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LITISCONCÓRCIO E INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NAS

SOCIEDADES COOPERATIVAS

Márcia Isabel Heinen


Pós-graduada em Direito Processual Civil pela ABDPC-
Academia Brasileira de Direito Processual Civil
Advogada.

RESUMO

O artigo em questão visa suscitar uma maior discussão a respeito da composição do


pólo passivo em demandas judiciais contra sociedades cooperativas. A relevância
da questão está relacionada ao fato de que cada vez mais se entende que este tipo
de sociedade possui grandes condições de competir no mercado, mormente diante
do processo de globalização que se opera há algumas décadas. Com efeito, as
sociedades cooperativas têm diante de si um futuro promissor, notadamente porque
possibilitam às pessoas se organizarem em um contexto de globalização dos
mercados. Há um número cada vez maior de pessoas e organizações que desejam
colocar o homem no centro de todas as preocupações e que trabalham para que a
economia esteja a serviço da sociedade, e não o contrário. O fenômeno pode ser
constatado pelo grande número de ações judiciais envolvendo sociedades
cooperativas no pólo passivo, as quais têm fomentado abordagens jurídicas
conflitantes. O artigo tenta demonstrar o caráter peculiar das sociedades
cooperativas, as quais têm disposição legal expressa e, diversamente dos demais
tipos societários, requerem um tratamento diferenciado, principalmente, por se tratar
de uma sociedade de pessoas, onde não há somente a preocupação com o aspecto
econômico, mas também com o social, proporcionando uma verdadeira inclusão na
sociedade em que se desenvolve.

INTRODUÇÃO

O cooperativismo, por intermédio das sociedades cooperativas, está


avançando cada vez mais em razão do reconhecimento social de suas inúmeras
vantagens. Hoje, estas sociedades são uma opção viável com abertura de novas
possibilidades de inserção econômica, principalmente com o advento da
globalização. Embora o cooperativismo, no Brasil, já tenha mais de um século, foi
somente com o advento da Constituição Federal de 1988, onde o legislador por
inúmeras vezes referiu a palavra cooperativa em seu texto, e com o novo Código
Civil, classificando as cooperativas em sociedades simples, que se iniciou um
verdadeiro processo de inserção destas entidades no mundo jurídico.

Em decorrência disto, e como um dos primeiros reflexos do tratamento


jurídico que lhes foi dado, inúmeros processos judiciais envolvendo sociedades
cooperativas começaram a surgir, nos mais diversos ramos do Direito, sendo que,
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no mais das vezes, tais sociedades cooperativas acabam por ocupar o pólo passivo
das demandas. Tendo em vista isso, o enfoque deste artigo estará centrado na
discussão quanto à possibilidade de intervenção de terceiros em tais processos,
bem como quanto ao tipo e regime de litisconsórcio que deve ser aplicado às lides
envolvendo cooperativas.

Cumpre referir, já adentrando no exame da questão, que muitos


doutrinadores e juristas adotam o posicionamento segundo o qual as regras
atinentes à legitimidade ativa e passiva aplicam-se a todas as sociedades e não
somente as comerciais.Sem desconsiderar tais entendimentos, o objetivo do
presente artigo será apresentar argumentos com base nos quais se poderá
sustentar que as sociedades cooperativas devem ter um tratamento diferenciado
quanto a esta questão, pois a sua constituição, ou, melhor dizendo, o seu “affectio
societatis”, elemento subjacente e fundamental do conceito de sociedade, é diverso
dos demais tipos societários, reclamando, por conseguinte, uma abordagem
diferenciada.

Com efeito, nas sociedades cooperativas, em decorrência do fato de


apresentarem uma natureza dúplice, na medida em que, além de ser uma
organização empresarial, também é um fenômeno social, com preponderância da
cooperação e esta, entre seus sócios, com contribuição para o proveito comum,
sendo aplicado, dentre os princípios cooperativistas, a gestão democrática e
participação econômica dos membros, percebe-se a existência de um elemento
diferencial, mormente porque se trata de uma sociedade de pessoas.

Assim, as regras processuais tradicionais, referentes à sujeição ativa e


passiva envolvendo este tipo societário devem ser interpretadas de forma diversa,
em prol dos princípios da igualdade e economia processual.

Para tanto, o presente artigo traz à discussão algumas situações de


litisconsórcio necessário, inclusive na sua modalidade ulterior, em demandas
envolvendo sociedades cooperativas, questões estas rechaçadas por muitos
operadores do direito. A finalidade do presente artigo, contudo, é trazer a matéria
para a discussão, a fim de propiciar que seja encontrado um posicionamento e
regramento próprio.

Cabe aos operadores do direito suscitar as questões mais conflitantes,


de seu dia-a-dia, cuja operacionalidade esteja encontrando dificuldades em seus
julgamentos. Impera a responsabilidade destes na aplicação dos princípios
constitucionais e processuais em prol da Justiça requerida nas demandas judiciais.

1. CONCEITO DE COOPERATIVA

Muitas já foram as tentativas de se chegar a uma única definição do


conceito de sociedade cooperativa, as quais restaram inexitosas, em razão da
multiplicidade de aspectos que tal definição deve incorporar. Uma revisão da
literatura cooperativista possibilita discernir inúmeras definições, muitas das quais
formuladas com relação a um específico setor cooperativo ou baseadas na cultura e
na história específica daquele setor ou de um país ou região em particular. As

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perspectivas econômicas versus sociológicas também divergem nestas tentativas de
conceituação.

A declaração sobre a Identidade Cooperativa enunciada pela Aliança


Cooperativa Internacional – ACI, em seu Congresso realizado em 1995, define a
Cooperativa, estabelece os valores cooperativos e renova o enunciado dos
princípios cooperativos.

De acordo com esta Declaração, uma cooperativa é uma associação


de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer as aspirações e
necessidades econômicas, sociais e culturas comuns, através de uma empresa de
propriedade comum e democraticamente gerida.

1.2 PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS

Os princípios cooperativistas são: 1) Adesão voluntária e livre; 2)


Gestão Democrática pelos Membros; 3) Participação Econômica dos Membros; 4)
Autonomia e Independência; 5) Educação, Formação e Informação; 6)
Intercooperação e 7) Interesse pela Comunidade.

Na maioria das definições encontradas, verifica-se a existência de pelo


menos três elementos comuns; 1) a cooperação é uma atividade econômica, 2) é
conduzida na direção da satisfação de necessidades comuns das pessoas (
associados) envolvidos, 3) e que é propriedade e é controlada pelos membros
associados.

A despeito da multiplicidade de definições, das diferentes


interpretações do que sejam os princípios cooperativos, da infinidade de
características e orientações na teoria cooperativista, há a concordância de alguns
aspectos da realidade cooperativa:

1) na sua essência, a cooperativa é uma empresa econômica;


2) a empresa cooperativa deve servir aos interesses dos seus membros;
3) por extensão, a cooperativa beneficia a comunidade de um modo geral;
4) como empreendimento econômico, a cooperativa realiza a intermediação dos
interesses de seus membros com o mercado;
5) e nesse caso prevalecem as questões imperativas de eficiência,
produtividade e competitividade econômica, tanto no que se refere ás
relações internas da cooperativa com seus associados quanto no que se
refere ás relações externas com o mercado.

Uma organização cooperativa surge de um acordo voluntário de


colaboração empresarial-cooperação entre vários indivíduos, com a finalidade
principal de solucionar problemas ou satisfazer ás necessidades comuns que
excedem a capacidade individual.

A organização cooperativa é um sistema impulsionado por metas


individuais, metas organizacionais e metas do marco institucional da sociedade
em geral. As negociações que a cooperativa realiza internamente com seus
membros, para incrementar-lhes a situação econômica, regem-se pelo princípio
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de identidade: os usuários dos serviços são os mesmos proprietários. O interesse
do associado e o da cooperativa, nessas negociações ou operações, obedece
mesma causa final: a cooperativa visa a servir o associado para melhorar sua
atividade econômica, e o associado serve-se da cooperativa para o mesmo fim.
O interesse em ser comum o fim faz ser comum o interesse.

A natureza dúplice constitui uma das características fundamentais


deste tipo societário. A associação é a entidade formada pelo agrupamento de
pessoas com interesses semelhantes, enquanto a empresa cooperativa é a
unidade econômica criada pela associação para produzir bens e/ou serviços
requeridas pelos indivíduos associados.

A fonte do poder soberano na organização cooperativa reside em


seus associados e esse poder é o atributo primordial de sua condição de
proprietários da empresa, respaldado pela parcela de responsabilidade assumida
por cada um dos associados para com o destino da organização.

Da concentração nos membros associados da condição de


proprietários dos meios de produção, de trabalhadores, produtores e usuários e
de beneficiários da ação econômica cooperativa aos quais corresponde assumir
as decisões coletivas bem como verificar a sua execução deriva o fato de que a
participação e o controle democrático da gestão são elementos constitutivos do
modelo econômico empresarial cooperativo.

A fundamentação política da participação dos associados na


decisão e na gestão do negócio cooperativo está expressa no principio da gestão
democrática.

Além do que, ao lado da estrutura empresarial do cooperativismo,


há um fenômeno social, que suplanta, na verdade a importância da organização
como empresa, esta um simples objeto para se alcançar a finalidade de
cooperação, que é de natureza não individual. Esta é a grande diferença entre
este tipo de sociedade para com as demais, nem sempre bem entendido por
nossos julgadores, acarretando danos significativos.

2. LITISCONSÓRCIO e INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

2.1 Conceito

O litisconsórcio é fenômeno que permite a reunião de várias pessoas


no mesmo processo, tanto no pólo ativo quanto no passivo, em face de alegada
relação material marcada pela comunhão, afinidade ou conexidade de interesses.
Com a participação de todos os sujeitos interessados, são alcançados dois objetivos
fundamentais: a economia dos atos processuais e a isonomia, afinal o risco de
decisões discrepantes é sensivelmente reduzido.

2.2 Espécies e Regimes de Litisconsórcio

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Litisconsórcio pode ser ativo (mais de um autor), passivo (mais de um
réu), misto ou recíproco (mais de um autor e mais de um réu). Pode ser também
inicial ou ulterior, conforme a pluralidade se verifique no inicio ou em momento
posterior da ação. O litisconsórcio pode ser também facultativo ou necessário, bem
como simples ou unitário.

Litisconsórcio facultativo é o que pode ser adotado voluntariamente


pelas partes, subdividindo-se em facultativo unitário e facultativo simples.
Litisconsórcio unitário é aquele em que o juiz tem de decidir a questão de modo igual
para todos os autores e todos os réus, não podendo a sentença ser procedente para
uns e improcedente para outros. Por isto os atos úteis praticados por um beneficiam
os demais. Litisconsórcio simples é aquele em que a decisão pode ser diferente para
cada litisconsorte, sendo estes independentes e autônomos entre si. Os atos de um
não prejudicam nem favorecem os outros (art.48 CPC).

Litisconsórcio necessário é aquele em que a ação só pode ser proposta


por duas ou mais pessoas, por não ser possível a formação da relação processual
sem a pluralidade de partes. A obrigatoriedade do litisconsórcio deriva da lei, nos
termos do art. 47, parágrafo único do CPC, de modo que o juiz ordenará ao autor, se
for o caso, que promova a citação de todos os litisconsortes necessários, dentro do
prazo que assinar, sob pena de declarar extinto o processo.

A intervenção de terceiros ocorre quando alguém ingressa como parte


ou coadjuvante da parte em processo pendente entre outras partes. Os casos de
intervenção de terceiros catalogados no Código de Processo Civil são: 1) Oposição
(arts. 56 a 61), a qual consiste na intervenção de um terceiro para exclusão de uma
ou ambas as partes; 2) A Nomeação Autoria ( arts. 62 a 69), que se dá pela
indicação daquele que deveria realmente ser o réu; 3) A Denunciação da Lide( arts.
70 a 76), que consiste no chamamento daquele que irá garantir ou indenizar a parte
perdedora; 4) O Chamamento ao Processo (arts. 77 a 80), que é caracterizado pelo
chamamento de co-devedores, para que sejam registradas as suas
responsabilidades pelo resultado da pendência; 5) A Assistência ( arts. 50 a 55), que
ocorre quando há auxílio a uma das partes, podendo ser simples ( interesse jurídico
indireto) ou litisconsorcial ( interesse jurídico direto).

3. LITISCONSÓRCIO EM SOCIEDADES COOPERATIVAS

A participação de terceiros no pólo passivo envolvendo as sociedades


cooperativas diz respeito com a questão da responsabilidade dos sócios e da
sociedade, pois, conforme já dito, a sociedade cooperativa tem um regramento
próprio e diverso dos demais tipos societários. Na prática se vislumbra a
necessidade da intervenção de terceiros em processos judiciais envolvendo
sociedades cooperativas, embora tal possibilidade não esteja referida na lei.

Em se tratando da posição de sócio em relação as sociedades


cooperativas, quando se tratar de ação de anulação de decisão de assembléia e
liquidação da sociedade cooperativa, há a necessidade da formação do
litisconsórcio necessário. O art. 47 do Código de Processo Civil no inicio do seu
mandamento, estabelece uma lei geral, significando que, toda vez que houver
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disposição legal (na realidade, especificamente outra lei) que imponha a formação
do litisconsórcio, este será necessário, mesmo que não exista previsão normativa, o
litisconsórcio também será necessário e unitário, sendo suficiente para tal conclusão
o mandamento contido no art. 47, caput, segunda parte, do Código de Processo
Civil.

A Lei nº 5.764/71 sobre sociedades cooperativas regulamenta em seu


art. 80 e 81 que o cooperativado está sujeito a distribuição dos prejuízos sociais, se
fazendo necessária a sua citação no processo. Essa limitação está restrita ao valor
das quotas sociais. Do contrário, todas as sociedades passariam a ser de
responsabilidade ilimitada. Há necessidade de compatibilizar a participação nas
perdas com a limitação das quotas sociais.

Assim, nos casos de responsabilidade das sociedades cooperativas,


poderão os associados responder pelas perdas operacionais em relações internas
da cooperativa. É dizer: nas relações jurídicas entre o associado e a cooperativa,
poderá aquele ser chamado a suportar perdas operacionais da sociedade. Se a
pessoa jurídica resolver buscar entre seus associados uma solução para estas
perdas, deverá fazê-lo proporcionalmente as operações de cada um. Daí porque se
pode afirmar existir interesse jurídico deste sócio em compor a lide como parte (na
condição de litisconsorte).

Em razão do art.47 da Lei nº 5.764/71, que dispõe sobre administração


coletiva, estipulando que as decisões serão tomadas com a aquiescência ou
negativa da maioria dos presentes, exceto se na constituição da sociedade tiver sido
disposto de maneira diferente, percebe-se que há a obrigatoriedade, neste tipo de
sociedade, da participação de todos os sócios. Tais disposições são uma
decorrência do papel dos princípios cooperativistas, da gestão democrática e da
participação econômica dos membros.

No que tange a 2ª parte do art. 47 do Código de Processo Civil, o que


se tem admitido é que, nesta última hipótese, por lei, o litisconsórcio seja unitário,
mas facultativo, vale dizer, conquanto a situação seja unitária e haja de ser decidida
com uniformidade, a lei pode reconhecer como suficiente a legitimidade de somente
um desses, cuja situação em sociedades cooperativas não se vislumbra, eis que, a
sociedade exige a participação de todos os sócios; portanto, a sua participação
também há de se dar na esfera judicial, pois, além disso, estar-se-ia até mesmo
cerceando o Princípio do Contraditório assegurado a este sócio, uma vez que ele
estaria sujeito aos efeitos reflexos desta sentença sem ter participado do processo.
A par disso, poder-se-ia estar fomentando um conluio entre a sociedade
representada por uma administração e seus sócios, o que não é admissível em
termos de cooperação.

Há necessidade, portanto, da formação de um litisconsórcio


necessário, posto que a esfera jurídica da sociedade e dos sócios se apresenta
como idêntica, uma vez que a comunhão de interesses a justificar a reunião de
pessoas em um mesmo pólo se depreende da relação jurídica material posta em
juízo. Quando esta é una e indivisível, todos eles deverão necessariamente
participar da relação processual, porquanto a sentença a todos atinge. Cabe lembrar
que é o direito material que determina quando há relações compostas por vários
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sujeitos, do que resulta que, nos casos de litisconsórcio unitário, a lide precisa ser
decidida de forma idêntica para todos quantos figurem ou devam figurar em um
mesmo pólo da relação processual.

Estas considerações partem da premissa de que a situação da


sociedade é absolutamente idêntica à situação dos seus sócios e, por, isso, estes
últimos haveriam de ser também partes e, se não o tiverem sido, isto faria com que
esses sócios, como terceiros prejudicados, pudessem requerer a nulidade da
sentença e de todo processado, dado que esses também deveriam necessariamente
ter sido partes diante de sua posição com a da pessoa jurídica.

Embora o litisconsórcio necessário, nestes casos, acabe por gerar


algum tumulto processual, com inconvenientes de ordem prática, não há porque não
observá-lo, sob pena, como já mencionado, ocorrer nulidade processual.

Apenas a título de ilustração sobre a diversidade da natureza deste tipo


de sociedade para com os demais tipos societários, convém referir que em relação a
estes não há previsão legal para haver a imposição da formação do litisconsórcio
necessário. Aliás, na hipótese das sociedades não cooperativas nem há
litisconsórcio unitário, porque a situação da pessoa jurídica e de seus componentes
não é idêntica e, além disso, porque a própria lei não exige a formação do
litisconsórcio, eis que a decisão que afeta a sociedade não se projeta da mesma e
idêntica forma na esfera dos seus sócios.

Ainda, o litisconsórcio necessário se impõe no caso das cooperativas


em razão da responsabilidade tributária dos sócios, pois, como se sabe, há
disposição legal expressa no Código Tributário Nacional a respeito, segundo o qual
há a responsabilização através dos bens pessoais dos sócios. Entretanto, tal
responsabilidade deve estar limitada à participação do sócio por meio de suas cotas-
partes, não podendo o julgador decidir de forma diferente, sob pena de esta ferindo
princípios constitucionais, tais como o Princípio da Legalidade e o do Contraditório.

O associado de cooperativa deve ser tratado como sócio e como dono


da sociedade, por isto é preciso entender inicialmente a responsabilidade estipulada
no art. 134 do CTN de forma diferente. Em caso de liquidação, a sociedade
cooperativa e todos os seus sócios respondem solidariamente pelo cumprimento da
obrigação principal, quando se tratar de aplicação de penalidade de caráter
moratório.

O mesmo exercício pode-se fazer relativamente à responsabilidade


que consta do artigo 135 do Código Tributário Nacional. “são pessoalmente
responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributarias resultantes de
atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou
estatutos: I- as pessoas referidas no artigo anterior”.

Dito de forma direta, os sócios de sociedade de pessoas, que tenha


sido irregularmente liquidada, serão pessoalmente responsáveis pelos créditos
correspondentes das obrigações tributárias resultantes de atos praticados com
excesso de poderes ou infração da lei que regia suas ações, bem como com
infração dos estatutos da cooperativa.
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Assim, o sócio ao realizar alguma ação que caracteriza e justifica a
aplicação da regra contida no art. 135 do CTN durante a liquidação, ou antes dela,
pode estar sujeito à responsabilidade pessoal por tais atos. Além do que, o sócio
que estiver sujeito a essa norma tem que ter poderes especiais, mesmo que não
tenha sido formalmente administrador. Se receber um mandato especial, por
exemplo, para representar a empresa no exterior, onde firmou um contrato de
exportação, pode estar sujeito a essa responsabilidade.

Os administradores profissionais de cooperativas não estão sujeitos à


responsabilização estipulada no art. 134 do CTN, mas ao artigo 135 do mesmo
diploma. Como administrador de uma verdadeira cooperativa, sua responsabilidade
tributária poderá ocorrer pela prática de um ilícito contra a própria organização ou
pela prática de um crime. A Lei nº 5.764/71, em seu art. 49, estabelece que o
administrador da cooperativa responderá solidariamente, ou seja, junto com a
sociedade pelos prejuízos que causar, desde que tenha agido com culpa ou dolo.

Assim, compondo essa norma com a do artigo 135 do CTN, temos que
os efeitos tributários de tais condutas podem levar o administrador a responder e a
ter de pagar tais tributos com seu próprio patrimônio, se a sociedade não os ratificar
ou deles não se aproveitar.

Mas, além desse artigo, em todas as regras jurídicas, dessa ou de


qualquer outra lei, que sejam descumpridas pelo administrador, poderá ele vir a ser
responsabilizado. Trata-se de uma responsabilidade subjetiva, em que os atos
praticados deverão ser verificados em processo próprio e prévio à
responsabilização.

No caso de falsas cooperativas envolvendo o descumprimento das


normas de cooperação, seu administrador arcará com a responsabilidade tributária,
de uma maneira totalmente diversa, ou seja, com os bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica.

A conseqüência será a desconsideração da personalidade jurídica da


sociedade, levando-a para o campo das sociedades irregulares e, em decorrência
disso, as pessoas que responderão ao processo de desconsideração serão
responsabilizados por todos os tributos devidos pela sociedade. Neste tipo de ação,
impera que todos os sócios sejam citados para comporem o pólo passivo da
demanda. Trata-se de litisconsórcio necessário e unitário em interpretação com a Lei
nº 5.764/71 e o Código de Processo Civil em vigor.

Esse conteúdo normativo é extremamente próximo do disposto no


artigo 135 do CTN. Ele estende esses efeitos tributários a todo o Direito. Esta norma
explicita claramente que somente aqueles que se beneficiaram com a confusão
patrimonial ou com o desvio de finalidade poderão ter seus bens bloqueados para
satisfazer as obrigações.

4. ASSISTENCIA LITISCONSORCIAL

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No que interessa ao presente trabalho, é importante registrar alguns
aspectos deste tipo de intervenção de terceiros.

Se o direito que está sendo objeto de discussão pertence também ao


terceiro, têm-se a figura da assistência litisconsorcial ou qualificada, como se lê dos
direitos das normas descritas nos art. 623 do Código Civil, no qual se fala que o
condômino pode reivindicar coisa de terceiro, sendo interesse dos demais
condôminos o ingresso na demanda.

Nas sociedades cooperativas, como o direito de um é o direito de


todos, no caso o terceiro, temos a figura da assistência litisconsorcial, em razão da
natureza própria da constituição da cooperativa, ou seja, todos os sócios serão
atingidos pela autoridade da coisa julgada e pela eficácia da sentença. Enquanto
que, nos outros tipos de sociedade, verifica-se a assistência simples.

A intervenção voluntária litisconsorcial não é admissível em qualquer


fase do processo, uma vez que não é admitida após a citação.

Outra conseqüência é que na assistência litisconsorcial, os efeitos da


sentença entre as partes principais afetam a relação jurídica do assistente com o
adversário do assistido, isso porque o interesse jurídico a legitimar sua atuação
decorre de sua vinculação com a relação jurídica deduzida em juízo, pois marcante
a intensidade do seu interesse jurídico que se revela direto diante do objeto do
litígio.

Não pode o assistente litisconsorcial requerer ação declaratória


incidental, pois não tem essa autonomia, não pode reconvir ou alterar o pedido ou a
causa de pedir, pois sua intervenção não afeta o objeto litigioso.

Seu campo é do processo de cognição, podendo-se visualizá-lo no


processo cautelar e nos embargos à execução. A assistência litisconsorcial abarca
hipóteses em que o terceiro sequer poderia ser litisconsorte por ausência de
legitimidade ad causam.

O assistente litisconsorcial é terceiro titular de legitimidade a litigar com


o adversário do assistido. Intervém, sempre, sem alterar o objeto do processo, mas
com poderes para contrariar a vontade da parte a quem assiste, ao contrário do
assistente, que não tem esses poderes, mas sem figurar como autor ou réu.

5. EFEITOS DA SENTENÇA

Há ainda que se falar sobre os efeitos da sentença nestes tipos de


processos cujo pólo passivo refere-se a uma sociedade de pessoas cooperativas, a
fim de que seja delimitada a extensão da coisa julgada. Ou seja, os seus limites
objetivos e subjetivos.

Tratando-se de sociedades cooperativas, há razão de se impor o


litisconsórcio unitário, onde todos os cooperativados sócios e proprietários da
sociedade estarão jungidos à sentença, pois, bem, sendo assim, impera-se a citação
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de todos os sócios da sociedade cooperativa, não se admitindo apenas os efeitos
reflexos da decisão, porque neste caso a sociedade cooperativa são os próprios
sócios, estes são proprietários e financiadores da sociedade, são as mesmas
pessoas que utilizam seus serviços e dela se beneficiam e são os mesmos quem
controlam a cooperativa. A finalidade da sociedade cooperativa é propiciar e
distribuir benefícios e ganhos aos usuários proporcionalmente á sua participação no
negócio.

CONCLUSÃO

Diante destas explanações, principalmente sobre a natureza das


sociedades cooperativas,ou seja, uma sociedade de pessoas, necessário se faz um
debate profundo sobre o tema, posto que, as decisões nos Tribunais tem se
revelado como impróprias, diante do posicionamento de eméritos julgadores e
doutrinadores de que todos os tipos de sociedades devem ter a mesma aplicação da
lei.

O texto demonstra a forma peculiar da caracterização das sociedades


cooperativas, onde os associados são a própria organização cooperativa, são os
proprietários e pela sua responsabilidade assumida. A sociedade cooperativa visa
servir o associado e este se serve da cooperativa. Assim, a legislação federal sobre
o ordenamento das cooperativas estabelece em seu regramento a responsabilização
de todos os sócios, ou seja, toda a sociedade cooperativa, não será somente a
Diretoria e seus administradores com poderes especiais que responderão por
demandas judiciais no pólo passivo. Há um interesse jurídico oriundo da própria
relação material dos sócios cooperativos em formarem a lide processual, no pólo
passivo, em razão de disposição legal expressa.

Não podemos admitir, em processos envolvendo sociedades


cooperativas, o litisconsórcio simples, ou o tipo de intervenção de terceiros, a
assistência simples, sob pena de estar-se-á descaracterizando este tipo de
sociedade que requer uma melhor interpretação da lei processual em conjunto com
os princípios deste movimento cooperativo que tende a crescer cada dia.

A discussão está trazida para todos os operadores do Direito de todos


os seus ramos, para um estudo mais aprofundado do tema.

BIBLIOGRAFIA

AGRÍCOLA Barbi, Celso. Comentários ao Código de Processo Civil. 5. Forense. V.1.

ALVIM, Teresa. Questões previas e os limites objetivos da coisa julgada. Revista dos
Tribunais., 1977

ARRUDA, Alvim, José Manoel de. Manual de Direito Processual Civil. Revista dos Tribunais.
V.1.

BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Litisconsórcio Unitário. Forense. 1972.

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BECHO, Renato Lopes. Elementos de Direito Cooperativo de acordo com o novo
Código Civil. São Paulo; Dialética 2002.

CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de Terceiros. São Paulo: Saraiva, 1995.

VALADARES, José Horta. Cooperativismo Lições para nossa prática. Brasília: Editora,
2003.

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