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Prof.

Maria Helena Acosta


FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DE
BAURU
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 2
ACOSTA________

ÍNDICE GERAL

PRIMEIRA PARTE

NOÇÕES GERAIS DE DIREITO COMERCIAL E ATIVIDADE MERCANTIL


I – A ATIVIDADE MERCANTIL.................................................9
1º - Sistema Econômico....................................................9
2º - Mercantilidade no Direito Brasileiro...............................10
3º - Ato de Comércio ....................................................10
4º - Importância da distinção dos atos de comércio.......................11
5º - Questionário........................................................12

II –
COMERCIANTE.........................................................15
1º -
Definição...........................................................15
2º -
Capacidade civil e capacidade comercial............................ 15
3º -
Classificação ......................................................16
4º -
Empresa.............................................................17
A)- Espécies........................................................17
B)- Microempresa e Empresa de Pequeno Porte.........................18
5º - Registro das Empresas...............................................18
6º - Nome Comercial e Nome Fantasia......................................20
7º - Questionário........................................................22

III – FUNDO DE COMÉRCIO..................................................25


1º - Conceito............................................................25
2º - Bens Incorpóreos....................................................25
A)- Direito ao Ponto Comercial......................................25
B)- Créditos........................................................26
C)- Aviamento.......................................................27
D)- Propriedade Industrial..........................................27
E)- Distinções......................................................29
3º - Questionário........................................................31

BIBLIOGRAFIA.............................................................31

SEGUNDA PARTE

SOCIEDADES COMERCIAIS
I – SOCIEDADES COMERCIAIS...............................................34
1º - Conceito............................................................34
2º - Classificação.......................................................34
3º - Dissolução e Extinção das Sociedades de Pessoas.....................36
4º - Tipos de Sociedades.................................................37
5º - Questionário........................................................37

II – SOCIEDADES DE PESSOAS...............................................39
1º - Sociedade em comandita simples......................................39
2º - Sociedade em Nome Coletivo..........................................40
3º - Sociedade de Capital e Indústria....................................40
4º - Sociedade em Conta de Participação..................................41
5º - Questionário........................................................41
6º - Modelos de Contrato Social..........................................42
A) – Contrato Social de Sociedade em Nome Coletivo..................42
B) – Contrato Social de Sociedade de Capital e Indústria............43
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III – SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA..................45


1º - Conceito e características..........................................45
2º - Classificação.......................................................45
3º - Deliberações........................................................46
4º - Administração.......................................................47
5º - Nome Comercial......................................................48
6º - Questionário........................................................48
7º - Modelos de contrato social..........................................49

IV – SOCIEDADES POR AÇÕES................................................56


1º - Sociedade Anônima...................................................56
A)- Conceito e Características......................................56
B)- Espécies e Constituição.........................................57
C)- Valores Mobiliários.............................................58
C.1)- Ação......................................................58
C.2)- Partes Beneficiárias......................................60
C.3)- Debêntures................................................60
C.4)- Bônus de Subscrição.......................................60
D)- Acionistas......................................................60
E)- Capital Social..................................................61
F)- Administração...................................................62
F.1)- Assembléia Geral - Quorum................................62
F.2)- Conselho de Administração e Diretoria.....................63
F.3)- Conselho Fiscal...........................................64
G)- Lucros, Reservas e Dividendos...................................64
H)- Dissolução e Liquidação das Companhias..........................65
I)- Transformação das Sociedades....................................66
I.1)- Incorporação..............................................67
I.2)- Fusão.....................................................67
I.3)- Cisão.....................................................67
J)- Concentração de Sociedades......................................67
J.1)- Coligação.................................................67
J.2)- Subsidiária Integral......................................68
J.3)- Grupos de Sociedades......................................68
J.4)- Consórcio de Sociedades...................................68
2º - Sociedade em Comandita por Ações....................................68
A)- Conceito........................................................68
B)- Distinções......................................................69
C)– Características.................................................69
3º - Questionário........................................................69
4º - Exercícios..........................................................71
5º - Modelos.............................................................72
A) – Estatuto de Constituição de Sociedade Anônima Fechada..........72
B) – Editais de Convocação..........................................74

BIBLIOGRAFIA.............................................................75

TERCEIRA PARTE

TÍTULOS DE CRÉDITO
I – NOÇÕES GERAIS........................................................78
1º- Origem e Conceito....................................................78
2º- Características......................................................78
3º- Princípio da inoponibilidade.........................................79
4º- Endosso..............................................................79
5º- Aval.................................................................79
6º- Classificação........................................................80
7º- Espécies ............................................................81
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8º- Questionário.........................................................82

II- LETRA DE CÂMBIO......................................................84


1º- Conceito.............................................................84
2º- Aceite...............................................................84
3º- Protesto e Direito de Regresso.......................................85
4º- Requisitos Essenciais ou Extrínsecos................................86
5º- Circulação...........................................................87
6º- Apresentação.........................................................88
7º- Oposição ao Pagamento................................................88
8º- Prescrição...........................................................88
9º- Modelos..............................................................89
10º- Questionário........................................................92

III– NOTA PROMISSÓRIA...................................................94


1º- Conceito.............................................................94
2º- Requisitos Essenciais................................................94
3º- Circulação e Pagamento...............................................94
4º- Modelos..............................................................95
5º- Questionário.........................................................98

IV - CHEQUE.............................................................100
1º- Conceito............................................................100
2º- Requisitos Essenciais..............................................100
3º- Espécies de Cheque..................................................101
4º- Circulação..........................................................102
5º- Apresentação........................................................102
6º- Oposição ao Pagamento...............................................102
7º- Revogação da Ordem..................................................103
8º- Cobrança............................................................103
9º- Prescrição..........................................................105
10º- Modelos............................................................105
11º- Questionário.......................................................107

V- DUPLICATA............................................................109
1º- Noções Gerais e Conceito............................................109
2º- Requisitos Essenciais..............................................110
3º- Aceite..............................................................110
4º- Protesto............................................................111
5º- Pagamento...........................................................111
6º- Prescrição..........................................................111
7º- Modelos.............................................................112
8º- Questionário........................................................113

VI- CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E WARRANT..................................115


1º- Noções Gerais e Conceito............................................115
2º- Modelo de Conhecimento de Depósito..................................117
3º- Modelo de warrant...................................................118
4º- Questionário........................................................118

VII– CONHECIMENTO DE TRANSPORTE.........................................120


1º- Noções Gerais e Conceito............................................120
2º- Modelo de Conhecimento de Transporte................................121
3º- Questionário........................................................121

VIII- TÍTULOS DE PARTICIPAÇÃO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO.............123


1º- Noções Gerais, Conceito e Espécies..................................123
2º- Modelos.............................................................124
3º- Questionário........................................................131

BIBLIOGRAFIA............................................................131
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QUARTA PARTE

FALÊNCIA E CONCORDATA
I - FALÊNCIA............................................................134
1º- Conceito............................................................134
2º- Caracterização......................................................134
3º- Requerimento da falência............................................135
A- Competência......................................................135
4º- Efeitos.............................................................135
A- Formação da Massa Falida.........................................135
5º- Instauração de Inquérito Judicial...................................136
6º- Liquidação..........................................................137
7º- Encerramento da falência............................................137
8º- Procedimentos Especiais.............................................138
9º- Questionário........................................................138

II- CONCORDATA..........................................................140
1º- Conceito e Espécies.................................................140
2º- Impedimentos........................................................140
3º- Oposição............................................................141
4º- Efeitos.............................................................143
5º- Cumprimento.........................................................143
6º- Questionário........................................................144

III - CONCORDATA PREVENTIVA.............................................146


1º- Noções Gerais.......................................................146
2º- Competência.........................................................146
3º- Representação do Devedor............................................146
4º- Condições Legais....................................................146
5º- Nomeação do Comissário..............................................147
6º- Procedimento........................................................147
7º- Questionário........................................................148

VI - CONCORDATA SUSPENSIVA..............................................150
1º- Noções Gerais.......................................................150
2º- Representação do devedor............................................150
4º- Procedimento........................................................151
5º- Concessão e Cumprimento.............................................151
6º- Questionário........................................................151

V- CRIMES FALIMENTARES.................................................153
1º- Definição...........................................................153
2º- Espécies............................................................153
3º- Tentativa...........................................................153
4º- Unidade Do Crime Falimentar.........................................154
5º- Ação Penal Falimentar Extraordinária................................154
6º- Interdição..........................................................154
7º- Reabilitação Criminal...............................................154
8º- Prescrição..........................................................154
9º- Questionário........................................................154

BIBLIOGRAFIA............................................................155

QUINTA PARTE
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DIREITO BANCÁRIO
I – NOÇÕES GERAIS.......................................................158

1º- Conceitos...........................................................158
2º- Características.....................................................158
3º- Organização Bancária................................................159
4º– Espécies de Bancos..................................................159
5º- Sistema Financeiro Nacional.........................................160
6º- Contratos Bancários.................................................161
7º- Questionário........................................................161

II- INTERVENÇÃO E LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.163


1º- Noções Gerais.......................................................163
2º- Intervenção.........................................................164
3º- Liquidação Extrajudicial............................................164
4º- Regime de Administração Especial Temporária.........................166
5º- Questionário........................................................166

BIBLIOGRAFIA............................................................167
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PRIMEIRA PARTE

NOÇÕES GERAIS DE DIREITO COMERCIAL

E ATIVIDADE MERCANTIL

SUMÁRIO

I – A ATIVIDADE MERCANTIL
1º- Sistema Econômico
2º- Mercantilidade no Direito Brasileiro
3º- Ato de Comércio
4º- Importância da distinção
5º- Questionário

II- COMERCIANTE
1º- Definição
2º- Capacidade
3º- Classificação
4º- Empresa
A)- Espécies
B)- Microempresa e Empresa de Pequeno Porte
5º- Questionário
5º- Registro das Empresas
6º- Nome Comercial e Nome Fantasia
7º- Questionário

III– FUNDO DE COMÉRCIO


1º- Bens Incorpóreos
A)- Direito ao Ponto Comercial
B)- Créditos
C)- Aviamento
D)- Propriedade Industrial
2º- Questionário
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QUADRO SINÓTICO

I - A ATIVIDADE MERCANTIL

origem e significado do comércio e da atividade mercantil -


direito comercial {conjunto de regras - idade média – corporações -
atos de comércio designados pela lei – ampliação -

1º- Sistema Econômico

fato social e econômico {trabalho – circulação de riqueza -


aproximação de consumidor e produtor -
sentido econômico {circulação de riquezas –
sentido jurídico {ato de comércio enumerado na lei -

2º- Mercantilidade no Direito Brasileiro

direito {público – privado - direito comercial -


características {simplicidade ou informalismo – rapidez - onerosidade
ou lucratividade – elasticidade ou flexibilidade -
internacionalidade ou cosmopolitismo -

3º- Ato de Comércio

Regulamento/1850 {compra e venda ou troca - móveis - semoventes –


revenda ou aluguel - câmbio - banco – corretagem
de mercadorias – fábricas - empresas de comissão –
depósito – expedição - consignação e transporte de
mercadorias e espetáculos públicos – seguros –
fretamentos - riscos - contratos marítimos -
títulos da dívida pública - sociedades anônimas –
exceções {sociedades cooperativas -
leis posteriores {empresa de construção civil – de incorporação de
imóveis – trabalho temporário - transporte aéreo e
terrestre de pessoas - construção de imóveis com
fornecimento de material - empresa de publicidade –
empresa de vídeo e som -
misto - dependente - conexo - acessório {compra e revenda de ônibus no
transporte de pessoas – compra de equipamentos para
loja do comerciante -
atividade civil {exclusão - não enumerado na lei – agricultura – venda
e administração de imóveis – construção de imóveis sem
fornecimento de material - estabelecimento de ensino –

4º- Importância da distinção

empresário civil {ação de insolvência –


empresário comercial {ação de falência – concordata -
registro - ato constitutivo {empresário civil = Cartório de Registro de
Títulos e Documentos
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empresário comercial = Junta Comercial –

5º- Questionário

I – A ATIVIDADE MERCANTIL

1º - Sistema Econômico

A expressão comercial, ou mercantil, segundo os nossos dicionários,


significa relativo ao comércio, enquanto a expressão direito é indicativa
de conjunto de regras jurídicas, portanto, o direito comercial, que surgiu
na idade média para disciplinar a atividade mercantil, deveria ser definido
como conjunto de regras jurídicas relativas ao comércio, mas, assim não é,
porque o seu campo de atuação se expandiu, para disciplinar determinados
atos e uma série de novas atividades, que a lei designa de mercantis.

A atividade comercial teve origem na mais remota antigüidade, e se


realizava com base nos usos e costumes, limitada, primeiramente, à troca de
objetos entre pessoas diretamente interessadas, evoluindo para a compra e
venda, e depois para a intermediação do mercador na compra e venda. No
início da idade média os ataques dos bárbaros e o feudalismo prejudicaram a
atividade dos mercadores, que procuraram se proteger, criando corporações,
para disciplinar o comércio e julgar as questões entre comerciantes nelas
matriculados. Essas decisões proferidas por juízes cônsules foram reunidas
e formaram um conjunto de regras, que originou o direito comercial.

O direito comercial então era subjetivista, porque o seu objeto era o


comerciante e a sua atividade, assim continuando até a revolução francesa,
cujo ideal de igualdade provocou a extinção das corporações de mercadores e
vedou a proteção da lei a qualquer classe de pessoas. Consequentemente, o
objeto do direito comercial foi alterado, passando a ser o ato de comércio,
que não era definido, mas enumerado no Código Comercial da França, de 1807.

Outros países, como o Brasil, seguiram a lei francesa, adotando como


base do direito comercial o ato de comércio enumerado na lei, praticado ou
não por comerciante, o que o tornou objetivista.

A atividade mercantil, desde então, deixou de ser limitada à compra e


venda e intermediação na compra e venda com objetivo de lucro, gerando, em
consequência, definições distintas na área econômica e jurídica, conforme o
entendimento dos seus respectivos autores.

Contudo, antes de objeto do direito comercial, a atividade mercantil


é um fato social e econômico, que resulta do trabalho do homem, com a
finalidade de colocar em circulação a riqueza produzida, facilitando as
trocas, e aproximando o consumidor do produtor.

Para autores da área econômica, o direito comercial se ocupa de toda


atividade do homem aplicada à produção, apropriação, circulação e consumo
de riquezas, merecendo a designação mais apropriada de direito econômico.
Segundo este entendimento, no entanto, o seu campo alcança atividades, como
a mediação na compra e venda de imóveis, e a agricultura, que dele são
excluídas por força da lei, não se tratando de atividades mercantis.

Para os autores da área jurídica, o direito comercial dispõe sobre os


atos de comércio expressamente enumerados na lei, que afasta do seu âmbito
atividades consideradas civis, como a agricultura, e a mediação na compra e
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venda de imóveis, incluindo entre os atos de comércio a emissão de títulos
de crédito, como cheque e nota promissória, consideradas, em consequência,
como atividade mercantil. Portanto, quando há necessidade de se distinguir
essas atividades, para fins de direito, é o conceito jurídico, que deve ser
considerado.

2º - Mercantilidade no Direito Brasileiro


No nosso sistema jurídico, em que o campo do direito é dividido em
dois ramos, do direito público e do direito privado, a atividade mercantil
é objeto do Direito Comercial, que é um ramo autônomo do direito privado,
distinto do Direito Civil, bem como dos demais ramos, pelas características
de: simplicidade ou informalismo, rapidez, onerosidade ou lucratividade,
elasticidade ou flexibilidade, internacionalidade ou cosmopolitismo.

A simplicidade decorre da inexistência de previsão de formalidades em


suas regras, que permitem a concretização informal das relações negociais,
amparadas, em consequência, na boa-fé dos integrantes, enquanto a rapidez
resulta das regras práticas, disciplinando os meios de produção de provas,
que atendem a necessidade de celeridade dos negócios, possibilitando rápida
circulação de capitais.

A onerosidade se deve à finalidade de lucro, que conduz todas as


relações comerciais, inexistindo previsão de ato gratuito em suas regras, e
a elasticidade é a constante renovação das regras comerciais, com a
introdução de leis regulamentando novas relações ou atividades comerciais.

A internacionalidade ou cosmopolitismo se deve à adesão e adoção, em


virtude de relações comerciais internacionais, de leis, acordos ou tratados
internacionais, como a Lei Uniforme sobre as letras de câmbio e as notas
promissórias, a Lei Uniforme sobre o cheque, o Tratado de Paris sobre
marcas e patentes, etc.

3º - Ato de Comércio
No direito brasileiro, conforme o Regulamento nº 737, de 1850, são
considerados atos de comércio: a compra e venda, ou troca de bens móveis ou
semoventes, para revenda ou aluguel; as operações de câmbio, banco e
corretagem de mercadorias; as fábricas; as empresas de comissões, depósito,
expedição, consignação e transporte de mercadorias, e espetáculos públicos;
os seguros, fretamentos, riscos e quaisquer contratos marítimos; as
operações com os títulos da dívida pública; as atividades das sociedades
anônimas. Dessa enumeração são excluídas as compras e vendas efetuadas por
sociedades cooperativas, porém, por leis posteriores foram incluíram outras
atividades: das empresas de construção civil, de construção e incorporação
de imóveis, de trabalho temporário, etc.

São considerados atos de comércio mistos, ou dependentes, ou conexos


ou acessórios, os atos essencialmente civis, e transformados em comerciais,
porque a sua realização somente é possível, ou é dependente, da prática de
outros atos de comércio, como: compra e revenda de ônibus, no transporte de
pessoas; a compra de equipamentos para a loja do comerciante, etc.

Sendo o ato de comércio enumerado, ou designado pela lei, e sujeito a


constantes ampliações, a sua definição, em nosso direito, segue um sistema
legislativo, enumerativo e exemplificativo, porque admite a inclusão de
outros atos ou atividades. Assim, a antiga distinção entre ato de natureza
civil e de comércio, pela prestação de serviço ou venda de mercadorias, foi
substituída pela designação do segundo pela lei, e o primeiro por exclusão,
assim, não sendo designado pela lei comercial, é ato de natureza civil.
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Os transportes de mercadorias e marítimo de pessoas são inequívocos
atos de comércio, por estarem enumerados no Regulamento nº 737/l850, mas,
o aéreo e o terrestre de pessoas ensejam divergências na doutrina, embora
se afirme, que o aéreo e o ferroviário de pessoas são atos de comércio por
força da lei, que impõe a sua exploração por sociedade por ações.

O transporte rodoviário de pessoas, conforme alguns autores e nossa


jurisprudência, é ato de comércio por analogia aos demais ou conexão com a
compra e venda periódica de veículos, que faculta o transporte de pessoas.
PLÁCIDO E SILVA e FRAN MARTINS consideram ato de comércio o transporte de
pessoas (“NOÇÕES PRÁTICAS DE DIREITO COMERCIAL", vol. I/106, 1965).

A agricultura não é considerada ato de comércio, porque o agricultor


não é intermediário na circulação de bens, mas, apenas produtor; todavia, o
fundamento não é sólido, pois, o agricultor que planta, colhe e vende seus
produtos está praticando, profissionalmente, uma atividade especulativa.

A venda, intermediação nas vendas individuais, e a administração de


imóveis são atos de natureza civil, exceto se praticadas por sociedade
anônima; a construção individual de imóveis sem o fornecimento de material
pelo construtor é ato de natureza civil, contudo, fornecido o material com
habitualidade, é ato de comércio, segundo a Lei nº 4.068/62; e a construção
e incorporação de imóveis é ato de comércio, conforme a Lei nº 4.591/64.

De acordo com decisões dos nossos juízes, a simples prestação de


serviço de pintura é ato de natureza civil, todavia, havendo paralela
compra e venda do material de pintura, com habitualidade, lucro ou objetivo
de lucro, é ato de comércio, o mesmo ocorrendo com as atividades praticadas
nos denominados institutos ou salões de beleza.

Os nossos Tribunais também reconhecem, que a empresa de publicidade


pratica atos de comércio e constitui verdadeira empresa mercantil, enquanto
os estabelecimentos de ensino, de qualquer grau de instrução ministrada, e
natureza, mesmo fornecendo cama e comida, ainda que vendam, acessoriamente,
livros e materiais escolares, não são estabelecimentos comerciais, pois, o
fim destes estabelecimentos eminentemente civis absorve os atos acessórios
por eles praticados, no que tenham de comercial.

Os serviços de vídeo e som, pela execução de gravação em fitas


virgens repassadas aos clientes, com habitualidade e lucro, são atos de
comércio, mesmo com eventual fornecimento de material (RJTJESP, ed. Lex.

O empresário, que fornece mão de obra para o trabalho temporário,


pratica ato de comércio, conforme a Lei nº 6.019/74, enquanto o que fornece
mão de obra para construções, tendo responsabilidade técnica pela execução
das construções, pratica ato de comércio, segundo a Lei nº 4.068/62.

4º - Importância da distinção dos atos de comércio


Pelo nosso sistema jurídico, que não adota jurisdição especializada
para julgamento das questões comerciais, não é importante a distinção entre
os atos de comércio e os atos de natureza civil, exceto para se distinguir
o empresário civil do comercial, pois, quando insolventes, se submetem a
institutos e procedimentos distintos, o primeiro à ação de insolvência,
prevista no Código de Processo Civil, e o segundo à ação de falência,
disciplinada pela Lei de Falências, no âmbito do direito comercial.

É importante, contudo, a distinção entre os atos de natureza civil e


de comércio, para a qualificação do empresário, e adoção do meio correto de
regularização do exercício da atividade, com o registro do ato constitutivo
no órgão competente, porque o empresário civil tem o seu ato constitutivo
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apresentado para registro, no Cartório de Registro de Títulos e Documentos,
do local em que exercerá a atividade, enquanto o empresário comercial deve
enviar o ato constitutivo para arquivamento na Junta Comercial do Estado,
onde está o estabelecimento comercial. O registro em órgão não competente,
pode provocar prejuízos e pretender ressarcimento dos danos.

Se o empresário pretende praticar atividade mercantil e é encaminhado


ao Cartório de Registro de Títulos e Documentos, o seu ato constitutivo,
mesmo efetuado o registro pelo cartório, o empresário não será considerado
regular, mas, empresário de fato ou irregular, ou sociedade de fato ou
irregular, porque o cartório de registro não é competente para registrar ou
arquivar os documentos dos comerciantes. Entretanto, havendo equívoco na
remessa do ato constitutivo de empresário civil para a Junta Comercial,
apenas ocorrerá o retardamento do registro, porque esta restituirá o
documento, indeferindo o pedido de arquivamento, com base na natureza civil
do ato a ser praticado.

Ato constitutivo é o documento, assinado pelo empresário, contendo


informações sobre o ramo da atividade, a data de início e término, o local
em que será desempenhada a atividade, o valor do capital social, o nome
comercial e o nome fantasia adotados, o nome do gerente ou diretor, etc.
São duas as espécies de atos constitutivos: declaração de firma individual,
para os empresários individuais, e contrato social ou estatuto, para as
sociedades, sejam comerciais ou não.

Considerando, portanto, as disposições legais vigentes, relativas ao


ato de comércio, em que pese o posicionamento do direito econômico sobre a
atividade mercantil abranger todos os atos praticados para a circulação de
riquezas, tanto o administrador de empresa, quanto o contador, no exercício
da profissão, devem conhecer a distinção legal entre o empresário civil e o
empresário comercial, seja para a correta orientação, ou encaminhamento do
ato constitutivo e demais documentos necessários ao exercício da profissão
de seus clientes ou contratantes, para fins de registro no cartório de
títulos e documentos, ou para fins de arquivamento na Junta Comercial, ou
ainda, para orientação sobre a possibilidade e conseqüência de se sujeitar,
o empresário insolvente, à falência ou à insolvência.

5º - Questionário
1. O que é atividade mercantil, nos sentidos econômico e jurídico?
2. Por que prevalece em nosso direito a mercantilidade?
3. O que é ato de comércio?
4. O que é ato de comércio por dependência?
5. Mencione três atividades mercantis e três de natureza civil.
6. O transporte de mercadorias é atividade mercantil ou civil?
7. Como se verifica se uma atividade é mercantil ou civil?
8. A intermediação na compra e venda ou locação de imóveis é mercantil?
9. A construção de imóveis e a agricultura é atividade mercantil ou civil?
10. É necessário conhecer a distinção entre atividade civil e mercantil?
11. Qual é o órgão, que promove o registro do ato constitutivo?
12. O que é ato constitutivo e quais são eles?
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QUADRO SINÓTICO

II – COMERCIANTE

1º- Definição

Código Comercial {atos de comércio – profissional – habitual -


não essenciais = capacidade – não impedimento –
registro na Junta Comercial -

2º- Capacidade

civil {exercer direitos e assumir obrigações –


comercial {art. 1º do Código Comercial = maior de vinte e um anos -
emancipado = maior de dezoito pelos pais ou juiz -
colação de grau em curso superior - nomeado para função
pública – casamento - estabelecido com economia própria -
autorização dos pais ao maior de dezoito não emancipado -
impedidos {funcionários públicos - Presidente da República –
governadores – prefeitos – falidos -
restringidos {médicos = venda de produtos farmacêuticos –
penalidade {administrativa - lei penal -

3º- Classificação

ato constitutivo {regular = com arquivamento na JUCESP


irregular ou de fato = sem arquivamento na JUCESP -
número de pessoas {individual = pessoa física –
coletivo = pessoa jurídica = sociedade comercial –

4º- Empresa

conceito {organização - civil - mercantil - pessoa física ou jurídica -


abstração – atividade – metódica -
economia política {organização dos fatores de produção -
doutrina {elemento pessoal e real – resultado econômico – especulação -
titular {empresário civil ou comercial = pessoa física ou jurídica -

A) - Espécies

número de empresários {individual = um empresário = pessoa física -


coletiva {empresário = pessoa jurídica -
atividade {civil = prática de ato de natureza civil -
comercial = prática de ato de comércio -
estrutura {pública = ativada por um órgão público -
privada = ativada por particulares -
de economia mista = por órgão público e particulares –

B) - Microempresa e Empresa de Pequeno Porte


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 14
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requisitos {receita bruta anual = R$ 120.000,00/R$ 720.000,00/1996 –
pessoa física ou jurídica – civil/comercial – ME/EPP -
objetivo {tratamento diferenciado = tributário – administrativo –
trabalhista - previdenciária – creditícia -

5º- Registro das Empresas

órgão competente = Cartório de Registro – Junta Comercial -


empresário civil {Lei nº 6.015/73 de Registros Públicos -
cartório de registro de títulos e documentos -
empresário mercantil {Lei nº 8.934/94 Registro de Empresas Mercantis -
Juntas Comerciais - Escritórios Regionais -
SINREM {Sistema Nacional de Registro do Comércio -
Departamento Nacional de Registro do Comércio -
Juntas Comerciais dos Estados – Escritórios Regionais -
serviços {matrícula e cancelamento -
arquivamento {declaração de firma individual - contrato
social – estatuto - personalidade jurídica -
autenticação de documentos -

6º- Nome Comercial e Nome Fantasia

conceito {comerciante individual - sociedade comercial – em atividade -


espécies {firma individual {nome civil do comerciante individual –
uso obrigatório -
firma ou razão social {nome de sócio - & Cia. – obrigatório
para algumas sociedades -
denominação {expressão qualquer – obrigatório para a S/A -
exclusividade {estadual – arquivamento na Junta Comercial –
outros estados = certidão do arquivamento -
uso por terceiros = crime de concorrência desleal -
nome fantasia {título de estabelecimento - expressão original –
conhecido do público - arquivamento na Junta Comercial –
uso por terceiros = crime de concorrência desleal –
adoção facultativa -

7º- Questionário
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 15
ACOSTA________

II – COMERCIANTE

1º - Definição

De acordo com as disposições do art. 4º, do nosso Código Comercial,


comerciante é a pessoa, que pratica atos de comércio de forma profissional
e habitual, não sendo suficiente para qualificar o comerciante, portanto, a
prática isolada do ato de comércio, como a emissão de cheques, de letra de
câmbio, de nota promissória, etc., pois, é ele o profissional da atividade
comercial, independente da idade e do cumprimento de formalidades para o
desempenho da profissão, como se verifica com os integrantes do mercado
designado de economia informal.

A lei emprega as expressões profissão e habitual, na qualificação do


comerciante, para indicar, que a prática do ato de comércio, ou atividade
comercial, deve ser freqüente e proporcionar meios de subsistência. Assim,
não é comerciante aquele que eventualmente adquire qualquer mercadoria e a
revende, porque lhe faltam os requisitos essenciais da profissionalidade e
da habitualidade, independente do cumprimento de formalidades.

2º - Capacidade civil e capacidade comercial


Capacidade civil, conforme nosso direito civil, é a aptidão da pessoa
para exercer direitos e assumir obrigações, e a capacidade comercial, que é
determinada pela lei comercial, é a aptidão da pessoa para o exercício do
comércio, e com essa qualidade adquirir direitos e assumir obrigações.

Conforme o art. 1º, do Código Comercial, e a Lei de Registro Público


das Empresas Mercantis e Atividades Afins, de nº 8.934/94, o comerciante
deve ter capacidade civil, isto é, ser maior de vinte e um anos de idade,
ou sendo menor, estar emancipado, como permite o Código Civil, ou seja, por
iniciativa dos pais ou do juiz, do menor de vinte e um e maior de dezoito
anos de idade, e, sendo menor de dezoito, pela colação de grau em curso
superior, ou nomeação para função pública, ou casamento, ou estabelecimento
com economia própria.

A lei comercial confere capacidade comercial ao menor de vinte e um e


maior de dezoito anos não emancipado, que obtém autorização dos pais, por
escritura pública, o que não o habilita para todos atos da vida civil, mas,
apenas para exercer o comércio, não equivalendo, portanto, à emancipação.

Mesmo tendo capacidade comercial, algumas pessoas estão impedidas de


desempenhar o comércio, por disposição da lei, que atualmente atinge os
funcionários públicos em geral, o Presidente da República, os governadores,
os prefeitos, os falidos, enquanto outras pessoas têm restringida a prática
de certos ramos de comércio, como os médicos, para a venda de produtos
farmacêuticos. A penalidade pelo descumprimento da proibição ou restrição
para o comércio não é prevista na lei comercial, que apenas impede o
arquivamento do ato constitutivo, e sim pelas leis administrativas e penal,
inclusive, conforme a primeira, até de exoneração do serviço público.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 16
ACOSTA________
O interditado por loucura não pode desempenhar o comércio, por ser
considerado absolutamente incapaz, segundo o nosso direito civil, enquanto
o interditado por prodigalidade depende da limitação imposta pelo juíz na
sentença de interdição, mas, sendo permitido, ele deve ser assistido pelo
curador, que lhe é nomeado, por não poder praticar atos, que importem em
alienação de bens.

A interdição por loucura, se ocorre durante o exercício do comércio,


pode provocar a adoção de medida judicial, pois, as Juntas Comerciais
arquivam apenas documentos firmados pelo próprio comerciante, ou por
procurador por ele constituído com poderes especiais, não os admitindo, se
firmados por representantes legais ou curadores, o que impõe a cessação da
atividade. O arquivamento de documento firmado pelo curador do interditado,
e a continuação do desempenho do comércio por este podem ser autorizados
por sentença, através da ação judicial própria, com base no entendimento de
alguns autores e juízes, que admitem a continuidade do comércio exercitada
pelo curador do interditado.

3º - Classificação
O comerciante pode ser classificado, se considerado o arquivamento do
seu ato constitutivo, em regular e irregular ou de fato. É regular o
comerciante, que tem arquivado na Junta Comercial o seu ato constitutivo, e
é irregular ou de fato aquele que não arquiva o seu ato constitutivo na
Junta Comercial, ou não tem ato constitutivo, iniciando de forma simples e
de imediato o desempenho da atividade comercial, o que é suficiente para
qualificá-lo como comerciante.

O arquivamento do ato constitutivo da atividade na Junta Comercial


não é essencial para o desempenho do comércio, nem para o reconhecimento da
qualidade de comerciante, pois, corresponde apenas a uma formalidade, que
possibilita a declaração da qualidade de comerciante, daquele que arquiva o
seu ato constitutivo. Assim, não é pelo arquivamento, que as pessoas passam
a ter direito de comerciar, ou ser comerciantes, porque é reconhecido pela
lei comercial o desempenho do comércio de fato, por pessoas ou sociedades,
que integram a área designada de economia informal.

A falta de arquivamento do ato constitutivo na Junta Comercial, que


atribui a qualidade de comerciante de fato, ocasiona, contudo, a perda de
alguns direitos, como o de requerer a própria concordata, ou a falência de
outro comerciante regular ou de fato.

Embora a lei comercial não estabeleça penalidade para o comerciante,


que não arquiva o seu ato constitutivo na Junta Comercial, essa omissão
pode ensejar outras, como a falta dos livros obrigatórios, que configura
crime falimentar, no caso de declaração de falência; a não emissão de notas
fiscais, por ocasião das vendas, e a sonegação de tributos, com penalidades
fixadas nas leis tributária e penal; etc.

Quanto ao número de pessoas, que adotam a iniciativa, organizam e se


responsabilizam pela prática da atividade comercial, o comerciante pode ser
classificado como individual ou coletivo. É comerciante individual a pessoa
física, que desempenha o comércio em nome próprio, por sua exclusiva conta
e risco, sendo o único proprietário do estabelecimento comercial, enquanto
comerciante coletivo é a sociedade comercial, uma das espécies de pessoa
jurídica, que é a proprietária do estabelecimento comercial, reconhecida
como um sujeito de direitos e obrigações, e desempenha o comércio através
de pessoas físicas, que são os seus sócios.

A Receita Federal, para fins de declaração de rendimentos, classifica


o comerciante individual, assim como o empresário civil individual, como
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 17
ACOSTA________
pessoas jurídicas, entretanto, conforme o conceito de pessoa jurídica, em
nosso Código Civil, eles são pessoas físicas, pois, apenas a sociedade, ou
grupo de pessoas, que unem seus esforços para alcançar um objetivo comum, é
pessoa jurídica e reconhecida como um sujeito de direitos e obrigações. A
designação empregada pela Receita Federal é equivocada, por não se
fundamentar na nossa lei civil.

4º - Empresa
Não só o comerciante, como também, qualquer cidadão não assalariado,
que pratica por sua própria conta e risco uma atividade não comercial, ou
de natureza civil, são titulares de empresa, que é o organismo constituído
e colocado em funcionamento por eles. Entretanto, a empresa não é definida
em nossas leis civis ou comerciais, sendo conceituada apenas pela Lei de nº
4.137/62, que integra o campo do direito penal, para reprimir o abuso do
poder econômico, e assim considera toda “organização de natureza civil ou
mercantil destinada à exploração, por pessoa física ou jurídica, de
qualquer atividade com fins lucrativos".

Ao contrário do entendimento popular, a empresa não é objeto ou coisa


concreta, sendo gramaticalmente classificada como substantivo abstrato, que
indica a atividade desempenhada pelo empresário. De acordo com nossos
autores, empresa é a atividade do empresário, não a atividade ocasional e
improvisada, e sim a atividade profissional e metodicamente organizada,
através dos fatores de produção, para produzir ou fazer circular bens ou
serviços, satisfazendo necessidades alheias, ou exigências do mercado. Para
a Economia Política a empresa é a organização dos fatores de produção.

RUBENS REQUIÃO entende que objetivamente a empresa se apresenta como


uma combinação de elementos pessoais e reais, colocados em função de um
resultado econômico, e em vista de um intento especulativo de uma pessoa,
que é o empresário (“Curso de Direito Comercial”, 21ª ed., 1º v., pg. 48).

O titular da empresa, portanto, é o empresário, podendo ser qualquer


pessoa física ou jurídica, que faz funcionar a empresa, desempenhando
profissionalmente atividade econômica, organizada para produzir ou colocar
em circulação, bens ou serviços, para satisfazer necessidades alheias.

A) - Espécies

Em que pese a sua natureza abstrata, considerando a atividade adotada


pelo empresário, as empresas podem ser classificadas, de acordo com alguns
fatores: quanto ao número de empresários, em individual e coletiva; quanto
à atividade, em civis e comerciais; e quanto à estrutura, em públicas,
privadas e de economia mista.

É individual a empresa organizada e colocada em funcionamento por


conta e risco de uma única pessoa, que é o empresário individual; coletiva
é a empresa ativada por pessoa jurídica; civil é a empresa, cujo empresário
adota a prática de ato não enumerado na lei comercial, ou seja, de natureza
civil, enquanto comercial é a empresa, cujo empresário adota a prática de
ato de comércio designado na lei comercial, tratando-se, respectivamente,
de empresário civil e empresário comercial ou comerciante.

As expressões comerciante e empresário comercial são sinônimas, mas,


empregadas também para distinguir, a primeira, o antigo comerciante, que se
colocava em posição hierárquica superior em relação aos seus empregados,
aos quais emitia ordens, e a segunda para indicar o comerciante moderno,
que dispensa hierarquia, e considera os empregados como colaboradores, não
somente cumpridores de ordens. Essas expressões são usadas para designar
tanto o empresário comercial ou comerciante individual, como o coletivo.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 18
ACOSTA________

Empresa pública é a ativada por um órgão público, sendo estabelecida


por lei, para a execução de atividade econômica atribuída ao governo, que
fornece o patrimônio e a administra, sem fim de lucro. Empresa privada é a
resultante da iniciativa de particulares, que são empresários comerciais ou
civis fornecedores do patrimônio, que a administram, com o fim de lucro.

Empresa de economia mista é a ativada por iniciativa de um órgão


público, juntamente com particulares, que compõem uma sociedade designada
de sociedade anônima de economia mista, criada por lei, após autorização do
poder legislativo, e administrada pelo órgão público, sócio majoritário.

B) - Microempresa e Empresa de Pequeno Porte

Microempresa e empresa de pequeno porte não são espécies distintas de


empresas, mas, aquelas cujos empresários têm tratamento diferenciado nas
áreas tributária, administrativa, trabalhista, previdenciária e creditícia,
por preencherem as condições fixadas pela lei, que objetiva incentivar os
empresários com capital módico. O microempresário ou empresário de pequeno
porte pode ser pessoa física, o individual, ou jurídica, a sociedade civil
ou comercial regular.

A Lei nº 9.841/99, que alterou a anterior de nº 8.864/94, considera


microempresa e empresa de pequeno porte as ativadas por pessoa física ou
jurídica, com receita bruta anual igual ou inferior a R$ 244.000,00, a
primeira, e superior a R$ 244.000,00 e igual ou inferior a R$ 1.200.000,00,
a segunda, para tratamento especial nas áreas referidas. A Lei do Simples,
nº 9.317/96, fixa tratamento tributário distinto para a microempresa, que
auferiu no ano-calendário receita bruta igual ou inferior a R$120.000,00
(cento e vinte mil reais), e para a empresa de pequeno porte, que teve no
ano-calendário, receita bruta superior a R$ 120.000,00 (cento e vinte mil
reais) e igual ou inferior a R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil
reais). Quanto ao recolhimento dos impostos estaduais e municipais pelo
sistema do Simples, dependerá de convênio com o estado ou município.

Estando no limite da receita bruta anual, a microempresa e empresa de


pequeno porte devem incluir ao nome comercial a sigla ME ou EPP, ou por
extenso microempresa ou empresa de pequeno porte, e registrar ou arquivar o
ato constitutivo e comprovantes das condições no cartório de registro de
títulos e documentos, se empresário civil, e na Junta Comercial, se
comerciante.

A referida lei, também designada de estatuto da microempresa, prevê


expressamente os benefícios concedidos nas áreas especificadas, impondo ao
empresário a obrigação de comunicar ao órgão do registro, as alterações da
renda bruta anual, que impliquem na perda da qualidade de microempresário
ou de empresário de pequeno porte.

5º - Registro das Empresas


O regime de registro de empresa civil ou comercial, em nosso direito,
fixa dois importantes princípios: da legalidade ou regularidade atribuída
ao desempenho da atividade, e da publicidade, porque os atos são públicos,
conhecidos por publicação em jornal, ou a pedido de qualquer interessado.

O empresário civil tem o registro do ato constitutivo disciplinado


pela Lei de Registros Públicos, nº 6015/73, feito pelo cartório de registro
de títulos e documentos, e o empresário comercial, pela Lei nº 8.934/94,
feito pela Junta Comercial do Estado.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 19
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Pela Lei nº 8.934/94, regulamentada pelo Decr. nº 1.800/96, o serviço
de registro público de empresas mercantis e atividades afins é exercido
pelo Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis - SINREM, composto
pelo Departamento Nacional de Registro do Comércio e Juntas Comerciais. As
funções do Departamento Nacional de Registro do Comércio, no campo técnico,
são de supervisão, orientação, coordenação, e normativa, e na área
administrativa é supletiva, com competência nacional.

As Juntas Comerciais têm sede nas capitais dos estados e jurisdição


estadual, tendo uma em cada unidade federativa, para executar os serviços
de registro do comércio, que são: a matrícula e seu cancelamento, o
arquivamento dos atos constitutivos dos comerciantes, e a autenticação de
documentos enviados por comerciantes, ou profissionais sujeitos à
matrícula, como leiloeiros, trapicheiros, etc.

O ato praticado pela Junta Comercial, de interesse para o comerciante


individual, é o arquivamento da declaração de firma individual e documentos
relacionados na lei, para comprovar a capacidade jurídica, estado civil e
inexistência de condenação impeditiva do exercício do comércio. A sociedade
comercial remete para arquivamento pela Junta Comercial, o seu contrato ou
estatuto social, juntamente com os documentos, que comprovam a capacidade
jurídica dos sócios, o estado civil, e a inexistência de impedimentos.

A partir do arquivamento do ato constitutivo na Junta Comercial, a


sociedade comercial adquire personalidade jurídica, enquanto o comerciante
individual torna regular o desempenho da sua atividade comercial, sem se
converter, porém, em pessoa jurídica, pois, conforme nosso direito civil,
a pessoa jurídica se constitui com duas pessoas, no mínimo.

Não efetuado o arquivamento do ato constitutivo na Junta Comercial, o


comerciante individual e a sociedade comercial são comerciantes irregulares
ou comerciantes de fato, não havendo impedimento legal para o exercício da
atividade, nessa condição, que não é ilegal, mas, provoca a perda de alguns
direitos, como o de requerer a própria concordata, ou a falência de devedor
comerciante regular ou mesmo de fato.

O ato constitutivo, que é a declaração de firma individual, contrato


social, ou estatuto, a ser arquivado pela Junta Comercial, juntamente com
os documentos comprobatórios da idade ou capacidade jurídica, estado civil,
e inexistência de impedimentos, deve conter o nome comercial adotado, o
endereço do comerciante e do estabelecimento comercial, o valor do capital
social, a natureza da atividade, e no caso de sociedade, o nome e endereço
dos sócios, a parcela entregue por estes para a formação do capital social,
e o tipo de sociedade. Quando do arquivamento, o ato constitutivo recebe o
Número de Identificação de Registro de Empresa – NIRE.

Capital social é a expressão monetária inserida na declaração de


firma individual, contrato social, ou estatuto, correspondente à quantia a
ser empregada pelo comerciante individual, ou à soma das quantias entregues
pelos sócios, para constituir e colocar em funcionamento o estabelecimento
comercial.

A remessa de documentos para a Junta Comercial pode ser feita através


dos Escritórios Regionais das Juntas Comerciais, criados para intermediação
entre comerciantes e Juntas Comerciais, no encaminhamento de documentos.

6º - Nome Comercial e Nome Fantasia


Nome comercial é o nome utilizado, na conformidade das disposições de
algumas leis, pelo comerciante individual ou pela sociedade comercial, para
desempenhar a sua atividade, e através dele exercer seus direitos e assumir
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 20
ACOSTA________
obrigações. Estabelecem a espécie de nome comercial a ser utilizado pelo
empresário: Lei nº 8.934/94, sobre Registro Público de Empresas Mercantis e
Atividades Afins; arts. 311 a 325 do Código Comercial, sobre sociedades de
pessoas; Dec. nº 3.708/1919, sobre sociedade por quotas de responsabilidade
limitada; e Lei nº 6.404/76, sobre sociedade anônima. As espécies de nome
comercial são: firma individual, firma social ou razão social, e
denominação social.

Firma individual é a espécie de nome comercial de uso obrigatório do


comerciante individual, composto pelo nome civil do comerciante, permitida
a adição de outras expressões apenas para distinção de nomes semelhantes,
ou por exigência da lei. É o que pode ocorrer com o nome José da Silva, ao
qual pode ser acrescida a palavra BAURU, PEÇAS, ou REFRIGERANTES. Exemplos
de firma individual: CARLOS RODRIGUES DA SILVA; ÁLVARO BATISTA; AUGUSTO DE
SOUZA - PEÇAS; JOÃO ALMEIDA – UTILIDADES; CELSO PEIXOTO – BAURU; etc.

O microempresário ou empresário de pequena empresa, sendo individual,


deve acrescentar ao seu nome civil, por disposição expressa da lei, a sigla
ME ou EPP, ou a expressão microempresário, ou empresário de pequeno porte.
Exemplos de firma individual de microempresário ou de empresário de pequeno
porte: JOSÉ DA SILVA – BAURU-ME; JOSÉ DA SILVA – PEÇAS-ME; JOSÉ LEAL - ME;
JOSÉ MARTINS – LANCHES - EPP; ROBERTO SANTOS - EPP; etc.

Firma ou razão social é espécie de nome comercial composto pelo nome


de um, alguns, ou todos os sócios, sendo acompanhado das expressões & CIA.,
se ocorrer a omissão do nome de algum deles. É utilizada obrigatoriamente
pelas sociedades em nome coletivo, de capital e indústria, e em comandita
simples, e facultativamente pelas sociedades por quotas de responsabilidade
limitada e em comandita por ações. Enquanto as três primeiras utilizam a
firma social obrigatoriamente, sem a faculdade de optar por outra espécie,
as duas últimas têm liberdade de escolha entre esta e a denominação social.
Exemplos de razão ou firma social: MOURA & DIAS; SOUZA, SANTOS & MATOS;
CAMPOS & CIA; BARBOSA, MOTA & COSTA; DANTAS & SEIXAS LTDA.; FREITAS, LEITE
& ALVES LTDA.; CORREIA & CIA. LTDA.; ALMEIDA & SILVA–PEÇAS; etc. Exemplos
de razão social de microempresário: LOPES & SOUZA – ME; LEITE & CIA – ME.

Denominação social é uma espécie de nome comercial, composto por uma


expressão qualquer, em regra relacionada com a atividade desempenhada, e
acompanhada de expressões, que identificam o tipo de sociedade, como S.A.,
ou sociedade anônima, ou ltda., ou limitada. É adotada obrigatoriamente
pelas sociedades anônimas e facultativamente pelas sociedades por quotas de
responsabilidade limitada e em comandita por ações. Exemplos de denominação
social: LOJAS AMERICANAS S/A, EDIPRO-EDIÇÕES PROFISSIONAIS LTDA; BAZAR
GLÓRIA ltda.; CASAS SILVA S/A; etc.

As disposições legais anteriores empregavam as expressões nome de


empresa, como gênero das espécies firma ou denominação, a serem usadas pelo
comerciante no exercício da atividade, e a lei atual faz referência a nome
comercial, contudo, ambas têm o mesmo significado, isto é, são indicativas
do nome do empresário no exercício da sua atividade, ou da empresa.

Para a adoção do nome comercial ou nome de empresa, vigora em nosso


direito o princípio da veracidade ou autenticidade, porque a lei impõe ao
comerciante individual, o uso da firma individual com seu patronímico, e da
firma social com o nome dos sócios, para as sociedades de pessoas.

O nome comercial adotado pelo comerciante regular é usado por ele com
exclusividade, como resultado do arquivamento do ato constitutivo na Junta
Comercial, e pela penalidade fixada pela Lei nº 9.279/96, que dispõe sobre
a propriedade industrial, e reprime o crime de concorrência desleal, como é
considerado, entre outros comportamentos, o uso indevido do nome comercial,
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 21
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por qualquer pessoa. Quanto à possibilidade de alteração do nome comercial
é limitada pela lei do Registro Público das Empresas Mercantis e Atividades
Afins, de nº 8.934/94, que não a admite para a firma individual, por ser o
nome civil do empresário, salvo para acréscimo da expressão ME, ou EPP, em
virtude de novo enquadramento como microempresário ou empresário de pequena
empresa, respectivamente, mas, é permitida para a denominação social, desde
que não contrarie a lei, e para a firma social, só para incluir ou excluir
o nome de qualquer dos sócios.

A exclusividade do uso do nome comercial, no entanto, é garantida no


âmbito estadual, porque as Juntas Comerciais têm competência regional, mas,
o comerciante pode se valer dessa garantia em todo o território nacional ou
em alguns estados, se remeter certidão do arquivamento do ato constitutivo
e da adoção do nome comercial, para as Juntas Comerciais de outros estados.
Arquivada, pela Junta Comercial de outro estado, a certidão de arquivamento
do ato constitutivo e nome comercial adotado, este não poderá ser usado por
outro comerciante, naquele estado da federação.

Considerando que a Junta Comercial, para fins de arquivamento, o que


garante ao comerciante direito de uso exclusivo do nome comercial adotado,
no território estadual em que foi arquivado, adota regras de distinção dos
nomes pela atividade desempenhada e pelas demais palavras, que compõem o
nome comercial, podem ocorrer semelhanças entre várias denominações, como:
UTILAR – UTILIDADES DOMÉSTICAS LTDA.; UTILAR MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO LTDA.;
PREVENTIVA PEÇAS LTDA.; PREVENTIVA MATERIAL DE LIMPEZA LTDA.; etc. Contudo,
o comerciante, que se sentir prejudicado pela adoção, por outro empresário,
de nome comercial com expressões semelhantes às que anteriormente adotou e
fez constar do contrato social arquivado na JUCESP, pode impedir o emprego
da expressão pelo segundo, através de ação judicial, desde que demonstre a
anterioridade da adoção do nome.

Além do nome comercial, o comerciante pode adotar outra designação,


com a qual não se confunde, que é o título de estabelecimento, composto em
regra por expressão original, pitoresca, adotada de acordo com interesse ou
vontade do comerciante, para se fazer conhecido pelo público. O título do
estabelecimento é também designado de nome fantasia, não sendo a sua adoção
disciplinada por lei; no entanto, é admitido o seu arquivamento pela Junta
Comercial, e é também objeto de crime de concorrência desleal o seu emprego
indevido por outra pessoa, o que garante o uso exclusivo, pelo seu criador.
Portanto, título do estabelecimento é uma expressão qualquer, que pode ou
não, conforme interesse do seu criador, se assemelhar ou distinguir do nome
comercial, não sendo obrigatória a sua adoção.

O nome fantasia é adotado em geral pelo comerciante individual e pela


sociedade comercial, que emprega razão social, pois as sociedades, que usam
denominação social, utilizam expressões da denominação, como nome fantasia.

O nome comercial se distingue do nome fantasia, porque o primeiro é


obrigatoriamente adotado, na forma prevista em lei, para ser empregado pelo
empresário, ao defender seus direitos e ao assumir obrigações, no exercício
da atividade; e o segundo é adotado facultativa e livremente, sem previsão
legal de formalidade, e usado simplesmente para tornar o comerciante e seu
estabelecimento comercial conhecido pelo público. O nome fantasia ou título
do estabelecimento não pode, portanto, ser utilizado na área judicial, para
a defesa dos direitos do comerciante, nem para assumir obrigações.

A adoção do nome comercial não é, porém, exclusividade do empresário


comercial, porque os empresários civís também podem adotá-lo, como admite a
lei civil, na mesma conformidade do estabelecido pelas leis comerciais. O
nome fantasia pode, igualmente, ser adotado pelos empresários civís, pois,
não há qualquer impedimento legal, salvo quanto ao emprego de expressões
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 22
ACOSTA________
obscenas, de interpretação ou sentido duvidoso, contrárias à moral e aos
bons costumes, ou que designem entidade ou órgão público, as quais também
são vedadas aos comerciantes.

Exemplos de nome fantasia ou título de estabelecimento:


BAR DO JUCA; CONFEITARIA DOCE MEL; BAZAR SÃO JOÃO; LANCHONETE BOM GOSTO;
TINTAS IPIRANGA; BAIANO LANCHES; POSTO QUINZE; CONTABILIDADE REAL; JALOVI;
LOJAS PERNAMBUCANAS; LOJAS AMERICANAS; CASAS GLÓRIA; CASA BAHIA; LOJAS
TANGER; CHURRASCARIA GAUCHA; etc.

7º - Questionário
1. Quem pode ser comerciante, no Brasil?
2. O ato de comércio é todo aquele praticado por comerciante?
3. Só pode ser comerciante o maior de vinte e um anos de idade?
4. O menor de vinte e um anos de idade pode ser comerciante?
5. O menor de dezesseis anos de idade pode ser comerciante?
6. Há proibição para o desempenho do comércio?
7. Qual é a pena para quem, mesmo proibido, desempenha o comércio?
8. Quais as espécies de comerciante?
9. O comerciante irregular está sujeito à alguma penalidade?
10. É ilegal o exercício do comércio, sem arquivamento na Junta Comercial?
11. O que é comerciante regular e irregular?
12. Qual a diferença entre comerciante individual e coletivo?
13. O comerciante é pessoa jurídica?
14. O que é empresa?
15. Empresa e comerciante têm o mesmo significado?
16. Qual a diferença entre empresário civil e mercantil?
17. A empresa é o estabelecimento comercial ou a loja?
18. Como a economia considera a empresa?
19. A empresa é pessoa jurídica?
20. Quais as espécies de empresa?
21. Qual a diferença entre empresa individual e coletiva?
22. Qual a diferença entre comerciante e empresário comercial?
23. Quais as diferenças entre empresa pública e privada?
24. O que é empresa de economia mista?
25. Como é constituída a microempresa?
26. Quais as condições para ser microempresário?
27. O que é empresa de pequeno porte?
28. O microempresário é comerciante?
29. Como deve proceder o microempresário, se não mais preenche as condições
fixadas pela lei?
30. O que é o Departamento Nacional do Registro de Comércio?
31. O que é e qual é a competência da Junta Comercial?
32. O que significa arquivamento de ato constitutivo?
33. Qual é o efeito do arquivamento do ato constitutivo?
34. O que é declaração de firma individual?
35. O que NIRE?
36. Qual a competência do Escritório Regional da Junta Comercial?
37. O que é nome comercial e quais suas espécies?
38. Quais as diferenças entre firma ou razão social e denominação?
39. Exemplifique nomes comerciais.
40. Que nome comercial adota o microempresário?
41. Qual o nome comercial do empresário de pequeno porte?
42. Quais as diferenças entre firma social e firma individual?
43. Quais as sociedades, que podem adotar razão social?
44. Quais as sociedades obrigadas a adotar denominação social?
45. Um comerciante pode utilizar o nome comercial de outro comerciante?
46. O que é título de estabelecimento?
47. Quais as diferenças entre nome comercial e nome fantasia?
48. Um comerciante pode usar o nome fantasia adotado por outro comerciante?
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 23
ACOSTA________
49. Dê exemplos de nome fantasia.

QUADRO SINÓTICO

III – FUNDO DE COMÉRCIO

1º- Conceito {estabelecimento comercial – conjunto de bens unidos pelo


comerciante – desempenho da atividade
espécies {corpóreos = cadeira – mesa – balcão - estoque - máquinas –
incorpóreos = direitos {ponto comercial – crédito – aviamento-
propriedade industrial -
natureza {bem móvel e incorpóreo - imaterial - universalidade de fato -
separados por vontade do proprietário – locação – alienação –
dolo - fraude contra credores = ineficácia –
comerciante individual = um patrimônio = bens particulares e
do comércio -

2º- Bens Incorpóreos

A)- Direito ao Ponto Comercial

conceito {renovação do contrato de locação - permanência no mesmo


imóvel independente da vontade do proprietário –
pode ser vendido junto ou em separado -
requisitos {contrato por cinco anos ou vários ininterruptos –
mesmo ramo de atividade nos últimos três anos –
ação judicial de renovação da locação nos seis meses
antes do término do contrato –
não renovação = indenização -
ausência de qualquer requisito = denúncia vazia -

B)- Créditos

conceito {vendas à prazo - cessão junto ou separadamente -


representação material = títulos de crédito = letra de
câmbio - nota promissória – cheque - ou duplicata –
endosso = novo credor - ação de execução –
sem representação = produção de provas do crédito –

C)- Aviamento

conceito {conjunto de atos - capacidade em atrair a clientela -


gerar lucros - atitude - comportamento do comerciante -
alienado com o fundo de comércio –

D)- Propriedade Industrial

Conceito {bem imaterial - intelecto – indústria - proteção da lei -


direito de uso e exploração exclusivos – C. P. I. -
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Lei nº 9.279, de 14/05/96 – INPI -
Espécies {Invenção = produto do intelecto – inexistente – aplicação
à indústria – proteção = patente – vinte anos -
modelo de utilidade = forma nova - objeto existente –
proteção = patente – quinze anos –
desenho industrial = forma ornamental - cores e linhas -
objeto existente – novo visual -
proteção = certificado de registro – dez anos
renováveis por três períodos de cinco anos –

marca = nome – palavra – monograma – emblema – símbolo –


figura - combinação de palavras –
espécies = produto - serviço – certificação – coletiva -
de alto renome - notória -
proteção = certificado de registro – dez anos renováveis
por mais dez no nono ano, ou até seis meses do término -
Proteção {patente e certificado de registro – pelo prazo legal –
Renúncia – caducidade - não pagamento -
Expressão ou sinal de propaganda = crime de concorrência
Desleal -

E)- Distinções

Marca = distintiva da mercadoria produzida - bem imaterial -


Firma = assinatura – individual = empresário individual – firma
Social = nome da sociedade comercial -
nome comercial = nome obrigatório - exercício da atividade -
nome fantasia = facultativo - popular – bem imaterial -
empresa = atividade do empresário – abstração -
loja = local do fundo de comércio – permanência do empresário –
estabelecimento comercial = conjunto de bens – desempenho da
atividade – bem alienável -
Know-how = conhecimentos técnicos – culturais – administrativos –
processo de trabalho – bem imaterial alienável -
segredo de fábrica = processo industrial – bem alienável -
franquia = contrato de cessão de direitos – marca – Know-how –
segredo de fábrica – nome comercial – nome fantasia -

3º- Questionário
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III – FUNDO DE COMÉRCIO

1º - Conceito

Fundo de comércio, também designado de estabelecimento comercial, é o


conjunto de bens corpóreos e incorpóreos, organizados e conservados unidos
pelo comerciante, para desempenhar a sua atividade; os primeiros são os que
ocupam espaço no mundo exterior, como estoque, máquinas, cadeiras, mesas,
balcões, etc.; os segundos, que não ocupam espaço exterior, são os direitos
adquiridos durante e no desempenho da atividade comercial, como os direitos
ao ponto comercial, ao crédito, ao aviamento, e à propriedade industrial.

O comerciante individual possui igualmente, como fundo de comércio, o


conjunto de bens, que utiliza no desempenho da atividade comercial, porém,
segundo nosso direito, não é um patrimônio constituído separadamente, como
se verifica com o patrimônio da sociedade comercial, que tem personalidade
jurídica distinta da personalidade dos sócios, pois, integra seu patrimônio
privado, no qual se confundem os seus bens particulares e os do comércio.

A natureza do fundo de comércio é de bem móvel e incorpóreo. Segundo


RUBENS REQUIÃO, é bem imaterial, consistindo em uma universalidade de fato,
por ser um conjunto de bens, que não perdem a sua natureza e são mantidos
unidos, porque destinados a um fim, por vontade do seu proprietário, que os
separa, quando lhe interessar (ob. cit., pg. 205/206).

Pode, assim, o estabelecimento comercial ser vendido, alienado, ou


locado, sendo comum este último sob designação de arrendamento; contudo, a
venda ou alienação do fundo de comércio, em conjunto ou separadamente, está
sujeita, quando o comerciante assumir dívidas, ao pagamento dos credores,
ou consentimento expresso destes, ou à reserva de bens suficientes para o
pagamento dos credores, ou à prévia notificação dos credores sobre a venda
e inexistência de oposição destes, dentro de trinta dias; caso contrário, a
venda configura ato de falência previsto no art. 2º, V, e ato ineficaz
enumerado no art. 52, VIII, ambos da Lei de Falências.

Não se confunde estabelecimento comercial ou fundo de comércio com


empresa, porque, esta é a atividade do empresário, ou organismo que ele
coloca em funcionamento, e aquele é bem móvel e incorpóreo, composto por
bens corpóreos e incorpóreos, usados no desempenho da atividade. Empresa é
a atividade do empresário, e estabelecimento comercial é o instrumento
dessa atividade.

2º - Bens Incorpóreos
Os bens incorpóreos do fundo de comércio, que não ocupam espaço
físico, são os direitos adquiridos no exercício da atividade, como: direito
ao ponto comercial, ao crédito, ao aviamento, e à propriedade industrial,
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que são também suscetíveis de alienação ou venda, pelo seu proprietário, em
conjunto ou separadamente, conforme lhe seja mais vantajoso.

A) - Direito ao Ponto Comercial

Ponto comercial é a loja, ou local, onde o comerciante desempenha a


atividade e mantém o estabelecimento comercial. Direito ao ponto comercial
é o direito adquirido pelo comerciante locatário do imóvel, onde está o
estabelecimento comercial, de ali permanecer independente da vontade do
proprietário do imóvel, pela renovação compulsória da locação.

O direito ao ponto comercial faculta ao comerciante a renovação do


contrato de locação, para permanência no mesmo imóvel, independente da
vontade do proprietário, mas, esse direito é adquirido pelo preenchimento
três requisitos, previstos no art. 51, da Lei de Locação Predial, de nº
8.245/9l: que o comerciante tenha firmado um contrato de locação por cinco
anos, ou vários ininterruptos, que somem cinco anos; que explore o mesmo
ramo de atividade nos últimos três anos; e que promova a ação judicial para
renovação da locação, no prazo de um ano a seis meses antes do término do
contrato. Se faltar qualquer um dos requisitos, o comerciante perde direito
ao ponto comercial, ficando sujeito à denúncia vazia, isto é, ao findar o
prazo previsto no contrato de locação, o locador pode pedir a desocupação
do imóvel, rompendo a locação sem qualquer motivo, e sem assumir obrigação
de pagar indenização ou reparação, pela mudança do ponto do comerciante.

Tendo direito ao ponto comercial, o comerciante, ante a negativa de


renovação do contrato pelo proprietário do prédio, deve ingressar com ação
judicial, no prazo previsto na lei, entretanto, mesmo com direito ao ponto
comercial, se o juiz não renovar a locação, na ação judicial, por qualquer
impedimento demonstrado pelo proprietário, será este condenado a efetuar o
pagamento de indenização ao comerciante, pela mudança do ponto comercial.

O direito ao ponto comercial é um bem incorpóreo, que integra o fundo


de comércio, podendo ser vendido junto ou separadamente, cumprindo a quem o
adquirir dar continuidade ao preenchimento dos requisitos previstos na lei.
Assim, se o comerciante individual ou sociedade comercial firma contrato de
locação de um imóvel, para nele instalar o seu estabelecimento comercial, o
prazo da locação deve ser de cinco anos, caso queira preencher o primeiro
dos requisitos para aquisição do direito ao ponto comercial; para preencher
o segundo requisito deve permanecer no mesmo ramo de comércio nos últimos
três anos da locação. Portanto, se após os dois primeiros anos o ramo é de
produção de calçados, o comerciante não pode alterá-lo, sob pena de perder
o direito ao ponto comercial. Finalmente, iniciado o quinto ano da locação,
o comerciante deve procurar o proprietário e propor a renovação contratual,
que deve ser feita no primeiro semestre, pois, se não ocorrer a renovação
amigável nesse período, deve ser promovida a ação judicial, antes de findar
o primeiro semestre.

O direito ao ponto comercial, vendido junto ou separadamente do fundo


de comércio, como bem incorpóreo, é avaliado como outro qualquer, conforme
as peculiaridades de cada caso, e interesse das partes.

B) - Créditos

Os créditos adquiridos pelo comerciante, pelas vendas com pagamento à


prazo, também configuram direitos, que integram o fundo de comércio e podem
ser objeto de cessão com o fundo, ou separadamente, conforme o interesse do
comerciante, que é credor.
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O direito ao crédito pode ser representado materialmente por títulos
de crédito legalmente previstos, como a letra de câmbio, nota promissória,
cheque, ou duplicata; nestes casos, o credor transfere o título através de
endosso ao novo credor, que pode, havendo recusa de pagamento pelo devedor,
promover, na área judicial, ação de execução do seu direito ao crédito, sem
necessidade de produzir provas sobre a legitimidade do crédito, pois, o
título de crédito é representativo do direito. Se o crédito não é
representado por qualquer dos títulos de crédito adotados em nosso direito,
havendo recusa do pagamento pelo devedor, cabe ao credor promover ação
judicial própria, para obter do juiz, após produção de provas relativas à
existência e legitimidade do crédito, sentença, que condene o devedor a
efetuar o pagamento.

Na venda ou cessão do direito ao crédito, junto ou separadamente do


fundo de comércio, o comprador ou cessionário pode pretender lucrar, o que
afasta a possibilidade de negociação pelo valor dos títulos, ou créditos.

C) - Aviamento

O conceito de aviamento não é fácil de ser assimilado, por se tratar


do conjunto de atos praticados pelo comerciante, conforme sua capacidade em
atrair a clientela, gerando lucros. Assim, é a atitude ou o comportamento
adotado pelo comerciante, para fazer funcionar a empresa e atingir a sua
finalidade lucrativa, certamente atraindo clientes.

Freguesia e clientela se distinguem, sendo a primeira o total


de consumidores atraídos por promoções ou qualidades do comerciante, e a
segunda o total de consumidores, que passam pelo local onde está a loja;
mas, não integram o fundo de comércio, pois, conjunto dessas pessoas não é
objeto de direito.

O aviamento, por decorrer da capacidade do comerciante para atrair a


clientela, configura direito e pode ser alienado, mas apenas com o fundo de
comércio, sendo avaliado, no momento da venda, como bem incorpóreo, de
acordo com o interesse das partes.

D) - Propriedade Industrial

Propriedade industrial é a designação legal de certos bens imateriais


produzidos pelo intelecto, para aplicação na indústria, tendo proteção da
lei, que confere ao seu criador direitos de uso e exploração exclusivos.

A proteção à propriedade industrial, fixada no Código de Propriedade


Industrial, Lei nº 9.279, de 14/05/96, que assim considera a invenção, o
modelo de utilidade, o desenho industrial e a marca, consiste na concessão,
pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, de patente aos autores
de invenção e modelo de utilidade, e certificado de registro aos autores de
desenho industrial e marca. A proteção resulta, ainda, da repressão feita
pela lei, fixando penalidade para os agentes de crimes contra a propriedade
industrial, contra falsas indicações geográficas e de concorrência desleal.

O efeito da concessão da patente ou registro é garantir ao seu


titular, ou criador, o direito de propriedade, do qual decorre o direito de
uso e exploração exclusivos, pelo prazo fixado na lei, que é de vinte anos
para invenção, quinze para modelo de utilidade, dez para desenho industrial
e para marcas, nestes dois últimos casos, com possibilidade de renovação.

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial–INPI concede a patente


ou o certificado de registro, mediante requerimento do interessado, que
deve juntar os documentos comprobatórios do preenchimento das condições
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previstas na lei, podendo ser o criador, ou terceiro, que promover o pedido
primeiramente, em que pese a anterioridade de uso pelo criador.

São requisitos para a concessão da patente ao autor da invenção ou do


modelo de utilidade, e concessão do certificado de registro, para o criador
do desenho industrial ou da marca: a originalidade, a novidade, a licitude,
e a industriabilidade.

Invenção é o produto do trabalho intelectual dirigido, que projeta


algo inexistente para ser aplicado à indústria, tratando-se de ato original
do gênio humano. Ex. nova máquina para facilitar as tarefas domésticas. A
invenção não se confunde com a descoberta, pois, a primeira é a criação de
algo inexistente, e a segunda é o encontro de algo já existente.

Modelo de utilidade é a toda forma nova, criada para ser aplicada em


objeto já existente, com o fim de proporcionar melhor uso prático. Ex.:
novo tipo de cabide, de ferramenta, etc.

Desenho Industrial é a forma plástica ornamental ou conjunto de cores


e linhas, para aplicação em produto já existente, com o fim de proporcionar
visual novo e original na sua configuração externa. Ex.: novo modelo de
lanterna de automóvel, de veículo, de garrafa e vaso, de estampa de tecido
e de papel de embrulho, traçado para talheres, etc.

Marca é a expressão composta por nome, palavra, monogramas, emblema,


símbolo, figura, combinação de palavras, etc., tendo as seguintes espécies:
de produto e serviço, para distinguir produto e serviço; de certificação,
para atestar a conformidade do produto ou serviço com determinadas normas
técnicas; e coletiva, para identificar produtos ou serviços provindos de
membros de uma determinada entidade. Conforme o efeito produzido, a marca
pode ser também de alto renome, ou notória.

Diferem a marca e o nome comercial, porque a primeira está sujeita a


registro no Instituto de Propriedade Industrial, é disciplinada pelo Código
de Propriedade Industrial, e utilizada para distinguir produto, mercadoria,
ou serviço, enquanto o segundo está previsto na Lei de Registro Público das
Empresas Mercantis e Atividades Afins, se sujeita a arquivamento na Junta
Comercial, e é utilizado obrigatoriamente, para identificar o comerciante,
como sujeito de direitos e obrigações.

O nome comercial não é propriedade industrial, nem integra o fundo de


comércio, mas, a denominação e a firma social, que são espécies de nomes
comerciais, mesmo não integrando o fundo de comércio, porque não são bens,
podem ser alienadas, a primeira com ou separadamente do fundo de comércio,
enquanto a segunda somente com o fundo de comércio, acompanhando a firma
social nova, adotada pelo comprador, e seguida das expressões sucessores
de... Ex. Alves & Cia, sucessores de Abreu & Cia. A firma individual,
conforme o nosso direito, sendo o nome próprio do cidadão comerciante, é um
atributo da personalidade, não bem imaterial, mas, direito intransmissível
e inalienável.

A lei anterior da propriedade industrial protegia também a criação e


uso de sinais ou expressões de propaganda, que conceituava como a legenda,
anúncio, palavra, combinação de palavras ou de letras, desenhos e gravuras
originais e características, usadas para recomendar ou realçar a qualidade
de produtos, mercadorias ou serviços, ou atrair a clientela. A nova lei não
considera propriedade industrial o sinal ou expressão de propaganda, mas,
mantém a proteção ao seu uso, pela inclusão entre os crimes de concorrência
desleal, sendo garantido o seu uso exclusivo pelo arquivamento na Junta
Comercial, do ato constitutivo, ou alteração contratual, que o contenha, ou
de qualquer documento, que comunique a sua adoção.
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Pelos conceitos da anterior lei, a distinção entre marca e expressão


ou sinal de propaganda decorre de distinguir, a primeira, a mercadoria ou
serviço, e a segunda, por realçar ou recomendar a qualidade dos produtos,
mercadorias ou serviços, para atrair a clientela.

O direito de uso ou exploração conferido pelas patentes de invenção e


de modelo de utilidade, bem como, pelos certificados de registro de desenho
industrial e marca, integra o estabelecimento comercial, ou seja, compõe o
fundo de comércio, podendo ser negociado separadamente pelo seu titular, ou
junto com os demais bens corpóreos e incorpóreos, por valor fixado pelo
proprietário, desde que cumpridas as condições da lei, quanto à propriedade
industrial, firmado o respectivo contrato de transferência, ou cessão de
direitos, ou de franquia, que deve ser remetido ao INPI para registro.

O direito ao emprego do sinal ou expressão de propaganda, mesmo não


configurando propriedade industrial, pode ser alienado com ou em separado
do estabelecimento comercial, como ocorre com o aviamento, nome comercial e
nome fantasia, por valor fixado pelo seu titular. Para essa alienação, não
há previsão legal de formalidade, entretanto, para segurança do cessionário
ou adquirente, em não incorrer na prática do crime de concorrência desleal,
a negociação deve ser objeto de contrato particular firmado pelas partes e
duas testemunhas, no mínimo, sendo dispensado o registro em qualquer órgão.

O uso da patente e do certificado de registro se extinguem no término


do prazo de proteção, ou pela renúncia, caducidade, ou falta de pagamento
da retribuição legal; porém, o registro da marca pode não se extinguir pelo
prazo, desde que requerida sucessivamente a renovação, no nono ano, ou até
seis meses seguintes ao término do prazo de vigência do registro, e
mediante pagamento do devido adicional. O registro do desenho industrial
pode ser também renovado, mas, não indefinidamente como ocorre com a marca,
e apenas por três períodos, de cinco anos cada um.

A nova lei exclui a caducidade, para extinção do registro do desenho


industrial, e inclui, igualmente para a marca, a falta de nomeação, pelo
estrangeiro, de procurador aqui domiciliado.

E) - Distinções

Algumas expressões empregadas no comércio, ou empresários em geral,


são habitualmente confundidas, embora tenham significados distintos, como
se verifica com marca, firma, nome comercial, nome fantasia, empresa, loja,
e estabelecimento comercial.

A marca é a expressão distintiva da mercadoria produzida ou vendida,


e do serviço prestado; a sua criação e o direito ao seu uso têm proteção da
lei, e configura um bem imaterial, que integra o fundo de comércio, podendo
juntamente com ele, ou separadamente, ser alienado, por valor fixado pelo
seu titular ou proprietário, desde que a alienação conste de contrato a ser
registrado no INPI. Não é vedado o uso e a negociação da marca criada e não
registrada no INPI, mas, neste caso, não tendo o seu criador direito de uso
exclusivo, ela pode ser empregada por outrem, que providencia o registro e
adquire o direito ao seu uso exclusivo, e pode impedir a utilização pelo
primeiro, seu criador.

Firma é a assinatura de qualquer pessoa, ou forma pela qual o cidadão


exara seu nome civil, portanto, não configura bem de qualquer natureza, não
é suscetível de alienação, sendo incorreta a afirmativa comum de comparecer
alguém à firma de outrem. Firma individual e firma social são espécies de
nome comercial, a primeira de uso do empresário individual, e a segunda da
sociedade comercial. Nome comercial é o usado pelo empresário, no exercício
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da atividade, para defender direitos e assumir obrigações, não integra o
fundo de comércio, embora a denominação social possa ser alienada.

Nome fantasia é o nome facultativamente adotado pelo empresário, para


se fazer conhecido do público; não integra o fundo de comércio, e o direito
ao seu uso, adquirido pelo arquivamento na Junta Comercial, pode ser objeto
de alienação, por valor fixado pelo seu titular. O uso exclusivo do nome
fantasia encontra proteção na lei da propriedade industrial, que estabelece
penalidade para aquele que o reproduz, procurando confundir ou desviar a
clientela, configurando crime de concorrência desleal, que é objeto de ação
penal de iniciativa do prejudicado.

A marca distingue o produto ou mercadoria, o nome comercial indica o


empresário, e o nome fantasia torna o empresário conhecido pelo público.

Exemplos de marcas, nomes comerciais e títulos de estabelecimento:

Marcas Nomes Comerciais

coqueiro (sardinha) Quaker Brasil Ltda.


batavo (creme de Leite) Lapa Alimentos S.A.
cica (molho de tomate) Indústria Gessy Lever Ltda.
nestlé (creme de leite) Nestlé Indl. E Coml. Ltda.
oetker (baunilha) Oetker Produtos Alimentícios Ltda.
renata (farinha) Pastifício Selmi S/A
igor (café) Richard Neme

Títulos de Estabelecimento Nomes Comerciais

Lanches Q.Delícia Souza & Ramos


Bazar São Joaquim Joaquim Ramos ME
Eletro Magazine Cia. Brasileira de Distribuição
Bar do Juca Joaquim dos Santos
Preventiva Peças Preventiva Serviços e Peças Ltda.

A expressão empresa se refere a uma abstração, por ser a atividade do


empresário, um organismo em funcionamento, e se distingue da firma, que é a
assinatura do empresário ou de qualquer cidadão. Loja é o local, em que é
exibida a mercadoria a ser vendida pelo comerciante, ou o local em que este
permanece, atendendo a clientela. Qualquer pessoa pode se dirigir à loja do
comerciante, não à sua empresa, ou à sua firma.

A loja é o local onde são exibidas as mercadorias, e se distingue da


empresa, que é o organismo em funcionamento; da firma, que é a assinatura
do empresário; e do estabelecimento comercial, ou fundo de comércio, que é
o conjunto de bens corpóreos e incorpóreos, utilizados pelo empresário para
desempenhar a sua atividade.

Entre bens não patenteáveis ou registráveis, criados pelo empresário,


que passam a integrar o fundo de comércio, sendo suscetíveis de avaliação e
alienação, como o aviamento, o sinal ou expressão de propaganda, e o título
do estabelecimento ou nome fantasia, estão também o know-how, o segredo de
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fábrica e a tecnologia, que adquiriram grande importância, sendo atualmente
largamente empregados e também negociados, através de contrato de cessão de
direitos ou franquia, que pode ser objeto de registro no INPI.

Know-how é expressão utilizada para designar conhecimentos técnicos,


culturais e administrativos adquiridos e não acessíveis ao público, usados
como processo de trabalho, para simplificar ou aperfeiçoar o desempenho da
atividade profissional. Da mesma natureza é o segredo de fábrica, distinto
daquele, por se referir a um processo industrial. Ambos podem ser alienados
ou franqueados, para uso de terceiros, através de contratos, mas, em geral,
como cláusulas de contratos com objeto mais amplo, como de transferência de
tecnologia, de exploração de patente, marca, assistência técnica, etc. A
garantia de uso exclusivo resulta das cláusulas contratuais, e da repressão
penal do crime de concorrência desleal.

3º - Questionário
1. O que é fundo de comércio e estabelecimento comercial?
2. Quais são os bens corpóreos e incorpóreos?
3. O fundo de comércio pode ser vendido?
4. Quais as diferenças entre estabelecimento comercial e empresa?
5. Qual a diferença entre estabelecimento comercial e firma?
6. Quando o comerciante adquire direito ao ponto comercial?
7. O empresário civil pode adquirir direito ao ponto comercial?
8. Pode ser alienado o direito ao ponto comercial?
9. Como o comerciante adquire direito ao crédito?
10. O direito ao crédito pode ser vendido junto com o fundo de comércio?
11. O que é aviamento e como pode ser alienado?
12. O que é propriedade industrial e quais suas espécies?
13. A propriedade industrial é objeto de patente?
14. Qual é o efeito da concessão de patente?
15. Quando e por quem é concedida a patente?
16. O que é invenção e modelo de utilidade?
17. Como e por qual prazo pode ser explorada com exclusividade a invenção?
18. Qual o prazo para uso exclusivo e exploração do modelo de utilidade?
19. O que é desenho industrial e qual o prazo para seu uso exclusivo?
20. Qual a condição para o uso exclusivo do desenho industrial e da marca?
21. O que é marca e quais suas espécies?
22. Qual a diferença entre marca e nome comercial?
23. O direito sobre a invenção e o modelo de utilidade podem ser alienados?
24. O direito ao uso da marca pode ser alienado só com o fundo de comércio?
25. O que é expressão ou sinal de propaganda e em que difere da marca?
26. Expressão de propaganda e nome comercial são espécies de propriedade
industrial e podem ser alienados com ou sem o fundo de comércio?
27. Como se extingue o uso da patente e do certificado de registro?
28 O que é Know-how e em que difere do segredo de fábrica?
29. A marca, o Know-how, e o segredo de fábrica podem ser alienados?

BIBLIOGRAFIA

1. BULGARELLI, WALDIRIO - Direito Comercial, 5ª ed., Atlas, 1987;

2. COELHO, FÁBIO ULHOA – Manual de Direito Comercial, 4ª ed., Saraiva,


1993;

3. COELHO, FÁBIO ULHOA – Código Comercial e Legislação Complementar


Anotados, Saraiva, 1995;
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 32
ACOSTA________
4. FÜHRER, MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO – Resumo de Direito Comercial,
7ª ed., Revista dos Tribunais, 1989;

5. MARTINS, FRAN – Curso de Direito Comercial, 15ª ed., Forense, 1990;

6. REQUIÃO, RUBENS – Curso de Direito Comercial, 21ª ed., 1º volume,


Saraiva, 1993.

SEGUNDA PARTE

SOCIEDADES COMERCIAIS
SUMÁRIO
I – SOCIEDADES COMERCIAIS
1º- Conceito
2º- Classificação
3º- Dissolução e Extinção das Sociedades de Pessoas
4º- Tipos de Sociedades
5º- Questionário

II – SOCIEDADES DE PESSOAS
1º)- Sociedade em comandita simples
2º)- Sociedade em Nome Coletivo
3º)- Sociedade de Capital e Indústria
4º)- Sociedade em Conta de Participação
5º)- Questionário
6º)- Modelos de Contrato Social

III- SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA


1º)- Conceito e características
2º)- Classificação
3º)- Deliberações
4º)- Administração
5º)- Nome Comercial
6º)- Questionário
7º)- Modelos de Contrato Social

IV- SOCIEDADES POR AÇÕES


1º)- Sociedade Anônima
A)- Conceito e Características
B)- Espécies e Constituição
C)- Valores Mobiliários
C.1)- Ação
C.2)- Partes Beneficiárias
C.3)- Debêntures
C.4)- Bônus de Subscrição
D)- Acionistas
E)- Capital Social
F)- Administração
F.1)- Assembléia Geral e Quorum
F.2)- Conselho de Administração e Diretoria
F.3)- Conselho Fiscal
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G)- Lucros – Reservas - Dividendos
H)- Dissolução e Liquidação das Companhias
I)- Transformação das Sociedades
I.1)- Incorporação
I.2)- Fusão
I.3)- Cisão
J)- Concentração de Sociedades
J.1)- Coligação
J.2)- Subsidiária Integral
J.3)- Grupos de Sociedades
J.4)- Consórcio de Sociedades
2º)- Sociedade em Comandita por Ações
3º)- Questionário
4º)- Modelos
A) – Estatuto
B) – Editais de Convocação

QUADRO SINÓTICO

I – SOCIEDADES COMERCIAIS

1º- Conceito {pessoa jurídica = duas ou mais pessoas – união de esforços –


fim comum - patrimônio – sujeito de direitos e obrigações –
finalidade {simples = cultural – recreativa –esportiva – caritativa –
civis ou comerciais = lucro –
características {intenção – riscos – resultados -
requisitos {capacidade jurídica – emancipação – autorização -
menor = acionista – quotista -

2º- Classificação {atividade = civís = ato de natureza civil -


comerciais = ato de comércio -
estrutura econômica = de pessoas = interesse na pessoa do sócio -
comandita simples – nome coletivo – capital
e indústria – em conta de participação -
por quotas de responsabilidade limitada -
de capital interesse no capital social -
anônima e comandita por ações-
personalidade jurídica = regular = arquivamento na Junta Comercial -
personalidade jurídica = comandita simples -
nome coletivo – capital e indústria - quotas
de responsabilidade limitada – anônima –
comandita por ações –
irregular ou de fato = sem arquivamento – sem
ato constitutivo e personalidade jurídica –
em conta de participação -
responsabilidade = ilimitada = sócio = subsidiária e solidária =
em nome coletivo e irregulares ou de fato -
limitada = obrigação da sociedade não sócio =
por quotas – anônima -
mista = duas classes = solidários e limitada
ou sem responsabilidade = comandita simples -
capital e indústria - comandita por ações -

3º- Dissolução e Extinção das Sociedades de Pessoas

desconstituição {instrumento escrito - Junta Comercial - extinção da


personalidade jurídica - continuidade = irregular -
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espécies {pleno direito = término do prazo – morte de sócio –
consensual = vontade de todos os sócios = distrato -
judicial = por sentença do juiz = não preenche a finalidade –
abuso, prevaricação ou violação de dever – nulidade -
liquidação {bens em dinheiro – pagamento de credores – partilha -
espécies {consensual = sócios - judicial = juiz -

4º- Tipos {comandita simples - nome coletivo – capital e indústria –


em conta de participação – por quotas de responsabilidade ltda.-
anônima – comandita por ações -

5º- Questionário

I – SOCIEDADES COMERCIAIS

1º - Conceito

Sociedade é uma espécie de pessoa jurídica, que é o grupo constituído


pela reunião de duas ou mais pessoas físicas, que conjugam seus interesses,
esforços, finalidade, e fornecem patrimônio para praticar uma atividade, e
é reconhecido como sujeito de direitos e obrigações pelo nosso ordenamento
jurídico. Ao lado das associações, a sociedade é uma pessoa jurídica de
direito privado, podendo ou não ter finalidade lucrativa.

São simples as sociedades, que não têm fim lucrativo, mas, cultural,
recreativo, esportivo, caritativo, etc., e civís ou comerciais, as que têm
finalidade de lucro, e se distinguem pela natureza da atividade praticada,
sendo civil, a das primeiras, e ato de comércio, a das segundas. Portanto,
sociedade comercial é uma pessoa jurídica de direito privado, que pratica o
ato de comércio, ou atividade comercial, profissional e habitualmente.

A característica mais importante, motivadora da criação e existência


da sociedade comercial, se configura pelo comportamento dos sócios, com a
intenção de permanência na conjugação de esforços para cumprir o objeto e o
fim social, enfrentando riscos, e assumindo os resultados do desempenho da
atividade. Essa intenção é designada pelos autores de affectio societatis.

Somente pelo registro do ato constitutivo, que é o contrato social ou


estatuto, no órgão competente, a sociedade adquire personalidade jurídica.
A sociedade simples e a civil registram os atos constitutivos no Cartório
de Registro Público, e a comercial na Junta Comercial. Sem registro do ato
constitutivo no órgão competente, a sociedade não é uma pessoa jurídica,
pois, não adquire personalidade jurídica.

Para constituição da sociedade comercial, com personalidade jurídica,


assim como, para o desempenho regular do comércio, as pessoas interessadas
em integrá-la, designadas sócios, devem ter capacidade jurídica, comprovada
por documentos juntados ao contrato social ou estatuto, remetido à Junta
Comercial. Assim, podem constituir sociedade os maiores de vinte e um anos
de idade, os menores emancipados, e os menores de vinte e um anos e maiores
de dezoito autorizados pelos pais. Entretanto, o Departamento Nacional do
Registro de Comércio, com base em decisões judiciais, permite que menores
de vinte e um anos de idade não emancipados, nem autorizados pelos pais,
sejam acionistas de sociedade anônima, ou quotistas de sociedade por quotas
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 35
ACOSTA________
de responsabilidade limitada, se as ações ou quotas estão integralizadas, e
não são atribuídos aos menores poderes de administração.

2º - Classificação
As sociedades podem ser classificadas, conforme determinados aspectos,
como a atividade, a estrutura econômica ou interesse na pessoa dos sócios,
a personalidade jurídica, e a responsabilidade dos sócios.

Considerando a atividade, as sociedades podem ser civís ou


comerciais; quanto à estrutura econômica, que considera a qualidade pessoal
dos sócios, de pessoas ou de capital; conforme a personalidade jurídica,
que é adquirida pelo registro ou arquivamento do ato constitutivo, podem
ser regulares, irregulares ou de fato; e quanto à responsabilidade dos
sócios, pelas obrigações assumidas pela sociedade, podem ser ilimitada,
limitada ou mista.

As sociedades civís e comerciais se distinguem pelo objeto social,


tendo a primeira atividade de natureza civil, e a segunda comercial ou ato
de comércio. São pessoas jurídicas compostas de pessoas físicas, designadas
sócios ou empresários, que fazem funcionar a empresa. É empresário civil o
que coloca a empresa civil em funcionamento, tendo atividade de natureza
civil, e empresário comercial o que pratica atos de comércio, colocando em
funcionamento a empresa comercial.

Sociedades de pessoas são aquelas que se constituem e funcionam com


interesse nas qualidades pessoais de cada sócio, e impõem para facultar a
saída ou ingresso de sócio a anuência dos demais, elaboração do instrumento
de alteração do contrato social assinado por todos sócios, e remetido para
arquivamento pela Junta Comercial. São elas: em nome coletivo, em comandita
simples, de capital e indústria, e por quotas de responsabilidade limitada.

Sociedades de capital são aquelas que não têm interesse na qualidade


dos sócios, mas, apenas na contribuição prestada pelos candidatos à sócios,
que são subscritores de ações, para composição do capital social, portanto,
a saída e ingresso de sócio não depende da anuência dos demais, ocorrendo
pela subscrição ou aquisição de ações, sem necessidade de ser promovida a
alteração do estatuto, para efetivação da saída ou ingresso de sócio. São
de capital as sociedades anônima e em comandita por ações.

Sociedade regular é aquela que tem personalidade jurídica, tendo o


número de identificação do registro de empresa - NIRE, no ato constitutivo,
que é arquivado na Junta Comercial. São regulares as sociedades de pessoas
e de capitais, que têm personalidade jurídica, desde que elaborem seu ato
constitutivo, e providenciem o arquivamento na Junta Comercial do Estado,
como as sociedades em comandita simples, em nome coletivo, de capital e
indústria, por quotas de responsabilidade limitada, as anônimas, e em
comandita por ações.

Sociedade irregular ou de fato é a que não elabora ou não envia o seu


ato constitutivo para arquivamento pela Junta Comercial, não adquirindo, em
consequência, personalidade jurídica. Os autores distinguem a sociedade de
fato da irregular, afirmando que a primeira não tem contrato social, sendo
constituída verbalmente, enquanto a segunda tem contrato social, mas, não é
remetido para arquivamento pela Junta Comercial. São irregulares todas as
sociedades, que não têm arquivado na Junta Comercial os contratos sociais,
mesmo que adotem qualquer dos tipos de sociedade previstos na lei, e nome
comercial, pois, a falta de arquivamento veda a aquisição de personalidade
jurídica e direito ao uso do nome comercial. São também irregulares, embora
previstas pelo Código Comercial, as sociedades em conta de participação.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 36
ACOSTA________
É de responsabilidade ilimitada a sociedade, cujos sócios respondem
subsidiária, solidária e ilimitadamente pelas obrigações contraídas pela
sociedade, isto é, qualquer deles responde pessoalmente pelas obrigações,
na falta de bens sociais. São de responsabilidade ilimitada as sociedades
em nome coletivo e as irregulares ou de fato.

Sociedade de responsabilidade limitada é aquela em que os sócios não


assumem pessoalmente responsabilidade pelas obrigações da sociedade, exceto
no caso de dolo, culpa, excesso de poderes, ou falta de integralização do
capital social. São as sociedades por quotas de responsabilidade limitada e
as sociedades anônimas. De responsabilidade mista são aquelas que têm duas
categorias de sócios, respondendo alguns de forma solidária, subsidiária e
ilimitada pelas obrigações da sociedade, e outros de forma limitada, ou sem
qualquer responsabilidade pelas dívidas da sociedade, exceto em caso de
dolo, ou fraude. São de responsabilidade mista as sociedades em comandita
simples, de capital e indústria, e comanditas por ações.

3º - Dissolução e Extinção das Sociedades de Pessoas

Dissolução é o ato de desconstituição da sociedade, representado por


um instrumento escrito, que estabelece a paralisação das atividades e forma
de liquidação adotada, devendo ser enviado à Junta Comercial, para cancelar
o ato de arquivamento, que extingue a personalidade jurídica da sociedade,
pois, havendo a continuidade da atividade, após remessa o ato de dissolução
para cancelamento na Junta Comercial, ela passa a ser considerada sociedade
irregular, o mesmo ocorrendo com aquela, que continua em atividade, após o
término do prazo previsto para a sua duração, no contrato social.

Após a dissolução, a sociedade pode continuar em funcionamento apenas


para prática dos atos de liquidação, que é a fase seguinte, em que ocorre a
conversão dos bens, que compõem o patrimônio social, em dinheiro, para
pagamento dos credores e partilha do acervo.

Com base nas disposições dos arts. 335 a 343, do Código Comercial,
sobre dissolução das sociedades de pessoas, os motivos de dissolução podem
ser separados em três espécies: de pleno direito, consensual, e judicial.

Dissolução de pleno direito é a que independe da vontade dos sócios,


ou sentença do juiz, ocorrendo pela expiração do prazo fixado, ou morte de
sócio, sendo, neste último caso, total ou parcial. A dissolução de pleno
direito é total, quando a sociedade é composta por dois sócios e falece um,
ou, se é composta por mais de dois sócios e o contrato social prevê a
dissolução pelo falecimento de qualquer deles; e é parcial, pelo
falecimento de um sócio, se há mais de dois, sendo omitida no contrato
social a dissolução por falecimento, e os demais têm interesse na
continuidade, ou quando o contrato prevê a continuidade da sociedade, com
os sócios remanescentes, admitindo ou não o ingresso dos herdeiros do sócio
falecido. A continuação da sociedade, após dissolução parcial, deve ser
seguida do instrumento de alteração do contrato social, remetido para a
Junta Comercial, sob pena de perda da personalidade jurídica.

A dissolução consensual é aquela determinada pela vontade de todos os


sócios, através do instrumento escrito e assinado pelos sócios de distrato
social, que é o ato desconstitutivo da sociedade.

A dissolução judicial da sociedade de pessoas ocorre por sentença do


juiz, em ação judicial promovida por qualquer sócio, que comprove o não
preenchimento da finalidade lucrativa; ou ocorrência de abuso, prevaricação
ou violação dos deveres pelos sócios; ou de nulidade do ato constitutivo,
por falta de cumprimento de formalidades legais; ou pela falência, exceto
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 37
ACOSTA________
se encerrada com declaração de extinção das obrigações do falido, quando
ele pode retornar ao comércio; ou por qualquer outro motivo, que demonstre
a ausência da affectio societatis. A sociedade de pessoas não se dissolve
pela vontade de apenas um sócio, sem motivo justo, com previsão na lei.

Independente da causa da dissolução, esta é seguida da liquidação, a


fim de se efetivar a extinção, com conversão dos bens do ativo em dinheiro
e pagamento do passivo. A liquidação pode ser consensual ou judicial, sendo
a primeira pela forma livremente convencionada pelos sócios, que nomeiam o
liquidante, e a segunda por sentença do juiz, em ação judicial. Ocorre a
liquidação judicial, se a dissolução é objeto de ação judicial, porque o
juiz, na sentença de dissolução, dispõe a forma de liquidação e nomeia
liquidante, porém, pode ocorrer a liquidação judicial, independente do modo
de dissolução, quando os sócios não concordam com a forma pela qual pode
ser feita, ou com a escolha do liquidante, que deve promovê-la, e promovem,
para tanto, a ação judicial, para liquidação da sociedade dissolvida.

4º - Tipos de Sociedades
Os tipos de sociedades comerciais previstos em lei são: sociedades em
comandita simples, em nome coletivo, de capital e indústria, e em conta de
participação, que são sociedades de pessoas, disciplinadas nos arts. 311 a
328 do Código Comercial; sociedade por quotas de responsabilidade limitada,
que pode ser classificada como sociedade de pessoas ou de capital, conforme
certas cláusulas do seu contrato, e está regulamentada pelo Decreto nº
3.708, de 1919; e as sociedades anônima e em comandita por ações, que são
de capital, e disciplinadas pela Lei nº 6.404, de 1976.

As sociedades civís podem adotar qualquer um dos tipos de sociedades


previstos no Código Comercial para as sociedades comerciais, por disposição
expressa do Código Civil, e o tipo por quotas de responsabilidade limitada
por disposição do Decreto nº 3.708/19. Quanto às sociedades anônimas e em
comandita por ações, independente da atividade explorada, são comerciais em
virtude de disposição expressa da respectiva lei.

Se constituída a sociedade, sob qualquer dos tipos previstos na lei,


mas sem arquivamento na Junta Comercial ou registro no Cartório de Registro
de Títulos e Documentos, do contrato social, ela é considerada irregular,
como é irregular também a dissolução da sociedade regular, sem o distrato
firmado pelos sócios e encaminhado para arquivamento ou registro.

5º - Questionário
1. O que é sociedade?
2. Quais as espécies de sociedade, quanto à finalidade?
3. Qual a distinção entre sociedade civil e comercial?
4. Quais as espécies de sociedade, quanto à personalidade jurídica?
5. Quais as diferenças entre sociedade regular e irregular?
6. Quais as diferenças entre contrato social e estatuto?
7. Os menores e analfabetos podem constituir sociedade?
8. Quais as diferenças entre as sociedades de pessoas e de capital?
9. Quais são as sociedades de pessoas e de capital?
10. Como se classificam as sociedades, quando à responsabilidade?
11. Em que diferem as sociedades de responsabilidade ilimitada, mista e
limitada?
12. Quais são as sociedades de responsabilidade ilimitada?
13. Quais são as sociedades de responsabilidade limitada e mista?
14. O que é e quais os modos de dissolução de sociedade comercial?
15. Quando a dissolução da sociedade é de pleno direito?
16. Um sócio pode promover a dissolução da sociedade comercial?
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 38
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17. O que é dissolução judicial?
18. Quando a dissolução da sociedade é consensual?
19. Qual é o instrumento da dissolução consensual?
20. O que é liquidação e quais suas espécies?
21. Quando a liquidação é judicial e consensual?
22. A sociedade pode continuar em atividade após a dissolução?
23. Qual a conseqüência para a sociedade, que comercia após a dissolução?
24. A morte de um dos sócios pode provocar a dissolução da sociedade?
25. Com a morte do sócio, a sociedade não pode mais continuar comerciando?
26. Quais são os tipos de sociedades previstos na lei?
27. Que tipos de sociedades podem adotar as sociedades civís?
28. Pode ser constituída sociedade com apenas um sócio?
29. A sociedade constituída por apenas dois sócios pode ser dissolvida, se
um deles pretende deixar a sociedade?
30. Pode ser adotado qualquer tipo de sociedade sem firmar contrato social?
31. A sociedade pode ser dissolvida de forma consensual, sem que os sócios
firmem o distrato social?

QUADRO SINÓTICO

II – SOCIEDADES DE PESSOAS

1º- Sociedade em comandita simples = duas categorias = comanditário =


fornece capital - responsabilidade limitada –
comanditado = recebe o capital e tem responsabilidade subsidiária –
solidária - ilimitada -
nome comercial = firma ou razão social - comanditados mais & CIA -
administração = gerente – comanditado -

2º- Sociedade em Nome Coletivo = única categoria - com responsabilidade


Subsidiária - solidária - ilimitada –
nome comercial = firma ou razão social – nome de qualquer sócio –
administração = gerente – qualquer sócio ou todos –

3º- Sociedade de Capital e Indústria = duas classes = capitalista = com


capital social – obrigação subsidiária - solidária – ilimitada –
de indústria = com trabalho - sem nenhuma responsabilidade -
nome comercial = firma ou razão social – nome do capitalista –
administração = gerente – capitalista - & CIA -

4º- Sociedade em Conta de Participação = prevista na lei comercial –


irregular - sem arquivamento na JUCESP – com/sem contrato social –
sem personalidade jurídica -
duas classes = ostensivo = arquiva ato constitutivo na JUCESP –
tem responsabilidade ilimitada – exclusiva -
oculto = não tem obrigação com terceiro -
nome comercial = não tem – utiliza o nome comercial do ostensivo –
administração = gerente = ostensivo -

5º- Questionário

6º- Modelos {Contrato Social de Sociedade em nome coletivo


Contrato Social de Sociedade de capital e indústria
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II – SOCIEDADES DE PESSOAS

As sociedades de pessoas, aquelas constituídas com base no interesse


pela qualidade pessoal dos sócios, estão disciplinadas de modo genérico nos
arts. 287 a 310, do Código Comercial, que especifica os requisitos a serem
inseridos no contrato social; nos arts. 329 a 334, que estabelecem direitos
e deveres dos sócios, como o início e o final das obrigações dos sócios, a
distribuição de ganhos e perdas pelos sócios, a faculdade do sócio realizar
operação estranha à sociedade, etc.; e nos arts. 335 a 353, que dispõem
sobre a dissolução e a liquidação das sociedades.

Essas sociedades são administradas pelos sócios, um ou mais, em regra


designados de gerentes, entre eles escolhidos, sendo vedada a estranhos,
entretanto, o gerente ou gerentes escolhidos podem outorgar procuração para
que terceiro, estranho à sociedade, desempenhe as atribuições de gerente,
desde que não contenha proibição no contrato social. No caso de prejuízo à
sociedade, provocado pelo gerente, que é terceiro com poderes do gerente
nomeado pelos sócios, a responsabilidade pela reparação perante a sociedade
é do sócio gerente, que outorgou poderes ao estranho.

Não havendo indicação no contrato social do nome do gerente escolhido


pelos sócios, todos estes são considerados gerentes.

1º - Sociedade em comandita simples


Sociedade em comandita simples é a constituída por duas categorias de
sócios, sendo um ou mais designados de comanditários, que fornecem capital
e têm responsabilidade limitada pelas obrigações sociais, não podendo ter
seu nome na firma social, nem desempenhar função de gerente, enquanto outro
ou outros sócios designados comanditados recebem e empregam o capital, têm
responsabilidade subsidiária, solidária e ilimitada pelas obrigações, o seu
nome é empregado na composição da firma social, e podem ser gerentes.

A sociedade em comandita simples utiliza como nome comercial a firma


ou razão social, composta pelo nome de um ou mais sócios comanditados mais
as expressões & CIA., inseridas em lugar do nome dos comanditários, que não
podem aparecer, por vedação legal expressa.

A lei estabelece, que o nome do sócio comanditário pode ser ocultado,


porém, não pode ser omitido no contrato social, que deve conter o nome de
todos os sócios e a participação de cada um na formação do capital social,
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 40
ACOSTA________
podendo, contudo, ser omitido ou não informado pela Junta Comercial, quando
solicitado por terceiros, desde que assim o requeira o sócio comanditário.

A sociedade, independente do tipo adotado pelos sócios, é responsável


sempre pelo pagamento de dívidas e demais obrigações assumidas no exercício
da atividade, não sendo essa responsabilidade atribuída ao gerente ou a ele
transferida, porque atua em nome da sociedade, não em nome próprio.

No entanto, quando a sociedade não mais possui bens para suportar o


pagamento das suas dívidas, os sócios podem ser responsáveis, de acordo com
o tipo de sociedade adotado. No caso da sociedade em comandita simples, os
sócios comanditários, como têm responsabilidade limitada por força da lei,
não assumem as dívidas sociais, não podendo sofrer cobranças pela falta de
cumprimento das obrigações sociais, mas, perdem o capital empregado, sem
comprometer os bens particulares, enquanto os sócios comanditados respondem
solidariamente com seus bens particulares por todas dívidas da sociedade.

2º - Sociedade em Nome Coletivo


Sociedade em nome coletivo é aquela constituída por uma só categoria
de sócios, assumindo todos eles responsabilidade subsidiária, solidária e
ilimitada pelas obrigações sociais, podendo ter seus nomes compondo a firma
social e ser gerentes. A característica da sociedade em nome coletivo é a
igualdade entre os sócios, que tem origem nas antigas sociedades compostas
por familiares, muito utilizada na idade média.

Primeiramente, a sociedade em nome coletivo responde, como qualquer


outra, perante terceiros, pelos atos praticados pelo gerente em seu nome,
e subsidiariamente respondem todos os sócios pelas obrigações assumidas e
prejuízos ocasionados pela sociedade, ainda que, por ato doloso ou culposo
do gerente, pois, todos são solidários. Porém, o gerente responde perante
a sociedade e demais sócios, pelos prejuízos que ocasionar à sociedade, por
dolo ou culpa.

A sociedade em nome coletivo utiliza obrigatoriamente firma ou razão


social, como nome comercial, composto com o nome de qualquer sócio, e sendo
omitido o nome de um ou mais, deve ser acompanhada das expressões & CIA.

A administração desse tipo de sociedade, como sociedade de pessoas, é


desempenhada pelo gerente, que é escolhido entre os sócios, e indicado no
contrato social. Omitido o nome do gerente no contrato social, todos são
considerados gerentes.

3º - Sociedade de Capital e Indústria


Sociedade de capital e indústria é a constituída por duas classes de
sócios: os capitalistas, que fornecem o total do capital social, respondem
subsidiária, solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, podem ter
seus nomes na firma social, e podem ser gerentes; e os de indústria, que
fornecem apenas o sue trabalho, não assumem nenhuma responsabilidade pelas
obrigações sociais, não podem ter seu nome na firma social, e não podem ser
gerentes, sob pena de modificação da responsabilidade.

A sociedade de capital e indústria é a única sociedade regular, com


sócios de indústria, isto é, que ingressam na sociedade apenas com o seu
trabalho, e estão impedidos de empregar qualquer quantia para contribuir na
formação do capital social.

O nome comercial da sociedade de capital e indústria é firma ou razão


social, composta com o nome de um ou mais sócios capitalistas, que também
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 41
ACOSTA________
podem desempenhar o cargo de gerente, vedado ao sócio de indústria, e como
o nome deste não pode compor a firma social, esta é acompanhada sempre das
expressões & CIA.

O gerente é escolhido pelos sócios, entre os capitalistas, e nomeado


no contrato social, mas, sendo omitido, todos capitalistas são gerentes,
pois, é vedada a administração a qualquer dos sócios de indústria.

Se a sociedade de capital e indústria assumir dívidas além daquelas


que o capital social suporte, apenas os sócios capitalistas respondem por
elas com seus bens particulares, por terem responsabilidade solidária, e
subsidiária, além de ilimitada, pelas obrigações contraídas pela sociedade,
nenhuma responsabilidade sendo atribuída aos sócios de indústria, exceto
nos casos de dolo ou fraude, quando pode ser modificada a responsabilidade
e atribuída aos sócios de indústria, ou aos sócios, que agiram com dolo ou
fraude, prejudicando terceiros ou a própria sociedade, desde que apurados
em ação judicial os atos dolosos ou fraudulentos e prejuízos ocasionados.

O sócio de indústria, como os sócios de quaisquer outras sociedades,


participa dos lucros e perdas da sociedade, na forma prevista no contrato
social, contudo, sendo omissa, a participação é igual à do capitalista de
menor entrada, tanto para ganhos como para perdas, pois a exclusão de sócio
de lucros e perdas contraria a lei e provoca a nulidade da sociedade.

Podem ser apontadas as seguintes diferenças entre as sociedades em


comandita simples e de capital e indústria: 1)- na primeira, os sócios, que
fornecem o capital têm responsabilidade limitada, não podem ser gerentes,
nem ter os nomes na firma social; na segunda, os prestadores do capital têm
responsabilidade subsidiária, solidária e ilimitada por obrigações sociais,
podem ser gerentes e ter nomes na firma social; 2) na primeira, os sócios
recebedores do capital não têm vedada a colaboração na formação deste, mas
têm responsabilidade subsidiária, solidária e ilimitada pelas obrigações,
seus nomes na firma social e podem ser gerentes; na segunda, os sócios que
empregam o trabalho são impedidos de contribuir na formação do capital, não
podem ter seus nomes na firma social, nem exercer a gerência da sociedade.

4º - Sociedade em Conta de Participação


A sociedade em conta de participação é tipo de sociedade previsto na
lei comercial, mas, irregular, por não arquivar o contrato social na Junta
Comercial, ou ser constituída sem contrato social, tendo duas classes de
sócios: ostensivos, que arquivam o ato constitutivo na Junta Comercial, têm
total responsabilidade pelas obrigações sociais, e administram a sociedade;
e ocultos, que não se obrigam perante terceiros, e não podem ser gerentes.
Como não arquiva contrato social, não adquire personalidade jurídica, não
tendo nome comercial, e funciona sob o nome comercial do sócio ostensivo.

São diferenças entre as sociedades em nome coletivo e em conta de


participação: a primeira é regular, com contrato social arquivado na Junta
Comercial, tem personalidade jurídica e nome comercial, podendo qualquer
sócio ser gerente, e todos respondem solidariamente por obrigações sociais;
a segunda é irregular, não tem nome comercial, nem personalidade jurídica,
não arquiva o contrato social na Junta Comercial, somente o sócio ostensivo
pode ser gerente e responder pelas obrigações sociais.

Diferem as comanditas simples e em conta de participação, porque: a


primeira é regular, tem nome comercial e personalidade jurídica, o sócio
comanditário tem responsabilidade limitada e seu nome no contrato social; e
a segunda é irregular, não tem personalidade jurídica e nome comercial, e o
sócio oculto não é mencionado no contrato, não tendo responsabilidade por
obrigações contraídas pelo sócio ostensivo, no desempenho da atividade.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 42
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5º - Questionário
1. Como é administrada a sociedade de pessoas?
2. O que é sociedade em comandita simples e qual seu nome comercial?
3. O que é sociedade em nome coletivo e qual o seu nome comercial?
4. O que é sociedade de capital e indústria?
5. Diferem as sociedades em comandita simples e de capital e indústria?
6. O que é sociedade em conta de participação?
7. O sócio de indústria participa dos lucros e das perdas da sociedade de
capital e indústria?
8. Diferem as sociedades em comandita simples e em conta de participação?
9. Qual é o nome comercial da sociedade em conta de participação?
10. A responsabilidade dos sócios, na forma prevista pela lei, jamais pode
ser modificada, para o efeito de cobrança de dívida ou outra obrigação?

6º - Modelos
A) - Contrato Social de Sociedade em Nome Coletivo

Através do presente instrumento particular de contrato social, ALTIVO


CASTRO, brasileiro, casado, portador do RG nº 345.678.910, e do CPF nº
202.224.226/28, residente e domiciliado nesta cidade à rua Flores, 15; JOSÉ
SEIXAS, brasileiro, solteiro, portador do RG nº 543.876.109, e do CPF nº
226.224.303/82, residente e domiciliado nesta cidade, à rua Patos, 18; e
ALVARO DIAS, brasileiro, casado, portador do RG nº 235.467.907, e do CPF nº
231.221.311/31, residente e domiciliado nesta cidade, à rua dos Ramos, 25;
constituem uma sociedade comercial em nome coletivo, com responsabilidade
solidária, para explorar o ramo de venda de produtos alimentícios, conforme
as condições abaixo fixadas, respeitadas as disposições dos artigos 315 e
316 do Código Comercial:

CLÁUSULA PRIMEIRA – DO CAPITAL SOCIAL

O capital social é de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), totalmente


integralizado, dividido em três partes, em proporção à contribuição de cada
sócio, como segue:
ALTIVO CASTRO....................40%...........................R$ 12.000,00
JOSÉ SEIXAS......................40%...........................R$ 12.000,00
ALVARO DIAS......................20%...........................R$ 6.000,00

CLÁUSULA SEGUNDA – DA SEDE E DO NOME COMERCIAL

A sede da sociedade é na rua dos Alecrins, 102, nesta cidade, e o


nome comercial é a razão social, CASTRO, SEIXAS E DIAS.

CLÁUSULA TERCEIRA – DA ADMINISTRAÇÃO

Ficam nomeados os sócios ALTIVO CASTRO e JOSÉ SEIXAS, como gerentes,


que farão uso do nome comercial, na prática de todos os atos necessários à
administração, representando a sociedade, na área judicial e extrajudicial,
agindo em conjunto ou separadamente.

CLÁUSULA QUARTA – DA RETIRADA PRO-LABORE

Os gerentes e o sócio, por exercerem atividades na empresa, poderão


retirar mensalmente, como PRO-LABORE, R$ 500,00 (quinhentos reais) cada um.

CLÁUSULA QUINTA – DO FORO


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 43
ACOSTA________

Fica eleito o foro desta comarca de Bauru, para dirimir as dúvidas de


interpretação do contrato, ou para solução de divergências.

E estando assim de acordo, se obrigam a cumprir as condições fixadas,


assinando o presente contrato em quatro vias de igual teor, diante de duas
testemunhas, a fim de que produza os efeitos legais, sendo a primeira via
selada e destinada a arquivamento pela Junta Comercial do Estado de São
Paulo, e as demais para uso dos sócios e da sociedade.

Bauru,

Assinaturas dos sócios:

Assinaturas das testemunhas:

B) - Contrato Social de Sociedade de Capital e Indústria

Através do presente instrumento particular de contrato social, TIAGO


SILVA, brasileiro, casado, portador do RG nº 341.671.911, e do CPF nº
201.214.126/18, residente e domiciliado nesta cidade à rua América, 5; JOÃO
SANTOS, brasileiro, solteiro, portador do RG nº 143.826.129, e do CPF nº
122.124.103/12, residente e domiciliado nesta cidade, à rua Europa, 118;
VITOR FRIAS, brasileiro, casado, portador do RG nº 335.367.307, e do CPF nº
331.321.331/61, residente e domiciliado nesta cidade, à rua Europa, 1.225;
e ORLANDO RIBAS, brasileiro, solteiro, portador do RG nº 935.967.807, e do
CPF nº 931.921.931/91, residente e domiciliado nesta cidade, à rua Ásia, 5;
constituem sociedade comercial de capital e indústria, de responsabilidade
mista, para explorar o ramo de oficina para reparação e venda de peças de
veículos, conforme as condições abaixo fixadas, respeitadas as disposições
dos artigos 317 a 324 do Código Comercial:

CLÁUSULA PRIMEIRA – DO CAPITAL SOCIAL

O capital social é de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), totalmente


integralizado, composto por contribuição prestada pelos sócios capitalistas
e de responsabilidade solidária, TIAGO SILVA e JOÃO SANTOS, enquanto os
sócios de indústria são VITOR FRIAS e ORLANDO RIBAS, que não contribuíram
para formação do capital social, não tendo nenhuma responsabilidade pelas
dívidas sociais.

CLÁUSULA SEGUNDA – DA SEDE E DO NOME COMERCIAL

A sede da sociedade é na rua dos Cravos, 102, nesta cidade, e o nome


comercial é a razão social, SILVA, SANTOS & CIA.

CLÁUSULA TERCEIRA – DA ADMINISTRAÇÃO

Fica nomeado o sócio capitalista TIAGO SILVA, como gerente, que fará
uso do nome comercial, na prática dos atos necessários à administração,
representando a sociedade, na área judicial e extrajudicial, em conjunto ou
separadamente.

CLÁUSULA QUARTA – DA RETIRADA PRO-LABORE

O gerente e os sócios, que exercerem atividades na empresa, poderão


retirar mensalmente, como PRO-LABORE, R$ 500,00 (quinhentos reais) cada um.

CLÁUSULA QUINTA – DO FORO


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 44
ACOSTA________

Fica eleito o foro desta comarca de Bauru, para dirimir as dúvidas de


interpretação do contrato, ou para solução de divergências.

E estando assim de acordo, se obrigam a cumprir as condições fixadas,


assinando o presente contrato em quatro vias de igual teor, diante de duas
testemunhas, a fim de que produza os efeitos legais, sendo a primeira via
selada e destinada a arquivamento pela Junta Comercial do Estado de São
Paulo, e as demais para uso dos sócios e da sociedade.

Bauru,
Assinaturas dos sócios:

Assinaturas das testemunhas:

QUADRO SINÓTICO

III – SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA

1º- Conceito e características {capital social = soma das quotas –


única classe = quotistas - responsabilidade limitada ao total
do capital social – integralização – remisso -

2º- Classificação {de pessoas = anuência no ingresso de terceiro -


Capital = ingresso de terceiro sem anuência dos demais -
Mista = pode ser qualquer dos dois -
penhora de quota = mesmo sem permitir ingresso de terceiro -

3º- Deliberações {maioria – unânime = previsão no contrato -


menor = representado ou assistido pelos pais – analfabeto =
procurador com poderes especiais –
direito de recesso = dissidente – minoritário - discorda de
certas deliberações - reembolso de haveres –
exclusão do sócio = consenso - justa causa = remisso – abuso –
prevaricação – violação de deveres – incapacidade –
afastamento – vontade do sócio = consenso – justa causa =
ausência de affectio societatis -

4º- Administração {Simples = gerente/diretor – sócio – complexa =


diretor- conselho de administração - conselho fiscal -

5º- Nome Comercial {razão social – denominação – limitada ou LTDA.-

6º- Questionário

7º - Modelos de Contrato Social


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 45
ACOSTA________

III – SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA

1º - Conceito e características

Ao contrário das demais sociedades, que têm origem histórica, datando


a constituição e funcionamento da antiguidade e do costume, a sociedade por
quotas de responsabilidade limitada tem origem na lei, adotada primeiro na
Alemanha, no século XVIII, e depois no Brasil, pelo Dec. nº 3.708, de 1919,
sendo um dos tipos mais adotados, em razão da limitação da responsabilidade
dos sócios ao total do capital social, a faculdade da adoção também pelas
sociedades civís, e inexistência de previsão de demais formalidades legais,
exceto o arquivamento ou registro do contrato social no órgão competente.

A sociedade por quotas de responsabilidade limitada é aquela que tem


o capital social constituído pela soma dos valores das quotas sociais, é
composta por apenas uma categoria de sócios, designados quotistas, e tem
por característica a limitação da responsabilidade dos sócios ao total do
capital social, respondendo todos, portanto, pela integridade deste.

Capital social é a expressão monetária inserida no contrato social,


correspondente à soma das contribuições prestadas pelos sócios, que podem
ser em dinheiro ou bens. Quota é a quantia em dinheiro, ou bens, entregue
pelos sócios, como contribuição para formação do capital social, e que lhes
confere o direito de participar da distribuição dos resultados líquidos
obtidos pela sociedade, e da partilha do acervo, quando da dissolução. Como
titular do direito conferido pela quota, o sócio é designado quotista.

Quando da constituição da sociedade, o sócio pode entregar a quantia


total, com a qual pretende contribuir na formação do capital social, para
ter garantida a porcentagem de participação nos lucros, nas deliberações e
no acervo, ou pode assumir a obrigação de contribuir com certa quantia, a
ser paga em parcelas, em prazo e forma estabelecida no contrato social; no
primeiro caso, ocorre a integralização das quotas sociais, e no segundo, as
quotas e, em consequência, o capital social não são integralizados.

A característica da sociedade, que é a limitação da responsabilidade


dos sócios ao total do capital social, está vinculada à integralização das
quotas e do capital social, pois, não efetuado o pagamento total assumido
para compor o capital social, todos os sócios, mesmo os que integralizaram
as suas quotas, assumem responsabilidade solidária, pelo quantia que faltar
para completar o capital social. Assim, não sendo integralizadas as quotas,
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no prazo e modo previstos, a sociedade ou os sócios devem cobrar a dívida,
em ação judicial, ou excluir o sócio, dividindo entre si ou negociando com
estranhos as quotas do devedor, ou cancelar as quotas, reduzindo o capital
social, e restituir ao excluído o valor por ele pago, deduzidas as despesas
provocadas. O sócio, que não integraliza as quotas, na forma convencionada,
podendo ser excluído da sociedade, é designado sócio remisso.

2º - Classificação
A alienação das quotas por sócio, que pretende deixar a sociedade, a
terceiro interessado em nela ingressar, é tema controvertido, pois alguns
autores e juízes a admitem, e outros não; é mais coerente o entendimento,
contudo, que admite essa possibilidade, se o contrato social tem cláusula
permissiva, e não a tendo, se aplique a regra do Código Comercial, que veda
nas sociedades de pessoas a alienação do quinhão do sócio a terceiros, sem
o consentimento dos demais.

A permissão no contrato social de alienação das quotas a terceiros, e


conseqüente ingresso destes na sociedade, independente da concordância dos
demais sócios, bem como, a previsão da lei das sociedades por quotas, de se
adotar a lei das sociedades anônimas para solucionar omissões do contrato,
provocou divergências entre autores e juízes, quanto à classificação da
sociedade por quotas, como de pessoas, de capital, ou mista, mas, predomina
o entendimento de que a sociedade por quotas é de pessoas, ou de capital,
respectivamente, se o seu contrato social permitir ou não a alienação das
quotas a estranhos, sem a anuência dos demais sócios.

A classificação das sociedades por quotas, como sociedade de pessoas,


também provoca divergências sobre a possibilidade de penhora das quotas do
sócio, que assumiu dívidas particulares, porque, se o credor propõe ação de
execução em relação ao sócio, obtém a penhora das quotas, que são levadas a
leilão, e quem as arremata não pode ingressar na sociedade, por faltar, no
contrato social, previsão do ingresso de terceiro sem a anuência dos demais
sócios, o adquirente somente poderá receber as parcelas de lucros, quando
apurados, e os haveres relativos às quotas adquiridas, quando da liquidação
da sociedade, pois, os fundos sociais, segundo nosso direito, não pertencem
aos sócios e sim à sociedade, que não pode ser prejudicada pela exclusão do
sócio e liquidação da quota, para pagamento do seu credor. Por outro lado,
os sócios não são obrigados a admitir o ingresso de terceiro, adquirente de
quotas da sociedade, por se tratar de pessoa estranha, quando a sociedade
foi constituída com base nas qualidades pessoais de cada sócio.

Mesmo assim, alguns juízes admitem a penhora das quotas do sócio, que
é executado por não ter efetuado o pagamento de dívidas particulares, e não
possui outros bens para garantir o pagamento do credor, na ação de execução
promovida; mas, sendo as quotas levadas à leilão e arrematadas pelo credor
ou terceiros, se a sociedade tem características de sociedade de pessoas,
não permitindo ingresso de terceiros, o arrematante não ingressa como sócio
e apenas participa das distribuições dos lucros, quando efetuadas.

3º - Deliberações
As deliberações da sociedade são tomadas pelos sócios representantes
da maioria do capital social, e pela unanimidade, apenas quando o contrato
social proibir a deliberação pela maioria.

Como os sócios participam de todas as deliberações, para constituir


a sociedade o pretendente deve ter capacidade jurídica, ou ser emancipado,
ou autorizado pelos pais, neste último caso, sendo maior de dezoito anos,
mas, o menor não emancipado, nem autorizado pelos pais, conforme permite o
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Registro do Comércio, pode ser titular de quotas, desde que integralizadas,
sendo representado ou assistido pelos pais, nas deliberações. O analfabeto
também pode constituir sociedade por quotas, ou qualquer outra, contudo,
deve nomear em instrumento público procurador com poderes especiais, para
representá-lo nas deliberações e assinar o contrato social particular de
constituição e alterações contratuais, mesmo tendo capacidade jurídica, ou
constituir a sociedade e promover as alterações por instrumento público.

O sócio tem direito de se afastar da sociedade ao discordar de certas


deliberações tomadas pela maioria. É o direito de recesso adquirido pelo
sócio dissidente, que é o minoritário discordante de certas deliberações da
maioria representativa do capital social, e deixa a sociedade, requerendo
reembolso dos seus haveres, correspondente à sua parcela no capital social,
conforme o último balanço aprovado. Não havendo balanço atualizado, outro
deve ser feito para atualização do ativo. Sócio dissidente é o discordante,
que deixa a sociedade espontaneamente, e remisso é o inadimplente, expulso
da sociedade.

A sociedade, mesmo por deliberação da maioria, somente pode excluir o


sócio da sociedade por quotas, ante três fatos: 1ª)- quando remisso, por
não integralizar as quotas; 2ª)- se praticar abuso, prevaricação, violação,
falta de cumprimento das obrigações sociais ou qualquer outro ato doloso
que prejudique a sociedade, ou por incapacidade; 3ª)- pelo consenso; caso
contrário não pode ser excluído, pois, excluído sem justa causa, pode ser
reintegrado na sociedade, por sentença do juiz, em ação judicial própria.

No caso oposto, o sócio, ao pretender se afastar da sociedade, também


pode encontrar dificuldades, pois, pacificamente, ele se afasta e recebe os
seus haveres, pelo consenso, ou por alienação das quotas à sociedade ou a
qualquer dos sócios, ou a terceiros, ou, se a sociedade tem prazo fixado,
quando terminar o prazo; entretanto, não havendo concordância por parte dos
demais sócios, quanto ao pagamento dos haveres, da alienação, ou ingresso
de terceiro, e se a sociedade tem prazo indeterminado, restará a ele apenas
a via judicial, para requerer a dissolução parcial da sociedade por quotas,
mediante a sua saída. Mesmo assim, é importante considerar que, embora seja
princípio dominante em nosso direito, ninguém ser obrigado a contratar ou a
manter contrato indefinidamente, contra a vontade, os juízes não admitem a
dissolução parcial da sociedade, pela saída de sócio, que não está amparado
em motivo justo, provocado pelos demais sócios.

Motivo justo, que faculta ao sócio o requerimento da dissolução total


ou parcial da sociedade é qualquer daqueles enumerados lei, já referidos,
que permitem a exclusão do sócio, também uma forma de dissolução parcial da
sociedade: abuso, prevaricação, violação da lei ou contrato, descumprimento
das obrigações sociais, fuga ou incapacidade, de qualquer sócio. Motiva a
dissolução total, ainda, o não preenchimento do fim social pela sociedade;
entretanto, o mais freqüente, na dissolução total ou parcial, é a ausência,
manifestada por qualquer forma, de desinteresse na conjugação de esforços,
ou na intenção de participar da vida social, suportando riscos ou perdas, o
que os autores designam de affectio societatis.

Não deve ser confundida a dissidência, com os motivos que permitem a


saída do sócio, não implicando em dissolução parcial da sociedade, pois, a
lei permite ao sócio minoritário, discordante de determinadas deliberações
da maioria, se afastar da sociedade e requerer o pagamento dos haveres.

4º - Administração
A administração da sociedade por quotas pode ser executada de forma
simples, por um ou mais gerentes escolhidos entre os sócios e indicados no
contrato social, ou todos, na omissão do contrato. Não há impedimento legal
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para que os sócios adotem uma administração mais relevante ou abrangente,
atribuída a órgãos, como a sociedades anônima, tendo diretoria, conselho de
administração e conselho fiscal. No primeiro caso é o gerente, e no segundo
a diretoria, que executa as deliberações tomadas pelos sócios, representa a
sociedade, e faz uso do nome comercial.

O gerente da sociedade limitada não é pessoalmente responsável pelas


obrigações contraídas em nome da sociedade, mas responde para com esta e
com terceiro, solidária e ilimitadamente, por excesso de poderes, e atos
praticados com violação do contrato ou da lei, portanto, agindo legalmente,
cumprindo as normas contratuais e legais, sua responsabilidade, como dos
demais sócios, é solidária pelo total do capital social. Pode, por decisão
da maioria representativa do capital social, ser destituído o gerente do
cargo, provocando a alteração do contrato; havendo empate na votação de
destituição, esta é decidida pela sorte, ou atribuída a terceiro, mas, ele
não pode ser destituído, se foi nomeado com cláusula de inamovibilidade, no
contrato social.

O cargo de gerente deve ser desempenhado pelo sócio nomeado, podendo


este delegar os seus poderes de administração a estranhos, se inexistente
proibição no contrato social, contudo, responde o gerente nomeado, pelos
prejuízos ocasionados pelo seu procurador.

5º - Nome Comercial
Caracteriza também a sociedade por quotas a adoção do nome comercial,
que pode ser razão social ou denominação social; qualquer dessas espécies,
contudo, deve ser acompanhada da expressão limitada ou da sigla LTDA, sob
pena de assumir responsabilidade ilimitada. Exemplos:

Razão social

Souza e Irmãos Ltda. – Almeida & Silva ltda. - Lima & Cia. Ltda.

Denominação Social

Bazar Brasil Ltda. – Lojas Paulista Ltda. – Rico Comércio de Peças Ltda. -

Além dos requisitos essenciais, o contrato social deve conter de modo


expresso a indicação da responsabilidade limitada dos sócios ao total do
capital social, sob pena, igualmente, de responderem ilimitadamente pelas
obrigações sociais.

6º - Questionário
1. O que é sociedade por quotas de responsabilidade limitada?
2. A sociedade por quotas de responsabilidade limitada é classificada como
sociedade de pessoas ou de capital?
3. Não tendo mais interesse em permanecer na sociedade por quotas, o sócio
pode deixá-la, vendendo suas quotas aos demais ou a estranhos?
4. As deliberações, na sociedade por quotas de responsabilidade limitada,
são tomadas apenas pela unanimidade dos sócios?
5. O analfabeto pode constituir sociedade por quotas?
6. Qual a consequência e como devem proceder os sócios, ante a falta de
integralização de quotas adquiridas?
7. O que é sócio remisso?
8. O que é sócio dissidente?
9. O que é capital social e quota?
10. As quotas da sociedade podem ser cedidas ou alienadas a terceiros?
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11. O menor de dezoito anos de idade pode constituir sociedade por quotas
de responsabilidade limitada?
12. Na sociedade por quotas de responsabilidade limitada, pode a gerência
ser desempenhada por terceiro, estranho ao quadro social?
13. Há conseqüências, para o gerente, da delegação do cargo a terceiros?
14. A quem compete a administração da sociedade por quotas?
15. O gerente da sociedade por quotas pode ser destituído?
16. O que é direito de recesso?
17. Qual o nome comercial adotado pela sociedade por quotas?
18. Quais os elementos essenciais, que devem constar do contrato social da
sociedade por quotas?
19. Elabore um contrato social de constituição de uma sociedade por quotas
de responsabilidade limitada, com capital não integralizado.
20. Elabore um contrato social de alteração de uma sociedade por quotas de
responsabilidade limitada, que elevou o seu capital social e modificou
a razão social para denominação social.

7º - Modelos de Contrato Social


CONTRATO SOCIAL

Através do presente instrumento particular de contrato social, JÚLIO


QUINTO, brasileiro, casado, portador do RG nº 123.456.789, e do CPF nº
101.112.113/14, residente e domiciliado nesta cidade à rua Onze, 111; CÉSAR
SÉTIMO, brasileiro, solteiro, portador do RG nº 132.654.987, e CPF nº
113.112.101/41, residente e domiciliado nesta cidade, à rua Dezoito, 118; e
AUGUSTO OITAVO, brasileiro, divorciado, portador do RG nº 231.465.897, e
CPF nº 311.211.211/21, residente e domiciliado nesta cidade, à rua Dois, 5;
contratam constituir a sociedade comercial por quotas de responsabilidade
limitada, para explorar o ramo de calçados, com responsabilidade dos sócios
limitada ao total do capital social, conforme as condições abaixo fixadas,
respeitadas as disposições do Decreto nº 3.708/1919, do Código Comercial, e
da Lei das Sociedades Anônimas, nº 6.404/1976, aplicada subsidiariamente:

CLÁUSULA PRIMEIRA – DO CAPITAL SOCIAL

O capital social é de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), totalmente


integralizado, dividido em quotas no valor de R$ 1,00 (um real) cada uma,
adquiridas pelos sócios por pagamento em moeda corrente, como segue:
JÚLIO QUINTO.....................18.000 quotas.................R$ 18.000,00
CÉSAR SÉTIMO.....................12.000 quotas.................R$ 12.000,00
AUGUSTO OITAVO...................10.000 quotas.................R$ 10.000,00

CLÁUSULA SEGUNDA – DA SEDE E DO NOME COMERCIAL

A sede da sociedade é na rua dos Alecrins, 102, nesta cidade, e o


nome comercial é a denominação social, BAZAR ARABESCO LTDA.

CLÁUSULA TERCEIRA – DA ADMINISTRAÇÃO

Fica nomeado o sócio CÉSAR SÉTIMO, como gerente, que fará uso do nome
comercial, praticando os atos necessários à administração.

CLÁUSULA QUARTA – DA RETIRADA PRO-LABORE

O gerente e os sócios, que exercerem atividades na empresa, poderão


retirar mensalmente, como PRO-LABORE, R$ 500,00 (quinhentos reais) cada um.

CLÁUSULA QUINTA – DO FORO


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 50
ACOSTA________
Fica eleito o foro desta comarca de Bauru, para dirimir as dúvidas de
interpretação do contrato, ou para solução de divergências.

E estando assim de acordo, se obrigam a cumprir as condições fixadas,


assinando o presente contrato em quatro vias de igual teor, diante de duas
testemunhas, a fim de que produza os efeitos legais, sendo a primeira via
selada e destinada a arquivamento pela Junta Comercial do Estado de São
Paulo, e as demais para uso dos sócios e da sociedade.

Bauru,

Assinaturas dos sócios:

Assinaturas das testemunhas:

CONTRATO SOCIAL

Através do presente instrumento particular de contrato social, JÚLIO


QUINTO, brasileiro, casado, portador do RG nº 123.456.789, e do CPF nº
101.112.113/14, residente e domiciliado nesta cidade à rua Onze, 111; CÉSAR
SÉTIMO, brasileiro, solteiro, portador do RG nº 132.654.987, e CPF nº
113.112.101/41, residente e domiciliado nesta cidade, à rua Dezoito, 118; e
AUGUSTO OITAVO, brasileiro, divorciado, portador do RG nº 231.465.897, e
CPF nº 311.211.211/21, residente e domiciliado nesta cidade, à rua Dois, 5;
contratam constituir a sociedade comercial por quotas de responsabilidade
limitada, para explorar o ramo de calçados, com responsabilidade dos sócios
limitada ao total do capital social, conforme as condições abaixo fixadas,
respeitadas as disposições do Decreto nº 3.708/1919, do Código Comercial, e
da Lei das Sociedades Anônimas, nº 6.404/1976, aplicada subsidiariamente:

CLÁUSULA PRIMEIRA – DO CAPITAL SOCIAL

O capital social é de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), totalmente


integralizado, dividido em quotas no valor de R$ 1,00 (um real) cada uma,
adquiridas pelos sócios por pagamento em moeda corrente, como segue:

JÚLIO QUINTO.....................18.000 quotas.................R$ 18.000,00


CÉSAR SÉTIMO.....................12.000 quotas.................R$ 12.000,00
AUGUSTO OITAVO...................10.000 quotas.................R$ 10.000,00

CLÁUSULA SEGUNDA – DA SEDE E DO NOME COMERCIAL

A sede da sociedade é na rua dos Alecrins, 102, nesta cidade, sendo a


razão social QUINTO E CIA. LTDA, o nome comercial adotado, a ser empregado
pelos gerentes, no desempenho das atividades sociais.

CLÁUSULA TERCEIRA – DA ADMINISTRAÇÃO

Ficam nomeados os sócios JÚLIO QUINTO e CÉSAR SÉTIMO como gerentes,


que farão uso do nome comercial, praticando todos os atos necessários à
administração e representação da sociedade, podendo atuar em conjunto ou em
separado, ficando proibidos de empregar o nome da sociedade para assumirem
obrigações de favor, como fianças, avais, etc.

CLÁUSULA QUARTA – DA ATIVIDADE

A sociedade, na exploração do ramo de calçados, se dedicará não só à


venda, mas também à fabricação de calçados, tanto do tipo popular, quanto
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de luxo, femininos, masculinos, infantis e para adultos, tendo adotado as
marcas SABRINA e GIBSON já registradas no Instituto Nacional da Propriedade
Industrial, bem como, o nome fantasia CALÇADOS MASTER. Qualquer alteração
dessas atividades deve ser precedida de deliberação dos sócios e expressa
no respectivo instrumento de alteração do contrato social.

CLÁUSULA QUINTA - DA RETIRADA PRO-LABORE

O gerente e os sócios, que exercerem atividades na empresa, poderão


retirar mensalmente, como PRO-LABORE, R$ 500,00 (quinhentos reais) cada um.

CLÁUSULA SEXTA – DO FALECIMENTO DE SÓCIO

Falecendo qualquer dos sócios, os remanescentes poderão continuar com


a sociedade, admitindo no quadro social os herdeiros do falecido, que terão
as quotas sociais deste, como previsto no inventário dos bens do espólio,
caso queiram; declarando expressamente e por escrito o desinteresse pelo
ingresso na sociedade, os haveres do falecido serão pagos aos herdeiros.

CLÁUSULA SÉTIMA – DAS OBRIGAÇÕES DE FAVOR

Fica expressamente vedado à sociedade assumir obrigações de favor,


como prestar avais, fianças, etc., seja em benefício de sócios, empregados
ou terceiros, bem como, empregar o nome comercial em operações diversas,
estranhas à atividade da sociedade, mesmo gerando presunção de vantagens.

CLÁUSULA OITAVA – DA DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS E PERDAS

Ao final de cada semestre será elaborado um balanço, para a apuração


de lucros ou perdas sofridas no período, sendo distribuídos, após aprovação
do balanço, os lucros e as perdas, em partes iguais entre os sócios.

CLÁUSULA NONA - DO FORO

Fica eleito o foro desta comarca de Bauru, para dirimir quaisquer


dúvidas decorrentes da interpretação do presente contrato, ou para solução
de divergências.

E estando assim de acordo, se obrigam a cumprir as condições fixadas,


assinando o presente contrato em quatro vias de igual teor, diante de duas
testemunhas, a fim de que produza os efeitos legais, sendo a primeira via
selada e destinada a arquivamento pela Junta Comercial do Estado de São
Paulo, e as demais para uso dos sócios e da sociedade.

Bauru,

Assinaturas dos sócios:

Assinaturas das testemunhas:


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 52
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QUADRO SINÓTICO

IV - SOCIEDADES POR AÇÕES

de capital = capital social - ações do mesmo valor –


espécies = anônima = responsabilidade limitada -
comandita por ações = responsabilidade mista –

1º- Sociedade Anônima

A)- Conceito e Características {capital social – ações do mesmo


valor – responsabilidade limitada ao preço – subsidiária
integral - denominação - S/A- Sociedade Anônima – Companhia -
CIA - mercantilidade - materialização das ações – objeto
social
completo – administração por órgãos – terceiro diretor -

B)- Espécies e Constituição {duas espécies – diferenças -


aberta {valor mobiliário = BV/IF – CVM - pública / sucessiva –
fechada {valor mobiliário = fundador/diretor –
subscrição particular ou simultânea -
fases {sucessiva ou pública = Boletim – CVM – oferta IF / BV -
assembléia - arquivamento - publicação –
simultânea = boletim de subscrição – oferta pelos
fundadores - convocação para assembléia –
arquivamento – publicação -
peculiares {pequena S/A = até vinte sócios – formalidade -
capital autorizado = autorização de aumento do capital
social sem elaborar novo estatuto -
exportadora = autorização do governo - registro na Cacex
e Secretaria da Receita Federal -
economia mista = criada por lei - direito privado -
órgão público e particular - controle e administração =
governo federal - estadual – municipal –
multinacional = entre países – ato constitutivo =
Tratado ou Convenção –
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 53
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C)- Valores Mobiliários {títulos negociáveis – emissão da S/A -


Espécies {ação - parte beneficiária – debênture – cupão de títulos -
bônus de subscrição - certificados de depósitos de valores
mobiliários - outros = Conselho Monetário Nacional -

C.1)- Ação {fração do capital social – sócio – vida da sociedade -


título de crédito – alienação - endosso -
valor {nominal = impresso no certificado –
de emissão = pago no ato de subscrição –
patrimonial = diferença entre ativo e passivo e
divisão pelo número de ações -
de mercado = no momento da venda pelo acionista e
variável conforme o mercado de títulos –
direito {ordinária = direitos comuns –
preferencial = privilégios – restrições –
de fruição = amortizada - pagamento antecipado –
circulação {nominativas = com o nome do titular –
escriturais = lançamento - conta bancária –
negociação {resgate = pagamento - retirada do mercado -
reembolso = pagamento ao dissidente –
amortização = pagamento antecipado – no mercado -

C.2)- Partes Beneficiárias {valores mobiliários – titular = credor –


participação nos lucros -
espécies {simples = pagamento em dinheiro -
conversível = ações da companhia -

C.3)- Debêntures {fração de contrato de mútuo – S/A e público –


titular = credor = debenturista -
espécies {pagamento {simples = pagamento em dinheiro –
conversíveis = pagamento em ações -
garantia {direito real = bens imóveis ou móveis -
privilégio geral = preferência – todos bens -
sem garantia = título quirografário -
subordinadas = após todos credores -
agente fiduciário = representante dos debenturistas -

C.4)- Bônus de Subscrição {valor mobiliário – titular = credor –


crédito para subscrever ações –

D) - Acionistas {pessoa física ou jurídica - titular de ação da S/A –


espécies {rendeiro = ação = rendimento permanente –
especulador = compra e vende - rendimento –
empresário = cargo de direção – poder – influência -
controlador = maioria de votos -
menor de dezoito anos = representado ou assistido -
interditado = conforme sentença do juiz -
obrigações {integralização das ações = remisso – lealdade -
direitos {essenciais {participar da distribuição dos lucros e
do acervo – fiscalizar – ter preferência na
subscrição – de recesso -
não essencial = voto
maioria acionária {grupo - metade mais uma – ação com voto -
minoria acionária {grupo - metade menos uma - ação com voto -
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 54
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E)- Capital Social {capital social = valor monetário – estatuto –
Aumento {atualização monetária anual – conversão dos valores
mobiliários – capitalização de lucros ou reservas –
novas subscrições de ações -
Redução {reembolso ao dissidente - restituição ao remisso –
perdas ou prejuízos acumulados -

F)- Administração {sistema organicista - distribuição do poder a órgãos


-
órgãos {de deliberação = soberania - assembléias gerais -
de execução = conselho de administração – diretoria –
para executar as deliberações -
de controle = conselho fiscal – para fiscalizar -

F.1)- Assembléia Geral e Quorum {reunião – subscritores/acionistas –


convocação e instalação conforme a lei – constituição
e deliberação por voto – órgão máximo de deliberação -
descumprimento de formalidades = anulação da AG -
competência para convocar {conselho de administração -
diretoria - conselho fiscal – acionista – acionista
com ações correspondentes a cinco por cento do capital
social – anúncio – data – local - horário - ordem do
dia – publicação no jornal – prazo = antecedência oito
dias da primeira e cinco dias da segunda –
pequena S/A = convocação pessoal – recibo ou
comprovante por escrito da convocação -

espécies {de constituição = subscritores – para constituir -


ordinária = quatro primeiros meses = aprovar contas e
demonstrações financeiras – distribuição do
lucro líquido – dividendos – eleição -
correção monetária do capital social -
extraordinária = após decurso do prazo para a ordinária -
matéria diversa -
especial = acionistas de ações preferenciais ou credores
debenturistas –
Quorum = mínimo de acionistas - assembléia geral –
espécies {constituição = primeira = metade dos subscritores –
segunda = qualquer número –
instalação {em primeira convocação = um quarto do
capital social com voto -
em segunda = qualquer número –
deliberação {comum = maioria absoluta – metade -
qualificado = metade - com voto – não
há segunda convocação –
aberta = reduzido – CVM -
especial {reforma do estatuto = primeira = dois
terços com voto –
segunda = qualquer número -

F.2)- Conselho de Administração e Diretoria {órgão de execução –


colegiado – orientação e fiscalização –
obrigatório = capital autorizado e de economia mista –
abertas = CVM - facultativo – eleição – AG –
acionista – indelegável – prazo de gestão = estatuto ou lei -
voto múltiplo = representante da minoria -
diretoria {eleição = C. administração ou AG – estranho -

F.3)- Conselho Fiscal {três/cinco acionistas – suplentes – AG -


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curso universitário - três anos como administrador de
empresa ou conselheiro fiscal -

G)- Lucros - Reservas - Dividendos


fim / finalidade = lucro – objeto social = ramo da atividade -
lucro {sobrevalor - aplicação do capital social e recursos –
espécies {bruto = sem qualquer dedução -
líquido = dedução = prejuízo/IR/participações -
final = liquidação - após pagamento do passivo –
exercício social = um ano - estatuto – resultados -
dividendo {lucro líquido/número de ações – acionistas -
espécies {fixo = estabelecido no estatuto -
obrigatório = pago no exercício - fixo omisso –
50% do lucro líquido com deduções –
mínimo = 25% ou mais - lucro líquido e deduções -
omissão do estatuto – alteração –
intermediário = semestral - estatuto –
cumulativo = do exercício anterior -
reserva {lucro não distribuído –
espécies {legal = 5% do lucro líquido - sem exceder 25% do
capital social - manutenção do capital -
estatutária = aprovada em AG - inserida no estatuto -
contingencial = futura diminuição de lucro – perdas -
de capital = prejuízos – resgate – reembolso – compra
de ações - resgate de partes beneficiárias –
incorporação ao capital social - dividendos de
ações preferenciais -

H)- Dissolução e Liquidação {desconstituição – extinção – escrito -


Espécies {pleno direito = prazo – estatuto – AG – um acionista –
extinção de autorização -
judicial = sentença do juiz – ação judicial -
autoridade administrativa = leis especiais – intervenção
e liquidação extrajudicial -
Liquidação {conversão de bens em dinheiro - pagamento de credores -
partilha do acervo –
espécies {convencional ou privada = após dissolução de pleno
direito - estatuto –
judicial = dissolução judicial –

I)- Transformação das Sociedades {tipo em outro –


espécies {pura e simples = autorizada no estatuto -
constitutiva = participação de novos elementos -
I.1)- Incorporação {absorção – incorporadora – incorporada -
extinção da incorporada -
I.2)- Fusão {união duas ou mais – sucessora – extinção das antigas -
I.3)- Cisão {nova sociedade - união de dissidentes – transferência
De parcelas do patrimônio da sociedade cindida –

J)- Concentração {vínculo patrimonial - interesse comum –


Espécies {J.1- Coligação = participação de uma ou mais - com dez
por cento ou mais – sem controle – controladora =
deliberações – eleição da maioria – controlada -
vedada participação recíproca – exceções -
J.2- Subsidiária Integral = um só acionista -
J.3- Grupos de Sociedades = união – controladora e
controladas – sem personalidade jurídica -
espécies {de direito = regularmente constituído -
designação oficial de grupo -
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de fato = vínculo de controle -
J.4)- Consórcio de Sociedades = sociedade – reunião -
contrato - execução de empreendimento –
sem personalidade jurídica -

2º- Sociedade em Comandita por Ações

A)- Conceito {capital em ações - duas categorias = diretores ou


gerentes e demais acionistas – responsabilidade mista -
B)- Distinções {responsabilidade - conselho de administração – capital
Autorizado - gestão dos diretores - bônus de subscrição –
duas categorias de sócios -
C) – Características {duas categorias de sócios – gerentes ou diretores
e acionistas - responsabilidade mista - gerentes ou diretores
com responsabilidade subsidiária, solidária e ilimitada –
acionistas com responsabilidade limitada ao preço das ações –
diretores ou gerentes destituídos por acionistas com dois
terços do capital social - só acionistas podem ser diretores
ou gerentes - firma social - denominação social – expressões
em comandita por ações.

3º- Questionário

4º- Exercícios

5º - Modelos {estatuto
editais

IV – SOCIEDADES POR AÇÕES

Em oposição às sociedades de pessoas, exceto as sociedades por quotas


de responsabilidade limitada, duas outras sociedades foram constituídas
pelos costumes, não se conhecendo a época exata em que passaram a ser
empregadas. São as sociedades anônimas e as sociedades em comandita por
ações, ambas de capital, porque o ingresso do sócio não depende da anuência
dos demais sócios, que não se preocupam ou se interessam pelas qualidades
pessoais de cada um, e ocorre mediante subscrição ou aquisição de ações,
por qualquer pessoa, sendo importante ou suficiente, portanto, a subscrição
das ações para a composição do capital social.

A constituição das sociedades por ações, que são disciplinadas pela


Lei nº 6.404, de 1976, é inspirada no interesse pela formação do capital
social, que é dividido em ações, todas do mesmo valor, sendo a anônima de
responsabilidade limitada ao preço das ações subscritas ou adquiridas, e a
comandita por ações de responsabilidade mista, por ser composta de duas
categorias de sócios, os gerentes ou diretores e os demais acionistas.

Em regra, não é necessária a autorização do governo para constituição


de sociedade por ações, exceto se tem por objeto certas atividades, como a
jornalística, de seguros, instituição financeira, etc., que são reguladas
por leis especiais e pela Constituição Federal.

1º) - Sociedade Anônima


A) Conceito e Características

Sociedade anônima é aquela que tem o capital social dividido em ações,


todas do mesmo valor, e a responsabilidade dos sócios limitada ao preço de
emissão das ações subscritas ou adquiridas. Subscrição de ações é o ato de
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compromisso de compra da ação, pelo subscritor do Boletim de Subscrição,
que é o documento elaborado pelos fundadores, para iniciar a constituição
da sociedade anônima. Aquisição de ações é a compra de ações, por terceiro
interessado, junto ao acionista, titular das ações.

Caracterizam a sociedade anônima, além da responsabilidade dos sócios


limitada ao preço de emissão da ação subscrita ou adquirida, a faculdade de
se constituir em subsidiária integral, que é a sociedade anônima com único
sócio, que é outra sociedade anônima, configurando exceção ao princípio da
pluralidade da sociedade; a adoção obrigatória da denominação social, como
nome comercial, acompanhado das expressões Sociedade Anônima, ou Companhia,
ou da sigla S/A ou Cia.; a mercantilidade, por ser comercial, independente
da atividade desempenhada; a materialização das ações por certificados; a
definição precisa e completa do objeto social no estatuto; a estrutura da
administração, formada de órgãos, como diretoria, conselho de administração
e conselho fiscal; e a nomeação de terceiros, como diretores.

Distinguem-se as sociedades anônimas e por quotas de responsabilidade


limitada, porque: na primeira, a responsabilidade dos sócios é limitada ao
preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas, e na outra é limitada
ao total do capital social; a primeira é mercantil independente da natureza
da atividade, e a outra é mercantil ou civil, conforme a atividade; pode a
primeira ter estranho ao quadro social, como diretor, e a outra não; a ação
tem representação material, e a quota não; a primeira pode emitir valores
mobiliários, e a outra não; na primeira é obrigatório o uso da denominação
social, e a outra pode usar razão social ou denominação; e a primeira é de
constituição obrigatória na exploração de certas atividades, e a outra não.

B) - Espécies e Constituição

Há duas espécies de sociedades anônimas: abertas, que negociam seus


valores mobiliários através das Bolsas de Valores ou mercado de balcão das
instituições financeiras, registram seus valores mobiliários na Comissão de
Valores Mobiliários, e se constituem por subscrição pública, ou sucessiva;
e fechadas, que negociam seus valores mobiliários diretamente, através dos
fundadores, quando da constituição, ou diretores, após a constituição; não
têm registro na Comissão de Valores Mobiliários; e são constituídas por
subscrição particular ou simultânea.

A constituição da sociedade anônima é diferente, conforme seja aberta


ou fechada, sendo sucessiva ou pública para a primeira, e para a segunda é
simultânea ou particular.

A constituição sucessiva ou pública, da s/a aberta, ocorre por fases:


1ª) elaboração de Boletins de Subscrição e registro na Comissão de Valores
Mobiliários, em regra feitos por instituição financeira contratada; 2ª)
oferta de subscrição das ações ao público, pela instituição financeira ou
bolsa de valores; 3ª) convocação de subscritores e realização da assembléia
de constituição, que pode se desdobrar em duas ou mais, para avaliação de
bens para pagamento da subscrição, e aprovação das avaliações; 4ª) remessa
do estatuto e atas das assembléias para a Junta Comercial, e publicação no
jornal oficial da certidão do arquivamento. A constituição simultânea, para
a fechada, ocorre com elaboração de boletins de subscrição por fundadores,
oferta direta ao público, convocação para a assembléia, remessa à Junta
Comercial do estatuto e ata da assembléia, e publicação no jornal oficial
da certidão do arquivamento.

A subscrição e a venda de ações a terceiros, nas sociedades anônimas


abertas ou fechadas, não dependem da anuência dos demais subscritores ou
acionistas, sendo ofertadas a qualquer pessoa do público, por instituições
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financeiras ou bolsas de valores, no caso das primeiras, e no das segundas,
pelos fundadores, antes da constituição, e diretores, após a constituição.
É também livre, independente da vontade dos demais acionistas, e feita pelo
próprio acionista, a venda das suas ações, mesmo se acionista de sociedade
familiar, que procura manter as ações com os membros de uma mesma família.

A lei das sociedades anônimas se refere à pequena sociedade anônima,


que não é espécie distinta de sociedade anônima, mas, aquela constituída
com menos de vinte acionistas, sendo dispensada de algumas formalidades.

Outra sociedade anônima peculiar é a de capital autorizado, porque o


seu estatuto autoriza aumento do capital social, dispensando elaboração de
novo estatuto, bastando deliberação da assembléia geral ou do conselho de
administração. Assim, pode ser constituída com capital subscrito inferior
ao autorizado pelo estatuto, independente de ser aberta ou fechada.

A atividade de exportação no Brasil é realizada obrigatoriamente por


sociedade por ações, sendo designada popularmente de trade company,
traduzida para empresa comercial exportadora, que necessita de autorização
do governo para se constituir, por exportar riquezas do país, e deve ter
registro especial na Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil -
Cacex, e na Secretaria da Receita Federal, do Ministério da Fazenda.

Há ainda a sociedade de economia mista, criada por lei, e constituída


por um órgão público e particulares, com capital de ambos, e personalidade
jurídica de direito privado, tendo como titular da maioria das ações com
direito de voto o órgão público federal, estadual ou municipal, que a criou
e também a administra, podendo ser aberta ou fechada.

Anteriormente, em nosso direito, havia previsão de funcionamento da


sociedade estrangeira, como filial de sociedade com sede no exterior, e em
virtude da Emenda Constitucional nº 6, de 1995, que revogou o art. 171, da
Constituição Federal, não há mais sociedade estrangeira no Brasil, sendo
brasileiras todas aqui constituídas, conforme a lei brasileira, que prevê
os investimentos estrangeiros e a remessa de lucros para o exterior.

A sociedade multinacional, entretanto, que não deve ser confundida com


a estrangeira, ainda pode e continua sendo constituída, tratando se daquela
formada através de Tratado, ou Convenção, por dois ou mais países. A Usina
Itaipu, embora pública, é binacional, por ser constituída entre o Brasil e
o Paraguai. As sociedades multinacionais são comuns no Mercado Europeu.

C) - Valores Mobiliários

Valores mobiliários são títulos negociáveis emitidos pelas sociedades


anônimas, para captar recurso financeiro no mercado próprio, disciplinados
na Lei nº 6.385/76, como: ações, partes beneficiárias, debêntures, cupões
desses títulos, bônus de subscrição, certificados de depósitos de valores
mobiliários, e outros criados ou emitidos por sociedades anônimas, segundo
critério do Conselho Monetário Nacional. Não são valores mobiliários os
títulos da dívida pública federal, estadual e municipal, e os cambiais, de
responsabilidade de instituições financeiras, exceto as debêntures.

Embora a ação seja espécie de valor mobiliário, há uma fundamental


diferença entre ela e os demais valores mobiliários, por configurar aquela
fração do capital social que ela compõe, conferindo ao seu titular direito
de participar da vida da sociedade, com a qualidade de sócio, e estes, por
configurarem parcelas de contratos de empréstimo ou de outras negociações,
conferindo aos seus titulares direito de crédito, com qualidade de credores
da companhia. Os valores mobiliários constituem gênero, do qual as ações
são espécies, pois, são todos os títulos emitidos pelas companhias.
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C.1) - Ação

A ação é título representativo de uma fração do capital social de uma


sociedade anônima, da condição de sócio do seu titular, ao qual confere o
direito de participar da vida da sociedade, como da distribuição dos lucros
apurados nos exercícios sociais, e partilha do acervo, quando da dissolução
da companhia, e também é título de crédito, sendo negociável no mercado de
títulos, através de endosso, que permite ao acionista endossante a cessão
dos seus direitos e obrigações a terceiros, que se tornam novos acionistas,
e tem, portanto, a natureza de bem móvel, suscetível de alienação.

São variáveis as espécies de ações, conforme sejam considerados, para


a sua classificação, alguns aspectos, como o preço de subscrição ou valor
atribuído para a venda, o direito que conferem, e o modo de circulação ou
negociação. Quanto ao valor atribuído à ação, pode ser de valor nominal, ou
valor de emissão, ou valor real ou patrimonial, ou valor de mercado,
conforme o momento em que é subscrita ou negociada.

É nominal a ação, que tem o valor impresso no texto do certificado,


coincidindo com o de emissão, ao ser impressa e entregue ao acionista, logo
após a constituição da sociedade; valor de emissão é aquele fixado pelos
fundadores ou diretores, pago no ato de subscrição das ações; valor real ou
patrimonial é o valor líquido, apurado na diferença entre ativo e passivo,
e divisão pelo número de ações; e valor de mercado é o alcançado no momento
da venda promovida pelo próprio acionista, dependente da oferta e procura
no mercado de títulos, que oscila, se elevando em proporção e conseqüência
do progresso atingido pela sociedade, ou diminuindo pelo seu fracasso.

As ações, conforme os direitos que conferem aos seus titulares podem


ser: ordinárias, que atribuem os direitos comuns a todos os acionistas;
preferenciais, que conferem aos titulares algumas vantagens ou privilégios,
e, em conseqüência, restringem ou excluem alguns direitos, como o direito
de voto; e de fruição ou amortizadas, que atribuem o direito de participar
da vida da sociedade, como sócio, e da partilha dos lucros, mas retiram dos
seus titulares o direito de participarem da partilha do acervo, quando da
dissolução da sociedade, porque recebem antecipadamente, pela amortização,
o valor correspondente à fração do capital social representado pela ação, e
que é pago aos titulares de ações ordinárias e preferenciais, por ocasião
da liquidação da sociedade.

Ação ordinária é a que confere ao acionista direitos comuns a todos


eles, sem qualquer privilégio, nem restrições, como participar dos lucros,
do acervo na liquidação, fiscalizar a administração, exercer o direito de
preferência na subscrição das ações, votar, e retirar-se da sociedade, nos
casos previstos na lei, que é o direito de recesso assegurado ao acionista
dissidente.

A ação preferencial é a que confere vantagens cumulativas ou não ao


acionista, como: de receber dividendos maiores, no mínimo em dez por cento,
dos conferidos às ações ordinárias, salvo no caso de direito à dividendo
fixo ou mínimo; de ter prioridade quando da distribuição de dividendos; e
de prioridade no reembolso do capital. Contudo, a concessão de vantagens
pode provocar a restrição ou exclusão de direitos, como o de votar.

A ação preferencial, que não tem direito de voto, pode adquirí-lo,


quando a sociedade, no prazo previsto no estatuto, não superior a três anos
consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos aos quais os
acionistas tenham direito. Assim adquirido, o direito de voto é mantido até
o pagamento devido, inclusive dos atrasados, se cumulativos. É limitada a
emissão de ações preferenciais a dois terços do capital social.
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A ação de fruição é aquela que substitui uma ordinária, preferencial,


ou escritural, que é amortizada, ou seja, tem seu valor pago ao acionista,
que não a vende, mas, a mantém, continuando na categoria de acionista, e
usufruindo dos direitos que possuía antes da amortização; portanto, se era
ordinária com direito de voto continua com esse direito, se preferencial
sem direito de voto, continua sem ele, salvo acordo em sentido contrário,
no momento da amortização.

Quanto à circulação, as ações ainda se classificam em duas espécies:


nominativas, que contêm no seu texto o nome do titular; e escriturais, que
são representadas por lançamento contábil em conta de depósito bancário e
não por certificados. As antigas ações ao portador e endossáveis foram
revogadas pela Lei nº 8.021/90. As ações nominativas são negociadas através
de endosso em preto, do acionista no certificado, e registrado no Livro de
Registro de Transferência de Ações Nominativas da companhia, que emite
outro título, com nome do novo acionista; e as escriturais, por comunicação
escrita do acionista ao estabelecimento bancário, que faz os lançamentos
devidos e transfere a conta de ações, para o nome do novo acionista.

As ações podem ser resgatadas, reembolsadas, ou amortizadas, pela


sociedade, sendo resgate o pagamento do valor das ações, para retirada do
mercado e seu conseqüente cancelamento, provocando o aumento do valor das
demais ações; reembolso, o pagamento feito aos acionistas dissidentes, que
se afastam por discordância com as deliberações da maioria, ficando as
ações em tesouraria para futura venda, ou sendo canceladas, provocando a
redução do capital social; e amortização, a distribuição ou pagamento aos
acionistas, à título de antecipação das quantias que teriam direito, quando
da liquidação da sociedade, permanecendo as ações com os seus titulares.

C.2) - Partes Beneficiárias

Partes beneficiárias são espécies de valor mobiliário, que conferem


ao seu titular o direito de crédito, consistente na participação dos lucros
líquidos anuais, distribuídos aos acionistas. As partes beneficiárias podem
ser simples ou conversíveis em ações, conferindo, as primeiras, direito de
pagamento em dinheiro, e as segundas, de pagamento em ações da companhia.

C.3) - Debêntures

Debênture é fração de um contrato de mútuo entre a sociedade anônima


e pessoas do público, e confere ao seu titular, designado de debenturista,
direito de crédito contra ela, consistente em pagamento, na data do seu
vencimento, ou em conversão em ações da sociedade.

Podem ser classificadas as debêntures, conforme dois aspectos: forma


de pagamento, em simples e conversíveis em ações; e garantia que conferem,
em debêntures com garantia real, com privilégio geral, sem garantia, e
subordinadas aos demais credores da companhia.

A debênture simples confere ao debenturista direito de receber


pagamento em dinheiro, no vencimento, e a conversível, o direito de receber
em pagamento, no vencimento, ações da sociedade emitente do título; a
debênture com garantia real tem pagamento garantido por bens imóveis ou
móveis, sendo hipotecária, no primeiro caso, e pignoratícia, no segundo;
com privilégio geral é aquela, cujo pagamento tem preferência, quando da
venda de qualquer dos bens da companhia, embora não impeça a venda deles,
sendo designada de debênture com garantia flutuante; sem garantia é a
equiparada a título quirografário, com garantia apenas pessoal, do devedor;
subordinada é aquela cujo pagamento, no caso de falência ou liquidação da
sociedade, é feito após pagamento de todos credores, até quirografários.
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Os debenturistas têm os interesses defendidos pelo agente fiduciário,


que é pessoa física ou instituição financeira autorizada pelo Banco Central
do Brasil, nomeada na escritura de emissão das debêntures. As deliberações
dos debenturistas, na defesa de seus direitos e interesses são tomadas em
Assembléias Gerais convocadas e instaladas, de acordo com previsão da lei.

C.4) - Bônus de Subscrição

Bônus de subscrição é uma das espécies de valor mobiliário emitido


pela sociedade anônima de capital autorizado, e que confere ao seu titular
o direito de subscrever ações, nas condições especificadas no certificado.

D) - Acionistas

Acionista é a pessoa física ou jurídica, titular de ação de sociedade


anônima, com qualidade de sócio e direito de participar da vida social, da
distribuição de lucros, e partilha do acervo, pela dissolução. É acionista
rendeiro, o que adquire ações para ter renda permanente; especulador, se
compra e vende ações, conforme o pregão da bolsa de valores; e empresário,
o que pretende cargos de direção, para ter influência social e poder.

O acionista controlador é a pessoa física ou jurídica, ou grupo de


pessoas vinculadas por acordo de acionistas, ou sob controle comum, que
dispõe de modo permanente, da maioria de votos nas deliberações em geral, e
em especial para eleger a maioria dos administradores, se distinguindo do
acionista empresário, por ter interesse no controle da sociedade, ao eleger
a maioria dos administradores, e não em ocupar os cargos de direção, para
se destacar no meio empresarial.

O menor de dezoito anos pode ser titular de ações, sendo representado


ou assistido pelos pais, conforme a idade, no exercício do direito de voto,
nas assembléias da sociedade.

O interditado por loucura ou prodigalidade também pode ser titular de


ações, sendo representado pelo Curador, para exercer o direito de voto na
assembléia, exceto se a sentença de interdição permitir o exercício direto
do voto.

Os acionistas têm duas obrigações fundamentais: de integralizar o


valor das ações subscritas, conforme previsão no estatuto, e ser leal para
com a sociedade. Não sendo integralizadas as ações subscritas, a sociedade
deve notificar o acionista pela imprensa, por três vezes no mínimo, fixando
prazo de trinta dias, ou mais, para cumprimento da obrigação; não atendida
a notificação, pode ser cobrado em ação judicial, ou vendidas as ações em
leilão especial das Bolsas de Valores, e excluído o acionista. Não sendo
vendidas, as ações caem em comisso e, no prazo de um ano, a assembléia deve
deliberar sobre a redução do capital social. A deslealdade comprovada do
acionista pode provocar a sua exclusão do quadro social, em ação judicial,
enquanto o descumprimento de determinadas regras pode provocar a aplicação
de penalidades previstas no estatuto, como a de restrição ou eliminação do
direito de voto.

A lei prevê para os acionistas direitos essenciais, que são aqueles


enumerados expressamente no seu texto, que veda à sociedade, ao estatuto ou
a assembléia geral, de privar deles o acionista. São direitos essenciais do
acionista: participar dos lucros sociais, e do acervo quando da liquidação,
fiscalizar a administração, exercer o direito de preferência na subscrição
das ações, e retirar-se da sociedade, conforme prevê a lei. É designado
direito de recesso o de retirar-se da sociedade, requerendo, o acionista,
no prazo previsto na lei, o pagamento dos seus haveres.
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O voto não é direito essencial, pois, certos tipos de ações não têm
esse direito, e mesmo que o tenham, ele pode ser suspenso ou restringido,
como pena por infração ao estatuto ou à lei, ou pelo conflito de interesses
com a matéria a ser votada, como os diretores, que não devem votar na
aprovação das suas contas.

A maioria acionária é representada pelo acionista ou pelo grupo de


acionistas, que detém no mínimo metade mais uma das ações do capital social
com direito de voto; e a minoria é representada pela metade menos uma, no
máximo, das ações do capital social com direito de voto.

E) - Capital Social

Nas companhias, o capital social, que é o valor monetário expresso no


estatuto, somente pode ser aumentado ou reduzido, pelos motivos previstos
na lei. Assim, o aumento pode ocorrer pela atualização anual do seu valor,
pela conversão de debêntures, partes beneficiárias e bônus de subscrição em
ações, pela capitalização de lucros ou reservas de capital, e subscrição de
novas ações, enquanto a redução, pelo reembolso das ações dos dissidentes,
pela restituição das entradas, ou parte do valor das ações, ao acionista
remisso, e por perdas ou prejuízos acumulados.

Na constituição da sociedade, o pagamento mínimo em dinheiro, para a


subscrição de ações, deve corresponder a dez por cento do preço de emissão
das ações subscritas, salvo exigência diversa pela Comissão de Valores
Mobiliários, que pode, inclusive, modificar o valor mínimo do capital
social, em virtude da atividade a ser desempenhada. Os bens entregues como
pagamento na subscrição das ações são avaliados por peritos.

F) - Administração

A administração da sociedade anônima, como estabelece a lei, segue um


sistema organicista, pela distribuição do poder a determinados órgãos, como
a assembléia geral, que é órgão de deliberação; o conselho de administração
e a diretoria, órgão de execução; e o conselho fiscal, órgão de controle.

F.1) - Assembléia Geral - Quorum

Assembléia Geral da sociedade anônima é a reunião dos subscritores ou


acionistas convocados, sendo instalada na forma da lei, para constituir a
sociedade, ou deliberar, por voto, questões relativas ao objeto social; é o
órgão máximo de deliberação, que pode ser anulada, inclusive judicialmente,
se ferir as limitações do objeto social ou da lei.

Quem convoca a assembléia geral é o conselho de administração, e não


havendo este, os diretores, ou o conselho fiscal, se os administradores a
retardarem por mais de um mes, ou havendo motivos graves e urgentes, se a
assembléia é extraordinária. Pode também ser convocada por acionista, se os
administradores a retardarem por mais de sessenta dias, ou por acionistas
com cinco por cento no mínimo do capital com voto, se aqueles não atenderem
em oito dias, pedido de convocação fundamentado, com indicação das matérias
tratadas; e por acionistas com cinco por cento, no mínimo, do capital com
ou sem voto, quando os administradores não atenderem, dentro de oito dias,
pedido de convocação de assembléia para instalação do conselho fiscal.

A convocação para a assembléia geral é feita por anúncios, com data,


local, horário e ordem do dia, que é a matéria a ser deliberada e, no caso
de reforma do estatuto, a disposição a ser reformada. Os anúncios devem ser
publicados em jornal oficial, por três vezes, no mínimo, com oito dias de
antecedência, contados da primeira publicação, para a primeira convocação,
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e de cinco dias, para a segunda convocação, que deve ocorrer, se a primeira
não se realizar. Havendo menos de vinte acionistas, a convocação pode ser
pessoal, contra recibo, com a mesma antecedência da publicação em jornal,
salvo se a companhia é controladora de grupos, ou a ela filiada.

As assembléias gerais são de constituição, ordinária, extraordinária,


e especial. De constituição é a assembléia de subscritores, convocados para
constituir a sociedade, aprovar o estatuto, aprovar o valor dos bens dados
em pagamento da subscrição de ações ou nomear peritos para a avaliação, e
eleger os administradores.

Assembléia Geral Ordinária é aquela instalada em um dos quatro


primeiros meses após o término do exercício social, para decidir qualquer
assunto, além de: receber as contas dos administradores; aprovar a
demonstração financeira; deliberar sobre lucro líquido e distribuição de
dividendos; eleger administradores e membros do conselho fiscal; e aprovar
a correção monetária do capital social.

Assembléia geral extraordinária é a realizada após o decurso do prazo


fixado para a ordinária, para deliberar sobre matéria diversa desta. Não se
realizando a ordinária no prazo, passa à extraordinária a competência para
deliberar sobre qualquer matéria, e, instalada no prazo, a ordinária pode
votar a matéria da extraordinária, para evitar nova assembléia.

Assembléia geral especial é aquela prevista na lei, composta por


certas espécies de acionistas, como de ações preferenciais, para deliberar
sobre criação de novas ações preferenciais, ou modificação de vantagens, ou
restrições de direitos, das ações preferenciais, etc., ou por titulares de
debêntures, para deliberação de assuntos de seu exclusivo interesse.

A matéria a ser deliberada em assembléia é designada ordem do dia, e


ata da assembléia é o registro resumido e fiel dos trabalhos e deliberações
da assembléia, lavrada em livro próprio, contendo ao final assinaturas dos
acionistas em número suficiente para compor o quorum, e o nome daqueles que
se recusaram a assiná-la, ou se retiraram sem assiná-la. Quorum é o número
mínimo de acionistas, fixado na lei para instalação da assembléia geral,
podendo ser: de constituição, instalação, deliberação, e especial.

De constituição é o quorum exigido para instalação da assembléia de


constituição, em primeira convocação, de metade dos subscritores do capital
social, no mínimo, e em segunda, de qualquer número; de instalação é de um
quarto do capital social com direito de voto, em primeira convocação, e de
qualquer número em segunda, salvo previsão diversa na lei.

O quorum de deliberação pode ser comum ou qualificado. É comum o das


decisões a serem tomadas por maioria absoluta, de metade mais uma das ações
com voto, sem contar votos em branco; qualificado, de metade no mínimo das
ações com voto, sem segunda convocação, para decidir matéria do art. 136,
da LSA. Para a s/a aberta o quorum de deliberação comum é sempre o mesmo, e
o qualificado pode ser reduzido, com autorização da Comissão de Valores
Mobiliários, se tem ações dispersas no mercado, e três últimas assembléias
realizadas com menos da metade das ações com direito a voto. A s/a fechada
pode elevar o quorum de deliberação comum, em certas decisões.

É especial o quorum para ser deliberada a reforma do estatuto, sendo


de dois terços, no mínimo, dos acionistas titulares de ações com direito de
voto, em primeira convocação, e qualquer número, em segunda.

F.2) - Conselho de Administração e Diretoria


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O conselho de administração é órgão de execução, mas, de deliberação
colegiada, inserido entre a diretoria e a assembléia geral, para adotar a
política geral, orientar e fiscalizar a diretoria, que deve executar suas
determinações; é obrigatório só para as companhias de capital autorizado e
de economia mista; para as anônimas abertas, a decisão sobre sua adoção ou
não é da Comissão de Valores Mobiliários; e é facultativo para as demais.

Adotado o conselho de administração, seus membros são eleitos pela


assembléia geral, entre acionistas, para exercer os poderes pessoalmente,
pois são indelegáveis, sendo portanto, inadmissível a constituição de
procurador. A assembléia geral pode também destituí-los, e o estatuto deve
fixar o prazo de gestão, não superior a três anos, permitida a reeleição.

São impedidos de integrar o conselho de administração e a diretoria:


as pessoas jurídicas; os residentes no exterior; a falta dos requisitos
técnicos exigidos por leis especiais; os impedidos por leis especiais; os
condenados por crime falimentar, de prevaricação, peita, suborno, concussão
e peculato, ou contra a economia popular, a fé pública e a propriedade, ou
à pena criminal que vede mesmo temporariamente acesso a cargos públicos; os
declaradas inabilitadas pela Comissão de Valores Mobiliários; e estranhos
ao quadro social. Os conselheiros de administração podem preencher até um
terço dos cargos da diretoria, eleita pelo mesmo conselho.

A minoria acionária pode eleger um representante seu para integrar o


conselho de administração, se adotar voto múltiplo, facultado a acionistas
com um décimo do capital social com voto, e consiste na atribuíção a cada
ação, do mesmo número de votos dos cargos a serem preenchidos, sendo usados
para eleger um só candidato ou distribuídos entre vários; pode ser também
facultado aos acionistas com vinte por cento do capital social votante. O
voto múltiplo deve ser requerido quarenta e oito horas antes da assembléia.

Os membros da diretoria são eleitos pelo conselho de administração, e


não havendo este, pela assembléia geral, se preencherem as condições: ter
residência no país; ter conhecimentos técnicas exigidos no caso, ou em lei
especial; e não estar impedido por lei especial, nem ter sido condenado por
prática de determinados crimes, nem declarado inabilitado pela Comissão de
Valores Mobiliários, mas, pode ser estranho ao quadro social. O número de
diretores deve ser fixado pelo estatuto, ou máximo e mínimo permitidos, e
neste caso, não inferior a dois. Até um terço dos cargos da diretoria pode
ser preenchido por conselheiros.

Compete à diretoria: representar a sociedade; realizar todas funções


administrativas; e estabelecer a política geral, na falta do conselho de
administração, executando-a, segundo o estatuto. O diretor pode delegar os
poderes de gestão a terceiro, no limite de suas atribuições e competência,
desde que especificados os atos, operações e o prazo, no mandato.

Os administradores não respondem pessoalmente pelos atos praticados,


ou obrigações assumidas em nome da companhia, no desempenho regular de suas
funções, porém, podem ser responsabilizados pela sociedade, pelos prejuízos
ocasionados por culpa ou dolo, no exercício regular das suas atribuições,
ou praticados com violação da lei ou do estatuto.

F.3) - Conselho Fiscal

O conselho fiscal se compõe de três a cinco membros, com igual número


de suplentes, acionistas ou não, eleitos em assembléia geral, desde que
preencham as seguintes condições: residir no país; ter curso universitário
ou exercido por três anos, no mínimo, cargo de administrador de empresa ou
de conselheiro fiscal. Como os administradores, eles respondem pelos danos
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provocados por omissão do cumprimento do dever, ou pela prática de atos
culposos ou dolosos, ou com violação da lei ou do estatuto.

G) - Lucros, Reservas e Dividendos

Fim ou finalidade social é a obtenção de lucro pela sociedade, e se


distingue do objeto social, que é o ramo de atividade produtiva praticada
pela sociedade. Lucro é o sobrevalor conseguido com a aplicação do capital
social e outros recursos, enquanto dividendo é o valor a ser entregue ao
acionista, apurado mediante divisão do lucro líquido pelo número de ações.

O lucro pode ser bruto, líquido e final; o primeiro é a quantia bruta


obtida pelo emprego do capital e outros recursos, sem qualquer dedução; o
segundo é obtido no exercício social, após dedução de prejuízos acumulados,
provisão do imposto de renda, e participações estatutárias dos empregados,
administradores e partes beneficiárias; o terceiro é apurado na liquidação
da sociedade, após pagamento do passivo. Exercício social é o período de um
ano, utilizado como base para apuração dos resultados da sociedade, sendo o
seu término fixado no estatuto, tendo duração diversa apenas quando da
constituição, ou em virtude de alteração do estatuto. Pode ser retida uma
parcela do lucro líquido do exercício, quando proposta pela administração e
aprovada pela assembléia geral, desde que prevista no orçamento de capital,
previamente aprovado pela assembléia geral.

O dividendo, de acordo com a previsão do seu pagamento, pode ser


designado de fixo, obrigatório, mínimo, intermediário ou cumulativo. É fixo
o dividendo previsto no estatuto, que dispõe o valor e data do pagamento. É
obrigatório o dividendo pago aos acionistas em cada exercício, que deve
corresponder, pela omissão do dividendo fixo no estatuto, à metade do lucro
líquido diminuído da reserva legal, da reserva para contingências e da
reserva de lucros a realizar.

Dividendo mínimo é aquele fixado por alteração do estatuto, por ser


omisso, e não pode ser inferior a vinte e cinco por cento do lucro líquido,
com as mesmas deduções previstas na lei para o caso de omissão, sendo pago
em cada exercício.

Dividendo intermediário é aquele apurado em balanço semestral, feito


por força de lei especial ou estatuto, e distribuído por conta do lucro
apurado no período; e cumulativo é o dividendo, que não foi distribuído no
exercício, sendo acumulado ao do exercício seguinte.

Diferem o dividendo fixo e o mínimo, porque: o primeiro corresponde à


porcentagem imutável do capital social, fixado livremente no estatuto, não
conferindo ao acionista, que o recebeu, dividendo de lucro remanescente; o
segundo corresponde à porcentagem do lucro líquido do exercício, fixado por
alteração do estatuto, com omissão do dividendo fixo, e mesmo pago o mínimo
fixado, o acionista pode receber dividendos dos lucros remanescentes.

Reserva é lucro não distribuído, para reforçar o capital social. As


reservas podem ser: legal, estatutária, contingencial e de capital. Legal é
a reserva, que corresponde a cinco por cento do lucro líquido do exercício,
sem exceder vinte por cento do capital social, não sendo distribuído para
assegurar a integridade do capital social; é estatutária a reserva aprovada
em assembléia geral, para ser inserida no estatuto, com indicação da sua
finalidade e critério de constituição; reserva contingencial é a criada por
proposta da administração, para compensar, em exercício futuro, diminuição
de lucro, por prováveis perdas, que possam ser estimadas; e de capital é a
reserva utilizada para absorver prejuízos superiores aos lucros acumulados
e reservas de lucros, ou no resgate, reembolso ou compra de ações, ou no
resgate de partes beneficiárias, ou na incorporação ao capital social, ou
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para pagamento dos dividendos para as ações preferenciais, quando esta
vantagem lhes for assegurada.

H) - Dissolução e Liquidação das Companhias

Dissolução é o ato de desconstituição da sociedade, representado por


instrumento escrito, estabelecendo a paralisação das atividades e forma de
liquidação adotada, devendo ser remetido à Junta Comercial, para cancelar o
ato de arquivamento, extinguindo a personalidade jurídica. Se a sociedade
continuar em atividade, após remeter o ato de dissolução para cancelamento
pela Junta Comercial, ela passa a ser uma sociedade irregular, sofrendo as
conseqüências das sociedades irregulares.

Após a dissolução, a sociedade pode continuar em funcionamento apenas


para a prática dos atos relacionados à liquidação, que é a fase seguinte à
dissolução, após a qual devem ser iniciadas as medidas para a liquidação,
que é a conversão dos bens, que compõem o patrimônio social, em dinheiro,
para pagamento dos credores e partilha do acervo.

São três as espécies de dissolução da sociedade anônima: de pleno


direito, por decisão judicial e por decisão da autoridade administrativa. A
dissolução de pleno direito ocorre no término do prazo de duração; nos
casos previstos no estatuto; por deliberação da assembléia geral, com
quorum qualificado; pela existência de um só acionista, exceto no caso de
subsidiária integral; ou pela extinção da autorização para funcionar.

Por decisão judicial é a dissolução determinada em sentença do juiz,


através de ação judicial proposta por qualquer acionista, para anular a sua
constituição, por falta do cumprimento de formalidades legais; ou pelos
acionistas com cinco por cento ou mais do capital social, por não mais
preencher o seu fim; ou em caso de falência.

A dissolução da companhia por decisão da autoridade administrativa


pode ocorrer por força de disposições de leis especiais, como a intervenção
e liquidação extrajudicial das instituições financeiras.

O falecimento de um acionista não provoca a dissolução da companhia,


porque, como bem móvel, que é, a ação, pelo direito sucessório, passa aos
herdeiros, que são admitidos no quadro social, na condição de acionistas.

São duas as espécies de liquidação da sociedade anônima: convencional


ou privada, feita após a dissolução de pleno direito, conforme o estatuto,
com liquidante nomeado pelo conselho de administração ou pela assembléia
geral; e judicial, após a dissolução judicial, sendo nomeado o liquidante
em assembléia geral de todos os acionistas, presidida pelo juiz, ou nomeado
por este, se recusar a escolha da assembléia geral.

Se os administradores, após a dissolução de pleno direito, deixam de


promover a regular liquidação, ou a ela se opõem, qualquer acionista pode
requerer a liquidação em judicial, sob pena de passar a ser irregular.

Ocorrendo a extinção da autorização para a companhia funcionar, deve


ser promovida, dentro de trinta dias, a liquidação convencional ou privada,
na forma estabelecida pelo estatuto, contudo, não sendo iniciada nos trinta
dias seguintes à dissolução, ou à extinção da autorização, ou se iniciada
for interrompida por mais de quinze dias, será promovida judicialmente, por
iniciativa do Ministério Público, diante de comunicação da autoridade
competente, ou de qualquer acionista.

Após a liquidação e partilha do acervo, o credor não pago pode exigir


dos acionistas, individualmente, o pagamento do seu crédito, até o limite
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do valor por eles recebido, ou propor ação para reparação por perdas e
danos, em relação ao liquidante. Todavia, não tendo partilha de acervo, nem
pagamento de credores, não podem estes cobrar os acionistas, em virtude da
limitação da responsabilidade, podendo cobrar os administradores, apenas em
caso de fraude, dolo, culpa, ou violação da lei ou do estatuto, após ação
judicial própria, ou requerer a falência da sociedade, no prazo de dois
anos contados da cessação das atividades, através da qual também são
apurados os eventuais atos de fraude contra os credores.

I) - Transformação das Sociedades

Transformação da sociedade é ato pelo qual ela passa de um tipo para


outro, sem dissolução e liquidação, sendo pura e simples, ou constitutiva.
Pura e simples é a transformação admitida no estatuto ou contrato, mantidos
os mesmos elementos, objeto, capital social e sócios; e constitutiva é a
não prevista no estatuto ou contrato, ou com modificação dos elementos.

A transformação do tipo de sociedade, modificando a responsabilidade


dos sócios, é precedida do consentimento unânime dos sócios, exceto se há
previsão no contrato social ou estatuto, e ressalvado o direito de recesso
de dissidentes. Sem modificar a responsabilidade nas sociedades de pessoas,
a deliberação de transformação de um tipo em outro, depende da concordância
da maioria dos sócios, e nas sociedades por ações, a deliberação é tomada
em assembléia geral de acionistas, representantes da metade das ações do
capital social com direito de voto. A lei protege também os credores,
evitando-lhes prejuízos, provocados pela transformação de um tipo de
sociedade em outro, impondo o pagamento de todos os credores, ou a
concordância expressa e por escrito dos credores com a transformação do
tipo de sociedade, mas, estabelece, se não ocorrer qualquer dessas
hipóteses, que continuam vigorando as garantias conferidas pelo tipo
anterior, até o pagamento integral dos débitos.

Além da transformação de um tipo de sociedade em outro, a sociedade


pode sofrer outras transformações, como prevê a lei, mediante incorporação,
fusão, ou cisão de sociedades.

I.1) - Incorporação

Incorporação é o ato pelo qual uma ou mais sociedades, designadas


incorporadas, são absorvidas por outra, designada incorporadora, que lhes
sucede em todos os direitos e obrigações, passando para a incorporadora o
patrimônio das sociedades incorporadas, ficando extintas as incorporadas.

No caso de incorporação, a sociedade incorporadora tem o seu capital


social e o patrimônio aumentados, o que, em geral, provoca a elevação do
valor das ações, enquanto os acionistas da sociedade incorporada perdem a
qualidade de acionistas, recebendo os seus haveres, apurados conforme o
preço pela venda da incorporada, que é extinta.

I.2) - Fusão

Fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades, para a


formação de uma nova sociedade, que lhes sucede em todos os direitos e
obrigações, ficando extintas as anteriores, cujos patrimônios passam a
compor o patrimônio da nova sociedade, com novo capital social e estatuto,
sendo substituídas as ações dos acionistas das sociedades extintas, por
novas ações, emitidas pela nova sociedade.

I.3) - Cisão
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Cisão é a operação pela qual se constitui uma ou mais sociedades,
pela união de sócios dissidentes, que se afastam, recebendo seus haveres, e
constituem nova sociedade. Sendo vários acionistas dissidentes, o pagamento
dos haveres pode ser feito mediante transferência de parcelas do patrimônio
da sociedade cindida, para aquela ou aquelas que se constituírem.

J) - Concentração de Sociedades

Além da transformação, a lei das sociedades por ações disciplina


também a concentração das sociedades, ou seja, o vínculo patrimonial ou de
interesse comum, que liga duas ou mais sociedades, e ocorre pela coligação,
formação da subsidiária integral, composição de grupos de fato ou de
direito, e pelo consórcio.

J.1) - Coligação

Coligação é a participação de uma ou mais sociedades, com dez por


cento, ou mais, no capital social de outra ou outras, sem controlá-las, o
que pode ocorrer apenas entre sociedades, sendo impossível entre empresário
individual e sociedade.

Sociedade controladora é aquela que, diretamente ou por outras sob


seu controle, detém a titularidade dos direitos de sócio, assegurando de
modo permanente a preponderância nas decisões sociais e o poder de eleger a
maioria dos administradores. Controladas são as submetidas à controladora.

É vedada pela lei a participação recíproca entre sociedades, exceto


nas seguintes condições: de adquirir as próprias ações, para permanência em
tesouraria ou para cancelamento, devendo ser alienadas no prazo de seis
meses, se excederem o valor dos lucros ou reservas; de haver a suspensão do
direito de voto das ações de propriedade da controlada; e para companhias
abertas, conforme autorização da Comissão de Valores Mobiliários.

J.2) - Subsidiária Integral

É subsidiária integral a sociedade anônima constituída por escritura


pública, tendo como único acionista outra sociedade comercial, ou a anônima
com a totalidade de ações adquiridas por outra sociedade comercial; neste
caso ocorre a incorporação pela adquirente, incorporadora, e a incorporada
se torna subsidiária integral, excepcionando, independente da sua forma de
constituição, o princípio da pluralidade de pessoas, nas sociedades.

Pode, a subsidiária integral, como qualquer outra sociedade anônima,


ser aberta ou fechada, conforme seus valores mobiliários sejam negociados,
através do mercado de balcão ou das bolsas de valores, no primeiro caso, ou
através dos fundadores ou diretores, no segundo.

J.3) - Grupos de Sociedades

Grupo de sociedades é união de sociedade controladora e controladas,


ou de coligadas, que se obrigam a conjugar esforços para a realização dos
respectivos objetos, ou participar de empreendimentos comuns, sem adquirir
personalidade jurídica, nem patrimônio próprio, enquanto as sociedades que
o constituem conservam suas personalidades jurídicas e seus respectivos
patrimônios.

Grupo de direito é o organismo regularmente constituído, integrado


por duas ou mais sociedades, que mantêm seus diversos objetos sociais e têm
distintas personalidades, ordenadas sob comando de uma sociedade, obtendo,
após sua regular constituição, a designação oficial de grupo, sem, contudo,
adquirir personalidade jurídica. O grupo de fato se constitui, apenas, pelo
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vínculo do controle, estabelecido entre a controladora e as controladas, e
da participação, entre as coligadas.

Independente de se tratar de grupo de fato ou de direito, mesmo não


tendo personalidade jurídica, a lei trabalhista estabelece a solidariedade
das demais sociedades integrantes de um grupo, pelas dívidas de natureza
salarial contraídas por qualquer uma delas.

J.4) - Consórcio de Sociedades

Consórcio de sociedades consiste na associação, ou reunião, de duas


ou mais sociedades, sob o mesmo controle ou não, em razão de contrato
firmado, para execução de um determinado empreendimento, sem adquirir nova
personalidade jurídica, sendo, as sociedades consorciadas apenas partes
contratantes, coobrigadas na execução do empreendimento, na conformidade do
contrato firmado e arquivado na Junta Comercial, e publicada a certidão do
arquivamento.

2º - Sociedade em Comandita por Ações


A)- Conceito

Sociedade em comandita por ações é uma das espécies de sociedades por


ações, tendo o seu capital dividido em ações, todas do mesmo valor, e duas
categorias de sócios, que são os diretores ou gerentes, assemelhados aos
comanditados das sociedades em comandita simples, tendo responsabilidade
subsidiária, solidária e ilimitada, e os demais acionistas, que possuem
responsabilidade limitada ao preço das ações subscritas ou adquiridas.

Trata-se, portanto, de uma sociedade por ações, com responsabilidade


mista pelas obrigações sociais, e à qual se aplicam várias das disposições
previstas para as sociedades anônimas.

B) Distinções

São diferenças entre as sociedades anônima e comandita por ações: a


primeira tem responsabilidade limitada, pode ter conselho de administração,
pode ter capital autorizado, os diretores têm prazo de gestão não superior
a três anos, pode emitir bônus de subscrição, e tem uma categoria de sócios
designados acionistas; a segunda tem responsabilidade mista, não pode ter
conselho de administração, nem capital autorizado, nem emitir bônus de
subscrição, a gestão dos diretores é por prazo indeterminado, e tem duas
categorias de sócios designados gerentes ou diretores e os acionistas.

C) – Características

A sociedade em comandita por ações tem as seguintes características:


duas categorias de sócios, que são gerentes ou diretores e os acionistas;
responsabilidade mista, pois, os gerentes ou diretores têm responsabilidade
subsidiária, solidária e ilimitada pelas obrigações sociais, enquanto os
acionistas têm responsabilidade limitada ao preço de emissão das ações; os
diretores ou gerentes são destituídos por deliberação de acionistas, que
representem dois terços do capital social; somente os acionistas podem ser
diretores ou gerentes; ter opção pelo nome comercial, entre a firma social
ou a denominação social, acrescida das expressões em comandita por ações.

3º - Questionário
1. O que são sociedades por ações e quais são elas?
2. Dê o conceito e espécies de sociedade anônima.
3. Quais as distinções entre sociedades anônimas abertas e fechadas?
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4. É exigível a autorização do governo para constituir sociedade anônima?
5. O que é subscrição de ações?
6. Quais as características da sociedade anônima?
7. Quais as distinções entre a sociedade anônima e por quotas?
8. O menor de dezoito anos de idade pode ser acionista?
9. O interditado filho de acionista falecido, pode ser acionista?
10. Pode ser constituída sociedade com um único acionista?
11. Na anônima fechada, a venda de ações depende dos demais acionistas?
12. O que é mercado de balcão?
13. O que são valores mobiliários?
14. Quais são os valores mobiliários?
15. O que é a pequena sociedade anônima?
16. O que é companhia de capital autorizado?
17. Qual é a característica da companhia de capital autorizado?
18. O que é sociedade anônima de economia mista?
19. O que é sociedade multinacional?
20. A atualização monetária do capital social exige reforma do estatuto?
21. Quais as hipóteses de aumento do capital social?
22. Quais as hipóteses de redução do capital social?
23. O que é ação?
24. Como se classificam as ações, quanto ao valor que representam?
25. Quanto ao direito que conferem, como se classificam as ações?
26. A ação de fruição confere direito de voto?
27. Quais as espécies de ações, quanto à circulação?
28. Como ocorre a transferência das ações nominativas?
29. Como ocorre a transferência das ações escriturais?
30. O que é resgate e amortização de ações?
31. Qual a diferença entre resgate e reembolso de ações?
32. O que é ação ordinária e ação preferencial?
33. O que é ação nominativa e ação escritural?
34. Como é apurado o valor do reembolso de ações?
35. Há diferença entre ações e valores mobiliários?

36. Há diferença entre ação e debênture?


37. Que são partes beneficiárias e quais suas espécies?
38. Quais são as espécies de debêntures?
39. O que é debênture subordinada?
40. O que é debênture quirografária?
41. O que é agente fiduciário dos debenturistas?
42. O que é bônus de subscrição?
43. Há valor mínimo de entrada fixado para a constituição da S/A?
44. Quais as modalidades de constituição das sociedades anônimas?
45. Como ocorre a constituição sucessiva?
46. Como ocorre a constituição simultânea?
47. O que é acionista?
48. Como se define acionista controlador?
49. Não integralizadas as ações, como deve proceder a sociedade anônima?
50. Quais são os direitos essenciais do acionista?
51. O voto é direito essencial?
52. O que é maioria e minoria acionária?
53. Como é administrada a sociedade anônima?
54. O que é assembléia geral de S/A?
55. Em que consistem as assembléias especiais das sociedades anônimas?
56. A quem compete a convocação para assembléia geral da S/A?
57. Como é feita a convocação para a assembléia geral da S/A?
58. É única a forma de convocação para assembléia geral da S/A?
59. O que é quorum e quais suas espécies?
60. O que é ata de assembléia?
61. A matéria da AGO pode ser votada na AGE, ou vice-versa?
62. O que é e qual é a competência da assembléia geral ordinária?
63. Quem elege os membros do conselho de administração?
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64. O que é voto múltiplo?
65. Quais os requisitos e finalidade do uso do voto múltiplo?
66. Os poderes do conselho de administração são delegáveis?
67. Só acionista pode ser conselheiro de administração e diretor?
68. Quais são os impedimentos para os conselheiros e diretores?
69. A competência do conselho de administração colide com a dos diretores?
70. Qual é a competência da diretoria?
71. Os diretores da S/A podem delegar seus poderes a terceiros?
72. Quem elege os membros da diretoria?
73. Quem fixa e qual é o prazo de gestão dos administradores?
74. Os administradores podem responder por atos praticados em nome da S/A?
75. Como se compõe o conselho fiscal?
76. Em que diferem lucro e dividendo?
77. Qual a diferença entre fim ou finalidade e objeto social?
78. O que é dividendo obrigatório e dividendo mínimo?
79. Qual a distinção entre reserva e reserva legal?
80. O que é reserva estatutária?
81. Em que se distinguem lucro, lucro líquido e lucro final?
82. O que é reserva contingencial?
83. Pode ocorrer retenção dos lucros pela sociedade anônima?
84. O que é reserva de capital?
85. Qual a diferença entre dividendo fixo e dividendo mínimo?
86. Quais as espécies de dissolução da sociedade anônima?
87. Quais as formas de dissolução de pleno direito?
88. Quando a sociedade anônima é dissolvida por decisão judicial?
89. Quando a autoridade administrativa decide dissolver a S/A?
90. Quais são as espécies de liquidação da sociedade anônima?
91. O que é transformação de sociedade?
92. Quando ocorrem a incorporação, a fusão, ou a cisão da sociedade?
93. O que se entende por sociedades coligadas?
94. O que se entende por sociedade controladora e controlada?
95. O que é subsidiária integral?
96. O que é grupo de sociedades; quando os grupos são de direito e de fato?

97. O que se entende por consórcio de sociedades?


98. Elabore um estatuto de constituição de uma sociedade anônima.
99. O que é sociedade em comandita por ações e quais suas características?
100. Quais as diferenças entre as sociedades anônima e comandita por ações?

4º - Exercícios
01. Lia Nunes e João Dias querem constituir sociedade regular, para vender
lanches, com nome "Lia Lanches", e responsabilidade solidária e ilimitada.
Como devem proceder, que sociedade e nome comercial podem adotar?

02. Mário, casado, com l7 anos, Jair, solteiro, com l8, e Celso, solteiro,
com l7 anos de idade, querem compor sociedade regular, com responsabilidade
limitada, para explorar funilaria e pintura de veículos. Que providências,
tipo de sociedade e nome comercial podem adotar?

03. Classificar as sociedades e nomes seguintes: Cia. Sul de Seguros; Zinho


Frangos; Posto Mimo; Matos & Cia. Ltda; e Silva, Nunes & Cia.

04. Classificar: João Matos, Frangos Inho, Ladrilho Jota, piso que ilumina,
Cia. Alfa de Cera, Indústria Inca Ltda., Macarrão Sorte, e Manoel Abreu.

05. Classificar: Silva & Cia.; Tecelagem Ásia Ltda., Lopes & Lemos;
Imobiliária Norte Ltda.; Imobiliária Leste S/A; e Lanchonete Real.
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06. Classificar as atividades e nomes comerciais seguintes: Sociedade Real
de Ensino de Segundo Grau Ltda., que vende material escolar e livros para o
aprendizado; Silva & Souza, oficina mecânica; e Lima & Cia., publicidade.

07. Explorando o transporte de pessoas, Mário Prata e Bento Prado, maiores,


constituíram a sociedade Prata & Cia. Ltda., conhecida como Expresso Ouro,
firmando contrato social, levado a registro no Cartório de Títulos e
Documentos. Classificar a sociedade, o nome e a expressão assinalada.

08. Jonas Alves, gerente de Sapatos Cristal Ltda., adquiriu três veículos,
duas casas e três terrenos, pagando com cheques da sociedade, e presenteou
seus familiares. Em virtude de dificuldades financeiras da sociedade, os
cheques foram devolvidos por falta de fundos. Quem responde pelo pagamento?

09. Declarada falida a sociedade por quotas de responsabilidade limitada,


composta por Mara, Marcos e Marta, que têm respectivamente 4.500, 3.000 e
2.500 quotas, de R$ 1,00 cada, os credores receberão seus créditos, se as
dívidas somam R$ 15.000,00, e Mara não integralizou 1.500 quotas?

10. Que providências devem ser tomadas na constituição de sociedade, para


exploração do ramo de seguros?

5º - Modelos

A) - Estatuto de Constituição de Sociedade Anônima

CAPÍTULO I – DA DENOMINAÇÃO, SEDE E OBJETO SOCIAL


Art. 1º - A sociedade anônima ora constituída tem a denominação
INDÚSTRIA PAULISTA DE ALIMENTOS S/A, sendo regida pelas disposições da Lei
nº 6.404, de 1976, demais pertinentes, e pelo presente estatuto.

Art. 2º - A sede da sociedade fica nesta cidade de BAURU, estado


de São Paulo, à rua Acre, 115, podendo ter filiais, agências, escritórios,
ou depósitos, em outros locais, no território nacional ou no exterior, por
deliberação da assembléia geral, eleito o foro desta comarca de Bauru, para
todos os efeitos legais.

Art. 3º - É objeto da sociedade a produção e industrialização de


alimentos, podendo participar de outras sociedades, como acionista.

CAPÍTULO II – DO CAPITAL SOCIAL E AÇÕES


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Art. 4º - O capital social é de R$ 240.000,00 (DUZENTOS E QUARENTA
MIL REAIS), dividido em 240.000 (DUZENTAS E QUARENTA MIL) ações ordinárias,
no valor de R$ 1,00 (UM REAL) cada uma.

$ Ún. - A sociedade pode emitir certificados representativos das


ações, simples ou múltiplos, que devem ser assinados por dois diretores;

Art. 5º - A transferência ou cessão de ações somente se fará após


preenchimento dos requisitos fixados, lavrando-se termo de transferência ou
cessão no livro próprio, assinado pelas partes ou procuradores, e diretor.

CAPÍTULO III – DA ADMINISTRAÇÃO


Art. 6º - A sociedade será administrada pela diretoria, composta
por no mínimo quatro membros e no máximo oito, acionistas ou
não, pessoas físicas, residentes no país, eleitos pela
assembléia geral, para o prazo de dois anos de gestão, sendo
admitida a reeleição.

$ Ún. - Vagando qualquer dos cargos da diretoria por falecimento,


renúncia, ou outro impedimento, os diretores escolherão um substituto, que
exercerá as atribuições até o término da gestão ou cessação do impedimento;
contudo, se o impedimento atingir metade ou mais dos membros da diretoria,
novos diretores devem ser eleitos em assembléia geral.

Art. 7º - Compete a dois diretores, juntos, a representação ativa


e passiva da sociedade, e a prática de atos de gestão, mas, a diretoria,
para execução de certos atos ou serviços, pode autorizar um diretor apenas,
lavrando a ata de reunião da diretoria, a ser arquivada na Junta Comercial.

$ 1º - A diretoria tem plenos poderes de gestão, para assegurar o


funcionamento e finalidade da sociedade, inclusive de transigir, assumir
obrigações, adquirir, alienar ou gravar bens móveis e imóveis.

$ 2º - É vedada a prestação de fiança,

CAPÍTULO IV – DO CONSELHO FISCAL


Art. 8º - O Conselho Fiscal se compõe de 4 (quatro) membros, no
mínimo, e 8 (oito), no máximo, brasileiros, acionistas, domiciliados no
país, eleitos pela Assembléia Geral.

§ 1º - O mandato dos membros do Conselho Fiscal é de dois anos,


sendo permitida a reeleição;

§ 2º - Cada membro terá um suplente, escolhido da mesma forma e


pela mesma Assembléia Geral, que elegeu os titulares;

§ 3º - Vagando um dos cargos do Conselho Fiscal, por renúncia,


impedimento, ou falecimento, será ele preenchido pelo respectivo suplente,
até o término do mandato.

§ 4º - Compete ao Conselho Fiscal o desempenho das atribuições


fixadas na Lei das Sociedades por Ações, sendo escolhido como Presidente um
de seus membros, cabendo-lhes o cumprimento das deliberações do Conselho.

CAPÍTULO V – DA ASSEMBLÉIA GERAL


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Art. 9º - A Assembléia Geral, considerando o exercício social de
01/01 a 31/12, realizar-se-á até o dia 30 de abril de cada ano, em local,
dia e hora previamente fixados pelo Diretor Presidente, cabendo-lhe
examinar as contas dos diretores, aprovando-as, sendo o caso; examinar o
relatório, o balanço, e o parecer do Conselho Fiscal, e sobre eles
deliberar, na forma prevista na lei; eleger os diretores e membros do
conselho fiscal e fixar as respectivas remunerações.

Parágrafo único – A Assembléia Geral será convocada, na forma da


lei, pela Diretoria, sendo constituída pelo Presidente, ou seu substituto
legal.

CAPÍTULO VI – DISPOSIÇÕES GERAIS


Art. 10 - O exercício social da sociedade deve coincidir com o
ano civil, tendo início em 01/01, para terminar em 31/12, de cada ano,
período básico para elaboração de balanços, apuração dos resultados,
dividendos, reservas, parecer sobre amortizações, etc., conforme a
legislação pertinente.

Art. 11 – É vedado à sociedade assumir obrigações de favor, como


prestar fiança e aval, como também, fazer doações, conceder auxílios ou
contribuições não submetidas à aprovação da Assembléia Geral, e não
incluídas no respectivo orçamento.

Art. 12 – As marcas e outras espécies de Propriedade Industrial


somente serão levadas a registro após a aprovação do Conselho Fiscal.

Art. 13 - As gratificações dos membros da Diretoria e Conselho


Fiscal, por conta dos lucros da sociedade, serão fixadas anualmente e após
a aprovação da Assembléia Geral.

B) - Editais de Convocação

B.1) - Assembléia Geral de Constituição de Sociedade Anônima Fechada

SOCIEDADE ...............S/A

CGC Nº......................

SOCIEDADE ANÔNIMA FECHADA

ASSEMBLÉIA GERAL CONSTITUINTE


EDITAL DE CONVOCAÇÃO

Ficam convidados os Srs. Subscritores da sociedade ...................................., para comparecerem à


ASSEMBLÉIA GERAL DE CONSTITUIÇÃO, que se realizará no dia ......., às ......... horas, em sua sede
social localizada na cidade de..............., Estado de ............., à rua.................................................................., a fim
de discutirem e deliberarem sobre a seguinte ORDEM DO DIA:

1. CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA ....................................;

2. APROVAÇÃO DO ESTATUTO;
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ACOSTA________

3. ELEIÇÃO DOS MEMBROS DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO E DO CONSELHO FISCAL.

Presidente do Conselho de Administração

B.2) - Assembléia Geral Ordinária de Sociedade Anônima Fechada

SOCIEDADE: ..................................S/A
CGC Nº: ..................................................

SOCIEDADE ANÔNIMA FECHADA

ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA


EDITAL DE CONVOCAÇÃO

Ficam convidados os Srs. Acionistas desta sociedade para comparecerem à ASSEMBLÉIA GERAL
ORDINÁRIA, que se realizará no dia ......., às ......... horas, em sua sede social na cidade de ........................,
Estado de ............., à rua............................................................., para discutir e deliberar sobre a seguinte
ORDEM DO DIA:

Proposta do Conselho de Administração relativa à:

a) - aumento do capital social de R$.............(.....................................), para R$............... (..........................), pela


subscrição e emissão de ........ (................) ações, sendo ..........(.....................) ordinárias, e ...... (...........................)
preferenciais, sem direito a voto, todas no valor nominal unitário de R$.....(............), integralizadas em dinheiro,
mediante o pagamento no ato da subscrição de .......% (.............), do valor das ações subscritas e os restantes .......
% (.............), em duas parcelas iguais, no prazo de ........e .......... dias contados da subscrição;

b) - alterações estatutárias conseqüentes.

Presidente do Conselho de Administração

BIBLIOGRAFIA

1. ALMEIDA, AMADOR PAES DE – Manual das Sociedades Comerciais, 8ª ed.,


Saraiva, 1995;

2. BULGARELLI, WALDIRIO - Sociedades Comerciais, 6ª ed., Atlas, 1996;

3. BULGARELLI, WALDIRIO - Manual das Sociedades Comerciais, 8ª ed.,


Atlas, 1996;

4. COELHO, FÁBIO ULHOA – Manual de Direito Comercial, 4ª ed., Saraiva,


1993;

5. COELHO, FÁBIO ULHOA – Código Comercial e Legislação Complementar


Anotados, Saraiva, 1995;
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 76
ACOSTA________
6. FÜHRER, MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO – Resumo de Direito Comercial,
7ª ed., Revista dos Tribunais, 1989;

7. MARTINS, FRAN – Curso de Direito Comercial, 15ª ed., Forense, 1990;

7. REQUIÃO, RUBENS – Curso de Direito Comercial, 21ª ed., 1º e 2º


volumes, Saraiva, 1993.

TERCEIRA PARTE

TÍTULOS DE CRÉDITO

SUMÁRIO
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 77
ACOSTA________

I – NOÇÕES GERAIS II- LETRA DE CÂMBIO


1º- Origem e conceito 1º- Conceito
2º- Características 2º- Aceite
3º- Princípio da inoponibilidade 3º- Protesto e Direito de Regresso
4º- Endosso 4º- Requisitos Essenciais ou Extrínsecos
5º- Aval 5º- Circulação
6º- Classificação 6º- Apresentação
7º- Espécies 7º- Oposição ao Pagamento
8º- Questionário 8º- Prescrição
9º- Questionário
III– NOTA PROMISSÓRIA
1º - Conceito IV - CHEQUE
2º - Requisitos Essenciais 1º- Conceito
3º - Circulação e Pagamento 2º- Requisitos Essenciais
4º - Questionário 3º- Espécies de Cheque
4º- Circulação
V- DUPLICATA 5º- Apresentação
1º- Noções Gerais e Conceito 6º- Oposição ao Pagamento
2º- Requisitos Essenciais 7º- Revogação da Ordem
3º- Aceite 8º- Cobrança
4º- Protesto 9º- Prescrição
5º- Pagamento 10º- Questionário
6º- Prescrição
7º- Questionário VI- CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E WARRANT
1º- Noções Gerais e Conceito
VII– CONHECIMENTO DE TRANSPORTE 2º- Modelo de Conhecimento de depósito
1º- Noções Gerais e Conceito 3º- Modelo de warrant
2º- Modelo de Conhecimento de Transporte 4º- Questionário
3º- Questionário

VIII- TÍTULOS DE PARTICIPAÇÃO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO


1º- Noções Gerais, Conceito e Espécies
2º- Modelos
3º- Questionário

QUADRO SINÓTICO

I – NOÇÕES GERAIS

1º- Origem e Conceito {idade média - letra de câmbio - cambistas – Itália -


troca = valor presente/valor futuro – documento –
exercício de direito literal e autônomo -

2º- Características {cartularidade – literalidade – autonomia – abstração -

3º- Princípio da inoponibilidade {defesa real/pessoal – terceiro de boa fé-

4º- Endosso {circulação - transferência {assinatura = em preto –


em branco = tradição -
endossante = codevedor solidário – direito de regresso -
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 78
ACOSTA________
endossatário = novo credor -

5º- Aval {garantia – terceiro ou codevedor – assinatura do avalista -


avalista = codevedor solidário – direito de regresso –
distinção da fiança = fiador – direito civil –

6º- Classificação {circulação = nominativo - à ordem - ao portador -


natureza = próprio/perfeito – impróprio/imperfeito – de
legitimação - causal – de participação - financiamento -
investimento -

7º- Espécies {letra de câmbio - nota promissória – cheque – duplicata –


conhecimento de depósito e warrant - conhecimento de
transporte – cédula de crédito rural – cédula de crédito
industrial – cédula de crédito comercial – cédula de crédito
à exportação - de investimento – notas de crédito -
debêntures - etc.

8º- Questionário

I – NOÇÕES GERAIS

1º - Origem e Conceito

Título de crédito, em sentido amplo, é o documento representativo da


troca de um valor presente por um valor futuro, retratando a confiança do
credor no cumprimento da obrigação pelo devedor; em sentido jurídico, é o
documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele
indicado, pois, é necessária a sua exibição, para que o portador ou credor
possa exigir o cumprimento da obrigação por ele representada, na data nele
prevista.

Portanto, trata-se de um documento, mas, não de um documento comum,


por ter características próprias, e ser impresso de conformidade com o
padrão estabelecido em lei, tendo a sua emissão e circulação também
disciplinadas por leis especiais, que integram o direito cambiário.
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ACOSTA________
O título de crédito surgiu na idade média, com o emprego da letra de
câmbio, por corretores de câmbio e banqueiros, nas cidades italianas, pela
necessidade de troca de moedas pelos mercadores. Intensificado o seu uso
pelo interesse na circulação de capitais, provocou o surgimento da nota
promissória, sendo ambos disciplinados por lei, inspirando, posteriormente,
a criação de outros títulos de crédito, como o cheque, a duplicata, etc.

2º - Características
A segurança do credor, que possibilita a circulação dos títulos de
crédito, se efetiva pelas características a eles conferidas pela lei, como
a cartularidade, a literalidade, a autonomia e a abstração.

Cartularidade é a materialização do direito pelo título, que deve ser


exibido, para se exigir o cumprimento da obrigação; a literalidade consiste
na limitação da obrigação ao que está escrito no título, o que pode ser
exigido pelo credor e que é assumido pelo devedor. Essas características se
distinguem, porque a primeira se refere à obrigatoriedade da exibição do
título, que incorpora o direito, e a segunda por limitar ou expressar o
direito, que nele está escrito.

Autonomia é a independência das relações jurídicas de crédito e


débito representadas pelo mesmo título, de modo que, a obrigação assumida
pelo devedor, ante o seu credor direto, não atinge as obrigações assumidas
pelos codevedores, nem a obrigação assumida por estes ante os seus credores
diretos atinge aquela, bem como, o vício de uma delas não atinge as demais,
pois, um título de crédito, como a nota promissória, pode ser emitido em
razão de uma negociação, que ele não indica, e ser objeto de outras, assim
que transferido pelo credor, para terceiro, que se torna novo credor.

A Abstração é a desvinculação da obrigação representada pelo título,


do negócio que lhe dá causa, pois, emitido, ele se liberta da sua origem,
que não pode ser alegada, para o descumprimento da obrigação. Difere da
autonomia, porque esta se refere à independência do direito adquirido na
relação negocial, e aquela à causa de origem de emissão do título, que
pode ser alegada pelo credor, quando o devedor se recusa a cumprir a
obrigação, alegando defeitos, divergência, ou arrependimento, na aquisição
de bem, que provocou a emissão do título de crédito; e a autonomia, quando
o devedor alega, que já pagou o seu credor direto, ou que a dívida assumida
com o credor direto decorre de ato ilícito.

3º- Princípio da Inoponibilidade

Há ainda o principio da inoponibilidade das exceções de defesa, que é


ligado à autonomia, e protege o terceiro de boa fé, que é o endossatário ou
portador, ao qual não pode ser oposta a defesa baseada em relações pessoais
do devedor acionado e o seu credor direto, salvo se o terceiro é de má fé.

É aplicável o principio da inoponibilidade das exceções de defesa,


quando o devedor acionado pelo endossatário, ou portador de boa fé, se
recusa a pagar, alegando que o título resulta de dívida de jogo; ou se o
codevedor acionado pelo terceiro de boa fé, alega incapacidade do sacador,
falsidade ou falsificação da assinatura deste, ou dívida de jogo. Recusado
o pagamento da dívida representada pelo título de crédito, o credor pode
promover ação judicial de execução, forçando o cumprimento da obrigação.

4º - Endosso
O título de crédito pode circular, passando das mãos do credor para
novo credor, por endosso, que é o ato unilateral de declaração de vontade,
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ACOSTA________
pelo qual se transfere o título de crédito e os direitos nele incorporados;
o credor se torna endossante, e o novo credor, endossatário.

Em regra, salvo certas espécies expressamente previstas pela lei, o


endosso produz dois efeitos: confere ao endossatário, ou portador, todos os
direitos de credor, e converte o endossante, que era credor, em devedor
solidário, com o devedor principal. Pelo endosso é transferida a posse e a
propriedade do título, pois, é proprietário o seu portador legítimo. Efeito
diverso produz o endosso procuração e o endosso em garantia.

O endosso pode ser em branco ou em preto; em branco, ou ao portador,


é representado apenas pela assinatura do endossante, sem designar o nome do
novo credor, que é endossatário, permitindo posteriores transferências por
tradição manual, sem comprometer as pessoas que transferirem o título; em
preto é representado pela assinatura do endossante e nome do endossatário,
ou ordem de pagamento a este, que pode negociar o título por novo endosso,
tornando-se endossante, codevedor, responsável solidário pelo pagamento.

5º- Aval
Ao negociar, recebendo um título de crédito, o credor pode exigir que
o devedor apresente uma outra pessoa, para garantir o pagamento, que é o
avalista. Aval é a garantia dada por terceiro, ou qualquer das pessoas já
obrigadas no título de crédito, do cumprimento da obrigação assumida por um
devedor, ou um ou mais de um codevedor, através de um título de crédito.
Resulta da assinatura do avalista e lhe confere responsabilidade solidária
pelo cumprimento da obrigação cartular, literal, autônoma e abstrata, em
favor do avalizado, devedor ou codevedor de título de crédito.

Há semelhanças entre aval e endosso, pois, ambos são instituídos pelo


direito cambiário, atribuem responsabilidade solidária, e se sujeitam aos
princípios cambiários; mas, se distinguem, porque o primeiro atribui a quem
o presta, que é o avalista, a qualidade de devedor pela garantia prestada,
enquanto o segundo atribui, a quem era credor e firmou o endosso, passando
à condição de endossante, a qualidade de codevedor, por ter negociado o
crédito representado pelo título. O aval difere ainda da fiança, por ser
disciplinado pelo direito cambiário, exclusivamente prestado em títulos de
crédito, é obrigação principal, cartular, autônoma, abstrata, o avalista é
devedor solidário com os demais, e se sujeita à inoponibilidade das
exceções de defesa.

A fiança é garantia prestada nas obrigações de natureza civil,


disciplinada no Código Civil, é garantia acessória, formal, que acompanha
um obrigação ou contrato principal, de cuja validade depende, não lhe é
aplicável o principio cambiário, e o fiador pode se valer dos benefícios de
ordem instituídos na lei civil, para exigir que seja primeiro acionado o
devedor principal. Portanto, não se pode admitir fiança prestada em títulos
de crédito, pois, é garantia prestada no cumprimento de obrigação assumida
em contrato, que é assinado pelos contratantes.

6º - Classificação
Os títulos de crédito em circulação atualmente, são classificados,
conforme a circulação e conforme a sua natureza. Conforme a circulação
podem ser nominativos, à ordem e ao portador; e conforme a natureza, podem
ser próprios ou perfeitos, impróprios ou imperfeitos, de legitimação,
causais, de participação, de financiamento e de investimento.

Nominativos são os títulos que contêm em seu texto o nome do


favorecido, sem as expressões ou à sua ordem, tendo circulação restringida,
pois, circulam por endosso, com efeito de cessão comum de crédito. Ex.: as
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ACOSTA________
ações das sociedades anônimas. À ordem são aqueles que contêm em seu texto
o nome do favorecido acompanhado das expressões ou à sua ordem, que estão
impressas no título, circulando mediante endosso cambiário. Ao portador são
os que contêm, no local destinado ao nome favorecido, as expressões ao
portador, ou nada contêm, permanecendo em branco aquele espaço, sem ser
declarado o nome do favorecido; sua circulação ocorre mediante tradição
manual, isto é, simples entrega do título ao novo credor, sem vincular como
codevedores, pela inexistência do endosso, ex-credores, que o transferirem.

Os títulos nominativos e à ordem se distinguem porque contêm, estes,


a cláusula à ordem, que permite a circulação pelo endosso cambiário e a
cobrança em ação de execução, e aqueles não a contêm e circulam por endosso
com efeito de cessão de crédito, sendo cobrados em ação de conhecimento.

O título ao portador pode ser convertido em nominativo, pelo emitente


ou credor, que lançar o nome do favorecido no título e modificar a cláusula
ou à sua ordem, em não à ordem, caso em que, tendo endosso, este tem efeito
de cessão civil, não cambiário. O nominativo não pode ser modificado em
título ao portador, mas pode circular por tradição manual, com o lançamento
de endosso em branco, mesmo tendo o efeito de cessão de crédito.

O título ao portador pode ser modificado para à ordem, pelo emitente,


ou portador, que inserir o nome do favorecido, mantendo a cláusula à ordem,
para facultar a circulação pelo endosso cambiário e vincular os endossantes
como codevedores solidários. Entretanto, o título à ordem não pode ser
alterado ou emitido ao portador, porque o nome do favorecido é requisito
essencial, cuja falta provoca a nulidade do título, mas, pode ser endossado
em branco, passando a circular por tradição manual.

O título à ordem pode ser convertido em nominativo, se alterada a


cláusula ou à sua ordem, em não à sua ordem, circulando pelo endosso com
efeito de cessão civil, mas, o nominativo não pode ser convertido em título
à ordem, tendo sempre, o seu endosso, o efeito de cessão civil de crédito.

Título de crédito próprio ou perfeito é aquele que representa uma


operação de crédito e débito de qualquer natureza, como o empréstimo, ou a
compra e venda para pagamento à prazo, ou a prestação de serviço para
pagamento à prazo, etc. São títulos de crédito próprios ou perfeitos a
letra de câmbio e a nota promissória, porque os demais resultam de negócios
especificados pela lei.

Título de crédito impróprio, imperfeito, ou cambiariforme, é aquele


que, embora represente o crédito resultante de uma operação de crédito e
débito, tendo características e proteção dos princípios cambiários, não
pode incorporar crédito de qualquer natureza, mas, apenas determinados
créditos, decorrentes de específicas causas originárias, previstas em leis
especiais, que lhes atribuem diversas funções, como o cheque, a duplicata,
o conhecimento de depósito, etc., que representam, respectivamente, crédito
por ordem de pagamento à vista, compra e venda de mercadorias ou prestação
de serviço, depósito de mercadorias junto ao Armazém Geral.

Esses títulos não podem representar crédito de relações distintas


daquelas especificadas na lei, sob pena de nulidade, como se verifica com a
eventual emissão de uma duplicata, em razão de empréstimo de dinheiro, ou
qualquer outro negócio, que não seja a compra e venda de mercadoria ou
prestação de serviços, pois, a duplicata somente pode ser emitida por
empresário regular. Também não pode ser emitido um cheque pelo Armazém
Geral, para representar o crédito de mercadoria ali depositada, porque o
cheque é ordem de pagamento em dinheiro, não de entrega de mercadoria.
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ACOSTA________
O cheque pode ser emitido em negociação de qualquer natureza, porém,
apenas por quem tem conta bancária, pois é fornecido em talonários, aos
clientes, pelo estabelecimento bancário, tendo função de ordem de pagamento
à vista.

Mesmo não ligado à causa originária, podendo representar o crédito de


inúmeras operações de crédito e débito, o cheque é considerado título de
crédito imperfeito, impróprio ou cambiariforme, porque configura ordem de
pagamento à vista, não propriamente crédito a ser satisfeito no futuro, e a
sua emissão implica ainda em provisão de fundos e pagamento pelo sacado.

Título de legitimação é aquele que deixa de conferir ao seu portador


direito subjetivo de percepção de pagamento em dinheiro, para lhe conferir
direito de receber uma coisa ou prestação de um serviço, como ocorre com o
conhecimento de depósito, o conhecimento de transporte, o ingresso em casas
de espetáculos públicos, o bilhete de passagem, etc.

Título causal é o que mantém estreita ligação com a causa ou negócio


do qual se origina, em virtude da sua específica função, podendo depender,
em determinados casos, do cumprimento de formalidades legais, que podem
descaracterizar a sua natureza cambiária. É título causal a duplicata, por
ser emitida pelo comerciante ou prestador de serviço, credor na venda de
mercadoria ou prestação de serviço, estando sujeita ao aceite do comprador,
devedor ou à existência do comprovante de remessa ou entrega da mercadoria,
ou do serviço prestado. Pela falta do aceite e do comprovante da remessa ou
entrega da mercadoria, ou serviço prestado, a primeira relação jurídica,
mantida entre o credor, vendedor ou prestador de serviço, e o devedor, que
é o comprador ou quem recebeu o serviço prestado, não tem efeito cambiário,
impedindo o portador de cobrar o devedor, através de ação de execução, mas,
pode promover ação de execução em relação ao endossante, se resguardou o
direito de regresso pelo protesto obrigatório.

7º - Espécies
Os títulos de crédito mais importantes, disciplinados pelo direito
cambiário, são: letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata,
conhecimento de depósito e “warrant”, conhecimento de transporte, títulos
de financiamento rural, títulos de financiamento industrial, títulos de
financiamento comercial e à exportação, como as cédulas de crédito e as
notas de crédito, e títulos de investimento, entre estes os certificados de
depósito bancário, as debêntures, etc.

8º - Questionário
1- O que é título de crédito?
2- O título de crédito pode ser feito por qualquer pessoa ou computador?
3- Por que o credor tem o crédito assegurado pelo título de crédito?
4- Em que consistem a cartularidade e a literalidade?
5- Exemplifique a diferença entre a cartularidade e a literalidade.
6- O que significa a autonomia dos títulos de crédito? Exemplifique.
7- Em que consiste a abstração dos títulos de crédito? Exemplifique.
8- Quando e quem pode alegar a inoponibilidade da defesa?
9- A quem protege a inoponibilidade da defesa?
10- Quais as diferenças entre endossante e endossatário?
11- O que e quais as espécies de endosso?
12- Como é negociado o crédito representado por título de crédito?
13- Quais os efeitos do endosso?
14- Por que o endosso procuração não produz os efeitos comuns do endosso?
15- Que efeitos produz o endosso em garantia?
16- Quais as diferenças entre endosso em branco e em preto?
17- O que é aval e qual é a responsabilidade do avalista?
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 83
ACOSTA________
18- O endossante ou avalista, que paga a dívida, pode ser ressarcido?
19- Quais as diferenças entre endosso e aval?
20- Quais as diferenças entre endosso e fiança?
21- Como se classificam os títulos de crédito, quanto à circulação?
22- Quais as diferenças entre título nominativo e à ordem?
23- Quais as diferenças entre título à ordem e ao portador?
24- O título de crédito nominativo pode ser convertido em título à ordem?
25- O título de crédito ao portador pode ser convertido em nominativo?
26- Quais são os títulos nominativos?
27- Enumere quatro títulos à ordem.
28- Mencione três títulos ao portador.
29- Não é vedada a emissão do cheque ao portador?
30- São nulos a nota promissória e o cheque ao portador?
31- O que é título de crédito perfeito ou próprio? Exemplifique.
32- Em que consiste o título de crédito imperfeito? Exemplifique.
33- Uma cédula de crédito comercial é título de crédito perfeito?
34- Quais as diferenças entre título de crédito causal e de legitimação?
35- Enumere alguns títulos de crédito, indicando a sua natureza.

QUADRO SINÓTICO

II - L E T R A DE CÂMBIO

1º- Conceito {idade média – troca de moedas – cidades italianas –


moedas distintas – corretores de câmbio – banqueiros –
períodos: italiano – francês – germânico –
ordem de pagamento – sacador – sacado – favorecido-

2º- Aceite {sacado = sem vínculo obrigacional -


aceitante = devedor principal – direito direto -
recusa {protesto – efeito = vencimento antecipado-

3º- Protesto e direito de regresso = cobrança dos codevedores solidários -


{obrigatório {apresentação ao cartório = primeiro dia útil -
efeito = direito de regresso -
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 84
ACOSTA________
facultativo {após primeiro dia útil – efeito moral -
cláusula {sem despesa - sem protesto - dispensa do protesto –
comprovação da recusa por forma diversa –

4º- Requisitos Essenciais {Extrínsecos - enumerados na lei – denominação –


ordem de pagar certa quantia - nome do sacado –
nome do favorecido – data da emissão -
assinatura do sacador = ausência = nulidade -
supríveis = data e local do pagamento – local
da emissão – letra à vista –
preenchimento posterior – emissão/procuração -

5º- Circulação {endosso – transferência formal – assinatura do endossante -


endossante = anterior credor - codevedor solidário –
endossatário = novo credor -
espécies {em branco = assinatura do endossante – tradição manual -
em preto = assinatura do endossante e nome do endossatário-
responsabilidade cambiária = codevedores = direito de regresso -

6º- Apresentação {antes do vencimento = sacado = aceite –


no vencimento = pagamento = sacado – aceitante –
pagamento/aceitante = liberação de codevedores –
pagamento parcial = recusa do saldo –
direito de regresso - protesto obrigatório -

7º- Oposição ao Pagamento {pagamento mal efetuado - antes do vencimento -


notificação extrajudicial – sacado/aceitante –
endossantes - avalistas -

8º- Prescrição {perda = ação de execução – inércia do credor – prazo legal-


três anos = aceitante/avalista - do vencimento -
um ano = sacador/endossante/avalista - protesto obrigatório
ou vencimento = cláusula sem protesto -
seis meses = endossante contra endossante/sacador –
do pagamento ou dia em que foi acionado -

9º- Modelos de letra de câmbio

10º- Questionário

II - LETRA DE CAMBIO

1º - Conceito

A letra de câmbio é ordem de pagamento à vista ou à prazo feita pelo


sacador, para o sacado pagar certa quantia ao favorecido, na data fixada;
portanto, figuram na emissão da letra de câmbio, três pessoas: o sacador,
emitente do título e ordem de pagamento; o sacado, a quem é dirigida a
ordem e pelo aceite se torna aceitante e devedor principal; e o favorecido,
que é o credor, a quem deve ser efetuado o pagamento.

O sacador emite a letra de câmbio, em virtude de débito contraído ou


a ser contraído junto ao favorecido, que é o seu credor direto, portanto, o
sacador e o favorecido são integrantes da relação jurídica, que ocasiona a
emissão. Contudo, essa relação jurídica incluí o sacado, a quem é dirigida
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 85
ACOSTA________
a ordem de pagamento, para que este pague o favorecido, certamente, porque
entre o sacador e o sacado houve anterior relação de crédito, pela qual o
sacado assumiu junto ao sacador, dívida não representada por título.

O sacador pode emitir a letra ou ordem de pagamento para si mesmo,


sendo sacador e sacado ou aceitante, assumindo a letra a função de nota
promissória, pois, ao se colocar como sacado, ele aceita a dívida e, como
devedor, promete pagá-la; também pode emití-la em seu próprio favor, se
colocando como favorecido, neste caso, ele é credor direto do sacado.

2º - Aceite
Após a emissão, a letra deve ser apresentada ao sacado para o aceite,
que se configura pela assinatura deste, correspondendo à aceitação da ordem
a ele dirigida, mas, se não aceitar, não se vincula ao título como devedor,
não tendo, neste caso, devedor principal na letra de câmbio, pois, o sacado
só se torna responsável cambiário com o aceite, como aceitante e devedor
principal. A falta de aceite é comprovada pelo protesto obrigatório, que
resguarda o direito de regresso, para facultar a cobrança de codevedores.

Exemplos de letra de câmbio:

Vencimento:...de.........de....
Nº...... R$:................
............,...de.........de....

Aos............................., pagar....V.Sa. por esta


.......via de LETRA DE CÂMBIO, a................................
......................... ou à sua ordem, a importância de.........
............................................................., e no
dia do vencimento fará.....pronto pagamento, em .........
Ao Sr:................ *
...................... ***........................
..................** ****.......................

* = nome e endereço do sacado; ** = assinatura do sacado = aceitante;


*** = local e data da emissão; **** = assinatura do sacador.

Vencimento: 02 de janeiro de 1998.


Nº.... R$: 2.000,00...........
Bauru, 02 de dezembro de 1997.

Aos dois dias de janeiro de 1998, pagar Á V.Sa. por esta única via
de LETRA DE CÂMBIO, a ALVARO DOS REIS BATISTA , ou à sua ordem, a
importância de DOIS MIL REAIS , e no dia do vencimento fará em Bauru o
pronto pagamento, em moeda nacional.
Ao Sr. MARCOS DE SOUZA...... Bauru,02 de dezembro de 1997.
Rua Arco Verde nº 222-Bauru .....Célio Ramos......
.................... (as. sacado) (assinatura)

SACADOR: CÉLIO RAMOS = codevedor; SACADO: MARCOS DE SOUZA = não é obrigado;


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ACOSTA________
FAVORECIDO: ALVARO DOS REIS BATISTA = credor.

3º - Protesto e Direito de Regresso


O protesto é ato extrajudicial praticado por oficial de cartório, que
tem fé pública para certificar o descumprimento da obrigação, e se efetiva
por declaração escrita lançada no título e em instrumento separado entregue
ao apresentante, após a notificação do aceitante ou sacado, pelo cartório,
e o decurso do prazo fixado para cumprir a obrigação, ou praticar o ato.

Quanto ao efeito, o protesto pode ser obrigatório ou conservatório, e


facultativo; quanto à obrigação pode ser por falta de aceite ou pagamento.
É obrigatório aquele que, além de comprovar o descumprimento da obrigação,
tem por finalidade resguardar o direito de regresso, e para tanto, tem como
condição a apresentação da letra de câmbio ao cartório no primeiro dia útil
imediatamente seguinte ao vencimento; caso contrário, sacador, endossantes
e respectivos avalistas ficam liberados da obrigação cambiária, cobrada em
ação de execução, através da qual o devedor tem prazo de vinte quatro horas
para pagar, sob pena de penhora de bens.

Se é limitado o aceite, o aceitante se obriga pelo valor aceito, e os


codevedores respondem pelo total, se conservado o direito de regresso, pelo
protesto obrigatório, pois, a limitação do aceite corresponde à recusa pelo
valor não aceito.

Assim, o protesto obrigatório, como instituto do direito cambiário,


produz os seguintes efeitos: comprova a recusa de aceite pelo sacado, ou o
descumprimento da obrigação pelo aceitante, conserva o direito de regresso,
que permite a cobrança dos codevedores, e ainda, antecipa o vencimento pela
recusa de aceite, fixa o vencimento da letra à vista, e o inicio do prazo
do vencimento da letra a certo termo da vista.

A comprovação da recusa do aceite é feita pela apresentação da letra


ao cartório em qualquer dia, até o primeiro útil imediatamente seguinte ao
vencimento, e da recusa do pagamento, no primeiro dia útil imediatamente
seguinte ao vencimento, para assegurar, em qualquer dos casos, o direito de
regresso, que permite a ação de execução em relação aos codevedores, que
são sacador, endossantes e seus respectivos avalistas.

Direito de regresso, no direito cambiário, é o conservado pelo


protesto obrigatório, pelo credor, ou codevedor que paga, de cobrar o valor
incorporado pelo título dos codevedores, em ação de execução. Direito
próprio é o de cobrança do devedor principal, e que dispensa o protesto.

Protesto facultativo é aquele que produz o efeito de coação moral do


devedor, apenas, sem resguardar direitos, podendo o título ser apresentado
ao cartório em qualquer data.

As distinções entre protesto obrigatório e facultativo são: o


primeiro é lavrado, mediante a entrega do título ao cartório, no primeiro
dia útil seguinte ao vencimento, tendo a finalidade de resguardar o direito
de regresso; o segundo independe de prazo de apresentação do título, sendo
a qualquer tempo, e produz apenas efeito de coação moral do devedor, por
dificultar a concessão de empréstimos ou financiamentos.

O protesto deve ser por falta de aceite, se há recusa ou falta de


aceite, e de pagamento, se há aceite, sendo recusado o pagamento; não pode
ser promovido o protesto por falta de pagamento, se não há aceite, porque o
sacado não é devedor, não estando obrigado ao pagamento.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 87
ACOSTA________
Colocando-se, o sacador, como favorecido, não colocada a letra de
câmbio em circulação e recusado o aceite, não produz o efeito cambiário,
pela inutilidade do protesto por falta de aceite, por conservar direito de
regresso do favorecido em relação ao sacador, ele próprio. Porém, colocada
em circulação e conservado o direito de regresso pelo protesto obrigatório,
pelo endossatário, o sacador-favorecido e primeiro endossante é responsável
cambiário pelo pagamento da quantia representada pelo título.

Além da recusa do aceite, total ou parcial, comprovada pelo protesto,


também a falência do aceitante antecipa o vencimento da letra. A lei admite
o cancelamento do aceite, se feito antes da devolução ao apresentante, mas,
equivale à recusa, a ser comprovada pelo protesto.

É desnecessário o protesto para ser promovida a cobrança, através de


ação de execução, do aceitante, por ser devedor principal. Apenas por falta
de aceite, o titulo deve ser protestado para permitir a ação de execução
em relação aos endossantes, sacador e avalistas. Não havendo protesto
obrigatório, nem aceite, não pode ser a letra cobrada em ação de execução,
mas, somente por outro procedimento judicial, mais moroso e dependente de
produção de outras provas.

O endossante que paga o endossatário, obtendo deste a quitação no


título, pode exercitar o direito de regresso, se conservado pelo protesto
obrigatório, exigindo o pagamento, ou promovendo ação de execução contra os
endossantes anteriores, sacador, ou seus avalistas. Os mesmos motivos, que
impedem a recusa de pagamento pelo devedor principal são aplicáveis aos
endossantes, quando cobrados, através de ação de execução.

O protesto pode ser cancelado pelo cartório, se o devedor apresentar


a letra quitada, ou declaração firmada pelo credor do pagamento efetuado,
ou por sentença do juiz, em processo de iniciativa do devedor. O protesto
não interrompe nem suspende a prescrição. Ao ser notificado da apresentação
do título para protesto, antes do decurso do prazo para o pagamento, o
devedor, no caso de ter direito de não pagar, como a falsidade da sua
assinatura, pode promover a ação judicial de sustação do protesto.

4º - Requisitos Essenciais ou Extrínsecos


São designados de requisitos essenciais ou extrínsecos da letra de
câmbio os elementos expressamente enumerados pela lei, que devem integrar o
texto do título sob pena de nulidade: a denominação do título “Letra de
Câmbio” inserida no seu texto, a ordem de pagar determinada quantia, o nome
do sacado, a data e o local do pagamento, o nome do favorecido, a data e o
local da emissão, e a assinatura do sacador.

A quantia a ser paga não pode ser expressa em outra espécie, que não
seja a moeda de curso forçado, exceto as letras de câmbio usadas pelas
instituições financeiras, que podem ter o valor representado por índices
fixados pelo governo federal, e as destinadas a operações internacionais,

que podem ser emitidas em moeda estrangeira, para pagamento em moeda


nacional, pelo câmbio do dia do vencimento, ou do pagamento; nesses casos,
o pagamento pode ser efetuado em moeda estrangeira, se o sacador lançar na
letra cláusula nesse sentido. Havendo divergência entre os valores numérico
e extenso, lançados no título, prevalece a validade da quantia por extenso.

A falta de data do vencimento na letra de câmbio não ocasiona a sua


nulidade, sendo considerada de vencimento à vista. As épocas de vencimento
da letra de câmbio podem ser: à vista, a um certo termo de vista; a um
certo termo ditada; e em dia fixo.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 88
ACOSTA________
À vista é a letra de câmbio sem indicação do dia do vencimento ou que
contém no local da data as expressões à vista, vencendo no dia da
apresentação ao sacado. Recusado o pagamento, a letra deve ser protestada
por falta de aceite, o que fixa o vencimento e conserva o direito de
regresso. É de um ano o prazo de apresentação da letra à vista ao
pagamento, devendo no primeiro dia útil imediatamente seguinte ao curso do
ano ser entregue para protesto, sob pena de perda do direito de regresso.

À um certo termo de vista é a letra, que vence após um número de


dias, meses ou anos, nela indicado, contados do aceite ou protesto por
falta de aceite. A apresentação ao aceite ou protesto deve ser em um ano,
quando expira o prazo de apresentação, iniciando o vencimento.

A um certo termo da data é a letra que vence após decurso de dias, ou


meses indicados, contados da data da emissão; e com vencimento em dia fixo
é a que tem data do vencimento indicada no texto, podendo, nos dois casos,
ser antecipado o vencimento por recusa do aceite e falência do aceitante,
desde que o título seja entregue ao cartório para o protesto.

O favorecido, primeiro credor também designado de tomador, é titular,


proprietário dos direitos incorporados na letra de câmbio, que deve conter
o seu nome, não podendo ser ao portador, sob pena de nulidade. No mercado
financeiro, na área de investimento, pode ser emitida a cambial financeira
pelas instituições financeiras, como título de investimento, sem conter o
nome do favorecido, por se destinar à negociação com o público.

A letra pode ser emitida sem alguns dos requisitos essenciais, ou em


branco, pois, a lei admite preenchimento posterior, quando da apresentação
para pagamento, protesto, ou promoção da ação de execução, devendo ser
assinada pelo sacador, ou procurador por este constituído em procuração
particular ou pública. A data da emissão é essencial sob pena de nulidade,
para determinar o prazo de apresentação quando à vista, à certo de vista ou
de data, ou para se constatar a incapacidade do sacador, etc.

5º - Circulação
A letra de câmbio circula pelo endosso, que é o ato de transferência,
pela negociação promovida pelo credor, que se torna endossante, responsável
como codevedor solidário pelo pagamento, enquanto o novo credor é designado
endossatário. O endosso pode ser em branco, sem designação do endossatário,
podendo circular por tradição manual, sem vincular os portadores anteriores
como devedores, pois, a vinculação do endossante como codevedor depende da
sua assinatura, se exigida pelo credor. O endosso é em preto, quando a
assinatura do endossante é acompanhada do nome do endossatário.

Responsabilidade cambiária é a condição de devedor assumida pelas


pessoas que firmam a letra de câmbio, ou outro título de crédito protegido
pelas leis cambiarias, que conferem ao credor o direito de promover a ação
de execução contra o devedor ou codevedores, que não cumprem a obrigação.

O codevedor, pagando o débito incorporado por letra de câmbio, se


sub-roga no direito de credor, podendo cobrar os codevedores anteriores ou
o devedor principal. Os codevedores se liberam da obrigação, se o
endossatário ou portador não providenciar o protesto obrigatório do título,
pela entrega, no primeiro dia útil seguinte ao vencimento, ao cartório,
para conservar o direito de direito de regresso.

6º - Apresentação
A letra pode ser apresentada antes do vencimento, ao sacado, para o
aceite, ou no vencimento, para o pagamento, ao sacado ou ao aceitante, e
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 89
ACOSTA________
sendo efetuado o pagamento, deve ser dada a quitação, pelo credor, no
título, que é restituído ao devedor, liberando todos os codevedores.

Se o aceitante, devedor principal, ofertar pagamento parcial do valor


da letra, não pode o portador recusá-lo, devendo anotá-lo no título, a ser
mantido em seu poder, para cobrar o valor não pago dos codevedores, em ação
de execução, se conservar o direito de regresso, pelo protesto obrigatório.

7º - Oposição ao Pagamento
O portador não é obrigado a receber o pagamento antes do vencimento,
mas, se ofertado, quem paga se torna responsável pela validade do pagamento
efetuado, e, pagando mal, pode ser compelido a pagar novamente, como ocorre
no caso de perda do título, em que o credor fica impedido de providenciar a
comunicação devida para o pagamento não se efetuar.

No caso de extravio, falência ou incapacidade, o credor do título, ou


o síndico, ou o curador, devem manifestar oposição ao pagamento diretamente
ao devedor por carta registrada ou com aviso de recebimento, ou mediante
notificação extrajudicial remetida ao sacado ou aceitante, endossantes e
avalistas, que se obrigaram na letra.

8º - Prescrição
Prescrição é a perda da ação correspondente à defesa de um direito
violado, pela inércia do titular, durante o decurso de um prazo determinado
pela lei. O direito do credor de compelir o devedor de uma letra de câmbio
a cumprir a obrigação de pagar a quantia por ela incorporada é disciplinado
pela lei cambiária e pelo Código de Processo Civil, através da ação de
execução. Portanto, a pretensão do credor de exigir o pagamento se verifica
pela propositura da ação de execução, que tem por finalidade expropriar
bens do devedor, após penhora e venda pública, para pagamento do credor.

Decorrido o prazo de prescrição não pode ser promovida a ação de


execução, mas, pode ser feita a cobrança ainda em ação judicial, dependente
de sentença condenatória proferida pelo juiz, após a produção de provas,
enquanto na ação de execução, o credor não se sujeita a provar seu direito.

A ação de execução é promovida antes do decurso da prescrição,


contra: o aceitante, mesmo sem protesto do título; o sacador, endossantes e
seus avalistas, se recusado o aceite, e entregue a letra ao cartório antes
ou até o primeiro dia útil imediatamente seguinte ao vencimento, ou se
recusado o pagamento, e entregue a letra ao cartório no primeiro dia útil
imediato ao vencimento, para protesto obrigatório.

Os prazos de prescrição previstos na lei são:

a) três anos, para as ações contra o aceitante e seu respectivo avalista, a


contar do vencimento;
b) um ano, para as ações do portador contra o sacador, endossantes e seus
avalistas, a contar do protesto obrigatório, ou do vencimento, na letra com
a cláusula “sem despesas” ou “sem protesto”, que dispensa o protesto;
c) seis meses, para as ações do endossante que paga, contra os endossantes
anteriores e sacador, contados do pagamento, ou do dia em que foi acionado.

Os mesmos prazos de prescrição previstos para os devedores avalizados


prevalecem para os respectivos avalistas.

O prazo de prescrição é interrompido, iniciando novamente a contagem,


nos seguintes casos: citação pessoal do devedor, mesmo determinada por juiz
incompetente; citação em protesto judicial; apresentação do título em juízo
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 90
ACOSTA________
de inventário, ou concurso de credores; ato judicial, que constitua em mora
o devedor; e qualquer ato inequívoco, mesmo extrajudicial, que importe em
reconhecimento do direito pelo devedor.

Pelo nosso direito, a prescrição veda a promoção de ação de execução


para cobrança da dívida incorporada por letra de câmbio, mas, o credor não
perde o direito ao crédito, podendo utilizar outro tipo de ação judicial,
mais morosa, sem a proteção das características e princípios cambiários,
dependente de produção de provas, e sentença do juiz, porque o título passa
a representar não o direito ao crédito, e sim mero instrumento de prova.

9º - Modelos de letra de câmbio

a) - com aceite:

Vencimento: 20 de janeiro de 1998.


R$: 2.000,00......
Nº....
Bauru 15, de dezembro de 1997.

Aos vinte dias de janeiro de 1998 , pagará V.Sa. por esta única
via de LETRA DE CÂMBIO, a ALVARO DOS REIS BATISTA , ou à sua ordem,
a importância de DOIS MIL REAIS , e no dia do vencimento farÁ em Bauru
o pronto pagamento, em moeda nacional.
Ao Sr.
MARCOS DE SOUZA...... Bauru,15 de dezembro de 1997.
RUA ARCO VERDE Nº 222-BAURU .....CÉLIO RAMOS.....
.....Marcos de Souza..(assinatura) (assinatura)

SACADOR: CÉLIO RAMOS = codevedor; ACEITANTE: MARCOS DE SOUZA = devedor


principal; FAVORECIDO: ALVARO DOS REIS BATISTA = credor.

b) - com endosso em preto na face:


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 91
ACOSTA________

Vencimento: 20 de janeiro de 1998.


R$: 2.000,00......
Nº....
Bauru 15, de dezembro de 1997.

Aos vinte dias de janeiro de 1998 , pagará V.Sa. por esta única
via de LETRA DE CÂMBIO, a ALVARO REIS BATISTA , ou à sua ordem,
a importância de DOIS MIL REAIS , e no dia do vencimento farÁ em Bauru
o pronto pagamento, em moeda nacional.
Ao Sr.
MARCOS DE SOUZA...... Bauru,15 de dezembro de 1997.
RUA ARCO VERDE Nº222-BAURU Para Carlos Abreu. CÉLIO RAMOS
(assin.)
.....Marcos de Souza.(as.) AlvaroRBatista(assin.)

SACADOR: CÉLIO RAMOS = codevedor; ACEITANTE: MARCOS DE SOUZA = devedor


principal; FAVORECIDO E ENDOSSANTE: ALVARO REIS BATISTA = codevedor;
ENDOSSATÁRIO: CARLOS ABREU = credor.

c) - com aval:

Vencimento: 20 de janeiro de 1998.


R$: 2.000,00......
Nº....
Bauru 15, de dezembro de 1997.

Aos vinte dias de janeiro de 1998 , pagará V.Sa. por esta única
via de LETRA DE CÂMBIO, a ALVARO DOS REIS BATISTA , ou à sua ordem,
a importância de DOIS MIL REAIS , e no dia do vencimento farÁ em Bauru
o pronto pagamento, em moeda nacional.

Ao Sr.
MARCOS DE SOUZA...... Bauru,15 de dezembro de 1997.
RUA ARCO VERDE Nº222-BAURU ..CÉLIO RAMOS ..
.....Marcos de Souza... Antonio Carvalho

SACADOR: CÉLIO RAMOS = codevedor; ACEITANTE: MARCOS DE SOUZA = devedor


principal; FAVORECIDO: ALVARO DOS REIS BATISTA = primeiro credor;
AVALISTA DO SACADOR: ANTONIO CARVALHO = codevedor.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 92
ACOSTA________
d) - com endossos em preto e em branco:

1º ENDOSSANTE: ALVARO R.BATISTA


ex-favorecido = codevedor
1º ENDOSSATÁRIO = João Silva
Pague-se a João Silva novo credor
Bauru, 16/12/96
Alvaro Reis Batista 2º ENDOSSANTE: João Silva
ex-credor = codevedor
Pague-se a José de Assis 2º ENDOSSATÁRIO: José de Assis
Bauru, 19/12/96 novo credor
João Silva
3º ENDOSSANTE: José de Assis
Pague-se a Luiz Dias ex-credor = codevedor
Bauru, 22/12/96 3º ENDOSSATÁRIO: Luiz Dias
José de Assis novo credor

4º ENDOSSANTE: Luiz Dias


* Luiz Dias ex-credor = codevedor
4º ENDOSSATÁRIO: não tem
** AMÉRICO COLOMBO novo credor = portador
do endosso em branco

* - Endosso em branco
** - AVALISTA DO ENDOSSANTE =
codevedor

10º - Questionário
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 93
ACOSTA________
1- O que é letra de câmbio?
2- Quais as pessoas, que figuram na letra de câmbio?
3- O sacador não é obrigado ao pagamento da letra de câmbio, que emite?
4- O que é o aceite?
5- Quando a letra de câmbio deve ser apresentada para o aceite?
6- O sacado é obrigado a aceitar a letra de câmbio?
7- Qual a consequência da recusa do aceite da letra de câmbio?
8- Qual a consequência da não apresentação da letra ao aceite?
9- Qual é a responsabilidade do sacado, que não aceita a letra de câmbio?
10- Qual é a responsabilidade do aceitante pelo aceite limitado?
11- O que é protesto e qual o seu efeito?
12- Quais são as espécies de protesto?
13- Quais as conseqüências da falta de protesto obrigatório?
14- O que é direito de regresso?
15- Pode ocorrer o protesto antes do vencimento da letra de câmbio?
16- A letra de câmbio à vista precisa ou não de protesto?
17- Quais as distinções entre protesto obrigatório e facultativo?
18- Quando é promovido o protesto por falta de aceite ou de pagamento?
19- Pode ser feito o protesto por falta de pagamento, se não há aceite?
20- Se o favorecido é o sacador, pode haver protesto por falta de aceite?
21- Há consequência da falta de aceite na letra, se o favorecido é sacador?
22- É necessário o protesto para ser feita a cobrança da letra de câmbio?
23- O endossante que paga, fica dispensado do protesto para se ressarcir?
24- O protesto pode ser cancelado?
25- Quais são os requisitos essenciais da letra de câmbio?
26- Qual a conseqüência da falta de requisito essencial na letra de câmbio?
27- A quantia, na letra de câmbio, pode ser expressa em espécie?
28- A quantia, na letra de câmbio, pode ser expressa em moeda estrangeira?
29- O credor de letra de câmbio pode exigir pagamento em moeda estrangeira?
30- A falta de data de vencimento provoca a nulidade da letra de câmbio?
31- Quando deve ser apresentada ao aceite, a letra de câmbio à vista?
32- A letra de câmbio pode ser emitida ao portador?
33- A nulidade da letra de câmbio impede a sua cobrança?
34- Quem tem responsabilidade cambiária, na letra de câmbio?
35- A quem e quando deve ser apresentada a letra de câmbio?
36- Os codevedores da letra de câmbio podem ficar liberados da obrigação?
37- O pagamento da letra de câmbio pode ser efetuado antes do vencimento?
38- O que é e como deve ser manifestada a oposição ao pagamento da letra?
39- O que é e quais são os prazos de prescrição?
40- Decorrido o prazo de prescrição, a letra não pode mais ser cobrada?

QUADRO SINÓTICO
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 94
ACOSTA________

III - NOTA PROMISSÓRIA

1º- Conceito {promessa de pagamento - devedor principal/emitente -


credor = favorecido -

2º- Requisitos Essenciais {denominação - promessa de pagamento – quantia -


nome do beneficiário - data da emissão -
assinatura do emitente – falta = nulidade -
não essenciais = data do vencimento e local do
moeda nacional - emissão por procuração -

3º- Circulação e Pagamento {endosso - em branco - em preto – endossantes =


codevedores solidários - direito de regresso –
protesto obrigatório – entrega ao cartório –
primeiro dia útil seguinte ao vencimento –
cobrança = ação de execução = emitente e
codevedores = endossantes –
sem protesto obrigatório = ação de execução –
emitente e avalista -
apresentação = prazos da letra de câmbio –
ao emitente -
ação de execução = emitente – sem protesto -
endossantes = protesto obrigatório -
prescrição = prazos - letra de câmbio -

4º - Exemplos de nota promissória

5º- Questionário

III - NOTA PROMISSÓRIA


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 95
ACOSTA________
1º - Conceito

A nota promissória é uma promessa de pagamento feita pelo devedor


principal, que é o emitente, diretamente ao credor, que é o favorecido.

Diferem a letra de câmbio e a nota promissória, porque:

1º) a LC é ordem de pagamento, e a N.P. é promessa de pagamento;

2º) na LC figuram três pessoas: sacador, sacado e favorecido, e na NP duas:


emitente, que é sacador e também o sacado, e favorecido, que é credor;

3º) a LC está sujeita ao aceite do sacado, enquanto a NP nasce aceita, pois


o emitente é devedor principal.

2º - Requisitos Essenciais
Os requisitos essenciais ou extrínsecos da nota promissória são: a
denominação; promessa de pagar determinada quantia; nome do beneficiário;
lugar do pagamento; data da emissão; e, assinatura do emitente.

A NP deve conter a promessa simples de pagar determinada quantia. A


legislação sobre moeda de pagamento de obrigações exeqüíveis no Brasil
dispõe sobre a nulidade de título que estipule o pagamento em ouro, metal,
pedras preciosas, moeda estrangeira, ou que, de qualquer forma, restrinja
ou recuse, nos seus efeitos o curso legal da nossa moeda, hoje real; mas,
admite a emissão do título em moeda estrangeira, se um dos participantes do
negócio, credor ou devedor, é estrangeiro, e, ainda, permite o pagamento em
moeda estrangeira, se o sacador lançar no título cláusula nesse sentido.

Não há permissão na lei para a emissão de NP em índice de atualização


monetária, mas, os nossos tribunais atribuem validade à nota promissória ou
letra de câmbio financeira, com função de título de investimento, emitida
por instituição financeira e vinculada a contrato de financiamento.

É requisito essencial o nome da pessoa a quem deve ser paga a NP, que
não pode ser emitida ao portador, sob pena de nulidade, exceto sendo NP
financeira, segundo entendimento dos nossos tribunais.

A NP, como a LC, sem a assinatura do emitente inexiste. A assinatura


deve ser feita pelo próprio punho do emitente, ou através de procurador com
poderes especiais para se obrigar cambiariamente. As mesmas considerações a
respeito da assinatura do sacador da LC prevalecem para a assinatura do
emitente da NP.

3º - Circulação e Pagamento
Como a LC, a NP circula por endosso, tanto em branco quanto em preto,
tornando-se os endossantes codevedores solidários pelo pagamento, desde que
o portador assegure o direito de regresso pelo protesto obrigatório, com a
entrega do título ao cartório no primeiro dia útil seguinte ao vencimento,
para poder exigir o pagamento dos endossantes, mediante ação de execução.
Não lavrado o protesto obrigatório, o portador tem ação de execução apenas
contra o emitente e seu avalista, havendo.

A apresentação e protesto da NP seguem os mesmos prazos previstos


para a LC. Apresentada ao emitente no vencimento, e recusado o pagamento, o
meio de cobrança é a ação de execução contra o emitente; tendo endossantes,
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 96
ACOSTA________
o credor deve entregar o título ao cartório no primeiro dia útil seguinte
ao vencimento, para lavrar o protesto obrigatório por falta de pagamento,
assegurando o direito de regresso, para promover a ação de execução contra
os endossantes, se por qualquer recusar o pagamento.

Os prazos de prescrição são os mesmos da Letra de Câmbio.

4º - Modelos de nota promissória


a) - em branco:

Vencimento:...de.........de....
Nº........ R$:................

Aos................................., pagarei, na praça de .....


........., por esta.........via de NOTA PROMISSÓRIA, a .........
......................................................................
............. ou à sua ordem, a importância de .......................
......................................................................
em moeda corrente do país.

*.....................
Nome do emitente *** .....................
end:**................ **** .....................
cidade:.........

* = nome do emitente; ** = endereço do emitente; *** = local e data da


emissão; **** = assinatura do emitente.

b) - preenchida:

Vencimento: 12 de junho de 1998.


Nº R$: 5.000,00......

Aos doze dias do mês de junho de 1998, pagarei, na praça de


Bauru , por esta única via de NOTA PROMISSÓRIA, a ...JOSÉ DA
SILVEIRA....... ou à sua ordem, a importância de....CINCO MIL REAIS
em moeda corrente do país.

SANDRO MEIRA
Nome do emitente Bauru, 12 de março de 1998.
end.:Rua Arco Azul nº 111 Sandro Meira
cidade: Bauru....

EMITENTE: Sandro Meira = devedor principal; FAVORECIDO: José da Silveira =


credor.

c) - com endosso em preto na face:


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 97
ACOSTA________

Vencimento: 12 de junho de 1998.


Nº R$: 5.000,00......

Aos doze dias do mês de junho de 1998, pagarei, na praça de


Bauru , por esta única via de NOTA PROMISSÓRIA, a ...JOSÉ DA
SILVEIRA....... ou à sua ordem, a importância de....CINCO MIL REAIS
em moeda corrente do país.

SANDRO MEIRA
Nome do emitente Bauru, 12 de março de 1998.
end.:Rua Arco Azul nº 111 Pague-se a Sandro Meira
cidade: Bauru.... João Leite
José da Silveira

EMITENTE: Sandro Meira = devedor principal;


FAVORECIDO: José da Silveira = primeiro e ex-credor;
ENDOSSANTE: José da Silveira = codevedor;
ENDOSSATÁRIO: João Leite = novo credor.

d) - com aval:

Vencimento: 12 de junho de 1998.


Nº R$: 5.000,00......

Aos doze dias do mês de junho de 1998, pagarei, na praça de


Bauru , por esta única via de NOTA PROMISSÓRIA, a ...JOSÉ DA
SILVEIRA....... ou à sua ordem, a importância de....CINCO MIL REAIS
em moeda corrente do país.

SANDRO MEIRA
Nome do emitente Bauru, 12 de março de 1998.
end.:Rua Arco Azul nº 111 Pague-se a Sandro Meira
cidade: Bauru.... Jonas Soares

EMITENTE: Sandro Meira = devedor principal;


FAVORECIDO: José da Silveira = credor;
AVALISTA: Jonas Soares = devedor solidário, garante o devedor principal.

e) - com endossos em preto e em branco, no verso:


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 98
ACOSTA________

1º ENDOSSANTE = José da Silveira


ex-favorecido = codevedor
Pague-se a João Silva. 1º ENDOSSATÁRIO = João Silva
Bauru, 16/1 2/96. novo credor
José da Silveira 2º ENDOSSANTE: João Silva
ex-credor = codevedor
Pague-se a José de Assis 2º ENDOSSATÁRIO: José de Assis
Bauru, 19/12/96. novo credor

João Silva 3º ENDOSSANTE: José de Assis


* Manoel Dantas ex-credor = codevedor
3º ENDOSSATÁRIO: Luiz Dias
Pague-se a Luiz Dias novo credor
Bauru, 22/12/96.
4º ENDOSSANTE: Luiz Dias
ex-credor = codevedor
José de Assis 4º ENDOSSATÁRIO: portador

* - AVALISTA DO ENDOSSANTE =
codevedor
**Luiz Dias
* * - endosso em branco

5º - Questionário
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 99
ACOSTA________
1- O que é nota promissória?
2- Quais as pessoas envolvidas pela emissão da nota promissória?
3- Quem são devedor principal e codevedores da nota promissória?
4- A nota promissória deve ser apresentada ao aceite?
5- Quais são os requisitos essenciais da nota promissória?
6- A nota promissória pode ser emitida ao portador?
7- A quantia representada pela NP pode ser moeda estrangeira?
8- Tem validade a NP emitida, para ser paga em barras de ouro?
9- A NP em dólares deve ser paga em dólares?
10- O menor de vinte e um anos pode emitir nota promissória?
11- Tem validade a NP emitida por uma pessoa com mais de sessenta anos?
12- Como é conservado o direito de regresso, na NP?
13- O que é direito de regresso, na NP?
14- O endossante que paga a NP pode ser ressarcido?
15- É necessário o protesto para ser promovida a cobrança da NP?
15- A quem e quando é apresentada a NP?
16- O emitente pode recusar o pagamento da NP ao endossatário, alegando ser
proveniente de dívida de jogo?
17- Quem é o endossatário da NP?
18- Qual é a responsabilidade do avalista do endossante da NP?
19- Qual é a responsabilidade do avalista do emitente da NP?
20- Quais os prazos de prescrição da NP?
21- O que é prescrição da NP?
22- Após o prazo da prescrição, não pode mais ser cobrada a NP?
23- Por que, após a prescrição, o credor não perde o direito ao crédito?
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 100
ACOSTA________

QUADRO SINÓTICO

IV - CHEQUE

1º- Conceito {ordem de pagamento à vista - emitente – sacado – banco –


portador ou favorecido - determinada quantia -
talonários – cliente – conta corrente - provisão de fundos -
títulos de crédito impróprio.

2º- Requisitos Essenciais {denominação cheque – ordem – quantia - nome do


banco sacado – data da emissão - assinatura do
emitente = ausência = nulidade – supríveis =
lugar do pagamento e da emissão – condição =
ignorada - moeda nacional – crédito em conta -
valor divergente = extenso –
pré datado - antedatado = validade –
assinatura = procurador - chancela mecânica –
falsa - falsificada = responsável = banco -
salvo culpa do correntista -

3º- Espécies de Cheque {circulação = portador - nominativo à ordem – não


à ordem -
pagamento = cruzado – bancário - especial – para
levar em conta - fiscal – visado -

4º- Circulação {endosso = em preto - em branco - endossante – solidário –


portador = tradição –
nominativo não à ordem = efeito = cessão civil –
pagamento = sacado = apresentação – provisão -

5º- Apresentação {qualquer data – sacado – provisão = pagamento - recusa –


compensação – B.Brasil – bancos - extinção da obrigação -
prazo = trinta dias - mesmo local – sessenta - local diverso –
direito de regresso – cobrança = endossantes -

6º- Oposição ao Pagamento {sustação = no prazo de apresentação – portador –


escrito - relevante razão de direito -
medida provisória – sem efeito após o prazo -
7º- Revogação da Ordem {emitente – escrito - contra-ordem – definitiva –
após prazo de apresentação – cancelamento –
relevante razão de direito -
anulação/substituição – emitente/portador = perda –
extravio – furto – roubo - apropriação indébita -
8º- Cobrança {sacado = declaração de recusa do pagamento - execução –
portador = emitente/avalista – endossantes/avalistas –
protesto necessário = sem declaração de recusa do sacado –

9º- Prescrição {ação de execução = seis meses – emissão –


ação condenatória = perda do efeito cambial – dois anos =
lucro ilegítimos – cobrança = vinte anos -
10º- Exemplos de cheques

11º- Questionário
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 101
ACOSTA________

IV - CHEQUE

1º - Conceito

O Cheque é, como a LC, uma ordem de pagamento, porém, à vista, feita


pelo emitente ao sacado, que é sempre um banco, para que pague ao portador
ou favorecido, determinada quantia.

Os cheques são impressos pelos bancos, compondo um conjunto de dez ou


vinte exemplares, formando talonários, para entrega aos clientes, portanto,
apenas os clientes do banco sacado, pela constituição de conta corrente e
provisão de fundos junto a este, podem emitir cheques, o que lhes confere a
natureza de títulos de crédito impróprio.

2º - Requisitos Essenciais
A lei especial sobre o cheque, de nº 7.357/85, em seu art. 1º, bem
como a Lei Uniforme, Dec. nº 57.595/66, enumera os seguintes requisitos
essenciais ao cheque, cuja falta provoca a sua nulidade: denominação cheque
no texto do título expressa na linguagem da sua redação; ordem de pagar
determinada quantia; nome do banco ou instituição financeira sacada, que
deve pagar, havendo provisão de fundos; data da emissão; e assinatura do
emitente, sacador. São também requisitos essenciais, porém supríveis, o
lugar do pagamento e da emissão, cuja falta são provoca a nulidade.

A ordem de pagamento contida no cheque deve ser incondicional, sendo


ignorada eventual condição nele inserida, e a quantia a ser paga deve ser
expressa em moeda nacional, sendo nulo, se em espécie, ou outra forma, que
restrinja a circulação da moeda nacional, como prevê o Dec.-lei n° 857/69.

Embora mencione, a lei, quantia determinada para se referir a quantia


em dinheiro, é admissível o pagamento não em moeda, mas, por lançamentos de
crédito em conta corrente. Havendo divergência entre o valor numérico e por
extenso, prevalece o extenso, mas, contendo o cheque rasuras ou mutilações,
o sacado pode consultar o emitente, antes de restituir o cheque.

O cheque com data anterior à sua emissão é menos usado, por não ter
utilidade, ao contrário do cheque pós-datado, que é confundido com o cheque
vulgarmente denominado pré-datado, significando antedatado, e tem função
diversa, sendo empregado como LC. O cheque com data fictícia contraria as
disposições vigentes, assim, ao ser apresentado, deve ser ignorada a data
nele lançada, e pago, tendo provisão de fundos, por não se descaracterizar
como cheque, ou título de crédito.

O requisito mais importante é a assinatura do emitente, ou mandatário


com poderes especiais, sendo admissível, também, a assinatura lançada por
chancela mecânica, quando precedida de acordo com o banco sacado. Havendo
assinatura de incapaz, falsa ou falsificada, o cheque não perde a validade,
prevalecendo as obrigações dos demais signatários, em razão da proteção das
características e princípios cambiários, sobre a autonomia ou independência
das assinaturas exaradas pelas pessoas, que nele figurem, e desvinculação
do negócio de origem. Falsa é a reprodução não autêntica da assinatura, e
falsificada é aquela feita com modificações da autêntica. O estabelecimento
bancário é responsável pelo pagamento do cheque com assinatura falsa ou
falsificada, exceto se há culpa exclusiva ou concorrente do correntista.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 102
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3º - Espécies de Cheque
Quanto à circulação, o cheque pode ser ao portador, nominativo com
cláusula à ordem, e nominativo com cláusula não à ordem.

É ao portador o cheque, que não contém o nome do favorecido, ou


contém as expressões “ao portador”, sendo seu titular a pessoa que o
portar; nominativo à ordem é o que contém o nome do favorecido seguido da
cláusula à ordem, podendo ser transferido por endosso cambiário; e
nominativo com cláusula não à ordem é aquele que contém o nome do
favorecido mais as expressões “não à ordem”, o que restringe a sua
transmissão, pois, o endosso nele lançado tem efeito de cessão de crédito,
impedindo o pagamento pelo sacado a terceira pessoa, que é o endossatário,
sendo pago apenas ao beneficiário, cujo nome conste do texto. Tendo o
endosso efeito de cessão, o cheque perde o efeito cambiário.

Quanto à forma de pagamento o cheque pode ser cruzado, bancário,


especial; para levar em conta; fiscal e visado.

Cruzado é o cheque com duas linhas paralelas na face, no sentido


transversal, lançadas pelo emitente ou portador, para ser pago apenas a um
banco, ou a um cliente do banco sacado. Há duas modalidades de cruzamento:
geral e especial. Cruzamento geral é o que não contém nenhuma indicação
entre as linhas traçadas, ou apenas a palavra “banco”, admitindo a cobrança
através de qualquer banco. Cruzamento especial é aquele que contém entre os
traços do cruzamento o nome do banco ou instituição financeira, que deve
fazer a cobrança, ou a quem deve ser pago. O cruzamento geral pode ser
transformado em especial, mas, o cancelamento ou inutilização do cruzamento
ou do nome do banco, no especial, é considerada como não efetuada.

Bancário, também designado de tesouraria e administrativo, é o cheque


emitido pelo banco sacado, que é, em conseqüência, também sacador, conforme
dispõe o art. 9º da lei especial. Essa espécie de cheque não pode ser ao
portador, como também não é comum, se assemelhando à NP.

Especial é o cheque utilizado apenas por clientes especiais, à juízo


do sacado, em decorrência de uma linha de crédito previamente fixada em
contrato firmado entre as partes, que permite ao titular da conta bancária
sacar a descoberto, ou seja, sem a suficiente provisão de fundos, dentro do
limite fixado, com a autorização do sacado, que efetua o pagamento.

Para levar em conta é o cheque, que contém na face, transversalmente,


as expressões para levar em conta, tendo vedado o pagamento em numerário, e
feita a sua liquidação por crédito em conta corrente, ou transferência de
uma conta para outra, através de compensação, o que lhe confere o nome de
cheque escritural, bastante utilizado pelos bancos entre si, e popularmente
de circulação restrita, como o de cruzamento especial.

Fiscal é o cheque emitido pelas autoridades fiscais, para restituição


de excessos de arrecadação ou pagamento de tributos.

O cheque visado é aquele em que é lançada, a pedido do emitente, ou


portador, declaração ou visto pela quantia nele indicada, datada e assinada
pelo gerente, sendo reservado na conta do emitente o valor para o pagamento
do cheque, no prazo da apresentação, sem liberar o emitente e codevedores,
pelo visto dado pelo sacado, ou seja, sendo o pagamento recusado por falta
de fundos, mesmo por equívoco do funcionário do sacado, que não fez reserva
do seu valor, a responsabilidade é do emitente e eventuais endossantes.
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4º - Circulação
Mesmo sendo ordem de pagamento à vista, o cheque não deixa de ser
título de crédito, negociável pelo endosso. Como outras cambiais, emitido
sob a forma nominativa com a cláusula à ordem, pode ser transferido pelo
endosso em preto, ou em branco, assumindo o endossante a posição de devedor
solidário, pelo pagamento da quantia por ele representada.

Sendo ao portador, ou com endosso em branco, é transferido mediante


tradição manual, não vinculando os anteriores portadores, como codevedores;
e, sob a forma nominativa não à ordem, pode ser transferido por endosso,
mas, com efeito cessão civil, só permitindo ao favorecido a apresentação ao
sacado, que pode recusar o pagamento ao endossatário ou portador.

Colocado em circulação pelo endosso, mesmo vinculando os endossantes


como devedores solidários pelo pagamento da quantia por ele representada, o
pagamento do cheque é efetuado pelo sacado, na apresentação e se o emitente
constituiu provisão. Cabe ao sacado, no momento da apresentação, conferir a
existência de provisão e a autenticidade da assinatura do emitente e a
série de endossos em preto, se houver, não podendo, entretanto, constatar a
autenticidade das assinaturas dos endossantes por desconhecê-las.

5º - Apresentação
Como ordem de pagamento à vista, o cheque, independente da data nele
lançada, sendo apresentado ao sacado, que deve ignorar qualquer cláusula em
sentido contrário à sua natureza, deve ser pago, exceto se faltar provisão,
ocorrer irregularidade dos endossos em preto, ou falsidade ou falsificação
da assinatura do emitente. A apresentação para pagamento é feita ao sacado.

A compensação de cheques é organizada pelo Banco do Brasil S/A, com a


participação de instituições financeiras e bancos de depósitos, e consiste
na extinção das obrigações dos sacados, pelo resgate dos cheques de uns em
relação a outros, sendo pago em dinheiro o sacado credor de quantia maior.

A lei fixa para apresentação do cheque o prazo de trinta dias, quando


emitido no mesmo local de pagamento, e sessenta, quando emitido em local
diverso daquele em que deve ser pago, no Brasil ou no exterior. Esse prazo
de apresentação tem por finalidade conservar o direito de regresso, para se
fazer a cobrança, através de ação de execução, dos endossantes. Portanto,
apresentado o cheque fora do prazo, não é vedado o seu pagamento, se há
provisão, mas, recusado o pagamento pelo sacado, por falta de provisão, os
codevedores ficam liberados, restando ao portador ação de execução apenas
em relação ao emitente.

6º - Oposição ao Pagamento
Ainda durante o prazo de apresentação do cheque, o seu pagamento pode
ser sustado, isto é, suspenso por iniciativa do portador legítimo, ou do
emitente. Essa sustação ou suspensão da ordem de pagamento representada
pelo cheque deve ser feita por escrito, e fundamentada em relevante razão
de direito, produzindo efeito somente no prazo de apresentação, não cabendo
ao sacado julgar a relevância da razão invocada. A lei não indica as razões
relevantes, mas, para os autores e o juiz são relevantes a perda, extravio,
furto, e apropriação indébita do cheque, entre outras causas.

Recebendo a comunicação da oposição no prazo de apresentação, não


mais deve o sacado efetuar o pagamento, mas, cessado o motivo, ela pode ser
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 104
ACOSTA________
tornada sem efeito, pelo mesmo meio utilizado, podendo então ser efetuado o
pagamento pelo sacado.

Mesmo que a sustação não seja tornada sem efeito, se não for seguida
da revogação, após o prazo de apresentação o sacado pode pagar o cheque,
tendo fundos, porque ela perde o seu efeito provisório.

7º - Revogação da Ordem
Além da sustação da ordem de pagamento do cheque, a lei também admite
a revogação pelo emitente, através de aviso por carta, ou via judicial ou
extrajudicial, com as razões motivadoras, que são as mesmas permitidas para
a sustação, não cabendo ao sacado questionar a causa alegada pelo emitente,
restando-lhe somente cumprí-la, e como não são enumeradas na lei, dependem
de apreciação de provas, pelo juiz, em ação judicial.

A revogação, também designada de contra-ordem, é medida definitiva,


feita apenas pelo emitente, e produz efeito após o término do prazo para
apresentação, cancelando ou extinguindo o cheque.

A revogação e a sustação se distinguem pelos seguintes aspectos:

1º) a revogação ou contra-ordem é promovida pelo emitente e a sustação pelo


emitente ou pelo portador legítimo;

2º) a revogação ou contra-ordem gera efeito após o prazo de apresentação e


a sustação desde a comunicação, a qualquer tempo, no prazo de apresentação;

3º) a revogação é definitiva, cancelando a ordem de pagamento, e a sustação


é provisória, suspendendo-a, para evitar pagamento a portador ilegítimo.

Independente dessas medidas administrativas enviadas ao sacado, a lei


prevê a possibilidade de ser promovida ação de anulação e substituição do
cheque, tanto pelo emitente, como pelo portador legítimo, que sofrer perda,
extravio, furto, roubo ou apropriação indébita do cheque. A ação judicial,
nestes casos, é promovida por iniciativa do interessado, que deve fazer
prova do seu direito, para pretender a sentença de anulação do título.

8º - Cobrança
O cheque devolvido ao apresentante pelo sacado, com a declaração de
recusa do pagamento, por qualquer motivo, pode ser cobrado através de ação
de execução, pelo portador contra o emitente e seu avalista, havendo, ou,
se foi apresentado dentro do prazo de apresentação, contra os endossantes e
seus avalistas. Em qualquer desses casos, a declaração da recusa do sacado,
escrita e datada sobre o cheque, contendo o dia da apresentação, é condição
essencial para a ação judicial, dispensando o protesto, pois, o direito de
regresso é resguardado no prazo de apresentação. O protesto é necessário
apenas diante da impossibilidade do sacado lançar a declaração.

Portanto, são duas as hipóteses de cobrança do cheque através da ação


de execução, também designada ação cambial, em que o credor é protegido por
características e princípios cambiários, com penhora de bens para garantir
o pagamento, e defesa limitada para o devedor justificar o não pagamento:

1ª)- contra o emitente e seu avalista, a qualquer tempo, antes de decorrido


o prazo de prescrição, independente da data de apresentação ao sacado, por
não haver interesse ou necessidade de se resguardar o direito de regresso;
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 105
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2ª)- contra os endossantes e seus avalistas, dependente da apresentação ao
sacado, no prazo de trinta dias, se emitido na mesma praça em que deve ser
pago, e de sessenta, se emitido em praça diversa da praça do pagamento.

O portador do cheque, credor da quantia por ele representada, mesmo


sendo de boa fé, pode perder a faculdade de promover ação de execução e, em
consequência, a proteção do direito cambiário, nos seguintes casos:

1º) contra o emitente e seu avalista, quando não comprovar a recusa do


pagamento pela declaração do sacado, ou de câmara de compensação, ou pelo
protesto, porque não apresentou o cheque ao sacado no prazo hábil, em que
havia provisão e deixou de tê-la por fato que não lhe seja imputável, como
liquidação extrajudicial ou falência do sacado;

2º) contra os endossantes e seus respectivos avalistas, quando o cheque for


apresentado ao sacado fora do prazo de apresentação, de trinta ou sessenta
dias contados da emissão, se emitido na mesma, ou em praça diversa da praça
de pagamento, respectivamente; neste caso, o portador ainda pode promover
ação de execução em relação ao emitente e seu respectivo avalista;

3º) contra o emitente, endossantes e seus respectivos avalistas, se, mesmo


restituído com declaração de recusa do pagamento por falta de provisão, não
for promovida a ação de execução antes de expirar o prazo de prescrição, de
seis meses, contados do término do prazo de apresentação;

4º) contra o emitente, endossantes e seus respectivos avalistas, se, mesmo


restituído com declaração de recusa do pagamento por falta de provisão, o
cheque foi endossado, pois, o endosso tardio, neste caso, produz o efeito
de cessão de crédito, podendo ser objeto de cobrança apenas através de ação
condenatória por cessão de crédito;

5º) contra o emitente, endossantes e seus respectivos avalistas, quando o


cheque é emitido não à sua ordem e endossado, pois, o endosso, neste caso,
produz o efeito de cessão de crédito, podendo ser objeto de cobrança apenas
através de ação condenatória por cessão de crédito;

Assim como o portador da letra de câmbio ou da nota promissória se


utiliza da ação de condenatória, no caso de perda da ação cambial, também a
lei do cheque, admitindo a perda do efeito cambiário do cheque, e não a
perda do direito ao crédito, faculta ao credor, favorecido, endossatário,
ou portador do cheque sem efeito cambial, cobrar o valor nele inserido,
através de ação condenatória por enriquecimento injusto do emitente, ou do
endossante.

A lei estabelece o prazo de dois anos, contados do término da


prescrição, para se propor a ação contra o emitente ou endossantes, que
tiveram lucros ilegítimos. Após os dois anos, o portador ainda pode fazer a
cobrança, por ação condenatória, comprovando o prejuízo por prática ilícita
do devedor, como prevê o Código Civil, que fixa a prescrição de vinte anos.

A ação condenatória, designada vulgarmente de ação de cobrança, mesmo


tendo como objeto a cobrança de valor representado por cheque, que é título
de crédito, não tem proteção do direito cambiário, o que permite ao devedor
acionado produzir ampla defesa, relacionada ou não com o negócio originário
do título, admitindo a recusa do pagamento por vícios da causa de origem ou
de relações jurídicas anteriores, contra o terceiro, mesmo de boa fé, não
tendo também a prévia penhora de bens do devedor para garantir o pagamento,
pois, esta somente ocorre após sentença do juiz, se condenar ao pagamento.

Atualmente, há previsão, para a cobrança de títulos de crédito, que


perderam seu efeito cambiário, através da ação monitória, que tem andamento
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 106
ACOSTA________
rápido, mas, depende de sentença condenatória do juiz, e permite a produção
ampla de provas, pelo devedor, não tendo a possibilidade de penhora prévia,
como ocorre na ação de execução, pois, a penhora pode ocorrer apenas após a
sentença condenatória do juiz.

9º - Prescrição
O direito cambiário coloca à disposição do credor, seja favorecido,
portador ou endossatário, a ação de execução, para compelir o emitente,
endossantes e avalistas ao pagamento do cheque restituído com a recusa do
pagamento pelo sacado, por falta de provisão de fundos, e para evitar que
se eternize, fixa prazo para o seu exercício, de seis meses, tanto pelo
portador em relação ao emitente, endossantes e respectivos avalistas, como
pelo endossante que paga em relação aos demais; no primeiro caso, o prazo
tem início no término do prazo de apresentação, sendo de seis meses mais os
trinta ou sessenta dias, conforme o cheque tenha sido emitido na mesma, ou
em praça diversa da praça do pagamento, e no segundo, inicia na data em que
foi efetuado o pagamento, ou em que o endossante foi acionado.

O inicio da contagem do prazo de prescrição já provocou divergências


entre juizes, pois, alguns entendiam, que iniciava no ato da apresentação,
se esta ocorria antes do término do prazo de apresentação fixado na lei,
contudo, atualmente se firmou o entendimento de que o prazo da prescrição,
independente da data de apresentação do cheque ao sacado, tem início no
término do prazo legal de apresentação, de trinta dias, quando emitido na
mesma praça em que deva ser pago, e de sessenta dias, se emitido em praça
diversa daquela em que deva ser pago.

A alegação do decurso do prazo de prescrição não tem amparo legal,


nem é motivo justo, para o sacado recusar o pagamento de cheque, que tenha
provisão de fundos, na data de apresentação, pois, a prescrição apenas pode
ser reconhecida pelo juiz, em ação judicial, e a requerimento do devedor,
como dispõe o art. 35 da Lei do Cheque.

10º - Modelos de cheque

a) - sem preenchimento, ou em branco:

Comp. Banco Agência Conta nº Cheque nº R$


________/_____/________ /__________ /_____________ /_____________

Pague por este


Cheque a quantia de..............................................
.................................a...............................
............................,ou à sua ordem.

.................* **..........de...........de......
.................*
........ **.............................

* = nome do banco sacado;


* = endereço do banco sacado;
** = local e data da emissão;
** = assinatura do emitente.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 107
ACOSTA________

b) - ao portador:

Comp. Banco Agência Conta nº Cheque nº R$


________/_020_ /__593___ /__111.222_ /____10.111___ /___800,00__

Pague por este


Cheque a quantia do ...OITOCENTOS REAIS..........................
.................................ao PORTADOR.....................
........................,ou à sua ordem.

BANCO ASSÍRIO S/A Bauru, 10 de março de 1.998.


Rua do Bosque nº 66
Bauru/SP ....CARLOS BEZERRA.....
Carlos Bezerra

EMITENTE: Carlos Bezerra = devedor principal; SACADO: Banco Assírio S/A


FAVORECIDO: não tem; o credor é o portador.

c) - nominativo à ordem:

Comp. Banco Agência Conta nº Cheque nº R$


________/_002_/___931__ /__101.101_ /___102.102___ /__1.050,00___

Pague por este


Cheque a quantia de..UM E CINQUENTA REAIS........................
.................................a..JÚLIO ROCHA..................
..................,ou à sua ordem.

BANCO ASSÍRIO S/A Bauru, 20 de fevereiro de 1.998.


Rua do Bosque nº 66
Bauru/SP .......CARLOS BEZERRA.....
Carlos Bezerra

EMITENTE: Carlos Bezerra = devedor principal; SACADO: Banco Assírio S/A;


FAVORECIDO: Júlio Rocha = credor.

d) - nominativo não à ordem:

Comp. Banco Agência Conta nº Cheque nº R$


________/_002_/___931__ /__101.101_ /___102.102___ /__1.050,00___

Pague por este


Cheque a quantia de..UM E CINQUENTA REAIS........................
.................................a..JÚLIO ROCHA..................
..............NÃO,ou à sua ordem.

BANCO ASSÍRIO S/A Bauru, 20 de fevereiro de 1.998.


Rua do Bosque nº 66
Bauru/SP .......CARLOS BEZERRA.....
Carlos Bezerra
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 108
ACOSTA________
EMITENTE: Carlos Bezerra = devedor principal;
SACADO: Banco Assírio S/A = quem paga, se houver provisão;
FAVORECIDO: Júlio Rocha = credor.

11º - Questionário
1- O que é cheque?
2- Quem são sacador e sacado, no cheque?
3- Qualquer pessoa pode emitir cheque?
4- Quais são os requisitos essenciais ao cheque?
5- Qual é a consequência da emissão do cheque sem o nome do favorecido?
6- É válido o cheque sem data da emissão?
7- Pode ser emitido o cheque em índice de atualização monetária?
8- É nulo o cheque que contém o valor por extenso diverso do numérico?
9- O sacado pode pagar o cheque pré-datado antes da data nele indicada?
10- O analfabeto pode emitir cheque?
11- O cheque pode ser emitido à rogo?
12- É nulo o cheque com a assinatura falsificada?
13- Pagando o sacado cheque com assinatura falsa, o cliente é prejudicado?
14- Como se classificam os cheques?
15- Quais as diferenças entre cheque ao portador e nominativo?
16- Quais as diferenças entre cheque à ordem e não à ordem?
17- O que é cheque com endosso tardio e qual seu efeito?
18- Quais as diferenças entre cheque com cruzamento geral e especial?
19- Quais as diferenças entre cheque bancário e cheque visado?
20- O que é cheque especial?
21- O que é cheque para levar em conta?
22- Qualquer pessoa pode emitir cheque fiscal?
23- Todo cheque deve ser endossado, ou é vedado o seu endosso?
24- O endossante do cheque tem responsabilidade pelo seu pagamento?
25- O cheque deve ser apresentado ao devedor no vencimento?
26- O sacado pode recusar o pagamento do cheque?
27- Quem é cobrado, se recusado o pagamento do cheque pelo sacado?
28- O que é e qual é o efeito do prazo de apresentação do cheque?
29- Qual a conseqüência da apresentação do cheque após o prazo legal?
30- O que é e quando é feita a sustação do pagamento do cheque?
31- Quando pode ocorrer a revogação do cheque?
32- Quais as diferenças entre sustação e revogação do cheque?
33- A sustação ou a revogação impedem a cobrança do cheque em execução?
34- Como é feita a cobrança do cheque com pagamento recusado pelo sacado?
35- O cheque pode ser cobrado apenas em ação de execução?
36- É necessário o protesto para ser feita a cobrança do cheque?
37- O cheque não protestado pode ser cobrado em ação de execução?
38- O que é prescrição?
39- Após a prescrição não pode mais ser cobrado o cheque em ação judicial?
40- Quando ocorre a prescrição do cheque?
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 109
ACOSTA________

QUADRO SINÓTICO

V – DUPLICATA

1º- Noções Gerais/Conceito {Lei nº 5.474/68 – venda à prazo – nota fiscal -


fatura = escrita unilateral – obrigatória -
duplicata = título de crédito –
comerciante - prestador de serviço – facultativa – circulação do
título – cobrança judicial – execução -
espécies = DM – DS – DI -
profissionais liberais = fatura -

2º- Requisitos Essenciais {enumerados na lei – omissão = nulidade -


duplicatas em série = uma fatura -
simulada = art. 172 CP – estelionato -

3º- Aceite {sacador = vendedor = credor - sacado = comprador – devedor –


aceite = concordância - devedor principal -
recusa formal = mercadoria não entregue – vício da mercadoria -
diferença na quantidade ou qualidade - divergências nos prazos ou preços
ajustados -
endosso = endossante – responsabilidade solidária -
prazo = apresentação ao aceite – devolução – sem conseqüência -
retenção = perda - extravio – triplicata = efeito - boleto –
suprimento do aceite = comunicação escrita - comprovante da
entrega ou remessa da mercadoria – protesto – substituição –
instrumento de protesto por indicação -

4º- Protesto {obrigatório = direito de regresso – 30 dias do vencimento –


supletivo = suprimento do aceite – qualquer tempo –
facultativo = qualquer tempo – com ou sem aceite -
falta/recusa de aceite ou devolução = recusa de pagamento -
antes da prescrição -

5º- Pagamento {recusa - cobrança – duplicata/triplicata – execução –


contra = aceitante/avalista = protestada ou não –
sacado = sem recusa formal - protesto – comprovante -
endossantes/avalistas = protesto obrigatório -

6º- Prescrição {execução = aceitante/sacado/avalista = três anos – do


vencimento – endossantes/avalistas = um ano do protesto –
duplicata/triplicata = sem aceite e protesto = ação de
conhecimento condenatória – ação de cobrança -

7º- Modelos de duplicata

8º- Questionário
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 110
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V - DUPLICATA

1º - Noções Gerais e Conceito

Ao dispor sobre a emissão de duplicata, a Lei nº 5.474/68, no art.1°,


se refere primeiro à fatura, para discriminar as mercadorias vendidas, ou
somente o número e valores da nota fiscal, emitida por ocasião da venda.
Assim, na compra e venda com pagamento à prazo, contado da data da entrega
ou despacho das mercadorias, o vendedor deve emitir fatura, mesmo na venda
com prazo inferior a trinta dias, embora a lei consigne o contrário.

Conforme a lei, a fatura é de emissão obrigatória do vendedor, pela


emissão da nota fiscal de venda com pagamento à prazo, deve acompanhar a
mercadoria a ser entregue ou expedida ao comprador, e faculta a emissão da
duplicata, se há interesse em negociar o crédito da venda, pelo endosso, ou
necessidade de acionar o comprador, porque é título de crédito formal,
representativo do direito do credor, não da mercadoria. Como a lei prevê, a
emissão da duplicata no ato da emissão da fatura é facultativa, podendo ser
dispensada para cobrar o comprador, na data do vencimento, pois a cobrança
pode ser feita com a fatura, na qual é passado recibo. Não efetuado o
pagamento, deve ser emitida a duplicata para a cobrança executiva, pois a
fatura não é título executivo.

Entendem alguns autores e juízes, que a duplicata é o único título de


crédito emitido para materializar o direito do vendedor, na venda à prazo,
pois, a vedação expressa, no art. 2º da lei, de qualquer outra espécie de
título de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância
faturada ao comprador, atinge a LC e a NP, mesmo sendo esta sacada pelo
comprador, porque o legislador objetivou vedar a representação do crédito
da compra e venda por outro título. Segundo outros autores, o impedimento
atinge apenas a LC, por ser a NP emitida pelo comprador, não pelo vendedor.

A Lei da Duplicata institui ainda a duplicata de prestação de serviço


no art. 20. As empresas individuais ou coletivas, fundações ou sociedades
civis, que prestam serviços, podem emitir fatura e duplicata, pois, a lei
as equipara aos comerciantes. Assim como a comercial, a fatura de prestação
de serviço deve discriminar o serviço prestado e o valor a ser pago. Os
profissionais liberais podem emitir fatura pelos serviços prestados, não
podendo emitir duplicata, pois a lei silencia sobre essa emissão, dispondo
que a fatura deve ser registrada no Cartório de Títulos e Documentos,
apresentada ao devedor e não sendo paga, deve ser protestada, para facultar
a promoção da ação de execução pelo credor, mas, essa disposição não é
aplicável, por não estar a fatura enumerada na lei processual civil, entre
os títulos executivos extrajudiciais.

A duplicata é título de crédito impróprio, causal, emitido sobre uma


fatura, resultante de contrato de compra e venda mercantil ou prestação de
serviços, circula por endosso, é equiparada aos títulos cambiários com a
proteção das características e princípios cambiários, registrada em ordem
cronológica no livro próprio, e cobrada em ação de execução.

2º - Requisitos Essenciais
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 111
ACOSTA________
Como todo título de crédito, deve se revestir também a duplicata dos
requisitos genéricos, que são os comuns a todas as obrigações, como os
referidos para a LC e NP, sob pena de provocar a anulação da relação
jurídica, e dos requisitos essenciais, que são aqueles enumerados no texto
da lei, para constarem do título, sob pena de nulidade do título.

Nas vendas para pagamento em parcelas pode ser emitida uma duplicata
ou várias, em série. Uma venda provoca a emissão de uma só fatura e várias
duplicatas, se o pagamento é parcelado. Não pode uma duplicata corresponder
a mais de uma fatura ou venda. A duplicata é simulada, se contém todos
requisitos essenciais, sem resultar de um contrato de compra e venda, e
como prevê o art. 172, do Código Penal, a sua emissão e aceite configura
crime de estelionato, por ser emitida apenas para ser trocada por dinheiro.

3º - Aceite
A duplicata é título emitido pelo vendedor e apresentada ao comprador
para aceite, nela figurando vendedor-credor-sacador e comprador-devedor-
sacado, que se a aceitar torna líquida a dívida, e faculta a ação de
execução. O aceite é lançado no título, mas, pode ser feito em separado,
por declaração do sacado. Por ser título de emissão posterior ao negócio, a
lei, no art. 7º, admite recusa do aceite pelo sacado nos seguintes casos:

1. mercadoria não entregue;


2. mercadoria entregue com vício, diferença na quantidade ou qualidade;
3. divergências nos prazos ou preços ajustados;

Sendo a duplicata aceita e negociada com terceiros, não pode ser


oposta defesa pelo comprador do contrato não cumprido, mesmo que ocorra um
dos casos de admissão de recusa, porque o aceite é ato formal, configurado
pela assinatura do sacado. Tendo um dos motivos previstos na lei, a recusa
deve ser formal, não podendo ser retido o título, sob pena de suprimento do
aceite. Ao receber a mercadoria, o comprador deve constatar seu estado,
qualidade e quantidade, antes de assinar a nota de entrega ou a duplicata,
e havendo motivo para recusá-la, pode devolver a duplicata com declaração
escrita da razão da recusa, que também pode ser manifestada em notificação
enviada através do cartório de títulos e documentos, ou correio.

O prazo fixado na lei para apresentação da duplicata ao sacado e de


devolução, em 10 dias, não é cumprido, por falta de previsão de penalidade
no descumprimento. No caso de perda ou extravio da duplicata, o vendedor
pode emitir a triplicata, que tem os mesmos efeitos cambiais da duplicata.

A lei admite também o suprimento do aceite, pela falta deste, ou pela


retenção do título, se inexistente recusa formal, nos seguintes casos:

1º- se o sacado retém a duplicata com consentimento do credor, mas


o aceite é comunicado por escrito, independente da comprovação da
entrega da mercadoria, para efeito de protesto ou execução;

2º- se a duplicata ou triplicata não aceita está acompanhada da


prova da entrega ou remessa da mercadoria, e está protestada;

3º- se a duplicata ou triplicata é retida e substituída pelo


instrumento do protesto, acompanhado da prova da entrega da
mercadoria. Neste caso é apresentado ao cartório para o protesto
outro documento com referência aos requisitos da duplicata, sendo
lavrado o protesto por indicação.

Atualmente, o grande número de duplicatas retidas pelos devedores e a


tentativa de diminuir prejuízos e simplificar o procedimento provocaram o
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 112
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emprego do boleto, com todos os elementos da duplicata, exceto a assinatura
do sacador, e embora não seja título de crédito, nem submetido ao aceite do
sacado, substitui a duplicata, como permite a lei, se o credor, sacador ou
endossatário, possuir o comprovante da entrega da mercadoria ou serviço e
promover o protesto da dívida nele indicada.

O uso do boleto aboliu quase totalmente a emissão da duplicata, pois,


apresentado ao devedor no vencimento, sendo paga a dívida, o recibo é dado
no próprio boleto, mas recusado o pagamento, o boleto, com o comprovante da
entrega da mercadoria, deve ser apresentado ao cartório para protesto, que
passa a conferir a natureza de duplicata por indicação, na forma da lei,
título de crédito protegido pelas características e princípios cambiários.

O boleto também é empregado na circulação do crédito, negociado entre


empresários e bancos por tradição manual, por não ser título de crédito não
se submete ao endosso. Recusado o pagamento pelo sacado, o banco o devolve
ao emitente, e deduz da conta corrente deste o valor respectivo, salvo se
foi entregue apenas para cobrança. O emprego do boleto decorre de costume
primeiramente iniciado pelos bancos, designado boleto bancário, que é o
emitido pelo banco para cobrança do sacado devedor de cliente do banco, que
cedeu seu crédito verbalmente, ou apenas o incumbiu da cobrança.

Com aceite ou suprido este, a duplicata se equipara à LC e NP, sem


deixar de ser título causal, que materializa crédito da venda ou prestação
de serviços, com efeitos cambiais, na propagação do crédito comercial, ao
circular pelo endosso, além de estimular a circulação de capitais.

4º - Protesto
O protesto da duplicata pode ser obrigatório, supletivo, facultativo,
por falta ou recusa de aceite, e por falta de pagamento. É obrigatório, ou
conservatório do direito de regresso, facultando a promoção da ação de
execução em relação aos endossantes e seus avalistas, aquele lavrado no
prazo de trinta dias, contados da data do vencimento, sob pena de perda da
ação de execução contra os endossantes. Pode ser feito por falta de
aceite, de devolução ou de pagamento, na praça de pagamento constante do
título, e por falta de pagamento, mesmo que a duplicata não tenha aceite,
ou não seja feito o protesto por falta de aceite ou de devolução. Supletivo
é o protesto para suprir o aceite, sendo a duplicata levada ao cartório de
protestos em qualquer data, antes da prescrição. É facultativo o protesto
da duplicata aceita, lavrado quando não houve a circulação do título pelo
endosso, pois é desnecessário para a ação de execução, quando há aceite.

5º - Pagamento
A cobrança da duplicata ou triplicata não paga no vencimento é feita
em ação de execução, conforme arts. 15 da LD e 585 do Código de Processo
Civil, que a enumera como título executivo extrajudicial, podendo ser
promovida contra aceitante e seu avalista, se protestada ou não, ou contra
sacado, se não tem aceite nem recusa formal, está protestada e acompanhada
da prova da entrega ou remessa da mercadoria. O endossatário, ou portador,
pode promover a ação de execução em relação aos endossantes e respectivos
avalistas, da duplicata com ou sem aceite, se protestada nos trinta dias
após o vencimento, tendo conservado o direito de regresso; pode ser também
promovida contra o aceitante, e contra o sacado, se há comprovante de
remessa ou entrega da mercadoria, e não há recusa formal.

6º - Prescrição
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 113
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A ação de execução da duplicata contra o aceitante, ou sacado e seu
avalista, prescreve em três anos, contados da data do vencimento do título;
em um ano contra os endossantes e seus avalistas, contado do protesto; e em
um ano, da data do pagamento, pelo endossante que pagar, contra os demais
endossantes. A duplicata ou triplicata não aceita e não protestada somente
poderá instruir a ação de conhecimento, com prescrição de 20 anos.

7º - Modelos de duplicata não preenchida, e preenchida e com


aceite

Ender. do emitente:
Município: Estado:
BAZAR GÊNIO LTDA. CGC/MF nº: Insc.Est:
Data da emissão________________________________
_FATURA _ DUPLICATA VENCIMENTO_______________
valor R$ número valor R$ nº de ordem

a Nome do sacado:
s. Endereço:
d Município: Estado:
o Praça do Pagamento:
e Inscr.no CGC/MF nº: Inscr.Estadual nº:
m
i Valor por Extenso: ........................................
t ............................................................
e
n Reconheço(emos)a exatidão desta duplicata de venda no valor
t acima, que pagarei(emos),a Bazar Gênio ltda, ou à sua ordem,
e na praça e data acima indicados.

Em,../../... ___________________________
Data do aceite Assinatura do sacado

EMITENTE = vendedor e credor SACADO = comprador e devedor


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Ender. do emitente: Av. Tico Tico nº 2
Município: Bauru Estado: S.P.
BAZAR GÊNIO LTDA. CGC/MF nº: 111222333-01 Ins.Est.123456789
__________________________Data da emissão:_15/08/98_______________________
__ FATURA DUPLICATA VENCIMENTO____
valor R$ número valor R$ nº de ordem 15/09/98
1.000,00 555 250,00 A/1

Nome do sacado: MARCOS APOLINÁRIO


a Endereço: Rua Cinco nº 15
s. Município: Bauru Estado: SP
d Praça do Pagamento: Bauru
o Inscr.no CGC/MF nº:122233456/77 Inscr.Estadual nº:223456789
e
m Valor por Extenso: DUZENTOS E CINQUENTA REAIS..............
i ............................................................
t
e Reconheço(emos)a exatidão desta duplicata de venda no valor
n acima, que pagarei(emos),a Bazar Gênio ltda, ou à sua ordem,
t na praça e data acima indicados.
e
Em, 28/08/98. ____Marcos
Apolinário___
Data do aceite Assinatura do sacado

EMITENTE = Bazar Gênio Ltda. SACADO/ACEITANTE= Marcos Apolinário

8º - Questionário
1- O que é fatura?
2- O que é duplicata?
3- Quais as diferenças entre fatura e duplicata?
4- A duplicata é de emissão obrigatória?
5- Quem e quando pode emitir duplicata?
6- Em que prazo a duplicata é apresentada ao comprador?
7- Pode ser emitido outro título, na venda de mercadoria à prazo?
8- O que é duplicata de prestação de serviço?
9- Qualquer profissional liberal pode emitir duplicata?
10- Que são requisitos essenciais à duplicata?
11- O que é duplicata simulada?
12- O que é aceite e recusa de aceite de duplicata?
13- Quando pode ser suprido o aceite da duplicata e qual o seu efeito?
14- Qual a consequência da recusa do aceite da duplicata?
15- A duplicata pode ser transferida pelo endosso?
16- O que é triplicata e quais seus efeitos?
17- Quando a duplicata deve ser levada a protesto?
18- Quando deve ser promovido e qual é o efeito do protesto obrigatório da
duplicata?
19- Quando se promove e qual é o efeito do protesto supletivo da duplicata?
20- O que é protesto facultativo da duplicata, e qual é o seu efeito?
21- Como pode ser feita a cobrança da duplicata não paga no vencimento?
22- Quem pode fazer a cobrança da duplicata?
23- A duplicata pode ser cobrada antes do vencimento, se recusado o aceite?
24- Quem responde pelo pagamento da duplicata?
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 115
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25- O aceitante pode recusar o pagamento da duplicata, por não ter recebido
a mercadoria?
26- Pode ser cobrada a duplicata sem protesto por falta de aceite?
27- Como o comerciante pode cobrar o crédito de uma venda à prazo?
28- O que é prescrição da duplicata?
29- O endossante da duplicata pode ser cobrado a qualquer tempo?
30- A duplicata prescrita não pode mais ser cobrada?

QUADRO SINÓTICO

V I – CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E WARRANT

1º- Noções Gerais/Conceito {Decreto n° 1.102/1903 – depósito de mercadoria –


Armazém Geral = guarda e conservação de bens
móveis - emissão dos títulos – utilidade =
comércio – indústria - agricultura – pecuária -
mobilização do capital - crédito imobilizado -
negociação dos títulos – endosso -

Conhecimento de depósito {título impróprio - de legitimação -


entrega de mercadoria depositada no AG –
representativo – conteúdo declaratório -
direito de propriedade sobre mercadorias
depositadas no Armazém Geral – negociação =
endosso -
Warrant {título impróprio - promessa de pagamento - penhor
sobre mercadorias depositadas no AG – endosso -

Circulação {sem vender a mercadoria = endosso do warrant -


crédito - não transfere a propriedade - posse do
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 116
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conhecimento de depósito – transcrição/endosso -
depósito do valor no AG no vencimento ou antes –
venda da mercadoria sem dívida = endosso do
conhecimento de depósito - valor de mercado –
entrega dos dois títulos ao comprador –
venda posterior = endosso do warrant –
transcrição no conhecimento de depósito – endosso
do conhecimento de depósito - valor de mercado
com dedução da dívida do warrant – depósito do
valor do warrant = endossatário – vencimento -
Não pagamento {warrant = protesto – leilão - prazo - ação
condenatória -

Prazo de depósito = seis meses – prorrogação - mercadorias


estrangeiras = até um ano se o estado permitir e
garantir o valor de despesas – abandono –
notificação – leilão - consignação em ação
judicial.

2º- Modelo de Conhecimento de depósito

3º- Modelo de warrant

4º- Questionário

VI - CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E WARRAN T

1º - Noções Gerais e Conceito

Entre os títulos de crédito impróprios estão os de legitimação, que


conferem ao portador o direito de receber a prestação de serviço ou entrega
de uma coisa; entre estes está o conhecimento de depósito, que é emitido
juntamente com o warrant, ambos representativos de mercadorias em depósito
no Armazém Geral, para guarda e conservação. A exibição do conhecimento de
depósito e do warrant legitimam o portador a exigir a entrega da mercadoria
neles especificada e depositada no Armazém Geral.

Armazéns Gerais são depósitos de mercadorias instituídos pelo Decreto


n° 1.102, de 1903, que dispõe sobre a guarda e conservação de bens móveis, e
a emissão dos referidos títulos. Mesmo depositadas, as mercadorias podem
ser objeto de venda, conforme a vontade do seu proprietário, ou apenas ser
guardada, ou ser destinada à exportação, reexportação ou importação.

Não se confunde Armazém Geral com Entreposto ou Armazém de Trapiches.


Entreposto Aduaneiro é depósito de mercadorias comerciais importadas, com
prazo determinado, sujeitas à tributo federal, e criado ou suprimido pelo
poder legislativo federal. Os Armazéns das Docas pertencem às empresas de
docas, disciplinadas pela Lei nº 1.746/1839, para guarda e conservação das
mercadorias de importação e exportação, com as vantagens dos armazéns das
alfândegas e entrepostos, facultada a sua constituição pela administração
federal, ou a ela passar a pertencer pelo resgate ou perda da concessão
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 117
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pelas empresas exploradoras. O Trapiche não tem distinção legal do armazém
geral, mas, é armazém de depósito à beira mar, próximo às enseadas, portos,
ancoradouros, molhes, surgidouros, para guarda de mercadorias importadas ou
exportadas, sob fiscalização direta e imediata das alfândegas, pela sua
localização na zona aduaneira, se sujeitando à legislação aduaneira.

Os Armazéns Gerais são úteis para o comércio, indústria, agricultura


ou pecuária, porque o depositante da mercadoria, nesta investe capital, que
pode ser convertido em novo capital, se mobilizar o valor correspondente ao
crédito imobilizado, negociando os títulos representativos da mercadoria em
depósito, que são o conhecimento de depósito e o warrant.

Conhecimento de depósito e warrant são títulos impróprios equiparados


às cambiais, com cláusula à ordem, transferência por endosso, autonomia,
sujeição ao protesto obrigatório, forma de cobrança e prescrição especiais;
são formais, revestidos dos requisitos essenciais enumerados no art. 15, do
decreto referido, emitidos no mesmo momento, pelo empresário do Armazém
Geral, ou pessoa por ele habilitada. É requisito essencial a especificação
das mercadorias no texto dos títulos, configurando a natureza declaratória
ou representativa das mercadorias depositadas.

Portanto, são títulos de créditos representativos, à ordem, sendo o


conhecimento de depósito de conteúdo declaratório, que confere ao portador
o direito de propriedade sobre as mercadorias depositadas no Armazém Geral,
enquanto o warrant consiste em promessa de pagamento garantida pelo direito
de penhor sobre as mercadorias depositadas.

No momento do depósito, conforme interesse do depositante, que não


deseja a emissão dos títulos, pode ser emitido apenas um simples recibo,
com declaração da natureza, quantidade, peso, medida, número, ou marca da
mercadoria, e tem o efeito somente de comprovar o depósito da mercadoria,
que será entregue ao portador do recibo.

Os títulos são emitidos juntos, podendo circular juntos ou separados,


mediante endosso. O conhecimento de depósito confere direito de propriedade
sobre mercadorias depositadas no AG, e seu endosso confere ao endossatário
ou portador, o direito de cessionário das mercadorias, por pesar sobre elas
o direito de penhor garantido pelo warrant, que confere direito de crédito,
garantido por penhor das mercadorias. Endossados juntos, o endossatário ou
portador não é só cessionário, mas, proprietário das mercadorias, pois tem
também a titularidade do direito de penhor.

A circulação dos títulos, ocorre nas seguintes hipóteses: 1ª) - se o


depositante não deseja transferir a propriedade da mercadoria, necessitando
apenas negociar o crédito do warrant, conserva em seu poder o conhecimento
de depósito, e endossa o warrant por valor e com vencimento convencionados
com o endossatário, transcrevendo o endosso no conhecimento de depósito. O
valor do crédito do warrant depende da natureza e quantidade da mercadoria,
cujo penhor garante o pagamento do título.

Para retirar a mercadoria do AG, o portador do conhecimento de


depósito deve depositar o valor do warrant no AG, no vencimento, ou antes;
2ª) - se o depositante pretender vender a mercadoria, sem assumir dívida
com o warrant, endossa o conhecimento de depósito, pelo valor da venda da
mercadoria, entregando ao comprador os títulos; 3ª) - se o depositante não
quer de imediato vender a mercadoria, mas, necessita negociar o crédito do
warrant, mantém consigo o conhecimento de depósito, endossando o warrant,
por valor e vencimento acordado com o endossatário, facultado pela natureza
das mercadorias, cujo penhor garante o pagamento, e transcreve o endosso no
conhecimento de depósito. Depois, se desejar vender as mercadorias,
endossa o conhecimento de depósito, no valor de mercado, obtido na venda,
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 118
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recebendo o pagamento com dedução do valor do warrant, pois, o endossatário
do conhecimento de depósito, comprador e novo proprietário das mercadorias,
deve depositar o valor do warrant, no AG, no vencimento ou antes, para
retirar as mercadorias depositadas.

No primeiro endosso do warrant é lançado o valor do crédito garantido


pelo penhor das mercadorias, taxa de juros e data do vencimento, que são
transcritos no conhecimento de depósito, cujo portador retira a mercadoria
mesmo antes do vencimento do warrant, se depositar o seu valor e juros; do
depósito antecipado, o armazém geral avisa o primeiro endossante, pagando o
portador, mediante restituição do título quitado. Não entregue o warrant ao
AG até oito dias após o vencimento, a quantia é depositada judicialmente.

O portador do warrant, que no dia do vencimento não for pago e não


encontrar consignada no armazém geral a quantia do seu crédito mais juros,
deve levar o título ao protesto no primeiro dia útil seguinte ao vencimento
e nos dez dias após o protesto, requerer ao AG o leilão das mercadorias.
Não providenciado o protesto ou o leilão nos prazos fixados, o credor pode
promover apenas ação condenatória contra o primeiro endossador do warrant e
endossantes do conhecimento do depósito, e não sendo integralmente pago com
o leilão, ou indenizado pelo seguro no caso de sinistro, tem ação para
haver o saldo contra os endossantes anteriores, solidariamente.

O prazo de depósito é de seis meses contados da entrega da mercadoria


no AG, sendo prorrogado por acordo entre as partes; mercadoria estrangeira
sujeita a direito de importação, tem o prazo prorrogado até um ano, se seu
estado permitir e garantir as despesas.

Não procurada após o prazo, a mercadoria é considerada abandonada; o


depositante é notificado pelo AG, para retirá-la e entregar o recibo ou
títulos emitidos, em oito dias, sob pena de venda em leilão, e o saldo do
produto consignado em ação judicial.

2º - Modelo de conhecimento de depósito


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 119
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CONHECIMENTO DE DEPÓSITO
COMPANHIA ....................................DE ARMAZÉM GERAL
Sede...............................

Livro de Entrada e Saída PRAZO DO DEPóSITO


Nº......... Fls......... de....de...........de.........
a....de...........de.........
Ficam depositadas sob o nº........, neste armazém............, sito à
rua..................nº....., nos termos do Decreto nº 1.102, de 1903,
Regulamento dos Armazéns Gerais, as mercadorias abaixo descritas rece-
bidas do Sr............................., com endereço à rua .........
............., nº....., cidade ...................., e estado ........
_________________________________________________________________________
Quantidade Espécie Marca Número Peso Volumes Estado dos envoltórios e
__________________________________________________________________ outras indicações_______
_________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
DECLARAÇÃO DO WARRANT
Declaro que o warrant foi
endossado para garantir a
quantia de R$ ...........
Em, .....de.................de.......... com juros de ....ao ano e
vencimento em ...........
a .......................
................................ end......................
Fiel cidade...................
Em,...de...........de....
................................ .........................
Diretores (assinatura endossatário)

Seguro contra ....................... DESPESAS


na importância de.................... local R$
na COMPANHIA......................... Armazenagem......................
com indenização pelo preço oficial da Seguro...........................
Bolsa de Mercadorias de.............. Carreto..........................
..................................... Ensaque..........................
Despachos........................

3º - Modelo de warrant
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 120
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COMPANHIA ..................................DE ARMAZËM GERAL


Sede.....................Rua.......................Nº.......
___________________________________________________________________________

"WARRANT" À ORDEM

Nº........... data da entrada...../............./......

Ficam depositadas sob o nº........, pelo Sr................


......................................, morador em .........,
à rua.................................................nº....,
as mercadorias abaixo especificadas, procedentes de..........
e seguras contra risco de incêndio na Cia...................,
sob apólice nº........., de ......propriedade.
___________________________________________________________________________
Quantidade, Espécie e Marca Número e Peso Bruto dos Volumes
___________________________________________________________________________
.......................................................................
.......................................................................
.......................................................................
.......................................................................
.......................................................................
___________________________________________________________________________
Qual.e Quant. Valor da merc. Outras indic. de Natureza do envoltório
da mercadoria conf. fatura identif. da merc. da mercadoria_________
.......................................................................
.......................................................................
.......................................................................
.......................................................................
.......................................................................
.......................................................................
___________________________________________________________________________

Transcrição do primeiro endosso do "Warrant"


Data...../........../..... Vencimento...../......../.....
Cessionário...........................................................
End...................................................................
Importância garantida.................................................
Assinatura do endossante............................

4º - Questionário
1- O que é e qual é a finalidade dos Armazém Geral?
2- O que são conhecimento de depósito e warrant?
3- Como são negociados o conhecimento de depósito e o warrant?
4- Como é feita a cobrança do conhecimento de depósito e do warrant?
5- Qual é a consequência do não pagamento do warrant?

QUADRO SINÓTICO
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 121
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VII – CONHECIMENTO DE TRANSPORTE

1º- Noções Gerais/Conceito {recibo de entrega – transportador -


conhecimento de transporte - título de crédito -
representativo - mercadoria transportada –
terra - água – ar – local de destino -
Decreto nº 19.473/30 -
portador – nominativo - à ordem - não à ordem -
endosso = em branco - em preto – transferência
da propriedade da mercadoria -
Remetente/consignante = entrega a mercadoria -
consignatário = destinatário – endossatário -
portador - pagamento do frete -

2º- Modelo de Conhecimento de Transporte

3º- Questionário

VII - CONHECIMENTO DE TRANSPORTE


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 122
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1º - Noções Gerais e Conceito

Ao ser promulgado o nosso CÓDIGO COMERCIAL, não era ainda conhecido


como título de crédito, o conhecimento de transporte, pois a entrega de
mercadoria para ser transportada se fazia mediante simples recibo, para
comprovar apenas a entrega da mercadoria para o transportador, que deveria
entregá-la no local de destino.

As necessidades do comércio provocaram a substituição de recibo pelo


conhecimento de transporte, que é um título de crédito representativo de
mercadoria a ser transportada, por terra, água ou ar, legitimando o seu
portador, destinatário ou endossatário, a exigir a sua entrega, no local de
destino. O decreto nº 19.473, de 10.12.1930, disciplina a emissão e a
circulação do conhecimento de transporte.

Como é título ao portador, pode ser emitido sob a forma nominativa,


ou à ordem, ou ao portador, bem como, nominativo com cláusula não à ordem,
restringindo, neste último caso a circulação do conhecimento de transporte.
A circulação se opera pelo endosso, que pode ser em branco ou em preto,
transferindo, o endosso simples, a propriedade das mercadorias.

Remetente ou consignante é aquele que entrega a mercadoria a ser


transportada; consignatário é aquele a quem a mercadoria deve ser entregue.
O remetente, pretendendo ele mesmo receber a mercadoria pode se colocar
como consignatário, podendo também o consignatário ser o portador, neste
caso presume-se proprietário da mercadoria o portador do título, o mesmo
ocorrendo diante da omissão de designação do consignatário.

Como dispõe o art. 7º, do referido decreto, tanto o remetente, também


designado consignatário, como o endossatário ou o portador, entregando o
conhecimento de transporte ao transportador, pode exigir no local de
destino, a entrega da mercadoria transportada, pagando o frete, caso não
tenha sido pago, e demais despesas, exigindo em conseqüência o crédito
representado pela entrega da mercadoria.

O prejudicado pela recusa injustificada da entrega da mercadoria no


local de destino, estando pago o frete, ou indenização em caso de sinistro,
para obter o ressarcimento dos seus danos, deve procurar a área judicial, e
promover ação de conhecimento condenatória em relação ao autor do prejuízo,
que pode ser a transportadora, ou a companhia de seguros.

A transportadora, por disposição da lei, é obrigada a firmar contrato


de seguro, garantindo o ressarcimento da eventual perda da mercadoria
transportada, em caso de sinistro.

Ocorrendo avarias, danos ou perda total da mercadoria entregue para


ser transportada, por culpa da transportadora, esta responde pelos danos
ocasionados, junto ao destinatário, endossatário ou portador do título.

2º - Modelo de Conhecimento de Transporte


MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 123
ACOSTA________

EMPRESA DE TRANSPORTES:..........................................
Sede:....................Rua.............................Nº......
Filial:.....................Matriz...............................
Agências:........................................................
_______________________________________________________________________
CONHECIMENTO DE TRANSPORTE
Em......de..........de....... Nº.............Série.........
_______________________________
Remetente:........................ ENTREGA
Rua.....................Nº........ _______________________________
Destinatário:..................... Frete........................
Rua.....................Nº........ _______________________________
Destino:.......................... Redespacho...................
Observações:...................... _______________________________
.................................. Cálculo até..................
___________________________________________________________________________
Nº Marca Quant. Espéc. Design. Quilos Frete R$.............
____________________________________________ Taxa min. R$.............
......................................... De valor R$.............
......................................... Despacho R$.............
......................................... Imposto R$.............
......................................... Seguro R$.............
......................................... RedespachoR$.............
......................................... Total R$.............
___________________________________________________________________________
Valor: R$................... Nota Fiscal Nº.............
............................ Guia Nº....................
___________________________________________________________________________
Importante: no caso de desastre ou in- datiló confe- despa-
cêndio, a EMPRESA só se responsabiliza grafo rente chante
por mercadoria segurada por autoriza-
ção de ambas as partes. Mediante taxa ......... ........ .......
módica a EMPRESA fará o seguro de suas ......... ........ .......
mercadorias, garantidos desses riscos.
___________________________________________________________________________

Recebi da EMPRESA DE TRANSPORTES.............................,


as mercadorias constantes do conhecimento nº........série.....,
..................................................
(datar, assinar e devolver pelo portador)

3º - Questionário
1º- O que é conhecimento de transporte?
2º- Quem são credor e devedor no conhecimento de transporte?
3º- O conhecimento de transporte pode ser negociado? Como?
4º- Como é satisfeito o crédito do conhecimento de transporte?
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 124
ACOSTA________
QUADRO SINÓTICO

VIII – TÍTULOS DE PARTICIPAÇÃO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO

1º- Noções Gerais – Conceito - Espécies {várias leis –


participação = imperfeito - parcela do capital -
sociedade ou associação – utilização de bens -
fiscalização – participação de eventos – partilha
de resultados financeiros – nominativos – endosso
em preto – registro no livro = ações de S/A -
títulos patrimoniais - etc.

financiamento = imperfeito – financiamento = área


rural – industrial – de exportação – comercial -
credora = instituição financeira –
devedor = empresário rural/industrial/exportador/
comercial -
à ordem - promessa de pagamento - devedor
financiado - cédula de crédito rural - nota de
crédito rural - nota promissória rural -
duplicata rural - cédula de crédito industrial -
nota de crédito industrial - cédula de crédito à
exportação - nota de crédito à exportação -
cédula de crédito comercial - nota de crédito
comercial - cédula de crédito hipotecária -
financiamento - instituição financeira - compra
de casa própria – SFH -

investimento = imperfeito – S/A ou instituição


financeira - captar recursos populares - promessa
de pagamento - poupança privada -
devedora = instituição financeira ou S/A –
credor = cidadão – investidor –
certificado de depósito bancário – debêntures -

2º- Modelos {certificado de ações – cédula de crédito rural hipotecária –


nota de crédito rural – nota promissória rural –
duplicata rural – debêntures -

3º- Questionário
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 125
ACOSTA________
VIII – TÍTULOS DE PARTICIPAÇÃO,

FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO

1º - Noções Gerais, Conceitos e Espécies

Títulos de participação são também títulos de crédito imperfeitos, e


representam parcelas do capital de uma sociedade ou associação, conferindo
ao seu titular o direito de se utilizar, conforme as regras de organização,
de determinados bens patrimoniais, fiscalizar e usufruir da realização de
eventos, e ainda, conforme o caso, receber parcelas devidas em virtude de
resultados financeiros. São nominativos, negociáveis mediante endosso em
preto, e lançamento no livro de transferência da sociedade ou associação.
São as ações das sociedades anônimas, títulos de sociedades e associações
recreativas, esportivas, culturais, etc.

De financiamento são títulos de crédito imperfeitos, que representam


o crédito resultante de financiamento concedido por instituição financeira,
dentro dos limites fixados por lei, para um empresário rural, industrial,
exportador ou comercial, aplicar no desenvolvimento da sua atividade. São,
em regra, títulos à ordem, configuram promessa de pagamento em dinheiro,
pelo devedor financiado, para a instituição financeira credora. São títulos
de financiamento: cédula de crédito rural, nota de crédito rural, nota
promissória rural, duplicata rural, cédula de crédito industrial, nota de
crédito industrial, cédula de crédito à exportação, nota de crédito à
exportação, cédula de crédito comercial, e nota de crédito comercial.

A cédula de crédito hipotecária é título de crédito de financiamento,


representativa do crédito da instituição financeira, por financiamento para
a compra de casa própria, através do sistema financeiro de habitação.

De investimento são os títulos de crédito imperfeitos, emitidos pelas


instituições financeiras ou sociedades anônimas, para captar recursos junto
a populares, configurando promessa de pagamento pela emitente em estímulo à
poupança privada. É devedora a instituição financeira ou sociedade anônima
emitente e credor qualquer cidadão, designado investidor. São títulos de
investimento os certificados de depósitos bancários, as debêntures, etc.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 126
ACOSTA________

2º - Modelos

Título de Participação

Certificado de ações de S/A sem preenchimento:

#########################################################################
#########################################################################
#########################################################################
## ##
## COMPANHIA................................................... ##
## SEDE........................................................ ##
## Registrada na Junta Comercial do Estado de ................. ##
## sob o nº.............., em.....,................, de ....... ##
## ##
## ##
## .......AÇÕES ORDINÁRIAS ##
## ##
## ##
## ##
## NUMERAÇÃO DAS AÇÕES: SÉRIE.............. ##
## DE Nº............... ##
## A Nº................ ##
## ##
## O SR....................................................... ##
## ........................................................... ##
## É POSSUIDOR DE ...............AÇÕES ORDINÁRIAS, COM O VALOR ##
## NOMINAL DE R$.............................................. ##
## CADA UMA, PODENDO EXERCITAR TODOS OS DIREITOS PREVISTOS NO ##
## ESTATUTO SOCIAL, E NA LEGISLAÇÃO ESPECIAL EM VIGOR. ##
## ##
## ##
## ..............., em ......, de....................de...... ##
## ##
## ##
## ##
## ................../............/........ ##
## local e data da emissão ##
## ........................ .......................... ##
## Diretor Diretor ##
## ##
#########################################################################
#########################################################################
#########################################################################
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 127
ACOSTA________

Títulos de Financiamento

Cédula de Crédito Rural Hipotecária, sem preenchimento:

Nº........ Vencimento em.....de.................de.....

R$.....................

Aos.....................................de......pagar...
por esta CÉDULA DE CRÉDITO RURAL HIPOTECÁRIA, a.........
......................................., ou à sua ordem,
a quantia de ..........................................,
em moeda corrente, valor do crédito do financiamento de:
........................................................
.......................................................,
que será utilizado do seguinte modo:....................
........................................................
........................................................
........................................................
........................................................
........................................................
São devidos juros à taxa de................ao ano, sendo
de...........................a comissão de fiscalização.
O pagamento será efetuado na praça de...................
...............na data do vencimento. Os bens vinculados
são os seguintes:.......................................
........................................................
........................................................
........................................................
........................................................
........................................................
........................................................
........................................................

............../........../.......
local e data da emissão

.................................
assinatura do devedor
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 128
ACOSTA________

Nota de Crédito Rural, sem preenchimento:

Nº........ Vencimento em.....de.................de....

R$........................

Aos.....................................de......pagar.....
por esta NOTA DE CRÉDITO RURAL, a.........................
........................................., ou à sua ordem,
a quantia de ............................................,
em moeda corrente, valor do crédito do financiamento de:
..........................................................
.........................................................,
que será utilizado do seguinte modo:......................
..........................................................
..........................................................
..........................................................
..........................................................
..........................................................
..........................................................
..........................................................
São devidos juros à taxa de..................ao ano, sendo
de.............................a comissão de fiscalização,
..........................................................
O pagamento será efetuado na praça de.....................
...............na data do vencimento.
..........................................................
..........................................................

............../........../.........
local e data da emissão

........................ ................................
assinatura do avalista assinatura do devedor
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 129
ACOSTA________

Nota Promissória Rural sem preenchimento:

Nº........ Vencimento em.....de.................de.......

R$.........................

Aos ........................................de......pagar..
por esta NOTA PROMISSÓRIA RURAL, a.........................
.........................................., ou à sua ordem,
a quantia de .............................................,
..........................................................,
valor da compra, que lhe fiz, .............................
..........................................................,
pela qual me (nos) foram entregues as seguintes mercadorias
de sua propriedade:........................................
...........................................................
...........................................................
...........................................................
...........................................................
...........................................................
...........................................................
O pagamento será efetuado na praça de......................
...............na data do vencimento, .....................
...........................................................
...........................................................

................./........../.......
local e data da emissão

........................ ..............................
assinatura do avalista assinatura do emitente
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 130
ACOSTA________

Duplicata Rural sem preenchimento:

________________________________________________________________

DUPLICATA RURAL
Nº.......
Vencimento em.....de.................de.....

R$.....................

Sr................................., estabelecido em....


.........................., deve a......................
..................................., estabelecido em....
.........................., a importância de............
........................................................
.......................................................,
valor da compra dos seguintes bens:.....................
........................................................
........................................................
........................................................
........................................................
........................................................
........................................................

............../........../.......
local e data da emissâo

.................................
assinatura do vendedor

Reconheço(emos) a exatidão desta Duplicata Rural, na


importância acima, que pagarei(emos) a..................
..........., ou à sua ordem, na praça de...............,
na data do vencimento.
.................................
local e data da emissão

.................................
assinatura do comprador
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 131
ACOSTA________

Títulos de Investimento

Debêntures sem preenchimento:

*************************************************************************
*************************************************************************
*************************************************************************
** **
** COMPANHIA................................................... **
** Sede........................................................ **
** Registrada na Junta Comercial do Estado de ................. **
** sob o nº.............., em.....,................, de ....... **
** **
** **
** DEBÊNTURES **
** **
** **
** TÍTULO MÚLTIPLO Nº........... QUANTIDADE........ **
** Série ........... **
** **
** O Sr..................................., credor deste título **
** representativo de .........(.................................... **
** .....................) DEBÊNTURES, emitido nos termos do Decreto **
** nº 177-A/93, e Lei nº 4.728/65, de nºs:............a .........., **
** com o valor nominal de R$....................(.................. **
** .....................................................) cada uma, **
** com vencimento em............................, e juros de ...... **
** ................ ao ano, tem assegurados os direitos e vantagens **
** previstos na lei. Semestralmente, a partir desta emissão, serão **
** pagos os juros e a correção monetária de.....(.................. **
** .............), calculados sobre o valor nominal das debêntures. **
** Emissão autorizada por ata arquivada na Junta Comercial sob o nº **
** ..............., em ......, de....................de...... **
** **
** ................../............/........ **
** local e data da emissão **
** ........................ .......................... **
** Diretor Diretor **
** **
*************************************************************************
*************************************************************************
*************************************************************************
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 132
ACOSTA________

Debêntures conversíveis em ações, sem preenchimento:

*************************************************************************
*************************************************************************
*************************************************************************
** **
** COMPANHIA................................................... **
** Sede........................................................ **
** Registrada na Junta Comercial do Estado de ................. **
** sob o nº.............., em.....,................, de ....... **
** CAPITAL SOCIAL: R$.......................................... **
** Dividido em: ..............ações ordinárias **
** e..............ações preferenciais **
** **
** DEBÊNTURES CONVERSÍVEIS EM AÇÕES **
** **
** **
** TÍTULO MÚLTIPLO Nº........... QUANTIDADE.................... **
** Série ........... Nº............a nº............ **
** **
** O Sr......................................................., **
** credor deste título representativo de .........(................ **
** ..........) DEBÊNTURES CONVERSÍVEIS EM AÇÕES, de nº............. **
** a nº.............., série....., com valor nominal de R$......... **
** (......................) cada uma, emitidas conforme o Decreto nº **
** 177-A/93, e Lei nº 4.728/65, pela sociedade..................... **
** ............................................, com autorização da **
** Assembléia Geral de ............,cuja Ata foi arquivada na Junta **
** Comercial deste Estado, sob o nº............, tem assegurados os **
** direitos e vantagens previstos na lei, nas condições que regem a **
** presente emissão, ocorrendo a conversão deste título em......... **
** (...................) ações............... da emitente, no prazo **
** de...............(........................), a contar da data da **
** emissão deste título, ou ocorrendo o resgate em dinheiro, pelo **
** valor nominal, nas condições inseridas no verso. **
** **
** Anualmente, a contar da data da emissão deste título, e ante **
** a sua apresentação, serão pagos juros de .....(................. **
** .............) calculados sobre o valor nominal das debêntures. **
** **
** ..............., em ......, de....................de...... **
** **
** **
** ................../............/........ **
** **
** local e data da emissão **
** ........................ .......................... **
** Diretor Diretor **
** **
*************************************************************************
*************************************************************************
*************************************************************************
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 133
ACOSTA________

3º - Questionário
1º- Que são títulos de participação?
2º- Como são emitidos os títulos de participação?
3º- Quem são credor e devedor do título de participação?
4º- Os títulos de participação são negociáveis?
5º- Quais as espécies de títulos de participação?
6º- Qual é o direito conferido pelo título de participação?
7º- Que é título de financiamento?
8º- Como se classifica o título de financiamento?
9º- Quem são credor e devedor do título de financiamento?
10º- Os títulos de financiamento são negociáveis?
11º- Quais as espécies de títulos de financiamento?
12º- Que espécie de título é a cédula de crédito hipotecária?
13º- Que é título de investimento?
14º- Como são emitidos os títulos de investimento?
15º- Quem são credor e devedor do título de investimento?
16º- Os títulos de investimento são negociáveis?
17º- Quais as espécies de títulos de investimento?
18º- Qual é o direito conferido pelo título de investimento?

BIBLIOGRAFIA

1. ALMEIDA, AMADOR PAES DE – Teoria e Prática dos Títulos de Crédito,


17ª ed., Saraiva, 1998;

2. BULGARELLI, WALDIRIO - Títulos de Crédito, 12ª ed., Atlas, 1996;

3. COELHO, FÁBIO ULHOA – Manual de Direito Comercial, 4ª ed., Saraiva,


1993;

4. COELHO, FÁBIO ULHOA – Código Comercial e Legislação Complementar


Anotados, Saraiva, 1995;

5. FÜHRER, MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO – Resumo de Direito Comercial,


7ª ed., Revista dos Tribunais, 1989;

6. MARTINS, FRAN – Títulos de Crédito, 6ª ed., Forense, 1989;

7. REQUIÃO, RUBENS – Curso de Direito Comercial, 21ª ed., 2º V., Saraiva,


1993.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 134
ACOSTA________

QUARTA PARTE

FALÊNCIA E CONCORDATA
SUMÁRIO
I - FALÊNCIA
1º- Conceito
2º- Caracterização
3º- Requerimento da falência
A- Competência
4º- Efeitos
A- Formação da Massa Falida
5º- Instauração de Inquérito Judicial
6º- Liquidação
7º- Encerramento da falência
8º- Procedimentos Especiais
9º- Questionário

II- CONCORDATA
1º- Conceito e Espécies
2º- Impedimentos
3º- Oposição
4º- Efeitos
5º- Cumprimento
6º- Questionário

III - CONCORDATA PREVENTIVA


1º- Noções Gerais
2º- Competência
3º- Representação do Devedor
4º- Condições Legais
5º- Nomeação do Comissário
6º- Procedimento
7º- Questionário

VI - CONCORDATA SUSPENSIVA
1º- Noções Gerais
2º- Modalidades de pagamento
3º- Procedimento
A- Representação
B- Concessão e Cumprimento
4º- Questionário

V - CRIMES FALIMENTARES
1º- Definição
2º- Espécies
3º- Tentativa
4º- Unidade Do Crime Falimentar
5º- Ação Penal Falimentar Extraordinária
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 135
ACOSTA________
6º- Interdição
7º- Reabilitação Criminal
8º- Prescrição
9º- Questionário

QUADRO SINÓTICO

I – FALÊNCIA

1º- Conceito {situação jurídica - sentença - devedor comerciante - título


de crédito - ato de falência - civil = insolvência -
exclusão {total = economia mista –seguros - crédito real –
menor de dezoito anos –
parcial = intervenção e liquidação extrajudicial =
instituição financeira – consórcio – arrendadora -

2º- Caracterização {pressupostos: devedor comerciante = ato de comércio –


insolvência = não pagamento = dívida/título – protesto -
razão de direito – ato de falência enumerado na lei -
declaração judicial = sentença – termo legal/síndico –

3º- Requerimento da falência {devedor = auto-falência - dívida vencida -


gerente/diretor/liquidante/sócio/espólio - credor civil
ou comercial regular – título = vencido/protestado –
defesa = razão de direito - ato de falência = provas -
A- Competência {estabelecimento principal – residência - gerência -
diretoria - bens – escrituração – indivisível – universal -

4º- 4º- Efeitos {credores = massa falida – suspensão/ações/prescrição/juros –


antecipa/dívidas – falido = bens – ausência - correspondência–
A- Massa Falida {universalidade de fato - sem personalidade jurídica –
bens penhoráveis/credores - representante = síndico =
maior credor/terceiro – arrecadação de todos os bens –
bens com terceiro - ato ineficaz/fraude – revogação –
bens de terceiro – contrato - venda à prazo e entrega
15 dias antes do pedido = ação de restituição –
avaliação dos bens – nomeação de perito avaliador -
declarações dos credores – impugnações - julgamento –
quadro de credores – 1º relatório -

5º- Instauração de Inquérito Judicial {exposição – motivos – comportamento


do falido – perícia - crime falimentar – inquérito
judicial - falido/síndico/contador/perito – antes ou
depois - denúncia – condenação - interdição -

6º- Liquidação {venda = leilão - propostas – pagamentos - quadro – rateio –

7º- Encerramento da falência {sentença - inexistência de bens – prestação


de contas – relatório – prescrição – retorno = extinção das
obrigações - condenação = reabilitação criminal - JC -

8º- Procedimentos Especiais {frustrada = bens inexistentes/insuficientes -


encerramento – relatório – inquérito judicial – sumária =
passivo inferior 100SM - impugnação/exame/julgamento =
quadro de credores – 1º relatório = inquérito judicial -
liquidação – prestação de contas – 2º relatório -
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 136
ACOSTA________

9º- Questionário

I – FALÊNCIA

1º - Conceito

A falência é uma nova situação jurídica, estabelecida por sentença do


juiz, para o devedor comerciante, que não paga dívida representada por
título de crédito vencido e protestado, ou pratica um dos atos enumerados
na lei, designados de atos de falência.

Apenas o devedor comerciante está sujeito à falência, pois os


devedores civís se submetem à ação de insolvência; mesmo assim, há
determinados comerciantes, como os menores de dezoito anos, as sociedades
anônimas de economia mista, as de seguros, e as de crédito real, que estão
totalmente excluídos da falência, enquanto as instituições financeiras, as
sociedades de arrendamento mercantil, de consórcio para aquisição de bens,
e outras similares, estão excluídas parcialmente da falência, porque se
submetem, antes, conforme disposição de lei especial, ao procedimento
administrativo de intervenção e liquidação extrajudicial.

2º - Caracterização
A caracterização da falência depende de três pressupostos: qualidade
de comerciante do devedor, exteriorização do estado de fato de insolvência,
e a declaração judicial, que converte o estado de fato de insolvência do
devedor comerciante em estado de direito, que é a falência, provocando a
paralisação da atividade comercial e o fechamento do seu estabelecimento
comercial, logo após ser proferida a sentença pelo juiz.

A qualidade de comerciante do devedor decorre da prática profissional


e habitual do ato de comércio enumerado na lei, seja ele comerciante
regular, irregular ou de fato, individual ou sociedade comercial.

A insolvência, que pode provocar o pedido de falência, se exterioriza


com a prática de qualquer dos dois fatos previstos na lei: a impontualidade
desmotivada ou ato de falência taxativamente enumerado na Lei de Falências,
de nº 7.661, de 1.945.

A impontualidade desmotivada se configura pelo não pagamento de


dívida representada por título de crédito, extrajudicial ou judicial,
vencido e protestado, sem relevante razão de direito, ou seja, sem motivo.
Relevante razão de direito é qualquer das causas enumeradas na Lei
Falencial, como: a prescrição, a nulidade do título ou da obrigação, o
pagamento ou depósito judicial da dívida, o requerimento de concordata
preventiva, e a cessação do exercício do comércio há mais de dois anos.

A prática de um ato de falência gera a presunção de que o comerciante


devedor não tem condições ou disposição de pagar suas dívidas, e permite ao
credor, mesmo sem estar vencido o título representativo do seu crédito, o
requerimento da falência do devedor comerciante. A lei enumera os seguintes
atos de falência: não pagar, depositar o valor da dívida, nem nomear bens à
penhora, o devedor comerciante executado; promover liquidação precipitada
ou usar meios ruinosos ou fraudulentos, para fazer pagamentos; convocar os
credores para propor dilação de prazo de pagamento ou remissão das dívidas,
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 137
ACOSTA________
ou cessão de bens; tentar ou realizar negócio simulado, ou alienar bens do
ativo a terceiros; transferir o estabelecimento comercial sem a anuência ou
o pagamento dos credores; constituir garantia real de dívida anteriormente
assumida; e abandonar o estabelecimento comercial.

3º - Requerimento da falência
O pedido de falência pode ser feito pelo próprio devedor, que não tem
condições de pagar as dívidas vencidas há mais de trinta dias. É designada
auto-falência e requerida, se sociedade comercial, pelo gerente, diretor,
sócio ou liquidante, e se o comerciante devedor faleceu, pelo seu espólio,
representado pelo inventariante, ou cônjuge sobrevivente, ou herdeiros.

A falência pode ser requerida também pelo credor, seja o crédito de


natureza civil, ou comercial, porém, neste último caso, em que o titular é
comerciante, este deve ser comerciante regular, não irregular ou de fato,
que não pode pedir a falência de outro comerciante regular ou de fato.

Para requerer a falência do devedor comerciante, por impontualidade


desmotivada, o credor deve juntar ao pedido o título de crédito vencido e
protestado. O devedor citado do pedido de falência pode se defender, em
vinte e quatro horas, demonstrando ter razão de direito para não pagar, ou
deve efetuar o pagamento, no mesmo prazo. Sendo a falência requerida por
prática de ato de falência, o credor deve indicar na lei o ato praticado e
juntar provas, ou requerer designação de audiência para provar o alegado,
através de testemunhas ou outras provas, enquanto o devedor também no prazo
de vinte e quatro horas após a citação pelo oficial de justiça, pode se
defender, alegando e demonstrando, mesmo em audiência, que não praticou o
ato de falência.

A- Competência
A falência do devedor é requerida ao juiz competente para a declarar,
que é o do local onde está o seu estabelecimento principal, assim entendido
onde está a gerência ou diretoria da sociedade comercial, ou residência do
comerciante individual com várias lojas, ou a maior quantidade de bens, ou
onde é feita a escrituração. É o princípio da indivisibilidade, pelo qual,
apenas um juiz no território nacional pode declarar a falência do devedor
comerciante. O juízo da falência é ainda universal, porque examina e decide
todas as ações contra o devedor, de interesse da falência.

4º - Efeitos
Na sentença que declara a falência é nomeado o síndico, que arrecada
os bens do devedor e administra a massa falida; é fixado o termo legal, em
até sessenta dias antes do primeiro protesto ou do pedido de falência, como
período suspeito, sendo ineficazes para a massa certos atos nele praticados
pelo devedor; é fixado prazo para os credores declararem seus créditos, e
apresentarem impugnações dos créditos declarados por outros credores.

São efeitos da falência, para os credores: formação da massa falida,


suspensão das ações promovidas contra o devedor, antecipação do vencimento
das dívidas, suspensão da prescrição e de juros; e, para o falido: perda da
posse, administração e disponibilidade dos bens, que são arrecadados pelo
síndico, para formar a massa falida, passando a este a posse, administração
e disponibilidade dos bens, a serem vendidos, para pagamento dos credores;
restrição do direito de ir e vir e de abrir a correspondência, pois, para
se ausentar do local em que foi declarada a falência, deve comunicar ao
juiz, enquanto a correspondência é aberta pelo síndico, na sua presença.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 138
ACOSTA________
A- Formação da Massa Falida
A massa falida se forma a partir do momento em que o síndico promove
a arrecadação de bens do falido, e os credores declaram os seus créditos.

Portanto, a massa falida é a universalidade dos bens penhoráveis do


devedor falido, que são arrecadados pelo síndico, e dos credores, compondo
ambos uma universalidade de fato, por não adquirir personalidade jurídica,
embora seja representada pelo síndico, para integrar a ação de falência, ao
lado do falido e credores.

O síndico é nomeado pelo juiz, entre os maiores credores do falido,


residente no local da declaração da falência, e de reconhecida idoneidade
moral e financeira, para arrecadar bens, livros e documentos do falido,
mantê-los em sua posse e guarda, vendê-los na fase de liquidação e pagar os
credores, que comparecem na falência, com as declarações de créditos. Não
podem ser arrecadados bens impenhoráveis, salvo os utilizados no desempenho
da profissão, nem os dotais e particulares do cônjuge e filhos do falido.

Para compor a massa falida, os credores apresentam suas declarações


individuais de crédito, no prazo fixado pelo juiz, ou antes do encerramento
da falência; os créditos declarados são examinados pelo síndico, falido e
representante do Ministério Público, e incluídos no quadro de credores, se
julgados exatos. Os credores, após o prazo para declarações de crédito, têm
prazo para impugnar os créditos declarados, provando a irregularidade,
falsidade, ou inexatidão deles, para excluí-los parcial ou totalmente da
falência. Não comprovadas as impugnações, os créditos são incluídos no
quadro de credores, mas, comprovadas, são excluídos.

O síndico também pode arrecadar bens, que se encontram em poder de


terceiros, pela prática de ato considerado ineficaz ou revogável pela lei,
como: pagamento de dívida não vencida ou por meio diverso do contratado, ou
constituição de direito real de garantia, no termo legal; transferência de
bens gratuitamente ou renúncia a herança, nos dois anos antes da falência;
inscrição de direito real ou registro de transferência de propriedade após
a declaração da falência; venda do estabelecimento comercial sem anuência
dos credores; e qualquer ato ajustado com terceira pessoa, em prejuízo dos
credores. Se o terceiro resistir à arrecadação, o síndico deve promover
ação revogatória, para recuperar o bem para a massa.

Como o síndico é obrigado a arrecadar todos os bens, que se encontram


em poder do falido, se arrecadar bem de terceiro, este deve propor ação de
restituição ao juíz da falência. Também pode ser requerida a restituição de
mercadoria vendida para pagamento à prazo e entregue ao falido nos quinze
dias antes do pedido da falência.

Os bens da massa são avaliados e levados à venda pública, em leilão


ou por propostas de interessados; após a venda ela se extingue. O pagamento
dos credores, com o produto das vendas, é efetuado conforme a classificação
dos créditos, como segue:

1º) – de empregados, de indenização por acidente de trabalho;


2º) – de empregados, por verbas salariais;
3º) – da fazenda pública;
4º) – por encargos da massa, assumidos pelo síndico, conforme a lei;
5º) – por dívidas da massa, contraídas pela massa,
6º) – com direito real de garantia, por hipoteca ou penhor;
7º) – com privilégio especial, que são enumerados na lei;
8º) – com privilégio geral, também enumerados na lei; e
9º) – quirografários, que não têm garantia de direito real nem privilégio.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 139
ACOSTA________
5º - Instauração de Inquérito Judicial
Declarada a falência e arrecadados os bens, o juiz nomeia perito para
fazer o exame contábil, e verificar se houve prática de crime falimentar.

Com base no laudo do perito, o síndico deve apresentar uma exposição


sobre os motivos da falência e a conduta do falido, apontando eventuais
crimes falimentares praticados por ele, com a finalidade de fundamentar a
instauração do inquérito judicial.

O inquérito judicial equivale ao policial, instaurado pela autoridade


policial para apurar prática de crime comum, e difere deste, por ocorrer no
curso da falência, na área judicial, e presidido pelo juiz. Tendo provas do
crime cometido pelo falido ou outra pessoa, como o síndico, contador,
perito, etc., antes ou depois da falência, o Promotor de Justiça oferece
denúncia, e o recebimento desta pelo juiz dá início à ação penal, no juízo
criminal, que após produção de provas, absolve ou condena o réu. O falido
condenado pelo crime falimentar, pode ser interditado para o comércio.

6º - Liquidação
Enquanto o inquérito judicial tem andamento em separado, o de
falência, após a arrecadação de bens do falido pelo síndico, na presença do
Promotor de Justiça, tem continuidade, com a nomeação de perito, exame das
declarações e impugnações de créditos, elaboração do quadro de credores,
apresentação do primeiro relatório do síndico, e com a fase de liquidação,
em que os bens são vendidos e pagos os credores, pelo produto apurado. A
venda dos bens é feita por leilão ou propostas, conforme opção do síndico,
adquirindo o bem o candidato com melhor oferta.

Com o produto da venda, o síndico paga os credores, fazendo o rateio,


quando o produto da venda é insuficiente para pagamento do crédito integral
dos credores de uma mesma categoria. Cada categoria é paga integralmente,
antes de se iniciar o pagamento dos credores da categoria imediatamente
inferior. Rateio é o pagamento proporcional feito aos credores de uma mesma
categoria de créditos, quando o produto da venda dos bens do falido não é
suficiente para pagar integralmente os credores da mesma categoria. Tendo
rateio em uma categoria, certamente, os credores classificados nas
categorias inferiores nada receberão.

7º - Encerramento da Falência

Após pagar os credores, conforme possibilidade do produto da venda,


o síndico deve prestar contas da sua administração e apresentar o último
relatório, sendo em seguida proferida pelo juiz a sentença de encerramento
da falência, voltando a correr o prazo de prescrição das dívidas não pagas,
podendo, os credores insatisfeitos requerer certidão do crédito não pago,
parcial ou totalmente, para eventual futura ação de execução.

Porém, o falido continua impedido de desempenhar o comércio regular,


podendo comerciar de fato, se não foi condenado por crime falimentar e
interditado para o exercício do comércio. Somente pode retornar ao comércio
regular, se proferida pelo juiz sentença de extinção das suas obrigações, a
requerimento seu, quando efetuar o pagamento total dos créditos declarados,
ou renovar esses créditos, ou pagar no rateio mais de quarenta por cento
dos créditos, ou após cinco anos, contados da sentença de encerramento da
falência, se não foi condenado por crime falimentar, e dez anos, contados
também do encerramento da falência, se foi condenado por crime falimentar.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 140
ACOSTA________
O falido condenado por crime falimentar, para retornar ao comércio
regular, deve cumprir as condições legais e obter sentença de extinção das
obrigações, na falência, e de reabilitação criminal ao juiz da condenação,
após cumprir a pena, arquivando na JUCESP as certidões das sentenças. A
reabilitação é requerida após três anos, se a pena é de detenção, e cinco,
se é de reclusão, contados do dia em que termina o cumprimento da pena.

8º - Procedimentos Especiais
Além do procedimento estabelecido pela lei, para falências comuns, há
três outros distintos: da falência frustrada, da sumária e da incidental.

É frustrada a falência, se o síndico não encontra no estabelecimento


do falido bens para serem arrecadados, ou encontra bens insuficientes para
pagar as despesas do processo; deve comunicar imediatamente ao juiz, que
determina a publicação do aviso de encerramento da falência, após decurso
de dez dias, ou após a venda dos bens existentes, ficando suprimidas as
fases de informação e liquidação, tendo início o inquérito judicial com o
único relatório a ser apresentado pelo síndico.

A falência é sumária, se o síndico verifica ser o passivo inferior a


cem vezes o salário mínimo, e comunica ao juiz, que determina a adoção do
procedimento sumário, designando audiência para impugnação, exame e decisão
sobre os créditos declarados.

A falência incidental é aquela que resulta da conversão da concordata


do devedor, que não preenche as condições legais, ou não cumpre obrigação.

9º - Questionário
1º- Conceituar falência.
2º- Como se caracteriza a insolvência do comerciante?
3º- O que é verificação judicial de contas?
4º- Com a duplicata sem aceite pode ser requerida a falência do devedor?
5º- Todos os comerciantes estão sujeitos à falência?
6º- Quais as condições para a declaração da falência do devedor?
7º- O que são atos de falência?
8º- O que é relevante razão de direito?
9º- O comerciante de fato pode ser declarado falido?
10º- Pode ser requerida a falência por credor, que não tem título vencido?
11º- A sociedade irregular pode ter sua falência declarada?
12º- A instituição financeira pode ter sua falência requerida ou declarada?
13º- Em que local deve ser requerida a falência do devedor comerciante?
14º- Que são princípios da indivisibilidade e universalidade, na falência?
15º- Quais os efeitos da declaração da falência?
16º- O falido pode continuar desempenhando a atividade comercial?
17º- O que é massa falida?
18º- O que é termo legal e qual sua finalidade?
19º- O que é rateio?
20º- A falência da sociedade atinge o sócio, que é comerciante individual?
21º- A falência pode atingir a sociedade comercial dissolvida?
22º- O que são atos revogáveis na falência, e quais os seus efeitos?
23º- O que é síndico, no processo de falência?
24º- Quem pode ser nomeado síndico, na falência?
25º- Quais os bens que podem ser arrecadados pelo síndico?
26º- Falido o comerciante individual, que bens podem ser arrecadados?
27º- Encerrada a falência, o falido pode retomar o exercício do comércio?
28º- O que é pedido de restituição na falência?
29º- O que são declaração e impugnação de crédito?
30º- Qual a ordem de classificação dos créditos, na falência?
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 141
ACOSTA________
31º- O que é quadro de credores?
32º- O que é inquérito judicial?
33º- Quando tem início e como ocorre a liquidação na falência?
34º- Quando deve ser encerrada a falência?
35º- Encerrada a falência, o falido pode retornar ao comércio?

QUADRO SINÓTICO

II – CONCORDATA

1º- Conceito e Espécies {favor legal – Estado - sentença do juiz - devedor


comerciante – infeliz – boa fé - evita/suspende a falência -
vantagens = recuperação/pagamento - desvantagem = fraude -
preventiva = antes - para evitar a falência –
suspensiva = suspender a falência -
dilatória = pagamento total da dívida - prazo = 24 meses -
remissória = redução da dívida – pagamento 50%/35% à vista –
dilatória-remissória = prazo e redução -

2º- Impedimentos {instituições financeiras - corretoras de títulos –


similares – seguros - transporte aéreo - de economia
mista - em conta de participação - art. 140 LF =

3º- Oposição {prazo e fundamentos fixados na lei –


embargos = antes da concessão - cinco dias = publicação do
aviso/pedido - art. 143 LF – contestação – decisão -
rescisão = após concessão - art. 150 LF – contestação -
decisão -

4º- Efeitos {não abandono do estabelecimento comercial – restrição = venda


de imóveis e estabelecimento comercial = autorização do juiz -
credores - suspensão de ações - vencimento antecipado -
suspensão da prescrição - credores quirografários -

5º- Cumprimento {sentença - depósitos = pagamento dos credores - prazo


adotado – obrigações – máximo = dois anos – pagamento
dos credores = contas judiciais individuais - guias de
levantamento -

6º- Questionário
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 142
ACOSTA________

II – CONCORDATA

1º- Conceito e Espécies

Como ensina RUBENS REQUIÃO, a concordata é um favor concedido pelo


Estado, por sentença do juiz, ao devedor comerciante honesto, porém infeliz
nos seus negócios, para evitar ou fazer cessar os efeitos da falência
(“CURSO DE DIREITO FALIMENTAR”, 2º v., 11ª ed., pg. 12).

Como benefício para evitar ou sustar a falência, a concordata impede


a ruína total do devedor comerciante em dificuldades, sendo vantajosa ao
lhe facultar a recuperação, com concessão de maior prazo ou abatimento para
pagar as dívidas. Também é vantajosa para os credores, que podem receber o
total dos créditos ou porcentagem maior que na falência, e para a ordem
pública, por evitar os efeitos nocivos da falência ao meio comercial, mas,
não afasta a desvantagem da fraude pelos comerciantes inescrupulosos.

Como a falência, a concordata é disciplinada pelo Dec. nº 7.661/45,


que prevê, no art. 139, duas espécies desse favor legal, de acordo com os
efeitos produzidos: preventiva, requerida antes e para evitar a falência; e
suspensiva, durante a falência, para suspender seus efeitos, pois, cumprida
a concordata suspensiva, é encerrada a falência suspensa.

Conforme o modo de pagamento adotado pelo devedor entre os indicados


na lei, a concordata é dilatória, se é pago o total das dívidas no prazo de
vinte e quatro meses; é remissória, se há redução e pagamento de cinqüenta
ou trinta e cinco por cento das dívidas à vista, na concordata preventiva e
suspensiva, respectivamente; e dilatória-remissória, com prazo e redução
para o pagamento dos débitos.

2º - Impedimentos
Como favor concedido pelo Estado, através do Poder Judiciário, ao
devedor comerciante infeliz e de boa fé, apenas este, demonstrando essas
qualidades, pode obter a concordata, mas, há comerciantes expressamente
excluídos do benefício, por força de leis especiais, como as instituições
financeiras e corretoras de títulos, valores, de câmbio, e similares, pela
Lei nº 6.024/74; as sociedades de seguros, pelo Dec.-lei nº 73/66; as de
transporte aéreo, pela Lei nº 7.565/86, as de economia mista, pela Lei nº
6.404/76; e em conta de participação por falta de personalidade jurídica,
podendo, contudo, o sócio ostensivo obtê-la, como comerciante regular. As
sociedades civis, e entre elas as cooperativas, não se beneficiam com a
concordata, por ser, como a falência, instituto dirigido ao devedor
comerciante exclusivamente.

Embora a concessão da concordata esteja condicionada às qualidades do


devedor comerciante de boa fé e infelicidade nos negócios, o art. 140 da
Lei de Falência ainda estabelece impedimentos genéricos, isto é, que vedam
a pretensão à concordata preventiva ou suspensiva, para aquele que:
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 143
ACOSTA________

I - não arquivou, registrou ou inscreveu no Registro do Comércio, os


livros e documentos indispensáveis para o exercício legal do comércio.

Está impedido, assim, de requerer concordata preventiva ou suspensiva


o comerciante regular, que não arquivou na Junta Comercial os documentos e
livros obrigatórios, com exceção do comerciante individual, com um passivo
quirografário inferior a cem salários mínimos, por força do art. 141.

II - não requereu a falência no prazo do art. 8º, da LF.

A Lei de Falência impõe ao comerciante, que não paga no vencimento,


obrigação líquida, sem razão de direito, o dever de requerer a falência, em
trinta dias, exceto se é comerciante individual, com passivo inferior a cem
salários mínimos. Esse impedimento não é de rigor absoluto, pois, o Supremo
Tribunal Federal já decidiu, que o não pagamento de título vencido há mais
de trinta dias, sem protesto, não impede a concordata preventiva, enquanto
a nossa jurisprudência majoritária admite, ao devedor de títulos vencidos
há mais de trinta dias, mesmo protestados, a concessão da concordata, se o
juiz entender que ele é honesto, isto é, de boa fé, e se encontra no campo
da insolvência de fato, por infelicidade nos seus negócios.

III - condenado por crime falimentar, furto, roubo, apropriação


indébita, estelionato ou outras fraudes, concorrência desleal, falsidade,
peculato, contrabando, crime contra o privilégio de invenção ou marcas de
indústria e comércio e crime contra a economia popular.

A condenação do comerciante individual, do gerente ou administradores


das sociedades comerciais, por qualquer dos crimes relacionados na lei,
salvo se reabilitado criminalmente, impede a obtenção do benefício.

IV - há menos de cinco anos houver impetrado igual favor ou não tiver


cumprido concordata há mais tempo requerida.

O impedimento se refere ao pretendente de nova concordata, quando:

1ª)- o devedor requereu a primeira concordata há menos de cinco anos


e a cumpriu, ou dela desistiu, ou lhe foi negada por falta de pressuposto
processual;

2ª)- o devedor requereu a primeira concordata há mais de cinco anos,


porém não a cumpriu, tendo a sua falência declarada.

Portanto, o devedor comerciante não pode requerer nova concordata,


antes do decurso de cinco anos do pedido anterior, em que ela foi cumprida,
ou da qual ele desistiu, ou lhe foi negada, podendo, em qualquer dos casos,
requerê-la, somente após cinco anos; mas, se foi descumprida a concordata
antes requerida, provocando a declaração da falência, na preventiva, ou
retorno à falência, na suspensiva, o devedor fica impedido de requerer nova
concordata, mesmo após o decurso de cinco anos, pois, neste caso, não mais
poderá ser concedida.

3º - Oposição
Os credores não comparecem na concordata para manifestação espontânea
da concordância ou discordância da pretensão do devedor, ou das formas de
pagamento adotadas, por falta de previsão legal. A concordata é fixada por
lei, para ser livremente requerida pelo devedor comerciante não impedido,
que preencher as condições legais, independente da vontade dos credores,
que podem, apenas no momento oportuno, estabelecido e com fundamento nos
motivos enumerados na lei, manifestar oposições, através dos procedimentos
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 144
ACOSTA________
designados de embargos e de rescisão; o primeiro a ser apresentado antes da
concessão, para impedir, e o segundo após a concessão, para interromper a
concordata, que se converte em processo de falência.

Os embargos são ofertados pelos credores quirografários existentes à


época do pedido, no prazo de cinco dias contados da publicação do aviso do
aos credores, na concordata preventiva, e, na suspensiva, da publicação do
pedido formulado pelo falido, com fundamento nos fatos do art. 143, da LF:

I - sacrifício dos credores maior do que a liquidação na falência ou


impossibilidade evidente de ser cumprida a concordata, atendendo-se, em
qualquer dos casos, entre outros elementos, à proporção entre o valor do
ativo e a percentagem oferecida;

II - inexatidão do relatório, laudo e informação do síndico, ou do


comissário, que facilite a concessão da concordata;

III - ato de fraude ou má fé que influa na formação da concordata; e,

IV – sendo concordata preventiva, a ocorrência de qualquer fato que


caracterize crime falimentar.

O devedor pode ofertar contestação, sendo ao final proferida decisão


de procedência ou improcedência dos embargos; pela primeira, a concordata
é negada e declarada a falência do devedor, e pela segunda, conforme livre
convencimento do juiz, pode ser concedida ou negada, sendo ou não, conforme
o caso, declarada a falência do devedor.

O juiz, independentemente dos embargos, a qualquer momento, no curso


da concordata, pode indeferí-la e declarar a falência do devedor, ao tomar
conhecimento de fato impeditivo, ou falta de condições legais, ou outros
elementos, que demonstrem a falta de boa fé do devedor, levados diretamente
ao seu conhecimento, ou ao representante do Ministério Público.

Quanto ao pedido de rescisão da concordata, é feito após a concessão


desse benefício, a qualquer momento, e com fundamento no art. 150, da LF:

I - não pagamento das prestações nas épocas devidas ou inadimplemento


de qualquer outra obrigação assumida pelo concordatário;

II - pagamento antecipado a uns credores, com prejuízo de outros;

III - abandono o estabelecimento comercial;

IV - venda de bens do ativo a preço vil;

V - negligência ou inação do concordatário na continuação do negócio;

VI - incontinência de vida ou despesas evidentemente supérfluas ou


desordenadas do concordatário; e,

VII - condenação por crime falimentar do concordatário ou diretores,


administradores, gerentes, ou liquidantes da sociedade em concordata.

Sendo procedente o pedido de rescisão, a concordata é rescindida e é


declarada a falência do devedor, se for preventiva, mas, sendo suspensiva,
é reaberta a falência, que se encontrava suspensa. Independente do pedido
do credor, o juiz pode rescindir a concordata, ao tomar conhecimento da
ocorrência de qualquer dos fatos enumerados na lei, mesmo por informação
extraprocessual, por qualquer credor ou terceiro, desde que comprovadas.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 145
ACOSTA________
A rescisão da concordata de sociedade, com sócio de responsabilidade
solidária, rescinde a concordata deste com seus credores particulares, que
receberão seus créditos, se o declararem, na falência, e se é comerciante
individual, terá também declarada a sua falência.

O pedido de rescisão da concordata pode ser elidido pelo devedor


concordatário, com o depósito da prestação devida e não paga ou cumprimento
da obrigação reclamada, no prazo de vinte e quatro horas, após a intimação
para suprir a falha.

4º - Efeitos
A concordata tem por objetivo a recuperação do comerciante infeliz
nos negócios, mas, de boa fé, portanto, não produz os mesmos efeitos da
falência. O requerente devedor mantém a posse e administração de seus bens;
continua no exercício do seu comércio; não tem restrições na liberdade de
locomoção, salvo o abandono do estabelecimento comercial, e a fiscalização
pelo comissário nomeado pelo juiz, pelo mesmo critério de nomeação do
síndico; e tem restringida a alienação de bens imóveis e do estabelecimento
comercial, que dependem de autorização prévia do juiz, e o segundo também
do consentimento dos credores admitidos na concordata. Na concordata
suspensiva, o síndico entrega os bens arrecadados ao concordatário, que
retoma a posse e administração, reabrindo o estabelecimento comercial.

Os credores sofrem efeitos semelhantes aos da falência: suspensão de


ações individuais em relação ao devedor; vencimento antecipado dos seus
créditos; e suspensão da prescrição. Apenas os credores quirografários
existentes na data do pedido se sujeitam à concordata; os preferenciais e
posteriores ao pedido podem propor ação de execução ou falência do devedor.

Credores quirografários são os titulares de créditos representados


por títulos sem privilégios ou garantia de direito real; preferenciais são
os titulares de crédito de natureza indenizatória por acidente de trabalho,
de natureza salarial, das Fazendas Públicas, com privilégio especial e com
privilégio geral, e com direito real de garantia; posterior é o credor, que
concede crédito ao comerciante, após o pedido da concordata.

Os credores admitidos na concordata são os quirografários integrantes


do quadro de credores homologado pelo juíz, que, na preventiva, tem por
base a relação de credores, ofertada pelo devedor, com o requerimento
inicial; o credor quirografário omitido deve se habilitar na concordata,
pois, não sendo pago, não pode requerer a falência, mas, apenas a ação de
execução do devedor, após encerramento da concordata.

Os credores posteriores, isto é, aqueles que concederam crédito ao


devedor, após o requerimento da concordata, e os credores preferenciais
devem ser pagos no vencimento, e não sendo pagos, podem requerer a falência
do devedor, ou simplesmente promover a ação de execução.

A habilitação retardatária na concordata também é admitida, como na


falência, havendo divergências entre os autores e jurisprudência, quanto ao
limite do momento, ou fase, em que deve ser promovida. Entendem alguns, que
o crédito pode ser declarado até ser proferida a sentença concessiva, e
outros, que pode até não estar encerrada por sentença.

5º - Cumprimento
A concordata é julgada cumprida por sentença do juiz, depois de serem
efetuados os depósitos para pagamento dos credores, no prazo adotado pelo
devedor, e se forem cumpridas as demais obrigações, como a comprovação dos
pagamentos das dívidas fiscais. O prazo máximo para cumprir a concordata é
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 146
ACOSTA________
de dois anos, previsto para a dilatória, pois, são menores os prazos da
concordata à vista e da dilatória-remissória. Após ser julgada cumprida, o
juiz determina a distribuição dos depósitos da conta judicial, para contas
bancárias individuais, abertas em nome dos credores, que recebem os seus
créditos por meio de guias de levantamento assinadas pelo juiz.

7º - Questionário
1º - O que é concordata?
2º - Quais as vantagens e desvantagens da concordata?
3º - Quais as espécies de concordata?
4º - O que é concordata dilatória?
5º - O que é concordata remissória?
6º - Qualquer pessoa pode pretender concordata?
7º - Quais as condições para se pretender a concordata?
8º - Qualquer comerciante pode requerer concordata?
9º - Quais são os impedimentos para a concordata?
10º - O credor pode se opor ao pedido de concordata do seu devedor?
11º - Quem não requereu a falência no prazo, não pode pedir concordata?
12º - O comerciante com títulos protestados não pode requerer concordata?
13º - Pode ser requerida a concordata mais de uma vez?
14º - O que são embargos à concordata e quem pode promovê-los?
15º - O que é rescisão da concordata e quem pode promovê-la?
16º - Os embargos e a rescisão podem ser ofertados a qualquer momento?
17º - Não havendo embargos nem rescisão, o juiz concede a concordata?
18º - Mencione dois fatos para oferta de embargos e rescisão.
19º - Quais são os efeitos da concordata, para os credores?
20º - Quais são os efeitos da concordata, para o devedor?
21º - Quais são os credores sujeitos à concordata?
22º - O que é credor posterior à concordata, e quais seus direitos?
23º - O que é credor quirografário?
24º - Quais são os credores preferenciais e quais seus direitos?
25º - Quais são os credores admitidos na concordata?
26 – O que é quadro de credores, na concordata?
27º - Os credores também declaram seus créditos, na concordata?
28º - Qual a consequência, para o credor, que não declara seu crédito?
29º - Quando a concordata é considerada cumprida?
30º - Como os credores recebem seus créditos, na concordata?
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QUADRO SINÓTICO

III - CONCORDATA PREVENTIVA

1º - Noções Gerais conceito – condições -


opções para pagamento -

2º - Competência  regra para o pedido de falência -


local do principal estabelecimento do devedor -
princípios da universalidade e indivisibilidade -

3º - Representação do Devedor  gerente - diretor – liquidante -


espólio = inventariante – herdeiros -
comerciante individual – sociedade -

4º - Condições Legais  inexistência de impedimentos - comerciante regular


-
mais de dois anos - ativo superior a 50% do passivo
quirografário - não falido ou obrigações extintas -
inexistência de protesto -

5º - nomeação do comissário  regra do síndico – fiscal -


informações aos credores -
remuneração = um terço da devida ao síndico -
destituição – substituição - prestação/contas

6º - Procedimento  requerimento - documentos - relação de credores -


processamento = suspensão das execuções e prescrição -
antecipação do vencimento - compensação de dívidas
quirografárias - restituição de mercadoria vendida -
perícia - avaliação de bens - verificação de créditos -
declaração dos omitidos - impugnações – prazo -
julgamento - procedência = exclusão
quadro de credores - inexistência de classificação
prazo para embargos - julgamento dos embargos -
procedência/improcedência = declaração da falência -
concessão - desistência – recursos -
depósito – cumprimento - pagamento dos credores –

7º - Questionário
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III - CONCORDATA PREVENTIVA

1º - Noções Gerais

A concordata preventiva é o benefício concedido pelo Estado, através


do Poder Judiciário, ao devedor comerciante mal sucedido nos negócios, mas
de boa fé, e que lhe permite o pagamento dos débitos, mediante ampliação de
prazos, ou remissão de parte deles, para evitar a falência.

O pretendente à concordata preventiva deve ofertar aos seus credores


quirografários, para saldar os débitos, o mínimo de:

I - 50% (cinqüenta por cento), se for à vista;

II - 60% (sessenta por cento), 75% (setenta e cinco por cento), 90%
(noventa por cento), ou 100% (cem por cento), à prazo, respectivamente, de
6 (seis), 12 (doze), 18 (dezoito), ou 24 (vinte e quatro) meses, pagos pelo
menos 2/5 (dois quintos) no primeiro ano, nas duas últimas hipóteses.

2º - Competência
Quanto à competência do juízo para conhecer e decidir sobre a
concessão do benefício, a regra é a mesma da falência, portanto, do juízo
do local em que o devedor tem o seu principal estabelecimento. Somente as
ações dos credores quirografários, por previsão expressa da lei, estão
sujeitas ao juízo concursal da concordata.

3º - Representação do Devedor
O devedor comerciante, individual ou em sociedade, preenchendo as
condições legais, tem legitimidade para requerer a concordata, pessoalmente
no primeiro caso, e através do representante legal, no segundo. A sociedade
por ações é representada pelos diretores autorizados pela Assembléia Geral,
podendo, em caso de urgência, ser requerida com a anuência do controlador,
devendo haver convocação imediata da assembléia para ratificação do pedido;
as demais sociedades são representadas pelo gerente indicado no contrato
social, e sendo omisso, por todos os sócios. As sociedades em liquidação
são representadas pelo liquidante nomeado.

4º - Condições Legais
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 149
ACOSTA________
Além da inexistência dos impedimentos enumerados na lei para facultar
o pedido de concordata, são também fixadas as seguintes condições legais,
para concessão da concordata preventiva:

I - exercer regularmente o comércio há mais de dois anos;

II - possuir ativo cujo valor corresponda a mais de 50% (cinqüenta


por cento) do seu passivo quirografário; na apuração desse ativo, o
valor dos bens que constituam objeto de garantia será computado tão
somente pelo que exceder da importância dos créditos garantidos;

III - não ser falido ou, se o foi, estarem declaradas extintas as


suas responsabilidades;

IV - não ter título protestado por falta de pagamento.

A primeira condição é comprovada com certidão da Junta do Comércio,


afastando da concordata preventiva as sociedades e comerciantes de fato; o
contrato social, demonstrações financeiras, demonstrações de lucros ou
prejuízos, completam a prova do exercício regular do comércio, há mais de
dois anos ininterruptos, antes da concordata.

O valor do ativo é inserido pelo devedor na declaração de bens por


ele mesmo elaborada e juntada à inicial, e constatado pelo perito nomeado
pelo juíz. O valor dos bens, que constituem garantia de direito real, devem
exceder a correspondência de cinqüenta por cento, do passivo quirografário.

O falido reabilitado, isto é, que obteve declaração de extinção das


suas obrigações, pode requerer concordata, se demonstrar, por certidão do
cartório do processo de falência, arquivada na Junta do Comércio, que foi
declarada por sentença a extinção das suas obrigações.

A quarta condição legal não é de rigor, porque a existência de título


protestado não exclui as qualidades do devedor de infeliz e boa fé, como
entende a jurisprudência.

5º - Nomeação do Comissário
O comissário, para exercer as atribuições legais na concordata, é
nomeado de acordo com a regra de nomeação do síndico, na falência, sendo um
entre os credores de crédito mais elevado, com residência no local em que
foi requerida a concordata, e de reconhecida idoneidade moral e financeira;
pode ser nomeada pessoa estranha, de preferência comerciante, após recusas
consecutivas de três credores.

A função do comissário é de fiscalizar o comportamento do devedor e o


andamento do processo de concordata, tendo direito de receber, pelo seu
trabalho, remuneração estabelecida pelo juiz, com base no valor ofertado
aos credores quirografários, e conforme a diligência, responsabilidade e
importância da concordata, sendo correspondente a um terço da que seria
devida ao síndico, na falência.

6º - Procedimento
Ao pedido de concordata preventiva devem ser anexados os documentos
indicados na lei, relação dos credores, e cópia da ata da assembléia geral,
que o autorizar, em se tratando de sociedade por ações.

O deferimento do processamento da concordata provoca a suspensão das


ações de execuções anteriormente promovidas e da prescrição, a antecipação
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 150
ACOSTA________
do vencimento e a compensação das dívidas quirografárias. Os créditos são
acrescidos de juros de 12% (doze por cento) ao ano, sendo corrigidos pelos
índices oficiais.

Na concordata pode ser requerida a restituição de mercadoria vendida


à prazo e entregue ao devedor quinze dias antes do pedido, se ela não foi
por ele alienada. Não há restituição de mercadorias, em virtude de direito
real ou contrato, porque a concordata não altera a posse de bens, nem
impede o cumprimento de contrato, ou restituição espontânea de objetos de
contratos, sendo, contudo, admitida a restituição da quantia paga, pela
compra de mercadoria não entregue.

O credor, na alienação fiduciária, não pode pedir restituição, pela


garantia do domínio resolúvel, que o afasta dos efeitos da concordata, e se
o devedor não cumprir o contrato, pagando as parcelas, pode pedir a busca e
apreensão do bem.

Após julgamento de improcedência de eventuais embargos, realização de


perícia e comprovação do pagamento de débitos fiscais, o juiz pode proferir
sentença concedendo a concordata, e feito o depósito das quantias relativas
aos débitos, ela é julgada cumprida, sendo determinado ao estabelecimento
bancário, que mantém o depósito judicial, a abertura de contas em nome dos
credores, a distribuição, conforme o quadro de credores, dos seus créditos,
o encerramento da conta judicial, e o encerramento da concordata.

7º - Questionário
1º - O que é concordata preventiva?
2º - Como o devedor paga seus débitos, na concordata preventiva?
3º - Em que local pode ser requerida a concordata preventiva?
4º - Quem pode requerer a concordata preventiva?
5º - Quem assina o requerimento de concordata da sociedade comercial?
6º - Quais são as condições legais para se requerer concordata preventiva?
7º - O comerciante de fato pode requerer a concordata preventiva?
8º - Os bens que compõem o ativo interferem na concordata preventiva?
9º - Como são comprovados os valores dos bens do ativo do devedor?
10º - Quem pode ser nomeado comissário, na concordata preventiva?
11º - Quais as atribuições do comissário, na concordata preventiva?
12º - Pode ser requerida a restituição de bens, na concordata preventiva?
13º - Quem pode requerer restituição de bens, na concordata preventiva?
14º - Quando o credor pode ofertar embargos, na concordata preventiva?
15º - Quando é encerrada a concordata preventiva?
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QUADRO SINÓTICO

IV - CONCORDATA SUSPENSIVA

1º - Noções Gerais  conceito - no curso do processo de falência -


condições = comerciante regular - não recebimento de
denúncia por crime falimentar - conclusão do inquérito
judicial e relatório -

2º - Modalidades de Pagamento  remissória = à vista - 35%- trinta dias


dilatória-remissória = 50% - dois anos –

3º - Representação do devedor  comerciante individual – mandatário –


espólio = inventariante - herdeiros
sociedade comercial = gerente – diretores –
administradores – liquidantes – autorização
de todos sócios = em nome coletivo -
capital e indústria - por quotas de
responsabilidade limitada –
autorização dos solidários = comandita
simples e por ações - assembléia geral =
anônimas -
sócio solidário - comerciante individual -

4º - Procedimento  requerimento - momento oportuno - pressupostos -


publicação - prazo para embargos -
deferimento - indeferimento = recurso

5º - concessão e cumprimento  exame – condições - publicação – embargos -


concessão = restituição dos bens do devedor -
exclusão dos credores preferenciais – retorno
ao comércio regular –
indeferimento = reabertura da falência –
cumprimento - pagamento dos credores -
encerramento da concordata e da falência -

6º - Questionário
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IV - CONCORDATA SUSPENSIVA

1º - Noções Gerais

A concordata suspensiva é o favor legal concedido ao comerciante, que


foi declarado falido, para suspender os efeitos da falência, desde que,
contra ele não tenha sido recebida denúncia ou queixa por crime falimentar.

Os impedimentos do art. 140, da LF, como são genéricos, se aplicam ao


pretendente à concordata suspensiva, que deve ser comerciante regular, há
mais de dois anos, por faltar, ao comerciante individual ou à sociedade
comercial de fato ou irregular, a qualidade de boa fé.

A concordata suspensiva é requerida, não à qualquer momento depois da


sentença declaratória da falência, mas, em fase processual própria, que é
nos cinco dias seguintes ao vencimento do prazo para a entrega em cartório,
do relatório do síndico, e já encerrado o inquérito judicial, sem a oferta
de denúncia ou queixa, ou com rejeição destas.

A concordata suspensiva de sociedade, que não se sujeita à denúncia,


por ser pessoa jurídica, conforme o nosso direito criminal, depende do não
recebimento de denúncia ou queixa em relação aos seus diretores,
administradores, gerentes ou liquidantes.

Como a concordata preventiva, a suspensiva produz efeitos somente em


relação aos credores quirografários, pois os preferenciais, após a sentença
concessiva, deixam de compor o quadro de credores, e não sendo pagos podem
exercer seus direitos, propondo ação de execução ou informando ao juiz da
concordata o descumprimento da obrigação, ou pedindo a falência do devedor.

2º - Modalidades de pagamento
Para pedir a concordata suspensiva, o requerente deve, para pagamento
dos credores quirografários, adotar uma das modalidades previstas na lei:

I - 35% (trinta e cinco por cento)à vista, que é a remissória; ou

II - 50% (cinqüenta por cento), em até dois anos, devendo ser feito o
depósito do valor correspondente a 2/5 (dois quintos) no primeiro ano,
tratando-se da modalidade remissória-dilatória.
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 153
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Considerando a fase em que é requerida a concordata suspensiva,
quando ativo e passivo já estão apurados, se o valor do ativo ultrapassar o
correspondente a quarenta ou cinqüenta por cento do total das dívidas, para
a primeira e segunda formas de pagamento, respectivamente, demonstrando má
fé do falido, o juiz pode não conceder o favor legal.

3º - Representação do devedor
A concordata suspensiva é requerida pelo falido, quando comerciante
individual; pelo espólio, se falecido, representado pelo inventariante ou
herdeiros; ou pela sociedade comercial, representada pelo gerente, diretor,
administradores, ou liquidantes, dependendo de autorização de todos sócios,
as sociedades em nome coletivo, de capital e indústria, e por quotas de
responsabilidade limitada; de sócios solidários, as comandita simples e por
ações; e da assembléia geral, as anônimas, que podem, pela urgência, obter
autorização do controlador, a ser ratificada pela assembléia geral.

Se a sociedade concordatária tem sócio de responsabilidade solidária,


que é também comerciante individual, este deve pedir concordata em relação
aos credores quirografários particulares, o que não ocorre, se o sócio
solidário não é comerciante individual, pois, os credores pessoais podem
defender seus direitos, promovendo, para recebimento dos créditos não
pagos, a ação de execução.

4º - Procedimento
A concordata suspensiva tem início com a publicação no jornal, do
pedido do falido, no processo de falência, e a demonstração da inexistência
de impedimentos, preenchimento das condições, e a opção de pagamento. Não
havendo na lei limite do prazo para requerimento da concordata suspensiva,
pode ser pretendida enquanto não efetuado o pagamento de todos os credores
quirografários, ou enquanto não for proferida a sentença de encerramento da
falência. Pela publicação, os credores são intimados para oferta, em cinco
dias, de embargos. Concedida a concordata, o síndico entrega os bens,
livros e documentos ao concordatário, que retorna ao exercício do comércio.

A concessão da concordata suspensiva, além dos efeitos genéricos, de


suspensão das execuções de credores quirografários e vencimento antecipado
das dívidas quirografárias, provoca a extinção da massa falida objetiva e a
entrega dos bens, documentos e livros, que a compunham, ao devedor, e a
suspensão da falência. O indeferimento da concordata suspensiva não provoca
a declaração de falência, que ainda está em andamento, e tem continuidade.

5º - Concessão e Cumprimento
A concordata suspensiva não é concedida de imediato; primeiro, o juiz
examina o pedido e o preenchimento dos pressupostos legais e processuais, e
determina a publicação no jornal por edital, com intimação dos credores,
para oferta de embargos; não havendo embargos, ou havendo, após julgamento
destes, é proferida a decisão concessiva ou denegatória da concordata.

Não sendo a concordata cumprida, pela falta do depósito da dívida, ou


pagamento de débito fiscal, no prazo, o juiz rescinde a concordata e reabre
a falência; se cumprida, o juiz declara encerrada a falência.

6º - Questionário
1º - O que é concordata suspensiva?
2º - Quais são os impedimentos para o pedido de concordata suspensiva?
3º - Quais são as condições legais para se requerer concordata suspensiva?
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 154
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4º - Quando pode ser requerida a concordata suspensiva?
5º - Quem pode requerer concordata suspensiva?
6º - Quais os efeitos da concordata suspensiva?
7º - Como é feito o pagamento da dívida, na concordata suspensiva?
8º - Quem representa a sociedade comercial, na concordata suspensiva?
9º - É necessária a autorização de todos os sócios, para o requerimento de
concordata suspensiva da sociedade comercial?
10º - Na concordata suspensiva, os credores podem opor embargos?
11º - Concedida a concordata suspensiva, qual é a função do síndico?
12º - Quando é concedida e cumprida a concordata suspensiva?
13º - Qual é o efeito do cumprimento da concordata suspensiva?

QUADRO SINÓTICO

V - CRIMES FALIMENTARES

1º - Definição  fato enumerado na lei - falência = pressuposto -

2º - Espécies  próprios - impróprios - antefalimentares - posfalimentares-

3º - Tentativa  consumação - posfalimentares – antefalimentares -


divergências –

4º - Unidade Do Crime Falimentar  unidade de propósitos - vários fatos -


um só crime -

5º - Ação Penal Falimentar Extraordinária  perda do prazo para queixa -


apensamento do Inquérito Judicial – regra
do C. P. Penal - denúncia do P. Justiça -
requisição do Inquérito Policial -

6º - Interdição  proibição do comércio regular - efeito da condenação -


pena acessória - prazo - início – reabilitação criminal -

7º - Reabilitação Criminal  requerida pelo falido condenado - certidão da


extinção das obrigações da falência - certidão
do decurso de três ou cinco anos - contagem do
término da execução da pena –

8º - Prescrição  dois anos - encerramento da falência - quando deveria


estar encerrada - cumprimento da concordata - extinção
da punibilidade -

9º - Questionário
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 155
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V – CRIMES FALIMENTARES

1º - Definição

MAXIMILIANUS FÜHRER define o crime falimentar, esclarecendo ser, em


face do nosso direito positivo, todo ato previsto na lei, praticado antes
ou depois da falência, de que resulte ou possa resultar prejuízo aos
interesses que se estabelecem em torno da massa falida (“CRIMES
FALIMENTARES”, Ed. Rt, 1972, pg. 6).

Conforme nossa lei, o crime não é a falência, ou insolvência de fato,


que é seu pressuposto, pois, o devedor, se declarado falido, é punido por
ter praticado qualquer dos fatos enumerados na lei, independente de ter, a
falência, decorrido da prática desse fato.

2º - Espécies
Os crimes falimentares podem ser classificados em próprio, impróprio,
antefalimentar, e posfalimentar.

São crimes falimentares próprios aqueles cometidos pelo falido, ou


pelo representante legal da sociedade falida, e impróprios os cometidos por
outras pessoas, como o perito, contador, escrivão, síndico, oficial de
justiça, etc.

Crimes antefalimentares são os crimes falimentares praticados antes


da declaração da falência, e posfalimentares aqueles praticados após ser
proferida a sentença de declaração da falência.

3º - Tentativa
Ocorre a consumação do crime, quando presentes todos os elementos da
sua definição legal, e a tentativa, quando, iniciada a execução, não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. A consumação dos
crimes pós-falimentares se verifica pela prática total da figura descrita
na lei, o que ocorre após a sentença de falência.

Com relação aos crimes antefalimentares, há autores entendendo não


ser possível a tentativa, porque ele se consuma no momento da declaração da
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 156
ACOSTA________
falência, mas, MAXIMILIANUS FÜHRER admite a possibilidade, embora em casos
raramente verificáveis na prática, como exemplifica:

1º) o comerciante que, na véspera da falência, emite alguns cheques


para pagar dívidas não vencidas, a alguns credores, em prejuízo
de outros; declarada a falência o síndico susta o pagamento dos
cheques;

2º) o devedor, procurando desviar mercadorias, providencia o embarque


clandestino das mesmas para outro país; declarada a falência, o
síndico chega a tempo de apreender a mercadoria no porto de
embarque;

3º) antevendo a falência, o comerciante coloca fogo nos seus livros;


antes da destruição total, o oficial de justiça comparece no
local para cumprir mandado de seqüestro expedido antes da
declaração da falência, e impede a consumação.

4º - Unidade do crime falimentar


A unidade do crime falimentar é a conversão de vários atos praticados
pelo falido a um só, ou uma só conduta, com unidade de propósitos, e impede
a condenação a várias penas, pelos vários atos delitivos cometidos antes e
depois da falência, impondo a pena mais grave, quando há previsão de penas
distintas; não é aplicável, se o crime é cometido por outra pessoa, e não o
falido ou representante da sociedade falida, por falta propósito único.

5º - Ação Penal Falimentar Extraordinária


Ação penal falimentar extraordinária é aquela iniciada por denúncia
do Promotor de Justiça, por haver decorrido o prazo para oferecimento da
denúncia ou queixa, sem que tenham sido ofertadas, e por fatos conhecidos
por informações de qualquer credor, síndico, ou outra pessoa.

6º - Interdição
A pena de interdição consiste na proibição do desempenho regular do
comércio, pelo falido condenado por crime falimentar, como prevê a lei; mas
há juízes entendendo que a disposição foi revogada. O comerciante falido
pode voltar a exercer o comércio, quando as suas obrigações civís forem
julgadas extintas por sentença do juiz da falência, e, se condenado por
crime falimentar, após reabilitação criminal concedida pelo juiz criminal.
Entretanto, não há, enquanto não proferida a sentença condenatória e a
interdição, impedimento para exercício do comércio de fato.

7º - Reabilitação Criminal
A reabilitação criminal é requerida pelo falido condenado, ao juízo
criminal, e instruída com a certidão da extinção das obrigações, obtida no
juízo da falência, e certidão do decurso de três ou de cinco anos, contados
do término da execução da pena detenção ou reclusão, respectivamente.

8º - Prescrição
A prescrição do crime falimentar ocorre em dois anos, contados do
encerramento da falência, ou da data em que deveria estar encerrada, ou do
cumprimento da concordata, tendo como efeito o reconhecimento da extinção
da punibilidade. A falência deve estar encerrada no curso de dois anos, a
partir da data em que foi declarada.
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9º - Questionário
1º - O que é crime falimentar?
2º - Declarada a falência, o falido é o agente do crime falimentar?
3º - Como se classificam os crimes falimentares?
4º - Quais são os crimes falimentares próprios e impróprios?
5º - Quais são os crimes antefalimentares e posfalimentares?
5º - Pode haver tentativa de crime falimentar?
6º - Como é aplicada a pena pela prática de vários crimes falimentares?
7º - O que é ação penal falimentar extraordinária?
8º - O falido pode voltar a exercer o comércio?
9º - Quem pode requerer e qual é o efeito da reabilitação criminal?
10º - Quando ocorre a prescrição do crime falimentar e qual seu efeito?

BIBLIOGRAFIA

1. ABRÃO, CARLOS HENRIQUE – Pedido de Restituição na Concordata e na


Falência, LEUD, 1991;

2. ALMEIDA, AMADOR PAES DE – Curso de Falência e Concordata, 16ª ed.,


Saraiva, 1998;

3. COELHO, FÁBIO ULHOA – Manual de Direito Comercial, 4ª ed., Saraiva,


1993;

4. COELHO, FÁBIO ULHOA – Código Comercial e Legislação Complementar


Anotados, Saraiva, 1995;

5. FÜHRER, MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO – Resumo de Direito Comercial,


7ª ed., Revista dos Tribunais, 1989;

6. FÜHRER, MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO – Roteiro das Falências &


Concordatas, 9ª ed., Revista dos Tribunais, 1988;

7. FÜHRER, MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO – Crimes Falimentares, Revista


dos Tribunais, 1972;

8. REQUIÃO, RUBENS – Curso de Direito Falimentar, 15ª ed., 1º e 2º


volumes, Saraiva, 1993.
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ACOSTA________

QUINTA PARTE

DIREITO BANCÁRIO

SUMÁRIO

I – NOÇÕES GERAIS
1º- Conceito
2º- Exploração do Serviço Bancário
3º- Características
4º- Bancos e Instituições Financeiras
5º- Disposições Aplicáveis
6º- Organização bancária
A – Espécies
7º- Sistema Financeiro Nacional
8º- Contratos Bancários
9º- Questionário

II- INTERVENÇÃO E LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL


1º- Noções Gerais
2º- Intervenção
3º- Liquidação Extrajudicial
4º- Efeitos
5º- Cessação
6º- Requerimento e Declaração da Falência
7º- Questionário
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QUADRO SINÓTICO

I – NOÇÕES GERAIS

1º- Conceitos {instituições monetárias – bancárias - financeiras –


cambiárias - cooperativas de crédito -

2º- Características {profissionalidade – internacionalidade –

3º- Organização Bancária { Sistema Financeiro Nacional – banqueiros – S/A –


BCB - fiscalização = atividade bancária – bancos
e instituições financeiras – penalidades -
intervenção e liquidação extrajudicial –
exclusão parcial da falência – impedimento para
a concordata -

4º- Espécies de Bancos { de emissão - comercial ou de depósito -


hipotecário ou de crédito real - de crédito
industrial – de investimento – agrícola – múltiplo
- casa bancária- cooperativa de crédito - caixa
econômica -

5º- Sistema Financeiro Nacional {Conselho Monetário Nacional - Banco


Central do Brasil - Banco do Brasil S/A -
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social - instituições financeiras
publicas e privadas - Comissão Técnica da
Moeda e do Crédito - Comissões Consultivas -

6º- Contratos Bancários {operações de bancos – fundamentais: depósito -


desconto - conta corrente - empréstimo -
acessórias: guarda de valores - caixa de
segurança – cobranças -

7º- Questionário
MANUAL DE DIREITO COMERCIAL MARIA HELENA 160
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I - NOÇÕES GERAIS

1º - Conceitos

Direito bancário é o conjunto de regras, que disciplinam o desempenho


da atividade, a organização, funcionamento, e competência das instituições
monetárias, bancárias, e financeiras, públicas ou privadas. Essas regras
estão contidas nos seguintes dispositivos: Lei nº 4.595/64, sobre política
monetária, bancária e creditícia, e criação do Conselho Monetário Nacional;
Lei nº 4.728/65, sobre o mercado financeiro e de capitais; Lei nº 6.024/74,
sobre intervenção e liquidação extrajudicial de instituições financeiras;
Lei nº 7.492/86, sobre crimes contra o sistema financeiro nacional; Decreto
lei nº 2.321/87, sobre regime de administração especial temporária nas
instituições financeiras privadas e públicas não federais; etc.

O direito bancário disciplina, portanto, não só a atividade bancária,


como também, a cambiária, a das instituições financeiras, cooperativas de
crédito, bolsas de valores, companhias de seguros e de capitalização,
sociedades de distribuição de prêmios por sorteio de títulos, sociedade de
consórcio para aquisição de bens, e similares.

Instituição monetária ou casa da moeda é o estabelecimento, onde são


cunhadas moedas e impressos papéis moedas, por conta da nação ou governo. É
classificado por MAXIMILIANUS FÜHRER, como banco de emissão, e considerado
o banco dos bancos, tratando-se, em nosso país, do Banco Central do Brasil
(Resumo de Direito Comercial, 7ª ed., RT, pg. 118).

Atividade bancária é aquela realizada nos estabelecimentos bancários


comuns ou de depósitos, abrangendo o recebimento de depósitos de dinheiro e
outros valores, empréstimos, cobranças, pagamentos, aluguel de cofres para
guarda de valores, desconto de títulos, etc., além da atividade cambiária,
que é a compra, venda e troca de moedas estrangeiras. É desempenhada pelo
governo, através de empresa pública, como a Caixa Econômica Federal; ou por
empresas privadas, através de sociedades anônimas, como o Banco Brasileiro
de Descontos S/A, Banco Itaú S/A, etc.; e sociedades de economia mista,
como o Banco do Brasil S/A, o Banco do Estado de São Paulo S/A, etc.

Instituições financeiras são expressões empregadas para designar as


pessoas jurídicas públicas e privadas, que têm como atividade principal ou
acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros
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próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de
valor de propriedade de terceiros. Equiparam-se às instituições financeiras
as pessoas físicas, que desempenhem qualquer dessas atividades, de forma
permanente ou eventual.

Cooperativas de crédito são sociedades constituídas conforme previsão


expressa da lei, para concessão de crédito, para empréstimos, financiamento
para a compra de bens móveis ou imóveis.

2º - Características
O direito bancário, por se tratar de um campo do direito, que tem por
objeto disciplinar o desempenho de uma atividade, abrangendo as operações
bancárias em geral, praticadas com habitualidade, e como meio de garantir a
subsistência daqueles que as exploram, e também por conter normas de ordem
pública, na defesa da coletividade, e normas reguladoras do comércio
internacional, tem como características principais a profissionalidade e a
internacionalidade.

Com base no conceito formulado por SÉRGIO CARLOS COVELLO, sobre o


banco, pode ser admitida como principal finalidade da atividade bancária a
intermediação na concessão de crédito, que norteia o direito bancário a
regular as operações realizadas pelos profissionais, que fornecem dinheiro,
e pessoas que o recebem (“CONTRATOS BANCÁRIOS”, 1981, p.3).

3º - Organização Bancária
A exploração do serviço bancário, a concessão de crédito, a atividade
das instituições financeiras, das cooperativas de crédito, e similares, se
submetem à política econômica do Sistema Financeiro Nacional, instituído em
nosso país para organizar e regular o mercado de capitais e as instituições
financeiras públicas ou privadas, com sede e aqui autorizadas a funcionar.

A atividade bancária é exercitada por pessoas designadas banqueiros,


através da constituição obrigatória de sociedades anônimas, que dependem de
autorização prévia do Banco Central do Brasil, que tem a competência não só
de fiscalizar o desempenho da atividade bancária, e financeira em geral,
privativas de bancos e instituições financeiras, como também, de aplicar
penalidades por infração e descumprimento de leis e regulamentos bancários,
decretar e promover a intervenção e liquidação extrajudicial, nos casos
previstos pela lei.

Os diretores das instituições financeiras assumem responsabilidade


solidária, na forma disciplinada pelas leis das sociedades por ações e da
reforma bancária, pelas obrigações contraídas pelas sociedades durante sua
gestão, até serem as mesmas cumpridas. Além da responsabilidade solidária,
na área civil, os administradores se sujeitam à penalidades administrativas
e penais, como: advertência, multa, suspensão ou inabilitação temporária ou
permanente para exercício de cargo, cassação da autorização para funcionar,
detenção e reclusão.

As instituições financeiras não podem requerer concordata, mas, ante


a ocorrência de irregularidades, podem ter decretada a sua intervenção, ou,
se caracterizado o seu estado de insolvência, podem ter decretada a sua
liquidação, ou autorizado o requerimento da sua falência, pelo Presidente
do Banco Central do Brasil.

Como adverte MAXIMILIANUS FÜHRER, “pessoas físicas ou jurídicas que


atuem como instituição financeira, sem autorização legal, ficam sujeitas à
multas e detenção, de 1 a 2 anos, ficando a esta sujeitos, quando pessoa
jurídica, seus diretores administradores” (ob. cit., pg. 118).
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4º - Espécies de Bancos
Banco é expressão usada popularmente para designar o estabelecimento
bancário, também considerado instituição financeira, que tem exclusividade
para o desempenho da atividade financeira. Quanto às operações realizadas,
são classificados, segundo MAXIMILIANUS FÜHRER (ob. cit., p.118/119), em:

1º - de emissão: que emite moedas, considerado o banco dos bancos. Em nosso


país é o Banco Central do Brasil, que emite privativamente moeda papel e
metálica, conforme autorização do Conselho Monetário Nacional.

2º - comercial ou de depósito: é o banco comum, que recebe depósito,


emprestam, fazem cobranças e pagamentos, alugam cofres, guardam valores,
descontam títulos, etc.

3º - hipotecário ou de crédito real: que promove a concessão de empréstimo,


mediante garantia de bens imóveis:

4º - de crédito industrial: que tem por objeto prestar auxílio à indústria


nacional, concedendo empréstimos a longo prazo, e com garantia de direito
real, por penhor ou hipoteca;

5º - de investimento: é o especializado na concessão de financiamentos para


aplicação em qualquer área ou atividade, com o emprego de recursos próprios
ou de terceiros;

6º - agrícola: é o que concede crédito para ser aplicado na área rural,


seja na lavoura, pecuária, ou aquisição de implementos agrícolas;

7º - múltiplo: é o que desenvolve mais de uma especialidade, como depósitos


e financiamentos, ou depósitos e investimentos, etc.

8º - casa bancária: é banco de menor porte, com menor número de serviço;

9º - cooperativa de crédito: é uma sociedade civil organizada para facultar


empréstimos aos associados, mediante cobrança de juros módicos, e que está
sujeita, além da fiscalização e controle do Banco Central do Brasil, também
ao controle pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Conselho Nacional do
Cooperativismo;

10º - caixa econômica: é instituição financeira ou empresa pública, que tem


a finalidade principal de coletar e aplicar recursos da poupança popular.

5º - Sistema Financeiro Nacional


O Sistema Financeiro Nacional é composto pelo Conselho Monetário
Nacional, Banco Central do Brasil, Banco do Brasil S/A, Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social, e demais instituições financeiras
publicas e privadas.

O Conselho Monetário Nacional, criado pela Lei nº 4.595/64 e alterado


pela Lei nº 9.069/95, é composto pelos Ministros de Estado, da Fazenda, que
é seu presidente, e do Planejamento e Orçamento, e pelo Presidente do Banco
Central do Brasil, tendo por competência disciplinar a atividade financeira
do país, regulamentando o lastreamento da nossa unidade monetária, que é o
Real, cuja paridade com o dólar pode alterar, e a forma pela qual o Banco
Central do Brasil administrará as reservas internacionais vinculadas.

A Lei nº 9.069/95 criou a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito, que


é composta pelo Presidente e quatro diretores do Banco Central do Brasil;
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Presidente da Comissão de Valores Mobiliários; Secretário Executivo do
Ministério do Planejamento e Orçamento; Secretário Executivo e Secretários
do Tesouro Nacional e de Política Econômica do Ministério da Fazenda, para
funcionar junto ao Conselho Monetário Nacional, como também, as seguintes
Comissões Consultivas: de Normas e Organização do Sistema Financeiro; de
Mercado de Valores Mobiliários e de Futuros; de Crédito Rural; de Crédito
Industrial; de Crédito Habitacional e para Saneamento e Infra-Estrutura
Urbana; de Endividamento Público; de Política Monetária e Cambial.

O Banco Central do Brasil é uma autarquia federal, que funciona como


secretaria executiva do Conselho Monetário Nacional, competindo-lhe cumprir
e fazer cumprir a legislação financeira e as normas do Conselho Monetário
Nacional; emitir moedas; controlar o crédito; fiscalizar de modo permanente
o funcionamento das instituições financeiras; deliberar sobre conseqüências
do descumprimento de leis e regulamentos bancários e aplicar as medidas ou
penalidades administrativas previstas; decretar a intervenção e liquidação
extrajudicial das instituições financeiras; autorizar o pedido de falência
formulado pelo interventor ou liquidante da instituição financeira, etc.

6º - Contratos Bancários
O Código Comercial emprega as expressões operações de bancos, para se
referir aos atos de comércio praticados pelos banqueiros, que se resumem em
contratos bancários.

MAXIMILIANUS FÜHRER (ob.cit., pg. 124) divide as operações


bancárias, que juridicamente designa de contratos, em fundamentais, como o
depósito, o desconto, a conta corrente, o empréstimo, etc., e em
acessórias, como a guarda de valores, caixa de segurança, cobranças, etc.

FRAN MARTINS (“CONTRATOS E OBRIGAÇÕES COMERCIAIS”, 14ª ed., Forense,


1998, pg. 432) adota critério diverso e classifica as operações bancárias,
que também designa de contratos, em passivas e ativas, conforme se tornem,
os banqueiros, devedores ou credores das pessoas com quem contratam. Entre
as primeiras estão os depósitos, as emissões de notas bancárias e os
redescontos; entre as segundas encontram-se os empréstimos, os descontos de
títulos de terceiros, as antecipações, as aberturas de crédito e as cartas
de crédito.

O referido autor ainda enumera, além das operações passivas e ativas,


outras operações, em que o banco figura como intermediário ou prestador de
serviços, como ocorre com as operações de câmbio, a comissão del credere, o
câmbio manual ou simples troca de moedas, as cobranças, as transferências
de somas de uma praça para outra, por conta de terceiro, as compras e
vendas de valores móveis, os depósitos em custódia e os serviços de cofres
individuais.

7º - Questionário
1º - O que é direito bancário?
2º - Qual é o conteúdo do direito bancário?
3º - O que é uma instituição monetária?
4º - Em que consiste a atividade bancária?
5º - Quem pode desempenhar a atividade bancária?
6º - O que são instituições financeiras?
7º - Qual a atividade e finalidade das cooperativas de crédito?
8º - Quais são as características do direito bancário?
9º - Em que consiste a finalidade do banco?
10º - O que é banco?
11º - Qual é a função do Sistema Financeiro Nacional?
12º - Quem pode desempenhar a atividade bancária?
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13º - O que é e quais são as atribuições do Banco Central do Brasil?
14º - Os diretores respondem pelas obrigações da instituição financeira?
15º - As instituições financeiras podem requerer falência e concordata?
16º - Há conseqüência do desempenho da atividade bancária sem autorização?
17º - Como se classificam os bancos?
18º - O que é banco de emissão e banco comercial?
19º - Qual a diferença entre banco hipotecário e de crédito industrial?
20º - Qual a diferença entre banco de investimento e banco agrícola?
21º - Qual a diferença entre banco múltiplo e casa bancária?
22º - Qual a diferença entre cooperativa de crédito e caixa econômica?
23º - Como se compõe o Sistema Financeiro Nacional?
24º - Como se compõe e qual é a atribuição do Conselho Monetário Nacional?
25º - Qual a função da Comissão Técnica da Moeda e do Crédito?
26º - O que é operação bancária?
27º - Quais são os contratos bancários?

QUADRO SINÓTICO

III - INTERVENÇÃO E LIQUIDAÇÃO NAS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DIREITO BANCÁRIO

1º- Noções Gerais {Lei nº 6.024/74 - institutos autônomos – intervenção e


liquidação extrajudicial - instituições financeiras –
Lei nº 4.595/64 = sistema financeiro nacional e reforma
bancária - Lei nº 7.492/86 = crimes contra o sistema
financeiro nacional -

2º- Intervenção {medida administrativa – cautelar – B.C.B. – interventor -


situação real – recuperação - liquidação extrajudicial ou
falência -
pressupostos {prejuízos - infrações – impontualidade – ato de
falência -
requerimento {administradores – AGE – BCB – de ofício –
efeitos {suspensão das obrigações vencidas - suspensão do
prazo das obrigações vincendas - inexigibilidade dos
depósitos -
término {prazo – 6 meses – relatório - recuperação -
liquidação extrajudicial - falência -

3º- Liquidação Extrajudicial {cassação da autorização - de ofício -


causas {impontualidade - ato de falência - violação de lei -
prejuízo - não início da liquidação espontânea ou
trâmite moroso –
requerimento = administradores – AG – interventor -
término – falência - conversão em ordinária - aprovação das
contas - cancelamento do registro - retorno às
atividades - incorporação ou fusão –
efeitos {suspensão das ações – inexigibilidade dos créditos -
vencimento antecipado - cláusulas penais – juros -
prescrição - correção monetária - perda de mandato -

4º - Regime de Administração Especial Temporária {Dec.-lei nº 2.321/87 -


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medida administrativa cautelar – B.C.B.

5º - Questionário

II - INTERVENÇÃO E LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICAL NAS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

1º - Noções Gerais

As instituições financeiras se sujeitam à intervenção e liquidação


extrajudicial, de acordo com as disposições da Lei nº 6.024/74. Embora
disciplinadas pela mesma lei, aplicando-se, às vezes, uma delas seguida da
outra, como ocorre com as instituições financeiras, não configuram um só
instituto, que determine a decretação da intervenção como pressuposto da
liquidação extrajudicial, havendo, ao contrário, a possibilidade de
decretação da liquidação extrajudicial sem ser precedida da intervenção, ou
ser decretada esta, sem ser seguida da liquidação extrajudicial.

Instituição financeira, conforme o art. 17, da Lei nº 4.595/64, sobre


o sistema financeiro nacional e reforma bancária, e art. 1º, da Lei nº
7.492/86, sobre os crimes contra o sistema financeiro nacional, é a pessoa
jurídica pública ou privada, que tem como atividade principal ou acessória,
cumulativamente ou não, a coleta, a intermediação, ou a aplicação de
recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou
estrangeira, ou custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação,
ou administração de valores mobiliários. Para efeitos da lei, se equiparam
às instituições financeiras, as pessoas físicas, que desempenhem qualquer
das atividades referidas por ela, mesmo de forma eventual, e as pessoas
jurídicas, que captem ou administrem seguros, câmbio, consórcio,
capitalização, qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros.

A atividade pode ser explorada através de empresa pública federal,


estadual, ou municipal, ou por sociedade anônima, de economia mista ou não,
dependendo de decreto do Poder Executivo, ou autorização do Banco Central
do Brasil, integrando, todas, o Sistema Financeiro Nacional, que é composto
também pelo Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil, Banco do
Brasil S/A, e Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social.

O Conselho Monetário Nacional, instituído pela Lei nº 4.595/64, é


composto pelo Ministro de Estado da Fazenda, como seu presidente; pelo
Ministro de Estado do Planejamento e Orçamento; e pelo presidente do Banco
Central do Brasil, conforme dispõe a Lei nº 9.069/95, estando suas
atribuições estabelecidas pelas leis referidas e Lei nº 4.728/65, sobre o
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mercado de capitais; tem por finalidade formular a política da moeda e do
crédito, buscando o progresso econômico e social do país. O Banco Central
do Brasil é uma autarquia federal criada pela Lei nº 4.595/64, que lhe
confere, entre outras, a atribuição de cumprir e fazer cumprir as
determinações do Conselho Monetário Nacional.

As instituições financeiras federais não se sujeitam à intervenção e


liquidação extrajudicial, pois, delas estão expressamente excluídas pela
lei, por estarem sob o comando e controle direto da autoridade federal, que
deve corrigir as irregularidades eventualmente apresentadas, pelos
competentes meios administrativos.

O art. 1º da Lei nº 6.024/74 dispõe que as instituições financeiras


privadas e as públicas não federais, como as cooperativas de crédito, estão
sujeitas à intervenção ou à liquidação extrajudicial, em ambos os casos
efetuada e decretada pelo Banco Central do Brasil, contudo, essas
instituições estão também sujeitas ao regime de administração especial
temporária, disciplinado pelo Dec.-lei nº 2.321/87, que substitui, se
determinado, a intervenção, sem excluir a liquidação extrajudicial.

O regime de administração especial temporária é igualmente medida de


natureza administrativa e cautelar, porém, mais ampla que a intervenção,
sendo decretada pelo Banco Central do Brasil, nas hipóteses previstas no
decreto lei, e executada por um conselho diretor, com poderes de gestão,
nomeado no mesmo ato de decretação.

2º - Intervenção
A intervenção nas instituições financeiras é medida administrativa,
cautelar, decretada pelo presidente do Banco Central do Brasil, efetuada
pelo interventor nomeado no mesmo ato, com a finalidade de constatar a real
situação financeira da instituição, e sugerir a adoção de medida necessária
para a recuperação, ou opinar pela liquidação extrajudicial ou falência.

São pressupostos da intervenção: a) prejuízos decorrentes de má


administração, que sujeita a riscos seus credores; b) reiteradas infrações
à legislação bancária, não regularizadas após determinação do Banco Central
do Brasil; c) a ocorrência de qualquer dos fatos previstos nos arts. 1º e
2º da Lei de Falências, havendo a possibilidade de ser evitada a liquidação
extrajudicial. Essa enumeração é exemplificativa.

A intervenção inicia por requerimento dos administradores, conforme


poderes conferidos pelos estatutos sociais, ou deliberação da Assembléia
Geral Extraordinária, que confere à diretoria os poderes necessários. O
requerimento é dirigido ao presidente do Banco Central do Brasil, com a
indicação das causas; contudo, pode também ser decretada de ofício, ou
seja, por iniciativa do presidente do Banco Central do Brasil, ao tomar
ciência das ocorrências previstas na lei, que determinam a medida.

Decretada a intervenção, compete ao interventor nomeado colocar a


instituição financeira em condições normais de funcionamento, desde que
disponha de meios para tanto, ou, caso contrário, apresentar relatório, no
qual deve sugerir e requerer a liquidação extrajudicial, ou que lhe seja
concedida a autorização para apresentar o pedido de falência.

Conforme o art. 6º, da Lei nº 6.024/74, a intervenção produz efeitos


imediatos, de ordem técnica, que são os seguintes: 1º) suspensão da
exigibilidade das obrigações vencidas; 2º) suspensão do prazo das
obrigações vincendas; 3º) inelegibilidade dos depósitos.
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Em seis meses deve ser concluída a intervenção, podendo esse prazo
ser prorrogado, por decisão do Banco Central do Brasil, no máximo por mais
seis meses. Concluída a intervenção, pode ocorrer qualquer das seguintes
hipóteses: 1ª) recuperação, com o retorno dos administradores às funções
normais, e à atividade da instituição financeira; 2ª) não sendo possível a
recuperação, o interventor, autorizado pelo Presidente do Banco Central do
Brasil, promove a liquidação extrajudicial, ou pede a falência, se o ativo
não comportar o pagamento da metade dos créditos quirografários; 3ª) fusão
ou incorporação por outra sociedade, com condições de incorporar ou assumir
o ativo e passivo da instituição, à critério do Banco Central do Brasil.

3º - Liquidação Extrajudicial
A liquidação extrajudicial provoca a cassação, pelo órgão federal,
da autorização para funcionamento, sendo decretada de ofício nos casos de:

1º- impontualidade nos pagamentos, ou prática de atos de falência;

2º- violação de lei, estatuto, determinação do Banco Central do


Brasil, ou do Conselho Monetário Nacional;

3º- prejuízo, que coloca em risco anormal os créditos quirografários;

4º- quando cassada a autorização para funcionamento da sociedade, não


é iniciada, nos noventa dias seguintes, a liquidação espontânea, ou, se
iniciada, tem trâmite moroso, que pode ocasionar prejuízos aos credores.

Pelos mesmos motivos, ou outros, devidamente justificados, pode ser


requerida ao Banco Central do Brasil a liquidação extrajudicial, pelos
administradores, com poderes conferidos pelo estatuto ou pela assembléia
geral extraordinária, ou ainda, pelo interventor.

Decretada a liquidação, o nome comercial da sociedade é acrescido das


expressões em liquidação extrajudicial, em todos os documentos, atos e
publicações, em que seja utilizado.

A liquidação extrajudicial pode ser determinada sem a precedência da


intervenção, mas, diante de situação excepcional, em que esta não seja
considerada a melhor solução.

Decretada a liquidação extrajudicial, é nomeado o liquidante, com


posição e atribuições similares às do síndico, na falência, procedimento
judicial ao qual corresponde aquele administrativo, que é presidido pelo
Banco Central do Brasil, com função análoga à do juiz da falência, pois,
além de nomear o liquidante, também fixa o termo legal, retroativo a até
sessenta dias do primeiro protesto, ou do ato de intervenção ou de
liquidação. O Banco Central do Brasil é representado, na intervenção, ou na
liquidação extrajudicial, pelo seu presidente.

Sendo evidente e grave a insolvência da instituição financeira, não


comportando o seu ativo o pagamento de cinqüenta por cento dos créditos
quirografários, como permitem os arts. 12, letra "d", e 21, letra "b", da
referida lei, o liquidante pode requerer a falência, com autorização do
Banco Central do Brasil, cessando, a declaração da falência, a liquidação
da instituição financeira. A liquidação também cessa pela conversão em
ordinária; ou pela conclusão, com a aprovação das contas dos liquidantes e
cancelamento do registro da instituição financeira; ou pelo retorno às
atividades, após autorização do Banco Central do Brasil, ante proposta de
interessados considerados idôneos, com oferecimento de garantias; ou,
ainda, em razão de incorporação ou fusão a uma outra instituição
financeira.
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O Banco Central do Brasil pode determinar qualquer daquelas medidas,


de conformidade com o relatório do liquidante, que expõe a situação real da
sociedade, o estado da escrituração, a indicação de atos danosos, e a
proposta das providências necessárias ou convenientes. A evidência de fato,
que caracteriza crime falimentar, impede o andamento da liquidação e impõe
a confissão da falência.

Prosseguindo normalmente a liquidação extrajudicial, é verificado o


passivo, mediante declarações e julgamento dos créditos, e realizado o
ativo, aplicando-se as disposições falimentares, que não colidirem com as
regras do procedimento administrativo. Com a conclusão da liquidação
extrajudicial, o liquidante deve prestar suas contas.

A decretação da liquidação extrajudicial, conforme dispõe o art. 18,


da lei disciplinadora, produz os seguintes efeitos:

1º- suspensão das ações e execuções iniciadas e impedimento da


promoção de outras;

2º- vencimento antecipado das obrigações;

3º- não atendimento das cláusulas penais dos contratos unilaterais


vencidos pela decretação da liquidação extrajudicial;

4º- não fluência de juros, mesmo estipulados;

5º- interrupção da prescrição;

6º- não reclamação de correção monetária, exceto de débitos fiscais,


conforme dispõe o art. 2º, do Dec.-lei nº 1.477/76, nem de penas
pecuniárias por infração de leis penais ou administrativas;

7º- perda do mandato dos administradores, conselheiros, e membros de


quaisquer outros órgãos criados pelo estatuto, competindo exclusivamente ao
liquidante a convocação de assembléia geral.

A lei veda a pretensão e concessão da concordata para a instituição


financeira, enquanto as instituições financeiras federais não se sujeitam à
intervenção e liquidação extrajudicial, pois, delas estão expressamente
excluídas pela lei, por estarem sob o comando e controle direto da
autoridade federal, que deve corrigir as irregularidades eventualmente
apresentadas, pelos competentes meios administrativos.

4º - Regime de Administração Especial Temporária


Embora estabeleça, o art. 1º da Lei nº 6.024/74, que as instituições
financeiras privadas e as públicas não federais, como as cooperativas de
crédito, estão sujeitas à intervenção ou à liquidação extrajudicial, em
ambos os casos decretada pelo Banco Central do Brasil, elas também podem se
sujeitar ao regime de administração especial temporária, disciplinado pelo
Dec.-lei nº 2.321/87, que substitui, quando determinado, a intervenção, sem
excluir a liquidação extrajudicial.

O regime de administração especial temporária é igualmente medida de


natureza administrativa e cautelar, porém, mais ampla que a intervenção,
sendo decretada pelo Banco Central do Brasil, nas hipóteses previstas no
decreto lei, e executada por um conselho diretor, com poderes de gestão,
nomeado no mesmo ato de decretação.

5º - Questionário
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1º - O que é intervenção?
2º - O que é liquidação extrajudicial?
3º - Quando e quem pode decretar a intervenção?
4º - Quando e quem pode decretar a liquidação extrajudicial?
5º - Quem se submete à intervenção e liquidação extrajudicial?
6º - Há prazo fixado para a intervenção e liquidação extrajudicial?
7º - Quais os pressupostos para a intervenção?
8º - Quem pode requerer e promover a intervenção?
9º - Qual é a finalidade da intervenção?
10º - Quais os efeitos da intervenção?
11º - Quando e como termina a intervenção?
12º - Como tem início e quais as causas para a liquidação extrajudicial?
13º - Quais os efeitos da liquidação extrajudicial?
14º - Quem promove e como termina a liquidação extrajudicial?
15º - O que é regime de administração especial temporária?

BIBLIOGRAFIA

1. ALMEIDA, AMADOR PAES DE – Manual das Sociedades Comerciais, 8ª ed.,


Saraiva, 1995;

2. BULGARELLI, WALDIRIO - Direito Comercial, 5ª ed., Atlas, 1987;


Sociedades Comerciais, 6ª ed., Atlas, 1996; Manual das Sociedades
Comerciais, 8ª ed., Atlas, 1996;

3. COELHO, FÁBIO ULHOA – Manual de Direito Comercial, 4ª ed., Saraiva,


1993;

4. FÜHRER, MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO – Resumo de Direito Comercial,


7ª ed., Revista dos Tribunais, 1989;

5. MARTINS, FRAN – Curso de Direito Comercial, 15ª ed., Forense, 1990;

7. REQUIÃO, RUBENS – Curso de Direito Comercial, 21ª ed., 1º e 2º


volumes, Saraiva, 1993.

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