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Lição 1

MISSÕES TRANSCULTURAIS

Introdução

Para iniciarmos nossos estudos, trataremos de termos


introdutórios, bem como desenvolveremos a compreensão dos fatores
dominantes de uma cultura.

Missão - Tudo o que envolve a tarefa da Igreja, que é a


proclamação do Evangelho, trataremos como sendo sua Missão.
Assim, desde adoração, comunhão, ensino, serviço,
evangelização ou administração, desde que tenha como propósito de
reconciliar o homem com Deus (2 Co 5.18-20), comporá a Missão da
Igreja.

Missões - Quando a Igreja deliberadamente envia seus


representantes para a pregação do Evangelho, ela está realizando
Missões. Isto ocorre com todos os seus ministérios, e não somente
com a evangelização.
Entendemos que Evangelização e Missões são conceitos
sinônimos, pois não há sentido em pensar no primeiro quando
limitado no aspecto geográfico próximo e no segundo quando
distanciado por km de distanciamento.

Mono-cultural – É a evangelização realizada pelo obreiro em sua


própria cultura, o que elimina quase todos os resíduos culturais na
comunicação.

Trans-cultural - Ocorre quando o comunicador do Evangelho


exerce sua tarefa em cultura diferente à sua. Sobre este tópico Ralph
Winter desenvolveu a terminologia de “distanciamento cultural”,
classificando a intensidade dessa distância étnica entre o missionário
e a cultura receptora (1).

Cultura - Entre as muitas definições, destacamos a de que


“cultura é uma maneira de pensar, sentir, de crer. É o conhecimento
do grupo étnico armazenado para o seu uso no presente e futuro”
(2).

Sobre os fatores dominantes de uma cultura, ressaltamos a


contribuição de G. L. Barney (3):
1. Artefatos Culturais e Comportamentos Observáveis
2. Instituições
3. Valores
4. Cosmovisão/ ideologia

1
Unidade I

1. A CONTEXTUALIZACÃO NA BÍBLIA

Introdução

Partindo da compreensão que a Comunicação Transcultural


ocorre quando o comunicador do evangelho e seu interlocutor são de
culturas diferentes, entendemos que esta atividade transcultural se
encontrará com diversas dificuldades ou limitações para a
comunicação. Entre elas destacamos:

a) As Barreiras Culturais

Elas sempre existirão, diferenciando-se de intensidade. Até


mesmo na evangelização Mono-cultura elas estão presentes:

1. Regionalismo - somos um mosaico de culturas. Colônias em todo o


mundo estão influenciando e sendo influenciadas, ou transformadas,
sem mencionar as diferenças regionais. Estas distinções acentuam
alguns detalhes, sem distorcer no todo de uma cultura.

2. Castas(4) – é a formação de categorias sociais de um grupo social.


Na Índia as castas são combatidas desde Willian Carey ( pai das
missões modernas ), porém com poucos resultados. As castas são
mais nítidas em países do Oriente.

3. Classes sociais - semelhante às castas, porém mais flexíveis. No


ocidente cada vez mais as classes sociais se tomam hostis, umas das
outras, principalmente pela motivação de defesa de mercado e status
sociais.

4. Experiência de vida - o que determina ações e reações distintas


nos semi-grupos. A experiência obtida na fase de formação de um
indivíduo determinará grande parte de suas ações e reações ao longo
da vida.

5. Seguimentos da sociedade - grupos agregados que se fecham para


compartilhar experiências da vida cotidiana e se fortalecem nelas.
Exemplos. profissionais liberais,
. artistas, . desportistas, . comunidade científica, . comunicadores
sociais, . grupos religiosos, . segmentos marginalizados (prostitutas,
carcerados, drogados...) . políticos, . e outros...

Como cada cultura desenvolve sua própria cosmovisão(5),


precisamos desenvolver uma boa compreensão de cada cultura para

2
depois abordá-la. Visando enriquecer este tópico apresentaremos
algumas definições de cultura:

b) Outras definições de Cultura:

HELSSEGRAVE (1987, p.85) menciona alguns autores, conforme


abaixo:
“Cultura é o modelo para a vida” (Louis Lukbetak)
“É aquele conhecimento adquirido que se usa para interpretar a
experiência e gerar comportamento (...) cada geração recebe da
anterior, modifica-a e a transmite à geração seguinte”. (G.L. Barney)
"É o comportamento cultivado. "
"É a totalidade das experiências adquiridas, acumuladas e
transmitidas socialmente." "É o comportamento por aprendizado
social. "
"É a herança total do homem não transmitida biologicamente. "
"Modo de vida de determinado grupo étnico." (PATE, p. 99).

1.1. Toda a Bíblia é um esforço à contextualização.

Vemos a contextualização(6) desde o início da descrição do


Antigo Testamento, passando por todo texto bíblico, fica claro o
esforço de transmitir a sua comunicação da maneira mais
compreensível possível, conforme veremos a seguir...

1.1.1.Contextualização no Antigo Testamento – O grande Autor


lançou mão de elementos culturais já absorvidos pelos povos da
época e possíveis de serem resgatados para a fé monoteísta judaica,
sem que com isto fosse comprometida sua mensagem.

a) As línguas usadas eram predominantemente os idiomas mais


comuns conforme localização e época.

b) As alianças eram pontos de partida (pontes) para as culturas


locais. Abraão, Moisés, Davi, Jeremias, e outros as mencionaram.
Timóteo Carriker (Apostila Teológica Bíblica de Missão-CEM)
cita o arqueólogo Mendenhall, que descobriu no Oriente Médio
descrições de alianças anteriores ao período bíblico, com o título:
"Aliança do Grande Rei", que era dividida em seis tópicos: lº)
Introdução; 2º) Histórico de relacionamento (eu vim em tal data,
venci seus exércitos e agora vocês são meus); 3º) Termos de
responsabilidade (garanto a vocês proteção, lavoura... e vocês me
devem dízimo, obediência, serviço de guerra...); 4º) Testemunhas-
seus deuses serão testemunhas diante dos meus deuses; 5º)
Bênçãos -se forem fiéis... ; 6º) Maldições se forem infiéis...
Observe que os autores do Antigo Testamento utilizaram-se
destes elementos, excluindo apenas o testemunho dos deuses.

3
c) Rituais religiosos: batismo por imersão, altar de oferendas,
sacrifícios de animais, circuncisão, dízimo e outros são elementos
muito difundidos nas culturas do período veterotestamentário. Agora,
os encontramos separados, consagrados e usados para o Reino de
Deus(7).

1.1.2. Contextualização no Novo Testamento:

. A Contextualização da Mensagem – Neste item percebemos o


esforço de realizar uma hermenêutica coerente, priorizando o relato
sagrado acima do fato histórico concreto. Assim, o crivo bíblico é que
julga o cotidiano, e não o contrário(8).

a) Os vários auditórios: a Bíblia é um esforço visando apresentar a


mensagem salvífica a auditórios diferentes, porém, sem nunca
adaptar-se necessariamente aos seus preconceitos e gostos. Esta
adaptação sempre ocorre no nível da cosmovisão e do conhecimento,
a fim de tornar sua mensagem compreensível, e não
necessariamente agradável.

b) O esforço de Jesus para contextualizar: ao abordar Nicodemos e a


mulher samaritana ( João 3 e 4 ) ele usou modos diferentes, pois
eram distintos. Toda sua comunicação se valia de métodos cognitivos
e elementos naturais aos ouvintes.
Os evangelhos sinóticos exemplificam isto. Tinham o mesmo
comunicar, porém para auditórios diferentes. Assim, modificaram as
ênfases, sem alterar o conteúdo.

c) O esforço do apóstolo Paulo: Ao abordar os monoteístas das


sinagogas de Damasco (Atos 9:20, 22), Antioquia de Pisídia (Atos
13:16,17) e da Tessalônica (Atos 17:2, 3), Paulo partiu do
pressuposto de um conhecimento divino transmitido pela revelação
especial. Já entre os politeístas, como em Listra (Atos 14: 15, 17)
Paulo destaca o Deus do céu, da terra e do mar. Em Atenas (17:
16...) ele fala do Deus desconhecido, de um poeta grego, sobre a
natureza e o homem como criação de Deus.

. A Contextualização do Método - A espontaneidade, tão


encontrada na expansão da Igreja Primitiva, se reflete na
contextualização da metodologia usada. HELSEGRAVE (1987,
pág.153) nos ajudará mostrando:

a) Dirigido a Indivíduos e a grupos: isto ocorreu tanto na abordagem


individual (Jo. 3, 4 e Atos 8) , como a grupos familiares (Atos 10, 16
e 20). Também em pequenos grupos reunidos (Atos 13 e 19 ), e para
multidões nas praças públicas (Atos 17 e 22).

4
Por meio da pregação (Atos 2), do ensino (Atos 10) e do testemunho
(Atos 22 e 26). Às vezes pelo monólogo (Atos 2) e freqüentemente
na forma de diálogo (Atos 17).

b) Comunicação pessoal (face a face): Todos os métodos citados


envolvem o contato pessoal, basicamente porque não havia os
recursos da comunicação hodierna. Porém isso lhes dava certas
vantagens. A comunicação sempre produzia interação entre
comunicador e receptor.

c) Ênfase na visitação: o texto de Didaquê nos dá conta das várias


categorias de missionários existentes nos séculos 1 e 2. MC.GREEN
(1989 pág. 269), mostra com propriedade como este método era
bem usado.

Destacamos ainda Ananias visitando o perplexo Paulo em


Damasco, Pedro indo à casa de Cornélio, o lar de Lídia e do carcereiro
em Filipos, em I Tessalonicenses Paulo se autodenomina pai e mãe
dos filhos na fé, para ilustrar como o clima familiar permeava a ação
natural daquela Igreja.

d) Cartas e livros (pergaminhos): estes também eram usados para


exposição da fé apologética e para evangelização. Veja João 20:31.
Assim, se prolongou as Escrituras até os nossos dias.

e) Aplicação quanto ao método: como criatividade sempre foi


indispensável na evangelização, devemos usá-la hoje para adequar
toda a nossa tecnologia aos eficientes métodos bíblicos.
Como prova desta eficácia, citamos o experimento do Dr.
Albert Dabba, (Universidade de Michigan, EUA) - mencionado por
HESSEGRAVE (1984, p.153). Objetivando testar o grau de
persuasão, mediu-se a distância entre locutor e ouvinte, entre 30 e
60 cm até 5 metros. A hipótese de maior persuasão foi detectada na
distância de 2 metros, por não causar senso de invasão, como por
não provocar desatenção. Esta pesquisa, regida por metodologia
científica, confirma a opção neo-testamentária, ao enfocar a
comunicação pessoal como método primário em todas as suas
estratégias.

1.2. Princípios para a Contextualização:

Para este tópico, citamos anotações de Rinaldo de Mattos(9).

1.2.1. Apresentar o Evangelho a partir do Pano de fundo


( back grand) cultural e religioso do povo - O missiólogo Don
Richardson mostra que todos os povos possuem alguma experiência

5
com o divino. Para vencer as barreiras culturais, ele menciona que
esta experiência empírica com o divino torna-se uma "ponte de
contato"(10).
O fundamento bíblico desta tese encontra-se em Gênesis. Até
BabeI todos os povos falavam a mesma língua, sem porém ter-se lei,
profetas, ou sacerdotes, que falassem em nome de Deus. Era o
conhecimento universal, num período de cerca de 1.500 anos. Com
Babel, confundiram-se as línguas e cada um desses grupos
dispersaram-se pelo mundo inteiro, levando e transmitindo este
conhecimento inicial de Deus.

1.2.2. Comunicar o Evangelho a partir do foco de necessidade


espiritual e social do povo - A teologia fala forte quando fala as
necessidades do povo. Assim, precisamos descobrir quais são os
focos de necessidade de cada grupo cultural, para o qual
evangelizamos. Exemplos:

Aos índios e tribos primitivas - vivem da lembrança ( passado) das


grandes nações étnicas. Quando os abordamos sobre céu,' morte,
vida, Deus... relaciona-se para ele com sua mitologia, de onde nada
se muda. Isto não é relevante para ele. Como hoje ele vive
atemorizado pela pajelança, seu foco de necessidade é o tema:
"Libertação dos espíritos".

Aos secularizados - se tocar em assuntos de religião, não despertará


nada neles. O que os incomoda? Conceitos como valores morais,
segurança, depressão, crise financeira, status e realização existencial
... Este é o foco.

Aos grupos étnicos religiosos - com o perfil legalista e místico, estes


segmentos possuem aspectos que causam maior identificação.
Descobrindo suas necessidades, e utilizando estes aspectos de
identificação, podemos evangelizá-los melhor. Exemplo: Romaria em
Diamantina, MG.

1.2.3. Pregar de acordo com o modelo cognitivo do povo -


Cada povo possui um método natural de transmitir ensino e
experiências.
Qual era o método cognitivo do Novo Testamento? Pregações ao
ar-livre, uso dos lares, concentrações em praças, praias e montes,
utilização de ilustrações do cotidiano... Jesus respeitou isto. Pregou
uma mensagem diferente usando métodos convencionais. Qual é a
forma cognitiva de nosso povo? Qual é a que usamos nas Igrejas
Evangélicas Brasileiras?
1.2.4. Riscos na contextualização – Devido à necessidade de
melhor abordagem do Evangelho ao homem hodierno, denominações

6
e seitas evangélicas tem cometido aberrações na evangelização do
povo brasileiro.
O profº Richard Stuart(11) menciona que “o modismo teológico
pode não ser idêntico com a tentativa de contextualizar, mas o fato é
que ocasiona semelhanças. Assim, a contextualização muito
facilmente pode passar para um outro Evangelho”. Este aspecto será
corroborado com o estudo do sincretismo cultural e teológico
( ver pág. 25)

Unidade 2

2. ETNOCENTRISMO E CHOQUE CULTURAL

Ao entrarmos nesta unidade mergulhamos no raciocínio do mosaico


cultural que é a raça humana. Logo uma pergunta nos ressalta: É
possível apresentar um único evangelho para múltiplas culturas?
NIDA (1985, p.7) nos ajuda mostrando 3 fundamentos do Evangelho:

a) Ele é a mensagem que satisfaz ao ser humano, em todas as áreas


da sua vida (moral, sentimental, psicológica, social e material).
Nenhum aspecto da vida humana é excluída da possibilidade do
Senhorio de Cristo.

b) O evangelho precisa ser compreendido por todas as pessoas em


termos existenciais, e não apenas no raciocínio e informação. Só
assim ele poderá causar transformação.

c) O Espírito Santo é que deverá expressar para os convertidos de


cada cultura a maneira de viver a vida cristã, pois ele é expresso em
cada cultura de formas diferentes. Com estes pressupostos em
mente, iniciaremos com definições de termos.

2.1. Compreendendo etnia e etnocentrismo

2.1.1. Definição de etnia – Etnia(12) é conceituada por PATE


(1987, p.32), como: "grupo sociológico significativamente grande de
pessoas conscientes de partilharem um vínculo comum".
A questão chave é: como os indivíduos de uma determinada etnia
analisam a si mesmo? Eles se observam como "nós", e os outros não
componentes, como "eles". A razão disto é a realidade vivida que
gera comportamentos comuns, produzindo um sentimento de adesão
mais profunda.
O mesmo autor aqui citado apresenta uma relação parcial dos
grupos étnicos mencionados na Bíblia:
Antigo Testamento

7
Edomitas Moabitas Cananeus Filisteus Amoreus Heveus Anaceus
Refaías Heteus Ferezeus Jebuseus Amalequitas Arameus Queretitas
Peleteus Amonitas Haroditas Paltitas Husatitas Aoítas Netofatitas
Piratonitas Arbatitas Barumitas Salbonitas Araritas Itritas Israelitas

Novo Testamento
Partos Elamitas Habitantes da Judéia Residentes do Ponto
Panfilianos Lídios Cratenses Fariseus Galileu Listrenses Etíopes
Escravos, Habitantes da Mesopotâmia Habitantes da Capadócia
Asiáticos Frigios Egípcios Romanos Árabes Saduceus Epicureus
Gálatas Lídios Livres, Levitas, Sacerdotes e Gadarenos .

Algumas das etnias citadas por PATE (1987,p.33) são


identificadas pelo passado vivido. Outras pela situação geográfica e
outras pela crença religiosa. Algumas são predominantes em número
e influência, outras são minoritárias, mas da mesma forma
importantes.

2.1.2. Definição de etnocentrismo – Ele é entendido como a


inclinação natural de todos os povos ou grupos étnicos observarem
aos que o cercam, a partir da ótica vivencial que possuem em sua
própria realidade (13) É a tendência de considerar a cultura de seu
próprio povo como medida de todas as demais.

2.1.3. O enfoque étnico da Grande Comissão - Desde os séculos


XVI e XVII temos visto a tradução de Mat. 28.19,20 para o termo
grego éthnos, como nações/ estados. Nosso mapa mundi define-se
pela delimitação geográfica destes 223 países. Porém, hoje
compreendemos que a correta tradução para o texto é povos ou
gentes.
Os grupos humanos tomam-se assim, o alvo da obra missionária
mundial. Milhares de novas fronteiras se desenham no mapa mundi.
Veja anexo 1 a diferença no mapa do continente africano, referente à
descrição das nações/estados e etnias, mostrado por PATE.

Como podemos aprofundar nossas informações sobre uma etnia? A


Antropologia Social nos ajudará:

2.2. Ênfases da Antropologia Social

A Antropologia social(14) trabalha com todo aspecto social do


indivíduo, considerando seu enredo cultural e realidade social. Os
aspectos biológicos são separados para estudos distintos,
concentram-se apenas nos aspectos sociais. Qual a tarefa do
antropólogo social? Ele busca...

a) identificar universais de cada cultura (constantes)

8
b) identificar variáveis culturais (variáveis)
c) analisar formas e significados.

2.2.1. Universais são costumes gerais, encontrados em todas as


etnias. Os profissionais de ciências exatas trabalham com teoremas,
postulados e axiomas inquestionáveis. Já os profissionais de ciências
sociais percebendo esta carência, tentaram, porém, não obtiveram
sucesso completo pela natureza da matéria.
Contudo, certos hábitos ou metas observaram-se como comuns a
todas as etnias. São elas:

a) Cultura material - alimentos, transporte, abrigo, vestuário,


artefatos, meio de transporte, etc.
b) Organização econômica - sistemas de produção, de troca, de
comercialização, de produtividade e consumo.

c) Organização social - idade e geração, ciclo de vida, conceito de


beleza, de força e poder, comportamento sexual, papéis a serem
desempenhados (homem x mulher...), parentesco, descendência,
associações e instituições, princípios de categorização e hierarquias,
casamento, forma de ensino, entre outros.

d) Organização política - guerra e paz, nacionalismo, estado,


relacionamento internacional, legislação de normas internas, entre
outras.

e) Controle social - o que é certo ou errado, re-definições de


parâmetros éticos e morais...

f) Cosmovisão - magia, sistemas religiosos (ritos, formas e


expressões), relacionamento com o transcendental.

g) Artes e Jogos - música, pintura, artesanato, conceito de beleza


estética, lazer...

h) Organização lingüística - sistema gramatical. Os idiomas não


solicitam todos os sons que o aparelho fonético possui. Por isso,
somos capazes de se treinados, aprendermos todos os idiomas da
terra. Todos possuem (vogais), consoantes, advérbios, nomes para
tudo, verbos e organização gramatical.

i) Estabilidade e mutação - toda cultura muda. Ela é dinâmica!


Quando não há influência externa na cultura esta mudança é mais
lenta. Exemplo: Filipinas e China. Nas divergências quanto a
evangelização dos índios no interior do Brasil, os missiólogos
evangélicos têm afirmado que não é pecado modificar a cultura, pois

9
ela própria tende a modificar-se, porém, a questão é: quem se
permitirá aproximar dos indígenas e influenciá-los?
Missionários aptos a não defraudarem elementos culturais positivos,
ou garimpeiros, e exploradores de recursos minerais e naturais?

2.2.2. Variáveis culturais - Mardoqueu é citado por CARRIKER


(1992) como tendo elaborado um arquivo de universais de cultura.
São dele as informações: Dentro dos temas universais, existem
variações para todos os povos. Exemplo:
. Alimentos (universais), mas que tipo de alimento?
. Adorno (universal), mas que forma e utilidade?
Todos os povos pensam ser sua cultura a correta. Língua e
costumes se fazem e aprendem involuntariamente (intuição). Com
sete anos a criança vai aprender a formular a sua gramática. Porém,
sem ser consciente, ela já a pratica.
Quando falamos em Universais nos referimos aos aspectos
absolutos da cultura. Quando nos expressamos em Variáveis, nos
reportamos aos aspectos relativos da cultura analisada. Este é o
trabalho do antropólogo social - distinguir entre Universais e
Variáveis. Para isso ele deve:

2.2.3. Analisar formas e significados – Neste item distinguiremos


aspectos existentes em todas as culturas, que definiram funções e
significados para todos os elementos que formam nossos
comportamentos.
a) Forma - é a parte visível da cultura e pode ser expressa como
objeto ou atitude (comportamento). Exemplo: Uma lança, cesto e
outros objetos de uma etnia primitiva. Eles nos revelarão aspectos de
sua cultura. Cada um deles possuirá uma função definida. Caso
alguém da Groelândia abruptamente entre em nossos cultos públicos
dominicais, perceberá aspectos de bancos e púlpito, vestuário,
posição dos diversos participantes, além de vitrais das janelas e
outros mais. Isto lhe revelará formas que possuem significados para
a nossa cultura evangélica brasileira.

b) Significado - para cada forma descoberta, encontramos uma


função ou significado. Exemplo: Qual a razão de determinado número
de movimentos com o leque feitos pelas donze1as francesas no séc.
XVII? Porque o canto indígena, geralmente com duas frases, repete-
se tantas vezes? Qual a razão do chá da tarde inglês? - alimento ou
sociabilidade?

c) Cristalização de costumes - quanto mais milenar e intocável for


determinada cultura, mais sólida serão suas formas e significados.
Nossa cultura brasileira por ser "nova", misturada pelas diversas
imigrações e por sofrer influências culturais estrangeiras, não permite

10
que, nem mesmo, conheçamos toda cultura brasileira. Quanto mais
entendê-la!

Na verdade, com o advento da industrialização, e o forte


interesse financeiro e ideológico, grandes esforços são feitos para se
penetrar e influenciar, mais e mais, nas culturas do povos
subdesenvolvidos ou "em desenvolvimento".

2.2.4. O Supra-Cultura - Neste ponto antropólogos secularizados e


cristãos conservadores divergem. Porém, a antropologia cristã
conservadora vê um passo a mais para expressar aspectos sobre-
naturais nas culturas analisadas - o supra-cultura.

a) Definição - "Supra-Cultura são fenômenos da cultura que tem sua


origem fora da cultura humana" (Rinaldo de Mattos). Toda realidade
do Reino de Deus na terra é manifestação supra-cultural, bem como
as manifestações de satanás e seus emissários.

b) Lausanne - Desde o Congresso Internacional de Evangelização


Mundial, em 1974, na Suíça, conhecido como Lausanne I, este
movimento evangélico conservador tem chamado a Igreja para
observar o homem de forma holística (15). Seu documento,
parágrafo 10, afirma: “Uma vez que o homem é criatura de Deus,
parte da sua cultura é rica em beleza e bondade. Pelo fato de o
homem ter caído, toda a sua cultura (usos e costumes) está
manchada pelo pecado e parte dela é de inspiração demoníaca".

c) Diferenças - Para o antropólogo cristão a cultura é como um


sistema aberto. Existem nela: a - natureza; b - cultura humana; c -
supra-cultura.

Para o antropólogo secularizado cultura é um sistema fechado


para o supra-cultural. Todas as suas expressões na cultura, são
produtos da imaginação humana.

Referências da Lição 1

Sobre isto veja conceito de Ralph Winter, sobre distanciamento


cultural, em HESSELGRAVE, David J. A Comunicação Transcultural do
Evangelho. Vol.Trd.Márcio Loureiro Redondo.São Paulo:Vida Nova.
1994, pág.143.
2
O Pacto de Lausanne lança luz sobre este tema afirmando que: “A
cultura deve sempre ser testada e julgada pelas Escrituras (Mc 7:8-
13). Por ser o homem criatura de Deus, elementos de sua cultura é
rica em beleza e bondade (Gn 4.21-23; Mt 7.11). Por ter decaído, a

11
cultura humana tornou-se contaminada pelo pecado e parte dela é
demoníaca”. Ver Série Lausanne, Vol.4, pág45.
3
HESSELGRAVE, David J. Vol. 1 op. cit. pág.87-88.
4
Camada social hereditária em que seus componentes possuem a
mesma raça, etnia, profissão ou religião. Na Índia este conceito está
associado ao religioso, focado no Karma.
5
Maneira típica de uma etnia interpretar o mundo, reagir à vida
conforme sua cultura. Concepção ou visão do mundo.
6
Contextualização é o esforço de apresentar o Evangelho de forma
relevante a com fidelidade bíblica.
7
O livro "Povos e Nações", de Antônio N. Mesquita - Juerp.
Proporciona boa fonte de pesquisa sobre este período e dados
arqueológicos sobre as culturas daquela época.
8
Este aspecto hermenêutico exemplifica a metodologia utilizada pela
Teologia da Libertação, que prioriza o fato histórico para encontrar
nas Escrituras aspectos que justifiquem seus postulados.
9
Rinaldo de Mattos foi missionário da JMN da CBB entre os craôes
nas décadas de 60 e 70. Foi o fundador da Missão ALEM e atual
consultor de assuntos indígenas para diversas agências missionárias.
10
Ler O Fator Melquisedeque, de Don Richardson, Ed.Vida Nova.
1986.
11
Missionário norte-americano, professor da Faculdade Teológica
Batista de São Paulo. Pensamento citado no CBTM (Centro Batista de
Treinamento Missionário), promovido pela JMN em setembro de 1989.
12
Do grego éthnos, alusivo a raça, nação ou povo.
13
Veja exemplos citados por NIDA (1985, p.2-5).
14
A Antropologia é dividida entre Antropologia Física e Social (ou
cultural). A primeira está voltada para a evolução da raça humana,
espécies naturais, entre outros. Já a Antropologia Social foca a
Arqueologia, a Lingüística e a Etnologia. É justamente a Etnologia que
usaremos nesta matéria. Ela trata da comparação entre as diversas
culturas, organizando em termos de sistemas sociais. O etnógrafo é o
coletor de materiais referentes às culturas. Já o etnólogo interpreta
estes materiais coletados e sistematiza suas observações. Para
maiores detalhes ver MARCONI, Marina & PRESOTO, Zélia.
Antropologia, uma introdução. Rio de Janeiro: Atlas. S.d
15
Diversas tendências teológicas usam o termo holismo, porém seu
uso aqui se refere ao utilizado pelo Evangelicalismo, referindo-se ao
Evangelho para a totalidade do homem. O Evangelicalismo originou-
se no final do séc.XIX visando combater o liberalismo europeu. Seus
dois expoentes a partir de 1940 foram Billy Graham e Carl P.H.Henry.
O ano de 1974 foi decisivo para o Evangelicalismo, pois se realizou na
Suíça o Congresso de Lausanne, com a presença marcante do
anglicano inglês John Stott. Este evento lançou as bases teológicas
sobre o alcance do homem todo ( espírito,corpo e alma, ou psique) e
de todo o homem.

12
Atividade de avaliação

1. A partir das várias definições apresentadas na apostila, elabore a


sua própria definição de Cultura.

2. O que é Contextualização? Apresente um exemplo disto no Antigo


Testamento e um exemplo no Novo Testamento.

3. Dos 4 princípios para a Contextualização, citados por Rinaldo de Mattos,


escolha 1 e explique-o.

4. O que é etnia e etnocentrismo?

5. Na perspectiva da antropologia social, explique os termos: Universais e


Variáveis Culturais. Dê dois exemplos de cada.

6. O que é forma e significado?

7. O que é Supra-cultural?

13

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