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Departamento de História
Teoria da História
Professor: Arthur Assis
Aluno: Pedro Henrique Lemos da Silva
Matrícula: 09/14444
Existe, entre a atividade de narrar uma historia e o caráter temporal da existência humana, uma
correlação que não é puramente acidental, mas apresenta uma forma de necessidade
transcultural. Em outras palavras, o tempo torna-se humano na medida que é articulado de um
modo narrativo, e que a narrativa atinge seu pleno significado quando se torna uma
condição da existência temporal. O propósito da meditação de Ricoeur: tempo e narrativa. O
texto não vai considerar a bifurcação entre narrativa histórica e narrativa de ficção. A mimese 2
tem o papel de mediadora, conduzir do montante à jusante do texto. O leitor é o autor principal do
processo à mimese 2 por meio da mimese 1 e 3. A tríplice mimese é subordinada à problemática
em perspectiva da dinâmica da tessitura da intriga, que é a chave do problema da relação entre
tempo e narrativa. È construindo a relação entre os três modos miméticos que se constitui a
mediação entre tempo e narrativa. Para resolver o problema da relação entre tempo e narrativa,
deve-se estabelecer o papel mediador da tessitura da intriga entre um estagio da experiência
pratica que a precede e que a sucede. O argumento do texto é construir a mediação entre tempo e
narrativa demonstrando o papel mediador da tessitura da intriga no processo mimético. Ricoeur se
propõe a desimplicar(separar) os aspectos temporais da tessitura da intriga do ato da configuração
textual e de mostrar o papel mediador desse tempo da tessitura da intriga entre os aspectos
temporais prefigurados(pressupostos) no campo pratico e a refiguração(constatação) da nossa
experiência temporal por esse tempo construído. Seguimos, pois, o destino de um tempo
prefigurado em um tempo refigurado, pela mediação de um tempo configurado.
Uma tautologia da tese: a temporalidade é levada à linguagem na medida em que esta configura e
refigura a experiência temporal. Mas ele espera mostrar que esse circulo não é apenas uma
tautologia morta.
Mimese 1
Mimese 2
Com mimese 2 abre-se o reino do como-se. Ricoeur diz que poderia ter usado o termo reino
da ficção, de acordo com o uso corrente em crítica literária, mas ele se priva das vantagens desse
termo a fim de evitar equívocos em duas concepções diferentes: ficção como sinônimo das
configurações narrativas e ficção como antônimo de pretensão da narrativa histórica de construir
uma narrativa verdadeira, limitando-se aos caracteres comuns estruturais à narrativa de ficção e
narrativa histórica. A palavra ficção está então livre para designar a configuração da narrativa de
que a tessitura da intriga é o paradigma, sem dar atenção às diferenças que só concernem à
pretensão à verdade das duas classes de narrativa. Esperando esse esclarecimento, Ricoeur
escolheu reservar o termo ficção à segunda das acepções e opor narrativa de ficção à narrativa
histórica. Falará de composição ou configuração na primeira das acepções, que não põe em jogo
os problemas de referência e de verdade. É o sentido do muthos aristotélico que a Poética define
como agenciamento dos fatos.
O modelo de tessitura da intriga que será posto à prova responde a uma exigência fundamental
que já foi evocada. Colocando mimese 2 entre um estágio anterior e um estágio ulterior da
mimese, Ricoeur não busca apenas localizá-la e enquadrá-la; quer compreender melhor sua
função de mediação entre o montante e a jusante da configuração. Mimese 2 só tem uma
posição intermediária porque tem uma função de mediação. A intriga já exerce, no seu próprio
campo textual, uma função de integração e, nesse sentido, de mediação, que lhe permite operar,
fora desse próprio campo, uma mediação de maior amplitude entre a pré-compreensão e a pós-
compreensão da ordem da ação e dos seus traços temporais. A intriga é mediadora por pelo
menos 3 motivos.
Primeiro, faz mediação entre acontecimentos ou incidentes individuais e uma história
considerada como um todo. Ela extrai uma história sensata de – uma pluralidade de
acontecimentos ou de incidentes(os pragmata de Aristóteles); ou que transforma os
acontecimentos ou incidentes em – uma história. O de e o em caracterizam a intriga como
mediação entre acontecimentos e história narrada. Uma história deve ser mais que uma
enumeração de eventos em uma ordem serial, deve organizá-los numa totalidade inteligível, de tal
sorte que se possa sempre indagar qual é o tema da história. Em resumo, a tessitura da intriga é
a operação que extrai de uma simples sucessão, uma configuração. Aristóteles iguala a intriga
à configuração que caracterizamos como concordância-discordância, esse traço que, de modo
definitivo, constitui a função mediadora da intriga. A passagem do paradigmático ao sintagmático
constitui a própria transição de mimese 1 para mimese 2 , é a obra da atividade da configuração. A
narrativa faz aparecer numa ordem sintagmática todos os componentes suscetíveis de
figurar no quadro paradigmático estabelecido pela semântica da ação.
Por último, a intriga é mediadora por seus caracteres temporais próprios. Esses caracteres
temporais Aristóteles não considerou, contudo eles estão diretamente implicados no dinamismo
constitutivo da configuração narrativa. Com isso dão sentido pleno ao conceito de concordância-
discordância, assim a tessitura da intriga ao mesmo tempo que reflete o paradoxo
agostiniano do tempo e o resolve, não no modo especulativo, mas poético.
A tessitude da intriga traz uma solução que é o próprio ato poético, extrai uma representação de
uma sucessão que revela-se ao ouvinte ou ao leitor na aptidão de uma história a ser seguida.
Seguir uma história é avançar no meio de contingências e de peripécias sob a conduta de uma
espera que encontra sua realização na conclusão. Essa conclusão não é logicamente implicada
por algumas premissas anteriores. Ela dá à história um ponto final, o qual, por sua vez, fornece o
ponto de vista do qual a história pode ser percebida como formando um todo. Compreender a
história é compreender como e porque os episódios sucessivos conduziram a essa
conclusão, a qual, longe de ser previsível, deve finalmente ser aceitável, como congruente
com os episódios reunidos. A dimensão episódica da narrativa puxa o tempo narrativo para o
lado da representação linear, os episódios sucedem um ao outro de acordo com a ordem
irreversível do tempo comum aos acontecimentos humanos e físicos. Já a dimensão configurante
apresenta traços temporais inversos ao da dimensão episódica, ele transforma a sucessão de
acontecimentos numa totalidade significante, que é o correlato do ato de reunir os acontecimentos,
e faz com que a história se deixe seguir. Graças a isso, a intriga pode ser traduzida num
pensamento, que é justamente seu assunto ou tema, um pensamento temporal. A configuração da
intriga impõe à seqüência indefinida de incidentes o sentido de ponto final, a história pode ser vista
como uma totalidade. Em suma, o ato de narrar, refletido no ato de seguir uma história, torna
produtivos os paradoxos que inquietaram Agostinho a ponto de reconduzi-lo ao silêncio.
A tessitude da intriga, assim como o esquematismo de função narrativa, engendra uma
inteligibilidade mista entre o que já se chamou de ponta, o tema, o pensamento da historia
narrada e a apresentação intuitiva das circunstancias, dos caracteres, dos episódios e das
mudanças de fortuna que produzem o desenlace. Esse esquematismo, por sua vez, constitui-se
numa história que tem todas as características da tradição, sendo que o tradicionalismo, não no
sentido lógico do termo, enriquece a relação da intriga com o tempo com um traço novo. A
constituição da tradição, com efeito, repousa sobre o jogo da inovação e da sedimentação. E à
sedimentação que devem ser relacionados os paradigmas que constituem a tipologia da tessitura
da intriga. Os paradigmas, eles próprios de uma inovação anterior, fornecem regras para uma
experimentação ulterior no campo narrativo. Essa regras mudam lentamente e até resistem à
mudança, em virtude do próprio processo de sedimentação. Quanto ao outro pólo da tradição, a
inovação, seu estatuto é correlativo ao da sedimentação. Há sempre lugar para a inovação na
medida em que o que, em última instancia, é produzido na poièsis do poema é, sempre uma obra
singular, esta obra. É por isso que os paradigmas constituem somente a gramática que regula a
composição de novas obras – novas antes de se tornarem típicas. O trabalho da imaginação não
nasce do nada, ele liga-se, se um modo ou de outro, aos paradigmas da tradição. A narrativa
tradicional se atém a uma aplicação servil, enquanto que quanto mais nos distanciamos dela, o
afastamento torna-se regra, fazendo que a inovação se torne a anti-tradição, a contestação
predominando sobre o gosto de simplesmente variar a aplicação, exemplo do que acontece com as
formas literárias contemporâneas. Essa é a gramática da narrativa. A deformação regrada
constitui o eixo médio e torno do qual se distribuem as modalidades de mudança dos
paradigmas por aplicação.
Mimese 3
O circulo da mimese
O tempo narrado