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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI

Centro de Ciências Jurídicas e Sociais - CCJS


Curso de Direito Período: 2º Turno: Noturno
Disciplina: Direito Penal
Professor: Luiz Eduardo Cleto Righetto
Acadêmicos: Joéde de Almeida, Tiago Montroni,
Stephanie Isdra, Gabriel Bini, Wagner Felipe Mazon,
George H. Teodoro.

• EXTRATERRITORIALIDADE
Introdução

Sabemos que um crime pode violar interesses de dois ou mais países,


quer por ter sido a ação praticada no território de um e a consumação dar-se
em outro ou apenas por razão das nacionalidades dos e bens dos envolvidos.
Dentro desse estudo da aplicação da lei no espaço, veremos o que o Código
penal Brasileiro, nos informa sobre a aplicação da lei Brasileira nos fatos
ocorridos fora do nosso território, e como nossos Tribunais interpretam essas
disposições legais do nosso Código Penal.

Apesar dos crimes terem sido cometidos fora do território nacional, pôr
força de lei o autor será julgado lei brasileira, princípio da nacionalidade, a lei
penal do Estado é aplicável a seus cidadãos onde quer se encontrem.

Princípio da Defesa ou Real

A nacionalidade do bem jurídico lesado pelos crimes, independentes do


local de sua pátria ou nacionalidade do sujeito ativo está previsto nos casos da
alínea “A”, “B” e “C” do inciso I do artigo 7º do Código Penal, ficando sujeitos a
lei brasileira embora cometidos no estrangeiro os crimes contra:

A vida ou liberdade do Presidente da República;

Contra o patrimônio ou a fé Pública da União do Distrito Federal, de


Estado de Território, de Município, de Empresa Pública, Sociedade de
Economia Mista, Autarquia ou Fundação instituída pelo poder Público, contra a
administração pública, porque está a seu serviço.

Conceito de extraterritorialidade:

“É o fenômeno pelo qual a lei brasileira se aplica a fatos ocorridos fora do


território nacional. Subdivide em extraterritorialidade condicionada e
incondicionada”

As hipóteses de aplicação extraterritorial da lei penal brasileira prevista


nesse artigo constituem exceção ao principio geral da territorialidade relativa
(art. 5 CP).

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado,


de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista,
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;

c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;


d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;

II - os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

b) praticados por brasileiro;

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de


propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda


que absolvido ou condenado no estrangeiro.

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso


das seguintes condições:

a) entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a


pena;

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não
estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro


contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no
parágrafo anterior:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

b) houve requisição do Ministro da Justiça.

Extraterritorialidade incondicionada:

a) crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da republica.

b) crime contra a fé publica da União,Distrito Federal,Estados,Municípios ou


territórios, ou suas autarquias,empresas publicas,sociedades de economia
mista ou fundações instituídas pelo Poder Público.

c) crime contra a administração pública brasileira por quem esta a seu serviço.

d) crime de genocídio. Se o agente for brasileiro ou domiciliado no brasil.


Extraterritorialidade condicionada:

a) crimes previstos em tratado ou convenção internacional que o Brasil se


obrigou a reprimir.

b) crimes praticados por estrangeiros, contra brasileiro, fora do nosso território


(se não foi pedida ou se foi negada a extradição e se houve requisição do
ministro da justiça.)

c) crimes praticado por brasileiro.

d) crimes praticados a bordo de navio ou aeronave brasileiros privado, quando


praticados no exterior e ali não forem julgados.

A doutrina da extraterritorialidade costuma apontar uma serie de


princípios que inspiram o legislador a eleger os casos em que a lei de um país
deve ser aplicada a fatos que deram no estrangeiros:

a) Principio da justiça penal universal ou cosmopolita: refere-se a hipótese


em que a gravidade do crime ou a importância do bem jurídico violado
justificam a punição do fato, independentemente do local em que praticado e
da nacionalidade do agente.

b) Principio real, da proteção ou da defesa: justifica a aplicação da lei penal


brasileira sempre que no exterior se der a ofensa a um bem jurídico nacional ou
de origem pública.

c) Principio da personalidade ou nacionalidade ativa: como cada país tem


interesse em punir seus nacionais, a lei pátria se aplica aos brasileiros, em
qualquer lugar que o crime tenha sido praticado.

d) Principio da personalidade ou nacionalidade passiva: se a vitima for


brasileira, nosso país terá interesse em punir o autor do crime.

e) Principio da representação ou da bandeira: a lei brasileira se aplica as


embarcações ou aeronaves que carreguem nossa bandeira.

Pena cumprida no estrangeiro (Art. 8)

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo


mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

Nas hipóteses de extraterritorialidade incondicionada é possível em tese, que o


agente responda por dois processos pelo mesmo fato, um no exterior, outro no
Brasil, sobrevindo as duas acusações aplica-se então o artigo que se funda no
principio do non bis in idem (o qual proíbe seja alguém condenado duas vezes
pelo mesmo fato). Sendo assim, a pena cumprida no estrangeiro:

a)atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas;ou


b)nela é computada, quando idênticas(detração).
''O artigo dispõe de maneira explicita que a atenuação é obrigatória em se
tratando de pena qualitativamente diferente, sendo o quantum decorrente do
prudente arbítrio do juiz. Se a pena cumprida no estrangeiro for da mesma
qualidade, aquela imposta nos país nela será computada (diversidade
quantitativa)''.

Eficácia de sentença estrangeira (Art. 9)

Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na


espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para:

I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos


civis;

II - sujeitá-lo a medida de segurança.

Parágrafo único - A homologação depende:

a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;

b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de


cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de
requisição do Ministro da Justiça.

A sentença penal estrangeira produz efeitos restritos no país: aplicação de


medida de segurança e ressarcimento do dano ou restituição civil,
necessitando para tanto da homologação do Superior Tribunal de Justiça.(art
105 I,i,da CF, com redação da EC n.45, de 8-12-1948) para que produza
efeitos no Brasil.

a) Para obrigar o condenado a reparação de dano, a restituições e outros


efeitos civis, desde que haja requerimento do interessado e que nossa lei
preveja os mesmos efeitos na situação abordada pela sentença estrangeira.

b) Para sujeitá-lo a uma medida de segurança, desde que, nesse caso, a lei
brasileira preveja os mesmos efeitos para a hipótese tratada(ex: uma sentença
estrangeira aplicou medida de segurança a um inimputável em virtude de
doença mental) e exista tratado de extradição com o país de origem ou
requisição do Ministro da Justiça.

A sentença estrangeira não depende de homologação para produzir


reincidência, impedir a obtenção de sursis ou para aumentar o período para
concessão de livramento condicional.

Em suma:

a) gerar reincidência: homologação desnecessária;


b) obrigação de reparar o dano e sujeição no Brasil a medida de segurança
aplicada no exterior:homologação necessária.

Bibliografia:

Comentário do Direito Penal (Luiz Regis Prado),(pg. 61-68).

Direito Penal 1 Parte Geral (Andre Estefam),(pg. 39-42).

Jurisprudências:

1- PENAL. PROCESSO PENAL. GENOCÍDIO E ASSOCIAÇÃO PARA O


GENOCÍDIO. ARTS. 1º E 2º DA LEI 2.889/56. POVOS INDÍGENAS
YANOMAMIS. ALDEIA HAXIMU. LOCALIZAÇÃO. APLICABILIDADE DA
LEI BRASILEIRA. COMPETÊNCIA DO JUIZ FEDERAL SINGULAR.
AUTORIA E MATERIALIDADE. COMPROVAÇÃO. CRIME DE DANO.
OCULTAÇÃO DE CADÁVER. LAVRA GARIMPEIRA E
CONTRABANDO. QUADRILHA OU BANDO. REGIME DE
CUMPRIMENTO DE PENA. I. A competência para processar e julgar
acusados da prática do crime de genocídio contra etnia indígena,
quando não houver denúncia também pela prática do crime de
homicídio, é do juízo federal singular, e não do Tribunal do Júri Federal,
porquanto o objeto jurídico tutelado nesse delito não é a vida em si
mesma, mas, sim, a sobrevivência, no todo ou em parte, de um grupo
nacional, étnico, racial ou religioso. II. Independentemente de os fatos
terem ocorrido em território brasileiro ou venezuelano, não está afastada
a jurisdição da Justiça brasileira para julgar o crime de genocídio,
consoante preceitua a letra d do inc. I do art. 7º do Código Penal, uma
vez que os acusados são brasileiros e domiciliados no Brasil. Trata-se
de caso especial de extraterritorialidade incondicionada pelo princípio da
justiça universal. Há aplicação da lei brasileira ainda que o agente seja
absolvido ou condenado no estrangeiro, segundo dispõe o § 1º do art. 7
do Código Penal. III. Não sendo possível a realização do exame
cadavérico, tendo em vista que os índios, não se afastando dos seus
costumes, queimaram os corpos de seus entes, pilaram-nos,
transformando-os em cinza, guardando-os em cabaças, a comprovação
da morte se dá pelos depoimentos das testemunhas que viram os
corpos estraçalhados à bala e a facão, o que supre o exame de corpo de
delito, consoante disposto no art. 167 do Código de Processo Penal. IV.
Prova testemunhal uniforme, precisa, categórica, constante dos autos,
não deixa dúvidas da ocorrência dos fatos, bem como de que os
acusados Pedro Erniliano Garcia, vulgo Pedro Prancheta; Eliézio
Monteiro Nero, vulgo Eliezer; Juvenal Silva, vulgo Curupuru; Francisco
Alves Rodrigues, vulgo Chico Ceará; e João Pereira de Morais, vulgo
João Neto; foram os autores do crime de genocídio tipificado no art. 1º,
letras a, b e c da Lei 2.889/56. V. Inexistindo prova suficiente da
participação dos acusados Wilson Alves dos Santos, vulgo Neguinho, e
Waldinéia Silva Almeida, conhecida por Ouriçada, deve ser mantida a
sentença que os absolveu da prática de tais delitos. VI. Diante de exame
pericial, nas duas malocas e três acampamentos (tapiris) utilizados pelos
índios, na região de Haximu, o qual constatou que as cabanas e os
tapiris foram destruídos pelo fogo e por bala e que foram encontrados
panelas com perfurações de projéteis de arma de fogo, cartuchos de
arma de fogo deflagrados, cabelo humano, fragamentos de projéteis
encravados em árvores e no cercado da maloca, caracterizado está o
crime de dano, previsto no art. 163, incisos I, II, e IV, do Código Penal.
VII. A prova testemunhal confirma que os acusados praticaram o
genocídio e ocultaram os cadáveres dos índios mortos na chacina,
enterrando-os para que não fossem descobertos, o que caracteriza o
crime de ocultação de cadáver. VIII. Inexistindo prova dos crimes de
associação para o genocídio, de lavra garimpeira, de contrabando e de
formação de quadrilha ou bando, deve ser mantida a sentença na parte
em que absolveu os acusados da prática de tais delitos. IX. Fixação do
regime inicialmente fechado para cumprimento da pena de reclusão. A
vedação à progressão do regime de cumprimento da pena para os
crimes hediondos é inconstitucional. Fere o inciso XLVI do art. 5º da
Constituição Federal. Essa vedação é tão hedionda como o próprio
crime. A inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90 foi
reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal ao julgar o HC 82.959-SP.
X. Não sendo conhecido o recurso de alguns dos acusados, estende-se
a estes os efeitos benéficos da apelação conhecida, a teor do art. 580
do Código de Processo Penal. (TRF1. APELAÇÃO CRIMINAL
1997.01.00.017140-0/RR Relator: Juiz Federal Tourinho Neto
Julgamento: 01/09/09).

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