You are on page 1of 4

Assim como todos os movimentos sociais, o movimento homossexual ou

homoerótico tem crescido e ganho visibilidade nas últimas décadas; apesar de


ser tema de discussão junto à questão dos direitos humanos e das políticas
públicas há muito tempo, especialmente na Europa e América do Norte. O
avanço de tais discussões tem culminado com a aprovação de leis de proteção
aos direitos homossexuais, incluindo os de parceria ou união civil.

Na América do Sul, formada principalmente por países considerados de


terceiro mundo e por alguns, poucos, considerados “em desenvolvimento”; os
movimentos homossexuais têm conseguido, também, a garantia de alguns
direitos básicos para o exercício pleno da cidadania; como, por exemplo, a lei
de união civil aprovada em Buenos Aires, capital da conservadora Argentina.

Os gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros – GLBT estão na mídia, nas ruas


e nas praças, invadindo e questionando a tradição, os bons costumes e a
retrógrada moral judaico-cristã. O que se pode parecer uma afronta, é na
verdade, a conquista pela livre expressão e orientação sexual.

Uma das formas de maior visibilidade dos movimentos homossexuais têm sido
as Paradas Gays, realizadas por ocasião do Dia Internacional do Orgulho Gay
– 28 de Junho. Neste ano, diversos países realizaram suas Paradas Gays,
mesmo em meio a guerras e epidemias , levando expressivos números de
gays, lésbicas, trangêneros e simpatizantes às ruas. Só em São Paulo,
segundo a Associação Parada Gay de São Paulo, 800 mil pessoas se fizeram
presentes à Avenida Paulista, para celebrar a terceira maior festa da
diversidade do planeta. Além da capital paulista, pelo menos outras vinte e
cinco cidades, entre capitais e centros regionais do interior brasileiro,
promoveram eventos congêneres.

As Paradas Gays, os estudos acadêmicos em gênero e sexualidade, a


educação sexual escolar, o debate social, as campanhas governamentais, a
exploração da mídia (mesmo que às vezes possa ser considerada jocosa e
degradante), têm permitido que um número cada vez maior de homossexuais
se emancipe ou “saiam do armário” .

Percebendo esse avanço e contrário ao mesmo, o Vaticano divulgou um


documento com o título “ Considerações sobre Propostas de dar
Reconhecimento Legal para Uniões entre Pessoas Homossexuais”, a qual
critica a união civil por pessoas do mesmo sexo, afirmando que estas uniões
atingem a concepção da criação e da continuidade da espécie humana; ou
seja, contraria os preceitos da família tradicional e da catequese cristã católica.
Compactuando com esta violência de gênero, o presidente estado-unidense
George W. Busch, em recente discurso na sede de seu governo, declarou ser
contra a legalização das uniões homossexuais.

Diante do cenário de conquistas envolvendo o direito a planos de saúde


conjuntos, direito a herança ao parceiro estável, a adoção e a previdência, esta
ação mancomunada de igreja e governo, deixaram claro o temor com o
indesejado pelos mesmos: a conquista da dignidade e emancipação
homossexual.
Apesar das declarações ideológicas, alguns empreendedores perceberam que
o público GLBT está aí e ávidos por viver intensamente; inclusive, com um
poder de compra muito superior aos membros das classes econômicas e
familiares tradicionais. Comumente solteiros e sem parceiros fixos, possuem
despesas fixas baixas, permitindo que venham gastar consigo mesmo.

Esta premissa é ratificada por FREITAG , que afirma que “ao contrário do que
se imagina, o universo homossexual é composto, em sua maioria, por pessoas
com bom nível sócio-econômico-cultural. Os homossexuais tendem a
preocupar-se mais com sua formação intelectual e são mais dedicados ao
trabalho, o que acaba por fazer com que tenham melhor renda”.

Atualmente, os mais significativos empreendimentos voltados ao público GLBT


estão nos segmentos de lazer, tais como, bares, boates, saunas etc., face ao
retorno garantido e rápido dos investimentos. Contudo, é preciso observar que
se os movimentos homossexuais conseguirem vitórias em todas as suas
instâncias, emancipando realmente ao grupo que representam, muitos destes
empreendimentos estarão fadados ao fracasso; afinal, os homossexuais
libertos, sentir-se-ão seguros a freqüentar qualquer tipo de ambiente, não
sendo necessário confinar-se em “guetos”.

No turismo, ações isoladas de agências especializadas no público GLBT de


São Paulo tem obtido algum sucesso; mesmo se considerando que, no Brasil
as viagens especializadas demoraram a acontecer. Este fato vem sendo
trabalhado há muitos anos na Europa e na América do Norte.

No Brasil, neste ano, novamente fora realizado o Gay Day Hopi-Hari, evento
idêntico realizado nos Parques da Disney’s; e ainda está prevista a realização
no Wet’n Wild, a primeira Slash Poll Party. Para 2004 está previsto o primeiro
cruzeiro gay, no navio Island Escape, saindo de Santos com destino a
Florianópolis.

Fora os grandes eventos e grandes viagens, as agências especializadas


organizam viagens curtas, as tradicionais “escapadas” de final de semana,
principalmente para cidades que incluam vida noturna GLBT agitada.

O Brasil padece de estatísticas concretas sobre o turismo GLBT,


principalmente pelo fato das pessoas omitirem a sua orientação sexual, dado o
preconceito. Contudo, segundo SOETHE e VIEIRA, o turista GLBT costuma
gastar US$ 305,00 a mais do que os demais turistas; inclusive, apontam que
estima-se que em Janeiro de 2002, 37 mil turistas do segmento GLBT
aportaram em Florianópolis, gastando em média, US$ 50,00 por dia; o que
pode ser considerado 30% a mais do que o turista tradicional.

Um exemplo de percepção deste segmento é o que vem ocorrendo com trade


turístico de Santa Catarina, que pretende trabalhar intensamente com esse
setor, principalmente nas cidades de Balneário Camboríu (bons hotéis, boa
gastronomia, vida noturna, praia de nudismo e facilidade de acesso a cidades
de médio e grande porte) e Florianópolis (incontestáveis belezas naturais, vida
noturna agitada e belas praias).
Infelizmente, não são muitos municípios e empresários que percebem esse
filão no mercado, muitas vezes por conta do preconceito e do medo do novo.
Não raro, ouve-se comentários de pessoas ou organizações que buscam
serviços turísticos para um grupo GLBT e quando externam quem deverá ser
atendido, recém respostas negativas, sob protestos de risco de perda dos
clientes tradicionais. E, isso não são situações isoladas, pois são freqüentes os
relatos de constrangimentos que os turistas GLBT sofrem em hotéis e
estabelecimentos congêneres. Como dois homens solicitariam aposentos com
uma cama de casal sem que viessem a ser alvo de comentários e olhares
indiscretos de funcionários? É comum que os funcionários da rede hoteleira
aceitem a presença rápida e furtiva dos/as “acompanhantes de executivos” ,
mas reagem de maneira totalmente diferente quando se trata de hóspedes
homossexuais. Assim, parece que a aceitação social da prostituição é maior do
que a homossexualidade.

Existem hoteleiros tolerantes, que aceitam hóspedes clientes do universo


GLBT, mas nem todos estão realmente preparados para recebê-los; inclusive
por tolerância ser diferente de aceitação; e, onde a apenas tolerância, há
também violência, truculência e negação dos direitos da pessoa.

É esta falta de aceitação para com o outro, que fez com que surgisse no
mercado empresas especializadas para o segmento. Mas, estudiosos do
assunto e gays ativistas se perguntam, é realmente necessário um
hotel/pousada GLBT? Uma agência de turismo GLBT? Isso não aumenta a
homofobia? Será que o trade turístico não deveria se preparar para atender o
público GLBT como atende a outros turistas, por ex. deficientes físicos? A
comunidade GLBT não acaba se confinando cada vez mais em guetos?

Alguns concordam que é necessária a existência de atendimento diferenciado


para que não ocorra um choque cultural; pelo menos, enquanto a sociedade for
intolerante e preconceituosa. Por enquanto, e talvez por um bom tempo,
somente nos ambientes GLBT os mesmos podem fazer demonstrações de
carinho e afeição.

Os profissionais do turismo devem trabalhar com a responsabilidade de


satisfazer e realizar os sonhos de seus clientes, independente do gênero
(classe, raça/etnia, sexo e religião). Para estes profissionais e os
empreendedores do turismo, com visão de futuro, desprovidos de preconceitos
e interessados em ampliar seus negócios, eis uma excelente, e pouco
explorada, alternativa de investimentos.

BIBLIOGRAFIA RELACIONADA
ANGELI, Érika. Turismo gls. In: ANSARAH, Marilia. Turismo – segmentação de
mercado. Futura. São Paulo. 1999.
ANTUNES, Camila. A força do arco íris. Revista Veja. Abril. 25 Jun 2003.
MAIA Cristiano. Sucesso entre público gls exige atendimento especial. An
Economia. 15 mar 2002.
PINTER, Silvia. Santa Catarina acorda para o turismo gls. An Economia. 15
mar 2002.
SOETHE, Charlei. VIEIRA, Pedro. Um baú de ouro no arco-íris. Revista de
divulgação cultural. Ano 24, nr 77. Proerc. 2003.
Turismo gls é segmento em alta. Disponível em www. resolvido.com.br em 18
ago 2003.

You might also like