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Treinamento

Aprendizagem à la Hollywood
Poderosa ferramenta nas mãos do RH, os filmes de treinamento estão tomando conta das
salas de aulas corporativas e garantindo uma aprendizagem mais eficiente

TEXTO: RAFAEL BRAVO BUCCO

Da mesma forma que é necessário um bom currículo para se sair bem em uma seleção
profissional, é essencial um roteiro afinado para garantir o sucesso de uma produção
cinematográfica. Sem ele, o filme fica insosso, sem graça, não consegue nem mesmo 'prender' a
atenção daquele espectador mais interessado.

Não é à toa que por trás das grandes criações hollywoodianas há uma verdadeira indústria
milionária. E isso se estende a todos os tipos de filmes, inclusive aqueles feitos especialmente
para o universo corporativo, os chamados vídeos de treinamento, que chegam às mãos dos
profissionais de todos os cantos do mundo.

Não tem jeito, quando o assunto é a sétima arte, Hollywood não brinca em serviço. E para
manter essa fama de eficiente, os roteiros dos vídeos voltados para essa área também
obedecem a critérios rígidos. Cada etapa de produção é milimetricamente calculada. Manter-se
atual, mesmo com o passar dos anos, e 'prender' o olhar (e mente) de qualquer colaborador
dispersivo são requisitos básicos, além é claro, de eliminar aquele tédio comum entre os
treinandos.

Ciente do 'poder' que essa ferramenta tem sobre os funcionários, RHs do mundo inteiro
passaram a adotar os filmes de treinamento como forte aliado na busca pelo envolvimento de
toda a equipe e sintonia com os objetivos das empresas.

Evidente que nem todos os vídeos específicos para reciclagem profissional são fabricados na
meca do cinema arrasa-quarteirão. Mas boa parte dos atores tem o sotaque de Los Ângeles, e
espalham pelo mundo os conceitos empresariais usados na maior economia do planeta - a
americana. Portanto, não é por sorte que as produtoras do Tio Sam também estejam no topo
(confira a tabela na página seguinte).

RÁPIDO E SEGURO
Por aqui, as multinacionais seguem essa trilha e já adotam os vídeos de treinamento como
recurso para capacitar mais rapidamente seu pessoal. É o caso da Sherwin-Williams, indústria de
revestimentos e tintas, instalada há 60 anos no Brasil. Nela, esse meio audiovisual faz parte da
cultura da empresa. "Eu sou fã incondicional deste recurso. É uma maneira rápida e eficaz de se
apresentar e fixar conceitos. Permite que você abra reuniões de forma lúdica", diz Osvanir
Gomes Junior, analista de recursos humanos da empresa e com mais de dez anos de experiência
na área.

O fato de ser lúdico é tão importante quando se usa essa ferramenta, porque a audiência se
torna cativa, além de ser em muitos casos uma reivindicação dos próprios profissionais.

FÓRMULA DO SUCESSO
Fundador da American Media Inc. (AMI), maior produtora de
vídeos de treinamento, o americano Art Bauer administrou a
própria empresa até levá-la ao topo. E mesmo após vender a
companhia, Art não se distanciou dessa área. Ele partiu para
outra empreitada, porém no mesmo segmento, e hoje dirige a
EIC, empresa que também produz vídeos, além de livros e
palestras. "Em minha experiência desenvolvi uma fórmula que
define o sucesso de um filme: E + I = C.

Ou seja, emoção somada à informação resulta em boa


comunicação", ensina .

Um filme de treinamento é bemsucedido, revela Art, quando se


comunica com o espectador. Para isso, é preciso que o
emocione de alguma forma. Caso contrário, as informações
podem se perder.

"Além disso, devem ter até 20 minutos de duração. Na verdade,


o ideal é que tenham entre 10 e 15 minutos, com diálogos
curtos e sempre mostrando situações.

Aqueles em que os personagens apenas comentam as ações


são menos eficientes. Os atores devem atuar de modo que o
espectador se coloque em seu lugar", completa. Quanto ao
processo de produção, um vídeo dessa natureza demora de
cinco a sete meses - entre pesquisa, criação de roteiro,
filmagem e finalização - para ser concluído.

Seguindo esses critérios, os filmes de treinamentos se tornam


universais e podem ser exibidos em empresas que vão desde a
Tailândia até o México sem conflitos culturais, exceto pela
necessidade de dublagem ou legendas.

INTEGRAÇÃO DE FOCO
Os melhores resultados em treinamentos, conta Osvanir, acontecem com o uso do vídeo, no
entanto, adverte o especialista, somente a exibição não é o suficiente para obter a performance
desejada. "Não podemos trabalhar apenas com um foco.

As pessoas aprendem de formas diferentes. Por isso trazemos atividades que permitam atingir
todos os públicos. O fundamental é como o tema está integrado ao conteúdo central da
atividade. Deve existir uma adequação lógica para se alcançar os objetivos da tarefa", reforça o
especialista.

EFEITO POSITIVO
Nas empresas nacionais os modelos de treinamento também passaram a integrar o rol de
estratégias dos RHs. No Grupo Jad, um conglomerado de empresas de logística e transporte
rodoviário e aéreo, os vídeos aumentaram a eficiência do treinamento. "Há dois anos
começamos a utilizá-los. Percebemos que eles aproximam o funcionário das situações do dia-a-
dia, enquanto as palestras não tinham essa capacidade", compara Wagner Gropelo, instrutor-
chefe da companhia e consultor de treinamento.
Graças ao emprego das fitas VHS e DVDs, os colaboradores saem do treinamento com
capacidade de aplicar imediatamente os conceitos aprendidos.

"Há casos em que a pessoa entrou com um pensamento e saiu completamente diferente. Já dei
palestras sobre um determinado assunto com e sem filme, e digo sem medo que o
aproveitamento dessa ferramenta é, no mínimo, 300% melhor", atesta o especialista, que
recorre a palestras quinzenais para manter fresco a mensagem dos filmes na cabeça dos
participantes. "O objetivo do treinamento é o sucesso profissional da equipe. Se o colaborador
tem sucesso, a empresa também tem", defende.

CUIDADO E PREPARAÇÃO
Como caldo de galinha e precaução não faz mal a ninguém, é bom ficar atento e não acreditar
que exibir um vídeo dessa natureza será suficiente para treinar o pessoal e deixar o grupo
afinado. Isso é um erro. Segundo Carla Burlamaqui, sócia-proprietária da Siamar, maior locadora
e vendedora de vídeos de treinamento do Brasil, os filmes exigem mais cuidados na exibição do
que muitos palestrantes, instrutores e gerentes de RH imaginam. "Parece mentira, mas muitos
títulos são alugados de última hora pela pessoa que vai exibi-lo. Eles não se dão conta de que é
preciso antes fazer um estudo prévio do conteúdo e como deve ser melhor trabalhado junto aos
funcionários".

E aí, diz a executiva, o tiro sai pela culatra. "Tentamos orientar o instrutor na medida do
possível, inclusive o aconselhamos a não alugar a fita se não for ter tempo de assisti-lo antes e
preparar o material de apoio", comenta Carla Burlamaqui.

Na verdade, a maioria dos filmes de treinamento é mais do que um simples DVD. Eles são
acompanhados de um material didático que ensina métodos para se trabalhar o vídeo -
aproveitando o material além da simples exibição. Trabalhos, discussões, até dever de casa
podem ser recursos usados para fixar os conceitos apresentados.

O ideal é que um filme de treinamento tenha entre 10 e


15 minutos de duração

SINESTESIA TOTAL
O sucesso desse instrumento, argumenta Carla, tem uma razão de ser: eles trabalham com a
aprendizagem sinestésica, visual e auditiva. "Seja qual for o estilo adotado pelo treinando, ele
certamente atenderá e facilitará a fixação dos tópicos. Nos filmes dramatizados, o espectador se
projeta no ator e consegue se reconhecer naquela situação. E seja qual for a fita escolhida, para
um melhor aproveitamento é sempre importante a condução do facilitador", observa.

Quanto à garantia de sucesso, calma, pois também está inclusa. Todos eles têm um manual e
um método de avaliação, que é dividido em quatro etapas: reação, que mede a satisfação de
quem assistiu; aprendizado, o qual mede o conteúdo fixado; aplicação, que verifica se os
conceitos foram levados ao cotidiano pelo espectador; e resultados, que analisa o impacto do
treinamento sobre a produtividade. Essa pesquisa é repassada aos criadores dos títulos para que
façam ajustes e aperfeiçoem o treinamento.

Artigo extraído: http://revistavidaexecutiva.uol.com.br/Edicoes/30/artigo34824-2.asp


Acessado dia 12/10/2007 às 19:43h

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