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Introdução aos Conceitos de Medidas

1. Objetivos

Nas aulas 01 e 02, discutiremos questões como:

 O que é uma medida física?


 Quais conceitos estão envolvidos em uma medida física?
 Qual é o papel dos instrumentos de medida que utilizamos no resultado final?

Iniciaremos nossas atividades de medições, realizando medidas de comprimento de diversos objetos. Além disso, objetos de
tamanhos variados serão considerados a fim de verificarmos o instrumento mais apropriado em cada caso. Pretendemos verificar o
efeito de diversos fatores numa medida, entre eles a influência do instrumento e a imprecisão do objeto medido.

2. Introdução

Quando se afirma que a “Física é o estudo dos fenômenos naturais”, está implícita sua característica fundamental: a natureza
como o parâmetro de referência desse conhecimento. É a natureza que nos fornece elementos para a construção de modelos
explicativos e é ela mesma que nos serve de referência para a confirmação de hipóteses, previsões e leis.
Estudar a natureza significa observá-la. E para isso, necessitamos de instrumentos apropriados. Para enxergarmos qualquer fato
ou fenômeno que está à nossa volta, necessitamos de nossos olhos, enquanto que para ouvirmos uma informação necessitamos de
nossos ouvidos, o tato reconhece uma textura fina ou nossas mãos avaliam a temperatura da água de um banho e assim por diante.
Nesses casos, nossos órgãos dos sentidos são os instrumentos que nos permitem obter as informações.
As informações que os instrumentos dos sentidos nos fornecem normalmente são satisfatórias para o nosso cotidiano. No
exemplo acima, o nosso tato é suficiente para avaliarmos a temperatura da água de um banho ou ainda o relógio biológico é suficiente
para nos informar sobre a hora de dormir quando estamos de férias. Todavia, se temos um compromisso marcado, o mesmo relógio
biológico não é adequado, pois além da possibilidade de falhar, não informará o horário com a precisão necessária.
Em ciência, a utilização de um instrumento apropriado de medida é tão importante quanto o próprio experimento em si. Dessa
forma, para que possamos realizar a medida de uma grandeza física da maneira mais precisa possível, é necessário escolher um
instrumento adequado e aprender a utilizá-lo. Para medidas de comprimento, a régua é o instrumento de medida mais conhecido.
Todavia, nem sempre a mesma régua é o instrumento mais apropriado. Se estivermos interessados na determinação de grandezas
pequenas, por exemplo, na determinação do diâmetro de um fio de cabelo, a régua não é um bom instrumento de medida, visto que o
diâmetro de um fio de cabelo é menor que a menor divisão da régua, e portanto a medida não seria nada confiável. Outra situação que
ilustra a importância de escolhermos um instrumento de medida apropriado é quando desejamos medir grandezas “grandes”, como o
comprimento de um estádio de futebol. Nessa situação, a régua também não é o instrumento mais adequado. Por outro lado, se
estivermos interessados em medir o comprimento de uma folha de caderno, a régua nos fornecerá uma medida com a precisão
necessária. Dessa forma, a escolha do instrumento de medida mais apropriado é tão importante quanto à própria medida. Muitas vezes
é possível realizar diretamente uma medida, como é o caso de medirmos o comprimento de uma folha de papel com uma régua, ou
ainda o tempo de duração de um evento com o auxílio de um
relógio de pulso ou um cronômetro. Nesses dois casos, a
medida consiste em comparar o seu valor com um valor
padrão. O valor padrão representa a medida de grandeza
unitária. Quando medimos um comprimento com uma régua
ou trena, simplesmente comparamos o nosso objeto com a
escala do instrumento de medida utilizado. Podemos definir
vários padrões de medida, por exemplo, podemos expressar o
comprimento de uma cozinha com azulejos em unidades de
azulejos ao invés de medi-la com uma trena.
No entanto, para que uma medida possa ter maior
utilidade, é conveniente a utilização de padrões bem
reconhecidos e estabelecidos. Entretanto, outras vezes não é
possível realizarmos diretamente uma medida. Nesses casos,
temos que medir outras grandezas que nos possibilitem
determinar a grandeza desejada. Muitas vezes, grandezas
muito “grandes” ou muito “pequenas” só podem ser medidas
de maneira indireta. Dessa forma, a possibilidade de
efetuarmos medidas de forma direta ou indireta vai depender
de sua ordem de grandeza.
Figura 1 - Ordens de grandeza das dimensões massa, comprimento
e tempo Ordem de grandeza de uma dimensão é a potência de 10 que
melhor representa o valor típico da dimensão em questão, acompanhado de sua unidade. Por exemplo, o diâmetro de um fio de cabelo
tem ordem de grandeza de 10-4 cm, enquanto que a ordem de grandeza do comprimento de uma folha de caderno é de 101 cm. O
universo de medidas físicas abrange um intervalo de muitas ordens de grandeza. Nas duas primeiras aulas desta disciplina, iremos
realizar medidas diretas de espaço utilizando diferentes instrumentos e discutindo diversos conceitos fundamentais envolvidos em
uma medida física.

3. Conceitos fundamentais em uma Medida Física


Qualquer que seja o instrumento de medição, sua escala tem um número limitado de pequenas divisões. Logo, sua precisão é
limitada na fabricação. Na maioria das vezes, a leitura do valor de uma grandeza é intermediária a dois traços consecutivos da escala.
Como fazer a leitura nesse caso? Vamos dar como exemplo a medida ilustrada na figura 2.
A barra que está sendo medida tem uma extremidade ajustada
no zero da escala e a régua é milimetrada. A outra extremidade da barra
não coincidiu com nenhum traço. Qual o valor da medida? Podemos
observar que ele é maior do que 6,4 cm e menor do que 6,5 cm.
Portanto, a medida é 6,4 cm e mais alguma coisa, em centímetros.
Quanto vale essa “alguma coisa”?
Ninguém poderá responder, com certeza, o valor dessa alguma coisa,
somente com esse instrumento. Diferentes pessoas poderão arriscar
valores tais como 0,03, 0,04 ou 0,05 sem contudo nenhuma delas estar
mais certa do que as outras. É tão certo escrever 6,43 cm como 6,45 cm.
Toda grandeza possui um valor verdadeiro que é desconhecido por
nós. O erro de uma medida é a diferença entre o valor da medida e o
valor verdadeiro da grandeza em questão. Como não conhecemos o
Figura 2 - - Exemplo de leitura de uma régua milimetrada valor verdadeiro, o erro também é uma quantidade desconhecida. A
incerteza é uma estimativa para o valor do erro. A melhor estimativa
para o valor verdadeiro de uma grandeza, e sua respectiva incerteza, só podem ser obtidos e interpretados em termos de
probabilidades. O formalismo utilizado para essa tarefa é chamado de Teoria de Erros. Leia o capítulo 2 da apostila “Introdução à
Teoria de Erros”, de J. H. Vuolo, para uma explicação mais detalhada sobre os conceitos de valor verdadeiro, erro, incerteza e suas
interpretações probabilísticas.
Voltando ao nosso exemplo, os algarismos 6 e 4 são exatos, enquanto 3, 4 ou 5 são duvidosos. Os algarismos certos e o
duvidoso, avaliado pelo operador, são denominados algarismos significativos. Em 6,43 cm, os três algarismos são significativos
sendo 6 e 4 certos ou exatos e 3 incerto ou duvidoso. Não seria correto escrever 6,435 fazendo uso da mesma escala. Isso porque, se o
3 é duvidoso, o 5 perde totalmente o sentido. Daí surge a regra: nunca escreva a medida com mais de um algarismo duvidoso.
Entretanto, o último algarismo da direita é duvidoso ou incerto. Essa incerteza é gerada pela própria escala do instrumento. Para tornar
mais completa nossa informação a respeito da medida e respectiva incerteza, devemos escrevê-la seguida de um número que
representa a incerteza devido à escala. De maneira geral, adota-se essa incerteza como sendo igual ao valor da metade da menor
divisão da mesma. Portanto, nossa informação a respeito da medida do comprimento da barra estará completa quando escrevermos:
L = (6,43 ± 0,05) cm, isto é, L ± ∆L, onde ∆L é a incerteza na medida. Isso significa que entre os valores de 6,38 cm a 6,48 cm, todos
os valores intermediários são suscetíveis de representar a medida do
comprimento da referida barra com certa probabilidade. O valor de ∆L é
também referido como sensibilidade ou precisão do instrumento, isto é,
o menor valor que o mesmo pode fornecer ao operador.
Note que apesar de termos afirmado que a incerteza na leitura é
representada pela metade da menor divisão da escala, essa não é uma
regra rígida. Dependendo da familiarização do operador com a escala e
do maior ou menor espaçamento entre os traços de divisão da escala,
outros valores poderão ser tomados como incerteza na leitura. Se ao
medir uma grandeza, houver coincidência com um dos traços de menor
divisão da escala, devemos ainda levar em conta a incerteza na leitura e
escrever o zero duvidoso à direita dos demais algarismos significativos
e certos da medida, como mostrado na figura 3.

Figura 3 - L = (6,40 ± 0,05) cm 4. Procedimento experimental e análise de dados


Parte I:
Estimando dimensões na sala de aula
Para iniciar as atividades de medições, vamos fazer uma estimativa de duas grandezas: a altura da porta e o comprimento da sala de
aula.

1. Avalie a altura da lousa e o comprimento da sala de aula sem utilizar régua, metro ou trena. Escrevam na lousa os valores
obtidos.
2. Descreva o procedimento que você utilizou para obter esses valores. Quais unidades de comprimento você utilizou? Por quê?
3. Quais critérios você usou para determinar o número de algarismos de sua medida?
4. Em seguida, repita as mesmas medidas utilizando o instrumento de medida mais adequado para cada objeto. Descreva o
procedimento que você utilizou para obter esses valores.
5. Uma maneira de compararmos os valores obtidos para cada instrumento é calcularmos a diferença percentual (∆y/y) entre os
valores do item 1 (y1) e do item 3 (y2), através da fórmula:

∆   
  100%
 

Para cada objeto, compare as medidas acima feitas sem utilizar o instrumento e utilizando o instrumento em termos da
diferença percentual. Sua estimativa foi razoável? Como você pode avaliar isso?
6. Comparando as medidas dos itens 1 e 4, a que conclusão você pode chegar sobre o número de algarismos usados para
representar cada medida? O número de algarismos mudou do item 1 para o 4? Por quê?

Medida da altura da mesa e espessura do seu tampo


Nesta atividade, vamos determinar a altura e a espessura da mesa do laboratório.

1. Escolha um instrumento adequado para medir a altura da mesa. Você pretende usar a régua ou a trena? Qual dos dois
procedimentos é mais adequado? Por quê?
2. Defina o que é a altura da mesa. Meça cinco vezes essa altura e organize os valores em uma tabela.
3. Se alguém perguntasse qual a altura da mesa na qual você está fazendo a experiência, como você responderia? Explique.
4. Qual é a altura média da mesa?
5. Determine a espessura da sua mesa de trabalho juntamente de sua incerteza utilizando uma régua, um paquímetro e um
micrômetro. É possível utilizar os três instrumentos de medida?
6. Repita a medida acima para diferentes pontos da mesa utilizando o instrumento mais apropriado. Os valores que você obteve
são diferentes? Discuta qual seria a maneira de determinarmos a melhor estimativa para a espessura da mesa.

Algarismos Significativos

Na coluna da esquerda temos valores de medidas de cinco objetos. Quais resultados da coluna A não são equivalentes aos
da coluna B? Justifique.

A B
5,0 m 5m
0,3 m 30 cm
0,14 cm 1,4 mm
7,5 km 7500 m
53 cm 5,3x10-5 km
32,0 m 3,2x10 m
0,25 km 250 m
7,20 cm 0,0720 m
95,32 m 95320 mm
3,5 km 3,5x105 cm

5. Referências

1. Física Geral e Experimental para Engenharia I - FEP 2195 para Escola Politécnica (2003).
2. J. H. Vuolo, “Fundamentos da Teoria de Erros”, São Paulo, Editora Edgard Blucher, 2ª edição (1996).
3. Introdução às Medidas em Física, “Notas de aula”, Instituto de Física da USP, (2004).
6. Apêndice: Algarismos significativos

6.1. Motivação

O número de dígitos ou algarismos que devem ser apresentados num resultado experimental é determinado pela incerteza neste
experimento. Apresentamos aqui o conceito de algarismo significativo e as regras práticas para apresentar um resultado experimental
com sua respectiva incerteza, os quais devem ser escritos utilizando somente algarismos significativos.

6.2. Conceito de algarismo significativo

O valor de uma grandeza experimental, obtido a partir de cálculos ou medições, pode ser um número na forma decimal, com muitos
algarismos significativos. Por exemplo, 0, 0 0 0 X Y ... Z W A B C D... onde X, Y, ..., W são algarismos significativos, enquanto os
algarismos A, B, C, D, ... não são algarismos significativos. Algarismo significativo em um número pode ser entendido como cada
algarismo que individualmente tem algum significado, quando o número é escrito na forma decimal. Zeros à esquerda de um número
não são algarismos significativos, pois os zeros à esquerda podem ser eliminados ao reescrevermos o valor da medida, por exemplo,
81 mm=8,1 cm=0,081 m. Por outro lado, zeros à direita de um número são algarismos significativos, pois não podem ser eliminados
quando reescrevemos a medida. O dígito estimado no valor de uma medida é chamado de algarismo significativo duvidoso. Os
demais dígitos que compõem o valor da medida são chamados de algarismos significativos exatos. O valor de uma grandeza medida
geralmente não possui mais do que um algarismo duvidoso, pois não faz sentido tentarmos avaliar uma fração de um número
estimado.

Exemplo: Réguas com precisões diferentes


Na figura abaixo temos a leitura de uma barra utilizando duas réguas distintas A e B.

Na régua A, a menor divisão é 1 cm e na régua B é 1 mm. Realizando


a medida com a régua A, concluímos que o comprimento da barra está
entre 5 cm e 6 cm. Realizando a medida com a régua B, esse valor
está entre 5,3 cm e 5,4 cm. Dessa forma, utilizando a régua A,
concluímos que o comprimento da régua é 5,X cm e utilizando a
régua B, o valor é 5,3X cm. Note que não é possível encontrarmos o
valor verdadeiro de X. O que podemos fazer é um “chute” criterioso.
Por exemplo, podemos dizer que as leituras de A e B são 5,3 cm e
5,34 cm, respectivamente. Também podemos dizer que a leitura de A
Figura 4 - Representação de duas réguas com precisões diferentes. e B são 5,4 cm e 5,33 cm, respectivamente. Qual leitura é a mais
correta? A resposta é que ambas as leituras são corretas e uma
avaliação não é melhor ou pior que a outra, já que a estimativa de X é subjetiva e varia de pessoa para pessoa. Por outro lado, não
seria razoável supor que A e B fossem 5,7 cm e 5,40 cm, visto que das figuras podemos ver claramente que A é menor que 5,5 cm e B
é menor que 5,40 cm. Para a régua A a menor divisão é 1 cm e portanto, sua incerteza instrumental σA é σA = 0,5 cm, enquanto que
para a régua B sua incerteza instrumental σB é σB = 0,5 mm. Podemos representar as medidas A e B de diversas maneiras, por
exemplo:
A: (5,3±0,5) cm, ou (0,053±0,005) m ou (53±5) mm.
B: (5,34±0,05) cm,ou (0,0534±0,0005) m ou (53,4±0,5) mm.

Note que no caso da leitura A, o valor da medida apresenta dois algarismos significativos independentemente da unidade
utilizada e na leitura B, a medida apresenta três algarismos significativos. Isso nos permite fazer duas conclusões:
1. O número de algarismos significativos da medida depende da precisão do instrumento utilizado.
2. O número de algarismos significativos não depende do número de casas decimais.

6.3. Critérios de arrendamento

Quando realizamos operações aritméticas, necessitamos freqüentemente arredondar os resultados obtidos, para que eles reflitam
adequadamente a confiabilidade do valor. Isto é, arredondamentos são necessários para que os resultados tenham um número
apropriado de algarismos significativos. Quando um dos números tem algarismos significativos excedentes, estes devem ser
eliminados com arredondamento do número. Se em um determinado número, tal como: ... W, Y X A B C D ..., Sendo W Y X
algarismos significativos enquanto A B C D... são algarismos que por qualquer motivo devem ser eliminados. Dessa forma, o último
algarismo significativo, ou seja, X deve ser arredondado aumentando em uma unidade ou não, conforme as regras a seguir:
• de X000... à X499..., os algarismos excedentes são simplesmente eliminados, ou seja, o arredondamento é para baixo.
• de X500...1 à X999..., os algarismos excedentes são eliminados e o algarismo X aumenta de 1, ou seja, o arredondamento é
para cima.
• No caso X50000..., o arredondamento deve ser tal que o algarismo X depois do arredondamento deve ser par.

Entretanto, muitas vezes nesse caso, arredondamos tanto para cima ou para baixo.
Exemplos de arredondamento de números. Os números em negrito devem ser eliminados.
2, 4 3 → 2, 4 3, 6 8 8 → 3, 6 9
5, 6 4 9 9 → 5, 6 5, 6 5 0 1 → 5, 7
5, 6 5 0 0 → 5, 6 ou 5, 7 5, 7 5 0 0 → 5, 8

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