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Alexandre Carvalho
Introdução
Antes de ser preso, Jesus teve uma última conversa com seus discípulos, relatada nos
capítulos 15, 16 e 17 do evangelho de João. Ora, naquela última oportunidade,
quaisquer que fossem os assuntos tratados, deveriam ser de máxima importância.
Podemos separar esta conversa em três partes: Jesus apresenta-se como a videira; as
dificuldades pelas quais os apóstolos passariam e a vinda do Espírito Santo; a oração
final.
Naquela ocasião, Jesus apresentou princípios fundamentais para darmos frutos que
permaneçam e que veremos em detalhes a seguir.
1. Para dar fruto que permaneça, precisamos ser limpos (verso 3).
Muitas pessoas têm dificuldade em permitir serem limpas pelo agricultor. Isto porque,
para um ramo, a limpeza é um processo doloroso. Jesus afirmou que seus discípulos já
estavam limpos pela palavra que Ele lhes tinha falado. Ser purificado pela palavra de
Deus envolve o confronto direto. O salmista já indicava este confronto como meio de
purificar o caminho do jovem (Sl 119:9).
Estar ligado na videira implica em ser alimentado única e exclusivamente por ela. Esta
ligação íntima faz com que através de nós, o alimento vindo do tronco chegue ao fruto,
produza nele crescimento e o mantenha saudável.
Esta inconstância já era prevista por Jesus. Por isso, neste ponto, Ele coloca um bônus
para os vencedores: “pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (NVI).
Permanecer na palavra de Deus é uma questão de vida ou morte espiritual e ministerial.
Outro ponto importante destacado por Jesus é que glorificamos o nome de Deus não
quando simplesmente damos fruto, mas quando damos muito fruto e desta forma somos
discípulos dEle (verso 8). Ele estabelece duas verdades fundamentais àquele que
pretende ser seu seguidor: não há como ser Seu discípulo com cesto vazio e os frutos
são para a glória de Deus, não nossa.
Quando amamos alguém, queremos estar sempre juntos, nos interessamos por aquilo
que ele se interessa e temos prazer em agradá-lo. Amar a Jesus nos leva para perto
dEle, nos torna interessados alcançar pessoas e cuidar de seu crescimento espiritual e
este processo contínuo torna-se um prazer em nossas vidas.
Jesus demonstrou um amor até então desconhecido pelos judeus. Ele amou sem esperar
algo em troca. Ele conviveu com aquele que o havia de trair, foi negado por um de seus
discípulos mais chegados e jamais desistiu de amar e, ainda, foi capaz de se entregar
pelo pecado daqueles que o rejeitaram. É neste tipo de amor que Ele ordena que
permaneçamos, porque foi com este amor que nos amou (verso 9).
Outra condição que só pode ser alcançada com a obediência é a de amigo de Jesus. Ser
amigo dEle libera o conhecimento dos propósitos de Deus, porque tudo que Ele ouve do
Pai, nos torna conhecido (verso 15). Agora, a visão, os planos e estratégias vêm
diretamente de Deus e, por isso, nunca são frustrados. A obediência nos liberta das
técnicas humanas com seus resultados temporários e limitados.
Jesus cultivou uma vida de oração. Ele orava diante de suas aflições ou de decisões
importantes. Orar mantinha a comunhão Sua comunhão com o Pai. Sem comunhão,
dependemos de nossos próprios recursos e entendimento. Obviamente, as chances de
sucesso são mínimas.
Jesus conhece nossos pensamentos e intenções do coração. Mas, para escolher seus
discípulos, Ele passou uma noite inteira em oração (Lc 6:12 e 13). Esta era uma decisão
importantíssima e estava diretamente relacionada a seus frutos. Para esta decisão, Ele
procurou a comunhão e direção do Pai. Para escolher as pessoas que discipularemos e
torná-las frutos que permaneçam, precisamos investir tempo em oração. A partir daí,
recebemos de Deus o poder para proclamação do evangelho, o critério para seleção das
pessoas e a garantia de frutos.
7. Para dar fruto que permaneça, precisamos ser exemplo
Durante esta conversa, Jesus se coloca abertamente na posição de exemplo, de modelo a
ser seguido. Ao colocar Deus como agricultor, Ele admite ser confrontado e ser
dependente do Pai. Ele também se mostrou como exemplo de obediência, de amor, de
permanência, de autoridade e de amizade.
Infelizmente, nossas Igrejas estão sofrendo com líderes que não podem ser modelo de
homem espiritual. Isto tem produzido sucessivas gerações de frutos doentes. Ficamos
presos a métodos e esquecemo-nos das pessoas. Este princípio independe da idade.
Paulo, falando a seu jovem discípulo Timóteo, deu-lhe este conselho: “Ninguém
despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no
espírito, na fé, na pureza” (1Tm 4:12). Ser exemplo produz frutos que também
permanecerão sendo exemplo.
Conclusão
A razão destas palavras de Jesus é para que a alegria dEle esteja em nós e a nossa
alegria seja completa ( verso 11, NVI). Discipular com esta visão é, de fato, uma tarefa
prazerosa e de completa alegria. As dificuldades podem surgir, mas não são capazes de
roubar a alegria.
Não damos fruto por não atentarmos para os princípios estabelecidos nesta simples,
porém profunda comparação com a videira. Não damos fruto por abandonar o autor
desta comparação e negligenciarmos a importância que Ele a atribuiu e passar a
depender de outras fontes. Não damos frutos por não entendermos de agricultura e
insistirmos em ser sementes que não querem morrer (Jo 12:24).
O discipulado é o caminho imperativo, apontado por Jesus para dar fruto (Mt 28:19).
Negligenciá-lo significa negligenciar o próprio Senhor e ser condenado a uma vida
infrutífera e fadada ao fracasso.