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[...]
Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo para outro.
Ele sabe.
Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio.
Sabemos, sim.
Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar esse grito com conversas tolas,
elucubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para
procurar uma verdade que se encaixe em nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade se impõe,
fala mais alto que nós, ela grita. [...]
A verdade grita. Provoca febre, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro
vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente
aprisiona e finge esquecer. Mas há uma verdade única : ninguém tem dúvida sobre si mesmo. [...]
Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe. [...]
MEDEIROS, Martha. Montanha-russa. Porto Alegre: LP&M, 2001. (fragmento)
1. O texto transcrito trata das “verdades que, segundo a autora, “gritariam dentro de cada um de nós. Quais são elas?
a) Para tratar desse assunto, a autora utiliza uma estrutura sintática recorrente. Transcreva os períodos em que
ocorre essa estrutura.
b) Qual a estrutura sintática desses períodos?
c) De que maneira o uso dessa estrutura contribui para a construção do sentido do texto?
2. No final do texto, a autora chega a uma conclusão a respeito das “verdades” que as pessoas têm dentro de si.
Transcreva a passagem em que essa conclusão é apresentada.
a) Como se estrutura, do ponto de vista sintático, o período que apresenta essa conclusão.
3. Nos períodos apresentados, a mesma oração exerce duas funções sintáticas diferentes. Identifique essas funções e
explique o que, sintaticamente, determina essa diferença.
As orações “para que sai vista não despertasse saudade e remorso em ninguém” e “para sepultar o corpo”
exprimem a mesma circunstância, mas aparecem sob formas diferentes. Justifique essas afirmações.
9. Nos períodos a seguir, todas as orações subordinadas adverbiais são introduzidas pela conjunção como. Leia-as e
responda o que se pede.
I. Como não gosto desse tipo de peça, não irei ao teatro ver o espetáculo.
II. Como era de se esperar, ele não compareceu ao encontro.
III. Ele faz excelentes análises da situação nacional, como fazem os bons cientistas políticos.
a) Essa conjunção pode receber diferentes classificações, a depender do tipo de relação sintática estabelecido pela
oração subordinada que ela introduz. Que tipo de relação é introduzida por essa conjunção nos períodos acima?
b) Considerando essas relações, classifique as orações subordinadas introduzidas pela conjunção como.
c) Reescreva as orações subordinadas dos enunciados I e II substituindo a conjunção como por conectivos que
mantenham as mesmas relações sem6anticas estabelecidas pelas subordinadas adverbiais em cada período.
Poeminha Surrealista
Gostaria, querida,
De ser inesperado
Como uma madrugada amanhecendo
À noite
E engraçado, também,
Como um pato num trem. (Millôr Fernandes)
Botafogo
Desfilam algas sereias peixes e galeras
E legiões de homens desde a pré-história
Diante do Pão de Açúcar impassível.
Um aeroplano bica a pedra amorosamente
A filha do português debruçou-se à janela
Os anúncios luminosos lêem seu busto
A enseada encerrou-se num arranha-céu. (Murilo Mendes)
10. Destaque uma característica surrealista de cada um dos textos.
Ode ao burguês
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o èxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
"–Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
–Um colar... –Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"
12. Considerando que ode é uma poesia entusiástica, de exaltação, comente o título do poema de Mário de Andrade e a
“brincadeira” sonora feita pelo autor.
14. Considerando os tipos textuais (narração, descrição, dissertação), em qual desses tipos se classificaria o poema
Pensão familiar? Justifique.
15. Com que sentido Manuel Bandeira emprega os diminutivos no texto? Explique.