanto,
do matemático pela psicomotricidade.
devem situar a condição do “professor apren-
• Jogos tradicionais e matemática: aprendi- dente” e as implicações disso no seu cotidiano
zado, memória e presença no contexto es- e no amadurecimento como educador. Um dos
colar. aforismos-chave da obra dos autores acima
• Jogos e informática no aprendizado mate- citados é: “todo fazer é um conhecer, e todo
mático. conhecer é um fazer”.
• Espaços para aprender e brincar: constru- A idéia de aprendente é desenvolvida por Hu-
indo o pensamento matemático. go Assmann, dentre outros autores, em sua
obra Reencantar a Educação, publicada pela
• Ludicidade e Matemática: ciências comple-
Editora Vozes. Não se concebe mais a for-
mentares.
mação acadêmica como ponto de chegada.
• O brinquedo como ferramenta de apren- Pelo contrário, é um ponto de começo para a
dizado na matemática. reflexão aprofundada do fazer docente. Traba-
Quanto aos procedimentos, podemos indicar a lha-se com o conceito de “professor reflexivo”
história de vida, o estudo de caso, a análise de que, na definição de Isabel Alarcão, “é aquele
conteúdo (método clínico, histórico), o jogo so- que pensa no que faz, que é comprometido
cializante e a sociometria como exemplos de com a profissão e se sente autônomo, capaz
caminhos metodológicos coerentes com a fe- de tomar decisões e ter opiniões. Ele é, sobre-
nomenologia-hermenêutica e com o interacio- tudo, uma pessoa que atende aos contextos
nismo simbólico que podem utilizar as mais di- em que trabalha, os interpreta e adapta a
versas técnicas, como a observação, a entre- própria atuação a eles. Os contextos educa-
vista, a pesquisa documental, as técnicas pro- cionais são extremamente complexos e não há
jetivas (a exemplo do desenho comentado) e um igual a outro. Eu posso ser obrigado a, nu-
as anotações no diário de campo. ma mesma escola e até numa mesma turma,
utilizar práticas diferentes de acordo com o
grupo. Portanto, se eu não tiver capacidade de
1.3.5 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR analisar, vou me tornar um tecnocrata” (NOVA
A primeira questão a ser levantada, para início ESCOLA, 2002).
de conversa, seria a seguinte: o que tem a ver São vários os autores que trabalham a forma-
essa questão com o Ensino da Matemática? ção do professor, desde os clássicos com John
De pronto, podemos responder: tudo. Se hou- Dewey, Jean Piaget, D.A. Schön, A. P. Gomez,
ver a insistência do interlocutor exigindo os P. Perrenoud, Isabel Alarcão, Maria Teresa
fundamentos, responderíamos com Maturana Estrela, Emília Ferreiro (estrangeiros); Anísio
e Varela: “o que podemos tentar – que o leitor Teixeira, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima,
deve tomar como uma tarefa pessoal – é per- Ivani Fazenda, Demerval Saviani, Jamil Cury,
ceber tudo o que implica essa coincidência entre os nacionais e disseminadores desses
contínua de nosso ser, nosso fazer e nosso estudos entre nós. A discussão sobre a for-
conhecer, deixando de lado nossa atitude co- mação do professor está presente em todos os
tidiana de pôr sobre nossa experiência um selo congressos e fóruns da área de educação e
de inquestionabilidade, como se ela refletisse nas searas de governo, com políticas públicas
um mundo absoluto” (2001, p. 31). de sucesso ou não.
30
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Ensino da Matemática e a Pesquisa
31
UEA – Licenciatura em Matemática
32
UNIDADE II
A Ciência e sua Episteme
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – A Ciência e sua Episteme
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UEA – Licenciatura em Matemática
Epistemologia Geral – Busca analisar os A nossa disciplina começa exatamente por al-
critérios gerais que dão validade ao conheci- gumas questões epistemológicas que exempli-
mento científico, como o rigor do método, os ficam a razão de ser do discurso precedente
critérios de validação dos conhecimentos obti- sobre epistemologia, quais sejam: as ciências
dos e que são válidos para todas as ciências. sociais como ciência e a pesquisa em ciências
Epistemologia Genética – Está preocupada sociais. Ainda há quem duvide que as relações
com a origem e a história dos conhecimentos e sociais dos homens entre si e o mundo socio-
as suas relações com as estruturas mentais cultural por elas construído não podem ser ob-
que implicam a formulação de hipóteses, leis e jeto de estudo de uma ciência particular? Se
teorias científicas. existe uma ciência social ou ciências sociais,
Epistemologia Normativa – Cuida da apli- no plural, existem outras ciências que não são
cação dos critérios da lógica para pôr à prova sociais? Se existem, falam de coisas que não
os fundamentos das ciências e os seus níveis têm relação com a sociedade resultante das
de coerência internos, aquilo que distingue o relações entre os humanos e destes com a na-
conhecimento rigoroso e sistematizado da ci- tureza?
ência daquilo que não pode fazer parte do Quando falamos de epistemologia geral,
corpo da ciência por ser puro dogma ou mera dissemos que ela cuida dos aspectos que
doutrina.
dizem respeito a todas as ciências: das
Posto isso, podemos afirmar que a epistemo- questões do método, da METODOLOGIA DAS
logia tem um papel importante ao discutir a CIÊNCIAS, da forma de descobrir e validar o
ciência em geral e as ciências em particular: conhecimento novo. Quando falamos da
quando discute os achados das ciências e sub- epistemologia genética, referimo-nos à
mete-os à prova do rigor científico; quando faz origem (uma espécie de DNA da Ciência), ao
a crítica a esses achados e estabelece o de- nascimento de cada uma das ciências em par-
bate entre os produtores de conhecimento; ticular, ao seu estatuto de autonomia.
quando faz a critica sobre si mesma, sobre
suas normas rigorosas, sobre suas próprias in- A epistemologia tem no modo de produzir o
tolerâncias; quando ainda, como nos aponta conhecimento científico o seu objeto de estu-
Morin, dirige o debate ou acolhe o debate sobre do. As outras formas de conhecimento inte-
as questões valorativas que circulam no seio da ressam-lhe tangencialmente, embora sejam
sociedade sobre o papel, os achados das ciên- também conhecimento geral especializado ou
cias, seu emprego na vida cotidiana e no futuro não, com dimensão histórica e universal em al-
da humanidade; e quando lança ou acolhe um guns casos. Esses tipos de conhecimento inte-
olhar ético sobre a conduta da ciência. gram os terrenos da especulação filosófica,
As aplicações relativas à clonagem, por exem- das religiões, das ideologias, do senso comum
plo, antes de se tornarem questão política, éti- e da intuição humana.
ca ou religiosa, devem ser objeto de estudo da Diferentemente desse conhecimento, o conhe-
epistemologia. Tem muito a ver com o papel cimento científico já é especializado por sua
que a Biologia, enquanto ciência, está assu- natureza e, por isso, tirando a Lógica e a Ma-
mindo nesse momento histórico e como ela temática, que se colocam no campo das idéias,
vem-se impondo sobre as demais ciências, so- daí serem chamadas de ciências formais, as
bre os outros modos de saber que não são demais ciências dependem dos fatos, dos fe-
científicos, mas são normativos. É inegável que
nômenos para sobre eles se debruçar, ocor-
os avanços da Biologia têm um impacto vigo-
rendo aí a primeira divisão; por isso, são
roso sobre o entendimento que temos sobre a
chamadas de ciências factuais. Segundo Mario
vida, não somente sobre a vida humana, mas
Bunge (Apud MARCONI; LAKATOS, 2000, p.
sobre todos os tipos de vida e a forma como os
30-42), nessas ciências o conhecimento é:
seres humanos culturalmente aprenderam a li-
dar com essa problemática. Os debates sobre 1. Racional.
essas questões extrapolam até o campo da 2. Objetivo.
própria ciência, como se pode ver. 3. Factual.
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – A Ciência e sua Episteme
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UEA – Licenciatura em Matemática
ta-nos para uma direção: a do senso comum, aperfeiçoamento do método científico de bus-
pois o que fazemos, desde há muito até antes car a compreensão dos fatos da natureza bem
do surgimento das ciências, é indagar, perqui- como das relações humanas na vida socie-
rir e buscar, por todas as formas e meios, as tária. Como atividade intelectual imaginada,
explicações para coisas que nos inquietam. pensada e articulada, o método pertence ao
Nesse sentido, essa prática é imanente à con- mundo das idéias e fundamenta-se na lógica
dição humana, isto é, inseparável do homem para validar os seus critérios de coerência in-
enquanto ser e transcende quaisquer outras terna na explicação das coisas, permitindo
vontades que possamos ter, tornando-se, as- que se avance de uma explicação à outra, am-
sim, uma prática que nos coloca em contato pliando o nível de explicação dos fatos ou
com o mundo a conhecer e nos impele à bus- fenômenos complexos. Isto é, enquanto a
ca de novas sensações, ponto inicial de todo história resgata, de forma explicativa, o pas-
conhecimento. Daí, desse ponto, é que nasce a sado, as demais ciências fáticas buscam ex-
idéia de empirismo, tido como meio de conhe- plicar pela pesquisa sistemática o presente e,
cimento através da experiência do mundo sen- através do método inerente às ciências em
sível, voltado para a prática da vida, para o geral ou considerando as nuances
domínio das coisas práticas que garantem a particulares de cada ciência, permitem predi-
reprodução da existência, mesmo em condi- zer e procurar provas do que estava oculto ou
ções adversas. desconhecido ou, ainda, do não- vivido.
As práticas do cotidiano e o senso comum es- Quando a Biologia alcançou um domínio de
tão, dessa forma, encharcados de empirismo, conhecimento significativo sobre a vida huma-
o que não deixa de ser uma forma inicial de co- na (a origem, a evolução, a diversificação, a
nhecer, de pesquisar e transformar essa exper- simbiose, as formas de reprodução e manu-
iência em conhecimento e melhorar as condi- tenção), ela passou a ter mais elementos para
ções de vida. E por isso tem o seu lugar como avançar sobre questões cada vez mais com-
frisamos mais acima. plexas que se referem à nossa trajetória no
Há, no entanto, uma diferença fundamental en- mundo, quer seja no presente, quer seja no fu-
tre a pesquisa como prática imanente e fun- turo (onde as mutações nos esperam). Através
dada no empirismo e a pesquisa científica. da pesquisa, essa ciência avança esquadri-
Esta última não pode existir sem vinculação es- nhando a vida, agora querendo conhecer mais
treita com o mundo das idéias. E a idéia é a sobre o “código genético das espécies”, ins-
representação mental das coisas concretas ou crito no DNA. Desvendar o código genético tor-
abstratas; envolve as operações do intelecto. nou-se uma “idéia dominante” em nosso mun-
Na acepção filosófica, a idéia constitui-se de do contemporâneo, mobilizando recursos huma-
elementos em que aparecem condensados os nos e materiais de monta, além de fomentar o
poderes de reflexão e auto-reflexão do pensa- debate em vários outros campos da ciência.
mento (consultar verbete idéia in Dicionário da Não é por outra razão que se afirma que a
Língua Portuguesa para identificar as várias pesquisa científica não escapa, também, das
acepções do termo). A idéia que forma o cha- idéias dominantes, que a impelem em determi-
mado “mundo das idéias”, por sua vez, está ar- nada direção e não em outra. Idéias domi-
ticulada, para a ciência, com o mundo da ra- nantes rompem com o obscurantismo, rom-
zão, com o mundo das práticas pensadas e ar- pem com os dogmas, mas se não forem cons-
ticuladas pelas generalizações, resultado de tantemente avaliadas, validadas ou não, por
experiências e investigações logicamente es- mais pesquisa, podem ser tomadas como ver-
truturadas e validadas como explicações das dades absolutas; revestidas de tanto poder,
coisas do mundo sensível e desvelado, ou, tendem a se transformar em dogma, gerando
como queriam os iluministas, o mundo desen- novos obscurantismos.
cantado. Pesquisa-se para romper com os dogmas, pa-
A prática da pesquisa implica a construção e o ra superar a força das doutrinas, para conhe-
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – A Ciência e sua Episteme
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UEA – Licenciatura em Matemática
todo conhecimento aspira tornar-se “sabedoria 25). Nesse sentido, possui como característica
de vida” para ser, verdadeiramente, universal. básica a quantificação dos dados.
2.3 OS TIPOS DE PESQUISA Pesquisa Prática – É aquela em que se faz
Uma investigação necessita de parâmetros nor- teste prático. Essa linha de pesquisa, muitas
teadores que orientem a conduta do pesquisa- vezes, é desenvolvida por pessoas que ja-
mais pararam para teorizar, pois tudo o que
dor na organização da sua pesquisa, pois a
sabem é de ordem prática. Demo afirma
pesquisa não é algo genérico e igual. Depen-
ainda que: “freqüentemente dizemos que na
dendo do objeto a ser investigado e como se
prática a teoria é outra. Isto não quer so-
dará essa investigação, pode-se verificar a exis-
mente dizer que pode sempre haver
tência de diferentes pesquisas, expostas em di-
discordância entre os dois níveis, mas princi-
versas classificações teóricas e metodológi-
palmente que um não se faz sem o outro.
cas: trata-se dos TIPOS DE PESQUISA.
Nada melhor para a teoria do que uma boa
Demo (1987) distingue quatro tipos de pes- prática e vice-versa (DEMO, 1987, p. 26)”.
quisa: teórica, metodológica, empírica e prática.
O espírito investigador do homem obriga-o a
Pesquisa Teórica – “É aquela que monta e perquirir a realidade sob os mais variados as-
desvenda quadros teóricos de referência” (p. pectos e dimensões, levando-o, por conse-
23). O cientista, nesse tipo de pesquisa, assu- guinte, a buscar novos modelos de classifica-
me uma postura criadora e crítica a partir dos ção para a pesquisa. Por isso, outros autores
diálogos entre os teóricos pesquisados e a ca- apresentam tipologias diferentes da apresen-
pacidade questionadora na relação estabe- tada por Demo. Num apanhado geral,
lecida entre teoria e prática. “Boa bagagem apresentamos abaixo uma outra TIPOLOGIA
teórica significa, assim, não somente o domí- DE PESQUISA, com opções que estão
nio das teorias mais importantes em sua área intimamente ligadas aos objetivos dos
de pesquisa, mas principal e essencialmente cientistas, pois se fizerem opção por uma pes-
capacidade teórica prática, ou seja, personali- quisa pura ou básica estarão buscando satisfa-
dade teórica formada, no sentido de dialogar zer uma necessidade intelectual pelo conheci-
com os outros teóricos atuais ou clássicos, não mento. Se a opção for uma pesquisa aplicada,
como mero aprendiz ou discípulo, mas como com o objetivo de contribuir socialmente, essa
alguém que também constrói teoria, tem suas trará soluções para problemas concretos e
posições teóricas formadas, enfrenta polêmi- imediatos.
cas próprias, marca a história da disciplina com Nos dois casos, é possível optar por tipos de
contribuições originais (DEMO, 1987, p. 24)”. pesquisa, numa tipologia diferenciada que po-
Pesquisa Metodológica – É aquela que se de assim ser mencionada:
preocupa com os instrumentos de captação e Pesquisa Bibliográfica – Constitui-se num
manipulação da realidade. Enveredar por esse meio de formação por excelência. Nas áreas
caminho, para muitos, pode ser especulação, das Ciências Humanas, pode-se caracterizar
devaneio, mas também pode ser indispensável pela originalidade. Como resumo de assunto
para encontrar a opção teórica e prática diante (fundamentação teórica), é normalmente o
da ciência, uma vez que a pesquisa metodo- primeiro passo de qualquer pesquisa científica.
lógica é aquela que se preocupa com os ins- A pesquisa bibliográfica procura explicar um
trumentos de captação e manipulação da reali- problema a partir de referências teóricas publi-
dade. cadas em documentos. Pode ser realizada in-
Pesquisa Empírica – “É aquela voltada sobre- dependentemente ou como parte da pesquisa
tudo para a face experimental e observável dos descritiva ou experimental.
fenômenos. É aquela que manipula dados, fa- Em ambos os casos, busca conhecer e ana-
tos concretos. Procura traduzir os resultados lisar as contribuições culturais ou científicas
em dimensões mensuráveis.” (DEMO, 1987, p. do passado existentes sobre um determinado
40
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – A Ciência e sua Episteme
Esse tipo de pesquisa pode assumir formas Pesquisa Etnográfica na Educação – En-
diferenciadas, entre as quais se destacam: es- quanto antropólogos e sociólogos se preocu-
tudos exploratórios, estudos descritivos, pes- pam em descrever as culturas dos diversos
quisa de opinião, pesquisa de motivação, es- grupos e sociedades, a pesquisa etnográfica,
tudo de caso e pesquisa documental. no cotidiano escolar, volta-se para as experiên-
cias e as vivências dos indivíduos. O que mais
Ainda podemos verificar a existência de pes-
caracteriza essa pesquisa é, primeiramente, um
quisas nada fáceis, em que o investigador es-
contato direto e prolongado do pesquisador
treita as suas relações com os sujeitos envolvi-
com a situação e as pessoas ou os grupos se-
dos nesse processo de conhecimento. Além
lecionados. Observa-se, assim, que a pesquisa
de serem extremamente importantes para a
necessariamente percorre etapas que simplifi-
educação, fornecem resultados de cunho cien-
cadas podem ser destacadas em:
tífico e prático para a realidade social. Esses
TIPOS DE PESQUISA são: a pesquisa-ação, 1 Fase Exploratória – Tempo dedicado a in-
pesquisa participante e pesquisa etnográfica terrogar-se preliminarmente, ou seja, é o
na educação. momento de familiarizar-se com o proble-
Pesquisa-Ação – Para Thiollent (2000), é um ma, buscando uma aproximação com a re-
tipo de pesquisa social, com base empírica, alidade a ser investigada.
que é concebida e realizada em estreita asso- 2 Trabalho de Campo – Consiste na ida do
ciação com a realidade ou com a resolução de pesquisador a campo e, conseqüentemen-
um problema coletivo, em que os participantes te, no recorte empírico da construção teó-
e os pesquisadores representativos da situa- rica elaborada no momento (entrevistas, ob-
ção ou do problema estão envolvidos de modo servações, levantamento de material docu-
cooperativo ou participativo. Não se trata de mental, etc);
41
3 Tratamento do Material – Ordenação, clas-
sificação e análise dos dados coletados no
trabalho de campo e na produção do re-
latório, mantendo o rigor científico.
UNIDADE III
O modo de produzir conhecimento em Educação
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação
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UEA – Licenciatura em Matemática
mos, é a Escola, que pode ser vista como: 3.2 OS ENFOQUES E A PESQUISA EM
mundo sensível, isto é, onde as coisas aconte- EDUCAÇÃO NO BRASIL
cem em decorrência das “relações sujeito x su- A partir da década de setenta, no Brasil, per-
jeito” (aqueles que colaboram para a apren- cebe-se uma acentuada ênfase na pesquisa
dizagem e os educandos); e, também, como
em Educação, até então observada com uma
“mundo objetivo”, isto é, onde as relações são
certa timidez ou até mesmo com um certo ceti-
fruto de mediação pautada em normas de con-
cismo. Com isso, não queremos dizer que es-
vivência, em regras e valores consagrados pe-
tivéssemos fora do debate científico, acadêmi-
la sociedade e pela cultura. Isso nos leva a ver
co e político na área de Educação. Os traba-
a Escola de duas maneiras distintas: na sua
lhos de Fernando de Azevedo, Lourenço Filho
dinâmica, enquanto feixe de relações entre su-
e Anísio Teixeira, lideranças que encabeçam o
jeitos; e como objeto de estudo, numa relação
Manifesto dos pioneiros da educação nova, de-
sujeito (o pesquisador) e objeto a ser pesqui-
fendendo o ensino laico, público e gratuito nos
sado (a Escola). Não se trata de aplicar aqui o
anos 30, colocam o país na agenda de discus-
conceito de senso comum, ou meramente ide-
são das questões educacionais.
ológico de “objeto”, mas o entendimento cien-
tífico de uma realidade que é exterior ao pes- São várias as iniciativas que propiciaram a in-
quisador e que por ele deve ser analisada sob trodução da pesquisa em educação ou mesmo
o critério metodológico da Ciência. o teste de seus resultados. Podemos citar: as
Essa relação sujeito x objeto não elimina as re- experiências pedagógicas introduzidas como
lações sujeito x sujeito, visto que estas são, em novidade no ensino; a criação de cursos de
última análise, o objeto de estudo do pesqui- nível superior para preparar professores; a pes-
sador no que se refere à Escola. Para ser mais quisa como suporte à ação pedagógica, bem
claro: o objeto é o artifício metodológico, e a como a adoção dos mais variados enfoques
subjetividade o objeto da investigação, uma teóricos disponíveis. Recentemente, os cursos
vez que não é possível separar o sujeito obje- de pós-graduação vêm ampliando ainda mais
tivo de sua subjetividade. O conjunto das rela- os espaços, o que torna o debate mais salutar.
ções subjetivas, analisado objetivamente pela Os enfoques mais presentes, portanto de maior
Ciência, permite a compreensão de totalidade, relevo, nas pesquisas em educação podem ser
mesmo em relação a uma unidade mínima de assim apresentados: o positivista, representa-
análise como é a Escola. A sistematização da do, predominantemente, pelo estrutural-funcio-
descoberta (dados objetivos + dados subje- nalismo; o da fenomenologia, também percebi-
tivos) leva-nos ao “desvelamento”, ou seja, à do como estrutural-hermenêutico; e o da di-
revelação explicativa dos fenômenos, naquilo alética na concepção estabelecida pela cor-
que eles podem ser explicados. E isso é teo-
rente de pensamento do materialismo histórico.
ria! Só assim poderemos compreender coisas
tão complexas quanto: relações de aprendiza- Todos esses enfoques e outros transitam no
gem; problemas e sucessos de aprendiza- campo da pesquisa científica com diferencia-
gem; convivência harmônica ou desarmônica ções, muitas vezes quase imperceptíveis, pois
entre categorias que integram o mundo da muitos trabalhos nem sempre são explícitos
Escola; participação e evasão escolar; em suas metodologias ou, às vezes, utilizam
qualificação e desqualificação do corpo recursos metodológicos que aproveitam mais
docente; gratificação, satisfação e crescimento de um enfoque. É importante notar que esses
pessoal; sentimento de exclusão; relações de- enfoques não se sucedem no tempo, eles con-
mocráticas e autocráticas de poder; senti- tinuam servindo de referencial teórico para as
mento de “pertencência” de pais, alunos, pro- pesquisas que vêm sendo produzidas, e o seu
fessores, pessoal de apoio e colaboradores na uso ou adoção depende muito do problema de
condução dos destinos da Escola. pesquisa levantado pelo pesquisador ou das
demandas em educação.
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação
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UEA – Licenciatura em Matemática
g) Entrevistas muito longas podem-se tor- instituição; são autênticos e deles não se
nar cansativas para o entrevistado; por- pode fazer uso sem autorização daqueles
tanto seja breve. que detêm a sua guarda. O pesquisador de-
h) Procure encorajar o entrevistado para ve ter todo o cuidado para não danificá-los
as respostas, evitando que ele se sinta e extrair deles todas as informações de
falando sozinho. forma fidedigna. São, ainda, documentos pri-
mários retrospectivos aqueles originais au-
i) Vá anotando as informações do entre-
tênticos feitos pelo autor, mas que se refe-
vistado, sem deixar que ele fique espe-
rem a coisas passadas: diários, autobiogra-
rando sua próxima indagação, enquan-
fias, relatório de visitas e de inspeção, de via-
to você escreve.
gem, etc. Quando o documento primário não
j) Caso use um gravador, não deixe de pe- é público, o seu uso só pode ser feito com
dir sua permissão para tal. Lembramos expressa autorização do autor, ou por es-
que o uso do gravador pode inibir o en- crito ou, pelo menos, frente a testemunhas.
trevistado.
Documentos secundários escritos são to-
l) Caso não tenha muita certeza de que as dos aqueles que foram transcritos de docu-
suas anotações de algumas respostas mentos primários por terceiros, cópias re-
do entrevistado estão corretas, volte a prográficas ou de qualquer natureza e, por
conversar com ele para evitar dúvidas. isso, não têm o mesmo valor daqueles clas-
m) Se a entrevista não for gravada, e o en- sificados como primários. Documentos não-
trevistado solicitar rever as suas ano- escritos (fotografias, mapas, filmes, fitas
tações, não negue esse direito, lembre- magnéticas, CDs e artefatos diversos) tam-
se de que ele poderá proibi-lo de fazer bém podem ser classificados como docu-
uso de suas idéias ou respostas. mentos primários ou secundários, confor-
me a sua natureza e, quando primários, so-
n) Não se esqueça de agradecer ao entre-
bretudo podem ser de grande valia para o
vistado a contribuição que estará dando
pesquisador.
ao seu trabalho, seja quem for, do mais
importante ao mais humilde. Para retratar a Educação em seu município,
recorra ao Arquivo Municipal, se houver. Re-
o) Imediatamente após a entrevista, faça um
corra aos arquivos da Prefeitura, da Câmara
breve relato, no qual você registre as rea-
Municipal e, sobretudo, da própria Escola.
ções do entrevistado que mais chama-
Recorra a pessoas que tenham fotografias
ram a atenção; isso pode ser muito im-
de festas, formaturas, reuniões. Recorra ao
portante para apuração de dados.
livro de atas e aos históricos escolares dos
3. A pesquisa documental alunos, aos planos de aula, aos estatutos e
Quando a fonte de informações de uma regimentos de escola e às escrituras e às
pesquisa centra-se fundamentalmente em plantas que tratem da construção original e
documentos escritos (ou não), dizemos que das reformas da escola, se houver.
ela é uma Pesquisa Documental. Advirta-se
4. A observação
que trabalhar com documentos não é tão
fácil como se possa pensar. Documentos Técnica de coleta de material em que o pes-
podem ser caracterizados como PRIMÁ- quisador, antes de iniciar o processo, deve
RIOS e SECUNDÁRIOS. Os primários escri- ter bem claro que tipo de situações merece-
tos, quando contemporâneos, constituem- rão registros. Deve estar preparado para o
se de: documentos públicos parlamentares, registro de fenômenos que surjam durante
administrativos e jurídicos, censos estatísti- a observação, que não eram esperados no
cos, atas de fundações de associações, grê- seu planejamento.
mios, firmas, fundações, encontráveis nos Para realizar registros iconográficos (foto-
arquivos públicos gerais ou no da própria grafias, filmes, vídeos, etc.), caso o objeto
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação
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muito preocupado com o contexto e com A pesquisa qualitativa está em voga nas hu-
o acontecer, dentro da dinâmica que os manidades, sobretudo na área de educação,
próprios fenômenos contêm. pois se presta para análise dos problemas
b) A investigação qualitativa é descritiva – educacionais em nível micro (a sala de aula, as
os seus dados são transcrições de de- relações professor-aluno-professor, as relações
poimentos, histórias, relatos, fotografias, de poder em pequenas instituições, as ques-
vídeos, documentos pessoais, registros tões de aprendizagem, as questões familiares
oficiais; nada é trivial, tudo interessa: um relacionadas com a escola, as questões de gê-
gesto, um olhar, um documento, os da- nero na educação, etc). Os problemas decor-
dos – tudo possui um significado. rentes do uso da pesquisa qualitativa residem
no fato de ser a apuração dos dados muito de-
c) Os investigadores interessam-se mais pe-
morada, os procedimentos não são estandar-
lo processo do que simplesmente pelos
dizados, os resultados não se prestam à gene-
resultados ou produtos – nesse particu-
ralização e não podem ser submetidos a pro-
lar, os questionamentos são fundamen-
vas rigorosas ou repetidos. A Pesquisa Qualita-
tais para entender o processo, o curso
tiva não deve ser usada para estudos com
do acontecer dos fatos, os seus desdo-
grande população.
bramentos, as suas conexões com as
múltiplas realidades e, por isso, esse tipo
3.4 AS ABORDAGENS DE PESQUISA E OS
de pesquisa tem sido particularmente útil
NÍVEIS DE COERÊNCIA INTERNA
à educação, por ser esta um fenômeno
dinâmico, complexo e que comporta uma É pertinente um novo contato com as aborda-
ação processual de constante interven- gens de pesquisa no momento em que há a
ção. “As técnicas quantitativas conse- operacionalização mais efetiva da prática da
guiram demonstrar, recorrendo a pré e pesquisa, assim como há um esforço de sis-
pós-testes, que as mudanças aconte- tematização dos dados coletados por meio de
cem. As estratégias qualificativas paten- um relatório. Com certeza, há algumas inda-
tearam o modo como as expectativas se gações acerca desse processo, que não é tão
traduzem nas atividades, procedimentos fácil e que percorre caminhos muitas vezes tor-
e interações diários.” (BOGDAN; BIKLEN, tuosos, por assim afirmar, complexos.
1994, p. 49). Por mais que haja um certo planejamento para
d) Os pesquisadores qualitativos tendem a uma direção mais racional da pesquisa, é co-
analisar os seus dados de forma indutiva mum vermos pesquisadores perderem-se na
– não trabalham com hipóteses; as abs- sua operacionalização mais efetiva, seja pela
trações surgem da interpretação dos da- falta de clareza em relação ao objeto a ser in-
dos investigados; eles não estão preocu- vestigado, seja pela insipiência de informações
pados com a generalização, pois os fa- acerca do complexo significado da pesquisa.
tos, a classe de fatos ou conjunto de As teorias que trabalham a metodologia da
fenômenos entrelaçados comportam expli- pesquisa fornecem embasamento reflexivo so-
cações exclusivas. bre as conceituações e certas operacionaliza-
e) O significado é de importância vital na ções e experiências da pesquisa; no entanto
abordagem qualitativa – o interesse maior não servem como modelos prontos ou recei-
é saber o modo como diferentes pessoas tuários, o que muitos alunos-pesquisadores de-
dão sentido às suas vidas. “O processo sejam encontrar: uma única linha condutora da
de condução da investigação qualitativa pesquisa, com os passos desenhados de es-
reflete uma espécie de diálogo entre os paços milimetrados, sem erros, sem recuos,
investigadores e os respectivos sujeitos, sem retrocessos, enfim, sem retornos à refle-
dado estes não serem abordados por xão da ação do investigador.
aqueles de uma forma neutra.” (BOG- Essa perspectiva imersa na mente dos
DAN; BIKLEN, 1994, p. 51) alunos-pesquisadores talvez seja o que mais
56
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O modo de produzir conhecimento em Educação
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UNIDADE IV
Fazendo o Projeto de Pesquisa
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Fazendo o Projeto de Pesquisa
Nada ou muito pouco pode ser feito sem pla- pesquisador profissional formula projeto de pes-
nejamento. Em pesquisa, essa máxima é indis- quisa, executa-o e apresenta resultados em
pensável, sobretudo se a consideramos com fi- forma de Relatório de Pesquisa, que receberá
nalidade acadêmico-científica. o tratamento determinado pela instituição que
Essa atividade envolve considerável capacida- o patrocina, ou ainda cairá no circuito da di-
de de domínio das teorias da área, capacidade fusão científica dos resultados, para discussão
de percepção dos fenômenos, argúcia para in- dos pares, na forma de artigos científicos ou de
vestigar os fatos por meio de técnicas apropria- comunicações em Congressos.
das, capacidade de abstração, bom senso e O pesquisador acadêmico tem uma outra tra-
senso de organização para saber lidar com os jetória, visto que o propósito de sua pesquisa
achados e, assim, obter os resultados espera- relaciona-se com o aprendizado de pesqui-
dos ou, até mesmo, resultados inusitados. sador, com a argüição de competência por es-
O desenho mental de uma pesquisa, isto é, a pecialistas no assunto ou área de estudo, com
imagem ou a configuração mental de uma in- a publicidade dos achados e com a obtenção
vestigação científica antecede a materialização de título acadêmico sob prova cabal de com-
efetiva que se dá por meio do Projeto de Pes- petência.
quisa. Significa dizer que, em nosso cérebro, Portanto pesquisar com objetivos acadêmico-
em decorrência de nossas experiências e do científicos implica incluir no planejamento as
aprendizado acumulado, somos capazes de etapas adicionais no processo de pesquisa,
idealizar um conjunto de procedimentos que que são:
torna possível vislumbrar um esboço do que a) submeter-se a uma área de estudo ou de
desejamos fazer para encontrar o que alme- concentração e a uma linha de pesquisa;
jamos. Nem todos conseguem formulações
b) submeter-se a uma relação institucional, me-
lógicas precisas, mas todos são capazes de
diada por um orientador;
idealizar, pensar logicamente, ordenar a se-
qüência dos fatos pensados e refletir sobre a c) apresentar e aprovar projeto de pesquisa
sua exeqüibilidade. como requisito de qualificação para ir a
campo, investigar e levantar dados;
Pesquisar é conhecer, em profundidade, um as-
sunto, é identificar as relações daquilo que se d) demonstrar conhecimento teórico sobre a
torna objeto de investigação com o contexto área de estudo;
em que acontece e as implicações do aconte- e) demonstrar conhecimento das regras bási-
cer. Pesquisar é sujeitar-se ao rigor do método cas do discurso da ciência para formular e
para obter o conhecimento preciso. As técni- expressar com clareza o pensamento;
cas de pesquisa são instrumentos que auxiliam
f) produzir resultados de pesquisa compatí-
o caminhar em busca da prova, do resultado,
veis com o grau ou título acadêmico dese-
da descrição objetiva dos fenômenos, dos fa-
jado (Monografia, Dissertação ou Tese);
tos, dos acontecimentos. Os resultados obti-
dos são achados que confirmam, refutam ou g) submeter-se a exame público perante ban-
ratificam os conhecimentos já obtidos sobre os ca examinadora para defender o trabalho
fenômenos, sobre os fatos, sobre os aconteci- acadêmico-científico produzido;
mentos. h) sujeitar-se a incorporar as modificações exi-
Por isso, reforçam teorias, destroem teorias ou gidas pela banca examinadora, quando as-
transformam-se em novas teorias. Quando es- sim permitir a instituição onde defende o
ses achados repercutem sobre diversos cam- trabalho;
pos do saber, tornam-se paradigmáticos. i) apresentar, em tempo hábil, a versão final
Depois do desenho mental, da consciência do do trabalho, dentro das normas institucio-
rigor que reveste a pesquisa científica, é hora nais.
de materializar o planejamento da pesquisa. O Por isso, um Projeto de Pesquisa visando à
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Fazendo o Projeto de Pesquisa
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UEA – Licenciatura em Matemática
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Fazendo o Projeto de Pesquisa
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UEA – Licenciatura em Matemática
diferente, portanto, das anteriores que men- Dissertação ou Tese. Evite outras normas,
cionavam Referências Bibliográficas. Isso mesmo que algum manual fale em “uso facul-
porque a atualização contemplou citação tativo” das normas da ABNT. Estamos no
de outros suportes de informação que não Brasil, numa Universidade Brasileira e somos
são livros (biblio) como CD´s, DVD´s, do- signatários de tratados que firmaram posição
cumentos eletrônicos em geral, etc. Siga ri- sobre a oficialidade do uso dessas normas. O
gorosamente as normas adotadas pela sua uso de outras normas só deve ser levado em
Unidade de Ensino. consideração quando se vai apresentar ou
m) Obras a consultar – Neste item, devem ser publicar trabalho em instituição estrangeira.
arroladas todas as obras (livros documen- Não se esqueça de fazer uma rigorosa revisão
tos e outros), que serão consultadas para a ortográfica de seu Projeto, antes da versão fi-
elaboração da Dissertação. nal. Se possível, busque o auxílio de pessoas
Um bom Projeto de Pesquisa é meio caminho capacitadas para tal.
andado para a produção da Monografia, Dis-
sertação de Mestrado ou Tese Doutoral. Ele re-
presenta o nível de amadurecimento acadêmi-
co do candidato ao título. Seja rigoroso na
análise da coerência interna dos itens de seu
Projeto de Pesquisa. Não economize palavras
e nem seja prolixo. Seja objetivo, mas não es-
queça a sua alma, pois o trabalho será sempre
seu, sua cara, sua identidade intelectual.
O Orientador é peça importante para apoiá-lo
nessa caminhada, mas não se torne um de-
pendente exagerado, busque a sua autonomia
e ouse avançar nas etapas da execução da
pesquisa e da elaboração do trabalho depois
do projeto aprovado. O Orientador deve ana-
lisar, fazer observações, recomendações e até
sugerir mudanças substanciais no seu projeto
e deverá ser comunicado sobre os impasses e
as alterações necessárias no curso da exe-
cução das etapas do Projeto. Lembre-se de
que o Orientador caminhará junto com você e
será o co-responsável pela sua Dissertação ou
Tese perante a Banca Examinadora.
Por tudo isso, o seu relacionamento com ele
deverá ser cordial, respeitoso, e deverá render
proveito para ambos.
Siga os modelos institucionais para a elabo-
ração dos Elementos Pré-Textuais recomenda-
dos pela instituição à qual será entregue o tra-
balho para apreciação que, por sua vez, não
deve contrariar as normas para produção de
trabalhos científicos.
Não cabem “agradecimentos”, “epígrafe” e “re-
sumo” no Projeto de Pesquisa. Esses são ele-
mentos que só irão aparecer na Monografia,
66
UNIDADE V
O Memorial
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Memorial
Há instituições que exigem a feitura de um me- a mesma ordem. Se vier como um apêndice da
morial, junto ou em separado ao que deno- Monografia, os elementos pré-textuais iniciam-
minam Trabalho de Conclusão de Curso se no resumo, seguindo as mesmas normas
(TCC). Aqui, mostramos um corpo de reco- gerais para resumos de trabalhos acadêmicos.
mendações que foram adaptadas para alunos A parte textual começa com uma breve Intro-
da área de Educação, válidas, também, para dução, em que você explicará a natureza do
todos (de qualquer área), e que foram adota- trabalho e dirá que esta será a sua história aca-
das pelo Curso Normal Superior da Univer- dêmico-profissional e as suas impressões pes-
sidade do Estado do Amazonas, onde o Tra- soais sobre o caminho percorrido, além de situar
balho de Fim de Curso é composto de 3 (três) o meio onde você nasceu e viveu a sua vida.
trabalhos: Memorial, Diagnóstico de uma es- O tópico seguinte deve tratar de sua formação
cola onde o professor em formação fez o seu educacional completa e suas primeiras per-
estágio e a Monografia. cepções sobre o valor da educação, da escola
O Memorial é um documento importante na e de suas aspirações profissionais.
vida acadêmico-profissional porque mostra a Em seguida, você mostrará, em detalhes, co-
trajetória do sujeito da aprendizagem relacio- mo ocorreu a sua formação como professor. O
nada com fatos e aspirações pessoais, com curso de magistério, os cursos de educação
seus projetos de vida. É um documento pes- continuada que fez e o que eles significaram
soal, escrito na primeira pessoa do singular, na para você. No mesmo capítulo, você deve tra-
forma discursiva e reflexiva. Por isso, difere do tar da sua graduação: as disciplinas que cur-
Curriculum Vitae, visto este ser uma relação sou, destacando os momentos especiais do
cronológica ou por ordem de importância dos curso, as matérias que mais lhe causaram sur-
dados pessoais, dos graus de escolaridade, presa, as que permitiram melhorar sua prática
dos títulos e cargos exercidos e dispostos em didático-pedagógica.
itens, sem reflexão e sem comentário. Segun- Outro capítulo é dedicado à sua atividade em
do Severino (2000, p. 175):”o memorial é muito sala de aula: deve ser o mais substancial. Que
mais relevante quando se trata de se ter uma experiências você buscou implementar, que re-
percepção mais qualitativa do significado sultados alcançou, que dificuldades teve? Qual
dessa vida, não só por terceiros, responsáveis a percepção que você tem sobre os seus alu-
por alguma avaliação e escolha, mas sobre- nos ao longo do tempo de magistério? Fale sem
tudo pelo próprio autor. Com efeito, o memorial cerimônia dos seus sucessos e fracassos com
tem uma finalidade intrínseca que é a de inse- os alunos e com os pais desses alunos na luta
rir o projeto de trabalho que o motivou no pro- pelo aprendizado e pela educação.
jeto pessoal mais amplo do estudioso [...] O Abra um capítulo para relatar possíveis expe-
Memorial constitui, pois, uma autobiografia, riências administrativas de direção (se tiver
configurando-se como uma narrativa simulta- vivido essas experiências). Senão, fale sobre
neamente histórica e reflexiva. Deve então ser os processos administrativos aos quais se
composto sob a forma de um relato histórico, submeteu enquanto docente: eram demo-
analítico e crítico, que dê conta dos fatos e cráticos, autoritários ou nem tanto? E como
acontecimentos que constituíram a trajetória você vislumbra ser a forma correta de dirigir
acadêmico-profissional de seu autor, de tal mo- uma escola.
do que o leitor possa ter uma informação com-
Dedique um capítulo inteiro para relatar a sua
pleta e precisa do itinerário percorrido”.
aventura na Pesquisa. Não é necessário repe-
tir o que estará na Monografia. Mas fale sobre
1 COMO CONSTRUIR O MEMORIAL as coisas que não entram na monografia e es-
No capítulo anterior, vimos como produzir os tão relacionadas com a pesquisa: o seu medo,
elementos pré-textuais do TCC. Se for um tra- a sua satisfação, os seus enganos, o seu cara
balho separado do volume da monografia, de- a cara com a verdade dos fatos no ato de ver
ve ter os seus elementos pré-textuais seguindo com os olhos de pesquisador.
69
UEA – Licenciatura em Matemática
2 RECOMENDAÇÕES
1. Antes de iniciar o Memorial, faça uma re-
lação de todos os eventos de sua vida, os
considerados mais importantes, em ordem
cronológica e, se possível, já na ordem dos
capítulos a serem escritos no memorial.
Isso facilitará a redação.
2. Use a primeira pessoa do singular ou o im-
pessoal. Evite os períodos longos. Use a or-
dem direta, não use muitos adjetivos e não
incorra no uso de palavras rebuscadas. Bus-
que clareza, objetividade e simplicidade de
estilo.
3. Evite o auto-elogio, a empáfia e os comen-
tários maldosos contra pessoas com quem
conviveu ou trabalhou; evite os comentários
“melosos”, que revelam um sacrifício que
parece ter sido somente seu. O memorial
não é lugar para lamúrias. Selecione, objeti-
vamente, as coisas mais significativas de
sua vida, de sua convivência, de sua for-
mação, para comentar e refletir sobre elas.
4. Não tenha pena de “gastar seu verbo” se
ele for significativo e empolgar o leitor. Mas
não jogue conversa fora somente para en-
grossar o seu memorial.
5. Se achar muito importante, pode anexar fo-
tos, sobretudo se elas ilustrarem atividades
que você desenvolveu, o que melhora a
compreensão do que foi escrito ou registra
a memória de um passado vivido. Lembre-
se de que o Memorial é uma História de
Vida contada por você mesmo(a).
70
UNIDADE VI
O Relatório Diagnóstico da Escola
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – O Relatório Diagnóstico da Escola
O primeiro trabalho de campo foi o levanta- 3. O meio físico da escola – Começa pelo
mento de dados para produzir o Relatório do meio ambiente onde está localizada, o seu
Diagnóstico da Escola em que cada um dos aspecto físico (dimensões, número de salas
professores em formação trabalhava. Aqueles de aula, tamanho e capacidade das salas,
que não estavam em atividade de ensino foram, tipo de construção, qualidade da constru-
conforme suas escolhas e possibilidades, en- ção, problemas existentes no prédio que
gajados em grupos ou escolas de sua cidade. implicam prejuízo para as atividades didáti-
Esse trabalho gerou um rico material que foi cas e tudo o mais que você tenha levan-
utilizado pelos alunos para produção de um tando sobre esse aspecto, inclusive planta
Diagnóstico, na forma de Relatório, expondo predial, se houver).
toda observação realizada, o levantamento do-
cumental, dados de entrevista, fotos, relatos de 4. O meio econômico, social e cultural – Aqui,
experiências promissoras de professores do deverão ser descritos aqueles aspectos ob-
Ensino Fundamental, Especial, Infantil e até servados sobre as condições socioeconô-
com Alfabetização de Adultos. micas dos alunos, pais e professores; as re-
lações sociais da escola com a comunida-
As equipes, por Escola, discutiram os resultados
de de pais; as relações da direção com fun-
alcançados e, por Município, foi feita a apre-
sentação pública dos trabalhos, com a presen- cionários; aspectos culturais relevantes so-
ça de autoridades locais, pais e demais edu- bre a composição étnica, a situação de alu-
cadores. A exposição foi também um momento nos filhos de migrantes, as diferenças cul-
de congraçamento, um encontro entre pares, turais significativas.
que revelou a pujança do programa PROFOR- 5. O ambiente humano – Aqui se trata do co-
MAR e a sua capacidade de mobilizar pessoas, tidiano da escola; como ocorre a convivên-
profissionais-alunos e produzir um retrato de cia dentro da escola de um modo geral,
impacto da situação educacional do Estado.
com seus problemas, suas dificuldades, ale-
Para os alunos, foi uma experiência enriquece-
grias, conquistas e sua qualidade de vida
dora: puderam ver o trabalho de cada um, for-
no trabalho.
mar um mosaico de situação e, no todo, um re-
trato da conjuntura. 6. Ambiente de aprendizagem – Os métodos
É o resultado desse esforço que virá para com- e as técnicas empregados pela escola para
por, também, o Trabalho de Conclusão de cur- alfabetizar, para ensinar Matemática, para en-
so, o TCC. Como? Na seqüência, logo após o sinar outros conteúdos próprios do Ensino
término do Memorial, a página seguinte é a Fo- Fundamental.
lha de Rosto do Relatório; seguem-se as de- 7. Indicadores da minha escola – Os indica-
mais partes pré-textuais do relatório, conforme dores da escola referentes ao número de
figuras que você deve consultar no Capítulo II,
alunos aprovados, alfabetizados, promovi-
dedicado aos elementos pré-textuais.
dos, evadidos, com problemas especiais;
Como você vai organizar os dados? Em primei- os pontos fortes, os pontos fracos; demais
ro lugar, lembre-se de que você já dispõe des- observações sobre os resultados alcança-
ses dados, pois deve ter guardado o relatório dos pela escola.
individual produzido, deve ter fotos do evento,
deve ter feito anotações com os comentários 8. Considerações finais – apreciação do
das pessoas que visitaram os painéis nos quais autor do relatório sobre os problemas de-
estavam expostos seus dados. Pois bem, esta tectados.
é a hora de reunir tudo de uma forma coerente, O seu Projeto de Pesquisa, depois de ser de-
seguindo o seguinte roteiro: senvolvido em suas diversas etapas, vai, ago-
1. Os elementos pré-textuais de praxe. ra, tomar a forma de uma produção científica
2. Introdução – A introdução deve servir para como Monografia: o estudo exaustivo de um
mostrar os objetivos do trabalho e descre- tema, o assunto ou caso, bem delimitado e cal-
ver a metodologia para obtenção dos da- cado em dados colhidos por intermédio de téc-
dos, além de mencionar as dificuldades en- nicas apropriadas e fundamentadas no rigor
contradas para sua realização. do método científico.
73
ANEXO
Leituras complementares
Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Anexo: Leituras complementares
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grupo Genoma, o Brasil teve que buscar com- impedir que várias pessoas morram por não
petência fora do país e associar-se a esses poderem pagar o preço exigido por um labo-
grupos para não perder o bonde da história. ratório que patenteou um bem da natureza –
Quando se fala da pirataria, temos um pro- portanto bem universal – para si? Como negar
blema que parece marginal, mas não o é. O a um povo o conhecimento só porque não
computador criou as facilidades incomensu- pode comprar livro, e seu único acesso ao
ráveis para a produção e a gravação caseira e saber é por meio de cópias de livros ou de
até mesmo de qualidade, em suporte de CD. fragmentos de textos importantes para seu
Controlar a produção e o uso dessa tecnologia aprendizado? Como impedir aqueles que têm
seria brecar o desenvolvimento de outras coi- o domínio tecnológico e científico de desen-
sas positivas que, com a mesma tecnologia, volver um remédio que cura o câncer só por-
podem ser feitas. Ao mesmo tempo, no país, que o país detentor da matéria-prima impede a
cresceu a atividade informal na economia, o sua exploração por questões estratégicas? Co-
que possibilita uma frouxidão nos mecanismos mo aprender a produzir e a inovar sem repetir,
de controle de produção e comercialização de sem compilar ou imitar os passos dos mais
bens nos mercados livres das grandes cida- experientes?
des, conhecidos, eufemisticamente, por came- Essa questão pode começar a ser deslindada
lódromos. Como brecar a ação de apropriação com um processo educativo para desenvolver
de peças musicais pelas novas emissoras im- uma consciência de honestidade intelectual,
provisadas de rádio, via internet? A extinta uma consciência cívica e uma consciência uni-
União Soviética controlou, até onde pôde, o versal sobre o valor, a disponibilidade e o
uso das máquinas reprográficas para impedir usufruto do saber com patrimônio da huma-
que se fizessem cópias de material ofensivo à nidade. Por aí vemos que essa é uma proposta
hegemonia do partido comunista e do governo de longo prazo. A forma coercitiva parece-nos
soviético, nem com isso conseguiu o seu in- exagerada, quando não impositiva, sem atenu-
tento: o muro de Berlim caiu em 89. As má- antes. O caso da lei de direito autoral de obra
quinas reprográficas, com qualidade ou não, musical é tão complicado e absurdo que, se
estão em todas as esquinas do Brasil como cumprido à risca, não nos permite fruir publica-
meio de vida de muitas pessoas que jamais mente nenhuma obra musical sem o respec-
sabem o que estão copiando ou sobre o crime tivo pagamento de direito de autor, recolhido
que estão cometendo. Além do mais, somos por uma instituição comandada por terceiros,
um país de poucas bibliotecas, e as que temos cuja transparência tem sido objeto de cons-
nem sempre estão aparelhadas para servir às tantes críticas, sem falar da ganância de con-
necessidades da população. Não temos o há- glomerados fonográficos nacionais que facili-
bito de investir em livros e em leitura. Desen- tam a corrupção encobrindo as trocas de auto-
volvemos a cultura da pressa, do fragmento de ria dos pobres fazedores de música, desde os
texto e ainda temos a veleidade de propalar velhos tempos; a lei que regula o direito autoral
que conhecemos o pensamento de seus au- na reprodução de textos é draconiana, fala em
tores. Essa conduta acadêmica chinfrim vem prisão em flagrante, em crime inafiançável, para
sendo passada de mestres para alunos que se quem for surpreendido a copiar um texto sem
tornam mestres, e assim por diante. pagar o correspondente à taxa de reprodução,
Essas coisas disseminam a insegurança para se até dez páginas, e autorização do detentor
os produtores de saber, de arte, de entreteni- do direito autoral para o que ultrapassar a isso.
mento, enfim, de cultura e, por isso, podemos Significa dizer que você poderá ser detido por
falar em uma questão que deverá ser resolvida flagrante delito ao reproduzir um texto no seu
com uma tomada coletiva de consciência, para fax , no seu scaner, na “xérox” ao lado de sua
saber até onde podemos ir, uma vez que existe casa ou de sua faculdade, se esta não estiver
um outro lado da moeda que deve também ser devidamente autorizada pela associação en-
avaliado, como, por exemplo: até onde é justo carregada de recolher os direitos autorais.
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Anexo: Leituras complementares
Por outro lado, escolas, professores e alunos, lhos resultantes de busca em Home Pages
se não podem fomentar a ilegalidade, não po- abertas para divulgação autoral de professores
dem também interromper o processo de apren- ou pseudoescritores em busca de fama ou até
dizagem quando textos e livros são escassos. mesmo de certos autores que desejam parti-
Da mesma forma como o Brasil corajosamente lhar a sua obra com outros. Para infelicidade
enfrentou os laboratórios internacionais que nossa, já é possível ver anúncios em jornais
cobravam custo exorbitante para os remédios oferecendo serviços para realização de traba-
de cura da AIDS, quebrando-lhes as patentes e lhos escolares. Como diz o bordão do Boris
impondo uma negociação mais equilibrada, o Casoy, “isto é uma vergonha”. A revista Saber,
mesmo pode ser feito para evitar os absurdos p. 11, cita os tipos de “rapinagem intelectual”
com relação à reprografia, mas conter, tam- mais comuns: plágio literal, cópia de obra
bém, o exagero e a banalidade da cópia, que alheia sem alteração; “tradução” de versão
nem sempre é a solução mais adequada para portuguesa, quando se toma uma obra ou
o processo de aprendizagem. texto escrito em português de Portugal e faz
Resta, no entanto, o ato de consciência para uma “versão” para o português do Brasil; plá-
não plagiar. Esse só pode ser resolvido pela gio de lógica e idéias, quando a estrutura de
sólida formação moral, pois plagiar revela falta raciocínio é aproveitada e contada com outras
de caráter, e caráter não se vende, não se com- palavras, sem citar o autor ou o citando mar-
pra: adquire-se por formação. O ladrão de ginalmente; plágio de carona, quando o tra-
idéias forma-se nas escolas com a complacên- balho coletivo termina divulgado ou publicado
cia dos professores e dos pais, que às vezes como se fosse apenas de um autor; plágio em
aplaudem a boa nota do filho sabendo que ele conversas informais, quando colegas conver-
fez uma cópia fraudulenta de um trabalho via sam sobre projetos de futuros trabalhos, e um
Internet; sabendo que ele “colou” da prova do deles se apropria da idéia do outro ou dos ou-
colega; que ele copiou de um texto, sem citar a tros para produzir antes dele ou deles.
fonte, que o próprio pai trouxe e deu-lhe para
esse fim. O crime completa-se quando o pro-
fessor descuidado, despreparado intelectual ou
tecnicamente, ou também criminoso, ao fazer
a correção, não percebe que o texto está
acima da capacidade cognitiva do aluno e não
toma nenhuma providência. Assim, o crimi-
noso sai da escola com boas notas e pode vir
até a ser professor.
Segundo matéria veiculada pela revista Saber:
revista do livro universitário, Ano I, n. 8, ju-
lho/agosto, 2002, intitulada “Estelionato Inte-
lectual”, uma pesquisa da Rutgers University
entre seus 4500 alunos, mais da metade re-
velou já ter copiado trabalhos na Internet e
entregue como seus. Nos EUA, segundo a
mesma revista e matéria, há mais de 600 sites
vendendo trabalhos. E para se identificar um
trabalho plagiado já existem até empresas es-
pecializadas em identificação por computador
da autenticidade da obra.
No Brasil, a “picaretagem” pela Internet já vem
sendo feita com um certo sucesso. O que mais
cresce mesmo é a cópia descarada de traba-
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Metodologia da Pesquisa: Educação Matemática – Anexo: Leituras complementares
mas também pareceu-me, mais ao final, que Paulo: Matins Fontes, 1996.
podia determinar, mesmo naquelas que igno-
O CAPITAL – PREFÁCIO DA 2.a EDIÇÃO
rava, por que meios e até onde era possível re-
solvê-las. Nisso talvez eu não vos pareça muito
vão se considerardes que, havendo apenas Ao retratar, fielmente, o que chama de meu ver-
uma verdade de cada coisa, quem quer que a dadeiro método, pintando o emprego que a ele
encontre sabe dela tudo o que se pode saber; dei, com cores benévolas, que faz o autor
e que, par exemplo, uma criança instruída em senão caracterizar o método dialético?
aritmética, tendo feito uma adição de acordo É mister, sem dúvida, distinguir, formalmente, o
com suas regras, pode estar segura de ter en-
método de exposição do método de pesquisa.
contrado, sobre a soma que examinava, tudo o
A investigação tem de apoderar-se da matéria,
que o espírito humano poderia encontrar. Pois,
em seus pormenores, de analisar suas dife-
enfim, o método que ensina a seguir a ver-
rentes formas de desenvolvimento, e de per-
dadeira ordem e a enumerar exatamente todas
quirir a conexão íntima que há entre elas. Só
as circunstâncias do que se procura contém
depois de concluído esse trabalho, é que se
tudo o que dá certeza às regras de aritmética.
pode descrever, adequadamente, o movimen-
Mas o que mais me contentava nesse método to real. Se isto se consegue, ficará espelhada,
era que por meio dele tinha a certeza de usar
no plano ideal, a vida da realidade pesquisada,
em tudo minha razão, se não perfeitamente,
o que pode dar a impressão de uma con-
pelo menos da melhor forma em meu poder;
strução a priori.
ademais, sentia, ao praticá-lo, que meu espírito
acostumava-se pouco a pouco a conceber Meu método dialético, por seu fundamento,
mais nítida e distintamente seus objetos; e difere do método hegeliano, sendo a ele in-
que, não o tendo sujeitado a nenhuma matéria teiramente oposto. Para Hegel, o processo do
particular, prometia-me aplicá-lo tão utilmente pensamento, – que ele transforma em sujeito
às dificuldades das outras ciências como o fi- autônomo sob o nome de idéia, – é o criador
zera às da álgebra. Não que, por isso, ousasse do real, e o real é apenas sua manifestação ex-
logo empreender o exame de todas as que se terna. Para mim, ao contrário, o ideal não é
apresentassem, mesmo porque isto seria con- mais do que o material transposto para a
trário à ordem que ele prescreve. Mas, tendo cabeça do ser humano e por ela interpretado.
percebido que todos os seus princípios deviam
Critiquei a dialética hegeliana, no que ela tem
ser extraídos da filosofia, na qual eu ainda não
de mistificação, há quase 30 anos, quando es-
encontrava nenhum princípio seguro, pensei
tava em plena moda. Ao tempo em que elabo-
que era preciso, antes de mais nada, empen-
har-me em nela estabelecê-los; e que, sendo rava o primeiro volume de “O Capital”, era cos-
isso a coisa mais importante do mundo, e em tume dos epígonos impertinentes, arrogantes
que a precipitação e a prevenção eram o que e medíocres, que pontificavam, nos meios cul-
mais se tinha a temer, eu não devia realizar tos alemães, comprazerem-se em tratar Hegel,
essa empreitada antes de ter atingido uma tal e qual o bravo Moses Mendelssohn, con-
idade bem mais madura que os vinte e três temporâneo de Lessing, tratara Spinoza, isto é,
anos que eu tinha então; e antes de ter em- como um “cão morto”. Confessei-me, então,
pregado muito tempo preparando-me para abertamente discípulo daquele grande pensa-
isso, tanto desenraizando de meu espírito to- dor, e, no capítulo sobre teoria do valor, joguei,
das as más opiniões que recebera até então, várias vezes, com seus modos de expressão
quanto acumulando muitas experiências que peculiares. A mistificação por que passa a di-
seriam mais tarde a matéria de meus racio- alética nas mãos de Hegel não o impediu de
cínios, e exercitando-me sempre no método ser o primeiro a apresentar suas formas gerais
que me prescrevera a fim de nele firmar-me de movimento, de maneira ampla e con-
cada vez mais. sciente. Em Hegel, a dialética está de cabeça
para baixo. É necessário pô-la de cabeça para
René Descarte, 1637. cima, a fim de descobrir a substância racional
DESCARTE, R. Discurso do método. São dentro do invólucro místico.
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Pois se é normal que em toda sociedade haja não podem ser derivados diretamente dos
crimes, não é menos normal que sejam sem- fenômenos orgânicos não constitui efetiva-
pre punidos. A instituição de um sistema re- mente a essência do espiritualismo? Ora, nosso
pressivo constitui fato não menos universal método não é, em parte, senão uma aplicação
nem menos indispensável à saúde coletiva do destes princípios aos fatos sociais. Separamos
que a existência da criminalidade. Para que o reino psicológico do reino social, do mesmo
não existissem crimes, seria preciso um nivela- modo que os espiritualistas separam o reino
mento das consciências individuais que, por psicológico do biológico; como eles, recusa-
razões que são explicadas mais adiante, nem é mos explicar o mais complexo pelo mais sim-
possível nem desejável; mas para que a re- ples. Na verdade, porém, nem uma nem outra
pressão não existisse, seria necessária uma apelação nos convêm exatamente; a única que
ausência de homogeneidade moral que é inc- aceitamos é a de racionalistas. Estender à con-
onciliável com a existência de uma sociedade. duta humana o racionalismo cientifico e, real-
Todavia, partindo da constatação de que o mente, nosso principal objetivo, fazendo ver
crime é detestado e detestável, o senso co- que, se a analisarmos no passado, chegare-
mum logo conclui erradamente que ele deveria mos a reduzi-la a relações de causa e efeito;
desaparecer por completo. Com o simplismo em seguida, uma operação não menos racional
que lhe é peculiar, não compreende – como se a poderá transformar em regras de ação para o
nisso houvesse contradição –, que algo de re- futuro. Aquilo que foi chamado de nosso posi-
pugnante pode também ter alguma utilidade. tivismo, não é senão conseqüência deste
Acaso não existem no organismo funções re- racionalismo. Só nos sentimos tentados a ultra-
pugnantes cujo funcionamento regular é ne- passar os fatos, seja quando os explicamos,
cessária á saúde individual? E não detestamos seja quando dirigimos seu curso, na medida
também o sofrimento, muito embora alguém em que os julgamos irracionais. Se são inteira-
que nunca tenha sofrido seja um monstro? O mente inteligíveis, então bastam eles próprios à
caráter normal de uma coisa e os sentimentos ciência e à prática: a ciência, pois não há mais
de repulsa que inspira podem até ser motivo para, fora deles, buscar sua razão de
solidário. A dor só é fato normal sob a con- ser; a prática, pois seu valor utilitário constitui
dição de não ser querida; e o crime, para ser uma destas razões de ser. Parece-nos, pais,
normal, deve necessariamente ser odiado. que principalmente nesta época de renascente
Nosso método nada tem, pois, de revolu- misticismo tal empreendi- mento pode e deve
cionário. Num certo sentido é até essencial- ser acolhido sem inquietação e até com simpa-
mente conservador, pois considera os fatos tia por todos os que, mesmo não concordando
sociais como coisas cuja natureza não é conosco nalguns pontos, partilham nossa fé no
passível de modificação fácil, por mais dúctil e futuro da razão.
maleável que seja. Muito mais perigosa é a
doutrina que não encara esses fatos senão
Émile Durkheim, 1895.
como produto de combinações mentais, que
um simples artifício dialético pode, instanta- DURKHEIM, E. As regras do método soci-
neamente, transformar por completo! ológico. 8. ed. São Paulo: Editora Nacional,
1977.
Dado o hábito existente de representar a vida
social como o desenvolvimento 1ógico de con-
ceitos ideais, não é impossível, outrossim, que
sejamos acoimados de materialistas, nem que
se acuse de grosseiro um método que torna a
evolução coletiva dependente de combinações
objetivas, definidas no espaço. Poderíamos
com maior justiça reivindicar a qualificação con-
trária. A idéia de que os fenômenos psíquicos
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ma certeza, que esse vazio não vale por si, que Agora que tenho na percepção a própria coisa
o homem adormecido perdeu todo ponto de e não uma representação, acrescentarei so-
referência, todo modelo, todo cânone do claro mente que a coisa está no ponto extremo de
e do articulado, que uma única parcela do meu olhar e, em geral, de minha exploração:
mundo percebido nele introduzida desmancha sem nada supor do que a ciência do corpo
num átimo o encantamento, ainda resta que, se alheio me possa ensinar, devo constatar que a
podemos perder nossos pontos de referência mesa diante de mim mantém uma relação sin-
sem o sabermos, nunca estamos seguros de gular com meus olhos e meu corpo: só a vejo
tê-los quando acreditamos possuí-los; se se ela estiver no raio de ação deles; acima
podemos, ainda que o ignoremos, retirar-nos dela, está a massa sombria de minha fronte,
do mundo da percepção, nada nos prova que em baixo, o contorno mais indeciso de minhas
nele estivemos alguma vez, nem que o ob- faces, ambos visíveis no limite, e capazes de
servável o seja inteiramente, nem ainda que escondê-la, como se minha própria visão do
seja feito de tecido diferente do sonho; uma vez mundo se fizesse de certo ponto do mundo.
que a diferença entre eles não é absoluta, Ainda mais: meus movimentos e os de meus
podemos colocá-los juntos com “nossas expe- olhos fazem vibrar o mundo como se pode,
riências”, e é acima da própria percepção que com o dedo, fazer mexer um dólmen, sem
precisamos, procurar a garantia e o sentido de abalar-lhe a solidez fundamental. A cada batida
sua função ontológica. Percorreremos esse de meus cílios, uma cortina se baixa e se le-
caminho, que é o da filosofia reflexiva, quando vanta, sem que eu pense, no momento, em im-
ele se nos abrir. Mas começa muito além dos putar esse eclipse às próprias coisas; a cada
argumentos pirronianos, que, por si próprios, movimento de meus olhos varrendo o espaço di-
nos desviariam de toda elucidação, pois se re- ante de mim, as coisas sofrem breve torção, que
ferem vagamente à idéia de um Ser inteira- também atribuo a mim mesmo; e quando ando
mente em si e, por contraste, juntam confusa- pela rua, os olhos fixos no horizonte das casas,
mente o percebido e o imaginário como “esta- todo o meu ambiente mais próximo, a cada ruído
dos de consciência”. No fundo, o pirronismo do salto do sapato sobre o asfalto, estremece
partilha das ilusões do homem ingênuo. È a in- para depois voltar a acalmar-se em seu lugar.
genuidade que se dilacera a si mesma dentro Exprimiria muito mal o que se passa dizendo
da noite. Entre o Ser em si e a "vida interior", que “um componente subjetivo” ou uma “con-
nem mesmo entrevê o problema do mundo. tribuição corporal” passa a recobrir as próprias
Nós, ao contrário, é em direção a esse pro- coisas; não se trata de outra camada ou de um
blema que caminhamos. O que nos interessa véu que viria colocar-se entre mim e elas.
não são as razões que se podem ter para tomar
como “incerta” a existência do mundo – como M. Merleau-ponty, 1964
se já soubéssemos o que é existir e como se MERLEAU-PONTY, M. O visível e o invisível.
toda a questão fosse aplicar corretamente esse São Paulo: Editora Perspectiva, 1971.
conceito. O que nos importa é precisamente
saber o sentido de ser do mundo; a esse pro-
pósito nada devemos pressupor, nem a idéia in-
gênua do ser em si, nem a idéia correlata de um
ser de representação, de um ser para a cons-
ciência, de um ser para o homem: todas essas
são noções que devemos repensar a respeito
de nossa experiência do mundo, ao mesmo
tempo que pensamos o ser do mundo. Cabe-
nos reformular os argumentos céticos fora de
todo preconceito ontológico, justamente para
sabermos o que é o ser-mundo, o ser-coisa, o
ser imaginário e o ser consciente.
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