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2007-2008
Direito Comercial I, Lara Geraldes 3º-A @ FDL
§1: SENTIDO OBJECTIVO. Os actos de comércio em sentido objectivo são aqueles que
se encontram especialmente regulados no Código [art. 2º, 1ª parte]. Esta primeira noção
denota a relação de especialidade entre o direito comercial, especial, e o direito civil, geral
A fórmula legal recorre a um enunciado implícito que cumpre determinar com maior
clareza.
OLIVEIRA ASCENSÃO, só são comerciais os actos regulados no Código e nos quais aflore a
§2: ANALOGIA. Dado o teor de tipicidade fechada do art. 2º, aliado a razões de
segurança jurídica, poder-se-ia dizer que a qualificação de actos comerciais por analogia seria
Todavia, cumpre recordar que as normas comerciais são especiais e não excepcionais,
susceptíveis, por isso, de aplicação analógica nos termos gerais do art. 10º CC: as normas
comerciais não contrariam os princípios gerais do direito, nem constituem qualquer ius
singulare. Mas nem por isso se diga que a aplicação analógica das mesmas deva ser
deveria ser constatada em cada regra [a relação de especialidade só poderia ser relativizada,
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concorrência não é especial em relação a norma nenhuma, já que não lhes assiste
corresponde a norma “geral” no direito civil português. Não obstante, o direito comercial é
certamente mais restrito e particularizado que o direito civil. Nestes termos, e com as
limitações apontadas, a natureza especial do direito comercial deve ser ponderada caso a
caso.
termos, o mesmo poderia ser qualificado como acto comercial em sentido objectivo,
COUTINHO DE ABREU.
obrigações dos comerciantes, com capacidade para tal, que façam do comércio profissão. A
natureza dos mesmos não pode, todavia, ser exclusivamente civil, e o contrário não pode
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BARBOSA DE MAGALHÃES.
introduzido em 1907 por GUILHERME MOREIRA, pelo que ao elencar “empresas comerciais”
académica não é comerciante por organizar um espectáculo por ano; se o fizer, o acto é
A capacidade comercial dos comerciantes [art. 13º] coincide com a capacidade civil,
pelo que o art. 7º deve ser remetido para as regras gerais da capacidade de gozo e de
exercício.
Por outro lado, pratica, de facto, o comércio, o comerciante que celebre contratos e
A natureza do acto não pode ser exclusivamente civil: para MENEZES CORDEIRO serão
actos exclusivamente civis aqueles que, no momento considerado, não sejam regulados pela
lei comercial geral [fórmula mais abrangente e actualista, caso a caso]. OLIVEIRA ASCENSÃO
vai mais longe: será exclusivamente civil o acto que o direito comercial geral, pela sua
natureza, não possa regular [inclua-se os actos relativos ao direito da família e sucessões e as
CORREIA assumem uma interpretação mais extensiva, nos termos seguintes: é exclusivamente
civil o acto que não tenha qualquer conexão com o exercício do comércio em geral [assim, a
doação já seria considerada um acto comercial]. MENEZES CORDEIRO discorda: uma doação
feita a clientes não tem qualquer regime comercial, não se tratando de acto de comércio.
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Conclusão:
decisiva: já não depende do foro competente, como historicamente já se admitiu [até 1932,
com a unificação o foro, os actos comerciais eram julgados em tribunais comerciais e os actos
civis pelos tribunais comuns]. Não obstante, a relevância desta discussão reside na aplicação
do regime comercial, maxime daquele que ainda vigora no nosso país: os poucos arts que
§4: COMERCIANTES. Nem todos os que praticam actos de comércio devem ser
• Tenha capacidade para tal [art. 7º, que remete globalmente para a lei civil]
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anulabilidade].
requisitos e que o sistema é móvel: poder-se-á dispensar um indício, desde que os outros
sejam inequívocos.
São pessoas semelhantes a comerciantes, ainda que não o sejam para efeitos do art.
13º: todas as entidades autónomas que pratiquem actos com fins lucrativos e que para tal
liberais de grandes sociedades de advogados, vg, possam ser reconduzidos à categoria geral
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o direito a aplicar é o direito comercial. Será unilateral o acto de comércio só com relação a
A lei comercial rege quanto a todas as partes, enfim. Salvo se o contrário resultar da
própria lei.
• Singulares
• Plurais [co-obrigados]:
mesmo credor.
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no exercício do seu comércio. Requisitos cumulativos para que esta presunção se verifique:
CSC, têm por objecto a prática de actos de comércio. Considera-se que as obrigações
contraídas nos casinos não são naturais porque delas cabe recurso para os tribunais [art.
1245º CC]. Se um comerciante contrair uma dívida deste cariz, o “contrário resulta do próprio
acto”: contrai as dívidas no casino não enquanto comerciante, mas sim enquanto cidadão
comum. Não é por ser comerciante que todas as actividades por ele praticadas sejam
comerciais.
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obtenção de lucro através da conquista de clientela. Corresponde, grosso modo, a uma ideia
§2: ELEMENTOS. Desta primeira noção podemos concluir pelos seguintes elementos
o Coisas corpóreas:
o Coisas incorpóreas:
firma/nome]
franquia…]
com o estabelecimento.
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em que há aviamento.
estabelecimento comercial, o mesmo pode ser transmitido no seu todo nos termos seguintes:
especialidade: cada uma das situações jurídicas distintas a transmitir exigiria, em princípio,
um negócio autónomo.
estabelecimento comercial, no seu todo, sem perda de aptidão funcional [do aviamento,
enfim]: trata-se de um único negócio jurídico, mediante uma única escritura. Segundo
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maxime acto comercial em sentido objectivo, por razões históricas e pela sua
CC], bastando a mera comunicação [art. 1112º-3 CC] pelo locatário originário,
no prazo de quinze dias [art. 1038º g) CC]: facto que sustenta a sua natureza
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considerando que o limite que traça a distinção entre trespasse e mera cessão
fundamento do direito de resolução do contrato nos termos dos arts. 1038º c),
Elementos activos:
acordo expresso, por estar implícito na vontade hipotética das partes que
celebram o trespasse].
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Propriedade Industrial].
• Posições contratuais:
segurança social.
Elementos passivos:
• Dívidas, com consentimento do credor [art. 595º CC], excepto quando se trate
ser intermédia: nem pela transmissão em bloco das mesmas, pela difícil
especificação de todas, nem pela transmissão das dívidas uma a uma, pela
Elementos activos:
Elementos passivos:
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originário.
previsto no art. 424º CC, a aplicar quando se considere afastada a possibilidade de trespasse,
trespasse.
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798º CC.
1088º CC]:
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seguintes:
• Competência
ainda que ilidível nos termos gerais do art. 350º-2 CC. Não tem qualquer efeito constitutivo,
nem no caso das sociedades comerciais, para MENEZES CORDEIRO [vs art. 5º CSC], excepto
comercial os actos a ele sujeitos. Os factos relativos a comerciantes individuais que estejam
sujeitos a registo são elencados no art. 2º CR Comercial, numa tipicidade fechada. O início da
esse registo obrigatório? Não, na medida em que essa alínea não se encontra prevista na
tipicidade fechada que consta do art. 15º CR Comercial. Conclui-se: o registo comercial não
tem efeito constitutivo, mas sim meramente presuntivo, dada a função de conferir fé pública
aos actos registados [art. 11º CR Comercial]. Há, todavia, mecanismos de obrigatoriedade
simplificação do seu regime [cfr. “empresa na hora”], a constituição da firma deve ser
• Autonomia privada
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• Estabilidade
38º-1 RNPC]. Se não for adoptada uma firma fica impossibilitada a inscrição de actos com
registo obrigatório.
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geral da autonomia privada [art. 405º CC], em conjugação com as regras da interpretação
negocial, segundo MENEZES CORDEIRO. O numerus apertus designa que o número de actos
analogicamente
• Internacionalidade
• Simplicidade e rapidez
• Onerosidade
culpa in contrahendo aos contratos comerciais [art. 227º CC], pela violação de deveres
respeito [art. 798º vs 483º CC], com consequências relevantes: a culpa presume-se [art. 799º
CC] e há lugar a indemnização por todos os danos causados [danos emergentes e lucros
cessantes], e não apenas pelos danos negativos [danos que não haveria se não tivesse ocorrido
a negociação falhada].
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concertada]
consagração autónoma.
consumidor final
o Agência
o Concessão
o Franquia ou franshising
de forma concertada, realizar certa actividade ou efectuar certa contribuição [art. 1º RJCC].
não necessariamente comercial, que pode até ser puramente civil [para OLIVEIRA ASCENSÃO
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De acordo com o art. 4º-2 RJCC, a contribuição prestada deve consistir em coisa
• O consórcio pode ser interno, sem invocação expressa [art. 5º-1 RJCC], ou
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consiste na associação de uma pessoa [associado] a uma actividade económica exercida por
outra [associante], ficando a primeira obrigada a participar nos lucros e perdas que, desse
económica exercida pelo associante pode não ser comercial, tal como o que supra foi
RJCC conclui-se que a contribuição do associado, ainda que patrimonial, pode não ser em
consistir numa quantia fixa, considera-se já não existir qualquer associação em participação.
• Forma: consensual [art. 23º RJCC], salvo forma especial exigível: só podem
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causa
o Informação
o Diligência
o Não concorrência
CC].
actos que se vão repercutir directamente na esfera jurídica de outrem: actuação em nome de
outrem, por conta dessa pessoa e dispondo de poderes para tal. Tendo o Código Comercial
de LABAND. Para o Código o mandato é sempre representativo, enfim [art. 231º ss]. Cumpre
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omisso quanto a terceiros de boa fé, pelo que o art. 22º-2 RJCA admite
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surrectio.
se este lhe tiver conferido, por escrito, poderes para tal [art. 3º e 23º RJCA].
RJCA. Já o disposto no art. 22º RJCA não pode nunca ser aplicado à cobrança
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o Situação de confiança
o Justificação da confiança
o Investimento de confiança
o Imputação da confiança
indemnização porque não torna indemne [sem dano], consistindo numa mera
ilicitude, pelo que não existe uma indemnização proprio sensu. Permite,
esses que se manterão mesmo após o seu termo: cessando a agência, é justo
parte mais fraca e carece, por isso, de especial tutela. É uma indemnização
cumulável com outras a que haja direito [vg indemnização por denúncia ou
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aumentados
o O agente não cedeu, por acordo com a outra parte, a sua posição
• O agente pode contratar um subagente, regido nos termos do art. 5º-2 RJCA.
já não pelo principal, desde que verificados os requisitos do art. 33º RJCA.
incumprimento seja grave [art. 30º RJCA] e cabe indemnização nos termos da
o disposto no art. 28º-4 RJCA: o prazo é de três meses [art. 28º-1 c) RJCA].
norma a norma.
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• Não tendo base legal directa [natureza atípica], este contrato assenta na
art. 4º RJCA. Nesse caso, fica o principal proibido de contratar outro agente,
tendo sido, aplica-se o disposto no art. 219º CC. O art. 4º RJCA é uma norma
excepcional que, como tal, não comporta aplicação analógica. Existindo uma
através dos quais a distribuição deve ser processada. Com origem nos EUA, dada a dimensão
geográfica do país, este tipo de contrato de distribuição surge enquanto resposta quando
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• Misto
vendas [uma “renda”, enfim: royalties]. Cfr o que foi mencionado supra §5, relativamente à
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denunciados em vez de resolvidos, ainda que sem respeitar o prazo de pré-aviso, por existir
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DIREITO BANCÁRIO
CAPÍTULO I: PRINCÍPIOS DE DIREITO BANCÁRIO
distinção:
o Banco de Portugal
o Instituições de crédito
o Sociedades financeiras
• Direito bancário material: direito dos actos bancários, das actividades das
com os particulares.
contratuais e pós-eficazes
o Responsabilidade bancária
O nosso estudo incidirá sobre o direito bancário material, maxime os actos bancários.
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§3: SITUAÇÃO JURÍDICA BANCÁRIA. Uma situação jurídica é bancária sempre que
seja regulada pelo direito bancário material, nos termos supra [cfr. §1]. Traduz, assim, a
parâmetros:
• Habitual
• Lucrativa
• Tendencialmente exclusiva
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O sujeito que contacta com o banqueiro é o cliente, singular ou colectivo, desde que
derivado da boa fé. Neste sentido, o sigilo bancário corresponde a uma concretização da
do défice das contas públicas, segundo MENEZES CORDEIRO, justificou propostas de limitação
monetárias. A relação bancária estabelecida entre o banqueiro e o seu cliente é uma relação
de informações.
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seu cliente pauta-se pela celebração de negócios jurídicos que se sucedem no tempo, e não
de apenas um.
Para MENEZES CORDEIRO estabelece-se, entre essas partes, uma relação social e
[normalmente, a abertura de conta]. Essa relação tende, por isso, a ter continuidade: ambas
Desta relação bancária não resulta, todavia, o dever de celebrar novos contratos para
nenhuma das partes: qualquer um pode terminar a relação e qualquer novo negócio proposto
especialmente previstas para um determinado tipo. Os actos bancários são, por isso, actos
comerciais:
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comerciais. Nestes termos, perante actos mistos [actos comerciais em relação a uma das
partes e não comerciais em relação à outra] aplica-se o regime dos actos comerciais, do
solidariedade, nas obrigações comerciais, especial face ao regime comum do art. 513º CC.
Neste âmbito, a fiança comercial [art. 101º] é solidária relativamente ao fiador de obrigação
• Singulares
• Plurais [co-obrigados]:
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no exercício do seu comércio. Requisitos cumulativos para que esta presunção se verifique:
concessão de crédito, vg, estão associados inúmeros prejuízos potenciais [maxime falência].
bancos pela concessão de crédito: movem-se no seio do direito privado. Nestes termos, o
pelos danos causados a terceiros, quer tenha atentado contra os bons costumes ou ordem
pública], e não do modelo francês [falta do banqueiro, num misto de culpa e de ilicitude].
pauliana, visando a subsistência de certos negócios e não a indemnização dos prejuízos [art.
610º CC].
cumpri-lo, nos termos da responsabilidade contratual [art. 798º ss CC]. Nestes termos, a
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contrahendo [art. 227º CC] quando, na fase preparatória de um contrato, as partes não
acatem deveres de actuação que sobre elas impendem, no âmbito da boa fé. Recorde-se, a
• Deveres de protecção
• Deveres de informação
• Deveres de lealdade
Podemos apontar como exemplo a ruptura injustificada das negociações, maxime das
negociações que antecedem um contrato bancário. A violação dos deveres supra [deveres
799º CC] e deve o responsável ressarcir todos os danos [danos emergentes e lucros cessantes].
importante papel no direito bancário material: estão, desde já, historicamente associadas à
• Generalidade
• Rigidez
• Complexidade
• Natureza formularia
• Excluir as cláusulas sobre as quais não tenha havido acordo de vontades [art.
4º LCCG].
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227º CC].
• Ónus da prova do efectivo cumprimento desses deveres [art. 5º-3 LCCG], que,
desde que, sobre elas, incida um juízo de valor suplementar que a tanto
• São regras legais específicas de direito bancário aquelas que constam dos arts
O contrato pré-formulado é aquele que uma das partes propõe à outra, sem admitir
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§1: ABERTURA DE CONTA. Contrato celebrado entre o banqueiro e o seu cliente, pelo
qual ambos assumem deveres recíprocos relativos a diversas práticas bancárias. Marca o início
de uma relação bancária, complexa e duradoura, e fixa o regime essencial em que essa
relação se irá processar. Opera como um acto nuclear, e não um mero contrato bancário,
mandato, supletivamente.
Cumpre distinguir:
A abertura de conta não dispõe de qualquer regime legal [é um tipo social, enfim],
assentando somente nas cláusulas contratuais gerais dos bancos [“condições gerais”, diz-se] e
desde que acordadas por escrito, ou alteração unilateral, pelo banqueiro, desde que
determinado prazo. A abertura de conta conclui-se pelo preenchimento de uma ficha, com
aposição de assinatura que será válida para cheques, vg. As cláusulas gerais prevêem três
negócios subsequentes:
saldo negativo.
cliente, quaisquer outros créditos que sobre ele detenha: “debitar tais créditos na conta” –
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saldo positivo. No caso de o banqueiro ser titular de um crédito sobre o cliente, pode
compensá-lo com o saldo que este detenha numa das suas contas. A questão é relevante:
tratando-se de conta conjunta, o banqueiro apenas pode, quando a créditos que detenha em
relação a um dos contitulares, operar a compensação até ao limite da quota de que este
disponha sobre o saldo [não se presume a solidariedade, enfim]. Não é possível, neste caso, a
se encontrando prevista, não haverá compensação, já que o saldo não seria algo de
com o saldo, até que este se esgotasse; o art. refere-se ao devedor, que
outros.
Formalidades:
• Número fiscal
crédito]
As contas dos cônjuges gozam do regime do art. 1680º CC: cada um dos cônjuges pode
fazer depósitos bancários em seu nome exclusivo, qualquer que seja o regime de bens.
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• Simplificação e unificação
• Segurança
devedor
compensação, vai ser preferencialmente satisfeito pelo desaparecimento dos seus próprios
abertura de conta, e constitui um contrato celebrado entre o banqueiro e o seu cliente [art.
344º]. Nestes termos, postula a prestação de diversos serviços bancários, com relevo para o
• O banqueiro não surge como credor: o saldo deve ser favorável ao cliente ou, no
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conta-corrente em si
mais se extinguiu
• § único: os bens levados à conta devem ter uma expressão monetária, sendo a
compensação, não facultando per se outras extinções. Cumpre, pois, estabelecer a seguinte
distinção:
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salva celebração de novo contrato [art 349º e 777º CC] – contrato intuito
personae.
razoável.
§3: DEPÓSITO BANCÁRIO. O contrato de depósito [art. 1185º CC] é o contrato pelo
qual uma das partes entrega à outra uma coisa, móvel ou imóvel, para que a guarde e
restitua quando for exigida: contrato real quoad constitutionem [só produz efeitos pela
entrega da coisa], embora já se admita o depósito consensual. O art. 1186º CC, por remissão
equivalente, art. 1206º CC] são aplicáveis as regras do mútuo [arts 1143º, 1144º e 1149º CC].
Coerentemente, são inaplicáveis as regras relativas ao mútuo oneroso [arts 1145º ss CC].
depósitos feitos em bancos regem-se pelos respectivos estatutos [usos] – trata-se de um tipo
social, enfim. Nestes termos, trata-se de um contrato de depósito feito, em dinheiro, por um
surge sempre associada a uma abertura de conta. A forma dos depósitos bancários é ad
substantiam e não ad probationem: observada a forma, o acto é válido. O risco do que possa
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suceder na conta do cliente, quando não haja culpa deste, cabe ao banqueiro. Não é um
O regime geral das contas de depósito é aquele que consta do art. 1º DL 430/91:
antecipada ou o seu resgate, ainda que com perda de juros para o cliente.
disponibilidade do saldo]
Ressalve-se que, apesar das distinções supra, trata-se de uma figura unitária, próxima
depósito nominativos que são transmissíveis por endosso: transmitem-se todos os direitos
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notas depositadas.
primeiro. A convenção pode ser expressa ou tácita, e atribui ao sacador o direito de dispor
a favor dele. Funciona como um contrato-quadro no âmbito do qual serão concluídos diversos
celebração de uma abertura de conta, com uma inerente conta-corrente bancária. Pode
banqueiro não deve recusar a ordem de transferência do cliente, salvo justa causa [vg
proibição administrativa].
seu cliente.
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§6: MÚTUO BANCÁRIO. O mútuo é o contrato pelo qual uma das partes empresta à
outra dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a segunda obrigada a restituir outro tanto do
mesmo género e qualidade [art. 1142º CC]. Pode ser um contrato gratuito ou oneroso,
consoante haja ou não retribuição, embora a onerosidade se presuma [art. 1145º CC, solução
contraria o hábito social do mútuo e faz sentido nas relações comerciais [art. 395º], e não nas
relações civis, para MENEZES CORDEIRO. Se o mútuo for oneroso, qualquer das partes pode
denunciá-lo, com 30 dias de antecedência [art. 1148º CC]. A concepção do mútuo enquanto
negócio real quoad constitutionem, que só produziria os seus efeitos pela entrega da coisa
negócio consensual ou formal, consoante o seu valor: se superior a 20.000 € deve ser
2000 € [art. 1143º CC]. Celebrado o contrato e entregue a coisa ao mutuário, este torna-se
proprietário da mesma [art. 1144º CC], ao inverso do comodato: a propriedade nunca deixa a
esfera do comodante.
acto mercantil [art. 394º]: acto comercial, por via da teoria do acessório [vg penhor, fiança e
depósito]. Apesar do disposto no art. 395º, MENEZES CORDEIRO considera que a retribuição
“automática” não faz sentido, já que mesmo entre comerciantes podem ser celebrados
mútuos gratuitos. Já a liberdade de prova [art. 396º] deve ser entendida como liberdade de
exercício da sua profissão. Podem provar-se por escrito particular, seja qual for o seu valor,
ainda que a outra parte não seja comerciante. A taxa de juros, essa, deve ser sempre fixada
por escrito [art. 102º §1]. A compra e venda com mútuo, referente a prédio urbano, pode ser
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A abertura de crédito é referida no art. 362º [não taxativo] como uma operação de
bancário: forma escrita. Poderá, todavia, ser requerida escritura pública se a abertura de
crédito incluir negócios que o exijam [vg garantia hipotecária]. A cessão de uma abertura de
crédito, quando não regulamentada pelas partes, será regulada pelas regras da conta-
Modalidades:
Vg banco dispõe um crédito até um determinado valor que pode ser usado de uma só
vez ou por partes, como o cliente preferir. O banco terá o direito a uma comissão de
favor: um saldo negativo para o cliente, enfim. Pode advir do pagamento de cheques sem
provisão, vg. É geralmente tolerado pelo banqueiro, por curto período de tempo. Aplicam-se
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banqueiro antecipa o preço dos bens, dando-lhe um crédito e recebendo-os como garantia.
último.
O desconto bancário é o contrato pelo qual o banqueiro entrega, ao seu cliente, uma
título que incorpora o débito do terceiro [art. 362º, não taxativo]. Forma: exigência comum
da forma escrita, nos empréstimos bancários. No desconto há um mútuo garantido, e não uma
venda a crédito. Quando o banqueiro receba o desconto para se pagar/restituir pro solvendo,
deparamo-nos com um mútuo proprio sensu. Não haverá qualquer desconto quando o banco
cliente só operar com boa cobrança. No caso inverso, tratar-se-á de mera venda/cessão de
créditos.
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irrevogável, funciona como uma verdadeira garantia, assentando em dois contratos distintos:
normas pretendem moderar este mecanismo: informação da taxa anual efectiva global [TAEG]
oneroso, temporário e originador de relações duradouras, pelo qual uma entidade [locador
de uma coisa corpórea adquirida pelo próprio locador a terceiro [fornecedor, por contrato de
nula a cláusula contratual que o obrigue a adquirir esse bem [opção de compra, tão-só]. Até
essa aquisição, dispõe o locador financeiro da titularidade do bem [garantia por excelência],
permitindo-lhe, através da celebração deste contrato, diluir os custos das aquisições e obter
vantagens fiscais. Para efeitos de defesa da posse é este o possuidor da coisa, ainda que
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O risco, esse, é por conta do locatário, já que beneficia da fruição do bem [art. 15º
manutenção do mesmo:
• Resolução: prazo suplementar que pode ser precludido pelo locatário com o
locador na posição em que estaria não fosse a violação [art. 798º e 562º CC].
• Manutenção:
executivo
[sanção preventiva]
facere/fazer] é o contrato pelo qual uma entidade [cliente ou aderente] cede a outra
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serviços, com traços do regime desta. É celebrada em regime de exclusivo, pelo que o
aderente só pode ter um único factor: adstrito a não celebrar novos contratos do tipo e a
deve ser celebrado por escrito, acompanhado pelas correspondentes facturas ou suporte
factoring].
misto [promessa de venda de créditos futuros, assunção de risco e prestação de serviços, art.
cobrada em função do valor dos créditos]. MENEZES CORDEIRO sugere a aplicação analógica
Cumpre reter aqui o regime da cessão [transmissibilidade das obrigações]: art. 577º
transmitir-lhe a totalidade dos seus créditos, presentes e futuros, por um período de tempo
indeterminado. Teria direito a receber um juro pela antecipação, para além da comissão
devida pela gestão e cobrança de créditos. Ficava obrigada a prestar assessoria comercial a A,
mediante remuneração.
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afectam uma coisa ao pagamento de uma dívida – proibição de pactos comissórios, por
§2: PENHOR DE CONTA BANCÁRIA. O penhor de conta bancária é um tipo social através
Banco a debitar, na conta dos depósitos, as dívidas garantidas vencidas. O dinheiro, esse, é
pactos comissórios
§3: PENHOR BANCÁRIO. O penhor civil afecta uma coisa móvel ao pagamento de uma
dívida [arts. 666º ss CC]. Quando a dívida garantida proceda de acto comercial, o penhor diz-
se mercantil ou comercial [acto comercial por acessoriedade]. Os arts. 397º e 398º prevêem
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estabelecimentos bancários autorizados, o penhor diz-se bancário: a entrega dos bens garante
[perante terceiros] com documento particular bastante. A outra parte não pode ser privada
do bem em causa.
Vg A constitui penhor sobre as máquinas de uma fábrica mas, como estas são
uma instituição de crédito por uma entidade [entidade-mãe] que detém interesses
As vantagens são de duas ordens: assumir uma obrigação sem garantias formais [vg
empresa]
obrigação
• Forte
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termos da qual declarava ter conhecimento de…, fornecer apoio e…, conceder esforços para o
cumprimento de…
§5: GARANTIA AUTÓNOMA BANCÁRIA. Garantia que não é afectada pelas vicissitudes
pagamento de uma quantia pré-determinada [garantia causal]. Se não existisse essa cláusula
beneficiário], permitindo uma liquidez quase total [como se fosse dinheiro]. Forma: escrita.
contraída por A.
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