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Parte integrante da revista nº 51 - Ano XIV - Jun/Jul/Ago - 2010

MST-FARC: Uma analogia perigosa

Gilberto Paim
Jornalista. Membro do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio

O MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra iniciou-se há 25 anos. A ideia
original do movimento era a de distribuir terras a pequenos agricultores. De 1988 para cá
foram realizadas 7.591 invasões. O Movimento tornou-se, com o tempo, um ator político de
crescente violência. Não tem existência jurídica, o que tem poupado seus dirigentes de processos
e indenizações. Tem enorme capacidade de organização, tendo mobilizado alguns anos atrás,
em Brasília, 18 mil integrantes com perfeita logística. Diz seu presidente João Pedro Stedile que
o latifúndio deixou de ser o inimigo número 1. Agora são as transnacionais e o agrobusiness.
Alguns de seus dirigentes, como é o caso de José Rainha, declararam publicamente que preten-
dem criar uma nova Canudos. Entre os objetivos explícitos do MST se encontra o de reestatizar a
empresa Vale. Não há qualquer registro formal das despesas e da origem dos recursos do MST.
A revista Veja informou que, entre 2003 e 2007, o governo – através de ONGs e órgãos
oficiais, como o Incra – aplicou R$ 43 milhões no MST, que ainda recebeu ajuda externa socia-
lista de R$ 20 milhões. O MST combate o reflorestamento e já destruiu importantes laboratórios
de pesquisa, desviando, em consequência, investimentos para países vizinhos. Em 2008 a revista
ISTOÉ divulgou a instalação pelo MST de 20 acampamentos em três estados, para treinar
guerrilheiros.
Os custos de assentamento do Incra são extremamente elevados, e a produtividade média é
tão baixa que o governo é obrigado a sustentar os acampados com cestas básicas. Convém não
minimizar os riscos para a democracia de um exército de 467 mil famílias, em boa parte
acampadas em fazendas invadidas próximo a eixos rodoviários. O modelo ideológico do MST
são as FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 51 2
 m seus 25 anos de existên-
E cia são milhares as ações do
MST, em grande parte praticadas
a partir da eleição do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, no pleito
de 3 de outubro de 2002. Segun-
do o Núcleo de Estudos, Pesqui-
sas e Projetos de Reforma Agrária,
da Universidade Estadual Paulista,
somam 7.591 as ações do movi-
mento em 19 anos, iniciadas em
1988, e alcançam as mais varia-
das formas: invasão de fazendas
produtivas e de prédios públicos,
bloqueio de estradas de ferro e de
rodovias, destruição de laborató-
rios de pesquisas e de centros de
produção de mudas de fabrican-
tes de celulose. Depois da instala-
ção do governo petista, o Movi-
mento dos Sem Terra passou a agir
com plena impunidade, às vezes
operando como um órgão oficial.
Ao colocar na cabeça o boné do
MST, em 2003, o presidente da
República praticamente autorizou
o Movimento a agir sob a prote-
ção de diferentes órgãos públicos,
inclusive do Ministério do Desen-
volvimento Agrário, do Incra e da
Polícia Federal. Continuaram livres
para a prática de novas depreda-
ções os autores, devidamente iden-
tificados, da destruição de pesqui-
sas da Aracruz, realizadas durante
22 anos no Rio Grande do Sul.
Explica-se essa liberdade para des-
truir. O Incra está dominado por
funcionários que saíram das hostes
do MST.
A impunidade foi sacramen-
tada pelo ministro Guilherme
Cassel, do Desenvolvimento Agrá-
rio, quando classificou como
“Jornada Nacional de Lutas” as
ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 51 3
ações do MST durante o Abril Ver-
melho de 2008. Frisou o ministro
que “a participação desses movi-
mentos é essencial para o fortale-
cimento da democracia” no Bra-
sil. Sobre a ameaça do MST de in-
vadir as instalações da Vale no
Pará, disse o ministro, conforme a
Folha de S. Paulo, de 17 de abril
de 2008: “a questão tem mais a
ver com a reestatização da Vale,
“Ao colocar na
cabeça o boné do
MST, em 2003, o
presidente da
República pratica-
mente autorizou o
movimento a agir
sob a proteção de
diferentes órgãos
públicos, inclusive
do Ministério do
Desenvolvimento
Agrário, do Incra e
da Polícia Federal.”
defendida também por outras
organizações sociais, além de
uma ala do PT”.
O MST está sempre presente
em greves e manifestações de rua.
Aliou-se à campanha contra pro-
jetos hidrelétricos na Amazônia,
chefiada pelo Movimento de Atin-
gidos por Barragens, como tem
ocorrido na cidade de Altamira, no
Pará, contra o grande projeto de
Belo Monte, de 11 milhões de kW,
pouco abaixo da potência da
hidrelétrica de Itaipu. Espera-se a
intensificação das invasões de pro-
priedades rurais, depois que o pre-
sidente da República sancionar o
projeto de novos índices de produ-
tividade, como está prometido.
Estabelece esse projeto que as ter-
ras de uma fazenda que não esti-
verem inteiramente aproveitadas
serão desapropriadas para efeito
de reforma agrária. Não há dúvi-
da de que as propriedades assim
afetadas darão motivo a um des-
mesurado aumento das tensões
no campo, com reflexos na zona
urbana.
Com a feição de milícia, o MST
tem demonstrado uma extraordi-
nária capacidade de realizar atos
simultâneos em 23 estados, como
ocorreu no Abril Vermelho de
2008. Em quase todo o País as
ocupações, depredações e outros
atos típicos revelaram o poder de
que dispõe o Movimento.
Essa capacidade de organiza-
ção apresentou mais um dos seus
múltiplos exemplos por ocasião do
5º Congresso Nacional desse
“partido político” de extrema es-
querda, que possui maior número
de membros que as FARC – For-
ças Armadas Revolucionárias da
Colômbia. Observe-se o alto grau
de organização do MST. Em junho
de 2007, 2.000 pessoas se in-
cumbiram de montar, em Brasília,
em uma semana, barracas de lona
transformadas em grandes dormi-
tórios, cozinhas e refeitórios para
18 mil pessoas. Eram 140 cozi-
nhas que prepararam cerca de trin-
ta toneladas diárias de alimentos,
durante cinco dias. Uma verdadei-
ra operação militar.
 Além de ceder o Ginásio de
Esportes Nilson Nelson para os
debates, palestras e atividades in-
ternas, o Governo do Distrito Fe-
deral ofereceu 50 caminhões-
pipa, 20 caixas d´água de mil li-
tros para abastecer o acampa-
mento e 200 banheiros químicos.
Os 18 mil participantes, convoca-
dos de diferentes Estados, se con-
centraram em junho de 2007 em
Brasília, sede do evento. Durante
os cinco dias do Congresso os
participantes foram acampados
em barracas de lona, diante do
Palácio do Planalto, sob as vistas
complacentes da Presidência da
República. Não faltou comida.
Imagine-se o emprego da massa
de dinheiro para manter as várias
cozinhas em atividade e alimentar
durante cinco dias 18 mil pessoas.
E houve os gastos com passagens
de ônibus e avião para reunir na
capital federal um número tão
elevado de “congressistas”.
Não pode passar sem especial
referência uma indicação do cres-
cimento do número de aderentes
do MST, a julgar pelos participan-
tes em seus congressos. No primei-
ro congresso, realizado em 1985,
compareceram 1.500 delegados;
no segundo, realizado em 1990,
eram 4.000; no terceiro, em 95,
eram 5.000; no quarto, em 2000,
participaram 12 mil; e no quinto,
em junho de 2007, nada menos
de 18 mil. Mas esses números não
refletem a realidade das centenas
de milhares de membros do MST
em todo o País.
Desde 2007 o MST faz cam-
panha pela devolução da Vale ao
governo. Tendo esse objetivo,
“o movimento social da desor-
dem” vem insistindo, com o apoio
de organizações sindicais e pas-
torais sociais da Igreja Católica,
na realização de um plebiscito so-
bre a reestatização da Compa-
nhia. O líder do MST, João Paulo
Rodrigues, chegou a declarar:
“A Vale que se prepare. Vamos fa-
zer tudo que for necessário para
que seu controle volte às mãos da
sociedade brasileira”. Por sua vez,
Demétrio Valentini, ligado às pas-
torais sociais da Conferência Na-
cional dos Bispos Brasileiros,
CNBB, diz que o plebiscito também
tem como objetivo pressionar o
Judiciário: “Urge que se manifeste
a respeito das ações populares
que questionam a privatização”.
Mas essa luta é parte da cam-
panha do MST contra as multina-
cionais. João Pedro Stedile, um dos
dirigentes do movimento, declarou
em discurso na Universidade Es-
tadual do Oeste do Paraná que o
latifúndio deixou de ser o princi-
pal inimigo do MST. Elegeu como
outros adversários as empresas
transnacionais e o agronegócio.
Apesar disso, afirmou: “Vamos
continuar com as ocupações de
terra”, acrescentando: “nosso
objetivo é destruir o aparato
repressivo burguês, a democracia
burguesa e implantar a democra-
cia proletária”.
Declarando-se inimigo de Ste-
dile, José Rainha Júnior dirige uma
facção radical do MST. Depois de
passar quatro meses fugindo da
polícia e mais dois meses na ca-
deia, Rainha, nascido no Espírito
Santo, foi condenado pelo juiz Ro-
drigo Antonio Franzini Tanmamat,
da Vara do Mirante do Parana-
panema, a dois anos de prisão.
Trata-se da terceira condenação
penal do líder dos sem-terra por
formação de quadrilha, porte ilegal
de armas e danos a terceiros. Di-
rigindo dezenas de ocupações ile-
gais de terras no Pontal do Para-
napanema, SP, Rainha anuncia o
propósito de “atrair as multidões
de deserdados para criar uma nova
Canudos”.
Por sua vez, o ouvidor agrário
Nacional, Gercino José da Silva
Filho, que faz a intermediação de
conflitos agrários, disse que os
“movimentos sociais elegeram abril
como o principal mês de suas
mobilizações”. Afirmou, em nota,
que a prova disso é que “nos me-
ses anteriores e posteriores as
mobilizações ocorrem com menor
incidência”.
O sociólogo Zander Soares
Navarro acredita que não existiria
Abril Vermelho sem recursos pú-
blicos, e manifesta a opinião de
que não existe demanda real por
reforma agrária no Brasil, ao con-
trário do que diz o que MST, orga-
nização que ele descreve como
antidemocrática e com “apego à
manutenção de uma estrutura
semissecreta”. Com mestrado em
Sociologia Rural pela Universi-
dade Federal do RS, doutorado em
Sociologia pela Sussex University,
na Inglaterra, e com pós-douto-
ramento no Massachusets Institute
of Technology, nos Estados Unidos,
Soares Navarro concedeu en-
trevista ao Estado de S. Paulo (29/
04/2007), quando frisou que não
existe controle sobre os recursos
públicos repassados às entidades
ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 51 4
controladas pelo MST, recursos
que acabam destinados ao finan-
ciamento da militância.
A propósito, o ministro Gilmar
Mendes criticou o financiamento
público dos movimentos sociais
que cometem crimes, afirmando:
“Dinheiro público para quem co-
mete ilícito é também uma ilici-
tude. E aí a responsabilidade é
de quem subsidia”.
Em entrevista à imprensa sobre
o tema, respondendo à pergunta
sobre se existe punição para quem
continua financiando esse tipo de
movimento, declarou o presidente
do STF: “Certamente, essas
pessoas podem ser acionadas por
responsabilidade, se elas estão
cometendo um ilícito. Se elas
repassam recursos sem base legal,
estão operando num quadro de
ilicitude. E cabe ao Ministério
Público, inclusive, pôr cobro a esse
tipo de situação”.
Indagado sobre se estaria ha-
vendo leniência do Governo com
Em 2007, milhares de integrantes do MST se concentraram no Congresso em Brasília.
ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 51
o MST e movimentos afins, respon-
deu o ministro Gilmar Mendes:
“Não vou falar sobre isso. Só
estou dizendo que há uma lei que
proíbe o governo de subsidiar es-
ses movimentos. O que se sabe é
que o termômetro jurídico sinaliza
que há excessos e é preciso re-
pudiá-los”.
Conforme pesquisa publicada
pela revista Veja, de 2 de setem-
bro de 2009, entre 2003 e 2007
as organizações ligadas ao MST
receberam R$ 43 milhões do Go-
verno e R$ 20 milhões do exterior.
Como o MST não tem existência
legal, esse dinheiro lhe chegou
através das seguintes organiza-
ções, por meio de convênios
com órgãos federais: Associação
Nacional de Cooperativas Agríco-
las – Anca; Confederação de Co-
operativas de Reforma Agrária –
Conerab; Centro de Formação e
Pesquisa Contestado – Cepatec; e
Instituto Técnico de Estudos Agrá-
rios e Cooperativismo – Itac.
5
Informa a Folha de S. Paulo, de
6 de março de 2009, que dos
R$8,2 milhões em verbas da Edu-
cação, repassados à Anca, em
2003 e 2004, R$7,3 milhões
foram distribuídos às secretarias
regionais do MST em 23 estados.
Os dados foram levantados pelo
Tribunal de Contas da União, TCU,
com base na contabilidade das
entidades. Apesar de o TCU ter
advertido o Governo para o fato,
a Anca continuou a receber verbas
públicas de 2005 até 2007.
Há fontes de recursos cujos
valores não são contabilizados
como dinheiro público. Um exem-
plo frisante diz respeito aos cartões
corporativos distribuídos pelo
Incra. Destaca-se que o maior nú-
mero dos saques em dinheiro fei-
tos em 2007, por meio desses car-
tões, ocorreu no mês de abril.
No ano citado o órgão gastou
R$ 4.107.490,77 nos cartões. É
muita coincidência que a maioria
das retiradas em dinheiro vivo
tenha sido feita exatamente no mês
das invasões, no Abril Vermelho
do MST. Os saques dessa turma
não são apenas contra a proprie-
dade privada, pois atingem em
cheio os cofres públicos.
Talvez nunca se apure quanto
do montante anual de recursos
para a reforma agrária chega aos
cofres do MST. Depois da ascen-
são do PT ao Governo as dotações
orçamentárias para o Ministério do
Desenvolvimento Agrário e o Incra
giram em torno de quatro bilhões
de reais por ano. Segundo Contas
Abertas/Siafi (Sistema Integrado
de Administração Financeira do
Governo Federal), do total de
R$6.386 bilhões autorizados no
orçamento de 2009 o Governo
havia liberado cerca de R$ 2
bilhões até julho, acreditando-se
que com a aceleração dos gastos
no último trimestre do ano o total
se aproxime no final do ano de
R$ 4 bilhões, ou ultrapasse esta
cifra.
Em setembro de 2009, por
meio de protestos em Brasília e
mais doze cidades, o MST exigiu
do Governo (a) a eliminação do
contingenciamento de R$800
milhões do Incra, (b) o assenta-
mento imediato de 90 mil famílias
acampadas há mais de quatro
anos e (c) a atualização dos índi-
ces de produtividade da terra.
De acordo com o coordenador
do MST, José Batista de Oliveira,
o Governo Lula dá prioridade ao
agronegócio, relegando a um
segundo plano tanto a reforma
agrária quanto a pequena agricul-
tura.
O movimento tem cumprido a
ameaça de continuar com suas
ações contra grandes empresas.
No Abril Vermelho de 2008, dia
17, o MST parou por cinco horas
um trem carregado de minério da
Vale, na Estrada de Ferro de
Carajás, no Pará, apesar de ha-
ver determinação da Justiça pre-
servando a empresa de ações
desse tipo. Ao mesmo tempo, o
MST anunciou ações do movimen-
to em quinze Estados e no Distrito
Federal, e disse que as invasões
iriam continuar.
A Vale chamou as ações do
MST de “criminosas e terroristas”,
assim caracterizando a parada do
trem e a invasão do prédio onde
se acha instalada em Belém. A
polícia foi chamada com antece-
dência, mas não impediu que os
manifestantes derrubassem um
portão e invadissem o edifício. Se-
gundo nota à imprensa, a empre-
sa informou que os invasores fize-
ram a ocupação diante da polícia,
acrescentando:
— Há muito tempo a Vale vem
alertando as autoridades para esse
clima de desrespeito ao Estado de
Direito, que gera um ambiente
“No primeiro
congresso do MST,
realizado em 1985,
compareceram 1.500
delegados; no
segundo, realizado
em 1990, eram 4.000;
no terceiro, em 95,
eram 5.000; no
quarto, em 2000,
participaram 12 mil;
e no quinto, em junho
de 2007, nada menos
de 18 mil.”
negativo para o crescimento dos
investimentos em nosso País, em
especial no Pará, região que apre-
senta um dos maiores potenciais
de crescimento e geração de ren-
da e emprego.
A Vale resolveu contra-atacar,
não somente qualificando de “ban-
didos” os que promoveram as ocu-
pações, mas enviando à Polícia
Federal uma petição em que pede
a prisão de Eurival Carvalho, o
Totô, líder do MST que chefiou a
invasão da Estrada de Ferro
Carajás. Eurival é investigado em
cinco inquéritos e réu em outros
três processos criminais. Agora a
Vale se prepara para tentar fazer
o mesmo com os chefes do movi-
mento que invadiram suas insta-
lações no Maranhão e em Minas
Gerais.
Numa revelação de aliança
com o MST, a Secretaria de Segu-
rança do governo paraense divul-
gou nota onde afirma que, depois
da desobstrução da ferrovia da
Vale, “uma comissão do MST será
hoje (21/04/08) recebida pelo
Governo do Pará, e amanhã os
sem terra serão recebidos, em
Brasília, na Secretaria-Geral da
Presidência da República”.
O MST afirmou em nota que,
apesar da desobstrução dos trilhos
da Vale, não abrirá mão de suas
reivindicações. E acrescentou: “A
ocupação dos trilhos e a paralisa-
ção das atividades de tráfego de
minério da Vale são uma forma de
responsabilizar o Governo Federal,
o Governo estadual e a própria
Vale pela incapacidade de resolver
o problema agrário, mineral e
ambiental que estressa os traba-
lhadores do campo e das cidades”.
As grandes empresas, como a
Vale e a Monsanto, estão recor-
rendo à Justiça para se ressarci-
rem de prejuízos causados pelo
MST, depois que se convenceram
da inutilidade da manutenção de
diálogo com esse Movimento e
com a Via Campesina. E entendem
que o litígio judicial será inevitá-
vel. “Discordamos desses atos de
banditismo e não negociamos
com bandidos”, declara Tino Mar-
tins, diretor-executivo de Assuntos
ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 51 6
Corporativos da Vale. De agosto
de 2007 a março de 2008 a Vale
sofreu seis invasões em suas pro-
priedades.
A Monsanto, que teve a sua
subsidiária Agroeste fechada por
centenas de mulheres da Via
Campesina em Xanxerê, Santa
Catarina, e sofreu um invasão na
sua unidade em Santa Cruz das
Palmeiras, SP, faz coro com a Vale.
Em nota divulgada em março de
2008 indicou que vai cobrar na
Justiça a reparação dos prejuízos
causados pela perda de dois anos
de pesquisas com milho transgê-
nico. “A Monsanto condena de
forma veemente atos ilegais como
este, que desrespeitam recentes
decisões do Poder Judiciário”.
— Imagine invadir um pedágio
ou uma estrada de ferro, o que
isso tem a ver com desapropriação
de terra? – pergunta o advogado
e engenheiro agrônomo Paulo
Daetwyler, do comitê jurídico da
União Ruralista Brasileira.
Nos ataques à propriedade pri-
vada há um viés do MST contra a
grande empresa no agronegócio,
com exemplos repetidos de ata-
ques à economia de mercado. Na
quarta ocupação no Estado de São
Paulo, após o início do Abril Ver-
melho de 2007, 120 famílias do
MST incendiaram 40 toneladas de
mudas de cana-de-açúcar que se-
riam plantadas na Fazenda Tim-
bozinho, em Andradina, no noro-
este paulista. A fazenda, de 796
hectares, tem extensas plantações
de cana arrendadas para as usi-
nas de álcool da região.
Em abril de 2006 cerca de 3
mil integrantes do MST invadiram
ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 51
Mulheres da Via Campesina, organização internacional da qual o MST faz parte.
uma fazenda que pertence à indús-
tria paulista Suzano Papel e Celu-
lose, em Teixeira de Freitas, na
Bahia. Milhares de mudas de
eucalipto foram arrancadas para
a montagem do acampamento. A
invasão comemorava o décimo
aniversário do massacre de Ca-
rajás. Em junho de 2008 a Ode-
brecht entrou com ação na Justi-
ça pedindo a retirada dos 500
integrantes do MST que passaram
a ocupar a usina de açúcar e
álcool situada no Mirante do
Paranapanema, SP. Em março de
2008, 80 trabalhadores sem-
terra destruíram 3 mil pés de café
da Fazenda Macaé, em Andra-
dina, no noroeste paulista.
Invasores do MST destruíram
parte do laranjal e 28 tratores e
máquinas agrícolas de uma fazen-
da da Cutrale em Borebi, no cen-
tro-oeste paulista. O delegado
Jader Biazon, que investiga a de-
predação, deve indiciar e pedir a
7
prisão preventiva de 11 sem-terra
suspeitos de terem praticado atos
de vandalismo. Peritos da Polícia
foram ao local e comprovaram que
os sem-terra destruíram 15 mil pés
de laranja em produção, roubaram
peças e motores dos tratores,
levaram 12 mil litros de óleo die-
sel e invadiram cinco casas de
onde retiraram fornos de microon-
das, liquidificadores e outros ob-
jetos, além de grande quantidade
de defensivos agrícolas.
O objetivo do movimento é
forçar a desapropriação da fazen-
da. Os invasores tentam explicar
a destruição afirmando que “ape-
nas tiraram alguns pés de laranja
para plantar feijão, porque nin-
guém vive só de laranja”. Claudete
Pereira de Souza, coordenadora
do MST, insiste em dizer que a pro-
priedade é considerada improdu-
tiva, apesar de seu imenso laran-
jal. O Presidente Lula condenou o
“vandalismo”, mas logo a seguir
fontes do Planalto disseram que
não faltarão recursos para as or-
ganizações que apoiam o MST.
A Justiça determinou a reinte-
gração de posse da Fazenda da
Veracel Celulose, empresa invadi-
da pelo MST no sul da Bahia, que
representa investimento de capital
da Aracruz Celulose e da sueco-
finlandesa Stora Enso, no valor de
US$1,2 bilhão. A invasão causa
perda de investimento.
Logo depois que bandidos ar-
mados da Via Campesina invadi-
ram e depredaram plantações de
eucalipto na Fazenda Tarumã, em
Rosário do Sul, RS, em 2006,
alguns executivos da Stora Enso na
América Latina chegaram a Porto
Alegre. Passaram o seguinte reca-
do: “Se não nos querem, não
temos por que ficar aqui”. A Stora
Enso, associada à chilena Arauco,
adquiriu 143 mil hectares de terras
no Uruguai, onde pretende produ-
zir um milhão de toneladas de
celulose por ano. O episódio põe
em risco o investimento da Aracruz
no RS de US$1,2 bilhão e o de
igual quantia da Votorantim, sem
contar os valores representados
pelas demais empresas ligadas à
atividade de base florestal.
A Stora Enzo esperou três anos
para ser autorizada a registrar, em
seu nome, 45 mil ha, nas proximi-
dades da fronteira do Uruguai. O
Diário Oficial da União, de 3 de
agosto de 2009, publica nota em
que diz que o ministro-chefe do
Gabinete de Segurança Institu-
cional, na condição de secretário-
executivo do Conselho de Defesa
Nacional, deu consentimento à
Stora Enso Florestal Ltda. para
adquirir terras nas proximidades
da fronteira do Uruguai. Agora, a
empresa terá de esperar alguns
anos até que a Fundação Estadual
de Proteção do Meio Ambiente –
Fepam, como se fosse aliada do
MST e da Via Campesina, aprove
o seu projeto industrial. Pois o MST
também fala em nome de órgãos
públicos.
O relacionamento do Poder
Público com a desordem no cam-
po ficou mais uma vez comprova-
do quando o Ministério do Desen-
volvimento Agrário repassou recur-
sos, em 2008, para uma ONG
gaúcha indiciada como mentora
da invasão do viveiro da Aracruz
em 2006. Em março daquele ano
2 mil integrantes da Via Cam-
pesina invadiram o horto florestal
da Fazenda Bárbara Negra, da
Aracruz, onde foram destruídos o
laboratório de pesquisa da empre-
sa e 3 milhões de mudas prontas
para plantio, causando perdas
estimadas em milhões de dólares.
A Via Campesina é uma organiza-
ção internacional e tem como prin-
cipais parceiros, no Brasil, o MST
e a Comissão Pastoral da Terra,
ligada à Conferência Nacional dos
Bispos Brasileiros, CNBB.
O líder do MST Jaime Amorim,
que ingressou no movimento atra-
vés da Igreja Católica, aprovou a
depredação na Aracruz Celulose,
no Rio Grande do Sul. Ao ser in-
terrogado sobre a violência empre-
gada na ação, declarou: “Não
estamos preocupados com a nos-
sa imagem”. O militante também
não se sensibilizou com o choro de
uma pesquisadora que assistiu à
destruição de pesquisas iniciadas
há vinte anos. Afirmou: “Se ela
fosse uma pesquisadora séria não
teria se vendido às multinacionais”.
Como dirigente do MST, que
está presente nas áreas de tumulto,
em duas décadas, em Pernam-
buco, Amorim acumulou proces-
sos judiciais pelos mais variados
motivos: incêndio de tratores e ocu-
pação de terras, bloqueio de es-
tradas, invasão de navio vindo da
Argentina com milho transgênico,
ocupação da sede do Incra com
reféns, retirada à força de produ-
tos geneticamente modificados
em supermercados. Trata-se de
um líder autêntico do MST.
O apoio que a Conferência
Nacional dos Bispos Brasileiros,
CNBB, oferece ao MST, direta-
mente ou por intermédio da Co-
missão Pastoral da Terra, legitima
a campanha pela reforma agrária
perante a massa popular periférica
das cidades, onde são recrutados
os acampados. Junte-se a esse
apoio a brandura, a leniência ou
o financiamento governamental à
implantação de acampamentos
para se tornar visível a criação de
condições pré-revolucionárias no
interior do país. Na Colômbia as
FARC começaram com um movi-
mento dos sem-terra.
Não há dúvida de que o MST
tem aliados na administração pú-
blica, a julgar por uma decisão da
FEPAM – Fundação de Proteção
do Meio Ambiente, do Governo do
RS, que não autorizou as empre-
sas privadas a plantar as florestas
programadas dentro de planos de
investimento no valor de US$4,5
bilhões. Três milhões de mudas de
eucaliptos arderam num incêndio
ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 51 8
de enormes proporções, no maior
viveiro gaúcho, instalado em Barra
do Ribeiro, porque passou o tem-
po de “validade”, enquanto os
viveiros tinham de abrir espaço
para as novas mudas.
Entre as empresas clientes da
Tecnoplanta que utilizariam essas
mudas estavam a VCP (Votorantim
Celulose e Papel), a Aracruz, a
Stora Enso e mais 170 clientes,
assim impedidos de prosseguir
em seus planos de investimento.
Diante da decisão insensata da
FEPAM, a Votorantim resolveu
redirecionar seus recursos e
técnicos para Mato Grosso, onde
encontrou pela frente um tapete
vermelho de boas-vindas. Não
mais se realizará o investimento
da Votorantim para a produção de
celulose no RS. Depois que a Ford
transferiu o seu investimento de
um bilhão de dólares para a
Bahia, os gaúchos costumam
dizer: perdemos uma Ford, quan-
do a perda é de US$ 1 bilhão. No
caso em exame, a perda será
de quatro Fords.
Desastres dessa natureza se
repetem por inaptidão do Poder
Público em saber avaliar o valor
do investimento em termos econô-
micos e sociais. Um investimento
da ordem de R$6 bilhões na cons-
trução de um porto em Peruíbe,
litoral de São Paulo, foi suspenso.
O juiz federal Antonio André Muniz
Mascarenhas de Souza, atenden-
do pedido do Ministério Público,
cancelou a primeira audiência pú-
blica sobre o projeto, com o argu-
mento de que na área vivem 50
famílias de índios, no total de 180
pessoas. Segundo a empresa,
ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 51 9
todos os índios seriam transferidos
para uma fazenda em Itanhaém.
O projeto prevê construção de uma
ilha artificial com capacidade para
receber onze navios simultanea-
mente. Como a profundidade che-
ga a 18,5 metros, navios de gran-
de porte poderão atracar ali. Uma
ponte deverá ligar a ilha ao con-
tinente, e dessa forma, explica
a empresa LLX, do grupo Eike Ba-
tista, a praia não sofrerá impacto
“As grandes
empresas, como a
Vale e a Monsanto,
estão recorrendo à
Justiça para se
ressarcirem de
prejuízos causados
pelo MST, depois
que se convence-
ram da inutilidade
da manutenção de
diálogo com esse
Movimento e com
a Via Campesina.”
negativo. O orçamento anual de
Peruíbe gira em torno de R$106
milhões, enquanto o projeto é de
R$6 bilhões.
O caráter quase oficial do MST
tornou-se bastante visível quando
membros do movimento passaram
a ocupar cargos oficiais no Incra,
Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária. Em sua edi-
ção de 29/06/09, o Estado de
S. Paulo faz a seguinte denúncia:
são ex-membros do MST e já
ocuparam postos na Cocam, co-
operativa do movimento, os três
coordenadores dos núcleos de
apoio do Incra no Pontal do
Paranapanema. Os salários dos
três são pagos pela Fundação de
Estudos e Pesquisas Agrícolas –
Fetaf. Segundo o jornal, suspei-
ta-se de que o superintendente
regional do Incra, Raimundo Pires
da Silva, esteja utilizando a Fetaf
para a contratação de pessoas li-
gadas ao MST. Silva conduz um
acelerado processo de tercei-
rização no quadro de funcioná-
rios da Superintendência Regional.
Enquanto o número de servidores
públicos do Incra em S. Paulo gira
em torno de 120, os terceirizados,
membros do MST e remunerados
via Fetaf somam mais de 400.
Desde começos de 2008 tem-
se reduzido o volume de dinheiro
que ia para as mãos do MST de-
pois de passar de fontes públicas,
pela via de convênios, para várias
organizações paralelas. Não obs-
tante, as ações do Movimento con-
tinuaram cada vez mais ousa-
das. Dos bilhões de reais que são
destinados pelo Governo à refor-
ma agrária é provável que haja
desvios em favor do MST. Por
exemplo, no 13º Encontro Nacio-
nal do MST, realizado em janeiro
de 2009 na cidade de Sarandi,
RS, os oradores prometeram inten-
sificar o uso de sua ferramenta
principal, que consiste em invasões
de fazendas e manifestações pú-
blicas. Em entrevista coletiva, a
líder Marina dos Santos declarou:
“Os fazendeiros que se cuidem,
pois nós vamos massificar a luta
em 2009. Por sua vez, o líder do
movimento, Gilmar Mauro, afir-
mou: “A ocupação de terras é o
nosso jeito de fazer greve. É por
meio da ocupação que identifica-
mos as terras disponíveis e força-
mos o governo a cumprir a Cons-
tituição”. Segundo Mauro, “mui-
tos trabalhadores que ficam de-
sempregados podem, como forma
de sobrevivência, se somar à luta
do MST”.
O juiz federal José Carlos Fran-
cisco, em decisão de 09/03/09,
bloqueou os bens da Associação
Nacional de Cooperação Agrícola,
Anca, braço formal do MST, e de
um ex-presidente da entidade, não
descartando a possibilidade de res-
ponsabilizar outros envolvidos no
desvio de verbas públicas.
Depois desse e de outros pro-
cessos judiciais semelhantes, o
MST passou a valer-se de outras
entidades, em número de 42,
segundo a Folha de S. Paulo, edi-
ção de 29/03/09.
Embora algumas fontes mani-
festem a opinião de que o MST não
tem futuro, devido à “industrializa-
ção” da agricultura, parece cres-
cente a agressividade do movi-
mento. O Estado de S. Paulo, de
03/05/09, informa que o MST
está liderando grupos sociais que
decidiram formar um contingente
de 15 mil homens “para enfrentar
o latifúndio” no Sul do Pará. A
estimativa é baseada em números
do Instituto Nacional de Coloniza-
ção e Reforma Agrária e dos pró-
prios sem-terra. Esse recrutamento
coincide com o aumento da
violência no campo, segundo ouvi-
dores do Incra. Acrescenta o jor-
nal que a massa é recrutada na
periferia das cidades, em sua
maioria gente pobre e desempre-
gada que se acha em mais de cem
acampamentos ao longo das ro-
dovias. Só em 2009 o MST ocu-
pou quinze fazendas no território
paraense.
Esse relato demonstra que, ao
contrário da suposição de enfra-
quecimento e de perda de perspec-
tivas, o MST continua empenhado
em iniciativas que exibem força e
tendência agressiva. Em janeiro de
2009 a Agência Brasileira de Inte-
ligência, Abin, passou a monitorar
a aproximação que estaria ocor-
rendo entre o MST e o governo
paraguaio de Fernando Lugo. Re-
ceava o Brasil a cooptação do MST
pelos paraguaios quando estava
em curso a negociação sobre a ele-
vação do preço da energia de
Itaipu, reivindicação do governo de
Assunção. Recorda-se que em
maio de 2006, em Viena, o presi-
dente Evo Morales recebeu inusi-
Só em 2009, o MST ocupou quinze fazendas no território paraense.
tado apoio de João Pedro Stedile à
“revolução agrária” boliviana. No
encerramento do encontro deno-
minado Fórum Alternativo, na
capital da Áustria, Stedile pôs mili-
tantes do MST à disposição de
Morales para ocupar as terras de
“latifundiários brasileiros” em solo
boliviano, e disse, ainda, que o
povo brasileiro apoiava a estati-
zação do gás na Bolívia e a ocu-
pação das refinarias da Petrobras
pelo governo de La Paz, conforme
o Estado de S. Paulo, edição de
08/01/2009.
Como dissidência do MST sur-
giu o MLST (Movimento de Liber-
tação dos Sem Terra), criado em
1997, quando chegou a ocupar
o Congresso Nacional e invadir o
Ministério da Fazenda. Esse movi-
mento é considerado o maior gru-
po de trabalhadores sem terra
depois do MST. Muito agressivo,
o MLST tem presença comprovada
em nove estados. Na mesma frente
ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 51 10
desenvolve atividades o Movimen-
to Terra, Trabalho e Liberdade (MTL),
fundado em um encontro nacio-
nal em Goiânia, em agosto de
2002, representando uma fusão
do Movimento Luta Socialista e do
Movimento dos Trabalhadores.
Sob o título de O Brasil tem
Guerrilha, a revista ISTOÉ, edição
de 26/03/2008, informa que a
Liga dos Camponeses Pobres, de
Rondônia, tem 20 acampamentos
em três Estados, onde se faz o trei-
namento de guerrilheiros. O grupo
dispõe de armamento moderno. A
Liga é uma organização radical de
extrema esquerda que se torna
cada vez mais violenta. A revista
reproduz informação do delegado
da Polícia Civil de Rondônia,
Iramar Gonçalves, que declara: a
LCP empunha as bandeiras de
combate à burguesia, ao imperia-
lismo e ao latifúndio, enquanto
seus militantes assaltam, torturam,
matam e aterrorizam cidades e
zonas rurais do Estado. Armados
com metralhadoras, pistolas, gra-
nadas e fuzis AR-15, FAL e AK-47,
de uso exclusivo das Forças Arma-
das, são quase 600 os membros
do grupo. A reportagem de ISTOÉ
entrou na área proibida, no distrito
de Jacinópolis, a 450 km de Porto
Velho, capital de Rondônia. “Nem
com 50 homens armados eu tenho
coragem de entrar na área deles”,
diz o delegado citado.
A intensificação das atividades
das correntes de esquerda no País
manifesta-se sob diferentes for-
mas, uma das quais é o apoio
urbano às invasões de fazendas
produtivas, ocupação de prédios
públicos depredações de instala-
ENCARTE ESPECIAL - REVISTA Nº 51 11
ções industriais. Teve repercussão
nacional o manifesto assinado por
escritores, atores, políticos e asso-
ciações diversas em defesa do MST,
como resposta à formação de
Comissão Parlamentar de Inqué-
rito Mista que pretende apurar os
gastos e as fontes de recursos do
movimento. Redigido por Plínio de
Arruda Sampaio e outros, diz o
manifesto que “o ódio das oligar-
quias rurais e urbanas não perde
de vista, um único dia, um desses
novos instrumentos de organiza-
ção e luta criados pelos trabalha-
dores brasileiros a partir de 1984:
o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra – MST”.
A defesa do movimento, promo-
vida pelo manifesto, encontra po-
sição contrária do Conselho Supe-
rior do Ministério Público do Rio
Grande do Sul, que aprovou rela-
tório pedindo a dissolução do MST
e deu origem a oito ações judiciais
contra o MST, inclusive a autoriza-
ção de despejos e deslocamento de
acampamentos. “Voto no sentido
de designar uma equipe de pro-
motores de Justiça para promover
ação civil pública com vistas à dis-
solução do MST e declaração de
sua ilegalidade”, afirma o pro-
motor Gilberto Thums, em relató-
rio aprovado por unanimidade pelo
Conselho, em final de 2007, con-
forme a Folha de São Paulo. “Nós
conseguimos, com a ajuda da Po-
lícia Militar, identificar todos os
militantes do MST gaúcho”, decla-
rou o promotor Thums, segundo
a fonte citada.
Um balanço da reforma apre-
senta os seguintes dados isolados:
de 1995 a 2002, no Governo
Fernando Henrique, foram assen-
tadas 458 mil famílias. De 2004
a 2088, 467 mil famílias foram
assentadas, com um estardalhaço
e estridência que não se observou
no período anterior, quando não
houve agressões a grandes empre-
sas nem perda de investimentos,
como tem ocorrido desde 2004.
Os poucos assentamentos bem-
sucedidos dificilmente compensa-
rão as verbas orçamentárias des-
tinadas à reforma agrária no Go-
verno Lula. O Jornal do Comércio,
de Porto Alegre, estima em 70 mi-
lhões de hectares as terras entre-
gues ao MST e em R$40 bilhões o
custo do assentamento de um mi-
lhão de famílias, e faz a compara-
ção com os 35 milhões de hecta-
res da agricultura convencional,
que produz por safra 140 milhões
de toneladas de grãos. Os assen-
tamentos, acrescenta o jornal, têm
custado muito aos cofres públicos
e não geram os resultados espe-
rados. São poucos os assentamen-
tos entregues a pessoas com ex-
periência do trabalho agrícola que
sabem semear, colher, estocar e
vender o produto. As lideranças do
MST vão às regiões periféricas das
grandes e médias cidades, onde
existem bolsões de pobreza, e ali
recrutam milhares de pessoas para
serem futuros invasores de terras.
Afirma o jornal que “o que há é tão-
somente uma mudança de ende-
reço da pobreza, que sai das fave-
las, das vilas, e vai acampar à beira
das rodovias, recebendo ali cestas
básicas”.
Segundo pesquisa recente do
Convênio FAO/Incra, o custo mé-
dio de instalação de uma família
 O MST está liderando grupos sociais que decidiram formar um contingente de 15 mil homens “para enfrentar o latifúndio” no Pará.
ficou em torno de R$30.000. Opi-
na o ex-presidente do Incra, Fran-
cisco Graziano, que o custo naci-
onal da reforma seria mais baixo
se as famílias recebessem em di-
nheiro um salário mínimo durante
dezenas de anos. A falta de êxito
de muitos assentamentos reflete,
em muitos casos, a situação de
analfabetismo e pobreza que do-
mina o meio rural brasileiro. De
acordo com o mencionado Con-
vênio FAO/Incra, na Região Sul o
sistema soja/aveia/trigo+suíno,
associado à pecuária mista ou à
erva mate, assegura uma renda lí-
quida por assentado oscilando en-
tre R$9.950 e R$12.971. Na mes-
ma região existem assentados que
ainda não superaram o sistema
mais simples (milho+ criações
associado com feijão ou erva mate)
que gera renda líquida em torno
de R$1.630 família/ano. No Nor-
deste, a situação é mais crítica.
Conforme o Convênio, ao lado de
assentamentos com sistemas ba-
seados na fruticultura irrigada
mais gado+inhame (sul da Pa-
raíba), gerando renda de aproxi-
madamente R$17.724 família/
ano, encontra-se grande número
de assentados praticando sistemas
tradicionais, com renda monetária
baixa (em torno de R$1.200
família/ano). Em São Paulo o
sistema da pecuária leiteira,
associado a culturas anuais e
perenes, permitiu aos assenta-
dos alcançar um nível de renda
bastante alto – R$15.641 famí-
lia/ano. Foram registrados mui-
tos casos de agricultura de sub-
sistência associados à venda de
gado cuja renda não supera
R$2.000 família/ano.
Conforme os resultados de
pesquisa realizada pelo IBOPE,
está comprovado que os assenta-
mentos rurais do Incra deixam um
enorme saldo de favelização.
Oitenta e três por cento dos assen-
tados nunca fizeram qualquer
curso de qualificação: 37% nada
produzem nas áreas que ocupam
e 75% não tiveram acesso ao cré-
dito rural. Como ocorre a venda
das terras ganhas pelos assenta-
dos, somente 27% destes admitiram
produzir o suficiente para o consu-
mo de suas famílias. Quarenta por
cento reconhecem que sua renda
equivale a um salário mínimo.
Esses dados permitem supor
que melhores resultados, em
termos de produção e bem-estar,
teriam sido alcançados se a gran-
de massa de recursos financeiros
aplicados na reforma agrária se
convertesse em apoio a peque-
nos e médios agricultores. Con-
clui-se que o MST gera desin-
vestimento, causa desperdício de
recursos de vulto com o seu tipo
de reforma agrária e cria no
campo perturbações que carac-
terizam as suas ações como sim-
ples banditismo.
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