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Lucie Armitt
Obra:
Escritos filológicos: Beowulf: the
monsters and the critics (1936), On
Fairy-stories (1939), Sir Gawain and
the Green Knight, Pearl and Sir
Orfeo (trad 1975)
[...] É intrigante pensar, por que o autor deve ter suposto que estava
escrevendo para adultos. Existem, com certeza, alguns detalhes, que são um
pouco desagradáveis para um livro infantil, mas exceto quando ele está sendo
pedante e também chateando o leitor adulto, há pouco em O Senhor dos Anéis
acima da cabeça uma criança de sete anos. Ele é essencialmente um livro
infantil – um livro infantil que, de algum modo, saiu do controle, desde então,
em vez de direcioná-lo ao mercado «juvenil», o autor foi autoindulgente,
desenvolvendo a fantasia por sua própria conta; [...]
[...] O herói não tem tentações sérias; não é atraído por encantamentos
traiçoeiros, desorientado por poucos problemas. O que nós temos é um
simples confronto – mais ou menos nos termos do tradicional melodrama
britânico – das Forças do Mal com as Forças do Bem, o vilão distante e hostil
com o pequeno e corajoso herói local.[...]
Recepções e críticas - Wilson
[...] Nunca há muito desenvolvimento nos episódios; você simplesmente
continua pegando mais da mesma coisa. O Dr. Tolkien tem pouca habilidade
na narrativa e nenhum instinto para forma literária. As personagens falam uma
linguagem de livros de histórias que podem ter saído de Howard Pyle, e como
personalidades elas não se impõe. Ao fim do romance, eu ainda não tenho um
conceito do mago Gandalph (sic), que é uma figura central, nunca sendo capaz
de visualizá-lo como por inteiro. [...]
[...] Existem Cavaleiros Negros, de quem todos tem medo, mas que nunca
veem nada além de espectros. Há terríveis aves pairando – pense nisso,
horríveis aves de rapina! Há orcs nojentos como ogros, que, entretanto,
raramente chegam ao ponto de cometer qualquer ato abertamente. Há uma
aranha fêmea gigante – uma terrível, rastejante e arrepiante aranha! – que vive
em uma caverna escura e come pessoas. O que sentimos falta em todos
esses terrores é qualquer traço de realidade concreta. O sobrenatural, para ser
efetivo, deve receber algum tipo de solidez, uma presença real, características
reconhecíveis – como em Gulliver, como em Gogol, como em Poe; [...]
Recepções e críticas - Wilson
Agora, como é que esses longos volumes, que parecem a este crítico só uma
embromação, evocou tanto respeito como aqueles acima? A resposta é, eu
acredito, que certas pessoas – especialmente, talvez, na Grã Bretanha – tem
um longo apetite por lixo juvenil. Eles não aceitariam lixo adulto, mas,
confrontados com o artigo pré-adolescente, eles retrocedam à fase mental de
se encantarem por Elsie Dinsmore and Little Lord Fauntleroy e que parece ter
feito de Billy Bunter, na Inglaterra, quase uma figura nacional. Você pode ver
isso no tom em que eles caem quando falam sobre Tolkien: eles babam, eles
gritam, eles agradam; eles vão além sobre Malory e Spenser – ambos que tem
uma graça e uma distinção que Tolkien jamais tocou.
Recepções e críticas
W. H. Auden:
"The Hero is a Hobbit", 31 de outubro de 1954
"At the End of the Quest, Victory", 22 de janeiro de 1956
[...] Tolkien é visto convencionalmente como uma figura anti-modernista. Ele não gostava
de tecnologia, e sua perseguição do antigo parece ecoar aquela dos Pré-Rafaelitas e do
fantasista gótico Augustus Pugin, arquiteto do Palácio de Westminster.
Isso pode ser visto como escapismo, uma rejeição do engajamento modernista com o
presente e com o futuro, mas eu não tenho certeza se isto é muito justo. Compare, por
exemplo, o projeto de Tolkien com duas das maiores figuras da literatura modernista.
O Ulisses de James Joyce conta a história da vida comum de um de Dublin como uma
recapitulação da lenda do errante herói grego. The Waste Land de T. S. Eliot é um
panorama mitológico, que se aproxima dos contos do passado para lançar uma luz
devastadora sobre a condição do presente, a coisa toda assombrada pelo espectro do
colapso mental.