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Introdução
O coqueiro constitui uma das mais importantes culturas perenes, capaz de gerar renda,
alimentação e uma diversidade de produtos. Podem-se aproveitar diversas partes da planta,
como o fruto, as folhas, a inflorescência, entre outros produtos e subprodutos. Dentre as
principais regiões brasileiras produtoras, o Nordeste, produzindo cerca de 80% de toda a
produção nacional, possui condições especiais que favorecem a adaptação e o desenvolvi-
mento do coqueiro.
Antônia Renata Monteiro Gomes Tanto no manejo da irrigação, quanto na otimização de práticas de adubação, é de suma
Eng. agrôn., M. Sc., Bolsista CNPq, importância o conhecimento da profundidade efetiva do sistema radicular da cultura, onde se
Embrapa Agroindústria Tropical
remontgomes@yahoo.com.br encontram 80% das raízes.
4 anos em diante
2 a 3 anos
Até 2 anos
5a6m
4m
2m
A necessidade hídrica do coqueiro pode ser determinada O efeito do clima sobre a necessidade de água do coqueiro
para qualquer região e fase da cultura, utilizando-se a é representado pela evapotranspiração de referência (ETo),
equação: que pode ser estimada utilizando-se vários métodos, sendo
o método Penman-Monteith FAO, o mais recomendado.
ETc = ETo x Kc x Kr (1)
A fim de se obter maior precisão na estimativa da
em que, evapotranspiração da cultura, sempre que possível, deve-
ETc - evapotranspiração da cultura, mm dia-1; se utilizar valores diários de ETo, obtidos a partir dos
ETo- evapotranspiração de referência, mm dia-1; dados climáticos da região. Caso esses dados não estejam
disponíveis, podem ser utilizados, com menor grau de
Kc - coeficiente de cultivo, adimensional;
precisão, valores médios mensais de ETo para a região,
Kr - coeficiente de redução da evapotranspiração, como os apresentados na Tabela 1.
adimensional.
Tabela 1. Valores médios mensais de evapotranspiração de referência (ETo) estimada pelo método Penman-Monteith FAO,
para alguns municípios do Ceará.
Acaraú, Bela
Cruz, Marco, 5,4 5,1 4,1 4,3 4,3 5,1 5,5 6,7 7,1 7,2 7,0 6,4
Morrinhos
Aracati, Fortim, 6,3 5,9 5,2 4,9 4,6 4,5 6,0 7,0 6,8 6,9 5,5 5,3
Icapuí, Beberibe
Jaguaruana, 6,2 5,3 4,5 4,4 4,2 4,6 5,2 6,3 7,0 7,4 7,1 6,5
Quixeré, Palhano
Morada Nova,
Limoeiro do 6,7 5,6 4,9 4,6 4,6 4,7 5,3 6,3 7,3 7,7 7,7 7,3
Norte, Russas
Paraipaba,
4,4 4,5 3,9 3,8 3,8 3,8 4,2 4,8 5,4 5,4 5,3 5,0
Paracuru, Trairi
A evapotranspiração da cultura (ETc) difere da ETo, principalmente, em razão das características específicas da cultura, seu
estádio de desenvolvimento e área foliar, das práticas culturais, da fração da superfície do solo umedecida na irrigação e da
disponibilidade de água no solo. O coeficiente de cultivo (Kc) representa a integração desses fatores e deve ser obtido
através de pesquisas na própria região do cultivo. Caso não haja informações sobre os valores de Kc do coqueiro para a
região, podem ser utilizados os valores apresentados na Tabela 2, os quais foram ajustados para a região litorânea do
Ceará.
CS - coeficiente de cobertura do solo, decimal. - Diâmetro de copa dos coqueiros = 5,5 m (cobertura do
solo, CS = 50%)
O CS representa a fração da superfície do solo realmente
- Mês: setembro
coberta pela folhagem das plantas vista em projeção sobre
o plano horizontal. - Solo arenoso: turno de rega de 1 dia
Va = ETc x A x Tr (3)
A) Cálculo do Kr:
em que,
CS 0,5
Kr = = = 0,59
Va - volume de água a ser aplicado por planta, L; 0,85 0,85
ETc = ETo x Kc x Kr
O turno de rega (Tr) depende da capacidade de retenção de
água do solo, da porcentagem de área molhada pelos ETC = 5,4 x 1,0 x 0,59 = 3,2 mm dia-1
emissores e da evapotranspiração da cultura. Para cultivos
de coqueiro irrigados por microaspersão e gotejamento, o
C) Volume de água por planta
turno de rega deve variar entre um e três dias, para solos
arenosos e argilosos, respectivamente.
Va = ETc x A x Tr
Va D) Tempo de irrigação:
Ti = (4)
(Nep x qa x Ea)
Va 155
Ti = = = 3,1 h
em que, (Nep × qa × Ea ) (1× 55 × 0,9 )
Va = volume de água a ser aplicado por planta, L;
Nep número de emissores por planta (gotejador ou Será necessário funcionar o sistema por 3,1 horas para
microaspersor); aplicar a lâmina de irrigação necessária.
Tabela 3. Recomendações de irrigação para o coqueiro-anão durante o primeiro ano de cultivo, na Região de Paraipaba, CE*.
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
ETo (L dia-1) 4,40 4,50 3,91 3,80 3,80 3,80 4,20 4,80 5,40 5,40 5,30 5,00
Kc 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65 0,65
CS 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10
Kr 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12
ETc (L dia-1) 0,34 0,34 0,30 0,29 0,29 0,29 0,32 0,37 0,41 0,41 0,41 0,38
Volume (L dia-1) 16 17 15 14 14 14 16 18 20 20 20 19
Tabela 4. Recomendações de irrigação para o coqueiro-anão durante o segundo ano de cultivo, na Região de Paraipaba, CE*.
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
ETo (L dia-1) 4,40 4,50 3,91 3,80 3,80 3,80 4,20 4,80 5,40 5,40 5,30 5,00
Kc 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85
CS 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25
Kr 0,29 0,29 0,29 0,29 0,29 0,29 0,29 0,29 0,29 0,29 0,29 0,29
ETc (L dia-1) 1,10 1,13 0,98 0,95 0,95 0,95 1,05 1,20 1,35 1,35 1,33 1,25
Volume (L dia-1) 54 55 48 46 46 46 51 59 66 66 65 61
Tabela 5. Recomendações de irrigação para o coqueiro-anão, durante o terceiro ano de cultivo na Região de Paraipaba, CE*.
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
ETo (L dia-1) 4,40 4,50 3,91 3,80 3,80 3,80 4,20 4,80 5,40 5,40 5,30 5,00
Kc 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
CS 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50
Kr 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59 0,59
ETc (L dia-1) 2,59 2,65 2,30 2,24 2,24 2,24 2,47 2,82 3,18 3,18 3,12 2,94
Volume (L dia-1) 126 129 112 109 109 109 121 138 155 155 152 144
Tabela 6. Recomendações de irrigação para o coqueiro-anão durante o quarto ano de cultivo na Região de Paraipaba, CE*.
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
ETo (L dia-1) 4,40 4,50 3,91 3,80 3,80 3,80 4,20 4,80 5,40 5,40 5,30 5,00
Kc 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
CS 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,75
Kr 0,88 0,88 0,88 0,88 0,88 0,88 0,88 0,88 0,88 0,88 0,88 0,88
ETc (L dia-1) 3,88 3,97 3,45 3,35 3,35 3,35 3,71 4,24 4,76 4,76 4,68 4,41
Volume (L dia-1) 189 194 168 164 164 164 181 207 233 233 228 215
Tabela 7. Recomendações de irrigação para o coqueiro-anão, do quinto ano de cultivo em diante, na Região de Paraipaba, CE.
Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
ETo (L dia-1) 4,40 4,50 3,91 3,80 3,80 3,80 4,20 4,80 5,40 5,40 5,30 5,00
Kc 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
CS 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80
Kr 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94
ETc (L dia-1) 4,14 4,24 3,68 3,58 3,58 3,58 3,95 4,52 5,08 5,08 4,99 4,71
Volume (L dia-1) 202 207 180 175 175 175 193 220 248 248 243 230
No caso do coqueiro-anão, os tensiômetros, geralmente, três locais diferentes. Isso permite identificar sensores com
são instalados em pelo menos duas profundidades a fim de leituras muito acima ou abaixo da média, que devem ser
se ter uma idéia mais completa da umidade no perfil do checados quanto ao seu funcionamento ou quanto à
solo explorado pelas raízes da cultura. O primeiro ocorrência de problemas no sistema de irrigação (entupi-
tensiômetro deve ser instalado na região com maior mento de emissores, vazamentos na tubulação, etc).
concentração de raízes absorventes e o segundo, logo Devem-se evitar manchas de solo de textura ou fertilidade
abaixo da profundidade efetiva do sistema radicular. diferentes das do resto do campo ou locais onde a vazão
dos emissores é muito maior ou menor que a média.
Na Tabela 8, são apresentadas recomendações de profundi-
dades e distâncias para a instalação dos tensiômetros ou de As leituras dos tensiômetros devem ser realizadas, prefe-
outros sensores de umidade do solo, com base em observa- rencialmente, pela manhã. No caso do coqueiro cultivado
ções da distribuição das raízes do coqueiro-anão irrigado, em solo arenoso, a tensão da água do solo entre as
cultivado em solo sem barreiras de impedimento físico ou irrigações deve variar entre 8 e 25 centibares. Para solos
químico. Para solos com camadas de impedimento em argilosos, a faixa ideal é entre 25 e 50 centibares. Leituras
profundidades de até 0,8 m, recomenda-se que a distribuição mais baixas que os valores mínimos citados indicam que a
espacial do sistema radicular seja determinada no local. irrigação está excessiva. Leituras acima da faixa ideal
indicam que o solo está mais seco que o desejável e a
Para cada área homogênea em termos de solo e fase da quantidade de água deve ser aumentada e / ou o turno de
cultura, devem ser instalados tensiômetros em pelo menos rega reduzido.
Tabela 8. Recomendações de localização de tensiômetros e outros sensores de umidade do solo para o coqueiro-anão.
Profundidade
Idade da planta Distância em relação ao tronco
(m)
(anos) (m)
Sensor 1 Sensor 2
Referências
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Circular Técnica, 15). v.3, n.4, p.118-143, 1997.
Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Francisco Marto Pinto Viana
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1a edição (2006): on line
Normalização bibliográfica: Ana Fátima Costa Pinto
Revisão de texto: Maria Emília de Possídio Marques
Editoração eletrônica: Arilo Nobre de Oliveira.