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No que diz respeito à dimensão política, uma “memória política” é esboçada de

forma primária e incompleta. A política está presente no filme, entretanto ela não leva a
uma compreensão coerente dos acontecimentos.

“O carteiro e o poeta” é uma obra sobre poesias, tanto aquelas escritas quanto as
vivenciadas, em uma descarada homenagem à poética por vezes escondida no cotidiano,
o que é mundo comum, dado que a literatura, em especial a em verso, vem sofrendo
uma grande queda de público, pois esta lateja apenas aos olhares mais sensíveis.

O filme mostra, por razões políticas, o poeta Pablo Neruda exilado em uma ilha
na Itália. Lá um desempregado, quase analfabeto, é contratado como carteiro extra,
encarregado de cuidar, exclusivamente, da correspondência do único homem da ilha que
recebe cartas, e em enorme quantidade. Este era Pablo Neruda, o poeta do amor.

O carteiro é Mario Ruoppolo, pobre pescador que mora com o pai, e descobre
desde cedo a sua total falta de interesse em seguir sua profissão. Por outro lado, é
apaixonado por filmes e, à custa do pai, ocasionalmente satisfaz seu prazer no cinema
de San Antonio. Até que um dia, ao ver um anúncio de emprego, o jovem Mario toma a
iniciativa de entrar na agência de correios e prontamente se oferece para o
preenchimento da vaga de carteiro.

A chegada do poeta e a relação que se iniciava entre os dois foram a chance que
Mario precisava para conhecer a vida sob um outro prisma. Dessa amizade surge no
carteiro um outro homem, capaz de pensar, de criar, de criticar e de gostar da vida. O
que era apenas uma admiração curiosa, no início, passa a ser uma forte amizade entre
Neruda, Nobel de Literatura de 1971, e o carteiro. A peculiar afeição entre os dois se
intensifica na medida em que Mario descobre sua sensibilidade, o dom poético e o
deslumbre pelas metáforas, bem como, principalmente, quando descobre seu amor por
uma jovem conterrânea.

Sobre essa paixão de Mario pela bela Beatriz Russo, Neruda se exalta com o
carteiro ao saber que este dedicou à bela siciliana versos feitos para sua amada Maria; já
carregado de lirismo nos lábios, o humilde filho de pescador, serenamente, reponde: “A
poesia não pertence ao poeta que a escreveu, mas a quem precisa dela”, e todos nós
precisamos de poesia.

As metáforas são muito mais que meros detalhes neste mundo que mescla ficção
e realidade, nos ensinam a ver poesia, a beleza e, acima de tudo imagens em outras
imagens, em todos os lugares, mesmo nos mais rotineiros detalhes da vida. “Quando
tentamos explicar, a poesia se torna banal. Melhor do que qualquer explicação é a
experiência das emoções que a poesia revela para uma alma disposta a compreendê-
la”, sacramenta Neruda, no filme.

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