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Agentes Antissépticos e enxaguatórios na Odontologia

Amanda de Freitas Ferreira

Naila Aparecida de Godoi Machado

Paulinne Junqueira Silva Andresen Strini

Alfredo Júlio Fernandes Neto

Denildo de Magalhães

Introdução

A melhoria da Saúde Bucal é verificada no declínio da prevalência e severidade

da doença periodontal, bem como na integridade dos tecidos bucais. A implementação

de programas preventivos em higiene bucal e a atuação efetiva do odontólogo

contribuindo, inclusive, para a redução das perdas dentárias e adequação dos produtos

de uso na cavidade bucal, corroboram para o atual quadro da Saúde Bucal. Esta

mudança de paradigma converge uma atuação profissional voltada para a prevenção e

promoção da saúde¹.

Dentro deste contexto de prevenção torna-se indispensável a compreensão da

patogenia e dos fatores de risco associados a doença periodontal sendo essencial gerir

adequadamente o tratamento desta doença. Os doentes devem desempenhar um papel

ativo no controle do desenvolvimento e progressão de gengivite e periodontite. Estudos

têm demonstrado claramente que a capacidade de controlar o aparecimento ou

progressão de doenças periodontais é reforçada por mais frequentes episódios de

instrução do controle de placa.

Dentre as medidas de prevenção ressalta-se a importância da manutenção de um

nível adequado diário de higiene oral. American Dental Association preconiza a higiene
bucal mecânica por meio da escovação duas vezes diariamente e da limpeza interdental

(por exemplo, uso do fio dental) uma vez ao dia².

Tendo em vista os vários estudos científicos que evidenciam a relação direta

entre doença bacteriana e placa, pode-se observar que a alta prevalência de gengivite na

população deve-se a dificuldade de muitos pacientes em realizarem de forma efetiva a

remoção da placa bacteriana. A maioria das pessoas não consegue manter um nível

adequado de controle placa, o que proporciona uma clara fundamentação lógica para a

incorporação efetiva de antimicrobianos em regimes de higiene bucal diária.

Os agentes antimicrobianos distribuídos por pastas de dentes, géis, enxaguatórios bucais

e outros veículos podem auxiliar no controle da formaçäo da placa bacteriana

supragengival e na prevençäo da doença periodontal. Para que um agente

antimicrobiano tenha uma açäo efetiva ele deve ser formulado em um veículo

compatível quimicamente para que ocorra sua adequada liberaçäo. Deve apresentar

também substantividade para que haja adesäo aos sítios receptores, de onde poderá ser

dissociado na sua forma biologicamente ativa³.

A utilização da terapêutica com antimicrobianos foi baseada em estudos clínicos


racionais bem documentados . Após a clara demonstração da relação entre o acumulo da
placa e o desenvolvimento de gengivite, O’Leary questionou a eficácia e a segurança
dos antissépticos antimicrobianos devido a falta de estudos de longa duração com esses
produtos4. Numerosos estudos têm sido conduzidos em estrita conformidade com as
orientações estabelecidas pela American Dental Association para elucidar essa questão e
com base nos dados disponíveis obtidos por essa associação, a utilização terapêutica
destas soluções é segura5.

Vários produtos, com propriedades antissépticas orais, vem sendo desenvolvidos

por diferentes empresas e por essa razão os profissionais de saúde devem estar bem

atentos ao recomendarem a utilização destes. As recomendações de qualquer


terapêutica devem ser baseadas sempre em provas científicas clinicamente relevantes e

este é o ponto central ao se discutir a utilização desses antimicrobianos na odontologia.

Torna-se necessário avaliar a indicação e contra-indicacão desses produtos assim como

suas limitações. Tendo em vista os diferentes princípios ativos na composição dessas

soluções, é imprescindível o conhecimento dos mecanismos de atuação no auxílio a

remoção da placa.

O objetivo deste trabalho foi revisar a literatura referente a utilização da

clorexidina, dos fluoretos, dos óleos essenciais, compostos quaternários de amônia e dos

compostos com triclosan.

Clorexidina

A clorexidina é um detergente catiônico, uma Bisbiguanida não tóxica

disponível principalmente na forma de sais de digluconato. Segundo Vinholis et al6 , é

considerada um antisséptico de amplo espectro sobre as bactérias gram positivas, gram

negativas, fungos e leveduras. Ela atua na formação da película adquirida e sobre

microrganismos gram positivos e negativos, leva à diminuição significativa da placa,

pois há alterações na aderência microbiana, aumento da permeabilidade celular com

rompimento da bactéria ou coagulação e precipitação dos constituintes citoplasmáticos7.

Farias, Buffon e Cini8 avaliaram comparativamente as propriedades antifúngicas

da nistatina 100.000 UI em relação à solução de digluconato de clorhexidina a 0.2%. O

estudo in vitro sugere o uso de solução de digluconato de clorhexidina como substância

terapêutica na prevenção, tratamento e alternativa complementar no combate

antifúngico da candidíase oral, uma vez que, leveduras da espécie C. albicans puderam

ser inibidas pela aplicação de digluconato de clorhexidina (CHX) 0,2%.


Dentre os estudos ela apresentou melhores características como: substantividade

de 12 horas, eficiência, estabilidade e segurança. Pode ser utilizada como dentifrícios de

0,12 a 0,2%;géis de 1,0 a 2,0%; dispositivos de ação lenta e vernizes. Deve ser usada

somente 30 segundos após a escovação, pois os íons livres, monofosfato de sódio e

detergentes dos dentifrícios diminuem sua retenção9.

Esta droga tem um potencial promissor, porém se desconhece seu correto papel

na terapia periodontal.

A clorexidina na forma de enxaguatório continua sendo o melhor

antimicrobiano tanto para redução de placa bacteriana quanto para gengivite, todavia, os

efeitos colaterais limitam seu uso prolongado.

Fluoretos

Os fluoretos são amplamente usados na prevenção da cárie dental. Atualmente o

flúor dos dentifrícios é considerado a razão principal do declínio da cárie observado em

todos os países 10.

Além de atuar como redutor do índice de cárie (Na e MFP Na), destaca-se sua

ação antimicrobiana que parece estar relacionada ao acúmulo e metabolismo das

bactérias e à presença do íon estanho na composição (fluoreto estanhoso). O fluoreto

estanhoso é conhecido como maior possuidor de propriedades antiplaca.

São encontrados no mercado sob a forma de gel, solução ou verniz. Segundo

Lascala 11, os vernizes com flúor são utilizados na prevenção de cárie, na redução do

acúmulo de placa e na diminuição da hipersensibilidade dentinária.


A utilização de soluções fluoretadas para bochecho apresentou resultados

favoráveis na prevenção da cárie quando tais agentes foram aplicados em escolares de

comunidades em cuja oferta de produtos fluoretados não era satisfatória12. Mesmo com

eficácia comprovada, o uso de enxaguatório bucal de uso individual deve ser indicado

para pacientes que apresentem alto risco de cárie, a exemplo daqueles sob tratamento

ortodôntico, com higiene precária e pacientes que estejam recebem radioterapia na

região da face12,13.

Eles possuem alguns inconvenientes como: fluorose até o óbito, alterações de

paladar, manchas nos dentes, curta vida útil. Os fluoretos são aceitos pela ADA como

efetivos no controle e redução das principais doenças bucais, mas não como redutor de

placa bacteriana.

Óleos Essenciais

São compostos fenólicos que agem inespecificamente sobre bactérias, não

havendo desequilíbrio nem proliferação de microrganismos oportunistas. O único

agente nesta categoria é o Listerine.

São largamente utilizados como desinfetantes, antifúngicos e antissépticos, pois

agem nos microrganismos rompendo a parede bacteriana, inibindo os sistemas

enzimáticos e diminuindo os lipopolissacarídeos e o conteúdo protéico da placa

bacteriana.

Os óleos essenciais são inalteráveis e possuem baixa substantividade. Seus

efeitos colaterais são: sensação de queimação, gosto amargo, manchas nos dentes e

injúrias no tecido bucal. Sua posologia é de bochechos duas vezes ao dia durante 30

segundos.
Mendes et al7 , afirma que os óleos essenciais possuem efeitos benéficos para a

gengivite por diminuírem a síntese de prostaglandinas e quimiotaxia para neutrófilos,

reduzindo os sinais clínicos de inflamação.

Stoeken, Paraskevas and Van der Weijden14, em sua revisão sistemática sobre o

efeito de enxaguatórios contendo óleos essenciais na placa dental e gengivite, concluiu

que a utilização desses produtos acompanhados de uma boa higiene bucal proporciona

uma vantagem adicional no que se refere a redução da placa e da gengivite em

comparação com um placebo ou controle.

Em um estudo constatou que o Listerine reduziu de 20 a 34% da placa e de 28 a

34% da gengivite. Pedrini et al15, fez uma pesquisa com 32 voluntários, onde metade

usou Listerine e o outro grupo um placebo. Desta forma constatou que o Listerine não

foi capaz de diminuir a freqüência de periodonto patógenos apesar de possuir moderada

atividade antimicrobiana.

Estudos clínicos controlados, com seis meses de acompanhamento, demonstraram que

os exaguatórios a base de óleos essenciais e de clorexidina tinha comparáveis atividade

antiplaca e antigengivite. Na medida em que os efeitos secundários associados à

utilização da clorexidina podem limitar o paciente, sugere-se que cada produto pode ter

um papel distinto na gestão de pacientes com doenças periodontais16.

Compostos Quaternários de Amônia

São agentes catiônicos tensoativos, favorecendo sua atração sobre as superfícies

dos dentes e da placa e alterando a tensão superficial. Neste grupo estão incluídos o

cloreto de cetilpiridino (Cepacol e Scope), o cloreto benzalcônico e o cloreto

benzetônico. O cloreto de cetilpiridino é efetivo contra gram positivas,provocando o

rompimento da parede celular bacteriana.


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Lascala , relatou que este produto pode chegar a reduzir 35% a placa e 21% a

gengivite. Mendes et al7, afirmou que este produto a 0,5% pode reduzir a formação de

placa em 20 a 30%. Este produto está no mercado sob a forma de soluções para

bochechos em concentrações de 0,05% ou 0,1%.

Seus efeitos colaterais são: manchas nos dentes, queimação e ulceração da

mucosa, aumento da formação de cálculo e descoloração da língua.

Triclosan e Sais Minerais

É um antisséptico não iônico de baixa toxicidade e largo espectro de ação, não

provocando desequilíbrio na cavidade bucal. Possui baixa substantividade e rápida

liberação de sítios de ligação, devendo ser combinado com produtos que aumentem sua

permanência, como é o caso de sua associação ao copolímero Gantrez. Outras

associações também têm sido realizadas, isto é, com citrato de zinco que é efetivo

contra a placa e com o pirofosfato de sódio que tem efeito antitártaro17.

O triclosan pode se apresentar como constituinte de dentifrícios à concentração

de 0,2 a 0,5% e como solução para bochecho à 0,03%. Sahtler e Fischer 18 realizaram um

estudo e observou que o uso do dentifrício com triclosan gera maior redução de placa

que aqueles sem triclosan. Cury et al17 fez uma pesquisa com 25 voluntários e constatou

que a associação Triclosan-Gantrez- Zinco-Pirofosfato reduziu em 28,8% o índice de

placa e 30,4% o sangramento.

O estudo de Pires, Rossa Junior e Pizzolitto19 demonstraram um nível intermediário de

eficácia de uma solução contendo Triclosan / Gantrez e bicarbonato de sódio contra

algumas espécies microbianas encontradas na microbiota oral, comparativamente a uma

solução placebo (controle negativo) e para uma solução 0,12% clorexidina (controle

positivo).
Discussão

A maioria dos colutórios com propriedades antiplaca contêm determinados graus

farmacêuticos de álcool desnaturado com os propósitos de solubilidade, preservação e

atividade germicida. Enxaguatórios que contém álcool incluem

os compostos de óleos essenciais (EOS) e clorexidina. Vários estudos vem sendo

conduzidos no que diz respeito aos efeitos adversos desses enxaguatórios, incluindo o

aumento do risco de desenvolver cancro oral, xerostomia e a queima ou irritação.

Várias pessoas que consomem quantidades excessivas de bebidas álcool

têm um risco aumentado de desenvolvimento de câncer bucal. Como resultado, uma

série de estudos epidemiológicos tem questionado se a presença de álcool nesses

enxaguatórios pode estar associada a um risco aumentado de desenvolvimento dessa

doença. Uma meta-análise recente confirma que os resultados da literatura são

inconsistentes e contraditórios e não demonstram fundamentos farmacológicos de uma

dose-resposta em estabelecer um nexo de causalidade entre lavagens e oral cancer20.

Estudos dirigidos na literatura especularam que o uso regular de

enxaguatórios que contenham álcool pode causar dessecação da membrana da mucosa

oral e podem aumentar a sensação subjetiva de boca seca.

No entanto, um recente estudo buscou avaliar comparativamente a ação de diferentes

colutórios com e sem álcool no fluxo salivar e nos sintomas da boca seca. Segundo os

resultados deste trabalho não foi encontrado qualquer significado clínico, sendo as

diferenças entre enxaguatórios não significativas nos efeitos sobre o fluxo salivar21.

Enxaguatórios antimicrobianos podem ser considerados seguros e eficazes na

redução da placa e da gengivite. Estes colutórios devem ser uma parte de um regime de

saúde com cuidados orais completos que incluem escovação dos dentes e o uso do fio

dental para prevenir ou minimizar periodontal doença22.


Conclusão

O uso desses agentes oferece ao dentista uma avalanche de opções terapêuticas,

mas quando indicados ao paciente deve-se avaliar a real necessidade, a eficácia, os

efeitos adversos e a relação custo x benefício. Deve-se considerar o papel destes agentes

como coadjuvantes da terapia mecânica.

Referências

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