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Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Departamento Acadêmico de Construção Civil


Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
Arquitetura Brasileira I

Bruno Ricardo ( brunoricardooliveira@hotmail.com)


Isabela Wille ( isinha_wr@hotmail.com )
Lucas Turmena ( lucasturmena@hotmail.com )

Arquitetura Colonial Religiosa


O que chamamos de estilo colonial no Brasil se estende desde o descobrimento das
terras brasileiras pelo europeu (1500) até a Independência do país (1822). Este largo
período foi marcado por uma economia de exploração, calcada na exportação da
cana e do ouro. Outros fatos marcantes e que condicionaram o país foram a Reforma
Religiosa e a Contra-Reforma, uma vez que o Brasil foi ocupado por ordens religiosas
que objetivavam a catequização dos indígenas que aqui se encontravam.
Neste longo período, podemos perceber diversas tipologias arquitetônicas e
artísticas sucessivas, as quais tem sua classificação bastante polemizada, embora pos-
samos apontar algumas características comuns às diferentes expressões. Temos como
principal fato, a releitura que se dava dos estilos europeus, especialmente de Portugal
e da Itália.
Os primeiros pintores em terras brasileiras, os holandeses Frans Post e Albert
Eckhout [1], adotaram caracteres do barroco holandês, origem de ambos, e os uti-
lizaram para fazer um retrato do Novo Continente, telas que exibiam a natureza e
os tipos humanos encontrados aqui. Entretanto, não se desenvolveu uma linguagem
visual brasileira.
[1] Albert Eckhout. Índio Tapuia.
Na arquitetura, foi decisivo o estilo chão, nome dado ao tardo-renascimento ou Museu Nacional da Dinamarca.
maneirismo em Portugal. O estilo se expressava nos edifícios religiosos pelo par de
torres sineiras, portas e janelas simples, fachada austera, formas elementares, frontão
triangular, paredes caiadas, pedra de cantaria, planta basilical, naves laterais transfor-
madas em capelas, capela mor profunda, interior por vezes ricamente adornado ou
com a presença das volutas maneiristas na fachada. As igrejas lisboetas de São Roque
[2] e de São Vicente de Fora [3] serviam de modelos às edificações deste estilo no
Brasil-colônia.

À esquerda [2] Nicola Salvi e Luigi Vanvi-


telli. Igreja de São Roque. Final do século
XVI.

À direita [3] João Frederico Ludovice. Igre-


ja de São Vicente de Fora. 1627.
As edificações religiosas tinham lugar privilegiado na cidade e eram
acompanhadas de um adro (praça) bem como uma série de ruas que levavam
até a edificação. Desta forma, as igrejas, conventos e colégios condicionavam
o urbanismo da vila e da cidade, nascidas e impulsionadas pelas capitanias
hereditárias, que dividiam as terras entre alguns governantes.
O ambiente encontrado pelos colonizadores não oferecia grandes in-
spirações às construções requeridas pelo homem branco, devido ao caráter
autóctone da habitação indígena. Apesar disso, podemos encontrar certas
adaptações ao clima tomadas da habitação nativa, como é o caso da Igreja de
São Miguel Arcanjo (ou Capela dos Índios) [4], a mais antiga do estado de São
[4] Igreja de São Miguel Arcanjo (Capela Paulo. Á frente da única nave encontra-se um alpendre que gera sombra na
dos Índios). São Paulo. entrada da igreja.
As edificações no Brasil tinham o caráter ambíguo de servirem ao poder
político e religioso, uma vez que os dois estavam unidos pelo acordo do Pa-
droado. Desta forma, as ordens religiosas que conduziram boa parte da colo-
nização das terras e dos esforços em implantação de edifícios, tendo principal
destaque a Companhia dos Jesuítas. Os primeiros jesuítas a chegarem ao Brasil
em 1549, liderados pelo padre Manoel de Nóbrega, seguidos de outros tantos
com os objetivos de converter os indígenas, preparar para o sacerdócio e dar
educação formal. Estes religiosos estabeleciam as missões ou ocupações jesu-
íticas, em local próximo a rios ou portos, no alto de morros ou elevações que
permitissem a defesa.
Suas primeiras construções eram executadas em pau-a-pique cobertas
com folhas de palmeiras. Num segundo período, passaram a ser utilizada a
taipa de pilão e a pedra caiada, adaptando melhor o edifício às condições
climáticas.
Numa tentativa de dar solidez e linguagem uniforme às obras arquitetôni-
cas da colônia, o governador Tomé de Souza trouxe consigo, em 1549, mes-
tres em diversas ofícios da construção. Assim, a arquitetura da colônia poderia
se assemelhar àquela produzida na Europa civilizada. Em 1577 também vem
o jesuíta português Francisco Dias, primeiro arquiteto a aportar no Brasil, a
fim de dar identidade artística às igrejas da colônia, de acordo com o modelo
[5] Francisco Dias. Igreja de Nossa Sen- italiano. O arquiteto foi responsável pela Igreja de Nossa Senhora da Graça
hora das Graças (Olinda, PE, 1580) de Olinda (PE, 1580), sua última obra ainda de pé. São igrejas que transmitem
austeridade e abnegação, além de muita simplicidade, como é possível verificar
nas formas geométricas e simples da igreja.
A partir desses esforços, se desenvolveram nas principais ci-
dades da colônia uma série de adaptações das igrejas européias, fi-
nanciadas pelas ordens clericais.
Na então capital, Salvador, foi construída o que viria a ser a
Catedral Basílica Primacial de São Salvador [6]. Começada em 1551,
em taipa, e concluída por Mem de Sá em 1572, usando alvenaria, foi
construída frente à praça Terreiro de Jesus, fora dos muros da ci-
dade. Tornou-se assim um pólo de crescimento de Salvador, levando
a população a residir nesta área desocupada. Possui duas torres em
madeira, nave única, ausência de transepto e de cúpula. A capela mor
é profunda e retangular, com duas capelas laterais. Sua fachada se
adéqua perfeitamente ao molde de São Vicente de Fora, num estilo
maneirista. Ao Aldo foi construído o Colégio Jesuíta, como era de
costume na época. Era uma construção horizontalizada, simples, que
[6] Catedral Basílica Primacial de São Salvador e Colégio dos Jesuítas (1572). Salvador.
dispunha de um claustro com as diversas celas à sua volta.
No Espírito Santo também logo foram construídos edifí-
cios religiosos, sendo um bom representante a Igreja dos Reis
Magos (Nova Almeida, 1615) [7]. Implantada em posição de-
stacada, tem fachada bastante simples, com um ósculo rosáceo
sobre a porta principal, o qual servia para iluminar parcialmente
o interior. O colégio também se dispõe ao lado, separado por
uma torre sineira.
No Rio de Janeiro encontramos algumas obras bastante
significativas, tal qual o Convento de Santa Teresa, obra iniciada
em 1750 e já habitada em 1757. Foi projeto do engenheiro-
militar José Fernandes Pinto Alpoim, mesmo projetista dos Ar-
cos da Lapa. Ambas obras estão representafas em uma tela de
Leandro Joaquim [8], onde fica bastante visível o destaque que [7] Igreja dos Reis Magos (1615). Nova Almeida, Espírito
a igreja tinha em relação à malha urbana. Santo.
Ainda no Rio de Janeiro, há a Igreja e o Mosteiro de São Bento [9], iniciados em 1617, projetados pelo en-
genheiro militar português Francisco de Frias da Mesquita. Quando terminados em 1690, foram adicionadas duas
naves à nave púnica do projeto, além de um prolongamento da capela-mor, adição de sacristia na parte posterior
e galilé com três portais. A fachada é bastante austera, com frontão triangular e torres com acabamento piramidal.
O interior é suntuoso e conta com entalhes de diversos artesãos [10]. O claustro do mosteiro é de autoria do en-
genheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim. A Rua Direita (atual Rua 1° de Março) ligava a igreja à do Morro
do Castelo, sendo sua importância datada desde então.

[8] Leandro Joaquim. Arcos (1790). [9] Francisco de Frias Mesquita.Igreja e Mosteiro
de São Bento (1690). Rio de Janeiro. [10] Igreja e Mosteiro de São Bento (interior).

Em São Paulo verificamos a ocupação dos jesuítas


através do marco zero da cidade, o Pátio do Colégio [11],
que remonta à época de redução jesuítica, apresentando
um caráter bastante seiscentista nas suas linhas simples
com pequenos atrevimentos formais, como demonstra
o frontão modificado.
Como verificamos, as edificações não eram inteira-
mente homogênea, havendo pequenas adaptações con-
forme os recursos financeiros, clima, Ordem patrocina-
dora e etc. Porém, fica visível a falta de uma identidade
brasileira nas igrejas produzidas no período colonial, já
que seguiam modelos europeus como uma forma de
tornar mais digna sua aparência e mais condizente com
o aspecto de civilização que se intentava transmitir.
[11] Pátio do Colégio (1554). São Paulo.

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