F E V E R E I R O 2 0 0 8

Tema bastante tormentoso é o reconhecimento da prescrição em relação às

medidas sócio-educativas no âmbito do direito infanto-juvenil.

Prescrição
sócio-
educativa

“o caráter predominantemente
reeducador das medidas previstas na Lei
no 8.069/90 faz com que o Estado tenha
o dever de aplicá-las para preparar a
pessoa humana para uma vida feliz
e útil. (...) Trata-se, repita-se, de um
dever do Estado e não existe prescrição
ou decadência de um dever” (2004, pág.
343) - o magistério de Guaraci Vianna.

Eduardo Del-Campo, P42/43

Destaque do mês Edição n o 57

Uso de Celular por Improbidade Execução Fiscal Midiatização da Desassossego da Minha trajetória
presos Administrativa Por mais que se justiça filiação como concursando
A segurança pública, Essa Lei substitui a entenda que a Lei É certo que os Realizei cursos
um dos sustentáculos antiga Lei Bilac Pinto 11.382 seja mais “comflitos de preparatórios com
da estrutura e trouxe inova;’oes aperfeiçoada que paternidade” já futuros colegas, que
democrática, nos inportantes no plano diplomas anteriores, encontram caminhos auxiliaram e muito
últimos tempos, punitivo. ela não afasta a de solução nas no enfrentamento das
incidência de regra questões suscitadas
vem sofrendo sério técnicas em DNA,
Fabio Medina – P8
especial expressa. nas provas.
abalamento pelo da quando cabíveis, e
criminalidade avanço Flávio Yarshell – P6 A mídia dramatiza no valor jurídico da Ari Marion – P32/33
organizada. as informações base socioafetiva da
relacionadas com a filiação.
Fernando Capez – P10 violência.
Luiz Fachin – P48
Luiz Flávio Gomes
Sérgio Souza

– P16

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 J U S T I Ç
O Avanço do Estado Terrorista
“Até mesmo o presidente Lula deixa-se levar pelo ímpeto autoritário...”
Acervo CF
Ives Gandra da Silva Martins
H á nítida escalada, no mundo,
das restrições aos direitos dos cida-
dãos. Nos Estados Unidos, a guerra
do Iraque desventrou tratamentos
indignos a prisioneiros e cidadãos
de outras nacionalidades, até hoje não
tendo havido solução para o problema
dos emigrantes mexicanos, apesar do
livre trânsito de mercadorias, que o
NAFTA permite.
Putin, por outro lado, enrijece o regi-
me, a ele sendo atribuídos assassinatos
de adversários políticos - jornalistas
foram envenenados –, o que coincide
com a adoção de atitudes cada vez mais
arbitrárias para calar a oposição, de que
é prova a injustificável prisão de Kaspa-
rov, símbolo da inteligência russa.
A China é uma ditadura, não fi-
cando atrás o Paquistão, onde, com
violência, as vozes oposicionistas têm
sido caladas.
Quanto aos países fundamentalistas
nem há o que se falar. O fanatismo ter-
Diretoria
Lúcio Maia e Paulo Stanich Neto
Jornalista Responsável
Paulo Stanich Neto – Mtb 36.022
Reportagem
Ana Lúcia Las Casas e Daniel Mourão
Conselho Editorial
Dra. Juliana C. Fincatti Moreira, Dr. Luciano de Freitas Santoro,
Dr. José Fernando Simão e Dr. João Marcelo Bijarta Ferraioli
Capa
Jovani Ribeiro
Diagramação
R2 Criações / Jovani Ribeiro
Impressão Gráfica Taiga
As matérias são de responsabilidade de seus autores, já que
nem sempre manifestam a opinião do Jornal.
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A
mina por impor regras desumanas,
como punir a mulher vítima de estu-
pro, e não os estupradores, ou apenar
professora por ter concordado que as
crianças suas alunas dessem o nome
do profeta Maomé a um pequeno urso
de pelúcia.
Se Dan Brown, em vez do “Código
Da Vinci”, tivesse escrito um “Código”
desfigurando a pessoa de Maomé,
como o fez com Cristo, certamente
seria esquartejado em praça pública -
embora merecesse umas palmadas pela
fantástica demonstração de desrespeito,
ignorância histórica, religiosa, filosófica
e política, na farsa que escreveu.
Na África, os governos ditatoriais se
sucedem e, na América Latina, o ora-
dor de baixo calão Chavez e o pouco
dotado Morales reagem com violência
a seus opositores, em comportamento
que traz implí-
cito o seguinte
princípio: “Na
Venezuela e na
Bolívia todos
têm o direito de
ficar calados e
quem não exer-
cer este direito
será punido”.
Apesar disto,
Chavez perdeu
o plebiscito, o
que o levou a
atacar seus opo-
sitores com palavras proibidas nas
escolas – ainda que bem ao nível de
sua educação e de sua estatura de
“estadista”.
Exped ien te
Carta Forense
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Corrêa e outros pretendem se per- Esquece-se que ele mesmo foi contra o
petuar. tributo, no governo anterior, não sen-
Mesmo o Brasil em que o calar à opo- do legítimo concluir que o tenha feito
sição não chegou a arroubos arbitrários, com propósitos sonegatórios...
vemos projetos de lei de destruição da O mundo, em matéria de direitos
cidadania, como o que pretende permi- fundamentais e de direito à privaci-
tir às autoridades do Executivo grampe- dade vai muito mal, infelizmente não
ar telefones e ter acesso a dados da vida se excluindo o Brasil. Em nosso País,
privada de cidadãos, sem autorização impera a falha visão de que o interesse
judicial; executar suposta dívida tribu- público – leia-se: “interesse dos deten-
tária sem participação de magistrados; tores do poder”- deve sempre preva-
alargar as operações cinematográficas lecer sobre o direito dos cidadãos, o
de prisões, com base em meras suspei- que leva o governo a transformá-los
tas, com a desfiguração da imagem das em pobres produtores de tributos. E,
pessoas expostas à mídia; transformar apesar de produzirem a riqueza na-
órgão técnico, como o IPEA, em central
ideológica.
Até mesmo o presidente Lula dei-
cional, são desqualificados pelas au-
toridades - estas sim especialistas em
gerar amarras burocráticas e atrasar o
xa-se levar pelo ímpeto autoritário, ao desenvolvimento – temerosas de uma
taxar de “sonegadores” todos os que reação da sociedade que ponha um
se opuseram à aprovação da CPMF - ponto final no “status quo”, em que
parte de nossos tributos, terminam ali-
mentando as licitações superfaturadas
e a corrupção, segundo detectado até
mesmo por órgãos internacionais.
Decididamente, o mundo não vai
bem. Caminhamos para a perda de
conquistas preciosas para a Humani-
dade, ameaçadas pelo egoísmo e pela
tirania, em que, tal como no passado,
o medo governará.
Divulgação
Ives Gandra da Silva Martins
Professor Emérito das Universidades
Mackenzie, UNIFMU, UNIFIEO, UNIP
e das Escolas de Comando e Estado Maior
que, segundo a ex-vice presidente do do Exército-ECEME e Superior de Guerra-
FMI, Ana Krueger, constitui o “pior ESG, Presidente do Conselho Superior
tributo do mundo”- pretendendo, de Direito da Fecomercio e do Centro de
assim, desqualificar seus adversários. Extensão Universitária - CEU.
OBS.: Este Jornal não possui nenhum vínculo com a
Editora Forense, sendo esta apenas anunciante.
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3
 D I R E I T
Trabalho Infantil
“ Os direitos de mais de 23% das crianças e adolescentes não tem sido respeitado.”
Acervo CF
Sergio Pinto Martins
O Brasil tem 61 milhões de
jovens até 17 anos. 5,5 milhões de
crianças e jovens trabalham entre 5
a 17 anos. Isso representa 12,7% das
pessoas nessa faixa etária. Desse
total, 2,2 milhões exercem ocupa-
ções perigosas, segundo a OIT. Três
milhões de crianças de 5 a 15 anos
trabalham no Brasil. Isso significa
8,5% da população.
Os direitos de mais de 23% das
crianças e adolescentes não tem sido
respeitado. Suas famílias têm renda de
apenas um quarto do valor do salário
mínimo.
O PNAD mostra que o fato de o
chefe da família trabalhar sem registro
aumento o risco do trabalho infantil
em 28 vezes na área rural e 1,75 na
área urbana.
As crianças que recebem pelo traba-
lho são 35% do total. Isso implica dizer
que 65% das crianças não recebem
pela prestação de serviços.
4 www. cartaforense. com. br
O S O C
No Nordeste do Brasil é que há a
maior incidência de trabalho infantil:
13% da população ou 1,5 milhão de
crianças. No Sudeste, 710 mil crianças
trabalham.
Metade dos trabalhadores presta
serviços em atividade domésticas no
Brasil. Dez milhões no mundo.
O trabalho infantil é mais usado
no Brasil no trabalho doméstico, em
atividades agrícolas, como na colheita
de cana de açúcar, na construção civil,
no comércio ambulante.
Os acidentes com crianças são de
25% na área de calçados e borracha.
A Convenção n.º 182 da OIT trata
da proibição das piores formas de
trabalho infantil. Determinou que
os países devem tomar medidas
imediatas para erradicar todas as
maneiras de escravidão infanto-ju-
venil, como a venda ou tráfico de
crianças, a servidão por dívidas e os
trabalhos forçados. As nações devem
evitar a utilização de recrutamento e
oferta de crianças para a prostituição.
Devem ser eliminadas a participa-
ção de crianças e adolescentes em
atividades ilícitas, como tráfico de
entorpecentes, trabalhos que venham
a prejudicar a saúde, a segurança e a
moralidade das crianças.
A Recomendação no 190 da OIT
orienta os governos a adotar pro-
gramas de erradicação das piores
formas de trabalho infantil, devendo
as nações identificar, denunciar e
impedir que crianças prestem servi-
ços nessas condições. Considera-se
como trabalho perigoso os casos em
que a criança fica exposta a abusos
I A L
físicos, psicológicos e sexuais, em
atividades realizadas com máqui-
nas, equipamentos e ferramentas
perigosas, trabalhos realizados sob
a terra e em condições insalubres,
no transporte de cargas pesadas e
também as ocupações que possam
causar danos morais, à saúde ou à
segurança da pessoa.
Entre as crianças que trabalham no
Brasil 44,19% exercem ocupações con-
sideradas perigosas. Em São Paulo há
“No Nordeste do
Brasil é que há a
maior incidência
de trabalho infantil:
13% da população
ou 1,5 milhão
de crianças. No
Sudeste, 710 mil
crianças trabalham.”
318.340 crianças trabalhando em áreas
perigosas. Em Minas Gerais, 301.438.
Na Bahia, 194.236. No Rio Grande do
Sul, 169.958. No Maranhão, 139.040.
No Ceará, 136.994. No Paraná, 134.547.
Na Região Norte, 51,41% das crianças
exercem atividades de risco.
A legislação brasileira estabelece
81 tipos de atividades consideradas
perigosas, como as que envolvem
esforço, nível de poluição, etc.
Apesar das disposições consti-
tucionais e legais, o Brasil continua
sendo o país que mais tem problemas
decorrentes do abandono da criança
e do adolescente nas ruas e com sua
exploração. Apenas a legislação não
é suficiente; há necessidade de maior
participação de toda a sociedade,
visando conseguir soluções para o
problema. É preciso pensar em novas
políticas públicas para o trabalho da
criança e do adolescente, que, no mo-
mento, não existem.
O ideal seria que a pessoa pudes-
se ficar no âmbito de sua família,
usufruindo das atividades escolares
necessárias, sem entrar diretamente
no mercado de trabalho, até por
volta dos 24 anos, obtendo plena
formação moral e cultura. No nosso
país, isto se tem verificado impossí-
vel, tendo em vista a necessidade das
famílias de baixa renda de que suas
Divulgação
crianças, atingindo por volta dos 12
anos, ou às vezes até antes, passem
a trabalhar para conseguir a sub-
sistência para o lar. Entre a criança
ficar abandonada, ou perambulando
pelas ruas, onde provavelmente par-
tirá para a prática de furtos e roubos
e uso de drogas, certamente melhor
é que tenha um ofício, ou até um
aprendizado, para que possa contri-
buir para a melhoria das condições
de vida de sua família.
O trabalho de uma criança ainda
importa o desemprego de um adulto,
o que ajuda a influir nas estatísticas do
desemprego.
Sergio Pinto Martins
Juiz do TRT da 2a Região. Professor titular
de Direito do Trabalho da Faculdade de
Direito da USP. Autor de diversas obras
publicadas pela editora Atlas.
 P R O C E S
A Lei 11382/6
O Processo de Execução Fiscal e o Prazo para Embargos do Devedor
Acervo CF
Flávio Luiz Yarshell
E m edição anterior desta Carta
Forense, este articulista manifestou
preocupação com as repercussões
das sucessivas reformas do Código de
Processo Civil, a gerar incerteza e inse-
gurança especialmente, ainda que não
apenas, no contexto de processos já
instaurados. Naquela oportunidade,
destacou-se que não se deve esperar
do Judiciário, a respeito, qualquer
espécie de tratamento condescendente
de partes e de advogados. Contudo,
deu-se relevo à importância das regras
processuais – disciplina legal das ga-
rantias constitucionais do devido pro-
cesso legal e do contraditório – como
penhor de legalidade e garantia contra
o exercício do poder arbitrário.
Mais ainda, chamou-se a atenção
para o fato de que as regras proces-
suais estabelecem diferentes posições
jurídicas, dentre as quais e com espe-
cial relevo para as partes e advogados,
os ônus (de alegar, de requerer, de
provar, de recorrer, de impugnar, de
embargar etc). A não observância de
tal encargo, como é sabido, leva ao fe-
nômeno da preclusão e este, conquan-
to visto como fenômeno processual,
acaba atingindo o plano material. Do
papel, a decisão passa à vida real.
Nesse contexto de importantes
alterações na lei processual, conclama-
mos os operadores do Direito, então,
a reafirmar o caráter instrumental do
processo, a revigorar a idéia de fungi-
bilidade (em matéria recursal ou dos
diferentes meios de impugnação), e
a ter clara a idéia de que o processo
não é – e não pode ser – um caminho
repleto de armadilhas e de surpresas.
Dissemos então que “A hora é de
ponderação e de prestigiar a boa-fé e
a segurança da relação que, via pro-
6 www. cartaforense. com. br
S O C I
cesso, se estabelece entre o cidadão e
o Estado”.
Dentre os diferentes exemplos
empregados para ilustrar o raciocínio,
lembramos justamente que “Hoje,
já não é tão claro saber se é caso de
embargar a execução, tanto que efe-
tivada a citação e juntado aos autos
o mandado ou, diferentemente, se é
caso de se aguardar a consumação
da penhora e respectiva intimação; a
rigor, mesmo quanto a essa última há
muitas dúvidas”.
Justamente a propósito do prazo
para interposição dos embargos do
devedor, vem a lume a relevante
questão consistente em saber se e em
que extensão as alterações trazidas ao
CPC pela Lei 11.382/6 teriam afetado
o processo da execução fiscal, regido
pela Lei 6.830/80. Naturalmente, as
possíveis repercussões do primeiro
diploma legal sobre o segundo vão
além daquele ponto. Mas, o espaço
aqui não permitiria – não ao menos
de uma só vez – exame mais alentado
sobre o tema.
Sendo assim, aqui convém limitar
o objeto da indagação: diante da nova
regra do art. 738 do CPC, segundo a qual
os embargos devem ser ofertados no prazo
de quinze dias “contados da juntada aos
autos do mandado de citação”, estaria
revogada a regra do art. 16 da Lei de Exe-
cuções Fiscais, cujo inciso III – na linha
do que era a regra geral antes vigorante
para o processo comum – manda contar o
prazo da intimação da penhora?
Divido minhas brevíssimas consi-
derações em duas partes: a primeira,
sobre a aplicação do CPC ao tema
das execuções fiscais; a segunda, ao
modo pelo qual, em caso de resposta
positiva, isso possa se operar.
Quanto ao primeiro aspecto, não se
duvida de que a norma geral possa e
deva se aplicar a situações reguladas
por lei especial; desde que essa última
seja omissa, isto é, desde que não contenha
regra expressa sobre determinada matéria.
A idéia nada tem de novo: o especial
derroga o geral – e não o inverso – e o
geral se aplica subsidiariamente quan-
do não conflite com a regra especial
(portanto, na omissão da disposição
especial). Qualquer tentativa em con-
trário abriria margem para o arbítrio
porque, considerando-se a diversida-
de dos destinatários das normas, com
visões diversas e até contrapostas (o
que é particularmente válido no âm-
V I L
bito processual!), não faltaria quem
pretendesse a prevalência do geral
sobre o especial para um determinado
fim, mas não para outro. Não faltaria,
enfim, quem pretendesse fazer uma
espécie de mixagem das leis, a gerar,
na prática, um terceiro diploma cuja
autoria só se poderia mesmo atribuir
ao respectivo aplicador e não ao le-
gislador.
“Nesse contexto de
importantes
alterações na lei
processual,
conclamamos os
operadores do
Direito...”
Exemplo disso, fora do contexto da
reforma da execução, é o caso de En-
contros institucionais da Magistratura
acerca da repercussão das alterações
do CPC em matéria recursal no âmbito
dos Juizados Especiais: os mesmos
defensores da aplicação da súmula
impeditiva de recursos (CPC, art.
518, com a redação que lhe deu a Lei
11.276/6) aos Juizados, recusam-se a
ali aplicar a regra do § 2o do art. 511
do CPC, para relevar a deserção e dar
oportunidade de complemento no
caso de mera insuficiência do prepa-
ro. E veja-se que nos Juizados não há
apelação, os Colégios Recursais não
são o Supremo Tribunal Federal nem
o Superior Tribunal de Justiça (lite-
ralidade do §2o do art. 518 do CPC)
e, finalmente, não há na Lei 9009/95
regra que expressamente exclua mera
complementação do preparo existente
mas insuficiente (para não dizer que
tal providência, pelo contrário, afina-
se com os princípios inscritos no art.
2o dessa última citada lei).
Mas não é preciso ir tão longe: pre-
tender-se aplicar a regra do art. 738 do
CPC à execução fiscal já traria consigo
os problemas assim temidos: embora
admitindo a contagem do prazo antes
mesmo da penhora, não faltaria quem
preconizasse, por exemplo, continu-
asse a vigorar o prazo de trinta dias
da lei especial (para os embargos),
quando a lei geral fala em quinze;
ou que alvitrasse a permanência da
citação por via postal, como quer a
lei especial, quando a forma ordinária
na execução “comum” é a citação por
mandado (vide a respeito, art. 652,
especialmente § 1o); ou que sustentas-
se só uma ou só outra dessas regras;
ou nenhuma delas... Sempre haveria
argumento – alguns com suposta dig-
nidade constitucional – para mescla
dessa ordem, conquanto sujeita ao
gosto do aplicador.
Portanto, no contexto de um siste-
ma democrático, que atribui diferentes
competências a diferentes órgãos do
Estado, as normas especiais derrogam
as gerais. Vale dizer: por mais que se
entenda que a Lei 11.382 seja mais
aperfeiçoada que diplomas anteriores
(será que, nesse caso específico, isso
é uma verdade absoluta?), ela não
afasta a incidência de regra especial
expressa, de cuja constitucionalidade
não se suspeite seriamente.
Quanto ao segundo aspecto acima
destacado, convém dizer o seguinte:
ainda que se pudesse entender que
o advento da Lei 11.382/6 revogou
a regra do art. 16 da Lei 6830/80,
essa aplicação jamais poderia tomar
de surpresa as partes e seus procu-
radores. As conseqüências, como é
evidente, são por demais gravosas.
Portanto, é inadmissível se reputem
intempestivos embargos do devedor,
opostos no contexto do processo de
execução fiscal, a pretexto de que o
prazo contar-se-ia na forma do art.
738 do CPC, enquanto não houver
alteração legislativa expressa ou, pelo
menos, enquanto o Superior Tribunal
de Justiça não se pronunciar sobre
o tema de forma estável. Para argu-
mentar, na pior das hipóteses, seria
imprescindível que no ato de citação o
devedor fosse prévia e expressamente
advertido quanto ao (novo) prazo, a
constar expressamente da carta de
citação, visto ser essa a forma de cha-
mamento vigorante no contexto da
execução fiscal (art. 8, inciso I).
Flávio Luiz Yarshell
Advogado. Mestre, Doutor e Livre Docente
em Direito Processual pela USP. Professor
de Processo Civil da Faculdade de Direito do
Largo de São Francisco – USP.
 E N T R E V I S T A

Improbidade Administrativa
Fábio Medina Osório é Advogado; Ex-membro do Ministério Público do Rio Grande do Sul; Mestre em Direito pela UFRGS;
Doutor em Direito Administrativo pela Universidad Complutense de Madrid; Professor dos cursos de mestrado e Doutorado da UFRGS
e autor da obra Teoria da Improbidade Administrativa, publicada pela editora RT, 2007 e Direito Administrativo Sancionador, ed.RT,2006.

blicano de controle da má gestão pública no país. Essa
Lei substituiu a antiga Lei Bilac Pinto e trouxe inovações
importantes no plano punitivo, porque introduziu, como
penalidades, a perda da função pública, a suspensão dos
direitos políticos, a interdição de direitos, a multa civil,
além das medidas reparadoras, como o ressarcimento
ao erário e a perda dos bens havidos ilicitamente, que
estavam previstos na legislação anterior. A Constituição
de 1988, no art.37, par.4º, previu a improbidade adminis-
trativa e a necessidade de edição dessa Lei. Sustento, pelo
Acervo CF
sultados. Não se trata de responsabilidade objetiva.
Todavia, os Tribunais de Contas, cada vez mais, cobram
responsabilidades por gestão. O Ministério Público tam-
bém cobra, dos gestores, determinados deveres relacio-
nados a metas e desempenho. No terreno jurídico, a idéia
de eficiência, que está na Constituição de 1988 (art.37,
caput) desenha claramente essa diretriz. A ética pública
não define apenas deveres conectados a boas intenções,
mas, sobretudo, a pautas objetivas de boa conduta.
Isso não quer dizer que os gestores não tenham espaço

Carta Forense — Qual sua posição sobre a Lei de Impro-
bidade Administrativa e sua aplicação?
Fábio Medina Osório — A Lei 8.429/92 é um Código
Geral de Conduta para todos os agentes públicos brasi-
leiros e, nesse sentido, constitui um instrumento repu-
menos desde 1999, que a natureza jurídica da Lei é de
Direito Administrativo Sancionador, o que significa dizer
que ela arrasta consigo todo um regime jurídico próprio
desse sistema punitivo. Segue-se que aos acusados em
geral são reservados direitos fundamentais relacionados
ao devido processo legal punitivo, como o da tipicidade
das infrações e das penas, culpabilidade, responsabilida-
de subjetiva, interdição à arbitrariedade do Estado, pro-
porcionalidade, individualização das sanções, motivação
dos atos cerceadores de
direitos. Hoje, o grande
desafio das instituições
fiscalizadoras é aplicar
a Lei de Improbidade de
modo não arbitrário e,
ao mesmo tempo, com
eficiência, respeitando
direitos fundamentais
dos acusados em geral.
Outro ponto que merece
reflexão diz respeito à
convivência harmônica
das diversas e múltiplas
instâncias fiscalizado-
ras, coibindo-se decisões
contraditórias sobre um
mesmo fato unitário.
Pode ocorrer que um
mesmo fato gere desdo-
bramentos em distintas
instâncias, suscitando
intervenções à luz da
Lei Penal, Lei de Impro-
bidade, Lei Disciplinar,
por exemplo. Há uma
discussão crescente so-
bre a importância de se
harmonizar os discursos
dessas instâncias, em
determinados aspectos,
agregando segurança
jurídica ao cidadão.
CF — Pode nos expli-
car o que é Ética de Res-
ponsabilidade e sua ligação
com o terreno jurídico?
FMO — Os agentes
públicos assumem, com
seus cargos, deveres
funcionais ligados a re-
ao erro profissional. Hoje, há um equívoco enorme de
parte de uma parcela das autoridades fiscalizadoras
em cobrar responsabilidades como se os gestores não
tivessem direito ao erro. No entanto, Juízes, membros
do Ministério Público, Advogados, Médicos, e outros
tantos profissionais, têm espaços para o chamado erro
profissional legítimo. Errar é humano. Errar é necessário
para o crescimento profissional. Há margens de erro que
são legítimas e são até mesmo toleradas pelo ordena-
mento jurídico. Não se pode confundir o erro legítimo
ou tolerável com a ineficiência, esta sim censurável pelo
Direito Administrativo Sancionador e até mesmo pelo
Direito Penal.
CF — Como podemos verificar o Imperativo ético da boa
gestão nos dias de hoje?
FMO – O imperativo ético se dá nos mais variados
planos, desde a auto-regulação nos domínios corpora-
tivos, até o plano da Lei de Improbidade ou do Direito
Penal. É necessário reforçar o sistema premial para a
boa gestão pública, não apenas o sistema punitivo. É
importante fortalecer a meritocracia, tão ausente no setor
público como um todo.
CF — Sob a ótica da natureza punitiva da improbidade
administrativa, qual seu posicionamento acerca do Foro Pri-
vilegiado e às imunidades concedidas a determinado agentes
públicos?
FMO — O foro privilegiado, recentemente derrubado
pelo STF, não chega a constituir uma patologia do siste-
ma punitivo, porque protege não a pessoa, mas a função
pública. Note-se que, no caso da Lei de Improbidade, em
se tratando de Direito Administrativo Sancionador, seria
razoável observar um tratamento simétrico em relação ao
Direito Penal e Direito Processual Penal. Aliás, sintomá-
tico é que o foro privilegiado tenha sido introduzido no
bojo do Código Processual Penal. A Lei de Improbidade
tem natureza punitiva e afeta direitos fundamentais. Daí
porque não há razão para surpresas com o foro privi-
legiado para aquelas mesmas autoridades que gozam
dessa prerrogativa na esfera penal. Sem embargo, o STF
decidiu que inexiste essa prerrogativa frente ao sistema
sancionador da improbidade, o que equivale a dizer
que um agente do Ministério Público pode investigar e
acionar, em primeira instância, qualquer autoridade que
goze de prerrogativa de foro criminal, imputando-lhe
algum dos ilícitos previstos na Lei 8.429/92. Isso pode
conduzir a alguma desarmonia do sistema, mas é assim
mesmo que vai funcionar. Quanto à idéia de imunidades,
como a falta de aplicabilidade da Lei de Improbidade
aos agentes políticos, por exemplo, na esteira de enten-
dimento que o STF pretenderia sufragar, não me parece

8 www. cartaforense. com. br

 E N T R E V I S
razoável. A Lei é geral e se estende a todos os agentes
públicos, não se confundindo com a Lei dos Crimes de
Responsabilidade.
CF — Em relação às facetas da ineficiência e desonestidade
funcional dos homens públicos, qual a relação com as flutuações
ético-normativas?
FMO — As flutuações ético-normativas apenas
indicam que nem todas ineficiências ou mesmo deso-
nestidades serão tuteladas pela Lei de Improbidade. Há
um universo de imoralidades que fica fora do alcance
legal, por razões de legalidade, tipicidade ou mesmo de
ilicitude (gravidade). O postulado da proporcionalida-
de vai ditar essas ponderações em cada caso concreto,
certamente.
CF — Qual a relação do princípio da Boa Fé oriundo do
Direito Civil com a Administração Pública?
FMO – O princípio da boa fé, que deita raízes no
Direito Romano e no Direito Privado, tem aplicabilidade
no Direito Público e, muito especialmente, no Direito
Administrativo. Concretamente, o princípio da boa fé
objetiva vai determinar que o Estado – o Poder Público
– oriente suas ações de forma não contraditória, respei-
tando as legítimas expectativas geradas nos cidadãos. É
um princípio que propicia maior controle do cidadão
sobre o Estado.
CF — Como a jurisprudência se manifesta em referência
a Improbidade Culposa?
FMO — É certo que o STJ já disse que não se deve
punir o “inábil”, apenas o “desonesto”. Isso, contudo,
não implica dizer que o STJ rechace a tese da improbi-
dade culposa. Os Tribunais ordinários, em sua maioria,
acatam essa tese. O STJ não tem posicionamento firmado.
Tampouco o STF. Repare-se que há uma diferença entre o
“inábil” – que consubstancia o erro – e o grosseiramente
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T A
ineficiente. Procuro defender a punição da ineficiência
grosseira dentro da Lei de Improbidade. Está expresso
no art.10 da Lei. Creio, todavia, que o próprio art.11
comporta essa modalidade, onde for compatível.
CF — Vindo mais próximo da nossa área, o judiciário,
como dentro deste contexto fica a situação do nepotismo nos
tribunais? Qual seu entendimento?
FMO — O que mais me preocupa em termos de nepo-
tismo, hoje, é o chamado nepotismo cruzado. A troca de
parentes no setor público. De outro lado, vale observar
que se trata de um fenômeno sócio-cultural de dificílimo
controle à luz da Lei de Improbidade. Isso, porque o
conceito de nepotismo é muito subjetivo. Contratar para
um cargo em comissão (confiança) um parente pode ser
nepotismo ou não, dependendo do grau de parentesco,
sem nenhuma correlação com o grau de intimidade que
a chefia manterá com o seu subordinado. E os amigos
íntimos? E os cabos eleitorais? E as indicações políticas?
Quer dizer, há tantas formas de desvio de finalidade
que o próprio conceito de nepotismo resulta bastante
problemático. O Poder que mais desvirtua cargos em
confiança no Brasil não é o Judiciário, é o Executivo, em
todas as esferas.
CF — É muito comum na época de festas, sobretudo nos
grandes fóruns, verificarmos estagiários e paralegais trazendo
com seus carrinhos os mais variados tipos de presentes como
vinhos, panetones, cesta de natal dentre outros badulaques
para serventuários da justiça e às vezes até magistrados. Há
improbidade nestes casos?
FMO — Não creio que esses pequenos agrados consti-
tuam improbidade. Trata-se de manifestações da cultura
forense. Esses gestos não possuem potencialidade cor-
ruptora. Parece-me uma hipocrisia censurar essa espécie
de manifestação espontânea, sob o pretexto de preservar
a moralidade administrativa. Pode haver, todavia, dis-
torções que mereçam reparos e, dependendo do grau,
até mesmo a invocação da Lei de Improbidade.
CF — Vemos todos os dias nos fóruns atraso abusivo e às
vezes até omissão em relação ao andamento dos processos. Den-
tro deste contexto poderia ser considerada uma infração?
FMO — O Juiz, na gestão de processos, é um autênti-
co administrador. Pratica atos que podem ser encaixados
na Lei de Improbidade. A omissão da prática de atos
de ofício pode dar lugar às responsabilidades, não há
dúvidas, tanto no plano disciplinar, quanto no campo
da Lei de Improbidade, especialmente quando gerar
prejuízos aos jurisdicionados. Esse é um terreno ainda
inexplorado de incidência da Lei de Improbidade, mas
que deverá ser melhor visualizado pelos operadores do
direito. Há muitos abusos e prevaricação debaixo das
omissões das autoridades.
CF — Quais são as expectativas futuras para as repostas
jurídicas à Improbidade Administrativa?
FMO — As expectativas passam, inicialmente,
pelo fortalecimento de uma ação mais organizada do
Ministério Público brasileiro, em sintonia e integração
com outras instituições de controle e fiscalização. A
Lei de Improbidade, conquanto tenha completado
recentemente seus 15 anos de idade, tem potencialida-
des muito mais intensas do que as atuais. A sociedade
espera muito mais das instituições de Estado. De outro
lado, é certo que não se logrará eficácia no combate à
improbidade sem respeito aos direitos fundamentais
dos acusados em geral. O império do devido processo
legal é decorrência lógica do Estado Democrático de
Direito. Sem esse postulado, o Estado perde legitimi-
dade e a Lei de Improbidade vai perder eficácia e cair
na vala da desmoralização.
9
 E X E C U Ç
Utilização de Telefone Celular pelo Preso e a Lei no 11.46/07
“Nesse contexto, infelizmente, o uso do telefone móvel tornou-se uma arma letal nas mãos dos criminosos.”
Acervo CF
Fernando Capez
A segurança pública, um dos
sustentáculos da estrutura democrática,
nos últimos tempos, vem sofrendo sério
abalamento pelo avanço da criminalidade
organizada.
Basta lembrarmos o gravíssimo episó-
dio em que o maior Estado do Brasil foi
assolado pelos atos bárbaros de violência,
comandados e articulados pelo líder de
uma organização criminosa, mediante o
uso de telefonia móvel (celular), ficando
completamente “rendido”, com o conse-
qüente engessamento de suas atividades
econômicas.
A combinação da ausência de medidas
administrativas eficazes que impedissem
a entrada do telefone móvel nos presí-
dios, com a inexistência de uma punição
efetiva para aqueles que permitissem a
sua entrada e para aqueles que o utilizas-
sem, trouxe um resultado bombástico: a
atuação vertiginosa e descontrolada da
criminalidade organizada por todo o País.
Assim, do interior de um presídio em São
Paulo seria possível provocar uma rebe-
lião no Estado do Acre. Bastaria o uso do
telefone celular.
Para agravar a situação, do interior das
unidades prisionais, detentos ameaçam,
extorquem, mediante o emprego dessa
tecnologia móvel, deixando a população
completamente indefesa, encontrando, a
criminalidade organizada, nesse “modus
operandi”, mais uma forma segura de
praticar ilícitos e obter indevida vantagem
econômica.
Nesse contexto, infelizmente, o uso do
telefone móvel tornou-se uma arma letal
nas mãos dos criminosos. A tecnologia
criada, via de regra, para proporcionar
bem-estar ao homem, trouxe outro viés
assustador: favoreceu os tentáculos da
criminalidade organizada.
A situação afigurou-se ainda mais
grave em virtude de, até então, inexistir
qualquer punição para os presos flagra-
dos na posse de telefone celular, a qual
sequer constituía falta disciplinar grave.
A Administração Estadual Penitenciária,
10
à O P E
desse modo, na tentativa de preencher
esse vazio legislativo, chegou a editar
Resolução sobre o tema, que, entretanto,
tornou-se inaplicável em face do óbice
legal contido no art. 49 da Lei de Execução
Penal, o qual dispõe que “As faltas disci-
plinares classificam-se em leves, médias e
graves. A legislação local especificará as
leves e médias, bem assim as respectivas
sanções”. Nesse sentido, inclusive se ma-
nifestou a 5.ª Turma do Superior Tribunal
de Justiça, Relator Ministro Felix Fischer, j.
02/02/2006, DJ 03/04/2006, p. 378.
Buscando dar uma resposta à socieda-
de, ainda que a destempo, foi promulgada
a Lei n. 11. 466, de 28 de março de 2007,
que entrou em vigor na data de sua publi-
cação , isto é, em 29 de março de 2007.
Mencionado Diploma Legal trouxe
duas modificações: (a) Incluiu o inciso VII
no art. 50 da LEP, passando a considerar
falta grave, o condenado à pena privativa
de liberdade que “tiver em sua posse,
utilizar ou fornecer aparelho telefônico,
de rádio ou similar, que permita a co-
municação com outros presos ou com o
ambiente externo”. (b) Acrescentou o art.
319-A ao Código Penal, o qual passou a
vigorar com a seguinte redação: “Deixar
o Diretor de Penitenciária e/ou agente
público, de cumprir seu dever de vedar
ao preso o acesso a aparelho telefônico, de
rádio ou similar, que permita a comunica-
ção com outros presos ou com o ambiente
externo. Pena: detenção, de 3 (três) meses
a 1 (um) ano”.
Dessa forma, a partir do advento da Lei
n. 11.466/2007, aquele que tiver em sua
posse, utilizar ou fornecer aparelho tele-
fônico, de rádio ou similar, que permita a
comunicação com outros presos ou com
o ambiente externo, cometerá falta grave.
Tal situação lhe acarretará uma série de
conseqüências, como a perda dos dias
remidos, a impossibilidade da concessão
do livramento condicional pela ausência
de comportamento satisfatório e da pro-
gressão de regime, bem como ensejará a
regressão de regime.
Não bastasse essa modificação legis-
lativa, a Lei n. 11.466/2007 considerou
criminosa a conduta de “Deixar o Diretor
de Penitenciária e/ou agente público,
de cumprir seu dever de vedar ao preso
o acesso a aparelho telefônico, de rádio
ou similar, que permita a comunicação
com outros presos ou com o ambiente
externo. Pena: detenção, de 3 (três) meses
a 1 (um) ano”.
A Lei, portanto, procurou criminalizar
a conduta daquele que, tendo o dever legal
de impedir o acesso do preso ao apare-
lho telefônico, rádio ou similar, torna-se
omisso. Não se pune criminalmente, por
conseguinte, no caso, o preso que utiliza o
aparelho telefônico, rádio ou similar, mas
tão somente o Diretor de Penitenciária ou
N A L
agente público (por exemplo: carcereiro)
que deixa de cumprir o dever de vedar ao
preso o acesso ao aparelho. O criminoso
apenas comete falta grave. Mencione-se
que o crime se consuma no momento em
que há o descumprimento do dever legal
pelo Diretor ou agente público, possibili-
tando o acesso do preso ao aparelho, in-
dependentemente de o mesmo vir a lograr
a comunicação com outros presos ou com
o ambiente externo. Em virtude da pena
cominada, estamos diante de uma infração
de menor potencial ofensivo, sujeita aos
institutos e procedimento da Lei dos Juiza-
dos Especiais Criminais. Finalmente, por
se tratar de novatio legis incriminadora, não
poderá retroagir para atingir fatos pratica-
dos antes de sua entrada em vigor.
Muito embora a Lei n. 11.466/2007,
tenha procurado sancionar disciplinar-
mente o preso ou penalmente o Diretor
de Penitenciária e/ou agente público,
tais reprimendas, infelizmente, não têm
impedido, a contento, o uso da telefonia
móvel no interior dos presídios.
Com efeito, segundo notícia veiculada
no jornal “O Estado de São Paulo”, na data
de 07 de janeiro de 2008, todos os meses
são apreendidos nas prisões paulistas
de 800 a 900 telefones celulares, dado
este revelado pelo próprio Secretário da
Administração Penitenciária, Antonio
Ferreira Pinto. Apurou-se, ainda, que há
aproximadamente dois preços para um
celular entrar num presídio: R$ 500,00
(quinhentos reais), se for por meio de
agente penitenciário, e R$ 200 (duzentos
reais), se por meio de uma visita.
Obviamente, a persistência de tal situ-
ação se deve a inúmeros fatores, os quais
não poderão ser combatidos apenas com
a ação repressiva do Estado. Na realidade,
tais dados apenas refletem a crise na qual se
encontra o sistema prisional e que antecede
à promulgação da Lei n. 11.466/2007. Para
exemplificar, cite-se a existência de uma
estrutura administrativa deficiente com
reduzido número de agentes penitenciários,
os quais são remunerados de forma inade-
quada, constituindo, assim, a corrupção
um problema endêmico nos presídios e um
grave obstáculo ao perfeito funcionamento
dos sistemas que dificultam a entrada de te-
lefones celulares no interior dos presídios.
Aliado a isso, há dificuldade na própria
repressão, pois a individualização da
conduta para a imposição das penalida-
des legais encontra barreiras na própria
estrutura prisional, a qual permite a
superlotação das celas, impedindo, com
isso, que se possa identificar quem é o
possuidor do telefone móvel, guardado
no seu interior.
Dentro dessa realidade caótica carcerária,
também assume complexidade a punição do
Diretor de Penitenciária, pois, muito embora
seja sua a atribuição de gerir e fiscalizar
Unidade Prisional, sabemos que na prática
a organização interna do sistema peniten-
ciário, em muitos Estados, possui outros
diretores de departamentos, por exemplo, o
Diretor de Disciplina, o que torna mais difícil
a individualização da conduta.
Dessa forma, as sanções introduzidas
pela Lei n. 11.466/2007 constituem apenas
um pequeno naco do conjunto de medidas
que devem ser tomadas pelo Poder Públi-
co no combate ao uso da telefonia móvel,
pois em se tratando da proteção de um
bem maior, a segurança da coletividade, o
Estado deve agir principalmente de forma
preventiva, não podendo sequer correr o
risco de que seja permitida a entrada de
um telefone móvel na unidade prisional.
Nesse contexto, não basta a mera puni-
ção, pois até que o preso seja flagrado na
posse do telefone móvel e sancionado, já
transcorreu tempo suficiente para que ele
articule e comande rebeliões, determine a
depredação de ônibus, de agências bancá-
rias, enfim, cometa os atos mais bárbaros
contra a população, que somente tem uma
única saída: sentir-se assolada e abando-
nada pelo Poder Público. A leniência do
Estado, em tais casos, pode ser desastrosa
e, até mesmo, fatal.
Cabe ao Estado, portanto, implementar
medidas administrativas eficientes que
impeçam a entrada do telefone celular
no interior da unidade prisional, aliadas
a uma alternativa rápida e eficaz que é
o emprego de tecnologia que impeça a
transmissão de seus sinais. Sem isso, não
teremos como impedir que integrantes
de organizações criminosas continuem
a comandar e articular, de dentro dos
presídios, o tráfico de drogas, de armas,
o contrabando, as extorsões etc.
Somente o conjunto de tais medidas
preventivas e repressivas impedirão que
se torne letra morta os termos plasmados
no art. 144, caput, da Constituição da
República, segundo o qual a segurança
pública constitui dever do Estado, di-
reito e responsabilidade de todos, sendo
exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio.
Fernando Capez
Promotor de Justiça licenciado; Deputado
Estadual pelo PSDB, e Presidente da
Comissão de Constituição e Justiça da
Assembléia Legislativa de São Paulo.
Mestre em Direito Penal pela Universidade
de São Paulo (USP); Doutorando em Direito
Penal pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC/SP); Diretor Acadêmico
do Curso de Direito da Universidade
Bandeirantes de São Paulo (UNIBAN),
Professor no Complexo Jurídico Damásio
de Jesus e na Escola Superior do Ministério
Público do Estado de São Paulo.
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Informe Publicitário
Contratação com “Parte Relacionada”:
Modalidade de Abuso de Poder de
Controle, Prática de Governança Corporativa
não Recomendável ou Necessidade para
a Organização Empresarial? – parte I
O atual aquecimento do mercado de
capitais brasileiro está impondo uma série de
desafios não só para o nosso órgão regulador,
a Comissão de Valores Mobiliários (“CVM”),
como também para todos os participantes
desse mercado. Vive-se um momento his-
tórico no qual há uma demanda profunda
de estudos sobre governança corporativa
em todo o mundo. Foco especial está na
transparência, completude e exatidão das
informações sobre as companhias emissoras
que são divulgadas ao mercado.
Cada vez mais a informação é conside-
rada um ativo imprescindível para a tomada
das decisões dos agentes econômicos.
Nesse contexto, uma das questões mais
polêmicas1 que se apresenta é o tratamento
conferido ao chamado contrato com “partes
relacionadas”2. Tal forma de contratação
tem uma natureza própria, podendo ser
vista, ao menos, sob 3 (três) aspectos total-
mente diferentes, quais sejam:
(I) uma modalidade de exercício
abusivo do poder por parte de um
acionista controlador3;
1. O tema é polêmico, de repercussão mundial e bas-
tante atual. Vide reportagem recente publicada no
jornal “Valor Econômico”, intitulado “Contato com
Parte Relacionada é Polêmica Mundial” (VE, 14, 15 e
16.12.2007, p. B3). Neste artigo, vários especialistas
foram entrevistados e opinam sobre o tema.
2. A doutrina classifica as chamadas “ligações socie-
tárias” ou “partes relacionadas” em 7 (sete) moda-
lidades: (a) sociedades controladora e controlada
(artigo 1098 do Código Civil de 2002 – “CC” - e
artigo 116 da LSA); (b) sociedades coligadas (artigos
30, §1º, 244 e 247 da LSA e artigo 1101 do CC); (c)
sociedades com simples participação (artigo 1101
do CC); (d) subsidiária integral (artigo 251 da LSA);
(e) grupos de sociedade (artigos 266 e seguintes da
LSA); (f) consórcio (artigo 278 e seguintes da LSA); e
(g) “joint-ventures”, sem previsão legal expressa no
direito brasileiro (cf. COELHO, 2006). Consideram-
se também “partes relacionadas” os administradores
das sociedades quando com estas contratam.
3. Reza o artigo 117, §1º, “f” da Lei das Sociedades
Anônimas (“LSA”): “São modalidades de exercício
abusivo de poder: (f) contratar com a companhia,
diretamente ou através de outrem, ou de sociedade
na qual tenha interesse, em condições de favoreci-
mento ou não equitativas.”
(II) uma prática não recomendável de
governança corporativa, tal como
preconizado pelos principais
Códigos de Governança Corpora-
tiva do mundo4; ou
(III) uma necessária ou inevitável prática
organizacional das companhias5.
No Brasil, em particular, tais diferentes
aspectos podem ser verificados pela leitura
atenta do texto de alguns prospectos de
emissões de valores mobiliários6. As empre-
sas emissoras, cada qual inserida em deter-
minados contextos institucional, histórico
e setorial, fazem a divulgação de seus con-
tratos com “partes relacionadas” de forma
não uniforme, já que estão sujeitas a poucas
regras nesse sentido7. Há divulgações mais
ou menos conservadoras, variando tanto a
quantidade quanto a qualidade da informa-
ção prestada ao mercado.
Dividido em 4 (quatro) partes, este artigo
busca discorrer sobre esses 3 (três) aspectos
totalmente diferentes da contratação com
“partes relacionadas”, com as devidas
referências e aplicações para a nossa
realidade brasileira, sugerindo, na última
parte, algumas alternativas preliminares
de como a lei brasileira e, principalmente,
CVM deveria se posicionar diante desses
casos. Longe de esgotar o tema e atendo-se
a análise desse tema, por corte metodo-
lógico, somente às sociedades anônimas,
4. Vide Código de Melhores Práticas de Governança
Corporativa desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de
Governança Corporativa, já em sua 3ª edição, dispo-
nível em www.ibgc.org.br (acesso em 15.12.2007)
5. Cf. HERTIG, Gerard e KANDA, Hideki. Related
Party Transactions in KRAAKMAN, Reinier et al.
The Anatomy of Corporate Law. EUA: Oxford
University Press, 2006, pp. 101 a 130.
6. Vide prospectos disponibilizados no site oficial da
CVM (www.cvm.gov.br), nas seções intituladas
“operações/contratos com partes relacionadas).
7. A Deliberação CVM no. 26/1986 determina que
os contratos com partes relacionadas devem ser
divulgados nas notas explicativas dos balanços
trimestrais e do anual das companhias abertas. No
entanto, a legislação aplicável é silente quanto à ne-
cessidade de divulgar as condições contratadas.
abertas e fechadas, o objetivo deste artigo
é o de fomentar o debate sobre essa questão
polêmica e atual.
Como é cediço, as companhias brasilei-
ras têm uma característica bastante peculiar:
possuem, em geral, estruturas societárias
compostas por membros de uma mesma
família e com controle nitidamente con-
centrado8. Não é por outra razão que a
própria Lei das Sociedades por Ações (Lei
nº 6.404, de 15.12.1976, conforme alterada
– “LSA”) foi toda estruturada tendo a figura
do acionista controlador como a principal
para a atribuição de responsabilidades e,
a do acionista minoritário, como aquele
detentor de uma série de direitos protetivos
contra eventuais condutas abusivas por
parte daquele acionista controlador9.
Acionista controlador, para a LSA, é
aquela pessoa física ou jurídica, ou grupo
de pessoas vinculadas por acordo de voto,
ou sob controle comum que: (I) é titular
de direitos societários que lhe assegurem,
de modo permanente, a maioria dos votos
nas deliberações sociais e tem o poder
de eleger a maioria dos administradores
da companhia; e (II) usa efetivamente seu
poder para dirigir as atividades sociais
e orientar o funcionamento dos órgãos
da companhia. O acionista controlador,
ainda, deve utilizar seu poder de controle
visando atingir os seguintes objetivos: (I)
realizar o objeto social da companhia; (II)
cumprir a função social da companhia; e
(III) buscar harmonizar e respeitar os direitos
dos demais acionistas da companhia, seus
8. Cf. VALADARES.
9. Cf. Mensagem nº 204, de 1976, do Poder Executivo,
que submeteu o projeto de lei da LSA para a apro-
vação dos membros Congresso Nacional da época.
Nesta verdadeira “exposição de motivos” da LSA,
observa-se a clara preocupação do legislador para
regular a relação entre os acionistas controladores
e os minoritários, reconhecendo a realidade em-
presarial brasileira.
Fevereiro – edição 17 – ano III
André Antunes
Soares de Camargo
Advogado, com LLM em Direito
Societário e Contratual - Universidade
da Califórnia e coordenador adjunto
do IbmecLAW (Centro de Estudos em
Direito do Ibmec São Paulo).
empregados e demais colaboradores e a
comunidade onde ela atua10.
A LSA, ainda, enumerou uma série de
atos considerados como abusivos quando
praticados pelo acionista controlador,
lista essa meramente exemplificativa.
Dentre esses atos considerados abusivos
encontra-se justamente a contratação com
“partes relacionadas”. Para que não seja
considerada como uma prática abusiva
do controlador, o contrato com “partes
relacionadas” não poderá ser celebrado
em condições de favorecimento ou não
eqüitativas entre as partes envolvidas11,
isto é, só contratos com direitos e obri-
gações comutativos e em condições de
mercado poderão ser celebrados entre
“partes relacionadas”.
A primeira conclusão a que se chega
então é a seguinte: a contratação com
“partes relacionadas” é permitida sim
pela lei brasileira, mas requer que suas
condições não favoreçam qualquer das
partes envolvidas e que não contenham
condições desiguais. O objetivo desse
regramento é o de preservar os interesses
da companhia, dos demais acionistas
e “stakeholders” 12, evitando-se o mau
uso dos ativos da companhia, prática
essa denominada genericamente como
“tunneling”13.
Na próxima edição deste jornal, dis-
correremos sobre o outro aspecto da
contratação com partes relacionadas.
Trata-se de uma má prática de governança
corporativa?
10 Artigo 116 da LSA.
11 Artigo 117, §1o, “f” da LSA.
12 Cf. CLARKE (2004), pp. 189 a 201. Trata-se de um
texto que analisa do dilema dos administradores
sobre como satisfazer os diversos interesses de só-
cios e demais “stakeholders” de uma companhia.
13 “Tunneling” pode ser conceituado como a transfe-
rência de valores da companhia para uma parte re-
lacionada sem a devida e a justa contraprestação.
 C R Ô N I C A S F O R E N S E S

O Serviço Militar

Quando o novo Juiz Titular da

Vara Criminal foi designado, recebeu
especial recomendação no sentido de
vigiar o serventuário. No primeiro
deslize que praticasse, deveria ser ins-
taurada uma rigorosa sindicância.
Avisado do fato por um amigo,
o escrivão comportou-se como uma
vestal nos primeiros meses, deixando
surpreso o próprio Magistrado.
Certo dia, o escrivão notou que o
Acervo CF

Juiz mostrava-se triste e preocupado.
Com suas proverbiais lábia e sim-
patia, aproximou-se do Magistrado,
Roberto Delmanto conseguindo saber o que se passava: o
filho mais velho deste, logo agora que
infância que era hoje um oficial de alta
patente e iria falar com ele.
Após alguma relutância, o Magis-
trado concordou em dar-lhe o nome
e os dados do filho.
formações sobre o escrivão. Tudo,
certamente, não passara de intrigas
e boatos...
Roberto Delmanto

O escrivão estava na mira da

Corregedoria-Geral de Justiça há
tempos.
Falava-se muito a seu respeito,
levantando-se dúvidas acerca da sua
honestidade.
conseguira um ótimo emprego, tinha
sido convocado para servir o exército. Ia
ser um desastre, pois além de perder o
trabalho, atrapalharia os estudos, setor
em que o rapaz nunca fôra brilhante.
O escrivão disse ao Juiz que não
se preocupasse. Tinha um amigo de
Poucos dias depois, todo orgulhoso,
o escrivão entregava ao Juiz a tão alme-
jada dispensa do serviço militar.
A partir daí, tornaram-se amigos,
e o Magistrado, durante os muitos
anos em que permaneceu na Vara,
só deu à Corregedoria ótimas in-
Advogado Criminalista. Co-autor
do Código Penal Comentado e das
Leis Penais Especiais Comentadas, e
autor dos livros de crônicas Causos
Criminais e Momentos de Paraíso
– memórias de um criminalista, todos
pela Editora Renovar.

www. cartaforense. com. br 13

 P R O C E S
A Prisão Cautelar e a Garantia da Ordem Pública
“..Embora todo acusado seja considerado inocente até o trânsito em julgado de decisão criminal condenatória, torna-se viável a ocorrência de sua prisão cautelar, quando
indispensável, dentre outros fatores, à garantia da ordem pública.”
Acervo CF
Guilherme de Souza Nucci
A liberdade é a regra; a prisão,
uma exceção. Nada mais correto em
matéria de preservação dos direitos
e garantias humanas fundamentais
do que se buscar manter, sempre que
possível, a liberdade do indivíduo. Afi-
nal, consagra-se, por tal mecanismo, o
princípio constitucional da presunção
de inocência (art. 5o, LVII, CF). Por outro
lado, assegurada que foi, como direito
humano fundamental, a segurança (art.
5o, caput, CF), não se pode perder de
vista a ideal composição e harmonia
do sistema, sopesando-se o indeclinável
contraste entre o interesse do indivíduo
e o da sociedade.
Por isso, embora todo acusado seja
considerado inocente até o trânsito em
julgado de decisão criminal condenató-
ria, torna-se viável a ocorrência de sua
prisão cautelar, quando indispensável,
dentre outros fatores, à garantia da
ordem pública. O direito à segurança
não pode ser olvidado, unicamente
pelo fato de haver sido previsto o
direito à presunção de inocência.
Pode-se, perfeitamente, compatibilizar
os interesses. Caso seja necessária a
decretação da custódia cautelar de um
indiciado ou acusado, não se passa,
Divulgação
14
S O P E
em decorrência disso, a considerá-
lo culpado. Continuará a ser tratado
como pessoa inocente, ainda que esteja
privado de sua liberdade. A origem e
a fundamentação da segregação têm
bases diversas, não dizendo respeito à
culpa ou inocência, mas à necessidade
de se prender aquele que, de outra
forma, colocaria em risco o direito de
outros indivíduos à segurança.
O artigo 312 do Código de Proces-
so Penal fornece os alicerces para a
compreensão e para a utilização da
prisão cautelar, de um modo geral. É
fundamental existir prova da existência
do crime (materialidade) e indícios su-
ficientes de autoria. Associado a ambos
os requisitos, acrescenta-se mais um,
pelo menos: a) garantia da ordem pú-
blica; b) garantia da ordem econômica;
c) conveniência da instrução criminal;
d) garantia de aplicação da lei penal.
O mais polêmico dos requisitos
alternativos, que abrange o mais vasto
campo para divergência, segundo nos
parece, é a garantia da ordem públi-
ca. Em primeiro lugar, pela própria
interpretação dessa expressão. Como
se pode pensar em assegurar a ordem
pública por meio da prisão, por exem-
plo, de apenas uma pessoa? Por acaso,
a sociedade aquietaria seus ânimos e a
vida transcorreria sob o prisma ideal
simplesmente porque este ou aquele in-
divíduo foi detido? É evidente que não
se pode elevar a ordem pública a uma
categoria por demais envolvente. Em
grandes metrópoles, afinal, a prisão de
uma pessoa nem mesmo é conhecida da
imensa maioria da população local.
Diante disso, a análise da expres-
são colocada em destaque deve ser
feita dentro de limites mais modestos,
voltando-se a uma comunidade deter-
minada qualquer (rua, bairro, pequena
cidade, zona rural etc.). Assim idealiza-
N A L
da, a ordem pública ganha o contorno lo-
cal ou regional, mas jamais, como regra,
estadual ou nacional. A conseqüência
é óbvia: a prisão cautelar de um indi-
víduo, ilustrando, acusado de matar
inúmeras pessoas no bairro onde vive,
desde que existam indícios suficientes
de autoria e prova da materialidade
dos delitos, pode, sem dúvida, garantir
a tranqüilidade dos moradores daquela
localidade. Cuida-se, pois, do assegu-
ramento da ordem pública.
Sob outro prisma, quanto aos ele-
mentos essenciais para a configuração
desse requisito da prisão preventiva,
deve-se empreender uma verificação a
contrário senso. Em outras palavras, se
o magistrado não decretar a prisão cau-
telar, qual seria o resultado fático dessa
postura? Havendo inquietude espalha-
da por um número indeterminado de
pessoas, começa-se a firmar a desordem
pública. Logo, caberia a decretação da
prisão cautelar.
Em conseqüência, tanto a doutrina
como a jurisprudência vêm fornecendo
um rol quase infindável de motivos
para sustentar a prisão preventiva com
base na garantia da ordem pública.
Segundo nos parece, um binômio não
pode ser afastado: gravidade da infração
penal + repercussão social. A título de
ilustração, um homicídio qualificado
pela torpeza, crueldade e traição, cuja
vítima era pessoa estimada em deter-
minada localidade (ou mesmo em nível
nacional), provoca imenso desassosse-
go a quem disso tem ciência. Projeta-se,
como é natural do ser humano, a sen-
sação de que inexiste segurança pública,
pois “até Fulano” já foi atingido. Ora,
o crime cometido de maneira perversa,
capaz de chocar a moralidade média,
lesando valor fundamental (como é a
vida humana), cuja motivação é repug-
nante (torpeza), torna-se mecanismo
viável para gerar a intranqüilidade de
muitos. Aliás, quanto menor a locali-
dade onde se der o delito, maior será a
sensação de desordem pública.
Além desse binômio, pode-se acres-
cer a análise dos antecedentes do agen-
te. Aquele que possui variados antece-
dentes criminais, demonstrando não ter
sido a sua primeira infração, precisa ser
avaliado com maior acuidade. Não nos
parece lógico, em outra ilustração, per-
mitir fique em liberdade, aguardando a
finalização de um processo cuja impu-
tação é de roubo seguido de morte (la-
trocínio), o réu de maus antecedentes,
mormente se estes disserem respeito a
outros crimes violentos contra a pessoa.
A inquietação social poderia emergir
de maneira natural.
Atualmente, outro fator que deman-
da atenção é o envolvimento do agente
com o crime organizado. Dependendo
da gravidade da infração, a associa-
ção criminosa torna-se elemento de
destaque para que o juiz analise a
necessidade da custódia cautelar. Um
homicídio passional, cometido por réu
primário, sem antecedentes, embora
ilícito penal, não gera, necessaria-
mente, a prisão preventiva, até pelo
fato de, muitas vezes, não ser capaz
de provocar desassossego coletivo.
Tal situação é lógica, pois quem toma
conhecimento da infração penal não
se vê como vítima em potencial. O crime
teve por motivação a paixão, algo que,
como regra, nasce, vive e desaparece
naquela relação entre autor e vítima,
não se espalhando para outros cantos.
Entretanto, um homicídio cometido
por integrante de quadrilha, réu
reincidente, com maus antecedentes,
visando eliminar a testemunha de
outro crime qualquer é, sem dúvida,
diferente. Quem desse fato toma co-
nhecimento projeta-se para o cenário
do delito, imaginando que, no futuro,
qualquer pessoa de seu relacionamen-
to poderia ser abatida pelo agente,
desde que conveniente à organização
criminosa. É o desassossego, abalando
a ordem pública.
A prisão preventiva, quando seus
requisitos estiverem nitidamente pre-
sentes, precisa ser decretada, sob pena
de produzir o descrédito em relação ao
Poder Judiciário. Afinal, da mesma for-
ma que o indivíduo possui, na figura do
magistrado, quem lhe pode assegurar
a liberdade, em contraposição à força
do Estado, é preciso considerar que a
sociedade, como um todo, também crê
na magistratura, respeitadas as regras
do Estado Democrático de Direito, para
fazer cessar, em breve tempo, agressões
aos direitos humanos fundamentais.
A garantia da ordem pública, por isso,
não é fator estanque, merecendo análise
criteriosa em cada caso concreto.
Guilherme de Souza Nucci
Juiz de Direito; Livre-Docente em
Direito Penal pela PUC/SP; Doutor e
Mestre em Processo Penal pela PUC/SP.
Autor de diversas obras publicadas
pela Editora RT.
www. cartaforense. com. br
 E N T R E V I S
Mídia e Justiça
Luiz Flávio Gomes é mestre em direito penal pela USP e doutor em direito penal pela Universidade Complutense de Madrid. Foi delegado de polícia, promotor de justiça
e juiz de direito em São Paulo. É professor honorário da Faculdade de Direito da Universidad Católica de Santa Maria (Arequipa, Peru) e professor de vários cursos
de pós-graduação, dentre eles o da Facultad de Derecho de la Universidad Austral (Buenos Aires, Argentina) e o da Unisul (SC). É consultor do Iceps (International
Center of Economic Penal Studies), em New York, e membro da Association Internationale de Droit Penal (Pau-França). É diretor-presidente da Rede LFG (Rede de
Ensino Luiz Flávio Gomes) e autor de vários livros.
Acervo CF
Carta Forense — O que senhor define como Midiatização
da Justiça?
Luiz Flávio Gomes — Defino como a visibilidade que atu-
almente se dá à Justiça nos meios de comunicação, onde isto se
torna prejudicial quando se pretende pela opinião pública in-
fluenciar a decisão do Juiz. A mídia dramatiza as informações
relacionadas com a violência: apresenta a criminalidade por
meio de estereótipos, condena com sua publicidade pessoas
que ainda são presumidas inocentes, difunde o discurso de
endurecimento das penas, amplia o alarme social gerado pela
violência, espalha o medo, não raramente tenta influenciar no
resultado dos julgamentos jurídicos.
CF — Então, o senhor acredita que há uma dramatização da
violência pela Mídia?
LFG — Sim, a Mídia só divulga algo que emociona, a
Mídia é emocional, não é racional. O discurso midiático é ate-
morizador, porque ele não só apresenta como espetaculariza
e dramatiza a violência. Não existe imagem neutra. Tudo que
ela apresenta tem que chocar, tem que gerar impacto, vibra-
ção, emoção. Toda informação tem seu aspecto emocional:
nisso é que reside a dramatização da violência. Não se trata
de uma mera narração, isenta.
CF – O senhor acredita que estas ações midiáticas contribuem
para a prevenção da criminalidade?
LFG — Em certo sentido sim, mas em rigor incrementa
a criminalidade, sobretudo, quando influencia a persona-
16
T A
lidade das crianças. Como todas as instituições do país, ela
também cumpre papel relevante em favor da Justiça, contra
a impunidade. De qualquer modo, é certo que seus métodos
muitas vezes são estarrecedores.
CF — Casos como escola de base, dentre outros, mostrou que
a imprensa escandaliza algumas pessoas, muitas vezes inocentes.
Qual seu posicionamento acerca destes riscos?
LFG — A Mídia, quando comete injustiça deve ser respon-
sabilizada e isso ocorreu no caso da escola base. Tem que haver
uma resposta do judiciário, buscando coibir esta promoção de
injustiça, muitas vezes patrocinada pela mídia, que crucifica
inocentes em busca de um “bom” furo jornalístico.
CF — Há seletividade por parte da mídia ao noticiar nomes
de pessoas e empresas? Há neutralidade? Ou atacam somente
quem convém?
LFG — A Mídia é seletiva também. Quando não
interessa, ela não divulga nomes de pessoas importantes. Ela
não é neutra. É útil, é importante, mas muitas vezes tenden-
ciosa. Muitas vezes evitando noticiar nomes de pessoas ou
empresas que possam lhe trazer complicações ou prejuízos.
CF — O senhor acha que a mídia tenta conduzir o resultado
dos julgamentos, através de forte pressão aos magistrados?
LFG — Sim. A independência judicial, assim como a
objetividade das decisões, não são fenômenos isolados do
contexto social. Nas sociedades de opinião pública, con-
seqüentemente, nenhum exercício de poder fica imune à
mídia, em maior ou menor intensidade.
CF — E o senhor acha que consegue?
LFG — As vezes consegue, como exemplo: caso Gui-
lherme de Pádua, que ficou preso 4 anos sem julgamento.
Isso ocorreu por influência da Mídia.
CF — Com a experiência de quem foi delegado de polícia,
promotor de justiça, juiz de direito e atualmente exerce funções
de consultoria. As partes se aproveitam da mídia para conduzir
seus resultados, a mídia virou mais uma ferramenta aos opera-
dores do direito?
LFG — Muitas vezes as pessoas influentes usam a Mídia
para se favorecer.
CF — Na qualidade de jurista e professor de direito penal o
senhor conhece algum trabalho sério que comprove a relação da
justiça e a mídia?
LFG — Há pesquisas que demonstram que a Mídia
influencia algumas decisões. Especialmente do Tribunal
do Juri. Existe uma Pesquisa dirigida pelo sociólogo
Fermín Bouza Álvarez (Catedrático na Complutense de
Madrid), realizada na Espanha de 10/03/06 a 24/03/06
(cf. “Justicia y médios de comunicación — Cuadernos de
Derecho judicial”, Consejo General del Poder Judicial,
XVI, p. 37 e ss.), com quatro jornais, comprovou que
um quarto das notícias de primeira página relaciona-
se com as atividades judiciárias (mais precisamente:
25,23%). Dessas notícias, 40% referiam-se diretamente
aos juízes.
CF — Qual a influência da mídia no contexto do sistema penal
e da exclusão social?
LFG — Mídia dramatiza violência e incrimina as pessoas
que ela seleciona. Normalmente são pobres e marginaliza-
dos. Mas a Mídia também criminaliza alguns políticos e
funcionários públicos. Diz a mídia, constantemente, que
o sistema penal é muito benigno e que os juízes são muito
permissivos. Com isso ela não só gera uma demanda de mais
endurecimento, como efetivamente alcança esse objetivo (na
medida em que os legisladores e muitos juízes sucumbem
diante da pressão midiática).
CF — A imprensa então seria capaz de criar ondas de artificiais
de violência?
LFG — Ela difunde notícias não confirmadas, muitas
vezes. Nesse caso ela cria artificialmente um clima de
medo, ela também pode incentivar o uso da violência.
Em algumas vezes cria “ondas artificiais” de violência. O
resultado de tudo isso é o incremento do medo, do alarme
social, a ponto de desfazer os limites existentes entre o
distante e o local (mesmo em cidades pequenas, onde a
criminalidade é muito baixa, a sensação de insegurança
passa a ser muito grande).
CF — E como a comunidade jurídica deve reagir a este tipo
de influência?
LFG — A Comunidade Jurídica deve recriminar os
abusos da Mídia. Toda comunidade jurídica deve dentro
de cada função promover resistência a esta tirania midi-
ática, para prevalecer, sobretudo a dignidade da pessoa
humana.
www. cartaforense. com. br
 C I V I L
Contrato Administrativo e Boa-Fé Objetiva
“O presente artigo decorre de julgado enviado pelo Professor Flávio Tartuce ao grupo de estudos Professora Giselda Hironaka”
Acervo CF
José Fernando Simão
N ão são poucas as vezes que,
quando lecionamos os princípios con-
tratuais, seja em curso de graduação,
pós-graduação, ou preparatório para
concursos públicos, que surge uma
questão por parte dos alunos: os prin-
cípios contratuais previstos no Código
Civil se aplicam aos contratos adminis-
trativos? Em caso afirmativo, como fica
a supremacia do interesse público?
Ressaltamos que a idéia de escrever
o presente artigo decorre de julgado
enviado pelo Professor Flávio Tartuce
ao grupo de estudos Professora Gi-
selda Hironaka e que será analisado a
seguir.
I – Os princípios
Primeiramente, cabe explicar quais
são os princípios contratuais tradicio-
nais e aqueles ditos sociais e que cons-
tam do Código Civil de 2002.
Classicamente, a doutrina arrola
como princípios dos contratos a auto-
nomia privada, sua força obrigatória,
o consensualismo e a relatividade dos
seus efeitos.
Por autonomia privada entende-se o
poder que as partes têm de contratar
e suscitar, mediante a declaração de
vontades, efeitos reconhecidos pela lei.
É correto afirmar que o contrato reflete a
vontade das partes e seu poder de auto-
regulamentação ao qual a lei empresta
sua força coercitiva.
Já a idéia de consensualismo significa
que basta o simples consentimento,
como regra, para que o contrato se
forme. Trata-se da superação do forma-
lismo reinante em momentos históricos
anteriores, épocas em que o contrato
só adquiria a sua força obrigatória se
cumprida a solenidade.
Afirma-se, também, que o contra-
to somente vincula aqueles que dele
participaram, sendo, portanto, res inter
allios, não obrigando ou prejudicando
terceiros estranhos à relação jurídica.
18
Como é sabido, o contrato somente
poderá beneficiar terceiros, razão pela
qual o Código Civil trata da estipulação
em favor de terceiros. Estamos diante da
relatividade do contrato.
Sobre os princípios tradicionais re-
comendamos a leitura de nossa obra
Série Leituras Jurídicas, Editora Atlas,
v. 5 – CONTRATOS.
O Código Civil de 2002 cuida tam-
bém de dois novos princípios: a boa-fé
objetiva e a função social do contrato.
A função social do contrato está
prevista no art. 421 do CC que assim
dispõe:
Art. 421. A liberdade de contratar
será exercida em razão e nos limites da
função social do contrato.
Flávio Tartuce conceitua função so-
cial do contrato como um regramento
contratual de ordem pública, (art. 2.035,
parágrafo único, do Código Civil), pelo
qual o contrato deve ser, necessariamen-
te, analisado e interpretado de acordo
com o contexto da sociedade, e explica
que não se pode afastar o fundamento
constitucional deste preceito, pois está
intimamente ligado à dignidade da pes-
soa humana (A função social dos contratos,
2007, p. 248).
Dois são os desdobramentos da
função social: na relação entre as partes
contratantes e na relação dos contratan-
tes com terceiros. É de se salientar, que
nem toda a doutrina aceita esse dúplice
desdobramento do tema. Enquanto An-
tonio Jeová dos Santos, Fernando Noro-
nha e Sílvio de Salvo Venosa só admitem
a eficácia interna, Teresa Negreiros e
Humberto Theodoro Júnior só admitem
a eficácia externa. Por outro lado, admi-
tem ambas eficácias Maria Helena Diniz,
Paulo Luiz Netto Lobo, Paulo Nalin,
Nelson Nery Jr, Judith Martins-Costa
(TARTUCE,2007:246,247). Para apro-
fundamento do tema recomendamos o
livro de Flávio Tartuce, A função social
dos Contratos do CDC ao novo CC,
Editora Método, 2ª edição, 2007.
A boa-fé objetiva vem prevista no
art. 422 do CC:
Art. 422. Os contratantes são obri-
gados a guardar, assim na conclusão
do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.
Explica Sílvio de Salvo Venosa (Di-
reito civil, 2003, v. 2, p. 378) que, para a
análise da boa-fé objetiva, o intérprete
parte de um padrão de conduta comum,
do homem médio, no caso concreto. É
um dever de agir de acordo com deter-
minados padrões sociais estabelecidos
e reconhecidos.
As noções de agir corretamente com
o próximo, ou seja, de honrar a palavra
dada, de não causar prejuízos desneces-
sários a outrem, de cooperação para com
o outro contratante, refletem o conceito
de norma ética de conduta, segundo
os padrões do homem médio. Trata-se
de uma norma impositiva de conduta
leal, geradora de um dever de correção
que domina o tráfego negocial (Judith
MARTINS-COSTA, Comentários ao
novo CC, v. 5, 2003, p. 46).
II – O julgado
O Superior Tribunal de Justiça julga-
va mandado de segurança impetrado
contra ato de autoridade militar que
aplicou a penalidade de suspensão
temporária de participação em licitação
devido ao atraso no cumprimento da
prestação de fornecer os produtos con-
tratados (REsp 914.087/RJ, Rel. Ministro
JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 04.10.2007, DJ 29.10.2007
p. 190).
A penalidade administrativa de sus-
pensão temporária em participação em
licitações decorreu do fato de a empresa
impetrante ter um contrato firmado com
a Administração Pública para o forne-
cimento de 48.000 fogareiros, no valor
de R$ 46.080,00 com entrega prevista em
30 dias. Entretanto, o cumprimento in-
tegral do contrato não ocorreu no prazo
avençado, mas sim de forma parcelada
em 60 e 150 dias, com informação prévia
à Administração Pública das dificulda-
des enfrentadas em face de problemas
de mercado.
Em razão desse inadimplemento re-
lativo, que em termos de direito civil é
classificado como mora, pois os fogarei-
ros, apesar de entregues extemporanea-
mente ainda era úteis à Administração,
gerou a sanção de suspensão temporária
em licitações.
Interessantes as razões invocadas
pelo Ministro Relator, José Delgado,
para conceder a segurança pleiteada e
afastar a suspensão imposta.
Diz o Ministro que “ademais, como
ficou patenteado nos autos, houve
mero atraso no cumprimento das
prestações pela impetrante, sendo
certo que a própria Administração
militar recebeu parte dos produtos
fornecidos sem qualquer ressalva, o
que pressupõe algum tipo de moratória
concedida para o adimplemento total
da obrigação”.
Note-se que, de início afasta a pos-
sibilidade de um comportamento con-
traditório (venire contra factum proprium)
da Administração Pública. Se aceitou os
fogareiros, ainda que fora do prazo con-
tratual, sem qualquer ressalva (primeiro
comportamento) seria comportamento
contraditório aplicar alguma penalidade
à empresa na seqüência (segundo com-
portamento).
Sobre o tema explica MENEZES
CORDEIRO que venire contra factum
proprium significa o exercício de uma
posição jurídica em contradição com o
comportamento assumido anteriormen-
te pelo exercente (Da boa-fé no direito
civil, 2001, p. 742). Tem como requisito
a existência de dois comportamentos
lícitos de uma mesma pessoa, separa-
dos por determinado lapso temporal,
sendo que o segundo comportamento
contraria o primeiro. A vinculação entre
o instituto do venire e a boa-fé objetiva
foi objeto do seguinte enunciado da IV
Jornada de Direito Civil:
“Enunciado 362 - Art. 422. A vedação
do comportamento contraditório (venire
contra factum proprium) funda-se na
proteção da confi ança, tal como se extrai
dos arts. 187 e 422 do Código Civil”
Ainda, aplicada a boa-fé objetiva para
vedar um comportamento contraditório
da Administração, prossegue o Ministro
José Delgado:
“Na contemporaneidade, os valores
e princípios constitucionais relacio-
nados à igualdade substancial, justiça
social e solidariedade, fundamentam
mudanças de paradigmas antigos em
matéria de contrato, inclusive no cam-
po do contrato administrativo que,
desse modo, sem perder suas caracte-
rísticas e atributos do período anterior,
passa a ser informado pela noção de
boa-fé objetiva, transparência e razo-
abilidade no campo pré-contratual,
durante o contrato e pós-contratual.
Assim deve ser analisada a questão
referente à possível penalidade aplica-
da ao contratado pela Administração
Pública, e desse modo, o art. 87, da
Lei nº 8.666⁄93, somente pode ser in-
terpretado com base na razoabilidade,
adotando, entre outros critérios, a pró-
pria gravidade do descumprimento do
contrato, a noção de adimplemento
substancial, e a proporcionalidade.”
(sublinhamos).
Dessa forma, resta claro que o Supe-
rior Tribunal de Justiça acolhe, também
para o contrato administrativo os prin-
cípios sociais do Código Civil de 2002.
Antes de ser administrativo ou civil,
estamos diante de um contrato. E se
nos perguntarem como fica o princípio
da supremacia do interesse público, a
resposta é uma só: cabe ao aplicador
do direito valer-se da ponderação de
princípios caso aja choque entre eles.
José Fernando Simão
Advogado. Mestre e Doutor em Direito Civil
pela Universidade de São Paulo. Professor
de Direito Civil da FAAP e do Curso FMB.
www.professorsimao.com.br.
www. cartaforense. com. br
 Informe Publicitário

Willian Fernandes
Um Olhar Externo de Uma Instituição
Advogado e Ouvidor-Geral
da Defensoria Pública de
Conveniente e Necessária
São Paulo.

apenas dos Defensores Públicos, que
estariam transformando suas prio-
ridades em prioridades do País. É o
suficiente para que se manifeste sobre
o assunto a sociedade, representada
pela Ouvidoria-Geral da Defensoria
Pública de São Paulo, visto tratar-se de
órgão responsável em zelar pelos inte-
resses dos usuários, dirigida por pes-
soa estranha a carreira, escolhida pelo
Governador do Estado em lista tríplice
cação como serviços públicos de péssima resses do povo, no caso dos usuários dos
qualidade que mereceriam atenção em serviços da Defensoria Pública, a maior
detrimento dos serviços jurídicos à po- parcela da população brasileira.
pulação carente. Trata-se de argumento
equivocado. Quando estes serviços não
são promovidos à população sem recur-
sos financeiros é a Defensoria Pública que
estará ao lado destas pessoas instando o
Poder Judiciário a manifestar-se.
Alternativa, seria imaginar que,
porque os serviços essenciais do Estado

N a Câmara dos Deputados tra-

va-se um debate em torno da Proposta
de Emenda Constitucional no 487/2005
que modifica as atribuições, garantias,
vedações e outras questões ligadas à
Defensoria Pública. A PEC preve que
a Defensoria Pública da União tenha
autonomia funcional, administrativa e
financeira, o que tem gerado um certo
frenesi naquela Casa de Leis.
A imprensa tem cedido espaço para
uma profícua discussão relacionada
à autonomia da Defensoria Pública,
onde os deputados têm levado ao co-
nhecimento da população suas posições
acerca do tema.
Entre aqueles que se posicionam
incisivamente contra a proposta, está
o Deputado José Carlos Aleluia, argu-
mentando que a autonomia da Defen-
soria Pública criaria um “superpoder”
inconveniente à democracia. E como
voz mais ativa a favor da proposta o
Deputado autor da referida emenda
- Roberto Freire - que sustenta que a
aprovação da PEC sanaria a hipotrofia
de instrumentos voltados exclusiva-
mente à população carente.
É bom que o debate esteja ocorren-
do, não apenas no plenário da Câmara
como nos veículos de comunicação, com
os deputados fazendo conhecer suas
motivações e argumentos. Primeiro
pela relevância do assunto que trata
da garantia do acesso aos direitos e
justiça àqueles que não podem custear
os honorários de advogados, segundo
porque do debate se evidencia os valo-
res que norteiam os parlamentares nos
diversos temas de interesse do país.
Obviamente que a sociedade espera que
em um País de exclusão a justiça social
seja o norte.
A PEC 487/2005 é vista pelo de-
putado Aleluia como norma que cria
privilégios corporativos e de interesse
elaborada pelo Conselho Estadual dos
Direitos da Pessoa Humana.
Aos representantes da sociedade no
são de péssima qualidade, os serviços
da Defensoria Pública poderiam ser de
qualidade inferior. Fora de cogitação.
Parlamento vale dizer que a socieda- Isto seria nivelar por baixo.
de é favorável ao fortalecimento das Por tudo isso, não se trata apenas de
Defensorias Públicas e, portanto, favo- equiparar a Defensoria Pública ao Mi-
rável a aprovação da PEC 487/2005, nistério Público, o que seria uma visão
porque resultará em melhores possi- minimalista. Até porque a sociedade es-
bilidades de levar ao conhecimento pera que a Defensoria Pública construa
do Judiciário as diversas demandas paradigmas. Também não é defender
ignoradas por este Poder, visto que interesses coorporativos ou prerroga-
ainda não foram suplantados os obs- tivas que irão interferir nos Poderes
táculos ao acesso à justiça. Legislativo e Executivo. É muito mais do
Defensoria Pública mal estrutura- que isso. É política de cidadania.
da, sem orçamento adequado às suas Portanto, anseia a sociedade que o
necessidades, em desigualdade com o Parlamento, norteado pelos valores de
órgão acusador (Ministério Público) é justiça social faça valer
um destes obstáculos e é a realidade os inte-
das Defensorias Públicas do Brasil. É a
conclusão do ultimo diagnóstico pro-
duzido pela Secretaria da Reforma do
Judiciário, e os estudiosos da matéria
concordam.
De outro lado, a autonomia admi-
nistrativa e orçamentária garantirá
maior liberdade à Defensoria Pú-
blica que muitas vezes é a insti-
tuição que patrocina as causas
contra o próprio Estado. É sabido
que embora seja o Estado o res-
ponsável pela promoção dos
direitos sociais é Ele seu maior
violador. Quando isto acon-
tece espera-se que o Poder
Judiciário corrija. E a Defen-
soria Pública é
quem encabeça
a defesa destes
direitos viola-
dos quando há
interesse das
pessoas sem
condições eco-
nômicas.
Costuma-se
citar saúde, se-
gurança e edu-

Informe Publicitário
 CADERNO INFORMATIVO AOS ESTUDANTES DE DIREITO

Malhando
o Exame de Ordem

Normas Gerais da Língua Culta

“No campo dos pronomes, parece que os registros na oralidade e a língua culta não
convivem bem. Estão quase sempre em conflito! A contenda não ocorre à toa. O sistema
de pronomes do português é demasiadamente rico e bastante complexo.”

Por Eduardo Sabbag, P27.

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 F O L H A D
Exame de Ordem 1a Fase – Dicas de
Direito Administrativo
Acervo CF
Adilson Pera
P rezado leitor é com muita sa-
tisfação que escrevo a você algumas
tendências do exame da OAB em
direito administrativo.
O objetivo destas breves linhas
não é exaurir o conteúdo de direito
administrativo para o exame de Or-
dem, tão pouco analisa-los de forma
detalhada, mas sim, passar ao leitor
dicas e assuntos com maior incidência
nos exames da Ordem.
Freqüentemente são elaboradas
questões sobre Administração Públi-
ca, que se divide em Administração
direta e indireta. É importante sa-
lientar que as chamadas associações
públicas integram a Administração
Pública indireta, conforme prelecio-
na o artigo 6o, inciso II, §1o da Lei
11.107/2005 que trata dos consórcios
públicos.
Não podemos esquecer das agên-
cias reguladoras que são autarquias
em regime especial e tem algumas
características específicas, tais como,
maior autonomia, poder de fiscalizar
e regular prestadores de serviços
públicos, mandato fixo e estabilidade
de seus dirigentes ou diretores, bem
como se submetem à quarentena (pe-
ríodo em que o dirigente após deixar
o cargo não poderá exercer qualquer
função nas empresas em que fiscaliza-
va, recebendo remuneração integral
durante todo esse período).
Também deve ser estudado pelo
candidato ao exame da Ordem o tema
ato administrativo, sendo importante
a análise dos requisitos, atributos,
classificação e as formas de extinção.
Ressaltamos aqui o requisito da fina-
lidade do ato que é sempre o interesse
público, sendo que o administrador
quando pratica ato com finalidade
diversa, tal ato estará viciado pelo des-
22
O A C A
vio de finalidade e deverá ser anulado,
pois não admite convalidação.
Sobre a classificação dos atos admi-
nistrativos, merece atenção a que divi-
de os atos em vinculados e discricio-
nários, bem como a que divide os atos
em simples e complexos. Com relação
a extinção dos atos administrativos
é importantíssimo que o candidato
saiba quando ocorre a anulação e a
revogação. Anulação de um ato ocorre
quando ele é ilegal operando efeitos
“ex- tunc” (retroage) podendo ser
utilizada pela própria Administração
ou Poder Judiciário.
Já a revogação ocorre quando o
ato é legal, porém inconveniente
ou inoportuno ao interesse publico,
operando efeitos “ex-nunc” (não re-
troage), sendo operada somente pela
Administração Publica.
Orientamos também que o candi-
dato dê especial atenção a licitações
e contratos administrativos. Sobre o
tema indicamos que sejam estudadas
as modalidades de licitação, os tipos,
as fases da licitação, os recursos e seus
efeitos, bem como as hipóteses em que
a Administração não realiza licitação
(inexigível, dispensada e dispensável)
tratadas nos artigos 17, 24 e 25 da Lei
8.666/93.
Ainda sobre licitação frisamos a
inversão na ordem das fases. Como
se sabe, a regra é que primeiro se
analisam as documentações (fase de
habilitação) para depois se analisar
propostas (fase de classificação),
entretanto existem hipóteses em que
há uma inversão nessa ordem. Isso
ocorre no pregão, conforme estabe-
lece artigo 3°, incisos XI e XII da Lei
10.520/02, nas concessões e permis-
sões de serviços públicos conforme
dita o artigo 18-A da Lei 8.987/95
e nas parcerias publico-privadas
D Ê M I C O
(PPP´s) de acordo com o artigo 13
da Lei 11.079/04 .
É importante salientar que no pre-
gão necessariamente ocorre a inversão
na ordem das fases, já na concessão e
permissão de serviços públicos, bem
como nas PPP´s a inversão é facultati-
va, pois os dispositivos legais estabe-
lecem que o edital de licitação poderá
prever a inversão na ordem das fases
de habilitação e classificação.
Sobre os contratos administrativos
deve ser dada maior atenção em suas
características específicas, como a
presença de cláusulas exorbitantes, a
mutabilidade do contrato, possibili-
dade de alterações unilaterais, entre
outras. Algumas espécies de contratos
administrativos aparecem nos exames
da OAB com mais freqüência, como,
a concessão e permissão de serviços
públicos - Lei 8.987/95, pelo qual o
Poder Público delega a particular a
prestação de um serviço público, para
que este o execute em seu próprio
nome, por sua conta e risco. Outro
contrato que merece atenção é aquele
oriundo de um consórcio público
– Lei 11.107/05, pelo
qual, pessoas políticas
se unem para prestar
serviços de interes-
se comum dos entes
consorciados de forma
conjugada. E também
os contratos de PPP´s
– Lei 11.079/04 que
são espécie de contrato
de concessão.
Outro tema que
merece destaque é a
responsabilidade civil
do Estado, em alguns
exames têm se exigido que o candida-
to tenha conhecimento da teoria que
não é aceita em nosso ordenamento,
ou seja, a teoria do risco integral.
Importante frisar que em nosso
ordenamento é adotada a teoria do
risco administrativo que equivale a
responsabilidade objetiva e a teoria da
culpa administrativa que equivale a
responsabilidade subjetiva. Em regra
o Estado responde de forma objeti-
va, entretanto poderá em algumas
hipóteses responder de forma subje-
tiva sendo nesses casos necessária a
demonstração de dolo ou culpa. Já o
agente público responderá de forma
subjetiva, como tratam os artigos 37,
§6° da CF/88 e 43 do Código Civil.
Assunto que também deve ser ana-
lisado é agentes públicos, em especial
suas classificações, as diferenças entre
cargo, emprego e função, bem como,
quais os cargos que só podem ser ocu-
pados por brasileiro nato, sendo aqueles
previstos no artigo 12 § 3o da CF/88. A
acumulação de cargo, emprego e fun-
ção é muito exigida no exame da OAB
e vem disciplinada no artigo 37, inciso
XVI da CF/88 que permite a acumula-
ção nos seguintes casos: dois cargos de
professor, um cargo de professor com
outro, técnico ou cientifico, e dois cargos
privativos de profissionais de saúde,
com profissões regulamentadas.
A Constituição Federal prevê
mais três hipóteses de acumulação,
previstas nos artigos 38, inciso III; 95,
parágrafo único, inciso I e 128, §5o,
inciso II, alínea “d”.
Por derradeiro gostaríamos de dei-
xar algumas dicas para os candidatos
ao exame da OAB. Os testes devem ser
respondidos sempre por eliminação,
não se deve localizar a alternativa cor-
reta, mas sim excluir as erradas e caso
não saiba a questão, não perca muito
tempo para não haver um desgaste
demasiado, pois o cansaço aumenta
e isso prejudica o candidato na reso-
lução das demais questões.
A respeito do material de estudo
utilizado salientamos que a doutrina
não é o melhor caminho, isso pelo fato
de serem na maior parte das vezes
muito extensas e abordarem assun-
tos com maior profundidade, sendo
assim indicamos que o candidato
estude por um bom resumo de Direito
Administrativo à venda no mercado.
Os resumos focam o aluno para aquele
objetivo, qual seja, aprovação no exa-
me de Ordem.
E por fim, elucidamos que as Súmu-
las recentes do STJ o do STF também
são importantes e podem ser verifica-
das no site destes órgãos.
Adilson Pera
Advogado, Pós-graduado em Direito
Administrativo pela PUC/SP, Professor de
Direito Administrativo da Universidade
Ibirapuera e do curso FMB.
Colaborador do livro 1500 testes da coleção
“Para Aprender Direito” da editora Barros,
Fischer & Associados. Autor do livro
“Resumo de Direito Administrativo” da
coleção Resumo Jurídico do curso FMB.
Autor do livro “Direito Administrativo para
Exame da Ordem” do curso FMB.
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 Quando eu era Estudante de Direito

precedido de uma grave crise existen-
cial. Eu havia passado no vestibular
apenas para o segundo semestre de
1983 e tinha, por conseguinte, seis
meses de “férias”. Durante o perí-
odo, devorei uma biblioteca inteira
de clássicos na casa de um primo
que hoje é magistrado no Recife. Ao
mesmo tempo, tive acesso à literatura
Acervo CF
teceu um milagre: cursei a disciplina
“filosofia do direito”. O professor era
fraco, mas o conteúdo da matéria
descortinou-me um novo horizonte.
Por sorte, a Faculdade tinha uma
grande tradição no campo da reflexão
teórica sobre o direito — em razão
de professores como Mario Moacyr
Porto, Flóscolo da Nóbrega e Tarcício
dos olhares enviesados, tento manter
a autenticidade, usando blue jeans e
tênis All Star. Permaneço fiel ao meu
ideário político, ético e estético, e
como educador e dirigente univer-
sitário, insisto em mostrar aos meus
alunos que o direito, além de ser um
modo particular de controle social, é
também caminho para a construção

alternativa que começava a ser difun- Burity — de modo que, ao menos de um mundo mais justo, solidário e
dida no Brasil. Aproximei-me do rock nessa área, a biblioteca era bastante sustentável. Uma profissão, como o
e do cinema de arte, e “cometi” os razoável. Comecei a ler compulsiva- próprio étimo indica, é sempre um
meus primeiros poemas. Quando fi- mente autores como Kelsen, Ross e serviço voltado para o outro. Mas ela
Eduardo Rabenhorst
nalmente ingres-
sei no curso de

O s tempos ainda eram difíceis.

O regime militar havia concedido
anistia aos exilados políticos, mas a re-
democratização do país caminhava a
passos lentos. Afinal, como havia dito
o General Ernesto Geisel, a mesma
deveria ocorrer de forma “lenta, gra-
dual e progressiva”. Éramos jovens e
tínhamos pressa. Queríamos eleições
diretas, reforma partidária e, sobretu-
do, liberdade de expressão. Contudo,
as bombas continuavam a explodir,
destruindo bancas de jornal ou matan-
do inocentes como Lyda Monteiro. Eu
tinha estudado em um colégio público
tradicional da cidade de João Pessoa
e lá havia recebido minha formação
política. Estudante secundarista havia
participado ativamente da criação da
Juventude Socialista no meu Estado,
mas não tinha uma militância política
bem definida. Oficialmente integra-
va o chamado PMDB Jovem, mas na
verdade fazia parte de um dos vários
grupos de esquerda que encontravam
abrigo naquele partido. Foi nessa épo-
ca que decidi estudar direito, ainda
que tivesse uma grande inclinação
para a museologia. Na minha infância,
havia lido muitos livros de história
e tendo passado frequentemente as
férias em meio aos casarões e Igrejas
de Olinda, era natural que me interes-
sasse pela profissão. Entretanto, como
muitos outros, optei pelo curso de
direito pelo fato de que lá ao menos eu
poderia obter uma formação huma-
nística e continuar a exercer as minhas
atividades políticas. Tinha conhecido
um advogado que atuava no campo
dos direitos humanos, junto com os
arcebispos Dom Hélder Câmara e
Dom José Maria Pires, e imaginei que
poderia trabalhar na área. Contudo,
meu ingresso no curso de direito foi
direito, tive um
impacto negati-
vo. O curso era
profundamente
conservador em
todos os sentidos.
Os professores,
apesar do calor
insuportável,
usavam ternos
escuros e grava-
tas apertadas.
Empregavam
palavras castiças
como “cousas”
e “alugueres”, e
faziam citações
em um latim so-
frível (mais tarde
descobri que tais
citações não eram
romanas, mas
resultavam dos
civilistas fran-
ceses do século
XVIII). O ensino
era estritamente
dogmático e os docentes, com raras Recaséns Siches. Paralelamente, pas- é também a resposta a um chamado
exceções, desestimulavam qualquer sei a freqüentar o curso de filosofia interior. Por isso mesmo, exerço o
impulso criativo. A norma parecia como ouvinte. Havia encontrado a magistério na área jurídica não como
ser: aqui não se pensa, decora-se; minha vocação. Consegui terminar simples ocupação ou meio de subsis-
aliás, uma regra seguida com rigor o curso de direito, apesar das provas tência. Na verdade, como descobri no
pelos alunos que, no geral, apenas de processo civil, e fiz seleção para divã, busco ser o professor de direito
buscavam o diploma e o êxito pro- o mestrado em filosofia. Passei em que gostaria de ter conhecido nos
fissional. Pensei em desistir, junto primeiro lugar e me convenci de que bancos da faculdade, quando aluno.
com dois ou três colegas que viam minha escolha estava certa. Decidi ser Sem qualquer pieguice, diria que no
as coisas do mesmo modo. Cheguei professor de filosofia do direito e tive magistério cumpri o meu destino.
inclusive a pleitear uma transferência êxito no concurso público realizado Espero que os jovens leitores desta
para o curso de jornalismo. Mas se- pela mesma instituição que me aco- coluna possam fazer o mesmo, dentro
guindo o conselho de amigos, resolvi lheu nos anos de rebeldia. Hoje, por ou fora do direito.
aguardar. Tempos difíceis. Iniciava a ironia do destino, dirijo o Centro de
leitura dos principais doutrinadores Ciências Jurídicas da UFPB depois Eduardo Rabenhorst
(até hoje essa palavra me assusta), de ter coordenado seu Programa de Diretor do Centro de Ciências Jurídicas da
mas rapidamente fechava o livro e Pós-graduação. Sigo coerente com a Universidade Federal da Paraíba, Mestre
passava aos textos de Ginsberg, Sar- minha história e com o meu modo de em Filosofia pela UFPB e Doutor pela
tre e Fernando Pessoa. Até que acon- ver o mundo. Apesar das críticas e Université de Strasbourg (França).

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 F O L H A D O A C A D Ê M I C O

Malhando o Exame de Ordem

mercado centenas de milhares de pessoas
despreparadas para advogar. E emendou
com números efetivamente impres-
sionantes: há 600 mil advogados no país
e 1,5 milhão de alunos matriculados em
1.077 cursos jurídicos. Só nos últimos
oito anos houve um aumento de
2.533% no número de inscritos no
Exame de Ordem, mas cerca de 80%
Acervo CF
lembrou que a medida permitiria que
o país tivesse, em breve, 4 milhões de
advogados, quase o dobro do número
existente no restante do mundo, 2,1
milhões.
Não demorou muito para que sur-
gisse a notícia de que a juíza federal
Maria Amélia Senos de Carvalho,
que concedera a liminar, fora alvo
Região, tendo sido distribuído à sua
8ª Turma. Um par de dias depois, o
desembargador Raldênio Bonifácio
da Costa cassou a liminar. O exame
de ordem, no entanto, já estava de
volta aos debates: alunos, bacharéis,
professores, operadores do Direito
em geral.
Logo após, o Supremo Tribunal

foram reprovados. De outra face, a
Procuradoria da OAB afirmou que
o Movimento nacional dos bacharéis
em Direito congrega alguns poucos as-
Gladston Mamede
pirantes à advocacia que, inconformados
com o próprio despreparo, resolveram
de um desagravo público da própria
Ordem dos Advogados do Brasil que,
por meio de seu Conselho Federal,
repudiara a conduta arbitrária e de nítida
retaliação, adotada pela magistrada,
em desrespeito ao ordenamento jurídico.
Federal noticiou que o ex-juiz clas-
sista José Roberto Guedes de Oliveira
ajuizara um mandado de segurança
(MS 27.111) para obter sua inscrição
na Ordem dos Advogados do Brasil
independentemente da aprovação

N a maioria dos escritórios de

advocacia do país, janeiro é um mês
adotar estratégias político-jurídicas para
obter, por vias transversas, o que sua
própria capacidade intelectual e dedicação
Mais do que isso, a nota afirmava que
a entidade iria adotar, se necessárias, as
providências legais para reparar a ofensa
no Exame de Ordem, alegando que
a exigência seria inconstitucional.
Na ação Oliveira argumenta que
tranqüilo e quente, eventualmente aos estudos deveria lhes garantir. Basta e coibir quaisquer atos em desrespeito às o exame para exercer a profissão é
molhado pela chuva. Nas praias, da- recordar que, só no último Exame de prerrogativas profissionais dos advogados. “um fato sui generis no mundo do
qui e do Caribe, causídicos untam-se Ordem realizado pela OAB/RJ, dos Por isso, mais do recorrer da decisão, trabalho profissional, mormente
de protetor solar e refestelam-se na 7.790 candidatos, apenas 10% foram a OAB pediu o afastamento da ma- aqui no Brasil, onde nem mesmo na
areia, quando não enfrentam o frio eu- aprovados. Já o Presidente do Con- gistrada do caso. O recurso chegou medicina é empregada tal prática”,
ropeu ou norte-americano. Há gente selho Federal da OAB, César Brito, ao Tribunal Regional Federal da 2ª “fazendo prevalecer o interesse parti-
enfurnada em sítios, nas cidades histó-
ricas de Minas ou enfrentando os mos-
quitos nas reservas florestais. Janeiro
seguia esse tom, marcando-se nesta
pasmaceira, até que o meio jurídico
fosse sacudido pela notícia de uma
decisão liminar da 23a Vara Federal do
Rio de Janeiro, proferida no Mandado
de Segurança 2007.51.01.027448-4. O
pronunciamento concedera ordem
liminar favorável a seis bacharéis em
Direito para que pudessem se inscre-
ver na Ordem dos Advogados do
Brasil e exercer a advocacia, sem
contudo passar pelo Exame de
Ordem. A writ of mandamus
fora pedido por seis mi-
litantes do Movimento
Nacional dos Bacharéis
em Direito, que sustenta
a ilegalidade do Exame de
Ordem.
Como havia de ser, formou-se
logo a confusão. O presidente da
seção fluminense da OAB, Wadih
Damous, adjetivou a decisão de
estapafúrdia e advertiu para conse-
qüências muito graves:: uma provável
enxurrada de ações por meio da qual
um sem-número de bacharéis sem qua-
lificação ingressaria nos quadros da
Ordem, pondo em risco a liberdade, o
patrimônio, a saúde e a dignidade de seus
clientes.. Não foi só isso. Referiu-se
expressamente às faculdades de beira
de estrada, verdadeiros caça-níqueis de
estudantes, que despejam despejem no

24 www. cartaforense. com. br

cular sobre o público e demonstrando
que a OAB considera a Constituição
Federal como ‘folha morta’”.
Parece mesmo estranho que al-
guém curse cinco anos de faculdade e,
ao final, não possa trabalhar. Por que
não? Ora, porque não se trata de um
curso de advocacia, mas de um bacha-
relado em Direito. São coisas distintas.
Potencialmente, o bacharel em Direito
pode ser advogado, mas também
pode optar por outras carreiras, como
a acadêmica, além de delegado de
polícia, serventuário da Justiça, Mi-
nistério Público, Magistratura, entre
outras. Para cada uma delas, exige-se
uma aptidão específica e o Exame de
Ordem é o teste de aptidão para a
advocacia, que é uma profissão que
exige um conjunto de conhecimentos
específicos. Portanto, é preciso separar
a Ciência do Direito, na qual se pode
bacharelar pelas regras do Ministério
da Educação e da Cultura, da advoca-
cia, cujo exercício está submetido a um
conjunto de requisitos. Vale dizer, não
é minimamente possível confundir o
bacharel de Direito com o advogado,
da mesma maneira que não se pode
pretender que haja uma conseqüência
necessária entre as duas condições.
Justamente por isso, o Exame de
Ordem não é uma exigência apenas
da legislação brasileira. Adotam sis-
temas semelhantes para o ingresso de
profissionais do direito no mercado
da advocacia diversos outros países,
entre os quais se pode citar Estados
Unidos, Inglaterra, Alemanha, Suíça,
Japão, França e vários outros. Mais
do que isso, em todos esses países,
entregou-se às entidades represen-
tativas dos advogados, a exemplo da
American Bar Association e da Ordre dês
Avocats Français, a regulamentação da
advocacia e o controle dos profissio-
nais habilitados e autorizados ao seu
exercício. Essa outorga alicerça-se,
antes de mais nada, na necessidade
indispensável de se manter a inde-
pendência da classe, permitindo que
os advogados cumpram sua função
social de defender o Direito e a Justiça,
atendendo à sociedade e defendendo
a Constituição contra os ataques de
usurpadores do poder. A ingerência
do aparelho estatal sobre a Ordem
constituiria um caminho terrível
para obstar a atuação vigorosa, razão
pela qual delega-se à própria classe a
função de cuidar de si e aferir, entre
os bacharéis de Direito, aqueles que
têm condição de apresentarem-se
como advogados. Não há, portanto,
prevalecimento de interesses privados
sobre públicos. Pelo contrário. Há,
sim, vigorosa defesa dos interesses
públicos (da sociedade em geral, de-
fendida pela OAB), contra interesses
privados: a vontade desse ou daquele
bacharel que, não tendo se mostrado
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apto ao ingresso,
não raro por não
demonstrar co-
nhecimentos sufi-
cientes para tanto,
pretende arrombar
a porta e se fazer
aceito a qualquer
curso.
Neste contexto,
é preciso ter parti-
cular atenção para
a Constituição da
República. É certo
que o seu artigo
5°, XIII, prevê ser
“livre o exercício de
qualquer trabalho,
ofício ou profissão”;
mas a mesma nor-
ma condiciona esse
exercício ao fato
de se atenderem
“as qualificações
profissionais que a
lei estabelecer”. E,
como reconheceu o
Min. Moreira Alves
no julgamento do
Agravo Regimental
no Agravo de Ins-
trumento 198.725/
SP, julgado pelo
Supremo Tribunal
Federal, no que se
refere à advocatí-
cia, “a lei exige essa
inscrição”. Não há
inconstituciona-
lidade, portanto.
Pelo contrário, há
atendimento estri-
to à Carta Política,
com atendimento
farto ao princípio
da legalidade, des-
tacado que a exi-
gência do Exame
de Ordem consta
da Lei 8.906/94, ou
seja, consta de lei
em sentido estrito, caráter, abrindo um sorriso farto ao não têm a mínima condição de exercer
devidamente aprovada pelo Con- serem tratados de Magnífico Reitor. a profissão. Há milhares deles: causí-
gresso Nacional e sancionada pelo Não são mais magníficos os reitores, dicos desatualizados ou simplesmente
Presidente da República. em sua maioria, como não são doutos incompetentes que fazem do exercício
Por fim, não posso me furtar ao de- os nossos professores, em muitos da profissão a desgraça dos próprios
ver de enfrentar alguns pontos desa- casos. Há uma farsa nacional que o clientes. Não basta impedir a inscri-
gradáveis da questão. A confusão ha- exame de ordem revela. Portanto, a ção de quem não tem condição para
bitual que o Estado brasileiro faz entre prova constitui a última muralha de exercer a profissão; é preciso excluir
democracia e demagogia, bem como qualidade que se ergue em defesa da os inscritos que estejam na mesma
o pouco apreço que nossos homens própria sociedade, o que explica o condição. E não são poucos. Qualquer
públicos mostram pela res publica, esforço de contadores e de médicos juiz enfrenta, por semana, dezenas
conduziu-nos a uma situação bizarra para instituir, eles também, exames desses exemplos lastimáveis.
na qual a educação foi transformada de proficiência profissional. Pronto: não uma. Duas polêmicas.
numa rentável indústria. Pior: uma Mas ainda é pouco. Se a Ordem
indústria de títulos, de diplomas, que dos Advogados do Brasil, manten- Gladston Mamede
se esforça para reduzir custos, que não do o Exame de Ordem, presta um Advogado. Doutor pela UFMG.Professor
se preocupa com qualidade, mas com grande serviço público à República, da Faculdade de Direito da Univeridade
lucros, lucros e lucros. Já vi ignorantes falha clamorosamente ao não manter Fumec (MG). Autor de “A Advocacia e a
de todos os tipos, cometendo erros mecanismos eficazes para identificar, Ordem dos Advogados do Brasil”
primários de português, sem ética ou entre os seus inscritos, aqueles que (Editora Atlas).
25
F O L H A D
Academia Paulista de Letras
Pedro, o Injustiçado
A propósito dos duzentos anos da
chegada de Dom João VI e da Corte Por-
tuguesa ao Brasil, muitas obras já foram
publicadas. Mas não é só de produções
contemporâneas que devem se abeberar
aqueles poucos que não desprezam o pas-
sado. O Brasil não cultiva a sua memória.
Como reafirma LYGIA FAGUNDES TEL-
LES, é a maldição de um passado mise-
rável: os erros acumulados que só fizeram
crescer a pobreza e a ignorância.
É hora de reabilitar PEDRO II. O Im-
perador injustiçado. O homem bom, traí-
do pelos que mais se beneficiaram de sua
bondade, de sua tolerância, de sua supe-
rioridade moral. Reler o livro “O Ocaso do
Império”, de Francisco José de Oliveira
Vianna, é exercício muito saudável. Como
diz José Murilo de Carvalho, autor de uma
festejada biografia do segundo e último
Imperador do Brasil em seu prefácio, “o
desapontamento que invadiu o país, a meio
caminho de 2005, provocado pelo desmo-
ronamento das grandes esperanças de mu-
dança geradas pelas eleições de 2002, e as
incertezas quanto ao futuro da República
conferem ao octogenário texto de Oliveira
Vianna inesperada atualidade”.
É preciso encarar a ingratidão do Brasil
para com seu Chefe de Estado. O Império
brasileiro era admirado por todo o mun-
26
O A C A
do civilizado. Foram quase cinqüenta anos
de estabilidade. Ninguém ousou censurar
a Imprensa. Falava-se o que se queria do
Imperador. Ele a tudo compreendia, a tudo
perdoava. Acabou sozinho. Relata Olivei-
ra Vianna o final que um homem desses
mereceria, fossem civilizados os súditos:
“Merecia, no seu ocaso, ter o esplendor
flamejante e a grandeza tranqüila de um
belo poente de verão e, entretanto, não
teve nenhum desses traços de beleza épi-
ca que, de costume, acompanham a queda
dos Impérios: o rumor e o brilho das espa-
das que se entrebatem e lutam, ou o cla-
mor das multidões enfurecidas que ape-
drejam e ululam. Terminou, ao contrário,
muito prosaicamente, e de súbito.
Do Paço, de onde dominara durante
meio século, o velho Imperador, abatido
pela moléstia, mas nobre ainda no seu
porte majestoso, saiu, não sob a claridade
da luz meridiana, mas dentro da noite, sob
a escuridão protetora de uma alta madru-
gada, como um criminoso que se foragisse
- e foi às pressas que embarcou no peque-
no navio, que o haveria de levar para as
tristezas do exílio irrevogável”.
A República era acalentada por poucos.
Os exemplos republicanos no continente
não eram dos melhores. Mas as ambições
pessoais, o insuperável anseio pelo mando,
D Ê M I
Dom Pedro II
acenavam afoitas e atiçavam os apetites.
Enxotaram o diabético e sua família sem con-
descendência. Estóico, estatura ética gigan-
tesca, “não levava nenhuma desilusão, senão
a experiência da ingratidão dos homens. Esta
mesmo ele, na sua magnanimidade, parecia
ter perdoado: não teve uma palavra só de
censura para ninguém, uma só recriminação,
um só desabafo de desespero, ou de cólera,
ou de mágoa: nada”.
Ninguém o acompanhou. Apenas co-
mentou: “É a minha aposentadoria. Já tra-
balhei muito, e estou cansado; irei descan-
sar”. Dava uma lição imperecível a quem
não se conforma com a perda do poder. A
quem não quer voltar às origens. A quem
considera castigo a entrega do cargo de-
pois de exercido um mandato. É que os
tempos já não produzem primícias como
Pedro II. “O sábio, e justo, o filósofo, que
C O
existiam nele, reapareciam para brilhar na
plena luz daquele dia fatal: o rei, o político,
o homem de Estado, que sempre foram
expressões secundárias da sua personali-
dade, desapareciam inteiramente”.
“Ele conservava-se o mesmo homem,
pairando sempre à mesma altura, e este-
ve assim até o último momento em que
o vi”, afirmou, cheio de admiração, o
comandante do navio que o transportou
para a França.
Os duzentos anos da chegada de seu
avô ao Brasil, com todo o significado des-
sa fuga à invasão Napoleônica, deve tam-
bém abrir espaço para o arrependimento
da Nação. PEDRO II não fez por merecer
o tratamento indigno dos brasileiros. Era
aquela espécie de homem no qual o gênio
da bondade se manifesta. Aqueles homens
que exercem maior influência pelo que são,
do que pelo que fazem. Ser nobre, profun-
damente bom, no qual o gênio da bondade
se manifesta. Quanta diferença entre ele
e a maior parte dos que vieram depois a
mandar no Brasil.
José Renato Nalini
É Desembargador do Tribunal de
Justiça de São Paulo e ocupa como
acadêmico da APL a adeira nº 40.
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 A Senda do Pronome: eu te amo ou eu a amo?
Acervo CF
Eduardo Sabbag
N o campo dos pronomes, parece
que os registros na oralidade e a língua
culta não convivem bem. Estão quase sem-
pre em conflito! A contenda não ocorre à
toa. O sistema de pronomes do português
é demasiadamente rico e bastante comple-
xo. Se em certa região do país, diz-se “Que-
ro que você venha amanhã.”, em outra
será possível ouvir “Quero que tu venha
amanhã.” E note que, além da fala variada,
há a possibilidade de ocorrência de erros,
como na imprópria conjugação verbal da
segunda frase. Melhor seria registrá-la
“Quero que tu venhaS amanhã.”
A celeuma freqüenta, a olhos vistos, o
dia-a-dia do povo brasileiro. O Jornal do
Brasil reproduziu em hilária charge, a fala
despretensiosa do brasileiro, deleitando-se
em seu coloquialismo:
O brasileiro adotou – de “adoção”, mes-
mo, propriamente dita – a expressão “eu te
amo”. Por aqui, sempre se ouve e se diz – até
com certa prolixidade – o tal “eu te amo”. A
frase é clássica e típica entre aqueles que es-
tão enamorados e, até mesmo, entre aqueles
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que ainda não o estão, porém já pretendem
deixar avisado que são detentores de tal sen-
timento. Portanto, a expressão serve, quanto
ao amor, em si, para externá-lo, simulá-lo e,
curiosamente, antecipá-lo.
Voltando à análise da máxima “eu te
amo”, faz-se necessário recapitular algu-
mas regras de gramática.
No sistema de pronomes, destacam-se
os pronomes pessoais – aqueles que ocu-
pam a função de sujeito das frases, chama-
dos de pronomes pessoais do caso reto: eu, tu,
ele(a), nós, vós, eles(as). Estes podem ser
comutados por outros, intitulados prono-
mes pessoais do caso oblíquo: me, te, o, a, os,
as, nos, vos, lhe, lhes, comigo, contigo,
consigo, conosco, convosco, e outros.
O pronome “te” (caso oblíquo) refere-se
à segunda pessoa do singular “tu” (caso
reto). Na maior parte do Brasil, não se usa
o pronome “tu”, preferindo-se o tratamento
“você” ou “senhor(a)” – estes, pronomes de
tratamento. Nessa medida, é fundamental
estabelecer a adequada correlação com o
pronome pessoal do caso reto, que se deseja
empregar. Assim: “tu” avoca a utilização
dos pronomes “te”, “ti”, “teu”, “tua”, e
“contigo”; por sua vez, o pronome “você(s)”
avoca o uso dos pronomes de terceira pessoa
“lhe”, “seu”, “sua”, “consigo”, além daque-
les que funcionam como complementos diretos
(“o”, “a”, “os”, “as”), ou como complementos
indiretos (“lhe” e “lhes”).
Frise-se, em tempo, que o pronome
oblíquo “te” pode exercer a função sin-
tática de objeto direto ou de objeto indireto.
Posso utilizar, em segunda pessoa, a
forma “Falta-te juízo!”. Aqui, o “te” é o
objeto indireto do verbo faltar (falta juízo
“a alguém”). Todavia, se escrevo “Ele de-
testa-te!”, o “te” é um objeto direto (detesta
“alguém”). Fazendo as adaptações para a
terceira pessoa, as frases ficariam “Falta-
lhe juízo!” e “Ele detesta-o/a!” O pronome
“lhe”, por sua vez, assume a função de
objeto indireto na oração, sempre relacio-
nado com a terceira pessoa. Exemplo:
”Entregue o memorando ao advogado.”
Com o pronome, teremos: ”Entregue-lhe
o memorando.”
O verbo “amar”, à luz das regras de
sintaxe, é transitivo direto e, como tal, re-
quer objeto direto. Os pronomes pessoais
de terceira pessoa que complementam o
verbo transitivo direto são: “o”, “a”, “os”,
“as”. Houve por bem Paulinho Moska, na
bela canção “Espaço Liso (o Fado)”, quando
registrou “(...) Eu amo a alma, e não a pessoa
(...)/ Eu amo o meu meio, e não o meu fim”.
Nessa medida, sob a perspectiva da
linguagem culta, não se deve dizer “Ma-
ria, eu te amo”, mas, sim, “Maria, eu a
amo” (ou “Maria, eu amo você”). Curio-
samente, a primeira formação – “Maria,
eu a amo” – pode fazer com que “o tiro
saia pela culatra”, indicando que o falante
ama uma outra candidata...Não há dúvi-
da: esses ditos populares são sábios....
Todavia, o brasileiro que utiliza cor-
retamente a segunda pessoa (tu), está
autorizado a continuar dizendo “Maria,
eu te amo”. Tudo dependerá de qual será
a situação de comunicação em que a frase
será produzida ou exteriorizada.
Vale destacar, ainda, que as expressões
coloquiais “eu te amo”, “eu te quero”, “eu
te devoro” são comuns em versos de nossa
música popular. Nos versos elogiáveis da
canção “Amor I love you”, de Marisa Monte
e Carlinhos Brown, encontramos, logo de
início: “(...) Deixa eu dizer que te amo/ Deixa
eu pensar em você (...)”.
Conquanto se saiba que a canção é
dotada de beleza singular, tais versos não
teriam andado bem, na trilha da gramá-
tica tradicional. O primeiro verso indica
o interlocutor “tu”, enquanto o segundo
verso encerra-se com menção ao pronome
“você”. Faltou a uniformidade de tratamento,
isto é, o emprego de pronomes que perten-
cem à mesma classe gramatical. Todavia,
com a franqueza necessária, é possível
assegurar a ocorrência de um “erro” na
bela canção musical?
No âmbito da linguagem formal, em
que se prima pelo nível de língua mais
cuidado, há de haver registros que se
coadunem com os padrões exigidos pela
gramática de rigor, quanto à uniformidade
de tratamento. Por outro lado , na língua
do cotidiano, o uso dos pronomes tende a
se afastar dos padrões recomendados pela
língua culta. Além disso, nos melódicos
versos transcritos, estamos diante do que
se costuma intitular “licença poética”, que,
desde os remotos tempos dos parnasianos,
outorga ao poeta a permissão para veicular
certos “desregramentos”, com a suficiente
vênia. Diz-se, não sem razão, que, na defesa
da licença poética, a excessiva liturgia da
forma pode prejudicar a espontaneidade do
sentimento, artificializando a expressão, e
disso não se pode discordar.
Assim, no confronto de padrões de
fala, teremos:
Padrão coloquial: Você deve comprar
o que te pedi.
Padrão culto: Você deve comprar o
que lhe pedi.
Padrão culto: Tu deves comprar o que
te pedi.
Ou:
Padrão coloquial: Eu te considero
como um grande amigo, pai!
Padrão culto: Eu o considero como um
grande amigo, pai!
Note que, no primeiro exemplo de uso
do padrão culto, estabeleceram-se as cor-
relações “você – lhe” e “tu – te”, enquanto
no padrão coloquial desponta a associação
“você – te”. Por sua vez, no segundo exem-
plo, o padrão culto recomenda que se subs-
titua o pronome “te” pelo pronome “o”.
Diante disso, a indagação não merece res-
posta simplista, que separe o “certo” do “er-
rado”. A expressão “eu te amo” é dita aqui
e acolá, dia a dia. Encontra-se cristalizada
na mente do povo brasileiro que, deixando
de lado a gramática tradicional, exterioriza
tal sentimento por meio da (quase sempre)
espontânea frase. É a presença do português
“vivo”, que, afastando a “ditadura dos pro-
nomes”, substitui com facilidade a forma
“você” por “tu, aderindo-se à máxima “eu
te amo”. E isso não é de hoje! Machado de
Assis, Artur de Azevedo e tantos outros
escritores já adotavam a substituição da
forma “você” por “tu”. Manoel Bandeira
até se valeu de curiosa invenção, na subli-
me criação lexical na poesia “Neologismo”,
incorporando o pronome “te” ao verbo
“adorar”, em benefício do aspecto lúdico
da poesia, ao burilar a ímpar formação
verbal “teadorar”, em contraponto ao
nome próprio da pessoa a quem se ex-
primiu o amor – a Teadora!
O amor é um dos sentimentos mais su-
blimes e triviais das pessoas, apreensível até
pelos menos capazes, e há de se questionar
se o respeito irrestrito às regras, neste caso,
não retiraria a naturalidade que deve marcar
a sua exteriorização, em menor ou maior es-
cala. Além disso, à luz das normas cultas de
rigor, os versos, perdendo a expressividade
e coloquialismo necessários, assim ficariam:
“(...) Deixa-me dizer que te amo/Deixa-me
pensar em ti (...)” ou “(...) Deixa-me dizer
que a amo/ Deixa-me pensar em você (...)”.
Sobraria rigor; faltaria leveza...
O mesmo raciocínio, penso estender-se
às demais ocorrências em nossa música
popular brasileira. A propósito, são incon-
táveis as canções, em cujos versos – e até
em títulos! – aparecem as formas coloquiais
“eu te amo” ou “eu te quero”. A licença
poética dá guarida a nossos eminentes
poetas. Não se deve duvidar da capacida-
de ímpar de compositores como Cartola,
Arnaldo Antunes, Djavan e Alceu Valença,
que, nos títulos das canções, “Verde que eu
te quero rosa”, “Que te quero”, “Te devoro” e
“Eu te amo”, respectivamente, adotaram o
padrão coloquial. De modo idêntico, tal
padrão pode ser encontrado em trechos de
belas canções, como “Conquero”, de Jorge
Ben Jor [“(...) Quero te ver quero te ver/ Quero
te ver, amor/ Te quero te quero/ te quero, amor
(...)”]; “Espanhola”, de 14 Bis [“(...)Te amo
espanhola/ Te amo espanhola/ Se for chorar/
Te amo (...)”]; e, em outra canção de Marisa
Monte (“A Sua”) [“(...) Que eu te adoro cada
vez mais/ E que eu te quero sempre em paz (...)
E como eu te quero tanto bem (...)”].
Sendo assim, cabe ao falante a tolerância
desejável perante as particularidades dos
padrões da fala – se culto ou se coloquial. A
tolerância com que aceitamos o “erro” acaba
por nos moldar à complacência, incentivan-
do a familiarização com as inúmeras par-
ticularidades de nossa língua. Entre “eu te
amo” ou “eu a/o amo”, fique com Olavo Bilac:
“Amo-te, ó rude e doloroso idioma (...)”.
Eduardo Sabbag
Advogado; Doutorando em Direito Tributário,
na PUC/SP; Mestre em Direito Público e
Evolução Social, pela UNESA/RJ; Professor de
Direito Tributário e de Língua Portuguesa, no
Curso LFG/PRIMA; Coordenador e Professor
do Curso de Pós-graduação, em Direito
Tributário, na Rede LFG/UNISUL; Autor de
Redação Forense e Elementos da Gramática, 2º
edição; pela Editora Premier Maxima.
www.professorsabbag.com.br
27
 F O L H A D
Existe crítica jurídica?
Acervo CF
Víctor Gabriel Rodríguez
A cho que o transcorrer de minha
carreira jurídica não serve de exemplo
a ninguém, porque nela houve uma
grande inversão: antes de ter sucesso
na advocacia ou emendar o início de
um pós-graduação, já tinha editado
livros. Escrevi uma obra sob enco-
menda, chamada Manual de Redação
Forense, e passei uns meses de peito es-
tufado. Afinal era (achava eu) escritor,
professor e doutrinador, com vinte e
quatro anos de idade. A ousadia foi
importante, mas a precipitação me
passou a fatura: o livro era um lixo.
(Mea culpa, editores, por favor).
Era um lixo, mas ninguém me avi-
sou disso. Ao contrário, como muitos
dos lixos, vendeu pra burro, o que fez
com que tardasse para eu dar-me conta
de a que estava atrelando meu nome;
demorou para que eu afirmasse com
veemência ao editor que não rodasse
nenhum exemplar mais do Manual. Tal
retardo desencadeou-me um processo
psicótico que fez com que eu enjoasse
de mim mesmo por uns tempos e tive
30
O A C A
de fugir ao estrangeiro a ver que rumo
daria na vida. Sem exagero. Bom, sem
muito exagero, vivi aquela vontade
que análoga à que está retratada na
obra de Veríssimo: do autor que sai de
visita a todos os sebos para dar cabo
dos exemplares de suas obras – e dos
leitores de suas obras, para que nem
memória reste do mal escrito.
Lembro essa história porque esta-
mos iniciando o ano, e é época dos lan-
çamentos literários jurídicos. Também
estou à beira do lançamento de obras e
re-edições daquilo que hoje considero
excepcional. Preparando uma amplia-
ção de obra, vasculho atrás de críticas
que possam me auxiliar na melhora
para finalizar uma quinta edição.
E não há críticas. Se eu tivesse a
inexperiência do autor de primeira
viagem – ou se tivesse o ego um
pouco mais inflado – acharia que tal
inexistência seria fruto da perfeição
do livro. Engraçada, essa. O motivo é
totalmente outro, claro: não existe no
país uma crítica literário-jurídica forte e
independente. Olhe o entorno: os noti-
ciários jurídicos mostram dos livros da
área não mais que meras apresentações
com elogios, que são interessantes sob
o ponto de vista da informação ou da
propaganda, mas não contribuem no
aprimoramento de cada obra. No meio
jurídico, em que reina a autoridade do
“Você sabe com quem está falando?”,
nunca se aponta o que um livro tem de
ruim, como se um bom autor ou editora
falassem por si mesmos. Não falam. Se
é impossível que a Jaguar, a Mercedes-
Benz ou a Ferrari possam lançar um
carro ruim, isso não livra as fabricantes
de engolir a seco um teste comparativo
D Ê M I
entre ambas as marcas, produzido
por uma revista de automóveis in-
dependentes, a afirmar que a fábrica
tal poderia aprimorar seu automóvel
nisso e naquilo; ou a dizer que, entre os
modelos das três marcas, um é melhor.
Fiz-me claro com a analogia?
Pois aqui estamos em um mundo
tão corporativo e fechado que as crí-
ticas objetivas deixam de existir. Elas
só aparecem dentro de um tribunal,
ou no ambiente da Academia, e veja
lá motivados por quais interesses, e
com que com restrições. Mas eu falo
aqui do mercado literário, das obras
didáticas que teriam a possibilidade
de ensinar melhor, ou que podem
até estar ensinando errado. Elogios
não faltam nas fórmulas prontas dos
prefácios dos livros (“esta obra vem a
preencher uma lacuna na literatura do
Direito sei-lá-o-quê...”), fielmente re-
produzidos nas resenhas dos jornais.
Mas quem as critica? É possível que
elas evoluam sem que se lhes apon-
tem defeitos? Os professores nossos
colegas nunca tiveram de, diante de
uma classe lotada de alunos, calar a
vontade de dizer que o livro didático
adotado tem informações desatua-
lizadas ou extremamente parciais,
porque o autor, aqui e ali, quer jogar
subliminarmente seu reacionário e
inaceitável ponto de vista?
Então valem muito todos os elogios
que escutei, na festa de sábado pas-
sado (já disse que não aturo festas?),
ao Código da Vida, cuja leitura apenas
inicio. Não há dúvidas de que a obra
está bem escrita e mais que isso não
posso avaliar de momento; mas há
como dizer seguramente que, mais
C O
do que as informações que ali estão,
a polêmica da obra reside na indepen-
dência da opinião do autor. Estamos
tão pouco acostumados à crítica
sincera e descomprometida, que nos
espanta um escrito que dê nome aos
bois e conte episódios pessoais da vida
jurídica, ausentes os cortes, os eufe-
mismos ou sem o preâmbulo de uma
série de delicados pedidos de vênias,
fruto das amarras de um fisiologismo
cristalizado (eu ia dizer “fruto do
rabo preso de todos nós”, mas achei
a linguagem por demais inadequada
a este respeitável periódico).
O consolo é que estes melindres são
fenômeno mundial. Perde com isso
nosso mercado literário jurídico, que
dá de presente as boas obras de maior
polêmica às editoriais cuja indepen-
dência, ao menos em relação ao uni-
verso jurídico nacional, é inequívoca
- para quem não entendeu, me refiro
à espanhola Planeta. E, para deixar as
coisas claras, não estou sugerindo que
vá eu tirar onda de herói, como dizia
o Raul, e iniciar uma crítica firme a
obra de terceiros. Reparem bem que,
mal e mal, só aponto defeitos no que
eu escrevo. Covardia pura...
Entrar para a História, queridos, é
com o Saulo Ramos.
Víctor Gabriel Rodríguez
Doutor em Direito Penal pela USP; Membro
da União Brasileira de Escritores, autor
de Argumentação Jurídica: Técnicas de
Persuasão e Lógica Informal, com 4ª Edição
pela Editora Martins Fontes,
e da novela A Hora do Carvoeiro.
Email: victorgabrielr@hotmail.com
www. cartaforense. com. br
aos concurseiros de todo o Brasil
Um caderno dedicado
MINHA TRAJETÓRIA COMO “CONCURSANDO”,
pg 32 e 33
Ary F. MAriMon Filho
Juiz do Trabalho titular da 2ª Vara de Bento Gonçalves/RS e Presidente da
Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região.
CONCURSOS EM PAUTA
Magistratura do trabalho 8ª
região – AC/ro
Inscrições: até 12/02/2008.
Taxa: R$ 100,00
Vagas: 12
Remuneração: R$ 19.955,40
Requisitos: Bacharelado em Direito
e 03 anos de atividade jurídica com-
provada.
Edital: www.trt8.gov.br
Procurador do Estado da Paraíba
Inscrições: até 07/02/2008
Taxa: R$ 150,00
Vagas: 30
Remuneração: R$ 4.546,68
Requisitos: Bacharelado em Direito
inscrito na OAB.
Edital: www.cespe.unb.br
Ministério Público de Goiás
Inscrições: até 14/02/2008
Taxa: R$ 226,88
134o Exame de Ordem, pg. 36 a 40
Vagas: 20
Remuneração: Não divulgada
Requisitos: Bacharelado em Direito
e 03 anos de atividade jurídica com-
provada.
Edital: www.mp.go.gov.br
Magistratura do Estado do rio de
Janeiro
Inscrições: até 14/02/2008
Taxa: R$ 200,00
Vagas: não divulgadas
Remuneração: Não divulgada
Requisitos: Bacharelado em Direito
e 03 anos de atividade jurídica com-
provada.
Edital: www.tj.rj.gov.br
Magistratura do Estado de roraima
Inscrições: até 14/02/2008
Taxa: R$ 200,00
Vagas: 12
Remuneração: R$ 16.119,10
Sérgio Souza
Requisitos: Bacharelado em Direito e 03
anos de atividade jurídica comprovada.
Edital: www.tj.rr.gov.br
Magistratura do Estado do sergipe
Inscrições: até 17/03/2008
Taxa: R$ 250,00
Vagas: 7
Remuneração: 15.232,54
Requisitos: Bacharelado em Direito e 03
anos de atividade jurídica comprovada.
Edital: www.tj.se.gov.br
Atividade notarial e de registro
no Estado de Minas Gerais
Inscrições: até dia 12/02
Taxa: R$ 100,00
Vagas: Não divulgadas
Remuneração: Não divulgada
Requisitos: Bacharelado em Direito
ou ter completado 10 anos de servi-
ço notarial ou de registro
Edital: www.tj.mg.gov.br
C O N C U R S O S
Minha trajetória como “concursando”
Ary F. Marimon Filho Carta Forense — Em que momento
Juiz do Trabalho titular decidiu se enveredar pelos concursos pú-
da 2ª Vara de Bento blicos?
Gonçalves/RS e Ary Faria Marimon Filho — Em 1989,
Presidente da Associação
quando ainda estava no 7º. semestre da
dos Magistrados da Justiça
Faculdade de Direito, fiz concurso público
do Trabalho da 4ª Região.
para analista judiciário do Tribunal Regional
do Trabalho da 4ª. Região. Era estagiário
em um escritório de advocacia e, muito jo-
vem, já casado e com uma filha, precisava
aumentar a renda. Tomei posse como ser-
vidor em 22.04.1991. Em 16.08.1991, as-
sumi como assessor de juiz no TRT da 4ª.
Região. Fiquei na função até assumir como
juiz, em 30.01.1995.
CF — Quando iniciou seu preparo?
Qual metodologia usou?
AFMF — Como assessor, recebia mui-
ta informação, pois os processos precisam
ser discutidos com o juiz do Tribunal, an-
tes e depois de formatadas as propostas
de voto. Além disso, auxiliava na função de
revisar os votos dos demais juízes do tri-
bunal e isso exigia constante atualização.
Não eram comuns os cursos de atualização
que hoje estão em voga nas escolas judi-
ciais e associativas e, assim, eram muito
importantes os grupos de estudos forma-
dos por servidores e candidatos aos con-
cursos públicos. Estamos falando de uma
época em que não havia a internet e nem
computadores com tantos recursos para o
acesso à informação.
CF — Quanto tempo demorou para ser
aprovado no primeiro concurso?
AFMF — Meu primeiro concurso para
juiz foi em janeiro de 1994, quando não
passei na segunda prova, recebendo uma
nota bastante baixa (2). Aquilo mexeu
um pouco com meus brios e o segundo
concurso, iniciado em julho de 1994, já
foi bem diferente. Estava mais prepara-
do e maduro. Realizei cursos preparató-
rios com futuros colegas, que auxiliaram
e muito no enfrentamento das questões
suscitadas nas provas. A confiança foi
crescendo a ponto de, na segunda prova,
a discursiva, ter deixado uma questão sem
resposta, pois não tinha suficiente grau de
certeza quanto ao questionado e, dessa
maneira, entre colocar uma bobagem e
deixar de ser avaliado com seriedade pela
banca examinadora, preferi correr o risco,
diminuindo o percentual de chance para
a aprovação, mas finalizando uma pro-
va com consistência. Nessa prova obtive
nota 5,33 e como eram quatro perguntas,
a estratégia mostrou-se a mais acertada.
Então, demorei um ano para ser aprovado
(dois concursos).
32
CF — A Magistratura do Trabalho sem-
pre foi seu foco principal?
AFMF — No primeiro semestre da fa-
culdade, em uma aula de Introdução à Ci-
ência do Direito, o professor Luiz Antônio
de Assis Brasil perguntou à classe que pro-
fissão cada um desejava seguir. Respondi
que era a magistratura, mas sem muita
convicção, pois minha família não tem tra-
dição na área jurídica (sou o único dos cin-
co filhos de meu pai, agrônomo, bacharel,
e, somente no ano passado, minha filha de
20 anos também iniciou o curso de Direito
na mesma PUC/RS). Até hoje me pergun-
to sobre se não terá sido aquela resposta
que acabou por conduzir meu destino para
a profissão de Juiz. Quando à magistratura
do trabalho, já estava mais maduro, após
trabalhar como assessor de juiz no TRT
gaúcho e aí a escolha foi decorrência de um
processo natural.
CF — A senhor sofreu com a cobrança
de familiares e amigos pelo resultado ?
AFMF — Não sofri cobrança. Tinha
uma situação estável. Naquela época, o
salário de assessor era igual ao de juiz, si-
tuação que somente se modificou muitos
anos mais tarde. Havia, é claro, o fato de
que a função de assessor de juiz era de
confiança e, portanto, vivia a incerteza da
reversão ao cargo de analista, com signifi-
cativa redução salarial. Mas isso não gerou
a cobrança de familiares, embora, na prova
de sentença, tenha acontecido muita torci-
da dos amigos, reza dos pais e avós, etc., o
que não deve ser muito diferente do ocorri-
do com outros candidatos e colegas.
CF — Depois de aprovado, como foi
sua rotina de juiz recém empossado?
Quais as sensações?
AFMF — Foi muito difícil. Nossa Re-
gião é grande, e, à época, contava com
98 Varas. No entanto, eram 97 cargos de
Juiz Substituto e, mesmo com a posse dos
aprovados no meu concurso (13) resta-
ram sem preenchimento outras 37 vagas.
Ou seja, um déficit de quase 40%. Então,
era muito comum que os juízes substitutos
“dobrassem” a pauta, ou seja, realizassem
audiências em uma Junta (na época) pela
manhã e em outra, à tarde, por vezes em
municípios distintos e até mesmo distan-
tes. Além disso, o volume de trabalho era
imenso, sem as facilidades de acesso à in-
formação que hoje temos. Recordo-me que
em 1996 e 1997, cheguei a prolatar mais de
800 sentenças de conhecimento e de exe-
cução, resolvendo mais de 1.200 processos
o que, considerando-se as férias, recesso,
ausência de servidores que pudessem au-
Sérgio Souza
xiliar no trabalho e a notória deficiência de
equipamentos, exigia jornadas de 13 a 14
horas por dia. Era um trabalho estafante
tanto que um colega não resistiu e pediu
exoneração ao cabo de ano e meio depois
da posse. Eu era muito jovem (27 anos) e
notava, principalmente nas pessoas mais
velhas, certa desconfiança. Nesse ponto,
foi fundamental a participação, desde o
princípio, nas assembléias da Amatra IV,
que eram – e continuam sendo - um espa-
ço democrático e de constante exercício de
solidariedade – tão em falta, hoje em dia,
nos movimentos de classe -. Foi na asso-
ciação e na coordenadoria dos juízes subs-
titutos que buscávamos apoio, conforto e
discutíamos os meandros de procedimen-
tos em audiência – principal avaliador da
maturidade e controle para um magistrado,
ainda mais em início de carreira – assim
como podíamos buscar informações sobre
casos específicos de maior complexidade e
repercussão. Mas desde muito cedo, o en-
volvimento com a associação foi imprescin-
dível para o amadurecimento como pessoa
e como juiz.
CF — Qual o momento mais engraçado
da sua carreira como Juiz do Trabalho?
AFMF — Certa feita, ouvindo um guri
de uns 18 / 19 anos, em minha cidade natal
– Alegrete -, testemunha do reclamante que
insistia em dizer que era grande o número
de pessoas veladas na funerária da Santa
Casa de Misericórdia, especialmente de
madrugada – o que dava direito às horas
extras e ao adicional noturno reclamados,
quando ele e o reclamante precisavam dar
banho, vestir e “maquiar” as mesmas e
eu, sabendo que uma cidade tão pequena
não poderia ter um número tão grande de
mortos por mês, resolvi perguntar, meio im-
paciente: - Mas afinal, quantos “defuntos”
passam lá pela Santa Casa, por semana?
E o guri, após breve silêncio e vendo que
eu estava sério e irritado, disse: - Pois olha
doutor, eles não passam, eles estão mor-
tos, sabe?
CF — E o caso mais triste?
AFMF — Não narro o mais triste, mas
o mais tocante. Um senhor de 83 anos de
idade, após o falecimento de seu empre-
gador, teve ordem de despejo da casa em
que morava, que ficava nas dependências
da empresa, em uma pequena cidade do in-
terior. A vida inteira trabalhou e morou ali,
tendo permanecido no local mesmo após
a aposentadoria compulsória, em meados
da década de 80. Não há acordo. Colho o
depoimento dele, a pedido dos herdeiros,
que desejavam transformar a área em um
www. cartaforense. com. br
loteamento. A certa altura, o reclamante,
bastante emocionado e impaciente com
as perguntas do advogado do espólio so-
bre suas atividades de vigia no estabele-
cimento abandonado – tese da inicial, diz:
- Quando o seu Fulano era vivo (pai dos
herdeiros) ele sempre disse que eu poderia
morar ali pelo resto da minha vida. Agora,
só tenho eu e minha esposa, que tá doen-
te e não tenho para onde ir. Vivo da minha
aposentadoria de R$ 500,00 por mês e
gasto quase tudo em remédio. Doutor, eu
não era empregado deles (referindo-se aos
herdeiros). O que o que senhor quer que eu
faça?, perguntou-me, com os olhos cheios
d’água. O advogado do espólio deu-se por
satisfeito, e o seu adversário afundou na
cadeira, tal como Chiquinho Brandão em
“Beijo 2348/72”, pequeno grande filme
brasileiro. Foi tão dramática sua fala, que
eu mandei entrar os herdeiros e disse: - O
reclamante disse que o pai de vocês teria
dito que ele poderia morar na casinha em
que vive até o dia de sua morte. E que,
além disso, não era empregado de vocês
ou mesmo prestou serviços depois de sua
aposentadoria compulsória, em meados da
década de 80. Algum de vocês sabe disso?
Houve um silêncio na sala de audiências,
até que o mais velho dos filhos, após olhar
para os irmãos, disse: - Doutor, é verda-
www. cartaforense. com. br
de, sim. E, então, falei: - Minha proposta
para acordo é a instituição de um usufruto
vitalício em favor do seu fulano e de sua
esposa, e a desistência das ações judiciais
em qualquer instância ou tribunal (havia
ações de despejo, reintegração e de usu-
capião, perante a Justiça Estadual). Após
breve conversa entre todos os presentes,
saiu o acordo. Na hora de finalizar a ata,
lembrei-me das despesas de cartório para
a averbação e registro sobre a matrícula do
imóvel etc. Os advogados, os herdeiros e
o próprio reclamante concordaram, pronta-
mente, que isso não era preciso: - Se o se-
nhor está assinando embaixo, pra nós não
é necessário. Feito o acordo, cumprimento
a todos e, visivelmente emocionado, rece-
bo, dito pelo reclamante, o maior elogio de
minha vida: - Seu pai deve ter muito orgu-
lho do senhor.
CF — Quando um acadêmico ou ba-
charel toma a decisão de ingressar numa
carreira pública, qual o primeiro passo a
ser dado?
AFMF — Antes de ingressar, escolher
bem a profissão, refletindo, profundamen-
te, sobre sua vocação e as áreas do conhe-
cimento sobre as quais detém não apenas
domínio momentâneo, mas acima de tudo,
gosto e prazer de aprofundar no decorrer
do tempo e da carreira. Depois de empos-
sado, saber que à segurança da profissão
corresponde o dever de prestar um serviço
público de qualidade, com respeito e sere-
nidade, tendo presente, sempre, que quem
lhe paga os vencimentos/subsídios são os
trabalhadores, empresários e empresas,
que devem, por isso, ser atendidos com
respeito, tolerância e paciência.
CF — Qual o maior desafio para Justi-
ça do Trabalho no Rio Grande do Sul?
AFMF — Reduzir, rápida e considera-
velmente, o número de processos penden-
tes de apreciação no primeiro grau (conhe-
cimento e execução) e com isso diminuir o
prazo médio de tramitação. Além disso, é
fundamental aumentar o quadro de juízes
de primeiro e de segundo grau.
CF — E qual a sensação de ser conse-
lheiro do Internacional...rs?
AFMF — A de fazer parte de um clube
que nasceu para ser de todos, sem distinção
de raça, cor, credo e condição econômica ou
social. Um clube de futebol que ensina seus
atletas, desde tenra infância, a serem cida-
dãos, encaminhando-os para a vida adulta
com dignidade e privilegiada auto-estima,
seja nos campos do Beira-Rio e do mundo,
seja em escritórios, lojas ou fábricas. Um
clube que para ser seguido e admirado, pa-
radoxal e contraditoriamente, exige, apenas,
que o amor seja incondicional.
33

C O N C U R
Últimas Provas:
DIREITO CONSTITUCIONAL
1. Quanto ao processo de mudança, a Consti-
tuição Federal de 1988 pode ser classifica-
da como
(A) flexível, por admitir alteração por iniciativa
não só dos membros do Congresso Nacio-
nal, como também do presidente da Repú-
blica.
(B) semi-rígida, por admitir alteração de seu
conteúdo, exceto com relação às cláusulas
pétreas.
(C) transitoriamente rígida, por não admitir a
alteração dos Atos das Disposições Cons-
titucionais Transitórias.
(D) rígida, por admitir a alteração de seu con-
teúdo por meio de processo mais rigoroso
e complexo que o processo de elaboração
das leis comuns.
2. Acerca do sistema federativo brasileiro, as-
sinale a opção correta.
(A) A instituição, pelos estados, de regiões
metropolitanas depende da edição de lei
complementar federal.
(B) A lei federal é hierarquicamente superior à
lei estadual.
(C) Compete ao presidente da República de-
cretar a intervenção federal.
(D) É permitida a divisão do Distrito Federal em
municípios, desde que feita por lei distrital
precedida de consulta prévia, mediante ple-
biscito, da população interessada.
3. O controle concentrado da constitucionali-
dade das leis é exercido pelo
(A) presidente da República, quando este veta
projeto de lei.
(B) Supremo Tribunal Federal (STF), quando
este julga recurso extraordinário.
(C) tribunal de justiça do estado, quando este
julga ação direta de inconstitucionalidade.
(D) juiz singular de primeiro grau, quando este
julga mandado de segurança coletivo.
4. O Supremo Tribunal Federal não tem admi-
tido o controle por meio de ação direta de
inconstitucionalidade de
(A) decreto autônomo.
(B) emenda à Constituição.
(C) tratado internacional incorporado à ordem
jurídica brasileira.
(D) norma constitucional originária.
5. A cláusula de reserva de plenário obriga
(A) os tribunais a declarar a inconstitucionali-
dade de lei apenas pelo voto da maioria ab-
soluta de seus membros ou dos membros
do respectivo órgão especial, não podendo
ser dispensada em qualquer hipótese.
(B) os tribunais a declarar a inconstituciona-
lidade de lei apenas pelo voto da maioria
absoluta de seus membros ou dos mem-
bros do respectivo órgão especial, podendo
ser dispensada quando já houver pronun-
ciamento do plenário do Supremo Tribunal
Federal sobre a questão.
(C) o Congresso Nacional a aprovar, pelo voto
da maioria absoluta de seus membros, os
projetos de lei ordinária, podendo ser dis-
pensada quando o projeto for aprovado
pela Comissão de Constituição e Justiça.
36
S O S
134o Exame de Ordem
(D) o Congresso Nacional a aprovar, pelo voto da
maioria absoluta de seus membros, os proje-
tos de emenda à Constituição, não podendo
ser dispensada em qualquer hipótese.
6. O impeachment do presidente da Repúbli-
ca
(A) pode ser iniciado por denúncia de qualquer
cidadão.
(B) só pode ser processado mediante autoriza-
ção de 2/3 do Senado Federal.
(C) é processado perante o Supremo Tribunal
Federal, que só poderá proferir condenação
mediante voto de 2/3 de seus membros.
(D) pode resultar na perda do cargo e a inabilita-
ção permanente para o exercício de função
pública.
7. Na atual organização constitucional do Po-
der Judiciário, é admitido o deslocamento
para o foro da justiça federal, por provoca-
ção do procurador-geral da República, das
causas que versarem sobre
(A) extradição de brasileiros naturalizados.
(B) grave violação de direitos humanos asse-
gurados em tratado internacional.
(C) discriminação entre brasileiros natos e na-
turalizados.
(D) sucessão de bens de estrangeiros situados
no país.
8. É correto afirmar que, no sistema eleitoral
brasileiro,
(A) os governadores dos estados são escolhi-
dos pelo sistema majoritário, por maioria
absoluta dos votos.
(B) os deputados federais são escolhidos pelo
sistema majoritário, por maioria simples dos
votos.
(C) os senadores são escolhidos pelo sistema
proporcional.
(D) o presidente da República é escolhido pelo
sistema misto.
9. O processo de elaboração de decreto legis-
lativo assemelha-se ao da lei ordinária com
relação à
(A) iniciativa, podendo esta ser exercida pelo
presidente da República.
(B) aprovação pelo quorum de maioria sim-
ples.
(C) apresentação de veto pelo presidente da
República.
(D) promulgação pelo presidente da República.
10. O brasileiro que adquirir outra nacionalida-
de
(A) passará a ter dupla nacionalidade, pois a
Constituição Federal não prevê hipóteses
de perda de nacionalidade.
(B) perderá a nacionalidade brasileira, exceto
se for brasileiro nato.
(C) perderá a nacionalidade brasileira, exceto
se permanecer residindo em território bra-
sileiro.
(D) perderá a nacionalidade brasileira, exceto
se a lei estrangeira impuser a naturalização
ao brasileiro residente no território do res-
pectivo estado estrangeiro como condição
para sua permanência.
DIREITO ADMINISTRATIVO
11. Suponha-se que, em um contrato de con-
cessão de manutenção de rodovia, o poder
concedente tenha aumentado o prazo con-
tratual, sob o fundamento de que teria ha-
vido alterações nos deveres contratuais da
concessionária, o que teria causado desba-
lanceamento do equilíbrio econômico-finan-
ceiro do contrato. Nessa situação, o proce-
dimento do poder concedente
(A) é irregular, visto que o contrato de conces-
são está sempre vinculado ao que foi deter-
minado no edital da licitação prévia.
(B) é regular, visto que o aumento do prazo,
além de repor o equilíbrio de contrato, pode
evitar que se fira, com o aumento de tarifa,
o princípio da modicidade da tarifa.
(C) só pode ser considerado regular no caso
de a alteração dos deveres contratuais ser
decorrente de força maior ou caso fortuito.
(D) pode ser considerado regular, desde que
o aumento do prazo contratual não ultra-
passe o percentual de 25% em relação ao
prazo estabelecido originariamente.
12. Em um processo instaurado pelo tribunal
de contas para analisar um contrato de
execução de obras firmado por determina-
da prefeitura, no qual foram denunciadas ir-
regularidades no pagamento de medições,
a empreiteira contratada, por petição,
apresentou defesa e solicitou a realização
de perícia contábil nas faturas emitidas em
decorrência do contrato, com o objetivo de
justificar a correção dos pagamentos que
lhe foram feitos. O tribunal de contas não
recebeu a defesa e negou o solicitado pela
concessionária. Considerando essa situa-
ção hipotética, assinale a opção correta.
(A) Tendo os processos no tribunal de contas
natureza jurisdicional e, não, administrati-
va, a concessionária deveria ter sido con-
siderada como litigante e, portanto, com
direito ao contraditório e à ampla defesa.
(B) A decisão do tribunal de contas está de
acordo com a lei, porque se trata de um
processo administrativo no âmbito esse tri-
bunal, de controle externo apenas das pes-
soas públicas e dos agentes públicos, não
sendo a empreiteira parte nesse processo.
(C) Se no Regimento Interno do Tribunal de
Contas não houver disposição que ampare
a pretensão da concessionária, considera-
se correto o posicionamento desse tribu-
nal.
(D) O tribunal de contas não deveria ter toma-
do essa decisão, visto que o direito à prova
é uma concretização da garantia constitu-
cional do devido processo legal, aplicável a
todos os processos administrativos.
13. São modalidades de licitação
(A) a concorrência, a tomada de preço, o convi-
te, o concurso e o leilão.
(B) apenas a concorrência, a tomada de preço
e o convite.
(C) apenas a concorrência e a tomada de pre-
ços.
(D) apenas a concorrência.
14. Recente decisão do STF entendeu que a
garantia constitucional de responsabilida-
de objetiva de pessoa privada que preste
serviço público volta-se apenas ao usuário
ÚLTIMAS PROVAS
desse serviço público. De acordo com esse
entendimento, não corresponderiam a caso
de responsabilidade objetiva danos causa-
dos a proprietário
(A) de restaurante, em decorrência de sus-
pensão por 24 horas do fornecimento de
energia elétrica.
(B) de veículo que, em decorrência de buracos
em uma estrada privatizada, tenha sofrido
acidente com perda parcial do veículo.
(C) de veículo abalroado por ônibus de empre-
sa de transporte coletivo.
(D) de hotel, por suspensão, sem motivo, do
serviço de distribuição de gás canalizado.
15. Uma indústria farmacêutica pleiteou pe-
rante o Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI) a obtenção de patente de
um produto farmacêutico. Após deferimen-
to do pedido de concessão da patente, o
procedimento foi encaminhado à Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
para análise de eventuais riscos à saúde
decorrentes da circulação do produto. Com
a anuência da ANVISA, ocorreu a exeqüibi-
lidade da patente. Nessa situação, o ato de
concessão da patente é tipicamente um ato
administrativo
(A) complexo, uma vez que foi necessária a inte-
gração de duas autoridades para sua emis-
são.
(B) composto, visto que, embora tenha sido
expedido pelo INPI, foi condicionado à anu-
ência da ANVISA.
(C) informal, pendente de termo ou condição.
(D) discricionário na emissão, mas vinculado às
razões da ANVISA.
16. Considere-se que, para a construção de
uma estrada, um estadomembro tenha edi-
tado decreto declarando de utilidade públi-
ca um imóvel privado, situado no traçado
da pretendida estrada. Nessa situação,
havendo urgência na desapropriação do
bem, poderá o ente público imitir-se ime-
diatamente na posse do imóvel, ainda que
o proprietário não concorde com o valor da
indenização que lhe foi oferecido?
(A) Não, porque o interesse público não pode
se sobressair ao direito de propriedade,
constitucionalmente assegurado.
(B) Não, a não ser que seja editado novo de-
creto, de necessidade pública, declarando
a urgência e estabelecendo o valor venal do
imóvel para pagamento do Imposto Predial
Territorial Urbano (IPTU) como o valor da
indenização.
(C) Sim, pelo poder de auto-executoriedade
que tem o poder expropriante, combinado
com a comprovação da urgência.
(D) Sim, desde que obtenha uma liminar em ju-
ízo, depositando um valor que se entenda
justo para a devida indenização.
17. A Lei Complementar n.o 1.025, de 7 de de-
zembro de 2007, do estado de São Paulo, ao
criar a Agência Reguladora de Saneamen-
to e Energia do Estado de São Paulo (AR-
SESP), dispôs que essa agência, no desem-
penho de suas atividades, deveria obedecer,
entre outras, às diretrizes de “adequação
entre meios e fins, vedada a imposição de
obrigações, restrições e sanções em medida
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ÚLTIMAS PROVAS
superior àquelas estritamente necessárias
ao atendimento do interesse público” (art.
2.º, III) e de “indicação dos pressupostos de
fato e de direito que determinem as suas
decisões” (art. 2.º, V). Tais diretrizes dizem
respeito aos seguintes princípios:
(A) eficiência e devido processo legal.
(B) razoabilidade e objetividade.
(C) proporcionalidade e motivação.
(D) legalidade e formalidade.
18. Ato ou contrato formal pelo qual a adminis-
tração pública confere a um particular (pes-
soa física ou jurídica), normalmente sem
prévia licitação, a prerrogativa de exercer
certas atividades materiais ou técnicas,
em caráter instrumental ou de colaboração
com o poder público, a título oneroso, remu-
neradas, na maioria das vezes, diretamente
pelos interessados, configura, tipicamente,
(A) autorização não-precária.
(B) parceria público-privada.
(C) credenciamento.
(D) licença remunerada.
19. Recente decisão do Supremo Tribunal Fe-
deral, levando em consideração a peculiar
situação jurídica de uma estatal (regida
pelo direito privado), afirmou a impossibili-
dade de se penhorarem seus bens e deter-
minou que sua execução só poderia ocor-
rer pelo regime do precatório (art. 100 da
Constituição Federal). Tal decisão ocorreu
em referência
(A) ao Banco do Brasil, uma sociedade de eco-
nomia mista cujos bens são bens públicos
dominiais.
(B) à Empresa Brasileira de Correios e Telégra-
fos (ECT), por se tratar de empresa pública
que executa serviço público.
(C) à Companhia de Gás de São Paulo (COM-
GAS), porque, como empresa privada e
concessionária de serviço público, todos
seus bens são reversíveis.
(D) ao INSS, uma autarquia federal cujos bens
são todos bens públicos de uso especial.
20. Uma forma de contratação entre integran-
tes da administração pública, derivada de
convênio de cooperação ou de consórcio
público e que expressa delegação de ati-
vidades, como planejamento e fiscalização
de serviço público, é denominada
(A) convênio consorcial.
(B) protocolo de intenções.
(C) concessão de serviço público.
(D) contrato de programa.
DIREITO CIVIL
21. A perda do direito potestativo e a perda da
pretensão em virtude da inércia do titular
no prazo determinado por lei vinculam-se,
respectivamente, aos conceitos de
(A) decadência e prescrição.
(B) prescrição e decadência.
(C) omissão e ato ilícito.
(D) ação e omissão.
22. Não é própria aos direitos da personalidade
a qualidade de
(A) imprescritibilidade.
(B) irrenunciabilidade.
(C) disponibilidade.
(D) efeitos erga omnes.
23. A personalidade civil da pessoa natural sur-
ge e desaparece, respectivamente, com
(A) o nascimento e a morte.
(B) a concepção e a morte.
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(C) a maioridade e a morte.
(D) a concepção e a senilidade.
24. São exemplos de fatos jurídicos stricto
sensu
(A) a declaração, o testamento, a residência.
(B) o contrato, o testamento, a aluvião.
(C) a descoberta de tesouro, a dívida de jogo, o
nascimento.
(D) o nascimento, a morte, a aluvião.
25. Não comporta condição o ato
(A) mútuo.
(B) de compra e venda.
(C) de doação.
(D) de aceitação ou de repúdio a herança.
26. A retrovenda, a preempção e a venda com
reserva de domínio constituem modalida-
des de
(A) cláusulas obrigatórias.
(B) pactos adjetos.
(C) termos genéricos.
(D) penalidades contratuais.
27. A sucessão da pessoa natural ocorre com
(A) o testamento.
(B) a morte do sucedido.
(C) a abertura do inventário.
(D) a finalização do inventário.
28. Não é própria aos testamentos
(A) a solenidade.
(B) a gratuidade.
(C) a unilateralidade.
(D) a irrevogabilidade.
29. A usucapião constitui modo
(A) originário de aquisição da propriedade.
(B) derivado de aquisição da propriedade.
(C) derivado de aquisição da posse.
(D) de celebração de contrato.
30. Ocupação, especificação e comistão são
modos de
(A) cessão de direitos de posse.
(B) aquisição da propriedade de bens imóveis.
(C) aquisição da propriedade de bens móveis.
(D) perda de propriedade imaterial.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
31. Não é própria das ações possessórias a ca-
racterística de
(A) caráter dúplice.
(B) infungibilidade.
(C) fungibilidade.
(D) jurisdição contenciosa.
32. Os procedimentos de interdição e de sepa-
ração consensual são exemplos de
(A) jurisdição voluntária.
(B) jurisdição contenciosa.
(C) ação ordinária.
(D) ação sumária.
33. O interesse de agir é
(A) faculdade da ação.
(B) elemento da ação.
(C) condição da ação.
(D) pretensão.
34. Suponha-se que o autor de uma ação for-
mule dois pedidos, cada um deles devendo
ser conhecido e apreciado na ordem de apre-
sentação, dando-se preferência ao primeiro,
depois ao que o segue. Nesse caso, trata-se
de pedidos
(A) facultativos.
(B) alternativos.
(C) cumulativos.
(D) sucessivos.
35. A contrariedade do julgado às normas con-
tidas na legislação federal e às contidas na
Constituição da República dá ensejo, res-
pectivamente, a
(A) recurso especial e recurso extraordinário.
(B) recurso extraordinário e recurso ordinário.
(C) apelação e recurso ordinário.
(D) mandado de segurança e apelação.
36. A ação cautelar tem a finalidade própria
de
(A) interromper a decadência.
(B) satisfazer direito material.
(C) satisfazer direito já declarado.
(D) garantir a viabilidade da propositura e o de-
senvolvimento a ação principal.
37. A oposição de embargos de declaração
contra acórdão que julgou apelação deter-
mina
(A) a suspensão do prazo para a interposição
de outros recursos.
(B) a interrupção do prazo para a interposição
de outros recursos.
(C) a fluência do prazo para a interposição de
outros recursos.
(D) o trânsito em julgado.
38. Iniciada a execução de sentença, a eventual
defesa do executado será feita por meio de
(A) impugnação.
(B) embargos à execução.
(C) embargos de terceiro.
(D) apelação.
39. Proposta a ação, o pedido formulado pelo
autor somente poderá ser alterado
(A) até a citação, necessariamente com a con-
cordância do réu.
(B) até a citação, independentemente da con-
cordância do réu.
(C) após a contestação, necessariamente com
a concordância do réu.
(D) até a contestação e após a citação, inde-
pendentemente da concordância do réu.
40. No processo de inventário, o espólio é re-
presentado
(A) pelo curador.
(B) pelo testamenteiro.
(C) pelo inventariante.
(D) por todos os herdeiros.
DIREITO COMERCIAL
41. Acerca do contrato de representação co-
mercial, regulado pela Lei n.º 4.886/1965,
é correto afirmar que
(A) é permitida a inclusão de cláusula del credere.
(B) a força maior constitui motivo para rescisão
do contrato por qualquer das partes.
(C) a exclusividade é presumida quando não
afastada, expressamente, no contrato.
(D) prescreve em 3 anos a ação do represen-
tante comercial para pleitear a retribuição
que lhe é devida.
42. O contrato pelo qual uma pessoa assume,
em caráter não-eventual e sem vínculos de
dependência, a obrigação de promover, à
conta de outras, mediante retribuição, a
realização de certos negócios, em zona de-
terminada, é denominado contrato de
(A) comissão.
(B) corretagem.
(C) agência.
(D) mandato.
43. É correto afirmar que a instituição do con-
selho fiscal de uma sociedade empresária
limitada é
(A) facultativa, devendo o conselho ser com-
posto por, no mínimo, 5 membros e respec-
tivos suplentes, sócios, ou não, e residen-
tes no país.
(B) obrigatória, devendo ser o conselho compos-
to por, no mínimo, 3 membros e respectivos
suplentes, não-sócios e residentes no país.
(C) facultativa, devendo ser o conselho com-
posto por, no mínimo, 3 membros e respec-
tivos suplentes, sócios, ou não, e residen-
tes no país.
(D) obrigatória, devendo ser o conselho compos-
to por, no mínimo, 5 membros e respectivos
suplentes, não-sócios e residentes no país.
44. Segundo a Lei n.º 11.101/2005, a conde-
nação por crime falimentar
(A) impede o exercício de qualquer atividade
empresarial pelo prazo de 5 anos, a contar
do decreto da falência.
(B) não impossibilita o falido de gerir empresa
por mandato.
(C) não impede exercício do cargo de gerên-
cia.
(D) impede o falido de exercer cargo ou função
em conselho de administração.
45. A Lei n.º 9.279/1996, que trata da pro-
priedade industrial, confere ao titular da
patente o direito de obter indenização pela
exploração indevida de seu objeto,
(A) inclusive em relação à exploração ocorrida
entre a data da publicação do pedido e a
data da concessão da patente.
(B) somente após a data da concessão da pa-
tente.
(C) a partir da data em que restar comprovada
sua invenção pelo titular.
(D) inclusive contra aquele que, de boa-fé, an-
tes da data do depósito ou de prioridade da
patente, já explorava seu objeto no país.
46. A pretensão à execução da duplicata pres-
creve contra o
(A) endossante e seus avalistas, em 3 anos,
contados da data do protesto.
(B) endossante e seus avalistas, em 1 ano,
contado da data do protesto.
(C) sacado e respectivos avalistas, em 1 ano,
contado da data do vencimento do título.
(D) sacado e respectivos avalistas, em 3 anos,
contados da data do protesto.
47. A decretação da falência das concessioná-
rias de serviços públicos
(A) implica sua transferência para outra con-
cessionária nomeada pelo Juízo da Falên-
cia, no prazo de 180 dias, a contar da data
da prolação da sentença que decretou a
falência.
(B) é vedada pela Lei n.º 11.101/2005.
(C) implica a administração da concessão pelo
administrador judicial enquanto perdurar o
processo de falência.
(D) implica extinção da concessão.
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C O N C U R
48. A constituição de sociedade anônima de-
pende de subscrição de
(A) todas as ações em que se divide o capital
social fixado no estatuto.
(B) 50%, no mínimo, das ações em que se divi-
de o capital social fixado no estatuto.
(C) 25%, no mínimo, das ações em que se divi-
de o capital social fixado no estatuto.
(D) 10%, no mínimo, das ações em que se divi-
de o capital social fixado no estatuto.
49. O Certificado de Depósito Agropecuário
(CDA)
(A) só pode ser transmitido junto com o war-
rant.
(B) pode ser emitido em momento diverso do
warrant.
(C) deve ser emitido simultaneamente ao war-
rant.
(D) não constitui título executivo extrajudicial,
ainda que acompanhado do warrant.
50. Quanto ao cheque, é correto afirmar que
(A) é nulo o endosso parcial.
(B) é admitido endosso do sacado.
(C) o endosso deve indicar o endossatário.
(D) não é permitido ao endossante vedar novo
endosso.
DIREITO PROCESSUAL PENAL
51. A propósito da restituição de bens apreen-
didos no processo penal, assinale a opção
correta.
(A) Tratando-se de coisas facilmente penhorá-
veis, não se admite a realização de leilão pú-
blico, pois a aplicação da lei processual civil é
subsidiária.
(B) Não se admite a tutela de interesse de ter-
ceiros de boa-fé no bem apreendido.
(C) Antes do trânsito em julgado de decisão in-
serta em sentença, os bens apreendidos só
podem ser restituídos se não mais interessa-
rem ao processo e aos efeitos penais de uma
condenação.
(D) Em caso de dúvida sobre quem seja o ver-
dadeiro dono do bem apreendido, o juízo
criminal é o competente para solucioná-la.
52. Acerca da competência para conhecimento
e julgamento de feitos penais, assinale a
opção correta.
(A) A regra da prevenção não se aplica em ins-
tâncias superiores, somente no juízo singu-
lar.
(B) Não se admite a consideração de preven-
ção para fixação do juízo natural.
(C) Em comarca, havendo juízos especializados
na fiscalização de investigação penal, apli-
ca-se a regra da prevenção, em qualquer
caso.
(D) Em regra, no processo penal, há preven-
ção quando, havendo dois ou mais juízes
igualmente competentes ou com jurisdição
cumulativa, um deles tiver antecedido aos
outros na prática de algum ato do proces-
so ou de medida a este relativa, ainda que
anterior ao oferecimento da denúncia ou
queixa.
53. Configura hipótese de inépcia da denúncia
(A) não-indicação de testemunhas por parte da
acusação.
(B) utilização de alcunha do acusado no tex-
to da exordial, mesmo constando o nome
completo na qualificação.
(C) exposição obscura de fato criminoso des-
provida de todas as suas circunstâncias.
(D) a errônea classificação do crime imputado
na inicial acusatória.
38
S O S
54. Relativamente ao interrogatório, assinale a
opção correta.
(A) O interrogatório constitui meio de defesa e as
declarações oportunamente prestadas pelo
acusado podem servir de fonte de prova.
(B) Trata-se, exclusivamente, de meio de prova.
(C) A defesa técnica não pode se manifestar na
realização do interrogatório.
(D) Somente a autodefesa é exercida quando
se presta declarações em interrogatório.
55. Quanto às nulidades no processo penal, as-
sinale a opção correta.
(A) Há nulidade absoluta se houver violação a
direito ou garantia processual penal funda-
mental, ainda que não prevista na legisla-
ção processual ordinária.
(B) As hipóteses de nulidade são apenas as
previstas em lei, em decorrência do princí-
pio processual-penal da legalidade.
(C) A regra do prejuízo é aplicável em qualquer
hipótese de nulidade.
(D) Toda nulidade, em tese, pode ser convalidada.
56. Em processo penal, os embargos infringen-
tes
(A) não são cabíveis, não se admitindo a aplica-
ção subsidiária da lei processual comum.
(B) têm cabimento se a decisão desfavorável
ao réu de segunda instância não for unâni-
me.
(C) não são cabíveis se a divergência constan-
te do acórdão for parcial.
(D) têm efeito devolutivo pleno, portanto sua
interposição redunda em renúncia a inter-
posição de recursos extraordinários, em
caso de rejeição.
57. Sobre mandado de segurança, assinale a
opção correta.
(A) Não se admite impetração de mandado
de segurança para resguardo de interesse
violado em feitos penais, pois, em qualquer
situação, há a violação da liberdade do in-
vestigado, cuja tutela jurisdicional ocorre
por impetração de habeas corpus.
(B) Não se admite a aplicação da fungibilidade
se o mandado de segurança for impetrado
em face de ilegalidade que deveria ser con-
testada por meio da impetração de habeas
corpus, extinguindo-se o feito sem julga-
mento do mérito.
(C) Será concedido mandado de seguran-
ça para tutela de direito líquido e certo,
comprovado de plano, não amparado por
habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de
poder for autoridade pública ou agente de
pessoa jurídica no exercício de atribuições
do poder público.
(D) Pode ser interposto, pela parte juridicamente
interessada, recurso ordinário à decisão pro-
ferida em mandado de segurança decidido
em única instância pelos tribunais regionais
federais ou pelos tribunais dos estados, do
Distrito Federal e territórios, quando conces-
siva a decisão.
58. Com relação ao recurso especial,
(A) exige-se a demonstração da repercussão
geral das matérias versadas em recurso
especial.
(B) o prequestionamento, por não ser previsto
em lei, não constitui pressuposto de admis-
sibilidade recursal.
(C) não se exige conflito analítico em caso de
este ser fundamentado em dissídio juris-
prudencial.
(D) quando se fundar em dissídio jurispruden-
cial, o recorrente fará a prova da divergên-
cia mediante certidão, cópia autenticada ou
pela citação do repositório de jurisprudên-
cia, oficial ou credenciado.
59. No que diz respeito ao indulto, assinale a
opção correta.
(A) O indulto somente pode ser concedido por
lei elaborada pelo Congresso Nacional.
(B) Trata-se de atribuição do presidente da Re-
pública, exercida por meio de expedição de
decreto.
(C) Não se admite indulto parcial.
(D) Se o sentenciado for beneficiado por in-
dulto coletivo, este benefício não pode ser
reconhecido, de ofício, pelo juízo das exe-
cuções penais competente.
60. Assinale a opção correta quanto à suspen-
são condicional do processo.
(A) Corre prescrição durante o prazo de sus-
pensão do processo.
(B) O juiz pode especificar condições não-ex-
pressas em lei a que fica submetida a sus-
pensão, desde que adequadas ao fato e à
situação do acusado.
(C) O não-cumprimento da condição de repara-
ção do dano, sendo possível ao réu fazê-lo,
é causa de revogação facultativa.
(D) A instauração de processo por suposta prá-
tica de outro crime no período de prova é
causa de revogação facultativa.
DIREITO PENAL
61. Assinale a opção correta no que se refere
aos crimes de trânsito.
(A) Responde por crime de trânsito o agente
que viola a suspensão de dirigir veículo au-
tomotor.
(B) O indivíduo que, pilotando uma lancha
em alto mar, mata, culposamente, uma
pessoa comete, de acordo com a Lei n.º
9.503/1997, que trata dos crimes de trân-
sito, crime de homicídio culposo.
(C) O agente que, dirigindo automóvel, causa,
culposamente, lesão corporal na vítima e
deixa de prestar socorro a ela responde
tanto pelo crime de lesão corporal culposa
tratado nos crimes de trânsito quanto por
crime de omissão de socorro.
(D) Responde como co-autor pelo crime de ho-
micídio o pai ou responsável que empresta
veículo automotor a menor de idade que,
acidentalmente, atropele e mate uma pes-
soa.
62. Assinale a opção correta no que se refere à
clonagem humana.
(A) A clonagem humana é crime previsto no
Código Penal.
(B) A clonagem humana deixa de ser crime se
for realizada para salvar um enfermo.
(C) A utilização de células-tronco embrionárias
obtidas de embriões humanos produzidos
por fertilização in vitro é sempre permitida
se houver consentimento dos genitores e
os embriões forem inviáveis.
(D) A clonagem humana é crime tratado pela
Lei de Biosseguranca.
63. Assinale a opção correta a respeito de
curandeirismo e charlatanismo.
(A) Charlatanismo não é crime, mas contraven-
ção penal.
(B) Curandeirismo e charlatanismo são sinô-
nimos; portanto são tratados em um único
dispositivo legal do Código Penal.
(C) No crime de curandeirismo, o agente ilici-
tamente exerce atividade de diagnosticar e
prescrever substâncias ao paciente.
(D) No curandeirismo, o crime se consuma com
o prejuízo financeiro da vítima.
64. No que se refere aos crimes contra as fi-
nanças públicas, previstos no Código Pe-
nal, assinale a opção correta.
ÚLTIMAS PROVAS
(A) A prestação de garantia graciosa em opera-
ção de crédito sem contragarantia de valor
igual ou superior ao da garantia prestada só
será criminosa se a operação de crédito não
for honrada.
(B) Responde criminalmente o funcionário pú-
blico que ordenar despesa não autorizada
por dispositivo legal.
(C) O Código Penal incrimina o aumento de
despesa total de pessoal a partir dos 365
dias finais do mandato ou da legislatura do
funcionário público.
(D) Aquele que ordena a colocação, no mercado
financeiro, de títulos da dívida pública em
desacordo com as normas legais responde
como partícipe. Autor é aquele que efeti-
vamente coloca, no mercado financeiro, os
títulos da dívida pública em comento.
65. O Código Penal brasileiro,
(A) quanto ao lugar do crime, adotou a teoria
mista ou da ubiqüidade.
(B) quanto ao lugar do crime, adotou a teoria
da atividade ou da ação.
(C) quanto ao tempo do crime, adotou a teoria
mista ou da ubiqüidade.
(D) quanto ao tempo do crime, adotou a teoria
do resultado.
66. A respeito dos crimes contra a honra, assi-
nale a opção correta.
(A) De acordo com o Código Penal, é punível
o crime de calúnia e difamação contra os
mortos.
(B) O prazo decadencial dos crimes contra a
honra tratados pela Lei de Imprensa — Lei
n.º 5.250/1967 — é de três meses e, no
Código Penal, esse prazo é de seis meses.
(C) A difamação, tratada pelo Código Penal,
não admite exceção da verdade.
(D) Segundo a Lei de Imprensa, o crime de ca-
lúnia é de ação penal pública condicionada
a representação.
67. A respeito da Lei de Drogas — Lei n.º
11.343/2006 —, assinale a opção correta.
(A) Segundo entendimento doutrinário predo-
minante, a conduta do usuário de drogas foi
descriminalizada.
(B) O número de testemunhas de defesa, nos
crimes apenados com reclusão, foi reduzido
de oito para cinco.
(C) Não há delação premiada na nova lei de dro-
gas, tendo diminuído a punição ao agente
que, voluntariamente, colabora com a justiça
na identificação dos demais co-autores ou
partícipes, bem como na recuperação do pro-
duto do crime.
(D) O crime de associação ao tráfico exige
um concurso de mais de três pessoas, da
mesma forma como ocorre no crime de for-
mação de quadrilha, tratado pelo Código
Penal.
68. Quanto aos crimes falimentares, previstos
na Lei n.º 11.101/2005, assinale a opção
correta.
(A) Os efeitos da condenação, tais como ina-
bilitação para o exercício de atividade em-
presarial, impossibilidade de gerir empresa
por mandato, entre outros, devem ser apli-
cados automaticamente com a sentença
condenatória.
(B) A fraude contra credores, descrita como
conduta criminosa, só poderá ocorrer antes
da sentença que decretar a falência.
(C) A redução ou substituição da pena privativa
de liberdade prevista na lei dos crimes fali-
mentares só poderá ser aplicada às micro-
empresas e às empresas de médio porte.
(D) Praticam crime falimentar o juiz, o repre-
sentante do Ministério Público, o adminis-
trador judicial, o gestor judicial, o perito, o
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ÚLTIMAS PROVAS
avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou
o leiloeiro, por si ou por interposta pessoa,
que adquiram bens da massa falida ou de
devedor em recuperação judicial.
69. Acerca da lesão corporal, assinale a opção
correta.
(A) O aumento especial de pena aplicado à vio-
lência doméstica praticada contra portador
de deficiência aplica-se a lesão corporal
leve, grave e gravíssima.
(B) As lesões corporais leve, grave e gravíssi-
ma, se praticadas através da violência do-
méstica, terão aumento especial de pena
na proporção de um terço.
(C) Lesão corporal culposa e a de natureza leve
são delitos de ações penais públicas condi-
cionadas a representação da vítima ou de
seu representante legal.
(D) A incapacidade permanente para as ocupa-
ções habituais da vítima de lesão corporal,
por mais de duzentos dias, classifica a le-
são como gravíssima.
70. A respeito das contravenções penais, assi-
nale a opção correta.
(A) As penas privativas de liberdade tratadas
na lei das contravenções penais são de pri-
são simples.
(B) A lei das contravenções penais foi revoga-
da, tendo algumas das condutas sido trans-
formadas em infrações administrativas e
outras, em infrações criminais.
(C) A contravenção penal de porte de arma
não foi revogada pela lei de armas de fogo
— Lei n.º 10.826/2003.
(D) As contravenções penais de vadiagem e
mendicância foram revogadas após a ratifi-
cação do Brasil à Convenção Americana de
Direitos Humanos.
DIREITO DO TRABALHO
71. Nos dissídios de alçada exclusiva da vara
do trabalho, apenas cabe recurso no caso
de a questão decidida
(A) limitar-se a matéria de fato.
(B) versar sobre legislação ordinária federal.
(C) versar sobre matéria constitucional.
(D) versar sobre interpretação de cláusula de
convenção coletiva.
72. Com referência à Carteira de Trabalho e
Previdência Social, assinale a opção corre-
ta.
(A) Tal documento é desnecessário para os tra-
balhadores em domicílio, mesmo que a re-
lação jurídica implique vínculo de emprego.
(B) Tal documento é desnecessário para o tra-
balhador rural, mesmo que a relação jurídi-
ca implique vínculo de emprego.
(C) Esse documento é desnecessário para os
trabalhadores domésticos, mesmo que a
relação jurídica implique vínculo de empre-
go.
(D) Nas localidades onde tal documento não
seja emitido, o empregado que não o possua
poderá ser admitido até o limite de 30 dias,
ficando a empresa, em tal período, obrigada
a permitir o comparecimento do trabalhador
ao posto de emissão mais próximo.
73. O contrato de trabalho por prazo determi-
nado, em nenhuma hipótese, poderá ser
estipulado por prazo superior a
(A) 120 dias.
(B) 180 dias.
(C) 2 anos.
(D) 3 anos.
74. Para os trabalhadores maiores de 18 anos,
considerando-se contrato de trabalho que
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perdurar por mais de 3 anos, a prescrição
do direito de reclamar a concessão das fé-
rias ou o pagamento da respectiva remune-
ração é
(A) contada do término do prazo do período
concessivo, ou, se for o caso, da cessação
do contrato de trabalho.
(B) contada do término do prazo do período
aquisitivo.
(C) contada a partir da data em que o trabalha-
dor completar 19 anos.
(D) inexistente, visto que tal direito é impres-
critível.
75. Assinale a opção correta quanto à composi-
ção da Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes (CIPA).
(A) O presidente da CIPA será, sempre, o empre-
gado que obtiver maior número de votos, e
o vice-presidente, o segundo candidato mais
votado.
(B) O empregador designará, anualmente, en-
tre os seus representantes, o presidente
da CIPA, e os empregados elegerão, entre
eles, o vice-presidente da comissão.
(C) O presidente da CIPA será, sempre, o em-
pregado que obtiver maior número de vo-
tos, e o vice-presidente, eleito por votação
indireta entre os membros da comissão.
(D) Tanto o presidente quanto o vice-presidente
serão livremente designados pelo empre-
gador, sendo os demais cargos preenchi-
dos por votação indireta entre os membros
eleitos da CIPA.
76. Assinale a opção correta quanto à dispensa
arbitrária ou sem justa causa de emprega-
da doméstica gestante.
(A) É vedada a dispensa arbitrária ou sem justa
causa da empregada doméstica gestante
desde a confirmação da gravidez até 5 me-
ses após o parto.
(B) É vedada a dispensa arbitrária ou sem jus-
ta causa da empregada doméstica gestan-
te desde a confirmação da gravidez até 90
dias após o parto.
(C) É vedada a dispensa arbitrária ou sem justa
causa da empregada doméstica gestante
desde a confirmação da gravidez até 120
dias após o parto.
(D) Inexiste, no ordenamento jurídico brasilei-
ro, qualquer vedação para a dispensa ar-
bitrária ou sem justa causa da empregada
doméstica gestante.
77. O contrato de aprendizagem deve ser cele-
brado com indivíduo
(A) maior de 14 anos e menor de 24 anos, exceto
com relação aos portadores de deficiência,
caso em que a idade máxima não se aplica.
(B) maior de 12 anos e menor de 16 anos.
(C) maior de 12 anos e menor de 18 anos.
(D) maior de 15 anos de idade, sem limite máxi-
mo de idade, desde que comprovado que o
trabalhador esteja recebendo treinamento
em ofício ou profissão.
78. Assinale a opção correta no que diz respei-
to a recurso de revista na justiça do traba-
lho.
(A) Das decisões proferidas pelos tribunais re-
gionais ou por suas turmas, na fase execu-
tória, em nenhuma hipótese cabe recurso de
revista.
(B) Das decisões proferidas pelos tribunais re-
gionais ou por suas turmas, na fase execu-
tória, não cabe recurso de revista, salvo na
hipótese de ofensa direta e literal de norma
da Constituição Federal.
(C) Das decisões proferidas pelo juízo de pri-
meiro grau na fase executória, não cabe
recurso de revista, salvo na hipótese de
dúvida de interpretação de lei federal.
(D) Das decisões proferidas pelo juízo de pri-
meiro grau na fase executória, não cabe re-
curso de revista, salvo na hipótese de viola-
ção de súmula do próprio tribunal regional a
cuja jurisdição esteja ele subordinado.
79. Assinale a opção correta em relação ao di-
reito processual.
(A) Ainda que a competência em razão da ma-
téria seja trabalhista, em se tratando de
“relação de emprego” em que se discutam
danos morais imputados ao empregador
em prejuízo do empregado, as normas pro-
cessuais que devem ser aplicadas são ex-
clusivamente as do direito processual civil.
(B) Em nenhuma hipótese deve-se aplicar nor-
ma do direito processual civil em ações tra-
balhistas.
(C) Mesmo que a competência em razão da
matéria seja trabalhista, em se tratando de
mera “relação de trabalho” e não de “rela-
ção de emprego”, as normas processuais
que devem ser aplicadas são as do direito
processual civil.
(D) Nos casos omissos, o direito processual co-
mum será fonte subsidiária do direito pro-
cessual do trabalho, exceto naquilo em que
for incompatível com as normas deste.
80. Na forma da legislação processual traba-
lhista, os laudos periciais dos assistentes
técnicos indicados pelas partes devem ser
juntados aos autos
(A) no prazo comum de 10 dias, após as partes
serem intimadas da apresentação do laudo
do perito do juízo.
(B) no prazo comum de 30 dias, após as partes
serem intimadas da apresentação do laudo
do perito do juízo.
(C) no prazo comum de 20 dias, após as partes
serem intimadas da apresentação do laudo
do perito do juízo.
(D) no mesmo prazo assinalado para o perito
do juízo, sob pena de serem desentranha-
dos dos autos.
DIREITO TRIBUTÁRIO
81. A concomitância da tramitação de defesa
administrativa e medida judicial em nome
do contribuinte interessado enseja
(A) o indeferimento da medida judicial, em ra-
zão do processamento da defesa junto à
instância administrativa.
(B) o sobrestamento da medida judicial até
resolução da questão perante a instância
administrativa.
(C) a extinção da defesa administrativa, sem
apreciação de mérito, se a matéria discutida
em ambas as instâncias for absolutamente
idêntica.
(D) a aplicação da multa por litigância de má-
fé ao interessado, por utilizar-se de duas
vias de defesa — administrativa e judicial
— para discussão da mesma matéria.
82. Da análise das disposições do Código Tribu-
tário Nacional, que trata da responsabilidade
tributária pessoal de terceiros, constatase
que a responsabilidade tributária de terceiros
emerge
(A) de sua capacidade contributiva.
(B) da prática comprovada de atos ilícitos.
(C) do fato de serem dirigentes de pessoas jurídi-
cas.
(D) de acréscimo de riqueza decorrente do ato
ilícito cometido, necessariamente.
83. Em relação à prescrição intercorrente ocor-
rida no curso da execução fiscal, assinale a
opção correta.
(A) Esse tipo de prescrição não pode ser de-
cretado de ofício.
(B) Tal prescrição não pode ser decretada de
ofício, por serem indisponíveis os interes-
ses patrimoniais da fazenda pública.
(C) Essa prescrição pode ser decretada de ofí-
cio, desde que estejam caracterizados a
omissão e o desinteresse da fazenda públi-
ca no processamento da execução fiscal.
(D) É possível o reconhecimento, de ofício, da
prescrição intercorrente, desde que a fazen-
da pública seja previamente ouvida sobre a
matéria.
84. De acordo com o que dispõe o Código Tri-
butário Nacional, a responsabilidade dos
sucessores deve ser
(A) excluída na alienação de ativos, na recupe-
ração judicial e na falência.
(B) aplicada somente na recuperação judicial.
(C) aplicada na recuperação judicial e na falên-
cia.
(D) excluída, na alienação de ativos, somente
no que se refere à recuperação judicial.
85. A alienação do patrimônio por parte do de-
vedor com débitos perante a fazenda públi-
ca não pode ser anulada. À luz do Código
Tributário Nacional, a afirmativa acima
(A) não é verdadeira, pois a fazenda pública
pode pleitear a anulação da alienação do
patrimônio efetuada a partir da inscrição
do débito em dívida ativa, desde que o de-
vedor não tenha outros bens que possam
satisfazer o pagamento total do débito.
(B) não é verdadeira, pois a fazenda pública
pode pleitear a anulação da alienação do
patrimônio efetuada desde a ocorrência do
fato gerador que ensejou o débito.
(C) é verdadeira, pois a fazenda pública não
pode pleitear a anulação da alienação do
patrimônio efetuada pelo devedor, em ra-
zão da ausência de previsão no Código Tri-
butário Nacional.
(D) é verdadeira, pois a fazenda pública não
pode pleitear a anulação da alienação do
patrimônio efetuada pelo devedor, haja
vista que a dívida ativa regularmente ins-
crita não traz a presunção de sua certeza
e liquidez.
86. As contribuições de intervenção no domí-
nio econômico podem ser cobradas sobre
bases de cálculo
(A) fixadas em regulamento, provenientes de
valores obtidos no mercado interno, inclu-
sive sobre a importação e exportação de
produtos ou serviços estrangeiros.
(B) fixadas em lei, provenientes de valores ob-
tidos no mercado interno, inclusive sobre a
importação e exportação de produtos ou
serviços estrangeiros.
(C) fixadas em lei, provenientes de valores ob-
tidos no mercado interno, inclusive sobre a
importação de produtos ou serviços estran-
geiros, não incidindo sobre as receitas de
exportação.
(D) fixadas em regulamento, provenientes de
valores obtidos no mercado interno, inclu-
sive sobre a importação e exportação de
produtos ou serviços estrangeiros, e com
alíquotas estabelecidas por ato do Poder
Executivo.
87. Os princípios constitucionais que informam
a cobrança do IPI são
(A) a não-cumulatividade e a seletividade.
(B) a não-cumulatividade e a progressividade.
(C) a seletividade e a generalidade.
(D) a progressividade e a generalidade.
88. As contribuições sociais cobradas do em-
pregador, da empresa e da entidade a ela
equiparada, na forma do artigo 195, I, da
39

C O N C U R
Constituição Federal, que trata da folha de
salários, receita ou faturamento e lucro,
(A) devem ter alíquotas ou bases de cálculo
idênticas, independentemente da ativida-
de econômica ou utilização intensiva de
mão-de-obra.
(B) podem ter alíquotas ou bases de cálculo
diferenciadas em razão da atividade eco-
nômica ou utilização intensiva de mão de-
obra.
(C) devem ter, apenas, alíquotas idênticas em
função do princípio da igualdade.
(D) podem ter alíquotas diferenciadas em função
da diversidade da base de financiamento.
89. Constitui exceção ao princípio da anteriori-
dade
(A) a instituição de contribuição para o custeio
do serviço de iluminação pública.
(B) a instituição de empréstimos compulsórios
no caso de investimento público de caráter
urgente e de relevante interesse nacional.
(C) a instituição de contribuição de intervenção
no domínio econômico.
(D) a instituição ou majoração do imposto so-
bre a exportação, para o exterior, de produ-
tos nacionais ou nacionalizados.
90. O ICMS, tributo pertencente aos estados e
Distrito Federal, não incide sobre
(A) a alienação de mercadorias entre contri-
buintes de estados diferentes.
(B) importação de bens por particulares ou so-
ciedades desvinculadas ao comércio.
(C) prestações de serviço de comunicação nas
modalidades de radiodifusão sonora e de
sons e imagens de recepção livre e gratui-
ta.
(D) a prestação de serviços de transporte en-
tre contribuintes e não-contribuintes de es-
tados diferentes.
ÉTICA PROFISSIONAL E ESTATUTO
91. Dr. Cláudio, advogado, compareceu com
seu cliente para a audiência designada pelo
juízo, a primeira do dia, no horário correto,
às 13 h. Ficou aguardando, pacientemen-
te, por mais de 30 min, tendo tido a notícia
de que o magistrado sequer havia chegado
ao fórum. Nessa situação, o advogado, de
acordo com o Estatuto da Advocacia, em
especial, no que se refere às prerrogativas
profissionais, teria o direito de retirar-se,
desde que comunicasse,
(A) verbalmente, o responsável pelo pregão de
que iria embora com seu cliente.
(B) verbalmente, à escrivã, na sala de audiên-
cias, que iria embora em virtude da ausên-
cia do juiz.
(C) por escrito, a razão de sua retirada, entre-
gando o documento, em mãos, à escrivã, na
sala de audiência.
(D) por escrito, a razão de sua retirada, protoco-
lando o documento no setor competente.
92. Considere-se que João, procurador munici-
pal, concursado, tenha recebido determina-
ção de seu superior hierárquico para adotar
determinada tese jurídica da qual ele, João,
discordasse por atentar contra a legislação
vigente e jurisprudência consolidada, inclu-
sive, tendo João emitido sua opinião, ante-
riormente, em processos e artigos doutri-
nários de sua lavra, sobre o mesmo tema.
Nessa situação, João poderia ter recusado
tal determinação?
40
S O S
(A) Sim, lastreado em sua liberdade e inde-
pendência e, também, porque a adoção da
mencionada tese jurídica afrontaria posi-
cionamento anterior seu.
(B) Não, porque, sendo detentor de cargo pú-
blico, ele teria o dever de atender aos inte-
resses maiores da administração pública.
(C) Não, pois o conceito de liberdade e inde-
pendência é exclusivo aos advogados par-
ticulares, que podem, ou não, aceitar uma
causa.
(D) Sim, visto que inexiste hierarquia entre pro-
curadores municipais concursados.
93. Advogados que venham a ocupar, em nível
estadual ou municipal, cargo de presiden-
te ou de diretores no Sistema Nacional de
Defesa do Consumidor (PROCON), quan-
to ao exercício concomitante da advocacia,
estão
(A) impedidos de advogar contra a fazenda pú-
blica, órgão que os remunera.
(B) incompatibilizados para o exercício da ad-
vocacia.
(C) incompatibilizados para o exercício da ad-
vocacia, podendo, entretanto, patrocinar
os interesses do PROCON ao qual estejam
subordinados.
(D) impedidos de advogar contra a União, esta-
dos e municípios.
94. Assinale a opção correta de acordo com o
Estatuto da OAB.
(A) O pagamento da anuidade da OAB não
isenta os advogados de recolherem contri-
buição sindical.
(B) A anuidade da OAB é fixada pelo conselho
federal da entidade.
(C) Débito relativo à contribuição dos advoga-
dos para a OAB constitui título executivo
extrajudicial.
(D) A prescrição para pretensão de cobrança
das contribuições é de cinco anos, a contar
da exigibilidade.
95. Considere-se que determinado advogado
tenha sido representado perante uma das
turmas disciplinares por não ter prestado a
um cliente seu contas de quantia recebida
ao término da causa deste. Nessa situação,
após o devido processo legal, o advogado
poderá
(A) ser suspenso, indefinidamente, até que sa-
tisfaça, integralmente, a dívida, inclusive,
com correção monetária.
(B) não ser punido, desde que alegue situação
de penúria, devidamente comprovada nos
autos.
(C) sofrer pena de censura, desde que restitua,
de pronto, ao cliente a quantia indevida-
mente recebida.
(D) ser suspenso pelo prazo máximo de 12 me-
ses, além de ter de quitar seu débito para
com o cliente.
96. Assinale a opção correta quanto a publici-
dade na advocacia.
(A) O advogado em entrevista à imprensa pode
mencionar seus clientes e demandas sob
seu patrocínio.
(B) É permitida a divulgação de informações
sobre as dimensões, qualidade ou estrutura
do escritório de advocacia.
(C) É permitida a ampla divulgação de valores
dos serviços advocatícios.
(D) É permitido o anúncio em forma de placa de
identificação do escritório apenas no local
onde este esteja instalado.
97. Advogado especializado foi contratado
para defender interesses de cliente que es-
tava sendo investigado por supostos deli-
tos. Decorridos alguns meses, o porteiro do
prédio onde estava situado o escritório do
advogado o avisou, às 6 horas da manhã, de
que a polícia havia ingressado no local em
busca de documentos. Considerando a situ-
ação hipotética acima, assinale a opção cor-
reta de acordo com a Lei federal 8.906/1994
— Estatuto da Advocacia e da OAB.
(A) A inviolabilidade do escritório é sagrada, não
podendo a polícia ter agido como o fez.
(B) A polícia poderia ter invadido o escritório de ad-
vocacia desde que o advogado estivesse sendo
investigado juntamente com seu cliente.
(C) A polícia poderia ter ingressado no escri-
tório desde que por ordem judicial expres-
sa em mandado de busca e apreensão e
respeitados documentos e dados cobertos
com tutela de sigilo profissional.
(D) A polícia, desde que munida de ordem ju-
dicial expressa em mandado de busca e
apreensão, poderia ter ingressado no escri-
tório do advogado e revistado o local sem
quaisquer restrições.
98. Dr.a Cristina, advogada, recebeu procu-
ração de sua cliente para propor ação de
separação judicial, o que foi feito, após pro-
longada fase probatória, audiências e re-
curso a instância superior. Após o trânsito
em julgado, com as expedições e registros
de mandado de averbação competente e
formal de partilha de bens, os autos foram
arquivados. Após 15 meses, Dr.a Cristina
foi procurada por essa mesma cliente, que
lhe solicitou a propositura de ação de di-
vórcio, entendendo esta que a contratação
anterior se estenderia também a essa cau-
sa, apesar de nada constar na procuração
e no contrato de honorários, restritos à se-
paração judicial. Considerando essa situa-
ção hipotética, assinale a opção correta de
acordo com a norma em vigor.
GABARITO
ÚLTIMAS PROVAS
(A) Por se tratar de direito de família, o aces-
sório (divórcio) acompanha o principal, a
separação, sem necessidade de nova pro-
curação.
(B) Não é necessária nova procuração, mas
devem ser cobrados novos honorários.
(C) Uma vez concluída a causa ou arquivado o
processo, presumem-se o cumprimento e a
cessação do mandato, sendo necessários
nova procuração para o pedido de divórcio
e novo contrato de honorários.
(D) Não é necessária nova procuração desde
que se proponha conversão da separação
em divórcio, de forma consensual.
99. Assinale a opção correta em relação ao Es-
tatuto da OAB.
(A) Juntamente com a eleição do Conselho
Seccional e da Subseção, os advogados
elegem diretamente o Conselho Federal da
OAB.
(B) Uma subseção pode abranger um ou mais
municípios e, ainda, partes de município.
(C) Uma seccional pode abranger um ou mais
estados da Federação.
(D) Uma Caixa de Assistência aos Advogados
não tem personalidade própria, mas o Con-
selho Seccional a que ela se vincula, sim.
100. No que se refere a honorários advocatí-
cios, assinale a opção correta.
(A) No sistema de quota litis, não é possível a
cumulação desta com os honorários de su-
cumbência.
(B) Inexistindo contrato escrito de honorários,
está implícito que o advogado receberá,
apenas, os honorários de sucumbência.
(C) O advogado substabelecido com reserva
pode cobrar os honorários diretamente do
cliente, sem intervenção daquele que lhe
substabeleceu.
(D) A ação de cobrança de honorários pres-
creve em cinco anos, a contar do trânsito
em julgado da decisão que o fixar, entre
outras hipóteses previstas no Estatuto da
Advocacia.
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C O N S T I T U C I O N A L

A Fiscalização das Contas Bancárias

“A proteção do sigilo bancário decorre de uma série de direitos e princípios constitucionais...”

André Ramos Tavares
genericamente se denomina de direito
à privacidade, cujos desdobramentos
chegam à questão do sigilo das comu-
nicações e dos dados, da liberdade e
da segurança. De qualquer sorte, não
pode haver dúvidas quanto ao objeti-
vo primordial: proteção das informa-
ções, das notícias, dos documentos,
dos registros, enfim, dos dados de
todos os indivíduos, que tenham
pertinência, em sentido mais amplo,
com sua privacidade. Não é dado ao
Estado embaraçar o espaço do cida-
dão e lhe tolher em sua privacidade,
um direito fundamental incontestável.
utiliza dinheiro para as diversas ope-
rações do dia a dia.
O tema (desrespeito aos direitos
humanos fundamentais) o (agressi-
vo) mecanismo criado e a forma como
foi apresentado (uma interpretação
surpreendente dos institutos) fazem
lembrar o episódio da “emenda 3” e
a violação à livre iniciativa (lato sensu)
que a interpretação do Governo pro-
vocou também nesse último caso.
A quebra do sigilo bancário, pe-
rante a Constituição de 1988, só pode
advir de decisão proferida por auto-
ridade judicial (neutra na questão).
ceiras fazer respeitar as diretrizes
constitucionais, mesmo contra atos
normativos espúrios e inconsistentes
com a Constituição.
Haverá pouco a se comemorar
nestes 20 anos da Constituição bra-
sileira - apesar da notícia de que não
serão apresentadas novas propostas
de emenda à Constituição – se leis,
decretos e portarias passarem a servir
para “rever” o texto constitucional.
André Ramos Tavares
Professor dos Cursos de Doutorado e

C
om o fim da CPMF, como
se sabe, o Governo Federal procura
implementar medidas tendentes a
compensar sua derrota no Congres-
so Nacional. Nesta sua atitude bem
se percebe um ranço antidemocrá-
tico, procurando superar a decisão
tomada pelos representantes da
sociedade. O Governo procura um
mecanismo para contornar a indis-
ponibilidade dos dados bancários
que a rejeição democrática daquele
tributo desencadearia a partir de
2008. Supondo, hipoteticamente, que
ao tributo extinto realmente perten-
cesse uma função legítima de quebra
do sigilo bancário para fins tributá-
rios e criminais diversos, a rejeição
do Congresso à sua manutenção
representa uma rejeição a todo o re-
gime que circundava o tributo. Não
cabe ao Executivo senão reconhecer
essa opção política, própria da al-
çada do Legislativo. Não se trata
de deixar impunes determinados
crimes (como sonegação fiscal, eva-
são de divisas, lavagem de dinheiro,
etc.). A questão é outra, muito mais
grave, porque o tributo em apreço
nunca teve referida função (e não
poderia tê-la, efetivamente) e porque
ao Estado restam outros mecanismos
para averiguar, investigar e punir
eventuais criminosos.
No Brasil, a Constituição Cidadã
garante a vida privada e a intimidade
de todos (art. 5º, inc. X), os dados (inc.
XII), a segurança (caput), a liberdade
em geral. A proteção do sigilo bancá-
rio decorre de uma série de direitos
e princípios constitucionais, sem que
seja necessário precisar o dispositivo
ou remeter a uma única norma para
alcançar-se esse comando principio-
lógico. Insere-se a proteção no que
Mestrado em Direito da PUC/SP e Visiting
E se não pode fazê-lo nem mesmo por Jamais de autoridade administrativa
Research Scholar na Cardozo School of
leis, o que não dizer de meros decretos com dever funcional que a torna Law – New York, é Diretor do Instituto
e portarias? Trata-se, aqui, de uma parcial. Jamais por meio de norma Brasileiro de Estudos Constitucionais e
garantia contra o próprio Estado, que (nem mesmo por lei) de efeitos am- autor de “Constituição do Brasil Integrada
só uma Constituição democrática po- plos, o que equivaleria a derrogar a (2. ed., Saraiva)”, “Curso de Direito
deria sustentar nesses termos. norma constitucional que resguarda Constitucional” (5. ed., Saraiva) e “Nova Lei
Contudo, consoante a Instrução o sigilo. Cabe às instituições finan- da Súmula Vinculante” (2. ed., Método).
Normativa n. 802, da Receita Federal
do Brasil, publicada no D.O.U. de 28
de dezembro de 2007, assinada pelo
Senhor Secretário da Receita Fede-
ral, Jorge Rachid, em seu art. 1º: “As
instituições financeiras (...) devem
prestar informações semestrais, na
forma e prazos estabelecidos pela
Secretaria da Receita Federal do Brasil
(RFB), relativas a cada modalidade de
operação financeira de que trata o art.
3º do Decreto nº 4.489, de 2002, em
que o montante global movimentado
em cada semestre seja superior aos
seguintes limites: I – para pessoas
físicas, R$ 5.000,00 (cinco mil reais); II
– para pessoas jurídicas, R$ 10.000,00
(dez mil reais)”. E arremata, em seu
art. 2º que quando o montante global
movimentado no semestre referente a
uma modalidade de operação finan-
ceira for superior aos limites acima,
as instituições financeiras deverão
revelar todas demais operações da-
quele titular de conta ou usuário dos
serviços bancários.
Isso significa, na prática, uma que-
bra generalizada do sigilo bancário,
para fins diversos, a serem definidos
pela autoridade de plantão, o que é
absolutamente insustentável perante
a Constituição do Brasil. O Estado
pretende conhecer todas movimen-
tações bancárias realizadas pelos seus
cidadãos, quando atingido referido
montante no decorrer semestre. Isso
significa conhecer praticamente todas
atividades e hábitos do indivíduo,
num mundo em que raramente se

www. cartaforense. com. br 41

C A P A
Prescrição sócio-educativa“A súmula 338 do STJ”
“Tema bastante tormentoso é o reconhecimento da prescrição em relação às medidas sócio-educativas no âmbito do direito infanto-juvenil.”
Eduardo R. A. Del-Campo
Introdução
Tema bastante tormentoso é o reconheci-
mento da prescrição em relação às medidas
sócio-educativas no âmbito do direito in-
fanto-juvenil.
Sempre sustentamos a não aplicabilidade
do instituto da prescrição penal em relação
à prática infracional, primeiro por entender que
as medidas sócio-educativas têm por finali-
dades a proteção e a educação do infrator,
não sendo razoável estabelecer parâmetros
limitadores que não o da idade máxima, 18
anos para as medidas em meio aberto e 21
para a semiliberdade e a internação.
É um verdadeiro contra-senso fixar prazo
para que o Estado exerça o dever de educar.
Nesse sentido o magistério de Guaraci Vian-
na, para quem “o caráter predominantemente
reeducador das medidas previstas na Lei 8.069/90
faz com que o Estado tenha o dever de aplicá-las
para preparar a pessoa humana para uma vida
feliz e útil. (...) Trata-se, repita-se, de um dever
do Estado e não existe prescrição ou decadência
de um dever” (2004, pág. 343).
Em segundo lugar, as medidas sócio-
educativas, em sua maioria, não comportam
prazo determinado, podendo ser extintas ou
prorrogadas de acordo com as peculiarida-
des do caso e o desenvolvimento do próprio
adolescente, não havendo reprimenda con-
cretizada na sentença que permita cálculo
prescricional.
Como bem lembra Bianca de Moraes e
Helane Ramos, “a lei 8.069/90, a par de esta-
belecer uma série de garantias aos adolescentes
autores de ato infracional , não se descurou em
lhes assegurar uma organização peculiar de
responsabilização. O fato de não se estabelecer
prazos predeterminados para as medidas sócio-
educativas em função do ato infracional praticado;
o de permitir que a representação seja distribuída
independentemente de prova pré-constituída da
autoria e da materialidade; e o da previsão do ins-
tituto da remissão cumulada com a aplicação de
medida, são apenas alguns exemplos dessa opção
legislativa. Destarte (...) o sistema estatutário não
precisa se socorrer da previsão normativa penal.
O aspecto a ser contabilizado é, exclusivamente,
o relativo ao desenvolvimento biológico do jovem,
porque esta foi a determinação legal ao impor
sua liberação aos vinte e um anos de idade” (in
maCiel, 2007, P. 841).
42
Não obstante, em sessão realizada em
09/05/2007 o STJ, acolhendo a orientação
esposada pelos defensores do chamado
Direito Penal Juvenil, sumulou entendimento
diverso:
STJ
Súmula nº 338 A prescrição penal é aplicá-
vel nas medidas sócio-educativas.
Examinando os precedentes que embasa-
ram a matéria sumulada, verificamos que a
Corte Superior passou a reconhecer expres-
samente o caráter retributivo e repressivo
das medidas sócio-educativas, pacificando
o entendimento de que, embora não tenham
“a mesma natureza e intensidade das penas esta-
belecidas no Código Penal, pois devem ser regidas
pelos princípios da brevidade, excepcionalidade e
observância da condição peculiar de pessoa em de-
senvolvimento (...), preservado o escopo principal
das medidas sócio-educativas (pedagógico), não
há como negar o seu caráter repressivo (punitivo);
admiti-lo, inclusive, é útil não só aos autores de
atos infracionais (adolescentes), mas também às
vítimas de tais condutas ilícitas. Assim, as medi-
das sócio-educativas são, tanto quanto as sanções
penais, mecanismos de defesa social, porquanto
permitem ao Estado delimitar a liberdade individu-
al do adolescente infrator” (STJ - Habeas corpus
n. 45.667 - SP (2005/0113432-3). Relator: Min.
Nilson Naves).
Para o mesmo Tribunal, os infratores sub-
metidos às disposições do Estatuto da Criança
e do Adolescente não podem ser tratados
de forma mais severa que os adultos (impu-
táveis) regidos pelo Código Penal, quando
praticam atos análogos, circunstância que
aponta no sentido da aplicação analógica das
normas penais relativas à prescrição (REsp
nº 602.178/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, DJ de
17/05/2004, p. 281 e REsp nº 451.136/MG,
Rel. Min. Hamilton Carvalhido, dt. dec.
30/06/2004).
A questão é mais complexa do que pa-
rece, pois embora tenha adotado a regra
da prescrição, a Corte Superior não lançou
balizamentos sobre a forma como o instituto
deve ser interpretado e aplicado.
Tentaremos aqui, de forma bastante
breve, sugerir alguns parâmetros para a
aplicação da prescrição penal ao direito
infanto-juvenil
1. Prescrição
Prescrição penal é a perda, por parte do
Estado, do jus puniendi ou do jus punitionis
em razão do decurso do tempo, o que impli-
ca, como já dissemos, no reconhecimento, a
nosso ver errôneo, do caráter repressivo das
medidas sócio-educativas.
Diversas dificuldades práticas irão defluir
da imprópria transposição do instituto, a
maior delas relacionada com o cálculo dos
prazos prescricionais.
A lei penal reconhece, basicamente,
duas espécies de prescrição: a prescrição da
pretensão punitiva, que atinge o jus puniendi e
a prescrição da pretensão executória, que afasta
o jus punitionis.
A prescrição da pretensão punitiva, de acor-
do com o momento em que é reconhecida,
pode ainda ser abstrata, retroativa, intercorren-
te ou subseqüente e antecipada.
Traçando um paralelo com o Direito Penal
teríamos a prescrição da pretensão sócio-educa-
tiva e a prescrição da pretensão executória das
medidas sócio-educativas:
{
{
abstrata
retroativa
da preten-
são sócio- intercorrente
educativa ou subseqüente
Prescrição
antecipada
da pretensão executória das
medidas sócio-educativas
O gráfico a seguir mostra os momentos
de incidência de cada uma das possíveis
modalidades de prescrição em relação à
prática infracional.
3. Prescrição da pretensão sócio-edu-
cativa abstrata
Em Direito Penal, o prazo para prescrição
abstrata é regulado pelo máximo da pena abs-
tratamente cominada ao crime, observados
os limites fixados na tabela do art. 109 do
Código Penal. O cálculo leva em considera-
ção as qualificadoras e as causas de aumento ou
diminuição de pena, excetuando-se o concurso
formal próprio e o crime continuado (súmula
497 do STF). Não são computadas as agra-
vantes e atenuantes genéricas.
Em relação à prática infracional, duas são
as posições possíveis.
Para alguns autores devem ser aplicados
aos atos infracionais os mesmos prazos
fixados na Lei Penal, reduzidos da metade
em razão da menoridade do agente (art. 115,
primeira parte, do CP).
Uma segunda posição, que adotamos, pre-
fere não utilizar como parâmetro as penas
previstas aos diversos delitos pela legislação
penal. Primeiro, porque a medida sócio-
educativa mais severa é a internação, que
não admite prazo determinado e não pode
suplantar três anos (art. 121, § 3º, do ECA).
Em segundo lugar, porque qualquer que seja
a medida considerada, ela não poderá prosse-
guir além dos 21 (vinte e um) anos de idade
do infrator, pouco importando a gravidade
do ato cometido.
Galdino Bordallo, defendendo essa corren-
te, pondera que: “Para o cálculo da prescrição
da pretensão sócio-educativa far-se-á uso do prazo
máximo em abstrato de duração de uma medida
sócio-educativa, o prazo de 3 (três) anos determi-
nados pelo art. 121, § 3º, ECA. Combinar-se-á
esta regra com as dos arts. 109, VI e 115, ambos
do CP, encontrando-se assim, o prazo de 4 (qua-
tro) anos, que será o da prescrição da pretensão
sócio-educativa” (2005, p. 101).
Respeitados tais parâmetros, qualquer
que seja o ato infracional praticado ou a
medida sócio-educativa, em tese cabível, o
prazo da prescrição da pretensão sócio-edu-
cativa ocorrerá em 4 (quatro) anos, sempre
respeitado o limite etário máximo de 21 ou
18 anos, conforme o caso.
Seria possível argumentar em sentido
contrário, alegando que alguns delitos têm
lapso prescricional mais curto e, por essa
razão, dever-se-ia adotar sempre o parâme-
tro penal. Entretanto, ainda que excepcio-
nalmente, todo e qualquer ato infracional,
ainda que pela reiteração, pode sujeitar o
infrator à medida sócio-educativa mais grave
e, portanto, com limite abstrato superior de
3 (três) anos.
4. Prescrição da pretensão executória
das medidas sócio educativas
Traçando-se um paralelo com o Direito
Penal, a prescrição da pretensão executória das
medidas sócio-educativas, deve ser regulada pela
medida efetivamente aplicada (art. 110, caput, do
CP), considerados os prazos fixados no artigo
109 do Código Penal, calculados pela metade
em razão da menoridade (art. 115 do CP)
Para verificar o prazo de prescrição da
pretensão executória das medidas aplicadas
é necessário analisar cada uma delas sepa-
radamente.
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 O art. 112 do ECA indica 7 (sete) espécies
de medidas sócio-educativas. Excluindo as
protetivas (art. 112, VII, do CA) que, pela sua
natureza, não admitem sujeição à prescrição,
as demais podem ser agrupadas em quatro
categorias:
a) advertência, que ainda não encontra
similar no Direito Penal;
b) obrigação de reparar o dano, de natureza
análoga à das penas pecuniárias;
c) prestação de serviços à comunidade e
liberdade assistida, que têm caráter se-
melhante ao das penas restritivas de
direitos; e
d) semiliberdade e internação, que apre-
sentam algum grau de privação de
liberdade.
A advertência não admite parâmetro
temporal. Por esta razão, deve ser aplicado
o menor prazo previsto na legislação penal,
reduzido pela metade em decorrência da
menoridade (art. 109, VI, cc. art. 115 do CP),
ou seja, 1 (um) ano.
A obrigação de reparar o dano tem cunho
eminentemente patrimonial (embora nem
sempre se traduza por compensação eco-
nômica). Pode, assim, ser comparada com a
multa penal, prescrevendo em 1 ano quando
aplicada isoladamente (art. 114 cc. Art. 115
do CP):
Para as penas restritivas de direito, o Códi-
go Penal estabelece os mesmos prazos pre-
cricionais previstos para as penas privativas
de liberdade (art. 109, parágrafo único, do
CP), raciocínio que pode ser transportado
para a prestação de serviços à comunidade e
liberdade assistida.
A prestação de serviços à comunidade é sempre
aplicada por prazo certo, não excedente a 6
(seis) meses (art. 117, caput, do ECA), prescre-
vendo no prazo de 1 (um) ano.
A liberdade assistida tem prazo mínimo
fixado na sentença, não inferior a 6 (seis)
meses, podendo ser prorrogada revogada ou
substituída por outra medida (art. 118, § 2º,
do ECA). Havendo prazo mínimo fixado na
sentença, em relação a ele deve ser calculado
o lapso prescricional.
Fixada, por exemplo, a liberdade assistida
por 6 (seis) meses, prescreverá em 1(um) ano
(art. 109, VI, cc. art. 115 do CP). Fixada em 1
(um) ano, a prescrição ocorrerá em 2 (dois)
anos (art. 109, V, cc. art. 115 do CP) e assim
por diante.
No que toca, finalmente, à semiliberdade
e à internação, que não comportam tempo
determinado, existem basicamente duas
correntes.
A primeira, com a qual não concordamos, e
de que é partidário Galdino Bordallo, entende
que o prazo da prescrição da pretensão exe-
cutória das medidas sócio-educativas deve ter
por base o período máximo de reavaliação,
que é de 6 (seis) meses: “A pretensão executória
será calculada levando-se em conta o prazo máximo
de reavaliação da medida, que é de 6 (seis) meses,
determinado pelos arts. 118, § 2º, ambos do ECA.
Esta regra, será combinada com os arts. 109, VI
e 115 do CP e encontraremos o prazo de 1 (um)
ano. Se o Estado não iniciar a execução da medida
sócio-educativa aplicada na sentença neste prazo,
prescreverá o seu direito” (op. cit., p. 101).
Em que pese à respeitável posição do
renomado autor, a periodicidade da rea-
valiação não pode servir de base para o
cálculo prescricional porque não implica
necessariamente no término da medida. É
apenas um mecanismo idealizado pelo legis-
lador para garantir o caráter pragmático dos
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princípios da excepcionalidade, da brevidade
e do respeito à condição peculiar da pessoa em
desenvolvimento.
Não se argumente, também, que o ra-
ciocínio deveria ser idêntico àquele empre-
gado para o cálculo do prazo prescricional
da liberdade assistida. É que a medida de
acompanhamento tem um tempo mínimo
fixado na sentença, que apenas excepcio-
nalmente será prorrogado. Não se trata de
reavaliação, mas de um tempo preciso que
pode ser utilizado como base para o cálculo
prescricional.
As medidas de contenção, por outro lado,
não comportam qualquer prazo fixo, além do
máximo de 3 (três) anos, mas apenas reava-
liações com periodicidade não superior a 6
(seis) meses. Aliás, o Juiz pode, e em alguns
casos deve, fixar prazos menores, como
reavaliações trimestrais ou bimestrais, por
exemplo.
A reavaliação tem natureza jurídica
similar à da progressão ou do livramento
condicional, benefícios que podem alterar o
regime ou diminuir a pena, respectivamente,
mas não influem no cálculo da prescrição da
pretensão punitiva.
Por essas razões adotamos o enten-
dimento de que o cálculo da prescrição
retroativa das medidas que importam em
privação de liberdade deve basear-se nos
mesmos parâmetros da prescrição abstrata,
ou seja, 4 (quatro) anos (art. 109, IV, cc. art.
115 do CP).
Como toda colocação em regime de
semiliberdade ou de internação pode, em
tese, atingir 3 (três) anos, é sempre com
fulcro neste parâmetro que o cálculo deve
ser baseado.
A única exceção, fica por conta da cha-
mada internação sanção (art. 122, III e § 1º, do
ECA), cujo prazo não pode ser superior a 3
(três) meses. Para esta hipótese, a prescrição
será de 1 (um) ano.
5. Prescrição retroativa da pretensão
sócio-educativa
A chamada prescrição retroativa da pretensão
sócio-educativa ou simplesmente prescrição
retroativa nada mais é que o reexame dos
períodos prescricionais levando-se em conta
a medida sócio-educativa efetivamente imposta
na sentença, após o trânsito em julgado para
o Ministério Público, observado os prazos
do art. 109 do CP e a redução pena meno-
ridade (art. 115 do CP). A base legal para
sua aplicação está no art. 110, §§ 1º e 2º, do
Código Penal:
Os prazos para cálculo dos períodos pres-
cricionais variam de acordo com a medida-
sócio educativa considerada e são iguais aos
da prescrição da pretensão executória (vide
tópico anterior).
6. Prescrição intercorrente da pretensão
sócio-educativa
De acordo com o § 1º do art. 110 do Código
Penal, uma vez fixada a pena privativa de li-
berdade e não havendo recurso da acusação,
o prazo de prescrição passa a ser estabelecido
pela pena aplicada, já que não poderá haver
decisão mais desfavorável ao réu.
A partir da data da publicação da sentença,
começa a correr o prazo da prescrição inter-
corrente, que somente não será concretizado
se houver trânsito em julgado para a defesa
antes de seu termo, ou seja, se antes de ser
julgado o recurso da defesa não houver de-
corrido o prazo da prescrição calculada com
base na pena aplicada.
Ao contrário da prescrição retroativa, a
prescrição intercorrente apresenta um juízo de
análise temporal para o futuro, em relação
ao tempo em que o processo fica parado nos No que toca às causas de suspensão da
Tribunais. prescrição (art. 116 do CP) parece razoável
Assim como foi considerado para a prescri- admitir que a prescrição da pretensão sócio-
ção retroativa, os prazos para cálculo da pres- educativa não corre enquanto não resolvida,
crição intercorrente sócio-educativa variam de em outro processo, questão prejudicial, da
acordo com a medida considerada e são iguais qual dependa o reconhecimento da existên-
aos da prescrição da pretensão executória. cia do ato infracional.
Da mesma forma, de se entender que a
7. Prescrição antecipada da pretensão
prescrição da pretensão executória não corre
sócio-educativa enquanto o adolescente estiver cumprindo
Questão bastante polêmica, mesmo na outra medida que não possa ser executada
esfera penal, é a possibilidade do reconheci- simultaneamente.
mento antecipado da prescrição da preensão Questão mais tormentosa, entretanto, diz
punitiva com base em suposta pena a ser respeito a como calcular o prazo prescricional
aplicada ao crime. em face da interrupção do cumprimento de
Conhecida por inúmeras designações medida sócio-educativa, como, por exemplo,
como prescrição antecipada, em perspectiva, pre- fuga da unidade de internação ou abandono
calculada, prognose prescricional, ou prescrição da prestação de serviço.
virtual, nada mais é que o reconhecimento A medida de advertência não comporta
da prescrição retroativa antes mesmo do interrupção. É ou não é aplicada.
oferecimento da denúncia. A reparação do dano e a prestação de serviços
Os defensores do instituto argumentam à comunidade, como já têm seus prazos calcu-
com o princípio da economia processual e com lados pelo patamar mínimo, uma vez inter-
a inutilidade de se movimentar a máquina do rompidas, restará ao Estado apenas 1 (um)
Poder Judiciário por algo que, em princípio, já ano para fazer retomar seu cumprimento.
se sabe não produzirá efeito algum. Para a liberdade assistida é preciso deduzir
Em tese, nada impede que o mesmo o tempo efetivamente cumprido do prazo
raciocínio seja aplicado para as medidas mínimo fixado na sentença, observando-se
sócio-educativas. a tabela do art. 109 do Código Penal e a
Percebendo o Promotor de Justiça que, redução pela menoridade.
mesmo obtendo a procedência da ação Finalmente, em relação à semiliberdade e à
sócio-educativa a medida eventualmente internação, deve-se deduzir o tempo efetiva-
aplicada será fatalmente fulminada pela mente cumprido do máximo permitido pelo
prescrição retroativa, poderá requerer o ECA, ou seja, 3 (três) anos, observando-se, da
arquivamento do Boletim de Ocorrência, mesma forma, a tabela do art. 109 do Código
do auto de apreensão ou das peças de in- Penal e a redução pela menoridade.
formação com base na falta de justa causa Como se vê, o reconhecimento do instituto
para a ação. da prescrição para as medidas sócio-educati-
8. Considerações finais vas, tal como acenado pelo Superior Tribunal
de Justiça, é tema bastante complexo e con-
O quadro abaixo resume nosso entendi-
trovertido, que ainda produzirá pungentes
mento sobre as diversas formas de prescrição
debates doutrinários.
em relação às medidas sócio-educativas:
Muitas questões, como as exceções cons-
titucionais de imprescritibilidade, ainda
Prescrição
permanecem obscuras e passíveis de inter-
Da pretensão sócio Da pretação pela jurisprudência.
educativa pre-
Re- Inter- An- tensão
Abs-
troa- cor- teci- execu-
Bibliografia
trata
tiva rente pada tória Bordallo, Galdino Augusto Coelho. A
Adver- 4 1 1 Prescrição da Pretensão Socioeducativa.
1 ano 1 ano
tência anos ano ano Revista do Ministério Público do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: Ministério Público,
Repara-
4 1 1 n. 22, jul/dez 2005, págs. 81 a 103.
ção do 1 ano 1 ano
anos ano ano
dano Del-Campo, Eduardo R. A. & Oliveira,
Presta- Thales Cezar. Estatuto da Criança e do
4 1 1 Adolescente. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2007
ção de 1 ano 1 ano
anos ano ano (Série leituras jurídicas: provas e concur-
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sos; v. 28).
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Semili- 4 4 4 4 Maciel, Kátia Regina Ferreira Lobo Andra-
4 anos
berdade anos anos anos anos de (coordenadora). Curso de direito da criança
e do adolescente – Aspectos teóricos e práticos. 2
Interna- 4 4 4 4
4 anos ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
ção anos anos anos anos
Inter- Saraiva, João Batista Costa. Compêndio
1 de Direito Penal Juvenil – Adolescente e ato
nação – – – –
ano infracional. 3 ed. Porto Alegre: Livraria do
sanção
Advogado, 2006.
Medidas
Aplica-se apenas a prescrição Vianna, Guaraci. Direito Infanto-Juvenil
proteti-
etária (art. 2º do ECA) – Teoria, prática e aspectos multidisciplinares.
vas
Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2004.
Dentre as causas interruptivas da prescri-
ção (art. 117 do CP), podem ser aplicadas, por Eduardo R. Alcântara Del-Campo
analogia, em relação à prática infracional:
a) o recebimento da representação; Promotor de Justiça da Infância e Juventude.
Professor Universitário e em Cursos
b) a sentença de procedência recorrível; Preparatórios e autor de diversas obras,
c) e o início ou continuação do cumpri- destacando-se Estatuto da Criança e do
mento da medida sócio-educativa. Adolescente, pela Editora Atlas.
43
C A D E R N O D E L
Novos Rumos do Direito Ambiental
Nas Áreas Civil e Penal
Coordenador: Geraldo Ferreira Lanfredi
Millennium Editora - 1ª Edição - 306 páginas - R$ 59,00
Os diplomas legais, que disciplinam e protegem o meio ambiente,
colocam o Brasil na posição de vanguarda em matéria de legislação
ambiental: a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81),
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O Tribunal de Contas no Ordenamento Jurídico
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O Tribunal de Contas com características de fiscalizar, por ser deline-
ado na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, com
autonomia e independência, com garantias e vedações análogas aos
membros do Poder Judiciário, reveste-se com características de um
‘’Quarto Poder’’.
Direito Penal
Fundamentos e Teoria do Delito
Autor: Santiago Mir Puig
Revista dos Tribunais - 1ª Edição - 444 páginas - R$ 78,00
Ao tornar mais acessível essa obra de Direito Penal da língua espan-
hola, rica em detalhes e posicionamentos críticos, tem-se por objetivo
a divulgação no País dos ensinamentos do seu autor e a promoção do
desenvolvimento e da pesquisa no campo do direito comparado.
Proteção Processual da Posse
Autor: Cláudia Aparecida Cimardi
Revista dos Tribunais - 2ª Edição - 348 páginas - R$ 63,00
Tema dos mais importantes desde o Direito Romano, a posse não
perdeu sua atualidade como fenômeno social e instituto jurídico, pois
os problemas possessórios continuam a ocorrer concretamente na
sociedade atual, mas escassa é a bibliografia pertinente.
Manual de Direito Publico e Privado
Autores: Édis Milaré e Maximilianus Cláudio Américo Fuhrer
Revista dos Tribunais - 16ª Edição - 398 páginas - R$ 74,00
Com a experiência de longos anos na exposição da disciplina, os autores
conseguiram condensar a vasta e complexa matéria em um manual
prático, fácil e objetivo. Apresentam em linguagem acessível e clara
todos os conceitos e noções imprescindíveis ao entendimento do Direito.
Código Tributário Nacional Comentado
Coordenador: Vladimir Passos de Freitas
Revista dos Tribunais - 4ª Edição - 1088 páginas - R$ 198,00
Nesta edição deu-se ênfase às questões polêmicas na aplicação da
norma complementar tributária suscitadas em especial pelas novidades
legislativas da década. Cuidou-se também de registrar a pacificação
das controvérsias apresentadas nas edições anteriores e o entendimen-
to consolidado em torno dessas matérias.
Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e
Falências - Lei 11.101/2005 - Artigo por artigo
Coordenadores: Antonio Sérgio A. de Moraes Pitombo e Francisco S. de Souza Jr
Revista dos Tribunais - 2ª Edição - 704 páginas - R$ 114,00
Nomes exponenciais do Direito Comercial se uniram neste único
volume para comentar, em linguagem direta e acessível, a Lei
11.101/2005, artigo por artigo, bem como a evolução legislativa que
afetou pontos desta Lei.
44
I V R O S
Conteúdos e efeitos das decisões judiciais (Coleção
Atlas de Processo Civil)
Autor: Junior Alexandre Moreira Pinto
Editora Atlas - 1ª Edição - 240 páginas - R$ 48,00
O estudo dos conteúdos das decisões judiciais é um dos focos deste
livro, que faz uma análise de cada elemento do decisum, à luz da crise
surgida no âmbito do direito material. Nessa linha, foram definidas
as características das tutelas meramente declaratórias, constitutivas e
condenatórias. Objeto de crítica decorreu da denominada classificação
quinária dos provimentos cognitivos. Não trazem essas hipóteses
qualquer natureza diversa do tradicional conteúdo condenatório.
Justiça, direito e processo: A Argumentação e o
Direito Processual de Resultados Justos
Autor: Samuel Meira Brasil Júnior
Editora Atlas - 1ª Edição - 176 páginas - R$ 39,00
Este livro aumenta as possibilidades de aproveitamento dos atos proc-
essuais, utilizando a razoabilidade (proporcionalidade) e ponderação
de valores para ampliar as hipóteses de sanação das nulidades, sem,
contudo, permitir o arbítrio dos juízes.
ISS: Doutrina e Prática
Autor: Kiyoshi Harada
Editora Atlas - 1ª Edição - 210 páginas - R$ 41,00
Esta obra, dividida em três capítulos, promove o estudo do imposto
sobre serviços de qualquer natureza, à luz da moderna doutrina e da ju-
risprudência atualizada. Os textos são escritos de forma clara e objetiva,
procurando dar maior ênfase ao pragmatismo e menor importância à
erudição. Isso tornou possível exaurir o estudo do ISS em um pequeno
volume, convencido de que, nos dias atuais, os operadores do direito
não se dispõem a debruçar sobre tratados de direito.
Direito societário - série gvlaw - sociedades
anônimas
Autor: José Marcelo Martins Proença, Maria Eugênia Reis Finkelstein
Editora Saraiva - 1ª Edição - 342 páginas - R$ 61,00
A série GVLAW se insere no projeto de produção de pesquisa adotado
pelo programa de especialização e educação continuada da Direito GV.
O presente título cuida das sociedades anônimas e é coordenado por
Maria Eugênia Reis Finkelstein e José Marcelo Martins Proença.
Contratos empresariais - série gvlaw - fundamentos
e princípios dos contratos empresariais
Autor: Wanderley Fernandes
Editora Saraiva - 1ª Edição - 480 páginas - R$ 71,00
A partir do conteúdo das aulas dos cursos, busca-se a construção de
conhecimento que seja adequado a estudantes, advogados e demais
profissionais interessados, os quais têm sua atuação pautada pelas
novas demandas do mercado de trabalho globalizado. O presente título
cuida dos fundamentos e princípios dos contratos e é coordenado por
Wanderley Fernandes.
Jurisdição e Competência
Autor: Athos Gusmão Carneiro
Editora Saraiva - 15ª Edição - 408 páginas - R$ 89,00
Elaborada por especialista na matéria, esta obra parte do conceito de
jurisdição e examina a distinção entre ato jurisdicional e ato adminis-
trativo, as classificações da jurisdição, o contencioso administrativo, a
jurisdição voluntária, os limites da jurisdição civil e os substitutivos da
jurisdição.
Curso Sistematizado de Direito Processual Civil -
Vol. 1 - Teoria Geral do Direito Processual Civil
Autor: Cassios Carpinella Bueno
Editora Saraiva - 1ª Edição - 576 páginas - R$ 78,00
Este é o volume inaugural de uma coleção que propõe a construção do
direito processual civil. O objeto de estudo não se limita ao processo,
mas também se amplia na ótica do direito processual como um sistema
harmônico de regras e princípios previstos na Constituição Federal, na
legislação infraconstitucional e nos atos infralegais. O volume 1 dedica-
se a suprir a falta de uma “parte geral” no CPC.
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 O Consentimento Livre e Esclarecido na Cirurgia
Plástica
Autor: Patricia Panisa
RCS Editora – 1ª Edição – 214 páginas – R$ 28,00
No Brasil, que só perde em números de cirurgia plásticas para os Estados
Unidos, as relações éticas e jurídicas de responsabilidade civil e médica no
campo da estética estão tomando um novo rumo. Em sua tese, a advogada
cita casos famosos que fizeram para se transformar, como o cantor Michael
Jackson, vítima de um desvio de personalidade, cujo tratamento cirúrgico
e estético o deixou desfigurado, e o da atriz e cantora Cher, que, segundo
consta, chegou a reparar a raspar o osso da face em busca de juventude.
Como Postular nos Juizados Especiais Federais
Cíveis
Autor: Marcelo da Fonseca Guerreiro
Editora Impetus – 1ª edição – 321 páginas – 59,00
Além de abordar toda a doutrina necessária e juntar a jurisprudência
que cabia, o Dr. Marcelo da Fonseca Guerreiro deu à obra um conteúdo
eminentemente prático. Ao optar por indicar o modo de postulação nos
Juizados Especiais, logrou o autor atender não só à necessidade dos
magistrados e servidores, mas também de todos aqueles que militam nos
juizados especiais. A obra é de uma clareza ímpar e praticidade, sendo
excelente para estudantes, operadores e quaisquer interessados no tema.
Manual de Execução Civil
Autor: Walter Vechiato Júnior
Juarez de Oliveira - 1ª edição – 464 páginas – 69,00
A sociedade capitalista transpira obrigações de fazer, não fazer, entrega
de bem e pagar quantia em dinheiro, cuja satisfação pode ser voluntária
e forçada. A satisfação voluntária resolve o negócio jurídico. A satisfação
forçada determina ao credor a busca de apoio perante o Poder Judiciário;
demonstrada a obrigação certa, líquida e exigível, com revestimento de
título executivo extrajudicial ou judicial, a respectiva cobrança se efetiva
via execução autônoma ou cumprimento da sentença.
Justiça Itinerante
Autor: Marco Antonio Azkoul
Juarez de Oliveira - 1ª edição – 192 páginas – 28,50
Justiça Itinerante no seu sentido formal, objeto central desta tese, permite
que o magistrado se desloque até o local da demanda para proferir a sen-
tença ou acórdão, fora do fórum ou tribunal. Este trabalho foi inspirado e
criado também pelo autor que é Delegado de Polícia Itinerante.
Direito Eleitoral
Autor: José Jairo Gomes
Del Rey - 1ª edição – 496 páginas – 69,90
A obra trata do Direito Eleitoral. Essencial à concretização do regime
democrático de direito desenhado na Lei Fundamental, da sobera-
nia popular, da cidadania e dos direitos políticos, por esse ramo do
direito passam toda a organização e o desenvolvimento do certame
eleitoral, desde o alistamento e a formação do corpo de eleitores até a
proclamação dos resultados e a diplomação dos eleitos
Manual das Ações Constitucionais
Autor: Gregório Assagra de Almeida
Del Rey - - 1ª edição – 952 páginas – 138,00
A obra é objetiva e está dividida em cinco títulos, sem perder a dimen-
são científica: Ação Civil Pública e suas modalidades, Ação Popular,
Mandado de Segurança individual e coletivo, Mandado de injunção
individual e coletivo, e Controle da Constitucionalidade. Tem como
finalidade não somente dar informações ao leitor, mas também con-
tribuir para uma análise crítica em relação aos temas tratados.
Direito das Sucessões
Coordenadores: Giselda Maria F. N. Hironaka, Rodrigo da Cunha Pereira
Del Rey - 2ª edição – 512 páginas – 77,00
O livro reúne textos de importantes juristas da área do Direito das
Sucessões, levantandotemas de grande interesse da comunidade
jurídica. A obra supre uma lacuna, já que os assuntos relacionados
à sucessão causa mortis têm levantado dúvidas entre os operadores
do direito, principalmente em função das importantes alterações in-
troduzidas no ordenamento jurídico pelo Código Civil de 2002.
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DEONTOLOGIA JURÍDICA – Ética das Profissões
Jurídicas
Autor: Elcias Ferreira da Costa
Editora Forense - 2ª edição – 388 páginas – 75,00
Um livro sobre deontologia jurídica é sempre oportuno, sobretudo
quando direcionado para os futuros profissionais do Direito, que ainda
estão batalhando nas universidades pela conquista do grau de bachare-
lado. Nesta categoria está o livro “DEONTOLOGIA JURÍDICA –- Ética
das Profissões Jurídicas”, do professor Elcias Ferreira da Costa, com
mais uma nova edição, revista e aumentada.
Lições de Argumentação Jurídica – Da Teoria à
Prática
Organizadora: Néli Luiza Cavalieri Fetzner
Editora Forense - 1ª edição – 170 páginas – 49,00
Esta obra destina-se a todos aqueles que desejam, por meio da argu-
mentação jurídica, alcançar a adesão do auditório à sua tese. Para tal,
é importante que se compreenda em que contexto espacial e temporal
identificou-se a necessidade de uma Teoria da Argumentação.
Direito Internacional Privado
Autor: Amilcar de Castro
Editora Forense - 6ª edição – 564 páginas – 126,00
Esta edição significa o renovar da esperança de que o “Direito Inter-
nacional Privado”, verdadeiro clássico, revelador do pensamento e
das qualidades do Professor Amilcar de Castro, continue a exercer seu
papel nos bancos acadêmicos e no meio jurídico em geral.
Lições preliminares de direito processual civil -
processo de conhecimento
Autor: Fernando Jacques Onofrio
Editora Forense - 1ª edição – 210 páginas – 52,00
Dedicada especialmente aos iniciantes no estudo do Processo Civil,
o autor escreve, de maneira fácil e compreensível, sobre os temas
processuais. Sempre que possível, visando o sentido didático da obra
sem descuidar do aprofundamento doutrinário. O autor exemplifica os
institutos estudados com farta jurisprudência dos nossos tribunais.
Tratado de direito falimentar
Autor: Frederico A. Monte Simionato
Editora Forense - 1ª edição – 680 páginas – 169,00
O principal objetivo desse livro é fornecer uma introdução exaustiva
aos temas da recuperação judicial das empresas em crise econômica
e das falências. Na primeira parte do livro é analisada a disciplina da
recuperação judicial, seus princípios, estruturas e objetivos. Na segunda
parte cabe estudar o regramento jurídico das falências, levando em
consideração uma interpretação histórica e evolutiva dos institutos de
direito falimentar clássico.
Direito Constitucional
Autor: Geovany Cardoso Jeveaux
Editora Forense - 1ª edição – 398 páginas – 79,00
No presente livro, o leitor encontrará, na Parte I, os elementos históricos
que deram origem à chamada teoria constitucional, com base em três
marcos, desde o seu surgimento até os dias atuais: os direitos funda-
mentais, o Poder Constituinte e o controle de constitucionalidade.
Direito civil constitucional brasileiro
Autor: Nelson Nery Costa
Editora Forense - 1ª edição – 300 páginas – 79,00
A obra “Direito Civil Constitucional Brasileiro”, do ilustre e renomado
Professor Nelson Nery Costa, é o resultado da nova realidade do direito
no século XXI. Não tem mais validade a polaridade entre direito priva-
do e direito público, pois este passa a dispor sobre quase tudo, inclusive
as relações de família, espaço maior da individualidade.
45
I M O B I L I Á R I O
O envidraçamento das varandas nos condomínios edilícios
“O crescimento dos empreendimentos imobiliários com sacadas fomentou um assunto extremamente polêmico e delicado”
e na jurisprudência, que o envidra-
çamento das varandas, desde que
autorizado em assembléia, com pa-
dronização estética e estudo técnico,
não configura alteração de fachada.
Nesse sentido:
Condomínio - Fato
que não importa em
alteração da forma
externa da fachada -
"Não
inexistência de viola- tendências de mercado e na jurisprudência,
Márcio Rachkorsky ção da lei ou da con-
venção condominial que o envidraçamento das varandas,
- ação cominatória
O s novos empreendimentos
imobiliários, em sua esmagadora
improcedente - inte-
ligência do art. 628
do Código Civil.
desde que autorizado em assembléia, com
padronização estética e estudo técnico, não
maioria, contemplam apartamentos
O simples envidra-
com sacadas. Há quem as chame
çamento de um terraço
de varanda ou terraço. Especial-
não implica em altera-
mente nos grandes centros, morar
ção da forma externa da
num imóvel com ampla varanda
fachada que não obstante o acréscimo
é sinônimo de qualidade de vida.
decorrente dessa obra, se a conserva
As incorporadoras aproveitam a
imutável em suas linhas arquitetôni-
febre das sacadas e lançam empre-
cas. Nº 51.149 - Capital - 4º Câmara
endimentos com churrasqueiras,
Civil do TASP - Votação Unânime
fornos de pizza, pias e floreiras nas
O Supremo Tribunal Federal (Re-
varandas, que muito alavancam
vista Forense 128/458) entendeu que
as vendas. Projetos arquitetônicos
“não constituindo o envidraçamento
arrojados integram as sacadas com
das varandas inovação da forma exte-
as salas dos apartamentos, criando
rior do edifício, basta, para estabelecer
ambientes fantásticos.
o seu modelo, a decisão da maioria
O crescimento dos empreendi-
dos condôminos”
mentos imobiliários com sacadas
Recentemente, a Dra. Dinamara
fomentou um assunto extremamente
Silva Fernandes, autoridade em di-
polêmico e delicado, objeto de incan-
reito imobiliário, membro do Comitê
sáveis discussões nas assembléias
Jurídico da AABIC (Associação das
de condomínio, qual seja: O ENVI-
Administradoras de Bens, Imóveis e
DRAÇAMENTO DAS VARANDAS
Condomínios de São Paulo), nos pre-
CONFIGURA ALTERAÇÃO DE
senteou com brilhante parecer sobre
FACHADA?
o tema, mostrando que a questão não
Diante de convenções de con-
é meramente estética e merece grande
domínio completamente omissas
atenção, senão vejamos:
sobre o tema e posturas municipais
obscuras, os advogados ficam em “Há muito se questiona se o en-
maus lençóis nas assembléias, quan- vidraçamento de varandas altera
do questionados a opinar sobre o a fachada do edifício ou não.
assunto. Há moradores que, sem
Atualmente a jurisprudência, em
qualquer autorização da assembléia sua maioria, tem abrandado o ri-
geral ou do síndico, resolvem en- gorismo quanto a este tipo de obra,
vidraçar suas varandas, causando decidindo que o envidraçamento de
graves transtornos ao condomínio,
varandas, se respeitado o conjunto
que precisa até se socorrer de ação arquitetônico e que tenham caixi-
demolitória. lhos de mesmo padrão e, ainda, que
Não tenho dúvida em afirmar, sejam transparentes, não altera a
com base nas tendências de mercado fachada. No entanto, ainda existe
46
uma corrente minoritária, mais
formalista, que entende ser o en-
vidraçamento de varanda, caso de
alteração de fachada. Entretanto,
a matéria transborda a questão
da alteração da fachada, que não
tenho dúvida em afi rmar, com base
configura alteração de fachada."
é o único ponto de discussão a ser
analisado. Há duas legislações
específicas para ao caso, além
da convenção condominial, quais
sejam: uma que norteia o universo
condominial que era a Lei 4.591/64,
atualmente, regulado pelo Novo
Código Civil, e outra que é a Lei
de Postura Municipal, que, apesar
de dispor sobre toda e qualquer
obra no município, é alvo sempre
de esquecimento nas ações desta
natureza. Isto porque, o envidra-
çamento da varanda, não pode ser
visto somente sob o prisma da des-
caracterização da fachada, já que
este pode ser ultrapassado através
de consenso geral entre os con-
dôminos, em regular assembléia;
O que é esquecido dentro de um
condomínio, é que a varanda, nor-
malmente, não é computada como
área construída; Este é o ponto de
conflito, que gera irregularidade
e traz graves transtornos ao con-
domínio, já que o seu fechamento,
gera acréscimo de área e torna o
“habite-se” irregular, sendo que
a multa prevista na legislação
municipal é sobre o total da área
construída e não somente sobre a
parte irregular. Assim, antes de
se levar esta discussão, para uma
assembléia, o condomínio deverá
agir com prudência, consultando
um engenheiro nesta área, a fim
de que o mesmo verifique a planta
e faça cálculo para levantamento
do coeficiente de aproveitamento
do terreno bem como da taxa
de ocupação, de
acordo com zo-
neamento, pois,
nas normalmente, se
constrói 100% do
permitido o que
impediria qual-
quer aumento de
área construída;
Por isto a impor-
tância desta análi-
se antes da assem-
bléia, posto que se
houver aumento
de área e esta for
além do permitido, de acordo com
cada zoneamento da cidade, será
criado um problema seríssimo para
o condomínio. Neste caso, talvez
somente através de uma anistia e
com pagamento de outorga onero-
sa, que de acordo com a prefeitura
se traduz da seguinte forma: É a
contrapartida financeira cobrada
do proprietário da edificação pelo
excesso de área construída que
ultrapassar o coeficiente de apro-
veitamento na zona em que estiver
localizado, é que se pode tentar
regularizar uma situação desta
natureza. Por fim, ultrapassadas
todas estas etapas, há ainda pro-
vidências a serem tomadas junto
ao Cartório de Registro de Imóveis
competente, em razão de toda esta
alteração. Por isto a importância
da prudência e prevenção quando
se pensar em envidraçamento/fe-
chamento de varanda.”
Márcio Rachkorsky
Advogado, especialista pelo Centro de
Extensão Universitária, membro da Comissão
de Direito Imobiliário e Urbanístico da
OAB-SP, membro da equipe “Chame
o Síndico” do Fantástico - Rede Globo,
membro do Comitê Jurídico da AABIC,
articulista do Jornal do Síndico e da Revista
Em Condomínios, consultor do Portal do
Síndico, palestrante e conferencista.
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T R I B U T
As Vexatae quaestiones da dissolução irregular
“Há de se inquirir, de início, o que é dissolução irregular, que não se confunde com a desativação e nem com a continuidade formal.”
Mário Antonio Sussmann
A Constituição muitas vezes
assume princípios gerais de direito
e garantias individuais em estado
latente que as leis infraconstitucionais
fazem patentes.
O artigo 5º, XLV, da Constituição,
dispõe que a pena não passará da
pessoa do condenado e o dever de
reparar poder-se-á realizar até o limite
do patrimônio transferido.
O Código Penal, em vários de seus
artigos, prevê alguma forma privativa
de liberdade “e”/”ou” multa. No direi-
to tributário sancionatório encontram-
se multas que podem ser entendidas
como penas desde que o responsabi-
lizado seja pessoa física em razão de
sua conduta, posto que só ela é sujeita
à individualização nos termos consti-
tucionalmente previstos.
A Constituição, art. 5º, XLV, faz da
multa, no Direito Penal, expressão patente
da pena. Mas se a multa for aplicada
como pena decorrente da conduta de
responsabilidade tributária pessoal,
a individualização, até então latente,
deverá se expressar patente, e assim se
restabelece a isonomia constitucional..
Se não houve dissolução irregular
da empresa e se redireciona cobrança,
nenhuma lei estará sendo aplicada,
nenhuma jurisprudência estará sendo
seguida, pela simples inexistência do
fato atribuído.
Há de se inquirir, de início, o que
é dissolução irregular, que não se con-
funde com a desativação e nem com
a continuidade formal.
A dissolução é a baixa do registro
que é diacrônica, e não sincrônica,
com a desativação ou a paralisação da
atividade societária.
www. cartaforense. com. br
Á R I O
Para melhor compreensão de como formalmente, para e até se ultimarem que, entre os elencados no art. 135 do
desaparece a sociedade empresária as negociações pendentes, mas se obri- CTN, incluem-se até os empregados
convém lembrar como surge. gava a que ultimasse as negociações cujos atos não implicam na dissolução
A atividade empresária, mesmo pendentes – deve continuar a sociedade e sim na desativação da empresa
quando não formali-
zada, não é estranha
ao direito positivado
brasileiro. Sociedade “Se não houve dissolução irregular da empresa e se
irregular ou sociedade
de fato, nem por lhe redireciona cobrança, nenhuma lei estará sendo aplicada,
faltar o cumprimento nenhuma jurisprudência estará sendo seguida, pela
das exigências legais
de registro, escapam simples inexistência do fato atribuído.”
ao plano da existência,
produzindo efeitos
face a particulares e ao
setor público.
O artigo 987 do Código Civil admi- – para então se dar baixa no registro. O caput do artigo 135 do CTN, se
te que terceiros provem a existência Imagine-se a hipótese de que a pretendesse o “redirecionamento por
da sociedade irregular de qualquer empresa que se desativasse fosse automatismo”, seria formulado com
modo. vinculadamente dissolvida e esti- redação de onde se extraísse a norma:
A existência de fato da sociedade em- vesse como exeqüente em algum “quando a pessoa jurídica não quitar
presária, ou seja, que está em atividade processo. Eliminada – morta civil- o tributo devido, são pessoalmente
econômica, independente de registro, mente – o devedor escaparia pela responsáveis”, seguindo-se lista, com
implica na dicotomia atividade e cons- falta de credor. “benefício de ordem” ou não. Há de
tituição. Para liquidar as negociações pen- se recordar a parêmia Jura scripta
Em sentido inverso, que confirma dentes não se requer o mesmo en- vigilantibus: as leis foram escritas por
a dicotomia, a sociedade empresária dereço, mas que a representação aqueles que não são negligentes.
pode formalizar-se, constituir-se em da empresa seja conhecida. Através A individualização, contida na
registro, sem ainda iniciar as suas desta condição – ser localizável – tam- Constituição, vista ao reverso, é a
atividades. bém se estabelece o primeiro critério segurança de que nenhum estranho
Em conseqüência, na sua extinção, aceitável para caracterizar a dissolu- ao fato sofrerá pena, por conseguinte
também há dois momentos: o da para- ção irregular. Se a empresa e nem os afirmação da cidadania, de liberda-
lisação das suas atividades e o da sua sócios são localizáveis, então não há de, que não pode ser afastada pela
desformalização (ou baixa de registro) como resolver as negociações pendentes decisão essencialmente burocrática
dificilmente simultâneos. e se as negociações pendentes não mais que substitui a apuração da impu-
Uma empresa, tão-só porque para- podem ser resolvidas, a empresa, tação subjetiva pelo “redireciona-
lisa suas atividades, não se dissolve, além de desativada, perde a ratio de mento automático”, formulando
ela se desativa. sua existência formal. silogismo canhestro: a empresa foi
O revogado artigo 335 do Código O segundo critério é se as negocia- desativada; a empresa não teve
Comercial, sob cuja égide, aliás, estão ções pendentes não estão sendo resolvi- sua baixa (por não ter chegado o
inúmeros processos judiciais tribu- das por culpa ou impossibilidade da momento próprio); logo houve dis-
empresa com sobrevida formal porque
tários porque vigente à época do fato, solução irregular.
não estará cumprindo com a obrigação
fornecia indicativo precioso. Há de se zelar pelo cumprimento
de resolvê-las.
Depois de relacionar as hipóteses da lei, a segurança jurídica, posto
A impossibilidade de solucionar as
de desaparecimento da empresa dis-
negociações pendentes se resolve no que apenar por dissolução irregular
punha o referido dispositivo:
Judiciário, com o trânsito em julgado não-ocorrida, e o tema está longe
de se esgotar, é contrariar o ordena-
Em todos os casos deve continuar e aí parece procedente que o sócio,
mento, é esquecer que o Judiciário
a sociedade, somente para se ulti- administrador e demais elencados no
está a serviço do Direito e não da
marem as negociações pendentes, art. 135 do Código Tributário Nacio-
arrecadação.
procedendo-se à liquidação das nal tenham o ônus de provar que os
ultimadas. bens da empresa não se desviaram de
sua finalidade. Mário Antonio Sussmann
Tem-se aí não propriamente um Ainda assim, a despeito de a quem Advogado militante em Manaus-AM,
permissivo e sim o obrigatório. Não caiba o ônus da prova, se haverá de Professor e Conferencista em Direito
se permitia à sociedade continuar, apurar a imputação subjetiva posto Tributário.
47
C I V I L I I

O Código Civil e o desassossego da filiação

“Trata-se, particularmente, dos artigos 1.601 (que admite a imprescritibilidade para impugnar a paternidade) e 1.608 (que propicia a mãe refutar a maternidade provando
falsidade do termo do nascimento).”

paterno-filiais e materno-filiais, cir-

cunstâncias relativamente novas para
o cenário doutrinário, legislativo e
jurisprudencial no Brasil.
Afinal, como escreveu Rodrigo da
Cunha Pereira, presidente nacional
do IBDFAM, no prefácio de nossa
obra As intermitências da vida (edição
da Forense), esse tema, no ninho da
família, “descreve uma tragédia funda-
mental do humano, que é não-ter-pai,
ou deixar de ter um pai, deixar de ser
Luiz Edson Fachin filho”, acrescentando que isso “põe-
nos a pensar sobre as novas formas de
família que, na verdade, são variações

A família contemporânea no
Brasil recebeu a incidência plural e
promocional dos princípios cons-
titucionais, à luz dos quais se faz a
interpretação do novo Código Civil,
especialmente no que diz respeito ao
direito da filiação. Igualdade subs-
tancial, neutralidade designativa,
liberdade dos meios de produção de
prova, entre outras, são diretrizes vin-
culantes do intérprete e do julgador.
Nada obstante, tema relevante
tem instigado a reflexão. Trata-se,
particularmente, dos artigos 1.601
(que admite a imprescritibilidade
para impugnar a paternidade) e 1.608
(que propicia a mãe refutar a mater-
nidade provando falsidade do termo
do nascimento).
Sendo a pretensão negatória im-
prescindível e havendo a possibilida-
de de impugnar o assento da materni-
dade, resta possível um descendente
que não seja juridicamente filho. Daí
emerge, quando menos, um parado-
xos que põe em debate os limites e as
possibilidades dessas regras inseridas
no Código Civil brasileiro que podem
gerar o nascimento dos não-filhos, isto
é, de descendentes biológicos sem raiz
ascendente.
É certo que os “conflitos de pater-
nidade” já encontram caminhos de
solução nas técnicas em DNA, quando
cabíveis, e no valor jurídico da base
sócioafetiva da filiação, como admi-
tida implicitamente pelo art. 1.593
do Código Civil de 2002. Tais nós
são desatados na busca da definição
jurídica da paternidade (bem como da
maternidade), sem que haja, necessa-
riamente, uma verdade apriorística ou
pré-estabelecida.
Entretanto, as regras em comen-
to traduzem questões de conflitos
em torno de um mesmo e velho tema:
a estruturação do sujeito que se faz
através de seus vínculos afetivos”.
Esse não-sujeito chamou a atenção
até de José Saramago, grande escritor
português vencedor do Prêmio Novel
de Literatura, ao escrever As intermi-
tências da morte; ali narrou o surreal
desassossego com o fim da morte, e
naquele romance inseriu um apelo:
“Oxalá ainda estejamos a tempo de
salvar os avós”.
Esse desassossego acometeu agora
o estatuto jurídico da filiação. Antes,
na esteira do antigo Código Civil e
da jurisprudência já superada, era
a regra uma lei de interdição: não
podiam ser reconhecidos os filhos
extramatrimoniais; mais recentemen-
te, a jurisprudência mais atilada e a
doutrina contemporânea, na esteira
da principiologia constitucional,
acolheram a norma inclusiva para
propiciar o reconhecimento jurídico
de um imperativo humano e ético:
direitos substancialmente iguais sem
ofender o regime das diferenças.
A questão, todavia, na superação
do regime das causas determinadas e
dos prazos decadenciais exíguos para
impugnar a filiação, é que o novo Có-
digo Civil trouxe a imprescritibilidade
de tal pretensão negatória e mesmo da
impugnação da maternidade. Criou-
se, assim, uma espécie de suspensão
permanente nas relações jurídicas pa-
terno-filiais e materno-filiais.
Sem embargo de ser, necessaria-
mente, permeado pela vida e pela
força construtiva dos fatos, impende
reconhecer a necessidade de enfrentar
esse paradoxo jurídico dos descenden-
tes que não são filhos.
Essa migração dos filhos excluídos
por ilegitimidade para os não filhos nis-
so que vem se chamando de complexa
Divulgação
“Nada obstante, tema relevante tem instigado
a reflexão. Trata-se, particularmente, dos
artigos 1.601 (que admite a imprescritibilidade
para impugnar a paternidade) e 1.608
(que propicia a mãe refutar a maternidade
provando falsidade do termo do nascimento).”
pós-modernidade não pode conduzir à fissionais dessa área, e que conhecem
filiação por eleição ou escolha. bem seu cotidiano nada bucólico.
Liberdade e responsabilidade São aqueles que estão afeitos às
compõem um quadro de vertentes a condições intricadas desse dia-a-dia
serem necessariamente conjugadas que possivelmente sabem que tão-só
dentro de possibilidades e de limites. o sereno forense e fartura de sensibi-
A base dessas idéias está em que quem lidade, zelo, conhecimento técnico e
educa, num procedimento dialógico, aprofundamento teórico dão alguns
também se renova, reaviventando rastros para cultivar um belo sonho:
ideais e valores. colher o sentido da justiça para a ver-
Uma das grandes tarefas dos pro- dadeira filiação no caso concreto.
cessos de terminação do vínculo, quer
seja sócioafetivo, quer seja apenas Luiz Edson Fachin
formal para as uniões matrimoniali-
Procurador do Estado do Paraná; Professor
zadas, é evidenciar que se os pais se
Titular de Direito Civil da Faculdade de
separam, os pais não devem se separar
Direito da UFPR; Pontifícia Universidade
dos filhos.
Católica (PUC-PR), Mestre e Doutor em
Emerge daí um ingente e sensí- Direito das Relações Sociais pela PUC/SP
vel desafio para advogados, juízes, (Pontifícia Universidade Católica de São
promotores de Justiça, bem assim Paulo); pós-doutorado pelo Ministério das
assistentes sociais, psicólogos, psico- Relações Exteriores do Canadá. Autor de
terapeutas e outros importantes pro- diversas obras e artigos.

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E C O N Ô M
A Politização da Justiça e a Judicialização da Política (I)
“...Uma pesquisa baseada em uma amostra com 741 magistrados brasileiros, das justiças estadual, federal e do Trabalho revela que a maioria deles considera que as decisões
judiciais no Brasil são ocasionalmente baseadas mais nas visões políticas do juiz do que em uma leitura rigorosa da lei...”
Jairo Saddi
L ewis Caroll, em certa passa-
gem de Alice no País das Maravilhas
escreve: “Se você não assinou”, disse
o Rei, “apenas torna a situação pior
para você. Com certeza você estava fa-
zendo alguma coissa errada, senão teria
50
I C O
assinado seu nome como um homem
honesto.” Nada mais “anormal” do
que a situação de Alice – e anormal
em razão do ambiente esdrúxulo que
a cerca. Tudo é diferente e movido
por estranha lógica.
Uma das maiores anomalias ins-
titucionais vividas entre nós (a ima-
gem de ser culpado por uma omissão
ou algo que não fez, senão teria as-
sinado como um homem honesto) é
traduzida pelo que se conhece como
“ativismo judicial” ou a “ politização
da Justiça”. Por sua vez, C. N. Tate e
T. Vallinder formularam, a partir de
uma pesquisa empírica comparada
do Poder Judiciário em diferentes
países a expressão “judicialização da
política” e “politização da justiça”
como sendo por um lado, efeitos
do engrandecimento do Poder Ju-
diciário no processo decisório das
democracias contemporâneas, e
por outro, deixar a decisão judicial
influenciar-se por ideais difusos de
justiça. A politização da justiça é
francamente contrariar a letra da lei
com base em qualquer outro argu-
mento, enquanto a judicialização da
política é introduzir procedimentos
judiciais nos demais poderes (seja no
Poder Executivo, levando questões
de direito eleitoral e administrativo
aos Tribunais), seja no Legislati-
vo (como é o caso das Comissões
Parlamentares de Inquérito, com
amplos poderes de investigação). Os
métodos típicos da decisão judicial
na resolução de disputas e conflitos
necessitam, a priori de técnica e de
rigor interpretativo, respeito às leis
escritas e aprovadas pelo Legislativo
e qualquer ideologização ou politi-
zação (muitas vezes traduzida como
sendo a ‘livre convicção do juiz’) de
suas decisões é uma anomalia que
precisa ser discutida.
Uma pesquisa baseada em uma
amostra com 741 magistrados bra-
sileiros, das justiças estadual, fe-
deral e do Trabalho, realizada por
Armando Castelar Pinheiro, revela
que a maioria deles considera que as
decisões judiciais no Brasil são oca-
sionalmente baseadas mais nas vi-
sões políticas do juiz do que em uma
leitura rigorosa da lei, enquanto 20%
dos juizes acredita que isso ocorre
com freqüência e 4% que se trata
de um fenômeno muito freqüente.1
É nas decisões envolvendo a pri-
vatização de algumas companhias
públicas ocorridas entre 2000-2003
que a visão política do magistrado
influencia mais acentuadamente o
comportamento do juiz: de acordo
com 25% dos entrevistados, nesses
casos a “politização” das decisões é
muito freqüente, e para 31% deles é
algo freqüente.
Em disputas sobre a regulação
de serviços públicos e contratos de
trabalho e crédito, os magistrados
apontam que a tendência à politi-
zação das decisões judiciais é bem
mais freqüente do que sugerem os
números acima. Em outras pesqui-
1 Armando Castelar PINHEIRO. Judiciário, reforma
e economia: a visão dos magistrados. In: A. C. Pinheiro
(org.). Reforma do Judiciário: planos, propos-
tas e perspectivas. Rio : Booklink Publicações,
2003.
sas o tema ‘juros abusivos’ tem o
mesmo resultado.2
A “politização” das decisões ju-
diciais se observa igualmente na
tentativa de alguns magistrados
de proteger certos grupos sociais
vistos como a parte mais fraca nas
disputas levadas aos tribunais. Os
próprios magistrados costumam se
referir a esse posicionamento como
um reflexo do papel de promover
a justiça social que cabe aos juízes
desempenhar.3
Perguntados se, levados a optar entre
duas posições extremas – respeitar
sempre os contratos, independente-
mente de suas repercussões sociais,
ou tomar decisões que violem os
contratos, na busca da justiça social
–, uma larga maioria dos entre-
vistados (73,1%) respondeu que
optaria pela segunda alternativa.
Essa ampla maioria contrasta com
a proporção elevada, mas minori-
tária, de magistrados para os quais
“o compromisso com a justiça social
deve preponderar sobre a estrita
aplicação da lei”. 4 A proporção de
juízes que concordam com a se-
gunda opção (“o juiz tem um papel
social a cumprir, e a busca da justiça
social justifica decisões que violem
os contratos”) também varia confor-
me a área a que se refere a causa, e
é mais forte em disputas que envol-
vem direitos do consumidor, meio
ambiente e disputas trabalhistas
e previdenciárias. Voltaremos no
próximo artigo.
Jairo Saddi
Advogado. Doutor em Direito Econômico
(USP). Pós-Doutorado pela Universidade
de Oxford; Diretor do Ibmec
Direito – Ibmec São Paulo.
2 PINHEIRO. Armando Castelar. O componente
judicial dos spreads bancários. (Disponível em
www.bcb.gov.br)
3 Não se trata de um fenômeno exclusivamente
brasileiro. Vide, por exemplo, RAMSAY, Ian.
Consumer credit law. Distributive justice and welfare
state. Oxford Journal of Legal Studies vol 15,
2 summer 95, pág. 177-197
4 SADEK. Maria Tereza. A crise do Judiciário
vista pelos juízes: resultados da pesquisa
quantitativa. In: M. T. Sadek (org.). Uma
introdução ao estudo da Justiça. São Paulo :
Sumaré, 1995.
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F I L O S O
Sartre: “O inferno são os outros”
“O Filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), além das famosas obras filosóficas (“A Náusea”, “O Ser e o Nada”), escreveu romances, contos, peças
teatrais e atuou também como crítico literário”
Luciene Felix
N o artigo anterior, versando
sobre “A Morte de Ivan Ilitch”, cons-
tatamos que, dentre os riscos de se
deixar pautar por valores alheios está
o de viver uma vida destituída de
sentido pessoal. Ponderemos agora
como o ser humano, enredado pela
má fé, acaba por delegar a terceiros
a angustiante responsabilidade de
decidir sobre sua vida. Como piolhos,
viver pela cabeça dos outros pode
tornar nossa existência um inferno.
Mas afinal, quem são “os outros”?
O Filósofo existencialista francês
Jean-Paul Sartre (1905-1980), além
das famosas obras filosóficas (“A
Náusea”, “O Ser e o Nada”), escreveu
romances, contos, peças teatrais e
atuou também como crítico literário
e de artes. Seu trabalho não está
dissociado de sua biografia: órfão
de pai aos dois anos de idade, foi
prisioneiro dos nazistas durante a 2ª
guerra mundial e ativista militante.
Foi leitor voraz de Kierkegaard, Scho-
penhauer, Nietzsche, Espinosa, Ber-
gson, Stendhal, Hegel e de Husserl,
entre outros. Embora o cristão Sören
Kierkegaard (veja artigo já publicado:
www.esdc.com.br) seja considerado
precursor do existencialismo mo-
derno, o sartriano será ainda mais
radical, posto que ateu.
Até Sartre, considerava-se válida a
doutrina solipsista, ou seja, do que se
tinha consciência era do “eu” indivi-
dual e essa formava o que entendía-
mos por realidade. Mas ele irá afirmar
que antes mesmo de uma consciência
intencional há, de fato, uma espécie de
vazio, como se nossa consciência fosse
www. cartaforense. com. br
F I A
uma tábula rasa, uma folha de papel
em branco, um lugar onde repousa a
liberdade absoluta e de onde, a partir
daí, as escolhas serão conscientemente
apontadas.
Suponhamos que nossa consciência
seja uma espécie de “ser em si” (é o que
é) mas que ainda não é tudo. A toda re-
lação que essa consciência estabelecer
denominaremos “ser para si”. Logo,
a consciência está em branco, sempre
se lançando ao exterior (ser para si),
construindo “sua” realidade. Ela não
passa de um nada, não tem significado
até que alguma escolha seja feita.
Esse seria então o ser da consciên-
cia humana: um nada que se projeta
para se tornar algo: “A consciência
não é uma entidade “espiritual” pré-
concebida, mas uma intencionalida-
de que não é nada em si mesma, mas
que tem de formar-se com o mundo
no qual está”. Sartre surpreende,
ao afirmar: “a existência precede a
essência”, ou seja, não há essência
humana anterior a existência do
homem. Para ele, “O homem [exis-
te] primeiro e somente depois ele
“é” isto ou aquilo: é lançando-se no
mundo, sofrendo nele, lutando nele
que aos poucos ele se define, e a defi-
nição permanece sempre aberta”. Se
o homem se apresentou no mundo
sem ser concebido por algum pro-
jeto divino, cabe a ele produzir sua
própria essência, será o que fizer de
si mesmo. Eis o primeiro princípio
do existencialismo ateu.
Mas Sartre salienta que quando
nos abstemos da responsabilidade
por nossas escolhas, estamos agindo
segundo aquilo que denominou “má
fé” da consciência, ou seja, estamos nos
isentando de atentar para a liberdade
que temos à nossa inteira disposição,
de graça. A má fé consiste em fingir-
mos não ser livres e podermos então,
debitar nossa infelicidade ou fracasso
à causas externas a nós (os pais, o
“inconsciente freudiano”, o ambiente,
a personalidade indômita etc). Sartre
chama isso de covardia. Não sendo
livres para deixar de ser livres, estamos
pois “condenados à liberdade”.
Esse “ser”, construído através
daquilo que se escolhe (até mesmo
quando não se escolhe já está se esco-
lhendo) pode ser explicitado também
através da relação com os outros.
Essa relação se dá pela experiência
do olhar, do corpo. O olhar do outro
me objetiva, me torna real. O outro
atesta minha existência e isso instiga
e inquieta. Desencadeia uma crise de
aceitação pois só desejo ver refletido
no outro o melhor de mim mesmo.
Porém, o outro enxerga mais do que
gostaríamos, desconhece nossas mo-
tivações interiores.
Na peça teatral “Entre quatro pare-
des” (1944), Sartre pondera-se sobre
a questão da imagem e ilustra suas
idéias filosóficas. A fenomenologia
do Outro e do “ser para outro” foi um
dos mais bem acabados pensamentos
de Sartre. A dialética humana de “ser
um com o outro” é central: ver e ser
visto corresponde a dominar e a ser
dominado.
Após morrer, três indivíduos vão
parar no inferno (não se trata do
estereotipado inferno cristão,com
diabinhos, fornalhas etc.). Garcin, era
um homem de letras. Pretendia ser
um herói e foi um covarde. Seu maior
tormento é que suas novas compa-
nheiras desvendam sua condição de
covardia, que não pode ser mudada.
É em vão que luta para fugir da pecha
de covarde.
Estelle é uma fútil burguesa que
ascendeu socialmente pelo casamento.
Em nome do conforto, assassinou o
bebê que teve com o amante e vê este,
tomado pelo desgosto, suicidar-se.
Tenta redimir-se atribuindo sua cul-
pa ao destino. Deseja a paixão como
forma de escapar à realidade.
Inês é homossexual, funcionária
dos correios, agressiva, admite suas
culpas. É a única que não procura se
desculpar e compreende estar no in-
ferno. O ódio a alimenta; sádica, goza
com o sofrimento dos outros.
Não foram parar no inferno a toa:
cada um responde por um crime. Estão
confinados numa sala, sem espelhos,
sem necessidade de se alimentar ou
de dormir, por toda eternidade. São
obrigados a se ver através dos olhos
dos outros; olhos esses que não teriam
sido os escolhidos para se conviver.
Vaidosa e egoísta, é patético o deses-
pero de Estelle por um espelho. Inês
arregala os olhos para que ela possa
se enxergar: ela se vê, tão pequenina...
Tudo isso os incomoda bastante, pois
não conseguem enganar uns aos outros
por muito tempo e, aos poucos vão se
constrangendo cada vez mais.
Inês tentará conquistar Estelle, que
a repudiará. Estelle, por sua vez, bus-
cará a paixão de Garcin, que a ignora.
Inês, interessada em Estelle, jogará um
contra o outro, explicitando as faltas
deploráveis de ambos; faltas essas
que nenhum quer admitir. Numa
convivência insuportável, Estelle,
revoltada, tenta matar Inês, mas ela
dá boas gargalhadas: já está morta.
Garcin tenta, inutilmente, convencê-
la de que não é um covarde. Não
conseguindo, tenta se vingar amando
Estelle diante de Inês.
Sem que possam sequer expiar
suas faltas, descobrem o horror da
nudez psíquica que os outros lhes
evidenciam. Está revelado o verda-
deiro inferno: a consciência não pode
furtar-se a enfrentar outra consciência
que a denuncia, por isso: “o inferno
são os outros”.
“Os Outros” são todos aqueles
que, voluntária ou involuntariamen-
te, revelam de nós a nós mesmos.
Algumas vezes, mesmo sufocados
pela indesejada presença do outro,
tememos magoar, romper, ferir e, a
contra-gosto, os suportamos. Uma vez
que a incapacidade de compreender
e aceitar as fraquezas humanas torna
a convivência realmente um inferno,
o angustiante existencialismo ateu
sartriano não nos deixa saída. Sem
o mínimo de boa-vontade, não há
paraíso possível.
Luciene Felix
Professora de Filosofia e de Mitologia
Greco-Romana da Escola Superior de Direito
Constitucional – www.esdc.com.br
email: mitologia@esdc.com.br
Saiba mais:
Entre quatro paredes – Jean-Paul
Sartre. Tradução: Alcione Araújo e
Pedro Hussak. 3ª ed. - Rio de Janeiro:
Editora Civilização Brasileira, 2007.
51
R E P O R T
Mendigos, Prostitutas, Meninos de Rua,
Flanelinhas, Leprosos e Idosos abandonados
são perseguidos por Delegado de Polícia
A manchete acima faria o leitor
pensar indignado: Será que um dele-
gado não tem mais o que fazer do que
perseguir esta gente necessitada? Que
absurdo! Seria mesmo um absurdo, se
nesta perseguição, não estivesse pre-
sente duas peculiaridades, o delegado
os persegue para dar assistência e
assistindo-os está fazendo a segurança
de base, a primária, a preventiva.
Esta atividade policial nada comum
é fruto da iniciativa de Marco Antonio
Azkoul, delegado de polícia do Esta-
do de São Paulo e Doutor em Direito
Constitucional pela PUC/SP, que
com seu escrivão, Luiz Antônio Mace-
do Neto, percorrem desde as avenidas
mais movimentadas até os lugares
mais ermos da capital paulista.
Através de uma abordagem silencio-
sa e discreta o delegado se aproxima,
estabelece uma relação de confiança,
amizade e ajuda trazer esta camada
social para um caminho de dignidade,
auto-estima e, sobretudo, cidadania.
Acostumadas a ter outra visão do que
é a polícia, inicialmente, estas pessoas
sem oportunidade ficam melindradas
de escutar e confiar, no entanto, esta-
belecida a ponte, o delegado trabalha
em dois vetores importantíssimos para
segurança pública:
1ª - Prevenção: Ajudando a pessoa
necessitada, sobretudo, em situações
emergenciais, onde o desespero pode-
ria ser a primeira faísca para o crime,
a ação repele a violência atual através
de esperança e atenção e ajuda evitar
a violência futura, já que se estabelece
mais oportunidades para o atendido.
2ª - Inteligência: Através dos relatos
daqueles que vivem avizinhados à
criminalidade, obtem-se informações
acerca da dinâmica de algumas ações
criminosas, incluindo a dos agentes pú-
blicos que não cumprem seu papel.
Quem é atendido pela iniciativa
está realmente vivendo às margens
da sociedade, sem norte e referências,
isento de quaisquer direitos funda-
mentais que teoricamente são garan-
tidos pela “Constituição Cidadã”.
Embora existam programas de mu-
tirões com equipes interdisciplinares
e viaturas próprias, muitas vezes não
52
A G E M
há condições de se esperar, por isto
Dr. Azkoul com seu escrivão sai pelas
ruas, em um carro comum, atendendo
estes casos de efetiva emergência.
Os serviços prestados são os mais
diversos (veja no quadro), que vão
desde a documentação individual do
cidadão até mediação no caso de vio-
lência doméstica. Neste último caso,
procura-se identificar o foco do proble-
ma e interceder para auxiliar a família,
sobretudo, nas situações que o pai tem
problemas com alcoolismo somados
ao desemprego (casos mais comuns).
Assim afirma o delegado: “ – Na casa
que não tem pão, todos choram, todos
brigam sem razão”. Depois da devida
orientação e da composição amigável
do casal é expedido um Termo de
Bem Viver e Composição Amigável.
Segundo ele: “Isto faz o casal ficar mais
comprometido um com o outro, forta-
lecendo a célula social, a família”.
É impossível arrolar todos os ser-
viços prestados, pois muitas vezes
encontramos dificuldades para nomen-
claturá-los. Para se ter idéia, em uma
certa ocasião, um senhor humilde e sem
instrução teve sua pensão suspensa pelo
INSS, por tal órgão desconfiar que o
mesmo estivesse morto. O senhor ficou
o dia todo gritando na frente da insti-
tuição “Eu estou vivo, eu estou vivo”,
e não foi ouvido, sendo necessário que
o delegado itinerante lá comparece e
emitisse um “Atestado de Vida”
Quando Dr. Azkoul fala que é de-
legado e veio para ajudar, a primeira
reação deles é perguntar: - Porque
o senhor esta fazendo isto? Ele res-
ponde: “- Porque estou a seu serviço,
este é meu trabalho, estou aqui para
serví-los.” Neste momento, é possível
notar que a pessoa se sente protegida,
importante, bem quista e esperançosa.
O escrivão Luiz, sempre com um largo
sorriso no rosto e com toda simpatia,
tem o dom de deixar estas pessoas, na
maioria das vezes sem nenhuma ins-
trução, à vontade diante dos papéis.
“É importante a polícia repressiva
sim, mas não podemos deixar de ve-
rificar quão positivo são os resultados
da intervenção primária, da polícia
comunitária” afirma o delegado que saí
oficiando instituições estatais para fa-
cilitar um pouco a vida destas pessoas.
Dentre seus ofícios sem precedentes,
um surtiu efeito inimaginável. Re-
querendo tarifa social de água para
6.000 famílias que vivem no Conjunto
Habitacional da Vila Brasilândia -
CDHU, conseguiu beneficiar estas e
a promessa da SABESP (Cia de Água
e Saneamento Básico do Est. de São
Paulo) que todas as famílias do CDHU
terão o mesmo benefício.
Muitas das pessoas que são atendi-
das se mostram incrédulas se os ofícios,
certidões e atestados repercutirão,
já que estão cansadas de serem mal
atendidas pelo poder público, onde
muitos servidores, quase sempre, pe-
dem para esta gente voltar daqui um
mês, e assim por diante, e o problema
nunca é resolvido. Nestas situações,
Dr. Azkoul dá seu cartão, e afirma: “Se
não te atenderem, fala para pessoa que
você tem um amigo que é delegado,
ROL DE SERVIÇOS PRESTADOS
• Documentos Individuais ( RG, CPF,
Certidão de Nascimento)
• Certidão de Antecedentes Criminais
• Pedido de tarifação mínima para Água/Luz
• Casamento Civil
• Emissão de Atestado de Pobreza
• Declaração de Posse através de oitiva de
testemunhas “in loco”
• Auxílio Funeral
• Renda Vitalícia do Idoso e Deficiente – LOAS
• Orientação de Direitos e Deveres
• Atestado de Idoniedade e Funcionamento
de Entidade Filantrópica.
que eu vou abrir um inquérito con-
tra ela, mostra o meu cartão. Se não
adiantar, liga para mim, pois agora
você tem um pistolão”. Pois é, agora
pobre também tem pistolão, dentro
da legalidade, cumprindo seu papel
e recebendo para isto. As pessoas se
sentem bem, importantes e ganham
forças para lutarem pelos seus direitos
e restabelecerem sua cidadania.
Da experiência prática surgiu
uma tese acadêmica que rendeu a
aprovação com louvor na banca de
doutorado da PUC/SP e virou o livro
JUSTIÇA ITINERANTE, publicado
pela Editora Juarez de Oliveira.
Diante das ações do Dr. Azkoul,
antes de publicarmos essa matéria
indagamos se ele tinha pretensões
políticas e sua afirmação foi: - Não!
Portanto, como é próprio da nossa
linha editorial nosso interesse foi
demonstrar o exemplo de ação que
promove a justiça.
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Dia 17 de Janeiro de 2008 – Cidade de São Paulo/ Região Oeste
Para que esta matéria não fosse redigida somente através de relatos, acompanhamos o Dr. Azkoul e seu escrivão, Luiz, numa de suas jornadas diárias e descreveremos passo a
passo todas ações:
14:00 - Nos encontramos no posto de atendimento
do Parque da Água Branca, entramos num carro
comum que serviu como viatura e saímos para o
que eles chamam de “pesca”.
14:22 - No farol do cruzamento da Avenida Hen-
rique Schaumann com a Rua Teodoro Sampaio é
identificado um grupo de limpadores de vidros de
carros que já estavam sendo observados.
A “Pesca” – procurado grupo de pessoas
carentes.
14:30 - Luiz, o escrivão estacionou o carro perto
do cruzamento, enquanto Dr. Azkoul foi fazer a
abordagem. Para não tumultuar neste momento
não tiramos nenhuma foto.
14:35 - O Grupo junto com Dr. Azkoul se aproxima
do carro, há vários rapazes, a maioria maiores de
idade, duas moças gestantes e uma senhora.
14:40/16:50 - O escrivão tira formulários do
porta mala e começa a preenchê-los de acordo
com as determinações do delegado. As pessoas
se agrupam e começam a expor seus problemas.
Logo percebemos que falta de documentação dos
maiores e de seus filhos é generalizada. A maioria
não tem RG e muitos nem certidão de nascimento.
Atestados de Pobreza são expedidos aos montes
para que eles possam tirar seus documentos sem
qualquer custo.
Durante o atendimento, chegou uma senhora, mi-
grante de Itambé-Ba, 66 anos, vendedora de balas
no farol, afirmou ter que fazer aquilo para sobre-
viver, pois era viúva e não recebia pensão, nem
Dr. Azkoul orienta gestante para receber
atendimento médico e fazer pré-natal e entrega
documento.
www. cartaforense. com. br
Escrivão Luiz começa a preencher algumas
das requisições usando o porta malas do carro
como escrivaninha.
Pessoas fazem filas para serem atendidas.
aposentaria própria. Ela teve seu requerimento
de Renda Vitalícia do Idoso e Deficiente – LOAS
preenchido na hora e recebeu toda a instrução de
como proceder. Não tardou para que uma das
moças gestantes perguntasse ao Dr. Azkoul se sua
mãe teria direito também ao LOAS, já que é porta-
dora de HIV. Quando indagada se sua mãe estava
próxima, ela afirmou que sim, então foi pedido que
a senhora compareça ao local. A senhora aparece
mostrando ao delegado os papéis que comprovam
sua situação e recebe o mesmo encaminhamento
que a Dona Maria.
Um jovem se aproxima fala alguma coisa para o
delegado e partimos rumo à casa do rapaz.
É explicado o procedimento para registrarem
seus filhos e emitido Atestado de Pobreza para
isentá-los dos custos.
Dona Maria de Jesus, 66, mostra carteira de
trabalho e recebe orientação e formulário
preenchido do LOAS.
17:10/18:50 - Nas proximidades do cruzamento
onde estávamos, verificamos um grande imóvel,
de três andares, onde vivem aproximadamente
13 famílias, a grande maioria deles sem traba-
lho formal, tendo como fonte de rendimento
atividades como de flanelinhas, limpadores e
vendedores nos semáforos, catadores de sucata
e papelão, dentre as mulheres havia domésticas,
cozinheiras e acompanhante de idosos. Há quatro
anos estas famílias invadiram este pequeno pré-
dio, a vizinhança fez uma grande pressão para
que fossem expulsos, no entanto, sem a oposição
aparente dos herdeiros do verdadeiro proprietá-
rio, continuaram estabelecidos. Ao chegarmos o
rapaz nos levou em direção à uma senhora, Dr.
Azkoul explicou que estava lá para verificar se
precisavam de algo e para servi-los. Em princípio
todos estavam desconfiados, imaginavam que
tratava-se de mais um agente público tentan-
do expulsá-los ou puní-los de alguma forma.
Vencido a barreira do medo, logo chegaram os
primeiros “cafezinhos” servidos em vidros de
maionese. Outra senhora se aproximou e atrás
da porta, crianças curiosas observavam o que o
senhor engravatado explicava. Verificou-se que
todas as famílias que lá viviam dividiam o alto
IPTU cobrado do imóvel, justamente para não ir
para leilão. De pronto, foi providenciado atestado
de pobreza para documentação das famílias, ofí-
cio requerendo tarifa social para água e luz, bem
como, isenção do Imposto Predial. No dia seguin-
te, o delegado com o escrivão lá compareceram
para encaminhar outras providências.
Este espaço é reservado para divulgar
iniciativas para melhoria e efetividade
da justiça promovidas por pessoas físi-
cas, pessoas jurídicas de direito privado
e público. Esperamos seu testemunho.
53
P R O C E S
Ponderações Críticas sobre os Juizados Especiais Cíveis
“Os poderes instrutórios do juiz, existentes no procedimento comum, devem ser ampliados e devidamente utilizados no sistema da Lei 9.099/95.”
Fabrício Castagna Lunardi
O s Juizados Especiais Cíveis,
também conhecidos como “Juizados de
Pequenas Causas”, foram criados pela Lei
9.099/95, a qual previu um procedimento
mais rápido e informal, com a concentração
de atos processuais em audiência, priori-
zando a oralidade. Instituía também que a
pessoa física poderia, sem advogado, pro-
por demandas de baixo valor econômico
nessa Justiça especializada. Representava,
assim, um instrumento para se romper com
o paradigma formalista de processo civil.
Como ocorre com todas as leis de forte
cunho ideológico, a Lei dos Juizados, no li-
miar da sua publicação, foi objeto de mui-
tos debates teóricos, sobretudo em relação
aos seus princípios e às peculiariedades
do novo procedimento que insculpia. No
entanto, se, por um lado, despertava forte
oposição no meio jurídico, por outro, havia
grande euforia no seio social. Hodierna-
mente, no entanto, já se pode fazer uma
análise concreta da sua eficácia social e do
alcance de suas instituições.
Editada com o escopo de dar efetivida-
de ao Princípio Constitucional do Acesso
à Justiça (art. 5º, inc. XXXV, Constituição
Federal), bem como proporcionar uma
resposta célere e eficaz aos conflitos, a Lei
dos Juizados Especiais abarcava ideais
de gratuidade e de brevidade das fases
processuais, tendo por características
principais a isenção de custas judiciais em
primeira instância, a ênfase na tentativa de
conciliação, a possibilidade de postulação
pessoal pela parte, sem representação
por advogado, e a adoção dos princípios
da oralidade e da concentração de atos
processuais. Com base nesses instrumen-
tos, era propalado o objetivo de reduzir
a enorme quantidade de processos que
tramitavam na Justiça Comum e que
haviam crescido assustadoramente nas
últimas décadas.
Era inegável que a sua implementação,
mesmo que somente para o processamen-
to de causas cíveis de baixo valor e menor
complexidade, representava a esperança
54
S O
"As críticas dirigidas aos Juizados Especiais
em razão da dispensa de advogado e da
extrema brevidade do processo, sem alguns
atos processuais do procedimento ordinário,
foram, sem dúvida, os principais emblemas
de seus opositores."
de um tratamento desburocratizado e de
uma célere prestação da tutela jurisdicio-
nal. Essa era uma necessidade premente
ante a desoladora crise do Judiciário.
As críticas dirigidas aos Juizados Espe-
ciais em razão da dispensa de advogado
e da extrema brevidade do processo, sem
alguns atos processuais do procedimento
ordinário, foram, sem dúvida, os princi-
pais emblemas de seus opositores.
A desnecessidade de representação por
advogado, com efeito, suscitou grande
celeuma jurídica, uma vez que, aparente-
mente, consagrava uma violação à previ-
são constitucional de representação obri-
gatória por advogado (art. 133 da CF). No
entanto, tal controvérsia restou superada
pelos Tribunais Superiores, estando hoje
pacificado que é constitucional a possibi-
lidade de postulação pessoal no JEC.
Tal entendimento atendeu mais efi-
cazmente aos preceitos dos Juizados,
previstos, inclusive, no texto constitucio-
nal (art. 24, inc. X, e art. 98, inc. I, ambos
da CF). Não se atingiriam os objetivos
da Lei 9.099/95 caso a possibilidade de
ajuizamento de ações ficasse atrelada à
representação por advogado, tão onerosa
para os cidadãos de baixa renda. O diplo-
ma legal referido tinha como essência a
gratuidade da prestação jurisdicional, não
podendo olvidar-se dela.
A questão, entretanto, também merece
ser analisada à luz do princípio constitu-
cional da ampla defesa (art. 5º, inc. LV, da
CF). Nesse tocante, não há como negar que
a ausência de um profissional habilitado
pode representar sério cerceamento de
defesa, prejudicando a parte desassistida,
para quem a carência de defesa técnica
implica, muitas vezes, tornar praticamente
inócuo o exercício do direito de ação. As
pessoas nem sempre conhecem os seus
direitos ou não sabem qual o exato pro-
cedimento para seu exercício. A título de
exemplo, quando um consumidor é co-
brado de forma indevida, usualmente não
tem ciência do direito de ver-se ressarcido
em dobro. Diante da regra de que o juiz
deve adstringir-se ao pedido, não poden-
do afastar-se do mesmo, sob pena de nuli-
dade da sentença, é incontestável que, se o
atendente cartorário não propiciar à parte
tal esclarecimento, perderá esta o proveito
que lhe confere a lei material (no exemplo,
o art. 42, parágrafo único, do Código de
Defesa do Consumidor).
Em casos como esse, cumpre aos juízes
e aos atendentes cartorários atuarem positi-
vamente, no sentido de proporcionar que as
partes tenham os seus direitos processuais e
materiais atendidos. Os poderes instrutórios
do juiz, existentes no procedimento comum,
devem ser ampliados e devidamente utiliza-
dos no sistema da Lei 9.099/95. Tal medida,
embora implique leniência ao princípio dis-
positivo, beneficia em muito a efetividade e
a justiça dos julgados.
Logo, a não-obrigatoriedade de re-
presentação por advogado nos Juizados
Especiais oscila entre a desconstituição
de óbices ao acesso à Justiça e o prejuízo
à ampla defesa. Há de prevalecer, por
óbvio, a gratuidade, característica funda-
mental dessa Justiça Especializada, que,
insofismavelmente, não se coaduna com a
exigibilidade de contratação de advogado.
As deficiências que possam advir em de-
corrência da falta de defesa técnica podem
ser mitigadas se atendentes cartorários,
juízes leigos e togados, conciliadores e
oficiais de justiça utilizarem-se de seus
conhecimentos técnicos específicos para
auxiliarem as partes a transitar pelos cami-
nhos processuais com desenvoltura.
Também são temas que suscitam
discussão o papel dos conciliadores nas
audiências de tentativa de acordo e a
brevidade do procedimento sumaríssimo
dos Juizados. Há um sensível impulso
para que se fomente a obtenção de con-
ciliações. Dessa forma, devido, muitas
vezes, à insistência dos conciliadores na
composição do litígio pela transação, com
o objetivo de instantânea solução da lide,
existe significativo índice de conflitos que
são resolvidos por intermédio das concilia-
ções sem que a parte tenha a sua pretensão
adequadamente apreciada pelo Judiciário.
Os acordos podem dar causa à insatisfação
e ao sentimento de injustiça, se realizados
a contragosto das partes.
Ademais, não raras vezes a sumarie-
dade desse procedimento, caracterizado
pela concentração das fases processuais e
pela ausência de alguns atos processuais
que existem no ordinário, impede que a
parte demonstre o seu direito. Eis o ponto
sensível da questão. Erroneamente, tem-
se confundido celeridade processual com
efetividade. Porém, são conceitos disso-
ciados e que não podem ser imiscuídos
numa superficial análise do quantitativo
de processos que são definitivamente re-
solvidos em determinado período.
A maioria dos objetivos da Lei 9.099,
no entanto, teve uma significação prag-
mática relevante, visto que se estendeu
efetivamente a Justiça a todas as camadas
sociais. A gratuidade e a não-obrigato-
riedade de representação por advogado
possibilitaram a busca efetiva da tutela
jurisdicional do Estado, proporcionando
às partes obter uma resposta definitiva e
com força coercitiva através de um proce-
dimento judicial contencioso.
De outro lado, a celeridade do proce-
dimento sumaríssimo não se firmou har-
moniosamente com a ampla defesa. Isso
se observa mais claramente à medida que
muitos atos que integram o rito ordinário
foram suprimidos e que a falta de defesa
técnica constitui-se num déficit para a am-
pla defesa. Desse modo, em razão de as pes-
soas de baixa renda não terem condições
para constituir advogado, não se realizou
o escopo de proporcionar Justiça de forma
igualitária, com paridade de armas.
A solução para esse impasse reside,
então, no material humano que corpo-
rifica os Juizados. Não está na lei ou em
qualquer outro instrumento jurídico,
senão na capacidade e na boa vontade
daqueles que, todos os dias, saem de
casa para tornar possíveis os ideais da
lei. Embora se reconheça que o sistema
dos Juizados não é infenso a críticas, ob-
serva-se que a aclamação pelas camadas
populares mais pobres e pelas organiza-
ções de defesa dos consumidores foi bem
mais significativa.
Portanto, na atual fase de desenvol-
vimento dos Juizados Especiais Cíveis, é
possível aferir os resultados práticos da
experiência e afirmar, agora com critérios
bem mais empíricos que ideológicos, que
os seus objetivos precípuos foram efetiva-
mente atingidos.
Fabrício Castagna Lunardi
Advogado da União. Especialista em
Direito Civil pela Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM), e, Professor
universitário no Estado do Rio Grande do
Sul. Representante da Escola da Advocacia-
Geral da União na Região Sul.
www. cartaforense. com. br
H I S T Ó R
A Polícia Civil na História e no Brasil
“A Polícia, como instituição, nasce como uma necessidade social e de forma paralela ao desenvolvimento da sociedade humana”
José Fabio Rodrigues Maciel
A Polícia, tanto a Civil como a Mi-
litar, estão sob a égide do Poder Executivo
dos Estados-membros que compõem a
República Federativa do Brasil. Apesar de
ser fundamental para a concretização da
Justiça, não pertence ao Poder Judiciário,
fato que a torna importante elo que garan-
te a harmônica divisão de poderes estabe-
lecida em nossa Constituição Federal. A
Polícia, como instituição, nasce como uma
necessidade social e de forma paralela ao
desenvolvimento da sociedade humana e,
como no caso desta, não é possível apontar
uma data para seu surgimento. Já o termo
“polícia” tem sua origem na palavra “po-
lis”, sendo que esta designava, na Grécia
antiga, principalmente o que entendemos
hoje por cidade. Usavam “politeia”, que
derivou para o latim “politia”, ambos
com o mesmo significado, ou seja, gover-
no de uma cidade, administração, forma
de governo. Com o passar dos tempos o
termo “polícia” ganhou conotação mais
restrita, representando a ação do governo
enquanto exerce sua missão de garantia da
ordem jurídica, assegurando a tranqüili-
dade pública e a proteção da sociedade
www. cartaforense. com. br
I A D O
e dos indivíduos em face daqueles que
desrespeitam o consenso social.
Historicamente vários documentos
bem antigos demonstram a existência de
algo similar, como pode ser atestado pelos
povos egípcios e hebreus, que incluíam
medidas policiais em suas legislações.
Também os romanos tinham instituições
semelhantes, mas somente na época do
Império, que se inicia em 27 a.C., que ad-
quiriu organização de fato. Foi criado em
Roma um chefe de polícia denominado
Edil, que possuía soberania para decidir
sobre seus próprios atos. A partir de então,
principalmente com a invasão dos povos
bárbaros e o retorno das populações ao
campo, a instituição sofreu regressão, até
surgir o sistema anglo-saxão de organi-
zação policial, na Inglaterra do final do
século XVII, que possui muita semelhança
com o nosso atual sistema policial, caracte-
rizado pela função de força pública.
Já na história de Portugal a polícia
como força pública remonta ao período
medieval, sendo essa tradição encampada
pelo Brasil Colônia, que iria posteriormente
sofrer influência do sistema inglês na sua
organização. No Brasil houve duas fases de
administração, a dos donatários, até 1549,
em que o ato de legislar, julgar e punir
estava nas mãos dos donatários, e a dos
Governadores-Gerais, de 1549 a 1767, com
aplicação principalmente das Ordenações
Filipinas, em que os serviços policiais eram
exercidos por alcaides e almotacés, passí-
veis de serem fiscalizados pelos Juízes de
Fora. Posteriormente foi criado o cargo de
Quadrilheiro, que possuía o apoio de vinte
homens para manter a ordem.
A instituição policial brasileira nasce,
portanto, com a colonização portuguesa e,
para identificarem-se, os serviços policiais
utilizavam as cores de Portugal, ora com
predominância do verde, ora do vermelho,
mas sempre em caráter civil. Portanto,
durante a colonização, a segurança das
D I R E I T
cidades, das vilas e da área rural era pro-
vida pelos Alcaides (oficiais de justiça),
auxiliados pelos Quadrilheiros e Capitães-
do-mato, todos escolhidos dentre cidadãos
civis. Apenas em 16 de janeiro de 1760 que
o Rei de Portugal, Dom José I, criou o cargo
de Intendente Geral de Policia da Corte e do
Reino, com amplos poderes e jurisdição ili-
mitada, cujo objetivo era garantir a ordem,
a segurança e a paz pública, perdurando
tal sistema até a chegada de D. João VI ao
Brasil, no início de 1808. Com a publicação
do Alvará Régio de 10 de maio de 1808 foi
criada a Intendência Geral de Polícia do
Estado do Brasil, com um delegado em
cada Província, ocupada pela primeira
vez pelo Desembargador Paulo Fernandes
Viana, também Ouvidor da Corte, incum-
bido, imediatamente, de criar suas diversas
seções do serviço policial. Organizou-se a
Polícia da seguinte forma: um funcionário
de nível superior, encarregado de fiscalizar
teatros e diversões públicas; um funcioná-
rio encarregado do registro de veículos,
embarcações e fretes; outro encarregado de
passaporte e fiscalização de estrangeiros;
um praticante; um alcaide, responsável
pela investigação criminal; um escrivão e
dez mineirinhos, que agiam como agente
auxiliar dos serviços cartorários.
Com a independência do Brasil foi
outorgada a Constituição do Império,
em 1824. Curioso que nessa Carta o tema
segurança pública não foi devidamente
contemplado, sendo delegado às Assem-
bléias Legislativas Provinciais a compe-
tência para legislar sobre polícia. Uma
Lei de 1827 conferiu aos Juízes de Paz,
que eram normalmente civis e leigos, as
atribuições policiais nas freguesias e nas
capelas curadas. Já o Código de Processo
Criminal, de 1832, outorgou à polícia uma
organização descentralizada, e conferiu
autoridade policial aos Juizes de Paz,
sendo que o cargo de Chefe de Polícia era
exercido por um Juiz de Direito. Em 03
O
de dezembro de 1841, devido ao recru-
descimento da criminalidade e em razão
da absoluta incapacidade operacional dos
magistrados para cuidarem, também, das
questões de polícia, foi publicada a Lei n.
261, regulamentada pelo Decreto n. 120,
de 31 de janeiro de 1842, modificando o
Código de Processo Criminal e reestrutu-
rando a Polícia Civil. Essa lei teve como
principais características centralizar a
tomada de decisões e, para isso, esvaziou
as atribuições do Juiz de Paz. Além dis-
so, criou em cada município da Corte e
em cada Província um chefe de polícia,
contando com o auxilio de delegados e
subdelegados, nomeados pelo Imperador
ou pelos Presidentes das Províncias.
Ao chefe de polícia e ao delegado
cabiam, inclusive, atribuições próprias
de Juiz, como expedir mandados de
busca, conceder fianças, julgar crimes
comuns e, ainda, proceder à formação
de culpa. Desde esta época a instrução
criminal passou a ser matéria de polícia.
Já o inquérito policial, nos termos que
temos hoje, só foi criado em 1871, pela
Lei n. 2.033, regulamentada pelo Decreto
n. 4.824, de 22 de novembro do mesmo
ano, que separou Justiça e Polícia de uma
mesma organização. Com o advento da
República, em 1889, a organização poli-
cial ganhou definitivamente os contornos
que possui nos dias de hoje.
José Fabio Rodrigues Maciel
Advogado; Professor de História do Direito,
Filosofia e Introdução ao Estudo do Direito;
Mestre em Direito pela PUCSP; Editor
Jurídico; Coordenador da Coleção “Roteiros
Jurídicos” da Editora Saraiva; Co-autor da
obra História do Direito, pela Editora Saraiva;
Autor da obra Teoria Geral do Direito
– segurança, valor, hermenêutica, princípios,
sistema, publicada pela mesma editora.
e-mail: fabiomaciel@pcsi.com.br
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