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DOSSIÊ
Maria da Glória Gohn*
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ABORDAGENS TEÓRICAS NO ESTUDO DOS MOVIMENTOS ...
movimentos sociais anti ou alterglobalização. Vári- gua, etc. Deve-se assinalar também que inúmeros
as lutas sociais se internacionalizam rapidamente, dos territórios indígenas passaram a ser, em vários
novos conflitos sociais eclodiram, abrangendo dife- países, fonte de cobiça devido a minerais e outras
rentes temáticas que vão da biodiversidade, lutas e riquezas de seu subsolo, assim como seus cursos
demandas étnicas, até as lutas religiosas de diferen- de água, ou meramente por localizarem-se em ro-
tes seitas e crenças. Essas temáticas criam novas tas onde se planejam gasodutos e outras interven-
agendas e propostas ou projetos sociopolíticos va- ções macroeconômicas, acirrando, assim, tensões
riados, como a do biopoder. sociais. No passado, “o civilizador” saqueou os
Ao observarmos a conjuntura dos movi- tesouros dos indígenas, escravizando-os em fren-
mentos sociais latino-americanos, na atual etapa tes de trabalho para a acumulação da época (da
de um mundo globalizado, indaga-se: qual o pa- mesma forma que fez com os negros vindos da
pel desses movimentos sociais no desenrolar dos África), atuando de forma devastadora em seus
processos democráticos em curso? Qual a concep- territórios. Hoje, os indígenas estão organizados
ção de movimento e de democracia que fundamen- em movimentos sociais e, em muitos países lati-
tam suas práticas? Como eles se veem e que hori- no-americanos, vivem em áreas urbanas e são par-
zontes projetam para a sociedade? Como esses te do cenário de pobreza e desigualdade social.
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Alguns autores chegam a separar o termo movi- processos de luta por direitos e construção de iden-
mento social do termo movimento indígena, pois tidades, destacam-se os movimentos das mulheres
consideram que esse último tem uma especificidade e dos gays, em diferentes formatos e combinações.
e um campo próprio, que não se confunde com Nessa breve lista de movimentos sociais na
outros movimentos sociais. América Latina na atualidade, registrem-se, ainda,
Com tudo isso, em alguns países latino- a retomada do movimento dos estudantes, especi-
americanos, houve uma radicalização do processo almente no Chile, com a Revolta dos Pingüins
democrático e o ressurgimento de lutas sociais tidas, (Zibas, 2008), e as ocupações em universidades
décadas atrás, como tradicionais, a exemplo de no Brasil, especialmente as públicas, em luta pela
movimentos étnicos – especialmente dos indíge- melhoria da qualidade de ensino, contra reformas
nas na Bolívia e no Equador –, associados ou não na educação e contra atos de corrupção e desvio
a movimentos nacionalistas – como o caso de verbas públicas. Aliás, não são apenas os estu-
bolivariano (Venezuela). Observa-se também, no dantes que têm se mobilizado. A área da educa-
novo milênio, a retomada do movimento popular ção, especialmente a educação na escola básica,
urbano de bairros, especialmente no México e na tem sido fonte de protestos de grandes dimensões,
Argentina. Todos esses movimentos têm eclodido a exemplo do México, em 2006, na região de
na cena pública como agentes de novos conflitos e Oaxaca. Devemos destacar também que a área da
renovação das lutas sociais coletivas. Em alguns educação – devido ao potencial dos processos
casos, elegeram suas lideranças para cargos supre- educativos e pedagógicos para o desenvolvimento
mos na nação, a exemplo da Bolívia. Outros movi- de formas de sociabilidade e constituição e ampli-
mentos que estavam na sombra e tratados como ação de uma cultura política – passou a ser estraté-
insurgentes, emergem com força organizatória, gica também para os movimentos populares, a
como os piqueteiros na Argentina, cocaleiros na exemplo do MST.
Bolívia e Peru, zapatistas no México. Outros, ain- Para concluir esta breve introdução, que
da, articulam-se em redes compostas de movimen- objetiva delinear o cenário do associativismo civil
tos sociais globais como o MST (Movimento dos latino-americano na atualidade, com suas deman-
Trabalhadores Rurais Sem-Terra no Brasil) e a Via das, lutas e movimentos sociais, deve-se acrescen-
Campesina. Muitos deles passaram a ser discrimi- tar as inúmeras ações e redes cidadãs que se apre-
nados e criminalizados pela mídia e alguns órgãos sentam como movimentos sociais de fiscalização e
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que, tanto no plano internacional (Bauman, 2001; § Teorias que destacam a capacidade de resistên-
Hamel, 2003; Morin, 2003; Putnam, 1993, 2000; cia dos movimentos sociais, a partir de elabora-
Quijano, 2005) como no Brasil (Gohn, 2007c; ções sobre o tema da autonomia, de formas de
Scherer-Warren, 2006). lutas em busca da construção de um novo mun-
As transformações que aconteceram no do, de novas relações sociais não focadas ou ori-
mundo, nas últimas décadas, e que acabaram por entadas pelo mercado, da luta contra o
influenciar as mudanças de focos nos movimen- neoliberalismo. Nessa abordagem, critica-se vee-
tos sociais em geral, e na América Latina em parti- mentemente a ressignificação das lutas
cular, permitem-nos afirmar que os movimentos emancipatórias e cidadãs pelas políticas públi-
sociais não mais se limitam à política, à religião ou cas que buscam apenas a integração social, a cons-
às demandas socioeconômicas e trabalhistas. Mo- trução e produção de consensos, conclamando
vimentos por reconhecimento, identitários e cul- para processos participativos, mas deixando-os
turais, ganharam destaque ao lado de movimentos inconclusos, com os resultados apropriados por
sociais globais. um só lado, o que detém o controle sobre as
ações desenvolvidas. São as cidadanias tutela-
das, geradas nos processos de modernização con-
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os movimentos sociais e os sistemas políticos. Ele dos como básicos do grupo e pelo grupo. Não há,
investiga, nos movimentos, o grau de organicidade, portanto, nada intrínseco, pré-dado. As constru-
capacidade de proposta, capacidade de mobilizar ções são relacionais, ainda que as estruturas maio-
por meio de suas convocações, discurso político, res existam a priori, antes das ações. Mas elas vão
grau de autonomia e taxa de afiliação (número de se modificando com as ações. Um movimento so-
militantes, participantes ou adeptos dos movimen- cial com certa permanência é aquele que cria sua
tos). Essas dimensões são analisadas em perspec- própria identidade a partir de suas necessidades e
tiva histórica. Segundo ele, o fortalecimento dos seus desejos, tomando referentes com os quais se
movimentos sociais não tem sido possível devido identifica. Ele não assume ou “veste” uma identi-
a essa cultura política existente, herdada do sécu- dade pré-construída apenas porque tem uma etnia,
lo XX. Concordamos com Mirza e, como exemplo, um gênero ou uma idade. Esse ato configura uma
citamos o caso da herança do populismo para as política de identidade, e não uma identidade polí-
Sociedades de Amigos de Bairros, no Brasil, e o tica. O reconhecimento da identidade política se
caso do MST e suas relações com o PT, na faz no processo de luta, perante a sociedade civil e
contemporaneidade, como também dos piquetei- política; não se trata de um reconhecimento outor-
ros e seus “panelaços” na Argentina. Acreditamos, gado, doado, uma inclusão de cima para baixo. O
entretanto, que essa cultura política de “depen- reconhecimento jurídico, a construção formal de
dência” dos sistemas políticos existentes vem des- um direito, para que tenha legitimidade, deve ser
de o tempo colonial. Touraine já afirmava, nos anos uma resposta do Estado à demanda organizada.
1980, que “a subordinação dos movimentos soci- Assim, a questão da identidade aparece em ter-
ais à ação do Estado constitui a limitação mais gra- mos de um campo relacional, de disputas e ten-
ve de sua capacidade de ação coletiva autônoma” sões, um processo de reconhecimento da
(Touraine, 1989). institucionalidade da ação, e não como um pro-
Outro autor, o mexicano Rafael Alvarez cesso de institucionalização da ação coletiva, de
(2000), na contramão da grande maioria dos pes- forma normativa, com regras e enquadramentos,
quisadores, que deixam de lado a dimensão do como temos observado nas políticas públicas no
político em seus estudos, irá analisá-la com base Brasil, na atualidade.
na constituição da identidade do sujeito. Para ele, O movimento social, como um sujeito soci-
a constituição do sujeito social se dá a partir do al coletivo, não pode ser pensado fora de seu con-
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lugar que ele ocupa no social, no político, no cul- texto histórico e conjuntural. As identidades são
tural e no espaço simbólico de outros sujeitos. Ele móveis, variam segundo a conjuntura. Há um pro-
destaca a importância dos projetos sociais na cons- cesso de socialização da identidade que vai sendo
tituição do sujeito, não como algo pronto, mas sim construída. Compartilhamos a idéia de Hobsbawm
processual e tensionado pelas diferenças entre os quando afirma que as identidades são múltiplas,
atores de uma ação coletiva organizada como mo- combinadas e intercambiáveis. Ao contrário da
vimento social. Projeto social é entendido aqui política de identidades construídas pelo alto, usu-
como o projeto político-ideológico de um grupo, almente de forma homogênea (nos termos critica-
explicitado ou não. dos por Fraser, 2001), a identidade política dos
A apropriação de conhecimentos e a expe- movimentos sociais não é única: ela pode variar
riência dos sujeitos são a base da prática política em contextos e conjunturas diferentes. E muda
que irá nos explicar a construção dos projetos. Da porque há aprendizagens, que geram consciência
mesma forma, a cultura política vigente não é dada de interesses. Os sujeitos dos movimentos sociais
pronta ou preexiste, bastando encaixar-se na rea- saberão fazer leituras do mundo, identificar proje-
lidade de um grupo. Ela também é gerada no pro- tos diferentes ou convergentes, se participarem
cesso, a partir dos valores que vão sendo assumi- integralmente das ações coletivas, desde seu iní-
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cio, geradas por uma demanda socioeconômica ou tir dos anos 90, tais como mundialização,
cultural relativa, e não pelo simples reconhecimento
planetarização, sistema-mundo, sociedade mundial
no plano dos valores ou da moral. e sociedade dos indivíduos, processos de exclu-
A grande mudança observada nos estudos são e inclusão social, etc. As categorias de análise
sobre as políticas de parceria do Estado com a so-também se alteram no quadro das teorias dos mo-
ciedade civil organizada está na direção do foco vimentos sociais: redes sociais passam a ter, para
central da análise: do agente para a demanda a servários pesquisadores, um papel até mais impor-
atendida. Reconhecem-se as carências e busca-se tante do que o movimento social. Mas eles as
superá-las de forma holística. Olhares multifocaisredefinem como redes de mobilização social. A
que contemplam raça, etnia, gênero e (ou) idade questão da emancipação social persistiu restrita a
passam a ser privilegiados. O sujeito coletivo se alguns teóricos, não mais sob o crivo exclusivo da
dilacera, fragmenta-se em múltiplos campos isola- abordagem marxista. O território passou a ser uma
dos. Sozinhos, esses múltiplos sujeitos não têm categoria ressignificada e uma das mais utilizadas
força coletiva, e o ponto de convergência entre eles
para explicar as ações localizadas, mas orientada
é o próprio Estado. A interação do Estado por meiopara uma nova concepção de território, distante
da ação de seus governos se faz mediante uma re- da geografia tradicional, que a confundia com es-
tórica que retira dos movimentos a ação propria- paço físico. Território passa a se articular à questão
mente dita (Burity, 2006). Ela se transforma em dos direitos e das disputas pelos bens econômi-
execução de tarefas programadas, tarefas que serãocos, de um lado, e, de outro, pelo pertencimento
monitoradas e avaliadas para que possam conti- ou pelas raízes culturais de um povo ou etnia. A
nuar a existir. A institucionalização das ações co-
globalização provoca a desnacionalização, e outros
letivas impera no sentido já assinalado: como atores, além do antigo Estado-nação, participam
regulação normativa, com regras e espaços demar- da disputa pelos territórios. As novas tecnologias
cados, e não como um campo relacional de reco- digitais também entram como fator de mediação
nhecimento. A possibilidade da emancipação fica para a apropriação de direitos e autoridade sobre
confinada aos espaços de resistência existentes. ele (Sassen, 2006). O território agora passa a ser
Há uma disputa, no processo de construção da visto também sob a óptica de um ativo
democracia, em seu sentido integrador versus sociofinanceiro, porque é fruto de um conjunto
emancipatório (Dagnino; Olvera; Panfichi, 2006). de condições, predominando o tipo de relações
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do social, ganha vida, significado e dinâmica pró- na análise das relações sociais de um dado territó-
pria. O universo das categorias marxistas fica res- rio ou comunidade de significados, porque, além
trito a alguns autores. Justiça social, igualdade, ci- de permitir a leitura e a tradução da diversidade
dadania, emancipação e direitos passam a dar lu- sociocultural e política existente, sem cair em vi-
gar a outras categorias, como capital social, inclu- sões totalizadoras da unicidade, elas têm certa per-
são social, reconhecimento social, empoderamento manência e realizam a articulação da multiplicidade
da comunidade, autoestima, hibridismo, respon- do diverso, tanto em períodos de fortes fluxos das
sabilidade social, sustentabilidade, vínculos e la- demandas, como nos de refluxo. Nas ciências exa-
ços sociais, etc. tas, a ideia de redes é muito antiga, e constitui-se
em suporte de alguns conceitos-chave para algu-
mas áreas da ciência, como a física. Nas ciências
Considerações sobre a categoria de “redes humanas e biológicas, a idéia de rede também não
sociais” é nova: já nos anos 20 do século passado, tratou-
se dos ciclos da vida, das teias alimentares etc.
No Brasil, a partir dos anos 90, a tendência Mas, na atualidade, há novidades como na biologia
dos grupos sociais organizados se articularem em molecular, por exemplo. Na administração, as re-
redes e criarem fóruns a partir dessas redes pas- des têm sido utilizadas como instrumento auxiliar
sou a imperar como modismo, de um lado, e “exi- para elaboração de fluxogramas ou avaliação de de-
gência para sobrevivência”, de outro. À medida sempenho. As redes também têm sido analisadas
que o cenário da questão social se alterou, na área de interação entre empresas e organizações,
novíssimos atores ou sujeitos sociais entram em num ambiente institucional. No setor de gestão e
cena, como as ONGS e as entidades do Terceiro planejamento, o conceito de rede está associado a
Setor; as políticas sociais públicas ganharam des- um processo de “desconcentração de meios de ação
taque na organização dos grupos sociais, gerando de uma organização e como resultado do processo
inúmeros projetos sociais de intervenção direta na de agregação de várias organizações em torno de
realidade social. Resulta desse cenário que a soci- um interesse comum” (Fisher, 2008).
edade civil organizada passou a ser orientada por Nas ciências sociais, o uso de redes sociais
outros eixos, focada menos nos pressupostos ide- também é antigo, embora tenha sido revigorado nos
ológicos e políticos, e mais nos vínculos sociais últimos tempos como instrumento de análise e
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comunitários organizados segundo critérios de cor, articulação de políticas sociais (Fontes, 2006;
raça, idade, gênero, habilidades e capacidades Lavalle et al., 2006; Marques, 2003, 2007) ou re-
humanas. Dessas articulações surgem as redes so- des de mobilizações e movimentos sociais na soci-
ciais e temáticas (gênero, faixas etárias, questões ologia, tais como em Villasante (2002) e Scherer-
ecológicas e socioambientais, étnicas, raciais, reli- Warren, (1993, 1999, 2007). Essa última vê, nas
giosas), os fóruns, as câmaras, etc. A rede social redes, uma possibilidade de retratar a sociedade
tem um enraizamento maior com as comunidades civil, captando uma integração de diversidades.
locais. A rede temática tem poder de articulação Na Antropologia, a ideia de rede vem também de
que extrapola o nível local, atuando da esfera local seus primórdios, com as redes primárias e secun-
até a global. As redes sociais são importantes por- dárias, ao se classificarem as relações sociais entre
que nos indicam os vínculos e as alianças existen- os indivíduos. Callon, (1995), Laniado e Baiardi
tes nas redes temáticas. Os antigos e novos movi- (2006), Caillé (2002) e Martins (2004), seguindo o
mentos sociais, assim como as ONGs, utilizam-se paradigma da dádiva – ao redor da figura de M.
das redes de diferentes formas. Mauss –, situam as redes como produtoras de in-
Rede é uma categoria muito utilizada na atu- dividualidade, comunidades e conjuntos sociais
alidade, com diferentes sentidos. Ela é importante de trocas. Degenne (1999) vê as redes como um
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conjunto de métodos para o estudo das estruturas dos movimentos, e, para outros ainda, a rede é
sociais, sendo que as unidades da interação são uma construção que atua em outro campo, das
básicas para o entendimento dos relacionamentos e práticas civis, sem conotações com a política, em
seus vínculos sociais. A Geografia, há várias déca- que a ideia de “público participante” substituiu a
das, fala das redes urbanas nas cidades. Atualmen- de militante etc.
te, com a ressignificação do conceito de território, Vários modelos operacionais têm sido apli-
passou-se a falar de redes territoriais que transpõem cados na análise institucional de redes no Brasil.
as fronteiras da nação. São as redes transnacionais, Alguns desses modelos foram construídos no ex-
tratadas, entre outros, por Tarrow (2005). terior, segundo a lógica da cultura e das relações
Barnes (1987) definiu rede como o conjun- de trabalhos nos países onde foram criados. Os
to das relações interpessoais concretas que vincu- próprios termos e categorias utilizados são nomea-
lam indivíduos a outros indivíduos, num dado dos na língua inglesa, por não terem tradução para
campo social, composto, por exemplo, por uma o português, ou por simples aprisionamento ao
série de atividades, eventos, atitudes, registros orais pensamento pré-construído no exterior. Neste tex-
e escritos etc. Mas foi Castells (1999, 2001, 2008) to, procuraremos fugir do pensamento coloniza-
que a inscreveu no cenário das ferramentas do, que não busca compreender e analisar a nossa
metodológicas contemporâneas, ao tratar a socie- realidade e a nossa cultura, que simplesmente apli-
dade globalizada como uma rede, e as estruturas ca modelos construídos a-historicamente. As cate-
sociais construídas a partir de redes como siste- gorias tempo histórico e localidade (geográfico-es-
mas abertos, dinâmicos, suscetíveis de inovações. pacial ou espacial-virtual ou sociocultural) são in-
Observa-se que há muitas matrizes teóricas que dicadores fundamentais. Por isso, antes de
sustentam a ideia de rede. As categorias de análise mapearmos uma rede, é necessário localizar seu
são similares, mas assumem sentidos diversos objetivo central no contexto histórico de seu tem-
conforme a teoria ou paradigma que as articulam. po. Ser moderno não é, para nós, aplicar o último
Assim, temos: circulação, fluxo, troca, intercâm- recurso ou modelo apresentado no exterior, por-
bio de informações, compartilhamento, intensida- que agora estamos globalizados. Ser moderno é não
de, extensão, colaboração, aprendizagem, inova- ser aprisionado por fórmulas (passadas, presentes
ções, diversidade de articulação, pluralismo ou pretensamente futuras). Concordamos com
organizacional, ação direta, institucionalidade, atu- Nicolas Bourriaud, crítico e curador da Bienal de
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entendê-lo e buscar sua projeção futura, se associadas ao leque de categorias básicas que ex-
contextualizarmos esse presente a partir das expe- plicavam a estrutura e o funcionamento da socie-
riências históricas dos sujeitos coletivos em ação dade, tratada em 1927 por Sorokin. Eventualmen-
nesse mesmo presente. te, encontramos mobilização como um termo
No universo das nomenclaturas sobre as explicativo para as ações de um movimento soci-
redes, alguns autores diferenciam redes associativas al, no sentido do verbo francês “mobilizer”, dar
movimentalistas (compostas de movimentos soci- movimento a algo, mas sempre de forma comple-
ais) e redes de mobilização civis. Eles tendem a mentar, nunca um termo que dê origem a um ver-
separar essas duas correntes em termos históri- bete, mobilização em si. Encontramos ‘mobilização’
cos: a primeira corresponderia ao passado, princi- na Ciência Política. O Dicionário de Política, orga-
palmente à fase de organização dos cidadãos por nizado por Bobbio, Mateucci e Pasquino (1986),
categoria de trabalhadores (nos sindicatos) ou ca- nos informa que o termo foi usado pela primeira
tegorias de moradores (nos movimentos de bair- vez na linguagem militar e indica o processo pelo
ros e outros). Ou seja, reservam o termo movimento qual a população de um Estado se prepara para
social e associativismo para um tempo passado. enfrentar uma guerra. Curiosamente, é esse senti-
Para eles, o termo mobilização refere-se a um do que lhe está sendo atribuído pelo governo bra-
“associacionismo” moderno, criado num cenário sileiro na atualidade, por meio uma lei que lhe dá,
de políticas globalizadas, de cidadãos participan- mediante aval do Congresso, o caminho legal para
tes nas políticas públicas, em que o termo movi- convocar civis em caráter de urgência, assim como
mento aparece como resultado de uma ação, e não requisitar e ocupar bens e serviços, para a defesa
como seu sujeito principal. Essa polêmica remete- da soberania nacional. A lei se chama “Mobilização
nos à segunda categoria central destacada neste Nacional” (Lei 11.631, de 12/2007). Essa Lei dá
texto, que é a de mobilização social. origem ao SINAMOB-Sistema Nacional de
Mobilização, ligada ao Ministério da Defesa. O iní-
cio da discussão dessa Lei é bem anterior, mas
Considerações sobre a categoria de “mobilização ganhou impulso em 2002, como reação do gover-
social” no brasileiro ao ataque terrorista que os Estados
Unidos sofreram em 11 de setembro.
Desde logo afirmamos que, para nós, Encontramos dois sentidos no Dicionário
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mobilização social é um processo político e cultu- de Política para o termo mobilização: política e
ral presente em todas as formas de organização das social. Mobilização política indica um processo de
ações coletivas. Ela tem diversos sentidos, segun- ativação das pessoas, ou massas como preferem
do a fonte ou o campo onde se articula sua organi- os estudiosos que usam o termo. Poderá ser feita
zação, ou seja, em movimentos sociais, em ONGs tanto pelos governantes como por líderes da soci-
isoladas ou atuando em redes e por meio de polí- edade civil. Reitera-se o sentido destacado acima.
ticas públicas estatais. Essa última fonte nos ex- Mobilização social já tem outro sentido: refere-se a
plica também a centralidade da categoria ativações que visam à mudança de comportamen-
mobilização a partir do ano 2000 e a necessidade tos ou adesão a dados programas ou projetos soci-
de se refletir sobre ela do ponto de vista teórico. ais. Mobilização social, nessa última acepção, en-
Mobilização é uma categoria que nunca re- volve uma série de processos, e um deles se arti-
cebeu tratamento específico nos manuais e dicio- cula com o termo acima citado, mobilidade social
nários do pensamento social do século XX. Na- – mudança de comportamento, aquisição de no-
queles textos, especialmente na área da Sociolo- vos valores, acesso a meios de inclusão social, etc.
gia, encontramos o destaque para outras categorias Apela-se para a adesão do outro numa dada ação
próximas, tais como “mobilidade social”, sempre social, com um certo sentido já configurado.
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Mobilização remete aqui à categoria “participação” ais”, termos também criados por ele para designar
e configura-se no sentido que lhe é atribuído atu- pessoas que irão levar a cabo a implantação e o
almente no Brasil. Desmobilização será justamen- desenvolvimento de processos participativos lo-
te o bloqueio à participação. cais, por meio de “projetos mobilizadores”. Dife-
Ao final dos anos 70, Charles Tilly (1978) rentemente dos militantes de um movimento soci-
inscreveu o termo mobilização no campo das teo- al, com atuações voltadas para fora de suas reali-
rias sobre os movimentos sociais, ao defini-lo como dades imediatas, onde se localizam as raízes dos
um dos quatro componentes da ação coletiva. problemas de suas demandas, Toro preconiza que
Mobilização, para Tilly, envolve o caminho pelo os produtores e re-editores (tidos como atores ou
qual os grupos sociais adquirem recursos sufici- ativistas) devem ter seu campo de atuação voltado
entes para tornar a ação coletiva possível. Ele tra- para o interior de suas realidades, focado no coti-
balhou as elaborações de M. Olson sobre a teoria diano, devem desenvolver processos de comuni-
da mobilização de recursos, para explicar as mobi- cação direta, atuar em redes comunicativas, for-
lizações políticas. Giddens (1993) atribui à catego- mular e difundir mensagens claras, criar imaginá-
ria um significado um pouco diferente ao dado rios sociais que despertem o desejo de engajamento
por Tilly, já que seria o engajamento de grupos nas pessoas, estudar e planejar o campo de suas
para a ação coletiva, sem ênfase no caráter instru- atuações, desenvolver ações coletivas sem hierar-
mental da ação. quias ou “donos” e acompanhar permanentemen-
Na atualidade, nas Ciências Sociais, há vá- te os processos de mobilização. Criar fóruns, re-
rios autores que têm utilizado a categoria, a exem- des, consórcios como parte do processo de
plo de Boaventura de Souza Santos. Neste artigo, mobilização. Observa-se que há uma engenharia
destacamos seu uso na América Latina, de uma do social, um modo processual de organizar a ação
forma peculiar: a dada pelo colombiano José coletiva, fundamentado em modernas técnicas da
Bernardo Toro (2007). Toro fez do tema da comunicação.
mobilização social o centro de um plano estratégi- Para Toro, o movimento surge como resul-
co de atuação na realidade social visando a provo- tado desse processo. Ou seja, há uma inversão na
car mudanças de comportamento. Ele passou pro- concepção do que seja um movimento social. O
gressivamente a influir na agenda das políticas termo movimento é substituído inicialmente por
públicas dos anos de 1990 e no planejamento es- mobilização e aparece somente no final do proces-
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especialistas se portam como quem já sabe de tudo e entidades do Terceiro Setor em toda a América
e tem as respostas para tudo. Os indivíduos seleci- Latina, um tipo de participação construída ou
onados para atuar como re-editores devem ser ou induzida.
estar preparados para “interpretar” a realidade se- No Brasil, por exemplo, nem os movimen-
gundo certos parâmetros. “Os males da sociedade” tos sociais ou o associativismo morreram (muda-
são vistos como resultados de uma ordem social ram sim, segundo a nova conjuntura econômica e
criada pelos próprios indivíduos. Como não são política), nem os novos “ativistas ou mobilizadores”
males de origem natural, supõe-se que podem ser dominam completamente a cena da sociedade ci-
modificados por aprendizagens diárias, frutos de vil organizada (embora sejam hegemônicos na atu-
uma convivência social em que se aprende: a não alidade). Os novos ativistas são mobilizados para
agredir o semelhante, a comunicar-se, a interagir, a participar de ações sociais estruturadas por agen-
decidir em grupo, a cuidar de si, a cuidar do entor- tes do chamado Terceiro Setor, ou por agências
no e a valorizar o saber social. A democracia é vista governamentais, via políticas públicas indutoras
como uma ordem autofundada. Esse voluntarismo da organização popular, como nos conselhos
da ação coletiva impede a análise de localizar gru- gestores; ou mobilizados pelos fóruns temáticos
pos de interesses, conflitos e lutas pelo poder. Des- nacionais, regionais ou internacionais, onde a pre-
tacam-se mais o indivíduo e seu comportamento e sença de antigos e novos movimentos sociais é
não a situação socioeconômica de um grupo. Toda corrente. Temos de reconhecer que as duas formas
a argumentação centra-se na busca de uma vonta- existem na atualidade e, muitas vezes, se
de para resolver problemas. Em resumo, nessa entrecruzam nos movimentos e nas organizações
abordagem, não há preocupação com o entendi- cívicas de ativistas, mobilizados em função de pro-
mento da história social e política de um povo para jetos sociais pontuais. Os dados empíricos indi-
além de seu local imediato. As causas e gêneses cam-nos que essas duas modalidades continuarão
dos processos de exclusão e pobreza não são ana- a existir por muito tempo. São duas formas de
lisadas. Parte-se de uma dada situação e busca-se protagonismo civil que atuam segundo polos dife-
mobilizar pessoas para sua resolução, substituindo renciados da ação social: uma trabalha no campo
a “cultura da espera” pela “cultura da resolução, do do conflito e a outra no campo da cooperação ou
fazer”. Certamente que há fundamentos teóricos que integração. Há tensões permanentes nas duas fren-
embasam e suportam essas análises, advindos de tes. A solidariedade existe nas duas, mas de forma
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concepções utilitaristas. O pensamento crítico, que diferente: nos movimentos, ela é orgânica, criada
vai às raízes do problema, busca sua compreensão por meio da experiência compartilhada de perten-
e causas, não tendo espaço, embora se invoque a cer e vivenciar alguma situação de exclusão. Nas
criatividade, inovação e saberes locais. organizações cívicas, ela é estratégica ou instru-
A categoria movimento social no campo do mental, criada para atingir metas que resolvam
conflito praticamente é substituída, na abordagem problemas sociais de grupos também excluídos
de Toro, pela de mobilização social, que também economicamente ou culturalmente, a partir de in-
gera uma sigla MS, voltada para a ação coletiva, teresses desses grupos, mas que foram desenha-
que busca resolver problemas sociais diretamente, dos por projeto ou programa de agentes externos.
via a mobilização e engajamento de pessoas. A di- Segundo Domingues (2007), a mobilização social
mensão do político é esquecida ou negada. E essa fortalece a democracia na América Latina. Em en-
dimensão é o espaço possível de construção his- trevista à Folha de São Paulo, ele afirma que “a
tórica, de análise da tensão existente entre os dife- tendência é uma mobilização cidadã, ao lado do
rentes sujeitos e agentes sociopolíticos em cena. É processo de institucionalização da democracia”
importante relembrar que a abordagem de Toro (Folha de São Paulo, 30/12/2007, p.A18).
fundamenta as ações coletivas de milhares de ONGs Uma grande diferença entre as duas abor-
450
Maria da Glória Gohn
dagens está na forma de apreender o processo de dados pelas articulações e redes temáticas que se
mudança social: numa, os sujeitos protagonistas criam. As redes temáticas constituem inovações no
são pré-codificados, a História não é vista como campo das ações coletivas da sociedade civil orga-
produtora de experiências que geram memórias, nizada. Elas têm gerado, inclusive, metodologias
aprendizados, saberes, conhecimentos que são próprias de investigação como as redes temáticas
acumulados e constituem a base dos processos de criadas a partir da análise de conteúdo de discur-
mudança e transformação social. As especificidades sos ou textos (Bauer, 2005). As redes temáticas unem
das lutas locais, bases para as inovações e mudan- grupos identitários em fóruns temáticos que, por
ças, são diluídas ou ignoradas no comparativo ge- sua vez, reforçam outros fóruns de articulação mais
ral. A outra abordagem busca o universo de rela- geral, que extrapolam as fronteiras nacionais e se
ções sociais desses sujeitos (antigos e novos), para constituem como grupos de pressão junto aos or-
entender seu protagonismo na cena sociopolítica ganismos e instituições de cúpula internacionais.
e cultural. Essa diferença se reflete na questão da Criam sujeitos sociopolíticos que alçam vôos que
institucionalização. As ações coletivas organizadas ultrapassam os territórios onde nasceram e têm sua
sob a forma de movimentos sociais, quando criam base de atuação e militância.
formas institucionais no seu interior, como uma Portanto, há diferentes paradigmas teóricos na
cooperativa, transitam num cenário contraditório, atualidade para o estudo da ação dos sujeitos coleti-
ora articuladas com uma organização, ora como vos que produzem e reproduzem as demandas, ações,
movimento social propriamente dito. Transformar- inovações ou até mesmo retrocesso nas ações coleti-
se em uma organização tem sido uma “exigência” vas organizadas. Este texto dá atenção para a forma
estrutural ou conjuntural para receber recursos e como os sujeitos investigados desenvolvem relações
repasses de verbas governamentais, e os movi- sociais e experiências cotidianas, porque são essas
mentos têm de criar associações registradas. experiências que dão especificidades às redes, aos
Institucionalizam-se normativamente. O coletivo seus nós articulatórios que ligam ações coletivas
maior dilui-se num coletivo menor, restrito a um diversas, e não a qualquer tipo de determinismo
número de pessoas que compõe a diretoria ou co- pré-configuratório. Como há diversidade entre os
ordenação de uma entidade. Passam ao status de sujeitos, as redes poderão estar mais ou menos
entidade da sociedade civil organizada. Eis a fonte institucionalizadas, segundo a sua composição,
do paradoxo, da transfiguração de atores e sujei- com alguma forma de juridização que normatiza
451
ABORDAGENS TEÓRICAS NO ESTUDO DOS MOVIMENTOS ...
cais, construídas a partir de vínculos sociais e re- zadas pelos analistas, por lideranças de movimen-
des de sociabilidades, tais como as diferentes coo- tos sociais e pelos formuladores das políticas, de
perativas de produção existentes no país; ou são forma bastante acrítica. Este artigo buscou pontuar
trabalhos de redes de movimentos sociais que cons- algumas questões que essas categorias envolvem,
truíram, em algum momento de suas trajetórias, no seu uso e referenciais de apoio, usualmente
de forma ocasional ou permanente, entidades derivadas de matrizes da teoria social predominante
institucionalizadas para viabilizarem suas práticas. nas academias norte-americanas, das teorias das
oportunidades políticas, mobilização social e es-
truturas de mobilização organizativas. As novas
CONCLUSÕES gramáticas que elas têm produzido na interpreta-
ção dos movimentos sociais latino-americanos dei-
Partindo das transformações que acontece- xam de lado temas caros, como o da autonomia, e
ram no mundo nas últimas décadas e que acaba- priorizam a inclusão social, a integração nas ações
ram por influenciar as mudanças de focos nos e projetos sociais coletivos que envolvem movi-
movimentos sociais na América Latina, este artigo mentos sociais, ONGs, órgãos públicos ou funda-
apresentou inicialmente uma breve conjuntura atual ções do Terceiro setor.
dos movimentos sociais latino-americanos. Desta-
cou-se que eles não se limitam à política, à religião
(Recebido para publicação em outubro de 2008)
ou as demandas socioeconômicas e trabalhistas. (Aceito em dezembro de 2008)
Movimentos por reconhecimento, identitários e
culturais, e por direitos socioculturais ganharam
destaque, a exemplo do movimento dos indíge- REFERÊNCIAS
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Maria da Glória Gohn
THEORETICAL APPROACHES TO THE STUDY OF LES APPROCHES THÉORIQUES DANS L’ÉTUDE DES
SOCIAL MOVEMENTS IN LATIN AMERICA MOUVEMENTS SOCIAUX EM AMÉRIQUE LATINE
This paper aims to analyze the scene of civil L’objectif de ce travail est d’analyser le scénario de
associativism in Latin America, pointing out its social l’associativisme en Amérique Latine. On y met en
movements and the theoretical interpretations that have évidence les mouvements sociaux et les interprétations
been made about them, taking as its point of view some théoriques qui ont été faites à son propos, à partir de
categories and the theories that give them support. The catégories spécifiques utilisées et des théories qui leur
text begins with a brief characterization of the Latin- servent de support. L’analyse commence par une brève
American scene, according to its main social movements, caractérisation du scénario latino-américain, en fonction
pointing out some of the alterations that are happening de ses principaux mouvements sociaux, où l’on montre
starting from the development of public policy aimed at plus clairement certains changements dus au
the social development, in partnership with the développement de politiques publiques dans le domaine
organized civil society. Theories and theoreticians that social, en partenariat avec la société civile organisée.
have researched the social movements in Latin America On y présente des théories et des théoriciens ayant fait
are presented and two theoretical categories quite used des recherches sur les mouvements sociaux en Amérique
at the present time are analyzed: networks and social Latine et on y analyse deux catégories théoriques très
mobilization. The text ends with the following utilisées actuellement: réseau et mobilisation sociale.
observation: there is a new scene in the civil Ce travail en arrive à la conclusion suivante: il existe un
associativism and the scope of its theories and nouveau scénario au sein de l’associativisme civil et
interpretations is diverse. However, identity policies l’éventail des théories et des interprétations est varié.
have been built to “include” groups and associations, Toutefois des politiques d’identité ont été élaborées par
mobilized by governments through public policies. les gouvernements au travers de politiques publiques
Operational categories of social intervention are actually pour “inclure” les groupes et les associations. Des
being ressignified as the cornerstones of a conservative catégories opérationnelles d’intervention sociale sur la
policy of inclusion, generating new readings and réalité ont été re-signifiées selon les critères d’une
theoretical interpretations about social reality. politique d’inclusion conservatrice, permettant de
nouvelles lectures et interprétations théoriques de la
réalité sociale.
KEYWORDS: social movements, theories, associativism, M OTS - CLÉS : mouvements sociaux, théories,
networks and social mobilization. associativisme, réseaux et mobilisation sociale.
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