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ANTROPOLOGIA

VÁRIOS AUTORES

Como consultar este volume

Cada volume desta Enciclopédia constitui um pequeno tratado, uma unidade perfeitamente autónoma, 
porquanto compendia toda uma disciplina. O assunto encontra­se articulado numa série de 
compactas monografias sobre os temas fundamentais da ciência ou da arte em questão, 
alfabeticamente ordenados, que se identificam por um cabeçalho em negro. A fim de permitir uma 
mais eficaz e rápida procura, cada tomo inclui, no final, um amplo índice analítico com a 
indicação da página onde se explicam no texto assuntos de importância menos fundamental 
incluídos na exposição. Por exemplo, se o leitor deseja informar­se sobre a cultura do homem 
pré­histórico, encontrará no índice, na palavra cultura, além da remissão das páginas onde são 
tratados os vários aspectos particulares de cultura, a indicação do tema Antropologia cultural 
no qual se descrevem os factos específicos da manufactura de utensílios no quadro generalizado 
da análise da linguagem e do comportamento humanos. As palavras registadas no índice analítico 
são impressas no texto em itálico para facilitar a sua localização.
O sinal ­> indica que a explicação pode completar­se com a leitura do artigo objecto da 
remissão. Desta maneira estabelece­se uma concatenação entre os diversos elementos constitutivos 
do assunto tratado proporcionando ao leitor uma noção coerente e orgânica de todos eles. Os 
períodos ou frases enquadradas no texto pelo sinal constituem contribuições originais, notas 
explicativas ou esclarecimentos necessários do responsável pelo artigo nesta edição em língua 
portuguesa. Os volumes reúnem deste modo as vantagens de um dicionário enciclopédico às de um 
manual de introdução a uma disciplina, o que torna esta colecção um magnífico material de 
consulta de incomparável valor para toda a pessoa culta.
Enciclopédia Meridiano // Fischer

Antropologia

Redacção e coordenação dos

Proi. Gerhard Heberer, Dr. Gottiried Kurth

Prol. Rse Schwidetzky­Roesing

Editora Meridiano,
Título da obra original ANTHROPOLOGIE

by Fischer Búcherei KG, Frankfurt ani Main

und Hamburg

Capa de Felix Gyssler

La edição portuguesa: Novembro 1967
2.a  »         »    Abril 1971
3.a  »         »     Março 1974
4.a  »         »     Fevereiro 1979

CoDyright by

(0

Editora Meridiano, Limitada R. da Misericórdia, 67­Lisboa­2
Tradução de

A. DIAS RIBEIRO

LUIS M. FONTES

RUDIGER DIERM

V. MOURA RAMOS

Revisão de

AMÊRICO DE BRITO

Prefácio e supervisão de M. B. BARBOSA SUEIRO

Prof. cat. jub. Anatomia

Fac. Medicina Lisboa

Colaboração de

GERMANO F. SACARRAO

Prof. cat. Zool. e Antrop.

Fac. Ciências Lisboa

J. ARAIriJO MOREIRA

Assist. Física Médica Fac. Ciências Porto

CARLOS ALMAÇA Assist. Zool. e Antrop. Fac. Ciências Lisboa

RUY CINATTI

Dip. Antrop. Soe. e Etnog.

Universidade Oxford

JOSP CUTILEIRO

Dip. Antrop. Soe. e Etnog. Universidade Oxford

JOSE PEDRO MACHADO

Lic. Fil. Rom. Aca. Bras. Filologia
Colaboraram na redacção original deste volume

GERH­"D HEBERER: Introdução ­ Antropologia        Genética

das populações    História da antropologia     Métodos da antropologia    Origem do homem ­ 
Paleontropologia ­ Sistemática dos primatas.

GOTTFRIED KURTH: Conceito de raça ­ Génese das raças ­

­ História das raças.

ILSE SCHW1DETZKY­ROESING: Antropologia cultural ­ Antropologia social ­ Comprovação da 
paternidade ­ Constituição ­ Crescimento ­ Demografia ­ Fisiologia das raças ­ Genética humana ­ 
Psicologia das raças.
A reprodução total ou parcial de artigos incluídos neste volume é regulada pelo Preceituado no 
Decreto n., 13 725
ADVERTÊNCIA

Este volume é o resultado dos esforços dum grupo de consagrados cientistas que nos permite 
coordenar o nosso conhecimento sobre a origem do homem, a história da sua evolução, sua 
distribuição por raças e seus aspectos biológicos. É a primeira obra em língua portuguesa na 
qual se pode encontrar, conjuntamente, temas sobre a comprovação da paternidade, biologia 
social, genética das populações como também sobre paleontropologia e serologia humanas.

A matéria­base deste livro está ao alcance de todos e os seus colaboradores trabalharam no 
sentido de actualizarem o mais possível alguns dos temas que o constituem, preservando contudo a 
essência do original e tornando­o particularmente acessível ao leitor que não esteja ainda 
familiarizado com os assuntos versados.

A esta edição portuguesa, além de contribuições dispersas por vários temas, foi acrescentado o 
artigo referente à «Biotipologia», da autoria do Dr. Carlos Almaça, como igualmente se incluíram 
muitas páginas originais do Prof. G. F. Sacarrão, em especial nos temas que respeitam à «Origem 
do homem», «Paleontropologia», « Conceito de raça» e «Sistemática dos primatas».

A maior dificuldade na coordenação da presente edição residiu, porém, na adopção duma apropriada 
e uniforme terminologia, pois sendo a antropologia uma ciência em permanente evolução verifica­
se, quer em obras originais portuguesas quer em traduções da especialidade, critérios diferentes 
nas designações por cada qual perfilhadas e na inevitável criação de neologismos. Grande parte 
dos termos ultimamente empregados em escritos sobre antropologia ou ciências auxiliares não se 
encontram registados pelos dicionaristas. Impunha­se, portanto, procurar uniformidade para 
certas palavras de emprego mais corrente, especialmente as que designam culturas, raças, povos e 
grupos étnicos.
Advertência

Morosas e inúmeras consultas foram dirigidas a antropólogos, emólogos, arqueólogos, pré­
historiadores, filólogos e linguistas até se encontrar uma aceitação quase unânime para a 
nomenclatura a utilizar nesta obra.

Sem se pretender considerar como definitiva a terminologia agora adoptada, apresenta este livro, 
além do seu valor intrínseco na divulgação duma ciência tão excitante como é a antropologia, o 
mérito de ter contribuído para a sua uniformidade.

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PREFÁCIO

A palavra antropologia (do grego avOpw­rog, homem+ +,kuyoç, tratado) significa etimologicamente 
a ciência, ou melhor, o conjunto de ciências que versam o estudo do Homem.

já no tempo de Aristóteles havia antropólogos, filósofos que cultivavam o estudo das actividades 
mentais, tidas como os caracteres mais especificamente humanos. Esses psicólogos em antecipação 
entendiam que o Homem se assinala entre os seres vivos pelo fulgor da actividade mental, e assim 
a palavra antropologia se aplicava ao estudo dos factores que mais distinguiam o Homem. Tal 
conceito foi­se perdendo e o étimo surge então na linguagem dos teólogos, e porventura criado de 
novo, para exprimir acções e sentimentos atribuídos a Deus, mas que são próprios dos homens. De 
resto, esta acepção não alcançou uso correntio.

Reaparece o termo na Renascença, assumindo a significação de código de preceitos morais, com 
Magnus Hundt: (1501), e assim foi perdurando. Kant publicou em 1788 o seu «Ensaio, de 
Antropologia», contendo problemas de ética, e por sinal de leitura aliciante, embora redigidos 
naquele estilo difícil, bem peculiar do crítico da razão pura. Anos antes (1772), D'Alembert e 
Diderot registaram a palavra na Enciclopédia e repertaram­se à etimologia de «tratado, sobre o 
Homem», mas sem aludir à natureza dos assuntos ali incluídos.

Desde remotos tempos que se encontram, nas mais diversas obras, factos que actualmente pertencem 
ao quadro das ciências antropológicas. No século xviii desenvolve­se a acção prática do 
cartesianismo, os conhecimentos já existentes são catalogados, surgindo novas ciências, por 
virtude da paixão metodológica que se assenhoreara de todos os pensadores. Essa metodização 
rasgava também horizontes novos na observação e interpretação dos fenómenos e nomea­

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damente nos que respeitavam às ciências da natureza. A filosofia consagrada em uma arte de 
acrobacia mental, para alimentar devaneios imaginativos e as maranhas dos raciocínios, sofria o 
embate da nova filosofia natural, com base na observação concreta e na objectivação rigorosa dos 
factos naturais.

Pelo decurso do século xviii foi­se manifestando um novo critério para o estudo do Homem, quanto 
à anatomia, à comparação dela com a dos outros animais e ainda na sua aplicação aos primeiros 
ensaios de classificação racial, devendo recordar­se os nomes de alguns cientistas, como Buffon, 
Blumenbach, Lineu, Daubenton, Soemmerring, Camper, White. Com o dealbar do século xix 
intensificou­se o estudo do Homem, no ponto de vista naturalístico, em larga escala, e passou a 
aparecer o vocábulo antropologia para designar a orientação. Assim, encontra­se em Serres, em 
1838, como professor de Antropologia, ou História Natural do Homem, no Museu de História Natural 
de Paris, a individualização de ciências recentes, no século anterior e no que decorria, por 
exemplo anatomia geral, embriologia, fisiologia, anatomia patológica, anatomia comparada ou 
filosófica, anatomia plástica ou artística, demografia, paleontologia, etnologia e etnografia, 
sociologia.

Os mais denodados fomentadores, directos ou indirectos, da antropologia nos primeiros anos do 
século passado foram decerto Prichard, Cuvier, Lamarck, I. Geoffroy Saint­Hilaire, Serres, 
embora as respectivas doutrinas não fossem concordantes mas até antagónicas em muitos aspectos.

A literatura científica foi~se enriquecendo valiosamente com escritos de índole antropológica, 
nos primeiros cinquenta anos do século xix, nos assuntos que apaixonavam os naturalistas. A 
doutrina criacionista de Cuvier, segundo a qual os seres vivos haviam sido criados 
independentemente, com caracteres morfológicos imutáveis, estava no declínio, pela influência do 
lamarckismo, segundo o qual as espécies se transformam sob a acção do meio em que vivem e ao 
qual têm de adaptar­se para sobreviver. Era o desenvolvimento da doutrina transformista que na 
segunda metade do século floresceria, embora com modalidades como o evolucionismo de Spencer e o 
darwinismo, ou doutrina da

12
Pref ácio

selecção natural, a que mais se celebrizou, até. o aparecimento do mutacionismo de De Vries. O 
positivismo de Augusto Comte exerceu também grande influência na laboração dos ensaios 
antropológicos.

Foi nos meados do século passado que a antropologia se tomou ciência da moda, o que é comprovado 
pela fundação de numerosas sociedades científicas destinadas a cultivá­la. Existia em Paris uma 
Sociedade de Etnologia, inaugurada em 1839, a qual mudou o nome para Sociedade de Antropologia 
de Paris em 1859 e ainda hoje existe. A partir desse ano, até 1874, fundaram­se sucessivamente 
novas sociedades nas principais cidades europeias, e damos notícia de algumas dez. Surgiu a 
técnica antropométrica, à qual está ligado o nome de Paul Broca como o mais ilustre corifeu, 
embora não seja o criador do método, que aliás vinha de longe. Quetelet, astrónomo e matemático, 
teve a ideia de estudar os fenómenos vitais pelos métodos estatísticos que usava na astronomia, 
sendo assim um precursor da biometria, instituída por Pearson já nos começos do século xx. Outro 
impulso extraordinário se manifestou nos estudos da pré­história, em que também Broca foi dos 
mais eminentes investigadores.

Começaram a efectuar­se congressos de antropologia, nos quais a pré­história se assinalava como 
ciência preferida.

No decurso do último quartel do século xix, com Lombroso, apareceu a antropologia criminal, que 
originou igualmente congressos especiais. A escola de Lombroso alcançou grande nomeada e as suas 
doutrinas ultrapassaram os meios científicos e atingiram o grande público de cultura média.

O labor dos antropólogos, de orientação especulativa, filosófica, pode dizer­se que 
exclusivamente na primeira metade do século assumiu para a segunda metade um carácter de 
aplicação prática. Podem apontar­se a propósito numerosos estudos de sistemática apurada para a 
técnica da identificação humana, baseando­se sobretudo na sinalética

e na antropometria. Outra especialização, também de carácter prático, é a antropologia escolar 
ou pedagógica, que actualmente conta avultadi literatura do maior interesse.

No século presente cumpre destacar, no elenco das ciências antropológicas, a individualização da 
constitucionalís­

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Prefácio

tica, biotipologia, biometria humana, antropobiologia, genética humana, eugenia.

Em Portugal foi também nos meados do século xix que se revelaram os primeiros antropólogos. A 
antiga Comissão dos Serviços Geológicos do Reino, hoje Serviços Geológicos, organizou um museu 
antropológico, onde se foram coleccionando os materiais colhidos e estudados por Carlos Ribeiro, 
Pereira da Costa, Nery Delgado, Paula e Oliveira. Carlos Ribeiro fruiu fama internacional com a 
sua interpretação de que uns sílices encontrados em terrenos terciários dos vales do Tejo e do 
Sado tinham sinais de trabalhos de hominídeos. O trabalho, publicado em 1871, teve a aceitação 
de Mortillet, que denominou o hipotético hominídeo Homo símius Ribeiroi.

Entre os intelectuais portugueses adquiriu então a antropologia certa voga e era do bom tom 
falar frequentemente dessa ciência. A Sociedade de Ciências Médicas e a Sociedade de Geografia 
criaram, em 1879, comissões permanentes de antropologia, das quais ainda perdura a desta última.

Um acontecimento de notável relevo foi a reunião em Lisboa, no ano de 1880, do IX Congresso 
Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré­histórica, em que tomaram parte umas três 
centenas dos mais ilustres cientistas europeus desse tempo. Os congressistas portugueses eram 
oitenta e sete, onde se encontravam os maiores nomes dos intelectuais da época.

O ensino oficial da antropologia iniciou­se no nosso país com a criação da cátedra de 
Antropologia e Arqueologia Pré­histórica, fazendo parte da formatura na antiga Faculdade de 
Filosofia Natural da Universidade de Coimbra. Foi devida a Bernardino Machado, professor da 
referida Faculdade daquela Universidade; a respectiva proposta de lei foi aprovada pelo 
Parlamento e o Doutor Bernardino Machado assumiu a regência da cadeira que brilhantemente ocupou 
durante muitos anos. Também o mesmo professor fundou nesse tempo, na Universidade de Coimbra, um 
museu de etnografia, contendo colecções de cabeças ósseas humanas e moldes de um legado 
testamentário do célebre excêntrico o comendador da Gama Machado. Deve­se ainda ao mesmo 
professor, quando no ano de 1893 foi ministro das

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Prefácio

Obras Públicas, a fundação do Museu Etnográfico Português, actualmente instalado no edifício do 
Mosteiro dos Jerónimos, com o nome de Museu Emológico Dr. Leite de Vasconcelos, em homenagem à 
memória do seu primeiro director. Também em 1897 criou Bernardino Machado a Sociedade de 
Antropologia em Coimbra. Na mesma cidade foi organizado o Instituto de Antropologia por Eusébio 
Tamagniri, que sucedeu a Bernardino Machado na cátedra, até jubilar­se, em 1948, ao qual se 
seguiram os Profs. José Antunes Serra e Xavier da Cunha. Numerosos trabalhos têm sido publicados 
nesse Instituto por muito investigadores, dos quais se destacam Eusébio Tamagnini, J. A. Serra, 
Barros e Cunha, António Themido, Queirós Lopes, Canedo de Morais, Cardoso Teixeira, Simões de 
Carvalho, Duarte Santos, Isinénio Cardoso, W. L. Stevens, Maximiano Correia, Xavier de Morais, 
Maria Maia Neto.

Desde 1887 existia no Porto a Sociedade de Carlos Ribeiro, que tinha como seu órgão a Revista 
de, Ciências Naturais e Sociais, que a partir de 1898 passou a chamar­se Portugalia e terminou 
no ano de 1908. Contavam­se entre

os seus principais colaboradores Ricardo Severo, Fonseca Cardoso, José Fortes, Rocha Peixoto. Em 
1911 o primeiro governo da República Portuguesa instituiu a Universidade do Porto, transitando a 
antiga Academia Politécnica para a Faculdade de Ciências, na qual foi instituída uma cátedra de 
Antropologia e para ela nomeado Mendes Correia, ainda com a direcção do Instituto de 
Antropologia. Este cientista assumiu mais tarde, em Lisboa, a direcção da Escola Superior 
Colonial, actualmente Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Ultramarinas, até 
jubilar­se, tendo falecido pouco tempo decorrido. Deixou numerosos trabalhos nos diferentes 
ramos das ciências antropológicas.
O Instituto de Antropologia do Porto, hoje com o nome do seu fundador, foi a seguir dirigido por 
Alfredo Ataíde e actualmente está sob a direcção do professor da cadeira, Doutor Santos Júnior. 
No ano de 1918 fundou Mendes Correia a Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, cuja 
revista publica os seus trabalhos e ainda de outros colaboradores, Além de Mendes Correia e dos 
seus discípulos Alfredo Ataíde e Santos Júnior, temos a mencionar

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Prefácio

muitos outros cientistas portugueses dedicados à antropologia, como J. A. Pires de Lima, Hemâni 
Monteiro, Américo Pires de Lima, Bettencourt Ferreira, Amândio Tavares, Luís de Pina, Filipe 
Ferreira, Constâncio Mascarenhers, Lino Rodrigues, Melo Adrião, Fernando C. Pires de Lima.

Efectuou­se em 1930 o XV Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré­histórica, 
simultaneamente com a V Assembleia Geral do Instituto Internacional de Antropologia, com as suas 
sessões no Porto e em Coimbra. Também no Porto se reuniu, em 1934, o 1 Congresso Nacional de 
Antropologia Colonial.

Em Lisboa, depois do Congresso de 1880, as secções de Antropologia da Sociedade de Geografia e 
da Sociedade das Ciências Médicas tiveram diminuta actividade. Leite de Vasconcelos fundou a 
revista O Arqueólogo Português, onde inseria grande parte dos seus escritos, que versam 
principalmente sobre etnografia; nesta publicação colaborou igualmente Estácio da Veiga.

Francisco Ferraz de Macedo, natural de Águeda, fora para o Brasil ainda criança com os pais. 
Formou­se em Medicina na cidade do Rio de Janeiro e aí exerceu clínica durante anos, conseguindo 
deste modo amealhar fortuna. Apaixonado pela antropologia, frequentou a Escola de Antropologia 
de Paris. Instalou­se em Lisboa e aqui viveu nos últimos vinte e cinco anos do século passado e 
nos primeiros do presente, falecendo em 1907. Escreveu bastantes memórias, ensaios, 
comunicações, notícias sobre temas antropológicos e organizou uma colecção de mil cabeças ósseas 
humanas  ‘e duzentos esqueletos humanos, identificados, que, pouco antes de morrer, ofereceu ao 
Museu Bocage, da Escola Politécnica, e constitui valiosa colecção para estudos de osteologia 
humana. Alguns estudos com esse material foram realizados por António Aurélio da Costa Ferreira, 
antigo discípulo de Bernardino Machado em Coimbra e que se fixara em Lisboa pouco antes da morte 
de Ferraz de Macedo. Costa Ferreira exerceu o cargo de naturalista do Museu Bocage, na secção 
antropológica, até próximo da data da sua morte, em 1922.

Restaurada a Universidade de Lisboa, no ano de 1911, a antiga Escola Politécnica passou a 
Faculdade de Ciências

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Prefácio

e nela criado um curso de Antropologia, regido pelo professor de Zoologia, Baltasar Osório, com 
o Dr. Bettencourt Ferreira no cargo de assistente. Seguiu­se, a partir de 1926, o Dr. Fernando 
Frade na regência teórica de Antropologia e nós na regência das aulas práticas. De 1940 a 1961 
regemos esse curso, sucedendo­nos o Prof. Germano Sacarrão. Durante bastantes anos realizámos o 
ensino prático juntamente com o teórico. O Prof. Ricardo Jorge, director do Museu Bocage, 
iniciou a publicação de uma revista, em
1927, com o título de Arquivos do Museu Bocage, na qual publicou bastantes trabalhos, alguns em 
colaboração com Herculano Vilela e Viana Fernandes.

A partir de 1912, o Prof. Henrique de Vilhena, que dirigira o Instituto de Anatomia da Faculdade 
de Medicina da Universidade de Lisboa, iniciou a publicação do Arquivo de Anatomia e 
Antropologia, actualmente no XXXIII volume, onde se encontram numerosos artigos sobre 
antropologia.

No ano de 1919 foi criado o Curso Superior de Medicina Legal, do qual fazia parte um curso 
semestral de Antropologia Criminal, regido por Xavier da Silva, a quem sucedemos, em 1949, após 
a jubilação daquele colega.

O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Ultramarinas possui uma cadeira de 
Etnografia, regida pelo Dr. António de Almeida, autor de numerosos trabalhos, principalmente 
sobre aborígenes de Angola..

Foi fundado em 1933 o Instituto Português de Arqueologia, História e Etnologia, que publica a 
revista Ethnos.

Efectuou­se em Lisboa, no ano de 1952, o I Congresso de Medicina Tropical, onde havia uma secção 
de Antropologia, Etnologia e Nosologia.

Deve dizer­se que os estudos sobre a antropologia do Ultramar Português têm despertado o 
interesse de alguns investigadores, dos quais se destacam os nomes de Germano Correia, Santos 
Júnior, António de Almeida, Alexandre Sarmento.

O Prof. Vítor Fontes, discípulo de A. A. Costa Ferreira, escreveu numerosos trabalhos 
antropológicos nos dois institutos de que foi director, o do Doutor António Aurélio da Costa 
F=eira, para crianças anormais, e o Instituto de

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Prefácio

Anatomia Henrique de Vilhena, da Faculdade de Medicina de Lisboa.

Pelo exposto, bem se compreende que a antropologia não seja propriamente uma ciência, mas o 
conjunto de todas as ciências respeitantes ao Homem considerado individual ou colectivamente. 
Antropologia é pois uma enciclopédia de tudo quanto directamente diz respeito ao Homem e à 
Humanidade.

Consigna­se deste modo a dificuldade havida na definição de antropologia de maneira aceitável. 
Convém no

entanto que apontemos algumas delas.

Chamaram­lhe, no século passado (Quatrefages), «história natural do Homem», o que é bastante 
impreciso. Outra, já deste século, é também infeliz, a de Frassetto, que a designa por «zoologia 
do Homem». Broca, há um século, tentou definir­lhe o âmbito como o «estudo do grupo humano no 
conjunto, nos pormenores c nas relações com o resto da natureza».

Lehmann emitiu uma definição que obteve bastante aceitação: «estudo físico e psíquico do género, 
humano, do ponto de vista comparado».

A de Mendes Correia é mais satisfatória, ao referir que a antropologia «estuda os caracteres 
humanos físicos e psíquicos que têm interesse do triplo ponto de vista: LO, da posição do Homem 
na escala zoológica; 2.O, da origem do Homem e conhecimento dos primeiros hominídeos; 3.O, da 
classificação das raças, povos e tipos humanos».

Pela nossa parte, entendemos que antropologia é «o conjunto de ciências em que se faz o estudo 
do Homem, não só com fim especulativo mas também com o de aplicação, considerado individual e 
colectivamente, não só quanto à constituição e estrutura, quer normal quer patológica, como à 
dinâmica vital, à origem, à situação na escala zoológica e sua evolução, aplicando­se nesse 
estudo os métodos que vara tal possam ser empregados».

Conforme atrás referimos, foi a partir dos meados do século passado que começaram a formar­se 
novas ciências, pela necessidade de codificar a grande soma de conhecimentos acumulados já e a 
cada passo acrescentados com

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Prefácio

outros de recente aquisição, graças ao entusiasmo que os cientistas manifestaram pelas ciências 
da natureza.

Cada obra que actualmente se publique com o nome de Antropologia assumirá feição própria, 
organizada segundo a opinião do autor de acordo com o conceito, que tenha da índole básica dessa 
ciência. Dada a diversidade dos critérios, entre essas obras encontram­se profundas 
divergências, não só nos objectivos doutrinários, como também no programa para a exposição dos 
factos. O avultado número e a extensão dos conhecimentos ditos antropológicos explica e quiçá 
justifica a quebra de unidade doutrinal patenteada de obra para obra.

Mas verifica­se também que os seus autores procuram seleccionar e relacionar factos da 
observação, no intuito claro de estabelecer conjuntos que impliquem escopo classificador.

Se é difícil definir, não é mais fácil classificar, donde o amálgama de métodos, que traduzem 
subtilezas de opiniões e mesmo obnubilações na arte espinhosa do labor científico.

Broca, em 1866, classificava as ciências antropológicas em: antropologia zoológica, antropologia 
descritiva ou etnológica e antropologia geral. Topinard, em 1885, apresentou uma classificação 
mais complexa: A) Antropologia propriamente dita ou zoológica, compreendendo duas secções:
1) geral (a da espécie humana); 2) especial (a das raças humanas); B) Etnografia, em duas 
secções: 1) geral (comum a todos os povos); 2) especial (particular de cada povo).

Em 1891, a Escola de Antropologia de Paris, ainda no auge, possuía dezanove cadeiras ou cursos, 
cuja relação implica um plano classificador. Eram os seguintes: Antropologia e Embriologia, 
Antropologia Anatómica, Antropologia Biológica, Antropologia Geral, Antropologia Linguística, 
Antropologia Patológica, Antropologia Fisiológica, Antropologia Pré­histórica, Antropologia 
Zoológica, Demografia, Etnografia, Etnografia Comparada, Etnografia e Linguística, Etnologia, 
Geografia Antropológica, Geografia Médica, Sociologia, Etnografia Geral, Paleontologia Humana.

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Prefácio

Briton, em 1892, propôs a seguinte: somatologia (contendo anatomia, fisiologia, biologia humana, 
psicologia); etnologia; etnografia; arqueologia.

Martin, em 1900, apresentou a seguinte classificação: antropologia física (sinónimo de 
somatologia ou de morfologia); antropologia psíquica (sinónimo de etnologia e de etnografia).

Tylor, em 1906, fez conhecer a sua classificação, que despertou muito interesse entre os 
antropólogos: I) Antropologia física, com as subdivisões em: antropologia zoológica; 
antropologia palcontológica; antropologia etnológica; II) Antropologia cultural, com estas 
subdivisões: arqueologia; etnologia; sociologia, subdividida em: organização do governo c da 
sociedade; ideias morais e códigos; práticas religiosas; expressão do pensamento, linguagem 
escrita, desenho, etc.; tecnologia (artes, indústrias, suas distribuições geográficas).

Frassetto, em 1908, formulou a que se segue: antropologia física, com a secção: a) geral, 
compreendendo: antropologia zoológica c antropogeografia; antropologia embriológica ou 
antropogenia; antropologia anatómica; antropologia fisiológica; antropologia patológica; 
antropologia biológica, e b) especial, compreendendo antropologia palcontológica ou 
paleontropologia.

Nas classificações mencionadas não figuram algumas especializações, que se têm organizado e 
caracterizado indubitavelmente como ciências actuais, como antropometria, compreendendo a 
somatometria e a osteometria, hoje muito desenvolvidas pela aplicação dos métodos estatísticos 
desde a criação da biometria por Karl Pearson, constitucionalística e biotipologia, que 
originaram a recente psicossomática, noantropologia,   com que se designa presentemente a 
antropologia cultural, antropotaxia (classificação das raças humanas), origem do Homem, a que se 
deve aplicar o nome de antropogenia, que outros empregam como sinónimo de embriologia humana, 
genética humana. Também não figuram as especializações da denominada antropologia aplicada, como 
antropologia criminal, antropologia judiciária, antropologia escolar ou pedagógica, antropologia 
militar, sinalética e identificação.

20
Prefácio

Afirmou Sófocles que «no meio de todas as maravilhas não há maravilha maior do que o Homem». 
Quando os cientistas quiseram conhecer esta maravilha compreenderam que um mundo de 
extraordinárias surpresas se lhes oferecia a estimular­lhes a inteligência no desejo de 
justificar o deslumbramento que os atingira, levando­os a aprofundar o conhecimento do Homem com 
a criação de novas ciências.

Lisboa, Outubro de 1967.

M. B. Barbosa Sueiro

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INTRODUÇÃO

Dar um quadro completo e exaustivo da antropologia não é tarefa fácil, pois que esta ciência tem 
apresentado no transcorrer do tempo ‘uma extraordinária variedade de aspectos e desenvolvimento 
em diversos sentidos. Não é possível por essa razão delimitá­la nitidamente, assim como qualquer 
das ciências afins ­etnologia, psicologia e também a sociologia. Existem vastas zonas marginais 
com problemática própria. No presente volume propomo­nos tratar especialmente a antropologia 
«física», que é essencialmente uma disciplina das ciências naturais e trabalha com métodos 
análogos. Visto o seu objectivo consistir no estudo do homem do ponto de vista biológico, é 
apropriado, como propôs E. Fischer, falar de antropobiologia; de resto também E. v. Eickstedt 
estabeleceu, com fundadas razões, a necessidade de acrescentar, ao lado da botânica e da .,­:)
Iogía, um terceiro ramo da biologia, uma biologia humana geral, da qual a «antropologia física» 
deveria ser apenas um sector fundamental. Neste volume encontrar­se­á além disso uma temática 
muito variada: nela procurou­se destacar a antropologia, como «ciência do homem», do domínio 
exclusivamente biológico para a inserir numa «ciência geral do homem», na qual possam encontrar 
o seu lugar também as disciplinas humanísticas.

Apresentamos este volume esperançados em que o seu conteúdo contribua para a difusão de um 
conhecimento mais preciso sobre um sector mal explorado pela investigação científica e para 
dissipar os preconceitos que os movimentos racistas, e sobretudo o nacional­socialismo, tentaram 
criar em tomo dele. Os redactores do volume colaboraram num plano de absoluta igualdade. A 
direcção da obra foi confiada ao signatário. Na compilação do trabalho não surgiram quaisquer 
divergências dignas de reparo entre os três colaboradores, Isto significa que a antropologia, 
não obstante a sua

22
Introdução

breve, mas trabalhosa existência, apesar da diversidade da sua problemática, que vai da física 
molecular à psicologia da profundidade, está já hoje consolidada de forma a tornar possível uma 
exposição tão complexa como a presente. É óbvio que quando se chega às particularidades, 
especialmente se se trata de problemas muito profundos, não existe uma opinião unânime, pois que 
numa ciência na qual não é possível empregar a experiência projectada tal unanimidade não se 
pode obter. Os nossos conhecimentos são mesmo hipotéticos, provisórios, sem bases estáveis; a 
hipótese, porém, é o «primum movens» da ciência, e isto não é menos válido para a antropologia. 
Esforçámo­nos, no entanto, por confrontar, sempre que foi possível, o elemento puramente 
hipotético referente ao conjunto das teorias com os dados seguramente estabelecidos. Por grande 
que seja o número de correlações ainda não de todo claramente asseguradas, e por fragmentário 
que seja o material de que dispomos, resta todavia um fundo sólido de conhecimento sobre o qual 
se poderá edificar e que ­ é lícito

arriscar a previsão ­ constituirá no futuro a base para um ulterior desenvolvimento desta 
ciência tão difícil. óbviamente este livro não se propõe esgotar, nem sequer aproximadamente, 
nas particularidades, a «antropologia» como ciência natural e biológica, nem foi nosso intuito 
escrever tal obra como padrão para o especialista. Pelo contrário, este livro é dirigido ao 
profano, quer trabalhe em disciplinas afins, quer tenha simplesmente um interesse geral pela 
nossa ciência; para ele a leitura deste livro poderá ser proveitosa. Deparar­se­lhe­ão talvez 
problemas e factos sobre os quais antes não terá provavelmente tido ocasião de se debruçar, ou 
que talvez tivesse mesmo ignorado. Assim, para citar ao acaso um exemplo, indicam­se algumas 
entre as raízes mais profundas da «antropologia médica» e acerca da «antropologia fisiológica» 
fornece­se uma base que poderá também estimular a «antropologia teológica».

Na redacção dos artigos procurou­se fugir à esquematização, de modo que o leitor possa 
reconstituir sem esforço um quadro orgânico da matéria. Cada artigo apresenta­se ante§ como 
individualidade bem definida atrás da qual não é naturalmente impossível reconhecer a perso­

23
Introdução

­nalídade do autor. Os redactores deste volume esperam ter conseguido dar unidade aos vários 
sectores, tão diversos e divergentes, da antropologia, de tal modo que esta dê a impressão de 
uma visão unitária do homem.

Agradecemos à casa editora e à redacção da Enciclopédia o auxílio e a compreensão demonstrados 
durante a redacção desta obra.

Gerhard Heberer

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Antropologia ­­ Antropologia significa etimologicamente «ciência do homem». O termo remonta a 
Aristóteles, mas surge novamente em 1655 empregado por um anónimo para indicar a anatomia e a 
fisiologia humanas. A antropologia, que só há poucos decénios atingiu grande desenvolvimento 
científico, não alcançou ainda uma definição unitária no seu campo de investigação. Recentemente 
algumas sugestões foram propostas para definir a antropologia como ciência e delimitar o seu 
objectivo. (E. von Eickstedt,
1937; E. Fischer, 1953; K. Saller, 1957). Neste trabalho reportar­nos­emos especialmente a 
Fischer (1953­55). Actualmente uma das primeiras tentativas de definição é a dada por R. Martin, 
que na sua obra já clássica «Lehrbuch der Anthropologie i n systematisher Darstellung» (1914) 
(«Tratado Sistemático de Antropologia») a definiu como «história natural dos hominídeos na sua 
evolução no espaço e no tempo». Esta definição marcou durante muito tempo o conceito de 
antropologia em todos os países, com

excepção dos da língua inglesa. Nestes a antropologia é dividida em dois ramos: 1) história 
natural dos hominídeos, chamada «antropologia física», e 2) etnologia e etnografia (sociologia e 
etnografia), o que dá em resultado englobarem­se nela vastos sectores da história da 
civilização. O desenvolvimento recente da ciência antropológica mostra que a definição de Martin 
é muito restrita, pois que no que respeita à «história» natural, a antropologia abrange 
unicamente o presente e o futuro. Como ciência natural a antropologia compreende tudo o que é 
analisável com os métodos das ciências naturais (­­> Mélodos de antropologia), ou seja a 
morfologia (o estudo descritivo das formas somáticas) e a fisiologia (ciência das funções do 
corpo), compreendidos os processos biológicos e as variações hereditárias, como a variabilidade, 
a mutabilidade de transmissão de caracteres, os mecanismos evolutivos (selecção, «derivação 
genética», etc.), a génese dos grupos humanos e a história da evolução dos hominídeos (formação 
das espécies e sua distribuição geográfica). Também têm de

25
Antropologia

ser tomados em consideração os outros primatas, e particularmente os símios antropomorfos, pelo 
facto de serem os mais próximos parentes dos hominídeos. Este complexo conteúdo da «história 
natural dos hominídeos», aqui sumariamente esboçado, constitui s@mente parte daquilo que uma 
ciência do homem deve indagar. Os métodos das ciências naturais permitem­nos apreciar unicamente 
um aspecto do homem mas não a sua psique e as manifestações da sua actividade. Se bem que o 
estudo dos gémeos e das famílias, a etnografia e a etnologia respeitem essencialmente às 
ciências naturais no que se refere à aplicação dos seus métodos, todavia alarga­se também ao 
sector das ciências do espírito. Salientemos, como E. Fischer, que o «antropólogo prestes a 
terminar a sua investigação não pode supor ir alcançar o seu termo ou ter esgotado todas as 
fontes da ciência para o conhecimento do homem». Há na antropologia um aspecto que a aproxima 
das ciências do espírito, pelo que não pode ser considerada apenas como uma «história natural» 
dos hominídeos. A       definição de Martin mostra­se deste modo incompleta:        na realidade 
não podemos aplicar o termo «antropologia» a disciplinas distintas da história natural do homem, 
ainda que igualmente se interessem pela natureza humana; temos assim uma antropologia filosófica 
(M. Scheler), uma antropologia cultural (E. Rothacker), uma antropologia cristã (H. Thielicke), 
uma antropologia médica (V. v. Weizsãcker): no que se refere a esta última é claramente 
compreensível que esta disciplina não se pode nitidamente separar da antropologia como ciência 
natural. A possibilidade de fundir numa antropologia única os dois modos de observar o homem ­ o 
das ciências naturais, por um lado, e o das ciências de espírito, por outro ­ parte precisamente 
do princípio de que o homem constitui uma unidade físico­espiritual que pode ser analisada por 
qualquer dos modos. O objectivo consiste em obter um quadro da natureza do homem. Este processo­ 
síntese pode ser por isso definido globalmente. já Egon von Eickstedt classificara a 
antropologia, ao lado da biologia dos animais (zoologia) e a das plantas (botânica), como a 
«terceira biologia», ou seja a biologia do homem. E. Fischer propôs o uso do termo de 
«antropobiologia» para esta biologia naturalística do

26
Antropologia

homem, pois que ela ultrapassou o conceito convencional da antropologia como história natural 
dos hominídeos, enquanto com o nome de antropologia, correspondentemente à acepção literal do 
vocábulo, se poderá indicar o estudo do homem em geral. O termo abrangeria deste modo quer a 
investigação natural quer a do espírito (compreendidas também a metafísica e a teologia).

Nesta enciclopédia manteve­se o conceito tradicional de antropologia no sentido de uma 
disciplina naturalística, não esquecendo porém as ligações que ela tem também com as ciências do 
espírito. A confusão que reina numa parte, felizmente não muito extensa, do literatura 
científica é, na verdade, considerável, mas apesar disso não tem provocado qualquer dano à 
«verdadeira» antropologia. O leigo não irá procurar um filósofo ou um teólogo ou um médico, a um 
instituto de antropologia. Por outro lado, tão­pouco a zoologia se ocupará intensamente, por 
exemplo, da investigação do comportamento» (behaviorismo; psicologia animal) ultrapassando assim 
limites já de há muito estabelecidos e mudando o seu nome para zoobiologia. óbviamente esta 
analogia não é apropriada, porque, dada a posição particular do homem perante os animais em 
razão da sua inteligência, na antropologia a situação é bem diferente. Em todo o caso a 
antropologia não vai ao ponto de pretender tornar possível a elaboração de uma exaustiva 
investigação da natureza do homem.

De acordo com o esquema de E. Fischer, nesta obra articularemos como segue a esfera de acção da 
antropologia:

1)   Morfologia humana: morfologia geral e comparada do

corpo, dos sistemas orgânicos e dos órgãos dos hominídeos;
2)   Estudo das raças: morfologia sistemática e história

das raças;
3)   Paleontropologia: morfologia dos hominídeos fósseis (no quadro dos primatas), história da 
evolução

humana (antropogéneses).
4)   Genética humana ou antropogenética (doutrina da

hereditariedade humana): mecanismos hereditários, doutrina da variabilidade, selecção, genética 
das populações, leis da diferenciação racial (ver também 3).

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Antropologia cultural

5)   Fisiologia humana: investigação comparada das funções corporais;
6)   Psicologia humana: investigação das diferenças do comportamento;
7)   Patologia humana: aberrações morfológicas e fisiológicas, relações com a genética humana;
8)   Antropologia social: sociologia dos grupos, antropologia dos grupos;
9)   Antropologia aplicada: eugenética, higiene racial.

Para obter os seus resultados, a antropologia recorre aos métodos de pesquisa utilizados pela 
biologia geral, adaptados ao objectivo da sua investigação (o homem: ­> Métodos de 
antropologia).

A antropologia não pretende «abranger o homem no seu todo, isto é, no seu aspecto espiritual 
inescrutável, com os métodos das ciências naturais, nem tão­pouco negá­lo (E. Fischer).

Antropologia cultural ­­ O homem vive num meio cultural criado por ele próprio; é isto que 
fundamentalmente o distingue. Não é possível, portanto, uma caracterização do homem sem a 
análise e definição deste aspecto do comportamento humano. A tarefa da antropologia cultural 
consiste em elaborar e interpretar, a partir do material científico existente, o que é essencial 
para tal efeito. A antropologia cultural descreve as variantes de cultura como variantes de 
comportamento e, portanto, constitui parte de uma investigação biológica do comportamento 
(etologia). As suas atribuições mais importantes são: 1) O estudo da variabilidade de elementos 
culturais e de culturas, distinguindo entre constantes e variantes culturais; 2) O confronto e, 
em determinados casos, a comparação entre os modos de comportamento humanos e animais; 3) O 
problema da relação entre modos de comportamento instintivos (hereditários) e adquiridos (por 
aprendizagem), bem como o das bases biológicas gerais que servem de estrutura às capacidades 
culturais do homem.

CONSTANTES E VARIANTES CULTURAIS. A acção estruturante que a cultura exerce sobre o 
comportamento humano

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Antropologia cultural

diz respeito a todas as «esferas funcionais». Esta expressão, usada em ecologia (v. Uexküll), 
indica determinados círculos de vida com uma certa associação de órgãos, funções ou modos de 
comportamento, por um lado, e, por outro, determinadas partes do ambiente. Os círculos 
funcionais da alimentação, da hostilidade para com o inimigo, do sexo, etc., também existem para 
o homem, mas são de tal modo complicados por factores culturais intermediários que deixa de 
existir qualquer espécie de contacto directo entre o organismo e o meio natural; verifica­se 
deste modo uma «dilatação das esferas (ou círculos) funcionais» (Storch). No círculo funcional 
da alimentação, por exemplo, o acto directo da aquisição de alimentos foi ampliado, mediante a 
divisão do trabalho, à produção dos meios de sustento e à troca ou compra. Para o combate aos 
inimigos, o homem não possui qualquer órgão específico, servindo­se, desde os estádios mais 
primitivos de civilização, de armas construídas artificialmente. No círculo funcional do sexo 
incluem­se costumes tradicionais de aproximação, corte, noivado e casamento, bem como a 
regulação social das atribuições sexuais, etc. Esta construção de um novo ambiente 
especificamente humano a partir de coisas feitas ou inventadas também se designa 
autodomesticação, porquanto existem pontos de contacto com o ambiente «artificial», 
arbitrariamente influenciado pelo homem, dos animais domésticos; em ambos os casos se verificam 
sobretudo transformações arbitrárias nas condições que regem a nutrição e a reprodução. Estas 
transformações implicam análogas consequências biológicas, principalmente um aumento da 
variabilidade mediante o decréscimo da pressão selectiva (E. Fischer) .

Existe grande número de culturas vivas e mortas, isto é, de «formas típicas nas quais o homem 
representou e orientou a sua vida» (Mühlmann). Calcula­se o seu número em 3000 ou mais, conforme 
a quantidade de elementos culturais necessários para diferenciar as várias culturas. Só o 
conjunto de todas as variantes culturais de comportamento representa o comportamento específico 
do homem, e esse comportamento é precisamente caracterizado pela sua extraordinária 
variabilidade. As características comuns a todas as culturas vivas estão relativamente pouco 
generalizadas

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Antropologia cultural

(Mühlmann): 1) Em todas as culturas a natureza é transformada tecnicamente para satisfazer os 
imperativos de alimentação, abrigo e defesa; 2) Em todas elas se encontra um pensamento 
simbólico e uma linguagem com símbolos sonoros;  estes símbolos estão ligados a determinados 
significados com certas características de abstracção por referência à percepção e à experiência 
imediata; 3) Em toda a parte  há normas para o comportamento masculino e feminino, e não só no 
que se refere ao aspecto sexual, mas também no que diz respeito ao tratamento das crianças e à 
divisão do trabalho em geral; 4)   Em todas as culturas existe um impulso para a expressão 
artística e sua representação nos domínios    da música e da dança, das artes plásticas ou da 
poesia,  com cânones artísticos específicos;
5) Em todas as culturas  há noções de  ordem que regulam a vida do grupo e normas   do justo e 
do injusto, do bem c do mal, do conveniente e    do inconveniente, manifestando­se assim, na 
formulação das normas, uma necessidade geral de reciprocidade.

COMPARAÇÃO DE MODOS DE COMPORTAMENTO HUMANOS E ANIMAIS. As relações de parentesco que podem ser 
filogenèticamente interpretadas são susceptíveis de se determinar, não só por características 
somáticas, mas também pelos modos de comportamento, que adquirem uma importância sempre 
crescente na sistematização zoológica (comportamento homólogo). Assim, pode fazer­se remontar 
uma série de modos de comportamento humano a qualquer comportamento genérico de primatas, 
mamíferos ou até vertebrados. As variações especificamente humanas destes modelos genéricos de 
comportamento são de fundamental importância para a antropologia cultural.

COMPORTAMENTO SEXUAL. As variações mais importantes que se encontram na satisfação do instinto 
sexual nos seres humanos encontram­se também noutros primatas; além das relações heterossexuais, 
depara­se­nos a homossexualidade, a masturbação, os jogos amorosos de introdução ao coito, as 
brincadeiras sexuais da infância: a iniciativa tanto pode partir do macho como da fêmea. Na 
série sistemática que vai desde os primatas inferiores até ao homem observa­se

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Antropologia cultural

uma série de progressivas transformações: na determinação

o comportamento sexual diminui o papel das hormonas sexuais e aumenta o do controle cerebral; os 
modos de comportamento, dentro da espécie, tornam­se assim cada vez mais variáveis e sujeitos a 
uma contínua transformação, aumentando a importância da componente da aprendizagem. Os manejos 
sexuais do período pré­puberal servem para ensaiar progressivamente os modos do comportamento 
sexual. Os ciclos de cio das estações desaparecem: o interesse e a actividade sexual manifestam­
se em todas as estações nos primatas de grau mais elevado, mesmo nos que vivem em liberdade, 
pelo que todos os meses nascem animais (Zuckermann e outros); diminui a indiscriminação no 
acasalamento e, em seu lugar, surge uma clara preferência na escolha do «partner» (bastante 
evidente nos chimpazés, por exemplo). Em todos os animais Mmesticados ou vivendo em cativeiro 
aumenta a actividade sexual; é provável, portanto, que a forte sexualização do homem esteja 
relacionada com a sua autodomesticação.

Os traços principais do condicionamento da cultura humana sobre o comportamento sexual são: 1) A 
formação de uma esfera de intimidade, delimitada no entanto em grau fortemente variável. Nos 
animais primatas, os manejos sexuais e o acasalamento cumprem­se «em público»; em todas as 
culturas humanas, pelo contrário, preconiza­se o isolamento do casal durante o acto. Este facto 
pode interpretar­se como consequência das crescentes ligações pessoais relacionadas com o acto 
sexual; 2) A neutralização ou impedimento do instinto sexual em relação a determinadas pessoas 
(incesto, cf. mais adiante), em determinados domínios da vida (celibato sacerdotal) ou em certos 
períodos (castidade pré­matrimonial, etc.); 3) A sublimação do excesso de energia sexual noutras 
esferas de acção (arte).

A institucionalização do comportamento sexual nas diversas culturas assume grande variedade de 
formas (Ford, Beach). Entre outras coisas, as formas individuais de satisfação do instinto 
sexual são diversamente consideradas: a atitude em relação à homossexualidade varia entre a mais 
rigorosa proibição, com ameaça de punição, e a tolerância e indiferença, chegando até à 
consideração positiva e mesmo à sua exigência; de modo análogo, nos manejos sexuais da

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Antropologia cultural

pré­puberdade, oscila­se entre a mais completa liberdade         e

e a proibição severamente vigiada. Em algumas culturas a iniciativa é papel exclusivo ou 
predominante do homem, noutras é também permitida à mulher ou é­lhe atribui           a de 
preferência (isto, porém, à semelhança do que se verifica nos animais primatas, constitui o caso 
mais raro).'A delimitação da esfera de intimidade apresenta todos os gráus até ao tabo absoluto 
da vida sexual; a neutralização, pôr sua vez, apresenta todos os graus até à completa ascei@, 
«Uma estrutura que se opõe à satisfação do instinto sexualidade e cuja existência deve ser 
considerada a base de todas as organizações superiores, culturais e sociais» (Schelsky). A norma 
sexual não cobre, em nenhuma sociedade humana, todas as variantes possíveis; contudo, a 
quantidade de modos de comportamento «anormais» ou «imorais» pode variar grandemente até tornar 
a norma absolutamente indeterminada (relatórios Kínsey). As fortes variações históricas das 
normas sexuais são tão características do, homem

como a sua grande variedade étnica (Taylor).

FAMíLIA. A base da família é constituída pela relação mãe­filho. Na série dos animais mamíferos, 
esta relação é tanto mais duradoura, firme e rica de conteúdo quanto mais prolongada for a 
infância, isto é, quanto mais tempo a criança estiver dependente dos cuidados da mãe. Em nenhum 
animal esta relação se prolonga até à completa maturidade sexual do filho; em muitos casos, 
mesmo entre os primatas, essa relação estende­se para além do período de dependência alimentar 
do filho em relação à mãe. Neste caso, o núcleo familiar abrange, além da mãe, vários filhos de 
diversas idades, o que diferencia mais fortemente as relações sociais não só da mãe para com os 
filhos como dos irmãos entre si. Nos seres humanos o «processo psicológico da separação da 
família» (Count) é muito retardado, não chegando, em muitos casos, a consumar­se. Daí resulta 
uma

die

dupla série de relações familiares: com a família de origem («family of orientation») e com a 
família conjugal («family of procreation»). Deste modo, só no homem se verifica a possibilidade 
de uma ligação consciente de três gerações, e isto, constitui manifestamente uma condição

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Antropologia cultural

importantíssima para a instauração de uma tradição de experiências e conhecimentos.

Em quase todos os animais primatas o macho só tem relações individuais com a fêmea, nunca com os 
seus descendentes: é procriador, mas não pai. O ingresso do homem na família representa o passo 
decisivo para a formação da família humana (Count). Enquanto nos primatas os interesses 
familiares e extrafamiliares ­entre os ú ltimos principalmente a obtenção de alimentos­ se 
encontram praticamente desligados, na família humana estes dois círculos de interesses unem­se 
estreitamente. Nesta transformação, a passagem de um modo de vida predominantemente vegetariano 
a uma alimentação mais variada e sobretudo à caça grossa pode ter desempenhado um papel 
importante (Washburn). Nos primatas nenhum animal adulto cede aos outros parte dos alimentos que 
conseguiu obter (exceptuando o caso da chamada prostituição das macacas dos jardins zoológicos: 
a fêmea oferece­se ao macho em troca de gulodices); a caça, que parece já ter sido possível nos 
australopitecídeos, deve ter conduzido à diferenciação dos sexos na procura de alimentos (­­­> 
Antropologia socid, divisão do trabalho em função do sexo): é o macho, de preferência, quem 
procura a carne, mesmo para a alimentação da fêmea e dos filhos. Deste modo, à função protectora 
do macho, que representa uma característica do comportamento comum a todos os mamíferos, 
acrescenta­se uma nova função que contribui para a integração da família. Uma antecipação desta 
atitude social do homem é já visível nas muitas variações da capacidade social dos grandes 
símios: os chimpanzés machos protegem sempre as crias do seu próprio grupo; num grupo de 
chimpanzés prisioneiros que se componha apenas de macho, fêmea e uma cria observa­se também o 
comportamento «paternal» do macho, isto é, uma dedicação individual positiva para com o filho 
único.

A família humana é, além disso, caracterizada pela tendência para a monopolização das relações 
sexuais. «Por razões de protecção e de subsistência, o pai insere­se também... nas prolongadas 
relações entre a mãe e a prole. Esta relação contínua, biológicamente necessária à sobrevivência 
da prole, tornou possíveis novas formas de ligações

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Antropologia cultural

afectivas e de actividade recíproca, de relações de simpatia e de obrigações morais... Os laços 
duradouros que unem macho e fêmea na sua colaboração para a criação da prole transferem­se 
também ao seu comportamento como companheiros sexuais» (ScheIsky). Nos povos primitivos, o 
casamento e a família são sobretudo instituições económicas; a variedade de formas de matrimónio 
depende em grande parte da estrutura económica (Thurnwald, Westermarck); as tendências para a 
monopolização das relações sexuais impõem­se em grau variável com a institucíonalização social e 
religiosa do matrimónio, Contudo, subsistem ainda formas de poligamia em todas as sociedades 
humanas (a relação poligâmica encontrava­se muito difundida nas tribos primatas), quer 
sancionadas pelas próprias sociedades, quer proibidas. Onde a monogamia existe na sua forma mais 
rígida a poligamia subsiste sob a forma de prostituição, objecto da mais forte reprovação 
social.

Outra característica comum a todos os sistemas de famílias humanas é a proibição ou tabo de 
incesto; a família humana pode ser rigorosamente definida como «grupo em que se pressupõe a 
existência de relações sexuais entre os seus componentes principais, relações proibidas entre 
todos os restantes componentes do grupo» (Count). Apesar da divulgação geral deste tabo, é 
improvável que o mesmo se baseie num instinto, a ser verdade que tal instinto falte em todos os 
primatas; com efeito    entre estes há acasalamentos entre pais e filhas, mães e filhos, irmãos 
e irmãs. Em muitos casos, o tabo de incesto não se limita a pessoas unidas por uma origem 
biológica comum, pois abrange também membros do próprio grupo não unidos por vínculos de sangue. 
De resto, a ocasional supressão do tabo de incesto, e mesmo a presença de uma prescrição de 
incesto em algumas famílias reais (matrimónios entre irmão e irmã nos Incas, nos Ptolomeus, 
etc.) por motivos políticos, são elementos que depõem contra a asserção de um fundamento do tabo 
no instinto. A proibição de incesto tem duas funções sociais susceptíveis de explicar a sua 
origem e divulgação: estabiliza a família na luta pela vida ao excluir a possibilidade de 
rivalidades sexuais que, pelo menos entre os primatas no cativeiro, dão origem à maior parte dos 
conflitos sociais. Quanto à obrigação da exogamia (escolha do

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Antropologia cultural

cônjuge fora do grupo), liga as diversas unidades familiares, contribuindo assim para a formação 
de comunidades sociais mais vastas.

TERRITORIALIDADE E COMPORTaMENTO. A delimitação e a defesa de territórios próprios representam 
comportamento comum aos animais vertebrados. Nos vertebrados inferiores (peixes) existem apenas 
territórios de casal ou de família; nas formas dotadas de organização superior há também 
territórios de grupo, os quais podem dividir­se em territórios de família. A defesa do 
território é tanto mais violenta e eficaz quanto mais o assaltante se aproximar dos pontos 
vitais. Com o aumento da densidade populacional, tão frequente entre os animais aprisionados, as 
lutas pelo território tornam­se mais frequentes e violentas. Entre as funções sociais que 
determinam a escolha do território por parte de um grupo encontram­se a protecção dos mais 
pequenos, a distribuição uniforme da população, a diminuição, das lutas por questões sexuais ou 
de estirpe e a integração do grupo. A identificação com determinado lugar favorece também a 
individualização: como todos os vertebrados possuem boa memória local, é assim facilitado o 
conhecimento de outras criaturas da mesma espécie. A extensão dos territórios, assim como as 
zonas de agressão e de fuga, variam de espécie para espécie, mas também apresentam variabilidade 
individual; dependem, entre outras coisas, do tamanho do corpo, da necessidade alimentar e do 
género de alimentação.

Também se encontra uma noção de territorialidade própria nos primatas. Os grandes símios possuem 
territórios de grupo bastante extensos, afastando­se muito, por vezes, do local de concentração, 
do grupo. Especialmente entre os babuínos, o direito de cada indivíduo ao espaço está em relação 
com a sua posição, social. Contudo, não há nenhuma divisão fixa do território do grupo: as 
distâncias são fixadas em correspondência com as deslocações dos animais de estirpe mais 
elevada.

É evidente que a definição de territórios também desempenha papel importante na organização 
social humana. No homem, o território de grupo pode apresentar­se sob muitíssimas formas, desde 
as reservas de caçadores­recolectores,

35
Antropologia cultural

respeitadas geralmente pelos outros pequenos grupos, até à demarcação e à defesa das fronteiras 
territoriais nos povos das culturas superiores. Observa­se também o caso de indivíduos ou 
famílias isoladas que procuram assegurar a posse de determinado espaço e delimitá­lo (nos 
cárceres e nos campos de refugiados, por exemplo).

A hostilidade contra os vizinhos e a tendência para delimitar os domínios possuídos aumentam com 
a densidade das populações (Leyhausen, Lorenz). Nos doentes mentais observa­se determinada 
distância de fuga, variável segundo o indivíduo; se essa distância for ultrapassada por um 
estranho, o doente entra em pânico e o seu comportamento torna­se agressivo (Staehelin). A 
delimitação territorial e a agressão contra indivíduos estranhos ao território constituem 
óbviamente uma das bases do «pluralismo das culturas», porquanto se opõem à difusão de bens 
culturais, favorecendo assim a formação de modos de comportamento específicos dos vários grupos.
*/*
HIERARQUIA. Muitos grupos de animais, entre os quais os de primatas, são, à semelhança das 
sociedades humanas, estruturados segundo uma hierarquia. A posição de cada indivíduo na 
hierarquia é decidida por lutas que, em muitos casos, podem ser ritualizadas em actos 
cerimoniais. Deste modo, em vez das lutas verdadeiras, aparecem, por um lado, gestos e atitudes 
de ameaça e imposição, e por outro, gestos de humildade e submissão. As formas de comportamento 
que impedem a agressão de membros da mesma espécie constituíram­se principalmente naquelas 
espécies carnívoras (como os lobos) cujos componentes são capazes de matar indivíduos do mesmo 
tamanho. Entre os primatas, esta possibilidade veio a verificar­se com o advento da caça

e a invenção dos utensílios. O aparecimento de medidas de protecção contra o ataque e morte de 
membros da mesma espécie não resultou do instinto  ‘ mas de modos de comportamento aprendidos: 
só se ataca o indivíduo estranho ao grupo ou ao território; o que se conhece pessoalmente como 
membro do mesmo grupo é geralmente poupado.
O «conhecimento pessoal» e, consequentemente, os fenómenos de aprendizagem desempenham portanto, 
entre os animais, papel importante nas lutas pelo território e pela

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Antropologia cultural

categoria hierárquica. Contudo, o domínio do impulso agressivo, tanto no caso dos modos de 
comportamento instintivos como no dos aprendidos, é mecanismo fàcilmente perturbável (Lorenz).

As atitudes de ameaça e de submissão, de imposição e de humildade variam conforme as espécies. 
Os sinais de imponência dos indivíduos superiores são, nas várias espécies, geralmente 
representados por um levantamento do tom de voz, aliado ao auto­engrandecimento (arrogância, 
entufar das penas, porte erecto; em alguns animais levantamento das barbatanas, orelhas ou 
cauda); aos gestos de submissão corresponde a diminuição do tom de voz relacionada com o auto­
rebaixamento (constrangimento, humildade, cauda encolhida, orelhas pendentes, etc.). Estas 
formas básicas do comportamento específico relacionadas com a posição hierárquica são também 
reconhecíveis no homem, culturalmente transformadas por ele e tomadas objecto de aprendizagem, 
adquirindo características de obrigação social. As vénias e as mesuras, o tirar o chapéu, o 
ajoelhar­se rebaixam os de estirpe inferior; a atitude dos indivíduos que ocupam as escalas 
superiores das hierarquias são exaltadas e aumentadas por meio de artifícios técnicos. Máscaras, 
adornos da cabeça (tais como coroas e diademas), coturnos, assentos altos, vestuário vistoso, 
tudo isto serve para engrandecer a imponência do aspecto.

Nos vertebrados a aquisição ­de um lugar superior ou a conquista de um grande território é 
favorecida por uma superioridade de estatura; os indivíduos altos, robustos, vitoriosos nas 
lutas pela fêmea e pelo território encontram­se portanto favorecidos também do ponto de vista da 
selecção natural (­­­> Origem do homem, lei de Cope); a pequena estatura pode, no entanto, ser 
compensada por maior experiência e vitalidade. Nos primatas, entre os quais as diferenças de 
sexo são acompanhadas de acentuada diferença de estatura, são normalmente os machos que dominam; 
os gestos femininos de disposição para o coito podem transformar­se num acto geral de submissão, 
também usado pelo macho (principalmente nos babuínos). A classe da fêmea é frequentemente 
determinada pela estirpe do macho; pode, portanto, pelo acasalamento, stibir ou descer do ponto 
de vista social. A estatura e o sexo também desempenham

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Antropologia cultural

papel importante na hierarquizaçâo dos seres humanos (­­> Antropologia social). No entanto, com 
a crescente diferenciação da estrutura da sociedade, é provável que a estatura como sinal de 
imponência tenha perdido importância a favor da experiência, e que na sociedade moderna a 
correlação entre a posição social e os factores hereditários de estatura não exista de modo 
directo, mas tão­só através da correlação entre capacidade de aprendizagem e estatura. No homem, 
para além dos dotes individuais, outros factores numerosos, dèbilmente relacionados com o 
património biológico individual, contribuem para determinar o grau hierárquico: origem familiar, 
profissão, riqueza. Assim, enquanto nas soJedades animais só existe, regra geral, uma hierarquia 
simples ­ ou, no máximo, duas escalas distintas, para machos e fêmeas ­, na qual cada indivíduo 
ocupa determinado lugar, na sociedade humana subsistem hierarquias múltiplas (Count); a 
sociedade é estruturada em diversas hierarquias e o indivíduo pode adquirir diferentes posições 
hierárquicas consoante a família, a profissão, a vida social, etc.

UTENSLIOS.      O uso de utensílios assume importância especial para a    antropologia cultural, 
pois não só permite

o estudo comparativo das espécies vivas, mas também faculta a superação, através de achados pré­
históricos, da lacuna existente entre os primatas e o homem. Os utensílios são    objectos 
utilizados para alcançar certos fins; se se    perderem, podem ser substituídos por outros 
iguais, constituindo, portanto, componente consFig. 1. Chimpazé a enfiar duas      tante do 
equipamento téccanas de bambu uma na outra (segundo W. Kõhler, 1921)       nico (Mühlmann); 
geral­

mente só os objectos trabalhados se designam por utensílios (ferramentas). Muitos animais operam 
uma transformação «técnica» do ambiente;

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Antropologia cultural

por vezes, os animais adaptam alguns objectos, mas nunca os conservam. Na base das mais 
importantes realizações técnicas, tais como colmeias de abelhas, labirintos de térmitas, teias 
de aranha e ninhos de pássaros, existe sempre um componente instintivo preponderante, ao passo 
que o componente de aprendizagem é diminuto ou mesilio nulo. Nos primatas, cujo comportamento se 
modifica continuamente com a aprendizagem, verifica­se, mesmo em animais livres, a oportuna 
utilização de pedras (para quebrar nozes) e de paus. W. Kõhler realizou investigações 
sistemáticas em chimpanzés prisioneiros: estes utilizavam diversos objec­ tos (caixas, paus) 
para alcançar guloseimas que desejavam; em alguns casos conseguiram modificar com os dentes a 
extremidade de um pau oco para o inserir noutro e assim obterem um pau mais comprido: nestes 
casos assiste­se à adaptação de objectos já existentes. Quando se repetia a experiência, as 
várias operações decorriam mais­ depressa

Fig. 2. Fragmentos de osso e seu uso Drovável na cultura osteodontoquerática dos 
australoPitecídeos (segundo R.A. Dart, 1957)

do que da primeira vez, de modo que, mesmo sem adestramento, manifestava­se já certa tendência 
para a constância no uso dos objectos.

Na história da evolução humana, os australopítecídeos (­­­> Origem do homem) podem considerar­se 
os primeiros construtores de utensílios. Dart atribui­lhes uma «cultura osteodontoquerática» (ou 
seja, caracterizada pela utilização de ossos, dentes, cornos) que representaria @uma transição 
entre o uso ocasional de utensílios por parte dos antropóides e o fabrico de ferramentas pelo 
homem paleolítico: determinados tipos de fragmentos ósseos aparecem com tal

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Antropologia cultural

frequência nos achados que dão a ideia de uma escolha segundo um modelo constante, com vista a 
deten­ninados fins, chegando mesmo a fazer pensar em adaptações. Contudo, a maioria do material 
fóssil proposto por Dart é centestado.­ a abundância e o estado de conservação da maior parte 
dos fragmentos ósseos da jazida principal de Makapansgat sugerem ainda outras explicações (por 
exemplo: que se trate de restos do repasto de hienas); em Makapansgat, todavia, também se 
encontram peças trabalhadas, sobre as quais não podem subsistir dúvidas, e até mesmo utensílios 
formados de diversos fragmentos: ossos ocos insertos uns nos outros ­processo que recorda a 
inserção, umas nas outras, de canas de bambu praticada pelos chimpanzés (cf. Fig. 1)­ e  ossos 
do  metacarpo de antílope, nos quais os espaços entre as várias articulações são alargados a fim

Fig. 3. Utensilios do primeiro período de Chuku Tien (segundo

R. Grahmann, 1952)

de receberem a incrustação de outros fragmentos de osso ou de corno. Se é duvidosa a atribuição 
de toscos utensílios de pedra («pebble­tools») aos australopitecídeos da África do Sul, nem por 
isso deixa de ser muito provàvel no que diz rebpeito aos utensílios encontrados na nova jazida 
de australopitecídeos situada na garganta de Oldoway. Como os australopitecídeos caçavam, é 
natural que já nessa altura se servissem de ferramentas, pois nem a sua dentadura, de tipo 
semelhante ao humano, nem as suas mãos estavam aptas a desmembrar os animais muito corpulentos, 
sobretudo a dilacerar o espesso couro dos bovinos (Washburn).

Na história da evolução humana o estádio da produção de utensílios foi alcançado paralelamente 
ao de um volume encefálico que corresponde ainda ao dos maiores antropóides.

É indiscutível a adaptação, pelo Sinantropo, de objectos naturais, com vista à sua utilização 
para determinados fins,

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Antropologia cultural

e é também muito provável no que diz respeito aos representantes do grau Pitecantropo (cul'tura 
dos «chopping­tools» da Á sia Meridional, etc.). No decurso do Paleolítico, o trabalho sobre a 
pedra começou a aperfeiçoar­se; juntamente com objectos destinados a múltiplos usos apareceram 
diversas ferramentas especializadas de pedra e osso (pontas, rascadores, furadores, arpões, 
etc.). Estes utensílios pressupõem não só capacidade de engenho, mas ainda perseverança no 
trabalho e paciência, isto é, distanciação em relação ao objectivo final e reconhecimento do 
trabalho como constituindo uma realidade (Gehlen). Nos chimpanzés, pelo contrário, as 
reálizações técnicas surgem sómente em função da urgência imediata da situação­estímulo. No 
decurso da evolução técnica contínua que se seguiu ao Paleo­

Fig. 4. Utensílios do Paleollitíco Superior. Bifaces pontas e rascadores da caverna de Mik 
(Crimeia) e de Ilskaja, território

do Kuban (segundo R. Grahmann, 1952)

lítico, todas as matérias­primas naturais foram objecto de trabalho e as mais variadas tLnicas 
de laboração introduziram no ambiente do homem grande quantidade de objectos criados para 
constante utilização.

LINGUAGEm. Das diversas funções da linguagem humana as mais notórias são as de chamamento e de 
expressão, manifestações também comuns aos animais, que podem expressar alegria, cólera, medo 
por meio de ruídos ou movimentos compreendidos por membros da mesma espécie e às vezes também 
por indivíduos de espécies afins. As funções de comunicação e interpretação estão principalmente 
representadas na chamada linguagem das abelhas, que permite dar indicações precisas sobre, entre 
outras coisas, a natureza, direcção e entidade de uma fonte de alimentos; trata­se, contudo, de 
uma linguagem absolutamente here­

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Antropologia cultural

ditária. Entre os sons emitidos pelos primatas, os mais conhecidos são os dos chimpanzés 
(Yerkes, Learned,. Hayes, etc.): altura e intensidade sonora, ritmo, natureza e sucessão dos 
sons são extraordinàriamente variáveis e permitem, através das suas múltiplas combinações, a 
expressão, dos mais diversos sentimentos e disposições; existem ainda sons relacionados com 
situações específicas, além de certo número de variações individuais. A articulação, porém, é 
indistinta, dependendo da estrutura e da articulação da laringe, não se verificando 
representações vocais fixas, mas tão­sómente emissões de sons em cadeia, cuja duração depende do 
grau de excitação. Até agora só em raríssimos casos se conseguiu, mediante duro adestramento, 
ensinar a chimpanzés algumas palavras humanas isoladas, as quais, todavia, ainda não estavam 
associadas a significados determinados, embora estivessem contidas em complexos semânticos bem 
definidos. A tendência do chimpanzé para a imitação, se bem que muito desenvolvida, encontra­se 
limitada quase exclusivamente ao plano visual, ao passo que os sons não são por ele 
reproduzidos. A compreensão de palavras pode chegar a abranger meia centena de vocábulos; em 
certos casos é ainda possível ensinar a isolar e recombinar os elementos de frases aprendidas 
(Hayes).

A linguagem humana, estreitamente relacionada com o

pensamento humano e que deve ter­se desenvolvido em íntima união com este, caracteriza­se 
essencialmente pelo seu carácter simbólico: os sons destacam­se das diversas situações, 
considerados em si e fixados no seu significado, transformando­se assim em símbolos dos vários 
elementos da realidade. A formação de conceitos abstractos, o lidar­se com eles, em vez de com 
as próprias coisas, para determinar não só relações, mas também relações entre relações, é 
sómente possível com o auxílio do pensamento e da linguagem simbólicos. O controle recíproco do 
comportamento mediante a linguagem é incomparàvelmente mais rigoroso e económico do que o 
realizado através de qualquer outro sistema de gestos (Porzig). Daí resulta um menor dispêndio 
de energias e, portanto, maiores possibilidades de comodidade física, indispensável ao 
pensamento criador. O sistema simbólico da linguagem permite, além disso, mais ampla e duradoura 
conservação e comunicação de experiências e

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Antropologia cultural

conhecimentos, constituindo o meio decisivo para a formação de um património espiritual que 
transcenda as experiências isoladas. O alargamento da dimensão cronológica do presente para o 
passado e o futuro, que transpõe a extensão da vida individual, bem como a criação do «mundo 
interior» que determina continuamente o comportamento humano, estão do mesmo modo ligados à 
função simbólica da linguagem, libertando simultâneamente esse comportamento dos limites 
imediatos das várias situações concretas.

A linguagem humana é adquirida pelos indivíduos únicamente mediante a aprendizagem. Contudo, a 
capacidade de falar é uma disposição hereditária, encontrando­se ainda elementos hereditários no 
balbuceio infantil em muitos sons emitidos pelos surdos­mudos e pelos doentes mentais e nas 
características expressivas da linguagem. A variabilidade da linguagem implica como consequência 
a grande diversidade das línguas e as res­            ........ pectivas dificuldades de 
compreensão dentro da espécie. A linguagem mímica             k

também se modifica continuamente, articulando­se numa grande quantidade de variantes étnicas, 
sociais e históricas, nas quais só se reconhecem escassos elementos do instinto, como, por 
exemplo, os gestos de domínio e de submissão.

Quanto ao desenvolvimento filogenético da linguagem, sómente podem            Fig. 5. indícios 
da    existência formular­se algumas con­         de uma linguagem      no Auri­

gnaciano: o «mago»    dos Trois clusões   indirectas.    Pode                 Frères perguntar­
se quais as estruturas psíquicas que estariam na base dos modos de vida e das conquistas 
técnicas dos homens fósseis e em que medida estas estruturas pressupõem, ou pelo menos tornavam 
verosímil, a existência da linguagem. A história filológica da linguagem remonta aproximadamente 
ao ano

3000 a. C. (Sumérios); para o Paleolítico, Superior (Auri­

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Antropologia cultural

gnaciano) já se admite geralmente a existência de linguagem simbólica bastante desenvolvida 
(Porzig). A arte parietal do Paleolítico Superior revela forte tendência para a representação 
pictórica; essa arte trata livremente as coisas, combinando­as em imagens que estão à margem da 
realidade (o «mago» dos Trois Frères, por exemplo, que possui pernas humanas, cara de mocho, 
chifres de rena e pênis de gato).

É muito provável que também os homens do Paleolítico Inferior mais recente, principalmente do 
Mustieriano (Neandertalianos), possuíssem uma linguagem; semelhante hipótese resulta não só dos 
utensílios, os quais revelam já alto grau de constância na utilização de objectos, um 
afastamento do objectivo com vista ao qual os próprios objectos foram trabalhados e um 
reconhecimento do valor do processo de trabalho em si, mas também do facto de a imagem do mundo 
transcender já a experiência imediata: a sepultura dos mortos e as oferendas fúnebres 
testemunham a existência de pensamentos acerca da morte, manifestando­se uma tendência, com o 
culto dos ursos (em Drachenloch, Petersstein, etc.), para o domínio mágico das forças da 
natureza.

Admitindo que os Neandertalianos possuíam já uma linguagem simbólica humana, esta deve ter sido 
«inventada» provàvelmente pelos Proantropos (Pitecantropos e formas afins). É possível que os 
australopitecídeos já tivessem começado a associar certos sons a determinados significados, de 
modo que os seus gritos e apelos começaram a assumir valor discursivo; o uso da linguagem, 
entretanto, também se tomou extensivo às crianças. Na linha evolutiva dos hominídeos deve ter­se 
verificado de algum modo a intervenção, além da disposição para compreender os sons, da 
tendência para a sua imitação, tendência essa que falta em todos os primatas ainda vivos: com 
efeito, sem esta tendência não seria possível a aquisição, por aprendizagem, da linguagem 
humana, portanto, a própria linguagem humana.

INSTINTOS E INSTITUIÇõES. Em comportamentos humanos culturalmente formados pode reconhecer­se a 
sobrevivência de um conjunto de resíduos instintivos: na esfera das rela­

44
Antropologia cultural

ções sexuais, por exemplo, ou na relação mãe­filho, ou nas de domínio­submissão, ou ainda na 
tendência geral para a expressão e a interpretação que abrange também a linguagem. Os instintos, 
porém, determinam apenas a quantidade de energia e a direcção geral do comportamento, e nunca, 
como acontece nos animais (totalmente submetidos ao instinto), determinados comportamentos bem 
definidos. À falta destes, cada cultura extrai, da pluralidade dos modos possíveis de 
comportamento humano, certas variantes que eleva à categoria de padr5es de comporta, mento 
sancionados pela sociedade e obrigatórios para todos os membros do grupo. Semelhantes padrões de 
comporta­

‘Camada supenor

cinzento esem o

Argila clara. nenhum achado

Camada acastanhada, com achados (urso das caverrias, ut ensilios)

Argila clara. nenhum adiado
13.

Camada rochosa

Fig. 6. Indícios da   ste­ncia de uma linguagem na época

do homem de  Neatidertal. Culto do urso em Drachenloch

mento culturalmente determinados, ou instituições, evitam ao indivíduo a necessidade de tomar um 
número excessivo de decisões e indicam­lhe o caminho a seguir através da multiplicidade de 
impressões e estímulos provenientes do ambiente no qual o homem se encontra submerso, 
estabelecendo assim, de algum modo, certa ligação entre os humanos e o ambiente. As instituições 
não agem com o mesmo automatismo dos instintos: nestes, os estímulos­Chave e as reacções por 
eles evocadas conjugam­se de maneira precisa, excepto quando, como por vezes acontece nos 
animais domesticados, intervêm perturbações do instinto. «0 animal apoia­se nas regras do jogo; 
o homem

45
Antropolo.gia cultural

pode também apoiar­se nelas, mas nem sempre o faz... É como se a cultura «conhecesse» as suas 
imperfeições e se esforçasse, portanto, por garantir a maior segurança possível» (MühImann). O 
respeito pelas regras prescritas pela cultura tornou­se possível no homem devido à existência de 
leis rigorosas, as quais se fazem remontar a preceitos divinos e à ameaça de duras punições que 
podem ir até à danação eterna, enquanto nos modos de comportamento instintivos o cumprimento das 
regras é automático.

BASES BIOLÓGICAS DA CAPACIDADE CULTURAL. O comportamento humano é determinado principalmente 
através da aprendizagem. A sobreposição de formas de comportamento aprendidas e formas de 
comportamento instintivas pode observar­se já ao nível dos animais superiores, apresentando­se 
num estádio particulannente avançado entre os prima­tas. Por toda a parte onde há a considerar 
processos de aprendizagem, o comportamento torna­se mais elástico e variável. Uma elevada 
capacidade de aprendizagem constitui, portanto, um dos fundamentos basilares do comportamento 
humano. A esse respeito, de primordial importância é a memória, que manifesta, na série dos 
primatas, um aperfeiçoamento crescente: o tempo em que qualquer fonte de alimentos, uma vez 
revelada, se conserva na memória, de modo a ser imediatamente procurada numa segunda 
oportunidade, atinge cinco segundos nos prossímios, quinze segundos nos catarríni­­os e gibões 
e cerca de duas horas nos símios antropomorfos; no homem, o prazo de «adiamento da acção» é 
pràticamente ilimitado. A capacidade de estruturar o campo da percepção e a de lhe combinar 
variadamente os conteúdos parciais constituem outra base da inteligência, «a capacidade de 
aprender tendo em conta a experiência» (Fischel). A capacidade de isolar conteúdos parciais da 
percepção ­ que constitui a premissa para qualquer abstracção e formação de conceitos ­ já se 
encontra presente em embrião na série dos invertebrados, estudada como foi com especial minúcia 
em relação à « capacidade de contar» evidenciada pelos pássaros (0. Koehler), a qual também é 
assinalada nos primatas superiores. Contudo, em todos os animais subsiste a dificuldade de 
reconhecer uma coisa como idêntica quando se modificam as cir­

46
Humo s@ipwn,

Ilomem de N'eandertal

Sinantropo Pjt(@eantroi)(;

Antropologia cultural

cunstâncias exteriores e interiores nas quais se processa a percepção, ou quando essa coisa se 
apresenta acompanhada de outros objectos, ou ainda quando ela se encontra aliada a outra 
sensação emotiva (Katz, Scheler), Também no decurso do desenvolvimento ontogenético é a 
capacidade de analisar figuras espácio­ cronológicas e emotivas a que mais cedo atinge a plena 
maturação; o seu desenvolvimento varia não só com as diversas idades, mas também com os vários 
tipos constitucionais (­­­ > Constituição, correlações psicossomáticas). Na capacidade de 
analisar as percepções e na de rcconhecer a constância dos objectos (Katz), o Homo sapiens 
supera largamente todos os prunatas vivos. A constância dos objectos é uma base importante da 
A n t i o po i d es

linguagem simbólica, porquanto constitui condição     200 500     1000    1500     2000

essencial para fixar uma     Fig. 7. A capacidade craniana relação entre representação  (voi,,me 
do eneéfalo) no decurso

do processo evolutivo que condusonora e significado.                 ziu ao homem

A retenção de recordações, a análise das percepções e as associações são, em primeiro lugar, uma 
função do córtex cerebral: na série dos primatas, esta função denota progressivo aumento, devido 
em parte ao incremento da capacidade craniana e em parte também ao enrugamento do próprio 
córtex, que lhe aumenta a extensão. A lacuna que neste campo separa actualmente o homem dos 
outros primatas está a ser colmatada com o auxílio de achados fósseis (      ­­­ > Origens do 
homem). A par disso, nota­se progressiva diferenciação das zonas corticais, as quais podem 
distinguir­se histológicamente. As chamadas zonas corticais secundárias, que regulam as 
associações, aumentam em número e extensão muito mais do que as zonas corticais primárias, à s 
quais incumbe a percepção sensorial e a mobilidade. Assim, o

lobo frontal, particularmente importante para as funções mentais superiores, corresponde, nos 
prossímios, a 8 por cento de todo o córtex cerebral, a 17 por cento nos chimpanzés e a 29 por 
cento, em média, no homem. Neste

47
Antropologia cultural

encontraM­se partes novas, como o centro verbo­motor, na terceira circulivolução frontal 
esquerda (circunvolução de Bro­­a) e junto do centro de gnose e praxia, importante, entre outras 
coisas, para as práticas técnicas (Klüver).
O órgão mais importante para o desenvolvimento da cultura é, além do encéfalo, a mão, liberta 
das suas tarefas de locomoção e tomada apta para o trabalho; desenvolvendo­se com o advento do 
porte erecto, a mão laborante é portanto filogenèticamente mais antiga do que a dilatada 
capacidade cerebral humana. A destreza da mão no manu­

zonas corticais motoras e

i .,en@oria s

lobo frontal

outras znnas de associação

Fig. 8. O encéfalo como órgão da capacidade cultural do homem. Circunvoluções e regiões do 
encéfalo nos társios, nos antropóides e no homem. Os desenhos reduzem­se todos à mesma largura 
(segundo  A. Portmann, 1948; E. Sharrer, 1936*. M.F. AshIey

Montagu, 1951)

seamento  dos objectos não só é necessária para o uso e a laboração dos utensílios, e 
consequentemente para a transformação  técnica do meio, mas também auxilia a compreensão  da 
constância das coisas, favorecendo assim a

formação  do pensamento e da linguagem simbólicos; a presença deste componente na formação do 
mundo mental é ainda claramente perceptí vel em alguns usos linguísticos (recolher, apreender, 
compreender, perceber, etc.). Enquanto a geral capacidade de cultura do homem se fundamentar na 
constituição característica da espécie Homo,

48
Antropologia cultural sapiens, o creescimento e a diferenciação das culturas deixa de poder 
explicar­se a partir do património hereditário do homem. Com efeito, no final do Palcolítico 
Inferior a capacidade cerebral atingira já a grandeza típica do Homo sapiens. A partir dessa 
altura o processo de civilização não só registou notáveis progressos, mas também revelou ainda 
aceleração sempre crescente. A cultura aumenta por acumulação: o antigo sobrevive de muitas 
maneiras junto do novo, e a cada inovação aumentam as possibilidades de combinações e variações. 
A particularidade da evolução cultural, que trabalha mais pela adição do que pela substituição 
(Kroeber), permite também a coexistência de várias culturas, o que para o ser humano é tão 
característico como
* genérica capacidade cultural. O processo de acumulação
* que aludimos anteriormente pressupõe uma tradição de experiências e conhecimentos para a qual 
assume grande importância a existência da relação estreita e durável entre antigas e novas 
gerações durante o período extenso da juventude e o lento declínio da velhice. A capacidade de 
acumulação eleva­se a alto grau através da linguagem, tendo esta por seu turno de ser 
transmitida pela tradição como idioma aprendido, o       que foi grandemente acelerado pela 
descoberta da escrita. Os livros são «de certo                         1,,g (Ia gian,lk,Z@k (Ia 
modo cadeias de associa­                                      6

ções extracerebrais de com­                                   5

plexidade crescente e, por                                    4

fim, quase­ ilimitada, que                                    3 se podem ligar às cadeias 
­­­­­­­­­­­­­­­­­              2

de associações do próprio cérebro» (Rensch).

No processo de dila­       Fig. 9. Desenvolvimento cultural

e grandeza das PoPnlações. Duratação da cultura mediante      ção dos estádios culturais (Paleoa 
acumulação desempe­          lítico Médio e Superior, Mesolí­

tico, Neolítico, Idade dos Metais) nham também papel im­          e desenvolvimento da População 
portante o número dos in_      e, França (segundo cálculos de

L.­R. Nougier, 1954) divíduos e a densidade da população (  ­­­ > Demografia). As possibilidades 
de novas descobertas por intermédio de indivíduos aumentam com o número de pessoas; as 
possibilidades de difusão de novos elementos culturais acrescem com a densidade populacional.

49
Antropologia social

Por outro lado, em pequenas comunidades étnicas de baixo nível económico e escasso domínio 
técnico sobre a natureza, a divisão do trabalho não supera os estádios mais simples: cada 
indivíduo tem de obter directamente o seu alimento, não existindo pràticamente o ócio. Deste 
modo, os talentos particulares têm muito menos capacidade de se manifestar, ou de se exercer em 
tarefas especializadas, do que nas comunidades superiores, mais fortemente diferenciadas do 
ponto de vista económico e cultural. Divisão do trabalho e especialização aumentam as 
capacidades de reali@ação e adaptação da espécie; isto aplica­se igualmente ao domínio dos mais 
variados meios naturais, transfonnados por determinadas variantes culturais, tornando­se assim 
habitáveis para o homem, e à diferenciação interna das comunidades étnicas, onde a vantagem de 
selecção dos povos mais civilizados se expressa na maior extensão da população (­­­> 
Antropologia social, processos interétnicos de selecção). Será lícito supor­se, portanto, que 
também a capacidade genérica de cultura própria do homem seja favorecida pela selecção natural, 
a qual explica a progressiva formação de um modo de vida especificamente humano e a ascensão do 
homem a uma forma dominante entre os primatas.

Antropologia social ­­ As relações entre a natureza biológica do homem e os factos sociais 
constituem o objecto da antropologia social. Para os mais antigos cultores desta disciplina 
(Ammon, Lapouge, Lombroso, Nicéforo), a antropologia social deve investigar o que é constante na 
aparência variável dos fenómenos sociais. Semelhante diversidade constante entre grupos sociais 
(cidade e campo, grupos sedentários e nómadas, criminosos e não­criminosos), que abrange 
igualmente os caracteres físicos e psíquicos, era interpretada a partir de processos de escolha 
e selecção. As investigações mais recentes fizeram incidir o interesse sobre os mecanismos 
através dos quais a escolha e a selecção se realizam, passando as diferenças antropológicas 
(estrutura somática, faculdades intelectuais, idade, sexo) a ser tão­só consideradas como meros 
indícios para o estudo de semelhantes mecanismos. Deste modo veio a impor­se também a expressão 
biWogia demográfica (assim como biologia dos povos e, por vezes, etnobiologia, sociobiologia, 
biologia

50
Antropologia social

da sociedade). De qualquer modo, na Alemanha, assim como noutros países, a antropologia social 
representa um sector de investigação da biologia humana, enquanto na literatura anglo­saxónica 
social anthropology é a sociologia dos povos de interesse etnológico (etnossociologia).

CONCEITOS DA ANTROPOLOGIA SOCIAL. O primeiro conceito biológico onde se reconhece, mesmo do 
ponto de vista da antropologia social, uma categoria importante, foi o de selecção. Segundo 
Spencer, e Haeckel, também na concorrência social se impõem os «mais aptos» , representando o 
êxito social um termo de medida para a qualidade biológica. Este velho conceito, que se baseia 
numa visão optimista do progresso, costuma designar­se também por darwinismo social. Porém, 
quando o índice de natalidade começou a diminuir e se afirmou uma correlação inversa entre a 
posição social e o número de filhos (~­­@> Demografia), esta aplicação de conceitos darwinistas 
à sociedade humana deixou de ser defensável, porquanto as probabilidades de sobrevivência e 
reprodução já não forneciam, óbviamente, no domínio social nenhum critério de medida de validade 
geral para a «aptidão». Por ísso se elaborou inicialmente o conceito de contra­selecção 
(selecção dos «ineptos»), e este processo foi considerado como marca distintiva das sociedades 
mais evoluídas. Porém, como por um lado a aptidão pressupõe um critério de valor, e, por outro, 
muitos processos sociobiológicos de diferenciação se cumprem independentemente de 
características susceptíveis de avaliação, impos­se a exigencia de entender a selecção, ‘tia 
antropologia social, de maneira mais genérica.

Um outro processo, a princípio terminológicamente indistinto (e continua a sê­lo, com muita 
frequência, fora da Alemanha), é aquele para o qual Thurnwald propôs, em 1924, a designação de 
Siebung (literalmente: joeira). Este conceito indica a escolha ou separação quantitativa e 
qualitativa de determinadas variantes hereditárias, em relação a certas variáveis ambientais, de 
uma população polimórfica. A escolha local divide o território em vários ambientes geográficos 
(zonas de refúgio e zonas preferenciais, montanha e planície, zonas florestais e regiões 
aráveis, terreno rochoso e arenoso, etc., e ainda campo e cidade),

51
Antropologia social

de modo que a população global representa uma espécie de mosaico de populações com base 
hereditária diferente. Na escolha so2ial, os grupos profissionais e as camadas sociais de 
diferente hierarquia representam os diversos ambientes segundo os quais se separam as variantes 
hereditárias. Na realidade social, contudo, não se pode fixar uma clara linha divisória entre os 
referidos ambientes; a mudança do estado social efectua­se antes, com frequência, através da 
mudança de lugar (emigração, migração campo­Cidade). Por fim, também a escolha conjuga@ actua em 
sentido selectivo, vindo o cônjuge a representar o factor ambiental que faz intervir a escolha; 
existe homogamia quando ambos os cônjuges se diferenciam no mesmo sentido da média da população, 
isto é, quando apresentam correlação positiva, e heterogamia quando ambos se destacam na 
direcção oposta da média da população, isto é, quando apresentam correlação negativa. Os 
mecanismos da escolha, portanto, estruturam as sociedades humanas sem no entanto alterar o seu 
património genético. Porém, dado que no homem reprodução e duração da vida são fortemente 
condicionadas por factores culturais e sociais, os «Siebungsaruppen» são também frequentemente 
grupos com diversos índices de reprodução e, portanto, grupos de selecção.

A escolha (Siebung) só pode consumar­se numa sociedade dinâmica, onde existam intercâmbios 
matrimoniais entre as várias camadas sociais, e nunca, portanto, onde subsista um sistema de 
castas corri tabos matr@moniaís e barreiras intransponíveis entre os vários estratos sociais. 
Também nas sociedades caracterizadas por uma mobilidade social muito elevada a escolha das 
variantes hereditárias nas respectivas esferas ambientais está muito longe de ser completa; com 
efeito, ao processo de separação opõe­se um momento inicial de inércia que tende a manter os 
indivíduos ligados ao grupo social de origem. Além disso, do ponto de vista antropológico, 
muitos processos sociais não possuem qualquer importância, porquanto são determinados por 
factores de natureza absolutamente extrabiológica. Da relação de forças entre os diversos 
factores sociais depende a eficácia do processo de selecção. As diferenças entre gnipos sociais 
podem também ser devidas a estratificaç6es étnicas,

52
Antropologia social nas quais os estratos inferiores correspondem a povos vencidos: neste caso 
os estratos sociais representam grupos de diversa origem que se unem para formar um novo povo. 
Com o tempo, os tabos matrimoniais e as barreiras impostas ao intercâmbio entre os vários grupos 
sociais tendem a afrouxar e por fim a desaparecer: nessa altura, mistura biológica e assimilação 
cultural homogenizam a população, se bem que possam conservar­se durante muito tempo, por causa 
do momento de inércia social, alguns resíduos das diferenças hereditárias. Se estas diferenças, 
tal como se observam entre grupos sociais, são devidas à escolha ou a um fenómeno de 
superstratificação é algo que pode determinar­se sórnente a partir da história da população e 
nunca com base em simples achados antropológicos. Só o uso de métodos antropológicos, no 
entanto, permite definir a acção dos dois processos sociais, ou seja: distinguir uma 
diferenciação hereditária das sociedades por referência a modifica_ções de origem social (­­­> 
Constituição, plasticidade).

DIFERENÇAS ANTROPOLóGICAS ENTRE GRUPOS SOCIAIS. a) Divisão do trabalho segundo o sexo. A 
diferença mais elementar de natureza socio­antropológica é a divisão do trabalho segundo o sexo, 
a qual está relacionada com a natureza variada das funções que incumbem aos dois sexos

Fig. 10. Diferenças sociais na estatura. Distribuição da estatura no estrato inferior (linha 
contínua) e superior (linha tracejada), a partir, de investigações efectuadas sobre recrutas 
suecos (segundo F.J. Linders. 1930)

53
Antropologia social

na procriação, à diferente força física e à diversa mobilidade que caracterizam homem e mulher. 
Nos povos primitivos as tarefas mais típicas sã o a guerra, o trabalho dos metais e a caça, para 
o homem; para a mulher, as actividades domésticas, tais como a preparação dos alimentos, das 
roupas e o fabrico de louças (Murdock­Scheinfeld). Os dois pólos da especialização sexual dos 
papéis sociais, o «pólo da força» e o «pólo da casa», conservaram­se através de todos os 
estádios culturais até à moderna sociedade industrial. O trabalho das máquinas e a mobilidade 
social atenuaram a especificidade sexual de muitas profissões, sem contudo as abolir por 
completo. Assim, na laboração dos metais, e sobretudo na indú stria pesada, o pessoal é 
predominantemente masculino, ao passo que na indústria têxtil o elemento feminino constitui a 
maioria. Nas complexas estruturas sociais que se foram formando desenvolveram­se outras 
diferenças sexuais, deixando a profissão de ser condicionada apenas por factores biológicos, o 
que é demonstrado pelas consideráveis variações que se verificam segundo o período, o lugar e a 
cultura; deste modo, nos ú ltimos dois decênios, a profissão de farmacêutico, por exemplo, 
transformou­se de predominantemente masculina em prevalentemente feminina. O homem, contudo, 
predomina geralmente em tudo o que requer genialidade, produtividade artística e capacidade de 
assumir posições de chefia. É este um facto que não pode explicar­se simplesmente a partir de 
obstáculos de carácter social que a mulher teria de superar para dedicar­se a actividades que 
competem tradicionalmente ao homem; uma confirmação, entre outras, encontramo­la na estrutura 
social soviética, onde existe total igualdade entre sexos: em 1940 as mulheres encontravam­se 
representadas em cerca de 30 por cento nas associações e organizações políticas de mais baixo 
nível, em 17 por cento no Soviete Supremo, em 5 por cento nos

governos das repúblicas populares e em O por cento no governo central. Nesta distribuição dos 
papéis de chefia, a clara diferença sexual que se nos depara encontra­se relacionada, apesar da 
paridade de inteligência, com certas diferenças na esfera afectiva e da vontade; com efeito, 
costuma falar­se de actividade masculina e passividade feminina, de interesse masculino pelas 
coisas e interesse

54
Antropologia social

feminino pelas pessoas, etc. (­­­> Constituição, correlações psicossomáticas). As mulheres, por 
consequência, revelam um impulso social menos forte e, portanto, uma escolha social menos 
marcada do que a do homem (Schwidetzky, Terman).

b) Camadas sociais e profissões. Pode afirmar­se, em regra, que um grupo social denota estatura, 
inteligência e

precocidade tanto maiores quanto mais alto se encontrar na hierarquia das camadas sociais. A 
superioridade física dos grupos de nível mais elevado, lGcalizáveI sobretudo na maior estatura e 
capacidade craniana, encontra­se também documentada no que diz respeito a povos pré­histó ricos 
(Grécia antiga, população pré­hispânica das ilhas Canárias). A «aristocracia» intelectual tende, 
além disso, em confronto com a média da população, para a leptossomia; dentro da hierarquia 
social provinciana, a classe dos camponeses caracteriza­se frequentemente pela acentuada 
corpu.lência. Estas diferenças podem reportar­se a niodificações de origem social. Com efeito: 
1) A maturação e o crescimento apresentam elevada correlação com o nível de vida, especialmente 
com o teor de gorduras e proteínas na alimentação (­> Crescimento); 2) Nos testes utilizados nos

inquéritos sobre a inteligência intervêm não apenas os com­

Fig. 11. Diferenças sociais na inteligência. Distribuição dos quocientes de inteligência em 
quatro grupos sociais dos Estados

Unidos (segundo M,E. I­laggerty e N.B. Nash, 1924)

55
Antropologia social

ponentes hereditários das faculdades intelectuais, mas ainda factores do ambiente intelectual, 
que por sua vez apresentam as mesmas variações da inteligência. A intervenção da escolha social, 
responsável por variações hereditárias, referem­se, entre outras, as seguintes correlações: 1) A 
variação gradual da estatura não é condicionada apenas pela origem social, mas também, dentro 
dos mesmos grupos de origem, pela posição social. Indivíduos que sobem ou descem na hierarquia 
encontram­se frequentemente mais próximos do grupo de chegada do que daquele de onde partiram; 
2) A variabilidade social da estatura e da inte­ ligência é maior do que aquela ligada a 
modificações de origem social, tal como a conhecemos através de investigações levadas a efeito 
sobre gérneos; 3) A inteligência dos filhos ilegítimos coincide com a situação na hierarquia 
social dos respectivos pais naturais (7ust, Lawrence). É pro@ vável que as escolhas por estatura 
e inteligência se encontrem relacionadas entre si (­­­> Constituição, correlações 
psicossomáticas). O papel primário deveria caber à inteligência, ao passo que a estatura, 
relacionada com a inteligência, talvez viesse a encontrar­se casualmente nos mesmos indivíduos. 
A leptossomia da «aristocracia» intelectual corresponde à superioridade psicossomática dos 
leptomorfos em relação aos picnornorfos. Além da escolha social relacíonada com a posição 
hierárquica, há ainda uma escolha ligada a determinadas profissões. Assim, no interior das 
mesmas camadas sociais, os vários grupos profissionais ocupam posições muito diversas em relação 
às exigências específicas de cada profissão: no sector do artesanato, a indústria gráfica é 
aquela que apresenta a maior percentagem de aprendizes com cursos secundários, seguindo­se­lhe a 
indústria têxtil e finalmente a indústria alimentar; a escolha segundo o grau de instrução, 
nestes casos, intervém de maneira muito mais sensível do que a relação com a profissão paterna. 
No domínio da indústria alimentar, os pasteleiros ocupam a posição mais elevada, aparecendo no 
fim os padeiros e os cortadores (Fielmann). Entre os estudantes liceais, os futuros médicos 
especialistas obtêm nos testes resultados superiores aos dos futuros médicos de clínica geral, 
dos dentistas e dos veterinários; superiores a todos os outros são os testes dos estudantes que 
se pro­

56
Antropologia social põem como fim profissional a investigação científica (Hartnacke­Wohlfahrt).

O tipo constitucional de alguns grupos profissionais não corresponde, por vezes, à posição 
social: sapateiros e alfaiates apresentam estatura inferior à dos operários não especializados 
(Saxónia, Silésia, Dinamarca, Suíça).

c) População da cidade e do campo. Quem nasceu e vive na cidade, especialmente nas grandes 
cidades, possui frequentemente uma estatura mais elevada se comparada

com as populações rurais dos arredores, apresentando com frequência, ao invés, um índice 
cefálico horizontal inferior; a puberdade (­­­> Crescimento) aparece, em regra, mais cedo; o 
rapaz da cidade é quase sempre superior nas aptidões escolares e de inteligência. Também na 
formaçã o das populações urbanas, escolha social e modificações sociais actuam em conjunto, e 
por vezes na mesma direcção, de modo que os seus efeitos se adicionam. As modificações 
provocadas pelo ambiente urbano (caracterizado, entre outras coisas, pela menor eficácia das 
radiações ultravioleta,    % pela permanência em lo­        “900 ­

cais fechados e por menor      80 ­

trabalho  físico    pesado)                   1865

manifestam­se, entre ou­       60                 / em cidad,­

so­               1/ ­­­­ com mais trás, nas seguintes caraC­     40­                  de 10() 
000 terísticas: 1) As crianças     30 ­                 habitantes)

20                      em nascidas na cidade têm a       O                    <@”0Munidadcs

com menos de 5000 testa mais estreita do que     o[                   habitantes

os seus progenitores nasci­      155 160 165 170  175 180

Fig. 12. Diferenças de estatura dos no campo (Berlim,          entre cidade e caml)o 
encontraHanover); 2) As crianças       das em recrutas dos Países Bai­

xos, no ano de 1940. As diferenlevadas  para    a   cidade    ças sociais são inferiores à 
trans­

f rmação da estatura a partir de aproximam­se tanto mais        10865! (segundo W. Lenz, 1951) 
do tipo urbano quanto

em

10

n com me  s &

mais depressa abandonam o      campo (Breslau); 3) As diferenças de inteligência entre crianças 
do campo e da cidade são nienores na idade pré ­escolar, aumentando na idade escolar: 4) A 
relação cidade­campo, no que se refere à maturação e ao crescimento, inverte­se em épocas de 
carestia (guerra, pós­guerra): nesses períodos, as crianças do campo, mais bem alimentadas, 
desenvolvem­se precocemente.
57
Antropologia social

Anos
15,O

Quando se encontram diferenças não só entre populações citadinas e rurais, mas também entre quem 
abandonou o campo e quem lá ficou, pode­se então falar de selecção ligada a factores ambientais. 
Este facto é demonstrado:
1) Pelas características da pigmentação, as quais, estreitamente relacionadas com a 
hereditariedade, deveriam ser

resultado de diferenças hereditárias entre cidade e
14,9                             campo; o fenómeno, con­
14,8                             tudo, poderia também es­ )4,7                             tar 
ligado a diversa distrí­
14,6                             buição genética, isto é, a
14,5                             mais acentuada heterozigo­
14,4                             tia da população urbana,
4,3                              mais heterogénea quanto
4,2                              às suas origens; 2) Pela
14,1                             estatura e índice cefálico
14,O                             horizontal, mas apenas em
13,9                             quem emigrou para as

grandes cidades e não
13,8     Noruega sem oslo        para as pequenas (Silé~
13,7 . ...... OS]o               sia); 3) Não só as crian­

ças nascidas na cidade,,
1881 90 91 1900 1901 os 1906­10 1911 15 mas também suas mães

Ano de nascimenlo        nascidas no campo e obri~ Fíg. 13. Diferenças entre cidade   gadas, 
ainda núbeis, a proe­campo no processo de maturação sexual. Idade da menarca       curar refúgio 
nas cidades, em, Oslo confrontada com o do resto da Noruega (segundo B.       apresentam uma 
aceleração

Skerlj, 1939)            no acabamento do desen­

volvimento; 4) Enquanto os pontos l'3 foram    sómente confirmados por inquéritos­Modelo, 
existem muitos inquéritos que confirmam a emigração dos indivíduos mais dotados do campo para a 
cidade. É este, porém, um resultado que não pode generalizar­se. Assim, os sociólogos 
americanos, a partir de certo número de inquéritos efectuados sobre niodelos populacionais, con­

cluíram que tendem a emigrar para a cidade quer as pessoas muito dotadas, quer as pouco dotadas, 
enquanto a população rural de capacidade média está mais ligada ao seu ambiente.

d) Sociedades ètnicamente estratificadas. A estratifica­

58
Antropologia social

ção reconhece­se com mais facilidade onde coexistem populações de raça diferente. Na época da 
expansão colonial europeia, uma minoria branca sobrepunha­se frequentemente, como estrato 
dominante, a uma população indígena de cor (Indonésia, África do Sul, Uganda, América do Sul), 
eu então semelhante estratificação resultava da importação de escravos de cor (sobretudo nos 
Estados Unidos). Em grandes zonas da África, a pele de um indivíduo é tanto mais clara, 
aproximando­se ele tanto mais do tipo racial europóide quanto mais elevado é o estrato social a 
que pertence (Spannaus); é este um                            resultado da constante pressão 
demográfica exercida                      pelas populações europóides da África Setentrional, 
% a qual provocou uma                            11 estratificação de grupos 
40

30                                  ei(lades de características mais                        20 
COM mais

de 100 OW acentuadamente europói­                        10 
hal)itante­s des      sobre       grupos          de     ­,,, .s     , .   1 5W 2000 2500 b­ 
2500 características predomi­                       %                                   Sul,

so

Ckl@ d@s nantemente negróides                           40 
(Mai, de (Ashanti, Yoruba, Ka­                          30­                                 2500 
nuri,      Katoko,          Asande,            20­                                 habitan@(,s 1

Mangbetu, etc.). Ori­                          10­                    ...... ......

gem análoga têm pro­                           %cle 500$  IMO 1500 2000 25X`_tie 2500 vàvelmente 
as diferen­                         so ças somáticas entre as                         40 
comuni várias castas na india                         30E                    ­1 Sul

20

ai@1 ícol,'us com estatura relativa­                         10              . ....... mente 
elevada, nariz pe­

je 500    IOW  1500 2000 2500­(le 2500 queno       e    pele     clara,       a 
famílias                 fa in i 1 i as favor das castas supe­ 
l)raneas                  n,,,” as

riores: conquistadores in­                  Fig. 14. EstratificaçãG étnica. Dis­

tribuição       do      rendimento            entre do­arianos, oriundos do 
Brancos e Negros nos Estados Uni­

dos: os Brancos situam­se, em perNorte, sobrepuseram­se                      siu  aJ@u@ .10y01U 
041,nim Iua2,eJu@3 aqui a uma sociedade                        classes de rendimento mais 
elevado.

As diferenças em comparação com indo­europóide provàvel­                    os Estados dd Sul. 
são menores nos
do Norte (segundo M. F. Nimkoff, mente já estratificada. 
1947) A etnologia conhece numerosos casos de sobreposição, a populações camponesas, de povos 
pastores nómadas, que são geralmente mais leptossómicos e inteligentes (Mühlmann, Thurnwald).
Antropologia social

e) Crimffialidade. Lombroso considerava o delinquente um portador de numerosos caracteres 
atávicos, o qual, quer na sua constituição, quer na inteligência e na vida afectiva, ou no 
comportamento e nas formas de vida, retrocedera até à vida selvagem dos povos primitivos, a um 
estado, por assim dizer, bestial. Esta teoria do atavismo é hoje insustentável à luz da moderna 
investigação do comportamento, da antropologia cultural e da psiquiatria; contudo, observaram­se 
com relativa frequência anomalias somáticas e psíquicas nos criminosos, principalmente nos mais 
perigosos e nos delinquentes habituais. Assim, tanto os criminosos italianos (Lombroso) como os 
americanos (11ooton) apre­

Fig. 15. Diferença entre cidade e canino nas faculdades mentais.
1@ enunciada, em percentagem, a capacidade mental acima da mediana determinada mediante testes 
adequados, na população báv@ra das escol@s primárias. Confronto entre Munique e Nuremberga e as 
regiões da Baviera e de Sudeste e de Noroeste. A canacidade mental, embora apresente o mesmo 
valor nas cidades e nos campos circundantes é superior nas primeiras (segundo A. Huth, 1941  ) 
sentam geralmente testa baixa, barba rala, farta cabeleira, assimetria do crânio e do rosto. 
Estas anomalias exprimem uma genérica inferioridade física e espiritual (Goring) dos 
delinquentes, os quais, quer na inteligência, quer nas capacidades somáticas, se encontram 
abaixo do nível próprio das camadas sociais inferiores, apresentando altas percentagens de 
demência e psicopatias. Entre as diversas categorias de delinquente revelam­se diferenças 
consideráveis, tanto no plano somático como no psíquico; os homicidas, por exemplo, são mais 
corpulentos e de estatura mais elevada do que a média dos criminosos, ao passo que os

60
Antropologia social

ladrões são mais leves, magros e pequenos (Hooton). Quanto aos burIões, são mais inteligentes do 
que os delinquentes acusados de violências físicas.

De entre as personalidades psicopatas, as insensíveis e as abúlicas são as que dão o maior 
contingente de criminosos (Exner). Dado que as diversas formas de psicopatia apresentam ainda 
certas relações com o tipo constitucional (­> Conslituição), também neste aspecto os criminosos 
se afastam da média da população, embora não necessàriamente na mesma direcção. O tipo pícnico 
ou ciclotímico, encontra­se na Alemanha frequentemente representado entre os criminosos acusados 
de crimes graves e entre os reincidentes (Kretschmer, v. Rohden, Schwab), o que é devido à sua 
grande capacidade de adaptação e à extrema efusão dos seus sentimentos. Nos delinquentes juvenis 
de um instituto de educação americano, o comportamento endomórfico, era mais preponderante do 
que entre os estudantes dos colégios, observando­se correspondentemente, com maior intensidade, 
o complexo «maníaco­depressivo» relacionado com o tipo endomórfico (Sheld^). A característica 
que distingue os criminosos como grupo social, portanto, consiste num desvio da norma; por outro 
lado, é impo@sível reduzir os géneros e as direcções destes desvios a uma fórmula única que seja 
válida para todos os casos singulares, pois à multiplicidade dos impulsos e dos tipos de delitos 
corresponde também grande variabilidade biológica do grupo.

130

120

­110

?1

­ a

­100

90

80

,o I.

o .
Antropologia social

ESCOLHA DO CõNJUGE E CíRCULOS MATRIMONIAIS. A estrutura da população através da escolha social 
varia constantemente em conexão com a totalidade do sistema social. A escolha dos cônjuges, 
porém, sob a forma da homogamia, representa um factor. de estabilização; semelhante escolha é 
comprovada, entre outras coisas, pelo nível de instrução e inteligência, estatura, pigmentação; 
os cônjuges, mediante estas características, divergem na mesma direcção, com frequencia superior 
à da simples probabilidade, da média @da @opulação. Como se trata aqui de características 
hereditárias, que nos filhos se aproximam do valor médio apresentado pelos pais, os estratos 
sociais tendem a conservar as suas características próprias, completando­se no entanto com os 
caracteres de outras camadas sociais e até com os dos seus próprios descendentes. Assim, os 
estratos sociais mais elevados apresentam não só um nível de faculdades intelectuais superior à 
média, mas geram também, em quantidade que ultrapassa a sua percentagem em relação à população 
total, filhos talentosos. Aptidões especiais em várias gerações revelam­se frequentemente em 
famílias nas quais a escolha do cônjuge permaneceu circunscrita a determinado âmbito; deste 
modo, depara­se­nos um elevado gênio musical em famílias de músicos (tais como as de Bach, 
Strauss e Wagner), bem como altas aptidões filosófico­literárias num grupo de famílias da Suábia 
aparentadas entre si, das quais saíram, entre outros, Gerok, Hegel, Hauff, Hõlderlin, Kerner, 
Mõrike, Schiller e Uliland.

Nas características e nos elementos da personalidade relacionados com o sexo predomina, pelo 
contrário, a escolha por contraste (heteroganzia). Mesmo antes da descoberta da bissexualidade 
potencial e da variabilidade individual na produção de hormonas sexuais (­­> Constituição, tipos 
sexuais) já por várias vezes se havia suposto que as características heterossexuais dos cônjuges 
fossem da mesma grandeza (Schopenhauer, Weinínger). «Na união sexual intervêm sempre um homem e 
uma mulher completos, se bem que desigualmente repartidos, em cada caso isolado, nos dois 
indivíduos diferentes» (Weininger, 1903). A análise grafológica, através da qual se verificou a 
existência de pares de características que nos dois sexos apresentam oposta polaridade 
(abstracção­ espontaneidade, fraqueza de

62
Antropologia social

sentimentos­f orça de sentimentos, por exemplo, os primeiros referidos ao pólo masculino, os 
segundos ao feminino), confirmou que nos matrimónios felizes existe um maior contraste e uma 
integração melhor do que nos infelizes (Schultze­Naumburg).

O círculo de pessoas entre as quais se procede à escolha dos cônjuges é condicionado por 
diversos factores. A vizinhança constitui o mais elementar. Os indivíduos desposam­se de 
preferência no interior da comunidade local a que pertencem, representada pelo terrunho no campo 
e pelo bairro na cidade. A percentagem de matrimónios onde os dois cônjuges eram nativos do 
mesmo lugar assumiu, entre a população camponesa da Alta        Fig. 17. Fronteiras 
matrimoniais.

Relações matrimoniais dos cidaSilésia, em 1935, a média    dãos de Heidesheim. na margem de 47 
por cento; numa        esquerda do Reno: o Reno como

fronteira matrimonial! (segundo população campesina da                M. Wolf, 1956) Vestefália, 
em 1957, 35 por cento; 62 por cento dos matrimónios de uma pequena cidade americana ficaram 
circunscritos ao interior de um círculo de seis quilómetros (E­Ilsworth); em Filadélfia, em 34 
por cento dos matrimónios, os cônjuges viviam no

espaço abrangido por quatro ruas (Bossard). A relação entre vizinhança e matrimónio não é 
naturalmente absoluta, variando o seu grau em função do tamanho do centro habitado, da densidade 
populacional, do tráfego e ainda do nível de instrução. Barreiras naturais que impedem as 
comunicações, como grandes rios (Oder: Schwidetzky; Reno: Wolf) e florestas (Solling: Walter), 
mares e montanhas constituem também um limite à escolha do cônjuge. Quando a densidade da 
população é pequena e as

comunicações pouco desenvolvidas, as comunidades conjugais vivem num isolamento quase absoluto, 
como se pode presumir que exista no que respeita a todas as populações primitivas. Os casos de 
isolamento absoluto bastante longo

63
Antropologia social

podem dar origem à formação'de novas raças (­­­> Génese das raças).

Além dos limites impostos ao matrimónio por elementos naturais, subsistem ainda certas 
limitações de carácter étnico­ cultural. Particularmente activas são as limitações de natureza 
linguística, que também intervêm nos casos de mistura de populações de diversa origem: nos 
países de imigração, como os Estados Unidos e a Argentina, os diversos grupos de imigrados 
tendem para a homogamia étnica; Italianos, Espanhóis e Judeus da Europa Oriental casaram­se de 
preferência entre si, de modo a salvaguardar as suas características culturais. Na Alemanha, 
pelo contrário, após a segunda guerra mundial, populações locais e refugiados da mesma língua 
não formaram comunidades matrimoniais fechadas: o í ndice conjugal (K. V. Müller), isto é, a 
relação entre o número de matrimónios mistos reais e prováveis, aproxima­se progressivamente do 
valor 1. Os limites de natureza religiosa e confessional exercem acção comparável à dos limites 
linguísticos, e são tanto mais eficazes quanto mais fortes se revelam os laços religiosos. Os 
limites políticos impedem toda a espécie de relações, e portanto também obstam às relações 
matrimoniais, mesmo quando a semelhantes limitações não correspondam limites linguisticos e 
culturais (Alemães e Checoslovacos na região dos Sudetas antes de 1939: Schwidetzky).

Por causa da elevada variabilidade e mobilidade de todos os bens culturais (­­> Antropologia 
cultural), as barreiras culturais não constituem fronteiras decisivas. Migrações, transferências 
de populações, novas fronteiras políticas transformam essas barreiras, sendo a flutuação dos 
limites das várias comunidades étnicas tanto mais intensa quanto mais aumentam a densidade 
populacional e o nível de civilização. Deste modo, vão­se delineando sempre novos círculos 
conjugais, transformando­se outros pela inserção de populações parciais, com tendência para a 
mistura generalizada e para a universalidade de relações de procriação. É a esta situação que se 
deve o grau relativamente elevado da mistura racial nos homens. O facto de a escolha do cônjuge 
ser altamente influenciada pelas relações de vizinhança continua a ser, contudo, uma constante 
que impede a mistura e, portanto, a atenuação das diferenças raciais

64
Antropologia social

que se formaram após longo isolamento nos primeiros estádios da história da humanidade.

PROCESSOS DE SELECÇÃO INTRAÉTNICOS. Onde subsista uma diferenciação hereditária de grupos 
sociais por efeito da escolha ou de sobreposições étnicas, as diff­renças sociais na reprodução 
e na mortalidade agem como processos de selecção. Para avaliar o efeito global da selecção será 
necessário ter presentes os seguintes factores: a mortalidade, particularmente nas idades 
anteriores ao fim da idade da procriação; a frequência dos matrimónios e a idade em que são 
contraídos; as percentagens de nat­alidade ou de reprodução. No período de decréscimo dos 
índices de natalidade (iii fase do desenvolvieranto demográfico ­­> Demografia) em consequência 
da racionalização da procriação, instituída em primeiro lugar nas camadas superiores, a idade em 
que se contrata matrimónio e os índices de natalidade agiam no sentido de uma atenuação das 
características hereditárias específicas do estrato social (particularmente a estatura elevada e 
as faculdades intelectuais), ao passo que se obtinha o efeito oposto pelos índices menores de 
mortalidade. Considerando os resultados dos testes psicológicos e dos índices de reprodução 
específicos de cada estrato (mas não a frequência dos matrimónios, a idade matrimonial, etc.), 
encontrou­se na população dos Estados Unidos a seguinte variação da distribuição das faculdades 
intelectuais no decurso de uma geração (Lorimer e Osborn):

Classes

Diferença

do quociente

1.» geração

2.­ geração

(Percen­

de inteligência

tagem)

140 e mais

1,71

1,50

­12,3

130­139
3,25

2,88

­11,4

120­129
7,17

6,46

­ 9,9

110­119

11,91

11,44

­ 3,9

100­109

17,24

16,93

­ 1,8

90­99

21,28

21,64

+ 1,6

80­89

18,67

19,31

+ 3,4

70­79

12,01

12,65

+ 5,4

60­69

5,30

5,61
+ 5,8

abaixo de 60

1ffi

1,59

+ 8,8

, Valores médios,

95,90   1

95,01   1

­ O,89 1

65
Antropologia social

Não se pode, porém, falar ainda de uma demonstração directa de semelhantes efeitos de selecção, 
provàvelmente porque as modificações se compensam, ou até se ultraccompensam fenotipicamente. Se 
na época em que diminuiu o índice de natalidade aumentou a percentagem de indivíduos de baixa 
estatura filhos de progenitores baixos, o fenómeno foi compensado pelo geral aumento de estatura 
que se verificou naquele século (~­> Crescimento): uma diminuição do número de indivíduos bem 
dotados poderia ser compensada por melhor instrução escolar e pelo hábito dos testes mentais. 
Uma série de investigações conduzidas sobre escolares escoceses (Thompson) não revelou sempre 
uma atenuação, mas antes ligeira melhoria dos resultados dos testes. Um enfraquecimento do 
rendimento escolar, e especialmente da capacidade de concentraçã o dos estudantes, observado por 
muitos investigadores (Huth, K. V. MüIler e outros), não implica necessàriamente uma alteração 
do património genético, mas considera­se que seja resultante das perturbações causadas pela 
guerra e pelo pós­guerra, bem como dos estímulos sempre crescentes provenientes do mundo 
exterior.

No início da era industrial, e no que diz respeito à diferenciação cidade­campo, às 
desfavoráveis condições de mortalidade próprias das populaçõ es urbanas juntam­se os mais baixos 
índices de natalidade, o que resulta numa diminuição da frequência dos caracteres hereditários 
específicos da cidade. Os progressos no campo da sanidade e da higiene, que se afirmaram mais 
ràpidamente e em primeiro lugar na cidade, não deixaram, todavia, de contribuir rápidamente para 
o nivelamento das diferenças entre a cidade e o campo no plano da mortalidade, e um efeito de 
selecção sómente pôde manifestar­se através dos diferentes índices de reprodução. Contudo, 
também aqui ainda não foi possível, até à actualidade, obter uma prova directa.

Com a adopção da planificação da família por parte de toda a população mundial, concluiu­se o 
processo de selecção iniciado pela diminuição dos índices de natalidade. Cerca de 1920, 
inicialmente em algumas grandes cidades (Berlim, Estocolmo), anunciava­se já um retomo às 
precedentes diferenciações na procriação, segundo as quais a extensão de uma família voltou a 
estar relacionada posi­

66
Antropologia social

tivamente com o património e a hierarquia social. Todavia, continuaram a subsistir grandes 
diferenças cronológicas e espaciais na entidade e também na direcção da diferenciação 
demográfica e ainda, portanto, nos processos de selecção. Deste modo, em França, ao contrário do 
que aconteceu em muitos outros países, a diminuição dos nascimentos começou nos campos, que 
posteriormente continuaram a apresentar valores inferiores aos das cidades (se excluirmos 
Paris). De modo análogo, na Suécia, até ao eclodir da primeira guerra mundial, o índice de 
natalidade nos campos permaneceu inferior ao obtido nas regiões industriais.

No que se refere aos primeiros períodos abrangidos pela história demográfica, dispomos de poucos 
dados seguros acerca da diferenciação social no campo da mortalidade, da fecundidade e, 
portanto, @ acerca dos processos de selecção social. No que respeita à «extinção das élites», 
dispomos de certo número de indicações: no período helenístico diminuiu nas cidades gregas a 
frequência dos matrimónios e o número médio dos nascimentos (o número de crianças que 
beneficiavam de alguma instrução sofreu, portanto, diminuição). Entre os métodos para limitar os 
efeitos da fecundidade encontravam­se o celibato e a exposição dos recém­nascidos (Políbio). 
Muitas estirpes patrícias, na época da república romana, ou se extinguiram ou perduraram 
mediante o recurso a adopções: as hierarquias superiores ­ senado, cavaleiros ­ foram 
recrutadas, em medida sempre crescente, nas camadas sociais inferiores e renovadas por emigrados 
de estirpe estrangeira; César e Augusto., recorrendo a medidas de política demográfica, 
procuraram fazer aumentar o número de crianças na cidade de Roma, sobretudo nas camadas 
superiores (­­­> Demografia, política demográfica). Tratava­se, porém, de acontecimentos 
isolados, limitados no tempo, no espaço e no alcance. Muitas outras elites não se extinguiram 
biológicamente, sendo tão­só sociológicamente suplantadas por outras camadas dirigentes. Uma 
tendência geral do processo de selecção social orientada no sentido de destruição das elites, em 
relação com a diminuição contínua dos indivíduos altamente dotados, não pode ser demonstrada 
histèricamente. Na maior parte da história da população humana manifesta­se antes a tendência 
con­

67
Antropologia social

trária, porquanto em situações demo@,àficas primitivas ­i fase do desenvolvimento da população, 
com altos índices de natalidade e mortalidade­ tem­se geralmente uma correlação positiva entre 
classe social e reprodução. A extraordinária multiplicidade e complexidade dos processos de 
selecção e de instabilidade dos factores demográficos também naqueles períodos em relação aos 
quais se pode reconstituir uma boa dozumentação estatística põem­nos em guarda, todavia, contra 
toda a espécie de generalizações.

PROCESSOS DE SELECÇÃO INTERÉTNICOS. À semelhança do que se verifica para as diferentes camadas 
sociais, também os diversos povos não passam todos ao mesmo tempo da. primitiva fase 
estacionária para aquela caracterizada pela diminuição do índice de natalidade= crescimento mais 
intenso da população, e depois para a diminuição do índice de natalidade=novo decréscimo do 
excesso de nascimentos; têm­se assim variações das percentagens dos vários grupos étnicos em 
relação ao aumento da população total da Terra. Nos séculos xviii e xix, a     população 
europeia aumentou mais ràpidamente do que a dos outros continentes; actualmente a situação 
inverteu­se (­­­>Demografia), pois são os Chineses, os Indianos e uma série de povos da América 
do Sul que apresentam o ritmo de crescimento mais elevado. Do mesmo modo, nos países da Europa 
Oriental e Meridíonal os índices de reprodução são mais elevados do que na Europa Setentrional e 
Ocidental, etc. Também aqui, portanto, se verificam fenômenos de selecção, e precisamente a 
favor dos povos menos desenvolvidos (=maior crescimento), os quais não completaram ainda o ciclo 
do desenvolvimento demográfico. Não se dispõe, todavia, de qualquer prova que ateste estarem as 
diferenças entre as várias civilizações baseadas em diferenças do nível de inteligência, como 
acontece na diferenciação intra­étnica (­­> Psicologia racial). Em contrapartida, semelhantes 
diferenciações no ritmo de crescimento das várias populações contribuem para alterar a 
composição racial do população mundial. Tem­se assim um tipo de selecçãc> especificamente 
humano: a diferenciação no ritmo da reprodução resulta em características modificatórias 
(estádio de desenvolvimento civil) e o resul@ado da selecção (alteração da composição racial) 
constitui um

68
Antropologia social

efeito secundário da diferenciação no crescimento das várias populações.

Como no caso da selecção intra­étnica, a entidade e

mesmo a direcção da selecção revelam oscilações consideráveis e por vezes de breve duração; 
assim, um número sempre crescenn de povos entra na iii fase, a estacionária (baixos índices de 
natalidade e mortalidade), e também os povos ainda em crescimento se aproximam progressivamente 
de uma estabilização a um nível que comporte limitado movimento demográfico (baixos índices de 
natalidade e mortalidade). A par do í ndice de crescimento, e mediante igual duração da fase de 
crescimento, tem­se como resultado final um aumento em percentagem das grandes populações sobre 
a população global da Terra por referência ao início da diferenciação, enquanto as unidades 
étnicas compostas por um menor número de indivíduos vêem diminuir a percentagem relativa por 
elas ocupada na população mundial. O desenvolvimento de unidades étnicas cada vez mais extensas 
reflecte­se, entre outras coisas, no facto de 22 das
1500 línguas actualmente vivas representarem três quartos da humanidade; no que diz respeito à 
época que precedeu a colonização curopeia, o seu número deve ter pelo menos duplicado. Também 
aqui, como no caso da «extinção das elites», trata­se simplesmente, a maioria das vezes, de uma 
diminuição de tais entidades como grupos isolados étnicamente independentes.

Grupos étnicos pequenos o muito pequenos encontram­se todavia ameaçados até mesmo na sua 
sobrevivência biológica. A difusão dos Europeus teve como consequência, em muitos lugares, a 
extinção dos povos «no estado natural» (Tasmanianos, índios das Caraffias) ou a sua forte 
dizimação (é este o caso de muitas tribos polinésias e melanésias, bem como dos índios das duas 
Américas), e portanto, de um modo geral, a extinção ou dizimação de muitas raças primitivas. 
Para este fenómeno contribuíram, em proporções diferentes, o extermínio violento pelos grupos 
numèricamente superiores e dotados de armas mais eficazes, a importação de novas doenças 
contagiosas, a apatia psíquica provocada pela destruição de ordens de valores ligadas às 
tradições, a qual se manifesta, entre outros fenómenos, por uma diminuição do índice de 
natalidade e das probabili­

69
Antropologia social

menos de 16

nascimentos num ano pw cada 1000 habitantes

Fig. 18. Processos de selecção interétnicos. Diferenças no desenvolvimento demográfico da Europa 
determinadas a partir dos nascimentos segundo diversos censos, de 1913 a 1955 (os dados 
relativos a 1913 e a 1932 foram coligidos por F. Burgdõrfer, 1942)

70
Antropologia social

dades de sobrevivência do adulto, a desintegração dos Iaços tribais e familiares em consequência 
do engajamento de jovens em trabalhos sem local fixo.

Muitos povos «o estado natural» superaram, contudo, a crise de adaptação após um período de 
forte regressão dos índices de natalidade, voltando a um balanço demográfico equilibrado ou 
mesmo positivo. Este fenômeno aparece sempre relacionado com a adopção de bens culturais 
europeus ­até à completa renúncia das próprias particularidades étnicas­, entre os quais a 
higiene, os serviços sanitários e sobretudo a luta contra a mortalidade infantil exercem acção 
demográfica imediata. Dado que estes grupos, por via de regra, entraram mais tarde do que os 
Europeus na fase assinalada por uma diminuição dos índices de mortalidade e de natalidade, 
precisamente por isso podem superá­los nos índices de crescimento; assim, os Maoris da Nova 
Zelândia e uma série de tribos índias da América do Norte apresentam actualmente índices de 
reprodução mais elevados do que os da população branca. Com a progressiva assi7nilação étnica, 
isto é, neste caso, com a progressiva europeização, é provável que também as diferenças nos 
índices de crescimento acabem por nivelar­se. O desenvolvimento dos povos em «estado natural» na 
época da colonização europeia representa um modelo de como devem ter­se verificado outros 
processos numerosos em relação aos quais se dispõe de menor documentação. A expansão dos povos 
de cultura superior processa­se não só através da superior capacidade de crescimento dos 
criadores de cultura, mas também, e predominantemente, mediante a assimilação étnica de 
populações independentes na ­origem. Quando se verificam diferenças no nível cultural, a 
assimilação processa­se frequentemente em função do coeficiente do nível de civilização 
(Mühlmann): o povo chinês, a partir da sua região de origem, no vale do rio Amarelo, foi 
incorporando gradualmente, por efeito da força de assimilação da sua cultura, os povos 
primitivos das   montanhas e das florestas das actuais províncias da China Meridional; os 
antigos Egípcios do período dinástico tiveram origem numa população campesina do Baixo Egipto e 
numa população de pastores do Alto Egipto: assimilaram, portanto,

71
Antropologia social

até à quarta catarata do Nilo, populações de origem núbia. A história de Roma é a história da 
expansão político­militar de uma parte da populaçã o do Lácio, implicando a consequente 
latinização dos grupos anteriormente incorporados politicamente, e assim por diante. As 
populações culturalmente assimiladas adquirem, com as formas superiores de economia, a 
correspondente capacidade demográfica, de modo que no mesmo espaço vêm a encontrar­se em 
condições de alimentar uma população maior. A renúncia à própria independência étnica e a 
assimilação promovida por populações de civilização superior representam, portanto, uma selecção 
a favor da população assimilada; assim, actualmente, o maior conjunto de populações vedás 
(caracterizadas por infantilismo, e primitivismo de caracteres) encontra­se na Tailândia, onde 
grupos primitivos da selva adoptaram a cultura do arroz, alcançando desse modo consideráveis 
densidades populacionais, ao passo que outras tribos predominantemente vedóides da índia 
Anterior e da Indochina permaneceram ao nível dos povos caçadores­recolectores, com a sua baixa 
densidade de população. No passado, sobreestimou­se frequentemente o papel das migrações 
populacionais na difusão das culturas, em prejuízo de semelhantes processos de assimilação.

POLíTICA RACIAL. Quando grupos étnicos de raças diferentes se encontram em contacto, 
características raciais muito sensíveis, tais como a cor da pele, podem provocar o aparecimento 
de consciências separatistas em certos grupos e em determinados comportamentos sociais. A forma 
mais frequente como este fenómeno se manifesta é o desprezo pelas outras raças, o qual não passa 
de uma das numerosas formas do etnocentrismo, que se exprime geralmente pelo repúdio dos 
estranhos. O problema dos Negros nos Estados Unidos e na União da África do Sul constitui o 
exemplo mais conhecido de conflitos de grupo numa base de diferenças sociais. A consciência de 
raça, todavia, não é sempre motivada directamente; contrastes de natureza étnica, social, 
religiosa ou cultural, nos quais se manifesta um paralclismo com a estrutura racial, podem ser 
motivados secundàriamente por uma ideologia racial (o anti­semitismo,

72
Antropologia social

por exemplo) que nos tempos modernos (especialmente a partir de Klemm, 1843, e Gabineau, 1858) 
se fundamenta em argumentos de ­­> psicokgia racial. Na avaliação colectiva, o fenótipo racial 
pode assumir por vezes um papel nitidamente subordinado; nestes casos continua a ser deccisiva a 
relação de descendência com as minorias desprezadas (o problema dos «Negros Brancos» nos Estados 
Unidos; na Alemanha, a prova em como se pertence à raça ariana).

Se populações de raça diferente fazem parte de uma única unidade política, os grupos no poder 
podem tomar as seguintes medidas para reforçar a discriminação racial: a) Proibição de 
matrimónio, que pode possuir base jurídica ou sómente convencional. Nos Estados Unidos, vinte e 
nove estados proíbem o matrimónio entre Brancos e Negros; por vezes, até mesmo as relações 
sexuais extraconjugais são susceptíveis de puniçã o (União da África do Sul, Alemanha nazi; b) A 
«monopolização do poder e da honra social» (M. Weber): a raça desprezada é mantida numa posição 
subalterna, representando o estrato inferior ao qual é impedida a ascensão às hierarquias 
superiores mediante uma série de barreiras sociais; c) A segregação, isto é, a separação 
espacial em bairros, escolas, meios de transporte (Estados Unidos, União da África do Sul; cf. 
també m os ghetos, as reservas, etc.). A segregação pode também ser desejada por uma parte da 
raça discriminada, porquanto oferece, em determinadas circunstâncias, a possibilidade de 
edificar um corpo social independente com ilimitadas possibilidades de ascensão.

As barreiras ao matrimónio tendem a ser mais duradouras do que as barreiras à ascensão social; 
podem, contudo, ser transpostas por uniões ilegais. Nestes casos de uniões entre indivíduos de 
raças diferentes, os homens pertencem mais frequentemente do que as mulheres ao grupo que 
reivindica para si a posição mais elevada; as mulheres são preservadas com grande rigor do 
contacto com a raça discriminada (linchamentos). Estas regras de biologia demográfica valem 
também para os numerosos casos de sobreposição étnica, conhecidos da etnologia e da história das 
populações, nos quais se verificou o levantamento de

73
Biotipologia

barreiras ao matrimónio e à ascensão social (Espartanos e Periccos de um lado, Ilotas do outro, 
em Esparta; sociedade de castas na índia; os Arios na Polinésia, etc.). Em todos estes casos, as 
medidas de política racial retardaram o amálgama das diversas partes da população, mas em ú 
ltima análise não conseguiram impedi­lo.

Biotipologia ­­ Foi Pende quem, em 1950, definiu biotipologia ­ ciência do ser humano total 
considerado como unidade psicossomática ­, designação, aliás, já usada pelo mesmo autor desde 
1922. A biotipologia é assim a ciência da individualidade humana. O estudo das características 
diferenciais de natureza morfológica, fisiológica e psicológica permite estabelecer para cada 
pessoa um biótipo individual. [A des@gnação tipologia é aqui usada num sentido mais amplo do 
que biotipologia. Na realidade, esta última designação só é aplicável, tal coino foi entendida 
por Pende, às tipologias somatopsíquicas e estatísticas. Às restantes chamou ó mesmo autor 
(Pende, 1947) constitucionalísticas. Os termos tipo, constituição e estrutura serão entendidos 
no presente trabalho como sinónimos e usados de acordo

com a preferência que lhes foi concedida por cada uma das escolas tipológicas citadas.]

Nem sempre, porém, têm sido as tipologias humanas inspiradas pelos mesmos princípios ou servidas 
por idênticos métodos. Ao lado de tipologias essencialmente morfológicas­, como as de Sigaud­Mac 
Auliffe e de Viola, em que as constituições são caracterizadas e classificadas com atenção, 
únicamente, à morfologia, surgiram outras ­ tipologias somatopsíquícas­ ­ que aceitam como 
evidente a correlação entre os caracteres morfológicos, fisiológicos e psicológicos dos 
indivíduos. Nestas últimas, a que pertencem as escolas de Kretschmer, de Pende e de Sheldon, a 
classificação de tipos humanos baseia­se naquele conjunto de características.

Também no que respeita aos métodos utilizados se distinguem as várias escolas tipológicas. 
Assim, enquanto nas tipologias estatísticas ­ como, por exemplo, as de Viola, Pende e Lindegard 
­ a constituição é definida por medi­

74
Biotipologia

ções precisas e normalizadas, as tipologias intuitivas ou i.mpressionistas fundamentam­se em 
estudos morfológicos qualitativos. Entre estas últimas tiveram, na sua época, notável êxito as 
classificações de Sigaud e de Kretschmer.

Devem­se a Hipócrates e a Galeno as primeiras classificações de tipos humanos. Com o decorrer 
dos tempos vários autores se ocuparam, mais ou menos cientificamente, do estudo da 
individualidade humana. Nas linhas seguintes serao mencionadas as principais escolas de 
tipologia humana, os seus fundamentos, métodos e classificação que propõem. Consideraremos 
primeiramente as tipologias essencialmente morfológicas.

ESCOLA MORFOLóGICA LIONESA. (SIGAUD­MAC AULIFFE). Segundo esta Escola tipológica [também por 
vezes designada, quanto a nós menos própriamente, por «Escola biotipológica francesa»] o corpo 
humano é constituído por quatro sistemas orgânicos fundamentais ­respiratório, digestivo, 
locomotor e nervoso­ agrupados em tomo de um sistema central­ circulatório. A constituição seria 
a resultante da acção, sobre cada um dos sistemas fundamentais, dos ambientes atmosférico, 
alimentar, físico e social respectivamente. De tal interacção resultariam, além de muitos tipos 
mistos devidos à acção conjunta de vários factores genéticos e ambientais, quatro tipos 
morfológicos puros ­respiratório, digestivo, muscular e cerebral (Fig. 19).

Tipo respiratório (Fig. 19 R) ­ Ombros largos, menos horizontais do que no tipo muscular. Tronco 
relativamente pequeno e com forma de trapézio de base maior superior. Tórax muito desenvolvido 
em largura e altura, com predomínio sobre o abdômen, que é pequeno. Rosto [segundo a Escola 
morfológica lionesa, o rosto ­ conjunto da face e da fronte ­ é decomponível em três zonas ou 
andares
­ superior, médio e inferior ­ representados respectivamente pela fronte, região nasal e região 
oral.] romboidal devido ao maior desenvolvimento da zona média ou respiratória. Nariz longo ou 
largo. Maçãs do rosto salientes.

Tipo digestivo (Fig. 19 D) ­ Ombros estreitos e ligeiramente descaídos. Pescoço relativamente 
curto e grosso.

75
Biotipologia

Tronco predominante em relação aos membros. Abdómen com predomínio sobre o tórax, que é curto e 
largo. Zona inferior ou digestiva mais desenvolvida do que as outras zonas do rosto, devido ao 
grande desenvolvimento da mandíbula.                                M           c
O rosto tem, por isso, forma de triângulo com lado maior inferior. Fronte      estreita.

Tipo muscular (Fig. l@ M) ­ Corpo       Fig. 19. Representação esquemática dos quatro bem 
propor­      tipos humanos da Escola mortológica lionesa cionado em largura e altura. Predomínio 
dos membros e da musculatura. Membros superiores longos. Tronco rectangular em norma anterior e 
trapezoidal de base menor inferior

em norma posterior. Tórax e abdómen proporcionados. Rosto quadrado ou rectangular (alongado 
ver@icalmcnte), com as três zonas bem proporcionadas e sensivelmente iguais. Inserção frontal do 
cabelo de forma rectangular.

Tipo cerebral (Fig. 19C)­Corpo geralmente baixo, delgado e de aspecto débil. No conjunto total a 
cabeça é dominante. Tronco e membros proporcionados. A fronte, abaulada, é muito desenvolvida, o 
que confere ao rosto forma de triângulo com o lado maior superior. Orelhas relativamente 
grandes. Boca, lábios e queixo pequenos.

Após ter conhecido grande êxito, em França e noutros país'es, a classificação de Sigaud­Mac 
Auliffe, fortemente críticada nos seus métodos e fundamentos, está hoje completamente 
abandonada. Na realidade, a superficialidade

e a subjectividade dos métodos que'utilizava ­características comuns a todas as típologias 
intuitivas e decerto não alheias ao sucesso que estas conheceram ­ não permitiam

76
Biotipologia o rigor científico desejável em qualquer classificação biotipológica. Nunca foi 
possível, por meio de técnicas biométricas, confirmar a existência dos tipos humanos de Sigaud­
Mac Auliffe.

Por outro lado, toda a inspiração da Escola morfológica lionesa, cujos trabalhos se desenvolvem, 
sobretudo, no primeiro quartel do século xx, se alicerçava em princípios lamarckistas. 
Surpreende­nos hoje a maneira simplista come> era concebida por esta Escola a realização da 
estrutura humana, não só no que respeita à morfologia geral como, sobretudo, à forma do rosto.

ESCOLA ITALIANA DE CONSTITUCIONALíSTICA (VIOLA). [Os principais trabalhos biotipológicos de 
Viola foram publicados entre 1925 e 1940.1 Para Viola, a constituição humana resulta da 
interacção dos sistemas da vida vegetativa e da vida de relação. O primeiro é formado pelo 
conjunto das vísceras e pode representar­se pelo tronco.
O segundo compreende o sistema nervoso e a musculatura, e é representado pelos membros. Quanto 
maior for o dcscnvolvimento do tronco em relação aos membros maior será a preponderância dos 
órgãos da vida vegetativa sobre os da vida de relação. Os dois sistemas estarão em equilíbrio 
numa estrutura humana idealmente proporcionada ­ o, normótipo. Mas, como o normótipo é uma 
constituição ideal, é necessário representá­lo por uma estrutura real e tão próxima dele quanto 
possível. Esta constituição é o homem­Médio.

Todo o desenvolvimento da doutrina de Viola se fundamenta na lei de Gauss. O normótipo 
representa a média da distribuição teórica, enquanto ao homem­médio corresponde a média prática, 
calculada, tanto mais próxima do normótipa quanto maior for o número de constituições sobre as 
quais se baseia. O ‘homem­médio, embora muito raro, encontra­se na natureza (cerca de 1,35 por 
cento das constituições estudadas pela escola de Viola). Para um lado e para o outro do homem­
médio, distribuem­se normalmente as constituições mais comuns. Viola verificou que a 
variabilidade constitucional se estendia em duas direcções opostas, cada uma com o homem­médío 
como ponto de origem. Uma direcção engloba as constituições braquitípicas­mega­

77
Biotipologia

losplâncnicas, caracterizadas pelo predomínio do tronco sobre os membros. A outra compreende as 
constituições longitípz'cas@­microsplâncnica@, em que os membros são relativamente mais 
desenvolvidos do que o tronco. Assim, a classificação de Viola não caracteriza tipos, mas sim 
direc­

ções antagonistas de variabilidade é                                   estrutural. Por­

que as constituições se distribuem normalmente, tanto as longitípicas ex­

tremas como as braquitípicas extremas são mui­

to raras.

O método de Viola baseia­se em dez medições com as quais se calculam índices.
­                                     A comparação

entre o tronco e os membros é Fig. 20. Constituição braquitípica­megalos­

plânenica                   feita por meio

destes índices.
O honzem­médio é calculado a partir das modas de um grupo humano suficientemente representativo.

Embora a orientação da escola de Viola seja essencialmente morfológica, tanto nos seus 
fundamentos, como nas técnicas utilizadas, o seu autor admitiu a correlação entre os tipos 
humanos biomètricamente definidos e os tipos somatopsíquicos, seguindo, neste aspecto, 
principalmente Kretschmer e Pende. Seguidamente serão indicadas as principais características 
das estruturas humanas admitidas pela Escola italiana de constitucionalística.

Constituições braquitípicas­megatosplâncnicas (Fig. 20) ­Predomínio dos órgãos da vida 
vegetativa. Tipo anabólico. Estatura geralmente baixa e peso relativamente elevado. Robustez e 
força. Músculos curtos mas volumosos. Crânio

7S
Biotipologia

grande. Face arredondada. Tronco muito desenvolvido em relação aos membros. Abdómen proeminente 
e volumoso com predomínio sobre o tórax, que é curto e largo (em sentido sagital). Cabelo pouco 
abundante. Tendência para a calvície precoce. Vagotonia e hipertensão. Temperamento ciclotímico 
(q. v.),

Constituiç6es longitípicas­microsplâncnicas (Fig. 21) ­Predomínio dos órgãos da vida de relação. 
Tipo catabólico. Estatura geralmente elevada. Fatigabilidade rápida. Músculos delgados e longos. 
Crânio estreito. Face oval. Ombros caídos. Tórax longo e estreito em sentido sagital, mas largo 
transversalmente. Abdômen pouco desenvolvido. Membros muito longos, sobretudo os inferiores, com 
predomínio sobre o tronco. Cabelo abundante. Simpaticotonia e hipotensão. Temperamento 
esquizotímico (q. v.).

Os resultados da escola de Viola contam­se ainda hoje entre os mais válidos de toda a 
biotipologia. Está actualmente comprovada a existência da variabilidade bipolar em relação ao 
tipo médio. Mas, segundo Schreider, as estruturas brevilínca e longilínca daí resultantes não 
devem ser consideradas ao nível individual, mas sim como tendências discerníveis nas populações, 
como categorias biostatísticas. Assim como é raro encontrar um indivíduo que corresponda ao 
homem­médio, também não é frequente observar num único indivíduo todas as características 
correspondentes a um ou ao outro tipo estrutural. Vem a propósito mencionar que mesmo Viola 
reconheceu esta limitação em relação aos seus métodos, pois cerca de 40 por cento das 
constituições que estudou não mostraram tendência definida no sentido longilíneo, ou brevilíneo; 
manifestaram­se sim como compromissos entre as duas direcções constitucionais.

Fig. 21. constituição ionPende aceita as conclusões de     gítípica­microsplànenica

79
Factor de Factor de  Factor   Factor comprimento robustez muscular adiposo

+2o­

Biotipologia

Viola mas faz, no entanto, uma reserva relativamente ao homem­médio que aceitamos inteiramente. 
Na opinião de Pende não existe um único homem­médio, visto o seu cálculo variar com as 
populações, com as idades e com o sexo. Por isso, o normótipo será diferentemente representado, 
de acordo com os factores de variação apontados.

SOMATOLOGIA DIFERENCIAL (LINL,.t@GARD). Esta escola não propõe qualquer classificação das 
constituições humanas. Cada estrutura individual é representada gràficamente (Fig. 22). Segundo 
Lindegàrd (1953), a variabilidade constitucional interíndividual depende principalmente da 
quantidade e da distribuição dos tecidos ósseo, muscular e adiposo. A caracterização individual 
utilizada por Lindegárd baseia­se, em quatro factores: factor de comprimento, factor de 
robustez, factor muscular e factor adiposo. Cada um destes factores é representado em unidades 
de desvio­padrão calculadas em         M relação a tabelas prèviamente estabelecidas pelo estudo 
de amostras suficientemente representativas.                  Fíg.         grama individual 
(método

O factor de com­                 de Lindegard)

primento é representado     pelo comprimento dos ossos longos. Na prática tomam­se os 
comprimentos do rádio e da tíbia por serem os que, no vivo, se medem com maior facilidade e 
precisão.

O factor de robustez avalia­se pela espessura dos ossos

longos; medem­se os diâmetros transversais das epífises do fémur e da tíbia e o diâmetro 
bimaleolar.

O factor muscular depende da espessura dos músculos e, como a força muscular medida pelo 
dinamómetro, é proporcional à área da secção transversal dos músculos3 calcula­se 
dinaniomètricamente.

80
Biotipologia

O factor adiposo pode avaliar­se através do peso do corpo ou do perímetro dos membros.

Pela objectividade que o rigor das medições e do seu tratamento estatístico lhe confere, o 
método de Lindegárd é actualmente um dos mais acreditados no estudo da variabilidade morfológica 
humana.

TIPOLOGIAS SOMATOPSíQUICAS. Às tipologias somatopsíquicas interessa a relação anatomia 
funcional­psicologia do indivíduo. Admitem assim que, por intermédio das glândulas endócrinas e 
do sistema nervoso vegetativo, a morfologia é influenciada pela vida psíquica e que por isso, 
através das características morfológicas, é possível conhecer­se os traços psicológicos 
fundamentais de cada indivíduo. No domínio das tipologias somatopsíquicas mencionaremos as 
escolas de Kretschmer, de Pende e de Sheldon.

ESCOLA ALEMàDE KRETSCHMER. [As principais conclusões da escola de Kretschmcr foram publicadas 
no segundo quartel do nosso século.] Krctschmer, psiquiatra alemão, verificou que, separando em 
dois grupos alienados com tendências para a psicose maníaco­depressiva e para a esquizofrenia, 
conseguia distinguí­los não só por estas características patológicas da sua vida psíquica, mas 
também por certos traços morfológicos. Generalizando, Kretscluner concluiu que mesmo nos 
indivíduos normais se encontra uma ou outra das duas tendências sob forma atenuada e que é 
possível, através da morfologia, reconhecer essa tendência.

Assim, Kretschiner descreveu dois temperamentos normais, ciclotímica e esquizotímico, 
correspondentes, na forma patológica, à psicose maníaco­depressiva e à esquizofrenia, 
respectivamente. Segundo o mesmo autor a ciclotimia estaria habitualmente ligada à constituição 
pícnica (brevilínca), ao passo que a esquizoffinia se relacionaria com a constituição leptosso­
mática (longilínea). Entre os leptossomáticos distinguiu ainda dois tipos diferentes ­ asténico 
e atlético. Vejamos quais as características essenciais dos temperamentos e tipos morfológicos 
descritos por Kretschmer.

Ciclotímicos ­ Extravertidos. Sociáveis, naturais, espontâneos, activos, dinâmicos e realistas. 
Do ponto de vista intelectual são concretos, pouco dotados para a abstracção. Hu­

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Biotipologia

mor que alterna periódicamente entre a alegria e a tristeza ou se fixa num destes extremos; nos 
ciclotímicos alegres as reacções são mais rápidas do que nos deprimidos. Grande 
susceptibilidade. Cóleras violentas mas breves.

Esquizotímicos ­ Intravertidos. Solitários, tímidos, complexionados. Muito sensíveis, e por isso 
dificilmente adaptáveis. Lógicos, inclinados para a abstracção e para a exactidão sistemática. 
Sérios, idealistas e profundos, pouco dados às soluções médias. Reacções rápidas umas vezes, 
outras muito lentas.

Constituição pícníca (Fig. 23, ao centro) ­ Estrutura horizontal; preponderância das dimensões 
horizontais sobre as verticais. Esqueleto não muito robusto, mas largo. Estatura média ou baixa. 
Crânio volumoso e arredondado. Tendência para engordar, acumulando­se o tecido adiposo

sobretudo na face e no tronco. Musculat ra pouco desenvolvida e flácida.u Tórax e abdômen muito 
&senvolvidos. Pescoço baixo e enterrado entre os ombros, pouco largos. Extremidades curtas. 
Pilosidade abundante, mas com tendência para a calvície precoce. Rosto largo e gordo de forma 
pentagonal. Pele rosada. Fronte larga e abaulada. Olhos pequenos. Nariz bastante largo. 
Mandíbula baixa. Barba geralmente abundante.

Constituição leptassomática ­

Estrutura vertical; predomínio do crescimento em altura. Tronco alto. Mãos longas. Rosto oval.

Tipo asténico, (Fig. 23, em cima) ­ Esqueleto d é b i 1. Corpo magro e delgado. Estatura média. 
Crânio pequeno. Ombros estreitos. Tórax pouco forte. Membros delFig. 23. Tipos constit  u­ 
gados. Mãos magras e dedos poncionais, segundo Krets­    tiagudos. Pilosidades axilar e púchmer. 
Em cima: tipo asténico.   Ao     centro: bica reduzida. Rosto de cor pálida. constituição 
pícnica Em

baixo: tipo atlético     Cabelo abundante e avanç2tido

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Biotipologia

sobre a fronte. Barba irregular e medíocre. Mandíbula pouco desenvolvida. Nariz pontiagudo.

Tipo at.ético (Fig. 23, em baixo) ­Esqueleto robusto. Musculatura muito desenvolvida. Estatura 
média ou alta. Crânio de volume médio. Pescoço alto. Ombros largos. Tronco, a estreitar para a 
parte inferior, de forma trapezoidal. Tórax forte. Pilosidade abundante. Maçãs do rosto 
salientes. Mandíbula forte.

A classificação de Kretschmer teve o grande mérito de chamar a atenção para as correlações 
somatopsíquicas. Daí a enorme difusão que conheceu. No entanto, tal como o próprio Kretschrner 
admitiu, só uma pequena parte dos indivíduos estudados, cerca de 11 por cento, cabia nos tipos 
somatopsíquiços da sua escola.

Se, por um lado, as investigações actuais parece confirmarem correlações relativamente elevadas 
entre certos caracteres morfológicos e psíquicos, por outro lado não parece possível usar 
correlações na caracterização individual. Tal como no caso das estruturas longilínea e 
brevilínea, os tipos sematopsíqtúcos não representarão mais do que categorias biostatísticas 
­tendências populacionais só estatisticamente definíveis.

DOUTRINA BIOTIPOLõGICA DE PENDE. Pende aplicou o seu método da pirâmide biotipológica ao estudo 
da individualidade humana. Segundo este método, o bíótipo individual pode considerar­se como a 
síntese de um estudo em que o indivíduo é comparado a uma pirâmide quadrangular, cuja base 
representa o seu geriótipo e as quatro faces os seus

aspectos morfológico, fisiológico, moral e intelectual. Estes aspectos são exaustivamente 
investigados por meio de técnicas variadas e particulares a cada um deles.

Os estudos da escola de Pende conduziram a uma classíficação em que se consideram quatro 
biótipas fundamentais, cujas características mais importantes indicamos seguidamente. Cada um 
destes biótipos compreende algumas variantes endócrinas.

Biótipo longilíneo esténico­tónico­ Estrutura vertical. Estatura superior à média. Esqueleto e 
musculatura bem

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Biotipolo'gia

desenvolvidos, mas peso relativamente baixo. Frequentemente mesocéfalos ou* braquicéfalos. 
Fronte elevada. Olhos grandes. Nariz longo. Tórax e abdômen bem proporcionados. Membros 
esbeltos. Movimentos velozes e ágeis. Extremidades longas. Caracteres sexuais secundários bem 
desenvolvidos. Preponderância do simpático. Esquizotímicos. Hiperemotivos e irritáveis. 
Pessimistas e inconstantes. Reacções mentais rápidas e instáveis.

Biótipo longilíneo hiposténico­hipotónico ­Estrutura vertical. Estatura variável. Esqueleto 
grácí1 mas, assim como a musculatura, pouco desenvolvido. Peso reduzido. Face longa e angulosa. 
Queixo curto. Pescoço alto. Tronco estreito. Caracteres sexuais secundários pouco desenvolvidos. 
Preponderância do para­simpático. Hipersentimentais, românticos e melancólicos. Pessimistas e 
deprimidos. Inteligência bem desenvolvida mas pouco resistente.

Biótipo brevilíneo esténico­tónico ­Estrutura horizontal. Estatura média ou baixa. Esqueleto e 
musculatura bem desenvolvidos. Peso relativamente elevado. Geralmente, mesocéfalos ou 
braquicéfalos. Olhos pequenos. Rosto hexagonal, anguloso. Fronte alta. Nariz proporcionado. 
Mandíbula larga. Tronco largo e maciço. Abdômen proeminente. Membros curtos. Movimentos lentos. 
Desenvolvimento sexual por vezes exagerado. Hiperinstintivos e expansivos. Activos e

impulsivos. Inteligência concreta e analítica, por vezes superior à média.

Biótipo brevilíneo híposténico ­ Estrutura horizontal. Estatura baixa. Esqueleto débil e 
musculatura flácida. Peso relativamente grande. Fronte estreita. Pescoço curto. Tórax pequeno. 
Abdômen volumoso e proeminente. Formas cor­

porais arredondadas. Tecido adiposo abundante. Caracteres sexuais secundários pouco 
desenvolvidos. Para­simpaticotónicos. Ciclotímicos, Depressivos e inertes. Melancólicos. 
Inteligência analítica e concreta.

Tècnicamente muito complexa, e por isso dificilmente aplicável, a doutrina de Pende, embora 
resultante de uma ampliação das concepções de Viola, contribuiu, no entanto, pela grande 
variedade de aspectos considerados, para melhor conhecimento da personalidade humana.

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Biotipologia

ESCOLA AMERICANA DE SHELDON. Também para Sheldon (1940), psicólogo americano, o biótipo 
individual, que este autor designa por somatóíipo, é o resultante do estudo de diversos aspectos 
de cada indivíduo (anatómicos, fisiológicos, psicológicos e patológicos).

Todo o trabalho da escola de Sheldon se processa com

base em fotografias tiradas, sempre nas mesmas condições, de frente, de costas e de perfil. O 
estudo morfológico, qua7 litativo, assim como uma longa série de medições, são efectuados sobre 
as referidas fotografias.

Após ter estudado 4000 indivíduos, Sheldon descreveu três tendências morfológicas fundamentais ­ 
componentes primárias­ existentes, embora em diferentes proporções, em todas as pessoas e 
traduzindo a predominância dos orgãos derivados de cada um dos três folhetos embrionários. As 
três componentes primárias chamou, por isso, endomórfica, mesomórfica e ectomórfica.

A componente endomórfica exprime o predomínio dos derivados da endoderme e é representada pelo 
desenvolvi­

Fíg. 24. Somatótipos, segundo Sheldon. A esquerda: um endomórfico extremo (711). Ao centro: um 
mesomórfico extremo (171).

A direita: um ectomórfico extremo (117)

mento do sistema digestivo e pela tendência para a adiposidade. Os indivíduos em que esta 
componente se manifesta em grau elevado (Fig. 24, à esquerda) apresentam formas arredondadas nas 
diferentes regiões do corpo, pescoço baixo, abdómen volumoso, membros curtos e extre­

midades pequenas.

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Biotipologia

A componente mesomórfica está relacionada com os derivados da mesoderme e é representada pelo 
esqueleto e pela musculatura. Um mesomórfico extremo (Fig. 24, ao centro) é geralmente pesado, o 
esqueleto e a musculatura são muito desenvolvidos, pescoço longo, ombros e tórax largos e 
extremidades fortes.

A componente endomórfica exprime a predominância dos derivados da ectoderme e é representada 
pelo sistema nervoso. Os indivíduos em que esta componente predomina (Fig. 24, à direita) têm 
estrutura linear e frágil, peso relativamente pequeno, face estreita, nariz delgado, queixo 
pontiagudo, pescoço longo e delgado, ombros estreitos e descaídos, tronco curto e membros longos 
e pouco fortes.

Se, no que respeita às tendências morfológicas descritas, Sheldon pouco se afasta de Kretschmer, 
pois que, nas suas próprias palavras, o endomorfismo, o mesomorfismo e o ectomorfismo 
correspondem aproximadamente aos tipos pícnico, atlética e asténíco de Kretschmer, 
respectivamente, a classificação da escola americana é, pelo contrário, perfeitamente original.

Partindo do princípio de que cada uma das componentes primárias se pode manifestar em sete graus 
de diferente intensidade, cada somatótipo é representado por três algarismos compreendidos entre 
1 e 7. O algarismo da esquerda indica o grau de endomorfismo, o do centro o de mesomorfismo e o 
da direita o de ectomorfismo. Assim, por exemplo, enquanto um ectomórfico extremo é representado 
por 117 (que se lê, um­um­sete), um homem médio pode pertencer ao somatótipo 344. Embora, 
teóricamente, possam existir 7 3@ ou seja 343, somatótipos, na prática, Sheldon não encontrou 
senão 76. Certas combinações, como, por exemplo, 244, 334, 344­, 225, etc., mostraram­se muito 
frequentes, outras, como, por exemplo, 371, 641, 551, etc., muito raras e ainda outras, tais como 
164, 174, 336, etc., inexistentes.

Paralelamente às três tendências morfológicas, Sheldon descreveu três variáveis temperamentais: 
viscerotonia, somatotonia e cerebrotonia.

O temperamento viscerotónica é dominado pela função

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Biotipologia

anabólica. Caracteriza­se por grande apego ao conforto, pela sociabilidade e pela extraversão 
afectiva.

O temperamento samatotónico caracteriza­se pela actividade, energia e insensibilidade à fadiga. 
No sornatotónico, existe predominância das funções somáticas, vigorosa expressão do eu e 
extraversão mais de acção do que de afectividade.

O temperamento cerebrotónico é marcado pelo domínio da atenção e da inibição e pela 
predominância do sistema nervoso e dos órgãos dos sentidos. O cerebrotónico é um intravertido.

Entre o endomorfismo e a viscerotonia, o mesomorfismo e a samatotonía e o ectomorfismo e a 
cerebrotonia, Sheldon encontrou correlações de 79 por cento e 83 por cento, respectivamente.

Embora tenha sido submetida a fortes críticas ­ Shreider classifica de alucinantes as 
correlações de Sheldono mérito da escola americana reside, sem dúvida, na sua classificação: a 
substituição de alguns tipos por muitas variáveis é mais susceptível de permitir uma melhor 
classificaç,ão da variabilidade humana. Deve, no entanto, notar­se que não foi até hoje possível 
confirmar biornètricamente a existência da componente mesomórfica (nem tão­pouco do tipo 
atlético de Kretschmer, que lhe corresponde).

CONCLUSõES. Conforme se pode verificar nas linhas anteriores, a constituição humana tem sido 
objecto de estudos baseados em diferentes princípios e servidos por diversas metodologias. O que 
resta actualmente de válido das investigações levadas a cabo pelas escolas tipológicas citadas, 
as principais, é pouco relativamente à grande quantidade de trabalho efectuado. A classificação 
dos indivíduos em tipos morfológicos ou somatopsíquicos parece ter de ser definivamente 
abandonada. Na realidade, as investigações da actual Escola bietipológica de Paris e outras, 
conduzidas críticamente e baseadas em rigorosas técnicas estatísticas, têm demonstrado a 
impossibilidade de incluir a enorme variabilidade humana em poucos tipos constitucionais. Tal 
facto, de resto, foi também reconhecido, como vimos, pelas

87
Comprovação da paternidade

escolas de Sheldon e de Lindegard, que, de modos diferentes, procuraram obviar aos seus 
inconvenientes. Apesar disso, é Schreider, um dos animadores da Escola biotipológica de Paris, 
quem propõe a adopção de três denominações convencionais ­estruturas verticais, horizontais e 
intermédias­ que, do ponto de vista morfológico, sintetizam as aspirações das principais 
classificações tipológicas e apresentam a vantagem de incluir, salvo raras excepções, toda a 
variabilidade constitucional humana.

As estruturas verticais correspondem às constituições em que, independentemente da estatura e de 
outras medidas absolutas, existe preponderância da altura do tronco em relação à sua largura 
transversal. A sua silhueta é esbelta e relativamente direita em norma lateral.

As estruturas horizontais incluem as constituições em que a largura sagital do tronco predomina 
em relação à sua altura. Também independentes das medidas absolutas, correspondem a formas 
arredondadas e obesas.

As estruturas intermédias situam­se entre as anteriores e correspondem às constituições em que 
não há predomínio da altura sobre as larguras transversal e sagital do tronco.

Comprovação da paternidade ­­ Um dos campos mais importantes da antropologia aplicada é a detem­
iinação gené~ tica e antropológica da descendência, particularmente a

comprovação de paternidade. Nos casos de paternidade duvidosa, procura­se provar, com base num 
maior número possível de caracteres hereditários, se entre duas pessoas, normalmente uma criança 
e o pai presuntivo, existe grande afinidade genética que faça supor uma relação de descendência. 
O método é essencialmente aquele que permite distinguir entre gêmeos uniovulares e biovulares 
(­­­> Genética humana) ou entre gémeos que possuam exactamente o mesmo património génico, ou 
património génico diverso.

Ao contrário do preceituado em muitos outros países, a legislação portuguesa proíbe a acção de 
investigação de paternidade ilegítima, excepto nos casos que se seguem, matéria regulada pelo 
artigo 1860.o do Código.Civil Português de 1966.

88
Comprovação da paternidade

a)   Encontrando­se o investigante na posse de estado

de filho ilegítimo (Nos termos do artiga 1861.O «a posse de estado consiste no facto de alguém 
haver sido reputado e tratado como filho pelo pretenso pai e de haver sido reputado como filho 
também pelo público»);

b)   Existindo carta ou outro escrito no qual o pretenso

pai declare inequivocamente a sua paternidade;

c)   Tendo havido convivência notória da mãe e do

pretenso pai no período legal da concepção;

d)   Tendo havido violência exercida pelo pretenso pai

contra a mãe no mesmo período;

e)   Tendo havido sedução da mãe no período legal

da concepção.

A selecção dos caracteres hereditários para a determinação da paternidade (e também da 
maternidade) varia consoante o processo hereditário e a base génica (caracteres monómeros) ou 
então que a descendência deva resultar exclusivamente da participação de mais genes não 
individualmente analisáveis (caracteres polímeros). Ao primeiro grupo, que é representado 
sobretudo por caracteres sero­

lógicos, pertence, em presença de determinadas constelações de genes, a exclusão da paternidade. 
É válido para a generalidade de que uma característica dominante que apareça na criança mas 
falte na mãe deve existir no pai; esta regra permite excluir todos os homens que não a possuam. 
Se, pelo contrário, a característica dominante se encontra na mãe, não fica excluído nenhum 
homem como progenitor da criança. Em alguns processos hereditários nos quais se destaquem 
fenotipicamente dois alelos (por exemplo, o sistema MN) é possível que também a mãe seja 
excluída no caso de ser heterozigótica. No sistema ABO e no MN, por exemplo, existe a 
possibilidade de exclusões indicadas na tabela da p. 90.

89
Comprovação da paternidade

Além dos sistemas ABO e MN tem­se últimamente rev­­stido de importância mormente o chamado 
sistema Rh, com os seus três pares de genes (Cc, Dd, Ee):

Criança

Mãe

O pai pode ter

O pai não pode ter

A, B, AB, O

A, AB

B, O

AB o

A, B, AB, O A, AB

B, o

B, AB

A, O

A, B, AB, O

AB

A, B, AB, O

B, AB
A, O
AB

B, AB

A, O

A, AB

B, O

AB

A, B, AB, O

(Se o filho apresenta AB, a mãe não pode ter 0)

1 A, B, O

1    AB

A, B, O

AB

A, B, o

AB

(Se o filho apresenta O, a mãe não j)ode ter AB)

M       1

M, MN       1

N
Comprovação da paternidade como pais presuntivos), e a sensibilidade gustativa à PTC 
(feniltiocarbamida); (­> Fisiologia racial).

A maior parte dos caracteres polímeros foram introduzidos na análise da semelhança 
polissintomática. Os grupos de caracteres aos quais se recorre com o objectivo de determinar ou 
excluir a paternidade são os seguintes: relevos cutâneos papilares (impressões das polpas dos 
dedos das inaos e dos pés, da palma das mãos e da planta dos pés, número de linhas das 
impressões digitais e tipo do desenho; linhas principais da palma das mãos e da planta dos pés, 
desenho dos espaços interdigitais), forma do polegar e do dedo grande e mínimo dos pés; 
estrutura da íris e densidade e, distribuição da sua pigmentação, processo de implantação ciliar 
e diâmetro da abertura pupilar; calota craniana (dimensões, circunferência, forma da região 
occipital, depressões na proximidade do bregma e do lambda, eventual presença da protuberância 
sagital); forma da face (medida, perfil, forma da região zigomática, do mento, etc.); região 
ocular (abertura palpebral, forma e posição da fenda das pálpebras, desenho e forma das rugas 
palpebrais, diâmetro da pálpebra superior, curvatura, distribuição e grau da curvatura das 
sobrancelhas, etc.); nariz (dimensões, largura e perfil da base do nariz, dorso do nariz, 
extremidade, altura e saliência das cartilagens alares, forma da raiz e do septo nasal); região 
da boca­queixo (entre outras, a altura e o perfil dos lábios superior e inferior, forma do sulco 
subnasal, espessura e forma da parte mucosa dos lábios, sulco entre a boca e o queixo e a forma 
deste); pavilhão auricular (entre outras dimensões, perfil, posição, enrolamento da ante­hélice, 
curvatura do trágion e do antitrágion, forma da incisão intertrágion, grau do desenvolvimento e 
forma do lóbulo); cavidade oral e dentadura (entre outras, forma e curvatura do palato, tipo dos 
relevos do palato); mãos e pés (entre outras dimensões, as das mãos e dos pés em relação ao 
comprimento, forma e curvatura das unhas, vincos das flexões das mãos); distribuição e 
desenvolvimento dos cabelos (cabelos sobre a nuca e sobre a testa, eventuais remoinhos); outras 
características (devem observar­se as peculiaridades especiais de todo o género; do mesmo modo, 
anomalias e defeitos somáticos podem dar talvez indicações importantes; por vezes devem

91
Comprovação da paternidade

promover­se investigações radiológicas, fisiológicas e psicológicas.

Nem todas as características têm o mesmo valor; o seu valor probatório depende de diversos 
factores: 1) As características não são todas determináveis por igual; para a classificação das 
mensurações, a determinação da cor dos olhos e dos cabelos e para a elaboração dos relevos 
cutâneos papilares existem escalas estandardizadas (­­> Métodos de antropologia); é por vezes 
muito difícil classificar segundo uma escala uniforme os caracteres fisionómicos e outros subtis 
caracteres morfológicos; 2) São particularmente importantes aquelas características sujeitas com 
a idade a diminutas mutações, como seja o sistema dos relevos cutâricos e, em segundo lugar, a 
estrutura da íris e da orelha. No caso de características métricas, a medição do indivíduo a 
examinar deve referir­se aos valores médios específicos da idade e do sexo, partindo daí a 
comparação, (tabelas de Schade); 3) A mesma regra é válida para características diferentes nos 
dois sexos; as investigações, de facto, nem sempre respeitam a indivíduos de idade diferente 
(filho e pais presuntivos), mas também a pessoas de sexo diverso (pai e mãe); 4) As 
características que não estão sujeitas a mutações por influência do ambiente (relevos cutâncos, 
cor dos olhos, morfologia do pavilhão auricular, muitas características fisionómicas) têm maior 
valor comprovativo do que as características sensíveis às radiações ambientais (todas as medidas 
­­­ > Constituiçã o); 5) Quanto mais rara é uma característica tanto maior valor tem para a 
comprovação da paternidade.

Para a comprovação da paternidade importam principalmente aquelas características nas quais a 
criança se diferencia da mãe. A comprovaçã o torna­se mais fácil no caso em que estão em causa 
dois ou mais homens do que quando se trata só de um. A comprovação ainda se toma mais difícil se 
houver parentesco entre a mãe da criança

e o presumível pai, ou entre os presuntivos pais; há um caso­limite quando dois pais presumíveis 
são gémeos uniovolares: neste caso a comprovação não é possível. Se o problema respeita a duas 
crianças gêmeas biovulares pode­se admitir serem filhos de dois pais diferentes. Uma tal 
superfecundação foi demonstrada num determinado caso (H.

92
Comprovação da paternidade

Geyer). A compilação de numerosas peculiaridades num só resultado de conjunto constitui um 
problema complexo. Pode ser mais recomendável ordenar os resultados obtidos numa escala de 
probabilidades: decisão impossível; paternidade provável ou improvável; paternidade muito 
provável ou muito improvável; paternidade evidente = à probabilidade de ser verdadeira, o que 
coincide pràticamente com a certeza, manifestamente impossível = a excluir com uma probabilidade 
de ser verdadeira, que coincide pràticamente com a certeza. Se a partir de determinadas 
características das quais se conhece o mecanismo de transmissão (particularmente os grupos 
sanguíneos) não sc chega à exclusão, os graus de probabilidades correspondem a graus de 
semelhança para os quais se atribui também uma escala: grau de semelhança, O; nos caracteres por 
que se distingue a mãe, a criança assemelha­se numa proporção de 50 por cento ao pai presumível 
e noutros 50 por cento não se parece. As semelhanças dizem todas respeito a caracteres comuns 
não evidentes. Contudo, @ambém as dissemelhanças não são evidentes, isto é, não se referem a 
qualquer característica da qual se conheça suficientemente o mecanismo hereditário e em que 
resulte uma constelação de exclusões (impossibilidade de chegar a uma resolução). Sernelhança + 
1; nas características em que se diferencia da mãe, o filho aproxima­se sensivelmente do pai 
presumível; trata­se porém de características comuns pouco individualizadas (paternidade 
provável). Semelhança + 2: entre as numerosas semelhanças entre a criança e pai presuntivo

O  10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

­ pais

o 10 à 30 40 50 60 70 W 90

­­­­­ não pais

Fig. 25. Distribuição das probabilidades Para pais (­) e não pais (­­­­­­­­­ ), segundo a 
fórmula de Essen­Mõller. A esquerda em 120 casos de comprovação (segundo D. Wichmann,
1941) com base em 31 características, à direita em 370 crianças de 100 famílias, com base em 36 
características (segundo

I. Schwidetzky, 1956)

93
Comprovação da paternidade

algumas referem­se a pormenores muito evidentes, isto é, raros; trata­se de semelhanças da 
estrutura de regiões características inteiras (paternidade muito provável). Semelhança + 3: as 
semelhanças evidentes entre o filho e o pai presumível são numerosíssimas revelando a criança 
uma semelhança consideràvelmente maior em relação ao pai presumível do que em relação à mãe 
(paternidade evidente = com uma probabilidade que coincide práticamente com uma certeza). 
Semelhança ­ 1: nas características em que se diferencia da mãe são mais numerosas as 
dissemelhanças da criança em relação ao pai presumível do que as semelhanças; trata­se contudo 
de características em que a diferenciação em relação à mãe assume pouca importância e das quais 
se conhece mal o mecanismo hereditário (paternidade improvável). Semelhança­2: nas 
características em que se diferencia da mãe, a criança diferencia­se também do pai presumível, 
sendo, mais numero­

sas as dissemelhanças do que as semelhanças; neste caso, porém, as divergências em relação à mãe 
são frequentemente consideráveis, ao passo que as semelhanças entre filho e pai presumível não 
são características (patemida& muito improvável). Semelhança ­ 3: se bem que a criança apresente 
globalmente uma semelhança pequena em relação à mãe, não evidencia coincidências dignas de nota 
com o pai presumível; prevalecem, pelo contrário, e acentuadamente, as dissemelhanças, mesmo 
naquelas características das quais se conhecem as regras de transmissão (patemidade 
manifestamente impossível = com uma probabilidade que coincide pràticamente com a certeza). O 
valor provativo da escala de semelhança foi verificado em famílias com pai certo (Schwidetzky). 
Os vários graus de semelhança ultrapassam­se uns aos outros de maneira contínua de modo que não 
é possível fixar limites exactos, de validade geral, que possam servir de base a uma 
classificação.

Estão também em curso algumas tentativas para atingir uma interpretação matemático­estatística 
das várias carac­

terísticas. Os métodos mais importantes, em cuja verificação ainda hoje se trabalha, são os 
seguintes:

1) O método de Essen­Mõller. Para cada caracterís­

y tica o referido método calcula o chamado valor crítico ­

94
Comprovação da paternidade

no qual X indica a frequência das coincidências entre crianças e pais «verdadeiros», Y a 
frequência das coincidências com pais «falsos», ou seja, a frequência das coincidências das 
características na população média. A probabilidade para a paternidade de um homem a partir das 
características 1, 2, 3 ... n é então

P =

1 +

Y,. Y,. Y, ... Yn

X1 ­ X2 ­ X1 ... Xn

2) Uma variante do método de Esse­n­Mõller é dada pelo logaritmo de paternidade de Keiter, que, 
em vez de multiplicar valores críticos, soma os seus logaritmos, representando como curvas de 
discordância a distribuição dos valores por pares pai­filho e não pai­filho.

3)   Este tipo de interpretação, que renuncia ao conceito de probabilidade, baseia­se no método 
das funções discriminativas, um moderno sistema estatístico que, embora não esteja desenvolvido 
expressamente para a comprovação da paternidade, se lhe pode aplicar. (Ludwig, Bauer e Baitsch). 
Dos valores das características dos grupos a discriminar (neste caso         i                N. 
pares pai­filho e não pai­filho) estabelece­se uma função de separação que permite traçar uma 
linha de demarcação a partir da        _@9 _@7 ­5  ­3  ­1 O +1 +3 +@S qual se pode atribuir um 
determinado caso ao grupo pai­filho e não pai­filho. Contra o emprego dos inétodos    estatí 
stico­matemá­   ­10 ­8                 +2  +4 +ó ticos Gbjecta­se, entre ou­    Fig 26 
Distribuição   dos  l­arit­

tras coisas, que eles ape­      mos de paternidade, segundo

Keiter, Dor Dares de pai­filho nas podem abranger uma          (­­) e Dares de não paiparte das 
características       ­filho (............ ) em 370 crian­

ças de 100 famílias. Diagrama I consideradas na análise de      com base em 25 características,

i com base em 70 características semelhança, ao passo que        I(segundo 1. Schwidetzky, 1956)

95
Comprovação da paternidade

coincidências em características ou combinações de características pouco frequentes, que em 
algumas circunstâncias têm valor probatório elevado, não se podem abranger estatisticamente.

Com o progressivo aperfeiçoamento dos métodos estatísticos utilizados na comparação poderão ser 
esclarecidos os fundamentos e o valor de tais objecções. Especialmente será necessário verificar 
os métodos sobre muito material obtido em famílias nas quais       esteja assegurada a relação

pai­filho. A utilidade ge­
14­           o    o o o     o  ral dos métodos pode ainda

­              o       0@>      também ser verificada nos
12­   o    O     CP       oi    pares mãe­filho (Baitsch),

o    K,¥J .C 10­'I,@  *o  Z­­ 8              que são mais fáceis de

o   Ó0

04.000       obter, e nas controvérsias o       o

o        .  legais nos casos legais de o           $0 8 ­ paternidade duvidosa.
4          01

0%       00   o             Os primeiros pareceres
2             *  o o :O os             antropológicos quanto à fio             0*. 
liação foram aprasentados,

Z*. O ­2                              com pequeno intervalo e

independentemente um do outro, por O. Reche, em ­.6     . . . . . . . . . . . . .Viena (1926) e 
por O. v.

­4 ­3 ­2  ­1  O  1  2 _ 3

semelhanças P    Verschuer, em Berlim Fig. 27. Separação dos Dares de     (1928); quase ao mesmo 
pai­filho (0) e dos pares de não    tempo, também Poljakoff pai­filho ( ‘  através da an'lise 
d,.r@minat!,ia, com base e;;; 8o    (1929) apresentou também características K = afinidade en­ 
um esquema teórico do tre a queixosa e a criança; Z = afinidade entre a testemu­      método. Em 
1931 o Sunha e a criança num caso        de parecer sobre cbmprovaÇão de        premo Tribunal 
de Viena paternidade (segundo H. Baitsch     admitiu como meio de

e P. Schwarfischer, 1958)

prova os pareceres antro@ pológico­genéticos, e sucessivamente foram aceites como prova legal na 
Alemanha, Dinamarca, Noruega e Suécia
* recentemente também na Polónia, Suíça, Checoslováquia
* Hungria. A comprovação da paternidade baseada em investigações serológicas foi também 
reconhecida como prova legal em muitos outros países. Complementarmente, pode recorrer­se a mais 
outros meios biológicos de prova, além da investigação de capacidade de procriação do

96
Conceito de raça

homem, principalmente o parecer sobre o tempo de gravidez, que relaciona o grau de maturidade da 
crianç a na altura do nascimento com a época das possíveis relações sexuais.

Além da comprovação da paternidade, outros sectores da antropologia aplicada têm­se desenvolvido 
em alguns países. Assim, por exemplo, recorre­se mesmo à antropologia para a encomenda de 
uniformes, botas e capacetes para as forças armadas, para a confecção de vestuário em série e 
para a construção de mobiliário escolar. As forças aéreas americanas levaram a efeito um estudo 
bastante aprofundado sobre medidas somáticas e peculiaridades fisio@lógicas para alcançar a 
adaptação perfeita da máquina e do homem (human engineering).

Conceito de raça ­­ O conceito de raça (subespécie) designa, em sistemática zoológica, grupos ou 
populações de indivíduos de uma espécie que se reproduzem entre si e se distinguem das 
populações da mesma espécie (­­> Sistemática dos primatas) pelo facto de terem em comum 
determinadas características de forma, de cor, etc. As várias raças ou subespécies que 
constituem uma espécie são, de facto ou potencionalmente, interfecundas e portanto o limite 
efectivo da fecundidade falta só ao nível da espécie. O isolamento reprodutor é assim uma 
característica das espécies. Em condições naturais os componentes de uma raça encontram­se em 
determinada área geográfica, cruzando­se portanto mais entre si do que com os outros indivíduos 
da mesma espécie existentes noutras regiões. Assim, cada raça, considerada do ponto de vista 
filogenético, representa uma base potencial da qual, sob oportunas condições de isWamento, no 
decurso de longas sucessões de gerações, podem desenvolver­se novas espécies (­­­> Gênese das 
raças). Deste modo a raça ­ e anàlogamente o conceito de raça ­

adquire, do ponto de vista da classificação, grande importância como estádio preliminar de toda 
a sistemática superior.

Antes de se conhecerem os factores básicos que presidem ao mecanismo da hereditariedade, para 
subdividir as espécies em raças estabeleciam­se diferenças entre os caracteres dos grupos 
recorrendo à simples observação. Depois de

97
Conceito de raça

Gregor Mendel ter demonstrado, em 1866, mediante as suas célebres experiências, o mecanismo da 
transmissão de determinados caracteres (lei da segregação dos caracteres) e depois de, quarenta 
anos mais tarde (por volta de 1900), os seus estudos terem sido renovados e utilizados como base 
para uma série de investigações experimentais, concluiu­se que são numerosas as diferenças 
genéticas entre os indivíduos de uma população mendeliana. Em regra, a existência de disposições 
hereditárias (gertótipo) de um indivíduo é substancialmente diversa da de outro indivíduo da 
população. Para compreender como isto é possível basta pensar que cada ser humano tem um número 
de genes calculado entre 24000 e 42000, alguns dos quais novamente modificados no indivíduo como 
resultado de mutaç@es. Em oposição a esta elevqda variabilidade individual deve no entanto 
salientar­se que o património hereditário comum a todos os membros de uma população mendelina 
claramente se conservou constante. Baseado em tais observações, Eugen Físcher chegou à definição 
do conceito da raça humana ainda hoje actual: «As raças são grupos (interfecundos) que possuem 
em comum determinados genes, ausentes noutros grupos».

Chegou­se assim, pela primeira vez para o ser humano, a um conceito de raça cientificamente 
fundamentado e delimitado; era uma tarefa particularmente necessária e essencial, porque o 
«problerna racial» era vivamente discutido desde o princípio deste século sem conhecimento 
suficiente das suas bases biológicas. Falava­se indiferentemente de «raça», de «povo» (por 
exemplo, Gerinanos ou Romanos), de «grupo línguístico» (por exemplo, Arianos ou Semitas), apesar 
do facto de só a raça poder ser exactamente definida do ponto de vista genético­biológico e nã o 
os grupos nacionais ou linguísticos. Infelizmente esta confusão contribuiu desde o início para 
desacreditar o conceito científico de raça, descrédito mais reforçado ainda pelo facto de ter 
sido objecto de polémicas nas quais foram envolvidos juizos de cariz filosófico e de qualquer 
maneira extracientíficos. Estas intromissões abusivas, todavia, não podiam negar o facto de 
existirem diferenças rácicas genèticamente condicionadas, e que portanto não é possível em 
biologia ignorar a existência de raças que a evidência

98
Conceito de raça

científica obriga também a aplicar ao «homem» como entidade biológica.

Após a discussão filosófico­política do problema racial ter, no decurso da segunda guerra 
mundial, atingido o ponto culminante, a Unesco publicou duas «Declarações sobre a Raça». A 
primeira, de 1950, foi redigida sem a cooperação de biólogos, ainda sob o clima daquelas 
discussões. Depois do seu repúdio unânime por parte dos especialistas de todo o mundo, chegou­
se, em 1951, à seguinte formulação: «No sentido antropoló gico, o termo «raça» deve ser 
@eservado a grupos humanos que apresentam relativamente a outros grupos diferenças físicas (isto 
é, somáticas) bem marcadas e condicionadas hereditàriamente».

Os poucos biólogos que tomaram parte neste congresso objectaram imediatamente que a nova 
definição só levava em conta as diferenças físicas e excluía o sector psíquico,. Do ponto de 
vista genético não se pode reconhecer a este sector uma posição de privilégio. O estudo 
experimental destes fenómenos hereditários pôde demonstrar, especialmente para o homem, que 
também o campo psíquico está sujeito às leis hereditárias válidas para todos os seres viventes 
(investigação sobre gêmeos ­­­> Genética humana). Além disso a investigação do comportamento 
feita em animais demonstrou, sem possibilidade de dúvida, que também neste sector não há entre 
os animais e o homem fronteira bem delimitada, mas uma zona indecisa de transição. A declaração 
da Unesco de 1951, muito mais restritiva do que a de Eugen Fischer, não é o resultado de dados 
cientificamente demonstrados, sendo, fácil compreender como ela é o fruto das reservas dos 
profanos em face da ideia de que o homem pode estar sujeito às leis da hereditariedade (válidas 
para todos os seres vivos), aplicáveis a todas as formas de vida e de comportamento. Na 
realidade é difícil marcar limites que separem o homem do reino animal, na sua situação 
privilegiada de ser pensante, conhecedor, de capacidade criadora.

Entre as duas definições do conceito de raça que se teve ocasião de citar gravita a seguinte 
observação: ela tende sobretudo a limitar as populaçõ es mendelianas actuais a um sentido 
predominantemente estático. Ora as raças,

99
Conceito de raça

do ponto de vista biológico, não são entidades estáticas, mas dinâmicas, em permanente evolução. 
Representam, no processo de constante mutabilidade que é a vida, comunidades que incessantemente 
se transformam, em gradações infinitesimais, mediante mutações e outros processos. Este carácter 
dinâmico da raça foi expresso de maneira mais explícita pelo especialista de genética americano 
Dobzhansky, que escreve sucintamente: «A raça é um processo». Só assim o conceito de raça foi 
acertadamente intreduzido no decurso histórico da vida e ao mesmo tempo a raça tornou­se 
compreensível como a mais pequena unidade sistemática, continuamente mutável (população 
mendeliana), com a qual podemos interpretar o curso geral da evolução de todos os seres vivos 
terrestres.

Para identificar uma raça é suficiente, do ponto de vista teórico, a presença divulgada de um 
novo gene e do seu correspondente carácter (ou dos correspondentes caracteres) dentro de uma 
população mendeliana: a posse exclusiva de tais caracteres distingue determinada população das 
populações vizinhas da mesma espécie. Dada, porém, a riqueza do património genético nos 
mamíferos, uma diferenciação deste gênero, baseada na presença ou na ausência de um só gene, ou 
de um só carácter, constituiria uma intolerável fragmentação sistemática. Por este motivo, como 
critério de avaliação, e portanto de classificação, com o fim de identificar as raças utiliza­
se, como fez Eugen Fischer desde o início do estudo das raças humanas, uma série de genes. Estes 
reúnem­se para dar lugar a uma «combinação típica de caracteres que possibilitam a clara 
identificação e delimitação das várias populações mendelianas de uma espécie. Esta breve 
exposição, em conexão

com a definição de raça dada por Dobzhansky, torna claro como, em condições naturais, no decurso 
da evolução histórica, não podem existir « raças puras», mas apenas formas instáveis, 
possuidoras em maior ou menor grau de combinações de caracteres típicos. Raças puras, com toda a 
perfeição teóricamente possível, só foram criadas pelo homem, em plantas ou animais, mediante um 
processo de selecção. Passando à subdivisão de raças da espécie humana, verificamos que os 
diversos autores distinguem um número extremamente variado de raças. A subdivisão é feita em

100
Conceito de raça

cada caso com base nos mesmos princípios genéticos fundamentais: as diferenças entre as diversas 
classificaçõ es são devidas particularmente ao facto de umas vezes ser posta em primeiro plano a 
multiplicação de populações locais geogràficamente distintas, enquanto noutros casos imperam 
tendências reunidoras na elaboração dos esquemas de classificação. Na reunião de raças 
individuais em grandes unidades super­regionais, ou «grandes raças» (por exemplo, Caucasóides, 
Mongolóides, Negróides) terá de ser naturalmente considerado um número cada vez maior de 
características individuais, numa combinação de caracteres típicos. Resulta deste facto que se 
atribuem ora a uma ora a outra grande raça as populações que habitam as zonas de contacto, 
havendo assim neste aspecto opiniões contraditórias nos vários autores. Estas divergências nas 
classificações raciais em nada afectam a validade da definição da raça, sendo apenas devidas à 
diversa importância que os vários autores atribuem aos caracteres rácicos. Estas diferenças de 
opinião demonstram de resto o carácter dinâmico das raças, que não podem portanto inserir­se 
fàcilmente nos esquemas rígidos nos quais se funda a nossa actividade metódico­classificatória.

Sobre os reais mecanismos da transmissão dos caracteres raciais ­ tendo em conta que não nos é 
possível levar a efeito experiências de cruzamentos com seres humanos ­

só dispomos por enquanto dos resultados da hibridização racial entre populações (por exemplo, 
Europeus­Mongolóides, Europeus­Negróides, etc.) Para além disso a moderna genética humana, 
aplicada à investigação sobre os gêmeos, e particularmente à investigação da paternidade, apenas 
forneceu material pouco abundante no que respeita à hereditariedade, quer dos caracteres 
morfológicos mínimos, quer das disposições psíquicas. À luz do nosso conhecimento actual não 
pode subsistir qualquer dúvida de que o homem, no seu conjunto de funções e caracteres físicos 
e psíquicos, está sujeito às mesmas leis de hereditariedade que regem todos os outros seres 
vivos terrestres e que portanto também para ele deve ser aplicável um conceito de raça que 
abranja o homem na multiplicidade dos seus aspectos.

101
Conceito de raça

f Podemos talvez sintetizar nos seguintes pontos alguns princípios essenciais do conceito de 
raça no homem. Uma raça humana é um grupo de populações que têm de comum certas diferenças 
relativamente a outras raças, ainda que no interior de cada uma delas exista urna acentuada 
variabilidade dos caracteres físicos no seio da área geográfica que ocupa, cujos limites são 
característicos de cada grupo racial. Estas variações nos caracteres físicos são devidas a 
diferentes frequências nos genes comparativamente às de outras raças. A raça é uma entidade 
dinâmica, variável no espaço e no tempo. Não existem limites geográficos nítidos que separem os 
caracteres físicos das populações humanas, que estabeleçam rígidas descontinuidades entre as 
várias raças. As raças humanas são todas interfecundas mas a troca de genes é mais frequente 
entre indivíduos da mesma raça do que entre os de raças distintas, a não ser quando estas se 
encontram misturadas na mesma área, sem oposição de barreiras sociais. A causa é portanto 
essencialmente geográfica, mas ao factor espacial junta­se outro tipo importante de barreiras 
que se opõem com maior ou menor intensidade aos intercruzamentos raciais. São as barreiras 
chamadas culturais (linguísticas, religiosas, politícas, de costumes, etc.).

Os caracteres físicos que geralmente se utilizam nas classificações raciais são os seguintes: 
cor da pele, dos cabelos, dos olhos; forma dos cabelos, estatura, forma da cabeça e das suas 
diversas partes (nariz, olhos, lábios; índices nasais, cefálicos, etc.; proporções relativas dos 
mem­

bros; grupos sanguíneos; etc.).

Os grupos sanguíneos (ABO, NIN, Rh, etc.) têm sido aplicados na classificação racial e noutros 
aspectos das relações entre  as populações humanas.

Houve   raças que se extinguiram, outras estão actualmente em    declínio, e novas 
diferenciações estão provàvclmente em    curso. A origem das raças deve provávelmente resultar 
de mutações de hibridação seguiã de isolamento geográfico, da selecção natural e ainda de outros 
processos.

As diferenças na inteligência, no psiquismo, na cultura entre os grupos humanos raciais não são 
consideradas nas classificações científicas das raças humanas. A enorme influência do ambiente 
(aprendizagem, herança cultural,

102
Constituição

ambiente social, etc.) que preside a essas diferenças não permite pôr em evidência uma possível 
base genética que seja também responsável por elas. Mas se o for a sua participação é 
provàvelmente diminuta.

Do ponto de vista biológico não existe prejuízo resultante da miscigenação. Por outro lado, o 
preconceito de «raça pura» não tem qualquer base científica.@

Constituição ­­   Por constituição entende­se o conjunto dos caracteres somáticos e funcionais 
do indivíduo e resulta do património hereditário e da acção modificadora baseada nos factores do 
meio ambiente. Consíderam­se naturalmente as características que apresentam certa estabilidade 
(embora não se levem em conta as variações de natureza ocasional, como, por exemplo, as 
contracções musculares no decurso do dia) e as características funcionais que influem na 
reactividade do indivíduo. Pode dizer­se que os tipos constitucionais são tantos quantos os 
indivíduos. A doutrina das constituições propõe­se ordenar esta multiplicidade de duasmaneiras: 
1.o Procura agregar como tipos constitucionais grupos de constituições individuais similares; 
2.1 Examinar comparativamente as relações entre os vários caracteres constitucionais: «0 estudo 
da constituição é um estudo de correlação» (Kretschmer). A correlação entre caracteres somáticos 
e disposições ou caracteres psíquicos reveste particular interesse para a antropologia.

ANÁLISES FACTORIAIS. A finalidade do estudo tipológico visa, com métodos sempre mais exactos, a 
apreciação quer das relações recíprocas dos caracteres, quer do reagrupamento dos indivíduos. 
Recentemente generalizou­se a aplicação dos métodos matemáticos na análise da constituição 
somática. Um dos mais importantes métodos é a chamada análise factorial, originada e 
desenvolvida no âmbito da psicologia, a qual permite isolar, mediante correlações e operações 
especiais de cálculo, factores que participam na formação de todos os caracteres (factores 
gerais) e factores que influem preponderantemente sobre determínadas regiões ou sobre algumas 
medidas do corpo (factores especiais ou factores de grupo). Podem além disso ser calculados 
valores chamados de saturação, os quais contribuem para determi­

103
Constituição

nar em que medida tal ou qual característica depende de determinado factor.

A vantagem da análise factorial reside no facto de ela empregar métodos puramente objectivos no 
estudo da constituição somática. O número e os tipos de factores isolados dependem, porém, das 
medidas e dos índices que são postos em correlação. Numerosas investigações têm todavia 
permitido evidenciar alguns elementos fundamentais: 1) Existe um factor geral de grandeza 
implícito em todas as medidas somáticas absolutas; 2) Os factores de altura e da corpulência 
variam bastante, independentemente um do outro.
O primeiro intervém em todas as medidas da altura, especialmente nas que se referem ao tronco e 
aos membros, o segundo não só na espessura da gordura, mas também nas medidas circunferenciais, 
especialmente no perímetro torácico e abdominal, enquanto os diâmetros horizontais apresentam, 
com esta última medida, correlação pouco definida. A espessura da gordura nas várias partes do 
corpo está correlacionada em elevado grau nas diversas partes do corpo; 3) A análise factorial 
revela que as medidas da cabeça têm tendência para variações independentes em relação às outras 
medidas do corpo, embora tenham forte correlação entre si; 4) O desenvolvimento da caixa 
torácica e da bacia mostra, além de certo grau de correlação, também tendência autónoma de 
variações..

A partir da selecção dos caracteres básicos, diferenciados dos valores de saturação 
particularmente elevada, a

análise factorial toma possível a dignose individual e o consequente reagrupamentG dos 
indivíduos. As investigações até agora empreendidas avançam por um caminho demasiado estreito, 
pois determinam as características básicas mediante simples cadeias de correlações sem empregar 
a análise factorial ou seleccionam­nas « a priori» e só posterionnente verificam a sua recíproca 
independência. Lindgârd e Parnell propuseram para a diagnose indi­Hdual uma combinação de três 
caracteres, independentemente um dos outros, que representam o factor da altura, da adiposidade 
e o factor muscular. SchIegel utiliza as dimensões da mão para sistematizar os indivíduos numa 
escala que vai do asténico ao atlético e a amplitude da bacia como caracterís­

104
Constituição

rica fundamental para delimitar um campo de variabilidade que vai do andromorfo ao ginornorfo.

TIPOS CONSTITUCIONAIS. Na antiga investigação tipológica a correlação dos caracteres somáticos 
não era analisada estatisticamente mas avaliada a olho; como tipos constitucionais descreviam­se 
as combinações das extremas variantes dos caracteres correlativos. Grande número de estudiosos 
organizaram sistemas baseados sobre variações entre os dois pólos opostos de uma constituição 
alta e delgada e baixa e entroncada (macrocélica e microcélica, Manouvrier, 1902; longítipo e 
braquítipo, Viola, 1909; hiposténico e hipersténico, Mills, 1917; estenoplástico e euriplástico, 
Bunak,
1923; tipo linear e tipo lateral, Stockard, 1923, etc.). Além disso, foram também muitas vezes 
abrangidas, ou pelo menos tomadas em consideração, correlações com características psíquicas ou 
funcionais, especialmente com disposições para doenças. E. Kretschmer denominou estes dois tipos 
extremos da constituição somática por leptossómico (primeiro, também asténico) e pícnica, e além 
destes um terceiro tipo, o atlética. O seu sistema acrescenta um novo capítulo aos estudos 
tipológicos, pois que não se limita a uma simples classificação, mas procura estabelecer novas 
correlações através de numerosos trabalhos efectuados pela sua escola. Foram assim estudados 
pequenos grupos de representantes dos «tipos puros» e confrontaram­se os dados obtidos para os 
três tipos constitucionais. Pela diagnose tipológica foram estabelecidas algumas características 
fundamentais (não verificadas, mas estatisticamente em termos de correlação) cf. tabela p. 109.

As medições do corpo humano contribuem para a diagnose constitucional e permitem salientar 
diferenças nítidas entre o tipo leptossómico e o pícnico, ao passo que o tipo atlético, quanto a 
medidas, se mantém entre aqueles dois.

K. Conrad, por seu turno, reduziu de novo o sistema tríptico de Kretschrner a uma série de 
variações extremas. Distingue como variantes primárias a série contínua leptopienomórfica e como 
variantes secundárias uma série asténico­esténica ou asténico­atlética. As variantes primárias 
foram consideradas como formas de crescimento: o pienomórfico é, em todas as suas proporções 
corpórcas, o tipo

105
Constituição

«conservativo», mais próximo da infância, enquanto o leptomórfico representa uma forma de 
crescimento «propulsivo», mais diferenciada (­­­> Crescimento). Como o crescimento é regulado 
pelas secreções endócrinas, pode­se supor que diferentes sistemas hormonais estejam na base dos 
diversos tipos constitucionais. De facto existe uma diferença sensível de peso relativo das 
glândulas endócrinas entre indivíduos pícnicos e leptossómicos: nos primeiros o timo, que na 
infância é relativamente grande e activo, apresenta peso superior ao da média, ao passo que 
todas as restantes glândulas endócrinas são superadas, em peso relativo, pelas dos leptossómicos 
(Pearl, Gooch, Miner e Freeman). A escola italiana dos estudos da constituição (Pende, Viola) 
tomou

como base de um sistema p                         tipológico os efeitos, assi­

nalados pela patologia, das
7

glândulas endócrinas sobre
16

a constituição e o desenvolvimento; de acordo com a
14
13                               hiper ou hipofurição das
12                               glândulas como a tiróíde

a hipófise, as góriadas supra­renais, estabelece um
9

O 1  2 3 4 5  6 7 8 9 10 11 12 )3 complexo sistema de clas­

idade sificação que todavia não Fig. 28. Tipos constitucionais e suscitou grande interesse 
crescimento. (Profundidade re­

lativa do tórax (diâmetro sagi­  fora da Itália. Nos países tal do tórax em relacão à estatura) 
no decurso do crescimento, anglo­saxónicos impôs­se tanto em picnomorfos (p) como 
considerávelmente a somaem leptomorfos (1)      (segundo

K, Conrad, 1949)          totipologia de Sheldon,

que introduziu o critério embriológico no estudo. da constituição do corpo humano. Ela distingue 
três componentes constitucionais, que se relacionam com os três folículos blastodérmicos O 
anormal desenvolvimento de um destes três folículos.em relação aos outros originará na 
ontogénese um particular tipo constitucional. Sheldon distingue três componentes morfológicos. 
As características principais da componente endomórfica são o predomínio do tronco em relação às 
extremidades, do abdómen sobre o tórax, da região da bacia sobre os ombros, e além disso perfil 
do corpo arredondado e flácido, mus­

106
Constituição

culatura débil, ossos delicados, mãos e pés relativamente pequenos. A componente mesomórfica é 
caracterizada por ossos robustos e musculatura possante; o perfil do corpo é anguloso, os 
músculos são muito desenvolvidos, extremidades longas e fortes, o tórax predomina sobre o 
abdómen e os ombros sobre a bacia. Os diâmetros transversais excedem os ântero­p osteri ores. A 
componente ectomórfica caracteriza­se pela constituição longilínea e grácil: membros longos em 
relação ao tronco, do que resulta uma descentralização da massa corpórca; o, tórax e o abdômen 
são chatos, a face pouco desenvolvida relativamente ao neurocrânio. A componente endomórfica 
corresponde «grosso modo» ao tipo pícnico de Kretschmer, a mesomórfica ao tipo atlético e a 
ectomórfica ao leptossómico. Para cada componente distinguem­se os graus de 1 a 7 e cada 
indivíduo diferencia­se por um número de três algarismos, que define a sua posição referente a 
cada uma das componentes. Assim, por exemplo, o tipo somático 326 exprime em grau médio a 
componente endomórfica (3); em grau fraco a mesomórfica (2) e em grau acentuado a ectomórfica 
(6). A diagnose individual é mètricamente fundamentada e os dados são coligidos de fotografias 
padronizadas e relacionadas com a estatura. As componentes endomórfica e ectomórfica patenteiam 
uma alta correlação negativa, o que demonstra que se registam na mesma gama de variações. Esta 
pode ser confirmada por um factor evidenciado pela análise factorial, ao passo que a componente 
mesomórfica corresponde a um factor ulterior (Howells, Lorr e Fields).

TIPOS SExuAis. A distinção constitucional mais nitidamente individualizada entre todos os povos 
é a que existe entre o homem e a mulher. Esta distinção baseia­se, não só, como todas as outras 
variantes constitucionais, sobre diferenças genéticas, mas também sobre diferenças de 
cromossomas: o homem tem um cromossoma x e um y, ao passo que a mulher tem dois cromossomas x ( 
­­­ > Genética humana). O património cromossómico, vem fixado desde o momento da fecundação: 
todavia no decurso do desenvolvimento individual, também genes autossomas intervêm na formação 
das características sensuais. Cada gónada é potencialmente bissexual e a preponderância de um 
sexo

107
Constituição

sobre o outro explica­se com a repressão das disposições contrárias do sexo oposto. Observa­se 
um resíduo desta bissexualidade quando também adultos produzem ambas as hormonas sexuais, se bem 
que as do sexo oposto sejam em quantidade menor e variáveis com o indivíduo. A produção diária 
de hormonas sexuais masculinas (andróginas) está calçulada em 12 a 70 unidades para o homem e 10 
a 20 unidades para a mulher; a de hormonas sexuais femininas (estrogéneas) está calculada para a 
mulher entre 30 a 1500 unidades, com fortes oscilações no decurso do período catamenial, no 
homem, de 80 a 150 unidades. Os dois sexos não apresentam, pois, duas polaridades de modo 
absoluto, mas os seus campos de variações cruzam­se e sobrepõem­se. Isto é igualmente válido no 
que se refere à constituição física e psíquica. A diferença mais evidente entre os dois sexos é 
aquela que respeita aos caracteres sexuais primários, ou seja a confonnação dos órgãos sexuais 
destinados às funções reprodutoras; estados intermédios bem definidos (intersexuados e 
hermafroditas) são muito raros. Em todos os outros caracteres sexuais secundários, como 
proporções somáticas, cabelos e pilosidade, pigmentação e comportamento psíquico, os campos de 
variações apresentam vastas zonas comuns.

A maior parte das diferenças entre o homem e a mulher podem reduzir­se a dois aspectos 
fundamentais: as diversas funções na procriação e a mais rápida maturação sexual da mulher (­­­> 
Crescimento). A função reprodutora reflecte­se em primeiro lugar na forma da bacia: a feminina é 
mais larga e mais baixa, a arcada infrapúbica é mais ampla, a grande chanfradura isquática é 
mais aberta e o seu bordo superior menos côncavo, os ossos ilíacos mais largos e o sacro mais 
côncavo. A abertura pélvica superior é maior, quer em sentido absoluto quer relativo, e forma um 
oval mais amplo em relação à forma mais arredondada no homem. Quanto ao esqueleto, partindo 
apenas de duas medidas da bacia, pode determinar­se correctamente o sexo em 98 por cento dos 
casos (Hanna e Washburn). A maior largura da bacia na mulher, em conexão com a menor largura dos 
ombros, permite distinguir nitidamente os dois sexos em virtude do índice acrómio­ilíaco 
(largura biacromial X 100 dividida pela largura bicristo­ilíaca). Além da bacia, a

108
Constituição

Características principais na tipologia de Kretschmer

Pícnico

Atlético

Leptossómico

Proporções do tronco

Tórax curto dilatado Costelas em ângulo obtuso

Ombros largos e robustos. Tórax trapezóidal bem desenvolvido, bacia relativamente estreita

Tórax chato e comprido Costelas em ãngulo agudo Bacia relativamente larga­

Morfologia externa do corpo

Formas arredondadas devido ao notável desenvolvimento do tecido adiposo

Relevo muscular poderoso, marcado, sobre estrutura óssea robusta

Magro ou tendinoso, com escassa adiposidade

Membros e extremidades

Extremidades curtas Mãos e pés pequenos e largos

Extremidades robustas e fortes Grandes mãos e pés Eventual acrocianose

Membros alongados com mãos e pés compridos e estreitos

Cabeça e pescoço

Cabeça relativamente grande e arredondada Platicefalia Pescoço curto e maciço

Ipsicefalia Pescoço vigoroso; trapézio bem evidente

Cabeça relativamente pequena Pescoço delgado e comprido

Rosto

Rosto mole, largo e hiperémico. Perfil fracamente curvado

Rosto vigoroso, ossudo, com zigomas bem acentuados Oval comprido

Rosto pálido e magro, oval Nariz delgado e pontiagudo Eventual perfil anguloso

Cabelos e pilosidade
1

Cabelos fracos delicados, tendência para a calvície Pilosidade moderada nas extremidades do 
corpo

Cabelos fortes Pilosidade distribuída

Cabelo abundante mas f raco Pilosidade terminal débil

­­­      1

109
Constituição

característica sexual que torna mais evidente a diferença dos sexos é a do particular 
desenvolvimento das glândulas mamárias na mulher. Devido à mais rápida maturação sexual da 
mulher, numerosas das suas características permanccem num'estado próximo do da infância: isto 
evidencia­se sobretudo nas dimensões absolutas e na robustez do aparelho locomotor. Todas as 
medidas absolutas do homem superam as da mulher, com excepção, nalgumas populações, das da 
laraura da bacia. Músculos mais potentes que cobrem ossos maciços dão ao homem um aspecto mais 
robusto.
O crânio masculino apresenta, entre outras características, paredes mais espessas, relevos 
ósseos superiores da órbita mais marcados, testa mais fugidia, apófises mastoideas mais 
proeminentes, e mais marcada, no osso          occipital, a inserção para a musculatura da nuca. 
Todas              estas características permitem identificar o sexo em restos          humanos 
pré­histó­

ricos, mesmo depois da cremação dos cadáveres. Pelas medidas do fémur, em 95 por

­­­ ­­­­­­  ­­­­­­­­­­­­­­                  cento dos casos

e possível determinar exacta­

mente o sexo. (Pons); a cer

teza torna­se ­­­­­­­­­­

maior se se Fig. 29. Bacias feminina e masculina            relacionarem as

medidas do fémur e   da bacia (Thie­me e Shu11). As        diferenças no desenvolvimento do 
aparelho locomotor condicionam as desigualdades dos sexos nas actividades físicas, diferenças 
essas que atingem ainda maior expressao, entre outras, nos diversos resultados obtidos em 
competições desportivas. As diferenças de tamanho absoluto não constituem por si sós 
características distintivas dos sexos; há­de atender­se igualmente às proporções do corpo. 
Assim, o homem tem normalmente a cabeça mais alongada, a face mais comprida, o tórax mais chato, 
o tronco mais curto em relação à sua estatura,

110
Constituição

úmeros e fémures mais longos relativamente ao comprimento total dos membros, ao passo que a 
mulher revela características opostas, mais infantis: cabeça mais arredondada, face mais curta, 
tórax mais profundo, comprjmento do tronco relativamente maior, assim como úmeros e fémures mais 
curtos. O peso do encéfalo na mulher é em sentido absoluto menor do que o do homem; maior, 
porém, relativamente ao peso do corpo. Também o maior desenvolvimento da gordura subcutânea, que 
torna mais suaves

e menos angulosas as formas da mulher, representa uma característica infantil. Em muitas 
populações curopeias notam­se também diferenças sexuais na pigmentação e na distribuição da pi­
losidade. A mulher tem habitualmente os olhos e os cabelos mais fortemente pigmentados, cabelos 
mais compridos, mas menor pilosidade no corpo e na cara; a pilosidade do púbis, bem delimitada 
horizontalmente na mulher, tem no homem um desenvolvimento rarefeito para a parte superior.

A acentuação das características sexuais secundárias mostra fortes osCilações individuais, de 
modo que cada um

dos indivíduos dos dois sexos poderá consequentemente ser classificado de acordo com a sua 
proximidade no extremo quer masculino quer feminino. Recentes investigações da constituição 
puseram particularmente em relevo este facto. Sheldon estabeleceu um índice gínandromórfico que 
determina em que medida se manifestam num indivíduo as características do sexo oposto. Como 
características femininas no homem sã o consideradas e classificadas as seguintes: ombros 
arredondados, braços relativamente curtos e delicados, ancas largas, com a região glútea bem 
modelada, o corpo em forma de ampulhcta, escassa pilosidade do    Fig. 3o. Diferenças sexuais na

constituição (segundo A. corpo, delimitação horizon­            Scheinfeld, 1940)

111
Constituição

tal da pilosidade do púbis, suavidade dos contornos de todo o corpo derivada da abundância do 
tecido adiposo subcutâ­ neo, preponderância da curvatura lateral da barriga da perna em relação 
à média, tendência para um desenvolvi­

mento rudimentar do seio. Também
425    férneas Schlegel estabeleceu ainda uma série

de variaç@es androginecomórficas, SOS            limitada por ora só aos homens:

grande comprimento relativo da parte anterior do tronco, notável acumulação de gordura na região 
glútea, maior diâmetro transversal da auréola mamária constituem as
665          665     variantes que correspondem ao pólo

feminino mútuamente correlaciona­
705         das.

A acentuação das características sexuais secundárias e o grau das dife­
805         ranças sexuais variam de raça para

raça. Por exemplo, na maior parte dos Negros africanos o dimorfismo
905         sexual no que respeita à larg­ura da

bacia e à pilosidade do corpo é pouco pronunciado, enquanto tem notável machos      985 
relevo nos Europeus. Nalgumas raças

mação Fig. 31. Determi   ­    caracterizadas pela pequena estatura do sexo a partiF do 
(Vedás, Paleomongolóides e outros), esqueleto  .  Analise selectiva com   funda­  a constituição 
apresenta em geral mento e    m  quatro    características mais acentuadamente características 
(comprimento do fémur,      femininas, ao passo que em raças diâmetro da cabeça do fémur 
comprimento   de estatura mais alta (Dínáricos, do í@quion, compri­     Nórdicos,   Sílvidas, 
etc.)     enconmento do púbis) em
198 esqueletos de ne­   tram­se características mais marcagros, de sexo conhecido (segundo P, P. 
damente masculinas; nas primeiras, Thieme e W.J. ShulI,    por consequência, são as mulheres

1957)          que apresentam com maior evidência as características distintivas da raça; nas 
segundas, os homens.

CORRELAÇõES PSICOSSOMÃTICAS. O problema fundamental de uma investigação antropológica sobre 
constituição

112
Constituição

é constituído pelas relações entre as características físicas e características psíquicas. A 
maior parte do material existente (8100 casos, segundo Westphal) considera a corre­

lação entre constituição e doenças mentais, correlação essa

que foi o ponte de partida da (­­> biotipologia) de E. Kretschmer.

Está estatisticamente verificada (Hofstãtter)   a disposição dos leptossómicos para   a 
esquizofrenia, dos pícilicos para a psicose maníac(>­depressiva, dos atléticos para a 
epiplepsia.   Kretschmer considera   a   predisposição para a psicose como variantes extremas de 
tipos normais. Os tipos psíquicos por ele delineados, e referentes a diversos tipos 
constitucionais, são o resultado de investigações sobre indiví duos de diversa constituição. 
Pelo temperamento esquizotímico, que corresponde à      Fig. 32. Ginandromorfismo. Em 
constituição leptossó mica,     dois indivíduos do sexo mas­ .   culino do mesmo tipo 
constiverificou­se, entre outras C01­ tucional (442) observa­se, no sas, maior interesse pela 
da esQuerda. um índice mais

elevado de ginandromorfismo; forma do que pela cor, uma     no da direita um indice mais

baixo (seguncio W.H. Sheldon, mentalidade analítica capaz                1940) de separar da 
melhor maneira conteúdos parciais do    conteúdo total da percepção e a tendência para manter 
tenazmente um rumo de pensamento ou de comportamento (tendência para a perseverança).

Os esquizotímicos isolam­se voluntàriamente; do ponto de vista emotivo, são frios, ou comportam­
se como tal.
O comportamento ciclotímico, correspondente ao tipo constitucional pícnico, apresenta caracteres 
opostos: mais interesse pela cor do que pela forma, espírito de percepção mais de conjunto, 
maior estabilidade de afeição e de humor; em resumo, menos perseverante. O ciclotímico é 
receptivo ao ambiente e do ponto de vista emotivo é instável. Os tra­

113
Constituição

ços normais do tipo atlético são referenciados sob a denominação genérica de temperamento 
viscoso.

Resultados semelhantes foram obtidos por Sheldon, que seleccionou três grupos de caracteres 
psíquicos relacionados entre si: é própria da variante viscerotónica em primeiro lugar a 
necessidade de contacto humano, de amor e gratidão, além de certa indolência e lentidão física. 
À variante somatotónica corresponde a disposição para a acção e movimento. Os cerebrot(;nicos 
reagem com rapidez, mas são inibidos nos seus movimentos expressivos, pouco adaptáveis e não 
sociáveis. Anàlogamente a quanto se disse quando se tratou da classificação dos tipos 
constitucionais em relação às várias componentes, também para caracterizar o temperamento de um 
indivíduo usa­se um número de três algarismos: por exemplo, o n.o 225 indica uma fraca 
componente viscerotónica e somatotónica e uma forte acentuação da componente cerebrotónica. A 
componente endomorfa revela elevada correlação com a viscerotonia, a mesomorfa com a somatotonia 
e a ectornorfa com a cerebrotonia.

Do mesmo modo três «componentes psiquiátricas» r­ve­

Iam correlações com as componentes da constituição: o complexo maníaco­depressivo está 
correlacionado em primeiro lugar com a endomorfia, o paranóico com a mesomorfia e o hebefrénico 
(esquizóide) com a ectomorfia. A série de variações viscerotónico­cerebrotónica, designada por 
Nyman estabilidade, está estreitamente correlacionada com o factor gordura, de Lindegard.

Conrad demonstrou que também no campo psíquico os caracteres das variantes primárias apresentam 
um aspecto auxológico: as crianças diferenciam­se dos adultos no

mesmo sentido que os picnomorfos se distinguem dos leptomorfos. Por consequência, os 
leptossómicos são superiores aos picnicos em aptidão escolar (just, Müller, Schzvidetzky); em 
contrapartida existe correlação, embora fraca, entre a estatura e o coeficiente de inteligência 
(Husen, Schreider), assim como entre ectomorfia e inteligência (Sheldon).

Também o estudo constitucionalístico do dimorfism(:Y sexual encontrou seguras correlações 
psicológicas que confirmam e integram as descriçõ es intuitivas dadas por diver­

114
Constituição

sos autores acerca do temperamento masculino e feminino, muitas vezes reduzidas a uma polaridade 
de traços dominantes (por exemplo, Homo faber e Homo curativus) segundo Buytendijk; mais 
acentuado interesse pela exterioridade no homem, pela pessoa na mulher, na opinião de Klages­; 
comportamento em maior medida pela razão no homem, mais em motivos endotímicos na mulher, Lersch 
e outros, Terman e Miles realizaram um estudo exaustivo sobre diferentes características 
especificamente relacionadas com o sexo; formularam grande número de questionários­testes, cuja 
resposta revelou nítida diferenciação entre os sexos; uma apreciação individual foi obtida 
considerando a diferença entre a soma das respostas «masculino»        io

e «feminino».                    +8

Homens     e mulheres        +6

diferenciam­se nitidamente       +4 +2 nos valores médios e na distribuição   dos     índices M­
F; todavia, exactamente        ­4

como acontece no caso            ­6 das características sexuais      ­8

secundárias    no    domínio          1  2  3   4  5   6  7 físico, os dois campos de 
Fig. 33. Correlações psicossomávariações apresentam uma         ticas. Valores médios do factor 
zona de interferência            de gordura nos graus 1­7 da esta­ *   bilidade psíquica 
(segundo B. A análise factorial da ba        Lindegard e G. E. Nyman, 1956) teria dos testes 
permite reconhecer um factor basilar emocional e um que exprime interesses específicos (Ford e 
Tyler). Pelo contrário, não existem diferenças sexuais pelo que respeita à capacidade 
intelectual. A gama de dispersão dos dotes intelectuais é contudo menor na mulher, quer para a 
genialidade quer para a oligofrenia; existem também diferenças nos dotes específicos: por 
exemplo, os rapazes denotam mais capacidade para o estudo da matemática e as raparigas para as 
línguas. Nos dois sexos só se verificam fracas correlações entre o índice M­F e os caracteres 
somáticos; não encontra confirmação o facto de existir maior masculini­ dade nos indivíduos de 
mais alta estatura e com timbre de voz mais baixo. Por outro lado, SeNegel encontrou uma

115
Constituição

Caracteres somáticos

Caracteres psíquicos

Estatura (a)

Teste de inteligência

+ 022

Estatura (b)

Teste de inteligência (Pen­

1 + O,29

ro e)

Estatura (e)

Teste de inteligência (Min­

+ O,81

nesota)

Estatura (d)

Teste de inteligência (Form

+ O,85

Board)

Endomorfia

Viscerotonia

+ O,79

Endomorfia

Somatotonia

­0,29
II

Endomorfia

Cerebrotonia

­032

Mesomorfia

Somatotonia

1 + O,82

Mesomorfia

Cerebrotonia

­0,58

Ectomorfia

Cerebrotonia

+ O,83

1 Ectomorfia

Inteligência (Ia)

+ O,19

Endomorfia

Componente maníaco­
Constituição

correlação relativamente estreita entre as características dominantes da série de variações 
androginecomérficas, ou seja o diâmetro transversal da abertura pélvica, e a resposta a 
determinadas perguntas do teste; assim, nos homens ginecomorfos encontra­se maior interesse 
pelas cores e menor interesse pela forma do que nos andromorfos; uma atenção mais de síntese do 
que de análise, mais forte tendência para a sociabilidade, maior facilidade em estabelecer 
contactos, mais viva afeição pelos seres vivos. Para os ginecomorfos o centro do seu interesse é 
o homem; para o andromorfo são as coisas.

A diferenciação psicológica dos sexos resultante de investigações baseadas em testes, bem como 
as intuitivamente deduzidas, é certamente fundada em grande parte sobre diferenças de ordem 
constitucional. Contràriamente ao que sucede com as correlações psíquicas de outros tipos de 
estrutura somática, neste caso é necessário ter presente o carácter social ligado ao ambiente 
cultural: desde a infância que os rapazes e raparigas são preparados para determinados papéis 
sociais. Actualmente ainda não é possível distinguir as duas componentes que determinam 
especificamente o comportamento dos dois sexos.

A endocrinologia, e principalmente a patologia hormonal, proporcionam uma via para a compreensão 
das correlações psicofísicas. Excessos ou deficiências de glândulas endócrinas manifestam­se não 
só nos sintomas corporais como também nos psíquicos. Por exemplo, a produção excessiva de 
tiroxina da glândula tiróide acelera todos os processos vitais e faz aumentar tanto o 
metabolismo como a irritabilidade emocional, ao passo que uma produção insuficiente conduz à 
atrofia física (sindroma de Basedów), preguiça

Correlações psicofísicas (adultos); comparar também com a

tabela da o. 131

Grupo I = a) 2257 recrutas suecos, segundo T. Husen, 1947;

b) 567 soldados franceses, segundo E. Schreider 1956; e ed) 80 índios Otomitas, segundo E. 
Schreider, 1d56. Grupo 11   200 estudantes, segundo W. H. Sheldon 1942. Grupo 111  155 doentes do 
Elgin State Ilospital, seglàndo W. H.

Sheldon, 1949, Gruoo IV = 170­700 indivíduos de sexo masculino, segundo

W. SchIegel, 1957. Grupo V = 287­295 recrutas suecos. segundo B. Lindegard e

G. E. Nyman, 1956.

117
indices

constituição

mental, e até ao cretinismo; um tratamento com testosterone andrógeno (hormona produzida pelos 
testículos) normaliza o atraso do desenvolvimento físico e mental e elimina a melancolia 
evolutiva. O complicado jogo das relações hormonais entre si e o sistema
120                               nervoso originam grande

variedade de «formas en­
00                                dócrinas», e daqui de «ha­

bitus»    psicofísicos,     dos
80
7C                                quais só uma parte é
60

abrangida pela tipologia
50
40                                constitucional.
30­                                   Do estudo das corre­
20

lações psicossomáticas re­

as variações des­
290 ­160 ­120 ­80 ­40040 80 120 160 200 ­­­ta que Fig. 34. Diferenças  psicossexuais. tas traçam 
orientações funDistribuição do índice M­F entre  damentais comuns: assim, as mulheres 
(............ ) e entre a criança diferencia­se dos os homens (­) (segundo P. Hofstãtter, 1944, 
com base no  adultos do mesmo modo material de L.L. Terman e C.C.

Miles. 1936)               que a mulher do homem,

o ginecomorfo do andromorfo e o pícnico, do leptossómico. A maneira de conceber o mundo ­ 
sintética ou analiticamente ­ e a aceitação dos contactos sociais ­fáceis e desejados ou 
difíceis e detestados ­ são as características fundamentais que marcam numerosos traços 
individuais e modos de comportamento.

PLASTICIDADE. Da mesma forma que o conceito da constituição abrange o fenótipo no seu conjunto, 
os quais resultam de processos hereditários e ambientais, a constituição individual pode 
alterar­se com a situação do meio ambiente (­> Genética humana, modificações). Quando populações 
no seu todo ou em parte são atingidas por tais modificações (modificações colectivas) opera­se 
urna transformação na sua constituição média. Populações genèticamente idênticas em ambientes 
diversos podem diferenciar­se fenotipicamente. Esta variabilidade em função da adaptação a 
diversas condições ambientais demonstra­se por uma série de caracteres somáticos mediante várias 
escalas de comparação.

1) No caso de populações coloniais, mesmo a segunda

118
Constituição

geração diferencia­se genotipicamente da primeira e, daí, do grupo originário. Investigações 
acerca deste fenômeno foram efectuadas por Boas, pela primeira vez, em indivíduos imigrados nos 
Estados Unidos; pesquisas ulteriores demonstraram que as modificações presentes em simples 
grupos de imigrados são em grande parte resultado da selecção social (­­­> Antropo7ogia social). 
Indivíduos imigrados na Venezuela provenientes de Baden revelaram na segunda geração semelhanças 
assaz nítidas, no que respeita a características fisionómicas e tipo racial, com a população da 
região de origem, que fazem parecer improvável a intervenção de mutações essenciais 
hereditárias: as

mutações verificadas no tamanho corpóreo e nas proporções (especialmente maior estatura, menor 
largura da cabeça e da face) devem ser consideradas como modificações (Hauschild); crianças 
filhas de japoneses imigrados no

1000 @ ch, 500, Ch,  o        500       1000      1500    1950

Fig. 35. O arredondamento da cabeça, principalmente a partir da Idade Média. Aumento do índex 
cefálico horizontal ou da percentagem de l@raquicéfalos: 1) Silésia; 2) Suíça e Sul da Alemanha; 
3) Palatinado; 4) Auvergne; 5) Baviera;    6 Boémia­Morávia; 7) Bretanha; 8) Baixa Saxónia; 9) 
Japão;   10) Suécia (Números segundo P.R. Giot, 1949; E. Hug, 1940      R. Martin,

1928; 1. Schwidetzky. 1939 e 1954; H. Suzuki,   1956)

Havai não apresentam desvios significativos dos seus progenitores emigrados do Japão porquanto 
são portadoras de idênticas características morfológicas e tegumentais: apenas se encontram 
diferenças na grandeza somática e nas proporções (Shapiro). Em ambos estes casos e em numerosas 
outras investigações análogas (cfr. Kaplan e Schwi­

119
Constituição detzky), as variações respeitam sómente a características mensuráveis, 
relativamente sujeitas a variar com o ambiente.

2)   Nas cidades, as populações delas naturais diferenciam­se dos imigrantes que nelas se 
fixaram (Berlim, Dornfeld; Breslau, Schwidetsky; Freiburg, Schaeuble), assim como filhos 
citadinos de pais nascidos na província apresentam menor largura de cabeça e da face em relação 
aos progenitores (Hanover, PessIer).

3) Populações da mesma raça apresentam diversidade de grandeza absoluta e de proporções segundo 
vivem na montanha ou na planície (Novas Hébridas, Speíser; Silésia, Kliegel), em terrenos 
pantanosos ou arenosos (Silésia, Hahn, Klenke) e ainda nas regiões menos favorecidas surgem 
mesmo indivíduos de menor corpulência e dcsenvolvimento.

4) No último século a estatura aumentou considerà­. velmente em muitos países (­­> Crescimento).

5) Em diversos países da Europa (Alemanha, Áustria, Dinamarca, França, Suíça), como igualmente 
em países extracuropeus (Japão), observa­se, a partir da Baixa Idade Média e em parte mesmo 
desde o Neolítico, período acerca do qual não se pode falar de mutações raciais, um 
arredondamento da forma da cabeça (braquicefalização). Recentemente, segundo dados existentes 
mais antigos (Bretanha) respeitantes à metade do século xix, verifica­se o fenómeno inverso, ou 
seja, a diminuição do índice cefálico horizontal (largura­comprimento), e daí um alongamento da 
cabeça (desbraquicefalização: Alemanha, França, Itália, Suécia, Suíça).

Uma análise exaustiva das causas que provocaram estes fenómenos não é possível na maior parte 
dos casos; todavia uma série de factores pode ser enumerada:

a) Diferenças na alimentação: nutrição mais rica, e especialmente um maior consumo de gorduras e 
de carne favorecem o ­­> crescimento;

b) No crescimento alométrico, com o tamanho do corpo modificam­se também as suas proporções: 
assim, todas as medidas absolutas de comprimento e da altura são alornètricamente positivas em 
relação à estatura, enquanto as medidas de largura são alomètricamente negativas. Quanto ao 
alongamento da forma da cabeça no último

120
Constituição

século, parece tratar­se de um fenómeno ligado ao aumento da estatura;

c) Os factores climatéricos também exercem a sua influência. Ratos sujeitos a temperaturas 
médias mais baixas e com fortes oscilações crescem mais do que os de um grupo de controle 
mantidos a temperaturas mais alta e com fracas oscilações de temperatura (Mills);

d) Animais domésticos e selvagens mantidos em cativeiro mostram com frequência proporções 
diferentes das dos seus ascendentes em liberdade; entre outras particula­

Suecia,

@ 60  1 F70 1 Ú0  18@Õ   1     Igio  i m   19­30 1 9@0 1 9s0 1 @55

Fig. 36. O alongamento da cabeça nos últimos cem anos (Números segundo P.R. Giot, 1956, P.A. 
Gloor 1958, E. Olivier, 1957,

J. Schaeuble, 1954, e O. Sehlagiiihaufen, 1946)

ridades, tem­se verificado em animais mantidos em jardim zoológico encurtamento e arredondamento 
da cabeça (Herre e outros). Se neste caso, além dos factores de.nutrição e

climatéricos, exerce influência também a limitação da liberdade de movimentos, não está ainda 
esclarecido. É possível, por isso, que, no homem, a «autodomesticação» possa provocar alterações 
no tamanho e nas proporções; a braqui­

121
Constituição

cefalia é assim considerada como, uma forma cultural do crânio (E. Fischer).

Factores externos, como alimentação e o clima, influem no crescimento através do sistema das­ 
glândulas endócrinas (W. Lenz). Na morfologia dos adultos verifica­se uma reduzida variabilidade 
relacionada com a diferença no teor da gordura ou da água nos tecidos, por vezes em conexão com 
alterações de hábitos. Assim, durante o período de fome de 1921­22, na Ucrânia, observou­se, 
mediante sucessivas mensurações efectuadas sobre os mesmos indivíduos, que também nos adultos se 
reduzia o tamanho da cabeça, com maior proporção para a largura do

que para o comprimento, dando­se assim um alonNienarca em “@gIU's com       gamento relativo da 
forma flutuação termIca
30                        1  ferior a 20,,     da cabeça. Também os

..... @Ienarca em    adultos, mediante um

regiões com

flUtUaÇãO     oportuno treino,              podem
20 ­                             termica­

sU[ uior a 20@       obter variações nas dimen­

sões no tono muscular, na
10 ­                                           capacidade vital, no perí­

metro torácico, no desenvolvimento das mãos e no o

10 11  12 13 14 15 16 17 18 19 20       21 comprimento dos braços:

Anos Período   do  aparecimento do       menarca    todavia, todas estas vaFig 37. Modificações 
colectivas                riaçoes são considerável­

fase do cresci­

de funções fisiológicas: O período   mente inferiores àquelas do menarca em raparigas 
norueguesas em regiões com flutuação      que se podem obter dutérmica superior e inferior a 
20anual (segundo B. Skerlj, 1939)      rante a

mento. Estamos muito menos esclarecidos sobre modificações colectivas das funções fisiológicas e 
modos de comportamento do que sobre alterações da forma do corpo. O inenarca (o início da 
actividade ovárica que se manifesta com a primeira menstruação) está em relação com o clima, com 
a temperatura e até com a humidade do ar (­­­> Cresci.mento). O metabolisnzo basal (quantidade 
de calor que o organismo desprende quando em jejum e em absoluto repouso, e que se exprime em 
grandes calorias por hora e por superfície cutânea) varia nas diversas populaçõ es e depende, 
além da corpulência, da idade e do sexo, como

122
Crescimento

igualmente da nutrição, da temperatura e da ocupação. Na maior parte dos países extraeuropeus 
está abaixo da média dos europeus; nos Europeus que se encontram nos trópicos baixa até se 
avizinhar da dos Negróides.

Entre as modificações colectivas do comportamento são provávelmente de considerar maior 
actividade e continuidade de trabalho das populaçõ es que vivem em climas temperados em relação 
àquelas que vivem em climas quentes. (Hellpach, Huntington).

Crescimento ­­ O óvulo humano fecundado possui cerca de
O,12 nun de diâmetro, aproximadamente O,0015 mg de peso e forma mais ou menos esférica. Um 
indivíduo adulto do sexo masculino, na Europa, tem entre 165 e 170 cm de altura, pesa cerca de 
70 kg e apresenta alta diferenciação morfológica, com grande multiplicidade de órgãos e tecidos. 
Entre estes dois extremos está incluído o crescimento, que consiste em: 1) crescimento corporal 
mediante multiplicação celular; 2) diferenciação morfológica p.­"­,­ÉIRada através de 
velocidades diferenciais de crescimento das várias partes do corpo. A maior parte deste processo 
verifica­se antes do nascimento.

CRESCIMENTO FETAL. No crescimento pré­natal, controlado por genes (­­> Genética humana) e por 
substâncias químicas especiais, estas provàvelmente produzidas por genes, costumam distinguir­se 
dois períodos: o embrional (primeiras oito semanas) e o fetal (até ao nascimento).
O desenvolvimento do feto efectua­se, em linhas gerais, no sentido de uma especialização, com 
passagem dos caracteres comuns a grupos sistemáticos de ordem superior aos caracteres peculiares 
da espécie (raça, sexo, indivíduo). Neste sentido desenvolvem­se sobretudo no feto humano os 
caracteres fundamentais dos vertebrados: a corda dorsal, que constitui uma espécie de primeiro 
esboço do esqueleto. Todas as diferenciações de tecidos dependem de três associações de células 
que possuem valor morfogenético específico, os folhetos germinativos: ectoderma (folheto 
germinativo externo), que constitui todo o sistema nervoso central e periférico; mesoderma 
(folheto germinativo intermédio), que forma os tecidos esqúeléticos e musculares,

123
Crescimento

e portanto a massa principal do corpo; entoderma (folheto germinativo interno), que dá origem, 
entre outras coisas, ao epitélio dos aparelhos da digestão e da respiração. Diversos sistemas de 
classificação tipológica baseiam­se nas diferenciações dos folhetos germinativos (Martiny, 
Sheldon ­­­­> Constituição).

No início do terceiro mês começam a reconhecer­se os caracteres especificamente humanos do 
embrião: a cabeça, que no segundo mês é quase tão grande como o       resto do corpo, começa a 
separar­se nitidamente do tronco;  os olhos, a princípio localizados lateralmente, juntam­se; o 
nariz ganha relevo; as extremidades adquirem forma       humana.
O crescimento em tamanho, e    peso é fortíssimo   nos pri­

meiros meses e diminui ]o­                             constantemente no final do Navajo 
desenvolvimento que pro­
160­­­­­ @ @         l 1 s@1    cede a nascença.

CRESCIMENTO POS­FETAL.
O crescimento, relativamente rápido, em tamanho e peso, do período fetal prossegue ainda no 
primeiro ano. Em seguida verifica­se um crescimento mais lento, que tem um último rasgo na idade 
puberal. O utilizadíssimo esquema de Stratz (turgor primus, anos 1­4; prúce7@tas prima, anos 5­
7; tur­

1.

Mai

as

.1

.O

1 apa

apa

1 zes

1 riga


Crescimento

porém, dado que nelas a puberdade se inicia primeiro, a

certa altura precedem os machos em irês ou quatro anos; mais tarde, já que nelas o crescimento 
termina mais cedo, são por eles superadas, pois os machos continuam a desenvolver­se nos anos 
seguintes, de modo que a superioridade masculina em estatura e peso se transforma numa autêntica 
diferença sexual. A dupla intersecção do crescimento em estatura e peso nos machos e nas fêmeas 
é característica de todas as curvas de crescimento humanas. Nas raparigas o crescimento em 
estatura conclui­se em média cerca dos
18­20 anos; nos jovens encerra­se entre os 20 e os 22 anos.

A relação entre peso e estatura (índice ponderal, índice de

Livi [@p:e   o

s:::: estatulra

índice de Roltrer rpeso

­es­tatura@ 15

etc. )

diminui desde o primeiro ano de vida até à puberdade, tornando a aumentar lentamente logo que se 
encerra o

crescimento em estatura.

Com a variação des@a relação peso­estatura estão conexonadas outras variações nas 
proporções: a altura da cabeça em relação à estatura diminui durante 
­­­­­o crescimento, enquanto aumenta o tamanho re lativo das pernas. O tórax achata­se: o índice 
torácico      (profundidade do tórax em relação à

n       20 meseq 7  anos 13 anos.16 anos largura) diminui, mais             ascido 
acentuadamente nos rapazes do que nas raparigas. No período da puberdade a largura do tronco 
apresenta, para machos e fêmeas, desenvolvimento diferente: em relação à estatura, a lar­ 
reMn_    2 anos 4  anos Ilanos 14 anos

nascida gura das espáduas (ín­           Fig. 39.   Variações das proporções dice biacromial) 
au­             corporais no decurso do crescimento (segundo    R.W.B. Ellis a partir do menta 
nos machos, ao                  material de W. LeAz. 1954)

125
Crescimento

passo que nas fêmeas permanece aproximadamente constante. Ao invés, a largura relativa da bacia 
diminui nos machos, enquanto aumenta nas fêmeas; o índice acrómio­ilíaco (largura da bacia em 
relação à largura das espáduas) revela por isso, com particular clareza, a formação das 
proporções específicas dos dois sexos (­> Constituição, tipos sexuais) na puberdade. Durante o 
período do crescimento, o crânio facial, em relaçã o ao crânio neural, cresce mais; os diâmetros 
vertical e ântero­posterior do nariz aumentam muito mais do que o diâmetro transversal.

O início e o fim da puberdade, o índice anual de crescimento e a grandeza das alterações 
somáticas que daí

102 iol

100

99
98
97

20.28         29­37          38.46          47.55          56­64         65­73           74­­­

Fig. 40. O crescimento depois dos vinte anos. Variações na circunferência da cabeça (em cima) e 
na estatura (em baixo).
100 = medida média aos vinte anos. Linha contínua, machos;

linha tracejada, fêmeas (segundo E.C. Bilchi, 1950)

resultam apresentam consideráveis variações individuais. A partir de tabelas­tipo, que por causa 
das variações cronológicas e regionais devem ser constantemente actualizadas, pode determinar­se 
o grau de afastariento de um

rapaz em relação à média da sua classe de idade. O campo de variação é definido por a (margem 
quadrática média). No âmbito da distribuição normal, 67 por cento de todos os indivíduos 
inserem­se no intervalo M                                          Métodos da antropologia).

Na chamada fase estacionária, após se ter atingido a

maturidade sexual, o crescimento não cessa ainda, sofrendo

126
Crescimento

apenas forte retardamento. O crescimento em tamanho ao longo do ei:@o principal do corpo, 
sobretudo, prossegue mesmo em idades avançadas, no homem até aos 60 anos, na mulher até aos 50 
(Büchi, etc.). Estatura, altura da face e tamanho da cabeça apresentam os mais elevados índices 
de crescimento. A estatura, contudo, é a primeira a atingir o seu valor máximo, pois que o 
crescimento do tronco é compensado pela diminuição do comprimento das pernas, a qual se deve, 
sem dúvida, a um achatamento da curva do pé e a uma variação do ângulo do colo do fémur. Na 
idade adulta, em média, o peso aumenta mais do que o tamanho, de modo que o índice ponderal 
aumenta também em idade avançada. Sómente na velhice, com a diminuição do volume e peso da 
musculatura e com a desidratação dos tecidos, começa a diminur.

CRESCIMENTO ALOMÉTRICO. Se a velocidade de crescimento de uma parte do corpo y está em relação 
constante com outra dessas partes, ou do corpo no seu complexo, x, podem calcular­se as relações 
mediante a fón­nula para o crescimento alométrico (Hux!ey, etc.):

dy           X
­ = a ­;

dx           y integrando:              y = bXa                         (2) ou:             log 
y = log b + a ­ log x.               (3) a representa a  relação constante das velo­­idades de 
crescimento x e y (têm­se valores diferentes para as várias medidas ou partes do corpo), b é uma 
constante de integração, que dá o valor de y para x = 1. Na representação gráfica, segundo a 
fórmula alométrica (3), para o log y temm­se uma recta,, a sua inclinação em relação à abeissa é 
determinada mediante a constante a (a = tang a). Se a > 1, y cresce mais velozmente do que x e a 
recta sobe (alometria positiva); se a < 1, y cresce mais lentamente do que x e a recta log y 
tende para a abcissa (alometria negativa); se a = 1, y cresce à mesma velocidade de x

e as proporções não mudam (isometria). É frequente não ser possível descrever todo o decurso do 
crescimento com a mesma fórmula alométrica e, gràficamente, com uma

127
Crescimento

única recta, mas com várias rectas que possuem inclinação diferente. Os pontos de conjunção das 
diversas rectas testemunham a intervenção de novos factores do desenvolvimento. No homem, por 
exemplo, durante o período de crescimento, o comprimento da perna apresenta alometria positiva, 
a altura da cabeça alometria negativa. No período da puberdade varia a constante de proporção a, 
de modo que no gráfico a linha se cinde em duas partes (Alcobé, Twiesselmann). A fórmula 
alométrica foi também aplicada às variações filogenéticas das proporções, por exemplo, à relação 
entre tamanho do encéfalo e do corpo nos

mamíferos, incluindo o homem (Snell, Dubois e mais tarde von Bonin, Count). O tamanho do 
encéfalo é determinado: 1) mediante a relação do tamanho do encéfalo com o do corpo = constante 
a; 2) a partir do grau de desenvolvimento do encéfalo (cefalização) = constante b da fórmula 
alométrica. No âmbito dos primatas, o tamanho do encéfalo humano corresponderia (segundo Count) 
à massa corporal, enquanto os símios antropomorfos, e sobretudo o chimpanzé, ficariam aquém 
dessa grandeza; contudo, não resulta daí uma relação alométrica linear, mas uma parábola com a 
forma

log y = log b + a log x ­c (log x)

Para o desenvolvimento do encéfalo no homem, portanto, pode considerar­se como factor mais 
importante o crescimento filogenético que segue a regra de Cope (­> Origem do homem).

MATURAÇÃO SEXUAL. As fases do crescimento são influenciadas por diversos sistemas hormonais de 
regulação. No crescimento infantil intervêm sobretudo o timo, a tiróide

e a hipófise, sob o controle desta última; no período da puberdade agem outras glândulas de 
secreção interna.
O crescimento é particularmente impedido e finalmente detido pelas gónadas, responsáveis 
simultâneamente pela presença, no adulto, dos caracteres sexuais primários e secundários(­­­> 
Constituição, tipos sexuais). Tendo em vista a determinação do estádio de desenvolvimento, os 
vários sinais de maturidade nos adolescentes são classificados como segue (Bober­Scholz, assim 
como Zeller e Schmidt­Voigt).

128
Crescímento

Machos:

Mamilos: forma infantil: pequenos, não pigmentados; forma de transição: aumento de volume; forma 
matura: mamilos grandes, bem salientes, frequentemente pigmentados.

Pilosidade de púbis: escassa; lisa; crespa (não distribuída de modo hirto); forma da maturidade 
(a delimitação apresenta uma forma                log­ do comp. característica cuja eXtrC­ 
dos membl­Os      altura  èspinha iliaca midade aponta para o umbigo). 
1,95 ­

Sistema piloso axi­                                         comprimento

lar: escasso; liso; cres~              1,10 ­                         total

do membro po; prega axilar pig­                                                superior mentada.

Pênis: forma infan­               im ­

til: pequeno, frequentemente cónico; alongado;                1,75 ­

forma da maturidade:                   “70 ­

tamanho e pigmentação normais.                               65

1,63                             log. da Escroto: forma infan­ 
estatura til: teso, arredondado e                  2­01 2­,Ó5 “@O 2,115 2,20 2,25

Fig. 41, Crescimento alométrico. largo; alongado; forma               Crescimento do comprimento 
do da maturidade: pigmen­               membro superior e inferior (altura ,    espinha ilíaca) 
em relaeáo com a tado, rugoso, com testi­             estatura em crianças de Barcelona

d     em idade escolar (segundo S. Alculos da grossura @ e                     cobé, e S. 
Prevosti, 1951) uma noz.

Barba: escassa; pelugem abundante; forma da maturidade: bem desenvolvida.

Voz: infantil: clara; forma de transição: mudança de voz; maturidade: profunda, sonora.

Fêmeas:

com

Mamas: forma infantil: pequenas, chatas, não pigmentadas, ao contrário dos machos; mamilo: 
alastrar da auréola e escurecimento do mamilo; mama: forma hemisférica, com auréola saliente; 
forma de transição: saliência incipiente do mamilo; forma da maturidade: auréola assimilada à 
curva da mama, com o mamilo claramente saliente.

129
Crescimento

Pilosidade do púbis: escassa; lisa; crespa, com limite curvilíneo; forma da maturidade: limite 
horizontal.

Sistema piloso axilar: como nos machos.. Ancas: forma infantil: estreitas; incipiente 
arredondamento; ancas muito arredondadas. Menstruação: ausente; presente.

Os sinais de maturidade não aparecem todos ao mesmo tempo, mas observam, embora com muitas 
variações individuais, certa regularidade. Nos machos, regra geral, começam a engrossar primeiro 
o escroto e o pênis, aparecendo pouco depois a primeira pilosidade púbica, cujo desenvolvimento 
para a forma da maturidade só muito mais tarde vem a concluir­se; desenvolve­se ainda o sistema 
piloso axilar, tem­se também a dilatação pubescente das mamas e finalmente o crescimento da 
barba. Nas fêmeas, os primeiros indícios de desenvolvimento das mamas, do sistema piloso axilar 
e púbico precedem o aparecimento da menstruação (menarca), mas o desenvolvimento completo só vem 
a verificar­se muito mais tarde. Como para a estatura e o peso, podem determinar­se, a partir de 
uma tabela­tipo, os afastamentos individuais em relação à média de cada classe de idade. Tomando 
em conta todas as várias características, podem distinguir­se, em relação a um grupo médio, 
indivíduos precoces e indivíduos atrasados. A determinação do estádio de maturidade nos jovens é 
de grande importância prática, porquanto o grau de maturidade assume função determinante, em 
idades juvenis, no rendimento escolar e na aquisição de um statuy social nos interesses, na 
escolha e na aquisição de uma profissão.

A par e passo com o processo de maturação física cumpre­se a maturação psíquica. Em numerosos 
inquéritos resultaram correlações de débeis a médias (no máximo, de + O,1 a + O,3) entre 
desenvolvimento somático e psíquico; pelo lado social, consideram­se medidas lineares e de peso, 
sinais de maturidade, ossificação e estádio complexivo de desenvolvimento; pelo lado psíquico, 
as capacidades de actividade nos mais variados sectores, incluindo a inteligência, e ainda 
funções que exigem movimentos delicados, interesses, comportamento social, impulsos e 
autodomínio, comportamento sexual. jovens que se encontram, em relação à norma da sua idade, 
adiantados de um ponto
Crescimento

de vista somático, superam­na também, na maioria dos casos, no desenvolvimento psíquico e 
intelectual. jovens harmónicamente desenvolvidos apresentam­se em geral psiquicamente mais 
amadurecidos do que os que têm desenvolvimento somático irregular (várias espécies de 
afastamento em relação às diversas características normais próprias de cada classe de idade, ou 
desvios na regular sucessão do aparecimento dos sinais de maturidade). A ligação entre 
desenvolvimento somático e psíquico é tanto mais evidente quanto mais as relativas disposiçõ es 
ou funções psíquicas estiverem estreitamente relacionadas com caracteres somáticos (Undeutsch).

Carácter somático

Teste Psicológico

Colectividade

estudantil

Autor

Estatura

Estatura

Rendimento escolar

Rendimento escolar

8­12 anos rapazes

8­12 anos raparigas

Albernethy, 1936

* O,26

* O,16

Dimensões da cabeça

Teste de inteligência

596 rapazes das escolas elementares e superiores

K. Murdock e L. R. Sullivan, 1923

+ O,22

índice Pignet
Teste de Wartegg

+ O,13

índice Pignet

Idade do menarca

Teste das lacunas

Teste das lacunas

260 escolares de 14 anos

U. Undeutsch, 1952

* O,12

* O,18

Sistema, Piloso axilar

Teste das lacunas

+ O,19

Idade do menarca

Questionário dos interesses

400 raparigas das escolas superiores de idade compreendida entre os 11 e os 14 anos

C. Eller,
1958

+ O,36

Estádio de desenvolvimento

Rendimento escolar

153 raparigas dos 12 aos
13,6 anos

I. Reinhard,
1944

+ O,21
Ossificação do Os capi­

Teste de Bü'hler e Hetzer

155 rapazes de 8,5 anos

R. M. Konrad, 1957

+ O,33

Correlações psicofísicas na Idade do crescimento: dados coligidos

por U. Undeutsch, 1958

131
Crescimento

Os testes de inteligência apresentam uma curva de idade idêntica à do crescimento linear, com 
valores máximos em redor dos 20 anos; contudo, se considerarmos os vários componentes da 
inteligência, verificaremos que os valores máximos coincidem com classes de idades diferentes. 
Assim, por exemplo, a memória mecânica atinge o seu ápice ainda na idade infantil; a memória 
lógico­sistemática atinge­o alguns decênios mais tarde; em diversos desportos, artes e ciências 
o rendimento máximo é alcançado em idades claramente distintas (Keiter, Lehmann). A maturidade 
social é atingida depois da maturidade somática e da sexual, sendo grandemente influenciada pelo 
ambiente, pelo grau da sua diferenciação e pelas exigências que põe ao indivíduo. Na moderna 
sociedade industrial subsiste a diferença característica entre a maturidade sexual ­ máxima 
frequência da satisfação dos instintos no homem, no intervalo compreendido entre os 15 e os 20 
anos (7onsson, relatório Kinsey) ­, a maturidade social e a idade do matrimónio ­ máxima 
frequência entre os 25 e os 30 anos.

Os proc­essos de desenvolvimento na idade adulta são «quase uma terra incógnita» (Hofstãtter); 
em virtude de o número de pessoas velhas acrescer constantemente devido ao aumento. da duração 
média da vida, fenômeno que provoca o aparecimento de problemas económicos e sociais, surgiu a 
gerontologia, ciência cujo objecto é constituído pelas alterações somáticas e psíquicas que 
intervêm na velhice.

TIPOS DE DESENVOLVIMENTO. Com a variação das proporções e com a plena formação dos caracteres 
sexuais está relacionada uma série de outras transformações morfológicas, entre as quais a 
redução dos tecidos adiposos subcutâneos, o desenvolvimento da musculatura e sobretudo as 
variações fisionómicas: engrossamento do nariz, desenvolvimento do queixo, inclinação do 
frontal, acentuação do desenho das regiões zigomática e oral. Reunindo todos os caracteres 
morfológicos e as proporções específicas de cada classe de idade, Zeller, apoiandose em Stratz e 
noutros autores, descreveu vários tipos de desenvolvimento, isto é, o tipo infantil e o tipo de 
idade escolar (entre os quais se insere a primeira transformação morfológica),

132
­ Crescimento

o tipo da pubescência e o tipo da maturidade (entre os quais se situa a segunda transformação 
morfológica, a da puberdade). Os caracteres principais do tipo infantil são: predomínio, 
relativamente acentuado, da cabeça; tronco arredondado, cilíndrico; fraca curvatura da coluna 
vertebral; extremidades relativamente pequenas, redondas, com saliências articulares pouco 
visíveis; fronte ampla e ovalada, com face pequena, baixa e de traços pouco acentuados. Tipo de 
idade escolar: predomínio menos sensível da cabeça, tronco mais alongado, com caixa torácica, 
mais chata e espáduas mais acentuadas; extremidades mais longas e finas, nas quais começam a 
destacar­se músculos e articulações; a face é maior em relação ao conjunto da cabeça, a qual, 
por redução dos tecidos adiposos, tal como acontece em relação ao tronco e aos membros, aparece 
mais rígida, com perfil mais marcado, exprimindo uma atitude mais atenta e objectiva em relação 
ao ambiente. Tipo da pubescência: apresenta características de transição entre meninice e 
maturidade: caracteres sexuais plenamente desenvolvidos.

A distinção entre os tipos infantil e de idade escolar foi confirmada por inquéritos acerca da 
maturidade escolar. Crianças do tipo infantil, inscritas prematuramente na primeira classe 
elementar, chegam a apresentar com mais frequência, em relação às do tipo de idade escolar, um 
atraso psíquico: inscritas automàticamente na escola, numa determinada idade cronológica, 
depararam­se­lhes frequentemente dificuldades; todos estes inconvenientes podem ser em grande 
parte superados mediante o retrocesso a uma ordem de estudos inferior. Em regra, tipo da pubescê 
ncia e tipo da maturidade não se distinguem simplesmente a partir da observação do aspecto 
exterior, mas através de classificações e combinaçõ es dos vários caracterés de maturidade.

1DADE DE OSSIFICAÇÃO. Além das medidas somáticas e dos caracteres próprios da maturidade, também 
o esqueleto e os dentes fornecem indicações acerca do estádio de desenvolvimento e da idade. 
Deste modo, até para os restos pré­históricos chega a ser possível determinar a idade. Nos 
jovens a idade de ossificação é frequentemente determinada pela aquisição ulterior de certas 
variáveis que podem ser

133
Crescimento

relacionadas com outros elementos, tais como, por exemplo, resultados de testes psicológicos, 
distúrbios do comportamento, etc. O aparecimento e a fusão dos centros de ossificação cumprem, 
embora com numerosas variações individuais, uma regular sucessão cronológica. Entre mais de
800 centros de ossificação, cerca de metade só vêm a surgir após o nascimento; nessa época, uma 
série de outros centros já se encontram fundidos. Tem­se o número de centros de ossificação no 
período puberal (cerca de 350); passa­se depois, através de outras fusões, a uma média de 206. 
Para a diagnose do grau de desenvolvimento ou da idade consideram­se diferentes partes do 
esqueleto em função da classe de idade. No que concerne os últimos meses do desenvolvimento 
fetal e o primeiro período pós­natal, fornecem indicações as fontanelas (zonas membranosas que 
unem os vários ossos do crânio em fase de desenvolvimento). A grande fontanela ou f. bregmática 
(entre frontal e parietais) encerra­se na idade de 9­16 meses, e os seus diâmetros diminuem de 
maneira constante a partir do nascimento; a pequena  fontanela ou  f. lambdática (entre 
parieaPOS 30­40                    S.F tais e occipital) e as duas

os @­O                           fontanelas laterais ou asté­

muito tarle  C       S.P ricas (entre parietal, occi­ .ito,        “ _@. C@@            pital e 
temporal) estão já tarde        ‘411                 fechadas nas primeiras se­

40­­ so ­s,­­         manas após o, nascimento.

Até ao segundo dia de ‘ rnuito     X 40  5@                    são sobretudo as ossi­ _nuitu 
tarde                      P.T.   vi a

­­­ ­­­               ficações dos ossos do pé
20­30  5

­­   ­                e da articulação do joelho
30­­   S               que fornecem os indícios apó                     diagnósticos mais impor­ 
‘@< os: apó

os         12             tantes; mais tarde, até à rnUitO tai­d(_,  1,          puberdade, 
os  ossos do
40­50              OM          carpo, do metacarpo e da Fig. 42. Idade   de ossificação. 
articulação   do    cotovelo. Idade em Que ficam  soldadas as várias suturas do erãnio. C ­ su­ 
O crescimento em tamatura cGronal; L=sutura lambdoideia; S=sutura, sagital; TP=su­   nho dos 
ossos compridos tura têmporo­parietal; SP = su­   termina pela fusão dos tura esfeno­parietal; 
SF = sutura esfeno­frontal; OM@sutura ocei­   centros de ossificação da pito­mastoideia (segundo 
H. V.

Vallois, 1937)            epífise; um ulterior sinal

134
Crescimento

de maturidade é dado pelo encerramento da sincondrose esfeno­@1ccipitaI do crânio (entre o 
esfenóide e a base do occipital). Para a diagnose da idade que concerne os indivíduos mais 
velhos é importante, além do estado dos dentes, o grau de fusão das suturas do crânio, que no 
homem se verifica muito tarde, em relação com o grande desenvolvimento do encéfalo, e que só vem 
a concluir­se na velhice mais avançada. Embora se enfrente ampla variabilidade individual, 
também aqui se tem, em regra, uma sucessão cronológica bem definida. O mesmo vale para a 
formação e calcificação dos dentes, a sua erupção e a mudança de dentição. Os dentes de leite 
começam a formar­se no 4.0­5.O mês do desenvolvimento fetal, da coroa até à raiz. Na dentadura 
definitiva, os primeiros molares começam a calcificar na época do nascimento, enquanto os 
últimos, isto é, os terceiros, entre os oito e os nove anos. Na dentadura de leite, despontam 
primeiro os incisivos, depois os primeiros molares (em vez dos primeiros pré­molares definitivos 
que os substituirão mais tarde), seguidos dos caninos e dos segundos molares. Na dentadura 
definitiva desponta em primeiro lugar o primeiro molar, em seguida os incisivos; os molares de 
leite são substituídos pelos pré­molares e os caninos pelos caninos definitivos; finalmente, a 
dentadura completa­se com a erupção do segundo e do terceiro molares (muitas vezes o terceiro 
não desponta, não chegando a formar­se). A ordem de aparecimento é enunciada no seguinte 
esquema:

Dentadura de leite:

2    3    8     5     10 i i       c     M M

1 1 c M M
14 7 6  9

Dentadura definitiva:

4 6 127  9 3 14  16 i i c P,  P, M, M, M, i i c P,  P, M, M, M,
2 5 118  101 13  15

[I = incisivos; C = caninos; P = pré­molares; M = molares].

135
Crescimento

No que diz respeito à determinação da idade, o exame do crânio e dos dentes permite distinguir 
os seguintes grupos:

Primeira infância (aproximadamente até aos sete anos): até à erupção dos primeiros molares 
definitivos.

Segunda infância (dos sete aos catorze anos): da crupção dos primeiros molares definitivos à dos 
segundos molares definitivos.

Adolescência (dos catorze aos vinte anos): da erupção dos segundos molares definitivos ao 
desaparecimento da sincondrose esfeno­occipital.

Idade adulta (aproximadamente dos vinte aos quarenta anos): do desaparecimento da sincondrose 
esfeno­occipital até ao início da solda das suturas.

Maturidade (aproximadamente dos quarenta aos sessenta anos): solda das suturas do crânio, mas 
não até ao seu desaparecimento completo, desgaste dbs dentes.

Senilidade (além dos sessenta anos): progressivo desaparecimento das suturas,­ encerramento 
parcial dos alvéolos após a queda dos dentes.

Mediante o exame atento do crânio e dos dentes pode chegar­se a deterrninzLções da idade mais 
precisas, sobretudo no que se refere à infância e à adolescência. Tomando ainda em consideração 
outros caracteres do esqueleto (estrutura esponjosa da extremidade do úmero e do férmir, 
estrutura superficial da sínfise púbica), pode alcançar­se uma subdivisão em classes de idade 
mais minuciosa, de cinco em cinco anos (método combinado de determinação da idade; Nemeskérí).

Na ossificação do esqueleto têm­se consideráveis diferenças sexuais, que não se verificam no 
desenvolvimento dos dentes. Os centros de ossificação do feto aparecem mais cedo nas fêmeas do 
que nos machos, o mesmo acontecendo no que conceme o aparecimento e a fusão dos centros de 
ossificação que se formam mais tarde. No período da puberdade, as fêmeas precedem os machos, 
relativamente à ossificação, em dois ou três anos. A conclusão precoce do crescimento nas 
raparigas, portanto, não é sómente determinada pelo início precoce da puberdade, encontrando­se 
já pré­delineada antes do nascimento, no desenvolvimento mais rápido do esqueleto.

136
Crescimento

MODIFICAÇõES DO CRESCIMENTO. Entre os factores ambientais que podem modificar o crescimento e a 
maturidade, o mais importante é a alimentação; uma alimentação rica em proteínas, sobretudó, 
favorece o crescimento. Assim, entre crianças escocesas em idade escolar, o índice de 
crescimento da estatura passou, após a subministração de rações suplementares de leite, no grupo 
de controle, de 4,9 a
6,6 cm (encontram­se muitos outros exemplos em W. Lenz). Uma alimentação mais rica influi 
positivamente no peso e sobre o desenvolvimento linear, assim como também sobre a ossificação e 
a maturidade sexual. As diferenças na estatura e na maturidade entre as várias classes sociais 
(­­> Antropología socíal) baseiam­se provàvelmente, na medida em que se encontram ligadas à 
hereditariedade, em diferenças de alimentaçã o. Além das proteínas, também as gorduras e 
vitaminas, assim como a quantidade dos alimentos, desempenham papel importante no crescimento.

Através de experiências pr2@ticadas em animais (Mills, etc.), verificou­se também    a 
existência de uma influência climática transforinadora,      100 na qual a temperatura 
desempenha papel rele­          80 ­

vante. A temperaturas mé­       6 dias baixas e muito variá­    @1È o                homem o

o   5 1 anos veis, os ratos tomam­se         40­­                  rato ­ , .     ema mais 
gordos do que os                               o s lonas animais de controle, cria­ 
carpa o

dos a temperaturas mais           Z@              o     5 anos ‘o altas e com variações me­ 
tempo nores. No que diz respeito     Fig. 43. Caracteres típicos do

crescimento das várias espécies. ao homem, é difícil deter­     Crescimento em peso no homem,

to e na carpa. A primeira minar em que medida a          f`as,'èaracteriza­se no homem por 
correlação geográfica en­      um crescimento retardado (se­

gundo L. v. Bertalanffy, 1943) tre estatura e temperatura assenta em modificações deste gênero 
(MílIs, Newman, Roberty, etc.), porquanto, juntamente com a influência do clima (­­­> Gênese das 
raças), as baixas temperaturas podem determinar também uma selecção dos indivíduos 
(hereditàriamente) de maior corpulência. Um ligeiro atraso no desenvolvimento em Estios muito 
quentes e nas migrações da zona temperada para a tropical depõe a favor da in­

137
Crescimento

fluência transformadora, em relação ao homem, dos factores climáticos (Mills). Na Europa 
Setentrional a idade do menarca está mais relacionada com o teor de humidade do ar ou com a 
continentalidade do clima do que com a temperatura (Skerlj). Doenças infecciosas ou outras 
enfermidades relacionadas com o ambiente também podem obstar ao crescimento e ao 
desenvolvimento, como o testemunham os inquéritos sobre gémeos, investigações que demonstram que 
regra geral as diferenças consideráveis no peso de gémeos uniovulares são determinadas por 
doenças.

DIFERENÇAS NO CRESCIMENTO RELACIONADAS COM A ESPÉCIE E A RAÇA.     A espécie Homo sapiens é 
caracterizada por um crescimento lento no período juvenil («atraso», ­­> Origem do homem): as 
curvas do crescimento de diversos vertebrados podem fazer­se coincidir usando determinadas 
escalas; para o homem semelhante sobreposição só é possível partindo do estádio da puberdade, 
enquanto anteriormente a curva de crescimento apresenta um movimento mais suave (v. 
Beria!anffy). O rápido crescimento nos primeiros anos de vida, que continua o ritmo rápido de 
crescimento do desenvolvimento fetal, constitui uma excepção. Deste ponto de vista, o homem 
diferencia­se também dos símios antropomorfos (chimpanzé, gorila, orangotango). Portmann, 
referindo­se ao homem, aludiu por isso ao «parto fisiológicamente prematuro» ­ com um período de 
crescimento fetal que só chega a concluir­se no primeiro ano de vida ­, relacionando o parto 
«prematuro» com o tamanho do encéfalo humano. Assume certa importância o facto de estádios de 
desenvolvimento que nos símios antropomorfos são atingidos antes do nascimento, sobretudo a 
aquisição da locomoção própria da espécie e dos meios de comunicação, só mais tarde serem 
adquiridos no homem, constituindo, portanto, objecto de aprendizagem (­­­> Antropologia 
cultural). Existem, por outro lado, diferenças entre símios antropomorfos e Homo sapiens que 
devem atribuir­se a diferenças na velocidade de crescimento de várias partes do corpo 
(acelerações e retardamentos): entre estas, a formação precoce e mais acentuada do promontório 
do sacro.

138
Crescimento

Diferenças raciais no crescimento em altura e corpulência verificam­se sobretudo no que diz 
respeito ao tamanho absoluto, atingido em classes de idade bem determinadas, ao passo que as 
curvas de crescimento, no seu movimento geral, são idênticas. Deste modo, em todas as raças, 
atinge­se aos 9 anos cerca de 75 por centG da estatura definitiva e aos 15 anos 95 por cento (W. 
Len”. Só no crescimento pós­puberal se notam frequentemente diferenças raciais atinentes à 
160corpulência. Assim, por exemplo, os rapazes japoneses de São Francisco        ,o. 
Japoneses têm aproximadamente, até      130­                    rlo Japão aos 15 anos, estatura 
igual                         Japoneses

nos E. U. à dos rapazes branc       d   120­                  l@ rancos

tios E. U. mesma idade e classe so­      l@o­/ cial, só vindo a ficar para   ioo6 8  10 12 IA 
16 18 20 2? trás, em medida sempre                                      am,s

crescente, posteriormente;    Fig.  44. Diferenças raciais no

crescimento (segundo F. Ishiwara, a curva do crescimento                      1956) apresenta 
aproximadamente o mesmo movimento da que é            característica dos rapazes japoneses que 
vivem no Japão, mas com uma diferença de 4 cm, que pode atribuir­se a outro tipo de alimentação 
(Ishzwara).

A formação das proporções e dos caracteres morfológicos típicos de uma raça através de uma 
velocidade de crescimento diferencial inicia­se antes do nascimento, simultâncamente com a 
formação dos caracteres típicos da espécie (A. H. Schultz). Assim, em relação aos brancos, os 
fetos negróides apresentam ao terceiro mês, em comparação com os adultos, menor altura da calota 
craniana, nariz mais largo, bacia mais estreita, braços mais longos e maior    com­

J"'o  ­e”@

n.  a,@ J.P.  e^@^

primento relativo do antebraço. No que diz respeito à ossificação, os lactantes negros são, mais 
precoces do que os brancos; contudo, ao contrário do que seria lícito pensar­se, não se tratava 
de desenvolvimento mais rápido, já que o peso à nascença e a estatura, nos primeiros anos, são 
inferiores aos dos brancos; além disso, a maioria das crianças negras sofrem de desnutrição.

139
Crescimento

A maior parte das notícias mais antigas acerca das diferenças raciais relativas ao alcance da 
maturidade, e particularmente acerca da precoce maturidade das raças tropicais, devem ser 
verificadas. Nas diferenças geográficas da idade do menarca, o nível de civilização ressalta com 
mais clareza do que o facto racial (cf. variações seculares do crescimento). Porém, nem por isso 
deixa de ser certo que também as diferenças raciais exercem a sua influência. Assim, nas 
raparigas maias, apesar da pobreza de proteínas na alimentação, o menarca surge bastante cedo 
(em média, aos 12,9 anos); as curvas de crescimento apresentam por isso muito cedo uma 
intersecção entre a curva dos rapazes e a das raparigas (aos 9 anos; nos Navajos aos 10; nos 
Brancos do Michigan aos 10 anos e meio). Na África, para 23 povos, a correlação entre grau de 
latitude e menarca (índice de Gini) é de + O,34; na Europa, para 12 povos, + O,25 (N. Federici).

VARIAÇõES SECULARES DO CRESCIMENTO. Entre as mais importantes e mais bem documentadas diferenças 
de crescimento condicionadas pelo ambiente, e sobretudo por factores de tipo geográfico, étnico 
e social, encontram­se o aumento da estatura e a aceleração do desenvolvimento que se 
verificaram nos últimos tempos. Em todos os países civilizados, pelo menos no decurso do século 
passado, puberdade e maturidade foram aceleradas; este facto teve como consequência um aumento 
da estatura média. O material mais vasto, e referido a maior período de tempo, foi fornecido 
pelo recrutamento militar. Os dados existentes mais antigos são os que foram fornecidos pela 
Noruega (a partir de 1741, Kiil), pela Suécia (desde 1840, Hultcrantz, etc.), pela Itália (a 
partir de 1791, Costanzo) e pela Holanda (desde 1863, Bolk). A dimensão do aumento de estatura 
nos diversos países é variável, o que deve ser originado pelas diferentes condições ambientais. 
O aumento anual de estatura nos vários países oscila em redor do número reportado por Hultcrantz 
e válido para a Suécia (aumento anual O,9 mm) (Argentina 1891­1924: O,8 mm; Estónia 1878­1933: 
1,2 mm).

O aumento secular da estatura diz também respeito a todas as outras classes de idade. Os recém­
nascidos são

140
Crescimento

actualmente maiores e mais pesados do que nos primeiros decênios do século; o mesmo acontece com 
as crianças em idade pré­escolar e escolar e com os alunos dos cursos médios. A diferença entre 
as crianças de hoje e as de alguns decénios atrás, da mesma idade, é particularmente grande nos 
anos que actualmente correspondem à puberdade, pois neste caso acrescenta­se ao aumento geral da 
estatura a antecipação do desenvolvimento coincidente com o período puberal. Com a aceleração, 
do crescimento é também antecipado o aparecimento de outros caracteres específicos numerosos 
relativos à idade; são antecipadas primeira e segunda dentição; doenças próprias da idade, como 
a coreia de Sydenham, têm a sua frequência máxima nos primeiros

146W0         ... .. LL. ‘”­L”” l “                1 .

1 5 IMO  1865 1870 1875 1880 1885 1 8@@ 1'895 Í;@'0 9@OS 1910 1915 1920

Fig. 45. Aumento secular da estatura. Estatura média de recrutas italianos das classes 1855­
1920. As estaturas inferiores encontram­se nas classes Que durante a Drimeira guerra mundial 
estavam no Período da Puberdade (segundo A. Costanzo, 1948)

anos (Bennholdt­Thomse­n); a idade do menarca no decurso de um século sofreu uma antecipação de 
2­3 anos.

Falta uma explicação destes fenómenos universalmente aceite; a melhor alimentação, todavia, deve 
ter contribuído c(>nsideràvehnente para eles (Lenz). O consumo de carnes e de gorduras aumentou 
muito nos últimos decênios, e o teor proteínico da alimentação constitui precisamente um 
critérío para determinar o nível de vida de uma população. Do mesmo modo, toda uma série de 
diferenças cronológicas, geográficas e sociais orientam­se nesta direcção: na

141
Demografia

Alemanha, durante as duas guerras mundiais e a crise económica de 1930, a tendência para a 
antecipação do aparecimento menstrual passou por uma fase regressiva; na Suécia, a curva da 
estatura, em anos de carestia (durante as duas guerras mundiais e no lustre de crise 1865­1870), 
registou um ritmo quase horizontal. Os rapazes que vivem na cidade, em condições normais, 
desenvolvem­se mais cedo do que os rapazes do campo; contudo, no imediato pós­guerra, a situação 
inverteu­se parcialmente. Além das variações na alimentação, outros factores podem favorecer o 
crescimento: as doenças infantis tomaram­se mais raras e incidem de forma menos aguda; da 
isenção dos trabalhos pesados, também os rapazes e os jovens em geral tiram benefício; a própria 
atenuação da rigidez dos sistemas de educação pode ter exercido a sua influência.

Com o desenvolvimento somático antecipado acelera­se também o desenvolvimento psíquico. 
Fenómenos do desenvolvimento específicos de unia fase, como o início das relações com pessoas do 
mesmo círculo social, a obstinação e as explosões de ira apresentaiii­se, em relação aos 
resultados de inquéritos mais antigos, 1­2 anos antes; relações fixas com pessoas de sexo 
diferente são contraídas mais precocemente (Undeutsch). A partir de variações da situação 
social, não do desenvolvimento biológico, devem explicar­se as inseguranças e os distúrbios do 
comportamento que verificamos nos jovens de hoje, especialmente nas grandes cidades (ScheIsky, 
etc.)­

Demografia (Ciência da população) ­­ A população, no sentido de comunidade de seres humanos 
vivos dentro dos limites de determinada área geográfica, foi sempre objecto de atenta 
consideração, como factor económico, político e militar, por parte de estados e governos, os 
quais, porém, a conceberam sempre como entidade estática. Que a dinâmica natural da reprodução, 
isto é, os fenômenos biológicos elementares do nascimento e da morte, revelam na sua frequência 
e nas suas relações certa regularidade e constância demonstraram­no pela primeira vez os 
chamados «aritméticos políticos» Graunt (1620­74) e Petty (1623­87) a partir dos registos 
londrinos dos nascimentos e óbitos.
O mérito de ter sistematizado cientificamente esta ciência

142
Demografia

cabe, porém, ao capelão protestante do exército prussiano Peter Süssmilch (1707­67) com a sua 
obra «Die gõttliche Orcínung in den Verãnderungen des menschlichen Geschlechts, aus der Geburt, 
dem Tode, und der Fortpflanzung desselben erwiesen» «<A Ordem Divina nas Transformações do 
Género Hum'ano, Manifestada no Nascimento, Morte e Reprodução»), cuja primeira edição veio a 
público em 1741. A época mercantilista também reconheceu a existência de uma relação entre a 
economia, entendida como capacidade de produzir meios de subsistência, e o aumento da população. 
Mais tarde, as teorias de Thomas Robert Malthus (1760­1834) vieram a constituir, durante mais de 
um século, a base de todas as discussões relativas à ciência da população. Segundo MaIthus, a 
população revela uma tendência para aumentar a ritmo mais rápido do que os meios de 
subsistência: obstáculos «positivos» e «preventivos», nomeadamente a morte e a miséria, bem como 
o medo de ambas, mantiveram constantemente o aumento no âmbito de determinados limites. Darwin 
introduziu as ideias de Malthus na sua teoria acerca da evolução, associando­as ao conceito 
qualitativo da sobrevivência do mais apto. A ciência da população, por um lado, é portanto um 
importante fundamento da biologia humana, e por outro uma das suas partes constitutivas.

FONTES E MÉTODOS. Os acontecimentos demográficos elementares, tais como o nascimento, o 
matrimónio, a morte

e as migrações, são fenómenos de massa que no seu conjunto e nas suas relações só podem 
compreender­se estatisticamente. A estatística d~gráfica é, por isso, a base mais importante da 
ciência da população e ocupa­se do estudo dos fenómenos demográficos estáticos e dinâmicos. A 
documentação mais fidedigna deriva dos censos, que fixam para determinado momento certo número 
de unidades e, consoante o tipo de esquema adoptado, determinam também idade e sexo, profissão, 
estado civil e tamanho da família, duração do matrimónio, etc. As mutações no estado das 
populações podem ser determinadas mediante o registo de nascimentos e óbitos, casamentos e 
divórcios, migrações, bem como através do confronto de diversos censos. Só nos países altamente 
desenvolvidos existe serviço estatístico regu­

143
Demografia

lar e, mesmo assim, sómente a partir da segunda metade do século xix. Apenas cerca de 25 por 
cento da populaçã o mundial se encontra actualmente registada com exactidão; sobre cerca de 40 
por cento existem tão­só indicações não elaboradas estatisticamente ou, por vezes, meras 
estiniatívas. mais ou menos aproximadas. Mediante colaboração ao nível internacional, 
principalmente sob a égide da ONU, procura­se organizar um serviço estatístico com critérios 
unitários válidos para toda a população mundial, a fim de obter em todos os países dados 
pormenorizados susceptíveis de ser confrontados («Dernographic Yearbook», a partir de
1949­50).

Para o período que antecede a existência de um serviço estatístico regular, a história da 
demografia fornece fontes estatisticamente utilizáveis, cuja autenticidade tem de ser 
criticamente avaliada caso por caso. Entre estas fontes podemos citar censos ocasionais com 
vista a determinados fins, frequentemente militares e fiscais, No caso de as informações 
existentes se referirem apenas a uma parte da população (número de cidadãos reconhecidos aptos 
para o serviço militar, por exemplo, ou de cidadãos na posse de todos os direitos civis e 
políticos), poder­se­á obter uma estimativa da população total mediante o auxílio de tabelas de 
conversão derivadas de outras fontes. Também podem ser frequentemente utilizados dados 
indirectos, como, por exemplo, o número de fogos ou de arruamentos, o tamanho da área abrangida 
por uma cidade, a extensão do terreno agrícola utilizado, o consumo de cereais, etc.

Onde desaparecem as fontes escritas recorre­se à paleodemografia, cujos métodos foram 
desenvolvidos pela paleontropologia. As suas fontes mais importantes são os restos de esqueletos 
humanos descobertos em estações, cemitérios e sepulcros pré­históricos. Esses restos permitem 
determinar a idade e o sexo (­­> Crescimento, ossificação) e, a partir daí, chegar a conclusões 
acerca da duração média da vida do tamanho das jazidas (em circunstâncias favoráveis) e do 
movimento da população. Em muitos casos, os restos da cremação de cadáveres também facultam a 
determinação da idade e do sexo (Gej@vaII e outros). As principais dificuldades que se deparam à 
paleodemografía consistem no número reduzido de restos humanos obtidos em relação à

144
Demografia

consistência efectiva das populações pré­históricas e nas poucas possibilidades de conservação 
dos esqueletos de crianças e de jovens, que se decompõem mais ràpidamente na terra, sendo por 
isso mais raros nas colecções e nos museus; o mesmo acontece em relação aos esqueletos 
femininos, menos robustos do que os masculinos (­­> Constituição, tipos sexuais). O número e a 
densidade dos achados culturais constituem fontes indirectas para a determinação do número de 
indivíduos e densidade demográfica de uma população (Nougier e outros autores). Além disso o 
tamanho de uma população pode ser avaliado a partir do tipo de economia e da extensão da área 
habitada mediante um confronto com povos actuais, sobretudo com os povos ditos «em estado 
natural».

A estatística demográfica recorre a medidas e métodos especiais. A investigação mais elementar 
acerca de uma população diz respeito ao número dos seus componentes: no que se refere a mais de 
40 por cento da população mundial nada mais conhecemos, e até mesmo estes números não podem 
considerar­se totalmente exactos. Quanto à maioria dos dados históricos, referem­se apenas ao 
acumular de uma população. A densidade da população (número de habitantes por quilómetro 
quadrado) depende de causas de ordem geográfica (orografia, hidrografia, características 
J

climáticas, etc.) e económica (desenvolvimento da agricultura, da indústria, dos meios de 
comunicação, etc.). Nas regiões de florestas tropicais, a densidade de população dos caçadores­
recolectores avalia­se numa pessoa por cada 3 kin. Nas zonas áridas e desérticas é 
consideràvelmente mais baixa (Bosquimanos: 1 pessoa ‘por cada 55 k     M2 ; Australianos:
1 por cada 110 kin    2). Povos em estado natural, com sistemas primitivos de agricultura e de 
criação de gado atingem densidades que vão até às 10 pessoas por quilómetro quadrado; em regiões 
cuja base económica é constituída por sistemas intensivos de agricultura, a densidade é 
considerávelmente superior (China 60, india 116, Corcia 127), mas encontra­se sempre bastante 
longe dos valores atingidos em países de economia industrial (Bélgica 291, Grã­Bretanha 210, 
República Federal Alemã 204, Itália 167). Superpopulação e subpopulação são, portanto, conceitos 
relativos que devem ser avaliados em função dos recursos

145
Demografia

económicos e naturais de dada região e do nível de vida da população.

Entre os caracteres que permitem classificar os membros de uma colectividade, os biológicamente 
mais importantes são o sexo e a idade. A sua distribuição é representada gràficamente através da 
chamada pirâmide das idades. Uma base larga indica um número de crianças e de jovens relevante 
(autêntica forma da pirâmide), ou seja: uma população em desenvolvimento; uma base mais estreita 
indica a população estabilizada; finalmente, uma base ainda mais

h,)rr,c,ns

MUIheI@C_@

800 óW 400 200 00200 400 600 800   800 ôW 400 20000200 400 600 MO

Fig. 46. Pirâmides das idades. Estrutura da DoDulação alemã l)or idade e por sexo em 1910 e em 
1946 (cifras em milhares) (segundo G. Mackenroth, 1953)

reduzida, uma população que diminui (forma de sino e forma de urna). A proporção de equilíbrio 
entre os dois sexos exprime­se numa conformação simétrica da pirâmide. As assimetrias podem 
derivar de uma elevada mortalidade provocada entre os homens pela guerra ou da falta de mulheres 
em países de imigração.

Os métodos para o estudo dos movimentos da população são muito aperfeiçoados. A mais simples 
medida da mortalidade é dada pelos quocientes genéricos, que expri­

146
Demografia

mem a relação entre o número de óbitos num determinado período e o aumento médio da população no 
período considerado; estas cifras permitem rápidos confrontos entre países diferentes. Nesta 
operação não são consideradas as diferenças, mesmo quando assumem proporções de vulto, que podem 
encontrar­se na mortalidade dos diversos grupos no interior das populações. A citada operação 
apoia­se em estatísticas especiais, relativas ao sexo e à idade, nas quais o número de óbitos no 
interior de um grupo de idades toma por referência mil pessoas vivas desse grupo. A mortalidade 
infantil, que assume grande importância no quadro da mortalidade global, não é estabele­­ida a 
partir de mil indivíduos vivos do primeiro ano de idade, mas a mil nado­vivos no período 
considerado.

Há outro método que, em vez de se ocupar da frequência dos óbitos, calcula para cada classe de 
idades a probabilidade de morte,­ os sobreviventes de determinada classe de idade são sujeitos à 
probabilidade de morte da classe seguinte, e assim sucessivamente. As tabelas de mortalidade 
recolhem, numa perspectiva estatística, todas estas probabilidades de morte especificadas por 
idade e sexo. As cifras referem­se a certo nú mero de pessoas da mesma idade que atravessam as 
diversas probabilidades de morte das classes de idade; estas, portanto, devem voltar a ser 
calculadas para cada período que se considera. Estas cifras revelam o ritmo da mortalidade 
através do tempo, com a passagem do grupo inicial através das diversas probabilidades de morte. 
A vantagem deste método reside sobretudo no facto de a mortalidade poder ser representada como 
um processo constante. A partir das tabelas de mortalidade pode­se, além disso, calcular a 
esperança média de vida, que dá, para cada classe de idade, a totalidade dos anos de vida que 
restam, dividida pelos anos dos sobreviventes.

De modo análogo a quanto já tivemos oportunidade de verificar para os óbitos, também para os 
nascimentos (natalidade) a medida mais simples é dada pelos quocientes genéricos de natalidade, 
os quais exprimem a relação entre o número de nascimentos num determinado período e o aumento 
médio da população no período considerado. Este tenno de medida não considera a subdivisão da 
população por sexo e idade. O quociente geral de fecundidade exprime

147
Demografia a relação entre o número total dos nascimentos em dado período e o número médio de 
mulheres em idade fecunda (geralmente ídentificada com o período que vai dos quinze aos quarenta 
e cinco anos) no referido lapso de tempo. Este termo de medida da fecundidade pode vir a 
diferenciar­se ulteriormente em idade, duração do matrimónio e estado civil.

Os chamados índices de reprodução constituem outra das medidas da fecundidade. Os referidos 
índices consideram apenas o nascimento de fê meas, das quais sairão as mulheres fecundáveis da 
geração seguinte, e constituem um termo de medida da fecundidade média das mulheres de uma 
população. O índice bruto de reprodução (GRR, gross reproductive rate) calcula­se na hipótese de 
todas as mulheres sobreviverem ao termo do seu período fecundo. O índice líquido de reprodução 
(NRR, net reproductive rate) toma em consideração a efectiva eliminação das mulheres no decurso 
da sua vida fecunda. Este é realmente, ao contrário do índice bruto de reprodução, termo de 
medida mais específico da reprodução, porquanto indica em que percentagem o nascimento de 
crianças durante um ano, em determinadas condições de fecundidade e esterilidade, substitui a 
geração das mães. O valor 1 indica que existe perfeito equilíbrio entre a geração das mães e a 
das filhas. Valores superiores a 1 indicam aumento da população, valores inferiores a 1 
diminuição. Actualmente, o índice líquido de reprodução é a medida mais usada no estudo da 
fecundidade e da reprodução de uma população. O seu cálculo, todavia, pressupõe processos 
estatísticos muito complexos e índices de fecundidade e mortalidade específicos por idade e 
sexo. Medida elementar para exprimir a relação entre nascimentos e óbitos pode dá­Ia a relaçã o 
numérica dos dois acontecimentos.

A estatística das migrações não atingiu ainda desenvolvimentos comparáveis à dos movimentos 
naturais da população. Estabelece­se uma distinção entre migrações que ultrapassam as fronteiras 
de um estado e migrações internas, no interior dessas mesmas fronteiras. O urbanismo, entre as 
últimas, assume em rigor importância especial. O estudo da migração interna exige um sistema de 
registo bem orga­

148
Demografia

nizado, que por vezes nações evoluídas (como, por exemplo, os Estados Unidos) não possuem.

ESTADO DA POPULAÇÃO. , Em 1955, a população mundial foi avaliada em 2691 milhões de pessoas. A 
comparação com estatísticas precedentes revela um acentuado aumento. Se o crescimento permanecer 
constante, a população mundial, em 1980, terá atingido 3,7 biliões, no ano 2000
6,5 biliões e em 2050 cerca de 30 biliões.

A distribuição e a densidade da população mundial variam muito. Na Europa Central e Ocidental 
encontram­se grandes concentrações de população, pois trata­se de regiões onde a densidade nunca 
desce a menos de 80 indivíduos por quilómetro quadrado; o mesmo acontece na Ásia Meridional e 
Oriental (a China, apesar da sua primitiva economia agrícola e da baixa industrialização, tem 
uma densidade de
60 indivíduos por quilómetro quadrado; o Japão 241; a índia 116; o Paquistão 87) e na América do 
Norte (EUA
21, mas nos estados orientais a densidade chega a superar os 200 habitantes por quilómetro 
quadrado). Ao contrário destas regiões, existem outras escassamente habitadas, em

parte porque o clima e as condições do solo impõem limites naturais (zonas polares, alta 
montanha), em parte porque o desenvolvimento económico destas regiões se encontra num estádio 
primitivo.

O desenvolvimento da população até ao início da idade contemporânca só pode ser determinado 
através do confronto de avaliações relativas sobre o estado da população para diversos períodos 
cronológicos. O enorme aumento da população no decurso da história da humanidade não se 
processou regularmente. No Paleolítico Inferior devem ter vivido sobre a Terra, no mesmo lapso 
de tempo, apenas alguns milhares de homens; no Superior, no máximo, algumas centenas de 
milhares. Este é também um dos motivos da extrema lentidão do desenvolvimento da civilização nos 
seus inícios. No Neolítico, com o desenvolvimento da agricultura e com os primeiros povoamentos 
estabilizados, verificou­se uma primeira «revolução demográfica». Para a França, muito bem 
estudada dos pontos de vista arqueológico e palcontológico, é possível delinear alguns dos 
traços fundamentais no desenvolvimento da população; a densi­

149
Demografia

Países

População (Em milhares)

Superficie (Ern kM2)

Densidade

de população

Europa (sem a URSS)

409000

4929000

83

.@lemanha

70134

353702

198

Austria

6974

83849

83

Bélgica

8868

30507

291

Bulgária

7548

111493

68
Checoslováquia

13093

127819

102

Dinamarca

4439

42936

103

Espanha

28976

503486

58

França

43274

551208

79

Grã­Bretanha

51215

244016

210

Grécia

7973

132562

60

Holanda

10751
32450

331

Hungria

9805

93030

105

Irlanda

2909

70283

41

Itália

48016

301226
Demografia

dade dos achados pré­históricos permite avaliar a acumulação, populacional, para o Paleolítico 
Inferior, em algumas centenas de indivíduos; para o final do Paleolítico (cerca de 10 000 a. 
C.), aproximadamente em 50 000.­ nos seis mil anos seguintes a população decuplica, verificando­
se um ulterior aumento nos mil anos posteriores: no final do iii milénio a. C. a população da 
França cakula­se em 5 milhões de unidades (Nougier), mas julga­se esta cifra um tanto exagerada.

Durante os grandes impérios e culturas da Antiguidade houve populações numèricamente exíguas. O 
império dos Sumérios ­ e mais tarde, na América, o antigo império dos Maias ­ não ultrapassavam 
meio milhão de habitantes.
O antigo Egipto sob o domínio dos últimos Faraós atingiu
7 milhões de habitantes; deste modo, o Velho Império, no período da sua ascensão criadora, não 
devia dispor de mais de 1 milhão de indivíduos. No período áureo da Grécia habitavam a Hélade 
cerca de 3 milhões de indivíduos, dos quais pouco menos de milhão e meio viviam no Peloponeso, e 
na Grécia Central, regiões que constituíam o núcleo do espaço vital e cultural grego. Nos tempos 
de Augusto, a Itália tinha uma população de 6 milhões de habitantes, já depois do considerável 
aumento que se registou nos inícios da República.

Na Europa Ocidental e Central, nos tempos das invasões bárbaras, a população aumentou bastante. 
Na Alta Idade Média o abandono de muitas aldeias constitui sinal de uma diminuição da população 
(Abel), para a qual contribuíram fortemente as grandes epidemias. O desenvolvimento económico da 
Alta Idade Média e do século xvi conduz a novo incremento da população. Em 1650 a população 
europeia avalia­se em cerca de 6 milhões de pessoas; a população mundial em 515 milhões. Na 
Idade Moderna, até 1930, a população, europeia, apesar da forte emigraçao para além­oceano, 
quintuplicou, quadruplicando a população mundial. A que cresceu mais lentamente foi a população 
africana; na América e na Austrália a colonização europeia levou a um imprevisto e considerável 
incremento dernográ­

População e densidade populacional de diversos países em 1955 (Segundo o «Demographie Yearbook», 
1956)

151
Demografia

fico. O aumento da população, desde o início da história da humanidade, adquiriu um ritmo 
notável, em conexão com o progresso da civilização.

FASES DO MOVIMENTO DA POPULAÇÃO. Prescindindo de todas as diferenças que possam apresentar­se 
nos casos isolados, reconhece­se no movimento natural da população, como resultado dos 
nascimentos e óbitos, uma sucessão típica de fases. Na época moderna esta sucessão verificou­se 
do modo mais evidente na Europa, onde também se encontra estatisticamente documentada da melhor 
maneira, mas pode ainda observar­se, com naturais desfasamentos cronológicos, em todos os outros 
países onde existe um registo estatístico dos fenómenos demográficos.

Continente

1650

1750

1800

1850

1900

1920

1940

Europa Ásia África América do Norte América do Sul Oceãnia

100
300
100

7
6
2

140
450
100

6
6
2

180
575
95
15
8
2
270
730
100
39
20
2

400
920
125
106
38
6

450
1100
140
143
64
8

530
1185
153
183
89
10

515

704

875

1161

1595

1815

2150

indice de aumento anual (cada 1000
1      hab.)

3,2

4,3
5,71

6,3

6,5

8,4

Desenvolvimento demogrãfico a partir de 1650, a população

é enunciada em milhões (segundo A. Landry, 1949)

A primeira fase é assinalada por elevados quocientes de natalidade e mortalidade, com diminuto 
excesso dos nascimentos, e portanto por lento incremento da população. A adaptação do aumento 
populacional às possibilidades de nutrição realiza­se sobretudo através da mortalidade. Este 
tipo de regulação demográfica, que se aplica à maior parte da história da população humana, é 
também aquele que se verifica no reino animal (Lack). A mortalidade infantil é muito elevada, 
chegando a atingir os 80 por cento. A mortalidade das mulheres supera largamente a dos homens, 
sendo considerável a incidência dos óbitos por parto. As epídemias, ainda incontroladas, causam 
numerosas vítimas; antes do desenvolvimento da rede de comunicações

152
Demografia mundiais, as carestias após más colheitas ou outras catástrofes naturais 
representavam o meio drástico para restabelecer o equilíbrio entre o aumento da população e os 
meios de subsistência. Calcula­se assim que nos anos da grande epidemia de peste de 1348­49 um 
terço da população europeia tenha sido dizimado; na Irlanda, em 1845­47, após a perda da 
colheita de batatas, houve de 800 000 a
1 milhão de mortos, pelo menos 10 por cento da população total; na índia, em 1918­19, aos efeitos 
da carestia agregaram­se os das epidemias, e o resultado foi a morte de 15 por cento da 
população. Em conformidade com o que acabámos de descrever, o tempo médio provável de vida, na i 
fase, é baixo. Em 1940, na índia, era de cerca de vinte e sete anos; na Hungria, no século xi, 
não superava trinta e um anos. Nesta fase, os indivíduos reúnem­se frequentemente em agregados 
«isolados» relativamente fechados, para os quais são limitados os cruzamentos com indivíduos de 
outros grupos. Predomina a endogamia e, por vezes, mesmo o incesto. Entre os meios para combater 
a fecundidade natural usam­se o aborto e o infanticídio, ao passo que os métodos 
anticoncepcionais têm ainda escassa importância. No interior da população, frequência dos 
matrimónios e idade dos nubentes estão relacionados com o nível económico­social dos vários 
estratos; nos grupos sociais de parcos recursos só muito tarde se consegue constituir família. 
Onde exista uma reprodução socialmente diferenciada verifica­se também a tendência para um 
incremento mais forte nas camadas sociais superiores. A ii fase é caracterizada por um 
abaixamento dos índices de mortalidade em consequência do desenvolvimento da medicina e da 
higiene, e sobretudo do desaparecimento das grandes epidemias (o último grande surto epidémico 
da peste na Europa registou­se em 1709­11) e do melhoramento da higiene dos recém­nascidos. Os 
índices de natalidade diminuem menos, ou não diminuem, ou até por vezes aumentam em consequência 
do incremento das classes de idades em período fecundo. Os índices de natalidade e de 
mortalidade começam a divergir e tem­se um crescente excesso de nascimentos. Esta fase é por 
isso caracterizada por grande aumento populacional. O seu início, na Europa, deve localizar­se 
mais ou menos no princípio do século xix, e o

153
Demografia

resultado foi uma tão imprevista quão considerável intensificação do desenvolvimento 
populacional. Com o aumento da densidade da população começa a diminuir o isolamento entre os 
vários grupos, os quais se misturam livremente em grau cada vez maior. Entre outros factos, 
observa­se uma diminuição dos matrimónios consanguíneos, devida ao alargamento dos círculos 
matrimoniais.

O equilíbrio entre aumento da população e meios de subsistência realiza­se mediante um 
fortalecimento dos meios de alimentação ­ intensificaçã o da agricultura, urbanização e 
industrialização ­ e através das migrações. Assim, em
1801, numa população total de 3,7 milhões, a França possuía 253 cidades com mais de 5000 
habitantes ( = 13,6 por cento de toda a população); em 1901 tinha já 648 para uma população de 
14,4 milhões (= 37 por cento da população total do país). Nos Estados Unidos, em 1790, a 
população dos campos (isto é, dos centros com menos de
2000 habitantes) constituía 94 por cento da população total; em 1840, 88 por cento; 1910, 54 por 
cento; e finalmente em 1940, 44 por cento. Na Alemanha a percentagem da população que vive em 
comunidades com menos de 2000 habitantes passou, entre 1871 e 1939, de 63 a 30 por cento (em 1910 
representava 44 por cento). Além disso, no século xix, cerca de 40 milhões de Europeus trocaram 
o continente natal pelos países de além­o.­eano (cerca de
20 milhões emigrados nos Estados Unidos).

Onde se verifiquem diferenças sociais será de esperar, com o aumento da população, um maior 
crescimento das classes sociais mais elevadas, que em todos os tempos são aquelas que apresentam 
os mais baixos índices de mortalidade e mais se aproveitam dos progressos médicos e higiénicos. 
Estas diferenças, porém, são parcialmente compensadas pelo facto de a idade do matrimónio, na 
nova sociedade industrial, se encontrar frequentemente ligada ao ingresso na vida profissional, 
estabelecendo­se uma relação inversa entre posição social e idade matrimonial; com efeito, 
quanto mais inculto é um grupo social tanto mais baixa será nele a idade média em que se contrai 
matrimónio. A mais rápida sucessão das gerações compensa as mais desfavoráveis condições de 
mortalidade. Com o aumento da população urbana, as diferenças entre cidade e

154
Demografia

Períodos

Número total dos adultos

Idades de morte (Percentagem)

Esperança média

de vida

Autor

20­40

40­60

Além dor
60

Paleolítico, In­

H. V. Vallois

ferior

89,9

11,1

1937

Paleolítico Su­

perior

67

82,1

17,9

Neolítico, Chi­

pre (Khiroki­

G. Kurth,
tia)
97

78,4

21,6

21

1958

Neolítico, Silé­
Demografia

campo, na reprodução, tornam­se significativas, porquanto as populações urbanas apresentam menor 
incremento do que as camponesas.

Segundo as investigações da paleodemografia, a mortalidade apresenta, na história da humanidade, 
uma progressiva tendência para diminuir. No Paleolítico poucas unidades superavam os cinquenta 
anos. No Neolítico e na Idade do Bronze pode dizer­se que os óbitos se verificavam em idades 
relativamente mais avançadas, sendo possível demonstrar que certo número de indivíduos 
ultrapassou os sessenta anos. Nas épocas seguintes, o número de indivíduos com mais de sessenta 
anos continuou a aumentar, embora irregularmente e com diferenças consideráveis nas várias 
regiões. Nas populações da Alta Idade do Ferro, na Suécia, e da Alta Idade Média, na Hungria, 
das quais foi possível conhecer'a mortalidade infantil, viu­se que esta não supera 
essencialmente a da i fase da Época Moderna europeia. Na maioria das populações pré­históricas, 
a mortalidade feminina ultrapassava a masculina. O fenómeno humano, pelo qual a duração média da 
vida ultrapassa largamente o período fecundo, constitui um resultado do progresso da 
civilização.

Na iii fase, além dos índices de mortalidade, diminuem também os de natalidade. Como na i fase, 
o aumento da população é muito baixo e, em alguns casos, chega a verificar­se uma regressão. Na 
ii fase conseguira­se controlar a mortalidade; o mesmo acontece agora com a natalidade: impõem­
se a planificação da família e a racionalização da reprodução. A regulação processa­se através 
de uma rápida difusão dos métodos anticoncepcionais, em vez de recorrer aos processos primitivos 
do aborto e do infanticídio. O grau, mais ou menos elevado, de fecundidade é agora quase 
completamente dissimulado por um mecanismo de controle dos nascimentos enraizado na vida social 
e nos fenómenos de ordem cultural.

Os movimentos da natalidade e da mortalidade influenciam­se reciprocamente de várias maneiras. A 
racionalização da produção é imposta pela diminuição da mortalidade, que conduziria ao rápido 
aumento da população e, portanto, a graves problemas económicos. A menor mortalidade infantil 
permite atingir, com um número de nascimentos

156
Demografia

muito baixo, o desejado tamanho da família. O progressivo aumento da vida média faz diminuir os 
índices de natalidade, e isso porque se verifica um aumento da   s percentagens das classes de 
idade mais elevadas, que só participam na reprodução em medida limitada. Por outro lado, o menor 
número de nascimentos e o maior intervalo entre os partos influem sobre a mortalidade num 
sentido favorável. Isto vale sobretudo para a mortalidade infantil, a qual, nos países mais 
desenvolvidos, desce até aos 3 por cento (Sué­

1700 )à 20 30 40 50 60 70 80 90 1800 10 20 30 40 50 60 70 80 90 19W 10 20 30 40 50

Fig. 47. As fases do desenvolvimento demográfico. Indices de natalidade (linha tracejada) e de 
mortalidade (linha contínua) na Ingiaterra e no Pais de Gales de 1700 e 1949. A Partir de
1730 os índices de mortalidade decrescem, enquanto os de natalidade permanecem aproximadamente 
constantes UI fase do desenvolvimento demográfico); a partir de 1880, os índices de natalidade 
diminuem mais acentuadamente do que os de mortalidade (III fase do desenvolvimento demográfico) 
(segundo

G. Mackenroth, 1953)

cia 2,3 por cento; Nova Zelândia, Brancos, 2,2; Austrália
2,8; Holanda 2,9), aproximando­se assim dos limites da mortalidade endógena causada por 
deficiências hereditárias e constitucionais, avaliada em cerca de 2 por cento. Além disso, ao 
passo que a mortalidade feminina era anteriormente superior à masculina, sobretudo nos anos de 
fecundidade, é agora inferior em quase todas as classes de idade. Após o aumento da vida média, 
cresce, na população total, a percentagem das classes de idade superiores; este fenómeno cria 
novos problemas económicos e sociais que conduzem à formação de um novo ramo da biologia humana: 
a gerontologia. A probabilidade de morte apresenta um máximo

157
Demografia

relativo em correspondência com a mortalidade infantil, registando­se, portanto, uma descida 
abrupta até aos valores baixíssimos dos anos compreendidos entre os cinco e os trinta e cinco; 
até aos cinquenta anos observa­se uma subida lenta, a qual se torna mais rápida após esta 
idade.

Na iii fase invertem­se definitivamente os termos da relação entre hierarquia social e 
natalidade: a desejada limitação do número de filhos, assim como a diminuição da mortalidade, 
irrompe nas camadas sociais superiores, as quais, por isso mesmo, e apesar de uma situação de 
mortalidade largamente mais favorável, atingem índices de reprodução inferiores aos dos estratos 
médios, que só mais tarde adoptam os métodos da planificação familiar. As cidades, sobretudo as 
grandes, encontram­se na vanguarda no que se refere à limitação de nascimentos, de modo que as 
diferenças entre cidade e campo no plano da reprodução acentuam­se ainda mais. A diminuição de 
nascimentos encontra­se estreitamente relacionada com a elevada mobilidade social que se observa 
nas so.,­­iedades altamente industrializadas, nas quais as famílias pequenas são favorecidas na 
ascensão social. As diferenças sociais de fecundidade acabam por tombar quando a limitação dos 
nascimentos também se impõe no vasto estrato médio. A camada dos operários não especializados, 
neste fenómeno de mobilidade social, abastece­se constantemente de vagas migratórias oriundas de 
regiões ou países menos desenvolvidos.

Reconhecem­se, na Europa Ocidental, os primeiros sintomas de uma iv fase. A regressão da 
mortalidade, mediante o prolongamento da vida, não atingiu ainda completamente os limites 
naturais possíveis, mas procede agora de maneira consideràvelmente lenta. No quadro da 
populaçáo, com o aumento das classes de idade superiores, vem a registar­se um aumento dos 
índices genéricos de mortalidade. Além disso, quando em todos os estratos da população se impôs 
uma completa racionalização da reprodução, acaba por restabelecer­se uma relação funcional entre 
ção social e tamanho da família; permanecem, contudo, as diferenças sociais na idade 
matrimonial, o que ocasiona duração mais curta das gerações nas camadas menos evoluídas. Com o 
completo desenvolvimento da economia industrial, o impulso para a ascensão social toma­se mais

158
Deniografia

débil, elevando­se o nível de vida em todas as classes sociais. Como consequência disto, tem­se 
novo aumento dos índices de natalidade, que todavia nunca atingem os altos valores 
característicos das fases i e ii.

Número de habitantes menos de 2000

5­10000
25 50000

FASES DO DESENVOLVIMENTO DEMOGRÃFICO E POPULAÇÃO MUNDIAL. Os vários povos e países da Terra 
encontram­se actualmente em diversas fases do processo de desenvolvimento demográfico. Estas 
diferenças estão, em grande parte, relacionadas cem o «grau de maturidade industria 1» (Heberle) 
e a curopeização,   das    formas               ......       2 5000

de   vida     (Mackenroth).     150

Pode dizer­se que a par­                                 mais de tir do momento em que 
100000

a estatística demográfica se encontra em condições de fornecer dados de algum modo dignos de 
crédito, o desenvolvimento da      so civilização atingiu já tal          1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Fig. 48   Diferenças   sociais na grau de maturidade que          reprodução. Número médio de 
pode agir positivamente         crianças por cada 100 contri­

buintes, divididos em dez classes sobre a diminuição dos          de censos, em comunidades ale­

à de diversa grandeza no ano índices   de    mortalidade.    m s1.2.. No campo (centros lia­

de índices de mortalidade re­      bitados Por populações inferiores

a 2000 Pessoas), o número de lativamente altos encon­        crianças, com o aumento do ren­

dimento, diminui ainda em métram­se actualmente so­         dia acontecendo o inverso nos

bretudo em muitos países gru    pos de censo mais elevado;

o número de filhos aumenta com das Américas Central e o rendimento nas grandes cidado Sul 
(Guatemala, Hon­      des (dados coligidos Por F. Burg­

dõrfer, 1935)

duras, São Salvador, Bolívia, Colômbia, Equador); a pouca distância segue­se a índia, segundo 
dados oficiais que, porém, não são totalmente dignos de crédito, quer no que diz respeito aos 
índices de natalidade, quer no, que se refere aos de mortalidade (Davies).

Na i fase ­exíguo aumento da população, com elevados índices de mortalidade­ deveria encontrar­
se a

159
Demografia

maioria das populações acerca das quais não se dispõe de dados demográficos. Nos «povos em 
estado natural», porém, os índices de natalidade nunca são tão elevados como nos povos europeus 
antes da era industrial. O aborto parece ser universalmente conhecido, e praticado, muitas vezes 
em larga medida, pelos próprios primitivos. A fecundidade fisiológica nos povos civilizados é 
também, ao que se julga, superior à dos povos «em estado natural» (Carr­Saunders): com efeito, 
privações e cansaço influem não, só sobre a mortalidade, mas também sobre a fecundidade. Assim, 
no que à África Negra diz respeito, temos notícia de índices de natalidade predominantemente 
baixos, para os quais contribuiriam a esterilidade das mulheres causada pelo excesso de 
trabalho, as práticas abortivas e a senilidade precoce. No reino animal, as oscilações na 
fecundidade também contribuem, embora em pequena medida, para adaptar o aumento da população aos 
meios de subsistência (Lack). Nos países coloniais europeus os indígenas man­

têm­se na primeira fase durante muito mais tempo do que os Brancos (União da África do Sul, por 
exemplo; mas também Nova Zelândia e Estados Unidos). Na maioria dos povos em estado natural o 
primeiro contacto com os Europeus teve como efeito acentuada diminuição populacional. Para este 
fenómeno contribuíram não só a mortalidade elevada ­ através da introdução de doenças, do 
extermínio de populações por parte dos Brancos e ainda das coacções que obrigavam os nativos a 
deslocar­se para regiões pobres de recursos e de meios de subsistência ­, mas também uma 
diminuição dos índices de natalidade, causada, entre outras coisas, pela difusão de doenças 
venéreas, pelo engajamento dos homens para trabalhos longe da sua terra natal, e ainda por 
depressões psíquicas ligadas à dissolução das organizações tribais e dos sistemas de valores 
ètnicamente fundamentados. Deste modo extinguiram­se alguns pequenos grupos de primitivos 
(Tasmânidas e tribos indígenas da América e da Melanésia); outros superaram a crise de adaptação 
e a sua população tornou­se estável, chegando mesmo a adquirir certo ritmo de aumento, 
favorecido pelos progressos da civilização introduzidos pelos Europeus, que tornaram possível, 
entre outras coisas, uma diminuição dos

160
Demografia

Países

índices

de natalidade

índices

de mortalidade

Excesso dos nasci­

mentos sobre as mortes

1) índices de natalidade e mortalidade elevados

Guatemala

48,8

20,6

28,2

Honduras

43,1

11,4

31,7

União da África do Sul,

48,1

17,5

30,6

população de cor

Egipto (1953)

40,O

18,4

21,6
Bírmânia

36,4

20,7

15,7

índia

(25,8)

(13,1)

(12,7)

11) índices de natalidade elevados com índices de mortali­

dade baixos

São Salvador

47,9

14,2

33,7

Venezuela

47,O

10,2

36,8

México

46,2

13,3

32,9

China

45,3

(8,6)

(36,7)
Nova Zelândia, Maoris

44,4

97

34,7

República Dominicana

43,6

9:5

34,1

Costa Rica

40,3

10,5

29,8
Dernografia

índices de mortalidade, Isto vale nomeadamente para os numerosos grupos de Melanésios, para os 
Maoris da Nova Zelândia e para os índios dos Estados Unidos.

Na ii fase ­diminuição da mortalidade, com índices de natalidade elevados­ encontram­se muitas 
populações indígenas da América Latina; os países islâmicos da Ásia Menor e da África do Norte; 
par­te da Ásia do Sudeste e da China. Nos países da América Latina o desenvolvimento foi 
estimulado pela população branca, a qual, como nos países coloniais, se encontra numa fase 
superior do desenvolvimento demográfico. A parte indígena da popu­ lação, porém, também 
participou do progresso da civilização, entrando assim na fase da diminuição da mortalidade. Os 
governos coloniais europeus também na Ásia do Sudeste haviam melhorado as condições de vida, 
combatido com sucesso as epidemias, intensificado a agricultura e os serviços sanitários, 
reduzindo assim os índices de mortalidade. Particularmente importante como centro de 
desenvolvimento, com os seus mais de 50 milhões de habitantes, firmemente agarrados à terra onde 
vivem graças à cultura do arroz, é Java, e o mesmo se poderá dizer das Filipinas. Nos países 
islâmicos verificam­se índices de natalidade bastante elevados, os quais, no entanto, só 
parcialmente se devem a fontes oficiais. Onde os dados dernográficos se encontram subdivididos 
em comunidades religiosas, os muçulmanos apresentam os índices de natalidade mais altos (Egipto, 
1934: muçulmanos 43, cristãos 34, judeus 21). Muitos destes países encontram­se já num período 
de rápido desenvolvimento económico, que favorece a tendência para uma diminuição da 
mortalidade. O estado de Israel apresenta, por causa da constante imigração de colonos jovens, 
índices de mortalidade particularmente baixos, mas diferenças de fecundidade muito grandes entre 
os vários grupos de origem; essas diferenças reflectem a diversa situação demográfica dos países 
de origem.

A China representa o maior bloco populacional subdesenvolvido. Os índices de mortalidade 
oficiais, porém, são incrivelmente baixos devido a um registo incompleto e devem, por isso, ser 
aceites com reserva, como os da índia. Os índices de natalidade muito elevados, todavia, estão

162
Demografia

certos, resultando, do confronto de diversos censos, um acentuado aumento populacional. O censo 
de 1962 registava 650 milhões de indivíduos, enquanto o de 1950 avaliara a população total em 
450­500 milhões. A partir de
1872, uma forte emigração chinesa colonizou a Manchúria, e em todo o Sudeste asiático se 
encontram trabalhadores e comerciantes chineses.

A maioria dos países europeus ou habitados por Europeus, compreendida a URSS, encontra­se na iii 
fase, com índices de natalidade em diminuição e quocientes de mortalidade baixos, amplamente 
estabilizados. Contudo, existem na Europa diferenças sensíveis entre Oriente e Ocidente, entre 
Norte e Sul. Os mais elevados índices de natalidade encontram­se na Polónia e na Rússia; nos 
países da Europa Meridional e no Sudeste europeu, os quocientes de natalidade são mais elevados 
do que os da Europa do Norte e do Noroeste. Também aqui é manifesta a relação com o grau de 
maturidade industrial e com o nível de vida da população. Nos países de além­oceano colonizados 
por Europeus os índices de natalidade e o excesso de nascimentos são acentuadamente superiores à 
média dos países de origem: os dados, todavia, englobam também a população indígena. Entre os 
países não­europeus, o Japão, altamente industrializado, alcançou já há algum tempo, 
precisamente entre as duas guerras mundiais, a fase da diminuição dos índices de natalidade, 
alinhando hoje, quanto a valores demográficos, com os países europeus. As nações da Europa 
Central e de Noroeste são as representantes da iv fase. O índice líquido de reprodução chegou 
por vezes a ser inferior à unidade, mas transpô­la a partir do decênio
1930­40.

A relação existente entre fenómenos demográficos e nível económico deixa prever que também os 
países subdesenvolvidas, actualmente nas i e ii fases, passarão mais tarde ou mais cedo à iii. 
Sinais mais ou menos claros de uma diminuição dos índices de natalidade podem já observar­se na 
maioria destes países. Quanto mais tarde uma população entra nesta fase tanto mais veloz costuma 
ser o ritmo de desenvolvimento e tanto mais rápida, portanto, é a queda da curva de natalidade. 
O nivelamento dos diver­

163
Demografia

sGs graus de civilização, actualmente em curso nos vários países da Terra, deixa prever também a 
obtenção de certa uniformidade no crescimento demográfico natural, e com isso uma relativa 
estabilização da situação demográfica.

Países

índices de natalidade

Distância em anos

Cerca de 30 por cento

Cerca de 20 por cento

França Suíça Suécia Inglaterra Itália Alemanha Hungria

1830
1880
1884
1895
1923
1910
1922

1908
1922
1921
1922
1941
1926
1936

78
42
37
27
18
16
14

Ritmo de desenvolvimento e queda da curva de natalidade (segundo G. Mackenroth, 1953)

POLITICA DEMOGRÃFICA. Numerosas medidas políticas influem directa ou indirectamente sobre a 
população; todas as providências que visam a modificação do nível de vida, a situação higiénica 
e a assistência médica exercem alguma influência sobre a mortalidade. Pressões políticas e 
crises económicas favorecem a emigração, ao passo que um rápida desenvolvimento económico pode 
estimular a imigração. A legislação matrimonial e familiar faz parte dos factores que deten­
ninam a idade matrimonial, a frequência dos matrimónios e dos divórcios e ainda, por 
consequência, a fecundidade conjugal. As medidas ‘de política demográfica dizem respeito 
principalmente aos nascimentos e à emi~ gração. Muitos países europeus, e também cert,.s nações 
de além­oceano colonizadas por Europeus, praticam uma política demográfica positiva quando os 
índices de reprodução se aproximam de 1 ou chegam mesmo a ser inferíores à unidade. Esta 
política concretiza­se primacialmente através da concessão de auxílios às famílias numerosas, 
quer mediante donativos directos (assistência à infância), quer indirectamente, pela redução dos 
impostos e outras facilidades. Este sistema conheceu a sua aplicação máxima em França com o Code 
de Famille de 1939. Na Alemanha, o regime nacional­ so.­i alista promulgou, a partir de 1933, 
algumas disposições tendentes a favorecer económicamente

164
Demografia

as famílias numerosas e, simultâncamente, a prestigiá­las com prêmios e medalhas. De 41 
constituições adoptadas ou

modificadas por várias nações após a segunda guerra mundial, 35 contêm disposições destinadas a 
proteger e favorecer a família, a maternidade, etc. (cf. H. T. Eldridge,
1954).

De resto, existem já desde a Antiguidade clássica me­

didas políticas que favorecem os nascimentos. O imperador Augusto (27 a. CA4 d. C.) encorajou a 
lex Papia Poppaea

Fig. 49. Influência das medidas de política demogrãfica sobre o ritmo de nascimentos. índices de 
natalidade na Alemanha, França e Inglaterra no _1)e@íodo 1901­52: acentuada subida na Alemanha 
aDós 1933 na Franca depois de 1940: contudo, também em Inglaterra,'deuois de 1940 se verificou 
um aumento sem que fossem tomadas corrcspor@dentes medidas de política

demográfica (segundo «Population», 1953)

nuptidis, que sobrecarregava de impostos os celibatários, os casais sem filhos e até os viúvos, 
chegando mesmo a limitar as suas possibilidades de herdar,­ concedeu prémios a cidadãos pobres 
com prole, louvou pÚblicamente as famílias numerosas e criou insígnias honoríficas para as mães. 
Sob o domínio dos imperadores seguintes instituíram­se subsídios à infância e a favor dos 
cidadãos de parcos

165
Demografia

recursos econômicos. O êxito dessas medidas é contestável, pois as leis de Augusto não 
conseguiram deter o movimento regressivo na população italiana. Após a promulgação das leis já 
citadas, os índices de natalidade, na França e na Alemanha, subiram consideràvelmente, o que 
também veio a acontecer, se bem que em menor medida, em países sem legislação directa de 
política demográfica. Quanto à planificaçâo das famílias, segurança económica e social, 
constituem indubitàvelmente factores importantes, embora não exclusivos, entre os que determinam 
a grandeza dos núcleos familiares. A política demográfíca tendente à limitação dos nascimentos 
mediante a difusão da planificação da família e dos métodos anticoncepcionais obteve, no Japão e 
na índia, resultados dispares. No Japão, onde já antes da segunda guerra mundial os índices de 
natalidade tinham começado a diminuir e a ideia da planificação familiar podia integrar­se em 
antiquíssimas tradições, esta política obteve maior sucesso do que na índia, país num estádio 
inferior de desenvolvimento. Na China e noutros países subdesenvolvidos existem os mesmos 
problemas, sem que até à data se tenham tirado quaisquer conclusões no plano da política 
dernográfica: todo o auxílio económico que eleve o nível de vida e faça diminuir a mortalidade 
permanecerá ilusório enquanto não diminuírem os índices de natalidade e a população não atingir 
um estado de equilíbrio adaptado às possibilidades económicas (Balandier, Thompson). As 
populações cujo ritmo rápido de crescimento não é igual ao da angariação de meios de 
subsistência adequados estão expostas a catástrofes e constituem focos de desordem. Por isso 
mesmo, a política demográfica é um sector essencial de toda a política mundial. Assim, as Nações 
Unidas lhe dedicaram desde o início toda a atenção, tanto nas secções dedicadas ao estudo dos 
problemas sociais e económicos, como nos serviços estatísticos e na organização mundial de saúde 
(World Health Organization, WHO).

A política de emigração tende também progressivamente para uma regulação à escala internacional. 
Na maior parte dos países, a emigração não está sujeita a qualquer espécie de limitação ou, 
quando muito, a restrições mínimas; ao invés, práticamente todos os países possuem leis de 
imigra­

166
Fisiologia das raças

ção que limitam o número dos imigrados e excluem algumas categorias de pessoas, sobretudo 
doentes, criminosos e ineptos para o trabalho. As grandes migrações que se seguiram à segunda 
guerra mundial reduziram as tendências para as regulamentações; no pós­guerra, a Organizaçã o 
Internacional de Refugiados (desde 1945) e o Alto­Comissário de Refugiados das Nações Unidas 
(Office of the United Nations, High Commissioner for Refugees,
1950), ocuparam­se do problema do repovoamento, ligado, em grau variável, aos novos movimentos 
internacionais de migração. Se percorrermos a história demográfica encon­

traremos numerosas medidas de política da migração: repovoamento ou evacuação contribuíram 
muitas vezes para a pacificação de países conquistados (exílio babilónico dos Hebreus, política 
de repovoamento dos Assírios, dos Incas, dos imperadores chineses; deportação dos Vândalos após 
a vitória de Belisário, em 533, etc.); as colónias estrangeiras contribuíram muitas vezes para 
dilatar o poderio económico ou militar das nações (Germanos no império romano; medidas de 
povoamento da época mercantilista: Huguenotes no Brandeburgo, Salisburgueses na Prússia 
Oriental, etc.). A política da emigração, cooperando na instalação de populações desenraizadas e 
contribuindo para o equilíbrio entre países sub e superpovoados, constitui também importante 
sector da política mundial.

Fisiologia das raças ­­   A tipologia e a sistemática raciais baseiam­se principalmente sobre 
características morfológicas e de cor, que fácil e exactamente se determinam à primeira vista e 
são relativamente estáveis quanto ao meio. Mas, além dessas, mesmo a etnografia antiga já 
observava também as diferenças rácicas fisiológicas e psicológicas, se bem que de modo muito 
vago e especulativo, ou então apenas relacionadas com as condições climatéricas (Kant: raças de 
climas frios, húmidos e secos; de climas quentes, húmidos e secos). Para a maioria das 
características fisiológicas, a principal dificuldade reside na prova da hereditariedade, que é 
condição prévia para a consideração das diferenças rácicas e para a eliminação dos numerosos 
factores que podem produzir modificações (ali­

167
Fisiologia das raças mentação e esforço físico, estado de saúde, tipo de profissão5período do 
dia e dG ano, clima, etc.).

Além disso o mais importante material de que a investigação dispõe é o que respeita às 
características serológicas. Não se trata, porém, própriamente de características fisiológicas, 
mas sim de características estruturais da proteína do sangue, que podem ser provadas com métodos 
fisiológicos. As características em questão são fortemente hereditárias (­­> Genética humana), 
de determinação rigorosa e por vezes fácil e apresentam frequentes diferenças regionais 
notáveis; representam, portanto, boas características raciais (­­­> Conceito de raça).

SISTEMA HEMOAGLUTINATIVO ABO. A mais elevada percentagem dos genes do grupo sanguíneo A 
encontra­se, por um lado, nos indígenas australianos C. por outro, entre algumas tribos nativas 
do Noroeste da América; deste último centro de genes, a percentagem desce rápidamente para 
leste, principalmente para sul: na América Central e­ Meridional observam­se percentagens 
mínimas (inferiores a 5 por cento). O Velho Mundo situa­se em posição intermédia entre os 
valores extremos. Na Europa o valor máximo encontra­se entre os Lapões do, Norte da Escandinávia 
e o mínimo na região dos Bascos (Norte de Espanha), no extremo Noroeste (Islândia, Irlanda, 
Escócia) e em algumas regiões mediterrâneas (Sicília, Sardenha, Grécia). O grupo sanguíneo B 
apresenta a sua maior frequência na Ásia Central e Oriental, incluindo a Indochina, parte da 
Indonésia e a parte oriental da ilha de Madagáscar, de população malaia. A partir do centro da 
Ásia as percentagens diminuem em todas as direcções: em toda a América, assim como na Austrália 
e na Polinésia, encontram­se valores tão diminutos que se supõe que originàriamente houvesse aí 
ausência total do grupo B. Na Europa a percentagem baixa de oriente para ocidente: os valores 
mais baixos encontram­se, no entanto, na costa ocidental da Península Ibérica, mas também de 
ambos os lados dos Pirenéus. (Bascos) e entre os Lapões da Escandinávia. De modo geral, os 
valores encontrados na África Negra são mais elevados do que os da África do Norte, colonizada 
pelos Europóides. Valores particularmente altos do

168
Fisiologia das raças

169
Fisiolo.gia das raças

gene do grupo sanguíneo O encontram­se entre os índios americanos em todo o Novo Continente e 
também entre as múmias índias das Américas do Norte e do Sul (Peru, Basketinakers e Pueblo do 
Arizona e do Novo México). Na Europa as frequências decrescem a Noroeste (Islândia, Irlanda, 
Escócia), na região dos Bascos, assim como nalgumas zonas mediterrâneas, principalmente na 
Sardenha); nas múmias egípcias o grupo O também prepondera nitidamente (mais de 75 por cento).

SISTEMA HEMOAGLUTINATIVO MN. As maiores frequências do gene M (90­95 por cento) registam­se na 
América Central e nas regiões confinantes da América do Sul e do Norte; quase todo o, resto da 
América, incluindo a Gronelândia, tem uma frequência mais alta do que qualquer outra parte do 
mundo. Os valores mínimos do gene M encontram­se na Austrália e na Melanésia (menos de 30 por 
cento). No Velho Mundo uma zona de valores relativamente elevados (65­70 por cento) inclui a 
Europa Oriental, a Ásia Ocidental e Meridional, compreendida a Arábia, a índia e a Indochina, 
com a Indonésia e o Nordeste da África.

SISTEMA HEMOAGLUTINATIVO Rli. O gene C apresenta a máxima frequência nalgumas zonas da Oceânia 
(Nova Guiné, Filipinas, mais de 90 por cento), com valores compreendidos entre 70 e 90 por cento 
na Austrália, Indonésia e no Sudeste e oriente da Ásia. É na África Negra que o gene C mais 
escasseia. Na Europa o gene C tem a sua máxima difusão nas regiões escandinavas habitadas pelos 
Lapões e uma zona de valores relativamente elevados encontra­se numa faixa de terra que de este 
se prolonga até às regiões mediterrâneas. O gene E reparte­se pelas Américas, com as maiores 
frequências (geralmente mais de
20 por cento e em parte superior a 50 por cento) do que no resto do mundo. A maior parte da 
África, da Arábia e da índia apresenta valores baixos (inferiores a 10 por cento). Na Europa a 
frequência aumenta, no conjunto, do sul para norte. O gene D apresenta na Europa valores máximos 
(superiores a 75 por cento) no Norte da Escandinávia e um novo máximo no Mediterrâneo Centro­
Orien­

170
Fisiologia das raças

tal (Grécia, Turquia, Itália Meridional e Sardenha) enquanto no Noroeste da Europa e na maior 
parte da Europa Setentrional são escassos (menos de 60 por cento); o valor mínimo encontra­se na 
região basca.

OUTROS GRUPOS SANGUíNEos. As diferenças regionais de frequência dos grupos sanguíneos são 
conhecidas por investigações de provas parciais, faltando porém quadros globais. Assim, o 
sistema luterano Lua falta por completo no Sul da índia, nos indígenas australianos, nos 
Bosquímanos c nos Negritos da Melanésia (Semangueses); a frequência do gene varia noutros casos 
frequentemente entre 2 e 5 por cento. O sistema Kelle K não foi até agora encontrado em 
Chineses, Malaios e Esquimós e nalgumas tribos indianas da América Setentrional; é também raro 
(com valores à volta de 1 por cento) nos Negróides, dos quais se destacam nitidamente os 
Bosquímanos com um valor relativamente alto, superior a 5 por cento. O sistema Lewis Le (a + ) é 
raro, chegando a ser de O por cento em índios americanos e no Sudeste da Ásia; na Europa, pelo 
contrário, os valores oscilam por vezes entre 18 e 25 por cento.
O sistema Duffy Fya também é raro (com valores que oscilam à volta de 10 por cento) nos 
Negróides e nos Bosquímanos; valores muito elevados (quase 90 por cento) são encontrados por 
vezes na Ásia Meridional e Oriental (índia, China e Japão), nos Lapões e em numerosas tribos de 
í ndios americanos. A Europa apresenta frequentemente valores que atingem cerca de 40 por cento. 
O sistema Kidd
7k1 é frequente nos Negróides (superior a 70 por cento) e raro nos Chineses (31 por cento); os 
grupos europeus ocupam posição intermédia. O sistema Diega Dill surge frequentemente entre os 
índios americanos e com menos preponderância nos Mongolóides asiáticos, ao passo que falta na 
Europa e na África.

Os quadros da distribuição geográfica dos diversos grupos sanguíneos não correspondem às 
fronteiras morfológico­tipológicas das raças, antes se cruzam muitas vezes. Todavia pode 
afirmar­se que existem populações e áreas que se identificam através de combinações especiais de 
características sanguíneas. Deste modo, os indígenas australianos apresentam valores muito 
baixos de B e M e

171
Fisiologia das raças

172
Fisiologia das raças

valores extremos de C; os Bascos valores extremamente baixos de D, assim como muitas vezes de B 
inferior e frequência de O superior àqueles que são verificados nas

regiões circunvizinhas; os Ameríndios revelam pouco B e valores extremos de M e de E. 
Distinguem­se de maneira considerável das populações da Ásia Oriental e Setentrional (altos 
valores de B e baixos valores de M), de onde devem ter emigrado para a América. A serologia 
racial põe assim à genética racial e à história das raças novos problemas, relativos quer ao 
parentesco das raças, quer à origem e à difusão das características serológicas. Também já se 
tentaram fazer classificações de raças exclusivamente baseadas em características sanguíneas. 
(Ottenstein, Wiener, Boyd) das quais resultaram classificações em grandes grupos, tal como a 
etnografia morfológico­tipológica, (Boyd: 1. Grupo antigo europeu hipotético; 2. Europeu;
3. Africano­ Negróide; 4. Asiático =Mongolóide; 5. Americano; 6. Austrálida) para a qual não 
conseguiu atingir qualquer sistema aceitável a tentativa de uma subclassificação em mais 
características serológicas.

Segundo estudos mais recentes, a distribuição dos grupos sanguíneos está sujeita a processos de 
selecção (conexão com doenças infecciosas, incompatibilidade mãe­filho) e as fortes oscilações 
inerentes não podem constituir auxílio para uma reduzida classificação das raças.

DOENÇAS DO SANGUE. Também há uma série de caracteres patológicos hereditários que apresenta 
grandes variações rácicas e regionais. A doença do sangue que mais pormenorizadamente se 
investigou com este fim é a anemia drepanocítica (Neel e outros), uma doença de sangue 
recessiva, a maior parte das vezes mortal; os heterozigotos apresentam também a deformação 
característica dos glóbulos ven­nelhos do sangue (que assumem a forma falciforme em meios pobres 
de oxigénio, mas não a forma grave de anemia. O gene da drepanocitemia foi encontrado na América 
quase exclusivamente em negros, numa percentagem média de 9 por cento, ao passo que nos Brancos 
não foi pràticamente encontrado; nos Negróides africanos a frequência oscila entre O por cento 
(Dinca, ShilIuk e outros) até mais de 40 por cento (Amba e outras tribos de língua

173
Fisiologia das raças

bantu do Uganda, etc.), enquanto o gene falta completamente entre as populações brancas da 
África, como igualmente entre os Bosquímanos e Pigmeus. Um outro centro génico foi encontrado na 
india Meridional, onde a percentagem dos heterozigotos nalgumas tribos (Paniyan, írula) 
ultrapassa 30 por cento. Não se trata, portanto, como se supôs a princípio, de uma 
característica exclusivamente negróide. Pequenos focos e casos isolados foram observados em 
países mediterrâneos (mormente na Grécia

e na Sicília).

A frequência, que de resto apresenta fortes oscilações, do gene da drepanocitemia nos Negróides 
africanos está

Fig. 52. Sistema Rh. Distribuição do gene D na Europa (segundo

A. E. Mourant, 1954)

relacionada com a difusão da malária (Allison): este gene constitui uma protecção contra a 
malária como já experimentalmente se pôde verificar. Nas regiões onde a malária tem carácter 
endémico a percentagem dos heterozigotos é geralmente elevada, ao passo que é reduzida nas 
regiões onde não existe a malária. Também a menor frequência do gene nos Negros americanos pode 
ser explicada pelo facto de a sua transplantação para regiões isentas de malá­

174
Fisiologia das raças

ria endémica ter suprimido a vantagem selectiva dos portadores dos genes heterozigóticos,.de 
modo que a sua percentagem baixou a favor dos indivíduos não afactados pelo gene da 
drepanocitemia (homozigotos dominantes).

A talassemia (anemia ou morbo de Cooley) aparece principalmente nos países mediterrâneos e foi 
propagada nos Estados Unidos pelos imigrantes italianos. Os heterozigotos apresentam uma forma 
mais acentuada em relação aos homozigotos. Na Itália a percentagem varia de O a 10,3; as maiores 
frequências de heterozigotos encontram~se na zona compreendida entre Rovigo, Ferrara e Ravena, e 
também a Sicília, Sardenha, Calábria (Reggio Calabria) e Puglia (Lecce) apresentam percentagens 
superiores à média (Silvestroni­Bianco e Montalenti). Ao passo que, nas linhas gerais, é de 
supor certa relação com a raça mediterrânea, as oscilações locais da frequência nada têm a ver 
com as diferenças raciais morfológico­tipológicas.

SENSIBILIDADE GUSTATIVA À PTC. Além das características serológicas, a maior parte das 
investigações comparadas sobre as populações ocupa­se da sensibilidade gustativa, 
particularmente da sensibilidade ao gosto à feniltiocarbamida (PTC). No entanto esta 
característica não é tão fácil de determinar como os grupos sanguíneos e não pode ser fixada 
objectivamente, mas apenas através do depoimento ou comportamento do indivíduo sujeito ao exame; 
além disso a sensibilidade gustativa pode ser alterada por substâncias excitantes ou alimentos 
ingeridos anteriormente

Europa

Outros continentes

Galeses

58,7

Esquimós

59,2

Alemães

62,3

Arabes (Síria)

63,5

Dinamarqueses

62,8

Arménios

68,8
Russos (Grande Rússia)

63,2

Egípcios

75,9

Descendentes de europeus

69,1

Negros (E. U. A.)

90,8

(E U. A.)

Suíços

70,4

Japoneses

92,9

Irlandeses

71,8

Chineses

94,O

Ingleses

73,7

Xiluques (Sudão)

95,8

Georgianos (Tiflis)

74,4

Indios (N. Alberta)

96,9

Bascos
1                           1

74,5

Navaj os

98,2

Frequência da sensibilidade gustativa à feniltiocarbamida (Percentagem dos indivíduos sensíveis 
à prova)

175
Fisiologia das raças

e também pelo estado de saúde e regime de alimentação e até pela disposição psicológica e grau 
de excitação (Kalmus e outros).

Nos testes com soluções aquosas a certos graus de diluição a sensibilidade à PTC não apresenta 
demarcação nítida entre indivíduos degustadores e não­degustadores; subsistem igualmente 
diferenças entre os sexos: na generalidade as mulheres são mais sensíveis ao amargo do que os 
homens, circunstância que poderá ser atribuída ao menor consumo do tabaco, álcool e outros 
excitantes. Todavia, sómente em cerca de 5 por cento dos casos é incerta a determinação.

A mais alta percentagem dos indivíduos sensíveis à PTC encontra­se nalgumas tribos de indios 
americanos; também nos Chineses, japoneses e Negros as percentagens são mais elevadas do que as 
encontradas entre os Europóides, as quais variam entre 58 e 75. As percentagens mais baixas de 
indivíduos sensíveis estão localizadas na india e também nos indígenas australianos, além de 
nalgumas populações melanésias. Acerca da origem das diferenças de grupos nada se sabe ainda ao 
certo.

OUTRAS CARACTERISTICAS RACIAIS FISIOLõGICAS. Foi demonstrada a hereditariedade de muitas outras 
características fisiológicas através de investigações referentes à família, e aos gémeos; 
todavia não foi possível fazer uma análise dos genes. Como, além disso, a maior parte destas 
características se ressentem mais da influência do meio ambiente do que as características 
serológicas ou a sensibilidade gustativa, difícil se toma discernir, na variabilidade étnico­
geográfica, os componentes raciais das modificações individuais (­> Constituição). Existe, no 
entanto, um pequeno número de dados pouco seguros. O chamado odor racid depende não só da 
quantidade das glândulas sudoríparas e sebáceas, mas também da qualidade da secreção, isto é, da 
sua composição química. Os Japoneses, que na cavidade axilar têm menor número de glândulas 
sudoríparas e de menor grandeza, definem o odor dos Europeus como «acre e rançoso, ora 
adocicado, ora amargo» (Adachi); os Negros, em. iguais circunstâncias, segregam um suor mais 
abundante e mais rico de gordura do que os Brancos; neste

176
Fisiologia das raças

fenómeno deve ver­se um aspecto da regulação térmica adaptada ao clima tropical.

Diferenças raciais do metabolismo basal são verificadas nos Maias, que, contràriamente à maior 
parte dos povos «em estado de natureza», apresentam valores surpreendentemente altos, aliados a 
uma frequência cardíaca excepcionalmente baixa (Benedict e outros). Nos Árabes e Americanos 
observam­se os mesmos valores médios do que nas classes de meia idade, mas nos Árabes nota­se 
mais forte variabilidade com o crescimento (Genna). Também em

muitos outros processos de metabolismo se podem considerar factores hereditários com variações 
regionais. Assim, por exemplo, subsistem diferenças de grupo na secreção no ácido fl­amino­
isobutírico (BAIB) na urina ou em coincidência com os baixos valores das excreções; entre os 
Europóides a percentagem de alta excreção é de cerca de
10 por cento e nos índios americanos vai além dos 40 por cento. Também em idênticas 
circun'stâncias os Esquimós segregam pelos rins menos glóbulos de acetona, após alguns dias de 
fome, do que os Brancos, e encontram­se portanto em melhores condições de, em caso de 
necessidade, consumir as reservas de gordura do próprio corpo.

Recentemente começou a utilizar­se a bioquímica nas investigações sobre diferenças raciais. 
Entre outras coisas, o teor de potássio no plasma é mais baixo nos Brancos do que nos Negros, 
quer em Paris, quer em Dacar. (Leschi). Resultados importantes devem­se esperar futuramente da 
química das hormonas. Até agora só se conhecem diferenças raciais no peso absoluto e relativo 
das glândulas endócrinas; por exemplo a tiróide é relativamente (quer dizer, em relação ao peso 
do corpo) menor nos Malaios e outros Mongolóides do que nos Europóides. Como, por um lado, as 
diferenças raciais ligadas à ­> constituição, mas verosimilmente também muitas outras 
características morfológicas, são baseadas sobre diferenças hormonais (v. Eickstedt, Keith) e o 
sistema hormonal, e, por outro lado, está relacionado com o meio ambiente fisiológico (clima, 
solo, alimentação) poder­se­ia obter, desta maneira, uma visão dos processos de selecção que 
presidem à formação das raças mais aprofundada do que é possível

177
Génese das raças

se se tomarem sómente em consideração as características morfológicas.

Génese das raças ­­ Entende­se por génese da raça o processo histórico pelo qual uma população 
mendeliana ainda prevalentemente uniforme no seu património, hereditário (genótipo) sofre 
diferenciações internas até se cindir em duas ou mais comunidades genotipicamente distinguíveis. 
Os processos genéticos deterininantes e os factores que os originam são tratados mais 
pormenorizadamente no artigo ­­­ > genética das populações. Agora limitar­nos­emos a observar 
que a tendência predominante dos seres vivos na sua reprodução é a conservação da continuidade 
do património hereditário. Em oposição a esta tendência existe também possibilidade de variações 
(mutações espontâneas), que, juntamente com renovadas combinações que actuam através da 
procriação e mediante a mecânica da distribuição da miose, tornam continuamente possível no seio 
de uma população certa percentagem de novidade. Em períodos de tempo suficientemente longos, 
selecções e isolamento dão lugar à evo.'Ução. Do ponto de vista da genética evolucionista são 
importantes para este efeito as pequenas mutações (genéticas e cromossomáticas), porquanto 
apenas elas, mediante uma série de pequenos passos adaptativos do organismo, podem juntar à sua 
tendência de continuidade uma regularidade tolerável de novas combinações que se fixarão 
hereditàriamente. Estas, uma vez obtida certa difusão dentro de uma população, podem favorecer 
uma lenta evolução, através de vários outros factores, por uma conexão com variações do meio 
ambiente. De notar que a polimeria (ou seja, em genética, o controle de um carácter da parte de 
mais genes) e a pleiotropia, ou polifénia (o controle de mais caracteres da parte de um gene), 
como simples acoplação de mais genes, providenciam para que não seja seleccionada apenas uma 
característica favorável, mas que com ele não se acumule uma série de outras, que podem tornar­
se importantes para a distinção fenotípica sem contudo possuírem valor especial selectivo. 
Descreveremos em seguida sucintamente os factores mais importantes para a gênese das raças, 
factores que intervêm igualmente na for­

178
Génese das raças

mação, pela evolução, da entidade do valor sistemático mais elevado.

A SELECÇÃO. Cada indivíduo, ou, mais exactamente, do ponto de vista genético, cada população 
vive em determinado ambiente, e nele deve adaptar­se às condições de vida que nele dominam. 
Entre essas condições devem menciGnar­se os factores externos mais influentes: o clima 
(temperatura, humidade), os recursos naturais (que antes do estado sedentário consistiam 
sobretudo na caça e na recolha de frutos silvestres), exigência de espaço e necessídade de 
alimentação de populações da mesma espécie, ou concorrência animal ao sustento na mesma região, 
e finalmente perigos vários (por exemplo, doenças, animais fero~ zes, etc.). A sobrevivência no 
próprio ambiente ou num outro novo (migração) sómente é possível a indivíduos ou a grupos que 
possam fazer frente a todos os perigos e a inimigos potenciais e que estão em condições de gerar 
e criar uma prole suficiente («survíval of the fittest», sobrevivência do mais apto). Os 
indivíduos pouco aptos, como doentes ou fracos, são completamente eliminados de maneira 
relativamente rápida, e de qualquer maneira a sua participação no grupo vai progressivamente 
diminuindo pela sua reduzida proliferidade, processo esse designado por eliminação. No homem, 
com a crescente organização e nível de cultura, foi assegurada a possibilidade de vida a um 
número cada vez maior de indivíduos parcialmente incapazes, o que se reflecte também no aumento 
das populações, independentemente da disponibilidade de recursos. Sob as duras condições 
naturais, pelo contrário, no seio de uma população mendeliana permanecem como progenitores 
potenciais sómente os portadores de caracteres que na dura luta pela existência estão à altura 
de todas as situações. Os limitados recursos naturais fazem com que as populações se conservem 
relativamente reduzidas, e todos os testemunhos existentes provam que, embora com um índice 
elevado de natalidade, sómente um número muito limitado de crianças pôde atingir a idade da 
procriação. Enquanto nos animais há ainda a considerar a selecção adicional pela luta pelo macho 
ou pela fêmea, nos seres humanos este fenómeno sucede em medida muito restrita. Também para os 
homens

179
Génese das raças

tem certa importância o facto de alguns disporem de várias companheiras para efeitos de 
reprodução, mas o nosso conhecimento das condições dos povos primitivos permite­nos concluir que 
a monogamia tem tido sempre um papel decisivo. Por outro lado tem de considerar­se que apenas 
estavam em condições de criar prole suficiente, ou de qualquer maneira superior à média, os 
casais que pudessem satisfazer os encargos de alimentação (­­> Antropologia cultural).

A limitada extensão das populações mendelianas teve como consequência que, existindo um pequeno 
número de possibilidades de acasalamento, eventuais novas mutações puderam difundir­se no seio 
das populações num número relativamente exíguo de gerações. Assim, se a pressão selectiva 
exercida pelo ambiente é forte está garantida a rapidez de variações relativamente elevada.

A pressão selectiva está condicionada às variações do meio ambiente, que não se mantém estático 
por longos períodos, mas sim em contínua e lenta transformação. Particularmente, na história da 
evolução do homem (­­­> Paleontropologia) a sucessão de períodos quentes e frios (eras glaciais) 
exerceu acção decisiva. Sob a sua influência as zonas climatéricas, e, com elas, a fauna e a 
flora que lhes estavam adaptadas, foram impelidas várias vezes para grandes distâncias através 
dos continentes e ocuparam regiões mais ou menos extensas. Dado o ritmo extremamente lento 
daquelas transformações, o homem teve sempre a possibilidade de se adaptar, perseguindo 
continuamente as suas reservas de caça, ao clima e às condições de vida por ele mais aceitáveis, 
enquanto lhe consentiam a redução das dimensões das zonas climatéricas a ele favoráveis

e a disponibilidade de espaço em relação à densidade da população. O desaparecimento do homem de 
Neandertal da Europa, depois do primeiro período da última era glaciar (Würmíano 1 e I/II) é 
quase certamente devido ao facto de ele ter sido expulso pelo Homo sapíens para regiões mais 
desfavoráveis. Com o aumento das populações também para o Homo sapiens se pôs a necessidade de 
conquistar continuamente novos espaços vitais, os quais criavam novos problemas para a 
capacidade física das reacções do seu corpo: o Homo sapiens deve ter assim defrontado radiações 
solares e ultravioletas mais ou menos intensas, humidade

180
Génese das raças

atmosférica mais ou menos elevada, temperaturas médias mais ou menos altas, diversos graus da 
temperatura diurna, capacidade de resistir às doenças endémicas (doença do sono, malária, febre­
amarela, etc.), a sua adaptação às mudanças de alimentação, etc. A adaptação ao clima é 
possível, para citar apenas alguns exemplos, com maior

ou menor quantidade de pigmentação da pele, com a regulação da sensibilidade atmosférica ou às 
oscilações térmicas (curitermia ou estenoterrília da pele) com a forma particular da plica 
palpebral do olho (protecção contra o ofuscamento da luz). Até onde podemos ajuizar pela 
distribuição do espólio cultural nos locais de fixação, assim, como, até certo ponto, dos 
achados de esqueletos humanos de que se dispõe ( ­­­ > História das raças) o homem primitivo 
preferiu os espaços abertos, e só relativamente tarde se deslocou para regiões cobertas de 
florestas (como, por exemplo, as tropicais) e para as zonas de média ou alta montanha). O 
temporâneo isolamento de determinadas zonas continentais na era glacial e a sua subdivisão em 
regiões teve, sem dúvida, já no fim do tempo da vida primitiva, levado a condições selectivas 
considerávelmente diversas para as populações mendelianas então existentes. Por outro lado, pode 
supor­se que, a partir das primeiras formas humanas, o homem procurara sempre, sobretudo no 
princípio, áreas e condições de vida o mais possível semelhantes àquelas a que se tinha 
habituado. A escassez de restos de esqueletos humanos e a sua distribuição, em relação a grandes 
intervalos de tempo da maior parte da era glacial, sómente nos permitem tirar conclusões 
aproximadas. Não nos encontramos em condições de reconhecer uma conexão geográfica bastante 
nítida entre os grupos de achados existentes, mas não podemos extrair conclusões particulares 
quanto à diferença entre os vários ambientes, e consequentemente sobre o tipo de selecção, nem 
tão­pouco negligenciar o facto de o esqueleto traduzir de modo essencialmente lento e rudimentar 
os efeitos de selecções provenientes do exterior. Por consequência, só podemos presumir 
teóricamente que nos homens de então o ambiente tivesse exercido efeitos de selecção análogos 
aos verificados no homem de hoje. Deste modo se evidencia a necessidade de distinguir, no estudo 
dos resultados da selecção, entre

181
Génese das raças

efeitos duradouros, que se processam de maneira contínua, ainda que manifestando­se muito 
lentamente, e que põem à prova, de maneira muito complexa, a adaptação total do organismo, e 
efeitos parciais de menos amplitude que se manifestam rápidamente e que correspondem. a 
particulares exigências derivadas de especiais condições do meio ambiente. Estas resultam em 
primeiro lugar do clima e parecem assim nitidamente «orientadas»: porém, neste caso a orientação 
não é o resultado de mutações directas num certo sentido,. mas a consequência da selecção que 
determinados mutantes que melhor se adaptam às condições ambientais entre todos aqueles que, 
privados de qualquer orientação, se manifestam no seio de urna população. Alguns exemplos destes 
efeitos parciais podem ser citados em relaçâo ao homem, como a distribuição da pigmentação da 
pele, a sua permeabilidade ou impermeabilidade às radiações e a sensibilidade à temperatura, ou 
também como consequência da distribuição irregular de alimentação em zonas pobres, a formação de 
panículos adíposos (desenvolvímento hípertrófico das nativas = esteatopigia dos Coisanídeos): 
entre os animais este fenómeno corresponde à cauda grossa das ovelhas e à giba adiposa de 
algumas outras espécies.

Na generalidade, porém, deve admitir­se que cada adaptação especial é tanto mais complexa e 
individualizada quanto mais representa uma limitação do espaço vital potencial, e que grupos 
menos especializados, que são ubiquitários, ou seja, que podem viver em qualquer ambiente, têm, 
por muito tempo, as melhores probabilidades de sobreviver. A este respeito o homem apresenta só 
graus reduzidos de adaptações especiais. A razão do seu êxito é, abstraindo das suas 
particulares faculdades psíquicas, a sua falta de especializações físico­ orgânicas. Apreciando 
a extensão dos efeitos especiais de selecções,  deve no entanto contar­se com a duração de uma 
geração,    ou seja a duração da mocidade até à maturidade sexual,    e consequentemente à 
procriação. No homem a duração     duma geração anda à volta de 20­25 anos; no espaço de 
tempo que podemos considerar há portanto apenas um     número relativamente reduzido de mutações 
(uma vez por cada geração) para efeito da selecção. Todavia podemos também captar claras dife­

182
Génese das raças

renças de grupos, p@Lra o homem, como o crescente número de achados, tanto maior quanto mais nos 
aproximamos do tempo actual. Estas diferenças na sua formação sâo condicionadas essencialmente 
por um factor que actua na génese das raças, ou seja o o impedimento de um contínuo fluxo de 
genes entre as diversas populações mendelianas; por outras palavras, o isolamento em «áreas de 
procriação» relativamente fechadas.

O ISOLAMENTO. Na explicação do ­­­> conceito de raça foi dito que urna raça designa grupos ou 
populações de indivíduos de uma espécie que se reproduzem entre si e se distinguem das 
correspondentes populações mendelianas da mesma espécie pela posse de determinados genes. O 
património hereditário de determinada população é enriquecido continuamente através de novas 
mutações individuais de caracteres hereditários: destas mutações, a acção da selecção faz com 
que só algumas possam fixar­se duradouramente. Ora, para que no seio de uma população se possa 
alcançar a acumulação de um certo tipo de genes capaz de a caracterizar torna­se necessário que, 
para certo período de tempo, a actividade procriadora se exerça únicamente no âmbito, de um 
número limitado de indivíduos (= populações mendelianas ou área de procriação) e que deste modo 
seja interdita a troca de genes com populações vizinhas. A “te processo dá­se o nome de 
isolamento e os resultados observam­se mais ou menos claramente consoante o seu grau e duração, 
ou seja, da interrupção realmente alcançada na troca de genes com as populações fixadas além da 
área de procriação. O isolamento é condição essencial para a gênese de novas raças, Torna­se 
portanto impossível que duma população inicial surjam novas raças no mesmo espaço vital, isto é, 
«simpàtrica­ mente». A formação de novas raças só se pode verificar em espaços vitais diferentes 
e bem delimitados (insulados), ou seja é «alopàtricamente». As populações iniciais, antes de se 
cindirem em duas ou mais populações, eram portadoras de um património hereditário em grande 
parte idêntico. As novas populações derivam assim do mesmo «pool génico». O processo pelo qual 
da mesma população se onginaram diversas populações chama­se «diferenciaçao».

183
Gênese das raças

Se esta diferenciação prossegue no mesmo sentido por períodos de tempo bastante longos e por um 
número de gerações adequado, constitui­se uma linha evolutiva.

O isolamento das populações é condicionado em primeiro lugar por obstáculos geográficos: mares, 
estepes áridas ou desérticas, bosques e zonas de florestas tropicais impraticáveis e por fim 
regiões litorais (penínsulas ou extremos de continentes.) Os efeitos do isolamento são 
particularmente evidentes em ilhas que só durante algum tempo estiveram abertas à colonização. 
Durante as eras glaciais este fenómeno sucedeu muitas vezes em virtude do abaixamento ou 
elevação da superfície dos mares, com oscilações da ordem dos cem metros. Desta maneira ficaram 
secos mares pouco, profundos nas proximidades dos continentes (o aparecimento, por exemplo, de 
pontes de terra firme entre a Indochina e a Austrália através da Indonésia), pelo que a primeira 
colonização da América pelo homem, com a maior probabilidade, efectuou­se por uma ponte de gelo 
através do estreito de Bering. As grandes zonas continentais subdividiram­se ulteriormente em 
extensas planícies fecundadas por rios e em regiões montanhosas, e consequentement4i@ em 
diversas zonas climatéricas. Estas múltiplas possibilidades de isolamento tomaram possível a 
diferenciação do Homo sapiens fóssil nos modernos ramos raciais e nas suas subdivisões. Ao lado 
desta forma de isolamento «continental» há também um isolamento «ecológico», devido ao facto de, 
num mesmo espaço geogràficamente delimitado, ter, com as diversas alterações do nível do mar, 
vários «habitat» correspondentes a zonas climáticas diferentes, com diversas associações de 
animais e plantas, ou seja planícies abertas, zonas de média montanha com espessa vegetação e 
regiões de alta montanha e em grande parte escalvadas. Correspondentemente aos vá rios «habitat» 
foram oferecidas ao homem diversas possibilidades de vida e, do início do sedentarismo, da 
economia, que acentuaram a separaçã o das populações existentes nas zonas ecológicas: as regiões 
menos favoráveis serviram nos primeiros tempos como zonas de refúgio com sistemas económicos 
mais primitivos (­­> HistórÍa das raças).

184
Génese das raças

Além da barreira que determina o isolamento para todos os seres vivos, para o homem há ainda a 
que resulta das formas da vida social (uniões de pequenos grupos, prescrições ou deveres de 
matrimónio, tabos) além de fronteiras de tribo ou de idioma. Estas, porém, só são eficazes até 
certo ponto, mas não há dúvida de que contribuem para retardar a troca de genes enrre as 
diversas populações mendelianas e a unidade étnica que daí resulta

Antropologia social). As possibilidades de isolamento atrás indicadas fazem que, depois de certo 
número de gerações dentro de uma área de reprodução isolada, determinados genes e 
características deles resultantes se tomem, em virtude de um processo de selecção, sempre mais 
frequentes. Daí resultam, no confronto das populações vizinhas, características diferenciais que 
constituem a «combinação de caracteristicas típica­s» para cada uma delas. No entanto deve ter­
se presente que, dentro de uma área de procriação isolada, nem todos os indivíduos participam de 
igual modo da combinação de características típicas de uma raça: só num teórico caso ideal 
seriam idênticos. Além disso está­se sempre bem longe de outro caso ideal no qual cada indivíduo 
tem ilimitada possibilidade de relações de procriação com todos os outros indivíduos do sexo 
oposto, ­porque os portadores de características que se encontram na zona periférica do isólata, 
por causa da maior distância a que se encontram do centro, já terão, em percentagem, menos 
possibilidades de acasalamento com os da zona central. Em condições naturais, portanto, não 
podem originar nenhuma «raça pura» para a total combinação de características típicas da raça. 
Mas mesmo quando diversos portadores das características hereditárias de uma área de procriação 
apresentam diferente percentagem de combinação de características, no seu complexo eles revelam­
se sempre típicos representantes de uma raça. O grau de pureza que uma raça humana apresenta em 
condições naturais não pode em qualquer caso ser comparado com aquele que se alcança em virtude 
de uma selecção consciente e cuidadosa nos animais e nas plantas. Quanto mais longo é o 
isolamento na história filogenética de uma população tanto mais profundas são as divergências 
que se encontram relativamente

185
Génese das raças

à população originária. Este processo culmina com a esterilidade da espécie interespecífica, não 
pela ausência de relações de procriação devida a isolamento geográfico, mas condicionada por 
motivos biológicos. Espécies estreitamente aparentadas, surgidas em seguida a longo isolamento 
de grupos com origem interfecunda da mesma espécie, podem então reunir­se no mesmo espaço 
geográfico sem barreiras físicas, continuando isoladas do ponto de vista da procriação.

Pelo que respeita ao homem, provàvelmente nunca existiram barreiras biológicas na fecundidade 
entre as diversas formas humanas, isto é, em cada período da história da evolução humana (­> 
Paleoniropologia) viveram na terra populações pertencentes à mesma espécie. Para a espécie agora 
viva do Homo sapiens existem diferenças raciais de grau mais ou menos elevado que se formaram 
provàvelmente só no fim da última era glaciar. Com base na concentração de determinados 
caracteres típicos podemos reconstruir para os grandes ramos raciais a presuinível região 
originária, da qual, nas diversas fases do processo de isolamento, ondas de população foram 
sempre avançando para áreas circundantes, e que mais tarde foram impelidas para mais longe, para 
fora das populações sucessivamente de região para região, o que é demonstrado de maneira 
particularmente evidente no caso dos Mongolóides (­> História das raças). X acção combinada dos 
factores, que presidiram à génese de novas raças só se pode compreender exactamente se se tiver 
sempre presente que não se trata de esquemas rígidos, mas de processos evolutivos que se 
combinam dinâmicamente no tempo e no espaço. As diversas populações mendelianas não 
experimentaram em igual medida os efeitos do isolamento numa determinada área geográfica, a 
dureza da selecção não foi igualmente forte em toda a parte, a possibilidade de contacto entre 
as várias populações foi diferente. As diversas taxas de natalidade, que provo.­am 
simultâncamente pressão demográfica e emigrações dos povos, apresentam um quadro das populações 
muito complexo com misturas e estratificações, que já não correspondem ao estado oríginário da 
distribuição racial ao tempo da origem das raças. Embora possuamos base científica para uma 
classificação das raças, defrontamos

186
Génese das raças

hoje, quase exclusivamente, uma mestiçagem racial mais ou menos acentuada. É preciso, a este 
respeito, acentuar ainda o facto de que as «raç as são um processo dinâmico» e que já há alguns 
milhares de anos não podemos encontrar uma raça pura, mas apenas populações que se encontram em 
diversas fases de evolução e mestiçagem. A nossa experiência sobre a hereditariedade dos 
caracteres e a sua distribuição geográfica entre as populações mundiais demonstram­nos que o 
processo da génese das raças se efectivou com continuidade e está ainda em curso, até mesmo em 
condições mais difíceis do que no passado.

GARACTERNTICAS RACIAM Na pluralidade das características específicas da espécie Homo sapiens 
nenhumas se encontram que, com diversa frequência e distribuição, sejam particularmente típicas, 
na sua combinação, de um subgrupo da espécie: a raça. Neste ponto é preciso ter em mente o facto 
de que dentro de uma espécie são possíveis, e assim essencialmente previsíveis e capazes de 
surgirem mais vezes, mutações similares, sem qualquer correspondência com a raça. Semelhante 
fenómeno pode observar­se perfeitamente no aparecimento, em todas as raças do Homo sapíens, de 
mutantes com coloração clara dos cabelos e dos pêlos do corpo. A presença de uma combinação de 
características típicas claramente delimitada entre as populações que se encontram em 
determinada área geográfica pode­se explicar algumas vezes através de específicos factores 
selectivos (por exemplo, pela adaptação ao clima). Entre as outras características, entre as 
quais as diversas proporçõ es do tronco e dos braços, a face larga ou estreita, alta ou baixa, e 
perfil do nariz rectilínco, côncavo ou convexo, lábios grossos ou delgados, queixo pronunciado, 
neutro ou fugídio, a maior parte não apresenta vantagens selectivas evidentes. Exemplos 
particularmente significativos são apresentados por certos pormenores extremos, quaís sejam a 
posição axilar dos seios da mulher (seio em proximidade e à altura das axilas) ou o pénís 
horizontal nos esteatopígicos (Coisanídeos). Devemos portanto libertar­nos da convicção errónea 
de que a formação ou a frequência de determinadas características morfológícas tem de ser 
esclarecida na base de um pressuposto selectivo específico. Na ver­

187
Génese das raças

dade, a pressão selectiva submete à prova a adaptação complexiva de um organismo pela qual 
características individuais podem tomar­se definitivas sómente em determinadas circunstâncias. A 
selecção pode favorecer e enriquecer em quantidade também muito superior à da média, numa área 
de isolamento, características não essenciais. É necessário, porém, considerar que determinadas 
características morfológicas podem ser preferidas na escolha do cônjuge com fundamento em 
apreciações estéticas, as quais são algumas vezes completamente irracionais. Por outro lado, 
tais costumes, não ligados a motivos estéticos, podem tornar­se tradicionais, como o demonstra a 
etnologia, através de inúmeros exemplos, para diversas unidades étnicas. Supõe­se, por isso, que 
a prática, em uso entre várias populações negras, de introduzir grossos discos ou uma haste de 
madeira nos lábios se deve atribuir ao desejo do homem de proteger mulheres e crianças, com esta 
«deformação», dos raptos (roubo de mulheres pelas tribos vizinhas, tráfico de escravos). Com o 
desaparecimento dos governos coloniais o uso dos discos e das bastes labiais (os chamados 
ornamentos labiais) perpetuou­se entre estes povos por motivos puramente tradicionais, embora já 
não subsista a causa que provàvelmente o tinha originado. Através do odor corporal pode 
calcular­se a que especiais singularidades pode estender­se o conceito do «belo» e «agradável». 
É um facto que não sómente um europeu tolera com muita dificuldade o cheiro que emana do corpo 
de certos grupos de indígenas, mas também que estes, por seu lado, consideram insuportável o 
cheiro dos Europeus, demonstram­no abertamente e esforçam­se por todos os modos por evitá­los. 
Estes exemplos particulares têm apenas o intuito de sublinhar, pelo que respeita ao problema dos 
caracteres raciais, que dentro de uma comunidade humana de procriação não importam sórnente as 
condições naturais de selecção, mas que na caracterização do património génico, representa 
também papel importante a concepção do belo e do agradável dentro da comunidade; é mesmo esta 
concepção que, através da escolha do cônjuge, pode contribuir para o incremento de determinados 
caricteres dentro de uma população. Deve também ainda observar­se que caracteres inteiramente 
diversos podem ser genèticamente ligados (pleio­

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Génese das raças tropia: o fenómeno pele> qual um gene controla mais de uma característica, e 
além disso o acoplamento de genes segundo a distribuição dos locos nos cromossomas), isto é, o 
facto de um carácter se impor por selecção natural pode, por outro lado, áutomàticamente, trazer 
consigo o enriquecimento de muitos outros.

Existem vastas regiões nas quais prevalece determinada cor da pele, dos cabelos, dos olhos 
(compleição, pigmentação) sem que tal facto corresponda a uma relação constante com outras 
características raciais típicas. Isso resulta já da circunstância, a que já atrás fizemos 
referência, que a vantagem selectiva de uma deterininada pigmentação (clara ou escura, com os 
correspondentes graus intermédios) varia segundo as zonas climatéricas. É por isso 
fundarnentalmente errado considerar que um indivíduo de compleição mais ou menos escura seja 
simplesmente classificado, do ponto de vista genético, no ramo racial negróide. Entre os 
Europóídes, por exemplo, encontramos representadas todas as variantes de pigmentação desde a 
pele branco­rosada, cabelos louros e olhos azuis ou cinzentos à pele escura, cabelos e olhos 
negros. É tal a distribuição que geogràficamente há uma passagem flutuante sem solução de 
continuidade de uma compleição à outra: os valores de máxima pigmentação coincidem com os 
limites meridionais dos Europóides na África e também no Sul da india. Temos um exemplo­padrão 
da selecção orientada: no Norte, Noroeste, Centro e nalgumas partes da Europa Oriental, de 
facto, a limitada radiação ultravioleta favoreceu uma mais elevada transparência da pele às 
radiações, e assim os mutantes da compleição clara (despigmentação ­­­> História das raças), ao 
passo que entre as raças mais meridionais dos Europóídes a vantagem selectiva favoreceu a 
compleição escura que as protegem dos danos da mais elevada radiação ultravioleta. Entre os 
Mongolóides a pele é naturalmente menos sensível às radiações: porque no seio do ramo racial as 
diferenças de cor da pele são menos acentuadas, se bem que também se possa observar que nas 
mais baixas latitudes se encontram valores de pigmentação relativamente mais elevados. Só entre 
os Negróides, na sua qualidade de raça tropical típica, se observa um predomínio absoluto da 
compleição escura: todavia

189
Génese das raças

também entre eles se verifica uma série de graus de colorações diferenciadas. já no simples 
exemplo da cor da pele e do seu comportamento em relação às variações de intensidade das 
radiações é manifesta a existência de um mecanismo assaz complexo: a capacidade das reacções da 
pele à intensidade das radiações não assenta, de facto, exclusivamente na pigmentação, mas 
socorre­se de uma grande série de outras possibilidades de controle.

A partir destes poucos exemplos depreende­se fàcilmente por que motivo na apreciação do valor 
testemunhal de características rácicas e no seu emprego para a determinação da raça nunca se 
pode recorrer, como base de trabalho, apenas a uma ou a algumas poucas, mas sim a uma vasta 
combinação de características distintivas. A larga difusão da componente escura na cor da pele 
entre os 200 de latitude norte e os 200 de latitude sul (África, Ásia Meridional, Oceânia) que 
só na Austrália, Tasinânia e Nova Zelândia alastra ainda mais para sul confirma, no 
enriquecimento de algumas características, uma convergência que exclui a origem de um único e 
unitário centro génico. Esta asserção é confirmada pela observação directa do processo de 
transmissão hereditária de determinadas características. Assim sabemos, por exemplo, que a forma 
particular da pálpebra, que se encontra nos Mongolóides (plica mongólica) é transmitida 
hereditàriamente de forma dominante no caso de cruzamento, enquanto um traço dos esteatopígicos 
exteriormente muito semelhante só é transmitido recessivamente, e portanto dirigido 
genèticamente de forma diferente através de um especial gene mutante

História das raças). A concentração de características numa combinação de características 
típicas de uma raça representa apenas, em primeiro lugar, o resultado de observações e da 
escolha de obras dos especialistas. Isto não significa que todas as características que compõem 
tal combinação estejam genèticamente ligadas e que no decurso de um processo hereditário devam 
transmitir~se como uma unidade. Pelo contrário, a combinação de características escolhida pelo 
especialista compõe­se de características ou de conjuntos de características amplamente 
independentes que apenas durante o isolamento de uma população em consequência

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Génese das raças

de relações contínuas de procriação, se acumularam em maior quantidade relativamente às outras. 
Por muito que isto possa surpreender os leigos, está em completo acordo com todas as 
experiências da genética experimental. Isto manifesta­se de modo especialmente persuasivo se 
compararmos a distribuição dos grupos sanguíneos entre toda a população da Terra com a 
distribuição das raças baseada nas suas características físicas exteriores. A distribuição dos 
grupos sanguíneos não era certamente uniforme já nas populações que originaram os ramos raciais 
hodiemos, nem sequer que a distribuição de então correspondesse, nas suas grandes linhas, à 
actual; no decurso, da evolução houve uma distribuição selectiva, independentemente para cada 
população mendeliana nas regiões de isolamento das diversas raças,­ um andamento paralelo no 
enriquecimento da combinação das características exteriores não corresponde a tal distribuição. 
Se por esse motivo encontramos hoje em raças que vivem em regiões geográficas muito afastadas 
uma alta percentagem dos mesmos grupos sanguíneos, isso não significa que se possa admitir uma 
afinidade de origem das duas comunidades de procriação. Conexões históricas entre as várias 
raças sómente podem ser válidas numa base de vastas combinações típicas de caracteres.

A combinação de caracteres típicos de uma raça compõe­se portanto de uma série completa de 
características diversas, como seja morfológicas, de pigmentação, etc.; o significado das 
características individuais pode ser usado para determinar conexões só quando as passagens 
graduais são o resultado de uma selecção orientada (como, por exemplo, distribuição da cor da 
pele e dos cabelos nos Europóides) ou quando uma característica ou conjunto de características 
enfraquecem ou se transformam continuamente do centro para a periferia. Também características 
ou traços morfoIógicos particularmente relevantes são típicos de uma raça únicamente no quadro 
de uma combinação de características. Se uma característica análoga surge a grande distância do 
seu centro principal de distribuição, sómente um exame do maquinismo de distribuição pode 
conduzir a uma conclusão definitiva (cfr. as diversas modalidades de transmissão da forma 
particular da pálpebra nos Mongolóides e nos esteatopígidos.) Na gencrali­

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Génese das raças

dade quando se trata de fazer uma análise racial são utilizados únicamente caracteres 
morfológicos porque apenas estes são objectivamente mensuráveis e determináveis, além de 
estatisticamente confrontáveis. Estes processos não são por si sós inteiramente conclusivos, 
pois devem ser integrados numa visão, de conjunto.

Um exame aos valiosos resultados da investigação constitucionalística (­­­ > Constituição) 
mostra nitidamente que os vários tipos se apresentam em toda a gama da espécie Homo sapiens e só 
em casos particulares aparecem com mais frequência em algumas raças mais do que noutras. Uma 
tentativa de subdivisão baseada exclusivamente sobre tipologia permite compreender no seu 
conjunto características fixadas por via hereditária e diferenças que possam estar ligadas, a 
largos traços, também a determinados modos de comportamento. Estes tipos constitucionais, embora 
representem uma posse comum da espécie Homo sapiens, não podem ser utilizados para caracterizar 
e distinguir os ramos raciais, ou mesmo substituí­los, pois que as características raciais 
formam­se, são seleccionadas e transmitem­se por via hereditária independentemente da 
constituição. Raça é constituição que representa dois sindromas genéticos que possam ser 
consiáerados independentemente um do outro. Devemos porém ter em conta que não estamos ainda 
suficientemente esclarecidos acerca da ­sua interdependência. Pode­se, porém, afirmar desde já 
que a constituição, ainda que represente um conjunto de características extremamente complexas e 
fixadas por via hereditária, está menos sujeita à pressão da selecção e ao efeito diferenciador 
do isolamento do que às características rácicas específicas. Consequentemente, a constituição 
transformará muito mais lentamente por mutações as características tipicas de um grupo. Raça e 
constituição, portanto, não se

excluem, cruzam­se.

Para concluir devemos ainda fazer uma breve alusão às diferenças raciais no âmbito do 
comportamento e da vida psíquica (­­> Psicologia das raças). Também este sector no homem está 
claramente sujeito à transmissão hereditária e por isso não pode ser essencialmente separado da 
linha tradicional da definição da raça. É preciso além disso lembrar que a adequada capacidade 
intelectual da subdivisão

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Gén~ das raças

da espécie Homo sapiens em cada uma das raças deve ser a mesma para todas. As diferenças de 
facto relevantes na cultura das várias raças até nós chegadas não podem ser apreciadas na base 
de um critério­padrão universalmente aceite, pois que não são objectivamente mensuráveis, 
portanto não estão sujeitas a termos de comparação. Também o emprego de testes está neste caso 
destinado a falhar, pois que o ponto de partida não pode ser o mesmo: de facto, os variados 
modos de vida da comunidade a estudar favorecem o desenvolvimento dos sectores particulares, nos 
quais a capacidade dos indivíduos é atraída pela tradição em certas direcções ou completamente 
influenciada pela mesma tradição. Os trabalhos das diversas culturas são nos diferentes casos 
condicionados dentro de certos limites do ambiente. Os modos de comportamento upicos das várias 
raças devem ser, sem dúvida, reforçados em grande parte pelo efeito da selecção: assim, os 
Europóides, no ambiente tropical, sã o também capazes de despender e produzir, durante curtos 
prazos, uma soma de energia e de trabalho comparável à que despendiam na sua pátria. Com a 
continuação, porém, só sobreviverão neles as tendências hereditárias cujo esforço não ultrapasse 
a proporção correspondente ao clima, cujos efeitas paralisantes também a técnica moderna apenas 
pode compensar em parte. Além disto, existem, por exemplo, no temperamento, na capacidade das 
reacções e na vontade das afirmações outras evidentes diferenças que são fixadas pela 
hereditariedade e se tomam claramente perceptíveis a quem quer que tenha vivido durante longo 
tempo entre indivíduos de outras raças. Inteiramente falsa é a convicção de que, a partir daí, 
se manifestam diferenças absolutas de valor susceptíveis de serem apreciadas segundo um critério 
universalmente válido. Este critério será inevitàvelmente diverso segundo o tipo de cultura e de 
sensibilidade de quem por ele se rege, e resulta tão irracional e incomensurável como um ideal 
de beleza típico de uma raça. Por isso as diferenças hereditárias nestes sectores deverão ser 
excluídas da apreciação das raças e não devem fazer parte da «combinação das características 
típicas» de uma raça, a qual, pelo contrário, é expressa em termos métricos, morfológicos e 
estatísticos. Isto não porque tais características não sejam

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Génese das raças

consideradas reais, mas porque escapam a uma apreciação e a um Juízo objectivos.

AS RAÇAS. já vimos no decurso da nossa exposição quais os diferentes factores que participam da 
génese das raças e que cada um, por um corte num determinado tempo de uma população mendeliana, 
representa apenas um instantâneo do filme da evolução contínua no decurso da qual se formam as 
raças. As raças, como «processo dinâmico», abrangem sempre um determinado espaço de tempo no

quadro da história filogenética das espécies e dos géneros. Os diferentes elementos e factores 
que participam na formação das raças, tais como mutações genéticas, selecção e isolamento, 
actuam inínterruptamente e influenciam de modo mais ou menos evidente, segundo as condições 
locais, as populações da nossa espécie distribuídas por toda a Terra. O grau e o nível de 
desenvolvimento atingidos pelas diversas raças não podem deixar de ser diferentes nos diversos 
casos, porque as populações individualizadas que se formaram no decurso do tempo derivadas do 
património génico originário do Homo sapiens fóssil não mais ficaram sujeitas por iguais 
períodos de tempo a idênticas condições, mas na sua lenta difusão por toda a Terra, tomando 
continuamente posse de novas regiões de ocupação, expuseram­se sempre a novas condições de 
selecção.

Distinguimos portanto alguns poucos rwnos raciais, que do ponto de vista sistemático podem ser 
considerados equivalentes das subespécíes, e que se compõem, por sua vez, de certo número de 
raças principais (troncos raciais). Os troncos raciais podem dividir­se ulteriormente em raças 
secundárias: o grau desta subdivisão depende do inventário antropológico. A íntima conexão entre 
subgrupos superiores e inferiores é contínua e resulta de vários espaços do isolamento e da 
duração dos períodos nos quais os factores determinantes para a génese das raças puderam exercer 
a sua influência.

No que respeita a processos análogos que se verificam no reino animal, o homem tem condições 
especiais das quais resulta a circunstância de, em virtude da sua falta de especialização, ele 
representar manifestamente um «ecótipo aberto». O homem pode adaptar­se a qualquer zona

194
Gênese das raças

climatérica e, graças à sua capacidade de se sustentar quer de animais quer de plantas, tem à 
sua disposição um espaço alimentar muito vasto. Devido à sua independência quanto ao clima e 
recursos de nutrição e igualmente à sua grande mobilidade o homeni tem a todo o, momento a 
possibilidade de vencer grandes distâncias em tempo relativamente curto. Este facto poderia 
contribuir consideràvelmente para um nivelamento das diferenças raciais se ele, nas épocas que 
precederam o advento da civilização, não tivesse adicionado às barreiras geográficas outras 
barreiras internas à acção conservadora (­> Demagrafia, ­­­> Antropologia social). Tais 
barreiras contribuíram para a conservação dos círculos de procriação, e neles inscritos círculos 
matrimoniais. Prescrições matrimoniais (como endogamia e esogamia) e rabos orientam a escolha do 
cônjuge em determinados grupos; barreiras étnicas e linguísticas fazem sentir a sua maior 
influência e nas sobreposições (por migração) das várias populações as barreiras sociais 
conservam pouco menos que intacto, o seu poder diversificante. Embora estas barreiras internas 
não mantenham a sua eficácia por períodos muito dilatados, elas impedem ou retardam a troca e o 
fluxo dos genes da população para população. Com o aumento da densidade da população sobre a 
Terra as barreiras das diversas zonas de isolamento tornam­se cada vez menos eficientes. No 
homem, além das unidades naturais de procriação (círculos de reprodução), há ainda, como base da 
gênese de novas raças, outros grandes grupos tipicamente humanos: a unidade étnica, ou seja, 
tribos ou povos. Estes podem compreender mais raças, apresentam­se como fazendo parte de uma 
comunidade de língua, história e cultura e relativamente à unidade natural distinguem­se pela 
sua mutabilidade (formação de estados sobre bases políticas, adopção de uma língua, migrações 
forçadas, etc.). Eles são simultâneamente a imagem de um processo histórico e o resultado dos 
contínuos movimentos migratórios do homem sobre a Terra. Tudo isto pode tomar mais difícil a 
análise das raças ou das mestiçagens rácicas dentro de uma unidade étnica e a compreensão das 
condições originárias. Para o estudo da ­> história das raças humanas não há, porém, 
dificuldades insuperáveis, pois para isso dispomos de outras fontes, como seja os achados 
arqueo­

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Génese das raças lógicos e vários restos de cultura, de língua e de costumes, assim como dados 
concretos registados por escrito ou transmitidos por tradição oral. Além disso indícios 
essenciais fornecem­nos a percentagem mais ou menos elevada dos caracteres raciais fixados por 
transmissão ‘hereditária em cada uma das populações, assim como das suas diversas distribuições, 
ainda hoje comprováveis. Em regiões bem pesquisadas podemos, pois, completar este estudo do 
passado através de séries de esqueletos do período histórico ou pré­histórico que nos esclarecem 
sobre a distribuição e o desenvolvimento das raças.

Actualmente podemos distinguir na nossa espécie politípica do Homo sapiens três ramos raciais 
(subespécies), os EuroOides, os Mongolóides e os Negróides. A eles juntam­se ainda, considerados 
às vezes como subespécies, os habitantes originários da América (Ameríndios) e os primitivos 
habitantes da Austrália (Austrálidas). Pelo que respeita a estes últimos, seria mais lógico, do 
ponto de vista biológico, englobá­los, como forma mais arcaica, no ramo racial dos Europóides 
(~~> História das ra<:as).

Entre os ramos raciais existem zonas de contacto mais ou menos vastas e individualizadas cujas. 
variedades (raças) são atribuídas de modo variável pelos diversos autores a um ou a outro ramo 
racial. Isto explica­se­ entre outras coisas com a migração de populações e consequentes 
mestiçagens que se efectivaram em tais zonas ­ simplesmente do ponto de vista metódico, ou seja, 
com o facto de o valor do testemunho das características raciais existentes ser apreciado de 
maneira diversa no quadro da combinação das características no seu conjunto. Do ponto de vista 
biológico isto não está em contradição com a hipótese da fixação genética das características 
raciais, mas explica­se com o enriquecimento das características análogas que podem surgir 
frequentemente dos dois lados da zona de contacto através da vantagem do ponto de vista da 
selecção (por exemplo, a pigmentação escura dos Europóides, assim como dos Negróides, em 
África). Além disso também existe uma permuta de genes através de relações de procriação; tal 
permuta, com a crescente pressão demográfica, assim como com as contínuas relações de 
vizinhança, pode atingir um certo grau e, se por períodos de longa duração, pode dar

196
Genética humana

origem, nas combinações de «características típicas», a estadios intermédios relativamente 
indiferentes. É preciso observar além disso que mesmo nas zonas de contacto se encontra a mesma 
comunidade de procriação que participou de modo menos intenso na fon­nação de combinaçõ es de 
características típicas para o núcleo, do ramo. racial. Mediante uma pressão proveniente do 
centro, as parcelas da comunidade de procriação que vivem nas zonas marginais são 
progressivamente empurradas para a periferia: é este o motivo pelo qual nas zonas de contacto 
dos dois ramos raciais se encontra mais variedade, embora menos típica, de qualquer deles. Isto 
é particularmente aplicável às chamadas «formas arcaicas», que foram impelidas para as zonas 
marginais de refúgio. Como conclusão deste tema deve notar­se que para este conjunto de 
problemas o nosso método, como sistema, tem de ser necessàriamente rigido, e portanto a evolução 
histórica, que conflinuamente se processa só dentro de certos limites, pode ser encarada como 
processo vital.

Genética humana ­­ O ponto de partida da genética, quer geral quer experimental, é constituído 
pelas experiências de Johann Gregor Mendel. No mesmo ano em que apareceu o trabalho de Mendel 
«Research Upon Plant Hybridization», acerca da hibridização das plantas (1j65), surgiu o 
profundo tratado «Hereditary Talent and Lilaracter», de Francis Galton, o fundador do estudo 
científico sobre gémeos e famílias. Em 1900, logo após a sua redescoberta, por Carl Erich 
Correns, Hugo, de Vries e Erich von Tschermak­Seysenegg, as leis de Mendel, que até então tinham 
passado quase despercebidas, foram reconhecidas aplicáveis também ao homem: em 1902, pela 
alcaptonúria, uma anomalia do metabolismo (Ga7rod), em 1905, pela braquidac~ tilia (Farabee), e 
daí a pouco também pelas características rácicas normais (investigações de Eugen Fischer sobre 
os bastardos de Rehoboth, 1908, publicadas em 1923). já Kant, em 1775, havia postulado que no 
estudo das raças humanas deviam ser tomadas em consideração sèmente as características 
transmitidas por hereditariedade; ora este princípio teórico, podia igualmente corresponder à 
prática científica. juntamente com a anatomia, a fisiologia e a psi­

197
Genética humana

cologia, a genética humana tornou­se um sector fundamental da antropologia, assim como da 
medicina.

Em primeiro lugar surgiu o problema da natureza hereditária e ainda do maquinismo de transmissão 
hereditária dos caracteres humanos normais (mendelismo), uma questão importante, sobretudo para 
a compreensão das relações de afinidade entre as várias raças e da sua origem (­­> Con~ ceito de 
raça, ­> Gênese das raças). A influência de uma série de características antropológicas por 
parte do ambiente, não há muito tempo descoberta, levou a novos problemas relativos à biologia 
constitucionalística (­­> Constituição, plasticidade); além disso, a estrutura hereditária das 
populações e as suas variações (­> Antropologia social) são observadas e tomadas em consideração 
também pràticamente na política demográfica           Demografia) e na eugenia (difusão de 
caracteres aperfeiçoados, ou eugenia positiva, ou higiene da hereditariedade); recentemente as 
condições gerais relativas ao mecanismo da hereditariedade e o efeito dos processos de selecção 
são expressos com maior rigor por intermédio dos métodos matemáticos da ­> genética das 
populações. Por outro lado, na genética geral assumiu grande importância o problema do mecanismo 
da acção dos genes (fenogenética), igualmente fecundo para a antropologia (~­­> Fisiologia das 
raças, ­­­> Gênese das raças, ­­> Constituição); ele iria iniciar uma nova fase do estudo dts 
raças humanas e levar a mais profunda compreensão da diferenciação psicossomática da espécie 
Homo sapiens. A transmissão hereditária dos dotes intelectuais e dos caracteres e a sua 
importância para a pedagogia e a política social já tinham sido reconhecidas por Galton; 
recentemente o estudo do comportainenta fez surgir o problema da hereditaríedade dos modos de 
comportamento e dos instintos no homem (­> Antropologia cultural).

CROMOSSOMAS E GENEs. A citogenética (estudo genético das células) humana, aplicada já no 
passado, com imensas dificuldades, encontra­se actualmente num período de grande 
desenvolvimento, Durante longo tempo reinou incerteza sobre o número dos cromossomas humanos, os 
portadores materiais dos processos hereditários; foram por fim fixados em 46, isto é, 23 pares, 
dos quais um de cromossomas

198
Genética humana

sexuais (2 cromossomas X na mulher, 1 cromossoma X e um cromossoma Y, mais pequeno, no homem, e 
mais
22 pares de «autossomas». A constituição dos cromossomas, particularmente a disposição linear 
dos cromómeros, nos quais se devem localizar os genes individuais, e o mecanismo da divisão e 
distribuição dos cromossomas na reprodução das células são semelhantes no homem e em todos os 
outros organismos. Número e forma dos cromossomas são típicos de cada espécie e, além de outras 
características, dão indicações sobre relações de afinidade entre as diferentes espécies. O 
homem é, deste ponto de vista, extraordinàriamente idêntico aos outros membros da ordem dos 
primatas (Heberer). O cálculo do número dos genes humanos (Neel e Schu11, Spuhler, Vogel, etc.) 
é ainda muito discrepante, consoante se dá maior importância aos genes individuais que agem 
directamente («genes estruturais») ou aos elementos de controle supranormal.

As células germinativas masculinas e femininas como resultado dos processos específicos da 
divisão celular apresentam apenas a série simples (haplóide) dos 23 cromossomas, que pela 
fecundação do óvulo se ligam com os cromossomas da outra célula, dando origem a uma série 
cromossómica completa (diplóide). É determinado então o sexo: se uma célula espermática com um 
cromossoma X consegue fecundar um óvulo com um cromossoma X, nasce uma fêmea (XX); se, pelo 
contrário, o espermatozóide tem cromossoma Y, é gerado um macho (XY). Em 23 cromossomas há 2 
23 @ 8 388 608 diferentes possíveis combinações dos cromossomas dos pais. A probabilidade de que 
em dois filhos dos mesmos progenitores se realize exactamente a mesma combinação de cromossomas 
é ­abstraindo o caso dos gémeos uniovulares ­ de 1: 8 3 88 6082 = = 1:70 biliões. Na prática 
cada indivíduo possui, portanto, uma combinação hereditária única.

Perturbações no mecanismo de distribuição dos cromossomas despertaram nos últimos tempos 
particular atenção como causadores de doenças («doenças cromossómicas»). Isso permitiu também 
chegar a importantes conclusões acerca da organização e do modo de agir do material genético. A 
acção dos genes individuais pode ser determinada sómente em presença de diversos a'elos (por 
exemplo,

199
Genética humana

um alelo dominante D para a pigmentação e um alelo recessivo d para a ausência de pigmentação); 
este cruzamento pode combinar­se e dar origem a diversos genótipos (património hereditário: 
dominante homozigótico, DD; heterozigótico, Dd; recessivo homozigótico, dd) e causar o 
aparecimento de vários fenótipos (aspecto externo dos indivíduos, por exemplo, pigmentação forte 
ou fraca). Para o homem conhecem­se, pelo menos, 336 genes individuais (v. Verschuer) dos quais 
51 para características normais e 285 para taras hereditárias. O forte predomínio dos genes 
patológicos explica­se pelo facto de a maior parte das características normais derivarem do 
concurso, de numerosos genes (polimeria), o que toma difícil ou impossível a análise genética, 
ao passo que as taras hereditárias derivam frequentemente de um único gene aberrante 
(monomeria). Em espécies aparentadas não só se encontra coincidência quanto ao número e à forma 
dos genes, mas também nos genes individuais quanto mais próximo for o grau de parentesco. O 
estudo biológico comparado da hereditariedade permite, por isso, também conclusões análogas 
sobre genes humanos e seus efeitos quando nos géneros afins se apresentam as mesmas 
características hereditárias (condrodístrofia, características de pigmentação, etc.).

MÉTODOS DA GENÉTICA HUMANA. INVESTIGAÇÃO DE GÉMEOS E SUAS FAMíLIAS. A genética humana dispõe de 
um «método infalível» (v. Verschuer) para estabelecer se na formação de determinada 
característica participam caracteres hereditários: o método dos gémeos. Há duas espécies de 
gêmeos: 1) gêmeos uniovulares (monozigóticos, idênticos, GU), que derivam da divisão precoce de 
um único óvulo fecundado, pelo que se assemelham, quer do ponto de vista genotípico, quer do 
fenotípico; 2) gêmeos biovulares (dizigóticos, fraternais, GB), provenientes de dois óvulos 
simultâneamente fecundados, ou com breve intervalo, e que por isso possuem um património 
genotípico e fenotípico comparável à média dos outros irmãos nascidos dos mesmos pais. Os dois 
tipos podem ser diagnosticados fàcilinente por uma análise de semelhança polissintomática, ou 
seja mediante um estudo comparativo das semelhanças referentes a numerosas características, 
entre as quais grupos san­

200
Genética humana

guineos, medidas da cabeça e do corpo, cor dos cabelos e dos olhos, impressões digitais, forma 
das orelhas e traços físionómicos. Para determinar se um carácter é ou não hereditário examina­
se quantas vezes nos dois tipos de gêmeos há concordância ou discordância. Sc os gémeos 
uniovulares apresentam concordância nitidamente superior à dos biovulares isto significa que as 
disposições hereditárias tiveram parte preponderante na formação do carácter. As diferenças que 
frequentemente se notam entre gêmeos uniovulares podem ser devidas a erros de mensuração ou a 
influência de ambiente (modificações). Pelo volume das diferenças médias observadas nos gémeos 
uniovulares pode deduzir­se em que grau os caracteres estão sujeitos a modificações devido aos 
factores ambientais. Completamente subtraídos à influência do ambiente são, por exemplo, os 
grupos sanguíneos; relativamente sujeitos a ela são, pelo contrário, as medidas do corpo, e 
sobretudo o peso.
O método dos gêmeos não indica, porém, a proporção total da modificalidade de uma 
característica, pois que também em gêmeos uniovulares criados em famílias de diverso ambiente o 
meio não é completamente indiferente. Assim a tendência para o aumento da estatura, o que se 
observa de há um século a esta parte, revelou uma modificabilidade mais acentuada desta 
característica do que aquilo que se poderia ter concluído pela investigação dos gérneos. O 
estudo dos gémeos não nos dá qualquer indicação quer sobre a transmissão de uma característica 
quer dos seus genes, que só se toma possível através do estudo das famílias. Para comprovar a 
veracidade das leis mendefianas toma­se necessário reunir para o efeito crianças de numerosas 
famílias, devido ao escasso número de descendentes de cada família humana. No homem, por razões 
óbvias, o estudo do hibridismo substitui a experimentação pela observação dos cruzamentos 
raciais. As mais profundas investigações deste tipo, que estudaram o mecanismo da transmissão 
hereditária de numerosas características rácicas, foram realizadas sobre bastardoy de Rehoboth, 
descendentes de holandeses e hotentotes na África do Sul (Eugen Fischer, 1913), sobre mestiços 
de Kisar (arquipélago malaio, Rodenwaldt,
1927) e sobre mulatos, cruzamentos entre brancos e negros na Jamaica (Davenport e Steggerda, 
1929).

201
Genética humana

HEREDITARIEDADE DAS CARACTERíSTICAS MORFOLõGICAS. Os estudos sobre os gêmeos e suas famílias 
indicam um componente hereditário preponderante para as medidas e proporções do corpo na 
totalidade ou por secções. Também ao crescimento preside uma multiplicidade de genes, em parte 
como maquinismo de controle, que age sobre os sistemas reguladores hormonais ou nervosos. Pela 
patologia são també m conhecidas séries individuais de genes que provocam anomalias 
características do crescimento, e

Peso

Perímetro torácico Estatura

Largura dos ombros Compii da cabeça
1,argura da cabeça

influência da hereditariedade

Fig. 53. Influência da hereditariedade e do ambiente na variabilidade de características 
métricas. Diferença média dos gêmeos: a) gêmeos uniovulares no mesmo ambiente. b) gêmeos 
uniovulares em ambiente diferente; e) gêmeos biovulares no mesmo ambiente. A diferença entre a) 
e b) deve levar­se à conta de factores ambientais; entre a) e e) a factores hereditários.
O peso e o perímetro torácico são mais sensíveis à influência do ambiente; estatura, largura dos 
ombros e dimensões da cabeça sofrem menos influência (segundo O.v. Verschuer, 1934)

deste modo também do tamanho e das proporções do corpo, e cujos alelos normais são, portanto, 
evidentemente necessários para o crescimento contínuo (por exemplo, a condrodistrofia = nanismo 
com encurtamento e engrossamento das extremidades, resultante de anómala proliferação 
cartilagínea; nanismo de Hanhart = inibição do crescimento a partir do terceiro ano de vida, 
etc.). É possível que tais formas raciais extremas, entre as quais particularmente o nanismo 
racial, sejam devidas a genes que se relacionem com tais mutantes anó malos (E. Fischer).

As características fisionómicas, que têm grande importância para a sistemática racial 
(conformação da fronte; posição do bulbo ocular, forma e posição da abertura palpebral, forma da 
plica palpebral, plica mongólica; forma dos supraciliares; perfil do nariz, forma das fossas 
nasais e do septo nasal; posição dos zigomas; espessura e perfil dos lábios; forma do mento, 
etc.), não estão sujeitas à influência do meio ambiente, e, na conformaçã o que apre­

202
Genética humana

Fig. 54. A hereditariedade das formas do cabelo num grupo

de Negros híbridos (segundo RuggIes­Gates, 1949)

sentam no adulto, dependem em medida bastante restrita das modificações respeitantes ao 
crescimento. O mesmo é válido em relação ao cabelo, que pennite distinguir, entre outros, três 
grupos raciais (crespo, «u@ótrico», ou «helicótr@co» dos Negróides; escorrido, lissótrico nos 
Mongolóides, cabelo variável de liso ao ondulado ao anelado, «cimótrico» nos Europóides); além 
disso o mesmo acontece com as caracte7@sticas dermatográficas (papilas cutâneas digitais, 
palmares e plantais), que revelam grandes diferenças raciais e geográficas; assim como, 
finalmente, para o formato da

Fig. 55. Hereditariedade de carac@eristicas morfológicas. Orelhas e impressões digitais (1­3) em 
gêmeos uniovulares. Em cima as do i)rimeiro Dar de gémeos e em baixo as do outro (segundo W. 
Abel, 1940, e R. Lotze, 1937)

203
Genética humana

orelha e para a estrutura da íris. Todas estas características são por conseguinte importantes a 
fim de estabelecer se dois gêmeos são uniovulares ou biovulares e fixar relações de descendência 
(­­> Comprovação da paternidade).

A pigmentação da pele, dos olhos e dos cabelos, que constitui outra característica assaz 
importante para o objectivo da sistemática racial, subtrai­se também quase completamente à 
influência ambiental, embora revele algumas variações com a idade (incremento da cor dos cabelos 
e

Pais

Número

de pais

Cor dos olhos dos filhos (Percentagem)

Número

de filhos

Sem pigmen­

to

Escassa pigmentação

Pigmentação média

Pigmentação abundante

Sem pigmento x sem pigmento

189

85,2

14,8

440

Sem pigmento x pigmentação escassa

283

51,6

32,6

12,3
3,6

585

Sem pigmento x pigmentação média

153

37,2

21,5

26,3

15,O

274

Sem pigmento x pigmentação abundante

108

20,5

16,3

27,4

35,8

215

Pigmentação escassa x pigmentação escassa

91

25,9

42,O

23,O

9,2

174

Pigmentação escassa x pigmentação média

43

17,3
29,3

36,O

17,3

75

Pigmentação escassa x pigmentação abundante

21

12,1

30,3

3,O

54,6

33

Pigmentação média x pigmentação média

129

17,O

20,16

30,4

32,O
Genética humana

dos olhos nas populações de raça mista; coloração mais escura da pele nos Negróides adultos, 
exceptuados os recém­nascido,s. Estudos sobre famílias e particularmente sobre mestiços revelam 
nítida tendência para o predomínio do grau mais escuro de pigmentação (Davenport, Fleischhacker, 
Ruggles­Gates, Tillner, etc. Todavia não se trata de simples relações recessivas dominantes, mas 
sim da intervenção de uma pluralidade de genes que devem ser consideràvelmente similares aos dos 
outros mamíferos (coelho, cão, ovelha, boi, suíno) (Steíniger). São também outras anomalias da 
pigmentação (aIbinisma = ausência mais ou menos total do pigmento; melanismo = superprodução 
local de pigmento). É possível que existam relações com variantes de pigmentação racialmente 
determinada: por exemplo, o albinismo com determinada forma de despigmentação no Norte da 
Europa, mas o problema está longe de ser esclarecido nas particularidades.

HEREDITARIEDADE DAS CARACTERíSTICAS HEMATOLóGICAS. @ Ao passo que a maior parte das 
características do homem são poligènicamente (ou pela interacção de vários genes) condicionadas 
de facto, crê­se hoje que os genes não são unidades atómicas e cada locus é susceptível duma 
análise estrutural e também funcional; existem diversas interacções entre os genes que tomam 
mais ou menos variável a tradução aparente (fenótipo) dos caracteres que eles representam; estas 
interacções, eventualmente acopladas a acções ambientais, permitem, com a diversidade de 
mutantes, explicar a enorme variabilidade das características dos vários indiví duos assim como 
a variação das manifestações nas diversas fases do ciclo vital individual (heterocronismo), a 
variação de# grau com que um determinado carácter se manifesta (expressividade), ou ainda o 
aparecimento ou não do carácter génico numa maior ou menor percentagem de casos (penetrância)»Ç

Apesar desta complexidade, foi possível encontrar em numerosas caracterísficas hematológicas (= 
do sangue) os genes participantes e até os mecanismos hereditários simples; estes oferecem os 
melhores exemplos que a genéti@a humana pode dar para verificar os casos simples previstos pelas 
leis mendelianas Ç dominância, carácter recessivo,

205
Genética humana

existência de genes distintos com acção de igual penetrância no fenótipo, alelomorfismo 
múltiplo.5 Os caracteres hematológicos estão provilvelmente ligados a influências genéticas 
intercelulares, nos quais as disposições hereditárias actuam directamente em determinadas partes 
constitutivas da célula (v. Verschuer). Nalguns casos também se tem conseguido determinar em 
forte medida a estrutura bioquímica e a maneira como os genes interessados actuam. Tal foi 
possível, por exemplo, no caso da drepanocitose (cf. mais adiante). Noutros casos a estrutura 
molecular interessada sómente pode ser determinada mediante reacções de aglutínação. No sistema 
ABO, que se conhece há mais tempo (Landsteiner, 1901) foram determinadas duas substâncias 
aglutinantes (antigénios), presentes nos glóbulos vermelhos, e duas aglutininas (anticorpos) 
presentes no soro: com estas propriedades antigénicas e respectivas aglutininas caracterizam­se 
quatro «grupos sanguíneos»:

1) Grupo sanguíneo O: os glóbulos vermelhos dos indivíduos pertencentes a este grupo não se 
aglutinam com nenhum soro,­ o soro destes indiví duos aglutina, pelo contrário, os  glóbulos 
vermelhos dos outros três grupos;
2) AB: os glóbulos vermelhos são aglutinados. pelo soro dos outros três grupos; o soro dos 
indivíduos que pertencem a este grupo não aglutina os glóbulos dos outros três grupos; 3)  A e 
4) B: @ no caso de B, por exemplo, o seu soro aglutina as hemácias de A e de AB; os seus 
glóbulos são aglutinados. pelo soro de O e A; o mesmo é válido para A, «mutatis mutandis». 
Efectivamente A subdivide­se em pelo menos dois subgrupos AI e A, (foi também descrita uma forma 
particular do grupo A designada A,,).@

Em outros casos de aglutinação serológica os anticorpos não existem no soro humano, mas no 
sangue de determinados animais.

f Até agora evidenciaram­se pelos anticorpos pelo menos sessenta antigénios entrocíticos 
diferentes (há sete hipotéticos) agrupados em pelo menos dez sistemas genéticos (não referindo a 
dezena de antigénios pouco correntes, familiares ou «colectivos).Ç Actualmente os sistemas mais 
importantes (~­> Fisiologia das raças,      ­­­­ > Comprovaç@w da paternidade) são: 1) O sistema 
ABO, com, pelo menos, quatro alelos: A, A, B, 0) de um s6 loco («alelomorfismo

206
Genética humana

múltiplo»: A e B são dominantes relativamente a O, A, é dominante para A,, A e B são de igual 
penetrância (A e B aparecem em heterozigotos); 2) o sistema MNSs, com dois locos, aos quais 
correspondem respectivamente dois pares de genes alelomórficos acoplados, M e N, S e s: os dois 
genes de um mesmo par são isovalentes (sem predominância de um sobre o outro): há outras formas 
mutantes raras como N «fraco» (N,) e M «fraco» (M, e Me); @ há ainda um Mg, que é interessante 
porque o antigénio não reage nem com os soros anti­M nem com os soros anti­N.@ 3) O sistema Rh: 
no mesmo cromossoma há

Características

Número

Características

dos pais

de famílias

dos filhos

M XM

24

MN

gB

N xN

27

M xN

30

43

M x MN

86
183

196
N x MN

71

156

167

MN x MN
1               1

69

71

141

63

Mecanismo de transmissão hereditária do grupo M­N (segundo

S. S. Wiener @ 1943)

vários locos; segundo. a teoria de A. R. Fischer, os principais são três com pelo menos, dois 
alelos cada um (C, c; D, d; E, e); há depois uma série de mutantes mais raros (D4@ Cw@ C4@ C x, 
Cv, Ea, Ew) e muitos outros. Efectivamente conhecem­se hoje antigénios Ril a que correspondem 
288 combinações cromossómicas e aproximadamente 42 000 combinações genotípicas. Cite­se, em 
particular, os pares alelomórficos F,f e V,v, ou V,f. Podem­se determinar os heterozigotos Ce e 
Ee (isovalência, ou ausência de dominâncias respectivamente entre C e c e E e e). Até agora só 
tem sido possível determinar d pela ausência de D e W. Outras características hematológicas 
hereditárias são as que seguem: o sistema P: um loco génico com

três alelos, P, P@@ e p, sobre cuja interpretação genética ainda não se chegou a acordo; o grupo 
sanguíneo luterano: um loco com dois alelos Lua e LUb. Há dominância da

207
Genética humana

presença do antigénio Lu (a + ou b + ) sobre a ausência (a ­ou h ­); o grupo sanguíneo Ke11.­ um 
lo­co com dois alelos, com K + dominante sobre K ­ Foram descritos recentemente outros 
antigénios pertencentes ao sistema Kell (Ka e Kb); o grupo sanguíneo Lewis: um loco com dois

p      p alelos, neste caso a ausência do antigénio Le (a­) é dominante sobre a presença Le 
(a+). Crê­se que o sistema Lewis não é efectivamente um sistema de antigénios dos eritrócitos, 
mas de substâncias que existem em secreções como a saliva e no soro e que secundàriamente se 
fixam sobre os eritrócitosf; o grupo sanguíneo Duffy: um loco génico com dois alelos (Fa e Fb 
com Fy (a +) dominante

y    y sobre Fy (a ­) admite­se um terceiro alelo (Fy); o grupo sanguíneo Kidd: um loco com três 
alelas, jka, jkb e JK, cuja interpretação genética se mantém em discussão; o grupo sanguíneo 
Diego: um loco com dois alelos, Dia e Dib@ ou simplesmente Di, dominante o primeiro 
relativamente ao segundo; o grupo sanguíneo Sutter: um loco com dois alelos, dominante JSa sobre 
Js. f Os antigénios que correspondem a estes dois últimos grupos (Diego­Sutter) encontram­se só 
em certas raças. Também um certo número de doenças ou taras hereditárias tem assumido 
importância do ponto de vista antropológico, em virtude de revelarem nítidas diferenças 
geográficas e raciais.@ O gene da drepanocitose nos heterozig(>tos determina uma deformação 
característica dos glóbulos vermelhos do sangue, que tomam uma forma falciforme em ambiente 
pobre de oxigénio (drepanócitoy, «sickIe­­cell») enquanto nos homozigotos dá origem a uma doença 
do sangue, muitas vezes mortal (anemia drepanocítica), que foi pela primeira vez descoberta nos 
Negros dos Estados Unidos, ao passo que nos Brancos norte­americanos quase não existe. Mais 
tarde descobriram­se também núcleos de genes na india, Europa Meridional e no Próximo Oriente. 
Nos Negritos africanos a frequência da drepanocitose varia entre O e 44 por cento. As grandes 
diferenças regionais de frequência devem relacionar­se com a difusão da malária (Allison). Em 
áreas com malária endémica a drepanocitose é mais frequente do que em regiões livres da malária. 
Os drepanocíticos inoculados com parasitas da malária

208
Genética humana

são menos atacados do que os outros. Portanto a drepanocitose serve de protecção, contra a 
malária e os heterozigotos são favorecidos por selecção natural, enquanto os homozigotos 
drepanocíticos são dizimados pela anemia drepano­cítica e os homozigotos normais são atacados 
pela malária. f Trata­se, neste caso, de um exemplo de polimorfismo genético, em que se mantém 
um alelo extremamente perigoso para o homozigótico, mas vantajoso no heterozigótico.Ç A natureza 
bioquímica da hemoglobina anormal S, que está na base da formação drepanocítica dos glóbulos 
vermelhos, já está esclarecida (um ácido aminado [ácido glutânico] da hemoglobina normal é 
substituído por outro ácido aminado [a valinal ­assim a anemia drepanocítica pôde ser 
considerada por Pauling como uma doença molecular). Além dos glóbulos vermelhos do sangue também 
as proteínas do plasma podem ter comportamento mendeliano. A determinação dos seus vários tipos 
baseia­se na diversa velocidade das migrações de cada uma das fracções proteínicas num campo 
eléctrico (electroforese). Actualmente conhecem­se particularmente: 1) A haptoglobina, com dois 
alclos H  p1 e H p1 e três fenótipos com mecanismo

hereditário isovalente; 2) A transfen@na, da qual se conhecem diferentes fenótipos, é 
provàvelmente determinada por uma série de três alelos; 3) O sistema Gc com dois alelos Gel e 
Gc1 e três fenótipos no mecanismo hereditário isovalente: 4) O sistema Gm, com pelo menos 
catorze alclos e dezassete fenótipos até agora demonstrados. O material de estudo aumenta 
continuamente e contribui de forma notável para o enriquecimento das bases bioquímicas da 
transmissão hereditária (genética molecular). HEREDITARIEDADE DOS CARACTERES PSIQUICOS. 
Investigações sobre gêmeos e famílias revelaram também uma componcnte hereditária para numerosas 
características psíquicas, se bem que até agora ­exceptuadas algumas formas de oligofrenia­ não 
tenha sido possível analisar genes individuais. No domínio psíqdico os factores ambientais são 
extremamente complexos porque na formação do fenótipo participa o ambiente cultural e social na 
sua totalidade. As relações gene­ambiente tomam­se assim ainda mais complicadas pelo facto de 
serem correlacionadas: os progeni­

209
Genética humana

tores não se limitam a transmitir aos filhos as suas disposições hereditárias, mas criam também 
o ambiente no qual eles se desenvolvem.

O estudo da hereditariedade da inteligência dispõe hoje de uma quantidade considerável de 
material, que a determina através de testes ou mediante a apreciação de mestres. Em todas as 
baterias de testes os gémeas uniovulares são mais parecidos entre si do que os biovulares, e os 
parentes tanto mais semelhantes quando mais estreito for o grau de parentesco; os filhos 
adoptivos apresentam em relação aos pais adoptivos semelhança inferior àquela que os filhos 
naturais têm em relação aos seus verdadeiros pais; a inteligência dos filhos ilegítimos 
internados em orfanatos está correlacionada com a dos seus pais naturais. Através de 
experiências com animais demonstra­se a possibilidade de seleccionar castas inteligentes e 
estúpidas (Tryon). Por meio dos testes referidos prova­se claramente também a

componente ambiental: nos 125 pares de irmãos criados em diversas famílias existe uma correlação 
de + O,25 inferíor à correlação média, que é de + O,50 (Freeman e outros).

Grau de parentesco

Gêmeos uniovulares no mesmo ambiente Gêmeos uniovulares em ambiente diferente Gêmeos blovUlares 
Irmãos e irmãs no mesmo ambiente Irmãos e irmãs em ambiente diferente Pais­filhos Avós­netos 
Pais adoptivos­filhos adoptivos Filhos adoptivos na mesma família Filhos adoptivos e filhos 
legítimos

O,88
O,77
O,63
O,50
O,25
O,50
O,15
O,15
O,35
O,35

Incidência da hereditariedade e do ambiente sobre a Inteligência: correlações entre parentes 
(segundo diversas fontes,

utilizadas »or A. Anastasi, 1958)

Grandes talentos criadores derivam com frequência de famílias donde provieram já personalidades 
eminentes (Galton, 7uda, Woods). Há numerosas famílias notáveis por surgirem nelas com 
frequência talentos especiais; por exemplo, famílias de músicos (Bach, Mozart, Strauss, Weber,
210
Genética humana

etc.); de matemáticos (Bernoulli); de cientistas (Darwin, Galton); de artistas (Cranach, 
Holbein, Tischbein, Bellini, C=acci, Longh@ etc.); de literatos e filósofos (Gerok, Hauff, 
Hegel, Hõlderlin, Kerner, Mõrike, Schelling, Schiller, Uhland eram todos aparentados entre si). 
Por outro lado, entre as numerosas espécies de oligofrenia há formas hereditárias que se 
manifestam com alto grau de concordância entre os gémeos uniovulares e uma elevada possibilidade 
de taras hereditárias nos filhos de progenitores oligofrénicos. Menos sujeitos à influência 
ambiental quanto às características da «personalidade cortical» (capacidade de pensar e de 
abstracção) são, pelo contrário, os traços da «personalidade endotí­

mi.ca» (humor predominante, emocionalidade, im­      1

pulsos vitais). Entre outros    3 traços, os gerneos uniovulares são mais semelhantes 
15

entre si  do que os biovu­                       16 lares na  expressividade do 
Ia gesto e   nos outros movi­                       ­

mentos, na estrutura do                          19

carácter (Kõhn, Lottig,                          20 etc.), na criminalidade e            GU 
CB até no tipo do crime           Fig. 56. Hereditariedade de carac­ («Verbrechen aIs Schick­ 
terísticas psíquicas. Confronto sal» [«0 Crime como Des_       entre as características de 10 
Im­

res de gérocos uniovulares (GU) tino»], Lange Stumpf1 e        e io pares de gêmeos biovuiares 
(GB) = forte concordância; ( =) outros,­  concordante     em   fraca concordância; x forte dis­

dância; ( x ) fraca discordân­
111 pares de gémeos unio­      ecioar (segundo H. Lotting, 1931) vulares, 72 por cento; em
111 pares de biovulares a concordância é de 38 por cento). Naturalmente, é tanto mais difícil 
recolher      séries extensas

NT ­T(­­,

de informações quanto mais se quer aprofundar a análise dos caracteres. O mesmo se pode dizer 
das investigações sobre famílias, nas quais alguns caracteres podem ser seguidos através de 
muitas gerações (GoIdschmidt, SchulIze­Naumburg). Em experiências com animais podem ser obtidos 
por selecção exemplares ousados ou tímidos, activos ou preguiçosos, outros mais ou menos 
inteligentes.

211
Genética das populações

A medida na qual as características psíquicas são produtos de transmissões hereditárias 
estabelece os limites dentro dos quais pode actuar a educação. Quando falte uma prova firme de 
que um carácter é determinado de maneira absoluta por um fenómeno, da hereditariedade e onde as 
diferenças individuais na modificabilidade sejam muito grandes, o educador deverá aceitar, em 
princípio, a capacidade de formação e de educação. Ao lado destes pontos de vista objectivos há 
também actualmente muitos pré­juízos na apreciação do papel das disposições hereditárias e do 
ambiente no domínio psíquico. Assim, por exemplo, existe nítida relação entre optimismo e 
pessimismo nas relações do ambiente, por um lado, e as orientações políticas, pelo outro: um 
alto apreço pelos factores hereditários e raciais encontra­se preponderantemente nos 
representantes de conservatorismo político, uma concepção optimista acerca da possibilidade da 
influência do ambiente existe, pelo contrário, na atitude político­liberal. (N. Pastore).

Genética das populações ­­ A genética das populações pode ser considerada um ramo da 
filogenética experimental (­­­> Origem do homem). Os hominídeos apareceram desde o início 
reagrupados em comunidades de indivíduos que se entrecruzaram entre si. No decurso da história 
da evolução, estas populações de hominídeos transform aram­ se de pequenos núcleos originários 
(hordas e uniões familiares) em grandes populaçõ es. Hoje toda a hurnanidade pode ser 
considerada como uma grande população extremamente complexa com uma imensa rede de ligações 
sexuais, na qual coexistem, porém, muitas populações de diversa grandeza. Em genética, por 
população (yohannsen, 1903) entende­s.e um grupo de indivíduos interfecundos que se reproduzem 
numa determinada área geográfica. Particularmente, uma população é designada população 
mendeliana (Wright, 1931) quando os seus membros, na mesma área geográfica e no mesmo horizonte 
cronológico, estejam sujeitos às mesmas variações genéticas, como seja os efeitos das mutaç@es e 
da selecção. Cada indivíduo de tal população dispõe de uma parte do, património génico 
complexivo. A mais vasta população mendeliana é representada pela espécie, e divide­se numa 
série gradual de populações

212
Genética das populações

de grandeza decrescente. Os hominídeos entram igualmente nesta definição.

A genética das populações investiga com métodos esta~ tísticos as variações às quais está 
sujeita a estrutura genética de uma população e propõ e­se ­ultrapassando daqui os limites de 
uma invest@gação puramente estatísticadeterminar as causas de tais variações. Do ponto de vista 
metó dico é essencial tomar como modelo uma população ideal, que naturalmente é uma entidade 
abstracta. Tal população é práticamente infinita, e nela domina a pan­mixia (ou seja, igual 
probabilidade de acasalamento de todos os indivíduos entre si); nela não há mutabilidade; faltam 
nos indivíduos diferenças devidas à adaptação ao meio ambiente, que não é passível de mutações. 
No património génico de tal população domina um estado de equilíbrio resultante de uma normal 
reprodução sexual (Hardy e Weinberg, 1908). O dito equilíbrio estabelece­se nela, no breve 
decurso de uma geração, sem interessar a frequência com que, de princípio, existiam dois alelos 
A,a. Se a frequência do alelo dominante é A = q, e a do recessivo a = 1­q, obtém­se a frequência 
genotípíca q         2AA: 2q (l­q) Aa : (1­q)laa (combinação mendeliana F@). As frequências dos 
alelos sã o, portanto constantemente qA e (l­q)a. Numa tal população ideal não pode haver 
portanto qualquer evolução. Esta fórmula de Hardy e Weinberg é a base teórica da estatística 
genética, ou seja do cálculo das frequências dos genes no seio de uma população.

De modo geral a evolução pode definir­se como trans­ formação na frequência dos genes. Tais 
transformações são no entanto possíveis sbmente quando se altera o estado ideal da população. As 
alterações podem manifestar­se de diversas maneiras. Assim, no património genético de uma 
população real ­ que se afasta da grandeza práticamente infinita da população ideal ­ intervém a 
transformação causal das frequências génicas (efeito Sewall­Wright,
1921). Em virtude desta alteração, também chamada «flutuação genética («genetic drift»), alguns 
genes podem perder­se, ser eliminados, ou o seu número aumentado, sem embargo da sua capacidade 
de adaptação. Isto é especialmente válido para pequenas populações, nas quais o efeito da 
flutuação pode conduzir em prazo relativamente curto

213
Genética das populações a modificações evolutivas. Deste modo podem surgir novos grupos 
sistematizáveis de pequena extensão. Nas populaçõ es de cena grandeza os efeitos da flutuação, 
por si sós, não têm qualquer acção importante do ponto de vista da evolução. Particularmente 
importantes para os efeitos da flutuação genética são as variações quantitativas (de natureza 
causal ou rítmica) na grandeza de uma população e do espaço por ela ocupado. As modificações na 
frequência dos genes, ou dos alelos, podem revestir­se de um significado evolucionístico e 
fornecer material para a selecção. As análises mostraram, na prática, que a flutuação genética, 
por si só, não conduz essencialmente a qualquer efeito evolutivo e não pode condicionar uma 
evolução se não for fundada no mecanismo da selecção e da adaptação. Isto é válido, «mutatis 
mutandis@> também para o homem. Se entré duas populações da mesma espécie desaparece o 
isolamento geográfico resulta a sua interpenetração. Este caso classifica­se de «fluxo, 
genético» (mestiçagem ou híbrídismo humano). A mestiçagem pode levar a um amálgama de populações 
e raças com novo património génico.

A mutabilidade amplia, mediante as mutações (génicas, cromossómicas e genómicas, ou seja 
mutações no número dos cromossomas) a variabilidade genética das populações, ou o seu património 
genético. Nos insulados podem naturalmente separar­se conteúdos parciais do património gené~ 
tico, que se tornam assim o ponto de partida de novos processos evolutívos. A variabilidade do 
património genético pode ser reintegrada por virtude de mutações. Geralmente, diferenças na 
capacidade de adaptação dos alelos, podem ser provocadas devido a mutações; assim se oferece 
material para a intervenção das selecções. Mas a selecção condiciona a sobrevivência do mais 
apto e controla quantitatívamente a frequência dos genes dentro do património genético da 
população. Em exemplos susceptíveis de análise pôde afirmar­se com precisão que os alelos 
mutantes estão em vantagem do ponto de vista da selecção. Isto reflecte­se no aumento do número 
dos descendentes de um genótipo relacionado com outro. É assim que se exerce o impulso ou 
pressão da selecção, que pode ser exactamente avaliada como variação da frequência génica por 
geraç5es. O chamado coeficiente de selecção oscila de + 1

214
Genética das populações

a O a ­ 1, de uma selecção completamente positiva a um estado neutro a uma selecção inteiramente 
negativa. O valor selectivo de um gene coincide portanto com um ponto compreendído entre dois 
extremos + 1 e ­ 1. Mas a frequência de um gene é acrescida pela pressão da mutação, à qual 
corresponde a pressão da selecção (cada gene tem um certo âmbito de mutação, que é muito baixo e 
compreendido entre 10­1 e 10­1). Não se deve subestimar, por outro lado, que a pressão da 
selecção de um gene depende essencialmente de um genótipo do, sistema poligénico no qual se 
encontra. As combinações sexuais dos genes são por isso de extraordinária importância do ponto 
de vista evolutivo.

As variações quantitativas da frequência génica dentro das populações, que representam um sector 
de estudo da genética das populações, constituem a base para a gênese das raças, que por. sua 
vez é o fundamento do estudo da formação das espécies; sobre esta assenta a evolução geral.

A genética das populações alcançou os seus maiores sucessos experimentais com a Drosophila 
(escola de Dobzhansky, que actualmente trabalha com populações inteiras e estuda as frequências 
de determinados cromossomas oportunamente marcados e a sua combinação). Estas análises 
provocaram uma completa comprovação experimental da teoria da selecção de Darwin.

Em casos particularmente favoráveis é possível já com meios relativamente simples demonstrar, 
mediante análises das populações, os efeitos da selecção. As variações quantitativas na 
frequência dos geney capazes de adaptação podem ser verificadas a partir do claro exemplo do 
reino animal. O melanismo industrial é um fenómeno que tem sido observado em zonas de atmosfera 
poluída. As impurezas atmosféricas alteram, por exemplo, a cor da casca da bétula sobre a qual 
pousa a Biston betularia, a qual se adapta à cor clara da casca da bétula e dos líquenes que 
nela se desenvolvem. Nas zonas industriais começaram a aparecer, desde 1850, variantes com 
coloração mais escura do corpo e das asas (var. carbonária). Hoje sabemos que esta coloração 
melanística é originada por um único gene que condiciona também uma constituição mais robusta. 
Este gene apareceu primeiramente com diminuta frequência    e foi progressivamente eliminado, se 
bem que as borboletas que

215
Genética das populações

o transportavam fossem mais fortemente coloridas do que o «normal». A actividade do factor 
eliminador (pássaros) era considerável: a cor escura da «carbonária» permitia um mais forte 
contraste sobre o fundo claro dos troncos e dos ramos das bétulas. O melanismo continuou todavia 
a manifestar­se sob a forma de mutações, e com o progresso da industrialização a concentração da 
variedade escura, e assim do gene correspondente, aumentou sempre mais; hoje, em zonas 
fortemente industrializadas, sobe a
99 por cento, isto é, nestas regiões quase só se encontram borboletas escuras. A variante 
«carbonária», de facto, num ambiente industrial (no qual os troncos das bétulas estão 
notàvelmente escurecidos) está mais protegida da voracidade dos pássaros do que na forma clara 
originária «betularia» e actualmente é a «carbonária» que se tornou «normal». Este caso, que 
anteriormente provocou especulações do tipo lamarckiano, foi agora investigado com exactidão 
matemática por Ford e Kett,ewell, que o esclareceram mediante o maquinismo da selecção. Das suas 
investigações foi verificado que nas zonas industriais a variante «carbonária» sobrevive 10 por 
cento melhor do que a forma clara, ao passo que nas regiões não industriais a forma clara 
sobrevive 17 por cento melhor. Também a intensidade da pigmentação escura aumentou com o 
decorrer do tempo. Há mais casos com semelhante fundamento, que nos permitem conhecer as 
condições em que se dão as oscilações quantitativas na frequência dos genes e mostram sobretudo 
que a acção de adaptação, dos mesmos se explica através do aumento da frequência que se revela 
útil aos fins da selecção.

Acerca das flutuações génicas no seio das populações bumanas ainda pouco sabemos. Até agora não 
foram possíveis observações directas do fenómeno. Todavia, assiste­se com tanta frequência a tão 
significativa analogia com casos observados no reino animal que parece lícito considerar também 
para os seres humanos frequências crescentes de um gene, ísto é, fluxos genéticos (aparecimento 
de genes em populações que anteriormente não os possuíam) e se possam igualmente considerar os 
efeitos da selecção sobre genes capazes de produzir adaptação e suas combinações, sem que, no 
entanto, se possa afirmar seja o que for de

216
Genética das populações

preciso sobre as suas características especiais. Contudo, isto em principio é possível, embora 
«grosso modo», como, por exemplo, no caso da drepanocitemia (­> Genética humana), na qual os 
heterozigotos resistem à malária e são por isso favorecidos do ponto de vista da selecção; a 
selecção positiva proporciona o aumento da frequência do gene portador desta característica. Os 
homozigotos normais são eliminados pela malária. Quando a malária não se manifesta diminui a 
frequência do gene portador da drepanocitemia. Os drepanocitémicos homozigotos são naturalmente 
eliminados devido à malária hereditária.

Profundamente estudadas têm sido as variações quantitativas e geográficas de alguns sistemas 
sanguíneos, particularmente do sistema ABO (Birdse11). Assim, na Austrália falta normalmente o 
grupo sanguíneo B, que porém aparece com pouca frequência na parte setentrional do continente 
(Reche­Lehmann), devido à penetração por mar, através do estreito de Torres, de elementos 
raciais neomelanésios. Tal gene B penetrou ainda mais longe do que as

influências culturais papuas.  Vemos deste modo que os genes se difundiram para o Sul 
independentemente do estado cultural da população.  Isto é sómente um exemplo preambular, que se 
preanuncia  particularmente prometedor, do estudo estatístico dos fenómenos hereditários nas 
populações humanas.

Grande número de caracteres raciais podem ser considerados genèticamente condicionados, o que em 
muitos casos pode ser demonstrado. Deste modo faz­se implicitamente uma afirmação sobre o seu 
valor selectivo, se bem que este não possa ainda ser exactamente conhecido e apenas poucos 
caracteres possam ser interpretados como consequência de um processo de adaptação. De qualquer 
maneira está com­

provado que na formação das raças humanas só intervêm os mecanismos tratados na genética das 
populações, especialmente a selecção dos genes capazes de originar adaptação. Os fenómenos da 
flutuação genética devem ter desempenhado papel importante, especialmente na primeira fase da 
história das raças e na diferenciação filogenética dos hominídeos, pois nessa altura só deviam 
existir populações muito diminutas. De facto, quanto mais pequeno é o

217
História da antropologia

número de indivíduos que compõem uma população tanto mais eficaz é o efeito Sewa11­Wright 
(Schwidetzky).

A genética das populações é um ramo da genética evolutiva que, em poucas décadas, se transformou 
em fundamento científico exacto da investigação sobre processos evolutivos. Ainda que os 
resultados principais desta ciência tenham sido obtidos no estudo das populações animais, os 
seus métodos matemático­ estatísticos alcançaram um significado universal. Também os patrimónios 
genéticos das populações humanas e as suas modificações quantitativas podem ser estudados com os 
modelos da genética das populações. Porém, para os problemas da delimitação das raças, da 
formação delas e da evolução universal verificou­se já o que Darwin tinha formulado nas linhas 
fundamentais, ou seja que a evolução nã o se processa através de indivíduos, mas sim de 
populações.

História da antropologia ­­ A antropologia, considerada como ciência que aspira     a uma total 
compreensão do homem na pluralidade das suas manifestações, possui, se a compararmos com outras 
ciências, uma existência relativamente curta, se bem que   as suas raizes se estendam até 
bastante longe no passado. Já se encontram alguns esboços dela ­como de quase todas as ciências­ 
na Antiguidade Clássica (Aristóteles, Galeno). O termo antropologia, que remonta a Aristóteles, 
não voltou a ser utilizado por outros autores na Antiguidade (­> Antropologia). Durante a Idade 
Média não se verificaram progressos essenciais no que diz respeito ao problema da posição do 
homem na natureza.
O primeiro acontecimento científico de fundamental importância neste campo foi a classificação 
do homem no sistema dos animais elaborado por Lineu (1735), que coloca o homem ao lado dos 
antropóides: chimpanzé = = Homo sylvesíris ou Homo troglodytes; homem = Homo sapiens (« nosce te 
ipsum»). Foi esta a «primeira concepção puramente científica» do homem (E. Fischer). Johann. 
Friedrich Blumenbach (1752­1842) é considerado o verdadeiro fundador da antropologia. A sua obra 
mais importante, «De gencris humani varietate nativa» («Da Natural Variedade do Gênero Humano), 
constitui o fundamento da morfologia racial; a sua classificação dos homens em cinco

218
História da antropologia

raças foi geralmente aceite. Blumenbach fazia derivar as raças humanas de uma forma ancestral, a 
partir da qual teriam evoluído em consequê ncia de influências ambientais. A recolha de uma 
vastíssima colecção de crânios (actualmente em Gi5ttingen) também teve importância decisiva. 
Emanuel Kant (1724­1804) ocupa igualmente uma posição importante nesta primeira parte da história 
da antropologia. No ano de 1775, Kant revelou no seu escrito «Von den verschiedenen Racen des 
Menschen» («As Diferentes Raças Humanas») uma desenvolvida sistemática racial e uma teoria da 
raça. As raças remontariam a uma forma ancestral poligenética e teriam surgido principalmente 
devido à acção de influências climáticas. Como é natural, a formação filosófica de Kant 
desempenha papel essencial na elaboração das suas concepções antropológicas.

Com o, grande desenvolvimento verificado em todas as ciências naturais na primeira metade do 
século xix também a antropologia veio a adquirir novas bases. A sua importância não cessou de 
aumentar após Charles Darwin (1809­82) ter demonstrado a realidade da evolução dos organismos, 
ensaiando, mediante a teoria da selecção natural      Orígem do homem), uma explicação causal 
para esse processo evolutivo. A partir desse momento, grande quantidade de ciências auxiliares 
colocaram­se ao serviço da antropologia: geologia, paleontologia, pré­história e toda uma série 
de dados elaborados pela biologia. Neste esquema o homem constituía apenas uma parte do mundo 
biológico, se bem que na qualidade de «primus inter pares». Em muitos casos, porém, aconteceu 
sobreestimar­se a importância dos métodos naturalistas no atinente à obtenção de uma imagem 
acabada do homem, pois era frequente os cientistas ignorarem a «outra face» humana.

A importância excepcional que assumiu para a antropologia a darwiniana concepção dinâmica da 
estrutura dos organismos, ocupando o lugar do sistema estático até então dominante, não pode ser 
descurada. Assim como as outras ciências naturais ­principalmente a biologia e disciplinas 
afins­ foram extraordinàriamente fomentadas pelo darwinismo, assim também a antropologia 
conheceu um notável desenvelvimento nesta atmosfera. Com o contínuo enriquecimento do património 
de conhecimentos acerca do

219
História da antropologia

homem, foi possível a criação de uma antropologia verdadeiramente científica. Há uma data 
histórica que merece ser citada: a da fundação, por P. Broca (1824­80), em
1859, há mais de cem anos, portanto, da Société d'Anthropologie de Paris. A partir de então 
fundaram­se numerosas sociedades, mas são, sobretudo os seus trabalhos que caracterizam o 
caminho seguido pela antropologia no século passado, caminho largo nem sempre isento de desvios 
tortuosos,.mas apesar disso sempre progressivo e cada vez mais rico em descobertas. Eis as datas 
da fundação das mais importantes sociedades antropológicas: Anthropological Society of London, 
1863; Società italiana di antropologia, etnologia e psicologia comparata, 1869; Berliner 
GeselIschaft für Anthropologie, Ethriologie und Urgeschichte 1869; Anthropologische GeselIschaft 
in Wien, 1870; Anthropological Society of Washington, 1879; Società romana di antropologia, 1893; 
Frankfurter GeselIschaft für Anthropologie, Ethriologie und Urgeschichte, 1900; Institut 
Français d'Anthropologie, 1910; Institut de Paléontologie Humaine de Paris, 1911; Schwcizerische 
Gese11schaft für Anthropologie und Ethriologie, 1920; American Association of Physical. 
Anthropologists, 1921; Deutsche GeselIschaft für Physische Anthropologie, 1925.

Esta lista, embora fragmentária, mostra claramente o desenvolvimento que a antropologia atingiu 
como ciência até ao final da terceira década do nosso        século. O seu ulterior 
desenvolvimento processou­se com relativa rapidez, apoiado pelo aumento das colecções de 
espécimes, tanto em número como em extensão. Especialmente os achados de grandes quantidades e 
de séries completas de crânios (de raças recentes oriundas de todas as partes do mundo, 
sobretudo da Europa Ocidental) deram lugar ao nascimento de uma «craniologia» e ao 
desenvolvimento de uma rigorosa técnica antropométrica. Depois de A. A. Relzius (1796­1860) haver 
introduzido na antropologia o método dos «índices», a craniologia (e com ela a osteometría do 
esqueleto pós­craniano) adquiriu importância ràpidamente. As investigações craniológicas, 
contudo, acabaram por se tornar quase um fim em si próprias, porquanto foi largamente exagerado 
o valor probatório dos vários achados; além disso, a extrema minúcia das tabelas de números

220
História da antropologia

davam a ilusória impressão de uma exactidão científica na realidade inexistente. Simultâncamente 
também se leva­ ram a efeito mediç5es de seres vivos. Na Alemanha estas pesquisas foram 
principalmente fomentadas por Rudolf Virchow (1821­1902). No clássico tratado de Rudolf Martin, 
as técnicas antropométricas, actualmente usadas em todo o mundo (­> Métodos da antropologia), 
foram descritas de modo magistral. Actualmente é bastante evidente que a «época antropométrica» 
foi extremamente fecunda de resultados para a história da antropologia e, não em pequena escala, 
para a avaliação dos achados, cada vez mais numerosos, de fósseis hominídeos. Por outro lado, E. 
Fischer teve razão em sublinhar que naqueles tempos faltava ainda um conhecimento biológico do 
significado dos valores antropométricos. Com efeito, as leis de Mendel só vierpm a ser 
descobertas em 1900, e sómente através da formulação de uma rigorosa teoria da hereditariedade 
(pesquisas experimentais acerca da hereditariedade e das variações) se esclareceu 
progressivamente o significado dos dados obtidos em função de análises de tipo quantitativo. De 
resto, a «época antropométrica» ainda não chegou ao seu fim. Claro que se continua a medir, que 
se tem de continuar a medir. Pelo menos desde os tempos das clássicas investigações de Schwalbe 
sobre o crânio de Neandertal, sabemos que para a compreensão de grupos antropológicos e das 
relações quantitativas que caracterizam um crânio fóssil e o distinguem de outro crânio não se 
podem dispensar os métodos antropométricos. Todavia, ainda hoje é preciso estar atento ao perigo 
de incorrer na sobrevalorização destes valores puramente quantitativos (mesmo quando na sua 
determinação intervieram os modemos métodos estatísticos). Se bem que não se possa prescindir 
deles, deve ter­se em mente que ao lado, e muitas vezes à frente, das relações quantitativas das 
formas se encontra o aspecto morfológico que não é susceptível de ser revelado pelos 
instrumentos de medição do antropólogo.

Na segunda metade do século xix começou a desenvolver­se também a ­­­ > paleontropologia. O seu 
fundador foi 7. C. FuNratt, o qual recolheu, em 1856, perto de Dusseldorf, a calota do crânio do 
«homem de Neandertal»

221
História da antropologia

e nela reconheceu o resto de urna forma humana da era glaciária. Cora este achado iniciou­se a 
investigação científica dos fósseis humanos. Neste sector os fundadores dos estudos sistemáticos 
foram Marcellin Boule (1861­1942), em França, e Gustav Schwalbe (1844­1916), na Alemanha, para 
mencionar os dois investigadores mais importantes. A investigação paleontropológica abrange hoje 
quase todas as regiões da Terra e aumenta continuamente o número de achados. Além disso a 
quantidade sempre maior de conhecimentos acerca da multiplicidade de formas dos hominídeos 
recentes forneceu ulteriormente nova base para o desenvolvimento do conhecimento científico das 
raças humanas. O primeiro estudo moderno e sistemático das raças foi apresentado em 1900 por 7. 
Deniker, mas ainda sem conhecimentos genéticos suficientemente fundamentados. Deste modo o 
conceito de raça ficou estabelecido de modo um tanto vago e em sistemas de classificação mais ou 
menos arbitrários. Empreendeu­se prematuramente ­por ser insuficiente o grau de conhecimento das 
bases genéticas do conceito de raça­ a tentativa de interpretar a história da humanidade do 
ponto de vista do estudo das raças. Nestas condições, semelhantes tentativas foram levadas a 
efeito, de 7. A. Gobineau até L. Woltmann, sob a égide de sentimentos românticos e a partir de 
avaliações quase sempre subjectivas. O «racismo» político que veio a eclodir mais tarde 
fundamentou­se nestas tentativas e não se mostrou acessível aos protestos de um estudo das raças 
verdadeiramente científico. Às loucuras do racismo deve contrapor­se o estudo científico das 
raças (E. v. Eickstedt).

Em 1869, Francis Galton (1822­1911), primo de Charles Darwin, fundara já a eugenia, de cujo nome 
também foi o criador, mas ainda aqui se fazia sentir a falta de bases genéticas exactas, que só 
foram adquiridas mais tarde, com o desenvolvimento e a divulgação da obra de Mendel.

O início do capítulo moderno da história da antropologia pode datar­se do surto das primeiras 
investigações experimentais exactas das leis de Mendel. Adquiria­se assim uma nova base para o 
desenvolvimento da antropologia hodiema. O grandioso desenvolvimento das investigações sobre a 
hereditariedade (genética) impulsionou notàvelmente a problemática da antropologia. Eugen 
Fischer foi

222
História da antropologia

o primeiro a demonstrar que no cruzamento das raças humanas a transmissão hereditária das suas 
características era conforme às leis de Mendel (inquéritos acerca dos «bastardos de Rehoboth», 
1908). Precedentemente fora já comprovada a transmissão mendeliana de características humanas 
normais e patológicas; Fischer, porém, foi o primeiro a empreender a tentativa de analisar a 
transmissão das características no hibridismo humano. Estas investigações constituíram uma 
viragem importante no desenvolvimento da antropologia. Actualmente a «análise gené tica» do 
homem efectuou já notáveis passos em frente, sobretudo devido à ­­­> genética das popu1aç@es, 
que estudou as relações quantitativas de determinados genes nas populações (especialmente no 
que diz respeito aos factores sanguíneos), as variações nas concentrações genéticas e a sua 
distribuição geográfica, prosseguindo estes estudos com o máximo empenho (Boyd, Birdsell e 
outros). Estava assim lançada a pedra basilar de um conhecimento que actualmente nos parece 
quase óbvio, isto é, de que as raças são grupos de indivíduos de composições genéticas 
semelhantes, os quais, em última análise, se compõem de alelos mutáveis, combinados e 
diferenciados nas suas áreas geográficas, mas que se podem desintegrar nos cruzamentos. A 
diferença de raças não constitui impedimento à fecundidade. Conseguiu assim chegar­se ao 
conhecimento cada vez mais pormenorizado, em termos de causa e efeito, do processo de formação 
das raças: os genes sofrem mutações e através da selecçã o natural ou se agrupam em combinações 
de concentrações características, ou soçobram em face da pressão de uma selecção negativa. 
Actualmente trabalha­se com afinco na análise das acções recíprocas dos factores aqui 
implicados. A genética experimental, e particularmente a genética das populações (Th. 
Dobzhansky), apresentam­nos estes processos estudados em modelos laboratoriais favoráveis 
(Drosophila). Há cem anos, Charles Darwín apresentava pela primeira vez a sua teoria da selecção 
natural. A remodelação promovida nas últimas décadas pela teoria da selecção através dos dados 
da genética experimental (genética evolutiva), apoiada pela «New Taxonomy» («Nova Taxinornia») 
(7. Huxley, 1949), e pela paleontropologia (G. Simpson), cada vez mais orientada

223
História da antropologia

no sentido da genética evolutiva, conduziu, cem anos após ter sido proposta por Darwin, a uma 
grandiosa   confirmação   das   suas   ideias   fundamentais.   Fala­se   hoje   de   «teoria   sintética»   da 
evolução (­­­> Origem do homem). Chegou agora a altura de se poder formar um parecer sobre o 
valor   das   anteriores   tentativas   de   sistematização   das   raças   humanas.   E   já   que   os   nossos 
conhecimentos nesta matéria são ainda, no seu  conjunto, bastante escassos, podemos fundamentar, 
desde o início, as nossas modernas tentativas de sistematização (v. Eicksted@, a partir de 1934 
­­> Sistemática das raças) em bases genéticas, o que só era possível teóricamente.

Os   progressos   efectuados   pela   investigação   etnológica   e   pela   psicologia   das   raças   (ciências 
que*constituem, por assim dizer, «a outra face» da antropologia global) fornecem cada vez mais 
material para a sintese extensa, para a imagem total da humanidade recente e do homem de hoje 
(v. Eickstedt,­ Renato Biasutti, 1940). Não só os

processos  históricos que  conduzem  à humanidade  recente se  mostram acessíveis  à análise  (~­­> 


História   das   raças,   ­­­>   Gênese   das   raças)   ­embora   em   medida   ainda   limitada­,   como   também   o 
extraordinário   desenvolvimento   que   a   ­­­>   paleontropologia   tem   tido   nos   últimos   anos   revela 
lentamente o processo formal das mutações filogenéticas, facultando a genética uma perspectiva 
mais aprofundada dos fenômenos causais que ocorrem durante estes processos.
O   quadro   do   desenvolvimento   filogenético   torna­se   cada   vez   mais   claro,   e   para   isso   também 
contribuem de maneira relevante os progressos alcançados pelas investigações sobre os primatas 
não hominídeos (A. H. Schultz, Zurique). Actualmente, a primato!ogia é uma ciência especial em 
pleno desenvolvimento, com os seus simpósios, sociedades e revistas. Além disso, a investigação 
morfológica   e  fisiológica  do   corpo  humano   ­  anteriormente  relegada   para  um   plano  secundário, 
como se a genética pudesse substituí­Ia ­

constitui a pedra­base da síntese total em curso. A ­­­> genética humana tornou­se, com o tempo, 
desde   os   primórdios   da   época   clássica   de   Mendel,   um   perfeito   e   imponente   edifício.   Para   nos 
apercebermos disso basta folhear os modemos tratados de C. Stern (1950) e de O. v. Verschuer

224
História das raças

(1959). Deve reconhecer­se, todavia, que os clássicos tambem se encontravam no caminho certo.

O objectivo da investigação antropológica ­obter o material para a aquisição de uma imagem total 
do homem, para a compreensão da sua estrutura, da estrutura da humanidade em geral, para uma 
compreensão causal da origem desta estrutura­ está a ser intensivamente perseguido, para o que 
concorrem os esforços de antropólogos de todo o mundo com todos os meios de que actualmente se 
dispõe.

A   moderna   antropologia,   sensivelmente   apoiada   no   desenvolvimento   da   genética,   adquire   agora 


bases   sólidas   para   se   dedicar   cada   vez   mais   às   tarefas   resultantes   das   suas   relações   com   a 
medicina (biologia da constituição, E. Kretschmer, K. Saller) e para actuar como «antropologia 
aplicada»   (no   sentido   mais   lato;   ­­­>   Antropologia   social)   até   na   sua   aplicação   forense 
(investigações da paternidade (­­­> Comprovação da    paternidade).

História das raças ­­ Após o início do segundo máximo de frio da última glaciação (Würmiano) na 
Europa, o Homo sapiens fóssil estava já completamente diferenciado, como demonstram numerosos 
achados   relativos   à   morfologia   do   crânio   e   do   esqueleto,   além   de   abundante   documentaçâo   da 
cultura dos primeiros grupos da população pertencente incontestàvelmente à nossa espécie. Já não 
é possível a dúvida de que não existe diferença fundamental, tanto física como psíquica, entre 
os primeiros achados fósseis do Horno sapiens e a humanidade actual. A história das raças do 
Homo sapiens abrange assim um período calculado em cerca de 50 000 anos. A subdivisão da matéria 
deve tomar em consideração critérios geográficos, isto é, deve ser baseada em continentes ou em 
grandes espaços intercontinentais, porquanto cada grupo racial não coincide inteiramente com um 
continente (por exemplo, os Europóides que se disseminaram desde a sua origem também por grande 
parte da Ásia e da África). Para os grandes espaços continentais segue­se sensivelmente o mesmo 
esquema cronológico: Paleoolítico Superior (cerca da segunda metade do último período glacial), 
Mesolítico (período da passagem da Idade da Pedra Lascada à da Pedra Polida.

225
História das raças

Deste   período   data   a   primeira   transformação   «revolucionáría»   dos   modos   de,   vida   para   uma 
consciente produção de alimentos e para o sedentarismo). Neolítica (Idade da Pedra Polida; onde 
tem   início   a   história   das   várias   populações   até   à   Idade   Moderna,   não   considerando   porém   na 
distribuição   da   população   mundial   as   n­ligrações   que   se   desenvolveram   a   partir   da   época   dos 
Descobrimentos.   Para   evitar   repetições   de   alguns   fenómenos   dos   quais   teremos   mais   ocasião   de 
falar, é oportuno fazer proceder concisamente algumas consideraçõ es e examinar preliminarmente 
alguns aspectos particulares.

GENERALIDADES.   já   se   demonstrou   desenvolvidamente   no   artigo   ­>   pa!eontropologia   que   os 


precursores do Horno sapiens remontavam a um passado bastante longínquo, Recordemos apenas que 
com   os   achados   de   Fontéchevade   (França)   temos   pela   Europa   até   ao   fim   da   última   época 
interglacial formas aproscopíncas milito semelhantes às do Homo sapiens, às quais corresponde na 
Palestina, durante o primeiro período da última é poca glacial, com o grupo do Monte Carmelo­
Kafzeh,   uma   população   híbrida   (segundo   alguns)   do   pré­sapiens   e   pré­neandertalianos.   Podemos 
supor, embora  nos faltem indicações  precisas acerca  das presumíveis regiões  das origens  e do 
desenvolvimento   do   Homo   sapíens,   que   este,   pouco   depois   de   ter   atingido   a   sua   total 
diferenciação, expulsara as formas humanas mais antigas, propagando­se ràpidamente através da 
Europa,   Á   sia   e   África.   Mas   depressa   avança   também   pelo   Sudeste   da   Ásia   e   Indonésia   até   à 
Austrália sempre  que istmos  de terra  firme  lhe  permitiam  passagem  (abaixamento eustático,  do 
nível das massas marinhas pelo congelamento da água nas grandes calotas de gelo da última época 
glacial). A primeira colonização da América pelo homem, em conformidade com os elementos de que 
actualmente dispomos, só se processou na segunda metade da última época glacial, através de uma 
ponte de gelo no estreito de Behring; grupos mais numerosos alcançaram a América Setentrional 
cerca do fim da última época glacial, e em tempo relativamente curto radicaram­se por todo o 
continente enquanto sempre novas vagas de população atingiam o Nordeste asiático.

226
História das raças

Em todas as épocas da história da evolução só dispomos de populações ou grupos de populações, 
mas   não   de   «raças   puras»   (­­­>   Conceito   de   raça,   ­>   Gênese   das   raças).   Nos   tempos   da   ainda 
parasitária economia da caça e da colheita do Homo sapiens fóssil, a densidade da população nas 
partes da Terra habitadas pelo homem devia ser extremamente baixa. Na segunda metade da última 
época glacial a população mundial devia atingir únicamente na sua totalidade escassas dezenas de 
milhares de pessoas; no último terço atingiria já provàvelmente algumas centenas de milhares. 
Comparada com o longo período de cerca de 40 000 anos, que devemos fixar para o Paleolítico 
Superior, a quantidade de ossadas e crânios humanos que possuímos é extremamente exígua. Estes 
repartem­se principalmente pela Europa e Ásia Menor, mais bem pesquisados, enquanto até agora os 
menos documentados são os da Ásia Oriental, da África Oriental e Meridional. Alguns achados da 
Indonésia e da Nova Guiné­Austrália não podem ainda, infelizmente, ser datados com segurança. 
Díspomos @nicamente de alguns exemplares para um período de tempo que abrange qualquer coisa 
como 1600 gerações. Apesar do facto de os caçadores, conforme os hábitos de vida dos animais que 
eles   perseguiam,   terem   provàvelmente   existência   nómada   em   territórios   abertos   na   sua   maioria 
(pradarias, estepes, etc.) o conjunto da populacão mundial, fragmentada em pequenos grupos do 
tipo tr;bal, derivados de núcleos familiares (uma vintena de indivíduos) distríbuía­se por um 
espaço gigantesco. Este enorme território compunha­se de grandes regiões divididas, repartia­se 
por zonas de montanha, de alta montanha e de outras, menos acessíveis, de florestas tropicais: 
formaram­se assim com diversas modalidades, segundo o tempo e o espaço, estas regiões, chamadas 
áreas de isolamento, que ofereceram o melhor ponto de partida para a formação das raças.

Mas é preciso também frisar a circunstância de o material fóssil de que dispomos actualmente não 
nos ter permitido a interpretação, nas várias regiões, das raças perfeitamente distinguíveis de 
conformidade com a nossa definição do conceito de raça. Se confrontarmos os achados actualmente 
existentes respeitantes a urna grande área geográfica com a gama das variedades, depreende­se da 
sua

227
História das raças

composição,   apesar   de   unitária,   respeitante   às   combinações   de   caracteres   típicos   de   restos 


fósseis,   que  não   podemos  ainda   empregar   rigorosamente   o  conceito  genético  de   raça.  Portanto, 
quando na antiga literatura antropológica, ou ainda mesmo actualmente, determinados grupos de 
crânios   ou   achados   fósseis   são   designados,   em   relação   ao   local   onde   foram   encontrados,   como 
«raça de ... » essa formulação deverá ser encarada com reserva. A amplitude das variações dos 
pequenos grupos de caçadores da época glacial no âmbito das unidades maiores de então era tão 
grande como a que se encontra hoje nas actuais populações. Em todo o caso deve usar­se da máxima 
prudência   na   interpretação   imediata   das   diferenças   existentes   entre   os   peque4   nos   grupos   de 
maneira sistemático­metódica, isto é, na acepção do conceito genético de raça. Esta limitação 
não   significa   que   naquele   tempo   não   tivessem   existido   raçassemelhante   afirmativa   estaria   em 
contradição com todas as experiências e observações biológicas ­ mas o escasso número de achados 
susceptíveis   de   apreciação   (na   maioria   apenas   fragmentos,   e   nunca   peças   completas)   não   nos 
permite ainda uma subdivisão cientificamente baseada em mais raças. Além disso há a considerar 
que os restos do Homo sapiens de que dispomos compreendem uma gama completa de variações dos 
tipos   constitucionais   de   então.   Este   conjunto   é   caracterizado   por   duas   variantes   extremas 
perfeitamente individualizadas:

1) Estatura abaixo da normal, com valores médios no macho à volta de 1,65 m; maior envergadura. 
O crânio é alongado (dolicocrânio), a largura máxima é em regra de 75 por cento em relação ao 
comprimento máximo; visto posteriormente (norma occipital) tem a forma de abóboda, os parietais 
são verticais e a largura máxima encontra­se relativamente na parte superior; em norma lateral o 
frontal pode variar de oblíquo a direito, a curva craniana é relativamente elevada, o occipital 
é arredondado. A apófise mastoidea é bastante desenvolvida. Contráriamente aos arcantropídeos e 
aos palcontropídeos (Homo sapiens) não têm toro supra­orbital, mas arcadas supraciliares mais ou 
menos desenvolvidas. Entre as duas arcadas supraciliares acima da raiz do nariz encontra­se uma 
nítida proeminência, a glabela, que pode apresentar um

228
História das raças

rebordo mais destacado, mas que não constitui ininterrupta continuidade com a própria arcada, 
uma autêntica viseira, ou toro. A face é de largura média e estreita e por vezes alongada, as 
órbitas   variam   entre   forma   baixa   e   rectangular   e   alta   e   redonda,   a   raiz   do   nariz   está 
profundamente inserida, a cana do nariz é por vezes bem pronunciada, a abertura nasal é em geral 
estreita e alta. A face, com saliência bastante marcada, apresenta acentuada inflexâo do perfil 
frontal do maxilar. A região do mento é nitidamente marcada. Como forma típica para a Europa 
pode ser apresentado o crânio de Combe Capelle (França).

2)   Estatura   superior   à   normal,   com   valores   médios   ne,   macho   à   volta   de   1,70   em   ou   acima, 
compleição robusta.
O crânio é igualmente alongado ainda que mais largo do que no tipo precedente (dolicomorfo), o 
perfil, em norma superior, é mais acentuadamente pentagonóide, a máxima largura atinge em média 
75 por cento a mais do comprimento máximo. A região frontal apresenta,       na generalidade, as 
arcadas supraciliares e a glabela mais acentuadamente desenvolvidas, mas também sem toro supra­
orbitário. A forma geral da face é larga e baixa;        a impressão de largura é provocada pela 
grande saliência    lateral dos zigomas, quer pela do    ângulo mandibular, que'salienta assim, 
em norma lateral,    a angulosidade do crânio, que é além disso notàvelmente maciço. Completam 
esta   imagem   de   conjunto   as   órbitas   muito   largas   e   baixas   e   uma   abertura   nasal   relativamente 
pronunciada.   Este   tipo   encontra­se   perfeitamente   definido     no   primeiro   achado   europeu,   o   « 
velho» de Cro­Magnon (França), que por isso tomou a denominação do tipo de Cro­Magnon.

As combinações típicas dos caracteres descritos nas alíneas 1) e 2) e os dois correspondentes 
tipos­padrões   coligidos   da   gama   tipológica   do   Homo   sapiens   europeu   encontram­se   ainda   mais 
salientadas   em   todos   os   achados   do   Paleolítico   Superior.   Sómente   uma   parte   dos   caracteres 
raciais,   e   particularmente   as   características   externas   relativas   à   pele,   aos   cabelos   e   à 
pilosidade,   à   musculatura,   etc.,   se   pode   ter   desenvolvido   ‘em   consequência   de   uni   efeito 
selectivo  «dirigido» (efeito de clima) e é por isso hoje fàcilmente deduzível como a estrutura 
óssea do nosso corpo,

229
História dns raças

assim como o crânio, se devem ter transformado lentamente (­­­> Gênese das raças). Não é por 
isso surpreendente para o biólogo o facto de a diferenciação nos grandes ramos raciais, hoje 
perfeitamente distinguível, dos Europóides, Mongolóides e Negróides começar a ser perceptível no 
esqueleto apenas desde o fim da última época glacial. Este processo de diferenciação das antigas 
feririas do Homo sapiens nos respectivos territórios deve ter de princípio sido menos acentuado, 
pois   as   populações   confinadas   nas   zonas   periféricas   não   podiam   experimentar   senão   em   escala 
muito reduzida o efeito conjunto do isolamento e da selecção. Por consequência, nos achados mais 
antigos,  bem como  hoje nas  zonas geográficas  de refúgio  (áreas marginais,  penínsulas, ilhas, 
regiões   florestais   ou   montanhosas),   encontram­se   grupos   que   representam   ainda   de   modo   nítido 
esta   forma   arcaica,   com   todas   as   características   próprias.   Dos   grupos   ainda   hoje   existentes 
destacamos os seguintes: os Ainos, no Japão, os Austrálidas, na Indonésia/Oceânia, os Védidas, 
no Sul e Sudeste da Ásia, os Esteatopígidos na África Meridional.

De todos estes povos se pode demonstrar, com certeza, que em tempo estavam difundidos por áreas 
muito mais vastas. Os chamados tipos arcaicos não acompanharam, ou sómente o fizeram em parte, a 
transição   para   novas   formas   extensivas   de   economia   e   produção   que   surgiram   a   partir   do 
Mesolítico. Desfavorecidos pelo atraso das suas formas de vida e de economia, repelidos pela 
crescente pressão demográfica de regiões de economia intensiva, foram­se deslocando para regiões 
marginais cada vez mais pobres.

Para   explicar   como   nunca   entre   os   tipos   arcaicos   se   conservaram   as   longas   combinações   de 
características indiferenciadas, poder­se­á recordar que durante todo o período do Palcolítico 
Superior   os   meios   de   nutrição   baseavam­se   pràticamente   na   caça,   e   este   facto,   bem   como   as 
condições das regiões mais adaptadas para tal género de vida, deviam ter reduzido o efeito da 
selecção «ecológica». Esta argumentação poderá justificar, dentro de certos limites, a falta de 
diferenças   de   grupos   claramente   releváveis   nos   antigos   restos   fósseis   do   Homo   sapiens 
distribuídos por todo o

mundo. Para a impressão de uniformidade que se colhe

230
História das raças

da apreciação de tais restos contribui além disso ainda o pequeno número de lósseis que remontam 
à época de que se fala. Uma mais vasta base material poderia também ter como resultado maior 
variedacie. De qualquer maneira, será necessário ter sempre presente, como já se

acentuou,   que   as   populações   das   regiões   periféricas,   em   conformidade   com   a   sua   separação, 
relativamente   cedo,   da   região   de   origem,   apresentam   cada   vez   menos   acentuados,   ou   seja   em 
complexo menos diferenciado, os caracteres do património génico do que quando ocupavam a

região   originária.   Esta   região   de   origem   não   está   ainda   exactamente   definida,   em   face   da 
colheita   do  material   antropológico;  talvez  seja   possível  determiná­la  aproximadamente  sobre  a 
base de documentos culturais ou em particular sobre a das manifestações artísticas dos grupos 
dos grandes caçadores do Palcolítico Superior. Na Europa Ocidental prevalecem pinturas e baixos­
relevos de grandes dimensões enquanto para o Oriente, ainda na Europa, e mais além, na Sibéria, 
surge   um   domínio   exclusivo   de   pequenas   esculturas   e   incisões   nos   ossos.   Apesar   de   também 
existirem noutros continentes pinturas e incisões nos ossos, a primazia cronológica do espaço 
eurasiático, bem como a capacidade demonstrada, impõe­se de modo tão impressionante que, apesar 
de faltarem documentos susceptíveis de avaliação antropológica no Oriente da Europa e na região 
siberiana,   poder­se­ia   localizar   neste   domínio,   com   certa   probabilidade,   a   área   central   de 
diferenciação   do   Homo   sapiens   fóssil.   Esta   suposição   não   passa,   claro,   de   hipótese,   mas   é 
confirmada pelo facto de os restos fósseis do Homo sapiens descobertos nos outros continentes 
serem relativamente recentes; um outro argumento particular a seu favor consiste no facto de os 
mais   antigos  restos   do  Homo   sapiens  encontrados   na  Europa   serem  já   plenamente   diferenciados. 
Tudo   isto   não   está   em   oposição   com   a   hipótese   de   eles   se   terem   introduzido   na   Europa   neste 
período   vindos   do   Oriente.   No   grande   continente   eurasiático,   com   os   seus   vastos   territórios 
abertos,   encontra­se   portanto   a   região   na   qual   se   teria   desenvolvido   o   Homo   sapiens;   a 
confirmação científica desta hipótese tem de se deixar ainda ao futuro trabalho de investigação.

231
História das raças

A DOCUMENTAÇÃO. Sobre que material baseamos as nossas opiniões e a subdivisão da história das 
raças   do   Homo,   sapiens?   Em   primeiro   lugar   estão   naturalmente   os   achados   antropológicos   das 
escavações, tais como ossos, esqueletos e restos de esqueletos. A sua distribuição e a diferente 
frequência dos achados que constituem o património actual são o resultado, em larga medida, de 
intensivo   trabalho   de   pesquisa   em   vários   países.   A   este   facto   deve   juntar­se   outro   factor 
essencial, ou seja a variedade das formas de inumação e depois a possibilidade de conservaçã o 
do   terreno   local,   o   qual   incide   notàvclmente   sobre   o   estado   e   a   quantidade   dos   achados.   Em 
regiões   abundantes   de   cavernas,   que   ofereciam   ao   homem   do   Paleolítico   Superior   favoráveis 
condições de alojamento e que, pelo menos na Europa, não foram mais utilizadas desde a época 
glacial, a probabilidade de conservação dos restos humanos é incomparàvelmente mais elevada do 
que a dos achados disseminados por vastas regiões planas; já não se fala nas mais favoráveis 
condições de fossilização para o material ósseo provocadas pelo alto teor de calcário da água 
das cavernas. Nas planicies, a falta de calcário das plantas e a erosão operada pela água leva a 
condições de conservação essencialmente menos favoráveis; é necessário igualmente considerar a 
destruição   provocada   pela   intensiva   utilização   do   solo   e   também   pelos   processos   de 
estratificação  superficial,  que,   ocultando  na  profundidade  da  terra  os  restos  precedentemente 
inumados,   os   aniquilam.   Particularmente   pequena   é   a   probabilidade   de   conservação   do   material 
ósseo em regiões cobertas de florestas, especialmente as da zona tropical, devido ao alto grau 
de humidade e à elevada percentagem de detritos vegetais dc> solo, que origina a

rápida   decomposição   do   material   ósseo,   impedindo   quase   completamente   quaisquer   processos   de 
fossilização.   Não   obstante   a   falta   de   material   ó   sseo   humano           ‘   temos   porém   notícia   da 
presença do homem em determinadas regiões pelo trabalho de objectos culturais susceptíveis de 
conservação, sobretudo utensílios de quartzito, de pederneira e de obsidiana. O estudo daqueles 
restos   permite   documentar   com   bastante   seguranç   a   a   presença   do   homem   nas   regiões   por   ele 
atravessadas   ou   colonizadas   e   avaliar   aproximadamente   a   densidade   da   população.   Antes   da 
passagem ao

232
História das raças

estado   sedentário,   isto   é,   quando   as   várias   populações   viviam   quase   exclusivamente   da   caça, 
calcula­se que um pequeno grupo familiar (cerca de uma vintena de pessoas) tivesse necessidade 
para sobreviver de uma reserva de caça de cerca de 100 km2 ou mais. Neste período as regiões 
mais densamente arborizadas deviam ter sido evitadas pela sua carência de meios de subsistência. 
As populações de caçadores deviam tê­las atravessado ao longo dos grandes cursos fluviais, ou 
então   tê­las   rodeado   seguindo   a   linha   costeira   aproveitando   as   estepes.   A   distribuição   dos 
achados pré­históricos confirma que o homem, mesmo durante o Paleolítico Superior, preferia as 
zonas abertas.

Quanto   mais   nos   avizinhamos   dos   períodos   «históricos»   tanto   mais   ricas   se   revelam   as   nossas 
fontes   e   tanto   mais   seguros   se   tornam   os   critérios.   Com   o   aparecimento   da   representação   da 
figura humana, nos fins do Neolítico, e

com   o  surgir   da  tradição   escrita   dispomos  dos   primeiros   dados  cientificamente   utilizáveis   do 
aspecto exterior de determinados grupos humanos da época, embora não se possa atender a que tais 
reproduções ou descrições nos forneçam um quadro fiel da realidade ou a que sejam consideradas 
do ponto de vista antropológico. Antes de se formularem conclusões definitivas deste material 
documental devemos atender aos achados antropológicos do mesmo tempo e da mesma região. Limitam 
a certeza das nossas conclusões o escasso património dos instrumentos utilizados pelos nossos 
antepassados, assim como dós meios de expressão (relevo, escultura); a isto acresce o facto de a 
tendência inconsciente ou deliberada (ideais, de beleza, aversão aos estranhos) poder reduzir 
bastante  o   valor   documental  das   representações  artísticas   ou  das   descrições.   Na  figuração  ou 
descrição   dos   «inimigos»   devemos   ter   presente   que   os   traços   que   se   afastam   da   norma   própria 
podem   ser   exagerados   ou   fortemente   acentuados.   Quanto   aos   diversos   padrões   de   beleza   então 
expressos  basta  considerar  a produção  artística  do nosso  tempo  para compreendermos  quanto um 
ponto de vista pode ser unilateral; além disso devemos pensar que um ideal de beleza não nos 
deve dar a imagem aproximada de uma população como também não nos dá necessàriamente as suas 
características. No entanto, apesar de sujeitos a exames tão crí­

233
História das raças

ticos, essas antigas descrições ou reproduções forneceram preciosos esclarecimentos para o nosso 
trabalho; porém não devem ser consideradas sem reservas, mas sim cuidadosamente examinadas no 
seu possível conteúdo de verdade. Desse modo, os equívocos podem ser eliminados com relativa 
rapidez. Assim, por exemplo, no início deste século supunha­se que os Hititas, na Ásia Menor, 
segundo reproduções do seu tempo, fossem acentuadamente braquicéfalos, e procurava­se, portanto, 
colocá­los em paralelo com a raça armeniana, hoje fortemente disseminada pela região. Actual~ 
mente   sabemos,   graças   à   série   de   esqueletos   hititas   que   entretanto   foram   descobertos,   que   o 
crânio curto e posteriormente arredondado não era característica dessa região naquele tempo.

Esta forma, e ainda com fracos indícios, sómente começa a apresentar­se alguns séculos depois, 
cerca de 500 anos a. C., ou seja 1000 anos após as representações artísticas hititas de que 
tivemos ocasião de falar, e só muito mais tarde se tornaram o elemento típico daquela região 
(Ver   mais   adiante:   braquicefalização).   Também   podemos   verificar   surpreendentes   deformações   do 
mesmo gênero nas primeiras reproduções de «indigenas» da época dos Descobrimentos, por volta de 
1500, em que os desenhadores «europeizavam» notàvelmente os seus modelos. Nestes casos também se 
deve imputar grande parte da culpa à falta de conhecimento pessoal, o que também contribuiu para 
as   representações  bastante   humanizadas  dos   símios  antropomorfos  da   mesma  época.   Só  começou   a 
impor­se   uma   representação   exacta   a   partir   do   século   xix,   altura   em   que,   ou   se   dispunha   de 
material   original,   ou   tomavam   parte   nas   expedições   pessoas   com   razoáveis   conhecimentos   de 
desenho.   Estas   indicaçõ   es   têm   o   fim   de   salientar   até   que   ponto   é   preciso   verificar 
cuidadosamente o possível valor antropológico das reproduções plásticas ou em relevo dos tempos 
pré­históricos. Também já está suficientemente provado que, mediante crítica adequada, até os 
antigos relatos de viagem podem fornecer­nos esclarecimentos essenciais, e que não devemos pô­
los de parte como inverosímeis. Por exemplo, as indicações acerca dos Pigincus africanos citadas 
por Homero só puderam ser cientificamente comprovadas na segunda metade do século passado,

234
Ilistória das raças

isto é, na época da sua descoberta (ver mais adiante: o problema dos Pigmeus). No que respeita a 
indicações mais específicas como, por exemplo, a cor da pele, do cabelo e dos olhos (compleição 
«clara»   ou   «escura»)   temos   de   ser   prudentes   na   sua   avaliação,   pois   as   indicacões,   ou   os 
pormenores   (nas   representações   artísticas),   poáem   não   corresponder   à   média   da   população   e 
designar   apenas   um   ideal   de   beleza   ou   algo   inédito.   Podemos   apenas   deduzir   daí   que   foram 
representadas   ou   observadas   as   correspondentes   compleições   de   cor,   e   não   tirar   qualquer 
conclusão sobre a

percentagem real, que só por si se reveste de importância para a história das raças (pigmentação 
ou despigmentação). Apesar de tudo, mesmo essas indicações assumem um alto valor científico, o 
que   é   especialmente   válido   para   os   Europóides   e   o   esclarecimento   da   sua   presumível   área   de 
origem. Como não possuímos hoje ideias precisas sobre a região de origem e do desenvolvimento da 
despigmentação, quando numa determinada área encontramos documentada a presença da compleição 
clara   devemos   utilizá­la   como   característica   racial,   concluindo   que,   pelo   menos   em   parte,   a 
referida área teria sido habitada por Europóides. E chegamos aqui ao importante problema de como 
poderemos abranger de modo fecundo, do ponto de vista da história das raças, as modificações da 
população, superstratificações e migrações, a partir do material dos esqueletos e documentos e 
critérios adicionais, pela investigação histórica, histórico­cultural e linguística.

DESENVOLVIMENTO DEMOGRÁFICO E DINÃMICA DA HISTó­ RIA DAS RAÇAS. O desenvolvimento da população e 
os   seus   problemas   serão   estudados   especificamente   nos   artigos   ­­­>   demografia   e   ­­­> 
antropologia social. Do ponto de vista de história das raças temos apenas de tratar sucintamente 
do antagonismo existente entre as «zonas de adensamento» (isto é, espaços de contínua e lenta 
pressão demográfica) e os «centros de instabil­idade» com densidade demográfica relativamente 
baixa; estes adquiriram grande importância, do ponto de vista histórico, e também, ainda que em 
escala mais reduzida, do ponto de vista biológico, e daqui da história das raças, na medida em 
que provo­

235
História das raças

caram movimentos e modificações das grandes massas populacionais.

já anteriormente acentuámos que durante o Paleolíticu Su  erior a densidade da população, devia 
ter sido extraordinariamente escassa, como se pode deduzir da utilização parasitária, por parte 
do   homem,   dos   recursos   naturais.   Com   o   fim   da   última   época   glacial   e   o   termo,   com   ele 
relacionado, das fortes transformações climáticas, desapareceram da Europa e de extensas regiões 
asiáticas os grandes rebanhos selvagens que constituíam os recursos principais da população de 
caçadores. Apesar disso podemos observar de modo geral ­com diferenças regionais e variações do 
tempo,   acrescidas   ainda   de   diversas   condições   climático­ecológicas­   uma   maior   quantidade   de 
espólios   culturais   que   permitem   adivinhar   uma   progressiva   densídade   demográfica.   Pois   que   um 
aumento de população pressupõe uma mais ampla base de alimentação e porque a oferta natural da 
subsistência   não   acompanhou   aquele   aumento,   é   de   calcular   neste   período   o   início   de   certa 
produção de alimentos através da iniciativa própria do, homem. Eram duas as possibilidades em 
perspectiva: a produção de alimentos pelo cultivo das plantas, em conexão com o sedentarismo 
temporário ou permanente, ou a transição para a pastorícia, e com isso a criação de gadc,, após 
i   domesticação,   mais   ou   menos   rápida,   de   determinados   animais   selvagens.   A   utilização   das 
plantas   permitiu   desde   o   início   o   aproveitamento   intensivo   de   espaços   limitados,   enquanto   a 
pastorícia se conservou durante muito tempo de rendimento extensivo (só mais tarde se verificou 
o   apro­   veitamento   do   leite),   exigindo   grandes   áreas   e   deslocações   contínuas   (nomadismo   dos 
pastores).   Com   base   em   dados   actuais,   pode­se   afirmar   que   decorreu   muito   tempo   antes   que   se 
ligassem   as   duas   formas   de   economia   no   trabalho   dos   camponeses.   A   história   do   cultivo   das 
plantas, a história dos animais domésticos, a genética, etc., permitem­nos hoje concluir que a 
passagem   ao,   estádio   da   produção   dos   alimentos   se   processou   nas   diversas   regiões   e   zonas 
climatéricas   independentemente   umas   das   outras   e   se   baseou   de   princípio   nos   animais   e   nas 
plantas utilizáveis autóctones.

A agricultura como forma de produção intensiva de alimentos permitiu, nas regiões apropriadas, 
um desenvol­

236
História das raças

vimento   demográfico   relativamente   rápido,   pelo   que   é   possível   verificar,   com   documentos 
provenientes de escavações no Próximo Oriente, que o início do sedentarismo humano e fixação 
duradoura nesta região se pode reportar a cerca de oito milénios antes da era cristã. Claro que 
se trata de um desenvolvimento que requereu largos períodos de tempo e gradações sucessivas. O 
que é essencial para o nosso estudo é que parte importante da população se deslocava ràpidamente 
para as zonas onde, através da utilização das plantas, isto é, da economia agrícola, se obtinha 
uma base mais favorável para a alimentação de populações em crescimento.

O adensamento da população em espaços restritos permitiu então pela primeira vez a formação de 
uma organização com várias camadas (classes) de especializações profissionais e, a partir daí, a 
constiruição de uma estrutura política (estado). Tal fenómeno não era possível em relação aos 
grupos de pastores nómadas, aos quais faltava uma base de alimentação. As regiões habitadas por 
pastores   nómadas   apresentavam,   comparativamente   com   as   zonas   ocupadaspelos   agricultures, 
densidade   de   população   muito   mais   reduzida;   apesar   de   tudo,   a   criação   de   gado   permite   uma 
densidade de população notàvelmente: maior do que a que se regista em zonas nas quais pequenos 
grupos   buscam   os   alimentos   com   sistemas   primitivos   puramente   para­   ,sitários.   O   pastorcio 
nómada, por seu lado, pela necessidade que tem de espaços enormes, dos seus programas a longo 
prazo (necessidade de mudar de pastagem segundo as estações, de procurar nascentes para dar de 
beber aos animais) e da consequente organização, adquiriram particulares qualidades, que lhes 
deram,   depois   da   domesticação   dos   animais   de   montada,   a   superioridade   militar.   A   lenta   e 
progressiva seca, no período pós­glacial, das zonas origináriamente mais favoráveis à criação de 
gado, transformou  estas regiões, não obstante a fraca densidade da população, em «centros de 
instabilidade», dos quais novos grupos de população se deslocavam para regiões mais favorecidas.

Regiões de mais elevada densidade de população, tal como os centros de instabilidade, exercem 
acção mais ou

menos limitada, mas que tem sempre como efeito que grupos populacionais com formas de economia 
mais primitiva

237
Ilistória das raças

sejam   também   impelidos   para   essas   regiões   cada   vez   mais   desfavoráveis   e   se   encontrem   em 
inferioridade   numérica   cada   vez   mais   evidente.   Mas   quando   elas   próprias,   estimuladas   por 
contactos   culturais,   transitam   para   um   sistema   superior   de   economia,   podem   também,   por   seu 
turno,   contribuir,   em   escala   crescente,   para   a   formação   de   centros   de   elevada   pressão 
demográfica. Estes processos, dos quais mencionamos os mais importantes e por vezes decisivos do 
ponto   de   vista   da   história   das   raças,   evoluem   muitas   vezes   ligados   entre   si.   Agricultores   e 
pastores,   depois   de   a   sua   região   de   origem   atingir   o   máximo   de   densidade   de   população 
conciliável com os recursos naturais e com a forma de economia utilizada, devem ter procurado as 
regiões   da   vizinhança   que   lhes   fossem   mais   propícias,   e,   nesta   expansão   da   sua   zona   de 
colonização,   ou   absorveram   os   grupos   de   populações   já   estabelecidos   nesses   territórios   ou 
expulsaram­nos para áreas florestais ou montanhosas, de que até então tinham fugido, ainda mais 
desfavoraveis para a sua atrasada forma de economia. Além disso a separação ecológico­ económica 
dos diversos grupos de populações no espaço geográfico (­­> Gênese das raças: isolamento), pode 
levar, após longo tempo, à separação biológica. O desenvolvimento das formas de agricultura nas 
regiões tropicais possibilitou também para estas zonas um notável aumento populacional, o que 
permite   situar   nitidamente   em   África   a   área   central   na   qual   pela   primeira   vez   se   teriam 
desenvolvido os caracteres típicos do ramo negróide.

O alargamento da zona de fixação das populações a partir das regiões de mais intensa pressão 
demográfica processa­se lenta e continuamente quase por círculos concêntricos, em consequência 
do transbordar da pressão demográfica das regiões internas para a periferia. Este facto tem como 
consequência   que   nas   orlas   de   tais   regiões   de   elevada   pressão   demográfica,   se   encontram 
geralmente combinações de características racialmente muito menos diferenciáveis do que as que 
se encontram na zona central. Estes espaços, considerados num quadro mais vasto, são além disso 
um centro no qual se forma uma raça ou um grupo racial, facto que pode ser documentado com o 
exemplo da própria China, com as suas três regiões de elevada pressão demográfica, já claramente 
distintas do ponto de vista

238
História das raças morfológico, e correspondentes aos três rios principais: trata­se de três 
regiões e três grupos demográficos que sómente no decurso de milénios conheceram uma recíproca 
permuta. Os centros de instabiliáade adicionam à acção da expansão exercida nas regiões de 
elevada pressão demográfica impulsos suplementares de movimentos; porém, como esses impulsos 
demográficos são numèricamente reduzidos, são por sua vez aglutinados, até do ponto de vista 
biológico, na estratificação política das populações. Sómente onde tais grupos, como acontece em 
África, são impelidos para territórios de escassa densidade demográfica, este processo leva mais 
tempo a manifestar­se. Destas breves considerações podemos claramente compreender a

razão   por   que   a   moderna   distribuição   racial   não   corresponde,   e   não   pode   corresponder,   à 
classificação   puramente   biológica   que   seria   de   esperar,   em   conformidade   com   o   processo   da 
formação das raças. Actualmente essa classificação aparece bastante alterada, quer pelos vários 
graus de desenvolvimento das diversas formas de economia, com a correspondente base alimentar e 
a relativa pressão de expansão, quer pela formação de estados, nos quais o elemento político se 
sobrepõe   ao   biológico,   e   consequentes   esforços   de   expansão   orientados   no   sentido   económico­
político. Encontramos portanto grupos de tipos raciais «mais. arcaicos» económicamente, e por 
conseguinte numéricamente mais fracos, bastante dispersos, impelidos para re­

giões marginais ou nas classes mais baixas da população estratificada; contudo, mediante métodos 
antropológicos   (mensurações,   combinações   de   caracteres,   cores,   etc.),   estamos   em   vias   de 
reconstruir muito aproximadamente o quadro originário da distribuição racial, ainda que pouco 
alterado, e de destacar depois processos relevantes do ponto de vista da história das raças. A 
argumentação antropológica socorre­se ainda de critérios de ciências e disciplinas afins. Por 
outro   lado   é   preciso   ter   presente   que   nas   disciplinas   «afins»   são   encaradas   frequentemente 
relações   geoW@ficas   entre   grandes   distâncias   sem   muitas   vezes   se   considerar   determinados 
factores   de   natureza   biológica   res~   peitantes   ao   índice   do   aumento   e   consequente   ritmo   de 
crescimento das populações humanas. «Migrações» culturais e linguísticas só podem ser comparadas 
dentro de

239
História das raças

limites geralmente restritos com equivalentes variações e migrações «biológicas» das populações. 
Um património cultural pode ser ràpidamente assimilado sem que daí derivem, através de relações 
de   procriação,   efeitos   biológicos   notáveis   mas   não   obstante   duradouros,   visto   que   para   os 
relativos contactos sómente são necessários pouquíssimos intermediários. Também a adopção ou o 
abandono de uma língua não devem ser postos de maneira acrítica com supostos efeitos biológicos 
correspondentes;   veja­se,   por   exemplo,   o   caso   do   deslocamento,   em   poucos   séculos   claramente 
documentado, da língua fiamenga da foz do Sena para a região central da Bélgica.

Novos elementos culturais, como a língua, podem ser propagados por pequenos grupos, ou, melhor, 
por   classes   dominantes,   biológicamente   fracos,   em   virtude   da   sua   exiguidade   numérica,   mas 
extremamente   dinâmicos   do   ponto   de   vista   histórico;   é   preciso,   porém,   não   sobreestimar   tais 
fenómenos   do   ponto   de   vista   biológico­racial.   Nas   escavações   arqueológicamente   mais 
interessantes normalmente são consideradas como de maior importância as mais valiosas, tais como 
os   túmulos   culturalmente   mais   ricos,   próprios   das   classes   superiores,   pelo   que   os   restos 
antropoló gicamente aproveitáveís que vêm à luz em tais escavações não nos fornecem indicação 
segura sobre o tipo médio da cultura duma população, antes nos podem fazer incorrer no

erro de exagerar a entidade numérica das classes don­únantes. Só quando se considerarem todos 
esses pontos de vista estaremos em condições de enquadrar correctamente na história das raças os 
achados descobertos. Do mesmo modo a extrema pobreza dum complexo de elementos culturais, como 
um conjunto, de utensílios, materiais vários, etc., não pode ser considerada à primeira vista 
como   indicação   segura   do   «primitivismo»   de   urna   cultura.   Isto   é   particularmente   evidente   sc 
considerarmos os indígenas australianos, que hoje são culturalmente duma pobreza absoluta, mas 
cuja organização social extremamente com­

plicada   se   baseia   em   precedentes   condições   de   vida   muito   mais   favorecidas   e   num   património 
cultural mais rico do que o actual.

Esta verificação é particularmente verdadeira no que respeita aos Pígmeus, que, pela sua extrema 
pobreza cul­

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História das raças

tural, são apontados como um modelo do mundo económico e das crenças primitivas do homem, pelo 
que são erróneamente apresentados como a «forma originária» da humanidade. Por eles pode­se na 
realidade demonstrar que o empobrecimento cultural é uma consequencia do facto de, perseguidos 
por   outros   povos,   terem   sido   forçados   a   adaptar­se   a   viver   em   zonas   marginais   de   refúgio 
extremamente   desfavoráveis   (a   floresta   virgem   tropical):   as   formas   de   economia   e   o   movimento 
contínuo   que   caracterizam   a   vida   nestas   regiões   só   permitem,   com   efeito,   o   transporte   de 
diminuta   quantidade   de   bens   culturais.   Do   ponto   de   vista   antropológico   os   Pigmeus   não 
representam,   por   isso,   uma   antiga   forma   originária,   mas,   pelo   contrário,   uma   forma   de 
especialização   particularmente   marcada,   embora   tenham   conservado   ainda   determinados   traços 
arcaicos   do   tipo     orginário.   As   divergências   e   os   contrastes   na   interpretação   do   material 
relativo   aos   problemas   que   temos   abordado       são   devidos   mais   ao   facto   de   os   diversos 
especialistas não estarem actualmente em condições de patrocionar suficientemente com um estudo 
próprio os resultados e critérios das disciplinas afins e de as conciliar

com as suas observações e deduções.

O PROBLEMA DOS PIGMEUS. Os Pigmeus são populações de pequena estatura, ou seja de «raça anã». 
Actualmente   vivem   em   grupos   independentes,   em   parte   já   racionalmente   híbridos,   na   orla   das 
florestas virgens tropicais da África Central e nas regiões sernidesérticas da África Meridional 
(Bosquímanos).   Outras   populações   de   Pigmeus   encontram­se   igualmente   no   Sudeste   asiático   e   em 
ilhas da Indonésia e da Oceânia. Recentemente demonstrou­se a existência de Pigmeus na América 
Meridional (Venezucla).

já remotamente a literatura os referenciou. Homero fala de um povo fabuloso de anões que situa a 
sul   das   nascentes   do   Nilo,   onde   efectivamente   vieram   a   ser   localizados   na   segunda   metade   do 
século xix. Desde o fim do século passado os Pigmeus têm sido objecto de vivas controvérsias 
científicas.

Chegou­se mesmo ao extremo de os definir, quer do ponto de vista da história da civilização, 
quer do antropológico, como a «raça originária» da humanidade, e a con­

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História das raças

firmar esta asserção com o argumento dos achados europeus de estatura relativamente pequena (a 
mulher de Egolzwíl, na Suíça). Esta presunção não constitui prova conclusiva. De facto, todos os 
restos fósseis mais antigos do Homo sapiens apresentam estatura entre a média e a alta; o achado 
de   Egolzwil   é,   pelo   contrário,   relativamente   recente   (remonta   efectivamente   ao   período   pós­
glacial).   Além   disso   a   sua   pequena   estatura   está   erróneamente   calculada,   na   base   de 
insuficientes sistemas de mensuração: a estatura desta mulher encontra­se no limite inferior dos 
valores   médios   europeus,   mas   não   representa   de   modo   algum   um   caso   de   nanismo.   As   conclusões 
histórico­   culturais   e   etnológicas   de   Schmidt   baseiam­se   numa   interpretação   unilateral   do 
material; a pobreza cultural é consequnêcia do facto de os Pigmeus terem sido empurrados por 
outros povos para regiões marginais desfavoráveis; o património cultural, não obstante alguns 
traços   que   possam   ser   considerados   arcaicos,   é   em   grande   parte   o   resultado   duma   adaptação 
especial   a   condições   de   vida   particularmente   difícil,   que   permitiam   sómente   o   transporte   de 
exígua quantidade de bens culturais. Hoje não se pode estabelecer com segurança qual a parte 
perdida dum património cultural oríginàriamente rico.

Como atrás se mencionou, não possuímos documentos que nos indiquem uma pequena estatura média 
para a história íntegra dos eu­horninídeos.­ pelo contrário, os restos que chegaram até nós de 
qualquer época comprovam uma constituição vigorosa e uma estatura que correspondem aos valores 
médios da actual estatura humana. Os actuais Pigmeus são, do ponto de vista antropológico, uma 
raça que deve ter­se desenvolvido sómente depois de uma completa diferenciação da espécie hoje 
vivente   do   Homo   sapiens.   Não   obstante   a   sua   existência   absoluta   relativamente   curta,   eles 
apresentam características muito acentuadas que devem ter sido formadas em condições selectivas 
particularmente duras.

De qualquer modo pode desde já dizer­se que eles, do ponto de vista genético, não podem remontar 
a um centro unitário de desenvolvimento, mas que nas diversas regiões se devem ter desenvolvido 
de maneira independente. Hoje, de acordo com os notáveis estudos de Gusinde e

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História das raças

Schebesta,   distinguem­se   na   raça   anã   dois   grupos   principais.   Um,   constituído   pela   população 
africana dos Bambutis na região do Congo­Ituri, com a estatura média, para o homem, inferior a 
1,45  cm, e  de, qual  se separaram grupos de  populações híbridas de  maior estatura, ainda  que 
sempre   inferior   à   média,   e   entre   as   quais   a   dos   Bosquímanos,   que     ­na   África   Meridional 
constituem um grupo independente. Estes ocupavam precedentemente uma região muito mais vasta do 
que a actual e hoje representam sómente um grupo residual expulso por outras populações para uma 
região   marginal   de   refúgio.   O   outro   grupo   principal   é   composto   por   populações   pigmóides   do 
Sudeste   asiático,   da   Indonésia   e   da   Oceânia:   os   Andamaneses,   num   arquipélago   no   golfo   de 
Bengala,   os   Semangueses   e   os   Senoíeses,   na   própria   Indochina,   os   Aelas,   nas   Filipinas,   e 
finalmente   os   Pigmeus   da   Nova   Guiné,   descobertos   ainda   há   poucos   anos.   Quanto   ao   continente 
americano,, conhecemos também recentemente uma população pigmóide autónoma na Venezuela.

Na   literatura   especializada   continua   a   usar­se   para   o   grupo   do   Sudeste   asiático   o   nome   de 
Negritos,   introduzido   pelos   Espanhóis   e   referido   particularmente   aos   Aetas   das   Filipinas. 
Contudo, do ponto de vista genético, nada têm a ver com o ramo racial dos Negróides, ainda que 
apresentem a pele de coloração escura e cabelos crespos.

Como já foi acentuado, em todas estas raças anãs, que até agora só foram documentadas na zona 
tropical,   quis   ver­se   uma   «raça   pigmóide»,   característica   daquela   zona   climática.   Gusinde   e 
Schebesta demonstraram, porém, de modo conclusivo, que estamos perante uma pluralidade de raças 
genèticamente   diversas   e   de   origem   autónoma,   cuja   semelhança   de   caracteres   morfológicos   é 
certamente o resultado de uma pressão selectiva orientada no mesmo sentido, mas muito afastados 
uns dos outros. Análoga pobreza, assim como pontos comuns do património cultural e da forma de 
economia, limitada quase exclusivamente à caça e à colheita de produtos espontâneos, são sómente 
o   resultado   de   uma   situação   ecológica   coincidente   em   muitos   aspectos   nestas   regiões   de 
isolamento. Schebesta é de opinião de que rigorosamente sómente se deviam chamar pigmeus aos 
Bambutis, pois que só estes têm uma esta­

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História das raças

tura média no homem inferior a 1,45 cm. Os grupos africanos, além dos Banibutis, por exemplo, 
assim como os Batwa de Ruanda, aos quais se juntaram grupos dispersos pelas florestas virgens 
tropicais da África Central e da Guiné, e ainda os Bosquímanos da Âfrica Meridional, possuem 
respectivamente   caracteres   próprios   típicos   que   relevam   a   sua   posição   particular   e   o   seu 
desenvolvimento autónomo, como se deve esperar do ponto de vista genético.

Dispomos hoje de toda uma série de investigações especiais que nos fornecem indicações sobre os 
factores   que   condicionam   o   fenómeno   do   nanismo.   Através   da   observação   de   casos   patológicos 
sabemos   que   a   estatura   é   resultante   de   diversos   genes   e   que   portanto   o   nanismo   poderá   ser 
condicionado pela mutação de tais genes.

Estas   mutações   aparecem   certamente   nas   várias   zonas   de   maneira   autónoma.   A   baixa   estatura, 
genèticamente condicionada, é, na classificaçã o das raças, a característica principal para a 
definição de uma raça como pigmóide. Mas a imagem característica típica de uma raça piginóide é 
resultado, não só da baixa estatura, mas tam5tbém de uma complexa combinação de caracteres. Uma 
característica geral de certa importância reside no facto de a constituição dos Pigmeus revelar 
alguns traços típicos do estádio do desenvolvimento infantil, particularmente maior comprimento 
do tronco em relação à estatura complexiva com consequente menos proporção dos membros. Além 
disso, confrontados com grupos de estatura normal, apresenta a

cabeça   relativamente   maior,   a   qual,   pela   sua   conformação   redonda   e   a   fronte   saliente   e 
arredondada, pode dar a impressão de infantilismo: estes traços morfológicos não se encontram em 
todas  as raças pigmóides.  Assim, por  exemplo,  os Andamaneses  têm proporções  compreendidas no 
quadro da tipologia europóide. Além do genuíno nanísmo, gcnèticamente condicionado, há ainda uma 
forma   de   nanismo   regulada   pelo   meio   ambiente,   como   demonstrou   Speiser   nos   Pigmeus   das   Novas 
Hébridas.  A   baixa   estatura  da   população  de   tais  ilhas   pode  ser   resultante   de  um   fenômeno   de 
carência   alimentar,   e   futuras   gerações,   com   melhoria   de   condições   de   vida,   deverão   alcançar 
estatura normal. Este facto demonstra a necessidade de examinar sempre com o maior cuidado uma 
combinação conjunta

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História das raças

de  caracteres  antes  de  classificar  como  «raças  pigmóides»  uma  população  de  pequena  estatura. 
Devemos ainda salientar a circunstância de a estatura poder sofrer variações notáveis num ou 
noutro sentido em grupos completos de populações em regiões muito extensas e em determinados 
períodos   de   tempo.   Oscilações   deste   gênero   podem   ser   observadas   por   várias   vezes   durante   a 
história   do   Horno   sapiens:   a   estatura   apresenta   valores   elevados   no   Paleolítico   Superior;   no 
Mesolítico e na maior parte do Neolítico há uma diminuição com um sucessivo acréscimo na Idade 
do Bronze, Particularmente importante e localizável num período de tempo mais ou menos limitado 
é a diminuição média da estatura na sequência medieval, à qual se segue, pouco mais ou menos a 
partir de meados do século passado, um aumento médio muito acentuado (que atinge os 12 cm). Este 
crescimento teve início sobretudo nas regiões industrializadas, e com a difusão deste tipo de 
civilização passou ràpidamente também aos países nos quais até agora a estatura se estabilizara. 
Isto mais uma vez salienta o facto de a estatura por si só nã o ser suficiente para caracterizar 
uma raça e que nos seus valores médios parece mais fortemente ligada ao ambiente de quanto até 
agora tem sido julgado possível. No entanto o grau desta dependência do ambiente pode apenas 
esclarecer   quais   os   limites   em   que   os   valores   da   estatúra   sejam   a   expressão   de   factores 
hereditários   mas   não   constitui   prova   contra   o   valor   significativo   da   estatura   no   quadro   do 
complexo global de características típicas de uma raça (­> Crescimento).

BRAQUICEFALIZAÇÃO. Este termo indica um processo típico das variações da morfologia da cabeça, 
isto   é,  do   «arredondamento  do   crânio»  .   O  fenómeno  liga­se,   nos  seus   vários  aspectos,  a   uma 
problemática análoga àquela de que se falou a propósito da estatura. O crânio do Homo sapiens é 
na sua origem acentuadamente dolicocéfalo, a largura máxima é, regra geral, apenas 75 por cento, 
ou   ainda   menos,   do   comprimento   máximo,   o   que   se   toma   em   consideração   no   cálculo   do   índice 
craniano   horizontal   (dolicocéfalo   abaixo   de   74,9;   mesocéfalo   entre   75,O   e   79,9;   braquicéfalo 
acima de 80). Por todo o Palcolítico Superior e pela parte principal do Mesolítico, só dispomos 
de doli­

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História das raças

cocéfalos:   nos   de   Cro­Magnon,   porém   observa­se   já   uma   dolicocefalia   menos   acentuada   ‘     que 
ultrapassa mesmo a mesocefalia. Os primeiros índices de arredondamento cricontram­se dispersos 
por diversas partes em achados relativamente recentes do Mesolítico, sem que todavia se possa 
determinar entre eles a existência duma conexão genética.
O início desta transfon­nação pela qual se verifica o abandono da forma longa do crânio típica 
do   Homo   sapiens   durante   milénios   é   portanto   urna   aquisição   recente   da   nossa   espécie.   Na 
literatura especializada  do passado  foi dado  grande relevo  aos achados de  Grenelle e  Furfooz 
(braquicéfalos),   pois   a   princípio   atribuiu­se­lhe   idade   relativamente   remota:   reconheceu­se 
entretanto que estes achados são apenas neolíticos. Mais antigo é, pelo contrário, o conjunto de 
crânios encontrados na caverna de Ofnet, na Baviera, cujo índice craniano médio foi a princípio 
considerado mais elevado do que era na realidade. Uma posterior reconstituição dos crânios feita 
em Munique por Mollison, pouco antes do início da segunda guerra mundial, nunca chegou a ser 
publicada: tanto o resultado do seu trabalho como o material @original foram destruidos pelos 
bombardeamentos. Pode, no entanto, afirmar­se que a braquicefalia de uma pequena parte daqueles 
achados (os outros eram dolicocélalos ou rnesocéfalos) era apenas acentuada, ou seja, oscilava 
entre   valores   relativamente   baixos.   Outros   crânios   moderadamente   arredondados   encontram­se   no 
Mesolítico Inferior da África Setentrional (Afalu­bu­Rummel); a sua sistematização cronológica 
num quadro geral não é porém simples porque nesse período a África podia estar culturalmente 
atrasada.   Os   mais   antigos   materiais   que   atestam   o   início   da   braquicefalia   provêm   de   Tell   es 
Sultan (jericó) e pertencem provàvelmente ao fim do oitavo milénio. É surpreendente o facto de 
esta   forma   craniana   só   se   ter   encontrado   isolada   enquanto   a   parte   principal   dos   achados 
conterriporaneos   ou   mais   recentes   é   nitidamente   dolicocéfala.   Sobre   estes   indícios   devemos 
observar que faltam outros caracteres típicos que nos permitiriam considerar como característica 
rácica a braquicefalização. Algum tempo depois começaram a delinear­se no Neolítico duas nítidas 
zonas de frequência da braquicefalia, embora esporàdicamente, com grande dispersão

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História das raças geográfica e com graus ainda pouco acentuado@s. Não se pode ainda actualmente 
estabelecer um nexo genético, relativamente a estes achados; além disso a forma dolicocéfala 
prevalece ainda claramente e faltam formas intermédias de ligação dos extremos. Na Europa, além 
de certa frequência de crânios largos na Dinamarca que possam derivar de uma forma cro­magnóide, 
há ainda a mencionar os indiví duos da cultura do «vaso campaniforme», que remontou ao fim do 
Neolítico, nos quais, pela primeira vez, se podem destacar dois grupos de formas braquicélalas 
claramente definidos. O primeiro, caracterizado pelo occipital redondo, maior largura do crânio 
e da face (mais baixa), diferencia­se do segundo, que apresenta crânio alto com occipital plano 
e rosto grosseiro mas alongado. Este último tipo apresenta deste modo traç os excepcionais para 
caracterizar a população da cultura do vaso campaniforme, ainda cíue represente sómente uma 
parte (a população é de facto composta por uma mistura racial, visto ser muito elevada ainda a 
percentagem de indivíduos dolicocéfalos). Este tipo excepcional desaparece depois durante muito 
tempo da gama das raças europeias, enquanto a forma caracterizada pelo occipital redondo 
continua a estar presente aqui e ali em pequena percentagem; só posteriormente, na Idade de 
Ferro, a forma do occipital plano toma a aparecer em percentagem digna de nota numa série de 
sepulturas individuais. juntamente com achados esporádicos de conjuntos de crânios com o 
occipital curvo na África Setentrional, na Ásia Menor este tipo apresenta por vezes percentagens 
de registar, ainda que neste caso sejam relativamente recentes, O material mais antigo que até 
hoje se conhece provém de Chipre, onde, na aldeia neolítica de Khirokitia (cerca de 3500 anos a. 
C.) se encontrou elevada percentagem de formas braquicéfalas. Infelizmente não nos é possível 
extrair qualquer conclusão da morfologia racial, pois que este grupo é caracterizado por 
profundas deformações artificiais do crânio, pelo que não se pode       excluir a hipótese de a 
forma originária destes crâ nios ter     sido a braquicéfala com occipital arredondado. É 
todavia particulannente surpreendente verificar que no vizinho cominente, na mesma época, forani 
sómente encontradas        formas dolicocéfalas. Algumas ­sporádicas formas arredondadas,

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História das raças

por   exemplo   em   Biblos,   são   sem   nenhuma   dúvida   consideradas   variantes   extremas   da   forma 
dolicocéfala   dominante.   Do   centro   e   do   oriente   da   Ásia   Menor,   possuímos,   do   segundo   milénio 
antes   de   Cristo,   uma   sucessão   de   séries   que   apresentam   grande   percentagem   de   crânios   com 
occipital redondo. A raça plano­ occipital, típica hoje naquelas regiões geográficas, denominada 
raça armeniana, é, pelo contrário, documentada, na medida em que a notabiliza, sómente a partir 
do primeiro milénio antes de Cristo, à qual se podem também atribuir os achados de Sialk (iv 
camada),   no   Irão   Ocidental.   já   quando   atrás   nos   referimos   aos   Hititas   (cf.   documentação), 
tivemos   ocasião   de   acentuar   que   eles,   ao   contrário   do   que   antigamente   se   supunha,   não   eram 
caracterizados   por   crânio   plano­occipital,   mas   por   algumas   formas   braquicéfalas   curvo­
occipitais,   ao   lado   de   maiores   contingentes   de   formas   dolicocêfalas.   A   série   de   crânios 
descobertos   até   agora   é   suficiente   para   permitir   chegar   a   esta   nova   conclusão.   Considera­se 
mesmo que a população europeia caracterizada pelo occipital plano seria derivada das formas do 
Próximo Oriente e que o seu aparecimento na Europa resultara da emigração de grupos provenientes 
daquela área geográfica. A esta asserção pode opor­se, com fortes razões, que tal hipótese não 
pôde ser confirmada pelo material fóssil até agora encontrado, nem na cronologia, e que, pelo 
contrário, seria mais razoável considerar a aparição das formas braquicéfalas na Europa, como na 
Ásia   Menor,   um   fenômeno   independente   (isto   é   válido   também   para   as   formas   curvo­occipitais). 
Quando   por   isso   se   integram   no   conceito   superior   dos   «Táuridas»   (da   cadeia   de   Tauro)   os 
«Adriáticos» europeus de occipital plano, documentados sómente em época recente, com as formas 
correspondentes da Ásia Menor, trata­se de uma concepção que assenta em bases muito frágeis, do 
ponto de vista genético, sem falar das épocas remotas em que diversos autores pretendem situar a 
origem   de   tais   formas.   Igualmente   é   arriscado   relacionar   estreitamente   os   «Alpínos»   europeus 
caracterizados  pelo occipital  curvo  com a  correspondente forma  da área  do Próximo  Oriente,  o 
que,   pelo   menos   para   os   profanos,   pode   resultar   da   denominação   literal   «Alpinos   orientais». 
Também por estas duas combinações de características semelhantes entre si terá por

248
História das raças

agora   de   pressupor­se   como   mais   verosímil   uma   origem   e   um   desenvolvimento   independentes.   Das 
outras partes do mundo não temos por agora séries de achados suficientes para poder estudar mais 
a fundo o fenómeno da braquicefalização, quer do ponto de vista cronológico, quer do da área de 
origem. Encontramos muito elevados índices cefálicos entre os Mongolóides, os Polinésidas e os 
Ameríndios   mais   recentes,   portanto,   por   um   lado   formas   manifestamente   progressivas,   mas   por 
outro também, em elevada percentagem, nas raças anãs, que são certamente especializadas, mas não 
«progressivas» no sentido em que o termo é empregado. No conjunto pode considerar­se certo que o 
arredondamento do crânio é nitidamente um fenómeno recente que se encontra com muita frequência 
nos representantes ainda vivos do tipo arcaico. Se bem que o crânio braquicéfalo se encontre 
muitas vezes aliado a uma série de outros caracteres, pelo qual pareça lícito considerá­lo, como 
característica racial, é no entanto necessário, com tal objectivo, um exame muito cuidadoso.

Na Europa, numa série de achados que abrangem o período que vai da Idade Média à Idade Moderna, 
verifica­se   um   surpreendente   aumento   do   índice   craniano,   sem   que   isto   constitua   uma   mutação 
correspondente a outras características, no sentido de uma transformação da raça. Não há dúvida 
de  que basta  o aumento  da largura da  calota craniana  para alterar a  configuração  da face. A 
tendência   para   o   arredondamento   do   crânio   observa­se   na   Europa   em   populações   de   origem 
nitidamente   dolicocéfala,   sem   que   históricamente   seja   possível   documentar   correspondentes 
variações   demográficas.   Particularmente   dignas   de   registo   são   as   investigações   sobre   ossos 
encontrados nos vales alpinos isolados na Á ustria, que certamente durante tal período será de 
excluir qualquer forma de imigração. Também aqui c> índice craniano aumenta progressivamente a 
partir da Baixa Idade Média. Pesquisas levadas a efeito pelos discípudos de Eugen Fischer, e 
particularmente   um   trabalho   de   Hauschild,   sugerem   como   interpretações   para   este   conjunto   de 
problemas que o arredondamento do crânio não seja considerado segundo o critério estabelecido 
para as variações da estatura, isto é, como um fenômeno claramente definido nas suas causas e 
nos seus limites.

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História das raças

Lundman   demonstrou   pois   que   no   crânio,   a   relação   comprimento­altura   é   essencialmente   mais 


estável do que a da largura­compri­nento, e que também nw casos de pronunciado arredondamento, 
ou seja do aumento da largura, a primeira relação corresponde aos valores que se encontram nas 
populações dolicocéfalas de origem. Para com­

pletar este quadro acrescentamos que novas investigações em grandes séries referentes sempre à 
mesma   área   e   às   mesmas   populações   respeitantes   aos   resultados   obtidos   nas   últimas   décadas 
revelam uma suspensão ou mesmo um regresso, estatisticamente assegurado, do arredondamento.

Em conclusão: a braquicefalia é em geral uma aquisição recentíssima do Horno sapiens: surge pela 
primeira vez por volta do Mesolítico esporà dicamente, com muitas lacunas e lenta evolução, pelo 
que não pode ser considerada como resultado de cruzamento racial. Cerca do fim do Neolítico, 
encontram­se pela primeira vez combinações de caracteres que, em conexão com a braquicefalia, 
passam a ser utilizadas para definir tipos. Tais tipos não se podem, no entanto, reportar a um 
único   centro   de   origem,   pois   se   desenvolveram   nitidamente   em   diversas   regiões   independentes, 
circunstância não para desprezar quando se trata de interpretar tais achados no quadro de uma 
sistemática racial em vasta escala. Para o período que vai da Idade Média à Idade Moderna, na 
Europa,   encontraram­se   achados   pelos   quais   se   pode   estabelecer   seguramente   que   o   pronunciado 
arredondamento que se observa nesta área geográfica é verosimilmente de definir como carácter 
fenotípico, ainda que as causas e os factores que o originam não sejam ainda esclarecidos. De 
qualquer   forma,   a   braquicefalia   é   uma   característica   que   só   em   parte   se   pode   considerar   e 
avaliar   como   genèticamente   fixada   de   modo   inequívo::o,   e   daí   não   poder   ser   utilizada   para   a 
classificação das raças senão com muita prudência.

PIGMENTAÇÃO E DESPIGMENTAÇÃO. A densidade dos grânulos do pigmento na pele, nos cabelos e nos 
olhos é um complexo de características fàcilmente acessíveis à observação que já há muito tempo 
serviu de base para uma rudimentar subdivisão das raças humanas em branca, amarela e negra. já 
vimos como se pode explicar do ponto

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História das raças

de vista genético a variação da coloração entre os ramos raciais, bem como     dentro deles (­> 
Gênese das raças). A gradual transição  dum tipo de coloração a outro, como, por exemplo, entre 
os Europóides, indica um efeito orientador das diversas  zonas climáticas, onde a «orientação» é 
compreendida apenas como enriquecimento (resultado por selecção) em medida superior à norma de 
mutações   evidentes,   e   não   corno   mecanismo   activo   que   provoca   oportunas   mutações.   Podemos 
presumir com certa verosimilhança que as antigas populações humanas tiveram um grau médio de 
pigmentação. Pois que na origem deviam estar presentes, quer as mutações causadoras da coloração 
clara da pele, quer as da coloração escura, o aumento da pigmentação entre os Negróides e entre 
os   Europ@ides   que   vivem   a   sul,   nas   zonas   tropicais,   é   apenas   o   resultado   de   uma   selecção 
convergente, consequência de igual vantagem selectiva em condições ambientais muito semelhantes. 
Isto   significa   que  as   várias   populações  de   pele  escura   na  terra   não  devem   ser  englobadas  no 
mesmo conjunto, a partir desta característica única, por muito que ela se manifeste numa grande 
raça (a raça do «hornem do Sul»), já que a unidade genética da compleição escura não pode ser 
determinada.   Com   efeito   é   muito   mais   verosímil   tratar­se   de   um   desenvolvimento   paralelo,   por 
vezes   em   condições   de   contiguidade   espacial   mas   sem   origem   unitária.   O   ramo   racial   dos 
Mongolóides   nem  sequer   nas  zonas   tropicais   apresenta  aquela   coloração  escura   que   encontramos 
nos Negróides e por vezes nos Europóides (­­­> Gênese das raças). Isto significa que a protecção 
da   pele   contra   os   efeitos   das   radiações   pode   ser   ainda   garantida   por   vias   diferentes   do 
enriquecimento  do   pigmento.   A  despiginentação   entre  as   populações  do   Noroeste  europeu  é   mais 
surpreendente,   porquanto   essas   são   as   únicas   a   apresentar   vincada   compleição   clara, 
caracterizada por uma descoloração dos cabelos que vai até ao louro­claro, pela pele branco­
rosada e olhos azuis­escuros.

Tudo isto é consequência de uma quantidade substancialmente menor de grânulos de pigmento. A 
hipótese   mais   plausível   para   a   explicação   desta   ausência   de   cor   consiste   em   que   o   mutante 
causador da coloração clara, evidente em todas as raças do Homo sapiens, resulta vantajoso do

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História das raças

ponto de vista da selecção no clima marítimo muito nebuloso de grande parte da Europa Central e 
Ocidental.   Presume­se   que   a   radiação   ultravioleta,   se   não   fosse   constantemente   atenuada   por 
estratos de nuvens, poderia voltar a exercer sobre a compleição clara todo o seu necessário grau 
de acção. Com efeito, no Norte da Europa, como nas altas montanhas, voltam a prevalecer cores 
escuras, indivíduos claros sujeitos ao ardor do sol sofrem muilo.é por isso que actualmente não 
se   contratam   pessoas   louras,   por   exemplo,   para   as   expedições   polares.   Como   é   óbvio,   existem 
ainda   grandes   quantidades   de   pessoas   de   compleição   clara   na   Europa   Oriental,   assim   como   em 
determinadas zonas do Mediterrâneo    ‘ mas nestas regiões a compleição clara não é tão nítida, 
verificando­se passagens graduais, particularmente na Europa Oriental, a um louro­cinza­pálido 
e a olhos mais escuro@s.

Do   ponto   de   vista   da   história   das   raças   a   compleição   clara   é     para   nós   particularmente 
importante, pois que ela, com a    sua área central de selecção bastante certa, torna possível 
qualquer   conclusão   sobre   a   origem   dos   grupos   que   se       diferenciam   do   ambiente   circundante 
por percentagem mais elevada da compleição clara. Isto             é particularmente válido para a 
localização   da   presumível             área   de   origem   dos   Europóides.   A   figuração   na   área 
pré­histórica   dos   indivíduos   de   compleição   clara   e   o   consequente   aparecimento   dos   ideais   de 
beleza orientados naquele sentido não permitem ainda tirar qualquer conclusão segura acerca da 
frequência   percentual   deste   traço   no   âmbito   das   populações   daquele   tempo   (ver   documentação). 
Tais documentos materiais utilizáveis do ponto de vista antropológico são válidos nos limites do 
possível no conjunto do quadro da «combinação de caracteres típicos». Todavia pode sustentar­se 
que   percentagens   elevadas   de   indivíduos   de   compleição   clara   indo­chineses   com   grande 
probabilidade   são   originários,   pelo   menos,   em   grande   parte   das   populações   consideradas 
«europóides».   Também   para   o   problema   da   origem   destas   populações   possuímos   um   critério 
importante, e biológicamente bem fundamentado, que não pode ser esquecido quando se trata de 
definir (baseado nos achados respeítantes à história da cultura ou da filología) uma origem mais 
asiático­ oriental, curopeia de leste, ou centro­

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História das raças

­europeia. De documentos escritos da Antiguidade é certo que algumas das populações de língua 
kentum (um dos dois grupos nos quais se distinguem as línguas indo­europeias: compreende entre 
outras o grego, o latim, as línguas neolatinas, o gótico e as línguas anglo­saxónicas, o antigo 
irlandês   e   a   hitita;   o   outro   grupo,   o   das   línguas   satem)   eram   de   compleição   clara.   Vemos 
portanto, pois, que para uma região de selecção nitidamente delimitada ou para um complexo de 
caracteres   perfeitamente   observáveis   é   possível   fazer   asserções   respeitantes   à   história   das 
raças, enquanto, pelo contrário, numa ampla difusão da compleição escura é impossível concentrar 
genèticamente num grande grupo toda a população caracterizada de coloração negra.

NOMENCLATURA RACIAL. Os primeiros nomes de raças e classificações remontam a um período no qual 
eram   ainda   desconhecidos   os   mecanismos   genéticos   que   presidiam   à   formação   das   raças.   Como, 
porém,   na   nomenclatura   científica   os   nomes   que   primeiro   foram   dados   (nomes   que,   com   o   seu 
carácter   descritivo,   coincidiam.   suficientemente   com   as   delimitações   raciais   hoje   possíveis) 
possuíam a prioridade científica e deviam continuar a ser usados, a nomenclatura em si não é 
uniforme. Na linguagem popular continuam pois a manter­se designações como Arianos ou Semitas, 
que   remontam   a   grupos   linguísticos,   ou   Indo­germanos,   Romanos,   Germanos,   etc.,   que   podem 
referir­se simultâneamente a determinados povos. Como base da nomenclatura científica utilizam­
se, regra geral, denominações geográficas, que são escolhidas em conformidade com a área ocupada 
actualmente   por   uma   raça,   ou   com   uma   área   central   históricamente   comprovada.   Além   disso 
adoptaram­se também designações derivadas da etnografia e que são válidas sobretudo pela unidade 
étnica.   Frequentemente   o   nome   que   designa   determinados   povos   tem,   com   algumas   deformações, 
origem no nome como a si próprios se apelidam; normalmente isso não significa outra coisa que 
«homem», como, por exemplo, no grupo racial dos Coisânidas, que formaram a sua denominação pela 
composição   de   dois   vocábulos:   «Coi»   e   «san»,   e   com   os   quais   tanto   os   Hotentotes   como   os 
Bosquímanos se indicam a si mesmos. No quadro da nossa dissertação apoiamo­nos na

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História das raças

classificação geral elaborada por v. Eickstedt, ainda que, acerca de determinados problemas e de 
alguns   pontos   dela,   haja   diversas   opiniões   (­­­>   Sistemática   racial).   A   classificação   de   v. 
Eickstedt, de facto, é todavia a melhor, fruto de vasta investigação, que não tem precedentes 
pela  sua  extensão  e  precisão,  motivo  por  que   a  sua  classificação  é  utilizada  fora  do  âmbito 
linguístico alemão.

As   designações   geográficas   ou   etnológico­linguísticas   que   estão   na   base   da   nomenclatura 


antropológica   é  acrescentada   a  desinência   óide,  a   qual   significa   que  se   está  em   presença   de 
raças cuja base genética é nitidamente definivel, pelo que na edição portuguesa desta obra são 
designadas as três principais subespécies (ramos raciais): Europóides, Mongolóides, Negróides. 
Na   literatura   especializada   encontra­se   também,   para   caracterizar   a   série   dos   achados   mais 
antigos   que   pretendem   associar   tipológicamente   como   estádios   preliminares   a   combinações   de 
caracteres   típicos   das   raças   actuais   o   prefixo   «proto»­   (=   primeiro)   ou   páleo­   (=   antigo) 
anteposto ao nome de uma raça viva. A escolha destas designações não se pode considerar muito 
feliz,   mas   elas   ajudam,   no   entanto,   a   considerar   as   raças   como   um   «processo»   dinâmico, 
evolutivo. Não devem surpreender divergências entre autores na classificação dos mesmos grupos, 
pois que a avaliação dos traços morfológicos pode ser bastante subjectiva. De facto os achados 
susceptíveis   de   serem   avaliados   em   termos   métrico­­estatísticos   não   bastam   para   a   definição 
verdadeiramente   conclusiva   de   uma   raça,   e   devem   por   isso   ser   completados   por   métodos   mais 
subjectivos. Sómente com a combinação das duas premissas é possível ajustar o esforço metódico 
das tentativas científicas de sistematização e classificação ao achado biológico na sua contínua 
evolução.   A   controvérsia   acerca   das   divergências   na   classificação   das   várias   raças   torna 
proveitoso o labor científico e permite um colitínuo esclarecimento do quadro racial.

Antes de passar a um exame mais pormenorizado, da história das diversas raças desejaríamos ainda 
aludir à tese sustentada por C. S. Coon na «Origem das Raças», 1962. Segundo essa tese, as raças 
recentes do Homo sapiens ter­se­iam desenvolvido directamente das populações dos (eu) hominídeos 
arcantropídeos ­,­> Paleontropolagía) fixa­

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História das raças, Europa

das nas várias regiões a partir do início do Plistocénico, Médio. Coon pressupõe ter havido uma 
evolução convergente e uma troca genética de população para população. A este propósito pode­se 
s@mente   observar,   em   breves   palavras,   que   em   face   de   todas   as   observações   e   experiências   da 
moderna   genética   das   populações,   tal   hipótese   é   extremamente   improvável,   porquanto   uma   nova 
espécie com a sua combinação de caracteres típicos apenas pode diferenciar­se no decurso de um 
longo isolamento geográfico (­­> Gênese das raças.) Só como consequência de tal isolamento ela 
pode alcançar uma difusão mundial expulsando e substituindo populações mais antigas. Coon, além 
disso,  não tomou  em consideração o  facto de  a diferenciação que  se  observa na  sequência dos 
fósseis de que temos conhecimento se pro@:essar em velocidade e direcção diversas nas várias 
regiões geográficas.

HISTóRIA DAS RAÇAS: EUROPA ­­ a) Paleolítico Superior.
O continente europeu, que na verdade constitui tão­só um apêndice ocidental da Ásia, encontra­se 
geográficamente   separado   desta   por   uma   cadeia   de   montanhas   relativamente   baixas,   os   Urais, 
sistema montanhoso que não constitui um obstáculo insuperável às grandes migrações de povos, as 
quais foram ainda facilitadas pela existência de vastas planuras abertas nas regiões meridionais 
que vão até ao mar Cáspio. Como já tivemos ocasião de recordar, o ramo racial dos Europóides 
deslocou­se muito para além do continente que lhe deu o nome e deve ter estado representado na 
Ásia, Indonésia/Oceânia e África até ao período do grande incremento demográfico na época da 
colonização extra­europeia, em medida certamente igual, se não superior, à da população europeia 
prèpriamente   dita.   O   facto   de   se   terem   encontrado   prematuramente,   na   Europa,   restos   humanos 
fósseis, implicando um desenvolvimento da antropologia científica neste continente que precedeu 
as investigações antropológicas nas outras partes do mundo, fez com que os restos europeus do 
Homo sapiens fóssil tenham sido considerados os modelos a que deviam reportar­se todos os restos 
fósseis. Deste modo, até mesmo para os representantes extra­europeus das formas mais arcaicas do 
Homo sapiens encontramos a designação de «Europóides primi­

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História das raças, Europa

que as proporções dos membros se mantêm no quadro de variação dos achados do mesmo período que 
dizem respeito ao Homo sapiens. A designação, atribuída por Verneau, de «raça negróide», deverá 
portanto   ser   refutada   em   absoluto:   tratar­se­ia,   muito   pelo   contrário,   de   esqueletos 
pertencentes   à   grande   família   dos   cro­magnóides;   b)   Gruta   do   Cavillon:   1862,   com   indústria 
aurignaciana, homem («hornera do queixo») cro­magnóide; c) Barma Grande:
1884­94,   estratos   mais   recentes   do   Paleolítico   Superior,   quatro   sepulturas,   seis   esqueletos, 
cro­magnóides;   d)   Salto   da   Torre:   1873,   estratos   mais   recentes   do   Paleolítico   Superior,   três 
sepulturas, cro­magnóides.

Arene   Candide   (Riviera   Italiana):   1940­42,   caverna   na   província   de   Savona;   sucessão   de 
estratificações que engloba níveis culturais que vão dos fins do Palcolítico ao Mesolítico (não 
se   encontra   ainda   definitivamente   publicada).   Restos   de   cinco   indivíduos   cujos   caracteres 
tipológicos variam entre a corpulência robusta e outras formas mais delicadas.

Romanelli   (Itália):   caverna   com   estratificação   semelhante   à   de   Arene   Candide;   numerosos 


indivíduos, cro­magnóides.

S.   Teodoro   (Sicília):   respeita   mais   ou   menos   ao   mesmo   período   de   Romanelli   e   Arene   Candide; 
restos   de   esqueletos   que   remontam   provàvelmente   ao   final   do   Mesolítico.   Cinco   indivíduos; 
crânios ligeiramente cro­magnóides.

HonerthõhIe   (Alemanha):   estrato@s   mais   recentes   do   Palcolítico   Superior;   dois   esqueletos   de 
crianças.

Oberkassel   (Alemanha):   1914,   acompanhamento   de   indústria   magdaleniana,   achados   relativamente 


recentes. Dois esqueletos: o masculino é alto, tem a face extremamente larga, órbitas baixas, 
raiz   do   nariz   encovada,   tipo   cro­magnóide   bem   definido;   o   feminino   é   relativamente   baixo   e 
apresenta a mesma combinação de caracteres, mas em forma menos acentuada. A diferença sexual é 
surpreendentemente marcada; contudo, ambos são claramente cro­magnóides.

Stetten ob Lontal (Alemanha): 1931. Stetten I: acompanhamento de indústria aurignaciana, crânios 
danificados, formas alongadas e delicadas como as de Combe Capelle. Stetten II: estratificação 
indeterminada; Mesolítico ou

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História das raças, Europa

época ulterior. Confirma esta segunda hipótese o facto de o crânio ser curto (braquicrânico, cf. 
braquicefalização).

Brno (Checoslováquia): 1885, jazida pré­histórica, restos de três indivíduos, cultura de talhe 
em   lâminas.   Tipologia   análoga   à   de   Predmost;   na   opinião   de   outros   autores   (Fischer),   os 
indivíduos   citados   teriam   certas   semelhanças   com   Combe   Capelle,   devendo   considerar­se   proto­
mediterrâneos.

Lautsch (em checo = Mladec, Checoslováquia): 1881, jazida pré­histórica na Morávia. Data: início 
da II Glaciação, de Würrn. Restos de sete indivíduos que revelam parcialmente uma constituição 
de certo modo robusta, embora se evidenciem algumas características análogas às formas delicadas 
de Combe Capelle, especialmente em Lautsch I.

Predmost, ou Predmosti (Checoslováquia): 1894, jazida pré­histórica, consideràvelmente posterior 
a Lautsch e Combe Capelle. Numerosos indivíduos. Crânios muito espessos e compridos, de largura 
desigual,   saliência   glabelar,   arcadas   supraciliares   frequentemente   proeminentes.   Desarmonia 
crânio­facial, queixo muito saliente. Os restos encontrados englobam toda a gama de variações do 
Homo  sapiens  fóssil.  Alguns  caracteres,  que  patenteiam  uma  diferenciação  menor  em  relação  ao 
tipo   de   Homo   sapiens   da   Europa   Ocidental,   tornam   verosímil   a   hipótese   de   novas   migrações   do 
Oriente.

Unterwisternitz (Checoslováquia): 1925, jazida pré­histórica, restos culturais do Aurignaciano; 
numerosos utensílios talhados em osso. Restos de dez indivíduos. Gama tipológica semelhante à de 
Predmost.

Na   Europa,   e   no   que   diz   respeito   a   este   período,   não   existem   práticamente   outras   jazidas. 
Podemos,   portanto,   determinar   alguns   centros   de   concentração,   entre   os   quais,   se   destacam 
particularmente a França e a Riviera da Ligúria, bem como, em medida mais limitada, a Alemanha 
e,   mais   tarde,   novamente   com   séries   muito   consideráveis,   as   regiões   da   Boémia­Morávia.   Em 
diversas jazidas, felizmente, já se têm séries que oferecem um quadro aproximado da população. 
Como quer que seja, tem­se um rico campo de variação que compreende toda a gama tipológica de 
Cro­Magnon a Combe Capelle, os nossos dois tipos­

259
História das raças, Europa

­padrão. Os próprios restos encontrados na Riviera Italiana, embora sejam geralmente indicados 
como   cro­magnóides,   patenteiam   tal   variedade   que   não   há   qualquer   combinação   de   caracteres 
especiais   que   possa   considerar­se   predominante.   Não   deixa   de   causar   surpresa   o   facto   de   os 
nossos tipos­padrão se poderem distinguir claramente desde o principio, o que sublinha a grande 
amplitude   das   variaçoes   do   património   genético   do   tipo   Homo   sapiens   fóssil,   embora   sejam   de 
esperar,   dada   a   prevalência   de   pequenos   grupos   como   base   dos   círculos   matrimoniais,   alguns 
carac­  teres  de  grupo  bastante  acentuados.  Assim,  embora  reconhecendo  a  existência  de  tipos­
padrão   e   mesmo   considerando   a   sua   utilização   como   termos   de   confronto,   algumas   hipóteses 
biológicas de carácter geral induzem­nos a não lhes atribuir expressamente a classificação de 
raças claramente delimitadas.

­só   um   b)     Mesolítico.   Substancialmente,   é   este   tão   período   de   passagem   entre   o   Paleolítico 


Superior e o Neolítico; o eu património cultural pode ser, de certo modo, claramente delineado, 
mas   à   sua   classificação   cronológica   exacta   deparam­se   grandes   dificuldades,   porquanto   o 
desenvolvimento cronológico desta fase é diferente de região para região, de tal modo que até na 
própria   Europa   a   sistematização   cronológica   de   achados   de   regiões   diferentes   é   absolutamente 
problemática. Do ponto de vista climático, o Mesolítico compreende um período pós­glaciário, com 
um   máximo   de   calor.   No   mundo   animal   e   vegetal   processam­se   consideráveis   transformações,   as 
quais tiveram como consequência uma alteraçã o decisiva nos recursos alimentares do homem. As 
paisagens abertas do Magdaleniano contíguas às zonas geladas percorridas por grandes manadas de 
renas cedem lugar à floresta. Neste período também faltam os animais de caça, mas esta, devido 
ao   progressivo  desaparecimento   de  vastas  manadas,   tomou­se  muito,  mais   difícil.  O   homem,  por 
consequência, aprende a integrar os recursos provenientes da caça nos que advêm dos peixes e dos 
moluscos;   em   alguns   casos,   consegue   mesmo   viver   quase   exclusivamente   do   produto   da   pesca.   O 
espaço vital, com a capacidade adquirida pelo homem, no sentido de um seu melhor desfrute, na 
obtenção de alimento e abrigo, amplia­se consideràvelmente, aumentando a densidade dos

260
História das racas, Europa

poveamentos, como o demonstra o número dos restos mesolíticos de um período que abrange sómente 
cinco a seis mil anos, em relação aos do Paleolítico Superior, que é muito mais longo. Este 
notável desenvolvimento demográfico, apesar das reduzidas possibilidades oferecidas pela caça _, 
torna verosímil, também para a Europa, a possibilidade de a passagem a formas conscientes de 
produção de alimento se ter iniciado já no Mesolítico.

Eis   os   achados   humanos   mais   importantes:   Muge   (Portugal):   povoação   do   Mesolítico   tardio   ao 
início   do   Neolítico.   Acumulações   de   conchas,   com   numerosas   séries   de   esqueletos   humanos.   A 
estatura   tende   tipicamente   para   o   baixo,   o   crânio   é   predominantemente   alongado,   a   face   é 
estreita; também se encontram algumas formas moderadamente braquicéf`alas. Não se trata de uma 
raça   autónoma;   a   combinação   de   caracteres   pertence   a   um   ciclo   de   formas   mediterrâneas   muito 
diferenciadas.

Urtiaga (Espanha): restos de dois esqueletos cro­magnóides.

Z'ramat   (França):   esqueleto   de   aspecto   cro­magnóide   muito   acentuado   se   o   compararmos   com   a 


morfologia predominante neste período; destaca­se claramente dos outros mesolíticos europeus.

Hoêdic (França): ilha fronteira à Bretanha: numerosas séries de esqueletos. Caracteres idênticos 
aos de Téviêc.

Téviêc   (França):   ilha   fronteira   à   Bretanha,   tal   como   Hoêdic.   Grande   série   de   esqueletos. 
Estatura que tende para o baixo, crânio de dimensões médias. A combinação de caracteres permite 
reconhecer o início de uma diferenciação. Não é ainda possível qualquer classificação.

Grenelle   (França):   classificação   cronológica   incerta;   há   alguns   decênios   assumia   grande 


importância   (cf.   braquice~   falização),   porquanto   situavam­no   geralmente   no   Paleolítico; 
actualmente costumam localizá­lo no Neolítico. Encontra­se nos crânios uma tendência acentuada 
para   a   braquimorfia.   A   chamada   raça   de   Grenelle,   frequentemente   asso­­iada   à   de   Furfooz,   é 
actualmente uma hipótese insustentável.

Trou du FrontallFurfooz (Bélgica): 1865, série da mesma época de Grenelle, com a qual possui 
notáveis ana­

261
História das raças, Europa

Fig. 57

Fig. 57. Forma antiquíssima que remonta ao penúltimo período intergIaciário: pré­neandertaliano 
da última era glaciária; Homo sapiens de crânio muito alongado e face estreita e Homo sapiens de 
erãnio   menos   alongado   e   face   larga,   última   glaciação.   a)   Swanscombe   (Inglaterra),   forma 
antiquíssima;   b)   Pré­neandertaliano   de   EhrIngsdorf,   perto   de   Weimar;   e,   d)   Saplens   de   Combe 
Capelle, masculino: tipo­padrão; e, f) Sapiens de Ober­

kassel. masculino: tipo de Cro­Magnon

Fig.   58.   Achados   europeus   de   Homo   sapiens   do   final   do   Palcolítico   e   do   Mesolítico:   a,   b) 
Oberkassel, mulher., e, d) Botten­

dorf, homens: e, f) Gramat, homem

Fig. 59. Crânios da Europa Central provenientes do Neolítico: a. b) Homem da cultura do vaso 
camvaniforme, occiDital chato; e e d) Mulher da cultura do vaso campaniforme, occipítal curvo; 
e, f) Homem da cultura da cerâmica «cordada», grá­

cilo­dolicomorfo

262
História das raças, Europa

Flg. 59
História das raças, Europa logias; a hipótese de se tratar de uma raça autónoma é informulável.

Deventer (Holanda): restos de seis crânios, tipologia indefinida.

Avelines   Holes   (Inglaterra):   série   de   esqueletos   muito   numerosa   que   remota   ao   final   do 
Mesolítico; existem em

alguns   crânios   vestígios   de   braquimorfismo   (caracteres   idênticos   em   Goughis   Caverne,   Kents 


Caverne, Oban).

Galley Hill (Inglaterra): crânios alongados e muito estreitos. Anteriormente atribuía­ se­lhes 
uma   antiguidade   muito   maior.   Testes   por   meio   de   flúor   determinaram   que   se   trata   de   restos 
relativamente recentes.

Arene Candide, Romanefli, S. Teodoro (Itália): restos mesolíficos, cro­magnóides na sua maioria.

Mazella (Itália): classificação cronológica incerta: provàveltnente primeira fase do Neolítico; 
o crânio é ainda cro­magnóide.

Egolzwil   (Suíça):   anteriormente   considerado   Paleolítico,   é   hoje   classificado   no   Neolítico. 


Trata­se   de   uma   mulher   de   estatura   muito   baixa;   logo   a   seguir   à   sua   descoberta   recorreu­se 
frequentemente a semelhante achado para provar a baixa estatura do homem palcolítico. A referida 
estatura,  contudo,  foi  calculada  a  partir  de  fórmulas  insuficientes,  dado  que  pode  realmente 
englobar­se no limite inferior dos valores médios actuais para a estatura feminina (cf. problema 
dos Pigmeus).

Laufen   (Suíça):   até   à   actualidade,   na   Suíça,   é   o   mais   antigo   resto   fóssil   de   Homo   sapiens 
conhecido. É pouco caracterizado morfológicamente.

Bottendorf (Alemanha): sepulturas; três crianças e um homem. Estatura ligeiramente inferior à 
mediana, dolicocrania, face de altura média, bem vincada. Os caracteres aproximam­se ainda do 
tipo Cro­Magnon, mas já revelam algumas combinações de caracteres raciais próprias do Neolítico.

FaMensteinhõhIe   (Alemanha):   restos   de   esqueletos   e   inventário   da   cultura   não   elaborados; 


desapareceram no

fim da guerra.

HoMesteínILohnetal (Alemanha): sepultura com três crânios, caracteres idênticos aos de Ofriet.

264
História das raças, Europa

Kaufertsberg (Alemanha): sepultura certamente mesolítica. Crânio de altura média (cf. Ofriet).

Neuessing II (Alemanha): 1913, esqueleto bastante completo, classificação cronológica incerta; 
foi encontrado num estrato muito antigo. Do ponto de vista morfológico, é possível que pertença 
ao Mesolítico.

Ofnet (Alemanha): 1908; caverna, duas fossas com 27 e 6 crânios respectivamente. A classificação 
cronológica

não é completamente segura: trata­se, provàvelmente, do Mesolítico tardio. Os crânios, na sua 
maioria,   são   alongados;   inicialmente,   além   de   serem   provàvelmente   sobrevalorizadas   algumas 
formas   braquicéfalas,   reconstruções   erradas   deram   origem   a   índices   muito   altos.   Uma   nova 
recomposição dos crânios operada por Moffison deu índices inferiores, mas o eclodir da guerra 
impediu que os resultados desse trabalho viessem a ser publicados, pois o material original foi 
destruido pelos bombardeamentos. Ofriet, con­

tudo, não perdeu a sua importância: foi o primeiro documento a testemunhar indubitàvelmente as 
tendências   para   o   arredondamento   do   crânio   que   começaram   a   surgir   nesta   época   (cf. 
braquicefalização).

Kjoelberg   (Dinamarca):   esqueleto   datado   mediante   a   análise   do   pólen   fóssil;   provàvelmente 


masculino. Estatura mediana, cabeça alongada com face alta; encontramo­nos diante de uma forma 
de passagem no processo de diferenciação.

Magelemose   Bog   (Dinamarca):   final   do   Mesolítico;   restos   muito   danificados   e   morfológicamente 


pouco significativos.

ErtebMelBorreby (Dinamarca): da última fase do Mesolítico à primeira do Neolítico. Estas séries 
surpreendem parcialmente pela forma larga e redonda dos crânios. Sugerem, devido à espessura da 
estrutura óssea, formas mais antigas, cro­magnóídes; o arredondamento pode estar relacionado com 
formas iniciais cro­magnóides muito largas.

Nagy   Sap   (Hungria):   jazida   situada   numa   planície,   classificação   cronológica   incerta,   crânios 
braquicéfalos que remontam mais provàvelmente ao Neolítico do que ao final do Mesolítico.

Fat'ma Koba (Crimeia): 1922, esqueleto de características predominantemente cro­magnóides.

265
Murzak Koba (Crimeia): 1936, homem e mulher, cro­magnóides.

Como já tivemos ocasião de referir, a frequência dos achados, avaliada em função do espaço de 
tempo considerado, é maior do que a do Paleolítico Superior; quanto às séries, também são muito 
mais   numerosas.   Simultâneamente,   verificamos   que   na   idade   pós­glaciária   começaram   a   ser 
exploradas novas áreas de povoamento (Suíça, Holanda, Inglaterra, Escandinávia); quanto à Europa 
Oriental e do Sudeste, não se vislumbram nela restos humanos, embora seja possível demonstrar, a 
partir de restos cultur,gj,s, a presença do homem numa zona que chega a abranger a Crimeia. Em 
relação à gama tipológica do Homo sapiens do Paleolítico Superior, impressiona a considerável 
diminuição da estatura média. Contràriamente a quanto pode verificar­se no que diz respeito à 
África, não se encontraram na Europa até à actualidade esqueletos mesolíticos aos quais se possa 
atribuir   a   estatura   superior   à   média.   Esta   diminuição   em   larga   escala   da   estatura   média 
prossegue no Neolítico, como pode verificar­se através do confronto das várias combinações de 
caracteres típicas com as de tipos raciais mais recentes. No seu conjunto, os crânios denotam 
simultâncamente uma forma mais regular, menos maciça, e também as diferenças sexuais, em relação 
à média dos grupos, parecem diminuir acentuadamente; isto pode observar­se, de modo especial, 
nos   confrontos   com   formas   mais   recentes.   Nota­se,   por   outro   lado,   do   final   do   Neolítico   à 
passagem à Idade do Bronze, uma tendência para o desenvolvimento inverso. No conjunto, não se 
encontram ainda cornbinaç&­s de caracteres susceptíveis de se distinguirem com facilidade, nem 
que possam tão­pouco considerar­se típicas de uma raça; os vários achados revelam simplesmente, 
em larga medida, formas de transição. De resto, não seria de esperar uma situação diferente, 
caso   se   entenda   o   conceito   de   raça   no   sentido   de   «processo»   ou   «formação,   dinâmica».   A 
componente tipológica  cro­magnó  ide só  pode localizar­se  fàcilmente,  nas suas  características 
essenciais, em poucos achados. Prevalecem faces e cabeças de traços pouco acentuados, estreitas, 
de formas meso­ e dolicocrânicas; sómente na Escandinávia se encontram com frequência, ainda nos

266
História das raças, Europa

primeiros estratos do Neolítico, tipos maciços e grosseiros, os quais lembram claramente certos 
caracteres   cro­magnóides:   o   fenômeno   pode   explicar­se   pela   hipótese   que   assevera   serem   os 
portadores de combinações de formas mais antigas relegados para uma posição marginal, sem que as 
condições   ecológicas   de   selecção   tenham   feito   sentir   decisivamente   a   sua   influência   (cf.   as 
formas antigas da raça nórdica).

O facto de se ter manifestado pela primeira vez, na última fase do Mesolítico (se não tomarmos 
em   consideração   as   inúmeras   dificuldades   de   classificação   cronológica),   a   tendência   para   o 
arredondamento   do   crânio,   é   muito   importante.   Embora   este   fenómeno,   não   seja   tão   claramente 
pronunciado   como   anteriormente   se   supôs   (Ofnet),   nem   por   isso   deixa   de   testemunhar 
indubitàvelmente   o   aparecimento   de   uma   nova   tendência   morfológica   que   pode   observar­se   de 
maneira autónoma em diversas séries. Façamos notar ainda que a grande variedade de formas cro­
magnóides,   com   acentuada   largura   média   do   crânio,   oferecia   boas   possibilidades   de 
desenvolvimento como ponto de partida, de modo que não é necessário supor, em relação com e, 
aparecimento das novas formas do Mesolítico, uma migração de povos. Tanto quanto se pode julgar 
pelo grande número de achados actualmente à nossa disposição, o arredondamento do crânio foi­se 
impondo gradualmente por toda a parte (mesmo fora da Europa), à escala continental, e sem que 
possam   comprovar­se   quaisquer   nexos   genéticos;   só   alguns   milénios   mais   tarde   será   possível 
localizá­los   claramente,   como   carácter   típico,   em   pequenos   gripos.   A   lenta   variação   dos 
caracteres   do   homem   mesolítico   corresponde,   no   que   à   Europa   diz   respeito,   a   uma   situação 
substancialmente   estacionária.   Só   podem   distinguir­se   seguramente   profundas   transformações   da 
situação ecológica, relacionadas com o correspondente espírito de iniciativa próprio do homem, 
apenas no período seguinte, com a sua «revolução» económica.

c) Do Neo@ítico à era moderna. O início deste período pode fixar­se, para as regiões da Europa 
Central,  em  cerca  de  4000  a.  C.,  embora  nos  dois  últimos  decénios  se  tenha  manifestado  urna 
tendência que visava a fazê­lo recuar largamente. Os novos valores, que voltam a conferir vali­

267
História das raças, Europa

dade a uma classificação cronológica velha de decénios assentam parcialmente em determinações 
cronológicas   obtidas   com   o   método   do   radiocarbono   e   são   confirmados   pela   análise   dos   pólens 
fósseis.   Segundo   estas   determinações   cronológicas,   os   primeiros   pólens   de   trigo   deveriam   ser 
situados em épocas ainda mais recuadas, assumindo tal facto uma importância especial no que diz 
respeito ao início da «revcolução económica» na Europa. Com o início do Neolítico, encontramos 
também no nosso continente grupos claramente sedentários que já se dedicam à produção consciente 
de alimentos baseada no cultivo da terra e na criação de gado. Também se observam pela primeira 
vez, simultâncamente com os grupos culturais, unidades étnicas, as quais na verdade se compõem 
de misturas raciais, revelando no entanto diversas percentagens das várias raças deste Período. 
Quando,  a   partir  de  combinações  de  caracteres  consideradas  típicas,  se  procura  estabelecer  a 
relação entre estas primeiras raças e as raças actuais, é necessária certa prudência. Na alínea 
b) já se recordou que a diminuição média da estatura continua a processar­se ainda por longos 
períodos do Neolítico, estando esse fenómeno relacionado com a diminuição geral da capacidade do 
crânio, com a atenuação dos seus relevos e com o enfraquecimento das diferenças sexuais típicas 
dos   vários   grupos.   Não   deve   ignorar­se   esta   situação   sempre   que   se   proceda   a   comparações 
métrico­morfológicas, nas quais a base de confronto é menos dada pelas raças actuais do que por 
séries de esqueletos descobertos no suposto espaço de origem (na Europa Central, por exemplo). 
Os resultados destas comparações devem, portanto, ser completados por considerações de carácter 
biológico­demográfico e por estimativas acerca da capacidade de crescimento e de expansão de um 
núcleo populacional. Os achados de que dispomos permitem­nos chegar à conclusão de que o ritmo 
de   crescimento   dos   povos   desta   época   deve   ter   sido   lento,   prevenindo­nos   contra   o   perigo   de 
supô­lo   em   concordância   com   a   velocidade   de   expansão   determinável   a   partir   dos   achados 
culturais. Será necessário, ainda a este respeito, considerar atentamente o facto de a difusão 
de uma cultura ser susceptível de se processar também por intermédio da aprendizagem, nem sempre 
correspondendo aos grandes movi­

268
Ilistória das raças, Europa

mentos   de   povos.   Sómente   um   estudo   global   que   tome   em   consideração   todos   os   critérios 
actualmente possíveis, quer antropológicos, quer de história da cultura ou genéticos (história, 
origem   e   evolução   de   animais   domésticos   e   de   plantas   cultivadas),   pode   dar   azo   a   uma 
interpretação cientificamente válida dos achados.

Dada a enorme extensão do material antropológico relativo ao Neolítico, deveremos llimitar­nos, 
por motivo da falta de espaço, ao tratamento de apenas alguns exemplos característicos, os quais 
dizem   respeito   à   moderna   subdivisão   das   raças   e   às   suas   combinações   de   caracteres   mais 
importantes,

Brandkeramik («cerâmica listada»): a cultura dos chamados Brandkeramiker provém do Sudeste do 
nosso   continente;   daí,   em   poucos   séculos,   propagou­se   até   ao   espaço   da   Europa   Central. 
Encontramos  os  numerosos  terrunhos  e  as  inúmeras  sepulturas  destes  grupos  de  cultivadores  em 
todo   o   percurso   das   suas   migrações,   geralmente   em   planuras   abertas   (de   lõss),   por   vezes 
nitidamente inseridos no seio de povos com outras formas de economia. O primeiro investigador a 
proceder, do ponto de vista antropológico, ao estudo de grandes séries, foi Heberer, seguindo­
se­lhe   mais   tarde   Gerhardt   e   Grimm.   O   tipo   maioritário   dos   «dolicomorfos   gráceis»,   doli­,
océfalos  de  baixa  estatura  e  face  estreita,  foi  situado  pelos  autores  citados  numa  categoria 
muito próxima daquela em que se situam os Mediterrâneos. Com efeito, é grande a semelhança da 
combinação   de   caracteres   típica;   contud(?,   antes   de   fazer   derivar   estes   povos   do   espaço 
geográfico do Sudeste europeu será aconselhável a máxima prudência, porquanto não se pôde ainda 
demonstrar   cabalmente,   nos   períodos   precedentes,   a   presença   naquelas   zonas   geográficas   de 
semelhantes   formas   «gráceis».   Além   disso,   no   espaço   central   das   regiões   actualmente   ocupadas 
pelos Mediterrâneos é nítido ainda o predomínio de fori­nas maciças. Deste modo     talvez fosse 
mais oportuno não relacionar directamente,       em sentido genético, os grácilo­dolicomorfos da 
cerâmica    listada com o grupo racial dos Mediterrâneos, tanto mais que semelhante relação não 
pôde   ser   ainda   determinada         e   que,   com   o   crescimento   da   estatura   na   Idade   do   Bronze,   os 
grácilo­dolicomorfos desaparecem pràticamente. Além do elemento

269
História das raças, Europa

morfológico típico desta raça, encontramos ainda, entre os povos caracterizados pela cultura da 
cerâmica listada, representantes de outras raças cuja presença é assinalada nos espaços abertos: 
globalmente, prevalecem os dolicocêfalos e são raros os crânios curtos com faces largas.

Cultura   megalítica.   Os   grupos   integrados   nesta   forma   cultural   só   em   fins   do   Neolítico   são 
claramente perceptíveis; porém, no que respeita ao tipo de considerações que nos ocupa, a sua 
importância   manifesta­se   apenas   sob   determinadas   perspectivas.   As   séries   antropológicas 
estudadas compõem­se de dolícocéfalos gráceis e de uma alta percentagem de cro­magnóídes cujos 
caracteres são pouco acentuados. Do ponto de vista da história da cultura, é costume relacionar 
os túmulos megalítico­dohnénicos com outras formas análogas (da Ásia Menor, da África do Norte, 
das   costas   atlânticas   da   Europa   Ocidental   e   da   Inglaterra),   sendo   visível   a   inclinação 
especulativa   no   sentido   de   considerar   que   a   hipótese   de   semelhantes   relações   podem   ser 
explícadas através das migrações de povos, os quais, partindo sobretudo da África do Norte, se 
teriam deslocado  ao longo  das faixas costeiras,  sempre na  direcção do  norte. Todavia,  também 
aqui   acabou   por   falhar   o   confronto   morfológico,   já   que   na   Á   frica   é   sobretudo   assinalada   a 
presença de caracteres cro­n­iagnóides em indivíduos de constituição óssea maciça e grosseira. A 
maioria da população devia estar certamente representada pelo elemento autóctone da Europa, mas 
não devemos esquecer que, com o aumento da estatura a partir do final do Neolítico, também no 
nosso continente os cro­magnóides voltam a corresponder ao tipo mais antigo. Este grupo pode 
assim   ser   adoptado   como   um   exemplo   ulterior   a   atestar   que   considerações   de   ordem   biológica 
exigem a máxima prudência antes de ter cabimento a suposição de serem possíveis fortes variações 
demográficas   em   períodos   de   tempo   muito   breves,   especialmente   quando   se   podem   encontrar 
explicações mais simples.

Schnurkeramik   (=   cerâmica   cordada).   O   grupo   portador   desta   cultura,   também   chamado   povo   do 
bipene   por   causa   da   sua   arma   característica   (uma   acha   de   dois   gumes),   só   é   referenciado   na 
segunda metade do Neolítico, alcançando a sua máxima expansão na parte final do mesmo

270
História das raças, Europa

período. A particular importância histórica por ele assumida reside na suposição de que estas 
gentes   desempenharam   um   papel   muito   relevante   na   formação   dos   primeiros   Europóides.   O   seu 
património   cultural   revela   ainda   certas   influências   provenientes   da   Europa   Oriental/Rússia 
Meridiodal, e assim alguns autores atribuíram as suas regiões de origem a estes países. Contudo, 
do ponto de vista cronológico, é difícil a conciliaçã o desta hipótese com a densa trama de 
relações   que   a   cerâmica   cordada   apresenta   com   outras   culturas   neolíticas   contemporâneas   da 
Europa Central. Uma série muito vasta de componentes da citada cultura, na Alemanha Central, foi 
estudada antropológicamente pela primeira vez, de modo muito aprofundado, por Ileberer, cujos 
trabalhos serviram de base às ulteriores investigações levadas a efeito por Grimm. Encontramo­
nos perante um povo dolicocéfalo, com face predominantemente estreita, estatura mediana, cuja 
combinação de caracteres revela notáveis analogias e coincidências com a que é própria da «raça 
nórdica». A estatura   ‘ relativamente baixa se a compararmos com a dos Nórdicos, corresponde 
àquela,   geralmente   baixa,   que   encontramos   nos   achados   neoliticos.   Em   relação   aos   grácilo­
dolicomorfos da cerâmica listada, os componentes da cultura da cerâmica cordada são em média 
mais altos e robustos; além disso, as suas séries distinguem­se com mais facilidade, e também 
entre   eles   é   patente   uma   elevada   percentagem   de   formas   cro­magnóides.   Poder­se­á   afirmar,   em 
síntese,   que   a   combinação   de   caracteres   presente   neste   tipo   antropológico   manifesta   perfeita 
concordância com os caracteres de achados mais antigos localizados na mesma região geográfica, 
de modo que devem tratar­se certamente, na sua'maioria, de elementos autóctones: Como é natural, 
nada   podemos   afirmar   acerca   da   pigmentação,   elemento   importantíssimo   no   que   respeita   à 
classificação   destes   povos   como   nórdicos.   Como   já   tivemos   ocasião   de   verificar   no   período 
«pigmentação, despigmentação», o espaço central da despigmentação coincide claramente com a zona 
de   onde   provém   a   maioria   dos   com­   ponentes   da   cerâmica   cordada   nossos   conhecidos.   Se 
acrescentarmos a isto que os Europóides, particularmente os das estirpes ocidentais de língua 
kentum, se distinguiam pela sua compleição clara, poder­se­á inferir correctamente que

271
História das raças, Europa

algumas fracções importantes destas estirpes deveriam ser oriundas do centro de despigmentação 
originário. Não conseguiremos determinar com rigor, naturalmente, o quantitativo das populações 
originalmente de cultura diferente da que era característica da gente da cerâmica cordada que 
acompanharam esta nos seus movimentos migratórios, reforçando­lhe a componente clara. Seja como 
for, a alusão à compleição clara revelou­se um argumento importante, biológicamente fundament­
ado, o qual não pode ignorar­se nas discussões acerca da proveniência dos Europóides, embora 
morfológicamente não possa determinar­se com segurança se o crânio estreito e alongado, então 
predominante   por   toda   a   parte,   deva   ser   relacionado,   no   espaço   mediterrâneo,   com   o   grupo 
meridional e oriental ou com o grupo originàriamente nórdico dos dolicocéfalos europóides. Isto 
é   válido   sobretudo   num   confronto   entre   Mediterrâneos   de   tipo   maciço   e   Nórdicos,   os   quais, 
morfológicamente, só vem a diferenciar­se em mais aspectos de maneira gradual, se bem que, ao 
vivo, a própria pigmentação visivelmente os diferencie!

Glackenbecherleute (população da cultura do «vaso, campanifonne»): acerca deste grupo do final 
do   Neolítico,   existe   uma   excelente   monografia   de   Gerhardt,   o   qual   no   seu   trabalho   utilizou, 
examinando­as   minuciosamente,   todas   as   referências   disponíveis.   Este   povo   deslocava­se 
continuamente  ­  chamou­se­lhe  povo  dos  «mercadores  a  cavalo»  e  dispunha,  como  bens  culturais 
mais evidentes, do vaso campaniforme (Glockenbecher), de um escudo protector contra a corda do 
arco,   além   de   pequenas   quantidades   de   cobre   batido   a   frio.   A   gente   portadora   desta   cultura 
encontra­se   amplamente   distribuída   entre   outros   grupos   demográficos.   Do   ponto   de   vista 
antropológico,   os   seus   membros   caracterizam­se   claramente   pelo   facto   de   entre   eles   se 
encontrarem, pela primeira vez, braquicéfalos de occipital acentuadamente chato e de occipital 
encurvado,   juntamente   com   grácilo­dolicornorfos   e   dolicocéfalos   nórdicos.   Assim   como   no   que 
respeita às primeiras formas braquimorfas aparecidas no final do Mesoffitico, estes povos do fim 
do Neolítico apresentam pela primeira vez, relacionados com a braquicefalia, uma série de outros 
caracteres que tipicamente os definem. O «tipo­padrão» da «população do vaso»

272
História das raças, Europa («Beakerpeople», como a designam os ingleses) possui cabeça estreita 
e alta, com occipital chato e cheio de reentrâncias, e face alta; a sua estatura também era 
relativamente elevada. Além deste, conhece­se ainda um tipo caracterizado por cabeça curta 
arredondada, com face larga e baixa e contornos gerais suaves, sem ângulos muito acentuados. 
Este último tipo pode fàcilmente ser justificado pela incipierte braquicefalia do período 
precedente. Quanto ao tipo do occipital chato, não apresenta quaisquer relações visíveis com 
tipos precedentes. Gerhardt tentou relacioná­lo, através da Europa Ocidental e da África do 
Norte, com o Próximo Oriente. Contudo, a esse escopo faltam todavia referências seguras 
provenientes da Península Ibérica e da África do Norte, e isto sem contar que o tipo plano­o,­
cipital só pode documentar­se na Ásia Anterior em relação a um período consideràvelmente mais 
recente. Em Eggenburg/Baixa Áustria, juntamente com objectos da cultura de Lengyel, foi 
encontrado um crânio de occipital chato, o qual, cronológicamente, deve considerar­se anterior à 
cultura do vaso campaniforme. Este facto deixa em aberto o problema da derivação desta 
combinação de formas e perinite­nos afirmar que este complexo formal não encontrou, até aos dias 
de hoje, antepassados ou precursores noutras regiões que cronol@gicamente se lhe adaptem. Dado 
que a gente a que nos referimos só veio a desaparecer pouco depois do início da Idade do Bronze, 
nem sequer pode ser relacionada com os Adriáticos, os quais só surgem muitos milénios depois. 
Quanto ao tipo braquicéfalo de occipital encurvado, mantém­se na Europa, embora com o decorrer 
dos séculos venha a representar tão­só uma fracção absolutamente secundária do conjunto da sua 
gente (sómente na segunda metade do último milénio a. C. Alcança percentagens apreciáveis em 
determinadas localidades).

Pode afirmar­se, em síntese, que no Neolítico se encontra representada, sob formas  ainda não 
completamente   diferenciadas,   a   maioria   das   raç   as   modernas   importantes:   a   nórdica,   a 
mediterrânea   e   a   alpina.   Quanto   aos   grácilo­dolicomorfos   da   cerâmica   listada,   não   pode   ser 
determinada   qualquer   conexão   directa   com   os   Mediterrâneos.   A   população   da   cultura   do   vaso 
campaniforme, de occipital chato, não pode certamente ser considerada uma pre­

273
História das raças, Europa

cursora directa dos Adriáticos e dos Pamirianos (Armenianos), os quais são muito posteriores. A 
combinação de caracteres típica da gente da cultura do vaso campaniforme, de occipital chato, 
toma verosímil, no que diz respeito ao final do Neolítico, uma fixação genética, pela, qual é 
possível,   no   que   concerne   à   Europa,   um   processo   autónomo   e   independente   de   evolução   (cf. 
braquicefalização), se bem que o tipo antropológico volte provisàriamente a desaparecer.

Nos períodos que se seguiram ao Neolítico (Idade do Bronze e do Ferro), as formas dolícocéfalas 
com face estreita e estatura variada predominam na maioria das regiões da Europa, como o atestam 
achados fósseis, e nas regiões mediterrâneas, onde existem já culturas superiores «históricas». 
Nestes   períodos   começa   a   desenvolver­se,   nas   regiões   mediterrâneas,   um   claro   adensamento   da 
concentração populacional nos centros urbanos, ao passo que nas regiões que permanecem ainda 
alheias   à   história   se   observa   apenas   uma   forma   aberta   de   colonização   agrícola,   de   fraca 
densidade, a qual vai conquistando lentamente as zonas florestais. Entretanto, a criação de gado 
e   a   economia   pastoril   (colonização   de   áreas   relativamente   desfavoráveis!)   desenvolvem­se 
progressivamente.   Os   recursos   económicos   destas   regiões   depressa   se   esgotam,   vindo   a 
desenvolver­se, paralelamente às fases de exacerbação do clima e de afundamento da terra firme 
em   regiões   marítimas   (zona   do   mar   do   Norte),   um   centro   instável   cujo   espaço   de   pressão   é 
dominado   pelo   Germanos,   os   quais   progridem   lentamente   para   o   sul   e   assim   impelem 
concêntricamente   para   o   exterior   os   povos   aí   instalados,   como   os   Celtas   e   os   Ilírios.   As 
culturas superiores podem escudar­se temporàriamente nas suas forças militares, mas não podem 
impedir   o   fluxo   ininterrupto   de   hordas   de   Bárbaros   sempre   renovadas.   O   último   grupo   de 
migrações, já integrado na época histórica, é frequentemente designado pela expressão «invasões 
bárbaras».   Estes   movimentos   de   povos   foram   inicialmente   detidos   pelo   fortíssimo   potencial 
defensivo do grande Império Romano, originando desse modo um movimento inverso, na direcção do 
norte,   de   povos   provenientes   da   bacia   mediterrânea   (França,   regiões   do   Reno   e   do   Mosela, 
Alemanha Meridional, Balcãs, incluindo a Roménia). Só depois de

274
Ilistória das raças, Europa

ter sido aceite a permanência nos confins do Império, a título de confederados, de povos que 
haviam penetrado à força nessas zonas, a primeira vaga de grupos certamente mongolóides (Hunos), 
unindo­se   aos   Germanos   orientais   que   povoavam   a   Rússia   Meridional,   sublevou­se   e   provocou   a 
queda definitiva do Império Romano. Os Germanos, que procuravam espraiar­se para o Sul, puderam 
manter­se durante algum tempo nas zonas marginais do Norte da bacia mediterrânea, ao passo que 
noutras regiões foram ràpidamente absorvidos pelos Mediterrâneos autóctones. A primeira vaga de 
Mongolóides oriundos do interior da Ásia seguiram­se novas vagas de Avaros, Búlgaros (estrato 
superior mongolóide) e Húngaros, estes no primeiro milérico depois de Cristo. Do ponto de vista 
demográfico, semelhantes vagas eram desta vez suficientemente fortes para deixarem numa parte 
dos Balcãs vestígios não­europóides, visíveis ainda hoje.

Se   pretendemos   relacionar   estes   fenómenos   demográficos   e   da   história   das   raças   com   a   actual 
distribuição rácica no nosso continente não devemos esquecer que as raças sofrem transformações 
no   decurso   de   milénios,   pois   resultam   de   «processos   evolutivos,   dinâmicos»,   isto   é,   não   são 
imutàvelmente estáticos. Os nossos métodos demonstrativos, partindo de bases morfológicas, nunca 
poderão   chegar   a   conclusões   definitivas,   e   isto   não   tornando   em   consideração   as   inúmeras 
lacunas,   em   muitos   sectores   e   períodos,   no   que   concerne   aos   achados   da   Europa.   No   que   diz 
respeito   à   época   histórica,   dispomos   no   entanto   de   material   documental   cada   vez   mais 
significativo   e   abundante,   composto   de   informações   e   descrições   que   nos   permitem   estabelecer 
relações bastantes plausíveis entre as séries de achados mais antigas e a actual distribuição 
das   raças.   Por   outro   lado,   será   necessário   não   esquecer   que   o   processo   de   braquicefalização 
verificado na Idade Média, e que de maneira mais ou menos acentuada interessou todos os povos, 
exceptuando os da parte meridional da bacia mediterrânea, origina algumas dificuldades sempre 
que se trata de inserir grupos ainda existentes nas combinações de caracteres típicas do nosso 
moderno sistema de classificação. Além disso, para delimitar alguns grupos, podemos valer­nos da 
pigmentação e de certas características dos tegumentos, dos

275
História das raças, Europa

músculos,   etc.,   onde   justamente,   como   material   que   serviria   ao   estudo   de   povos   primitivos, 
óbviamente dispúnhamos tão­só de restos de esqueletos.

Raça mediterrânea: caracterizada pelo crânio estreito e alongado, face alta e estreita, nariz 
pequeno, mas geralmente de formas marcadas, corpulênncía esguia e estatura inferior à mediana. O 
cabelo e os olhos são escuros, a pele varia entre o branco e o moreno­claro. Na Europa, fora da 
região   mediterrânea,   esta   raça   também   se   encontra   espalhada   na   Irlanda   e   no   País   de   Gales; 
existem ainda outros grupos, oriundos da zona balcânica, que atingiram a Rússia Meridional. Dada 
a   vastidão   da   zona   abrangida   por   esta   raça,   notam­se   diferenças   acentuadas   de   região   para 
região, embora a impressão geral permaneça predominantemente unitária. Nas séries pré­históricas 
e proto­históricas, a literatura especializada distingue uma forma mais subtil e esbelta (forma 
mediterrânea   grácil)   e   uma   forma   mais   maciça   (forma   mediterrânea   robusta).   A   evolução   destas 
duas   formas,   porém,   a   partir   do   início   do   Neolítico,   não   pode   ser   seguida   com   segurança, 
porquanto predominava na região mediterrânea, justamente nessa época, um tipo algo maciço com 
características   cro­magnóídes;   só   mais   tarde   se   verificou   uma   plena   diferenciação. 
Frequentemente   englobam­se   também   nas   raças   mediterrâneas   algumas   formas   análogas   da   África 
Setentrional e outras ainda da Ásia Menor e da Ásia Central (ver adiante). Devemos notar, porém, 
que relações entre povos geogràficamente tão afastados devem ser consideradas com certa reserva, 
já que nestes casos uma selecção convergente pode ter dado origem a combinações de caracteres 
análogas. Por outro lado, seria bastante difícil comprovar a existência de um centro genético 
unitário para um grupo racial de tão grande difusão, o qual se distingue simultâncamente por uma 
vastíssima riqueza de formas.

Raça nórdica: longilíncos de estatura elevada, cabeça alongada e face estreita, com cor de pele 
de   um   branco­rosado,   cabelo   louro   (dourado)   e   olhos   que   variam   entre   o   azul   e   o   cinzento. 
Diferenciam­se   da   raça   mediterrânea,   de   cujo   tipo   constitucional   se   encontram   muito   perto, 
devido a uma angulosidade maior dos traços do rosto e de todo o corpo. A raça nórdica é a raça 
curopeia na qual

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História das raças, Europa a despigmentação fez mais progressos: este facto permite­nos fazer 
remontar a sua origem, por exclusão, às regiões onde a despigmentação representa clirnàticamente 
uma

vantagem   especial   para   a   selecção.   Os   Nórdidas   habitam   ainda   hoje   as   regiões   onde,   ao   que 
supomos,   sc   deve   ter   começado   a   processar   a   despigmentação,   isto   é,   a   parte   setentrional   da 
Europa Central e Ocidental, compreendida a zona costeira da Grã­Bretanha banhada pelo mar do 
Norte,   a   Dinamarca,   a   parte   meridional   e   central   da   península   escandinava,   a   Finlândia 
Meridional   e   Central   e   as   costas   do   Báltico   fronteiras.   A   estatura   elevada,   actualmente 
considerável, só veio a transformar­se numa característica racial em plena Idade do Bronze. No 
Neolítico predominam geralmente valores muito inferiores. Subgrupos: Escandinavos, Teutónicos, 
Finlandeses.

Raça dalofálica: é considerada por muitos autores uma

subvariante da raça nórdica. O seu nome deriva das regiões da Dalarna (Suécia e da Vestefália 
(Alemanha), onde este tipo racial está concentrado. Subsistem nesta raça claros vestígios cro­
magnóides: estatura elevada, corpulência maciça, crânio dolicomorfo bastante pesado, largo, com

face baixa e larga e nariz relativamente curto. A coloração é predominantemente clara; contudo, 
em  algumas regiões  da Suécia,  e também  da Noruega,  encontram­se frequentemente  indivíduos de 
coloração   escura   com   as   mesmas   características   raciais,   elementos   por   vezes   acompanhados   de 
outros   caracteres,   tais   como   constituição   menos   robusta   e   estatura   inferior.   Lundman 
classificava também nesta série de formas a « raça atlântica», localizada nas costas europeias 
do Atlântico.

Raça báltica (báltica oriental): é a terceira raça curopeia de tez clara, cabelo louro­cinza e 
olhos   que   variam   entre   o   cinzento­claro   e   o   verde.   Corpulência   maciça,   estatura   mediana, 
braquicefalia mais ou menos acentuada, face baixa e larga, nariz curto e côncavo. Quanto à sua 
região original, é possível investigá­lo em séries fósseis relativamente recentes. De qualquer 
modo, a compleição moderadamente clara desta raça remete­nos para as regiões da Europa Oriental 
que   possuem   ainda   um   clima   suficientemente   marítimo   para   conferir   à   compleição   clara   uma 
vantagem selectiva (enriquecimento, em medida superior

277
História das raças, Europa

à média, dos elementos claros). A sua braquícefalia, actualmente bem marcada, é sem dúvida um 
fenómeno bastante recente (cf. braquicefalização), e o seu complexo de formas indica um ponto de 
partida fortemente cro­magnóide.

Raça alpina: corpulência maciça, estatura entre mediana e médio­alta, cabeça curta com occipital 
arredondado, face baixa e redonda, nariz curto, de perfil frequentemente côncavo. Cabelo e olhos 
escuros,   geralmente   castanhos.   As   formas   fósseis   só   se   encontram   claramente   testemunhadas   a 
partir   do   final   de>   Neolítico   (cf.   Glockenbecherleute),   mas   apresentam­se   com   frequência 
relevante sómente a partir da segunda metade do primeiro milénio a. C. A denominação da raça 
deve­se   a   um   evidente   adensamento   de   formas   braquicéfalas   na   região   alpina;   unia   ulterior 
concentração é assinalada em França, na região das Cévennes (raças cévenole). Será necessário 
notar, porém, que a braquicefalia actualmente dominante em vastas regiões da Europa não é típica 
da raça alpina, pois não passa do resultado do fenómeno da braquicefalização que teve lugar na 
Idade Média. Todavia, do ponto de vista genético, pode considerar­se a raça alpina como uma raça 
autónoma, dado que a sua combinação de caracteres típica se encontra bem assinalada na Europa, 
embora geralmente em pequenas percentagens, desde há quatro mil anos.

Raça ad@iática (ou dinái*a): no que a esta raça diz respeito, não temos a certeza se será lícito 
falar­se, do ponto de vista genético, de uma combinação de caracteres fixada com continuidade. 
Caracteriza­se   por   estatura   elevada,   crânio   alto   e   occipital   chato,   face   alta,   perfil   bem 
marcado, nariz convexo, acentuado. O cabelo e os olhos são castanhos. Na Europa, mesmo no seu 
actual   espaço   central,   os   Balcãs,   só   vêm   a   aparecer   muito   tarde.   Nos   Alpes   austríacos,   a 
braquicefalia   típica   desta   raça   só   começou   a   esboçar­se   claramente,   em   vales   completamente 
fechados e sem possibilidades de emigração, há poucas centenas de anos, acompanhando o fenómeno 
geral do arredondamento da cabeça. Dado que també m a raça pamíriana (Armenianos), que apresenta 
certas   analogias   com   a   raça   adriática,   só   vem   a   fazer   a   sua   aparição   histórica   num   período 
bastante   tardio,   considerações   de   ordem   genética   aconselham   muita   prudência   antes   de   se 
estabelecer qual­

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História das raças, Europa

quer hipotética afinidade entre estas duas raças. O termo «Táuridas», por vezes utilizado para 
designá­las a ambas, surgiu num período em que ainda se acreditava que este tipo racial fosse 
testemunhado   por   restos   muito   antigos   (cf.   braquicefalização).   De   modo   semelhante,   para 
continuarmos na Europa, não se pode estabelecer uma relação de parentesco entre a população do 
vaso   campaniforme,   caracterizada   pelo   occipital   chato,   e   os   seus   «descendentes»   tardios 
(Adriáticos), já que por alguns milénios, na mesma região, escasseiam as formas que comprovam a 
sobrevivência deste tipo.

Poder­se­á,   portanto,   no   que   diz   respeito   à   Europa,   fixar­se   quatro   ou   cinco   grandes   raças 
claramente   circunscritas,   geralmente   documentáveis   a   partir   do   início   do   Neolítico,   ou   pelo 
menos da sua parte final, as quais constituem um evidente precedente de raças que se encontram 
na classificação actual. O que acabamos de afirmar é menos válido para a raça báltica, porquanto 
a sua actual braquicefalia só aparece relativamente tarde (na era cristã) como carácter típico 
em   séries   inteiras,   cc>nfundindo­se,   sem   que   se   possa   estabelecer   um   limite   rigoroso,   com   o 
pro­­esso medieval da braquicefalização. Sobretudo após os trabalhos de Ludman, poder­se­á, pelo 
contrário,   no   que   diz   respeito   à   raça   dalofálica,   com   as   suas   evidentes   reminiscências   cro­
magnóides,   notar   forte   sobrevivência   dós   traços   morfológicos   próprios   do   tipo   mais   antigo   em 
regiões circunscritas da Suécia, fenómeno frequentemente acompanhado da compleição decididamente 
escura.   Os   Adriáticos,   dado   que   até   agora   não   se   pôde   demonstrar   em   sentido   estritamente 
genético que constituem uma raça autónoma, nã(> entrariam em consideração.

Tão­pouco nos será pennitido, tomar em consideração as subdivisões em grupos raciais de ordem 
sistemática inferior. Contudo, não podemos deixar de recordar         ‘ pelo menos de fugida, os 
Lapões,   povos   que   habitam   as   regiões   mais   setentrionais   da   Europa   e   que   constituem   um   grupo 
claramente autónomo. Apesar de algumas infiltrações provenientes do Oriente, estes povos estão 
seguramente   relacionados   com   o   ramo   racial   dos   Europóides;   as   suas   acentuadas   diferenças 
morfológicas devem­se ao facto de viverem numa região marginal e ainda à sua situação ecoló­

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História das raças, África

gica,   sintetizada   nas   características   da   vida   que   levam,   isto   é,   a   de   criadores   nómadas   de 
renas. Na Europa Oriental, finalmente, distinguem­se contributos evidentes do ramo racial dos 
Mongolóides:   trata­se,   porém,   de   um   fenómeno   relativamente   recente   e,   do   ponto   de   vista 
quantitativo, ainda sem importância. Esses contributos, contudo, representam o primeiro indício 
em solo europeu de uma contínua pressão dos Mongolóides na direcção do Ocidente; estes povos, 
após terem desbaratado a população europóide oríginária da Sibéria, mongolizaram essas vastas 
regiões, irrompendo isoladamente no coração da Europa com as primeiras vagas de Hunos, Avaros, 
Húngaros   e   Búlgaros,   ao   passo   que   os   Mongolóides   que   haviam   penetrado   no   espaço   russo 
continuaram a viver lado a lado com a população autóctone.

HISTóRIA DAS RAÇAS: ÁFRICA ­­ a) PaleoWico Superior. No continente africano, ao invés do que 
acontece   no   que   respeita   à   história   da   cultura,   em   relação   à   qual   se   dispõe   de   abundantes 
achados   que  documentam   uma  vasta  difusão   do  homem,   sómente   foram  descobertos  escassos   restos 
antro~   pológicos.   Se   a   causa   de   semelhante   escassez   pode   atribuir­se,   em   parte,   à   exígua 
actividade de pesquisa, pode afirmar­se, por outro lado, e com certa razão, que o aparecimento 
do   Homo   sapiens   neste   continente   parece   remontar   a   um   período   mais   tardio   do   que   no   espaço 
eurasiático; do mesmo modo, a flora e a fauna africanas apresentam geralmente uma sobrevivência 
maior   de   formas   mais   antigas.   O   achado   de   Kanjera,   na   África           Oriental   (­­@> 
Paleontropologia),   testemunha   no   entanto   a   presença   de   componentes   do   grupo   pré­sapiens   numa 
época relativamente antiga, se bem que neste període,       como no Paleolítico Superior e em 
époms mais remotas, o desenvolvimento cultural pareça geralmente um tanto atrasado em relação à 
Eurásia.   Durante   a   última   era   glacial   ­pluvial   na   África­,   as   actuais   regiões   áridas   e   os 
desertos   devem   ter   apresentado   condições   muito   favoráveis   à   colonização.   Assim,   os   grupos   de 
caçadores­recolectores  e  as  culturas  superiores  de  caçadores  que   surgiram  nessa  época,  ou  um 
pouco   mais   tarde,   dispuseram   de   espaços   livres   suficientemente   vastos   que   não   tornaram 
insistentemente necessária

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História das raças, África

a sua penetração na «hylaca», isto é, na faixa das flore@tas tropicais. Existem, portanto, nesta 
região poucos indícios de colonização humana,­ a África Branca, ou seja, o Norte de África até à 
faixa de florestas a sul do actual Sara, estava, pelo contrário, através das regiões abertas e 
das estepes da África Oriental, em contacto contínuo com as correspondentes regiões do Sul da 
África.   Também   militam   a   favor   desta   hipótese   os   achados   culturais   muito   semelhantes 
provenientes   da   África   Branca,   da   África   Oriental   e   da   África   Meridional   (desenhos   sobre 
rochas).   A   quantidade   de   vestígios   culturais   descobertos   nestas   regiões,   mesmo   nas   que   são 
actualmente   hostis   ao   povoamento,   depõe   a   favor   de   uma   densidade   populacional   relativamente 
elevada no quadro das possibilidades ecológicas de então e dos recursos ao dispor das técnicas 
económicas   daqueles   tempos.   Nem   sempre   é   possível   um   confronto   cronológico   exacto   entre   as 
descobertas efectuadas em África e as realizadas na E@rásia; será necessário levar em conta, 
antes de mais nada, que a MiddIe­Stone­Age da África Oriental e Meridional não deve confundir­se 
com o Mesolífico, pois pertence ainda ao. terço superior do Palcolítico.

Na   África   Branca   não   existem   restos   humanos   que   remontem   inequivocamente   ao   Paleolítico, 
Superior. A primeira descoberta, sem margem para dúvidas, de um esqueleto de Homo sapiens fóssil 
pertencente a este período provém da África Oriental.

Oldoway (África Oriental”: 1913, esqueleto a que já se supôs uma idade mais antiga; actualmente 
considera­se proveniente da segunda metade do Palcolítico Superior, acompanhado de utensilagens 
caracterizadas   pelo   talhe   em   lâminas.   Tipo   longilíneo,   dolicomorfo,   crânio   alto   e   estreito, 
rosto comprido, prognatismo moderado, caracteres morfológicos semelhantes a Combe Capelle.

Naívasha (Quénia): 1940, esqueleto encontrado no antigo fundo do lago, juntamente com utensílios 
aurignacianos. Posterior a Oldoway, também apresenta afinidades com o tipo de Combe Capelle.

Florisbad (Sul da África): 1932, crânio cuja origem é atribuída, a partir da fauna circundante, 
ao Plistocénico Superior (MiddIe­Stone­Age); trata­se de um crânio doli­

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História das raças, África

comorfo,   de   face   achatada,   testa   baixa,   arcadas   supraciliares   muito   salientes   (mas   sem   toro 
circum­orbitário),   órbitas   estreitas,   prognatismo.   É   um   representante   do   tipo   mais   antigo   de 
Homo  sapiens,  sem  ter  nada  de  neandertaliano.  Analogias  morfológicas  com  os  Austrálidas  (cf. 
adiante: Indonésia/Oceânia).

Cape   Flats   (Sul   da   África):   1929,   Plistocénico,   Superior,   restos   de   vários   indivíduos   com 
características idênticas às de Florisbad. Não aparecem ainda caracteres do tipo de Boskop, mais 
tardio e genèricamente australiforme.

Border Cave (Sul da África): 1941­42, fins da Midelle­Stone­Age ou já, com toda a probabilidade, 
Mesolítico;   crânio   dolicomorfo   muito   grande,   relativamente   largo,   com   arcadas   supraciliares 
maciças, fronte larga e baixa, face achatada. Deduz­se, a   partir do comprimento dos ossos, uma 
estatura elevada. Morfológicamente, revela certas correspondências com    as formas mais antigas 
do   Sul   da   África   (Florisbad),     embora   possua,   de>   ponto   de   vista   cronológico,   acentuado 
parentesco com o grupo mesolítico de Boskop.

Os restos humanos da MíddIe­Stone­Age na África Oriental e Meridional perinitem­nos reconhecer 
que, também nestas regiões, o processo de diferenciação nos modernos ramos raciais só muito mais 
tarde   começou   a   verificar­se.   A   c@nfirmar   esta   asserção   temos   o   facto   de   não   ser   possível 
reconhecer os Negróides, nem sequer através de lengínquos antepassados. É verdade que o tipo de 
Oldoway   apresenta   uma   forina   claramente   progressiva;   porém,   trata­se   de   forma   que   pertence 
nitidamente  ao  Homo  sapiens  fóssil.  As  formas  do  Sul  da  África,  por  sua  vez,  representam  um 
grupo   arcaico,   mas   extremamente   diferenciado,   de   Homo   sapiens,   tipo   esse   que   se   conservou 
durante muito mais tempo nestas regiões marginais. As grandes dimensões do crânio, com a testa 
frequentemente   muito   larga,   arcadas   supraciliares   salientes   e   platicefalia   acentuada,   fizeram 
com   que   muitos   autores   estabelecessem   um   paralelo   com   o   homem   de   Neandertal,   com   o   qual   se 
pretendeu   relacionar   sobretudo   o   tipo   de   Florisbad.   Semelhantes   paralclismos,   no   entanto,   se 
tomarmos em conta as órbitas e a face, perdem­muito da sua razão de ser. A difusão dos restos 
culturais põe em evidência a enorme

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História das raças, África

extensão   das   regiões   habitadas   por   este   antigo   grupo,   as   quais,   provàvelmente,   devem   ter­se 
estendido a algumas zonas da África Setentrional. O achado de BosIçop, que parece ter prolongado 
no tempo a perspectiva da existência deste grupo, será tratado oportunamente, dada a sua incerta 
classificação cronológica, na secção seguinte.

b)       Mesolítico.   Neste   período   as   fontes   antropológicas   são   substancialmente   mais   ricas;   a 


África  Branca,  sobretudo,  encontra­se  representada  por  grandes  grupos.  Podemos  considerar,  no 
que conceme a esse período, a região sariana ainda habitável; a sua transformação em absoluto 
deserto só mais tarde se processou, e para ela não deixou de contribuir a acção do próprio homem 
(através das suas intervenções no equilíbrio natural). A partir do Norte, os mais importantes 
grupos de achados foram os seguintes:

Mechta el Arbi (Argélia): 1907­23, classificação cronGlógica incerta. É possível que, em vez do 
Palcolítico Superior, talvez fosse mais lícito dizer­se Mesolítico. Restos que cempreendem mais 
de  trinta  indivíduos, de  estatura elevada,  crânio dolicomorfo largo,  rosto largo  e baixo, de 
contornos   quase   quadrangulares   por   causa   das   grandes   saliências   laterais   dos   ângulos   das 
mandíbulas.   Extrema   variante   do   tipo   de   Cro­Magnon;   é   considerada,   com   o   nome   de   «raça   de 
Mechta», uma raça específica.

Aín   Meterchem   (Tunísia):   1948,   um   esqueleto.   Muito   próximo   das   formas   cro­magnóides,   embora 
alguns   estudiosos   hajam   pretendido   considerá­lo   uma   forma   ancestral   dos   Mediterrâneos. 
Semelhante hipótese é dificilmente demonstrável, dada a insegurança da classificação cronológica 
e, por consequência, a impossibilidade de se estabelecer um confronto com os diversos estádios 
culturais. Além disso os processos de diferenciação só podem avaliar­se através de séries muito 
vastas.

Afalu   bu   Rummel   (Argélia):   1928­29,   série   de   esqueletos   que   engloba   mais   de   cinquenta 
indivíduos.   População   de   estatura   extremamente   elevada   e   constituição   robusta.   Mulheres   que 
apresentam diferenças de estatura surpreendentemente pequenas em relação aos homens. Caracteres 
morfológicos   idênticos,   aos   do   grupo   de   Mechta,   com   muitas   características   cro­magnóides. 
Descobriu­se, num estrato isolado, um esqueleto um pouco mais pequeno, o qual,

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História das raças, África

de determinados aspectos, apresentava certas semelhanças com o tipo de Asselar. Alguns exemplos 
moderados   de   braquicefalia   não   constituem   certamente   provas   de   uma   nova   raça   (cf. 
braquicefalização).

Asselar:   1927,   localidade   ao   norte   do   cotovelo   do   Niger,   a   400   km   de   Tombuctu,   sem   cultura 
acompanhante:   a   partir   da   fauna,   pode   localizar­se   este   tipo   no   Mesolítico.   Estatura   entre 
mediana   e   alta,   crânio   alongado,   rosto   largo,   zigomas   proeminentes,   prognatismo.   Apesar   de 
algumas   características   comuns,   não   é   ainda   negróide:   apresenta   numerosos   caracteres   do   tipo 
arcaico   menos   diferenciado   (Boskop),   largamente   documentado   na   África   Setentrional   mediante 
restos culturais (Singa, Khartum).

Singa   (Sudão   egípcio):   1924,   crânio   provàvelmente   mesolítico;   ainda   não   foram   publicados   os 
relatórios   que   lhe   dizem   respeito.   É   frequentemente   indicado   como   negróide   e   pertence 
provàvelmente ao tipo antigo (Asselar).

Khartum   (Sudão):   1944­45,   túmulo   com   dezassete   sepulturas,   fins   do   Mesolítico­princípios   do 
Neolítico. Os caracteres negróides mal se vislumbram e prevalecem os Europóides, de modo que 
será   lícito   aproximar   este   grupo   dos   mais   recentes   Europóides   de   coloração   escura   naturais 
destas regiões (classificação feita a partir da combinação de caracteres típica).

Ishango (Congo): em 1935, a oeste do lago Alberto descobriram­se restos humanos num estado de 
fossilização   muito   adiantado,   pertencentes,   quase   seguramente,   ao   Mesolítico.   Nas   pesquisas 
encontraram­se   fragmentos   de   crânios,   muitas   mandíbulas   e   restos   de   membros   de   diversos 
indivíduos. A estatura é superior à média, a caixa craniana é espessa, a mandíbula é maciça, com 
uma pronunciada ramificação ascendente, e o queixo muito acentuado. Deve classificar­se entre o 
tipo   arcaico   ­ainda   não   absolutamente   diferenciado   ­   do   Homo   sapiens   africano:   não   é   ainda 
«negróide».

Elmenteita   (África   Oriental):   1918­27,   a   sul   do   lago   Nakuru,   restos   de   cerca   de   trinta 
indivíduos. Estatura elevada, crânios dolicornorfos estreitos, rostos altos e compridos, nenhum 
prognatismo.   Trata­se   de   Europóides   que   poderiam   situar­se   entre   Oldoway/Naivasha   e   os 
Europóides escuros recentes, já diferenciados, destas regiões.

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História das raças, África

Possuem ainda alguns caracteres patentes nas fon@nas arcaicas.

Gambles Cave (Quénia): 1927­29, abrigo sob a rocha, cinco indivíduos. O tipo aqui representado é 
europóide, semelhante ao de Elmenteita.

Boskop (Transval): 1913, restos de um crânio em adiantado estado de fossilização, infelizmente 
não datável, sem cultura ou fauna acompanhante. Dado que no Sul da África se encontram outros 
restos deste grupo de formas atinentes ao Mesolítico, será conveniente tratá­los conjuntamente. 
A partir das partes conservadas da caixa craniana, o crânio revela­se alongado, de capacidade 
elevada, com uma estrutura óssea muito espessa; a face é baixa, achatada. Por via de regra, os 
contornos cranianos são pentagonóides. Este tipo possui muitas semelhanças com os restos mais 
antigos do tipo de Florisbad; porém, apesar de características mais primitivas que evocam o tipo 
de Cro­Magnon, testemunha a sobrevivência dos tipos arcaicos do Homo sapiens no Sul da África, 
actualmente   representados   pelos   Esteatopígidas   (Matjes   River,   Fish   Hock,   Springbock   Flats, 
Zitzikarna).

Matjes   River   (província   do   Cabo):   abrigo   sob   a   rocha,   restos   de   dezóito   indivíduos.   A   fauna 
acompanhante   permite   atribuí­los   quer   aos   fins   do   Paleolítico,   quer   a(>   Mesolítico.   Tipo   de 
Boskop.

Fish Hoek (perto da Cidade do Cabo): 1927­29, gruta com restos culturais do fim da Middle­Stone­
Age, três indivíduos. Tipo de Boskop.

Springbock Flais (Transval Central): data incerta. Tipo de Boskop.

Zitzikama   (província   do   Cabo):   1922,   abrigo   sob   a   rocha,   sem   cultura   ou   fauna   acompanhante, 
período   Mesolítico   ou   possivelmente   posterior;   restos   de   cinco­oito   indí­   ,viduos.   Tipo   de 
Boskop, com tendências evolutivas orientadas para os Bosquímanos (Strandloopers).

Esta   breve   resenha   dos   restos   humanos   provenientes   das   jazidas   mais   importantes   permite­nos 
reconhecer, no Mesolítico africano, grupos claramente diferenciados uns dos outros, de modo que 
nos sentimos impelidos pela tentação de considerá­los já como raças diferentes. Complexivamente, 
pode chegar­se à conclusão de que nenhuma

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História das raças, África

prova verdadeiramente infalível há a favor da existência do ramo racial dos Negróides. Posto que 
o Mesolítico, se o considerannos do ponto de vista climático­ecológico, con@preende os milénios 
que conduzem às condições «recentes», o Sara deve ter estado, neste período, ainda completamente 
aberto   ao  povoamento   humano,  não   exercendo,  portanto,   aquela   acção  separativa  entre   a  África 
Branca   e   a   África   Negra   que   mais   tarde   viria   a   desenvolver­se.   Por   consequência,   a   «zona   de 
contacto»   entre   os   primeiros   Europóides   e   os   primeiros   Negróides   deve   ter   sido   nessa   época, 
durante a fase de completa diferenciação dos dois grandes ramos raciais, relativamente ampla, 
facto esse que torna actualmente dificílima a classificação minuciosa das populações que vivem 
nesta vasta faixa. Do ponto de vista da história das culturas, será importante não esquecer que 
na   África   a   passagem   às   formas   modernas   da   produção   deliberada   de   alimentos   através   da 
agricultura ou da criação de gado só relativamente tarde se pôde documentar, e que as antigas 
formas   de   economia   parasitária,   como   a   caça   e   a   recolecção,   devem   ter­se   conservado   durante 
muito   tempo.   No   Mesolítico,   portanto,   esta   fase   de   transição   não   se   encontra   tão   claramente 
delineada no que diz respeito à África quanto o está para determinadas regiões da Eurásia.

As   regiões   da   África   francesa,   as   mais   estudadas   até   aos   dias   de   hoje,   são   também   as   que 
forneceram   o   material   mais   abundante.   Aqui   o   elemento   principal   é   constituído   pela   raça   de 
Mechta, a qual representa uma variante extrema do tipo de Cro­Magnon. Cronológicamente, o tipo 
de   Mechta   deve   ter­se   prolongado   por   mais.   tempo   do   que   as   suas   formas   ‘correspondentes   na 
Europa. Ambos os sexos possuem em comum elevada estatura e uma robusta corpulência; o crânio 
alongado, maciço, de contorno pentagonóide, tende fortemente para a mesocrania. A face é larga e 
baixa,   com   arcadas   supraciliares   muito   desenvolvidas,   forte   platirrínia,   órbitas   baixas 
rectangulares e contomo da face anguloso devido à pronunciada saliência lateral do ângulo da 
mandíbula. O queixo é bem desenvolvido, os relevos da face muito vigorosos. Alguns crânios podem 
ser classificados no sector da braquicrania; os valores, contudo, não são suficientes para que 
possa inferir­se a exis­

286
Ilistória das raças, África

tência duma raça à parte; será mais lícito falar­se de variantes extremas de formas cromagnóides 
de crânio largo, as quais, por outro lado, atestam o início da braquicefdização. Nestas regiões 
algumas formas de dolicocrania diferenciadas pela grande estreiteza do crânio são classificadas 
por   alguns   autores   como   paleomediterrâneas   (Ain   Meterchem).   Porém,   enquanto   não   se   puderem 
revelar suficientes os afluxos culturais das regiões em que semelhantes formas, nessas épocas 
remotas, já eram dominantes, será conveniente usar da máxima prudência. No que diz respeito à 
parte central da «Ãfrica Branca», não se descobriram até agora quaisquer restos humanos; nem 
sequer   no   vale   do   Nilo,   ao   longo   do   curso   inferior   do   rio,   se   vislumbrou   algum   material 
antropológico, se bem que neste período aquela região fosse já certamente muito povoada. No que 
concerne ao curso superior, pelo contrário, dispomos já de duas jazidas, cujos restos, todavia, 
não são concordemente classificados pelos estudiosos. O achado mais antigo, isto é, o de Singa, 
aparenta,   quer   nas   proporções   dos   membros,   quer   no   crânio,   caracteres   que   também   podem   ser 
interpretados como negróides; porém, com mais verosimilhança, este tipo deve estar relacionado 
com   o   vasto   grupo   arcaico   do   Homo   sapiens,   tanto   mais   que   a   presença   de   semelhante   grupo   é 
testemunhada através de achados culturais em toda a África Setentrional, e pelos desenhos sobre 
a rocha podem reconhecer­se traços tipológícos que nos remetem para os actuais Esteatopígidas da 
África Meridional. Os achados de Khartum, que se situam nos inícios do Neolítico, atestam, na 
combinação   complexiva   de   caracteres,   traços   prevalentemente   europóides,   o   que   permite 
classificar esta população como europóide; para além de alguns caracteres morfológicos do crânio 
ou dos membros, serão talvez mais correctamente compreendidos se os classificar­

mos   como   primitivos   em   vez   de   particularizados   no   sentido   negróide,   porquanto   não   se   pode 
demonstrar,   neste   período,   a   existência   de   formas   negróides.   No   que   se   refere   ao   tipo   de 
Asselar, este esqueleto provém da bacia do Tilemsi, no Sara, isto é, de uma zona directamente 
ligada   à   faixa   climática   onde   muito   provàvelmente   se   desenvolveram   os   Negróidey.   Porém,   não 
apresenta ainda caracteres tão diferenciados que permitam uma classificação segura. A forma

287
História das raças, África

do   crânio,   o   nariz,   a   largura   bizigomática   e   o   prognatismo   não   são   suficientemente   típicos, 


podendo   interpretar­se,   do   mesmo   modo   e   com   idêntica   verosimilhança,   por   uma   conexão,   mais 
estreita com o tipo arcaico.

Deste ponto de vista são particularmente interessantes os restos de Ishango, do Parque Nacional 
do   Congo.   Devem,   quase   certamente,   remontar   ao   Mesolítico   e   representam   os   primeiros   restos 
humanos antropológicamente utilizáveis do sector que margina do lado oriental a «hylaea», isto 
é, a zona da floresta tropical. O facto de não nos encontrarmos diante de formas ou combinações 
de   caracteres   bem   diferenciados   não   deve   admirar­nos;   o   contrário   é   que   deveria   deixar­nos 
estupefactos.   Com   efeito,   os   grupos   mais   arcaicos   (e   mais   tarde   os   Pigmeus)   devem   ter   sido 
progressivamente   empurrados   ­   devido   à   sua   incapacidade   de   concorrer,   na   luta   pelas   planuras 
abertas e favoráveis à existência, com os grupos mais evoluídos ­ para a região ecológicamente 
desfavorável das florestas tropicais. A combinaçâo de caracteres indica claramente que nã o nos 
encontramos perante os primeiros Negróides, cuja região de origem não deve procurar­se na zona 
das florestas tropicais; indica ainda que nem sequer nos enco­ntramis perante Pigmeus ou formas 
piginóides, como o testemunha o comprimento dos membros. Uma pesquisa mais aprofundada levar­
nos­á   provàvelmente   ao   encontro   de   restos   antropológicamente   utilizáveis   na   «hylaea»,   essa 
região   tão   pouco   propícia   à   conservação   de   material   ósseo;   e   só   então   o   nosso   juizo   poderá 
fundamentar­se em bases mais sólidas.

Na África Ocidental, pelo contrário, com Elmenteila e Gambles Cave, deparam­se­nos séries muito 
ricas: dolicocrânicos de estatura elevada, com faces estreitas, claramente relacionados com os 
Europóides   de   cor   escura   que   encontramos   actualmente,   em   grande   percentagem,   nestas   regiões. 
Devemos admitir, contudo, que as populações curopóides hodiemas (Etiópidas) que vivem nessa zona 
devem ter emigrado para ali recentemente, não podendo, portanto, ser ainda determinada qualquer 
conexão directa entre os tipos modernos e os antigos.

Na   parte   meridional   da   África   temos   claros   testemunhos   da   presença   do   tipo   arcaico   do   Homo 
sapiens, impelido para esta zona marginal, cujos derradeiros represen­

288
História das raças, Ãfrica

tantes   se   encontram   actualmente   confinados   às   regiões   áridas   do   Sudoeste   africano.   Em   tempos 


remotos,   porém,   os   componentes   deste   tipo   humano   ocupavam   ainda   um   vasto   espaço   vital,   com 
condições muito mais favoráveis;

o  seu legado  cultural, bem  como os  traços  morfológicos que  se podem  deduzir dos  desenhos na 


rocha,   atestam   uma   difusão   ainda   maior,   até   à   Á   frica   Setentrional.   Os   crânios   são   muito 
espessos   e   alongados,   impressionando   pela   elevada   capacidade   que   denotam;   as   arcadas 
supraciliares são vigorosas; os restos dos membros, nos limites em que podem contribuir para uma 
avaliação aproximada, indicam uma estatura superior à média. Sèkmente nos restos mais recentes 
se   encontram   proporções   dos   membros   que   testemunham   um   incipiente   nanismo   (Strandloopers), 
provàvelmente na origem dos Bosquímanos mais recentes. A baixa estatura, de resto, pode também 
ser   reconhecida   pelos   desenhos   na   rocha;   a   sua   classificação   cronológica,   porém,   não   é   tão 
segura que permita localizar já no Mesolítico o início desta particularização morfológica. No 
que   diz   respeito   à   esteatopigia,   não   subsistem   dúvidas   quanto   à   sua   presença   neste   período, 
tanto   mais   que   se   pode   reconhecê­la   nas   esculturas,   de   osso   e   de   pedra,   das   civilizações 
superiores   de   caçadores   na   Europa;   morfolègicamente,   semelhantes   esculturas   não   podem   ser 
atribuídas   a   um   tipo   correspondente   ao   arcaico   do   Homo   sapiens   fóssil.   No   Sul   da   África,   o 
fenómeno,, além de assumir uma função ecológicamente condicionada, já se integra claramente na 
combinação de caracteres das formas arcaicas (Fig. 60).

c) Do Neolítico à era moderna. Do ponto de vista climático, estes 6000 anos pertencem já à época 
actual:   neste   período   não   se   verificaram   grandes   deslocações   das   zonas   climáticas,   embora   a 
transformação do Sara em deserto, bem como a das regiões desérticas do Sudoeste da África, tenha 
progredido   acentuadamente.   Por   outro   lado,   como   já   se   recordou,   o   próprio   homem   deve   ter 
desempenhado um papel neste fenômeno. Seja como for, a zona de que os Europóides se apossaram, 
na África Branca, perde os seus limites rigorosamente demarcados, encontrandoLse exposta a sua 
faixa   meridional   a   um   influxo   mais   forte   do   rarnG   racial   contíguo   ao   dos   Negróides.   Os 
Europóides que povoam estas regiões não se encontram, na

289
História das raças, África

verdade, completamente isolados das zonas mais ao norte, de onde irrompem constantemente novas 
vagas de povos; estes, todavia, do ponto de vista biológico, não são suficientemente fortes para 
impedir a penetração dos Negróides na faixa meridional dos Europóides. Um contributo importante 
é dado, além disso, pela introdução na África Branca de escravos negros, através dos quais se 
processa   ulteriormente   um   reforço   da   pressão   biológica   deste   ramo   racial.   Simultâneamente, 
realiza­se uma transformação decisiva nos sistemas económicos. A prática ainda parasitária da 
caça e da recolecção sucede a produção progressivamente consciente dos meios de subsistência e 
surgem   os   primeiros   centros   urbanos.   No   que   diz   respeito   aos   Negróides,   supõe­se   que   se 
dedicaram sobretudo à agricultura na faixa das estepes húmidas, penetrando depois lentamente, 
mediante   a   conquista   de   pequenas   clareiras   de   alqueive,   na   própria   «hylaea»;   quanto   aos 
Europóides meridionais, devem ter­se dedicado sobretudo à pastorícia nómada de gado bovino (no 
Sara, à criação de cavalos e de gado miúdo). O tipo arcaico, que encontrara refúgio na «hylaca», 
como   os   Esteatopígidas   do   Sul   da   África,   manteve   durante   muito   tempo   os   sistemas   económicos 
parasitários da caça e da recolecçã o,

Se   desde   épocas   muito   remotas   já   possuímos,   acerca   da   África   Branca,   além   de   séries   de 
esqueletos, notícias autênticas de contemporâneos sobre diversos povos e o seu aspecto exterior, 
as   nossas   referências,   salvo   pequenas   @xcepções,   são   ainda   quase   inexistentes   no   que   diz 
respeito a África Central; os próprios resultados das modernas investigações antropológicas não 
são ainda suficientemente fundamentados nem bastante numerosos para permitir delinear qualquer 
coisa de mais importante do que alguns simples esboços acerca da origem dos Negróides e das suas 
diversas   raças.   Uma   ciência   afim   como   a   etnologia   tão­pouco   pode   contribuir   para   um   maior 
esclarecimento da questão, pois o contínuo movimento de povos ­devido à proximidade de grandes 
reinos   nas   partes   setentrional   e   norte­oriental   do   continente   e   à   transformação   do   Sara   em 
deserto­,   com   a   mescla   incessante   de   elementos   culturais   e   de   populações,   não   foi   até   agora 
senão insuficientemente esclarecido no seu curso histórico. Deste modo

290
História das raças, África

podemos esboçar um quadro suficientemente claro para as regiões marginais a norte, a oriente e a 
sul, ao passo que permanecem ainda obscuros os processos raciais que tiveram lugar nas regiões 
centrais   e   na   faixa   das   florestas   tropicais,   isto   é,   na   zona   de   refúgio,   antropológica   e 
culturalmente,   dos   tipos   arcaicos.   Estas   zonas,   com   a   sua   configuração   geográfica,   a 
coexistência   e   a   sobreposíção   de   zonas   climáticas   e,   portanto,   ecológico­económicas, 
contribuíram   ulteriormente   para   a   extraordinária   variedade   que   encontramos   no   mosaico   das 
populações desta região,       dos seus patrimónios culturais, dos seus modos de vida e dos seus 
sistemas   económicos.   Tudo   isto   vem   confirmar                   uma   vez   mais   a   observação   de   que   a 
«história das raças» é movimento, sobretudo quando a ela afluem, como ao homem, novos impulsos 
biológico­demográficos   devidos   à               evolução   dos   meios   de   subsistência   e   dos   sistemas 
económicos, e em geral dos fenômenos de ordem histórico~cultural. Na zona ocidental do Norte de 
África,   nas   regiões   montanhosas   e   nas   partes   do   Sara   imediatamente   contíguas,   a   maioria 
populacional é constituída por Berberes, longínquos antepassados da raça de Mechta ou dos cro­
magnóides;   este   povo,   na   sua   maioria,   é   de   compleição   escura,   mas   nele   também   se   encontram 
casos,   em   percentagens   pequenas,   de   indivíduos   com   cabelos   e   olhos   claros.   A   origem   de 
semelhante   fenómeno   pode   ser   atribuída,   mas   apenas   em   medida   muito   limitada,   às   invasões 
bárbaras   (expoentes   da   raça   nórdica,   Vândalos,   por   exemplo).   Na   realidade,   o   fenômeno   a   que 
aludimos apenas confirma a asserção, já documentada por notícias também muito antigas, de que a 
pigmentação está sujeita a variações. Estes Berberes avançaram para o sul, ao longo das costas 
ocidentais do Norte de África, e foram relativamente longe, sobretudo um grupo particularmente 
cro­magnóide, de coloração clara, que veio a constituir, entre outras, a populaçã o primitiva 
das ilhas Canárias, isto é, os Guanchos. Alguns estudiosos designam este elemento morfológico, 
caracterizado por uma estatura elevada e cabeça dolicomorfa e rosto frequentemente alto e largo, 
como eurafricânidas.

Além   dos   Berberes,   também   os   Mediterrâneos   se   encontram   abundantemente   representados;   estes 


povos, no decurso das suas contínuas migrações em redor do mar que

291
História das raças, África

lhes deu o nome, introduziram­se no coração da região berbere. O centro de propagação fenício em 
redor   de   Cartago,   com   os   seus   postos   avançados   oz@identais,   levou   efectivamente   até   essas 
regiões   vagas   de   indivíduos   predominantemente   dolicocéfalos,   provenientes   do   Mediterrâneo 
Oriental. Quanto aos braquicéfalos de occipital chato pro­venientes da Ásia Menor, são em número 
menos   relevante;   a   sua   percentagem,   mesmo   na   época   romana,   não   registou   um     1aumento 
particularmente sensível. Para Oriente, os

dolicocéfalos mediterrâneos de pequena estatura aumentam de número, ao passo que no interior da 
sua região de origem começam a ser substituídos por representantes da raça iraniana, isto é, 
pelas tribos árabes que a partir do século vii da nossa era invadiram estas regiões, instalando­
se predominantemente no Sara. O vale do Nilo, em relação ao qual dispomos de numerosas séries de 
esqueletos   de   épocas   muito   antigas,   apresenta   uma   percentagem   dominante   de   dolicocéfalos 
mediterrâneos de baixa estatura e de face delicada, juntamente com o elemento cro­magnóide, mais 
robusto e de estatura mais elevada, o qual, provàvelmente, deveria ser mais frequente entre os 
vizinhos ocidentais do Egipto,, isto é, entre os «Líbios» (sub­raça, segundo Biasutti, de raça 
iraniana).

Para o Sul começam a predominar os dolicocéfalos altos de coloração escura, já nossos conhecidos 
de   antigas   representações   e   imagens,   os   quais   pertencem   ainda   claramente   ao   ramo   racial   dos 
Europóides.   Por   outro   lado,   algumas   pinturas   egípcias   antigas   registam   ainda   a   presença   de 
autênticos Negróides, já nessa época negociados

como escravos naquelas regiões. Do ponto de vista biológico, o seu contributo continua a não ser 
considerado essencial; a acentuada coloração escura dos Egípcios é primacialmente um resultado 
do   seu   contacto   contínuo,   durante   milénios,   com   o   reino   dos   Núbios,   situado   no   actual   Sudão 
egípcio. Só veio a registar­se um afluxo mais forte de sangue negróide quando o comércio dos 
escravos,   sob   o   domínio   islâmico,   começou   a   intensificar­se.   Deve­se   ainda   ao   comércio 
esclavagista, sobretudo após o aparecimento do dromedário, a presença de caracteres negróides 
nas zonas ocidental e central do Norte de África.

292
História das raças, África

Quanto mais os Europóides destas regiões avançam para o sul tanto mais escura se torna a sua 
compleição, isto é, a cor da pele, dos cabelos e dos olhos. Este fenómeno é o resultado de uma 
selecção relacionada com o clima e tem a sua origem numa espécie de necessidade de protecção 
contra as radiações solares, de modo análogo ao que acontece com a pigmentação dos Negróides que 
habitam   as   mesmas   regiões.   A   classificação   das   diversas   raças   no   âmbito   de   um   destes   ramos 
raciais   não   está   isenta   de   contrastes,   variando   em   função   do   peso   que   os   vários   autores 
atribuem, no quadro complexivo da combinação de caracteres tipíca, a alguns destes elementos, 
tais como a cor da pele, a forma do cabelo, a configuração dos lábios, do nariz, a proporção dos 
membros,   etc.   Ao   que   é   lícito   supor­se   com   a   máxima   probabilidade,   temos,   na   faixa   que 
(conquanto zona de passagem da estepe à estepe húmida) não apresenta nenhuma clara limitação 
ecológica, uma vasta e antiga zona de contacto entre os estádios preliminares dos dois modernos 
ramos raciais. A ser isto verdade, já na época em que se diferenciavam as duas raças modernas 
deve ter continuado a processar­se a permuta contínua de genes, favorecida pela ausência de uma 
nítida barreira geográfica. Esta hipótese de trabalho facultaria, sem qualquer dificuldade, a 
explicação   do   motivo   que   nos   leva   a   não   estarmos   em   condições,   no   que   se   refere   ao   estudo 
sistemático das populações que vivem nesta zona de contacto, de definir limites absolutamente 
rigorosos, contentando­nos com o obrigatório reconhecimento de uma sobreposição de determinados 
caracteres típicos dos dois ramos raciais. As coisas complicam­se pelo facto de o esqueleto não 
evidenciar com nitidez as combinações de traços que pennitem caracterizar os dois ramos raciais; 
complicam­se ainda porque encontramos geralmente, de ambos os lados da orla de contacto dos dois 
ramos raciais, apenas combinações de caracteres pouco diferenciadas. Nos Negróides ocidentais, 
por exemplo, não aparecem ainda alguns caracteres particularmente típicos, tais como a fronte 
proeminente   (presumimos   que   se   trate   de   uma   característica   recente).   Depara­se­nos   esta 
dificuldade sobretudo no estudo dos restos de esqueletos mesolíticos e neolíticos. Além disso, a 
mescla racial na zona de contacto deve ter­se intensifi­

293
História das raças, África

cado com a progressiva aridez do Sara, que foi empurrando cada vez mais os Europóides habitantes 
destas regiões para

as   áreas   ocupadas   pelos   Negróides.   Seja   como   for,   é   difícil   referir   uma   delimitação   precisa 
entre os Europóides e as orlas setentrionais e do nordeste dos Negróides.

Reportamo­nos   aqui   às   definições   de   v.   Eickstedt,   o   qual   refere   a   existência   de   raças   de 


contacto. O conceito de raça de contacto, na sua formulação, acentua o facto de determinados 
caracteres, tais como cabelo crespo, lábios grossos e tez muito escura, caracteres que tomados 
parcialmente poderiam ser considerados negróides, serem susceptíveis, pelo contrário, de também 
se integrarem na combinação de caracteres típica dos Europóides de coloração escura (Etiópidas e 
Nilótidas).   Semelhantes   caracteres   podem   pertencer   já   há   muito   tempo   ao   património   genético 
desta raça, em conformidade com a explicação tentada mais acima   como hipótese de trabalho.

Os Etiópidas habitam uma vasta faixa da África Ocidental   até à zona da África Oriental que 
margina a região central dos Negróides. As suas características típicas consistem  numa estatura 
elevada e longilínea, bacia estreita, crânio  estreito e dolicomorfo, face alta e esguia, queixo 
bem proporcionado e, no referente a alguns grupos isolados, prognatismo moderado. A cor da pele 
oscila entre o negro e o castanho muito escuro, os cabelos são frequentemente curtos e muito 
encrespados; os lábios, geralmente delgados, apresentam por vezes o perfil típico dos Negróides. 
O nariz, regra geral, é fino, alto e frequentemente encurvado, (Etiópidas orientais). O motivo 
desta configuração, especialmente no Nordeste africano, pode talvez atribuir­se aos contributos 
da  Arábia,  da  qual,  sobretudo  na  era  cristã,  são  provenientes  as  grandes  vagas  de  povos  que 
invadiram estas zonas. Encontramos Etiópidas nas classes superiores (criadores nómadas de gado 
bovino)   de  número   relativamente  limitado   até  às   regiões  mais   meridionais   da  África   Oriental, 
onde   predominam   sobre   grandes   grupos   de   Negróides;   chegamos   mesmo   a   encontrá­los   na   Rodésia 
Setentrional.   Os   últimos   a   sofrer   as   consequências   da   expansão   etíope   foram   os   Hererós,   no 
Sudoeste africano; porém, até entre os Hotentotes encontramos vestígios de elementos etiopes. Na 
África Oriental, por outro lado, é presente,

294
História das raças, África em algumas tribos isoladas, e de modo ainda mais evidente, o elemento 
esteatopígico, o que prova a difusão deste antigo grupo, em épocas passadas, mais para o norte 
das actuais zonas de povoamento. Na África Oriental podem igualmente descortinar­se influxos da 
raça iraniana que mingúam das faixas costeiras para o interior; a sua origem encontra­se nos 
contactos duradouros com a península arábica, os quais podem ter sido determinados, não só pelos 
tráficos comerciais, mas ainda pela caça aos escravos. Os Nilólidas, habitantes da região do 
Alto Nilo, constituem uma raça de contacto em que o elemento negróide é ainda mais evidente 
(forma do cabelo, lábios, cor da pele); formam, porém, um grupo à parte devido à sua estatura 
elevada e às suas proporções, acentuadamente longílíncas.

Até à actualidade não se pôde ainda determinar com exactidão qual terá sido a região de origem 
dos Negróides. A etnologia supõe que tenha existido um antigo grupo negróide de caçadores das 
estepes.   Será   necessário   sublinhar,   a   desmentir   esta   asserção,   que   à   hipótese   de   semelhante 
grupo   arcaico   «negróide»   se   opõem   certas   considerações   contra   a   possibilidade   de   um   forte 
aumento   da   componente   escura   da   compleição,   o   qual   talvez   pudesse   localizar­se   mais 
correctamente na região das estepes húmidas. Nessa região,, com os Sudânidas, temos nos dias de 
hoje   o   primeiro   grupo   racial   verdadeiramente   negro,   cujo   grau   de   diferenciação   mais   elevado 
vamos encontrar na Guiné Ocidental. Esse grupo é caracterizado pela estatura superior à mediana, 
macroscelia   e   pelo   alongamento   dos   segmentos   distais   dos   membros.   O   crânio   é   longo,   mais 
estreito   na   parte   superior,   e   apresenta   a   fronte   frequentemente   abaulada   na   parte   mediana   e 
pouco saliente dos lados. Tanto a raiz do nariz como as narinas são largas, e o mesmo acontece 
com   a  face.  O   grupo   evidencia  ainda   prognatismo,  lábios   grossos  e   queixo  pouco   acentuado.  A 
coloração é geralmente escura, o cabelo curto e crespo. Oriundos da faixa das estepes húmidas, 
estes Negróides penetraram também para sul e sudeste, na zona da floresta tropical. O que nos 
surpreende no Congo e em Angola é o facto de a constituição tipológica ser diferente (tronco 
relativamente longo, membros curtos, prevalência de tipos

295
História das raças, África gordos e corpulentos). Classificou­se esta raça como paleonégrida; 
todavia, num sentido estrito, é duvidoso que se trate verdadeiramente de uma forma antiga 
negróide, embora seja lícito supor que tenham sido impelidos para o coração da floresta tropical 
os grupos do Homo sapiens menos claramente diferenciados.

A   este   respeito,   os   Pigmeus   africanos   constituem   um   exemplo   particularmente   instrutivo. 


Actualmente encontram­se amplamente cruzados com os Negróides, mas é indubitável que pertencem 
ainda   às   formas   arcaicas   do   Horno   sapiens   antes   da   sua   subdivisão   em   três   ramos   raciais 
principais.   Encontramo­los   disperses   nas   r­­g'iões   florestais   até   à   Guiné   Ocidental,   mas 
sobretudo   em   ambas   as   margens   do   Congo;   os   seus   grupos   numèricamente   mais   fortes   e   genuínos 
encontram­se na região do Ituri (e é por isso que os Pigmeus africanos recebem frequentemente a 
designação de Bambútidas). De estatura muito pequena (a altura média dos homens é inferior a 145 
cm), possuem tronco alto e membros curtos. O crânio é relativamente volumoso  tendendo para a 
mesobraquicefalia, com fronte direita  face baixa e nariz muito largo. Os cabelos distribuem­se 
pela cabeça em glomérulos (cabelos em «grão de pimenta).
O   revestimento   piloso   do   corpo   é   relativamente   abundante,   contràriamente     ao   dos   Negróides, 
quase desprovidos de pêlos. A cor da pele é muito mais clara, de um castanho­amarelado; o cabelo 
e   os   olhos   são   escuros.   As   várias   populações   de   Pigmeus   apresentam   na   sua   combinação   de 
caracteres, apesar do grau variável de cruzamento com os Negróides, um número tão elevado de 
traços peculiares que a única explicação possível desse fenómeno consiste em admitir um longo 
isolamento   de   cada   um   dos   grupos,   o   que   por   outro   lado   pode   conciliar­se   com   as   difíceis 
condições das relações humanas na «hylaea». A pobreza cultural é seguramente apenas um fenómeno 
secundário devido às condições de vida particulares que predominam na floresta. Insistamos mais 
uma   vez,   em   conclusão,   no   facto   de   os   Pigmeus,   embora   apresentem   algumas   características 
próprias   das   formas   arcaicas   do   Homo   sapiens,   constituírem,   na   sua   actual   combinação   de 
caracteres, simultâneamente uma tardia e acentuada diferenciação caracterizada com

296
História das raças, África

base  nessas  formas,  nada  nos  autorizando  a  considerá­los  simplesmente  uma  forma  primitiva  do 
homem.

Os Negróides que habitam as regiões da África Oriental e do Sudeste africano são conhecidos dos 
Europeus   desde   a   época   dos   Descobrimentos;   para   diferenciá­los   dos   Negróides   da   África 
Ocidental,   dos   quais   se   distinguem   por   diversas   características   somáticas,   os   navegadores 
chamaram­lhes Cafres, e esta designação deu origem ao termo «Cáfridas» aplicado pela primeira 
vez   por   v.   Eickstedt.   Esses   povos   só   vieram   a   penetrar   na   África   Meridional   em   épocas   muito 
recentes, e em algumas regiões apenas nos séculos xviii e xix. Nestas zonas constituem antigos 
resíduos de populações negróides os Damarás montanheses do Sudoeste africano, os quais, todavia, 
compreendem   também                   muitos   elementos   com   traços   de   esteatopigia   e   possuem   uma   tez 
acentuadamente escura.           f  Contudo, não  foi ainda                       J  possível,  até à  data, 
assinalar uma sistematização segura a esta antiga raça.

O   grupo   arcaico   dos   Esteatopígidas   (ou   Coisânidas),   outrora   espalhado   por   vastas   regiões, 
encontra­se actualmente limitado à parte ocidental do Sul da África. O termo Coisânidas deriva 
da   fusão   de   «Coi»   e   «san»,   nomes   que   os   Hotentotes   e   BOS­               Fig.   60.   A   esquerda: 
esteatopigia

numa hotentote; à direita: esteaquímanos, respectivamente,     topigia estilizada numa estatueta

feminina de esteatíte que reutilizam para se designar           monta ao Paleolítico superior a si 
próprios; quanto à        (Riviera Italiana: altura: cerca

de 6­8 em) expressão «esteatopígidas», deriva do fenômeno da esteatopigia, largamente propagado, 
e   de   forma   bastante   acentuada,   nestas   populações.   Os   Bosquímanos   conservaram   até   aos   tempos 
modernos o seu antigo modo de vida, condicionado pela caça e pela recolecção, ao passo que os 
Hotentotes se tomaram pastores nómadas. Ambos os povos se caracterizam pela cor da pele

297
História das raças, África

castanho­amarelada.   Os   Hotentotes   possuem   estatura   mediana;   quanto   aos   Bosquímanos,   são   mais 
pequenos,   embora   superem   largamente   os   valores   que   encontramos   nos   Bambutis   (nos   homens 
Bambutis, como já dissemos, a altura não ultrapassa 145 cm). A estatura pigmóide dos Bosquímanos 
poderia tratar­se de um fenómeno relativamente recente. Conhecemo­la já de muitos desenhos na 
rocha, os quais, porém, não podem ser datados com absoluta certeza. Os seus primeiros indícios 
localizam­se   aproximadamente   no   final   do   Mesolítico   sul­africano,   entre   os   chamados 
Strandloopers.   (Zitzikama).   Trata­se   certamente   de   um   ramo   evolutivo   autónomo,   já   que   os 
Bosquímanos   não   remontam   à   forma   primordial   dos   Bambutis   da   floresta,   embora   ambos   os   povos 
devam   ter   a   sua   origem   no   património   genético   comum   de   um   tipo   arcaico   de   Homo   sapiens. 
Constituem caracteres típicos complexivos dos Esteatopígidas, nas mulheres, a axilaridade dos 
seios   (ou   seja,   a   sua   lateralização   e   localização   numa   zona   do   peito   muito   elevada);   nos 
Hotentotes   depara­se­nos   ainda   o   desenvolvimento   hipertrófico   de   massas   adiposas   nas   nádegas 
(esteatopigia) ligado a uma acentuada inclinação lombar da coluna vertebral.

Outra   característica   importante   dos   Bosquímanos   é   a   posição   horizontal   do   pênis.   Os 


Esteatopígidas   têm   o   cabelo   distribuído   em   glumérulos,   de   modo   que   é   possível   ver   o   couro 
cabeludo   (cabelos   «fil­fil»).   Uma   das   suas   características   particulares   consiste   também   na 
configuração da prega da pálpebra, que faz lembrar a plica mongólica. Através de investigações 
conduzidas   sobre   populações   híbridas,   cruzadas   com   Europóides   (os   bastardos   de   Rehoboth), 
sabemos no entanto que este carácter se transmite de maneira recessiva, ao passo que entre os 
Mongolóides é dominante. Por esta razão, não se pode concordar com v. Eickstedt quando pretende 
classificar os Coisânidas nb ramo racial dos Mongolóides. Os Esteatopígidas constituem um grupo 
racial independente e só podem derivar de formas arcaicas africanas dos Europóides primitivos, 
como também o comprova a sequência dos antigos achados no Sul da África. No que diz respeito à 
face, à largura acentuada do diâmetro bizigomático contrapõe­se a largura da man­

298
História das raças, Ãfrica

díbula essencialmente menor, de modo que a face resulta baixa e em bico, de cunho absolutamente 
particular.

Em conclusão  ‘ recordemos ainda rápidamente a mescla de tipos que se encontra em Madagáscar. O 
elemento negróide só relativamente tarde deve ter chegado a esta ilha, dado que o braço de mar 
entre a África e Madagáscar teria sido, segundo os etnólogos, impraticável às embarcaçõ es dos 
Negros. A parte principal da população de Madagáscar é constituída por Paleomongólidas, chega~ 
dos à ilha por mar e provàvelmente oriundos da Indonésia. Aí depara­se­nos também o elemento 
orientálída,   que   arribou   a   Madagáscar   juntamente   com   os   Árabes,   os   quais,   com   toda   a 
probabilidade,   são   também   os   autores   da   introdução   de   Negróides   na   ilha   (esclavagismo).   A 
percentagem dos vários grupos raciais nas diversas populações varia muito;     o antigo estrato 
indonésio encontra­se representado com    frequência particular entre os Hovas.

Devemos       finalmente   afirmar   unia   vez   mais   que   nada   de   definitivo   se   pode   actualmente 
estabelecer   acerca   do   ramo   racial         dos   Negróídes   característico   do   «continente   negro».   Na 
verdade,   foram   e   são   empreendidas   muitas   investigações     isoladas,   mas   não   é   ainda   possível 
destrinçar, na multiplicidade dos dados parciais, uma exacta perspectiva de conjunto. Pretendeu­
se   evitar,   por   isso,   expor   isoladamente   as   combinações   de   características   típicas   das   várias 
raças: seria essa uma tarefa que ultrapassaria as nossas possibilidades científicas actuais.

Resumindo, podemos afirmar que não existe um elemento «negro» no sentido em que é lícito falar­
se   de   Europóides   e   de   Mongolóides,   isto   é,   de   dois   ramos   raciais   que   se   podem   definir   e 
contrapor a partir de escassos caracteres. Isto poderia depender da circunstância de           a 
norte   e   a   oriente,   faltarem   as   fronteiras   geográficas   susceptíveis   de   proteger   e   isolar   por 
muito   tempo   as   regiões   de   origem   dos   Negros.   Além   disso,   do   ponto   de   vista   da   história   da 
evolução   das   raças,   o   ramo   racial   dos   Negróides,   que   apenas   na   Guiné   (África   Ocidental) 
conseguiu adquirir características próprias, exclusivas, poderia ser o mais recente de todos. 
Nas outras regiões menos isoladas da Guiné e, elemento negro encontrou­se desde muito cedo em 
contacto com antigos povos europóides antes de ter alcançado

299
História das raças, Ásia

um cunho específico. Nessas regiões surgiram raças de contacio, com predomínio mais ou menos 
a@entuado   de   um   elemento   em   relação   a   outro,   tal   como   aconteceu   na   zona   de   contacto   entre 
Europóides   e   Mongolóides   da   Sibéria   Meridional   e   na   da   Ásia   Central.   No   que   diz   respeito   à 
África,   é   particularmente   surpreendente   a   percentagem   relativamente   elevada   de   caracteres 
arcaicos   que   continuam   a   encontrar­se   entre   os   Negróides   de   todo   o   continente   e   entre   os 
Europóides   que     povoam   as  regiões   meridionais  e   do  Sudeste.   As  raizes  deste   fenómeno   não  se 
encontram   certamente   apenas   nas   mesclas   dos   representantes   mais   recentes   do   grupo   antigo 
(Esteatopígidas, Bambutis), pois remontam aos períodos mais antigos em que a lenta variaçâo dos 
sistemas   económicos   possibilitava   o   convívio   de   povos   de   economia   «moderna»   com   outros   de 
economia   «conservadora».   Estes   últimos   foram   progressivamente   absorvidos,   intervindo   hoje,   em 
medida mais ou menos relevante, na combinação de caracteres dos diversos povos.

HISTóRIA DAS RAÇAS: ÁSIA ­­ a) Pa'eolítico         Superior. Não obstante a enorme extensão deste 
continente ­em relação ao qual. a Europa não passa geogràficamente de uma grande península que 
se   estende   para   ocidente­,   até   à   actualidade   só   tem   proporcionado   poucos   restos 
antropológicamente utilizáveis do Homo sapiens fóssil, se bem que numerosos achados culturais 
atestem   claramente   a   presença   do   homem   no   espaço   asiático.   Os   complexos   de   achados 
antropológicos dividem@se em dois grupos que respectivamente se distribuem pelas zonas onde a 
actividade de investigação foi mais intensa, isto é, pelo Próximo e Extremo Oriente. Os achados 
de que dispomos actualmente não nos oferecem qualquer apoio para localizar com exactidão a zona 
de origem da evolução do Homo sapiens. Os restos do pré­sapiens obtidos na Palestina (Skhul e 
Kafzeh),   juntamente   com   restos   que   fazem   pensar   numa   população   híbrida   com   os   pré­
neandertalianos   (­­­>   Pqleontropologia),   classificam­se   actualmente   no   primeiro   estádio   da 
última   glaciação   e   estão,   portanto,   relativamente   próximos   do   aparecimento   na   Europa   de 
esqueletos de Homo sapiens completamente desenvolvidos (cf. história das raças. Europa). Fica 
assim prejudicada a hipótese que via nestes achados

300
História das raças, Ásia

da Palestina um antecedente directo do Homo sapiens. Os esqueletos da caverna de Shanidar, no 
Nordeste do Iraque, que provêm provàvelmente de uma população tardia de características análogas 
ao grupo Skhul­Kafzch, são na sua maioria contemporâneos dos achados de Homo Sapiens do Líbano, 
já completamente desenvolvidos, os quais provêm de três jazidas:

Ksâr Akil: 1938, num abrigo debaixo de rocha, restos de dois ind@víduos juntamente com indústria 
aurignacíana. Fragmentos da calota craniana de um adulto e esqueleto quase completo de um rapaz 
com cerca de sete anos, de crânio comprido, estreito e alto.

Gruta  de Antélias:  cerca  de 1900, restos  de indústria  aurignaciana e  numerosos  fragmentos de 


toda   uma   série   de   indivíduos.   O   estado   dos   ossos   ­partidos,   com   vestígios   de   incisões   ­ 
testemunha   antropofagia.   Restos   de   um   feto,   inicialmente   considerado   neandertaliano,   foram 
atribuídos por Vallois ao Homo sapiens, provàvelmente de idade pós­glaciar.

Abri Bergy: 1948, final do Paleolítico, esqueleto masculino fragmentário, ainda não publicado.

Djebel Kafzeh (Nazaré): ossos frontais espessos, cro­magnóides; fins do Palcolítico.

Chuku   Tienlcaverna   superior   (Pequim):   1930,   restos   de   três   indivíduos   numa   caverna   situada   a 
grande altitude. A cultura e a fauna acompanhantes remontam ao final do Paleolítico. Os três 
crânios cobrem toda a gama dos tipos do Homo sapiens fóssil, desde o largo Cro­Magnon até ao 
estreito   Combe   Capelle.   Weidenreich   julgou   poder   inseri­los   na   gama   dos   tipos   recentes 
(Mongolóides, Esquimós, Melanésidas), o que não parece possível, pois Vallois defende a tese de 
que   o   crânio   masculino   possui   características   rigorosamente   crc­magnóides,   ao   passo   que   o 
estreito   crânio   feminino   deve   integrar­se   na   raça   de   Chancelade.   Contra   a   opinião   de 
Wcidenreich,   pode   ainda   arguir­se   que   aquilo   que   conta   não   são   os   traços   morfológicos 
singulares, mas toda a combinação de caracteres típica. A única coisa certa é que os restos da 
caverna   superior   de   Chuku   Tien   representam   também,   de   maneira   extremamente   indiferenciada,   a 
vasta gama de tipos do Homo sapiens fóssil.

301
História das raças, Ásia

Os   restos   humanos   do   Paleolítico   Superior   asiático,   tã   afastados   geogràficamente   da   costa 


oriental do Mediterrâneo e do Extremo Oriente, não permitem o reconhecimento de nenhuma relação 
sistemática. De modo análogo a quanto acontece nos outros continentes, os achados do Palcolítico 
Superior nenhuma diferenciação apresentam segundo m caracteres dos modernos ramos raciais. Em 
conformidade   com   esta   sftuação   geral,   encontram­se   também   as   averiguações   levadas   a   cabo   na 
América   sobre   os   restos   mais   antigos   do   Homo   sapiens:   os   primeiros   grupos   deveriam   ter   sido 
empurrados   para   a   América,   através   do   estreito   de   Bering,   então   seco,   na   segunda   metade   da 
última glaciação da Ásia Setentrional. A semelhança entre os restos obtidos no Extremo Oriente e 
os   achados   europeus   não   deve   surpreender,   sobretudo   quando   se   pensa   que   um   conhecedor   do 
material antropológico como Vallois não manifesta a menor hesitação ao relacionar directamente 
os achados da caverna superior de Chuku Tien com os achados franceses, identificando em Pequim 
os   mesmos   elementos   formais,   o   tipo   largo   de   Cro­Magnon   e   o   tipo   estreito   de   Chancelade.   A 
disparidade de formas que se encontra nos três indivíduos de Chuku Tien sublinha uma vez mais, e 
de   modo   claríssimo,   que   tão­pouco   nesta   zona   temos   populações   unitárias   do   ponto   de   vista 
racial, notando­se, no interior de um tipo substancialmente indiferenciado, considerável gama de 
variações, a qual se tem mantido até à actualidade no âmbito das formas do Homo sapiens fóssil 
conhecidas   na   Europa.   A   notável   afinidade   que   se   encontra   nos   caracteres   morfológicos   dos 
crânios   e   dos   esqueletos   a   distâncias   gigantescas,   não   obstante   o   isolamento   geográfico 
existente (­> Gênese das raças), explica­se talvez pelo facto de a situação ecológica ter sido 
provàvelmente   muito   idêntica   para   todos   os   grupos   (civilização,   de   caçadores   em   territórios 
abertos); além disso, o esqueleto corresponde à selecção de maneira substancialmente mais lenta, 
e não podemos dizer quais combinações de caracteres, capazes de distinguir uma raça de outra, 
estariam  já  formadas  (na  pigmentação,  nas   características  fisionómicas,  na  estrutura  capilar, 
etc.). O facto de termos de tomar em consideração tais possíveis diferenças não deveria contudo 
induzir­nos a subordinar a interpretações

302
História das raças, Ásia

puramente teóricas aquilo  que  pode revelar­se com  segurança  no material de  que dispomos.  Por 


esta razão, não podemos associar­nos às hipotéticas conclusões que Weidenreich extrai do estudo 
dos crânios da caverna superior de Chuku Tien.

Com o intenso trabalho de investigação que fervilha na China é de esperar que dentro de algum 
tempo   possa   dispor­se   de   um   património   antropológico   bastante   mais   rico   no   que   se   refere   ao 
Palcolítico Superior desta zona. Por agora existem tão­só simples notícias, mas os restos ainda 
não   foram   elaborados   e   publicados.   Quando   o   forem,   poder­se­á   talvez   avaliar   melhor   se   a 
diferenciação dos dois mais importantes ramos raciais do Homo sapiens, extremamente dinâmicos, 
como tivemos ocasião de verificar, está já em vias de processar­se no final do Paleolítico,.

Até   à   actualidade,   partindo   da   história   das   culturas,   não   podemos   sequer   determinar   com 
segurança em que zona do continente eurasiático teve lugar a passagem do pré­sapiens ao Homo 
sapiens. As vastas planícies da Sibéria Meridional, tantas vezes tomadas em consideração porque 
durante a última glaciaçb tinham sido certamente favoráveis ao povoamento humano, eram também 
habitadas   no   Paleolítico   Superior   por   povos   de   caçadores,   cuja   cultura   se   caracteriza   por 
incisões  e estatuetas  em osso  muito  semelhantes às  que  foram descobertas na  Europa  Oriental. 
Contudo, será necessário sublinhar que as obras mais importantes da produção artística do Homo 
sapiens   fóssil   se   encontram   claramente   concentradas   na   parte   mais   ocidental   da   Europa   (cf. 
história das raças, Europa), onde surgem simultâncamente com as obras dos povos caçadores da 
Europa Oriental e da Sibéria que já tivemos ocasião de mencionar. Estas observações nada perdem 
da sua eficiência pelo facto de as investigações na Europa Ocidental terem sido levadas a cabo 
com muito maior empenho. Nas regiões aludidas existiam bastantes cavernas, e só essas puderam 
assegurar a conservação das pinturas rupestres.

b)  Mesolítico.  Este  período,  para  nós,  assume  importância  particular,  porquanto  foi  nele  que 
teve   lugar   a   definitiva   diferenciação   dos   dois   ramos   raciais   representados   no   continente 
eurasiático,   isto   é,   os   ramos   europóide   e   mongolóide.   Ao   mesmo   tempo,   no   Próximo   Oriente, 
verifica­

303
História das raças, Ásia

mos   muito   cedo   a   passagem   a   novos   sistemas   económicos   (agricultura,   criação   de   gado),   com 
povoamentos   estáveis   que   conduzem   à   ampliação   da   base   alimentar,   e   portanto   a   um   rápido 
crescimento demográfico. A distribuição do material obtido nas escavações está muito longe de 
ser uniforme: a maioria provém do Próximo Oriente, pois a China não se encontra pr2iticamente 
representada.   Alguns   achados   provêm   também   das   zonas   tropicais   deste   continente.   Por   mais 
insegura que seja a classificação cronológica do material ósseo nestas regiões e escassas as 
suas probabilidades de conservação, podemos deduzir, no entanto, que a sua colonização começou 
neste período a progredir com muita rapidez. Provàvelmente, isto aconteceu por efeito da pressão 
demográfica   desenvolvida   nas   regiões   mais   favoráveis   à   produção   intensiva   de   alimentos;   em 
consequência de tal pressão, as populações ligadas a sistemas económicos mais antiquados teriam 
sido empurradas para zonas de refúgio desfavoráveis (regiões montanhosas, faixa das florestas 
pluviosas   tropicais).   Eis   as   séries   de   achados   mais   importantes   que   remontam   ao   Mesolítico 
asiático, excluída a Indonésia.

Mugharet  el  Wad  (Palestina).  Estrato  B,  cultura  acompanhante  natufiana,  numerosos  esqueletos. 
Segundo Keith, trata­se de um tipo que apresenta pequena estatura e diminuta corpulência. Os 
crânios são dolicomorfos, altos, com regiões supraciliares bem marcadas. A face é baixa, mas não 
larga, e apresenta parcialmente um prognatismo moderado. A população comprecende uma vasta gama 
tipológica,   a   qual,   segundo   Keith,   não   pode   ser   ainda   confrontada   com   as   raças   actuais; 
representaria antes uma forma ancestral do círculo racial dos recentes Mediterrâneos.

Mugharet el Kebarah (Palestina). Estrato B, juntamente com indústria natufiana; grande série que 
não está ainda definitivamente publicada. Tipologia como Wad.

Shukbah   (Palestina).   Série   do   estrato   B,   juntamente   com   indústria   natufiana;   ainda   não   está 
definitivamente publicana. Tipologia como Wad e Kebarah.

Erq   el   Ahmar   (Palestina).   Restos   de   sete   indivíduos   acompanhados   de   indústria   natufiana. 


Corpulência din­iinuta, crânio dolicomorfo com face entre estreita e moderadamente larga.

304
História das raças, Ásia

Tell   es   Sultanljericó   (Jordânia):   Trata­se   da   maior   série   de   achados   conhecida   no   Próximo 


Oriente até aos dias de hoje; das camadas pré­cerâmicas desta jazida extra!ram­se, só no período 
1954­58, restos de cerca de 350 indivíduos pertencentes a 8000­6000 anos a. C. Trata­se de um 
único conjunto de populações, integrado na série ainda mais vasta que chegou pouco mais ou menos 
a   1400   a.   C.   Alguns   achados   mais   antigos   são   semelhantes   aos   natufianos   do   Mesolítico.   Em 
Jericó, a partir do oitavo milénio a. C., existiam já, portanto, colonizações duradouras com 
numerosa   população   sedentária,   produção   de   alimentos   e   organização   social   bem   desenvolvida 
(pequenos   grupos!).   Inicialmente,   deparam­se­nos   indivíduos   de   estatura   elevada,   formas   de 
extrema dolicocrania, preponderando depois estaturas inferiores à mediana (homens até aos 165 
cm),   crânios   dolicomorfos   e   face   cada   vez   mais   estreita.   No   final   do   vii   milénio   há   uma 
localidade   onde   também   se   encontram   restos   de   indivíduos   de   estatura   elevada   e   corpulência 
maciça, de cunho cro­magnóide, todos sem crânio (culto dos crânios). No final do viii milénio a. 
C.   existem   já   sinais   isolados   de   braquicrania,   provàvelmente   com   deformações   artificiais,   as 
quais são particularmente evidentes na passagem do vii ao vi milénio a. C. em alguns crânios 
sobremodelados (culto!).

Hotu Cave (Pérsia). Em estratos do final do Paleolítico e, sobretudo, do Mesolítico, a caverna 
contém   restos   de   vários   indivíduos   cro­magnóides.   A   luz   da   análise   dos   achados,   a   caverna 
revelou­se menos antiga do que a princípio se supôs.

Belt   Cave   (Pérsia).   Caverna,   restos   de   dois   indivíduos,   classificação   cronológica   incerta; 
trata­se provàvelmente de restos mesolíticos.

Guak   Kepah   (Malásia).   Resto   de   mandíbula,   classificação   cronológica   insegura,   provàvelmente 


mesolítico. Com vista à cronologia dos restos obtidos nestas regiões, será preciso ter em conta, 
além de critérios da história das culturas, que nestas zonas marginais grupos humanos e culturas 
mais   antigas   poderiam   ter­se   conservado   durante   mais   tempo,   de   modo   que   será   inviável   um 
confronto cronológico com outras regiões.

305
História das raças, Ásia

Kuang­si   (China).   Resto   de   mandíbula,   provàvelmente   mesolítico.   A   escassez   de   achados   dos 


períodos mais antigos na China deve­se ao facto de o processo de desbravamento de florestas, 
actualmente quase completo, e os cultivos intensivos poderem ter, em larga medida, destruído os 
restos situados a pouca profundidade. Contudo, da falta de testemunhos acerca da presença do 
homem   nestas   regiões   não   devemos   concluir   que   no   Palcolítico   Superior   e   no   Mesolítico   não 
houvesse um número «relativamente» elevado de indivíduos.

Esta perspectiva das séries mais importantes e dos restos antropológicos do Mesolítico asiático 
mostra   clara   prevalência   do   Próximo   Oriente.   Numa   base   de   achados   bastante   vasta   pode 
demonstrar­se   que,   no   Próximo   Oriente,   a   passagem   à   produção   de   alimentos   e   ao   povoamento 
estabilizado se processou indiferenciadamente nos pequenos e grandes centros populacionais de 
características («grosso modo») urbanas, no início do viii milénio a. C., isto é, cerca de 2000­
3000   anos   antes   de   se   terem   constituído   as   culturas   urbanas   superiores   do   Neolítico.   A 
diferenciação   em   grupos   estabilizados,   predominantemente   agrícolas,   por   um   lado,   e   em   grupos 
nómadas criadores de gado, por outro, conduziu muito cedo, em correspondência com a diferente 
base alimentar, a um ritmo de crescimento da população e a concentrações claramente diversas. 
Neste fenómeno, a parte mais relevante de um ponto de vista biológico­demográfico é representada 
evidentemente pelas populações de agricultores, as quais apresentam estatura geralmente inferior 
à   mediana,   fraca   corpulência,   testa   dolicomorfa   estreita   e   face   entre   alta   e   moderadamente 
larga. Além deste tipo, também se encontra representado o elemento cro­magnóide, caracterizado 
por estatura mais alta e corpulência maciça, que mais tarde também se encontra no Neolítico. 
Documentámos   aqui,   portanto,   toda   a   gama   tipológica   do   Homo   sapiens   fóssil:   a   partir   deste 
quadro   poder­se­á   talvez   afirmar   que   a   tendência   para   as   formas   mais   diminutas   se   encontra 
particularmente entre as populações de agricultores. Ainda não pode pôr­se claramente a hipótese 
de   uma   relação   com   as   massas   modernas.   Do   ponto   de   vista   da   história   das   raças,   é   também 
importante a observação de que, como parece verosímil a partir das

306
História das raças, Ásia

séries de Jericó, já eram patentes, no interior das populações, sólidas ligações entre pequenos 
grupos; ao que parece, semelhantes ligações devem ter agido no sentido de um enriquecimento e de 
uma mais longa conservação de determinadas combinações de caracteres. Os valores extremamente 
baixos da duração média da vida (cerca de vinte anos!) permitem­nos concluir que o índice de 
aumento da população era bastante diminuto, e portanto não será lícito pôr a hipótese de uma 
dinâmica demográfica muito elevada. Como já se disse noutros passos, devemos ser cautelosos ao 
interpretar,   como   relações   genéticas   directas,   semelhanças   de   combinações   de   caracteres   de 
grupos  afastados.  Um  balanço   bem  fundamentado   destes  problemas  exige  séries   mais  extensas  de 
material. Por agora só pode afirmar­se com segurança que todas as. populações remontam ao vasto 
património genético do Homo sapiens fóssil, o qual, na sua gama tipológica, compreende tipos de 
estatura alta e baixa, crânios dolicomorfos estreitos e largos, com face alta ou baixa. Neste 
quadro   global   podem   ter­se   diferenciado   em   regiões   diversas   tipos   raciais   com   combinações   de 
caracteres semelhantes sem que possamos asseverar com exactidão que a presença de determinadas 
combinações decaracteres indique necessàriamente uma relação de derivação rígida e directa.

Sobre   o   ramo   racial   dos   Mon@olóides,   nada   de   definitivo   pode   afirmar­se   ainda.   É   lícito, 
contudo, supor­se que

a sua diferenciação neste período estivesse quase concluída, e que tenha começado, sempre neste 
período,  a sua  expansão. Podemos  localizar o  seu centro nas  estepes frias da  Mongólia e  nas 
regiões dos grandes rios da China, se bem que nesta época as massas de gelo da última glaciação 
comecem   definitivamente   a   desaparecer   no   centro   da   Ásia,   abrindo   novas   vias   para   ocidente. 
Achados mais tardios permitem­nos supor que a Sibéria fosse então percorrida ainda por grupos 
numèricamente   diminutos   de   Europóides;   estes,   após   a   expansão   racial   dos   Túnguidas,   foram 
empurrados progressivamente para o ocidente e também para este e nordeste. Depõe a favor desta 
hipótese a alta percentagem de fon­nas europóides, quer entre os mais antigos restos humanos 
provenientes   da   América,   quer   entre   os   grupos   arcaicos,   de   cunho   racial   ameríndio,   menos 
acentuado.

307
História das raças, Ásia

Na parte meridional do continente asiático devemos supor, com muita verosimilhança, a presença 
de uma colonização de carácter europóide primitivo, o qual recebe hoje, devido aos seus actuais 
representantes   na   Indonésia­Oceânia,   o   nome   de   australiforme.   Esta   vasta   zona   meridional, 
embora,   no   período   que   vai   do   Neolítico   à   era   moderna,   tenha   assistido   a   infiltrações   e 
sobreposições,  deixa ainda  reconhecer em  grandes linhas  a situação  originária,  que por  outro 
lado pode ser reconstruída também a partir da documentação etnológica. Podemos dar por certo que 
as condições de selecção operantes em toda a extensão das zonas tropicais tenham conduzido a um 
aumento da pigmentação da pele, dos cabelos e dos olhos. Contudo, do ponto de vista genético, 
este facto não é suficiente para nos permitir estabelecer relação entre os grupos arcaicos de 
compleição escura da Ásia Meridional e da Indonésia e os Negróides da África, se bem que na 
forma do nariz, na configuração dos lábios e, por vezes, na estrutura do cabelo, possam relevar­
se outras estreitas afinidades.

c) Do Neolítico à era moderna. Também no que respeita a este período, o Próximo Oriente está 
representado de maneira particularmente rica; com efeito, a sua importância do ponto de vista da 
história das culturas, a partir do Neolítico, conduziu, de há cem anos a esta parte, a um número 
sempre   crescente   de   escavações.   Por   este   motivo   é   impossível   examinar   isoladamente   as   várias 
séries de esqueletos. A instalação das culturas superiores na Ásia Menor nas zonas ocidentais da 
Ásia   e   na   índia   Setentrional   coincidiu   seguramente   a   princípio   com   a   acentuada   prevalência 
numérica dos Europóides em todo o continente. Todavia, com o passar do tempo, do Neolítico em 
diante,   o   vasto   espaço   de   colonização   dos   Europóides   começou   a   limitar­se   progressivamente   a 
oriente   nas   suas   zonas   exteriores   de   escassa   densidade   populacional,   passando   o   ramo   racial 
mongolóide, provàvelmente já no último milénio a. C., a ocupar numèricamente o primeiro plano. A 
partir   de   então,   no   âmbito   da   população   mundial,   a   sua   percentagem   aumentou   constantemente, 
encontrando­se hoje em primeiro lugar.

Inicialmente, os Mongolóides difundiram­se com sucesso na Ásia Setentrional, empurrando cada vez 
mais

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História das raças, Ásia

para   a   Sibéria   Ocidental   os   antigos   Europóides,   aos   quais,   na   época   cristã,   se   sobrepuseram 
definitivamente.   A   partir   do   centro   de   instabilidade   dos   Túnguidas   na   Mongólia   (aridez),   a 
irradiação dos Mongolóides exerceu crescente pressão para oriente e para nordeste, obrigando a 
ala   oriental   dos   antigos   Europóides   (Ainos)   a   procurarem   instalar­se   na   Sacalina   e   no 
arquipélago japonês, onde ainda hoje se encontram representados por pequenos grupos residuais.

Na Ásia Menor, no Próximo Oriente e na Ásia Central preponderavam, na fase inicial do Neolítico, 
os indivíduos dolicocrânicos maciços, com arcadas supraciliares fortemente desenvolvidas. Só na 
Ásia   Menor   e   nas   costas   orientai@   do   Mediterrâneo   (Silícia,   Síria,   Líbano,   Palestina)   se 
encontram representados em altas percentagens os tipos dolicomorfos mais finos; será necessário 
admitir, todavia, que para o Neolítico da Ásia Menor as investigações apresentam muitas lacunas. 
No   que   diz   respeito   à   Mesopotâmia   (Eridu)   e   à   Pérsia   do   Noroeste   (SiaIk   I)   encontram­se 
documentadas   quase   exclusivamente   as   formas   dolicocrânicas   mais   maciças,   que   são   também 
predominantes nas sucessivas culturais superiores da índia Setentrional (Harappa, Mohenjo­Daro, 
a partir do iii milénio a. C.). Essas formas estariam relacionadas morfológicamente, através dos 
Védidas da índia ‘ com as dos Védidas orientais e dos Austrálidas da Indonésia/Oceânia.

A mais antiga série de cabeças braquimorfas da Ásia Menor remonta ao período intermediário do iv 
milénio   a.   C.   e   é   oriunda   de   Khirokitia,   na   ilha   de   Chipre.   Infelizmente,   estes   crânios 
encontram­se de tal modo defortriados artificialmente que é quase impossível reconstruir a sua 
forma original. Contudo, é lícito supor que teriam o occipital curvo, isto é, que a forma do 
crânio   fosse   arredondada.   Digno   de   menção   é   o   facto   de   no   continente   asiático,   no   que   diz 
respeito a esta época, não se conhecerem formas similares, mas tão­só, aqui e ali, isoladamente, 
alguns crânios que denotam fraco grau de braquimorfia. Na Ásia Menor, só no ii milénio a. C. se 
encontram   documentadas,   em   várias   séries,   percentagens   discretas   de   crânios   arredondados   de 
occipital   curvo   juntamente   com   percentagens,   que   continuam   a   manter­se   elevadas,   de   crânios 
dolicomor­

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História das raças, Ásia

fos; as formas braquicrânicas de occipital chato surgem mais tarde (cf. braquicefalização). Os 
Hititas,   que   costumam   ser   indicados   como   protótipos   dos   Armenianos   de   occipital   chato,   em 
conformidade   com   os   baixos­relevos   da   segunda   metade   do   ii   milénio   a.   C.,   apresentam,   pelo 
contrário, nas séries de crânios obtidas até à actualidade, crânios de occipital curvo, e não um 
exemplo   de   o­­cipital   chato!   Será   necessário,   portanto,   sempre   que   se   pretenda   estabelecer 
relações  entre estes  fenómenos  de desenvolvimento  na Ásia  Menor e  outros análogos  na Europa, 
usar da máxima prudência. A designação de «Alpinos orientais» para as formas caracterizadas, na 
Ásia  Menor,  por cabeça  redonda e  occipital curvo, não  deve  ser interpretada acriticamente no 
sentido   de   que   exista   um   nexo   genético   docurnentável   entre   estas   formas   e   a   «raça   alpina» 
curopeia. Isto também vale para os «Arménídas» de occipital chato, os quais, na Arménia, que é o 
seu actual espaço central, só vêm a estar representados de modo notável no último, milénio a. 
C., constituindo o elemento dominante dessa zona apenas na era cristã. A tentativa de englobar 
os   Armenianos,   juntamente   com   a   raça   europeia   dos   Adriá   ticos,   na   unidade   superior   dos 
«Táu?@das»,   deve   objectar­se   que   até   agora   as   primeiras   formas   de   occipital   chato   na   Europa 
estão documentadas para uma época anterior àquela em que surgem na Ásia, sendo pouco provável, 
portanto, que derivem deste continente. O processo de braquicefalização deve ter­se iniciado de 
maneira independente nas diversas raças, em tempos diferentes e com intensidade variada, embora 
represente, no seu complexo, unia tendência morfológica geral bastante recente do ponto de vista 
da história da evolução.

Em   tempos   mais   modernos,   aumenta   na   Ásia   Menor   e   Ocidental   a   percentagem   de   formas   grácilo­
dolico,­rânicas,   enquanto   as   formas   dolicomorfas,   mais   maciças,   vão   perdendo   terreno 
progressivamente.   Em   sua   substituição   encontram­se   percentagens   correspondentes   de   cabeças 
braquimorfas,   frequentemente   plano~occipitais   (também   na   Pérsia).   A   partir   do   centro   de 
instabilidade da península arábica, o qual, com a sua crescente aridez devida à acção humana, 
foi   perdendo   cada   vez   mais   a   capacidade   de   dar   abrigo   e   alimento   a   vastas   populações, 
difundiram­se

310
História das raças, Ásia

constantemente novas vagas da raça iraniana para nordeste, noroeste e oeste. Contràriamente ao 
seu   e   cito                 histórico,   de   enorme   alcance,   a   sua   acção   biológica   permaneceu   sempre 
pequeníssima   nas   regiões,   densamente   povoadas,   que   conseguiram   submeter;   do   mesmo   modo,   as 
classes dominantes indo­germânicas, que a partir do ii milénio a. C. podem localizar­se como 
grupos numèricamente limitados, foram ràpidamente absorvidas pelas populações indígenas. Também 
o afluxo, de consideráveis proporções e de longa duração, e, portanto, mais activo do ponto de 
vista biológico, das vagas de populações gregas a partir do vi século a. C., particularmente na 
época helenística, foi absorvido pelas populações autóctones com relativa rapidez.

No   Neolítico   deve   ter­se   processado   em   primeiro   lugar   certo   fluxo   para   oriente   de   elementos 
europóides, desde a Ásia Central até à China (cerâmica pintada). Contudo, o refluxo mongolóide 
começou a fazer­se sentir muito cedo. Em primeiro lugar, os Europóides, com as suas culturas 
superiores, mantiveram­se por muito tempo relativamente alheios a qualquer espécie de contacto, 
e só a norte foram circundados por populaçõ es nómadas híbridas, constituídas em grande parte 
por elementos mongolóides. Mais tarde, porém, com a formação dos grandes impérios dos Hunos e 
dos   Mongóis   nos   i   e   ii   séculos   a.   C.,   começou   a   exercer­se   uma   pressão   mais   vigorosa   para 
ocidente,   que   empurrou   para   a   Ásia   Ocidental   e   Menor,   nos   seus   focos   actuais,   parte   das 
populações   turcas   (tribo   turco­mongol   da   Ásia   Central).   O   efeito   biológico   desta   infiltração 
mongolóide na Ásia Menor não foi certamente considerável. Os grandes movimentos de populações 
mongóis,   apesar   do   costume   de   exterminarem   os   povos   vencidos   ou   submetidos   e   das   graves 
destruições praticadas, não deixaram atrás de si, na Ásia Centro­Ocidental e na Ásia Menor, um 
património, biológico nitidamente localizável; pelo contrário, na Ásia Central vieram a criar­se 
espaços vazios aos quais afluíram populações da zona de contacto entre Europóides e Mongolóides.

Concluindo, desejamos fazer breve referência a três dos tipos raciais europóides da Ásia Menor e 
Central.   Os   Iranianos   (Orientálidas),   que   sem   dúvida   podem   englobar­se   no   grupo   racial 
politípico dos Mediterrâneos, possuindo­

311
História das raças, Âsia

estatura entre elevada e mediana, dolicocefalia, face estreita e alta, nariz grosso e saliente, 
frequente abertura palpebral estreita e lábios grossos. Os cabelos e os olhos são escuros, de 
várias tonalidades, a pele é branco­morena. Os Arménidas (também chamados, na literatura alemã, 
«vorderasiatische Rasse» [raça da Ásia Menor]) possuem estatura superior à mediana, o seu crânio 
é braquimorfo e alto, mas nem sempre claramente plano­occipital: frequentemente, o occipital é 
arredondado; semelhante característica, porém, não é sempre evidente, dando a impressão de uma 
terminação do crânio quase em ponta aguçada. A face é alta e possuem frequentemente nariz grande 
de dorso aquilino.
O cabelo e os olhos são escuros, a pele varia entre o branco­pálido e o moreno­claro.

Recordemos,   nas   regiões   da   Ásia   Central,   para   o   fenómeno   da   braquicefalia,   como   segunda 
componente, os Turânidas, para os quais, segundos os autores, se dispõe de definições somáticas 
muito   diferentes.   Entre   os   Turânídas,   a   braquicefalização,   também   é   relativamente   recente.   A 
pigmentação   corresponde   à   anteriormente   indicada   para   as   outras   duas   raças;   na   cor   da   pele, 
contudo,   predomina   o   branco­pálido.   O   cabelo   é   de   tipo   europóide,   não   existindo   qualquer 
vestígio do cabelo rígido e direito de tipo mongolóide.

A história racial da índia não pode ainda recorrer a um material de investigação comparável ao 
existente   para   as   regiões   de   que   temos   falado.   Dos   estratos   culturais   mais   antigos   da   parte 
ocidental   do   Norte   da   índia   existem   até   à   data   séries   de   crânios   que   apresentam 
predominantemente   formas   alongadas   com   reminiscências,   segundo   alguns   autores,   das   formas 
arcaicas,   como   ainda   hoje   se   conservam   entre   os   Védidas.   Não   é   verosímil   que   populações 
provenícntes   da   Mesopotâmia   ou   da   Pérsia   tenham   podido   contribuir   largamente   para   o 
desenvolvimento   das   raças   indianas;   quanto   à   vaga   mais   recente,   que   levou   até   à   índia   tipos 
europóides,   não   deve   ter   pesado   muito   do   ponto   de   vista   biológico,   apesar   do   seu   elevado 
dinamismo   histórico­cultural.   Na   era   cristã   verificou­se   um   afluxo   de   populaçôes   da   área 
islâmica, com a intromissão de elementos íraníanos e de braquicéfalos plano­occipitais; contudo, 
também este fenómeno não teve efeitos consideráveis, por­

312
História das raças, Ásia

quanto era grande a densidade das populações autóctones. Claramente localizável, pelo contrário, 
a   sudoeste   do   Himalaia   e   no   braço   de   terra   que   liga   a   india   à   Indochina,   é   a   constante 
infiltração do elemento racial mongolóide.

Dada   a sua extensão e a sua variedade geográfica, também no       subcontinente indiano podemos 


distinguir   uma   série   de     raças.   Predomina,   de   modo   acentuado,   a   forma   alongada     do   crânio, 
distinguindo­se   sómente   uma   raça   de   braquicéfalos,   a   dos   Indobraquicefálidas.   Os   Gracílindas 
apresentam   uma   combinação   de   caracteres   idêntica   à   dos   dolicocéfalos   europeus   de   pequena 
estatura   das   regiões   mediterrâneas.   Pouco   corpulentos,   de   estatura   frequentemente   inferior   à 
mediana,   possuem   crânio   alongado,   com   face   relativamente   alta   e   nariz   de   dorso   saliente, 
predominantemente rectilíneo. A diferença entre os sexos é pouco acentuada na cabeç a, sendo o 
relevo   da  face   diminuto   e  gracioso   e  a   abertura   palpebral  muitas  vezes  um   pouco  estreita.   O 
cabelo, regra geral, pode ser liso ou levemente ondulado e muito escuro, como, os olhos; a cor 
da pele vai do branco­moreno a um castanho acentuado. Contudo, além deste tipo, existem ainda 
elementos  de  estatura  elevada  e  corpulência  maciça,  com  o  perfil  mais  marcado  e  a  face  mais 
larga, típicos da componente cro­magnóide.

O tipo arcaico do Homo sapiens é representado pelos Védidas, indivíduos de pequena estatura e 
frágil estrutura corporal, cabeça _ajongada com arcadas       supraciliares por vezes bastante 
desenvolvidas e face baixa,   na qual se salientam o nariz largo e os lábios grossos. O cabelo 
pode ser liso ou ondulado, e, como os olhos, é escuro. Também a pele possui tonalidade escura. 
Este substrato pode reconhecer­se em toda a parte, sobretudo na coloração particulannente escura 
das populações que vivem em grandes parcelas da região florestal do Norte (raça gôndida) e na 
zona   meridional   do   subcontinente,   onde   constituem   uma   população   residual   de   cerca   de   vinte 
milhões de indivíduos (raça mdlida). Nestes, a tons muito escuros da pele associam­se alguns 
traços   morfológicos   da   cabeça   e   da   face   que   revelam   clara   tendência   para   formas   largas   e 
arredondadas. A designação «tipo arcaico» refere­se sómente a determinados traços morfológicos, 
nunca se opondo, porém, à possibilidade de semelhante população

313
História das raças, Ásia

produzir   obras   de   alta   cultura;   com   efeito,   tal   cultura   desenvolveu­se,   em   medida   amplamente 
independente,   na   india   Meridional,   em   Ceilão   e   na   Indochina   (império   Khmer),   no   seio   de 
populações onde precisamente predominam os traços morfológicos «arcaicos». Junto destes centros 
de altas culturas, grupos de indivíduos pertencentes a raças arcaicas, com um nível económico e 
de   organização   bastante   baixo,   podem   ter­se   conservado   em   zonas   marginais   de   refúgio   destas 
regiões. Segundo v. Eickstedt, o antigo tipo europóide da Indochina pode fazer­se remontar, no 
que ao essencial diz respeito, ao ramo dos Védidas (orientais). Deverá dizer­se, contudo, que 
Biasuttí e outros autores rejeitam decididamente a concepção geral de v. Eickstedt, para quem os 
Védidas   não   passariam   de   uma   forma   arcaica   dos   Europóides;   Biasutti   pensa   que   esses   tipos 
raciais estarão antes muito próximo dos Austrálidas e, como estes, afastados do ramo racial dos 
Europóides.

A   concluir,   resta­nos   designar   os   grupos   pigmóides   das   regiões   do   Sudeste   asiático.   Os   mais 
puros são os Andamânidas, raça originária do arquipélago que tem o mesmo nome, situado no golfo 
de Bengala. Neles, apesar de uma estatura extremamente pequena, surpreende a proporção tronco­
membros,   na   qual   não,   subsiste   o   predomínio   do   tronco,   mas   uma   relação   que   recorda   a   dos 
Europóides. A cabeça é arredondada, a face e o nariz possuem largura mediana. A coloração da 
pele é escura; surpreendente é também o cabelo, curto, em glumérulos, deixando a descoberto, 
grande parte do couro cabeludo. Apesar destas convergências, não se trata de Negróides, se bem 
que para os Andamaneses tenha sido por vezes usada a designação geral de Negritos, que remonta 
aG nome atribuído pelos exploradores espanhóis nas Filipinas aos Pigmeus de pele escura (Actas), 
o qual foi geralmente adoptado para as populações piginóides do Sudeste asiático e da Indonésia/ 
/Oceânia.   Estas   populações,   todavia,   representariam   um   desenvolvimento   autónomo   das   formas 
arcaicas do Homo sapiens destas regiões (cf. problema dos Pigmeus e ­­­­> sistemática racial). 
Ao grupo das populações arcaicas pertencem também os Semangueses e os Senoieses da península de 
Malaca, os quais, porém, são híbridos a tal ponto que é impossível reconstruir claramente o tipo 
originário.

314
História das raças, Ásia

Os Mongo'óides. Este ramo racial asiático é o numèricamente mais vasto do Homo sapiens e pode 
ser dividido num número limitado de raças, as quais, deslocando­se da sua região central para o 
Sul, apresentam, cada vez menos nitidamente, a combinação de caracteres típica do ramo racial. 
Deste   modo   as   raças   meridionais   são   englobadas   no   grupo   dos   Paleomongólidas:   pretende­se 
exprimir com esta designação que as raças instaladas a Sul foram empurradas para essas zonas por 
outras   raças   mongolóides,   relativamente   cedo   (Túnguidas,   Sínidas   setentrionais);   as   ú   ltimas 
raças referidas permaneceram no espaço de desenvolvimento, apresentando, portanto, os caracteres 
típicos em forma pouco, acentuada. Geralmente típica é uma elevada corpulência, com tronco longo 
e membros curtos. A braquicefalia, hoje predominante, é sem dúvida uma aquisição relativamente 
recente. A fronte é direita, sem relevo das arcadas supraciliares; a face é geralmente larga, 
impressão   extraordinàriamente   acentuada   pelos   malares   bastante   proeminentes   lateral   e 
anteriormente e por um nariz pequeno, medio,2remente saliente sobre o plano da face (platopia).

Particularmente típica é a plica mongólica, em forma de meia lua na pálpebra superior e cobrindo 
o interior do olho. Deste modo fica consideràvelmente reduzida a parte visível do globo ocular e 
mais estreita a abertura palpebral, dando assim a impressão de «olho em amêndoa». O cabelo é 
liso   e  direito,   sendo  muito  reduzida  a   pilosidade  do   corpo,  bem   como  a   barba.  Os   olhos  e   o 
cabelo são escuros, a pele relativamente espessa, de modo que necessita para a sua protecção de 
pequena quantidade de pigmentos. Assim, do norte para o sul, neste ramo racial, a coloração da 
pele apresenta sómente pequenas variações, que vão desde tonalidades amareladas a ligeiramente 
acastanhadas. Esta reduzida sensibilidade da pele à intensidade das radiações solares faz com 
que os Mongolóides estejam em condições de povoar todas as zonas climáticas da Terra, podendo as 
suas   raças   adaptar­se   muito   melhor   do   que   os   Europóides,   de   pele   mais   clara,   às   diversas 
condições do clima. No que diz respeito aos Paleomongó lidas, será necessária uma referência ao 
facto de ser neles particularmente acentuada a tendência para conservar, na idade adulta, traços 
morfo­

315
História das raças, Ásia lógicos e proporções infantis: isto determina que as diferanças sexuais 
sejam muito menos pronunciadas, podendo, a nossos olhos, os jovens do sexo masculino apresentar 
características típicas do feminino.

A região de origem dos Mongolóides foi por nós loca~ lizada nas estepes frias da Mongólía e nas 
regiões dos grandes rios da China. O centro de instabilidade encontra­se claramente na região 
das   estepes   ocupadas   pelos   Túnguidas.   A   partir   desta   zona,   apesar   da   limitada   extensão   das 
populações que a ocupam, gera­se uma série de impulsos, ricos de dinamismo, que irradiam para 
regiões muito vastas: os antigos Europóides'da Á sia Setentrional são empurrados para ocidente, 
deslocando­se as populações mongolóides para a América e para a Europa, ao passo que se afastam 
cada vez mais para ocidente as zonas de contacto entre Europóides e Mongolóides.

A   norte   e   a   nordeste   (América)   vieram   óbviamente   arribar   vagas   de   populações   mongolóides 


oriundas da faixa mais exterior, as quais, para além do estreito de Bering, deram origem ao ramo 
racial dos Ameríndios. A zona de concentração demográfica dos Mongolóides surgiu, paralelarnente 
às possibilidades ecológicas de produção de alimentos, na China. A norte desenvolveu­se a raça 
sínica setentrional,­ esta, a sul, na planície dos dois grandes rios, entrou em contacto com a 
raça sínica central, que constituiu por várias vezes um importante adversário na história do 
império chinês. Actualmente ambos os centros de pressão demográfica se fundiram em absoluto. Na 
China   Meridional   formou­se   mais   tarde,   como   centro   de   pressão   menor,   o   da   raça   sínica 
meridional, que apresenta uma combinação de caracteres mongolóides atenuada. A região de origem 
desta   raça   teve   histèricamente   certa   importância;   contudo,   era   impossível   uma   expansão   para 
norte, e assim vagas sucessivas de populações deslocaram­se constantemente para o sul ao longo 
da costa, e daí, seguindo o curso dos rios, espalharam­se pelo interior da Indochina. A partir 
das   regiões   ocupadas   pela   raça   sínica   meridional,   como   também   pelo   sector   da   raça   sínica 
central,   mais   ou   menos   no   final   do   Neolítico   da   Ásia   Oriental,   as   primeiras   vagas   de   povos 
atingiram as ilhas meridionais do arquipélago japonês, levando consigo elementos palcomongólidas 
oriun­

316
História das raças, Ásia

dos   das   regiões   mais   a   sul.   Contra   os   antigos   habitantes   curopóides   das   ilhas   japonesas,   os 
Ainos,   estas   vagas   de   população   só   muito   tarde   conseguiram   impor­se,   quando   se   verificou, 
através   da   Corcia,   um   afluxo   mais   constante   de   elementos   raciais   sínidas   sententrionais   e 
túnguidas. A partir dessa altura, os Ainos foram expulsos para o Norte, e nos quatro componentes 
mongolóides,   com   a   intervenção   de   extensão   variável   dos   Paleomongólidas,   teve   origem   o   povo 
japonês.

Acerca   dos   acontecimentos   importantes   do   ponto   de   vista   da   história   das   raças   que,   se 
verificaram   nas   regiões   compreendidas   entre   os   grandes   rios   e   as   zonas   montanhosas   da   China 
Meridional,   podemos   dar   ainda,   resumidamente,   algumas   notícias.   As   diferentes   condições 
ecológicas e económicas favoreceram durante muito tempo a conservação de raças e de povos mais 
antigos, designados por «bárbaros» na literatura clássica da China (por exemplo: os Lolo, os 
Miao, etc.). Aqui também se conservaram elementos palcomongólidas, provàvelmente mesclados com 
Europóides arcaicos; quanto à penetração do património racial europóide na parte ocidental da 
China,   já  tivemos   ocasião  de   a  referir.   No  tempo   da  formação   dos  impérios  clássicos   da  Ásia 
Menor e Ocidental penetraram nesse espaço, em fracas percentagens, Europóides de pele clara. No 
que   diz   respeito   à   história   das   raças   que   povoaram   a   região   tibetana,   é   impossível,   por 
enquanto,   qualquer   afirmação   susceptível   de   esclarecer   o   problema.   Também   aqui   é   largamente 
predominante o elemento mongolóide; todavia, é impossível que também se haja conservado nesta 
zona, embora em fracas percentagens, um antigo substrato europóide. Actualmente, dada a escassez 
dos conhecimentos antropológicos relativos ao Sudoeste e ao, Ocidente do território chinês,

não se pode determinar com exactidão a zona de onde provem as vagas de população que constituem 
a   parte   principal   dos   grupos   mongolóides   que   vivem   nesta   região.   Contudo,   justamente   no   que 
respeita às populações mongolóides instaladas no Tibete e sobre os contrafortes meridionais da 
cadeia   de   montanhas   que   vai   até   à   índia   e   à   Indochina,   devem   recordar­se   alguns   traços   que 
poderiam  estar  ligados,   na  sua   origem,  às   várias   possibilidades  de   isolamento  oferecidas  por 
esta região geográfica, se bem

317
História das raças, Indonésia/Oceânia

que, por outro lado, dada a sua natureza extremamente acidentada, semelhante região só muito 
tarde se abrisse à colonização, humana.

Quanto à história das raças que povoam a Indochina, continuamos a não dispor de conhecimentos 
muito   vastos.   Também   aqui   a   faixa   de   florestas,   assim   corno   muitas   zonas   montanhosas   ou 
fluviais,   serviram   ainda   por   muito   tempo   de   zonas   marginais   de   refúgio   a   populações   de   tipo 
arcaico dos dois ramos raciais ainda não especializados dos pontos de vista biológico­racial e 
técnico­económico. Centudo, essas raças não podiam resistir por muito tempo à mais forte pressão 
biológica  da  raça  sínica  meridional,  que  empurrava  à  sua  frente,  do  interior  para  o  sul,  os 
Paleomongólidas (Palaúnguidas, Xânidas). Os restos de raça vedá misturaram­se constantemente com 
outras   populações,   ou   foram   por   elas   absorvidos   ou   dispersos,   se   bem   que   tenham   podido 
conservar­se autónomos até ao império Khmer no nosso milénio, com uma forma estatal específica e 
tima cultura superior de influência indiana. Sob a crescente pressão de populações instaladas na 
actual China, fortes vagas paleomongólidas atravessaram mais tarde a ponte insular da Indonésia, 
de   onde   uma   parte   das   populações   se   propagou   para   sudeste   (Samatra,   Java,   até   às   ilhas   de 
Sonda), enquanto outra parte se difundiu para nordeste, através de Bornéu e das Celebes, até às 
Filipinas,   onde   deram   origem   a   novas   raças:   a   dos   Protomalásidas   e   a   dos   Deuteromalásidas. 
Quanto às raças de Amerindios, ligadas na sua origem ao ramo mongolóide, cf. história das raças: 
América.

HISTóRIA DAS RAÇAS: INDONÉSIA/OCEaNIA. a) PaleolWico Superior. Por Indonésia/Oceânia. entendemos 
o complexo de grandes e pequenas ilhas que vão desde a Indochina, através da Indonésia e da Nova 
Guiné, até ao continente australiano, e ainda Bornéu, Celebes, todas as ilhas circundantes até 
às Filipinas e por último, a oriente, o vastíssimo e disperso mundo insular da Oceânia. Esta, 
porém,   só   pôde   ser   colonizada   pelo   homem   em   fases   muito   recentes   da   nossa   história,   com   o 
advento   de   embarcações   capazes   de   navegar   no   mar   alto;   quanto   às   grandes   ilhas,   devem   ter 
estado, por várias vezes, certamente ligadas à term

318
História das raças, Indonésia/Oceânia

firme (durante o último período pluvial) devido a abaixamentos eustáticos do nível do mar. Estas 
ilhas forneceram, desde sempre, um refúgio mais ou menos isolado às formas mais antigas do mundo 
animal   e   vegetal:   este   fenómeno   manifesta­se   com   evidente   nitidez   se   considerannos   as 
características   arcaicas   da   flora   e   da   fauna   australianas.   No   que   diz   respeito   a   Java,   só 
indirectamente, mediante uma classifícação cronológica baseada na fauna acompanhante, pode ser 
documentada   a  colonização   pelo  Homo   sapiens  no   Paleolítico  Superior;  a   única  jazida   (Wadjak) 
revelar­se­á, com toda a probabilidade, relativamente recente.

Wadjak   (Java):   em   1890,   quando   procurava   o   Pitecantropo,   Dubois   descobriu   dois   crânios   muito 
grandes.   Tratava­se   de   crânios   dolicomorfos,   maciços,   baixos,   relativamente   largos, 
pentagonóides, com arcadas supraciliares fortemente salientes e fronte fugidia. órbitas baixas e 
rasgadas,   raiz   do   nariz   larga,   prognatismo.   Forma   arcaica   do   Homo   sapiens,   combinação   de 
caracteres relativamente indiferenciada (cf. África Meridional: Florisbad, Boskop).

Este único achado, que remonta ao Paleolítico Superior, refere­se certamente ao Homo sapiens e 
nada tem a ver com os restos muito mais antigos descobertos nestas ilhas (­> Paleontropologia). 
Podemos   sem   dúvida   considerar   estes   crânios   de   Wadjak   em   estreita   relação   com   os   achados   do 
Mesolítico   Superior   e   do   Neolítico   da   Nova   Guiné   e   da   Austrália,   e   daí   concluir   que   o   Homo 
sapiens fóssil ­se bem que provàvelmente muito tarde­ povoou esta região geográfica. Por outro 
lado, não devemos esquecer que o desenvolvimento cultural se retardou aqui consideràvelmente, 
não   podendo   estabelecer­se,   portanto,   confrontos   cronológicos   directos   com   os   estádios 
correspondentes na terra firme.

b) Mesalítico. Também para este período se disp5e de poucos restos. Trata­se de alguns achados, 
de classificação cronológica muito incerta, provenientes da Nova Guiné e da Austrália. Ocupamo­
nos dele nesta secção, embora não se possa fazer a seu respeito nenhuma determinaçâo cronológica 
segura.

Aitape (Nova Guiné): restos fragmentários de um crânio pertencente a presumíveis formas arcaicas 
desta região.

319
História das raças, Indonésia/Oceânia

Talgai (Austrália): 1884, publicação em 1914. Trata­se de um crânio que pertence provàvelmente, 
apesar da sua adiantada fossilização, apenas à é poca pós­glacial.
O   crânio   é   achatado,   estreito   e   alongado,   de   testa   fugidia,   viseira   supraorbitáría   maciça   e 
saliente,   raiz   do   nariz   larga   e   escavada,   prognatismo.   Forma   arcaica,   os   seus   traços 
morfológicos   adaptam­se   bem   aos   dos   actuais   Austrálidas.   Características   análogas   são   as   de 
Cahuna  (1925)  e Keilor  (1940);  testes  praticados com  o radiocarbono  deram uma  idade de  14000 
anos!).

Os restos mesolíticos, portanto, têm estado até agora limitados a urna parte geogràficamente bem 
definida da zona que estamos a considerar, documentando unitáriamente tão­só os tipos antigos. 
Contudo, a partir de semelhantes achados, não podemos concluir, sem margem para dúvidas, que 
neste período as grandes ilhas fossem sómente habitadas por representantes desta forma antiga 
pouco   diferenciada,   mesmo   que   pareçam   actualmente   o   substrato   correspondente   a   uma   antiga 
colonização.

c) Do Neolítico à era moderna: para este período não devemos esquecer que a ponte de terra firme 
da Indonésia transformou­se já num autêntico arquipélago, mas simultâncamente suporemos que os 
meios técnicos fossem agora suficientes para transpor os braços de mar entre as várias ilhas. A 
pressão biodinâmica com origem nas regiões habitadas por populações em expansão, principalmente 
por   Mongolóides,   tomou­se   cada   vez   mais   sensível;   deste   modo,   vagas   de   antigas   populações, 
provàvehnente   de   cunho   vedoidc,   foram   incessantemente   impelidas   para   sudeste.   Estes   Védidas 
deviam apresentar em geral compleição escura; todavia, não se pode determinar com segurança se 
tiveram ou não uma pigmentação comparável à que ainda nos dias de hoje continua a caracterizar 
as formas arcaicas da Melanésia, da Nova Guíné e da Austrália. Por outro lado, o tipo físico 
deve   ter   sido   análogo   ao   dos   Védidas   da   índia   Meridional   e   da   Indochina:   conformação   física 
esbelta,   dolicomorfia,   face   geralmente   larga,   nariz   rasgado   e   cabelo   abundante,   entre   liso   e 
ondulado. A este estrato primitivo, formado por populações védidas (orientais), sobrepuseram­se 
mais tarde elementos paleoniongólidas­, susceptíveis de serem claramente distintos em duas vagas 
diferentes,

320
História das raças, Indonésia/Oceâiiia

de   Pratomalásidas   e   Deuteromalásidas.   Nestes   povos,   a   robusta   corpulência   própria   dos 


Mongolóides   não   é   muito,   acentuada,   sendo   frequentemente   disfarçada   por   maior   elegância   da 
constituição.   Particulannente   evidente   nestas   populações   (e   também   nas   védidas),   é   o 
infantilismo racial (ef. história das raças: Ásia: Mongolóides) que em algumas ilhas (em Bali, 
por exemplo) intervém de maneira muito característica. Formas físicas em geral arredondadas, com 
proporções   infantis,   além   da   testa   ligeiramente   abaulada,   dão   nos   adultos   a   impressão   da 
prevalência de     ‘traços femininos e em geral de uma redução do dimorfismo sexual, que só nos 
indivíduos de idade mais avançada, com o sobrevir da magreza, parece restabelecer­se de modo 
suficientemente   nítido.   As   características   típicas   dos   Mongolóides,   sobretudo.   a   plica 
palpebral,   também   são   em   média   pouco   acentuadas,   embora   se   note   uma   abertura   palpebral 
predominantemente estreita. O sistema piloso, do corpo é escasso, sendo o cabelo pouco rígido e 
frequentemente muito comprido em ambos os sexos. A cor da pele apresenta tonalidades que vão do 
claro   ao  castanho­claro,   diferenciando­se   bastante,   portanto,  do   forte  aumento   da  pigmentação 
que se encontra nos Europóides e nos Negróides das mesmas zonas climáticas. Os Paleomongólidas 
precipitaram­se   para   o   norte   até   às   Filipinas;   a   sudeste   detiveram­se   diante   da   Nova   Guiné, 
enquanto nas pequenas ilhas da região divisória se encontram traços cada vez mais evidentes do 
substrato constituído por Europóides de pele escura.

Estes dividem­se, «grosso modo», em Paleomelanésidas, na faixa insular a norte e a nordeste da 
Nova Guiné, em Neomelanésidas, na Nova Guiné, e em Austrálidas, que habitam o quinto continente. 
Os primitivos habitantes da Tasmânia, ilha que se encontra a sul da Austrália, devem ter mantido 
relações muito mais estreitas com os Melanésidas do que com os Austrálidas. Foram, porém, exter­ 
minados tão cedo que já não é possível uma classificação segura dos mestiços vivos ainda hoje. 
Elemento   típico   em   todos   é   a   compleição,   escura   (cor   dos   cabelos,   dos   olhos   e   da   pele),   e 
típicas   são   também   certas   convergências   com   os   Negróides   na   forma   do   cabelo.   Como   já   várias 
vezes se indicou, não pode deduzir­se de semelhante convergência

321
História das raças, Indonésia/Oceânia

nenhuma relação genética com o ramo racial dos Negróides africanos. O crânio, particularmente 
nos Austrálidas, é comprido e por vezes extremamente estreito. A região supraciliar apresenta 
frequentemente um desenvolvimento muito acentuado, elemento que, todavia, não se manifesta em 
todos os indivíduos, assim como se têm, juntamente com exemplos de testa extremamente baixa e 
inclinada, casos de fronte bastante direita. O nariz é frequentemente largo e registam­se também 
muitos casos de prognatismo.
O   sistema   piloso   é   abundante,   sendo   digno   de   nota   o   facto   de   poderem   coexistir   tonalidades 
claras (de arruivado a louro), especialmente da pilosidade do corpo, com a cor bastante escura 
da pele e dos olhos. A partir         de todos os achados morfológicos conhecidos até agora, os 
Austrálidas   e   também   os   australiformes   Paleomelanésidas   e   Neomelanésidas,   poderiam   fazer­se 
remontar,   em   nossa   opinião,   aos   tipos   antigos   europóides   do   Homo   sapiens,   representando   uma 
forma   especializada,   claramente   diferenciada,   embora   tivessem   conservado   muitos   traços   da 
combinação de caracteres das formas arcaicas do Horno sapiens.

Nas Filipinas e na Nova Guiné vivem ainda Pigmóides que apresentam uma combinação de caracteres 
absolutamente   particular   e   derivam   também   das   formas   arcaicas   (ef.   problema   dos   Pigmeus).   A 
conservação do termo Negritos, aplicado pelos Espanhóis aos Aetas das Filipinas, nã o implica 
qualquer asserção acerca de reais relações genéticas.

Em conclusão   ‘ devemos consagrar ainda algumas palavras à interessante raça de contacto dos 
Pofinésidas, os quais colonizaram o vastíssimo mundo insular da Oceânia até às Hawai, à ilha de 
Páscoa e à Nova Zelândia. Os elementos europóide e paleomongólida uniram­se aqui para dar vida a 
uma   combinação   de   caracteres   bem   harmonizada,   de   modo   que   o   ponto   de   encontro   destes   dois 
componentes   situa­se   numa   época   relativamente   recuada.   O   elemento   europóide   deve   ter 
predominado,   pois   a   combinação   de   caracteres   é   muito   equilibrada.   A   estatura   é   superior   à 
mediana,   a   relação   tronco­membros   é   bem   proporcionada,   a   face   pouco   larga   e   o   nariz   entre 
direito e aquilino. Os cabelos e os olhos são escuros e a pele possui uma tonalidade intermédia, 
com numerosos matizes.

322
Ristória das raças

e) Alpínida                      f) Dinárida

Fiw. 61. Europa, tii)os raciais vivos

323
História das raças

Fig. 62. Africa I, tipos raciais vivos

324
História das raças

e) Sânida, Bosquímano P          f) Bainbútida P

Fig. 63. Africa II, tipos raciais vivos

325
História das raças

k   .   y               1             .                                 .   .”i   @   .”,                 . 
.    1, e) Védida                 (orient.)                                             f)  
Ainida

Fig.        64. Asia I, tipos raciais                                    vivos

326
História das raças

e) Sínida merid.                  f) Paleomongólida

Fig. 65. Ásia II, tiPos raciais vivos

327
História das raças

e) Austrálida                     f) Polinésida C

Fig. 66. Indonésia/Oceânia, tipos raciais vivos

328
Ilistória das raças

­­­ @@ 1 1

e) Brasílida                       f) Fuéguida

Flg. 67. América,.tiDos raciais vivos

329
História das raças

QUADRO SINOPTICO

EUROPA

ÁFRICA

Era

Raças modernas 1

Raças      Formas

moderna

modernas    arcaicas 2

(«Hylaea» 3/

/África Aus­

trai)

Culturas urbanas supe­

Culturas urbanas

riores

Neolítico

(bacia mediterrânea)

superiores (Egipto)

4000

Ofnet/Kaufertsberg

Singa      Zitzikama

Téviêe/I­Ioêdie Botten­

dorf

Asselar?

Mecta/
/Afalou     Springbock?

Fish Hoek?

Gramat

Ishango?

Mesolítico

8000

Romanelli Arene Can­

dide

Elmenteita Matjes

River?

1;   Obercassel co

. Naivasha?

Boskop? Border Cave?

o bo bD $@

É CC        Cape Flats?
História das raças

PARA A HISTORIA DAS RAÇAS

ASIA

INDONÊSIA­OCEANIA

AMÊRICA

Raças    Formas

Raças Formas

Raças Formas

modernas    arcaicas

moder­ arcai­

moder­ arcai­

(norte este

nas   cas

nas   cas

sul)

Culturas

(China)      India Se­

urbanas

tentrional

superiores

(Asia Central)

Culturas urba­

Lagoa Santa?

nas superiores

..............................
. .......................... ­

3500

(Asia Menor)

Aitape?     Kel­

lor>

Kuang­si?

Yarmo Belt Cave

Guak

Jericó Hotu. Cave

................. ­­­­­­­ ­­­

6000

Kepah?
História das raças

332
Hist­ória das raças

]@ig 68.i «Zonas de concentração» (demográfica) e «centros de
1 ins@abil dade». a) A volta do 4000 a.C.: b) à volta do início

da era cristã. c) à volta de 1500 d. C.

333
História das raças

334
História das raças

335
História das raças, América

Acerca da proveniência dos Polinésios, não existe qualquer teoria verdadeiramente fundamentada. 
Certos   elementos   culturais   (uma   forma   de   escrita   na   ilha   de   Páscoa,   por   exemplo)   indicam 
possíveis relações com o Noroeste indiano (Mohenjo­Daro), bem como determinadas construções de 
pedra. Essencial, porém, é o facto de, na época da sua descoberta, os Polinésios se encontrarem 
ainda completamente na Idade da Pedra e de a sua cultura possuir um carácter especializado, em 
parte   neolítico.   Devem   ainda   considerar­se   certos   acqntecimentos   de   carácter   absolutamente 
contingente, empobrecimentos secundários, por exemplo, devidos aos limitados recursos materiais 
do seu mundo insular. A descoberta e a colonização destas disseminadas ilhas da Oceânia, com 
embarcações construídas sem o auxílio de metais, e no entanto capazes de navegar no mar alto, 
constituem   um   caso   único,   como   excepcional   é   também   a   empresa   de   exploração,   efectuada   duas 
vezes,   das   regiões   antárcticas.   Também   os   Paleomongólidas   da   Indonésia   revelaram   notáveis 
aptidões para  a arte da  navegação, sem  a qual  não teriam podido  alcançar em  grandes  grupos, 
provàvelmente em vagas sucessivas, a ilha de Madagáscar (cf. história das raças: África).

HISTóRIA DAS RAÇAS: AMÉRICA ­­ a) Paleolítíco Superior. Para este período, na América, não se 
conhecem ainda restos humanos seguros, mas em contrapal­tida dispõe­sc de um espólio cultural 
relativamente abundante. Podemos estabelecer aproximadamente um paralelo entre a cronologia da 
era glacial na América e os achados europeus. Contudo, não devemos esquecer que alguns grandes 
mamíferos do final da era glacial viveram na América durante mais tempo do que na Eurásia e que 
outras   espécies   típicas   do   continente   americano   (tatus   e   preguiças   gigantes)   devem   a   sua 
extinção à penetraCão humana na América, embora tivessem sobrevivido ainda algum tempo após a 
chegada   do   homem.   Os   mais   antigos   estratos   culturais,   datados   pelo   método   do   radiocarbono, 
provêm da Califórnia e têm cerca de 40 000 (?) anos de idade, a eles se seguindo a cultura de 
Folson (Novo México), que remonta ao final do Palco,lítico. Infelizmente, o Paleolítíco Superior 
do Nordeste asiático encontra­se ainda insuficientemente estudado, não

336
História das raças, América

sendo   possível   extrair   dele   quaisquer   elementos   acerca   da   possível   origem   dos   primeiros 
colonizadores da América.
O certo é que durante o último período glacial o estreito de Bering ficou seco em consequência 
de um abaixamento eustático do nível do mar, ou que, em todo o caso, era possível passar de um 
continente   para   outro   ao   longo   de   uma   via   gelada.   A   passagem   para   a   América   deve   ter­se 
verificado   sem   dúvida   em   várias   vagas   sucessivas,   sendo   provável   que   os   primeiros   grupos   se 
distinguissem uns dos outros por combinações de caracteres das formas arcaicas do Homo sapiens 
ainda   em   larga   medida   indiferenciadas.   Conclui­se   isto   do   facto   de   ainda   hoje,   em   zonas 
marginais ou de refúgio, se poderem encontrar traços morfológicos claramente não ameríndios (na 
Califórnia, nas florestas virgens do Brasil e na América Meridional, por exemplo). As reservas 
alimentares   inexploradas   deste   duplo   continente   devem   ter   permitido,   pelo   menos   nos   plainos 
abertos, uma percentagem de aumento da população relativamente elevada, o que toma provável a 
rápida colonização de todo o continente, em conformidade com a economia parasitária tradicional. 
As regiões florestais, tanto ao norte como nos trópicos, foram inicialmente ignoradas. Contudo, 
esta   pnmeira   colonização   não   chegou   a   atingir   considerável   densidade   populacional;   as   mais 
numerosas vagas de povos, que deram origem ao actual tipo racial, só atravessaram o estreito de 
Bering   após   a   era   glacial,   porquanto   transportaram,   na   sua   combinação   de   caracteres,   traços 
predominantemente mongolóides. O impulso a estas vagas de povos foi dado pela crescente pressão 
dos Túnguidas (cf. história das raças: Ásia), que empurrou para a América povos mongolóides, 
ainda incompletamente especializados, originários das regiões marginais do Setentrião asiático.

b) Afesolítico. Não se pode estabelecer fàcilmente um paralelo entre o início deste período e os 
estádios correspondentes da Eurásia, e o mesmo acontece em relação ao seu final. Seja como for, 
em todo o duplo continente se descobriram restos humanos que podem ser situados neste período de 
tempo. Os restos encontrados nos Estados Unidos, onde a actividade de pesquisa é mais intensa, 
são mais numerosos.

337
História das raças, América

Tepexpán­ (México). Trata­se de restos que devem remontar, segundo o teste do radiocarbono, a 
cerca de
9000   anos   a.   C.   O   esqueleto   aparenta   estatura   elevada,   crânio   de   tamanho   mediano,   alto,   com 
arcadas supraciliares pouco desenvolvidas, a face e o nariz largos, os malares proeminentes, sem 
prognatismo. O crânio não se distingue claramente dos que são próprios dos Ameríndios recentes 
destas zonas, não obstante certas reminiscências das formas antigas que nele se notam.

Lagoa   Santa   (Brasil   Oriental):   1840,   séries   de   esqueletos   provenientes   de   várias   cavernas; 
ausencia   de   classificação   cronológica   exacta.   Contudo,   deve   provàvelmente   tratar­se   de 
componentes   das   primeiras   vagas   de   povos   que   colonizaram   o   continente.   Crânio   comprido,   bem 
modelado, com fronte alta, direita, arcadas supraciliares moderadamente desenvolvidas, órbitas e 
nariz   medianamente   largos,   altos,   face   larga   e   ligeiro   prognatismo.   Não   há   qualquer   indício 
apreciável de caracteres mongolóides, antes se notando um paralclismo morfológíco com as formas 
arcaicas   melanésias   (cf.   história   das   raças:   Indonésia/Oceânia);   os   elementos   morfológicos 
«antico@­europóides», contudo, são ainda predominantes. Deste modo, deverá tratar­se sem dúvida 
de um povo relacionado com as primeiras vagas humanas, ainda escassamente diferenciadas do ponto 
de vista racial, oriundas do Nordeste asiático.

Com este grupo de achados poder­se­ão relacionar também os restos de Confins (Minas Gerais), no 
Brasil Meridional, e talvez Punín (Equador), enquanto na América do Norte. podem, com alguma 
verosimilhança, ser situados neste período os restos, morfológicamente pouco significativos, de 
Lansing, Brown's Valley c Vero.

A todos é comum a falta de traços morfológicos nitidamente orientais no sentido mongolóide. Os 
crânios são ainda dolicomorfos, de estrutura maciça, as órbitas frequentemente baixas, a face e 
o   nariz   largos,   sendo   também   visível   em   muitos   casos   o   prognatismo.   Tanto   quanto   é   possível 
apurar, a estatura é superior à mediana. Continuam, portanto, a prevalecer traços morfológicos 
indiferenciados, próximos dos caracteres dos antigos Europóides, como de resto seria de esperar 
dos componentes das primeiras vagas de povos chegados à América através da

338
História das raças, América

ponte continental que ligou o território americano ao continente eurasiático pelo estreito de 
Bering.

c) Do Neolítico à era moderna. Neste período todo o duplo continente, compreendidas as florestas 
das regiões do Norte e as das. regiões pluviais tropicais, se abriu à colonização: nesta época 
as formas económicas mais antigas foram constrangidas a instalar­se nas zonas de refúgio mais 
desfavoráveis. Nas planícies abertas manteve­se difusamente, até à chegada dos Europeus, e mesmo 
algum   tempo   depois,   uma   cultura   superior   de   caçadores,   de   notável   organização,   com   formas 
limitadas   de   cultivo   dos   campos.   Na   América,   a   passagem   a   uma   forma   de   vida   baseada   em 
povoamentos   estáveis   e   na   produção   de   alimentos   mediante   a   agricultura   e   a   criação   de   gado 
processou­se   de   maneira   autónoma,   desenvolvendo­se,   a   partir   do   patrimónío   constituído   pelas 
espécies selvagens locais, toda uma série de culturas e de animais domésticos. A passagemf na 
América Central e no Noroeste da América do Sul, a culturas urbanas altamente civilizadas deve 
ter­se, verificado muito mais tarde do que na Eurásia e na África Branca, costumando fixar­se 
pouco antes do nascimento de Cristo. As obras culturais realizadas por tais civilizações sã o 
surpreendentes, quer pelo cunho original que as caracteriza, quer pela sua complexidade. Se um 
intercâmbio ou uma fecundação desta cultura pela Ásia, através de pontes constituídas por ilhas, 
ou através do oceano Pacífico, não pode excluir­se com absoluta certeza, a verdade é que não 
deve ter exercido certamente  grande influência. Do  ponto  de vista biológico,  da história  das 
raças, esta possibilidade não possui nenhuma importância, porquanto os grupos de povos cujos 
caracteres   se   reflectem   ainda   nas   populações   locais   atingiram   a   América   por   via   terrestre, 
vindos   do   Nordeste   asiático.   Neste   lapso   de   tempo   teremos   de   considerar   outro   elemento;   com 
efeito,   só   nessa   altura   começa   a   evidenciar­se   o   elemento   mongolóide   (o   mais   importante,   de 
longe, nos dias de hoje) na combinação de caracteres dos Ameríndias, e este facto permite­nos 
relacionar semelhante grupo de raças com o ramo dos Mongolóides­, se bem que seja ainda bastante 
evidente o substrato mais antigo de caracteres mais claramente europóide. Dado que até agora se 
descobriram poucos restos

339
História das raças, América

do isolamento e do carácter residual destas zonas, podemos desde já asseverar que, juntamente 
com   o   património   predominante   de   formas   mongolóides,   se   conservou   também,   em   maior   ou   menor 
medida, o substrato mais antigo. A diferenciação, sobretudo no perfil do i:osto, não é ainda tão 
acentuada como nas raças da América Setentrional; na região das florestas tropicais predominam 
geralmente   as   combinações   de   caracteres   menos   mongolóides.   Na   Venezuela   ter­se­ia   descoberto 
recentemente   a   existência   de   povos   Pigmóides,   o   que   mais   uma   vez   confirmaria,   noutras   zonas 
também, o carácter autónomo de semelhante especialização. Para os Ona, uma tribo da Terra do 
Fogo,   será   de   relevar,   desde   o   tempo   dos   primeiros   relatos   dos   missionários   (que   remontam   à 
segunda metade do século passado), o facto de neles aparecer em larga medida a compleição clara 
(cabelo   louro,   olhos   azuis,   pele   clara),   se   bem   que   evidenciem   ainda   o   conjunto   de   formas, 
típicas dos Mongolóides. Poderemos deduzir daqui que os mutantes claros foram favorecidos neste 
caso por condiçõ es climáticas selectivas idênticas às que originaram o mesmo fenómeno nos povos 
europeus (cf. pigmentação e despigmentação). Isto confirma que onde a selecção actua num mesmo 
sentido   podem   surgir   efeitos   de   convergencia,   mediante   um   enriquecimento   de   determinados 
mutantes, sem que deva falar­se de um nexo genético directo dos vários grupos onde se apresentam 
os   mesmos   caracteres.   É   esta   uma   verdade   a   ter   sempre   presente   quando   se   procura   determinar 
relações directas entre povos geográficamente muito afastados.

As tabelas e os mapas reproduzidos nas páginas precedentes propõem­se ilustrar a distribuição 
dos achados mais importantes do Homo sapiens fóssil em relação com o desenvolvimento cultural, a 
partir   do   Paleolítico   Superior.   Os   mapas   (Figs.   68­71)   representam   a   distribuição   dos   ramos 
raciais   sobre   a   Terra   a   partir   de   4000   a.   C.   As   partes   tracejadas   indicam   as   zonas   onde 
provàvelmente deveriam localizar­se as formas «arcaicas» dos vários ramos raciais. A distância 
entre   as   diversas   linhas   do   tracejado   indica   a   provável   densidade   de   população.   Os   círculos 
concêntricos dos mapas da Fig. 68 indicam as presumíveis zonas de pressão correspondentes às 
maiores concentrações

342
Métodos da antropologia populacionais, e portanto, do ponto de vista da biologia demográfica, 
nas zonas ocupadas pelos três ramos raciais, os centros dos quais teria partido uma lenta e 
contínua pressão de expansão. Os sinais gráficos convencionais que representam o raio indicam as 
regiões mais pobres, «centros de instabilidade» de onde irradiaram numerosos im­ pulsos em todas 
as direcções. Estes centros de instabilidade exerceram globalmente grande influência sobre as 
deslocações de povos e raças, embora mais tarde, do ponto de vista biológico, não tivessem 
assumido importância duradoura, comparável às das «zonas de concentração» (demográfica). A 
representação é esquematizada «grosso modo» e refere­se exclusivamente aos três grandes ramos 
raciais, não atendendo, porém, à sua complexa constituição interna.
O escopo destas simplificações consiste sobretudo em dar aproximadamente a provável distribuição 
racial e em inserir num processo histórico, conexionado com a sua possível importância do ponto 
de vista da biologia das raças humanas, os consequentes movimentos e deslocações das raças.

Quanto às fotografias de indivíduos pertencentes a raças vivas, limitámo­nos, devido à falta de 
espaço, a indivíduos do sexo masculino, porquanto são em geral os machos que de maneira mais 
acentuada apresentam a combinação de caracteres típica de uma raça. Nos limites do possível, as 
fotografias   reproduzem   indivíduos   focados   de   frente   ou   de   lado.   Quanto   ao   grande   número   de 
representantes   das   formas   arcaicas   de   várias   raças   aqui   representados,   não   corresponde 
verdadeiramente   aos   efectivos,   hoje   tão   limita­dos,   de   semelhantes   povos,   mas   antes   ao   seu 
elevado interesse do ponto de vista da história das raças.

Métodos   da   antropologia   ­­   Como   disciplina   das   ciências   naturais,   a   antropologia   adopta 


essencialmente   métodos   naturalísticos.   Só   em   determinados   sectores­limite   ela   renuncia   aos 
próprios métodos e utiliza os resultados obtidos pelas outras disciplinas com métodos diversos. 
A   moderna   adopção   de   análises   quantitativas   e   de   verificações   qualitativas   facilita   a 
compreensão   global   do   homem   na   pluralidade   das   suas   manifestações.   A   base   dos   estudos 
antropológicos é constituída pela anatomia e pela fisiologia humanas, especial e comparada. Nos 
resultados fornecidos

343
Métodos da antropologia

por estes dois sectores funda­se o estudo sistemático das diferenças individuais e de grupo. 
Depois   das   primeiras   tentativas,   com   carácter   descritivo,   para   compreender   e   classificar   as 
várias formas pelas quais se manifesta a natureza huniana e a sua variabilidade­ (Blumenbach e 
outros, ­­> História da antropologia) no decurso da segunda metade do século xix assiste­se ao 
desenvolvimento   de   um   método   exacto,   quantitativo   (Relzius,   Virchow,   Manouvrier,   Topinard, 
Sarasin e outros); são elaborados nomeadaniente os métodos da medição do esqueleto e do homem 
vivo, criando­se para isso instrumentos apropriados e processos normativos de comparação para o 
estudo   das   formas,   pigmentações   e   variações   fisiológicas.   Um   clássico   da   moderna   metodologia 
antropológica é Rudolph Martin, cujo «Lehrbuch der Anthropologie» («Tratado de Antropologia»), 
publicado pela primeira vez em 1914, constitui o fundamento para a antropologia de todo o mundo 
obter   uma   metodologia   exacta.   Ainda   hoje,   se   bem   que   muito   completado   e   desenvolvido,,   ele 
representa a base fundamental deste sector de estudos.

Um   dos   principais   processos   quantitativos   de   investigação   continua   a   ser   a   medição,   a 


antropometria.   Ela   colige   os   valores   métricos   absolutos   e   toma   relativos   e   comparáveis   estes 
valores absolutos «<índices»). A rigorosa aplicação dos métodos da antropometria e a técnica a 
ela ligada supervalorizou o significado dos seus resultados. A obtenção de extensas tabelas de 
números   com   valores   exactos   até   à   segunda   ou   mesmo   terceira   casa   decimal   foi   muitas   vezes 
confundida com conhecimento científico. Actualmente a crítica moderna (E. Fischer, v. Eickstedt) 
já levou à redução da valorização dos resultados puramente antropométricos. Isto não deve porém 
induzir   a   considerar   a   antropometria   como   falha   de   valor.   Claro   que   uma   medição   exacta   e 
minuciosa,   levada   a   cabo   com   bastante   rigor,   é   a   primeira   condição   a   que   tem   de   obedecer   o 
material de investigação. A técnica antropornétrica é difícil e a capacidade do seu uso não é 
inata,   mas   sim   adquirida   à   custa   de   muito   e   duro   trabalho.   Muitos   erros   de   avaliação, 
nomeadamente no passado, foram originados pela insuficieência na técnica da medição. Não se deve 
esquecer que através da medição nada mais se pode alcan­

344
Métodos da antropologia

çar do que uma exacta caracterização quantitativa do objecto examinado. Sobre esta base exacta 
se fundamentam, pois, os ulteriores processos de investigação, que vão até à psicologia. Mas com 
a medição nenhum testemunho se obtém da forma viva do objecto, nada se apreende da sua impressão 
plástica   de   conjunto   (v.   Eickstedt).   Uma   fisionomia,   por   exemplo,   não   é   mètricamente 
determinável.
O   processo   métrico   estava   já   desenvolvido   no   século   xviii   com   a   sistematização   das   grandes 
colecções de crânios sob a designação de craniologia (craniometria): o exemplo clássico neste 
domínio foi dado por Blumenbach, com a sua grande série de crânios de diferentes raças, hoje 
recolhida em Gi5ttingen. Pouco depois foram ­também os processos métricos tornados extensivos às 
outras partes do esqueleto e ao corpo dos seres vivos: assim nasceu a osteometría (referente à 
medida dos ossos) e a somatometria (relativa às medidas do corpo do ser vivo. Por antropo­

Fig.   72.   Os   mais   importantes   pontos   craniométricos   (técnica   de   Martin).   A   esQuerda   em   norma 
lateral: 1. Prostion; 2. Nasospinale; 3. Orbítale; 4. Ectoconchion; 5. Lacrimale; 6. Dacryon;
7, MaxílIo­frontale; 8. Nasion: 9. Glabella; 10. Frontotemporale;
11. Bregma; 12. Euryon; 13. Lambda; 14. Opisthocranion;
15. Inion; 16. Porion; 17. Zygion; 18. Gonion; 19. Gnathion;
20. Progonion; 21. Infradentale. Ao centro, norma frontal:
22. Coronale. À direita, norma basal: 23. StaT)hilion; 24, Orale;

25. Basion; 26. Opistion

metria compreende­se hoje portanto a ciência que se ocupa das mensurações do corpo humano em 
geral.   Nas   investigações   craniológicas   vigora   um   grande   número   de   pontos   de   referência 
craniométricos   de   diferente   importância,   mas   não   de   uso   generalizado   em   trabalhos   de 
investigação   internacionais.   Indicamos   a   seguir   uma   série   de   pontos   cram     .ométricos   e   dos 
principais pontos anatómicos do corpo

345
Métodos da antropologia

humano que pelo menos, mas não sempre, se podem fixar com segurança (números segundo Martin, 
1928).

a)   Pontos   craniométricos   utilizados   nas   medidas   do   comprimento   do   crânio   (cf.   Fig.   72).   (9) 
Glabela:   o   ponto   mais   proeminente   entre   os   dois   relevos   da   arcada   supraciliar;   (11)   bregma: 
ponto do cruzamento da sutura sagital e coronal; (15) inion.­ ponto de intersecção das linhas 
nucais   superiores   (delimitação   superior   da   ligação   dos   músculos   cervicais)   com   os   sagitais 
médios   (nem   sempre   fácil   de   determinar);   (14)   opisthocraníon:   o   ponto   médio   do   crânio   mais 
proeminente na sua parte posterior; (25) basion: ponto de intersecção do limite anterior do foro 
occipital   com   a   linha   média;   (8)   nasion:   ponto   de   cruzamento   da   sutura   naso­frontal   com   a 
internasal; (1): prostion: o ponto mais baixo da orla alveolar do maxilar superior, entre os 
incisivos médios; (19): gnation: o ponto médio mais baixo do bordo inferior da mandíbula.

b) Pontos craniométricos utilizados na medição da largura do crânio: (12) eurion: o ponto de 
crânio lateralmente mais proeminente; (22) coronale: o ponto situado mais lateralmente sobre a 
sutura coronal; (10) frontotemporale: o ponto correspondente à máxima reentrância da curvatura 
da   fronte   (sobre   a   linha   temporal   do   frontal);   (17)   zygion:   o   ponto   correspondente   à   máxima 
proeminência  lateral  das  arcadas  zigomáticas;  (16)  porion:  o  ponto  médio  da  orla  superior  do 
meado auditivo externo; (18) gonion: o ponto virtual posto à intersecção da tangente posterior à 
parte montante com a tangente inferior ao corpo da mandíbula.

c)   Outras importantes medidas craniométricas: Comprimento máximo do crânio (diâmetro ântero­
posterior):   glabela­opistocrânio;   largura   máxima   do   crânio   (diâmetro   transversal):   eurion­
eurion;   máxima   largura   frontal:   coronale­coronale;   mínima   largura   ­frontal:   frontotemporale­
frontotemporale;   diâmetro   bizigomático;   zygion­zygion;   comprimento   da   base   craniana:   nasion­
basion;   comprimento   da   face:   basion­prostion;   altura   da   face:   nasion­gnation;   altura   facial 
superior:   nasion­prostion.   Arcos   e   contornos   (medidos   com   fita   métrica:   contorno   horizontal, 
medida passando pela glabela e pelo opistocrânio; arco

346
Métodos da antropologia

Fig. 73. Principais pontos antropométricos do ser vivo (segundo a téc­

nica de Martin):

1) Vértex
2) Trichion.
3) Glabella
4) Nasion
5) Tragion
6) Alare
7) Subnasale
8) Prosthion
9) Stomion
10) Gnathion
11) Suprasternale
12) Mesosternale
13) Thelion
14) Omphalion
15) Iliocristale (anterior)
16) Iliospinale (anterior)
17) Symphysion
18) Acropodion
19) Pterion
20) Sphyrion,
21) Tibiale
22 )Dactylion
23) Phalangion
24) Stylion
25) Radiale
26 )Acromion
27) Cervicale
28) Inion.
29 )Zigion
30) Opisthocranium
31) Euryon
32) Subaurale
33) Praeaurale
34) Postaurale
35) Superaurale

347
Métodos da antropologia

transversal de porion a porion; arco sagital, medida passando pelo nasion, bregina, lambda e 
opistion.

O   traçado   dos   contornos   do   crânio   (Sarasin)   obtido   por   meio   de   instrumentos   especiais 
(diágrafos) permite, entre outras coisas, a determinação de ângulos cuja medição não é possível 
fazer directamente no objecto do estudo.  Os pontos cefalométricos, isto é, sobre o ser vivo, 
correspondem   aos   pontos   craniométricos   (cf.   Fig.   73).   Quanto   aos   pontos   osteométricos   e   à 
sornatometria ou o estudo antropométrico feito sobre os seres vivos, estão indicados na Fig. 73.

Nos achados fósseis aparecem frequentemente fragmentos mais ou menos incompletos. Conforme o seu 
estado de conservação, designa­se então, segundo R. Martin: «cranium» (quando é acompanhado da 
mandíbula),   «calvarium»   (quando   falta   a   mandíbula),   «calvaria»   (quando,   alé   m   da   mandíbula, 
falta   também   a   porção   facial),   «calva»,   ou   «calotte»   (quando   se   conserva   sómente   a   parte 
superior do crânio). Todas as medidas e os outros dados relativos à pessoa (ou ao achado), como 
idade, sexo, dentadura, peso, etc., são cuidadosamente registados. As medidas dependeiri, no seu 
valor absoluto, das dimensões individuais, que têm limites de variabilidade assaz amplos. Por 
isso   as,   medidas   absolutas   são   relacionadas   duas   a   duas,   sendo   a   mais   pequena   expressa   em 
percentagem da maior. A partir de Retzius (1842) que se utilizam neste caso índices. As tabelas 
de   índices   (Fürst,   01brich)   permitem   encontrar   com   facilidade   o   índice   procurado.   Foram 
elaborados também processos para relacionar mais índices. Os índices, corno se disse, exprimem 
uma relação e valem independentemente de grandezas absolutas.

Exemplos de índices antropométricos: Índice craniano (cefálico) horizontal

largura máxima do crânio X 100

comprimento máximo do crânio Distingue­se: a) Crânio de             X a 74,9 dolicocrânio (crânio 
comprido)

75,O    79,9 mesocrânio (crânio médio)
80,O    X      braquicrânio (crânio curto)

348
Métodos da antropologia

e correspondentemente: b) Cabeça (ser vivo):

Mulher

de   X a 76,9

77,O   81,9
82,O X

de

Homem

X a 75,9

76,O
81,O

80,9 X

dcvlicocéfalo mesocéfalo braquicéfalo

indíce faciaLI (total) =

altura facial X 100

largura bizigomática

Distinguem­se:

a) Crânio: de

X a 84,9 cameprósopo (face curta)
85,O   89,9 mesoprósopo (face média)
90,O   X     leptoprósopo, (face comprida)

b) Cabeça (ser vivo):

Mulher

de X a 80,9

81,O  84,9
85,O X

Homem

de   X a 83,9 carneprósopo
84,O    87,9 mesoprósopo,
88,O   X     leptoprósopo
Os índices são também determinados por medidas osteométricas e somatométricas.

As mensurações do crânio e da cabeça são efectuadas segundo um determinado plano de orientação, 
que permite estabelecer compensações. A posição mais geralmente usada é a já chamada «plano de 
Frankfurt, ou plano horizontal (acordo de Frankfurt, 1884). Este plano é determinado por um c 
outro porion e pelo ponto mais baixo da orla inferior da cavidade orbital esquerda (orbitale, 
Fig. 72, 3). Para traçar a curva (ou contorno eraniano) do sistema de Sarasin e outras curvas 
foram empregados instrumentos, em parte também muito complicados (cranióferos) para permitir a 
orientação   do   crânio   em   quaisquer   planos   do   espaço.   Aparelhagem   especial   é   utilizada   para   a 
medição de ângulos e de ângulos de torção. Tudo isto s=c

«mutatis. mutandis» não só para as medições do esqueleto

349
Métodos da antropologia

mas também para as medições somatométricas. Isto é suficiente para dar uma ideia das técnicas 
antropométricas. Para obter os diversos tipos de medidas foi inventada uma série de instrumentos 
especiais, dos quais os três mais importantes são: 1) o compasso de hastes direitas (Fig. 74), 
constituído por uma haste calibrada sobre a qual desliza outra haste proporcionando a obtenção 
de medidas muito

exactas, com escala de nónio; 2) o calibrador de hastes curvas, ou compasso de espessuras (Fig. 
75), usado sobretudo para me­ dições de distâncias entre pontos fixados préviamente, ainda que 
anatómicamente bem localizados, por exemplo, para a determinação do comprimento máximo do crânio 
(glabela­opistocrânio), ou da máxima largura (eurion­eurion). O compasso de hastes direitas é 
usado, pelo contrário, para ponFig. 74. Compasso de hastes di­   tos fàcilmente determiná­

reitas (de Martin)          veis anatómicamente (por

exemplo,   as   intercessões   das   suturas).   Para   as   medições   do   corpo   é   usado   3)   o   antropómetro, 


instrumento com o qual se pode medir o corpo no seu conjunto; uma redução em escala permite 
também usá­lo para medições do crânio e da cabeça (por exemplo, o tamanho das orelhas), para 
determinar   o   diâmetro   transversal   do   corpo   e   segmentos   dos   membros.   Ao   compasso   de   hastes 
direitas pode adaptar­se um goniómetro, cujo índice, accionado pela força da gravidade, permite 
ler os

valores angulares sobre um arco de círculo graduado. Lembramos a este propósito as exaustivas 
descrições das técnicas antropométricas da obra de Martin, v. Eickstedt e Mollison. Como já foi 
observado, o processo métrico­quantitativo não permite ainda conhecer a forma prbpriamente dita 
do ­crânio, de parte do crânio ou do esqueleto e das

350
Métodos da antropologia

suas partes (ou da cabeça e do corpo do ser vivo) submetidos a medições. Para esse efeito, e a 
fim   de   proceder   a   comparações,   foram   elaboradas   normas   csqueméticas   especiais   que   permitem 
inserir no esquema específico propositadamente organizado determinadas curvas do crânio (curvas 
horizontais,   transversais,   etc.),   contornos   faciais,   forma   do   rariz   e   da   abertura   nasal 
(abertura   piriforme),   o   desenvolvimento   da   espinha   do   nariz,   do   osso   nasal,   etc.,   permitindo 
desse modo fixar a morfologia. Outras determinações essenciais respeitam, por exemplo, ao peso 
específico dos ossos e à capacidade do crânio.

A estas determinações morfológicas e métricas também em parte deve acrescentar­se a observação 
de   algumas   características   fisiológicas.   Para   esse   efeito   existe   uma   aparelhagem   especial   de 
natureza   quantitativa   (dinamómetros,   instrumentos   para   a   observação   da   respiração,   etc.).   Há 
além disso processos especiais para os grupos sanguíneos e escalas e tabelas normativas para, 
por exemplo, a cor da pele, dos olhos, e a cor e forma dos cabelos. Por fim determina­se o tipo 
constitucional   (­­>   Constituição)   e,   a   partir   daqui,   o   campo   de   trabalho   da   antropologia 
alonga­se até à psicologia, medicina e etnologia e alcança assim os seus limites metodológicos. 
Fig. 75. Calibrador de hastes

Nenhum pormenor                            curvas (de Martin) quantitativo ou qualificativo pode ser  
considerado         isoladamente, mas sempre no quadro do conjunto das restantes características. 
Deste modo é possível relevar correlações, isto é, notar quando duas ou mais características 
surgem ligadas    ‘: por exemplo, na chamada «compleição clara» verifica­se: pele clara, olhos 
azuis, cabelos louros. A importância da fotografia (e hoje também da fotografia a cores) para a 
morfologia não será preciso ser salientada. Também é válido o princípio de que para que seja 
possível   uma   valorização   antropológica   exacta,   os   indivíduos,   os   ossos   ou   partes   dos   ossos 
fotografados devem ser apresentados numa orientação exacta da cabeça

351
Métodos da antropologia

e do corpo, pois que não sendo assim a comparação não será possível.

Aqui o campo da antropologia contacta com o da genética humana, e, quando estas investigações 
possam vir a ser aplicadas aos processos evolutivos e à distribuição dos caracteres ou da sua 
base genética, com o sector da

genética   das   populações­.   Por   fim,   o   material   obtido   com   o   emprego   de   todos   estes   métodos 
necessita naturalmente ainda de ser submetido a uma ordem estatística, que permita esclarecer a 
variabilidade, a difusão e a estrutura duma população. A elaboração estatística dos elementos 
observados permite determinar se as diferenças que se encontram entre os indivíduos ou os grupos 
devem ser consideradas significativas, isto é , se tais diferenças têm base genética e se, por 
consequencia,   podem   ser   interpretadas   como   um   carácter   do   grupo.   A   estatística,   através   da 
análise exacta das correlações, proporciona­nos também preciosas informações sobre a situação 
genética. A estatística das correlações revela (segundo v. Eickstedt) quais as relações íntimas 
em que se encontram as diversas partes do corpo durante o cres­

cimento, indica as diferenças de proporções nos dois sexos, nas diversas raças, nos vários povos 
e nas diferentes tonstituições e, finalmente, mostra também as relações dos grupos biológicos 
entre si. Os processos estatísticos em geral c da análise das correlações em especial não podem 
ser

aqui tratados, devendo os interessados dirigir­se a Martin, v. Eickstedt e KoIler. Os processos 
estatísticos, assim como a antropometria, levaram ao extremo o uso do método matemático. Mas 
mesmo este é, em última análise, o método exacto que permite reconhecer diferenças e semelhanças 
de   grupos   na   sua   unidade,   quer   sejam   pequenos   quer   grandes   (­­­>   Conceito   de   raça).   A 
representação geográfica dos processos estatísticos permite obter um quadro da distribuição dos 
vários caracteres hereditários e das suas combinações em toda a superfície terrestre; obtém­se 
deste modo um mapa bastante preciso da distribuição das raças e, em casos bem conhecidos, como, 
por   exemplo,   para   os   factores   serológicos,   podem   determinar­se   geogràficamerite   também   as 
variações quantitativas no tempo e chegar a

conclusões sobre mutações seculares na constituição gené­

352
A origem do homem

tica   da   humanidade   e   dos   seus   grupos:   mas   aqui   começam   os   sectores   da   ­>   genética   das 
populações­ e da ­­> história das raças.

Só tendo presentes todos os resultados obtidos com os métodos de que se dispõe e trabalhando­os 
comparativamente a antropologia se aproxima do seu objectivo, que é o de reconstruir uma imagem 
completa do homem e da sua natureza na variedade das suas manifestações.

A origem do homem ­­ A teoria geral da evolução, ou teoria da descendência, pretende explicar a 
transformação das espécies e dos organismos no decurso da história da Terra.

Este   processo   evolutivo  teve  início  com   a  passagem  da   matéria   inerte  a   matéria  viva  na   qual 
estados   inorgânico­químicos   se   transformaram   em   estados   orgânico­químicos,   que   adquiriram   a 
possibilidade de auto­reprodução. Com esta faculdade de autoduplicação começou a primeira fase 
da vida; depois, por progressivas complicações, forinaram­se organismos típicos, cuja posterior 
organização   conduziu   ao   actual   mundo   vivo.   Os   hominídeos,   como   é   natural,   inserem­se   neste 
processo   evolutivo.   Constituem   uma   linha   históríco­evolutiva   própria,   a   partir   de   uma   base 
ancestral   não­hominídea.   A   teoria   da   evolução   tem   por   objectivo   apresentar   provas   da 
transformação   evolutiva   dos   organismos   e   nesta   base:   1)   esclarecer   o   decurso   histórico   da 
evolução,   tanto   no   conjunto   como   nos   seus   aspectos   particulares,   nomeadamente   nas   linhas 
históricas em que esta evolução se processa, e 2) estabelecer e analisar as causas que estão na 
origem destes processos evolutivos.

Após algumas tentativas infrutíferas para demonstrar a teoria da evolução e de a tomar plausível 
aos olhos dos contemporâneos (Lamarck, «Philosophie Zoologique»,
1809), a doutrina foi cientificamente fundamentada há precisamente um século. Em 24 de Novembro 
de 1859 foi publicada a obra clássica de Charles Darwin (1809­82), «On the Origin of Species by 
Means of Natural Selection», ou «The Preservation of Favoured Races in the StruggIe for Life» 
(«A Origem das Espécies pela Selecção Natural», ou «A Conservação das Raças Favorecidas na Luta 
pela Existência»). A obra não só estabeleceu definitivamente ser um facto a transformação das 
espécies, como deu uma

353
A origem do homem

explicação   causal   da   evolução   orgânica   que,   desde   o   seu   aparecimento,   impôs   a   concepção 
genético­dinâmica do ser vivo (muitas vezes porém com violentas controvérsias e alguns reveses) 
em oposição à concepção estática, que até ali dominara. O conceito de fixidez dos organismos foi 
substituído   pela   concepção   dinâmico­histórica.   As   conse@   quencias   para   a   espécie   humana   logo 
extraídas da obra de Darwin foram tão evidentes que pouco depois do aparecimento de «A Origem 
das Espécies» se procurou a prova da origem dos hominídeos, cujos antepassados ­segundo declarou 
Emest Haeckel pela primeira vez na célebre reunião dos naturalistas e médicos alemães que se 
realizou em Stettin, em 1963 ­ deviam situar­se entre os mamíferos simiescos do Terciário. No 
mesmo ano apareceu também o trabalho clássico de Huxley intitulado «Evidence as to Man's Place 
in Nature». («A Posição do Homem na Natureza). O próprio Darwin só em 1871 se referiu (2 aed., 
em   1874)   a   este   problema   na   sua   obra   monu   mental   sobre   a   origem   do   homem   feita   com   grande 
cuidado   e   apoiando­se   em   rica   documentação.   A   partir   da   obra   de   Darwin   e   dos   trabalhos   de 
HuxIey,   Haeckel   e   outros,   já   não   havia   motivo   para   se   considerar   a   origem   do   homem   como   um 
problema   fundamentalmente   insolúvel.   Pelo   contrário:   estava   bàsicamente   resolvido!   Os 
hominídeos,   como   disse   Darwin,   derivam   de   formas   arcaicas   (ancient   membm),   dos   símios 
antropomorfos. Claro que há grande número de questões por resolver no que respeita a aspectos 
particulares   da   evolução   humana,   se   bem   que   os   elementos   para   se   traçar   a   filogenia   dos 
hominídeos

cada   vez   com   mais   clareza.   Com   as   investigações   surjam.   actuais   há   muitos   problemas   que   se 
tomaram acessíveis a uma  discussão mais exacta.

Vejamos agora quaís são as provas que possuímos para demonstrar a teoria geral da evolução, que 
é   fundamentalmente   uma   teoria   histórica,   cujos   testemunhos   não   se   podem   portanto   sujeitar   a 
prova experimental. O método a seguir é indirecto e de base indutiva. Hoje, porém, no âmbito dos 
estudos sobre a evolução, desenvolveu­se, em conexão com a genética experimental, um novo sector 
de   investigação.   Trata­se   da   filogenia   experimental,   ou   filogenia   evolutiva,   que   estuda   com 
métodos rigorosos as transformações dos

354
A origem do homem

organismos   actualmente   em   curso   c   as   analisa   experimentalmente.   Os   resultados   referentes   às 


causas   das   transformações   operadas   (que   se   admite   rcalizarem­se   pela   selecção   natural 
darwiniana)   são   depois   cxtrapolados   para   o   passado.   As   investigações   sobre   os   fósseis 
proporcionam documentos acerca das transformações do passado, assim como as modalidadcs segundo 
as   quais   essas   transformações   se   operam,   mas   nãc>   dão   informações   directas   sobre   as   causas 
fundamentais   que   lhe   estão   na   origem.   A   extrapolação   das   causas   actuais   para   o   passado   é 
metodológicamente admissível e pode ser apoiada por diferentes maneiras. Podemos mencionar, por 
exemplo,   os   trilobitas,   artrópodes   com   o   corpo   formado   por   três   lóbulos,   aparentados   com   os 
aracnideos,   que   viveram,   durante   o   Câmbrico,   há   500   milhões   de   anos.   Estes   organismos   eram 
compostos de células e essas células tinham núcleos que continham cromossomas, e nestes residiam 
as   diversas   informações   genéticas   contidas   nos   genes,   que   são   complexos   nucleoproteicos 
(proteína + ácido deoxiribonucleico ou ADN). Os trilobitas nunca se apresentavam isolados, mas 
sim em populações mais ou menos numerosas. Isto é válido para todos os organismos de todas as 
épocas,   mesmo  desde   o  início   da  vida   (transição  abiótica­biótica),   há  3   biliões  de   anos.  De 
qualquer forma, as células, que são sistemas orgânicos já altamente complexos, existiam há 2 
biliões   de   anos,   e   a   moderna   genética   evolutiva   estuda,   com   os   seus   métodos   experimentais   e 
estatísticos as transformações que ocorrem nas informações genéticas dos cromossomas e nas suas 
populações. Não há motivos para supor que no passado o mecanismo que  preside à evolução dos 
organismos tenha obedecido a leis diversas das que actuam no presente.

Houve biólogos que atacaram a teoria da evolução feita por mutações e pela selecção natural com 
o argumento de que um processo tão acidental nunca poderia ter produzido estruturas funcionais 
complexas   cujas   partes   individuais   não   podem   funcionar   independentemente,   como,   por   exemplo, 
acontece com os olhos dos vertebrados. A explicação deste aparente parodoxo é que os olhos de 
todos os vertebrados representam os produtos finais de um longo processo evolutivo iniciado há 
muito com a origem dos

355
A origem do homem

vertebrados, órgão@s que são virtualmente idênticos em todos os primatas.

Todos estes problemas têm naturalmente, em última análise, o seu fundamento na demonstração de 
que a evo­

lução é um facto incontroverso. Esta demonstração, porém, só se tomou irrefutável a partir de 
Darwin. Este facultou­a mediante observações feitas durante a sua viagem à volta do mundo, de 
1831 a 1836. Tais observações foram confirmadas pelo abundante material colhido posteriormente. 
Darwin. notou semelhanças entre mamíferos fósseis actualmente existentes na América do Sul, a 
difusão   vica?@ante   de   algumas   espécies   de   roedores   da   América   Meridional   geogràficamente 
confinantes e, observação decisiva, a transformação em espécies e raças distintas (tentilhões de 
Darwin)  de  aniniais emigrados  do continente americano  para  grupos  de ilhas  vulcânicas (ilhas 
Galápagos).

Hoje   possuímos   provas   absolutamente   concludentes   da   evolução   das   espécies   através   do   tempo. 
Noutros termos: na sobreposição das formaçõ es geológicas observa­se uma

sucessão de tipos afins nos quais (com algumas excepções) se verifica uma organização sempre 
crescente   (anagénese,   no   sentido   de   B.   Rensch).   De   qualquer   forma   a   biologia   baseia­se   ri(> 
antigo princípio de Harvey: «Omne vivum
* vivo» (Todos os seres vivos nascem de outros seres vivos)
* não se admite nem a imutabilidade nem a criação. Nesta última acreditava naturalmente o jovem 
Darwin antes que as observações que abundantemente coligiu no decurso da sua viagem à volta do 
mundo o tomassem paladino de uma concepção evolucionista da natureza.

Dada a continuidade ininterrupta da vida no nosso planeta, a sucessão de diferentes formas e 
estruturas pressupõe uma evolução geral dos seres vivos. O progresso gradual dos seres vivos e a 
ordem estrutural dos sistemas orgânicos constituem ulterior confinnação da evolução dos sistemas 
orgânicos. Por que     razão existe esta ordem, esta complicação progressiva dos     organismos? 
Porque   não   do­mina   qualquer   outra   espécie       de   ordem,   ou   mesmo   o   caos?   Assim,   a   teoria   da 
criação especial foi substituída pela realidade concreta da transformação das espécies noutras 
espécies. f Uma das provas mais decisivas a favor do transformismo é aquilo a que se pode chamar 
correlação estru­

356
A origem do homem

tura­tempo,   isto   é,   o   escalonamento   temporal   no   aparecimento   dos   grupos   de   animais   em 


correspondência com o seu grau de complicação estrutural, em que cada fase vem carregada de mais 
passado, expresso pela integração de novas aquisições e complexidades em estruturas anteriores. 
Existe assim uma concordância entre a época em que surge um grupo e o lugar que lhe confere a 
sua organização. Por exemplo, os peixes mais prirílitivos surgem antes dos mais evolucionados; 
os batráquios vêm a seguir aos peixes; os

répteis depois dos batráquios e finalmente as aves e os mamíferos são posteriores, no tempo, aos 
répteis. Esta concordância é válida naturalmente também no seio dos grandes grupos. Assim, por 
exemplo, as aves típicas são posteriores, no tempo, à «arqueopterix», que tinha mais caracteres 
reptilianos do que as aves mais modernas.T

Além   desta   demonstração   de   base   existem   presentemente   abundantes   provas   «complementares» 


(Tschulok,
1923). A morfologia comparada, com o estudo das homologias (Remane, 1952), constitui importante 
contribuição neste campo. Demonstra que há órgãos de estrutura bàsicamente semelhante (por vezes 
porém com uma conformação notàvelinente diferente) que têm origem histórica comum. Os defensores 
de um método hoje chamado «idealistico» pensavam que a afinidade de formas fosse compreendida só 
no   sentido   conceptual   e   não   implicasse   verdadeiramente   uma   origem   comum.   A   morfologia 
idealística   analisou   muitas   estruturas   e   pôs   em   evidência   diversos   problemas   morfogenéticos. 
Esta   disciplina   tem   um   importante   valor   eurístico,   mas   a   sua   atitude   impediu­a   sempre   de 
reconhecer a realidade; é essencialmente uma concepção anistórica, «platónica», que não fornece 
qualquer  explicação  concreta. Todavia  proporcionou  algumas ideias  fecundas,  bastante  úteis  ao 
estudo causal dos processos evolutivos. Os chamados órgãos rudimentares ­ as séries evolutivas 
que mostram um progressivo encurtamento das extremidades, como, é o caso de certos lagartos, os 
vestígios dos membros nos ofídios, os rudimentos da pelve nas vacas­marinhas (mamíferos da ordem 
dos siréneos), os dentes rudimentares de certas baleias ­ são testemunhos que provam a reali­

357
A origem do homem

dade do processo evolutivo, que se exprime através de uma inacreditável variedade de formas. Os 
ofídios derivam de répteis tetrápodes, as vacas­marinhas de ungulados tetrápodes, as baleias sem 
dentes de antepassados com dentes que se adaptaram secundàriamente à vida aquática. De todos 
estes   casos   existem   documentos   fósseis.   As   transformações   que   acompanham   o   desenvolvimento 
embrionário   não   seriam   compreensíveis   sem   estes   processos   evolutivos   históricos.   Aqui   reside 
também a base da chamada «lei biogenética fundamental», formulada por Haeckel (1866), embora ele 
enunciasse   as   relações   sob   a   forma   de   um   slogan,   de   resto   responsável   por   diversas 
interpretações   erróneas:   «A   Gritogénese   é   uma   recapitulação   abreviada   e   muitas   vezes 
secundàriamente   alterada   da   filogénese.   A   estrutura   do   tipo   ancestral   é   na   essência 
recapitulada,   mas   na   grande   maioria   dos   casos   a   repetição   atinge   apenas   os   alicerces 
embrionários desta estrutura. @A filogenia nã o é, porém, de modo algum, causa da ontogenia. Não 
é porque uma

espécie tem um longo passado filogenético, que ela tem uma

complicada   vida   embrionária,   que   ela   é   como   que   o   resumo   da   longa   sequência   dos   seus 
antepassados.  A  filogenia  é  uma  sucessão  de  ontogenias  que  evolucionaram  pelo  jogo  mutações­
selecção natural e que perrnitiu, em cada espécie formada, a sua sobrevivência num dado tipo de 
ambiente num compromisso constante, afinal, entre processos herdados e repetidos e outros novos, 
que possibilitam a adaptação. É a esta conclusão que nos conduzem os resultados da embriología 
comparada e experimental, da genética e

da ecologia.ly

A   fisiologia,     a   psicologia,   a   análise   do   comportamento,   a   biogeografia,       o   estudo   dos 


documentos fósseis e tantos outros aspectos da investigação biológica, que dia a dia adquirem 
maior importância, destinar­se­iam a permanecer letra morta se       não fossem submetidos a uma 
indagação   hístórico­evolutiva   e   não   fossem   ligados   às   formas   e   aos   estados   ancestrais.   Os 
organismos vivos são em tudo e por tudo «seres viventes históricos!»

Hoje a teoria da evolução é aceite pela biologia e pela antropologia como teoria perfeitamente 
demonstrada e tra­

358
A origem do homem

balha­se com ela, nas bases já indicadas, em duas direcções:

Filogenia (História evolutiva) Filogenia histórica              Filogenia experimental Procura 
pôr em evidência            Investiga a causalidade os processos filogenéticos            da 
filogénese actual

histórico­evolutivos

A   filogenia   experimental   obtém   os   seus   resultados   com   métodos   exactos,   indutivos.   Estes 
resultados   são   então   extrapolados   para   a   filogenia   deduzida   pelos   métodos   comparativos.   Este 
facto pode à primeira vista parecer arbitrárío, visto que ele intervém   na causalidade desta 
filogénese   valendo­se   simplesmente   de   métodos   comparativos,   mas   ele   conhece   pelo   menos   a 
tessitura   das   causas   que   orientam   a   filogenia   moderna.   A   sua   intervenção   é   legítima   se 
admitirmos como certo o princípio de Harvey ­ de resto nada há que o contradiga ­ e a identidade 
fundamental dos processos biológicos que caracterizam a vida desde as suas origens.

A FILOGENIA HISTõRICA. Uma dada filogenia ou história evolutiva é tanto mais segura quanto mais 
completo é o material fóssil no qual se baseia essa construção histórico­evolutiva. Por vezes 
esse   material   é   insuficiente.   De   alguns   grupos   de   animais   ainda   se   desconhece   a   posição 
filogenética. Mas a palcontologia de Cuvier (1769­1832), de Darwin, na segunda metade do século 
xix,   mas   sobretudo   a   do   século   actual,   experimentou   progressos   enormes   e   altamente 
significativos.   Destes   resultados   pode­se   deduzir   uma   conclusão   geral   que   será   provàvelmente 
válida   para   o   futuro:   que   o   processo   geral   da   filogenia   histórica   dos   organismos   não   é 
bàsicamente   diferente   do   mecanismo,   actual   da   evolução   tal   como   é   postulado   pela   filogenia 
experimental,   não   havendo   portanto   necessidade   de   sugerir   a   existência   de   outros   mecanismos 
agora desconhecidos.

Anteriormente   era   hábito   chamar­se   a   atenção   para   a   falta   de   «formas   intermédias»   ou   de 
«transição»   em   muitos   pontos   das   séries   paleontológicas:   quem   não   ouviu   falar   no   «elo   de 
ligação» na filogenia dos hominídeos? Havia a

359
A origem do homem

crença geral de não existirem formas intermédias entre os grupos zoológicos superiores. Superou­
se esta objecção não procurando intensamente estas formas intermédias, mas postulando «saltos», 
isto é, mutações macrofiléticas, produzindo de maneira descontínua novos tipos de organização 
sem passarem por formas de transição. Supondo uma ininterrupta continuidade estratigráfica, a 
frequente   falta   de   formas   interinédias   era   explicada   com   a   hipótese   dos   «saltos»   evolutivos 
entre  as diversas formas  de organização.  @ O  argumento  de falta  de fonnas  de transição  é de 
pouco   ou   nenhum   valor.   Em   primeiro   lugar   porque   há   de   facto   numerosos   documentos   de   «formas 
intermediárias»   justamente   naquele   material   que   pelas   suas   boas   condições   de   preservação   nas 
rochas é de esperar que ofereça esses estádios. Conhecem­se, com efeito, espécies «compósitas» 
entre todas as classes de vertebrados, e nos invertebrados há também alguns documentos dessa 
ordem. Por outro lado a inexistência de formas de «transição» não é um argumento convincente 
dado o seu carácter negativo, qu@_@ depende de numerosos factores. Por exemplo, o aparecimento 
de   novas   estruturas   orgânicas   com   grande   valor   adaptativo,   processou­se   em   muitos   casos, 
provàvelmente   com   grande   rapidez,   em   populações   fortemente   localizadas,   o   que   diminuiu   as 
probabilidades de boa fossilização. Mencionemos, por exemplo, a passagem da barbatana primitiva 
para   membro   pentadáctilo,   do   membro   anterior   reptiliano   para   asa   de   ave,   ou   da   pata   do 
insectívoro primitivo para asa de morcego.@

Com   as   actuais   investigações   estratigráficas   revela­se   cada   vez   mais   claramente   que   esta 
continuidade não existe e que há perturbações nos estratos que poderiam ter contido as pontes de 
passagem entre formas a cuja separação fossem imputados os pressupostos «saltos». Porém nem a 
falta   de   formas   intermédias   nem   a   ausência   de   camadas   estratigráficas   entre   os   vários   tipos 
fósseis   constituem   provas   concludentes.   A   existê   ncia   real   de   uma   passagem   gradual   entre   os 
grupos   ou   espécies   é   confirmada   cada   vez   mais   pela   crescente   colheita   de   material   fóssil 
(Simpson,
1952; Heberer, 1943, 1959). Continuaremos a acumular cada vez mais conhecimentos e tornar­se­á 
portanto mais evidente que o curso da evolução é caracterizado não por

360
A origem do homem

bruscas transformações mas sim por um complexo de micromutações. Sir Julian HuxIey exprimiu este 
pensamento de maneira mais rigorosa. « A evolução não se apresenta sob a forma de uma escada que 
se dirige para as alturas, mas na de um plano inclinado. A hipótese de a evolução se processar 
por intermédio de mutações de grande amplitude revela­se cada vez mais uma especulação errónea, 
que carece de qualquer fundamento, além de ser refutável do ponto de vista genético. já antes se 
dava   relevo,   mas   apenas   como   modelos   ancestrais,   às   raras   formas   intermediárias,   que 
representavam   verdadeiras   pontes   de   passagem   gencalógicas   (Ichthyostega,   Archaepteryx, 
Oligokyphus,   etc.   E   para   a   filogenia   dos   primatas:   procônsules,   oreopitecídeos, 
australopitecídeos). A paleontologia mostrou que existem determinadas constantes no decurso das 
transformações   filogenéticas,   entre   as   quais   a   existência   de   séries   progressivas 
cronológicamente   ordenadas­por   exemplo,   a   evolução   do   cavalo   a   partir   de   formas   de   pequena 
estatura até às de grande estatura, dos tetradáctilos (quatro dedos) aos monodáctilos (um só 
dedo),   desde   um   tipo   primitivo   de   dentadura   até   à   hipsodontia,   etc.   E,   nos   hominídeos, 
especialmente   pôs   em   evidência   a   progressiva   cefalização.   Quis­se   ver   nesta   «   direcção 
evolutiva» a acção de factores autogenéticos com a função de dirigir a evolução para determinado 
objectivo,   processo   que   se   designou   por   ortogénese.   Mas   também   aqui   a   genética   evolutiva 
demonstrou, em conexão com a recolha de materiais fósseis operada pela paleontologia, que tais 
factores teleológicos não são necessários para produzir o fenómeno da ortogénese (tomada esta no 
sentido   descritivo).   Parece   hoje   mais   próprio   abandonar   o   emprego   da   palavra   ortogénese, 
carregada   de   implicações   teóricas,   e   substituí­la   pelo   terino   «tendência»,   conforme   sugeriu 
Heberer   (1956).   Darwin,   que   combateu   a   introdução   de   factores   finalísticos,   explicava   a 
adaptação como o resultado das simples acções causais, e é este, na realidade, um dos pontos 
importantes da teoria da selecção natural. Também, pelo que respeita à origem do homem, devemos 
refutar a existência de «saltos» evolutivos e de factores ortogenéticos como agentes no sentido 
teleológico (Heberer, 1958).

361
A origem do homem

FILOGENIA EXPERIMENTAL. Das consequências, que já indicámos, das investigações sobre a filogenia 
histórica resulta certa regularidade que conduz à anagénese, através de numerosas adaptações que 
no entanto não permitem qualquer asserção directa sobre a mecânica deste fenômeno. De facto o 
fenómeno da adaptação levou a especulações erróneas (carácter teleológico da evolução, factores 
ortogenéticos especiais, passagens com soluções de continuidade de tipo para tipo). A filogenia 
experimental sujeita à verificação os seus resultados, até onde lhe é possível, com o auxílio de 
material fóssil. Essencialmente, todavia, usa ou extrapola os conhecimentos obtidos através do 
estudo de organismos vivos, animais ou plantas, que podem revelar a causalidade dos fenômenos 
evolutivos   em   toda   a   filogenia.   As   experiências   produziram   resultados   de   importância 
extraordinária,   nomeadamente   que   não   existe   qualquer   ponto   de   apoio   para   a   muito   discutida 
hereditw@edade lamarckiana, a qual se pode resumir na tese de que as transformações somáticas 
ocorridas durante a vida do indivíduo podem ser transmitidas através das células germinais e 
reaparecer na sua descendência de maneira iTentica ou mesmo mais acentuada, embora as condições 
do   meio   ambiente   que   origináriamente   as   provocaram   já   não   se   façam   sentir.   Tal 
<ffiereditariedade   de   caracteres   adquiridos»   nunca   pôde   ser   demonstrada,   e   de   qualquer 
maneira,nenhuma função exerce na evolução dos organismos. Darwin, que não conhecia Mendel nem o 
mecanismo   da   transmissão   hereditária   e   que   nenhuma   noção   possuía   ainda   sobre   bases   físico­
químicas   da   variabilidade   dos   organismos,   acreditava   na   hereditariedade   dos   caracteres 
adquiridos. Hoje devemos colocar a «hereditariedade dos caracteres adquiridos» no mesmo plano 
dos factores autogenéticos (ortogénese, etc.).

A evolução resulta sobretudo das variações do património hereditário. Isto é naturalmente válido 
tanto para o homem como para os animais e as plantas. Tais variações hereditárias são chamadas 
mutações   (­­­>   Genética   humana),   um   termo   que   de   resto   já   foi   empregado   por   Darwin.   A 
mutabilidade   está   na   base   do   processo   evolutivo;   constitui   a   matéria­prima   da   evolução. 
Alterações de vária espécie podem seguir­se às mutações, mas só as de

362
A origem do homem

efeitos din­iinutos ou subtis é que não prejudicam o organismo em evolução.

Observou­se que as mutações de exígua amplitude, não os «saltos evolutivos» (as macromutações 
produzem efeitos drásticos), é que constituem o material utilizado na filogênese. Não obstante a 
limitadíssima frequência das mutações (em média 1 em 100 000) e apesar dos danos mais ou menos 
graves causados por muitas mutações, também há muitas mutações positivas. A evolução (a partir 
do   estádio   de   célula,   isto   é,   provàvelmente   há   3   biliões   de   anos)   é   bastante   longa   para 
fornecer, como os elementos pelos quais ela se realiza (ou seja, com as mutações positivas) o 
material   necessário   para   fazer   a   história   dos   organismos   tal   como   ela   se   nos   apresenta.   As 
mutações obedecem nos seus efeitos a determinadas limitações, mas isso não significa qualquer 
sujeição   a   objectivos   determinados.   Na   sua   maioria   não   são   adaptativas,   isto   é,   não   são 
orientadas para aperfeiçoar adaptações já existentes ou para produzir outras novas. A evolução 
caracteriza­se porém pela tendência para formar estados e organizações mais complexas e para o 
aperfeiçoamento das adaptações.

Darwin   já   era   substancialmente   consciente   deste   facto,   pela   sua   concepção   das   variações 
hereditárias (as actuais mutações) e por eliminar os factores teleológicos com a sua teoria da 
selecção natural, que favorecia a sobrevivência dos mais aptos. A proliferação excessiva ­ já 
sublinhada   por   Malthus   em   1798   ­   e   a   constância   média   da   densidade   populacional   (a   excepção 
constituída pela do homem é apenas aparente) têm como resultado a luta pela existência na qual 
estatisticamente os mais aptos têm, em qualquer situação, maiores probabilidades de sobreviver. 
A   selecção   ocupa   assim   o   seu   lugar   na   base   de   um   património   de   mutações   relativamente 
desordenado,   não   orientado   para   qualquer   objectivo.   Esta   tessitura   causal   dá   em   resultado   a 
lenta deslocação dos complexos dos caracteres das raças, das espécies, em geral dos «tipos». 
Esta lenta modificação acentua a própria adaptação. A transformação manifesta­se gradualmente, 
em correspondência com as mutações vitais possíveis, ou seja, mediante micromutações, se bem que 
com velocidade diversa, conforme os casos. São precisos em geral 200 000 a 500 000 anos para 
transformar uma

363
A origem do homem

espécie noutra. Isto é igualmente válido para os hominídeos, desde o Homo erectus até ao Homo 
sapiens (­> História das raças). A evidente direcção «progressiva» que se manifesta na evolução 
dos organismos e também nos grupos individuais é produzida «mecânicamente» pela selecçã o, a 
qual,   por   períodos   também   muito   longos,   pode   agir   num   determinado   sentido,   favorecendo   as 
mutações   que   venham   a  encontrar­se   estatisticamente  naquele   caminho,   dando  origem   a  seguir   à 
aparição de um processo ortogenético. Neste caso fala­se de orto­selecção. A paleontologia já há 
longo tempo pôde documentar este fenômeno com grande profusão de exemplos, e constantemente se 
recolhe novo material. A única diferença substancial é que antenormente o mecanismo da orto­
selecção não era compreendido no sentido causal. Em face desta esquemática ilustração das causas 
do processo evolutivo pensamos que Darwin «tinha razão» na sua teoria da selecção­mutação (v. 
Wettstein). Hoje pode considerar­se completamente justificado o autor da teoria da evolução, não 
obstante   as   objecç&s,   continuamente   repetidas   durante   decénios,   que   lhe   foram   levantadas, 
objecções que, além de infundadas, estavam sempre em contradição com os resultados positivos, e 
cada vez mais numerosos, da investigação científica (Heberer­Schwanitz, 1959).

A estas conclusões chegou sobretudo uma disciplina moderna, a ­> genética das populações, que 
ocupa hoje uma posição central no campo da genética e da evolução. Constitui um ramo de pesquisa 
fundado em métodos de investigação estatísticos e experimentais sobre a evolução. Com os seus 
métodos   matemáticos   penetra   profundamente   na   causalidade   dos   fenómenos   evGlutivos,   aos   quais 
está sujeito o património hereditário (mutabilidade, pressão das mutações, formação dos alelos, 
pressão   e   valor   da   selecção   natural,   combinação   de   genes   mediante   hibridação,   eliminação 
acidental   de   genes,   etc.).   Ao   mesmo   tempo   estuda   os   efeitos   de   tais   causalidades   sobre 
percentagem   dos   genes   e   alclos   nas   populações   e   portanto   a   transformação   dos   caracteres   e   a 
distribuição dos mutantes. já tivemos ocasião de dizer que também os trilobitas, como quaisquer 
outros   organismos   do   passado,   viviam   reunidos   em   populações   que   se   reconhecem   hoje   como 
constituindo as verdadeiras unidades da evo­

364
A origem do homem

lução. A dimensão destas populações está relacionada, entre outros aspectos, com a rapidez do 
processo   evolutivo.   Nas   pequenas   populações   o   processo   evolutivo   é   mais   rápido   do   que   nas 
grandes. As populações dos primeiros hominídeos devem ter tido dimensões muito reduzidas, cuja 
evolução deve ter sido relativamente rápida. Hoje pode con­

siderar­se bem fundamentada a hipótese de que os processos evolutivos que se realizavam no seio 
das   populações   não   se   diferenciam   daqueles   que   são   actualmente   analisados   na   genética   das 
populações (Dobzhansky). Em última análise, esta complexa estrutura causal está também na origem 
das   transformações   evolutivas   de   maior   amplitude   que   se   produziram   por   uma   síntese   gradual, 
selectivamente   equilibrada,   dos   respectivos   complexos   de   genes.   O   carácter   histórico   deste 
processo   implica   a   impossibilidade   de   observar   directamente   a   formação   de   tais   agregados   de 
genes.   Isto   explica   também   a   ausência   da   possibilidade   da   repetição   de   tais   agregados.   Os 
processos   elementares   podem   repetir­se,   nao   os   complexos.   Sobre   este   princípio   baseia­sc   a 
unicidade da história em geral­não só da história paleontológica dos vegetais e     dos animais 
mas também da do homem. Os organismos são estruturas de tão elevada complexidade que não poderão 
jamais  repetir­se. E  se houver  organismos num  outro planeta com  processos comparáveis  aos da 
Terra   é   extremamente   improvável   que   a   sua   filogenia   tenha   percorrido   o   mesmo   caminho,   e 
igualmente que no universo se possa portanto encontrar um «sósia»
­ do ponto de vista estrutural ­ do homem.

ORIGEM DO HOMEM. HISTõRIA. Quando tratámos dos aspectos gerais da evolução tivemos ocasião de 
aludir a uma filogenia humana. Partamos do ponto em que nos detivemos. Novamente diremos que 
Darwín «teve razão». De facto a história evolutiva do homem, a sua emergência do reino animal, a 
sucessiva diferenciação de um ramo de primatas superiores que depois conduziu ao homem actual 
«já não é uma hipótese, como há cerca de sessenta anos asseverava Emst Haeckel, «mas sim um 
facto».

Em primeiro lugar torna­se necessário apresentar um esquema prático da filogenia que conduziu ao 
homem após

365
A origem do homem

a sua separação da base ancestral, componente remoto do ramo dos antropóides.

A partir da separação dos seus antepassados não­hominídeos, os hominídeos formaram uma família 
distinta, no sentido da sistemática zoológica, e uma diferente linha histórico­evolutiva. Claro 
que   tanto   os   hominídeos   como   os   não­hominídeos   pertencem   aos   mamíferos   placentários;   o   tipo 
estrutural   dos   seus   cromossomas   (não   em   número)   corresponde   nitidamente   ao   dos   mamíferos 
placentários. É ocioso mencionar a grande quantidade de indícios e de provas circunstanciais que 
permitem ligar os hominídeos aos primatas e, dentro destes, aos catarríneos (­­> Sistemática dos 
primatas.)

Se não subsiste qualquer dúvida sobre a natureza catarrínica dos hominídeos, isto é, sobre a 
origem histórica dos catarríneos, é já mais difícil determinar em que ponto da filogénese se 
insere a linha evolutiva dos hominídeos. Isto implica ao mesmo tempo a dificuldade de definir 
qual   foi   o   primeiro   representante   do   grupo   dos   hominídeos.   O   estudo   formal   e   causal   das 
transformações que se verificaram na fase da separação dos hominídeos constitui o conteúdo da 
teoria evolucionista da origem do homem.

Tivemos   já   oportunidade   de   mencionar   o   facto   de   Darwin   (1870­74)   ter   falado   de   um   «ancien 


member», antepassado que ele situava no grupo dos antropóides (Pongídeos ­­­> Sistemática dos 
primatas). Devemos além disso observar que a grande maioria dos antropólogos concorda em que o 
«antepassado» dos homínídeos, a sua forma ancestral filogenética, só pode ter sido um pongídeo 
primitivo. Também os defensores da teoria segundo a qual o homem descende do chimpanzé frisaram 
que os pongídeos têm atrás de si uma longa história evolutiva no decurso da qual se realizaram 
transformações   de   vária   espécie   até   chegarem   aos   tipos   actuais   especializados   dos 
antropornorfos.   Sobre   este   ponto   há   hoje   geral   concordância   de   opiniões.   A   dificuldade   surge 
quando se trata de distinguir a estrutura da forma que constituiu o ponto de partida da linha 
dos hominídeos. As opiniões sobre este ponto são tudo quanto há de menos uniforme. A base para 
uma convincente sistematização da filogénese de todos os hominídeos (pongídeos e hominídeos ­~­> 
Sistemática dos primat&) é fornecida pelo

366
A origem do homem

seguinte   esquema   geocronológico   do   Terciário.   Qualquer   outra   época   precedente   não   pode   ser 
aceite como período durante o qual se separaram os dois ramos dos hominídeos,

e o mesmo se pode dizer do Plistocénico (era glacial) ao contrário de tudo quanto se supôs em 
tempo.

Subdivisão do Terciário e cronologia absoluta

Era

Duração aproximada em milhões de anos

Plistocénico

0­2

F          2    ­

Pliocénico

2­10

10

Miocénico

10­25

15

Oligocénico

25­50

25

Eocénico Paleocénico

50­70

20

Cretácico.

70­120

50
O período «crítico» corresponde ao espaço de tempo que abrange o Oligocénico e o Miocénico, um 
intervalo,   portanto   de   40   milhões   de   anos.   A   Fig.   76   ilustra,   numa   primeira   aproximação,   a 
provável articulação dos honúnideos entre estes limites de tempo. Vemos também como a linha dos 
hominídeos se insere numa irradiação miocénica dos pongídeos. A linha dos hominídeos pode ser 
dividida em três segmentos distintos:

1)   Fase sub­humana;
2)   Transição animal­homem;
3)   Fase humana. Na   primeira fase os hominídeos encontram­se ainda num estado sub­humano, não 
só do ponto de vista físico, como também no que respeita ao psíquico. No decurso desta fase são 
submetidos   a   transformações   consideráveis,   às   quais   voltaremos.   Assinalamos   sómente   um   facto 
muito importante: a aquisição da «postura crecta» (bipedismo),

367
A origem do homem

e portanto a possibilidade de locomoção veloz sobre as extremidades inferiores «<corrida»).

Na segunda fase, os hominídeos sub­humanos atingem um nível comparável ao ponto de partida dos 
hominideos   humanos:   efectua­se   neste   período   a   passagem   da   fase   sub­humana   à   humana.   É 
extremamente difícil, como se

Orango   Corlia Chimpanzê

H... ­­­pu,­

Ép­a actual

Fig. 76. Esquema das linhas evolutivas entre os hominídeos (australopitecídeos e homens) e os 
pongídeos (macacos antro­

póides) (segundo Heberer, modificado)

verá, situar nesta segunda fase um documento fóssil, porque os seus limites superior e inferior 
não estão nitidamente definidos, embora estejamos certos quanto à sua situação geocronológica. 
Esta zona de passagem é localizável no Pliocénico Superior, não mais tarde e com muito poucas 
probabilidades de ter sido antes.

A fase humana é caracterizada por transformações físicas, que se manifestam igualmente na esfera 
psíquica. São

368
A origem do homem

particulam­iente notáveis dois factos: forte irradiação adaptativa e progressiva cerebralização 
nas linhas geológicas irradiantes, apresentando­se como um fenómeno complexo e rítmico. Do ponto 
de vista das transformações psíquicas observa­se um progressivo aumento de cultura. Na primeira 
e   na   segunda   fase   realiza­se,   numa   cadeia   de   gerações   que   não   atinge   mais   de   400000,   a 
hominização ou a humanização psicofísica (Vallois, 1958). Depois dela começa a fase evolutiva 
que conduz à verdadeira humanidade. Temos assim um esquema de articulação geral da filogenia dos 
hominídeos. Veremos agora, na base do segundo esquema (Fig. 77), diferenciar­se mais exactamente 
a   problemática   do   esquema   precedente   e   podemos   comparar   as   hipóteses   em   causa.   A   direita   da 
escala   cronológica  (comparar  o   lado  esquerdo   do  esquema)   reconhecemos  os   estádios   evolutivGs 
percorridos   pelos   pangídeos   no   decurso   da   sua   filogénese.   No   Pliocénico   os   pongídeos 
transformaram­se   em   típicos   animais   arborícolas,   como   acontece   ainda   hoje   aos   seus 
representantes,   os   pongíncos   e   os   gibões   hilóbatas).   Mas   enquanto   os   pongíneos   recentes   são 
especializados como animais arborícolas, com aptidão notàvcltnente desenvolvida relativamente à 
sua locomoçã o sobre as árvores, a situação é totalmente diversa para o confuso e complexo grupo 
da subfamília pongídea dos driopitecídeos do Miocénico, Inferior ao Pliocénico Inferior. Muito 
provàvelmente   deviam   ser   tipos   prevalentemente   pré­arborícolas,   assim   como   os   primitivos 
procônsules. Estes eram capazes, assim como os hominideos e numerosos tipos símios (platirríncos 
e   catarríncos),   de   se   deslocarem   velozmente   sobre   as   árvores   valendo­se   da   sua   capacidade 
preênsil,   mas   não   estando   ainda   adaptados   em   qualquer   sentido,   isto   é,   não   tendo   ainda   as 
proporções   e   as   diferenciações   das   extremidades   próprias   dos   animais   arborícolas,   noutros 
termos, não tinham ainda membros anteriores relativamente compridos e as extremidades inferiores 
suficientemente curtas, como é próprio da adaptação arborícola (­­> Sistemática dos primatas).

A  história evolutiva dos  pongídeos é  relativamente clara,  mas o  material  fóssil dos  primatas 


está   bastante   incompleto   e   toma­se   portanto   difícil   documentar   a   história   do   ramo   hominídeo. 
Assim, o ponto de partida na linha pongídea

369
A origem do homem

continua sujeito a controvérsias; esta situação é ilustrada na Fig. 77 na coluna da direita. Há 
três grupos de hipóteses. o ponto de inserção da passagem dos pongídeos aos

Fig.   77  Representação   gráfica   das   hipóteses   actualmente   em   discussão   sobre   a   origem   dos 
hominideos a partir de antepassados não­hominideos. 1) Hipótese de uma derivação a partir de 
seres arborícolas: 2) Hipótese da­ derívacão,a partir de seres pré­arborícolas: 3) Hipótese da 
derivação a partir de antePw,sados protocatarríneos; TA11     zona de transição dos antroPóides 
aos hominídeos: TAnI­1    zona de transição do animal ao homeni; PH = pré­hominídeos; Eu = eu­
hominídeos; Ar =

ArcantrOPídeos; Ta = Paleontropídeos; Ne = Neantropídeos;
O @ Oran90; O = Gorila; C @ Chimpanzé (segundo Heberer)

370
A origem do homem

horninídeos   está   situado   no   arco   de   círculo   do   esquema   entre   o   Pliocénico   Médio   (talvez 
Superior) e o Oligocénico (talvez Superior), ao longo do semicírculo indicado, se considerarmos 
os   três   grupos   de   hipóteses   como   igualmente   prováveis.   Estas   hipóteses   consideram   tipos 
ancestrais diferentes para o ramo hominídeo e podem ser denominadas:
1) a hipótese dos arborícolas; 2) a dos pré­arborícolas, e 3) a dos protocatarríneos. Poderia 
acrescentar­se ainda uma quarta hipótese, que considera os hominídeos um «phylum» independente 
que remonta a um antepassado tarsióide (a hipótese tarsióide).

Depois de superada a fase pongídea­hominídea,         teve início a fase sub­humana da filogenia 
dos hominídeos,    com seres mais ou menos adaptados à vida arborícola.

Temos agora de analisar se estas três hipóteses       têm a mesma legitimidade ou se qualquer  
delas deve ser       considerada mais preferível do que as outras. A avaliar     pelo nome dos 
especialistas   indicados   no   diagrama   (Fig.   77)   pode   calcular­se   a   dificuldade   desta   decisão. 
Nesta publicação não se pode, evidentemente, examinar a fundo este complexo problema. Remete­se, 
portanto, o leitor para autores que recentemente se têm ocupado do assunto. (Gregory, Heberer, 
Ki­din, Remane, A. H. Schultz e outros).

A teoria mais fundamentada, e portanto aquela que parece mais verosímil, é a que faz remontar os 
hominídeos   a   antepassados   pré­arborícolas   (Heberer).   Recordemos   alguns   pontos.   Examinando   a 
teoria   que   atribui   a   origem   dos   hominídios   a   partir   de   pongídeos   verificamos   que   a   complexa 
estrutura da coroa dentária dos hominóides (pongídios + hominídeos) (limitamo­nos a considerar a 
estrutura   dos   molares   inferiores)   é   condicionada,   na   sua   combinação   de   caracteres,   por   um 
correspondente   sistema   poligénico   de   factores   hereditários   formado   por   selecção­adição   de 
sistemas   mais   simples.   Uma   idêntica   repetição   deste   sistema   poligénico   é   extremamente 
improvável, e como tal pode ser considerado particularmente irrealizável, até se em idênticas 
condições de adaptação fosse possível que se formasse estrutura análoga. Mas neste caso é válido 
tudo quanto se disse a propósito da teoria geral da evolução: elementos e estruturas simples 
podem repetir­se; estruturas complexas não; são acontecimentos históricos únicos. Para

371
A origem do homem

as combinações de características a probabilidade de unia repetição é tanto menor quanto mais 
complexa for a combinação. Por exemplo: o modelo dos molares inferiores nos horilinóides que se 
observa na sua forma clássica nos pongídeos do Terciárío e que foi estudado por Gregory (Fig. 
78), tem essencialmente a mesma estrutura em todos os hominóides e apresenta­se já    na forma 
oligocénica (Propliopíthecus, Parapithecus).     É pouco provável que este

modelo   (5   Y,   como   é   chamado)   tenha   surgido   vá   rias   vezes   independentemente       na   história 


dos primatas superiores. Com base nestes indícios pode considerar­se       fundamentada a teoria 
que pretende H              F­  que os horninídeos derivam

dos pongídeos. Contudo na subclasse dos pongíHy                     deos surge um tipo espeHy1d 
cial de dentíção, já com­

pletaniente    desenvolvido Fig. 78. Modelo driopitecídeo dos  nos driopitecídeos do Miomolares 
inferiores nos liominí­         , . deos. Em baixo, à esQuerda e à         cenico. Um belo exemplo 
direita: Dryopithecus; em cima, à direita: Homo (esquemátlco).     deste tipo é a dentadura Pr. 
=   Protoconide;   Met   =   meta­           do   Sivapithecus   sivalensis,   conide:   Ent   =   entoconide;   Hy   @ 
HyPoconide; Hyld = hypoconulide    um antropóide das mon­

tanhas   de   Sivalik,   no   Panjab,   na   índia   (Fig.   79).   As   características   mais   importantes   desta 
estrutura dentária estão presentes nos antropóides actuais (orangotangos, gorilas, chimpanzés): 
incisivos   relativamente   grandes   e   oblíquos;   caninos   em   forma   de   punhal;   ranhura   pronunciada 
(diastema)   entre   os   caninos   e   os   incisivos   superiores   (para   alojar   os   caninos   inferiores); 
primeiro premolar apenas com uma protuberância (vestibular) e uma aresta cortante para a frente: 
com   o   canino   superior   constitui   um   dispositivo   de   tesoura   (grupo   canino   heteromorfo); 
paralclísmo da série de dentes a partir da ponta do canino até ao terceiro molar; particular 
desenvolvimento ósseo no ângulo interior do queixo, etc. Em comparação com as mandíbulas dos 
hominídeos, estas

372
A origem do homem

as combinações de características a probabilidade de uma repetição é tanto menor quanto mais 
complexa for a combinação. Por exemplo: o modelo dos molares inferiores nos hominóídes que se 
observa na sua fonna clássica nos pongídeos do Terciário e que foi estudado por Gregory (Fig. 
78), tem essencialmente a mesma estrutura em todos os hominóides e apresenta­se já    na forma 
oligocénica (Propliopithecus, Parapithecus). É pouco provável que este

modelo (5 Y, como é chamado) tenha surgido várias vezes independentemente na história dos > 
primatas superiores. Com base nestes indícios pode considerar­se     fundamentada a teoria que 
pretende H@ @Yp F.         que os hominídeos derivam P

dos pongideos. Contudo Hy                     na subclasse dos pongí­

deos surge um tipo espe cial de dentição, já comHy1d                      pletamente 
desenvolvido Fig. 78. Modelo driopitecídeo dos  nos driopitecídeos do Miomolares inferiores nos 
hominídeos. Em baixo, à esquerda e à     cénico. Um belo exemplo direita: Dryopithecus; em cima, 
a direita: Homo (esquemático).     deste tipo é a dentadura Pr. = Protoconide; Met ­ meta­ 
do Sivapithecus sivalensis, conide; Ent = entoconide; Hy = Hypoconide; Hyld @ hypoconulide    um 
antropóide das mon­

tanhas de Sivalik, no Panjab, na india (Fig. 79). As características mais importantes desta 
estrutura dentária estão presentes nos antropóides actuais (orangotangos, gorilas, chimpanzés): 
incisivos relativamente grandes e oblíquos; caninos em forma de punhal; ranhura pronunciada 
(diastema) entre os caninos e os incisivos superiores (para alojar os caninos inferiores);

f@ T

primeiro premolar apenas com uma protuberância (vestibular) e uma aresta cortante para a frente: 
com o canino superior constitui um dispositivo de tesoura (grupo canino heteromorfo); 
paralelismo da série de dentes a partir da ponta do canino até ao terceiro molar; particular 
desenvolvimento ósseo no ângulo interior do queixo, etc. Em comparação com as mandíbulas dos 
hominídeos, estas

372
A origem do homem

características apresentam extraordinárias diferenças, tão grandes que é difícil considerar este 
tipo de dentição, tão especializado e ligado a processos de adaptação, como o ponto de partida 
para a dentição dos hominídeos. A dentição dos antropóides remonta a uma época remota e tem­se 
mostrado estável até ao presente. Deve existir pelo menLs há 20 milhões de anos. Não é provável 
que esta estabilidade filética se tenha interrompido no Pliocénico Superior, dando lugar a uma 
fase de consideráveis mutações evolutivas que tivessem levado, num período de tempo 
relativamente curto, ainda no Pliocénico, à dentição típica dos hominídeos; esta encontra­se já, 
de facto, completamente desenvolvida no Vilafranquiano, no Plistocénico Inferior, há cerca de 
800 000 anos, entre os mais antigos hominídeos seguramente identificados como tais, os 
autralopitecídeos. Mas se fizermos    derivar a dentição   típica dos pongídeos e a tipicamente 
hominídea   de  uma estrutura intermédia comum podemos recuar   até    ao Miocénico, isto é, a 
uma época na qual entre os pongídeos     não faltavam formas     ocasionalmente arborícoIas, mas 
em que não     existiam ainda animais arborícolas mor­   Fig.  79. Arcada  dentária  do 
Sivapithecus fológicamente      si.Valensis, antropóide terciário do Miocé­

os n,co­Pliocénico de Sivalik, no Norte da índia diferenciad                (segundo Gregory e 
Helman) como tais (símios de membros anteriores longos como os pongídeos actuais). Numerosas 
razões fazem pensar ser improvável que os hominídeos se tenham conservado arborícolas na fase 
das florestas primordiais. Assim, por exemplo, as nossas crianças, antes de adquirirem a posição 
erecta, usam as extremidades superiores como os animais plantígrados, pousando as palmas das 
mãos no chão, isto é, não andam apoiadas nos nós dos dedos, como fazem os antropóides.

373
A origem do homem

A descendência dos hominideos a partir dos pongídeos, embora estejam presentes notórias 
afinidades, documenta­ das particularmente pela coincidência serológica, parece bastante 
improvàvel.

Examinemos agora a legitimidade da hipótese da descendência dos homínídeos a partir dos 
protocatarríneos. Relativamente à hipótese de os hominídeos descenderem de antepassados pré­
arborícolas há sómente uma pequena probabilidade, porque ­basta um exemplo­ a relação serológica 
entre antropóides e hominídeos é muito clara; ela constitui um argumento decisivo contra 
qualquer tentativa de fazer derivar os homínídeos de antepassados protocatarríneos não­
antropóides. Como hipótese mais provável resta então a dos antepassados pré­arborícolas; mas 
mesmo assim ainda tem, no arco de círculo da Fíg. 79, um intervalo considerável, em que 
ignoramos qual é o ponto de onde emergiu a linha que conduziu aos hominídeos. Provisóriamente 
fixamos a origem dos hominideos no Pliocénico Médio. Porém não sabemos em que região do mundo se 
terá verificado este acontecimento (problema do «berço da humanídade»). Qual teria sido a área 
originária: a África, a índia Setentrional, ou a Ásia Central?

O antepassado dos homínídeos só teèricamente pode ser reconstimído, o que se fez por diversas 
vezes em seguida à publicação da obra de Darwin sobre a origem das espécies. Dispomos hoje porém 
de material fóssil que então não existia. Particularmente importantes são as descobertas de 
documentos fósseis, feitas desde os fins do decénio
1940­50, provenientes dos estratos de Miocénico Inferior e Médio da bacia de Vitória­Nyanza 
(Quénia). Trata­se de antropóídes extraordinàriamente primitivos, que parece terem sido 
susceptíveis de posterior evoluçã o. São os chamados procânsules (Proconsul africanus, Fig. 80), 
cujo estudo foi feito por Le Gros Clark e Leakey numa monografia publicada em 1951. 
Particularmente, o conhecimento dos seus membros lançou nova luz a respeito deste grupo. Trata­
se de um tipo, como se observa na reconstituição representada na Fíg. 81 e das mais recentes 
descobertas sobre a mão e o braço, que não possuía a estrutura típica dos animais arborícolas. 
Podemos considerar o procônsul como um escalão na evolução dos hominídeos, o qual, por

374
A origem do homem

um processo de adaptação         às condições ecológicas da floresta tropical húmida, 
N teria    desenvolvido uma linha evolutiva que, através dos drio­    Fíg. 8o. crânio  do 
Proconsul  africanus (Repitecídeos, con­     “”tituição segundo Robinson). Novas inves­

tigações farão talvez diminuir o prognatismo duziria ao escalão dos arborícolas típicos. Os 
sobreviventes deste processo evolutivo seriam os antropóides actuais, cujo habitat tem todas as 
características de uma área marginal de refúgio. Estão extintos todos os pongídeos do passado 
não especializados como animais arboricolas. Pode porém ter­se originado outra linha evolutiva 
numa forma proconsulóide, numa zona de bosques e estepes no decurso de um processo de

adaptação à vida, mediante    um     processo acentuadamente orto

­s

electivo, que conduisse à aquisição da postura    erecta     (bípede) . A mão do hominídeo é um 
órgão preênsil típico, que só podia ter­se desenvolvido na fase arborícola da filogenia dos 
catarríncos. O pé humano evoluiu do pé prêensil. Isto resulta não apenas da sua estru

tura, ma

s também do facto de a mão ser preensil, pois não se pode admitir que a Fig. 81. Reconstituição 
do     Procon­    mão não tivesse sido sul  afficanus. Museu Britãnico de        formada em 
ambiente História Natural (segundo Oakley­

­Wilson)                    não­arborícola. O pé

375
A origem do homem

preênsil é ainda hoje claramente recapitulado na ontogénese (Fig. 82), ao contrário da 
recapitulação, muito problemática, sugerida por alguns autores, das proporções das extremidades 
dos animais arborícolas. Pode admitir­se então a existência de um tipo de antepassados de 
constituição proconsulóide (Fig. 81) mas sem as especializações que os procânsules revelam, por 
exemplo na dentição, forma ancestral na base da dicotomia decisiva dos hominóides, no Miocénico 
Inferior (um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde). Deve ter havido uma importante radiação 
adaptativa: por um lado para a floresta tropical húmida; pelo outro   para a   estepe, e ainda 
tendência para a especialização no   sentido arborícola     (linha  dos pongideos) e ten­

dência para o bipedismo (linha dos hominídeos). Esta segunda hipótese        tem maior valor do 
que a

primeira, e não     vale a

ena falar da      terp ceira. Na estepe a    tendência para a posição erecta, favorecida    por 
Fig. 82. Recapitulação   do  pé  preénsil   este ambiente, permina ontogénese do homem.      A 
esquerda     tiu transpor a zona de o pé de um macaco Rhesus (23 nun de altura de apoio): à 
direita. do          transição   do     animal Hovio (24 mm de altura de apoio),           ao 
homem, chegando reduzido ao mesmo comprimento (segundo Schultz)                 assim ao 
hominídeo

humano. No decurso do longo caminho que levou à aquisição da «posição crecta» sucederam 
certamente muitas transformações que hoje tentamos reconstituir. Fá­lo­emos quando tratarmos dos 
primeiros hominídeos humanos (australopitecídeos e pré­ _hominídeos). Por agora limitar­nos­emos 
a aludir ao problema de saber se existirá material fóssil no período entre o suposto antepassado 
proconsulóide e o TAH, vinculando portanto um período de cerca de 15 milhões de anos, que 
significa talvez uma cadeia de 400 000 gerações.

Com esta pergunta penetramos num domínio de investigação fortemente incerto, mas nem por isso 
menos interessante. Do grupo de descobertas de Baccinello (em

376
A origem do homem

Grosseto, na Toscânia), realizadas no Pontium (o Pliocénico Inferior, ou, na escala francesa, 
Miocénico Superior), faz parte uma forma extraordinária, que recebeu o nome de Oreopithecus 
bambolii. Este problemático hominídeo era ­já conhecido nos fins de 1870 ou pouco antes; todavia 
há poucos anos (desde 1949), graças à análise morfológica e às novas descobertas de Hürzeler 
(Basileia), cujas investigações incidíram sobre um rico material, voltou a encontrar­se no 
centro das discussões. Vasta colecção de crânios, mandíbulas, extremidades e dentes, tudo 
naturalmente mais

ou menos fragmentado, está hoje à disposição dos estudiosos; em 1958 foi­lhe adicionado um 
esqueleto inteiro. Estes achados originaram uma polémica, ainda em curso, sobre a posição 
sistemático­evolutiva deste ser extraordinário. Cronológicamente, o Oreopithecus preenche 
satisfatóriamente uma grave lacuna, isto é, aquela que existe entre os australopitecídeos (os 
mais antigos hominídeos do Plistocénico Inferior) e os hipotéticos antepassados arborícolas dos 
hominídeos, de há cerca de 20 milhões de anos. O Oreapithecus remonta a 10­12 milhões de anos. A 
sua estrutura dá muito que pensar, porquanto possui uma combinação de características de difícil 
interpretação. Em muitos autores todavia vai tomando corpo a convicção de que o Oreopithecus é 
um dos primeiros hominídeos da fase sub­humana (Hürzeler, Heberer, Kü1in, Pivetau, A. H. SchuItz 
e outros), convicção que não é partilhada por Gutros especialistas, para os quais o Oreopithecus 
é uma forma circopitecóide, um pongídeo ou mesmo um novo grupo entre os dois anteriores 
(Koenígswald, Remane, Vallois, etc.).

Os primeiros molares inferiores, tipicamente com duas cúspides (Fig. 83), a disposição curva das 
séries de dentes (Fíg. 84), a ausência de diastema (comparar a disposição dos dentes, com 
diastema, dos pongídeos) caracterizam­no como um ramo lateral dos hominídeos. O esqueleto 
apresenta extremidades alongadas, mas sem as proporções típicas dos arborícolas. A bacia parece 
ter tido largos ossos ilíacos, a coluna vertebral na parte superior indica ter sido muito 
robusta, o que mostra talvez preferencia, na locomoção, para utilizar as extremidades 
inferiores. Todas estas características, por si próprias, não bastariam óbviamente para 
justificar a designação de homi­

377
A origein do homem

«toolmaker» (construtores de utensílios). Também concordamos com tal definição, pois nesta fase 
crítica o volume do cérebro só por si não nos permite qualquer conclusão sobre as suas 
possibilidades funcionais.

Cronológicamente, a passagem do animal ao homem situa­se ­como já tivemos ocasião de observar 
(Fig. 76 e 77) ­ no Pliocénico Superior. Até agora, se abstrairmos do problema do Oreopithecus­, 
não possuíamos achados paleontológicos dos hominídeos do Pliocénico. Recente­ mente foram 
descritos artefactos que remontam ao Pliocénico, mas a sua natureza de artefactos não foi 
geralmente aceite. Julga­se que alguns instrumentos de pedra («pebble tools») tiveram a sua 
origem no Vilafranquiano Inferior. Teóricamente não há qualquer motivo que impeça reconhecer 
aqueles utensílios como tal. Provou­se estar errada a cronologia atribuída aos 
australopitecídeos no Plíocénico, que se supõe já terem transposto a passagem do animal ao 
homem. Não dispomos na realidade de material fóssil que remonte ao Pliocénico, mas o tipo 
anatómico dos australopitecídeos legitima a ideia de os considerar como modelos estruturais dos 
primeiros hominídeos. Constituem, por isso, também um modelo para o ponto de partida da grande 
radiação dos «eu­hominídeos», ou hominídeos autênticos, tão característica do Plistocénico. (­­> 
Paleontologia).

Os australopitecídeos = pré­hominídeos são já nossos conhecidos a partir de 1924, de uma 
descoberta perto de Taungs, no Transval. Sucessivamente foram descobertos na África Oriental e a 
leste e a sudoeste da Ásia. Dispomos hoje de restos fósse,s de mais de cem indivíduos.

Indubítàvelmenté que se trata de formas bípedes, nas quais a «posiçâo erecta» tinha conduzido já 
a uma notável especialização morfológica. Até agora encontraram­se cinco fragmentos de bacia. A 
forma dela corresponde bastante à humana e diferencia­se substancialmente dos ossos ilíacos dos 
pongídeos semiortógrados, capazes ocasionalmente da posição erecta, e ainda mais dos dos símios 
cinomorfos pronógrados. A coluna vertebral apresenta uma lordose lombar tipicamente humana. A 
particular curvatura do segmento lombar e o deslocamento inferior dos músculos glúteos 
constituem a premissa para a posição erecta. A estrutura humanóide da bacia foi estudada 
minuciosamente

380
A origem do homem

e a Fig. 85 permite um confronto dos achados morfológicos dos pongídeos e dos hominídeos 
ortógrados. As extremidades só foram encontradas até agora em achados fragmentários, mas de 
qualquer maneira não parece diferenciarem­se de maneira essencial das dos hominídeos humanos. Os 
restos das extremidades mais antigas que se conhecem pertencem aos arcantropídeos (grupo 
Pithecanthropus­Sinanthropus) do Plistocénico Médio e pouco diferem dos de hoje. Isto indica uma 
longa estabilidade, de então até à actualidade, da posição erecta e da sua base anatómica. Mesmo 
que não conhecêssemos os australopitecídeos ­e esta era práticamente a situação depois do fim da 
segunda guerra mundial pelo que respeita à estrutura do esqueleto pós­craniano­ os primeiros 
indícios do bipedismo teriam de ser localizados no Pliocénico. O crânio dos australopitecídeos 
correspondia nas suas proporções, na relação entre o neurocrânio e o esplancriocrânio, às dos 
pongídeos actuais. O crânio mais bem conservado (sem mandíbula, que no entanto é bem conhecido 
através de outros achados) remonta a uma forma antiga denominada Plesianthropus (V) e agora 
Australopithecus (seria preferível Australanthropuy) (­> Paleo­ntropologia), Fig, 97

Fig. 85. Confronto dos ossos iliacos dos pongídeos (antropóides) e dos hominídeos (homem). Da 
esquerda para a direita: gorila, chimpanzé, Paranthropus australopitecídeo, Homo (bosquímano) 
(seg1@@nd0 Le Gros Clark)

I a, b, foi encontrado em Sterkfontein, a uns 60 quilómetros de Joanesburgo. A Fig. 86 ilustra 
de modo convincente esta semelhança­ de proporções, que poderia ser ainda maior se a comparação 
fosse feita com um crânio de uma fêmea de chimpanzé, visto o crânio. do Plesianthropus per­

381
rigem do homem

nídeo, mas, quando combinadas, adquirem um peso decisivo (por exemplo, os diâmetros 
longitudinais das coroas dentárias são idênticos aos dos homínídeos), e torna­se cada vez mais 
improvável que tão          complexa combinação de características tenha podido surgir 
independentemente da linha filogenética dos horninídeos.

Recentemente tem sido defendida a existência de relações filogenéticas com a forma Apidium, do 
Oligocénico Inferior (Simons). Segundo esta        Fig. 83. Primeiro pretese, o Oreopithecus 
seria um grupo         `lar inferior do

Oreopithecus bambocom fortes convergências de caracte­        iii (à esquerda e do . chimpanzé à 
direita) rísticas dos hominídeos. As pesqui­           (segundo Hürzeier) sas de Kummer 
(Colónia) fazem admitir a probabilidade de o Oreopithecus ser dotado de locomoção hípede.

Se se confirmasse a opinião de que o Oreopithecus é de facto um hominídeo, isso significa: 1) 
que a linha evolutiva própria dos horninídeos ficaria do@:umentada até aos limites do Miocénico 
e do Plíocénico, isto é, um período no qual se encontram ainda animais arborícolas 
estruturalmente especializados. Isto constituiria novo indício coritra a hipótese que admite 
derivarem os hominídeos de pongídeos arborícolas; 2) o Oreopithecus seria o primeiro hominídeo 
do Terciário estratigràficamente documentado de certo modo. O seu tipo corresponderia mais ou 
menos à expectativa teórica; 3) é óbvio que o Oreopithecus apresenta certo número de 
especializações; é caracterizado como

um habitante de regiões de floresta    pantanosa (pântano carborífero de Baccinello) e pertence 
a Fig, 84. Arcada dentária csauerdp@        uma linha lateral que superior do Oreopithecus 
bamboliz     não entronca na zona de (imagem no espelho)          (segundo

Hürzeler)                    transição do animal ao

homem. Além desta complexidade do            achado do Oreopithecus, não ainda reconhecido 
unânimemente como hominídeo, mas com certa probabilidade de pertencer a um complexo hominídeo 
sub­humano, não temos outra prova fóssil da

378
A origem do homem

fase sub­humana da filogenia. dos hominídeos. Neste caso, portanto, a asserção de Darwin acerca 
da descontinuidade paleontológica é válida ainda. Trata­se todavia de urna situação transitória. 
No futuro devemos evidentemente esperar o aparecimento de novos testemunhos fósseis acerca dos 
hGminídeos primitivos. Talvez num futuro próximo estejamos de posse de documentos que permitam 
um notável desenvolvimento teórico. O contínuo acréscimo das colecções paleontológicas, 
especialmente depois da guerra, permite este optimismo. Simons considera fortemente hominideos. 
(pela forma da arcada dentária) os restos do maxilar do Ramapithecus brevis'ostris (Siwalik). 
Anàlogamente, Leakey situa na proximidade da linha dos hominídeos os restos do maxilar do Quénia 
(Ke­nyapithecus), que remontam ao Miocénico Superior.

Em todas as três hipóteses sobre a origem filogenética dos hominideos, esta apresenta­se 
naturalmente no, final da época sub­humana como a forma que consquistou plenamente a posição 
bípede. A filogenia dos horninídeos, nomeadamente o problema do ponto em que se fez a sua 
emergência, nada nos diz sobre outro aspecto importante, isto é, sobre qual a época em que 
devemos situar a passagem do animal ao homem. Surgem aqui dois problemas do maior interesse:

1)   Em que momento pode um hominídeo ser classi­

ficado de humano?
2)   Existem alguns achados fósseis de hominídeos que

possam ser insertos exactamente na passagem     crítica do sub­humano ao humano?

Concordamos com a opinião de K. P. Oakley de           que um hominídeo humano não se reconhece 
sómente pelos        seus caracteres morfológicos ­por exemplo, pelo volume do cérebro­ mas 
também pelas suas funções mentais, que, do ponto de vista palcontológico, se possam exprimir por 
«utensílios», isto é, por instrumentos fabricados pelos hominídeos e destinados a determinadas 
aplicações e reconhecidos claramente como tais. Isto torna~se difícil em certas condições, e por 
vezes não é possível chegar a conclusões definitivas. Os hominídeos humanos foram definidos como

379
A origem do homem

«toolinaker» (construtores de utensílios). Também concordamos com tal definição, pois nesta fase 
crítica o volume do cérebro só por si não nos permite qualquer conclusão sobre as suas 
possibilidades funcionais.

Cronológicamente, a passagern do animal ao homem situa­se ­como já tivemos ocasião de observar 
(Fig. 76 e 77) ­ no Pliocénico Superior. Até agora, se abstrairmos do problema do Oreopithecus, 
não possuíamos achados palcontológicos dos hominídeos do Pliocénico. Recenten@ente foram 
descritos artefactos que remontam ao Pliocenico, mas a sua natureza de artefactos não foi 
geralmente aceite. Julga­se que alguns instrumentos de pedra («pebble: tools») tiveram a sua 
origem no Vilafranquiano Inferior. Teóricamente não há qualquer motivo que impeça reconhecer 
aqueles utensílios como tal. Provou­se estar errada a cronologia atribuída aos 
australopitecídeos no Pliocénico, que se supõe já terem transposto a passagem do animal ao 
homem. Não dispomos na realidade de material fóssil que remonte ao Pliocénico, mas o tipo 
anatómico dos australopitecídeos legitima a ideia de os considerar como modelos estruturais dos 
primeiros hominideos. Constituem, por isso, também um modelo para o ponto de partida da grande 
radiação dos «eu­hominídeos», ou hominídeos autênticos, tão característica do Plistocénico. (­­­
> Paleontologia).

Os australopitecídeos = pré­hominídeos são já nossos conhecidos a partir de 1924, de uma 
descoberta perto de Taungs, no Transval. Sucessivamente foram descobertos na África Oriental e a 
leste e a sudoeste da Ásia. Dispomos hoje de restos fósseis de mais de cem indivíduos.

Indubitàvelmente que se trata de formas bípedes, nas quais a «posição erecta» tinha conduzido já 
a uma notável especialização morfológica. Até agora encontraram­se cinco fragmentos de bacia. A 
forma &1a corresponde bastante à humana e diferencia­se substancialmente dos ossos ilíacos dos 
pongídeos semiortógrados, capazes ocasionalmente da posição erecta, e ainda mais dos dos símios 
cinomorfos pronógrados. A coluna vertebral apresenta uma lordose lombar tipicamente humana. A 
particular curvatura do segmento lombar e o deslocamento inferior dos músculos glúteos 
constituem a premissa para a posição erecta. A estrutura humanóide da bacia foi estudada 
minuciosamente

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A origem do homem

e a Fig. 85 permite um confronto dos achados morfológicos dos pongídeos e dos hominídeos 
ortógrados. As extremidades só foram encontradas até agora em achados fragmentários, mas de 
qualquer maneira não parece diferenciarem­se de maneira essencial das dos hominídeos humanos. Os 
restos das extremidades mais antigas que se conhecem pertencem aos arcantropídeos (grupo 
Pithecaníhropus­Sin~hropus) do Plistocénico Médio e pouco diferem dos de hoje. Isto indica uma 
longa estabilidade, de então até à actualidade, da posição erecta e da sua base anató mica. 
Mesmo que não conhecêssemos os australopitecídeos ­e esta era pràticamente a situação depois do 
fim da segunda guerra mundial pelo que respeita à estrutura do esqueleto pós­craniano­ os 
primeiros indícios do bipedismo teriam de ser localizados no Pliocénico. O crânio dos 
australopitecídeos correspondia nas suas proporções, na relação entre o neurocrânio e o 
esplancnocrânio, às dos pongídeos actuais. O crânio mais bem conservado (sem mandíbula, que no 
entanto é bem conhecido, através de outros achados) remonta a uma forma antiga denominada 
Plesíanthropus (V) e agora Australopithecus (seria preferível Australanthropuy) ( ­­­ > 
Paleontropologia), Fig. 97

Fig. 85. Confronto dos ossos ilíacos dos pongídeos (antropóides) e dos hominídeos (homem). Da 
esQuerda para a direita: gorila, chimpanzé, Paranthropus australopitecídeo, Homo (bosquímano) 
(segi@ndo Le Gros Clark)

I a, b, foi encontrado em Sterkfontein, a uns 60 quilómetros de Joanesburgo. A Fig. 86 ilustra 
de modo convincente esta semelhança­ de proporções, que poderia ser ainda maior se a comparação 
fosse feita com um crânio de uma fêmea de chimpanzé, visto o crânio, do Plesianthropus per­

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A origem do homem

tencer provàvelmente a uma fêmea. Contudo esta semelhança não justifica a conclusão de que os 
australopitecideos tenham descendido directamente de antepassados tipicamente antropóides. A 
análise das características morfológicas do crânio e dos   dentes mostra que os australopitecí­

deos são hominídeos típicos e não estão mais próximos dos recentes pongídeos do que nós 
próprios.

No entanto é um facto que existem certas ligações com os pongídeos, assim como as há com os 
hominídeos recentes. Se não as houvesse não teríamos razoes para postular a superfamília dos 
hominóides.

Fig. 86. Comparação das propor­   E se os australopitecídeos, ções do eránio de um chimpanzé 
(pontuado) e do Australopithecus  como forma antiga dos hotransvaalensis (linha contínua) 
(segundo Fleberer, 1956)     minídeos, devessem apre­

sentar aqui e além esta relação mais acentuada, não fariam mais do que confirmar a nossa 
expectativa. Podemos comparar os australopitecídeos com os pongídeos actuais, mas da sua forte 
semelhança não podemos concluir que lhes estejam mais estreitamente ligados. Eles estão mais 
próximos das correspondentes formas ancestrais dos pongídeos, por efeito da convergência, no 
passado, das linhas dos pongídeos e dos hominídeos para uma raiz ancestral comum, na qual há 
identidade. Podem comparar­se únicamente factores mensuráveis, de outra maneira há possibilidade 
de se cometerem graves erros e de se chegar a erradas conclusões. Do ponto de vista metGdológico 
isto é muito importante, mas nem sempre se tem tido em consideração. A semelhança entre os 
australopitecídeos e os hominídeos é particularmente evidente na dentição. A curva da arcada 
dentária própria dos pongídeos, presente já no Miocénico e desde então conservada com 
estabilidade no decurso da evolução (Fig. 79, Sivapithecuy sivalensis; Fig. 87, pongídeos 
recentes), assim como o paralelismo das duas meias arcadas, que directamente podem convergir na 
parte posterior, não

382
A origem do homem

existem nos australopitecídeos, que, pelo contrário, neste aspecto, se assemelha à dos 
hominídeos. Nos pongídeos encontramos na mandíbula o grupo canino heteromórfico. Nos 
australopitecídeos, como em todas as formas conhecidas dos hominídeos, e já também nos 
oreopitecídeos, o primeiro premolar é «molarizado» com duas cúspides, das quais a interna é 
relativamente desenvolvida. O canino não é em forma de punhal, mas de espátula, com o diâmetro 
máximo da coroa mesmo no centro e não na base, como nos pongídeos. Assim, os australopitecídeos, 
como os eu­hominídeos, têm um grupo canino homomórfico nitidamente hominídeo. Naturalmente, 
falta o diastema. Se ocasionalmente     se encontram pongídeos que no primeiro premolar têm uma 
cúspide interna desenvolvida ou que não apresentam     diastema, esta situação não é típica, mas 
é a expressão de um potcncial de varia­   Fig. 87. Arcadas dentais superiores de antro­

póides e hominídeos (homem). Em cima, ções que porém      a esquerda: homem (australiano); ao 
meio, .1    orangotango: à direita, chimpanzé. Em baixo, não é imprevisi­    três exemplos de 
australopitecídeos (segundo vel. Tais varia­                   Le Gros Clark ções devem ser 
medidas e comparadas do ponto de vista estatístico, no que respeita aos seus valores médios. O 
que se disse aplica­se também à discussão sobre o oreopiteco.

É unânime a opinião de que os australopitecídeos, pertencem aos hominídeos, mas a que fase da 
sua história evolutiva? Geológicamente são bastante recentes ­ encon­

tramo­los, de facto, no Vilafranquiano, no plano inferior do Plistocénico ­ e não devem de 
qualquer maneira passar dos 800 000 anos. As formas australopitecídeas de Java (Meganthropus) 
remontam também ao fim do Plistocé­

383
A origem do homem

nico Inferior, e o mesmo encontramos na China. Alcançam assim uma época na qual já havia 
hominídeos autênticos como os arcantropídeos. Do ponto de vista da sua estrutura esquelética, 
trata­se de formas bastante curiosas, como postura erecta e acompanhada de um crânio de 
proporções tipicamente simiescas. A grandeza do cérebro neste grupo está compreendida 
quantitativamente entre a dos pongídeos e a dos hominídeos mais recentes; isto não deve porém 
induzir­nos a considerá­los como forma intermédia na passagem de uns para outros. A série 
seguinte não é, portanto filogenética.

Grupo

Mínimo

Médio

Máximo

Hilobatídeos

80

95

140

Pongideos

290

450

685

Australopitecídeos

450

600

680

Arcantropideos

775

1000

1300
Paleontropídeos e neantropideos

850
1300

2100

Capacidade cramana dos hominídeos (valor em cm3) (segundo

Oakley e Tobias)

Os australopitecídeos tinham, portanto, pequena capacidade craniana; todavia, no seu campo de 
variações supe­

ravam os pongídeos e quase tocavam com h seu valor máximo no campo das variações cranianas dos 
hominídeos mais recentes.

Naturalmente não se deve esquecer que a capacidade craniana iria(> é considerada por si só, mas 
sempre em conexão com as dimensões do corpo. Se o cérebro de um gorila atingir a capacidade 
craniana de 685 cm3, esta capacidade é proporcionada a um corpo de 250 quilogramas; se o cérebro 
de um australopitecideo alcança a capacidade de 700­800 cm3, corresponde­lhe um peso do corpo de 
apenas 75 quilogramas. Nos australopitecídeos de mandíbula particularmente possante (megagnatos) 
­o grupo dos Paranthropus­ a área de inserção da robusta mus­

culatura mastigatória sobre a superfície craniana, relativamente exígua, não era pois 
suficiente. Desenvolveu­se deste modo uma crista sagital mediana (Fig. 88). Não era uma

384
A origem do homem

Fig. 88. Os dois tiDos até agora conhecidos de australopitecídeos; à esquerda, AustraloPithecus; 
a direita, Paranthropus (se­

gundo Robinson)

reminiscência filogenética de antepassados providos de tal crista, porquanto as cristas sagitais 
encontram­se sempre também noutros animais quando a superfície do crânio é relativamente pequena 
e os músculos mastigatórios relativamente potentes   («enantioblásteo» de MoEison).   A 
morfologia da crista sagital dos australopitecídeos é diversa da dos pongídeos. Sâo for­ 
@I@ mações funcionais        P,    C5I'FI@i análogas, ausentes nos exemplares femininos e nos 
espécimes débeis. Em camadas do Plistocénico Médio na China encontraram­se dentes e mandíbulas 
particularmente possantes; pensou­se a princípio tratar­se de tipos de grande estatura, os 
chamados «gigantes» (Gigantopithecus). Contudo, foi demonstrado que os parantropídeos, 
caracterizados por grandes mandíbulas entre os australopitecídeos, não eram de grande estatura, 
mas apenas megagnáticos. De resto não é impossível que os mencionados «gigantes» pertençam mais 
aos australopitecídeos do que aos pongídeos. Mas a este respeito os estudos prosseguem. Hoje 
conhecem­se mais de mil dentes e três mandíbulas dos Gigantopithecus. A sua morfologia apresenta 
semelhanças com os australopitecídeo,s.

As características somáticas que encontramos nos australopitecídeos fornecem­nos do ponto de 
vista estrutural ­mesmo se eles se separaram dos hominídeos posteriormente à fase da passagem do 
animal ao homem, e portanto numa idade geológica relativamente recente­ um modelo morfológico 
que é de supor tenha existido durante a fase da separação dos hominídeos. É provável que o tipo 
mais remoto dos hominídeos se lhe assemelhasse em muitos aspectos. O psiquismo dos 
australopitecídeos correspondia provàvelmente à sua estrutura morfológica. A capacidade craniana 
era suficiente para representar um estádio primi­

385
A origem do homem

tivo do «tool­maker», mas por enquanto ainda não estamos em condições de decidir se eles 
fabricavam utensílios ou se se limitavam a servir­se de objectos que encontravam na natureza. O 
uso destes objectos devia estar já difundido há longo tempo e de modo, considerável na fase sub­
humana; de outro modo não se poderia explicar a estrutura morfológica dos australopitecídeos. Do 
ponto de vista psíquico, pertenciam já à fase humana. Não possuíam quaisquer adaptações 
especiais de protecção, defesa (dentes), ou fuga, e por isso tinham de compensar esta situação 
com uma capacidade cerebral de certo modo já superior. Mesmo que se tornasse evidente que os 
australopitecídeos não fabricavam deliberadamente utensílios para resolver determinados 
problemas técnicos, seria legítimo considerá­los como modelos dos hominídeos humanos mais 
primitivos. Presentemente não há unanimidade de opiniões a este respeito. A «cultura 
osteodontoqueratica» (osso­dente­chifre), descrita por Dart, (com base em achados de 
Makapansgat) é discutida, e a descoberta dos «pebble­tools» e das amígdalas do tipo Oldoway nos 
estratos nos quais se encontravam restos'de australopitecídeos parecem demonstrar que eles eram 
mais caçadores do que caçados. Todavia não há motivos para que se lhes negue a aptidão para 
manufacturar utensílios. A sua capacidade cerebral permitia­lho certamente. O facto de se supor 
que não utilizavam o fogo não pode ser considerado como critério para estabelecer que se tratava 
de seres sub­humanos, porquanto o uso do fogo na fase humana também se verificou muito mais 
tarde. Mesmo hoje, a prova mais antiga do uso do fogo continua a ser a do célebre depósito 
fossilífero do Sinanthropus, em Chuku Tien, no, qual se encontraram restos que remontam a cerca 
de 300 000 a 400 000 anos.

No decurso da filogénese dos primatas repetiram­se radiações adaptivas (Fig. 76). Sempre que se 
alcançou um tipo, favorável ou se chegou a novo nível de adaptação deu­se uma radiação 
adaptativa. A última foi a radiação miocénica dos pongídeos, e dela resultaram numerosos ramos 
extintos na Europa, Ásia e África. Um ramo desta radiação é representado pelos hominídeos, que, 
passando à vida na estepe no decurso do Miocénico­Pliocénico, se subtraíram à característica 
adaptação à floresta tropical.

386
A origem do homém

Em comparação com os pongídeos arborícolas especializados para a vida na floresta, os hominídeos 
terrestres, caracterizados pela posição bí pede erecta, representam um «tipo ecológico aberto», 
que, com a maior plasticidade e sem modificações anatómicas essenciais, se adaptaram a numerosos 
ambientes, tomando­se c> seu biótipo quase universal. A posição erecta, a livre articulação da 
mão e a cerebralização, com as suas correlações funcionais, constituíram a base da hominização. 
São tudo condições alcançadas pelos australopitecídeos. A sua constituição somática 
que se procurou      reconstituir na Fig. 89 (claro que todos os traços fisionómicos são 
hipotéticos) ­ era de molde a não permitir a sobrevivência caso      não fosse compensada 
nas suas deficiências     físicas pela eficiência cerebral. É este o motivo por que os 
australopitecídeos têm sido até agora considerados como o tipo humano mais primitivo dos 
hominídeos. Como diferem morfológicamente dos hominídeos superiores, são considera­       Fig. 
89. Reconstituição do Austra­

lopithecus transvaalensis. Museu dos uma subfamília           Britânico de História Natural 
(sedistinta     (Australapí­          gundo Oakley­wiison) ffiecinae) dos horíiinídios 
superiores, que constituem por seu lado a subfamília Homininae. Para acentuar a hominização 
autêntica deste último grupo emprega­se o prefixo «eu»: eu­hominídeos. Note­se que os 
australopitecídeos estão ligados a este grupo como pré­homínídeos, mas o termo australopitecídeo 
é agora de uso comum e como tal foi aceite.

Com o aparecimento dos hominídeos atingiu­se um escalão de adaptação extraordinàriamente rico de 
possibi­

387
Palcontropologia

lidades. Foi neste escalão que no Plistocénico principiou a radiação eu­hominídea 
(Paleontropologia). Os australopitecídeos podem portanto ser considerados, pelo aspecto físico, 
como modelo da humanidade na sua fase de passagem do animal ao homem verdadeiro. De uma base que 
não deve ter­se distanciado muito deste modelo, surgiu depois a primeira cultura humana.

Em conclusão: a evolução da estrutura física dos hominídeos acompanha paralelamente a sua 
evolução psíquica.
O elemento físico e o psíquico são fenômenos complementares. As funções mentais que regem a 
esfera psíquica evoluíram lentamente, sem saltos macroevolutivos, passando por uma série de 
«pequenas transformações». Ambos os aspectos são expressões de um terceiro elemento que, na sua 
essencia, não es amos em condições de definir (cfr. B. Rensch. 1959).

Paleontropologia ­­ A paleontropologia é a ciência dos hominídeos fósseis. Rigorosamente o seu 
campo de pesquisa deve ser cronológicamente bem determinado, mas na realidade não é possível 
fixar um limite inferior no tempo enquanto não se estabelecer qual a época em que se efectuou a 
separação, dos hominídeos dos primatas mais primitivos, nem se conhecerem as formas a partir das 
quais tal processo teve origem. Muitas vezes os trabalhos de palcontropologia são precedidos de 
capítulos sobre a filogenia e a evolução dos primatas em geral, com base na anatomia comparada e 
na paleontologia. Com efeito, sem um estudo comparativo dos primatas não é possível chegar­se ao 
conhecimento profundo da estrutura dos hominídeos. Também neste volume isso se fez (­~> 07*igem 
do homem; ­> Sistemática dos primatas).

Difícil é também estabelecer um limite superior cronológico para a paleontropologia. Denominam­
se fósseis aqueles organismos cujos componentes orgânicos foram substituídos no todo ou em parte 
por substâncias minerais. Ora é evidente que condicionando esse limite superior ao estado de 
fossilização não se podem fixar idênticos horizoutes cronológicos, visto que o processo de 
fossilização não se desenvolve em todas as circunstâncias com a mesma velocidade. No limite 
superior do sector de pesquisa onde

388
Paleontropologia

se realiza a transição para a actualidade geológica existe uma fase «subfóssíl» à qual se segue 
a época «recente».

Não se pode igualmente fixar um limite, do ponto de vista morfológico, como se poderia ser 
induzido a concluir da expressão «Homo sapiens fossílís» ­sem sentido do ponto de vista 
sistemático. Os representantes plistocénicos do Homo sapíens, completamente fossilizados, 
transformaram­se na era pós­glacial, tanto no grau de fossilização como na sua morfologia, nos 
representantes mais recentes. Alguns autores incluem na paleontropologia as investigações sobre 
esqueletos pré­históricos relativamente recentes, como os do Neolítico ou da Idade do Bronze, ou 
de fases até posteriores. Outros ainda recuam mais o limite superior dos estudos 
paleontropológicos ou então renunciam a fixar qualquer limite. Os esqueletos das sepulturas 
alemãs podem ser já considerados como documentos paleontropológicos? E em que sentido se devem 
classificar os achados mesolíticos da antiquíssima Jericó (cerca de 8000 anos a. C.)? Pelo que 
diz respeito às formas plistocénicas, a morfologia impede que surjam tais problemas; por outro 
lado essas formas estão quase todas fossilizadas.

Como vimos, a fixação de um limite superior para a investigação palcontropológica apresenta­se 
um tanto difícil. Neste artigo adoptou­se o crité rio de mencionar tudo o que é manifestamente 
típico do Homo sapiens, mesmo que se trate de achados plistocénicos completamente fossilizados. 
Restringimos portanto a palcontropologia apenas à história evolutiva do Homo sapiens. Tal 
limitação não é tomada no sentido absoluto, mas é a que melhor serve o fim deste artigo. Ocupar­
nos­emos então sómente da história evolutiva das espécies no Plistocénico até à origem do tipo 
Homo sapiens. A complexa ­> história das raças deste grupo humano não é aqui tratada, porque lhe 
será dedicado exclusivamente um artigo. Queremos assim obter um quadro claramente definido, pelo 
menos do ponto de vista geológico­cronológico e também morfológico.

O campo de investigação da palcontropologia começa com o intervalo de tempo no qual se realiza a 
passagem do animal ao homem (enquanto não se obtém uma melhor documentação paleontológica esse 
intervalo é datável teóricamente, com grande probabilidade, no Pliocénico Supe­

389
Palcontropologia

ríor) e termina com o desaparecimento dos últimos hominídeos, não correspondentes porém ainda ao 
tipo do Homo sapiens. No intervalo no qual se situa a passagem do animal ao homem não temos 
documentos de hominídeos pertencentes ao Pliocénico, (anteriormente consideravam­se como 
pertencendo ainda ao Terciário alguns australopitecídeos (pré­hominídeos). Por este facto a 
paleontropologia toma hoje como ponto de partida o aparecimento dos Primeiros representantes* da 
fase humana na filogénese dos hominídeos. Estes primeiros representantes do ramo humano 
pertencem, pelo menos, segundo os conhecimentos actuais, ao Plisto.­énico Inferior 
(Vílafranquiano).

MÉTODOS DA PALEONTROPOLOGIA. Definido o campo de investigação da palcontropologia, é agora o 
momento de dizer alguma coisa acerca dos seus métodos de trabalho (­­­> Métodos da 
antropologia). Os métodos da paleontropologia não se diferenciam substancialmente dos da 
paleontologia porque a palcontropologia não é mais do que o estudo palcontológico de um 
determinado ramo de mamíferos, a família dos hominídeos.

1) CLASSIFICAÇÃO ESTRATIGRÁFICA E CRONOLóGICA. O CStudo científico de um achado fóssil começa 
com a sua localização geográfica e cronológica, isto é, estratigráfica. Esta última é mesmo 
bastante difícil especialmente quando se pretende certa exactidão. É relativamente fácil 
estabelecer se um achado pertence ao Plistocénico, isto é, à era glacial, mas já é mais difícil 
inseri­lo num determinado período glacial ou interglacial, e muito mais ainda situá­lo 
rigorosamente num determinado estrato geológico. Neste propósito, a paleontologia tem um papel 
decisivo (flora e fauna compreendidas). Recentemente foram também postos à sua disposição 
métodos químicos, como o chamado método do flúor. Este permite a determinação quantitativa do 
depósito, nos ossos, de iões flúor (provenientes da água subterrânea), com formação de 
fluoropatites. O teor do flúor é então comparado com o existente nos restos contemporâneos da 
fauna correspondente, da qual se conhece a idade estratigráfica. Em geral um teor de flúor de 1­
3 por cento corresponde ao Plistocénico Inferior e um teor

390
Paleontropologia

de 1 por cento ao Plistocénico, Superior. A determinação da idade com o método do flúor permite, 
em passado mais recente, datar uma série de achados fundamentais relativos à história fóssil dos 
hominídeos. Este método também contribuiu para provar a falsificação do famoso Eoanthropus 
Dawsoni (mandíbula de pongídio, recente e um crânio subfóssil, do tipo moderno, de Horno, 
sapiens).

Em época recente, aos métodos da cronologia «relativa» juntaram­se outros pela determinação 
directa da idade absoluta. Determinações indirectas já são possíveis quando há a certeza de que 
um achado pertence a determinado estrato, que se insere no esquema cronológico da cronologia 
absoluta do Plistocénico. Mas este esquema, como se demonstra particularmente na «curva de 
radiações solar (Milankovitch, Kõppen, Wegener: ver mais adiante) está sujeito a muitas 
controvérsias e existem esquemas cronológicos que se afastam dele absolutamente. Assim, as 
determinações directas da idade absoluta dos fósseis plistocénícos levaram a valores 
extremamente diferentes dos admitidos no passado. O método que se reveste de maior importância 
funda­se na existência de um isótopo instável de carbono normal de peso atómico 12, o C” (método 
do radiocarbono). Este isótopo forma­se na atmosfera do azoto sob a acção das radiações cósmicas 
e está na relação constante de 1 : 13 . 101 de carbono normal existente na atmosfera. Os seres 
vivos absorvem o carbono atmosférico, e com ele também a quantidade relativa de C”. Este 
isótopo, quando da morte do organismo, desintegra­se espontâneamente com um tempo de 
desintegração de 5568 + 30 anos.

Como a partir do momento em que cessam os processos vitais o organismo não absorve mais C”, da 
quantidade de radiocarbono, ainda existente num documento fóssil pode­se calcular a idade deste. 
As determinações da quantidade do C” residual são efectuadas com o contador Geiger.
O método, não obstante alguns erros, tem muito valor. Hoje pode ser utilizado até à idade máxima 
de 70 000 anos. Na sua esfera de aplicação está incluída, portanto, toda a história fóssil do 
Homo sapiens e em parte a do Homem de Neandertal (cf. Zeugner, 1932, A. Ducrocg,
1957, e K. P. Oakley, 1964). O método do potássío­árgon (K/A) tem fornecido dados de grande 
interesse para o

391
Paleontropologia

conhecimento da cronologia dos australopitecídeos. Da sua aplicação obtêm­se resultados em 
idades compreendidas entre um e dois milhões de anos.

2) ANÁLISE MÉTRICA E MORFOLóGICA. Em seguida à determinação cronológica e estratigráfica segue­
se (depois de no local se ter procedido à conservação dos achados) a análise antropológica 
(métrica e morfológica; ­­> Métodos da antropologia. Como em geral se trabalha apenas com 
fragmentos de crânios, de mandíbulas e de outras peças do esqueleto, e só raramente com 
documentos completos, é necessário reconstituir o aspecto total do fóssil, ou pelo menos captar 
a morfologia das características mais importantes, e apenas em parte relevantes no achado 
original. A incerteza de tais reconstítuições é tanto maior quanto mais fragmentário for o 
estado do fóssil. Um exemplo dos erros que se podem cometer por vezes é o da recente teritativa, 
completamente fracassada, de reconstituir a mandíbula do Gigantopithecus fóssil, com base 
nalguns dentes encontrados no Norte da China. O Gigantopithecus é um primata de grande mandíbula 
(mcgagnato), cuja posição na classificaçã o é ainda incerta. Hoje já se possui a mandíbula 
inferior, formada de três fragmentos encontrados na caverna de Liu­Cheng (Kuanghsi, China 
Meridional).

Grande incerteza acompanha necessàriamente todas as tentativas de reconstituiçâo das partes 
moles, por exemplo, da cabeça (cf. a Fig. 95), como o demonstra claramente a grande quantidade 
de reconstituições que foram feitas do Homo neandertha'ensis. Não obstante, os ensaios de 
reconstituiçao tem um valor heurístico que não se deve desprezar.

DIVISõES DO PLISTOCÉNICO. O campo da investigação da palcontropologia tal como foi definida há 
pouco pertence exclusivamente ao Pfistocénico. Este período geológico e caracterizado, em 
confronto com a era terciária, que o precede, por forte abaixamento de temperatura. As mudanças 
climáticas são já notáveis no Pliocénico, atingindo o seu apogeu no Plistocénico. Durante o 
Plistocénico, ou «época glacial», há uma alternância de periodos glaciais e periodos 
intergIaciais, estes últimos relativamente quentes.

392
Paleontropologia

Os períodos de glaciação foram caracterizados pela formação de extensos glaciares, quer no 
hemisfério boreal quer no austral (Fig. 93). Uma parte das águas do planeta transformou­se em 
gelo. O fenômeno provocou um abaixamento de perto de 100 m do nível dos mares e a emersão de 
vastas zonas continentais, com importantes consequências geográficas, que por seu turno tornaram 
possíveis vastas migrações da fauna. Por exemplo o arquipélago Malaio (ou Indonésia), que é já 
muito importante do ponto de vista paleontropológico, por ser a pátria dos pitecantropídeos,

Fig. 90. Extensão dos glaciares do Plistocénico na éDoca da má­

xima glaciação, a última (segundo Brinkmann)

no Plistocénico foi mais de uma vez uma península do continente asiático, o que se reflect*e 
claraibente­na história da sua fauna. Nos trópicos, aos períodos glaciais corresponderam 
períodos de grande humidade (períodas pluviais). Nada se sabe de seguro sobre as causas 
primitivas das glaciações (que também se verificaram nos períodos mais antigos da história da 
Terra, por exemplo, no Pérmico). Às alternâ ncias dos períodos glaciais e interglaciais durante 
o Plistocénico (Milankovitch e outros [Soergel, Kõppen, Wegenerl ) atribuíram­se causas 
astronómicas (oscilações das quantidades de radiações solares que atingiram a Terra) e sobre 
esta base se fundamentou a famosa teoria ­hoje bastante duvidosa­ da curva da radiação, para a 
determinação da cronologia absoluta da época glacial. As divisões do Plistocénico europeu estão 
indicadas na tabela de p. 394, a qual indica simultâneamente a duração absoluta,

393
Paleontropologia

Divisão geológica

Milémos

Divisão arqueológica

Holocénico

Pós­glacial

Idade do Ferro     Idade Idade        dos metais do Bronze

Neolitico

10

Mesolítico

Plistocénico uperior

2.­ e 3.­ Würmiano Período intergIacial

1.­ Mürmiano

120

Magdaleniano Solutriano

Aurignaciano

Paleolitico Superior

Mustieriano

Acheuliano Superior

Paleolítico Médio

Interglacial Riss­Würmiano

Plistocénico Médio

Rissiano

240
480

IntergIacial Mindel­Rissiano

Acheúliano Médio Acheuliano Inferior Cheliano

Paleolítico Inferior

Plistocénico Inferior

Mindeliano

Interglacial Günz­Mindeliano

600

Abevilliano (Pré­cheliano)

Günziano

Culturas mais antigas (?)

Quadro da divisão geológica e arqueológica do Quaternário

europeu, não à escala (modificado segundo Grahmann) em milénios, dos vários períodos (curva da 
radiação). Günz, Mindel, Riss e Würm são os nomes dos quatro cursos

de água bávaros que a seu tempo permitiram caracterizar as quatro glaciações clássicas (Penck e 
Brüchkner). Anteriormente ao Günziano prolongam­se outros períodos frios de grande extensão. 
Hoje o andar ou idade que vai do Pliocénico Superior ao Günziano (glaciação, de Günz) é chamado 
Vílafranquiano. É caracterizado, entre outros aspectos, pelo aparecimento dos primeiros géneros 
de mamíferos típicos do Plistocénico, como Elephas, Equus, Bos. Nas suas

grandes linhas, o Plistocénico divide­se como segue:

Plistocéníco Superíor (Würmiano e 3.o intergIacial, Riss­Würmiano): do início do pós­glacial ao 
fim do limite superior do Rissiano.

394
Paleontropologia

Plistocénico Médio (Rissiano e 2.O interglacial, Mindel­Rissiano): do Rissiano ao limite 
superior do Mindeliano.

Plistocénico Inferior (Mindeliano e 1.o interglacial, Günz­Mindeliano e as precedentes 
oscilações do Günziano): do Mindeliano ao limite inferior do Vilafranquiano, (precedentemente o 
Vilafranquiano era considerado como fazendo parte do Pliocénico). A zona de separação entre o 
Plistocénico e o Pliocénico (confinan@e com o Terciário) deve ser deslocada para cerca de dois 
milhões de anos. Um confronto com as estratificaçõ es das várias fases da época glacial nos 
diversos continentes é por enquanto difícil e não há possibilidade de se atingirem resultados 
satisfatórios.

CULTURAS DO PALEOLíTICO. A tabela de p. 394 reproduz também o desenvolvimento das culturas 
paleolíticas (Idade da Pedra). Os verdadeiros hominídeos são caracterizados pela capacidade, não 
só de usarem utensílios, como também de os fabricarem intencionalmente. Nem sempre é possível 
distinguir os instrumentos mais primitivos dos produtos naturais («eólitos»), e muitos, não só 
no passado, como hoje ainda, são tomados por instrumentos construídos artificialmente, simples 
seixos providos de qualquer casual aresta. O uso de instrumentos deve ter tido início muito 
tempo antes do período no qual se efectuou a passagem do animal ao homem, na história sub­humana 
dos hominídeos. A constituição corpórea dos hominídeos, então filogenèticamente em via de 
formação, necessitava desta compensação (­> Origem do homem). Está até agora por esclarecer se 
os calhaus facetados encontrados recentemente nos depósitos dos australopitecídeos, que 
apresentam arestas cortantes, são realmente artefactos, isto é, utensílios, assim como continua 
por solucionar o problema de se saber se os «coups­de­poing» amigdalóides mais primitivos (tipo 
Oldoway), que foram também encontrados junto de certos fósseis de australopitecídeos, provêm de 
hominídeos mais evoluídos do que os australopitecídeos e seus contemporâneos. Também a chamada 
«cultura osteodontoquerática» (osso­ dente­chifre) dos australopitecídcos, tal como é 
apresentada por Dart, Fig. 2, está bem longe de ser indiscutível

e o mesmo se pode dizer também a respeito dos supostos

395
Paleontropologia

utensílios provenientes dos estratos do Pliocénico e do Plistocénico Inferior da Europa Central. 
Em qualquer dos casos, porém, é em África, no Vilafranquiano, que apareceram os mais antigos 
artefactos: calhaus rolados talhados nas extremidades «pebble tools»: «chopper» e «chopping 
tool» (raspadores) no vale do rio Vaal e em Oldoway. Parece assim que já no Vilafranquiano os 
homínídeos tinham atingido decisivamente o estádio de «tool­inaker» (= fabricante de 
instrumentos).

Ç Que podemos deduzir no que respeita ao ambiente * alimentação dos australopitecos nas suas 
relações com * fabrico de instrumentos? A marcha bípede destes primatas tão singulares parece 
estar de acordo com as condições climáticas em que viveram. A região era relativamente árida, de 
modo que os australopitecos deviam estar adaptados à vida no solo e não à vida na florestas 
(arborícola) como acontece com os antropó ides actuais. Contudo o ambiente ecológico de 
Paranthropus parece ter sido diferente do de Australopithecus. O primeiro viveu em condições de 
certa humidade, em áreas arborizadas pouco densas, cortadas por savanas, enquanto o ambiente de 
Australopithecus era nitidamente mais á rido e sem cobertura florestal. A sua alimentação teria 
sido em grande medida o reflexo destas condições ecológicas. Paranthopus era provàvelmente 
vegetariano; mas Australopithecus teria sido omnívoro. As condições climáticas tomaram­se mais 
duras (aridez progressiva), a estação seca tomou­se difícil de suportar, de modo que 
Australopithecus seria forçado, em face da escassez do alimento vegetal, a nutrir­se de 
insectos, aves, répteis (provàvelmente de ovos) e pequenos mamíferos ­ tipo de alimentação que 
se tomou provàvelmente cada vez mais preponderante à medida que a aridez aumentou. Esta pressão 
do ambiente deve ter conduzido a uma maior sobrevivência dos indivíduos mais inteligentes, mais 
capazes de solucionar os inúmeros problemas levantados pela difícil procura do alimento, e 
portanto actuando a selecção natural a favor daqueles que imaginaram utensílios, armadilhas e 
armas para descobrir e capturar as presas (Robinson, 1961). Imaginar não significa, 
obrigatóriamente, fabricar; numa primeira fase deve ter havido apenas utilização de objectos 
(ossos, pedras, paus?)

396
Paleontropologia

para determinados fins e só mais tarde é que os materiais devem ter sido intencionalmente 
trabalhados.

Um cérebro complexo é o principal carácter autênticamente humano que afasta o homem de todos os 
outros primatas, e a invenção de instrumentos traduz sem dúvida a existência de um psiquismo 
superior em relação ao dos precursores que não tinham esta aptidão. Todavia subsiste o enigma de 
se saber se os primeiros precursores do homem moderno (sapiens) viveram sob condições duras ou 
amenas

de ambiente.@

Parece que o primitivo Oldowiano e o Kafuaniano posterior (respectivamente do Oldoway, no 
Tanganica, e de Kafu, no Uganda), constituíram a base da evolução cultural pelas sucessivas 
indústrias amigdalóides. As amígdalas são instrumentos trabalhados nas suas duas faces e 
susceptíveis de variados usos («bifaciais; fala­se também de culturas de núcleo). A cultura 
amígdalóide ­como

parece hoje comprovado­ teve o seu centro em África, donde passou para a Europa (Ocidental), 
alastrando depois pela Ásia até à india, enquanto na Ásia Oriental prevalecem, até à penetração 
das culturas superiores, as culturas do «chopping­tool». Os tipos originais amigdalóides 
constituem o chamado Abevilliano (de Abbeville, em França) e remontam ao Paleolítico Anterior. 
Isto tanto é válido para a Europa Ocidental como para a África Oriental. A indústria amigdalóide 
mostra uma contínua evolução para tipos que revelam um notável aperfeiçoamento também do ponto 
de vista estético. Chegamos assim ao Acheuliano (de Saint­Acheuil, em França), muito expandido 
geogràficamente ­sem influenciar, todavia, as indústrias de «chopping­tool»­ e chega até ao 
Paleolítico, Médio. Ao lado das indústrias já mencionadas («chopping­tool», oldowiano, 
amígdalas) encontramos as chamadas «indústrias de pedra lascada» e surge o problema se estamos 
aqui perante fenómenos independentes (Clactoniano, Tayaziano) ou de «indústrias marginais»­que 
em quaisquer regiões poderiam apresentar­se isoladas.

No Paleolítico Médio apresenta­se uma cultura muito complexa (Europa, Ásia Ocidental, Ásia Menor 
e África) denominada Mustieriano (da caverna sobre a rocha de Le Moustier (em França), a qual 
apresenta a verdadeira cul­

397
Palcontropologia

tura do homem de Neandertal. O instrumento principal desta indústria é a ponta, extraída de uma 
lasca comprida. Fabricava também raspadores e outros objectos. Um utensílio típico da África 
Setentrional é a chamada «ponta pedunculada». Um fenómeno particular, que cronológicamente data 
do Acheuliano Médio e que é de natureza exclusivamente técnica, é oferecido pelo Levalloisiano 
(de Levallois, perto de Paris). Trata­se de um processo especial mediante o qual, de um núcleo 
prèviamente preparado por uma série de retoques, se destacam lascas. Também aí surge o problema 
de se nos encontramos perante uma cultura autónoma ou não. O que sucede com mais frequência é 
aparecerem utensílios levalloisianos isolados. Também se trataria aqui de uma ocasional 
independência técnica? O Mustieriano atinge com os seus últimos derivados o Palcolítico 
Superior. Para lá do Musticriano processa­se ­se bem que não se saiba ao certo se mergulha nele 
as próprias raizes­ a cultura das lascas ou lâminas agudas do complexo Aurígnaciano (de 
Aurignac, em França), a cultura do grupo Homo sapiens (Grahmann, 1952).

Estes são, sucintamente apresentados, os fenómenos culturais que pertencem ao sector das 
investigações da paleontropologia. Até que ponto é que aos diversos tipos da indústria lítica 
podem corresponder também determinados tipos antropológicos como artífices de tais tipos 
culturais? É este um problema que deve ser tratado em presença dos documentos fósseis 
palcontropológicos.

CLASSIFICAÇÃO SISTEMÃTICA. (­­­> Sistemática dos primatas). O arranjo taxinómico dos verdadeiros 
hominídeos fósseis (excluindo portanto os australopitecos ou pré­hominídeos) ainda hoje 
apresenta sérias dificuldades, que não diminuem com o aumento de material proveniente das 
escavações. Em grandes linhas, e apesar de tudo provisóriamente, podem­se dividir os hominídeos 
em três grupos:
1) Arcantropídeos; 2) Paleontropídeos; 3) Neaníropídeos (protoantropídeos, paleontropídeos e 
fanerantropídeos na classificação de S. Sergi). Quando se trata de sistematizar neste esquema 
urna série de achados manifesta­se grande divergência de opiniões. De qualquer maneira, o 
sistema que aqui se apresenta figurado revela­se útil do ponto de

398
Paleontropologia

vista prático. No futuro poderá ser completado e melhorado, com a articulação interna mais 
correspondente à realidade. Quanto à nomenclatura actualmente utilizada, não há dúvida de que é 
caótica. Com muita frequência, as formas fósseis encontradas recebem nomes de géneros e de 
espécies que todavia não têm qualquer valor sistemático. Nomes, por exemplo, como 
Pithecanthropus, Sinanthropus, Palaenthropus, Adwithropus, etc., podem ser compreendidos e 
utilizados apenas como uma tentativa de definir descritivamente um fóssil, mas não no sentido de 
lhes conferir uma posição sistemática definida.

Os australopitecídeos (pré­hominídeos), que representam um grupo sistemático na base 
própriamente humana dos hominídeos, são tratados à parte (­­> Origem do homem). A formação com 
os seus dois grupos (tipo Australopithecus e tipo Paranthropus) de uma subfamília Hominidac, ao 
lado dos verdadeiros hominídeos, proposta pela primeira vez por Heberer, pode também considerar­
se como uni arranjo provisório. Os achados mais recentes mostram que pelo menos a inclusão 
destes australopitecos nos hominídeos humanos se pode demonstrar directamente com base no 
material encontrado. Com efeito obtiveram­se recentemente resultados decisivos. Em julho de 1959 
L. S. B. Leakey, em colaboração com sua mulher, descobriu, nos estratos do Plistocénico Inferior 
(Vilafranquiano) da célebre garganta de Oldowai (Tanganica), na orla da estepe de Serengeti 
(África Oriental), os fragmentos de um crânio passível de restauro4 Estava muito bem conservada 
a dentição maxilar (molares). Junto dos restos do crânio encontrou­se uma indústria amigdalóide 
do tipo primitivo (01dowaiano), com a idade absoluta de cerca de 1500 000 anos. Este crânio 
pertence a um tipo que se insere claramente no grupo Paranthropug dos australopitecídeos (por 
exemplo, Paranthropuy crassidens, de Swartkrans, no Transval). A nova forma oldGwaiana foi 
designada pelo seu descobridor «Zínjanthropus» (do antigo nome egípcio «Zinj», para indicar a 
África Oriental). Também o tipo Australopithecus está documentado. já não resta dúvidas de que 
os australopitecídeos foram os criadores da cultura oldowaiana, sendo, portanto, fabricantes de 
instrumentos.

399
Palcontropologia

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Palcontropologia

Nesta conformidade, representam por isso (­­> Origem do homem) os hominídeos mais arcaicos que 
se conhecem.

Parece por esse facto legítimo incluir todos os grupos de verdadeiros hominídeos no género Homo. 
Todas as designações genéricas que têm sido até agora propostas revelam­se sem nenhum valor do 
ponto de vista sistemático. Igualmente as denominações das espécies não possuem qualquer valor 
sistemático e devem considerar­se provisónas na sua maior parte. O mesmo se pode dizer no que 
respeita aos aspectos genéticos do problema, porquanto não existe qualquer possibilidade de se 
saber, com base no simples estudo dos fósseis, que formas classificadas como espécies distintas 
não se comportaram na realidade como tal, mas sim como raças, dando lugar, portanto, a 
hibridações. Na realidade só em poucos casos há qualquer probabilidade de se encontrar uma 
população de híbridos. Por isso, aos numerosos nomes de espécies que no decurso das 
investigações foram atribuídos aos hominídeos fósseis não podemos atribuir um correspondente 
valor sistemático ou genético.

,A SITUAÇÃO ACTUAL DOS ACHADOS. Na breve descrição que segue e na caracterização dos grupos de 
verdadeiros hominídeos fósseis não consideraremos os representantes do Homo sapiens fóssil 
típico. (Eu­sapiens; ­­> História das raças). Os mapas geográficos (Fig. 91) ilustram a 
dístribuição geográfica dos principais grupos de hominídeos fósseis (compreendidos os 
australopitecídeos). Os grupos estão reunidos, com os seus principais representantes, na tabela 
de p. 400. Em 1952, sob a égide do XIX Congresso Internacional de Geologia, realizado em Argel, 
foi publicado, sob a orientação de H. V. Vallois e H. L. Movius, o «Catalogue des Hommes 
Fossiles», que contém uma lista completa de todos os fósseis hominídeos e dá informações sobre 
as condições da descoberta, sobre a glaciação e a natureza desses achados. Este catálogo tem 
sido continuamente actualizado (cf., entre outros, Boule­Vallois, 1952; Gieseler, 1957; Heberer, 
1950; Piveteau, 1957).

1) Arcantropídeos (Homo erectus): o grupo não pode ser delimitado com rigor. Provisbriamente 
podemos dividi­lo em dois subgrupos: um ocidental e outro oriental.

401
Paleontropologia

402
Paleontropologia

Fig. 91. 1, Expansão dos australopitecídeos. 1. Transval, 2. Garusi,

3. Java, 4. China

II. Expansão do grupo arcantopídeo e das formas pré­sapiens.
1. Java, 2. Chuku Tien 3. Sul da China 4. Heidelberg, 5. Ternifine; I. Steinheim, II. 
9wanscombe, III. @1ontéchevade, IV. Monte

Carmelo. V. KaiJera

III. Expansão do grupo neandertaliano e pré­neandertaliano e do grupo da Rodésia­Saldanha. 1. 
FranCa, 2. Bélgica Ocidente e Centro da Alemanha, 3. Espanha, 4. Itália, 4. Croá6a 6. Crimeia, 
7. Norte de Africa 8. Palestina 9. Iraque, 10. Uzbehuistão;

1. Broken 11111. II.'Saldanha

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Paleontropologia

A) Grupo ocidental: 1) Swcxtkrans (Transval), «Telanthropus capensis». Forma que se provou 
pertencer aos estratos inferiores do Plistocénio Médio constituída por uma mandíbula, um 
fragmento de mandíbula e parte da abóbada palatina. É duvidoso se se trata de um tipo 
pertencente aos australopitecídeos ou já aos verdadeiros hominídeos. Alguns autores têm 
sustentado que o «Telanthropus», que representaria a forma mais evoluída, sendo fabricante de 
instrumentos líticos, teria expulsado os australopitecídeos, que viviam na mesma zona. Esta 
hipótese, baseada nos achados mais recentes, feitos na garganta de Oldoway, já não parece 
verosímil, pelo menos na versão mantida até agora. Os australopitecídeos também eram «tool­
maker». O «Telanthropus» poderia talvez ser incluído no campo das variações do tipo Paranthropus 
(mas contra esta hipótese milita, entre outras coisas, o ramo ascendente muito curto da 
mandíbula).

2) Heidelberg (Alemanha). «Homo heidelbergensis» (ou «Eurantropo de Mauer» (do nome da caverna 
onde foi encontrado, S. Sergi). O achado consta de uma única mandíbula, proveniente de um 
estrato do Plistocénico Inferior, e é conhecido desde 1907. Pertence ao período interglacial 
Günz­Mindeliano ou ao Mindeliano­Rissiano. A existência de uma cultura primitiva de utensílios 
(descrita recentemente por Rust, que fala de uma cultura heidelbergense) é posta em dúvida por 
alguns especialistas (Oakley e outros). Do ponto de vista anatómico não há dúvida de que se 
trata de um típico representante dos verdadeiros hominídeos. (Na Fig. 92 pode confrontar­se a 
maciça mandíbula de Heídelberg com a do grupo Paranthropus de Swartkrans, que é maior. Observa­
se na de Heidelberg a dentição típica dos verdadeiros hominídeos e na de Swartkrans a redução 
dos dentes anteriores e o relativo engrossamento dos posteriores)_

Poder­se­ia, a este propósito, inserir aqui uma observação sobre o tamanho dos dentes e das 
mandíbulas, que levou à chamada «hipótese dos gigantes» (­­­> Origem do homem). Depois que na 
China foram «descobertos», em farmácias chinesas, alguns dentes de extraordinário tamanho (v. 
Koenigswald), nos últimos tempos foram encontrados também «in situ» dentes com as mesmas 
caracterís­

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Paleontropologia

ticas, além de três mandíbulas de proporções gigantescas. A forma em questão já tinha sido 
denominada Gigantopithecus por v. Koenigswald. Logo se estabeleceu polémica sobre o problema da 
sua classificação: ou se tratava de hominídeos bípedes, o que era improvável por motivos de 
estática, ou era um grande pongídeo cujas extraordinárias dimensões teriam superado as de um 
corpulento gorila. Weidenreich admite a existê ncia de formas de grandes dimensões («gigantes») 
entre os ascendentes dos hominídeos autênticos. Além de existirem numerosos argumentos 
contrários a esta ideia do ponto de vista da anatomia comparada e da genética, há ainda contra 
esta hipótese o facto decisivo de o Gigantopíthecusser geológicamente muito jovem (Pei considera 
provável que tenha sobrevivido até ao fim do Plis­      Fig. 92. Confronto entre as di­

mensões da mandíbula do Parantocénico Inferior). Com       thropus crassidens (em cima) e

do Homo heidelbergensis (em base no material hoje exis­               baixo) tente, parece que o 
Gigantopithecus se avizinha mais   dos australopitecídeos do que os pongídeos. Nâo, está 
excluída a hipótese de instituir uma nova subfamília, a dos «gigantopitecídeos» 
(Gigantopithecinae) que se incluiria quer nos pongídeos, quer nos horninídeos.

3) Ternifine (perto de Orã). Três mandíbulas e um osso parietal. Novos achados (1954­55) do 
Plistocénico Médio que C. Arambourg, seu descobridor, denominou «Atlanthropus maw@tanicus». No 
mesmo local foi encontrada uma indústria amigdalóide do período Acheuliano. Do ponto de vista 
anatómico reconhecem­se algumas analogias com o grupo oriental dos arcantropídeos, especialmente 
com a forma chinesa «<Sinanthropus»). Podemos

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Paleontropologia

portanto considerar a existência de uma polítipia no interior da linha evolutiva dos 
arcantropídeos, não se podendo porém esperar uma estreita semelhança das várias raças, dadas as 
grandes distâncias geográficas. A hipótese de uma relação directa com o «Sinanthropus» opõe­se 
também a grande diferença cultural; no «Sinanthropus» uma cultura de «chopping­tool», no 
«Atlanthropus» já uma cultura acheuliana diferenciada. Geológicamente um pouco mais recente é um 
fragmento de mandíbula descoberto em Casabla,nca.

4) Eyasi (lago Njarasa, África Oriental). Trata­se de alguns achados descobertos por KAI­Larsen 
em 1935 e reconstituídos de maneira muito discutível por Weinert.
O «Africanthropus njarasensis» é aqui recordado apenas como complemento, visto ser considerado 
por muitos autores como um representante dos arcantropídeos. Mas na realidade a sua morfologia é 
de tão difícil avaliação que não podemos incluí­lo nos arcantropídeos, tanto mais que remonta ao 
Plistocénico, Superior. Trata­se talvez de uma forma relacionada com os paleontropídeos.

Em 1960, também na garganta de Oldoway, juntamente com indústria amigdalóide abevilliana, foi 
descoberto um crânio de arcantropídeo claramente diferenciado.

B) Grupo oriental; 1) «Pithecanthropus erectus». É o primeiro achado clássico de um 
arcantropídeo; foi descoberto por E. Dubo@s (1891­92), próximo de Trinil, na ilha de Java. Entre 
1936 e 1941 fizeram­se novas descobertas de fósseis deste tipo (Fig. 97, 1 c), a cargo de v. 
Koenigswald, em Sangiran, perto de Trinil. Trata­se de achados que cronológicamente se situam no 
Plistocénico Médio, talvez pertencentes à forma «modjokertensis» (Modjokerta), do Plistocénico 
Inferior. Hoje possuem­se conjuntamente os restos de cinco calotas cranianas, fragmentos de 
maxilares e de mandíbulas, um fémur completo e os restos de quatro fémures (Fig. 97, 1 c; 
reconstituição de Weidenreich). Caracteres morfológicos: forte platicefalia, a parte orbitária 
do frontal formando um bordalete contínuo em viseira, forte arcada supra­orbitária e acentuado 
rebaixamento retro­orbital da calota craniana (Fig. 93); forte prognatismo. A capacidade 
craniana, que é inferior a 10000­3, no « Pithecantropus II» de Sangiran é sómentc

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Paleontropologia

de 750­3. A dentição é possante, com diastema        12 e C). Em norma occipital o crânio tem um 
contorno pentagonal (Fig. 94). Um fragmento de mandíbula particularmente robusta, atribuída a um 
provável «Meganthropus palaeojavanicus» pode estar mais próximo dos australopitecídeos do grupo 
de Swartkrans. Hoje já não restam dúvidas de que os fémures pertencem ao «Pithecanthropus»; 
deste modo fica assegurada a posição erecta com capacidade craniana relativamente pequena.

No seu tempo, houve grande entusiasmo com a descoberta do «Pithecantropus», que foi considerado 
como sendo o desejado «missing link» (elo de ligação), e com certa razão, visto que o «Pithe­ 
M canthropus»      apresentava inorfológicamente     alguns caracteres    intermediários 
A em relação, aos pongídeos.                                Ai Hoje parece muito provável que o 
«Pithecanthropus» represente uma forma intermédia entre os pongídeos e os australOpi­       Fig. 
93. crânios (eu­)hominídeos tecídeos    pré­hominídeos,   em norma superior. Em cima, à

esquerda: Pithecanthropus; à diA maior parte dos auto­     reita: Sinanthropus; em baixo,

à esquerda: homem de Neanderres não é porém desta opi­         tal; à direita: Rodésia nião Ç, 
os quais devem ter tido uma longa história independente relativamente à dos pongídeos. Quanto à 
cultura dos arcantropídeos de Java, pode­se tomar em consideração o «Patjítaníum», uma cultura 
de «chopping­tool» diferenciada, pois ela foi encontrada no mesmo horizonte no qual não são 
conhecidos restos de outros hominídeos. (quando muito dos australopitecídeos:) por exemplo, o 
«Meganthropus»).

2) «Palaenthropus javanicus», de Ngandong (Java). Trata­se da forma dos arcantropídeos mais 
evoluída, descoberta em 1931 não longe do clá ssico depósito do «Pithe­

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Paleontropologia

canthropus» de 1891, sempre nas proximidades do rio Solo (Fig. 97, 1 d). O achado, que remonta 
ao Plistocênico Superior, compreende restos de onze­doze calotas cranianas cujo estado faz supor 
que naquela época era praticado o canibalismo e a caça às cabeças. A morfologia da calota 
craniana parece justificar a hipótese que se trata de descendentes tardios do grupo 
«Pithecanthropus». Os crânios revelam ainda forte platicefalia com proscopinia extremamente 
acentuada. Não obstante as notáveis dimens3es (são na verdade os maiores crânios fósseis que 
alguma vez se encontraram), a capacidade é relativamente pequena e oscila entre os 1100 e os 
1235em3. De qualquer maneira não é razoável classificar o grupo de Ngandong como 
«neandertalianos asiáticos», visto que se forem comparados com o Homo neanderthalensis surgem 
diferenças consideráveis. É notável a superior capacidade craniana dos neandertalianos, que 
oscila  entre os 1300 e os 1700e­3. Achamos

portanto preferível atribuir o grupo de Ngandong aos arcantropídeos, do qual se­

representante mais ria o recente. A sua posterior evolução, que teria dado origem     aos 
australóides recentes («Homo sapiens australasicus»), (Weidenreich) deve ser considerada como 
altamente improvável. A morfologia das Fig. 94. Crânios de (eu­)hominÍ­   duas tíbias perinite 
condeos em norma occipitai. Em        Cluir que a posição erecta cima, à esquerda: 
PithecanthrQ­    era já uma aquisição defipus; à direita: Ngandong; em         . . baixo à 
esquerda: homem de         nitiva. Neandertal; à direita: Homo sa­

piens                    3) «Sinanthropus pe­

kinensis» (Fig. 100, 1 e). Os achados fósseis do «Sinanthropus», descobertos na caverna de Chuku 
Tien, perto de Pequim, constituem a mais completa herança fóssil de um tipo arcantropídeo do 
Plistocénico Médio. Trata­se dos restos de mais de quarenta indivíduos (catorze crânios e 
mandíbulas de diferentes idades, perto de cento e cinquenta dentes e alguns frag­

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Paleontropologia

mentos de fémur e de úmero). O pn*meiro crânio foi descoberto pelo antropólogo chinês Pe@ em 
1929, durante uma escavação dirigida por D. Black (que inventou o nome de «Sinanthropus»). As 
escavações terminaram em 1937, em consequência da guerra sino­japonesa. Todo o material (acerca 
do qual existem estudos monográficos de F. Weidenreích perdeu­se no decurso da segunda guerra 
mundial. Recentemente Pei e colaboradores recuperaram alguns restos (dentes e fragmentos de 
extremidades). já antes se havia reconhecido estreitas relações morfológicas com os 
arcantropídeos de Java (Fig. 97, 1 c).

Os tipos chineses e javaneses não podem constituir espécies diversas e muito menos géneros 
diferentes. São preferíveis as designações de Homo erectus erectus (Java), Homa erectus 
pekinensís (China) e Homo erectus soloensis (Java), considerando­se as três formas como raças 
diferentes. Talvez o Homo erectus soloensis possa ser considerado como uma espécie própria (mais 
tardia), Homo soloensis.

Morfologia da forma chinesa: notável platicefalia, se

bem que a curvatura da calota craniana exceda a da forma javanesa. Notável desenvolvimento da 
viseira supra­orbitária com toros supra­orbitais fortemente acentuados. Os volumes encefálicos 
estão compreendidos entre os 1000 e os 1235cn@3. A dentição é muito forte e nos adultos os 
dentes seguem­se sem intervalos (diastemia). Também aqui o perfil do crânio em norma occipital é 
«anguloso» e a norma vertical mostra a acentuada restrição pós­orbital (Fig. 97, 1 e). A 
recuperação das extremidades permitiu reconhecer entre os vários ossos uma proporção análoga 
àquela que se revela na posição bípede erecta típica dos hominídeos. Provou­se que utilizava o 
fogo (o mais antigo achado seguro), e os instrumentos encontrados testemunham a existência de 
uma cultura de «chopping­tool», rica de tipos, o Chuku­tienium.

Baseado no achado dos dentes, sempre na China Meridional, recentemente v. Koenigswa2 descreveu 
uma nova

forma do «Sinanthropus», o chamado «Sinanthropus officinalis». Antigamente supunha­se que no 
«Sinanthropus» se podia filiar a primeira formação dos caracteres raciais típicos dos 
neantropídeos mongolóides (por exemplo, o

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Paleontropologia

«orus mandibularis»). Esta interpretação não foi confirmada e desistiu­se dela.

Eis assim, em grandes linhas, um quadro dos achados dos arcantropídeos fósseis. Naturalmente que 
numerosos problemas foram omitidos. Do ponto de vista filogenético, os arcantropídeos foram 
mesmo considerados os ascendentes dos palcontropídeos: esta afirmação é bastante problemática. 
Pelo contrário, existe a opinião de que os arcantropídeos do Plistocénico Médio ­ pelo menos os 
tipos que se conhecem ­ não representariam um estádio da linha evolutiva que conduziu à 
sucessiva irradiação dos hominideos no Plistocénico.

C) Grupo Saldanha­Rodésia: a classificação destes hominídeos africanos da última glaciação 
sugere um problema. Alguns consíderam­no um grupo especial dos arcantropídeos derivado dos 
australopitecídeos em consequência de uma evolução particular; outros entendem incluí­los entre 
os paleontropídeos. Trata­se, portanto, de formas que teriam atingido o estádio dos 
neandertalianos. Estes não podem, porém, considerar­se os representantes de um «neandertaliano 
africano», tal como o tipo do Ngandong dos arcantropídeos da Ásia Oriental não representa um « 
neandertaliano javanês». Constituem, portanto, um tipo «sui generis». Podemos por isso 
considerar o interessante conjunto das formas Saldanha­Rodésia como um grupo especial incluído 
nos arcantropídeos, embora esta opinião não tenha aceitação geral. Até agora existem dois grupos 
de achados: Broken. Hill (1921), Rodésia Noroeste e Saldanha (1952­53), perto de HopefiettI, 
baía de Saldanha, 145 km ao norte da Cidade do Cabo. Designamos este tipo por «Homo rhodesiensis 
(o gênero «Cyphanthropus», de Pykraft, não se justifica).

I) Broken Hill (Fig. 97, 1 f): o espólio fóssil é constituído por um crânio quase completo, 
restos de maxilar e mandíbula e outros ossos pertencentes a diversos indivíduos. O crânio é de 
dimensões consideráveis (comprimento,
206­m), tem estrutura maciça, com fortes hiperesteoses, e a capacidade craniana é relativamente 
pequena (1325=3). Os toros supra­orbitais sã o muito desenvolvidos, a fronte é fugidia. A parte 
superior do crânio é modelada de modo um tanto grosseiro. A parte óssea da face é enorme. De

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Paleontropologia

qualquer maneira encontramo­nos perante um tipo cujos caracteres morfológicos apresentam 
aspectos extremos, tão fortemente  especializados que não é possível considerá­lo como um 
precursor do Homo sapiens. Parece também errado ver  no Homo rhodesiensis um ascendente dos 
Negróides. A primeira vista a semelhança com o clássico homem de    Neandertal parece 
considerável. A curva occipitaI, entre outros aspectos, revela, porém, grande semelhança também 
com os tipos de Ngandong e Sapiens, com este último sobretudo, pelo que respeita à posição e à 
forma do buraco occipital (foramen magnum). Muito diferente da do «Homo neandertalensis» é porém 
a estrutura do esqueleto pós­cranial, que pouca sensação teria produzido se fosse encontrado sem 
o crânio, porquanto é essencialmente semelhante ao do Homo sapie­ns. Encontramo­nos portanto 
perante um fenómeno análogo ao dos arcantropídeos asiáticos. Recentemente pôde resolver­se o 
problema da datação: estes restos remontam aos estratos mais recentes do Plistocénico Superior. 
Os objectos encontrados junto dos restos fósseis correspondem à cultura proto­Stillbay 
(Paleolítico Superior, Levalloisiano avançado).

2) Saldanha: uma calota (reconstituída com base em numerosos fragmentos postos a descoberto pela 
erosão eólica) e um resto de mandíbula. A calota revela o tipo rodesiano, mas um pouco menos 
acentuado; como apresenta caracteres menos extremos, pode ser considerada como forma 
antecedente. Também do ponto de vista geológico revela maior antiguidade. Os utensílios 
encontrados na mesma glaciação testemunham uma cultura amigdalóide (o chamado Stellenbosch V), 
que corresponde ao Acheuliano até Stillbay. O principal significado do achado de Saldanha 
reside, em primeiro lugar, no facto de ele vir confirmar, pelas suas características, o tipo 
rodesiano de Broken HilI, demonstrando que ele não representa, como era sustentado por muitos 
autores, um hominídeo recentíssimo atacado de hiperosteose, em parte patológica, em parte 
geológica. Esta opinião apoia­se também na circunstância de haver uma forte cariose dentária. 
Talvez seja conveniente integrar neste tipo os achados de Eyasi «<Africanthropus»), de que já 
tratámos (Gieseler).

411
Palcontropologia

II) OS PALEONTROPíDEOS. É bastante difícil definir as relações deste grupo de hominídeos em 
comparação com os precedentes, como o demonstrou a discussão dos achados de Ngandong e da 
Rodésia. O grupo central dos paleontropídeos é constituído pelos «neandertalianos» (os 
euneandertalianos) e os seus imediatos predecessores (os «pré­ncandertalianos»). Examinemos em 
primeiro lugar as formas cuneandertalianas típicas.

A) Neandertalianos «clássicos»: conhecemos este conjunto de formas da época da sua clássica 
descoberta numa caverna em Neandertal, perto de Düsseldorf, em 1956 (­­­>História da 
antropologia). Hoje temos conhecimento de cerca de cento e trinta indivíduos (por     vezes 
trata­se apenas de dentes e de pequenos fragmentos      de maxilares, mas conhecem­se também 
esqueletos inteiros     e muitos crânios) e continuamente surge novo material.

Cronológicamente, são os seguintes os      achados mais importantes: Gibraltar (Forbe's Quarry), 
1848; sómente em 1964 se reconheceram nestes documentos as características do tipo 
neandertaliano; Neandertal («igreja de Feldhof»), 1856; Spy (Bélgica), 1886; La Chapelle aux 
Saints (França), 1905; Le Moustier (França), 1908; os restos fósseis foram destruidos pelos 
efeitos da guerra; La Quina (França), 1908­21; La Ferrassie (França), 1909­12; Monte Circeo 
(Itália), 1939, e recentemente Petralona (Grécia).

Os achados deste tipo, todos considerados expoentes do neandertaliano «clássico», remontam à 
última glaciação (período Würmiano) e prolongam­se até a dois terços da mesma. Nalguns locais 
estes últimos representantes do tipo neandertaliano parece terem sido contemporâneos dos 
neantropídeos (tipo Sapiens). A difusão geográfica do grupo euneandertaliano é mostrada na Fig. 
91 (mapa III).

A fim de descrever este tipo utilizamos o crânio do esqueleto de La Chapelle aux Saints (Fig. 
97, 11 a e b). A calota craniana sobressai pelas suas proporções excepcio.nais, às quais 
corresponde também um volume encefálico relativamente elevado. Ultrapassa, em média, o do Homo 
sapiens (1500em3 no macho, 1350 na fêmea), com um valor máximo de 1723en,3 (Spy II). Se 
abstrain­nos da altura do crânio, todas as medidas cranianas devem ser consideradas excessivas. 
O comprimento do crânio supera

412
Paleontropologia

os 190 nim em todos os adultos do sexo masculino, algumas vezes até os 200; a largura oscila à 
volta de 150 mm.
O índice cefálico, de cerca de 70­76 (da dolicocefalia à mesocefalia), nada revela de 
particular. Também as outras dimensões apresentam valores superiores aos de quaisquer raças 
actuais, apenas a altura do crânio constitui excepção.

Estas grandes dimensões do crânio são acompanhadas de estrutura maciça e de morfologia 
característica. Antes de tudo nota­se um forte toro supra­ orbitário, que forma uma viseira 
contínua de uma sutura fronto­zigomática para a outra. Parte da arcada supraciliar confunde­se 
com a supra­orbital, enquanto nos neantropídeos, à parte poucas excepções nas raças primitivas, 
há apenas um relevo da arcada supraciliar e mesmo assim pouco desenvolvido.
O percurso do perfil sagital médio do neurocrânio, (em norma lateral) (Fig. 97, 11 b) mostra 
notável platicefalia; a fronte é fugidia. A região occipital apresenta forma. cónica, com 
encurvamento relativamente pronunciado para a secção basal. Em norma vertical (isto é, para quem 
observe de cima) é claramente visível a forma alongada do neuro­crânio (Fig. 93) e um forte 
estreitamento retro­orbital. Em norma occipital, o contorno tipicamente neandertaliano do crânio 
delimita um largo oval arredondado, não tendo já a forma pentagonal mais ou menos acentuada, que 
se .acompanha, nos arcantropídeos, de maior largura na base nem tão­pouco apresenta ainda o 
desenvolvimento aproximadamente vertical dos parietais, que é uma característica dos 
neantropídeos (Fig. 94). Do ponto de vista morfológico, destaca­se no neurocrânio, o fraco 
desenvolvimento da apófise mastoidea. Esta estrutura característica do neurocrânico é 
acompanhada de outros aspectos igualmente bem definidos: faces e maxilares muito grandes com 
órbitas grandes e arredondadas; ampla abertura nasal, etc. A cabeça é volumosa, com a parte 
facial bastante desenvolvida em relação à porção craniana. O oeciput é saliente e comprido no 
sentido da vertical. Maxilares superiores desprovidos de fossas caninas; regiâG facial comprida, 
com os ossos malares achatados e fugidios. Maxila inferior robusta, de largos ramos ascendentes. 
O mento é rudimentar ou ausente. Toda a face, que é longa, apresenta a forma de um verdadeiro 
«focinho». A dentição do neandertaliano,

413
Palcontropologia clássico ­ conhecem­se de trezentos a quatrocentos den~ tes ­ é maciça mas 
tipicamente «humana», sem indícios de diastema ou quaisquer características particulares que 
poderiam fazer pensar numa descendência a partir dos pongídeos. Relativamente ao neurocrânico, a 
face é notàvelmente maior do que é habitual nos crânios dos nean~ tropideos.

Também acerca do tronco e das extremidades do neandertaliano se têm noções relativamente 
precisas, se bem que se disponha de muito menos esqueletos do que de crânios. As extremidades 
têm forma maciça e grosseira, os fémures apresentam um encurvamento para a frente, o antebraço 
possuí um vasto espaço interósseo entre* o rádio e o cúbito. A velha opinião de que a postura 
erecta do homem de Neandertal não era completa, pois que ele tinha a cabeça muito inclinada para 
a frente, tem de ser abandonada com base nas recentes considerações relativas às vé rtebras 
cervicais e às articulações da tíbia. O neandertaliano possuía a posição erecta comum ao homem 
actual. A altura do seu corpo devia oscilar entre os 155 e os 165 em; tratava­se, portanto, de 
homens de fraca estatura. Os crânios de criança que foram descobertos (os mais importantes: 
Techik­Tach, na República do Uzbequistão; Pech de l'Azé; La Quina) mostram os caracteres 
neandertalianos na idade infantil.

A distribuição geográfica que se vê no mapa III (Fig. 91) permite reconhecer que até agora não 
são conhecidos neandertaliaws típicos na África ou na Ásia Oriental. Sobre a origem e o destino 
do grupo neandertaliano, as opiniões não são ainda unânimes. Em primeire, lugar não é possível 
estabelecer se os neandertalianos constituíam uma verdadeira espécie, diferente da do Homo 
sapiens (Neantropídeos): se assim fosse, a denominação «Homo neanderthalensis» seria 
justificada; caso contrário, isto é, se a diferença em relação ao Homo sapiens fosse apenas de 
natureza racial, teríamos de designá­lo por «Homo sapiens neanderthalensis». De qualquer 
maneira a peculiaridade morfológica do neandertaliano clássico é bastante acentuada para 
permitir manter a hipótese de se tratar de uma espécie independente. Contràriamente à 
denominação, muito utilizada no passado, de Hamo primigenius» (Wilser, 1904),

414
Palcontropologia

passou a ter o nome de «Homo neanderthalensis» (King,
1864), que tem a seu favor, entre outros, o argumento da prioridade cronológica. Em qualquer 
caso, com o nome «ncanderthalensis» fica delimitado um grupo morfológicamente bem definido.

O problema da origem do grupo não pode ser tratado antes da descrição dos pré­neandertalianos. 
Mas quanto ao destino filogenético do neandertaliano clássico, há certa unidade de opinião. Pode 
considerar­se estabelecido o seguinte: no sentido evolutivo não houve passagem das populaçõ es 
do tipo neandertaliano clássico às populações do tipo Sapiens; o neandertaliano clássico da 
glaciação de Würrn é antes uma forma particular do homem do Plistocénico Superior adaptado à 
área pré­glacial extinta no decurso da mesma glaciação; na sua extinção tomaram parte activa, 
provávelmente, os neantropídeos do grupo Sapiens que, vindos do Oriente, os expulsaram ao 
ocuparem a sua área de distribuição. É possível que tenha havido uma troca ou fluxo genético (­> 
Genética das populaç6es) entre as populações neandertalianas e Sapiens, que habitassem já a 
mesma região. Mas esta símpatria (existência na mesma área geográgica) e hibridização (talvez 
expressa pelos achados do Monte Carmelo, na Palestina) não teve qualquer importância do ponto de 
vista filogenético. Podemos por isso considerar os neandertalianos típicos como um ramo que se 
extinguiu sem deixar descendência. O tipo neandertaliano, foi o criador da cultura mustieriana 
(pontas de pedra trabalhadas).

B) Pré­neandertalianos. Enquanto os paleontropídeos euncandertalianos pertencem à última 
glaciação, na fase antecedente, no período interglacial Riss­Würmiano, aparecem diversos tipos 
de hominídeos entre os quais os chamados «pré­neandertalianos» podem ser considerados como a 
base filogenética da qual provém o cuncandertaliano. ‘

Os achados mais importantes são: Weimar­Ehringsdorf. (Alemanha), 1914 e 1916 (mandíbula), 1925 
(calota craniana); Krapína (Croácia), 1895, 1899, 1905 (fragmentos d@ vinte indivíduos); 
Saccopastore (Roma), 1929, 1935 (dois crânios); Ganovce (Eslováquia), 1926 (calco endocraniano e 
restos de crânio); Gibraltar, 1848 (?) (fragmentos de crânio).

415
Palco ntrop ologia

Os pré­neandertalianos possuem as características dos euneandertalianos mas de forma menos 
acentuada: a estatura era inferior, menor a capacidade craniana e superformações ósseas (por 
exemplo, toros supra­orbitais) menos acentuados, traços da fossa canina, etc. Podem servir de 
exemplos a calota craniana de Weimar­Ehringsdorf (Fig. 57 b) e de Saccopastore (Fig. 97, 11 c). 
Não existe qualquer argumento ponderoso contra a hipótese de o tipo neandertaliano clássico 
remontar de facto, filogenèticamente, ao pré­neandertaliano, do último período intergIacial. Os 
pré­neandertalianos representam portanto, verosimilmente, o ponto de partida do processo 
evolutivo que devia mais tarde terminar nos neandertalianos típicos e, por sua

vez, poderiam remontar aos      arcantropídeos, sem, porém,

uma morfologia tão acentuada como a que exibem as formas chinesas e javanesas deste último 
grupo. Ififelizmente, dos arcantropídeos ocidentais (Heidelberg, Ternifine) conhecemos apenas a 
estrutura da mandíbula e nada se sabe acerca do crânio. Não é de excluir que o ramo 
palcontropídeo dos hominídeos do Plistocénico possa ser considerado como relativamente próximo 
Fig. 95. Reconstrução    do     dos australopitecídeos que neandertaliano clássico (se­

gundo Heberer)            conhecemos. E talvez a este

respeito possa auxiliar­nos a

constituir um ponto    firme o recente achado de Leakey, na África Oriental, denominado «Hamo 
habilis».

f Neste ponto surgem, porém, dúvidas. Homo habilis é decerto um hominídeo,  ‘ talvez um 
australopitecídeo bastante evoluído, vizinho provàvelmente do escalão dos pitecantropídeos. A 
sua posição é, porém, ainda duvidosa. As futuras investigações talvez decidam se se trata de uma 
espécie distinta do género Homo, ou se, pelo contrano, é um australopitecídeo ou mesmo um 
pitecantropídeo (seg. dados em Brace and Montagu, 1965: 210­211).Ç Não

416
Palcontropologia

podemos esperar que os tipos do Homo erectus da China e de Java sejam os antepassados directos 
dos neandertalianos, hipótese que não é de resto do consenso geral. Um achado recente perto de 
Mont Maurin, em França, de uma mandíbula que remonta ao último período interglacial revela de 
resto uma posição intermédia entre a mandíbula de Heidelberg e os neandertalianos e lança uma 
ponte entre os arcantropídeos e os paleontropídeos ocidentais. Pode­se, portanto, em primeira 
aproximação, fixar uma sucessão de tipos Heidelberg, Mont Maurin, pré­neandertalianos, 
euneandertalianos. Na sua parte evolutiva basilar esta sucessão é porém demasiadamente escassa 
em documentos.

Entre as diversas tentativas (cf. Kurth, 1958) de reconstituição da cabeça do neandertaliano 
clássico podemos apresentar a do próprio autor deste artigo (Fig. 95). Trata­se de uma 
reconstituição sem pretensões à infalibilidade. É óbvio também que o aspecto fisionómico é 
absolutamente hipotético; todavia se lhe supusermos uma densa barba, que deve, com certeza, ter 
existido, mas da qual abstraímos aqui para melhor poder revelar a região mandibular, a cabeça 
assim reconstituída é uma figuração plástica que tem certas probabilidades de ser fiel ao 
original.

III) OS NEANTROPíDEOS. O grupo polimorfo constituído pela espécie Huma sapiens só será aqui 
tratado até ao primeiro aparecimento do tipo (eu­)sapiens moderno, isto é, até surgirem os 
primeiros representantes da raça do Cro­ ~Magnon da última glaciação. A opinião anteriormente 
defendida de que o tipo (eu­)sapiens tivesse derivado directamente dos neandertalianos clássicos 
corresponde aos conhecimentos da palcontropologia do primeiro quartel do século xx. Os dados 
modernos sugerem porém que situemos o início da história evolutiva do verdadeiro Homo sapiens, 
isto é, dos neantropídeos, pelo menos no período intergIacial Riss­Würmiano. Com efeito, não só 
na última glaciação há claros indícios de existir o tipo Sapiens, como já no precedente período 
interglacial (Riss­Würm) está feita a prova directa da existência, além da dos neandertalianos, 
de formas que preludiaram o Homo sapiens. Estes restos remontam ao período interglacial Mindel­
Riss. Mencionamos aqui só de passagem a famosa falsificação do «Eoan­

417
Paleontropologia

thropus Dawsoni» (1908­15), que, atribuído primeiro ao Plistocénico e em seguida ao Plistocénico 
Inferior, constituíacom a sua combinação de características de pongídeos (fragmento de 
mandíbula) e de hominídeos modernos (fragmentos da calota craniana) um achado absolutamente 
surpreendente. Esta falsificação, executada com enorme perícia, deu origem a grande 
controvérsia, até que, em
1953, com o teste do flúor e outros métodos, se demons­

Fig. 96. Reconstituições de homens fósseis: da esquerda para a direita: Steinheim, Cro­Magnon, 
La Chapelle aux Saints,

Chuku­Tien, Skhul 5 (segundo Maurice P. Coon)

trou que se tratava de fraude. Com o Eoanthropus desapareceram as dificuldades que se apunham à 
formulação de uma teoria da filGgenia humana. Outros achados de Humo sapiens, considerados 
antigos (Galley ILII, Oldoway, Kariam) são eliminados das nossas considerações devido à sua 
datação, manifestamente errada ou duvidosa.

A) Grupo pré­sapiens. Os mais antigos documentos que mostram caracteres típicos do Homo sapiens, 
ainda que sob forma arcaica, remontam ao Plistocénico Médio. Incluimos provisoriamente no grupo 
pre­sapiens todos os os neantropídeos que precedem o aparecimento do tipo (eu­)sapiens:

1) Kanjera (África Oriental, 1931­32. Os achados constam de vários fragmentos de calotas de 
quatro crânios.

418
Paleontropologia

No estado actual das pesquisas, os achados não estão ainda geolègicamente identificados. O seu 
descobridor, L. S. B. Leakey, propende para o Plistocénico Médio. No caso de esta hipótese se 
confirmar os achados revestem­se de excepcional importância para a filogenia do tipo Sapiens, 
visto que as calotas (particularmente a terceira) mostram claramente caracteres próprios desse 
tipo. A região frontal, por exemplo, apresenta conformação semelhante à do homem actual, sem o 
mínimo vestígio do toro supra­orbital. No momento, porém, a ciência conserva­se, perante os 
achados de Kanjera, em atitude de expectativa.

2) Steinheim sobre o Murr (Alemanha Meridional),
1933. Trata­se de um crânio que se pode datar com certa segurança e cuja morfologia é muito 
interessante (Fig. 97, II e). Dada a presença, entre a fauna que o acompanha, de restos do 
«Elephas antiquus», o achado deve partencer ao período interglacial Mindel­Rissiano 
(Plistocénico Médio). Infelizmente o crânio não era acompanhado de restos culturais. Sobre a 
importância deste fóssil a opinião e unânime: possui caracteres bastante próximos do tipo 
Sapiens, que se revelam especialmente na forma da região occipital (curva sagital com occipício 
arredondado, curva transversal com desenvolvimento «pentagonal»). Esta morfologia é acompanhada 
de urna fronte com toro supra­orbital um tanto marcado; além disso existe uma nítida fossa 
canina. As opiniões sobre estes caracteres são ainda contraditórias. De resto falta ainda um 
estudo monográfico aprofundado sobre este fóssil. Não parece oportuno, em todo o caso, incluí­lo 
no complexo neandertaliano, e portanto nos palcontropídeos. Se o fizéssemos a amplitude de 
variação deste grupo seria levada demasiado longe e falsear­se­ia a realidade dos factos. já foi 
afirmado, e com razão (Le Gros Clark e outros) que as diferenças entre Steinheim e os 
neantropídeos são demasiado reduzidas para que possa justificar­se a sua relacionação estreita 
com os neandertalianos. A presença dos toros supra­orbitais, análogos aos dos neandertalianos, 
pode ser devida a evolução paralela, a uma aquisição independente, perante wn tipo pré­sapiens 
caracterizado pela presença de uma conformação proscopínica. De qualquer forma o achado de 
Steinheim revela que já muito cedo, no Plistocénico, se devem ter

419
Palcontropologia
Paleontropologia

desenvolvido alguns caracteres morfológicos típicos do Homo sapiens.

3) Swascombe (Inglaterra), 1935­36 (Fig. 97, 11 f). Os achados constam de um occipital, de um 
parietal esquerdo e de outro direito; remontam ao Plistocénico, Médio (período interglacial 
Mindel­Rissiano). Os fragmentos, submetidos a uma série de observações (mensurações, estudo 
anatómico, etc.) revelam nítida afinidade com o tipo Sapiens e particular semelhança com 
Steinheim. A forma da curva transversal, mais ou menos pentagonal, pode ver­se na Fig. 57. A 
interessante tentativa de Breitinger (Fig. 97, II f) de reconstituir a parte frontal do crânio 
de Swanscombe com uma moderada conformação de viseira e de restaurar todo o crânio é, pelo 
menos, verosímil.

Quanto à classificação sistemática do achado de Swanscombe, as opiniões são discordantes: poderá 
tratar­se de um antigo ramo dos eu­hominídeos que no seu conjunto de características se inclina 
mais para os neantropídeos. A cultura simultâneamente encontrada consta de uma indústria 
amigdalóide do tipo Acheuliano Médio e de utensílios do Levalloisiano.

4) Quinzano, perto de Verona, 1938. O achado consta de uma parte do osso occipital, infelizmente 
não datável; com base na sua morfologia (curva sagital, largura máxima ao nível do astério, 
espessura dos parietais) podemos incluí­lo no grupo pré­sapiens.

Com excepção de Karigira e Quinzano, cuja datação é incerta, possuímos portanto dois achados 
ricos de perspectivas ­os de Steinheim e de Swanscombe­ do Plistocénico Médio da Europa 
Ocidental. Estes documentos revelam particularidades morfológicas suficientes para per­

Fig. 97, 1. a) Australopithecus (Plesianthropus) transvaalensis Sterkfontein (Trans al,   em 
norma anterior; b) Australopiteco

v ‘ (Plesianthropus)   tran aalensis, Sterkfontein (Transval), em norma lateral: c) Homo erectus 
(IV) modjokertensis, Sangiran (Java); d) Homo erectus soloensis Ngandong (Java), e) Homo erectus 
pekinensis, Chuku­Tien. (Cliina): f) Homo rhodesiensis, Broken Hill (Ãfrica). II. a) Homo 
neanderthalensis, La Chapelle aux  Saints (Franca) em norma anterior. b) Homo neanderthalensis, 
La Chapelle aux Saints, em norma lateral; c) Homo neanderthalensis Saccopastore (Itália); d) 
Homo neandertha lensislsapiens ffi, Monte Carmelo (Palestina); e) Homo pré­sapiens, Steinheim 
(Alemanha): f) Homo pré­sapiens, Swans­

Combe (Inglaterra)

421
Paleontropologia

mitirem reconhecer uma relação genética com os verdadeiros neantropídeos mais recentes. Podemos 
situá­los próximo da origem dos neantropídeos. Os fósseis de Steinheim e Swanscombe revelam 
também caracteres particulares, que de resto não nos surpreendem, dado o considerável intervalo 
de tempo que os separa dos fanerantropídeos. Diremos apenas que a conformação da viseira frontal 
não basta para inclu r estes achados entre os paleontropideos nean ertalianos. Mesmo quando hoje 
surge algumas vezes o toro supra­ _?rb!Ital, tal facto não significa que se trate de uma 
reminiscencia filogenética dos remotos paleontropídeos. É possível que os tipos Steinheim­
Swascombe tenham estado na origem dos paleontropídeos, do mesmo modo como ilustramos, por 
exemplo, o início da história dos neantropídeos. Este facto confirmará a tese de que 
paleontropídeos e neantropídeos tenham sido filogèticamente independentes, já antes da glaciaçâo 
de Riss. De resto não é necessário fazer dos achados de Swanscombe e de Steinheim os 
antepassados directos dos dois ramos citados. Não é ímprovável, antes, pelo contrário, que eles 
pertençam a grupos «sui gencris» que apresentem casualmente caracteres morfológicos comuns ao 
hipotético estrato originário. Sustentável é também a opinião de que a referida bifurcação tenha 
sido ainda mais remota.

5) Fontéchevade (França), 1947, fragmentos de calota craniana. Que a separação dos neantropídeos 
e dos paleontropídeos é bastante antiga é demonstrado por este grupo de achados, que remontam ao 
interglacial Riss­Würm (Sobre estes documentos existe um estudo monográfico, de H. V. Vallois e 
colaboradores, 1957­58). Trata­se de restos de uma calota masculina (Fontéchevade II e de uni 
fragmento do frontal de um crânio de mulher adulta (Fontéchevade I). Ambos os achados permitem 
estabelecer algumas conclusões de importância capital. A calota (Fig. 98), quer em norma 
lateral, quer vertical, apresenta caracteres essencialmente típicos do Homo sapiens, à parte a 
espessura considerável dos parietais. Vallois mantém que a região glabelar de Fontéchevade II 
pode ser reconstituída sem toro digno de nota ou sem uma considerável arcada supra­orbitá ria. A 
forma de Fontéchevade era já contemporânea dos pré­neandertalianGs, representando provàvel­

422
Paleontropologia

mente um dos escalões precursores do Homo sapiens no intcrglacial Riss­Wünn.

Toda a problemática relativa ao grupo pró­sapiens foi já levantada por Heberer        em 1950. 
Em seguida foi discutida, especialmente por       Vallois (ef., entre outros, Breitinger, 
Gieseler, Howells       e S. Sergi). Podem dividir~se as várias opiniões em duas      categorias 
principais: 1) a separação dos paleontropídeos       eneantropídeos ter­se­ia efectuado já antes 
da glaciação de Riss (Heberer, Vallois);                Bregrna Vertex    11 o
2) a separação teria tido                                       100 lugar no intergIacial 
seguinte   (Breitinger, Ho­ .@2 @k, Sinus wells). Gieseler opina pela primeira hipótese.

juntamente com os res­                                      jo

Porion Asterion tos de crânios de Fontéchevade foram descober­ tos utensílios pertencentes 
f ao Tayaciano, uma indús­               b  ­­­­­­­­ lo ­­­­­

tria de pedra lascada relativamente grosseira, que é talvez uma indústria marginal. Não seria de 
facto surpreendente se um dia                          L

se encontrasse uma indústria mais diferenciada per­     Fig 98. Resto do Crânio de Fontencente a 
Fontéchevade.        técAevade (França). Em cima:

norma lateral esquerda. A curva As tentativas de fazer in       da fronte é completada sobre a 
serir Fontéchevade entre        base de 1 = La Chapelle aux

Saints; 2 = Cro­Magnon; 3 = hoos palcontropídeos devem        mem actual. O bordo inferior do

parietal foi reconstruido com considerar­se frustradas.       fragmentos isolados a e b, que

Pertencem ao parietal direito. Os B)    Próximo Oriente.       referidos fragmentos foram 
desePara resolver o problema        nhados reflectidos no espelho.

X = integração. Em cima: norma das relações entre nean­        superior. O contorno da metade

direita foi reconstruido baseado dertalianos, grupos prê­        na esquerda. B = bregma; L @

­ lambda; b­b1 corresponde mais ­sapiens e eu­sapíens con­      ou menos à sutura coronal; o­o
tinuaremos a examinar ai­       ao contorno presumível da região

ipital; f­fl = pontos da frente guns grupos de achados          Oacoes quais o contorno é 
aproxi­

mado, porquanto falta o frontal que julgamos de grande          da Parte inferior (segundo 
Vanois)

423
Paleontropologia

importância. Trata­se de restos descobertos na Palestina

e no Iraque.

1) Palestina: Tagbah (lago de Genezareth), Skul e Tabun (Monte Carmelo) e Djebel Kafzeh. Os 
achados datam dos anos de 1925, 1931­32 e 1933­35 e constam de crânios, mandíbulas e restos do 
esqueleto pós­craniano pertencentes a uma vintena de indivíduos. A sua datação não foi ainda 
definitivamente fixada. A hipótese de os restos remontarem aos estratos superiores do 
interglacial Riss­Würm não parece de aceitar completamente; mais provável é, pelo contrário, que 
pertençam aos primeiros estratos da glaciação de Würin.

2) Iraque: caverna de Shanidar. Nos últimos anos (1953­55) foram descobertos achados bastante 
significativos (quatro esqueletos) que remontam a um período posterior ao dos achados 
palestinos.

Este grupo de documentos testemunha em primeiro lugar que no Próximo Oriente existiram 
contemporâneamente paleontropídeos, de cunho pré­neandertalóide e neantropídeos do tipo pré­
sapiens. A morfologia, dos achados levanta numerosos problemas. Por exemplo, o esqueleto 
feminino encontrado na caverna de Tabun apresenta uma configuração que se insere no complexo de 
formas pré­ncandertalianas. Mostra analogias particulares com o crânio descoberto em 1848 numa 
caverna dos rochedos de Gibraltar, um crânio que foi atribuído a uma forma de paleontropo mas 
que infelizmente não é datável. Não é fácil determinar se o esqueleto de Tabun é mais antigo ou 
mais recente do que os outros achados de Monte Carmelo. Estes últimos, assim como os de Kafzeh, 
apresentam toros supra­orbitais (Fig. 97, 11 d), contudo não muito acentuados, mas em qualquer 
caso não podem ser considerados como característica neandertalóide. Os crânios do Monte Carmelo 
permitem reconhecer claramente a sua estrutura em norma sagital e lateral e ­isto 
particularmente válido para Shanidar­ possuem uma acentuada depressão sobre a glabela. Tem­se 
quase a impressão de que se trata de uma arcada supra­orbital particularmente acrescida, que 
tinha por assim dizer influído sobre o desenvolvimento da parte lateral da margem orbital 
superior. No crânio nota­se uma elevação do frontal superior à dos

424
Paleontropologia

paleontropídeos, maior altura do crânio e um arredondamento da região occipital; todos estes 
caracteres fazem lembrar o tipo do Cro­Magnon. A forma do crânio não é portanto tipicamente 
neandertalóide e não apresenta platicefalia. Gieseler queria incluir estes tipos ­ e isto é 
válido também para os esqueletos descobertos nos últimos anos na caverna de Shanidar (sobre os 
quais não se dispõe ainda de qualquei descrição pormenorizada) ­ no grupo pré­sapiens. 
Consideramos esta opinião bem fundamentada. Quem examinar minuciosamente no original o único 
crânio reconstituível da série dos achados de Djebel Kafzek não pode ter qualquer dúvida de que 
se trata de um tipo completamente diverso daquele que teria o seu lugar na série dos 
neandertalianos. Estamos perante um tipo não de palcontropídeo, mas substancialmente de um tipo 
de neantropídeo, que de resto possui um toro supra­orbital de formação particular (realmente 
trata­se apenas de uma arcada supra­orbital «reforçada». Compare­se também com o crânio Skinil V 
do Carinelo (nova reconstítuição de Snow,
1953 reproduzido na Fig. 97, 11 d.

O facto de no início da glaciação de Würm (período pluvial Würmiano), no Próximo Oriente, 
viverem neantropídeos junto de paleontropídeos é confirmado pelo estudo das indústrias. Estratos 
com utensílios do Musteriano alternam com estratos nos quais aparecem objectos de um tipo pré­
aurignaciano, isto é, uma cultura de lâminas (estes factos foram revelados pelas escavações de 
A. Rust e 7abrud pouco depois de 1930); noutros ternos, encontramo­nos perante uma alternância 
de culturas entre neandertalianos e hominídeos do tipo sapiens. Teremos portanto de concluir que 
existiu uma população híbrida? São princípios da genética das populações (Th. Dobzhansky). A 
génese das raças ou subespécies não se processa simpàtricamente (isto é, na mesma área 
geográfica); é indispensável um certo isolamento prévio. Por isso não se podem manter as velhas 
opiniões de   que os achados do Monte Carmelo testemunhavam uma       evolução para o tipo 
Sapiens (ou, pelo contrário, do tipo Sapiens para o neandertaliano), visto sabermos hoje que o 
tipo Sapiens é mais antigo do que se supunha. A vasta     expansão do tipo Carmelo­Kafzeli­
Shanidar em todo o      Próximo Oriente tirou bastante crédito

425
Paleontropologia

à hipótese da hibridação. A ideia que hoje se impõe é a da existência no Próximo Oriente de um 
grupo de formas pré­sapiens de carácter particular. Para a população de Shanidar foi proposta a 
denominação de «Homo sapiens shanidarensis» (Senyürek). Será possível uma classificação mais 
exacta dos vários tipos quando conhecermos com maior rigor os prés­sapiens do Próximo Oriente.

Abordemos agora as manifestações culturais dos grupos humanos que incluímos no, quadro (eu­,)
sapiens típico, deixando de parte o fabrico de instrumentos. Com os australopitecídeos começa o 
fabrico de utensílios, como se depreende das mais recentes conclusões do trabalho de Leakey 
(1964) nos estratos oldowyanos da garganta de Oldoway, na África Oriental («Hmo habilis»). Faz 
também o seu aparecimento o canibalismo. Com os arcantropídeos começa o uso do fogo (Hamo 
erectus pekinensis, Chuku Tien); com os paleontropídeos a sepultura dos mortos. Encontram­se 
também os primeiros indícios de uma relação com o domínio do sobrenatural, como demonstra o 
aparecimento do crânio euncandertalóide do Monte Circe.o, com uma mutilação na base, provocada 
artificialmente, encontrado isolado dentro de um invólucro de pedra. Isto é tudo quanto se 
conhece. Se não considerarmos como manifestações artísticas os instrumentos líticos, tão bem 
executados, das indústrias amigdalóides e das pontas, podemos dizer que elas não surgiram antes 
do aparecimento do Homo sapiens. Por centenas de milénios o homem levou, portanto, uma 
existência de caçador nómada «privado de cultura». A Fig. 99 apresenta esquernàticamente as 
relações filogenéticas dos hominídeos. A velha hipótese de uma evolução linear (coluna à 
esquerda) foi substituída por aquela que explica tais relações na base de uma irradiação (coluna 
à direita). Ainda hoje subsistem profundas divergências de opinião acerca da determinação dos 
períodos de tempo nos quais os diversos ramos de hominídeos se tomaram históricamente 
independentes. Os achados mostram, no entanto, que os principais grupos tiveram,, por períodos 
mais ou menos longos, histórias evolutivas independentes, como está expresso na Fig. 99.

f De facto a «tendência» para a hominização deve ter ocorrido em múltiplas linhas evolutivas. 
Por exemplo, os

426
Paleontropologia

australopitecídeos exprimem provàvelmente uma das múltiplas «tendências» à individualização 
própriamente humana, a partir de primatas não­humanos, que se devem ter verificado em diversos 
ramos que secaram mais ou menos precocemente­ao mesmo tempo que prosseguia a sua longa marcha 
aquela linha evolutiva que reunia um conjunto de condições que permitiram a emergência do

1 Iol o ­ P1 i stocén i co

Plincênico

Fig. 99. Tentativa de representação gráfica das relações históricas entre os grupos princiDais 
dos hominídeos e dos antropóides. Coluna à esquerda, hipótese das fases, coluna à direita, 
hipótese da irradiação. Pa Chimpanzé (Pan) Ar, Arcantropídeos, Pal­Paleontropídeo@ Ne­
Neantropídebs E, Irradiação (eu­)hominídea ‘ A­Grupo'dos australopitecos ‘   ­ ­ Grupo dos

Palrantropus, Po, Pongídeos, Pr­Irradiação ‘pré­hominídea

tipo sapiens. Os australopitecos traduziriam uma dessas tendências «frustradas» à hominização 
verdadeira, tanto mais quanto é certo que estes «sub­homens» foram con­temporâneos dos primeiros 
hominídios autênticos que se conhecem (os pitecantropídeos), sendo portanto improvável que 
tenham sido os antepassados directos destes últimos. De resto, o problema da origem do homem 
comporta ainda múltiplos enigmas. Muitos aspectos decisivos da emergência do homem devem ter 
ocorrido no domínio da ontogenia, e de facto numerosos caracteres da organização

427
Psicologia das raças

do homem adulto mostram grande semelhança com as condições embrionárias e juvenis dos 
antrooides. Estas importantes modificações ocorridas nos estados embrionários e juvenis, 
exprimindo­sé pela progressiva retardação do desenvolvimento do homem, com todas as importantes 
consequências que derivam deste fenómeno (estruturas embrionárias ou juvenis progressivamente 
inscridas na forma definitiva ou adulta) só muito excepcionalmente (crânios juvenis, etc.) 
puderam ficar documentadas nos fósseis. @Que sabemos, por exemplo, das condições em que nas 
formas sub­humanas e humanas primitivas se desenvolviam os jovens recém­nascidos durante o seu 
primeiro ano de vida um período que, como se sabe, é de fundamental importância para o 
desenvolvimento físico e social do homem (sapiens) e sem paralelo nos antropóides? Em que 
escalão da evolução do homem surgiram estas e outras condições da ontogenia, que foram decisivas 
para a emergência do homem moderno?

Ignora­se tudo a este respeito. E possível que esta progressiva «juvenilidade», que

m grande medida a evolução do homem, parece caracterizar e se tivesse processado gradual e 
plurilateralmente em múltiplas ontogenias, não sendo portanto possível conceber que dada forma, 
ou tipo fóssil, possa representar o antepassado único da humanidade. Várias imagens se 
sucederam, diversos precursores devem ter­se sucedido. E quando se considera a própria origem da 
humanidade surge mais uma questão enigrnática: essa origem fez­se a partir de uma, ou, pelo 
contrário, de várias formas vizinhas primitivas? Também a este respeito nada de positivo 
sabemos.f

Psicologia das raças ­­ A situação da psicologia racial é ainda mais difícil, do ponto de vista 
metodológico, do que a da fisiologia racial, pois os factores modificadores do ambiente 
fisiológico adicionam­se aos do ambiente cultural e étnico, que nas investigações por testes são 
muito dificilmente eliminados.

Embora tenha sido possível, com base em testes sobre gêmeos e famílias, estabelecer uma 
componente hereditária, válida para uma grande variedade de traços de carácter e características 
de capacidade mental, todavia no campo

428
Psicologia das raças

psíquico não se conhece sequer um simples carácter mendeliano normal ou apenas um que seja de 
todo independente do ambiente. A modificabilidade apresenta todavia valores diversos nos vários 
sectores da vida psíquica, e particularmente maior variabilidade no estrato intelectual do que 
no vital (Gottschaldt), o qual está em relação mais estreita com as funções vegetativas.

A maior parte dos testes sobre a psicologia racial até agora realizados dizem respeito aos dotes 
intelectuais e principalmente à inteligência geral. O material mais completo é o proveniente das 
investigações em recrutas dos Estados Unidos durante a primeira guerra mundial. Com base nos 
dados fornecidos pela Alpha Army Test, a totalidade dos Negros apresenta resultados 
consideràvelmente inferiores em relação aos dos Brancos (Yerkes). No entanto, os resultados das 
provas reflectiam também a diferença do nível económico­social e da educação, todas favoráveis à 
parte branca da população. Quanto mais vizinhos eram os grupos sociais examinados tanto mais os 
resultados dos testes tendiam a nivelar­se. Assim os Negros dos estados do Norte obtinham 
resultados superiores aos dos estados do Sul. Resultados análogos se alcançaram também para as 
populações brancas e alguns grupos de Negros dos estados do Norte superaram grupos de Brancos 
dos estados do Sul. Crianças negras em idade escolar apresentaram resultados tanto melhores 
quanto mais tempo tinham residido nos estados do Norte. Em três cidades do Sul (Birmingham, 
Nashville e Charleston) não se verificou qualquer diferença apreciável entre os estudantes 
negros que tinham estado no Norte e aqueles que aí se conservaram e tinham frequentado escolas 
só de crianças negras (Klíneberg). Também as diferenças reveladas nos testes entre vários grupos 
de imigrantes provenientes de diversos países europeus ­entre outros os Italianos apresentam uma 
capacidade inferior à dos Britânicos e Escandinavos­ correspondiam ao nível civil e de instrução 
dos países de origem ou das camadas sociais dos quais os imigrantes provinham (Kirckpatrick), ao 
passo que não permitiam evidenciar diferenças raciais.

já mais ricas de resultados são as investigações sobre atitudes especiais, mas até agora devemos 
limitar­nos exclu­

429
Psicologia das raças

sivamente a provas de acaso. As crianças escandinavas são superiores às de origem liebraica em 
orientação espacial, bem como na coordenaçã o de percepções sensoriais e de movimento, mas 
ficam­lhes atrás na compreensão verbal. Os Chineses, relativamente aos Japoneses, apresentam uma 
melhor memória auditiva, mas são­lhes inferiores nos testes de engenho. Crianças indígenas de 
Moçambique retêm

Tipos raciais

Tipos raciais

Fig. 100. Diferencas raciais do carácter. Percentagem na atitude Positiva ( + e + + ) às frases: 
«Eu passo uma parte considerável do meu tempo na rua e em público» (à esquerda) e: «Eu quero 
viver bem longe dos outros» (à direita) em representantes do

tipo nórdico e mediterrâneo (segundo H.N. Arrowsmith)

melhor na memória sinais e imagens do que as crianças portuguesas da mesma idade, mas as 
palavras e frases fixam­nas pior. Todos estes resultados precisam de ser confirmados ainda por 
outras investigações independentes.

Têm­se além disso outras indicações sobre diferenças relativas às capacidades artísticas. Os 
Negros da Jamaica eram superiores aos Brancos no sentido do ritmo, assim como na percepção da 
altura e na intensidade dos sons (Davenport e Steggerda). Estes resultados não foram confirmados 
em sucessivas investigações efectuadas sobre os Negros dos Estados Unidos; todavia também os 
estudiosos

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Psicologia das raças

da sociologia racial salientam que a contribuição mais importante dos Negros para a cultura 
americana limita­se ao domínio musical (jazz), ao passo que nos Ameríndios se verificaram dotes 
particulares nas artes plásticas, com especial relevo na pintura.

As correlações psicofísicas determinadas pela investigação da constituição também têm 
importância para as diferenças psíco­raciais, tanto mais que as raças distinguem­se entre si 
quer na constituição quer no grau do ginandromorfismo e das restantes constelações hormonais (­> 
Constituição). Nos hábitos culturais dos Negros e dos Ameríndios e na maneira de se adaptarem à 
civilização europeia manifestam­se traços essenciais que se podem relacionar com o tipo 
constitucional preponderante (Keíter). A presença de traços esquizotímicos entre os Negros, que 
correspondem à prevalência entre eles de um tipo constítucional fundamentalmente leptossómico, 
exprime na supremacia da sensibilidade da forma sobre a cor (a escultura é a forma de arte 
típica dos Negros africanos) e numa boa capacidade de analisar impressões de conjunto; 
apresentam além disso traços basedowianos: olhos salientes, húmidos, brilhantes e acentuada 
emotividade. Entre os Ameríndios predomina a constituiçã o atlética; as características essen~ 
ciais dos Ameríndios e da sua cultura adaptam­se bem à descrição do temperamento viscoso dos 
«atléticos»: pertinácia de sentimentos, «passividade mesmo no compQrtamento heróico», que se 
exprimem de modo positivo como constância e autodomínio, escassa sensibilidade emotiva, falta de 
impulso associativo, um impulso­motor relativamente grosseiro e uniforme, que encontra, entre 
outros, a sua expressão na música (Hornbostel).

Estas observações de carácter geral são deduzidas do comportamento de populações inteiras, ou 
mesmo de grandes conjuntos de populações; até agora têm­se feito, pelo contrário, pouquíssimas 
observações acerca das correlações psicofísícas que se manifestam no interior das populaçõ es. A 
fraca correlação entre inteligência e estatura parece nada ter a haver com o tipo racial; de 
qualquer maneira não existe nenhuma correlação com o índice céfalico, horizontal, com o índice 
nasal e com os traços fisionómicos (Eyta,brooks, Pearson, Schwidetzky). Apenas pela pigmentação

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Sistemática das raças

se encontram algumas indicações positivas: num país da @.;Ubta alemã do Báltico a percentagem 
das pessoas de olhos escuros era de 7 por cento para os camponeses pobres e de 32 por cento para 
os ricos (Scheidt): as diferenças eram significativas. Existe uma correlação positiva entre o 
grau de pigmentação e os tipos de íntegração de 7aensch: os indivíduos com pigmentação mais 
intensa têm tendência para maior integração e para um ambiente mais aberto; os indivíduos de 
pigmentação mais fraca tendem para mais forte desintegração e para um maior isolamento. O 
confronto entre comportamento e cultura dos Europóides do Norte e dos do Sul (Nórdicos e 
Mediterrâneos) é demonstrativo. Também estudos baseados no tipo racial mostram que os Nórdicos 
de coloração clara são fortemente desintegrados e introvertidos, ao passo que os Mediterrâneos, 
de pele mais escura, são mais pronunciadamente integrados e extrovertidos, e isto em igualdade 
da constituição somática (leptossómica), do ambiente cultural e do nível económico­social 
(Arrowsmith).

Como seria de esperar dos resultados da psicologia da hereditariedade e da constituição, parece 
mais proveitoso orientar a investigação das correlações com caracteres raciais nos sectores 
psíquicos mais aproximados das camadas vitais, preferivelmente na esfera intelectual. Ambos os 
sectores têm igual importância no que respeita ao desenvolvimento cultural e à adaptação dos 
grupos étnicos subdesenvolvidos. Todavia as actuais correntes científicas não são favoráveis a 
investigações de psicologia racial; elas têm tendência, pelo contrário, para sobreestimar o 
c(ndicionamento social do comportamento em detrimento de biológico e a considerar, sob a 
impressão da improdutividade das investigações da inteligência, privada de toda a importância 
quer teórica quer prática dentro da problemática da psicologia racial.

Sistemática das raças ­­  Esta sistemática propõe­se classificar as várias raças humanas segundo 
a base de alguns critérios unitários: esta classificaçã o deve harmonizar­se com o 
desenvolvimento histórico, de acordo com o nosso conhecimento e a distribuição actual, 
excluindo, naturalmente, as grandes alterações da população mundial a partir

432
Sistemática das raças

do século xvi. Semelhante tarefa pressupõe, não só um método unitário de estudo e a descrição de 
todas as raças humanas, mas também a análise do mecanismo da transmissão hereditária dos mais 
importantes caracteres raciais. Depara­se­nos logo aqui a primeira grande dificuldade para uma 
classificação sistemática unitária, pois que esta só pode ser fundamentada em considerações 
genéticas para ser biológicamente válida (­> Conceito de raça, ­­> Gênese da raça), o que até 
hoje não foi inteiramente realizado porque a genética é uma ciência recente e sómente nos 
últimos decênios se atingiram conhecimentos de certa magnitude.

A investigação em regiões menos acessíveis tem sido feita mais por etnólogos do que por 
estudiosos mais directamente interessados na antropologia. Embora a antropologia deva muito dos 
seus conhecimentos à acção dedicada daqueles pesquisadores, não se pode furtar à observação 
crítica de que as medidas tiradas e as observações feitas a partir delas não têm sempre o mesmo 
valor, pelo que nem sempre podem ser aceites. Tais dados, por isso, só em parte satisfazem as 
exigências de sistematização que devem cstar na base da classificação de raças do ponto de vista 
genético. Nesta conformidade, a verificação do processo de transmissão hereditária de 
determinadas características específicas de uma raça é exigência cientificamente justificada, 
mas na prática, atendendo à grande duração das gerações humanas e à impossibilidade de levar a 
bom termo experiências de cruzamentos com objectivos amplos e conhecidos, não passa infelizmente 
de uma aspiração utópica.

Daqui resulta que a determinação das combinações dos caracteres típicos das várias raças pode 
basear­se essencialmente nas observações e nos confrontos dos caracteres métrico­morfológicos 
com o implícito pressuposto que a formação de tais caracteres seja controlada pelo mecanismo 
genético. Os pontos antropológicos relevantes sómente há pouco tempo começaram a ser 
considerados segundo critérios uniformes, mediante escalas cromáticas e morfológicas e indíces 
estandardizados. Para os importantes grupos antigos já extintos não temos outro recurso que não 
seja remotas informações, às quais se tem de dar a necessária «interpretação» . Como além disso 
a acção selectiva dos

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Sistemática das raças

efeitos climatéricos (­­> Pigmentação, despigmentação), que em áreas continentais se manifesta 
gradualmente, se combina com a acção selectiva independente das zonas isoladas em virtude de 
barreiras geográficas, compreende­se como as tentativas de sistematização elaboradas por 
diversos autores nem sempre coincidem.

Uma das classificações raciais mais autorizada é a de V. Eickstedt, que em virtude das suas 
longas viagens de estudo adquiriu um excepcional conhecimento, baseado nas suas observações 
pessoais, mesmo fora da Europa. A ele se deve atribuir o mérito de ter introduzido a ordem no 
caos das denominações raciais, esforçando­se por assegurar o direito de prioridade à primeira 
denominação cientIficamente baseada. Na sua classificação relevam­se os nomes geográficos que 
correspondem às rcgiõç@ nas quais as raças tiveram a sua máxima difusão; junto daqueles 
inscrevem­se na nomenclatura também as designações próprias das tribos e dos povos.

Limitamo­nos aqui a indicar os nomes «vulgares» das varias raças; na bibliografia são citadas as 
obras com a denominação latina.

A sistematização apresentada no quadro de pp. 436­437 está sujeita a muitas reservas e só pode 
ser um provisório testemunho, em vista do nosso actual grau de conhecimento limitado do processo 
hereditário e dos complexos caracteres por falta de possibilidades de cruzamento. A escolha das 
raças indicadas (­­­> História das raças) reflecte o desejo de estabelecer uma conexão entre o 
desenvolvimento histórico das raças a partir do Neolítico e as raças actuais. A tabela 
subdivide­se em três grandes ramos raciais e nela estão discriminadas as sub­raças por 
continentes, por ordem geográfica. A repetição dos mesmos nomes de raças corresponde ao seu 
aparecimento em vários continentes, sem se considerar as raças locais daí originadas. As raças 
de contacto são referidas em ambos os ramos raciais associados e referenciadas com a letra C. A 
letra P ou (P) a seguir ao nome da raça indica populações pígmóides com combinações de 
características autónomas. @ Nessa classificação, actualizada por G. Kurth, na súmula das várias 
raças vão indicadas entre parênteses as denominações correspondentes (com relativa proximidade

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Sistemática das raças

ou quanto possível sem grande inexactidão) usadas por R. Biasutti. Todos os tipos raciais não 
incluídos nos «tipos arcaicos» ou entre os formados com o prefixo «paleo­» deverão considerar­se 
de formação «recente» (raças mo­

dernas). Com a utilização dos sufixos «óide» e «ida», para designar respectivamente ramos e 
tipos raciais, procurou­se, por sugestão orientada pelo Prof. Barbosa Sueiro, conseguir tanto 
possível, à semelhança do estabelecido noutros idiomas pelos respectivos especialistas, uma 
uniformidade e possível fixação de nomenclatura que permita identificar e distinguir os povos 
dos tipos raciais que lhes deram origem, embora as classificações antropológicas nem sempre 
coincidam com as etnológicas (ex.: ramo racial, europóide; tipo racial, aménida; raça, pamir; 
sub­raça armeniana; povo, arménío).

Quando, porém, no, texto (­­> histór@a das raças) se designam os povos ou tribos derivados dos 
tipos raciais classificados emprega­se a adjectivação corrente ou as designações que o uso 
consagrou fora da antropologia.Ç

As cabeças dos indivíduos de raças vivas das Figs. 61­67 representam uma selecção das raças 
(variedades) mais importantes mencionadas no texto e referidas na tabela.

Devido ao espaço restrito não foi possível reproduzir mais de um representante de cada raça e a 
constituição somática não foi tomada em consideração. Na classificação referida é apresentada 
uma subdivisão principal em três subespécies: Europóides, Mongalóides, Negróides, adoptando­se 
deste modo, ­e igualmente para as sub­raças, a nomenclatura correspondente não só à origem da 
palavra, mas também a uma possível fixação em português. A classificação de E. v. Eickstedt é a 
de Homines Sapiens Albi, Homines sapiens leiotrichi e Homines sapiens afri, correspondente à de 
Vallois, Humanidade Ocidental, Oriental e Meridional. No entanto, do ponto de vista genético, 
desviamo­nos bastante da divisão em raças individuais destes dois autores. Não se inclui na 
designação de Negróides, ou, «Humanidade Meridional» os indivíduos de coloração escura do Sul e 
Sudeste da Ásia, da Austrália e da Oceânia (como, por exemplo, os Gôndidas, Málidas, 
Andamânidas, Pako­melanésidas, Neo­melanésidas e Austrálidas), mas nos

435
Sistemática das raças

SISTEMATIZAÇÃO RACIAL (segundo E. v. Eickstedt, mod. por G. Eurth) I    EUROPóIDES

EUROPA

Nórdidas (r. nórdica) Dalofélidas (r. nord.: sub­r. dalofática) Esteurópidas (r. báltica) 
Mediterrànidas (r. mediterrânea) Alpínidas (r. alpina) Dináridas (r. adriática ou dinárica)

ÁFRICA

Mediterrânidas (r. mediterrânea) Berbéridas (r. medit.: sub­r. berbere) Eurafri­

cánidas Orientálidas (r. iraniana) Etiópidas (r. etiópica) Nilótidas (r. nilótica), C Tipos 
arcaicos:

Bambútidas (r. bambuti), P Coisânidas (r. esteatopígica) (P)

ÁSIA

Estemediterrânidas (r. mediterrânea) Orientálidas (r. iraniana) Turãnidas (r. pamiriana ou em 
parte anatólio­

­pamiriana) An­nénidas (r. pamir.: sub­r. armeniana) Gracílindas (r. indiana, em parte) 
Indobraquicefálidas (r. pamiriana?) .Pipos arcaicos:

Védidas:

Málidas (r. málica) Gôndidas (r. málica, sub­r. gôndica) etc. Ainidas (r. aino) Andamânidas (r. 
andamanesa), P Semânguidas (r. aeta­semanguesa, em parte), P

INDON2SIA/OCEÃNIA

Polinésidas (r. polinésica), C Tipos arcaicos:

Paleomelanésidas (papuásios em parte) Neomelanésidas (papuásios em parte) Austrálidas (r. 
australiana) Aétidas (r. aeta­semanguesa em parte), P Papuas da montanha (papuásios em parte) 
(P)

436
Sistemática das raças

MONGOLóIDES

ASIA

Túnguidas (r. tungúsica) Sínidas set. (r. &ínica em parte) Sínidas cent. (r. &ínica em grande 
parte) Sínidas merid. (r. sínica e r. sul­mongólica) Paleomongólidas:

Palaúnguidas (r. sul­mong, e sub­r. palaun­

guesa) Xânidas,

INDONÉSIA/O=NIA

Polinésidas (r. polinésica), C

Paleomongólidas:

Protomalásidas (r. punan) Deuteromalásidas (r. punan e na maioT parte “I­mongólica)

AMÉRICA

Esquimós (r. esquimó) Ameríndios set.

Pacífidas (r. aleutiana       pueblo­andina?) Centrálidas (r. pueblo­andina.?) Sílvidas (r. 
dacota e r. alegânica) Márgidas (r. 8anoriana)

Ameríndios merid.:

Ãndidas (r. pueblo­andina, em parte) Patagónidas (r. pampeana) Brasílidas (r. amazónica). 
Láguidas (r. lagoana) Fuéguidas (r. magalhânica)

NEGRóIDES

AFRICA

Sudânidas (r. sudanesa) Cáfridas (r. cafre) Nilótidas (r. niMtica), C Paleonégridas (r. s«vestre)

C: raças de contacto (entre dois ramos raciais) P: pigmeus

437
Sistemática das raças

«tipos arcaicos» dos Europóides. Do mesmo modo, os Pigmeus foram destacados dos Negróides e 
classificados também, não obstante a sua especialização, entre a forma arcaica europóide do Homo 
sapiens. Também os Coisânidas do Sul da África parecem enquadrar­se, do ponto de vista 
biológico, com mais propriedade nesta forma arcaica, e não sob a designação de Homines sapiens 
leiotrichi, de v. Eickstedt (­­­> Histó ria das raças. África).

O ramo racial dos Europóides apresenta, de acordo com a sua vasta distribuição por vários 
continentes, uma politipia particularmente acentuada; apesar disso, podemos reconhecer nela uma 
série de caracteres ou um complexo de caracteres típicos comum a todas as sub­raças ou 
fortemente preponderantes. Estatura mais alongada, com proporções harmónicas entre tronco e 
membros, rosto com contornos mais acentuados e bem delineados, cabelo de liso a ondulado e 
tendência para uma forte pilosidade pelo corpo. A variedade de pigmentação (complexão: cabelos, 
olhos, pele) é particularmente ampla, pois só nesta raça se regista, nalguns casos, 
despigmentação quase total. As raças de formação mais antiga, não obstante a presença de 
caracteres próprios (por vezes muito acentuados) englobados no ramo dos Europóides, afastam­se 
ainda mais das combinações dos caracteres próprios dos outros dois ramos raciais.

Porque os Europóides, com as suas combinações de caracteres típicos, permanecem ainda hoje mais 
sensivelmente na variedade tipológica do Homo sapíens fossile, parece justificar­se, do ponto de 
vista biológico, a inclusão no ramo racial dos Europóides recentes de todas as raças de formação 
mais antiga, tornando em consideração as suas maiores participações no conjunto das 
características do Homo sapiens fossile, sem exagerar a importância das especializações 
sucessivas, por vezes muito acentuadas.

O ramo racial dos Mongolóides, apesar da sua mais elevada participação na população mundial 
viva, possui, no âmbito da sua combinação de caracteres típicos, a maior uniformidade. Eles são 
caracterizados pela compleição robusta, tronco desenvolvido, estatura geralmente baixa, 
acentuada braquicefalia. com tendência curvo­occipital nas raças progressivas; face achatada 
(platopia), fronte erecta e zigo­

438
Sistemática dos primatas

matismo pronunciado lateral e anteriormente, estrutura palpebral estreita com prega mongólíca, 
cabelo rijo e liso, escassa pilosidade no corpo e moderada variedade do grau de pigmentação da 
pele, não obstante este ramo racial se encontrar espalhado por todas as zonas climáticas da 
terra.

O ramo racial dos Negróides, pelo contrário, é de todos o que menos se presta a uma segura 
delimitação, provàvelmente porque as regiões onde se desenvolveu não tornaram possível um nítido 
e duradouro isolamento geográfico, mas se apresentam corno faixa irregular à volta da «hylaca» 
africana (zona das florestas tropicais). Os Negróides são caracterizados pela estatura média ou 
superior à média, fronte bastante estreita com bossas frontais particularmente desenvolvidas 
face na generalidade larga com moderada saliência (mesopia) nariz largo, lábios túmidos com 
acentuado limite da mucosa, queixo pouco proeminente com tendência para o prognatismo, 
compleição normalmente escura, cabelos em geral curtos, crespos quase encarapinhados e 
pilosidade diminuta no corpo.

As semelhanças na pigmentação, forma do cabelo e dos lábios, etc., com os tipos arcaicos de 
coloração mais escura da faixa tropical asiática, da Nova Guiné à Austrália, devem ser 
consideradas, do ponto de vista da história das raças, no quadro duma vasta difusão de tais 
caracteres sem relação directa demonstrável com as analogias presentes na África.

De facto é verosímil um desenvolvimento convergente, mas autónomo, destes caracteres na tarefa 
duma selecção devida à influência do clima, pelo que não pode ter valor probatório a hipótese 
que reconduz estas características a um centro unitário, tanto mais que esta hipótese não pode 
sobrepor­se à objecção do longo isolamento geográfico; por outro lado, do ponto de vista 
genético, a última palavra deve caber à completa combinação de caracteres típicos. Portanto 
parece­nos bioffigicamente mais justificado, sobre a base de todos os caracteres assim 
apresentados pela investigação no seu estado actual, limitar o ramo racial dos Negróides apenas 
a uma parte do continente africano.

Sistemática dos primatas ­­ OS PRIMATAS constituem uma ordem da classe dos mamíferos segundo uma 
classificação

439
Sistemática dos primatas

que remonta a Lineu (1758. Provàvelmente tiveram origem no Cretácico, de ascendência 
insectívora; dos seus antecessores imediatos não se conhecem restos paleontológícos. Um 
protótipo destas primeiras formas com as quais teve início a evolução dos primatas sobrevive 
ainda nos tupaídeos. A complexidade dos problemas ligados a uma classificação sistemática 
resulta manifesta do quadro organizado recentemente por W. Fíedler (1956) no seu manual de 
primatologia. Uma sistematização dos primatas no quadro geral dos mamíferos foi feita por G. G. 
Simpson (1945). A maior parte dos tratados de mamalogia e antropologia apresentam quadros 
sistemáticos mais ou menos particularizados dos primatas. Entre as descrições mais completas da 
classe dos mamíferos salientamos os seguintes: dos trabalhos de língua alemã, a obra, de Weber e 
Abel, «Die Sãugeticre» («Os Mamíferos») (1928); das de língua francesa o «Traité de Zoologic», 
de Grassé (1955). A primeira sistematizaçã o dos Hominídeos em bases adequadas, no quadro geral 
dos animais, foi a de T. H. Huxley (1863).

Os primatas, como mamíferos placentários, são caracterizados principalmente por possuírem 
extremidades com cinco dedos e por terem unhas achatadas (só excepcionalmente apresentam garras 
num ou em mais dedos), extremidades preênsis e vida arborícola. As cavidades orbitais são 
circundadas por uma orla óssea projectada para a frente. A dentição é heterodôntica, com 
incisivos escalpelífórmicos, caninos de forma cGnóide e malares providos de muitas

2   1 2(3) 3(2) cúspides. A fórmula dentária geral é: I­c­p­m­

2   1 2(3) 3(2) A ordem dos primatas divide­se em duas subordens: prossímios (Prosimiae) e 
símios (Simiae), antropóides ou antropomórfos.

Os prossímios subdividem­se, por sua vez, em quatro grupos (superfamílias): 1) Tupaídeos; II) 
Lémures; III) Lorissídeos; IV) Tarsídeos. Os primeiros dois grupos podem ser considerados como 
prossímios em sentido restrito. Quanto aos tarsídeos, constituem claramente um grupo 
independente e estão bastante mais próximos da base de onde se originaram os símios do que os 
lémures e os lorissídeos.

440
Sistemática dos primatas

Os símios subdividem­se em: I) Platirríneos (símios do Novo Mundo), com nariz largo, achatado, e 
narinas, bastante distanciadas, voltadas

2   1 3     2­3 para a frente, fórmula dentária I CP­M­. A super­

2   1 3     2­3 família dos cebóideas consta de duas famílias: 1) Os cebídeos e 2) Os 
calitricídeos. Géneros. Alouatta, Cebus, Ateles, Leontocebus, Callithrix.

Fig. 101. Evolução histôriea da ordem dos primatas com as suas

princiDais irradíações (segundo Simpson)

II) Catm­?@neos (símios do Velho Mundo), com nariz estreito e narinas voltadas para baixo. 
Fórmula dentária

2   1 2     3 I­::­@P­M­*       Este grupo subdivide­se em duas super­

2   1 2      3 f amilias:

A) Cercopitecóideos (anteriormente chamados cinomorfos), cuja família, Cercopitecídeos, se 
divide em duas subfamílias: a) Cercopitecídeos com os géneros Macaca, Rhesus, Cinopithecus, 
Papio, Cercopithecus; b) Colobídeos, com os géneros: Semnopithecus, Nasalis, Colobus.

B) Hominóideos (antropóides e hominídeos), com as famílias: 1) Hilobatídeos (gibões). (Os 
parapitecídeos, conhecidos apenas por uma mandíbula descoberta em terreno oligocénico no Egipto, 
constituíam talvez uma outra família.

441
Sistemática dos primatas

Recentemente foi descoberto novo material); 2) Pongídeos (antropóides em sentido restrito); 3) 
Hominídeos (família na qual se compreende, além do homem actual, outras espécies extintas que 
apresentavam caracteres humanos). Os hominídeos serão tratados separadamente. Pongídeos e 
hominídeos juntamente representam urna unidade filogenética (­­­> Origem do homem). Mesmo os 
hilobatídeos são incluídos frequentemente numa única família com os pongídeos.

Os hilobatídeos compreendem numerosos géneros: a) Fósseis: Propilopithecus (Oligocénico), 
Limnopithecus (Miocénico), Pliopithecus (Pliocénico); Epipliopithecus (Pliocénico); b) Recentes: 
Hylobates, Brachytanites, Symphalangus. As formas fósseis foram descobertas na Europa e na Á 
sia, as recentes na Ásia Sul­Oriental.

Os pongídeos, compreendidas as formas fósseis, podem subdividir­se em três famílias: a) 
Proconsulídeos (pongídeos relativamente primitivos­ pela sua estrutura não são ainda 
especializados como animais arborícolas: longos membros superiores, etc.); b) Driapitecídeus 
(pongídeos com dentição bastante diferenciada; a estrutura esquelética das suas extremidades não 
tem ainda a estrutura típica dos símios arborícolas). Géneros: Dryopithecus, cf. Indopithecus 
(Miocénico), Sivapithecus (Mio­Plíocénico), Gigantopithecus (Plistocénico, ­talvez um 
hominídeo?); c) Pongíneos (antropóídes recentes, estrutural e funcionalmente arborícolas). 
Géneros: Pongo (também fóssil e subfóssil, orango), Ásia Oriental; Pan (chimpanzé e chimpanzé 
pigmeu), África; Gorilla (gorila comum e gorila das montanhas), África. É talvez oportuno 
colocar Pan e Gorilla numa subfamília independente (gorilíneos), em oposição aos pongíneos 
(orangos), visto que a diferença entre os dois grupos é relativamente sensível. Os especialistas 
não chegaram ainda a acordo no que respeita à classificação sistemática em superfamílias, 
famílias e subfamílias.

A filogenia dos primatas (Fig. 101) apresenta uma primeira radiação no Paleocénico, (primeira 
radiação terciária dos prossímios). De tal radiaçã o sobrevivem os prossímios, os catarríneos e 
os platirrineos. No Miocénico­Pliocénico, houve ulteriores radiações dos prossímios que 
originaram considerável variedade de formas, especialmente no am­

442
Sistemática dos primatas

biente isolado de Madagáscar. Do Eocénico conservou­se até hoje, como uma espécie de «fóssil 
vivo», o Társio, (ben­Tarsius). Não é possível estabelecer com precisão em que ponto os 
platirríneos emergiram dos prossímios. Não está absolutamente excluído que eles possam ter 
origem comum com os catarríneos. No Miocénico­Pliocénico teve lugar entre os platirríneos uma 
radiação limitada à América Meridional, que ocasionou a grande variedade actual de macacos 
americanos; estes aproximaram­se extraordinàriamente na sua evolução, por razões adaptativas, 
dos símios catarríneos. Entre os catarríneos deve admitir­se uma origem comum dos 
cercopitecóideos e dos hominóideos; é incerto, todavia, se esta origem comum tem a sua raiz ao 
nível dos prossímios ou dos tarsídeos, como pensa, por exemplo, B. Simpson (Fig. 101). 
Provàvelmente, entre os seus antepassados devem existir algumas formas protocatarríneas, já 
diferenciadas ao nível dos prossímios. Cronológicamente, esta raiz ancestral situa­se com toda a 
probabilidade no Eocénico. No decurso do Miocénico­Pliocénico também tiveram lugar radiações 
entre os cercopítecóídeos e os hominóideos e, no interior dos hominóideos, entre os pongídeos e 
os hominídeos. Os pongídeos sobreviveram, como animais tipicamente arborícolas, nas florestas 
tropicais húmidas, exceptuando aqueles que, por adaptação secundária, se habituaram a viver no 
solo, em áreas de refúgio, enquanto os hominídeos, depois de adquirirem a posição erecta e uma 
crescente cerebralização (aumento da capacidade encefálica), que são caracteres típicos desta 
família, sofreram uma radiação em várias direcções, que culminou, no fim da era glacial, no Homo 
sapiens, e por fim na multiplicidade de raças existente na humanidade actual.

Os HOMINíDIOS São originários de antropóides primitivos da primeira metade do Miocénico e 
presumivelmente ainda não diferenciados como animais arborícolas (isto é, as suas extremidades 
não estavam ainda adaptadas a órgãos preênsis aptos para a locomoção nas árvores). O pracâ nsul 
(ben­Procônsul), que remonta ao fim do Miocénico Inferior e Médio, pode ser considerado como 
modelo do tipo ancestral dos hominídeos.

443
Sistemática dos primatas

Os hominídeos podem subdividir­se em três subfamílias: a) Orcopitecídeos, b) Australopitecídeos, 
(«pré­hominídeos») e c) Hominídeos («Eu­Hominídeos» ou verdadeiros hominídeos).

a) A filiação dos Oreopitecídeos nos hominídeos não está ainda universalmente aceite (­­­> 
O?@gem do homem).
O único gênero até agora identificado, o Oreopithecus, com a única espécie, Oreopithecus 
bambolii, é conhecido desde
1871. Recentemente, o palcontólogo Hürzeler, de Basileia, descobriu numerosos restos desta forma, 
e em 1958 um esqueleto completo. Os achados provieram dos depósitos de lignite do Plistocénico 
Inferior, na Toscânia. Hürzeler já descreveu pormenorizadamente o respectivo material. Existe 
uma combinação tão complexa dos caracteres próprios dos hominídeos que parece impossível supor 
que a sua génese se tenha processado independentemente da linha evolutiva que culmina no homem. 
O oreopiteco parece ser uma forma proto­hominídea na fase sub­humana da filogénese dos 
hominídeos, e uma prova talvez de que no período de transição do Miocénico para o Plistocénico a 
linha dos hominídeos estava já filogenèticamente isolada.

b) Os Australopitecídeos («pré­hominídeos») são conhecidos desde 1924 (achado de Taungs, 
Bechuanalândia, África do Sul). Geológicarnente pertencem ao Vilafranquiano (Plistocénico 
Inferior); alguns achados remontam provàvelmente ao fim do Plistocénico, Médio. Hoje conhecem­se 
já os restos de mais de cem indivíduos e fazem­se a todo o momento novas descobertas que 
aumentam ràpidamente o material existente. Que os australopitecos apresentam características que 
os aproximam estreitamente dos hominídeos é um facto que não pode ser posto em dúvida. Possuíam 
já a postura erecta, como o confirma * estudo anatómico de cinco ossos da bacia. Além disso * 
dentição é típicamente humana. A classificação dos australopitecos é ainda incerta. Parece, no 
entanto, possível distinguir dois grupos (Robinson), sobre cuja posição sistemática (gênero, 
subgénero, espécie) não é possível emitir qualquer conclusão firme: 1) Australopithecus 
(«Australanthropus»); achados de Taungs, Sterkfontein, Makapansgat); 2) Paranthropus (achados de 
Kromdraai, Swartkrans, Oldoway). Para mais pormenores (­> pdeontropologia).

444
Sistemática dos primatas

É provável que os australopitecídeos tenham vivido também fora de África, na ilha de Java e na 
China. Pelas suas características podemos considerar os australopitecos como formas­relíquias do 
Pliocéni@o, vivendo no Plistocénico Inferior. Formas como o Australopithecus («Plesianthropus») 
transvadensis (achado de Sterkfontein) poderiam representar o protótipo ancestral dos 
verdadeiros hominídeos («eu­hominídeos»). Ainda não é possível afirmar se devemos incluir o 
Gigantopithecus nos australopitecideos, conhecido por numerosos dentes e três mandíbulas. Só 
futuras investigações poderão decidir esta questão. É necessário um conhecimento mais rigoroso 
das mandíbulas. Talvez o gigantopiteco tenha sido um membro, particularmente robusto, dos 
pongídeos.

c) Os Hominícleos, «eu­hominídeos», verdadeiros ho­mens. Classificamos os hominídeos apenas num 
só género, H@mo. O género Homo pode ser dividido em três grupos, ainda que pouco se conheça 
quanto ao seu valor sistemático: 1) Arcantropídeos («Pithecanthropus», etc.); 2) 
Pa@leontropídeos («homem, de Neandertal», etc.); Neantropídeos (Homo sapiens e seus precursores 
fósseis). Sobre a subdivisão dos hominídeos actuais em raças (­­­> história das raças,

445
BIBLIOGRAFIA

A presente lista bibliográfica contém uma escolha de obras antropológicas com especial 
relevância para as publicações mais recentes. O grande número de obras de língua inglesa e alemã 
indica o particular desenvolvimento que o ostudo da antropologia atinge nos Estados Unidos e na 
Alemanha.

Periódicos

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Moscovo­Archiv für Anthropologie, Braunschweig­Archiv des Julius­Klaus­Stiftung für 
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Société d'Anthropologie de, Paris ­Bullettino di Paleontologia Italiana, Roma ­ Contribuições 
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Journal of the Royal Anthropological Institute, Londres ­Man, Londres ­ Mitteilungen der 
Anthropologischen Gesellschaft, Viona­Population, Paris­Przeglad Anthropologiczny, Pozman­
Revista de Antropologia, São Paulo
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Stuttgart / 61d, 6le, 64b, 64c,
64f, 65d, 65e, ffia: Biasutti, R., Le razze e i popoli della Terra, U. T. E. T. Turim, 3 ed. 
rev., 1959, vol.'2 / 61f: Sauser, G. Die õtztaler, Naturw.­mediz. Verein, 1nnsbruck, 1938 / 62b, 
62c, 62e.
63a, 63b, 63c, 63d, 63e: Biasutti, vol. 3 / 62f: Eickstedt, E. v., Mainz / 64a: Clauss, L. F., 
Von Scele und Antlítz der Rassen und Võlker, E. J. F. Lehmann, Munique, 1929 / 64e, 65b, 65c,
65f: Eikstedt, E. v., Rassendynamik von Ostasien, Ed. W. de Gruyter, Berlim, 1944 / 66b, 66c: 
lIeberer­Lehmann, Die Inland­Malaien von Lombok und Bumbawa, Ed. Musterschinidt. Gõttingen 1952 
/ 66d, 66f 67b, 67c, 67d, We, 67f: Biasutti vol. 4 / 79: He1@erer, G., Fossil@eschichte der 
Hominoidea, in Drimatologie, vol. I, Ed. S. Karger, Basilela / 81, 89: Britísh Museum (Natural 
History). Londres / 82: Schultz, A. H., Basileia / 95: Heberer, O.,

Gõttíngen / 96: seg. Maurice P. Coon, Nova Iorque.

Desenhos: executados por Ruth e Harald Bukor, Wiesbaden, com base em originais fornecidos pelos 
redactores da obra / 2: seg. R. A. Dart, 1957 / 19, 20, 21: Vandervael, P., Biométrie Humaine. 
ed. Desoer­Masson, Liège, 1964 / 23: de Hofstãtter, P. R., Psychologie, Fischer Lexikon. vol. 6 
(Bukor). ed, portuguesa: Psicologia, Enciclopédia Meridiano/Fischer, vol. 4 / 24, 30, 32, 55: 
Wolfgang Bender, Mainz / 39: seg. Lenz W., Kõrpergewlcht und Kõrperiãnge, in J. Brock, Biolog. 
Daten f. d. Kinderarzt, Ed. Springer, Berlim, 2 ed., 1954. / 53, 56, 74, 75, 90: Reinz Radloff,

Pranefort.
INDICE ONOMáSTICO E REMISSIVO

As palavras e os algarismos em negro indicam os artigos de assuntos ordenados por ordem 
alfabética tratados desenvolvidamente; as palavras e os algarismos em caracteres normais dizem 
respeito a nomes e conceitos fundamentais que no texto vão referenciados, em itálico.

Abel, O., 440. Abel, W., 151. Abevilliano, 397. abertura piriforme, 351. ABO, sistema, 206, 217. 
aborto, 153. Abry Bergy, 301. aceleração do desenvolvimento,

140. Acheuliano, 397. acumulação, 49. Adachi, 176. adaptação

crise de, 71. especial, 182. genes capazes de, 215. Aetas, 243, 314, 322. Afalu bu Rummel, 283. 
África, v. História das raças,

África, 280, 438. Africanthropus, 411.

­ njarasensis, 406. aglutinação, 206. aglutininas, 206. aglutInantes, 206. Ain, Meterchem, 283. 
Ainos, 309, 317. Aitape, 319. aIbinismo, 205. Alcobé, 128. «aleloniorfismo múltiplo», 206­

­207. alelos, 199, 213. alimentos,

­produção de, 236, Allison, 174, 208. alometria

negativa, 127. positiva, 127. «alopàtricamente», 183. Alpha Army Test, 429. Alto­Comissário de 
Refugiados

das Nações Unidas, 167. amálgama, 74. ambiente, 179.

­, pressão do, 396. América, v. História das raças,

América, 336 Ameríndios, 196, 316, 318, 339­

­341. Ammon, 50. análise de semelhança, 91.

anatomia, 343. ancient members, 354. Andamaneses, 243. Andamânidas, 314, 435. Andidas, 341. 
androginecomórficas

­, série de variações, 112. anemia depranocítica, 173. animal, 389. anticoncepcionais

­, métodos, 153, 156. anticorpos, 206. antigénios, 206. _, entrocíticos, 206. Antiguidade, 151. 
anti­semitismo, 72. antropobiologia, 22. antropogenética, 27. antropóides, 374­375, 443. , grupo 
de, 386. Antropologia, 11­12, 19, 22, 25, 218,

343.
­, aplicada, 28, 88. Antropologia cuitural, 28, 64, 138,
iso, 198. Antropologia soci%l, 28, 33, 38, 50,

119, 137, 185, 195, 198, 225, 235. antropólogos, 11. antropometria, 344. antropómetro, 350. 
Apidium, 378. Arene Candide, 258, 264. Arambourg, C., 405. Arcantropídeos, 398, 401, 445. 
Archaepteryx, 361. Aristóteles, 218. armeniana, 435. arménida, 435. Arménidas, 310, 312. arménio, 
435. arredondamento, 120. Arrowsmith, 432. Ásia, v. História das raças:
Ásia, 300. Asselar, 284, 287. assimilação

cultural, 53. étnica, 71. assistência à infância, 164. asténico, 81,86.

­, tipo, 82, 105. atitudes especiais, 429.

467
índice

Atlanthropus, 399. _, mauritanicus, 405. atlético, 81, 86.

­, tipo, 83, 87, 105. Auliffe, Sigaud­Mac, 74, 76, 77. aumento da estatura, 140. Aurignaciano, 
398. Australantropus, 381. Austrálidas, 196, 309, 321, 435. australiforme, 308. 
australopitecídeos, 377, 380, 399,

426. australopitecíneos, 444. Australopithecinae, 387. Australopithecus, 381, 385, 396,

399, 421, 444, 445.

transvaalensis, 382, 387,
421, 445. autodomesticação, 29. auto­engrandecimento, 37. auto­rebaixamento, 37. «autossomas», 
199. Avelines Holes, 264.

Bassinello, 376. Bach, 210. Baitsch, 95­96. Balandier, 166. balbuceio infantil, 43. Balzi Rossi, 
257. Bambútidas, 296. Bambutis, 243. basion, 346. bastardos de Rehoboth, 201,

223, 298. Bauer, 95. Beach, 31. Bellini, 211. Belt Cave, 305. Beriedict, 177. Bennholdt, 141. 
Berberes, 290. Bernoulli, 211. Bertalariffy, 138. Bianco, 175. Biasutti, R., 224, 314, 435. 
biologia

da sociedade, 50­51. demográfica, 50. dos povos, 50. biótipo, 74. ,   brevilíneo esténico­
tõnico,

84. ,   hipostínico, 84. individual, 83, 85. longilíneo esténico­tõnico,
83. hipc>sténico­hipot(5níco, 84. Biotipologia, 74, 113.

biótipos ‘ 83. Birdse11, 217, 223. Biston betularia, 215. Black, D., 409. Blumeribach, 218, 344­
345. Boas, 119. Bober, 128. Bolk, 140. Bonin, von, 128. Border Cave, 282. Boskop, 285. 
Bosquímanos, 297. Bossard, 63. Bottendorf, 264. Boule, 222, 401. Boyd, 173, 223. Brandkerannik, 
269. braquicefalização, 120, 287. Brasílidas, 341. bregma, 346. Breitinger, 421, 423. Briton, 20. 
Brno, 259. Broca, 18­19, 220. Broken HilI, 410. Brown's Valley, 338. Brüehkner, 394. Bilchi, 127. 
Bunak, 105. Buytendijk, 115.

caçador nómada, 426. Cafres, 297. calibrador de hastes curvas,

350. «calotte», 348. «calva», 348. «calvaria», 348. «calvarium», 348. camadas sociais e 
profissões, 55. canibalismo, 426. capacidade

­ craniana, 47.
­ de aprendizagem      ,46.
­ de procriação, 96. Cape Flats, 282. carácter simbólico, 42. caracteres, 100.

­combinação típica de, 100.
­ raciais, 217. ­rácicos, 101.
­ serológicos, 89. ­sexuais primários, 108.
­ ­secundários, 108. ­transmissões dos, 101. características

combinações de­tipicas,
185.
­ ­de uma raça. 190.

468
índice

­ dermatográficas, 203. carbonária, 215, carestias, 153. Carracci, 211. Carr­Saunders, 160. 
Casablanca, 406. castidade, 31. Catarríncos, 441, 443. categorias biostatísticas, 79, 38. 
cebóideos, 441. cefalização, 128. celibato, 31. Centrálidas, 341. cerâmica cordada, 270. 
cercopitecóideos, 441, 443. cerebral, córtex, 47. cerebralização, 369, 443. cerebrotónico, 
temperamento,

87. cerebrotónicos, 114. Chancelade, 256. Chapelle aux: Saints; (La), 412. Chuku Tien, 301, 408.

­caverna superior, 301. Chuku­tienium, 409. ciclotimia, 81. cielotímico, 81, 113. Cielotímicos, 
81. cimótrico, 203. citogenética, 198. Clactoniano, 397. Clark, Le Gros, 374, 419. «clássicos», 
412. Code de Famille, 164. coeficiente de selecção, 214. Cohuna, 320. Coisânidas, 297, 438. 
colecções de crânios, 345. colónias, 167. Combe Capelle, 229, 256. combinação

­de características típicas,

185.
­ ­de uma raça, 190. ­típica de caracteres, 100. compasso

­de espessuras, 350. ­de hastes direitas, 350. compleição, 189. componente _ectomórfica, 86, 
107.

­endomórfica, 85, 106. _mesomórfica, 86, 87, 107. componentes primárias, 85.

­ ectomórfica, 85.
­ endomórfica, 85.
­ mesomórfica, 85. comportamento

­, estudo do, 198.

homólogo, 30. padrões de, 45. compreensão de palavras, 43. Comprovação da Paternidade. 88.

204, 206, 225. Conceito de raça, 97, 168, 183, 198,

227, 352, 433. concordância, 201. condrodistrofia, 202. Confins, 338. Conrad, K, 105, 114. 
consciência de raça, 72. conservação, 392. Constituição, 47, 53, 55, 56, 61, 62,

92, 103, 124, 126, 128, 145, 176,
177,192,198, 351, 431. constituição, 74, 103.

­leptossomática, 81, 82. ­pínica, 81, 82. constituições

­braquitípícas­megalos­

plâncnicas, 77, 78.
­ 1 o n g i t i p 1 c a s­microsplâne­

nicas, 78, 79. contacto

raça de, 294, 322. raças de, 300, 434. zona de, 293. zonas de, 101, 316. contador Geiger, 391. 
contra­selecção, 51 convencionais, estruturas, 88. convergência, 190. Coon, C.S., 254. corda 
dorsal, 123. coronale, 346. Correia, Mendes, 18. Correns, 197. correlações, 351.

­1 estatística das, 352. córtex cerebral, 47. Costanzo, 140. Cotint, 32, 34, 38, 128. Cranach, 
211. craniologia, 220, 345. crantometria, 345. «cranium», 348. cremação dos cadáveres, 110. 
Crescimento, 55, 57, 66, 106, 108,

120, 122, 123, 144, 202, 245. Criminalidade, 60. crise de adaptação, 71. Cro­Magnon, 257, 286.

­, tipo de, 229. cromossomas, 215.

­ sexuais, 198­199. cromómeros, 199. cultivo das plantas, 236.

469
índice

cultura

­ das lascas, 398.
­ das lâminas agudas, 398.
­ de Foison, 336.
­ de lãminas, 425.
­ dos «chopping tools», 41.
­ megalítica, 270.
­ mustieriana, 415.
­ osteodontoquerática,         39,

395. ­Stillbay, 411. curva da radiação, 393. Cuvier, 359. «Cyphanthropus», 410.

Darnarás montanheses, 297. Dart, 39, 386. Darwin, 143, 211, 215, 219, 223,

224, 353, 359, 361, 362, 365,
356. darwinismo social, 51. Davenport, 201, 205, 430. Davies, 159. Demografia, 49, 51, 65, 67, 
68, 142,

195, 198, 235.
­, história da, 144. Deniker, J., 222. denominações raciais, 434. densidade da população, 
49,

145. dentes, 133. dentição, 372. desbraquicefalização, 120. despigmentação, 189, 205, 235,

434. Deuteromalásidas, 318­321. Deventer, 264. diastema, 406. Diego, sistema, 171. diferenças

­ raciais, 186.
­ sexuais, 136. «diferenciação», 183. difusão, 49.

­ vicariante, 356. diplóide, 199. discordância, 201. distribuição

­das raças, 352. ­dos grupos sanguíneos, 191.
­  racial, 239. divisão

­do trabalho, 50.

­ ­ segundo o sexo, 53. Diebel Kafzeh, 301, 424, 425. Dobzhansky, Th., 100, 215, 223,

365, 425. doenças, 208. Dornfeld, 120.

drepanocitenlia, 217. drepanócitos, 208, drepanocitose, 206, 208. Driopitecídeos, 442. 
Drosophila, 215, 223. Dubois, E., 128, 406. Ducrocg, A., 391. Duffy, sistema, 171.
ecologia, 29. economia

da caça, 227. da colheita, 227. «ecótipo aberto», 194. ectoderma, 123. ectomórfico, 86. 
ectomorfismo, 86­87. educação,, 212. efeito Sewall­Wright, 213, 218. Egípcios, 292. Egolzwil, 
264. Eickstedt, E. V., 22, 25­26, 177,

222, 224, 254, 294, 297­298,
314, 341, 344­345, 350, 352,
434, 436, 438. Eldridge, H.T., 165. eliminação, 179. elites

­, extinção das, 67. Ellsworth, 63. Elmenteita, 284, 288. endomorfismo, 86­87. entoderma, 124. 
Eoanthropus Dawsoni, 391, 417­

­418. epidemias, 152. epífise, 134. época, 357.

­, glacial, 392. Eridu, 309. ErQ el Ahmar, 304. Ertebõlle/Borreby, 265. escolha

conjugal, 52. por contraste, 62. espaço

alimentar, 195. vital potencial, 182. espécie, 212. esperança média de vida, 147. esqueleto, 133. 
Esquimós, 341. esquizotimía, 81. esquizotímíco, 81, 113. Escluizotímicos, 82. Essen­Mõller

­, o método de, 94. Estabrooks, 431. estádio de desenvolvimento, 128.

470
indice

estatística

das correlações, 352. das migrações, 148. demográfica, 143. genética, 213. estatura, 37.

­, aumento da, 140. esteatopigia, 289, 298. esteatopígico, 295. Esteatopígidas, 290, 297. 
estímulos­chave, 45. estratificações étnicas, 52. estrutura, 74. estruturas , horizontais, 88. , 
intermédias, 88. _, verticais, 88. estudo

das raças, 27. do comportamento, 198. Ethinos, 17. Etiópidas, 294. Etnobiologia, 50. 
etnocentrismo, 72. etnossociologia, 51. etologia, 28. eugenia, 198.

­, positiva, 198. eurofricãnidas, 291. «Eurantropo de Mauer», 404. eurion, 346. Europa, v. 
História das raças,

Europa, 255. europóide, 287, 322, 435. Europóides, 189, 196, 251­252,

255, 286, 288­289, 292,308,311. evacuação,167. evolução, 178. exclusão da paternidade, 89. Exner, 
61. exogamia, 34. expressividade, 205. extinçã o

das elites, 67. dos povos no estado natural, 69. Eyasi, 406.

factor

adiposo, 80­81. de comprimento, 80. de robustez, 80. muscular, 80. factores, 103. 
Falkensteinhõhie, 264. fanerantropídeos, 398. Farabee, 197. fase estacionária, 126. Fat'ma Koba 
265.

fecundidade, quociente geral

de, 147. Federici, N., 140. Fêmeas, 129. fenogenética, 198. Ferrassie, La, 412. FiedIer, W., 440. 
Fields, 107. Fielmann, 56. filogenia, 359.

evolutiva, 354. experimental, 354, 359. histórica, 359. Fischel, 46. Físcher, E., 22, 25­26, 28­
29, 98­

­100, 122, 197, 201­202, 207,
218, 221­222, 249, 259, 344. Fish Hoek, 285. fisiologia, 343. , humana, 28. Fisiologia da9 raÇa@, 
167, igs, 206Fisiologia racial, 91. Fleischhacker, 205. Florishad, 282. flúor, método do, 390. 
fluxo genético, 415. fluxos genéticos, 216. folhetos germinativos, 1,23.

ectoderma, 123. entoderma, 124. mesoQerma, 123. Folson, cultura de, 336. fontanelas, 134. 
Fontéchevade, 256, 422. Ford, 31, 115, 216. formas , de crescimento, 105. , de matrimónio, 34. 
fórmula, 213. fósseis, 388. fotografia, 351. Frassetto, 18, 20. Freeman, 106, 210. frequência 
genotipica, 213. frecluências génicas, 213. frontotemporale, 346. Fuéguidas, 341. FuhIrott, J.C., 
221. Furfooz, 246, 261. Fürst, 348.

Galeno, 75, 218. Galley HilI, 264. Galton, 197, 198, 210, 211, 222. Gambies Cave, 285, 288. 
Ganovee, 415. Garrod, 197. Gehlen, 41. Geiger, contador, 391.

471
índice

GejvalI, 144. Gêmeos

­ blovulares, 200.
­ dizigóticos, 200.
­ fraternais, 200.
­ idênticos, 200.
­ Monozigóticos, 200.
­ uniovulares, 200. gene, 100. genes capazes de adaptação, 215. Génese das racas, 64, 97, 137, 
178,

198, 215, 224, 227, 230,   238, 251,
255, 3022, 433. genética, 213.

evolutiva, 218. flutuação, 213. Genética humana, 88, 99,      101, 107,

118, 123, 168, 178, 197,   224, 352,
362. Genética das poptilacões,     198, 212,

223, 352­353, 364, 415. Genna, 177. genótipo, 98, 178. genótipos 200. Gerhardt: 269, 272­273. 
gerontologia, 132, 157. Gerok, 211. Geyer, H., 92­93. ghetos, 73. Gibraltar, 412, 415. Gieseler, 
401, 411, 423, 425. Gigantopithecinae, 405. Gigantopithecus, 385, 392, 405,

442, 445. Glabela, 346. Glockenbecherlente, 272. gnation, 346. Gobineau, J.A., 73, 222. 
Goldschmidt, 211. Gõndidas, 435. gonion, 346. Gooch, 106. Gorila, 442. Goring, 60. Gottschaldt, 
429. Goughis Caverne, 264. Gracílindas, 313. Grahmann, 398. Gramat, 261, Grassé, 440. Graunt, 
142, gregas, populações, 311. Gregory, 371­372. Grenelle, 246, 261. Grimaldi, 257 Grímm, 269, 271. 
grupo

­canino homomórfico, 383. ­dos antropóides, 366.

­linguístico, 98.

sanguíneo, Diego, 208.
­ Duffy, 208.
­ KelI, 208.
­ Kidd, 208.
­ Lewis, 208.
­ luterano, 207.
­ Sutter, 208. grupos raciais

­ cimótrico, 203.
­ helicótrico, 203.
­ lisótrico, 203.
­ ulótrico, 203. grupos sanguíneos

­, distribuição,    dos, 191. Gruta de Antélias,     301. Guak Kepah, 305. Guanchos, 291. Günz, 
394. Ousinde, 242­243.

«habitat», 375. Flaeckel, 51, 354, 358, 365. Hahn, 120. Ranna, 108. haplóide, 199. haptoglobina, 
209. Harappa, 309. Hardy, 213. Elartnacke, 56. Harvey, 356, 359. Hauff, 211. Hauschild, 119, 249. 
Hayes 42. Heber@r, G. 199> 269, 271, 360­

­361,364,371,377,399,401,423. Heberle, 159. Hegel, 211. Heidelberg, 404. helicótrico, 203. 
Helipach, 123.

362. hereditariedade Jainarckiana,

362. Herre, 121. heterocronismo, 205. heterogamia, 52, 62. híbridismo humano, 214. híbridização, 
415.

­racial, 101. hilobatídeos, 442. Hipócrates, 75. «hipótese dos gigantes», 404. História da 
antropologia, ,t8. 344,

412. história da demografia, 144. História das raÇas, 18,1, 184. 186,

189­190, 195­196, 224­225. 353,
364, 389, 401 434­435, 445.

472
índice

África, 280, 438. Ásia, 300. Europa, 255. Indonésia/Oceânia, 318. América, 336. Hititas, 310. 
Hoêdic, 261. Ho.fstãtter, 113, 132. Hohlestein, 264. Holbein, 211. Hõlderlin, 211. homem, 389.

­ médio, 77­80. homem de Neandertal, 391­398. Hominadae, 399­400. hominídeo humano, 379. 
Hominídeos, 353, 366, 440, 442­

­443, 445.
­ fósseis, 388. Homininae, 387. Hominóideas, 441, 443. Homo, 376, 381, 401, 416, 445.

­Curativus, 115. _erectus, 364, 401, 417, 421.

­­ erectus, 409. ­pekinensis, 409, 421,

426. _soloensis, 409, 421. ­faber, 115. ­habilis, 416, 426. ­heidelbergensis, 392, 414­

­415, 421.
­ pré­sapiens, 421.
­ primigénius, 414.
­ rhodesiensis,   410,  421.
­ sapiens, 218,   280,  288, 319,

364, 389, 391, 398, 400­401,
411, 417­418.
­ ­fóssil, 194,    300, 306, 342.

­ fossilis, 389.
­ neanderthalensis, 414.
­ shanidarensis, 426. simus Ribeiroi, 218. sylvestris, 218. troglodytes, 218. homogamia, 52. 
homologias, 357. homossexualidade, 30. HonerthõhIe, 258. Hooton, 60­61. hormonas, 177. 
Hornbostel, 431. Hotentotes, 297. Hotu Cave, 305. Howells, 107, 423. I­lulterantz, 140. human 
engineering, 97. Hunos, 311. Huntington, 123.

Hürzeler, 377, 444. Hussen, 114. Huth, 66. HuxIey, J., 127, 223, 361. Huxley, T.1­1., 354, 440.

Ichthyostega, 361. Idade do Bronze,156. Idade Moderna, 151. ideologia racial, 72. impulso 
agressivo, 37. incesto, tabo de, 34. índice

bruto de reprodução, 148. cefálico horizontal, 348. conjugal, 64. eraniano horizontal, 348. 
facial, 349. ginandromórfico, 111. líquido de reprodução, 148. ponderal, 125. índices, 220, 348.

de natalidade e mortalidade elevados, 161. de natalidade elevados com indices de mortalidade 
baixos, 161. de natalidade e mortalidade baixos, 161. de natalidade baixos com índices de 
mortalidade médios, 161. de reproduço, 148. Indobraquicefálidas, 313. indo­germânicas, 311. 
Indonésia v. História das ra­

ças, Indonésia/Oceânia, 318. Indopithecus, 442. «indústrias de pedra lascada»,

397. infância, assistência à, 164. infanticídios, 153. inion, 346. insulados, 183, 214. 
inteligência, 46, 210.
­, geral, 429. intimidade, 31. investigação

do comportamento, 99. sobre os gêmeos, 101. Iran@anos, 311, 312.
1shango, 284, 288. Ishiwra, 139. isolamento, 97, 178, 183, 230.

­, áreas de, 227. isometria, 127.

Jabrud, 425. Jaensch, 432.

473
índice

Johannsen, 212. Jonsson, 132. Juda, 210. Just, 56, 114.

Kafuaniano, 397. Kãlin, 371, 377. Kalmus, 176. Kanjera, 280. Kant, 167, 197, 219. Kaplan, 119. 
Katz, 47. Kaufertsberg, 265. Keilor, 320. Keiter, 95, 132, 431. Keith, 177, 304. KelI, sistema, 
171. kenturn, língua, 253, 271. Kents Cavern, 264. Kenyapithecus, 379. Kerner, 211. KettlewelI, 
216. Khartum, 284, 287. Khirokitia, 309. Khmer, 318. Kidd, sistema, 171. King, 415. Kinsey, 32, 
132. Kirckpatrick, 429. Kisar

­mestiços de, 201. Kjoelberg, 265. Klaatseh, 256. Mages, 115. Klenun, 73. Klenke, 120. Kliegel, 
120. Klineberg, 429. Milver, 48. KoehIer, O., 46.. Koenigswald, GA­I.R. v., 377,

404­406, 409. KõhIer, W., 39. KohI­Larsen, 406. Kõhn, 211. KoIler, 352. Kõppen, 391, 393. 
Krapina, 415. Kretschmer, E., 61, 74, 78, 81,

83, 86­87, 103, 105, 107, 113,
225. Kroeber, 49. Kromdraaj, 444. Ksâr Akil, 301. Kuang­si, 306. Kummer, 378. Kurth, G., 417, 434, 
436.

Lack, 152, 160.

Lagoa Santa, M. Láguidas, 341. Lamarck, 353. Landsteiner, 206. Lange, 211. Lansing, 338. Lapouge, 
50. Laufen, 264. Lautsch, 259. Lawrence, 56. Leakey, L.S.B., 374, 379, 399,

416, 426. Learned, 42. Lehmann, 18, 132, Leis de imigração, 166. Len, W., 139. Lenz, W., 122, 
124, 137, 141. leptossomáticos, 81. leptossomia, 55. leptossómico, 105. Lersch, 115. Leschi, 177. 
Levalloisiano, 398. Lewis, sistema, 171. lex Papia Poppaea nuptialis, 165.

Leyhausen, 36. «Líbios», 292. linchamentos, 73. Lindezard, 74, 80, 88, 104, 114. Lineu, 218, 440. 
língua kentum, 253, 271. linguagem mímica, 43. línguas satem, 253. lisótrico, 203. Liu­Cheng, 
caverna de, 392. logaritmo, de paternidade, 95. Lombroso, 50, 60. Longhi, 211. Lorenz, 36­37. 
Lorimer, 65. Lorr, 107. Lottig, 211. Lsakey, L.S.B., 419. Ludwig, 95. Lundman, 250, 277, 279. 
lugar, 357. luterano, sistema, 171.

machos, 129. Mackenroth, 159. Magelemose Bog, 265. Maiella, 264. Makapansgat, 444. Málidas, 435. 
MaIthus, 143, 363. mamífero3, 439. Manouvier, 105, 344. mão, 48.

474
índice

Márgidas, 341. Martins, R., 20, 25, 221, 344.

348, 350, 352. Martiny, 124. masturbação, 30. Matjes River, 285. matrimónio

formas de, 34. proibição, 73. maturaidade

escolar, 133. sinais da, 128. tipo da, 133. Mechta

el Arbi, 283. raça de, 286, 291. medição, 344. medições de seres vivos, 221. Mediterrâneos, 291. 
Meganthropus, 383, 407.

­ palaeojavanicus, 407, melanismo, 205.

­industrial, 215. memória, 46. menarca, 122, 130. Mendel, 98, 197, 221­222. mendelismo, 198. 
menomeria, 200. mesoderma, 123. Mesolítico, 225, 260, 283, 303,

319, 337. mesomorfismo, 86­87. mestiçagem, 214. mestiços de Kisar, 201. metabolismo, 177.

­basal, 122, 177. método

­de Essen­Mõller, 94. ­do flúor, 390. ­do potássio­árgon, 391. ­do radiocarbono, 391. métodos 
anticoncepcionais, 153,

156. Métodos de antropologkt, 25, 28,92.

126, 221, 343@ 390, 392. MiddIe­Stone­Age, 281­282. migrações, estatística das, 148. 
Milankovitch, 391, 393. Miles, 115. Mills, 105, 121, 137­138. Mindel, 394. Miner, 106. miose, 178. 
«missing link», 407. mistura biológica, 53. Mladec, 259. mobilidade social, 52, 158. 
modificações, 201.

­ colectivas, 118.

­ de origem social, 53. «modjokertensis», 406, 421. Modjokerto, 406. Mohenjo­Daro, 309. 
Mollison, 246, 265, 350, 385. Mongóis, 311. mongolóide, 308, 313. Mongolóides, 189­190, 196, 251,

307, 315, 337, 339, 341. monogarnia, 34. monopolização das relações se­

xuais, 33. Montalentí, 175. Mont Maurin, 417. Monte Carmelo, 415, 424. Monte Circeo, 412, 426. 
morfologia

­ comparada, 357.
­ humana, 27. Mõrike, 211. mortalidade, 146, 156.

infantil, 147. tabelas de, 147. morte , probabilidade de, 147. MGustier, Le­, 412. Movius, H. L., 
401. Mozart, 210. Muge, 261. Mugharet el Kebarah, 304. Mugharet el Wad, 304. MilhImann, 29­30, 
38, 46, 59, 71. mulatos, 201. Müller, K.V., 64, 66, 114. Murdock, 54. Murzak Koba, 266. 
Musteriano, 397, 425. mutabilidade, 214. mutações, 98, 178, 212, 362.

Nagy Sap, 265. Naivasha, 281. nascimentos, 147. nasion, 346. natalidade
quocientes genéricos de,
147. Neandertal, 282, 412.

­, homem de, 391, 398. Neantropídeos, 398, 412, 414,

445. Neel, 173, 199. Negrítos, 314. 322. negróide, 189­299. Negróides, 189, 196, 243, 251,

282, 286, 289, 292­293, 295,
299, 439. Negros

­, problema dos, 72.

475
índice

Nerneskéri, 136. Neolítico, 149, 156, 226.

a era moderna, do, 267,
289, 308, 320, 339. Neomelanésidas, 321, 435. Neuessing, 265. Newman, 137. Ngandong, 407. 
Nicéforo, 50. Nilótidas, 295. N N S s, sistema, 207. norma sexual, 32, normót!Po, 77, 80. 
Nougier, 145, 151. NúbiGs, 292. número dos indivíduos, 49. Nyman, 114.

Oakley, K.P., 379, 391, 404. Oban, 264. Oberkassel, 258. Oceânia, v. História das raças,

Indonésia/Oceãnia, 318. Odor

­ corporal, 188.
­ racial, 176, Offiet, 246, 265, 267. OIbrich, 348. Oldowaiano, 397, 399. Oldoway, 281, 426, 444. 
oligofrenia, 211. Oligokyphus, 361. Ona, 342. ophisthocranion, 346. Oreopitecíneos, 444. 
Oreopithecus, 378­379, 380, 444.

­bambolii, 377­378, 444. Organização Internacional de

Refugiados, .167, Orientálida, 299. Orientálidas, 311. Origem do homem. (A), 37, 39, 47,

128, 13S, 212, 219, 224, 353,
388, 395, 399, 401, 404, 442,444. ornamentos labiais, 188. orto­selecção, 364. Osborn, 65. 
osteometria, 200, 345. Ottenstein, 173.

Pacífidas, 341. Palaenthropus, 399.

­, javanicus, 407. paleodemografia, 144. Paleolítico, 156

Inferior, 149. Superior, 149, 225, 280,
300, 318, 336.

paleoniediterrãneos, 287. Paleomelanésidas, 321, 435. paleomongólica, 322. Paleomongólidas, 315, 
318, 320. paleonégrida, 296. Paleontropídeos, 398, 410, 445. países subdesenvolvidos, 163. 
Paleontologia, 390. PaJeontropologia, 27, 180, 186, 221,

224, 226, 280, 300, 319, 380­381,
388, 444.
­  ‘ Métodos da, 390. Pari, 442. pan­mixia, 213. pamir, 435. Paranthropus, 381, 384­385, 396,

399, 404, 444.
­, erassidens, 399, 405. Parapithecus, 372. Parne11, 104. Parpalló, 256. Pastore, N., 212. 
pastorícia, 236. Patagónidas, 341. «Patjitanium», 407. património génico, 194. Pauling, 209. 
Pearl, 106. Pearson, 20, 431. Pei, 405, 409. Penck, 394. Pende, 74, 78­79, 81, 83­84, 106. 
penetrância, 205. períodos

glaciais, 392. interglaciais, 392. pluviais, 393. «personalidade endotímica»,

211. Pessler, 120. Petralona, 412. Petty, 142. PfaundIer, 124. pícnico, 86.

­ tipo, 105. pigr@entação, 189, 204, 235, 434. Pigmeus, 240, 296, 438. Pigmóides, 314, 322, 342.
­, populações, 434. pirâmide

biotipológica, 83. das idades, 146. Pithecanthropus, 381, 399, 407­

­408.
­, erectus, 406. Piveteau, 377, 401. plano de orientação, 349. platirríneos, 441, 443. 
pleiotropia, 178, 188­189.

476
índice

Plesianthropus, 381, 421. plica mongólica, 190. Pliocénico Superior, 389­390. Plistocénico, 389.

Inferior, 395. Médio, 395, 418. Superior, 394, 411. Políbio, 67. polifenia, 178. poligamia, 34. 
polimeria, 178, 200. polimorfismo genético, 209. Polinésidas, 322. PolJakoff, 96. Pongídeos, 
366, 369, 442­443. Pongíneos, 442. Pong, 442. Pons, 110. «ponta pendiculada», 398. pontos

anatómicos do corpo hum mano, 345­346. craniométricos, 345. população, 212.

da cidade, 57. de híbridos, 401. densidade da, 49, 145. desenvolvimento da, 149. do campo, 57. 
híbrida, 425. ideal, 213. mendeliana, 212. movimento da, 146. populações, 227, 364.

gregas, 311. humanas, 216. piginóides, 434. porion, 346. Portmann, 138. Porzig, 42, 44. potássio­
argon, método do, 391. povoamento, 167. povo, 98.

­, do bipene, 270. povos, 195. pré­aurignaciano, 425. Predmost, 259. Predmosti, 259. pré­
hominídeos, 387. Pré­neandertalianos, 415. pressão

do ambiente, 396. selectiva, 180. primatologia, 224. probabilidade de morte, 147. problema dos 
Negros, 72. proceritas

prima, 124. secunda, 124.

procônsul, 443.

­, africanos, 374­375. Proconsulídeos, 442. pordução de alimentos, 236. proibição, 34.

­, de matrimónio, 73. Propliopitheesus, 372. prostituição, 34. protoantropídeos, 398. 
Protornalásidas, 318, 321. Psicologia das raças, 192, 428. Psicologia humana, 28. Psicologia 
racial, 68, 73. puberdade, 126. Palaúnguidas, 318. Punín, 338. Pykraft, 410.

Quatrefages, 18. Quina (Lá), 412. Quinzano, 421. quociente geral de fecundi­

dade, 147.

raça,  97­98.

adriática, 278. alpina, 278. báltica, 277. consciência de, 72. dalofálica, 277. de contacto, 294, 
322. de Mechta, 286, 291. dinárica, 278. gôndida, 313. humana, 98. iraniana, 292, 311. málida, 
313. mediterrânea, 276. nórdica, 276, 291. pamir, 435, pura, 185. sínica central, 316. sínica 
meridional, 316. setentrional, 316. raças

de contacto, 300, 434. estudo das, 27. radiação, curva da, 393. radiocarbono, método do, 391. 
Ramapithecus brevisostris, 379. ramos raciais, 194, 196, 254. Recentes, 442. Reche, O., 96, 217. 
reconstituições, 392. refúgio, zonas de, 51. regulação térmica, 177. Rehoboth, Bastardos de, 201,

223, 298. relação mãe­filho, 32.

477
índice

Remane, 357, 371, 377. Rensch, B., 49, 356, 388. repovoamento, 167. reprodução diferenciada, 153. 
reservas, 73. Retzius, A.A., 220, 344, 348. Rh, sistema, 90. Riss, 394. Roberts, 137. Robinson, 
396, 444. qodenwaldt, 201. Rohden, v., 61. Romanelli, 258, 264. Rothacker, E., 26. Ruggles­Gates, 
205. Rust, A., 404, 425.

Sacoopastore, 415. Saldanha, 411. Saller, K, 25, 225. Saio, 408. Sangiran, 406. S. Teodoro, 258, 
264. sapiens, 397, 427­428. Sarasin, 344, 348. satem, línguas, 253. Savona, 258. Schade, 92. 
Schaeuble, 120. Schebesta, 243. Scheidt, 432, Scheinfeld, 54. Scheler, M., 26, 47. Schelling, 
211. ScheIsty, 32, 34, 142. Schiller, 211. SchIezel, 104, 112, 115. SchIesinger, 124. Schmidt, 
128, 242. Sehnurkeramik, 270. Scholz, 128. Scliopenhauer, 62. Schereider, 78, 114. SchulI, 199. 
Schultz, A. H., 139, 224, 371,

377. Schultze­Naumburg, 63, 211. Schwab, 61. Schwalbe, 221­222. Schwanitz, 364. Schwidetzky, 55, 
63­64, 94, 114,

119­120, 431. segregação, 73. Segundo, 378. selecção, 51, 212, 230, 293.

coeficiente de, 214. teoria da ­natural, 363. selecções, 178. Semangueses, 243, 314.

Senoieses, 243, 314. sensibilidade gustativa, 91. Senyurek, 426. sepultura dos mortos, 426. 
Sergi, S., 398, 404, 423. Sewall­Wright

­, efeito, 213, 218. Shanidar, 424. Shapiro, 119. Sheldon, 61, 74, 81, 85­88, 106,

111, 114, 124. Shreider, 87. Shukbah, 304. ShulI, 110. Sialic, 309. «siekle­eell», 208. Siebung, 
51. Silvestroni, 175. Sílvidas, 341. símios 441. Simons, 378­379. simpatria, 415. 
«simpàtricamente», 183. Simpson, G., 223, 360, 443. Simpson, G.G., 440. sinais de maturidade, 
128. Sinanthropus, 381, 386, 399, 407.

officinalis, 409. pekinensis, 408. sincondrose esfeno­occipítal,

135. sindromas genéticos, 192. Singa, 284, 287. Sínidas setentrionais, 315. sistema, 130, 206, 
217.

de cartas, 52. Diego, 171. Duffy, 171.
O c, 209. Gin, 209. Kelle, 171. Kidd, 171. Lewis, 171. luterano, 171. MNSs, 207. Rh, 90. 
Sistemática das raças, 224, 432. Sistemática do% primatas, 97, 366,

369, 388, 398, 439. Sistemática racial, 254, 314, 436­

­437. Sivapithecus, 442.

­, sivalensis, 372­373, 382. Skerlj, 138. Skul, 424. slogan, 358. SnelI, 128. Snow, 425. social 
anthropology, 51.

478
índice

Sociedades ètnicamente estratificadas, 58. sociobiologia, 50. Soergel, 393. somatometria, 345. 
somatótípo, 85, 86. sornatotipo'ogia, 106. somatótipos, 86. somatotónica, 114. somatotónico, 
temperamento,

87. Spannaus, 59. Speiser, 120, 244. Spencer, 51. Spingbock Flats, 285. SpuhIer, 199. Spy, 412. 
Stachelin, 36. status, 130. Steggerda, 201, 430. Steinheim, 419. Steiniger, 205. Stelienbosch, 
411. Sterkfonteiri, 444. Stern, C., 224. Stetten ob Lontal, 258. Stillbay, cultura, 411. Stockard, 
105. Storch, 29, Strandioopers, 298. Stratz, 124, 132. Strauss, 210. Stumf1. 211. subespeles, 
194. «subfõssil», 289. subpopu'.ação, 145. Sudânidas, 295. Sueiro, Earbosa, 435. superpopulação, 
145. Süssmilch, 143. suturas do crânio, 135, Swartkrans, 404, 444. Swanscombe, 421.

tabelas de mortalidade, 147. Tabelas­tiDO, 126. tabo de incesto, 34. tabos matrimoniais, 52. 
Tabun, 424. Tagbah, 424. talassemia, 175. Talgai, 320. taras hereditárias, 208. társio, 443. 
Tasmânia, 321. Taungs, 380, 444. «Táuridas», 310. Tayaziano, 397. Taylor, 32.

Telanthropus capensis, 404. Tell es Sultan, 305. temperamento

cerebrotónico, 87. somatotónico, 87. viscerotónico, 86. viscoso, 114. tempo médio provável de 
vida,

153. teoria

da selecção natural, 363. do atavismo, 60. geral da evolução, A, 353. Tepexpán, 338. Terman, 55, 
115. Ternifine, 405. Tévíêc, 261. Thielicke, R., 26. Thielme, 110. Thompson, 66, 166. Thomsen 
141. Thurrlwaid, 34, 51, 59. TilIner, 205. tipo,  74.

asténico, 81­82, 86, 87, 105. atlético, 81, 83, 86­87, 105. cerebral, 76. constitucional, 351. da 
maturidade, 133. da pubescência, 133. de Cro­Magnon, 229. de idade escolar, 132. digestivo, 75. 
infantil, 132. muscu@ar, 76. pícnico, 86, 105. respiratório, 75. tipologia, 74. tipologias

constitucionalísticas, 74. essencialmente morfológIcas, 74. estatísticas, 74. impressionistas, 
75. intuitivas, 75. somatopsíquicas, 74. tipos  constitucionais, 103. Tischbein, 211. Topinard, 
19. trabalho

divisão do, 50. divisão segundo o sexo,
53. tradição, 49. transferrina, 209. transmissão dos caracteres, 101. tribos, 195, trilobítas, 
355, 364. Trinil, 406.

479
índice

TroPinard, 344. Trou du Frontal, 261. Tryon, 210. Tscherinak­Seysene99, 197. Tschulok, 357. 
Túnguidas, 315­316, 337. Turânidas, 312. turgor

primus, 124. secundus, 124. tertius, 124. Twiesseimann, 128. TY1er, 115. Tylor, 20.

ubicluitários, 182. UexküIl, v., 29. Mland, 211. ulátrico 203. Undent@ch, 131, 142, 
Unterwisternitz, 259. Urtiaga, 281. utensilios, 395.

­   fabrico de, 426. utili@ação, 396.

Vallois, H.V., 256­257, 301, 369,

377, 401, 422­423, 435. valor crítico, 94. valores de saturação, 103. variantes

primárias, 105. secundárias, 105. variaveis temPeramentais, 86.

cerebrotonia, 86. somatotonia, 86    . viscerotonia, 86   . Védidas   309 312­314.

­1 oT1Cnt@js, 3og, 314. Verneau, 257. Vero, 338. Verschuer, O. V., 961 200, 206,

224. Vilafranquiano, 390, 349. Viola, 74, 77, 7"0, 84, 105­106, Virchow, 221, 344. viscerotónica, 
114. viscerotónico,     temperamento,

86. viscoso, temperamento, 114.

vizinhança, 63. Vogel, 199. Volgt, 128. Vries, 197.

Wadjak. 319. Walter, 63. Washburn, 33, 40, 108. Welber, M., 73, 210, 440. Wegener, 391, 393. 
Weldenreich, F., 301, 303, 405­

­406, 408­409. Weimar­Ehringsdorf, 415 Weiberg, 213. Weinert, 406. Weininger, 62. Weizsãcker, V. 
v., 26. Westermarck, E., 34. Westphal, 113. Wettstein, R. v., 364. Wiener, 173. Wilser, 414. 
Wohlfart, 56. Wolf, 63. woitmann, L., 222. Woods, 210. WrIght, 22­213, 218. Würm, 394.

Xãnidas, 3.18.

Yerkes, 42, 429.

Zeller, 128, 132. Zeuner, 391. «Zinjanthropus», 399. Zitzikama, 285. zona

­climatérica, 194­195. ­de concentração, 316. ­de contacto, 293. zonas ­ corticais, 47.

­de agressão, 35.
­ de contacto, 101, 316.
­ de fuga, 35. ­de refúgio, 51. _referenciais, 51. Zuckermann, 31. zygion, 346.

480
Astronomia Coordenação do Prof. Kari Stumpff Supervisão e prefácio da edição portuguesa pelo 
prof. E. Conceição Silva; colaboração do Prof. F. Veiga de Oliveira, Dr. A. Perestrello 
Botelheiro, Direct. Obs. Ast. Lisboa, e outros especialistas. Vol. de 466 pp., 119 ilustrações.

Religiões não­cristãs Coordenação do Prof. Helmuth von Glasenapp Com a colaboração de vãrios 
especialistas portugueses a cada um dos temas e artigos originais dos Profs. Karl Prümm e 
Constantin Regamey. Vol. de 438 pp., 79 ilustrações.

História Coordenação do Prof. Waldemar Besson Supervisão e prefácio da edição portuguesa 
pelo']Doutor A. H. de Oliveira Marques e com a inclusão de cinco temas originais por 
especialistas portugueses. Vol. de 502 pp.

Psicologia Coordenação do Prof. Peter R. Hofstãtter Colaboração para a edição portuguesa do 
Prof. Miller Guerra e Drs. Antõnlo Esteves, Seabra Dinís, Martinho do Rosário e Rui Grácio. Vol. 
de 457 pp., 94 ilustrações

Economia Coordenação do Prof. Heinrich Riffershausen Colaboração para a edição portuguesa dos 
Drs. António dos Santos Labisa e João Correia Almeida, assists. 1. S. C. Económicas e 
Financeiras Vol. de 480 pp., 101 Ilustrações.

Enciclopédia Meridiano Fischer
Enciclopédia Meridiano // Fischer

Composta de 45 volumes, esta obra constitui uma grandiosa síntese do saber moderno, do mundo 
científico, histórico, artístico e literário, não se cristalizando num árido compêndio de factos 
e datas. Os seus volumes foram organizados dentro de um plano sistemático que compreende os

conhecimentos fundamentais da cultura do nosso tempo. Cada um dos tomos, que nos introduzem numa 
viva problemática tanto nas disciplinas científicas como humanísticas, foi dirigido e escrito 
por eminentes especialistas nas várias disciplinas. Em cada volume a matéria é organizada por 
artigos com o desenvolvimento essencial aos temas fundamentais de cada assunto de per si. Esta é 
a grande e original característica da obra, tornando­a numa enciclopédia para ler e não sómente 
para consulta. Uma das suas grandes particularidades é igualmente o facto de os volumes que 
compõem a obra ­serem perfeitamente autónomos, de conteúdo medular, objectivo e rigorosamente 
científico Os artigos relativos aos temas nos quais se divide cada urna das matérias distintas 
figuram de acordo com a ordem alfabética e os índices incluídos na parte final dos tomos 
permitem uma rápida orientação do leitor com respeito à ubiquação daqueles. A Enciclopédia 
Meridiano // Fischer destina­se a um público vastíssimo, constituindo apoio e elemento 
insubstituível de leitura e consulta, um compêndio e manual de alto nível para o professor, o 
técnico, o estudante, o profissional e para todo aquele que por curiosidade ou necessidade 
deseje aprofundar os seus conhecimentos. A sua grande  vantagem reside no facto de cada leitor 
poder adquirir sómente o volume ou volumes respeitantes à disciplina que se propõe estudar ou 
conhecer.

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Astronomia Religiões não­cris tas História Psicologia Economia Antropologia Música Religião 
cristã Sociologia Emologia Física Química Matemática (2 volumes) Geografia Cinema, Rádio, 
Televisão Filosofia Geofísica Arte (3 volumes) Biologia (2 vols.) I. Botânica; II. Zoologia 
Pedagogia Literatura (3 volumes) Estado e política Técnica (4 volumes) Filologia Medicina (3 
volumes) Direito Política internacional Teatro, Ballet Factos e personagens (A­Z1 6 volumes

fi)

Uma enciclopédia moderna do conhecim~o universal

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