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VÁRIOS AUTORES
Como consultar este volume
Cada volume desta Enciclopédia constitui um pequeno tratado, uma unidade perfeitamente autónoma,
porquanto compendia toda uma disciplina. O assunto encontrase articulado numa série de
compactas monografias sobre os temas fundamentais da ciência ou da arte em questão,
alfabeticamente ordenados, que se identificam por um cabeçalho em negro. A fim de permitir uma
mais eficaz e rápida procura, cada tomo inclui, no final, um amplo índice analítico com a
indicação da página onde se explicam no texto assuntos de importância menos fundamental
incluídos na exposição. Por exemplo, se o leitor deseja informarse sobre a cultura do homem
préhistórico, encontrará no índice, na palavra cultura, além da remissão das páginas onde são
tratados os vários aspectos particulares de cultura, a indicação do tema Antropologia cultural
no qual se descrevem os factos específicos da manufactura de utensílios no quadro generalizado
da análise da linguagem e do comportamento humanos. As palavras registadas no índice analítico
são impressas no texto em itálico para facilitar a sua localização.
O sinal > indica que a explicação pode completarse com a leitura do artigo objecto da
remissão. Desta maneira estabelecese uma concatenação entre os diversos elementos constitutivos
do assunto tratado proporcionando ao leitor uma noção coerente e orgânica de todos eles. Os
períodos ou frases enquadradas no texto pelo sinal constituem contribuições originais, notas
explicativas ou esclarecimentos necessários do responsável pelo artigo nesta edição em língua
portuguesa. Os volumes reúnem deste modo as vantagens de um dicionário enciclopédico às de um
manual de introdução a uma disciplina, o que torna esta colecção um magnífico material de
consulta de incomparável valor para toda a pessoa culta.
Enciclopédia Meridiano // Fischer
Antropologia
Redacção e coordenação dos
Proi. Gerhard Heberer, Dr. Gottiried Kurth
Prol. Rse SchwidetzkyRoesing
Editora Meridiano,
Título da obra original ANTHROPOLOGIE
by Fischer Búcherei KG, Frankfurt ani Main
und Hamburg
Capa de Felix Gyssler
La edição portuguesa: Novembro 1967
2.a » » Abril 1971
3.a » » Março 1974
4.a » » Fevereiro 1979
CoDyright by
(0
Editora Meridiano, Limitada R. da Misericórdia, 67Lisboa2
Tradução de
A. DIAS RIBEIRO
LUIS M. FONTES
RUDIGER DIERM
V. MOURA RAMOS
Revisão de
AMÊRICO DE BRITO
Prefácio e supervisão de M. B. BARBOSA SUEIRO
Prof. cat. jub. Anatomia
Fac. Medicina Lisboa
Colaboração de
GERMANO F. SACARRAO
Prof. cat. Zool. e Antrop.
Fac. Ciências Lisboa
J. ARAIriJO MOREIRA
Assist. Física Médica Fac. Ciências Porto
CARLOS ALMAÇA Assist. Zool. e Antrop. Fac. Ciências Lisboa
RUY CINATTI
Dip. Antrop. Soe. e Etnog.
Universidade Oxford
JOSP CUTILEIRO
Dip. Antrop. Soe. e Etnog. Universidade Oxford
JOSE PEDRO MACHADO
Lic. Fil. Rom. Aca. Bras. Filologia
Colaboraram na redacção original deste volume
GERH"D HEBERER: Introdução Antropologia Genética
das populações História da antropologia Métodos da antropologia Origem do homem
Paleontropologia Sistemática dos primatas.
GOTTFRIED KURTH: Conceito de raça Génese das raças
História das raças.
ILSE SCHW1DETZKYROESING: Antropologia cultural Antropologia social Comprovação da
paternidade Constituição Crescimento Demografia Fisiologia das raças Genética humana
Psicologia das raças.
A reprodução total ou parcial de artigos incluídos neste volume é regulada pelo Preceituado no
Decreto n., 13 725
ADVERTÊNCIA
Este volume é o resultado dos esforços dum grupo de consagrados cientistas que nos permite
coordenar o nosso conhecimento sobre a origem do homem, a história da sua evolução, sua
distribuição por raças e seus aspectos biológicos. É a primeira obra em língua portuguesa na
qual se pode encontrar, conjuntamente, temas sobre a comprovação da paternidade, biologia
social, genética das populações como também sobre paleontropologia e serologia humanas.
A matériabase deste livro está ao alcance de todos e os seus colaboradores trabalharam no
sentido de actualizarem o mais possível alguns dos temas que o constituem, preservando contudo a
essência do original e tornandoo particularmente acessível ao leitor que não esteja ainda
familiarizado com os assuntos versados.
A esta edição portuguesa, além de contribuições dispersas por vários temas, foi acrescentado o
artigo referente à «Biotipologia», da autoria do Dr. Carlos Almaça, como igualmente se incluíram
muitas páginas originais do Prof. G. F. Sacarrão, em especial nos temas que respeitam à «Origem
do homem», «Paleontropologia», « Conceito de raça» e «Sistemática dos primatas».
A maior dificuldade na coordenação da presente edição residiu, porém, na adopção duma apropriada
e uniforme terminologia, pois sendo a antropologia uma ciência em permanente evolução verifica
se, quer em obras originais portuguesas quer em traduções da especialidade, critérios diferentes
nas designações por cada qual perfilhadas e na inevitável criação de neologismos. Grande parte
dos termos ultimamente empregados em escritos sobre antropologia ou ciências auxiliares não se
encontram registados pelos dicionaristas. Impunhase, portanto, procurar uniformidade para
certas palavras de emprego mais corrente, especialmente as que designam culturas, raças, povos e
grupos étnicos.
Advertência
Morosas e inúmeras consultas foram dirigidas a antropólogos, emólogos, arqueólogos, pré
historiadores, filólogos e linguistas até se encontrar uma aceitação quase unânime para a
nomenclatura a utilizar nesta obra.
Sem se pretender considerar como definitiva a terminologia agora adoptada, apresenta este livro,
além do seu valor intrínseco na divulgação duma ciência tão excitante como é a antropologia, o
mérito de ter contribuído para a sua uniformidade.
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PREFÁCIO
A palavra antropologia (do grego avOpwrog, homem+ +,kuyoç, tratado) significa etimologicamente
a ciência, ou melhor, o conjunto de ciências que versam o estudo do Homem.
já no tempo de Aristóteles havia antropólogos, filósofos que cultivavam o estudo das actividades
mentais, tidas como os caracteres mais especificamente humanos. Esses psicólogos em antecipação
entendiam que o Homem se assinala entre os seres vivos pelo fulgor da actividade mental, e assim
a palavra antropologia se aplicava ao estudo dos factores que mais distinguiam o Homem. Tal
conceito foise perdendo e o étimo surge então na linguagem dos teólogos, e porventura criado de
novo, para exprimir acções e sentimentos atribuídos a Deus, mas que são próprios dos homens. De
resto, esta acepção não alcançou uso correntio.
Reaparece o termo na Renascença, assumindo a significação de código de preceitos morais, com
Magnus Hundt: (1501), e assim foi perdurando. Kant publicou em 1788 o seu «Ensaio, de
Antropologia», contendo problemas de ética, e por sinal de leitura aliciante, embora redigidos
naquele estilo difícil, bem peculiar do crítico da razão pura. Anos antes (1772), D'Alembert e
Diderot registaram a palavra na Enciclopédia e repertaramse à etimologia de «tratado, sobre o
Homem», mas sem aludir à natureza dos assuntos ali incluídos.
Desde remotos tempos que se encontram, nas mais diversas obras, factos que actualmente pertencem
ao quadro das ciências antropológicas. No século xviii desenvolvese a acção prática do
cartesianismo, os conhecimentos já existentes são catalogados, surgindo novas ciências, por
virtude da paixão metodológica que se assenhoreara de todos os pensadores. Essa metodização
rasgava também horizontes novos na observação e interpretação dos fenómenos e nomea
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damente nos que respeitavam às ciências da natureza. A filosofia consagrada em uma arte de
acrobacia mental, para alimentar devaneios imaginativos e as maranhas dos raciocínios, sofria o
embate da nova filosofia natural, com base na observação concreta e na objectivação rigorosa dos
factos naturais.
Pelo decurso do século xviii foise manifestando um novo critério para o estudo do Homem, quanto
à anatomia, à comparação dela com a dos outros animais e ainda na sua aplicação aos primeiros
ensaios de classificação racial, devendo recordarse os nomes de alguns cientistas, como Buffon,
Blumenbach, Lineu, Daubenton, Soemmerring, Camper, White. Com o dealbar do século xix
intensificouse o estudo do Homem, no ponto de vista naturalístico, em larga escala, e passou a
aparecer o vocábulo antropologia para designar a orientação. Assim, encontrase em Serres, em
1838, como professor de Antropologia, ou História Natural do Homem, no Museu de História Natural
de Paris, a individualização de ciências recentes, no século anterior e no que decorria, por
exemplo anatomia geral, embriologia, fisiologia, anatomia patológica, anatomia comparada ou
filosófica, anatomia plástica ou artística, demografia, paleontologia, etnologia e etnografia,
sociologia.
Os mais denodados fomentadores, directos ou indirectos, da antropologia nos primeiros anos do
século passado foram decerto Prichard, Cuvier, Lamarck, I. Geoffroy SaintHilaire, Serres,
embora as respectivas doutrinas não fossem concordantes mas até antagónicas em muitos aspectos.
A literatura científica foi~se enriquecendo valiosamente com escritos de índole antropológica,
nos primeiros cinquenta anos do século xix, nos assuntos que apaixonavam os naturalistas. A
doutrina criacionista de Cuvier, segundo a qual os seres vivos haviam sido criados
independentemente, com caracteres morfológicos imutáveis, estava no declínio, pela influência do
lamarckismo, segundo o qual as espécies se transformam sob a acção do meio em que vivem e ao
qual têm de adaptarse para sobreviver. Era o desenvolvimento da doutrina transformista que na
segunda metade do século floresceria, embora com modalidades como o evolucionismo de Spencer e o
darwinismo, ou doutrina da
12
Pref ácio
selecção natural, a que mais se celebrizou, até. o aparecimento do mutacionismo de De Vries. O
positivismo de Augusto Comte exerceu também grande influência na laboração dos ensaios
antropológicos.
Foi nos meados do século passado que a antropologia se tomou ciência da moda, o que é comprovado
pela fundação de numerosas sociedades científicas destinadas a cultivála. Existia em Paris uma
Sociedade de Etnologia, inaugurada em 1839, a qual mudou o nome para Sociedade de Antropologia
de Paris em 1859 e ainda hoje existe. A partir desse ano, até 1874, fundaramse sucessivamente
novas sociedades nas principais cidades europeias, e damos notícia de algumas dez. Surgiu a
técnica antropométrica, à qual está ligado o nome de Paul Broca como o mais ilustre corifeu,
embora não seja o criador do método, que aliás vinha de longe. Quetelet, astrónomo e matemático,
teve a ideia de estudar os fenómenos vitais pelos métodos estatísticos que usava na astronomia,
sendo assim um precursor da biometria, instituída por Pearson já nos começos do século xx. Outro
impulso extraordinário se manifestou nos estudos da préhistória, em que também Broca foi dos
mais eminentes investigadores.
Começaram a efectuarse congressos de antropologia, nos quais a préhistória se assinalava como
ciência preferida.
No decurso do último quartel do século xix, com Lombroso, apareceu a antropologia criminal, que
originou igualmente congressos especiais. A escola de Lombroso alcançou grande nomeada e as suas
doutrinas ultrapassaram os meios científicos e atingiram o grande público de cultura média.
O labor dos antropólogos, de orientação especulativa, filosófica, pode dizerse que
exclusivamente na primeira metade do século assumiu para a segunda metade um carácter de
aplicação prática. Podem apontarse a propósito numerosos estudos de sistemática apurada para a
técnica da identificação humana, baseandose sobretudo na sinalética
e na antropometria. Outra especialização, também de carácter prático, é a antropologia escolar
ou pedagógica, que actualmente conta avultadi literatura do maior interesse.
No século presente cumpre destacar, no elenco das ciências antropológicas, a individualização da
constitucionalís
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Prefácio
tica, biotipologia, biometria humana, antropobiologia, genética humana, eugenia.
Em Portugal foi também nos meados do século xix que se revelaram os primeiros antropólogos. A
antiga Comissão dos Serviços Geológicos do Reino, hoje Serviços Geológicos, organizou um museu
antropológico, onde se foram coleccionando os materiais colhidos e estudados por Carlos Ribeiro,
Pereira da Costa, Nery Delgado, Paula e Oliveira. Carlos Ribeiro fruiu fama internacional com a
sua interpretação de que uns sílices encontrados em terrenos terciários dos vales do Tejo e do
Sado tinham sinais de trabalhos de hominídeos. O trabalho, publicado em 1871, teve a aceitação
de Mortillet, que denominou o hipotético hominídeo Homo símius Ribeiroi.
Entre os intelectuais portugueses adquiriu então a antropologia certa voga e era do bom tom
falar frequentemente dessa ciência. A Sociedade de Ciências Médicas e a Sociedade de Geografia
criaram, em 1879, comissões permanentes de antropologia, das quais ainda perdura a desta última.
Um acontecimento de notável relevo foi a reunião em Lisboa, no ano de 1880, do IX Congresso
Internacional de Antropologia e Arqueologia Préhistórica, em que tomaram parte umas três
centenas dos mais ilustres cientistas europeus desse tempo. Os congressistas portugueses eram
oitenta e sete, onde se encontravam os maiores nomes dos intelectuais da época.
O ensino oficial da antropologia iniciouse no nosso país com a criação da cátedra de
Antropologia e Arqueologia Préhistórica, fazendo parte da formatura na antiga Faculdade de
Filosofia Natural da Universidade de Coimbra. Foi devida a Bernardino Machado, professor da
referida Faculdade daquela Universidade; a respectiva proposta de lei foi aprovada pelo
Parlamento e o Doutor Bernardino Machado assumiu a regência da cadeira que brilhantemente ocupou
durante muitos anos. Também o mesmo professor fundou nesse tempo, na Universidade de Coimbra, um
museu de etnografia, contendo colecções de cabeças ósseas humanas e moldes de um legado
testamentário do célebre excêntrico o comendador da Gama Machado. Devese ainda ao mesmo
professor, quando no ano de 1893 foi ministro das
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Prefácio
Obras Públicas, a fundação do Museu Etnográfico Português, actualmente instalado no edifício do
Mosteiro dos Jerónimos, com o nome de Museu Emológico Dr. Leite de Vasconcelos, em homenagem à
memória do seu primeiro director. Também em 1897 criou Bernardino Machado a Sociedade de
Antropologia em Coimbra. Na mesma cidade foi organizado o Instituto de Antropologia por Eusébio
Tamagniri, que sucedeu a Bernardino Machado na cátedra, até jubilarse, em 1948, ao qual se
seguiram os Profs. José Antunes Serra e Xavier da Cunha. Numerosos trabalhos têm sido publicados
nesse Instituto por muito investigadores, dos quais se destacam Eusébio Tamagnini, J. A. Serra,
Barros e Cunha, António Themido, Queirós Lopes, Canedo de Morais, Cardoso Teixeira, Simões de
Carvalho, Duarte Santos, Isinénio Cardoso, W. L. Stevens, Maximiano Correia, Xavier de Morais,
Maria Maia Neto.
Desde 1887 existia no Porto a Sociedade de Carlos Ribeiro, que tinha como seu órgão a Revista
de, Ciências Naturais e Sociais, que a partir de 1898 passou a chamarse Portugalia e terminou
no ano de 1908. Contavamse entre
os seus principais colaboradores Ricardo Severo, Fonseca Cardoso, José Fortes, Rocha Peixoto. Em
1911 o primeiro governo da República Portuguesa instituiu a Universidade do Porto, transitando a
antiga Academia Politécnica para a Faculdade de Ciências, na qual foi instituída uma cátedra de
Antropologia e para ela nomeado Mendes Correia, ainda com a direcção do Instituto de
Antropologia. Este cientista assumiu mais tarde, em Lisboa, a direcção da Escola Superior
Colonial, actualmente Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Ultramarinas, até
jubilarse, tendo falecido pouco tempo decorrido. Deixou numerosos trabalhos nos diferentes
ramos das ciências antropológicas.
O Instituto de Antropologia do Porto, hoje com o nome do seu fundador, foi a seguir dirigido por
Alfredo Ataíde e actualmente está sob a direcção do professor da cadeira, Doutor Santos Júnior.
No ano de 1918 fundou Mendes Correia a Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, cuja
revista publica os seus trabalhos e ainda de outros colaboradores, Além de Mendes Correia e dos
seus discípulos Alfredo Ataíde e Santos Júnior, temos a mencionar
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Prefácio
muitos outros cientistas portugueses dedicados à antropologia, como J. A. Pires de Lima, Hemâni
Monteiro, Américo Pires de Lima, Bettencourt Ferreira, Amândio Tavares, Luís de Pina, Filipe
Ferreira, Constâncio Mascarenhers, Lino Rodrigues, Melo Adrião, Fernando C. Pires de Lima.
Efectuouse em 1930 o XV Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Préhistórica,
simultaneamente com a V Assembleia Geral do Instituto Internacional de Antropologia, com as suas
sessões no Porto e em Coimbra. Também no Porto se reuniu, em 1934, o 1 Congresso Nacional de
Antropologia Colonial.
Em Lisboa, depois do Congresso de 1880, as secções de Antropologia da Sociedade de Geografia e
da Sociedade das Ciências Médicas tiveram diminuta actividade. Leite de Vasconcelos fundou a
revista O Arqueólogo Português, onde inseria grande parte dos seus escritos, que versam
principalmente sobre etnografia; nesta publicação colaborou igualmente Estácio da Veiga.
Francisco Ferraz de Macedo, natural de Águeda, fora para o Brasil ainda criança com os pais.
Formouse em Medicina na cidade do Rio de Janeiro e aí exerceu clínica durante anos, conseguindo
deste modo amealhar fortuna. Apaixonado pela antropologia, frequentou a Escola de Antropologia
de Paris. Instalouse em Lisboa e aqui viveu nos últimos vinte e cinco anos do século passado e
nos primeiros do presente, falecendo em 1907. Escreveu bastantes memórias, ensaios,
comunicações, notícias sobre temas antropológicos e organizou uma colecção de mil cabeças ósseas
humanas ‘e duzentos esqueletos humanos, identificados, que, pouco antes de morrer, ofereceu ao
Museu Bocage, da Escola Politécnica, e constitui valiosa colecção para estudos de osteologia
humana. Alguns estudos com esse material foram realizados por António Aurélio da Costa Ferreira,
antigo discípulo de Bernardino Machado em Coimbra e que se fixara em Lisboa pouco antes da morte
de Ferraz de Macedo. Costa Ferreira exerceu o cargo de naturalista do Museu Bocage, na secção
antropológica, até próximo da data da sua morte, em 1922.
Restaurada a Universidade de Lisboa, no ano de 1911, a antiga Escola Politécnica passou a
Faculdade de Ciências
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Prefácio
e nela criado um curso de Antropologia, regido pelo professor de Zoologia, Baltasar Osório, com
o Dr. Bettencourt Ferreira no cargo de assistente. Seguiuse, a partir de 1926, o Dr. Fernando
Frade na regência teórica de Antropologia e nós na regência das aulas práticas. De 1940 a 1961
regemos esse curso, sucedendonos o Prof. Germano Sacarrão. Durante bastantes anos realizámos o
ensino prático juntamente com o teórico. O Prof. Ricardo Jorge, director do Museu Bocage,
iniciou a publicação de uma revista, em
1927, com o título de Arquivos do Museu Bocage, na qual publicou bastantes trabalhos, alguns em
colaboração com Herculano Vilela e Viana Fernandes.
A partir de 1912, o Prof. Henrique de Vilhena, que dirigira o Instituto de Anatomia da Faculdade
de Medicina da Universidade de Lisboa, iniciou a publicação do Arquivo de Anatomia e
Antropologia, actualmente no XXXIII volume, onde se encontram numerosos artigos sobre
antropologia.
No ano de 1919 foi criado o Curso Superior de Medicina Legal, do qual fazia parte um curso
semestral de Antropologia Criminal, regido por Xavier da Silva, a quem sucedemos, em 1949, após
a jubilação daquele colega.
O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Ultramarinas possui uma cadeira de
Etnografia, regida pelo Dr. António de Almeida, autor de numerosos trabalhos, principalmente
sobre aborígenes de Angola..
Foi fundado em 1933 o Instituto Português de Arqueologia, História e Etnologia, que publica a
revista Ethnos.
Efectuouse em Lisboa, no ano de 1952, o I Congresso de Medicina Tropical, onde havia uma secção
de Antropologia, Etnologia e Nosologia.
Deve dizerse que os estudos sobre a antropologia do Ultramar Português têm despertado o
interesse de alguns investigadores, dos quais se destacam os nomes de Germano Correia, Santos
Júnior, António de Almeida, Alexandre Sarmento.
O Prof. Vítor Fontes, discípulo de A. A. Costa Ferreira, escreveu numerosos trabalhos
antropológicos nos dois institutos de que foi director, o do Doutor António Aurélio da Costa
F=eira, para crianças anormais, e o Instituto de
17
Prefácio
Anatomia Henrique de Vilhena, da Faculdade de Medicina de Lisboa.
Pelo exposto, bem se compreende que a antropologia não seja propriamente uma ciência, mas o
conjunto de todas as ciências respeitantes ao Homem considerado individual ou colectivamente.
Antropologia é pois uma enciclopédia de tudo quanto directamente diz respeito ao Homem e à
Humanidade.
Consignase deste modo a dificuldade havida na definição de antropologia de maneira aceitável.
Convém no
entanto que apontemos algumas delas.
Chamaramlhe, no século passado (Quatrefages), «história natural do Homem», o que é bastante
impreciso. Outra, já deste século, é também infeliz, a de Frassetto, que a designa por «zoologia
do Homem». Broca, há um século, tentou definirlhe o âmbito como o «estudo do grupo humano no
conjunto, nos pormenores c nas relações com o resto da natureza».
Lehmann emitiu uma definição que obteve bastante aceitação: «estudo físico e psíquico do género,
humano, do ponto de vista comparado».
A de Mendes Correia é mais satisfatória, ao referir que a antropologia «estuda os caracteres
humanos físicos e psíquicos que têm interesse do triplo ponto de vista: LO, da posição do Homem
na escala zoológica; 2.O, da origem do Homem e conhecimento dos primeiros hominídeos; 3.O, da
classificação das raças, povos e tipos humanos».
Pela nossa parte, entendemos que antropologia é «o conjunto de ciências em que se faz o estudo
do Homem, não só com fim especulativo mas também com o de aplicação, considerado individual e
colectivamente, não só quanto à constituição e estrutura, quer normal quer patológica, como à
dinâmica vital, à origem, à situação na escala zoológica e sua evolução, aplicandose nesse
estudo os métodos que vara tal possam ser empregados».
Conforme atrás referimos, foi a partir dos meados do século passado que começaram a formarse
novas ciências, pela necessidade de codificar a grande soma de conhecimentos acumulados já e a
cada passo acrescentados com
18
Prefácio
outros de recente aquisição, graças ao entusiasmo que os cientistas manifestaram pelas ciências
da natureza.
Cada obra que actualmente se publique com o nome de Antropologia assumirá feição própria,
organizada segundo a opinião do autor de acordo com o conceito, que tenha da índole básica dessa
ciência. Dada a diversidade dos critérios, entre essas obras encontramse profundas
divergências, não só nos objectivos doutrinários, como também no programa para a exposição dos
factos. O avultado número e a extensão dos conhecimentos ditos antropológicos explica e quiçá
justifica a quebra de unidade doutrinal patenteada de obra para obra.
Mas verificase também que os seus autores procuram seleccionar e relacionar factos da
observação, no intuito claro de estabelecer conjuntos que impliquem escopo classificador.
Se é difícil definir, não é mais fácil classificar, donde o amálgama de métodos, que traduzem
subtilezas de opiniões e mesmo obnubilações na arte espinhosa do labor científico.
Broca, em 1866, classificava as ciências antropológicas em: antropologia zoológica, antropologia
descritiva ou etnológica e antropologia geral. Topinard, em 1885, apresentou uma classificação
mais complexa: A) Antropologia propriamente dita ou zoológica, compreendendo duas secções:
1) geral (a da espécie humana); 2) especial (a das raças humanas); B) Etnografia, em duas
secções: 1) geral (comum a todos os povos); 2) especial (particular de cada povo).
Em 1891, a Escola de Antropologia de Paris, ainda no auge, possuía dezanove cadeiras ou cursos,
cuja relação implica um plano classificador. Eram os seguintes: Antropologia e Embriologia,
Antropologia Anatómica, Antropologia Biológica, Antropologia Geral, Antropologia Linguística,
Antropologia Patológica, Antropologia Fisiológica, Antropologia Préhistórica, Antropologia
Zoológica, Demografia, Etnografia, Etnografia Comparada, Etnografia e Linguística, Etnologia,
Geografia Antropológica, Geografia Médica, Sociologia, Etnografia Geral, Paleontologia Humana.
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Prefácio
Briton, em 1892, propôs a seguinte: somatologia (contendo anatomia, fisiologia, biologia humana,
psicologia); etnologia; etnografia; arqueologia.
Martin, em 1900, apresentou a seguinte classificação: antropologia física (sinónimo de
somatologia ou de morfologia); antropologia psíquica (sinónimo de etnologia e de etnografia).
Tylor, em 1906, fez conhecer a sua classificação, que despertou muito interesse entre os
antropólogos: I) Antropologia física, com as subdivisões em: antropologia zoológica;
antropologia palcontológica; antropologia etnológica; II) Antropologia cultural, com estas
subdivisões: arqueologia; etnologia; sociologia, subdividida em: organização do governo c da
sociedade; ideias morais e códigos; práticas religiosas; expressão do pensamento, linguagem
escrita, desenho, etc.; tecnologia (artes, indústrias, suas distribuições geográficas).
Frassetto, em 1908, formulou a que se segue: antropologia física, com a secção: a) geral,
compreendendo: antropologia zoológica c antropogeografia; antropologia embriológica ou
antropogenia; antropologia anatómica; antropologia fisiológica; antropologia patológica;
antropologia biológica, e b) especial, compreendendo antropologia palcontológica ou
paleontropologia.
Nas classificações mencionadas não figuram algumas especializações, que se têm organizado e
caracterizado indubitavelmente como ciências actuais, como antropometria, compreendendo a
somatometria e a osteometria, hoje muito desenvolvidas pela aplicação dos métodos estatísticos
desde a criação da biometria por Karl Pearson, constitucionalística e biotipologia, que
originaram a recente psicossomática, noantropologia, com que se designa presentemente a
antropologia cultural, antropotaxia (classificação das raças humanas), origem do Homem, a que se
deve aplicar o nome de antropogenia, que outros empregam como sinónimo de embriologia humana,
genética humana. Também não figuram as especializações da denominada antropologia aplicada, como
antropologia criminal, antropologia judiciária, antropologia escolar ou pedagógica, antropologia
militar, sinalética e identificação.
20
Prefácio
Afirmou Sófocles que «no meio de todas as maravilhas não há maravilha maior do que o Homem».
Quando os cientistas quiseram conhecer esta maravilha compreenderam que um mundo de
extraordinárias surpresas se lhes oferecia a estimularlhes a inteligência no desejo de
justificar o deslumbramento que os atingira, levandoos a aprofundar o conhecimento do Homem com
a criação de novas ciências.
Lisboa, Outubro de 1967.
M. B. Barbosa Sueiro
21
INTRODUÇÃO
Dar um quadro completo e exaustivo da antropologia não é tarefa fácil, pois que esta ciência tem
apresentado no transcorrer do tempo ‘uma extraordinária variedade de aspectos e desenvolvimento
em diversos sentidos. Não é possível por essa razão delimitála nitidamente, assim como qualquer
das ciências afins etnologia, psicologia e também a sociologia. Existem vastas zonas marginais
com problemática própria. No presente volume propomonos tratar especialmente a antropologia
«física», que é essencialmente uma disciplina das ciências naturais e trabalha com métodos
análogos. Visto o seu objectivo consistir no estudo do homem do ponto de vista biológico, é
apropriado, como propôs E. Fischer, falar de antropobiologia; de resto também E. v. Eickstedt
estabeleceu, com fundadas razões, a necessidade de acrescentar, ao lado da botânica e da .,:)
Iogía, um terceiro ramo da biologia, uma biologia humana geral, da qual a «antropologia física»
deveria ser apenas um sector fundamental. Neste volume encontrarseá além disso uma temática
muito variada: nela procurouse destacar a antropologia, como «ciência do homem», do domínio
exclusivamente biológico para a inserir numa «ciência geral do homem», na qual possam encontrar
o seu lugar também as disciplinas humanísticas.
Apresentamos este volume esperançados em que o seu conteúdo contribua para a difusão de um
conhecimento mais preciso sobre um sector mal explorado pela investigação científica e para
dissipar os preconceitos que os movimentos racistas, e sobretudo o nacionalsocialismo, tentaram
criar em tomo dele. Os redactores do volume colaboraram num plano de absoluta igualdade. A
direcção da obra foi confiada ao signatário. Na compilação do trabalho não surgiram quaisquer
divergências dignas de reparo entre os três colaboradores, Isto significa que a antropologia,
não obstante a sua
22
Introdução
breve, mas trabalhosa existência, apesar da diversidade da sua problemática, que vai da física
molecular à psicologia da profundidade, está já hoje consolidada de forma a tornar possível uma
exposição tão complexa como a presente. É óbvio que quando se chega às particularidades,
especialmente se se trata de problemas muito profundos, não existe uma opinião unânime, pois que
numa ciência na qual não é possível empregar a experiência projectada tal unanimidade não se
pode obter. Os nossos conhecimentos são mesmo hipotéticos, provisórios, sem bases estáveis; a
hipótese, porém, é o «primum movens» da ciência, e isto não é menos válido para a antropologia.
Esforçámonos, no entanto, por confrontar, sempre que foi possível, o elemento puramente
hipotético referente ao conjunto das teorias com os dados seguramente estabelecidos. Por grande
que seja o número de correlações ainda não de todo claramente asseguradas, e por fragmentário
que seja o material de que dispomos, resta todavia um fundo sólido de conhecimento sobre o qual
se poderá edificar e que é lícito
arriscar a previsão constituirá no futuro a base para um ulterior desenvolvimento desta
ciência tão difícil. óbviamente este livro não se propõe esgotar, nem sequer aproximadamente,
nas particularidades, a «antropologia» como ciência natural e biológica, nem foi nosso intuito
escrever tal obra como padrão para o especialista. Pelo contrário, este livro é dirigido ao
profano, quer trabalhe em disciplinas afins, quer tenha simplesmente um interesse geral pela
nossa ciência; para ele a leitura deste livro poderá ser proveitosa. Depararselheão talvez
problemas e factos sobre os quais antes não terá provavelmente tido ocasião de se debruçar, ou
que talvez tivesse mesmo ignorado. Assim, para citar ao acaso um exemplo, indicamse algumas
entre as raízes mais profundas da «antropologia médica» e acerca da «antropologia fisiológica»
fornecese uma base que poderá também estimular a «antropologia teológica».
Na redacção dos artigos procurouse fugir à esquematização, de modo que o leitor possa
reconstituir sem esforço um quadro orgânico da matéria. Cada artigo apresentase ante§ como
individualidade bem definida atrás da qual não é naturalmente impossível reconhecer a perso
23
Introdução
nalídade do autor. Os redactores deste volume esperam ter conseguido dar unidade aos vários
sectores, tão diversos e divergentes, da antropologia, de tal modo que esta dê a impressão de
uma visão unitária do homem.
Agradecemos à casa editora e à redacção da Enciclopédia o auxílio e a compreensão demonstrados
durante a redacção desta obra.
Gerhard Heberer
24
Antropologia Antropologia significa etimologicamente «ciência do homem». O termo remonta a
Aristóteles, mas surge novamente em 1655 empregado por um anónimo para indicar a anatomia e a
fisiologia humanas. A antropologia, que só há poucos decénios atingiu grande desenvolvimento
científico, não alcançou ainda uma definição unitária no seu campo de investigação. Recentemente
algumas sugestões foram propostas para definir a antropologia como ciência e delimitar o seu
objectivo. (E. von Eickstedt,
1937; E. Fischer, 1953; K. Saller, 1957). Neste trabalho reportarnosemos especialmente a
Fischer (195355). Actualmente uma das primeiras tentativas de definição é a dada por R. Martin,
que na sua obra já clássica «Lehrbuch der Anthropologie i n systematisher Darstellung» (1914)
(«Tratado Sistemático de Antropologia») a definiu como «história natural dos hominídeos na sua
evolução no espaço e no tempo». Esta definição marcou durante muito tempo o conceito de
antropologia em todos os países, com
excepção dos da língua inglesa. Nestes a antropologia é dividida em dois ramos: 1) história
natural dos hominídeos, chamada «antropologia física», e 2) etnologia e etnografia (sociologia e
etnografia), o que dá em resultado englobaremse nela vastos sectores da história da
civilização. O desenvolvimento recente da ciência antropológica mostra que a definição de Martin
é muito restrita, pois que no que respeita à «história» natural, a antropologia abrange
unicamente o presente e o futuro. Como ciência natural a antropologia compreende tudo o que é
analisável com os métodos das ciências naturais (> Mélodos de antropologia), ou seja a
morfologia (o estudo descritivo das formas somáticas) e a fisiologia (ciência das funções do
corpo), compreendidos os processos biológicos e as variações hereditárias, como a variabilidade,
a mutabilidade de transmissão de caracteres, os mecanismos evolutivos (selecção, «derivação
genética», etc.), a génese dos grupos humanos e a história da evolução dos hominídeos (formação
das espécies e sua distribuição geográfica). Também têm de
25
Antropologia
ser tomados em consideração os outros primatas, e particularmente os símios antropomorfos, pelo
facto de serem os mais próximos parentes dos hominídeos. Este complexo conteúdo da «história
natural dos hominídeos», aqui sumariamente esboçado, constitui s@mente parte daquilo que uma
ciência do homem deve indagar. Os métodos das ciências naturais permitemnos apreciar unicamente
um aspecto do homem mas não a sua psique e as manifestações da sua actividade. Se bem que o
estudo dos gémeos e das famílias, a etnografia e a etnologia respeitem essencialmente às
ciências naturais no que se refere à aplicação dos seus métodos, todavia alargase também ao
sector das ciências do espírito. Salientemos, como E. Fischer, que o «antropólogo prestes a
terminar a sua investigação não pode supor ir alcançar o seu termo ou ter esgotado todas as
fontes da ciência para o conhecimento do homem». Há na antropologia um aspecto que a aproxima
das ciências do espírito, pelo que não pode ser considerada apenas como uma «história natural»
dos hominídeos. A definição de Martin mostrase deste modo incompleta: na realidade
não podemos aplicar o termo «antropologia» a disciplinas distintas da história natural do homem,
ainda que igualmente se interessem pela natureza humana; temos assim uma antropologia filosófica
(M. Scheler), uma antropologia cultural (E. Rothacker), uma antropologia cristã (H. Thielicke),
uma antropologia médica (V. v. Weizsãcker): no que se refere a esta última é claramente
compreensível que esta disciplina não se pode nitidamente separar da antropologia como ciência
natural. A possibilidade de fundir numa antropologia única os dois modos de observar o homem o
das ciências naturais, por um lado, e o das ciências de espírito, por outro parte precisamente
do princípio de que o homem constitui uma unidade físicoespiritual que pode ser analisada por
qualquer dos modos. O objectivo consiste em obter um quadro da natureza do homem. Este processo
síntese pode ser por isso definido globalmente. já Egon von Eickstedt classificara a
antropologia, ao lado da biologia dos animais (zoologia) e a das plantas (botânica), como a
«terceira biologia», ou seja a biologia do homem. E. Fischer propôs o uso do termo de
«antropobiologia» para esta biologia naturalística do
26
Antropologia
homem, pois que ela ultrapassou o conceito convencional da antropologia como história natural
dos hominídeos, enquanto com o nome de antropologia, correspondentemente à acepção literal do
vocábulo, se poderá indicar o estudo do homem em geral. O termo abrangeria deste modo quer a
investigação natural quer a do espírito (compreendidas também a metafísica e a teologia).
Nesta enciclopédia mantevese o conceito tradicional de antropologia no sentido de uma
disciplina naturalística, não esquecendo porém as ligações que ela tem também com as ciências do
espírito. A confusão que reina numa parte, felizmente não muito extensa, do literatura
científica é, na verdade, considerável, mas apesar disso não tem provocado qualquer dano à
«verdadeira» antropologia. O leigo não irá procurar um filósofo ou um teólogo ou um médico, a um
instituto de antropologia. Por outro lado, tãopouco a zoologia se ocupará intensamente, por
exemplo, da investigação do comportamento» (behaviorismo; psicologia animal) ultrapassando assim
limites já de há muito estabelecidos e mudando o seu nome para zoobiologia. óbviamente esta
analogia não é apropriada, porque, dada a posição particular do homem perante os animais em
razão da sua inteligência, na antropologia a situação é bem diferente. Em todo o caso a
antropologia não vai ao ponto de pretender tornar possível a elaboração de uma exaustiva
investigação da natureza do homem.
De acordo com o esquema de E. Fischer, nesta obra articularemos como segue a esfera de acção da
antropologia:
1) Morfologia humana: morfologia geral e comparada do
corpo, dos sistemas orgânicos e dos órgãos dos hominídeos;
2) Estudo das raças: morfologia sistemática e história
das raças;
3) Paleontropologia: morfologia dos hominídeos fósseis (no quadro dos primatas), história da
evolução
humana (antropogéneses).
4) Genética humana ou antropogenética (doutrina da
hereditariedade humana): mecanismos hereditários, doutrina da variabilidade, selecção, genética
das populações, leis da diferenciação racial (ver também 3).
27
Antropologia cultural
5) Fisiologia humana: investigação comparada das funções corporais;
6) Psicologia humana: investigação das diferenças do comportamento;
7) Patologia humana: aberrações morfológicas e fisiológicas, relações com a genética humana;
8) Antropologia social: sociologia dos grupos, antropologia dos grupos;
9) Antropologia aplicada: eugenética, higiene racial.
Para obter os seus resultados, a antropologia recorre aos métodos de pesquisa utilizados pela
biologia geral, adaptados ao objectivo da sua investigação (o homem: > Métodos de
antropologia).
A antropologia não pretende «abranger o homem no seu todo, isto é, no seu aspecto espiritual
inescrutável, com os métodos das ciências naturais, nem tãopouco negálo (E. Fischer).
Antropologia cultural O homem vive num meio cultural criado por ele próprio; é isto que
fundamentalmente o distingue. Não é possível, portanto, uma caracterização do homem sem a
análise e definição deste aspecto do comportamento humano. A tarefa da antropologia cultural
consiste em elaborar e interpretar, a partir do material científico existente, o que é essencial
para tal efeito. A antropologia cultural descreve as variantes de cultura como variantes de
comportamento e, portanto, constitui parte de uma investigação biológica do comportamento
(etologia). As suas atribuições mais importantes são: 1) O estudo da variabilidade de elementos
culturais e de culturas, distinguindo entre constantes e variantes culturais; 2) O confronto e,
em determinados casos, a comparação entre os modos de comportamento humanos e animais; 3) O
problema da relação entre modos de comportamento instintivos (hereditários) e adquiridos (por
aprendizagem), bem como o das bases biológicas gerais que servem de estrutura às capacidades
culturais do homem.
CONSTANTES E VARIANTES CULTURAIS. A acção estruturante que a cultura exerce sobre o
comportamento humano
28
Antropologia cultural
diz respeito a todas as «esferas funcionais». Esta expressão, usada em ecologia (v. Uexküll),
indica determinados círculos de vida com uma certa associação de órgãos, funções ou modos de
comportamento, por um lado, e, por outro, determinadas partes do ambiente. Os círculos
funcionais da alimentação, da hostilidade para com o inimigo, do sexo, etc., também existem para
o homem, mas são de tal modo complicados por factores culturais intermediários que deixa de
existir qualquer espécie de contacto directo entre o organismo e o meio natural; verificase
deste modo uma «dilatação das esferas (ou círculos) funcionais» (Storch). No círculo funcional
da alimentação, por exemplo, o acto directo da aquisição de alimentos foi ampliado, mediante a
divisão do trabalho, à produção dos meios de sustento e à troca ou compra. Para o combate aos
inimigos, o homem não possui qualquer órgão específico, servindose, desde os estádios mais
primitivos de civilização, de armas construídas artificialmente. No círculo funcional do sexo
incluemse costumes tradicionais de aproximação, corte, noivado e casamento, bem como a
regulação social das atribuições sexuais, etc. Esta construção de um novo ambiente
especificamente humano a partir de coisas feitas ou inventadas também se designa
autodomesticação, porquanto existem pontos de contacto com o ambiente «artificial»,
arbitrariamente influenciado pelo homem, dos animais domésticos; em ambos os casos se verificam
sobretudo transformações arbitrárias nas condições que regem a nutrição e a reprodução. Estas
transformações implicam análogas consequências biológicas, principalmente um aumento da
variabilidade mediante o decréscimo da pressão selectiva (E. Fischer) .
Existe grande número de culturas vivas e mortas, isto é, de «formas típicas nas quais o homem
representou e orientou a sua vida» (Mühlmann). Calculase o seu número em 3000 ou mais, conforme
a quantidade de elementos culturais necessários para diferenciar as várias culturas. Só o
conjunto de todas as variantes culturais de comportamento representa o comportamento específico
do homem, e esse comportamento é precisamente caracterizado pela sua extraordinária
variabilidade. As características comuns a todas as culturas vivas estão relativamente pouco
generalizadas
29
Antropologia cultural
(Mühlmann): 1) Em todas as culturas a natureza é transformada tecnicamente para satisfazer os
imperativos de alimentação, abrigo e defesa; 2) Em todas elas se encontra um pensamento
simbólico e uma linguagem com símbolos sonoros; estes símbolos estão ligados a determinados
significados com certas características de abstracção por referência à percepção e à experiência
imediata; 3) Em toda a parte há normas para o comportamento masculino e feminino, e não só no
que se refere ao aspecto sexual, mas também no que diz respeito ao tratamento das crianças e à
divisão do trabalho em geral; 4) Em todas as culturas existe um impulso para a expressão
artística e sua representação nos domínios da música e da dança, das artes plásticas ou da
poesia, com cânones artísticos específicos;
5) Em todas as culturas há noções de ordem que regulam a vida do grupo e normas do justo e
do injusto, do bem c do mal, do conveniente e do inconveniente, manifestandose assim, na
formulação das normas, uma necessidade geral de reciprocidade.
COMPARAÇÃO DE MODOS DE COMPORTAMENTO HUMANOS E ANIMAIS. As relações de parentesco que podem ser
filogenèticamente interpretadas são susceptíveis de se determinar, não só por características
somáticas, mas também pelos modos de comportamento, que adquirem uma importância sempre
crescente na sistematização zoológica (comportamento homólogo). Assim, pode fazerse remontar
uma série de modos de comportamento humano a qualquer comportamento genérico de primatas,
mamíferos ou até vertebrados. As variações especificamente humanas destes modelos genéricos de
comportamento são de fundamental importância para a antropologia cultural.
COMPORTAMENTO SEXUAL. As variações mais importantes que se encontram na satisfação do instinto
sexual nos seres humanos encontramse também noutros primatas; além das relações heterossexuais,
deparasenos a homossexualidade, a masturbação, os jogos amorosos de introdução ao coito, as
brincadeiras sexuais da infância: a iniciativa tanto pode partir do macho como da fêmea. Na
série sistemática que vai desde os primatas inferiores até ao homem observase
30
Antropologia cultural
uma série de progressivas transformações: na determinação
o comportamento sexual diminui o papel das hormonas sexuais e aumenta o do controle cerebral; os
modos de comportamento, dentro da espécie, tornamse assim cada vez mais variáveis e sujeitos a
uma contínua transformação, aumentando a importância da componente da aprendizagem. Os manejos
sexuais do período prépuberal servem para ensaiar progressivamente os modos do comportamento
sexual. Os ciclos de cio das estações desaparecem: o interesse e a actividade sexual manifestam
se em todas as estações nos primatas de grau mais elevado, mesmo nos que vivem em liberdade,
pelo que todos os meses nascem animais (Zuckermann e outros); diminui a indiscriminação no
acasalamento e, em seu lugar, surge uma clara preferência na escolha do «partner» (bastante
evidente nos chimpazés, por exemplo). Em todos os animais Mmesticados ou vivendo em cativeiro
aumenta a actividade sexual; é provável, portanto, que a forte sexualização do homem esteja
relacionada com a sua autodomesticação.
Os traços principais do condicionamento da cultura humana sobre o comportamento sexual são: 1) A
formação de uma esfera de intimidade, delimitada no entanto em grau fortemente variável. Nos
animais primatas, os manejos sexuais e o acasalamento cumpremse «em público»; em todas as
culturas humanas, pelo contrário, preconizase o isolamento do casal durante o acto. Este facto
pode interpretarse como consequência das crescentes ligações pessoais relacionadas com o acto
sexual; 2) A neutralização ou impedimento do instinto sexual em relação a determinadas pessoas
(incesto, cf. mais adiante), em determinados domínios da vida (celibato sacerdotal) ou em certos
períodos (castidade prématrimonial, etc.); 3) A sublimação do excesso de energia sexual noutras
esferas de acção (arte).
A institucionalização do comportamento sexual nas diversas culturas assume grande variedade de
formas (Ford, Beach). Entre outras coisas, as formas individuais de satisfação do instinto
sexual são diversamente consideradas: a atitude em relação à homossexualidade varia entre a mais
rigorosa proibição, com ameaça de punição, e a tolerância e indiferença, chegando até à
consideração positiva e mesmo à sua exigência; de modo análogo, nos manejos sexuais da
31
Antropologia cultural
prépuberdade, oscilase entre a mais completa liberdade e
e a proibição severamente vigiada. Em algumas culturas a iniciativa é papel exclusivo ou
predominante do homem, noutras é também permitida à mulher ou élhe atribui a de
preferência (isto, porém, à semelhança do que se verifica nos animais primatas, constitui o caso
mais raro).'A delimitação da esfera de intimidade apresenta todos os gráus até ao tabo absoluto
da vida sexual; a neutralização, pôr sua vez, apresenta todos os graus até à completa ascei@,
«Uma estrutura que se opõe à satisfação do instinto sexualidade e cuja existência deve ser
considerada a base de todas as organizações superiores, culturais e sociais» (Schelsky). A norma
sexual não cobre, em nenhuma sociedade humana, todas as variantes possíveis; contudo, a
quantidade de modos de comportamento «anormais» ou «imorais» pode variar grandemente até tornar
a norma absolutamente indeterminada (relatórios Kínsey). As fortes variações históricas das
normas sexuais são tão características do, homem
como a sua grande variedade étnica (Taylor).
FAMíLIA. A base da família é constituída pela relação mãefilho. Na série dos animais mamíferos,
esta relação é tanto mais duradoura, firme e rica de conteúdo quanto mais prolongada for a
infância, isto é, quanto mais tempo a criança estiver dependente dos cuidados da mãe. Em nenhum
animal esta relação se prolonga até à completa maturidade sexual do filho; em muitos casos,
mesmo entre os primatas, essa relação estendese para além do período de dependência alimentar
do filho em relação à mãe. Neste caso, o núcleo familiar abrange, além da mãe, vários filhos de
diversas idades, o que diferencia mais fortemente as relações sociais não só da mãe para com os
filhos como dos irmãos entre si. Nos seres humanos o «processo psicológico da separação da
família» (Count) é muito retardado, não chegando, em muitos casos, a consumarse. Daí resulta
uma
die
dupla série de relações familiares: com a família de origem («family of orientation») e com a
família conjugal («family of procreation»). Deste modo, só no homem se verifica a possibilidade
de uma ligação consciente de três gerações, e isto, constitui manifestamente uma condição
32
Antropologia cultural
importantíssima para a instauração de uma tradição de experiências e conhecimentos.
Em quase todos os animais primatas o macho só tem relações individuais com a fêmea, nunca com os
seus descendentes: é procriador, mas não pai. O ingresso do homem na família representa o passo
decisivo para a formação da família humana (Count). Enquanto nos primatas os interesses
familiares e extrafamiliares entre os ú ltimos principalmente a obtenção de alimentos se
encontram praticamente desligados, na família humana estes dois círculos de interesses unemse
estreitamente. Nesta transformação, a passagem de um modo de vida predominantemente vegetariano
a uma alimentação mais variada e sobretudo à caça grossa pode ter desempenhado um papel
importante (Washburn). Nos primatas nenhum animal adulto cede aos outros parte dos alimentos que
conseguiu obter (exceptuando o caso da chamada prostituição das macacas dos jardins zoológicos:
a fêmea oferecese ao macho em troca de gulodices); a caça, que parece já ter sido possível nos
australopitecídeos, deve ter conduzido à diferenciação dos sexos na procura de alimentos (>
Antropologia socid, divisão do trabalho em função do sexo): é o macho, de preferência, quem
procura a carne, mesmo para a alimentação da fêmea e dos filhos. Deste modo, à função protectora
do macho, que representa uma característica do comportamento comum a todos os mamíferos,
acrescentase uma nova função que contribui para a integração da família. Uma antecipação desta
atitude social do homem é já visível nas muitas variações da capacidade social dos grandes
símios: os chimpanzés machos protegem sempre as crias do seu próprio grupo; num grupo de
chimpanzés prisioneiros que se componha apenas de macho, fêmea e uma cria observase também o
comportamento «paternal» do macho, isto é, uma dedicação individual positiva para com o filho
único.
A família humana é, além disso, caracterizada pela tendência para a monopolização das relações
sexuais. «Por razões de protecção e de subsistência, o pai inserese também... nas prolongadas
relações entre a mãe e a prole. Esta relação contínua, biológicamente necessária à sobrevivência
da prole, tornou possíveis novas formas de ligações
33
Antropologia cultural
afectivas e de actividade recíproca, de relações de simpatia e de obrigações morais... Os laços
duradouros que unem macho e fêmea na sua colaboração para a criação da prole transferemse
também ao seu comportamento como companheiros sexuais» (ScheIsky). Nos povos primitivos, o
casamento e a família são sobretudo instituições económicas; a variedade de formas de matrimónio
depende em grande parte da estrutura económica (Thurnwald, Westermarck); as tendências para a
monopolização das relações sexuais impõemse em grau variável com a institucíonalização social e
religiosa do matrimónio, Contudo, subsistem ainda formas de poligamia em todas as sociedades
humanas (a relação poligâmica encontravase muito difundida nas tribos primatas), quer
sancionadas pelas próprias sociedades, quer proibidas. Onde a monogamia existe na sua forma mais
rígida a poligamia subsiste sob a forma de prostituição, objecto da mais forte reprovação
social.
Outra característica comum a todos os sistemas de famílias humanas é a proibição ou tabo de
incesto; a família humana pode ser rigorosamente definida como «grupo em que se pressupõe a
existência de relações sexuais entre os seus componentes principais, relações proibidas entre
todos os restantes componentes do grupo» (Count). Apesar da divulgação geral deste tabo, é
improvável que o mesmo se baseie num instinto, a ser verdade que tal instinto falte em todos os
primatas; com efeito entre estes há acasalamentos entre pais e filhas, mães e filhos, irmãos
e irmãs. Em muitos casos, o tabo de incesto não se limita a pessoas unidas por uma origem
biológica comum, pois abrange também membros do próprio grupo não unidos por vínculos de sangue.
De resto, a ocasional supressão do tabo de incesto, e mesmo a presença de uma prescrição de
incesto em algumas famílias reais (matrimónios entre irmão e irmã nos Incas, nos Ptolomeus,
etc.) por motivos políticos, são elementos que depõem contra a asserção de um fundamento do tabo
no instinto. A proibição de incesto tem duas funções sociais susceptíveis de explicar a sua
origem e divulgação: estabiliza a família na luta pela vida ao excluir a possibilidade de
rivalidades sexuais que, pelo menos entre os primatas no cativeiro, dão origem à maior parte dos
conflitos sociais. Quanto à obrigação da exogamia (escolha do
34
Antropologia cultural
cônjuge fora do grupo), liga as diversas unidades familiares, contribuindo assim para a formação
de comunidades sociais mais vastas.
TERRITORIALIDADE E COMPORTaMENTO. A delimitação e a defesa de territórios próprios representam
comportamento comum aos animais vertebrados. Nos vertebrados inferiores (peixes) existem apenas
territórios de casal ou de família; nas formas dotadas de organização superior há também
territórios de grupo, os quais podem dividirse em territórios de família. A defesa do
território é tanto mais violenta e eficaz quanto mais o assaltante se aproximar dos pontos
vitais. Com o aumento da densidade populacional, tão frequente entre os animais aprisionados, as
lutas pelo território tornamse mais frequentes e violentas. Entre as funções sociais que
determinam a escolha do território por parte de um grupo encontramse a protecção dos mais
pequenos, a distribuição uniforme da população, a diminuição, das lutas por questões sexuais ou
de estirpe e a integração do grupo. A identificação com determinado lugar favorece também a
individualização: como todos os vertebrados possuem boa memória local, é assim facilitado o
conhecimento de outras criaturas da mesma espécie. A extensão dos territórios, assim como as
zonas de agressão e de fuga, variam de espécie para espécie, mas também apresentam variabilidade
individual; dependem, entre outras coisas, do tamanho do corpo, da necessidade alimentar e do
género de alimentação.
Também se encontra uma noção de territorialidade própria nos primatas. Os grandes símios possuem
territórios de grupo bastante extensos, afastandose muito, por vezes, do local de concentração,
do grupo. Especialmente entre os babuínos, o direito de cada indivíduo ao espaço está em relação
com a sua posição, social. Contudo, não há nenhuma divisão fixa do território do grupo: as
distâncias são fixadas em correspondência com as deslocações dos animais de estirpe mais
elevada.
É evidente que a definição de territórios também desempenha papel importante na organização
social humana. No homem, o território de grupo pode apresentarse sob muitíssimas formas, desde
as reservas de caçadoresrecolectores,
35
Antropologia cultural
respeitadas geralmente pelos outros pequenos grupos, até à demarcação e à defesa das fronteiras
territoriais nos povos das culturas superiores. Observase também o caso de indivíduos ou
famílias isoladas que procuram assegurar a posse de determinado espaço e delimitálo (nos
cárceres e nos campos de refugiados, por exemplo).
A hostilidade contra os vizinhos e a tendência para delimitar os domínios possuídos aumentam com
a densidade das populações (Leyhausen, Lorenz). Nos doentes mentais observase determinada
distância de fuga, variável segundo o indivíduo; se essa distância for ultrapassada por um
estranho, o doente entra em pânico e o seu comportamento tornase agressivo (Staehelin). A
delimitação territorial e a agressão contra indivíduos estranhos ao território constituem
óbviamente uma das bases do «pluralismo das culturas», porquanto se opõem à difusão de bens
culturais, favorecendo assim a formação de modos de comportamento específicos dos vários grupos.
*/*
HIERARQUIA. Muitos grupos de animais, entre os quais os de primatas, são, à semelhança das
sociedades humanas, estruturados segundo uma hierarquia. A posição de cada indivíduo na
hierarquia é decidida por lutas que, em muitos casos, podem ser ritualizadas em actos
cerimoniais. Deste modo, em vez das lutas verdadeiras, aparecem, por um lado, gestos e atitudes
de ameaça e imposição, e por outro, gestos de humildade e submissão. As formas de comportamento
que impedem a agressão de membros da mesma espécie constituíramse principalmente naquelas
espécies carnívoras (como os lobos) cujos componentes são capazes de matar indivíduos do mesmo
tamanho. Entre os primatas, esta possibilidade veio a verificarse com o advento da caça
e a invenção dos utensílios. O aparecimento de medidas de protecção contra o ataque e morte de
membros da mesma espécie não resultou do instinto ‘ mas de modos de comportamento aprendidos:
só se ataca o indivíduo estranho ao grupo ou ao território; o que se conhece pessoalmente como
membro do mesmo grupo é geralmente poupado.
O «conhecimento pessoal» e, consequentemente, os fenómenos de aprendizagem desempenham portanto,
entre os animais, papel importante nas lutas pelo território e pela
36
Antropologia cultural
categoria hierárquica. Contudo, o domínio do impulso agressivo, tanto no caso dos modos de
comportamento instintivos como no dos aprendidos, é mecanismo fàcilmente perturbável (Lorenz).
As atitudes de ameaça e de submissão, de imposição e de humildade variam conforme as espécies.
Os sinais de imponência dos indivíduos superiores são, nas várias espécies, geralmente
representados por um levantamento do tom de voz, aliado ao autoengrandecimento (arrogância,
entufar das penas, porte erecto; em alguns animais levantamento das barbatanas, orelhas ou
cauda); aos gestos de submissão corresponde a diminuição do tom de voz relacionada com o auto
rebaixamento (constrangimento, humildade, cauda encolhida, orelhas pendentes, etc.). Estas
formas básicas do comportamento específico relacionadas com a posição hierárquica são também
reconhecíveis no homem, culturalmente transformadas por ele e tomadas objecto de aprendizagem,
adquirindo características de obrigação social. As vénias e as mesuras, o tirar o chapéu, o
ajoelharse rebaixam os de estirpe inferior; a atitude dos indivíduos que ocupam as escalas
superiores das hierarquias são exaltadas e aumentadas por meio de artifícios técnicos. Máscaras,
adornos da cabeça (tais como coroas e diademas), coturnos, assentos altos, vestuário vistoso,
tudo isto serve para engrandecer a imponência do aspecto.
Nos vertebrados a aquisição de um lugar superior ou a conquista de um grande território é
favorecida por uma superioridade de estatura; os indivíduos altos, robustos, vitoriosos nas
lutas pela fêmea e pelo território encontramse portanto favorecidos também do ponto de vista da
selecção natural (> Origem do homem, lei de Cope); a pequena estatura pode, no entanto, ser
compensada por maior experiência e vitalidade. Nos primatas, entre os quais as diferenças de
sexo são acompanhadas de acentuada diferença de estatura, são normalmente os machos que dominam;
os gestos femininos de disposição para o coito podem transformarse num acto geral de submissão,
também usado pelo macho (principalmente nos babuínos). A classe da fêmea é frequentemente
determinada pela estirpe do macho; pode, portanto, pelo acasalamento, stibir ou descer do ponto
de vista social. A estatura e o sexo também desempenham
37
Antropologia cultural
papel importante na hierarquizaçâo dos seres humanos (> Antropologia social). No entanto, com
a crescente diferenciação da estrutura da sociedade, é provável que a estatura como sinal de
imponência tenha perdido importância a favor da experiência, e que na sociedade moderna a
correlação entre a posição social e os factores hereditários de estatura não exista de modo
directo, mas tãosó através da correlação entre capacidade de aprendizagem e estatura. No homem,
para além dos dotes individuais, outros factores numerosos, dèbilmente relacionados com o
património biológico individual, contribuem para determinar o grau hierárquico: origem familiar,
profissão, riqueza. Assim, enquanto nas soJedades animais só existe, regra geral, uma hierarquia
simples ou, no máximo, duas escalas distintas, para machos e fêmeas , na qual cada indivíduo
ocupa determinado lugar, na sociedade humana subsistem hierarquias múltiplas (Count); a
sociedade é estruturada em diversas hierarquias e o indivíduo pode adquirir diferentes posições
hierárquicas consoante a família, a profissão, a vida social, etc.
UTENSLIOS. O uso de utensílios assume importância especial para a antropologia cultural,
pois não só permite
o estudo comparativo das espécies vivas, mas também faculta a superação, através de achados pré
históricos, da lacuna existente entre os primatas e o homem. Os utensílios são objectos
utilizados para alcançar certos fins; se se perderem, podem ser substituídos por outros
iguais, constituindo, portanto, componente consFig. 1. Chimpazé a enfiar duas tante do
equipamento téccanas de bambu uma na outra (segundo W. Kõhler, 1921) nico (Mühlmann);
geral
mente só os objectos trabalhados se designam por utensílios (ferramentas). Muitos animais operam
uma transformação «técnica» do ambiente;
38
Antropologia cultural
por vezes, os animais adaptam alguns objectos, mas nunca os conservam. Na base das mais
importantes realizações técnicas, tais como colmeias de abelhas, labirintos de térmitas, teias
de aranha e ninhos de pássaros, existe sempre um componente instintivo preponderante, ao passo
que o componente de aprendizagem é diminuto ou mesilio nulo. Nos primatas, cujo comportamento se
modifica continuamente com a aprendizagem, verificase, mesmo em animais livres, a oportuna
utilização de pedras (para quebrar nozes) e de paus. W. Kõhler realizou investigações
sistemáticas em chimpanzés prisioneiros: estes utilizavam diversos objec tos (caixas, paus)
para alcançar guloseimas que desejavam; em alguns casos conseguiram modificar com os dentes a
extremidade de um pau oco para o inserir noutro e assim obterem um pau mais comprido: nestes
casos assistese à adaptação de objectos já existentes. Quando se repetia a experiência, as
várias operações decorriam mais depressa
Fig. 2. Fragmentos de osso e seu uso Drovável na cultura osteodontoquerática dos
australoPitecídeos (segundo R.A. Dart, 1957)
do que da primeira vez, de modo que, mesmo sem adestramento, manifestavase já certa tendência
para a constância no uso dos objectos.
Na história da evolução humana, os australopítecídeos (> Origem do homem) podem considerarse
os primeiros construtores de utensílios. Dart atribuilhes uma «cultura osteodontoquerática» (ou
seja, caracterizada pela utilização de ossos, dentes, cornos) que representaria @uma transição
entre o uso ocasional de utensílios por parte dos antropóides e o fabrico de ferramentas pelo
homem paleolítico: determinados tipos de fragmentos ósseos aparecem com tal
39
Antropologia cultural
frequência nos achados que dão a ideia de uma escolha segundo um modelo constante, com vista a
detenninados fins, chegando mesmo a fazer pensar em adaptações. Contudo, a maioria do material
fóssil proposto por Dart é centestado. a abundância e o estado de conservação da maior parte
dos fragmentos ósseos da jazida principal de Makapansgat sugerem ainda outras explicações (por
exemplo: que se trate de restos do repasto de hienas); em Makapansgat, todavia, também se
encontram peças trabalhadas, sobre as quais não podem subsistir dúvidas, e até mesmo utensílios
formados de diversos fragmentos: ossos ocos insertos uns nos outros processo que recorda a
inserção, umas nas outras, de canas de bambu praticada pelos chimpanzés (cf. Fig. 1) e ossos
do metacarpo de antílope, nos quais os espaços entre as várias articulações são alargados a fim
Fig. 3. Utensilios do primeiro período de Chuku Tien (segundo
R. Grahmann, 1952)
de receberem a incrustação de outros fragmentos de osso ou de corno. Se é duvidosa a atribuição
de toscos utensílios de pedra («pebbletools») aos australopitecídeos da África do Sul, nem por
isso deixa de ser muito provàvel no que diz rebpeito aos utensílios encontrados na nova jazida
de australopitecídeos situada na garganta de Oldoway. Como os australopitecídeos caçavam, é
natural que já nessa altura se servissem de ferramentas, pois nem a sua dentadura, de tipo
semelhante ao humano, nem as suas mãos estavam aptas a desmembrar os animais muito corpulentos,
sobretudo a dilacerar o espesso couro dos bovinos (Washburn).
Na história da evolução humana o estádio da produção de utensílios foi alcançado paralelamente
ao de um volume encefálico que corresponde ainda ao dos maiores antropóides.
É indiscutível a adaptação, pelo Sinantropo, de objectos naturais, com vista à sua utilização
para determinados fins,
40
Antropologia cultural
e é também muito provável no que diz respeito aos representantes do grau Pitecantropo (cul'tura
dos «choppingtools» da Á sia Meridional, etc.). No decurso do Paleolítico, o trabalho sobre a
pedra começou a aperfeiçoarse; juntamente com objectos destinados a múltiplos usos apareceram
diversas ferramentas especializadas de pedra e osso (pontas, rascadores, furadores, arpões,
etc.). Estes utensílios pressupõem não só capacidade de engenho, mas ainda perseverança no
trabalho e paciência, isto é, distanciação em relação ao objectivo final e reconhecimento do
trabalho como constituindo uma realidade (Gehlen). Nos chimpanzés, pelo contrário, as
reálizações técnicas surgem sómente em função da urgência imediata da situaçãoestímulo. No
decurso da evolução técnica contínua que se seguiu ao Paleo
Fig. 4. Utensílios do Paleollitíco Superior. Bifaces pontas e rascadores da caverna de Mik
(Crimeia) e de Ilskaja, território
do Kuban (segundo R. Grahmann, 1952)
lítico, todas as matériasprimas naturais foram objecto de trabalho e as mais variadas tLnicas
de laboração introduziram no ambiente do homem grande quantidade de objectos criados para
constante utilização.
LINGUAGEm. Das diversas funções da linguagem humana as mais notórias são as de chamamento e de
expressão, manifestações também comuns aos animais, que podem expressar alegria, cólera, medo
por meio de ruídos ou movimentos compreendidos por membros da mesma espécie e às vezes também
por indivíduos de espécies afins. As funções de comunicação e interpretação estão principalmente
representadas na chamada linguagem das abelhas, que permite dar indicações precisas sobre, entre
outras coisas, a natureza, direcção e entidade de uma fonte de alimentos; tratase, contudo, de
uma linguagem absolutamente here
41
Antropologia cultural
ditária. Entre os sons emitidos pelos primatas, os mais conhecidos são os dos chimpanzés
(Yerkes, Learned,. Hayes, etc.): altura e intensidade sonora, ritmo, natureza e sucessão dos
sons são extraordinàriamente variáveis e permitem, através das suas múltiplas combinações, a
expressão, dos mais diversos sentimentos e disposições; existem ainda sons relacionados com
situações específicas, além de certo número de variações individuais. A articulação, porém, é
indistinta, dependendo da estrutura e da articulação da laringe, não se verificando
representações vocais fixas, mas tãosómente emissões de sons em cadeia, cuja duração depende do
grau de excitação. Até agora só em raríssimos casos se conseguiu, mediante duro adestramento,
ensinar a chimpanzés algumas palavras humanas isoladas, as quais, todavia, ainda não estavam
associadas a significados determinados, embora estivessem contidas em complexos semânticos bem
definidos. A tendência do chimpanzé para a imitação, se bem que muito desenvolvida, encontrase
limitada quase exclusivamente ao plano visual, ao passo que os sons não são por ele
reproduzidos. A compreensão de palavras pode chegar a abranger meia centena de vocábulos; em
certos casos é ainda possível ensinar a isolar e recombinar os elementos de frases aprendidas
(Hayes).
A linguagem humana, estreitamente relacionada com o
pensamento humano e que deve terse desenvolvido em íntima união com este, caracterizase
essencialmente pelo seu carácter simbólico: os sons destacamse das diversas situações,
considerados em si e fixados no seu significado, transformandose assim em símbolos dos vários
elementos da realidade. A formação de conceitos abstractos, o lidarse com eles, em vez de com
as próprias coisas, para determinar não só relações, mas também relações entre relações, é
sómente possível com o auxílio do pensamento e da linguagem simbólicos. O controle recíproco do
comportamento mediante a linguagem é incomparàvelmente mais rigoroso e económico do que o
realizado através de qualquer outro sistema de gestos (Porzig). Daí resulta um menor dispêndio
de energias e, portanto, maiores possibilidades de comodidade física, indispensável ao
pensamento criador. O sistema simbólico da linguagem permite, além disso, mais ampla e duradoura
conservação e comunicação de experiências e
42
Antropologia cultural
conhecimentos, constituindo o meio decisivo para a formação de um património espiritual que
transcenda as experiências isoladas. O alargamento da dimensão cronológica do presente para o
passado e o futuro, que transpõe a extensão da vida individual, bem como a criação do «mundo
interior» que determina continuamente o comportamento humano, estão do mesmo modo ligados à
função simbólica da linguagem, libertando simultâneamente esse comportamento dos limites
imediatos das várias situações concretas.
A linguagem humana é adquirida pelos indivíduos únicamente mediante a aprendizagem. Contudo, a
capacidade de falar é uma disposição hereditária, encontrandose ainda elementos hereditários no
balbuceio infantil em muitos sons emitidos pelos surdosmudos e pelos doentes mentais e nas
características expressivas da linguagem. A variabilidade da linguagem implica como consequência
a grande diversidade das línguas e as res ........ pectivas dificuldades de
compreensão dentro da espécie. A linguagem mímica k
também se modifica continuamente, articulandose numa grande quantidade de variantes étnicas,
sociais e históricas, nas quais só se reconhecem escassos elementos do instinto, como, por
exemplo, os gestos de domínio e de submissão.
Quanto ao desenvolvimento filogenético da linguagem, sómente podem Fig. 5. indícios
da existência formularse algumas con de uma linguagem no Auri
gnaciano: o «mago» dos Trois clusões indirectas. Pode Frères perguntar
se quais as estruturas psíquicas que estariam na base dos modos de vida e das conquistas
técnicas dos homens fósseis e em que medida estas estruturas pressupõem, ou pelo menos tornavam
verosímil, a existência da linguagem. A história filológica da linguagem remonta aproximadamente
ao ano
3000 a. C. (Sumérios); para o Paleolítico, Superior (Auri
43
Antropologia cultural
gnaciano) já se admite geralmente a existência de linguagem simbólica bastante desenvolvida
(Porzig). A arte parietal do Paleolítico Superior revela forte tendência para a representação
pictórica; essa arte trata livremente as coisas, combinandoas em imagens que estão à margem da
realidade (o «mago» dos Trois Frères, por exemplo, que possui pernas humanas, cara de mocho,
chifres de rena e pênis de gato).
É muito provável que também os homens do Paleolítico Inferior mais recente, principalmente do
Mustieriano (Neandertalianos), possuíssem uma linguagem; semelhante hipótese resulta não só dos
utensílios, os quais revelam já alto grau de constância na utilização de objectos, um
afastamento do objectivo com vista ao qual os próprios objectos foram trabalhados e um
reconhecimento do valor do processo de trabalho em si, mas também do facto de a imagem do mundo
transcender já a experiência imediata: a sepultura dos mortos e as oferendas fúnebres
testemunham a existência de pensamentos acerca da morte, manifestandose uma tendência, com o
culto dos ursos (em Drachenloch, Petersstein, etc.), para o domínio mágico das forças da
natureza.
Admitindo que os Neandertalianos possuíam já uma linguagem simbólica humana, esta deve ter sido
«inventada» provàvelmente pelos Proantropos (Pitecantropos e formas afins). É possível que os
australopitecídeos já tivessem começado a associar certos sons a determinados significados, de
modo que os seus gritos e apelos começaram a assumir valor discursivo; o uso da linguagem,
entretanto, também se tomou extensivo às crianças. Na linha evolutiva dos hominídeos deve terse
verificado de algum modo a intervenção, além da disposição para compreender os sons, da
tendência para a sua imitação, tendência essa que falta em todos os primatas ainda vivos: com
efeito, sem esta tendência não seria possível a aquisição, por aprendizagem, da linguagem
humana, portanto, a própria linguagem humana.
INSTINTOS E INSTITUIÇõES. Em comportamentos humanos culturalmente formados pode reconhecerse a
sobrevivência de um conjunto de resíduos instintivos: na esfera das rela
44
Antropologia cultural
ções sexuais, por exemplo, ou na relação mãefilho, ou nas de domíniosubmissão, ou ainda na
tendência geral para a expressão e a interpretação que abrange também a linguagem. Os instintos,
porém, determinam apenas a quantidade de energia e a direcção geral do comportamento, e nunca,
como acontece nos animais (totalmente submetidos ao instinto), determinados comportamentos bem
definidos. À falta destes, cada cultura extrai, da pluralidade dos modos possíveis de
comportamento humano, certas variantes que eleva à categoria de padr5es de comporta, mento
sancionados pela sociedade e obrigatórios para todos os membros do grupo. Semelhantes padrões de
comporta
‘Camada supenor
cinzento esem o
Argila clara. nenhum achado
Camada acastanhada, com achados (urso das caverrias, ut ensilios)
Argila clara. nenhum adiado
13.
Camada rochosa
Fig. 6. Indícios da stencia de uma linguagem na época
do homem de Neatidertal. Culto do urso em Drachenloch
mento culturalmente determinados, ou instituições, evitam ao indivíduo a necessidade de tomar um
número excessivo de decisões e indicamlhe o caminho a seguir através da multiplicidade de
impressões e estímulos provenientes do ambiente no qual o homem se encontra submerso,
estabelecendo assim, de algum modo, certa ligação entre os humanos e o ambiente. As instituições
não agem com o mesmo automatismo dos instintos: nestes, os estímulosChave e as reacções por
eles evocadas conjugamse de maneira precisa, excepto quando, como por vezes acontece nos
animais domesticados, intervêm perturbações do instinto. «0 animal apoiase nas regras do jogo;
o homem
45
Antropolo.gia cultural
pode também apoiarse nelas, mas nem sempre o faz... É como se a cultura «conhecesse» as suas
imperfeições e se esforçasse, portanto, por garantir a maior segurança possível» (MühImann). O
respeito pelas regras prescritas pela cultura tornouse possível no homem devido à existência de
leis rigorosas, as quais se fazem remontar a preceitos divinos e à ameaça de duras punições que
podem ir até à danação eterna, enquanto nos modos de comportamento instintivos o cumprimento das
regras é automático.
BASES BIOLÓGICAS DA CAPACIDADE CULTURAL. O comportamento humano é determinado principalmente
através da aprendizagem. A sobreposição de formas de comportamento aprendidas e formas de
comportamento instintivas pode observarse já ao nível dos animais superiores, apresentandose
num estádio particulannente avançado entre os primatas. Por toda a parte onde há a considerar
processos de aprendizagem, o comportamento tornase mais elástico e variável. Uma elevada
capacidade de aprendizagem constitui, portanto, um dos fundamentos basilares do comportamento
humano. A esse respeito, de primordial importância é a memória, que manifesta, na série dos
primatas, um aperfeiçoamento crescente: o tempo em que qualquer fonte de alimentos, uma vez
revelada, se conserva na memória, de modo a ser imediatamente procurada numa segunda
oportunidade, atinge cinco segundos nos prossímios, quinze segundos nos catarrínios e gibões
e cerca de duas horas nos símios antropomorfos; no homem, o prazo de «adiamento da acção» é
pràticamente ilimitado. A capacidade de estruturar o campo da percepção e a de lhe combinar
variadamente os conteúdos parciais constituem outra base da inteligência, «a capacidade de
aprender tendo em conta a experiência» (Fischel). A capacidade de isolar conteúdos parciais da
percepção que constitui a premissa para qualquer abstracção e formação de conceitos já se
encontra presente em embrião na série dos invertebrados, estudada como foi com especial minúcia
em relação à « capacidade de contar» evidenciada pelos pássaros (0. Koehler), a qual também é
assinalada nos primatas superiores. Contudo, em todos os animais subsiste a dificuldade de
reconhecer uma coisa como idêntica quando se modificam as cir
46
Humo s@ipwn,
Ilomem de N'eandertal
Sinantropo Pjt(@eantroi)(;
Antropologia cultural
cunstâncias exteriores e interiores nas quais se processa a percepção, ou quando essa coisa se
apresenta acompanhada de outros objectos, ou ainda quando ela se encontra aliada a outra
sensação emotiva (Katz, Scheler), Também no decurso do desenvolvimento ontogenético é a
capacidade de analisar figuras espácio cronológicas e emotivas a que mais cedo atinge a plena
maturação; o seu desenvolvimento varia não só com as diversas idades, mas também com os vários
tipos constitucionais ( > Constituição, correlações psicossomáticas). Na capacidade de
analisar as percepções e na de rcconhecer a constância dos objectos (Katz), o Homo sapiens
supera largamente todos os prunatas vivos. A constância dos objectos é uma base importante da
A n t i o po i d es
linguagem simbólica, porquanto constitui condição 200 500 1000 1500 2000
essencial para fixar uma Fig. 7. A capacidade craniana relação entre representação (voi,,me
do eneéfalo) no decurso
do processo evolutivo que condusonora e significado. ziu ao homem
A retenção de recordações, a análise das percepções e as associações são, em primeiro lugar, uma
função do córtex cerebral: na série dos primatas, esta função denota progressivo aumento, devido
em parte ao incremento da capacidade craniana e em parte também ao enrugamento do próprio
córtex, que lhe aumenta a extensão. A lacuna que neste campo separa actualmente o homem dos
outros primatas está a ser colmatada com o auxílio de achados fósseis ( > Origens do
homem). A par disso, notase progressiva diferenciação das zonas corticais, as quais podem
distinguirse histológicamente. As chamadas zonas corticais secundárias, que regulam as
associações, aumentam em número e extensão muito mais do que as zonas corticais primárias, à s
quais incumbe a percepção sensorial e a mobilidade. Assim, o
lobo frontal, particularmente importante para as funções mentais superiores, corresponde, nos
prossímios, a 8 por cento de todo o córtex cerebral, a 17 por cento nos chimpanzés e a 29 por
cento, em média, no homem. Neste
47
Antropologia cultural
encontraMse partes novas, como o centro verbomotor, na terceira circulivolução frontal
esquerda (circunvolução de Broa) e junto do centro de gnose e praxia, importante, entre outras
coisas, para as práticas técnicas (Klüver).
O órgão mais importante para o desenvolvimento da cultura é, além do encéfalo, a mão, liberta
das suas tarefas de locomoção e tomada apta para o trabalho; desenvolvendose com o advento do
porte erecto, a mão laborante é portanto filogenèticamente mais antiga do que a dilatada
capacidade cerebral humana. A destreza da mão no manu
zonas corticais motoras e
i .,en@oria s
lobo frontal
outras znnas de associação
Fig. 8. O encéfalo como órgão da capacidade cultural do homem. Circunvoluções e regiões do
encéfalo nos társios, nos antropóides e no homem. Os desenhos reduzemse todos à mesma largura
(segundo A. Portmann, 1948; E. Sharrer, 1936*. M.F. AshIey
Montagu, 1951)
seamento dos objectos não só é necessária para o uso e a laboração dos utensílios, e
consequentemente para a transformação técnica do meio, mas também auxilia a compreensão da
constância das coisas, favorecendo assim a
formação do pensamento e da linguagem simbólicos; a presença deste componente na formação do
mundo mental é ainda claramente perceptí vel em alguns usos linguísticos (recolher, apreender,
compreender, perceber, etc.). Enquanto a geral capacidade de cultura do homem se fundamentar na
constituição característica da espécie Homo,
48
Antropologia cultural sapiens, o creescimento e a diferenciação das culturas deixa de poder
explicarse a partir do património hereditário do homem. Com efeito, no final do Palcolítico
Inferior a capacidade cerebral atingira já a grandeza típica do Homo sapiens. A partir dessa
altura o processo de civilização não só registou notáveis progressos, mas também revelou ainda
aceleração sempre crescente. A cultura aumenta por acumulação: o antigo sobrevive de muitas
maneiras junto do novo, e a cada inovação aumentam as possibilidades de combinações e variações.
A particularidade da evolução cultural, que trabalha mais pela adição do que pela substituição
(Kroeber), permite também a coexistência de várias culturas, o que para o ser humano é tão
característico como
* genérica capacidade cultural. O processo de acumulação
* que aludimos anteriormente pressupõe uma tradição de experiências e conhecimentos para a qual
assume grande importância a existência da relação estreita e durável entre antigas e novas
gerações durante o período extenso da juventude e o lento declínio da velhice. A capacidade de
acumulação elevase a alto grau através da linguagem, tendo esta por seu turno de ser
transmitida pela tradição como idioma aprendido, o que foi grandemente acelerado pela
descoberta da escrita. Os livros são «de certo 1,,g (Ia gian,lk,Z@k (Ia
modo cadeias de associa 6
ções extracerebrais de com 5
plexidade crescente e, por 4
fim, quase ilimitada, que 3 se podem ligar às cadeias
2
de associações do próprio cérebro» (Rensch).
No processo de dila Fig. 9. Desenvolvimento cultural
e grandeza das PoPnlações. Duratação da cultura mediante ção dos estádios culturais (Paleoa
acumulação desempe lítico Médio e Superior, Mesolí
tico, Neolítico, Idade dos Metais) nham também papel im e desenvolvimento da População
portante o número dos in_ e, França (segundo cálculos de
L.R. Nougier, 1954) divíduos e a densidade da população ( > Demografia). As possibilidades
de novas descobertas por intermédio de indivíduos aumentam com o número de pessoas; as
possibilidades de difusão de novos elementos culturais acrescem com a densidade populacional.
49
Antropologia social
Por outro lado, em pequenas comunidades étnicas de baixo nível económico e escasso domínio
técnico sobre a natureza, a divisão do trabalho não supera os estádios mais simples: cada
indivíduo tem de obter directamente o seu alimento, não existindo pràticamente o ócio. Deste
modo, os talentos particulares têm muito menos capacidade de se manifestar, ou de se exercer em
tarefas especializadas, do que nas comunidades superiores, mais fortemente diferenciadas do
ponto de vista económico e cultural. Divisão do trabalho e especialização aumentam as
capacidades de reali@ação e adaptação da espécie; isto aplicase igualmente ao domínio dos mais
variados meios naturais, transfonnados por determinadas variantes culturais, tornandose assim
habitáveis para o homem, e à diferenciação interna das comunidades étnicas, onde a vantagem de
selecção dos povos mais civilizados se expressa na maior extensão da população (>
Antropologia social, processos interétnicos de selecção). Será lícito suporse, portanto, que
também a capacidade genérica de cultura própria do homem seja favorecida pela selecção natural,
a qual explica a progressiva formação de um modo de vida especificamente humano e a ascensão do
homem a uma forma dominante entre os primatas.
Antropologia social As relações entre a natureza biológica do homem e os factos sociais
constituem o objecto da antropologia social. Para os mais antigos cultores desta disciplina
(Ammon, Lapouge, Lombroso, Nicéforo), a antropologia social deve investigar o que é constante na
aparência variável dos fenómenos sociais. Semelhante diversidade constante entre grupos sociais
(cidade e campo, grupos sedentários e nómadas, criminosos e nãocriminosos), que abrange
igualmente os caracteres físicos e psíquicos, era interpretada a partir de processos de escolha
e selecção. As investigações mais recentes fizeram incidir o interesse sobre os mecanismos
através dos quais a escolha e a selecção se realizam, passando as diferenças antropológicas
(estrutura somática, faculdades intelectuais, idade, sexo) a ser tãosó consideradas como meros
indícios para o estudo de semelhantes mecanismos. Deste modo veio a imporse também a expressão
biWogia demográfica (assim como biologia dos povos e, por vezes, etnobiologia, sociobiologia,
biologia
50
Antropologia social
da sociedade). De qualquer modo, na Alemanha, assim como noutros países, a antropologia social
representa um sector de investigação da biologia humana, enquanto na literatura anglosaxónica
social anthropology é a sociologia dos povos de interesse etnológico (etnossociologia).
CONCEITOS DA ANTROPOLOGIA SOCIAL. O primeiro conceito biológico onde se reconhece, mesmo do
ponto de vista da antropologia social, uma categoria importante, foi o de selecção. Segundo
Spencer, e Haeckel, também na concorrência social se impõem os «mais aptos» , representando o
êxito social um termo de medida para a qualidade biológica. Este velho conceito, que se baseia
numa visão optimista do progresso, costuma designarse também por darwinismo social. Porém,
quando o índice de natalidade começou a diminuir e se afirmou uma correlação inversa entre a
posição social e o número de filhos (~@> Demografia), esta aplicação de conceitos darwinistas
à sociedade humana deixou de ser defensável, porquanto as probabilidades de sobrevivência e
reprodução já não forneciam, óbviamente, no domínio social nenhum critério de medida de validade
geral para a «aptidão». Por ísso se elaborou inicialmente o conceito de contraselecção
(selecção dos «ineptos»), e este processo foi considerado como marca distintiva das sociedades
mais evoluídas. Porém, como por um lado a aptidão pressupõe um critério de valor, e, por outro,
muitos processos sociobiológicos de diferenciação se cumprem independentemente de
características susceptíveis de avaliação, imposse a exigencia de entender a selecção, ‘tia
antropologia social, de maneira mais genérica.
Um outro processo, a princípio terminológicamente indistinto (e continua a sêlo, com muita
frequência, fora da Alemanha), é aquele para o qual Thurnwald propôs, em 1924, a designação de
Siebung (literalmente: joeira). Este conceito indica a escolha ou separação quantitativa e
qualitativa de determinadas variantes hereditárias, em relação a certas variáveis ambientais, de
uma população polimórfica. A escolha local divide o território em vários ambientes geográficos
(zonas de refúgio e zonas preferenciais, montanha e planície, zonas florestais e regiões
aráveis, terreno rochoso e arenoso, etc., e ainda campo e cidade),
51
Antropologia social
de modo que a população global representa uma espécie de mosaico de populações com base
hereditária diferente. Na escolha so2ial, os grupos profissionais e as camadas sociais de
diferente hierarquia representam os diversos ambientes segundo os quais se separam as variantes
hereditárias. Na realidade social, contudo, não se pode fixar uma clara linha divisória entre os
referidos ambientes; a mudança do estado social efectuase antes, com frequência, através da
mudança de lugar (emigração, migração campoCidade). Por fim, também a escolha conjuga@ actua em
sentido selectivo, vindo o cônjuge a representar o factor ambiental que faz intervir a escolha;
existe homogamia quando ambos os cônjuges se diferenciam no mesmo sentido da média da população,
isto é, quando apresentam correlação positiva, e heterogamia quando ambos se destacam na
direcção oposta da média da população, isto é, quando apresentam correlação negativa. Os
mecanismos da escolha, portanto, estruturam as sociedades humanas sem no entanto alterar o seu
património genético. Porém, dado que no homem reprodução e duração da vida são fortemente
condicionadas por factores culturais e sociais, os «Siebungsaruppen» são também frequentemente
grupos com diversos índices de reprodução e, portanto, grupos de selecção.
A escolha (Siebung) só pode consumarse numa sociedade dinâmica, onde existam intercâmbios
matrimoniais entre as várias camadas sociais, e nunca, portanto, onde subsista um sistema de
castas corri tabos matr@moniaís e barreiras intransponíveis entre os vários estratos sociais.
Também nas sociedades caracterizadas por uma mobilidade social muito elevada a escolha das
variantes hereditárias nas respectivas esferas ambientais está muito longe de ser completa; com
efeito, ao processo de separação opõese um momento inicial de inércia que tende a manter os
indivíduos ligados ao grupo social de origem. Além disso, do ponto de vista antropológico,
muitos processos sociais não possuem qualquer importância, porquanto são determinados por
factores de natureza absolutamente extrabiológica. Da relação de forças entre os diversos
factores sociais depende a eficácia do processo de selecção. As diferenças entre gnipos sociais
podem também ser devidas a estratificaç6es étnicas,
52
Antropologia social nas quais os estratos inferiores correspondem a povos vencidos: neste caso
os estratos sociais representam grupos de diversa origem que se unem para formar um novo povo.
Com o tempo, os tabos matrimoniais e as barreiras impostas ao intercâmbio entre os vários grupos
sociais tendem a afrouxar e por fim a desaparecer: nessa altura, mistura biológica e assimilação
cultural homogenizam a população, se bem que possam conservarse durante muito tempo, por causa
do momento de inércia social, alguns resíduos das diferenças hereditárias. Se estas diferenças,
tal como se observam entre grupos sociais, são devidas à escolha ou a um fenómeno de
superstratificação é algo que pode determinarse sórnente a partir da história da população e
nunca com base em simples achados antropológicos. Só o uso de métodos antropológicos, no
entanto, permite definir a acção dos dois processos sociais, ou seja: distinguir uma
diferenciação hereditária das sociedades por referência a modifica_ções de origem social (>
Constituição, plasticidade).
DIFERENÇAS ANTROPOLóGICAS ENTRE GRUPOS SOCIAIS. a) Divisão do trabalho segundo o sexo. A
diferença mais elementar de natureza socioantropológica é a divisão do trabalho segundo o sexo,
a qual está relacionada com a natureza variada das funções que incumbem aos dois sexos
Fig. 10. Diferenças sociais na estatura. Distribuição da estatura no estrato inferior (linha
contínua) e superior (linha tracejada), a partir, de investigações efectuadas sobre recrutas
suecos (segundo F.J. Linders. 1930)
53
Antropologia social
na procriação, à diferente força física e à diversa mobilidade que caracterizam homem e mulher.
Nos povos primitivos as tarefas mais típicas sã o a guerra, o trabalho dos metais e a caça, para
o homem; para a mulher, as actividades domésticas, tais como a preparação dos alimentos, das
roupas e o fabrico de louças (MurdockScheinfeld). Os dois pólos da especialização sexual dos
papéis sociais, o «pólo da força» e o «pólo da casa», conservaramse através de todos os
estádios culturais até à moderna sociedade industrial. O trabalho das máquinas e a mobilidade
social atenuaram a especificidade sexual de muitas profissões, sem contudo as abolir por
completo. Assim, na laboração dos metais, e sobretudo na indú stria pesada, o pessoal é
predominantemente masculino, ao passo que na indústria têxtil o elemento feminino constitui a
maioria. Nas complexas estruturas sociais que se foram formando desenvolveramse outras
diferenças sexuais, deixando a profissão de ser condicionada apenas por factores biológicos, o
que é demonstrado pelas consideráveis variações que se verificam segundo o período, o lugar e a
cultura; deste modo, nos ú ltimos dois decênios, a profissão de farmacêutico, por exemplo,
transformouse de predominantemente masculina em prevalentemente feminina. O homem, contudo,
predomina geralmente em tudo o que requer genialidade, produtividade artística e capacidade de
assumir posições de chefia. É este um facto que não pode explicarse simplesmente a partir de
obstáculos de carácter social que a mulher teria de superar para dedicarse a actividades que
competem tradicionalmente ao homem; uma confirmação, entre outras, encontramola na estrutura
social soviética, onde existe total igualdade entre sexos: em 1940 as mulheres encontravamse
representadas em cerca de 30 por cento nas associações e organizações políticas de mais baixo
nível, em 17 por cento no Soviete Supremo, em 5 por cento nos
governos das repúblicas populares e em O por cento no governo central. Nesta distribuição dos
papéis de chefia, a clara diferença sexual que se nos depara encontrase relacionada, apesar da
paridade de inteligência, com certas diferenças na esfera afectiva e da vontade; com efeito,
costuma falarse de actividade masculina e passividade feminina, de interesse masculino pelas
coisas e interesse
54
Antropologia social
feminino pelas pessoas, etc. (> Constituição, correlações psicossomáticas). As mulheres, por
consequência, revelam um impulso social menos forte e, portanto, uma escolha social menos
marcada do que a do homem (Schwidetzky, Terman).
b) Camadas sociais e profissões. Pode afirmarse, em regra, que um grupo social denota estatura,
inteligência e
precocidade tanto maiores quanto mais alto se encontrar na hierarquia das camadas sociais. A
superioridade física dos grupos de nível mais elevado, lGcalizáveI sobretudo na maior estatura e
capacidade craniana, encontrase também documentada no que diz respeito a povos préhistó ricos
(Grécia antiga, população préhispânica das ilhas Canárias). A «aristocracia» intelectual tende,
além disso, em confronto com a média da população, para a leptossomia; dentro da hierarquia
social provinciana, a classe dos camponeses caracterizase frequentemente pela acentuada
corpu.lência. Estas diferenças podem reportarse a niodificações de origem social. Com efeito:
1) A maturação e o crescimento apresentam elevada correlação com o nível de vida, especialmente
com o teor de gorduras e proteínas na alimentação (> Crescimento); 2) Nos testes utilizados nos
inquéritos sobre a inteligência intervêm não apenas os com
Fig. 11. Diferenças sociais na inteligência. Distribuição dos quocientes de inteligência em
quatro grupos sociais dos Estados
Unidos (segundo M,E. Ilaggerty e N.B. Nash, 1924)
55
Antropologia social
ponentes hereditários das faculdades intelectuais, mas ainda factores do ambiente intelectual,
que por sua vez apresentam as mesmas variações da inteligência. A intervenção da escolha social,
responsável por variações hereditárias, referemse, entre outras, as seguintes correlações: 1) A
variação gradual da estatura não é condicionada apenas pela origem social, mas também, dentro
dos mesmos grupos de origem, pela posição social. Indivíduos que sobem ou descem na hierarquia
encontramse frequentemente mais próximos do grupo de chegada do que daquele de onde partiram;
2) A variabilidade social da estatura e da inte ligência é maior do que aquela ligada a
modificações de origem social, tal como a conhecemos através de investigações levadas a efeito
sobre gérneos; 3) A inteligência dos filhos ilegítimos coincide com a situação na hierarquia
social dos respectivos pais naturais (7ust, Lawrence). É pro@ vável que as escolhas por estatura
e inteligência se encontrem relacionadas entre si (> Constituição, correlações
psicossomáticas). O papel primário deveria caber à inteligência, ao passo que a estatura,
relacionada com a inteligência, talvez viesse a encontrarse casualmente nos mesmos indivíduos.
A leptossomia da «aristocracia» intelectual corresponde à superioridade psicossomática dos
leptomorfos em relação aos picnornorfos. Além da escolha social relacíonada com a posição
hierárquica, há ainda uma escolha ligada a determinadas profissões. Assim, no interior das
mesmas camadas sociais, os vários grupos profissionais ocupam posições muito diversas em relação
às exigências específicas de cada profissão: no sector do artesanato, a indústria gráfica é
aquela que apresenta a maior percentagem de aprendizes com cursos secundários, seguindoselhe a
indústria têxtil e finalmente a indústria alimentar; a escolha segundo o grau de instrução,
nestes casos, intervém de maneira muito mais sensível do que a relação com a profissão paterna.
No domínio da indústria alimentar, os pasteleiros ocupam a posição mais elevada, aparecendo no
fim os padeiros e os cortadores (Fielmann). Entre os estudantes liceais, os futuros médicos
especialistas obtêm nos testes resultados superiores aos dos futuros médicos de clínica geral,
dos dentistas e dos veterinários; superiores a todos os outros são os testes dos estudantes que
se pro
56
Antropologia social põem como fim profissional a investigação científica (HartnackeWohlfahrt).
O tipo constitucional de alguns grupos profissionais não corresponde, por vezes, à posição
social: sapateiros e alfaiates apresentam estatura inferior à dos operários não especializados
(Saxónia, Silésia, Dinamarca, Suíça).
c) População da cidade e do campo. Quem nasceu e vive na cidade, especialmente nas grandes
cidades, possui frequentemente uma estatura mais elevada se comparada
com as populações rurais dos arredores, apresentando com frequência, ao invés, um índice
cefálico horizontal inferior; a puberdade (> Crescimento) aparece, em regra, mais cedo; o
rapaz da cidade é quase sempre superior nas aptidões escolares e de inteligência. Também na
formaçã o das populações urbanas, escolha social e modificações sociais actuam em conjunto, e
por vezes na mesma direcção, de modo que os seus efeitos se adicionam. As modificações
provocadas pelo ambiente urbano (caracterizado, entre outras coisas, pela menor eficácia das
radiações ultravioleta, % pela permanência em lo “900
cais fechados e por menor 80
trabalho físico pesado) 1865
manifestamse, entre ou 60 / em cidad,
so 1/ com mais trás, nas seguintes caraC 40 de 10()
000 terísticas: 1) As crianças 30 habitantes)
20 em nascidas na cidade têm a O <@”0Munidadcs
com menos de 5000 testa mais estreita do que o[ habitantes
os seus progenitores nasci 155 160 165 170 175 180
Fig. 12. Diferenças de estatura dos no campo (Berlim, entre cidade e caml)o
encontraHanover); 2) As crianças das em recrutas dos Países Bai
xos, no ano de 1940. As diferenlevadas para a cidade ças sociais são inferiores à
trans
f rmação da estatura a partir de aproximamse tanto mais 10865! (segundo W. Lenz, 1951)
do tipo urbano quanto
em
10
n com me s &
mais depressa abandonam o campo (Breslau); 3) As diferenças de inteligência entre crianças
do campo e da cidade são nienores na idade pré escolar, aumentando na idade escolar: 4) A
relação cidadecampo, no que se refere à maturação e ao crescimento, invertese em épocas de
carestia (guerra, pósguerra): nesses períodos, as crianças do campo, mais bem alimentadas,
desenvolvemse precocemente.
57
Antropologia social
Anos
15,O
Quando se encontram diferenças não só entre populações citadinas e rurais, mas também entre quem
abandonou o campo e quem lá ficou, podese então falar de selecção ligada a factores ambientais.
Este facto é demonstrado:
1) Pelas características da pigmentação, as quais, estreitamente relacionadas com a
hereditariedade, deveriam ser
resultado de diferenças hereditárias entre cidade e
14,9 campo; o fenómeno, con
14,8 tudo, poderia também es )4,7 tar
ligado a diversa distrí
14,6 buição genética, isto é, a
14,5 mais acentuada heterozigo
14,4 tia da população urbana,
4,3 mais heterogénea quanto
4,2 às suas origens; 2) Pela
14,1 estatura e índice cefálico
14,O horizontal, mas apenas em
13,9 quem emigrou para as
grandes cidades e não
13,8 Noruega sem oslo para as pequenas (Silé~
13,7 . ...... OS]o sia); 3) Não só as crian
ças nascidas na cidade,,
1881 90 91 1900 1901 os 190610 1911 15 mas também suas mães
Ano de nascimenlo nascidas no campo e obri~ Fíg. 13. Diferenças entre cidade gadas,
ainda núbeis, a proecampo no processo de maturação sexual. Idade da menarca curar refúgio
nas cidades, em, Oslo confrontada com o do resto da Noruega (segundo B. apresentam uma
aceleração
Skerlj, 1939) no acabamento do desen
volvimento; 4) Enquanto os pontos l'3 foram sómente confirmados por inquéritosModelo,
existem muitos inquéritos que confirmam a emigração dos indivíduos mais dotados do campo para a
cidade. É este, porém, um resultado que não pode generalizarse. Assim, os sociólogos
americanos, a partir de certo número de inquéritos efectuados sobre niodelos populacionais, con
cluíram que tendem a emigrar para a cidade quer as pessoas muito dotadas, quer as pouco dotadas,
enquanto a população rural de capacidade média está mais ligada ao seu ambiente.
d) Sociedades ètnicamente estratificadas. A estratifica
58
Antropologia social
ção reconhecese com mais facilidade onde coexistem populações de raça diferente. Na época da
expansão colonial europeia, uma minoria branca sobrepunhase frequentemente, como estrato
dominante, a uma população indígena de cor (Indonésia, África do Sul, Uganda, América do Sul),
eu então semelhante estratificação resultava da importação de escravos de cor (sobretudo nos
Estados Unidos). Em grandes zonas da África, a pele de um indivíduo é tanto mais clara,
aproximandose ele tanto mais do tipo racial europóide quanto mais elevado é o estrato social a
que pertence (Spannaus); é este um resultado da constante pressão
demográfica exercida pelas populações europóides da África Setentrional,
% a qual provocou uma 11 estratificação de grupos
40
30 ei(lades de características mais 20
COM mais
de 100 OW acentuadamente europói 10
hal)itantes des sobre grupos de ,,, .s , . 1 5W 2000 2500 b
2500 características predomi % Sul,
so
Ckl@ d@s nantemente negróides 40
(Mai, de (Ashanti, Yoruba, Ka 30 2500
nuri, Katoko, Asande, 20 habitan@(,s 1
Mangbetu, etc.). Ori 10 ...... ......
gem análoga têm pro %cle 500$ IMO 1500 2000 25X`_tie 2500 vàvelmente
as diferen so ças somáticas entre as 40
comuni várias castas na india 30E 1 Sul
20
ai@1 ícol,'us com estatura relativa 10 . ....... mente
elevada, nariz pe
je 500 IOW 1500 2000 2500(le 2500 queno e pele clara, a
famílias fa in i 1 i as favor das castas supe
l)raneas n,,,” as
riores: conquistadores in Fig. 14. EstratificaçãG étnica. Dis
tribuição do rendimento entre doarianos, oriundos do
Brancos e Negros nos Estados Uni
dos: os Brancos situamse, em perNorte, sobrepuseramse siu aJ@u@ .10y01U
041,nim Iua2,eJu@3 aqui a uma sociedade classes de rendimento mais
elevado.
As diferenças em comparação com indoeuropóide provàvel os Estados dd Sul.
são menores nos
do Norte (segundo M. F. Nimkoff, mente já estratificada.
1947) A etnologia conhece numerosos casos de sobreposição, a populações camponesas, de povos
pastores nómadas, que são geralmente mais leptossómicos e inteligentes (Mühlmann, Thurnwald).
Antropologia social
e) Crimffialidade. Lombroso considerava o delinquente um portador de numerosos caracteres
atávicos, o qual, quer na sua constituição, quer na inteligência e na vida afectiva, ou no
comportamento e nas formas de vida, retrocedera até à vida selvagem dos povos primitivos, a um
estado, por assim dizer, bestial. Esta teoria do atavismo é hoje insustentável à luz da moderna
investigação do comportamento, da antropologia cultural e da psiquiatria; contudo, observaramse
com relativa frequência anomalias somáticas e psíquicas nos criminosos, principalmente nos mais
perigosos e nos delinquentes habituais. Assim, tanto os criminosos italianos (Lombroso) como os
americanos (11ooton) apre
Fig. 15. Diferença entre cidade e canino nas faculdades mentais.
1@ enunciada, em percentagem, a capacidade mental acima da mediana determinada mediante testes
adequados, na população báv@ra das escol@s primárias. Confronto entre Munique e Nuremberga e as
regiões da Baviera e de Sudeste e de Noroeste. A canacidade mental, embora apresente o mesmo
valor nas cidades e nos campos circundantes é superior nas primeiras (segundo A. Huth, 1941 )
sentam geralmente testa baixa, barba rala, farta cabeleira, assimetria do crânio e do rosto.
Estas anomalias exprimem uma genérica inferioridade física e espiritual (Goring) dos
delinquentes, os quais, quer na inteligência, quer nas capacidades somáticas, se encontram
abaixo do nível próprio das camadas sociais inferiores, apresentando altas percentagens de
demência e psicopatias. Entre as diversas categorias de delinquente revelamse diferenças
consideráveis, tanto no plano somático como no psíquico; os homicidas, por exemplo, são mais
corpulentos e de estatura mais elevada do que a média dos criminosos, ao passo que os
60
Antropologia social
ladrões são mais leves, magros e pequenos (Hooton). Quanto aos burIões, são mais inteligentes do
que os delinquentes acusados de violências físicas.
De entre as personalidades psicopatas, as insensíveis e as abúlicas são as que dão o maior
contingente de criminosos (Exner). Dado que as diversas formas de psicopatia apresentam ainda
certas relações com o tipo constitucional (> Conslituição), também neste aspecto os criminosos
se afastam da média da população, embora não necessàriamente na mesma direcção. O tipo pícnico
ou ciclotímico, encontrase na Alemanha frequentemente representado entre os criminosos acusados
de crimes graves e entre os reincidentes (Kretschmer, v. Rohden, Schwab), o que é devido à sua
grande capacidade de adaptação e à extrema efusão dos seus sentimentos. Nos delinquentes juvenis
de um instituto de educação americano, o comportamento endomórfico, era mais preponderante do
que entre os estudantes dos colégios, observandose correspondentemente, com maior intensidade,
o complexo «maníacodepressivo» relacionado com o tipo endomórfico (Sheld^). A característica
que distingue os criminosos como grupo social, portanto, consiste num desvio da norma; por outro
lado, é impo@sível reduzir os géneros e as direcções destes desvios a uma fórmula única que seja
válida para todos os casos singulares, pois à multiplicidade dos impulsos e dos tipos de delitos
corresponde também grande variabilidade biológica do grupo.
130
120
110
?1
a
100
90
80
,o I.
o .
Antropologia social
ESCOLHA DO CõNJUGE E CíRCULOS MATRIMONIAIS. A estrutura da população através da escolha social
varia constantemente em conexão com a totalidade do sistema social. A escolha dos cônjuges,
porém, sob a forma da homogamia, representa um factor. de estabilização; semelhante escolha é
comprovada, entre outras coisas, pelo nível de instrução e inteligência, estatura, pigmentação;
os cônjuges, mediante estas características, divergem na mesma direcção, com frequencia superior
à da simples probabilidade, da média @da @opulação. Como se trata aqui de características
hereditárias, que nos filhos se aproximam do valor médio apresentado pelos pais, os estratos
sociais tendem a conservar as suas características próprias, completandose no entanto com os
caracteres de outras camadas sociais e até com os dos seus próprios descendentes. Assim, os
estratos sociais mais elevados apresentam não só um nível de faculdades intelectuais superior à
média, mas geram também, em quantidade que ultrapassa a sua percentagem em relação à população
total, filhos talentosos. Aptidões especiais em várias gerações revelamse frequentemente em
famílias nas quais a escolha do cônjuge permaneceu circunscrita a determinado âmbito; deste
modo, deparasenos um elevado gênio musical em famílias de músicos (tais como as de Bach,
Strauss e Wagner), bem como altas aptidões filosóficoliterárias num grupo de famílias da Suábia
aparentadas entre si, das quais saíram, entre outros, Gerok, Hegel, Hauff, Hõlderlin, Kerner,
Mõrike, Schiller e Uliland.
Nas características e nos elementos da personalidade relacionados com o sexo predomina, pelo
contrário, a escolha por contraste (heteroganzia). Mesmo antes da descoberta da bissexualidade
potencial e da variabilidade individual na produção de hormonas sexuais (> Constituição, tipos
sexuais) já por várias vezes se havia suposto que as características heterossexuais dos cônjuges
fossem da mesma grandeza (Schopenhauer, Weinínger). «Na união sexual intervêm sempre um homem e
uma mulher completos, se bem que desigualmente repartidos, em cada caso isolado, nos dois
indivíduos diferentes» (Weininger, 1903). A análise grafológica, através da qual se verificou a
existência de pares de características que nos dois sexos apresentam oposta polaridade
(abstracção espontaneidade, fraqueza de
62
Antropologia social
sentimentosf orça de sentimentos, por exemplo, os primeiros referidos ao pólo masculino, os
segundos ao feminino), confirmou que nos matrimónios felizes existe um maior contraste e uma
integração melhor do que nos infelizes (SchultzeNaumburg).
O círculo de pessoas entre as quais se procede à escolha dos cônjuges é condicionado por
diversos factores. A vizinhança constitui o mais elementar. Os indivíduos desposamse de
preferência no interior da comunidade local a que pertencem, representada pelo terrunho no campo
e pelo bairro na cidade. A percentagem de matrimónios onde os dois cônjuges eram nativos do
mesmo lugar assumiu, entre a população camponesa da Alta Fig. 17. Fronteiras
matrimoniais.
Relações matrimoniais dos cidaSilésia, em 1935, a média dãos de Heidesheim. na margem de 47
por cento; numa esquerda do Reno: o Reno como
fronteira matrimonial! (segundo população campesina da M. Wolf, 1956) Vestefália,
em 1957, 35 por cento; 62 por cento dos matrimónios de uma pequena cidade americana ficaram
circunscritos ao interior de um círculo de seis quilómetros (EIlsworth); em Filadélfia, em 34
por cento dos matrimónios, os cônjuges viviam no
espaço abrangido por quatro ruas (Bossard). A relação entre vizinhança e matrimónio não é
naturalmente absoluta, variando o seu grau em função do tamanho do centro habitado, da densidade
populacional, do tráfego e ainda do nível de instrução. Barreiras naturais que impedem as
comunicações, como grandes rios (Oder: Schwidetzky; Reno: Wolf) e florestas (Solling: Walter),
mares e montanhas constituem também um limite à escolha do cônjuge. Quando a densidade da
população é pequena e as
comunicações pouco desenvolvidas, as comunidades conjugais vivem num isolamento quase absoluto,
como se pode presumir que exista no que respeita a todas as populações primitivas. Os casos de
isolamento absoluto bastante longo
63
Antropologia social
podem dar origem à formação'de novas raças (> Génese das raças).
Além dos limites impostos ao matrimónio por elementos naturais, subsistem ainda certas
limitações de carácter étnico cultural. Particularmente activas são as limitações de natureza
linguística, que também intervêm nos casos de mistura de populações de diversa origem: nos
países de imigração, como os Estados Unidos e a Argentina, os diversos grupos de imigrados
tendem para a homogamia étnica; Italianos, Espanhóis e Judeus da Europa Oriental casaramse de
preferência entre si, de modo a salvaguardar as suas características culturais. Na Alemanha,
pelo contrário, após a segunda guerra mundial, populações locais e refugiados da mesma língua
não formaram comunidades matrimoniais fechadas: o í ndice conjugal (K. V. Müller), isto é, a
relação entre o número de matrimónios mistos reais e prováveis, aproximase progressivamente do
valor 1. Os limites de natureza religiosa e confessional exercem acção comparável à dos limites
linguísticos, e são tanto mais eficazes quanto mais fortes se revelam os laços religiosos. Os
limites políticos impedem toda a espécie de relações, e portanto também obstam às relações
matrimoniais, mesmo quando a semelhantes limitações não correspondam limites linguisticos e
culturais (Alemães e Checoslovacos na região dos Sudetas antes de 1939: Schwidetzky).
Por causa da elevada variabilidade e mobilidade de todos os bens culturais (> Antropologia
cultural), as barreiras culturais não constituem fronteiras decisivas. Migrações, transferências
de populações, novas fronteiras políticas transformam essas barreiras, sendo a flutuação dos
limites das várias comunidades étnicas tanto mais intensa quanto mais aumentam a densidade
populacional e o nível de civilização. Deste modo, vãose delineando sempre novos círculos
conjugais, transformandose outros pela inserção de populações parciais, com tendência para a
mistura generalizada e para a universalidade de relações de procriação. É a esta situação que se
deve o grau relativamente elevado da mistura racial nos homens. O facto de a escolha do cônjuge
ser altamente influenciada pelas relações de vizinhança continua a ser, contudo, uma constante
que impede a mistura e, portanto, a atenuação das diferenças raciais
64
Antropologia social
que se formaram após longo isolamento nos primeiros estádios da história da humanidade.
PROCESSOS DE SELECÇÃO INTRAÉTNICOS. Onde subsista uma diferenciação hereditária de grupos
sociais por efeito da escolha ou de sobreposições étnicas, as diffrenças sociais na reprodução
e na mortalidade agem como processos de selecção. Para avaliar o efeito global da selecção será
necessário ter presentes os seguintes factores: a mortalidade, particularmente nas idades
anteriores ao fim da idade da procriação; a frequência dos matrimónios e a idade em que são
contraídos; as percentagens de natalidade ou de reprodução. No período de decréscimo dos
índices de natalidade (iii fase do desenvolvieranto demográfico > Demografia) em consequência
da racionalização da procriação, instituída em primeiro lugar nas camadas superiores, a idade em
que se contrata matrimónio e os índices de natalidade agiam no sentido de uma atenuação das
características hereditárias específicas do estrato social (particularmente a estatura elevada e
as faculdades intelectuais), ao passo que se obtinha o efeito oposto pelos índices menores de
mortalidade. Considerando os resultados dos testes psicológicos e dos índices de reprodução
específicos de cada estrato (mas não a frequência dos matrimónios, a idade matrimonial, etc.),
encontrouse na população dos Estados Unidos a seguinte variação da distribuição das faculdades
intelectuais no decurso de uma geração (Lorimer e Osborn):
Classes
Diferença
do quociente
1.» geração
2. geração
(Percen
de inteligência
tagem)
140 e mais
1,71
1,50
12,3
130139
3,25
2,88
11,4
120129
7,17
6,46
9,9
110119
11,91
11,44
3,9
100109
17,24
16,93
1,8
9099
21,28
21,64
+ 1,6
8089
18,67
19,31
+ 3,4
7079
12,01
12,65
+ 5,4
6069
5,30
5,61
+ 5,8
abaixo de 60
1ffi
1,59
+ 8,8
, Valores médios,
95,90 1
95,01 1
O,89 1
65
Antropologia social
Não se pode, porém, falar ainda de uma demonstração directa de semelhantes efeitos de selecção,
provàvelmente porque as modificações se compensam, ou até se ultraccompensam fenotipicamente. Se
na época em que diminuiu o índice de natalidade aumentou a percentagem de indivíduos de baixa
estatura filhos de progenitores baixos, o fenómeno foi compensado pelo geral aumento de estatura
que se verificou naquele século (~> Crescimento): uma diminuição do número de indivíduos bem
dotados poderia ser compensada por melhor instrução escolar e pelo hábito dos testes mentais.
Uma série de investigações conduzidas sobre escolares escoceses (Thompson) não revelou sempre
uma atenuação, mas antes ligeira melhoria dos resultados dos testes. Um enfraquecimento do
rendimento escolar, e especialmente da capacidade de concentraçã o dos estudantes, observado por
muitos investigadores (Huth, K. V. MüIler e outros), não implica necessàriamente uma alteração
do património genético, mas considerase que seja resultante das perturbações causadas pela
guerra e pelo pósguerra, bem como dos estímulos sempre crescentes provenientes do mundo
exterior.
No início da era industrial, e no que diz respeito à diferenciação cidadecampo, às
desfavoráveis condições de mortalidade próprias das populaçõ es urbanas juntamse os mais baixos
índices de natalidade, o que resulta numa diminuição da frequência dos caracteres hereditários
específicos da cidade. Os progressos no campo da sanidade e da higiene, que se afirmaram mais
ràpidamente e em primeiro lugar na cidade, não deixaram, todavia, de contribuir rápidamente para
o nivelamento das diferenças entre a cidade e o campo no plano da mortalidade, e um efeito de
selecção sómente pôde manifestarse através dos diferentes índices de reprodução. Contudo,
também aqui ainda não foi possível, até à actualidade, obter uma prova directa.
Com a adopção da planificação da família por parte de toda a população mundial, concluiuse o
processo de selecção iniciado pela diminuição dos índices de natalidade. Cerca de 1920,
inicialmente em algumas grandes cidades (Berlim, Estocolmo), anunciavase já um retomo às
precedentes diferenciações na procriação, segundo as quais a extensão de uma família voltou a
estar relacionada posi
66
Antropologia social
tivamente com o património e a hierarquia social. Todavia, continuaram a subsistir grandes
diferenças cronológicas e espaciais na entidade e também na direcção da diferenciação
demográfica e ainda, portanto, nos processos de selecção. Deste modo, em França, ao contrário do
que aconteceu em muitos outros países, a diminuição dos nascimentos começou nos campos, que
posteriormente continuaram a apresentar valores inferiores aos das cidades (se excluirmos
Paris). De modo análogo, na Suécia, até ao eclodir da primeira guerra mundial, o índice de
natalidade nos campos permaneceu inferior ao obtido nas regiões industriais.
No que se refere aos primeiros períodos abrangidos pela história demográfica, dispomos de poucos
dados seguros acerca da diferenciação social no campo da mortalidade, da fecundidade e,
portanto, @ acerca dos processos de selecção social. No que respeita à «extinção das élites»,
dispomos de certo número de indicações: no período helenístico diminuiu nas cidades gregas a
frequência dos matrimónios e o número médio dos nascimentos (o número de crianças que
beneficiavam de alguma instrução sofreu, portanto, diminuição). Entre os métodos para limitar os
efeitos da fecundidade encontravamse o celibato e a exposição dos recémnascidos (Políbio).
Muitas estirpes patrícias, na época da república romana, ou se extinguiram ou perduraram
mediante o recurso a adopções: as hierarquias superiores senado, cavaleiros foram
recrutadas, em medida sempre crescente, nas camadas sociais inferiores e renovadas por emigrados
de estirpe estrangeira; César e Augusto., recorrendo a medidas de política demográfica,
procuraram fazer aumentar o número de crianças na cidade de Roma, sobretudo nas camadas
superiores (> Demografia, política demográfica). Tratavase, porém, de acontecimentos
isolados, limitados no tempo, no espaço e no alcance. Muitas outras elites não se extinguiram
biológicamente, sendo tãosó sociológicamente suplantadas por outras camadas dirigentes. Uma
tendência geral do processo de selecção social orientada no sentido de destruição das elites, em
relação com a diminuição contínua dos indivíduos altamente dotados, não pode ser demonstrada
histèricamente. Na maior parte da história da população humana manifestase antes a tendência
con
67
Antropologia social
trária, porquanto em situações demo@,àficas primitivas i fase do desenvolvimento da população,
com altos índices de natalidade e mortalidade temse geralmente uma correlação positiva entre
classe social e reprodução. A extraordinária multiplicidade e complexidade dos processos de
selecção e de instabilidade dos factores demográficos também naqueles períodos em relação aos
quais se pode reconstituir uma boa dozumentação estatística põemnos em guarda, todavia, contra
toda a espécie de generalizações.
PROCESSOS DE SELECÇÃO INTERÉTNICOS. À semelhança do que se verifica para as diferentes camadas
sociais, também os diversos povos não passam todos ao mesmo tempo da. primitiva fase
estacionária para aquela caracterizada pela diminuição do índice de natalidade= crescimento mais
intenso da população, e depois para a diminuição do índice de natalidade=novo decréscimo do
excesso de nascimentos; têmse assim variações das percentagens dos vários grupos étnicos em
relação ao aumento da população total da Terra. Nos séculos xviii e xix, a população
europeia aumentou mais ràpidamente do que a dos outros continentes; actualmente a situação
inverteuse (>Demografia), pois são os Chineses, os Indianos e uma série de povos da América
do Sul que apresentam o ritmo de crescimento mais elevado. Do mesmo modo, nos países da Europa
Oriental e Meridíonal os índices de reprodução são mais elevados do que na Europa Setentrional e
Ocidental, etc. Também aqui, portanto, se verificam fenômenos de selecção, e precisamente a
favor dos povos menos desenvolvidos (=maior crescimento), os quais não completaram ainda o ciclo
do desenvolvimento demográfico. Não se dispõe, todavia, de qualquer prova que ateste estarem as
diferenças entre as várias civilizações baseadas em diferenças do nível de inteligência, como
acontece na diferenciação intraétnica (> Psicologia racial). Em contrapartida, semelhantes
diferenciações no ritmo de crescimento das várias populações contribuem para alterar a
composição racial do população mundial. Temse assim um tipo de selecçãc> especificamente
humano: a diferenciação no ritmo da reprodução resulta em características modificatórias
(estádio de desenvolvimento civil) e o resul@ado da selecção (alteração da composição racial)
constitui um
68
Antropologia social
efeito secundário da diferenciação no crescimento das várias populações.
Como no caso da selecção intraétnica, a entidade e
mesmo a direcção da selecção revelam oscilações consideráveis e por vezes de breve duração;
assim, um número sempre crescenn de povos entra na iii fase, a estacionária (baixos índices de
natalidade e mortalidade), e também os povos ainda em crescimento se aproximam progressivamente
de uma estabilização a um nível que comporte limitado movimento demográfico (baixos índices de
natalidade e mortalidade). A par do í ndice de crescimento, e mediante igual duração da fase de
crescimento, temse como resultado final um aumento em percentagem das grandes populações sobre
a população global da Terra por referência ao início da diferenciação, enquanto as unidades
étnicas compostas por um menor número de indivíduos vêem diminuir a percentagem relativa por
elas ocupada na população mundial. O desenvolvimento de unidades étnicas cada vez mais extensas
reflectese, entre outras coisas, no facto de 22 das
1500 línguas actualmente vivas representarem três quartos da humanidade; no que diz respeito à
época que precedeu a colonização curopeia, o seu número deve ter pelo menos duplicado. Também
aqui, como no caso da «extinção das elites», tratase simplesmente, a maioria das vezes, de uma
diminuição de tais entidades como grupos isolados étnicamente independentes.
Grupos étnicos pequenos o muito pequenos encontramse todavia ameaçados até mesmo na sua
sobrevivência biológica. A difusão dos Europeus teve como consequência, em muitos lugares, a
extinção dos povos «no estado natural» (Tasmanianos, índios das Caraffias) ou a sua forte
dizimação (é este o caso de muitas tribos polinésias e melanésias, bem como dos índios das duas
Américas), e portanto, de um modo geral, a extinção ou dizimação de muitas raças primitivas.
Para este fenómeno contribuíram, em proporções diferentes, o extermínio violento pelos grupos
numèricamente superiores e dotados de armas mais eficazes, a importação de novas doenças
contagiosas, a apatia psíquica provocada pela destruição de ordens de valores ligadas às
tradições, a qual se manifesta, entre outros fenómenos, por uma diminuição do índice de
natalidade e das probabili
69
Antropologia social
menos de 16
nascimentos num ano pw cada 1000 habitantes
Fig. 18. Processos de selecção interétnicos. Diferenças no desenvolvimento demográfico da Europa
determinadas a partir dos nascimentos segundo diversos censos, de 1913 a 1955 (os dados
relativos a 1913 e a 1932 foram coligidos por F. Burgdõrfer, 1942)
70
Antropologia social
dades de sobrevivência do adulto, a desintegração dos Iaços tribais e familiares em consequência
do engajamento de jovens em trabalhos sem local fixo.
Muitos povos «o estado natural» superaram, contudo, a crise de adaptação após um período de
forte regressão dos índices de natalidade, voltando a um balanço demográfico equilibrado ou
mesmo positivo. Este fenômeno aparece sempre relacionado com a adopção de bens culturais
europeus até à completa renúncia das próprias particularidades étnicas, entre os quais a
higiene, os serviços sanitários e sobretudo a luta contra a mortalidade infantil exercem acção
demográfica imediata. Dado que estes grupos, por via de regra, entraram mais tarde do que os
Europeus na fase assinalada por uma diminuição dos índices de mortalidade e de natalidade,
precisamente por isso podem superálos nos índices de crescimento; assim, os Maoris da Nova
Zelândia e uma série de tribos índias da América do Norte apresentam actualmente índices de
reprodução mais elevados do que os da população branca. Com a progressiva assi7nilação étnica,
isto é, neste caso, com a progressiva europeização, é provável que também as diferenças nos
índices de crescimento acabem por nivelarse. O desenvolvimento dos povos em «estado natural» na
época da colonização europeia representa um modelo de como devem terse verificado outros
processos numerosos em relação aos quais se dispõe de menor documentação. A expansão dos povos
de cultura superior processase não só através da superior capacidade de crescimento dos
criadores de cultura, mas também, e predominantemente, mediante a assimilação étnica de
populações independentes na origem. Quando se verificam diferenças no nível cultural, a
assimilação processase frequentemente em função do coeficiente do nível de civilização
(Mühlmann): o povo chinês, a partir da sua região de origem, no vale do rio Amarelo, foi
incorporando gradualmente, por efeito da força de assimilação da sua cultura, os povos
primitivos das montanhas e das florestas das actuais províncias da China Meridional; os
antigos Egípcios do período dinástico tiveram origem numa população campesina do Baixo Egipto e
numa população de pastores do Alto Egipto: assimilaram, portanto,
71
Antropologia social
até à quarta catarata do Nilo, populações de origem núbia. A história de Roma é a história da
expansão políticomilitar de uma parte da populaçã o do Lácio, implicando a consequente
latinização dos grupos anteriormente incorporados politicamente, e assim por diante. As
populações culturalmente assimiladas adquirem, com as formas superiores de economia, a
correspondente capacidade demográfica, de modo que no mesmo espaço vêm a encontrarse em
condições de alimentar uma população maior. A renúncia à própria independência étnica e a
assimilação promovida por populações de civilização superior representam, portanto, uma selecção
a favor da população assimilada; assim, actualmente, o maior conjunto de populações vedás
(caracterizadas por infantilismo, e primitivismo de caracteres) encontrase na Tailândia, onde
grupos primitivos da selva adoptaram a cultura do arroz, alcançando desse modo consideráveis
densidades populacionais, ao passo que outras tribos predominantemente vedóides da índia
Anterior e da Indochina permaneceram ao nível dos povos caçadoresrecolectores, com a sua baixa
densidade de população. No passado, sobreestimouse frequentemente o papel das migrações
populacionais na difusão das culturas, em prejuízo de semelhantes processos de assimilação.
POLíTICA RACIAL. Quando grupos étnicos de raças diferentes se encontram em contacto,
características raciais muito sensíveis, tais como a cor da pele, podem provocar o aparecimento
de consciências separatistas em certos grupos e em determinados comportamentos sociais. A forma
mais frequente como este fenómeno se manifesta é o desprezo pelas outras raças, o qual não passa
de uma das numerosas formas do etnocentrismo, que se exprime geralmente pelo repúdio dos
estranhos. O problema dos Negros nos Estados Unidos e na União da África do Sul constitui o
exemplo mais conhecido de conflitos de grupo numa base de diferenças sociais. A consciência de
raça, todavia, não é sempre motivada directamente; contrastes de natureza étnica, social,
religiosa ou cultural, nos quais se manifesta um paralclismo com a estrutura racial, podem ser
motivados secundàriamente por uma ideologia racial (o antisemitismo,
72
Antropologia social
por exemplo) que nos tempos modernos (especialmente a partir de Klemm, 1843, e Gabineau, 1858)
se fundamenta em argumentos de > psicokgia racial. Na avaliação colectiva, o fenótipo racial
pode assumir por vezes um papel nitidamente subordinado; nestes casos continua a ser deccisiva a
relação de descendência com as minorias desprezadas (o problema dos «Negros Brancos» nos Estados
Unidos; na Alemanha, a prova em como se pertence à raça ariana).
Se populações de raça diferente fazem parte de uma única unidade política, os grupos no poder
podem tomar as seguintes medidas para reforçar a discriminação racial: a) Proibição de
matrimónio, que pode possuir base jurídica ou sómente convencional. Nos Estados Unidos, vinte e
nove estados proíbem o matrimónio entre Brancos e Negros; por vezes, até mesmo as relações
sexuais extraconjugais são susceptíveis de puniçã o (União da África do Sul, Alemanha nazi; b) A
«monopolização do poder e da honra social» (M. Weber): a raça desprezada é mantida numa posição
subalterna, representando o estrato inferior ao qual é impedida a ascensão às hierarquias
superiores mediante uma série de barreiras sociais; c) A segregação, isto é, a separação
espacial em bairros, escolas, meios de transporte (Estados Unidos, União da África do Sul; cf.
també m os ghetos, as reservas, etc.). A segregação pode também ser desejada por uma parte da
raça discriminada, porquanto oferece, em determinadas circunstâncias, a possibilidade de
edificar um corpo social independente com ilimitadas possibilidades de ascensão.
As barreiras ao matrimónio tendem a ser mais duradouras do que as barreiras à ascensão social;
podem, contudo, ser transpostas por uniões ilegais. Nestes casos de uniões entre indivíduos de
raças diferentes, os homens pertencem mais frequentemente do que as mulheres ao grupo que
reivindica para si a posição mais elevada; as mulheres são preservadas com grande rigor do
contacto com a raça discriminada (linchamentos). Estas regras de biologia demográfica valem
também para os numerosos casos de sobreposição étnica, conhecidos da etnologia e da história das
populações, nos quais se verificou o levantamento de
73
Biotipologia
barreiras ao matrimónio e à ascensão social (Espartanos e Periccos de um lado, Ilotas do outro,
em Esparta; sociedade de castas na índia; os Arios na Polinésia, etc.). Em todos estes casos, as
medidas de política racial retardaram o amálgama das diversas partes da população, mas em ú
ltima análise não conseguiram impedilo.
Biotipologia Foi Pende quem, em 1950, definiu biotipologia ciência do ser humano total
considerado como unidade psicossomática , designação, aliás, já usada pelo mesmo autor desde
1922. A biotipologia é assim a ciência da individualidade humana. O estudo das características
diferenciais de natureza morfológica, fisiológica e psicológica permite estabelecer para cada
pessoa um biótipo individual. [A des@gnação tipologia é aqui usada num sentido mais amplo do
que biotipologia. Na realidade, esta última designação só é aplicável, tal coino foi entendida
por Pende, às tipologias somatopsíquicas e estatísticas. Às restantes chamou ó mesmo autor
(Pende, 1947) constitucionalísticas. Os termos tipo, constituição e estrutura serão entendidos
no presente trabalho como sinónimos e usados de acordo
com a preferência que lhes foi concedida por cada uma das escolas tipológicas citadas.]
Nem sempre, porém, têm sido as tipologias humanas inspiradas pelos mesmos princípios ou servidas
por idênticos métodos. Ao lado de tipologias essencialmente morfológicas, como as de SigaudMac
Auliffe e de Viola, em que as constituições são caracterizadas e classificadas com atenção,
únicamente, à morfologia, surgiram outras tipologias somatopsíquícas que aceitam como
evidente a correlação entre os caracteres morfológicos, fisiológicos e psicológicos dos
indivíduos. Nestas últimas, a que pertencem as escolas de Kretschmer, de Pende e de Sheldon, a
classificação de tipos humanos baseiase naquele conjunto de características.
Também no que respeita aos métodos utilizados se distinguem as várias escolas tipológicas.
Assim, enquanto nas tipologias estatísticas como, por exemplo, as de Viola, Pende e Lindegard
a constituição é definida por medi
74
Biotipologia
ções precisas e normalizadas, as tipologias intuitivas ou i.mpressionistas fundamentamse em
estudos morfológicos qualitativos. Entre estas últimas tiveram, na sua época, notável êxito as
classificações de Sigaud e de Kretschmer.
Devemse a Hipócrates e a Galeno as primeiras classificações de tipos humanos. Com o decorrer
dos tempos vários autores se ocuparam, mais ou menos cientificamente, do estudo da
individualidade humana. Nas linhas seguintes serao mencionadas as principais escolas de
tipologia humana, os seus fundamentos, métodos e classificação que propõem. Consideraremos
primeiramente as tipologias essencialmente morfológicas.
ESCOLA MORFOLóGICA LIONESA. (SIGAUDMAC AULIFFE). Segundo esta Escola tipológica [também por
vezes designada, quanto a nós menos própriamente, por «Escola biotipológica francesa»] o corpo
humano é constituído por quatro sistemas orgânicos fundamentais respiratório, digestivo,
locomotor e nervoso agrupados em tomo de um sistema central circulatório. A constituição seria
a resultante da acção, sobre cada um dos sistemas fundamentais, dos ambientes atmosférico,
alimentar, físico e social respectivamente. De tal interacção resultariam, além de muitos tipos
mistos devidos à acção conjunta de vários factores genéticos e ambientais, quatro tipos
morfológicos puros respiratório, digestivo, muscular e cerebral (Fig. 19).
Tipo respiratório (Fig. 19 R) Ombros largos, menos horizontais do que no tipo muscular. Tronco
relativamente pequeno e com forma de trapézio de base maior superior. Tórax muito desenvolvido
em largura e altura, com predomínio sobre o abdômen, que é pequeno. Rosto [segundo a Escola
morfológica lionesa, o rosto conjunto da face e da fronte é decomponível em três zonas ou
andares
superior, médio e inferior representados respectivamente pela fronte, região nasal e região
oral.] romboidal devido ao maior desenvolvimento da zona média ou respiratória. Nariz longo ou
largo. Maçãs do rosto salientes.
Tipo digestivo (Fig. 19 D) Ombros estreitos e ligeiramente descaídos. Pescoço relativamente
curto e grosso.
75
Biotipologia
Tronco predominante em relação aos membros. Abdómen com predomínio sobre o tórax, que é curto e
largo. Zona inferior ou digestiva mais desenvolvida do que as outras zonas do rosto, devido ao
grande desenvolvimento da mandíbula. M c
O rosto tem, por isso, forma de triângulo com lado maior inferior. Fronte estreita.
Tipo muscular (Fig. l@ M) Corpo Fig. 19. Representação esquemática dos quatro bem
propor tipos humanos da Escola mortológica lionesa cionado em largura e altura. Predomínio
dos membros e da musculatura. Membros superiores longos. Tronco rectangular em norma anterior e
trapezoidal de base menor inferior
em norma posterior. Tórax e abdómen proporcionados. Rosto quadrado ou rectangular (alongado
ver@icalmcnte), com as três zonas bem proporcionadas e sensivelmente iguais. Inserção frontal do
cabelo de forma rectangular.
Tipo cerebral (Fig. 19C)Corpo geralmente baixo, delgado e de aspecto débil. No conjunto total a
cabeça é dominante. Tronco e membros proporcionados. A fronte, abaulada, é muito desenvolvida, o
que confere ao rosto forma de triângulo com o lado maior superior. Orelhas relativamente
grandes. Boca, lábios e queixo pequenos.
Após ter conhecido grande êxito, em França e noutros país'es, a classificação de SigaudMac
Auliffe, fortemente críticada nos seus métodos e fundamentos, está hoje completamente
abandonada. Na realidade, a superficialidade
e a subjectividade dos métodos que'utilizava características comuns a todas as típologias
intuitivas e decerto não alheias ao sucesso que estas conheceram não permitiam
76
Biotipologia o rigor científico desejável em qualquer classificação biotipológica. Nunca foi
possível, por meio de técnicas biométricas, confirmar a existência dos tipos humanos de Sigaud
Mac Auliffe.
Por outro lado, toda a inspiração da Escola morfológica lionesa, cujos trabalhos se desenvolvem,
sobretudo, no primeiro quartel do século xx, se alicerçava em princípios lamarckistas.
Surpreendenos hoje a maneira simplista come> era concebida por esta Escola a realização da
estrutura humana, não só no que respeita à morfologia geral como, sobretudo, à forma do rosto.
ESCOLA ITALIANA DE CONSTITUCIONALíSTICA (VIOLA). [Os principais trabalhos biotipológicos de
Viola foram publicados entre 1925 e 1940.1 Para Viola, a constituição humana resulta da
interacção dos sistemas da vida vegetativa e da vida de relação. O primeiro é formado pelo
conjunto das vísceras e pode representarse pelo tronco.
O segundo compreende o sistema nervoso e a musculatura, e é representado pelos membros. Quanto
maior for o dcscnvolvimento do tronco em relação aos membros maior será a preponderância dos
órgãos da vida vegetativa sobre os da vida de relação. Os dois sistemas estarão em equilíbrio
numa estrutura humana idealmente proporcionada o, normótipo. Mas, como o normótipo é uma
constituição ideal, é necessário representálo por uma estrutura real e tão próxima dele quanto
possível. Esta constituição é o homemMédio.
Todo o desenvolvimento da doutrina de Viola se fundamenta na lei de Gauss. O normótipo
representa a média da distribuição teórica, enquanto ao homemmédio corresponde a média prática,
calculada, tanto mais próxima do normótipa quanto maior for o número de constituições sobre as
quais se baseia. O ‘homemmédio, embora muito raro, encontrase na natureza (cerca de 1,35 por
cento das constituições estudadas pela escola de Viola). Para um lado e para o outro do homem
médio, distribuemse normalmente as constituições mais comuns. Viola verificou que a
variabilidade constitucional se estendia em duas direcções opostas, cada uma com o homemmédío
como ponto de origem. Uma direcção engloba as constituições braquitípicasmega
77
Biotipologia
losplâncnicas, caracterizadas pelo predomínio do tronco sobre os membros. A outra compreende as
constituições longitípz'cas@microsplâncnica@, em que os membros são relativamente mais
desenvolvidos do que o tronco. Assim, a classificação de Viola não caracteriza tipos, mas sim
direc
ções antagonistas de variabilidade é estrutural. Por
que as constituições se distribuem normalmente, tanto as longitípicas ex
tremas como as braquitípicas extremas são mui
to raras.
O método de Viola baseiase em dez medições com as quais se calculam índices.
A comparação
entre o tronco e os membros é Fig. 20. Constituição braquitípicamegalos
plânenica feita por meio
destes índices.
O honzemmédio é calculado a partir das modas de um grupo humano suficientemente representativo.
Embora a orientação da escola de Viola seja essencialmente morfológica, tanto nos seus
fundamentos, como nas técnicas utilizadas, o seu autor admitiu a correlação entre os tipos
humanos biomètricamente definidos e os tipos somatopsíquicos, seguindo, neste aspecto,
principalmente Kretschmer e Pende. Seguidamente serão indicadas as principais características
das estruturas humanas admitidas pela Escola italiana de constitucionalística.
Constituições braquitípicasmegatosplâncnicas (Fig. 20) Predomínio dos órgãos da vida
vegetativa. Tipo anabólico. Estatura geralmente baixa e peso relativamente elevado. Robustez e
força. Músculos curtos mas volumosos. Crânio
7S
Biotipologia
grande. Face arredondada. Tronco muito desenvolvido em relação aos membros. Abdómen proeminente
e volumoso com predomínio sobre o tórax, que é curto e largo (em sentido sagital). Cabelo pouco
abundante. Tendência para a calvície precoce. Vagotonia e hipertensão. Temperamento ciclotímico
(q. v.),
Constituiç6es longitípicasmicrosplâncnicas (Fig. 21) Predomínio dos órgãos da vida de relação.
Tipo catabólico. Estatura geralmente elevada. Fatigabilidade rápida. Músculos delgados e longos.
Crânio estreito. Face oval. Ombros caídos. Tórax longo e estreito em sentido sagital, mas largo
transversalmente. Abdômen pouco desenvolvido. Membros muito longos, sobretudo os inferiores, com
predomínio sobre o tronco. Cabelo abundante. Simpaticotonia e hipotensão. Temperamento
esquizotímico (q. v.).
Os resultados da escola de Viola contamse ainda hoje entre os mais válidos de toda a
biotipologia. Está actualmente comprovada a existência da variabilidade bipolar em relação ao
tipo médio. Mas, segundo Schreider, as estruturas brevilínca e longilínca daí resultantes não
devem ser consideradas ao nível individual, mas sim como tendências discerníveis nas populações,
como categorias biostatísticas. Assim como é raro encontrar um indivíduo que corresponda ao
homemmédio, também não é frequente observar num único indivíduo todas as características
correspondentes a um ou ao outro tipo estrutural. Vem a propósito mencionar que mesmo Viola
reconheceu esta limitação em relação aos seus métodos, pois cerca de 40 por cento das
constituições que estudou não mostraram tendência definida no sentido longilíneo, ou brevilíneo;
manifestaramse sim como compromissos entre as duas direcções constitucionais.
Fig. 21. constituição ionPende aceita as conclusões de gítípicamicrosplànenica
79
Factor de Factor de Factor Factor comprimento robustez muscular adiposo
+2o
Biotipologia
Viola mas faz, no entanto, uma reserva relativamente ao homemmédio que aceitamos inteiramente.
Na opinião de Pende não existe um único homemmédio, visto o seu cálculo variar com as
populações, com as idades e com o sexo. Por isso, o normótipo será diferentemente representado,
de acordo com os factores de variação apontados.
SOMATOLOGIA DIFERENCIAL (LINL,.t@GARD). Esta escola não propõe qualquer classificação das
constituições humanas. Cada estrutura individual é representada gràficamente (Fig. 22). Segundo
Lindegàrd (1953), a variabilidade constitucional interíndividual depende principalmente da
quantidade e da distribuição dos tecidos ósseo, muscular e adiposo. A caracterização individual
utilizada por Lindegárd baseiase, em quatro factores: factor de comprimento, factor de
robustez, factor muscular e factor adiposo. Cada um destes factores é representado em unidades
de desviopadrão calculadas em M relação a tabelas prèviamente estabelecidas pelo estudo
de amostras suficientemente representativas. Fíg. grama individual
(método
O factor de com de Lindegard)
primento é representado pelo comprimento dos ossos longos. Na prática tomamse os
comprimentos do rádio e da tíbia por serem os que, no vivo, se medem com maior facilidade e
precisão.
O factor de robustez avaliase pela espessura dos ossos
longos; medemse os diâmetros transversais das epífises do fémur e da tíbia e o diâmetro
bimaleolar.
O factor muscular depende da espessura dos músculos e, como a força muscular medida pelo
dinamómetro, é proporcional à área da secção transversal dos músculos3 calculase
dinaniomètricamente.
80
Biotipologia
O factor adiposo pode avaliarse através do peso do corpo ou do perímetro dos membros.
Pela objectividade que o rigor das medições e do seu tratamento estatístico lhe confere, o
método de Lindegárd é actualmente um dos mais acreditados no estudo da variabilidade morfológica
humana.
TIPOLOGIAS SOMATOPSíQUICAS. Às tipologias somatopsíquicas interessa a relação anatomia
funcionalpsicologia do indivíduo. Admitem assim que, por intermédio das glândulas endócrinas e
do sistema nervoso vegetativo, a morfologia é influenciada pela vida psíquica e que por isso,
através das características morfológicas, é possível conhecerse os traços psicológicos
fundamentais de cada indivíduo. No domínio das tipologias somatopsíquicas mencionaremos as
escolas de Kretschmer, de Pende e de Sheldon.
ESCOLA ALEMÃ DE KRETSCHMER. [As principais conclusões da escola de Kretschmcr foram publicadas
no segundo quartel do nosso século.] Krctschmer, psiquiatra alemão, verificou que, separando em
dois grupos alienados com tendências para a psicose maníacodepressiva e para a esquizofrenia,
conseguia distinguílos não só por estas características patológicas da sua vida psíquica, mas
também por certos traços morfológicos. Generalizando, Kretscluner concluiu que mesmo nos
indivíduos normais se encontra uma ou outra das duas tendências sob forma atenuada e que é
possível, através da morfologia, reconhecer essa tendência.
Assim, Kretschiner descreveu dois temperamentos normais, ciclotímica e esquizotímico,
correspondentes, na forma patológica, à psicose maníacodepressiva e à esquizofrenia,
respectivamente. Segundo o mesmo autor a ciclotimia estaria habitualmente ligada à constituição
pícnica (brevilínca), ao passo que a esquizoffinia se relacionaria com a constituição leptosso
mática (longilínea). Entre os leptossomáticos distinguiu ainda dois tipos diferentes asténico
e atlético. Vejamos quais as características essenciais dos temperamentos e tipos morfológicos
descritos por Kretschmer.
Ciclotímicos Extravertidos. Sociáveis, naturais, espontâneos, activos, dinâmicos e realistas.
Do ponto de vista intelectual são concretos, pouco dotados para a abstracção. Hu
81
Biotipologia
mor que alterna periódicamente entre a alegria e a tristeza ou se fixa num destes extremos; nos
ciclotímicos alegres as reacções são mais rápidas do que nos deprimidos. Grande
susceptibilidade. Cóleras violentas mas breves.
Esquizotímicos Intravertidos. Solitários, tímidos, complexionados. Muito sensíveis, e por isso
dificilmente adaptáveis. Lógicos, inclinados para a abstracção e para a exactidão sistemática.
Sérios, idealistas e profundos, pouco dados às soluções médias. Reacções rápidas umas vezes,
outras muito lentas.
Constituição pícníca (Fig. 23, ao centro) Estrutura horizontal; preponderância das dimensões
horizontais sobre as verticais. Esqueleto não muito robusto, mas largo. Estatura média ou baixa.
Crânio volumoso e arredondado. Tendência para engordar, acumulandose o tecido adiposo
sobretudo na face e no tronco. Musculat ra pouco desenvolvida e flácida.u Tórax e abdômen muito
&senvolvidos. Pescoço baixo e enterrado entre os ombros, pouco largos. Extremidades curtas.
Pilosidade abundante, mas com tendência para a calvície precoce. Rosto largo e gordo de forma
pentagonal. Pele rosada. Fronte larga e abaulada. Olhos pequenos. Nariz bastante largo.
Mandíbula baixa. Barba geralmente abundante.
Constituição leptassomática
Estrutura vertical; predomínio do crescimento em altura. Tronco alto. Mãos longas. Rosto oval.
Tipo asténico, (Fig. 23, em cima) Esqueleto d é b i 1. Corpo magro e delgado. Estatura média.
Crânio pequeno. Ombros estreitos. Tórax pouco forte. Membros delFig. 23. Tipos constit u
gados. Mãos magras e dedos poncionais, segundo Krets tiagudos. Pilosidades axilar e púchmer.
Em cima: tipo asténico. Ao centro: bica reduzida. Rosto de cor pálida. constituição
pícnica Em
baixo: tipo atlético Cabelo abundante e avanç2tido
82
Biotipologia
sobre a fronte. Barba irregular e medíocre. Mandíbula pouco desenvolvida. Nariz pontiagudo.
Tipo at.ético (Fig. 23, em baixo) Esqueleto robusto. Musculatura muito desenvolvida. Estatura
média ou alta. Crânio de volume médio. Pescoço alto. Ombros largos. Tronco, a estreitar para a
parte inferior, de forma trapezoidal. Tórax forte. Pilosidade abundante. Maçãs do rosto
salientes. Mandíbula forte.
A classificação de Kretschmer teve o grande mérito de chamar a atenção para as correlações
somatopsíquicas. Daí a enorme difusão que conheceu. No entanto, tal como o próprio Kretschrner
admitiu, só uma pequena parte dos indivíduos estudados, cerca de 11 por cento, cabia nos tipos
somatopsíquiços da sua escola.
Se, por um lado, as investigações actuais parece confirmarem correlações relativamente elevadas
entre certos caracteres morfológicos e psíquicos, por outro lado não parece possível usar
correlações na caracterização individual. Tal como no caso das estruturas longilínea e
brevilínea, os tipos sematopsíqtúcos não representarão mais do que categorias biostatísticas
tendências populacionais só estatisticamente definíveis.
DOUTRINA BIOTIPOLõGICA DE PENDE. Pende aplicou o seu método da pirâmide biotipológica ao estudo
da individualidade humana. Segundo este método, o bíótipo individual pode considerarse como a
síntese de um estudo em que o indivíduo é comparado a uma pirâmide quadrangular, cuja base
representa o seu geriótipo e as quatro faces os seus
aspectos morfológico, fisiológico, moral e intelectual. Estes aspectos são exaustivamente
investigados por meio de técnicas variadas e particulares a cada um deles.
Os estudos da escola de Pende conduziram a uma classíficação em que se consideram quatro
biótipas fundamentais, cujas características mais importantes indicamos seguidamente. Cada um
destes biótipos compreende algumas variantes endócrinas.
Biótipo longilíneo esténicotónico Estrutura vertical. Estatura superior à média. Esqueleto e
musculatura bem
83
Biotipolo'gia
desenvolvidos, mas peso relativamente baixo. Frequentemente mesocéfalos ou* braquicéfalos.
Fronte elevada. Olhos grandes. Nariz longo. Tórax e abdômen bem proporcionados. Membros
esbeltos. Movimentos velozes e ágeis. Extremidades longas. Caracteres sexuais secundários bem
desenvolvidos. Preponderância do simpático. Esquizotímicos. Hiperemotivos e irritáveis.
Pessimistas e inconstantes. Reacções mentais rápidas e instáveis.
Biótipo longilíneo hiposténicohipotónico Estrutura vertical. Estatura variável. Esqueleto
grácí1 mas, assim como a musculatura, pouco desenvolvido. Peso reduzido. Face longa e angulosa.
Queixo curto. Pescoço alto. Tronco estreito. Caracteres sexuais secundários pouco desenvolvidos.
Preponderância do parasimpático. Hipersentimentais, românticos e melancólicos. Pessimistas e
deprimidos. Inteligência bem desenvolvida mas pouco resistente.
Biótipo brevilíneo esténicotónico Estrutura horizontal. Estatura média ou baixa. Esqueleto e
musculatura bem desenvolvidos. Peso relativamente elevado. Geralmente, mesocéfalos ou
braquicéfalos. Olhos pequenos. Rosto hexagonal, anguloso. Fronte alta. Nariz proporcionado.
Mandíbula larga. Tronco largo e maciço. Abdômen proeminente. Membros curtos. Movimentos lentos.
Desenvolvimento sexual por vezes exagerado. Hiperinstintivos e expansivos. Activos e
impulsivos. Inteligência concreta e analítica, por vezes superior à média.
Biótipo brevilíneo híposténico Estrutura horizontal. Estatura baixa. Esqueleto débil e
musculatura flácida. Peso relativamente grande. Fronte estreita. Pescoço curto. Tórax pequeno.
Abdômen volumoso e proeminente. Formas cor
porais arredondadas. Tecido adiposo abundante. Caracteres sexuais secundários pouco
desenvolvidos. Parasimpaticotónicos. Ciclotímicos, Depressivos e inertes. Melancólicos.
Inteligência analítica e concreta.
Tècnicamente muito complexa, e por isso dificilmente aplicável, a doutrina de Pende, embora
resultante de uma ampliação das concepções de Viola, contribuiu, no entanto, pela grande
variedade de aspectos considerados, para melhor conhecimento da personalidade humana.
84
Biotipologia
ESCOLA AMERICANA DE SHELDON. Também para Sheldon (1940), psicólogo americano, o biótipo
individual, que este autor designa por somatóíipo, é o resultante do estudo de diversos aspectos
de cada indivíduo (anatómicos, fisiológicos, psicológicos e patológicos).
Todo o trabalho da escola de Sheldon se processa com
base em fotografias tiradas, sempre nas mesmas condições, de frente, de costas e de perfil. O
estudo morfológico, qua7 litativo, assim como uma longa série de medições, são efectuados sobre
as referidas fotografias.
Após ter estudado 4000 indivíduos, Sheldon descreveu três tendências morfológicas fundamentais
componentes primárias existentes, embora em diferentes proporções, em todas as pessoas e
traduzindo a predominância dos orgãos derivados de cada um dos três folhetos embrionários. As
três componentes primárias chamou, por isso, endomórfica, mesomórfica e ectomórfica.
A componente endomórfica exprime o predomínio dos derivados da endoderme e é representada pelo
desenvolvi
Fíg. 24. Somatótipos, segundo Sheldon. A esquerda: um endomórfico extremo (711). Ao centro: um
mesomórfico extremo (171).
A direita: um ectomórfico extremo (117)
mento do sistema digestivo e pela tendência para a adiposidade. Os indivíduos em que esta
componente se manifesta em grau elevado (Fig. 24, à esquerda) apresentam formas arredondadas nas
diferentes regiões do corpo, pescoço baixo, abdómen volumoso, membros curtos e extre
midades pequenas.
85
Biotipologia
A componente mesomórfica está relacionada com os derivados da mesoderme e é representada pelo
esqueleto e pela musculatura. Um mesomórfico extremo (Fig. 24, ao centro) é geralmente pesado, o
esqueleto e a musculatura são muito desenvolvidos, pescoço longo, ombros e tórax largos e
extremidades fortes.
A componente endomórfica exprime a predominância dos derivados da ectoderme e é representada
pelo sistema nervoso. Os indivíduos em que esta componente predomina (Fig. 24, à direita) têm
estrutura linear e frágil, peso relativamente pequeno, face estreita, nariz delgado, queixo
pontiagudo, pescoço longo e delgado, ombros estreitos e descaídos, tronco curto e membros longos
e pouco fortes.
Se, no que respeita às tendências morfológicas descritas, Sheldon pouco se afasta de Kretschmer,
pois que, nas suas próprias palavras, o endomorfismo, o mesomorfismo e o ectomorfismo
correspondem aproximadamente aos tipos pícnico, atlética e asténíco de Kretschmer,
respectivamente, a classificação da escola americana é, pelo contrário, perfeitamente original.
Partindo do princípio de que cada uma das componentes primárias se pode manifestar em sete graus
de diferente intensidade, cada somatótipo é representado por três algarismos compreendidos entre
1 e 7. O algarismo da esquerda indica o grau de endomorfismo, o do centro o de mesomorfismo e o
da direita o de ectomorfismo. Assim, por exemplo, enquanto um ectomórfico extremo é representado
por 117 (que se lê, umumsete), um homem médio pode pertencer ao somatótipo 344. Embora,
teóricamente, possam existir 7 3@ ou seja 343, somatótipos, na prática, Sheldon não encontrou
senão 76. Certas combinações, como, por exemplo, 244, 334, 344, 225, etc., mostraramse muito
frequentes, outras, como, por exemplo, 371, 641, 551, etc., muito raras e ainda outras, tais como
164, 174, 336, etc., inexistentes.
Paralelamente às três tendências morfológicas, Sheldon descreveu três variáveis temperamentais:
viscerotonia, somatotonia e cerebrotonia.
O temperamento viscerotónica é dominado pela função
86
Biotipologia
anabólica. Caracterizase por grande apego ao conforto, pela sociabilidade e pela extraversão
afectiva.
O temperamento samatotónico caracterizase pela actividade, energia e insensibilidade à fadiga.
No sornatotónico, existe predominância das funções somáticas, vigorosa expressão do eu e
extraversão mais de acção do que de afectividade.
O temperamento cerebrotónico é marcado pelo domínio da atenção e da inibição e pela
predominância do sistema nervoso e dos órgãos dos sentidos. O cerebrotónico é um intravertido.
Entre o endomorfismo e a viscerotonia, o mesomorfismo e a samatotonía e o ectomorfismo e a
cerebrotonia, Sheldon encontrou correlações de 79 por cento e 83 por cento, respectivamente.
Embora tenha sido submetida a fortes críticas Shreider classifica de alucinantes as
correlações de Sheldono mérito da escola americana reside, sem dúvida, na sua classificação: a
substituição de alguns tipos por muitas variáveis é mais susceptível de permitir uma melhor
classificaç,ão da variabilidade humana. Deve, no entanto, notarse que não foi até hoje possível
confirmar biornètricamente a existência da componente mesomórfica (nem tãopouco do tipo
atlético de Kretschmer, que lhe corresponde).
CONCLUSõES. Conforme se pode verificar nas linhas anteriores, a constituição humana tem sido
objecto de estudos baseados em diferentes princípios e servidos por diversas metodologias. O que
resta actualmente de válido das investigações levadas a cabo pelas escolas tipológicas citadas,
as principais, é pouco relativamente à grande quantidade de trabalho efectuado. A classificação
dos indivíduos em tipos morfológicos ou somatopsíquicos parece ter de ser definivamente
abandonada. Na realidade, as investigações da actual Escola bietipológica de Paris e outras,
conduzidas críticamente e baseadas em rigorosas técnicas estatísticas, têm demonstrado a
impossibilidade de incluir a enorme variabilidade humana em poucos tipos constitucionais. Tal
facto, de resto, foi também reconhecido, como vimos, pelas
87
Comprovação da paternidade
escolas de Sheldon e de Lindegard, que, de modos diferentes, procuraram obviar aos seus
inconvenientes. Apesar disso, é Schreider, um dos animadores da Escola biotipológica de Paris,
quem propõe a adopção de três denominações convencionais estruturas verticais, horizontais e
intermédias que, do ponto de vista morfológico, sintetizam as aspirações das principais
classificações tipológicas e apresentam a vantagem de incluir, salvo raras excepções, toda a
variabilidade constitucional humana.
As estruturas verticais correspondem às constituições em que, independentemente da estatura e de
outras medidas absolutas, existe preponderância da altura do tronco em relação à sua largura
transversal. A sua silhueta é esbelta e relativamente direita em norma lateral.
As estruturas horizontais incluem as constituições em que a largura sagital do tronco predomina
em relação à sua altura. Também independentes das medidas absolutas, correspondem a formas
arredondadas e obesas.
As estruturas intermédias situamse entre as anteriores e correspondem às constituições em que
não há predomínio da altura sobre as larguras transversal e sagital do tronco.
Comprovação da paternidade Um dos campos mais importantes da antropologia aplicada é a detem
iinação gené~ tica e antropológica da descendência, particularmente a
comprovação de paternidade. Nos casos de paternidade duvidosa, procurase provar, com base num
maior número possível de caracteres hereditários, se entre duas pessoas, normalmente uma criança
e o pai presuntivo, existe grande afinidade genética que faça supor uma relação de descendência.
O método é essencialmente aquele que permite distinguir entre gêmeos uniovulares e biovulares
(> Genética humana) ou entre gémeos que possuam exactamente o mesmo património génico, ou
património génico diverso.
Ao contrário do preceituado em muitos outros países, a legislação portuguesa proíbe a acção de
investigação de paternidade ilegítima, excepto nos casos que se seguem, matéria regulada pelo
artigo 1860.o do Código.Civil Português de 1966.
88
Comprovação da paternidade
a) Encontrandose o investigante na posse de estado
de filho ilegítimo (Nos termos do artiga 1861.O «a posse de estado consiste no facto de alguém
haver sido reputado e tratado como filho pelo pretenso pai e de haver sido reputado como filho
também pelo público»);
b) Existindo carta ou outro escrito no qual o pretenso
pai declare inequivocamente a sua paternidade;
c) Tendo havido convivência notória da mãe e do
pretenso pai no período legal da concepção;
d) Tendo havido violência exercida pelo pretenso pai
contra a mãe no mesmo período;
e) Tendo havido sedução da mãe no período legal
da concepção.
A selecção dos caracteres hereditários para a determinação da paternidade (e também da
maternidade) varia consoante o processo hereditário e a base génica (caracteres monómeros) ou
então que a descendência deva resultar exclusivamente da participação de mais genes não
individualmente analisáveis (caracteres polímeros). Ao primeiro grupo, que é representado
sobretudo por caracteres sero
lógicos, pertence, em presença de determinadas constelações de genes, a exclusão da paternidade.
É válido para a generalidade de que uma característica dominante que apareça na criança mas
falte na mãe deve existir no pai; esta regra permite excluir todos os homens que não a possuam.
Se, pelo contrário, a característica dominante se encontra na mãe, não fica excluído nenhum
homem como progenitor da criança. Em alguns processos hereditários nos quais se destaquem
fenotipicamente dois alelos (por exemplo, o sistema MN) é possível que também a mãe seja
excluída no caso de ser heterozigótica. No sistema ABO e no MN, por exemplo, existe a
possibilidade de exclusões indicadas na tabela da p. 90.
89
Comprovação da paternidade
Além dos sistemas ABO e MN temse últimamente revstido de importância mormente o chamado
sistema Rh, com os seus três pares de genes (Cc, Dd, Ee):
Criança
Mãe
O pai pode ter
O pai não pode ter
A, B, AB, O
A, AB
B, O
AB o
A, B, AB, O A, AB
B, o
B, AB
A, O
A, B, AB, O
AB
A, B, AB, O
B, AB
A, O
AB
B, AB
A, O
A, AB
B, O
AB
A, B, AB, O
(Se o filho apresenta AB, a mãe não pode ter 0)
1 A, B, O
1 AB
A, B, O
AB
A, B, o
AB
(Se o filho apresenta O, a mãe não j)ode ter AB)
M 1
M, MN 1
N
Comprovação da paternidade como pais presuntivos), e a sensibilidade gustativa à PTC
(feniltiocarbamida); (> Fisiologia racial).
A maior parte dos caracteres polímeros foram introduzidos na análise da semelhança
polissintomática. Os grupos de caracteres aos quais se recorre com o objectivo de determinar ou
excluir a paternidade são os seguintes: relevos cutâneos papilares (impressões das polpas dos
dedos das inaos e dos pés, da palma das mãos e da planta dos pés, número de linhas das
impressões digitais e tipo do desenho; linhas principais da palma das mãos e da planta dos pés,
desenho dos espaços interdigitais), forma do polegar e do dedo grande e mínimo dos pés;
estrutura da íris e densidade e, distribuição da sua pigmentação, processo de implantação ciliar
e diâmetro da abertura pupilar; calota craniana (dimensões, circunferência, forma da região
occipital, depressões na proximidade do bregma e do lambda, eventual presença da protuberância
sagital); forma da face (medida, perfil, forma da região zigomática, do mento, etc.); região
ocular (abertura palpebral, forma e posição da fenda das pálpebras, desenho e forma das rugas
palpebrais, diâmetro da pálpebra superior, curvatura, distribuição e grau da curvatura das
sobrancelhas, etc.); nariz (dimensões, largura e perfil da base do nariz, dorso do nariz,
extremidade, altura e saliência das cartilagens alares, forma da raiz e do septo nasal); região
da bocaqueixo (entre outras, a altura e o perfil dos lábios superior e inferior, forma do sulco
subnasal, espessura e forma da parte mucosa dos lábios, sulco entre a boca e o queixo e a forma
deste); pavilhão auricular (entre outras dimensões, perfil, posição, enrolamento da antehélice,
curvatura do trágion e do antitrágion, forma da incisão intertrágion, grau do desenvolvimento e
forma do lóbulo); cavidade oral e dentadura (entre outras, forma e curvatura do palato, tipo dos
relevos do palato); mãos e pés (entre outras dimensões, as das mãos e dos pés em relação ao
comprimento, forma e curvatura das unhas, vincos das flexões das mãos); distribuição e
desenvolvimento dos cabelos (cabelos sobre a nuca e sobre a testa, eventuais remoinhos); outras
características (devem observarse as peculiaridades especiais de todo o género; do mesmo modo,
anomalias e defeitos somáticos podem dar talvez indicações importantes; por vezes devem
91
Comprovação da paternidade
promoverse investigações radiológicas, fisiológicas e psicológicas.
Nem todas as características têm o mesmo valor; o seu valor probatório depende de diversos
factores: 1) As características não são todas determináveis por igual; para a classificação das
mensurações, a determinação da cor dos olhos e dos cabelos e para a elaboração dos relevos
cutâneos papilares existem escalas estandardizadas (> Métodos de antropologia); é por vezes
muito difícil classificar segundo uma escala uniforme os caracteres fisionómicos e outros subtis
caracteres morfológicos; 2) São particularmente importantes aquelas características sujeitas com
a idade a diminutas mutações, como seja o sistema dos relevos cutâricos e, em segundo lugar, a
estrutura da íris e da orelha. No caso de características métricas, a medição do indivíduo a
examinar deve referirse aos valores médios específicos da idade e do sexo, partindo daí a
comparação, (tabelas de Schade); 3) A mesma regra é válida para características diferentes nos
dois sexos; as investigações, de facto, nem sempre respeitam a indivíduos de idade diferente
(filho e pais presuntivos), mas também a pessoas de sexo diverso (pai e mãe); 4) As
características que não estão sujeitas a mutações por influência do ambiente (relevos cutâncos,
cor dos olhos, morfologia do pavilhão auricular, muitas características fisionómicas) têm maior
valor comprovativo do que as características sensíveis às radiações ambientais (todas as medidas
> Constituiçã o); 5) Quanto mais rara é uma característica tanto maior valor tem para a
comprovação da paternidade.
Para a comprovação da paternidade importam principalmente aquelas características nas quais a
criança se diferencia da mãe. A comprovaçã o tornase mais fácil no caso em que estão em causa
dois ou mais homens do que quando se trata só de um. A comprovação ainda se toma mais difícil se
houver parentesco entre a mãe da criança
e o presumível pai, ou entre os presuntivos pais; há um casolimite quando dois pais presumíveis
são gémeos uniovolares: neste caso a comprovação não é possível. Se o problema respeita a duas
crianças gêmeas biovulares podese admitir serem filhos de dois pais diferentes. Uma tal
superfecundação foi demonstrada num determinado caso (H.
92
Comprovação da paternidade
Geyer). A compilação de numerosas peculiaridades num só resultado de conjunto constitui um
problema complexo. Pode ser mais recomendável ordenar os resultados obtidos numa escala de
probabilidades: decisão impossível; paternidade provável ou improvável; paternidade muito
provável ou muito improvável; paternidade evidente = à probabilidade de ser verdadeira, o que
coincide pràticamente com a certeza, manifestamente impossível = a excluir com uma probabilidade
de ser verdadeira, que coincide pràticamente com a certeza. Se a partir de determinadas
características das quais se conhece o mecanismo de transmissão (particularmente os grupos
sanguíneos) não sc chega à exclusão, os graus de probabilidades correspondem a graus de
semelhança para os quais se atribui também uma escala: grau de semelhança, O; nos caracteres por
que se distingue a mãe, a criança assemelhase numa proporção de 50 por cento ao pai presumível
e noutros 50 por cento não se parece. As semelhanças dizem todas respeito a caracteres comuns
não evidentes. Contudo, @ambém as dissemelhanças não são evidentes, isto é, não se referem a
qualquer característica da qual se conheça suficientemente o mecanismo hereditário e em que
resulte uma constelação de exclusões (impossibilidade de chegar a uma resolução). Sernelhança +
1; nas características em que se diferencia da mãe, o filho aproximase sensivelmente do pai
presumível; tratase porém de características comuns pouco individualizadas (paternidade
provável). Semelhança + 2: entre as numerosas semelhanças entre a criança e pai presuntivo
O 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
pais
o 10 à 30 40 50 60 70 W 90
não pais
Fig. 25. Distribuição das probabilidades Para pais () e não pais ( ), segundo a
fórmula de EssenMõller. A esquerda em 120 casos de comprovação (segundo D. Wichmann,
1941) com base em 31 características, à direita em 370 crianças de 100 famílias, com base em 36
características (segundo
I. Schwidetzky, 1956)
93
Comprovação da paternidade
algumas referemse a pormenores muito evidentes, isto é, raros; tratase de semelhanças da
estrutura de regiões características inteiras (paternidade muito provável). Semelhança + 3: as
semelhanças evidentes entre o filho e o pai presumível são numerosíssimas revelando a criança
uma semelhança consideràvelmente maior em relação ao pai presumível do que em relação à mãe
(paternidade evidente = com uma probabilidade que coincide práticamente com uma certeza).
Semelhança 1: nas características em que se diferencia da mãe são mais numerosas as
dissemelhanças da criança em relação ao pai presumível do que as semelhanças; tratase contudo
de características em que a diferenciação em relação à mãe assume pouca importância e das quais
se conhece mal o mecanismo hereditário (paternidade improvável). Semelhança2: nas
características em que se diferencia da mãe, a criança diferenciase também do pai presumível,
sendo, mais numero
sas as dissemelhanças do que as semelhanças; neste caso, porém, as divergências em relação à mãe
são frequentemente consideráveis, ao passo que as semelhanças entre filho e pai presumível não
são características (patemida& muito improvável). Semelhança 3: se bem que a criança apresente
globalmente uma semelhança pequena em relação à mãe, não evidencia coincidências dignas de nota
com o pai presumível; prevalecem, pelo contrário, e acentuadamente, as dissemelhanças, mesmo
naquelas características das quais se conhecem as regras de transmissão (patemidade
manifestamente impossível = com uma probabilidade que coincide pràticamente com a certeza). O
valor provativo da escala de semelhança foi verificado em famílias com pai certo (Schwidetzky).
Os vários graus de semelhança ultrapassamse uns aos outros de maneira contínua de modo que não
é possível fixar limites exactos, de validade geral, que possam servir de base a uma
classificação.
Estão também em curso algumas tentativas para atingir uma interpretação matemáticoestatística
das várias carac
terísticas. Os métodos mais importantes, em cuja verificação ainda hoje se trabalha, são os
seguintes:
1) O método de EssenMõller. Para cada caracterís
y tica o referido método calcula o chamado valor crítico
94
Comprovação da paternidade
no qual X indica a frequência das coincidências entre crianças e pais «verdadeiros», Y a
frequência das coincidências com pais «falsos», ou seja, a frequência das coincidências das
características na população média. A probabilidade para a paternidade de um homem a partir das
características 1, 2, 3 ... n é então
P =
1 +
Y,. Y,. Y, ... Yn
X1 X2 X1 ... Xn
2) Uma variante do método de EssenMõller é dada pelo logaritmo de paternidade de Keiter, que,
em vez de multiplicar valores críticos, soma os seus logaritmos, representando como curvas de
discordância a distribuição dos valores por pares paifilho e não paifilho.
3) Este tipo de interpretação, que renuncia ao conceito de probabilidade, baseiase no método
das funções discriminativas, um moderno sistema estatístico que, embora não esteja desenvolvido
expressamente para a comprovação da paternidade, se lhe pode aplicar. (Ludwig, Bauer e Baitsch).
Dos valores das características dos grupos a discriminar (neste caso i N.
pares paifilho e não paifilho) estabelecese uma função de separação que permite traçar uma
linha de demarcação a partir da _@9 _@7 5 3 1 O +1 +3 +@S qual se pode atribuir um
determinado caso ao grupo paifilho e não paifilho. Contra o emprego dos inétodos estatí
sticomatemá 10 8 +2 +4 +ó ticos Gbjectase, entre ou Fig 26
Distribuição dos larit
tras coisas, que eles ape mos de paternidade, segundo
Keiter, Dor Dares de paifilho nas podem abranger uma () e Dares de não paiparte das
características filho (............ ) em 370 crian
ças de 100 famílias. Diagrama I consideradas na análise de com base em 25 características,
i com base em 70 características semelhança, ao passo que I(segundo 1. Schwidetzky, 1956)
95
Comprovação da paternidade
coincidências em características ou combinações de características pouco frequentes, que em
algumas circunstâncias têm valor probatório elevado, não se podem abranger estatisticamente.
Com o progressivo aperfeiçoamento dos métodos estatísticos utilizados na comparação poderão ser
esclarecidos os fundamentos e o valor de tais objecções. Especialmente será necessário verificar
os métodos sobre muito material obtido em famílias nas quais esteja assegurada a relação
paifilho. A utilidade ge
14 o o o o o ral dos métodos pode ainda
o 0@> também ser verificada nos
12 o O CP oi pares mãefilho (Baitsch),
o K,¥J .C 10'I,@ *o Z 8 que são mais fáceis de
o Ó0
04.000 obter, e nas controvérsias o o
o . legais nos casos legais de o $0 8 paternidade duvidosa.
4 01
0% 00 o Os primeiros pareceres
2 * o o :O os antropológicos quanto à fio 0*.
liação foram aprasentados,
Z*. O 2 com pequeno intervalo e
independentemente um do outro, por O. Reche, em .6 . . . . . . . . . . . . .Viena (1926) e
por O. v.
4 3 2 1 O 1 2 _ 3
semelhanças P Verschuer, em Berlim Fig. 27. Separação dos Dares de (1928); quase ao mesmo
paifilho (0) e dos pares de não tempo, também Poljakoff paifilho ( ‘ através da an'lise
d,.r@minat!,ia, com base e;;; 8o (1929) apresentou também características K = afinidade en
um esquema teórico do tre a queixosa e a criança; Z = afinidade entre a testemu método. Em
1931 o Sunha e a criança num caso de parecer sobre cbmprovaÇão de premo Tribunal
de Viena paternidade (segundo H. Baitsch admitiu como meio de
e P. Schwarfischer, 1958)
prova os pareceres antro@ pológicogenéticos, e sucessivamente foram aceites como prova legal na
Alemanha, Dinamarca, Noruega e Suécia
* recentemente também na Polónia, Suíça, Checoslováquia
* Hungria. A comprovação da paternidade baseada em investigações serológicas foi também
reconhecida como prova legal em muitos outros países. Complementarmente, pode recorrerse a mais
outros meios biológicos de prova, além da investigação de capacidade de procriação do
96
Conceito de raça
homem, principalmente o parecer sobre o tempo de gravidez, que relaciona o grau de maturidade da
crianç a na altura do nascimento com a época das possíveis relações sexuais.
Além da comprovação da paternidade, outros sectores da antropologia aplicada têmse desenvolvido
em alguns países. Assim, por exemplo, recorrese mesmo à antropologia para a encomenda de
uniformes, botas e capacetes para as forças armadas, para a confecção de vestuário em série e
para a construção de mobiliário escolar. As forças aéreas americanas levaram a efeito um estudo
bastante aprofundado sobre medidas somáticas e peculiaridades fisio@lógicas para alcançar a
adaptação perfeita da máquina e do homem (human engineering).
Conceito de raça O conceito de raça (subespécie) designa, em sistemática zoológica, grupos ou
populações de indivíduos de uma espécie que se reproduzem entre si e se distinguem das
populações da mesma espécie (> Sistemática dos primatas) pelo facto de terem em comum
determinadas características de forma, de cor, etc. As várias raças ou subespécies que
constituem uma espécie são, de facto ou potencionalmente, interfecundas e portanto o limite
efectivo da fecundidade falta só ao nível da espécie. O isolamento reprodutor é assim uma
característica das espécies. Em condições naturais os componentes de uma raça encontramse em
determinada área geográfica, cruzandose portanto mais entre si do que com os outros indivíduos
da mesma espécie existentes noutras regiões. Assim, cada raça, considerada do ponto de vista
filogenético, representa uma base potencial da qual, sob oportunas condições de isWamento, no
decurso de longas sucessões de gerações, podem desenvolverse novas espécies (> Gênese das
raças). Deste modo a raça e anàlogamente o conceito de raça
adquire, do ponto de vista da classificação, grande importância como estádio preliminar de toda
a sistemática superior.
Antes de se conhecerem os factores básicos que presidem ao mecanismo da hereditariedade, para
subdividir as espécies em raças estabeleciamse diferenças entre os caracteres dos grupos
recorrendo à simples observação. Depois de
97
Conceito de raça
Gregor Mendel ter demonstrado, em 1866, mediante as suas célebres experiências, o mecanismo da
transmissão de determinados caracteres (lei da segregação dos caracteres) e depois de, quarenta
anos mais tarde (por volta de 1900), os seus estudos terem sido renovados e utilizados como base
para uma série de investigações experimentais, concluiuse que são numerosas as diferenças
genéticas entre os indivíduos de uma população mendeliana. Em regra, a existência de disposições
hereditárias (gertótipo) de um indivíduo é substancialmente diversa da de outro indivíduo da
população. Para compreender como isto é possível basta pensar que cada ser humano tem um número
de genes calculado entre 24000 e 42000, alguns dos quais novamente modificados no indivíduo como
resultado de mutaç@es. Em oposição a esta elevqda variabilidade individual deve no entanto
salientarse que o património hereditário comum a todos os membros de uma população mendelina
claramente se conservou constante. Baseado em tais observações, Eugen Físcher chegou à definição
do conceito da raça humana ainda hoje actual: «As raças são grupos (interfecundos) que possuem
em comum determinados genes, ausentes noutros grupos».
Chegouse assim, pela primeira vez para o ser humano, a um conceito de raça cientificamente
fundamentado e delimitado; era uma tarefa particularmente necessária e essencial, porque o
«problerna racial» era vivamente discutido desde o princípio deste século sem conhecimento
suficiente das suas bases biológicas. Falavase indiferentemente de «raça», de «povo» (por
exemplo, Gerinanos ou Romanos), de «grupo línguístico» (por exemplo, Arianos ou Semitas), apesar
do facto de só a raça poder ser exactamente definida do ponto de vista genéticobiológico e nã o
os grupos nacionais ou linguísticos. Infelizmente esta confusão contribuiu desde o início para
desacreditar o conceito científico de raça, descrédito mais reforçado ainda pelo facto de ter
sido objecto de polémicas nas quais foram envolvidos juizos de cariz filosófico e de qualquer
maneira extracientíficos. Estas intromissões abusivas, todavia, não podiam negar o facto de
existirem diferenças rácicas genèticamente condicionadas, e que portanto não é possível em
biologia ignorar a existência de raças que a evidência
98
Conceito de raça
científica obriga também a aplicar ao «homem» como entidade biológica.
Após a discussão filosóficopolítica do problema racial ter, no decurso da segunda guerra
mundial, atingido o ponto culminante, a Unesco publicou duas «Declarações sobre a Raça». A
primeira, de 1950, foi redigida sem a cooperação de biólogos, ainda sob o clima daquelas
discussões. Depois do seu repúdio unânime por parte dos especialistas de todo o mundo, chegou
se, em 1951, à seguinte formulação: «No sentido antropoló gico, o termo «raça» deve ser
@eservado a grupos humanos que apresentam relativamente a outros grupos diferenças físicas (isto
é, somáticas) bem marcadas e condicionadas hereditàriamente».
Os poucos biólogos que tomaram parte neste congresso objectaram imediatamente que a nova
definição só levava em conta as diferenças físicas e excluía o sector psíquico,. Do ponto de
vista genético não se pode reconhecer a este sector uma posição de privilégio. O estudo
experimental destes fenómenos hereditários pôde demonstrar, especialmente para o homem, que
também o campo psíquico está sujeito às leis hereditárias válidas para todos os seres viventes
(investigação sobre gêmeos > Genética humana). Além disso a investigação do comportamento
feita em animais demonstrou, sem possibilidade de dúvida, que também neste sector não há entre
os animais e o homem fronteira bem delimitada, mas uma zona indecisa de transição. A declaração
da Unesco de 1951, muito mais restritiva do que a de Eugen Fischer, não é o resultado de dados
cientificamente demonstrados, sendo, fácil compreender como ela é o fruto das reservas dos
profanos em face da ideia de que o homem pode estar sujeito às leis da hereditariedade (válidas
para todos os seres vivos), aplicáveis a todas as formas de vida e de comportamento. Na
realidade é difícil marcar limites que separem o homem do reino animal, na sua situação
privilegiada de ser pensante, conhecedor, de capacidade criadora.
Entre as duas definições do conceito de raça que se teve ocasião de citar gravita a seguinte
observação: ela tende sobretudo a limitar as populaçõ es mendelianas actuais a um sentido
predominantemente estático. Ora as raças,
99
Conceito de raça
do ponto de vista biológico, não são entidades estáticas, mas dinâmicas, em permanente evolução.
Representam, no processo de constante mutabilidade que é a vida, comunidades que incessantemente
se transformam, em gradações infinitesimais, mediante mutações e outros processos. Este carácter
dinâmico da raça foi expresso de maneira mais explícita pelo especialista de genética americano
Dobzhansky, que escreve sucintamente: «A raça é um processo». Só assim o conceito de raça foi
acertadamente intreduzido no decurso histórico da vida e ao mesmo tempo a raça tornouse
compreensível como a mais pequena unidade sistemática, continuamente mutável (população
mendeliana), com a qual podemos interpretar o curso geral da evolução de todos os seres vivos
terrestres.
Para identificar uma raça é suficiente, do ponto de vista teórico, a presença divulgada de um
novo gene e do seu correspondente carácter (ou dos correspondentes caracteres) dentro de uma
população mendeliana: a posse exclusiva de tais caracteres distingue determinada população das
populações vizinhas da mesma espécie. Dada, porém, a riqueza do património genético nos
mamíferos, uma diferenciação deste gênero, baseada na presença ou na ausência de um só gene, ou
de um só carácter, constituiria uma intolerável fragmentação sistemática. Por este motivo, como
critério de avaliação, e portanto de classificação, com o fim de identificar as raças utiliza
se, como fez Eugen Fischer desde o início do estudo das raças humanas, uma série de genes. Estes
reúnemse para dar lugar a uma «combinação típica de caracteres que possibilitam a clara
identificação e delimitação das várias populações mendelianas de uma espécie. Esta breve
exposição, em conexão
com a definição de raça dada por Dobzhansky, torna claro como, em condições naturais, no decurso
da evolução histórica, não podem existir « raças puras», mas apenas formas instáveis,
possuidoras em maior ou menor grau de combinações de caracteres típicos. Raças puras, com toda a
perfeição teóricamente possível, só foram criadas pelo homem, em plantas ou animais, mediante um
processo de selecção. Passando à subdivisão de raças da espécie humana, verificamos que os
diversos autores distinguem um número extremamente variado de raças. A subdivisão é feita em
100
Conceito de raça
cada caso com base nos mesmos princípios genéticos fundamentais: as diferenças entre as diversas
classificaçõ es são devidas particularmente ao facto de umas vezes ser posta em primeiro plano a
multiplicação de populações locais geogràficamente distintas, enquanto noutros casos imperam
tendências reunidoras na elaboração dos esquemas de classificação. Na reunião de raças
individuais em grandes unidades superregionais, ou «grandes raças» (por exemplo, Caucasóides,
Mongolóides, Negróides) terá de ser naturalmente considerado um número cada vez maior de
características individuais, numa combinação de caracteres típicos. Resulta deste facto que se
atribuem ora a uma ora a outra grande raça as populações que habitam as zonas de contacto,
havendo assim neste aspecto opiniões contraditórias nos vários autores. Estas divergências nas
classificações raciais em nada afectam a validade da definição da raça, sendo apenas devidas à
diversa importância que os vários autores atribuem aos caracteres rácicos. Estas diferenças de
opinião demonstram de resto o carácter dinâmico das raças, que não podem portanto inserirse
fàcilmente nos esquemas rígidos nos quais se funda a nossa actividade metódicoclassificatória.
Sobre os reais mecanismos da transmissão dos caracteres raciais tendo em conta que não nos é
possível levar a efeito experiências de cruzamentos com seres humanos
só dispomos por enquanto dos resultados da hibridização racial entre populações (por exemplo,
EuropeusMongolóides, EuropeusNegróides, etc.) Para além disso a moderna genética humana,
aplicada à investigação sobre os gêmeos, e particularmente à investigação da paternidade, apenas
forneceu material pouco abundante no que respeita à hereditariedade, quer dos caracteres
morfológicos mínimos, quer das disposições psíquicas. À luz do nosso conhecimento actual não
pode subsistir qualquer dúvida de que o homem, no seu conjunto de funções e caracteres físicos
e psíquicos, está sujeito às mesmas leis de hereditariedade que regem todos os outros seres
vivos terrestres e que portanto também para ele deve ser aplicável um conceito de raça que
abranja o homem na multiplicidade dos seus aspectos.
101
Conceito de raça
f Podemos talvez sintetizar nos seguintes pontos alguns princípios essenciais do conceito de
raça no homem. Uma raça humana é um grupo de populações que têm de comum certas diferenças
relativamente a outras raças, ainda que no interior de cada uma delas exista urna acentuada
variabilidade dos caracteres físicos no seio da área geográfica que ocupa, cujos limites são
característicos de cada grupo racial. Estas variações nos caracteres físicos são devidas a
diferentes frequências nos genes comparativamente às de outras raças. A raça é uma entidade
dinâmica, variável no espaço e no tempo. Não existem limites geográficos nítidos que separem os
caracteres físicos das populações humanas, que estabeleçam rígidas descontinuidades entre as
várias raças. As raças humanas são todas interfecundas mas a troca de genes é mais frequente
entre indivíduos da mesma raça do que entre os de raças distintas, a não ser quando estas se
encontram misturadas na mesma área, sem oposição de barreiras sociais. A causa é portanto
essencialmente geográfica, mas ao factor espacial juntase outro tipo importante de barreiras
que se opõem com maior ou menor intensidade aos intercruzamentos raciais. São as barreiras
chamadas culturais (linguísticas, religiosas, politícas, de costumes, etc.).
Os caracteres físicos que geralmente se utilizam nas classificações raciais são os seguintes:
cor da pele, dos cabelos, dos olhos; forma dos cabelos, estatura, forma da cabeça e das suas
diversas partes (nariz, olhos, lábios; índices nasais, cefálicos, etc.; proporções relativas dos
mem
bros; grupos sanguíneos; etc.).
Os grupos sanguíneos (ABO, NIN, Rh, etc.) têm sido aplicados na classificação racial e noutros
aspectos das relações entre as populações humanas.
Houve raças que se extinguiram, outras estão actualmente em declínio, e novas
diferenciações estão provàvclmente em curso. A origem das raças deve provávelmente resultar
de mutações de hibridação seguiã de isolamento geográfico, da selecção natural e ainda de outros
processos.
As diferenças na inteligência, no psiquismo, na cultura entre os grupos humanos raciais não são
consideradas nas classificações científicas das raças humanas. A enorme influência do ambiente
(aprendizagem, herança cultural,
102
Constituição
ambiente social, etc.) que preside a essas diferenças não permite pôr em evidência uma possível
base genética que seja também responsável por elas. Mas se o for a sua participação é
provàvelmente diminuta.
Do ponto de vista biológico não existe prejuízo resultante da miscigenação. Por outro lado, o
preconceito de «raça pura» não tem qualquer base científica.@
Constituição Por constituição entendese o conjunto dos caracteres somáticos e funcionais
do indivíduo e resulta do património hereditário e da acção modificadora baseada nos factores do
meio ambiente. Consíderamse naturalmente as características que apresentam certa estabilidade
(embora não se levem em conta as variações de natureza ocasional, como, por exemplo, as
contracções musculares no decurso do dia) e as características funcionais que influem na
reactividade do indivíduo. Pode dizerse que os tipos constitucionais são tantos quantos os
indivíduos. A doutrina das constituições propõese ordenar esta multiplicidade de duasmaneiras:
1.o Procura agregar como tipos constitucionais grupos de constituições individuais similares;
2.1 Examinar comparativamente as relações entre os vários caracteres constitucionais: «0 estudo
da constituição é um estudo de correlação» (Kretschmer). A correlação entre caracteres somáticos
e disposições ou caracteres psíquicos reveste particular interesse para a antropologia.
ANÁLISES FACTORIAIS. A finalidade do estudo tipológico visa, com métodos sempre mais exactos, a
apreciação quer das relações recíprocas dos caracteres, quer do reagrupamento dos indivíduos.
Recentemente generalizouse a aplicação dos métodos matemáticos na análise da constituição
somática. Um dos mais importantes métodos é a chamada análise factorial, originada e
desenvolvida no âmbito da psicologia, a qual permite isolar, mediante correlações e operações
especiais de cálculo, factores que participam na formação de todos os caracteres (factores
gerais) e factores que influem preponderantemente sobre determínadas regiões ou sobre algumas
medidas do corpo (factores especiais ou factores de grupo). Podem além disso ser calculados
valores chamados de saturação, os quais contribuem para determi
103
Constituição
nar em que medida tal ou qual característica depende de determinado factor.
A vantagem da análise factorial reside no facto de ela empregar métodos puramente objectivos no
estudo da constituição somática. O número e os tipos de factores isolados dependem, porém, das
medidas e dos índices que são postos em correlação. Numerosas investigações têm todavia
permitido evidenciar alguns elementos fundamentais: 1) Existe um factor geral de grandeza
implícito em todas as medidas somáticas absolutas; 2) Os factores de altura e da corpulência
variam bastante, independentemente um do outro.
O primeiro intervém em todas as medidas da altura, especialmente nas que se referem ao tronco e
aos membros, o segundo não só na espessura da gordura, mas também nas medidas circunferenciais,
especialmente no perímetro torácico e abdominal, enquanto os diâmetros horizontais apresentam,
com esta última medida, correlação pouco definida. A espessura da gordura nas várias partes do
corpo está correlacionada em elevado grau nas diversas partes do corpo; 3) A análise factorial
revela que as medidas da cabeça têm tendência para variações independentes em relação às outras
medidas do corpo, embora tenham forte correlação entre si; 4) O desenvolvimento da caixa
torácica e da bacia mostra, além de certo grau de correlação, também tendência autónoma de
variações..
A partir da selecção dos caracteres básicos, diferenciados dos valores de saturação
particularmente elevada, a
análise factorial toma possível a dignose individual e o consequente reagrupamentG dos
indivíduos. As investigações até agora empreendidas avançam por um caminho demasiado estreito,
pois determinam as características básicas mediante simples cadeias de correlações sem empregar
a análise factorial ou seleccionamnas « a priori» e só posterionnente verificam a sua recíproca
independência. Lindgârd e Parnell propuseram para a diagnose indiHdual uma combinação de três
caracteres, independentemente um dos outros, que representam o factor da altura, da adiposidade
e o factor muscular. SchIegel utiliza as dimensões da mão para sistematizar os indivíduos numa
escala que vai do asténico ao atlético e a amplitude da bacia como caracterís
104
Constituição
rica fundamental para delimitar um campo de variabilidade que vai do andromorfo ao ginornorfo.
TIPOS CONSTITUCIONAIS. Na antiga investigação tipológica a correlação dos caracteres somáticos
não era analisada estatisticamente mas avaliada a olho; como tipos constitucionais descreviamse
as combinações das extremas variantes dos caracteres correlativos. Grande número de estudiosos
organizaram sistemas baseados sobre variações entre os dois pólos opostos de uma constituição
alta e delgada e baixa e entroncada (macrocélica e microcélica, Manouvrier, 1902; longítipo e
braquítipo, Viola, 1909; hiposténico e hipersténico, Mills, 1917; estenoplástico e euriplástico,
Bunak,
1923; tipo linear e tipo lateral, Stockard, 1923, etc.). Além disso, foram também muitas vezes
abrangidas, ou pelo menos tomadas em consideração, correlações com características psíquicas ou
funcionais, especialmente com disposições para doenças. E. Kretschmer denominou estes dois tipos
extremos da constituição somática por leptossómico (primeiro, também asténico) e pícnica, e além
destes um terceiro tipo, o atlética. O seu sistema acrescenta um novo capítulo aos estudos
tipológicos, pois que não se limita a uma simples classificação, mas procura estabelecer novas
correlações através de numerosos trabalhos efectuados pela sua escola. Foram assim estudados
pequenos grupos de representantes dos «tipos puros» e confrontaramse os dados obtidos para os
três tipos constitucionais. Pela diagnose tipológica foram estabelecidas algumas características
fundamentais (não verificadas, mas estatisticamente em termos de correlação) cf. tabela p. 109.
As medições do corpo humano contribuem para a diagnose constitucional e permitem salientar
diferenças nítidas entre o tipo leptossómico e o pícnico, ao passo que o tipo atlético, quanto a
medidas, se mantém entre aqueles dois.
K. Conrad, por seu turno, reduziu de novo o sistema tríptico de Kretschrner a uma série de
variações extremas. Distingue como variantes primárias a série contínua leptopienomórfica e como
variantes secundárias uma série asténicoesténica ou asténicoatlética. As variantes primárias
foram consideradas como formas de crescimento: o pienomórfico é, em todas as suas proporções
corpórcas, o tipo
105
Constituição
«conservativo», mais próximo da infância, enquanto o leptomórfico representa uma forma de
crescimento «propulsivo», mais diferenciada (> Crescimento). Como o crescimento é regulado
pelas secreções endócrinas, podese supor que diferentes sistemas hormonais estejam na base dos
diversos tipos constitucionais. De facto existe uma diferença sensível de peso relativo das
glândulas endócrinas entre indivíduos pícnicos e leptossómicos: nos primeiros o timo, que na
infância é relativamente grande e activo, apresenta peso superior ao da média, ao passo que
todas as restantes glândulas endócrinas são superadas, em peso relativo, pelas dos leptossómicos
(Pearl, Gooch, Miner e Freeman). A escola italiana dos estudos da constituição (Pende, Viola)
tomou
como base de um sistema p tipológico os efeitos, assi
nalados pela patologia, das
7
glândulas endócrinas sobre
16
a constituição e o desenvolvimento; de acordo com a
14
13 hiper ou hipofurição das
12 glândulas como a tiróíde
a hipófise, as góriadas suprarenais, estabelece um
9
O 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 )3 complexo sistema de clas
idade sificação que todavia não Fig. 28. Tipos constitucionais e suscitou grande interesse
crescimento. (Profundidade re
lativa do tórax (diâmetro sagi fora da Itália. Nos países tal do tórax em relacão à estatura)
no decurso do crescimento, anglosaxónicos impôsse tanto em picnomorfos (p) como
considerávelmente a somaem leptomorfos (1) (segundo
K, Conrad, 1949) totipologia de Sheldon,
que introduziu o critério embriológico no estudo. da constituição do corpo humano. Ela distingue
três componentes constitucionais, que se relacionam com os três folículos blastodérmicos O
anormal desenvolvimento de um destes três folículos.em relação aos outros originará na
ontogénese um particular tipo constitucional. Sheldon distingue três componentes morfológicos.
As características principais da componente endomórfica são o predomínio do tronco em relação às
extremidades, do abdómen sobre o tórax, da região da bacia sobre os ombros, e além disso perfil
do corpo arredondado e flácido, mus
106
Constituição
culatura débil, ossos delicados, mãos e pés relativamente pequenos. A componente mesomórfica é
caracterizada por ossos robustos e musculatura possante; o perfil do corpo é anguloso, os
músculos são muito desenvolvidos, extremidades longas e fortes, o tórax predomina sobre o
abdómen e os ombros sobre a bacia. Os diâmetros transversais excedem os ânterop osteri ores. A
componente ectomórfica caracterizase pela constituição longilínea e grácil: membros longos em
relação ao tronco, do que resulta uma descentralização da massa corpórca; o, tórax e o abdômen
são chatos, a face pouco desenvolvida relativamente ao neurocrânio. A componente endomórfica
corresponde «grosso modo» ao tipo pícnico de Kretschmer, a mesomórfica ao tipo atlético e a
ectomórfica ao leptossómico. Para cada componente distinguemse os graus de 1 a 7 e cada
indivíduo diferenciase por um número de três algarismos, que define a sua posição referente a
cada uma das componentes. Assim, por exemplo, o tipo somático 326 exprime em grau médio a
componente endomórfica (3); em grau fraco a mesomórfica (2) e em grau acentuado a ectomórfica
(6). A diagnose individual é mètricamente fundamentada e os dados são coligidos de fotografias
padronizadas e relacionadas com a estatura. As componentes endomórfica e ectomórfica patenteiam
uma alta correlação negativa, o que demonstra que se registam na mesma gama de variações. Esta
pode ser confirmada por um factor evidenciado pela análise factorial, ao passo que a componente
mesomórfica corresponde a um factor ulterior (Howells, Lorr e Fields).
TIPOS SExuAis. A distinção constitucional mais nitidamente individualizada entre todos os povos
é a que existe entre o homem e a mulher. Esta distinção baseiase, não só, como todas as outras
variantes constitucionais, sobre diferenças genéticas, mas também sobre diferenças de
cromossomas: o homem tem um cromossoma x e um y, ao passo que a mulher tem dois cromossomas x (
> Genética humana). O património cromossómico, vem fixado desde o momento da fecundação:
todavia no decurso do desenvolvimento individual, também genes autossomas intervêm na formação
das características sensuais. Cada gónada é potencialmente bissexual e a preponderância de um
sexo
107
Constituição
sobre o outro explicase com a repressão das disposições contrárias do sexo oposto. Observase
um resíduo desta bissexualidade quando também adultos produzem ambas as hormonas sexuais, se bem
que as do sexo oposto sejam em quantidade menor e variáveis com o indivíduo. A produção diária
de hormonas sexuais masculinas (andróginas) está calçulada em 12 a 70 unidades para o homem e 10
a 20 unidades para a mulher; a de hormonas sexuais femininas (estrogéneas) está calculada para a
mulher entre 30 a 1500 unidades, com fortes oscilações no decurso do período catamenial, no
homem, de 80 a 150 unidades. Os dois sexos não apresentam, pois, duas polaridades de modo
absoluto, mas os seus campos de variações cruzamse e sobrepõemse. Isto é igualmente válido no
que se refere à constituição física e psíquica. A diferença mais evidente entre os dois sexos é
aquela que respeita aos caracteres sexuais primários, ou seja a confonnação dos órgãos sexuais
destinados às funções reprodutoras; estados intermédios bem definidos (intersexuados e
hermafroditas) são muito raros. Em todos os outros caracteres sexuais secundários, como
proporções somáticas, cabelos e pilosidade, pigmentação e comportamento psíquico, os campos de
variações apresentam vastas zonas comuns.
A maior parte das diferenças entre o homem e a mulher podem reduzirse a dois aspectos
fundamentais: as diversas funções na procriação e a mais rápida maturação sexual da mulher (>
Crescimento). A função reprodutora reflectese em primeiro lugar na forma da bacia: a feminina é
mais larga e mais baixa, a arcada infrapúbica é mais ampla, a grande chanfradura isquática é
mais aberta e o seu bordo superior menos côncavo, os ossos ilíacos mais largos e o sacro mais
côncavo. A abertura pélvica superior é maior, quer em sentido absoluto quer relativo, e forma um
oval mais amplo em relação à forma mais arredondada no homem. Quanto ao esqueleto, partindo
apenas de duas medidas da bacia, pode determinarse correctamente o sexo em 98 por cento dos
casos (Hanna e Washburn). A maior largura da bacia na mulher, em conexão com a menor largura dos
ombros, permite distinguir nitidamente os dois sexos em virtude do índice acrómioilíaco
(largura biacromial X 100 dividida pela largura bicristoilíaca). Além da bacia, a
108
Constituição
Características principais na tipologia de Kretschmer
Pícnico
Atlético
Leptossómico
Proporções do tronco
Tórax curto dilatado Costelas em ângulo obtuso
Ombros largos e robustos. Tórax trapezóidal bem desenvolvido, bacia relativamente estreita
Tórax chato e comprido Costelas em ãngulo agudo Bacia relativamente larga
Morfologia externa do corpo
Formas arredondadas devido ao notável desenvolvimento do tecido adiposo
Relevo muscular poderoso, marcado, sobre estrutura óssea robusta
Magro ou tendinoso, com escassa adiposidade
Membros e extremidades
Extremidades curtas Mãos e pés pequenos e largos
Extremidades robustas e fortes Grandes mãos e pés Eventual acrocianose
Membros alongados com mãos e pés compridos e estreitos
Cabeça e pescoço
Cabeça relativamente grande e arredondada Platicefalia Pescoço curto e maciço
Ipsicefalia Pescoço vigoroso; trapézio bem evidente
Cabeça relativamente pequena Pescoço delgado e comprido
Rosto
Rosto mole, largo e hiperémico. Perfil fracamente curvado
Rosto vigoroso, ossudo, com zigomas bem acentuados Oval comprido
Rosto pálido e magro, oval Nariz delgado e pontiagudo Eventual perfil anguloso
Cabelos e pilosidade
1
Cabelos fracos delicados, tendência para a calvície Pilosidade moderada nas extremidades do
corpo
Cabelos fortes Pilosidade distribuída
Cabelo abundante mas f raco Pilosidade terminal débil
1
109
Constituição
característica sexual que torna mais evidente a diferença dos sexos é a do particular
desenvolvimento das glândulas mamárias na mulher. Devido à mais rápida maturação sexual da
mulher, numerosas das suas características permanccem num'estado próximo do da infância: isto
evidenciase sobretudo nas dimensões absolutas e na robustez do aparelho locomotor. Todas as
medidas absolutas do homem superam as da mulher, com excepção, nalgumas populações, das da
laraura da bacia. Músculos mais potentes que cobrem ossos maciços dão ao homem um aspecto mais
robusto.
O crânio masculino apresenta, entre outras características, paredes mais espessas, relevos
ósseos superiores da órbita mais marcados, testa mais fugidia, apófises mastoideas mais
proeminentes, e mais marcada, no osso occipital, a inserção para a musculatura da nuca.
Todas estas características permitem identificar o sexo em restos humanos
préhistó
ricos, mesmo depois da cremação dos cadáveres. Pelas medidas do fémur, em 95 por
cento dos casos
e possível determinar exacta
mente o sexo. (Pons); a cer
teza tornase
maior se se Fig. 29. Bacias feminina e masculina relacionarem as
medidas do fémur e da bacia (Thieme e Shu11). As diferenças no desenvolvimento do
aparelho locomotor condicionam as desigualdades dos sexos nas actividades físicas, diferenças
essas que atingem ainda maior expressao, entre outras, nos diversos resultados obtidos em
competições desportivas. As diferenças de tamanho absoluto não constituem por si sós
características distintivas dos sexos; háde atenderse igualmente às proporções do corpo.
Assim, o homem tem normalmente a cabeça mais alongada, a face mais comprida, o tórax mais chato,
o tronco mais curto em relação à sua estatura,
110
Constituição
úmeros e fémures mais longos relativamente ao comprimento total dos membros, ao passo que a
mulher revela características opostas, mais infantis: cabeça mais arredondada, face mais curta,
tórax mais profundo, comprjmento do tronco relativamente maior, assim como úmeros e fémures mais
curtos. O peso do encéfalo na mulher é em sentido absoluto menor do que o do homem; maior,
porém, relativamente ao peso do corpo. Também o maior desenvolvimento da gordura subcutânea, que
torna mais suaves
e menos angulosas as formas da mulher, representa uma característica infantil. Em muitas
populações curopeias notamse também diferenças sexuais na pigmentação e na distribuição da pi
losidade. A mulher tem habitualmente os olhos e os cabelos mais fortemente pigmentados, cabelos
mais compridos, mas menor pilosidade no corpo e na cara; a pilosidade do púbis, bem delimitada
horizontalmente na mulher, tem no homem um desenvolvimento rarefeito para a parte superior.
A acentuação das características sexuais secundárias mostra fortes osCilações individuais, de
modo que cada um
dos indivíduos dos dois sexos poderá consequentemente ser classificado de acordo com a sua
proximidade no extremo quer masculino quer feminino. Recentes investigações da constituição
puseram particularmente em relevo este facto. Sheldon estabeleceu um índice gínandromórfico que
determina em que medida se manifestam num indivíduo as características do sexo oposto. Como
características femininas no homem sã o consideradas e classificadas as seguintes: ombros
arredondados, braços relativamente curtos e delicados, ancas largas, com a região glútea bem
modelada, o corpo em forma de ampulhcta, escassa pilosidade do Fig. 3o. Diferenças sexuais na
constituição (segundo A. corpo, delimitação horizon Scheinfeld, 1940)
111
Constituição
tal da pilosidade do púbis, suavidade dos contornos de todo o corpo derivada da abundância do
tecido adiposo subcutâ neo, preponderância da curvatura lateral da barriga da perna em relação
à média, tendência para um desenvolvi
mento rudimentar do seio. Também
425 férneas Schlegel estabeleceu ainda uma série
de variaç@es androginecomórficas, SOS limitada por ora só aos homens:
grande comprimento relativo da parte anterior do tronco, notável acumulação de gordura na região
glútea, maior diâmetro transversal da auréola mamária constituem as
665 665 variantes que correspondem ao pólo
feminino mútuamente correlaciona
705 das.
A acentuação das características sexuais secundárias e o grau das dife
805 ranças sexuais variam de raça para
raça. Por exemplo, na maior parte dos Negros africanos o dimorfismo
905 sexual no que respeita à largura da
bacia e à pilosidade do corpo é pouco pronunciado, enquanto tem notável machos 985
relevo nos Europeus. Nalgumas raças
mação Fig. 31. Determi caracterizadas pela pequena estatura do sexo a partiF do
(Vedás, Paleomongolóides e outros), esqueleto . Analise selectiva com funda a constituição
apresenta em geral mento e m quatro características mais acentuadamente características
(comprimento do fémur, femininas, ao passo que em raças diâmetro da cabeça do fémur
comprimento de estatura mais alta (Dínáricos, do í@quion, compri Nórdicos, Sílvidas,
etc.) enconmento do púbis) em
198 esqueletos de ne tramse características mais marcagros, de sexo conhecido (segundo P, P.
damente masculinas; nas primeiras, Thieme e W.J. ShulI, por consequência, são as mulheres
1957) que apresentam com maior evidência as características distintivas da raça; nas
segundas, os homens.
CORRELAÇõES PSICOSSOMÃTICAS. O problema fundamental de uma investigação antropológica sobre
constituição
112
Constituição
é constituído pelas relações entre as características físicas e características psíquicas. A
maior parte do material existente (8100 casos, segundo Westphal) considera a corre
lação entre constituição e doenças mentais, correlação essa
que foi o ponte de partida da (> biotipologia) de E. Kretschmer.
Está estatisticamente verificada (Hofstãtter) a disposição dos leptossómicos para a
esquizofrenia, dos pícilicos para a psicose maníac(>depressiva, dos atléticos para a
epiplepsia. Kretschmer considera a predisposição para a psicose como variantes extremas de
tipos normais. Os tipos psíquicos por ele delineados, e referentes a diversos tipos
constitucionais, são o resultado de investigações sobre indiví duos de diversa constituição.
Pelo temperamento esquizotímico, que corresponde à Fig. 32. Ginandromorfismo. Em
constituição leptossó mica, dois indivíduos do sexo mas . culino do mesmo tipo
constiverificouse, entre outras C01 tucional (442) observase, no sas, maior interesse pela
da esQuerda. um índice mais
elevado de ginandromorfismo; forma do que pela cor, uma no da direita um indice mais
baixo (seguncio W.H. Sheldon, mentalidade analítica capaz 1940) de separar da
melhor maneira conteúdos parciais do conteúdo total da percepção e a tendência para manter
tenazmente um rumo de pensamento ou de comportamento (tendência para a perseverança).
Os esquizotímicos isolamse voluntàriamente; do ponto de vista emotivo, são frios, ou comportam
se como tal.
O comportamento ciclotímico, correspondente ao tipo constitucional pícnico, apresenta caracteres
opostos: mais interesse pela cor do que pela forma, espírito de percepção mais de conjunto,
maior estabilidade de afeição e de humor; em resumo, menos perseverante. O ciclotímico é
receptivo ao ambiente e do ponto de vista emotivo é instável. Os tra
113
Constituição
ços normais do tipo atlético são referenciados sob a denominação genérica de temperamento
viscoso.
Resultados semelhantes foram obtidos por Sheldon, que seleccionou três grupos de caracteres
psíquicos relacionados entre si: é própria da variante viscerotónica em primeiro lugar a
necessidade de contacto humano, de amor e gratidão, além de certa indolência e lentidão física.
À variante somatotónica corresponde a disposição para a acção e movimento. Os cerebrot(;nicos
reagem com rapidez, mas são inibidos nos seus movimentos expressivos, pouco adaptáveis e não
sociáveis. Anàlogamente a quanto se disse quando se tratou da classificação dos tipos
constitucionais em relação às várias componentes, também para caracterizar o temperamento de um
indivíduo usase um número de três algarismos: por exemplo, o n.o 225 indica uma fraca
componente viscerotónica e somatotónica e uma forte acentuação da componente cerebrotónica. A
componente endomorfa revela elevada correlação com a viscerotonia, a mesomorfa com a somatotonia
e a ectornorfa com a cerebrotonia.
Do mesmo modo três «componentes psiquiátricas» rve
Iam correlações com as componentes da constituição: o complexo maníacodepressivo está
correlacionado em primeiro lugar com a endomorfia, o paranóico com a mesomorfia e o hebefrénico
(esquizóide) com a ectomorfia. A série de variações viscerotónicocerebrotónica, designada por
Nyman estabilidade, está estreitamente correlacionada com o factor gordura, de Lindegard.
Conrad demonstrou que também no campo psíquico os caracteres das variantes primárias apresentam
um aspecto auxológico: as crianças diferenciamse dos adultos no
mesmo sentido que os picnomorfos se distinguem dos leptomorfos. Por consequência, os
leptossómicos são superiores aos picnicos em aptidão escolar (just, Müller, Schzvidetzky); em
contrapartida existe correlação, embora fraca, entre a estatura e o coeficiente de inteligência
(Husen, Schreider), assim como entre ectomorfia e inteligência (Sheldon).
Também o estudo constitucionalístico do dimorfism(:Y sexual encontrou seguras correlações
psicológicas que confirmam e integram as descriçõ es intuitivas dadas por diver
114
Constituição
sos autores acerca do temperamento masculino e feminino, muitas vezes reduzidas a uma polaridade
de traços dominantes (por exemplo, Homo faber e Homo curativus) segundo Buytendijk; mais
acentuado interesse pela exterioridade no homem, pela pessoa na mulher, na opinião de Klages;
comportamento em maior medida pela razão no homem, mais em motivos endotímicos na mulher, Lersch
e outros, Terman e Miles realizaram um estudo exaustivo sobre diferentes características
especificamente relacionadas com o sexo; formularam grande número de questionáriostestes, cuja
resposta revelou nítida diferenciação entre os sexos; uma apreciação individual foi obtida
considerando a diferença entre a soma das respostas «masculino» io
e «feminino». +8
Homens e mulheres +6
diferenciamse nitidamente +4 +2 nos valores médios e na distribuição dos índices M
F; todavia, exactamente 4
como acontece no caso 6 das características sexuais 8
secundárias no domínio 1 2 3 4 5 6 7 físico, os dois campos de
Fig. 33. Correlações psicossomávariações apresentam uma ticas. Valores médios do factor
zona de interferência de gordura nos graus 17 da esta * bilidade psíquica
(segundo B. A análise factorial da ba Lindegard e G. E. Nyman, 1956) teria dos testes
permite reconhecer um factor basilar emocional e um que exprime interesses específicos (Ford e
Tyler). Pelo contrário, não existem diferenças sexuais pelo que respeita à capacidade
intelectual. A gama de dispersão dos dotes intelectuais é contudo menor na mulher, quer para a
genialidade quer para a oligofrenia; existem também diferenças nos dotes específicos: por
exemplo, os rapazes denotam mais capacidade para o estudo da matemática e as raparigas para as
línguas. Nos dois sexos só se verificam fracas correlações entre o índice MF e os caracteres
somáticos; não encontra confirmação o facto de existir maior masculini dade nos indivíduos de
mais alta estatura e com timbre de voz mais baixo. Por outro lado, SeNegel encontrou uma
115
Constituição
Caracteres somáticos
Caracteres psíquicos
Estatura (a)
Teste de inteligência
+ 022
Estatura (b)
Teste de inteligência (Pen
1 + O,29
ro e)
Estatura (e)
Teste de inteligência (Min
+ O,81
nesota)
Estatura (d)
Teste de inteligência (Form
+ O,85
Board)
Endomorfia
Viscerotonia
+ O,79
Endomorfia
Somatotonia
0,29
II
Endomorfia
Cerebrotonia
032
Mesomorfia
Somatotonia
1 + O,82
Mesomorfia
Cerebrotonia
0,58
Ectomorfia
Cerebrotonia
+ O,83
1 Ectomorfia
Inteligência (Ia)
+ O,19
Endomorfia
Componente maníaco
Constituição
correlação relativamente estreita entre as características dominantes da série de variações
androginecomérficas, ou seja o diâmetro transversal da abertura pélvica, e a resposta a
determinadas perguntas do teste; assim, nos homens ginecomorfos encontrase maior interesse
pelas cores e menor interesse pela forma do que nos andromorfos; uma atenção mais de síntese do
que de análise, mais forte tendência para a sociabilidade, maior facilidade em estabelecer
contactos, mais viva afeição pelos seres vivos. Para os ginecomorfos o centro do seu interesse é
o homem; para o andromorfo são as coisas.
A diferenciação psicológica dos sexos resultante de investigações baseadas em testes, bem como
as intuitivamente deduzidas, é certamente fundada em grande parte sobre diferenças de ordem
constitucional. Contràriamente ao que sucede com as correlações psíquicas de outros tipos de
estrutura somática, neste caso é necessário ter presente o carácter social ligado ao ambiente
cultural: desde a infância que os rapazes e raparigas são preparados para determinados papéis
sociais. Actualmente ainda não é possível distinguir as duas componentes que determinam
especificamente o comportamento dos dois sexos.
A endocrinologia, e principalmente a patologia hormonal, proporcionam uma via para a compreensão
das correlações psicofísicas. Excessos ou deficiências de glândulas endócrinas manifestamse não
só nos sintomas corporais como também nos psíquicos. Por exemplo, a produção excessiva de
tiroxina da glândula tiróide acelera todos os processos vitais e faz aumentar tanto o
metabolismo como a irritabilidade emocional, ao passo que uma produção insuficiente conduz à
atrofia física (sindroma de Basedów), preguiça
Correlações psicofísicas (adultos); comparar também com a
tabela da o. 131
Grupo I = a) 2257 recrutas suecos, segundo T. Husen, 1947;
b) 567 soldados franceses, segundo E. Schreider 1956; e ed) 80 índios Otomitas, segundo E.
Schreider, 1d56. Grupo 11 200 estudantes, segundo W. H. Sheldon 1942. Grupo 111 155 doentes do
Elgin State Ilospital, seglàndo W. H.
Sheldon, 1949, Gruoo IV = 170700 indivíduos de sexo masculino, segundo
W. SchIegel, 1957. Grupo V = 287295 recrutas suecos. segundo B. Lindegard e
G. E. Nyman, 1956.
117
indices
constituição
mental, e até ao cretinismo; um tratamento com testosterone andrógeno (hormona produzida pelos
testículos) normaliza o atraso do desenvolvimento físico e mental e elimina a melancolia
evolutiva. O complicado jogo das relações hormonais entre si e o sistema
120 nervoso originam grande
variedade de «formas en
00 dócrinas», e daqui de «ha
bitus» psicofísicos, dos
80
7C quais só uma parte é
60
abrangida pela tipologia
50
40 constitucional.
30 Do estudo das corre
20
lações psicossomáticas re
as variações des
290 160 120 80 40040 80 120 160 200 ta que Fig. 34. Diferenças psicossexuais. tas traçam
orientações funDistribuição do índice MF entre damentais comuns: assim, as mulheres
(............ ) e entre a criança diferenciase dos os homens () (segundo P. Hofstãtter, 1944,
com base no adultos do mesmo modo material de L.L. Terman e C.C.
Miles. 1936) que a mulher do homem,
o ginecomorfo do andromorfo e o pícnico, do leptossómico. A maneira de conceber o mundo
sintética ou analiticamente e a aceitação dos contactos sociais fáceis e desejados ou
difíceis e detestados são as características fundamentais que marcam numerosos traços
individuais e modos de comportamento.
PLASTICIDADE. Da mesma forma que o conceito da constituição abrange o fenótipo no seu conjunto,
os quais resultam de processos hereditários e ambientais, a constituição individual pode
alterarse com a situação do meio ambiente (> Genética humana, modificações). Quando populações
no seu todo ou em parte são atingidas por tais modificações (modificações colectivas) operase
urna transformação na sua constituição média. Populações genèticamente idênticas em ambientes
diversos podem diferenciarse fenotipicamente. Esta variabilidade em função da adaptação a
diversas condições ambientais demonstrase por uma série de caracteres somáticos mediante várias
escalas de comparação.
1) No caso de populações coloniais, mesmo a segunda
118
Constituição
geração diferenciase genotipicamente da primeira e, daí, do grupo originário. Investigações
acerca deste fenômeno foram efectuadas por Boas, pela primeira vez, em indivíduos imigrados nos
Estados Unidos; pesquisas ulteriores demonstraram que as modificações presentes em simples
grupos de imigrados são em grande parte resultado da selecção social (> Antropo7ogia social).
Indivíduos imigrados na Venezuela provenientes de Baden revelaram na segunda geração semelhanças
assaz nítidas, no que respeita a características fisionómicas e tipo racial, com a população da
região de origem, que fazem parecer improvável a intervenção de mutações essenciais
hereditárias: as
mutações verificadas no tamanho corpóreo e nas proporções (especialmente maior estatura, menor
largura da cabeça e da face) devem ser consideradas como modificações (Hauschild); crianças
filhas de japoneses imigrados no
1000 @ ch, 500, Ch, o 500 1000 1500 1950
Fig. 35. O arredondamento da cabeça, principalmente a partir da Idade Média. Aumento do índex
cefálico horizontal ou da percentagem de l@raquicéfalos: 1) Silésia; 2) Suíça e Sul da Alemanha;
3) Palatinado; 4) Auvergne; 5) Baviera; 6 BoémiaMorávia; 7) Bretanha; 8) Baixa Saxónia; 9)
Japão; 10) Suécia (Números segundo P.R. Giot, 1949; E. Hug, 1940 R. Martin,
1928; 1. Schwidetzky. 1939 e 1954; H. Suzuki, 1956)
Havai não apresentam desvios significativos dos seus progenitores emigrados do Japão porquanto
são portadoras de idênticas características morfológicas e tegumentais: apenas se encontram
diferenças na grandeza somática e nas proporções (Shapiro). Em ambos estes casos e em numerosas
outras investigações análogas (cfr. Kaplan e Schwi
119
Constituição detzky), as variações respeitam sómente a características mensuráveis,
relativamente sujeitas a variar com o ambiente.
2) Nas cidades, as populações delas naturais diferenciamse dos imigrantes que nelas se
fixaram (Berlim, Dornfeld; Breslau, Schwidetsky; Freiburg, Schaeuble), assim como filhos
citadinos de pais nascidos na província apresentam menor largura de cabeça e da face em relação
aos progenitores (Hanover, PessIer).
3) Populações da mesma raça apresentam diversidade de grandeza absoluta e de proporções segundo
vivem na montanha ou na planície (Novas Hébridas, Speíser; Silésia, Kliegel), em terrenos
pantanosos ou arenosos (Silésia, Hahn, Klenke) e ainda nas regiões menos favorecidas surgem
mesmo indivíduos de menor corpulência e dcsenvolvimento.
4) No último século a estatura aumentou considerà. velmente em muitos países (> Crescimento).
5) Em diversos países da Europa (Alemanha, Áustria, Dinamarca, França, Suíça), como igualmente
em países extracuropeus (Japão), observase, a partir da Baixa Idade Média e em parte mesmo
desde o Neolítico, período acerca do qual não se pode falar de mutações raciais, um
arredondamento da forma da cabeça (braquicefalização). Recentemente, segundo dados existentes
mais antigos (Bretanha) respeitantes à metade do século xix, verificase o fenómeno inverso, ou
seja, a diminuição do índice cefálico horizontal (larguracomprimento), e daí um alongamento da
cabeça (desbraquicefalização: Alemanha, França, Itália, Suécia, Suíça).
Uma análise exaustiva das causas que provocaram estes fenómenos não é possível na maior parte
dos casos; todavia uma série de factores pode ser enumerada:
a) Diferenças na alimentação: nutrição mais rica, e especialmente um maior consumo de gorduras e
de carne favorecem o > crescimento;
b) No crescimento alométrico, com o tamanho do corpo modificamse também as suas proporções:
assim, todas as medidas absolutas de comprimento e da altura são alornètricamente positivas em
relação à estatura, enquanto as medidas de largura são alomètricamente negativas. Quanto ao
alongamento da forma da cabeça no último
120
Constituição
século, parece tratarse de um fenómeno ligado ao aumento da estatura;
c) Os factores climatéricos também exercem a sua influência. Ratos sujeitos a temperaturas
médias mais baixas e com fortes oscilações crescem mais do que os de um grupo de controle
mantidos a temperaturas mais alta e com fracas oscilações de temperatura (Mills);
d) Animais domésticos e selvagens mantidos em cativeiro mostram com frequência proporções
diferentes das dos seus ascendentes em liberdade; entre outras particula
Suecia,
@ 60 1 F70 1 Ú0 18@Õ 1 Igio i m 1930 1 9@0 1 9s0 1 @55
Fig. 36. O alongamento da cabeça nos últimos cem anos (Números segundo P.R. Giot, 1956, P.A.
Gloor 1958, E. Olivier, 1957,
J. Schaeuble, 1954, e O. Sehlagiiihaufen, 1946)
ridades, temse verificado em animais mantidos em jardim zoológico encurtamento e arredondamento
da cabeça (Herre e outros). Se neste caso, além dos factores de.nutrição e
climatéricos, exerce influência também a limitação da liberdade de movimentos, não está ainda
esclarecido. É possível, por isso, que, no homem, a «autodomesticação» possa provocar alterações
no tamanho e nas proporções; a braqui
121
Constituição
cefalia é assim considerada como, uma forma cultural do crânio (E. Fischer).
Factores externos, como alimentação e o clima, influem no crescimento através do sistema das
glândulas endócrinas (W. Lenz). Na morfologia dos adultos verificase uma reduzida variabilidade
relacionada com a diferença no teor da gordura ou da água nos tecidos, por vezes em conexão com
alterações de hábitos. Assim, durante o período de fome de 192122, na Ucrânia, observouse,
mediante sucessivas mensurações efectuadas sobre os mesmos indivíduos, que também nos adultos se
reduzia o tamanho da cabeça, com maior proporção para a largura do
que para o comprimento, dandose assim um alonNienarca em “@gIU's com gamento relativo da
forma flutuação termIca
30 1 ferior a 20,, da cabeça. Também os
..... @Ienarca em adultos, mediante um
regiões com
flUtUaÇãO oportuno treino, podem
20 termica
sU[ uior a 20@ obter variações nas dimen
sões no tono muscular, na
10 capacidade vital, no perí
metro torácico, no desenvolvimento das mãos e no o
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 comprimento dos braços:
Anos Período do aparecimento do menarca todavia, todas estas vaFig 37. Modificações
colectivas riaçoes são considerável
fase do cresci
de funções fisiológicas: O período mente inferiores àquelas do menarca em raparigas
norueguesas em regiões com flutuação que se podem obter dutérmica superior e inferior a
20anual (segundo B. Skerlj, 1939) rante a
mento. Estamos muito menos esclarecidos sobre modificações colectivas das funções fisiológicas e
modos de comportamento do que sobre alterações da forma do corpo. O inenarca (o início da
actividade ovárica que se manifesta com a primeira menstruação) está em relação com o clima, com
a temperatura e até com a humidade do ar (> Cresci.mento). O metabolisnzo basal (quantidade
de calor que o organismo desprende quando em jejum e em absoluto repouso, e que se exprime em
grandes calorias por hora e por superfície cutânea) varia nas diversas populaçõ es e depende,
além da corpulência, da idade e do sexo, como
122
Crescimento
igualmente da nutrição, da temperatura e da ocupação. Na maior parte dos países extraeuropeus
está abaixo da média dos europeus; nos Europeus que se encontram nos trópicos baixa até se
avizinhar da dos Negróides.
Entre as modificações colectivas do comportamento são provávelmente de considerar maior
actividade e continuidade de trabalho das populaçõ es que vivem em climas temperados em relação
àquelas que vivem em climas quentes. (Hellpach, Huntington).
Crescimento O óvulo humano fecundado possui cerca de
O,12 nun de diâmetro, aproximadamente O,0015 mg de peso e forma mais ou menos esférica. Um
indivíduo adulto do sexo masculino, na Europa, tem entre 165 e 170 cm de altura, pesa cerca de
70 kg e apresenta alta diferenciação morfológica, com grande multiplicidade de órgãos e tecidos.
Entre estes dois extremos está incluído o crescimento, que consiste em: 1) crescimento corporal
mediante multiplicação celular; 2) diferenciação morfológica p.",ÉIRada através de
velocidades diferenciais de crescimento das várias partes do corpo. A maior parte deste processo
verificase antes do nascimento.
CRESCIMENTO FETAL. No crescimento prénatal, controlado por genes (> Genética humana) e por
substâncias químicas especiais, estas provàvelmente produzidas por genes, costumam distinguirse
dois períodos: o embrional (primeiras oito semanas) e o fetal (até ao nascimento).
O desenvolvimento do feto efectuase, em linhas gerais, no sentido de uma especialização, com
passagem dos caracteres comuns a grupos sistemáticos de ordem superior aos caracteres peculiares
da espécie (raça, sexo, indivíduo). Neste sentido desenvolvemse sobretudo no feto humano os
caracteres fundamentais dos vertebrados: a corda dorsal, que constitui uma espécie de primeiro
esboço do esqueleto. Todas as diferenciações de tecidos dependem de três associações de células
que possuem valor morfogenético específico, os folhetos germinativos: ectoderma (folheto
germinativo externo), que constitui todo o sistema nervoso central e periférico; mesoderma
(folheto germinativo intermédio), que forma os tecidos esqúeléticos e musculares,
123
Crescimento
e portanto a massa principal do corpo; entoderma (folheto germinativo interno), que dá origem,
entre outras coisas, ao epitélio dos aparelhos da digestão e da respiração. Diversos sistemas de
classificação tipológica baseiamse nas diferenciações dos folhetos germinativos (Martiny,
Sheldon > Constituição).
No início do terceiro mês começam a reconhecerse os caracteres especificamente humanos do
embrião: a cabeça, que no segundo mês é quase tão grande como o resto do corpo, começa a
separarse nitidamente do tronco; os olhos, a princípio localizados lateralmente, juntamse; o
nariz ganha relevo; as extremidades adquirem forma humana.
O crescimento em tamanho, e peso é fortíssimo nos pri
meiros meses e diminui ]o constantemente no final do Navajo
desenvolvimento que pro
160 @ @ l 1 s@1 cede a nascença.
CRESCIMENTO POSFETAL.
O crescimento, relativamente rápido, em tamanho e peso, do período fetal prossegue ainda no
primeiro ano. Em seguida verificase um crescimento mais lento, que tem um último rasgo na idade
puberal. O utilizadíssimo esquema de Stratz (turgor primus, anos 14; prúce7@tas prima, anos 5
7; tur
1.
Mai
as
.1
.O
1 apa
apa
1 zes
1 riga
s
Crescimento
porém, dado que nelas a puberdade se inicia primeiro, a
certa altura precedem os machos em irês ou quatro anos; mais tarde, já que nelas o crescimento
termina mais cedo, são por eles superadas, pois os machos continuam a desenvolverse nos anos
seguintes, de modo que a superioridade masculina em estatura e peso se transforma numa autêntica
diferença sexual. A dupla intersecção do crescimento em estatura e peso nos machos e nas fêmeas
é característica de todas as curvas de crescimento humanas. Nas raparigas o crescimento em
estatura concluise em média cerca dos
1820 anos; nos jovens encerrase entre os 20 e os 22 anos.
A relação entre peso e estatura (índice ponderal, índice de
Livi [@p:e o
s:::: estatulra
índice de Roltrer rpeso
estatura@ 15
etc. )
diminui desde o primeiro ano de vida até à puberdade, tornando a aumentar lentamente logo que se
encerra o
crescimento em estatura.
Com a variação des@a relação pesoestatura estão conexonadas outras variações nas
proporções: a altura da cabeça em relação à estatura diminui durante
o crescimento, enquanto aumenta o tamanho re lativo das pernas. O tórax achatase: o índice
torácico (profundidade do tórax em relação à
n 20 meseq 7 anos 13 anos.16 anos largura) diminui, mais ascido
acentuadamente nos rapazes do que nas raparigas. No período da puberdade a largura do tronco
apresenta, para machos e fêmeas, desenvolvimento diferente: em relação à estatura, a lar
reMn_ 2 anos 4 anos Ilanos 14 anos
nascida gura das espáduas (ín Fig. 39. Variações das proporções dice biacromial)
au corporais no decurso do crescimento (segundo R.W.B. Ellis a partir do menta
nos machos, ao material de W. LeAz. 1954)
125
Crescimento
passo que nas fêmeas permanece aproximadamente constante. Ao invés, a largura relativa da bacia
diminui nos machos, enquanto aumenta nas fêmeas; o índice acrómioilíaco (largura da bacia em
relação à largura das espáduas) revela por isso, com particular clareza, a formação das
proporções específicas dos dois sexos (> Constituição, tipos sexuais) na puberdade. Durante o
período do crescimento, o crânio facial, em relaçã o ao crânio neural, cresce mais; os diâmetros
vertical e ânteroposterior do nariz aumentam muito mais do que o diâmetro transversal.
O início e o fim da puberdade, o índice anual de crescimento e a grandeza das alterações
somáticas que daí
102 iol
100
99
98
97
20.28 2937 38.46 47.55 5664 6573 74
Fig. 40. O crescimento depois dos vinte anos. Variações na circunferência da cabeça (em cima) e
na estatura (em baixo).
100 = medida média aos vinte anos. Linha contínua, machos;
linha tracejada, fêmeas (segundo E.C. Bilchi, 1950)
resultam apresentam consideráveis variações individuais. A partir de tabelastipo, que por causa
das variações cronológicas e regionais devem ser constantemente actualizadas, pode determinarse
o grau de afastariento de um
rapaz em relação à média da sua classe de idade. O campo de variação é definido por a (margem
quadrática média). No âmbito da distribuição normal, 67 por cento de todos os indivíduos
inseremse no intervalo M Métodos da antropologia).
Na chamada fase estacionária, após se ter atingido a
maturidade sexual, o crescimento não cessa ainda, sofrendo
126
Crescimento
apenas forte retardamento. O crescimento em tamanho ao longo do ei:@o principal do corpo,
sobretudo, prossegue mesmo em idades avançadas, no homem até aos 60 anos, na mulher até aos 50
(Büchi, etc.). Estatura, altura da face e tamanho da cabeça apresentam os mais elevados índices
de crescimento. A estatura, contudo, é a primeira a atingir o seu valor máximo, pois que o
crescimento do tronco é compensado pela diminuição do comprimento das pernas, a qual se deve,
sem dúvida, a um achatamento da curva do pé e a uma variação do ângulo do colo do fémur. Na
idade adulta, em média, o peso aumenta mais do que o tamanho, de modo que o índice ponderal
aumenta também em idade avançada. Sómente na velhice, com a diminuição do volume e peso da
musculatura e com a desidratação dos tecidos, começa a diminur.
CRESCIMENTO ALOMÉTRICO. Se a velocidade de crescimento de uma parte do corpo y está em relação
constante com outra dessas partes, ou do corpo no seu complexo, x, podem calcularse as relações
mediante a fónnula para o crescimento alométrico (Hux!ey, etc.):
dy X
= a ;
dx y integrando: y = bXa (2) ou: log
y = log b + a log x. (3) a representa a relação constante das veloidades de
crescimento x e y (têmse valores diferentes para as várias medidas ou partes do corpo), b é uma
constante de integração, que dá o valor de y para x = 1. Na representação gráfica, segundo a
fórmula alométrica (3), para o log y temmse uma recta,, a sua inclinação em relação à abeissa é
determinada mediante a constante a (a = tang a). Se a > 1, y cresce mais velozmente do que x e a
recta sobe (alometria positiva); se a < 1, y cresce mais lentamente do que x e a recta log y
tende para a abcissa (alometria negativa); se a = 1, y cresce à mesma velocidade de x
e as proporções não mudam (isometria). É frequente não ser possível descrever todo o decurso do
crescimento com a mesma fórmula alométrica e, gràficamente, com uma
127
Crescimento
única recta, mas com várias rectas que possuem inclinação diferente. Os pontos de conjunção das
diversas rectas testemunham a intervenção de novos factores do desenvolvimento. No homem, por
exemplo, durante o período de crescimento, o comprimento da perna apresenta alometria positiva,
a altura da cabeça alometria negativa. No período da puberdade varia a constante de proporção a,
de modo que no gráfico a linha se cinde em duas partes (Alcobé, Twiesselmann). A fórmula
alométrica foi também aplicada às variações filogenéticas das proporções, por exemplo, à relação
entre tamanho do encéfalo e do corpo nos
mamíferos, incluindo o homem (Snell, Dubois e mais tarde von Bonin, Count). O tamanho do
encéfalo é determinado: 1) mediante a relação do tamanho do encéfalo com o do corpo = constante
a; 2) a partir do grau de desenvolvimento do encéfalo (cefalização) = constante b da fórmula
alométrica. No âmbito dos primatas, o tamanho do encéfalo humano corresponderia (segundo Count)
à massa corporal, enquanto os símios antropomorfos, e sobretudo o chimpanzé, ficariam aquém
dessa grandeza; contudo, não resulta daí uma relação alométrica linear, mas uma parábola com a
forma
log y = log b + a log x c (log x)
Para o desenvolvimento do encéfalo no homem, portanto, pode considerarse como factor mais
importante o crescimento filogenético que segue a regra de Cope (> Origem do homem).
MATURAÇÃO SEXUAL. As fases do crescimento são influenciadas por diversos sistemas hormonais de
regulação. No crescimento infantil intervêm sobretudo o timo, a tiróide
e a hipófise, sob o controle desta última; no período da puberdade agem outras glândulas de
secreção interna.
O crescimento é particularmente impedido e finalmente detido pelas gónadas, responsáveis
simultâneamente pela presença, no adulto, dos caracteres sexuais primários e secundários(>
Constituição, tipos sexuais). Tendo em vista a determinação do estádio de desenvolvimento, os
vários sinais de maturidade nos adolescentes são classificados como segue (BoberScholz, assim
como Zeller e SchmidtVoigt).
128
Crescímento
Machos:
Mamilos: forma infantil: pequenos, não pigmentados; forma de transição: aumento de volume; forma
matura: mamilos grandes, bem salientes, frequentemente pigmentados.
Pilosidade de púbis: escassa; lisa; crespa (não distribuída de modo hirto); forma da maturidade
(a delimitação apresenta uma forma log do comp. característica cuja eXtrC
dos memblOs altura èspinha iliaca midade aponta para o umbigo).
1,95
Sistema piloso axi comprimento
lar: escasso; liso; cres~ 1,10 total
do membro po; prega axilar pig superior mentada.
Pênis: forma infan im
til: pequeno, frequentemente cónico; alongado; 1,75
forma da maturidade: “70
tamanho e pigmentação normais. 65
1,63 log. da Escroto: forma infan
estatura til: teso, arredondado e 201 2,Ó5 “@O 2,115 2,20 2,25
Fig. 41, Crescimento alométrico. largo; alongado; forma Crescimento do comprimento
do da maturidade: pigmen membro superior e inferior (altura , espinha ilíaca)
em relaeáo com a tado, rugoso, com testi estatura em crianças de Barcelona
d em idade escolar (segundo S. Alculos da grossura @ e cobé, e S.
Prevosti, 1951) uma noz.
Barba: escassa; pelugem abundante; forma da maturidade: bem desenvolvida.
Voz: infantil: clara; forma de transição: mudança de voz; maturidade: profunda, sonora.
Fêmeas:
com
Mamas: forma infantil: pequenas, chatas, não pigmentadas, ao contrário dos machos; mamilo:
alastrar da auréola e escurecimento do mamilo; mama: forma hemisférica, com auréola saliente;
forma de transição: saliência incipiente do mamilo; forma da maturidade: auréola assimilada à
curva da mama, com o mamilo claramente saliente.
129
Crescimento
Pilosidade do púbis: escassa; lisa; crespa, com limite curvilíneo; forma da maturidade: limite
horizontal.
Sistema piloso axilar: como nos machos.. Ancas: forma infantil: estreitas; incipiente
arredondamento; ancas muito arredondadas. Menstruação: ausente; presente.
Os sinais de maturidade não aparecem todos ao mesmo tempo, mas observam, embora com muitas
variações individuais, certa regularidade. Nos machos, regra geral, começam a engrossar primeiro
o escroto e o pênis, aparecendo pouco depois a primeira pilosidade púbica, cujo desenvolvimento
para a forma da maturidade só muito mais tarde vem a concluirse; desenvolvese ainda o sistema
piloso axilar, temse também a dilatação pubescente das mamas e finalmente o crescimento da
barba. Nas fêmeas, os primeiros indícios de desenvolvimento das mamas, do sistema piloso axilar
e púbico precedem o aparecimento da menstruação (menarca), mas o desenvolvimento completo só vem
a verificarse muito mais tarde. Como para a estatura e o peso, podem determinarse, a partir de
uma tabelatipo, os afastamentos individuais em relação à média de cada classe de idade. Tomando
em conta todas as várias características, podem distinguirse, em relação a um grupo médio,
indivíduos precoces e indivíduos atrasados. A determinação do estádio de maturidade nos jovens é
de grande importância prática, porquanto o grau de maturidade assume função determinante, em
idades juvenis, no rendimento escolar e na aquisição de um statuy social nos interesses, na
escolha e na aquisição de uma profissão.
A par e passo com o processo de maturação física cumprese a maturação psíquica. Em numerosos
inquéritos resultaram correlações de débeis a médias (no máximo, de + O,1 a + O,3) entre
desenvolvimento somático e psíquico; pelo lado social, consideramse medidas lineares e de peso,
sinais de maturidade, ossificação e estádio complexivo de desenvolvimento; pelo lado psíquico,
as capacidades de actividade nos mais variados sectores, incluindo a inteligência, e ainda
funções que exigem movimentos delicados, interesses, comportamento social, impulsos e
autodomínio, comportamento sexual. jovens que se encontram, em relação à norma da sua idade,
adiantados de um ponto
Crescimento
de vista somático, superamna também, na maioria dos casos, no desenvolvimento psíquico e
intelectual. jovens harmónicamente desenvolvidos apresentamse em geral psiquicamente mais
amadurecidos do que os que têm desenvolvimento somático irregular (várias espécies de
afastamento em relação às diversas características normais próprias de cada classe de idade, ou
desvios na regular sucessão do aparecimento dos sinais de maturidade). A ligação entre
desenvolvimento somático e psíquico é tanto mais evidente quanto mais as relativas disposiçõ es
ou funções psíquicas estiverem estreitamente relacionadas com caracteres somáticos (Undeutsch).
Carácter somático
Teste Psicológico
Colectividade
estudantil
Autor
Estatura
Estatura
Rendimento escolar
Rendimento escolar
812 anos rapazes
812 anos raparigas
Albernethy, 1936
* O,26
* O,16
Dimensões da cabeça
Teste de inteligência
596 rapazes das escolas elementares e superiores
K. Murdock e L. R. Sullivan, 1923
+ O,22
índice Pignet
Teste de Wartegg
+ O,13
índice Pignet
Idade do menarca
Teste das lacunas
Teste das lacunas
260 escolares de 14 anos
U. Undeutsch, 1952
* O,12
* O,18
Sistema, Piloso axilar
Teste das lacunas
+ O,19
Idade do menarca
Questionário dos interesses
400 raparigas das escolas superiores de idade compreendida entre os 11 e os 14 anos
C. Eller,
1958
+ O,36
Estádio de desenvolvimento
Rendimento escolar
153 raparigas dos 12 aos
13,6 anos
I. Reinhard,
1944
+ O,21
Ossificação do Os capi
Teste de Bü'hler e Hetzer
155 rapazes de 8,5 anos
R. M. Konrad, 1957
+ O,33
Correlações psicofísicas na Idade do crescimento: dados coligidos
por U. Undeutsch, 1958
131
Crescimento
Os testes de inteligência apresentam uma curva de idade idêntica à do crescimento linear, com
valores máximos em redor dos 20 anos; contudo, se considerarmos os vários componentes da
inteligência, verificaremos que os valores máximos coincidem com classes de idades diferentes.
Assim, por exemplo, a memória mecânica atinge o seu ápice ainda na idade infantil; a memória
lógicosistemática atingeo alguns decênios mais tarde; em diversos desportos, artes e ciências
o rendimento máximo é alcançado em idades claramente distintas (Keiter, Lehmann). A maturidade
social é atingida depois da maturidade somática e da sexual, sendo grandemente influenciada pelo
ambiente, pelo grau da sua diferenciação e pelas exigências que põe ao indivíduo. Na moderna
sociedade industrial subsiste a diferença característica entre a maturidade sexual máxima
frequência da satisfação dos instintos no homem, no intervalo compreendido entre os 15 e os 20
anos (7onsson, relatório Kinsey) , a maturidade social e a idade do matrimónio máxima
frequência entre os 25 e os 30 anos.
Os processos de desenvolvimento na idade adulta são «quase uma terra incógnita» (Hofstãtter);
em virtude de o número de pessoas velhas acrescer constantemente devido ao aumento. da duração
média da vida, fenômeno que provoca o aparecimento de problemas económicos e sociais, surgiu a
gerontologia, ciência cujo objecto é constituído pelas alterações somáticas e psíquicas que
intervêm na velhice.
TIPOS DE DESENVOLVIMENTO. Com a variação das proporções e com a plena formação dos caracteres
sexuais está relacionada uma série de outras transformações morfológicas, entre as quais a
redução dos tecidos adiposos subcutâneos, o desenvolvimento da musculatura e sobretudo as
variações fisionómicas: engrossamento do nariz, desenvolvimento do queixo, inclinação do
frontal, acentuação do desenho das regiões zigomática e oral. Reunindo todos os caracteres
morfológicos e as proporções específicas de cada classe de idade, Zeller, apoiandose em Stratz e
noutros autores, descreveu vários tipos de desenvolvimento, isto é, o tipo infantil e o tipo de
idade escolar (entre os quais se insere a primeira transformação morfológica),
132
Crescimento
o tipo da pubescência e o tipo da maturidade (entre os quais se situa a segunda transformação
morfológica, a da puberdade). Os caracteres principais do tipo infantil são: predomínio,
relativamente acentuado, da cabeça; tronco arredondado, cilíndrico; fraca curvatura da coluna
vertebral; extremidades relativamente pequenas, redondas, com saliências articulares pouco
visíveis; fronte ampla e ovalada, com face pequena, baixa e de traços pouco acentuados. Tipo de
idade escolar: predomínio menos sensível da cabeça, tronco mais alongado, com caixa torácica,
mais chata e espáduas mais acentuadas; extremidades mais longas e finas, nas quais começam a
destacarse músculos e articulações; a face é maior em relação ao conjunto da cabeça, a qual,
por redução dos tecidos adiposos, tal como acontece em relação ao tronco e aos membros, aparece
mais rígida, com perfil mais marcado, exprimindo uma atitude mais atenta e objectiva em relação
ao ambiente. Tipo da pubescência: apresenta características de transição entre meninice e
maturidade: caracteres sexuais plenamente desenvolvidos.
A distinção entre os tipos infantil e de idade escolar foi confirmada por inquéritos acerca da
maturidade escolar. Crianças do tipo infantil, inscritas prematuramente na primeira classe
elementar, chegam a apresentar com mais frequência, em relação às do tipo de idade escolar, um
atraso psíquico: inscritas automàticamente na escola, numa determinada idade cronológica,
depararamselhes frequentemente dificuldades; todos estes inconvenientes podem ser em grande
parte superados mediante o retrocesso a uma ordem de estudos inferior. Em regra, tipo da pubescê
ncia e tipo da maturidade não se distinguem simplesmente a partir da observação do aspecto
exterior, mas através de classificações e combinaçõ es dos vários caracterés de maturidade.
1DADE DE OSSIFICAÇÃO. Além das medidas somáticas e dos caracteres próprios da maturidade, também
o esqueleto e os dentes fornecem indicações acerca do estádio de desenvolvimento e da idade.
Deste modo, até para os restos préhistóricos chega a ser possível determinar a idade. Nos
jovens a idade de ossificação é frequentemente determinada pela aquisição ulterior de certas
variáveis que podem ser
133
Crescimento
relacionadas com outros elementos, tais como, por exemplo, resultados de testes psicológicos,
distúrbios do comportamento, etc. O aparecimento e a fusão dos centros de ossificação cumprem,
embora com numerosas variações individuais, uma regular sucessão cronológica. Entre mais de
800 centros de ossificação, cerca de metade só vêm a surgir após o nascimento; nessa época, uma
série de outros centros já se encontram fundidos. Temse o número de centros de ossificação no
período puberal (cerca de 350); passase depois, através de outras fusões, a uma média de 206.
Para a diagnose do grau de desenvolvimento ou da idade consideramse diferentes partes do
esqueleto em função da classe de idade. No que concerne os últimos meses do desenvolvimento
fetal e o primeiro período pósnatal, fornecem indicações as fontanelas (zonas membranosas que
unem os vários ossos do crânio em fase de desenvolvimento). A grande fontanela ou f. bregmática
(entre frontal e parietais) encerrase na idade de 916 meses, e os seus diâmetros diminuem de
maneira constante a partir do nascimento; a pequena fontanela ou f. lambdática (entre
parieaPOS 3040 S.F tais e occipital) e as duas
os @O fontanelas laterais ou asté
muito tarle C S.P ricas (entre parietal, occi .ito, “ _@. C@@ pital e
temporal) estão já tarde ‘411 fechadas nas primeiras se
40 so s, manas após o, nascimento.
Até ao segundo dia de ‘ rnuito X 40 5@ são sobretudo as ossi _nuitu
tarde P.T. vi a
ficações dos ossos do pé
2030 5
e da articulação do joelho
30 S que fornecem os indícios apó diagnósticos mais impor
‘@< os: apó
os 12 tantes; mais tarde, até à rnUitO taid(_, 1, puberdade,
os ossos do
4050 OM carpo, do metacarpo e da Fig. 42. Idade de ossificação.
articulação do cotovelo. Idade em Que ficam soldadas as várias suturas do erãnio. C su
O crescimento em tamatura cGronal; L=sutura lambdoideia; S=sutura, sagital; TP=su nho dos
ossos compridos tura têmporoparietal; SP = su termina pela fusão dos tura esfenoparietal;
SF = sutura esfenofrontal; OM@sutura ocei centros de ossificação da pitomastoideia (segundo
H. V.
Vallois, 1937) epífise; um ulterior sinal
134
Crescimento
de maturidade é dado pelo encerramento da sincondrose esfeno@1ccipitaI do crânio (entre o
esfenóide e a base do occipital). Para a diagnose da idade que concerne os indivíduos mais
velhos é importante, além do estado dos dentes, o grau de fusão das suturas do crânio, que no
homem se verifica muito tarde, em relação com o grande desenvolvimento do encéfalo, e que só vem
a concluirse na velhice mais avançada. Embora se enfrente ampla variabilidade individual,
também aqui se tem, em regra, uma sucessão cronológica bem definida. O mesmo vale para a
formação e calcificação dos dentes, a sua erupção e a mudança de dentição. Os dentes de leite
começam a formarse no 4.05.O mês do desenvolvimento fetal, da coroa até à raiz. Na dentadura
definitiva, os primeiros molares começam a calcificar na época do nascimento, enquanto os
últimos, isto é, os terceiros, entre os oito e os nove anos. Na dentadura de leite, despontam
primeiro os incisivos, depois os primeiros molares (em vez dos primeiros prémolares definitivos
que os substituirão mais tarde), seguidos dos caninos e dos segundos molares. Na dentadura
definitiva desponta em primeiro lugar o primeiro molar, em seguida os incisivos; os molares de
leite são substituídos pelos prémolares e os caninos pelos caninos definitivos; finalmente, a
dentadura completase com a erupção do segundo e do terceiro molares (muitas vezes o terceiro
não desponta, não chegando a formarse). A ordem de aparecimento é enunciada no seguinte
esquema:
Dentadura de leite:
2 3 8 5 10 i i c M M
1 1 c M M
14 7 6 9
Dentadura definitiva:
4 6 127 9 3 14 16 i i c P, P, M, M, M, i i c P, P, M, M, M,
2 5 118 101 13 15
[I = incisivos; C = caninos; P = prémolares; M = molares].
135
Crescimento
No que diz respeito à determinação da idade, o exame do crânio e dos dentes permite distinguir
os seguintes grupos:
Primeira infância (aproximadamente até aos sete anos): até à erupção dos primeiros molares
definitivos.
Segunda infância (dos sete aos catorze anos): da crupção dos primeiros molares definitivos à dos
segundos molares definitivos.
Adolescência (dos catorze aos vinte anos): da erupção dos segundos molares definitivos ao
desaparecimento da sincondrose esfenooccipital.
Idade adulta (aproximadamente dos vinte aos quarenta anos): do desaparecimento da sincondrose
esfenooccipital até ao início da solda das suturas.
Maturidade (aproximadamente dos quarenta aos sessenta anos): solda das suturas do crânio, mas
não até ao seu desaparecimento completo, desgaste dbs dentes.
Senilidade (além dos sessenta anos): progressivo desaparecimento das suturas, encerramento
parcial dos alvéolos após a queda dos dentes.
Mediante o exame atento do crânio e dos dentes pode chegarse a deterrninzLções da idade mais
precisas, sobretudo no que se refere à infância e à adolescência. Tomando ainda em consideração
outros caracteres do esqueleto (estrutura esponjosa da extremidade do úmero e do férmir,
estrutura superficial da sínfise púbica), pode alcançarse uma subdivisão em classes de idade
mais minuciosa, de cinco em cinco anos (método combinado de determinação da idade; Nemeskérí).
Na ossificação do esqueleto têmse consideráveis diferenças sexuais, que não se verificam no
desenvolvimento dos dentes. Os centros de ossificação do feto aparecem mais cedo nas fêmeas do
que nos machos, o mesmo acontecendo no que conceme o aparecimento e a fusão dos centros de
ossificação que se formam mais tarde. No período da puberdade, as fêmeas precedem os machos,
relativamente à ossificação, em dois ou três anos. A conclusão precoce do crescimento nas
raparigas, portanto, não é sómente determinada pelo início precoce da puberdade, encontrandose
já prédelineada antes do nascimento, no desenvolvimento mais rápido do esqueleto.
136
Crescimento
MODIFICAÇõES DO CRESCIMENTO. Entre os factores ambientais que podem modificar o crescimento e a
maturidade, o mais importante é a alimentação; uma alimentação rica em proteínas, sobretudó,
favorece o crescimento. Assim, entre crianças escocesas em idade escolar, o índice de
crescimento da estatura passou, após a subministração de rações suplementares de leite, no grupo
de controle, de 4,9 a
6,6 cm (encontramse muitos outros exemplos em W. Lenz). Uma alimentação mais rica influi
positivamente no peso e sobre o desenvolvimento linear, assim como também sobre a ossificação e
a maturidade sexual. As diferenças na estatura e na maturidade entre as várias classes sociais
(> Antropología socíal) baseiamse provàvelmente, na medida em que se encontram ligadas à
hereditariedade, em diferenças de alimentaçã o. Além das proteínas, também as gorduras e
vitaminas, assim como a quantidade dos alimentos, desempenham papel importante no crescimento.
Através de experiências pr2@ticadas em animais (Mills, etc.), verificouse também a
existência de uma influência climática transforinadora, 100 na qual a temperatura
desempenha papel rele 80
vante. A temperaturas mé 6 dias baixas e muito variá @1È o homem o
o 5 1 anos veis, os ratos tomamse 40 rato , . ema mais
gordos do que os o s lonas animais de controle, cria
carpa o
dos a temperaturas mais Z@ o 5 anos ‘o altas e com variações me
tempo nores. No que diz respeito Fig. 43. Caracteres típicos do
crescimento das várias espécies. ao homem, é difícil deter Crescimento em peso no homem,
to e na carpa. A primeira minar em que medida a f`as,'èaracterizase no homem por
correlação geográfica en um crescimento retardado (se
gundo L. v. Bertalanffy, 1943) tre estatura e temperatura assenta em modificações deste gênero
(MílIs, Newman, Roberty, etc.), porquanto, juntamente com a influência do clima (> Gênese das
raças), as baixas temperaturas podem determinar também uma selecção dos indivíduos
(hereditàriamente) de maior corpulência. Um ligeiro atraso no desenvolvimento em Estios muito
quentes e nas migrações da zona temperada para a tropical depõe a favor da in
137
Crescimento
fluência transformadora, em relação ao homem, dos factores climáticos (Mills). Na Europa
Setentrional a idade do menarca está mais relacionada com o teor de humidade do ar ou com a
continentalidade do clima do que com a temperatura (Skerlj). Doenças infecciosas ou outras
enfermidades relacionadas com o ambiente também podem obstar ao crescimento e ao
desenvolvimento, como o testemunham os inquéritos sobre gémeos, investigações que demonstram que
regra geral as diferenças consideráveis no peso de gémeos uniovulares são determinadas por
doenças.
DIFERENÇAS NO CRESCIMENTO RELACIONADAS COM A ESPÉCIE E A RAÇA. A espécie Homo sapiens é
caracterizada por um crescimento lento no período juvenil («atraso», > Origem do homem): as
curvas do crescimento de diversos vertebrados podem fazerse coincidir usando determinadas
escalas; para o homem semelhante sobreposição só é possível partindo do estádio da puberdade,
enquanto anteriormente a curva de crescimento apresenta um movimento mais suave (v.
Beria!anffy). O rápido crescimento nos primeiros anos de vida, que continua o ritmo rápido de
crescimento do desenvolvimento fetal, constitui uma excepção. Deste ponto de vista, o homem
diferenciase também dos símios antropomorfos (chimpanzé, gorila, orangotango). Portmann,
referindose ao homem, aludiu por isso ao «parto fisiológicamente prematuro» com um período de
crescimento fetal que só chega a concluirse no primeiro ano de vida , relacionando o parto
«prematuro» com o tamanho do encéfalo humano. Assume certa importância o facto de estádios de
desenvolvimento que nos símios antropomorfos são atingidos antes do nascimento, sobretudo a
aquisição da locomoção própria da espécie e dos meios de comunicação, só mais tarde serem
adquiridos no homem, constituindo, portanto, objecto de aprendizagem (> Antropologia
cultural). Existem, por outro lado, diferenças entre símios antropomorfos e Homo sapiens que
devem atribuirse a diferenças na velocidade de crescimento de várias partes do corpo
(acelerações e retardamentos): entre estas, a formação precoce e mais acentuada do promontório
do sacro.
138
Crescimento
Diferenças raciais no crescimento em altura e corpulência verificamse sobretudo no que diz
respeito ao tamanho absoluto, atingido em classes de idade bem determinadas, ao passo que as
curvas de crescimento, no seu movimento geral, são idênticas. Deste modo, em todas as raças,
atingese aos 9 anos cerca de 75 por centG da estatura definitiva e aos 15 anos 95 por cento (W.
Len”. Só no crescimento póspuberal se notam frequentemente diferenças raciais atinentes à
160corpulência. Assim, por exemplo, os rapazes japoneses de São Francisco ,o.
Japoneses têm aproximadamente, até 130 rlo Japão aos 15 anos, estatura
igual Japoneses
nos E. U. à dos rapazes branc d 120 l@ rancos
tios E. U. mesma idade e classe so l@o/ cial, só vindo a ficar para ioo6 8 10 12 IA
16 18 20 2? trás, em medida sempre am,s
crescente, posteriormente; Fig. 44. Diferenças raciais no
crescimento (segundo F. Ishiwara, a curva do crescimento 1956) apresenta
aproximadamente o mesmo movimento da que é característica dos rapazes japoneses que
vivem no Japão, mas com uma diferença de 4 cm, que pode atribuirse a outro tipo de alimentação
(Ishzwara).
A formação das proporções e dos caracteres morfológicos típicos de uma raça através de uma
velocidade de crescimento diferencial iniciase antes do nascimento, simultâncamente com a
formação dos caracteres típicos da espécie (A. H. Schultz). Assim, em relação aos brancos, os
fetos negróides apresentam ao terceiro mês, em comparação com os adultos, menor altura da calota
craniana, nariz mais largo, bacia mais estreita, braços mais longos e maior com
J"'o e”@
n. a,@ J.P. e^@^
primento relativo do antebraço. No que diz respeito à ossificação, os lactantes negros são, mais
precoces do que os brancos; contudo, ao contrário do que seria lícito pensarse, não se tratava
de desenvolvimento mais rápido, já que o peso à nascença e a estatura, nos primeiros anos, são
inferiores aos dos brancos; além disso, a maioria das crianças negras sofrem de desnutrição.
139
Crescimento
A maior parte das notícias mais antigas acerca das diferenças raciais relativas ao alcance da
maturidade, e particularmente acerca da precoce maturidade das raças tropicais, devem ser
verificadas. Nas diferenças geográficas da idade do menarca, o nível de civilização ressalta com
mais clareza do que o facto racial (cf. variações seculares do crescimento). Porém, nem por isso
deixa de ser certo que também as diferenças raciais exercem a sua influência. Assim, nas
raparigas maias, apesar da pobreza de proteínas na alimentação, o menarca surge bastante cedo
(em média, aos 12,9 anos); as curvas de crescimento apresentam por isso muito cedo uma
intersecção entre a curva dos rapazes e a das raparigas (aos 9 anos; nos Navajos aos 10; nos
Brancos do Michigan aos 10 anos e meio). Na África, para 23 povos, a correlação entre grau de
latitude e menarca (índice de Gini) é de + O,34; na Europa, para 12 povos, + O,25 (N. Federici).
VARIAÇõES SECULARES DO CRESCIMENTO. Entre as mais importantes e mais bem documentadas diferenças
de crescimento condicionadas pelo ambiente, e sobretudo por factores de tipo geográfico, étnico
e social, encontramse o aumento da estatura e a aceleração do desenvolvimento que se
verificaram nos últimos tempos. Em todos os países civilizados, pelo menos no decurso do século
passado, puberdade e maturidade foram aceleradas; este facto teve como consequência um aumento
da estatura média. O material mais vasto, e referido a maior período de tempo, foi fornecido
pelo recrutamento militar. Os dados existentes mais antigos são os que foram fornecidos pela
Noruega (a partir de 1741, Kiil), pela Suécia (desde 1840, Hultcrantz, etc.), pela Itália (a
partir de 1791, Costanzo) e pela Holanda (desde 1863, Bolk). A dimensão do aumento de estatura
nos diversos países é variável, o que deve ser originado pelas diferentes condições ambientais.
O aumento anual de estatura nos vários países oscila em redor do número reportado por Hultcrantz
e válido para a Suécia (aumento anual O,9 mm) (Argentina 18911924: O,8 mm; Estónia 18781933:
1,2 mm).
O aumento secular da estatura diz também respeito a todas as outras classes de idade. Os recém
nascidos são
140
Crescimento
actualmente maiores e mais pesados do que nos primeiros decênios do século; o mesmo acontece com
as crianças em idade préescolar e escolar e com os alunos dos cursos médios. A diferença entre
as crianças de hoje e as de alguns decénios atrás, da mesma idade, é particularmente grande nos
anos que actualmente correspondem à puberdade, pois neste caso acrescentase ao aumento geral da
estatura a antecipação do desenvolvimento coincidente com o período puberal. Com a aceleração,
do crescimento é também antecipado o aparecimento de outros caracteres específicos numerosos
relativos à idade; são antecipadas primeira e segunda dentição; doenças próprias da idade, como
a coreia de Sydenham, têm a sua frequência máxima nos primeiros
146W0 ... .. LL. ‘”L”” l “ 1 .
1 5 IMO 1865 1870 1875 1880 1885 1 8@@ 1'895 Í;@'0 9@OS 1910 1915 1920
Fig. 45. Aumento secular da estatura. Estatura média de recrutas italianos das classes 1855
1920. As estaturas inferiores encontramse nas classes Que durante a Drimeira guerra mundial
estavam no Período da Puberdade (segundo A. Costanzo, 1948)
anos (BennholdtThomsen); a idade do menarca no decurso de um século sofreu uma antecipação de
23 anos.
Falta uma explicação destes fenómenos universalmente aceite; a melhor alimentação, todavia, deve
ter contribuído c(>nsideràvehnente para eles (Lenz). O consumo de carnes e de gorduras aumentou
muito nos últimos decênios, e o teor proteínico da alimentação constitui precisamente um
critérío para determinar o nível de vida de uma população. Do mesmo modo, toda uma série de
diferenças cronológicas, geográficas e sociais orientamse nesta direcção: na
141
Demografia
Alemanha, durante as duas guerras mundiais e a crise económica de 1930, a tendência para a
antecipação do aparecimento menstrual passou por uma fase regressiva; na Suécia, a curva da
estatura, em anos de carestia (durante as duas guerras mundiais e no lustre de crise 18651870),
registou um ritmo quase horizontal. Os rapazes que vivem na cidade, em condições normais,
desenvolvemse mais cedo do que os rapazes do campo; contudo, no imediato pósguerra, a situação
inverteuse parcialmente. Além das variações na alimentação, outros factores podem favorecer o
crescimento: as doenças infantis tomaramse mais raras e incidem de forma menos aguda; da
isenção dos trabalhos pesados, também os rapazes e os jovens em geral tiram benefício; a própria
atenuação da rigidez dos sistemas de educação pode ter exercido a sua influência.
Com o desenvolvimento somático antecipado acelerase também o desenvolvimento psíquico.
Fenómenos do desenvolvimento específicos de unia fase, como o início das relações com pessoas do
mesmo círculo social, a obstinação e as explosões de ira apresentaiiise, em relação aos
resultados de inquéritos mais antigos, 12 anos antes; relações fixas com pessoas de sexo
diferente são contraídas mais precocemente (Undeutsch). A partir de variações da situação
social, não do desenvolvimento biológico, devem explicarse as inseguranças e os distúrbios do
comportamento que verificamos nos jovens de hoje, especialmente nas grandes cidades (ScheIsky,
etc.)
Demografia (Ciência da população) A população, no sentido de comunidade de seres humanos
vivos dentro dos limites de determinada área geográfica, foi sempre objecto de atenta
consideração, como factor económico, político e militar, por parte de estados e governos, os
quais, porém, a conceberam sempre como entidade estática. Que a dinâmica natural da reprodução,
isto é, os fenômenos biológicos elementares do nascimento e da morte, revelam na sua frequência
e nas suas relações certa regularidade e constância demonstraramno pela primeira vez os
chamados «aritméticos políticos» Graunt (162074) e Petty (162387) a partir dos registos
londrinos dos nascimentos e óbitos.
O mérito de ter sistematizado cientificamente esta ciência
142
Demografia
cabe, porém, ao capelão protestante do exército prussiano Peter Süssmilch (170767) com a sua
obra «Die gõttliche Orcínung in den Verãnderungen des menschlichen Geschlechts, aus der Geburt,
dem Tode, und der Fortpflanzung desselben erwiesen» «<A Ordem Divina nas Transformações do
Género Hum'ano, Manifestada no Nascimento, Morte e Reprodução»), cuja primeira edição veio a
público em 1741. A época mercantilista também reconheceu a existência de uma relação entre a
economia, entendida como capacidade de produzir meios de subsistência, e o aumento da população.
Mais tarde, as teorias de Thomas Robert Malthus (17601834) vieram a constituir, durante mais de
um século, a base de todas as discussões relativas à ciência da população. Segundo MaIthus, a
população revela uma tendência para aumentar a ritmo mais rápido do que os meios de
subsistência: obstáculos «positivos» e «preventivos», nomeadamente a morte e a miséria, bem como
o medo de ambas, mantiveram constantemente o aumento no âmbito de determinados limites. Darwin
introduziu as ideias de Malthus na sua teoria acerca da evolução, associandoas ao conceito
qualitativo da sobrevivência do mais apto. A ciência da população, por um lado, é portanto um
importante fundamento da biologia humana, e por outro uma das suas partes constitutivas.
FONTES E MÉTODOS. Os acontecimentos demográficos elementares, tais como o nascimento, o
matrimónio, a morte
e as migrações, são fenómenos de massa que no seu conjunto e nas suas relações só podem
compreenderse estatisticamente. A estatística d~gráfica é, por isso, a base mais importante da
ciência da população e ocupase do estudo dos fenómenos demográficos estáticos e dinâmicos. A
documentação mais fidedigna deriva dos censos, que fixam para determinado momento certo número
de unidades e, consoante o tipo de esquema adoptado, determinam também idade e sexo, profissão,
estado civil e tamanho da família, duração do matrimónio, etc. As mutações no estado das
populações podem ser determinadas mediante o registo de nascimentos e óbitos, casamentos e
divórcios, migrações, bem como através do confronto de diversos censos. Só nos países altamente
desenvolvidos existe serviço estatístico regu
143
Demografia
lar e, mesmo assim, sómente a partir da segunda metade do século xix. Apenas cerca de 25 por
cento da populaçã o mundial se encontra actualmente registada com exactidão; sobre cerca de 40
por cento existem tãosó indicações não elaboradas estatisticamente ou, por vezes, meras
estiniatívas. mais ou menos aproximadas. Mediante colaboração ao nível internacional,
principalmente sob a égide da ONU, procurase organizar um serviço estatístico com critérios
unitários válidos para toda a população mundial, a fim de obter em todos os países dados
pormenorizados susceptíveis de ser confrontados («Dernographic Yearbook», a partir de
194950).
Para o período que antecede a existência de um serviço estatístico regular, a história da
demografia fornece fontes estatisticamente utilizáveis, cuja autenticidade tem de ser
criticamente avaliada caso por caso. Entre estas fontes podemos citar censos ocasionais com
vista a determinados fins, frequentemente militares e fiscais, No caso de as informações
existentes se referirem apenas a uma parte da população (número de cidadãos reconhecidos aptos
para o serviço militar, por exemplo, ou de cidadãos na posse de todos os direitos civis e
políticos), poderseá obter uma estimativa da população total mediante o auxílio de tabelas de
conversão derivadas de outras fontes. Também podem ser frequentemente utilizados dados
indirectos, como, por exemplo, o número de fogos ou de arruamentos, o tamanho da área abrangida
por uma cidade, a extensão do terreno agrícola utilizado, o consumo de cereais, etc.
Onde desaparecem as fontes escritas recorrese à paleodemografia, cujos métodos foram
desenvolvidos pela paleontropologia. As suas fontes mais importantes são os restos de esqueletos
humanos descobertos em estações, cemitérios e sepulcros préhistóricos. Esses restos permitem
determinar a idade e o sexo (> Crescimento, ossificação) e, a partir daí, chegar a conclusões
acerca da duração média da vida do tamanho das jazidas (em circunstâncias favoráveis) e do
movimento da população. Em muitos casos, os restos da cremação de cadáveres também facultam a
determinação da idade e do sexo (Gej@vaII e outros). As principais dificuldades que se deparam à
paleodemografía consistem no número reduzido de restos humanos obtidos em relação à
144
Demografia
consistência efectiva das populações préhistóricas e nas poucas possibilidades de conservação
dos esqueletos de crianças e de jovens, que se decompõem mais ràpidamente na terra, sendo por
isso mais raros nas colecções e nos museus; o mesmo acontece em relação aos esqueletos
femininos, menos robustos do que os masculinos (> Constituição, tipos sexuais). O número e a
densidade dos achados culturais constituem fontes indirectas para a determinação do número de
indivíduos e densidade demográfica de uma população (Nougier e outros autores). Além disso o
tamanho de uma população pode ser avaliado a partir do tipo de economia e da extensão da área
habitada mediante um confronto com povos actuais, sobretudo com os povos ditos «em estado
natural».
A estatística demográfica recorre a medidas e métodos especiais. A investigação mais elementar
acerca de uma população diz respeito ao número dos seus componentes: no que se refere a mais de
40 por cento da população mundial nada mais conhecemos, e até mesmo estes números não podem
considerarse totalmente exactos. Quanto à maioria dos dados históricos, referemse apenas ao
acumular de uma população. A densidade da população (número de habitantes por quilómetro
quadrado) depende de causas de ordem geográfica (orografia, hidrografia, características
J
climáticas, etc.) e económica (desenvolvimento da agricultura, da indústria, dos meios de
comunicação, etc.). Nas regiões de florestas tropicais, a densidade de população dos caçadores
recolectores avaliase numa pessoa por cada 3 kin. Nas zonas áridas e desérticas é
consideràvelmente mais baixa (Bosquimanos: 1 pessoa ‘por cada 55 k M2 ; Australianos:
1 por cada 110 kin 2). Povos em estado natural, com sistemas primitivos de agricultura e de
criação de gado atingem densidades que vão até às 10 pessoas por quilómetro quadrado; em regiões
cuja base económica é constituída por sistemas intensivos de agricultura, a densidade é
considerávelmente superior (China 60, india 116, Corcia 127), mas encontrase sempre bastante
longe dos valores atingidos em países de economia industrial (Bélgica 291, GrãBretanha 210,
República Federal Alemã 204, Itália 167). Superpopulação e subpopulação são, portanto, conceitos
relativos que devem ser avaliados em função dos recursos
145
Demografia
económicos e naturais de dada região e do nível de vida da população.
Entre os caracteres que permitem classificar os membros de uma colectividade, os biológicamente
mais importantes são o sexo e a idade. A sua distribuição é representada gràficamente através da
chamada pirâmide das idades. Uma base larga indica um número de crianças e de jovens relevante
(autêntica forma da pirâmide), ou seja: uma população em desenvolvimento; uma base mais estreita
indica a população estabilizada; finalmente, uma base ainda mais
h,)rr,c,ns
MUIheI@C_@
800 óW 400 200 00200 400 600 800 800 ôW 400 20000200 400 600 MO
Fig. 46. Pirâmides das idades. Estrutura da DoDulação alemã l)or idade e por sexo em 1910 e em
1946 (cifras em milhares) (segundo G. Mackenroth, 1953)
reduzida, uma população que diminui (forma de sino e forma de urna). A proporção de equilíbrio
entre os dois sexos exprimese numa conformação simétrica da pirâmide. As assimetrias podem
derivar de uma elevada mortalidade provocada entre os homens pela guerra ou da falta de mulheres
em países de imigração.
Os métodos para o estudo dos movimentos da população são muito aperfeiçoados. A mais simples
medida da mortalidade é dada pelos quocientes genéricos, que expri
146
Demografia
mem a relação entre o número de óbitos num determinado período e o aumento médio da população no
período considerado; estas cifras permitem rápidos confrontos entre países diferentes. Nesta
operação não são consideradas as diferenças, mesmo quando assumem proporções de vulto, que podem
encontrarse na mortalidade dos diversos grupos no interior das populações. A citada operação
apoiase em estatísticas especiais, relativas ao sexo e à idade, nas quais o número de óbitos no
interior de um grupo de idades toma por referência mil pessoas vivas desse grupo. A mortalidade
infantil, que assume grande importância no quadro da mortalidade global, não é estabeleida a
partir de mil indivíduos vivos do primeiro ano de idade, mas a mil nadovivos no período
considerado.
Há outro método que, em vez de se ocupar da frequência dos óbitos, calcula para cada classe de
idades a probabilidade de morte, os sobreviventes de determinada classe de idade são sujeitos à
probabilidade de morte da classe seguinte, e assim sucessivamente. As tabelas de mortalidade
recolhem, numa perspectiva estatística, todas estas probabilidades de morte especificadas por
idade e sexo. As cifras referemse a certo nú mero de pessoas da mesma idade que atravessam as
diversas probabilidades de morte das classes de idade; estas, portanto, devem voltar a ser
calculadas para cada período que se considera. Estas cifras revelam o ritmo da mortalidade
através do tempo, com a passagem do grupo inicial através das diversas probabilidades de morte.
A vantagem deste método reside sobretudo no facto de a mortalidade poder ser representada como
um processo constante. A partir das tabelas de mortalidade podese, além disso, calcular a
esperança média de vida, que dá, para cada classe de idade, a totalidade dos anos de vida que
restam, dividida pelos anos dos sobreviventes.
De modo análogo a quanto já tivemos oportunidade de verificar para os óbitos, também para os
nascimentos (natalidade) a medida mais simples é dada pelos quocientes genéricos de natalidade,
os quais exprimem a relação entre o número de nascimentos num determinado período e o aumento
médio da população no período considerado. Este tenno de medida não considera a subdivisão da
população por sexo e idade. O quociente geral de fecundidade exprime
147
Demografia a relação entre o número total dos nascimentos em dado período e o número médio de
mulheres em idade fecunda (geralmente ídentificada com o período que vai dos quinze aos quarenta
e cinco anos) no referido lapso de tempo. Este termo de medida da fecundidade pode vir a
diferenciarse ulteriormente em idade, duração do matrimónio e estado civil.
Os chamados índices de reprodução constituem outra das medidas da fecundidade. Os referidos
índices consideram apenas o nascimento de fê meas, das quais sairão as mulheres fecundáveis da
geração seguinte, e constituem um termo de medida da fecundidade média das mulheres de uma
população. O índice bruto de reprodução (GRR, gross reproductive rate) calculase na hipótese de
todas as mulheres sobreviverem ao termo do seu período fecundo. O índice líquido de reprodução
(NRR, net reproductive rate) toma em consideração a efectiva eliminação das mulheres no decurso
da sua vida fecunda. Este é realmente, ao contrário do índice bruto de reprodução, termo de
medida mais específico da reprodução, porquanto indica em que percentagem o nascimento de
crianças durante um ano, em determinadas condições de fecundidade e esterilidade, substitui a
geração das mães. O valor 1 indica que existe perfeito equilíbrio entre a geração das mães e a
das filhas. Valores superiores a 1 indicam aumento da população, valores inferiores a 1
diminuição. Actualmente, o índice líquido de reprodução é a medida mais usada no estudo da
fecundidade e da reprodução de uma população. O seu cálculo, todavia, pressupõe processos
estatísticos muito complexos e índices de fecundidade e mortalidade específicos por idade e
sexo. Medida elementar para exprimir a relação entre nascimentos e óbitos pode dáIa a relaçã o
numérica dos dois acontecimentos.
A estatística das migrações não atingiu ainda desenvolvimentos comparáveis à dos movimentos
naturais da população. Estabelecese uma distinção entre migrações que ultrapassam as fronteiras
de um estado e migrações internas, no interior dessas mesmas fronteiras. O urbanismo, entre as
últimas, assume em rigor importância especial. O estudo da migração interna exige um sistema de
registo bem orga
148
Demografia
nizado, que por vezes nações evoluídas (como, por exemplo, os Estados Unidos) não possuem.
ESTADO DA POPULAÇÃO. , Em 1955, a população mundial foi avaliada em 2691 milhões de pessoas. A
comparação com estatísticas precedentes revela um acentuado aumento. Se o crescimento permanecer
constante, a população mundial, em 1980, terá atingido 3,7 biliões, no ano 2000
6,5 biliões e em 2050 cerca de 30 biliões.
A distribuição e a densidade da população mundial variam muito. Na Europa Central e Ocidental
encontramse grandes concentrações de população, pois tratase de regiões onde a densidade nunca
desce a menos de 80 indivíduos por quilómetro quadrado; o mesmo acontece na Ásia Meridional e
Oriental (a China, apesar da sua primitiva economia agrícola e da baixa industrialização, tem
uma densidade de
60 indivíduos por quilómetro quadrado; o Japão 241; a índia 116; o Paquistão 87) e na América do
Norte (EUA
21, mas nos estados orientais a densidade chega a superar os 200 habitantes por quilómetro
quadrado). Ao contrário destas regiões, existem outras escassamente habitadas, em
parte porque o clima e as condições do solo impõem limites naturais (zonas polares, alta
montanha), em parte porque o desenvolvimento económico destas regiões se encontra num estádio
primitivo.
O desenvolvimento da população até ao início da idade contemporânca só pode ser determinado
através do confronto de avaliações relativas sobre o estado da população para diversos períodos
cronológicos. O enorme aumento da população no decurso da história da humanidade não se
processou regularmente. No Paleolítico Inferior devem ter vivido sobre a Terra, no mesmo lapso
de tempo, apenas alguns milhares de homens; no Superior, no máximo, algumas centenas de
milhares. Este é também um dos motivos da extrema lentidão do desenvolvimento da civilização nos
seus inícios. No Neolítico, com o desenvolvimento da agricultura e com os primeiros povoamentos
estabilizados, verificouse uma primeira «revolução demográfica». Para a França, muito bem
estudada dos pontos de vista arqueológico e palcontológico, é possível delinear alguns dos
traços fundamentais no desenvolvimento da população; a densi
149
Demografia
Países
População (Em milhares)
Superficie (Ern kM2)
Densidade
de população
Europa (sem a URSS)
409000
4929000
83
.@lemanha
70134
353702
198
Austria
6974
83849
83
Bélgica
8868
30507
291
Bulgária
7548
111493
68
Checoslováquia
13093
127819
102
Dinamarca
4439
42936
103
Espanha
28976
503486
58
França
43274
551208
79
GrãBretanha
51215
244016
210
Grécia
7973
132562
60
Holanda
10751
32450
331
Hungria
9805
93030
105
Irlanda
2909
70283
41
Itália
48016
301226
Demografia
dade dos achados préhistóricos permite avaliar a acumulação, populacional, para o Paleolítico
Inferior, em algumas centenas de indivíduos; para o final do Paleolítico (cerca de 10 000 a.
C.), aproximadamente em 50 000. nos seis mil anos seguintes a população decuplica, verificando
se um ulterior aumento nos mil anos posteriores: no final do iii milénio a. C. a população da
França cakulase em 5 milhões de unidades (Nougier), mas julgase esta cifra um tanto exagerada.
Durante os grandes impérios e culturas da Antiguidade houve populações numèricamente exíguas. O
império dos Sumérios e mais tarde, na América, o antigo império dos Maias não ultrapassavam
meio milhão de habitantes.
O antigo Egipto sob o domínio dos últimos Faraós atingiu
7 milhões de habitantes; deste modo, o Velho Império, no período da sua ascensão criadora, não
devia dispor de mais de 1 milhão de indivíduos. No período áureo da Grécia habitavam a Hélade
cerca de 3 milhões de indivíduos, dos quais pouco menos de milhão e meio viviam no Peloponeso, e
na Grécia Central, regiões que constituíam o núcleo do espaço vital e cultural grego. Nos tempos
de Augusto, a Itália tinha uma população de 6 milhões de habitantes, já depois do considerável
aumento que se registou nos inícios da República.
Na Europa Ocidental e Central, nos tempos das invasões bárbaras, a população aumentou bastante.
Na Alta Idade Média o abandono de muitas aldeias constitui sinal de uma diminuição da população
(Abel), para a qual contribuíram fortemente as grandes epidemias. O desenvolvimento económico da
Alta Idade Média e do século xvi conduz a novo incremento da população. Em 1650 a população
europeia avaliase em cerca de 6 milhões de pessoas; a população mundial em 515 milhões. Na
Idade Moderna, até 1930, a população, europeia, apesar da forte emigraçao para alémoceano,
quintuplicou, quadruplicando a população mundial. A que cresceu mais lentamente foi a população
africana; na América e na Austrália a colonização europeia levou a um imprevisto e considerável
incremento dernográ
População e densidade populacional de diversos países em 1955 (Segundo o «Demographie Yearbook»,
1956)
151
Demografia
fico. O aumento da população, desde o início da história da humanidade, adquiriu um ritmo
notável, em conexão com o progresso da civilização.
FASES DO MOVIMENTO DA POPULAÇÃO. Prescindindo de todas as diferenças que possam apresentarse
nos casos isolados, reconhecese no movimento natural da população, como resultado dos
nascimentos e óbitos, uma sucessão típica de fases. Na época moderna esta sucessão verificouse
do modo mais evidente na Europa, onde também se encontra estatisticamente documentada da melhor
maneira, mas pode ainda observarse, com naturais desfasamentos cronológicos, em todos os outros
países onde existe um registo estatístico dos fenómenos demográficos.
Continente
1650
1750
1800
1850
1900
1920
1940
Europa Ásia África América do Norte América do Sul Oceãnia
100
300
100
7
6
2
140
450
100
6
6
2
180
575
95
15
8
2
270
730
100
39
20
2
400
920
125
106
38
6
450
1100
140
143
64
8
530
1185
153
183
89
10
515
704
875
1161
1595
1815
2150
indice de aumento anual (cada 1000
1 hab.)
3,2
4,3
5,71
6,3
6,5
8,4
Desenvolvimento demogrãfico a partir de 1650, a população
é enunciada em milhões (segundo A. Landry, 1949)
A primeira fase é assinalada por elevados quocientes de natalidade e mortalidade, com diminuto
excesso dos nascimentos, e portanto por lento incremento da população. A adaptação do aumento
populacional às possibilidades de nutrição realizase sobretudo através da mortalidade. Este
tipo de regulação demográfica, que se aplica à maior parte da história da população humana, é
também aquele que se verifica no reino animal (Lack). A mortalidade infantil é muito elevada,
chegando a atingir os 80 por cento. A mortalidade das mulheres supera largamente a dos homens,
sendo considerável a incidência dos óbitos por parto. As epídemias, ainda incontroladas, causam
numerosas vítimas; antes do desenvolvimento da rede de comunicações
152
Demografia mundiais, as carestias após más colheitas ou outras catástrofes naturais
representavam o meio drástico para restabelecer o equilíbrio entre o aumento da população e os
meios de subsistência. Calculase assim que nos anos da grande epidemia de peste de 134849 um
terço da população europeia tenha sido dizimado; na Irlanda, em 184547, após a perda da
colheita de batatas, houve de 800 000 a
1 milhão de mortos, pelo menos 10 por cento da população total; na índia, em 191819, aos efeitos
da carestia agregaramse os das epidemias, e o resultado foi a morte de 15 por cento da
população. Em conformidade com o que acabámos de descrever, o tempo médio provável de vida, na i
fase, é baixo. Em 1940, na índia, era de cerca de vinte e sete anos; na Hungria, no século xi,
não superava trinta e um anos. Nesta fase, os indivíduos reúnemse frequentemente em agregados
«isolados» relativamente fechados, para os quais são limitados os cruzamentos com indivíduos de
outros grupos. Predomina a endogamia e, por vezes, mesmo o incesto. Entre os meios para combater
a fecundidade natural usamse o aborto e o infanticídio, ao passo que os métodos
anticoncepcionais têm ainda escassa importância. No interior da população, frequência dos
matrimónios e idade dos nubentes estão relacionados com o nível económicosocial dos vários
estratos; nos grupos sociais de parcos recursos só muito tarde se consegue constituir família.
Onde exista uma reprodução socialmente diferenciada verificase também a tendência para um
incremento mais forte nas camadas sociais superiores. A ii fase é caracterizada por um
abaixamento dos índices de mortalidade em consequência do desenvolvimento da medicina e da
higiene, e sobretudo do desaparecimento das grandes epidemias (o último grande surto epidémico
da peste na Europa registouse em 170911) e do melhoramento da higiene dos recémnascidos. Os
índices de natalidade diminuem menos, ou não diminuem, ou até por vezes aumentam em consequência
do incremento das classes de idades em período fecundo. Os índices de natalidade e de
mortalidade começam a divergir e temse um crescente excesso de nascimentos. Esta fase é por
isso caracterizada por grande aumento populacional. O seu início, na Europa, deve localizarse
mais ou menos no princípio do século xix, e o
153
Demografia
resultado foi uma tão imprevista quão considerável intensificação do desenvolvimento
populacional. Com o aumento da densidade da população começa a diminuir o isolamento entre os
vários grupos, os quais se misturam livremente em grau cada vez maior. Entre outros factos,
observase uma diminuição dos matrimónios consanguíneos, devida ao alargamento dos círculos
matrimoniais.
O equilíbrio entre aumento da população e meios de subsistência realizase mediante um
fortalecimento dos meios de alimentação intensificaçã o da agricultura, urbanização e
industrialização e através das migrações. Assim, em
1801, numa população total de 3,7 milhões, a França possuía 253 cidades com mais de 5000
habitantes ( = 13,6 por cento de toda a população); em 1901 tinha já 648 para uma população de
14,4 milhões (= 37 por cento da população total do país). Nos Estados Unidos, em 1790, a
população dos campos (isto é, dos centros com menos de
2000 habitantes) constituía 94 por cento da população total; em 1840, 88 por cento; 1910, 54 por
cento; e finalmente em 1940, 44 por cento. Na Alemanha a percentagem da população que vive em
comunidades com menos de 2000 habitantes passou, entre 1871 e 1939, de 63 a 30 por cento (em 1910
representava 44 por cento). Além disso, no século xix, cerca de 40 milhões de Europeus trocaram
o continente natal pelos países de alémo.eano (cerca de
20 milhões emigrados nos Estados Unidos).
Onde se verifiquem diferenças sociais será de esperar, com o aumento da população, um maior
crescimento das classes sociais mais elevadas, que em todos os tempos são aquelas que apresentam
os mais baixos índices de mortalidade e mais se aproveitam dos progressos médicos e higiénicos.
Estas diferenças, porém, são parcialmente compensadas pelo facto de a idade do matrimónio, na
nova sociedade industrial, se encontrar frequentemente ligada ao ingresso na vida profissional,
estabelecendose uma relação inversa entre posição social e idade matrimonial; com efeito,
quanto mais inculto é um grupo social tanto mais baixa será nele a idade média em que se contrai
matrimónio. A mais rápida sucessão das gerações compensa as mais desfavoráveis condições de
mortalidade. Com o aumento da população urbana, as diferenças entre cidade e
154
Demografia
Períodos
Número total dos adultos
Idades de morte (Percentagem)
Esperança média
de vida
Autor
2040
4060
Além dor
60
Paleolítico, In
H. V. Vallois
ferior
89,9
11,1
1937
Paleolítico Su
perior
67
82,1
17,9
Neolítico, Chi
pre (Khiroki
G. Kurth,
tia)
97
78,4
21,6
21
1958
Neolítico, Silé
Demografia
campo, na reprodução, tornamse significativas, porquanto as populações urbanas apresentam menor
incremento do que as camponesas.
Segundo as investigações da paleodemografia, a mortalidade apresenta, na história da humanidade,
uma progressiva tendência para diminuir. No Paleolítico poucas unidades superavam os cinquenta
anos. No Neolítico e na Idade do Bronze pode dizerse que os óbitos se verificavam em idades
relativamente mais avançadas, sendo possível demonstrar que certo número de indivíduos
ultrapassou os sessenta anos. Nas épocas seguintes, o número de indivíduos com mais de sessenta
anos continuou a aumentar, embora irregularmente e com diferenças consideráveis nas várias
regiões. Nas populações da Alta Idade do Ferro, na Suécia, e da Alta Idade Média, na Hungria,
das quais foi possível conhecer'a mortalidade infantil, viuse que esta não supera
essencialmente a da i fase da Época Moderna europeia. Na maioria das populações préhistóricas,
a mortalidade feminina ultrapassava a masculina. O fenómeno humano, pelo qual a duração média da
vida ultrapassa largamente o período fecundo, constitui um resultado do progresso da
civilização.
Na iii fase, além dos índices de mortalidade, diminuem também os de natalidade. Como na i fase,
o aumento da população é muito baixo e, em alguns casos, chega a verificarse uma regressão. Na
ii fase conseguirase controlar a mortalidade; o mesmo acontece agora com a natalidade: impõem
se a planificação da família e a racionalização da reprodução. A regulação processase através
de uma rápida difusão dos métodos anticoncepcionais, em vez de recorrer aos processos primitivos
do aborto e do infanticídio. O grau, mais ou menos elevado, de fecundidade é agora quase
completamente dissimulado por um mecanismo de controle dos nascimentos enraizado na vida social
e nos fenómenos de ordem cultural.
Os movimentos da natalidade e da mortalidade influenciamse reciprocamente de várias maneiras. A
racionalização da produção é imposta pela diminuição da mortalidade, que conduziria ao rápido
aumento da população e, portanto, a graves problemas económicos. A menor mortalidade infantil
permite atingir, com um número de nascimentos
156
Demografia
muito baixo, o desejado tamanho da família. O progressivo aumento da vida média faz diminuir os
índices de natalidade, e isso porque se verifica um aumento da s percentagens das classes de
idade mais elevadas, que só participam na reprodução em medida limitada. Por outro lado, o menor
número de nascimentos e o maior intervalo entre os partos influem sobre a mortalidade num
sentido favorável. Isto vale sobretudo para a mortalidade infantil, a qual, nos países mais
desenvolvidos, desce até aos 3 por cento (Sué
1700 )à 20 30 40 50 60 70 80 90 1800 10 20 30 40 50 60 70 80 90 19W 10 20 30 40 50
Fig. 47. As fases do desenvolvimento demográfico. Indices de natalidade (linha tracejada) e de
mortalidade (linha contínua) na Ingiaterra e no Pais de Gales de 1700 e 1949. A Partir de
1730 os índices de mortalidade decrescem, enquanto os de natalidade permanecem aproximadamente
constantes UI fase do desenvolvimento demográfico); a partir de 1880, os índices de natalidade
diminuem mais acentuadamente do que os de mortalidade (III fase do desenvolvimento demográfico)
(segundo
G. Mackenroth, 1953)
cia 2,3 por cento; Nova Zelândia, Brancos, 2,2; Austrália
2,8; Holanda 2,9), aproximandose assim dos limites da mortalidade endógena causada por
deficiências hereditárias e constitucionais, avaliada em cerca de 2 por cento. Além disso, ao
passo que a mortalidade feminina era anteriormente superior à masculina, sobretudo nos anos de
fecundidade, é agora inferior em quase todas as classes de idade. Após o aumento da vida média,
cresce, na população total, a percentagem das classes de idade superiores; este fenómeno cria
novos problemas económicos e sociais que conduzem à formação de um novo ramo da biologia humana:
a gerontologia. A probabilidade de morte apresenta um máximo
157
Demografia
relativo em correspondência com a mortalidade infantil, registandose, portanto, uma descida
abrupta até aos valores baixíssimos dos anos compreendidos entre os cinco e os trinta e cinco;
até aos cinquenta anos observase uma subida lenta, a qual se torna mais rápida após esta
idade.
Na iii fase invertemse definitivamente os termos da relação entre hierarquia social e
natalidade: a desejada limitação do número de filhos, assim como a diminuição da mortalidade,
irrompe nas camadas sociais superiores, as quais, por isso mesmo, e apesar de uma situação de
mortalidade largamente mais favorável, atingem índices de reprodução inferiores aos dos estratos
médios, que só mais tarde adoptam os métodos da planificação familiar. As cidades, sobretudo as
grandes, encontramse na vanguarda no que se refere à limitação de nascimentos, de modo que as
diferenças entre cidade e campo no plano da reprodução acentuamse ainda mais. A diminuição de
nascimentos encontrase estreitamente relacionada com a elevada mobilidade social que se observa
nas so.,iedades altamente industrializadas, nas quais as famílias pequenas são favorecidas na
ascensão social. As diferenças sociais de fecundidade acabam por tombar quando a limitação dos
nascimentos também se impõe no vasto estrato médio. A camada dos operários não especializados,
neste fenómeno de mobilidade social, abastecese constantemente de vagas migratórias oriundas de
regiões ou países menos desenvolvidos.
Reconhecemse, na Europa Ocidental, os primeiros sintomas de uma iv fase. A regressão da
mortalidade, mediante o prolongamento da vida, não atingiu ainda completamente os limites
naturais possíveis, mas procede agora de maneira consideràvelmente lenta. No quadro da
populaçáo, com o aumento das classes de idade superiores, vem a registarse um aumento dos
índices genéricos de mortalidade. Além disso, quando em todos os estratos da população se impôs
uma completa racionalização da reprodução, acaba por restabelecerse uma relação funcional entre
ção social e tamanho da família; permanecem, contudo, as diferenças sociais na idade
matrimonial, o que ocasiona duração mais curta das gerações nas camadas menos evoluídas. Com o
completo desenvolvimento da economia industrial, o impulso para a ascensão social tomase mais
158
Deniografia
débil, elevandose o nível de vida em todas as classes sociais. Como consequência disto, temse
novo aumento dos índices de natalidade, que todavia nunca atingem os altos valores
característicos das fases i e ii.
Número de habitantes menos de 2000
510000
25 50000
FASES DO DESENVOLVIMENTO DEMOGRÃFICO E POPULAÇÃO MUNDIAL. Os vários povos e países da Terra
encontramse actualmente em diversas fases do processo de desenvolvimento demográfico. Estas
diferenças estão, em grande parte, relacionadas cem o «grau de maturidade industria 1» (Heberle)
e a curopeização, das formas ...... 2 5000
de vida (Mackenroth). 150
Pode dizerse que a par mais de tir do momento em que
100000
a estatística demográfica se encontra em condições de fornecer dados de algum modo dignos de
crédito, o desenvolvimento da so civilização atingiu já tal 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Fig. 48 Diferenças sociais na grau de maturidade que reprodução. Número médio de
pode agir positivamente crianças por cada 100 contri
buintes, divididos em dez classes sobre a diminuição dos de censos, em comunidades ale
à de diversa grandeza no ano índices de mortalidade. m s1.2.. No campo (centros lia
de índices de mortalidade re bitados Por populações inferiores
a 2000 Pessoas), o número de lativamente altos encon crianças, com o aumento do ren
dimento, diminui ainda em métramse actualmente so dia acontecendo o inverso nos
bretudo em muitos países gru pos de censo mais elevado;
o número de filhos aumenta com das Américas Central e o rendimento nas grandes cidado Sul
(Guatemala, Hon des (dados coligidos Por F. Burg
dõrfer, 1935)
duras, São Salvador, Bolívia, Colômbia, Equador); a pouca distância seguese a índia, segundo
dados oficiais que, porém, não são totalmente dignos de crédito, quer no que diz respeito aos
índices de natalidade, quer no, que se refere aos de mortalidade (Davies).
Na i fase exíguo aumento da população, com elevados índices de mortalidade deveria encontrar
se a
159
Demografia
maioria das populações acerca das quais não se dispõe de dados demográficos. Nos «povos em
estado natural», porém, os índices de natalidade nunca são tão elevados como nos povos europeus
antes da era industrial. O aborto parece ser universalmente conhecido, e praticado, muitas vezes
em larga medida, pelos próprios primitivos. A fecundidade fisiológica nos povos civilizados é
também, ao que se julga, superior à dos povos «em estado natural» (CarrSaunders): com efeito,
privações e cansaço influem não, só sobre a mortalidade, mas também sobre a fecundidade. Assim,
no que à África Negra diz respeito, temos notícia de índices de natalidade predominantemente
baixos, para os quais contribuiriam a esterilidade das mulheres causada pelo excesso de
trabalho, as práticas abortivas e a senilidade precoce. No reino animal, as oscilações na
fecundidade também contribuem, embora em pequena medida, para adaptar o aumento da população aos
meios de subsistência (Lack). Nos países coloniais europeus os indígenas man
têmse na primeira fase durante muito mais tempo do que os Brancos (União da África do Sul, por
exemplo; mas também Nova Zelândia e Estados Unidos). Na maioria dos povos em estado natural o
primeiro contacto com os Europeus teve como efeito acentuada diminuição populacional. Para este
fenómeno contribuíram não só a mortalidade elevada através da introdução de doenças, do
extermínio de populações por parte dos Brancos e ainda das coacções que obrigavam os nativos a
deslocarse para regiões pobres de recursos e de meios de subsistência , mas também uma
diminuição dos índices de natalidade, causada, entre outras coisas, pela difusão de doenças
venéreas, pelo engajamento dos homens para trabalhos longe da sua terra natal, e ainda por
depressões psíquicas ligadas à dissolução das organizações tribais e dos sistemas de valores
ètnicamente fundamentados. Deste modo extinguiramse alguns pequenos grupos de primitivos
(Tasmânidas e tribos indígenas da América e da Melanésia); outros superaram a crise de adaptação
e a sua população tornouse estável, chegando mesmo a adquirir certo ritmo de aumento,
favorecido pelos progressos da civilização introduzidos pelos Europeus, que tornaram possível,
entre outras coisas, uma diminuição dos
160
Demografia
Países
índices
de natalidade
índices
de mortalidade
Excesso dos nasci
mentos sobre as mortes
1) índices de natalidade e mortalidade elevados
Guatemala
48,8
20,6
28,2
Honduras
43,1
11,4
31,7
União da África do Sul,
48,1
17,5
30,6
população de cor
Egipto (1953)
40,O
18,4
21,6
Bírmânia
36,4
20,7
15,7
índia
(25,8)
(13,1)
(12,7)
11) índices de natalidade elevados com índices de mortali
dade baixos
São Salvador
47,9
14,2
33,7
Venezuela
47,O
10,2
36,8
México
46,2
13,3
32,9
China
45,3
(8,6)
(36,7)
Nova Zelândia, Maoris
44,4
97
34,7
República Dominicana
43,6
9:5
34,1
Costa Rica
40,3
10,5
29,8
Dernografia
índices de mortalidade, Isto vale nomeadamente para os numerosos grupos de Melanésios, para os
Maoris da Nova Zelândia e para os índios dos Estados Unidos.
Na ii fase diminuição da mortalidade, com índices de natalidade elevados encontramse muitas
populações indígenas da América Latina; os países islâmicos da Ásia Menor e da África do Norte;
parte da Ásia do Sudeste e da China. Nos países da América Latina o desenvolvimento foi
estimulado pela população branca, a qual, como nos países coloniais, se encontra numa fase
superior do desenvolvimento demográfico. A parte indígena da popu lação, porém, também
participou do progresso da civilização, entrando assim na fase da diminuição da mortalidade. Os
governos coloniais europeus também na Ásia do Sudeste haviam melhorado as condições de vida,
combatido com sucesso as epidemias, intensificado a agricultura e os serviços sanitários,
reduzindo assim os índices de mortalidade. Particularmente importante como centro de
desenvolvimento, com os seus mais de 50 milhões de habitantes, firmemente agarrados à terra onde
vivem graças à cultura do arroz, é Java, e o mesmo se poderá dizer das Filipinas. Nos países
islâmicos verificamse índices de natalidade bastante elevados, os quais, no entanto, só
parcialmente se devem a fontes oficiais. Onde os dados dernográficos se encontram subdivididos
em comunidades religiosas, os muçulmanos apresentam os índices de natalidade mais altos (Egipto,
1934: muçulmanos 43, cristãos 34, judeus 21). Muitos destes países encontramse já num período
de rápido desenvolvimento económico, que favorece a tendência para uma diminuição da
mortalidade. O estado de Israel apresenta, por causa da constante imigração de colonos jovens,
índices de mortalidade particularmente baixos, mas diferenças de fecundidade muito grandes entre
os vários grupos de origem; essas diferenças reflectem a diversa situação demográfica dos países
de origem.
A China representa o maior bloco populacional subdesenvolvido. Os índices de mortalidade
oficiais, porém, são incrivelmente baixos devido a um registo incompleto e devem, por isso, ser
aceites com reserva, como os da índia. Os índices de natalidade muito elevados, todavia, estão
162
Demografia
certos, resultando, do confronto de diversos censos, um acentuado aumento populacional. O censo
de 1962 registava 650 milhões de indivíduos, enquanto o de 1950 avaliara a população total em
450500 milhões. A partir de
1872, uma forte emigração chinesa colonizou a Manchúria, e em todo o Sudeste asiático se
encontram trabalhadores e comerciantes chineses.
A maioria dos países europeus ou habitados por Europeus, compreendida a URSS, encontrase na iii
fase, com índices de natalidade em diminuição e quocientes de mortalidade baixos, amplamente
estabilizados. Contudo, existem na Europa diferenças sensíveis entre Oriente e Ocidente, entre
Norte e Sul. Os mais elevados índices de natalidade encontramse na Polónia e na Rússia; nos
países da Europa Meridional e no Sudeste europeu, os quocientes de natalidade são mais elevados
do que os da Europa do Norte e do Noroeste. Também aqui é manifesta a relação com o grau de
maturidade industrial e com o nível de vida da população. Nos países de alémoceano colonizados
por Europeus os índices de natalidade e o excesso de nascimentos são acentuadamente superiores à
média dos países de origem: os dados, todavia, englobam também a população indígena. Entre os
países nãoeuropeus, o Japão, altamente industrializado, alcançou já há algum tempo,
precisamente entre as duas guerras mundiais, a fase da diminuição dos índices de natalidade,
alinhando hoje, quanto a valores demográficos, com os países europeus. As nações da Europa
Central e de Noroeste são as representantes da iv fase. O índice líquido de reprodução chegou
por vezes a ser inferior à unidade, mas transpôla a partir do decênio
193040.
A relação existente entre fenómenos demográficos e nível económico deixa prever que também os
países subdesenvolvidas, actualmente nas i e ii fases, passarão mais tarde ou mais cedo à iii.
Sinais mais ou menos claros de uma diminuição dos índices de natalidade podem já observarse na
maioria destes países. Quanto mais tarde uma população entra nesta fase tanto mais veloz costuma
ser o ritmo de desenvolvimento e tanto mais rápida, portanto, é a queda da curva de natalidade.
O nivelamento dos diver
163
Demografia
sGs graus de civilização, actualmente em curso nos vários países da Terra, deixa prever também a
obtenção de certa uniformidade no crescimento demográfico natural, e com isso uma relativa
estabilização da situação demográfica.
Países
índices de natalidade
Distância em anos
Cerca de 30 por cento
Cerca de 20 por cento
França Suíça Suécia Inglaterra Itália Alemanha Hungria
1830
1880
1884
1895
1923
1910
1922
1908
1922
1921
1922
1941
1926
1936
78
42
37
27
18
16
14
Ritmo de desenvolvimento e queda da curva de natalidade (segundo G. Mackenroth, 1953)
POLITICA DEMOGRÃFICA. Numerosas medidas políticas influem directa ou indirectamente sobre a
população; todas as providências que visam a modificação do nível de vida, a situação higiénica
e a assistência médica exercem alguma influência sobre a mortalidade. Pressões políticas e
crises económicas favorecem a emigração, ao passo que um rápida desenvolvimento económico pode
estimular a imigração. A legislação matrimonial e familiar faz parte dos factores que deten
ninam a idade matrimonial, a frequência dos matrimónios e dos divórcios e ainda, por
consequência, a fecundidade conjugal. As medidas ‘de política demográfica dizem respeito
principalmente aos nascimentos e à emi~ gração. Muitos países europeus, e também cert,.s nações
de alémoceano colonizadas por Europeus, praticam uma política demográfica positiva quando os
índices de reprodução se aproximam de 1 ou chegam mesmo a ser inferíores à unidade. Esta
política concretizase primacialmente através da concessão de auxílios às famílias numerosas,
quer mediante donativos directos (assistência à infância), quer indirectamente, pela redução dos
impostos e outras facilidades. Este sistema conheceu a sua aplicação máxima em França com o Code
de Famille de 1939. Na Alemanha, o regime nacional so.i alista promulgou, a partir de 1933,
algumas disposições tendentes a favorecer económicamente
164
Demografia
as famílias numerosas e, simultâncamente, a prestigiálas com prêmios e medalhas. De 41
constituições adoptadas ou
modificadas por várias nações após a segunda guerra mundial, 35 contêm disposições destinadas a
proteger e favorecer a família, a maternidade, etc. (cf. H. T. Eldridge,
1954).
De resto, existem já desde a Antiguidade clássica me
didas políticas que favorecem os nascimentos. O imperador Augusto (27 a. CA4 d. C.) encorajou a
lex Papia Poppaea
Fig. 49. Influência das medidas de política demogrãfica sobre o ritmo de nascimentos. índices de
natalidade na Alemanha, França e Inglaterra no _1)e@íodo 190152: acentuada subida na Alemanha
aDós 1933 na Franca depois de 1940: contudo, também em Inglaterra,'deuois de 1940 se verificou
um aumento sem que fossem tomadas corrcspor@dentes medidas de política
demográfica (segundo «Population», 1953)
nuptidis, que sobrecarregava de impostos os celibatários, os casais sem filhos e até os viúvos,
chegando mesmo a limitar as suas possibilidades de herdar, concedeu prémios a cidadãos pobres
com prole, louvou pÚblicamente as famílias numerosas e criou insígnias honoríficas para as mães.
Sob o domínio dos imperadores seguintes instituíramse subsídios à infância e a favor dos
cidadãos de parcos
165
Demografia
recursos econômicos. O êxito dessas medidas é contestável, pois as leis de Augusto não
conseguiram deter o movimento regressivo na população italiana. Após a promulgação das leis já
citadas, os índices de natalidade, na França e na Alemanha, subiram consideràvelmente, o que
também veio a acontecer, se bem que em menor medida, em países sem legislação directa de
política demográfica. Quanto à planificaçâo das famílias, segurança económica e social,
constituem indubitàvelmente factores importantes, embora não exclusivos, entre os que determinam
a grandeza dos núcleos familiares. A política demográfíca tendente à limitação dos nascimentos
mediante a difusão da planificação da família e dos métodos anticoncepcionais obteve, no Japão e
na índia, resultados dispares. No Japão, onde já antes da segunda guerra mundial os índices de
natalidade tinham começado a diminuir e a ideia da planificação familiar podia integrarse em
antiquíssimas tradições, esta política obteve maior sucesso do que na índia, país num estádio
inferior de desenvolvimento. Na China e noutros países subdesenvolvidos existem os mesmos
problemas, sem que até à data se tenham tirado quaisquer conclusões no plano da política
dernográfica: todo o auxílio económico que eleve o nível de vida e faça diminuir a mortalidade
permanecerá ilusório enquanto não diminuírem os índices de natalidade e a população não atingir
um estado de equilíbrio adaptado às possibilidades económicas (Balandier, Thompson). As
populações cujo ritmo rápido de crescimento não é igual ao da angariação de meios de
subsistência adequados estão expostas a catástrofes e constituem focos de desordem. Por isso
mesmo, a política demográfica é um sector essencial de toda a política mundial. Assim, as Nações
Unidas lhe dedicaram desde o início toda a atenção, tanto nas secções dedicadas ao estudo dos
problemas sociais e económicos, como nos serviços estatísticos e na organização mundial de saúde
(World Health Organization, WHO).
A política de emigração tende também progressivamente para uma regulação à escala internacional.
Na maior parte dos países, a emigração não está sujeita a qualquer espécie de limitação ou,
quando muito, a restrições mínimas; ao invés, práticamente todos os países possuem leis de
imigra
166
Fisiologia das raças
ção que limitam o número dos imigrados e excluem algumas categorias de pessoas, sobretudo
doentes, criminosos e ineptos para o trabalho. As grandes migrações que se seguiram à segunda
guerra mundial reduziram as tendências para as regulamentações; no pósguerra, a Organizaçã o
Internacional de Refugiados (desde 1945) e o AltoComissário de Refugiados das Nações Unidas
(Office of the United Nations, High Commissioner for Refugees,
1950), ocuparamse do problema do repovoamento, ligado, em grau variável, aos novos movimentos
internacionais de migração. Se percorrermos a história demográfica encon
traremos numerosas medidas de política da migração: repovoamento ou evacuação contribuíram
muitas vezes para a pacificação de países conquistados (exílio babilónico dos Hebreus, política
de repovoamento dos Assírios, dos Incas, dos imperadores chineses; deportação dos Vândalos após
a vitória de Belisário, em 533, etc.); as colónias estrangeiras contribuíram muitas vezes para
dilatar o poderio económico ou militar das nações (Germanos no império romano; medidas de
povoamento da época mercantilista: Huguenotes no Brandeburgo, Salisburgueses na Prússia
Oriental, etc.). A política da emigração, cooperando na instalação de populações desenraizadas e
contribuindo para o equilíbrio entre países sub e superpovoados, constitui também importante
sector da política mundial.
Fisiologia das raças A tipologia e a sistemática raciais baseiamse principalmente sobre
características morfológicas e de cor, que fácil e exactamente se determinam à primeira vista e
são relativamente estáveis quanto ao meio. Mas, além dessas, mesmo a etnografia antiga já
observava também as diferenças rácicas fisiológicas e psicológicas, se bem que de modo muito
vago e especulativo, ou então apenas relacionadas com as condições climatéricas (Kant: raças de
climas frios, húmidos e secos; de climas quentes, húmidos e secos). Para a maioria das
características fisiológicas, a principal dificuldade reside na prova da hereditariedade, que é
condição prévia para a consideração das diferenças rácicas e para a eliminação dos numerosos
factores que podem produzir modificações (ali
167
Fisiologia das raças mentação e esforço físico, estado de saúde, tipo de profissão5período do
dia e dG ano, clima, etc.).
Além disso o mais importante material de que a investigação dispõe é o que respeita às
características serológicas. Não se trata, porém, própriamente de características fisiológicas,
mas sim de características estruturais da proteína do sangue, que podem ser provadas com métodos
fisiológicos. As características em questão são fortemente hereditárias (> Genética humana),
de determinação rigorosa e por vezes fácil e apresentam frequentes diferenças regionais
notáveis; representam, portanto, boas características raciais (> Conceito de raça).
SISTEMA HEMOAGLUTINATIVO ABO. A mais elevada percentagem dos genes do grupo sanguíneo A
encontrase, por um lado, nos indígenas australianos C. por outro, entre algumas tribos nativas
do Noroeste da América; deste último centro de genes, a percentagem desce rápidamente para
leste, principalmente para sul: na América Central e Meridional observamse percentagens
mínimas (inferiores a 5 por cento). O Velho Mundo situase em posição intermédia entre os
valores extremos. Na Europa o valor máximo encontrase entre os Lapões do, Norte da Escandinávia
e o mínimo na região dos Bascos (Norte de Espanha), no extremo Noroeste (Islândia, Irlanda,
Escócia) e em algumas regiões mediterrâneas (Sicília, Sardenha, Grécia). O grupo sanguíneo B
apresenta a sua maior frequência na Ásia Central e Oriental, incluindo a Indochina, parte da
Indonésia e a parte oriental da ilha de Madagáscar, de população malaia. A partir do centro da
Ásia as percentagens diminuem em todas as direcções: em toda a América, assim como na Austrália
e na Polinésia, encontramse valores tão diminutos que se supõe que originàriamente houvesse aí
ausência total do grupo B. Na Europa a percentagem baixa de oriente para ocidente: os valores
mais baixos encontramse, no entanto, na costa ocidental da Península Ibérica, mas também de
ambos os lados dos Pirenéus. (Bascos) e entre os Lapões da Escandinávia. De modo geral, os
valores encontrados na África Negra são mais elevados do que os da África do Norte, colonizada
pelos Europóides. Valores particularmente altos do
168
Fisiologia das raças
169
Fisiolo.gia das raças
gene do grupo sanguíneo O encontramse entre os índios americanos em todo o Novo Continente e
também entre as múmias índias das Américas do Norte e do Sul (Peru, Basketinakers e Pueblo do
Arizona e do Novo México). Na Europa as frequências decrescem a Noroeste (Islândia, Irlanda,
Escócia), na região dos Bascos, assim como nalgumas zonas mediterrâneas, principalmente na
Sardenha); nas múmias egípcias o grupo O também prepondera nitidamente (mais de 75 por cento).
SISTEMA HEMOAGLUTINATIVO MN. As maiores frequências do gene M (9095 por cento) registamse na
América Central e nas regiões confinantes da América do Sul e do Norte; quase todo o, resto da
América, incluindo a Gronelândia, tem uma frequência mais alta do que qualquer outra parte do
mundo. Os valores mínimos do gene M encontramse na Austrália e na Melanésia (menos de 30 por
cento). No Velho Mundo uma zona de valores relativamente elevados (6570 por cento) inclui a
Europa Oriental, a Ásia Ocidental e Meridional, compreendida a Arábia, a índia e a Indochina,
com a Indonésia e o Nordeste da África.
SISTEMA HEMOAGLUTINATIVO Rli. O gene C apresenta a máxima frequência nalgumas zonas da Oceânia
(Nova Guiné, Filipinas, mais de 90 por cento), com valores compreendidos entre 70 e 90 por cento
na Austrália, Indonésia e no Sudeste e oriente da Ásia. É na África Negra que o gene C mais
escasseia. Na Europa o gene C tem a sua máxima difusão nas regiões escandinavas habitadas pelos
Lapões e uma zona de valores relativamente elevados encontrase numa faixa de terra que de este
se prolonga até às regiões mediterrâneas. O gene E repartese pelas Américas, com as maiores
frequências (geralmente mais de
20 por cento e em parte superior a 50 por cento) do que no resto do mundo. A maior parte da
África, da Arábia e da índia apresenta valores baixos (inferiores a 10 por cento). Na Europa a
frequência aumenta, no conjunto, do sul para norte. O gene D apresenta na Europa valores máximos
(superiores a 75 por cento) no Norte da Escandinávia e um novo máximo no Mediterrâneo Centro
Orien
170
Fisiologia das raças
tal (Grécia, Turquia, Itália Meridional e Sardenha) enquanto no Noroeste da Europa e na maior
parte da Europa Setentrional são escassos (menos de 60 por cento); o valor mínimo encontrase na
região basca.
OUTROS GRUPOS SANGUíNEos. As diferenças regionais de frequência dos grupos sanguíneos são
conhecidas por investigações de provas parciais, faltando porém quadros globais. Assim, o
sistema luterano Lua falta por completo no Sul da índia, nos indígenas australianos, nos
Bosquímanos c nos Negritos da Melanésia (Semangueses); a frequência do gene varia noutros casos
frequentemente entre 2 e 5 por cento. O sistema Kelle K não foi até agora encontrado em
Chineses, Malaios e Esquimós e nalgumas tribos indianas da América Setentrional; é também raro
(com valores à volta de 1 por cento) nos Negróides, dos quais se destacam nitidamente os
Bosquímanos com um valor relativamente alto, superior a 5 por cento. O sistema Lewis Le (a + ) é
raro, chegando a ser de O por cento em índios americanos e no Sudeste da Ásia; na Europa, pelo
contrário, os valores oscilam por vezes entre 18 e 25 por cento.
O sistema Duffy Fya também é raro (com valores que oscilam à volta de 10 por cento) nos
Negróides e nos Bosquímanos; valores muito elevados (quase 90 por cento) são encontrados por
vezes na Ásia Meridional e Oriental (índia, China e Japão), nos Lapões e em numerosas tribos de
í ndios americanos. A Europa apresenta frequentemente valores que atingem cerca de 40 por cento.
O sistema Kidd
7k1 é frequente nos Negróides (superior a 70 por cento) e raro nos Chineses (31 por cento); os
grupos europeus ocupam posição intermédia. O sistema Diega Dill surge frequentemente entre os
índios americanos e com menos preponderância nos Mongolóides asiáticos, ao passo que falta na
Europa e na África.
Os quadros da distribuição geográfica dos diversos grupos sanguíneos não correspondem às
fronteiras morfológicotipológicas das raças, antes se cruzam muitas vezes. Todavia pode
afirmarse que existem populações e áreas que se identificam através de combinações especiais de
características sanguíneas. Deste modo, os indígenas australianos apresentam valores muito
baixos de B e M e
171
Fisiologia das raças
172
Fisiologia das raças
valores extremos de C; os Bascos valores extremamente baixos de D, assim como muitas vezes de B
inferior e frequência de O superior àqueles que são verificados nas
regiões circunvizinhas; os Ameríndios revelam pouco B e valores extremos de M e de E.
Distinguemse de maneira considerável das populações da Ásia Oriental e Setentrional (altos
valores de B e baixos valores de M), de onde devem ter emigrado para a América. A serologia
racial põe assim à genética racial e à história das raças novos problemas, relativos quer ao
parentesco das raças, quer à origem e à difusão das características serológicas. Também já se
tentaram fazer classificações de raças exclusivamente baseadas em características sanguíneas.
(Ottenstein, Wiener, Boyd) das quais resultaram classificações em grandes grupos, tal como a
etnografia morfológicotipológica, (Boyd: 1. Grupo antigo europeu hipotético; 2. Europeu;
3. Africano Negróide; 4. Asiático =Mongolóide; 5. Americano; 6. Austrálida) para a qual não
conseguiu atingir qualquer sistema aceitável a tentativa de uma subclassificação em mais
características serológicas.
Segundo estudos mais recentes, a distribuição dos grupos sanguíneos está sujeita a processos de
selecção (conexão com doenças infecciosas, incompatibilidade mãefilho) e as fortes oscilações
inerentes não podem constituir auxílio para uma reduzida classificação das raças.
DOENÇAS DO SANGUE. Também há uma série de caracteres patológicos hereditários que apresenta
grandes variações rácicas e regionais. A doença do sangue que mais pormenorizadamente se
investigou com este fim é a anemia drepanocítica (Neel e outros), uma doença de sangue
recessiva, a maior parte das vezes mortal; os heterozigotos apresentam também a deformação
característica dos glóbulos vennelhos do sangue (que assumem a forma falciforme em meios pobres
de oxigénio, mas não a forma grave de anemia. O gene da drepanocitemia foi encontrado na América
quase exclusivamente em negros, numa percentagem média de 9 por cento, ao passo que nos Brancos
não foi pràticamente encontrado; nos Negróides africanos a frequência oscila entre O por cento
(Dinca, ShilIuk e outros) até mais de 40 por cento (Amba e outras tribos de língua
173
Fisiologia das raças
bantu do Uganda, etc.), enquanto o gene falta completamente entre as populações brancas da
África, como igualmente entre os Bosquímanos e Pigmeus. Um outro centro génico foi encontrado na
india Meridional, onde a percentagem dos heterozigotos nalgumas tribos (Paniyan, írula)
ultrapassa 30 por cento. Não se trata, portanto, como se supôs a princípio, de uma
característica exclusivamente negróide. Pequenos focos e casos isolados foram observados em
países mediterrâneos (mormente na Grécia
e na Sicília).
A frequência, que de resto apresenta fortes oscilações, do gene da drepanocitemia nos Negróides
africanos está
Fig. 52. Sistema Rh. Distribuição do gene D na Europa (segundo
A. E. Mourant, 1954)
relacionada com a difusão da malária (Allison): este gene constitui uma protecção contra a
malária como já experimentalmente se pôde verificar. Nas regiões onde a malária tem carácter
endémico a percentagem dos heterozigotos é geralmente elevada, ao passo que é reduzida nas
regiões onde não existe a malária. Também a menor frequência do gene nos Negros americanos pode
ser explicada pelo facto de a sua transplantação para regiões isentas de malá
174
Fisiologia das raças
ria endémica ter suprimido a vantagem selectiva dos portadores dos genes heterozigóticos,.de
modo que a sua percentagem baixou a favor dos indivíduos não afactados pelo gene da
drepanocitemia (homozigotos dominantes).
A talassemia (anemia ou morbo de Cooley) aparece principalmente nos países mediterrâneos e foi
propagada nos Estados Unidos pelos imigrantes italianos. Os heterozigotos apresentam uma forma
mais acentuada em relação aos homozigotos. Na Itália a percentagem varia de O a 10,3; as maiores
frequências de heterozigotos encontram~se na zona compreendida entre Rovigo, Ferrara e Ravena, e
também a Sicília, Sardenha, Calábria (Reggio Calabria) e Puglia (Lecce) apresentam percentagens
superiores à média (SilvestroniBianco e Montalenti). Ao passo que, nas linhas gerais, é de
supor certa relação com a raça mediterrânea, as oscilações locais da frequência nada têm a ver
com as diferenças raciais morfológicotipológicas.
SENSIBILIDADE GUSTATIVA À PTC. Além das características serológicas, a maior parte das
investigações comparadas sobre as populações ocupase da sensibilidade gustativa,
particularmente da sensibilidade ao gosto à feniltiocarbamida (PTC). No entanto esta
característica não é tão fácil de determinar como os grupos sanguíneos e não pode ser fixada
objectivamente, mas apenas através do depoimento ou comportamento do indivíduo sujeito ao exame;
além disso a sensibilidade gustativa pode ser alterada por substâncias excitantes ou alimentos
ingeridos anteriormente
Europa
Outros continentes
Galeses
58,7
Esquimós
59,2
Alemães
62,3
Arabes (Síria)
63,5
Dinamarqueses
62,8
Arménios
68,8
Russos (Grande Rússia)
63,2
Egípcios
75,9
Descendentes de europeus
69,1
Negros (E. U. A.)
90,8
(E U. A.)
Suíços
70,4
Japoneses
92,9
Irlandeses
71,8
Chineses
94,O
Ingleses
73,7
Xiluques (Sudão)
95,8
Georgianos (Tiflis)
74,4
Indios (N. Alberta)
96,9
Bascos
1 1
74,5
Navaj os
98,2
Frequência da sensibilidade gustativa à feniltiocarbamida (Percentagem dos indivíduos sensíveis
à prova)
175
Fisiologia das raças
e também pelo estado de saúde e regime de alimentação e até pela disposição psicológica e grau
de excitação (Kalmus e outros).
Nos testes com soluções aquosas a certos graus de diluição a sensibilidade à PTC não apresenta
demarcação nítida entre indivíduos degustadores e nãodegustadores; subsistem igualmente
diferenças entre os sexos: na generalidade as mulheres são mais sensíveis ao amargo do que os
homens, circunstância que poderá ser atribuída ao menor consumo do tabaco, álcool e outros
excitantes. Todavia, sómente em cerca de 5 por cento dos casos é incerta a determinação.
A mais alta percentagem dos indivíduos sensíveis à PTC encontrase nalgumas tribos de indios
americanos; também nos Chineses, japoneses e Negros as percentagens são mais elevadas do que as
encontradas entre os Europóides, as quais variam entre 58 e 75. As percentagens mais baixas de
indivíduos sensíveis estão localizadas na india e também nos indígenas australianos, além de
nalgumas populações melanésias. Acerca da origem das diferenças de grupos nada se sabe ainda ao
certo.
OUTRAS CARACTERISTICAS RACIAIS FISIOLõGICAS. Foi demonstrada a hereditariedade de muitas outras
características fisiológicas através de investigações referentes à família, e aos gémeos;
todavia não foi possível fazer uma análise dos genes. Como, além disso, a maior parte destas
características se ressentem mais da influência do meio ambiente do que as características
serológicas ou a sensibilidade gustativa, difícil se toma discernir, na variabilidade étnico
geográfica, os componentes raciais das modificações individuais (> Constituição). Existe, no
entanto, um pequeno número de dados pouco seguros. O chamado odor racid depende não só da
quantidade das glândulas sudoríparas e sebáceas, mas também da qualidade da secreção, isto é, da
sua composição química. Os Japoneses, que na cavidade axilar têm menor número de glândulas
sudoríparas e de menor grandeza, definem o odor dos Europeus como «acre e rançoso, ora
adocicado, ora amargo» (Adachi); os Negros, em. iguais circunstâncias, segregam um suor mais
abundante e mais rico de gordura do que os Brancos; neste
176
Fisiologia das raças
fenómeno deve verse um aspecto da regulação térmica adaptada ao clima tropical.
Diferenças raciais do metabolismo basal são verificadas nos Maias, que, contràriamente à maior
parte dos povos «em estado de natureza», apresentam valores surpreendentemente altos, aliados a
uma frequência cardíaca excepcionalmente baixa (Benedict e outros). Nos Árabes e Americanos
observamse os mesmos valores médios do que nas classes de meia idade, mas nos Árabes notase
mais forte variabilidade com o crescimento (Genna). Também em
muitos outros processos de metabolismo se podem considerar factores hereditários com variações
regionais. Assim, por exemplo, subsistem diferenças de grupo na secreção no ácido flamino
isobutírico (BAIB) na urina ou em coincidência com os baixos valores das excreções; entre os
Europóides a percentagem de alta excreção é de cerca de
10 por cento e nos índios americanos vai além dos 40 por cento. Também em idênticas
circun'stâncias os Esquimós segregam pelos rins menos glóbulos de acetona, após alguns dias de
fome, do que os Brancos, e encontramse portanto em melhores condições de, em caso de
necessidade, consumir as reservas de gordura do próprio corpo.
Recentemente começou a utilizarse a bioquímica nas investigações sobre diferenças raciais.
Entre outras coisas, o teor de potássio no plasma é mais baixo nos Brancos do que nos Negros,
quer em Paris, quer em Dacar. (Leschi). Resultados importantes devemse esperar futuramente da
química das hormonas. Até agora só se conhecem diferenças raciais no peso absoluto e relativo
das glândulas endócrinas; por exemplo a tiróide é relativamente (quer dizer, em relação ao peso
do corpo) menor nos Malaios e outros Mongolóides do que nos Europóides. Como, por um lado, as
diferenças raciais ligadas à > constituição, mas verosimilmente também muitas outras
características morfológicas, são baseadas sobre diferenças hormonais (v. Eickstedt, Keith) e o
sistema hormonal, e, por outro lado, está relacionado com o meio ambiente fisiológico (clima,
solo, alimentação) poderseia obter, desta maneira, uma visão dos processos de selecção que
presidem à formação das raças mais aprofundada do que é possível
177
Génese das raças
se se tomarem sómente em consideração as características morfológicas.
Génese das raças Entendese por génese da raça o processo histórico pelo qual uma população
mendeliana ainda prevalentemente uniforme no seu património, hereditário (genótipo) sofre
diferenciações internas até se cindir em duas ou mais comunidades genotipicamente distinguíveis.
Os processos genéticos deterininantes e os factores que os originam são tratados mais
pormenorizadamente no artigo > genética das populações. Agora limitarnosemos a observar
que a tendência predominante dos seres vivos na sua reprodução é a conservação da continuidade
do património hereditário. Em oposição a esta tendência existe também possibilidade de variações
(mutações espontâneas), que, juntamente com renovadas combinações que actuam através da
procriação e mediante a mecânica da distribuição da miose, tornam continuamente possível no seio
de uma população certa percentagem de novidade. Em períodos de tempo suficientemente longos,
selecções e isolamento dão lugar à evo.'Ução. Do ponto de vista da genética evolucionista são
importantes para este efeito as pequenas mutações (genéticas e cromossomáticas), porquanto
apenas elas, mediante uma série de pequenos passos adaptativos do organismo, podem juntar à sua
tendência de continuidade uma regularidade tolerável de novas combinações que se fixarão
hereditàriamente. Estas, uma vez obtida certa difusão dentro de uma população, podem favorecer
uma lenta evolução, através de vários outros factores, por uma conexão com variações do meio
ambiente. De notar que a polimeria (ou seja, em genética, o controle de um carácter da parte de
mais genes) e a pleiotropia, ou polifénia (o controle de mais caracteres da parte de um gene),
como simples acoplação de mais genes, providenciam para que não seja seleccionada apenas uma
característica favorável, mas que com ele não se acumule uma série de outras, que podem tornar
se importantes para a distinção fenotípica sem contudo possuírem valor especial selectivo.
Descreveremos em seguida sucintamente os factores mais importantes para a gênese das raças,
factores que intervêm igualmente na for
178
Génese das raças
mação, pela evolução, da entidade do valor sistemático mais elevado.
A SELECÇÃO. Cada indivíduo, ou, mais exactamente, do ponto de vista genético, cada população
vive em determinado ambiente, e nele deve adaptarse às condições de vida que nele dominam.
Entre essas condições devem menciGnarse os factores externos mais influentes: o clima
(temperatura, humidade), os recursos naturais (que antes do estado sedentário consistiam
sobretudo na caça e na recolha de frutos silvestres), exigência de espaço e necessídade de
alimentação de populações da mesma espécie, ou concorrência animal ao sustento na mesma região,
e finalmente perigos vários (por exemplo, doenças, animais fero~ zes, etc.). A sobrevivência no
próprio ambiente ou num outro novo (migração) sómente é possível a indivíduos ou a grupos que
possam fazer frente a todos os perigos e a inimigos potenciais e que estão em condições de gerar
e criar uma prole suficiente («survíval of the fittest», sobrevivência do mais apto). Os
indivíduos pouco aptos, como doentes ou fracos, são completamente eliminados de maneira
relativamente rápida, e de qualquer maneira a sua participação no grupo vai progressivamente
diminuindo pela sua reduzida proliferidade, processo esse designado por eliminação. No homem,
com a crescente organização e nível de cultura, foi assegurada a possibilidade de vida a um
número cada vez maior de indivíduos parcialmente incapazes, o que se reflecte também no aumento
das populações, independentemente da disponibilidade de recursos. Sob as duras condições
naturais, pelo contrário, no seio de uma população mendeliana permanecem como progenitores
potenciais sómente os portadores de caracteres que na dura luta pela existência estão à altura
de todas as situações. Os limitados recursos naturais fazem com que as populações se conservem
relativamente reduzidas, e todos os testemunhos existentes provam que, embora com um índice
elevado de natalidade, sómente um número muito limitado de crianças pôde atingir a idade da
procriação. Enquanto nos animais há ainda a considerar a selecção adicional pela luta pelo macho
ou pela fêmea, nos seres humanos este fenómeno sucede em medida muito restrita. Também para os
homens
179
Génese das raças
tem certa importância o facto de alguns disporem de várias companheiras para efeitos de
reprodução, mas o nosso conhecimento das condições dos povos primitivos permitenos concluir que
a monogamia tem tido sempre um papel decisivo. Por outro lado tem de considerarse que apenas
estavam em condições de criar prole suficiente, ou de qualquer maneira superior à média, os
casais que pudessem satisfazer os encargos de alimentação (> Antropologia cultural).
A limitada extensão das populações mendelianas teve como consequência que, existindo um pequeno
número de possibilidades de acasalamento, eventuais novas mutações puderam difundirse no seio
das populações num número relativamente exíguo de gerações. Assim, se a pressão selectiva
exercida pelo ambiente é forte está garantida a rapidez de variações relativamente elevada.
A pressão selectiva está condicionada às variações do meio ambiente, que não se mantém estático
por longos períodos, mas sim em contínua e lenta transformação. Particularmente, na história da
evolução do homem (> Paleontropologia) a sucessão de períodos quentes e frios (eras glaciais)
exerceu acção decisiva. Sob a sua influência as zonas climatéricas, e, com elas, a fauna e a
flora que lhes estavam adaptadas, foram impelidas várias vezes para grandes distâncias através
dos continentes e ocuparam regiões mais ou menos extensas. Dado o ritmo extremamente lento
daquelas transformações, o homem teve sempre a possibilidade de se adaptar, perseguindo
continuamente as suas reservas de caça, ao clima e às condições de vida por ele mais aceitáveis,
enquanto lhe consentiam a redução das dimensões das zonas climatéricas a ele favoráveis
e a disponibilidade de espaço em relação à densidade da população. O desaparecimento do homem de
Neandertal da Europa, depois do primeiro período da última era glaciar (Würmíano 1 e I/II) é
quase certamente devido ao facto de ele ter sido expulso pelo Homo sapíens para regiões mais
desfavoráveis. Com o aumento das populações também para o Homo sapiens se pôs a necessidade de
conquistar continuamente novos espaços vitais, os quais criavam novos problemas para a
capacidade física das reacções do seu corpo: o Homo sapiens deve ter assim defrontado radiações
solares e ultravioletas mais ou menos intensas, humidade
180
Génese das raças
atmosférica mais ou menos elevada, temperaturas médias mais ou menos altas, diversos graus da
temperatura diurna, capacidade de resistir às doenças endémicas (doença do sono, malária, febre
amarela, etc.), a sua adaptação às mudanças de alimentação, etc. A adaptação ao clima é
possível, para citar apenas alguns exemplos, com maior
ou menor quantidade de pigmentação da pele, com a regulação da sensibilidade atmosférica ou às
oscilações térmicas (curitermia ou estenoterrília da pele) com a forma particular da plica
palpebral do olho (protecção contra o ofuscamento da luz). Até onde podemos ajuizar pela
distribuição do espólio cultural nos locais de fixação, assim, como, até certo ponto, dos
achados de esqueletos humanos de que se dispõe ( > História das raças) o homem primitivo
preferiu os espaços abertos, e só relativamente tarde se deslocou para regiões cobertas de
florestas (como, por exemplo, as tropicais) e para as zonas de média ou alta montanha). O
temporâneo isolamento de determinadas zonas continentais na era glacial e a sua subdivisão em
regiões teve, sem dúvida, já no fim do tempo da vida primitiva, levado a condições selectivas
considerávelmente diversas para as populações mendelianas então existentes. Por outro lado, pode
suporse que, a partir das primeiras formas humanas, o homem procurara sempre, sobretudo no
princípio, áreas e condições de vida o mais possível semelhantes àquelas a que se tinha
habituado. A escassez de restos de esqueletos humanos e a sua distribuição, em relação a grandes
intervalos de tempo da maior parte da era glacial, sómente nos permitem tirar conclusões
aproximadas. Não nos encontramos em condições de reconhecer uma conexão geográfica bastante
nítida entre os grupos de achados existentes, mas não podemos extrair conclusões particulares
quanto à diferença entre os vários ambientes, e consequentemente sobre o tipo de selecção, nem
tãopouco negligenciar o facto de o esqueleto traduzir de modo essencialmente lento e rudimentar
os efeitos de selecções provenientes do exterior. Por consequência, só podemos presumir
teóricamente que nos homens de então o ambiente tivesse exercido efeitos de selecção análogos
aos verificados no homem de hoje. Deste modo se evidencia a necessidade de distinguir, no estudo
dos resultados da selecção, entre
181
Génese das raças
efeitos duradouros, que se processam de maneira contínua, ainda que manifestandose muito
lentamente, e que põem à prova, de maneira muito complexa, a adaptação total do organismo, e
efeitos parciais de menos amplitude que se manifestam rápidamente e que correspondem. a
particulares exigências derivadas de especiais condições do meio ambiente. Estas resultam em
primeiro lugar do clima e parecem assim nitidamente «orientadas»: porém, neste caso a orientação
não é o resultado de mutações directas num certo sentido,. mas a consequência da selecção que
determinados mutantes que melhor se adaptam às condições ambientais entre todos aqueles que,
privados de qualquer orientação, se manifestam no seio de urna população. Alguns exemplos destes
efeitos parciais podem ser citados em relaçâo ao homem, como a distribuição da pigmentação da
pele, a sua permeabilidade ou impermeabilidade às radiações e a sensibilidade à temperatura, ou
também como consequência da distribuição irregular de alimentação em zonas pobres, a formação de
panículos adíposos (desenvolvímento hípertrófico das nativas = esteatopigia dos Coisanídeos):
entre os animais este fenómeno corresponde à cauda grossa das ovelhas e à giba adiposa de
algumas outras espécies.
Na generalidade, porém, deve admitirse que cada adaptação especial é tanto mais complexa e
individualizada quanto mais representa uma limitação do espaço vital potencial, e que grupos
menos especializados, que são ubiquitários, ou seja, que podem viver em qualquer ambiente, têm,
por muito tempo, as melhores probabilidades de sobreviver. A este respeito o homem apresenta só
graus reduzidos de adaptações especiais. A razão do seu êxito é, abstraindo das suas
particulares faculdades psíquicas, a sua falta de especializações físico orgânicas. Apreciando
a extensão dos efeitos especiais de selecções, deve no entanto contarse com a duração de uma
geração, ou seja a duração da mocidade até à maturidade sexual, e consequentemente à
procriação. No homem a duração duma geração anda à volta de 2025 anos; no espaço de
tempo que podemos considerar há portanto apenas um número relativamente reduzido de mutações
(uma vez por cada geração) para efeito da selecção. Todavia podemos também captar claras dife
182
Génese das raças
renças de grupos, p@Lra o homem, como o crescente número de achados, tanto maior quanto mais nos
aproximamos do tempo actual. Estas diferenças na sua formação sâo condicionadas essencialmente
por um factor que actua na génese das raças, ou seja o o impedimento de um contínuo fluxo de
genes entre as diversas populações mendelianas; por outras palavras, o isolamento em «áreas de
procriação» relativamente fechadas.
O ISOLAMENTO. Na explicação do > conceito de raça foi dito que urna raça designa grupos ou
populações de indivíduos de uma espécie que se reproduzem entre si e se distinguem das
correspondentes populações mendelianas da mesma espécie pela posse de determinados genes. O
património hereditário de determinada população é enriquecido continuamente através de novas
mutações individuais de caracteres hereditários: destas mutações, a acção da selecção faz com
que só algumas possam fixarse duradouramente. Ora, para que no seio de uma população se possa
alcançar a acumulação de um certo tipo de genes capaz de a caracterizar tornase necessário que,
para certo período de tempo, a actividade procriadora se exerça únicamente no âmbito, de um
número limitado de indivíduos (= populações mendelianas ou área de procriação) e que deste modo
seja interdita a troca de genes com populações vizinhas. A “te processo dáse o nome de
isolamento e os resultados observamse mais ou menos claramente consoante o seu grau e duração,
ou seja, da interrupção realmente alcançada na troca de genes com as populações fixadas além da
área de procriação. O isolamento é condição essencial para a gênese de novas raças, Tornase
portanto impossível que duma população inicial surjam novas raças no mesmo espaço vital, isto é,
«simpàtrica mente». A formação de novas raças só se pode verificar em espaços vitais diferentes
e bem delimitados (insulados), ou seja é «alopàtricamente». As populações iniciais, antes de se
cindirem em duas ou mais populações, eram portadoras de um património hereditário em grande
parte idêntico. As novas populações derivam assim do mesmo «pool génico». O processo pelo qual
da mesma população se onginaram diversas populações chamase «diferenciaçao».
183
Gênese das raças
Se esta diferenciação prossegue no mesmo sentido por períodos de tempo bastante longos e por um
número de gerações adequado, constituise uma linha evolutiva.
O isolamento das populações é condicionado em primeiro lugar por obstáculos geográficos: mares,
estepes áridas ou desérticas, bosques e zonas de florestas tropicais impraticáveis e por fim
regiões litorais (penínsulas ou extremos de continentes.) Os efeitos do isolamento são
particularmente evidentes em ilhas que só durante algum tempo estiveram abertas à colonização.
Durante as eras glaciais este fenómeno sucedeu muitas vezes em virtude do abaixamento ou
elevação da superfície dos mares, com oscilações da ordem dos cem metros. Desta maneira ficaram
secos mares pouco, profundos nas proximidades dos continentes (o aparecimento, por exemplo, de
pontes de terra firme entre a Indochina e a Austrália através da Indonésia), pelo que a primeira
colonização da América pelo homem, com a maior probabilidade, efectuouse por uma ponte de gelo
através do estreito de Bering. As grandes zonas continentais subdividiramse ulteriormente em
extensas planícies fecundadas por rios e em regiões montanhosas, e consequentement4i@ em
diversas zonas climatéricas. Estas múltiplas possibilidades de isolamento tomaram possível a
diferenciação do Homo sapiens fóssil nos modernos ramos raciais e nas suas subdivisões. Ao lado
desta forma de isolamento «continental» há também um isolamento «ecológico», devido ao facto de,
num mesmo espaço geogràficamente delimitado, ter, com as diversas alterações do nível do mar,
vários «habitat» correspondentes a zonas climáticas diferentes, com diversas associações de
animais e plantas, ou seja planícies abertas, zonas de média montanha com espessa vegetação e
regiões de alta montanha e em grande parte escalvadas. Correspondentemente aos vá rios «habitat»
foram oferecidas ao homem diversas possibilidades de vida e, do início do sedentarismo, da
economia, que acentuaram a separaçã o das populações existentes nas zonas ecológicas: as regiões
menos favoráveis serviram nos primeiros tempos como zonas de refúgio com sistemas económicos
mais primitivos (> HistórÍa das raças).
184
Génese das raças
Além da barreira que determina o isolamento para todos os seres vivos, para o homem há ainda a
que resulta das formas da vida social (uniões de pequenos grupos, prescrições ou deveres de
matrimónio, tabos) além de fronteiras de tribo ou de idioma. Estas, porém, só são eficazes até
certo ponto, mas não há dúvida de que contribuem para retardar a troca de genes enrre as
diversas populações mendelianas e a unidade étnica que daí resulta
Antropologia social). As possibilidades de isolamento atrás indicadas fazem que, depois de certo
número de gerações dentro de uma área de reprodução isolada, determinados genes e
características deles resultantes se tomem, em virtude de um processo de selecção, sempre mais
frequentes. Daí resultam, no confronto das populações vizinhas, características diferenciais que
constituem a «combinação de caracteristicas típicas» para cada uma delas. No entanto deve ter
se presente que, dentro de uma área de procriação isolada, nem todos os indivíduos participam de
igual modo da combinação de características típicas de uma raça: só num teórico caso ideal
seriam idênticos. Além disso estáse sempre bem longe de outro caso ideal no qual cada indivíduo
tem ilimitada possibilidade de relações de procriação com todos os outros indivíduos do sexo
oposto, porque os portadores de características que se encontram na zona periférica do isólata,
por causa da maior distância a que se encontram do centro, já terão, em percentagem, menos
possibilidades de acasalamento com os da zona central. Em condições naturais, portanto, não
podem originar nenhuma «raça pura» para a total combinação de características típicas da raça.
Mas mesmo quando diversos portadores das características hereditárias de uma área de procriação
apresentam diferente percentagem de combinação de características, no seu complexo eles revelam
se sempre típicos representantes de uma raça. O grau de pureza que uma raça humana apresenta em
condições naturais não pode em qualquer caso ser comparado com aquele que se alcança em virtude
de uma selecção consciente e cuidadosa nos animais e nas plantas. Quanto mais longo é o
isolamento na história filogenética de uma população tanto mais profundas são as divergências
que se encontram relativamente
185
Génese das raças
à população originária. Este processo culmina com a esterilidade da espécie interespecífica, não
pela ausência de relações de procriação devida a isolamento geográfico, mas condicionada por
motivos biológicos. Espécies estreitamente aparentadas, surgidas em seguida a longo isolamento
de grupos com origem interfecunda da mesma espécie, podem então reunirse no mesmo espaço
geográfico sem barreiras físicas, continuando isoladas do ponto de vista da procriação.
Pelo que respeita ao homem, provàvelmente nunca existiram barreiras biológicas na fecundidade
entre as diversas formas humanas, isto é, em cada período da história da evolução humana (>
Paleoniropologia) viveram na terra populações pertencentes à mesma espécie. Para a espécie agora
viva do Homo sapiens existem diferenças raciais de grau mais ou menos elevado que se formaram
provàvelmente só no fim da última era glaciar. Com base na concentração de determinados
caracteres típicos podemos reconstruir para os grandes ramos raciais a presuinível região
originária, da qual, nas diversas fases do processo de isolamento, ondas de população foram
sempre avançando para áreas circundantes, e que mais tarde foram impelidas para mais longe, para
fora das populações sucessivamente de região para região, o que é demonstrado de maneira
particularmente evidente no caso dos Mongolóides (> História das raças). X acção combinada dos
factores, que presidiram à génese de novas raças só se pode compreender exactamente se se tiver
sempre presente que não se trata de esquemas rígidos, mas de processos evolutivos que se
combinam dinâmicamente no tempo e no espaço. As diversas populações mendelianas não
experimentaram em igual medida os efeitos do isolamento numa determinada área geográfica, a
dureza da selecção não foi igualmente forte em toda a parte, a possibilidade de contacto entre
as várias populações foi diferente. As diversas taxas de natalidade, que provo.am
simultâncamente pressão demográfica e emigrações dos povos, apresentam um quadro das populações
muito complexo com misturas e estratificações, que já não correspondem ao estado oríginário da
distribuição racial ao tempo da origem das raças. Embora possuamos base científica para uma
classificação das raças, defrontamos
186
Génese das raças
hoje, quase exclusivamente, uma mestiçagem racial mais ou menos acentuada. É preciso, a este
respeito, acentuar ainda o facto de que as «raç as são um processo dinâmico» e que já há alguns
milhares de anos não podemos encontrar uma raça pura, mas apenas populações que se encontram em
diversas fases de evolução e mestiçagem. A nossa experiência sobre a hereditariedade dos
caracteres e a sua distribuição geográfica entre as populações mundiais demonstramnos que o
processo da génese das raças se efectivou com continuidade e está ainda em curso, até mesmo em
condições mais difíceis do que no passado.
GARACTERNTICAS RACIAM Na pluralidade das características específicas da espécie Homo sapiens
nenhumas se encontram que, com diversa frequência e distribuição, sejam particularmente típicas,
na sua combinação, de um subgrupo da espécie: a raça. Neste ponto é preciso ter em mente o facto
de que dentro de uma espécie são possíveis, e assim essencialmente previsíveis e capazes de
surgirem mais vezes, mutações similares, sem qualquer correspondência com a raça. Semelhante
fenómeno pode observarse perfeitamente no aparecimento, em todas as raças do Homo sapíens, de
mutantes com coloração clara dos cabelos e dos pêlos do corpo. A presença de uma combinação de
características típicas claramente delimitada entre as populações que se encontram em
determinada área geográfica podese explicar algumas vezes através de específicos factores
selectivos (por exemplo, pela adaptação ao clima). Entre as outras características, entre as
quais as diversas proporçõ es do tronco e dos braços, a face larga ou estreita, alta ou baixa, e
perfil do nariz rectilínco, côncavo ou convexo, lábios grossos ou delgados, queixo pronunciado,
neutro ou fugídio, a maior parte não apresenta vantagens selectivas evidentes. Exemplos
particularmente significativos são apresentados por certos pormenores extremos, quaís sejam a
posição axilar dos seios da mulher (seio em proximidade e à altura das axilas) ou o pénís
horizontal nos esteatopígicos (Coisanídeos). Devemos portanto libertarnos da convicção errónea
de que a formação ou a frequência de determinadas características morfológícas tem de ser
esclarecida na base de um pressuposto selectivo específico. Na ver
187
Génese das raças
dade, a pressão selectiva submete à prova a adaptação complexiva de um organismo pela qual
características individuais podem tomarse definitivas sómente em determinadas circunstâncias. A
selecção pode favorecer e enriquecer em quantidade também muito superior à da média, numa área
de isolamento, características não essenciais. É necessário, porém, considerar que determinadas
características morfológicas podem ser preferidas na escolha do cônjuge com fundamento em
apreciações estéticas, as quais são algumas vezes completamente irracionais. Por outro lado,
tais costumes, não ligados a motivos estéticos, podem tornarse tradicionais, como o demonstra a
etnologia, através de inúmeros exemplos, para diversas unidades étnicas. Supõese, por isso, que
a prática, em uso entre várias populações negras, de introduzir grossos discos ou uma haste de
madeira nos lábios se deve atribuir ao desejo do homem de proteger mulheres e crianças, com esta
«deformação», dos raptos (roubo de mulheres pelas tribos vizinhas, tráfico de escravos). Com o
desaparecimento dos governos coloniais o uso dos discos e das bastes labiais (os chamados
ornamentos labiais) perpetuouse entre estes povos por motivos puramente tradicionais, embora já
não subsista a causa que provàvelmente o tinha originado. Através do odor corporal pode
calcularse a que especiais singularidades pode estenderse o conceito do «belo» e «agradável».
É um facto que não sómente um europeu tolera com muita dificuldade o cheiro que emana do corpo
de certos grupos de indígenas, mas também que estes, por seu lado, consideram insuportável o
cheiro dos Europeus, demonstramno abertamente e esforçamse por todos os modos por evitálos.
Estes exemplos particulares têm apenas o intuito de sublinhar, pelo que respeita ao problema dos
caracteres raciais, que dentro de uma comunidade humana de procriação não importam sórnente as
condições naturais de selecção, mas que na caracterização do património génico, representa
também papel importante a concepção do belo e do agradável dentro da comunidade; é mesmo esta
concepção que, através da escolha do cônjuge, pode contribuir para o incremento de determinados
caricteres dentro de uma população. Deve também ainda observarse que caracteres inteiramente
diversos podem ser genèticamente ligados (pleio
188
Génese das raças tropia: o fenómeno pele> qual um gene controla mais de uma característica, e
além disso o acoplamento de genes segundo a distribuição dos locos nos cromossomas), isto é, o
facto de um carácter se impor por selecção natural pode, por outro lado, áutomàticamente, trazer
consigo o enriquecimento de muitos outros.
Existem vastas regiões nas quais prevalece determinada cor da pele, dos cabelos, dos olhos
(compleição, pigmentação) sem que tal facto corresponda a uma relação constante com outras
características raciais típicas. Isso resulta já da circunstância, a que já atrás fizemos
referência, que a vantagem selectiva de uma deterininada pigmentação (clara ou escura, com os
correspondentes graus intermédios) varia segundo as zonas climatéricas. É por isso
fundarnentalmente errado considerar que um indivíduo de compleição mais ou menos escura seja
simplesmente classificado, do ponto de vista genético, no ramo racial negróide. Entre os
Europóídes, por exemplo, encontramos representadas todas as variantes de pigmentação desde a
pele brancorosada, cabelos louros e olhos azuis ou cinzentos à pele escura, cabelos e olhos
negros. É tal a distribuição que geogràficamente há uma passagem flutuante sem solução de
continuidade de uma compleição à outra: os valores de máxima pigmentação coincidem com os
limites meridionais dos Europóides na África e também no Sul da india. Temos um exemplopadrão
da selecção orientada: no Norte, Noroeste, Centro e nalgumas partes da Europa Oriental, de
facto, a limitada radiação ultravioleta favoreceu uma mais elevada transparência da pele às
radiações, e assim os mutantes da compleição clara (despigmentação > História das raças), ao
passo que entre as raças mais meridionais dos Europóídes a vantagem selectiva favoreceu a
compleição escura que as protegem dos danos da mais elevada radiação ultravioleta. Entre os
Mongolóides a pele é naturalmente menos sensível às radiações: porque no seio do ramo racial as
diferenças de cor da pele são menos acentuadas, se bem que também se possa observar que nas
mais baixas latitudes se encontram valores de pigmentação relativamente mais elevados. Só entre
os Negróides, na sua qualidade de raça tropical típica, se observa um predomínio absoluto da
compleição escura: todavia
189
Génese das raças
também entre eles se verifica uma série de graus de colorações diferenciadas. já no simples
exemplo da cor da pele e do seu comportamento em relação às variações de intensidade das
radiações é manifesta a existência de um mecanismo assaz complexo: a capacidade das reacções da
pele à intensidade das radiações não assenta, de facto, exclusivamente na pigmentação, mas
socorrese de uma grande série de outras possibilidades de controle.
A partir destes poucos exemplos depreendese fàcilmente por que motivo na apreciação do valor
testemunhal de características rácicas e no seu emprego para a determinação da raça nunca se
pode recorrer, como base de trabalho, apenas a uma ou a algumas poucas, mas sim a uma vasta
combinação de características distintivas. A larga difusão da componente escura na cor da pele
entre os 200 de latitude norte e os 200 de latitude sul (África, Ásia Meridional, Oceânia) que
só na Austrália, Tasinânia e Nova Zelândia alastra ainda mais para sul confirma, no
enriquecimento de algumas características, uma convergência que exclui a origem de um único e
unitário centro génico. Esta asserção é confirmada pela observação directa do processo de
transmissão hereditária de determinadas características. Assim sabemos, por exemplo, que a forma
particular da pálpebra, que se encontra nos Mongolóides (plica mongólica) é transmitida
hereditàriamente de forma dominante no caso de cruzamento, enquanto um traço dos esteatopígicos
exteriormente muito semelhante só é transmitido recessivamente, e portanto dirigido
genèticamente de forma diferente através de um especial gene mutante
História das raças). A concentração de características numa combinação de características
típicas de uma raça representa apenas, em primeiro lugar, o resultado de observações e da
escolha de obras dos especialistas. Isto não significa que todas as características que compõem
tal combinação estejam genèticamente ligadas e que no decurso de um processo hereditário devam
transmitir~se como uma unidade. Pelo contrário, a combinação de características escolhida pelo
especialista compõese de características ou de conjuntos de características amplamente
independentes que apenas durante o isolamento de uma população em consequência
190
Génese das raças
de relações contínuas de procriação, se acumularam em maior quantidade relativamente às outras.
Por muito que isto possa surpreender os leigos, está em completo acordo com todas as
experiências da genética experimental. Isto manifestase de modo especialmente persuasivo se
compararmos a distribuição dos grupos sanguíneos entre toda a população da Terra com a
distribuição das raças baseada nas suas características físicas exteriores. A distribuição dos
grupos sanguíneos não era certamente uniforme já nas populações que originaram os ramos raciais
hodiemos, nem sequer que a distribuição de então correspondesse, nas suas grandes linhas, à
actual; no decurso, da evolução houve uma distribuição selectiva, independentemente para cada
população mendeliana nas regiões de isolamento das diversas raças, um andamento paralelo no
enriquecimento da combinação das características exteriores não corresponde a tal distribuição.
Se por esse motivo encontramos hoje em raças que vivem em regiões geográficas muito afastadas
uma alta percentagem dos mesmos grupos sanguíneos, isso não significa que se possa admitir uma
afinidade de origem das duas comunidades de procriação. Conexões históricas entre as várias
raças sómente podem ser válidas numa base de vastas combinações típicas de caracteres.
A combinação de caracteres típicos de uma raça compõese portanto de uma série completa de
características diversas, como seja morfológicas, de pigmentação, etc.; o significado das
características individuais pode ser usado para determinar conexões só quando as passagens
graduais são o resultado de uma selecção orientada (como, por exemplo, distribuição da cor da
pele e dos cabelos nos Europóides) ou quando uma característica ou conjunto de características
enfraquecem ou se transformam continuamente do centro para a periferia. Também características
ou traços morfoIógicos particularmente relevantes são típicos de uma raça únicamente no quadro
de uma combinação de características. Se uma característica análoga surge a grande distância do
seu centro principal de distribuição, sómente um exame do maquinismo de distribuição pode
conduzir a uma conclusão definitiva (cfr. as diversas modalidades de transmissão da forma
particular da pálpebra nos Mongolóides e nos esteatopígidos.) Na gencrali
191
Génese das raças
dade quando se trata de fazer uma análise racial são utilizados únicamente caracteres
morfológicos porque apenas estes são objectivamente mensuráveis e determináveis, além de
estatisticamente confrontáveis. Estes processos não são por si sós inteiramente conclusivos,
pois devem ser integrados numa visão, de conjunto.
Um exame aos valiosos resultados da investigação constitucionalística ( > Constituição)
mostra nitidamente que os vários tipos se apresentam em toda a gama da espécie Homo sapiens e só
em casos particulares aparecem com mais frequência em algumas raças mais do que noutras. Uma
tentativa de subdivisão baseada exclusivamente sobre tipologia permite compreender no seu
conjunto características fixadas por via hereditária e diferenças que possam estar ligadas, a
largos traços, também a determinados modos de comportamento. Estes tipos constitucionais, embora
representem uma posse comum da espécie Homo sapiens, não podem ser utilizados para caracterizar
e distinguir os ramos raciais, ou mesmo substituílos, pois que as características raciais
formamse, são seleccionadas e transmitemse por via hereditária independentemente da
constituição. Raça é constituição que representa dois sindromas genéticos que possam ser
consiáerados independentemente um do outro. Devemos porém ter em conta que não estamos ainda
suficientemente esclarecidos acerca da sua interdependência. Podese, porém, afirmar desde já
que a constituição, ainda que represente um conjunto de características extremamente complexas e
fixadas por via hereditária, está menos sujeita à pressão da selecção e ao efeito diferenciador
do isolamento do que às características rácicas específicas. Consequentemente, a constituição
transformará muito mais lentamente por mutações as características tipicas de um grupo. Raça e
constituição, portanto, não se
excluem, cruzamse.
Para concluir devemos ainda fazer uma breve alusão às diferenças raciais no âmbito do
comportamento e da vida psíquica (> Psicologia das raças). Também este sector no homem está
claramente sujeito à transmissão hereditária e por isso não pode ser essencialmente separado da
linha tradicional da definição da raça. É preciso além disso lembrar que a adequada capacidade
intelectual da subdivisão
192
Gén~ das raças
da espécie Homo sapiens em cada uma das raças deve ser a mesma para todas. As diferenças de
facto relevantes na cultura das várias raças até nós chegadas não podem ser apreciadas na base
de um critériopadrão universalmente aceite, pois que não são objectivamente mensuráveis,
portanto não estão sujeitas a termos de comparação. Também o emprego de testes está neste caso
destinado a falhar, pois que o ponto de partida não pode ser o mesmo: de facto, os variados
modos de vida da comunidade a estudar favorecem o desenvolvimento dos sectores particulares, nos
quais a capacidade dos indivíduos é atraída pela tradição em certas direcções ou completamente
influenciada pela mesma tradição. Os trabalhos das diversas culturas são nos diferentes casos
condicionados dentro de certos limites do ambiente. Os modos de comportamento upicos das várias
raças devem ser, sem dúvida, reforçados em grande parte pelo efeito da selecção: assim, os
Europóides, no ambiente tropical, sã o também capazes de despender e produzir, durante curtos
prazos, uma soma de energia e de trabalho comparável à que despendiam na sua pátria. Com a
continuação, porém, só sobreviverão neles as tendências hereditárias cujo esforço não ultrapasse
a proporção correspondente ao clima, cujos efeitas paralisantes também a técnica moderna apenas
pode compensar em parte. Além disto, existem, por exemplo, no temperamento, na capacidade das
reacções e na vontade das afirmações outras evidentes diferenças que são fixadas pela
hereditariedade e se tomam claramente perceptíveis a quem quer que tenha vivido durante longo
tempo entre indivíduos de outras raças. Inteiramente falsa é a convicção de que, a partir daí,
se manifestam diferenças absolutas de valor susceptíveis de serem apreciadas segundo um critério
universalmente válido. Este critério será inevitàvelmente diverso segundo o tipo de cultura e de
sensibilidade de quem por ele se rege, e resulta tão irracional e incomensurável como um ideal
de beleza típico de uma raça. Por isso as diferenças hereditárias nestes sectores deverão ser
excluídas da apreciação das raças e não devem fazer parte da «combinação das características
típicas» de uma raça, a qual, pelo contrário, é expressa em termos métricos, morfológicos e
estatísticos. Isto não porque tais características não sejam
193
Génese das raças
consideradas reais, mas porque escapam a uma apreciação e a um Juízo objectivos.
AS RAÇAS. já vimos no decurso da nossa exposição quais os diferentes factores que participam da
génese das raças e que cada um, por um corte num determinado tempo de uma população mendeliana,
representa apenas um instantâneo do filme da evolução contínua no decurso da qual se formam as
raças. As raças, como «processo dinâmico», abrangem sempre um determinado espaço de tempo no
quadro da história filogenética das espécies e dos géneros. Os diferentes elementos e factores
que participam na formação das raças, tais como mutações genéticas, selecção e isolamento,
actuam inínterruptamente e influenciam de modo mais ou menos evidente, segundo as condições
locais, as populações da nossa espécie distribuídas por toda a Terra. O grau e o nível de
desenvolvimento atingidos pelas diversas raças não podem deixar de ser diferentes nos diversos
casos, porque as populações individualizadas que se formaram no decurso do tempo derivadas do
património génico originário do Homo sapiens fóssil não mais ficaram sujeitas por iguais
períodos de tempo a idênticas condições, mas na sua lenta difusão por toda a Terra, tomando
continuamente posse de novas regiões de ocupação, expuseramse sempre a novas condições de
selecção.
Distinguimos portanto alguns poucos rwnos raciais, que do ponto de vista sistemático podem ser
considerados equivalentes das subespécíes, e que se compõem, por sua vez, de certo número de
raças principais (troncos raciais). Os troncos raciais podem dividirse ulteriormente em raças
secundárias: o grau desta subdivisão depende do inventário antropológico. A íntima conexão entre
subgrupos superiores e inferiores é contínua e resulta de vários espaços do isolamento e da
duração dos períodos nos quais os factores determinantes para a génese das raças puderam exercer
a sua influência.
No que respeita a processos análogos que se verificam no reino animal, o homem tem condições
especiais das quais resulta a circunstância de, em virtude da sua falta de especialização, ele
representar manifestamente um «ecótipo aberto». O homem pode adaptarse a qualquer zona
194
Gênese das raças
climatérica e, graças à sua capacidade de se sustentar quer de animais quer de plantas, tem à
sua disposição um espaço alimentar muito vasto. Devido à sua independência quanto ao clima e
recursos de nutrição e igualmente à sua grande mobilidade o homeni tem a todo o, momento a
possibilidade de vencer grandes distâncias em tempo relativamente curto. Este facto poderia
contribuir consideràvelmente para um nivelamento das diferenças raciais se ele, nas épocas que
precederam o advento da civilização, não tivesse adicionado às barreiras geográficas outras
barreiras internas à acção conservadora (> Demagrafia, > Antropologia social). Tais
barreiras contribuíram para a conservação dos círculos de procriação, e neles inscritos círculos
matrimoniais. Prescrições matrimoniais (como endogamia e esogamia) e rabos orientam a escolha do
cônjuge em determinados grupos; barreiras étnicas e linguísticas fazem sentir a sua maior
influência e nas sobreposições (por migração) das várias populações as barreiras sociais
conservam pouco menos que intacto, o seu poder diversificante. Embora estas barreiras internas
não mantenham a sua eficácia por períodos muito dilatados, elas impedem ou retardam a troca e o
fluxo dos genes da população para população. Com o aumento da densidade da população sobre a
Terra as barreiras das diversas zonas de isolamento tornamse cada vez menos eficientes. No
homem, além das unidades naturais de procriação (círculos de reprodução), há ainda, como base da
gênese de novas raças, outros grandes grupos tipicamente humanos: a unidade étnica, ou seja,
tribos ou povos. Estes podem compreender mais raças, apresentamse como fazendo parte de uma
comunidade de língua, história e cultura e relativamente à unidade natural distinguemse pela
sua mutabilidade (formação de estados sobre bases políticas, adopção de uma língua, migrações
forçadas, etc.). Eles são simultâneamente a imagem de um processo histórico e o resultado dos
contínuos movimentos migratórios do homem sobre a Terra. Tudo isto pode tomar mais difícil a
análise das raças ou das mestiçagens rácicas dentro de uma unidade étnica e a compreensão das
condições originárias. Para o estudo da > história das raças humanas não há, porém,
dificuldades insuperáveis, pois para isso dispomos de outras fontes, como seja os achados
arqueo
195
Génese das raças lógicos e vários restos de cultura, de língua e de costumes, assim como dados
concretos registados por escrito ou transmitidos por tradição oral. Além disso indícios
essenciais fornecemnos a percentagem mais ou menos elevada dos caracteres raciais fixados por
transmissão ‘hereditária em cada uma das populações, assim como das suas diversas distribuições,
ainda hoje comprováveis. Em regiões bem pesquisadas podemos, pois, completar este estudo do
passado através de séries de esqueletos do período histórico ou préhistórico que nos esclarecem
sobre a distribuição e o desenvolvimento das raças.
Actualmente podemos distinguir na nossa espécie politípica do Homo sapiens três ramos raciais
(subespécies), os EuroOides, os Mongolóides e os Negróides. A eles juntamse ainda, considerados
às vezes como subespécies, os habitantes originários da América (Ameríndios) e os primitivos
habitantes da Austrália (Austrálidas). Pelo que respeita a estes últimos, seria mais lógico, do
ponto de vista biológico, englobálos, como forma mais arcaica, no ramo racial dos Europóides
(~~> História das ra<:as).
Entre os ramos raciais existem zonas de contacto mais ou menos vastas e individualizadas cujas.
variedades (raças) são atribuídas de modo variável pelos diversos autores a um ou a outro ramo
racial. Isto explicase entre outras coisas com a migração de populações e consequentes
mestiçagens que se efectivaram em tais zonas simplesmente do ponto de vista metódico, ou seja,
com o facto de o valor do testemunho das características raciais existentes ser apreciado de
maneira diversa no quadro da combinação das características no seu conjunto. Do ponto de vista
biológico isto não está em contradição com a hipótese da fixação genética das características
raciais, mas explicase com o enriquecimento das características análogas que podem surgir
frequentemente dos dois lados da zona de contacto através da vantagem do ponto de vista da
selecção (por exemplo, a pigmentação escura dos Europóides, assim como dos Negróides, em
África). Além disso também existe uma permuta de genes através de relações de procriação; tal
permuta, com a crescente pressão demográfica, assim como com as contínuas relações de
vizinhança, pode atingir um certo grau e, se por períodos de longa duração, pode dar
196
Genética humana
origem, nas combinações de «características típicas», a estadios intermédios relativamente
indiferentes. É preciso observar além disso que mesmo nas zonas de contacto se encontra a mesma
comunidade de procriação que participou de modo menos intenso na fonnação de combinaçõ es de
características típicas para o núcleo, do ramo. racial. Mediante uma pressão proveniente do
centro, as parcelas da comunidade de procriação que vivem nas zonas marginais são
progressivamente empurradas para a periferia: é este o motivo pelo qual nas zonas de contacto
dos dois ramos raciais se encontra mais variedade, embora menos típica, de qualquer deles. Isto
é particularmente aplicável às chamadas «formas arcaicas», que foram impelidas para as zonas
marginais de refúgio. Como conclusão deste tema deve notarse que para este conjunto de
problemas o nosso método, como sistema, tem de ser necessàriamente rigido, e portanto a evolução
histórica, que conflinuamente se processa só dentro de certos limites, pode ser encarada como
processo vital.
Genética humana O ponto de partida da genética, quer geral quer experimental, é constituído
pelas experiências de Johann Gregor Mendel. No mesmo ano em que apareceu o trabalho de Mendel
«Research Upon Plant Hybridization», acerca da hibridização das plantas (1j65), surgiu o
profundo tratado «Hereditary Talent and Lilaracter», de Francis Galton, o fundador do estudo
científico sobre gémeos e famílias. Em 1900, logo após a sua redescoberta, por Carl Erich
Correns, Hugo, de Vries e Erich von TschermakSeysenegg, as leis de Mendel, que até então tinham
passado quase despercebidas, foram reconhecidas aplicáveis também ao homem: em 1902, pela
alcaptonúria, uma anomalia do metabolismo (Ga7rod), em 1905, pela braquidac~ tilia (Farabee), e
daí a pouco também pelas características rácicas normais (investigações de Eugen Fischer sobre
os bastardos de Rehoboth, 1908, publicadas em 1923). já Kant, em 1775, havia postulado que no
estudo das raças humanas deviam ser tomadas em consideração sèmente as características
transmitidas por hereditariedade; ora este princípio teórico, podia igualmente corresponder à
prática científica. juntamente com a anatomia, a fisiologia e a psi
197
Genética humana
cologia, a genética humana tornouse um sector fundamental da antropologia, assim como da
medicina.
Em primeiro lugar surgiu o problema da natureza hereditária e ainda do maquinismo de transmissão
hereditária dos caracteres humanos normais (mendelismo), uma questão importante, sobretudo para
a compreensão das relações de afinidade entre as várias raças e da sua origem (> Con~ ceito de
raça, > Gênese das raças). A influência de uma série de características antropológicas por
parte do ambiente, não há muito tempo descoberta, levou a novos problemas relativos à biologia
constitucionalística (> Constituição, plasticidade); além disso, a estrutura hereditária das
populações e as suas variações (> Antropologia social) são observadas e tomadas em consideração
também pràticamente na política demográfica Demografia) e na eugenia (difusão de
caracteres aperfeiçoados, ou eugenia positiva, ou higiene da hereditariedade); recentemente as
condições gerais relativas ao mecanismo da hereditariedade e o efeito dos processos de selecção
são expressos com maior rigor por intermédio dos métodos matemáticos da > genética das
populações. Por outro lado, na genética geral assumiu grande importância o problema do mecanismo
da acção dos genes (fenogenética), igualmente fecundo para a antropologia (~> Fisiologia das
raças, > Gênese das raças, > Constituição); ele iria iniciar uma nova fase do estudo dts
raças humanas e levar a mais profunda compreensão da diferenciação psicossomática da espécie
Homo sapiens. A transmissão hereditária dos dotes intelectuais e dos caracteres e a sua
importância para a pedagogia e a política social já tinham sido reconhecidas por Galton;
recentemente o estudo do comportainenta fez surgir o problema da hereditaríedade dos modos de
comportamento e dos instintos no homem (> Antropologia cultural).
CROMOSSOMAS E GENEs. A citogenética (estudo genético das células) humana, aplicada já no
passado, com imensas dificuldades, encontrase actualmente num período de grande
desenvolvimento, Durante longo tempo reinou incerteza sobre o número dos cromossomas humanos, os
portadores materiais dos processos hereditários; foram por fim fixados em 46, isto é, 23 pares,
dos quais um de cromossomas
198
Genética humana
sexuais (2 cromossomas X na mulher, 1 cromossoma X e um cromossoma Y, mais pequeno, no homem, e
mais
22 pares de «autossomas». A constituição dos cromossomas, particularmente a disposição linear
dos cromómeros, nos quais se devem localizar os genes individuais, e o mecanismo da divisão e
distribuição dos cromossomas na reprodução das células são semelhantes no homem e em todos os
outros organismos. Número e forma dos cromossomas são típicos de cada espécie e, além de outras
características, dão indicações sobre relações de afinidade entre as diferentes espécies. O
homem é, deste ponto de vista, extraordinàriamente idêntico aos outros membros da ordem dos
primatas (Heberer). O cálculo do número dos genes humanos (Neel e Schu11, Spuhler, Vogel, etc.)
é ainda muito discrepante, consoante se dá maior importância aos genes individuais que agem
directamente («genes estruturais») ou aos elementos de controle supranormal.
As células germinativas masculinas e femininas como resultado dos processos específicos da
divisão celular apresentam apenas a série simples (haplóide) dos 23 cromossomas, que pela
fecundação do óvulo se ligam com os cromossomas da outra célula, dando origem a uma série
cromossómica completa (diplóide). É determinado então o sexo: se uma célula espermática com um
cromossoma X consegue fecundar um óvulo com um cromossoma X, nasce uma fêmea (XX); se, pelo
contrário, o espermatozóide tem cromossoma Y, é gerado um macho (XY). Em 23 cromossomas há 2
23 @ 8 388 608 diferentes possíveis combinações dos cromossomas dos pais. A probabilidade de que
em dois filhos dos mesmos progenitores se realize exactamente a mesma combinação de cromossomas
é abstraindo o caso dos gémeos uniovulares de 1: 8 3 88 6082 = = 1:70 biliões. Na prática
cada indivíduo possui, portanto, uma combinação hereditária única.
Perturbações no mecanismo de distribuição dos cromossomas despertaram nos últimos tempos
particular atenção como causadores de doenças («doenças cromossómicas»). Isso permitiu também
chegar a importantes conclusões acerca da organização e do modo de agir do material genético. A
acção dos genes individuais pode ser determinada sómente em presença de diversos a'elos (por
exemplo,
199
Genética humana
um alelo dominante D para a pigmentação e um alelo recessivo d para a ausência de pigmentação);
este cruzamento pode combinarse e dar origem a diversos genótipos (património hereditário:
dominante homozigótico, DD; heterozigótico, Dd; recessivo homozigótico, dd) e causar o
aparecimento de vários fenótipos (aspecto externo dos indivíduos, por exemplo, pigmentação forte
ou fraca). Para o homem conhecemse, pelo menos, 336 genes individuais (v. Verschuer) dos quais
51 para características normais e 285 para taras hereditárias. O forte predomínio dos genes
patológicos explicase pelo facto de a maior parte das características normais derivarem do
concurso, de numerosos genes (polimeria), o que toma difícil ou impossível a análise genética,
ao passo que as taras hereditárias derivam frequentemente de um único gene aberrante
(monomeria). Em espécies aparentadas não só se encontra coincidência quanto ao número e à forma
dos genes, mas também nos genes individuais quanto mais próximo for o grau de parentesco. O
estudo biológico comparado da hereditariedade permite, por isso, também conclusões análogas
sobre genes humanos e seus efeitos quando nos géneros afins se apresentam as mesmas
características hereditárias (condrodístrofia, características de pigmentação, etc.).
MÉTODOS DA GENÉTICA HUMANA. INVESTIGAÇÃO DE GÉMEOS E SUAS FAMíLIAS. A genética humana dispõe de
um «método infalível» (v. Verschuer) para estabelecer se na formação de determinada
característica participam caracteres hereditários: o método dos gémeos. Há duas espécies de
gêmeos: 1) gêmeos uniovulares (monozigóticos, idênticos, GU), que derivam da divisão precoce de
um único óvulo fecundado, pelo que se assemelham, quer do ponto de vista genotípico, quer do
fenotípico; 2) gêmeos biovulares (dizigóticos, fraternais, GB), provenientes de dois óvulos
simultâneamente fecundados, ou com breve intervalo, e que por isso possuem um património
genotípico e fenotípico comparável à média dos outros irmãos nascidos dos mesmos pais. Os dois
tipos podem ser diagnosticados fàcilinente por uma análise de semelhança polissintomática, ou
seja mediante um estudo comparativo das semelhanças referentes a numerosas características,
entre as quais grupos san
200
Genética humana
guineos, medidas da cabeça e do corpo, cor dos cabelos e dos olhos, impressões digitais, forma
das orelhas e traços físionómicos. Para determinar se um carácter é ou não hereditário examina
se quantas vezes nos dois tipos de gêmeos há concordância ou discordância. Sc os gémeos
uniovulares apresentam concordância nitidamente superior à dos biovulares isto significa que as
disposições hereditárias tiveram parte preponderante na formação do carácter. As diferenças que
frequentemente se notam entre gêmeos uniovulares podem ser devidas a erros de mensuração ou a
influência de ambiente (modificações). Pelo volume das diferenças médias observadas nos gémeos
uniovulares pode deduzirse em que grau os caracteres estão sujeitos a modificações devido aos
factores ambientais. Completamente subtraídos à influência do ambiente são, por exemplo, os
grupos sanguíneos; relativamente sujeitos a ela são, pelo contrário, as medidas do corpo, e
sobretudo o peso.
O método dos gêmeos não indica, porém, a proporção total da modificalidade de uma
característica, pois que também em gêmeos uniovulares criados em famílias de diverso ambiente o
meio não é completamente indiferente. Assim a tendência para o aumento da estatura, o que se
observa de há um século a esta parte, revelou uma modificabilidade mais acentuada desta
característica do que aquilo que se poderia ter concluído pela investigação dos gérneos. O
estudo dos gémeos não nos dá qualquer indicação quer sobre a transmissão de uma característica
quer dos seus genes, que só se toma possível através do estudo das famílias. Para comprovar a
veracidade das leis mendefianas tomase necessário reunir para o efeito crianças de numerosas
famílias, devido ao escasso número de descendentes de cada família humana. No homem, por razões
óbvias, o estudo do hibridismo substitui a experimentação pela observação dos cruzamentos
raciais. As mais profundas investigações deste tipo, que estudaram o mecanismo da transmissão
hereditária de numerosas características rácicas, foram realizadas sobre bastardoy de Rehoboth,
descendentes de holandeses e hotentotes na África do Sul (Eugen Fischer, 1913), sobre mestiços
de Kisar (arquipélago malaio, Rodenwaldt,
1927) e sobre mulatos, cruzamentos entre brancos e negros na Jamaica (Davenport e Steggerda,
1929).
201
Genética humana
HEREDITARIEDADE DAS CARACTERíSTICAS MORFOLõGICAS. Os estudos sobre os gêmeos e suas famílias
indicam um componente hereditário preponderante para as medidas e proporções do corpo na
totalidade ou por secções. Também ao crescimento preside uma multiplicidade de genes, em parte
como maquinismo de controle, que age sobre os sistemas reguladores hormonais ou nervosos. Pela
patologia são també m conhecidas séries individuais de genes que provocam anomalias
características do crescimento, e
Peso
Perímetro torácico Estatura
Largura dos ombros Compii da cabeça
1,argura da cabeça
influência da hereditariedade
Fig. 53. Influência da hereditariedade e do ambiente na variabilidade de características
métricas. Diferença média dos gêmeos: a) gêmeos uniovulares no mesmo ambiente. b) gêmeos
uniovulares em ambiente diferente; e) gêmeos biovulares no mesmo ambiente. A diferença entre a)
e b) deve levarse à conta de factores ambientais; entre a) e e) a factores hereditários.
O peso e o perímetro torácico são mais sensíveis à influência do ambiente; estatura, largura dos
ombros e dimensões da cabeça sofrem menos influência (segundo O.v. Verschuer, 1934)
deste modo também do tamanho e das proporções do corpo, e cujos alelos normais são, portanto,
evidentemente necessários para o crescimento contínuo (por exemplo, a condrodistrofia = nanismo
com encurtamento e engrossamento das extremidades, resultante de anómala proliferação
cartilagínea; nanismo de Hanhart = inibição do crescimento a partir do terceiro ano de vida,
etc.). É possível que tais formas raciais extremas, entre as quais particularmente o nanismo
racial, sejam devidas a genes que se relacionem com tais mutantes anó malos (E. Fischer).
As características fisionómicas, que têm grande importância para a sistemática racial
(conformação da fronte; posição do bulbo ocular, forma e posição da abertura palpebral, forma da
plica palpebral, plica mongólica; forma dos supraciliares; perfil do nariz, forma das fossas
nasais e do septo nasal; posição dos zigomas; espessura e perfil dos lábios; forma do mento,
etc.), não estão sujeitas à influência do meio ambiente, e, na conformaçã o que apre
202
Genética humana
Fig. 54. A hereditariedade das formas do cabelo num grupo
de Negros híbridos (segundo RuggIesGates, 1949)
sentam no adulto, dependem em medida bastante restrita das modificações respeitantes ao
crescimento. O mesmo é válido em relação ao cabelo, que pennite distinguir, entre outros, três
grupos raciais (crespo, «u@ótrico», ou «helicótr@co» dos Negróides; escorrido, lissótrico nos
Mongolóides, cabelo variável de liso ao ondulado ao anelado, «cimótrico» nos Europóides); além
disso o mesmo acontece com as caracte7@sticas dermatográficas (papilas cutâneas digitais,
palmares e plantais), que revelam grandes diferenças raciais e geográficas; assim como,
finalmente, para o formato da
Fig. 55. Hereditariedade de carac@eristicas morfológicas. Orelhas e impressões digitais (13) em
gêmeos uniovulares. Em cima as do i)rimeiro Dar de gémeos e em baixo as do outro (segundo W.
Abel, 1940, e R. Lotze, 1937)
203
Genética humana
orelha e para a estrutura da íris. Todas estas características são por conseguinte importantes a
fim de estabelecer se dois gêmeos são uniovulares ou biovulares e fixar relações de descendência
(> Comprovação da paternidade).
A pigmentação da pele, dos olhos e dos cabelos, que constitui outra característica assaz
importante para o objectivo da sistemática racial, subtraise também quase completamente à
influência ambiental, embora revele algumas variações com a idade (incremento da cor dos cabelos
e
Pais
Número
de pais
Cor dos olhos dos filhos (Percentagem)
Número
de filhos
Sem pigmen
to
Escassa pigmentação
Pigmentação média
Pigmentação abundante
Sem pigmento x sem pigmento
189
85,2
14,8
440
Sem pigmento x pigmentação escassa
283
51,6
32,6
12,3
3,6
585
Sem pigmento x pigmentação média
153
37,2
21,5
26,3
15,O
274
Sem pigmento x pigmentação abundante
108
20,5
16,3
27,4
35,8
215
Pigmentação escassa x pigmentação escassa
91
25,9
42,O
23,O
9,2
174
Pigmentação escassa x pigmentação média
43
17,3
29,3
36,O
17,3
75
Pigmentação escassa x pigmentação abundante
21
12,1
30,3
3,O
54,6
33
Pigmentação média x pigmentação média
129
17,O
20,16
30,4
32,O
Genética humana
dos olhos nas populações de raça mista; coloração mais escura da pele nos Negróides adultos,
exceptuados os recémnascido,s. Estudos sobre famílias e particularmente sobre mestiços revelam
nítida tendência para o predomínio do grau mais escuro de pigmentação (Davenport, Fleischhacker,
RugglesGates, Tillner, etc. Todavia não se trata de simples relações recessivas dominantes, mas
sim da intervenção de uma pluralidade de genes que devem ser consideràvelmente similares aos dos
outros mamíferos (coelho, cão, ovelha, boi, suíno) (Steíniger). São também outras anomalias da
pigmentação (aIbinisma = ausência mais ou menos total do pigmento; melanismo = superprodução
local de pigmento). É possível que existam relações com variantes de pigmentação racialmente
determinada: por exemplo, o albinismo com determinada forma de despigmentação no Norte da
Europa, mas o problema está longe de ser esclarecido nas particularidades.
HEREDITARIEDADE DAS CARACTERíSTICAS HEMATOLóGICAS. @ Ao passo que a maior parte das
características do homem são poligènicamente (ou pela interacção de vários genes) condicionadas
de facto, crêse hoje que os genes não são unidades atómicas e cada locus é susceptível duma
análise estrutural e também funcional; existem diversas interacções entre os genes que tomam
mais ou menos variável a tradução aparente (fenótipo) dos caracteres que eles representam; estas
interacções, eventualmente acopladas a acções ambientais, permitem, com a diversidade de
mutantes, explicar a enorme variabilidade das características dos vários indiví duos assim como
a variação das manifestações nas diversas fases do ciclo vital individual (heterocronismo), a
variação de# grau com que um determinado carácter se manifesta (expressividade), ou ainda o
aparecimento ou não do carácter génico numa maior ou menor percentagem de casos (penetrância)»Ç
Apesar desta complexidade, foi possível encontrar em numerosas caracterísficas hematológicas (=
do sangue) os genes participantes e até os mecanismos hereditários simples; estes oferecem os
melhores exemplos que a genéti@a humana pode dar para verificar os casos simples previstos pelas
leis mendelianas Ç dominância, carácter recessivo,
205
Genética humana
existência de genes distintos com acção de igual penetrância no fenótipo, alelomorfismo
múltiplo.5 Os caracteres hematológicos estão provilvelmente ligados a influências genéticas
intercelulares, nos quais as disposições hereditárias actuam directamente em determinadas partes
constitutivas da célula (v. Verschuer). Nalguns casos também se tem conseguido determinar em
forte medida a estrutura bioquímica e a maneira como os genes interessados actuam. Tal foi
possível, por exemplo, no caso da drepanocitose (cf. mais adiante). Noutros casos a estrutura
molecular interessada sómente pode ser determinada mediante reacções de aglutínação. No sistema
ABO, que se conhece há mais tempo (Landsteiner, 1901) foram determinadas duas substâncias
aglutinantes (antigénios), presentes nos glóbulos vermelhos, e duas aglutininas (anticorpos)
presentes no soro: com estas propriedades antigénicas e respectivas aglutininas caracterizamse
quatro «grupos sanguíneos»:
1) Grupo sanguíneo O: os glóbulos vermelhos dos indivíduos pertencentes a este grupo não se
aglutinam com nenhum soro, o soro destes indiví duos aglutina, pelo contrário, os glóbulos
vermelhos dos outros três grupos;
2) AB: os glóbulos vermelhos são aglutinados. pelo soro dos outros três grupos; o soro dos
indivíduos que pertencem a este grupo não aglutina os glóbulos dos outros três grupos; 3) A e
4) B: @ no caso de B, por exemplo, o seu soro aglutina as hemácias de A e de AB; os seus
glóbulos são aglutinados. pelo soro de O e A; o mesmo é válido para A, «mutatis mutandis».
Efectivamente A subdividese em pelo menos dois subgrupos AI e A, (foi também descrita uma forma
particular do grupo A designada A,,).@
Em outros casos de aglutinação serológica os anticorpos não existem no soro humano, mas no
sangue de determinados animais.
f Até agora evidenciaramse pelos anticorpos pelo menos sessenta antigénios entrocíticos
diferentes (há sete hipotéticos) agrupados em pelo menos dez sistemas genéticos (não referindo a
dezena de antigénios pouco correntes, familiares ou «colectivos).Ç Actualmente os sistemas mais
importantes (~> Fisiologia das raças, > Comprovaç@w da paternidade) são: 1) O sistema
ABO, com, pelo menos, quatro alelos: A, A, B, 0) de um s6 loco («alelomorfismo
206
Genética humana
múltiplo»: A e B são dominantes relativamente a O, A, é dominante para A,, A e B são de igual
penetrância (A e B aparecem em heterozigotos); 2) o sistema MNSs, com dois locos, aos quais
correspondem respectivamente dois pares de genes alelomórficos acoplados, M e N, S e s: os dois
genes de um mesmo par são isovalentes (sem predominância de um sobre o outro): há outras formas
mutantes raras como N «fraco» (N,) e M «fraco» (M, e Me); @ há ainda um Mg, que é interessante
porque o antigénio não reage nem com os soros antiM nem com os soros antiN.@ 3) O sistema Rh:
no mesmo cromossoma há
Características
Número
Características
dos pais
de famílias
dos filhos
M XM
24
MN
gB
N xN
27
M xN
30
43
M x MN
86
183
196
N x MN
71
156
167
MN x MN
1 1
69
71
141
63
Mecanismo de transmissão hereditária do grupo MN (segundo
S. S. Wiener @ 1943)
vários locos; segundo. a teoria de A. R. Fischer, os principais são três com pelo menos, dois
alelos cada um (C, c; D, d; E, e); há depois uma série de mutantes mais raros (D4@ Cw@ C4@ C x,
Cv, Ea, Ew) e muitos outros. Efectivamente conhecemse hoje antigénios Ril a que correspondem
288 combinações cromossómicas e aproximadamente 42 000 combinações genotípicas. Citese, em
particular, os pares alelomórficos F,f e V,v, ou V,f. Podemse determinar os heterozigotos Ce e
Ee (isovalência, ou ausência de dominâncias respectivamente entre C e c e E e e). Até agora só
tem sido possível determinar d pela ausência de D e W. Outras características hematológicas
hereditárias são as que seguem: o sistema P: um loco génico com
três alelos, P, P@@ e p, sobre cuja interpretação genética ainda não se chegou a acordo; o grupo
sanguíneo luterano: um loco com dois alelos Lua e LUb. Há dominância da
207
Genética humana
presença do antigénio Lu (a + ou b + ) sobre a ausência (a ou h ); o grupo sanguíneo Ke11. um
loco com dois alelos, com K + dominante sobre K Foram descritos recentemente outros
antigénios pertencentes ao sistema Kell (Ka e Kb); o grupo sanguíneo Lewis: um loco com dois
p p alelos, neste caso a ausência do antigénio Le (a) é dominante sobre a presença Le
(a+). Crêse que o sistema Lewis não é efectivamente um sistema de antigénios dos eritrócitos,
mas de substâncias que existem em secreções como a saliva e no soro e que secundàriamente se
fixam sobre os eritrócitosf; o grupo sanguíneo Duffy: um loco génico com dois alelos (Fa e Fb
com Fy (a +) dominante
y y sobre Fy (a ) admitese um terceiro alelo (Fy); o grupo sanguíneo Kidd: um loco com três
alelas, jka, jkb e JK, cuja interpretação genética se mantém em discussão; o grupo sanguíneo
Diego: um loco com dois alelos, Dia e Dib@ ou simplesmente Di, dominante o primeiro
relativamente ao segundo; o grupo sanguíneo Sutter: um loco com dois alelos, dominante JSa sobre
Js. f Os antigénios que correspondem a estes dois últimos grupos (DiegoSutter) encontramse só
em certas raças. Também um certo número de doenças ou taras hereditárias tem assumido
importância do ponto de vista antropológico, em virtude de revelarem nítidas diferenças
geográficas e raciais.@ O gene da drepanocitose nos heterozig(>tos determina uma deformação
característica dos glóbulos vermelhos do sangue, que tomam uma forma falciforme em ambiente
pobre de oxigénio (drepanócitoy, «sickIecell») enquanto nos homozigotos dá origem a uma doença
do sangue, muitas vezes mortal (anemia drepanocítica), que foi pela primeira vez descoberta nos
Negros dos Estados Unidos, ao passo que nos Brancos norteamericanos quase não existe. Mais
tarde descobriramse também núcleos de genes na india, Europa Meridional e no Próximo Oriente.
Nos Negritos africanos a frequência da drepanocitose varia entre O e 44 por cento. As grandes
diferenças regionais de frequência devem relacionarse com a difusão da malária (Allison). Em
áreas com malária endémica a drepanocitose é mais frequente do que em regiões livres da malária.
Os drepanocíticos inoculados com parasitas da malária
208
Genética humana
são menos atacados do que os outros. Portanto a drepanocitose serve de protecção, contra a
malária e os heterozigotos são favorecidos por selecção natural, enquanto os homozigotos
drepanocíticos são dizimados pela anemia drepanocítica e os homozigotos normais são atacados
pela malária. f Tratase, neste caso, de um exemplo de polimorfismo genético, em que se mantém
um alelo extremamente perigoso para o homozigótico, mas vantajoso no heterozigótico.Ç A natureza
bioquímica da hemoglobina anormal S, que está na base da formação drepanocítica dos glóbulos
vermelhos, já está esclarecida (um ácido aminado [ácido glutânico] da hemoglobina normal é
substituído por outro ácido aminado [a valinal assim a anemia drepanocítica pôde ser
considerada por Pauling como uma doença molecular). Além dos glóbulos vermelhos do sangue também
as proteínas do plasma podem ter comportamento mendeliano. A determinação dos seus vários tipos
baseiase na diversa velocidade das migrações de cada uma das fracções proteínicas num campo
eléctrico (electroforese). Actualmente conhecemse particularmente: 1) A haptoglobina, com dois
alclos H p1 e H p1 e três fenótipos com mecanismo
hereditário isovalente; 2) A transfen@na, da qual se conhecem diferentes fenótipos, é
provàvelmente determinada por uma série de três alelos; 3) O sistema Gc com dois alelos Gel e
Gc1 e três fenótipos no mecanismo hereditário isovalente: 4) O sistema Gm, com pelo menos
catorze alclos e dezassete fenótipos até agora demonstrados. O material de estudo aumenta
continuamente e contribui de forma notável para o enriquecimento das bases bioquímicas da
transmissão hereditária (genética molecular). HEREDITARIEDADE DOS CARACTERES PSIQUICOS.
Investigações sobre gêmeos e famílias revelaram também uma componcnte hereditária para numerosas
características psíquicas, se bem que até agora exceptuadas algumas formas de oligofrenia não
tenha sido possível analisar genes individuais. No domínio psíqdico os factores ambientais são
extremamente complexos porque na formação do fenótipo participa o ambiente cultural e social na
sua totalidade. As relações geneambiente tomamse assim ainda mais complicadas pelo facto de
serem correlacionadas: os progeni
209
Genética humana
tores não se limitam a transmitir aos filhos as suas disposições hereditárias, mas criam também
o ambiente no qual eles se desenvolvem.
O estudo da hereditariedade da inteligência dispõe hoje de uma quantidade considerável de
material, que a determina através de testes ou mediante a apreciação de mestres. Em todas as
baterias de testes os gémeas uniovulares são mais parecidos entre si do que os biovulares, e os
parentes tanto mais semelhantes quando mais estreito for o grau de parentesco; os filhos
adoptivos apresentam em relação aos pais adoptivos semelhança inferior àquela que os filhos
naturais têm em relação aos seus verdadeiros pais; a inteligência dos filhos ilegítimos
internados em orfanatos está correlacionada com a dos seus pais naturais. Através de
experiências com animais demonstrase a possibilidade de seleccionar castas inteligentes e
estúpidas (Tryon). Por meio dos testes referidos provase claramente também a
componente ambiental: nos 125 pares de irmãos criados em diversas famílias existe uma correlação
de + O,25 inferíor à correlação média, que é de + O,50 (Freeman e outros).
Grau de parentesco
Gêmeos uniovulares no mesmo ambiente Gêmeos uniovulares em ambiente diferente Gêmeos blovUlares
Irmãos e irmãs no mesmo ambiente Irmãos e irmãs em ambiente diferente Paisfilhos Avósnetos
Pais adoptivosfilhos adoptivos Filhos adoptivos na mesma família Filhos adoptivos e filhos
legítimos
O,88
O,77
O,63
O,50
O,25
O,50
O,15
O,15
O,35
O,35
Incidência da hereditariedade e do ambiente sobre a Inteligência: correlações entre parentes
(segundo diversas fontes,
utilizadas »or A. Anastasi, 1958)
Grandes talentos criadores derivam com frequência de famílias donde provieram já personalidades
eminentes (Galton, 7uda, Woods). Há numerosas famílias notáveis por surgirem nelas com
frequência talentos especiais; por exemplo, famílias de músicos (Bach, Mozart, Strauss, Weber,
210
Genética humana
etc.); de matemáticos (Bernoulli); de cientistas (Darwin, Galton); de artistas (Cranach,
Holbein, Tischbein, Bellini, C=acci, Longh@ etc.); de literatos e filósofos (Gerok, Hauff,
Hegel, Hõlderlin, Kerner, Mõrike, Schelling, Schiller, Uhland eram todos aparentados entre si).
Por outro lado, entre as numerosas espécies de oligofrenia há formas hereditárias que se
manifestam com alto grau de concordância entre os gémeos uniovulares e uma elevada possibilidade
de taras hereditárias nos filhos de progenitores oligofrénicos. Menos sujeitos à influência
ambiental quanto às características da «personalidade cortical» (capacidade de pensar e de
abstracção) são, pelo contrário, os traços da «personalidade endotí
mi.ca» (humor predominante, emocionalidade, im 1
pulsos vitais). Entre outros 3 traços, os gerneos uniovulares são mais semelhantes
15
entre si do que os biovu 16 lares na expressividade do
Ia gesto e nos outros movi
mentos, na estrutura do 19
carácter (Kõhn, Lottig, 20 etc.), na criminalidade e GU
CB até no tipo do crime Fig. 56. Hereditariedade de carac («Verbrechen aIs Schick
terísticas psíquicas. Confronto sal» [«0 Crime como Des_ entre as características de 10
Im
res de gérocos uniovulares (GU) tino»], Lange Stumpf1 e e io pares de gêmeos biovuiares
(GB) = forte concordância; ( =) outros, concordante em fraca concordância; x forte dis
dância; ( x ) fraca discordân
111 pares de gémeos unio ecioar (segundo H. Lotting, 1931) vulares, 72 por cento; em
111 pares de biovulares a concordância é de 38 por cento). Naturalmente, é tanto mais difícil
recolher séries extensas
NT T(,
de informações quanto mais se quer aprofundar a análise dos caracteres. O mesmo se pode dizer
das investigações sobre famílias, nas quais alguns caracteres podem ser seguidos através de
muitas gerações (GoIdschmidt, SchulIzeNaumburg). Em experiências com animais podem ser obtidos
por selecção exemplares ousados ou tímidos, activos ou preguiçosos, outros mais ou menos
inteligentes.
211
Genética das populações
A medida na qual as características psíquicas são produtos de transmissões hereditárias
estabelece os limites dentro dos quais pode actuar a educação. Quando falte uma prova firme de
que um carácter é determinado de maneira absoluta por um fenómeno, da hereditariedade e onde as
diferenças individuais na modificabilidade sejam muito grandes, o educador deverá aceitar, em
princípio, a capacidade de formação e de educação. Ao lado destes pontos de vista objectivos há
também actualmente muitos préjuízos na apreciação do papel das disposições hereditárias e do
ambiente no domínio psíquico. Assim, por exemplo, existe nítida relação entre optimismo e
pessimismo nas relações do ambiente, por um lado, e as orientações políticas, pelo outro: um
alto apreço pelos factores hereditários e raciais encontrase preponderantemente nos
representantes de conservatorismo político, uma concepção optimista acerca da possibilidade da
influência do ambiente existe, pelo contrário, na atitude políticoliberal. (N. Pastore).
Genética das populações A genética das populações pode ser considerada um ramo da
filogenética experimental (> Origem do homem). Os hominídeos apareceram desde o início
reagrupados em comunidades de indivíduos que se entrecruzaram entre si. No decurso da história
da evolução, estas populações de hominídeos transform aram se de pequenos núcleos originários
(hordas e uniões familiares) em grandes populaçõ es. Hoje toda a hurnanidade pode ser
considerada como uma grande população extremamente complexa com uma imensa rede de ligações
sexuais, na qual coexistem, porém, muitas populações de diversa grandeza. Em genética, por
população (yohannsen, 1903) entendes.e um grupo de indivíduos interfecundos que se reproduzem
numa determinada área geográfica. Particularmente, uma população é designada população
mendeliana (Wright, 1931) quando os seus membros, na mesma área geográfica e no mesmo horizonte
cronológico, estejam sujeitos às mesmas variações genéticas, como seja os efeitos das mutaç@es e
da selecção. Cada indivíduo de tal população dispõe de uma parte do, património génico
complexivo. A mais vasta população mendeliana é representada pela espécie, e dividese numa
série gradual de populações
212
Genética das populações
de grandeza decrescente. Os hominídeos entram igualmente nesta definição.
A genética das populações investiga com métodos esta~ tísticos as variações às quais está
sujeita a estrutura genética de uma população e propõ ese ultrapassando daqui os limites de
uma invest@gação puramente estatísticadeterminar as causas de tais variações. Do ponto de vista
metó dico é essencial tomar como modelo uma população ideal, que naturalmente é uma entidade
abstracta. Tal população é práticamente infinita, e nela domina a panmixia (ou seja, igual
probabilidade de acasalamento de todos os indivíduos entre si); nela não há mutabilidade; faltam
nos indivíduos diferenças devidas à adaptação ao meio ambiente, que não é passível de mutações.
No património génico de tal população domina um estado de equilíbrio resultante de uma normal
reprodução sexual (Hardy e Weinberg, 1908). O dito equilíbrio estabelecese nela, no breve
decurso de uma geração, sem interessar a frequência com que, de princípio, existiam dois alelos
A,a. Se a frequência do alelo dominante é A = q, e a do recessivo a = 1q, obtémse a frequência
genotípíca q 2AA: 2q (lq) Aa : (1q)laa (combinação mendeliana F@). As frequências dos
alelos sã o, portanto constantemente qA e (lq)a. Numa tal população ideal não pode haver
portanto qualquer evolução. Esta fórmula de Hardy e Weinberg é a base teórica da estatística
genética, ou seja do cálculo das frequências dos genes no seio de uma população.
De modo geral a evolução pode definirse como trans formação na frequência dos genes. Tais
transformações são no entanto possíveis sbmente quando se altera o estado ideal da população. As
alterações podem manifestarse de diversas maneiras. Assim, no património genético de uma
população real que se afasta da grandeza práticamente infinita da população ideal intervém a
transformação causal das frequências génicas (efeito SewallWright,
1921). Em virtude desta alteração, também chamada «flutuação genética («genetic drift»), alguns
genes podem perderse, ser eliminados, ou o seu número aumentado, sem embargo da sua capacidade
de adaptação. Isto é especialmente válido para pequenas populações, nas quais o efeito da
flutuação pode conduzir em prazo relativamente curto
213
Genética das populações a modificações evolutivas. Deste modo podem surgir novos grupos
sistematizáveis de pequena extensão. Nas populaçõ es de cena grandeza os efeitos da flutuação,
por si sós, não têm qualquer acção importante do ponto de vista da evolução. Particularmente
importantes para os efeitos da flutuação genética são as variações quantitativas (de natureza
causal ou rítmica) na grandeza de uma população e do espaço por ela ocupado. As modificações na
frequência dos genes, ou dos alelos, podem revestirse de um significado evolucionístico e
fornecer material para a selecção. As análises mostraram, na prática, que a flutuação genética,
por si só, não conduz essencialmente a qualquer efeito evolutivo e não pode condicionar uma
evolução se não for fundada no mecanismo da selecção e da adaptação. Isto é válido, «mutatis
mutandis@> também para o homem. Se entré duas populações da mesma espécie desaparece o
isolamento geográfico resulta a sua interpenetração. Este caso classificase de «fluxo,
genético» (mestiçagem ou híbrídismo humano). A mestiçagem pode levar a um amálgama de populações
e raças com novo património génico.
A mutabilidade amplia, mediante as mutações (génicas, cromossómicas e genómicas, ou seja
mutações no número dos cromossomas) a variabilidade genética das populações, ou o seu património
genético. Nos insulados podem naturalmente separarse conteúdos parciais do património gené~
tico, que se tornam assim o ponto de partida de novos processos evolutívos. A variabilidade do
património genético pode ser reintegrada por virtude de mutações. Geralmente, diferenças na
capacidade de adaptação dos alelos, podem ser provocadas devido a mutações; assim se oferece
material para a intervenção das selecções. Mas a selecção condiciona a sobrevivência do mais
apto e controla quantitatívamente a frequência dos genes dentro do património genético da
população. Em exemplos susceptíveis de análise pôde afirmarse com precisão que os alelos
mutantes estão em vantagem do ponto de vista da selecção. Isto reflectese no aumento do número
dos descendentes de um genótipo relacionado com outro. É assim que se exerce o impulso ou
pressão da selecção, que pode ser exactamente avaliada como variação da frequência génica por
geraç5es. O chamado coeficiente de selecção oscila de + 1
214
Genética das populações
a O a 1, de uma selecção completamente positiva a um estado neutro a uma selecção inteiramente
negativa. O valor selectivo de um gene coincide portanto com um ponto compreendído entre dois
extremos + 1 e 1. Mas a frequência de um gene é acrescida pela pressão da mutação, à qual
corresponde a pressão da selecção (cada gene tem um certo âmbito de mutação, que é muito baixo e
compreendido entre 101 e 101). Não se deve subestimar, por outro lado, que a pressão da
selecção de um gene depende essencialmente de um genótipo do, sistema poligénico no qual se
encontra. As combinações sexuais dos genes são por isso de extraordinária importância do ponto
de vista evolutivo.
As variações quantitativas da frequência génica dentro das populações, que representam um sector
de estudo da genética das populações, constituem a base para a gênese das raças, que por. sua
vez é o fundamento do estudo da formação das espécies; sobre esta assenta a evolução geral.
A genética das populações alcançou os seus maiores sucessos experimentais com a Drosophila
(escola de Dobzhansky, que actualmente trabalha com populações inteiras e estuda as frequências
de determinados cromossomas oportunamente marcados e a sua combinação). Estas análises
provocaram uma completa comprovação experimental da teoria da selecção de Darwin.
Em casos particularmente favoráveis é possível já com meios relativamente simples demonstrar,
mediante análises das populações, os efeitos da selecção. As variações quantitativas na
frequência dos geney capazes de adaptação podem ser verificadas a partir do claro exemplo do
reino animal. O melanismo industrial é um fenómeno que tem sido observado em zonas de atmosfera
poluída. As impurezas atmosféricas alteram, por exemplo, a cor da casca da bétula sobre a qual
pousa a Biston betularia, a qual se adapta à cor clara da casca da bétula e dos líquenes que
nela se desenvolvem. Nas zonas industriais começaram a aparecer, desde 1850, variantes com
coloração mais escura do corpo e das asas (var. carbonária). Hoje sabemos que esta coloração
melanística é originada por um único gene que condiciona também uma constituição mais robusta.
Este gene apareceu primeiramente com diminuta frequência e foi progressivamente eliminado, se
bem que as borboletas que
215
Genética das populações
o transportavam fossem mais fortemente coloridas do que o «normal». A actividade do factor
eliminador (pássaros) era considerável: a cor escura da «carbonária» permitia um mais forte
contraste sobre o fundo claro dos troncos e dos ramos das bétulas. O melanismo continuou todavia
a manifestarse sob a forma de mutações, e com o progresso da industrialização a concentração da
variedade escura, e assim do gene correspondente, aumentou sempre mais; hoje, em zonas
fortemente industrializadas, sobe a
99 por cento, isto é, nestas regiões quase só se encontram borboletas escuras. A variante
«carbonária», de facto, num ambiente industrial (no qual os troncos das bétulas estão
notàvelmente escurecidos) está mais protegida da voracidade dos pássaros do que na forma clara
originária «betularia» e actualmente é a «carbonária» que se tornou «normal». Este caso, que
anteriormente provocou especulações do tipo lamarckiano, foi agora investigado com exactidão
matemática por Ford e Kett,ewell, que o esclareceram mediante o maquinismo da selecção. Das suas
investigações foi verificado que nas zonas industriais a variante «carbonária» sobrevive 10 por
cento melhor do que a forma clara, ao passo que nas regiões não industriais a forma clara
sobrevive 17 por cento melhor. Também a intensidade da pigmentação escura aumentou com o
decorrer do tempo. Há mais casos com semelhante fundamento, que nos permitem conhecer as
condições em que se dão as oscilações quantitativas na frequência dos genes e mostram sobretudo
que a acção de adaptação, dos mesmos se explica através do aumento da frequência que se revela
útil aos fins da selecção.
Acerca das flutuações génicas no seio das populações bumanas ainda pouco sabemos. Até agora não
foram possíveis observações directas do fenómeno. Todavia, assistese com tanta frequência a tão
significativa analogia com casos observados no reino animal que parece lícito considerar também
para os seres humanos frequências crescentes de um gene, ísto é, fluxos genéticos (aparecimento
de genes em populações que anteriormente não os possuíam) e se possam igualmente considerar os
efeitos da selecção sobre genes capazes de produzir adaptação e suas combinações, sem que, no
entanto, se possa afirmar seja o que for de
216
Genética das populações
preciso sobre as suas características especiais. Contudo, isto em principio é possível, embora
«grosso modo», como, por exemplo, no caso da drepanocitemia (> Genética humana), na qual os
heterozigotos resistem à malária e são por isso favorecidos do ponto de vista da selecção; a
selecção positiva proporciona o aumento da frequência do gene portador desta característica. Os
homozigotos normais são eliminados pela malária. Quando a malária não se manifesta diminui a
frequência do gene portador da drepanocitemia. Os drepanocitémicos homozigotos são naturalmente
eliminados devido à malária hereditária.
Profundamente estudadas têm sido as variações quantitativas e geográficas de alguns sistemas
sanguíneos, particularmente do sistema ABO (Birdse11). Assim, na Austrália falta normalmente o
grupo sanguíneo B, que porém aparece com pouca frequência na parte setentrional do continente
(RecheLehmann), devido à penetração por mar, através do estreito de Torres, de elementos
raciais neomelanésios. Tal gene B penetrou ainda mais longe do que as
influências culturais papuas. Vemos deste modo que os genes se difundiram para o Sul
independentemente do estado cultural da população. Isto é sómente um exemplo preambular, que se
preanuncia particularmente prometedor, do estudo estatístico dos fenómenos hereditários nas
populações humanas.
Grande número de caracteres raciais podem ser considerados genèticamente condicionados, o que em
muitos casos pode ser demonstrado. Deste modo fazse implicitamente uma afirmação sobre o seu
valor selectivo, se bem que este não possa ainda ser exactamente conhecido e apenas poucos
caracteres possam ser interpretados como consequência de um processo de adaptação. De qualquer
maneira está com
provado que na formação das raças humanas só intervêm os mecanismos tratados na genética das
populações, especialmente a selecção dos genes capazes de originar adaptação. Os fenómenos da
flutuação genética devem ter desempenhado papel importante, especialmente na primeira fase da
história das raças e na diferenciação filogenética dos hominídeos, pois nessa altura só deviam
existir populações muito diminutas. De facto, quanto mais pequeno é o
217
História da antropologia
número de indivíduos que compõem uma população tanto mais eficaz é o efeito Sewa11Wright
(Schwidetzky).
A genética das populações é um ramo da genética evolutiva que, em poucas décadas, se transformou
em fundamento científico exacto da investigação sobre processos evolutivos. Ainda que os
resultados principais desta ciência tenham sido obtidos no estudo das populações animais, os
seus métodos matemático estatísticos alcançaram um significado universal. Também os patrimónios
genéticos das populações humanas e as suas modificações quantitativas podem ser estudados com os
modelos da genética das populações. Porém, para os problemas da delimitação das raças, da
formação delas e da evolução universal verificouse já o que Darwin tinha formulado nas linhas
fundamentais, ou seja que a evolução nã o se processa através de indivíduos, mas sim de
populações.
História da antropologia A antropologia, considerada como ciência que aspira a uma total
compreensão do homem na pluralidade das suas manifestações, possui, se a compararmos com outras
ciências, uma existência relativamente curta, se bem que as suas raizes se estendam até
bastante longe no passado. Já se encontram alguns esboços dela como de quase todas as ciências
na Antiguidade Clássica (Aristóteles, Galeno). O termo antropologia, que remonta a Aristóteles,
não voltou a ser utilizado por outros autores na Antiguidade (> Antropologia). Durante a Idade
Média não se verificaram progressos essenciais no que diz respeito ao problema da posição do
homem na natureza.
O primeiro acontecimento científico de fundamental importância neste campo foi a classificação
do homem no sistema dos animais elaborado por Lineu (1735), que coloca o homem ao lado dos
antropóides: chimpanzé = = Homo sylvesíris ou Homo troglodytes; homem = Homo sapiens (« nosce te
ipsum»). Foi esta a «primeira concepção puramente científica» do homem (E. Fischer). Johann.
Friedrich Blumenbach (17521842) é considerado o verdadeiro fundador da antropologia. A sua obra
mais importante, «De gencris humani varietate nativa» («Da Natural Variedade do Gênero Humano),
constitui o fundamento da morfologia racial; a sua classificação dos homens em cinco
218
História da antropologia
raças foi geralmente aceite. Blumenbach fazia derivar as raças humanas de uma forma ancestral, a
partir da qual teriam evoluído em consequê ncia de influências ambientais. A recolha de uma
vastíssima colecção de crânios (actualmente em Gi5ttingen) também teve importância decisiva.
Emanuel Kant (17241804) ocupa igualmente uma posição importante nesta primeira parte da história
da antropologia. No ano de 1775, Kant revelou no seu escrito «Von den verschiedenen Racen des
Menschen» («As Diferentes Raças Humanas») uma desenvolvida sistemática racial e uma teoria da
raça. As raças remontariam a uma forma ancestral poligenética e teriam surgido principalmente
devido à acção de influências climáticas. Como é natural, a formação filosófica de Kant
desempenha papel essencial na elaboração das suas concepções antropológicas.
Com o, grande desenvolvimento verificado em todas as ciências naturais na primeira metade do
século xix também a antropologia veio a adquirir novas bases. A sua importância não cessou de
aumentar após Charles Darwin (180982) ter demonstrado a realidade da evolução dos organismos,
ensaiando, mediante a teoria da selecção natural Orígem do homem), uma explicação causal
para esse processo evolutivo. A partir desse momento, grande quantidade de ciências auxiliares
colocaramse ao serviço da antropologia: geologia, paleontologia, préhistória e toda uma série
de dados elaborados pela biologia. Neste esquema o homem constituía apenas uma parte do mundo
biológico, se bem que na qualidade de «primus inter pares». Em muitos casos, porém, aconteceu
sobreestimarse a importância dos métodos naturalistas no atinente à obtenção de uma imagem
acabada do homem, pois era frequente os cientistas ignorarem a «outra face» humana.
A importância excepcional que assumiu para a antropologia a darwiniana concepção dinâmica da
estrutura dos organismos, ocupando o lugar do sistema estático até então dominante, não pode ser
descurada. Assim como as outras ciências naturais principalmente a biologia e disciplinas
afins foram extraordinàriamente fomentadas pelo darwinismo, assim também a antropologia
conheceu um notável desenvelvimento nesta atmosfera. Com o contínuo enriquecimento do património
de conhecimentos acerca do
219
História da antropologia
homem, foi possível a criação de uma antropologia verdadeiramente científica. Há uma data
histórica que merece ser citada: a da fundação, por P. Broca (182480), em
1859, há mais de cem anos, portanto, da Société d'Anthropologie de Paris. A partir de então
fundaramse numerosas sociedades, mas são, sobretudo os seus trabalhos que caracterizam o
caminho seguido pela antropologia no século passado, caminho largo nem sempre isento de desvios
tortuosos,.mas apesar disso sempre progressivo e cada vez mais rico em descobertas. Eis as datas
da fundação das mais importantes sociedades antropológicas: Anthropological Society of London,
1863; Società italiana di antropologia, etnologia e psicologia comparata, 1869; Berliner
GeselIschaft für Anthropologie, Ethriologie und Urgeschichte 1869; Anthropologische GeselIschaft
in Wien, 1870; Anthropological Society of Washington, 1879; Società romana di antropologia, 1893;
Frankfurter GeselIschaft für Anthropologie, Ethriologie und Urgeschichte, 1900; Institut
Français d'Anthropologie, 1910; Institut de Paléontologie Humaine de Paris, 1911; Schwcizerische
Gese11schaft für Anthropologie und Ethriologie, 1920; American Association of Physical.
Anthropologists, 1921; Deutsche GeselIschaft für Physische Anthropologie, 1925.
Esta lista, embora fragmentária, mostra claramente o desenvolvimento que a antropologia atingiu
como ciência até ao final da terceira década do nosso século. O seu ulterior
desenvolvimento processouse com relativa rapidez, apoiado pelo aumento das colecções de
espécimes, tanto em número como em extensão. Especialmente os achados de grandes quantidades e
de séries completas de crânios (de raças recentes oriundas de todas as partes do mundo,
sobretudo da Europa Ocidental) deram lugar ao nascimento de uma «craniologia» e ao
desenvolvimento de uma rigorosa técnica antropométrica. Depois de A. A. Relzius (17961860) haver
introduzido na antropologia o método dos «índices», a craniologia (e com ela a osteometría do
esqueleto póscraniano) adquiriu importância ràpidamente. As investigações craniológicas,
contudo, acabaram por se tornar quase um fim em si próprias, porquanto foi largamente exagerado
o valor probatório dos vários achados; além disso, a extrema minúcia das tabelas de números
220
História da antropologia
davam a ilusória impressão de uma exactidão científica na realidade inexistente. Simultâncamente
também se leva ram a efeito mediç5es de seres vivos. Na Alemanha estas pesquisas foram
principalmente fomentadas por Rudolf Virchow (18211902). No clássico tratado de Rudolf Martin,
as técnicas antropométricas, actualmente usadas em todo o mundo (> Métodos da antropologia),
foram descritas de modo magistral. Actualmente é bastante evidente que a «época antropométrica»
foi extremamente fecunda de resultados para a história da antropologia e, não em pequena escala,
para a avaliação dos achados, cada vez mais numerosos, de fósseis hominídeos. Por outro lado, E.
Fischer teve razão em sublinhar que naqueles tempos faltava ainda um conhecimento biológico do
significado dos valores antropométricos. Com efeito, as leis de Mendel só vierpm a ser
descobertas em 1900, e sómente através da formulação de uma rigorosa teoria da hereditariedade
(pesquisas experimentais acerca da hereditariedade e das variações) se esclareceu
progressivamente o significado dos dados obtidos em função de análises de tipo quantitativo. De
resto, a «época antropométrica» ainda não chegou ao seu fim. Claro que se continua a medir, que
se tem de continuar a medir. Pelo menos desde os tempos das clássicas investigações de Schwalbe
sobre o crânio de Neandertal, sabemos que para a compreensão de grupos antropológicos e das
relações quantitativas que caracterizam um crânio fóssil e o distinguem de outro crânio não se
podem dispensar os métodos antropométricos. Todavia, ainda hoje é preciso estar atento ao perigo
de incorrer na sobrevalorização destes valores puramente quantitativos (mesmo quando na sua
determinação intervieram os modemos métodos estatísticos). Se bem que não se possa prescindir
deles, deve terse em mente que ao lado, e muitas vezes à frente, das relações quantitativas das
formas se encontra o aspecto morfológico que não é susceptível de ser revelado pelos
instrumentos de medição do antropólogo.
Na segunda metade do século xix começou a desenvolverse também a > paleontropologia. O seu
fundador foi 7. C. FuNratt, o qual recolheu, em 1856, perto de Dusseldorf, a calota do crânio do
«homem de Neandertal»
221
História da antropologia
e nela reconheceu o resto de urna forma humana da era glaciária. Cora este achado iniciouse a
investigação científica dos fósseis humanos. Neste sector os fundadores dos estudos sistemáticos
foram Marcellin Boule (18611942), em França, e Gustav Schwalbe (18441916), na Alemanha, para
mencionar os dois investigadores mais importantes. A investigação paleontropológica abrange hoje
quase todas as regiões da Terra e aumenta continuamente o número de achados. Além disso a
quantidade sempre maior de conhecimentos acerca da multiplicidade de formas dos hominídeos
recentes forneceu ulteriormente nova base para o desenvolvimento do conhecimento científico das
raças humanas. O primeiro estudo moderno e sistemático das raças foi apresentado em 1900 por 7.
Deniker, mas ainda sem conhecimentos genéticos suficientemente fundamentados. Deste modo o
conceito de raça ficou estabelecido de modo um tanto vago e em sistemas de classificação mais ou
menos arbitrários. Empreendeuse prematuramente por ser insuficiente o grau de conhecimento das
bases genéticas do conceito de raça a tentativa de interpretar a história da humanidade do
ponto de vista do estudo das raças. Nestas condições, semelhantes tentativas foram levadas a
efeito, de 7. A. Gobineau até L. Woltmann, sob a égide de sentimentos românticos e a partir de
avaliações quase sempre subjectivas. O «racismo» político que veio a eclodir mais tarde
fundamentouse nestas tentativas e não se mostrou acessível aos protestos de um estudo das raças
verdadeiramente científico. Às loucuras do racismo deve contraporse o estudo científico das
raças (E. v. Eickstedt).
Em 1869, Francis Galton (18221911), primo de Charles Darwin, fundara já a eugenia, de cujo nome
também foi o criador, mas ainda aqui se fazia sentir a falta de bases genéticas exactas, que só
foram adquiridas mais tarde, com o desenvolvimento e a divulgação da obra de Mendel.
O início do capítulo moderno da história da antropologia pode datarse do surto das primeiras
investigações experimentais exactas das leis de Mendel. Adquiriase assim uma nova base para o
desenvolvimento da antropologia hodiema. O grandioso desenvolvimento das investigações sobre a
hereditariedade (genética) impulsionou notàvelmente a problemática da antropologia. Eugen
Fischer foi
222
História da antropologia
o primeiro a demonstrar que no cruzamento das raças humanas a transmissão hereditária das suas
características era conforme às leis de Mendel (inquéritos acerca dos «bastardos de Rehoboth»,
1908). Precedentemente fora já comprovada a transmissão mendeliana de características humanas
normais e patológicas; Fischer, porém, foi o primeiro a empreender a tentativa de analisar a
transmissão das características no hibridismo humano. Estas investigações constituíram uma
viragem importante no desenvolvimento da antropologia. Actualmente a «análise gené tica» do
homem efectuou já notáveis passos em frente, sobretudo devido à > genética das popu1aç@es,
que estudou as relações quantitativas de determinados genes nas populações (especialmente no
que diz respeito aos factores sanguíneos), as variações nas concentrações genéticas e a sua
distribuição geográfica, prosseguindo estes estudos com o máximo empenho (Boyd, Birdsell e
outros). Estava assim lançada a pedra basilar de um conhecimento que actualmente nos parece
quase óbvio, isto é, de que as raças são grupos de indivíduos de composições genéticas
semelhantes, os quais, em última análise, se compõem de alelos mutáveis, combinados e
diferenciados nas suas áreas geográficas, mas que se podem desintegrar nos cruzamentos. A
diferença de raças não constitui impedimento à fecundidade. Conseguiu assim chegarse ao
conhecimento cada vez mais pormenorizado, em termos de causa e efeito, do processo de formação
das raças: os genes sofrem mutações e através da selecçã o natural ou se agrupam em combinações
de concentrações características, ou soçobram em face da pressão de uma selecção negativa.
Actualmente trabalhase com afinco na análise das acções recíprocas dos factores aqui
implicados. A genética experimental, e particularmente a genética das populações (Th.
Dobzhansky), apresentamnos estes processos estudados em modelos laboratoriais favoráveis
(Drosophila). Há cem anos, Charles Darwín apresentava pela primeira vez a sua teoria da selecção
natural. A remodelação promovida nas últimas décadas pela teoria da selecção através dos dados
da genética experimental (genética evolutiva), apoiada pela «New Taxonomy» («Nova Taxinornia»)
(7. Huxley, 1949), e pela paleontropologia (G. Simpson), cada vez mais orientada
223
História da antropologia
no sentido da genética evolutiva, conduziu, cem anos após ter sido proposta por Darwin, a uma
grandiosa confirmação das suas ideias fundamentais. Falase hoje de «teoria sintética» da
evolução (> Origem do homem). Chegou agora a altura de se poder formar um parecer sobre o
valor das anteriores tentativas de sistematização das raças humanas. E já que os nossos
conhecimentos nesta matéria são ainda, no seu conjunto, bastante escassos, podemos fundamentar,
desde o início, as nossas modernas tentativas de sistematização (v. Eicksted@, a partir de 1934
> Sistemática das raças) em bases genéticas, o que só era possível teóricamente.
Os progressos efectuados pela investigação etnológica e pela psicologia das raças (ciências
que*constituem, por assim dizer, «a outra face» da antropologia global) fornecem cada vez mais
material para a sintese extensa, para a imagem total da humanidade recente e do homem de hoje
(v. Eickstedt, Renato Biasutti, 1940). Não só os
constitui a pedrabase da síntese total em curso. A > genética humana tornouse, com o tempo,
desde os primórdios da época clássica de Mendel, um perfeito e imponente edifício. Para nos
apercebermos disso basta folhear os modemos tratados de C. Stern (1950) e de O. v. Verschuer
224
História das raças
(1959). Deve reconhecerse, todavia, que os clássicos tambem se encontravam no caminho certo.
O objectivo da investigação antropológica obter o material para a aquisição de uma imagem total
do homem, para a compreensão da sua estrutura, da estrutura da humanidade em geral, para uma
compreensão causal da origem desta estrutura está a ser intensivamente perseguido, para o que
concorrem os esforços de antropólogos de todo o mundo com todos os meios de que actualmente se
dispõe.
História das raças Após o início do segundo máximo de frio da última glaciação (Würmiano) na
Europa, o Homo sapiens fóssil estava já completamente diferenciado, como demonstram numerosos
achados relativos à morfologia do crânio e do esqueleto, além de abundante documentaçâo da
cultura dos primeiros grupos da população pertencente incontestàvelmente à nossa espécie. Já não
é possível a dúvida de que não existe diferença fundamental, tanto física como psíquica, entre
os primeiros achados fósseis do Horno sapiens e a humanidade actual. A história das raças do
Homo sapiens abrange assim um período calculado em cerca de 50 000 anos. A subdivisão da matéria
deve tomar em consideração critérios geográficos, isto é, deve ser baseada em continentes ou em
grandes espaços intercontinentais, porquanto cada grupo racial não coincide inteiramente com um
continente (por exemplo, os Europóides que se disseminaram desde a sua origem também por grande
parte da Ásia e da África). Para os grandes espaços continentais seguese sensivelmente o mesmo
esquema cronológico: Paleoolítico Superior (cerca da segunda metade do último período glacial),
Mesolítico (período da passagem da Idade da Pedra Lascada à da Pedra Polida.
225
História das raças
Deste período data a primeira transformação «revolucionáría» dos modos de, vida para uma
consciente produção de alimentos e para o sedentarismo). Neolítica (Idade da Pedra Polida; onde
tem início a história das várias populações até à Idade Moderna, não considerando porém na
distribuição da população mundial as nligrações que se desenvolveram a partir da época dos
Descobrimentos. Para evitar repetições de alguns fenómenos dos quais teremos mais ocasião de
falar, é oportuno fazer proceder concisamente algumas consideraçõ es e examinar preliminarmente
alguns aspectos particulares.
226
História das raças
Em todas as épocas da história da evolução só dispomos de populações ou grupos de populações,
mas não de «raças puras» (> Conceito de raça, > Gênese das raças). Nos tempos da ainda
parasitária economia da caça e da colheita do Homo sapiens fóssil, a densidade da população nas
partes da Terra habitadas pelo homem devia ser extremamente baixa. Na segunda metade da última
época glacial a população mundial devia atingir únicamente na sua totalidade escassas dezenas de
milhares de pessoas; no último terço atingiria já provàvelmente algumas centenas de milhares.
Comparada com o longo período de cerca de 40 000 anos, que devemos fixar para o Paleolítico
Superior, a quantidade de ossadas e crânios humanos que possuímos é extremamente exígua. Estes
repartemse principalmente pela Europa e Ásia Menor, mais bem pesquisados, enquanto até agora os
menos documentados são os da Ásia Oriental, da África Oriental e Meridional. Alguns achados da
Indonésia e da Nova GuinéAustrália não podem ainda, infelizmente, ser datados com segurança.
Díspomos @nicamente de alguns exemplares para um período de tempo que abrange qualquer coisa
como 1600 gerações. Apesar do facto de os caçadores, conforme os hábitos de vida dos animais que
eles perseguiam, terem provàvelmente existência nómada em territórios abertos na sua maioria
(pradarias, estepes, etc.) o conjunto da populacão mundial, fragmentada em pequenos grupos do
tipo tr;bal, derivados de núcleos familiares (uma vintena de indivíduos) distríbuíase por um
espaço gigantesco. Este enorme território compunhase de grandes regiões divididas, repartiase
por zonas de montanha, de alta montanha e de outras, menos acessíveis, de florestas tropicais:
formaramse assim com diversas modalidades, segundo o tempo e o espaço, estas regiões, chamadas
áreas de isolamento, que ofereceram o melhor ponto de partida para a formação das raças.
Mas é preciso também frisar a circunstância de o material fóssil de que dispomos actualmente não
nos ter permitido a interpretação, nas várias regiões, das raças perfeitamente distinguíveis de
conformidade com a nossa definição do conceito de raça. Se confrontarmos os achados actualmente
existentes respeitantes a urna grande área geográfica com a gama das variedades, depreendese da
sua
227
História das raças
1) Estatura abaixo da normal, com valores médios no macho à volta de 1,65 m; maior envergadura.
O crânio é alongado (dolicocrânio), a largura máxima é em regra de 75 por cento em relação ao
comprimento máximo; visto posteriormente (norma occipital) tem a forma de abóboda, os parietais
são verticais e a largura máxima encontrase relativamente na parte superior; em norma lateral o
frontal pode variar de oblíquo a direito, a curva craniana é relativamente elevada, o occipital
é arredondado. A apófise mastoidea é bastante desenvolvida. Contráriamente aos arcantropídeos e
aos palcontropídeos (Homo sapiens) não têm toro supraorbital, mas arcadas supraciliares mais ou
menos desenvolvidas. Entre as duas arcadas supraciliares acima da raiz do nariz encontrase uma
nítida proeminência, a glabela, que pode apresentar um
228
História das raças
rebordo mais destacado, mas que não constitui ininterrupta continuidade com a própria arcada,
uma autêntica viseira, ou toro. A face é de largura média e estreita e por vezes alongada, as
órbitas variam entre forma baixa e rectangular e alta e redonda, a raiz do nariz está
profundamente inserida, a cana do nariz é por vezes bem pronunciada, a abertura nasal é em geral
estreita e alta. A face, com saliência bastante marcada, apresenta acentuada inflexâo do perfil
frontal do maxilar. A região do mento é nitidamente marcada. Como forma típica para a Europa
pode ser apresentado o crânio de Combe Capelle (França).
2) Estatura superior à normal, com valores médios ne, macho à volta de 1,70 em ou acima,
compleição robusta.
O crânio é igualmente alongado ainda que mais largo do que no tipo precedente (dolicomorfo), o
perfil, em norma superior, é mais acentuadamente pentagonóide, a máxima largura atinge em média
75 por cento a mais do comprimento máximo. A região frontal apresenta, na generalidade, as
arcadas supraciliares e a glabela mais acentuadamente desenvolvidas, mas também sem toro supra
orbitário. A forma geral da face é larga e baixa; a impressão de largura é provocada pela
grande saliência lateral dos zigomas, quer pela do ângulo mandibular, que'salienta assim,
em norma lateral, a angulosidade do crânio, que é além disso notàvelmente maciço. Completam
esta imagem de conjunto as órbitas muito largas e baixas e uma abertura nasal relativamente
pronunciada. Este tipo encontrase perfeitamente definido no primeiro achado europeu, o «
velho» de CroMagnon (França), que por isso tomou a denominação do tipo de CroMagnon.
As combinações típicas dos caracteres descritos nas alíneas 1) e 2) e os dois correspondentes
tipospadrões coligidos da gama tipológica do Homo sapiens europeu encontramse ainda mais
salientadas em todos os achados do Paleolítico Superior. Sómente uma parte dos caracteres
raciais, e particularmente as características externas relativas à pele, aos cabelos e à
pilosidade, à musculatura, etc., se pode ter desenvolvido ‘em consequência de uni efeito
selectivo «dirigido» (efeito de clima) e é por isso hoje fàcilmente deduzível como a estrutura
óssea do nosso corpo,
229
História dns raças
assim como o crânio, se devem ter transformado lentamente (> Gênese das raças). Não é por
isso surpreendente para o biólogo o facto de a diferenciação nos grandes ramos raciais, hoje
perfeitamente distinguível, dos Europóides, Mongolóides e Negróides começar a ser perceptível no
esqueleto apenas desde o fim da última época glacial. Este processo de diferenciação das antigas
feririas do Homo sapiens nos respectivos territórios deve ter de princípio sido menos acentuado,
pois as populações confinadas nas zonas periféricas não podiam experimentar senão em escala
muito reduzida o efeito conjunto do isolamento e da selecção. Por consequência, nos achados mais
antigos, bem como hoje nas zonas geográficas de refúgio (áreas marginais, penínsulas, ilhas,
regiões florestais ou montanhosas), encontramse grupos que representam ainda de modo nítido
esta forma arcaica, com todas as características próprias. Dos grupos ainda hoje existentes
destacamos os seguintes: os Ainos, no Japão, os Austrálidas, na Indonésia/Oceânia, os Védidas,
no Sul e Sudeste da Ásia, os Esteatopígidos na África Meridional.
De todos estes povos se pode demonstrar, com certeza, que em tempo estavam difundidos por áreas
muito mais vastas. Os chamados tipos arcaicos não acompanharam, ou sómente o fizeram em parte, a
transição para novas formas extensivas de economia e produção que surgiram a partir do
Mesolítico. Desfavorecidos pelo atraso das suas formas de vida e de economia, repelidos pela
crescente pressão demográfica de regiões de economia intensiva, foramse deslocando para regiões
marginais cada vez mais pobres.
Para explicar como nunca entre os tipos arcaicos se conservaram as longas combinações de
características indiferenciadas, poderseá recordar que durante todo o período do Palcolítico
Superior os meios de nutrição baseavamse pràticamente na caça, e este facto, bem como as
condições das regiões mais adaptadas para tal género de vida, deviam ter reduzido o efeito da
selecção «ecológica». Esta argumentação poderá justificar, dentro de certos limites, a falta de
diferenças de grupos claramente releváveis nos antigos restos fósseis do Homo sapiens
distribuídos por todo o
mundo. Para a impressão de uniformidade que se colhe
230
História das raças
da apreciação de tais restos contribui além disso ainda o pequeno número de lósseis que remontam
à época de que se fala. Uma mais vasta base material poderia também ter como resultado maior
variedacie. De qualquer maneira, será necessário ter sempre presente, como já se
acentuou, que as populações das regiões periféricas, em conformidade com a sua separação,
relativamente cedo, da região de origem, apresentam cada vez menos acentuados, ou seja em
complexo menos diferenciado, os caracteres do património génico do que quando ocupavam a
região originária. Esta região de origem não está ainda exactamente definida, em face da
colheita do material antropológico; talvez seja possível determinála aproximadamente sobre a
base de documentos culturais ou em particular sobre a das manifestações artísticas dos grupos
dos grandes caçadores do Palcolítico Superior. Na Europa Ocidental prevalecem pinturas e baixos
relevos de grandes dimensões enquanto para o Oriente, ainda na Europa, e mais além, na Sibéria,
surge um domínio exclusivo de pequenas esculturas e incisões nos ossos. Apesar de também
existirem noutros continentes pinturas e incisões nos ossos, a primazia cronológica do espaço
eurasiático, bem como a capacidade demonstrada, impõese de modo tão impressionante que, apesar
de faltarem documentos susceptíveis de avaliação antropológica no Oriente da Europa e na região
siberiana, poderseia localizar neste domínio, com certa probabilidade, a área central de
diferenciação do Homo sapiens fóssil. Esta suposição não passa, claro, de hipótese, mas é
confirmada pelo facto de os restos fósseis do Homo sapiens descobertos nos outros continentes
serem relativamente recentes; um outro argumento particular a seu favor consiste no facto de os
mais antigos restos do Homo sapiens encontrados na Europa serem já plenamente diferenciados.
Tudo isto não está em oposição com a hipótese de eles se terem introduzido na Europa neste
período vindos do Oriente. No grande continente eurasiático, com os seus vastos territórios
abertos, encontrase portanto a região na qual se teria desenvolvido o Homo sapiens; a
confirmação científica desta hipótese tem de se deixar ainda ao futuro trabalho de investigação.
231
História das raças
A DOCUMENTAÇÃO. Sobre que material baseamos as nossas opiniões e a subdivisão da história das
raças do Homo, sapiens? Em primeiro lugar estão naturalmente os achados antropológicos das
escavações, tais como ossos, esqueletos e restos de esqueletos. A sua distribuição e a diferente
frequência dos achados que constituem o património actual são o resultado, em larga medida, de
intensivo trabalho de pesquisa em vários países. A este facto deve juntarse outro factor
essencial, ou seja a variedade das formas de inumação e depois a possibilidade de conservaçã o
do terreno local, o qual incide notàvclmente sobre o estado e a quantidade dos achados. Em
regiões abundantes de cavernas, que ofereciam ao homem do Paleolítico Superior favoráveis
condições de alojamento e que, pelo menos na Europa, não foram mais utilizadas desde a época
glacial, a probabilidade de conservação dos restos humanos é incomparàvelmente mais elevada do
que a dos achados disseminados por vastas regiões planas; já não se fala nas mais favoráveis
condições de fossilização para o material ósseo provocadas pelo alto teor de calcário da água
das cavernas. Nas planicies, a falta de calcário das plantas e a erosão operada pela água leva a
condições de conservação essencialmente menos favoráveis; é necessário igualmente considerar a
destruição provocada pela intensiva utilização do solo e também pelos processos de
estratificação superficial, que, ocultando na profundidade da terra os restos precedentemente
inumados, os aniquilam. Particularmente pequena é a probabilidade de conservação do material
ósseo em regiões cobertas de florestas, especialmente as da zona tropical, devido ao alto grau
de humidade e à elevada percentagem de detritos vegetais dc> solo, que origina a
rápida decomposição do material ósseo, impedindo quase completamente quaisquer processos de
fossilização. Não obstante a falta de material ó sseo humano ‘ temos porém notícia da
presença do homem em determinadas regiões pelo trabalho de objectos culturais susceptíveis de
conservação, sobretudo utensílios de quartzito, de pederneira e de obsidiana. O estudo daqueles
restos permite documentar com bastante seguranç a a presença do homem nas regiões por ele
atravessadas ou colonizadas e avaliar aproximadamente a densidade da população. Antes da
passagem ao
232
História das raças
estado sedentário, isto é, quando as várias populações viviam quase exclusivamente da caça,
calculase que um pequeno grupo familiar (cerca de uma vintena de pessoas) tivesse necessidade
para sobreviver de uma reserva de caça de cerca de 100 km2 ou mais. Neste período as regiões
mais densamente arborizadas deviam ter sido evitadas pela sua carência de meios de subsistência.
As populações de caçadores deviam têlas atravessado ao longo dos grandes cursos fluviais, ou
então têlas rodeado seguindo a linha costeira aproveitando as estepes. A distribuição dos
achados préhistóricos confirma que o homem, mesmo durante o Paleolítico Superior, preferia as
zonas abertas.
Quanto mais nos avizinhamos dos períodos «históricos» tanto mais ricas se revelam as nossas
fontes e tanto mais seguros se tornam os critérios. Com o aparecimento da representação da
figura humana, nos fins do Neolítico, e
com o surgir da tradição escrita dispomos dos primeiros dados cientificamente utilizáveis do
aspecto exterior de determinados grupos humanos da época, embora não se possa atender a que tais
reproduções ou descrições nos forneçam um quadro fiel da realidade ou a que sejam consideradas
do ponto de vista antropológico. Antes de se formularem conclusões definitivas deste material
documental devemos atender aos achados antropológicos do mesmo tempo e da mesma região. Limitam
a certeza das nossas conclusões o escasso património dos instrumentos utilizados pelos nossos
antepassados, assim como dós meios de expressão (relevo, escultura); a isto acresce o facto de a
tendência inconsciente ou deliberada (ideais, de beleza, aversão aos estranhos) poder reduzir
bastante o valor documental das representações artísticas ou das descrições. Na figuração ou
descrição dos «inimigos» devemos ter presente que os traços que se afastam da norma própria
podem ser exagerados ou fortemente acentuados. Quanto aos diversos padrões de beleza então
expressos basta considerar a produção artística do nosso tempo para compreendermos quanto um
ponto de vista pode ser unilateral; além disso devemos pensar que um ideal de beleza não nos
deve dar a imagem aproximada de uma população como também não nos dá necessàriamente as suas
características. No entanto, apesar de sujeitos a exames tão crí
233
História das raças
ticos, essas antigas descrições ou reproduções forneceram preciosos esclarecimentos para o nosso
trabalho; porém não devem ser consideradas sem reservas, mas sim cuidadosamente examinadas no
seu possível conteúdo de verdade. Desse modo, os equívocos podem ser eliminados com relativa
rapidez. Assim, por exemplo, no início deste século supunhase que os Hititas, na Ásia Menor,
segundo reproduções do seu tempo, fossem acentuadamente braquicéfalos, e procuravase, portanto,
colocálos em paralelo com a raça armeniana, hoje fortemente disseminada pela região. Actual~
mente sabemos, graças à série de esqueletos hititas que entretanto foram descobertos, que o
crânio curto e posteriormente arredondado não era característica dessa região naquele tempo.
Esta forma, e ainda com fracos indícios, sómente começa a apresentarse alguns séculos depois,
cerca de 500 anos a. C., ou seja 1000 anos após as representações artísticas hititas de que
tivemos ocasião de falar, e só muito mais tarde se tornaram o elemento típico daquela região
(Ver mais adiante: braquicefalização). Também podemos verificar surpreendentes deformações do
mesmo gênero nas primeiras reproduções de «indigenas» da época dos Descobrimentos, por volta de
1500, em que os desenhadores «europeizavam» notàvelmente os seus modelos. Nestes casos também se
deve imputar grande parte da culpa à falta de conhecimento pessoal, o que também contribuiu para
as representações bastante humanizadas dos símios antropomorfos da mesma época. Só começou a
imporse uma representação exacta a partir do século xix, altura em que, ou se dispunha de
material original, ou tomavam parte nas expedições pessoas com razoáveis conhecimentos de
desenho. Estas indicaçõ es têm o fim de salientar até que ponto é preciso verificar
cuidadosamente o possível valor antropológico das reproduções plásticas ou em relevo dos tempos
préhistóricos. Também já está suficientemente provado que, mediante crítica adequada, até os
antigos relatos de viagem podem fornecernos esclarecimentos essenciais, e que não devemos pô
los de parte como inverosímeis. Por exemplo, as indicações acerca dos Pigincus africanos citadas
por Homero só puderam ser cientificamente comprovadas na segunda metade do século passado,
234
Ilistória das raças
isto é, na época da sua descoberta (ver mais adiante: o problema dos Pigmeus). No que respeita a
indicações mais específicas como, por exemplo, a cor da pele, do cabelo e dos olhos (compleição
«clara» ou «escura») temos de ser prudentes na sua avaliação, pois as indicacões, ou os
pormenores (nas representações artísticas), poáem não corresponder à média da população e
designar apenas um ideal de beleza ou algo inédito. Podemos apenas deduzir daí que foram
representadas ou observadas as correspondentes compleições de cor, e não tirar qualquer
conclusão sobre a
percentagem real, que só por si se reveste de importância para a história das raças (pigmentação
ou despigmentação). Apesar de tudo, mesmo essas indicações assumem um alto valor científico, o
que é especialmente válido para os Europóides e o esclarecimento da sua presumível área de
origem. Como não possuímos hoje ideias precisas sobre a região de origem e do desenvolvimento da
despigmentação, quando numa determinada área encontramos documentada a presença da compleição
clara devemos utilizála como característica racial, concluindo que, pelo menos em parte, a
referida área teria sido habitada por Europóides. E chegamos aqui ao importante problema de como
poderemos abranger de modo fecundo, do ponto de vista da história das raças, as modificações da
população, superstratificações e migrações, a partir do material dos esqueletos e documentos e
critérios adicionais, pela investigação histórica, históricocultural e linguística.
DESENVOLVIMENTO DEMOGRÁFICO E DINÃMICA DA HISTó RIA DAS RAÇAS. O desenvolvimento da população e
os seus problemas serão estudados especificamente nos artigos > demografia e >
antropologia social. Do ponto de vista de história das raças temos apenas de tratar sucintamente
do antagonismo existente entre as «zonas de adensamento» (isto é, espaços de contínua e lenta
pressão demográfica) e os «centros de instabilidade» com densidade demográfica relativamente
baixa; estes adquiriram grande importância, do ponto de vista histórico, e também, ainda que em
escala mais reduzida, do ponto de vista biológico, e daqui da história das raças, na medida em
que provo
235
História das raças
caram movimentos e modificações das grandes massas populacionais.
já anteriormente acentuámos que durante o Paleolíticu Su erior a densidade da população, devia
ter sido extraordinariamente escassa, como se pode deduzir da utilização parasitária, por parte
do homem, dos recursos naturais. Com o fim da última época glacial e o termo, com ele
relacionado, das fortes transformações climáticas, desapareceram da Europa e de extensas regiões
asiáticas os grandes rebanhos selvagens que constituíam os recursos principais da população de
caçadores. Apesar disso podemos observar de modo geral com diferenças regionais e variações do
tempo, acrescidas ainda de diversas condições climáticoecológicas uma maior quantidade de
espólios culturais que permitem adivinhar uma progressiva densídade demográfica. Pois que um
aumento de população pressupõe uma mais ampla base de alimentação e porque a oferta natural da
subsistência não acompanhou aquele aumento, é de calcular neste período o início de certa
produção de alimentos através da iniciativa própria do, homem. Eram duas as possibilidades em
perspectiva: a produção de alimentos pelo cultivo das plantas, em conexão com o sedentarismo
temporário ou permanente, ou a transição para a pastorícia, e com isso a criação de gadc,, após
i domesticação, mais ou menos rápida, de determinados animais selvagens. A utilização das
plantas permitiu desde o início o aproveitamento intensivo de espaços limitados, enquanto a
pastorícia se conservou durante muito tempo de rendimento extensivo (só mais tarde se verificou
o apro veitamento do leite), exigindo grandes áreas e deslocações contínuas (nomadismo dos
pastores). Com base em dados actuais, podese afirmar que decorreu muito tempo antes que se
ligassem as duas formas de economia no trabalho dos camponeses. A história do cultivo das
plantas, a história dos animais domésticos, a genética, etc., permitemnos hoje concluir que a
passagem ao, estádio da produção dos alimentos se processou nas diversas regiões e zonas
climatéricas independentemente umas das outras e se baseou de princípio nos animais e nas
plantas utilizáveis autóctones.
A agricultura como forma de produção intensiva de alimentos permitiu, nas regiões apropriadas,
um desenvol
236
História das raças
vimento demográfico relativamente rápido, pelo que é possível verificar, com documentos
provenientes de escavações no Próximo Oriente, que o início do sedentarismo humano e fixação
duradoura nesta região se pode reportar a cerca de oito milénios antes da era cristã. Claro que
se trata de um desenvolvimento que requereu largos períodos de tempo e gradações sucessivas. O
que é essencial para o nosso estudo é que parte importante da população se deslocava ràpidamente
para as zonas onde, através da utilização das plantas, isto é, da economia agrícola, se obtinha
uma base mais favorável para a alimentação de populações em crescimento.
O adensamento da população em espaços restritos permitiu então pela primeira vez a formação de
uma organização com várias camadas (classes) de especializações profissionais e, a partir daí, a
constiruição de uma estrutura política (estado). Tal fenómeno não era possível em relação aos
grupos de pastores nómadas, aos quais faltava uma base de alimentação. As regiões habitadas por
pastores nómadas apresentavam, comparativamente com as zonas ocupadaspelos agricultures,
densidade de população muito mais reduzida; apesar de tudo, a criação de gado permite uma
densidade de população notàvelmente: maior do que a que se regista em zonas nas quais pequenos
grupos buscam os alimentos com sistemas primitivos puramente para ,sitários. O pastorcio
nómada, por seu lado, pela necessidade que tem de espaços enormes, dos seus programas a longo
prazo (necessidade de mudar de pastagem segundo as estações, de procurar nascentes para dar de
beber aos animais) e da consequente organização, adquiriram particulares qualidades, que lhes
deram, depois da domesticação dos animais de montada, a superioridade militar. A lenta e
progressiva seca, no período pósglacial, das zonas origináriamente mais favoráveis à criação de
gado, transformou estas regiões, não obstante a fraca densidade da população, em «centros de
instabilidade», dos quais novos grupos de população se deslocavam para regiões mais favorecidas.
Regiões de mais elevada densidade de população, tal como os centros de instabilidade, exercem
acção mais ou
menos limitada, mas que tem sempre como efeito que grupos populacionais com formas de economia
mais primitiva
237
Ilistória das raças
sejam também impelidos para essas regiões cada vez mais desfavoráveis e se encontrem em
inferioridade numérica cada vez mais evidente. Mas quando elas próprias, estimuladas por
contactos culturais, transitam para um sistema superior de economia, podem também, por seu
turno, contribuir, em escala crescente, para a formação de centros de elevada pressão
demográfica. Estes processos, dos quais mencionamos os mais importantes e por vezes decisivos do
ponto de vista da história das raças, evoluem muitas vezes ligados entre si. Agricultores e
pastores, depois de a sua região de origem atingir o máximo de densidade de população
conciliável com os recursos naturais e com a forma de economia utilizada, devem ter procurado as
regiões da vizinhança que lhes fossem mais propícias, e, nesta expansão da sua zona de
colonização, ou absorveram os grupos de populações já estabelecidos nesses territórios ou
expulsaramnos para áreas florestais ou montanhosas, de que até então tinham fugido, ainda mais
desfavoraveis para a sua atrasada forma de economia. Além disso a separação ecológico económica
dos diversos grupos de populações no espaço geográfico (> Gênese das raças: isolamento), pode
levar, após longo tempo, à separação biológica. O desenvolvimento das formas de agricultura nas
regiões tropicais possibilitou também para estas zonas um notável aumento populacional, o que
permite situar nitidamente em África a área central na qual pela primeira vez se teriam
desenvolvido os caracteres típicos do ramo negróide.
O alargamento da zona de fixação das populações a partir das regiões de mais intensa pressão
demográfica processase lenta e continuamente quase por círculos concêntricos, em consequência
do transbordar da pressão demográfica das regiões internas para a periferia. Este facto tem como
consequência que nas orlas de tais regiões de elevada pressão demográfica, se encontram
geralmente combinações de características racialmente muito menos diferenciáveis do que as que
se encontram na zona central. Estes espaços, considerados num quadro mais vasto, são além disso
um centro no qual se forma uma raça ou um grupo racial, facto que pode ser documentado com o
exemplo da própria China, com as suas três regiões de elevada pressão demográfica, já claramente
distintas do ponto de vista
238
História das raças morfológico, e correspondentes aos três rios principais: tratase de três
regiões e três grupos demográficos que sómente no decurso de milénios conheceram uma recíproca
permuta. Os centros de instabiliáade adicionam à acção da expansão exercida nas regiões de
elevada pressão demográfica impulsos suplementares de movimentos; porém, como esses impulsos
demográficos são numèricamente reduzidos, são por sua vez aglutinados, até do ponto de vista
biológico, na estratificação política das populações. Sómente onde tais grupos, como acontece em
África, são impelidos para territórios de escassa densidade demográfica, este processo leva mais
tempo a manifestarse. Destas breves considerações podemos claramente compreender a
razão por que a moderna distribuição racial não corresponde, e não pode corresponder, à
classificação puramente biológica que seria de esperar, em conformidade com o processo da
formação das raças. Actualmente essa classificação aparece bastante alterada, quer pelos vários
graus de desenvolvimento das diversas formas de economia, com a correspondente base alimentar e
a relativa pressão de expansão, quer pela formação de estados, nos quais o elemento político se
sobrepõe ao biológico, e consequentes esforços de expansão orientados no sentido económico
político. Encontramos portanto grupos de tipos raciais «mais. arcaicos» económicamente, e por
conseguinte numéricamente mais fracos, bastante dispersos, impelidos para re
giões marginais ou nas classes mais baixas da população estratificada; contudo, mediante métodos
antropológicos (mensurações, combinações de caracteres, cores, etc.), estamos em vias de
reconstruir muito aproximadamente o quadro originário da distribuição racial, ainda que pouco
alterado, e de destacar depois processos relevantes do ponto de vista da história das raças. A
argumentação antropológica socorrese ainda de critérios de ciências e disciplinas afins. Por
outro lado é preciso ter presente que nas disciplinas «afins» são encaradas frequentemente
relações geoW@ficas entre grandes distâncias sem muitas vezes se considerar determinados
factores de natureza biológica res~ peitantes ao índice do aumento e consequente ritmo de
crescimento das populações humanas. «Migrações» culturais e linguísticas só podem ser comparadas
dentro de
239
História das raças
limites geralmente restritos com equivalentes variações e migrações «biológicas» das populações.
Um património cultural pode ser ràpidamente assimilado sem que daí derivem, através de relações
de procriação, efeitos biológicos notáveis mas não obstante duradouros, visto que para os
relativos contactos sómente são necessários pouquíssimos intermediários. Também a adopção ou o
abandono de uma língua não devem ser postos de maneira acrítica com supostos efeitos biológicos
correspondentes; vejase, por exemplo, o caso do deslocamento, em poucos séculos claramente
documentado, da língua fiamenga da foz do Sena para a região central da Bélgica.
Novos elementos culturais, como a língua, podem ser propagados por pequenos grupos, ou, melhor,
por classes dominantes, biológicamente fracos, em virtude da sua exiguidade numérica, mas
extremamente dinâmicos do ponto de vista histórico; é preciso, porém, não sobreestimar tais
fenómenos do ponto de vista biológicoracial. Nas escavações arqueológicamente mais
interessantes normalmente são consideradas como de maior importância as mais valiosas, tais como
os túmulos culturalmente mais ricos, próprios das classes superiores, pelo que os restos
antropoló gicamente aproveitáveís que vêm à luz em tais escavações não nos fornecem indicação
segura sobre o tipo médio da cultura duma população, antes nos podem fazer incorrer no
erro de exagerar a entidade numérica das classes donúnantes. Só quando se considerarem todos
esses pontos de vista estaremos em condições de enquadrar correctamente na história das raças os
achados descobertos. Do mesmo modo a extrema pobreza dum complexo de elementos culturais, como
um conjunto, de utensílios, materiais vários, etc., não pode ser considerada à primeira vista
como indicação segura do «primitivismo» de urna cultura. Isto é particularmente evidente sc
considerarmos os indígenas australianos, que hoje são culturalmente duma pobreza absoluta, mas
cuja organização social extremamente com
plicada se baseia em precedentes condições de vida muito mais favorecidas e num património
cultural mais rico do que o actual.
Esta verificação é particularmente verdadeira no que respeita aos Pígmeus, que, pela sua extrema
pobreza cul
240
História das raças
tural, são apontados como um modelo do mundo económico e das crenças primitivas do homem, pelo
que são erróneamente apresentados como a «forma originária» da humanidade. Por eles podese na
realidade demonstrar que o empobrecimento cultural é uma consequencia do facto de, perseguidos
por outros povos, terem sido forçados a adaptarse a viver em zonas marginais de refúgio
extremamente desfavoráveis (a floresta virgem tropical): as formas de economia e o movimento
contínuo que caracterizam a vida nestas regiões só permitem, com efeito, o transporte de
diminuta quantidade de bens culturais. Do ponto de vista antropológico os Pigmeus não
representam, por isso, uma antiga forma originária, mas, pelo contrário, uma forma de
especialização particularmente marcada, embora tenham conservado ainda determinados traços
arcaicos do tipo orginário. As divergências e os contrastes na interpretação do material
relativo aos problemas que temos abordado são devidos mais ao facto de os diversos
especialistas não estarem actualmente em condições de patrocionar suficientemente com um estudo
próprio os resultados e critérios das disciplinas afins e de as conciliar
com as suas observações e deduções.
O PROBLEMA DOS PIGMEUS. Os Pigmeus são populações de pequena estatura, ou seja de «raça anã».
Actualmente vivem em grupos independentes, em parte já racionalmente híbridos, na orla das
florestas virgens tropicais da África Central e nas regiões sernidesérticas da África Meridional
(Bosquímanos). Outras populações de Pigmeus encontramse igualmente no Sudeste asiático e em
ilhas da Indonésia e da Oceânia. Recentemente demonstrouse a existência de Pigmeus na América
Meridional (Venezucla).
já remotamente a literatura os referenciou. Homero fala de um povo fabuloso de anões que situa a
sul das nascentes do Nilo, onde efectivamente vieram a ser localizados na segunda metade do
século xix. Desde o fim do século passado os Pigmeus têm sido objecto de vivas controvérsias
científicas.
Chegouse mesmo ao extremo de os definir, quer do ponto de vista da história da civilização,
quer do antropológico, como a «raça originária» da humanidade, e a con
241
História das raças
firmar esta asserção com o argumento dos achados europeus de estatura relativamente pequena (a
mulher de Egolzwíl, na Suíça). Esta presunção não constitui prova conclusiva. De facto, todos os
restos fósseis mais antigos do Homo sapiens apresentam estatura entre a média e a alta; o achado
de Egolzwil é, pelo contrário, relativamente recente (remonta efectivamente ao período pós
glacial). Além disso a sua pequena estatura está erróneamente calculada, na base de
insuficientes sistemas de mensuração: a estatura desta mulher encontrase no limite inferior dos
valores médios europeus, mas não representa de modo algum um caso de nanismo. As conclusões
histórico culturais e etnológicas de Schmidt baseiamse numa interpretação unilateral do
material; a pobreza cultural é consequnêcia do facto de os Pigmeus terem sido empurrados por
outros povos para regiões marginais desfavoráveis; o património cultural, não obstante alguns
traços que possam ser considerados arcaicos, é em grande parte o resultado duma adaptação
especial a condições de vida particularmente difícil, que permitiam sómente o transporte de
exígua quantidade de bens culturais. Hoje não se pode estabelecer com segurança qual a parte
perdida dum património cultural oríginàriamente rico.
Como atrás se mencionou, não possuímos documentos que nos indiquem uma pequena estatura média
para a história íntegra dos euhorninídeos. pelo contrário, os restos que chegaram até nós de
qualquer época comprovam uma constituição vigorosa e uma estatura que correspondem aos valores
médios da actual estatura humana. Os actuais Pigmeus são, do ponto de vista antropológico, uma
raça que deve terse desenvolvido sómente depois de uma completa diferenciação da espécie hoje
vivente do Homo sapiens. Não obstante a sua existência absoluta relativamente curta, eles
apresentam características muito acentuadas que devem ter sido formadas em condições selectivas
particularmente duras.
De qualquer modo pode desde já dizerse que eles, do ponto de vista genético, não podem remontar
a um centro unitário de desenvolvimento, mas que nas diversas regiões se devem ter desenvolvido
de maneira independente. Hoje, de acordo com os notáveis estudos de Gusinde e
242
História das raças
Schebesta, distinguemse na raça anã dois grupos principais. Um, constituído pela população
africana dos Bambutis na região do CongoIturi, com a estatura média, para o homem, inferior a
1,45 cm, e de, qual se separaram grupos de populações híbridas de maior estatura, ainda que
sempre inferior à média, e entre as quais a dos Bosquímanos, que na África Meridional
constituem um grupo independente. Estes ocupavam precedentemente uma região muito mais vasta do
que a actual e hoje representam sómente um grupo residual expulso por outras populações para uma
região marginal de refúgio. O outro grupo principal é composto por populações pigmóides do
Sudeste asiático, da Indonésia e da Oceânia: os Andamaneses, num arquipélago no golfo de
Bengala, os Semangueses e os Senoíeses, na própria Indochina, os Aelas, nas Filipinas, e
finalmente os Pigmeus da Nova Guiné, descobertos ainda há poucos anos. Quanto ao continente
americano,, conhecemos também recentemente uma população pigmóide autónoma na Venezuela.
Na literatura especializada continua a usarse para o grupo do Sudeste asiático o nome de
Negritos, introduzido pelos Espanhóis e referido particularmente aos Aetas das Filipinas.
Contudo, do ponto de vista genético, nada têm a ver com o ramo racial dos Negróides, ainda que
apresentem a pele de coloração escura e cabelos crespos.
Como já foi acentuado, em todas estas raças anãs, que até agora só foram documentadas na zona
tropical, quis verse uma «raça pigmóide», característica daquela zona climática. Gusinde e
Schebesta demonstraram, porém, de modo conclusivo, que estamos perante uma pluralidade de raças
genèticamente diversas e de origem autónoma, cuja semelhança de caracteres morfológicos é
certamente o resultado de uma pressão selectiva orientada no mesmo sentido, mas muito afastados
uns dos outros. Análoga pobreza, assim como pontos comuns do património cultural e da forma de
economia, limitada quase exclusivamente à caça e à colheita de produtos espontâneos, são sómente
o resultado de uma situação ecológica coincidente em muitos aspectos nestas regiões de
isolamento. Schebesta é de opinião de que rigorosamente sómente se deviam chamar pigmeus aos
Bambutis, pois que só estes têm uma esta
243
História das raças
tura média no homem inferior a 1,45 cm. Os grupos africanos, além dos Banibutis, por exemplo,
assim como os Batwa de Ruanda, aos quais se juntaram grupos dispersos pelas florestas virgens
tropicais da África Central e da Guiné, e ainda os Bosquímanos da Âfrica Meridional, possuem
respectivamente caracteres próprios típicos que relevam a sua posição particular e o seu
desenvolvimento autónomo, como se deve esperar do ponto de vista genético.
Dispomos hoje de toda uma série de investigações especiais que nos fornecem indicações sobre os
factores que condicionam o fenómeno do nanismo. Através da observação de casos patológicos
sabemos que a estatura é resultante de diversos genes e que portanto o nanismo poderá ser
condicionado pela mutação de tais genes.
Estas mutações aparecem certamente nas várias zonas de maneira autónoma. A baixa estatura,
genèticamente condicionada, é, na classificaçã o das raças, a característica principal para a
definição de uma raça como pigmóide. Mas a imagem característica típica de uma raça piginóide é
resultado, não só da baixa estatura, mas tam5tbém de uma complexa combinação de caracteres. Uma
característica geral de certa importância reside no facto de a constituição dos Pigmeus revelar
alguns traços típicos do estádio do desenvolvimento infantil, particularmente maior comprimento
do tronco em relação à estatura complexiva com consequente menos proporção dos membros. Além
disso, confrontados com grupos de estatura normal, apresenta a
cabeça relativamente maior, a qual, pela sua conformação redonda e a fronte saliente e
arredondada, pode dar a impressão de infantilismo: estes traços morfológicos não se encontram em
todas as raças pigmóides. Assim, por exemplo, os Andamaneses têm proporções compreendidas no
quadro da tipologia europóide. Além do genuíno nanísmo, gcnèticamente condicionado, há ainda uma
forma de nanismo regulada pelo meio ambiente, como demonstrou Speiser nos Pigmeus das Novas
Hébridas. A baixa estatura da população de tais ilhas pode ser resultante de um fenômeno de
carência alimentar, e futuras gerações, com melhoria de condições de vida, deverão alcançar
estatura normal. Este facto demonstra a necessidade de examinar sempre com o maior cuidado uma
combinação conjunta
244
História das raças
de caracteres antes de classificar como «raças pigmóides» uma população de pequena estatura.
Devemos ainda salientar a circunstância de a estatura poder sofrer variações notáveis num ou
noutro sentido em grupos completos de populações em regiões muito extensas e em determinados
períodos de tempo. Oscilações deste gênero podem ser observadas por várias vezes durante a
história do Horno sapiens: a estatura apresenta valores elevados no Paleolítico Superior; no
Mesolítico e na maior parte do Neolítico há uma diminuição com um sucessivo acréscimo na Idade
do Bronze, Particularmente importante e localizável num período de tempo mais ou menos limitado
é a diminuição média da estatura na sequência medieval, à qual se segue, pouco mais ou menos a
partir de meados do século passado, um aumento médio muito acentuado (que atinge os 12 cm). Este
crescimento teve início sobretudo nas regiões industrializadas, e com a difusão deste tipo de
civilização passou ràpidamente também aos países nos quais até agora a estatura se estabilizara.
Isto mais uma vez salienta o facto de a estatura por si só nã o ser suficiente para caracterizar
uma raça e que nos seus valores médios parece mais fortemente ligada ao ambiente de quanto até
agora tem sido julgado possível. No entanto o grau desta dependência do ambiente pode apenas
esclarecer quais os limites em que os valores da estatúra sejam a expressão de factores
hereditários mas não constitui prova contra o valor significativo da estatura no quadro do
complexo global de características típicas de uma raça (> Crescimento).
BRAQUICEFALIZAÇÃO. Este termo indica um processo típico das variações da morfologia da cabeça,
isto é, do «arredondamento do crânio» . O fenómeno ligase, nos seus vários aspectos, a uma
problemática análoga àquela de que se falou a propósito da estatura. O crânio do Homo sapiens é
na sua origem acentuadamente dolicocéfalo, a largura máxima é, regra geral, apenas 75 por cento,
ou ainda menos, do comprimento máximo, o que se toma em consideração no cálculo do índice
craniano horizontal (dolicocéfalo abaixo de 74,9; mesocéfalo entre 75,O e 79,9; braquicéfalo
acima de 80). Por todo o Palcolítico Superior e pela parte principal do Mesolítico, só dispomos
de doli
245
História das raças
cocéfalos: nos de CroMagnon, porém observase já uma dolicocefalia menos acentuada ‘ que
ultrapassa mesmo a mesocefalia. Os primeiros índices de arredondamento cricontramse dispersos
por diversas partes em achados relativamente recentes do Mesolítico, sem que todavia se possa
determinar entre eles a existência duma conexão genética.
O início desta transfonnação pela qual se verifica o abandono da forma longa do crânio típica
do Homo sapiens durante milénios é portanto urna aquisição recente da nossa espécie. Na
literatura especializada do passado foi dado grande relevo aos achados de Grenelle e Furfooz
(braquicéfalos), pois a princípio atribuiuselhe idade relativamente remota: reconheceuse
entretanto que estes achados são apenas neolíticos. Mais antigo é, pelo contrário, o conjunto de
crânios encontrados na caverna de Ofnet, na Baviera, cujo índice craniano médio foi a princípio
considerado mais elevado do que era na realidade. Uma posterior reconstituição dos crânios feita
em Munique por Mollison, pouco antes do início da segunda guerra mundial, nunca chegou a ser
publicada: tanto o resultado do seu trabalho como o material @original foram destruidos pelos
bombardeamentos. Pode, no entanto, afirmarse que a braquicefalia de uma pequena parte daqueles
achados (os outros eram dolicocélalos ou rnesocéfalos) era apenas acentuada, ou seja, oscilava
entre valores relativamente baixos. Outros crânios moderadamente arredondados encontramse no
Mesolítico Inferior da África Setentrional (AfalubuRummel); a sua sistematização cronológica
num quadro geral não é porém simples porque nesse período a África podia estar culturalmente
atrasada. Os mais antigos materiais que atestam o início da braquicefalia provêm de Tell es
Sultan (jericó) e pertencem provàvelmente ao fim do oitavo milénio. É surpreendente o facto de
esta forma craniana só se ter encontrado isolada enquanto a parte principal dos achados
conterriporaneos ou mais recentes é nitidamente dolicocéfala. Sobre estes indícios devemos
observar que faltam outros caracteres típicos que nos permitiriam considerar como característica
rácica a braquicefalização. Algum tempo depois começaram a delinearse no Neolítico duas nítidas
zonas de frequência da braquicefalia, embora esporàdicamente, com grande dispersão
246
História das raças geográfica e com graus ainda pouco acentuado@s. Não se pode ainda actualmente
estabelecer um nexo genético, relativamente a estes achados; além disso a forma dolicocéfala
prevalece ainda claramente e faltam formas intermédias de ligação dos extremos. Na Europa, além
de certa frequência de crânios largos na Dinamarca que possam derivar de uma forma cromagnóide,
há ainda a mencionar os indiví duos da cultura do «vaso campaniforme», que remontou ao fim do
Neolítico, nos quais, pela primeira vez, se podem destacar dois grupos de formas braquicélalas
claramente definidos. O primeiro, caracterizado pelo occipital redondo, maior largura do crânio
e da face (mais baixa), diferenciase do segundo, que apresenta crânio alto com occipital plano
e rosto grosseiro mas alongado. Este último tipo apresenta deste modo traç os excepcionais para
caracterizar a população da cultura do vaso campaniforme, ainda cíue represente sómente uma
parte (a população é de facto composta por uma mistura racial, visto ser muito elevada ainda a
percentagem de indivíduos dolicocéfalos). Este tipo excepcional desaparece depois durante muito
tempo da gama das raças europeias, enquanto a forma caracterizada pelo occipital redondo
continua a estar presente aqui e ali em pequena percentagem; só posteriormente, na Idade de
Ferro, a forma do occipital plano toma a aparecer em percentagem digna de nota numa série de
sepulturas individuais. juntamente com achados esporádicos de conjuntos de crânios com o
occipital curvo na África Setentrional, na Ásia Menor este tipo apresenta por vezes percentagens
de registar, ainda que neste caso sejam relativamente recentes, O material mais antigo que até
hoje se conhece provém de Chipre, onde, na aldeia neolítica de Khirokitia (cerca de 3500 anos a.
C.) se encontrou elevada percentagem de formas braquicéfalas. Infelizmente não nos é possível
extrair qualquer conclusão da morfologia racial, pois que este grupo é caracterizado por
profundas deformações artificiais do crânio, pelo que não se pode excluir a hipótese de a
forma originária destes crâ nios ter sido a braquicéfala com occipital arredondado. É
todavia particulannente surpreendente verificar que no vizinho cominente, na mesma época, forani
sómente encontradas formas dolicocéfalas. Algumas sporádicas formas arredondadas,
247
História das raças
por exemplo em Biblos, são sem nenhuma dúvida consideradas variantes extremas da forma
dolicocéfala dominante. Do centro e do oriente da Ásia Menor, possuímos, do segundo milénio
antes de Cristo, uma sucessão de séries que apresentam grande percentagem de crânios com
occipital redondo. A raça plano occipital, típica hoje naquelas regiões geográficas, denominada
raça armeniana, é, pelo contrário, documentada, na medida em que a notabiliza, sómente a partir
do primeiro milénio antes de Cristo, à qual se podem também atribuir os achados de Sialk (iv
camada), no Irão Ocidental. já quando atrás nos referimos aos Hititas (cf. documentação),
tivemos ocasião de acentuar que eles, ao contrário do que antigamente se supunha, não eram
caracterizados por crânio planooccipital, mas por algumas formas braquicéfalas curvo
occipitais, ao lado de maiores contingentes de formas dolicocêfalas. A série de crânios
descobertos até agora é suficiente para permitir chegar a esta nova conclusão. Considerase
mesmo que a população europeia caracterizada pelo occipital plano seria derivada das formas do
Próximo Oriente e que o seu aparecimento na Europa resultara da emigração de grupos provenientes
daquela área geográfica. A esta asserção pode oporse, com fortes razões, que tal hipótese não
pôde ser confirmada pelo material fóssil até agora encontrado, nem na cronologia, e que, pelo
contrário, seria mais razoável considerar a aparição das formas braquicéfalas na Europa, como na
Ásia Menor, um fenômeno independente (isto é válido também para as formas curvooccipitais).
Quando por isso se integram no conceito superior dos «Táuridas» (da cadeia de Tauro) os
«Adriáticos» europeus de occipital plano, documentados sómente em época recente, com as formas
correspondentes da Ásia Menor, tratase de uma concepção que assenta em bases muito frágeis, do
ponto de vista genético, sem falar das épocas remotas em que diversos autores pretendem situar a
origem de tais formas. Igualmente é arriscado relacionar estreitamente os «Alpínos» europeus
caracterizados pelo occipital curvo com a correspondente forma da área do Próximo Oriente, o
que, pelo menos para os profanos, pode resultar da denominação literal «Alpinos orientais».
Também por estas duas combinações de características semelhantes entre si terá por
248
História das raças
agora de pressuporse como mais verosímil uma origem e um desenvolvimento independentes. Das
outras partes do mundo não temos por agora séries de achados suficientes para poder estudar mais
a fundo o fenómeno da braquicefalização, quer do ponto de vista cronológico, quer do da área de
origem. Encontramos muito elevados índices cefálicos entre os Mongolóides, os Polinésidas e os
Ameríndios mais recentes, portanto, por um lado formas manifestamente progressivas, mas por
outro também, em elevada percentagem, nas raças anãs, que são certamente especializadas, mas não
«progressivas» no sentido em que o termo é empregado. No conjunto pode considerarse certo que o
arredondamento do crânio é nitidamente um fenómeno recente que se encontra com muita frequência
nos representantes ainda vivos do tipo arcaico. Se bem que o crânio braquicéfalo se encontre
muitas vezes aliado a uma série de outros caracteres, pelo qual pareça lícito considerálo, como
característica racial, é no entanto necessário, com tal objectivo, um exame muito cuidadoso.
Na Europa, numa série de achados que abrangem o período que vai da Idade Média à Idade Moderna,
verificase um surpreendente aumento do índice craniano, sem que isto constitua uma mutação
correspondente a outras características, no sentido de uma transformação da raça. Não há dúvida
de que basta o aumento da largura da calota craniana para alterar a configuração da face. A
tendência para o arredondamento do crânio observase na Europa em populações de origem
nitidamente dolicocéfala, sem que históricamente seja possível documentar correspondentes
variações demográficas. Particularmente dignas de registo são as investigações sobre ossos
encontrados nos vales alpinos isolados na Á ustria, que certamente durante tal período será de
excluir qualquer forma de imigração. Também aqui c> índice craniano aumenta progressivamente a
partir da Baixa Idade Média. Pesquisas levadas a efeito pelos discípudos de Eugen Fischer, e
particularmente um trabalho de Hauschild, sugerem como interpretações para este conjunto de
problemas que o arredondamento do crânio não seja considerado segundo o critério estabelecido
para as variações da estatura, isto é, como um fenômeno claramente definido nas suas causas e
nos seus limites.
249
História das raças
pletar este quadro acrescentamos que novas investigações em grandes séries referentes sempre à
mesma área e às mesmas populações respeitantes aos resultados obtidos nas últimas décadas
revelam uma suspensão ou mesmo um regresso, estatisticamente assegurado, do arredondamento.
Em conclusão: a braquicefalia é em geral uma aquisição recentíssima do Horno sapiens: surge pela
primeira vez por volta do Mesolítico esporà dicamente, com muitas lacunas e lenta evolução, pelo
que não pode ser considerada como resultado de cruzamento racial. Cerca do fim do Neolítico,
encontramse pela primeira vez combinações de caracteres que, em conexão com a braquicefalia,
passam a ser utilizadas para definir tipos. Tais tipos não se podem, no entanto, reportar a um
único centro de origem, pois se desenvolveram nitidamente em diversas regiões independentes,
circunstância não para desprezar quando se trata de interpretar tais achados no quadro de uma
sistemática racial em vasta escala. Para o período que vai da Idade Média à Idade Moderna, na
Europa, encontraramse achados pelos quais se pode estabelecer seguramente que o pronunciado
arredondamento que se observa nesta área geográfica é verosimilmente de definir como carácter
fenotípico, ainda que as causas e os factores que o originam não sejam ainda esclarecidos. De
qualquer forma, a braquicefalia é uma característica que só em parte se pode considerar e
avaliar como genèticamente fixada de modo inequívo::o, e daí não poder ser utilizada para a
classificação das raças senão com muita prudência.
PIGMENTAÇÃO E DESPIGMENTAÇÃO. A densidade dos grânulos do pigmento na pele, nos cabelos e nos
olhos é um complexo de características fàcilmente acessíveis à observação que já há muito tempo
serviu de base para uma rudimentar subdivisão das raças humanas em branca, amarela e negra. já
vimos como se pode explicar do ponto
250
História das raças
de vista genético a variação da coloração entre os ramos raciais, bem como dentro deles (>
Gênese das raças). A gradual transição dum tipo de coloração a outro, como, por exemplo, entre
os Europóides, indica um efeito orientador das diversas zonas climáticas, onde a «orientação» é
compreendida apenas como enriquecimento (resultado por selecção) em medida superior à norma de
mutações evidentes, e não corno mecanismo activo que provoca oportunas mutações. Podemos
presumir com certa verosimilhança que as antigas populações humanas tiveram um grau médio de
pigmentação. Pois que na origem deviam estar presentes, quer as mutações causadoras da coloração
clara da pele, quer as da coloração escura, o aumento da pigmentação entre os Negróides e entre
os Europ@ides que vivem a sul, nas zonas tropicais, é apenas o resultado de uma selecção
convergente, consequência de igual vantagem selectiva em condições ambientais muito semelhantes.
Isto significa que as várias populações de pele escura na terra não devem ser englobadas no
mesmo conjunto, a partir desta característica única, por muito que ela se manifeste numa grande
raça (a raça do «hornem do Sul»), já que a unidade genética da compleição escura não pode ser
determinada. Com efeito é muito mais verosímil tratarse de um desenvolvimento paralelo, por
vezes em condições de contiguidade espacial mas sem origem unitária. O ramo racial dos
Mongolóides nem sequer nas zonas tropicais apresenta aquela coloração escura que encontramos
nos Negróides e por vezes nos Europóides (> Gênese das raças). Isto significa que a protecção
da pele contra os efeitos das radiações pode ser ainda garantida por vias diferentes do
enriquecimento do pigmento. A despiginentação entre as populações do Noroeste europeu é mais
surpreendente, porquanto essas são as únicas a apresentar vincada compleição clara,
caracterizada por uma descoloração dos cabelos que vai até ao louroclaro, pela pele branco
rosada e olhos azuisescuros.
Tudo isto é consequência de uma quantidade substancialmente menor de grânulos de pigmento. A
hipótese mais plausível para a explicação desta ausência de cor consiste em que o mutante
causador da coloração clara, evidente em todas as raças do Homo sapiens, resulta vantajoso do
251
História das raças
ponto de vista da selecção no clima marítimo muito nebuloso de grande parte da Europa Central e
Ocidental. Presumese que a radiação ultravioleta, se não fosse constantemente atenuada por
estratos de nuvens, poderia voltar a exercer sobre a compleição clara todo o seu necessário grau
de acção. Com efeito, no Norte da Europa, como nas altas montanhas, voltam a prevalecer cores
escuras, indivíduos claros sujeitos ao ardor do sol sofrem muilo.é por isso que actualmente não
se contratam pessoas louras, por exemplo, para as expedições polares. Como é óbvio, existem
ainda grandes quantidades de pessoas de compleição clara na Europa Oriental, assim como em
determinadas zonas do Mediterrâneo ‘ mas nestas regiões a compleição clara não é tão nítida,
verificandose passagens graduais, particularmente na Europa Oriental, a um lourocinzapálido
e a olhos mais escuro@s.
Do ponto de vista da história das raças a compleição clara é para nós particularmente
importante, pois que ela, com a sua área central de selecção bastante certa, torna possível
qualquer conclusão sobre a origem dos grupos que se diferenciam do ambiente circundante
por percentagem mais elevada da compleição clara. Isto é particularmente válido para a
localização da presumível área de origem dos Europóides. A figuração na área
préhistórica dos indivíduos de compleição clara e o consequente aparecimento dos ideais de
beleza orientados naquele sentido não permitem ainda tirar qualquer conclusão segura acerca da
frequência percentual deste traço no âmbito das populações daquele tempo (ver documentação).
Tais documentos materiais utilizáveis do ponto de vista antropológico são válidos nos limites do
possível no conjunto do quadro da «combinação de caracteres típicos». Todavia pode sustentarse
que percentagens elevadas de indivíduos de compleição clara indochineses com grande
probabilidade são originários, pelo menos, em grande parte das populações consideradas
«europóides». Também para o problema da origem destas populações possuímos um critério
importante, e biológicamente bem fundamentado, que não pode ser esquecido quando se trata de
definir (baseado nos achados respeítantes à história da cultura ou da filología) uma origem mais
asiático oriental, curopeia de leste, ou centro
252
História das raças
europeia. De documentos escritos da Antiguidade é certo que algumas das populações de língua
kentum (um dos dois grupos nos quais se distinguem as línguas indoeuropeias: compreende entre
outras o grego, o latim, as línguas neolatinas, o gótico e as línguas anglosaxónicas, o antigo
irlandês e a hitita; o outro grupo, o das línguas satem) eram de compleição clara. Vemos
portanto, pois, que para uma região de selecção nitidamente delimitada ou para um complexo de
caracteres perfeitamente observáveis é possível fazer asserções respeitantes à história das
raças, enquanto, pelo contrário, numa ampla difusão da compleição escura é impossível concentrar
genèticamente num grande grupo toda a população caracterizada de coloração negra.
NOMENCLATURA RACIAL. Os primeiros nomes de raças e classificações remontam a um período no qual
eram ainda desconhecidos os mecanismos genéticos que presidiam à formação das raças. Como,
porém, na nomenclatura científica os nomes que primeiro foram dados (nomes que, com o seu
carácter descritivo, coincidiam. suficientemente com as delimitações raciais hoje possíveis)
possuíam a prioridade científica e deviam continuar a ser usados, a nomenclatura em si não é
uniforme. Na linguagem popular continuam pois a manterse designações como Arianos ou Semitas,
que remontam a grupos linguísticos, ou Indogermanos, Romanos, Germanos, etc., que podem
referirse simultâneamente a determinados povos. Como base da nomenclatura científica utilizam
se, regra geral, denominações geográficas, que são escolhidas em conformidade com a área ocupada
actualmente por uma raça, ou com uma área central históricamente comprovada. Além disso
adoptaramse também designações derivadas da etnografia e que são válidas sobretudo pela unidade
étnica. Frequentemente o nome que designa determinados povos tem, com algumas deformações,
origem no nome como a si próprios se apelidam; normalmente isso não significa outra coisa que
«homem», como, por exemplo, no grupo racial dos Coisânidas, que formaram a sua denominação pela
composição de dois vocábulos: «Coi» e «san», e com os quais tanto os Hotentotes como os
Bosquímanos se indicam a si mesmos. No quadro da nossa dissertação apoiamonos na
253
História das raças
classificação geral elaborada por v. Eickstedt, ainda que, acerca de determinados problemas e de
alguns pontos dela, haja diversas opiniões (> Sistemática racial). A classificação de v.
Eickstedt, de facto, é todavia a melhor, fruto de vasta investigação, que não tem precedentes
pela sua extensão e precisão, motivo por que a sua classificação é utilizada fora do âmbito
linguístico alemão.
Antes de passar a um exame mais pormenorizado, da história das diversas raças desejaríamos ainda
aludir à tese sustentada por C. S. Coon na «Origem das Raças», 1962. Segundo essa tese, as raças
recentes do Homo sapiens terseiam desenvolvido directamente das populações dos (eu) hominídeos
arcantropídeos ,> Paleontropolagía) fixa
254
História das raças, Europa
das nas várias regiões a partir do início do Plistocénico, Médio. Coon pressupõe ter havido uma
evolução convergente e uma troca genética de população para população. A este propósito podese
s@mente observar, em breves palavras, que em face de todas as observações e experiências da
moderna genética das populações, tal hipótese é extremamente improvável, porquanto uma nova
espécie com a sua combinação de caracteres típicos apenas pode diferenciarse no decurso de um
longo isolamento geográfico (> Gênese das raças.) Só como consequência de tal isolamento ela
pode alcançar uma difusão mundial expulsando e substituindo populações mais antigas. Coon, além
disso, não tomou em consideração o facto de a diferenciação que se observa na sequência dos
fósseis de que temos conhecimento se pro@:essar em velocidade e direcção diversas nas várias
regiões geográficas.
HISTóRIA DAS RAÇAS: EUROPA a) Paleolítico Superior.
O continente europeu, que na verdade constitui tãosó um apêndice ocidental da Ásia, encontrase
geográficamente separado desta por uma cadeia de montanhas relativamente baixas, os Urais,
sistema montanhoso que não constitui um obstáculo insuperável às grandes migrações de povos, as
quais foram ainda facilitadas pela existência de vastas planuras abertas nas regiões meridionais
que vão até ao mar Cáspio. Como já tivemos ocasião de recordar, o ramo racial dos Europóides
deslocouse muito para além do continente que lhe deu o nome e deve ter estado representado na
Ásia, Indonésia/Oceânia e África até ao período do grande incremento demográfico na época da
colonização extraeuropeia, em medida certamente igual, se não superior, à da população europeia
prèpriamente dita. O facto de se terem encontrado prematuramente, na Europa, restos humanos
fósseis, implicando um desenvolvimento da antropologia científica neste continente que precedeu
as investigações antropológicas nas outras partes do mundo, fez com que os restos europeus do
Homo sapiens fóssil tenham sido considerados os modelos a que deviam reportarse todos os restos
fósseis. Deste modo, até mesmo para os representantes extraeuropeus das formas mais arcaicas do
Homo sapiens encontramos a designação de «Europóides primi
255
História das raças, Europa
que as proporções dos membros se mantêm no quadro de variação dos achados do mesmo período que
dizem respeito ao Homo sapiens. A designação, atribuída por Verneau, de «raça negróide», deverá
portanto ser refutada em absoluto: tratarseia, muito pelo contrário, de esqueletos
pertencentes à grande família dos cromagnóides; b) Gruta do Cavillon: 1862, com indústria
aurignaciana, homem («hornera do queixo») cromagnóide; c) Barma Grande:
188494, estratos mais recentes do Paleolítico Superior, quatro sepulturas, seis esqueletos,
cromagnóides; d) Salto da Torre: 1873, estratos mais recentes do Paleolítico Superior, três
sepulturas, cromagnóides.
Arene Candide (Riviera Italiana): 194042, caverna na província de Savona; sucessão de
estratificações que engloba níveis culturais que vão dos fins do Palcolítico ao Mesolítico (não
se encontra ainda definitivamente publicada). Restos de cinco indivíduos cujos caracteres
tipológicos variam entre a corpulência robusta e outras formas mais delicadas.
S. Teodoro (Sicília): respeita mais ou menos ao mesmo período de Romanelli e Arene Candide;
restos de esqueletos que remontam provàvelmente ao final do Mesolítico. Cinco indivíduos;
crânios ligeiramente cromagnóides.
HonerthõhIe (Alemanha): estrato@s mais recentes do Palcolítico Superior; dois esqueletos de
crianças.
Stetten ob Lontal (Alemanha): 1931. Stetten I: acompanhamento de indústria aurignaciana, crânios
danificados, formas alongadas e delicadas como as de Combe Capelle. Stetten II: estratificação
indeterminada; Mesolítico ou
258
História das raças, Europa
época ulterior. Confirma esta segunda hipótese o facto de o crânio ser curto (braquicrânico, cf.
braquicefalização).
Brno (Checoslováquia): 1885, jazida préhistórica, restos de três indivíduos, cultura de talhe
em lâminas. Tipologia análoga à de Predmost; na opinião de outros autores (Fischer), os
indivíduos citados teriam certas semelhanças com Combe Capelle, devendo considerarse proto
mediterrâneos.
Lautsch (em checo = Mladec, Checoslováquia): 1881, jazida préhistórica na Morávia. Data: início
da II Glaciação, de Würrn. Restos de sete indivíduos que revelam parcialmente uma constituição
de certo modo robusta, embora se evidenciem algumas características análogas às formas delicadas
de Combe Capelle, especialmente em Lautsch I.
Predmost, ou Predmosti (Checoslováquia): 1894, jazida préhistórica, consideràvelmente posterior
a Lautsch e Combe Capelle. Numerosos indivíduos. Crânios muito espessos e compridos, de largura
desigual, saliência glabelar, arcadas supraciliares frequentemente proeminentes. Desarmonia
crâniofacial, queixo muito saliente. Os restos encontrados englobam toda a gama de variações do
Homo sapiens fóssil. Alguns caracteres, que patenteiam uma diferenciação menor em relação ao
tipo de Homo sapiens da Europa Ocidental, tornam verosímil a hipótese de novas migrações do
Oriente.
Unterwisternitz (Checoslováquia): 1925, jazida préhistórica, restos culturais do Aurignaciano;
numerosos utensílios talhados em osso. Restos de dez indivíduos. Gama tipológica semelhante à de
Predmost.
Na Europa, e no que diz respeito a este período, não existem práticamente outras jazidas.
Podemos, portanto, determinar alguns centros de concentração, entre os quais, se destacam
particularmente a França e a Riviera da Ligúria, bem como, em medida mais limitada, a Alemanha
e, mais tarde, novamente com séries muito consideráveis, as regiões da BoémiaMorávia. Em
diversas jazidas, felizmente, já se têm séries que oferecem um quadro aproximado da população.
Como quer que seja, temse um rico campo de variação que compreende toda a gama tipológica de
CroMagnon a Combe Capelle, os nossos dois tipos
259
História das raças, Europa
padrão. Os próprios restos encontrados na Riviera Italiana, embora sejam geralmente indicados
como cromagnóides, patenteiam tal variedade que não há qualquer combinação de caracteres
especiais que possa considerarse predominante. Não deixa de causar surpresa o facto de os
nossos tipospadrão se poderem distinguir claramente desde o principio, o que sublinha a grande
amplitude das variaçoes do património genético do tipo Homo sapiens fóssil, embora sejam de
esperar, dada a prevalência de pequenos grupos como base dos círculos matrimoniais, alguns
carac teres de grupo bastante acentuados. Assim, embora reconhecendo a existência de tipos
padrão e mesmo considerando a sua utilização como termos de confronto, algumas hipóteses
biológicas de carácter geral induzemnos a não lhes atribuir expressamente a classificação de
raças claramente delimitadas.
260
História das racas, Europa
poveamentos, como o demonstra o número dos restos mesolíticos de um período que abrange sómente
cinco a seis mil anos, em relação aos do Paleolítico Superior, que é muito mais longo. Este
notável desenvolvimento demográfico, apesar das reduzidas possibilidades oferecidas pela caça _,
torna verosímil, também para a Europa, a possibilidade de a passagem a formas conscientes de
produção de alimento se ter iniciado já no Mesolítico.
Eis os achados humanos mais importantes: Muge (Portugal): povoação do Mesolítico tardio ao
início do Neolítico. Acumulações de conchas, com numerosas séries de esqueletos humanos. A
estatura tende tipicamente para o baixo, o crânio é predominantemente alongado, a face é
estreita; também se encontram algumas formas moderadamente braquicéf`alas. Não se trata de uma
raça autónoma; a combinação de caracteres pertence a um ciclo de formas mediterrâneas muito
diferenciadas.
Urtiaga (Espanha): restos de dois esqueletos cromagnóides.
Hoêdic (França): ilha fronteira à Bretanha: numerosas séries de esqueletos. Caracteres idênticos
aos de Téviêc.
Téviêc (França): ilha fronteira à Bretanha, tal como Hoêdic. Grande série de esqueletos.
Estatura que tende para o baixo, crânio de dimensões médias. A combinação de caracteres permite
reconhecer o início de uma diferenciação. Não é ainda possível qualquer classificação.
Trou du FrontallFurfooz (Bélgica): 1865, série da mesma época de Grenelle, com a qual possui
notáveis ana
261
História das raças, Europa
Fig. 57
Fig. 57. Forma antiquíssima que remonta ao penúltimo período intergIaciário: préneandertaliano
da última era glaciária; Homo sapiens de crânio muito alongado e face estreita e Homo sapiens de
erãnio menos alongado e face larga, última glaciação. a) Swanscombe (Inglaterra), forma
antiquíssima; b) Préneandertaliano de EhrIngsdorf, perto de Weimar; e, d) Saplens de Combe
Capelle, masculino: tipopadrão; e, f) Sapiens de Ober
kassel. masculino: tipo de CroMagnon
Fig. 58. Achados europeus de Homo sapiens do final do Palcolítico e do Mesolítico: a, b)
Oberkassel, mulher., e, d) Botten
dorf, homens: e, f) Gramat, homem
Fig. 59. Crânios da Europa Central provenientes do Neolítico: a. b) Homem da cultura do vaso
camvaniforme, occiDital chato; e e d) Mulher da cultura do vaso campaniforme, occipítal curvo;
e, f) Homem da cultura da cerâmica «cordada», grá
cilodolicomorfo
262
História das raças, Europa
Flg. 59
História das raças, Europa logias; a hipótese de se tratar de uma raça autónoma é informulável.
Deventer (Holanda): restos de seis crânios, tipologia indefinida.
Avelines Holes (Inglaterra): série de esqueletos muito numerosa que remota ao final do
Mesolítico; existem em
Galley Hill (Inglaterra): crânios alongados e muito estreitos. Anteriormente atribuía selhes
uma antiguidade muito maior. Testes por meio de flúor determinaram que se trata de restos
relativamente recentes.
Arene Candide, Romanefli, S. Teodoro (Itália): restos mesolíficos, cromagnóides na sua maioria.
Mazella (Itália): classificação cronológica incerta: provàveltnente primeira fase do Neolítico;
o crânio é ainda cromagnóide.
Laufen (Suíça): até à actualidade, na Suíça, é o mais antigo resto fóssil de Homo sapiens
conhecido. É pouco caracterizado morfológicamente.
Bottendorf (Alemanha): sepulturas; três crianças e um homem. Estatura ligeiramente inferior à
mediana, dolicocrania, face de altura média, bem vincada. Os caracteres aproximamse ainda do
tipo CroMagnon, mas já revelam algumas combinações de caracteres raciais próprias do Neolítico.
fim da guerra.
HoMesteínILohnetal (Alemanha): sepultura com três crânios, caracteres idênticos aos de Ofriet.
264
História das raças, Europa
Kaufertsberg (Alemanha): sepultura certamente mesolítica. Crânio de altura média (cf. Ofriet).
Neuessing II (Alemanha): 1913, esqueleto bastante completo, classificação cronológica incerta;
foi encontrado num estrato muito antigo. Do ponto de vista morfológico, é possível que pertença
ao Mesolítico.
Ofnet (Alemanha): 1908; caverna, duas fossas com 27 e 6 crânios respectivamente. A classificação
cronológica
não é completamente segura: tratase, provàvelmente, do Mesolítico tardio. Os crânios, na sua
maioria, são alongados; inicialmente, além de serem provàvelmente sobrevalorizadas algumas
formas braquicéfalas, reconstruções erradas deram origem a índices muito altos. Uma nova
recomposição dos crânios operada por Moffison deu índices inferiores, mas o eclodir da guerra
impediu que os resultados desse trabalho viessem a ser publicados, pois o material original foi
destruido pelos bombardeamentos. Ofriet, con
tudo, não perdeu a sua importância: foi o primeiro documento a testemunhar indubitàvelmente as
tendências para o arredondamento do crânio que começaram a surgir nesta época (cf.
braquicefalização).
ErtebMelBorreby (Dinamarca): da última fase do Mesolítico à primeira do Neolítico. Estas séries
surpreendem parcialmente pela forma larga e redonda dos crânios. Sugerem, devido à espessura da
estrutura óssea, formas mais antigas, cromagnóídes; o arredondamento pode estar relacionado com
formas iniciais cromagnóides muito largas.
Nagy Sap (Hungria): jazida situada numa planície, classificação cronológica incerta, crânios
braquicéfalos que remontam mais provàvelmente ao Neolítico do que ao final do Mesolítico.
Fat'ma Koba (Crimeia): 1922, esqueleto de características predominantemente cromagnóides.
265
Murzak Koba (Crimeia): 1936, homem e mulher, cromagnóides.
Como já tivemos ocasião de referir, a frequência dos achados, avaliada em função do espaço de
tempo considerado, é maior do que a do Paleolítico Superior; quanto às séries, também são muito
mais numerosas. Simultâneamente, verificamos que na idade pósglaciária começaram a ser
exploradas novas áreas de povoamento (Suíça, Holanda, Inglaterra, Escandinávia); quanto à Europa
Oriental e do Sudeste, não se vislumbram nela restos humanos, embora seja possível demonstrar, a
partir de restos cultur,gj,s, a presença do homem numa zona que chega a abranger a Crimeia. Em
relação à gama tipológica do Homo sapiens do Paleolítico Superior, impressiona a considerável
diminuição da estatura média. Contràriamente a quanto pode verificarse no que diz respeito à
África, não se encontraram na Europa até à actualidade esqueletos mesolíticos aos quais se possa
atribuir a estatura superior à média. Esta diminuição em larga escala da estatura média
prossegue no Neolítico, como pode verificarse através do confronto das várias combinações de
caracteres típicas com as de tipos raciais mais recentes. No seu conjunto, os crânios denotam
simultâncamente uma forma mais regular, menos maciça, e também as diferenças sexuais, em relação
à média dos grupos, parecem diminuir acentuadamente; isto pode observarse, de modo especial,
nos confrontos com formas mais recentes. Notase, por outro lado, do final do Neolítico à
passagem à Idade do Bronze, uma tendência para o desenvolvimento inverso. No conjunto, não se
encontram ainda cornbinaç&s de caracteres susceptíveis de se distinguirem com facilidade, nem
que possam tãopouco considerarse típicas de uma raça; os vários achados revelam simplesmente,
em larga medida, formas de transição. De resto, não seria de esperar uma situação diferente,
caso se entenda o conceito de raça no sentido de «processo» ou «formação, dinâmica». A
componente tipológica cromagnó ide só pode localizarse fàcilmente, nas suas características
essenciais, em poucos achados. Prevalecem faces e cabeças de traços pouco acentuados, estreitas,
de formas meso e dolicocrânicas; sómente na Escandinávia se encontram com frequência, ainda nos
266
História das raças, Europa
primeiros estratos do Neolítico, tipos maciços e grosseiros, os quais lembram claramente certos
caracteres cromagnóides: o fenômeno pode explicarse pela hipótese que assevera serem os
portadores de combinações de formas mais antigas relegados para uma posição marginal, sem que as
condições ecológicas de selecção tenham feito sentir decisivamente a sua influência (cf. as
formas antigas da raça nórdica).
O facto de se ter manifestado pela primeira vez, na última fase do Mesolítico (se não tomarmos
em consideração as inúmeras dificuldades de classificação cronológica), a tendência para o
arredondamento do crânio, é muito importante. Embora este fenómeno, não seja tão claramente
pronunciado como anteriormente se supôs (Ofnet), nem por isso deixa de testemunhar
indubitàvelmente o aparecimento de uma nova tendência morfológica que pode observarse de
maneira autónoma em diversas séries. Façamos notar ainda que a grande variedade de formas cro
magnóides, com acentuada largura média do crânio, oferecia boas possibilidades de
desenvolvimento como ponto de partida, de modo que não é necessário supor, em relação com e,
aparecimento das novas formas do Mesolítico, uma migração de povos. Tanto quanto se pode julgar
pelo grande número de achados actualmente à nossa disposição, o arredondamento do crânio foise
impondo gradualmente por toda a parte (mesmo fora da Europa), à escala continental, e sem que
possam comprovarse quaisquer nexos genéticos; só alguns milénios mais tarde será possível
localizálos claramente, como carácter típico, em pequenos gripos. A lenta variação dos
caracteres do homem mesolítico corresponde, no que à Europa diz respeito, a uma situação
substancialmente estacionária. Só podem distinguirse seguramente profundas transformações da
situação ecológica, relacionadas com o correspondente espírito de iniciativa próprio do homem,
apenas no período seguinte, com a sua «revolução» económica.
c) Do Neo@ítico à era moderna. O início deste período pode fixarse, para as regiões da Europa
Central, em cerca de 4000 a. C., embora nos dois últimos decénios se tenha manifestado urna
tendência que visava a fazêlo recuar largamente. Os novos valores, que voltam a conferir vali
267
História das raças, Europa
dade a uma classificação cronológica velha de decénios assentam parcialmente em determinações
cronológicas obtidas com o método do radiocarbono e são confirmados pela análise dos pólens
fósseis. Segundo estas determinações cronológicas, os primeiros pólens de trigo deveriam ser
situados em épocas ainda mais recuadas, assumindo tal facto uma importância especial no que diz
respeito ao início da «revcolução económica» na Europa. Com o início do Neolítico, encontramos
também no nosso continente grupos claramente sedentários que já se dedicam à produção consciente
de alimentos baseada no cultivo da terra e na criação de gado. Também se observam pela primeira
vez, simultâncamente com os grupos culturais, unidades étnicas, as quais na verdade se compõem
de misturas raciais, revelando no entanto diversas percentagens das várias raças deste Período.
Quando, a partir de combinações de caracteres consideradas típicas, se procura estabelecer a
relação entre estas primeiras raças e as raças actuais, é necessária certa prudência. Na alínea
b) já se recordou que a diminuição média da estatura continua a processarse ainda por longos
períodos do Neolítico, estando esse fenómeno relacionado com a diminuição geral da capacidade do
crânio, com a atenuação dos seus relevos e com o enfraquecimento das diferenças sexuais típicas
dos vários grupos. Não deve ignorarse esta situação sempre que se proceda a comparações
métricomorfológicas, nas quais a base de confronto é menos dada pelas raças actuais do que por
séries de esqueletos descobertos no suposto espaço de origem (na Europa Central, por exemplo).
Os resultados destas comparações devem, portanto, ser completados por considerações de carácter
biológicodemográfico e por estimativas acerca da capacidade de crescimento e de expansão de um
núcleo populacional. Os achados de que dispomos permitemnos chegar à conclusão de que o ritmo
de crescimento dos povos desta época deve ter sido lento, prevenindonos contra o perigo de
supôlo em concordância com a velocidade de expansão determinável a partir dos achados
culturais. Será necessário, ainda a este respeito, considerar atentamente o facto de a difusão
de uma cultura ser susceptível de se processar também por intermédio da aprendizagem, nem sempre
correspondendo aos grandes movi
268
Ilistória das raças, Europa
mentos de povos. Sómente um estudo global que tome em consideração todos os critérios
actualmente possíveis, quer antropológicos, quer de história da cultura ou genéticos (história,
origem e evolução de animais domésticos e de plantas cultivadas), pode dar azo a uma
interpretação cientificamente válida dos achados.
Dada a enorme extensão do material antropológico relativo ao Neolítico, deveremos llimitarnos,
por motivo da falta de espaço, ao tratamento de apenas alguns exemplos característicos, os quais
dizem respeito à moderna subdivisão das raças e às suas combinações de caracteres mais
importantes,
Brandkeramik («cerâmica listada»): a cultura dos chamados Brandkeramiker provém do Sudeste do
nosso continente; daí, em poucos séculos, propagouse até ao espaço da Europa Central.
Encontramos os numerosos terrunhos e as inúmeras sepulturas destes grupos de cultivadores em
todo o percurso das suas migrações, geralmente em planuras abertas (de lõss), por vezes
nitidamente inseridos no seio de povos com outras formas de economia. O primeiro investigador a
proceder, do ponto de vista antropológico, ao estudo de grandes séries, foi Heberer, seguindo
selhe mais tarde Gerhardt e Grimm. O tipo maioritário dos «dolicomorfos gráceis», doli,
océfalos de baixa estatura e face estreita, foi situado pelos autores citados numa categoria
muito próxima daquela em que se situam os Mediterrâneos. Com efeito, é grande a semelhança da
combinação de caracteres típica; contud(?, antes de fazer derivar estes povos do espaço
geográfico do Sudeste europeu será aconselhável a máxima prudência, porquanto não se pôde ainda
demonstrar cabalmente, nos períodos precedentes, a presença naquelas zonas geográficas de
semelhantes formas «gráceis». Além disso, no espaço central das regiões actualmente ocupadas
pelos Mediterrâneos é nítido ainda o predomínio de forinas maciças. Deste modo talvez fosse
mais oportuno não relacionar directamente, em sentido genético, os grácilodolicomorfos da
cerâmica listada com o grupo racial dos Mediterrâneos, tanto mais que semelhante relação não
pôde ser ainda determinada e que, com o crescimento da estatura na Idade do Bronze, os
grácilodolicomorfos desaparecem pràticamente. Além do elemento
269
História das raças, Europa
morfológico típico desta raça, encontramos ainda, entre os povos caracterizados pela cultura da
cerâmica listada, representantes de outras raças cuja presença é assinalada nos espaços abertos:
globalmente, prevalecem os dolicocêfalos e são raros os crânios curtos com faces largas.
Cultura megalítica. Os grupos integrados nesta forma cultural só em fins do Neolítico são
claramente perceptíveis; porém, no que respeita ao tipo de considerações que nos ocupa, a sua
importância manifestase apenas sob determinadas perspectivas. As séries antropológicas
estudadas compõemse de dolícocéfalos gráceis e de uma alta percentagem de cromagnóídes cujos
caracteres são pouco acentuados. Do ponto de vista da história da cultura, é costume relacionar
os túmulos megalíticodohnénicos com outras formas análogas (da Ásia Menor, da África do Norte,
das costas atlânticas da Europa Ocidental e da Inglaterra), sendo visível a inclinação
especulativa no sentido de considerar que a hipótese de semelhantes relações podem ser
explícadas através das migrações de povos, os quais, partindo sobretudo da África do Norte, se
teriam deslocado ao longo das faixas costeiras, sempre na direcção do norte. Todavia, também
aqui acabou por falhar o confronto morfológico, já que na Á frica é sobretudo assinalada a
presença de caracteres croniagnóides em indivíduos de constituição óssea maciça e grosseira. A
maioria da população devia estar certamente representada pelo elemento autóctone da Europa, mas
não devemos esquecer que, com o aumento da estatura a partir do final do Neolítico, também no
nosso continente os cromagnóides voltam a corresponder ao tipo mais antigo. Este grupo pode
assim ser adoptado como um exemplo ulterior a atestar que considerações de ordem biológica
exigem a máxima prudência antes de ter cabimento a suposição de serem possíveis fortes variações
demográficas em períodos de tempo muito breves, especialmente quando se podem encontrar
explicações mais simples.
Schnurkeramik (= cerâmica cordada). O grupo portador desta cultura, também chamado povo do
bipene por causa da sua arma característica (uma acha de dois gumes), só é referenciado na
segunda metade do Neolítico, alcançando a sua máxima expansão na parte final do mesmo
270
História das raças, Europa
período. A particular importância histórica por ele assumida reside na suposição de que estas
gentes desempenharam um papel muito relevante na formação dos primeiros Europóides. O seu
património cultural revela ainda certas influências provenientes da Europa Oriental/Rússia
Meridiodal, e assim alguns autores atribuíram as suas regiões de origem a estes países. Contudo,
do ponto de vista cronológico, é difícil a conciliaçã o desta hipótese com a densa trama de
relações que a cerâmica cordada apresenta com outras culturas neolíticas contemporâneas da
Europa Central. Uma série muito vasta de componentes da citada cultura, na Alemanha Central, foi
estudada antropológicamente pela primeira vez, de modo muito aprofundado, por Ileberer, cujos
trabalhos serviram de base às ulteriores investigações levadas a efeito por Grimm. Encontramo
nos perante um povo dolicocéfalo, com face predominantemente estreita, estatura mediana, cuja
combinação de caracteres revela notáveis analogias e coincidências com a que é própria da «raça
nórdica». A estatura ‘ relativamente baixa se a compararmos com a dos Nórdicos, corresponde
àquela, geralmente baixa, que encontramos nos achados neoliticos. Em relação aos grácilo
dolicomorfos da cerâmica listada, os componentes da cultura da cerâmica cordada são em média
mais altos e robustos; além disso, as suas séries distinguemse com mais facilidade, e também
entre eles é patente uma elevada percentagem de formas cromagnóides. Poderseá afirmar, em
síntese, que a combinação de caracteres presente neste tipo antropológico manifesta perfeita
concordância com os caracteres de achados mais antigos localizados na mesma região geográfica,
de modo que devem tratarse certamente, na sua'maioria, de elementos autóctones: Como é natural,
nada podemos afirmar acerca da pigmentação, elemento importantíssimo no que respeita à
classificação destes povos como nórdicos. Como já tivemos ocasião de verificar no período
«pigmentação, despigmentação», o espaço central da despigmentação coincide claramente com a zona
de onde provém a maioria dos com ponentes da cerâmica cordada nossos conhecidos. Se
acrescentarmos a isto que os Europóides, particularmente os das estirpes ocidentais de língua
kentum, se distinguiam pela sua compleição clara, poderseá inferir correctamente que
271
História das raças, Europa
algumas fracções importantes destas estirpes deveriam ser oriundas do centro de despigmentação
originário. Não conseguiremos determinar com rigor, naturalmente, o quantitativo das populações
originalmente de cultura diferente da que era característica da gente da cerâmica cordada que
acompanharam esta nos seus movimentos migratórios, reforçandolhe a componente clara. Seja como
for, a alusão à compleição clara revelouse um argumento importante, biológicamente fundament
ado, o qual não pode ignorarse nas discussões acerca da proveniência dos Europóides, embora
morfológicamente não possa determinarse com segurança se o crânio estreito e alongado, então
predominante por toda a parte, deva ser relacionado, no espaço mediterrâneo, com o grupo
meridional e oriental ou com o grupo originàriamente nórdico dos dolicocéfalos europóides. Isto
é válido sobretudo num confronto entre Mediterrâneos de tipo maciço e Nórdicos, os quais,
morfológicamente, só vem a diferenciarse em mais aspectos de maneira gradual, se bem que, ao
vivo, a própria pigmentação visivelmente os diferencie!
Glackenbecherleute (população da cultura do «vaso, campanifonne»): acerca deste grupo do final
do Neolítico, existe uma excelente monografia de Gerhardt, o qual no seu trabalho utilizou,
examinandoas minuciosamente, todas as referências disponíveis. Este povo deslocavase
continuamente chamouselhe povo dos «mercadores a cavalo» e dispunha, como bens culturais
mais evidentes, do vaso campaniforme (Glockenbecher), de um escudo protector contra a corda do
arco, além de pequenas quantidades de cobre batido a frio. A gente portadora desta cultura
encontrase amplamente distribuída entre outros grupos demográficos. Do ponto de vista
antropológico, os seus membros caracterizamse claramente pelo facto de entre eles se
encontrarem, pela primeira vez, braquicéfalos de occipital acentuadamente chato e de occipital
encurvado, juntamente com grácilodolicornorfos e dolicocéfalos nórdicos. Assim como no que
respeita às primeiras formas braquimorfas aparecidas no final do Mesoffitico, estes povos do fim
do Neolítico apresentam pela primeira vez, relacionados com a braquicefalia, uma série de outros
caracteres que tipicamente os definem. O «tipopadrão» da «população do vaso»
272
História das raças, Europa («Beakerpeople», como a designam os ingleses) possui cabeça estreita
e alta, com occipital chato e cheio de reentrâncias, e face alta; a sua estatura também era
relativamente elevada. Além deste, conhecese ainda um tipo caracterizado por cabeça curta
arredondada, com face larga e baixa e contornos gerais suaves, sem ângulos muito acentuados.
Este último tipo pode fàcilmente ser justificado pela incipierte braquicefalia do período
precedente. Quanto ao tipo do occipital chato, não apresenta quaisquer relações visíveis com
tipos precedentes. Gerhardt tentou relacionálo, através da Europa Ocidental e da África do
Norte, com o Próximo Oriente. Contudo, a esse escopo faltam todavia referências seguras
provenientes da Península Ibérica e da África do Norte, e isto sem contar que o tipo planoo,
cipital só pode documentarse na Ásia Anterior em relação a um período consideràvelmente mais
recente. Em Eggenburg/Baixa Áustria, juntamente com objectos da cultura de Lengyel, foi
encontrado um crânio de occipital chato, o qual, cronológicamente, deve considerarse anterior à
cultura do vaso campaniforme. Este facto deixa em aberto o problema da derivação desta
combinação de formas e perinitenos afirmar que este complexo formal não encontrou, até aos dias
de hoje, antepassados ou precursores noutras regiões que cronol@gicamente se lhe adaptem. Dado
que a gente a que nos referimos só veio a desaparecer pouco depois do início da Idade do Bronze,
nem sequer pode ser relacionada com os Adriáticos, os quais só surgem muitos milénios depois.
Quanto ao tipo braquicéfalo de occipital encurvado, mantémse na Europa, embora com o decorrer
dos séculos venha a representar tãosó uma fracção absolutamente secundária do conjunto da sua
gente (sómente na segunda metade do último milénio a. C. Alcança percentagens apreciáveis em
determinadas localidades).
Pode afirmarse, em síntese, que no Neolítico se encontra representada, sob formas ainda não
completamente diferenciadas, a maioria das raç as modernas importantes: a nórdica, a
mediterrânea e a alpina. Quanto aos grácilodolicomorfos da cerâmica listada, não pode ser
determinada qualquer conexão directa com os Mediterrâneos. A população da cultura do vaso
campaniforme, de occipital chato, não pode certamente ser considerada uma pre
273
História das raças, Europa
cursora directa dos Adriáticos e dos Pamirianos (Armenianos), os quais são muito posteriores. A
combinação de caracteres típica da gente da cultura do vaso campaniforme, de occipital chato,
toma verosímil, no que diz respeito ao final do Neolítico, uma fixação genética, pela, qual é
possível, no que concerne à Europa, um processo autónomo e independente de evolução (cf.
braquicefalização), se bem que o tipo antropológico volte provisàriamente a desaparecer.
Nos períodos que se seguiram ao Neolítico (Idade do Bronze e do Ferro), as formas dolícocéfalas
com face estreita e estatura variada predominam na maioria das regiões da Europa, como o atestam
achados fósseis, e nas regiões mediterrâneas, onde existem já culturas superiores «históricas».
Nestes períodos começa a desenvolverse, nas regiões mediterrâneas, um claro adensamento da
concentração populacional nos centros urbanos, ao passo que nas regiões que permanecem ainda
alheias à história se observa apenas uma forma aberta de colonização agrícola, de fraca
densidade, a qual vai conquistando lentamente as zonas florestais. Entretanto, a criação de gado
e a economia pastoril (colonização de áreas relativamente desfavoráveis!) desenvolvemse
progressivamente. Os recursos económicos destas regiões depressa se esgotam, vindo a
desenvolverse, paralelamente às fases de exacerbação do clima e de afundamento da terra firme
em regiões marítimas (zona do mar do Norte), um centro instável cujo espaço de pressão é
dominado pelo Germanos, os quais progridem lentamente para o sul e assim impelem
concêntricamente para o exterior os povos aí instalados, como os Celtas e os Ilírios. As
culturas superiores podem escudarse temporàriamente nas suas forças militares, mas não podem
impedir o fluxo ininterrupto de hordas de Bárbaros sempre renovadas. O último grupo de
migrações, já integrado na época histórica, é frequentemente designado pela expressão «invasões
bárbaras». Estes movimentos de povos foram inicialmente detidos pelo fortíssimo potencial
defensivo do grande Império Romano, originando desse modo um movimento inverso, na direcção do
norte, de povos provenientes da bacia mediterrânea (França, regiões do Reno e do Mosela,
Alemanha Meridional, Balcãs, incluindo a Roménia). Só depois de
274
Ilistória das raças, Europa
ter sido aceite a permanência nos confins do Império, a título de confederados, de povos que
haviam penetrado à força nessas zonas, a primeira vaga de grupos certamente mongolóides (Hunos),
unindose aos Germanos orientais que povoavam a Rússia Meridional, sublevouse e provocou a
queda definitiva do Império Romano. Os Germanos, que procuravam espraiarse para o Sul, puderam
manterse durante algum tempo nas zonas marginais do Norte da bacia mediterrânea, ao passo que
noutras regiões foram ràpidamente absorvidos pelos Mediterrâneos autóctones. A primeira vaga de
Mongolóides oriundos do interior da Ásia seguiramse novas vagas de Avaros, Búlgaros (estrato
superior mongolóide) e Húngaros, estes no primeiro milérico depois de Cristo. Do ponto de vista
demográfico, semelhantes vagas eram desta vez suficientemente fortes para deixarem numa parte
dos Balcãs vestígios nãoeuropóides, visíveis ainda hoje.
Se pretendemos relacionar estes fenómenos demográficos e da história das raças com a actual
distribuição rácica no nosso continente não devemos esquecer que as raças sofrem transformações
no decurso de milénios, pois resultam de «processos evolutivos, dinâmicos», isto é, não são
imutàvelmente estáticos. Os nossos métodos demonstrativos, partindo de bases morfológicas, nunca
poderão chegar a conclusões definitivas, e isto não tornando em consideração as inúmeras
lacunas, em muitos sectores e períodos, no que concerne aos achados da Europa. No que diz
respeito à época histórica, dispomos no entanto de material documental cada vez mais
significativo e abundante, composto de informações e descrições que nos permitem estabelecer
relações bastantes plausíveis entre as séries de achados mais antigas e a actual distribuição
das raças. Por outro lado, será necessário não esquecer que o processo de braquicefalização
verificado na Idade Média, e que de maneira mais ou menos acentuada interessou todos os povos,
exceptuando os da parte meridional da bacia mediterrânea, origina algumas dificuldades sempre
que se trata de inserir grupos ainda existentes nas combinações de caracteres típicas do nosso
moderno sistema de classificação. Além disso, para delimitar alguns grupos, podemos valernos da
pigmentação e de certas características dos tegumentos, dos
275
História das raças, Europa
músculos, etc., onde justamente, como material que serviria ao estudo de povos primitivos,
óbviamente dispúnhamos tãosó de restos de esqueletos.
Raça mediterrânea: caracterizada pelo crânio estreito e alongado, face alta e estreita, nariz
pequeno, mas geralmente de formas marcadas, corpulênncía esguia e estatura inferior à mediana. O
cabelo e os olhos são escuros, a pele varia entre o branco e o morenoclaro. Na Europa, fora da
região mediterrânea, esta raça também se encontra espalhada na Irlanda e no País de Gales;
existem ainda outros grupos, oriundos da zona balcânica, que atingiram a Rússia Meridional. Dada
a vastidão da zona abrangida por esta raça, notamse diferenças acentuadas de região para
região, embora a impressão geral permaneça predominantemente unitária. Nas séries préhistóricas
e protohistóricas, a literatura especializada distingue uma forma mais subtil e esbelta (forma
mediterrânea grácil) e uma forma mais maciça (forma mediterrânea robusta). A evolução destas
duas formas, porém, a partir do início do Neolítico, não pode ser seguida com segurança,
porquanto predominava na região mediterrânea, justamente nessa época, um tipo algo maciço com
características cromagnóídes; só mais tarde se verificou uma plena diferenciação.
Frequentemente englobamse também nas raças mediterrâneas algumas formas análogas da África
Setentrional e outras ainda da Ásia Menor e da Ásia Central (ver adiante). Devemos notar, porém,
que relações entre povos geogràficamente tão afastados devem ser consideradas com certa reserva,
já que nestes casos uma selecção convergente pode ter dado origem a combinações de caracteres
análogas. Por outro lado, seria bastante difícil comprovar a existência de um centro genético
unitário para um grupo racial de tão grande difusão, o qual se distingue simultâncamente por uma
vastíssima riqueza de formas.
Raça nórdica: longilíncos de estatura elevada, cabeça alongada e face estreita, com cor de pele
de um brancorosado, cabelo louro (dourado) e olhos que variam entre o azul e o cinzento.
Diferenciamse da raça mediterrânea, de cujo tipo constitucional se encontram muito perto,
devido a uma angulosidade maior dos traços do rosto e de todo o corpo. A raça nórdica é a raça
curopeia na qual
276
História das raças, Europa a despigmentação fez mais progressos: este facto permitenos fazer
remontar a sua origem, por exclusão, às regiões onde a despigmentação representa clirnàticamente
uma
vantagem especial para a selecção. Os Nórdidas habitam ainda hoje as regiões onde, ao que
supomos, sc deve ter começado a processar a despigmentação, isto é, a parte setentrional da
Europa Central e Ocidental, compreendida a zona costeira da GrãBretanha banhada pelo mar do
Norte, a Dinamarca, a parte meridional e central da península escandinava, a Finlândia
Meridional e Central e as costas do Báltico fronteiras. A estatura elevada, actualmente
considerável, só veio a transformarse numa característica racial em plena Idade do Bronze. No
Neolítico predominam geralmente valores muito inferiores. Subgrupos: Escandinavos, Teutónicos,
Finlandeses.
Raça dalofálica: é considerada por muitos autores uma
subvariante da raça nórdica. O seu nome deriva das regiões da Dalarna (Suécia e da Vestefália
(Alemanha), onde este tipo racial está concentrado. Subsistem nesta raça claros vestígios cro
magnóides: estatura elevada, corpulência maciça, crânio dolicomorfo bastante pesado, largo, com
face baixa e larga e nariz relativamente curto. A coloração é predominantemente clara; contudo,
em algumas regiões da Suécia, e também da Noruega, encontramse frequentemente indivíduos de
coloração escura com as mesmas características raciais, elementos por vezes acompanhados de
outros caracteres, tais como constituição menos robusta e estatura inferior. Lundman
classificava também nesta série de formas a « raça atlântica», localizada nas costas europeias
do Atlântico.
Raça báltica (báltica oriental): é a terceira raça curopeia de tez clara, cabelo lourocinza e
olhos que variam entre o cinzentoclaro e o verde. Corpulência maciça, estatura mediana,
braquicefalia mais ou menos acentuada, face baixa e larga, nariz curto e côncavo. Quanto à sua
região original, é possível investigálo em séries fósseis relativamente recentes. De qualquer
modo, a compleição moderadamente clara desta raça remetenos para as regiões da Europa Oriental
que possuem ainda um clima suficientemente marítimo para conferir à compleição clara uma
vantagem selectiva (enriquecimento, em medida superior
277
História das raças, Europa
à média, dos elementos claros). A sua braquícefalia, actualmente bem marcada, é sem dúvida um
fenómeno bastante recente (cf. braquicefalização), e o seu complexo de formas indica um ponto de
partida fortemente cromagnóide.
Raça alpina: corpulência maciça, estatura entre mediana e médioalta, cabeça curta com occipital
arredondado, face baixa e redonda, nariz curto, de perfil frequentemente côncavo. Cabelo e olhos
escuros, geralmente castanhos. As formas fósseis só se encontram claramente testemunhadas a
partir do final de> Neolítico (cf. Glockenbecherleute), mas apresentamse com frequência
relevante sómente a partir da segunda metade do primeiro milénio a. C. A denominação da raça
devese a um evidente adensamento de formas braquicéfalas na região alpina; unia ulterior
concentração é assinalada em França, na região das Cévennes (raças cévenole). Será necessário
notar, porém, que a braquicefalia actualmente dominante em vastas regiões da Europa não é típica
da raça alpina, pois não passa do resultado do fenómeno da braquicefalização que teve lugar na
Idade Média. Todavia, do ponto de vista genético, pode considerarse a raça alpina como uma raça
autónoma, dado que a sua combinação de caracteres típica se encontra bem assinalada na Europa,
embora geralmente em pequenas percentagens, desde há quatro mil anos.
Raça ad@iática (ou dinái*a): no que a esta raça diz respeito, não temos a certeza se será lícito
falarse, do ponto de vista genético, de uma combinação de caracteres fixada com continuidade.
Caracterizase por estatura elevada, crânio alto e occipital chato, face alta, perfil bem
marcado, nariz convexo, acentuado. O cabelo e os olhos são castanhos. Na Europa, mesmo no seu
actual espaço central, os Balcãs, só vêm a aparecer muito tarde. Nos Alpes austríacos, a
braquicefalia típica desta raça só começou a esboçarse claramente, em vales completamente
fechados e sem possibilidades de emigração, há poucas centenas de anos, acompanhando o fenómeno
geral do arredondamento da cabeça. Dado que també m a raça pamíriana (Armenianos), que apresenta
certas analogias com a raça adriática, só vem a fazer a sua aparição histórica num período
bastante tardio, considerações de ordem genética aconselham muita prudência antes de se
estabelecer qual
278
História das raças, Europa
quer hipotética afinidade entre estas duas raças. O termo «Táuridas», por vezes utilizado para
designálas a ambas, surgiu num período em que ainda se acreditava que este tipo racial fosse
testemunhado por restos muito antigos (cf. braquicefalização). De modo semelhante, para
continuarmos na Europa, não se pode estabelecer uma relação de parentesco entre a população do
vaso campaniforme, caracterizada pelo occipital chato, e os seus «descendentes» tardios
(Adriáticos), já que por alguns milénios, na mesma região, escasseiam as formas que comprovam a
sobrevivência deste tipo.
Poderseá, portanto, no que diz respeito à Europa, fixarse quatro ou cinco grandes raças
claramente circunscritas, geralmente documentáveis a partir do início do Neolítico, ou pelo
menos da sua parte final, as quais constituem um evidente precedente de raças que se encontram
na classificação actual. O que acabamos de afirmar é menos válido para a raça báltica, porquanto
a sua actual braquicefalia só aparece relativamente tarde (na era cristã) como carácter típico
em séries inteiras, cc>nfundindose, sem que se possa estabelecer um limite rigoroso, com o
proesso medieval da braquicefalização. Sobretudo após os trabalhos de Ludman, poderseá, pelo
contrário, no que diz respeito à raça dalofálica, com as suas evidentes reminiscências cro
magnóides, notar forte sobrevivência dós traços morfológicos próprios do tipo mais antigo em
regiões circunscritas da Suécia, fenómeno frequentemente acompanhado da compleição decididamente
escura. Os Adriáticos, dado que até agora não se pôde demonstrar em sentido estritamente
genético que constituem uma raça autónoma, nã(> entrariam em consideração.
Tãopouco nos será pennitido, tomar em consideração as subdivisões em grupos raciais de ordem
sistemática inferior. Contudo, não podemos deixar de recordar ‘ pelo menos de fugida, os
Lapões, povos que habitam as regiões mais setentrionais da Europa e que constituem um grupo
claramente autónomo. Apesar de algumas infiltrações provenientes do Oriente, estes povos estão
seguramente relacionados com o ramo racial dos Europóides; as suas acentuadas diferenças
morfológicas devemse ao facto de viverem numa região marginal e ainda à sua situação ecoló
279
História das raças, África
gica, sintetizada nas características da vida que levam, isto é, a de criadores nómadas de
renas. Na Europa Oriental, finalmente, distinguemse contributos evidentes do ramo racial dos
Mongolóides: tratase, porém, de um fenómeno relativamente recente e, do ponto de vista
quantitativo, ainda sem importância. Esses contributos, contudo, representam o primeiro indício
em solo europeu de uma contínua pressão dos Mongolóides na direcção do Ocidente; estes povos,
após terem desbaratado a população europóide oríginária da Sibéria, mongolizaram essas vastas
regiões, irrompendo isoladamente no coração da Europa com as primeiras vagas de Hunos, Avaros,
Húngaros e Búlgaros, ao passo que os Mongolóides que haviam penetrado no espaço russo
continuaram a viver lado a lado com a população autóctone.
HISTóRIA DAS RAÇAS: ÁFRICA a) PaleoWico Superior. No continente africano, ao invés do que
acontece no que respeita à história da cultura, em relação à qual se dispõe de abundantes
achados que documentam uma vasta difusão do homem, sómente foram descobertos escassos restos
antro~ pológicos. Se a causa de semelhante escassez pode atribuirse, em parte, à exígua
actividade de pesquisa, pode afirmarse, por outro lado, e com certa razão, que o aparecimento
do Homo sapiens neste continente parece remontar a um período mais tardio do que no espaço
eurasiático; do mesmo modo, a flora e a fauna africanas apresentam geralmente uma sobrevivência
maior de formas mais antigas. O achado de Kanjera, na África Oriental (@>
Paleontropologia), testemunha no entanto a presença de componentes do grupo présapiens numa
época relativamente antiga, se bem que neste període, como no Paleolítico Superior e em
époms mais remotas, o desenvolvimento cultural pareça geralmente um tanto atrasado em relação à
Eurásia. Durante a última era glacial pluvial na África, as actuais regiões áridas e os
desertos devem ter apresentado condições muito favoráveis à colonização. Assim, os grupos de
caçadoresrecolectores e as culturas superiores de caçadores que surgiram nessa época, ou um
pouco mais tarde, dispuseram de espaços livres suficientemente vastos que não tornaram
insistentemente necessária
280
História das raças, África
a sua penetração na «hylaca», isto é, na faixa das flore@tas tropicais. Existem, portanto, nesta
região poucos indícios de colonização humana, a África Branca, ou seja, o Norte de África até à
faixa de florestas a sul do actual Sara, estava, pelo contrário, através das regiões abertas e
das estepes da África Oriental, em contacto contínuo com as correspondentes regiões do Sul da
África. Também militam a favor desta hipótese os achados culturais muito semelhantes
provenientes da África Branca, da África Oriental e da África Meridional (desenhos sobre
rochas). A quantidade de vestígios culturais descobertos nestas regiões, mesmo nas que são
actualmente hostis ao povoamento, depõe a favor de uma densidade populacional relativamente
elevada no quadro das possibilidades ecológicas de então e dos recursos ao dispor das técnicas
económicas daqueles tempos. Nem sempre é possível um confronto cronológico exacto entre as
descobertas efectuadas em África e as realizadas na E@rásia; será necessário levar em conta,
antes de mais nada, que a MiddIeStoneAge da África Oriental e Meridional não deve confundirse
com o Mesolífico, pois pertence ainda ao. terço superior do Palcolítico.
Na África Branca não existem restos humanos que remontem inequivocamente ao Paleolítico,
Superior. A primeira descoberta, sem margem para dúvidas, de um esqueleto de Homo sapiens fóssil
pertencente a este período provém da África Oriental.
Oldoway (África Oriental”: 1913, esqueleto a que já se supôs uma idade mais antiga; actualmente
considerase proveniente da segunda metade do Palcolítico Superior, acompanhado de utensilagens
caracterizadas pelo talhe em lâminas. Tipo longilíneo, dolicomorfo, crânio alto e estreito,
rosto comprido, prognatismo moderado, caracteres morfológicos semelhantes a Combe Capelle.
Naívasha (Quénia): 1940, esqueleto encontrado no antigo fundo do lago, juntamente com utensílios
aurignacianos. Posterior a Oldoway, também apresenta afinidades com o tipo de Combe Capelle.
Florisbad (Sul da África): 1932, crânio cuja origem é atribuída, a partir da fauna circundante,
ao Plistocénico Superior (MiddIeStoneAge); tratase de um crânio doli
281
História das raças, África
comorfo, de face achatada, testa baixa, arcadas supraciliares muito salientes (mas sem toro
circumorbitário), órbitas estreitas, prognatismo. É um representante do tipo mais antigo de
Homo sapiens, sem ter nada de neandertaliano. Analogias morfológicas com os Austrálidas (cf.
adiante: Indonésia/Oceânia).
Cape Flats (Sul da África): 1929, Plistocénico, Superior, restos de vários indivíduos com
características idênticas às de Florisbad. Não aparecem ainda caracteres do tipo de Boskop, mais
tardio e genèricamente australiforme.
Border Cave (Sul da África): 194142, fins da MidelleStoneAge ou já, com toda a probabilidade,
Mesolítico; crânio dolicomorfo muito grande, relativamente largo, com arcadas supraciliares
maciças, fronte larga e baixa, face achatada. Deduzse, a partir do comprimento dos ossos, uma
estatura elevada. Morfológicamente, revela certas correspondências com as formas mais antigas
do Sul da África (Florisbad), embora possua, de> ponto de vista cronológico, acentuado
parentesco com o grupo mesolítico de Boskop.
Os restos humanos da MíddIeStoneAge na África Oriental e Meridional perinitemnos reconhecer
que, também nestas regiões, o processo de diferenciação nos modernos ramos raciais só muito mais
tarde começou a verificarse. A c@nfirmar esta asserção temos o facto de não ser possível
reconhecer os Negróides, nem sequer através de lengínquos antepassados. É verdade que o tipo de
Oldoway apresenta uma forina claramente progressiva; porém, tratase de forma que pertence
nitidamente ao Homo sapiens fóssil. As formas do Sul da África, por sua vez, representam um
grupo arcaico, mas extremamente diferenciado, de Homo sapiens, tipo esse que se conservou
durante muito mais tempo nestas regiões marginais. As grandes dimensões do crânio, com a testa
frequentemente muito larga, arcadas supraciliares salientes e platicefalia acentuada, fizeram
com que muitos autores estabelecessem um paralelo com o homem de Neandertal, com o qual se
pretendeu relacionar sobretudo o tipo de Florisbad. Semelhantes paralclismos, no entanto, se
tomarmos em conta as órbitas e a face, perdemmuito da sua razão de ser. A difusão dos restos
culturais põe em evidência a enorme
282
História das raças, África
extensão das regiões habitadas por este antigo grupo, as quais, provàvelmente, devem terse
estendido a algumas zonas da África Setentrional. O achado de BosIçop, que parece ter prolongado
no tempo a perspectiva da existência deste grupo, será tratado oportunamente, dada a sua incerta
classificação cronológica, na secção seguinte.
Mechta el Arbi (Argélia): 190723, classificação cronGlógica incerta. É possível que, em vez do
Palcolítico Superior, talvez fosse mais lícito dizerse Mesolítico. Restos que cempreendem mais
de trinta indivíduos, de estatura elevada, crânio dolicomorfo largo, rosto largo e baixo, de
contornos quase quadrangulares por causa das grandes saliências laterais dos ângulos das
mandíbulas. Extrema variante do tipo de CroMagnon; é considerada, com o nome de «raça de
Mechta», uma raça específica.
Aín Meterchem (Tunísia): 1948, um esqueleto. Muito próximo das formas cromagnóides, embora
alguns estudiosos hajam pretendido considerálo uma forma ancestral dos Mediterrâneos.
Semelhante hipótese é dificilmente demonstrável, dada a insegurança da classificação cronológica
e, por consequência, a impossibilidade de se estabelecer um confronto com os diversos estádios
culturais. Além disso os processos de diferenciação só podem avaliarse através de séries muito
vastas.
Afalu bu Rummel (Argélia): 192829, série de esqueletos que engloba mais de cinquenta
indivíduos. População de estatura extremamente elevada e constituição robusta. Mulheres que
apresentam diferenças de estatura surpreendentemente pequenas em relação aos homens. Caracteres
morfológicos idênticos, aos do grupo de Mechta, com muitas características cromagnóides.
Descobriuse, num estrato isolado, um esqueleto um pouco mais pequeno, o qual,
283
História das raças, África
de determinados aspectos, apresentava certas semelhanças com o tipo de Asselar. Alguns exemplos
moderados de braquicefalia não constituem certamente provas de uma nova raça (cf.
braquicefalização).
Asselar: 1927, localidade ao norte do cotovelo do Niger, a 400 km de Tombuctu, sem cultura
acompanhante: a partir da fauna, pode localizarse este tipo no Mesolítico. Estatura entre
mediana e alta, crânio alongado, rosto largo, zigomas proeminentes, prognatismo. Apesar de
algumas características comuns, não é ainda negróide: apresenta numerosos caracteres do tipo
arcaico menos diferenciado (Boskop), largamente documentado na África Setentrional mediante
restos culturais (Singa, Khartum).
Singa (Sudão egípcio): 1924, crânio provàvelmente mesolítico; ainda não foram publicados os
relatórios que lhe dizem respeito. É frequentemente indicado como negróide e pertence
provàvelmente ao tipo antigo (Asselar).
Khartum (Sudão): 194445, túmulo com dezassete sepulturas, fins do Mesolíticoprincípios do
Neolítico. Os caracteres negróides mal se vislumbram e prevalecem os Europóides, de modo que
será lícito aproximar este grupo dos mais recentes Europóides de coloração escura naturais
destas regiões (classificação feita a partir da combinação de caracteres típica).
Ishango (Congo): em 1935, a oeste do lago Alberto descobriramse restos humanos num estado de
fossilização muito adiantado, pertencentes, quase seguramente, ao Mesolítico. Nas pesquisas
encontraramse fragmentos de crânios, muitas mandíbulas e restos de membros de diversos
indivíduos. A estatura é superior à média, a caixa craniana é espessa, a mandíbula é maciça, com
uma pronunciada ramificação ascendente, e o queixo muito acentuado. Deve classificarse entre o
tipo arcaico ainda não absolutamente diferenciado do Homo sapiens africano: não é ainda
«negróide».
Elmenteita (África Oriental): 191827, a sul do lago Nakuru, restos de cerca de trinta
indivíduos. Estatura elevada, crânios dolicornorfos estreitos, rostos altos e compridos, nenhum
prognatismo. Tratase de Europóides que poderiam situarse entre Oldoway/Naivasha e os
Europóides escuros recentes, já diferenciados, destas regiões.
284
História das raças, África
Possuem ainda alguns caracteres patentes nas fon@nas arcaicas.
Gambles Cave (Quénia): 192729, abrigo sob a rocha, cinco indivíduos. O tipo aqui representado é
europóide, semelhante ao de Elmenteita.
Boskop (Transval): 1913, restos de um crânio em adiantado estado de fossilização, infelizmente
não datável, sem cultura ou fauna acompanhante. Dado que no Sul da África se encontram outros
restos deste grupo de formas atinentes ao Mesolítico, será conveniente tratálos conjuntamente.
A partir das partes conservadas da caixa craniana, o crânio revelase alongado, de capacidade
elevada, com uma estrutura óssea muito espessa; a face é baixa, achatada. Por via de regra, os
contornos cranianos são pentagonóides. Este tipo possui muitas semelhanças com os restos mais
antigos do tipo de Florisbad; porém, apesar de características mais primitivas que evocam o tipo
de CroMagnon, testemunha a sobrevivência dos tipos arcaicos do Homo sapiens no Sul da África,
actualmente representados pelos Esteatopígidas (Matjes River, Fish Hock, Springbock Flats,
Zitzikarna).
Matjes River (província do Cabo): abrigo sob a rocha, restos de dezóito indivíduos. A fauna
acompanhante permite atribuílos quer aos fins do Paleolítico, quer a(> Mesolítico. Tipo de
Boskop.
Fish Hoek (perto da Cidade do Cabo): 192729, gruta com restos culturais do fim da MiddleStone
Age, três indivíduos. Tipo de Boskop.
Springbock Flais (Transval Central): data incerta. Tipo de Boskop.
Zitzikama (província do Cabo): 1922, abrigo sob a rocha, sem cultura ou fauna acompanhante,
período Mesolítico ou possivelmente posterior; restos de cincooito indí ,viduos. Tipo de
Boskop, com tendências evolutivas orientadas para os Bosquímanos (Strandloopers).
Esta breve resenha dos restos humanos provenientes das jazidas mais importantes permitenos
reconhecer, no Mesolítico africano, grupos claramente diferenciados uns dos outros, de modo que
nos sentimos impelidos pela tentação de considerálos já como raças diferentes. Complexivamente,
pode chegarse à conclusão de que nenhuma
285
História das raças, África
prova verdadeiramente infalível há a favor da existência do ramo racial dos Negróides. Posto que
o Mesolítico, se o considerannos do ponto de vista climáticoecológico, con@preende os milénios
que conduzem às condições «recentes», o Sara deve ter estado, neste período, ainda completamente
aberto ao povoamento humano, não exercendo, portanto, aquela acção separativa entre a África
Branca e a África Negra que mais tarde viria a desenvolverse. Por consequência, a «zona de
contacto» entre os primeiros Europóides e os primeiros Negróides deve ter sido nessa época,
durante a fase de completa diferenciação dos dois grandes ramos raciais, relativamente ampla,
facto esse que torna actualmente dificílima a classificação minuciosa das populações que vivem
nesta vasta faixa. Do ponto de vista da história das culturas, será importante não esquecer que
na África a passagem às formas modernas da produção deliberada de alimentos através da
agricultura ou da criação de gado só relativamente tarde se pôde documentar, e que as antigas
formas de economia parasitária, como a caça e a recolecção, devem terse conservado durante
muito tempo. No Mesolítico, portanto, esta fase de transição não se encontra tão claramente
delineada no que diz respeito à África quanto o está para determinadas regiões da Eurásia.
As regiões da África francesa, as mais estudadas até aos dias de hoje, são também as que
forneceram o material mais abundante. Aqui o elemento principal é constituído pela raça de
Mechta, a qual representa uma variante extrema do tipo de CroMagnon. Cronológicamente, o tipo
de Mechta deve terse prolongado por mais. tempo do que as suas formas ‘correspondentes na
Europa. Ambos os sexos possuem em comum elevada estatura e uma robusta corpulência; o crânio
alongado, maciço, de contorno pentagonóide, tende fortemente para a mesocrania. A face é larga e
baixa, com arcadas supraciliares muito desenvolvidas, forte platirrínia, órbitas baixas
rectangulares e contomo da face anguloso devido à pronunciada saliência lateral do ângulo da
mandíbula. O queixo é bem desenvolvido, os relevos da face muito vigorosos. Alguns crânios podem
ser classificados no sector da braquicrania; os valores, contudo, não são suficientes para que
possa inferirse a exis
286
Ilistória das raças, África
tência duma raça à parte; será mais lícito falarse de variantes extremas de formas cromagnóides
de crânio largo, as quais, por outro lado, atestam o início da braquicefdização. Nestas regiões
algumas formas de dolicocrania diferenciadas pela grande estreiteza do crânio são classificadas
por alguns autores como paleomediterrâneas (Ain Meterchem). Porém, enquanto não se puderem
revelar suficientes os afluxos culturais das regiões em que semelhantes formas, nessas épocas
remotas, já eram dominantes, será conveniente usar da máxima prudência. No que diz respeito à
parte central da «Ãfrica Branca», não se descobriram até agora quaisquer restos humanos; nem
sequer no vale do Nilo, ao longo do curso inferior do rio, se vislumbrou algum material
antropológico, se bem que neste período aquela região fosse já certamente muito povoada. No que
concerne ao curso superior, pelo contrário, dispomos já de duas jazidas, cujos restos, todavia,
não são concordemente classificados pelos estudiosos. O achado mais antigo, isto é, o de Singa,
aparenta, quer nas proporções dos membros, quer no crânio, caracteres que também podem ser
interpretados como negróides; porém, com mais verosimilhança, este tipo deve estar relacionado
com o vasto grupo arcaico do Homo sapiens, tanto mais que a presença de semelhante grupo é
testemunhada através de achados culturais em toda a África Setentrional, e pelos desenhos sobre
a rocha podem reconhecerse traços tipológícos que nos remetem para os actuais Esteatopígidas da
África Meridional. Os achados de Khartum, que se situam nos inícios do Neolítico, atestam, na
combinação complexiva de caracteres, traços prevalentemente europóides, o que permite
classificar esta população como europóide; para além de alguns caracteres morfológicos do crânio
ou dos membros, serão talvez mais correctamente compreendidos se os classificar
mos como primitivos em vez de particularizados no sentido negróide, porquanto não se pode
demonstrar, neste período, a existência de formas negróides. No que se refere ao tipo de
Asselar, este esqueleto provém da bacia do Tilemsi, no Sara, isto é, de uma zona directamente
ligada à faixa climática onde muito provàvelmente se desenvolveram os Negróidey. Porém, não
apresenta ainda caracteres tão diferenciados que permitam uma classificação segura. A forma
287
História das raças, África
Deste ponto de vista são particularmente interessantes os restos de Ishango, do Parque Nacional
do Congo. Devem, quase certamente, remontar ao Mesolítico e representam os primeiros restos
humanos antropológicamente utilizáveis do sector que margina do lado oriental a «hylaea», isto
é, a zona da floresta tropical. O facto de não nos encontrarmos diante de formas ou combinações
de caracteres bem diferenciados não deve admirarnos; o contrário é que deveria deixarnos
estupefactos. Com efeito, os grupos mais arcaicos (e mais tarde os Pigmeus) devem ter sido
progressivamente empurrados devido à sua incapacidade de concorrer, na luta pelas planuras
abertas e favoráveis à existência, com os grupos mais evoluídos para a região ecológicamente
desfavorável das florestas tropicais. A combinaçâo de caracteres indica claramente que nã o nos
encontramos perante os primeiros Negróides, cuja região de origem não deve procurarse na zona
das florestas tropicais; indica ainda que nem sequer nos encontramis perante Pigmeus ou formas
piginóides, como o testemunha o comprimento dos membros. Uma pesquisa mais aprofundada levar
nosá provàvelmente ao encontro de restos antropológicamente utilizáveis na «hylaea», essa
região tão pouco propícia à conservação de material ósseo; e só então o nosso juizo poderá
fundamentarse em bases mais sólidas.
Na África Ocidental, pelo contrário, com Elmenteila e Gambles Cave, deparamsenos séries muito
ricas: dolicocrânicos de estatura elevada, com faces estreitas, claramente relacionados com os
Europóides de cor escura que encontramos actualmente, em grande percentagem, nestas regiões.
Devemos admitir, contudo, que as populações curopóides hodiemas (Etiópidas) que vivem nessa zona
devem ter emigrado para ali recentemente, não podendo, portanto, ser ainda determinada qualquer
conexão directa entre os tipos modernos e os antigos.
Na parte meridional da África temos claros testemunhos da presença do tipo arcaico do Homo
sapiens, impelido para esta zona marginal, cujos derradeiros represen
288
História das raças, Ãfrica
c) Do Neolítico à era moderna. Do ponto de vista climático, estes 6000 anos pertencem já à época
actual: neste período não se verificaram grandes deslocações das zonas climáticas, embora a
transformação do Sara em deserto, bem como a das regiões desérticas do Sudoeste da África, tenha
progredido acentuadamente. Por outro lado, como já se recordou, o próprio homem deve ter
desempenhado um papel neste fenômeno. Seja como for, a zona de que os Europóides se apossaram,
na África Branca, perde os seus limites rigorosamente demarcados, encontrandoLse exposta a sua
faixa meridional a um influxo mais forte do rarnG racial contíguo ao dos Negróides. Os
Europóides que povoam estas regiões não se encontram, na
289
História das raças, África
verdade, completamente isolados das zonas mais ao norte, de onde irrompem constantemente novas
vagas de povos; estes, todavia, do ponto de vista biológico, não são suficientemente fortes para
impedir a penetração dos Negróides na faixa meridional dos Europóides. Um contributo importante
é dado, além disso, pela introdução na África Branca de escravos negros, através dos quais se
processa ulteriormente um reforço da pressão biológica deste ramo racial. Simultâneamente,
realizase uma transformação decisiva nos sistemas económicos. A prática ainda parasitária da
caça e da recolecção sucede a produção progressivamente consciente dos meios de subsistência e
surgem os primeiros centros urbanos. No que diz respeito aos Negróides, supõese que se
dedicaram sobretudo à agricultura na faixa das estepes húmidas, penetrando depois lentamente,
mediante a conquista de pequenas clareiras de alqueive, na própria «hylaea»; quanto aos
Europóides meridionais, devem terse dedicado sobretudo à pastorícia nómada de gado bovino (no
Sara, à criação de cavalos e de gado miúdo). O tipo arcaico, que encontrara refúgio na «hylaca»,
como os Esteatopígidas do Sul da África, manteve durante muito tempo os sistemas económicos
parasitários da caça e da recolecçã o,
Se desde épocas muito remotas já possuímos, acerca da África Branca, além de séries de
esqueletos, notícias autênticas de contemporâneos sobre diversos povos e o seu aspecto exterior,
as nossas referências, salvo pequenas @xcepções, são ainda quase inexistentes no que diz
respeito a África Central; os próprios resultados das modernas investigações antropológicas não
são ainda suficientemente fundamentados nem bastante numerosos para permitir delinear qualquer
coisa de mais importante do que alguns simples esboços acerca da origem dos Negróides e das suas
diversas raças. Uma ciência afim como a etnologia tãopouco pode contribuir para um maior
esclarecimento da questão, pois o contínuo movimento de povos devido à proximidade de grandes
reinos nas partes setentrional e norteoriental do continente e à transformação do Sara em
deserto, com a mescla incessante de elementos culturais e de populações, não foi até agora
senão insuficientemente esclarecido no seu curso histórico. Deste modo
290
História das raças, África
podemos esboçar um quadro suficientemente claro para as regiões marginais a norte, a oriente e a
sul, ao passo que permanecem ainda obscuros os processos raciais que tiveram lugar nas regiões
centrais e na faixa das florestas tropicais, isto é, na zona de refúgio, antropológica e
culturalmente, dos tipos arcaicos. Estas zonas, com a sua configuração geográfica, a
coexistência e a sobreposíção de zonas climáticas e, portanto, ecológicoeconómicas,
contribuíram ulteriormente para a extraordinária variedade que encontramos no mosaico das
populações desta região, dos seus patrimónios culturais, dos seus modos de vida e dos seus
sistemas económicos. Tudo isto vem confirmar uma vez mais a observação de que a
«história das raças» é movimento, sobretudo quando a ela afluem, como ao homem, novos impulsos
biológicodemográficos devidos à evolução dos meios de subsistência e dos sistemas
económicos, e em geral dos fenômenos de ordem histórico~cultural. Na zona ocidental do Norte de
África, nas regiões montanhosas e nas partes do Sara imediatamente contíguas, a maioria
populacional é constituída por Berberes, longínquos antepassados da raça de Mechta ou dos cro
magnóides; este povo, na sua maioria, é de compleição escura, mas nele também se encontram
casos, em percentagens pequenas, de indivíduos com cabelos e olhos claros. A origem de
semelhante fenómeno pode ser atribuída, mas apenas em medida muito limitada, às invasões
bárbaras (expoentes da raça nórdica, Vândalos, por exemplo). Na realidade, o fenômeno a que
aludimos apenas confirma a asserção, já documentada por notícias também muito antigas, de que a
pigmentação está sujeita a variações. Estes Berberes avançaram para o sul, ao longo das costas
ocidentais do Norte de África, e foram relativamente longe, sobretudo um grupo particularmente
cromagnóide, de coloração clara, que veio a constituir, entre outras, a populaçã o primitiva
das ilhas Canárias, isto é, os Guanchos. Alguns estudiosos designam este elemento morfológico,
caracterizado por uma estatura elevada e cabeça dolicomorfa e rosto frequentemente alto e largo,
como eurafricânidas.
291
História das raças, África
lhes deu o nome, introduziramse no coração da região berbere. O centro de propagação fenício em
redor de Cartago, com os seus postos avançados oz@identais, levou efectivamente até essas
regiões vagas de indivíduos predominantemente dolicocéfalos, provenientes do Mediterrâneo
Oriental. Quanto aos braquicéfalos de occipital chato provenientes da Ásia Menor, são em número
menos relevante; a sua percentagem, mesmo na época romana, não registou um 1aumento
particularmente sensível. Para Oriente, os
dolicocéfalos mediterrâneos de pequena estatura aumentam de número, ao passo que no interior da
sua região de origem começam a ser substituídos por representantes da raça iraniana, isto é,
pelas tribos árabes que a partir do século vii da nossa era invadiram estas regiões, instalando
se predominantemente no Sara. O vale do Nilo, em relação ao qual dispomos de numerosas séries de
esqueletos de épocas muito antigas, apresenta uma percentagem dominante de dolicocéfalos
mediterrâneos de baixa estatura e de face delicada, juntamente com o elemento cromagnóide, mais
robusto e de estatura mais elevada, o qual, provàvelmente, deveria ser mais frequente entre os
vizinhos ocidentais do Egipto,, isto é, entre os «Líbios» (subraça, segundo Biasutti, de raça
iraniana).
Para o Sul começam a predominar os dolicocéfalos altos de coloração escura, já nossos conhecidos
de antigas representações e imagens, os quais pertencem ainda claramente ao ramo racial dos
Europóides. Por outro lado, algumas pinturas egípcias antigas registam ainda a presença de
autênticos Negróides, já nessa época negociados
como escravos naquelas regiões. Do ponto de vista biológico, o seu contributo continua a não ser
considerado essencial; a acentuada coloração escura dos Egípcios é primacialmente um resultado
do seu contacto contínuo, durante milénios, com o reino dos Núbios, situado no actual Sudão
egípcio. Só veio a registarse um afluxo mais forte de sangue negróide quando o comércio dos
escravos, sob o domínio islâmico, começou a intensificarse. Devese ainda ao comércio
esclavagista, sobretudo após o aparecimento do dromedário, a presença de caracteres negróides
nas zonas ocidental e central do Norte de África.
292
História das raças, África
Quanto mais os Europóides destas regiões avançam para o sul tanto mais escura se torna a sua
compleição, isto é, a cor da pele, dos cabelos e dos olhos. Este fenómeno é o resultado de uma
selecção relacionada com o clima e tem a sua origem numa espécie de necessidade de protecção
contra as radiações solares, de modo análogo ao que acontece com a pigmentação dos Negróides que
habitam as mesmas regiões. A classificação das diversas raças no âmbito de um destes ramos
raciais não está isenta de contrastes, variando em função do peso que os vários autores
atribuem, no quadro complexivo da combinação de caracteres tipíca, a alguns destes elementos,
tais como a cor da pele, a forma do cabelo, a configuração dos lábios, do nariz, a proporção dos
membros, etc. Ao que é lícito suporse com a máxima probabilidade, temos, na faixa que
(conquanto zona de passagem da estepe à estepe húmida) não apresenta nenhuma clara limitação
ecológica, uma vasta e antiga zona de contacto entre os estádios preliminares dos dois modernos
ramos raciais. A ser isto verdade, já na época em que se diferenciavam as duas raças modernas
deve ter continuado a processarse a permuta contínua de genes, favorecida pela ausência de uma
nítida barreira geográfica. Esta hipótese de trabalho facultaria, sem qualquer dificuldade, a
explicação do motivo que nos leva a não estarmos em condições, no que se refere ao estudo
sistemático das populações que vivem nesta zona de contacto, de definir limites absolutamente
rigorosos, contentandonos com o obrigatório reconhecimento de uma sobreposição de determinados
caracteres típicos dos dois ramos raciais. As coisas complicamse pelo facto de o esqueleto não
evidenciar com nitidez as combinações de traços que pennitem caracterizar os dois ramos raciais;
complicamse ainda porque encontramos geralmente, de ambos os lados da orla de contacto dos dois
ramos raciais, apenas combinações de caracteres pouco diferenciadas. Nos Negróides ocidentais,
por exemplo, não aparecem ainda alguns caracteres particularmente típicos, tais como a fronte
proeminente (presumimos que se trate de uma característica recente). Deparasenos esta
dificuldade sobretudo no estudo dos restos de esqueletos mesolíticos e neolíticos. Além disso, a
mescla racial na zona de contacto deve terse intensifi
293
História das raças, África
cado com a progressiva aridez do Sara, que foi empurrando cada vez mais os Europóides habitantes
destas regiões para
as áreas ocupadas pelos Negróides. Seja como for, é difícil referir uma delimitação precisa
entre os Europóides e as orlas setentrionais e do nordeste dos Negróides.
Os Etiópidas habitam uma vasta faixa da África Ocidental até à zona da África Oriental que
margina a região central dos Negróides. As suas características típicas consistem numa estatura
elevada e longilínea, bacia estreita, crânio estreito e dolicomorfo, face alta e esguia, queixo
bem proporcionado e, no referente a alguns grupos isolados, prognatismo moderado. A cor da pele
oscila entre o negro e o castanho muito escuro, os cabelos são frequentemente curtos e muito
encrespados; os lábios, geralmente delgados, apresentam por vezes o perfil típico dos Negróides.
O nariz, regra geral, é fino, alto e frequentemente encurvado, (Etiópidas orientais). O motivo
desta configuração, especialmente no Nordeste africano, pode talvez atribuirse aos contributos
da Arábia, da qual, sobretudo na era cristã, são provenientes as grandes vagas de povos que
invadiram estas zonas. Encontramos Etiópidas nas classes superiores (criadores nómadas de gado
bovino) de número relativamente limitado até às regiões mais meridionais da África Oriental,
onde predominam sobre grandes grupos de Negróides; chegamos mesmo a encontrálos na Rodésia
Setentrional. Os últimos a sofrer as consequências da expansão etíope foram os Hererós, no
Sudoeste africano; porém, até entre os Hotentotes encontramos vestígios de elementos etiopes. Na
África Oriental, por outro lado, é presente,
294
História das raças, África em algumas tribos isoladas, e de modo ainda mais evidente, o elemento
esteatopígico, o que prova a difusão deste antigo grupo, em épocas passadas, mais para o norte
das actuais zonas de povoamento. Na África Oriental podem igualmente descortinarse influxos da
raça iraniana que mingúam das faixas costeiras para o interior; a sua origem encontrase nos
contactos duradouros com a península arábica, os quais podem ter sido determinados, não só pelos
tráficos comerciais, mas ainda pela caça aos escravos. Os Nilólidas, habitantes da região do
Alto Nilo, constituem uma raça de contacto em que o elemento negróide é ainda mais evidente
(forma do cabelo, lábios, cor da pele); formam, porém, um grupo à parte devido à sua estatura
elevada e às suas proporções, acentuadamente longílíncas.
Até à actualidade não se pôde ainda determinar com exactidão qual terá sido a região de origem
dos Negróides. A etnologia supõe que tenha existido um antigo grupo negróide de caçadores das
estepes. Será necessário sublinhar, a desmentir esta asserção, que à hipótese de semelhante
grupo arcaico «negróide» se opõem certas considerações contra a possibilidade de um forte
aumento da componente escura da compleição, o qual talvez pudesse localizarse mais
correctamente na região das estepes húmidas. Nessa região,, com os Sudânidas, temos nos dias de
hoje o primeiro grupo racial verdadeiramente negro, cujo grau de diferenciação mais elevado
vamos encontrar na Guiné Ocidental. Esse grupo é caracterizado pela estatura superior à mediana,
macroscelia e pelo alongamento dos segmentos distais dos membros. O crânio é longo, mais
estreito na parte superior, e apresenta a fronte frequentemente abaulada na parte mediana e
pouco saliente dos lados. Tanto a raiz do nariz como as narinas são largas, e o mesmo acontece
com a face. O grupo evidencia ainda prognatismo, lábios grossos e queixo pouco acentuado. A
coloração é geralmente escura, o cabelo curto e crespo. Oriundos da faixa das estepes húmidas,
estes Negróides penetraram também para sul e sudeste, na zona da floresta tropical. O que nos
surpreende no Congo e em Angola é o facto de a constituição tipológica ser diferente (tronco
relativamente longo, membros curtos, prevalência de tipos
295
História das raças, África gordos e corpulentos). Classificouse esta raça como paleonégrida;
todavia, num sentido estrito, é duvidoso que se trate verdadeiramente de uma forma antiga
negróide, embora seja lícito supor que tenham sido impelidos para o coração da floresta tropical
os grupos do Homo sapiens menos claramente diferenciados.
296
História das raças, África
base nessas formas, nada nos autorizando a considerálos simplesmente uma forma primitiva do
homem.
Os Negróides que habitam as regiões da África Oriental e do Sudeste africano são conhecidos dos
Europeus desde a época dos Descobrimentos; para diferenciálos dos Negróides da África
Ocidental, dos quais se distinguem por diversas características somáticas, os navegadores
chamaramlhes Cafres, e esta designação deu origem ao termo «Cáfridas» aplicado pela primeira
vez por v. Eickstedt. Esses povos só vieram a penetrar na África Meridional em épocas muito
recentes, e em algumas regiões apenas nos séculos xviii e xix. Nestas zonas constituem antigos
resíduos de populações negróides os Damarás montanheses do Sudoeste africano, os quais, todavia,
compreendem também muitos elementos com traços de esteatopigia e possuem uma tez
acentuadamente escura. f Contudo, não foi ainda J possível, até à data,
assinalar uma sistematização segura a esta antiga raça.
O grupo arcaico dos Esteatopígidas (ou Coisânidas), outrora espalhado por vastas regiões,
encontrase actualmente limitado à parte ocidental do Sul da África. O termo Coisânidas deriva
da fusão de «Coi» e «san», nomes que os Hotentotes e BOS Fig. 60. A esquerda:
esteatopigia
numa hotentote; à direita: esteaquímanos, respectivamente, topigia estilizada numa estatueta
feminina de esteatíte que reutilizam para se designar monta ao Paleolítico superior a si
próprios; quanto à (Riviera Italiana: altura: cerca
de 68 em) expressão «esteatopígidas», deriva do fenômeno da esteatopigia, largamente propagado,
e de forma bastante acentuada, nestas populações. Os Bosquímanos conservaram até aos tempos
modernos o seu antigo modo de vida, condicionado pela caça e pela recolecção, ao passo que os
Hotentotes se tomaram pastores nómadas. Ambos os povos se caracterizam pela cor da pele
297
História das raças, África
castanhoamarelada. Os Hotentotes possuem estatura mediana; quanto aos Bosquímanos, são mais
pequenos, embora superem largamente os valores que encontramos nos Bambutis (nos homens
Bambutis, como já dissemos, a altura não ultrapassa 145 cm). A estatura pigmóide dos Bosquímanos
poderia tratarse de um fenómeno relativamente recente. Conhecemola já de muitos desenhos na
rocha, os quais, porém, não podem ser datados com absoluta certeza. Os seus primeiros indícios
localizamse aproximadamente no final do Mesolítico sulafricano, entre os chamados
Strandloopers. (Zitzikama). Tratase certamente de um ramo evolutivo autónomo, já que os
Bosquímanos não remontam à forma primordial dos Bambutis da floresta, embora ambos os povos
devam ter a sua origem no património genético comum de um tipo arcaico de Homo sapiens.
Constituem caracteres típicos complexivos dos Esteatopígidas, nas mulheres, a axilaridade dos
seios (ou seja, a sua lateralização e localização numa zona do peito muito elevada); nos
Hotentotes deparasenos ainda o desenvolvimento hipertrófico de massas adiposas nas nádegas
(esteatopigia) ligado a uma acentuada inclinação lombar da coluna vertebral.
298
História das raças, Ãfrica
díbula essencialmente menor, de modo que a face resulta baixa e em bico, de cunho absolutamente
particular.
Em conclusão ‘ recordemos ainda rápidamente a mescla de tipos que se encontra em Madagáscar. O
elemento negróide só relativamente tarde deve ter chegado a esta ilha, dado que o braço de mar
entre a África e Madagáscar teria sido, segundo os etnólogos, impraticável às embarcaçõ es dos
Negros. A parte principal da população de Madagáscar é constituída por Paleomongólidas, chega~
dos à ilha por mar e provàvelmente oriundos da Indonésia. Aí deparasenos também o elemento
orientálída, que arribou a Madagáscar juntamente com os Árabes, os quais, com toda a
probabilidade, são também os autores da introdução de Negróides na ilha (esclavagismo). A
percentagem dos vários grupos raciais nas diversas populações varia muito; o antigo estrato
indonésio encontrase representado com frequência particular entre os Hovas.
Devemos finalmente afirmar unia vez mais que nada de definitivo se pode actualmente
estabelecer acerca do ramo racial dos Negróídes característico do «continente negro». Na
verdade, foram e são empreendidas muitas investigações isoladas, mas não é ainda possível
destrinçar, na multiplicidade dos dados parciais, uma exacta perspectiva de conjunto. Pretendeu
se evitar, por isso, expor isoladamente as combinações de características típicas das várias
raças: seria essa uma tarefa que ultrapassaria as nossas possibilidades científicas actuais.
Resumindo, podemos afirmar que não existe um elemento «negro» no sentido em que é lícito falar
se de Europóides e de Mongolóides, isto é, de dois ramos raciais que se podem definir e
contrapor a partir de escassos caracteres. Isto poderia depender da circunstância de a
norte e a oriente, faltarem as fronteiras geográficas susceptíveis de proteger e isolar por
muito tempo as regiões de origem dos Negros. Além disso, do ponto de vista da história da
evolução das raças, o ramo racial dos Negróides, que apenas na Guiné (África Ocidental)
conseguiu adquirir características próprias, exclusivas, poderia ser o mais recente de todos.
Nas outras regiões menos isoladas da Guiné e, elemento negro encontrouse desde muito cedo em
contacto com antigos povos europóides antes de ter alcançado
299
História das raças, Ásia
um cunho específico. Nessas regiões surgiram raças de contacio, com predomínio mais ou menos
a@entuado de um elemento em relação a outro, tal como aconteceu na zona de contacto entre
Europóides e Mongolóides da Sibéria Meridional e na da Ásia Central. No que diz respeito à
África, é particularmente surpreendente a percentagem relativamente elevada de caracteres
arcaicos que continuam a encontrarse entre os Negróides de todo o continente e entre os
Europóides que povoam as regiões meridionais e do Sudeste. As raizes deste fenómeno não se
encontram certamente apenas nas mesclas dos representantes mais recentes do grupo antigo
(Esteatopígidas, Bambutis), pois remontam aos períodos mais antigos em que a lenta variaçâo dos
sistemas económicos possibilitava o convívio de povos de economia «moderna» com outros de
economia «conservadora». Estes últimos foram progressivamente absorvidos, intervindo hoje, em
medida mais ou menos relevante, na combinação de caracteres dos diversos povos.
HISTóRIA DAS RAÇAS: ÁSIA a) Pa'eolítico Superior. Não obstante a enorme extensão deste
continente em relação ao qual. a Europa não passa geogràficamente de uma grande península que
se estende para ocidente, até à actualidade só tem proporcionado poucos restos
antropológicamente utilizáveis do Homo sapiens fóssil, se bem que numerosos achados culturais
atestem claramente a presença do homem no espaço asiático. Os complexos de achados
antropológicos dividem@se em dois grupos que respectivamente se distribuem pelas zonas onde a
actividade de investigação foi mais intensa, isto é, pelo Próximo e Extremo Oriente. Os achados
de que dispomos actualmente não nos oferecem qualquer apoio para localizar com exactidão a zona
de origem da evolução do Homo sapiens. Os restos do présapiens obtidos na Palestina (Skhul e
Kafzeh), juntamente com restos que fazem pensar numa população híbrida com os pré
neandertalianos (> Pqleontropologia), classificamse actualmente no primeiro estádio da
última glaciação e estão, portanto, relativamente próximos do aparecimento na Europa de
esqueletos de Homo sapiens completamente desenvolvidos (cf. história das raças. Europa). Fica
assim prejudicada a hipótese que via nestes achados
300
História das raças, Ásia
da Palestina um antecedente directo do Homo sapiens. Os esqueletos da caverna de Shanidar, no
Nordeste do Iraque, que provêm provàvelmente de uma população tardia de características análogas
ao grupo SkhulKafzch, são na sua maioria contemporâneos dos achados de Homo Sapiens do Líbano,
já completamente desenvolvidos, os quais provêm de três jazidas:
Ksâr Akil: 1938, num abrigo debaixo de rocha, restos de dois ind@víduos juntamente com indústria
aurignacíana. Fragmentos da calota craniana de um adulto e esqueleto quase completo de um rapaz
com cerca de sete anos, de crânio comprido, estreito e alto.
Abri Bergy: 1948, final do Paleolítico, esqueleto masculino fragmentário, ainda não publicado.
Djebel Kafzeh (Nazaré): ossos frontais espessos, cromagnóides; fins do Palcolítico.
Chuku Tienlcaverna superior (Pequim): 1930, restos de três indivíduos numa caverna situada a
grande altitude. A cultura e a fauna acompanhantes remontam ao final do Paleolítico. Os três
crânios cobrem toda a gama dos tipos do Homo sapiens fóssil, desde o largo CroMagnon até ao
estreito Combe Capelle. Weidenreich julgou poder inserilos na gama dos tipos recentes
(Mongolóides, Esquimós, Melanésidas), o que não parece possível, pois Vallois defende a tese de
que o crânio masculino possui características rigorosamente crcmagnóides, ao passo que o
estreito crânio feminino deve integrarse na raça de Chancelade. Contra a opinião de
Wcidenreich, pode ainda arguirse que aquilo que conta não são os traços morfológicos
singulares, mas toda a combinação de caracteres típica. A única coisa certa é que os restos da
caverna superior de Chuku Tien representam também, de maneira extremamente indiferenciada, a
vasta gama de tipos do Homo sapiens fóssil.
301
História das raças, Ásia
302
História das raças, Ásia
Com o intenso trabalho de investigação que fervilha na China é de esperar que dentro de algum
tempo possa disporse de um património antropológico bastante mais rico no que se refere ao
Palcolítico Superior desta zona. Por agora existem tãosó simples notícias, mas os restos ainda
não foram elaborados e publicados. Quando o forem, poderseá talvez avaliar melhor se a
diferenciação dos dois mais importantes ramos raciais do Homo sapiens, extremamente dinâmicos,
como tivemos ocasião de verificar, está já em vias de processarse no final do Paleolítico,.
Até à actualidade, partindo da história das culturas, não podemos sequer determinar com
segurança em que zona do continente eurasiático teve lugar a passagem do présapiens ao Homo
sapiens. As vastas planícies da Sibéria Meridional, tantas vezes tomadas em consideração porque
durante a última glaciaçb tinham sido certamente favoráveis ao povoamento humano, eram também
habitadas no Paleolítico Superior por povos de caçadores, cuja cultura se caracteriza por
incisões e estatuetas em osso muito semelhantes às que foram descobertas na Europa Oriental.
Contudo, será necessário sublinhar que as obras mais importantes da produção artística do Homo
sapiens fóssil se encontram claramente concentradas na parte mais ocidental da Europa (cf.
história das raças, Europa), onde surgem simultâncamente com as obras dos povos caçadores da
Europa Oriental e da Sibéria que já tivemos ocasião de mencionar. Estas observações nada perdem
da sua eficiência pelo facto de as investigações na Europa Ocidental terem sido levadas a cabo
com muito maior empenho. Nas regiões aludidas existiam bastantes cavernas, e só essas puderam
assegurar a conservação das pinturas rupestres.
b) Mesolítico. Este período, para nós, assume importância particular, porquanto foi nele que
teve lugar a definitiva diferenciação dos dois ramos raciais representados no continente
eurasiático, isto é, os ramos europóide e mongolóide. Ao mesmo tempo, no Próximo Oriente,
verifica
303
História das raças, Ásia
mos muito cedo a passagem a novos sistemas económicos (agricultura, criação de gado), com
povoamentos estáveis que conduzem à ampliação da base alimentar, e portanto a um rápido
crescimento demográfico. A distribuição do material obtido nas escavações está muito longe de
ser uniforme: a maioria provém do Próximo Oriente, pois a China não se encontra pr2iticamente
representada. Alguns achados provêm também das zonas tropicais deste continente. Por mais
insegura que seja a classificação cronológica do material ósseo nestas regiões e escassas as
suas probabilidades de conservação, podemos deduzir, no entanto, que a sua colonização começou
neste período a progredir com muita rapidez. Provàvelmente, isto aconteceu por efeito da pressão
demográfica desenvolvida nas regiões mais favoráveis à produção intensiva de alimentos; em
consequência de tal pressão, as populações ligadas a sistemas económicos mais antiquados teriam
sido empurradas para zonas de refúgio desfavoráveis (regiões montanhosas, faixa das florestas
pluviosas tropicais). Eis as séries de achados mais importantes que remontam ao Mesolítico
asiático, excluída a Indonésia.
Mugharet el Wad (Palestina). Estrato B, cultura acompanhante natufiana, numerosos esqueletos.
Segundo Keith, tratase de um tipo que apresenta pequena estatura e diminuta corpulência. Os
crânios são dolicomorfos, altos, com regiões supraciliares bem marcadas. A face é baixa, mas não
larga, e apresenta parcialmente um prognatismo moderado. A população comprecende uma vasta gama
tipológica, a qual, segundo Keith, não pode ser ainda confrontada com as raças actuais;
representaria antes uma forma ancestral do círculo racial dos recentes Mediterrâneos.
Mugharet el Kebarah (Palestina). Estrato B, juntamente com indústria natufiana; grande série que
não está ainda definitivamente publicada. Tipologia como Wad.
Shukbah (Palestina). Série do estrato B, juntamente com indústria natufiana; ainda não está
definitivamente publicana. Tipologia como Wad e Kebarah.
304
História das raças, Ásia
Hotu Cave (Pérsia). Em estratos do final do Paleolítico e, sobretudo, do Mesolítico, a caverna
contém restos de vários indivíduos cromagnóides. A luz da análise dos achados, a caverna
revelouse menos antiga do que a princípio se supôs.
Belt Cave (Pérsia). Caverna, restos de dois indivíduos, classificação cronológica incerta;
tratase provàvelmente de restos mesolíticos.
305
História das raças, Ásia
Esta perspectiva das séries mais importantes e dos restos antropológicos do Mesolítico asiático
mostra clara prevalência do Próximo Oriente. Numa base de achados bastante vasta pode
demonstrarse que, no Próximo Oriente, a passagem à produção de alimentos e ao povoamento
estabilizado se processou indiferenciadamente nos pequenos e grandes centros populacionais de
características («grosso modo») urbanas, no início do viii milénio a. C., isto é, cerca de 2000
3000 anos antes de se terem constituído as culturas urbanas superiores do Neolítico. A
diferenciação em grupos estabilizados, predominantemente agrícolas, por um lado, e em grupos
nómadas criadores de gado, por outro, conduziu muito cedo, em correspondência com a diferente
base alimentar, a um ritmo de crescimento da população e a concentrações claramente diversas.
Neste fenómeno, a parte mais relevante de um ponto de vista biológicodemográfico é representada
evidentemente pelas populações de agricultores, as quais apresentam estatura geralmente inferior
à mediana, fraca corpulência, testa dolicomorfa estreita e face entre alta e moderadamente
larga. Além deste tipo, também se encontra representado o elemento cromagnóide, caracterizado
por estatura mais alta e corpulência maciça, que mais tarde também se encontra no Neolítico.
Documentámos aqui, portanto, toda a gama tipológica do Homo sapiens fóssil: a partir deste
quadro poderseá talvez afirmar que a tendência para as formas mais diminutas se encontra
particularmente entre as populações de agricultores. Ainda não pode pôrse claramente a hipótese
de uma relação com as massas modernas. Do ponto de vista da história das raças, é também
importante a observação de que, como parece verosímil a partir das
306
História das raças, Ásia
séries de Jericó, já eram patentes, no interior das populações, sólidas ligações entre pequenos
grupos; ao que parece, semelhantes ligações devem ter agido no sentido de um enriquecimento e de
uma mais longa conservação de determinadas combinações de caracteres. Os valores extremamente
baixos da duração média da vida (cerca de vinte anos!) permitemnos concluir que o índice de
aumento da população era bastante diminuto, e portanto não será lícito pôr a hipótese de uma
dinâmica demográfica muito elevada. Como já se disse noutros passos, devemos ser cautelosos ao
interpretar, como relações genéticas directas, semelhanças de combinações de caracteres de
grupos afastados. Um balanço bem fundamentado destes problemas exige séries mais extensas de
material. Por agora só pode afirmarse com segurança que todas as. populações remontam ao vasto
património genético do Homo sapiens fóssil, o qual, na sua gama tipológica, compreende tipos de
estatura alta e baixa, crânios dolicomorfos estreitos e largos, com face alta ou baixa. Neste
quadro global podem terse diferenciado em regiões diversas tipos raciais com combinações de
caracteres semelhantes sem que possamos asseverar com exactidão que a presença de determinadas
combinações decaracteres indique necessàriamente uma relação de derivação rígida e directa.
Sobre o ramo racial dos Mon@olóides, nada de definitivo pode afirmarse ainda. É lícito,
contudo, suporse que
a sua diferenciação neste período estivesse quase concluída, e que tenha começado, sempre neste
período, a sua expansão. Podemos localizar o seu centro nas estepes frias da Mongólia e nas
regiões dos grandes rios da China, se bem que nesta época as massas de gelo da última glaciação
comecem definitivamente a desaparecer no centro da Ásia, abrindo novas vias para ocidente.
Achados mais tardios permitemnos supor que a Sibéria fosse então percorrida ainda por grupos
numèricamente diminutos de Europóides; estes, após a expansão racial dos Túnguidas, foram
empurrados progressivamente para o ocidente e também para este e nordeste. Depõe a favor desta
hipótese a alta percentagem de fonnas europóides, quer entre os mais antigos restos humanos
provenientes da América, quer entre os grupos arcaicos, de cunho racial ameríndio, menos
acentuado.
307
História das raças, Ásia
Na parte meridional do continente asiático devemos supor, com muita verosimilhança, a presença
de uma colonização de carácter europóide primitivo, o qual recebe hoje, devido aos seus actuais
representantes na IndonésiaOceânia, o nome de australiforme. Esta vasta zona meridional,
embora, no período que vai do Neolítico à era moderna, tenha assistido a infiltrações e
sobreposições, deixa ainda reconhecer em grandes linhas a situação originária, que por outro
lado pode ser reconstruída também a partir da documentação etnológica. Podemos dar por certo que
as condições de selecção operantes em toda a extensão das zonas tropicais tenham conduzido a um
aumento da pigmentação da pele, dos cabelos e dos olhos. Contudo, do ponto de vista genético,
este facto não é suficiente para nos permitir estabelecer relação entre os grupos arcaicos de
compleição escura da Ásia Meridional e da Indonésia e os Negróides da África, se bem que na
forma do nariz, na configuração dos lábios e, por vezes, na estrutura do cabelo, possam relevar
se outras estreitas afinidades.
c) Do Neolítico à era moderna. Também no que respeita a este período, o Próximo Oriente está
representado de maneira particularmente rica; com efeito, a sua importância do ponto de vista da
história das culturas, a partir do Neolítico, conduziu, de há cem anos a esta parte, a um número
sempre crescente de escavações. Por este motivo é impossível examinar isoladamente as várias
séries de esqueletos. A instalação das culturas superiores na Ásia Menor nas zonas ocidentais da
Ásia e na índia Setentrional coincidiu seguramente a princípio com a acentuada prevalência
numérica dos Europóides em todo o continente. Todavia, com o passar do tempo, do Neolítico em
diante, o vasto espaço de colonização dos Europóides começou a limitarse progressivamente a
oriente nas suas zonas exteriores de escassa densidade populacional, passando o ramo racial
mongolóide, provàvelmente já no último milénio a. C., a ocupar numèricamente o primeiro plano. A
partir de então, no âmbito da população mundial, a sua percentagem aumentou constantemente,
encontrandose hoje em primeiro lugar.
Inicialmente, os Mongolóides difundiramse com sucesso na Ásia Setentrional, empurrando cada vez
mais
308
História das raças, Ásia
para a Sibéria Ocidental os antigos Europóides, aos quais, na época cristã, se sobrepuseram
definitivamente. A partir do centro de instabilidade dos Túnguidas na Mongólia (aridez), a
irradiação dos Mongolóides exerceu crescente pressão para oriente e para nordeste, obrigando a
ala oriental dos antigos Europóides (Ainos) a procurarem instalarse na Sacalina e no
arquipélago japonês, onde ainda hoje se encontram representados por pequenos grupos residuais.
Na Ásia Menor, no Próximo Oriente e na Ásia Central preponderavam, na fase inicial do Neolítico,
os indivíduos dolicocrânicos maciços, com arcadas supraciliares fortemente desenvolvidas. Só na
Ásia Menor e nas costas orientai@ do Mediterrâneo (Silícia, Síria, Líbano, Palestina) se
encontram representados em altas percentagens os tipos dolicomorfos mais finos; será necessário
admitir, todavia, que para o Neolítico da Ásia Menor as investigações apresentam muitas lacunas.
No que diz respeito à Mesopotâmia (Eridu) e à Pérsia do Noroeste (SiaIk I) encontramse
documentadas quase exclusivamente as formas dolicocrânicas mais maciças, que são também
predominantes nas sucessivas culturais superiores da índia Setentrional (Harappa, MohenjoDaro,
a partir do iii milénio a. C.). Essas formas estariam relacionadas morfológicamente, através dos
Védidas da índia ‘ com as dos Védidas orientais e dos Austrálidas da Indonésia/Oceânia.
A mais antiga série de cabeças braquimorfas da Ásia Menor remonta ao período intermediário do iv
milénio a. C. e é oriunda de Khirokitia, na ilha de Chipre. Infelizmente, estes crânios
encontramse de tal modo defortriados artificialmente que é quase impossível reconstruir a sua
forma original. Contudo, é lícito supor que teriam o occipital curvo, isto é, que a forma do
crânio fosse arredondada. Digno de menção é o facto de no continente asiático, no que diz
respeito a esta época, não se conhecerem formas similares, mas tãosó, aqui e ali, isoladamente,
alguns crânios que denotam fraco grau de braquimorfia. Na Ásia Menor, só no ii milénio a. C. se
encontram documentadas, em várias séries, percentagens discretas de crânios arredondados de
occipital curvo juntamente com percentagens, que continuam a manterse elevadas, de crânios
dolicomor
309
História das raças, Ásia
fos; as formas braquicrânicas de occipital chato surgem mais tarde (cf. braquicefalização). Os
Hititas, que costumam ser indicados como protótipos dos Armenianos de occipital chato, em
conformidade com os baixosrelevos da segunda metade do ii milénio a. C., apresentam, pelo
contrário, nas séries de crânios obtidas até à actualidade, crânios de occipital curvo, e não um
exemplo de ocipital chato! Será necessário, portanto, sempre que se pretenda estabelecer
relações entre estes fenómenos de desenvolvimento na Ásia Menor e outros análogos na Europa,
usar da máxima prudência. A designação de «Alpinos orientais» para as formas caracterizadas, na
Ásia Menor, por cabeça redonda e occipital curvo, não deve ser interpretada acriticamente no
sentido de que exista um nexo genético docurnentável entre estas formas e a «raça alpina»
curopeia. Isto também vale para os «Arménídas» de occipital chato, os quais, na Arménia, que é o
seu actual espaço central, só vêm a estar representados de modo notável no último, milénio a.
C., constituindo o elemento dominante dessa zona apenas na era cristã. A tentativa de englobar
os Armenianos, juntamente com a raça europeia dos Adriá ticos, na unidade superior dos
«Táu?@das», deve objectarse que até agora as primeiras formas de occipital chato na Europa
estão documentadas para uma época anterior àquela em que surgem na Ásia, sendo pouco provável,
portanto, que derivem deste continente. O processo de braquicefalização deve terse iniciado de
maneira independente nas diversas raças, em tempos diferentes e com intensidade variada, embora
represente, no seu complexo, unia tendência morfológica geral bastante recente do ponto de vista
da história da evolução.
Em tempos mais modernos, aumenta na Ásia Menor e Ocidental a percentagem de formas grácilo
dolico,rânicas, enquanto as formas dolicomorfas, mais maciças, vão perdendo terreno
progressivamente. Em sua substituição encontramse percentagens correspondentes de cabeças
braquimorfas, frequentemente plano~occipitais (também na Pérsia). A partir do centro de
instabilidade da península arábica, o qual, com a sua crescente aridez devida à acção humana,
foi perdendo cada vez mais a capacidade de dar abrigo e alimento a vastas populações,
difundiramse
310
História das raças, Ásia
constantemente novas vagas da raça iraniana para nordeste, noroeste e oeste. Contràriamente ao
seu e cito histórico, de enorme alcance, a sua acção biológica permaneceu sempre
pequeníssima nas regiões, densamente povoadas, que conseguiram submeter; do mesmo modo, as
classes dominantes indogermânicas, que a partir do ii milénio a. C. podem localizarse como
grupos numèricamente limitados, foram ràpidamente absorvidas pelas populações indígenas. Também
o afluxo, de consideráveis proporções e de longa duração, e, portanto, mais activo do ponto de
vista biológico, das vagas de populações gregas a partir do vi século a. C., particularmente na
época helenística, foi absorvido pelas populações autóctones com relativa rapidez.
No Neolítico deve terse processado em primeiro lugar certo fluxo para oriente de elementos
europóides, desde a Ásia Central até à China (cerâmica pintada). Contudo, o refluxo mongolóide
começou a fazerse sentir muito cedo. Em primeiro lugar, os Europóides, com as suas culturas
superiores, mantiveramse por muito tempo relativamente alheios a qualquer espécie de contacto,
e só a norte foram circundados por populaçõ es nómadas híbridas, constituídas em grande parte
por elementos mongolóides. Mais tarde, porém, com a formação dos grandes impérios dos Hunos e
dos Mongóis nos i e ii séculos a. C., começou a exercerse uma pressão mais vigorosa para
ocidente, que empurrou para a Ásia Ocidental e Menor, nos seus focos actuais, parte das
populações turcas (tribo turcomongol da Ásia Central). O efeito biológico desta infiltração
mongolóide na Ásia Menor não foi certamente considerável. Os grandes movimentos de populações
mongóis, apesar do costume de exterminarem os povos vencidos ou submetidos e das graves
destruições praticadas, não deixaram atrás de si, na Ásia CentroOcidental e na Ásia Menor, um
património, biológico nitidamente localizável; pelo contrário, na Ásia Central vieram a criarse
espaços vazios aos quais afluíram populações da zona de contacto entre Europóides e Mongolóides.
Concluindo, desejamos fazer breve referência a três dos tipos raciais europóides da Ásia Menor e
Central. Os Iranianos (Orientálidas), que sem dúvida podem englobarse no grupo racial
politípico dos Mediterrâneos, possuindo
311
História das raças, Âsia
estatura entre elevada e mediana, dolicocefalia, face estreita e alta, nariz grosso e saliente,
frequente abertura palpebral estreita e lábios grossos. Os cabelos e os olhos são escuros, de
várias tonalidades, a pele é brancomorena. Os Arménidas (também chamados, na literatura alemã,
«vorderasiatische Rasse» [raça da Ásia Menor]) possuem estatura superior à mediana, o seu crânio
é braquimorfo e alto, mas nem sempre claramente planooccipital: frequentemente, o occipital é
arredondado; semelhante característica, porém, não é sempre evidente, dando a impressão de uma
terminação do crânio quase em ponta aguçada. A face é alta e possuem frequentemente nariz grande
de dorso aquilino.
O cabelo e os olhos são escuros, a pele varia entre o brancopálido e o morenoclaro.
Recordemos, nas regiões da Ásia Central, para o fenómeno da braquicefalia, como segunda
componente, os Turânidas, para os quais, segundos os autores, se dispõe de definições somáticas
muito diferentes. Entre os Turânídas, a braquicefalização, também é relativamente recente. A
pigmentação corresponde à anteriormente indicada para as outras duas raças; na cor da pele,
contudo, predomina o brancopálido. O cabelo é de tipo europóide, não existindo qualquer
vestígio do cabelo rígido e direito de tipo mongolóide.
A história racial da índia não pode ainda recorrer a um material de investigação comparável ao
existente para as regiões de que temos falado. Dos estratos culturais mais antigos da parte
ocidental do Norte da índia existem até à data séries de crânios que apresentam
predominantemente formas alongadas com reminiscências, segundo alguns autores, das formas
arcaicas, como ainda hoje se conservam entre os Védidas. Não é verosímil que populações
provenícntes da Mesopotâmia ou da Pérsia tenham podido contribuir largamente para o
desenvolvimento das raças indianas; quanto à vaga mais recente, que levou até à índia tipos
europóides, não deve ter pesado muito do ponto de vista biológico, apesar do seu elevado
dinamismo históricocultural. Na era cristã verificouse um afluxo de populaçôes da área
islâmica, com a intromissão de elementos íraníanos e de braquicéfalos planooccipitais; contudo,
também este fenómeno não teve efeitos consideráveis, por
312
História das raças, Ásia
quanto era grande a densidade das populações autóctones. Claramente localizável, pelo contrário,
a sudoeste do Himalaia e no braço de terra que liga a india à Indochina, é a constante
infiltração do elemento racial mongolóide.
O tipo arcaico do Homo sapiens é representado pelos Védidas, indivíduos de pequena estatura e
frágil estrutura corporal, cabeça _ajongada com arcadas supraciliares por vezes bastante
desenvolvidas e face baixa, na qual se salientam o nariz largo e os lábios grossos. O cabelo
pode ser liso ou ondulado, e, como os olhos, é escuro. Também a pele possui tonalidade escura.
Este substrato pode reconhecerse em toda a parte, sobretudo na coloração particulannente escura
das populações que vivem em grandes parcelas da região florestal do Norte (raça gôndida) e na
zona meridional do subcontinente, onde constituem uma população residual de cerca de vinte
milhões de indivíduos (raça mdlida). Nestes, a tons muito escuros da pele associamse alguns
traços morfológicos da cabeça e da face que revelam clara tendência para formas largas e
arredondadas. A designação «tipo arcaico» referese sómente a determinados traços morfológicos,
nunca se opondo, porém, à possibilidade de semelhante população
313
História das raças, Ásia
produzir obras de alta cultura; com efeito, tal cultura desenvolveuse, em medida amplamente
independente, na india Meridional, em Ceilão e na Indochina (império Khmer), no seio de
populações onde precisamente predominam os traços morfológicos «arcaicos». Junto destes centros
de altas culturas, grupos de indivíduos pertencentes a raças arcaicas, com um nível económico e
de organização bastante baixo, podem terse conservado em zonas marginais de refúgio destas
regiões. Segundo v. Eickstedt, o antigo tipo europóide da Indochina pode fazerse remontar, no
que ao essencial diz respeito, ao ramo dos Védidas (orientais). Deverá dizerse, contudo, que
Biasuttí e outros autores rejeitam decididamente a concepção geral de v. Eickstedt, para quem os
Védidas não passariam de uma forma arcaica dos Europóides; Biasutti pensa que esses tipos
raciais estarão antes muito próximo dos Austrálidas e, como estes, afastados do ramo racial dos
Europóides.
A concluir, restanos designar os grupos pigmóides das regiões do Sudeste asiático. Os mais
puros são os Andamânidas, raça originária do arquipélago que tem o mesmo nome, situado no golfo
de Bengala. Neles, apesar de uma estatura extremamente pequena, surpreende a proporção tronco
membros, na qual não, subsiste o predomínio do tronco, mas uma relação que recorda a dos
Europóides. A cabeça é arredondada, a face e o nariz possuem largura mediana. A coloração da
pele é escura; surpreendente é também o cabelo, curto, em glumérulos, deixando a descoberto,
grande parte do couro cabeludo. Apesar destas convergências, não se trata de Negróides, se bem
que para os Andamaneses tenha sido por vezes usada a designação geral de Negritos, que remonta
aG nome atribuído pelos exploradores espanhóis nas Filipinas aos Pigmeus de pele escura (Actas),
o qual foi geralmente adoptado para as populações piginóides do Sudeste asiático e da Indonésia/
/Oceânia. Estas populações, todavia, representariam um desenvolvimento autónomo das formas
arcaicas do Homo sapiens destas regiões (cf. problema dos Pigmeus e > sistemática racial).
Ao grupo das populações arcaicas pertencem também os Semangueses e os Senoieses da península de
Malaca, os quais, porém, são híbridos a tal ponto que é impossível reconstruir claramente o tipo
originário.
314
História das raças, Ásia
Os Mongo'óides. Este ramo racial asiático é o numèricamente mais vasto do Homo sapiens e pode
ser dividido num número limitado de raças, as quais, deslocandose da sua região central para o
Sul, apresentam, cada vez menos nitidamente, a combinação de caracteres típica do ramo racial.
Deste modo as raças meridionais são englobadas no grupo dos Paleomongólidas: pretendese
exprimir com esta designação que as raças instaladas a Sul foram empurradas para essas zonas por
outras raças mongolóides, relativamente cedo (Túnguidas, Sínidas setentrionais); as ú ltimas
raças referidas permaneceram no espaço de desenvolvimento, apresentando, portanto, os caracteres
típicos em forma pouco, acentuada. Geralmente típica é uma elevada corpulência, com tronco longo
e membros curtos. A braquicefalia, hoje predominante, é sem dúvida uma aquisição relativamente
recente. A fronte é direita, sem relevo das arcadas supraciliares; a face é geralmente larga,
impressão extraordinàriamente acentuada pelos malares bastante proeminentes lateral e
anteriormente e por um nariz pequeno, medio,2remente saliente sobre o plano da face (platopia).
Particularmente típica é a plica mongólica, em forma de meia lua na pálpebra superior e cobrindo
o interior do olho. Deste modo fica consideràvelmente reduzida a parte visível do globo ocular e
mais estreita a abertura palpebral, dando assim a impressão de «olho em amêndoa». O cabelo é
liso e direito, sendo muito reduzida a pilosidade do corpo, bem como a barba. Os olhos e o
cabelo são escuros, a pele relativamente espessa, de modo que necessita para a sua protecção de
pequena quantidade de pigmentos. Assim, do norte para o sul, neste ramo racial, a coloração da
pele apresenta sómente pequenas variações, que vão desde tonalidades amareladas a ligeiramente
acastanhadas. Esta reduzida sensibilidade da pele à intensidade das radiações solares faz com
que os Mongolóides estejam em condições de povoar todas as zonas climáticas da Terra, podendo as
suas raças adaptarse muito melhor do que os Europóides, de pele mais clara, às diversas
condições do clima. No que diz respeito aos Paleomongó lidas, será necessária uma referência ao
facto de ser neles particularmente acentuada a tendência para conservar, na idade adulta, traços
morfo
315
História das raças, Ásia lógicos e proporções infantis: isto determina que as diferanças sexuais
sejam muito menos pronunciadas, podendo, a nossos olhos, os jovens do sexo masculino apresentar
características típicas do feminino.
A região de origem dos Mongolóides foi por nós loca~ lizada nas estepes frias da Mongólía e nas
regiões dos grandes rios da China. O centro de instabilidade encontrase claramente na região
das estepes ocupadas pelos Túnguidas. A partir desta zona, apesar da limitada extensão das
populações que a ocupam, gerase uma série de impulsos, ricos de dinamismo, que irradiam para
regiões muito vastas: os antigos Europóides'da Á sia Setentrional são empurrados para ocidente,
deslocandose as populações mongolóides para a América e para a Europa, ao passo que se afastam
cada vez mais para ocidente as zonas de contacto entre Europóides e Mongolóides.
316
História das raças, Ásia
dos das regiões mais a sul. Contra os antigos habitantes curopóides das ilhas japonesas, os
Ainos, estas vagas de população só muito tarde conseguiram imporse, quando se verificou,
através da Corcia, um afluxo mais constante de elementos raciais sínidas sententrionais e
túnguidas. A partir dessa altura, os Ainos foram expulsos para o Norte, e nos quatro componentes
mongolóides, com a intervenção de extensão variável dos Paleomongólidas, teve origem o povo
japonês.
Acerca dos acontecimentos importantes do ponto de vista da história das raças que, se
verificaram nas regiões compreendidas entre os grandes rios e as zonas montanhosas da China
Meridional, podemos dar ainda, resumidamente, algumas notícias. As diferentes condições
ecológicas e económicas favoreceram durante muito tempo a conservação de raças e de povos mais
antigos, designados por «bárbaros» na literatura clássica da China (por exemplo: os Lolo, os
Miao, etc.). Aqui também se conservaram elementos palcomongólidas, provàvelmente mesclados com
Europóides arcaicos; quanto à penetração do património racial europóide na parte ocidental da
China, já tivemos ocasião de a referir. No tempo da formação dos impérios clássicos da Ásia
Menor e Ocidental penetraram nesse espaço, em fracas percentagens, Europóides de pele clara. No
que diz respeito à história das raças que povoaram a região tibetana, é impossível, por
enquanto, qualquer afirmação susceptível de esclarecer o problema. Também aqui é largamente
predominante o elemento mongolóide; todavia, é impossível que também se haja conservado nesta
zona, embora em fracas percentagens, um antigo substrato europóide. Actualmente, dada a escassez
dos conhecimentos antropológicos relativos ao Sudoeste e ao, Ocidente do território chinês,
não se pode determinar com exactidão a zona de onde provem as vagas de população que constituem
a parte principal dos grupos mongolóides que vivem nesta região. Contudo, justamente no que
respeita às populações mongolóides instaladas no Tibete e sobre os contrafortes meridionais da
cadeia de montanhas que vai até à índia e à Indochina, devem recordarse alguns traços que
poderiam estar ligados, na sua origem, às várias possibilidades de isolamento oferecidas por
esta região geográfica, se bem
317
História das raças, Indonésia/Oceânia
que, por outro lado, dada a sua natureza extremamente acidentada, semelhante região só muito
tarde se abrisse à colonização, humana.
Quanto à história das raças que povoam a Indochina, continuamos a não dispor de conhecimentos
muito vastos. Também aqui a faixa de florestas, assim corno muitas zonas montanhosas ou
fluviais, serviram ainda por muito tempo de zonas marginais de refúgio a populações de tipo
arcaico dos dois ramos raciais ainda não especializados dos pontos de vista biológicoracial e
técnicoeconómico. Centudo, essas raças não podiam resistir por muito tempo à mais forte pressão
biológica da raça sínica meridional, que empurrava à sua frente, do interior para o sul, os
Paleomongólidas (Palaúnguidas, Xânidas). Os restos de raça vedá misturaramse constantemente com
outras populações, ou foram por elas absorvidos ou dispersos, se bem que tenham podido
conservarse autónomos até ao império Khmer no nosso milénio, com uma forma estatal específica e
tima cultura superior de influência indiana. Sob a crescente pressão de populações instaladas na
actual China, fortes vagas paleomongólidas atravessaram mais tarde a ponte insular da Indonésia,
de onde uma parte das populações se propagou para sudeste (Samatra, Java, até às ilhas de
Sonda), enquanto outra parte se difundiu para nordeste, através de Bornéu e das Celebes, até às
Filipinas, onde deram origem a novas raças: a dos Protomalásidas e a dos Deuteromalásidas.
Quanto às raças de Amerindios, ligadas na sua origem ao ramo mongolóide, cf. história das raças:
América.
HISTóRIA DAS RAÇAS: INDONÉSIA/OCEaNIA. a) PaleolWico Superior. Por Indonésia/Oceânia. entendemos
o complexo de grandes e pequenas ilhas que vão desde a Indochina, através da Indonésia e da Nova
Guiné, até ao continente australiano, e ainda Bornéu, Celebes, todas as ilhas circundantes até
às Filipinas e por último, a oriente, o vastíssimo e disperso mundo insular da Oceânia. Esta,
porém, só pôde ser colonizada pelo homem em fases muito recentes da nossa história, com o
advento de embarcações capazes de navegar no mar alto; quanto às grandes ilhas, devem ter
estado, por várias vezes, certamente ligadas à term
318
História das raças, Indonésia/Oceânia
firme (durante o último período pluvial) devido a abaixamentos eustáticos do nível do mar. Estas
ilhas forneceram, desde sempre, um refúgio mais ou menos isolado às formas mais antigas do mundo
animal e vegetal: este fenómeno manifestase com evidente nitidez se considerannos as
características arcaicas da flora e da fauna australianas. No que diz respeito a Java, só
indirectamente, mediante uma classifícação cronológica baseada na fauna acompanhante, pode ser
documentada a colonização pelo Homo sapiens no Paleolítico Superior; a única jazida (Wadjak)
revelarseá, com toda a probabilidade, relativamente recente.
Wadjak (Java): em 1890, quando procurava o Pitecantropo, Dubois descobriu dois crânios muito
grandes. Tratavase de crânios dolicomorfos, maciços, baixos, relativamente largos,
pentagonóides, com arcadas supraciliares fortemente salientes e fronte fugidia. órbitas baixas e
rasgadas, raiz do nariz larga, prognatismo. Forma arcaica do Homo sapiens, combinação de
caracteres relativamente indiferenciada (cf. África Meridional: Florisbad, Boskop).
Este único achado, que remonta ao Paleolítico Superior, referese certamente ao Homo sapiens e
nada tem a ver com os restos muito mais antigos descobertos nestas ilhas (> Paleontropologia).
Podemos sem dúvida considerar estes crânios de Wadjak em estreita relação com os achados do
Mesolítico Superior e do Neolítico da Nova Guiné e da Austrália, e daí concluir que o Homo
sapiens fóssil se bem que provàvelmente muito tarde povoou esta região geográfica. Por outro
lado, não devemos esquecer que o desenvolvimento cultural se retardou aqui consideràvelmente,
não podendo estabelecerse, portanto, confrontos cronológicos directos com os estádios
correspondentes na terra firme.
b) Mesalítico. Também para este período se disp5e de poucos restos. Tratase de alguns achados,
de classificação cronológica muito incerta, provenientes da Nova Guiné e da Austrália. Ocupamo
nos dele nesta secção, embora não se possa fazer a seu respeito nenhuma determinaçâo cronológica
segura.
Aitape (Nova Guiné): restos fragmentários de um crânio pertencente a presumíveis formas arcaicas
desta região.
319
História das raças, Indonésia/Oceânia
Talgai (Austrália): 1884, publicação em 1914. Tratase de um crânio que pertence provàvelmente,
apesar da sua adiantada fossilização, apenas à é poca pósglacial.
O crânio é achatado, estreito e alongado, de testa fugidia, viseira supraorbitáría maciça e
saliente, raiz do nariz larga e escavada, prognatismo. Forma arcaica, os seus traços
morfológicos adaptamse bem aos dos actuais Austrálidas. Características análogas são as de
Cahuna (1925) e Keilor (1940); testes praticados com o radiocarbono deram uma idade de 14000
anos!).
Os restos mesolíticos, portanto, têm estado até agora limitados a urna parte geogràficamente bem
definida da zona que estamos a considerar, documentando unitáriamente tãosó os tipos antigos.
Contudo, a partir de semelhantes achados, não podemos concluir, sem margem para dúvidas, que
neste período as grandes ilhas fossem sómente habitadas por representantes desta forma antiga
pouco diferenciada, mesmo que pareçam actualmente o substrato correspondente a uma antiga
colonização.
c) Do Neolítico à era moderna: para este período não devemos esquecer que a ponte de terra firme
da Indonésia transformouse já num autêntico arquipélago, mas simultâncamente suporemos que os
meios técnicos fossem agora suficientes para transpor os braços de mar entre as várias ilhas. A
pressão biodinâmica com origem nas regiões habitadas por populações em expansão, principalmente
por Mongolóides, tomouse cada vez mais sensível; deste modo, vagas de antigas populações,
provàvehnente de cunho vedoidc, foram incessantemente impelidas para sudeste. Estes Védidas
deviam apresentar em geral compleição escura; todavia, não se pode determinar com segurança se
tiveram ou não uma pigmentação comparável à que ainda nos dias de hoje continua a caracterizar
as formas arcaicas da Melanésia, da Nova Guíné e da Austrália. Por outro lado, o tipo físico
deve ter sido análogo ao dos Védidas da índia Meridional e da Indochina: conformação física
esbelta, dolicomorfia, face geralmente larga, nariz rasgado e cabelo abundante, entre liso e
ondulado. A este estrato primitivo, formado por populações védidas (orientais), sobrepuseramse
mais tarde elementos paleoniongólidas, susceptíveis de serem claramente distintos em duas vagas
diferentes,
320
História das raças, Indonésia/Oceâiiia
Estes dividemse, «grosso modo», em Paleomelanésidas, na faixa insular a norte e a nordeste da
Nova Guiné, em Neomelanésidas, na Nova Guiné, e em Austrálidas, que habitam o quinto continente.
Os primitivos habitantes da Tasmânia, ilha que se encontra a sul da Austrália, devem ter mantido
relações muito mais estreitas com os Melanésidas do que com os Austrálidas. Foram, porém, exter
minados tão cedo que já não é possível uma classificação segura dos mestiços vivos ainda hoje.
Elemento típico em todos é a compleição, escura (cor dos cabelos, dos olhos e da pele), e
típicas são também certas convergências com os Negróides na forma do cabelo. Como já várias
vezes se indicou, não pode deduzirse de semelhante convergência
321
História das raças, Indonésia/Oceânia
nenhuma relação genética com o ramo racial dos Negróides africanos. O crânio, particularmente
nos Austrálidas, é comprido e por vezes extremamente estreito. A região supraciliar apresenta
frequentemente um desenvolvimento muito acentuado, elemento que, todavia, não se manifesta em
todos os indivíduos, assim como se têm, juntamente com exemplos de testa extremamente baixa e
inclinada, casos de fronte bastante direita. O nariz é frequentemente largo e registamse também
muitos casos de prognatismo.
O sistema piloso é abundante, sendo digno de nota o facto de poderem coexistir tonalidades
claras (de arruivado a louro), especialmente da pilosidade do corpo, com a cor bastante escura
da pele e dos olhos. A partir de todos os achados morfológicos conhecidos até agora, os
Austrálidas e também os australiformes Paleomelanésidas e Neomelanésidas, poderiam fazerse
remontar, em nossa opinião, aos tipos antigos europóides do Homo sapiens, representando uma
forma especializada, claramente diferenciada, embora tivessem conservado muitos traços da
combinação de caracteres das formas arcaicas do Horno sapiens.
Nas Filipinas e na Nova Guiné vivem ainda Pigmóides que apresentam uma combinação de caracteres
absolutamente particular e derivam também das formas arcaicas (ef. problema dos Pigmeus). A
conservação do termo Negritos, aplicado pelos Espanhóis aos Aetas das Filipinas, nã o implica
qualquer asserção acerca de reais relações genéticas.
Em conclusão ‘ devemos consagrar ainda algumas palavras à interessante raça de contacto dos
Pofinésidas, os quais colonizaram o vastíssimo mundo insular da Oceânia até às Hawai, à ilha de
Páscoa e à Nova Zelândia. Os elementos europóide e paleomongólida uniramse aqui para dar vida a
uma combinação de caracteres bem harmonizada, de modo que o ponto de encontro destes dois
componentes situase numa época relativamente recuada. O elemento europóide deve ter
predominado, pois a combinação de caracteres é muito equilibrada. A estatura é superior à
mediana, a relação troncomembros é bem proporcionada, a face pouco larga e o nariz entre
direito e aquilino. Os cabelos e os olhos são escuros e a pele possui uma tonalidade intermédia,
com numerosos matizes.
322
Ristória das raças
e) Alpínida f) Dinárida
Fiw. 61. Europa, tii)os raciais vivos
323
História das raças
Fig. 62. Africa I, tipos raciais vivos
324
História das raças
e) Sânida, Bosquímano P f) Bainbútida P
Fig. 63. Africa II, tipos raciais vivos
325
História das raças
k . y 1 . . .”i @ .”, .
. 1, e) Védida (orient.) f)
Ainida
Fig. 64. Asia I, tipos raciais vivos
326
História das raças
e) Sínida merid. f) Paleomongólida
Fig. 65. Ásia II, tiPos raciais vivos
327
História das raças
e) Austrálida f) Polinésida C
Fig. 66. Indonésia/Oceânia, tipos raciais vivos
328
Ilistória das raças
@@ 1 1
e) Brasílida f) Fuéguida
Flg. 67. América,.tiDos raciais vivos
329
História das raças
QUADRO SINOPTICO
EUROPA
ÁFRICA
Era
Raças modernas 1
Raças Formas
moderna
modernas arcaicas 2
(«Hylaea» 3/
/África Aus
trai)
Culturas urbanas supe
Culturas urbanas
riores
Neolítico
(bacia mediterrânea)
superiores (Egipto)
4000
Ofnet/Kaufertsberg
Singa Zitzikama
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Boskop? Border Cave?
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História das raças
PARA A HISTORIA DAS RAÇAS
ASIA
INDONÊSIAOCEANIA
AMÊRICA
Raças Formas
Raças Formas
Raças Formas
modernas arcaicas
moder arcai
moder arcai
(norte este
nas cas
nas cas
sul)
Culturas
(China) India Se
urbanas
tentrional
superiores
(Asia Central)
Culturas urba
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nas superiores
..............................
. ..........................
3500
(Asia Menor)
Aitape? Kel
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.................
6000
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História das raças
332
História das raças
]@ig 68.i «Zonas de concentração» (demográfica) e «centros de
1 ins@abil dade». a) A volta do 4000 a.C.: b) à volta do início
da era cristã. c) à volta de 1500 d. C.
333
História das raças
334
História das raças
335
História das raças, América
Acerca da proveniência dos Polinésios, não existe qualquer teoria verdadeiramente fundamentada.
Certos elementos culturais (uma forma de escrita na ilha de Páscoa, por exemplo) indicam
possíveis relações com o Noroeste indiano (MohenjoDaro), bem como determinadas construções de
pedra. Essencial, porém, é o facto de, na época da sua descoberta, os Polinésios se encontrarem
ainda completamente na Idade da Pedra e de a sua cultura possuir um carácter especializado, em
parte neolítico. Devem ainda considerarse certos acqntecimentos de carácter absolutamente
contingente, empobrecimentos secundários, por exemplo, devidos aos limitados recursos materiais
do seu mundo insular. A descoberta e a colonização destas disseminadas ilhas da Oceânia, com
embarcações construídas sem o auxílio de metais, e no entanto capazes de navegar no mar alto,
constituem um caso único, como excepcional é também a empresa de exploração, efectuada duas
vezes, das regiões antárcticas. Também os Paleomongólidas da Indonésia revelaram notáveis
aptidões para a arte da navegação, sem a qual não teriam podido alcançar em grandes grupos,
provàvelmente em vagas sucessivas, a ilha de Madagáscar (cf. história das raças: África).
HISTóRIA DAS RAÇAS: AMÉRICA a) Paleolítíco Superior. Para este período, na América, não se
conhecem ainda restos humanos seguros, mas em contrapaltida dispõesc de um espólio cultural
relativamente abundante. Podemos estabelecer aproximadamente um paralelo entre a cronologia da
era glacial na América e os achados europeus. Contudo, não devemos esquecer que alguns grandes
mamíferos do final da era glacial viveram na América durante mais tempo do que na Eurásia e que
outras espécies típicas do continente americano (tatus e preguiças gigantes) devem a sua
extinção à penetraCão humana na América, embora tivessem sobrevivido ainda algum tempo após a
chegada do homem. Os mais antigos estratos culturais, datados pelo método do radiocarbono,
provêm da Califórnia e têm cerca de 40 000 (?) anos de idade, a eles se seguindo a cultura de
Folson (Novo México), que remonta ao final do Palco,lítico. Infelizmente, o Paleolítíco Superior
do Nordeste asiático encontrase ainda insuficientemente estudado, não
336
História das raças, América
sendo possível extrair dele quaisquer elementos acerca da possível origem dos primeiros
colonizadores da América.
O certo é que durante o último período glacial o estreito de Bering ficou seco em consequência
de um abaixamento eustático do nível do mar, ou que, em todo o caso, era possível passar de um
continente para outro ao longo de uma via gelada. A passagem para a América deve terse
verificado sem dúvida em várias vagas sucessivas, sendo provável que os primeiros grupos se
distinguissem uns dos outros por combinações de caracteres das formas arcaicas do Homo sapiens
ainda em larga medida indiferenciadas. Concluise isto do facto de ainda hoje, em zonas
marginais ou de refúgio, se poderem encontrar traços morfológicos claramente não ameríndios (na
Califórnia, nas florestas virgens do Brasil e na América Meridional, por exemplo). As reservas
alimentares inexploradas deste duplo continente devem ter permitido, pelo menos nos plainos
abertos, uma percentagem de aumento da população relativamente elevada, o que toma provável a
rápida colonização de todo o continente, em conformidade com a economia parasitária tradicional.
As regiões florestais, tanto ao norte como nos trópicos, foram inicialmente ignoradas. Contudo,
esta pnmeira colonização não chegou a atingir considerável densidade populacional; as mais
numerosas vagas de povos, que deram origem ao actual tipo racial, só atravessaram o estreito de
Bering após a era glacial, porquanto transportaram, na sua combinação de caracteres, traços
predominantemente mongolóides. O impulso a estas vagas de povos foi dado pela crescente pressão
dos Túnguidas (cf. história das raças: Ásia), que empurrou para a América povos mongolóides,
ainda incompletamente especializados, originários das regiões marginais do Setentrião asiático.
b) Afesolítico. Não se pode estabelecer fàcilmente um paralelo entre o início deste período e os
estádios correspondentes da Eurásia, e o mesmo acontece em relação ao seu final. Seja como for,
em todo o duplo continente se descobriram restos humanos que podem ser situados neste período de
tempo. Os restos encontrados nos Estados Unidos, onde a actividade de pesquisa é mais intensa,
são mais numerosos.
337
História das raças, América
Tepexpán (México). Tratase de restos que devem remontar, segundo o teste do radiocarbono, a
cerca de
9000 anos a. C. O esqueleto aparenta estatura elevada, crânio de tamanho mediano, alto, com
arcadas supraciliares pouco desenvolvidas, a face e o nariz largos, os malares proeminentes, sem
prognatismo. O crânio não se distingue claramente dos que são próprios dos Ameríndios recentes
destas zonas, não obstante certas reminiscências das formas antigas que nele se notam.
Lagoa Santa (Brasil Oriental): 1840, séries de esqueletos provenientes de várias cavernas;
ausencia de classificação cronológica exacta. Contudo, deve provàvelmente tratarse de
componentes das primeiras vagas de povos que colonizaram o continente. Crânio comprido, bem
modelado, com fronte alta, direita, arcadas supraciliares moderadamente desenvolvidas, órbitas e
nariz medianamente largos, altos, face larga e ligeiro prognatismo. Não há qualquer indício
apreciável de caracteres mongolóides, antes se notando um paralclismo morfológíco com as formas
arcaicas melanésias (cf. história das raças: Indonésia/Oceânia); os elementos morfológicos
«antico@europóides», contudo, são ainda predominantes. Deste modo, deverá tratarse sem dúvida
de um povo relacionado com as primeiras vagas humanas, ainda escassamente diferenciadas do ponto
de vista racial, oriundas do Nordeste asiático.
Com este grupo de achados poderseão relacionar também os restos de Confins (Minas Gerais), no
Brasil Meridional, e talvez Punín (Equador), enquanto na América do Norte. podem, com alguma
verosimilhança, ser situados neste período os restos, morfológicamente pouco significativos, de
Lansing, Brown's Valley c Vero.
A todos é comum a falta de traços morfológicos nitidamente orientais no sentido mongolóide. Os
crânios são ainda dolicomorfos, de estrutura maciça, as órbitas frequentemente baixas, a face e
o nariz largos, sendo também visível em muitos casos o prognatismo. Tanto quanto é possível
apurar, a estatura é superior à mediana. Continuam, portanto, a prevalecer traços morfológicos
indiferenciados, próximos dos caracteres dos antigos Europóides, como de resto seria de esperar
dos componentes das primeiras vagas de povos chegados à América através da
338
História das raças, América
ponte continental que ligou o território americano ao continente eurasiático pelo estreito de
Bering.
c) Do Neolítico à era moderna. Neste período todo o duplo continente, compreendidas as florestas
das regiões do Norte e as das. regiões pluviais tropicais, se abriu à colonização: nesta época
as formas económicas mais antigas foram constrangidas a instalarse nas zonas de refúgio mais
desfavoráveis. Nas planícies abertas mantevese difusamente, até à chegada dos Europeus, e mesmo
algum tempo depois, uma cultura superior de caçadores, de notável organização, com formas
limitadas de cultivo dos campos. Na América, a passagem a uma forma de vida baseada em
povoamentos estáveis e na produção de alimentos mediante a agricultura e a criação de gado
processouse de maneira autónoma, desenvolvendose, a partir do patrimónío constituído pelas
espécies selvagens locais, toda uma série de culturas e de animais domésticos. A passagemf na
América Central e no Noroeste da América do Sul, a culturas urbanas altamente civilizadas deve
terse, verificado muito mais tarde do que na Eurásia e na África Branca, costumando fixarse
pouco antes do nascimento de Cristo. As obras culturais realizadas por tais civilizações sã o
surpreendentes, quer pelo cunho original que as caracteriza, quer pela sua complexidade. Se um
intercâmbio ou uma fecundação desta cultura pela Ásia, através de pontes constituídas por ilhas,
ou através do oceano Pacífico, não pode excluirse com absoluta certeza, a verdade é que não
deve ter exercido certamente grande influência. Do ponto de vista biológico, da história das
raças, esta possibilidade não possui nenhuma importância, porquanto os grupos de povos cujos
caracteres se reflectem ainda nas populações locais atingiram a América por via terrestre,
vindos do Nordeste asiático. Neste lapso de tempo teremos de considerar outro elemento; com
efeito, só nessa altura começa a evidenciarse o elemento mongolóide (o mais importante, de
longe, nos dias de hoje) na combinação de caracteres dos Ameríndias, e este facto permitenos
relacionar semelhante grupo de raças com o ramo dos Mongolóides, se bem que seja ainda bastante
evidente o substrato mais antigo de caracteres mais claramente europóide. Dado que até agora se
descobriram poucos restos
339
História das raças, América
do isolamento e do carácter residual destas zonas, podemos desde já asseverar que, juntamente
com o património predominante de formas mongolóides, se conservou também, em maior ou menor
medida, o substrato mais antigo. A diferenciação, sobretudo no perfil do i:osto, não é ainda tão
acentuada como nas raças da América Setentrional; na região das florestas tropicais predominam
geralmente as combinações de caracteres menos mongolóides. Na Venezuela terseia descoberto
recentemente a existência de povos Pigmóides, o que mais uma vez confirmaria, noutras zonas
também, o carácter autónomo de semelhante especialização. Para os Ona, uma tribo da Terra do
Fogo, será de relevar, desde o tempo dos primeiros relatos dos missionários (que remontam à
segunda metade do século passado), o facto de neles aparecer em larga medida a compleição clara
(cabelo louro, olhos azuis, pele clara), se bem que evidenciem ainda o conjunto de formas,
típicas dos Mongolóides. Poderemos deduzir daqui que os mutantes claros foram favorecidos neste
caso por condiçõ es climáticas selectivas idênticas às que originaram o mesmo fenómeno nos povos
europeus (cf. pigmentação e despigmentação). Isto confirma que onde a selecção actua num mesmo
sentido podem surgir efeitos de convergencia, mediante um enriquecimento de determinados
mutantes, sem que deva falarse de um nexo genético directo dos vários grupos onde se apresentam
os mesmos caracteres. É esta uma verdade a ter sempre presente quando se procura determinar
relações directas entre povos geográficamente muito afastados.
As tabelas e os mapas reproduzidos nas páginas precedentes propõemse ilustrar a distribuição
dos achados mais importantes do Homo sapiens fóssil em relação com o desenvolvimento cultural, a
partir do Paleolítico Superior. Os mapas (Figs. 6871) representam a distribuição dos ramos
raciais sobre a Terra a partir de 4000 a. C. As partes tracejadas indicam as zonas onde
provàvelmente deveriam localizarse as formas «arcaicas» dos vários ramos raciais. A distância
entre as diversas linhas do tracejado indica a provável densidade de população. Os círculos
concêntricos dos mapas da Fig. 68 indicam as presumíveis zonas de pressão correspondentes às
maiores concentrações
342
Métodos da antropologia populacionais, e portanto, do ponto de vista da biologia demográfica,
nas zonas ocupadas pelos três ramos raciais, os centros dos quais teria partido uma lenta e
contínua pressão de expansão. Os sinais gráficos convencionais que representam o raio indicam as
regiões mais pobres, «centros de instabilidade» de onde irradiaram numerosos im pulsos em todas
as direcções. Estes centros de instabilidade exerceram globalmente grande influência sobre as
deslocações de povos e raças, embora mais tarde, do ponto de vista biológico, não tivessem
assumido importância duradoura, comparável às das «zonas de concentração» (demográfica). A
representação é esquematizada «grosso modo» e referese exclusivamente aos três grandes ramos
raciais, não atendendo, porém, à sua complexa constituição interna.
O escopo destas simplificações consiste sobretudo em dar aproximadamente a provável distribuição
racial e em inserir num processo histórico, conexionado com a sua possível importância do ponto
de vista da biologia das raças humanas, os consequentes movimentos e deslocações das raças.
Quanto às fotografias de indivíduos pertencentes a raças vivas, limitámonos, devido à falta de
espaço, a indivíduos do sexo masculino, porquanto são em geral os machos que de maneira mais
acentuada apresentam a combinação de caracteres típica de uma raça. Nos limites do possível, as
fotografias reproduzem indivíduos focados de frente ou de lado. Quanto ao grande número de
representantes das formas arcaicas de várias raças aqui representados, não corresponde
verdadeiramente aos efectivos, hoje tão limitados, de semelhantes povos, mas antes ao seu
elevado interesse do ponto de vista da história das raças.
343
Métodos da antropologia
por estes dois sectores fundase o estudo sistemático das diferenças individuais e de grupo.
Depois das primeiras tentativas, com carácter descritivo, para compreender e classificar as
várias formas pelas quais se manifesta a natureza huniana e a sua variabilidade (Blumenbach e
outros, > História da antropologia) no decurso da segunda metade do século xix assistese ao
desenvolvimento de um método exacto, quantitativo (Relzius, Virchow, Manouvrier, Topinard,
Sarasin e outros); são elaborados nomeadaniente os métodos da medição do esqueleto e do homem
vivo, criandose para isso instrumentos apropriados e processos normativos de comparação para o
estudo das formas, pigmentações e variações fisiológicas. Um clássico da moderna metodologia
antropológica é Rudolph Martin, cujo «Lehrbuch der Anthropologie» («Tratado de Antropologia»),
publicado pela primeira vez em 1914, constitui o fundamento para a antropologia de todo o mundo
obter uma metodologia exacta. Ainda hoje, se bem que muito completado e desenvolvido,, ele
representa a base fundamental deste sector de estudos.
344
Métodos da antropologia
çar do que uma exacta caracterização quantitativa do objecto examinado. Sobre esta base exacta
se fundamentam, pois, os ulteriores processos de investigação, que vão até à psicologia. Mas com
a medição nenhum testemunho se obtém da forma viva do objecto, nada se apreende da sua impressão
plástica de conjunto (v. Eickstedt). Uma fisionomia, por exemplo, não é mètricamente
determinável.
O processo métrico estava já desenvolvido no século xviii com a sistematização das grandes
colecções de crânios sob a designação de craniologia (craniometria): o exemplo clássico neste
domínio foi dado por Blumenbach, com a sua grande série de crânios de diferentes raças, hoje
recolhida em Gi5ttingen. Pouco depois foram também os processos métricos tornados extensivos às
outras partes do esqueleto e ao corpo dos seres vivos: assim nasceu a osteometría (referente à
medida dos ossos) e a somatometria (relativa às medidas do corpo do ser vivo. Por antropo
Fig. 72. Os mais importantes pontos craniométricos (técnica de Martin). A esQuerda em norma
lateral: 1. Prostion; 2. Nasospinale; 3. Orbítale; 4. Ectoconchion; 5. Lacrimale; 6. Dacryon;
7, MaxílIofrontale; 8. Nasion: 9. Glabella; 10. Frontotemporale;
11. Bregma; 12. Euryon; 13. Lambda; 14. Opisthocranion;
15. Inion; 16. Porion; 17. Zygion; 18. Gonion; 19. Gnathion;
20. Progonion; 21. Infradentale. Ao centro, norma frontal:
22. Coronale. À direita, norma basal: 23. StaT)hilion; 24, Orale;
25. Basion; 26. Opistion
metria compreendese hoje portanto a ciência que se ocupa das mensurações do corpo humano em
geral. Nas investigações craniológicas vigora um grande número de pontos de referência
craniométricos de diferente importância, mas não de uso generalizado em trabalhos de
investigação internacionais. Indicamos a seguir uma série de pontos cram .ométricos e dos
principais pontos anatómicos do corpo
345
Métodos da antropologia
humano que pelo menos, mas não sempre, se podem fixar com segurança (números segundo Martin,
1928).
a) Pontos craniométricos utilizados nas medidas do comprimento do crânio (cf. Fig. 72). (9)
Glabela: o ponto mais proeminente entre os dois relevos da arcada supraciliar; (11) bregma:
ponto do cruzamento da sutura sagital e coronal; (15) inion. ponto de intersecção das linhas
nucais superiores (delimitação superior da ligação dos músculos cervicais) com os sagitais
médios (nem sempre fácil de determinar); (14) opisthocraníon: o ponto médio do crânio mais
proeminente na sua parte posterior; (25) basion: ponto de intersecção do limite anterior do foro
occipital com a linha média; (8) nasion: ponto de cruzamento da sutura nasofrontal com a
internasal; (1): prostion: o ponto mais baixo da orla alveolar do maxilar superior, entre os
incisivos médios; (19): gnation: o ponto médio mais baixo do bordo inferior da mandíbula.
b) Pontos craniométricos utilizados na medição da largura do crânio: (12) eurion: o ponto de
crânio lateralmente mais proeminente; (22) coronale: o ponto situado mais lateralmente sobre a
sutura coronal; (10) frontotemporale: o ponto correspondente à máxima reentrância da curvatura
da fronte (sobre a linha temporal do frontal); (17) zygion: o ponto correspondente à máxima
proeminência lateral das arcadas zigomáticas; (16) porion: o ponto médio da orla superior do
meado auditivo externo; (18) gonion: o ponto virtual posto à intersecção da tangente posterior à
parte montante com a tangente inferior ao corpo da mandíbula.
c) Outras importantes medidas craniométricas: Comprimento máximo do crânio (diâmetro ântero
posterior): glabelaopistocrânio; largura máxima do crânio (diâmetro transversal): eurion
eurion; máxima largura frontal: coronalecoronale; mínima largura frontal: frontotemporale
frontotemporale; diâmetro bizigomático; zygionzygion; comprimento da base craniana: nasion
basion; comprimento da face: basionprostion; altura da face: nasiongnation; altura facial
superior: nasionprostion. Arcos e contornos (medidos com fita métrica: contorno horizontal,
medida passando pela glabela e pelo opistocrânio; arco
346
Métodos da antropologia
Fig. 73. Principais pontos antropométricos do ser vivo (segundo a téc
nica de Martin):
1) Vértex
2) Trichion.
3) Glabella
4) Nasion
5) Tragion
6) Alare
7) Subnasale
8) Prosthion
9) Stomion
10) Gnathion
11) Suprasternale
12) Mesosternale
13) Thelion
14) Omphalion
15) Iliocristale (anterior)
16) Iliospinale (anterior)
17) Symphysion
18) Acropodion
19) Pterion
20) Sphyrion,
21) Tibiale
22 )Dactylion
23) Phalangion
24) Stylion
25) Radiale
26 )Acromion
27) Cervicale
28) Inion.
29 )Zigion
30) Opisthocranium
31) Euryon
32) Subaurale
33) Praeaurale
34) Postaurale
35) Superaurale
347
Métodos da antropologia
transversal de porion a porion; arco sagital, medida passando pelo nasion, bregina, lambda e
opistion.
O traçado dos contornos do crânio (Sarasin) obtido por meio de instrumentos especiais
(diágrafos) permite, entre outras coisas, a determinação de ângulos cuja medição não é possível
fazer directamente no objecto do estudo. Os pontos cefalométricos, isto é, sobre o ser vivo,
correspondem aos pontos craniométricos (cf. Fig. 73). Quanto aos pontos osteométricos e à
sornatometria ou o estudo antropométrico feito sobre os seres vivos, estão indicados na Fig. 73.
Nos achados fósseis aparecem frequentemente fragmentos mais ou menos incompletos. Conforme o seu
estado de conservação, designase então, segundo R. Martin: «cranium» (quando é acompanhado da
mandíbula), «calvarium» (quando falta a mandíbula), «calvaria» (quando, alé m da mandíbula,
falta também a porção facial), «calva», ou «calotte» (quando se conserva sómente a parte
superior do crânio). Todas as medidas e os outros dados relativos à pessoa (ou ao achado), como
idade, sexo, dentadura, peso, etc., são cuidadosamente registados. As medidas dependeiri, no seu
valor absoluto, das dimensões individuais, que têm limites de variabilidade assaz amplos. Por
isso as, medidas absolutas são relacionadas duas a duas, sendo a mais pequena expressa em
percentagem da maior. A partir de Retzius (1842) que se utilizam neste caso índices. As tabelas
de índices (Fürst, 01brich) permitem encontrar com facilidade o índice procurado. Foram
elaborados também processos para relacionar mais índices. Os índices, corno se disse, exprimem
uma relação e valem independentemente de grandezas absolutas.
Exemplos de índices antropométricos: Índice craniano (cefálico) horizontal
largura máxima do crânio X 100
comprimento máximo do crânio Distinguese: a) Crânio de X a 74,9 dolicocrânio (crânio
comprido)
75,O 79,9 mesocrânio (crânio médio)
80,O X braquicrânio (crânio curto)
348
Métodos da antropologia
e correspondentemente: b) Cabeça (ser vivo):
Mulher
de X a 76,9
77,O 81,9
82,O X
de
Homem
X a 75,9
76,O
81,O
80,9 X
dcvlicocéfalo mesocéfalo braquicéfalo
indíce faciaLI (total) =
altura facial X 100
largura bizigomática
Distinguemse:
a) Crânio: de
X a 84,9 cameprósopo (face curta)
85,O 89,9 mesoprósopo (face média)
90,O X leptoprósopo, (face comprida)
b) Cabeça (ser vivo):
Mulher
de X a 80,9
81,O 84,9
85,O X
Homem
de X a 83,9 carneprósopo
84,O 87,9 mesoprósopo,
88,O X leptoprósopo
Os índices são também determinados por medidas osteométricas e somatométricas.
As mensurações do crânio e da cabeça são efectuadas segundo um determinado plano de orientação,
que permite estabelecer compensações. A posição mais geralmente usada é a já chamada «plano de
Frankfurt, ou plano horizontal (acordo de Frankfurt, 1884). Este plano é determinado por um c
outro porion e pelo ponto mais baixo da orla inferior da cavidade orbital esquerda (orbitale,
Fig. 72, 3). Para traçar a curva (ou contorno eraniano) do sistema de Sarasin e outras curvas
foram empregados instrumentos, em parte também muito complicados (cranióferos) para permitir a
orientação do crânio em quaisquer planos do espaço. Aparelhagem especial é utilizada para a
medição de ângulos e de ângulos de torção. Tudo isto s=c
«mutatis. mutandis» não só para as medições do esqueleto
349
Métodos da antropologia
mas também para as medições somatométricas. Isto é suficiente para dar uma ideia das técnicas
antropométricas. Para obter os diversos tipos de medidas foi inventada uma série de instrumentos
especiais, dos quais os três mais importantes são: 1) o compasso de hastes direitas (Fig. 74),
constituído por uma haste calibrada sobre a qual desliza outra haste proporcionando a obtenção
de medidas muito
exactas, com escala de nónio; 2) o calibrador de hastes curvas, ou compasso de espessuras (Fig.
75), usado sobretudo para me dições de distâncias entre pontos fixados préviamente, ainda que
anatómicamente bem localizados, por exemplo, para a determinação do comprimento máximo do crânio
(glabelaopistocrânio), ou da máxima largura (eurioneurion). O compasso de hastes direitas é
usado, pelo contrário, para ponFig. 74. Compasso de hastes di tos fàcilmente determiná
reitas (de Martin) veis anatómicamente (por
valores angulares sobre um arco de círculo graduado. Lembramos a este propósito as exaustivas
descrições das técnicas antropométricas da obra de Martin, v. Eickstedt e Mollison. Como já foi
observado, o processo métricoquantitativo não permite ainda conhecer a forma prbpriamente dita
do crânio, de parte do crânio ou do esqueleto e das
350
Métodos da antropologia
suas partes (ou da cabeça e do corpo do ser vivo) submetidos a medições. Para esse efeito, e a
fim de proceder a comparações, foram elaboradas normas csqueméticas especiais que permitem
inserir no esquema específico propositadamente organizado determinadas curvas do crânio (curvas
horizontais, transversais, etc.), contornos faciais, forma do rariz e da abertura nasal
(abertura piriforme), o desenvolvimento da espinha do nariz, do osso nasal, etc., permitindo
desse modo fixar a morfologia. Outras determinações essenciais respeitam, por exemplo, ao peso
específico dos ossos e à capacidade do crânio.
A estas determinações morfológicas e métricas também em parte deve acrescentarse a observação
de algumas características fisiológicas. Para esse efeito existe uma aparelhagem especial de
natureza quantitativa (dinamómetros, instrumentos para a observação da respiração, etc.). Há
além disso processos especiais para os grupos sanguíneos e escalas e tabelas normativas para,
por exemplo, a cor da pele, dos olhos, e a cor e forma dos cabelos. Por fim determinase o tipo
constitucional (> Constituição) e, a partir daqui, o campo de trabalho da antropologia
alongase até à psicologia, medicina e etnologia e alcança assim os seus limites metodológicos.
Fig. 75. Calibrador de hastes
Nenhum pormenor curvas (de Martin) quantitativo ou qualificativo pode ser
considerado isoladamente, mas sempre no quadro do conjunto das restantes características.
Deste modo é possível relevar correlações, isto é, notar quando duas ou mais características
surgem ligadas ‘: por exemplo, na chamada «compleição clara» verificase: pele clara, olhos
azuis, cabelos louros. A importância da fotografia (e hoje também da fotografia a cores) para a
morfologia não será preciso ser salientada. Também é válido o princípio de que para que seja
possível uma valorização antropológica exacta, os indivíduos, os ossos ou partes dos ossos
fotografados devem ser apresentados numa orientação exacta da cabeça
351
Métodos da antropologia
e do corpo, pois que não sendo assim a comparação não será possível.
Aqui o campo da antropologia contacta com o da genética humana, e, quando estas investigações
possam vir a ser aplicadas aos processos evolutivos e à distribuição dos caracteres ou da sua
base genética, com o sector da
genética das populações. Por fim, o material obtido com o emprego de todos estes métodos
necessita naturalmente ainda de ser submetido a uma ordem estatística, que permita esclarecer a
variabilidade, a difusão e a estrutura duma população. A elaboração estatística dos elementos
observados permite determinar se as diferenças que se encontram entre os indivíduos ou os grupos
devem ser consideradas significativas, isto é , se tais diferenças têm base genética e se, por
consequencia, podem ser interpretadas como um carácter do grupo. A estatística, através da
análise exacta das correlações, proporcionanos também preciosas informações sobre a situação
genética. A estatística das correlações revela (segundo v. Eickstedt) quais as relações íntimas
em que se encontram as diversas partes do corpo durante o cres
cimento, indica as diferenças de proporções nos dois sexos, nas diversas raças, nos vários povos
e nas diferentes tonstituições e, finalmente, mostra também as relações dos grupos biológicos
entre si. Os processos estatísticos em geral c da análise das correlações em especial não podem
ser
aqui tratados, devendo os interessados dirigirse a Martin, v. Eickstedt e KoIler. Os processos
estatísticos, assim como a antropometria, levaram ao extremo o uso do método matemático. Mas
mesmo este é, em última análise, o método exacto que permite reconhecer diferenças e semelhanças
de grupos na sua unidade, quer sejam pequenos quer grandes (> Conceito de raça). A
representação geográfica dos processos estatísticos permite obter um quadro da distribuição dos
vários caracteres hereditários e das suas combinações em toda a superfície terrestre; obtémse
deste modo um mapa bastante preciso da distribuição das raças e, em casos bem conhecidos, como,
por exemplo, para os factores serológicos, podem determinarse geogràficamerite também as
variações quantitativas no tempo e chegar a
conclusões sobre mutações seculares na constituição gené
352
A origem do homem
tica da humanidade e dos seus grupos: mas aqui começam os sectores da > genética das
populações e da > história das raças.
Só tendo presentes todos os resultados obtidos com os métodos de que se dispõe e trabalhandoos
comparativamente a antropologia se aproxima do seu objectivo, que é o de reconstruir uma imagem
completa do homem e da sua natureza na variedade das suas manifestações.
A origem do homem A teoria geral da evolução, ou teoria da descendência, pretende explicar a
transformação das espécies e dos organismos no decurso da história da Terra.
Este processo evolutivo teve início com a passagem da matéria inerte a matéria viva na qual
estados inorgânicoquímicos se transformaram em estados orgânicoquímicos, que adquiriram a
possibilidade de autoreprodução. Com esta faculdade de autoduplicação começou a primeira fase
da vida; depois, por progressivas complicações, forinaramse organismos típicos, cuja posterior
organização conduziu ao actual mundo vivo. Os hominídeos, como é natural, inseremse neste
processo evolutivo. Constituem uma linha histórícoevolutiva própria, a partir de uma base
ancestral nãohominídea. A teoria da evolução tem por objectivo apresentar provas da
transformação evolutiva dos organismos e nesta base: 1) esclarecer o decurso histórico da
evolução, tanto no conjunto como nos seus aspectos particulares, nomeadamente nas linhas
históricas em que esta evolução se processa, e 2) estabelecer e analisar as causas que estão na
origem destes processos evolutivos.
Após algumas tentativas infrutíferas para demonstrar a teoria da evolução e de a tomar plausível
aos olhos dos contemporâneos (Lamarck, «Philosophie Zoologique»,
1809), a doutrina foi cientificamente fundamentada há precisamente um século. Em 24 de Novembro
de 1859 foi publicada a obra clássica de Charles Darwin (180982), «On the Origin of Species by
Means of Natural Selection», ou «The Preservation of Favoured Races in the StruggIe for Life»
(«A Origem das Espécies pela Selecção Natural», ou «A Conservação das Raças Favorecidas na Luta
pela Existência»). A obra não só estabeleceu definitivamente ser um facto a transformação das
espécies, como deu uma
353
A origem do homem
explicação causal da evolução orgânica que, desde o seu aparecimento, impôs a concepção
genéticodinâmica do ser vivo (muitas vezes porém com violentas controvérsias e alguns reveses)
em oposição à concepção estática, que até ali dominara. O conceito de fixidez dos organismos foi
substituído pela concepção dinâmicohistórica. As conse@ quencias para a espécie humana logo
extraídas da obra de Darwin foram tão evidentes que pouco depois do aparecimento de «A Origem
das Espécies» se procurou a prova da origem dos hominídeos, cujos antepassados segundo declarou
Emest Haeckel pela primeira vez na célebre reunião dos naturalistas e médicos alemães que se
realizou em Stettin, em 1963 deviam situarse entre os mamíferos simiescos do Terciário. No
mesmo ano apareceu também o trabalho clássico de Huxley intitulado «Evidence as to Man's Place
in Nature». («A Posição do Homem na Natureza). O próprio Darwin só em 1871 se referiu (2 aed.,
em 1874) a este problema na sua obra monu mental sobre a origem do homem feita com grande
cuidado e apoiandose em rica documentação. A partir da obra de Darwin e dos trabalhos de
HuxIey, Haeckel e outros, já não havia motivo para se considerar a origem do homem como um
problema fundamentalmente insolúvel. Pelo contrário: estava bàsicamente resolvido! Os
hominídeos, como disse Darwin, derivam de formas arcaicas (ancient membm), dos símios
antropomorfos. Claro que há grande número de questões por resolver no que respeita a aspectos
particulares da evolução humana, se bem que os elementos para se traçar a filogenia dos
hominídeos
cada vez com mais clareza. Com as investigações surjam. actuais há muitos problemas que se
tomaram acessíveis a uma discussão mais exacta.
Vejamos agora quaís são as provas que possuímos para demonstrar a teoria geral da evolução, que
é fundamentalmente uma teoria histórica, cujos testemunhos não se podem portanto sujeitar a
prova experimental. O método a seguir é indirecto e de base indutiva. Hoje, porém, no âmbito dos
estudos sobre a evolução, desenvolveuse, em conexão com a genética experimental, um novo sector
de investigação. Tratase da filogenia experimental, ou filogenia evolutiva, que estuda com
métodos rigorosos as transformações dos
354
A origem do homem
Houve biólogos que atacaram a teoria da evolução feita por mutações e pela selecção natural com
o argumento de que um processo tão acidental nunca poderia ter produzido estruturas funcionais
complexas cujas partes individuais não podem funcionar independentemente, como, por exemplo,
acontece com os olhos dos vertebrados. A explicação deste aparente parodoxo é que os olhos de
todos os vertebrados representam os produtos finais de um longo processo evolutivo iniciado há
muito com a origem dos
355
A origem do homem
vertebrados, órgão@s que são virtualmente idênticos em todos os primatas.
Todos estes problemas têm naturalmente, em última análise, o seu fundamento na demonstração de
que a evo
lução é um facto incontroverso. Esta demonstração, porém, só se tomou irrefutável a partir de
Darwin. Este facultoua mediante observações feitas durante a sua viagem à volta do mundo, de
1831 a 1836. Tais observações foram confirmadas pelo abundante material colhido posteriormente.
Darwin. notou semelhanças entre mamíferos fósseis actualmente existentes na América do Sul, a
difusão vica?@ante de algumas espécies de roedores da América Meridional geogràficamente
confinantes e, observação decisiva, a transformação em espécies e raças distintas (tentilhões de
Darwin) de aniniais emigrados do continente americano para grupos de ilhas vulcânicas (ilhas
Galápagos).
Hoje possuímos provas absolutamente concludentes da evolução das espécies através do tempo.
Noutros termos: na sobreposição das formaçõ es geológicas observase uma
sucessão de tipos afins nos quais (com algumas excepções) se verifica uma organização sempre
crescente (anagénese, no sentido de B. Rensch). De qualquer forma a biologia baseiase ri(>
antigo princípio de Harvey: «Omne vivum
* vivo» (Todos os seres vivos nascem de outros seres vivos)
* não se admite nem a imutabilidade nem a criação. Nesta última acreditava naturalmente o jovem
Darwin antes que as observações que abundantemente coligiu no decurso da sua viagem à volta do
mundo o tomassem paladino de uma concepção evolucionista da natureza.
Dada a continuidade ininterrupta da vida no nosso planeta, a sucessão de diferentes formas e
estruturas pressupõe uma evolução geral dos seres vivos. O progresso gradual dos seres vivos e a
ordem estrutural dos sistemas orgânicos constituem ulterior confinnação da evolução dos sistemas
orgânicos. Por que razão existe esta ordem, esta complicação progressiva dos organismos?
Porque não domina qualquer outra espécie de ordem, ou mesmo o caos? Assim, a teoria da
criação especial foi substituída pela realidade concreta da transformação das espécies noutras
espécies. f Uma das provas mais decisivas a favor do transformismo é aquilo a que se pode chamar
correlação estru
356
A origem do homem
répteis depois dos batráquios e finalmente as aves e os mamíferos são posteriores, no tempo, aos
répteis. Esta concordância é válida naturalmente também no seio dos grandes grupos. Assim, por
exemplo, as aves típicas são posteriores, no tempo, à «arqueopterix», que tinha mais caracteres
reptilianos do que as aves mais modernas.T
357
A origem do homem
dade do processo evolutivo, que se exprime através de uma inacreditável variedade de formas. Os
ofídios derivam de répteis tetrápodes, as vacasmarinhas de ungulados tetrápodes, as baleias sem
dentes de antepassados com dentes que se adaptaram secundàriamente à vida aquática. De todos
estes casos existem documentos fósseis. As transformações que acompanham o desenvolvimento
embrionário não seriam compreensíveis sem estes processos evolutivos históricos. Aqui reside
também a base da chamada «lei biogenética fundamental», formulada por Haeckel (1866), embora ele
enunciasse as relações sob a forma de um slogan, de resto responsável por diversas
interpretações erróneas: «A Gritogénese é uma recapitulação abreviada e muitas vezes
secundàriamente alterada da filogénese. A estrutura do tipo ancestral é na essência
recapitulada, mas na grande maioria dos casos a repetição atinge apenas os alicerces
embrionários desta estrutura. @A filogenia nã o é, porém, de modo algum, causa da ontogenia. Não
é porque uma
espécie tem um longo passado filogenético, que ela tem uma
complicada vida embrionária, que ela é como que o resumo da longa sequência dos seus
antepassados. A filogenia é uma sucessão de ontogenias que evolucionaram pelo jogo mutações
selecção natural e que perrnitiu, em cada espécie formada, a sua sobrevivência num dado tipo de
ambiente num compromisso constante, afinal, entre processos herdados e repetidos e outros novos,
que possibilitam a adaptação. É a esta conclusão que nos conduzem os resultados da embriología
comparada e experimental, da genética e
da ecologia.ly
Hoje a teoria da evolução é aceite pela biologia e pela antropologia como teoria perfeitamente
demonstrada e tra
358
A origem do homem
balhase com ela, nas bases já indicadas, em duas direcções:
Filogenia (História evolutiva) Filogenia histórica Filogenia experimental Procura
pôr em evidência Investiga a causalidade os processos filogenéticos da
filogénese actual
históricoevolutivos
A filogenia experimental obtém os seus resultados com métodos exactos, indutivos. Estes
resultados são então extrapolados para a filogenia deduzida pelos métodos comparativos. Este
facto pode à primeira vista parecer arbitrárío, visto que ele intervém na causalidade desta
filogénese valendose simplesmente de métodos comparativos, mas ele conhece pelo menos a
tessitura das causas que orientam a filogenia moderna. A sua intervenção é legítima se
admitirmos como certo o princípio de Harvey de resto nada há que o contradiga e a identidade
fundamental dos processos biológicos que caracterizam a vida desde as suas origens.
A FILOGENIA HISTõRICA. Uma dada filogenia ou história evolutiva é tanto mais segura quanto mais
completo é o material fóssil no qual se baseia essa construção históricoevolutiva. Por vezes
esse material é insuficiente. De alguns grupos de animais ainda se desconhece a posição
filogenética. Mas a palcontologia de Cuvier (17691832), de Darwin, na segunda metade do século
xix, mas sobretudo a do século actual, experimentou progressos enormes e altamente
significativos. Destes resultados podese deduzir uma conclusão geral que será provàvelmente
válida para o futuro: que o processo geral da filogenia histórica dos organismos não é
bàsicamente diferente do mecanismo, actual da evolução tal como é postulado pela filogenia
experimental, não havendo portanto necessidade de sugerir a existência de outros mecanismos
agora desconhecidos.
Anteriormente era hábito chamarse a atenção para a falta de «formas intermédias» ou de
«transição» em muitos pontos das séries paleontológicas: quem não ouviu falar no «elo de
ligação» na filogenia dos hominídeos? Havia a
359
A origem do homem
crença geral de não existirem formas intermédias entre os grupos zoológicos superiores. Superou
se esta objecção não procurando intensamente estas formas intermédias, mas postulando «saltos»,
isto é, mutações macrofiléticas, produzindo de maneira descontínua novos tipos de organização
sem passarem por formas de transição. Supondo uma ininterrupta continuidade estratigráfica, a
frequente falta de formas interinédias era explicada com a hipótese dos «saltos» evolutivos
entre as diversas formas de organização. @ O argumento de falta de fonnas de transição é de
pouco ou nenhum valor. Em primeiro lugar porque há de facto numerosos documentos de «formas
intermediárias» justamente naquele material que pelas suas boas condições de preservação nas
rochas é de esperar que ofereça esses estádios. Conhecemse, com efeito, espécies «compósitas»
entre todas as classes de vertebrados, e nos invertebrados há também alguns documentos dessa
ordem. Por outro lado a inexistência de formas de «transição» não é um argumento convincente
dado o seu carácter negativo, qu@_@ depende de numerosos factores. Por exemplo, o aparecimento
de novas estruturas orgânicas com grande valor adaptativo, processouse em muitos casos,
provàvelmente com grande rapidez, em populações fortemente localizadas, o que diminuiu as
probabilidades de boa fossilização. Mencionemos, por exemplo, a passagem da barbatana primitiva
para membro pentadáctilo, do membro anterior reptiliano para asa de ave, ou da pata do
insectívoro primitivo para asa de morcego.@
Com as actuais investigações estratigráficas revelase cada vez mais claramente que esta
continuidade não existe e que há perturbações nos estratos que poderiam ter contido as pontes de
passagem entre formas a cuja separação fossem imputados os pressupostos «saltos». Porém nem a
falta de formas intermédias nem a ausência de camadas estratigráficas entre os vários tipos
fósseis constituem provas concludentes. A existê ncia real de uma passagem gradual entre os
grupos ou espécies é confirmada cada vez mais pela crescente colheita de material fóssil
(Simpson,
1952; Heberer, 1943, 1959). Continuaremos a acumular cada vez mais conhecimentos e tornarseá
portanto mais evidente que o curso da evolução é caracterizado não por
360
A origem do homem
bruscas transformações mas sim por um complexo de micromutações. Sir Julian HuxIey exprimiu este
pensamento de maneira mais rigorosa. « A evolução não se apresenta sob a forma de uma escada que
se dirige para as alturas, mas na de um plano inclinado. A hipótese de a evolução se processar
por intermédio de mutações de grande amplitude revelase cada vez mais uma especulação errónea,
que carece de qualquer fundamento, além de ser refutável do ponto de vista genético. já antes se
dava relevo, mas apenas como modelos ancestrais, às raras formas intermediárias, que
representavam verdadeiras pontes de passagem gencalógicas (Ichthyostega, Archaepteryx,
Oligokyphus, etc. E para a filogenia dos primatas: procônsules, oreopitecídeos,
australopitecídeos). A paleontologia mostrou que existem determinadas constantes no decurso das
transformações filogenéticas, entre as quais a existência de séries progressivas
cronológicamente ordenadaspor exemplo, a evolução do cavalo a partir de formas de pequena
estatura até às de grande estatura, dos tetradáctilos (quatro dedos) aos monodáctilos (um só
dedo), desde um tipo primitivo de dentadura até à hipsodontia, etc. E, nos hominídeos,
especialmente pôs em evidência a progressiva cefalização. Quisse ver nesta « direcção
evolutiva» a acção de factores autogenéticos com a função de dirigir a evolução para determinado
objectivo, processo que se designou por ortogénese. Mas também aqui a genética evolutiva
demonstrou, em conexão com a recolha de materiais fósseis operada pela paleontologia, que tais
factores teleológicos não são necessários para produzir o fenómeno da ortogénese (tomada esta no
sentido descritivo). Parece hoje mais próprio abandonar o emprego da palavra ortogénese,
carregada de implicações teóricas, e substituíla pelo terino «tendência», conforme sugeriu
Heberer (1956). Darwin, que combateu a introdução de factores finalísticos, explicava a
adaptação como o resultado das simples acções causais, e é este, na realidade, um dos pontos
importantes da teoria da selecção natural. Também, pelo que respeita à origem do homem, devemos
refutar a existência de «saltos» evolutivos e de factores ortogenéticos como agentes no sentido
teleológico (Heberer, 1958).
361
A origem do homem
FILOGENIA EXPERIMENTAL. Das consequências, que já indicámos, das investigações sobre a filogenia
histórica resulta certa regularidade que conduz à anagénese, através de numerosas adaptações que
no entanto não permitem qualquer asserção directa sobre a mecânica deste fenômeno. De facto o
fenómeno da adaptação levou a especulações erróneas (carácter teleológico da evolução, factores
ortogenéticos especiais, passagens com soluções de continuidade de tipo para tipo). A filogenia
experimental sujeita à verificação os seus resultados, até onde lhe é possível, com o auxílio de
material fóssil. Essencialmente, todavia, usa ou extrapola os conhecimentos obtidos através do
estudo de organismos vivos, animais ou plantas, que podem revelar a causalidade dos fenômenos
evolutivos em toda a filogenia. As experiências produziram resultados de importância
extraordinária, nomeadamente que não existe qualquer ponto de apoio para a muito discutida
hereditw@edade lamarckiana, a qual se pode resumir na tese de que as transformações somáticas
ocorridas durante a vida do indivíduo podem ser transmitidas através das células germinais e
reaparecer na sua descendência de maneira iTentica ou mesmo mais acentuada, embora as condições
do meio ambiente que origináriamente as provocaram já não se façam sentir. Tal
<ffiereditariedade de caracteres adquiridos» nunca pôde ser demonstrada, e de qualquer
maneira,nenhuma função exerce na evolução dos organismos. Darwin, que não conhecia Mendel nem o
mecanismo da transmissão hereditária e que nenhuma noção possuía ainda sobre bases físico
químicas da variabilidade dos organismos, acreditava na hereditariedade dos caracteres
adquiridos. Hoje devemos colocar a «hereditariedade dos caracteres adquiridos» no mesmo plano
dos factores autogenéticos (ortogénese, etc.).
A evolução resulta sobretudo das variações do património hereditário. Isto é naturalmente válido
tanto para o homem como para os animais e as plantas. Tais variações hereditárias são chamadas
mutações (> Genética humana), um termo que de resto já foi empregado por Darwin. A
mutabilidade está na base do processo evolutivo; constitui a matériaprima da evolução.
Alterações de vária espécie podem seguirse às mutações, mas só as de
362
A origem do homem
efeitos diniinutos ou subtis é que não prejudicam o organismo em evolução.
Observouse que as mutações de exígua amplitude, não os «saltos evolutivos» (as macromutações
produzem efeitos drásticos), é que constituem o material utilizado na filogênese. Não obstante a
limitadíssima frequência das mutações (em média 1 em 100 000) e apesar dos danos mais ou menos
graves causados por muitas mutações, também há muitas mutações positivas. A evolução (a partir
do estádio de célula, isto é, provàvelmente há 3 biliões de anos) é bastante longa para
fornecer, como os elementos pelos quais ela se realiza (ou seja, com as mutações positivas) o
material necessário para fazer a história dos organismos tal como ela se nos apresenta. As
mutações obedecem nos seus efeitos a determinadas limitações, mas isso não significa qualquer
sujeição a objectivos determinados. Na sua maioria não são adaptativas, isto é, não são
orientadas para aperfeiçoar adaptações já existentes ou para produzir outras novas. A evolução
caracterizase porém pela tendência para formar estados e organizações mais complexas e para o
aperfeiçoamento das adaptações.
Darwin já era substancialmente consciente deste facto, pela sua concepção das variações
hereditárias (as actuais mutações) e por eliminar os factores teleológicos com a sua teoria da
selecção natural, que favorecia a sobrevivência dos mais aptos. A proliferação excessiva já
sublinhada por Malthus em 1798 e a constância média da densidade populacional (a excepção
constituída pela do homem é apenas aparente) têm como resultado a luta pela existência na qual
estatisticamente os mais aptos têm, em qualquer situação, maiores probabilidades de sobreviver.
A selecção ocupa assim o seu lugar na base de um património de mutações relativamente
desordenado, não orientado para qualquer objectivo. Esta tessitura causal dá em resultado a
lenta deslocação dos complexos dos caracteres das raças, das espécies, em geral dos «tipos».
Esta lenta modificação acentua a própria adaptação. A transformação manifestase gradualmente,
em correspondência com as mutações vitais possíveis, ou seja, mediante micromutações, se bem que
com velocidade diversa, conforme os casos. São precisos em geral 200 000 a 500 000 anos para
transformar uma
363
A origem do homem
espécie noutra. Isto é igualmente válido para os hominídeos, desde o Homo erectus até ao Homo
sapiens (> História das raças). A evidente direcção «progressiva» que se manifesta na evolução
dos organismos e também nos grupos individuais é produzida «mecânicamente» pela selecçã o, a
qual, por períodos também muito longos, pode agir num determinado sentido, favorecendo as
mutações que venham a encontrarse estatisticamente naquele caminho, dando origem a seguir à
aparição de um processo ortogenético. Neste caso falase de ortoselecção. A paleontologia já há
longo tempo pôde documentar este fenômeno com grande profusão de exemplos, e constantemente se
recolhe novo material. A única diferença substancial é que antenormente o mecanismo da orto
selecção não era compreendido no sentido causal. Em face desta esquemática ilustração das causas
do processo evolutivo pensamos que Darwin «tinha razão» na sua teoria da selecçãomutação (v.
Wettstein). Hoje pode considerarse completamente justificado o autor da teoria da evolução, não
obstante as objecç&s, continuamente repetidas durante decénios, que lhe foram levantadas,
objecções que, além de infundadas, estavam sempre em contradição com os resultados positivos, e
cada vez mais numerosos, da investigação científica (HebererSchwanitz, 1959).
A estas conclusões chegou sobretudo uma disciplina moderna, a > genética das populações, que
ocupa hoje uma posição central no campo da genética e da evolução. Constitui um ramo de pesquisa
fundado em métodos de investigação estatísticos e experimentais sobre a evolução. Com os seus
métodos matemáticos penetra profundamente na causalidade dos fenómenos evGlutivos, aos quais
está sujeito o património hereditário (mutabilidade, pressão das mutações, formação dos alelos,
pressão e valor da selecção natural, combinação de genes mediante hibridação, eliminação
acidental de genes, etc.). Ao mesmo tempo estuda os efeitos de tais causalidades sobre
percentagem dos genes e alclos nas populações e portanto a transformação dos caracteres e a
distribuição dos mutantes. já tivemos ocasião de dizer que também os trilobitas, como quaisquer
outros organismos do passado, viviam reunidos em populações que se reconhecem hoje como
constituindo as verdadeiras unidades da evo
364
A origem do homem
lução. A dimensão destas populações está relacionada, entre outros aspectos, com a rapidez do
processo evolutivo. Nas pequenas populações o processo evolutivo é mais rápido do que nas
grandes. As populações dos primeiros hominídeos devem ter tido dimensões muito reduzidas, cuja
evolução deve ter sido relativamente rápida. Hoje pode con
siderarse bem fundamentada a hipótese de que os processos evolutivos que se realizavam no seio
das populações não se diferenciam daqueles que são actualmente analisados na genética das
populações (Dobzhansky). Em última análise, esta complexa estrutura causal está também na origem
das transformações evolutivas de maior amplitude que se produziram por uma síntese gradual,
selectivamente equilibrada, dos respectivos complexos de genes. O carácter histórico deste
processo implica a impossibilidade de observar directamente a formação de tais agregados de
genes. Isto explica também a ausência da possibilidade da repetição de tais agregados. Os
processos elementares podem repetirse, nao os complexos. Sobre este princípio baseiasc a
unicidade da história em geralnão só da história paleontológica dos vegetais e dos animais
mas também da do homem. Os organismos são estruturas de tão elevada complexidade que não poderão
jamais repetirse. E se houver organismos num outro planeta com processos comparáveis aos da
Terra é extremamente improvável que a sua filogenia tenha percorrido o mesmo caminho, e
igualmente que no universo se possa portanto encontrar um «sósia»
do ponto de vista estrutural do homem.
ORIGEM DO HOMEM. HISTõRIA. Quando tratámos dos aspectos gerais da evolução tivemos ocasião de
aludir a uma filogenia humana. Partamos do ponto em que nos detivemos. Novamente diremos que
Darwín «teve razão». De facto a história evolutiva do homem, a sua emergência do reino animal, a
sucessiva diferenciação de um ramo de primatas superiores que depois conduziu ao homem actual
«já não é uma hipótese, como há cerca de sessenta anos asseverava Emst Haeckel, «mas sim um
facto».
Em primeiro lugar tornase necessário apresentar um esquema prático da filogenia que conduziu ao
homem após
365
A origem do homem
a sua separação da base ancestral, componente remoto do ramo dos antropóides.
A partir da separação dos seus antepassados nãohominídeos, os hominídeos formaram uma família
distinta, no sentido da sistemática zoológica, e uma diferente linha históricoevolutiva. Claro
que tanto os hominídeos como os nãohominídeos pertencem aos mamíferos placentários; o tipo
estrutural dos seus cromossomas (não em número) corresponde nitidamente ao dos mamíferos
placentários. É ocioso mencionar a grande quantidade de indícios e de provas circunstanciais que
permitem ligar os hominídeos aos primatas e, dentro destes, aos catarríneos (> Sistemática dos
primatas.)
Se não subsiste qualquer dúvida sobre a natureza catarrínica dos hominídeos, isto é, sobre a
origem histórica dos catarríneos, é já mais difícil determinar em que ponto da filogénese se
insere a linha evolutiva dos hominídeos. Isto implica ao mesmo tempo a dificuldade de definir
qual foi o primeiro representante do grupo dos hominídeos. O estudo formal e causal das
transformações que se verificaram na fase da separação dos hominídeos constitui o conteúdo da
teoria evolucionista da origem do homem.
366
A origem do homem
seguinte esquema geocronológico do Terciário. Qualquer outra época precedente não pode ser
aceite como período durante o qual se separaram os dois ramos dos hominídeos,
e o mesmo se pode dizer do Plistocénico (era glacial) ao contrário de tudo quanto se supôs em
tempo.
Subdivisão do Terciário e cronologia absoluta
Era
Duração aproximada em milhões de anos
Plistocénico
02
F 2
Pliocénico
210
10
Miocénico
1025
15
Oligocénico
2550
25
Eocénico Paleocénico
5070
20
Cretácico.
70120
50
O período «crítico» corresponde ao espaço de tempo que abrange o Oligocénico e o Miocénico, um
intervalo, portanto de 40 milhões de anos. A Fig. 76 ilustra, numa primeira aproximação, a
provável articulação dos honúnideos entre estes limites de tempo. Vemos também como a linha dos
hominídeos se insere numa irradiação miocénica dos pongídeos. A linha dos hominídeos pode ser
dividida em três segmentos distintos:
1) Fase subhumana;
2) Transição animalhomem;
3) Fase humana. Na primeira fase os hominídeos encontramse ainda num estado subhumano, não
só do ponto de vista físico, como também no que respeita ao psíquico. No decurso desta fase são
submetidos a transformações consideráveis, às quais voltaremos. Assinalamos sómente um facto
muito importante: a aquisição da «postura crecta» (bipedismo),
367
A origem do homem
e portanto a possibilidade de locomoção veloz sobre as extremidades inferiores «<corrida»).
Na segunda fase, os hominídeos subhumanos atingem um nível comparável ao ponto de partida dos
hominideos humanos: efectuase neste período a passagem da fase subhumana à humana. É
extremamente difícil, como se
Orango Corlia Chimpanzê
H... pu,
Épa actual
Fig. 76. Esquema das linhas evolutivas entre os hominídeos (australopitecídeos e homens) e os
pongídeos (macacos antro
póides) (segundo Heberer, modificado)
verá, situar nesta segunda fase um documento fóssil, porque os seus limites superior e inferior
não estão nitidamente definidos, embora estejamos certos quanto à sua situação geocronológica.
Esta zona de passagem é localizável no Pliocénico Superior, não mais tarde e com muito poucas
probabilidades de ter sido antes.
A fase humana é caracterizada por transformações físicas, que se manifestam igualmente na esfera
psíquica. São
368
A origem do homem
particulamiente notáveis dois factos: forte irradiação adaptativa e progressiva cerebralização
nas linhas geológicas irradiantes, apresentandose como um fenómeno complexo e rítmico. Do ponto
de vista das transformações psíquicas observase um progressivo aumento de cultura. Na primeira
e na segunda fase realizase, numa cadeia de gerações que não atinge mais de 400000, a
hominização ou a humanização psicofísica (Vallois, 1958). Depois dela começa a fase evolutiva
que conduz à verdadeira humanidade. Temos assim um esquema de articulação geral da filogenia dos
hominídeos. Veremos agora, na base do segundo esquema (Fig. 77), diferenciarse mais exactamente
a problemática do esquema precedente e podemos comparar as hipóteses em causa. A direita da
escala cronológica (comparar o lado esquerdo do esquema) reconhecemos os estádios evolutivGs
percorridos pelos pangídeos no decurso da sua filogénese. No Pliocénico os pongídeos
transformaramse em típicos animais arborícolas, como acontece ainda hoje aos seus
representantes, os pongíncos e os gibões hilóbatas). Mas enquanto os pongíneos recentes são
especializados como animais arborícolas, com aptidão notàvcltnente desenvolvida relativamente à
sua locomoçã o sobre as árvores, a situação é totalmente diversa para o confuso e complexo grupo
da subfamília pongídea dos driopitecídeos do Miocénico, Inferior ao Pliocénico Inferior. Muito
provàvelmente deviam ser tipos prevalentemente préarborícolas, assim como os primitivos
procônsules. Estes eram capazes, assim como os hominideos e numerosos tipos símios (platirríncos
e catarríncos), de se deslocarem velozmente sobre as árvores valendose da sua capacidade
preênsil, mas não estando ainda adaptados em qualquer sentido, isto é, não tendo ainda as
proporções e as diferenciações das extremidades próprias dos animais arborícolas, noutros
termos, não tinham ainda membros anteriores relativamente compridos e as extremidades inferiores
suficientemente curtas, como é próprio da adaptação arborícola (> Sistemática dos primatas).
369
A origem do homem
continua sujeito a controvérsias; esta situação é ilustrada na Fig. 77 na coluna da direita. Há
três grupos de hipóteses. o ponto de inserção da passagem dos pongídeos aos
Fig. 77 Representação gráfica das hipóteses actualmente em discussão sobre a origem dos
hominideos a partir de antepassados nãohominideos. 1) Hipótese de uma derivação a partir de
seres arborícolas: 2) Hipótese da derívacão,a partir de seres préarborícolas: 3) Hipótese da
derivação a partir de antePw,sados protocatarríneos; TA11 zona de transição dos antroPóides
aos hominídeos: TAnI1 zona de transição do animal ao homeni; PH = préhominídeos; Eu = eu
hominídeos; Ar =
ArcantrOPídeos; Ta = Paleontropídeos; Ne = Neantropídeos;
O @ Oran90; O = Gorila; C @ Chimpanzé (segundo Heberer)
370
A origem do homem
horninídeos está situado no arco de círculo do esquema entre o Pliocénico Médio (talvez
Superior) e o Oligocénico (talvez Superior), ao longo do semicírculo indicado, se considerarmos
os três grupos de hipóteses como igualmente prováveis. Estas hipóteses consideram tipos
ancestrais diferentes para o ramo hominídeo e podem ser denominadas:
1) a hipótese dos arborícolas; 2) a dos préarborícolas, e 3) a dos protocatarríneos. Poderia
acrescentarse ainda uma quarta hipótese, que considera os hominídeos um «phylum» independente
que remonta a um antepassado tarsióide (a hipótese tarsióide).
Depois de superada a fase pongídeahominídea, teve início a fase subhumana da filogenia
dos hominídeos, com seres mais ou menos adaptados à vida arborícola.
Temos agora de analisar se estas três hipóteses têm a mesma legitimidade ou se qualquer
delas deve ser considerada mais preferível do que as outras. A avaliar pelo nome dos
especialistas indicados no diagrama (Fig. 77) pode calcularse a dificuldade desta decisão.
Nesta publicação não se pode, evidentemente, examinar a fundo este complexo problema. Remetese,
portanto, o leitor para autores que recentemente se têm ocupado do assunto. (Gregory, Heberer,
Kidin, Remane, A. H. Schultz e outros).
A teoria mais fundamentada, e portanto aquela que parece mais verosímil, é a que faz remontar os
hominídeos a antepassados préarborícolas (Heberer). Recordemos alguns pontos. Examinando a
teoria que atribui a origem dos hominídios a partir de pongídeos verificamos que a complexa
estrutura da coroa dentária dos hominóides (pongídios + hominídeos) (limitamonos a considerar a
estrutura dos molares inferiores) é condicionada, na sua combinação de caracteres, por um
correspondente sistema poligénico de factores hereditários formado por selecçãoadição de
sistemas mais simples. Uma idêntica repetição deste sistema poligénico é extremamente
improvável, e como tal pode ser considerado particularmente irrealizável, até se em idênticas
condições de adaptação fosse possível que se formasse estrutura análoga. Mas neste caso é válido
tudo quanto se disse a propósito da teoria geral da evolução: elementos e estruturas simples
podem repetirse; estruturas complexas não; são acontecimentos históricos únicos. Para
371
A origem do homem
as combinações de características a probabilidade de unia repetição é tanto menor quanto mais
complexa for a combinação. Por exemplo: o modelo dos molares inferiores nos horilinóides que se
observa na sua forma clássica nos pongídeos do Terciárío e que foi estudado por Gregory (Fig.
78), tem essencialmente a mesma estrutura em todos os hominóides e apresentase já na forma
oligocénica (Propliopíthecus, Parapithecus). É pouco provável que este
dos pongídeos. Contudo na subclasse dos pongíHy deos surge um tipo espeHy1d
cial de dentíção, já com
pletaniente desenvolvido Fig. 78. Modelo driopitecídeo dos nos driopitecídeos do Miomolares
inferiores nos liominí , . deos. Em baixo, à esQuerda e à cenico. Um belo exemplo
direita: Dryopithecus; em cima, à direita: Homo (esquemátlco). deste tipo é a dentadura Pr.
= Protoconide; Met = meta do Sivapithecus sivalensis, conide: Ent = entoconide; Hy @
HyPoconide; Hyld = hypoconulide um antropóide das mon
tanhas de Sivalik, no Panjab, na índia (Fig. 79). As características mais importantes desta
estrutura dentária estão presentes nos antropóides actuais (orangotangos, gorilas, chimpanzés):
incisivos relativamente grandes e oblíquos; caninos em forma de punhal; ranhura pronunciada
(diastema) entre os caninos e os incisivos superiores (para alojar os caninos inferiores);
primeiro premolar apenas com uma protuberância (vestibular) e uma aresta cortante para a frente:
com o canino superior constitui um dispositivo de tesoura (grupo canino heteromorfo);
paralclísmo da série de dentes a partir da ponta do canino até ao terceiro molar; particular
desenvolvimento ósseo no ângulo interior do queixo, etc. Em comparação com as mandíbulas dos
hominídeos, estas
372
A origem do homem
as combinações de características a probabilidade de uma repetição é tanto menor quanto mais
complexa for a combinação. Por exemplo: o modelo dos molares inferiores nos hominóídes que se
observa na sua fonna clássica nos pongídeos do Terciário e que foi estudado por Gregory (Fig.
78), tem essencialmente a mesma estrutura em todos os hominóides e apresentase já na forma
oligocénica (Propliopithecus, Parapithecus). É pouco provável que este
modelo (5 Y, como é chamado) tenha surgido várias vezes independentemente na história dos >
primatas superiores. Com base nestes indícios pode considerarse fundamentada a teoria que
pretende H@ @Yp F. que os hominídeos derivam P
dos pongideos. Contudo Hy na subclasse dos pongí
deos surge um tipo espe cial de dentição, já comHy1d pletamente
desenvolvido Fig. 78. Modelo driopitecídeo dos nos driopitecídeos do Miomolares inferiores nos
hominídeos. Em baixo, à esquerda e à cénico. Um belo exemplo direita: Dryopithecus; em cima,
a direita: Homo (esquemático). deste tipo é a dentadura Pr. = Protoconide; Met meta
do Sivapithecus sivalensis, conide; Ent = entoconide; Hy = Hypoconide; Hyld @ hypoconulide um
antropóide das mon
tanhas de Sivalik, no Panjab, na india (Fig. 79). As características mais importantes desta
estrutura dentária estão presentes nos antropóides actuais (orangotangos, gorilas, chimpanzés):
incisivos relativamente grandes e oblíquos; caninos em forma de punhal; ranhura pronunciada
(diastema) entre os caninos e os incisivos superiores (para alojar os caninos inferiores);
f@ T
primeiro premolar apenas com uma protuberância (vestibular) e uma aresta cortante para a frente:
com o canino superior constitui um dispositivo de tesoura (grupo canino heteromorfo);
paralelismo da série de dentes a partir da ponta do canino até ao terceiro molar; particular
desenvolvimento ósseo no ângulo interior do queixo, etc. Em comparação com as mandíbulas dos
hominídeos, estas
372
A origem do homem
características apresentam extraordinárias diferenças, tão grandes que é difícil considerar este
tipo de dentição, tão especializado e ligado a processos de adaptação, como o ponto de partida
para a dentição dos hominídeos. A dentição dos antropóides remonta a uma época remota e temse
mostrado estável até ao presente. Deve existir pelo menLs há 20 milhões de anos. Não é provável
que esta estabilidade filética se tenha interrompido no Pliocénico Superior, dando lugar a uma
fase de consideráveis mutações evolutivas que tivessem levado, num período de tempo
relativamente curto, ainda no Pliocénico, à dentição típica dos hominídeos; esta encontrase já,
de facto, completamente desenvolvida no Vilafranquiano, no Plistocénico Inferior, há cerca de
800 000 anos, entre os mais antigos hominídeos seguramente identificados como tais, os
autralopitecídeos. Mas se fizermos derivar a dentição típica dos pongídeos e a tipicamente
hominídea de uma estrutura intermédia comum podemos recuar até ao Miocénico, isto é, a
uma época na qual entre os pongídeos não faltavam formas ocasionalmente arborícoIas, mas
em que não existiam ainda animais arborícolas mor Fig. 79. Arcada dentária do
Sivapithecus fológicamente si.Valensis, antropóide terciário do Miocé
os n,coPliocénico de Sivalik, no Norte da índia diferenciad (segundo Gregory e
Helman) como tais (símios de membros anteriores longos como os pongídeos actuais). Numerosas
razões fazem pensar ser improvável que os hominídeos se tenham conservado arborícolas na fase
das florestas primordiais. Assim, por exemplo, as nossas crianças, antes de adquirirem a posição
erecta, usam as extremidades superiores como os animais plantígrados, pousando as palmas das
mãos no chão, isto é, não andam apoiadas nos nós dos dedos, como fazem os antropóides.
373
A origem do homem
A descendência dos hominideos a partir dos pongídeos, embora estejam presentes notórias
afinidades, documenta das particularmente pela coincidência serológica, parece bastante
improvàvel.
Examinemos agora a legitimidade da hipótese da descendência dos homínídeos a partir dos
protocatarríneos. Relativamente à hipótese de os hominídeos descenderem de antepassados pré
arborícolas há sómente uma pequena probabilidade, porque basta um exemplo a relação serológica
entre antropóides e hominídeos é muito clara; ela constitui um argumento decisivo contra
qualquer tentativa de fazer derivar os homínídeos de antepassados protocatarríneos não
antropóides. Como hipótese mais provável resta então a dos antepassados préarborícolas; mas
mesmo assim ainda tem, no arco de círculo da Fíg. 79, um intervalo considerável, em que
ignoramos qual é o ponto de onde emergiu a linha que conduziu aos hominídeos. Provisóriamente
fixamos a origem dos hominideos no Pliocénico Médio. Porém não sabemos em que região do mundo se
terá verificado este acontecimento (problema do «berço da humanídade»). Qual teria sido a área
originária: a África, a índia Setentrional, ou a Ásia Central?
O antepassado dos homínídeos só teèricamente pode ser reconstimído, o que se fez por diversas
vezes em seguida à publicação da obra de Darwin sobre a origem das espécies. Dispomos hoje porém
de material fóssil que então não existia. Particularmente importantes são as descobertas de
documentos fósseis, feitas desde os fins do decénio
194050, provenientes dos estratos de Miocénico Inferior e Médio da bacia de VitóriaNyanza
(Quénia). Tratase de antropóídes extraordinàriamente primitivos, que parece terem sido
susceptíveis de posterior evoluçã o. São os chamados procânsules (Proconsul africanus, Fig. 80),
cujo estudo foi feito por Le Gros Clark e Leakey numa monografia publicada em 1951.
Particularmente, o conhecimento dos seus membros lançou nova luz a respeito deste grupo. Trata
se de um tipo, como se observa na reconstituição representada na Fíg. 81 e das mais recentes
descobertas sobre a mão e o braço, que não possuía a estrutura típica dos animais arborícolas.
Podemos considerar o procônsul como um escalão na evolução dos hominídeos, o qual, por
374
A origem do homem
um processo de adaptação às condições ecológicas da floresta tropical húmida,
N teria desenvolvido uma linha evolutiva que, através dos drio Fíg. 8o. crânio do
Proconsul africanus (Repitecídeos, con “”tituição segundo Robinson). Novas inves
tigações farão talvez diminuir o prognatismo duziria ao escalão dos arborícolas típicos. Os
sobreviventes deste processo evolutivo seriam os antropóides actuais, cujo habitat tem todas as
características de uma área marginal de refúgio. Estão extintos todos os pongídeos do passado
não especializados como animais arboricolas. Pode porém terse originado outra linha evolutiva
numa forma proconsulóide, numa zona de bosques e estepes no decurso de um processo de
adaptação à vida, mediante um processo acentuadamente orto
s
electivo, que conduisse à aquisição da postura erecta (bípede) . A mão do hominídeo é um
órgão preênsil típico, que só podia terse desenvolvido na fase arborícola da filogenia dos
catarríncos. O pé humano evoluiu do pé prêensil. Isto resulta não apenas da sua estru
tura, ma
s também do facto de a mão ser preensil, pois não se pode admitir que a Fig. 81. Reconstituição
do Procon mão não tivesse sido sul afficanus. Museu Britãnico de formada em
ambiente História Natural (segundo Oakley
Wilson) nãoarborícola. O pé
375
A origem do homem
preênsil é ainda hoje claramente recapitulado na ontogénese (Fig. 82), ao contrário da
recapitulação, muito problemática, sugerida por alguns autores, das proporções das extremidades
dos animais arborícolas. Pode admitirse então a existência de um tipo de antepassados de
constituição proconsulóide (Fig. 81) mas sem as especializações que os procânsules revelam, por
exemplo na dentição, forma ancestral na base da dicotomia decisiva dos hominóides, no Miocénico
Inferior (um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde). Deve ter havido uma importante radiação
adaptativa: por um lado para a floresta tropical húmida; pelo outro para a estepe, e ainda
tendência para a especialização no sentido arborícola (linha dos pongideos) e ten
dência para o bipedismo (linha dos hominídeos). Esta segunda hipótese tem maior valor do
que a
primeira, e não vale a
ena falar da terp ceira. Na estepe a tendência para a posição erecta, favorecida por
Fig. 82. Recapitulação do pé preénsil este ambiente, permina ontogénese do homem. A
esquerda tiu transpor a zona de o pé de um macaco Rhesus (23 nun de altura de apoio): à
direita. do transição do animal Hovio (24 mm de altura de apoio), ao
homem, chegando reduzido ao mesmo comprimento (segundo Schultz) assim ao
hominídeo
humano. No decurso do longo caminho que levou à aquisição da «posição crecta» sucederam
certamente muitas transformações que hoje tentamos reconstituir. Fáloemos quando tratarmos dos
primeiros hominídeos humanos (australopitecídeos e pré _hominídeos). Por agora limitarnosemos
a aludir ao problema de saber se existirá material fóssil no período entre o suposto antepassado
proconsulóide e o TAH, vinculando portanto um período de cerca de 15 milhões de anos, que
significa talvez uma cadeia de 400 000 gerações.
Com esta pergunta penetramos num domínio de investigação fortemente incerto, mas nem por isso
menos interessante. Do grupo de descobertas de Baccinello (em
376
A origem do homem
Grosseto, na Toscânia), realizadas no Pontium (o Pliocénico Inferior, ou, na escala francesa,
Miocénico Superior), faz parte uma forma extraordinária, que recebeu o nome de Oreopithecus
bambolii. Este problemático hominídeo era já conhecido nos fins de 1870 ou pouco antes; todavia
há poucos anos (desde 1949), graças à análise morfológica e às novas descobertas de Hürzeler
(Basileia), cujas investigações incidíram sobre um rico material, voltou a encontrarse no
centro das discussões. Vasta colecção de crânios, mandíbulas, extremidades e dentes, tudo
naturalmente mais
ou menos fragmentado, está hoje à disposição dos estudiosos; em 1958 foilhe adicionado um
esqueleto inteiro. Estes achados originaram uma polémica, ainda em curso, sobre a posição
sistemáticoevolutiva deste ser extraordinário. Cronológicamente, o Oreopithecus preenche
satisfatóriamente uma grave lacuna, isto é, aquela que existe entre os australopitecídeos (os
mais antigos hominídeos do Plistocénico Inferior) e os hipotéticos antepassados arborícolas dos
hominídeos, de há cerca de 20 milhões de anos. O Oreapithecus remonta a 1012 milhões de anos. A
sua estrutura dá muito que pensar, porquanto possui uma combinação de características de difícil
interpretação. Em muitos autores todavia vai tomando corpo a convicção de que o Oreopithecus é
um dos primeiros hominídeos da fase subhumana (Hürzeler, Heberer, Kü1in, Pivetau, A. H. SchuItz
e outros), convicção que não é partilhada por Gutros especialistas, para os quais o Oreopithecus
é uma forma circopitecóide, um pongídeo ou mesmo um novo grupo entre os dois anteriores
(Koenígswald, Remane, Vallois, etc.).
Os primeiros molares inferiores, tipicamente com duas cúspides (Fig. 83), a disposição curva das
séries de dentes (Fíg. 84), a ausência de diastema (comparar a disposição dos dentes, com
diastema, dos pongídeos) caracterizamno como um ramo lateral dos hominídeos. O esqueleto
apresenta extremidades alongadas, mas sem as proporções típicas dos arborícolas. A bacia parece
ter tido largos ossos ilíacos, a coluna vertebral na parte superior indica ter sido muito
robusta, o que mostra talvez preferencia, na locomoção, para utilizar as extremidades
inferiores. Todas estas características, por si próprias, não bastariam óbviamente para
justificar a designação de homi
377
A origein do homem
«toolmaker» (construtores de utensílios). Também concordamos com tal definição, pois nesta fase
crítica o volume do cérebro só por si não nos permite qualquer conclusão sobre as suas
possibilidades funcionais.
Cronológicamente, a passagem do animal ao homem situase como já tivemos ocasião de observar
(Fig. 76 e 77) no Pliocénico Superior. Até agora, se abstrairmos do problema do Oreopithecus,
não possuíamos achados paleontológicos dos hominídeos do Pliocénico. Recente mente foram
descritos artefactos que remontam ao Pliocénico, mas a sua natureza de artefactos não foi
geralmente aceite. Julgase que alguns instrumentos de pedra («pebble tools») tiveram a sua
origem no Vilafranquiano Inferior. Teóricamente não há qualquer motivo que impeça reconhecer
aqueles utensílios como tal. Provouse estar errada a cronologia atribuída aos
australopitecídeos no Plíocénico, que se supõe já terem transposto a passagem do animal ao
homem. Não dispomos na realidade de material fóssil que remonte ao Pliocénico, mas o tipo
anatómico dos australopitecídeos legitima a ideia de os considerar como modelos estruturais dos
primeiros hominídeos. Constituem, por isso, também um modelo para o ponto de partida da grande
radiação dos «euhominídeos», ou hominídeos autênticos, tão característica do Plistocénico. (>
Paleontologia).
Os australopitecídeos = préhominídeos são já nossos conhecidos a partir de 1924, de uma
descoberta perto de Taungs, no Transval. Sucessivamente foram descobertos na África Oriental e a
leste e a sudoeste da Ásia. Dispomos hoje de restos fósse,s de mais de cem indivíduos.
Indubítàvelmenté que se trata de formas bípedes, nas quais a «posiçâo erecta» tinha conduzido já
a uma notável especialização morfológica. Até agora encontraramse cinco fragmentos de bacia. A
forma dela corresponde bastante à humana e diferenciase substancialmente dos ossos ilíacos dos
pongídeos semiortógrados, capazes ocasionalmente da posição erecta, e ainda mais dos dos símios
cinomorfos pronógrados. A coluna vertebral apresenta uma lordose lombar tipicamente humana. A
particular curvatura do segmento lombar e o deslocamento inferior dos músculos glúteos
constituem a premissa para a posição erecta. A estrutura humanóide da bacia foi estudada
minuciosamente
380
A origem do homem
e a Fig. 85 permite um confronto dos achados morfológicos dos pongídeos e dos hominídeos
ortógrados. As extremidades só foram encontradas até agora em achados fragmentários, mas de
qualquer maneira não parece diferenciaremse de maneira essencial das dos hominídeos humanos. Os
restos das extremidades mais antigas que se conhecem pertencem aos arcantropídeos (grupo
PithecanthropusSinanthropus) do Plistocénico Médio e pouco diferem dos de hoje. Isto indica uma
longa estabilidade, de então até à actualidade, da posição erecta e da sua base anatómica. Mesmo
que não conhecêssemos os australopitecídeos e esta era práticamente a situação depois do fim da
segunda guerra mundial pelo que respeita à estrutura do esqueleto póscraniano os primeiros
indícios do bipedismo teriam de ser localizados no Pliocénico. O crânio dos australopitecídeos
correspondia nas suas proporções, na relação entre o neurocrânio e o esplancriocrânio, às dos
pongídeos actuais. O crânio mais bem conservado (sem mandíbula, que no entanto é bem conhecido
através de outros achados) remonta a uma forma antiga denominada Plesianthropus (V) e agora
Australopithecus (seria preferível Australanthropuy) (> Paleontropologia), Fig, 97
Fig. 85. Confronto dos ossos iliacos dos pongídeos (antropóides) e dos hominídeos (homem). Da
esquerda para a direita: gorila, chimpanzé, Paranthropus australopitecídeo, Homo (bosquímano)
(seg1@@nd0 Le Gros Clark)
I a, b, foi encontrado em Sterkfontein, a uns 60 quilómetros de Joanesburgo. A Fig. 86 ilustra
de modo convincente esta semelhança de proporções, que poderia ser ainda maior se a comparação
fosse feita com um crânio de uma fêmea de chimpanzé, visto o crânio. do Plesianthropus per
381
rigem do homem
nídeo, mas, quando combinadas, adquirem um peso decisivo (por exemplo, os diâmetros
longitudinais das coroas dentárias são idênticos aos dos homínídeos), e tornase cada vez mais
improvável que tão complexa combinação de características tenha podido surgir
independentemente da linha filogenética dos horninídeos.
Recentemente tem sido defendida a existência de relações filogenéticas com a forma Apidium, do
Oligocénico Inferior (Simons). Segundo esta Fig. 83. Primeiro pretese, o Oreopithecus
seria um grupo `lar inferior do
Oreopithecus bambocom fortes convergências de caracte iii (à esquerda e do . chimpanzé à
direita) rísticas dos hominídeos. As pesqui (segundo Hürzeier) sas de Kummer
(Colónia) fazem admitir a probabilidade de o Oreopithecus ser dotado de locomoção hípede.
Se se confirmasse a opinião de que o Oreopithecus é de facto um hominídeo, isso significa: 1)
que a linha evolutiva própria dos horninídeos ficaria do@:umentada até aos limites do Miocénico
e do Plíocénico, isto é, um período no qual se encontram ainda animais arborícolas
estruturalmente especializados. Isto constituiria novo indício coritra a hipótese que admite
derivarem os hominídeos de pongídeos arborícolas; 2) o Oreopithecus seria o primeiro hominídeo
do Terciário estratigràficamente documentado de certo modo. O seu tipo corresponderia mais ou
menos à expectativa teórica; 3) é óbvio que o Oreopithecus apresenta certo número de
especializações; é caracterizado como
um habitante de regiões de floresta pantanosa (pântano carborífero de Baccinello) e pertence
a Fig, 84. Arcada dentária csauerdp@ uma linha lateral que superior do Oreopithecus
bamboliz não entronca na zona de (imagem no espelho) (segundo
Hürzeler) transição do animal ao
homem. Além desta complexidade do achado do Oreopithecus, não ainda reconhecido
unânimemente como hominídeo, mas com certa probabilidade de pertencer a um complexo hominídeo
subhumano, não temos outra prova fóssil da
378
A origem do homem
fase subhumana da filogenia. dos hominídeos. Neste caso, portanto, a asserção de Darwin acerca
da descontinuidade paleontológica é válida ainda. Tratase todavia de urna situação transitória.
No futuro devemos evidentemente esperar o aparecimento de novos testemunhos fósseis acerca dos
hGminídeos primitivos. Talvez num futuro próximo estejamos de posse de documentos que permitam
um notável desenvolvimento teórico. O contínuo acréscimo das colecções paleontológicas,
especialmente depois da guerra, permite este optimismo. Simons considera fortemente hominideos.
(pela forma da arcada dentária) os restos do maxilar do Ramapithecus brevis'ostris (Siwalik).
Anàlogamente, Leakey situa na proximidade da linha dos hominídeos os restos do maxilar do Quénia
(Kenyapithecus), que remontam ao Miocénico Superior.
Em todas as três hipóteses sobre a origem filogenética dos hominideos, esta apresentase
naturalmente no, final da época subhumana como a forma que consquistou plenamente a posição
bípede. A filogenia dos horninídeos, nomeadamente o problema do ponto em que se fez a sua
emergência, nada nos diz sobre outro aspecto importante, isto é, sobre qual a época em que
devemos situar a passagem do animal ao homem. Surgem aqui dois problemas do maior interesse:
1) Em que momento pode um hominídeo ser classi
ficado de humano?
2) Existem alguns achados fósseis de hominídeos que
possam ser insertos exactamente na passagem crítica do subhumano ao humano?
Concordamos com a opinião de K. P. Oakley de que um hominídeo humano não se reconhece
sómente pelos seus caracteres morfológicos por exemplo, pelo volume do cérebro mas
também pelas suas funções mentais, que, do ponto de vista palcontológico, se possam exprimir por
«utensílios», isto é, por instrumentos fabricados pelos hominídeos e destinados a determinadas
aplicações e reconhecidos claramente como tais. Isto torna~se difícil em certas condições, e por
vezes não é possível chegar a conclusões definitivas. Os hominídeos humanos foram definidos como
379
A origem do homem
«toolinaker» (construtores de utensílios). Também concordamos com tal definição, pois nesta fase
crítica o volume do cérebro só por si não nos permite qualquer conclusão sobre as suas
possibilidades funcionais.
Cronológicamente, a passagern do animal ao homem situase como já tivemos ocasião de observar
(Fig. 76 e 77) no Pliocénico Superior. Até agora, se abstrairmos do problema do Oreopithecus,
não possuíamos achados palcontológicos dos hominídeos do Pliocénico. Recenten@ente foram
descritos artefactos que remontam ao Pliocenico, mas a sua natureza de artefactos não foi
geralmente aceite. Julgase que alguns instrumentos de pedra («pebble: tools») tiveram a sua
origem no Vilafranquiano Inferior. Teóricamente não há qualquer motivo que impeça reconhecer
aqueles utensílios como tal. Provouse estar errada a cronologia atribuída aos
australopitecídeos no Pliocénico, que se supõe já terem transposto a passagem do animal ao
homem. Não dispomos na realidade de material fóssil que remonte ao Pliocénico, mas o tipo
anatómico dos australopitecídeos legitima a ideia de os considerar como modelos estruturais dos
primeiros hominideos. Constituem, por isso, também um modelo para o ponto de partida da grande
radiação dos «euhominídeos», ou hominídeos autênticos, tão característica do Plistocénico. (
> Paleontologia).
Os australopitecídeos = préhominídeos são já nossos conhecidos a partir de 1924, de uma
descoberta perto de Taungs, no Transval. Sucessivamente foram descobertos na África Oriental e a
leste e a sudoeste da Ásia. Dispomos hoje de restos fósseis de mais de cem indivíduos.
Indubitàvelmente que se trata de formas bípedes, nas quais a «posição erecta» tinha conduzido já
a uma notável especialização morfológica. Até agora encontraramse cinco fragmentos de bacia. A
forma &1a corresponde bastante à humana e diferenciase substancialmente dos ossos ilíacos dos
pongídeos semiortógrados, capazes ocasionalmente da posição erecta, e ainda mais dos dos símios
cinomorfos pronógrados. A coluna vertebral apresenta uma lordose lombar tipicamente humana. A
particular curvatura do segmento lombar e o deslocamento inferior dos músculos glúteos
constituem a premissa para a posição erecta. A estrutura humanóide da bacia foi estudada
minuciosamente
380
A origem do homem
e a Fig. 85 permite um confronto dos achados morfológicos dos pongídeos e dos hominídeos
ortógrados. As extremidades só foram encontradas até agora em achados fragmentários, mas de
qualquer maneira não parece diferenciaremse de maneira essencial das dos hominídeos humanos. Os
restos das extremidades mais antigas que se conhecem pertencem aos arcantropídeos (grupo
PithecaníhropusSin~hropus) do Plistocénico Médio e pouco diferem dos de hoje. Isto indica uma
longa estabilidade, de então até à actualidade, da posição erecta e da sua base anató mica.
Mesmo que não conhecêssemos os australopitecídeos e esta era pràticamente a situação depois do
fim da segunda guerra mundial pelo que respeita à estrutura do esqueleto póscraniano os
primeiros indícios do bipedismo teriam de ser localizados no Pliocénico. O crânio dos
australopitecídeos correspondia nas suas proporções, na relação entre o neurocrânio e o
esplancnocrânio, às dos pongídeos actuais. O crânio mais bem conservado (sem mandíbula, que no
entanto é bem conhecido, através de outros achados) remonta a uma forma antiga denominada
Plesíanthropus (V) e agora Australopithecus (seria preferível Australanthropuy) ( >
Paleontropologia), Fig. 97
Fig. 85. Confronto dos ossos ilíacos dos pongídeos (antropóides) e dos hominídeos (homem). Da
esQuerda para a direita: gorila, chimpanzé, Paranthropus australopitecídeo, Homo (bosquímano)
(segi@ndo Le Gros Clark)
I a, b, foi encontrado em Sterkfontein, a uns 60 quilómetros de Joanesburgo. A Fig. 86 ilustra
de modo convincente esta semelhança de proporções, que poderia ser ainda maior se a comparação
fosse feita com um crânio de uma fêmea de chimpanzé, visto o crânio, do Plesianthropus per
381
A origem do homem
tencer provàvelmente a uma fêmea. Contudo esta semelhança não justifica a conclusão de que os
australopitecideos tenham descendido directamente de antepassados tipicamente antropóides. A
análise das características morfológicas do crânio e dos dentes mostra que os australopitecí
deos são hominídeos típicos e não estão mais próximos dos recentes pongídeos do que nós
próprios.
No entanto é um facto que existem certas ligações com os pongídeos, assim como as há com os
hominídeos recentes. Se não as houvesse não teríamos razoes para postular a superfamília dos
hominóides.
Fig. 86. Comparação das propor E se os australopitecídeos, ções do eránio de um chimpanzé
(pontuado) e do Australopithecus como forma antiga dos hotransvaalensis (linha contínua)
(segundo Fleberer, 1956) minídeos, devessem apre
sentar aqui e além esta relação mais acentuada, não fariam mais do que confirmar a nossa
expectativa. Podemos comparar os australopitecídeos com os pongídeos actuais, mas da sua forte
semelhança não podemos concluir que lhes estejam mais estreitamente ligados. Eles estão mais
próximos das correspondentes formas ancestrais dos pongídeos, por efeito da convergência, no
passado, das linhas dos pongídeos e dos hominídeos para uma raiz ancestral comum, na qual há
identidade. Podem compararse únicamente factores mensuráveis, de outra maneira há possibilidade
de se cometerem graves erros e de se chegar a erradas conclusões. Do ponto de vista metGdológico
isto é muito importante, mas nem sempre se tem tido em consideração. A semelhança entre os
australopitecídeos e os hominídeos é particularmente evidente na dentição. A curva da arcada
dentária própria dos pongídeos, presente já no Miocénico e desde então conservada com
estabilidade no decurso da evolução (Fig. 79, Sivapithecuy sivalensis; Fig. 87, pongídeos
recentes), assim como o paralelismo das duas meias arcadas, que directamente podem convergir na
parte posterior, não
382
A origem do homem
existem nos australopitecídeos, que, pelo contrário, neste aspecto, se assemelha à dos
hominídeos. Nos pongídeos encontramos na mandíbula o grupo canino heteromórfico. Nos
australopitecídeos, como em todas as formas conhecidas dos hominídeos, e já também nos
oreopitecídeos, o primeiro premolar é «molarizado» com duas cúspides, das quais a interna é
relativamente desenvolvida. O canino não é em forma de punhal, mas de espátula, com o diâmetro
máximo da coroa mesmo no centro e não na base, como nos pongídeos. Assim, os australopitecídeos,
como os euhominídeos, têm um grupo canino homomórfico nitidamente hominídeo. Naturalmente,
falta o diastema. Se ocasionalmente se encontram pongídeos que no primeiro premolar têm uma
cúspide interna desenvolvida ou que não apresentam diastema, esta situação não é típica, mas
é a expressão de um potcncial de varia Fig. 87. Arcadas dentais superiores de antro
póides e hominídeos (homem). Em cima, ções que porém a esquerda: homem (australiano); ao
meio, .1 orangotango: à direita, chimpanzé. Em baixo, não é imprevisi três exemplos de
australopitecídeos (segundo vel. Tais varia Le Gros Clark ções devem ser
medidas e comparadas do ponto de vista estatístico, no que respeita aos seus valores médios. O
que se disse aplicase também à discussão sobre o oreopiteco.
É unânime a opinião de que os australopitecídeos, pertencem aos hominídeos, mas a que fase da
sua história evolutiva? Geológicamente são bastante recentes encon
tramolos, de facto, no Vilafranquiano, no plano inferior do Plistocénico e não devem de
qualquer maneira passar dos 800 000 anos. As formas australopitecídeas de Java (Meganthropus)
remontam também ao fim do Plistocé
383
A origem do homem
nico Inferior, e o mesmo encontramos na China. Alcançam assim uma época na qual já havia
hominídeos autênticos como os arcantropídeos. Do ponto de vista da sua estrutura esquelética,
tratase de formas bastante curiosas, como postura erecta e acompanhada de um crânio de
proporções tipicamente simiescas. A grandeza do cérebro neste grupo está compreendida
quantitativamente entre a dos pongídeos e a dos hominídeos mais recentes; isto não deve porém
induzirnos a considerálos como forma intermédia na passagem de uns para outros. A série
seguinte não é, portanto filogenética.
Grupo
Mínimo
Médio
Máximo
Hilobatídeos
80
95
140
Pongideos
290
450
685
Australopitecídeos
450
600
680
Arcantropideos
775
1000
1300
Paleontropídeos e neantropideos
850
1300
2100
Capacidade cramana dos hominídeos (valor em cm3) (segundo
Oakley e Tobias)
Os australopitecídeos tinham, portanto, pequena capacidade craniana; todavia, no seu campo de
variações supe
ravam os pongídeos e quase tocavam com h seu valor máximo no campo das variações cranianas dos
hominídeos mais recentes.
Naturalmente não se deve esquecer que a capacidade craniana iria(> é considerada por si só, mas
sempre em conexão com as dimensões do corpo. Se o cérebro de um gorila atingir a capacidade
craniana de 685 cm3, esta capacidade é proporcionada a um corpo de 250 quilogramas; se o cérebro
de um australopitecideo alcança a capacidade de 700800 cm3, correspondelhe um peso do corpo de
apenas 75 quilogramas. Nos australopitecídeos de mandíbula particularmente possante (megagnatos)
o grupo dos Paranthropus a área de inserção da robusta mus
culatura mastigatória sobre a superfície craniana, relativamente exígua, não era pois
suficiente. Desenvolveuse deste modo uma crista sagital mediana (Fig. 88). Não era uma
384
A origem do homem
Fig. 88. Os dois tiDos até agora conhecidos de australopitecídeos; à esquerda, AustraloPithecus;
a direita, Paranthropus (se
gundo Robinson)
reminiscência filogenética de antepassados providos de tal crista, porquanto as cristas sagitais
encontramse sempre também noutros animais quando a superfície do crânio é relativamente pequena
e os músculos mastigatórios relativamente potentes («enantioblásteo» de MoEison). A
morfologia da crista sagital dos australopitecídeos é diversa da dos pongídeos. Sâo for
@I@ mações funcionais P, C5I'FI@i análogas, ausentes nos exemplares femininos e nos
espécimes débeis. Em camadas do Plistocénico Médio na China encontraramse dentes e mandíbulas
particularmente possantes; pensouse a princípio tratarse de tipos de grande estatura, os
chamados «gigantes» (Gigantopithecus). Contudo, foi demonstrado que os parantropídeos,
caracterizados por grandes mandíbulas entre os australopitecídeos, não eram de grande estatura,
mas apenas megagnáticos. De resto não é impossível que os mencionados «gigantes» pertençam mais
aos australopitecídeos do que aos pongídeos. Mas a este respeito os estudos prosseguem. Hoje
conhecemse mais de mil dentes e três mandíbulas dos Gigantopithecus. A sua morfologia apresenta
semelhanças com os australopitecídeo,s.
As características somáticas que encontramos nos australopitecídeos fornecemnos do ponto de
vista estrutural mesmo se eles se separaram dos hominídeos posteriormente à fase da passagem do
animal ao homem, e portanto numa idade geológica relativamente recente um modelo morfológico
que é de supor tenha existido durante a fase da separação dos hominídeos. É provável que o tipo
mais remoto dos hominídeos se lhe assemelhasse em muitos aspectos. O psiquismo dos
australopitecídeos correspondia provàvelmente à sua estrutura morfológica. A capacidade craniana
era suficiente para representar um estádio primi
385
A origem do homem
tivo do «toolmaker», mas por enquanto ainda não estamos em condições de decidir se eles
fabricavam utensílios ou se se limitavam a servirse de objectos que encontravam na natureza. O
uso destes objectos devia estar já difundido há longo tempo e de modo, considerável na fase sub
humana; de outro modo não se poderia explicar a estrutura morfológica dos australopitecídeos. Do
ponto de vista psíquico, pertenciam já à fase humana. Não possuíam quaisquer adaptações
especiais de protecção, defesa (dentes), ou fuga, e por isso tinham de compensar esta situação
com uma capacidade cerebral de certo modo já superior. Mesmo que se tornasse evidente que os
australopitecídeos não fabricavam deliberadamente utensílios para resolver determinados
problemas técnicos, seria legítimo considerálos como modelos dos hominídeos humanos mais
primitivos. Presentemente não há unanimidade de opiniões a este respeito. A «cultura
osteodontoqueratica» (ossodentechifre), descrita por Dart, (com base em achados de
Makapansgat) é discutida, e a descoberta dos «pebbletools» e das amígdalas do tipo Oldoway nos
estratos nos quais se encontravam restos'de australopitecídeos parecem demonstrar que eles eram
mais caçadores do que caçados. Todavia não há motivos para que se lhes negue a aptidão para
manufacturar utensílios. A sua capacidade cerebral permitialho certamente. O facto de se supor
que não utilizavam o fogo não pode ser considerado como critério para estabelecer que se tratava
de seres subhumanos, porquanto o uso do fogo na fase humana também se verificou muito mais
tarde. Mesmo hoje, a prova mais antiga do uso do fogo continua a ser a do célebre depósito
fossilífero do Sinanthropus, em Chuku Tien, no, qual se encontraram restos que remontam a cerca
de 300 000 a 400 000 anos.
No decurso da filogénese dos primatas repetiramse radiações adaptivas (Fig. 76). Sempre que se
alcançou um tipo, favorável ou se chegou a novo nível de adaptação deuse uma radiação
adaptativa. A última foi a radiação miocénica dos pongídeos, e dela resultaram numerosos ramos
extintos na Europa, Ásia e África. Um ramo desta radiação é representado pelos hominídeos, que,
passando à vida na estepe no decurso do MiocénicoPliocénico, se subtraíram à característica
adaptação à floresta tropical.
386
A origem do homém
Em comparação com os pongídeos arborícolas especializados para a vida na floresta, os hominídeos
terrestres, caracterizados pela posição bí pede erecta, representam um «tipo ecológico aberto»,
que, com a maior plasticidade e sem modificações anatómicas essenciais, se adaptaram a numerosos
ambientes, tomandose c> seu biótipo quase universal. A posição erecta, a livre articulação da
mão e a cerebralização, com as suas correlações funcionais, constituíram a base da hominização.
São tudo condições alcançadas pelos australopitecídeos. A sua constituição somática
que se procurou reconstituir na Fig. 89 (claro que todos os traços fisionómicos são
hipotéticos) era de molde a não permitir a sobrevivência caso não fosse compensada
nas suas deficiências físicas pela eficiência cerebral. É este o motivo por que os
australopitecídeos têm sido até agora considerados como o tipo humano mais primitivo dos
hominídeos. Como diferem morfológicamente dos hominídeos superiores, são considera Fig.
89. Reconstituição do Austra
lopithecus transvaalensis. Museu dos uma subfamília Britânico de História Natural
(sedistinta (Australapí gundo Oakleywiison) ffiecinae) dos horíiinídios
superiores, que constituem por seu lado a subfamília Homininae. Para acentuar a hominização
autêntica deste último grupo empregase o prefixo «eu»: euhominídeos. Notese que os
australopitecídeos estão ligados a este grupo como préhomínídeos, mas o termo australopitecídeo
é agora de uso comum e como tal foi aceite.
Com o aparecimento dos hominídeos atingiuse um escalão de adaptação extraordinàriamente rico de
possibi
387
Palcontropologia
lidades. Foi neste escalão que no Plistocénico principiou a radiação euhominídea
(Paleontropologia). Os australopitecídeos podem portanto ser considerados, pelo aspecto físico,
como modelo da humanidade na sua fase de passagem do animal ao homem verdadeiro. De uma base que
não deve terse distanciado muito deste modelo, surgiu depois a primeira cultura humana.
Em conclusão: a evolução da estrutura física dos hominídeos acompanha paralelamente a sua
evolução psíquica.
O elemento físico e o psíquico são fenômenos complementares. As funções mentais que regem a
esfera psíquica evoluíram lentamente, sem saltos macroevolutivos, passando por uma série de
«pequenas transformações». Ambos os aspectos são expressões de um terceiro elemento que, na sua
essencia, não es amos em condições de definir (cfr. B. Rensch. 1959).
Paleontropologia A paleontropologia é a ciência dos hominídeos fósseis. Rigorosamente o seu
campo de pesquisa deve ser cronológicamente bem determinado, mas na realidade não é possível
fixar um limite inferior no tempo enquanto não se estabelecer qual a época em que se efectuou a
separação, dos hominídeos dos primatas mais primitivos, nem se conhecerem as formas a partir das
quais tal processo teve origem. Muitas vezes os trabalhos de palcontropologia são precedidos de
capítulos sobre a filogenia e a evolução dos primatas em geral, com base na anatomia comparada e
na paleontologia. Com efeito, sem um estudo comparativo dos primatas não é possível chegarse ao
conhecimento profundo da estrutura dos hominídeos. Também neste volume isso se fez (~> 07*igem
do homem; > Sistemática dos primatas).
Difícil é também estabelecer um limite superior cronológico para a paleontropologia. Denominam
se fósseis aqueles organismos cujos componentes orgânicos foram substituídos no todo ou em parte
por substâncias minerais. Ora é evidente que condicionando esse limite superior ao estado de
fossilização não se podem fixar idênticos horizoutes cronológicos, visto que o processo de
fossilização não se desenvolve em todas as circunstâncias com a mesma velocidade. No limite
superior do sector de pesquisa onde
388
Paleontropologia
se realiza a transição para a actualidade geológica existe uma fase «subfóssíl» à qual se segue
a época «recente».
Não se pode igualmente fixar um limite, do ponto de vista morfológico, como se poderia ser
induzido a concluir da expressão «Homo sapiens fossílís» sem sentido do ponto de vista
sistemático. Os representantes plistocénicos do Homo sapíens, completamente fossilizados,
transformaramse na era pósglacial, tanto no grau de fossilização como na sua morfologia, nos
representantes mais recentes. Alguns autores incluem na paleontropologia as investigações sobre
esqueletos préhistóricos relativamente recentes, como os do Neolítico ou da Idade do Bronze, ou
de fases até posteriores. Outros ainda recuam mais o limite superior dos estudos
paleontropológicos ou então renunciam a fixar qualquer limite. Os esqueletos das sepulturas
alemãs podem ser já considerados como documentos paleontropológicos? E em que sentido se devem
classificar os achados mesolíticos da antiquíssima Jericó (cerca de 8000 anos a. C.)? Pelo que
diz respeito às formas plistocénicas, a morfologia impede que surjam tais problemas; por outro
lado essas formas estão quase todas fossilizadas.
Como vimos, a fixação de um limite superior para a investigação palcontropológica apresentase
um tanto difícil. Neste artigo adoptouse o crité rio de mencionar tudo o que é manifestamente
típico do Homo sapiens, mesmo que se trate de achados plistocénicos completamente fossilizados.
Restringimos portanto a palcontropologia apenas à história evolutiva do Homo sapiens. Tal
limitação não é tomada no sentido absoluto, mas é a que melhor serve o fim deste artigo. Ocupar
nosemos então sómente da história evolutiva das espécies no Plistocénico até à origem do tipo
Homo sapiens. A complexa > história das raças deste grupo humano não é aqui tratada, porque lhe
será dedicado exclusivamente um artigo. Queremos assim obter um quadro claramente definido, pelo
menos do ponto de vista geológicocronológico e também morfológico.
O campo de investigação da palcontropologia começa com o intervalo de tempo no qual se realiza a
passagem do animal ao homem (enquanto não se obtém uma melhor documentação paleontológica esse
intervalo é datável teóricamente, com grande probabilidade, no Pliocénico Supe
389
Palcontropologia
ríor) e termina com o desaparecimento dos últimos hominídeos, não correspondentes porém ainda ao
tipo do Homo sapiens. No intervalo no qual se situa a passagem do animal ao homem não temos
documentos de hominídeos pertencentes ao Pliocénico, (anteriormente consideravamse como
pertencendo ainda ao Terciário alguns australopitecídeos (préhominídeos). Por este facto a
paleontropologia toma hoje como ponto de partida o aparecimento dos Primeiros representantes* da
fase humana na filogénese dos hominídeos. Estes primeiros representantes do ramo humano
pertencem, pelo menos, segundo os conhecimentos actuais, ao Plisto.énico Inferior
(Vílafranquiano).
MÉTODOS DA PALEONTROPOLOGIA. Definido o campo de investigação da palcontropologia, é agora o
momento de dizer alguma coisa acerca dos seus métodos de trabalho (> Métodos da
antropologia). Os métodos da paleontropologia não se diferenciam substancialmente dos da
paleontologia porque a palcontropologia não é mais do que o estudo palcontológico de um
determinado ramo de mamíferos, a família dos hominídeos.
1) CLASSIFICAÇÃO ESTRATIGRÁFICA E CRONOLóGICA. O CStudo científico de um achado fóssil começa
com a sua localização geográfica e cronológica, isto é, estratigráfica. Esta última é mesmo
bastante difícil especialmente quando se pretende certa exactidão. É relativamente fácil
estabelecer se um achado pertence ao Plistocénico, isto é, à era glacial, mas já é mais difícil
inserilo num determinado período glacial ou interglacial, e muito mais ainda situálo
rigorosamente num determinado estrato geológico. Neste propósito, a paleontologia tem um papel
decisivo (flora e fauna compreendidas). Recentemente foram também postos à sua disposição
métodos químicos, como o chamado método do flúor. Este permite a determinação quantitativa do
depósito, nos ossos, de iões flúor (provenientes da água subterrânea), com formação de
fluoropatites. O teor do flúor é então comparado com o existente nos restos contemporâneos da
fauna correspondente, da qual se conhece a idade estratigráfica. Em geral um teor de flúor de 1
3 por cento corresponde ao Plistocénico Inferior e um teor
390
Paleontropologia
de 1 por cento ao Plistocénico, Superior. A determinação da idade com o método do flúor permite,
em passado mais recente, datar uma série de achados fundamentais relativos à história fóssil dos
hominídeos. Este método também contribuiu para provar a falsificação do famoso Eoanthropus
Dawsoni (mandíbula de pongídio, recente e um crânio subfóssil, do tipo moderno, de Horno,
sapiens).
Em época recente, aos métodos da cronologia «relativa» juntaramse outros pela determinação
directa da idade absoluta. Determinações indirectas já são possíveis quando há a certeza de que
um achado pertence a determinado estrato, que se insere no esquema cronológico da cronologia
absoluta do Plistocénico. Mas este esquema, como se demonstra particularmente na «curva de
radiações solar (Milankovitch, Kõppen, Wegener: ver mais adiante) está sujeito a muitas
controvérsias e existem esquemas cronológicos que se afastam dele absolutamente. Assim, as
determinações directas da idade absoluta dos fósseis plistocénícos levaram a valores
extremamente diferentes dos admitidos no passado. O método que se reveste de maior importância
fundase na existência de um isótopo instável de carbono normal de peso atómico 12, o C” (método
do radiocarbono). Este isótopo formase na atmosfera do azoto sob a acção das radiações cósmicas
e está na relação constante de 1 : 13 . 101 de carbono normal existente na atmosfera. Os seres
vivos absorvem o carbono atmosférico, e com ele também a quantidade relativa de C”. Este
isótopo, quando da morte do organismo, desintegrase espontâneamente com um tempo de
desintegração de 5568 + 30 anos.
Como a partir do momento em que cessam os processos vitais o organismo não absorve mais C”, da
quantidade de radiocarbono, ainda existente num documento fóssil podese calcular a idade deste.
As determinações da quantidade do C” residual são efectuadas com o contador Geiger.
O método, não obstante alguns erros, tem muito valor. Hoje pode ser utilizado até à idade máxima
de 70 000 anos. Na sua esfera de aplicação está incluída, portanto, toda a história fóssil do
Homo sapiens e em parte a do Homem de Neandertal (cf. Zeugner, 1932, A. Ducrocg,
1957, e K. P. Oakley, 1964). O método do potássíoárgon (K/A) tem fornecido dados de grande
interesse para o
391
Paleontropologia
conhecimento da cronologia dos australopitecídeos. Da sua aplicação obtêmse resultados em
idades compreendidas entre um e dois milhões de anos.
2) ANÁLISE MÉTRICA E MORFOLóGICA. Em seguida à determinação cronológica e estratigráfica segue
se (depois de no local se ter procedido à conservação dos achados) a análise antropológica
(métrica e morfológica; > Métodos da antropologia. Como em geral se trabalha apenas com
fragmentos de crânios, de mandíbulas e de outras peças do esqueleto, e só raramente com
documentos completos, é necessário reconstituir o aspecto total do fóssil, ou pelo menos captar
a morfologia das características mais importantes, e apenas em parte relevantes no achado
original. A incerteza de tais reconstítuições é tanto maior quanto mais fragmentário for o
estado do fóssil. Um exemplo dos erros que se podem cometer por vezes é o da recente teritativa,
completamente fracassada, de reconstituir a mandíbula do Gigantopithecus fóssil, com base
nalguns dentes encontrados no Norte da China. O Gigantopithecus é um primata de grande mandíbula
(mcgagnato), cuja posição na classificaçã o é ainda incerta. Hoje já se possui a mandíbula
inferior, formada de três fragmentos encontrados na caverna de LiuCheng (Kuanghsi, China
Meridional).
Grande incerteza acompanha necessàriamente todas as tentativas de reconstituiçâo das partes
moles, por exemplo, da cabeça (cf. a Fig. 95), como o demonstra claramente a grande quantidade
de reconstituições que foram feitas do Homo neandertha'ensis. Não obstante, os ensaios de
reconstituiçao tem um valor heurístico que não se deve desprezar.
DIVISõES DO PLISTOCÉNICO. O campo da investigação da palcontropologia tal como foi definida há
pouco pertence exclusivamente ao Pfistocénico. Este período geológico e caracterizado, em
confronto com a era terciária, que o precede, por forte abaixamento de temperatura. As mudanças
climáticas são já notáveis no Pliocénico, atingindo o seu apogeu no Plistocénico. Durante o
Plistocénico, ou «época glacial», há uma alternância de periodos glaciais e periodos
intergIaciais, estes últimos relativamente quentes.
392
Paleontropologia
Os períodos de glaciação foram caracterizados pela formação de extensos glaciares, quer no
hemisfério boreal quer no austral (Fig. 93). Uma parte das águas do planeta transformouse em
gelo. O fenômeno provocou um abaixamento de perto de 100 m do nível dos mares e a emersão de
vastas zonas continentais, com importantes consequências geográficas, que por seu turno tornaram
possíveis vastas migrações da fauna. Por exemplo o arquipélago Malaio (ou Indonésia), que é já
muito importante do ponto de vista paleontropológico, por ser a pátria dos pitecantropídeos,
Fig. 90. Extensão dos glaciares do Plistocénico na éDoca da má
xima glaciação, a última (segundo Brinkmann)
no Plistocénico foi mais de uma vez uma península do continente asiático, o que se reflect*e
claraibentena história da sua fauna. Nos trópicos, aos períodos glaciais corresponderam
períodos de grande humidade (períodas pluviais). Nada se sabe de seguro sobre as causas
primitivas das glaciações (que também se verificaram nos períodos mais antigos da história da
Terra, por exemplo, no Pérmico). Às alternâ ncias dos períodos glaciais e interglaciais durante
o Plistocénico (Milankovitch e outros [Soergel, Kõppen, Wegenerl ) atribuíramse causas
astronómicas (oscilações das quantidades de radiações solares que atingiram a Terra) e sobre
esta base se fundamentou a famosa teoria hoje bastante duvidosa da curva da radiação, para a
determinação da cronologia absoluta da época glacial. As divisões do Plistocénico europeu estão
indicadas na tabela de p. 394, a qual indica simultâneamente a duração absoluta,
393
Paleontropologia
Divisão geológica
Milémos
Divisão arqueológica
Holocénico
Pósglacial
Idade do Ferro Idade Idade dos metais do Bronze
Neolitico
10
Mesolítico
Plistocénico uperior
2. e 3. Würmiano Período intergIacial
1. Mürmiano
120
Magdaleniano Solutriano
Aurignaciano
Paleolitico Superior
Mustieriano
Acheuliano Superior
Paleolítico Médio
Interglacial RissWürmiano
Plistocénico Médio
Rissiano
240
480
IntergIacial MindelRissiano
Acheúliano Médio Acheuliano Inferior Cheliano
Paleolítico Inferior
Plistocénico Inferior
Mindeliano
Interglacial GünzMindeliano
600
Abevilliano (Précheliano)
Günziano
Culturas mais antigas (?)
Quadro da divisão geológica e arqueológica do Quaternário
europeu, não à escala (modificado segundo Grahmann) em milénios, dos vários períodos (curva da
radiação). Günz, Mindel, Riss e Würm são os nomes dos quatro cursos
de água bávaros que a seu tempo permitiram caracterizar as quatro glaciações clássicas (Penck e
Brüchkner). Anteriormente ao Günziano prolongamse outros períodos frios de grande extensão.
Hoje o andar ou idade que vai do Pliocénico Superior ao Günziano (glaciação, de Günz) é chamado
Vílafranquiano. É caracterizado, entre outros aspectos, pelo aparecimento dos primeiros géneros
de mamíferos típicos do Plistocénico, como Elephas, Equus, Bos. Nas suas
grandes linhas, o Plistocénico dividese como segue:
Plistocéníco Superíor (Würmiano e 3.o intergIacial, RissWürmiano): do início do pósglacial ao
fim do limite superior do Rissiano.
394
Paleontropologia
Plistocénico Médio (Rissiano e 2.O interglacial, MindelRissiano): do Rissiano ao limite
superior do Mindeliano.
Plistocénico Inferior (Mindeliano e 1.o interglacial, GünzMindeliano e as precedentes
oscilações do Günziano): do Mindeliano ao limite inferior do Vilafranquiano, (precedentemente o
Vilafranquiano era considerado como fazendo parte do Pliocénico). A zona de separação entre o
Plistocénico e o Pliocénico (confinan@e com o Terciário) deve ser deslocada para cerca de dois
milhões de anos. Um confronto com as estratificaçõ es das várias fases da época glacial nos
diversos continentes é por enquanto difícil e não há possibilidade de se atingirem resultados
satisfatórios.
CULTURAS DO PALEOLíTICO. A tabela de p. 394 reproduz também o desenvolvimento das culturas
paleolíticas (Idade da Pedra). Os verdadeiros hominídeos são caracterizados pela capacidade, não
só de usarem utensílios, como também de os fabricarem intencionalmente. Nem sempre é possível
distinguir os instrumentos mais primitivos dos produtos naturais («eólitos»), e muitos, não só
no passado, como hoje ainda, são tomados por instrumentos construídos artificialmente, simples
seixos providos de qualquer casual aresta. O uso de instrumentos deve ter tido início muito
tempo antes do período no qual se efectuou a passagem do animal ao homem, na história subhumana
dos hominídeos. A constituição corpórea dos hominídeos, então filogenèticamente em via de
formação, necessitava desta compensação (> Origem do homem). Está até agora por esclarecer se
os calhaus facetados encontrados recentemente nos depósitos dos australopitecídeos, que
apresentam arestas cortantes, são realmente artefactos, isto é, utensílios, assim como continua
por solucionar o problema de se saber se os «coupsdepoing» amigdalóides mais primitivos (tipo
Oldoway), que foram também encontrados junto de certos fósseis de australopitecídeos, provêm de
hominídeos mais evoluídos do que os australopitecídeos e seus contemporâneos. Também a chamada
«cultura osteodontoquerática» (osso dentechifre) dos australopitecídcos, tal como é
apresentada por Dart, Fig. 2, está bem longe de ser indiscutível
e o mesmo se pode dizer também a respeito dos supostos
395
Paleontropologia
utensílios provenientes dos estratos do Pliocénico e do Plistocénico Inferior da Europa Central.
Em qualquer dos casos, porém, é em África, no Vilafranquiano, que apareceram os mais antigos
artefactos: calhaus rolados talhados nas extremidades «pebble tools»: «chopper» e «chopping
tool» (raspadores) no vale do rio Vaal e em Oldoway. Parece assim que já no Vilafranquiano os
homínídeos tinham atingido decisivamente o estádio de «toolinaker» (= fabricante de
instrumentos).
Ç Que podemos deduzir no que respeita ao ambiente * alimentação dos australopitecos nas suas
relações com * fabrico de instrumentos? A marcha bípede destes primatas tão singulares parece
estar de acordo com as condições climáticas em que viveram. A região era relativamente árida, de
modo que os australopitecos deviam estar adaptados à vida no solo e não à vida na florestas
(arborícola) como acontece com os antropó ides actuais. Contudo o ambiente ecológico de
Paranthropus parece ter sido diferente do de Australopithecus. O primeiro viveu em condições de
certa humidade, em áreas arborizadas pouco densas, cortadas por savanas, enquanto o ambiente de
Australopithecus era nitidamente mais á rido e sem cobertura florestal. A sua alimentação teria
sido em grande medida o reflexo destas condições ecológicas. Paranthopus era provàvelmente
vegetariano; mas Australopithecus teria sido omnívoro. As condições climáticas tomaramse mais
duras (aridez progressiva), a estação seca tomouse difícil de suportar, de modo que
Australopithecus seria forçado, em face da escassez do alimento vegetal, a nutrirse de
insectos, aves, répteis (provàvelmente de ovos) e pequenos mamíferos tipo de alimentação que
se tomou provàvelmente cada vez mais preponderante à medida que a aridez aumentou. Esta pressão
do ambiente deve ter conduzido a uma maior sobrevivência dos indivíduos mais inteligentes, mais
capazes de solucionar os inúmeros problemas levantados pela difícil procura do alimento, e
portanto actuando a selecção natural a favor daqueles que imaginaram utensílios, armadilhas e
armas para descobrir e capturar as presas (Robinson, 1961). Imaginar não significa,
obrigatóriamente, fabricar; numa primeira fase deve ter havido apenas utilização de objectos
(ossos, pedras, paus?)
396
Paleontropologia
para determinados fins e só mais tarde é que os materiais devem ter sido intencionalmente
trabalhados.
Um cérebro complexo é o principal carácter autênticamente humano que afasta o homem de todos os
outros primatas, e a invenção de instrumentos traduz sem dúvida a existência de um psiquismo
superior em relação ao dos precursores que não tinham esta aptidão. Todavia subsiste o enigma de
se saber se os primeiros precursores do homem moderno (sapiens) viveram sob condições duras ou
amenas
de ambiente.@
Parece que o primitivo Oldowiano e o Kafuaniano posterior (respectivamente do Oldoway, no
Tanganica, e de Kafu, no Uganda), constituíram a base da evolução cultural pelas sucessivas
indústrias amigdalóides. As amígdalas são instrumentos trabalhados nas suas duas faces e
susceptíveis de variados usos («bifaciais; falase também de culturas de núcleo). A cultura
amígdalóide como
parece hoje comprovado teve o seu centro em África, donde passou para a Europa (Ocidental),
alastrando depois pela Ásia até à india, enquanto na Ásia Oriental prevalecem, até à penetração
das culturas superiores, as culturas do «choppingtool». Os tipos originais amigdalóides
constituem o chamado Abevilliano (de Abbeville, em França) e remontam ao Paleolítico Anterior.
Isto tanto é válido para a Europa Ocidental como para a África Oriental. A indústria amigdalóide
mostra uma contínua evolução para tipos que revelam um notável aperfeiçoamento também do ponto
de vista estético. Chegamos assim ao Acheuliano (de SaintAcheuil, em França), muito expandido
geogràficamente sem influenciar, todavia, as indústrias de «choppingtool» e chega até ao
Paleolítico, Médio. Ao lado das indústrias já mencionadas («choppingtool», oldowiano,
amígdalas) encontramos as chamadas «indústrias de pedra lascada» e surge o problema se estamos
aqui perante fenómenos independentes (Clactoniano, Tayaziano) ou de «indústrias marginais»que
em quaisquer regiões poderiam apresentarse isoladas.
No Paleolítico Médio apresentase uma cultura muito complexa (Europa, Ásia Ocidental, Ásia Menor
e África) denominada Mustieriano (da caverna sobre a rocha de Le Moustier (em França), a qual
apresenta a verdadeira cul
397
Palcontropologia
tura do homem de Neandertal. O instrumento principal desta indústria é a ponta, extraída de uma
lasca comprida. Fabricava também raspadores e outros objectos. Um utensílio típico da África
Setentrional é a chamada «ponta pedunculada». Um fenómeno particular, que cronológicamente data
do Acheuliano Médio e que é de natureza exclusivamente técnica, é oferecido pelo Levalloisiano
(de Levallois, perto de Paris). Tratase de um processo especial mediante o qual, de um núcleo
prèviamente preparado por uma série de retoques, se destacam lascas. Também aí surge o problema
de se nos encontramos perante uma cultura autónoma ou não. O que sucede com mais frequência é
aparecerem utensílios levalloisianos isolados. Também se trataria aqui de uma ocasional
independência técnica? O Mustieriano atinge com os seus últimos derivados o Palcolítico
Superior. Para lá do Musticriano processase se bem que não se saiba ao certo se mergulha nele
as próprias raizes a cultura das lascas ou lâminas agudas do complexo Aurígnaciano (de
Aurignac, em França), a cultura do grupo Homo sapiens (Grahmann, 1952).
Estes são, sucintamente apresentados, os fenómenos culturais que pertencem ao sector das
investigações da paleontropologia. Até que ponto é que aos diversos tipos da indústria lítica
podem corresponder também determinados tipos antropológicos como artífices de tais tipos
culturais? É este um problema que deve ser tratado em presença dos documentos fósseis
palcontropológicos.
CLASSIFICAÇÃO SISTEMÃTICA. (> Sistemática dos primatas). O arranjo taxinómico dos verdadeiros
hominídeos fósseis (excluindo portanto os australopitecos ou préhominídeos) ainda hoje
apresenta sérias dificuldades, que não diminuem com o aumento de material proveniente das
escavações. Em grandes linhas, e apesar de tudo provisóriamente, podemse dividir os hominídeos
em três grupos:
1) Arcantropídeos; 2) Paleontropídeos; 3) Neaníropídeos (protoantropídeos, paleontropídeos e
fanerantropídeos na classificação de S. Sergi). Quando se trata de sistematizar neste esquema
urna série de achados manifestase grande divergência de opiniões. De qualquer maneira, o
sistema que aqui se apresenta figurado revelase útil do ponto de
398
Paleontropologia
vista prático. No futuro poderá ser completado e melhorado, com a articulação interna mais
correspondente à realidade. Quanto à nomenclatura actualmente utilizada, não há dúvida de que é
caótica. Com muita frequência, as formas fósseis encontradas recebem nomes de géneros e de
espécies que todavia não têm qualquer valor sistemático. Nomes, por exemplo, como
Pithecanthropus, Sinanthropus, Palaenthropus, Adwithropus, etc., podem ser compreendidos e
utilizados apenas como uma tentativa de definir descritivamente um fóssil, mas não no sentido de
lhes conferir uma posição sistemática definida.
Os australopitecídeos (préhominídeos), que representam um grupo sistemático na base
própriamente humana dos hominídeos, são tratados à parte (> Origem do homem). A formação com
os seus dois grupos (tipo Australopithecus e tipo Paranthropus) de uma subfamília Hominidac, ao
lado dos verdadeiros hominídeos, proposta pela primeira vez por Heberer, pode também considerar
se como uni arranjo provisório. Os achados mais recentes mostram que pelo menos a inclusão
destes australopitecos nos hominídeos humanos se pode demonstrar directamente com base no
material encontrado. Com efeito obtiveramse recentemente resultados decisivos. Em julho de 1959
L. S. B. Leakey, em colaboração com sua mulher, descobriu, nos estratos do Plistocénico Inferior
(Vilafranquiano) da célebre garganta de Oldowai (Tanganica), na orla da estepe de Serengeti
(África Oriental), os fragmentos de um crânio passível de restauro4 Estava muito bem conservada
a dentição maxilar (molares). Junto dos restos do crânio encontrouse uma indústria amigdalóide
do tipo primitivo (01dowaiano), com a idade absoluta de cerca de 1500 000 anos. Este crânio
pertence a um tipo que se insere claramente no grupo Paranthropug dos australopitecídeos (por
exemplo, Paranthropuy crassidens, de Swartkrans, no Transval). A nova forma oldGwaiana foi
designada pelo seu descobridor «Zínjanthropus» (do antigo nome egípcio «Zinj», para indicar a
África Oriental). Também o tipo Australopithecus está documentado. já não resta dúvidas de que
os australopitecídeos foram os criadores da cultura oldowaiana, sendo, portanto, fabricantes de
instrumentos.
399
Palcontropologia
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Palcontropologia
Nesta conformidade, representam por isso (> Origem do homem) os hominídeos mais arcaicos que
se conhecem.
Parece por esse facto legítimo incluir todos os grupos de verdadeiros hominídeos no género Homo.
Todas as designações genéricas que têm sido até agora propostas revelamse sem nenhum valor do
ponto de vista sistemático. Igualmente as denominações das espécies não possuem qualquer valor
sistemático e devem considerarse provisónas na sua maior parte. O mesmo se pode dizer no que
respeita aos aspectos genéticos do problema, porquanto não existe qualquer possibilidade de se
saber, com base no simples estudo dos fósseis, que formas classificadas como espécies distintas
não se comportaram na realidade como tal, mas sim como raças, dando lugar, portanto, a
hibridações. Na realidade só em poucos casos há qualquer probabilidade de se encontrar uma
população de híbridos. Por isso, aos numerosos nomes de espécies que no decurso das
investigações foram atribuídos aos hominídeos fósseis não podemos atribuir um correspondente
valor sistemático ou genético.
,A SITUAÇÃO ACTUAL DOS ACHADOS. Na breve descrição que segue e na caracterização dos grupos de
verdadeiros hominídeos fósseis não consideraremos os representantes do Homo sapiens fóssil
típico. (Eusapiens; > História das raças). Os mapas geográficos (Fig. 91) ilustram a
dístribuição geográfica dos principais grupos de hominídeos fósseis (compreendidos os
australopitecídeos). Os grupos estão reunidos, com os seus principais representantes, na tabela
de p. 400. Em 1952, sob a égide do XIX Congresso Internacional de Geologia, realizado em Argel,
foi publicado, sob a orientação de H. V. Vallois e H. L. Movius, o «Catalogue des Hommes
Fossiles», que contém uma lista completa de todos os fósseis hominídeos e dá informações sobre
as condições da descoberta, sobre a glaciação e a natureza desses achados. Este catálogo tem
sido continuamente actualizado (cf., entre outros, BouleVallois, 1952; Gieseler, 1957; Heberer,
1950; Piveteau, 1957).
1) Arcantropídeos (Homo erectus): o grupo não pode ser delimitado com rigor. Provisbriamente
podemos dividilo em dois subgrupos: um ocidental e outro oriental.
401
Paleontropologia
402
Paleontropologia
Fig. 91. 1, Expansão dos australopitecídeos. 1. Transval, 2. Garusi,
3. Java, 4. China
II. Expansão do grupo arcantopídeo e das formas présapiens.
1. Java, 2. Chuku Tien 3. Sul da China 4. Heidelberg, 5. Ternifine; I. Steinheim, II.
9wanscombe, III. @1ontéchevade, IV. Monte
Carmelo. V. KaiJera
III. Expansão do grupo neandertaliano e préneandertaliano e do grupo da RodésiaSaldanha. 1.
FranCa, 2. Bélgica Ocidente e Centro da Alemanha, 3. Espanha, 4. Itália, 4. Croá6a 6. Crimeia,
7. Norte de Africa 8. Palestina 9. Iraque, 10. Uzbehuistão;
1. Broken 11111. II.'Saldanha
403
Paleontropologia
A) Grupo ocidental: 1) Swcxtkrans (Transval), «Telanthropus capensis». Forma que se provou
pertencer aos estratos inferiores do Plistocénio Médio constituída por uma mandíbula, um
fragmento de mandíbula e parte da abóbada palatina. É duvidoso se se trata de um tipo
pertencente aos australopitecídeos ou já aos verdadeiros hominídeos. Alguns autores têm
sustentado que o «Telanthropus», que representaria a forma mais evoluída, sendo fabricante de
instrumentos líticos, teria expulsado os australopitecídeos, que viviam na mesma zona. Esta
hipótese, baseada nos achados mais recentes, feitos na garganta de Oldoway, já não parece
verosímil, pelo menos na versão mantida até agora. Os australopitecídeos também eram «tool
maker». O «Telanthropus» poderia talvez ser incluído no campo das variações do tipo Paranthropus
(mas contra esta hipótese milita, entre outras coisas, o ramo ascendente muito curto da
mandíbula).
2) Heidelberg (Alemanha). «Homo heidelbergensis» (ou «Eurantropo de Mauer» (do nome da caverna
onde foi encontrado, S. Sergi). O achado consta de uma única mandíbula, proveniente de um
estrato do Plistocénico Inferior, e é conhecido desde 1907. Pertence ao período interglacial
GünzMindeliano ou ao MindelianoRissiano. A existência de uma cultura primitiva de utensílios
(descrita recentemente por Rust, que fala de uma cultura heidelbergense) é posta em dúvida por
alguns especialistas (Oakley e outros). Do ponto de vista anatómico não há dúvida de que se
trata de um típico representante dos verdadeiros hominídeos. (Na Fig. 92 pode confrontarse a
maciça mandíbula de Heídelberg com a do grupo Paranthropus de Swartkrans, que é maior. Observa
se na de Heidelberg a dentição típica dos verdadeiros hominídeos e na de Swartkrans a redução
dos dentes anteriores e o relativo engrossamento dos posteriores)_
Poderseia, a este propósito, inserir aqui uma observação sobre o tamanho dos dentes e das
mandíbulas, que levou à chamada «hipótese dos gigantes» (> Origem do homem). Depois que na
China foram «descobertos», em farmácias chinesas, alguns dentes de extraordinário tamanho (v.
Koenigswald), nos últimos tempos foram encontrados também «in situ» dentes com as mesmas
caracterís
404
Paleontropologia
ticas, além de três mandíbulas de proporções gigantescas. A forma em questão já tinha sido
denominada Gigantopithecus por v. Koenigswald. Logo se estabeleceu polémica sobre o problema da
sua classificação: ou se tratava de hominídeos bípedes, o que era improvável por motivos de
estática, ou era um grande pongídeo cujas extraordinárias dimensões teriam superado as de um
corpulento gorila. Weidenreich admite a existê ncia de formas de grandes dimensões («gigantes»)
entre os ascendentes dos hominídeos autênticos. Além de existirem numerosos argumentos
contrários a esta ideia do ponto de vista da anatomia comparada e da genética, há ainda contra
esta hipótese o facto decisivo de o Gigantopíthecusser geológicamente muito jovem (Pei considera
provável que tenha sobrevivido até ao fim do Plis Fig. 92. Confronto entre as di
mensões da mandíbula do Parantocénico Inferior). Com thropus crassidens (em cima) e
do Homo heidelbergensis (em base no material hoje exis baixo) tente, parece que o
Gigantopithecus se avizinha mais dos australopitecídeos do que os pongídeos. Nâo, está
excluída a hipótese de instituir uma nova subfamília, a dos «gigantopitecídeos»
(Gigantopithecinae) que se incluiria quer nos pongídeos, quer nos horninídeos.
3) Ternifine (perto de Orã). Três mandíbulas e um osso parietal. Novos achados (195455) do
Plistocénico Médio que C. Arambourg, seu descobridor, denominou «Atlanthropus maw@tanicus». No
mesmo local foi encontrada uma indústria amigdalóide do período Acheuliano. Do ponto de vista
anatómico reconhecemse algumas analogias com o grupo oriental dos arcantropídeos, especialmente
com a forma chinesa «<Sinanthropus»). Podemos
405
Paleontropologia
portanto considerar a existência de uma polítipia no interior da linha evolutiva dos
arcantropídeos, não se podendo porém esperar uma estreita semelhança das várias raças, dadas as
grandes distâncias geográficas. A hipótese de uma relação directa com o «Sinanthropus» opõese
também a grande diferença cultural; no «Sinanthropus» uma cultura de «choppingtool», no
«Atlanthropus» já uma cultura acheuliana diferenciada. Geológicamente um pouco mais recente é um
fragmento de mandíbula descoberto em Casabla,nca.
4) Eyasi (lago Njarasa, África Oriental). Tratase de alguns achados descobertos por KAILarsen
em 1935 e reconstituídos de maneira muito discutível por Weinert.
O «Africanthropus njarasensis» é aqui recordado apenas como complemento, visto ser considerado
por muitos autores como um representante dos arcantropídeos. Mas na realidade a sua morfologia é
de tão difícil avaliação que não podemos incluílo nos arcantropídeos, tanto mais que remonta ao
Plistocénico, Superior. Tratase talvez de uma forma relacionada com os paleontropídeos.
Em 1960, também na garganta de Oldoway, juntamente com indústria amigdalóide abevilliana, foi
descoberto um crânio de arcantropídeo claramente diferenciado.
B) Grupo oriental; 1) «Pithecanthropus erectus». É o primeiro achado clássico de um
arcantropídeo; foi descoberto por E. Dubo@s (189192), próximo de Trinil, na ilha de Java. Entre
1936 e 1941 fizeramse novas descobertas de fósseis deste tipo (Fig. 97, 1 c), a cargo de v.
Koenigswald, em Sangiran, perto de Trinil. Tratase de achados que cronológicamente se situam no
Plistocénico Médio, talvez pertencentes à forma «modjokertensis» (Modjokerta), do Plistocénico
Inferior. Hoje possuemse conjuntamente os restos de cinco calotas cranianas, fragmentos de
maxilares e de mandíbulas, um fémur completo e os restos de quatro fémures (Fig. 97, 1 c;
reconstituição de Weidenreich). Caracteres morfológicos: forte platicefalia, a parte orbitária
do frontal formando um bordalete contínuo em viseira, forte arcada supraorbitária e acentuado
rebaixamento retroorbital da calota craniana (Fig. 93); forte prognatismo. A capacidade
craniana, que é inferior a 100003, no « Pithecantropus II» de Sangiran é sómentc
406
Paleontropologia
de 7503. A dentição é possante, com diastema 12 e C). Em norma occipital o crânio tem um
contorno pentagonal (Fig. 94). Um fragmento de mandíbula particularmente robusta, atribuída a um
provável «Meganthropus palaeojavanicus» pode estar mais próximo dos australopitecídeos do grupo
de Swartkrans. Hoje já não restam dúvidas de que os fémures pertencem ao «Pithecanthropus»;
deste modo fica assegurada a posição erecta com capacidade craniana relativamente pequena.
No seu tempo, houve grande entusiasmo com a descoberta do «Pithecantropus», que foi considerado
como sendo o desejado «missing link» (elo de ligação), e com certa razão, visto que o «Pithe
M canthropus» apresentava inorfológicamente alguns caracteres intermediários
A em relação, aos pongídeos. Ai Hoje parece muito provável que o
«Pithecanthropus» represente uma forma intermédia entre os pongídeos e os australOpi Fig.
93. crânios (eu)hominídeos tecídeos préhominídeos, em norma superior. Em cima, à
esquerda: Pithecanthropus; à diA maior parte dos auto reita: Sinanthropus; em baixo,
à esquerda: homem de Neanderres não é porém desta opi tal; à direita: Rodésia nião Ç,
os quais devem ter tido uma longa história independente relativamente à dos pongídeos. Quanto à
cultura dos arcantropídeos de Java, podese tomar em consideração o «Patjítaníum», uma cultura
de «choppingtool» diferenciada, pois ela foi encontrada no mesmo horizonte no qual não são
conhecidos restos de outros hominídeos. (quando muito dos australopitecídeos:) por exemplo, o
«Meganthropus»).
2) «Palaenthropus javanicus», de Ngandong (Java). Tratase da forma dos arcantropídeos mais
evoluída, descoberta em 1931 não longe do clá ssico depósito do «Pithe
407
Paleontropologia
canthropus» de 1891, sempre nas proximidades do rio Solo (Fig. 97, 1 d). O achado, que remonta
ao Plistocênico Superior, compreende restos de onzedoze calotas cranianas cujo estado faz supor
que naquela época era praticado o canibalismo e a caça às cabeças. A morfologia da calota
craniana parece justificar a hipótese que se trata de descendentes tardios do grupo
«Pithecanthropus». Os crânios revelam ainda forte platicefalia com proscopinia extremamente
acentuada. Não obstante as notáveis dimens3es (são na verdade os maiores crânios fósseis que
alguma vez se encontraram), a capacidade é relativamente pequena e oscila entre os 1100 e os
1235em3. De qualquer maneira não é razoável classificar o grupo de Ngandong como
«neandertalianos asiáticos», visto que se forem comparados com o Homo neanderthalensis surgem
diferenças consideráveis. É notável a superior capacidade craniana dos neandertalianos, que
oscila entre os 1300 e os 1700e3. Achamos
portanto preferível atribuir o grupo de Ngandong aos arcantropídeos, do qual se
representante mais ria o recente. A sua posterior evolução, que teria dado origem aos
australóides recentes («Homo sapiens australasicus»), (Weidenreich) deve ser considerada como
altamente improvável. A morfologia das Fig. 94. Crânios de (eu)hominÍ duas tíbias perinite
condeos em norma occipitai. Em Cluir que a posição erecta cima, à esquerda:
PithecanthrQ era já uma aquisição defipus; à direita: Ngandong; em . . baixo à
esquerda: homem de nitiva. Neandertal; à direita: Homo sa
piens 3) «Sinanthropus pe
kinensis» (Fig. 100, 1 e). Os achados fósseis do «Sinanthropus», descobertos na caverna de Chuku
Tien, perto de Pequim, constituem a mais completa herança fóssil de um tipo arcantropídeo do
Plistocénico Médio. Tratase dos restos de mais de quarenta indivíduos (catorze crânios e
mandíbulas de diferentes idades, perto de cento e cinquenta dentes e alguns frag
408
Paleontropologia
mentos de fémur e de úmero). O pn*meiro crânio foi descoberto pelo antropólogo chinês Pe@ em
1929, durante uma escavação dirigida por D. Black (que inventou o nome de «Sinanthropus»). As
escavações terminaram em 1937, em consequência da guerra sinojaponesa. Todo o material (acerca
do qual existem estudos monográficos de F. Weidenreích perdeuse no decurso da segunda guerra
mundial. Recentemente Pei e colaboradores recuperaram alguns restos (dentes e fragmentos de
extremidades). já antes se havia reconhecido estreitas relações morfológicas com os
arcantropídeos de Java (Fig. 97, 1 c).
Os tipos chineses e javaneses não podem constituir espécies diversas e muito menos géneros
diferentes. São preferíveis as designações de Homo erectus erectus (Java), Homa erectus
pekinensís (China) e Homo erectus soloensis (Java), considerandose as três formas como raças
diferentes. Talvez o Homo erectus soloensis possa ser considerado como uma espécie própria (mais
tardia), Homo soloensis.
Morfologia da forma chinesa: notável platicefalia, se
bem que a curvatura da calota craniana exceda a da forma javanesa. Notável desenvolvimento da
viseira supraorbitária com toros supraorbitais fortemente acentuados. Os volumes encefálicos
estão compreendidos entre os 1000 e os 1235cn@3. A dentição é muito forte e nos adultos os
dentes seguemse sem intervalos (diastemia). Também aqui o perfil do crânio em norma occipital é
«anguloso» e a norma vertical mostra a acentuada restrição pósorbital (Fig. 97, 1 e). A
recuperação das extremidades permitiu reconhecer entre os vários ossos uma proporção análoga
àquela que se revela na posição bípede erecta típica dos hominídeos. Provouse que utilizava o
fogo (o mais antigo achado seguro), e os instrumentos encontrados testemunham a existência de
uma cultura de «choppingtool», rica de tipos, o Chukutienium.
Baseado no achado dos dentes, sempre na China Meridional, recentemente v. Koenigswa2 descreveu
uma nova
forma do «Sinanthropus», o chamado «Sinanthropus officinalis». Antigamente supunhase que no
«Sinanthropus» se podia filiar a primeira formação dos caracteres raciais típicos dos
neantropídeos mongolóides (por exemplo, o
409
Paleontropologia
«orus mandibularis»). Esta interpretação não foi confirmada e desistiuse dela.
Eis assim, em grandes linhas, um quadro dos achados dos arcantropídeos fósseis. Naturalmente que
numerosos problemas foram omitidos. Do ponto de vista filogenético, os arcantropídeos foram
mesmo considerados os ascendentes dos palcontropídeos: esta afirmação é bastante problemática.
Pelo contrário, existe a opinião de que os arcantropídeos do Plistocénico Médio pelo menos os
tipos que se conhecem não representariam um estádio da linha evolutiva que conduziu à
sucessiva irradiação dos hominideos no Plistocénico.
C) Grupo SaldanhaRodésia: a classificação destes hominídeos africanos da última glaciação
sugere um problema. Alguns consíderamno um grupo especial dos arcantropídeos derivado dos
australopitecídeos em consequência de uma evolução particular; outros entendem incluílos entre
os paleontropídeos. Tratase, portanto, de formas que teriam atingido o estádio dos
neandertalianos. Estes não podem, porém, considerarse os representantes de um «neandertaliano
africano», tal como o tipo do Ngandong dos arcantropídeos da Ásia Oriental não representa um «
neandertaliano javanês». Constituem, portanto, um tipo «sui generis». Podemos por isso
considerar o interessante conjunto das formas SaldanhaRodésia como um grupo especial incluído
nos arcantropídeos, embora esta opinião não tenha aceitação geral. Até agora existem dois grupos
de achados: Broken. Hill (1921), Rodésia Noroeste e Saldanha (195253), perto de HopefiettI,
baía de Saldanha, 145 km ao norte da Cidade do Cabo. Designamos este tipo por «Homo rhodesiensis
(o gênero «Cyphanthropus», de Pykraft, não se justifica).
I) Broken Hill (Fig. 97, 1 f): o espólio fóssil é constituído por um crânio quase completo,
restos de maxilar e mandíbula e outros ossos pertencentes a diversos indivíduos. O crânio é de
dimensões consideráveis (comprimento,
206m), tem estrutura maciça, com fortes hiperesteoses, e a capacidade craniana é relativamente
pequena (1325=3). Os toros supraorbitais sã o muito desenvolvidos, a fronte é fugidia. A parte
superior do crânio é modelada de modo um tanto grosseiro. A parte óssea da face é enorme. De
410
Paleontropologia
qualquer maneira encontramonos perante um tipo cujos caracteres morfológicos apresentam
aspectos extremos, tão fortemente especializados que não é possível considerálo como um
precursor do Homo sapiens. Parece também errado ver no Homo rhodesiensis um ascendente dos
Negróides. A primeira vista a semelhança com o clássico homem de Neandertal parece
considerável. A curva occipitaI, entre outros aspectos, revela, porém, grande semelhança também
com os tipos de Ngandong e Sapiens, com este último sobretudo, pelo que respeita à posição e à
forma do buraco occipital (foramen magnum). Muito diferente da do «Homo neandertalensis» é porém
a estrutura do esqueleto póscranial, que pouca sensação teria produzido se fosse encontrado sem
o crânio, porquanto é essencialmente semelhante ao do Homo sapiens. Encontramonos portanto
perante um fenómeno análogo ao dos arcantropídeos asiáticos. Recentemente pôde resolverse o
problema da datação: estes restos remontam aos estratos mais recentes do Plistocénico Superior.
Os objectos encontrados junto dos restos fósseis correspondem à cultura protoStillbay
(Paleolítico Superior, Levalloisiano avançado).
2) Saldanha: uma calota (reconstituída com base em numerosos fragmentos postos a descoberto pela
erosão eólica) e um resto de mandíbula. A calota revela o tipo rodesiano, mas um pouco menos
acentuado; como apresenta caracteres menos extremos, pode ser considerada como forma
antecedente. Também do ponto de vista geológico revela maior antiguidade. Os utensílios
encontrados na mesma glaciação testemunham uma cultura amigdalóide (o chamado Stellenbosch V),
que corresponde ao Acheuliano até Stillbay. O principal significado do achado de Saldanha
reside, em primeiro lugar, no facto de ele vir confirmar, pelas suas características, o tipo
rodesiano de Broken HilI, demonstrando que ele não representa, como era sustentado por muitos
autores, um hominídeo recentíssimo atacado de hiperosteose, em parte patológica, em parte
geológica. Esta opinião apoiase também na circunstância de haver uma forte cariose dentária.
Talvez seja conveniente integrar neste tipo os achados de Eyasi «<Africanthropus»), de que já
tratámos (Gieseler).
411
Palcontropologia
II) OS PALEONTROPíDEOS. É bastante difícil definir as relações deste grupo de hominídeos em
comparação com os precedentes, como o demonstrou a discussão dos achados de Ngandong e da
Rodésia. O grupo central dos paleontropídeos é constituído pelos «neandertalianos» (os
euneandertalianos) e os seus imediatos predecessores (os «préncandertalianos»). Examinemos em
primeiro lugar as formas cuneandertalianas típicas.
A) Neandertalianos «clássicos»: conhecemos este conjunto de formas da época da sua clássica
descoberta numa caverna em Neandertal, perto de Düsseldorf, em 1956 (>História da
antropologia). Hoje temos conhecimento de cerca de cento e trinta indivíduos (por vezes
tratase apenas de dentes e de pequenos fragmentos de maxilares, mas conhecemse também
esqueletos inteiros e muitos crânios) e continuamente surge novo material.
Cronológicamente, são os seguintes os achados mais importantes: Gibraltar (Forbe's Quarry),
1848; sómente em 1964 se reconheceram nestes documentos as características do tipo
neandertaliano; Neandertal («igreja de Feldhof»), 1856; Spy (Bélgica), 1886; La Chapelle aux
Saints (França), 1905; Le Moustier (França), 1908; os restos fósseis foram destruidos pelos
efeitos da guerra; La Quina (França), 190821; La Ferrassie (França), 190912; Monte Circeo
(Itália), 1939, e recentemente Petralona (Grécia).
Os achados deste tipo, todos considerados expoentes do neandertaliano «clássico», remontam à
última glaciação (período Würmiano) e prolongamse até a dois terços da mesma. Nalguns locais
estes últimos representantes do tipo neandertaliano parece terem sido contemporâneos dos
neantropídeos (tipo Sapiens). A difusão geográfica do grupo euneandertaliano é mostrada na Fig.
91 (mapa III).
A fim de descrever este tipo utilizamos o crânio do esqueleto de La Chapelle aux Saints (Fig.
97, 11 a e b). A calota craniana sobressai pelas suas proporções excepcio.nais, às quais
corresponde também um volume encefálico relativamente elevado. Ultrapassa, em média, o do Homo
sapiens (1500em3 no macho, 1350 na fêmea), com um valor máximo de 1723en,3 (Spy II). Se
abstrainnos da altura do crânio, todas as medidas cranianas devem ser consideradas excessivas.
O comprimento do crânio supera
412
Paleontropologia
os 190 nim em todos os adultos do sexo masculino, algumas vezes até os 200; a largura oscila à
volta de 150 mm.
O índice cefálico, de cerca de 7076 (da dolicocefalia à mesocefalia), nada revela de
particular. Também as outras dimensões apresentam valores superiores aos de quaisquer raças
actuais, apenas a altura do crânio constitui excepção.
Estas grandes dimensões do crânio são acompanhadas de estrutura maciça e de morfologia
característica. Antes de tudo notase um forte toro supra orbitário, que forma uma viseira
contínua de uma sutura frontozigomática para a outra. Parte da arcada supraciliar confundese
com a supraorbital, enquanto nos neantropídeos, à parte poucas excepções nas raças primitivas,
há apenas um relevo da arcada supraciliar e mesmo assim pouco desenvolvido.
O percurso do perfil sagital médio do neurocrânio, (em norma lateral) (Fig. 97, 11 b) mostra
notável platicefalia; a fronte é fugidia. A região occipital apresenta forma. cónica, com
encurvamento relativamente pronunciado para a secção basal. Em norma vertical (isto é, para quem
observe de cima) é claramente visível a forma alongada do neurocrânio (Fig. 93) e um forte
estreitamento retroorbital. Em norma occipital, o contorno tipicamente neandertaliano do crânio
delimita um largo oval arredondado, não tendo já a forma pentagonal mais ou menos acentuada, que
se .acompanha, nos arcantropídeos, de maior largura na base nem tãopouco apresenta ainda o
desenvolvimento aproximadamente vertical dos parietais, que é uma característica dos
neantropídeos (Fig. 94). Do ponto de vista morfológico, destacase no neurocrânio, o fraco
desenvolvimento da apófise mastoidea. Esta estrutura característica do neurocrânico é
acompanhada de outros aspectos igualmente bem definidos: faces e maxilares muito grandes com
órbitas grandes e arredondadas; ampla abertura nasal, etc. A cabeça é volumosa, com a parte
facial bastante desenvolvida em relação à porção craniana. O oeciput é saliente e comprido no
sentido da vertical. Maxilares superiores desprovidos de fossas caninas; regiâG facial comprida,
com os ossos malares achatados e fugidios. Maxila inferior robusta, de largos ramos ascendentes.
O mento é rudimentar ou ausente. Toda a face, que é longa, apresenta a forma de um verdadeiro
«focinho». A dentição do neandertaliano,
413
Palcontropologia clássico conhecemse de trezentos a quatrocentos den~ tes é maciça mas
tipicamente «humana», sem indícios de diastema ou quaisquer características particulares que
poderiam fazer pensar numa descendência a partir dos pongídeos. Relativamente ao neurocrânico, a
face é notàvelmente maior do que é habitual nos crânios dos nean~ tropideos.
Também acerca do tronco e das extremidades do neandertaliano se têm noções relativamente
precisas, se bem que se disponha de muito menos esqueletos do que de crânios. As extremidades
têm forma maciça e grosseira, os fémures apresentam um encurvamento para a frente, o antebraço
possuí um vasto espaço interósseo entre* o rádio e o cúbito. A velha opinião de que a postura
erecta do homem de Neandertal não era completa, pois que ele tinha a cabeça muito inclinada para
a frente, tem de ser abandonada com base nas recentes considerações relativas às vé rtebras
cervicais e às articulações da tíbia. O neandertaliano possuía a posição erecta comum ao homem
actual. A altura do seu corpo devia oscilar entre os 155 e os 165 em; tratavase, portanto, de
homens de fraca estatura. Os crânios de criança que foram descobertos (os mais importantes:
TechikTach, na República do Uzbequistão; Pech de l'Azé; La Quina) mostram os caracteres
neandertalianos na idade infantil.
A distribuição geográfica que se vê no mapa III (Fig. 91) permite reconhecer que até agora não
são conhecidos neandertaliaws típicos na África ou na Ásia Oriental. Sobre a origem e o destino
do grupo neandertaliano, as opiniões não são ainda unânimes. Em primeire, lugar não é possível
estabelecer se os neandertalianos constituíam uma verdadeira espécie, diferente da do Homo
sapiens (Neantropídeos): se assim fosse, a denominação «Homo neanderthalensis» seria
justificada; caso contrário, isto é, se a diferença em relação ao Homo sapiens fosse apenas de
natureza racial, teríamos de designálo por «Homo sapiens neanderthalensis». De qualquer
maneira a peculiaridade morfológica do neandertaliano clássico é bastante acentuada para
permitir manter a hipótese de se tratar de uma espécie independente. Contràriamente à
denominação, muito utilizada no passado, de Hamo primigenius» (Wilser, 1904),
414
Palcontropologia
passou a ter o nome de «Homo neanderthalensis» (King,
1864), que tem a seu favor, entre outros, o argumento da prioridade cronológica. Em qualquer
caso, com o nome «ncanderthalensis» fica delimitado um grupo morfológicamente bem definido.
O problema da origem do grupo não pode ser tratado antes da descrição dos préneandertalianos.
Mas quanto ao destino filogenético do neandertaliano clássico, há certa unidade de opinião. Pode
considerarse estabelecido o seguinte: no sentido evolutivo não houve passagem das populaçõ es
do tipo neandertaliano clássico às populações do tipo Sapiens; o neandertaliano clássico da
glaciação de Würrn é antes uma forma particular do homem do Plistocénico Superior adaptado à
área préglacial extinta no decurso da mesma glaciação; na sua extinção tomaram parte activa,
provávelmente, os neantropídeos do grupo Sapiens que, vindos do Oriente, os expulsaram ao
ocuparem a sua área de distribuição. É possível que tenha havido uma troca ou fluxo genético (>
Genética das populaç6es) entre as populações neandertalianas e Sapiens, que habitassem já a
mesma região. Mas esta símpatria (existência na mesma área geográgica) e hibridização (talvez
expressa pelos achados do Monte Carmelo, na Palestina) não teve qualquer importância do ponto de
vista filogenético. Podemos por isso considerar os neandertalianos típicos como um ramo que se
extinguiu sem deixar descendência. O tipo neandertaliano, foi o criador da cultura mustieriana
(pontas de pedra trabalhadas).
B) Préneandertalianos. Enquanto os paleontropídeos euncandertalianos pertencem à última
glaciação, na fase antecedente, no período interglacial RissWürmiano, aparecem diversos tipos
de hominídeos entre os quais os chamados «préneandertalianos» podem ser considerados como a
base filogenética da qual provém o cuncandertaliano. ‘
Os achados mais importantes são: WeimarEhringsdorf. (Alemanha), 1914 e 1916 (mandíbula), 1925
(calota craniana); Krapína (Croácia), 1895, 1899, 1905 (fragmentos d@ vinte indivíduos);
Saccopastore (Roma), 1929, 1935 (dois crânios); Ganovce (Eslováquia), 1926 (calco endocraniano e
restos de crânio); Gibraltar, 1848 (?) (fragmentos de crânio).
415
Palco ntrop ologia
Os préneandertalianos possuem as características dos euneandertalianos mas de forma menos
acentuada: a estatura era inferior, menor a capacidade craniana e superformações ósseas (por
exemplo, toros supraorbitais) menos acentuados, traços da fossa canina, etc. Podem servir de
exemplos a calota craniana de WeimarEhringsdorf (Fig. 57 b) e de Saccopastore (Fig. 97, 11 c).
Não existe qualquer argumento ponderoso contra a hipótese de o tipo neandertaliano clássico
remontar de facto, filogenèticamente, ao préneandertaliano, do último período intergIacial. Os
préneandertalianos representam portanto, verosimilmente, o ponto de partida do processo
evolutivo que devia mais tarde terminar nos neandertalianos típicos e, por sua
vez, poderiam remontar aos arcantropídeos, sem, porém,
uma morfologia tão acentuada como a que exibem as formas chinesas e javanesas deste último
grupo. Ififelizmente, dos arcantropídeos ocidentais (Heidelberg, Ternifine) conhecemos apenas a
estrutura da mandíbula e nada se sabe acerca do crânio. Não é de excluir que o ramo
palcontropídeo dos hominídeos do Plistocénico possa ser considerado como relativamente próximo
Fig. 95. Reconstrução do dos australopitecídeos que neandertaliano clássico (se
gundo Heberer) conhecemos. E talvez a este
respeito possa auxiliarnos a
constituir um ponto firme o recente achado de Leakey, na África Oriental, denominado «Hamo
habilis».
f Neste ponto surgem, porém, dúvidas. Homo habilis é decerto um hominídeo, ‘ talvez um
australopitecídeo bastante evoluído, vizinho provàvelmente do escalão dos pitecantropídeos. A
sua posição é, porém, ainda duvidosa. As futuras investigações talvez decidam se se trata de uma
espécie distinta do género Homo, ou se, pelo contrano, é um australopitecídeo ou mesmo um
pitecantropídeo (seg. dados em Brace and Montagu, 1965: 210211).Ç Não
416
Palcontropologia
podemos esperar que os tipos do Homo erectus da China e de Java sejam os antepassados directos
dos neandertalianos, hipótese que não é de resto do consenso geral. Um achado recente perto de
Mont Maurin, em França, de uma mandíbula que remonta ao último período interglacial revela de
resto uma posição intermédia entre a mandíbula de Heidelberg e os neandertalianos e lança uma
ponte entre os arcantropídeos e os paleontropídeos ocidentais. Podese, portanto, em primeira
aproximação, fixar uma sucessão de tipos Heidelberg, Mont Maurin, préneandertalianos,
euneandertalianos. Na sua parte evolutiva basilar esta sucessão é porém demasiadamente escassa
em documentos.
Entre as diversas tentativas (cf. Kurth, 1958) de reconstituição da cabeça do neandertaliano
clássico podemos apresentar a do próprio autor deste artigo (Fig. 95). Tratase de uma
reconstituição sem pretensões à infalibilidade. É óbvio também que o aspecto fisionómico é
absolutamente hipotético; todavia se lhe supusermos uma densa barba, que deve, com certeza, ter
existido, mas da qual abstraímos aqui para melhor poder revelar a região mandibular, a cabeça
assim reconstituída é uma figuração plástica que tem certas probabilidades de ser fiel ao
original.
III) OS NEANTROPíDEOS. O grupo polimorfo constituído pela espécie Huma sapiens só será aqui
tratado até ao primeiro aparecimento do tipo (eu)sapiens moderno, isto é, até surgirem os
primeiros representantes da raça do Cro ~Magnon da última glaciação. A opinião anteriormente
defendida de que o tipo (eu)sapiens tivesse derivado directamente dos neandertalianos clássicos
corresponde aos conhecimentos da palcontropologia do primeiro quartel do século xx. Os dados
modernos sugerem porém que situemos o início da história evolutiva do verdadeiro Homo sapiens,
isto é, dos neantropídeos, pelo menos no período intergIacial RissWürmiano. Com efeito, não só
na última glaciação há claros indícios de existir o tipo Sapiens, como já no precedente período
interglacial (RissWürm) está feita a prova directa da existência, além da dos neandertalianos,
de formas que preludiaram o Homo sapiens. Estes restos remontam ao período interglacial Mindel
Riss. Mencionamos aqui só de passagem a famosa falsificação do «Eoan
417
Paleontropologia
thropus Dawsoni» (190815), que, atribuído primeiro ao Plistocénico e em seguida ao Plistocénico
Inferior, constituíacom a sua combinação de características de pongídeos (fragmento de
mandíbula) e de hominídeos modernos (fragmentos da calota craniana) um achado absolutamente
surpreendente. Esta falsificação, executada com enorme perícia, deu origem a grande
controvérsia, até que, em
1953, com o teste do flúor e outros métodos, se demons
Fig. 96. Reconstituições de homens fósseis: da esquerda para a direita: Steinheim, CroMagnon,
La Chapelle aux Saints,
ChukuTien, Skhul 5 (segundo Maurice P. Coon)
trou que se tratava de fraude. Com o Eoanthropus desapareceram as dificuldades que se apunham à
formulação de uma teoria da filGgenia humana. Outros achados de Humo sapiens, considerados
antigos (Galley ILII, Oldoway, Kariam) são eliminados das nossas considerações devido à sua
datação, manifestamente errada ou duvidosa.
A) Grupo présapiens. Os mais antigos documentos que mostram caracteres típicos do Homo sapiens,
ainda que sob forma arcaica, remontam ao Plistocénico Médio. Incluimos provisoriamente no grupo
presapiens todos os os neantropídeos que precedem o aparecimento do tipo (eu)sapiens:
1) Kanjera (África Oriental, 193132. Os achados constam de vários fragmentos de calotas de
quatro crânios.
418
Paleontropologia
No estado actual das pesquisas, os achados não estão ainda geolègicamente identificados. O seu
descobridor, L. S. B. Leakey, propende para o Plistocénico Médio. No caso de esta hipótese se
confirmar os achados revestemse de excepcional importância para a filogenia do tipo Sapiens,
visto que as calotas (particularmente a terceira) mostram claramente caracteres próprios desse
tipo. A região frontal, por exemplo, apresenta conformação semelhante à do homem actual, sem o
mínimo vestígio do toro supraorbital. No momento, porém, a ciência conservase, perante os
achados de Kanjera, em atitude de expectativa.
2) Steinheim sobre o Murr (Alemanha Meridional),
1933. Tratase de um crânio que se pode datar com certa segurança e cuja morfologia é muito
interessante (Fig. 97, II e). Dada a presença, entre a fauna que o acompanha, de restos do
«Elephas antiquus», o achado deve partencer ao período interglacial MindelRissiano
(Plistocénico Médio). Infelizmente o crânio não era acompanhado de restos culturais. Sobre a
importância deste fóssil a opinião e unânime: possui caracteres bastante próximos do tipo
Sapiens, que se revelam especialmente na forma da região occipital (curva sagital com occipício
arredondado, curva transversal com desenvolvimento «pentagonal»). Esta morfologia é acompanhada
de urna fronte com toro supraorbital um tanto marcado; além disso existe uma nítida fossa
canina. As opiniões sobre estes caracteres são ainda contraditórias. De resto falta ainda um
estudo monográfico aprofundado sobre este fóssil. Não parece oportuno, em todo o caso, incluílo
no complexo neandertaliano, e portanto nos palcontropídeos. Se o fizéssemos a amplitude de
variação deste grupo seria levada demasiado longe e falsearseia a realidade dos factos. já foi
afirmado, e com razão (Le Gros Clark e outros) que as diferenças entre Steinheim e os
neantropídeos são demasiado reduzidas para que possa justificarse a sua relacionação estreita
com os neandertalianos. A presença dos toros supraorbitais, análogos aos dos neandertalianos,
pode ser devida a evolução paralela, a uma aquisição independente, perante wn tipo présapiens
caracterizado pela presença de uma conformação proscopínica. De qualquer forma o achado de
Steinheim revela que já muito cedo, no Plistocénico, se devem ter
419
Palcontropologia
Paleontropologia
desenvolvido alguns caracteres morfológicos típicos do Homo sapiens.
3) Swascombe (Inglaterra), 193536 (Fig. 97, 11 f). Os achados constam de um occipital, de um
parietal esquerdo e de outro direito; remontam ao Plistocénico, Médio (período interglacial
MindelRissiano). Os fragmentos, submetidos a uma série de observações (mensurações, estudo
anatómico, etc.) revelam nítida afinidade com o tipo Sapiens e particular semelhança com
Steinheim. A forma da curva transversal, mais ou menos pentagonal, pode verse na Fig. 57. A
interessante tentativa de Breitinger (Fig. 97, II f) de reconstituir a parte frontal do crânio
de Swanscombe com uma moderada conformação de viseira e de restaurar todo o crânio é, pelo
menos, verosímil.
Quanto à classificação sistemática do achado de Swanscombe, as opiniões são discordantes: poderá
tratarse de um antigo ramo dos euhominídeos que no seu conjunto de características se inclina
mais para os neantropídeos. A cultura simultâneamente encontrada consta de uma indústria
amigdalóide do tipo Acheuliano Médio e de utensílios do Levalloisiano.
4) Quinzano, perto de Verona, 1938. O achado consta de uma parte do osso occipital, infelizmente
não datável; com base na sua morfologia (curva sagital, largura máxima ao nível do astério,
espessura dos parietais) podemos incluílo no grupo présapiens.
Com excepção de Karigira e Quinzano, cuja datação é incerta, possuímos portanto dois achados
ricos de perspectivas os de Steinheim e de Swanscombe do Plistocénico Médio da Europa
Ocidental. Estes documentos revelam particularidades morfológicas suficientes para per
Fig. 97, 1. a) Australopithecus (Plesianthropus) transvaalensis Sterkfontein (Trans al, em
norma anterior; b) Australopiteco
v ‘ (Plesianthropus) tran aalensis, Sterkfontein (Transval), em norma lateral: c) Homo erectus
(IV) modjokertensis, Sangiran (Java); d) Homo erectus soloensis Ngandong (Java), e) Homo erectus
pekinensis, ChukuTien. (Cliina): f) Homo rhodesiensis, Broken Hill (Ãfrica). II. a) Homo
neanderthalensis, La Chapelle aux Saints (Franca) em norma anterior. b) Homo neanderthalensis,
La Chapelle aux Saints, em norma lateral; c) Homo neanderthalensis Saccopastore (Itália); d)
Homo neandertha lensislsapiens ffi, Monte Carmelo (Palestina); e) Homo présapiens, Steinheim
(Alemanha): f) Homo présapiens, Swans
Combe (Inglaterra)
421
Paleontropologia
mitirem reconhecer uma relação genética com os verdadeiros neantropídeos mais recentes. Podemos
situálos próximo da origem dos neantropídeos. Os fósseis de Steinheim e Swanscombe revelam
também caracteres particulares, que de resto não nos surpreendem, dado o considerável intervalo
de tempo que os separa dos fanerantropídeos. Diremos apenas que a conformação da viseira frontal
não basta para inclu r estes achados entre os paleontropideos nean ertalianos. Mesmo quando hoje
surge algumas vezes o toro supra _?rb!Ital, tal facto não significa que se trate de uma
reminiscencia filogenética dos remotos paleontropídeos. É possível que os tipos Steinheim
Swascombe tenham estado na origem dos paleontropídeos, do mesmo modo como ilustramos, por
exemplo, o início da história dos neantropídeos. Este facto confirmará a tese de que
paleontropídeos e neantropídeos tenham sido filogèticamente independentes, já antes da glaciaçâo
de Riss. De resto não é necessário fazer dos achados de Swanscombe e de Steinheim os
antepassados directos dos dois ramos citados. Não é ímprovável, antes, pelo contrário, que eles
pertençam a grupos «sui gencris» que apresentem casualmente caracteres morfológicos comuns ao
hipotético estrato originário. Sustentável é também a opinião de que a referida bifurcação tenha
sido ainda mais remota.
5) Fontéchevade (França), 1947, fragmentos de calota craniana. Que a separação dos neantropídeos
e dos paleontropídeos é bastante antiga é demonstrado por este grupo de achados, que remontam ao
interglacial RissWürm (Sobre estes documentos existe um estudo monográfico, de H. V. Vallois e
colaboradores, 195758). Tratase de restos de uma calota masculina (Fontéchevade II e de uni
fragmento do frontal de um crânio de mulher adulta (Fontéchevade I). Ambos os achados permitem
estabelecer algumas conclusões de importância capital. A calota (Fig. 98), quer em norma
lateral, quer vertical, apresenta caracteres essencialmente típicos do Homo sapiens, à parte a
espessura considerável dos parietais. Vallois mantém que a região glabelar de Fontéchevade II
pode ser reconstituída sem toro digno de nota ou sem uma considerável arcada supraorbitá ria. A
forma de Fontéchevade era já contemporânea dos préneandertalianGs, representando provàvel
422
Paleontropologia
mente um dos escalões precursores do Homo sapiens no intcrglacial RissWünn.
Toda a problemática relativa ao grupo prósapiens foi já levantada por Heberer em 1950.
Em seguida foi discutida, especialmente por Vallois (ef., entre outros, Breitinger,
Gieseler, Howells e S. Sergi). Podem dividir~se as várias opiniões em duas categorias
principais: 1) a separação dos paleontropídeos eneantropídeos terseia efectuado já antes
da glaciação de Riss (Heberer, Vallois); Bregrna Vertex 11 o
2) a separação teria tido 100 lugar no intergIacial
seguinte (Breitinger, Ho .@2 @k, Sinus wells). Gieseler opina pela primeira hipótese.
juntamente com os res jo
Porion Asterion tos de crânios de Fontéchevade foram descober tos utensílios pertencentes
f ao Tayaciano, uma indús b lo
tria de pedra lascada relativamente grosseira, que é talvez uma indústria marginal. Não seria de
facto surpreendente se um dia L
se encontrasse uma indústria mais diferenciada per Fig 98. Resto do Crânio de Fontencente a
Fontéchevade. técAevade (França). Em cima:
norma lateral esquerda. A curva As tentativas de fazer in da fronte é completada sobre a
serir Fontéchevade entre base de 1 = La Chapelle aux
Saints; 2 = CroMagnon; 3 = hoos palcontropídeos devem mem actual. O bordo inferior do
parietal foi reconstruido com considerarse frustradas. fragmentos isolados a e b, que
Pertencem ao parietal direito. Os B) Próximo Oriente. referidos fragmentos foram
desePara resolver o problema nhados reflectidos no espelho.
X = integração. Em cima: norma das relações entre nean superior. O contorno da metade
direita foi reconstruido baseado dertalianos, grupos prê na esquerda. B = bregma; L @
lambda; bb1 corresponde mais sapiens e eusapíens con ou menos à sutura coronal; oo
tinuaremos a examinar ai ao contorno presumível da região
ipital; ffl = pontos da frente guns grupos de achados Oacoes quais o contorno é
aproxi
mado, porquanto falta o frontal que julgamos de grande da Parte inferior (segundo
Vanois)
423
Paleontropologia
importância. Tratase de restos descobertos na Palestina
e no Iraque.
1) Palestina: Tagbah (lago de Genezareth), Skul e Tabun (Monte Carmelo) e Djebel Kafzeh. Os
achados datam dos anos de 1925, 193132 e 193335 e constam de crânios, mandíbulas e restos do
esqueleto póscraniano pertencentes a uma vintena de indivíduos. A sua datação não foi ainda
definitivamente fixada. A hipótese de os restos remontarem aos estratos superiores do
interglacial RissWürm não parece de aceitar completamente; mais provável é, pelo contrário, que
pertençam aos primeiros estratos da glaciação de Würin.
2) Iraque: caverna de Shanidar. Nos últimos anos (195355) foram descobertos achados bastante
significativos (quatro esqueletos) que remontam a um período posterior ao dos achados
palestinos.
Este grupo de documentos testemunha em primeiro lugar que no Próximo Oriente existiram
contemporâneamente paleontropídeos, de cunho préneandertalóide e neantropídeos do tipo pré
sapiens. A morfologia, dos achados levanta numerosos problemas. Por exemplo, o esqueleto
feminino encontrado na caverna de Tabun apresenta uma configuração que se insere no complexo de
formas préncandertalianas. Mostra analogias particulares com o crânio descoberto em 1848 numa
caverna dos rochedos de Gibraltar, um crânio que foi atribuído a uma forma de paleontropo mas
que infelizmente não é datável. Não é fácil determinar se o esqueleto de Tabun é mais antigo ou
mais recente do que os outros achados de Monte Carmelo. Estes últimos, assim como os de Kafzeh,
apresentam toros supraorbitais (Fig. 97, 11 d), contudo não muito acentuados, mas em qualquer
caso não podem ser considerados como característica neandertalóide. Os crânios do Monte Carmelo
permitem reconhecer claramente a sua estrutura em norma sagital e lateral e isto
particularmente válido para Shanidar possuem uma acentuada depressão sobre a glabela. Temse
quase a impressão de que se trata de uma arcada supraorbital particularmente acrescida, que
tinha por assim dizer influído sobre o desenvolvimento da parte lateral da margem orbital
superior. No crânio notase uma elevação do frontal superior à dos
424
Paleontropologia
paleontropídeos, maior altura do crânio e um arredondamento da região occipital; todos estes
caracteres fazem lembrar o tipo do CroMagnon. A forma do crânio não é portanto tipicamente
neandertalóide e não apresenta platicefalia. Gieseler queria incluir estes tipos e isto é
válido também para os esqueletos descobertos nos últimos anos na caverna de Shanidar (sobre os
quais não se dispõe ainda de qualquei descrição pormenorizada) no grupo présapiens.
Consideramos esta opinião bem fundamentada. Quem examinar minuciosamente no original o único
crânio reconstituível da série dos achados de Djebel Kafzek não pode ter qualquer dúvida de que
se trata de um tipo completamente diverso daquele que teria o seu lugar na série dos
neandertalianos. Estamos perante um tipo não de palcontropídeo, mas substancialmente de um tipo
de neantropídeo, que de resto possui um toro supraorbital de formação particular (realmente
tratase apenas de uma arcada supraorbital «reforçada». Comparese também com o crânio Skinil V
do Carinelo (nova reconstítuição de Snow,
1953 reproduzido na Fig. 97, 11 d.
O facto de no início da glaciação de Würm (período pluvial Würmiano), no Próximo Oriente,
viverem neantropídeos junto de paleontropídeos é confirmado pelo estudo das indústrias. Estratos
com utensílios do Musteriano alternam com estratos nos quais aparecem objectos de um tipo pré
aurignaciano, isto é, uma cultura de lâminas (estes factos foram revelados pelas escavações de
A. Rust e 7abrud pouco depois de 1930); noutros ternos, encontramonos perante uma alternância
de culturas entre neandertalianos e hominídeos do tipo sapiens. Teremos portanto de concluir que
existiu uma população híbrida? São princípios da genética das populações (Th. Dobzhansky). A
génese das raças ou subespécies não se processa simpàtricamente (isto é, na mesma área
geográfica); é indispensável um certo isolamento prévio. Por isso não se podem manter as velhas
opiniões de que os achados do Monte Carmelo testemunhavam uma evolução para o tipo
Sapiens (ou, pelo contrário, do tipo Sapiens para o neandertaliano), visto sabermos hoje que o
tipo Sapiens é mais antigo do que se supunha. A vasta expansão do tipo CarmeloKafzeli
Shanidar em todo o Próximo Oriente tirou bastante crédito
425
Paleontropologia
à hipótese da hibridação. A ideia que hoje se impõe é a da existência no Próximo Oriente de um
grupo de formas présapiens de carácter particular. Para a população de Shanidar foi proposta a
denominação de «Homo sapiens shanidarensis» (Senyürek). Será possível uma classificação mais
exacta dos vários tipos quando conhecermos com maior rigor os préssapiens do Próximo Oriente.
Abordemos agora as manifestações culturais dos grupos humanos que incluímos no, quadro (eu,)
sapiens típico, deixando de parte o fabrico de instrumentos. Com os australopitecídeos começa o
fabrico de utensílios, como se depreende das mais recentes conclusões do trabalho de Leakey
(1964) nos estratos oldowyanos da garganta de Oldoway, na África Oriental («Hmo habilis»). Faz
também o seu aparecimento o canibalismo. Com os arcantropídeos começa o uso do fogo (Hamo
erectus pekinensis, Chuku Tien); com os paleontropídeos a sepultura dos mortos. Encontramse
também os primeiros indícios de uma relação com o domínio do sobrenatural, como demonstra o
aparecimento do crânio euncandertalóide do Monte Circe.o, com uma mutilação na base, provocada
artificialmente, encontrado isolado dentro de um invólucro de pedra. Isto é tudo quanto se
conhece. Se não considerarmos como manifestações artísticas os instrumentos líticos, tão bem
executados, das indústrias amigdalóides e das pontas, podemos dizer que elas não surgiram antes
do aparecimento do Homo sapiens. Por centenas de milénios o homem levou, portanto, uma
existência de caçador nómada «privado de cultura». A Fig. 99 apresenta esquernàticamente as
relações filogenéticas dos hominídeos. A velha hipótese de uma evolução linear (coluna à
esquerda) foi substituída por aquela que explica tais relações na base de uma irradiação (coluna
à direita). Ainda hoje subsistem profundas divergências de opinião acerca da determinação dos
períodos de tempo nos quais os diversos ramos de hominídeos se tomaram históricamente
independentes. Os achados mostram, no entanto, que os principais grupos tiveram,, por períodos
mais ou menos longos, histórias evolutivas independentes, como está expresso na Fig. 99.
f De facto a «tendência» para a hominização deve ter ocorrido em múltiplas linhas evolutivas.
Por exemplo, os
426
Paleontropologia
australopitecídeos exprimem provàvelmente uma das múltiplas «tendências» à individualização
própriamente humana, a partir de primatas nãohumanos, que se devem ter verificado em diversos
ramos que secaram mais ou menos precocementeao mesmo tempo que prosseguia a sua longa marcha
aquela linha evolutiva que reunia um conjunto de condições que permitiram a emergência do
1 Iol o P1 i stocén i co
Plincênico
Fig. 99. Tentativa de representação gráfica das relações históricas entre os grupos princiDais
dos hominídeos e dos antropóides. Coluna à esquerda, hipótese das fases, coluna à direita,
hipótese da irradiação. Pa Chimpanzé (Pan) Ar, Arcantropídeos, PalPaleontropídeo@ Ne
Neantropídebs E, Irradiação (eu)hominídea ‘ AGrupo'dos australopitecos ‘ Grupo dos
Palrantropus, Po, Pongídeos, PrIrradiação ‘préhominídea
tipo sapiens. Os australopitecos traduziriam uma dessas tendências «frustradas» à hominização
verdadeira, tanto mais quanto é certo que estes «subhomens» foram contemporâneos dos primeiros
hominídios autênticos que se conhecem (os pitecantropídeos), sendo portanto improvável que
tenham sido os antepassados directos destes últimos. De resto, o problema da origem do homem
comporta ainda múltiplos enigmas. Muitos aspectos decisivos da emergência do homem devem ter
ocorrido no domínio da ontogenia, e de facto numerosos caracteres da organização
427
Psicologia das raças
do homem adulto mostram grande semelhança com as condições embrionárias e juvenis dos
antrooides. Estas importantes modificações ocorridas nos estados embrionários e juvenis,
exprimindosé pela progressiva retardação do desenvolvimento do homem, com todas as importantes
consequências que derivam deste fenómeno (estruturas embrionárias ou juvenis progressivamente
inscridas na forma definitiva ou adulta) só muito excepcionalmente (crânios juvenis, etc.)
puderam ficar documentadas nos fósseis. @Que sabemos, por exemplo, das condições em que nas
formas subhumanas e humanas primitivas se desenvolviam os jovens recémnascidos durante o seu
primeiro ano de vida um período que, como se sabe, é de fundamental importância para o
desenvolvimento físico e social do homem (sapiens) e sem paralelo nos antropóides? Em que
escalão da evolução do homem surgiram estas e outras condições da ontogenia, que foram decisivas
para a emergência do homem moderno?
Ignorase tudo a este respeito. E possível que esta progressiva «juvenilidade», que
m grande medida a evolução do homem, parece caracterizar e se tivesse processado gradual e
plurilateralmente em múltiplas ontogenias, não sendo portanto possível conceber que dada forma,
ou tipo fóssil, possa representar o antepassado único da humanidade. Várias imagens se
sucederam, diversos precursores devem terse sucedido. E quando se considera a própria origem da
humanidade surge mais uma questão enigrnática: essa origem fezse a partir de uma, ou, pelo
contrário, de várias formas vizinhas primitivas? Também a este respeito nada de positivo
sabemos.f
Psicologia das raças A situação da psicologia racial é ainda mais difícil, do ponto de vista
metodológico, do que a da fisiologia racial, pois os factores modificadores do ambiente
fisiológico adicionamse aos do ambiente cultural e étnico, que nas investigações por testes são
muito dificilmente eliminados.
Embora tenha sido possível, com base em testes sobre gêmeos e famílias, estabelecer uma
componente hereditária, válida para uma grande variedade de traços de carácter e características
de capacidade mental, todavia no campo
428
Psicologia das raças
psíquico não se conhece sequer um simples carácter mendeliano normal ou apenas um que seja de
todo independente do ambiente. A modificabilidade apresenta todavia valores diversos nos vários
sectores da vida psíquica, e particularmente maior variabilidade no estrato intelectual do que
no vital (Gottschaldt), o qual está em relação mais estreita com as funções vegetativas.
A maior parte dos testes sobre a psicologia racial até agora realizados dizem respeito aos dotes
intelectuais e principalmente à inteligência geral. O material mais completo é o proveniente das
investigações em recrutas dos Estados Unidos durante a primeira guerra mundial. Com base nos
dados fornecidos pela Alpha Army Test, a totalidade dos Negros apresenta resultados
consideràvelmente inferiores em relação aos dos Brancos (Yerkes). No entanto, os resultados das
provas reflectiam também a diferença do nível económicosocial e da educação, todas favoráveis à
parte branca da população. Quanto mais vizinhos eram os grupos sociais examinados tanto mais os
resultados dos testes tendiam a nivelarse. Assim os Negros dos estados do Norte obtinham
resultados superiores aos dos estados do Sul. Resultados análogos se alcançaram também para as
populações brancas e alguns grupos de Negros dos estados do Norte superaram grupos de Brancos
dos estados do Sul. Crianças negras em idade escolar apresentaram resultados tanto melhores
quanto mais tempo tinham residido nos estados do Norte. Em três cidades do Sul (Birmingham,
Nashville e Charleston) não se verificou qualquer diferença apreciável entre os estudantes
negros que tinham estado no Norte e aqueles que aí se conservaram e tinham frequentado escolas
só de crianças negras (Klíneberg). Também as diferenças reveladas nos testes entre vários grupos
de imigrantes provenientes de diversos países europeus entre outros os Italianos apresentam uma
capacidade inferior à dos Britânicos e Escandinavos correspondiam ao nível civil e de instrução
dos países de origem ou das camadas sociais dos quais os imigrantes provinham (Kirckpatrick), ao
passo que não permitiam evidenciar diferenças raciais.
já mais ricas de resultados são as investigações sobre atitudes especiais, mas até agora devemos
limitarnos exclu
429
Psicologia das raças
sivamente a provas de acaso. As crianças escandinavas são superiores às de origem liebraica em
orientação espacial, bem como na coordenaçã o de percepções sensoriais e de movimento, mas
ficamlhes atrás na compreensão verbal. Os Chineses, relativamente aos Japoneses, apresentam uma
melhor memória auditiva, mas sãolhes inferiores nos testes de engenho. Crianças indígenas de
Moçambique retêm
Tipos raciais
Tipos raciais
Fig. 100. Diferencas raciais do carácter. Percentagem na atitude Positiva ( + e + + ) às frases:
«Eu passo uma parte considerável do meu tempo na rua e em público» (à esquerda) e: «Eu quero
viver bem longe dos outros» (à direita) em representantes do
tipo nórdico e mediterrâneo (segundo H.N. Arrowsmith)
melhor na memória sinais e imagens do que as crianças portuguesas da mesma idade, mas as
palavras e frases fixamnas pior. Todos estes resultados precisam de ser confirmados ainda por
outras investigações independentes.
Têmse além disso outras indicações sobre diferenças relativas às capacidades artísticas. Os
Negros da Jamaica eram superiores aos Brancos no sentido do ritmo, assim como na percepção da
altura e na intensidade dos sons (Davenport e Steggerda). Estes resultados não foram confirmados
em sucessivas investigações efectuadas sobre os Negros dos Estados Unidos; todavia também os
estudiosos
430
Psicologia das raças
da sociologia racial salientam que a contribuição mais importante dos Negros para a cultura
americana limitase ao domínio musical (jazz), ao passo que nos Ameríndios se verificaram dotes
particulares nas artes plásticas, com especial relevo na pintura.
As correlações psicofísicas determinadas pela investigação da constituição também têm
importância para as diferenças psícoraciais, tanto mais que as raças distinguemse entre si
quer na constituição quer no grau do ginandromorfismo e das restantes constelações hormonais (>
Constituição). Nos hábitos culturais dos Negros e dos Ameríndios e na maneira de se adaptarem à
civilização europeia manifestamse traços essenciais que se podem relacionar com o tipo
constitucional preponderante (Keíter). A presença de traços esquizotímicos entre os Negros, que
correspondem à prevalência entre eles de um tipo constítucional fundamentalmente leptossómico,
exprime na supremacia da sensibilidade da forma sobre a cor (a escultura é a forma de arte
típica dos Negros africanos) e numa boa capacidade de analisar impressões de conjunto;
apresentam além disso traços basedowianos: olhos salientes, húmidos, brilhantes e acentuada
emotividade. Entre os Ameríndios predomina a constituiçã o atlética; as características essen~
ciais dos Ameríndios e da sua cultura adaptamse bem à descrição do temperamento viscoso dos
«atléticos»: pertinácia de sentimentos, «passividade mesmo no compQrtamento heróico», que se
exprimem de modo positivo como constância e autodomínio, escassa sensibilidade emotiva, falta de
impulso associativo, um impulsomotor relativamente grosseiro e uniforme, que encontra, entre
outros, a sua expressão na música (Hornbostel).
Estas observações de carácter geral são deduzidas do comportamento de populações inteiras, ou
mesmo de grandes conjuntos de populações; até agora têmse feito, pelo contrário, pouquíssimas
observações acerca das correlações psicofísícas que se manifestam no interior das populaçõ es. A
fraca correlação entre inteligência e estatura parece nada ter a haver com o tipo racial; de
qualquer maneira não existe nenhuma correlação com o índice céfalico, horizontal, com o índice
nasal e com os traços fisionómicos (Eyta,brooks, Pearson, Schwidetzky). Apenas pela pigmentação
431
Sistemática das raças
se encontram algumas indicações positivas: num país da @.;Ubta alemã do Báltico a percentagem
das pessoas de olhos escuros era de 7 por cento para os camponeses pobres e de 32 por cento para
os ricos (Scheidt): as diferenças eram significativas. Existe uma correlação positiva entre o
grau de pigmentação e os tipos de íntegração de 7aensch: os indivíduos com pigmentação mais
intensa têm tendência para maior integração e para um ambiente mais aberto; os indivíduos de
pigmentação mais fraca tendem para mais forte desintegração e para um maior isolamento. O
confronto entre comportamento e cultura dos Europóides do Norte e dos do Sul (Nórdicos e
Mediterrâneos) é demonstrativo. Também estudos baseados no tipo racial mostram que os Nórdicos
de coloração clara são fortemente desintegrados e introvertidos, ao passo que os Mediterrâneos,
de pele mais escura, são mais pronunciadamente integrados e extrovertidos, e isto em igualdade
da constituição somática (leptossómica), do ambiente cultural e do nível económicosocial
(Arrowsmith).
Como seria de esperar dos resultados da psicologia da hereditariedade e da constituição, parece
mais proveitoso orientar a investigação das correlações com caracteres raciais nos sectores
psíquicos mais aproximados das camadas vitais, preferivelmente na esfera intelectual. Ambos os
sectores têm igual importância no que respeita ao desenvolvimento cultural e à adaptação dos
grupos étnicos subdesenvolvidos. Todavia as actuais correntes científicas não são favoráveis a
investigações de psicologia racial; elas têm tendência, pelo contrário, para sobreestimar o
c(ndicionamento social do comportamento em detrimento de biológico e a considerar, sob a
impressão da improdutividade das investigações da inteligência, privada de toda a importância
quer teórica quer prática dentro da problemática da psicologia racial.
Sistemática das raças Esta sistemática propõese classificar as várias raças humanas segundo
a base de alguns critérios unitários: esta classificaçã o deve harmonizarse com o
desenvolvimento histórico, de acordo com o nosso conhecimento e a distribuição actual,
excluindo, naturalmente, as grandes alterações da população mundial a partir
432
Sistemática das raças
do século xvi. Semelhante tarefa pressupõe, não só um método unitário de estudo e a descrição de
todas as raças humanas, mas também a análise do mecanismo da transmissão hereditária dos mais
importantes caracteres raciais. Deparasenos logo aqui a primeira grande dificuldade para uma
classificação sistemática unitária, pois que esta só pode ser fundamentada em considerações
genéticas para ser biológicamente válida (> Conceito de raça, > Gênese da raça), o que até
hoje não foi inteiramente realizado porque a genética é uma ciência recente e sómente nos
últimos decênios se atingiram conhecimentos de certa magnitude.
A investigação em regiões menos acessíveis tem sido feita mais por etnólogos do que por
estudiosos mais directamente interessados na antropologia. Embora a antropologia deva muito dos
seus conhecimentos à acção dedicada daqueles pesquisadores, não se pode furtar à observação
crítica de que as medidas tiradas e as observações feitas a partir delas não têm sempre o mesmo
valor, pelo que nem sempre podem ser aceites. Tais dados, por isso, só em parte satisfazem as
exigências de sistematização que devem cstar na base da classificação de raças do ponto de vista
genético. Nesta conformidade, a verificação do processo de transmissão hereditária de
determinadas características específicas de uma raça é exigência cientificamente justificada,
mas na prática, atendendo à grande duração das gerações humanas e à impossibilidade de levar a
bom termo experiências de cruzamentos com objectivos amplos e conhecidos, não passa infelizmente
de uma aspiração utópica.
Daqui resulta que a determinação das combinações dos caracteres típicos das várias raças pode
basearse essencialmente nas observações e nos confrontos dos caracteres métricomorfológicos
com o implícito pressuposto que a formação de tais caracteres seja controlada pelo mecanismo
genético. Os pontos antropológicos relevantes sómente há pouco tempo começaram a ser
considerados segundo critérios uniformes, mediante escalas cromáticas e morfológicas e indíces
estandardizados. Para os importantes grupos antigos já extintos não temos outro recurso que não
seja remotas informações, às quais se tem de dar a necessária «interpretação» . Como além disso
a acção selectiva dos
433
Sistemática das raças
efeitos climatéricos (> Pigmentação, despigmentação), que em áreas continentais se manifesta
gradualmente, se combina com a acção selectiva independente das zonas isoladas em virtude de
barreiras geográficas, compreendese como as tentativas de sistematização elaboradas por
diversos autores nem sempre coincidem.
Uma das classificações raciais mais autorizada é a de V. Eickstedt, que em virtude das suas
longas viagens de estudo adquiriu um excepcional conhecimento, baseado nas suas observações
pessoais, mesmo fora da Europa. A ele se deve atribuir o mérito de ter introduzido a ordem no
caos das denominações raciais, esforçandose por assegurar o direito de prioridade à primeira
denominação cientIficamente baseada. Na sua classificação relevamse os nomes geográficos que
correspondem às rcgiõç@ nas quais as raças tiveram a sua máxima difusão; junto daqueles
inscrevemse na nomenclatura também as designações próprias das tribos e dos povos.
Limitamonos aqui a indicar os nomes «vulgares» das varias raças; na bibliografia são citadas as
obras com a denominação latina.
A sistematização apresentada no quadro de pp. 436437 está sujeita a muitas reservas e só pode
ser um provisório testemunho, em vista do nosso actual grau de conhecimento limitado do processo
hereditário e dos complexos caracteres por falta de possibilidades de cruzamento. A escolha das
raças indicadas (> História das raças) reflecte o desejo de estabelecer uma conexão entre o
desenvolvimento histórico das raças a partir do Neolítico e as raças actuais. A tabela
subdividese em três grandes ramos raciais e nela estão discriminadas as subraças por
continentes, por ordem geográfica. A repetição dos mesmos nomes de raças corresponde ao seu
aparecimento em vários continentes, sem se considerar as raças locais daí originadas. As raças
de contacto são referidas em ambos os ramos raciais associados e referenciadas com a letra C. A
letra P ou (P) a seguir ao nome da raça indica populações pígmóides com combinações de
características autónomas. @ Nessa classificação, actualizada por G. Kurth, na súmula das várias
raças vão indicadas entre parênteses as denominações correspondentes (com relativa proximidade
434
Sistemática das raças
ou quanto possível sem grande inexactidão) usadas por R. Biasutti. Todos os tipos raciais não
incluídos nos «tipos arcaicos» ou entre os formados com o prefixo «paleo» deverão considerarse
de formação «recente» (raças mo
dernas). Com a utilização dos sufixos «óide» e «ida», para designar respectivamente ramos e
tipos raciais, procurouse, por sugestão orientada pelo Prof. Barbosa Sueiro, conseguir tanto
possível, à semelhança do estabelecido noutros idiomas pelos respectivos especialistas, uma
uniformidade e possível fixação de nomenclatura que permita identificar e distinguir os povos
dos tipos raciais que lhes deram origem, embora as classificações antropológicas nem sempre
coincidam com as etnológicas (ex.: ramo racial, europóide; tipo racial, aménida; raça, pamir;
subraça armeniana; povo, arménío).
Quando, porém, no, texto (> histór@a das raças) se designam os povos ou tribos derivados dos
tipos raciais classificados empregase a adjectivação corrente ou as designações que o uso
consagrou fora da antropologia.Ç
As cabeças dos indivíduos de raças vivas das Figs. 6167 representam uma selecção das raças
(variedades) mais importantes mencionadas no texto e referidas na tabela.
Devido ao espaço restrito não foi possível reproduzir mais de um representante de cada raça e a
constituição somática não foi tomada em consideração. Na classificação referida é apresentada
uma subdivisão principal em três subespécies: Europóides, Mongalóides, Negróides, adoptandose
deste modo, e igualmente para as subraças, a nomenclatura correspondente não só à origem da
palavra, mas também a uma possível fixação em português. A classificação de E. v. Eickstedt é a
de Homines Sapiens Albi, Homines sapiens leiotrichi e Homines sapiens afri, correspondente à de
Vallois, Humanidade Ocidental, Oriental e Meridional. No entanto, do ponto de vista genético,
desviamonos bastante da divisão em raças individuais destes dois autores. Não se inclui na
designação de Negróides, ou, «Humanidade Meridional» os indivíduos de coloração escura do Sul e
Sudeste da Ásia, da Austrália e da Oceânia (como, por exemplo, os Gôndidas, Málidas,
Andamânidas, Pakomelanésidas, Neomelanésidas e Austrálidas), mas nos
435
Sistemática das raças
SISTEMATIZAÇÃO RACIAL (segundo E. v. Eickstedt, mod. por G. Eurth) I EUROPóIDES
EUROPA
Nórdidas (r. nórdica) Dalofélidas (r. nord.: subr. dalofática) Esteurópidas (r. báltica)
Mediterrànidas (r. mediterrânea) Alpínidas (r. alpina) Dináridas (r. adriática ou dinárica)
ÁFRICA
Mediterrânidas (r. mediterrânea) Berbéridas (r. medit.: subr. berbere) Eurafri
cánidas Orientálidas (r. iraniana) Etiópidas (r. etiópica) Nilótidas (r. nilótica), C Tipos
arcaicos:
Bambútidas (r. bambuti), P Coisânidas (r. esteatopígica) (P)
ÁSIA
Estemediterrânidas (r. mediterrânea) Orientálidas (r. iraniana) Turãnidas (r. pamiriana ou em
parte anatólio
pamiriana) Annénidas (r. pamir.: subr. armeniana) Gracílindas (r. indiana, em parte)
Indobraquicefálidas (r. pamiriana?) .Pipos arcaicos:
Védidas:
Málidas (r. málica) Gôndidas (r. málica, subr. gôndica) etc. Ainidas (r. aino) Andamânidas (r.
andamanesa), P Semânguidas (r. aetasemanguesa, em parte), P
INDON2SIA/OCEÃNIA
Polinésidas (r. polinésica), C Tipos arcaicos:
Paleomelanésidas (papuásios em parte) Neomelanésidas (papuásios em parte) Austrálidas (r.
australiana) Aétidas (r. aetasemanguesa em parte), P Papuas da montanha (papuásios em parte)
(P)
436
Sistemática das raças
MONGOLóIDES
ASIA
Túnguidas (r. tungúsica) Sínidas set. (r. &ínica em parte) Sínidas cent. (r. &ínica em grande
parte) Sínidas merid. (r. sínica e r. sulmongólica) Paleomongólidas:
Palaúnguidas (r. sulmong, e subr. palaun
guesa) Xânidas,
INDONÉSIA/O=NIA
Polinésidas (r. polinésica), C
Paleomongólidas:
Protomalásidas (r. punan) Deuteromalásidas (r. punan e na maioT parte “Imongólica)
AMÉRICA
Esquimós (r. esquimó) Ameríndios set.
Pacífidas (r. aleutiana puebloandina?) Centrálidas (r. puebloandina.?) Sílvidas (r.
dacota e r. alegânica) Márgidas (r. 8anoriana)
Ameríndios merid.:
Ãndidas (r. puebloandina, em parte) Patagónidas (r. pampeana) Brasílidas (r. amazónica).
Láguidas (r. lagoana) Fuéguidas (r. magalhânica)
NEGRóIDES
AFRICA
Sudânidas (r. sudanesa) Cáfridas (r. cafre) Nilótidas (r. niMtica), C Paleonégridas (r. s«vestre)
C: raças de contacto (entre dois ramos raciais) P: pigmeus
437
Sistemática das raças
«tipos arcaicos» dos Europóides. Do mesmo modo, os Pigmeus foram destacados dos Negróides e
classificados também, não obstante a sua especialização, entre a forma arcaica europóide do Homo
sapiens. Também os Coisânidas do Sul da África parecem enquadrarse, do ponto de vista
biológico, com mais propriedade nesta forma arcaica, e não sob a designação de Homines sapiens
leiotrichi, de v. Eickstedt (> Histó ria das raças. África).
O ramo racial dos Europóides apresenta, de acordo com a sua vasta distribuição por vários
continentes, uma politipia particularmente acentuada; apesar disso, podemos reconhecer nela uma
série de caracteres ou um complexo de caracteres típicos comum a todas as subraças ou
fortemente preponderantes. Estatura mais alongada, com proporções harmónicas entre tronco e
membros, rosto com contornos mais acentuados e bem delineados, cabelo de liso a ondulado e
tendência para uma forte pilosidade pelo corpo. A variedade de pigmentação (complexão: cabelos,
olhos, pele) é particularmente ampla, pois só nesta raça se regista, nalguns casos,
despigmentação quase total. As raças de formação mais antiga, não obstante a presença de
caracteres próprios (por vezes muito acentuados) englobados no ramo dos Europóides, afastamse
ainda mais das combinações dos caracteres próprios dos outros dois ramos raciais.
Porque os Europóides, com as suas combinações de caracteres típicos, permanecem ainda hoje mais
sensivelmente na variedade tipológica do Homo sapíens fossile, parece justificarse, do ponto de
vista biológico, a inclusão no ramo racial dos Europóides recentes de todas as raças de formação
mais antiga, tornando em consideração as suas maiores participações no conjunto das
características do Homo sapiens fossile, sem exagerar a importância das especializações
sucessivas, por vezes muito acentuadas.
O ramo racial dos Mongolóides, apesar da sua mais elevada participação na população mundial
viva, possui, no âmbito da sua combinação de caracteres típicos, a maior uniformidade. Eles são
caracterizados pela compleição robusta, tronco desenvolvido, estatura geralmente baixa,
acentuada braquicefalia. com tendência curvooccipital nas raças progressivas; face achatada
(platopia), fronte erecta e zigo
438
Sistemática dos primatas
matismo pronunciado lateral e anteriormente, estrutura palpebral estreita com prega mongólíca,
cabelo rijo e liso, escassa pilosidade no corpo e moderada variedade do grau de pigmentação da
pele, não obstante este ramo racial se encontrar espalhado por todas as zonas climáticas da
terra.
O ramo racial dos Negróides, pelo contrário, é de todos o que menos se presta a uma segura
delimitação, provàvelmente porque as regiões onde se desenvolveu não tornaram possível um nítido
e duradouro isolamento geográfico, mas se apresentam corno faixa irregular à volta da «hylaca»
africana (zona das florestas tropicais). Os Negróides são caracterizados pela estatura média ou
superior à média, fronte bastante estreita com bossas frontais particularmente desenvolvidas
face na generalidade larga com moderada saliência (mesopia) nariz largo, lábios túmidos com
acentuado limite da mucosa, queixo pouco proeminente com tendência para o prognatismo,
compleição normalmente escura, cabelos em geral curtos, crespos quase encarapinhados e
pilosidade diminuta no corpo.
As semelhanças na pigmentação, forma do cabelo e dos lábios, etc., com os tipos arcaicos de
coloração mais escura da faixa tropical asiática, da Nova Guiné à Austrália, devem ser
consideradas, do ponto de vista da história das raças, no quadro duma vasta difusão de tais
caracteres sem relação directa demonstrável com as analogias presentes na África.
De facto é verosímil um desenvolvimento convergente, mas autónomo, destes caracteres na tarefa
duma selecção devida à influência do clima, pelo que não pode ter valor probatório a hipótese
que reconduz estas características a um centro unitário, tanto mais que esta hipótese não pode
sobreporse à objecção do longo isolamento geográfico; por outro lado, do ponto de vista
genético, a última palavra deve caber à completa combinação de caracteres típicos. Portanto
parecenos bioffigicamente mais justificado, sobre a base de todos os caracteres assim
apresentados pela investigação no seu estado actual, limitar o ramo racial dos Negróides apenas
a uma parte do continente africano.
Sistemática dos primatas OS PRIMATAS constituem uma ordem da classe dos mamíferos segundo uma
classificação
439
Sistemática dos primatas
que remonta a Lineu (1758. Provàvelmente tiveram origem no Cretácico, de ascendência
insectívora; dos seus antecessores imediatos não se conhecem restos paleontológícos. Um
protótipo destas primeiras formas com as quais teve início a evolução dos primatas sobrevive
ainda nos tupaídeos. A complexidade dos problemas ligados a uma classificação sistemática
resulta manifesta do quadro organizado recentemente por W. Fíedler (1956) no seu manual de
primatologia. Uma sistematização dos primatas no quadro geral dos mamíferos foi feita por G. G.
Simpson (1945). A maior parte dos tratados de mamalogia e antropologia apresentam quadros
sistemáticos mais ou menos particularizados dos primatas. Entre as descrições mais completas da
classe dos mamíferos salientamos os seguintes: dos trabalhos de língua alemã, a obra, de Weber e
Abel, «Die Sãugeticre» («Os Mamíferos») (1928); das de língua francesa o «Traité de Zoologic»,
de Grassé (1955). A primeira sistematizaçã o dos Hominídeos em bases adequadas, no quadro geral
dos animais, foi a de T. H. Huxley (1863).
Os primatas, como mamíferos placentários, são caracterizados principalmente por possuírem
extremidades com cinco dedos e por terem unhas achatadas (só excepcionalmente apresentam garras
num ou em mais dedos), extremidades preênsis e vida arborícola. As cavidades orbitais são
circundadas por uma orla óssea projectada para a frente. A dentição é heterodôntica, com
incisivos escalpelífórmicos, caninos de forma cGnóide e malares providos de muitas
2 1 2(3) 3(2) cúspides. A fórmula dentária geral é: Icpm
2 1 2(3) 3(2) A ordem dos primatas dividese em duas subordens: prossímios (Prosimiae) e
símios (Simiae), antropóides ou antropomórfos.
Os prossímios subdividemse, por sua vez, em quatro grupos (superfamílias): 1) Tupaídeos; II)
Lémures; III) Lorissídeos; IV) Tarsídeos. Os primeiros dois grupos podem ser considerados como
prossímios em sentido restrito. Quanto aos tarsídeos, constituem claramente um grupo
independente e estão bastante mais próximos da base de onde se originaram os símios do que os
lémures e os lorissídeos.
440
Sistemática dos primatas
Os símios subdividemse em: I) Platirríneos (símios do Novo Mundo), com nariz largo, achatado, e
narinas, bastante distanciadas, voltadas
2 1 3 23 para a frente, fórmula dentária I CPM. A super
2 1 3 23 família dos cebóideas consta de duas famílias: 1) Os cebídeos e 2) Os
calitricídeos. Géneros. Alouatta, Cebus, Ateles, Leontocebus, Callithrix.
Fig. 101. Evolução histôriea da ordem dos primatas com as suas
princiDais irradíações (segundo Simpson)
II) Catm?@neos (símios do Velho Mundo), com nariz estreito e narinas voltadas para baixo.
Fórmula dentária
2 1 2 3 I::@PM* Este grupo subdividese em duas super
2 1 2 3 f amilias:
A) Cercopitecóideos (anteriormente chamados cinomorfos), cuja família, Cercopitecídeos, se
divide em duas subfamílias: a) Cercopitecídeos com os géneros Macaca, Rhesus, Cinopithecus,
Papio, Cercopithecus; b) Colobídeos, com os géneros: Semnopithecus, Nasalis, Colobus.
B) Hominóideos (antropóides e hominídeos), com as famílias: 1) Hilobatídeos (gibões). (Os
parapitecídeos, conhecidos apenas por uma mandíbula descoberta em terreno oligocénico no Egipto,
constituíam talvez uma outra família.
441
Sistemática dos primatas
Recentemente foi descoberto novo material); 2) Pongídeos (antropóides em sentido restrito); 3)
Hominídeos (família na qual se compreende, além do homem actual, outras espécies extintas que
apresentavam caracteres humanos). Os hominídeos serão tratados separadamente. Pongídeos e
hominídeos juntamente representam urna unidade filogenética (> Origem do homem). Mesmo os
hilobatídeos são incluídos frequentemente numa única família com os pongídeos.
Os hilobatídeos compreendem numerosos géneros: a) Fósseis: Propilopithecus (Oligocénico),
Limnopithecus (Miocénico), Pliopithecus (Pliocénico); Epipliopithecus (Pliocénico); b) Recentes:
Hylobates, Brachytanites, Symphalangus. As formas fósseis foram descobertas na Europa e na Á
sia, as recentes na Ásia SulOriental.
Os pongídeos, compreendidas as formas fósseis, podem subdividirse em três famílias: a)
Proconsulídeos (pongídeos relativamente primitivos pela sua estrutura não são ainda
especializados como animais arborícolas: longos membros superiores, etc.); b) Driapitecídeus
(pongídeos com dentição bastante diferenciada; a estrutura esquelética das suas extremidades não
tem ainda a estrutura típica dos símios arborícolas). Géneros: Dryopithecus, cf. Indopithecus
(Miocénico), Sivapithecus (MioPlíocénico), Gigantopithecus (Plistocénico, talvez um
hominídeo?); c) Pongíneos (antropóídes recentes, estrutural e funcionalmente arborícolas).
Géneros: Pongo (também fóssil e subfóssil, orango), Ásia Oriental; Pan (chimpanzé e chimpanzé
pigmeu), África; Gorilla (gorila comum e gorila das montanhas), África. É talvez oportuno
colocar Pan e Gorilla numa subfamília independente (gorilíneos), em oposição aos pongíneos
(orangos), visto que a diferença entre os dois grupos é relativamente sensível. Os especialistas
não chegaram ainda a acordo no que respeita à classificação sistemática em superfamílias,
famílias e subfamílias.
A filogenia dos primatas (Fig. 101) apresenta uma primeira radiação no Paleocénico, (primeira
radiação terciária dos prossímios). De tal radiaçã o sobrevivem os prossímios, os catarríneos e
os platirrineos. No MiocénicoPliocénico, houve ulteriores radiações dos prossímios que
originaram considerável variedade de formas, especialmente no am
442
Sistemática dos primatas
biente isolado de Madagáscar. Do Eocénico conservouse até hoje, como uma espécie de «fóssil
vivo», o Társio, (benTarsius). Não é possível estabelecer com precisão em que ponto os
platirríneos emergiram dos prossímios. Não está absolutamente excluído que eles possam ter
origem comum com os catarríneos. No MiocénicoPliocénico teve lugar entre os platirríneos uma
radiação limitada à América Meridional, que ocasionou a grande variedade actual de macacos
americanos; estes aproximaramse extraordinàriamente na sua evolução, por razões adaptativas,
dos símios catarríneos. Entre os catarríneos deve admitirse uma origem comum dos
cercopitecóideos e dos hominóideos; é incerto, todavia, se esta origem comum tem a sua raiz ao
nível dos prossímios ou dos tarsídeos, como pensa, por exemplo, B. Simpson (Fig. 101).
Provàvelmente, entre os seus antepassados devem existir algumas formas protocatarríneas, já
diferenciadas ao nível dos prossímios. Cronológicamente, esta raiz ancestral situase com toda a
probabilidade no Eocénico. No decurso do MiocénicoPliocénico também tiveram lugar radiações
entre os cercopítecóídeos e os hominóideos e, no interior dos hominóideos, entre os pongídeos e
os hominídeos. Os pongídeos sobreviveram, como animais tipicamente arborícolas, nas florestas
tropicais húmidas, exceptuando aqueles que, por adaptação secundária, se habituaram a viver no
solo, em áreas de refúgio, enquanto os hominídeos, depois de adquirirem a posição erecta e uma
crescente cerebralização (aumento da capacidade encefálica), que são caracteres típicos desta
família, sofreram uma radiação em várias direcções, que culminou, no fim da era glacial, no Homo
sapiens, e por fim na multiplicidade de raças existente na humanidade actual.
Os HOMINíDIOS São originários de antropóides primitivos da primeira metade do Miocénico e
presumivelmente ainda não diferenciados como animais arborícolas (isto é, as suas extremidades
não estavam ainda adaptadas a órgãos preênsis aptos para a locomoção nas árvores). O pracâ nsul
(benProcônsul), que remonta ao fim do Miocénico Inferior e Médio, pode ser considerado como
modelo do tipo ancestral dos hominídeos.
443
Sistemática dos primatas
Os hominídeos podem subdividirse em três subfamílias: a) Orcopitecídeos, b) Australopitecídeos,
(«préhominídeos») e c) Hominídeos («EuHominídeos» ou verdadeiros hominídeos).
a) A filiação dos Oreopitecídeos nos hominídeos não está ainda universalmente aceite (>
O?@gem do homem).
O único gênero até agora identificado, o Oreopithecus, com a única espécie, Oreopithecus
bambolii, é conhecido desde
1871. Recentemente, o palcontólogo Hürzeler, de Basileia, descobriu numerosos restos desta forma,
e em 1958 um esqueleto completo. Os achados provieram dos depósitos de lignite do Plistocénico
Inferior, na Toscânia. Hürzeler já descreveu pormenorizadamente o respectivo material. Existe
uma combinação tão complexa dos caracteres próprios dos hominídeos que parece impossível supor
que a sua génese se tenha processado independentemente da linha evolutiva que culmina no homem.
O oreopiteco parece ser uma forma protohominídea na fase subhumana da filogénese dos
hominídeos, e uma prova talvez de que no período de transição do Miocénico para o Plistocénico a
linha dos hominídeos estava já filogenèticamente isolada.
b) Os Australopitecídeos («préhominídeos») são conhecidos desde 1924 (achado de Taungs,
Bechuanalândia, África do Sul). Geológicarnente pertencem ao Vilafranquiano (Plistocénico
Inferior); alguns achados remontam provàvelmente ao fim do Plistocénico, Médio. Hoje conhecemse
já os restos de mais de cem indivíduos e fazemse a todo o momento novas descobertas que
aumentam ràpidamente o material existente. Que os australopitecos apresentam características que
os aproximam estreitamente dos hominídeos é um facto que não pode ser posto em dúvida. Possuíam
já a postura erecta, como o confirma * estudo anatómico de cinco ossos da bacia. Além disso *
dentição é típicamente humana. A classificação dos australopitecos é ainda incerta. Parece, no
entanto, possível distinguir dois grupos (Robinson), sobre cuja posição sistemática (gênero,
subgénero, espécie) não é possível emitir qualquer conclusão firme: 1) Australopithecus
(«Australanthropus»); achados de Taungs, Sterkfontein, Makapansgat); 2) Paranthropus (achados de
Kromdraai, Swartkrans, Oldoway). Para mais pormenores (> pdeontropologia).
444
Sistemática dos primatas
É provável que os australopitecídeos tenham vivido também fora de África, na ilha de Java e na
China. Pelas suas características podemos considerar os australopitecos como formasrelíquias do
Pliocéni@o, vivendo no Plistocénico Inferior. Formas como o Australopithecus («Plesianthropus»)
transvadensis (achado de Sterkfontein) poderiam representar o protótipo ancestral dos
verdadeiros hominídeos («euhominídeos»). Ainda não é possível afirmar se devemos incluir o
Gigantopithecus nos australopitecideos, conhecido por numerosos dentes e três mandíbulas. Só
futuras investigações poderão decidir esta questão. É necessário um conhecimento mais rigoroso
das mandíbulas. Talvez o gigantopiteco tenha sido um membro, particularmente robusto, dos
pongídeos.
c) Os Hominícleos, «euhominídeos», verdadeiros homens. Classificamos os hominídeos apenas num
só género, H@mo. O género Homo pode ser dividido em três grupos, ainda que pouco se conheça
quanto ao seu valor sistemático: 1) Arcantropídeos («Pithecanthropus», etc.); 2)
Pa@leontropídeos («homem, de Neandertal», etc.); Neantropídeos (Homo sapiens e seus precursores
fósseis). Sobre a subdivisão dos hominídeos actuais em raças (> história das raças,
445
BIBLIOGRAFIA
A presente lista bibliográfica contém uma escolha de obras antropológicas com especial
relevância para as publicações mais recentes. O grande número de obras de língua inglesa e alemã
indica o particular desenvolvimento que o ostudo da antropologia atinge nos Estados Unidos e na
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Pranefort.
INDICE ONOMáSTICO E REMISSIVO
As palavras e os algarismos em negro indicam os artigos de assuntos ordenados por ordem
alfabética tratados desenvolvidamente; as palavras e os algarismos em caracteres normais dizem
respeito a nomes e conceitos fundamentais que no texto vão referenciados, em itálico.
Abel, O., 440. Abel, W., 151. Abevilliano, 397. abertura piriforme, 351. ABO, sistema, 206, 217.
aborto, 153. Abry Bergy, 301. aceleração do desenvolvimento,
140. Acheuliano, 397. acumulação, 49. Adachi, 176. adaptação
crise de, 71. especial, 182. genes capazes de, 215. Aetas, 243, 314, 322. Afalu bu Rummel, 283.
África, v. História das raças,
África, 280, 438. Africanthropus, 411.
njarasensis, 406. aglutinação, 206. aglutininas, 206. aglutInantes, 206. Ain, Meterchem, 283.
Ainos, 309, 317. Aitape, 319. aIbinismo, 205. Alcobé, 128. «aleloniorfismo múltiplo», 206
207. alelos, 199, 213. alimentos,
produção de, 236, Allison, 174, 208. alometria
negativa, 127. positiva, 127. «alopàtricamente», 183. Alpha Army Test, 429. AltoComissário de
Refugiados
das Nações Unidas, 167. amálgama, 74. ambiente, 179.
, pressão do, 396. América, v. História das raças,
América, 336 Ameríndios, 196, 316, 318, 339
341. Ammon, 50. análise de semelhança, 91.
anatomia, 343. ancient members, 354. Andamaneses, 243. Andamânidas, 314, 435. Andidas, 341.
androginecomórficas
, série de variações, 112. anemia depranocítica, 173. animal, 389. anticoncepcionais
, métodos, 153, 156. anticorpos, 206. antigénios, 206. _, entrocíticos, 206. Antiguidade, 151.
antisemitismo, 72. antropobiologia, 22. antropogenética, 27. antropóides, 374375, 443. , grupo
de, 386. Antropologia, 1112, 19, 22, 25, 218,
343.
, aplicada, 28, 88. Antropologia cuitural, 28, 64, 138,
iso, 198. Antropologia soci%l, 28, 33, 38, 50,
119, 137, 185, 195, 198, 225, 235. antropólogos, 11. antropometria, 344. antropómetro, 350.
Apidium, 378. Arene Candide, 258, 264. Arambourg, C., 405. Arcantropídeos, 398, 401, 445.
Archaepteryx, 361. Aristóteles, 218. armeniana, 435. arménida, 435. Arménidas, 310, 312. arménio,
435. arredondamento, 120. Arrowsmith, 432. Ásia, v. História das raças:
Ásia, 300. Asselar, 284, 287. assimilação
cultural, 53. étnica, 71. assistência à infância, 164. asténico, 81,86.
, tipo, 82, 105. atitudes especiais, 429.
467
índice
Atlanthropus, 399. _, mauritanicus, 405. atlético, 81, 86.
, tipo, 83, 87, 105. Auliffe, SigaudMac, 74, 76, 77. aumento da estatura, 140. Aurignaciano,
398. Australantropus, 381. Austrálidas, 196, 309, 321, 435. australiforme, 308.
australopitecídeos, 377, 380, 399,
426. australopitecíneos, 444. Australopithecinae, 387. Australopithecus, 381, 385, 396,
399, 421, 444, 445.
transvaalensis, 382, 387,
421, 445. autodomesticação, 29. autoengrandecimento, 37. autorebaixamento, 37. «autossomas»,
199. Avelines Holes, 264.
Bassinello, 376. Bach, 210. Baitsch, 9596. Balandier, 166. balbuceio infantil, 43. Balzi Rossi,
257. Bambútidas, 296. Bambutis, 243. basion, 346. bastardos de Rehoboth, 201,
223, 298. Bauer, 95. Beach, 31. Bellini, 211. Belt Cave, 305. Beriedict, 177. Bennholdt, 141.
Berberes, 290. Bernoulli, 211. Bertalariffy, 138. Bianco, 175. Biasutti, R., 224, 314, 435.
biologia
da sociedade, 5051. demográfica, 50. dos povos, 50. biótipo, 74. , brevilíneo esténico
tõnico,
84. , hipostínico, 84. individual, 83, 85. longilíneo esténicotõnico,
83. hipc>sténicohipot(5níco, 84. Biotipologia, 74, 113.
biótipos ‘ 83. Birdse11, 217, 223. Biston betularia, 215. Black, D., 409. Blumeribach, 218, 344
345. Boas, 119. Bober, 128. Bolk, 140. Bonin, von, 128. Border Cave, 282. Boskop, 285.
Bosquímanos, 297. Bossard, 63. Bottendorf, 264. Boule, 222, 401. Boyd, 173, 223. Brandkerannik,
269. braquicefalização, 120, 287. Brasílidas, 341. bregma, 346. Breitinger, 421, 423. Briton, 20.
Brno, 259. Broca, 1819, 220. Broken HilI, 410. Brown's Valley, 338. Brüehkner, 394. Bilchi, 127.
Bunak, 105. Buytendijk, 115.
caçador nómada, 426. Cafres, 297. calibrador de hastes curvas,
350. «calotte», 348. «calva», 348. «calvaria», 348. «calvarium», 348. camadas sociais e
profissões, 55. canibalismo, 426. capacidade
craniana, 47.
de aprendizagem ,46.
de procriação, 96. Cape Flats, 282. carácter simbólico, 42. caracteres, 100.
combinação típica de, 100.
raciais, 217. rácicos, 101.
serológicos, 89. sexuais primários, 108.
secundários, 108. transmissões dos, 101. características
combinações detipicas,
185.
de uma raça. 190.
468
índice
dermatográficas, 203. carbonária, 215, carestias, 153. Carracci, 211. CarrSaunders, 160.
Casablanca, 406. castidade, 31. Catarríncos, 441, 443. categorias biostatísticas, 79, 38.
cebóideos, 441. cefalização, 128. celibato, 31. Centrálidas, 341. cerâmica cordada, 270.
cercopitecóideos, 441, 443. cerebral, córtex, 47. cerebralização, 369, 443. cerebrotónico,
temperamento,
87. cerebrotónicos, 114. Chancelade, 256. Chapelle aux: Saints; (La), 412. Chuku Tien, 301, 408.
caverna superior, 301. Chukutienium, 409. ciclotimia, 81. cielotímico, 81, 113. Cielotímicos,
81. cimótrico, 203. citogenética, 198. Clactoniano, 397. Clark, Le Gros, 374, 419. «clássicos»,
412. Code de Famille, 164. coeficiente de selecção, 214. Cohuna, 320. Coisânidas, 297, 438.
colecções de crânios, 345. colónias, 167. Combe Capelle, 229, 256. combinação
de características típicas,
185.
de uma raça, 190. típica de caracteres, 100. compasso
de espessuras, 350. de hastes direitas, 350. compleição, 189. componente _ectomórfica, 86,
107.
endomórfica, 85, 106. _mesomórfica, 86, 87, 107. componentes primárias, 85.
ectomórfica, 85.
endomórfica, 85.
mesomórfica, 85. comportamento
, estudo do, 198.
homólogo, 30. padrões de, 45. compreensão de palavras, 43. Comprovação da Paternidade. 88.
204, 206, 225. Conceito de raça, 97, 168, 183, 198,
227, 352, 433. concordância, 201. condrodistrofia, 202. Confins, 338. Conrad, K, 105, 114.
consciência de raça, 72. conservação, 392. Constituição, 47, 53, 55, 56, 61, 62,
92, 103, 124, 126, 128, 145, 176,
177,192,198, 351, 431. constituição, 74, 103.
leptossomática, 81, 82. pínica, 81, 82. constituições
braquitípícasmegalos
plâncnicas, 77, 78.
1 o n g i t i p 1 c a smicrosplâne
nicas, 78, 79. contacto
raça de, 294, 322. raças de, 300, 434. zona de, 293. zonas de, 101, 316. contador Geiger, 391.
contraselecção, 51 convencionais, estruturas, 88. convergência, 190. Coon, C.S., 254. corda
dorsal, 123. coronale, 346. Correia, Mendes, 18. Correns, 197. correlações, 351.
1 estatística das, 352. córtex cerebral, 47. Costanzo, 140. Cotint, 32, 34, 38, 128. Cranach,
211. craniologia, 220, 345. crantometria, 345. «cranium», 348. cremação dos cadáveres, 110.
Crescimento, 55, 57, 66, 106, 108,
120, 122, 123, 144, 202, 245. Criminalidade, 60. crise de adaptação, 71. CroMagnon, 257, 286.
, tipo de, 229. cromossomas, 215.
sexuais, 198199. cromómeros, 199. cultivo das plantas, 236.
469
índice
cultura
das lascas, 398.
das lâminas agudas, 398.
de Foison, 336.
de lãminas, 425.
dos «chopping tools», 41.
megalítica, 270.
mustieriana, 415.
osteodontoquerática, 39,
395. Stillbay, 411. curva da radiação, 393. Cuvier, 359. «Cyphanthropus», 410.
Darnarás montanheses, 297. Dart, 39, 386. Darwin, 143, 211, 215, 219, 223,
224, 353, 359, 361, 362, 365,
356. darwinismo social, 51. Davenport, 201, 205, 430. Davies, 159. Demografia, 49, 51, 65, 67,
68, 142,
195, 198, 235.
, história da, 144. Deniker, J., 222. denominações raciais, 434. densidade da população,
49,
145. dentes, 133. dentição, 372. desbraquicefalização, 120. despigmentação, 189, 205, 235,
434. Deuteromalásidas, 318321. Deventer, 264. diastema, 406. Diego, sistema, 171. diferenças
raciais, 186.
sexuais, 136. «diferenciação», 183. difusão, 49.
vicariante, 356. diplóide, 199. discordância, 201. distribuição
das raças, 352. dos grupos sanguíneos, 191.
racial, 239. divisão
do trabalho, 50.
segundo o sexo, 53. Diebel Kafzeh, 301, 424, 425. Dobzhansky, Th., 100, 215, 223,
365, 425. doenças, 208. Dornfeld, 120.
drepanocitenlia, 217. drepanócitos, 208, drepanocitose, 206, 208. Driopitecídeos, 442.
Drosophila, 215, 223. Dubois, E., 128, 406. Ducrocg, A., 391. Duffy, sistema, 171.
ecologia, 29. economia
da caça, 227. da colheita, 227. «ecótipo aberto», 194. ectoderma, 123. ectomórfico, 86.
ectomorfismo, 8687. educação,, 212. efeito SewallWright, 213, 218. Egípcios, 292. Egolzwil,
264. Eickstedt, E. V., 22, 2526, 177,
222, 224, 254, 294, 297298,
314, 341, 344345, 350, 352,
434, 436, 438. Eldridge, H.T., 165. eliminação, 179. elites
, extinção das, 67. Ellsworth, 63. Elmenteita, 284, 288. endomorfismo, 8687. entoderma, 124.
Eoanthropus Dawsoni, 391, 417
418. epidemias, 152. epífise, 134. época, 357.
, glacial, 392. Eridu, 309. ErQ el Ahmar, 304. Ertebõlle/Borreby, 265. escolha
conjugal, 52. por contraste, 62. espaço
alimentar, 195. vital potencial, 182. espécie, 212. esperança média de vida, 147. esqueleto, 133.
Esquimós, 341. esquizotimía, 81. esquizotímíco, 81, 113. Escluizotímicos, 82. EssenMõller
, o método de, 94. Estabrooks, 431. estádio de desenvolvimento, 128.
470
indice
estatística
das correlações, 352. das migrações, 148. demográfica, 143. genética, 213. estatura, 37.
, aumento da, 140. esteatopigia, 289, 298. esteatopígico, 295. Esteatopígidas, 290, 297.
estímuloschave, 45. estratificações étnicas, 52. estrutura, 74. estruturas , horizontais, 88. ,
intermédias, 88. _, verticais, 88. estudo
das raças, 27. do comportamento, 198. Ethinos, 17. Etiópidas, 294. Etnobiologia, 50.
etnocentrismo, 72. etnossociologia, 51. etologia, 28. eugenia, 198.
, positiva, 198. eurofricãnidas, 291. «Eurantropo de Mauer», 404. eurion, 346. Europa, v.
História das raças,
Europa, 255. europóide, 287, 322, 435. Europóides, 189, 196, 251252,
255, 286, 288289, 292,308,311. evacuação,167. evolução, 178. exclusão da paternidade, 89. Exner,
61. exogamia, 34. expressividade, 205. extinçã o
das elites, 67. dos povos no estado natural, 69. Eyasi, 406.
factor
adiposo, 8081. de comprimento, 80. de robustez, 80. muscular, 80. factores, 103.
Falkensteinhõhie, 264. fanerantropídeos, 398. Farabee, 197. fase estacionária, 126. Fat'ma Koba
265.
fecundidade, quociente geral
de, 147. Federici, N., 140. Fêmeas, 129. fenogenética, 198. Ferrassie, La, 412. FiedIer, W., 440.
Fields, 107. Fielmann, 56. filogenia, 359.
evolutiva, 354. experimental, 354, 359. histórica, 359. Fischel, 46. Físcher, E., 22, 2526, 28
29, 98
100, 122, 197, 201202, 207,
218, 221222, 249, 259, 344. Fish Hoek, 285. fisiologia, 343. , humana, 28. Fisiologia da9 raÇa@,
167, igs, 206Fisiologia racial, 91. Fleischhacker, 205. Florishad, 282. flúor, método do, 390.
fluxo genético, 415. fluxos genéticos, 216. folhetos germinativos, 1,23.
ectoderma, 123. entoderma, 124. mesoQerma, 123. Folson, cultura de, 336. fontanelas, 134.
Fontéchevade, 256, 422. Ford, 31, 115, 216. formas , de crescimento, 105. , de matrimónio, 34.
fórmula, 213. fósseis, 388. fotografia, 351. Frassetto, 18, 20. Freeman, 106, 210. frequência
genotipica, 213. frecluências génicas, 213. frontotemporale, 346. Fuéguidas, 341. FuhIrott, J.C.,
221. Furfooz, 246, 261. Fürst, 348.
Galeno, 75, 218. Galley HilI, 264. Galton, 197, 198, 210, 211, 222. Gambies Cave, 285, 288.
Ganovee, 415. Garrod, 197. Gehlen, 41. Geiger, contador, 391.
471
índice
GejvalI, 144. Gêmeos
blovulares, 200.
dizigóticos, 200.
fraternais, 200.
idênticos, 200.
Monozigóticos, 200.
uniovulares, 200. gene, 100. genes capazes de adaptação, 215. Génese das racas, 64, 97, 137,
178,
198, 215, 224, 227, 230, 238, 251,
255, 3022, 433. genética, 213.
evolutiva, 218. flutuação, 213. Genética humana, 88, 99, 101, 107,
118, 123, 168, 178, 197, 224, 352,
362. Genética das poptilacões, 198, 212,
223, 352353, 364, 415. Genna, 177. genótipo, 98, 178. genótipos 200. Gerhardt: 269, 272273.
gerontologia, 132, 157. Gerok, 211. Geyer, H., 9293. ghetos, 73. Gibraltar, 412, 415. Gieseler,
401, 411, 423, 425. Gigantopithecinae, 405. Gigantopithecus, 385, 392, 405,
442, 445. Glabela, 346. Glockenbecherlente, 272. gnation, 346. Gobineau, J.A., 73, 222.
Goldschmidt, 211. Gõndidas, 435. gonion, 346. Gooch, 106. Gorila, 442. Goring, 60. Gottschaldt,
429. Goughis Caverne, 264. Gracílindas, 313. Grahmann, 398. Gramat, 261, Grassé, 440. Graunt,
142, gregas, populações, 311. Gregory, 371372. Grenelle, 246, 261. Grimaldi, 257 Grímm, 269, 271.
grupo
canino homomórfico, 383. dos antropóides, 366.
linguístico, 98.
sanguíneo, Diego, 208.
Duffy, 208.
KelI, 208.
Kidd, 208.
Lewis, 208.
luterano, 207.
Sutter, 208. grupos raciais
cimótrico, 203.
helicótrico, 203.
lisótrico, 203.
ulótrico, 203. grupos sanguíneos
, distribuição, dos, 191. Gruta de Antélias, 301. Guak Kepah, 305. Guanchos, 291. Günz,
394. Ousinde, 242243.
«habitat», 375. Flaeckel, 51, 354, 358, 365. Hahn, 120. Ranna, 108. haplóide, 199. haptoglobina,
209. Harappa, 309. Hardy, 213. Elartnacke, 56. Harvey, 356, 359. Hauff, 211. Hauschild, 119, 249.
Hayes 42. Heber@r, G. 199> 269, 271, 360
361,364,371,377,399,401,423. Heberle, 159. Hegel, 211. Heidelberg, 404. helicótrico, 203.
Helipach, 123.
362. hereditariedade Jainarckiana,
362. Herre, 121. heterocronismo, 205. heterogamia, 52, 62. híbridismo humano, 214. híbridização,
415.
racial, 101. hilobatídeos, 442. Hipócrates, 75. «hipótese dos gigantes», 404. História da
antropologia, ,t8. 344,
412. história da demografia, 144. História das raÇas, 18,1, 184. 186,
189190, 195196, 224225. 353,
364, 389, 401 434435, 445.
472
índice
África, 280, 438. Ásia, 300. Europa, 255. Indonésia/Oceânia, 318. América, 336. Hititas, 310.
Hoêdic, 261. Ho.fstãtter, 113, 132. Hohlestein, 264. Holbein, 211. Hõlderlin, 211. homem, 389.
médio, 7780. homem de Neandertal, 391398. Hominadae, 399400. hominídeo humano, 379.
Hominídeos, 353, 366, 440, 442
443, 445.
fósseis, 388. Homininae, 387. Hominóideas, 441, 443. Homo, 376, 381, 401, 416, 445.
Curativus, 115. _erectus, 364, 401, 417, 421.
erectus, 409. pekinensis, 409, 421,
426. _soloensis, 409, 421. faber, 115. habilis, 416, 426. heidelbergensis, 392, 414
415, 421.
présapiens, 421.
primigénius, 414.
rhodesiensis, 410, 421.
sapiens, 218, 280, 288, 319,
364, 389, 391, 398, 400401,
411, 417418.
fóssil, 194, 300, 306, 342.
fossilis, 389.
neanderthalensis, 414.
shanidarensis, 426. simus Ribeiroi, 218. sylvestris, 218. troglodytes, 218. homogamia, 52.
homologias, 357. homossexualidade, 30. HonerthõhIe, 258. Hooton, 6061. hormonas, 177.
Hornbostel, 431. Hotentotes, 297. Hotu Cave, 305. Howells, 107, 423. Ilulterantz, 140. human
engineering, 97. Hunos, 311. Huntington, 123.
Hürzeler, 377, 444. Hussen, 114. Huth, 66. HuxIey, J., 127, 223, 361. Huxley, T.11., 354, 440.
Ichthyostega, 361. Idade do Bronze,156. Idade Moderna, 151. ideologia racial, 72. impulso
agressivo, 37. incesto, tabo de, 34. índice
bruto de reprodução, 148. cefálico horizontal, 348. conjugal, 64. eraniano horizontal, 348.
facial, 349. ginandromórfico, 111. líquido de reprodução, 148. ponderal, 125. índices, 220, 348.
de natalidade e mortalidade elevados, 161. de natalidade elevados com indices de mortalidade
baixos, 161. de natalidade e mortalidade baixos, 161. de natalidade baixos com índices de
mortalidade médios, 161. de reproduço, 148. Indobraquicefálidas, 313. indogermânicas, 311.
Indonésia v. História das ra
ças, Indonésia/Oceânia, 318. Indopithecus, 442. «indústrias de pedra lascada»,
397. infância, assistência à, 164. infanticídios, 153. inion, 346. insulados, 183, 214.
inteligência, 46, 210.
, geral, 429. intimidade, 31. investigação
do comportamento, 99. sobre os gêmeos, 101. Iran@anos, 311, 312.
1shango, 284, 288. Ishiwra, 139. isolamento, 97, 178, 183, 230.
, áreas de, 227. isometria, 127.
Jabrud, 425. Jaensch, 432.
473
índice
Johannsen, 212. Jonsson, 132. Juda, 210. Just, 56, 114.
Kafuaniano, 397. Kãlin, 371, 377. Kalmus, 176. Kanjera, 280. Kant, 167, 197, 219. Kaplan, 119.
Katz, 47. Kaufertsberg, 265. Keilor, 320. Keiter, 95, 132, 431. Keith, 177, 304. KelI, sistema,
171. kenturn, língua, 253, 271. Kents Cavern, 264. Kenyapithecus, 379. Kerner, 211. KettlewelI,
216. Khartum, 284, 287. Khirokitia, 309. Khmer, 318. Kidd, sistema, 171. King, 415. Kinsey, 32,
132. Kirckpatrick, 429. Kisar
mestiços de, 201. Kjoelberg, 265. Klaatseh, 256. Mages, 115. Klenun, 73. Klenke, 120. Kliegel,
120. Klineberg, 429. Milver, 48. KoehIer, O., 46.. Koenigswald, GAI.R. v., 377,
404406, 409. KõhIer, W., 39. KohILarsen, 406. Kõhn, 211. KoIler, 352. Kõppen, 391, 393.
Krapina, 415. Kretschmer, E., 61, 74, 78, 81,
83, 8687, 103, 105, 107, 113,
225. Kroeber, 49. Kromdraaj, 444. Ksâr Akil, 301. Kuangsi, 306. Kummer, 378. Kurth, G., 417, 434,
436.
Lack, 152, 160.
Lagoa Santa, M. Láguidas, 341. Lamarck, 353. Landsteiner, 206. Lange, 211. Lansing, 338. Lapouge,
50. Laufen, 264. Lautsch, 259. Lawrence, 56. Leakey, L.S.B., 374, 379, 399,
416, 426. Learned, 42. Lehmann, 18, 132, Leis de imigração, 166. Len, W., 139. Lenz, W., 122,
124, 137, 141. leptossomáticos, 81. leptossomia, 55. leptossómico, 105. Lersch, 115. Leschi, 177.
Levalloisiano, 398. Lewis, sistema, 171. lex Papia Poppaea nuptialis, 165.
Leyhausen, 36. «Líbios», 292. linchamentos, 73. Lindezard, 74, 80, 88, 104, 114. Lineu, 218, 440.
língua kentum, 253, 271. linguagem mímica, 43. línguas satem, 253. lisótrico, 203. LiuCheng,
caverna de, 392. logaritmo, de paternidade, 95. Lombroso, 50, 60. Longhi, 211. Lorenz, 3637.
Lorimer, 65. Lorr, 107. Lottig, 211. Lsakey, L.S.B., 419. Ludwig, 95. Lundman, 250, 277, 279.
lugar, 357. luterano, sistema, 171.
machos, 129. Mackenroth, 159. Magelemose Bog, 265. Maiella, 264. Makapansgat, 444. Málidas, 435.
MaIthus, 143, 363. mamífero3, 439. Manouvier, 105, 344. mão, 48.
474
índice
Márgidas, 341. Martins, R., 20, 25, 221, 344.
348, 350, 352. Martiny, 124. masturbação, 30. Matjes River, 285. matrimónio
formas de, 34. proibição, 73. maturaidade
escolar, 133. sinais da, 128. tipo da, 133. Mechta
el Arbi, 283. raça de, 286, 291. medição, 344. medições de seres vivos, 221. Mediterrâneos, 291.
Meganthropus, 383, 407.
palaeojavanicus, 407, melanismo, 205.
industrial, 215. memória, 46. menarca, 122, 130. Mendel, 98, 197, 221222. mendelismo, 198.
menomeria, 200. mesoderma, 123. Mesolítico, 225, 260, 283, 303,
319, 337. mesomorfismo, 8687. mestiçagem, 214. mestiços de Kisar, 201. metabolismo, 177.
basal, 122, 177. método
de EssenMõller, 94. do flúor, 390. do potássioárgon, 391. do radiocarbono, 391. métodos
anticoncepcionais, 153,
156. Métodos de antropologkt, 25, 28,92.
126, 221, 343@ 390, 392. MiddIeStoneAge, 281282. migrações, estatística das, 148.
Milankovitch, 391, 393. Miles, 115. Mills, 105, 121, 137138. Mindel, 394. Miner, 106. miose, 178.
«missing link», 407. mistura biológica, 53. Mladec, 259. mobilidade social, 52, 158.
modificações, 201.
colectivas, 118.
de origem social, 53. «modjokertensis», 406, 421. Modjokerto, 406. MohenjoDaro, 309.
Mollison, 246, 265, 350, 385. Mongóis, 311. mongolóide, 308, 313. Mongolóides, 189190, 196, 251,
307, 315, 337, 339, 341. monogarnia, 34. monopolização das relações se
xuais, 33. Montalentí, 175. Mont Maurin, 417. Monte Carmelo, 415, 424. Monte Circeo, 412, 426.
morfologia
comparada, 357.
humana, 27. Mõrike, 211. mortalidade, 146, 156.
infantil, 147. tabelas de, 147. morte , probabilidade de, 147. MGustier, Le, 412. Movius, H. L.,
401. Mozart, 210. Muge, 261. Mugharet el Kebarah, 304. Mugharet el Wad, 304. MilhImann, 2930,
38, 46, 59, 71. mulatos, 201. Müller, K.V., 64, 66, 114. Murdock, 54. Murzak Koba, 266.
Musteriano, 397, 425. mutabilidade, 214. mutações, 98, 178, 212, 362.
Nagy Sap, 265. Naivasha, 281. nascimentos, 147. nasion, 346. natalidade
quocientes genéricos de,
147. Neandertal, 282, 412.
, homem de, 391, 398. Neantropídeos, 398, 412, 414,
445. Neel, 173, 199. Negrítos, 314. 322. negróide, 189299. Negróides, 189, 196, 243, 251,
282, 286, 289, 292293, 295,
299, 439. Negros
, problema dos, 72.
475
índice
Nerneskéri, 136. Neolítico, 149, 156, 226.
a era moderna, do, 267,
289, 308, 320, 339. Neomelanésidas, 321, 435. Neuessing, 265. Newman, 137. Ngandong, 407.
Nicéforo, 50. Nilótidas, 295. N N S s, sistema, 207. norma sexual, 32, normót!Po, 77, 80.
Nougier, 145, 151. NúbiGs, 292. número dos indivíduos, 49. Nyman, 114.
Oakley, K.P., 379, 391, 404. Oban, 264. Oberkassel, 258. Oceânia, v. História das raças,
Indonésia/Oceãnia, 318. Odor
corporal, 188.
racial, 176, Offiet, 246, 265, 267. OIbrich, 348. Oldowaiano, 397, 399. Oldoway, 281, 426, 444.
oligofrenia, 211. Oligokyphus, 361. Ona, 342. ophisthocranion, 346. Oreopitecíneos, 444.
Oreopithecus, 378379, 380, 444.
bambolii, 377378, 444. Organização Internacional de
Refugiados, .167, Orientálida, 299. Orientálidas, 311. Origem do homem. (A), 37, 39, 47,
128, 13S, 212, 219, 224, 353,
388, 395, 399, 401, 404, 442,444. ornamentos labiais, 188. ortoselecção, 364. Osborn, 65.
osteometria, 200, 345. Ottenstein, 173.
Pacífidas, 341. Palaenthropus, 399.
, javanicus, 407. paleodemografia, 144. Paleolítico, 156
Inferior, 149. Superior, 149, 225, 280,
300, 318, 336.
paleoniediterrãneos, 287. Paleomelanésidas, 321, 435. paleomongólica, 322. Paleomongólidas, 315,
318, 320. paleonégrida, 296. Paleontropídeos, 398, 410, 445. países subdesenvolvidos, 163.
Paleontologia, 390. PaJeontropologia, 27, 180, 186, 221,
224, 226, 280, 300, 319, 380381,
388, 444.
‘ Métodos da, 390. Pari, 442. panmixia, 213. pamir, 435. Paranthropus, 381, 384385, 396,
399, 404, 444.
, erassidens, 399, 405. Parapithecus, 372. Parne11, 104. Parpalló, 256. Pastore, N., 212.
pastorícia, 236. Patagónidas, 341. «Patjitanium», 407. património génico, 194. Pauling, 209.
Pearl, 106. Pearson, 20, 431. Pei, 405, 409. Penck, 394. Pende, 74, 7879, 81, 8384, 106.
penetrância, 205. períodos
glaciais, 392. interglaciais, 392. pluviais, 393. «personalidade endotímica»,
211. Pessler, 120. Petralona, 412. Petty, 142. PfaundIer, 124. pícnico, 86.
tipo, 105. pigr@entação, 189, 204, 235, 434. Pigmeus, 240, 296, 438. Pigmóides, 314, 322, 342.
, populações, 434. pirâmide
biotipológica, 83. das idades, 146. Pithecanthropus, 381, 399, 407
408.
, erectus, 406. Piveteau, 377, 401. plano de orientação, 349. platirríneos, 441, 443.
pleiotropia, 178, 188189.
476
índice
Plesianthropus, 381, 421. plica mongólica, 190. Pliocénico Superior, 389390. Plistocénico, 389.
Inferior, 395. Médio, 395, 418. Superior, 394, 411. Políbio, 67. polifenia, 178. poligamia, 34.
polimeria, 178, 200. polimorfismo genético, 209. Polinésidas, 322. PolJakoff, 96. Pongídeos,
366, 369, 442443. Pongíneos, 442. Pong, 442. Pons, 110. «ponta pendiculada», 398. pontos
anatómicos do corpo hum mano, 345346. craniométricos, 345. população, 212.
da cidade, 57. de híbridos, 401. densidade da, 49, 145. desenvolvimento da, 149. do campo, 57.
híbrida, 425. ideal, 213. mendeliana, 212. movimento da, 146. populações, 227, 364.
gregas, 311. humanas, 216. piginóides, 434. porion, 346. Portmann, 138. Porzig, 42, 44. potássio
argon, método do, 391. povoamento, 167. povo, 98.
, do bipene, 270. povos, 195. préaurignaciano, 425. Predmost, 259. Predmosti, 259. pré
hominídeos, 387. Préneandertalianos, 415. pressão
do ambiente, 396. selectiva, 180. primatologia, 224. probabilidade de morte, 147. problema dos
Negros, 72. proceritas
prima, 124. secunda, 124.
procônsul, 443.
, africanos, 374375. Proconsulídeos, 442. pordução de alimentos, 236. proibição, 34.
, de matrimónio, 73. Propliopitheesus, 372. prostituição, 34. protoantropídeos, 398.
Protornalásidas, 318, 321. Psicologia das raças, 192, 428. Psicologia humana, 28. Psicologia
racial, 68, 73. puberdade, 126. Palaúnguidas, 318. Punín, 338. Pykraft, 410.
Quatrefages, 18. Quina (Lá), 412. Quinzano, 421. quociente geral de fecundi
dade, 147.
raça, 9798.
adriática, 278. alpina, 278. báltica, 277. consciência de, 72. dalofálica, 277. de contacto, 294,
322. de Mechta, 286, 291. dinárica, 278. gôndida, 313. humana, 98. iraniana, 292, 311. málida,
313. mediterrânea, 276. nórdica, 276, 291. pamir, 435, pura, 185. sínica central, 316. sínica
meridional, 316. setentrional, 316. raças
de contacto, 300, 434. estudo das, 27. radiação, curva da, 393. radiocarbono, método do, 391.
Ramapithecus brevisostris, 379. ramos raciais, 194, 196, 254. Recentes, 442. Reche, O., 96, 217.
reconstituições, 392. refúgio, zonas de, 51. regulação térmica, 177. Rehoboth, Bastardos de, 201,
223, 298. relação mãefilho, 32.
477
índice
Remane, 357, 371, 377. Rensch, B., 49, 356, 388. repovoamento, 167. reprodução diferenciada, 153.
reservas, 73. Retzius, A.A., 220, 344, 348. Rh, sistema, 90. Riss, 394. Roberts, 137. Robinson,
396, 444. qodenwaldt, 201. Rohden, v., 61. Romanelli, 258, 264. Rothacker, E., 26. RugglesGates,
205. Rust, A., 404, 425.
Sacoopastore, 415. Saldanha, 411. Saller, K, 25, 225. Saio, 408. Sangiran, 406. S. Teodoro, 258,
264. sapiens, 397, 427428. Sarasin, 344, 348. satem, línguas, 253. Savona, 258. Schade, 92.
Schaeuble, 120. Schebesta, 243. Scheidt, 432, Scheinfeld, 54. Scheler, M., 26, 47. Schelling,
211. ScheIsty, 32, 34, 142. Schiller, 211. SchIezel, 104, 112, 115. SchIesinger, 124. Schmidt,
128, 242. Sehnurkeramik, 270. Scholz, 128. Scliopenhauer, 62. Schereider, 78, 114. SchulI, 199.
Schultz, A. H., 139, 224, 371,
377. SchultzeNaumburg, 63, 211. Schwab, 61. Schwalbe, 221222. Schwanitz, 364. Schwidetzky, 55,
6364, 94, 114,
119120, 431. segregação, 73. Segundo, 378. selecção, 51, 212, 230, 293.
coeficiente de, 214. teoria da natural, 363. selecções, 178. Semangueses, 243, 314.
Senoieses, 243, 314. sensibilidade gustativa, 91. Senyurek, 426. sepultura dos mortos, 426.
Sergi, S., 398, 404, 423. SewallWright
, efeito, 213, 218. Shanidar, 424. Shapiro, 119. Sheldon, 61, 74, 81, 8588, 106,
111, 114, 124. Shreider, 87. Shukbah, 304. ShulI, 110. Sialic, 309. «siekleeell», 208. Siebung,
51. Silvestroni, 175. Sílvidas, 341. símios 441. Simons, 378379. simpatria, 415.
«simpàtricamente», 183. Simpson, G., 223, 360, 443. Simpson, G.G., 440. sinais de maturidade,
128. Sinanthropus, 381, 386, 399, 407.
officinalis, 409. pekinensis, 408. sincondrose esfenooccipítal,
135. sindromas genéticos, 192. Singa, 284, 287. Sínidas setentrionais, 315. sistema, 130, 206,
217.
de cartas, 52. Diego, 171. Duffy, 171.
O c, 209. Gin, 209. Kelle, 171. Kidd, 171. Lewis, 171. luterano, 171. MNSs, 207. Rh, 90.
Sistemática das raças, 224, 432. Sistemática do% primatas, 97, 366,
369, 388, 398, 439. Sistemática racial, 254, 314, 436
437. Sivapithecus, 442.
, sivalensis, 372373, 382. Skerlj, 138. Skul, 424. slogan, 358. SnelI, 128. Snow, 425. social
anthropology, 51.
478
índice
Sociedades ètnicamente estratificadas, 58. sociobiologia, 50. Soergel, 393. somatometria, 345.
somatótípo, 85, 86. sornatotipo'ogia, 106. somatótipos, 86. somatotónica, 114. somatotónico,
temperamento,
87. Spannaus, 59. Speiser, 120, 244. Spencer, 51. Spingbock Flats, 285. SpuhIer, 199. Spy, 412.
Stachelin, 36. status, 130. Steggerda, 201, 430. Steinheim, 419. Steiniger, 205. Stelienbosch,
411. Sterkfonteiri, 444. Stern, C., 224. Stetten ob Lontal, 258. Stillbay, cultura, 411. Stockard,
105. Storch, 29, Strandioopers, 298. Stratz, 124, 132. Strauss, 210. Stumf1. 211. subespeles,
194. «subfõssil», 289. subpopu'.ação, 145. Sudânidas, 295. Sueiro, Earbosa, 435. superpopulação,
145. Süssmilch, 143. suturas do crânio, 135, Swartkrans, 404, 444. Swanscombe, 421.
tabelas de mortalidade, 147. TabelastiDO, 126. tabo de incesto, 34. tabos matrimoniais, 52.
Tabun, 424. Tagbah, 424. talassemia, 175. Talgai, 320. taras hereditárias, 208. társio, 443.
Tasmânia, 321. Taungs, 380, 444. «Táuridas», 310. Tayaziano, 397. Taylor, 32.
Telanthropus capensis, 404. Tell es Sultan, 305. temperamento
cerebrotónico, 87. somatotónico, 87. viscerotónico, 86. viscoso, 114. tempo médio provável de
vida,
153. teoria
da selecção natural, 363. do atavismo, 60. geral da evolução, A, 353. Tepexpán, 338. Terman, 55,
115. Ternifine, 405. Tévíêc, 261. Thielicke, R., 26. Thielme, 110. Thompson, 66, 166. Thomsen
141. Thurrlwaid, 34, 51, 59. TilIner, 205. tipo, 74.
asténico, 8182, 86, 87, 105. atlético, 81, 83, 8687, 105. cerebral, 76. constitucional, 351. da
maturidade, 133. da pubescência, 133. de CroMagnon, 229. de idade escolar, 132. digestivo, 75.
infantil, 132. muscu@ar, 76. pícnico, 86, 105. respiratório, 75. tipologia, 74. tipologias
constitucionalísticas, 74. essencialmente morfológIcas, 74. estatísticas, 74. impressionistas,
75. intuitivas, 75. somatopsíquicas, 74. tipos constitucionais, 103. Tischbein, 211. Topinard,
19. trabalho
divisão do, 50. divisão segundo o sexo,
53. tradição, 49. transferrina, 209. transmissão dos caracteres, 101. tribos, 195, trilobítas,
355, 364. Trinil, 406.
479
índice
TroPinard, 344. Trou du Frontal, 261. Tryon, 210. TscherinakSeysene99, 197. Tschulok, 357.
Túnguidas, 315316, 337. Turânidas, 312. turgor
primus, 124. secundus, 124. tertius, 124. Twiesseimann, 128. TY1er, 115. Tylor, 20.
ubicluitários, 182. UexküIl, v., 29. Mland, 211. ulátrico 203. Undent@ch, 131, 142,
Unterwisternitz, 259. Urtiaga, 281. utensilios, 395.
fabrico de, 426. utili@ação, 396.
Vallois, H.V., 256257, 301, 369,
377, 401, 422423, 435. valor crítico, 94. valores de saturação, 103. variantes
primárias, 105. secundárias, 105. variaveis temPeramentais, 86.
cerebrotonia, 86. somatotonia, 86 . viscerotonia, 86 . Védidas 309 312314.
1 oT1Cnt@js, 3og, 314. Verneau, 257. Vero, 338. Verschuer, O. V., 961 200, 206,
224. Vilafranquiano, 390, 349. Viola, 74, 77, 7"0, 84, 105106, Virchow, 221, 344. viscerotónica,
114. viscerotónico, temperamento,
86. viscoso, temperamento, 114.
vizinhança, 63. Vogel, 199. Volgt, 128. Vries, 197.
Wadjak. 319. Walter, 63. Washburn, 33, 40, 108. Welber, M., 73, 210, 440. Wegener, 391, 393.
Weldenreich, F., 301, 303, 405
406, 408409. WeimarEhringsdorf, 415 Weiberg, 213. Weinert, 406. Weininger, 62. Weizsãcker, V.
v., 26. Westermarck, E., 34. Westphal, 113. Wettstein, R. v., 364. Wiener, 173. Wilser, 414.
Wohlfart, 56. Wolf, 63. woitmann, L., 222. Woods, 210. WrIght, 22213, 218. Würm, 394.
Xãnidas, 3.18.
Yerkes, 42, 429.
Zeller, 128, 132. Zeuner, 391. «Zinjanthropus», 399. Zitzikama, 285. zona
climatérica, 194195. de concentração, 316. de contacto, 293. zonas corticais, 47.
de agressão, 35.
de contacto, 101, 316.
de fuga, 35. de refúgio, 51. _referenciais, 51. Zuckermann, 31. zygion, 346.
480
Astronomia Coordenação do Prof. Kari Stumpff Supervisão e prefácio da edição portuguesa pelo
prof. E. Conceição Silva; colaboração do Prof. F. Veiga de Oliveira, Dr. A. Perestrello
Botelheiro, Direct. Obs. Ast. Lisboa, e outros especialistas. Vol. de 466 pp., 119 ilustrações.
Religiões nãocristãs Coordenação do Prof. Helmuth von Glasenapp Com a colaboração de vãrios
especialistas portugueses a cada um dos temas e artigos originais dos Profs. Karl Prümm e
Constantin Regamey. Vol. de 438 pp., 79 ilustrações.
História Coordenação do Prof. Waldemar Besson Supervisão e prefácio da edição portuguesa
pelo']Doutor A. H. de Oliveira Marques e com a inclusão de cinco temas originais por
especialistas portugueses. Vol. de 502 pp.
Psicologia Coordenação do Prof. Peter R. Hofstãtter Colaboração para a edição portuguesa do
Prof. Miller Guerra e Drs. Antõnlo Esteves, Seabra Dinís, Martinho do Rosário e Rui Grácio. Vol.
de 457 pp., 94 ilustrações
Economia Coordenação do Prof. Heinrich Riffershausen Colaboração para a edição portuguesa dos
Drs. António dos Santos Labisa e João Correia Almeida, assists. 1. S. C. Económicas e
Financeiras Vol. de 480 pp., 101 Ilustrações.
Enciclopédia Meridiano Fischer
Enciclopédia Meridiano // Fischer
Composta de 45 volumes, esta obra constitui uma grandiosa síntese do saber moderno, do mundo
científico, histórico, artístico e literário, não se cristalizando num árido compêndio de factos
e datas. Os seus volumes foram organizados dentro de um plano sistemático que compreende os
conhecimentos fundamentais da cultura do nosso tempo. Cada um dos tomos, que nos introduzem numa
viva problemática tanto nas disciplinas científicas como humanísticas, foi dirigido e escrito
por eminentes especialistas nas várias disciplinas. Em cada volume a matéria é organizada por
artigos com o desenvolvimento essencial aos temas fundamentais de cada assunto de per si. Esta é
a grande e original característica da obra, tornandoa numa enciclopédia para ler e não sómente
para consulta. Uma das suas grandes particularidades é igualmente o facto de os volumes que
compõem a obra serem perfeitamente autónomos, de conteúdo medular, objectivo e rigorosamente
científico Os artigos relativos aos temas nos quais se divide cada urna das matérias distintas
figuram de acordo com a ordem alfabética e os índices incluídos na parte final dos tomos
permitem uma rápida orientação do leitor com respeito à ubiquação daqueles. A Enciclopédia
Meridiano // Fischer destinase a um público vastíssimo, constituindo apoio e elemento
insubstituível de leitura e consulta, um compêndio e manual de alto nível para o professor, o
técnico, o estudante, o profissional e para todo aquele que por curiosidade ou necessidade
deseje aprofundar os seus conhecimentos. A sua grande vantagem reside no facto de cada leitor
poder adquirir sómente o volume ou volumes respeitantes à disciplina que se propõe estudar ou
conhecer.
Edi@ora Meridiano
Plano da obra
Astronomia Religiões nãocris tas História Psicologia Economia Antropologia Música Religião
cristã Sociologia Emologia Física Química Matemática (2 volumes) Geografia Cinema, Rádio,
Televisão Filosofia Geofísica Arte (3 volumes) Biologia (2 vols.) I. Botânica; II. Zoologia
Pedagogia Literatura (3 volumes) Estado e política Técnica (4 volumes) Filologia Medicina (3
volumes) Direito Política internacional Teatro, Ballet Factos e personagens (AZ1 6 volumes
fi)
Uma enciclopédia moderna do conhecim~o universal