Declaração Conjunta dos Órgãos de Soberania da República Democrática de
Timor-Leste sobre a Utilização do Tétum Oficial
Por iniciativa do Presidente da República, estiveram hoje reunidos nas instalações da
Presidência, no Bairro do Farol, o Presidente da República, o Presidente do Parlamento Nacional e o Primeiro-Ministro, que se fizeram acompanhar, respectivamente, pela Embaixadora de Timor-Leste para a Educação, Sra. Kirsty Sword Gusmão, pelo Ministro da Educação, Sr. João Câncio, e pelo Presidente da Comissão Parlamentar F de Saúde, Educação e Cultura, Sr.Virgílo Marçal.
Para a reunião foram também convidados o Director do Instituto Nacional de Linguística
(INL) e Reitor da Universidade Nacional Timor Lorosa’e, Sr. Benjamim Corte-Real, e outros elementos do INL, o Padre Apolinário Aparício Guterres, em representação do Bispo de Díli, e os Membros da Comissão da Liturgia Católica, Padre Leão da Costa, Padre José António da Costa e Padre Domingos Alves, nomeados para o efeito pelos Bispos de Baucau e Díli.
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A reunião realizou-se na sequência de uma visita do Presidente da República ao Instituto
Nacional de Linguística, em 31 de Outubro de 2008, e destinou-se a fazer o ponto da situação sobre o tétum enquanto língua nacional e co-oficial de Timor-Leste que o Estado tem a obrigação de valorizar e desenvolver, de acordo com a Constituição (art. 13º).
O Presidente da República, o Parlamento e o Governo estão conscientes de que o tétum é
essencial para a construção da nação e do Estado de Timor-Leste, a unidade e coesão nacionais e a afirmação da identidade timorense. O tétum, como língua nacional e co- oficial, deve ser um pilar da união dos timorenses, facilitar a comunicação entre todos, fazer a ponte entre gerações e origens geográficas diversas e ser um instrumento de educação e cultura.
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O Presidente da República, Parlamento e Governo recordam que o Estado de Timor-
Leste aprovou já um padrão ortográfico para a língua tétum, designado tetun ofisiál, que foi desenvolvido pelo Instituto Nacional de Linguística. E que o Estado atribuiu a esta instituição o papel de guardiã científica do tetun ofisiál. (Decreto º 1/2004 de 14 de Abril)
Mas reconhecem igualmente que a utilização do padrão ortográfico oficial do tétum,
embora crescente, está longe de estar generalizada no Estado e na sociedade civil, por desconhecimento do padrão ortográfico, por desconhecimento da lei, ou por subsistirem abordagens divergentes em relação à ortografia do tétum.
Em particular, o Presidente da República, Parlamento e Governo reconhecem que
existem divergências em relação à ortografia do tétum entre o Instituto Nacional de Linguística, que baseou o seu padrão ortográfico em princípios linguísticos rigorosos e reconhecidos pela comunidade científica internacional, e a Igreja Católica de Timor- Leste, que teve um papel pioneiro na fixação das formas e vocabulário em tétum e cuja ortografia tem, por isso um grande lastro histórico, estando consagrada nas obras de liturgia e catequese.
O Instituto Nacional de Linguística e a Igreja Católica de Timor-Leste foram convidados
a apresentar os seus pontos de vista sobre a ortografia do tétum nesta reunião. Ambas as instituições apresentaram valiosos contributos escritos que ajudaram os presentes a compreender melhor onde existe convergência e divergência de posições.
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O Presidente da República, Parlamento e Governo reconhecem que o desenvolvimento da
ortografia do tétum é um processo com mais de um século e que muitos foram os que para ele contribuíram com trabalhos fundamentais e inovações, com especial relevância para a Igreja Católica. E que qualquer processo de normalização ou reforma ortográfica implica o sacrifício de preferências pessoais ou sentimentos de outra natureza.
Mas também estão conscientes de que a situação actual de desenvolvimento do Estado e
Nação timorenses e os desafios que se colocam no futuro exigem a adopção decidida e a disseminação rápida de um padrão ortográfico único, coerente e que possa ser usado para todas as outras línguas nacionais de Timor-Leste. O padrão ortográfico em vigor, o tetun ofisiál, tem essas características. E está cada vez mais difundido no sistema de educação, do ensino básico ao universitário, graças aos esforços das autoridades, em colaboração com os parceiros de desenvolvimento.
Um padrão ortográfico é essencial para desenvolvermos um ensino abrangente e de
qualidade que permita educar as nossas crianças e prepará-las para os desafios do futuro; para lançar campanhas de alfabetização que nos permitam reduzir a iliteracia e, com ela, a pobreza; para criarmos uma Administração Pública moderna e ao serviço dos cidadãos; para promovermos uma indústria editorial que divulgue a cultura e tradições nacionais e ponha os cidadãos de Timor-Leste em contacto com a produção cultural de outros povos e civilizações; para desenvolvermos órgãos de informação que comuniquem de forma rigorosa e ajudem a formar cidadãos com espírito crítico e independente; para criarmos um meio literário que veicule o pensar e sentir dos timorenses e seja a sua janela sobre o mundo.
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Assim, o Presidente da República, Parlamento e Governo, convictos de que exprimem
os superiores interesses do Povo e Nação timorenses:
• Comprometem-se a adoptar, respeitar e fazer cumprir o padrão ortográfico do
tetun ofisiál e a vincular a este compromisso todas as instituições e organismos na sua dependência, ou que com eles trabalhem em parceria, ou beneficiem de apoios financeiros do Estado, nomeadamente a administração pública e demais instituições do Estado, incluindo as instituições de ensino públicas e privadas e todas aquelas que estão ligadas à informação e cultura.
• Comprometem-se a promover o tetun ofisiál no quadro de uma Política Nacional
para as Línguas, a ser delineada e aprovada pelos órgãos competentes do Estado em consulta com a Igreja Católica e outros sectores da sociedade timorense, nomeadamente promovendo o ensino do padrão ortográfico e da gramática do tetun ofisiál em todas as instituições e organismos na sua dependência, bem como a patrocinar iniciativas de ensino e divulgação do tetun ofisiál dirigidas à sociedade civil.
• Tendo presente o papel desempenhado pela Igreja Católica no passado no
desenvolvimento da língua tétum, comprometem-se a respeitar a sua abordagem divergente da ortografia no que diz respeito aos materiais litúrgicos e catequéticos.
• Comprometem-se a trabalhar, num espírito de abertura, com todos aqueles que
têm um interesse e se preocupam com as línguas de Timor-Leste, fazendo uma avaliação regular dos progressos alcançados no sentido de se alcançar uma normalização ortográfica cada vez mais abrangente.
• Comprometem-se a não desvalorizar ou marginalizar as restantes línguas
nacionais de Timor-Leste, que também deverão ser estudadas, promovidas e desenvolvidas no quadro de uma Política Nacional para as Línguas.
• Comprometem-se a apoiar o reforço e desenvolvimento do Instituto Nacional de
Linguística, para que possa desempenhar cabalmente a missão que a lei lhe confiou.