You are on page 1of 25

ENTREVISTA DO EMPRESÁRIO EIKE BATISTA AO PROGRAMA

“THE CHARLIE ROSE SHOW”


8 DE FEVEREIRO DE 2010

CHARLIE ROSE: Eike Batista está aqui. Ele é a pessoa mais rica
do Brasil. Pode ser a pessoa mais rica do mundo devido aos
campos de exploração de petróleo na costa brasileira. É uma boa
ocasião de falar sobre ele, sobre o Rio de Janeiro, a cidade que ele
ama e também sobre a experiência latino-americana. Tenho prazer
em recebê-lo aqui pela primeira vez.

EIKE BATISTA: Obrigado, Charlie, por me receber.

CHARLIE ROSE: Então, em 15 anos a partir de hoje, o que você


deseja ter conseguido?

EIKE BATISTA: Nós construímos uma base através de diferentes


companhias – o petróleo sendo a maior delas – com isso fazendo
uma história de 10 anos de crescimento. A principal razão desse
crescimento é termos achado ricos e extensos campos de petróleo.
Esses campos basicamente nos ajudarão a criar uma trajetória de
10 anos de crescimento, o que é um caso bastante singular.
Eu acho que por volta de 2020, o Brasil vai ser a quinta maior
economia mundial. E nós somos apenas uma das companhias
ajudando o Brasil a crescer. E naturalmente, estas descobertas são
tão grandes que isto fará uma grande diferença. Descobertas deste
tipo são uma grande mudança em qualquer país. Estamos falando
de 100 bilhões de barris de petróleo recuperável. Este é o potencial
das diferentes bacias petrolíferas brasileiras.

CHARLIE ROSE: No que diz respeito à quantidade, a maior parte é


proveniente das maiores ou das menores profundidades?

EIKE BATISTA: Um dos diferenciais da nossa companhia é que


85% provem da plataforma de petróleo, que não necessita de
tecnologia. Tecnologia de plataforma, como eu costumo denominar,
significa um custo de extração de $ 8. Então, trata-se de uma
produção extremamente lucrativa.

CHARLIE ROSE: Vamos recapitular agora. Seu pai é um notável


cidadão brasileiro. Ele foi, se não me engano, Ministro de Minas no
Brasil. Você foi educado na Alemanha...
EIKE BATISTA: Sim. Basicamente, até os 12 anos, eu estudei no
Brasil. Depois, até os 22 anos, eu morei na Europa, acompanhando
meu pai, que naquela época estava tornando a CVRD uma
companhia internacional, estabelecendo filiais no exterior para a
companhia.

CHARLIE ROSE: Você fez universidade na Europa?

EIKE BATISTA: Sim.

CHARLIE ROSE: Estudando metalurgia...

EIKE BATISTA: Sim.

CHARLIE ROSE: Que influência seu pai teve e continua tendo


sobre você?

EIKE BATISTA: O que meu pai me ensinou, o que eu aprendi com


ele, foi a pensar grande. Foi feito um filme sobre ele no Brasil
chamado “O engenheiro do Brasil”, e trata disso. Ele construiu parte
da infraestrutura, as estradas de ferro, os grandes portos de
exportação de minério de ferro para a Ásia, naquela época era para
o Japão. E assim, eu aprendi a pensar. Mas eu fui educado por
minha mãe, porque meu pai era funcionário do governo, e ele
estava sempre ocupado e não tinha muito tempo para nós. Eu sou o
segundo de sete filhos. E então minha mãe me ensinou disciplina –
ela era alemã de Hamburgo – e me ensinou ser disciplinado e
atencioso, e cuidar dos outros, o que é basicamente o que eu
recebi, o que me moldou de vários modos.

CHARLIE ROSE: Com 23 anos você voltou ao Brasil, e abriu uma


mina de ouro na Amazônia.

EIKE BATISTA: Exatamente. Na verdade, quando eu comecei meus


estudos universitários, meu pai voltou ao Brasil, e fiquei na Europa
com meu irmão mais velho. No princípio, eu tinha que lidar com os
custos mensais, tive que vender apólices de seguro de porta em
porta. Mas isso foi uma ótima experiência, porque eu tive que lidar
com estresse. Eu diria que para uma pessoa com educação de
classe média, provinda de uma família de classe média, é
importante sofrer um pouco. E esse estresse, sabe, ter que fechar a
conta no fim do mês foi uma grande experiência. Se meu pai tivesse
me sustentado, como fez até os meus 18 anos, eu não acho que
seria...

CHARLIE ROSE: Tão forte como você se tornou?

EIKE BATISTA: Isso mesmo. Foi uma semente diferente que foi
plantada em mim. Eu vejo isso em muitos amigos meus no Brasil,
que educam seus filhos, dando-lhes tudo e fazendo suas vidas
muito fáceis. Na minha educação o estresse fui muito importante.

CHARLIE ROSE: Você tem dois filhos?

EIKE BATISTA: Dois filhos, sim.

CHARLIE ROSE: Como você pode se assegurar que eles têm a


mesma energia que você?

EIKE BATISTA: Eles também passam por estresse. É vital para


eles. Há um ano, mandei meu filho mais velho trabalhar em uma
oficina mecânica. E ele voltou para casa dizendo “Papai, é muito
quente debaixo de um carro”. “Exatamente, você tem que passar
por isso. De outro modo você nunca terá a posição de seu pai”. Eu
digo a eles para se concentrarem.

CHARLIE ROSE: Você já tinha um instinto empresarial cedo na


vida... Você queria ser dono daquelas minas que você comprou.

EIKE BATISTA: Sim.

CHARLIE ROSE: E qual foi a razão?

EIKE BATISTA: Quando voltei ao Brasil, eu soube da corrida ao


ouro na Bacia Amazônica, muitas minas em que o ouro era extraído
com picareta e pá como no Velho Oeste nos Estados Unidos,
Califórnia e Alaska. Para começar, eu abri uma companhia para
comprar o ouro e vendê-lo. Neste processo, que levou um ano e
meio, eu comprei e vendi $16 milhões em ouro com uma margem
de 10% líquidos. Com 23 anos, eu tinha $6 milhões na minha mão.
Então, a margem de lucro começou a baixar com a entrada de mais
competidores, outros comerciantes se estabeleceram na zona. Eu
pensei “tenho que me reinventar”. Com meu background técnico,
decidi: porque não comprar uma das operações de picareta e pá e
mecanizá-la? E foi por isso que, em 1983, eu tinha a primeira mina
aluvial mecanizada operando na selva amazônica. Eu gosto de
dizer que tive sorte. Eu obviamente subestimei o clima, as
condições técnicas, as doenças, a logística. Mas, no final das
contas, a mina era tão rica, e eu ainda gosto de lembrar que era à
prova de idiotas, porque eu sobrevivi a todos os meus erros. No
começo a operação rendia um milhão de dólares por mês. Então,
meus $6 milhões...fiquei com $300.000. Eu me lembro de ter
pensado que deveria ter ficado na praia.

CHARLIE ROSE: Sim. Mas a moral desta história é: se você se


arriscar, esteja certo que você está a par de todas as dificuldades,
mas também tenha certeza que a possível recompensa ao final seja
suficiente para justificar o risco.

EIKE BATISTA: Todos os riscos.

CHARLIE ROSE: Todos os riscos e todos os problemas.

EIKE BATISTA: Esta experiência me ensinou a só trabalhar com


recursos de primeira classe, recursos ricos que permitam erros e
atrasos. Isto é principalmente a cultura do grupo.

CHARLIE ROSE: Não quero pular ao assunto do petróleo, mas


este não é o mesmo princípio... Quando se apresentava uma
oportunidade nos leilões de lotes de exploração no offshore
brasileiro, você entrou com grande risco, não é o mesmo princípio?

EIKE BATISTA: O mesmo princípio. Mas, sabe, com o tempo você


aprende que conhecimento é importante. Nós temos a sorte de ter
contratado um grande time de executivos da Petrobras que são os
homens que tinham grande conhecimento.

CHARLIE ROSE: A estatal petrolífera brasileira.

EIKE BATISTA: Sim, a companhia que teve tanto sucesso na


descoberta de petróleo nas bacias brasileiras. O que eu fiz, foi um
caso único. Foi juntar $1.3 bilhões para tomar parte no leilão e no
risco, porque cada poço custava $40 milhões, e este conceito de
risco provem da minha primeira aventura em ouro.
CHARLIE ROSE: Certo, mas aconteceram vários tropeços no
percurso que são interessantes. Você foi para, deixe-me adivinhar,
Toronto – qual é o nome da ...

EIKE BATISTA: EBX.

CHARLIE ROSE: Altos e baixos.

EIKE BATISTA: O ciclo do ouro. Quando o ouro estava alto, eu


estava na Suíça, quando estava baixo, eu estava em Bangladesh.
Eu tive três ciclos assim.

CHARLIE ROSE: Então você ganhou muito dinheiro e perdeu


muito dinheiro.

EIKE BATISTA: Sim.

CHARLIE ROSE: No conjunto, você consideraria isto um sucesso?

EIKE BATISTA: Sim, porque eu construí oito minas de ouro entre


os anos 1980 e 2000 ao redor do mundo, cinco no Brasil, uma
grade mina no Chile, duas no Canadá. As minas sul-americanas
ainda estão em operação. Então, são grandes sucessos. A mina
chilena, por exemplo, só para lhe dar uma ideia, Charlie, está a
4000 metros de altitude no deserto. Tive que trazer água de uma
distância de 150 quilômetros, força de 200 quilômetros. Mas
sempre com a perspectiva de que havia um diamante não lapidado,
que havia uma montanha com $5 bilhões em ouro e prata, e eu teria
uma margem de 80% realizando a mineração. Então havia uma
riqueza extraordinária que obviamente tinha que ser extraída com a
tecnologia adequada. Eu tive que trazer água, força. Mas havia uma
riqueza suficiente para pagar as contas.

CHARLIE ROSE: Você também investiu em minas de ouro na


Rússia, não foi?

EIKE BATISTA: Veja, o Brasil não é rico em minas de ouro. Então,


entre 1980 e 2000, trabalhando para a EBX, você sabe, os
banqueiros, viviam me dizendo que você deve permanecer um
player simples, porque é mais fácil para os analistas avaliarem sua
companhia. Eles não gostam de misturar com cobre e outros
metais. Então, no máximo, eu poderia acrescentar prata, então ficou
ouro e prata. Eu estudei toda a América do Sul, e disse, eu tenho
que ir onde está o metal. E na península de Kamchatka, o território
mais a Leste da Rússia, existem ricas minas porque esta região faz
parte do anel de fogo. Então eu fui à Rússia, a Kamchatka, e
comprei duas minas lá. E depois de $30 milhões eu percebi que os
russos e os ursos não me queriam lá. Eles teriam tomado tudo de
mim.

CHARLIE ROSE: Eles não aceitariam que você fizesse muito


dinheiro.

EIKE BATISTA: Não deixariam. Acabariam tomando tudo de mim.


Esta foi minha experiência internacional. Com a Grécia também foi
um pouco assim. Eu investi $330 milhões e, no final das contas, o
governo grego não me deu uma licença de exploração. No conjunto,
em 2000, eu concluí que minha taxa de sucesso na América do Sul
foi 100%, na área de recursos naturais e logística, porque a
mineração tem muito que a ver com logística.

CHARLIE ROSE: O que você quer dizer com “logística”?

EIKE BATISTA: A logística significa, que se você construir uma


mina no meio do nada, você tem que assegurar o abastecimento
de água, você tem que construir uma cidade, você tem que gerar
eletricidade. Você pensa como numa operação militar. Por isso, nós
desenvolvemos uma mentalidade de 360 graus. É o estilo EBX de
fazer negócios.

CHARLIE ROSE: Você pode me dizer qual é a filosofia que


consegue atingir o sucesso e a fortuna que você atingiu?

EIKE BATISTA. Eu penso com o enfoque de 360 graus nos


negócios. A maior parte dos empreendedores ou CEOs são bons
em algumas áreas, mas fracassam na engenharia de direito, ou na
engenharia fiscal, ou na engenharia ambiental.

CHARLIE ROSE: Todos os raios em 360 graus.

EIKE BATISTA: Sim, quero lhe mostrar um gráfico interessante.

CHARLIE ROSE: O enfoque de 360 graus. Performance


comprovada, capacidade da EBX, companhias publicas e privadas.

EIKE BATISTA: Sim.


CHARLIE ROSE: Mas também há esta idéia, que você mencionou
a respeito do petróleo, que em cada etapa,você recrutou as
melhores pessoas, e você está disposto a pagá-los e dar-lhes
participação.

EIKE BATISTA: Nas minhas ações, de ações do proprietário, o que


é muito diferente também nas bolsas. Ações para os meus caras
mais competentes, das minhas próprias ações. Eu não diluo meus
investidores, porque eu adoro gestão no corredor. Eu os vejo todos
os dias. Se eles cometem um erro, é minha culpa, porque ...

CHARLIE ROSE: Porque você os escolheu ou ...

EIKE BATISTA: Porque eu os escolhi. Eu não ficarei reduzido a um


potencial – geralmente, quando você emite ações, ações da
companhia, isso dilui todos os acionistas. No meu caso, as ações
distribuídas aos meus colaboradores mais competentes provem de
minhas próprias ações, minha participação na companhia.

CHARLIE ROSE: Uma das pessoas que você trouxe para operar
sua companhia de exploração de petróleo, era anteriormente, chefe
da exploração.

EIKE BATISTA: Sim.

CHARLIE ROSE: Então este homem sabia tudo a respeito de ...

EIKE BATISTA: Sim. Trata-se de uma descoberta de petróleo na


bacia brasileira, é uma ciência multidisciplinar. Então você precisa
de muita gente – engenheiros de reservatórios, estatísticos,
engenheiros e geólogos naturalmente. E o que eu aprendi em 30
anos é que eu sei ler as pessoas melhor que livros. Então, se um
técnico me conta o que ele tem a mostrar, porque eu levantei 1
bilhão e trezentos dólares para investir, porque o time me mostrou o
potencial... Eles me mostraram quais eram as taxas de sucesso,
que eventualmente eu poderia conseguir, uma taxa de sucesso de
60%. Se eu gastar $1 bilhão de dólares, pelo menos $600 milhões
do bilhão, potencialmente encontrariam riqueza. Atualmente, temos
obtido uma taxa de sucesso de 100%.

CHARLIE ROSE: 100%?


EIKE BATISTA: Sim. Todo poço que nós perfuramos desde agosto
do ano passado foi um sucesso. Já encontramos maciças reservas
de petróleo, uma taxa de sucesso de 100%.

CHARLIE ROSE: E qual você acha será seu capital líquido nos
próximos dez anos?

EIKE BATISTA: $100 bilhões.

CHARLIE ROSE: $100 bilhões? Isto lhe faz o homem mais rico do
mundo. A pessoa mais rica, a menos que eles façam algo para
dobrar o que tem.

EIKE BATISTA: O que importa, Charlie, é que o Brasil é a avenida


para este fim. O Brasil atualmente tem a lei certa. Sabe, a jurisdição
é ótima. Se você tem um ativo, este ativo está protegido.Você tem
uma reserva de talentos. Antes haviam companhias controladas
pelo governo: Petrobras, Telebrás, Eletrobrás, que desenvolveram
uma incrível reserva de talentos que nós soubemos arrebanhar e
colocar nas nossas estruturas.

CHARLIE ROSE: Você tem uma idéia interessante sobre o governo


e o papel do governo em sua relação com o setor privado.

EIKE BATISTA: Sim. Um projeto desta envergadura requer


concessões do governo. As concessões são leiloadas, você
participa e você as ganha.

CHARLIE ROSE: O governo também tem sua parte.

EIKE BATISTA: Ah, sim. O governo na maior parte do mundo é o


maior acionista neste processo de geração de riqueza. Mas existe
uma parte ambiental que você tem que tratar com os órgãos de
governo que tratam do meio ambiente. Novamente, com o enfoque
de 360 graus, nós cobrimos as questões sociais e ambientais desde
o começo, não quando já estamos tendo lucro. Você tem que
mostrar que é um cidadão corporativo moderno e responsável,
especialmente quando se trata de projetos de infraestrutura que
partem do zero, porque esta é a realidade: se trata de criar coisas
onde não havia nada antes. Quando construímos um porto, nós
estamos construindo um porto no Rio, no meio do nada, onde não
havia nada antes. Então você projeta um porto de larga escala para
minério de ferro e outros, e soja para a China, que é o maior canal
de saída do Brasil...

CHARLIE ROSE: É o maior mercado para o ferro brasileiro.

EIKE BATISTA: E não só ferro. A China ultrapassou os Estados


Unidos como nosso maior parceiro comercial. Sabia disso?

CHARLIE ROSE: Sabia. Então qual é o impacto disso, a China se


tornando um enorme mercado com uma enorme demanda por
energia, petróleo, ferro para todas as construções que estão
fazendo?

EIKE BATISTA: É a estrada entre o Brasil e a China para a qual o


mundo deve começar a prestar atenção, porque é fabulosa. A maior
parte do que os chineses precisam, nós temos em abundância, e há
um mercado de entrada do outro lado. A China tem uma demanda
reprimida infindável para estes produtos, petróleo, alimentos e
minério de ferro. E estes são os maiores produtos brasileiros...

CHARLIE ROSE: E eles acabaram de fazer um empréstimo de $10


bilhões com a Petrobras, a companhia brasileira de petróleo.

EIKE BATISTA: Os chineses estavam trazendo uma usina


siderúrgica para fazer um investimento de $5 bilhões no nosso
superporto no Brasil. Então os chineses também estão vindo ao
Brasil porque descobriram que é mais barato produzir aço no Brasil
que na China.

CHARLIE ROSE: Temos algo a temer, ou devemos dar as boas


vindas?

EIKE BATISTA: Eu acho que o mundo deve dar as boas vindas,


porque é um mercado que somente o Brasil pode arriscar, você
sabe, suprir. Somente o Brasil tem.

CHARLIE ROSE: A China é atualmente o maior mercado


automobilístico.

EIKE BATISTA: Sim. Mas, sabe, carros... Eu acho que estamos


entrando numa fase de protecionismo no mundo, não acha? Então,
por exemplo, no negócio de petróleo, o Brasil tem esta nova
regulação que você tem que ter 75% de conteúdo nacional para
poder explorar o petróleo.

CHARLIE ROSE: Fale conosco sobre o Brasil. O Brasil foi o último,


um dos últimos países, a sentir a recessão econômica e um dos
primeiros a sair dela.
Que está acontecendo na sua terra? É apenas por causa da
demanda por insumos ou há algo mais?

EIKE BATISTA: Não. Graças a Deus, Fernando Henrique, nosso


presidente anterior, consertou o Brasil durante seus oito anos de
mandato. Nós tivemos nosso TARP (ajuda aos bancos, no Brasil
com a sigla PROER) em 1996. Os bancos tem supervisão adulta.
Nossos bancos literalmente tiveram lucros, são totalmente
desalavancados. Atualmente, estamos ligados aos mercados
mundiais, temos acesso ao capital.

CHARLIE ROSE: E com um histórico de inflação também.

EIKE BATISTA: Isto foi corrigido durante o mandato de Fernando


Henrique com seu programa de inflação zero. E quando Lula
chegou, em 2002, o que ele fez principalmente foi respeitar a lei,
respeitar os contratos.

CHARLIE ROSE: Devido a seu passado, quando Lula entrou, muita


gente esperava que ele fosse um presidente diferente do que ele
foi.

EIKE BATISTA: Sim. Ele diz isso pessoalmente, ele ri a respeito, a


melhor coisa que eu fiz foi que eu mudei. Ele mudou.

CHARLIE ROSE: E como foi que ele mudou, e que foi responsável
por sua revolução?

EIKE BATISTA: A escolha de José Alencar como seu vice-


presidente. Ele é um homem de negócios, um homem de negócios
com muito sucesso na indústria têxtil. Quando Lula o trouxe como
seu vice-presidente, com esta jogada, ele trouxe todo o resto da
sociedade para si e venceu a eleição. E ele compreendeu que é
necessária uma mistura: ter políticas sociais, naturalmente, mas
deixar os homens de negócio gerenciarem, deixar os
empreendedores conduzirem nosso país. Ele compreendeu
finalmente, porque nós precisávamos exorcizar a esquerda. Veja a
experiência da Espanha com Felipe Gonzales, o partido de
esquerda. Outros vizinhos, por exemplo, a Venezuela foi para
Chavez, populismo, a Argentina foi para o populismo. “Graças a
Deus eu não fui eleito antes”, diz o próprio Lula. Ele faz piada
quando fala sobre isso.
Então, em 2002, com sua mudança em aceitar a livre iniciativa
como parceira na construção de uma nação, isto foi uma grande
mudança para o país.

CHARLIE ROSE: Que você acha do futuro dos Estados Unidos


nesta nova ordem econômica mundial?

EIKE BATISTA: Olhando de fora, eu vejo muito impasse aqui,


impasse político. Eu acho que a América somente funciona bem
quando há grandes projetos nacionais, como a construção da rede
de estradas. Você tem que começar a pensar fora da caixa,
criativamente. Eu acredito na democracia, mas vou te contar algo
que poucas pessoas se dão conta. No Brasil, nosso presidente
decreta leis que lhe permitem implementar medidas de emergência
por seis meses. Foi exatamente o que ele fez quando o mundo
entrou em dificuldades em 2008, sabe, deixando que os bancos
fornecessem liquidez ao sistema. E por isso o Brasil saiu da crise
mais rapidamente que todos os outros. E estas medidas provisórias,
MPs como as chamamos, se aplicam pro seis meses. E
obviamente, se funcionam, o Congresso as aprova
automaticamente. Então nós temos um sistema muito poderoso no
Brasil, embora sendo uma democracia. É como se o Obama tivesse
o direito de forçar. Eu acho que só ele pode ir à guerra, certo?

CHARLIE ROSE: Eu acho que ele tem que pedir permissão ao


Congresso para ir à guerra. Mas isto tem sido contestado, e as
pessoas, quando definem o que o presidente está fazendo, fica
complicado.

EIKE BATISTA: Então o Paulson (secretario do Tesouro no


governo Bush), se você escuta o que ele diz, é que ele não tinha
autoridade para salvar o (Banco) Lehman.

CHARLIE ROSE: De fato é o que ele diz. No Brasil o secretário


teria esta autoridade.

EIKE BATISTA: Existe outro sistema no Brasil, porque nós ainda


temos bancos públicos. O Banco de Desenvolvimento Econômico
do Brasil é o maior banco de desenvolvimento do mundo. Tem $100
bilhões investidos em projetos.
CHARLIE ROSE: Qual é o nível de investimento estrangeiro no
Brasil atualmente?

EIKE BATISTA: Cada ano?

CHARLIE ROSE: Sim.

EIKE BATISTA: Bem, em 2009 eu acho que foi $30 bilhões. Não é
muito quando comparado com a China, mas estes números serão
este ano pelo menos $50. Está aumentando.

CHARLIE ROSE: Se a China não deixar sua moeda apreciar, quais


são as implicações disso?

EIKE BATISTA: Bem, a China, eu estive na China muitas vezes


nos últimos três anos... temos que tomar cuidado. O que quer que
seja que os chineses produzam, tome cuidado, porque eles vão
despejar os produtos sobre você com qualidade e preços baixos.
Então no caso do Brasil, é um empreendimento conjunto porque
eles precisam tantos produtos que eles não têm. Nós temos coisas
que eles não têm.

CHARLIE ROSE: Mas principalmente insumos.

EIKE BATISTA: Insumos, sim. É muito difícil para o Brasil vender.


Mesmo aviões, não sei se você sabe...

CHARLIE ROSE: É uma história de sucesso agora.

EIKE BATISTA: Sim, mas veja, os chineses já tem uma cópia


idêntica.

CHARLIE ROSE: Então eles não estão vendendo seus aviões para
os chineses.

EIKE BATISTA: Não. Então os chineses terão seus próprios


aviões. A minha visão da China é que, por volta de 800 depois de
Cristo, eles já tinham metade do PIB do mundo. Charlie, acho que
nos próximos 20, 30 anos eles estarão de volta aos 50% do PIB do
mundo.
CHARLIE ROSE: Eles serão, até o ano de 2020, eles serão a maior
economia do mundo, não per capita, mas no total, em 15, 20 anos?

EIKE BATISTA: Sim. Eles trabalham muito bem. Eles estão


formando doutores, a ciência material. Eles estão colocando
patentes em todas as ciências diferentes. É fascinante. Visitei os
fabricantes de automóveis e as usinas siderúrgicas e fábricas de
vagões ferroviários. Eles têm a CNR, a China National Rail. Em oito
dias eles produzem tudo que o Brasil precisa em um ano todo. É
tudo tão gigantesco.

CHARLIE ROSE: O que é interessante sobre o Brasil, também, e


Lula, ele fez uma viagem à América Central. O Brasil parece, com o
seu sucesso econômico, realmente querer dizer que estamos entre
os primeiros iguais na América Latina.

EIKE BATISTA: Sim, sim.

CHARLIE ROSE: Sim? Somos os participantes mais importantes


neste continente.

EIKE BATISTA: Acho que as pessoas no Brasil são bem quistas.


Você sabe, nós somos bons jogadores de futebol. Temos imensa
boa vontade.

CHARLIE ROSE: Vocês têm um enorme orgulho disso, sentem um


grande orgulho do futebol e da chegada da Copa do Mundo.

EIKE BATISTA: Sim.

CHARLIE ROSE: E muito orgulho com as Olimpíadas chegando.

EIKE BATISTA: Sim, as Olimpíadas são uma grande mudança.

CHARLIE ROSE: E no que você quer transformar o Rio?

EIKE BATISTA: Bem, a auto-estima era algo que havia se perdido


no Brasil e no Rio, especificamente no Rio de Janeiro. O movimento
bancário para São Paulo, muitas empresas saíram do Rio e, como
vocês provavelmente sabem, o Rio costumava ser a capital do
Brasil nos anos 60 que perdemos para Brasília.

CHARLIE ROSE: Certo.


EIKE BATISTA: Sem qualquer compensação. A Alemanha mudou
sua capital de Bonn para Berlim, e Bonn ganhou muitas dezenas de
bilhões de dólares ou euros como compensação. O Rio nunca
ganhou nada. Então eu acho que os Jogos Olímpicos são um
pouquinho de...ei, chegou a hora de pagar!

CHARLIE ROSE: E você está restaurando o Hotel Glória?

EIKE BATISTA: Sim, restaurando o Glória, um agradável e antigo


hotel tradicional construído em 1922. Estamos restaurando-o como
ele era em 1922.

CHARLIE ROSE: Você está também reconstruindo o porto...

EIKE BATISTA: Estamos construindo um novíssimo superporto.


Estamos também limpando a lagoa no Rio de Janeiro, uma
agradável lagoa no centro da cidade.

CHARLIE ROSE: Deixe-me voltar para a América. Você mencionou


alguns dos impasses políticos que temos. O que mais? Quando
você olha para o nosso futuro, o que é que lhe preocupa e o que é
que o incentiva a respeito de nosso futuro?

EIKE BATISTA: Se eu comparar a América com o Brasil, a América


e Europa, vocês agora estão fortemente endividados, como
estávamos antes. Se você olhar para a China e o Brasil, temos
demanda reprimida. Não estamos nem um pouco endividados.
Apenas 3,5% do nosso PIB encontra-se em hipotecas.

CHARLIE ROSE: Então, quais são as consequências disso para os


Estados Unidos? Que temos? Certa austeridade?

EIKE BATISTA: Sim, vocês têm que ser um pouco mais espartanos
por enquanto.

CHARLIE ROSE: E quanto à Europa?

EIKE BATISTA: Eu acho que há uma enorme transferência de


riqueza. Você sabe, entre a América e a Europa para os mercados
emergentes, quer através de valorização da moeda, porque o Brasil
é auto-suficiente em tudo. A moeda do Brasil é o valor de loja, o
petróleo é o ouro para alguns. Mas o óleo é usado e as
moedas...você sabe, como você avalia o euro ou as agências de
rating. A situação da Grécia é conhecida há quantos anos?

CHARLIE ROSE: Um problema enorme de dívida.

EIKE BATISTA: As agências de rating, Charlie, elas costumavam


colocar o Brasil no mesmo nível que a Nigéria.

CHARLIE ROSE: Tem uma coisa interessante que você disse sobre
Dubai. Você disse que fez investimentos em um momento de
"boom", em que eles não teriam sido bem sucedidos em tempos
normais, e quando os tempos difíceis vierem, é só se dirigir para a
porta.

EIKE BATISTA: Sim. Tem tudo a ver, acho que o mundo nos
últimos 20 anos tem se concentrado demais no sentido da
engenharia bancária e financeira, entende? Os melhores alunos
que saem da universidade foram para bancos ou firmas de
advocacia, certo?

CHARLIE ROSE: Certo.

EIKE BATISTA: Onde estão os engenheiros? Na América, você


deveria estar dirigindo, hoje, do meu ponto de vista, pelo que
entendo do que representa a tecnologia, você deveria estar
dirigindo carros elétricos, e você não está.

CHARLIE ROSE: Bem, está certo, mas você está?

EIKE BATISTA: Não, não.

CHARLIE ROSE: Mas você está dizendo que por causa do nosso
consumo aqui neste país e porque somos viciados em petróleo
neste país. Mas você está no negócio do petróleo, o que me leva a
outro assunto.

EIKE BATISTA: A China é um grande consumidor, Charlie.

CHARLIE ROSE: Sim, mas eles também estão investindo


exaustivamente na tentativa de encontrar energia solar.

EIKE BATISTA: Completamente.


CHARLIE ROSE: Moinhos de vento.

EIKE BATISTA: Sim.

CHARLIE ROSE: Eles estão à procura de fontes alternativas, à


medida que continuam a sua expansão econômica, que agora é
dependente do carvão.

EIKE BATISTA: Mas eu faço uma caminhada quantitativa de um


bilhão de pessoas ou mais entrando na classe consumidora, sem
que os recursos estejam lá. Energia solar, energia eólica, são
apenas parte dessa equação.

CHARLIE ROSE: Então você está dizendo que estar no negócio do


petróleo será um bom negócio por muito tempo.

EIKE BATISTA: Sim, pelo menos pelos próximos dez anos.

CHARLIE ROSE: Isso é bom o suficiente para você, porque você


opera em ciclos de dez anos.

EIKE BATISTA: Sim.

CHARLIE ROSE: É possível que daqui a dez anos você vá dizer


que está fora do negócio de petróleo?

EIKE BATISTA: Nossas estruturas tornaram-se tão grandes que


agora eu sou parte do Brasil, sabia? Politicamente, tenho que
operar de uma forma diferente. Eu sou parte do sistema, tanto que
sentimentos nacionalistas surgiram nos últimos dois anos, os
recursos tornaram-se peças estratégicas da filosofia política. Não é
tão simples.

CHARLIE ROSE: Diga-me: até que ponto você pensa ser


competitivo?

EIKE BATISTA: Muito. Sou muito competitivo.

CHARLIE ROSE: Para vencer?

EIKE BATISTA: Eu gosto de um desafio. Eu tenho que saber que


eu posso fazer, entende? Eu não faço simplesmente qualquer
coisa.
CHARLIE ROSE: Porque parte de seu orgulho pelo Rio é que você
quer dar uma grande surra em São Paulo, não é mesmo?

EIKE BATISTA: É.

CHARLIE ROSE: Qual é a história por trás disso?

EIKE BATISTA: As pessoas de São Paulo são chamadas


“paulistas” e elas são muito mais diligentes quando constroem um
restaurante. Elas gostam de qualidade. Então, investindo
pesadamente no Rio de Janeiro... Eu tenho um restaurante. Eu
quero fazê-lo com qualidade.

CHARLIE ROSE: É um restaurante chinês?

EIKE BATISTA: É um restaurante chinês, de fusão chinesa, como


Mr. Chow. É um chefe de Mr. Chow em Nova York, meu sócio, Mr.
Lam. Então, construí coisas de qualidade no Rio que vão durar 50,
100 anos. Qualidade, porque a mentalidade do Rio era tropical, de
memória curta, e vamos ver se faço dinheiro por anos.Você não
constrói um bom restaurante, se acha que vai ter um retorno em
três anos.

CHARLIE ROSE: Nem sempre você acertou, cometeu erros. O


negócio de jipes, você não teve muito sucesso com o negócio de
jipes...

EIKE BATISTA: Não, escute, eu acho que todo homem bobo gosta
de construir seu próprio carro. Então tentei construir o meu próprio
carro e fracassei. Mas foi uma boa experiência, muito boa
experiência.

CHARLIE ROSE: Você também tentou entrar no negócio da


cerveja. Não funcionou muito bem não, né?

EIKE BATISTA: Não, não. O que mais você teria?

CHARLIE ROSE: Bem, o negócio de luxo, um perfume. Você não


se saiu tão bem nisso.

EIKE BATISTA: Não.


CHARLIE ROSE: Assim o que isto quer dizer? Como você se sai
imensamente bem em petróleo, ferro, mas não tão bem em carros,
perfumes, jipes?

EIKE BATISTA: Volte para nosso modo de pensar de 360 graus que
você chega à perfeição. Isto é o que a curva de aprendizado, é por
isso que hoje é assim que operamos. E eu acho que o fracasso
para fechar um negócio da maneira certa é algo que você tem que
fazer, entende?

CHARLIE ROSE: Mas não é só isso, sua filosofia é não se


apaixonar pelo seu negócio.

EIKE BATISTA: Exatamente. Reposicionamento de velocidade é


algo muito forte no grupo. Nós não nos importamos. Às vezes você
vê empresas que têm a prova do limite de $ 100 milhões, $ 20
milhões e, em seguida, elas vêem que estão indo na direção errada
e depois gastam os outros $ 80 milhões. Nós paramos. Isto é parar
a perda.

CHARLIE ROSE: Para onde está indo a política da América Latina?


Vocês acabam de eleger um bilionário conservador, Sebastián
Piñera. O que você acha dele?

EIKE BATISTA: Conheço muito bem o seu irmão. Ele é um homem


fenomenal. Ele possui, provavelmente, a companhia aérea mais
eficiente na América do Sul. Então, ele acredita em conceitos de
eficiência.

CHARLIE ROSE: Mas por outro lado, Evo Morales, na Bolívia, o


que você acha dele? Algumas coisas no limite por causa dos
assuntos do meio ambiente.

EIKE BATISTA: Perdi $ 60 milhões na siderúrgica. Mas, veja, se


você compreender a história boliviana, você chega à conclusão de
que eles eram explorados, eram roubados. Até me atreveria a dizer
que foram roubados por 400 ou 500 anos. Assim, quando Morales
chegou ao poder, todo mundo que estava ligado ao passado,
quando você faz a revolução, você elimina, você mata todo mundo.

CHARLIE ROSE: Mata ou manda embora.


EIKE BATISTA: Fui à Bolívia seis meses antes dele subir ao poder.
Então, com isso eu fui carimbado.

CHARLIE ROSE: Você se tornou parte do tempo passado.

EIKE BATISTA: É. Mas eu o entendo. Eu acho que ele, pelo bem


da Bolívia, teve de fazer essa revolução.

CHARLIE ROSE: Deixe-me repassar a lista. O que você acha da


Colômbia?

EIKE BATISTA: Excelente. Excelente. Gostaria de colocar três


países na América do Sul no mesmo nível: Chile, Colômbia e Brasil.

CHARLIE ROSE: Porque eles são o quê?

EIKE BATISTA: No Brasil estamos com 16 anos de boas regras


consolidadas, as leis, o sistema está funcionando, e com a
disciplina, há responsabilidade fiscal, excedentes, você sabe.
Portanto, é uma democracia boa, madura.

CHARLIE ROSE: E a Argentina?

EIKE BATISTA: Não, governo populista. Sinto muito por meus


amigos no sul. Uma piada sobre a Argentina: a Argentina é um
Rolls Royce conduzido por um motorista egípcio. Sinto muito,
Argentina, porque é um país tão grande, tão rico.

CHARLIE ROSE: É sim. Toda a América Latina. A América Latina


tem sido ignorada por muito tempo, realmente tem sido. E as
descobertas de petróleo o tornarão maior em quê?

EIKE BATISTA: Seis milhões de barris ...

CHARLIE ROSE: O que é que isso significa em termos da Arábia


Saudita, Iraque, Irã, Líbia, Nigéria?

EIKE BATISTA: Três, quatro, a quinta posição.

CHARLIE ROSE: E não há dúvida de que os depósitos estão lá?

EIKE BATISTA: Não. Eles estão lá.


CHARLIE ROSE: E não há nenhuma dúvida de que vocês podem
chegar até eles? Vocês podem acessá-los sem que isso lhes custe
um valor proibitivo? Companhias de petróleo gigantes, como a
Exxon e o resto delas estão vindo para cá?

EIKE BATISTA: Não, porque depois da nona rodada, o Brasil ...

CHARLIE ROSE: Do leilão?

EIKE BATISTA: Do leilão. Eles mudaram as regras. Há novas


regras agora,

CHARLIE ROSE: Sim, ouvi falar sobre isso. O que aconteceu?

EIKE BATISTA: O bom do Brasil é que seja o que for que você
tenha, é salvaguardado. Eles não mudam o passado. Você está
autorizado a alterar futuro.

CHARLIE ROSE: Portanto, se você entrar agora, não serão as


mesmas regras que tem.

EIKE BATISTA: Acho que não.

CHARLIE ROSE: Você entrou no prazo.

EIKE BATISTA: Sim. Na verdade, quando levantamos um bilhão


de dólares para o capital privado, dissemos aos nossos
investidores, dissemos que esta era uma hora ímpar.

CHARLIE ROSE: Em que momento você viu isso? Você não


estava no negócio do petróleo. Você estava no negócio de
recursos naturais, mas você não estava em petróleo. O que é que
eu não entendo?

EIKE BATISTA: Quando eu construí a minha primeira mina no meio


da selva brasileira e, em seguida, no Chile, a 4.000 de altitude, eu
olho para a coisa da perspectiva de uma águia. E eu tenho que
olhar a 360 graus para ver se tudo está certo. E, finalmente, o
valor do meu ativo ou o porto que estou construindo para a
concessão que eu estou pagando por isso potencialmente há dois
bilhões de barris ou um valor de multibilhões de dólares no ativo
que eu então vou polir com engenharia.
Então, eu dominei a engenharia para pegar as riquezas e levar para
fora, e eu tenho que entender que eu não quero as reservas de
petróleo de águas muito profundas no Brasil, é um desafio para a
Petrobras. Eles podem lidar com isso. Fui para as águas rasas.
Então, por que eu fui para as águas rasas? É fácil. Porque...

CHARLIE ROSE: Mas por que eles não foram para as águas rasas!
É a pergunta!

EIKE BATISTA: Outra vez, as máquinas de propriedade do


governo necessariamente não pensam VPLs, que é o valor
presente líquido. É grande, podemos desenvolvê-la, podemos fazer
esse tipo de coisa.

CHARLIE ROSE: Alguém disse sobre você que você pensa como
um investidor.

EIKE BATISTA: Sim, eu preciso pensar. A criação de riqueza tem


tudo a ver com recursos naturais e é a identificação de ver essas
coisas e colocar as pessoas certas juntas para que isso aconteça,
produzir a riqueza.

CHARLIE ROSE: Quanta admiração você tem por duas outras


pessoas de grande riqueza, uma, Bill Gates, outra, Warren Buffett,
por causa do que elas fizeram com a sua riqueza? Você não está
nem pensando sobre isso agora, está? Você não está pensando
em filantropia...

EIKE BATISTA: Não, eu quero ser o maior filantropo do mundo.


Sinto muito. É assim que fui educado.

CHARLIE ROSE: Por que você quer ser o maior do mundo? Pessoa
mais rica?

EIKE BATISTA: É conseqüência do bom trabalho.

CHARLIE ROSE: Porque mostra competência, talento, visão?

EIKE BATISTA: Eu posso ajudar o Brasil. Eu posso ajudar o meu


país. Eu posso ajudar meu país. Veja, nestes projetos, estamos
construindo uma cidade de 250 mil pessoas.

CHARLIE ROSE: 250 mil...


EIKE BATISTA: Sim. Nós vamos chamá-la de cidade X. Temos
todos os conceitos certos e o direito, você entende. Então, eu quero
ajudar o meu país. Eu quero ajudar o meu país, porque nos últimos
16 anos, o Brasil fez tudo de errado que um país poderia fazer de
errado, certo? Nós tivemos que pagar enormes quantias de spread,
o risco spread. Sabe de uma coisa? Eu hoje me sinto muito
orgulhoso em termos de spread. Hoje o Brasil é risco spread de
140 pontos base. A Alemanha é 180. Pode imaginar? A Grécia é,
obviamente, 700. Mas, veja, veja só onde está o Brasil hoje. Esta é
a elite. Melhor do que na Alemanha. Rating de crédito do Brasil é
melhor do que na Alemanha. Dez anos atrás não éramos tão ruins
quanto à Nigéria, e outros países com os quais éramos
comparados. Assim, as agências de rating eram muito ruins para o
Brasil. Mas que avaliação errônea, inacreditável. Hoje, você sabe,
eu costumava ir para a América para visitar os executivos de topo
em todas as empresas, e eles agora estão todos vindo para o
Brasil.

CHARLIE ROSE: Buscando participar?

EIKE BATISTA: Sim. No Brasil, se você construir, se você abrir sua


empresa no Rio, você será considerada uma empresa brasileira. E
talvez você, tendo 100% de titularidade, Charlie Rose empresas, se
você tiver um escritório no Rio de Janeiro, é considerada uma
empresa brasileira. Muito interessante, não é?

CHARLIE ROSE: O que significa que somos recebidos de braços


abertos e somos considerados um dos seus.
EIKE BATISTA: Você pode ir para o banco de desenvolvimento e
levantar o dinheiro. A Mercedes-Benz no outro dia conseguiu um
bilhão de reais em financiamento do banco de desenvolvimento
brasileiro.

CHARLIE ROSE: Criação da moeda foi uma grande coisa, também.


Houve um momento nos últimos anos em que você disse alguma
vez “para um homem que ama o seu país como eu, cujo país tem
sido tão bom para ele quanto o meu tem sido para mim, deveria
entrar para a política”?

EIKE BATISTA: Sim, houve. Mas hoje em dia, eu sirvo melhor o


meu país desenvolvendo esta macro infraestrutura de classe
mundial que estou construindo para o meu país. Então, estou
conectando o Brasil ...

CHARLIE ROSE: Portos e estradas e usinas hidroelétricas.

EIKE BATISTA: Sim. Centrais elétricas em todo o litoral, sim,


exatamente.

CHARLIE ROSE: Se eu olhar de perto, posso encontrar algum lado


escuro em você? Quero dizer, qualquer probleminha com a lei que
eu possa querer dar uma olhada mais de perto?

EIKE BATISTA: Não. Você sabe que eu tive um...

CHARLIE ROSE: Manobrar demasiadamente perto da borda?

EIKE BATISTA: Não, não. Ouça, a transparência é parte de como


você é educado. E há dois anos, a polícia federal interveio ...

CHARLIE ROSE: Eu sei, entrou. Eles entraram na sua casa. Eles


não apreenderam nada?

EIKE BATISTA: Sim, eles apreenderam o computador, eles


levaram tudo.

CHARLIE ROSE: O que eles estavam procurando?

EIKE BATISTA: Nós possuímos uma mina em um território do norte


do estado mais setentrional do Brasil, chamado Amapá, e há uma
mina de ouro de propriedade de uma empresa canadense. A
mesma mina de ouro tem minério de ferro. Eu possuía a mina de
minério de ferro, e não a mina de ouro, mas é a mesma concessão.
Então, a polícia federal, juntamente com o Ministério Público, eu
compreendo a confusão que eles fizeram. Foi um erro infeliz,
gigantesco. E eu não sei se você sabe, mas isso aconteceu numa
sexta-feira. Na segunda-feira, saí e falei para todos os meus
investidores: “escutem, isso é um erro gigantesco que me
aconteceu”. Felizmente uma semana depois, uns dias mais tarde, o
próprio presidente Lula fez uma declaração de que eles haviam
cometido um erro no meu caso, misturando isso ...

CHARLIE ROSE: Nós vamos voltar para a América Latina. Tem o


Chile que você admira...e o Peru? Você admira o Garcia?
EIKE BATISTA: Eu admiro o Garcia, mas eu ainda acho que eles
têm que exorcizar a esquerda, se essa é a maneira de colocá-la.

CHARLIE ROSE: Livrar-se dela?

EIKE BATISTA: Quero dizer, um governo mais social ou de


esquerda para entrar no poder, eles precisam levantar essa
bandeira. A esquerda não tem realmente entrado no poder ainda.

CHARLIE ROSE: México, Felipe Calderón.

EIKE BATISTA: Não acompanho. Então, eu não gostaria de ...

CHARLIE ROSE: Mas você está consciente do tipo de ...

EIKE BATISTA: Sim, mas eles têm recursos petrolíferos e do


narcotráfico colombiano; cartéis se mudaram para o México. Então
eu não sigo o país.

CHARLIE ROSE: Paraguai e Uruguai. Paraguai você tem um ex-


padre...

EIKE BATISTA: Países muito pequenos não estão realmente na


nossa tela de radar. Você sabe, simpáticos.

CHARLIE ROSE: Lula é um modelo de líder latino-americano, na


sua opinião?

EIKE BATISTA: Sim, ele é um modelo.

CHARLIE ROSE: Porque ele combina um sentido de respeito pela


comunidade empresarial, bem como um campeão dos pobres?

EIKE BATISTA: Sim, exatamente. Esta combinação é muito


especial. Você deveria vê-lo.

CHARLIE ROSE: Você decidiu apoiá-lo logo da primeira vez em


que ele se candidatou?

EIKE BATISTA: Sim.

CHARLIE ROSE: Você estava lá com ele da primeira vez?


EIKE BATISTA: Porque eu queria exorcizar a esquerda. É
por isso que eu uso o termo. Eu não sabia o que iria acontecer, eu
realmente não sabia. Mas nós sabíamos que tínhamos que passar
por um governo de esquerda.

CHARLIE ROSE: Então o que acontece com ele agora que ele está
saindo do governo?

EIKE BATISTA: Oh, Jesus, ele pode fazer o que quiser ...

CHARLIE ROSE: Ele é um herói.

EIKE BATISTA: Com uma taxa de aceitação de 82% em seu


segundo mandato, Charlie, mama mia!

CHARLIE ROSE: Mama Mia é um ponto adequado para eu dizer


Obrigado por ter vindo.

EIKE BATISTA: Obrigado a você, Charlie.

You might also like