You are on page 1of 30

ELIÂNE ALVES BANDEIRA DE CARVALHO

DIABETES MELLITUS

Recife
-2009-
DIABETES MELLITUS

HISTÓRICO

Os primeiros relatos datam da era egípcia. Entre os hebreus há relatos com


suspeita da ocorrência do diabetes gestacional. Desde a circuncisão de
Abraão, aos 99 anos, inúmeras práticas endócrinas foram relatadas. O aborto,
por exemplo, era permitido se a gestação representasse risco para a vida da
mãe.

No entanto, somente cerca de 2000 mil anos depois, por volta de 70 d.C, o
médico Areteu da Capadócia, na Grécia, conseguiu descrever o diabetes.
Areteu observou que aquele silencioso problema desenvolvia quatro
complicações: muita fome (polifagia), muita sede (polidipsia), muita urina
(poliúria) e fraqueza (poliastenia). Areteu observou também que, quase
sempre, as pessoas com esses sintomas entravam em coma antes da morte.
Era algo “grave e misterioso”. Afinal, mesmo com a fartura de alimentos que
entravam pela boca, a falta de energia corporal permanecia.

Deve-se a Araeteus (Sec. II d.C.) a denominação de diabetes dada à doença.


Trata-se de palavra de origem grega e a maioria dos léxicógrafos e dos autores
que escrevem sobre diabetes dão a esta palavra o significado de sifão. A
doença recebeu este nome pela poliúria que a caracteriza (o líquido ingerido
passa rapidamente através dos rins, sendo eliminado na urina).

Desde Araeteus – num período de 1600 anos – a Medicina não evoluiu no


estudo do diabetes. Só em 1670 é que o médico inglês Thomas Willis
descobriu, provando a urina de indivíduos que apresentavam os mesmos
sintomas, que ela era "muitíssimo doce, cheia de açúcar".

Em 1815 o Dr. M. Chevreul demonstrou que o açúcar dos diabéticos era


glicose. Por esta razão, os médicos passaram a provar a urina das pessoas
sob suspeita de diabetes. Desde essa altura a doença passou a chamar-se
"diabetes açucarada" ou "Diabetes Mellitus". A palavra "Mellitus" é latina e quer
dizer "mel ou adocicado".

Posteriormente, em 1889, dois cientistas alemães, Von Mering e Minkowski,


descobriram que o pâncreas produz uma substância, ou hormônio, capaz de
controlar o açúcar no sangue e evitar os sintomas do diabetes. Antes, no
entanto, ainda não se tinha o conceito de hormônio ou secreção interna. Em
1849, Arnold Adolph Berthold (1803-1861), fisiologista em Goettingen, por meio
de experiências realizadas em galos demonstrou a existência de vazamento de
“alguma substancia interna”.

Mas foi Claude Bernard, em 1949, que usou pela primeira vez o termo
“secreção interna”. A denominação Endocrinologia entrou em uso no século
XX, derivada de endon (interno) e krino (separar), ambos do grego clássico. O
termo hormônio foi utilizado pela primeira vez pelo Prof. Ernest H. Starling.
Desde então já havia relatos de que o mau funcionamento do pâncreas seria o
responsável pelo diabetes.

EPIDEMIOLOGIA

O Diabetes Mellitus configura-se hoje como uma epidemia mundial, traduzindo-


se em grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo. O
envelhecimento da população, a urbanização crescente e a adoção de estilos
de vida pouco saudáveis como sedentarismo, dieta inadequada e obesidade
são os grandes responsáveis pelo aumento da incidência e prevalência do
diabetes em todo o mundo.

Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de


portadores da doença em todo o mundo era de 177 milhões em 2000, com
expectativa de alcançar 350 milhões de pessoas em 2025.

No Brasil são cerca de seis milhões de portadores, a números de hoje, e deve


alcançar 10 milhões de pessoas em 2010. Um indicador macroeconômico a ser
considerado é que o diabetes cresce mais rapidamente em países pobres e em
desenvolvimento e isso impacta de forma muito negativa devido à
morbimortalidade precoce que atinge pessoas ainda em plena vida produtiva,
onera a previdência social e contribui para a continuidade do ciclo vicioso da
pobreza e da exclusão social.

De cada 100 pessoa pelo menos 6 ou 7 tem a doença. No Brasil estima-se que
5,6% da população seja diabética, sendo que, quase a metade não o sabe.
Das pessoas próximas aos 65 anos 17% são diabéticas e essa percentagem
se eleva a 26% aquelas em torno de 85 anos, constituindo-se um dos grandes
desafios de saúde pública nos países em pleno desenvolvimento sócio-
econômico.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

Glicose, Lactato e Cetonas

Glicose é a aldohexose mais importante para a manutenção energética do


organismo. Em condições normais, a glicose sangüínea (glicemia) é mantida
em teores apropriados por meio de vários mecanismos regulatórios. Após uma
refeição contendo carboidratos, a elevação da glicose circulante provoca:
Remoção pelo fígado de 70% da glicose trans - portada via circulação porta. P
arte da glicose é oxidada e parte é convertida em glicogênio para ser utilizada
como combustível no jejum. O excesso de glicose é parcialmente convertida
em ácidos graxos e triglicerídios incorporados às VLDL (lipoproteínas de
densidade muito baixa) e transportados para os estoques do tecido adiposo. §
Liberação de insulina pelas células b do pâncreas. Entre os tecidos insulino-
dependentes estão o tecido muscular, adiposo, diafragma, aorta, hipófise
anterior, glândulas mamárias e lente dos olhos. Outras células, como aquelas
do fígado, cérebro, eritrócitos e nervos não necessitam insulina para a
captação de glicose (insulino independentes). Aumento da captação da glicose
pelos tecidos periféricos. Inibição da liberação do glucagônio. Outros
hormônios (adrenalina, hormônio de crescimento, glicocorticóides, hormônios
da tireóide) e enzimas, além de vários mecanismos de controle, também atuam
na regulação da glicemia. Estas atividades metabólicas levam a redução da
glicemia em direção aos teores encontrados em jejum. Quando os níveis de
glicose no sangue em jejum estão acima dos valores de referência, denomina-
se hiperglicemia, quando abaixo destes valores, hipoglicemia. A glicose é
normalmente filtrada pelos gromérulos e quase totalmente reabsorvida pelos
túbulos renais. Entretanto, quando os teores sangüíneos atingem a faixa de
160 a 180 mg/dL, a glicose aparece na urina, o que é denominado glicosúria.
Em todas as células, a glicose é metabolizada para produzir ATP e fornecer
intermediários metabólicos necessários em vários processos biossintéticos.

Hiperglicemia

A causa mais freqüente de hiperglicemia é o diabetes mellitus, um estado de


intolerância à glicose e hiperglicemia em jejum resultante da ação d eficiente da
insulina. Apresenta, também, anormalidades no metabolismo dos carboidratos,
proteínas e lipídios. Pacientes portadores de episódios hiperglic êmicos,
quando não tratados, desenvolvem cetoacidose ou coma hiperosmolar. Com o
progresso da doença aumenta o risco de desenvolver complic ações crônicas
características, tais como: retinopatia, angiopatia, doença renal, neuropatia
(câimbras, paresteses dos dedos dos pés, dor nos membros inferiores,
neuropatia do nervo craniano), proteinúria, infe cção, hiperlipemia e doença
aterosclerótica. Esta última pode resultar em ataque cardíaco, gangrena o u
enfermidade coronariana.

Definição e Classificação

É uma doença metabólica hereditária, caracterizada pela insuficiência da ação


hormonal da insulina, seja por diminuição ou ausência da secreção pelas
células b-pancreáticas, seja por ineficácia no sistema receptor celular para a
insulina. É influenciada por múltiplos e complexos fatores genéticos e
ambientais, que interagem potencializando sua expressão patológica.
Para se classificar o diabetes mellitus, deve-se levar em consideração fatores
clínicos importantes, sendo que a classificação mais comumente utilizada (não
por isso a mais correta) divide os pacientes em dois grupos: diabetes do tipo I
(juvenil) e diabetes do tipo II (diabetes tardia).

O diabetes mellitus sempre foi classificado, de acordo com a idade de


manifestação como juvenil (tipo I) ou adulto (tipo II ou tardia), sendo atribuído
ao diabetes juvenil um caráter extremamente grave e com o êxito fatal como a
mais frequente manifestação de morbidade, enquanto que o diabetes adulto
estava relacionado aos casos controláveis.

 Entretanto, devido ser observado graves distúrbios metabólicos no


metabolismo dos carboidratos que surgem de maneira brusca em adultos e
devido aos avanços do diagnóstico precoce e da terapia, são frequentes
verificar-se diabetes mellitus persistente em pessoas jovens, o que torna esta
classificação obsoleta, necessitando de critérios outros, que não a idade de
manifestação da sintomatologia. Porém, é difícil classificar o diabetes mellitus
de acordo com um só critério, uma vez que são muitas as variáveis possíveis
de agrupar as manifestações fisiopatológicas. Em virtude disto, a classificação
de tipo I e II, ainda é largamente utilizada.

Por diabetes do tipo I, entende-se a manifestação clínica do diabetes mellitus


onde, por mecanismos variados, as células b do pâncreas são danificadas e a
produção de insulina diminui consideravelmente ou cessa. Como
consequência, a glicose não penetra na célula, levando à hiperglicemia e todos
os efeitos derivados a este fato, que compõem a fisiopatologia clássica da
doença, obrigando o paciente a tornar-se insulinodependente. O diabetes tipo I
aparece, na maioria das vezes, em pessoas jovens (menores de 35 anos), com
deficiência total ou quase total da insulina produzida pelo pâncreas

O diabetes mellitus do tipo II ocorre mais freqüentemente em pessoas maiores


de quarenta anos, com o pâncreas produzindo certa quantidade de insulina,
não suficientemente ativa em nível celular. Nesse tipo de diabetes, a principal
disfunção reside nos receptores insulínicos celulares, que não têm o número, a
forma e o tamanho adequados para que a insulina possa agir sobre elas,
permitindo a penetração da glicose. Os pacientes apresentam excesso de
glicose no sangue (hiperglicemia), mas os níveis de insulina podem estar
normais ou mesmo aumentados, fazendo com que, de modo contrário ao que
acontece no diabetes tipo I, geralmente não se faça necessário o uso habitual
de insulina exógena.

Desta forma, pode-se levar em consideração uma classificação terapêutica


(com referência à dependência de uma terapia com insulina) como diabetes
insulino-dependente ou não dependente de insulina.

Outros tipos específicos de diabetes. Defeitos genéticos das células b:


MODY 1, MODY 2, MODY 3 e outros. São formas raras de diabetes tipo 2.
(MODY = Maturity onset type of diabetes of youth). Defeitos genéticos da ação
da insulina: diabetes lipo-atrófico, leprechauismo, síndrome de Rabson-
Mendenhall, resistência à insulina A e outros. Doenças do pâncreas exócrino:
pancreatites, trauma/pancreatectomia, neoplasia, hemocromatose,
pancreatopatia, fibrocalculosa e outras. Endocrinopatias: acromegalia,
síndrome de Cushing, glucagonoma, feocromocitoma, somatostinoma,
hipertireoidismo e outras. Induzido por drogas ou substâncias químicas: vacor
– veneno de rato – pentamidine, ácido nicotínico, glicocorticóides, tiazídicos,
hormônios tireoideos, agonistas b-adrenérgicos e outras. § Infecções: rubéola
congênita, citomegalovírus e outras. Formas incomuns de diabetes imuno-
mediado: síndrome de “Stiff-man”, anticorpos antireceptores de insulina e
outros. Outras síndromes genéticas associadas ao diabetes: síndrome de
Down, síndrome de Klinefelter, síndrome de Turner, síndrome de Lawrence-
Moon-Beidel, coréia de Huntington, síndrome de Prader-Willi e outras.
Diabetes mellitus gestacional. É a intolerância aos carboidratos de
intensidade variada (diabetes e intolerância diminuída à glicose), diagnosticada
pela primeira vez durante a gravidez podendo ou não persistir após o parto.
Estima-se que esta anormalidade seja encontrada entre 1- 20% das grávidas.
No entanto, somente ao redor de 3% é diabetes mellitus gestacional
verdadeira. Em pacientes diabéticas grávidas, o controle insatisfatório da
glicose está associado com alta incidência de morte intra -uterina e má
formação fetal. Tolerância à glicose alterada e hiperglicemia estão relacionadas
com o aumento na incidência de macrossomia fetal e hipoglicemia neonatal. Na
maioria destes casos, a resposta ao TOTG (teste oral de tolerância à glicose, v.
adiante) volta ao normal depois da gravidez, no entanto, ao redor de 50%
destas pacientes desenvolvem diabetes mellitus nos sete anos seguintes.

FISIOPATOLOGIA

O caráter hereditário da diabetes mellitus está relacionado com um gene


regulador da produção de anticorpos anti-célula b, localizado no braço curto do
cromossomo 6, devendo haver, provavelmente, fatores ambientais que
estimulam a sua expressão gênica mais precoce ou tardia, o que justifica as
diferentes faixas etárias de manifestação da sintomatologia.

Se uma pessoa não produz insulina ou receptores celulares, ou se a ação


insulínica está diminuída (devido a sua pouca concentração ou diminuição do
número de receptores celulares), a glicose, não podendo entrar na célula e ser
consumida, acumula-se no sangue promovendo o aumento da taxa de glicose
plasmática (HIPERGLICEMIA) acima dos níveis de normalidade (70 a 110
mg/dl).

Paralelamente, há a extrapolação do limiar renal da glicose (a partir ± 160


mg/dl de glicemia) e a sua liberação na urina (GLICOSÚRIA). Devido à
hiperglicemia há perda osmótica de água a nível tubular renal, promovendo
perda excessiva de urina (POLIÚRIA), o que induz um processo de
desidratação, levando ao diabético a beber água exageradamente
(POLIDIPSIA).

A ausência de glicose intracelular induz o fígado à neoglicogênese (produção


de glicose através de precussores não glicídicos). Há, também, a mobilização
dos ácidos graxos do tecido adiposo para produzir energia através da b-
oxidação, que fornecerá a energia necessária ao metabolismo celular.
A glicemia aumenta cada vez mais e o paciente começa a emagrecer (por
queima dos depósitos de lipídios dos adipócitos) e sentir fraqueza (por falta de
energia). Esses fenômenos levam a pessoa a sentir fome intensa
(POLIFAGIA), o que vai aumentar ainda mais os níveis de hiperglicemia.

A queima de gorduras para produzir energia gera um subproduto (CORPOS


CETÔNICOS), que são eliminados pela respiração, dando um hálito com cheiro
adocicado (HÁLITO CETÔNICO) e pela urina (CETONÚRIA). O caráter ácido
dos corpos cetônicos é responsável pela queda centuada do pH sanguíneo,
que acarretará consequências danosas ao equilíbrio ácido-básico, podendo
levar, inclusive, o paciente a morte, associado a outras complicações clínicas
envolvidas no processo.

Devido ser uma doença crônica, com o passar do tempo a obesidade se instala
em resposta ao aumento da síntese de ácidos graxos pelo fígado como rebote
à b-oxidação e, também, como reflexo à polifagia frequente. Indivíduos obesos
por outras causas, entretanto, apresentam uma incidência maior de diabetes
mellitus do que na população em geral, o que coloca a obesidade como um
fator de risco, antes de uma consequência da doença.

Muitas vezes, durante a gravidez há as primeiras manifestações clínicas


(diabetes gestacional), devido ao aumento da neoglicogênse e mobilização dos
ácidos graxos, sendo revelada a incompetência do pâncreas em controlar a
glicemia. As mulheres que apresentam este quadro clínico são potenciais
candidatas a desenvolver o diabetes mellitus, porém este quadro pode retornar
à normalidade após o parto.

O aparecimento de diabetes mellitus pode estar associado ao uso de


medicamentos tais como diuréticos (tiazídicos), quimioterápicos (pentamidina),
corticosteróides, contraceptivos orais e, acidentalmente, substâncias tóxicas,
tais como rodenticidas. Pode, ainda, ser despertada por infecções a vírus
(p.exe.: coxackie B3 e B4; caxumba; rubéola; vírus da EMC; mononucleose;
herpes; febre aftosa; hepatite infecciosa, reovírus, mengovírus), os quais
agridem as célula b com fenômenos auto-imunidade celular anti-hepancreática.
A diminuição do número de receptores celulares para insulina, também
desempenha papel fundamental na gênese da doença, podendo ocorrer
estados onde, notadamente, o paciente produz insulina apresentando
hiperinsulinemia com hiperglicemia. Este fato está relacionado a fatores como:

A síntese da somatostatina também pode estar envolvida como bloqueadora da


ação insulínica. Outro achado importante é a ocorrência de anticorpos anti-
insulina (provavelmente por auto-imunização) nos pacientes dependentes de
insulinoterapia, bem como de anticorpos anti-receptores insulínicos (condição
rara) nos casos de acanthosis nigricans, diabetes mellitus e insulino-
resistência.

Há a possibilidade de que o diabetes mellitus possa surgir a partir de lesões


pancreáticas desencadeadas por desnutrição protéica e deficit de
micronutrientes (vitaminas e microminerais). Há, também, relação entre a
diabetes mellitus e a presença de tumores pancreáticos.

COMPLICAÇÕES CLÍNICAS

São de dois tipos: as agudas (que se manifestam em um curto espaço de


tempo, podendo, se não cuidadas com presteza, causar risco à vida do
paciente) e as crônicas (alterações patológicas nos sistema circulatório e
nervoso)

O paciente diabético possui, ainda, uma predisposição a infecções em locais


específicos do organismo, como o sistema gênito-urinário (candidíase, infecção
urinária, cistites, nefrites), pele (furúnculos, abscessos dentários) e vesícula
biliar (quando portadora de cálculos). O fato de existir predisposição para tais
infecções exigem cuidados higiênicos especiais e acompanhamento médico e
laboratorial periódicos de rotina, visando a sua prevenção e/ou tratamento
precoce.
DIAGNÓSTICO

O diagnóstico clínico, na maioria dos casos, é indicador seguro para o


diagnóstico do diabetes mellitus, com alguns exames laboratoriais
indispensáveis para a confirmação diagnóstica. O achado de hiperglicemia
constitui o ponto de partida para o diagnóstico do diabetes mellitus, podendo
ser dosada no sangue venoso total, no plasma, no soro ou no sangue capilar.

Em muitos paciente assintomáticos, o achado de hiperglicemia ou então de


glicosúria, em exames laboratoriais de screening, possibilita o tratamento
precoce e a diminuição da gravidade da sintomatologia associada. O
laboratório é, ainda, indispensável no acompanhamento e controle do paciente
diabético.

Valores de glicemia até 130 mg/dl são de significado duvidoso (podendo ser
stress, infecções, estados febris, etc.), mas geralmente indicam suspeita de
diabetes mellitus exigindo a determinação de mais duas dosagens, em dias
variados, para confirmar a hiperglicemia, sendo este procedimento suficiente
para o diagnóstico conclusivo, dispensando a realização de qualquer outro
teste de confirmação.

Glicemia de jejum normal, entretanto, não exclui a presença de diabetes


mellitus, pois na fase inicial os diabéticos podem ter glicemia normal após
algumas horas de jejum. Desta maneira, quando há a suspeita de diabetes
mellitus e as três dosagens da glicemia em jejum se encontra dentro dos limites
da normalidade ou duvidosos, torna-se necessária a realização de umas
provas diagnósticas complementares.

Vários medicamentos interferem nas dosagens de glicose, como os


anovulatórios, corticosteróides, diuréticos (sobretudo os benzotiadizínicos),
fenil-hidantoína, ácido nicotínico, etc, que tendem a diminuir da tolerância; e as
drogas hipoglicemiantes orais, os cumarínicos, heparina, antihistamínicos,
inibidores da MAO, ácido acetil salicílico, fenilbutazona, etc, que tendem a
baixar a glicemia. Os bloqueadores b-adrenérgicos tanto podem elevar como
baixar a glicemia.
Deve-se ser levado em consideração na interpretação dos resultados para o
diagnóstico de diabetes mellitus, a presença de endocrinopatias que interferem
na tolerância a glicose (por exemplo tireotoxicose, acromegalia,
hiperadrenocorticismo, feocromocitoma, hiperaldosteronismo).

EXAMES LABORATORIAIS DE DIAGNÓSTICO:

Glicemia basal ou de jejum: vários métodos já foram largamente utilizados para


a dosagem de glicose, mas não mais são utilizados, como o método de Folin-
Wu cujos resultados são 15 a 20 mg% superiores aos dos demais métodos,
pois, além da glicose, este método dosa a frutose e a galactose, quando
presentes, e outros compostos não carboidratos (p.ex.: glutation, tioneína,
ácido ascórbico, ácido úrico, creatinina). Dosagens no soro e plasma fornecem
resultados idênticos sendo até 15% mais elevados que no sangue venoso total.
No sangue capilar poderá ser de 5% a 20% a mais do que no soro ou plasma,
resultado que deve ser levado em consideração quando se realiza dosagem de
controle ambulatorial com o uso de fitas ou aparelhos para leitura coloriméticas
das fitas (Reflotron) A dosagem da glicemia pode ser realizada de maneira
isolada (glicemia basal ou de jejum) ou associada à avaliação da ação
pancreática no metabolismo da glicose (glicemia pós-prandial e curva
glicêmica). Os autoanalisadores utilizam métodos extremamente precisos
(método de Hoffman, do ferricianeto) mas de difícil execução manual. Os
métodos clássicos de dosagem da glicemia correspondem ao da orto-toluidina
e da glicose-oxidase, onde a normalidade encontra-se entre valores de 70 a
110 mg/dl.

Método da Orto-Toluidina: basea-se na condensação (a 100oC) da orto-


toluidina com o grupamento aldeídico da glicose formando uma mistura em
equilíbrio de glicosilamina e a base de Schiff correspondentes (um cromogênio
verde). A intensidade da coloração é proporcional à concentração da glicose
presente no soro ou plasma, seguindo, portanto, a Lei de Lambert-Beer,
possibilitando a determinação da absorvância máxima em 630 nm. é um
método de extrema simplicidade de realização tendo o incoveniente dos
reagentes serem cáusticos e tóxicos.

Método da Glicose-Oxidase (GOD): fundamenta-se na ação da enzima


glicose-oxidase catalisando a oxidação da glicose formando ácido glicurônico e
água oxigenada. Esta sofre ação da enzima peroxidase, que proporciona a
reação da 4-aminoantipirina e o fenol, presentes no reagente de cor, formando
um cromogêneo vermelho que, por seguir a Lei de Lambert-Beer, pode ter a
absorvância determinada em 510 nm. é um método de extrema precisão e
praticidade (ocorre a 37oC), sendo os reagentes pouco tóxicos, a exceção do
fenol.

 Pesquisa de Glicosúria: muitas vezes é o primeiro achado laboratorial que


desencadeia o diagnóstico da diabestes mellitus. Mesmo na ausência de
sintomas clínicos, a glicosúria deve ser considerada de origem diabética até
prova em contrário, pois as de origem não diabéticas são muito raras, em
comparação com a freqüência da diabetes mellitus. A ausência de glicosúria,
porém, não descarta o diagnóstico de diabetes. A pesquisa de glicose na urina
pode ser realizada por diversos métodos. Os mais usados são os de redução
do cobre (Reagente de Benedict e Clinitest) que detecta redutores urinários e o
método-enzimático (usando a enzima GOD) que possui o mesmo fundamento
da dosagem plasmática, utilizando substratos sólidos (fitas reagentes) para a
reação.

 Pesquisa de Corpos Cetônicos Urinários: o aumento da concentração de


corpos cetônicos (acetoacetato, b-hidroxibutirato e acetona) no sangue
(cetonemia) ultrapassam o limiar renal provocando o aparecimento na urina
(cetonúria). O acúmulo destes compostos no sangue levam à cetoacidose
(acidose metabólica) que pode ser fatal quando não compensada. O principal
método de dosagem é a utilização do nitroprussiato de sódio (Reativo de
Rotera) nas fitas reagentes.

  Provas de tolerância glicídica: correspondem a glicemia pós-prandial e curva


glicêmica (oral ou venosa) que fundamentam-se em uma sobrecarga de
carboidratos, afim de identificar uma possível intolerância até então não
perceptível.

Glicemia pós-prandial: padroniza-se uma refeição mista que contenha no


mínimo 100g de hidratos de carbono (um desjejum que inclua um pão francês,
um copo de leite uma colher de sopa de açúcar e o suco de duas laranjas é
mais do que suficiente para a realização do teste) ou cerca de 50g a 100g de
glicose dissolvida em água. É um método simples e cômodo para o paciente,
sendo dosado a glicose sanguínea 1, 2 ou 3 horas após a refeição
padronizada.

Curva Glicêmica ou Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG): consiste


em, após colheita de sangue em jejum, administrar glicose por via oral e repetir
a colheita de sangue e urina em intervalos de tempo 30 minutos, 1, 2, 3 e horas
após, conforme padronizado pelo Committee on Statistics da American
Diabetes Association. Pelo menos três dias antes do teste, o paciente deve
estar sob dieta que contenha pelo menos 150 gramas de carboidratos. Não
deve ser aplicado a pacientes já diagnosticados como diabéticos e nem aos
acamados durante muitos dias. No dia da prova, o paciente deve estar em
jejum de pelo menos oito horas e não superior a dezesseis horas. O teste deve
ser iniciado entre sete e nove horas da manhã, uma vez que possivelmente
existe uma variação circadiana na secreção de insulina (de acordo com as
horas do dia). Durante o teste, o paciente deve permanecer confortavelmente
sentado, sendo permitido andar um pouco, sem, entretanto, realizar qualquer
exercício enérgico, como também o fumo e o café antes e no decorrer da
prova. Para a interpretação da TOTG, muitos critérios podem ser levados em
consideração, sendo 3 os mais utlizados:

Critérios de Wilkerson: adotado pelo U.S. Public Helth Service, atribui pontos
aos diversos valores glicêmicos. A soma de dois pontos significa diabetes. Um
ponto e 1,5 ponto indicam provável diabetes, devendo o teste ser repetido a
intervalos de 2 a 6 meses. Por ser estabelecido para o método de dosagem de
Somogyi-Nelson, no sangue total, há a necessidade de adaptar a interpretação
para a dosagem realizada no soro ou plasma, mais comuns em nosso meio.
Critério do UGDP (University Group Diabetes Program): o teste de tolerância à
glicose pode ser interpretado pela soma dos quatro valores glicêmicos da
prova. Assim, o total de 500 ou mais significa diabetes. É preciso não
esquecer, porém, que o UGDP recomenda a ingestão de 30 g de glicose por
metro quadrado de superfície corporal e o método de Hoffman (para
autoanalisadores).

Critério do NDDG (National Diabetes Data Group): estabelece uma


avaliação gráfica entre os valores obtidos no teste onde a concentração de
glicose no soro ou plasma igual ou superior a 200 mg/dl 2 horas após a
ingestão de glicose é indicativo de diabetes. Há tolerância à glicose diminuída
quando a concentração de glicose 2 horas após a ingestão de glicose igual ou
superior a 140 mg/dl, mas inferior a 200 mg/dl. Este critério possibilita, ainda, a
verificação de indicações de alterações no limiar renal de excreção ou de
absorção intestinal da glicose.

EXAMES LABORATORIAIS COMPLEMENTARES OU DE


ACOMPANHAMENTO CLÍNICO

Hemoglobina Glicosilada: as hemácias normais contém várias frações de


hemoglobina em diferentes concentrações: HbA (97% do total), HbA2 (2,5%) e
HbF (0,5%). As sub-frações da HbA (HbA1a, HbA1b e HbA1c) são
denominadas de hemoglobinas glicosiladas (ou glico-hemoglobinas). São
formadas, in vivo, através da combinação da hemoglobina com a glicose por
reações não-enzimáticas, aumentando sua concentração com a idade dos
eritrócitos (até 120 dias). O estudo destas hemoglobinas é realizada,
principalmente, pela medida da sub-fração HbA1c em pacientes com diabetes
mellitus. Estes valores indicam o controle metabólico do paciente nas 8 a 10
semanas precedentes ao teste, enquanto a glicose sanguínea reflete o controle
somente das 24 horas anteriores. Os valores de referência desta avaliação,
estão entre 5 a 8% da HbA total em pacientes normais e varia entre 8 a 30%
em pacientes com diabetes, dependendo do grau de controle de glicemia. A
dosagem da insulinoterapia é ajustada, nos pacientes diabéticos, se a
hemoglobina glicosilada ultrapassar 10%. Na monitoração de diabéticos,
variações de 2% entre duas avaliações, é considerada clinicamente significante
e indicativa de um melhor ou pior controle glicêmico. A análise da hemoglobina
glicosilada também é realizada pela eletroforese, colorimetria ou cromatografia
em coluna ou cromastografia líquida de alta pressão (HPLC).

Razões fundamentais para medição da hemoglobina glicada

As proteínas glicadas são formadas translacionalmente a partir da reação lenta


e não enzimática entre a glicose e os grupamentos amina das proteínas. No
caso da hemoglobina, a taxa de síntese da HbG é função da exposição das
hemácias a concentrações elevadas da glicose. A HbG é um índice
clinicamente útil da glicemia media nos 120 dias que precedem ao exame que
correspondem à meia vida das hemácias. Ainda que estudos cuidadosamente
controlados têm documentado a íntima correlação entre a HbG e a glicemia
média, as medições de rotina da glicose sanguínea por pacientes (auto teste) e
provedores de saúde não são consideradas tão adequadas quanto a HbG para
estimar a glicemia média. A HbG é também utilizada como medida do risco de
desenvolvimento das complicações crônicas do diabetes. As concentrações de
outras proteínas glicadas como a frutosamina, também refletem a glicemia
media mas em um menor período de tempo. Entretanto, a utilidade clínica das
proteínas glicadas não está claramente estabelecida e não existem evidências
convincentes que relacionam suas concentrações às complicações crônicas do
diabetes.

 Frutosaminas: são cetoaminas estáveis resultantes da ligação da glicose com


o grupamento amina das proteínas plasmáticas. Em pH alcalino, as
frutosaminas são convertidas em uma forma enólica instável que reduz o
corante azul de nitrotetrazólio a um cromogênio púrpura. Medindo-se a
absorvância em tempos diferentes, pode-se estimar a concentração de
frutosaminas existente no soro ou plasma. O mecanismo de formação das
frutosaminas é semelhante ao da hemoglobina glicosilada, possuindo a mesma
importância diagnóstica sendo que revelam glicemia de cerca de 1 a 3
semanas anteriores devido ser esta a vida média das proteínas plasmáticas.
 Dosagem da Insulinemia: permite compreender melhor a fisiopatologia do
metabolismo da glicose mas é relativamente pouco útil em clínica, pois não
permite precisar as indicações eventuais da insulinoterapia no diabético. Ele é
de grande valor na investigação das hipoglicemias örgânicas, por
hipersecreção autônoma de insulina. A dosagem é realizada no soro através de
métodos radioimunológicos ou imunoenzimáticas, devendo-se levar tão
rapidamente quanto possível o sangue colhido sem anticoagulante ao
laboratório porquanto a insulinase plasmática destrói a insulina. A taxa normal
é da ordem de 115 pMols/l por dosagem radioimunológica, 130 pMols/l por
dosagem imunoenzimática. Os valores extremos parecem ser 50 a 300
pMols.).

 Dosagem do Glucagon: A dosagem é realizada no soro por


radioimunoensaio ou ELISA. O anti-soro utilizado deve ser especialmente
purificado a fim de evitar as reações cruzadas com peptídeos secretados pela
parede intestinal. As taxas normais são da ordem de alguns nMols/litro. As
taxas de insulina e de glucagon variam geralmente em sentido inverso, estando
portanto a taxa de glucagon elevada no diabetes em particular com
cetoacidose, bem como nas situações de stress. O único caso onde essa
dosagem da glucagonemia é realmente útil é o de certos tumores raros do
pâncreas que secretam quantidades elevadas de glucagon.

 Dosagem do Peptídeo C: dosado por uma dosagem radioimunológica ou


ELISA com o auxílio de anti-soro que não dá reação cruzada com a insulina.
Permite avaliar a insulinemia residual endógena nos diabéticos tratados pela
insulina. Pode-se não somente dosá-lo no soro sanguíneo mas também na
urina. Essa dosagem permite também realizar teste de bloqueio da secreção
insulínica por injeção de insulina e, enfim, detectar uma eventual hipoglicemia
simulada, devido à insulinoterapia.

 Dosagem dos Ácidos Láctico e Pirúvico: permitem avaliar o acúmulo de


ácido láctico em caso de transtornos da neoglicogênese. O sangue total,
colhido com heparina, deve ser rapidamente separadas por centrifugação (visto
que a glicólise provoca um aumento muito rápido da lactacidemia) e
desproteinizado imediatamente. As taxas normais são da ordem de 0,5 a 2
mMols/l, sendo menores no sangue arterial (0,4 a 1 mMol). O ácido pirúvico
existe em equilíbrio de óxido-redução com o ácido láctico e sua taxa é de 0,04
a 0,15 mMol/l. As informações dessas dosagens são pouco úteis, sendo
indicados em comas de diabéticos para reforçar o diagnóstico de acidose
láctica.

Teste da Tolbutamida Sódica: injeta-se, por via venosa, 1,0 g de tolbutamida


sódica e dosa-se a glicemia a curtos intervalos, durante 1 hora. Os cuidados
com o paciente é o mesmo que para o TOTG. Logo após a última colheita,
deve ser dado ao paciente um copo de suco de laranja ou outro líquido que
contenha carboidratos, a fim de prevenir eventual hipoglicemia, em seguida, o
paciente faz o seu desjejum habitual. A resposta hipoglicêmica dos pacientes
normais e diabéticos à injeção venosa de tolbutamida sódica é diferente, sendo
os valores de maior significação diagnóstica os de 20 e 30 minutos. A maioria
de pacientes não-diabéticos apresenta aos 20 minutos queda acentuada da
glicemia a valores abaixo de 75% do nível prévio basal, enquanto os diabéticos
não atingem esse nível. Glicemia de 90% ou mais do nível pré-teste significa
invariavelmente diabetes. Quando os valores se situam entre 85 e 89% no nível
inicial, a probabilidade de diabetes é de 90%; quando entre 80%-84 %, é de
50% e, na faixa 75-79%, essa probabilidade é de 20 %. Quanto ao valor da
glicemia aos 30 minutos, se não cair a 77% ou menos do nível basal, pode ser
diagnosticado diabetes.

Teste Venoso de Tolerância à Glicose (TVTG): no teste venoso clássico,


realizado em duas horas, deve ser usado, para o adulto, 50ml de solução a
50% de glicose, injetados num lapso de 2-3 minutos onde o pico máximo de
glicemia, que pode ultrapassar 300 mg/dl, ocorre dentro dos cinco primeiros
minutos, caindo, normalmente, ao nível inicial de jejum entre 60- 120 minutos.
A interpretação do teste é semelhante à do teste oral. Está indicado quando
existem (ou se presume que existam) distúrbios da absorção intestinal, ou em
pacientes gastrectomizados ou com curto circuito gastrentérico. Este teste,
porém é antifisiológico, uma vez que há a introdução maciça de glicose
diretamente na circulação, constituindo um estímulo à secreção de insulina
menos eficaz do que o produzido no teste oral.
 

DIABETES MELLITUS E AUTO-IMUNIDADE

ANTI-GAD

ANTI-ILHOTA - ICA

ANTI-INSULINA - IAA

DMI (Diabetes Mellitus Tipo I) é caracterizado pela presença de auto-


anticorpos, entre eles, anti-ilhota, anti-insulina e anti-GAD (glutamic acid
decarboxilase). O anti-GAD apresenta alta prevalência no DMI de início recente
e têm sido detectado vários anos antes da instalação da doença.

Anti-GAD

No soro da maioria dos portadores da "stiff-man syndrome" detecta-se a


presença de anticorpos contra uma enzima, a decarboxilase do ácido glutâmico
(GAD). Esta enzima participa na biossíntese de um neurotransmissor inibidor, o
ácido gama-aminobutírico (GABA). Esta enzima se concentra seletivamente em
terminações nervosas GABA-érgicas e, fora do sistema nervoso central, nas
células beta pancreáticas.

Recentemente, a enzima decarboxilase do ácido glutâmico foi identificada


como sendo o auto-antígeno de peso molecular 64000 (64kd) das células beta
pancreáticas, que é considerado um dos mais importantes antígenos
envolvidos na patogênese do DMI.

Diversas metodologias têm sido usadas para a detecção do anti-GAD.


Trabalhos utilizando a técnica da imunoprecipitação (125I GAD65)
demonstraram sensibilidade variando de 74,4 a 100% e especificidade de 84,4
a 100% e, quando comparada com o método "gold s tandart" (35S GAD),
mostrou correlação de 86%.
Anti-ilhota ou ICA (Islet-Cell Antibody)

O ICA é realizado pela técnica da fluorescência indireta.


ICA é um marcador de DM Tipo I; uma vez que a doença é auto-imune, a
presença deste anticorpo é sinal da atividade da doença.
O grande problema deste ensaio é a necessidade de padronização, que foi
feita em unidades JDF (Juvenil Diabetes Foundation) utilizando para isso soros
padrões que são distribuídos e divulgados em "Workshops". Nesses mesmos
"Workshops" foi mostrado que out ras técnicas, como ELISA, não têm
sensibilidade e especificidade, logo, não devem ser usadas.
O ICA está positivo em 80% dos DMI com < 5 anos, porém a sua sensibilidade
cai após 5 anos do diagnóstico. Os indivíduos com dm tipo II apresentam 20%
de positividade, sendo que se sabe que 20% dos dm tipo II necessitam de
insulinização e 20% são magros, o que sugere que sejam dm I. A população
geral apresenta 1 a 3% de positividade.

Anti-insulina

Anticorpo Anti-Insulina ou IAA (Anti-Insulin Auto-Antibody) pode ocorrer de


forma espontânea ou após uso de insulina. Nestes casos os ensaios de
laboratório podem ajudar. O radioimunoensaio é mais importante para o
diagnóstico precoce de DM Tipo I (aut o-anticorpos) e o ELISA é mais
importante para avaliar os anticorpos produzidos contra a insulina exógena
(insulina aplicada pelo paciente). Nesse caso, os anticorpos podem se ligar à
insulina não permitindo sua ação, com isso, piorando o controle metaból ico do
diabetes. No Laboratório H. Pardini realizamos apenas o RIE, pois, quando há
suspeita de resistência à insulina por anticorpos contra a insulina administrada,
normalmente o paciente vai estar usando de 1 a 2 unidades de insulina/Kg de
peso, com mau controle glicêmico. Para resolver este problema basta trocar a
insulina por formas mais purificadas.
IAA apresentam uma positividade de quase 100% nos diabéticos com menos
de 5 anos do diagnóstico, passando para 62% nos diabéticos com 5 a 15 anos
de doença e 15% após 15 anos de diagnóstico.
Importância

Os anticorpos ligados ao diabetes têm assumido uma importância muito grande


recentemente nas seguintes situações:

Diagnóstico de Diabetes Tipo I

Diagnóstico Precoce do Diabetes Tipo I

Em caso de dúvidas em relação ao diagnóstico: DMI ou DMII?

Diagnóstico de Diabetes Tipo I

Os auto-anticorpos são muito importantes no diagnóstico do diabetes, uma vez


que outros tipos de diabetes têm sido classificados, como o MODY (Maturity-
Onset Diabetes of the Young), o diabetes mitocondrial, o diabetes neonatal e
outros defeitos genéticos que estão sendo estudados (defeito no gene do
receptor do glucagon-Like, defeito no gene da glicogênio sintetase,etc). Devido
a esta variedade de novas classificações para o diabetes, no diagnóstico do
tipo I se faz necessário uma confirmação laboratorial . Neste caso, os auto-
anticorpos são fundamentais para este diagnóstico.

Diagnóstico Precoce do Diabetes Tipo I

Os auto-anticorpos estão presentes alguns anos antes da manifestação do


diabetes mellitus tipo I. O Anti-GAD e o IAA podem aparecer até 8 anos antes
da manifestação da doença, sendo então importantes para o diagnóstico do
diabetes autoimune, antes de apre sentar os "polis". Neste caso, estão
indicados para este estudo todos os parentes de 1º grau de um indivíduo com
DM I, ou seja, irmãos ou filhos desses diabéticos.

Vários estudos de prevenção do diabetes estão em andamento. Os mais


importantes são:

DPT (Diabetes Prevention Trial)


O estudo se baseia em administrar insulina nos casos com Diabetes auto-
imune (sem manifestação) para tentar diminuir a expressão antigênica na
superfície da célula beta. Em vários indivíduos comprovou-se o bloqueio da
manifestação da doença após 5 anos de uso da insulina.

NPT (Nicotinamida Prevention Trial)

Administração de nicotinamida para previnir o DMI.

Estudos com administração de GAD

Em vários estudos experimentais (em animais) está sendo testada a supressão


do processo auto-imune com administração de GAD. Existem estudos com
infusão de GAD intratímico e GAD oral, e tem-se obtido bons resultados.

Estudos com administração de insulina oral

Em estudos com animais de experimentação, a administração de insulina oral


reduziu o aparecimento de diabetes ou diminuiu a gravidade da doença. Estão
sendo feitos estudos para sua futura aplicação clínica.

TRATAMENTO

Para controlar a doença, os pacientes necessitam diminuir o peso corporal, a


partir, principalmente, da realização de dietas e exercícios. Com a redução do
peso, os receptores insulínicos celulares aumentam em número e modificam a
forma, tornando a insulina mais ativa, permitindo, assim, a entrada da glicose.

O uso de drogas que induzem a diminuição da glicemia ao tratamento de


pacientes diabéticos, é bastante frequente, tendo em vista a dificuldade de se
estabelecer mudanças radicais nos hábitos alimentares e de comportamento
ao paciente diabético. Os hipoglicemiantes orais são drogas não derivadas da
insulina que proporcionam efeito similar por mecanismos diferentes do
hormonal. São eficazes quando o organismo ainda tem capacidade de
sintetizar insulina, porém encontra-se com reposta pancreática retardada. A
insulinoterapia é preconizada para os pacientes com carência total ou mesmo
parcial deste hormônio.
Inúmeros pacientes fazem uso de medicina popular como auxiliar ou mesmo
como forma de tratamento. Há registros de que o extrato etanólico da Buelia
satorum possui efeito hipoglicemiante, aumentando a liberação de insulina e a
captação de glicose no músculo, inibindo inibe a glicogenólise hepática. Outras
avaliações sobre o possível efeito hipoglicemiante da planta Bauhina forticata
(pata de vaca) e da planta Myrcia uniflora (pedra-hume-cáa), utilizadas
largamente na medicina popular, indicam que tais plantas não apresentam
qualquer efeito hipoglicemiante.

HIPOGLICEMIANTES

São medicamentos que são tomados por via oral, que por diferentes formas,
dependendo de sua classe, provocam uma diminuição da glicemia plasmática
(nível de açúcar do sangue). Dessa forma, são medicamentos largamente
utilizados no manejo do Diabetes Melitus Tipo 2. Permitem seu controle e
evitam complicações inerentes a essa doença.

Sulfoniluréias (SU)

São hipoglicemiantes cujo mecanismo básico de ação é estimular diretamente


a liberação de insulina em pacientes que possuem células betas viáveis, ou
seja, que ainda são capazes de produzir um pouco de insulina. Há além disso
um aumento na atividade da insulina, aumento da utilização periférica de
glicose, supressão da produção hepática de glicose .

São fatores que indicam que o uso desse medicamento pode ser benéfico:
idade acima de 40 anos, peso entre 110% e 160% do peso ideal, duração da
doença menor que cinco anos, necessidade de insulina menor que 40 UI/dia,
glicemia de jejum menor que 200 mg/dl.
Os efeitos colaterais mais frequentes são ganho de peso e hipoglicemia,
embora haja relatos de reações cutâneas. Pode-se observar também alteração
de função hepática.

Pacientes com diminuição da função renal e hepatica devem evitar o uso de


Sulfoniluréias. Além disso, não deve ser utilizado em gestantes ou em
mulheres amamentando.

São medicamentos dessa classe:

- Clorpropramida (DiabineseR)

- Glibenclamida (DaonilR)

- Glipizida (MinidiabR)

- Glicazida (DiamicronR)

- Glimepirida (AmarylR)

Meglitinidas

São hipoglicemiantes que provocam um aumento da secreção de insulina.


Devem ser usados antes das refeições principais; são absorvidos e
metabolizados rapidamente pelo fígado e excretados pela bile e/ou urina.
Podem ser usados em associação com metformina com melhor controle
glicêmico.

Os efeitos adversos mais comuns foram hipoglicemia (causam hipoglicemia


com menor freqüência que as sulfoniluréias), infecções do trato respiratório
superior, tontura e dor, pequeno ganho de peso.
São medicamentos dessa classe:

- Repaglinida (PrandinR)

- Nateglinida (StarlixR)

Biguanidas

São medicamentos que modificam o metabolismo dos carboidratos e lipídios


(gorduras). Causam um aumento da sensibilidade à insulina, ou seja, diminuem
a resistência periférica a insulina, e reduzem a produção hepática de glicose
por diminuição da glicogenólise (transformação de glicogênio em glicose) e da
gliconeogênese (formação de glicogênio).

É droga de primeira opção para pacientes obesos.

Os efeitos colaterais mais comuns são diarréia, náuseas e cólica intestinal que
normalmente desaparecem nas primeiras semanas.

Acidose lática é rara, mas se deve ter cautela em pacientes idosos com
insuficiência cardíaca. Não deve ser usado em pacientes com disfunção renal e
hepática.

A metformina deve ser descontinuada antes da administração de contraste


iodado por via endovenosa e pode ser reintroduzida 48 horas após o
procedimento ser realizado.

São medicamentos dessa classe:

- metformina ((GlucoforminR)

- fenformina
Tiazolidinedionas

São hipoglicemiantes chamados de sensibilizadores da insulina pois aumentam


a ação da insulina sem afetar sua secreção, ou seja, não aumentam a
quantidade de insulina produzida no pâncreas e liberada na corrente
sanguínea, apenas aumenta a ação da insulina normalmente presente. Há uma
diminuição da produção hepática de glicose e um aumento do consumo de
glicose no músculo, dependente de insulina.

Os efeitos colaterais mais freqüentes são infecção do trato respiratório superior


e dor de cabeça, tontura, fraqueza. Não devem ser utilizadas por pessoas com
disfunção hepática e insuficiência cardíaca.

A pioglitazona não deve ser usada em hepatopatas, apesar de não ter havido
interação com os medicamentos metabolizados pelo sistema enzimático do
citocromo P450.

Mulheres em uso de contraceptivos orais devem adicionar outros cuidados


anticoncepcionais, uma vez que o nível plasmático do contraceptivo pode ser
reduzido pelo uso concomitante da pioglitazona.

São medicamentos dessa classe:

- Rosiglitazona (Avandia)

- Pioglitazona (Actos)

Inibidores de glicosidases intestinais

Essa classe de hipoglicemiante provoca uma redução na digestão e absorção


dos carboidratos complexos,no intestino delgado, levando a uma queda no pico
de glicose pós-prandial (após uma refeição). Devem ser administrados
obrigatoriamente durante as refeições. Eles não provocam aumento de peso e
hipoglicemia.

Os efeitos adversos são gastrointestinais (flatulência, diarréia e dor abdominal).


Estão contra-indicados em pacientes com doença inflamatória intestinal crônica
e evitados em pessoas com doença renal.

São medicamentos dessa classe:

- Acarbose (Glucobay)

INCRETINAS

Os incretinomiméticos são medicamentos peptídeos que mimetizam várias das


ações do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1) e têm demonstrado
reduzir níveis de hemoglobina glicada (A1C) em pacientes com DM2.
Adicionalmente, incretinomiméticos reduzem as glicemias pós-prandial e de
jejum, suprimem a liberação elevada do glucagon, e são associados com
redução de peso. Os inibidores da dipeptidil peptidase-4 (DPP-4) aumentam os
níveis de GLP-1 endógeno pela inibição da degradação enzimática do GLP-1.
Estudos clínicos em pacientes com DM2 têm demonstrado que inibidores da
DPP-4 reduzem A1C elevada, reduzem as glicemias pós-prandial e de jejum,
suprimem a liberação elevada do glucagon e são neutros quanto ao peso.
Coletivamente, estas novas medicações, administradas em combinação com
outros agentes antidiabéticos, como metformina sulfoniluréias e/ou
tiazolidinedionas (TZDs), podem ajudar a recuperar a homeostase glicêmica de
pacientes com DM2 não-controlados.
CONCLUSÂO

Diabetes Mellitus (DM) é um grupo heterogêneo de alterações caracterizadas


por hiperglicemia crônica associada com a ausência ou ação inadequada da
insulina. O prognóstico e qualidade de vida dos pacientes diabéticos dependem
de um adequado controle metabólico. È importante fazer detecção precoce,
tendo como objetivo, sustar o desenvolvimento da hipoglicemia leve para evitar
seu agravamento. Para tanto é necessário: Identificar os sinais precoces como
sudorese, cefaléia, palpitação, tremores ou uma sensação desagradável de
apreensão. A procura de um profissional da saúde minimiza os danos a longo
prazo.

São necessárias novas opções de tratamento, mais duradouras, para o


controle do diabetes tipo 2, as quais reconheçam que a preservação da massa
e da função das células-ß é essencial e que, ao mesmo tempo, minimizem o
risco de hipoglicemia e de ganho de peso associados à terapia tradicional. As
incretinas regulam a insulina e o glucagon de maneira dependente da glicose e
podem oferecer benefícios a longo prazo para a função e a sobrevida das
células-ß, sendo um promissor tratamento do Diabetes.

Uma boa perspectiva de tratamento é através da indução de tolerância


imunológica a antígenos responsáveis pela iniciação do processo de
auto-agressão celular. O antígeno GAD (descarboxilase do ácido
glutâmico) é um dos principais antígenos pesquisados até o presente
momento. A reação contra este antígeno, mediada por linfócitos T e
também pela imunidade humoral, já foi detectada em animais ao
redor da quarta semana de vida. A tentativa de induzir-se tolerância
através de injeções intra-tímicas do GAD foi realizada com boa
resposta, isto é, animais tratados desta forma demonstraram menor
incidência de insulite e de diabetes.

A importância da doença diabetes do ponto de vista social e econômico é


inegável devido às altas taxas de morbidade, mortalidade e de incapacitação
para o trabalho. Desta forma, fica evidente que tal doença merece especial
cuidado no sentido de uma detecção precoce dos indivíduos susceptíveis para
que haja possibilidade de intervenção profilática nos mesmos.

BIBLIOGRAFIA

Bioinforme 96. Laboratório Sérgio Franco. Rio de Janeiro: Faulhaber, 1996.

Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações. VALTER T. MOTTA

Diabetes Mellitus e Fatores de Risco em Pacientes Ambulatoriais. Adriana


Becker Pinto , Maria Beatriz Moretto .

MINISTÉRIO DA SAÚDE - Secretaria de Atenção à Saúde-Departamento de


Atenção Básica. DIABETES MELLITUS. Cadernos de Atenção Básica - n.º 16
Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília- DF- 2006.

Efeito Fisiológico da Incretinas. Antônio R. Chacra. Artigo de Revisão. 2000.


DEPARATAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

DIABETES MELLITUS

Trabalho apresentado à disciplina


de Bioquímica Clínica

Recife
-2009-

You might also like