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Supremo Tribunal Federal

MEDIDA CAUTELAR NA PETIÇÃO 8.037 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO


REQTE.(S) : RUBENS ALBERTO GATTI NUNES
ADV.(A/S) : PAULO HENRIQUE FRANCO BUENO
REQDO.(A/S) : JOSE RENAN VASCONCELOS CALHEIROS
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

PETIÇÃO. AÇÃO POPULAR.


CONSTITUCIONAL E
ADMINISTRATIVO. ELEIÇÃO PARA
PRESIDENTE DO SENADO. ALEGADA
VIOLAÇÃO À MORALIDADE
ADMINISTRATIVA. INCOMPETÊNCIA
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
PARA APRECIAÇÃO DA MATÉRIA. ROL
TAXATIVO DO ART. 102, I, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
DECLINADA A COMPETÊNCIA.

DECISÃO: Trata-se de ação popular com pedido liminar de tutela


provisória de urgência ajuizada por Rubens Alberto Gatti Nunes em face
de José Renan Vasconcelos Calheiros, em que visa ao impedimento da
candidatura deste ao cargo de Presidente do Senado Federal.
Sustenta o Autor que “a possibilidade de o Senador Renan Calheiros se
candidatar ao cargo de Presidente do Senado e, eventualmente, ocupar a
presidência do Congresso Nacional, atenta mortalmente contra a moralidade
administrativa, as instituições democráticas, a Pátria e contra o povo dessa
nação”. Para embasar sua tese, argumenta que o Réu responde
investigações criminais perante esta Corte, referentes a possível prática de
improbidade administrativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Alega a necessidade de tutela provisória de urgência no que tange
ao perigo de dano em virtude da realização das sessões preparatórias no
dia 1º de fevereiro, ocasião em que ocorrerá a eleição da Mesa do Senado
Federal. Requer, assim, a concessão da tutela “a fim de suspender
imediatamente qualquer ato tendente a possibilitar a candidatura de Renan

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Calheiros ao cargo de Presidente do Senado Federal.”


A presente ação foi originalmente distribuída ao Exmo. Min. Celso
de Mello, todavia, por se tratar de pedido de urgência, cabe ao
Presidente, nos termos do art. 13, VIII, do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal decidir questões urgentes nos períodos de recesso ou de
férias.
A ação popular é instituto de previsão constitucional (art. 5º, LXXIII,
da CRFB/88), consectário lógico do princípio da cidadania, erigido pela
Constituição à categoria de verdadeiro fundamento da República e do
Estado Democrático de Direito (art. 1º, II, da CRFB/88). Em verdade, a
possibilidade de proteger o patrimônio público, a moralidade
administrativa e outros bens jurídicos metaindividuais decorre da própria
noção de res publica, consistindo em importante mecanismo de
democracia participativa.
Entretanto, como ação que é, a ela se impõem determinados
pressupostos e requisitos de cabimento. Com efeito, é defeso ao Supremo
Tribunal Federal se manifestar em processos para os quais não detém
competência para apreciar, como o caso em tela.
Inexiste, na petição exordial, indicação de qual norma prevê a
competência desta excelsa Corte para apreciação de ações populares,
inclusive em face de Senador da República. Na verdade, a ação popular
ora proposta não se enquadra em nenhuma das hipóteses de competência
originária desta Corte, previstas no estrito rol do art. 102, I, da
Constituição Federal. No mesmo sentido, colaciono os seguintes julgados:

“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL. AGRAVO


REGIMENTAL NA PETIÇÃO. AÇÃO POPULAR. DEMANDA
OBJETIVANDO A ANULAÇÃO DE RESOLUÇÃO DO SENADO
FEDERAL. INCOMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. DIREITO DE PETIÇÃO. LIMITAÇÃO, NA ESFERA
JUDICIAL, AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Ação
ajuizada por cidadão para anular Resolução do Senado Federal.
Hipótese que não se amolda ao rol taxativo das atribuições

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jurisdicionais originárias enunciadas nas alíneas do art. 102, I, da


Magna Carta. Regime de direito constitucional estrito. Incompetência
do Supremo Tribunal Federal. Precedente. 2. O exercício do direito de
petição, na via judicial, deve observar as regras processuais, pois
limitado, neste caso, à regra, também de raiz constitucional, do devido
processo legal. 3. Agravo regimental conhecido e não provido.”
(Pet 6290 AgR, Relator(a): Min. Rosa Weber, Primeira
Turma, julgado em 15/10/2018, DJe de 19/10/2018)

“TAXATIVIDADE CONSTITUCIONAL DAS


COMPETÊNCIAS ORIGINÁRIAS DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. AUSÊNCIA DE PREVISÃO PARA PROCESSAR E
JULGAR, ORIGINARIAMENTE, AS AÇÕES POPULARES
PROPOSTAS EM FACE DO CONGRESSO NACIONAL E DE
SEUS MEMBROS, DE MINISTROS DE ESTADO OU DO
PRÓPRIO PRESIDENTE DA REPÚBLICA. INCOMPETÊNCIA
ABSOLUTA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL
IMPROVIDO.”
(Pet 6381 AgR, Relator(a): Min. Alexandre de Moraes,
Tribunal Pleno, julgado em 11/05/2018, DJe de 17/05/2018)

“AÇÃO POPULAR - AJUIZAMENTO CONTRA O


PRESIDENTE DA CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO
FEDERAL - AUSÊNCIA DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - AÇÃO POPULAR DE QUE
NÃO SE CONHECE - AGRAVO IMPROVIDO. O PROCESSO E
O JULGAMENTO DE AÇÕES POPULARES
CONSTITUCIONAIS (CF, ART. 5º, LXXIII) NÃO SE INCLUEM
NA ESFERA DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. - O Supremo Tribunal Federal - por
ausência de previsão constitucional - não dispõe de competência
originária para processar e julgar ação popular promovida contra o
Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou contra
qualquer outro órgão ou autoridade da República, mesmo que o ato
cuja invalidação se pleiteie tenha emanado do Presidente da República,
das Mesas da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal ou, ainda,

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de qualquer dos Tribunais Superiores da União. Jurisprudência.


Doutrina. - A competência originária do Supremo Tribunal Federal,
por qualificar-se como um complexo de atribuições jurisdicionais de
extração essencialmente constitucional - e ante o regime de direito
estrito a que se acha submetida -, não comporta a possibilidade de ser
estendida a situações que extravasem os rígidos limites fixados, em
numerus clausus, pelo rol exaustivo inscrito no art. 102, I, da Carta
Política. Doutrina. Precedentes.
(AC 2596 AgR, Relator(a): Min. Celso de Mello, Tribunal
Pleno, julgado em 20/03/2013, DJe de 16/04/2013)

Saliente-se, ainda, o disposto no artigo 5º, caput, e §1º, da Lei


4.717/65, que prevê o interesse da União na ação popular quando o Réu
for mantido por esta pessoa jurídica. Demais disso, por força do artigo
109, I, da Carta Federal, compete à Justiça Federal de primeiro grau
apreciar as causas de interesse da União, como o da presente hipótese.
Ex positis, nos termos do art. 61, §1º, do CPC/15, DECLINO da
competência desta Corte e, com fundamento no art. 64, § 3º, da mesma
norma, determino a remessa dos autos à Justiça Federal, juízo competente
para julgamento do feito.
Publique-se. Int.
Brasília, 18 de janeiro de 2019.
Ministro LUIZ FUX
Presidente em exercício
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