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Se Deus ama todos os seres.

Postado às 08:57
O segundo discute-se assim. — Parece que Deus não ama todos os seres.

1. — Pois, o amor põe o amante fora de si e, de certo modo, o transfere para o amado. Ora, é impróprio dizer que Deus,
exteriorizando-se a si mesmo, se transfere aos outros seres. Logo, é inadmissível que Deus ame seres diversos de si.

2. Demais. — O amor de Deus é eterno. Ora, os outros seres, diferentes de Deus, não existem abeterno senão em Deus.
Logo, Deus não os ama senão em si mesmo. Mas, enquanto estão nele, dele não diferem. Portanto, Deus não ama seres
diversos de si.

3. Demais. — O amor é duplo: de concupiscência ou de amizade. Ora, Deus não ama as criaturas irracionais por amor de
concupiscência, porque de nada precisa, além de si mesmo; e nem pelo de amizade, que não pode existir em relação aos
irracionais, como está claro no Filósofo. Logo, Deus não ama todos os seres.

4. Demais. — A Escritura diz (Sl 5, 6): Aborrece a todos os que obram a iniqüidade. Ora, nada pode ser ao mesmo tempo
odiado e amado. Logo, Deus não ama todos os seres.

Mas, em contrário, a Escritura (Sb 11, 24): Tu amas todas as coisas que existem e não aborreces nada que fizeste.

SOLUÇÃO. — Deus ama tudo o que existe, porque tudo o que existe, na medida mesma em que existe, é bom; pois, o ser
mesmo de qualquer coisa, assim como qualquer perfeição sua, é um bem. Ora, já demonstramos que a vontade de Deus é
a causa de todos os seres. Donde resulta necessariamente, que um ente tem o ser, ou qualquer bem, na medida mesma
em que é querido de Deus. Logo, a cada ser existente Deus quer algum bem. Por onde, o amor não sendo senão querer
bem a alguém, é claro que Deus ama tudo quanto existe. Não porém como nós. Pois, longe de ser causa da bondade das
coisas, a nossa vontade é movida por essa bondade, como pelo seu objeto. O nosso amor, pelo qual queremos bem a
alguém, não é a causa da bondade desse ser; mas, inversamente, a bondade verdadeira ou suposta do ser, a quem
queremos bem, provoca o nosso amor, que nos faz querer que tal se conserve o bem que possui e se lhe acrescente o que
não possui; e para isso cooperamos. Ao contrário, o amor de Deus infunde e cria a bondade dos seres.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O amante, transferindo-se para o amado, exterioriza-se a si mesmo,
enquanto quer o bem para o amado e obra, pela sua providência, como se o fizesse para si próprio. Por isso, diz Dionísio:
Devemos ousar dizer, que é verdade que a própria causa de tudo, por abundância da bondade amante, se exterioriza a si
mesma, pela providência para com tudo o que existe.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora as criaturas não existissem abeterno senão em Deus, contudo, por terem nele
existido desse modo, Deus as conheceu abeterno nas suas naturezas próprias. E pela mesma razão as amou. Assim como
nós, pelas semelhanças das coisas que em nós existem, conhecemos as que existem em si mesmas.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Só pode haver amizade para com as criaturas racionais, capazes de retribuir o amor e de
participarem das obras da vida. E às quais é próprio suceder bem ou mal, conforme a fortuna e a felicidade; assim como
também lhes é própria a benevolência. Mas, as criaturas irracionais não podem chegar a amar a Deus nem à participação
da vida intelectual e feliz, que Deus vive. Portanto Deus, propriamente falando, não ama as criaturas irracionais, por amor
de amizade mas, como por amor de concupiscência, ordenando-as às racionais. E mesmo a si próprio; não que delas
precise, mas, pela sua bondade e para nossa utilidade. Pois, nós desejamos alguma coisa tanto para nós como para os
outros.

RESPOSTA À QUARTA. — Nada impede que, a uma luz, amemos, e, a outra, odiemos a uma mesma coisa. Assim, Deus
ama os pecadores enquanto têm uma certa natureza; pois, como tais, existem e provêm de Deus. Mas enquanto pecadores
não existem, mas, têm o ser falho; e, como isso não lhes vem de Deus, são, como tais odiados dele.

-- Do Livro Suma Teológica, de Santo Agostinho, bispo (século V)


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Marcadores: amor de Deus, Santo Agostinho, Suma Teologica

12/09/2010

O Filho Pródigo (Lc 15, 11-32), sermão de Santo Agostinho


Postado às 10:32
O patrimônio que o filho recebeu do Pai é a inteligência, a mente, a memória, o engenho e tudo o que Deus nos deu para
que O conhecêssemos e Lhe déssemos culto. Tendo recebido este patrimônio, o filho menor "partiu para um país muito
distante". Distância significa: o esquecimento de seu Criador. "Dissipou sua herança vivendo dissolutamente": gastando e
não ajuntando; malbaratando tudo o que tinha e não adquirindo o que não tinha, isto é, consumindo toda sua capacidade
em luxúria, em ídolos, em todo tipo de desejos perversos, aos que a Verdade denominou meretrizes.

Não é de admirar que essa orgia acabasse em fome. "Sobreveio àquela região uma grande fome"; fome não de pão visível
mas da verdade invisível. E, por causa da fome, "foi pôr-se a serviço de um dos senhores daquela região": entenda-se o
diabo, o senhor dos demônios. Alimentava-se então das vagens de porcos sem poder saciar-se. Vagens são as vistosas
doutrinas do mundo: servem para ostentar mas não para sustentar; alimento digno para porcos, mas não para homens:
próprias para dar aos demônios deleitação, mas não aos fiéis justificação.

Até que, por fim, tomou consciência do lugar em que tinha caído; do quanto tinha perdido; Quem tinha ofendido e a quem
se tinha submetido. Reparai no que diz o Evangelho: "Entrando em si..."; primeiramente, voltou-se para si e só assim pôde
voltar para o pai. Dizia talvez: "O meu coração me abandonou (isto é: saí de mim mesmo)" (Sl 40,13); daí que fosse
necessário, antes, voltar para si mesmo e assim perceber que se encontrava longe do pai. É o que diz a Escritura quando
increpa a alguns, dizendo: "Voltai, pecadores, ao coração! (isto é: voltai, pecadores, a vós mesmos!)" (Is 46,8). Voltando
para si mesmo, encontrou-se miserável: "Encontrei, diz ele, a tribulação e a dor e invoquei o nome do Senhor" (Sl 116,3-4).
"Quantos empregados, diz ele, há na casa de meu pai, que têm pão em abundância, e eu, aqui, a morrer de fome!"

Levantou-se e voltou. Ele, caído por terra depois de contínuos tropeços. O pai o vê ao longe e sai-lhe ao encontro. É dele
que fala o Salmo: "Entendeste meus pensamentos de longe" (Sl 139,2). Que pensamentos? Aqueles que o filho tinha em
seu interior: "Levantar-me-ei e irei a meu pai, e dir-lhe-ei: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser
chamado teu filho; trata-me como a um dos teus empregados". Ele ainda nada tinha dito, só pensava em dizer. O pai,
porém, ouvia como se o filho já o estivesse dizendo.

E assim se diz em outro Salmo: "Eu disse: confessarei minha iniqüidade ao Senhor" (Sl 32,5). Vede como se trata ainda de
algo interior a ele, de um mero projeto e, contudo, acrescenta imediatamente: "E tu já perdoaste a impiedade de meu
coração" (Sl 32,5). Quão próxima está a misericórdia de Deus daquele
que se confessa!

E o pai ordena que o vistam com a primeira veste, aquela que Adão perdera ao pecar. Tendo recebido o filho em paz,
tendo-o beijado, ordena que lhe dêem uma veste: a esperança de imortalidade, conferida no batismo. Ordena que lhe dêem
um anel, penhor do Espírito Santo; calçado para os pés, como preparação para o anúncio do Evangelho da paz, para que
sejam formosos os pés dos que anunciam a boa nova.

Estas coisas Deus faz através de seus servos, isto é, os ministros da Igreja. Acaso eles podem, por si próprios, dar veste,
anel e calçados? Não, apenas cumprem seu ministério, desempenham seu ofício; quem dá é Aquele de cujo depósito e de
cujo tesouro são extraídos estes dons.

-- Do Sermão sobre o Filho Pródigo, de Santo Agostinho, século IV.


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Marcadores: Filho pródigo, Misericórdia, pecados, Santo Agostinho

09/09/2010

Os Pastores são modelos para suas ovelhas


Postado às 08:20

Não é agora a primeira vez que ouvis dizer que toda a nossa esperança está em Cristo e que n'Ele está toda a nossa glória
verdadeira. Esta é uma verdade evidente e familiar para vós que pertenceis ao rebanho d'Aquele que vigia e apascenta
Israel. Mas porque há pastores a quem agrada o nome de pastores, mas não querem cumprir os deveres de pastores,
consideremos o que lhes diz o Senhor pela boca do Profeta. Escutai vós com atenção, ouçamos nós com temor.

O Senhor mostrou o que estes pastores amam, mostrou também o que negligenciam. Os males das ovelhas estendem-se
por toda parte. As sadias e robustas, isto é, as fortes pelo alimento da verdade, que se aproveitam bem das pastagens, por
dom de Deus, são pouquíssimas. Os maus pastores, porém, não as poupam. É-lhes pouco não cuidarem das doentes, das
fracas, das desgarradas e perdidas. Tanto quanto podem, também matam as fortes e gordas. Mas estas continuam vivas.
Vivem pela misericórdia de Deus. Contudo, no que diz respeito aos maus pastores, eles matam. “Matam de que modo?”
perguntas. Vivendo mal, dando mau exemplo. Foi em vão que se disse ao servo de Deus, ao colocado mais alto entre os
membros do supremo Pastor: Mostrando-te a todos como exemplo de boas obras? e: Sê modelo dos fiéis (cf. 1Tm 4,12).

Presenciando continuamente a má conduta de seu pastor, uma ovelha, mesmo forte, se desviar os olhos dos preceitos do
Senhor e fixá-los no homem, começará a dizer em seu coração: “Se meu superior vive desse modo, quem sou eu para não
fazer o que ele faz?” Matou a ovelha forte. Se matou a forte a quem não alimentou, que fará com as outras, ele que,
vivendo mal, destruiu o que encontrara forte e robusto?

Digo à vossa caridade e repito. Mesmo que as ovelhas continuem vivas, ainda que sejam fortes pela palavra do Senhor e
guardem o que dele ouviram: Fazei o que dizem, não o que fazem (Mt 23,3). Contudo aquele ue vive mal diante do povo, no
que lhe diz respeito, mata o que o observa. Não se iluda porque se vê que ele não morreu. Este continua vivo, aquele é
homicida.

Assim como um homem que olha para uma mulher desejando-a, embora ela permaneça casta, ele já cometeu adultério. É
verdadeira e clara a palavra do Senhor: Quem olhar para uma mulher com mau desejo, já cometeu adultério em seu
coração (Mt5,28). Não entrou em seu quarto, mas no quarto de seu coração já a abraçou.

Assim, quem vive mal diante de seus subordinados, no que lhe diz respeito, mata até os fortes. Quem o imita, morre; quem
não o imita, vive. No entanto, quanto a ele, destrói a ambos. E o que é robusto matais e não apascentais minhas ovelhas
(Ez 34,3).

-- Do sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo (século V)


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28/08/2010

Deus existe?
Postado às 09:27
Parece que Deus não existe.

1. Pois, um dos contrários, sendo infinito, destrói o outro totalmente. E como, pelo nome de Deus, se intelige um bem
infinito, se existisse Deus, o mal não existiria. O mal, porém, existe no mundo. Logo, Deus não existe.

2. Demais — O que se pode fazer com menos não se deve fazer com mais. Ora, tudo o que no mundo aparece pode ser
feito por outros princípios, suposto que Deus não exista; pois, o natural se reduz ao princípio, que é a natureza; e o
proposital, à razão humana ou à vontade. Logo, nenhuma necessidade há de se supor a existência de Deus.

Mas, em contrário, diz a Escritura (Ex 3, 14), da pessoa de Deus: Eu sou quem sou.

Deus crando o Sol e a Terra - Capela Sistina - Michelangelo


SOLUÇÃO. — Por cinco vias pode-se provar a existência de Deus. A primeira e mais manifesta é a procedente do
movimento; pois, é certo e verificado pelos sentidos, que alguns seres são movidos neste mundo. Ora, todo o movido por
outro o é. Porque nada é movido senão enquanto potencial, relativamente àquilo a que é movido, e um ser move enquanto
em ato. Pois mover não é senão levar alguma coisa da potência ao ato; assim, o cálido atual, como o fogo, torna a madeira,
cálido potencial, em cálido atual e dessa maneira, a move e altera. Ora, não é possível uma coisa estar em ato e potência,
no mesmo ponto de vista, mas só em pontos de vista diversos; pois, o cálido atual não pode ser simultaneamente cálido
potencial, mas, é frio em potência. Logo, é impossível uma coisa ser motora e movida ou mover-se a si própria, no mesmo
ponto de vista e do mesmo modo, pois, tudo o que é movido há-de sê-lo por outro. Se, portanto, o motor também se move,
é necessário seja movido por outro, e este por outro. Ora, não se pode assim proceder até ao infinito, porque não haveria
nenhum primeiro motor e, por conseqüência, outro qualquer; pois, os motores segundos não movem, senão movidos pelo
primeiro, como não move o báculo sem ser movido pela mão. Logo, é necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum
outro movido, ao qual todos dão o nome de Deus.

A segunda via procede da natureza da causa eficiente. Pois, descobrimos que há certa ordem das causas eficientes nos
seres sensíveis; porém, não concebemos, nem é possível que uma coisa seja causa eficiente de si própria, pois seria
anterior a si mesma; o que não pode ser. Mas, é impossível, nas causas eficientes, proceder-se até o infinito; pois, em
todas as causas eficientes ordenadas, a primeira é causa da média e esta, da última, sejam as médias muitas ou uma só; e
como, removida a causa, removido fica o efeito, se nas causas eficientes não houver primeira, não haverá média nem
última. Procedendo-se ao infinito, não haverá primeira causa eficiente, nem efeito último, nem causas eficientes médias, o
que evidentemente é falso. Logo, é necessário admitir uma causa eficiente primeira, à qual todos dão o nome de Deus.

A terceira via, procedente do possível e do necessário, é a seguinte — Vemos que certas coisas podem ser e não ser,
podendo ser geradas e corrompidas. Ora, impossível é existirem sempre todos os seres de tal natureza, pois o que pode
não ser, algum tempo não foi. Se, portanto, todas as coisas podem não ser, algum tempo nenhuma existia. Mas, se tal
fosse verdade, ainda agora nada existiria pois, o que não é só pode começar a existir por uma coisa já existente; ora,
nenhum ente existindo, é impossível que algum comece a existir, e portanto, nada existiria, o que, evidentemente, é falso.
Logo, nem todos os seres são possíveis, mas é forçoso que algum dentre eles seja necessário. Ora, tudo o que é
necessário ou tem de fora a causa de sua necessidade ou não a tem. Mas não é possível proceder ao infinito, nos seres
necessários, que têm a causa da própria necessidade, como também o não é nas causas eficientes, como já se provou. Por
onde, é forçoso admitir um ser por si necessário, não tendo de fora a causa da sua necessidade, antes, sendo a causa da
necessidade dos outros; e a tal ser, todos chamam Deus.

A quarta via procede dos graus que se encontram nas coisas. — Assim, nelas se encontram em proporção maior e menor o
bem, a verdade, a nobreza e outros atributos semelhantes. Ora, o mais e o menos se dizem de diversos atributos enquanto
se aproximam de um máximo, diversamente; assim, o mais cálido é o que mais se aproxima do maximamente cálido. Há,
portanto, algo verdadeiríssimo, ótimo e nobilíssimo e, por conseqüente, maximamente ser; pois, as coisas maximamente
verdadeiras são maximamente seres, como diz o Filósofo. Ora, o que é maximamente tal, em um gênero, é causa de tudo o
que esse gênero compreende; assim o fogo, maximamente cálido, é causa de todos os cálidos, como no mesmo lugar se
diz. Logo, há um ser, causa do ser, e da bondade, e de qualquer perfeição em tudo quanto existe, e chama-se Deus.

A quinta procede do governo das coisas — Pois, vemos que algumas, como os corpos naturais, que carecem de
conhecimento, operam em vista de um fim; o que se conclui de operarem sempre ou freqüentemente do mesmo modo, para
conseguirem o que é ótimo; donde resulta que chegam ao fim, não pelo acaso, mas pela intenção. Mas, os seres sem
conhecimento não tendem ao fim sem serem dirigidos por um ente conhecedor e inteligente, como a seta, pelo arqueiro.
Logo, há um ser inteligente, pelo qual todas as coisas naturais se ordenam ao fim, e a que chamamos Deus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Como diz Agostinho, Deus sumamente bom, de nenhum modo
permitiria existir algum mal nas suas obras, se não fosse onipotente e bom para, mesmo do mal, tirar o bem. Logo, pertence
à infinita bondade de Deus permitir o mal para deste fazer jorrar o bem.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A natureza, operando para um fim determinado, sob a direção de um agente superior, é
necessário que as coisas feitas por ela ainda se reduzam a Deus, como à causa primeira. E, semelhantemente, as coisas
propositadamente feitas devem-se reduzir a alguma causa mais alta, que não a razão e a vontade humanas, mutáveis e
defectíveis; é, logo, necessário que todas as coisas móveis e suscetíveis de defeito se reduzam a algum primeiro princípio
imóvel e por si necessário, como se demonstrou.

-- Do Livro Summa Teológica, 1a. parte, Do Tratado do Deus Uno, Questão 3, de Santo Agostinho, bispo (século IV)
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23/07/2010

Cristo morreu por todos


Postado às 08:49
Com muita razão, minha grande esperança está em Deus, porque curará todas as minhas fraquezas, por aquele que se
assentaa sua direita e intercede por nós, Jesus Cristo. De outro modos desesperaria, pois são muitas e grandes as minhas
fraquezas. São muitas e enormes.

Porém muito maior é teu remédio. Poderíamos ter pensado que teu Verbo estava longe de unir-se aos homens e
entregarmo-nos ao desespero, se ele não se tivesse feito carne e habitado entre nós. Apavarado com meus pecados e com
o peso da minha miséria, eu revolvia no espírito e pensava em fugir para o deserto. Mas me impediste e me fortaleceste,
dizendo-me: Para isto Cristo morreu por todos, para os que vivem não mais vivam para si, mas para aquele que por eles
morreu (2 Cor 5, 15).

Agora, Senhor, lanço em ti meus cuidados para viver e considerarei as maravilhas de tua lei (Sl 119, 18).Tu conheces
minha ignorância e fragilidade: ensinai-me, cura-me. O teu Único Filho me remiu por seu sangue. Nele estão escondidos
todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2, 3). Como, bebo, distribuo e, pobre, desejo saturar-me dele entre aqueles
que dele comem e são saciados. Com efeito, louvarão o Senhor aqueles que o procuram (Sl 21, 27).

-- Adaptado dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo (século V)


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06/07/2010

A unidade da Igreja
Postado às 09:05
Irmãos, exortamos-vos insistentemente à caridade, não apenas entre vós, mas também em relação aos que estão de fora,
quer sejam os ainda pagãos e descrentes, quer se tenham separado de nós, e de modo que, professando conosco a
Cabeça, separaram-se do corpo. Sintamos pesar por eles, porque continuam sendo nossos irmãos. Quer queiram, quer não
queiram, são nossos irmãos. De fato, só deixariam de ser nossos irmãos se deixassem de dizer: Pai Nosso.

Portanto, nós vos suplicamos por Cristo, nosso Senhor. Com efeito, é agora a ocasião de termos para com eles grande
caridade, muita misericórdia, rogando a Deus por eles. Assim, pela mansidão de Cristo, nós suplicamos em favor dos
nossos irmãos que frequentam nossos sacramentos, embora não conosco, mas os mesmos. Eles respondem um só Amém,
embora não conosco, mas o mesmo. Portanto, derramai diante de Deus por eles o âmago de vossa caridade.

-- Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo (século V)


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29/06/2010

Sobre a Nossa Missão


Postado às 08:28
É esta a nossa glória: o testemunho de nossa consciência (2Cor 1,12a). Há homens de juízo temerário, detratadores,
maldizentes, murmuradores, suspeitosos do que não vêem, procurando acusar o que nem mesmo suspeitam. Contra gente
assim, o que nos resta a não ser o testemunho de nossa consciência? Mas, irmãos, também em relação àqueles a quem
queremos agradar, não procuremos nossa glória nem a devemos buscar, mas busquemos a salvação deles, de modo que
não se extraviem aqueles que nos seguem, se andarmos bem. Sejam nossos imitadores, se o formos de Cristo. Se não
formos imitadores de Cristo, que eles o sejam!

Esforcemos-nos, irmãos, não apenas para sermos bons, mas ainda para convivermos bem com os homens. Não
procuremos apenas ter uma boa consciência, mas, na medida em que permitirem nossas limitações, vigilantes sobre a
fragilidade humana, empenhemo-nos em nada fazer que levante dúvidas para o irmão mais fraco. Não aconteça que,
comendo ervas boas e bebendo águas límpidas espezinhemos as pastagens de Deus e as ovelhas fracas comam a erva
pisada e bebam a água turva.

-- Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo. (século V)


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28/06/2010

Somos Povo de suas Pastagens


Postado às 08:32

Antes do mais, que felicidade ser do rebanho de Deus, tão grande que se alguém nela pensar, irmãos, até mesmo nas
lágrimas e nas tribulações de agora, lhe vem imensa alegria. De quem foi dito: Que apascentas Israel, é aquele mesmo de
quem se diz: Não cochilará nem há de dormir quem guarda Israel (Sl 121, 4).Por conseguinte, ele vigia sobre nós
acordados, vigia sobre nós adormecidos. Se, pois, o rebanho de um homem se sente seguro pelo pastor homem, que
segurança não deve ser a nossa por ser Deus mesmo que nos apascenta, e não apenas porque nos alimenta, mas também
porque nos fez?
-- Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (século V)
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15/05/2010

As duas vidas
Postado às 08:47
A Igreja conhece duas vidas, que lhe foram anunciadas por Deus; uma é vivida na fé; outra na visão. Uma no tempo da
caminhada; outra, na mansão eterna. Uma, no trabalho; outra, no descanso. Uma, no exílio; outra, na pátria. Uma, no
esforço da caridade; outra no prêmio da contemplação.

A primeira é representada pelo apóstolo Pedro; a segunda, pelo apóstolo João. Pedro, o primeiro apóstolo, recebeu as
chaves do reino dos céus, com o poder de ligar e desligar os pecados, para que fosse timoneiro de todos os santos, unidos
inseparavelmente ao corpo de Cristo, em meio às tempestades desta vida. E João, o evangelista, reclinou a cabeça sobre o
peito de Cristo, para exemplo dos mesmos santos, a fim de lhes indicar o porto seguro daquela vida divinamente tranquila e
feliz.

Todavia, não é somente Pedro, mas a Igreja universal, que liga e desliga os pecados. E não é só João que bebe da fonte
do coração do Senhor, para ensinar com sua pregação que, no princípio, a Palavra era Deus junto de Deus, e outros
ensinamentos profundos a respeito da divindade de Cristo, da Trindade e da Unidade de Deus. No reino dos céus, estas
verdades serão por nós contempladas face a face, mas na terra nos limitamos a vê-las como num espelho e obscuramente,
até que o Senhor venha. Não foi somente ele que descobriu estes tesouros do coração de Cristo, mas a todos foi aberta
pelo mesmo Senhor a fonte do evangelho, a fim de que por toda a face da terra todos bebessem dele, cada um segundo
sua capacidade.

-- Dos Tratados sobre o Evangelho de João, de Santo Agostinho, bispo (século V)


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13/05/2010

Ascensão de Cristo
Postado às 08:58

Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu aos céus; suba também com ele nosso coração. Ouçamos as palavras do Apóstolo:
Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus;
aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres (Cl 3,1-2). E assim como ele subiu sem se afastar de nós, também nós
subimos com ele, embora não se tenha ainda realizado em nosso corpo o que está prometido.

O Senhor Jesus Cristo não deixou o céu quando de lá desceu até nós; também não se afastou de nós quando subiu
novamente ao céu. Ele mesmo afirma que se encontrava no céu quando vivia na terra, ao dizer: Ninguém subiu ao céu, a
não ser aquele que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu (Jo 3,13).
Desceu do céu por sua misericórdia e ninguém mais subiu senão ele; mas nele, pela graça, também nós subimos. Portanto,
ninguém mais desceu senão Cristo e ninguém mais subiu além de Cristo.

-- trechos Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (Século V)


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08/05/2010

Aleluia Pascal
Postado às 09:33
Podemos considerar duas fases da nossa existência: a primeira, que acontece agora em meio às tentações e dificuldades
da vida presente; e a segunda, que virá depois na segurança e alegria eterna. Por isso, foram instituídas para nós duas
celebrações: a do tempo antes da Páscoa e a do tempo depois da Páscoa.

O tempo antes da Páscoa representa as tribulações que passamos nesta vida. O que celebramos agora, depois da Páscoa,
significa a felicidade que alcançamos na vida futura. Portanto, antes da Páscoa celebramos o que estamos vivendo; depois
da Páscoa celebramos o que ainda não possuímos. Eis porque passamos o primeiro tempo em jejuns e orações; no
segundo, porém, que estamos celebrando, deixamos os jejuns, nos dedicamos ao louvor de Deus.

É este o significado do Aleluia que cantamos. Agora, pois, irmãos, vos exortamos a louvar a Deus A ressurreição e
glorificação do Senhor nos revelam a vida que um dia nos será dada. É isto o que todos nós exprimimos mutuamente
quando cantamos: Aleluia. Louvai o Senhor com todas as vossas forças, não só com a língua e a voz, mas também com a
vossa consciência, vossa vida, vossas ações.

-- adaptado Dos Comentários sobre os salmos, de Santo Agostinho, bispo (século V).
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29/04/2010

O Novo Mandamento
Postado às 09:14
O Senhor Jesus afirma que dá um novo mandamento a seus discípulos: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns
aos outros (Jo 13, 34). Mas já não estava escrito na antiga lei de Deus: Amarás o teu próximo como a ti mesmo? (Lv 19,
18). Por que então o Senhor chama de novo o que é evidemente tão antigo? Na verdade, ele renova o homem que ouve;
não se trata de um amor puramente humano, mas daquele que o Senhor quis distinguir, acrescentando: Como eu vos amei
(Jo 13, 34).

É este amor que nos renova, transformando-nos em homens novos, herdeiros da nova Aliança. Não é como se amam
aqueles que vivem na corrupção da carne; mas como se amam aqueles que são irmãos de Jesus Cristo, amando-se uns
aos outros com aquele mesmo amor com que ele nos amou, e por ele serão conduzidos à plenitude final, onde seus
desejos serão completamente saciados de bens. Então nada faltará à sua felicidade, quando Deus for tudo em todos.
-- adaptado Dos Tratados sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo (século V)
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20/04/2010

O Amor de Deus
Postado às 08:44
Não há ninguém que não ame. A questão é saber o que se deve amar. Não somos convidados a não amar, mas sim a
escolher o que havemos de amar. Não conseguiremos amar se antes não formos amados. Escutai o apóstolo João: Nós
amamos porque ele nos amou primeiro (1Jo 4,10). Procura saber como o homem pode amar a Deus; não encontrarás
resposta, a não ser esta: Deus amou primeiro. Deu-se a si mesmo aquele que amamos, deu-nos a capacidade de amar.
Como ele nos deu esta capacidade, ouvi o apóstolo Paulo que diz claramente: O amor de Deus foi derramado em nossos
corações. Por quem? Por nós, talvez? Não. Então, por quem? Pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,5).

Tendo, portanto, uma tão grande certeza, amemos a Deus com o amor que vem de Deus. Escutai ainda mais claramente o
mesmo São João: Deus é amor, quem permanece no amor, permanece com Deus e Deus permanece com ele (1Jo 4,16). É
bem pouco afirmar: O amor vem de Deus (1Jo 4,7). Quem de nós se atreveria a dizer: Deus é amor? Disse-o quem sabia o
que possuía.

-- Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo, século V

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