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“Acredito em Bolonha”
Afonso
pinhão
ferreira
Sentado na sala de reuniões da faculdade de medicina dentária portuense, Afonso
Pinhão Ferreira não esquece a cor. Aquela que anima as suas telas, assim como o
colorido que impõe na sua paixão do dia-a-dia, a ortodontia. O presidente do Conselho
Directivo da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto admite que
Bolonha é “o caminho certo” para um sistema de ensino em mutação.
DentalPro: Numa altura de ar- nha copiaram o modelo da cessidade de estimular a com-
ranque do ano lectivo, Bolo- extinta Escola Superior de Me- ponente prática do curso?
nha é um facto incontornável dicina Dentária do Porto (ES- APF: São questões de resposta
ou uma decisão a aguardar MDP). Na altura, contabiliza- difícil. Há, evidentemente, me-
por novos desenvolvimentos? vam-se 20 alunos e imensos nos carga prática, mas também
Afonso Pinhão Ferreira: Eu acre- doentes para tratar. Éramos dispomos de um ensino mais
dito em Bolonha, na sua es- assistidos permanentemente estruturado e pormenorizado.
sência. O espírito da Declara- pelos professores e praticáva- Não podemos negar a evolução
ção de Bolonha baseia o mos inúmeros actos clínicos. do ensino. O excesso de alunos
ensino no desenvolvimento Esta situação permitia o pleno é notório, mas há que ter em
de competências, mais do que desenvolvimento de compe- atenção que Portugal obriga a
na transmissão de conheci- tências. Era Bolonha com mui- uma gestão baseada na propina
mentos. E este é o caminho tos anos de avanço. de cada aluno. E, neste contex-
certo no que se refere à medi- to, diminuir o número de alu-
cina dentária. Em jeito de DP: Qual a solução imediata nos não se revela uma opção
brincadeira, refiro muitas ve- para o crescente número de sustentável do ponto de vista
zes que os senhores de Bolo- desempregados e para a ne- financeiro. Ainda assim, imple-
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mentamos inovações no ensino
e, no ano passado, mantive-
mos o número de alunos. E
este ano, fruto das inovações
introduzidas no quadro de do-
centes e no funcionamento da
própria clínica, vamos exibir
um melhor ensino que nos úl-
timos dois anos.
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Entrevista de Capa
haver cursos onde as pessoas DP: A Ordem dos Médicos Den-
dizem que dão aulas e não tistas (OMD) também vai a vo-
dão, onde há disciplinas fictí- tos. O que o levou a apoiar a
cias e menos horas lectivas candidatura de Orlando Mon-
do que o anunciado nos pla- teiro da Silva?
nos curriculares. Apresenta-se APF: Duvido que alguém fizesse
como o filtro correcto para o que ele tem concretizado. O
estabelecer critérios no siste- actual bastonário contribuiu
ma de ensino. para a projecção da classe no
plano nacional e internacional.
DP: A Faculdade de Medicina Este contributo tornou-se visí-
Dentária da Universidade do vel com a sua eleição para a
Porto (FMDUP) está preparada presidência da Federação Den-
para o desafio? tária Internacional.
APF: Nos últimos três anos tive-
mos o cuidado de desenvolver DP: Quais as prioridades de ac-
uma comissão de auto-avalia- ção para o próximo bastoná-
ção e realizámos variadíssimos rio?
inquéritos e estudos, no sentido APF: Evitar o aumento do de-
de entender quais os melhores semprego e diminuir o número
professores e as disciplinas mais de cursos de medicina dentária
adequadas. Destaco também as em Portugal. Depois, a OMD
correcções em curso, com vista deve envolver-se com as carên-
a atacarmos algumas áreas que cias de saúde oral na sociedade.
estão menos bem e, por isso, Também não nos podemos es-
vão impor-se melhorias. quecer de pugnar pelo compor-
tamento deontológico, salva-
DP: Nas últimas eleições legis- guardando a qualidade do
lativas, a medicina dentária nosso trabalho.
participou da corrida eleitoral.
Para o Bloco de Esquerda e DP: Partindo do seu percurso na
para os comunistas, a integra- pintura, como é que arte com-
ção no Serviço Nacional de plementa sua carreira médica?
Saúde (SNS) surge como uma APF: Não sei se é pela capacida-
prioridade, o Partido Socialista de de reflexão ou pelo contac-
insiste nos cheques-dentista e to humano mais próximo com
os sociais-democratas e o Par- o sofrimento, mas a realidade é
tido Popular focam atenções que há muitos médicos e den-
nas parcerias público-privadas tistas com uma percurso artís-
(PPP). Qual a sua solução? tico interessante. Além disso,
APF: Neste quadro não nego um ortodontista tem que pro-
nenhuma das alternativas, co- porcionar, esculpir, simetrizar,
loco, isso sim, as três a funcio- … A ortodontia devolve estética
nar em conjunto, consoante ao sorriso, à expressão, encon-
as necessidades, as carências e trando um paralelo evidente
as regiões. com arte. ●
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